Diacritica 30-1 PDF
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Desvios na representação Extraction of restricted lexical série revista do centro de estudos humanísticos
grafemática por aprendentes combinations by detecting ciências da série ciências da linguagem
de Português L2 em Timor- non-compositionality of linguagem 2016
-Leste: o caso das fricativas multiword expressions 2016
Ana Margarida Azevedo Caetano / Joana Veloso / Alberto Simões /
Henrique Barroso Álvaro Iriarte S.
diacrítica
As sequências textuais
argumentativas no gênero
“comentário do leitor” da Recensões
Folha de São Paulo
Anderson Ferreira Momesso, M R, Assolini, F
E, Curcino, L, Burlamaque, F,
A pesquisa em inteligibilidade Palma, G (2014), Das práticas
diacrítica
de fala e sua relevância para o do ler e escrever ao universo
ensino de pronúncia do inglês das linguagens, códigos e
Anna Júlia Karini Martins / tecnologias.
Letícia Stander Farias M. Emília Pereira
A configuração do ensino da Le Robert Junior illustré.
gramática nos novos manuais Nouvelle édition.
de Português do 9.º ano Félix Valentín Bugueño Miranda
António Carvalho da Silva
Vale, Andreia (2015), Puxar a
Estudo longitudinal da Brasa à Nossa Sardinha.
proficiência ortográfica no 2º Henrique Barroso
e 4º anos de escolaridade –
estruturas /e/, /eI/ e /oU/ Freixeiro Mato, Xosé Ramón,
Celeste Rodrigues / Maria do A poesia oculta de Filgueira
Carmo Lourenço-Gomes Valverde: Guerra Civil, literatura
franquista e galeguismo n’O
Metáfora concetual e Gaiteiro de Lugo.
literariedade: a “Hora” de Ana Gravata Ramos
Fernando Pessoa
Isabel Pizarro / José Teixeira
ISSN 0807-8967
30/1
UNIÃO EUROPEIA
Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional
Título: DIACRÍTICA (N.º 30/1 – 2016)
Série Ciências da Linguagem
Diretora: Ana Gabriela Macedo
Diretores-Adjuntos: Carlos Mendes de Sousa; Vítor Moura
Editores: Álvaro Iriarte S. e Cristina Flores
Comissão Redatorial: Aldina Marques (Universidade do Minho), Amália Mendes (Univer-
sidade de Lisboa), Ana Margarida Abrantes (Universidade Católica Portuguesa), Ana Luí-
sa Costa (Instituto Politécnico de Setúbal), Ana Madeira (Universidade Nova de Lisboa),
Anabela Barros (Universidade do Minho), Anabela Rato (Universidade do Minho), Andreia
Rauber (Universität Tübingen), Augusto Soares da Silva (Universidade Católica Portugue-
sa), António Branco (Universidade de Lisboa), Bernhard Sylla (Universidade do Minho),
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Coimbra), Emília Pereira (Universidade do Minho), Fátima Silva (Universidade do Porto),
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garida Duarte (Universidade do Porto), Isabel Pereira (Universidade de Coimbra), Ivo Castro
(Universidade de Lisboa), João Paulo Silvestre (King's College London), João Veloso (Uni-
versidade do Porto), José António Brandão (Universidade do Minho), José Teixeira (Univer-
sidade do Minho), Maria de Lourdes Dionísio (Universidade do Minho), Maria João Freitas
(Universidade de Lisboa), Nélia Alexandre (Universidade de Lisboa), Pedro Dono (Universi-
dade do Minho), Purificação Silvano (Universidade do Porto), Rolf Kemmler (Universidade
de Trás-os-Montes e Alto Douro), Rui Ramos (Universidade do Minho), Sílvia Melo-Pfeifer
(Universität Hamburg)
Comissão Científica: António Branco (Universidade de Lisboa); Ana Brito (Universidade do
Porto); Ivo Castro (Universidade de Lisboa); Antónia Coutinho (Universidade de Nova de
Lisboa); Maria João Freitas (Universidade de Lisboa); Jürgen M. Meisel (Universität Ham-
burg / University of Calgary); José Luís Cifuentes Honrubia (Universitat d’Alacant); Mary
Kato (Universidade de Campinas); Rui Marques (Universidade de Lisboa); Fátima Oliveira
(Universidade do Porto); Graça Rio-Torto (Universidade de Coimbra); José Luís Rodrigues
(Universidade de Santiago de Compostela); Eduardo Paiva Raposo (University of California,
Santa Barbara); Conceição Paiva (Universidade Federal do Rio de Janeiro); Augusto Soares
da Silva (Universidade Católica Portuguesa)
Edição: Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho em colaboração com Edi-
ções Húmus – V. N. Famalicão. E-mail: [email protected]
Publicação subsidiada por
FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia
ISSN: 0807-8967
Depósito Legal: 18084/87
Composição e impressão: Papelmunde – V. N. Famalicão
ÍNDICE
Ana Caetano
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE TIMOR-LESTE
[email protected]
Henrique Barroso
UNIVERSIDADE DO MINHO, PORTUGAL
[email protected]
Queremos aqui manifestar o nosso sincero agradecimento à Doutora Anabela Rato pela lei-
tura crítica que fez deste artigo.
6 Ana Caetano / Henrique Barroso
0. Introdução
Este estudo surge enquadrado no contexto poliglóssico de Timor-Leste e
pretende constituir-se como uma reflexão sobre os desvios na represen-
tação grafemática(1) produzidos por um grupo de falantes não nativos do
português – uma amostra do universo de professores do Ensino Secundário
Técnico-Vocacional (ESTV), atualmente a lecionar em escolas públicas ou
privadas timorenses –, restringindo-se, em particular, às dificuldades na
transposição dos segmentos fricativos para o sistema ortográfico do Portu-
guês Europeu (PE), por se revelar este domínio, quantitativamente, o mais
proeminente em termos de desvios no sistema consonântico.
Nesta amostra de informantes, o português – consagrado como Língua
Oficial (LO) e Língua de Instrução (LI) do país – coexiste a par do tétum,
das Línguas Nacionais (LN) e dos dialetos locais, do indonésio e do inglês,
é aprendido como L2 e, como resultado dessa aprendizagem, é expectá-
vel que seja usado no sistema de ensino como LI. Nesta conformidade, o
português surge, assim, como objeto de estudo e, paralelamente, veículo
de transmissão de conhecimentos, pois os professores aprendem a língua
para poderem ensinar nessa mesma língua, decorrendo estes processos em
simultâneo.
Este artigo tem como principais objetivos: (i) analisar e sistematizar
os desvios em palavras encontradas num corpus de textos que impliquem
a produção escrita de consoantes fricativas de acordo com as formas orto-
gráficas atestadas no PE padrão; (ii) perceber as dificuldades na representa-
ção das consoantes fricativas (relação grafema-fone/fonema, com especial
incidência sobre as sibilantes); (iii) detetar as hipotéticas causas que estão
na origem dos desvios linguísticos.
Este estudo incidirá apenas sobre o domínio da escrita, mais concreta-
mente sobre os desvios na representação da relação grafema-fone/fonema
fricativo em aprendentes de PL2, e tentará dar resposta à seguinte questão:
quais as causas mais frequentes dos desvios na representação grafemática,
em relação à norma ortográfica do PE, de unidades consonânticas fricativas?
(1) Rio-Torto (1999: 601) define os desvios grafemáticos como “erros que afectam a representa-
ção ortográfica/grafemática da palavra, mas não a sua configuração auditiva, os mais represen-
tativos são os erros etimológicos. Na maior parte dos casos os erros etimológicos não alteram
a estrutura fónico-auditiva da palavra, mas atingem a sua configuração grafemática canónica,
fortemente condicionada pela sua matriz etimológica. Trata-se de erros de difícil superação,
por duas ordens de razões: em primeiro lugar, porque radicam na actual imotivação da repre-
sentação escrita das palavras, na não correspondência isomórfica entre grafema e fonema; e
em segundo lugar, porque são fruto do desconhecimento da etimologia da palavra.”
Desvios na representação grafemática por aprendentes de Português L2 em Timor-Leste 7
(2) Barroso (2011: 177-179) afirma que “há diversos tipos e/ ou sistemas de escrita, com dife-
rentes organizações e com uma quantidade variável de sinais para representar as respectivas
línguas orais que lhes servem, naturalmente, de referência.”
Sobre os tipos e/ ou sistemas de escrita, o autor afirma que “os diversos sistemas de escrita
usados no mundo (e são muitos)” podem agrupar-se da seguinte forma:
“1. O tipo ideográfico (ou logográfico) de escrita – também designado por alguns autores
citados por Barroso (2011) de escrita por palavras e escrita de referência morfémica – tem por
referência unidades do conteúdo, ou seja, cada símbolo deste tipo de escrita representa uma
ideia ou uma palavra (ou um morfema). (…) O chinês é o exemplo clássico de um sistema
de escrita deste tipo. O japonês é-o só em parte;
2. O tipo fonográfico de escrita tem, ao invés, por referência unidades do plano da expres-
são, isto é, os símbolos deste tipo de escrita representam sílabas ou fonemas (e, indirecta-
mente, também fones):
2.1. O tipo silábico de escrita – se a referência for a sílaba, estamos na presença do
tipo silábico de escrita. Este tipo implica, pois, um número de signos-base (ou unidades de
escrita) bastante mais reduzido: os inventários nunca ultrapassam o milhar. O japonês, por
exemplo, é uma língua de estrutura silábica simples e possui um número que anda à volta
das cem unidades;
2.2. O tipo alfabético de escrita – se a referência for o fonema, temos o tipo alfabético
de escrita. Este é o tipo que menor número de unidades de escrita (ou signos-base) apresenta:
os seus inventários oscilam entre as 20 e as 50/60. É, por conseguinte, o tipo mais fácil de
aprender e de usar mas, porque aumenta consideravelmente o comprimento das palavras, o
menos económico. (…) É que a grande vantagem dos sistemas alfabéticos de escrita reside,
não na sua fidelidade fonológica (e/ ou fonética) – que em caso algum existe a cem por cento
–, mas na sua economia de sinais (gráficos).”
Desvios na representação grafemática por aprendentes de Português L2 em Timor-Leste 9
(3) Barroso (2011: 180) reitera o facto de não haver “sistemas de escrita puros. O português (bem
como muitas outras línguas indo-europeias e não indo-europeias), por exemplo, servindo-se
do tipo alfabético de escrita, usa também símbolos de natureza ideográfica (exs.: + = ‘mais’;
= = ‘igual a’; % = ‘percentagem’/ ‘por cento’; 5 = ‘cinco’; etc.).”
10 Ana Caetano / Henrique Barroso
(5) A aprendizagem da ortografia implica ter presente a noção de norma ortográfica, pois “con-
denar e eliminar o erro só é possível depois de termos uma visão clara daquilo que é correcto,
depois de termos estabelecido um padrão de correcção, em contraste com o qual se recorte o
que é incorrecto.” (Castro, 1991: 4). Quer isto dizer que, se não existir uma norma definida,
também não existe desvio, pois o desvio é sempre considerado em relação à norma adotada.
(6) Saville-Troike (2006: 35) designa a transferência negativa de “interferência”: “negative
transfer (or interference), when an L1 structure or rule is used in an L2 utterance and that use
is inappropriate and considered an “error.” “The transfer is called positive (or facilitating)
when the same structure is appropriate in both languages - when an L1 structure or rule is
used in an L2 utterance and that use is appropriate or “correct” in the L2 -, as in the transfer of
a Spanish plural morpheme -s on nouns to English (e.g. lenguajes to languages). The transfer
is called negative (or interference) when the L1 structure is used inappropriately in the L2.”
12 Ana Caetano / Henrique Barroso
Mistakes are akin to slips of the tongue. That is, they are generally one-time-
only events. The speaker who makes a mistake is able to recognize it as a
mistake and correct it if necessary. An error, on the other hand, is systematic.
That is, it is likely to occur repeatedly and is not recognized by the learner as
an error. The learner in this case has incorporated a particular erroneous form
(from the perspective of the TL) into his or her system.
In comparison, there are two main error types within an error analysis frame-
work: interlingual and intralingual. Interlingual errors are those which can be
attributed to the NL (i.e., they involve cross-linguistic comparisons). Intralin-
gual errors are those that are due to the language being learned, independent of
the NL. One would therefore expect similar intralingual errors to occur from
speakers of a wide variety of first languages.
Two of the most likely causes of L2 errors are interlingual (“between lan-
guages”) factors, resulting from negative transfer or interference from L1 and
intralingual (“within language”) factors, not attributable to cross-linguistic
influence. Intralingual errors are also considered developmental errors and
often represent incomplete learning of L2 rules or overgeneralization of them.
(7) De acordo com Hull & Eccles (2005: 233), “há duas espécies de consoantes em tétum-praça:
as herdadas com o léxico nativo e as adoptadas do malaio e do português. […] Uma caracte-
rística surpreendente do tétum pré-malaio e pré-português era que nenhuma consoante tinha
um equivalente sonoro ou surdo (i.e. havia [b] mas não [p], [s] mas não [z]).”
(8) Tabela elaborada a partir de Freitas et al. (2007: 24).
Desvios na representação grafemática por aprendentes de Português L2 em Timor-Leste 15
Grafemas Exemplos
Fonemas Fones
PE Tétum PE Tétum
/v/ [v] <v> <v> vacina, revisão vasina, revizaun
<z> <z> zero, razão zeru, razaun
/z/ [z] <s> <z> abusa abuza
<x> <z> exame ezame
<j> <j> justiça, anjo justisa, anju
<g> <j> giz, religião jís, relijiaun
/ʒ/ [ʒ]
<s> <z> mesmo mezmu
<z> felizmente
/f/ [f] <f> <f> fungo, conforme fungu, konforme
<s> <s> sapato sapatu
<c> <s> centavo, acidente sentavu, asidente
/s/ [s] <ç> <s> licença lisensa
<ss> <s> assembleia asembleia
<x> próximo9
<ch> <x> chá, borracha xá, borraxa
<x> <x> xarope, enxoval xarope, enxovál
/ʃ/ [ʃ]
<z> <s> capaz kapás
<s> <s> castelo, grátis kastelu, gratis
(9)
(9) Em PE, o grafema <x> pode realizar-se foneticamente como [ks] (ex. prefixo), correspon-
dendo, na ortografia do tétum padrão, ao dígrafo <ks> (ex. prefiksu).
16 Ana Caetano / Henrique Barroso
Grafemas Exemplos
Fonemas Fones Ortografia do Ortografia do
PE Tétum
PE Tétum
<sc> disciplina dixiplina
/ʃ/ [ʃ] <x>
<xc> excelência exelénsia
<sb> <zb> esboço ezboço
<sd> <zd> desde dezde
<sg> <zg> resgatar rezgata
/ʒ/ [ʒ]
<sl> <zl> islâmico izlámiku
<sm> <zm> capitalismo kapitalizmu
<xn> <zn> ex-namorado eiznamoradu
(10) Apesar de os autores apresentarem uma transcrição fonológica das palavras (plano da língua,
o que não varia), optou-se, neste artigo, por apresentar uma transcrição fonética, de modo a
representar o plano da fala (as atualizações).
Desvios na representação grafemática por aprendentes de Português L2 em Timor-Leste 17
Fone
Variedade Variedade Variedade
Grafema Fone substi-
acroletal mesoletal basiletal
tuto
<v> [v] [b] [vɐ´rɐ̃dɐ] [bɐ´rɐ̃dɐ]
<j> [ʒ] [z] [ʒɐ´nɛlɐ] [zɐ´nɛlɐ]
<x> [ʃ] [s] [´ʃa] [´sa]
<z> [z] [s] [vi´zitɐ] [bi´sitɐ]
<j> [ʒ] [d] [ʒé´tiu] [dĩ´tiu]
3. Estudo empírico
3.1. Caracterização da amostra em estudo (perfil sociolinguístico
dos informantes)
A seleção dos informantes recaiu sobre uma amostra de 15% do universo
de professores do ESTV (estima-se que o universo seja constituído, no
total, por 490 professores): 75 aprendentes, adultos, que, no momento da
recolha dos dados/textos, se encontravam a lecionar em escolas públicas e
privadas de 9 municípios do país, com um perfil sociolinguístico idêntico,
para quem a Língua Portuguesa (L2) foi/é aprendida em contexto formal.
Acrescente-se ainda que a seleção dos informantes obedeceu a um único
requisito, que consistia em ser professor do ESTV e estar a frequentar o
Curso de Língua Portuguesa (CLP) de preparação para o Exame Nacional
de Certificação de Competências em Língua Portuguesa (ENCCLP), inde-
pendentemente do município ou da escola onde lecionasse, da disciplina,
dos anos de experiência, da formação académica, do domínio linguístico,
entre outros aspetos.
A seleção deste público-alvo em específico prendeu-se com a necessi-
dade de tentar perceber a performance linguística – restringindo-nos ape-
18 Ana Caetano / Henrique Barroso
(11) Como referência para a grafia do nome das línguas – e dado não haver uma norma padrão
definida –, recorreu-se à ortografia adotada na página de internet www.ethnologue.com.
(12) Escala utilizada: 1 – Insuficiente; 2 – Suficiente; 3 – Bom; 4 – Muito Bom; 5 – Falante nativo.
20 Ana Caetano / Henrique Barroso
Total de
Média de Média da
palavras
N.º de Total de palavras % de des-
com desvios
Município infor- palavras por infor- vios por
ortográficos
mantes gráficas mante / informante /
por muni-
município município
cípio
Aileu 7 838 119,71 60 7,16%
Baucau 4 727 181,75 78 10,73%
Covalima 7 1.002 143,14 134 13,37%
Díli 34 5.345 157,21 527 9,86%
Ermera 5 671 134,2 111 16,54%
Lautém 4 518 129,5 52 10,04%
Liquiçá 5 477 95,4 42 8,81%
Oecusse 5 846 169,2 48 5,67%
Viqueque 4 465 116,25 87 18,71%
TOTAL 75 10.889 145,19 1.13912 10,46%
(13) O total de palavras que apresenta desvios corresponde a 1.139. No entanto, há palavras que
apresentam múltiplos desvios, o que perfaz um total de 1.190 ocorrências.
Desvios na representação grafemática por aprendentes de Português L2 em Timor-Leste 23
Viqueque
Categorização Formal
Oecusse
Ermera
Lautém
Liquiçá
Baucau
Aileu
Total
Díli
1. Oclusivas orais 1 0 0 8 4 4 0 0 2 19
2. Oclusivas nasais 3 0 0 1 4 1 0 0 0 9
3. Fricativas 13 8 22 13 101 31 10 9 16 223
4. Líquidas laterais 0 0 0 2 4 3 0 1 0 10
5. Líquidas vibrantes 2 0 1 12 5 2 1 0 5 28
289
(24%)14
(14)
(15) No entanto, em termos fonéticos, Hull & Eccles (2005: 248) afirmam que “o fonema /s/ tem o
alofone [ʃ] na variedade acrolectal do tétum de Díli, uma influência portuguesa neste dialecto.
Ocorre na posição final da palavra e antes de consoantes surdas (ex.: eskola [eʃ’kɔla]).” O
fonema /k/ admite apenas uma única representação gráfica - o grafema <k> -, contrariamente ao
português que, para o fonema /k/, admite duas representações gráficas: <c> (quando se seguem
os grafemas <a>, <o> ou <u>) ou <qu> (quando se seguem os grafemas <e> ou <i>).
(16) Em tétum, a sequência sonora [eʃ] é representada graficamente pela sequência gráfica <es>. Pelo
contrário, em português, sempre que se regista em início de palavra a unidade sonora [ʃ], esta
pode corresponder, graficamente, às sequências <es> (ex.: escola) ou <ex> (ex.: expressão).
26 Ana Caetano / Henrique Barroso
(17) De acordo com Hull & Eccles (2005: 225; 239), o fonema /z/ – fricativo alveolar sonoro –
integra a categoria das consoantes estrangeiras e pode aparecer em posição inicial ou no inte-
rior da palavra. Os autores acrescentam ainda que o fonema /z/ pode alternar com o fonema
/ʒ/ quando se passa de uma variedade acroletal para uma variedade mesoletal (ex.: [ʒɐ´nɛlɐ]
(acroletal) → [zɐ´nɛlɐ] (mesoletal)).
Desvios na representação grafemática por aprendentes de Português L2 em Timor-Leste 27
5. Conclusão
Este estudo permite concluir que a amostra de 75 professores do ESTV, de
uma forma geral, ainda possui muitas fragilidades no domínio da norma
ortográfica das consoantes fricativas do PE, com especial incidência nas
sibilantes. Percebe-se, igualmente, que o mecanismo de associações gra-
femas-fonemas/fones ainda não está interiorizado, daí a pertinência da
colocação da questão inicial: quais as causas mais frequentes dos desvios
na representação grafemática, em relação à norma ortográfica do PE, de
unidades consonânticas fricativas?
A análise dos dados permite perceber que as dificuldades na transpo-
sição das unidades sonoras fricativas para o sistema ortográfico do PE se
devem, sobretudo: (i) à opacidade da língua portuguesa no que diz respeito
às relações grafema-fonema/fone e vice-versa (por contraste com a trans-
parência da língua tétum), que se manifesta nas relações plurívocas que se
estabelecem entre grafemas/fonemas (um fonema é representado por mais
do que um grafema e/ou um grafema representa mais do que um fonema), o
que provoca, necessariamente, problemas na correspondência biunívoca da
língua; (ii) à transposição direta, em alguns casos, do sistema fonético-fo-
nológico/grafemático do tétum para a representação grafemática do PE, o
que resulta em desvios à norma ortográfica instituída (embora os exemplos
não permitam generalizar nem afirmar que se trata de um comportamento
sistemático); (iii) à influência do léxico comum que ambas as línguas par-
tilham, o que, em determinados casos, resulta numa transferência negativa,
pois conduz a uma tendência para a interferência da ortografia do tétum na
ortografia do português, o que já foi salientado, por exemplo, por Leiria
(2006: 246): “também a nível da ortografia, quanto mais afastada é a L1
menos ela interfere na L2”.
Referências bibliográficas
Barbeiro, L. F. (2006). Ortografia – Quadro Geral. In Mateus, M. H. M. et al. (coord.).
Diversidade linguística na escola portuguesa. Lisboa: ILTEC. (CD-ROM) (disponível
em http://www.iltec.pt/divling/_pdfs/cd2_ortografia_quadro-geral.pdf)
Barbeiro, L. F. (2007). Aprendizagem da ortografia – Princípios, dificuldades e pro-
blemas. 1ª ed. Porto: Asa.
Barroso, H. (2011). Forma e Substância da Expressão da Língua Portuguesa. Coimbra:
Livraria Almedina.
Desvios na representação grafemática por aprendentes de Português L2 em Timor-Leste 29
Anastasiia Belyaeva
ZAPORIZHZHYA NATIONAL UNIVERSITY, UKRAINE
CEHUM / UNIVERSIDADE DO MINHO, PORTUGAL
[email protected]
Cognitive Semantics studies can provide the connection between linguistic and
conceptual models of the world. Language is seen as the means of accessing men-
tal processes in speaker’s mind and, more broadly, the worldview and culture of
a language community. However, research methods used in Cognitive Semantics
studies rely on introspection, and linguists call for incorporation of more objective
empirical quantitative methods. These requirements can be met by using corpora.
Corpus-based studies involve looking at frequency and usage patterns to make
generalizations about norms of language use. Taking up this approach, cognitive
linguists would be able to look into non-elicited language data on large scale to
reach conclusions about cognitive patterns of a language community. This paper
describes how corpus-based approach can be used in Cognitive Semantics research.
0. Introduction
Cognitive Semantics assumes that the meaning of a language unit is rooted
in the conceptual system that encodes encyclopaedic knowledge of the
world (Langacker, 2001). The reason for the increased interest in Cognitive
Semantics is its ability to provide the connection between linguistic and
conceptual models of the world. Thus, language is increasingly seen as the
means of accessing mental processes in speaker’s mind and, more broadly,
the worldview and culture of a language community.
Even though Cognitive Semantics offers no unified approach to the
explanation of language phenomena, most of the methods used involve
qualitative analysis and introspection. Even though such methods bring
valuable results, they can hardly be suitable for making generalizations
about conceptual structures characteristic of the whole language commu-
nity. Currently more linguists call for incorporation of empirical quan-
titative methods, claiming that such analysis would make the results of
Cognitive Linguistics research more objective (Gries, 2014; Geeraerts,
2006: 21–300). These requirements can be met by using corpora, i.e.
carrying out quantitative analysis in a collection of written texts or tran-
scribed utterances. This approach involves looking at frequency and usage
patterns to make generalizations about norms of language use. Taking
up corpus-based approach, cognitive linguists would be able to look into
non-elicited language data on large scale to reach conclusions about cogni-
tive patterns of a language community.
However, it can be argued that Corpus Linguistics research mostly
relies on the analysis of particular words or word forms, while concepts
and conceptual structures can be expressed by several linguistic items (Ste-
fanowitsch, 2006: 64). This paper describes how corpus-based approach
can be used in Cognitive Semantics research. The objective of the article is
reviewing procedures of Cognitive Semantics analysis in order to establish
Corpus Linguistics techniques that can be used in conceptual research. The
study begins with a brief overview of the ways, in which human experience
and knowledge can be encoded in a conceptual system and subsequently
expressed in a language. The paper proceeds to determine how meaning
is treated in Cognitive Semantics studies. Finally, the study attempts to
outline the corpus-based procedures linguists can use to study Cognitive
Semantics.
Corpus-based approach in cognitive semantics studies 33
cant and relevant for the given language community. Therefore linguists
analyse what components of concept(s) are reflected in the language in
order to access the conceptual structure of the whole language community
(Стернин, 1998: 24-27).
Linguo-cultural approach treats concepts as multidimensional mental
units that are verbalized in language and reflect specific features of cul-
ture, i.e. they reflect culturally relevant experiences. In this view, concepts
are not units of person’s memory, but elements of culture and collective
memory of a language community (Воркачев, 2007; Карасик, 2001: 4;
Степанов, 2001: 41). Therefore, concepts do not only represent real world
phenomena or abstract notions, but also contain information about speak-
ers’ (collective) experience with the phenomenon in question, i.e. what the
phenomenon is associated with, how it is evaluated, whether it is import-
ant for the language community. However, no matter which of the two
approaches linguists favour, they rely on the language means in order to
study concepts.
In cognitive studies concepts are seen as multidimensional structures.
Being mental units, they include not only the knowledge of the real world
phenomena, but also broader cultural relevance of the notions or objects
they represent. Concepts are believed to be linked to primary bodily sensa-
tions and perceptions that become mental structures as a result of abstrac-
tion. Being units of thinking, concepts are organized according to the way
different elements of reality (objects, events) influence human perception.
Thus, through repeated exposure associative relationship between a phe-
nomenon of the world and the impact it has on perceptual or somatic sphere
of an individual is formed. This relationship results in the creation of a
generalized image, mental “footprint” of the qualities and properties of the
element of the physical world that becomes a concept (Чекулай, 2006: 16).
Concepts emerge as rational (notional) and perceptive (sensations-based)
components of human experience are combined. Rational (logical) compo-
nent of the concept is the result of the process of conceptualization; it reflects
the structure and characteristics of the relevant phenomena and notions
(Воркачев, 2001: 56). From the realm of individual’s mental sphere con-
cepts are transferred to the collective realm of culture. There mental units
undergo evaluation and acquire a set of associations. Evaluation of the con-
cept constitutes interpretive field or periphery of a concept. It includes such
elements as figurative component (conceptual metaphor), and axiological
(value) component. Therefore, concepts can be seen as complex units made
of different layers. Some of them are crucial to the formation of a concept
Corpus-based approach in cognitive semantics studies 35
and are therefore its core; others are results of interpretation or assessment
of the notion. Core of the concept contains the most significant information
about the results of the speakers’ conceptualization. It combines compo-
nents that are formed as a result of human cognitive and sensory percep-
tion of the world, in other words rational (logical) and perceptive layers.
The combination of the rational and perceptual conceptual components is
possible through the mental operation of image schema creation (Johnson,
1987: 29; Turner, 1991). The latter “help to explain how our intrinsically
embodied mind can at the same time be capable of abstract thought. As
patterns of sensory-motor experience, image schemas play a crucial role
in emergence of meaning and in our ability to engage in abstract concep-
tualization and reasoning that is grounded in our bodily engagement with
our environment” (Johnson, 2005: 15). Image schema is an embodiment
of prelinguistic experience. It motivates conceptual mappings and operates
as a dynamic pattern of relating perceptual interactions or motor programs
structuring human experience. Without such integrating procedure human
experience would be chaotic and incomprehensible (Johnson, 1987: xix;
Kövecses, 2006: 207). Image schemas make it possible to rely on the struc-
ture of sensory and motor operations to understand abstract concepts and
draw inferences about them. They are repeated patterns of sensory-motor
experience of the individual (Johnson, 1987: XIV).
Analysis of concepts is a series of procedures to clarify characteristics
of concepts as units of cognition and describe their relations within system.
Currently concept analysis focuses on concept system in terminological
analysis and nursing science (Nuopponen, 2010; Walker, 1994). In concept
analysis the structure of concepts is presented as basic, structural, origina-
tion, development, activity, transmission, causation or dependency models.
Basic model helps to establish concept’s place in generic (logical) concept
system, structural model reveals spatial relations between referents of the
concepts. Origination and developmental models are used to establish rela-
tions between the core concept and phenomena that either are connected
to its origin or reflect stages in its development. Activity and transmission
models connect the core concept (representing activity) and phenomena
involved in this activity. Causation and dependency models establish rela-
tions between cause and effect, patient affected by the core concept, types
of effect. Components from all models can be used at different stages of
research depending on research objectives. They can be integrated in a
single concept map model (Nuopponen, 2010: 10-12). Although existing
models were not elaborated within the context of cognitive semantics, they
36 Anastasiia Belyaeva
stress that the analysis of a concept is basically the analysis of its lexi-
cal representation and its usage, an examination of how the word(s) that
denote concept is related to other units of language (Walker, 1994: 38-41).
uses to express certain concept. This stage relies on the study of semantic
structure of words representing a concept in a language to reveal the princi-
ples according to which information is organized in mind. At this stage cor-
pus-based model of Latent Semantics Analysis, namely quantitative study
of keywords would help narrow the scope of language units that verbalize
the concept. In order to give a key to understanding the mechanisms of
conceptualization, this stage should involve analysis of rational (logical)
component of the concept structure as well as its perceptive component.
This stage also looks into figurative components of concepts represented
by cognitive metaphors. Corpus-based collocation analysis would provide
the foundation for the study of actualized semes in context looking into the
frequent and/or typical words that the name(s) of the concept is combined
with. Next procedure involves looking into axiological (value) component
of concept. Corpus-based technique that would allow looking into this layer
of concept structure is the analysis of collocations to study semantic pros-
ody (see Charteris-Black, 2004; Stubbs, 2001). The outcome of the first
stage is modeling a concept structure. Next step in concept system analysis
is establishing the place of concept in a generic concept system and attempt
to reveal its relations (coordination, subordination, and superordination) to
other concepts. At this stage concept analysis needs to establish concept
hierarchy. Even though a study may focus on a single concept, concepts
never exist in isolation. Concept relation types are based on structures and
categorizations of the world and conceptual hierarchies can be based on
hierarchies of semantic relations (Nuopponen, 2010: 10). There are sema-
siological and onomasiological components in this stage. Cognitive sema-
siological analysis takes into account different parts of speech that denote
a concept. Frames are used to represent different relations between lexical
units that verbalize the concept (Кустова, 2004). Cognitive onomasiolog-
ical analysis is an attempt to locate concepts depending on the level of
their abstraction (Селиванова, 2000). Second stage in the analysis relies
on Multifactorial Usage-Feature model. Once the scope of the language
units that verbalize the concept under analysis is narrowed down through
quantitative and qualitative collocation analysis, the most frequent and/or
typical ones can be manually annotated for usage and meaning criteria in
order to access broader cultural significance of the concept.
44 Anastasiia Belyaeva
4. Conclusions
The conclusions drawn from the research suggest that the complex nature
of human language allows it to be both a tool of world understand-
ing and a means of storing and transferring the knowledge gained. The
results of categorization of real world objects and phenomena constitute
conceptual representation of the world. Since learning about objects and
phenomena people use both their senses and cognitive abilities, concepts
can be regarded as units combining rational and perceptual components.
As parts of culture concepts also include associations and evaluation. In
this view concepts can be regarded as multidimensional structures made
of several layers. Concepts may be expressed by language means. Cog-
nitive Semantics analysis of linguistic units that name concepts can give
access to conceptual model of the world. This paper suggests that empir-
ical methods characteristic of corpus-based approach can be suitable for
Cognitive Semantics studies because they would provide a more feasible
foundation for generalizations about worldview of a language community.
Even though corpus-based approach is often used in semantics research,
there is no unified view on the procedures applicable for Cognitive Seman-
tics. Complex nature of concepts as mental units that can be represented
in language only partially makes it necessary to combine quantitative cor-
pus-based methods with well-established Cognitive Semantics procedures
of language analysis. Delimitation of language units that verbalize a con-
cept would be a starting point for further corpus- based research. In case
linguists favor a different approach to concept analysis, i.e. they consider
that one language unit expresses several concepts, an array of concepts that
a language unit expresses is established prior to corpus queries. This stage
can benefit from quantitative analysis techniques aimed at establishing
keywords in corpus. Looking into collocational patterns linguists would
gain insight into the place concept occupies in conceptual system of the
community, understand what other notions or phenomena it is typically
associated or considered alongside with. Once the quantitative analysis of
collocations is interpreted, its results could be used in more sophisticated
Multifactorial Usage-Feature analysis. The paper advocates the combina-
tion of the two corpus-based approaches to semantics analysis where Latent
Semantics Analysis provides a more objective (quantitatively-tested) and
language-based foundation for Multifactorial Usage-Feature annotation.
Corpus-based approach in cognitive semantics studies 45
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46 Anastasiia Belyaeva
Anderson Ferreira*
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP, BRASIL
[email protected]
This article aims to study the textual argumentative sequences in the genre ‘reader
comments discourse’, published daily in the newspaper Folha de São Paulo in the
Letters addressed to the Editor section. We base our analysis on the theoretical
aspects of Textual Analysis of Discourses (TAD), in particular, studies by Jean-
Michel Adam about argumentative sequences in view of the dialogic principle. We
intend to consider within this principle not only the textual plan for each selected
sample, but, especially the situation of communication that the journalistic instance
render available, in the newspaper via, three comments from readers on the sameis
topic. We believe that this strategy has the purpose to establish a broader debate
regardings the issue of partisan polarization and division of the country as a conse-
quence, of the political scene established.
0. Introdução
Esse trabalho tem por objetivo estudar as sequências textuais argumentati-
vas no gênero “comentário do leitor” do jornal Folha de São Paulo (dora-
vante, Folha). Focalizamos três textos publicados na secção Painel do
Leitor deste periódico. Privilegiamos como aporte teórico-metodológico
a Análise Textual do Discurso (ADT), mormente, os estudos de Jean-Mi-
chel Adam sobre a estrutura da sequência argumentativa. Partimos, assim,
da seguinte questão: de que forma são constituídas as sequências textuais
argumentativas no gênero de discurso “comentário do leitor” da Folha?
Dividimos o presente trabalho em três secções. Na primeira, assumimos
uma concepção de gênero de discurso e tipos de discurso pela qual classi-
ficamos os textos selecionados. Na segunda, discutimos as considerações
de Adam (2011) e outros estudiosos acerca das sequências textuais argu-
mentativas. Por fim, na terceira secção, analisamos os textos escolhidos
à luz das propostas teórico-metodológicas da ATD acerca das sequências
argumentativas em seu princípio dialógico.
2. As sequências argumentativas
Entre os tipos de textos propostos por Werlich (1975) e retomados por
Adam (2011), encontram-se os textos argumentativos. Neles notamos, de
maneira geral, duas características: a análise e o posicionamento do enun-
ciador. Podemos apontar, com isso, dois funcionamentos da argumentação
na produção verbal.
O primeiro diz respeito ao processo de apresentação de um ponto de
vista (A), elidindo ou refutando uma tese anterior (B) e propondo uma
nova tese (C). Essa estrutura composicional de escrita foi bastante usada
na filosofia pelo menos até o século XVII. O segundo, que não elimina
a sequência (A) - (B) - (C), baseia-se, sobretudo, na organização de um
conjunto de enunciados, podendo vir a aparecer em meio a outros tipos de
textos e em qualquer gênero de discurso.
Essas perspectivas resultam em duas acepções gerais de argumentação.
Uma que se fundamenta na qualidade de persuadir ou convencer o inter-
locutor ao propor uma nova tese, independente de uma lógica formal, ou
seja, independente da verdade ou falsidade de uma proposição. E outra que
se configura pelo modo de organização enunciativa, resultado da passagem
do período argumentativo à sequência argumentativa (Adam 2011). Nesta
última acepção, alicerçamos nosso trabalho.
De acordo com Silva (2012), enquanto perspectivada sobre o modo
de organização enunciativa, as sequências argumentativas se distinguem
das sequências narrativas, descritivas e explicativas. Contudo, enquanto
perspectivada sob o enfoque retórico, as sequências narrativas, descritivas,
explicativas e dialogais, considerando o contexto pelas quais são produ-
zidas, podem ter uma orientação argumentativa. Isso significa dizer que
fábulas, contos, canções populares, publicidades, notícias, conversas infor-
mais etc., podem, mesmo por outros gêneros de discurso, ‘querer’ persua-
dir ou convencer seus interlocutores.
No esquema abaixo, podemos visualizar os movimentos de demons-
trar-justificar uma tese e refutar uma tese ou certos argumentos de uma
As sequências textuais argumentativas no gênero comentário do leitor da Folha de São Paulo 53
Esquema 2. Esquema 2.
Novas respostas
Dialogismo
Esquema 4.
Comentário 1
Agora que Dilma venceu, vemos uma profusão de palpites sobre o que ela deve
fazer de seu governo – curiosamente, vindo de cidadãos que não votaram nela.
Gostaria de lembrar que as ideias e as práticas da presidente foram referendadas
pela maioria do eleitorado. Portanto, mais modéstia e contenção! Todo mundo
pode sugerir o que quiser, mas as linhas mestras do governo serão traçadas por
quem conquistou democraticamente nas urnas o poder de governar o país.
José Cláuver de Aguiar Junior (Santos, SP)
Dados Asserção
(Premissas) Conclusiva
Fato(s) (C)
Apoio
Esquema 5.
Esse esquema nos permite separar os Dados (D) [Dilma venceu], Con-
clusão (C) [o país será governado por quem conquistou democraticamente
este direito nas urnas] e o Apoio (B) que se vale de macroposições que,
embora não estejam articuladas à conclusão, não a invalidam: [vemos uma
profusão de palpites sobre o que ela deve fazer de seu governo], [vindo de
cidadãos que não votaram nela]. O enunciador propõe, na Conclusão (C),
que as eleições foram justas e democráticas, no entanto aqueles que, por-
ventura, não votaram na presidente Dilma não podem “dar palpites” sobre
os rumos de seu governo. Ora, num Estado democrático de direito, como é
As sequências textuais argumentativas no gênero comentário do leitor da Folha de São Paulo 57
Tabela 1. Comentário 1.
__________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Vemos uma profusão de palpites sobre o que ela deve
(B) Apoio fazer de seu governo; vindo de cidadãos que não
votaram nela.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
(C) Conclusão
O país será governado por quem conquistou
democraticamente este direito nas urnas.
___________________________________________________________________________
58 Anderson Ferreira
Comentário 2
O PSDB não teve a capacidade de ganhar do PT, que perdia para ele mesmo.
Simples a razão: em três eleições presidenciais, o PSDB lançou três candi-
datos. Não firmou nenhum nome. E o pior: na hora de ganhar, colocou um
candidato que governou Minas Gerais por oito anos e não conseguiu sequer
ganhar nesse Estado. A sigla perdeu por seus candidatos não respeitarem a
hora certa de cada um.
Rômulo Gobbi (Santa Bárbara d’Oeste, SP)
__________________________________________________________________________________________
Tese anterior Dados Apoio das inferências logo Conclusão
__________________________________________________________________________________________
a menos que (nova) Tese
(Restrição)
__________________________________________________________________________________________
só se
(Especificação)
__________________________________________________________________________________________
Tese Anterior (P.arg 0) e a (nova) Tese (P.arg 3), mas poderíamos consi-
derar a instância jornalística arranja o modo de apresentação na secção do
Painel do Leitor para que (P.arg 0) do comentário 2 parta do assunto do
comentário 1 [Dilma venceu], e (P.arg 3) do comentário 2, como apoio da
Restrição/Especificação, proponha uma nova organização interna do par-
tido PSDB na disputa das próximas eleições, como veremos na Tabela 4.
Por ora, consideremos a tabela a seguir:
Tabela 3. Comentário 2.
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
Em três eleições presidenciais, A menos que [se lance apenas PSDB ganhará as eleições para
o PSDB lançou três candidatos um candidato] presidente.
__________________________________________________________________________________________
Não firmou nenhum nome A menos que [se firme um O PSDB ganhará as eleições para
nome] presidente.
__________________________________________________________________________________________
Na hora de ganhar, colocou Só se [colocar um candidato que O PSDB ganhará as eleições para
um candidato que governou presidente.
ganhe em seu próprio estado].
Minas Gerais por oito anos e
não conseguiu sequer ganhar
nesse Estado.
__________________________________________________________________________________________
Comentário 3
A eleição foi marcada pela liberdade de opinião que os eleitores de direita e de
esquerda tiveram nos meios de comunicação. Podemos usá-los para exigir mudan-
ças. Que os acalorados debates e discussões partidárias se transformem em cobran-
ças. Assim realizaremos nossos papéis de cidadãos, exigindo melhorias, criando
fóruns na internet, indo às ruas. Não podemos deixar que continuem acomodados.
Henrique Yochi (Monte Alto, SP)
__________________________________________________________________________________________
Tabela 5. Plano global da sequência argumentativa do Painel do Leitor.
P.arg 0 P.arg 1 P.arg 2 P.arg 4 P.arg 3
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
P.arg 0 P.arg 1 P.arg 2 P.arg 4 P.arg 3
Tese anterior Dados Apoio das inferências logo (nova) Tese
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
Tese anterior Dados Apoio das inferências logo (nova) Tese
Comentário 1e2 Comentário 3 Comentário 3 Comentário 3 Comentário 3
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
Comentário 1 e 2 Comentário 3 Comentário 3 Comentário 3 Comentário 3
A eleição foi Não
__________________________________________________________________________________________
Dilma venceu. A menos que Que os
marcada pela
podemos [participemo acalorados
Aliberdade
eleição de
foi
O país
Dilma será
venceu. Nãoque
deixar sAdos
menos que
debates Que ose
debates
opinião
marcadaque os
pela
governado por podemos
continuem [participemo
eleitores de
liberdade de políticos] acalorados
discussões
quem conquistou
O país será direitaque
opinião e deos deixar que
acomodados s dos debates debates ese
partidárias
democraticament
governado por esquerdade
eleitores continuem
. políticos] discussões
transformem
e este direito
quem conquistou nas
tiveram
direita enos
de acomodados partidárias
urnas.
democraticament em se
meios
esquerdade .
e este direito nas transformem
cobranças.
comunicação.
tiveram nos
urnas. em
meios de
cobranças.
comunicação.
__________________________________________________________________________________________
Só se [não Assim
__________________________________________________________________________________________
O PSDB não A eleição foi
marcada pela Não podemos ficarmos de realizaremos
teve a
liberdade de deixar que Só se
fora do[não
vida nossos papéis de
Assim
O PSDB não
capacidade de A eleição foi
opinião que cidadãos,
realizaremos
tevedoa PT.
ganhar marcada pela Não podemos
continuem ficarmos de
política do
os eleitores exigindo
nossos papéis de
capacidade de liberdade de deixar que
acomodados. forapaís]
do vida
deopinião
direitaque
e de melhorias,
cidadãos,
A sigla do
ganhar perdeu
PT. continuem política do criando fóruns na
osesquerda
eleitores exigindo
por seus acomodados. país] internet, indo às
melhorias,
detiveram
direitanos
e de
A sigla perdeu
candidatos não meios de criandoruas.
fóruns na
esquerda
por seus a
respeitarem comunicação.
tiveram nos internet, indo às
candidatos
hora certa não
de meios de ruas.
respeitarem
cada um. a comunicação.
hora certa de
cada um.
__________________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
64 Anderson Ferreira
4. Conclusão
Argumentar, num sentido amplo, consiste em utilizar a atividade verbal a
fim de persuadir ou convencer o outro. De outro modo, consiste em colocar
um ponto de vista sobre determinada questão. Temos muitas maneiras de
argumentar, o que resulta em boas argumentações ou argumentações fracas.
As argumentações podem ser apresentadas por meio de textos por excelên-
cia argumentativos ou por textos narrativos, descritivos, explicativos ou
dialogais. Esta última forma torna sua apreensão mais complexa. Também,
todos os gêneros de discurso podem ter uma orientação argumentativa.
Neste sentido, estudar as sequências argumentativas que compõem esses
textos e gêneros de discurso significa revelar como os indivíduos constroem
seus conhecimentos em uma dada sociedade. Nos textos dos comentários
do leitor por nós selecionados, podemos compreender a construção desses
conhecimentos em dois níveis.
O primeiro diz respeito às sequências argumentativas no plano textual
de cada gênero de discurso publicado na Folha. Em cada um deles, pode-
mos observar a proposição de Adam (2011) pela inclusão da Tese Anterior
(P.arg 0) e do destaque à (nova) Tese (P.arg 3) que indica um procedimento
diferente da Conclusão (C) proposta por Toulmin (1958). Tanto (P.arg 0)
quanto (P.arg 3) assinalam que o discurso retoma e revela outros discursos,
evidenciando o conceito de dialogismo proposto por Bakhtin (2010).
O segundo nível refere-se aos efeitos de sentido que uma análise global
dos três comentários pode suscitar. Isso significa dizer que se olharmos os
três textos dispostos pela instância jornalística como tomados pela situação
de comunicação, veremos que a noção de dialogismo torna-se ainda mais
presente, já que, nesse enfoque, o jornal, ao publicar os comentários de
seus leitores, instaura uma função-leitor que visa ampliar o debate atinente
aos assuntos abordados, logo o efeito de sentido das sequências textuais
argumentativas, como apontou Adam (2011), pode ser evidenciado.
Em suma, o gênero constituído no Painel do Leitor da Folha não
trata apenas das ‘opiniões’ dos leitores sobre as eleições presidenciais, a
instância jornalística visou a produzir um efeito de sentido de debate entre
dois polos partidário e um “mediador” que tenta solicitar a participação dos
cidadão de forma democrática na construção política do país. As sequências
argumentativas, portanto, ultrapassam o nível do plano textual.
As sequências textuais argumentativas no gênero comentário do leitor da Folha de São Paulo 65
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Werlich, Egon (1975). Tipologie der Texte. Heidelberg: Quelle et Meyer.
Com base nas necessidades e objetivos dos aprendizes de inglês como língua
estrangeira e em estudos anteriores acerca do tema, este estudo visa a relacionar
resultados de pesquisa em inteligibilidade com o ensino de pronúncia. Por meio de
gravações de quatro rodas de conversa entre falantes brasileiros e ouvintes nativos
de língua inglesa, com e sem familiaridade com a língua portuguesa, e da análise
de questionários respondidos pelos ouvintes, investigou-se e confirmou-se a rele-
vância da familiaridade do ouvinte com a língua materna do seu interlocutor. Além
disso, verificou-se que a exposição a diferentes sotaques do inglês é uma variável
que, de acordo com a percepção dos ouvintes, facilita a interação.
Based on the EFL learners’ needs and objectives and on previous studies regard-
ing the theme, this study aims at relating research findings on intelligibility and
pronunciation teaching. The data involves free conversations between Brazilian
English learners and American listeners, both familiar and not familiar with Brazil-
ian Portuguese, and the analysis of questionnaires answered by the listeners. The
results confirm that the listeners’ familiarity with the speakers’ mother tongue is a
relevant variable. Furthermore, it was verified that the exposure to different Eng-
lish accents is a variable which, according to the listeners’ perception, facilitates
interaction.
0. Introdução
Com o crescimento do uso da língua inglesa para comunicação interna-
cional, as necessidades e objetivos dos aprendizes, no que diz respeito à
pronúncia, deixaram de estar relacionados à aquisição de um falar próximo
ao de um nativo. Hoje, busca-se a capacidade de se comunicar com uma
pronúncia clara e compreensível, tanto em interações com falantes nativos
do idioma, quanto em interações com outros falantes estrangeiros.
Essas questões parecem simples, mas envolvem aspectos complexos
como, por exemplo, o conceito de inteligibilidade de fala, que é cercado
de diversas variáveis. No presente artigo busca-se: (1) investigar o papel
da variável da familiaridade do ouvinte com a língua materna de seu inter-
locutor (2) retomar brevemente os estudos que vêm sendo feitos acerca da
inteligibilidade de pronúncia de falantes brasileiros de inglês e (3) apontar
a importância de relacionar a pesquisa em inteligibilidade de fala com o
ensino de pronúncia do inglês.
(1) Termo utilizado por Abercrombie (1956), que define “confortavelmente inteligível” como
uma pronúncia possível de ser entendida sem muito esforço.
A pesquisa em inteligibilidade de fala e sua relevância para o ensino de pronúncia do inglês 69
worthy (1987), Brazil (1996), Jenkins (2000), Lieff, Pow e Nunes (2011) e
também em conferências que tratam sobre o ensino de pronúncia de língua
estrangeira. Resta-nos compreender o significado dos termos inteligibili-
dade e compreensibilidade e suas relações com o status da língua inglesa
como língua internacional.
3.1. Metodologia
3.1.1. Participantes
Podemos dividir os participantes da pesquisa em três grupos: (1) falan-
tes brasileiros de inglês; (2) ouvintes norte-americanos não-familiarizados
com o português brasileiro e (3) ouvintes norte-americanos familiarizados
com o português brasileiro.
O grupo 1, falantes brasileiros de inglês, foi composto por dez alunos
do curso de Licenciatura em Letras Português/Inglês e Respectivas Litera-
turas da Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Todos
possuem entre 20-25 anos de idade, nível B1 e B2 de acordo com o Qua-
dro Comum Europeu de Referência (atestado pelo teste de nivelamento
TOEFL-ITP) e nunca tiveram experiência em países que têm inglês como
língua materna.
O grupo 2, ouvintes norte-americanos não-familiarizados com o por-
tuguês brasileiro, foi composto por quatro norte-americanos naturais de
Ohio, Texas, Minnesota e Idaho. Todos com faixa-etária de 20-25 anos e
chegados ao Brasil há menos de um mês.
O grupo 3, ouvintes norte-americanos familiarizados com o português
brasileiro também foi composto por quatro norte-americanos com faixa-e-
tária de 20-25 anos. Todos residentes no Brasil e estudantes de português
há, pelo menos, oito meses.
read(4), mas foi deixado claro que poderiam falar sobre qualquer assunto
que desejassem e que não precisavam preocupar-se caso a conversa tomasse
outro rumo a partir dos tópicos indicados. Os tópicos foram escolhidos de
tal forma que os falantes tivessem que falar de eventos em diferentes tem-
pos verbais, visando a obter uma variedade maior dentro do nosso universo
de dados coletados.
Três pesquisadores estavam presentes durante todas as gravações, aten-
tando para reações e expressões faciais dos ouvintes que pudessem indi-
car qualquer interferência na interação. Foram registradas questões como:
pedidos de repetição e/ou esclarecimento e indicações faciais de que algo
não havia sido entendido. Assim, durante a análise dos dados gravados
procuramos pontualmente os momentos registrados, a fim de identificar os
segmentos que afetaram a inteligibilidade.
A primeira coleta contou com a participação dos grupos 1 e 2. Durante
essa etapa foram realizadas gravações de duas rodas de conversa, cada uma
delas formada por cinco brasileiros e dois americanos. Na segunda coleta,
participaram os grupos 1 e 3. Da mesma forma que na etapa anterior, foram
realizadas gravações de duas rodas de conversa, cada uma delas formada
por cinco brasileiros e dois americanos.
Vale ressaltar que, neste estudo, entendemos como inteligível tudo
aquilo que os falantes nativos de inglês foram capazes de compreender
naturalmente ao conversar com interlocutores brasileiros. Se por algum
motivo, em meio à interação, os ouvintes solicitassem que seus interlo-
cutores repetissem ou explicassem o que disseram, a inteligibilidade foi
considerada afetada.
Para a análise dos aspectos que afetaram a compreensibilidade, soli-
citamos aos ouvintes que respondessem ao questionário abaixo, citando
exemplos e compartilhando suas percepções acerca da dificuldade de com-
preender determinados segmentos.
1. Check the items that you believe affected your comprehension during the
conversation:
( ) pauses
( ) hesitations
( ) rhythm
( ) intonation
( ) stress
(4) 1 – Fale sobre os seus planos para o próximo final de semana; 2 – Fale sobre seu cantor/banda
preferido(a); 3 – Fale sobre um filme que você assistiu ou um livro que você leu.
A pesquisa em inteligibilidade de fala e sua relevância para o ensino de pronúncia do inglês 73
( ) consonant sounds
( ) vowel sounds
( ) voice quality
( ) self corrections
( ) others ____________________
(5) 1. Marque os itens que você acredita que afetaram sua compreensão durante a conversa:
( ) pausas
( ) hesitações
( ) ritmo
( ) entonação
( ) tonicidade
( ) sons consonantais
( ) sons vocálicos
( ) qualidade de voz
( ) auto-correções
( ) outros _________
2. A sua experiência prévia ajudou você a compreender os falantes em algum momento em
particular? Qual?
3. Houve algo (uma palavra, uma ideia, etc.) que você não conseguiu compreender? Você
pode explicar o que foi?
74 Anna Júlia Karini Martins / Letícia Stander Farias
(1) I guess because my parents are not native English speakers I have
developed an understanding and a certain patience towards who
have learned English.(6)
(2) I think I am pretty accustomed to speaking to non-native speakers
of English so their small errors may not impact my comprehension
as much.(7)
(6) “Acho que porque meus pais não são falantes nativos de inglês eu desenvolvi um entendi-
mento e uma certa paciência em relação a quem prendeu inglês.”
(7) “Acho que estou bem acostumada a falar com falantes não-nativos de inglês, então os seus
pequenos erros não afetam tanto a minha compreensão.”
(8) Field (2003, p. 36) define representação fonológica como “a maneira pela qual os sons da
língua são armazenados na mente do usuário dessa língua”.
(9) “The interlanguage speech intelligibility benefit”.
78 Anna Júlia Karini Martins / Letícia Stander Farias
5. Conclusão
Partindo das diretrizes de Cruz (2003, 2006a, 2006b, 2007, 2008, 2014),
mas buscando complementar seus estudos e acrescentar novas questões,
verificou-se através da coleta de dados deste estudo que (1) a familiaridade
do ouvinte não só com o sotaque do falante brasileiro ao falar inglês, mas
com o português brasileiro, é uma variável que resultou em uma conversa
completamente inteligível, sem danos à inteligibilidade ou momentos de
baixa compreensibilidade e (2) a familiaridade com sotaques estrangeiros
de inglês em geral também é uma variável que facilita a inteligibilidade de
fala entre falantes nativos e não-nativos de inglês.
Para além das confirmações sobre a variável da familiaridade, também
foi possível identificar sons não-inteligíveis e de difícil compreensão para
falantes nativos de inglês não-familiarizados com o português brasileiro
ou com o sotaque brasileiro ao falar inglês. Esses resultados são úteis no
trabalho de pronúncia em sala de aula, servindo de base para a elaboração
de atividades de ensino.
É importante reconhecermos que nosso estudo possui fragilidades: é
preciso coletar um maior número de dados, para que tenhamos uma noção
mais realista dos sons que impedem a inteligibilidade para diferentes gru-
80 Anna Júlia Karini Martins / Letícia Stander Farias
Referências bibliográficas
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In 2012, Portuguese language syllabi adopted the term “grammar” in order to refer
to language awareness. This change of terminology for a central area of Portuguese
language teaching suggests a reinforcement of formal linguistic knowledge. Thus,
learning grammar will mean not only a better knowledge of a given natural lan-
guage, but also making use of that knowledge for the improvement of the commu-
nicative skills of speakers. As a consequence of the official guidelines, since 2013
new Portuguese language textbooks have been adopted for Primary Education
which may already have introduced some modifications. It is from this assumption
that the aim of this paper develops, first in a theoretical way, to establish how the
nature of grammar is redefined at school and, then, by means of an empirical anal-
ysis, to check if 9th grade textbooks conceive new activities for grammar learning,
by the implementation of innovative teaching methodologies.
0. Introdução
A principal motivação desta pesquisa prende-se com o interesse em inves-
tigar a habitual renovação das práticas de ensino do Português e, também,
uma eventual (re)configuração da gramática escolar, na sequência da apro-
vação das Metas Curriculares de Português (MCP) do Ensino Básico
(Buescu, Morais, Rocha & Magalhães, 2012) e da subsequente adoção de
novos manuais no 3.º ciclo, a partir do ano letivo de 2013/2014.(1)
No campo do ensino do Português, os domínios da leitura e da gramá-
tica eram, habitualmente, considerados os mais representativos da aula de
língua materna.(2) No caso específico da gramática, ela foi mesmo conside-
rada um “ritual gerado e alimentado na tradição” (Sousa, 2000, p. 536) que
tem permanecido nas aulas de Português. Se, genericamente, tal domínio
está bem patente e de diversos modos nos manuais escolares (MEs) e nas
práticas pedagógicas do Português, convém definir, por isso mesmo, as
dimensões específicas em que, neste caso, podemos estudá-lo.
Não apenas por ser um conteúdo de valor intrínseco e um instrumento
relevante para as restantes competências verbais, o saber gramatical surge
como domínio “omnipresente” nos programas e, por consequência, quer
nos manuais quer nos exames nacionais. Em suma, a gramática é um
conhecimento declarativo e uma condição importante (mas não única) para
o sucesso na leitura, na escrita e, inclusive, na comunicação oral formal.
A discussão teórica deste texto vincula-se, então, à hipótese de a gramá-
tica constituir um saber linguístico que convém explicitar na escola e nos
manuais, sendo um instrumento verbal que potencia o desenvolvimento de
capacidades de comunicação. O objetivo desta pesquisa tem, igualmente,
a ver com a análise dos MEs, no sentido de aferir até que ponto eles pro-
põem atividades de aplicação e de explicitação do conhecimento linguís-
tico (implícito)(3), seguindo o percurso da aprendizagem pela descoberta
(Hudson, 1992; Duarte, 1992, 1998).
É neste contexto que se pode dizer que ensinar e aprender Português
fará sentido quando, nas aulas, se trabalhar a linguagem, a comunicação,
(4) Em 2015, foi introduzido o Programa e Metas Curriculares de Português do Ensino Básico,
que retoma o essencial das MCP de 2012, em termos de domínios, metas, objetivos e descri-
tores do desempenho. Este programa de 2015 não influenciou a conceção nem a adoção dos
MEs de 2013/2014, pelo que não será aqui comentado, pois tal não seria muito pertinente
para a análise destes manuais.
86 António Carvalho da Silva
(5) Crystal (1992, p. 8) também já estabelecera esta distinção, precisamente ao nível do conhe-
cimento gramatical: “Everyone who speaks English knows grammar, intuitively and uncons-
ciously. But not everyone who speaks English knows about grammar. ‘Knowing about’
means being able to talk about what we know.”
A configuração do ensino da Gramática nos novos manuais de Português do 9.º ano 87
(6) Após a implementação das MCP de 2012, é preciso diferenciar a leitura (competência) do
conhecimento de literatura (saber), já que estas dimensões do ensino da língua se conjugam na
Educação literária, evidenciando-se, assim, que a literatura não é apenas um saber declarativo.
A configuração do ensino da Gramática nos novos manuais de Português do 9.º ano 89
(7) Costa (1992, pp. 226-233) distingue três modelos de gramática: o normativo (que indica
“quais as formas correctas de uso da língua”), o descritivo (cujo fim é “descrever o funcio-
namento da língua, independentemente da existência de uma norma”) e o formal ou teórico,
exemplificado, neste artigo, com “o modelo generativo de gramática, tal como proposto por
Chomsky (1957, 1959)”.
(8) Uma descrição detalhada das fases da Oficina gramatical será apresentada na secção seguinte
(3.) deste texto.
90 António Carvalho da Silva
(10) Em Duarte (2008, pp. 18-19), este percurso de quatro fases é alargado, na perspetiva do
Laboratório gramatical, num conjunto de sete etapas, que começa com a formulação de uma
pergunta ou de um problema e termina com a avaliação das aprendizagens realizadas.
A configuração do ensino da Gramática nos novos manuais de Português do 9.º ano 93
(11) Num livro de Português para o 3.º ano (Alfa. Português 3), a secção de gramática intitula-se
“Laboratório gramatical” e o seu objetivo é a “Explicitação, sistematização e aplicação das
regras do conhecimento explícito da língua de uma forma contextualizada” (Lima, Barrigão,
Pedroso & Rocha, 2015, p. 3). De facto, em certas atividades, conduz-se o aluno à expli-
citação das regras gramaticais (cf. Duarte, 1992, 1998), como se vê numa sequência sobre
os nomes: a) leitura e observação de palavras; b) caracterização de frases e organização de
dados; c) identificação da categoria e das regras associadas; d) síntese da informação (Lima,
Barrigão, Pedroso & Rocha, 2015, p. 84).
94 António Carvalho da Silva
(12) O Currículo Nacional do Ensino Básico vigorou uma década (2001-2011), mas deixou de
“constituir documento orientador do Ensino Básico em Portugal”, na sequência do Despa-
A configuração do ensino da Gramática nos novos manuais de Português do 9.º ano 95
(13) Reforçando a sua ideia sobre este tema, Vilela (1993, p. 166) considerava que “Os autores de
manuais fazem mau serviço em fornecer uma gramática ‘menor’: seria melhor não fornecer
nenhuma gramática, obrigando os professores a procurar (ou elaborar) uma gramática adequada”.
A configuração do ensino da Gramática nos novos manuais de Português do 9.º ano 99
(14) No ME 02, no Caderno de Exercícios (p. 1), reafirma-se uma relação entre gramática e com-
petências verbais: “Pretende-se a aplicação, sistematização e consolidação das aprendizagens
dos alunos no domínio da Gramática, que lhes permitirão desenvolver e aperfeiçoar o seu
desempenho na Leitura, Oralidade e Escrita”.
(15) Neste manual, que inclui 25 SDs com questões de gramática, são aí intercaladas 16 caixas de
texto com o título “Recorda” (cf. ME 02, por exemplo, pp. 25, 29, 39, 53, 61, 104, etc.) que
servem para explicar conteúdos já aprendidos em anos anteriores e que estão a ser aplicados.
(16) As cinco únicas exceções a esta tendência acontecem no ME 03, em que, através de títulos
combinados, a gramática surge associada a outros domínios: Leitura (pp. 96 e 238), Orali-
dade (pp. 100 e 237), Escrita (p. 111), mesmo que, quase sempre, as questões de cada um
dos domínios não estejam realmente implicadas umas nas outras, persistindo, por isso, o seu
carácter tendencialmente autónomo.
104 António Carvalho da Silva
Operações Reconheci-
Produção Explicitação Total
linguísticas: mento
ME 01 54 10 3 67
ME 02 74 24 3 101
ME 03 125 24 26 175
TOTAIS 253 58 32 343
% 73,8% 16,9% 9,3% 100%
Mesmo assim, há que relevar que os três manuais têm um número dife-
rente de questões: o ME 01 inclui 67; o ME 02, 101; e o ME 03, 175, ou
seja, quase o triplo do ME 01. Em termos quantitativos, estes manuais atri-
buem um valor distinto ao domínio da gramática e, no ME 01, haverá uma
ocorrência demasiado reduzida de questões gramaticais.
Todavia, o resultado mais significativo tem a ver com um predomínio
muito marcado das operações de reconhecimento (identificação de dados),
que correspondem a um total de 73,8% das operações cognitivas implica-
das nas atividades de gramática, em que se tende a realizar uma certificação
da existência do conhecimento gramatical. Vejam-se estes três exemplos:
(1) “4. Indica a palavra que refere o todo (holónimo) relativamente às pala-
vras de cada grupo.” (ME 01, p. 27)
(2) “3. Divide e classifica as orações das frases a seguir apresentadas.”
(ME 02, p. 43)
(3) “1. Identifica os nomes e o adjetivo presentes na frase seguinte.” (ME 03,
p. 36)
(7) “2. Nas segmentos [sic] seguintes do conto, os pronomes pessoais desta-
cados encontram-se colocados antes das respetivas formas verbais. Justi-
fica essa posição em cada caso.” (ME 01, p. 49)
(8) “2.2. Conclui acerca da posição do pronome adjacente ao verbo, quando a
frase se encontra na negativa.” (ME 02, p. 29)
(9) “2.4. Explicita as regras quanto à flexão do adjetivo em género e número
que tiveste de respeitar no exercício anterior.” (ME 03, p. 36)
Áreas da Morfolo-
Sintaxe Semântica Outras Total
gramática: gia
ME 01 11 04 02 04 21
ME 02 14 04 02 05 25
ME 03 10 10 01 07 28
TOTAIS 35 18 05 16 74
% 47,3% 24,3% 6,8% 21,6% 100%
das várias competências, o que não se concretiza nas propostas destes MEs.
Esta ideia verifica-se, igualmente, nas atividades dos manuais, onde predo-
minam conteúdos relacionados com a morfologia e a sintaxe, o que, nesta
análise preliminar, sugere uma conceção estreita e conservadora dessa
mesma gramática escolar.
Todavia, nesta perspetiva de encarar o ensino da gramática, não é segu-
ramente pela falta de perguntas e de aplicações, de exposição e de avaliação
(em que estes MEs são extremamente ricos) que os alunos não conhecem a
nomenclatura gramatical das MCP. O problema é que, como habitualmente
se defende, a gramática aprendida (de cor) facilmente se esquece logo após
as avaliações; pelo contrário, a gramática descoberta pelos alunos, não só
não seria esquecida, como estes a conseguiriam mobilizar nos seus usos
linguísticos, já que teriam aprendido a pensar sobre a língua e a gostar de
descobrir os fenómenos extraordinários da linguagem.(17)
Afinal, como defendem muitos daqueles que estudam a linguagem
humana e refletem sobre o ensino da língua materna (linguistas, gramáti-
cos, didatas), é ao aprender a gramática (pela reflexão e pela descoberta)
que se leva os estudantes a tomar consciência de que
a sua língua materna, como todas as línguas naturais, é uma realidade fas-
cinante, de uma delicada complexidade, que é passível de ser observada,
descrita nos elementos que a constituem, e compreendida no modo regular e
regulado como eles se combinam para nos permitir, no quotidiano, comunicar,
agir sobre os outros, exprimir o que pensamos, inventar e criar. (Duarte, 1992,
p. 177)
Referências bibliográficas
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Curriculares de Português do Ensino Básico. Lisboa: Ministério da Educação e
Ciência.
(17) De entre alguns estudos recentes que têm feito referência a aplicações do Laboratório gra-
matical, citamos o de Silvano & Rodrigues (2010, pp. 282-283), do qual se destacam dois
objetivos importantes neste tipo de abordagem (sobretudo se articulada com a Pedagogia
dos discursos): “desenvolver no aluno o conhecimento explícito e a consciência linguística a
partir do conhecimento intuitivo da língua” e “promover o desenvolvimento das capacidades
investigativas do aluno”.
A configuração do ensino da Gramática nos novos manuais de Português do 9.º ano 111
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112 António Carvalho da Silva
Celeste Rodrigues
UNIVERSIDADE DE LISBOA, FACULDADE DE LETRAS, CLUL, PORTUGAL
[email protected]
0. Introdução
O propósito fundamental deste artigo é mostrar como os dados de frequência
de erros de ortografia em duas fases do desenvolvimento da escrita (2º e 4º
anos) são distintos e devem servir para a elaboração de estratégias específicas
de tratamento das estruturas em sala de aula. Serão apresentados os dados
quantitativos do corpus EFFE-On pertencentes a Lisboa, a descrição linguís-
tica das estruturas envolvidas e a interpretação das formas ortográficas não-
-convencionais (FN-Cs) e do respectivo papel na identificação dos problemas
que o professor deve ter em atenção em cada um desses anos de ensino.
(1) Decidimos juntar /eI/ e /+a+i#/ porque o tratamento dado às duas estruturas pelos falantes em
geral e pelas crianças que participaram no nosso estudo em particular assim o justifica. As
formas verbais em /+a+i#/ evoluem para o ditongo [ej] em todos as variedades da língua e é,
Estudo longitudinal da proficiência ortográfica no 2.º e 4.º anos de escolaridade 117
a partir do tratamento dado a esse ditongo que as variedades se distinguem (variedades meri-
dionais com [e], variedades centrais do litoral com [ej] e variedades setentrionais e padrão
quase exclusivamente com [ɐj].
(2) A representação fonológica dos ditongos aqui apresentada segue a notação de Mateus &
Andrade (2000). Esta notação assinala a posição da semivogal, que pode ser implementada
foneticamente ou não, com o símbolo da vogal correspondente em maiúscula, para distinguir
estas estruturas daquelas em que a vogal fonológica pode ser realizada como vogal (piano), o
que não acontece nestes casos. Nestas estruturas, a vogal subjacente não conta como vogal para
a estrutura métrica da palavra, pelo que faz parte do mesmo núcleo silábico da vogal precedente.
118 Celeste Rodrigues / Maria do Carmo Lourenço-Gomes
(2) a. leite
b. queijo
c. queixo
122 Celeste Rodrigues / Maria do Carmo Lourenço-Gomes
d. torneira
e. prateleira
f. chamei
g. fechei
h. acabei
(3) a. tesoura
b. touca
c. acabou
d. fechou
associadas às das palavras com /o/, como boca, toda, gerando erros com
ausência de <u> gráfico. Logo, trata-se de um terceiro caso de falta de cor-
respondência entre pronúncia e ortografia, que precisa de ser trabalhada pelo
professor, em particular, com a insistência na discriminação desta estrutura
relativamente à do /o/ simples (de boca, toda). A estrutura fonológica com
o ditongo possui maior complexidade fonológica do que fonética, mas, por
confluir com a estrutura /o/ foneticamente, gera erros em palavras com /oU/
e em palavras com /o/. Um exemplo disso mesmo é: “estav a voar e as flou-
res estavam a cexere co chova” (criança 28). Aqui a criança, já detentora de
algum conhecimento ortográfico, adopta a grafia mais complexa <ou> para
um núcleo simples na palavra flores (hipercorrecção).
(4) Foram observados alguns casos de FN-Cs nas palavras com /o/ grafadas com <ou>, como em
floures, que não serão tratadas neste artigo, por acharmos que essa estrutura deve ser tratada
separadamente. Nessa estrutura é mais frequente a existência de FN-Cs com <u> gráfico
simplesmente do que com <ou>.
124 Celeste Rodrigues / Maria do Carmo Lourenço-Gomes
4. Corpus
O corpus utilizado para o escrutínio das FN-Cs produzidas pelas crianças
de Lisboa é o do projecto EFFE-On – Corpus online de escrita e fala de
crianças nos primeiros anos de escolaridade (Rodrigues et al., 2015(5)).
Trata-se dos dados pertencentes a duas turmas do 2º ano e do 4º ano, envol-
vendo as mesmas crianças, ou seja, uma amostra longitudinal de desempe-
nho na escrita (cf. Alves et. al., 2015). Em cada fase de recolhas as crianças
produziram dois textos narrativo-descritivos. As crianças foram entrevis-
tadas oralmente aos sete anos, na primeira fase de recolha, altura em que,
quase sem excepção, as crianças demonstraram amplo domínio da língua
falada, distinguindo regularmente todos os contrastes fonéticos típicos da
variedade padrão.(6) Na segunda fase de recolha, as crianças tinham já nove
anos e não houve paralelamente recolha de entrevistas orais.
Os textos foram produzidos tendo como base imagens que propiciam
descrições minuciosas, levando a criança a manipular estruturas fonológi-
cas de diversos tipos. Cada criança escreveu um texto descritivo de uma
de cinco imagens (adaptadas para evocação de contrastes fonológicos do
português europeu por Guerreiro, 2007) e um texto narrativo relativo a
uma história contada por uma série de imagens sem texto (Furnari, 1993a,
no 2º ano, e Furnari, 1993b, no 4º ano). As crianças descreveram a mesma
imagem nos dois anos de escolaridade, para se poder reunir um conjunto
significativo de palavras comuns nos textos de cada criança, mas, contaram
histórias diferentes, como já dissemos.
5. Resultados e discussão
5.1 Dados do 2º ano
Os dados quantitativos do 2º ano relativos à estrutura /e/ acentuado pré-pa-
latal são os seguintes.(7)
(5) Disponível em http://alfclul.clul.ul.pt/teitok/effe/index.php?
(6) Algumas crianças manifestaram apenas dificuldades na produção de certas palavras com
estrutura silábica complexa, o que, mais uma vez, deve indicar ao professor que a complexi-
dade estrutural (neste caso, a complexidade da sílaba) deve ser abordada de forma explícita,
para as crianças atinjam um conhecimento mais aprofundado do léxico. Um exemplo desses
casos diz respeito à pronúncia de palavras como prateleira, produzidas na oralidade e na
escrita com formas com metátese: [pɐɾtɨ´lɐjɾɐ] *<parteleira> (criança nº 53). Outro é o de
transformou: escrito como *<tranxfromou> (criança nº 20).
(7) Foram devidamente excluídas das contagens desta estrutura-alvo todas as ocorrências de /ɛ/,
como, por exemplo, as das palavras: velho e Alentejo.
Estudo longitudinal da proficiência ortográfica no 2.º e 4.º anos de escolaridade 125
(8) Observando os resultados em detalhe, nesta estrutura específica nota-se que há diferenças
entre o comportamento das crianças dos dois géneros nesta amostra. As meninas apresen-
tam uma percentagem de FN-Cs muito superior à dos meninos: respectivamente, 57.8%
vs.19.1%.
126 Celeste Rodrigues / Maria do Carmo Lourenço-Gomes
Total
(n)
FN-Cs FC
(9) Esta FN-C contém duas vezes a letra <a>, no que parece constituir uma gralha sem impor-
tância. No entanto, como não poderíamos legitimamente juntá-la a nenhuma das restantes,
decidimos separá-la na tabela.
Estudo longitudinal da proficiência ortográfica no 2.º e 4.º anos de escolaridade 127
FN-Cs FC
(n)
A percentagem média de FN-Cs com vogal <a> (visto que outros não
foram registados) em palavras com /e/ acentuado pré-palatal destes tipos
é 6.6%, calculando a frequência com base no número total de ocorrências
da estrutura (106). Como não foram já registadas as formas <ei> e <ai>,
houve certamente um trabalho específico acerca deste tipo de erro, que
quase levou à sua extinção. É importante observar que parece ter havido
uma distinção clara das estruturas de núcleo simples relativamente às de
núcleo ramificado. De outro modo, erros como <ei> e <ai> teriam certa-
mente ainda surgido.
(10) A distribuição dos dados por género indica que a forma errada mais produtiva, <o>, representa
9.5% das ocorrências nos textos das crianças do género feminino, ao passo que representa
4.1% nos do género masculino. Confirma-se assim a tendência para as crianças do género
feminino destas turmas apresentarem mais erros, evidenciada no 2º ano de escolaridade. As
crianças 21, 30 e 54 são as que mais apresentam este tipo de erro do género feminino.
132 Celeste Rodrigues / Maria do Carmo Lourenço-Gomes
(11) Freitas (1997) identificou os estádios de aquisição dos ataques ramificados em português,
tendo considerado o estádio 3b como aquele em que a vogal epentética surge entre as con-
soantes (cf. p. 193).
Estudo longitudinal da proficiência ortográfica no 2.º e 4.º anos de escolaridade 133
dos, sendo a estrutura /e.ʎ/ (10.9%) a que apresenta mais FN-Cs, propor-
cionalmente, seguida da estrutura /oU/ (6.4%).
Conforme foi apresentado, os resultados quantitativos das FN-Cs asso-
ciadas às estruturas-alvo indicam que a frequência de acerto sobe substan-
cialmente no 4º ano de escolaridade, apesar de haver ainda taxas de FN-Cs
a merecer reflexão da parte do docente. Observe-se as frequências de erro
nos dois anos considerados apresentadas na Tabela 13.
6. Conclusão
Os resultados apresentados neste artigo, acerca de três estruturas nas quais
se verifica existir no 2º ano um fraco conhecimento da representação fono-
lógica, indicam que nessa altura as crianças tendem a apoiar-se na pronúncia
para a escrita, como é costume acontecer nas línguas com sistemas alfabé-
ticos de escrita. Os dados do 4º ano mostram, por outro lado, uma subida
da taxa de acerto na grafia destas estruturas e, ainda, uma não estabilização
ortográfica. Isso exige, portanto, um trabalho aturado da parte do professor
no sentido da respectiva mitigação. Cremos que, se o trabalho de conscien-
cialização das diferenças entre os três tipos de representação linguística aqui
envolvidos (a fonética, a fonológica e a ortográfica) fosse introduzido desde
o início da alfabetização, alguns destes tipos de problemas não surgiriam em
tantas crianças no 4º ano e não seriam tão frequentes no 2º.
O confronto da escrita de cada criança com a sua oralidade constitui
uma novidade deste trabalho, ainda que não tenhamos insistido muito na
sua apresentação. Não por não existirem trabalhos anteriores com dados
de escrita e de fala (cf. por exemplo, Santos 2013), mas porque só aqui
estão apresentados dados produzidos pela mesma criança em situações
espontâneas, na mesma fase de recolha. Com efeito, nem os textos escritos,
nem a fala produzida se podem considerar controlados. A sua espontanei-
dade é, de resto, o que nos permitiu comparar maior número de palavras
com as estruturas-alvo nas duas modalidades, escrita e oralidade. Como
às crianças não foi pedido que produzissem ou lessem as palavras que
escreveram, nem sempre podemos ter uma correspondência imediata entre
as duas produções, o que se reflecte no número de palavras pronunciadas
presentes na EFFE-On. Naturalmente, algumas palavras usadas na escrita
foram substituídas na entrevista por outras em que não existe a estrutura
fonológica-alvo. Porém, isso não impede que se comparem as produções
orais e escritas de diferentes palavras produzidas por uma criança com uma
estrutura fonológica específica. As produções orais foram recolhidas em
entrevistas individuais, nas quais as crianças conversam acerca da imagem
descrita por escrito em aula, de modo natural. Desta forma, foi possível
observar quais são as realizações sonoras das três estruturas-alvo em 58
Estudo longitudinal da proficiência ortográfica no 2.º e 4.º anos de escolaridade 135
(12) Estas unidades não devem ser confundidas com palavras, porque são formas escritas que incluem,
tanto os casos de hiper-segmentação (tinha piada éra fix comer a cilo todo quero dizer ficava
- criança nº 20), como os de hipo-segmentação (sair da banhaira vitoria vitori acabose
esta istoria. - criança nº 31). Estes resultados, não sendo muito precisos em termos da
unidade lexical, ajudam a perceber o grau de proficiência das crianças.
(13) Chamamos aqui a atenção para o facto de crianças de diversas variedades linguísticas poderem
apresentar diferentes dificuldades. Futuramente, pretendemos fazer a avaliação desse factor
na aprendizagem da ortografia portuguesa com base em materiais de escrita de Português
Europeu e do Brasil.
136 Celeste Rodrigues / Maria do Carmo Lourenço-Gomes
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,
Isabel Pizarro
PÓS-GRADUADA EM CIÊNCIAS DA LINGUAGEM PELA UNIVERSIDADE DO MINHO
[email protected]
José Teixeira
UNIVERSIDADE DO MINHO, PORTUGAL
[email protected]
we started from a corpus constituted by six excerpts of poems in which the lexical
item “hour” designates metonymically the superordinate category TIME, trough
the conceptual metonymy HOUR FOR TIME.
The metaphors of “hour” are complex, which means that they are the result of the
hierarchical combination of conventional metaphors of a specific and general level
which constitute the social background that restrains the poet’s creativity and out
of which the process of creating the metaphor of “hour” emerges, based on the
four conceptual mechanisms in which the construction of the poetic metaphor lies:
extension, elaboration, questioning and combination.
0. Introdução
A Teoria da Metáfora Concetual tem contribuído para alterar significativa-
mente o modo de compreender e analisar a metáfora desde a publicação da
primeira obra de Lakoff e Johnson intitulada Metaphors we live by (1980),
passando pela obra divulgadora da Teoria Neural da Linguagem, intitulada
From Molecule to Metaphor (Lakoff e Feldman, 2006), até à conferência
subordinada ao tema How Brains Think, proferida por Lakoff na 4ª Confe-
rência Internacional sobre Ensino de Línguas Estrangeiras e Linguística
Aplicada (Sarajevo, 2014)(1).
A Teoria Neural da Metáfora é um subdomínio da Teoria Neural da
Linguagem, desenvolvida por Lakoff e Feldman (2006), a partir das inves-
tigações e descobertas realizadas na segunda metade do século XX, no
domínio da Neurociência Cognitiva, e da descoberta da universalidade
de grande parte das metáforas primárias conhecidas, tais como COM-
PREENDER É VER e MAIS É EM CIMA(2), na sequência das investiga-
ções levadas a cabo por Grady (1996, 2007) e Christopher Johnson (1999).
Segundo estes autores, as metáforas primárias são aprendidas automática
e inconscientemente na infância, diretamente através da experiência, reve-
lando uma relação profunda entre o uso das palavras, a estrutura concetual
Although poets may present novel instantiations for these pre-existing meta-
phorical mappings, people do not have to draw novel mappings in any algo-
rithmic sense in order to understand poetic instantiations of conventional
metaphors. Poets do on occasion create entirely novel metaphors that demand
new mappings from source to target domains, but these are relatively rare.(15)
(16) Os excertos que apresentamos neste trabalho pertencem aos poemas Cai do firmamento,
Hora Absurda, Poema XI - Passos da Cruz, Poema XIV - Passos da Cruz, Poente, A criança
e o seu brinquedo.
(17) Obra publicada nos anos 60 por Rudolf Lind em colaboração com Jacinto do Prado Coelho.
Para além do conhecimento da obra e do pensamento do poeta, consideramos imprescindível
a leitura das quatro obras que o neurocientista António Damásio publicou em Portugal, entre
1995 e 2010 (Damásio 1995, Damásio 1999, Damásio 2003, Damásio 2010).
(18) Embora saibamos que é na totalidade do poema que se pode fazer a completa interpretação
do todo que o poema é, as restrições de tamanho impostas a um artigo como este permitem
apenas a citação de excertos e não dos poemas completos.
146 Isabel Pizarro / José Teixeira
Vou em mim como entre bosques/ Vou-me fazendo paisagem/ Para me desco-
nhecer./ […].
Que é feito da vida/ Dos outros, em mim?/ A brisa é diluída/ E a mágoa sem
fim.// Seja a hora serena/ E pálida, ou não,/ Mas Deus tenha pena do meu
coração!(19).
Figura 1.
heory elaborated by Joseph Grady in 1996 suggests that the metaphor system is grounded in the body
Metáfora concetual e literariedade: a “Hora” de Fernando Pessoa 149
Deus te mate sem demora,/ A morte te leve cedo/ Antes que a vida ou a hora/
Te quebre a alma que ignora/ Ou o brinquedo!(30)
de o poeta ter considerado que a vida agiu contra ele, razão por que a con-
cetualização da hora-vida sugere um martelo empunhado por alguém, que
nos parece ser o destino, uma entidade frequentemente antropomorfizada.
Assim, a vida tem uma força inerente e, como é concetualizada como um
contentor metafórico de horas, o agora representado pela hora possui a
força destruidora herdada da vida; como uma força segue uma trajetória
no espaço com destino a um alvo, a alma da criança/ do Eu deverá partir,
antes que a hora a destrua. Partir, neste contexto, é morrer, ideia que está
codificada na metáfora convencional MORRER É PARTIR(35).
Não sou eu quem descrevo. Eu sou a tela/ E oculta mão colora alguém em
mim./ Pus a alma no nexo de perdê-la/ E o meu princípio floresceu em Fim.//
[…] Disperso…E a hora como um leque fecha-se…/ Minha alma é um arco
tendo ao fundo o mar…/ O tédio? A mágoa? A vida? O sonho? Deixa-se…(36)
(37) Sou hoje o ponto de reunião de uma pequena humanidade só minha. Fernando Pessoa. In Páginas
Íntimas e de Autointerpretação. Lind & Prado Coelho. Edições Ática. Lisboa,1967, p. 102
(38) Johnson (1987: 126)
Metáfora concetual e literariedade: a “Hora” de Fernando Pessoa 153
(39) Fernando Pessoa. Excerto do poema Poente (1913). In Poesia do Eu, Assírio e Alvim, 2ª
edição. (2008: 52)
(40) […] This principle states a correlation between form and content. […] To summarize: Since
we speak in linear order, we constantly have to choose which words to put first. Lakoff &
Johnson (1980: 132-133)
154 Isabel Pizarro / José Teixeira
- O agente: o fogo
- A ação: incendiar, destruir
- O objeto: a hora/ o Eu
- Consequências da ação: a hora/ o Eu transforma-se em cinza
(44) Excerto do poema “Hora Absurda”. In Poesia do Eu, Assírio e Alvim, 2ª edição. (2008: 61)
(45) O poema Hora Absurda integra-se na corrente estética Modernista, a qual agrupou correntes
estéticas e literárias cujo tronco comum reside na recusa do pensamento lógico como forma
de atacar a arte burguesa e bem-pensante, no período pós-1ª Guerra Mundial. Neste poema,
o poeta recorre ao nonsense propositadamente.
156 Isabel Pizarro / José Teixeira
(46) Dê-se o passo final e teremos um poeta que seja vários poetas, um poeta dramático
escrevendo em poesia lírica. Fernando Pessoa, in Páginas íntimas e de Autointerpretação,
p.107. Coletânea organizada por Lind & Prado Coelho, Lisboa, 1967.
(47) Metaphoric image-mappings work in just the same ways as all other metaphoric mappings –
by mapping the structure of one domain onto the structure of another. But here the domains
are mental images. Lakoff & Turner (1989: 90)
(48) Fernando Pessoa. Excerto do poema “Poente” (1913). In Poesia do Eu, Assírio e Alvim, 2ª
edição, Lisboa (2006: 52).
Metáfora concetual e literariedade: a “Hora” de Fernando Pessoa 157
(49) Fernando Pessoa. Excerto do poema “Passos da Cruz” – poema XIV (1913-16). In Poesia do
Eu, Assírio e Alvim, 2ª edição, Lisboa. (2006: 101)
(50) Machado, J.P., Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, 2ª edição. Editora Confluência,
Lisboa (1967, 336).
158 Isabel Pizarro / José Teixeira
dos com recurso a espaços e/ou objetos que projetam em hora parte dos
seus atributos e estrutura inferencial. Achamos que vale a pena sublinhar
a importância da interação do poeta com o espaço físico e com os objetos,
na concetualização de hora; embora neste trabalho essa dependência possa
não parecer evidente, a verdade é que constatámos, no trabalho mais amplo
de que este é uma parte (Pizarro 2015), que o espaço físico e os objetos
estruturam o conceito de hora em vários poemas, assim como também
conceitos de emoção, tanto nos poemas da hora como em outros poemas
do autor. Parece-nos fazer sentido a hipótese de existir uma espacializa-
ção e materialização de conceitos abstratos na poesia ortónima, na qual
identificámos, por exemplo, a hora-paisagem e a hora-objeto contundente,
mas também emoções materializadas, em poemas que não fazem parte da
análise aqui apresentada: Uma angústia fria(52); Esta tristeza intangível(53).
Nas metaforizações de hora que são extensões da metáfora conven-
cional O TEMPO É UM SER HUMANO, pode salientar-se a metáfora
A HORA É O EU que evidencia que cada hora é a paisagem mental do
poeta no presente em que escreve e no qual é observador privilegiado do
seu universo mental, que procura compreender através da autoanálise, ao
mesmo tempo que deseja ser outro e (re)ver-se/ compreender-se na perspe-
tiva desse outro Eu.
Na nossa opinião, o recurso à metaforização de hora foi a estratégia
escolhida pelo poeta para verbalizar um autorretrato que é fiel, na medida
em que o poeta, que se concebe vários, encontra na metaforização de hora
um meio de divulgar a sua mente criadora aplicada à recriação de si próprio
nos poemas ortónimos, contrariando, assim, a ideia de que o Eu poético se
multiplica apenas nos poemas heterónimos. Este parece ser um dos aspetos
mais interessantes a destacar das análises que fizemos às multifacetadas
auto-visões que Pessoa apresenta de si e de hora.
Mostrámos que o conceito de hora é corporizado(54), na medida em que
é no interior da mente do poeta que a hora nasce para a sua breve existên-
cia de imagem-flash, preservada do esquecimento e da erosão do tempo
nos poemas. Pensamos que o poeta preferiu a hora a outras subcategorias
de tempo porque o dia, mês, o ano não seriam capazes de captar diversos
pensamentos e emoções no momento em que o poeta foca a sua atenção no
seu complexo espaço mental.
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Lakoff, G., Johnson, M. (1980, 2003) Metaphors we live by, The University of Chicago
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(55) Esta expressão foi criada pelo psicólogo Karl Jung para designar as ideias das quais não
somos conscientes, por não serem adquiridas individualmente, mas através do contacto
social.
Metáfora concetual e literariedade: a “Hora” de Fernando Pessoa 161
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Alberto Simões
UNIVERSIDADE DO MINHO, PORTUGAL
[email protected]
Álvaro Iriarte S.
UNIVERSIDADE DO MINHO, PORTUGAL
[email protected]
Neste artigo apresentamos uma avaliação sobre um método para extrair combi-
nações lexicais restritas a partir de corpora paralelos, pela deteção da não com-
posicionalidade de expressões pluriverbais na tradução. Este método baseia-se na
presunção de que, encontrando sequências de palavras (são usados bigramas de
palavras) cuja tradução não siga a tradução palavra por palavra dos seus compo-
nentes, é provável estar-se perante uma colocação.
0. Introduction
Collocations can be defined in very different ways according to different
authors, and the same sequence of words can be considered or not a collo-
cation by different researchers, even when using a similar definition.
A great number of linguists define “collocation” in terms of frequency.
That is the criterion used by many authors within the computational lin-
guistics community for corpus-based automatic collocation extraction.
However, other linguists (especially lexicologists and lexicographers)
believe that the fact that two lexemes frequently co-occur in context is not
a good enough reason to be considered a collocation. Mel’čuk et al. (1995:
51) state:
There are software tools that allow the automatic extraction of frequent
lexical combinations, however, these tools do not distinguish between col-
locations, idioms, free phrases, compound names, or multiword technical
terms. It should be noted that “restricted lexical combinations” (especially
collocations) with “frequent combinations” of two or more lexemes must
not be confused.
It is true that a collocation is also a frequent combination of two or more
lexemes but frequent lexical combinations are not always collocations. A
lexical combination such as ler um livro is a frequent combination, but it is
a completely free phrase, a combination of words formed according to the
Extraction of restricted lexical combinations by detecting non-compositionality of multiword expressions 165
syntactic rules (the verb ler can be combined with everything capable of
being read). However, the adjectives in lexical combinations such as ativ-
idade febril, mudança radical, vontade louca, ódio mortal, amor cego are
fixed, although they have the same meaning (intense, a lot). These lexical
combinations are frequent because the choice of adjective is not free, that is,
the fact that these two lexemes frequently appear combined is not the cause
but the consequence of them being a collocation (Alonso Ramos, 1993).
However, from a lexicographical point of view, these frequent lexical
combinations, although they are not collocations in the narrow sense that
we use, should have special treatment in dictionaries and lexical databases.
In this regard, Cowie´s distinction between restricted collocations and
open collocations is useful (Cowie et al.,1984).
It will, therefore, be appropriate, in lexicographical practice, to recog-
nize the existence of more or less free/restricted lexical combinations and
to register usual or frequent free combinations in dictionaries (Ettinger,
1982; Corpas, 1995).
As we know, stability and semantic specialization are the main features
of this type of non-free phrases. Clearly syntactic constraints will be higher
for idioms than for collocations. For example, the idiom perder a cabeça
has more syntactic constraints than the collocation prestar atenção, which
allows some changes (see Aguilar-Amat, 1993: 67-68). However, from a
lexicographical point of view, it is impossible to establish general syntactic
rules for all idioms and collocations.
The criteria that allow us to determine if a lexical combination was
lexicalized cannot be morphological or syntactic in nature. This has more
to do with the consensus and the memory of the linguistic community that
uses it:
«Le critère ultime de définition d’une unité lexicale est bien ici, par excel-
lence, le consensus de la communauté linguistique […], non pas comme en
syntaxe ou en morphologie par la reconnaissance d’une bonne formation mais
sur la base de la mémorisation.» (Paillard, 1997: 66).
For the purpose of this work, our definition of collocation is: if any of
the member words or the complete sequence inherit a different meaning of
its/their usual sense when used in conjunction with another word, then this
sequence of words is considered to be a collocation.
Our assumption is that, given a multiword expression tA and its trans-
lation tB, tA is a collocation if tB includes words which are not direct trans-
lations of any of tA words.
To test this assumption, we chose a mid-sized corpus, the European
Central Bank corpus from the Per-Fide project (Araújo, Almeida, Simões
& Dias, 2010). For the languages, we chose the Spanish/Portuguese lan-
guage pair. The main reason for this choice is the proximity of the lan-
guages, and the bilingual translation dictionaries we had available. We
expect to make further tests on this hypothesis with other language pairs in
the future, namely including Germanic languages.
As for the text to be analyzed, we selected Spanish word pairs in
which one of the words is an adjective and the other is a noun (in any
order). For this purpose, the FreeLing (Simões & Carvalho, 2012; Padró &
Stanilovsky, 2012) morphological analyzer was used. For each word pair,
each possible word translation was looked up in the translation segment.
This was possible with the help of a Spanish/Portuguese translation dic-
tionary Apertium (Corbí-Bellot et al., 2005).
If any of the possible translations for both words occur together (in
any order) in the Portuguese part, that word pair is discarded. On the other
hand, if only one of the words has a translation in the Portuguese part, the
Spanish segment is stored, together with a snippet of the Portuguese trans-
lation. The next section explains this algorithm in more detail.
The word pairs obtained, together with the respective translation, were
manually evaluated for whether they are, or not, restricted combinations.
The evaluation section will discuss the details on the manual assessment
of the obtained results, explaining the main problems found as well as the
future enhancements to the proposed algorithm. Finally, a set of conclu-
sions is drawn from the obtained results.
1. Related Work
The task of identifying restricted lexical combinations, as we will state
in this article, is not new. It is a relevant procedure for different tasks on
Natural Language Processing (NLP) like, for example, Machine Transla-
tion (MT), where idiomatic expressions cannot be translated literally. Even
Extraction of restricted lexical combinations by detecting non-compositionality of multiword expressions 167
2. The Hypothesis
The hypothesis we are testing is: if a sequence with two words, an adjective
and a noun, is translated by two other words, and only one of them is a
translation of the original words found in a translation dictionary, then we
have a candidate collocation.
This can be better explained using mathematical syntax. Let us define
the T function, that translates Spanish words into Portuguese, and the con-
catenation operator (a dot), which joins two words.
The translation of two words wa and wb is considered to be composi-
tional if
(1) T(wa . wb) = T(wa) . T(wb) or even, T(wa . wb) = T(wb) . T(wa)
Therefore, we are looking for a pair of words (wa , wb) in which one of
them is an adjective and the other a noun, and whose translation does not
follow the equation presented above (1). That is, we want to find wa and
wb where
(2) T(wa . wb) = T(wa) . wc ˄ T(wa . wb) = wc . T(wb) with T(wa ≠ wc ˄ T(wb) ≠ wc.
The extraction algorithm used is very simple, and its main purpose is
to test the hypothesis that the collocation extraction based on non-transla-
tion composition is possible. The algorithm starts by iterating over each
translation unit in the parallel corpus. A translation unit is composed by
a segment SSP for the Spanish language, and a segment SPT for the Portu-
guese language. Then, each possible bigram from the segment SSP is ana-
lyzed using the FreeLing morphological analyzer, looking for a sequence
in which one of the words is a noun and the other an adjective. Note that,
although FreeLing has modules to do part-of-speech tagging they were not
used. Nevertheless, we are aware of the problems this approach arises, and
we will discuss them later.
When such a pair of words is found, their possible translation sets are
computed. Note that each word can have more than one translation, and,
therefore, we need to construct a set of translations. This translation was
Extraction of restricted lexical combinations by detecting non-compositionality of multiword expressions 169
done using the Apertium translation dictionary. Then, these translation sets
are searched in the target language segment SPT. If any of the words from
both translation sets occur together, the word pair is discarded.
On the other hand, if one of the words has a translation in the target
segment, but the other does not, the Spanish word pair is saved for manual
assessment. Together with the word pair, a segment of Portuguese words in
the vicinity of the found translation is seized and also stored. This list was
then assessed manually.
• Error: used for all entries whose Spanish and Portuguese segments
are not related with each other. This happens mainly because the
application was not able to find the sequence of words that include
the translation of the selected pair of words, or because the original
corpus had alignment errors;
3.1. Errors
The errors found are from very different kinds, such us from alignment
problems, some minor bugs in the algorithm implementation, or the lack of
translations from the translation dictionary:
• The algorithm, when searching the set of words in the context of the
found translation broke the segment, losing the interesting part of the
translation. This turned the assessment impossible. This was a problem
inherited from the bad segmentations performed by other tools like
the segmenter, tokenizer and the sentence-aligner. For example, the
alignment for “actividades pesqueras” computed by the algorithm was
“definitiva de as actividades de *”. Given the missing word (marked by
the asterisk) this segment could not be classified correctly, and there-
fore, fell in the error class. Just like with the case above, we do not
have any detail on the validity (or not) of the hypothesis. Table 2 shows
further examples of this segmentation problem. All these cases can be
safely ignored for the hypothesis test. Between parentheses we show
(1) In these tables, the left column is the Spanish extracted pair, and to the right is the segment
extracted from the Portuguese side. In italics we give emphasis to the translation of the terms
from the first column.
Extraction of restricted lexical combinations by detecting non-compositionality of multiword expressions 171
• Some translation units were not really translated. In some cases the
Portuguese version included the text in Spanish, and in some other,
in English, as shown in Table 5. Some others, as shown in Table 6,
include typos that, not being in the dictionary, activated our hypothesis
by mistake.
Table 7: Basic examples where the dictionary lacked a entry for one of the words
Table 8: Basic examples where the dictionary lacked one of the synonyms
Finally, there is yet another problem, related with the textual deixis,
where there is a reference to a different position in the text that, different
languages refer to in different ways. Examples are cuadro anterior/quadro
acima, fórmula anterior/fórmula acima and criterios anteriores/critérios
acima. As anterior and acima are not direct translations, the algorithm
extracted them as restricted combinations (although they are free combi-
nations).
174 Joana Veloso / Alberto Simões / Álvaro Iriarte S.
• There are situations where the pair of words in Spanish has a single
word translation in Portuguese, either because in Portuguese one of the
words is usually omitted, or because there is a word with the complete
meaning of the two Spanish words. This situation was named reduction
and happens a few times. Examples are shown in Table 9. These were
considered restricted combinations. The best examples from Table 9
are the first and the last. In Portuguese, and although there is the con-
cept of meio ambiente, it is usually used only as ambiente. And in the
case of cigarros pequeños, Portuguese as a word for that: cigarrilhas.
These situations were validated manually in IATE (InterActive Termi-
nology for Europe).
Table 10: Examples of nouns whose translation was a problem for the algorithm
Table 11: Cases of restricted combinations with more than two words
3.4 Analysis
When applied to the European Central Bank corpora, our approach extracted
more than 40.000 pairs of candidate collocations. They were evaluated by
exhaustion (instead of evaluating a sample of random entries, the evaluator
tagged each one of the extracted candidates). This means the evaluation is
not affected by sample bias. This, together with the fact that the evaluator
gave preference to free combinations over restricted combinations, means
that this evaluation is the baseline of the algorithm.
Table 13 presents the number of cases found and classified accord-
ing to each of the previously mentioned classes. If we ignore the cases of
errors, nouns and reductions, we can note that restricted combinations are
one quarter of the total number of found combinations.
Extraction of restricted lexical combinations by detecting non-compositionality of multiword expressions 177
4. Conclusions
The first reaction to the results was of discontent, as a lot of free combi-
nations were found. As soon as the examples were analyzed was realized:
firstly, the translation resource lacks coverage, and secondly, the algorithm
used misses the correct lemmatization for some words. These two reasons
can be fixed (or made better) using other approaches or tools for the lem-
matization, and using other dictionaries or even probabilistic translation
dictionaries (Simões & Almeida, 2003; Simões, Almeida & Ramos Car-
valho, 2013) to enrich the translation coverage.
Nevertheless, most of the situations found are easy to correct, and,
therefore, further experiments should be performed before considering the
method inadequate. In fact, will be interesting to see how this approach
performs in a less noisy corpus, with better dictionaries, and with other
languages.
This data, being manually classified, can be used to train machine
learning algorithms. For statistical machine translation, it is possible to
denote/specify which segments should be reused directly without any
change (when they are idiomatic), and which segments can be generalized,
allowing some of the words to be replaced, and reusing the translation
structure. For the extraction of further collocations from other corpora, this
data can be used to train a supervised machine learning algorithm, or just
be used as a golden standard for this kind of system.
Analyzing the results obtained, the initial starting hypothesis should
be reformulated. Using this approach, restricted combinations, and not just
a specific type of restricted combinations such as the case of collocations,
are detectable. Of course, authors like Mel’čuk (1995) define formal types
for each one of these restricted lexical combinations. The problem is the
178 Joana Veloso / Alberto Simões / Álvaro Iriarte S.
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Neste artigo, são sistematizadas algumas das principais ideias acerca do conceito
de plano de texto e propõe-se uma definição aplicável à análise de textos escritos de
qualquer género. Com base numa reflexão crítica acerca das sínteses propostas em
Adam (2002) e no Dicionário terminológico, são explicitadas as dimensões con-
templadas no plano de textos escritos (distribuição de conteúdos e segmentação),
assim como os níveis macroestrutural e microestrutural em que ele se concretiza e
os polos entre os quais pode gradualmente oscilar (plano de texto convencional vs.
plano de texto ocasional). A seguir, são analisados dois textos, um do género dicio-
nário unilingue e outro do género requerimento, com o objetivo de testar e validar o
conceito de plano de texto tal como foi definido e caracterizado no início do artigo.
The goal of this paper is to define the concept of text plan and to apply it in textual
analysis. First, it is presented a summary of two proposals on the subject (Adam
2002, Dicionário terminológico). Then, it is described the text plan’s double
dimension (content distribution and text segmentation), its macro and microstruc-
tural levels of analysis, and the opposition between conventional and occasional
text plans. Finally, two texts of the genre monolingual dictionary and application
are analyzed in order to test and validate the adopted definition of the concept.
1. Introdução
No âmbito da linguística textual, da análise do discurso e dos estudos sobre
os géneros, é frequentemente salientada a relevância do plano de texto para
a estruturação dos produtos verbais (cf., entre outros, Adam 2002; Main-
gueneau 1998; Swales 2004). Os textos caracterizam-se por ser coerentes,
para o que contribui decisivamente o facto de lhes subjazer um plano de
texto, ou seja, uma ordenação e articulação dos conteúdos que permite ao
interlocutor processar a informação e interpretá-la adequadamente.
O objetivo deste artigo consiste em refletir acerca do plano de texto
e em apresentar uma definição operatória que, por um lado, contemple os
diversos aspetos a considerar quando se analisam textos com base nesse
conceito, e que, por outro, seja aplicável aos textos escritos de qualquer
género e tipo de discurso, assim como de qualquer tipo textual ou sequen-
cial predominante. Num primeiro momento (secção 2.), serão apresenta-
dos alguns contributos relevantes para a teorização acerca deste conceito.
A partir da análise crítica das definições propostas em Adam (2002)
(secção 2.1.) e no Dicionário Terminológico (cf. Costa e Aguiar e Silva
(s/d)) (secção 2.2.), o conceito de plano de texto será, em primeiro lugar,
detalhadamente caracterizado (secção 2.3.). De seguida, proceder-se-á à
análise de textos dos géneros dicionário unilingue (secção 3.1.) e reque-
rimento (secção 3.2.). A análise visa, por um lado, i) demonstrar a irredu-
tível diversidade de planos de texto, ii) atestar a ancoragem dos textos na
área de atividade socioprofissional em que emergem e iii) evidenciar a sua
dependência relativamente aos objetivos com que são produzidos. Além
disso, procurar-se-á, simultaneamente, iv) testar a validade da definição do
conceito proposta. No final (secção 4.), serão sistematizadas as principais
ideias suscitadas pela análise efetuada, designadamente no que diz respeito
à aplicação do conceito de plano de texto, tal como foi inicialmente defi-
nido e caracterizado.
These utterances reflect the specific conditions and goals of each such area
not only through their content (thematic) and linguistic style, that is the selec-
tion of the lexical, phraseological, and grammatical resources of language, but
above all through their compositional structure. (Bakhtin 1986: 60)
(1) Segundo a mesma autora, “knowing the genre […] means knowing such rhetorical aspects as
appropriate subject matter, level of detail, tone, and approach as well as the expected layout
and organization”, Devitt (2004: 16). Sendo relevante para o estudo dos géneros, a estrutu-
ração textual constitui, nesta área, um aspeto subsidiário relativamente às ações sociais que
eles permitem concretizar.
(2) A obra intitulada Aspects of article introductions foi publicada em 1981. As principais ideias
nela contidas foram retomadas e atualizadas em Swales (1990: 110-176).
184 Paulo Nunes da Silva
Numa obra mais recente, Swales (2004) teorizou acerca dos resultados
de diversos estudos sobre planos de teses de doutoramento, tendo proposto
uma classificação que prevê três classes: estruturação por tópicos, IMRD(3)
e compilação de artigos (cada um deles com o plano IMRD).(4) As par-
tes em que se dividem os planos de texto dos exemplares do género tese
de doutoramento podem ser analisadas segundo uma perspetiva retórica,
ou seja, procurando identificar os movimentos argumentativos inerentes a
cada uma delas (como se observa, por exemplo, no modelo CARS).
No âmbito da Linguística Sistémica e Funcional, merecem destaque
os estudos de Biber. O autor tem procedido à análise de corpora extensos
com o objetivo de identificar padrões linguísticos de uso em géneros aca-
démicos orais e escritos, como a aula e o manual (cf. Biber 2008). Em dife-
rentes registos e géneros,(5) assim como em áreas disciplinares distintas, os
(3) Sigla que designa as quatro partes em que se estruturam as teses com este plano: Introdução,
Metodologia, Resultados e Discussão.
(4) Cf. secção 2.1. Ver também Santos e Silva (submetido).
(5) Cf. Biber (2008: 12) e Biber e Conrad (2009: 15-19).
Género, conteúdos e segmentação: em busca do plano de texto 185
Tout genre de discours est associé à une certaine organisation textuelle, qu’il
revient à la linguistique textuelle d’étudier. Maîtriser un genre de discours,
c’est avoir une conscience plus ou moins nette des modes d’enchaînement de
ses constituants sur différents niveaux: de phrase à phrase mais aussi dans ses
grandes parties. (Maingueneau 1998: 54)
(9) Adam expôs reflexões, em diversos momentos, acerca do conceito de plano de texto (cf.,
entre outras referências, Adam 1992, 1999, 2008, 2011). Todavia, as suas propostas incidem,
com ligeiras oscilações, nos mesmos conteúdos que o autor incluiu nesta entrada inserida no
Dictionnaire d’analyse du discours. Assim, a opção de selecionar a exposição apresentada
em Adam (2002) decorre do género específico desta obra, quer pelos requisitos de sistema-
ticidade e exaustividade que o dicionário temático exige, quer porque também a reflexão de
Costa e Aguiar e Silva (s/d) está incluída num texto do género dicionário (embora se deva
sublinhar que os objetivos subjacentes às duas obras, assim como os respetivos públicos-
-alvos, são muito diversos).
Género, conteúdos e segmentação: em busca do plano de texto 187
(10) Adam (2002: 433). A inventio consiste na seleção de conteúdos a integrar no texto.
188 Paulo Nunes da Silva
(15) Ainda que tenha sido objeto de abundante reflexão na obra de Adam (cf. nota 9), Miranda
(2010: 127) considera que “os contornos da noção de plano de texto permanecem vagos”.
192 Paulo Nunes da Silva
(17) Segundo Bronckart (2010: 15), “Voloshinov […] a posé que, pour les textes quotidiens
comme pour les textes littéraires, le classement en genres devait tenir compte en priorité du
type de rapport existant entre les entités verbales et les activités collectives dans le contexte
duquel elles étaient émises, parce que les textes sont à la fois les produits et les révélateurs
des diverses formes d’interaction sociale. L’énoncé concret (et non pas l’abstraction linguis-
194 Paulo Nunes da Silva
tique) naît, vit et meurt dans le processus de l’interaction sociale des participants de l’énoncé.
Sa signification et sa forme sont déterminées pour l’essentiel par la forme et le caractère de
cette interaction” (o destaque em itálico é da nossa responsabilidade).
(18) O uso do verbo modal dever em algumas frases da presente exposição revela que há, natural-
mente, textos que evidenciam maior ou menor adequação no que diz respeito à ordenação dos
conteúdos nos textos, assim como há textos que manifestam graus mais ou menos elevados
de coesão e de coerência. Pense-se, por exemplo, em composições ou em respostas extensas
(em particular, de tipo predominantemente expositivo e argumentativo) redigidas por estu-
dantes dos mais diversos níveis de ensino.
Género, conteúdos e segmentação: em busca do plano de texto 195
(19) As oito componentes propostas por Adam (2001: 40-41) são as seguintes: enunciativa, pragmá-
tica, composicional, semântica, estilístico-fraseológica, metatextual, peritextual e material.
196 Paulo Nunes da Silva
3. Análise textual
3.1. O plano de um texto do género dicionário unilingue
Nesta secção, será analisado o plano de um texto do género dicionário,
especificamente do subgénero dicionário unilingue (ou monolingue): tra-
ta-se do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.(20) De acordo com a
caracterização proposta do conceito de plano de texto, a análise será divi-
(20) HOUAISS, Antônio, e Mauro de Salles VILLAR (Org.) (2001). Dicionário Houaiss da Lín-
gua Portuguesa, 6 tomos. Lisboa: Círculo de Leitores.
Género, conteúdos e segmentação: em busca do plano de texto 197
dida em duas partes, cada uma delas incidindo num dos dois níveis men-
cionados: o nível macroestrutural e o nível microestrutural.
Os textos do subgénero dicionário unilingue são produzidos no âmbito
de atividades de investigação e divulgação do conhecimento desenvolvidas
nas áreas de estudo das línguas naturais. Inserem-se, por isso, no discurso
científico.(21) Quer à área de atividade, quer aos textos que são produzi-
dos no seu seio, presidem requisitos específicos que, de forma flexível,
condicionam os conteúdos selecionados e o modo como são manifesta-
dos nos textos. Entre os valores típicos das atividades de investigação e,
consequentemente, dos textos que se integram no discurso científico, con-
tam-se o rigor, a coerência e a clareza na exposição, assim como o caráter
tendencialmente “objetivante” e aparentemente impessoal.(22) No caso dos
dicionários de línguas, acresce a capacidade de síntese, que se concretiza
procurando condensar num artigo lexicográfico de curta extensão as infor-
mações consideradas relevantes pelos autores.
O objetivo principal dos textos do subgénero dicionário unilingue con-
siste em explicitar o significado das palavras de uma dada língua (isolada-
mente e em expressões idiomáticas), e outras informações complementares
relativas à entrada em causa, como a classe gramatical, a sua etimologia,
etc.(23) A área de atividade socioprofissional no âmbito da qual o texto é
(21) Neste artigo, assume-se a perspetiva segundo a qual os textos que se incluem no discurso
científico e no discurso académico constituem dois conjuntos que se sobrepõem mas que não
coincidem totalmente. Por um lado, o conhecimento científico “covers scientific research
production” (Pérez-Llantada 2012: 1). Por outro lado, “academic discourse refers to the ways
of thinking and using language which exist in the academy” (Hyland 2009: 2). Deste modo,
a descoberta, construção, organização e difusão do conhecimento não se restringe aos con-
textos académicos. Acresce que nem todos os textos produzidos na academia são de natureza
científica (como, por exemplo, os documentos inerentes à gestão administrativa das institui-
ções de ensino superior).
(22) Estas tendências que os autores de textos do discurso científico frequentemente assumem em
busca de uma “retórica da objetividade” concretizam-se através de diversos mecanismos. De
acordo com Bennett (2011: 17), a retórica da objetividade assenta numa conceção segundo
a qual “[there is] a world ‘out there’ that can be perceived, analysed and discussed in abso-
lute terms, irrespective of the subjective position of the observer or the cognitive tools that
are used for the purpose. But this apparent neutrality is a construct. It is largely achieved
through the systematic use of nominalizations and impersonal verb forms, which remove
the subjective observer from the picture and focus upon the world outside; by simple sen-
tence structures and clearly defined lexis, which create the illusion of a basic correspondence
between words and things; and by a careful reasoning process that uses ‘logical’ devices such
as entailment and consistency to create a waterlight argument”.
(23) Segundo Correia (2009: 23), “em sentido genérico, um dicionário é uma espécie de catá-
logo em que a ordenação dos diferentes itens, introduzidos por uma palavra ou expressão,
é tipicamente alfabética. Já em sentido estrito, a ideia que temos de um dicionário é de um
livro, de dimensão significativa que é constituído fundamentalmente por uma longa lista de
198 Paulo Nunes da Silva
Le péritexte désigne en effet les genres discursifs qui entourent le texte dans
l’espace du même volume: le péritexte éditorial (collections, couvertures,
matérialité du livre), le nom d’auteur, les titres, les prières d’insérer, les dédi-
caces, les épigraphes, les préfaces et les notes. (Lane 2005: 185)
rem em último lugar, o que também está de acordo com o que se conven-
cionou em textos do discurso científico.
A comparação explicitada na tabela 1, entre o plano de texto prototí-
pico a nível macroestrutural (Correia 2009) e o plano atestado no exemplar
analisado, permite confirmar estas ideias.
i) prefácio f) prefácio
g) apresentação
ii) introdução
h) introdução à versão portuguesa
livro s.m. (1013 [?] cf. jm) 1 colecção de folhas de papel, impressas ou não,
cortadas, dobradas e reunidas em cadernos cujos dorsos são unidos por meio
de cola, costura, etc., formando um volume que se recobre com capa resistente
2 livro (acp 1) considerado tb, do ponto de vista do seu conteúdo: obra de
cunho literário, artístico, científico, técnico, documentativo, etc. que constitui
um volume [Segundo as normas de documentação de vários organismos inter-
nacionais, o livro é a publicação com mais de 48 páginas, além da capa.] <l.
de arte> <leu todos os l. de Saramago> cf. folheto (‘publicação não perió-
dica’) 2.1 livro (acp 2) em qualquer suporte (p.ex. papiro, disquete etc.) 3 cada
um dos volumes que compõem um livro (acp 2); tomo 4 cada uma das partes
em que se divide uma obra extensa (p.ex. a Bíblia) <o l. de Isaías> 5 caderno
(24) Note-se, contudo, que a ordenação cronológica e a ordenação temática são também possíveis
em textos do género dicionário.
(25) HOUAISS, Antônio, e Mauro de Salles VILLAR (Org.) (2001). Dicionário Houaiss da Lín-
gua Portuguesa, 6 tomos. Lisboa: Círculo de Leitores, tomo IV, pp. 2298-2299.
Género, conteúdos e segmentação: em busca do plano de texto 203
(26) Segundo Correia (2009: 28), “um artigo lexicográfico não apresenta uma estrutura textual
típica com frases completas, organizadas em períodos e parágrafos, mas sim uma estrutura
muito particular, em que o lexicógrafo recorre a diferentes tipos de representação gráfica para
assinalar informação de diferentes naturezas, tais como o negro para a entrada, abreviaturas
várias, itálicos ou aspas, etc.”
(27) Este caráter representa uma mão cujo indicador aponta para a direita, e tem como objetivo
alertar o leitor para a conveniência de consultar uma outra entrada: precisamente a que ocorre
após o caráter.
Género, conteúdos e segmentação: em busca do plano de texto 205
(29) Neste artigo, é assumida a distinção entre discurso jurídico e discurso administrativo. O dis-
curso jurídico é constituído pelos textos produzidos pelas instâncias de poder legislativo e
judicial, correspondendo, grosso modo, às leis e às sentenças. Entre os géneros do discurso
jurídico, encontram-se o decreto-lei, o regulamento e o código. O discurso administrativo
inclui os textos que regulam a aplicação das leis e das sentenças. Exemplos de géneros que
se incluem no discurso administrativo são o requerimento, a ata e o certificado. Cf. Maingue-
neau (2014: 32), Maingueneau e Cossutta (1995).
(30) De acordo com Travaglia (2007: 51), os textos do género requerimento constituem “sempre
uma solicitação de algo a que se tem direito por lei”.
(31) Além de poligerados, os textos deste género permitem distinguir os conceitos de autor (indi-
víduo que elabora o texto e prescreve o que deve ser incluído nos espaços a completar) e de
locutor (neste caso, indivíduo que completa o formulário, assumindo a responsabilidade do
ato que a totalidade do texto concretiza).
(32) De acordo com a perspetiva adotada no âmbito dos Estudos Retóricos dos Géneros, os
géneros, enquanto dispositivos provisoriamente estabilizados, permitem aos falantes reali-
Género, conteúdos e segmentação: em busca do plano de texto 209
zar ações e manter relações. Devitt (2004: 63) sublinha, nos seguintes termos, a interação
dinâmica entre os géneros e a comunidade discursiva em que eles são usados: “it does seem
evident that the relation of group and genre is reciprocal, that the group’s values, epistemol-
ogy, and power relationships shape the genres and that acting through those genres in turn
then maintain those same values, epistemology, and power relationships”. Neste sentido, o
requerimento pode ser perspetivado como um género que estabelece, reflete e perpetua uma
relação assimétrica de poder entre cada entidade que o disponibiliza (na qual se inscreve o
autor) e cada locutor que o preenche e “pede deferimento”.
(33) Cf. Referências do corpus analisado, no final do artigo.
210 Paulo Nunes da Silva
Número de Aluno
Requerimento Geral
NOTA IMPORTANTE
Alunos inscritos: Tomei conhecimento que a resposta ao pedido apresentado vai ser comunicada pelo
e-mail institucional ([email protected]).
Outros requerentes: Tomei conhecimento que a resposta ao pedido apresentado vai ser comunicada para o
e-mail _________________________________________________ (letras maiúsculas legíveis)
Pede deferimento,
Lisboa, ......... de ................................................. de 20.……...
Assinatura:
...................................................................................................................................................
(34) Esta informação ocorre inserida num quadro, e refere que a resposta será dada ao aluno via
correio eletrónico, usando o endereço que terá sido indicado no ato de matrícula; caso o aluno
pretenda que a resposta seja enviada para outro endereço, deverá explicitá-lo num espaço
deixado em branco para esse efeito.
(35) Os elementos que constam da secção IV são suscetíveis de se integrar no peritexto do reque-
rimento (cf. Lane 2005).
Género, conteúdos e segmentação: em busca do plano de texto 213
– parágrafos;
– quadros (ou tabelas);
– indentação e alinhamento do texto;
– uso de maiúsculas e de minúsculas;
– uso de maiúsculas e de versaletes;
– negrito e itálico;
– cor vermelha e cinzenta;
– siglas e abreviaturas;
– numeração árabe.
Género, conteúdos e segmentação: em busca do plano de texto 215
importante” (que se encontra inserida num quadro, o que lhe confere par-
ticular destaque e notoriedade). Tal ordenação não parece ser canónica,
dado que se interrompe a parte correspondente ao texto em que o reque-
rente explicita o que pretende obter da instituição. A inserção destes dois
elementos nessa parte do texto deve-se, por certo, à visibilidade que se
lhes pretende conferir. No caso da listagem de anexos, é provável que a
localização decorra da conveniência de se visualizar mais facilmente se o
documento inclui anexos, assim como o seu número e o respetivo título ou
o género em que se integram. No caso da nota, o objetivo parece ser o de
alertar o requerente para a necessidade de (no seu próprio interesse) confir-
mar o endereço eletrónico que utiliza, uma vez que será por essa via que a
deliberação lhe será comunicada.
Ao fundo da página, dois quadros com limites traçados são exclusi-
vamente reservados aos órgãos da instituição: aos serviços académicos e
ao presidente do ISEL. A ordenação da secção do texto completada pelo
requerente e destes dois quadros reflete as três fases do processo: solici-
tação (pelo requerente), entrega (aos serviços académicos) e deliberação
(pelo presidente da instituição). Assim, a distribuição das secções afigura-
-se coerente com a cronologia dos sucessivos atos administrativos.
Pelo que foi exposto se conclui que, no caso dos textos do género
requerimento, a ordenação dos conteúdos e a segmentação obedecem a
convenções gerais inerentes a textos do discurso administrativo (objetivi-
dade, clareza, concisão) e têm como finalidade expor todas as informações
relevantes de maneira a que um dado órgão possa deliberar de forma fun-
damentada e desejavelmente expedita. Trata-se de textos com um elevado
grau de convencionalidade, que se concretiza num plano de texto muito
estabilizado e, por isso, previsível.
4. Considerações finais
Ao longo deste artigo, foi proposta uma definição do conceito de plano
de texto, com base nas sistematizações que constam em Adam (2002) e
no Dicionário terminológico. Depois, o conceito foi aplicado no âmbito
de uma análise detalhada de planos de textos dos géneros dicionário uni-
lingue e requerimento, tendo sido destacados alguns dos principais fatores
que condicionam os planos adotados, entre os quais se contam a área de
atividade socioprofissional em que foram produzidos e os objetivos que se
pretende atingir.
218 Paulo Nunes da Silva
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unesp.br/alfa/article/view/1426, consultado no dia 15 de abril de 2016.
Género, conteúdos e segmentação: em busca do plano de texto 221
M. Emília Pereira
UNIVERSIDADE DO MINHO, PORTUGAL
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ral de todos nós. Não quero apenas seguinte, começa por Puxar a brasa
explicar o significado das expres- à sardinha, que dá o título ao livro,
sões, mas sim perceber de onde elas continuando por outras nascidas na
vêm.”, de uma espécie de conclu- capital, e por aí fora, até ao fim.
são, E para terminar… (pág. 216), Discriminemo-las, agora, sob
onde apresenta e descreve a 271.ª a etiqueta usada pela autora, indi-
expressão, Plantar uma árvore, cando ao mesmo tempo as páginas
ter um filho e escrever um livro, em que são tratadas, bem como o
dos Agradecimentos (pág. 217) e seu número: 1. As portuguesíssi-
da Bibliografia (págs. 219-220), mas, pp. 21-45 (28 construções):
desenvolve a matéria em questão Puxar a brasa à sardinha; Resvés
ao longo de catorze “capítulos” ou, Campo de Ourique; Meter o Ros-
se calhar melhor, secções (págs. sio na Rua da Betesga; Obras de
21-215). Santa Engrácia; Cair o Carmo e a
Coloco “capítulos” entre aspas Trindade; Sepultar os mortos e cui-
porque, em rigor, não o são. Diria, dar dos vivos ou Soterrar os mor-
antes, tratar-se, metaforicamente, tos e pensar dos feridos; Azar dos
de gavetas e/ou gavetões em que Távoras; Nem disse água vai nem
a autora “arruma” as restantes 270 água vem; Vai bugiar!; Vai cha-
construções pois, para além da eti- tear o Camões; É pior a emenda
queta com que identifica cada um que o soneto; Brigada do reumá-
dos catorze grupos por si delimita- tico; Esperteza saloia; Trabalhar
dos e de uma brevíssima apresen- como um mouro ou Ser um mouro
tação, passa logo à sua descrição. de trabalho; Noiva de Arraiolos;
Ilustremos este procedimento com Passar as passinhas do Algarve;
o primeiro grupo (pág. 21): “1. As Anda mouro na costa; Amigo de
portuguesíssimas: São às cente- Peniche; Ficar a ver navios; Maria
nas, milhares talvez. Porque há as vai com as outras; No tempo dos
que têm origem no Norte, no Sul, Afonsinhos; Mais velho que a
no litoral, no interior e nas ilhas. Há Sé de Braga; Ver Braga por um
expressões regionais, locais, de uma canudo; Arraia-miúda; Uma lança
determinada classe ou actividade em África; Mudam-se os tempos,
(sic). Ligadas à nossa história, à mudam-se as vontades; Dobrar o
nossa cultura, aos nossos hábitos. A cabo das Tormentas; As moscas
riqueza do vocabulário impede-nos mudam mas a merda é a mesma.
de, neste livro, falar de todas. Mas 2. Passe a publicidade, pp. 47-59
há algumas que se destacam mais (14): Primeiro estranha-se, depois
que outras e que andam na boca de entranha-se; Há mar e mar, há ir e
todos nós.” Depois, logo na página voltar; Aquela máquina; Carregada
Vale, Andreia (2015), Puxar a Brasa à Nossa Sardinha. 237
çoeira; Eu é mais bolos; Não havia guês, produção em curso), seja para
necessidade; Eu é que sou o presi- o ensino-aprendizagem do portu-
dente da junta; Resmas e paletes de guês como língua materna e/ou
gajas; Onde é que estavas no 25 de língua segunda, seja (muito impor-
Abril?; despeço-me com amizade; tante) enquanto língua estrangeira.
E esta, hein?; Não negue à par- É que, nestas expressões, para além
tida uma ciência que não conhece; do linguístico, há muito para explo-
Firme e hirto como uma barra de rar: o social, o cultural, o histórico,
ferro; Quinze minutos de fama. 13. etc. Isto quer dizer que, ao mesmo
Prognósticos só no fim do jogo, pp. tempo que se fica mais proficiente
199-205 (10): Ripa na rapaqueca; lexicalmente, também se fica mais
Aguenta, coração!; É disto que o competente comunicativamente.
meu povo gosta!; Qué qué (sic) Uma revisão gráfica mais cui-
isso, ó meu?!; Chuta para canto; dada (encontram-se, aqui e ali,
Troca de galhardetes; Muita forte, falhas na pontuação, no uso de
fortíssimos; Com tranquilidade; E o maiúsculas e minúsculas, nos itáli-
burro sou eu?; De manhã só é bom cos e ainda noutras situações) bem
é na caminha. 14. Politicamente (in) como, sobretudo, o uso da ortogra-
correcto (sic), pp. 207-215 (9): Alea fia oficial teria sido ouro sobre azul.
jacta est (os dados estão lançados); Ou seja: ao fazê-lo, teria indireta-
Sangue, suor e lágrimas; Sei muito mente contribuído para que os seus
bem o que quero e para onde vou; leitores (e já são muitos) a fossem
Nunca me engano e raramente interiorizando, pelo simples facto
tenho dúvidas; É fazer a conta; de estarem a ler. Pelo menos, deve-
Aguenta, aguenta; Annus horribilis; ria ter dito, logo no início, que não
Je suis Charlie; Yes, we can. seguiria as normas ortográficas em
Pelo exposto julgo não resta- vigor, as que resultam do Novo
rem, pois, dúvidas de que se está Acordo Ortográfico da Língua Por-
na presença de matéria-prima exce- tuguesa de 1990. De todo o modo,
lente para eventuais didatizações, fica aqui a sugestão de o fazer numa
um pouco à semelhança (e só para próxima edição.
referir dois casos: um do final do É um livro que se lê com bas-
século passado e outro atual) de tante proveito e agrado, seja numa
Dar à língua: da comunicação às consulta pontual para tirar uma
expressões idiomáticas (de Jorge, dúvida, seja lendo-o na íntegra. É
Guilhermina & Jorge, Suzete, Lis- informativo. É instrutivo. E, mas
boa: Cosmos, 1997) e de sayit- nem sempre o conseguiu, jocoso
-inportuguese.pt (podcasts sobre quanto baste.
expressões e provérbios do portu-
Freixeiro Mato, Xosé Ramón, A poesia oculta de
Filgueira Valverde: Guerra Civil, literatura franquista e
galeguismo n’O Gaiteiro de Lugo.
A Coruña, Baía Edicións, 2015, 125 páginas.
diacrítica
As sequências textuais
argumentativas no gênero
“comentário do leitor” da Recensões
Folha de São Paulo
Anderson Ferreira Momesso, M R, Assolini, F
E, Curcino, L, Burlamaque, F,
A pesquisa em inteligibilidade Palma, G (2014), Das práticas
diacrítica
de fala e sua relevância para o do ler e escrever ao universo
ensino de pronúncia do inglês das linguagens, códigos e
Anna Júlia Karini Martins / tecnologias.
Letícia Stander Farias M. Emília Pereira
A configuração do ensino da Le Robert Junior illustré.
gramática nos novos manuais Nouvelle édition.
de Português do 9.º ano Félix Valentín Bugueño Miranda
António Carvalho da Silva
Vale, Andreia (2015), Puxar a
Estudo longitudinal da Brasa à Nossa Sardinha.
proficiência ortográfica no 2º Henrique Barroso
e 4º anos de escolaridade –
estruturas /e/, /eI/ e /oU/ Freixeiro Mato, Xosé Ramón,
Celeste Rodrigues / Maria do A poesia oculta de Filgueira
Carmo Lourenço-Gomes Valverde: Guerra Civil, literatura
franquista e galeguismo n’O
Metáfora concetual e Gaiteiro de Lugo.
literariedade: a “Hora” de Ana Gravata Ramos
Fernando Pessoa
Isabel Pizarro / José Teixeira
ISSN 0807-8967
30/1
UNIÃO EUROPEIA
Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional