Livro Anglicanismo - Identida, Relevancia, Desafios - Robinson Cavalcanti
Livro Anglicanismo - Identida, Relevancia, Desafios - Robinson Cavalcanti
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Anglicanismo:
2
Identidade, Relevância,
Desafios
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 3
Recife-PE
2009
ÍNDICE
Prefácio 05
Apêndices 171
1.Correntes Anglicanas
2.Arcebispos de Cantuária
3.Sucessão Apostólica (do autor)
Bibliografia 186
PREFÁCIO
INTRODUÇÃO
A origem da Igreja está na pessoa histórica de Jesus Cristo, o Messias
prometido a Israel para as nações. A base fundacional da Igreja está na
“pedra” (afirmativa): “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:16),
expressada por Pedro, representando o pensamento coletivo do Colégio
Apostólico. Sobre essa “pedra” (afirmativa) Ele edificaria a Sua Igreja: “Pois
também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha
igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela;” (Mt 16:18). Após a
sua vitoriosa ressurreição, Ele soprou sobre os discípulos, dizendo: “Recebei
o Espírito Santo” (Jo 20:22). Esse Consolador prometido – Terceira Pessoa da
Santíssima Trindade – seria derramado sobre os discípulos atemorizados no
Dia do Pentecostes, dando início à Igreja. Cristo é o fundamento, e os
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 7
Apóstolos os seus instrumentos de expansão, desde Jerusalém até “os
confins da terra” (At 1:8). Os Apóstolos conviveram com o Senhor por três
anos, foram testemunhas da Ressurreição (Lc 24:48; At 2:32), e receberam a
tarefa de dar continuidade à obra do Senhor (Mt 10:5-14; Mt 28:18-20; Lc 9:1-
6).
Em resumo: a Igreja é fundada por Jesus Cristo, sobre o seu messiado, pelo
poder do Espírito Santo, sob a autoridade dos Apóstolos, e dos seus
sucessores, os Bispos, com a doutrina definida nos Credos deliberados pelos
Concílios da Igreja Indivisa.
OS ANGLICANOS
Os Anglicanos formam o ramo do Cristianismo Histórico que têm suas raízes
na Grã-Bretanha, onde se situa a Inglaterra, cuja região central é denominada
de Anglia, a terra dos anglos. A Grã-Bretanha também inclui a Escócia, Gales,
Irlanda e a Ilha de Man. A Inglaterra (terra dos anglos) foi conquistada pelo
Agostinho foi feito Bispo, bem como o seu companheiro Paulinus, responsável
pelo batismo do rei Dewin, da Nortúmbia, e pela “conversão” da nação. Nessa
época é estabelecido um importante centro monástico na ilha de Iona, sob a
liderança de Santo Aidan.
O período da Igreja Celta autônoma chegou ao fim com a convocação, pelo rei
Oswy, da Nortúmbia, de delegados celtas e romanos, para um Concílio na
cidade de Whitby, em 664, quando os celtas aceitaram a data da Páscoa
romana e se submeteram à autoridade papal, apesar de resistências de vários
líderes, como São Cutberto, Bispo de Lindisfarne (uma histórica Sé celta). O
Papa cria o Arcebispado de York, segundo em honra ao Arcebispado de
Cantuária, e símbolo da herança celta. Não houve uma continuidade de
sucessão apostólica dos bispos celtas. O Episcopado Histórico Anglicano tem
início com Agostinho.
No século IX a Inglaterra foi invadida pelos vikings, que destruíram quase tudo
o que tinha sido construído pela Igreja, saquearam Cantuária e incendiaram a
Catedral. Alguns desses invasores se fixaram na terra concorrendo para o
sincretismo com o cristianismo popular, particularmente a prática de magias.
Ironicamente, enquanto os vikings escandinavos estavam destruindo o
cristianismo inglês, os missionários ingleses estavam evangelizando a
Escandinávia. A resistência aos invasores se fez, principalmente, a partir do
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 13
reino cristão de Wessex, liderado pelo rei Alfredo, cujas leis se constituíram na
base do Direito inglês, e que foi denominado de “o protetor dos pobres”. Outro
foco de resistência foi um movimento de reavivamento monástico, liderado por
Dunstam, Abade de Glastombury, e, depois Arcebispo de Cantuária. No
século X a Inglaterra caminhava para uma maior união política, e a Igreja
contava com 18 Dioceses, com todos os cargos paroquiais preenchidos.
Em 1016 a Inglaterra sofreu nova invasão normanda, mas, dessa vez, tendo à
frente um cristão convertido, dinamarquês de nascimento, Cnut, que foi
proclamado rei do país, aprofundou os vínculos dos cristãos ingleses com a
Igreja de Roma, e quebrou o monopólio dos beneditinos, abrindo as portas
para outras ordens e congregações.
Já se afirmou que:
No século XIII, com a ida para as cruzadas do rei Ricardo, “Coração de Leão”,
assumiu o trono inglês o seu irmão, João, o “Sem Terra”, a que os nobres,
reunidos em Parlamento, forçaram a assinar o histórico documento de direitos,
a “Magna Carta” (1215), onde aparece pela primeira vez a expressão “Igreja
Anglicana”, na cláusula que diz “a Igreja Anglicana será livre”.
É nesse contexto que a Inglaterra vai ser o lugar para o mais importante
episódio da Pré-Reforma, com John Wycliffe (1328-1384), professor da
Universidade de Oxford, denominado de “a estrela matutina da Reforma”.
Wycliffe teceu fortes críticas à instituição do papado, condenou a simonia
(compra de cargos eclesiásticos) e as indulgências (anistia de pecados
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 15
mediante pagamento), negou a doutrina da transubstanciação, defendeu o
confisco dos bens da Igreja pelo Estado, e a necessidade do povo conhecer
as Sagradas Escrituras em sua própria língua, sendo as mesmas o único
fundamento da fé. Suas ideias correram a Europa, e influenciaram Jerônimo,
professor da Universidade de Praga (na Boêmia, província Tcheca) e seu
jovem discípulo Jan Huss, que, apesar de ter conseguido um Salvo Conduto
do Concílio de Constança, foi queimado vivo.
Por um lado, temos que desmitificar a versão de que “a Igreja Anglicana foi
fundada pelo rei Henrique VIII”, pois, como já se disse: “A Reforma Inglesa
viria com Henrique VIII, sem ele ou contra ele”.
Henrique VIII, a partir de 1509, teve uma gestão positiva como rei, fundando a
primeira escola secundária pública do reino, em um anexo à Catedral de
Cantuária (o “King’s School”), que funciona até hoje. A questão da sucessão
dinástica não era, então, um assunto privado, mas uma questão de segurança
nacional. Anulações de casamentos, por interesse político, já conheciam
precedentes por parte do papado. O que não acontece em seu caso, em razão
da sua primeira esposa ser sobrinha do Imperador. O rei era, originalmente,
um devoto católico romano, chegando a escrever um texto para refutar as
posições de Lutero sobre os Sacramentos, recebendo do papa o título de
Defensor da Fé (Defensor Fidei), usado pelos reis ingleses ainda hoje.
A Reforma Inglesa se deu por Atos do Parlamento sancionados pelo rei, com o
apoio dos intelectuais e da liderança do clero. Embora a Bíblia (secretamente)
já fosse distribuída desde Wycliffe, no século XIV, agora o povo a demandava
abertamente, o que foi feito com a nova tradução para o vernáculo, liderada
por William Tyndale.
De seus casamentos, o rei Henrique VIII, ao falecer, deixara três filhos, de três
esposas diferentes, que seguiam a religião de suas mães: Eduardo, o mais
velho e Elizabeth, a mais nova, eram protestantes; e Maria, a do meio, era
católica romana.
De 1547 a 1553 reinou Eduardo VI, que, por ser menor de idade, foi
assessorado por regentes, igualmente protestantes, que aprofundaram a
Reforma, com a aprovação pelo Parlamento, em 1549, do Livro de Oração
Comum (LOC) compilado pelo Arcebispo Cranmer. Os altares de pedra foram
substituídos por mesas de madeira, o celibato clerical foi revogado, o povo
passou a receber a Ceia nas duas espécies, foram retiradas as imagens dos
altares, a Eucaristia deixou de ter um caráter sacrificial, foi abolida as orações
pelos mortos e simplificadas as vestes clericais. São decretados os “Quarenta
e Dois Artigos”, de forte inspiração calvinista.
De 1553 a 1558 reinou Maria, que se reconcilia com Roma, impõe de volta a
religião católica romana, recebendo o epíteto de “a sanguinária”, por ter sido
responsável pela execução de mais de 300 clérigos, dentre eles o Arcebispo
de Cantuária Thomas Cranmer (o pensador principal da Reforma Inglesa) e os
Bispos Latimer e Ridley, queimados vivos na estaca no centro de Oxford. Na
execução, já queimando, o Bispo Latimer gritou para o seu companheiro de
infortúnio: “Conforte-se, mestre Ridley, e seja homem; devemos encarar esse
Uma Guerra Civil tem início em 1642, vencida pelo exército de hegemonia
puritana, que prende o rei Carlos I e o executa, em 1649. A partir de 1643,
todo poder permanece com o Parlamento, que estabelece o presbiterianismo
como religião oficial, e convoca a Assembléia dos teólogos calvinistas para,
reunidos na Abadia de Westminster, redigirem um Guia de Culto, uma
Confissão de Fé e um Pequeno e um Grande Catecismo. Em 1648, Oliver
Cromwell, máximo dirigente militar, dissolve o Parlamento e dá início a uma
ditadura de puritanos, se denominando de “Protetor”. Com sua morte, em
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 19
1660, o seu filho Richard não consegue segurar o regime. O Parlamento volta
a funcionar normalmente, chamando para o trono o filho de Carlos I, Carlos II,
restaurando o Episcopado e o Livro de Oração Comum (LOC), retomando a
hegemonia Anglicana.
No final do século XVII, 154 anos desde a separação de Roma com Henrique
VIII, após avanços e recuos em várias direções, surge uma nova nação
inglesa com uma Monarquia Parlamentarista e uma Igreja Nacional, que, com
pequenos ajustes, restaura o estabelecimento elizabethano. A Igreja na
Inglaterra se torna a Igreja da Inglaterra. O Anglicanismo – católico e
reformado – se torna um ramo específico na Igreja de Cristo.
Fixação de aprendizagem:
INTRODUÇÃO
Terminamos o século XVII com a Reforma Inglesa consolidada, juntamente
com um país independente e a monarquia parlamentarista. A velha Igreja dos
Celtas, que passara por Roma, se reformara, era outra, e era a mesma, pois
não houve uma ruptura ou uma refundação, mas uma Reforma. Ficaria essa
experiência restrita apenas à Inglaterra?
Dois episódios, contudo, seriam ainda mais marcantes para transformar uma
experiência localizada em um ramo mundial do Cristianismo: a Igreja
Escocesa e as Sociedades Missionárias.
ANGLICANISMO NÃO-INGLÊS
Com a independência do Reino Unido do Sacro-Império Germânico Romano,
e do poder temporal do Papa, o novo país incluía a Inglaterra, Escócia,
Irlanda, Gales, a Ilha de Man e as Ilhas do Canal, também chamadas de Ilhas
Normandas: Jersey e Guernesey. Mas, a Igreja da Inglaterra era apenas a
Igreja da Inglaterra e não a Igreja da Grã-Bretanha, porque a Igreja da Escócia
(sob a influência de John Knox), como Igreja oficial, tinha optado pelo
Presbiterianismo, formando com a Holanda e a Suíça, o trio de países
calvinistas. Algumas Paróquias de ingleses na Escócia foram formadas sob a
autoridade da Igreja da Inglaterra, mas os escoceses de origem Celta, que
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 21
apoiaram a reforma inglesa, organizaram o que viria a ser a primeira Província
Anglicana fora da Inglaterra: a Igreja Episcopal da Escócia, com sete
Dioceses, cerca de 5% da população, com seus próprios Cânones, sob a
presidência de um Primus (Arcebispo Primaz) e seu próprio Livro de Oração
Comum (LOC).
Os reis ingleses seriam os reis da Escócia, do ponto de vista político, mas não
seriam “Governadores e Cabeça” da Igreja Episcopal da Escócia, totalmente
Anglicana e totalmente independente, reconhecendo apenas a autoridade
histórica e moral do Arcebispo de Cantuária. A segunda Província também
surgiria de circunstâncias históricas: os Estados Unidos da América.
Nas primeiras décadas do século XX, vários dos antigos “Domínios” britânicos
se tornaram países independentes, e as suas Igrejas Anglicanas se reuniram
em novas Províncias: Canadá, Austrália, Nova Zelândia, África do Sul. Depois
da Segunda Guerra Mundial, o processo de descolonização foi estendido aos
países da África, Ásia, Oceania e Caribe, multiplicando-se o número de
Dioceses e surgindo novas (e, inicialmente, imensas) Províncias. Depois da
descolonização, com um clero nativo e um forte processo de inculturação, se
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 25
verificou uma verdadeira “explosão” no crescimento Anglicano, particularmente
na África, sendo hoje a Nigéria a maior Província em número de membros.
Uma marca da presença anglicana tem sido a construção de uma imensa rede
de obras sociais, muitas vezes pioneiras e únicas, particularmente no campo
da saúde e da educação (nos três níveis). Uma das primeiras universidades
norte-americanas foi o nosso “William and Mary College”, e a pequena
Província de Hong Kong (com Macau) possui hoje cerca de 100
estabelecimentos escolares. Muitos líderes das ex-colônias estudaram em
Escolas da Igreja, enquanto nos Estados Unidos, doze presidentes da
república foram Anglicanos, começando com George Washington (ex-primeiro
guardião da sua Paróquia) até Gerald Ford. Na África do Sul, o nosso então
Primaz, Arcebispo Desmond Tutu, foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz,
por seu papel no combate ao regime racista do “apartheid” e na reconciliação
do país democrático e pluriracial.
CONCLUSÕES
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 31
Em um século e meio a Comunhão Anglicana estava estabelecida em 164
países. A expansão continua. Muitas Províncias e Dioceses, desde a “Década
do Evangelismo”, votada pela Conferência de Lambeth de 1988, têm
priorizado a expansão missionária, visando os povos não alcançados, em seus
países e em outros países. A Província do Leste da Ásia, por exemplo, tem
enviado missionários para a Indonésia, Tailândia, Vietnam, Laos, Camboja e
Nepal, e a Província da África Ocidental já está evangelizando em países
vizinhos, como a Guiné-Bissau. Em breve teremos Dioceses em novos países.
Fixação de aprendizagem:
Embora, como cristãos, creiamos que a mente humana é finita para apreender
toda a compreensão sobre o Sagrado, e a partir do Sagrado sobre a Criação,
cremos, também, que a imago dei (imagem de Deus) nos dotou de razão para
apreender o suficiente. Se a mente caída gera reflexões distorcidas, ou falsas,
a mente iluminada readquire possibilidades de verdade, pois, como nos diz o
apóstolo Paulo “temos a mente de Cristo”.
Não sendo apenas um apêndice ou uma seita judaica, mas se vendo como um
desdobramento peculiar, o Cristianismo elabora novas doutrinas, a partir das
velhas doutrinas. Ao interagir com o mundo greco-romano, entra em contato
com outras formas de pensar e outros conceitos, não mais apenas o que
chamaríamos de Teologia, mas da Filosofia. Eles foram úteis para a
sistematização doutrinária e para a sua explicação, defesa e contra-ataque em
relação ao paganismo, aos cultos de mistério e às seitas heréticas, na tarefa
conhecida como Apologética.
O LIVRO
CREDOS E CONFISSÕES
Herdamos da revelação hebraica – o Antigo Testamento – a crença
monoteísta, ou seja, em um só Deus, criador de todas as coisas, soberano,
que se comunica, que intervém na História dos povos e dos indivíduos, que
prometeu um Messias, que requer louvor e adoração, que responde às
orações e que tem a proposta de um Reino.
O Credo Apostólico, com início no século II, e redação final no século IV, à
base do sagrado depósito da fé dos Apóstolos e dos Pais Apostólicos, afirma:
1. O monoteísmo, de um Deus criador e Todo-poderoso;
2. O trinitarismo, do Pai, do Filho e do Espírito Santo;
3. A encarnação e o nascimento virginal do Jesus Cristo histórico, sua
crucificação, morte e sepultura sob Pôncio Pilatos (pró-consul romano
na Palestina);
4. A ressurreição e a ascensão de Jesus Cristo ao Céu;
5. O retorno de Jesus Cristo para julgar os vivos e os mortos;
6. A Igreja, como comunhão dos santos;
7. A remissão dos pecados;
8. A ressurreição do corpo;
9. A vida eterna.
O Credo Niceno foi aprovado pelo Concílio de Nicéia, em 325 d.C., e revisado
pelo Concílio de Constantinopla, em 381 d.C., daí ser chamado de Credo
Niceno-Constantinopolitano; aprofunda as doutrinas do Credo Apostólico,
especialmente as duas naturezas (divina e humana) de Jesus Cristo e o papel
do Espírito Santo. A expressão “e do filho” (cláusula filioque) somente foi
introduzida pelo Concílio de Toledo, na Espanha, em 589 d.C., sendo uma das
causas da divisão entre o Oriente e o Ocidente, e a expressão “Reconheço
um só batismo para remissão de pecados” tem sido entendida como o
“batismo com o Espírito Santo” que ocorre na conversão de todos os fiéis.
O Livro de Oração Comum (LOC), todo harmonizado com a Bíblia, além dos
Ritos e dos 39 Artigos, contém: Orações, o Saltério, o Lecionário, o Ordinal e
um Catecismo da Doutrina Cristã, extremamente didático em suas perguntas e
respostas, usado para a instrução básica dos neófitos, centrado nos temas do
Batismo, do Credo Apostólico, do Decálogo, da Oração do Senhor, dos
Sacramentos e do Rito de Confirmação. A solidez ou a fragilidade doutrinária
OS SACRAMENTOS
O terceiro item do Quadrilátero de Lambeth afirma: “Os dois Sacramentos
ordenados por Cristo mesmo – Batismo e Ceia do Senhor – ministrados com o
uso das inexauríveis palavras de Cristo na instituição, e dos elementos
ordenados por ele”.
O EPISCOPADO
O quarto item do “Quadrilátero de Lambeth” afirma: “O Episcopado Histórico,
localmente adotado nos métodos de sua administração, para as variadas
necessidades das nações e dos povos chamados por Deus para a unidade da
Igreja”.
CONCLUSÕES
O Anglicanismo, mesmo afirmando a licitude de conviver com diferenças
quanto a questões secundárias, de forma ou acidentais, sempre foi um ramo
da Igreja de Cristo que definiu, se comprometeu e ensinou um sólido Corpo
A crise ora vivida nas Igrejas Históricas do Ocidente tem como base a
negação doutrinária.
Fixação de aprendizagem:
1. À luz da nossa Doutrina, por que se afirma que somos uma Igreja
Católica Reformada?
2. Qual a importância dos Sacramentos?
3. A que você atribui às opiniões incorretas de membros de outras
denominações sobre o nosso conteúdo doutrinário?
4. A Doutrina Anglicana é suficiente para enfrentar a Pós-Modernidade?
INTRODUÇÃO
A experiência religiosa abrange três áreas principais: a Mística, a Dogmática
e a Ética, ou seja, a relação com o Sagrado, a reflexão sobre o Sagrado, e a
vivência a partir dessa relação e dessa reflexão. E isso não se restringe ao
Cristianismo. Ninguém pode negar que há uma Mística no Bramanismo, uma
Dogmática no Mormonismo, e uma Ética no Espiritismo. Por outro lado, no
Cristianismo, nem sempre essas três dimensões funcionam adequadamente,
harmonicamente ou corretamente, gerando unilateralismos, distorções e
danos à experiência da fé. Em muitos capítulos da História da Igreja,
encontramos místicos que foram hereges e corruptos, ou pensadores da
Dogmática (doutrina), que eram áridos em sua espiritualidade e não-
conseqüentes em sua vida cotidiana, ou, ainda, militantes carentes de uma
vida devocional regular e de um conhecimento e adequação à Sã Doutrina.
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 45
A Pré-Modernidade medieval foi cheia de ênfases místicas, enquanto a
Cristandade, em geral, professava uma dogmática distante das doutrinas
originais e a falta de ética era generalizada, tanto na hierarquia quanto no
povo.
Com a Igreja considerada apenas um ente social e cultural, onde não deve
haver lugar para se definir doutrinas nem normas de comportamento, a Bíblia
sendo considerada apenas uma literatura religiosa de origem judaica útil para
a devoção particular e para a liturgia pública, de onde não se deve buscar
doutrina, nem normas de comportamento, pois todos os ensinos éticos eram
apenas expressões culturais do contexto dos seus autores, a celebração da
liturgia se reduz a um teatro, onde não se crê no que se recita, nem se vive o
que se recita.
A PALAVRA
O deserto, o batismo, a transfiguração, o Getsêmane, foram momentos de
intensa experiência mística para Jesus. Mas, ao reafirmar as Escrituras da
Primeira Aliança, ensinar a oração do Pai Nosso, proferir o Sermão do Monte
e a Oração Sacerdotal – e nos diálogos com os seus discípulos – Jesus foi
alguém que reflexionou profundamente sobre a doutrina, como pedra angular
da Dogmática da Igreja. Sua vida, percorrendo as cidades e aldeias, indo ao
encontro dos necessitados – a partir do seu esvaziamento e da sua
encarnação – foi um exemplo de engajamento conseqüente no projeto do
Reino do seu Pai.
CONSTRUÇÃO
O Livro de Oração Comum (LOC) se constitui, sem sombra de dúvidas, em um
modelo de Espiritualidade Integral. Suas orações nos levam a Deus, seus ritos
nos trazem Deus, seus ensinos equipam os fiéis para serem “fortes e
corajosos” para viver o Evangelho no mundo, entre as pessoas. O LOC atesta
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 49
a realidade das hostes espirituais da maldade nas regiões celestes, quando,
na Confirmação, pede ao novo professo a renúncia a satanás e a todas as
suas obras. Várias das orações tratam da ministração aos enfermos, da vida
profissional, das autoridades civis, e da santidade como caminho para os
justificados pela Graça mediante a fé, os salvos, os eleitos.
CONCLUSÕES
Ao longo da sua História, o Anglicanismo tem procurado conciliar Ortodoxia
com Ortopraxia. A Ortodoxia tanto significa a adoração correta (ao Deus
Triuno, em espírito e verdade) quanto a elaboração correta (Sã Doutrina); e a
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 51
Ortodoxia pode ser entendida como a vivência coerente da adoração e da
elaboração.
Quando o pensador pentecostal citado no início desta aula, diz que o homem
pós-moderno não está interessado em doutrinas, mas na vida coerente, nos
perguntamos: coerente com o que? Por outro lado, outro pensador pentecostal
afirmou que seja a pré-modernidade, a modernidade ou a pós-modernidade –
ou outra coisa que vier – elas são “o espírito do século”, e deve ter dos
cristãos uma atitude crítica e não uma adesão acrítica.
Fixação de aprendizagem:
INTRODUÇÃO
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 53
Recém empossado como Bispo Diocesano, fui a uma confraternização
evangélica em uma capital do Nordeste. Aproximou-se um jovem universitário
evangélico que me interpelou: “Eu tenho dificuldade de entender esse negócio
de Bispo. O senhor é Bispo como Dom Amaral (o Arcebispo Católico Romano
daquela cidade) ou como o Bispo Macedo?”. Ao que respondi: “Nenhum dos
dois!”. O que não ajudou muito, pois o mesmo (como a grande maioria dos
brasileiros) não conhecia senão aqueles dois modelos. Isso não teria
acontecido nos muitos países onde a maioria das Igrejas é de governo
Episcopal, mas em nosso País, onde fora o Episcopado monárquico e distante
da Igreja de Roma (o Episcopado Ortodoxo Oriental é de pouca expressão,
localizado e étnico), durante muito tempo apenas tínhamos os Bispos
Anglicanos (Episcopado histórico) na região sul, ou os Bispos Metodistas
(Episcopado administrativo) no sul e sudeste.
OS PAIS APOSTÓLICOS
Embora tenha sido um assunto presente em vários textos e escritores dos
primórdios, três foram os autores principias, dentre os Pais Apostólicos, que se
dedicaram ao tema do Episcopado: Inácio de Antioquia, Irineu de Lyon e
Cipriano de Cartago.
Ensina Inácio:
E, ainda escreve:
A Igreja de Cristo – a Igreja Católica – para Cipriano, deve ser uma, e é uma,
pois procede de Cristo e de um só núcleo, confessando a ortodoxia herdada
dos apóstolos, e sob a autoridade da sua liderança: os Bispos. O Episcopado
seria uma providência divina para preservar a unidade da Igreja. Os apóstolos
foram escolhidos por Cristo, e os Bispos estão no lugar dos apóstolos, como
seus sucessores, e ocupam esse lugar por decisão de Deus:
OS ANGLICANOS
Desde a sua primeira edição inglesa, até as edições mais recentes de outras
Províncias, o Livro de Oração Comum (LOC) tem uma de suas secções
denominadas de Ordinal, com os Ritos Sacramentais de Ordenação às três
Ordens históricas: Bispos, Presbíteros e Diáconos. Sempre temos sido, tanto
nos períodos Celta e Católico Romano quanto no atual período Reformado,
OS MINISTÉRIOS
Como Igreja Reformada, afirmamos e encorajamos o “sacerdócio universal de
todos os crentes”, com o Espírito Santo derramando os seus dons sobre todos
os convertidos, para a edificação conjunta do Corpo. Como Igreja Católica,
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 63
afirmamos o papel especial de coordenação, ministração e manutenção da
unidade e da verdade que é confiado ao ministério Ordenado, como tem sido
por vinte séculos: os Bispos, os Presbíteros e os Diáconos, vocacionados,
reconhecidos e selados, indelevelmente, pelo Rito Sacramental.
CONCLUSÕES
Somos um ramo da Igreja de Jesus Cristo com dois mil anos de História,
quando nos identificamos com a concepção e as expressões do ministério
estabelecidas nos primórdios, mantida por um milênio e meio, e ainda
amplamente majoritária no conjunto da Cristandade até os nossos dias. Sob a
iluminação do Espírito Santo, e respondendo aos tempos e lugares, temos
feito ajustes e aperfeiçoamentos nesse modelo, sem descaracterizá-lo. A
trágica fragmentação denominacionalista sofrida pelo Cristianismo Ocidental,
desde, principalmente, o século XVIII, e atingindo uma situação dilacerante em
nossos dias, teve origem, maiormente, em espaços de governo
congregacionalista, e, em grau mais reduzido nos espaços de governo
presbiteriano.
Fixação de aprendizagem:
1. Diferencie as formas de governo eclesiástico: Episcopal,
Presbiteriano e Congregacional.
2. Por que o Anglicanismo manteve a forma de governo Episcopal?
3. Qual a função dos Bispos, dos Presbíteros e dos Diáconos?
4. Como compatibilizar os Ministérios Ordenados e os Ministérios
Instituídos com o sacerdócio universal de todos os crentes? Como o
laicato pode exercitar os seus dons?
INTRODUÇÃO
Todas as instituições se estruturam em torno de normas, procedimentos e
formas de organização. Elas somente subsistem se sua forma de ser for aceita
por todos os seus integrantes, o que garante não somente a sua legalidade,
mas, igualmente, a sua legitimidade. Nenhuma instituição subsiste de forma
anárquica (= sem governo), e entra em crise se há uma maioria de infratores.
A Igreja, divinamente criada pela perfeição de Deus, e humanamente
constituída por seres imperfeitos, é um organismo vivo e uma organização
social sujeita aos mesmos processos históricos e sociológicos de qualquer
instituição social, necessitando de normas jurídicas e formas organizacionais.
O plano de Deus de um só povo em uma só instituição não se realizou em
virtude do pecado, tanto na limitada divisão dos ramos históricos, quanto na
ilimitada divisão das “denominações” recentes.
COMUNHÃO
Ao contrário das Igrejas Orientais ou da Igreja de Roma, com o seu
Patriarcado, ou dos conglomerados protestantes com suas Federações ou
Alianças, o Anglicanismo constitui uma Comunhão, onde a História, a
Doutrina, a Liturgia e os Laços de Afeição contam mais que os vínculos
institucionais formais. Esse é um sistema único, relativamente novo na
História, e, de certa forma, ainda em construção.
Um fórum menor e mais recente, e cada vez mais importante, que se reúne
durante o intervalo entre as Conferências de Lambeth é o Encontro dos
Primazes, dos bispos presidentes das 38 Províncias da Comunhão Anglicana,
e que, convocado pelo Arcebispo de Cantuária, acompanha e orienta a vida da
instituição.
PROVÍNCIAS
As Dioceses Anglicanas de todo o mundo são agrupadas em 38 entidades
regionais denominadas de Províncias. As Províncias (formadas por um mínimo
de três Dioceses) são regidas por dois documentos legais básicos: a
Constituição, registrada perante o Estado, com seus objetivos gerais e
organização, e os Cânones Gerais, de direito interno, mais detalhado, que
estabelece a competência e atribuições dos organismos constitutivos. Estes
podem, por sua vez, ser regido por seus Estatutos.
A maioria dos Sínodos adota o sistema bi-cameral: uma Câmara dos Bispos e
uma Câmara de Clérigos e Leigos. Alguns Sínodos são tri-camerais: uma
Câmara de Bispos, uma Câmara de Clérigos e uma Câmara de Leigos. O
Sínodo se reúne em assembléias conjuntas ou por Câmaras, e algumas
votações são tomadas “por ordens”, ou seja, bispos, clérigos e leigos votam
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 69
em urnas separadas, e as deliberações somente serão válidas de obtiverem
maioria nas três urnas.
DIOCESES
A unidade eclesiástica básica do Anglicanismo (e dos demais ramos históricos
do Cristianismo) é a Diocese, denominada de Igreja-Local (conceito histórico
e usado em todos os documentos eclesiológicos oficiais da Comunhão
Anglicana e das Províncias), formada por um determinado território e dirigida
por um Bispo, tendo como Sé, ou Igreja-Matriz, uma Catedral, gozando de
COMUNIDADES
A Diocese como Igreja-Local é representada, nas diversas cidades e/ou
bairros, por suas Paróquias, Missões e Pontos Missionários.
CONCLUSÕES
Quando os ministros anglicanos são Ordenados, como Bispos, Presbíteros e
Diáconos, ou quando sua liderança leiga é empossada nas Juntas Paroquiais
ou Conselhos de Missão, eles se comprometem com a doutrina, o culto e a
disciplina desse ramo do Cristianismo. A Doutrina é o nosso conjunto de
crenças, o Culto a nossa expressão litúrgica, e a Disciplina com as nossas
normas e procedimentos organizacionais vigentes.
Fixação de aprendizagem:
INTRODUÇÃO
Sendo Deus o único ser incriado e perfeito, Ele é portador – em perfeição – de
todos os atributos. Dentre estes, podemos afirmar que Deus é, também, o
Sumo Belo. Em decorrência, toda a Criação é Bela. Qualquer limitação,
distorção ou ausência de beleza, é uma decorrência da Queda, que trouxe a
entropia física, espiritual e moral à natureza. A Beleza marcou o Jardim do
Éden e marcará a Nova Jerusalém. Embora pecadores, resta a nós seres
humanos a capacidade de valorizar a beleza, no que podemos denominar de
sensibilidade estética, e a capacidade de criar a beleza, que poderíamos
denominar de capacidade artística, malgrado as diferenças culturais.
ISRAEL
Sabemos que os céus e o firmamento proclamam, explicitam à humanidade a
glória e o poder de Deus. Cedo, Ele aceitou o primeiro rito no sacrifício de
Abel, e na rejeição do sacrifício de Caim, evidenciando que nem todas as
formas de culto são aceitáveis. Ele usa da beleza do arco-íris, em sua
policromia, para selar o pacto com Noé. Na Era patriarcal, vemos Abraão, em
sua peregrinação de Ur a Canaã ir erigindo altares (Livro de Gênesis).
A idolatria (expressa ou sutil) é sempre um risco na Arte Sacra, mas nunca foi
razão suficiente para Deus condenar esta per se, ou em sua totalidade, antes
Ele sempre continuou a promovê-la. Porque a destruição da serpente, ou do
bezerro de ouro, não impediu a construção da Arca que levaria as tábuas da
Lei na peregrinação do povo, o propiciatório (inclusive com o detalhe da
escultura dos anjos), a mesa, o candelabro, as cortinas do tabernáculo, a
coberta de pele e de tábuas, os véus, o reposteiro, as colunas, o altar do
holocausto, o átrio do tabernáculo, o azeite para o candeeiro, a instituição do
sacerdócio dentre os filhos de Arão, as vestes sacerdotais: o peitoral, a estola
sacerdotal, a sobrepeliz, a túnica bordada, a mitra e o cinto. E, ainda, as
cerimônias de consagração e de sacrifícios, as ofertas contínuas, o altar do
incenso, a bacia de bronze, o óleo da santa unção, o incenso sagrado (Ex
caps. 26 a 30).
Houve, durante toda a história dos hebreus, uma íntima relação entre a
observância da Lei, o cuidado com o culto, a vida espiritual e moral, a
independência nacional e a valorização do Templo, com a sucessão de reis
desobedientes e de reis piedosos. Podemos destacar, como exemplo, o
contraste entre os reinados de Acaz e de Ezequias. Em virtude de um acordo
político com o rei da Síria, Acaz ofereceu sacrifício a seus deuses, e profanou
o Templo: “Ajuntou Acaz os utensílios da Casa do Senhor, fê-los em pedaços
e fechou as portas da Casa do Senhor; e fez para si altares em todos os
cantos de Jerusalém. Também, em cada cidade de Judá, fez altos para
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 83
queimar incensos a outros deuses; assim, provocou a ira o Senhor Deus dos
seus pais” (II Cr 28:24-25). Em contraste, Ezequias: “No primeiro ano do seu
reinado, no primeiro mês, abriu as portas da Casa do Senhor e as reparou,
denunciando os que voltaram as costas à Casa do Senhor, a profanaram”...
“...pelo que veio grande ira do Senhor sobre Judá...” (II Cr 29: 3-11).
IGREJA
Em seus primórdios, a Igreja, formada por judeus e prosélitos, manteve
vínculos com o Templo (até a sua destruição e a diáspora) e com as
sinagogas, tanto na Palestina, quanto nas localidades com colônias judaicas
no Império Romano. Os convertidos gentios, por sua vez, abandonam os
templos pagãos, e não foram encorajados a se vincular às sinagogas. O
próximo passo foi procurar lugares estáveis para suas reuniões e cultos,
tantas vezes sob a perseguição imperial. As reuniões nos lares, às margens
dos rios, ou nas catacumbas, não foi uma opção (muito menos opção
definitiva), mas uma resposta contingencial e emergencial, e não podem ser
tomadas por norma ou paradigma.
O Anglicanismo, com sua herança celta e romana, e seu forte intercâmbio com
os pensadores luteranos, apesar das marchas e contramarchas ocorridas
entre Henrique VIII e a Revolução Gloriosa, sábia e sensatamente, optou por
preservar e promover a estética do sagrado, sendo hoje uma das suas marcas
mais evidentes, a despeito dos pequenos bolsões de herdeiros do
Puritanismo, que permaneceram, tencionando, na periferia da instituição.
ANGLICANISMO
Quem visita as quarenta e quatro Catedrais inglesas, suas Abadias e as
Capelas de suas Universidades, se depara com construções de rara beleza,
onde, desde o estilo do edifício a cada detalhe da decoração, dos móveis e
dos utensílios (o altar, o púlpito, o atril, o presbitério, a cátedra, as cores das
estações, os instrumentos musicais, o espaço para os cantores etc.) formam
uma harmonia, porque foram pensados como expressão do culto. O mesmo
se pode dizer de templos de vários estilos, refletindo diversas épocas, estilos e
culturas, da Catedral Nacional de Washington às Capelas no interior da África,
da Ásia ou da Oceania. Essa harmonia estética, histórica e inculturada,
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 87
revelam a piedade anglicana e sua seriedade e, especialmente, reverência
diante de Deus. Os santuários são lugares separados (santos) para o serviço
a Deus, desvinculados do uso comum, e devem criar uma atmosfera propícia
ao recolhimento espiritual e à comunicação com o Senhor.
Salta aos olhos a estética dos paramentos do altar, com a Toalha Encerada, o
Frontal, o Véu de Seda do Cálice, a Toalha de Linho Branco, a Bolsa, o Cálice,
a Patena, as Galhetas, a Caixa de Obréias e o Lavabo, seus linhos, como o
Corporal, a Pala, o Véu da Pós-Comunhão, o Purificador, o Manustérgio, a
Toalha Batismal, bem como os seus ornamentos, como a Cruz, os Castiçais e
a Salva, o Antepêndio do Púlpito, o Antepêndio do Atril, os Marcadores dos
Livros, os Estandartes etc., (com maior ou menor ênfase entre as alas da
“Igreja alta” e da “Igreja baixa”), variando com as cores litúrgicas das estações
(Advento, Natal, Epifania, Quaresma, Pentecostes) e datas ou ocasiões
especiais: o Roxo: penitência, recolhimento; o Verde: esperança,
regeneração, imortalidade; o Vermelho: Espírito Santo, martírio, amor de
Deus, e o Branco: pureza, perfeição.
OBSTÁCULOS
Todas as outras manifestações religiosas diversas da Igreja de Roma no Brasil
foram duramente perseguidas no período Colonial, inclusive com a Inquisição.
Com a vinda da Família Real e o Reino Unido (1808), e posteriormente, com a
Constituição Imperial (1824), mantida as discriminações legais, foi promovida
uma política de “tolerância” (não de liberdade religiosa), com os outros cultos a
terem lugar em espaços privados, ou que não tivessem sinais exteriores de
templo, mesmo aqueles permitidos aos súditos de Sua Majestade Britânica
(Anglicanos), em língua inglesa e aos imigrantes luteranos, em alemão. Essas
restrições permaneceram até a Proclamação da República e a Constituição de
1891.
Grande parte das novas comunidades protestantes era formada por gente
simples, carente de maiores recursos, realizando os seus cultos nos lares, em
salões alugados ou em construções rústicas.
CONCLUSÕES
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 91
A cura emocional e espiritual do Protestantismo brasileiro passa pela re-
inclusão da estética no sagrado, com a apropriação do legado artístico
histórico e a liberdade para a criação autóctone, liberto do medo de se parecer
“católico” (ou, mais exatamente, “romano”). O uso de símbolos (como a cruz
de pescoço ou lapela, ou o colarinho eclesiástico) são elementos facilitadores
à missão, pela explicitação do seu conteúdo e estabelecimento de diálogos. O
Anglicanismo, ortodoxo, da Diocese do Recife, deve dar exemplo dessa
libertação de preconceitos, para o bem do Reino de Deus, como uma
alternativa compatibilizadora entre o Bem (a Sã Doutrina) e o Belo (a Arte
Sacra, a Liturgia), que uma parcela crescente da população brasileira,
insatisfeita com as expressões polares encontradas, está (ainda que
inconscientemente) a buscar.
Resgatemos a Beleza!
Fixação de aprendizagem:
INTRODUÇÃO
Com sua História específica, a Igreja da Inglaterra – e, por extensão, o
Anglicanismo – desenvolveria uma identidade peculiar. A influência celta,
católica romana, da pré-reforma de Wycliffe; a influência luterana e calvinista,
a luta pela independência contra o domínio do Sacro-Império Germânico
Romano, a dubiedade religiosa de Henrique VIII (apesar da independência
nacional e o estabelecimento de uma Igreja nacional), as marchas e
contramarchas das preferências religiosas dos seus três filhos e herdeiros: o
protestantismo de Eduardo, o catolicismo romano de Maria e o
estabelecimento de um modelo próprio – católico/protestante – por Elizabeth.
E, ainda, os sinais contraditórios de Jaime I e Jaime II; Carlos I e Carlos II,
passando pelos regimes presbiterianos do Parlamento e dos Cromwell (Oliver
e Richard).
Havia o desafio de não voltar a Roma, nem ser uma mera continuação do
romanismo sem vínculos com Roma, sendo católica, mas não romana, com
continuidade, mas com reforma. Havia o desafio da pressão por radicalização
por parte dos Puritanos, tanto presbiterianos quanto congregacionais. Do
continente chegavam os ecos de Lutero, de Calvino e dos Anabatistas. O Ato
de Supremacia e o Ato de Uniformidade foram diplomas legais autoritários,
mas inevitáveis no contexto da época, como se teve que apelar para a
autoridade do Estado, tanto no estabelecimento elizabethano, quanto no
estabelecimento posterior da Revolução Gloriosa.
CONSENSO
Do triunfo da Revolução Gloriosa, de Guilherme e Maria (1688), ao surgimento
do Movimento de Oxford (1838) viveu a Igreja da Inglaterra um período que foi
denominado de Consenso Protestante. O Anglicanismo se via como uma
Igreja Nacional resultante do fenômeno sócio-político-econômico-cultural-
religioso conhecido como a Reforma Protestante do Século XVI. Uma Igreja
Reformada, Protestante, que afirmava a autoridade das Sagradas Escrituras,
popularizado o seu uso e “livre exame” no vernáculo entre o povo, com uma fé
centrada na Graça de Deus manifestada no sacrifício de Cristo, e cujo
conteúdo doutrinário, litúrgico e teológico estava expresso no Livro de Oração
Comum (LOC), edição de 1662. Doutrinas tidas como “irracionais”, como a
transubstanciação, ou extra-bíblicas, como o purgatório, o papado, o celibato
obrigatório do clero foram combatidas, bem como práticas como a venda de
indulgências, a veneração de relíquias, a adoração do sacramento ou das
TENDÊNCIAS
A – IGREJA ALTA
A expressão “Igreja Alta” (High Church) foi cunhada no final do século XVII
para se referir à ala da Igreja da Inglaterra que, desde o período elizabethano
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 95
resistia às investidas dos reformadores puritanos, enfatizando a continuidade
histórica com a Cristandade Católica pré-reformada, o que implicava em um
conceito “alto” sobre a autoridade da Igreja, especialmente no que diz respeito
ao Episcopado e aos Sacramentos. No século XVI Bancroft e Hooker, e, no
século XVII Andrewes e Laud, são tidos como representantes desse
pensamento. Alguns aderiram ao cisma dos “Non-Jurors”, e outros
permaneceram na Igreja Estabelecida, havendo um declínio dessa proposta
no século XVIII, apesar da influência de nomes como Butler e Johnson. A
tendência da “Igreja Alta”, de certa forma, veio a renascer, na terceira década
século XIX, com o Movimento de Oxford, conhecido, também, como
Tratarianismo ou Anglo-Catolicismo.
B – IGREJA BAIXA
A expressão “Igreja Baixa” (Low Church), por sua vez, foi usada para se referir
ao outro extremo do espectro eclesial inglês, àqueles herdeiros da tradição
Reformada, mais influenciado pelos Puritanos, dando menor importância ao
Episcopado, ao Sacerdócio e aos Sacramentos, cujas crenças se
aproximavam, muitas vezes, dos Protestantes Não-Conformistas. O termo foi
cunhado no século XVIII, em contraste com a “Igreja Alta”, e foi reavivado, no
século XIX, em setores do Evangelicalismo.
C – IGREJA LARGA
Uma terceira designação aparece no século XIX, com a “Igreja Larga” (Broad
Church), com autores como Arnold, Hampdem, Clough e Stanley, que
contribuíram para a publicação “Ensaios e Revisões” (1860). Eles opunham
objeções a definições positivas na teologia, buscando interpretar as rubricas e
formulários anglicanos de um modo “largo” ou “amplo”. Foram, depois,
CORRENTES
1. CATÓLICAS
Os segmentos tidos como mais “Católicos” do Anglicanismo são aqueles que
enfatizam o papel dos Pais da Igreja, dos Pais Apostólicos e dos Concílios da
Igreja Indivisa, a Tradição, o Episcopado, os Sacramentos (dando aos Ritos
Sacramentais quase o mesmo status de sacramentos plenos), a Liturgia,
minimizando a importância da Reforma (“Somos uma Igreja Católica que
passou pela Reforma, ou que recebeu sua influência”). Não gostam de ser
chamados de “protestantes”, nem de considerar o Anglicanismo como um
mero ramo ou “denominação” do Protestantismo, e desenvolveram a teoria
dos “Três Ramos do Catolicismo: Roma, Bizâncio e Cantuária”, que,
ironicamente, não é aceita nem por Roma nem por Bizâncio, além de deixar
fora os outros ramos do Catolicismo, tanto no Oriente quanto no Ocidente.
Podem ser classificados, grosso modo, em quatro grupos: 1. Anglo-Católicos;
2. Moderados; 3. Liberais; 4. Carismáticos.
1.1.ANGLO-CATÓLICOS
O Anglo-Catolicismo, também chamado de “Movimento de Oxford”, ou
“Tratarianismo”, tem o seu ponto de partida com a publicação, a partir de
1838, da série denominada: “Tratados sobre os Tempos”, condenando o
estado de apatia espiritual e moral em que se encontrava a Igreja da
Inglaterra, e enfatizando os aspectos dogmáticos e sacramentais da vida
eclesiástica. Os seus principais expoentes foram J. H. Newman, autor de
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 97
Apologia Pro Vita Sua, J. Keble, E. B. Pusey, dentre outros. O Movimento teve
um forte impacto na renovação litúrgica (apesar das controvérsias e a
acusação de “papistas”) e nos pontos missionários nas favelas das grandes
cidades inglesas, mas sofreria uma crise que o dividiu, com um ala, liderada
por Newman (que seria feito Cardeal) indo para a Igreja Romana, e outra
permanecendo no interior da Igreja da Inglaterra.
1.2. MODERADOS
1.3. LIBERAIS
O termo Liberalismo (conhecido na Igreja de Roma por Modernismo) foi uma
corrente de pensamento protestante do século XIX, influenciado pelo
Iluminismo e pelo Racionalismo, presente em diversas Igrejas Históricas,
inclusive no Anglicanismo que, no campo político, defendia a democracia, o
progresso e a liberdade, mas que, no campo teológico tendeu para a crítica
racional das Escrituras (crítica bíblica) uma tendência anti-dogmática (negação
das doutrinas), uma soteriologia universalista, um relativismo moral, e um
humanismo social otimista, julgando que, com a negação dos milagres estaria
tornando o Cristianismo mais aceitável ao homem moderno, e que a
“cristianização” do mundo, como processo civilizatório, em uma perspectiva
pós-milenista, transformaria o século XX no “Século Cristão” (título de uma de
suas mais influentes revistas).
1.4. CARISMATICOS
Embora que os episódios históricos que o precederam (Avivalismo, Movimento
de Santidade, Pentecostalismo, Movimento de Renovação Espiritual) tenha se
dado no espaço protestante, a partir dos anos 1970, o Movimento de
Renovação Carismática surge na Igreja de Roma, no Luteranismo e no
Anglicanismo. No caso dos Estados Unidos da América (onde as tradições da
“Low Church” e do Evangelicalismo tinham quase que desaparecido), o
Movimento Anglicano de Renovação Carismática teve um impacto significativo
nas alas católicas: anglo-católicos, moderados, e, até liberais (que se
converteram, no processo), conciliando a herança litúrgica e sacramental
católica com uma pneumatologia de corte mais pentecostal, sem provocar
rupturas institucionais, pregando a santificação, mas não o legalismo,
adotando novos instrumentos e novos estilos musicais em um culto mais
espontâneo, com uma revalorização da Bíblia junto com a experiência e uma
volta à ênfase no evangelismo (quase desaparecida naquela Província).
2. PROTESTANTES
As correntes Protestantes do Anglicanismo, embora reconhecendo valores nos
períodos antecedentes, tanto Celta quanto Católico Romano, e a rica herança
que a Cristandade possui (malgrado seus erros e desvios) da Antiguidade até
a Pré-Reforma, reputam de especial valor os episódios e as ênfases da
Reforma Protestante, particularmente o lugar central das Sagradas Escrituras
e da Salvação pela Graça mediante a Fé. Essas correntes têm mais afinidades
com outros ramos do Protestantismo, do que com as Igrejas não-reformadas
do Oriente e do Ocidente, com o princípio dinâmico que “A Igreja Reformada
sempre está se Reformando” (Ecclesia Reformada Semper Reformanda), pelo
sacerdócio universal de todos os crentes. Evangélicos, Carismáticos,
Fundamentalistas e Liberais são expressões que têm estado nesse lado da
Comunhão Anglicana. Se a Igreja Anglicana é uma “via média” entre Roma,
Genebra e os Anabatistas, para as correntes protestantes, ela é uma “via
média” Reformada, conforme atestam o Livro de Oração Comum (LOC), o
pensamento de Cranmer e os XXXIX Artigos de Religião.
2.1.EVANGÉLICOS
O Evangelicalismo tem sido uma escola de pensamento na Igreja da
Inglaterra, que traça suas origens à Pré-Reforma de Wycliffe, e às ênfases
reformadas do século XVI, particularmente, a salvação pela fé na morte
remidora de Jesus Cristo. Ele também enfatiza a inspiração e a autoridade das
Sagradas Escrituras, a crença no retorno de Cristo para redimir os eleitos, a
importância central da pregação (com uma liturgia mais simples), negando a
regeneração batismal e a Eucaristia como sacrifício, afirmando a necessidade
da experiência de conversão, ou “novo nascimento”, e da santificação, e a
urgência missionária, em histórico conflito com os Tratarianos e as doutrinas
2.2. FUNDAMENTALISTAS
Hans Kung afirmou que uma das marcas do Anglicanismo era a moderação, e
Alistair McGrath diz que: “Os historiadores estão de acordo em que o
Fundamentalismo nunca achou um lugar significante no Anglicanismo”. O
Fundamentalismo foi um fenômeno inicialmente localizado nos Estados
Unidos, de reação ao Liberalismo e de reafirmações de verdades
consideradas “fundamentais” para o Cristianismo: nascimento virginal,
milagres, expiação, ressurreição, segunda vinda, mas, que, posteriormente, se
transformou em uma expressão extremada do Evangelicalismo, uma ideologia
racista, sectária e anti-intelectual. Esse fenômeno não se reproduziu na
Inglaterra, e teve escasso impacto sobre o Anglicanismo mundial. O que os
liberais denominam hoje de “fundamentalistas” na Comunhão Anglicana são
os contrários à Ordenação feminina, os defensores de uma liturgia mais
“baixa”, de uma teologia mais calvinista, os conservadores políticos ou, até os
que são contrários à Ordenação e bênçãos sobre uniões de homossexuais.
2.3. LIBERAIS
Por muito tempo temos tido em diversas Províncias e Dioceses Anglicanas os
chamados “low church liberals” (liberais da Igreja Baixa), ou seja, integrantes
2.4. CARISMÁTICOS
É no Protestantismo contemporâneo que vamos encontrar os Avivamentos e o
Movimento de Santidade (que sai do Metodismo na segunda metade do
século XIX) como antecedentes dos acontecimentos da Rua Azuza, em Los
Angeles, Califórnia, EUA, onde na Igreja pastoreada por W. J. Seymour
(oriundo do Movimento de Santidade), se inicia, em 09 de abril de 1906, o
Movimento Pentecostal, evidenciado pela glossolalia (falar em línguas
estranhas) como sinal do “batismo com o Espírito Santo”. Nos anos 60 do
século XX, em alguns países e denominações (batistas, presbiterianos,
metodistas, congregacionais) veio a se dar o Movimento de Renovação
Espiritual, que as divide institucionalmente entre “tradicionais” e “renovados”
(os que aceitam os princípios pentecostais). Nos anos 70 ocorre o Movimento
de Renovação Carismática, que, no caso do Anglicanismo inglês, se dá em
sua ala Protestante, com figuras como os Reverendos Michael Harper (então
Coadjutor do Rev. John Stott, na Paróquia de All Souls) e David Watson, um
evangelista itinerante.
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 105
A permanência no interior da instituição, uma visão menos legalista e uma
visão menos centrada na glossolalia, diferenciaram esse “carismatismo
anglicano” dos seus congêneres pentecostais, embora se reconheça seu
impacto na consagração de vidas, na flexibilização e inculturação litúrgicas e
no fervor missionário. Com a questão da Ordenação feminina um grupo
expressivo, liderado pelo Rev. Michael Harper deixou o Anglicanismo pela
Igreja Ortodoxa Antioquina, e o Rev. David Watson morreu prematuramente
(vale a pena ler o livro que escreveu durante a sua enfermidade: Fear no Evil).
Os carismáticos protestantes anglicanos tanto têm trabalhado junto com os
evangélicos não-carismáticos, quanto com os carismáticos das alas católicas,
no interior do SOMA. Muitos anglicanos, católicos e protestantes, que não
aderiram à Renovação Carismática, incorporaram algumas das suas
influências, reconheceram a contemporaneidade dos dons espirituais, mas
com reservas quanto ao lugar das experiências e revelações particulares em
relação às Escrituras e o aparente débil compromisso sócio-político dessa
corrente.
MUDANÇAS
O cenário anglicano atual evidencia que a era dos grandes conflitos entre as
tendências católicas e protestantes é coisa do passado, embora essas
tendências continuem, e mantenham suas peculiaridades. O conflito externo
com o Secularismo, e interno com o Liberalismo sinalizou para a necessidade
do estabelecimento de um clima mais fraterno e de cooperação, já que as
tradições católicas, protestantes e carismáticas prezam a Palavra de Deus e a
Tradição Apostólica. A constituição de movimentos e entidades “frente” com
essas tendências tornou possível a vitória da ortodoxia na Conferência de
Lambeth, de 1998. Essas tendências convergem para uma concepção de uma
inclusividade limitada, o que não inclui o nihilismo, a ausência de verdade e o
CONCLUSÕES
O Anglicanismo, por cinco séculos, foi um admirável exemplo de coexistência
de diversidades acidentais e convergências essenciais: direita e esquerda
política, calvinistas e arminianos, sacramentalistas e conversionistas,
aspersionistas e imersionistas, tradicionais e inovadores, formalistas e
informais. A História, a maneira de fazer teologia e pastoral, o Livro de Oração
Comum, as Escrituras Sagradas, os Credos, os Sacramentos, o Episcopado
Histórico, a legislação Canônica diocesana e provincial, e os Instrumentos de
Unidade/Instrumentos de Comunhão (Arcebispo de Cantuária, Conferência de
Lambeth, Encontro dos Primazes, Conselho Consultivo Anglicano) tinham sido
suficientes para manter não um Papado, um Patriarcado, uma Federação ou
uma Aliança, mas uma Comunhão, marcada pelos laços de afeição.
Fixação de aprendizagem:
INTRODUÇÃO
A exceção das presenças francesa no Rio de Janeiro e no Maranhão, e do
breve domínio holandês no Nordeste, as Igrejas reformadas estiveram
ausentes do Brasil no período Colonial, inclusive a Igreja Anglicana. Tentativas
infrutíferas de Missões Anglicanas ocorreram no século XIX, mesmo período
em que aqui se estabeleceram as Capelanias Consulares inglesas. Nos
primórdios do século XX tivemos a imigração de anglicanos japoneses. Mas a
consolidação de uma presença permanente anglicana no Brasil somente se
dará após 1890, com a chegada dos missionários norte-americanos no Rio
Grande do Sul, oriundos do Seminário de Virgínia.
CAPELANIAS
A presença de navegadores e comerciantes ingleses no território do Reino de
Portugal já era uma realidade no início do século XIX. Em 1800, um decreto
real os proibiu de se reunirem para culto, bem como o direito de terem
No Recife, a Holy Trinity Church foi estabelecida em 1822, tendo o seu templo
construído na então Rua Formosa, esquina com a Rua da Aurora (futuro local
do Cinema São Luís), sendo transferida, na década de 1940 (com o
alargamento da agora Avenida Conde da Boa Vista) para a Rua da Matinha
(depois Carneiro Vilela), no Bairro dos Aflitos, e apenas se filiaria à Igreja
Episcopal Brasileira em 1976, integrando a Diocese do Brasil Central, com
sede no Rio de Janeiro, sob o Bispo Edmund Knox Sherrill. Em Salvador os
cultos tiveram início em 1815, e o templo do Campo Grande foi inaugurado em
1853.
MIGRAÇÃO
Uma segunda experiência de presença anglicana no Brasil foi a imigração
japonesa, um século após o início do estabelecimento das Capelanias
inglesas, após a Primeira Guerra Mundial. Cerca de 200 mil nipônicos se
mudaram para o nosso País naquela época, principalmente para os Estados
de São Paulo, Paraná e Pará. Embora os cristãos, no conjunto de suas
denominações, seja uma pequena minoria naquela nação asiática, o próprio
governo, visando facilitar a integração dos imigrantes à sua nova terra, dava
preferência a candidatos membros de Igrejas cristãs, inclusive da Igreja
Anglicana (Santa Igreja Católica Japonesa), a segunda presença cristã mais
antiga no país, e possuidora de uma rede de instituições sociais, inclusive de
uma Universidade.
Um outro fato foi a abertura dos japoneses que aqui chegaram a tudo o que
dizia respeito ao nosso modo de vida, inclusive à fé cristã. A Igreja Romana, e,
depois, grupos como os Metodistas Livres e a Igreja Evangélica Holiness,
trouxeram missionários do Japão, e terminaram por consolidar uma forte
presença nas suas colônias.
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 111
TENTATIVAS
Além da Capelanias Inglesas e da Migração Japonesa, registramos intentos
missionários anglicanos aos brasileiros não bem sucedidos, no século XIX.
MISSÃO (1890-1907)
Nas últimas décadas do século XIX o Seminário de Virgínia, da PCUSA, na
cidade de Alexandria, era de linha evangélica, e entre os seus estudantes
havia uma forte motivação para as missões nacionais e mundiais, inclusive
com a criação de uma Associação Missionária. Dali saíram os primeiros
missionários para a Grécia, a China, a África e o Japão.
A estratégia dos missionários era sempre começar pela cidade pólo de cada
região, alugando um imóvel em uma área central, de preferência em frente à
Igreja Matriz romana. Organizavam grupos que visitavam a maioria de
residências possíveis, onde oravam, liam a Bíblia, cantavam hinos e
convidavam para o Culto de Inauguração, quando expunham a história e o
caráter do Anglicanismo e pregavam um sermão evangelístico. Conferências
evangelísticas e a Escola Bíblica Dominical para todas as idades, eram outros
dos meios de evangelização.
DISTRITO (1907-1949)
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 115
Com o status de Distrito Missionário da PCUSA a obra missionária continuou a
crescer no sul do Brasil. Os brasileiros escolheram o Rev. Lucien Lee
Kinsolving para ser o seu primeiro Bispo. Essa escolha foi oficializada pela
Província dos Estados Unidos, sendo o mesmo sagrado em 06 de janeiro de
1899, na Paróquia de São Bartolomeu, em Nova Iorque. O Bispo Kinsolving,
incansável, viajava todo o tempo, visitando o máximo de localidades. Era um
homem piedoso, ortodoxo, erudito, bom orador, de fácil comunicação e
capacidade de liderança.
Sobre ele escreve Kickofel: “Thomas acreditava que a Igreja Episcopal tinha
uma valiosa contribuição a dar ao povo brasileiro. Ela mantinha a verdade
evangélica e as ordens apostólicas. Era uma igreja católica com uma missão
especial para o protestantismo brasileiro. Era a única Igreja católica com
heranças e sentimentos protestantes... era a única denominação evangélica,
no sentido original do termo, que oferecia um culto que conservava a prática e
a fé católicas”. Foi Thomas que supervisionou a revisão do Livro de Oração
Comum, de 1930, procurando afastá-lo do modelo norte-americano. Ele era
um entusiasta do LOC, e esperava que todos – clérigos e leigos – o usassem
sempre. Seu lema era: “Governemo-nos pelo Livro de Oração Comum”.
DIOCESES (1949-1965)
Com a expansão do trabalho missionário nos Estados do Rio Grande do Sul,
Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de Janeiro, o Concílio do Distrito, em
1949, deliberou por sua divisão em três Dioceses, o que foi aprovado pela
Câmara dos Bispos e pela Convenção Geral da PCUSA: Diocese Brasil
Meridional, com sede em Porto Alegre e território sobre o leste do Rio Grande
do Sul e de Santa Catarina; Brasil Sul-Ocidental, com sede em Santa Maria,
e território sobre o Oeste do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, e Brasil
Central, com sede no Rio de Janeiro, com território sobre os Estados do
Paraná, São Paulo e Distrito Federal (Rio de Janeiro) e territórios a serem
ocupados acima dos seus limites norte.
PROVÍNCIA
Com a criação da nova Província, tivemos, depois, nova mudança de nome,
para Igreja Episcopal do Brasil. A grande questão era de natureza financeira,
pois os salários e pensões, até então, vinham da PCUSA, desmotivando a
mordomia dos leigos e acomodando o clero.
CRISE
A Igreja Episcopal Anglicana do Brasil (IEAB) foi-se tornando uma aliada e
seguidora da ex-PCUSA, depois ECUSA, hoje TEC, primeiro com o
Liberalismo moderno, e, depois, com o Liberalismo Pós-Moderno, ou
Revisionista, radicalizando o seu discurso e a sua prática em favor de uma
inclusividade e de uma diversidade ilimitada, em matéria de doutrina e de
moral, negando a autoridade normativa das Sagradas Escrituras, a unicidade
de Jesus Cristo como Salvador (macro-ecumenismo), e a própria existência da
verdade, ou a possibilidade do seu conhecimento, como se vê nos
documentos emitidos durante o breve primado do Revmo. Orlando Santos de
Oliveira e do agora primaz (o ex-irmão livre, ex-presbiteriano) Revmo.
Maurício Andrade e do seu Secretário-Geral (o ex-congregacional renovado,
ex-batista) Francisco de Assis Silva, ambos ex-militantes da Aliança Bíblica
Universitária (ABU). A maioria dos seus Bispos votou contra a Resolução 1.10
sobre Sexualidade Humana, na Conferência de Lambeth de 1998.
CONCLUSÕES
Com o Ocidente, a Cristandade e o Anglicanismo em crise, era de se esperar
que o Brasil não ficasse imune a seus efeitos, notadamente quando a
Província se afastou totalmente de suas origens e das convicções que
motivaram os Bispos Kinsolving e Thomas. Belas e sacrificiais páginas foram
escritas no passado. E elas não foram em vão, pelas vidas que foram
atingidas.
INTRODUÇÃO
A Filosofia clássica já afirmava que “o ser é aquilo que é; o que não é, é o
não-ser”. E um personagem de Shakespeare nos coloca diante do dilema
existencial básico: “Ser ou não ser: eis a questão!”. Ressalvando os fatores
genéticos, e as peculiaridades de cada ser humano, a identidade de pessoas e
grupos sociais é construída culturalmente, na História. As culturas mais
simples, especialmente isoladas, e os tempos de mudanças menores e mais
lentas concorrem para a estabilidade das identidades. A urbanização, o
cosmopolitismo e os momentos de mudanças amplas, profundas e
prolongadas (crises) concorrem para crises de identidade. A identidade é
fundamental para o ser em si e para o ser no mundo. Esta pressupõe
convicções, práticas, valores que caracterizam e diferenciam.
O ser humano define a sua identidade pela sua idade, seu sexo, seu lugar de
nascimento, pela família, etnia, cultura nacional e regional, profissão,
vinculação a movimentos sociais e religião. As instituições, movimentos e
grupos sociais definem sua identidade pelo seu legado histórico, suas crenças
e seus propósitos. No século passado, as ideologias políticas foram fatores
determinantes na Civilização. A crise das ideologias, conforme analisa Phillip
Jenkis, em sua obra “A Próxima Cristandade” reforça a posição de Samuel
Huntington em “O Choque de Civilizações”, sobre o “Retorno do Sagrado”, ou
É por nos vermos como Igreja, que definimos os nossos membros como
eclesianos.
2
A exceção das Capelanias do século XIX.
Cristo criou a Sua Igreja com uma missão ampla e integral, a partir do Seu
próprio exemplo.
OBSTÁCULOS
A Pós-modernidade, como expressão do “espírito do século”, nos trouxe a
superficialidade, a instabilidade, o individualismo, o subjetivismo e o
relativismo. Falta clareza ao mundo! Os seres se tornam, nas palavras da
música: “metamorfoses ambulantes”. É a civilização da falta de nitidez, a
civilização do self-service e seus pratos “pluralistas”.
CONSOLIDANDO
O que poderíamos destacar como necessário para se forjar, se consolidar,
uma identidade anglicana?
CONCLUSÕES
O Anglicanismo é um ramo do Cristianismo, com uma longa história e um rico
legado, de presença mundial, atraindo as mais diversas classes sociais, com
uma diversidade de métodos, ênfases e abordagens, valorizando o saber,
promovendo o serviço e o exercício da cidadania responsável.
Não iremos a lugar algum se não conhecermos e não tivermos uma firme e
sólida convicção do que pretendemos ser.
A Igreja que tem um John Stott, um C.S. Lewis, um J.I. Packer, um Michael
Greene, um Alister McGrath, não pode ser formada por encabulados ou
complexados de inferioridade.
Corações ao Alto!
Anglicanos? Sejamos!
Fixação de aprendizagem:
INTRODUÇÃO
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 137
Pode-se definir uma crise como um período prolongado de mudanças amplas
e profundas. As crises acontecem nas vidas dos indivíduos e instituições, bem
como das Civilizações. Com o ocaso da Modernidade e o advento, ainda
errático, da chamada Pós-Modernidade, a Civilização Euro-Ocidental passa
por uma crise. As crises trazem insegurança, porque antigos padrões parecem
estar desaparecendo, e os novos padrões ainda não estão claros e
cristalizados. As crises são momentos de dificuldades, mas, também, de
oportunidades, e, o que vale salientar, não se pode fugir delas.
ANTECEDENTES
Há duas décadas, no início do movimento Nova Era (“New Age”) li um folheto
escrito por seus propagadores, onde dizia que as três frases que maiores
danos causaram a humanidade foram: “Não terás outros deuses diante de
mim”; “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, e ninguém vem ao Pai senão
por mim”, e “Somente Alá é Deus, e Maomé o seu profeta”. O texto atacava o
monoteísmo como a causa principal dos conflitos humanos, e mais ainda as
pretensões de exclusividade no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo,
expressões do monoteísmo semítico. Esse ataque inclui a denúncia contra a
noção de Revelação, de um Deus que se comunica, se autodefine, define a
vida e a história, e faz prescrições religiosas e morais.
O século XX ainda tivera início sob o signo do otimismo. A Igreja, com sua
missão civilizatória, seria aliada das forças “esclarecidas” seculares. Aquele
seria o “século cristão”.
CRISTIANISMO E MODERNIDADE
A Modernidade foi, no geral, um período fecundo para o Cristianismo, e
podemos destacar alguns desses episódios marcantes para a sua História:
CRISTIANISMO E PÓS-MODERNIDADE
A Pós-Modernidade chega como uma nova revolução cultural no Ocidente. No
resto do mundo muita gente continua vivendo na Pré-Modernidade, na
Modernidade ou em um pouco de tudo. Por um lado ruíram, rapidamente, os
quatro mitos sustentadores da Modernidade: Bondade natural, Razão,
Progresso e Utopias Globais, mas, fora do espaço euro-ocidental, a China e
a Índia ressurgem como potências emergentes, e antigas propostas, como o
AS DUAS RELIGIÕES
A Comunhão Anglicana, em nossos dias, pode ser representada por uma
mansão, que, olhada de fora parece ser apenas uma grande casa, mas que
dentro há dois apartamentos separados por paredes, onde os dois setores da
família habitam cada um em seu espaço, com seus próprios costumes e
amizades. 90% em um apartamento e 10% no outro, sendo que esse setor
minoritário tem maior poder aquisitivo e insiste em ocupar o andar de cima...
2. A Ressurreição
Jesus afirmou que ressuscitaria no terceiro dia (Mt 20:18-19). Pedro
testemunhou o fato da ressurreição (At 2:23-25), e para Paulo: “...se
Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé, e nós estamos ainda em
nossos pecados” (1 Co 15:17). Para o Bispo da Diocese de
Washington: “A estória da ressurreição corporal de Jesus é, no
melhor, uma conjectura, os relatos da ressurreição nos Evangelhos
são contraditórios e confusos... o significado da Páscoa não é que
Jesus realmente retornou à vida, mas que mesmo a morte não pode
encerrar o poder de sua presença em suas vidas”.
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 147
3. A Bíblia
Para Jesus, suas palavras não haveriam de passar (Lc 21:33); para
Paulo, toda Escritura é inspirada por Deus (2 Tm 3:16-17); e para
Pedro, elas não tiveram origem humana, mas homens falaram da
parte de Deus movidos pelo Espírito Santo (2 Pd 1:20-21).
4. A Salvação
Jesus afirmou ser a porta, e que os que por ela entram são salvos (Jo
10:9), e essa unicidade de Cristo como Salvador é afirmada por
Paulo (Rm 10:9-13) e por Pedro (At 4:12). Para a Bispa Presidente da
TEC, a salvação é sair dos interesses próprios e ajudar a
necessidade das outras pessoas.
5. Evangelismo
Jesus mandou fazer discípulos de todas as nações (Mt 28:19-20),
tarefa que foi enfatizada por Paulo (2 Tm 4:2) e por Pedro (At 10:42-
6. A Igreja
Para o apóstolo Paulo, a Igreja é o Corpo de Cristo, do qual ele é o
Salvador (Ef 5:23; Cl 1:18). Para a teóloga liberal Sally McFague, o
Corpo de Cristo é toda a Criação. Para a IEAB a Igreja é um ente
social, cultural, religioso, afetivo e litúrgico, onde não há lugar para
doutrinas ou normas comportamentais, ou seja, uma inclusividade
ilimitada, onde cabem todas as crenças e todas as formas de
comportamento.
7. Os Credos
Para o Cristianismo Histórico, os Credos contém explicitações de
suas doutrinas centrais, que devem ser cridas e confessadas. Os
liberais os vêem, apenas, como “documentos históricos”, pois como
afirmou a Bispa Schori: “Você não tem que professar exatamente o
mesmo entendimento sobre o conteúdo central da fé... o importante é
a adoração em conjunto”.
8. O Casamento
A Bíblia tem afirmado a origem divina e a santidade do matrimônio
heterossexual (Mc 10:6-9; 1 Tm 3:2-3; Hb 13:4), mas a Diocese de
Olympia, em sua 96ª Convenção deliberou afirmar: “a plena inclusão
em todas as áreas da vida da Igreja Episcopal de todos os nossos
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 149
qualificados irmãos e irmãs que são solteiros ou parceiros
heterossexuais, as pessoas gays, lésbicas, bissexuais e
transgêneros, e aqueles heterossexuais não-celibatários, e aqueles
divorciados, bem como a sua plena inclusão na vida plena da Igreja
Episcopal e da Comunhão Anglicana”.
O Primaz do Cone Sul, Revmo. Gregory J. Venables, tem afirmado que está
sendo pregado na Comunhão Anglicana dois Evangelhos.
INTOLERÂNCIA
McGrath se refere ao núcleo do Secularismo e do Liberalismo como
“pluralismo prescritivo”, ou seja, “diversidade na marra”, e pergunta se o
mesmo “está preparado para permitir que o Cristianismo seja Cristianismo, e
não forçá-lo a ser a manifestação de uma realidade desconhecida e
desconhecível, mas, mesmo assim, totalizante, universal”.
MODELOS
A Comunhão Anglicana tem instituições internacionais historicamente
recentes. Apenas o Arcebispo de Cantuária tem sido um símbolo e uma
autoridade moral por mais tempo. A Conferência de Lambeth é da segunda
metade do século XIX, enquanto o Conselho Consultivo Anglicano e o
Encontro dos Primazes são da segunda metade do século passado. Eles não
são Sagrados, nem imutáveis, e devem se adequar à nova conjuntura, pois
parecem não estar respondendo adequadamente a presente crise.
A crise quase não tem chegado a 150 dos 164 países onde o Anglicanismo se
faz presente, mas esse não é o caso do Brasil, em razão de a IEAB ser
caudatária do liberalismo norte-americano, e cuja direção atual tem um
discurso mais claro e mais extremado do que sua matriz norte-americana.
Como essa não é a primeira, nem será a última crise na Igreja até à volta de
Jesus, e como temos exemplos na História, e cremos na Providência,
haveremos de superá-la, com decisões firmes, construindo novos modelos
que preservem a herança e o conteúdo, para a glória de Deus.
Fixação de aprendizagem:
INTRODUÇÃO
Temos estudado o Anglicanismo, como ramo histórico da Igreja de Cristo, sua
longa história, seu conteúdo doutrinário, seus princípios éticos, sua
abordagem pastoral, seu ministério, sua organização, sua identidade, e, por
último, a crise que vem presentemente atravessando. Sabemos que as crises,
por mais amplas, prolongadas e profundas que sejam, elas são transitórias.
Um dia elas terminarão, para que viva um novo momento histórico, até que
outras crises venham a surgir, e, assim, prossegue a história, conosco – a
humanidade – em seu permanente processo de construção, como atores
centrais desse drama, que teve início, e que, um dia, terá fim.
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 155
As crises são dolorosas, e é natural que se queira ver o seu final. Todos
querem concorrer para o seu término, e, quanto seja possível, controlar o seu
curso. Nessas circunstâncias se procura analisar as causas, os
desdobramentos e as conseqüências. Mais importante ainda, se procura
elaborar os cenários alternativos possíveis para o próximo estágio, e para o
estágio final.
Há uma certeza cada vez mais forte de que um modelo (diga-se de passagem,
historicamente recente) já se foi. Um outro modelo virá. Mas, qual? E quando?
Como Diocese, fizemos uma opção pela verdade, que é Jesus Cristo
Encarnado, Crucificado e Ressurreto. Fizemos uma opção pela autoridade das
Escrituras canônicas do Antigo e do Novo Testamento e pelos Credos, como
expressão do núcleo central das doutrinas do legado apostólico. E fizemos a
opção, igualmente, por estarmos ombreados com os que partilham dessas
convicções e sofrem por elas.
Como costumava dizer meu avô: “Não há bem que sempre dure, nem mal que
sempre perdure”.
MODELOS
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 157
Se tomarmos o Anglicanismo como o conjunto dos fiéis que se auto-
identificam como tal, pelo apelo a uma herança histórica e um ethos em
comum, poderemos, na atualidade, representá-lo por quatro círculos
concêntricos:
SÉ DE CANTUÁRIA –
COMUNHÃO ANGLICANA
1º Círculo:
Províncias e Dioceses Extra-
Provinciais
2º Círculo: Dioceses,
Convocações, Paróquias e
Missões
3º Círculo: Jurisdi-ções
Continuantes (Redes/Causa
Comum)
4º Círculo:
Jurisdições Anglica-nas
Continuantes isoladas
Além disso, há situações dentro das Províncias que também são atípicas: as
províncias (internas) da Província da Austrália possuem ampla autonomia, e
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 159
as Dioceses australianas têm poder de veto sobre decisões da Província
dentro de sua área (uma resolução provincial só vale nas Dioceses se os
respectivos Concílios Diocesanos aprovarem), e a Província da Nova Zelândia
tem territórios diocesanos justapostos para as três etnias: européia, maori e
polinésia, e um triunvirato de Primazes com um representante de cada uma
delas.
WINDSOR
As tensões começaram a aumentar na Comunhão Anglicana com a decisão
da Diocese de New Westminster, Província de Columbia Britânica, no Canadá,
com o apoio do seu Bispo, Michael Ingham, de autorizar o rito de benção de
uniões entre pessoas do mesmo sexo. A seguir, a imprensa internacional
noticia com grande destaque a eleição pela Diocese de New Hampshire, nos
Estados Unidos, de um ex-casado e pai de duas filhas, que assumira a prática
da sua homossexualidade publicamente, com o seu parceiro, o Rev. Vicky
Gene Robinson. Essa eleição foi confirmada pela Convenção Geral da Igreja
Episcopal (EUA), seguindo-se a Sagração com um número expressivo de
bispos, aposentados e na ativa, apesar do apelo de várias Províncias de todo
o mundo.
Uma primeira versão do Pacto foi encorajadora, mas a segunda versão, por
pressão das Províncias liberais, significou um evidente recuo em seu caráter
afirmativo, e a data para a conclusão do processo de redação e escuta às
Províncias se pretende estender de 2010 para 2015, implicando no seu
esvaziamento. A IEAB condenou a existência de qualquer Pacto, pois, os
liberais que a dominam pretendem que a Comunhão Anglicana se dê apenas
em laços afetivos, sem conteúdo ético ou doutrinário.
Um dado complicado nos Estados Unidos é que cada Diocese liberal tem uma
minoria conservadora, e que cada Diocese conservadora tem uma minoria
liberal, o mesmo acontecendo no interior da maioria das Paróquias e Missões.
Muita gente saiu para outras denominações, para jurisdições anglicanas
REALINHAMENTO
Uma instituição com o caráter internacional (164 países) e com a longa
história, como a Igreja Anglicana, tem o seu processo de mudanças, na
presente crise, necessariamente lento, em uma velocidade muito menor do
que gostaríamos. Mas são assim os processos históricos.
CONCLUSÃO
Um dado a ser levado em conta é a diversidade de situações dentro da
Comunhão Anglicana.
Há, por outro lado, Províncias e Dioceses ortodoxas que estão sendo
cobradas pelos seguidores do Islã, de outras religiões não-cristãs, e de outras
denominações cristãs, se elas são iguais às suas co-irmãs do Ocidente em
Em todas elas se registra uma grande evasão de fiéis, e uma busca dos
ortodoxos por uma proteção provisória por parte de outras Províncias,
almejando o dia quando terão as suas próprias jurisdições, e as mesmas
reconhecidas pelo conjunto do Anglicanismo.
Por sua vez, o discurso revisionista liberal vai ficando cada vez mais claro,
com a defesa do batismo sem invocar a Trindade, ou a oferta da Ceia do
Senhor a não-cristãos, a Ordenação de homossexuais praticantes e a benção
de uniões do mesmo sexo, o questionamento da autoridade das Escrituras e
do papel singular da Igreja, mas, principalmente, e cada vez mais, a negação
da unicidade de Jesus Cristo como Senhor e Salvador.
Por trás de velhos prédios, velhas vestes e velhas palavras, o que existe é um
outro conteúdo. De fato, já existe, há muito tempo, uma denominação
congregacional com essa proposta, e para onde esses pseudo-anglicanos
deveriam se mudar; se não estivessem presos às benesses materiais de suas
instituições: a Igreja Unitária-Universalista.
Enquanto isso, muitos fiéis do espaço liberal vão “votando com os pés”, por
não aceitarem aquelas heresias, ou por estarem impacientes com líderes
ortodoxos acomodados, opinionistas ou tardios e lentos em se mover.
É possível que não tenhamos uma solução mais ampla e mais profunda nos
próximos anos, e que tensões continuem entre as duas religiões que se
abrigam no mesmo guarda-chuva. Mas, a visão dos ortodoxos é a de gastar o
mínimo de tempo e de energia possível nesses conflitos, e, sim, trabalhar na
missão e na construção de instituições meios, dentro dos laços de afeição, do
reconhecimento e do apoio mútuo das diversas redes de assemelhados. O
GAFCON, a Declaração de Jerusalém, o surgimento da Fraternidade de
Anglicanos Confessantes (FCA) e o nascimento da nova e ortodoxa Igreja
Anglicana na América do Norte (ACNA), são sinais de esperança na
construção de um novo tempo.
Fixação de aprendizagem:
APÊNDICES
1. Correntes Anglicanas
2. Os Arcebispos de Cantuária
3. Sucessão Apostólica (do autor)
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 173
Episcopado Histórico 3
A SUCESSÃO APOSTÓLICA (DO BISPO ROBINSON CAVALCANTI)
3
Texto veiculado pela Internet, através da Secretaria Diocesana Anglicana de
Comunicação Social (SDAC), em 30 de maio de 2007.
4
Bispo Glauco S. de Lima, Almir dos Santos e Clóvis E. Rodrigues, de linha
sucessória de Lucien Lee Kinsolving, primeiro Bispo Anglicano do Brasil, que, por sua
vez, também se vincula à linha sucessória de Samuel Seabury (nº.63), primeiro Bispo
Anglicano dos Estados Unidos da América.
CORRENTES DO ANGLICANISMO
ARCEBISPO DE CANTUÁRIA
CONFERÊNCIA DE LAMBETH
ENCONTRO
DOS PRIMAZES
CONSELHO
CONSULTIVOANGLICANO
A – CATÓLICOS HISTÓRIA B – PROTESTANTES
AN TRADI CA LI LAÇOS DE AFEIÇÃO LIBERAI CARISMÁ EVANGÉLICOS
GL CION RIS B S TICOS
O AIS MÁ E
TIC R
OS A
I
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 183
S
1 2 3 4 LOC 1 2 3
QUADRILÁTERO DE LAMBETH:
1. ESCRITURAS
2. CREDOS
3. SACRAMENTOS
4. EPISCOPADO
PROVINCIAIS
DIOCESES
PARÓQUIAS E MISSÕES
A – CATÓLICOS
TEMAS
ÊNFASE PRÉ-REFORMA PRÉ-REFORMA PRÉ-REFORMA PRÉ-
HISTÓRICA REFORMA
B – PROTESTANTES
LIBERAIS CARISMÁTICOS EVANGÉLICOS FUNDAMENTALISTA
REFORMA REFORMA REFORMA REFORMA
PROTESTANTES PROTESTANTES PROTETANTES PROTESTANTES
REFERÊNCIAS
Hurlbut, Jesse Lyman. História da Igreja Cristã. Ed. Vida: São Paulo, 2007.
Anglicanismo: Identidade, Relevância e Desafios 187
Kickhofel, Oswaldo. Notas para uma História da Igreja Episcopal Anglicana do
Brasil. IEAB, Porto Alegre: 1955.
Livro de Oração Comum (1552). Editora Clássica Anglicana: São Paulo, 2005.
Nichols, Robert Hasting. História da Igreja Cristã. São Paulo: Casa Editora
Presbiteriana, 1960.
Silva, Nataniel Durval. A Igreja Militante. Tipografia Rotermund & Co.: São
Leopoldo, 1951.
The Book of Common Prayer. The Episcopal Church. Oxford University Press:
New York, 1990.
Anglicanismo
Católico e protestante?
Não criado pelo rei Henrique VIII?
História
Doutrina
Ética
Liturgia
Organização
Correntes
Expansão
Dilemas