Texto Complementar - Tema 6 - Matrimônio Na Dimensão Do Sinal

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3º Curso Virtual de Teologia do Corpo – 2010 ____________________________________________________ 1

Matrimônio: A Dimensão do Sinal


Introdução pessoas, um homem e uma mulher, se tornam
marido e mulher. (TdC 103)
1. Dando continuidade à sua reflexão sobre o
matrimônio, depois de explorar mais a fundo a 4. O matrimônio como sacramento é contraído
dimensão da ―aliança e da graça‖, João Paulo II se mediante a palavra, que é sinal sacramental em
volta para a dimensão ―do sinal‖ sacramental. Este virtude do seu conteúdo. (...) Todavia, esta palavra
ciclo é composto de 15 catequeses proferidas sacramental é, em si, apenas um sinal do ―vir a
durante as audiências gerais das quartas-feiras no ser‖ do matrimônio. (...) Sem a consumação, o
Vaticano, no período entre 05 de janeiro de 1983 e matrimônio não está ainda constituído em sua
04 de julho de 1984. plena realidade. De fato, as próprias palavras "Eu
te recebo como minha esposa — meu esposo" só
2. O Papa agora se volta para a dimensão dos podem ser cumpridas através da cópula conjugal.
sinais sacramentais. Introduz conceitos como: (TdC 103)
―profetismo do corpo‖ e ―linguagem do corpo‖.
Em seguida reflete no Cântico dos Cânticos, no
contexto de um amor esponsal. Por fim, reflete
sobre uma passagem do livro de Tobias.

A Linguagem do Corpo
e a Realidade do Sinal

Eu, _, te recebo, _, como minha esposa.


Eu, _, te recebo, _, como meu esposo. 5. Assim, pois, das palavras, com que o homem e
a mulher exprimem a sua disponibilidade para se
E te prometo ser fiel, tornarem "uma só carne", segundo a eterna
na alegria e na tristeza, verdade estabelecida no mistério da criação,
na saúde e na doença, passamos à realidade que corresponde a estas
amando-te e respeitando-te palavras. Ambos os elementos são importantes
por todos os dias com relação à estrutura do sinal sacramental.
de minha vida. (TdC 103)

6. Ambos, como homem e mulher, sendo ministros


3. Essas palavras estão no centro da liturgia do do sacramento no momento de contrair o
matrimônio como sacramento da Igreja. Com matrimônio, constituem, ao mesmo tempo, o
estas palavras, os noivos contraem o matrimônio pleno e real sinal visível do próprio sacramento.
e, ao mesmo tempo, recebem-no como um (TdC 103)
sacramento do qual ambos são ministros. Ambos,
homem e mulher, administram o sacramento. 7. As palavras "Eu te recebo como minha esposa
Fazem-no diante das testemunhas. A testemunha — como meu esposo" contêm em si precisamente
qualificada é o sacerdote, que, ao mesmo tempo, aquela perene, sempre única e irrepetível
abençoa o matrimônio e preside toda a liturgia do "linguagem do corpo" e, ao mesmo tempo,
sacramento. (...) No curso normal dos eventos o colocam-na no contexto da comunhão das
matrimônio sacramental é um ato público ante a pessoas. (...) Desse modo, a perene e sempre nova
sociedade e a Igreja, mediante o qual duas "linguagem do corpo" é não só o "substrato" mas,

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em certo sentido, o conteúdo constitutivo da de tal modo, desde o "princípio", que as mais
comunhão das pessoas. (...) As pessoas —homem profundas palavras do espírito – palavras de amor,
e mulher — se tornam um dom recíproco um para de entrega, de fidelidade – exigem uma adequada
o outro. Tornam-se esse dom na masculinidade e "linguagem do corpo". E sem ela não podem ser
feminilidade que lhe são próprios, enquanto plenamente expressas. Sabemos pelo Evangelho
descobrem o significado esponsal do corpo e o que isto se refere quer ao matrimônio quer à
direcionam reciprocamente a si mesmos de modo continência "por amor do Reino dos Céus". (TdC
irreversível: na dimensão da vida como um todo. 104)
(TdC 103)
13. O corpo, de fato, diz a verdade através do
8. O matrimônio é um sinal visível e eficaz. amor, da fidelidade, da honestidade conjugais,
Originado pelo mistério da criação, ele haure a assim como a não-verdade, ou seja, a falsidade é
sua nova origem do mistério da Redenção, a fim expressa através de tudo o que é negação do amor,
de servir a "união dos filhos de Deus na verdade e da fidelidade, da honestidade conjugais. Pode-se,
na caridade" (Gaudium et Spes 24, 3). A liturgia pois, dizer que, no momento de proferir as
do sacramento do matrimônio dá forma àquele palavras do consentimento matrimonial, os novos
sinal: diretamente, durante o rito sacramental, com esposos se põem na linha do mesmo "profetismo
base no conjunto das suas eloqüentes expressões; do corpo", cujos porta-vozes foram os antigos
indiretamente, no espaço de toda a vida. O homem Profetas. (TdC 105)
e a mulher, como cônjuges, carregam este sinal
por toda a sua vida e permanecem sendo esse sinal
até a morte. (TdC 103)

“Profetismo do Corpo”

9. Quando afirmamos que a ―linguagem do corpo‖


também entra essencialmente na estrutura do
matrimônio como sinal sacramental, fazemos
referência à uma longa tradição bíblica. Essa
tradição tem a sua origem no Livro do Gênesis
(sobretudo 2, 23-25) e encontra a sua definitivo
ápice em Efésios 5, 21-33. Os Profetas do Antigo 14. Com base no "profetismo do corpo", os
Testamento tiveram um papel essencial na ministros do sacramento do matrimônio realizam
formação desta tradição. (TdC 104) um ato de caráter profético. Confirmam deste
modo a sua participação na missão profética da
10. Com base nesta longa tradição, é possível falar Igreja. Um "Profeta" é aquele que expressa com
de um específico "profetismo do corpo", tanto palavras humanas a verdade proveniente de Deus,
pelo fato de encontrarmos esta analogia acima de aquele que profere tal verdade em lugar de Deus,
tudo nos Profetas, quanto pelo que se refere ao seu no seu nome e, em certo sentido, com a sua
próprio conteúdo. Aqui, o "profetismo do corpo" autoridade. (TdC 105)
significa precisamente a "linguagem do corpo".
(TdC 104) 15. Se nos colocarmos na perspectiva ―orientada
ao futuro‖ do consentimento matrimonial, que —
11. Nos textos proféticos da Aliança, com base na como já dissemos — oferece aos esposos
analogia da união esponsal dos cônjuges, é o particular participação na missão profética da
próprio corpo que "fala"; ele fala com a sua Igreja, transmitida pelo próprio Cristo, pode-se,
masculinidade ou feminilidade, fala com a nesse caso, usar também a distinção bíblica entre
misteriosa linguagem do dom pessoal, e fala, profetas "verdadeiros" e profetas "falsos". Através
enfim — e isto acontece com mais freqüência—, do matrimônio enquanto sacramento da Igreja, o
tanto com a linguagem da fidelidade, ou seja, do homem e a mulher são explicitamente chamados a
amor, quanto com a da infidelidade conjugal, ou dar testemunho — servindo-se corretamente da
seja, do "adultério". (TdC 104) "linguagem do corpo"— do amor esponsal e
procriativo, um testemunho digno de "verdadeiros
12. O homem é, em certo sentido, incapaz de profetas". Nisso consiste a verdadeira importância
expressar essa linguagem singular de sua vocação e a grandeza do consentimento matrimonial no
e existência pessoal sem o corpo. Ele é constituído sacramento da Igreja. (TdC 106)

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os filhos que Deus vos quiser dar, educando-os


A “Linguagem do Corpo” segundo a lei de Cristo e da sua Igreja?" — o
Relida na Verdade homem e a mulher respondem: "Sim". (TdC 105)

16. Podemos dizer que o elemento essencial para 21. À luz das palavras pronunciadas por Cristo no
o matrimônio enquanto sacramento é a Sermão da Montanha, à luz de todo o Evangelho e
"linguagem do corpo" relida na verdade. É da Nova Aliança, a tríplice concupiscência (e, em
precisamente através disso que o sinal sacramental particular, a concupiscência da carne) não destrói
é constituído. (TdC 104) a capacidade de reler a "linguagem do corpo" na
verdade — e de a reler continuamente de modo
17. Os corpos dos esposos falarão "por" e "da mais amadurecido e mais total. (TdC 107)
parte" de cada um deles, falarão no nome e com a
autoridade da pessoa, de cada um das pessoas, 22. Deste modo, na visão evangélica e cristã do
realizando o diálogo conjugal, que é próprio da problema, o homem "histórico" (depois do pecado
sua vocação e baseado na linguagem do corpo, original), com base na "linguagem do corpo"
continuamente relida na ocasião correta e no relida na verdade, é capaz — como homem e
tempo oportuno: e é necessário que seja relida na mulher— de constituir o sinal sacramental do
verdade! (TdC 106) amor, fidelidade e honestidade conjugal, e isto
como sinal duradouro: "ser fiel sempre, na alegria
e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e
respeitando-te todos os dias da minha vida". (TdC
107)

Cântico dos Cânticos

23. Com relação a reler a ―linguagem do corpo‖


na verdade, devemos analizar, ainda que de modo
sumário, o Cântico dos Cânticos. Este livro pode
ser tomado simplesmente pelo que
manifestamente é: uma canção sobre o amor
18. Se o ser humano — homem e mulher— no humano. O amor do esposo e da esposa no
matrimônio (e indiretamente também em todos os Cântico dos Cânticos é um tema por si só. Isso,
âmbitos da convivência mútua) confere ao seu claramente, não exclui a possibilidade de falar de
comportamento um significado em conformidade um ―sentido mais amplo‖ do livro. (TdC 108)
à verdade fundamental da linguagem do corpo,
então também ele mesmo "está na verdade". Caso 24. “Que ele me beije com os beijos de sua boca!
contrário, comete engano e falsifica a linguagem São melhores que o vinho teus amores, como a
do corpo. (TdC 106) fragrância dos teus refinados perfumes. Como
perfume derramado é o teu nome, por isso as
19. Através das palavras dos novos esposos, a adolescentes enamoram-se de ti. Leva-me
"linguagem do corpo", relida na verdade do seu atrás de ti. Corramos!” (Cânt 1, 2-4)
significado esponsal, constitui a união-comunhão
de pessoas. Se o consentimento matrimonial um 25. Essas palavras nos levam imediatamente para
tem caráter profético, se é a proclamação da a atmosfera de todo o ―poema‖, no qual o esposo
verdade proveniente de Deus, e de algum modo o e a esposa parecem se mover no círculo traçado
ato de afirmar esta verdade em nome de Deus, pela radiação intrínseca do amor. As palavras,
então isso se mostra acima de tudo na dimensão movimentos e gestos dos esposos, todo seu
da comunhão interpessoal, e apenas indiretamente comportamento, corresponde ao movimento
"diante" dos outros e "para" os outros. (TdC 105) interior de seus corações. Somente através do
prisma desse movimento é que se pode
20. Na verdade do sinal, e consequentemente no compreender a ―linguagem do corpo‖. (TdC 108)
ethos do comportamento conjugal, está inserido,
em uma perspectiva relacionada ao futuro, o 26. Mesmo uma análise superficial do texto do
significado procriativo do corpo, isto é, a Cântico dos Cânticos nos permite escutar a
paternidade e a maternidade. À pergunta: "Estais ―linguagem do corpo‖ nesse fascínio recíproco. O
dispostos a acolher com responsabilidade e amor ponto de partida bem como o ponto de chegada

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para essa fascinação – estupefação e admiração


recíprocas – são, na verdade, a feminilidade da “Minha Irmã, Minha Amada”
esposa e a masculinidade do esposo, na
experiência direta de suas visibilidades. As 31. “Feriste meu coração, ó minha irmã e esposa,
palavras de amor ditas por ambos estão, portanto, feriste meu coração com um só dos teus olhares,
concentradas no ―corpo‖, não tanto porque o com uma só das jóias do teu colar! Como são
corpo em si mesmo constitui a fonte do fascínio belos os teus amores, ó minha irmã e esposa,
recíproco, mas acima de tudo porque a atração melhores, os teus amores, do que o vinho, e o
pela outra pessoa – para com o outro ―eu‖, odor dos teus perfumes supera todos os aromas.”
feminino ou masculino, que no impulso interior (Cânt 4, 9-10)
do coração dá origem ao amor – está ligada
diretamente ao corpo. Adicionalmente, O amor 32. É matéria de essencial importância saber nesse
desencadeia uma particular experiência do belo, dueto – diálogo de amor – quem o “tu” feminino é
que se concentra naquilo que é visível, mas que, para o “eu” masculino, e vice-versa. (...) O fato
não obstante, envolve ao mesmo tempo a pessoa de que o ―eu‖ feminino é revelado para o esposo
inteira. A experiência do belo faz brotar o prazer, amado como ―irmã‖ – e que ela é esposa amada
que é recíproco. (TdC 108) precisamente enquanto irmã – tem uma
eloqüência particular. A expressão ―irmã‖ fala de
27. “São belas as tuas faces entre os brincos e teu uma união na humanidade e ao mesmo tempo da
pescoço, rodeado de colares. Como és bela, diversidade feminina, da originalidade dessa
minha amada, como és bela, com teus olhos de humanidade. O termo ―irmã‖ parece expressar do
pomba! Como és belo, meu amado, como és modo mais simples a subjetividade do “eu”
encantador! Nosso leito está florido.” (Cânt 1, feminino” em sua relação pessoal, ou seja, em sua
10.15-16) abertura para os outros. O termo ―irmã‖ usado no
Cântico pertence certamente à ―linguagem do
28. Tanto a feminilidade da esposa (a amada) corpo‖ relida na verdade do amor esponsal. (TdC
quanto a masculinidade do esposo (o amado) 109)
falam sem palavras: a linguagem do corpo é uma
linguagem sem palavras. (...) Ambas, em algum
grau – ele e ela – expressam juntos nos versos do
Cântico o fascínio e estupor não apenas pelo ―eu‖
do outro em seu ou sua ―revelação‖ masculina ou
feminina, mas também pelo amor com o qual essa
―revelação‖ se realiza. As palavras do esposo (o
amado) são, portanto, uma linguagem sobre o
amor e ao mesmo tempo uma linguagem sobre a 33. Um específico senso de pertença comum se
feminilidade da esposa, que ―aparece‖ tão segue. O fato de que eles se sentem como irmão e
merecedora de fascínio e admiração. Do mesmo irmã os permite viver sua proximidade recíproca
modo, as palavras da esposa (a amada) também na segurança, encontrando suporte nessa
expressam admiração e fascínio por ser uma intimidade. (...) Daqui, consequentemente, surge a
linguagem sobre o amor e uma linguagem sobre a paz de que a esposa fala. (TdC 110)
masculinidade do esposo amado. (TdC 109)

29. “Teus lábios, minha esposa, são favo que Um Jardim Fechado, Uma Fonte Selada
distila o mel; sob a tua língua há mel e leite, e o
perfume de tuas vestes é como o perfume do 34. Com relação ao tema anterior, que pode ser
Líbano.” (Cânt 4, 11) chamado de ―fraternal‖, surge outro tema no dueto
de amor do Cântico dos Cânticos. (TdC 110)
30. A presença desses elementos neste livro que
faz parte do cânon da Sagrada Escritura mostra 35. “És um jardim fechado, minha irmã e esposa,
que eles e a correspondente ―linguagem do corpo‖ jardim fechado e fonte lacrada.” (Cânt 4, 12)
contêm um sinal primordial e essencial de
santidade. (TdC 109) 36. A metáfora do ―jardim fechado, fonte selada”
revela a presença de outra visão do mesmo “eu”
feminino. (...) A esposa amada aparece aos olhos
do esposo amado como um ―jardim fechado‖, e
como ―fonte selada‖, ou ela fala a ele com aquilo

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que parece mais profundamente escondido na se abre de algum modo ante os olhos da alma e
estrutura toda de seu ―eu‖ feminino, que também do corpo do esposo amado. Através desse círculo
constitui o mistério estritamente pessoal da de intimidade a esposa amada vive mais
feminilidade. A esposa amada se apresenta aos plenamente a experiência do dom que está unida,
olhos do homem como senhora de seu próprio da parte do ―eu‖ feminino, com a expressão
mistério. Pode-se dizer que essas metáforas esponsal e o significado do corpo. Essas palavras
expressam a plena dignidade pessoal do sexo – contêm não apenas uma descrição poética da
daquela feminilidade que pertence à estrutura amada, de sua beleza feminina, na qual os
pessoal. (TdC 110) sentidos repousam, mas essas palavras falam de
dom e de auto-doação. Nelas sempre ouvimos o
37. A ―irmã esposa‖ é, para o homem, senhora de eco das primeiras palavras do Gênesis (2, 23)
seu próprio mistério enquanto ―jardim fechado‖ e através das quais o sinal do sacramento primordial
―fonte selada‖. A ―linguagem do corpo‖ relida na foi constituído. (TdC 111)
verdade anda de mãos dadas com a descoberta da
inviolabilidade interior da pessoa. Ao mesmo 40. “Porque o amor é forte como a morte e é
tempo, precisamente essa descoberta expressa a cruel, como o Abismo, o ciúme: suas chamas são
autêntica profundidade do pertencer recíproco dos chamas de fogo, labaredas divinas. Águas
esposos, a consciência iniciante e crescente de torrenciais não puderam extinguir o amor, nem
pertencer um ao outro, de ser destinado um ao rios poderão afogá-lo.” (Cânt 8, 6-7)
outro: “Meu amado é meu, e eu sou do meu
amado” (Cânt 2, 16). (TdC 110) 41. Aqui atingimos, em certo sentido, o ápice de
uma declaração de amor. (...) À luz dessas
palavras sobre o amor, que é ―forte como a
morte‖, encontramos o fechamento e o
coroamento de tudo no Cântico dos Cânticos.
(TdC 111)

Quando a “Linguagem do Corpo”


se Torna a Linguagem da Liturgia

43. “Os outros tinham saído e fecharam a porta


do quarto. Tobias levantou-se do leito e disse a
Sara: “Levanta-te, minha irmã! Oremos e
supliquemos a nosso Senhor, para que nos
conceda misericórdia e salvação”. Ela levantou-
se, e começaram a orar e suplicar o Senhor, para
38. “Quão belos são teus pés nas sandálias, ó que lhes fosse concedida a saúde. Esta foi a sua
filha de príncipe! Os contornos dos teus quadris oração: “Tu és bendito, Deus de nossos pais, e é
são como colares, fabricados por mãos de artista. bendito o teu Nome pelos séculos dos séculos.
Teu umbigo é uma taça torneada onde nunca Bendigam-te os céus e toda a tua criação por
faltará vinho de qualidade; teu ventre é um monte todos os séculos. Tu fizeste Adão e lhe deste como
de trigo, cercado de lírios. Teus dois seios são auxiliar e amparo Eva, e de ambos surgiu a
como dois filhotes de cervo, gêmeos de gazela, e descendência humana. Foste tu que disseste que
teu pescoço é como uma torre de marfim. Teus não era bom o homem ficar só: Façamos para ele
olhos são como as piscinas de Hesebon, junto à uma auxiliar que lhe seja semelhante. Agora, não
porta de Bat-Rabim; e teu nariz é como a torre do é por luxúria que me caso com esta minha irmã,
Líbano, que aponta na direção de Damasco. Tua mas com reta intenção. Ordena que tenhas
cabeça é como o Carmelo e teus cabelos têm a misericórdia, de mim e dela, e que possamos
cor da púrpura, prendendo o rei com os seus chegar, os dois, a uma ditosa velhice”. Disseram
anéis. Quão bela e quão encantadora és tu, ó ambos: “Amém, Amém”. (Tob 8, 4-8)
querida, entre as delícias! Teu talhe assemelha-se
ao da palmeira e teus seios, a cachos.” (Cânt 7, 44. Quando lemos a descrição do casamento do
2-8) jovem Tobias com Sara, encontramos que Tobias
a chama de ―irmã‖. (...) Isso significa que entre os
39. Os versos citados acima evocam aquele jovens também deve ser formada uma relação
círculo de intimidade no qual o ―jardim fechado‖ recíproca através do casamento similar àquela que

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une irmão e irmã. (...) Através do matrimônio 49. No sinal sacramental, o matrimônio deve
homem e mulher se tornam irmão e irmã de um servir para construir a comunhão recíproca de
modo especial. O caráter fraternal parece estar pessoas, reproduzindo o significado esponsal do
enraizado no amor esponsal. (TdC 114) corpo em sua verdade intrínseca. (TdC 116)

45. Na historia do casamento de Tobias com Sara, 50. A ―linguagem do corpo‖ se torna a linguagem
entretanto, encontramos uma situação, parece, da liturgia, porque é com base e com fundamento
que confirma enfaticamente a verdade sobre as nessa linguagem que o sinal sacramental do
palavras acerca do amor: ―forte como a morte‖. matrimônio é constituído. (...)É através da
(...) Sara já tinha sido dada em casamento a sete ―linguagem do corpo‖ relida na verdade – na
homens (Tob 6, 14) Mas cada um deles falecia verdade do amor – que o sinal sacramental do
antes de se unir com ela. (...) O jovem Tobias matrimônio é construído na linguagem da liturgia
tinha razões para temer uma morte similar. (...) e no ritual litúrgico como um todo. (...) Na ótica
Portanto, desde o primeiro momento, o amor de do mesmo texto pode-se ver também o modo
Tobias teve que enfrentar um teste de vida ou como a linguagem e o ritual da liturgia formam
morte. Se o amor prova ser forte como a morte, (devem formar!) a ―linguagem do corpo‖. (TdC
isso acontece acima de tudo porque Tobias (e Sara 117)
com ele) se dirigem sem hesitação a esse teste.
Nele, a vida tem a vitória, e o amor se revela forte 51. A liturgia, especialmente a linguagem
como a morte. (TdC 114) litúrgica, eleva a aliança conjugal de homem e
mulher - a qual é baseada na ―linguagem do
46. Rafael dá ao jovem Tobias vários conselhos corpo‖ relida na verdade – às dimensões do
para evitar a ação do mau espírito que causara a “mistério”, e ao mesmo tempo permitem que essa
morte dos sete homens com quem Sara havia se aliança seja realizada nessas dimensões através da
casado antes. (...) Recomenda acima de tudo, a ―linguagem do corpo‖. (TdC 117b)
oração: “Quando estiveres para te unir a ela,
antes levantai-vos ambos e orai e suplicai ao 52. A linguagem litúrgica cofia a ambos, ao
Senhor do céu, para que vos seja concedida homem e à mulher, o amor, a fidelidade e a
misericórdia e saúde. Não temas. Ela foi honestidade conjugal mediante a "linguagem do
destinada para ti desde sempre e tu a salvarás. corpo". Confia-lhes como dever todo o "sacrum"
Ela irá contigo e tenho certeza de que terás filhos da pessoa e da comunhão das pessoas, e
com ela, os quais serão para ti como irmãos. Não igualmente a sua feminilidade e masculinidade —
fiques preocupado.” (Tob 6, 18) (TdC 114) precisamente nesta linguagem. (TdC 117b)

53. O "temor de Cristo" e "reverência", de que


fala o Autor da Epístola aos Efésios, não é senão
uma forma espiritualmente madura daquele
fascínio recíproco, quer dizer: do homem pela
feminilidade e da mulher pela masculinidade, que
se revela pela primeira vez no Livro do Gênesis 2,
23-25. A maturidade espiritual deste fascínio não
é mais que o fruto nascido do dom do temor —um
dos sete dons do Espírito Santo, de que falou São
Paulo na Primeira Epístola aos Tessalonicenses 4,
4-7. (TdC 117b)

47. Na oração de Tobias e Sara a dimensão da Conclusão


liturgia própria ao sacramento é ressaltada ante o
horizonte da ―linguagem do corpo‖. Tudo, de fato, 54. Através da virtude e ainda mais através do
ocorre durante a noite de núpcias do casal. (TdC dom ("vida segundo o Espírito") o recíproco
114) fascínio da masculinidade e da feminilidade
amadurece espiritualmente. Ambos: o homem e a
48. Os esposos, unidos enquanto marido e mulher, mulher, afastando-se da concupiscência,
se encontram em uma situação na qual os poderes encontram a justa dimensão da liberdade do dom,
do bem e do mal lutam entre si. (TdC 115) unida à feminilidade e à masculinidade no
verdadeiro significado esponsal do corpo. (...)

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Assim, a linguagem litúrgica, isto é, a linguagem ________________________________________


do sacramento e do "mistério", se torna na sua
vida e convivência a "linguagem do corpo" em Perguntas para estudo
uma profundidade, simplicidade e beleza até então
desconhecidas. (TdC 117b) 1. De que modo as pessoas podem “falar a verdade”
com seus corpos, e de que modo “falam mentiras”?
55. Esse parece ser o significado integral do sinal
sacramental do matrimônio. Desse modo — 2. O que significa a expressão “reler a linguagem do
através da "linguagem do corpo"— o homem e a corpo na verdade”?
mulher encontram o grande "mistério" a fim de
3. Que características possui a autêntica “linguagem
transferir a luz desse mistério — luz de verdade e do corpo” relida na verdade do amor?
de beleza, expresso na linguagem litúrgica— em
"linguagem do corpo", isto é, na linguagem da 4. Que impressões pessoais você gostaria de
prática do amor, da fidelidade e da integridade compartilhar a respeito das reflexões do Papa sobre o
conjugal, ou seja, no ethos enraizado na "redenção livro do Cântico dos Cânticos?
do corpo" (ver Rom 8, 23). Neste caminho, a vida
conjugal em certo sentido se torna liturgia. (TdC 5. João Paulo II disse o seguinte: “A união sexual é
117b) um teste de vida ou morte. Os esposos, unidos
enquanto marido e mulher, se encontram em uma
situação na qual os poderes do bem e do mal lutam
entre si”. Você acha que essas afirmações são
exageradas?

6. O que significa dizer que a “linguagem do corpo” se


torna a linguagem da liturgia?

(Sugere-se enviar as respostas para [email protected])


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© Texto elaborado pela equipe Teologia do Corpo - Brasil


exclusivamente para fins didáticos, contendo trechos das
catequeses do Papa. As citações das catequeses TdC seguem
a numeração de Michael Waldstein (ver quadro de referência
em separado) As citações bíblicas são da tradução da CNBB.

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