VER-O-PESO - Um Mercado de Coisas Boas e Belas

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Uberlândia, 26 a 28 de março de 2013

VER-O-PESO: um mercado de coisas boas e belas


VER-O-PESO: a market of good and beautiful things

LEITÃO, Wilma Marques


Universidade Federal do Pará
[email protected]

Resumo
Neste artigo destacamos a posição do Ver-o-Peso no contexto da cidade, como
lugar de trabalho cotidiano e representante das referências culturais regionais. Os
dados analisados decorrem de pesquisas realizadas em projetos da Faculdade de
Ciências Sociais/UFPA cujo objetivo foi identificar os processos de transmissão de
saberes, a organização e divisão do trabalho em relações geracionais e de gênero.
Por meio da orientação de monografias e da coordenação de projetos, desde 2007,
hoje nos permitimos uma aproximação ao mundo do mercado e à análise histórica e
sociológica do Ver-o-Peso, ícone e síntese da cidade de Belém e da região
amazônica.

Palavras-chave:. Ver-o-Peso. feiras e mercados. paisagem amazônica

Abstract
This article analyse the Ver-o-Peso market in the context of Belém, as a everyday
workplace and representing cultural regional references. All data are from researches
developed in the Social Sciences Faculty of University of Pará with the objective of
identify the process of knowledge transmission and division of work in ages and sex
relationships. In basis of supervision of research and other projects we are able to
develop some reflexions about the history and sociology of this market that is an icon
and synthesis of Belém and the Amazonian region.
Keywords:. Ver-o-Peso market. Amazonian landscape
1 - O MERCADO E A CIDADE

Na perspectiva histórica o Mercado do Ver-o-Peso está diretamente inserido nas


origens e consolidação da cidade de Belém do Grão-Pará, povoação fundada em
1616 às margens do igarapé de nome Piri, que desaguava na Baía do Guajará.
Ponto de chegada e saída dos barcos e navios que adentravam o majestoso rio
Amazonas ou levavam as “drogas do sertão” para além-mar, o Ver-o-Peso foi criado
em 1625 como posto fiscal, por solicitação da Câmara de Belém, passando a
chamar-se Lugar de Ver-o-Peso. Dada sua localização na confluência dos rios
Amazonas e Guamá e o Atlântico, este importante entreposto comercial
transformou-se em espaço significativo para a identidade econômica e cultural da
cidade de Belém sendo o mais antigo e o mais importante mercado da região.

Ao longo dos séculos o mercado vem assistindo aos principais eventos regionais e
acompanhando as mudanças urbanísticas do desenvolvimento da cidade. No auge
da exploração da borracha (final do século XIX, início do XX), por exemplo, a
paisagem do Ver-o-Peso recebeu elementos que designavam a modernização,
seguindo o padrão arquitetônico europeu, com ênfase nos mercados metálicos. A
instalação1 dos mercados de Peixe e de Carne, ambos construídos em ferro,
repetem nos trópicos a forte tendência na construção de mercados na Europa de
meados do século XIX. O Mercado de Peixe (de 1898) e o mercado de Carne (1901)
à época marcaram a modernidade de Belém e ainda hoje atestam o passado
glorioso do lugar.

Estos ejemplos hicieron escuela no sólo dentro de Francia. Se adoptaran


como modelo em muchos países em los años en los que la construcción de
mercados metálicos se generalizó rapidamente en Europa y América
(BASSOLS e BAÑALES, 2003, p.112)

Todo o conjunto arquitetônico e paisagístico Ver-o-Peso e áreas adjacentes foi


tombado, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1977 (IPHAN,
2005). Mais tarde, a mesma área foi tombada pelo município (LEI ORDINÁRIA nº
7.709, de 18 de maio de 1994) sob a denominação de Centro Histórico de Belém.
Em maio de 2011, em parecer aprovado pelo Conselho Consultivo do Patrimônio
Cultural do Iphan foi finalizado o processo de tombamento dos bairros da Cidade
Velha e Campina consolidando assim a proteção no nível do poder federal do
conjunto arquitetônico onde se encontra do mercado (CONSELHO CONSULTIVO,
2011). Em contexto menos formal, foi eleito símbolo da cidade, em campanha
promovida pelo banco Itaú, em 2007. E constantemente é palco das manifestações
artísitcas e culturais da cidade.

IV Colóquio Internacional sobre o comércio e cidade: uma relação de origem 2


Interior do Mercado de Peixe, com exibição de painéis.
Fotografia: Philippe Cretinon (2009)

Na extensa faixa ao longo do rio estão instaladas cerca de duas mil barracas que
empregam por volta de cinco mil feirantes (LIMA 2010) encarregadas da
comercialização de mercadorias que provêm quase diretamente da natureza: sejam
frutas, pescado, açaí ou produtos agrícolas. Poucos produtos são beneficiados –
farinha, tucupi2, maniva3 moída, camarão e peixe salgados, polpas de frutas – cujos
processos de transformação se dão, todavia, por meio de técnicas tradicionais,
relativamente simples. É justamente sua posição, às margens da baía, com a
presença majestosa do rio, que confere ao Ver-o-Peso sua particularidade.
Embarcações de cargas e passageiros; a venda diária nos mercados de peixe e de
carne, as centenas de barracas das mais diversas frutas, legumes e outros produtos
como ervas e plantas medicinais utilizadas no tratamento de doenças e outros
males, serviço de refeições e lanches representam a atração turística mais
avidamente desejada pelos visitantes da cidade e explorada pela mídia. Este moto
contínuo, observado diuturnamente na área do Ver-o-Peso por meio da complexa
rede de trabalho que movimenta o mercado é o mais representativo cartão postal da
cidade.

De máquina na mão não perdem o instantâneo sugestivo. Fotografam as


embarcações veleiras com seus panos coloridos e os seus tripulantes
cheios de vida, caboclos que resistem a todas as asperezas do trabalho
pesado da navegação, enfrentando com heroísmo os riscos do mar e as
aventuras de um comércio feito de altos e baixos (CRUZ, 1962, p. 519)

Na apreciação estética da paisagem cultural do Ver-o-Peso há produções notáveis,


como na arquitetura (MALHEIROS, 1996), em fotografia (BRAGA, 2008), cinema
(GUEDES e all. 1984), no teatro (SALLES, 1981), além das infindáveis referências
na prosa e poesia, musicada ou não. Nas artes plásticas o pitoresco da paisagem do
Ver-o-Peso há muito figura nas telas de artistas paraenses e outros que, pelos seus
olhares, fixaram a imagem do mercado. Em dissertação de mestrado, Coelho (2003)
analisa o acervo do Museu de Arte de Belém procurando construir a imagem e a

IV Colóquio Internacional sobre o comércio e cidade: uma relação de origem 3


cultura do Ver-o-Peso como "janela da alma", como estímulo ao olhar do artista na
produção de obras de arte inspiradas nos conceitos de espaço e poética das
vanguardas da Arte Moderna.

O Mercado de Peixe, de madrugada


Fotografia: Philippe Cretinon (2009)

Mas também no plano sócio antropológico o mercado se impõe, imperativo, como


um universo mágico, onde todas as relações clamam pela atenção e análise mais
atenta. Foi o que aconteceu com o sociólogo francês Isaac Joseph que, em visita à
cidade, reconheceu o Ver-o-Peso como lugar com vocação de centralidade:

[..] esse mercado popular é ao mesmo tempo um patrimônio arquitetônico e


um verdadeiro bairro de atração. A densidade e a mistura das populações
que o freqüentam tornam esse mercado um centro, ou segundo uma
fórmula utilizada na França para definir as estações de trem e os bairros em
que se encontram, um lugar de movimento da cidade. (JOSEPH, 2004,
p.42).

Não é difícil reconhecer ali um lugar estratégico de encontro entre a cidade e o


mundo ribeirinho, traduzido pelas mais variadas mercadorias trazidas pelas
embarcações que percorrem o emaranhado de vias fluviais e aportam neste ponto
de convergência urbano, de uma metrópole que reúne cerca de dois milhões de
habitantes. Essa questão aponta para um aspecto importante do papel do Ver-o-
Peso no que se poderia designar uma liminaridade rural/urbano: o mercado é
representante de um ambiente ribeirinho, receptor dos grandes corredores de
mercadorias regionais (os rios Amazonas e Guamá) e, ao mesmo tempo, sua
posição de centralidade no contexto urbano continental é inconteste, considerando-
se os inúmeros eixos viários do sistema de transportes da cidade que privilegiam os
percursos de mais de 50 linhas de ônibus passando pelo centro histórico e pelo
conjunto do Ver-o-Peso.

IV Colóquio Internacional sobre o comércio e cidade: uma relação de origem 4


Boulevard Castilho França, Mercado do Ver-o-Peso
Fotografia: Philippe Cretinon (2009)

2 - PAISAGEM E NATUREZA: MERCADORIAS DO VER-O-PESO

No mercado se dá o encontro do universo das águas e das florestas, onde estão


peixes e demais produtos das atividades agrícolas e extrativas, com o mundo da
cidade, e em seu aspecto fundamental do estilo de vida rural, pois além das
mercadorias, o que desembarca no Ver-o-Peso são os sistemas tradicionais de
trabalho, muitas vezes baseados em relações não monetárias, e que são capazes
de garantir o fluxo de produção de renda e trabalho nas localidades da região.
Assim, vemos no mercado a presença das demandas urbanas no interior e o
prolongamento dos valores ribeirinhos em meio urbano.

É só passar algumas horas na floresta muito próxima para compreender


que todo mundo circula em um território que se pode dizer ao mesmo tempo
urbano e fluvial. Os que moram na floresta freqüentam – alguns
diariamente, com certeza – as ruas e centros comerciais da cidade; o
mesmo acontece com os pescadores que abastecem o Mercado do Ver-o-
Peso (JOSEPH, 2004, p.48).

A variedade de produtos que são comercializados lhe confere o papel de


guardião das práticas culturais regionais, principalmente no que se refere às
práticas culinárias. Ali podem ser encontrados uma gama imensa de produtos
regionais, considerados de boa qualidade e indispensáveis às práticas
alimentares que constituem a base da identidade cultural dos amazônidas. Tais
particularidades da cozinha amazônica podem ser observadas não apenas nas
mercadorias vendidas, mas também, e sobretudo, nos pratos servidos nas
barraquinhas do mercado. Esta peculiaridade concedeu ao Ver-o-Peso um
honroso quarto lugar dentre mercados de todo o mundo, em pesquisa realizada
pela National Geographic (2009). Numa lista dos dez mais, desde caóticos a

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refinados ambientes de mercados que oferecem refeições típicas e permitem
mergulho na vida local, o Ver-o-Peso aparece logo após os mercados de
Toronto, de Nova Iorque e de Santa Lucia.

TOP TEN – STREET MARKETS


Fonte: National Geographic (2009)

Tradicionalmente conhecido por sua desordem, o Ver-o-Peso sofreu uma grande


reforma (concluída dem 2002) que lhe conferiu um aspecto mais organizado, graças
à estrutra de pavilhões especializados por produtos. Nesta nova topografia, os
produtos estão dispostos numa ordem que vai do pescado às panelas, ou seja, do
mais perecível ao mais durável; passando pelas frutas e verduras; camarões secos
e farinhas de toda sorte. Na interseção dos produtos frescos com os produtos
industrializados estão liocalizadas as barracas de comida –– que interpretamos aqui
como mercadorias transformadas – do cru ao cozido – onde são vendidos refeições
tipo pratos-feito e pratos típicos da culinária local como vatapá, maniçoba, peixe frito
e açaí. Torna-se, assim vitrine daquilo que Darci Ribeiro destacou, em sua análise
sobre a formação do povo brasileiro (1996), quando compara a culinária amazônida
à mais tradicional cozinha dos camponeses franceses, no sentido em que os
produtos e modos de preparação são únicos, específicos destas regiões, sem
correspondentes em nenhum outro lugar do mundo.

Olhando todo o mundo só comparo os caboclos aos campesinos franceses,


pela riqueza extraordinária de sua cultura de pequenos agricultores. Os
queijos de cabra, os vinhos, os patês e tanta coisa mais são equivalentes
europeus ao tacacá no tucupi, da maniçoba, da sopa de muçuam.
Lamentavelmente, essa riqueza culinária nossa se está esvaindo com a
decadência da cultura cabocla, enquanto a francesa floresce cada vez mais”
(RIBEIRO, 1996, p.98)

Grande parte das mercadorias comercializadas no Ver-o-Peso provêm


diretamente da natureza, sejam as frutas, pescado ou produtos agrícolas. Os poucos
produtos beneficiados – farinha, tucupi, camarão e peixe salgados, ou ainda as
polpas de frutas ou maniva moída – são submetidos a processos de transformação

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por meio de técnicas tradicionais, relativamente simples. Os percursos por meio dos
quais esses produtos chegam ao mercado ainda não foram objeto de estudos e, em
suas variadas escalas, constituem elementos importantes para a compreensão das
relações da cidade com seu entorno, e de como o Ver-o-Peso torna-se referência de
geração de emprego e renda nas comunidades produtoras das mercadorias que se
destinam ao famoso mercado.

Mercado do Ver-o-Peso, com localização dos setores


Fonte: Leitão, 2010

Por meio da análise do comércio de produtos e pratos típicos no Ver-o-Peso,


podemos nos aproximar das características que este mercado encerra, a saber, a
dimensão do Ver-o-Peso como lugar central de restauração no centro de Belém,
considerando que há uma clientela cativa que sempre procura o mercado para fazer
suas refeições, tanto no dia-a dia, e principalmente em épocas festivas como o Círio
de Nazaré4 ou Natal; sem esquecer dos boêmios que durante a madrugada vêm
procurar as famosas sopas (originalmente prepararadas para prover as forças dos
feirantes que trabalham durante a noite). Além da população de trabalhadores do
bairro comercial contíguo ao mercado, boa parte da clientela nas barracas de
refeições são os proprios feirantes que comem no Ver-o-Peso. Acrescentamos a
este fluxo de pessoas, um igual fluxo de mercadorias – dos produtos usados na
preparação dos pratos - o que nos permite apontar uma espécie de
«endoconsumo», uma vez que os produtos utilizados na preparação dos pratos são
comprados também no mercado: peixes, carnes, aves (note-se que em Belém é
típico o consumo de pato, no famoso prato pato no tucupi) e da mesma forma, os
legumes, verduras, pimentas, e a incontornável farinha, e outros produtos derivados
da mandioca, como o maniva e o tucupi.

Em seus mais de 130 boxes ocorre a transformação dos produtoss


primários do meio natural da região, adquiridos nos vários setores do
mercado, em icônes da tradição culinária paraense" (Carvalho, 2011, p. 36)

IV Colóquio Internacional sobre o comércio e cidade: uma relação de origem 7


O setor de alimentação o Ver-o-Peso funciona as 24 horas do dia, oferencendo em
cada momento a alimentação correspondente: a partir das 4 da madrugada, o café é
servido, na forma de mingaus, tapioquinhas, já por volta das dez, onze horas da
manhã, até por volta das 14 é o almoço, quando se registra o momento de maior
movimento. Este é o momento em que muitos fregueses vêm comer, ou os donos
das barracas providenciam para ser entregues as quentinhas em seus escritórios,
lojas ou nas próprias barracas do mercado. No fim da tarde chegam os apreciadores
de cerveja e petiscos ou mesmo os que jantam no Ver-o-Peso antes de seguirem
para suas casas. Há também os feirantes que a esta hora chegam para a sua
jornda, como por exemplo os que trabalham na comercialização do pescado que
ocorre durante a madrugada (CORRÊA, 2010).

É claro que a refeição realizada no mercado atrai uma clientela interessada nos
preços baixos, mas há igualmente a ideia de uma certa «marca Ver-o-Peso». Isto é,
os produtos vendidos ali carregam a legitimidade do típico, do autêntico, do melhor5;
o que acaba por conferir aos pratos servidos em cada casa ou restaurante da cidade
e especialmente aqueles degustados no próprio mercado a característica de ser o
melhor da região e que atrai aqueles que querem valorizar sua identidade regional
por meio do consumo dos pratos típicos, preparados com produtos legítimos
comprados no Ver-o-Peso. Este aspecto, por outro lado, carrega uma certa
ambivalência, dada a posição «marginal» do Ver-o-Peso no contexto da cidade. Tal
ambivalência se encontra nas histórias contadas sobre todo tipo de golpes que
podem ocorrem no momento das compras, com subtrações no peso da mercadoria,
alterações na qualidade. Assim, ao mesmo tempo que muitos atribuem às barracas
do Ver-o-Peso ser servido o melhor peixe frito de Belém, ou o melhor prato regional,
pode também ser considerado de má qualidade e provocador de todo tipo de mal
estar.

3 - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A belíssima paisagem do Ver-o-Peso não é apenas apreciável. Ela comporta e traz
até o mercado um mundo de práticas tradicionais, relacionadas à pesca e extração
de produtos da floresta, pelas redes integradas e complementares de atividades.
Este aspecto garante a importância regional do Ver-o-Peso pois, situado às margens
do rio, cria uma rede de comercialização que liga a metrópole às ilhas e localidades
do entorno no abastecimento cotidiano de produtos frescos – pescado, frutas, açai.
Chegamos, então, ao ponto da análise, atestando que o Ver-o-Peso é mais que um
mercado, sua posição no âmbito da cidade ultrapassa o papel de centro de
abastecimento, sendo considerado importante ponto turístico e muito mais que isso,
patrimônio da própria identidade belemense e da história da Amazônia. Esta análise
foi muito bem desenvolvida por Lima (2010), em dissertação de mestrado que reuniu
arquitetura e antropologia, e realizou a discussão de como a noção de patrimônio,
que reveste o Ver-o-Peso, é apreendida pelos feirantes e usuários comuns,
reinterpretando as ações públicas de preservação de patrimônio em relação direta
com sua vida cotidiana no seu mundo do trabalho. Identificando, a partir de
abordagem etnográfica, o patrimônio cultural dos trabalhadores do Ver-o-Peso, sua
análise recai não somente sobre a importância do lugar como patrimônio da cidade,
mas principalmente assinalando como a noção de patrimônio é acionada como

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elemento agregador para esses trabalhadores, gerando o sentido de pertencimento
e identificação com o mercado ao longo dos anos e, portanto, com direitos sobre o
lugar.
O mercado do Ver-o-Peso apresenta-se como um universo específico no contexto
da cidade onde, por meio de atividades comerciais, se materializam também ricas
redes de sociabilidades que colocam em confronto compradores e vendedores,
gerando os sentimentos da camaradagem, da confiança e que vão ajustando as
relações características dos mercados como lugar de circulação de coisas, fonte de
relações sociais e simbólicas. Há muito o Ver-o-Peso deixou de ser apenas um porto
e uma feira livre, na qual se negocia toda espécie de produtos. Sua maior riqueza
está contida no lastro de memória da própria cidade consolidando-se como
importante lugar de práticas culturais, onde o cotidiano regional e o imaginário
amazônico se reproduzem e se perpetuam por meio das mais diversas atividades
tradicionais.

Referências
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Ano XVIII, n.1-2. p. 41-90, jan-dez. 2004.

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ocidental, religião e conhecimento tradicional no meio urbano. MAGALHÃES, S.;
SILVEIRA, I.M.; SANTOS, A.M.S. (ORGS.) Encontro com a Antropologia
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MALHEIROS, U. da S. A imagem do Ver-o-Peso no contexto da paisagem de


Belém (Dissertação de Mestrado). São Paulo: Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo,
1996.

NATIONAL GEOGRAPHIC SOCIETY. Food Journey of a Lifetime: 500


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RIBEIRO, D. O povo brasileiro – a formação e o sentido do Brasil. São Paulo:


Companhia das Letras, 1996.

SALLES, G. Ver de Ver-o-Peso. Peça de Teatro. Belém: Grupo Experiência, 1981.

1
As peças de ferro e zinco foram trazidas da Inglaterra e montadas no local onde se encontram.
2
Tucupi – sumo extraído da raiz da mandioca utilizado na preparação de vários pratos da culinária
regional.
3
Maniva – folha da mandioca moída, base de um dos pratos típicos da culinária paraense, a
maniçoba.
4
Círio de Nazaré – festa católica em homenagem à Virgem de Nazaré, realizada sempre no segundo
domingo de outubro. É considerado o Natal dos paraenses.
5
A mesma análise poderia ser feita em relação às ervas medicinais (Cf. KAHWAGE & SOUSA,
2011).

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