Os Três Companheiros - Conto

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Três homens num bote, ilustração Paul Rainer.

Os três companheiros
Um bombeiro, um soldador e um ladrão eram muito amigos e resolveram viajar por esse mundo para
melhorar a vida. Tinham eles um cavalo encantado que respondia todas as perguntas. Chegaram a um
reinado onde toda gente estava triste porque a princesa fora furtada por uma serpente que morava no
fundo do mar. Os três companheiros acharam que podiam fazer essa façanha e consultaram o
cavalo. Este mandou o soldador fazer um bote de folhas de Flandres. Meteram-se nele e fizeram-se de
vela.

Depois de muito navegar deram num ponto que era o palácio da serpente. Quem ia descer? O bombeiro
não quis nem o soldador. O ladrão agarrou-se na corda que os outros seguravam e lá se foi para baixo.
Pisando chão, viu um palácio enorme guardado por uma serpente que estava de boca aberta. O ladrão
subiu depressa, morrendo de medo. Voltaram para casa e foram perguntar ao cavalo o que era possível
fazer. O cavalo ensinou que a serpente dormia de boca aberta e quando estava acordada ficava com a
boca fechada. Debaixo da cauda tinha a chave do palácio. Quem tirasse a chave, abrisse a porta,
encontrava logo a princesa. Os três amigos tomaram o bote de folha de Flandres e lá se foram para o
mar.

Chegando no ponto os dois não queriam descer. O ladrão desceu e, como estava habituado, furtou a
chave tão de mansinho que a serpente não acordou. Abriu a porta, entrou, foi ao salão, encontrou a
princesa, disse que vinha buscá-la e saíram os dois até a corda. Agarraram-se e os dois puxaram para
cima. Largaram vela e o bote navegou para terra.

Quando estavam no meio dos mares a serpente apareceu em cima d’água, que vinha feroz. Que se faz?
Era a morte certa. – Deixa vir, disse o bombeiro. Quando a serpente chegou mais para perto, o bombeiro
tirou uma bomba e jogou em cima da serpente. A bomba estourou e a serpente virou bagaço. Na luta, o
bote fura-se e a água estava entrando de mais a mais, ameaçando ir tudo para o fundo do mar.

Que se faz? Morte certa! Deixe comigo – disse o soldador. Tirou seus ferros e soldou todos os buracos e
o bote navegou a salvamento até a praia.

Chegaram no reinado recebidos com muitas festas pelo rei e pelo povo. O rei deu muito dinheiro aos três
mas o ladrão, o bombeiro e o soldador queriam casar com a princesa.

— Se não fosse eu a princesa estava com a serpente! Dizia o ladrão.

— Se não fosse eu, a serpente devorava todos, dizia o bombeiro.

— Se não fosse eu, iam todos para o fundo do mar! Disse o soldador.

Discute, discute, briga e briga, finalmente a princesa escolheu o ladrão, que era seu salvador e este pagou
muito dinheiro aos dois companheiros. O ladrão casou e mudou de vida e todos viveram satisfeitos.

Em: Contos Tradicionais do Brasil (folclore) de Luís da Câmara Cascudo, Rio de Janeiro, Ediouro:1967

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