FATALIEV. Khalil Magomedovich. O Materialismo e As Ciências Da Natureza
FATALIEV. Khalil Magomedovich. O Materialismo e As Ciências Da Natureza
FATALIEV. Khalil Magomedovich. O Materialismo e As Ciências Da Natureza
Kh. FATALIEV
MATERIALISMO
DIALETICO E
AS CËNCIAS
DA NATUREZA
d e progm social
LYARIALER
O MATERIALISMOO
DIALETICO E AS CIENCIAS
DA NATUREZA
O
MATERIALISMO DIALÉTICO
E AS
CIËNCIAS DA NATUREZA
Tradução de
CONSTANTINO PaLEóLOGO
ZAHAR EDITORES
RIo DE JANEIRO
Ttuk oniginal:
ies Sciences de la Nature
ie Matérasme Draloctigne
et
Moscon
Dblid na URSS, or Editions« du P'rogre's,
INDICE
AnvERTÈNCIA
Impresso no Brasil
ADVERTÊNCIA
análise concreta de
sua argumentaç o
essencial e de suas pre-
Sem o exame con-
Filosofia, cumprindo tais funções, possa existir. "ConsideroFilosofia
tensões de se basear na
Ciencia moderna. inaceitável", diz Gonseth, "isto é, inadequada, uma
e a Ciência de hoje, finalidade fôsse integrar as Ciências, seus resul-
creto das relações
entre o neopositivismo das Ciências cujas
crítica séria dessa Filosofia reacionária. tados e seus métodos, numa Filosofia para cuja edificação as
não se poderia fazer uma É
examinar suas pretensões de Ciências não tivessem de assumir uma parte essencial",*
Eis por que nos linmitaremos a necessidade de uma Filoso-
Ciências bem como suas relações com as Ci inútil dizer, com que não há
efeito,
ser a Filosofia das e da
Física. E por elas que fia que seja a Ciência das Ciências; o progresso da Ciência
Matemáticas e a
encias Exatas como as talsas tais pretensões, emi-
mostra mais predileção.
Uma falsificação das prática mostrou a que ponto eram
o neopositivismo época passada.
tidas por numerosos sistemas filosóficos de
uma
Física constitui a maior parte
conquistas das Matemáticas e da Mas Gonseth pensa em outra coisa, como
no-lo revela o con-
de sua argumentação.
texto de seu relatório. Ele acha que seu "estatuto da Filosofia
das Ciências" exclui a idéia de que forneça às Ciências seu mé
de
Fala-se muito, no Ocidente, do neopositivismo
como todo e sua teoria do conhecimento.
uma Filosofia das Ciências ("Filosofia
das Ciências da Nature- Filosofia
Segundo Gonseth, êsse "estatuto" recusa aindaa
à
Essa Filosofia das Ciências é atualmente adotada por função de
za").
várias uniðes internacionais, seções nacionais e cátedras
uníver- a
função de generalização do saber das Ciências,Filosofia seria
Metodo- Filosofia científica. Nesse caso, diz o autor, a
sitárias. Existe uma União Internacional de Lógica, "uma disciplina que houvesse atingido a precisão
e a segurança
logia e Filosofia das Ciências, uma Academia Internacional de de uma disciplina científica".3 Ora, Gonseth não pôde admi-
Filosofia das bem como uma publicação especial: Re-
Ciências, de um con-
ti-lo. Para êle, tôda a Filosofia anterior não passa
vista da Filosofia das Ciências. Já se realizaram dois congres-
junto de intuições, de princípios estabelecidos
a
priori e cuja
sOs internacionais de Filosofia das Ciências. das percepções
exatidão é impossível verificar por meio apenas
Que representa, pois, essa Filosofia das Ciências to larga- reconhece outro critério
sensoriais (ora, o neopositivismo no
mente difundida nos países capitalistas? Quais são suas rela Gonseth apóia-se no fato de que
da verdade). Por lado,
outro
ções com as Ciências e a Filosofia? os dados das Ciências só possuem uma verdade relativa
e pro-
Pode-se avaliá-lo pelo "estatuto" expOsto por F. Gonseth, visória, a0 passo que, segundo ele, a Flosofia pode propor
presidente do Segundo Congresso Internacional de Filosofia das . . u m a certeza absoluta. ..".
Ciencias, que se realizou em 1954, em Zurique. Em seu rela- observar que, em seu "estatuto da Filosofia das
tório a êsse congresso, F. Gonseth propõe definir a Filosofia
E preciso
e a Ci-
das Ciências como uma disciplina independente e mostrar suas Ciências", Gonseth nega essas relações entre a Filosofia
relações com a Filosofia e as Ciências especializadas.
Quando se fala de Filosofia das Ciências é natural pensar de l'Union Internatio-
2
Actes du Deuxième congrès I.international
que, para que exista, precisa antes de tudo considerar as Cieên- nale de Philosophie des Sciences, Exposés généraux, p. 12, Zuri-
cias como um objeto de investigação particular, que cumpra que, 1954.
com relação a elas as funções de método geral e de teoria do 3 Ibid, p. 12.
10 11
Filosofia do materialismo dialético que
cle
encia; é, cmsuma, à estabelecida. Asrelaçõcs entre Ciência e Filosofia, louvadas
cmbora não
contesta o direito de
existir e não a outm qualquer, pelos ncopositivistas, significam na realidade uma renúncia tan-
talar da Filosofia em geral. Isso é evidente to à Ciência como à Filosofia.
o precisee pareça
entre Filosofia e Ciências quc Gonseth rejei. fundamentais do estatuto neopositivista da
porque as relaçöcs o resultado de Os princípios
ta (a Filosofia considerada, por
umlado, como as tontes dessa
demonstrá-lo
atual, existem entre o materialismo piriocriticismo de Mach. Não é indispensável
pecializadas. o proclamam em alta voz. E
porque seus próprios partidáriqs
Gonscth aprecia o conhecimento científico a partir das po- Filiasi Carcano em seu relat sio ao
o que assinala, por exemplo,
raciocínios filo- intitulado "Confronto entre as Diferen-
sições do relativismo filosófico, c a justeza dos Congresso de Zuriquc,
sóficos a partir das posições metafísicas. E claro que essa mis- tes Correntes da Filosofia das Ciências".
tura de relativismo e de metafísica (mais exatamente, êsse
rela- Entre os diversos agrupamentos neopositivistas, existem,
tivismo metafísico) não faz mais que confundir o problema das decerto, nuanças e diferenças sôbre a
maneira de compreender
relações entre Filosofia e Ciências especializadas. êsse estatuto. M. Schlick, que exerceu uma influencia de pri-
meira ordem sôbre o desenvolvimento do empirismo lógico,
Segundo Gonseth, o estatuto da Filosofia das Ciênciashaver
não
só
nega tôda relaç+o entre a Filosofia e as Ciências. Após achava que os raciocínios filosóficos não têm sentido, e que
rejeitado as duas formas possíveis dessa relação propostas pelo a Ciência empírica busca o conhecimento positivo. Eis comoo
materialismo dialético, èsse estatuto adianta sua própria solução. Wittgenstein formula essa idéia em seu Tractatus logico-philoso
consistem em nada
Essa terceira solução qualifica de prejulgamento o ponto phicus: "os métodos justos da Filosofia" Reconhe
de vista segundo o qual as noções e princípios da Ciência e da cxprimir tora.. "das proposições das Ciências". "
Ciência é a sua própria
ce-se, aqui, a velha tese positivista:
a
Filosofia são um reflexo da realidade objetiva. Para Gonseth, Filosofia. Schlick e Wittgenstein no se contentam em se de
a atividade científica utiliza uma linguagem artificial e se limita as Ciencias,
a constatar opiniões emitidas. "A Filosofia das Ciências... sembaraçarem da Filosofia, les enterram também
de vista a Ciência não estuda
absolutamente
pois de seu ponto
constrói um discurso visando às Ciências, o homem em suas
os dados da experiëncia sen-
as leis objetivas da natureza, mas
relações com o conhecimento científico, as técnicas resultantes
sorial do indivíduo.
da pesquisa científica, ete," Uma vez criada essa linguagem
o fundador do método da análise lógica que
serviu
cientifica, a Filosofia das Ciências retorna ao homem para ocu- Russell,
diterentes ramos do empirismo lógico,
par-se de problemas filosóficos pròpriamente ditos, ergue-se ao de ponto de partida para
ser ad-
nível de uma Filosofia geral "que constrói um discurso (que visa acha igualmente que um conhecimento positivo só pode
Mas admite, contudo, a exis-
ao universal) söbre o homem, sôbre o mundo, sôbre o homem quirido pela Ciência empírica. dos
no mundo, sôbre o homem e seu destino, etc."4 tência de uma Filosofia que só se ocupe da análise lógica
Russell, consiste
da Filosofia das Ci enunciados da Ciência E nisso, segundo que
Assim, segundo Gonseth, o estatuto
éncias exclui
mundo objetivo
o
do objeto Ciência e da Filo-
da papel da Filosofia das Ciências.
sofia, une-s suprindo conteúdo objetivo de suas noções e
o
princípios, reconduz seu objeto à análise de uma linguagem pre- Ibid., p. 136.
L . Wittgenstein. Tractatus logico-philosophicus,
Londres, 1949
Actes du Deuxièmc congrès international..., p. 23. 53.
13
12
E interessante notar como Russell compreende o valor cog-
próprios da Ciêncía moderna", formando hábitos de pensa-
nitivo da Ciência c da Filosofia. Afirma êle quc o desenvol- mentos novos com ajuda da Psicanálise, por exemplo.
vimento da Ciência abala a fé no conhecimento a0 passo que o
Essas diferentes tendèncias da Filosofia das Ciencias reve
valor da Filosofia reside justamente em sua incerteza. Fi lam a cxistência de nuanças no próprio interior do idealismo,
é necessária diminui a certeza que temos so
losofia nos porque no que concerne à interpretação da Ciência, da Filosofia e de
impede que
bre a verdadeira natureza das coisas, certeza queSegundo suas relações mútuas. Essas correntes divergem nos detalhes,
nosso espírito se apeguc à especulação criadora. Rus-
mas se unem quanto ao decisivo, ao essencial. Não é por acaso
sell, a Filosofia deve "ensinar os homens a viverem na incer
que, nestes últimos tempos, ressoam vozes proclamando a ne
teza, sem experimentarem a influência paralisante da hesita- cessidade de reunir as diferentes tendências da Filosofia das Ci
São"7
ências. Um dêsses programas de unificação foi proposto por
discurso "Programa Progresso da
Carnap, que dirigia a "ala csquerda" da escola vienense, G. Klubertanz em seu para o
não estava de acôrdo com a tese da "ala direita", encarnada por Filosofia das Ciências", no congresso de Zurique. Constatan-
Schlick e Wittgenstein, segundo a qual a "Filosofia não tem do que há "uma grande diversidade na maneira pela qual os
filósofos interpretam a Ciência", e que essa diversidade é "atual
sentido". Como êstes últimos, Carnap reconhecia que as espe
mente um sério obstáculo ao desenvolvimento da Filosofia das
culações filosóficas sôbre a natureza carecem de sentido, mas
admite que existe um domínio pertencente adequadamente ao Ciências", acha êle que "é possível realizar a fusão das dife
rentes tendências numa Filosofia única". 10
julgamento filosófico. Exatamente como Russell, acha êle que
a tarefa da Filosofia consiste na análise lógica da Ciência, mas Klubertanz não concorda com os que pretendem superar
a diversidade de opiniðes no domínio da Filosofia das Ciências
entende por isso a análise da linguagem científica. Essaé a
própria essência da Filosofia das Ciências, segundo Carnap. negando a justeza de tôdas as tendências, exceto uma. Acha
ele que "quase cada uma delas tem uma contribuição efetiva a
A Filosofia das Ciências compreende, ainda, tendências di- dar e que atrás da diversidade das Filosofias se oculta uma uni-
tas não-positivistas que também propõem seu estatuto. Entre dade latente". 11
elas distingue-se geralmente, como também o faz Filiasi Carcano,
8 Essa unidade latente reside em suas fontes ideológicas co
a fenomenologia husserliana e o existencialismo, Essas cor-
muns, numa falsa interpretação do progresso das Ciências Na-
rentes não-positivistas não se acham de acôrdo com a tese do
turais, visando a justificar suas concepções filosóficas anticien-
neopositivismo, afirmando que o conhecimento do real, preo
cupação da Filosofia, é um pseudoproblema e que a Filosofia
tificas
Examinaremos em detalhe a maneira pela qual o neopo-
das Ciências só se deve apegar às diversas interpretações meto
dológicas e descrições da Ciência e não ao problema do seu va sitivismo chega a isso.
lor. Os partidários dessas idéias acham impossível dissociar a
questão do valor universal dos resultados científicos da capaci Uma das mais difundidas formas do neopositivismo é a
dade da Ciência de conhecer e de compreender o real. Pode-se Filosofia da análise_lógica,_ou_empirismo analítico de Russell.
responder a essas questões, dizem &les, "ultrapassando os limites Essencialmente, o empirismo analítico no é mais que uma re
14 15
positivismo.
Russell renavou o idealismo sub.
ros naturais a teses relativas às classes, Russell se esforçou por
odição do antigo de Hume, com a ajuda do
e o agnosticismo deduzir tôdas as Matemáticas da Lógica e de fazer delas intei
jetivo de Berkeley Em sua História da Filosofia Oc
método da análise lógica. as tontes ideológicas de
ramente uma Ciência de noções lógicas.
reconhece abertamente
dental, Russell Relaciona-se
sua Filosofia.
"O empirismo analítico moderno"..., escreve igualmente com uma interpretação determina
inter- da da axiomática matemática a afirmação segundo a qual as Ma-
ele, "difere do de Locke, de Berkeley e de Hume, pela temáticas remontam a uma lógica de conceitos destituídos de
desenvolvimento de uma poderosa
do
venção das Matemáticas e
técnica lógica". 12
conteúdo material. Sabe-se que certas teorias matemáticas (a
Geometria, por exemplo) se desenvolvem de maneira puramen
Examinemos como Russell ressuscita o antigo positivismo te lógica a partir de um sistema de axiomas. Segundo o siste
por meio das Matemáticas e da Lógica. ma de axiomas escolhido, obtêm-se teorias diferentes (Geome
fonte nas pes- tria de Euclides ou a de Lobatchevski). Russell considera os
O empirismo analítico de Russell tem sua axiomas matemáticos como princípios a priori da Lógica. Daí
Matemáticas
quisas que etetuou sôbre a análise lógica das
e que
relatou nos Principios de Matemáticas. Sabe-se que a Lógica deduz éle que as Matemáticas "puras aurem seu conteúdo não
Matemática e a análise lógica das noções matemáticas essenciais do mundo materíal, mas do das entidades universais que não é
contribuíram poderosamente e ainda contribuem para o desen outro senão o mundo platônico das idéias.
volvimento das Matemáticas. Mas Russell e outros lógicos ba- Russell começa, pois, por encarar a análise lógica como um
searam-se nos progressos da Lógica Matemática e da análise
ló- método matemático todo-poderoso; reconduz as Matemáticas à
gica para atirmarem que se pode reconduzir as Matemáticas à
Lógica, que êle considera como uma Ciência a priori. Depois
Lógica e que esta última é uma Ciência puramente formal, a
estende êsse método a todos os domínios do conhecimento, atir-
priori. Esta idéia atravessa todo o seu livro. ma que se pode aplicar a análise lógica todas as Ciências Na
Os matemáticos operam sôbre números de naturezas dife turais, de igual maneira que às Matemáticas. E o que, segundo
rentes (naturais, racionais, irracionais, reais, complexos). Gra- ele, deve constituir o objeto da Filosofia.
ças à análise lógica, é. possível definir tôdas as variedades
de Eis como Russell representa nosso conhecimento do mun-
números a partir de seqüências de números naturais: 0, 1, 2, 3, do: o saber usual, obtido por meio do bom senso ou de um
etc. De modo que as teses relativas às formas superiores dos método científico e baseado na observação, sôbre a experiência,
números podem ser analisadas como teses relativas aos numeros não elucida a essência dos objetos aos quais se refere. Os con
naturais, o que marca unm grande progresso da análise lógica ceitos científicos tratam de objetos como o eléctron, o próton,
nas Matemáticas. Mas Russell se
propôs analisar
naturais de uma maneira puramente lógica, isto é, analisar as
os
números etc., e de suas propriedades, mas essas partículas elementares
mundo. Graças aná-
não são os elementos primeiros do a uma
teses relativas aos números naturais como se se aplicassem a
lise puramente lógica, independente da experiência, graças tam-
noções lógicas. Para Russel, essa noção lógica é a da classe. bém a raciocínios a priori, tôdas as proposições do saber usual
(Denomina-se classe o conjunto de todos os objetos que, to-
mados antecipadamente do domínio de definição de uma pro
podem ser reconduzidas a proposições relativas aos elementos
matemáticas
priedade, a demonstram; éste conjunto pode ser caracterizado
primeiros do mundo, assim como tôdas as teses
reconduzidas teses relativas aos números natu-
por um número.) Reconduzindo as teses relativas aos núme podem ser a
16 17
análisc Russell reduz
lógica, os objetos do
Por meio da nhecida sob de logística, teve tempo grande de-
seu
mundo circundante
a combinagocs de scnsaçocs e chega a con o nome em
de deduzir as Mate-
às senvolvimento. Mas tôdas as tentativas
cquivalentes opiniões que
clusões filosóticas intciramente máticas inteiramente da Lógica sotreram um tracasso tota. Em
Mach já havia expressado. particular, opinião segundo qual
a a as teses relativas aos núme
Não há necessidade alguma de nos
entregarmos ao exame
ros naturaispodem ser analisadas como teses relativas aos con-
detalhado das conclusões de Russell, pois não fazem mais que ceitos lógicos de classes comprovou-se carecer de qualquer tun
repetir as opiniões de Ernst Mach, suficientemente analisadas damento. E impossível basear a Aritmética na Lógica pura.
em detalhe na literatura marxista.Limitar-nos-emos a isso:
Assinalemos que o próprio desenvolvimento da Lógica Ma
primeiramente, a concepção de Russell parte da circunstância de temática demonstrou a vaidade da logística, esforçando-se por
que raciocínios a priori permitiriam decifrar os enigmas da na- basear tôdas as Matemáticas sôbre os únicos princípios
da
tureza, escapando ainda ao método cientítico. Por isso mes
mo, Russell restabelece a Filosofia em seus direitos de Ciência Lógica.
Em cada teoria matemática utilizam-se os esquemas lógicos,
ucima de tôdas as outras, o que os neopositivistas combatem Ma-
combinando-os aos axiomas dessa teoria. Considerar as
com palavras. Segundo, èle deduz dessa concepção que a for- de conteú-
temáticas como um conjunto de tórmulas destituídas
ma suprema do conhecimento é obtida não aprofundando a pes. priori
do e extraídas puramente pela Lógica de princípios
a
quisa cientítica, mas saindo dos limites da Ciência, isto é, que a criar uma teoria dedutiva única
signiticaria achar que é possível
Filosofia neopositivista das Ciências implica a negação da Ci- de
das Matemáticas por meio da Lógica Matemática, partindo
ência. Terceiro, a Lógica não é considerada como um meio de um sistema de axiomas determinado. Hilbert, matemáico re
pesquisa e de conhecimento cientitico, mas como uma Ciência nomado, partilhava dessa opinião. Todavia,
a tese de Hilbert
a priori que serve à interpretação especulativa das proposições foi infirmada pelo desenvolvimento das próprias MMatemáticas.
da Ciência e da prática.
Se as conclusões de Russell repetem quase inteiramente
O que sobretudo importa para uma Matemática Uma dedutiva,
teo-
seja ela qual fôr, é o princípio da não-contradição.
Berkeley e Mach, o método que lhe serve para fundamentar ria matemática é não-contraditória se dela não se pode extrair
suas conclusões é nôvo. Russell indica que o que apresenta uma seria a negação da outra. E á
duas expressões dasquais
de nôvo é a incorporação das Matemáticas e o desenvolvimento caráter contraditório
Lógica Matemática que importa precisar o
de uma poderosa técnica da Lógica. Também é necessário exa- ou nao de uma teoria matemática.
minar essa argumentação nova. Como provar que uma teoria matemática Geometria
Se nos entregamos a um exame atento, percebemos que não é contraditória? Pode-se
de Lobatchevski, por exemplo -
todas as afirmações de Russel, segundo as quais as Matemáticas demonstrar essa não-contradição por meio da Lógica, partindo
como dados
são uma justificação nova do positivismo, revelam-se sem con dos axiomas dessa Geometria que se con_ideraria
sistência. a priori? Nesse caso, ter-se-ia o direito de achar que essa teo-
ria matemática pode ser reconduzida à Lógica. Ora, verifica-
Com efeito, Russell parte do fato de que as Matemáticas
se que, dessa maneira, é impossível
demonstrar que uma teoria
podem ser inteiramente deduzidas da Lógica (depois, sem razão
aí compreendidaa Geometria de Lobatchevski en-
alguma, êle estende arbitràriamente êsse método às outras Ci matemática,
ências). E verdade que nas Matemáticas essa tendência, co- tre outras, não é contraditória. Para demonstrar, por exemplo,
Lobatchevski não é contraditória, é preciso
que a Geometria de
sair dos limites dessa teoria e construir um modèlo correspondente
na Geometria de Euclides. Neste caso, demonstrar que a teo
13 V. Lênin, CEuvres, t. 14, Paris-Moscou.
19
18
signitica provar que
Lobatchevski não é contraditória princípio mecanicista de redutibilidade e uni-lo
ao
axiomas da Geometria de
ria de Os renovar o
é.
Euclides não idealismo subjetivo. Este aspecto do neopositivismo liga-se
o
Geometria de nem arbitrários; exi.
Lobatchevski não são nem convencionais estreitamente à "incorporação das Matemáticas" ao positivismo.
a que se refere essa demonstração: os
gem demonstração. EIs corretos se os de Euclides o são A incorporação das Matemáticas, segundo Russell,
é a cx
Lobatchevski são
axiomas de tensão dos métodos da Lógica Matemática (incorretamente
com-
cação dos números e as regras das operações efetuadas sôbre êles. formular tôdas as teses enunciadas nas diversas linguagens cien-
Tal é o sentido da descoberta de Gödel. Gödel mostrou tíficas. Essa teoria da unidade das Ciências acha que a lingua-
que a não-contradição das Matemáticas não pode ser provada gem da Física forma a língua científica universal, trazendo as-
apenas pelas Matemáticas.
14
Resulta notadamente do teorema Sim o nome característico de "fisicalismo".
Isto implica a re
de Gödel que é impossível relacionar a Aritmética apenas com das diterenças
dução de tôdas as Ciências Física, negação
à a
20 21
os fenomenos biológicos aos da Fisica. neome
Sob essa forma há vinte e cinco anos à formação de uma nova Filosofia da na-
é um dos trunfos da Fi. entre sujeito e ob-
canicista, o princípio da redutibilidade tureza, de uma nova concepção das relações
losofia burguesa moderna das
Ciëncias da natureza e, sobretu-
não ser relacionada
pode a nenhuma das Filosofias já
em sua época, o princípio da redu-
jeto que
elaboradas precedentemente". 10 O próprio autor explica que
do, do neopositivismo. Se,
tibilidade era parte integrante do materialismo mecanicista que, essa "nova" concepção filosófica pode ser designada por uma
porque fornecem a argumentação cientítica do neopositivismo. enunciados protocolares de Carnap não precisam ser justifica-
A verifi-
dos e servem de base às outras afirmações da Ciência.
A Fisica é chamada pelo neopositivismo a representar um Ciência deve efetuada não
cação dos fatos estabelecidos pela ser
papel excepcional na justificação das especulações filosóficas comparando-os com a realidade objetiva, com a experiência, mas
dessa doutrina. Em seu relatório ao Congresso de Zurique, método
com êsses enunciados protocolares. Segundo Russell, o
intitulado "Considerações sôbre o Debate Atual Concernente ao da análise lógica permite reduzir todos os fatos descobertos pela
Conhecimento Físico'", Destouches disse: "Em várias ocas Ciência a proposições absolutamente simples, relativas aos ele
a Fisica serviu de ponto de partida para a reflexão filosótica e, mentos primeiros do mundo. Os enunciados protocolares de
em particular, para a teoria do conhecimento. A Física moder-
Carnap e proposições
as absolutamente simples de Russell são,
na, por suas concepções tão distanciadas do senso comunm, impôs idêntica, söbre as quais o
quanto ao essencial, bases de partida
horizontes novos à investigação 15
E
filosófica". incontestável
que a Física realmente forneceu e ainda fornece matéria abun-
neopositivismo tenta fundamentar a Ciência.
dante ra a reflexão filosófica. Mas, quando fala dos horizon- Os enunciados protocolares ou absolutamente simples repre-
o papel de atirmações científicas que fixam os dados
sentam das
tes novos que a Fisica moderna lhe abre, Destouches pensa em
observações, das percepções imediatas, e são detinidas como grá-
outra coisa. Na reviravolta da teoria física,
à qual atualmente
ficos de observaço. Mas êsses dados da percepção, èsses grá-
assistimose que se deve ao desenvolvimento da Mecânica Quân-
tica, da teoria da relatividade e da Física nuclear, o neopositivis ficos de observaçãonão são considerados como equivalendo
aos
mo vê um pretexto cômodo para tentar torpedear o materialismno objetos e fenômenos do mundo real- são subjetivos e ilu-
aos
sórios. O mundo físico real se reduz a indicações de aparelhos
espontâneo dos físicos, destruir sua certeza instintiva da existên-
cia objetiva do mundo e da conformidade das teorias fisicas com de medição, a percepções que nada têm de comum com êle (des-
se ponto de vista, as fontes da luz e do som nada têm de comum
a realidade e solapar, finalmente, as bases científicas do materia-
com as nossas percepções visuais e auditivas).
lismo dialético. "Em suma", prossegue Destouches, "assistimos
10 Ibid.
15 Actes du Deuxième Congrès International... p. 128.
23
22
neopositivista é desig. os filósofos.
Em linguagem física, ésse princípio métodos de formaço, se levante para os físicos
e
observabilidade". Essencial.
nado pela expressão "princípio da FisiIca se reduz à observacão A maior parte dos físicos se atém ao ponto de vista materialista
mente, consiste
em que o papel da
espontáneo e considera que as descobertas de sua Ciência refle-
imediata de fenômenos, sem
reconhecer a existência intrínseca dos de objetos e de fenômenos reais.
tem as propriedades objetivasacha
da observação e da medida. que os conceitos
cientíkicos só5
objetos, independentemente Contudo, o operacionalismo
de medição e de ob
idéia do princípio retletem as particularidades dos processos
A energética de Ostwald já implicava
a
de que o movimento
eletivo, em particular, partem do ponto de vista prin Em Macromecânica, o estado de um corpo em
cipio da observabilidade se acha na base da Física, que seu objeto écaracterizado pela sua localização exata no espaço (coordena
é a análise dos métodos de medição. Quanto ao problema da de movimento) num
das) c pela sua velocidade (quantidade
natureza da medida e da observabilidade das grandezas físicas, a dado momento.
Se se conhecem as coordenadas e a quantidade
da Mecânica permi-
solução é fornecida pela análise lógica. A finalidade da Fisica de movimento num momento dado, as leis
consiste em prever medidas ulteriores baseando-se nos resultados as coordenadas e a quantidade
tem determinar antecipadamente
de medidas iniciais; a medida só serve para estabelecer a pro- de movimento para qualquer outro instante.
babilidade dos resultados de outras medidas. A teoria física ne- Em Mecanica Quântica, os fisicos toparam com problemas
nhuma relação tem com a realidade objetiva, ela não passa de da quantidade
diferentes. Os valôres exatos das coordenadas e
uma sistematização das percepções sensíveis sugeridas pelo pro- não ser conhecidos senaão separadamente
e
de movimento podem
cesso obscrvado. Esta maneira de compreender a natureza do avaliados simultâneamen-
não ao mesmo tempo. Não podem ser
conhecimento físico é, em seguida, estendida a todos os domí relações de
te senão com uma certa imprecisão, expressa pelas
nios do saber, chegando-sc assim à tcoria dos enunciados proto-
incerteza:
colares mencionados mais acima.
Uma questão sc levanta: como justifica o neopositivismo Ap Ay 7 2
o princípio da observabilidade, em que consiste essa lógica da
Ciência que permite, por assim dizer, deduzir tôdas as proposi
das
ções da análise dos processos de observação? Aqui Ap e A representam os erros de avaliação
h - constante
coordenadas e da quantidade de movimento,
a
Em seu discurso ao Congresso de Zurique, Destouches afir. simultânea
de Planck. Esta relação afirma que tôda medida
ma que essa "nova" Filosofia se apóia nas conclusões da Mecâ da posição e da impulsão de um móvel é infectada de erros cujo
nica Quântica. Acha tle que a originalidade dessa leoria física
h Bohr, Heisenberg e
consiste em que". Os raciocínios das teorias quânticas são produto não pode ser inferior a
conformes... às regras de uma lógica não-clássica: a lógica da 2T
complementaridade e subjctividade". 20 outros sábios célebres propuseram uma interpretação neoposi-
tivista subjetivista e idealista dessa relação correta em si mes-
Parece, pois, que tôda a teoria dos "enunciados protocola da
ma, interpretação que serviu para tormular
o princípio com-
res e, notadamente, o "princípio da observabilidade" repousam
plementaridade.
in-
10 lbid, p. 104. Assim, a interpretação neopositivista das relações de
consiste
idéia fundamental da complementaridade
-
26 27
coordenadas e a quantidade de moyi.
essencialmente nisto: as Observemos, antes de tudo, que o têrmo complementari-
cxatamente a caracteristica espaço-temporal c im dade não foi sempre empregado na mesma acepção. Em certos
mento (mais
não podendo ser simultânea-
pulso-energética de uma partícula) casos, fala-se de complementarídade
no sentido de que os valô-
uma exatidão absoluta, isto quer dizer que de movimento são
mente definidas com res precisos das coordenadas e da quantidade
fato da medida, são
clas exprimem propriedades sugcridas pelo definidos separadamente, em duas classes diferentes de experiên-
no momento da medida
o resultado da relação que se estabelece
cias que se completam. Essa maneira de compreender a comple
e objeto e se completa de
tal modo que tôda opera. Contentamo-nos em
entre sujeito mentaridade perfeitamente legítima.
característica espaço-temporal, constatar um fato verificado em Física
atômica. Em outros ca
ção de medida, sugerindo uma ex-
inversamente. uma aplicaço restrita dos mo-
clui a característica impulso-cnergética sos, a complementaridade significa
e
A operação da medida exerce uma influência sôbre o estado delos clássicos à Física Quántica. Aí, ainda, nada de repreen-
sível, embora seja discutível o direito de aplicar o térmo
nesse
das propriedades do objeto observado. A coisa era por vêzes demonstram, a
constatada em Física clássica, mas adquiriu uma importância es- sentido. Como as observações precedentes
da de Bohr significa outra coisa.
sencial em Física atômica. A idéia de complementaridade parte concepção complementaridade
não tem
do fato de que em Física atómica essa influência da medida sô- Quando afirmamos que a idéia de complementaridade
fundamento, que a Mecánica Quántica é incompatível
com ela,
bre o objeto observado é proclamada incontrolável em princi lhe
pensamos no sentido bem definido que Bohr e seus adeptos
pio. Se é assim, a Mecânica Quântica só se ocupa de fenôme- conterem.
nos que se produzem no momento da observação e sugeridos
conhecimento de Por que é falsa a idéia de complementaridade?
pela operação da medida; ela não pode dar o
incerteza se
cbjetos e de fenômenos que existam independentemente de nós, Primeiramente, porque a partir das relações de
tora do ato da observação. Nesse caso, a Mecânica Quântica da medição sôbre o ob
deduz que a ação exercida pela operação
deve ser uma ciência que sistematize os dados sugeridos pelo observado é incontrolável. Ora, essa conclusão não decor
jeto
processo de mediço e cuja finalidade consiste sòmente em ava- re nem das relações de incerteza nem
de não importa que outra
liar os resultados de medidas futuras, partindo dos dados for- lei da Mecânica Quântica.
necidos pelas precedentes, isto é, uma ciência que trata de enun-
Já se conhecem, em Física clássica, casos em que a operaço
ciados protocolares. de medição influenciava o objeto observado. A Física clássica,
Essa maneira de compreender a natureza do conhecimento de cada vez, indicava os métodos que permitiam controlar essa
ob
cientifico, baseada na idéia de complementaridade é, em segui- influência, separá-la dos resultados da investigação e
conhecimento não de-
da, aplicada a todos os ramos do saber, como conclusão extraída ter dos objetos e dos fenômenos um que
do estado atual da Fisica. Considerando que o neopositivismo Em Física atômica, operação de medi-
pendesse da mediço. a
o objeto ob-
vé a unidade das Ciências na universalidade da linguagem física, ção exerce uma ação muito mais importante sóbre
a concepção da complementaridade é julgada como a lógica da a Mecânica Quântica não fornece métodos
servado, ao passo que
Ciência inteira. controlar ésse fenómeno, e isto não porque ele
que permitam
Por conseguinte, a argumentação científica do neopositivis- seja, em princípio, incontrolável, mas porque a Mecânica Quân-
tica não é uma teoria acabada de partículas isoladas.
As leis
mo se reduz, no fim das contas, à interpretação, no
espírito da da Mecânica Quântica não so aplicáveis a todos os aspectos da
complementaridade, da Mecânica Quântica em geral e das rela- refletem
e no to-
Soes de incerteza em particular. Ora, a concepção da comple- natureza e do comportamento das partículas
dos os seus aspectos nem tôdas as suas propriedades. Em parti-
mentaridade é profundamente errônea, é contrária ao conteúdo
cular, o problema dos meios para controlar a intluëncia exerci
objetivo da Mecânica Quântica.
28 29
afirmando
instrumento de medição söbre o estado (p e de uma
q) Segundo, a da idéia de complementaridade,
tese
da pelo formadas no pró-
possibilidades da Mecânica Qun trata de grandezas
partfcula permanece tora das que a Mecânica Quântica
será decidida pclo descnvolvimento dus Ci. propricdades in-
prio momento da observação que apresentam
e
tica. Essa questão
èncias. Foi o que justamente assinalou Einstein, em 1935, em duzidas pela operação de medição, mas que nada pode dizer sô-
A ausência de tais estados das partículas fora da medição,
sua discussão com
Bohr söbre o assunto. bre as propriedades e os
não intluência sôbre a exa- falsa. Ela também não decorre das rela
métodos em Mecanica Quantica tem essa tese é igualmente
outra lei da Mecânica
tidão de suas conclusões relativas às propricdades das partículas ções de incerteza nem de no importa que
sem eteito. Se Quântica. Pelo contrário, é essencialmente oposta ao conteúdo
para as quais a openção de medição permanece
a Mecanica Quantica não tornece o meio de controlar a influên. objetivo da Mecânic Quântica.
cia exercida pelo instrumento de sôbre o
medição objeto,
não é Em Mecânica clássica, o estado de um objeto em movimen-
uma razão para afirmar
que essa influência seja incontrolável. t o écaracterizado pelo conhecimento
simultâneo dos valôres exa-
Tal asserção significaria que a Mecânica Quântica marca o limi- tos das coordenadas e da quantidade
de movimento. As rela-
te do nosso conhecimento das partículas (como pensava Bohr). característica dos estados é
ções de incerteza exprimem que tal
E, contudo, claro que novos ramos do conhecimento se desen- inaplicável às Compreende-se, pois
partículas. não há razão pa-
volvem sob nossos olhos (a teoria das partículas elementares, a ra crer que, para os domínios do real qualitativamente diferentes,
Fisica nuclear); ramos que não entram na Mecânica Quântica. o estado do movimento deve ser
caracterizado de uma maneira
idêntica. Tôda a história da Ciência mostra que os diferentes
Dessa maneira, se a influência exercida pelo instrumento
fenômenos físicos exigem que seu estado seja explicado diferen-
de medição sôbre o objeto não é incontrolável, como explicar
temente. O estado dos sistemas em Quintica se ca-
Mecânica
que seja impossível precisar, ao mesmo tempo, as coordenadas
e a velocidade das partículas? racteriza de maneira diversa que o dos
É a função que o representa. 21
objetos macroscópicos.
Sendo impossível aplicar a de-
Isto se pode explicar pelo fato de que Mecânica Quântica
a
finição clássica do estado aos casos das partículas, é preciso ne
estuda as propriedades estatísticas de uma multidão de partícu-
las, ou as propriedades de partículas isoladas consideradas do gar não que a Mecânica Quântica não trata de estados mas
reais,
que ela estuda estados qualitativamente novos, exprimindo-se por
ponto de vista estatístico. Ora, são teorias que tratam
essas
noções novas, não habituais para a Mecânica clássica.
das propriedades dinâmicas dos objetos físicos que exigem uma
avaliação simultânea e precisa das coordenadas e da quantidade Assim pois, a idéia da complementaridade, nascida da in
de movimento. terpretação neopositivista dos princípios da Mecânica Quântica,
As relações de incerteza podem ser igualmente explicadas é apresentada como uma descoberta da Mecânica Quântica, pre-
partindo de outras posições. As partículas apresentam uma es tendendo conduzir ao neopositivismo. Este o círculo vicioso
trutura corpuscular e ondulatória complexa, ao passo que as co-
dessa argumentaç0.
ordenadas e a quantidade de movimento são noções elaboradas O conteúdo objetivo da Mecânica Quântica, supostamente
para caracterizar as propriedades espaço-temporais e impulso- uma das fontes do neopositivismo, é incompatível com essa Fi-
-energéticas dos macrocorpos. E possível que essas noções não losofia reacionária. Se numerosos sábios eminentes adotaram de
reflitam adequadamente as propriedades correspondentes das
partículas. Eis por que, se caracterizamos as propriedades das
partículas por noções que não são o reflexo adequado delas, ob.
21 Essa função significa que o quadrado do módulo da funçäo
temos para as grandezas correspondentes a essas propriedades da onda é igual, num instante dado, à probabilidade de encontrar o
valôres inexatos. corpüsculo no ponto das coordenadas x, y, z.
30 31
a interpretação ncopositivista
da Mecânica Quântica no
subito
sentido da idéia de complementaridade, vé-se com o tempo au-
Esse abandono do ncopositivismo, cada vez mais freqüente
entre os sábios, resulta de um profundo
conflito entre o conteú-
mentar o descontentamento interior sentido pelos físicos ociden-
do objetivo das Ciências modernas da natureza e sua interpre
tais em face dessa interpretação, seu desejo de renunciar a ela. cada dia dados
tação neopositivista. A Ciencía atual forneceúnica Filosofia ca-
Nikolski, Blokhintsev e outros sábios soviéticos submete sempre mais numcrosos que atestam que a
ram a uma crítica cerrada a interpretação neopositivista da Me visão do mundo que cla contém objetiva-
paz de explicitar a
canica Quantica c propuseram outra interpretação. Mais tarde, mente em germe é o materialismo díialético.
essa iniciativa foi retomada por sábios estrangeiros célebres. E
preciso assinalar atualmente os trabalhos, nesse sentido, de gran- Nos países capitalistas o neopositivismo penetra sempre
des sábios como Louis de Broglie, D. Bohm, J. Vassel, J. Vigier,
cada vez mais nas Ciências Sociais. Quanto mais manifesta
a
L. Janossy, que não se contentam em proclamar seu desacôrdo inconsistência da argumentação científica do neopositivismo,
com a interpretação neopositivista da Mecânica Quântica dada tanto mais êle busca um apoio nas Ciências Sociais. Esse as
por Bohr e Heisenberg, mas empreendem importantes pesquisas os limites da presente obra.
a fim de eliminar as dificuldades que encobrem as fontes gnosio pecto da questão ultrapassa
lógicas da interpretação neopositivista da Mecânica Quantica. Mostramos o caráter anticientífico da Filosofia burguesa
das Ciências da Natureza estudando sua corrente mais difundi-
Significaivas sob êsse aspecto são as transformações sobre da: o neopositivismo. Nos capítulos que seguem, propomos
vindas na posição de Schrödinger, um dos fundadores da Mecâà mostrar que a única Filosofia que corresponde ao conteúdo ob-
nica Quântica e um dos protagonistas mais ativos do neopositi jetivo da Ciência moderna é o materialismo dialético.
vismo no passado. Os trabalhos que publicou ùltimamente ex
primem a insatisfação que lhe inspira a interpretação neopositi-
vista da Mecânica Quântica, seu desejo de abandonar essa posi-
ção filosófica. Em seu artigo "Filosofia da Experimentação,
publicado em 1955, Schrödinger pergunta qual deve ser o papel
da experiência física na Mecânica Quântica. Confessa estar em
desacórdo com o princípio da observabilidade, segundo o
qual
os sábios só teriam que tratar, em Física, de observações e de
medidas, destituídas de qualquer conteúdo objetivo. "E para
se tratamos, não de fatos reais,
que acumular experiências vs
osso", por assim dizer, mas sòmente
concretos, "em carne e
22
de dados imaginários?"
inclina-se para idéia de que Fi-
Schrödinger essa correta a
32 3 33
2. Que descobertas serviram de ponto de partida para a
nova via antimetafisica do desenvolvimento das Ciências teó-
ricas, que criou, por volta de 1840, as condigões científicas que
permitiram o nascimento do materialismo dialético?
3. Que descobertas científicas representaram um papel
decisivo na formação das concepções materialistas dialéticas da
CAPITULO II natureza?
desenvolvimento do materialismo dialético, certas bases teóri- vimento, aos problemas que elabora nas diversas etapas da his-
cas e científicas eram igualmente necessárias. tória. O desenvolvimento da produção cria as condições mate
Por volta de 1840, o progresso das Ciências da Natureza riais e as técnicas das descobertas científicas, põe entre as mãos
dos pesquisadores os meios de experiência necessários. Final
já tinha mostrado o caráter limitado mecanicista e metafísico
do materialismo filosófico pré-marxista, fazendo aparecer a dia-
mente, é o desenvolvimento da produção que determina o mé
todo geral prevalecente na Ciência. E preciso também levar
lética materialista objetiva dos fenômenos naturais. Atirmara
em conta a luta de classes e da ideologia dominante.
a necessidade de adotar novas concepções da natureza, de um
caráter materialista dialético. Marx e Engels tomaram em Tendo lançado os fundamentos de uma história cientifica
conta dados da Ciência para elaborar o materialismo dialético. do conhecimento da natureza, os criadores do materialismo dia-
Para fazer do lético e histórico fizeram uma análise extremamente ampla de
uma apreciação justa elo histórico existente cada etapa do desenvolvimento científico, pondo em evidência
entre o desenvolvimento do materialismo dialético e o das Ci-
ências, é preciso considerar as seguintes questões: o seu laço com a história geral.
34
antiosi.!
Como Engcls
os pensadores da
o mostiou, iclade sob todos os as
dos fenômenos a estudá-los cxatamente e
um quadro valido
dos fenômenos c sem
sem verikicar,
souberam apresentar reproduzi-los cxperimentalmente
e
dencias e interaçõcs
dos fenomenos c Objetos naturais; é Dre. livre da natureza c desferiu um golpe mortal na ideologia cle
e objetos naturais isoladamente. sua de uma
sc deve a formação
ciso estudar os tenómenos rical c escolástica. E Galileu que
diversOS aspectos. Os sábios da anti.
a
Sua contribuição à derru-
interdependência e seus
Ciencia cxperimental e sistemática.
(e lhes era, aliás, impossível fazê-lo) a Co da pesquisa natural
guidade não chegaram bada da cscolástica e ao
desenvolvimento
36 37
sibio que a tcndéncid a criar
um quadro de conjunto d esforçavam-sc por
fazer deri
nCssc a na Mecânica macroscópica encontrou sua cxpres. nicistapetmaneciam as m e s m a s : da Mecáníca,
fenômenos naturais de princípios
grande série de fendmon var todos
os
movimento. As orienta-
sãomais acabada. Analisando Newton escrevia
-
partindo da concepção
mecânica do
no quadro
des-
turais que pode
se explicar dessa maneira, em mecanicismo se
desenvolviam
também tações diversas do das mesmas.
mundo se dividia em diversas correntes, geralmente em luta mais complexos, era preciso pri-
físicos, químicos e biológicos mais
umas com as outras. Sabe-se que a orientação newtoniana se mecanicismo dos fenômenos mecânicos
meiro explicar o
afirmou na luta contra o cartesianismo e que essa luta foi, fre-
elementares.
qüentemente, muito viva.' Mas as bases da Filosofia meca Mecânica
indica, no fim dêsse período,
a
Como Engels o
Newton.
nos trabalhos de
4 Quando se fala da luta entre o cartesianismo e a teoria de atingiu um certo grau de perfeição
Excetuada a Optica, as diferentes Ciências
da Natureza estavam
Newton, não se deve concluir que nos séculos XVII e XVIII as prin- se ocupava de um
cipais orientações em luta cram as tendências no interior do materia- ainda no comêço de sua evolução. A Física
métodos da Mecânica se aplicavam
lismo mecanicista, como o fazem certos autores. As principais orien- setor da realidade onde os
tações da Fisica eram, como nas outras épocas, o idealismo e o mna- de maneira mais ou menos satistatória.
terialismo.
39
38
numa fase em que
As Ciências da Natureza achavam-se cia à Filosofia, produziu a estreiteza de espírito especfica dos
us princípios da
Mecânica eram eticazmente aplicáveis, de mo-
do que os sábios imaginavam que
todos os fenômenos naturais últimos séculos, o modo do pensamento metafísico,
por êsses princípios. As leis da Mecâ- A idéia de que a natureza é absolutamente imutável acha-
podiam ser explicados va-se na base da maneira metafísica de abordar os
fenômenos
nica, espcíticas para uma espécie de fenômenos naturais, fo- considerados
leis universais, ao passo que o mo- naturais. Os objetos c fenômenos naturais eram
ram elevadas à categoria de
vimento mecanico era considerado como a torma essencial, ou como existindo por tôda a eternidade, invaríàvelmente, separa
as coisas e
metafísica, seu
mesmo única, do movimento. Foi assim que nasceu a estrei- damente uns dos outros. Para a
Outro aspecto túpico das concepções da natureza, nessa lados, fixos, rígidos, a serem considerados um o
após
outro e
cau-
um sem o outro. quadro das concepções metafísicas, a
No
época, é a sua estreiteza metafísica. Sa e o efeito se opõem de maneira igualmente rígida, o positivo
No fim da Idade Média, o deesnvolvimento da indústria e o negativo se excluem reciprocamente.
havia fornecido uma grande quantidade de materiais, uma mas dos fenômenos naturais e seu estudo fora
A decomposição
a forte diferenciação das pesqui-
sa de novos fatos cientíticos concernentes aos fenömenos mecâ-
da interdependência universal,
nicos, tisicos e quimicos, e punha em primeiro plano a neces-
sas, são expressas em Física pelo
estudo isolado dos fenômenos
sidade de assimilar êsses dados pela análise das propriedades como se pertences
térmicos, elétricos, magnéticos, luminosos,
desses fenômenos, das causas que os engendram e das conse- sem a domínios separados. Esse processo de estudo teve por
qüências que determinam. O desenvolvimento da indústria consequencia uma intrusão da metatísica na Física,
com a hipó-
havia fornecido os meios necessários à sua investigação experi fluidos magné-
tese da existência de imponderáveis (flogística,
mental. O método analítico experimental recebeu, nas Ciên- ticos e elétricos, substância luminosa), e de fôrças correspon-
cias Naturais, uma vasta extensão. dentes, fontes dos fenômenos térmicos, elétricos, magnéticos,
O método analítico experimental era então necessário para luminosos, etc.
criar uma Ciência experimental sistemática; fizera progredir A concepção dos imponderáveis provém da mesma fonte
vigorosamente o conhecimento exato da natureza, o que não mecanicis-
ideológica que a interpretação newtoniana da teoria
deixou de contribuir para libertar a Ciência da influência ecles- ta. Sabe-se que os adeptos de Newton relacionavam a causa
siástica. No decurso do desenvolvimento ulterior das Ciên- do movimento a uma fôrça exterior. Explicavam inteiramente
cias, como na época atual, êsse método teve e conservou ainda as diversas espécies de fenômenos físicos pela ação de fôôrças
uma importância de primeira ordem. Mas a vasta extensão que exteriores sôbre os objetos materiais, separando assim a maté-
adquirira na época, e seu sucesso, fizeram crer que a decompo- ria e o movimento. O fato de que, em seu quadro mecanicista
sição da natureza em suas diversas partes, a investigaço dos do mundo, Newton fazia entrar um misterioso piparote inicial,
diferentes fenômenos e objetos naturais fora de seu contexto provinha dessa separação entre a matéria e o movimento.
ratrural e histórico, era um processo universal e único de pes- lsto nos mostra que a estreiteza mecanicista e metafísica
quisa científica, a base da teoria do conhecimento. "Mas êsse das naturalistas decorria do caráter e do nível de
método nos legou igualmente o hábito de apreender os objetos
concepções
desenvolvimento das Ciências da época. Contudo, os interès
e os processos naturais em seu isolamento, fora da grande cone
ses da classe burguesa também contribuíam para difundir e con-
xão de conjunto, por conseguinte não em seu movimento, mas solidar as concepções metafísicas e mecanicistas. A burguesia
em seu
repouso; como elementos não essencialmente variáveis,
porém tixos; no em sua vida, mas em sua morte. E quando,
graças a Bacon e a Locke, essa maneira de ver passou da Ciên- sF.Engels, Anti-Dühring, Editions Sociales, Paris, 1950, p. 53.
40 41
1dcologicamente a pretensa cter A lei da
servia delas para justificar mente processos não apenas estados: movimento".
e
que explica o ardor com quc
sc
descobertas
nidade da ondem capitalista. Ciencias.
atração universal e as leis do movimento mecânico
intnduzidas as
evidência a unidade dos fenômenos da
foram por Newton puseram em formulou
Isto também nos mostra que, por si mcsmos, o método ana- Mecânica terrestre c celeste. A Mecânica de Newton
Mecânica não podiam servir de base nem as leis de uma das formas do movimento da
gerais
matéria e mos-
litio experimental e a
As concepções metaff- de fenômenos celestes e terrestres
para a Mecânica. trou que na base numerosos
metatísica nem
do movimento mecânico. Tudo
a
pan gerais
mecanicistas da natureza nasceram da circunstância de aue acham-se as mesmas leis
sicas e
bases foram estabelecidas
cujas
método cientíticoe particulares da forma mecânica
as leis isto indica que a Macromecânica,
&sse
de um único domínio da natu- nessa época, exprimia
da dialética objetiva da
certos elementos
isto é,
do movimento da matéria, interdependência, causalidade, etc.) sob
elevadas categoria
à de método único de investigacão natureza (movimento,
reza, foram
a forma específica que
êles revestem num domínío determinado
naturais universais.
cientíticaede leis dos fenômenos naturais.
A ciência dos séculos XVII XVIIl é treqüuentemente con-
e
da Mecânica
siderada como mecanicista e metatisica, SCm que se taça diferença Entre o conteúdo científico e teórico objetivo
metatísicas da natureza então do-
e as concepções mecanicistas e
conteúdo cientítico e teórico objetivo e as concepções Mas era im-
entre seu
sábios. Se bem minantes, existia uma contradição interna latente.
filosóficas que ent o gozavanm de favor
entre os bases de uma
possível, na época, pô-la em evidência e lançar as
desenvolvimento da Ciència eseu nível nos sé-
que o caráter do Filosofia dialética e materialista.
culos XVII e XVIII houvessem contribuído para fazer nascer as Primeiramente, ignoravam-se ainda interdependências exis-as
teórico objetivo era dialético e materialista. São sempre as leis mesmo entre domínios distintos da natureza inorgânica, como os
dialética materialista objetiva dos fenômenos naturais. E fá fixos, rígidos, dados uma vez por tôdas.
da
il dar-se conta, por exemplo, do progresso da
Mecânica que, nes-
desenvolvimento das Ci- Segundo, se nas obras de Newton a Mecânica conheceu certa
sa época, ocupava o lugar principal
no
embrio-
perfeição, os outros ramos ainda permaneciam em estado
ências Naturais. nário. As leis dos fenômenos térmicos, eletromagnéticos e quí-
movimento
O sistema heliocéntrico de Copérnico e as leis do micos continuavam desconhecidas, sem falar das da natureza or-
dos planétas descobertas por Kepler tornaram inteligíveis a in- gânica. As leis gerais do movimento mecânico não são senão leis
fenômenos rela-
Terdependência e o encadeamento de numerosos
específicasde um dos domínios da natureza, como também não
tvos ao movimento dos corpos celestes pertencentes ao sistema podiam fazer aparecer a dialética materialista objetiva sob seu
42 43
Possufa-se uma base sôbre a qual era possível cle- Enquanto seu materialismo permanecia nos limítes da metafísica
aspecto geral.
var as leis da Mecânica à categoria de leis universais, de estende. c do mecanicismo, os sábios eram incapazes de explicar inteira-
tentar construir um quadro
las além de sua estera de ação para mente o mundo, partindo déle mesmo. As leis que regem os
de conjunto do mundo söbre os princípios da Mecânica. fenômenos eram relações naturais, mas para ex-
extraídas de suasfenômenos
Nos sérulos XVII e XVIII, quando a Mecânica dos corpos plicar as causas geradoras desses e de sua interdepen-
dência recorria-se a fôrças estranhas à natureza, abria-se um lugar
celestes e terrestres ocupava o primeiro lugar entre as Ciências da
as leis do movimento dos planêtas
Natureza, enquanto os outros ramos do saber ainda se achavam para a teologia. Explicando
nos cueiros, scgundo a expressão de Engels, a universalização das partindo atração universal, admitía-se um piparote inicial pelo
da
concepgões mecânicas, a tentativa de tazer derivar todos os fenô- qual Deus houvera por bem pö-los em movimento.
A Ciência, cuja renovação após a noite da Idade Média fôra
menos naturais de princípios mecänicos eram inevitáveis. Nas
condições do desenvolvimento da Ciencia nessa época, a inter marcada pelo assalto feito à escolástica, voltava a mergulhar, por
pretação metafísica dos fenômenos naturais era igualmente inc metafísica e do mecanicismo, no pântano da teologia.
culpa da
vitável, pois a tarefa principal das Ciências Naturais consistia em Engels escrevia a êsse propósito: "Copérnico abre êsse período
sistematizar os materiais adquiridos. No século XIX, época em dirigindo à teologia uma carta de rompimento; NewtonDeus".3
termi-
que certos ramos da Física tais como o calor, a eletricidade, o na-a com o postulado do choque inicial produzido por
magnetismo, adquiriram um desenvolvimento intenso e em que A metafísica e a Filosofia mecanicista tornam-se aliadas do idea
sua interdependência foi posta em evidência, algumas leis fun- lismo e conduzem inevitàvelmente os sábios à teologia. Assus-
damentais da Química, da Geologia e da Biologia foram desco tada pelo arrôjo do movimento revolucionário da classe operária,
bertas; fatos novos, estabelecidos pela Ciência, vieram contradi- materialismo
a burguesia passa do papel de partidária incerta do
zer os prejulgamentos velhos, mas for temente seguros dos sábios, ao de sua adversária declarada. Em razão de seus interêsses de
e a Ciência ultrapassou o domínio em que os métodos da Mecâ- classe, ela se aplica em implantar cada vez mais a metatísica e
a
nica e as categorias imutáveis da metafísica eram suficientes. Flosotia mecanicista, bem como o idealismo, na Ciência.
A contradição entre o conteúdo cientifico e teórico objetivo Igualmente, por volta de 1840, tornou-se necessária uma
das descobertas e as concepções metafísicas e mecanicistas domi- revisão radical dos princípios metodológicos e teóricos das Ciên-
nantes se transtormaram em contlito aberto. O desenvolvimen- cias da Natureza.
to das Ciências havia criado as condições que permitiam superar
inteiramente a estreiteza metatísica e mecanicista das concepções
da natureza.
O fato de que o conflito entre o conteúdo
teórico
da Ciênciae as concepções mecanicistas e metafísicas que se ta-
objetivo
Desde o comêço, o mecanicismo e a metatísica deixam um zia da natureza só explodiu por volta de 1840 não significa abso
lutamente que, antes dessa época, não havia luta alguma entre a
lugar à teologia. A inconseqüência dos sábios tinha por causa,
obstáculos levantados pela metafísica dialética e a metafísica.
como o mostrou Engels, os
44 45
nzão das condigöcs sociais e históricas de que falamos e do nível
Em Geologia, a Filosofia metafisica do período de Lomo
atingido pela Ciência. Reencontramos nas idéias dos pensadores
nossov negava töda evolução na história da Terra: a estrutura
da antiguidade söbre a natureza clementos muito claros de dialé-
da Terta e de sua superfície era encarada como imutável. Lo-
tica cspontânea. As concepçõcs da natureza recebidas nos séculos
monossov se opôs a essa concepção metafísica e apresentou sua
XVII e XVIII também comportavam mais ou menos elementos
de dialética. O progresso das Ciências da Natureza sempre foi
idéia do desenvolvimento das camadas terrestres, demonstrando
inseparável da luta entre o materialismo e o idealismo, entre a que o estado geológico da Terta havía tido sua história. Obser
vou que era um engano pensar que as mon tanhas, as planícies, os
dialética e a metatísica. Mas, segundo o período histórico, é tal
ou qual aspecto dessa luta que sobressai em primeiro plano. No rios e os diversos minerais deviam sua gênese ao criador. Lo-
século XVII e, em parte, no século XVIIl, o materialismo meca- monossov opunha a essas concepções religiosas, idealistas e meta-
nicista e metatisico se desenvolveu numa luta contra o idealis fisicas a concepção histórica da formação da Terra, de seu estado
mo e a teologia e representou na Ciencia um papel progressista, geográfico e geológico. Não se deve esquecer", escrevia
embora suas deficiências tenham sempre deixado acesso ao idea- êle, "que os corpos materiais que vemos sôbre a Terra, e o pró-
lismo e à teologia. Nessa época, a luta entre a dialética e a prio mundo, não existiam desde o comêço no estado em que se
me acham atualmente, mas sofreram grandes modificações, como o
tafísica ainda não podia estar no primeiro plano.
testemunham a história e a geogratia antigas, confrontadas com
Mas, desde a metade do século XVIII, desenhou-se uma
as dos nossos dias, bem como as transformações que sofre atual-
linha antimetafísica
no
desenvolvimento da Ciência
teórica; mais
tarde, essa orientação acabou por solapar as bases das concepções
mente a supertície da terra".
metatísicas e mecanicistas da natureza e criou as condições neces Lomonossov propôs novos princípios científicos antimeta-
físicos para a solução de alguns outros problemas. Mas a orien-
sárias à aparição da forma superior do materialismo, o materia-
lismo dialético. tação antimetafisica que imprimiu ao desenvolvimento da Ci-
ência teórica se exprime melhor em sua lei universal da conser
Sabe-se que as concepções metafísicas da natureza conduzi-
vação da matéria e do movimento. Na demonstração que deu
ram, na Fisica do século XVIII, ao exame dos fenômenos tér
dessa lei, escreve Lomonossov: ".. todas as mudanças que ocor-
.
46 47
Examinenmos agora como se desenvolveram as novas idéias
antinmetafisicas nos diterentes ramos da ciencia, na segunda meta-
culo XVIII, não podiam ser explicados no quadro da concepção
desco-
dos imponderáveis. No comêço do século XIX, com a
de do século XVIIl e no comêço do XIX... berta do eletromagnetismo (Oersted), a situaço nesse doomínio
Marx e Engels consideravam a lei da conservação e da trans- mudou consideràvelmente.
Como se havia estabelecido exata-
formação dki energia como uma das grandes descobertas da Ci mente que a corrente elétrica condicionava o magnetismo, não se
encia que puseram em primeiro plano, depois de 1840, a dialé. podia mais considerar as förças magnéticas como uma qualidade
tica objetiva da natureza e contribuíram vigorosamente para es. primeira de um fluido imponderável, ou, pelo menos, não se po
tabelecer a concepção materialista dialética do mundo sóbre bases dia admitir a existência de dois imponderáveis (elétrico e magné-
te
científicas. A demonstração experimental direta dessa lei se fêz tico) possuindo qualidades distintas. No que concerne aos
da seguinte maneira. nômenos eletroquímicos e termoquimicos, toram feitas igualmen-
te descobertas importantes que
abalaram as bases das concepções
A Fisica, na primeira metade do século
XIX, tez progresssos
fenômenos
estudo dos fenômenos metatísicas sábios para conceber
prepararam os os
decisivos no
térmicos, elétricos e magnéti. e
cos, que, apenas encetado no período precedente, recebia então da natureza em sua conexão universal.
uma sólida base teórica e científica. O desenvolvimento das má- Essas descobertas contribuíram para a desagregação da con-
quinas a vapor e o emprëgo, em grande escala, do vapor na in- cepção metatísica dos imponderáveis.
dústria e nos transportes, bem como a utilização técnica dos fe- As pesquisas ulteriores no domínio do eletromagnetismo (Fa-
caloríficos da corrente elé-
nômenos elétricos e magnéticos tornada possível após a
desco raday), o estudo extenso dos efeitos
berta do eletromagnetismo, provocaram um imenso interêsse trica unido aos resultados obtidos no estudo do
calor em geral,
por transmutabilidade de tôdas as
èsses domínios da Física e criaram as condições materiais conduziram à idéia da unidade, da
que per da são transmu-
mitiam realizar progressos ainda maiores. O fôrças da natureza. Se tôdas as fôrças natureza
progresso técni- inevitàvelmente concluir é impossível
cu e as
pesquisas cientíticas, que suscitou no domínio do calor e táveis, é-se levado a que
do eletromagnetismo, provocaram o conhecimento de fatos considerá-las como qualidades primárias de substâncias particu-
que No-
obrigaram os sábios a abandonar gradualmente a idéia dos im- lares. A concepção física dos imponderáveis desmoronou.
vas descobertas prepararam diretamente a aparição da teoria da
ponderáveis.
energia e demonstraram definitivamente a lei da conservaço e
As numerosas e minuciosas experiencias então
empreendi- da transformação da energia. Isto, em particular, graças aos es-
das deram provas irrefutáveis da conversão
qualitativa do calor forços de Joule, Mayer, Helmholtz, Lenz e Hess: "Dêsse mo-
em trabalho mecânico e vice versa, demonstrou a conservação
quantitativa e a relação constante que define essa conversão (Jou do, as fôrças particulares da Física", escreve Engels, "que eram,
por assim dizer, as "espécies imutáveis', se resolviam em formas
le, Carnot.) "O estabelecimento do equivalente mecânico do do movimento diversamente diferenciadas e passando de uma
calor tornou incontestável êsse resultado", 1i escreveu Engels.
a outra segundo leis definidas. O que havia de contingente na
Demonstrou-se, assim, que não se podia considerar os fenôme presença de tal ou qual quantidade de fôrças fisicas era elimina-
nos térmicos como propriedades de um fluido imponderável, o
flogístico. Não se podia explicá-los senão por leis do movimen-
do da Ciência porquanto se havia mostrado suas ligações recípro-
to
específico das moléculas.
cas e as transições de uma a outra. A Fisica, como precedente
mente a Astronomia, chegara a um resultado que indicava neces
Os fenómenos eletroquímicos, termoelétricos, luminosos, sàriamente como conclusão última da Ciência o ciclo eterno da
provocados pela corrente elétrica, conhecidos desde o fim do se- matéria em movimento".
12
48 49
ani-
Assim, após 1840, a Física, por sua marcha para a frente, Terra teria sido completamente
tudo quanto vivia sôbre
a
mo inteiramente diferentes.
rompeu o quadro da Mecânica, saiu do domínio da realidade on outras faunas
para dar lugar a
quilado da Terra e os organis-
de os sábios podiam-se servir da metatisica, chegava ao ponto em catástrofe a outra, a supertície Essas
De uma inalterados.
teriam permanecido
que se tornava possível a generalização dialética e materialista mos vivos que
a povoam
nenhuma causa natural.
dos resultados que havia obtido. As novas descobertas demons- catástrofes não teriam
demonstrou que a
traram o caráter completamente errôneo das antigas concepções século XIX, Lyell
Na década de 30 do sua transformação
metafísicas e mecanicistas da natureza e puseram em evidência tais catástrofese que
Terra jamais conhecera
o caráter dialético, inerente aos fenômenos que aí se produzem. acidentais, mas da ação progressiva
não provinha de catástrofes mostrou Engels, com tôdas as suas
Em Astronomia, a segunda metade do século XVIII viu o de fatôres naturais. Como o
de Lyell consistia em que,
nascimento da Cosmogonia de Kant e de Laplace. Kant emitiu deficiências, a importância da teoria devidas
substituiu a idéia das revoluções súbitas
uma idéia, que era progressista para a sua época, segundo a qual primeiramente,
efeitos graduais de uma lenta
a Terra e todo o sistema solar proviriam de maneira natural de aos caprichos
do criador pela dos
a teoria da transformação
massas turbilhonantes de transformação da Terra e, segundo,
nebulosas gasosas e incandescentes. Es terrestre e das condições
de vida que
sa éia destruiu a teoria metafísica de Newton sôbre o choque permanente da supertície dos
à da transformação gradual
inicial dado por Deus. A contribuição da teoria de Kant con nela reinam conduzia diretamente
mutável.
sistia também em que, como disse Engels, se a Terra era o re- organismos de sua adaptaço ao meio
e
sultado de um devenir, seu estado geológico, geográfico e climá Assim, derrota definitiva da concepção dos imponderáveis,
a
e da transformação
tico atual, suas plantas e animais eram também, necessàriamente, na Ciência, da lei da conservação
13 a aparição, da teoria da evolução em
o resultado de um devenir. da energia, bem como a elaboração
refutaram as representações metatísicas
da natureza
Tendo Kant fixado como sua tinalidade explicar a tormna- Geologia,
criaram nesse domínio as condições necessárias ao
ção e a origem do Universo baseando-se na Mecânica de Newton, inorgânica e
Já dissemos que no século XVIII os sábios adotavam a por êle nas diversas Ciências dependiam estritamente de suas
Concepçao metatí ca da fixidez do estado geológico e geográfico concepções atomistas.
da Terra, dos animais e das plantas. Quando se tornou impos-
sível sustentar essa idéia, Cuvier elaborou outra teoria metafí-
No inicio do século XIX, foram feitas descobertas em
mica que deram uma base sólida à teoria atômica e molecular e
Quí
sica segundo a qual a evolução da Terra se teria feito por uma que lhe permitiram progredir.
série de cataclismos. Segundo Cuvier, depois de cada cataclis- Dalton estabeleceu experimentalmente que os elementos quí-
micos se combinam seguindo proporções simplesmente múltiplas.
18 Cf. F. Engels, Dialectique de la nature, p. 34. A lei das proporções múltiplas não pode ser explicada correta
50 51
senão à luz da teoria atömica e molecular: quando duas ma-
de uma dessae A idéia da evolução da viva foi desenvolvida nos
rias gulmicas se unem, é sempre um atomo maté.
natureza
animais e vegetais. Mesmo os sábios mais avançados, cujos nomes estão liga-
Em conseqüência dessas mudanças, nos anos 40 do século dos às maiores descobertas dêsse tempo, não estavam em con-
ob-
XIX, a Ciência libertou as leis específicas dos diferentes domí dições de compreender corretamente e até o fim conteúdo
o
tinham não
nios da natureza e a existência de laços entre elas. De empírica jetivo, teórico e científico dos resultados que obtido,
tornou-se teórica. Criou as condições necessárias ao abandono podiam superar completamente a estreiteza metafísica e mecani
completo da estreiteza metafísica e mecanicista dos séculos XVII Interpretavam, muito freqüen-
cista das concepções dominantes.
e XVIII, à formulação das leis mais gerais de desenvolvimento
da natureza, à ctiaço da concepção dialética e materialista da
natureza. Engels escrevia que "a Ciência da Natureza empírica 14 F. Engels, Dialectique de la nature, p. 196.
54 55
espírito metatisico e idcalista as descobertne
temente, com
na e no idealisnia
metalfsica
quc, lula como uma divisão puramente mecânica,
como um processo
um golpe
objetivamente, desferiam Segundo essas concepções, considera-
puramente quantitativo. A teoria
Em Fisica, a lei da conservação e da transtormação da ener. va-se o organismo como
uma simples adição de células.
gia recebeu uma interpretação mecanicista. Helmohltz, quc ro. das células era falseada no espírito metafísico, religioso
e místico
56 57
sibilidade de chegar à clareza senão o retQrno, sob uma ou outra
forma, do pensamento metatísico ao pensamento dialético", 1« mente, nessas problemas da Ciência da Natureza. Ora,
obras, os
ao fundarem o
materialismo científico, Marx e Engels se apoia
Assim, Marx e Engels mostraram, por um lado, que o con no progresso da Ciência.
Já nessa época,
ram, desde o comëço,
teúdo objetivo Ciència, século XIX, havia do mundo,
da em
meados do quando propusei am pela primeira
vez sua conccpção
da con-
atingido tal nível que se tornara possível ultrapassar os limites éles que "na natureza se impõem, através
era claro para
mecanicistas e metatísicos do século XVIII, e, por outro lado, fusão de moditicações sem número, as mesmas leis dialéticas do
que nessa época os próprios sábios não se haviam ainda libertado movimento que, tarnbém na história, regem a aparente contin-
da concepção e mecanicista da
metafísica natureza. Engels
crevia que se, durante numerosos anos, os sábios faziam experi.
es gencia dos aconiecimentos".
13
estudaram
Foi um pouco mais tarde que
Marx e Engels
encias e observações que, à revelia dos próprios experimentado da Ciência. A obra prin-
res, mostravam claramente o caráter dialético dos fenômenos da especialmente os problemas teóricos
cipal de Marx, O Capital, contém um grande número de obser-
natureza, era preciso "que se consolassem com o Senhor Jour. Esses problemas ocupam
vações sôbre as questões da Ciência.
dain, de Molière, que também fizera prosa a vida inteira sem correspondência de Marx e Engels no de-
um grande lugar na
17
ter a mínima idéia disso".
curso dos de 1850-1860 e sobretudo nas obras de Engels,
anos
Após haver revelado êsse conflito, Marx c Engels mostra- seu livro,
Anti-Dihring e Ludwig Feuerbach. Foi ao escrever
Fam que o desenvolvimento da Ciência impunha a criação de estudou a fundo os problemas
Dialética da Natureza, que Engels
uma concepção materialista e dialética do mundo. da Ciência da Natureza. Nessas obras, Marx e Engels não de
0 movimento revolucionário da classe trabalhadora impós ram apenas bases do materialismo dialético no domínio social
as
ainda mais essa necessidade, pois estabelecia em têrmos econômico, mas também no domínio das Ciências da Natureza,
premen- e
utilizando tôdas as novas descobertas.
tes o problema da descoberta de leis objetivas do desenvolvi
As descobertas que marcaram o curso da Ciência na segunda
mento da sociedade. Ao mesmo tempo, a prática social e his-
metade do século XIX revelaram ainda mais a dialética objetiva
| tórica reuniu nessa época os elementos necessários à descoberta
dessas leis. Marx e Engels, baseando-se na Ciência e na prá-| da natureza. O progresso da Ciência trazia, cada dia, elementos
para demonstrar e desenvolver o
ma-
tica, criaram o materialismo dialético, Ciência das leis mais ge- sempre mais numerosos
dos por Deus c quc depois não haviam mudado mais. Na base
do movimento rcvo-
da análise e da generalização de um imenso material científico, Por outro lado, em face do crescimento
lucionário da classe operária, e, em particular, após a Comuna
apoiando-sc nos trabalhos de scus predecessores e, em particu recrudescência do ataque reacionário
lar, de Lamarck, Darwin estabeleceu a variabilidade das espécies de Paris, assistiu-se a uma
60 61
A cxplicação da origem e da evolução dos diferentes Orga das con-
Desenvolvendo a da dependência dos organismos
tesc
nismos na naturcza, dada pela teoria darwinista, reforçou, no de existência, Marx e Engels
diçöes cxteriores, das condições dos organismos ao meio
plano histórico c cicntítico, o materialismo dialético. Mas Dar- assinalaram a faculdade de adaptação
win, na avaliação de sua teoria, na sua interpretação, não esca. caracteres adquiridos. Salien-
mutável e a hereditariedade dos influên-
pou às faltas de caráter metatísico. Declarou cle, notadamen- hereditárias sob a
taram que a mudança das qualidades
te, que não se produzia
nenhum salto na natureza. Essa afir- fato inelutável. Essas conclusões de Marx
cia do meio era um
mação errònca foi utilizada pelos ideólogos da burguesia, assus-
e Engels foram
confirmadas e desenvolvidas pela teoria biológica
tados pelas conclusões revolucionárias da dialética materialista
de Mitchurinc.
para difundir e consolidar a concepção do evolucionismo vulgar,
Marx e decorrer de seu trabalho de elaboração
Engels, no
ca gradação mecanicista, que serviam de fhundamento teóico ao
os conhecimen-
reformisnmo burgues Marx e Engels mostraram que a teoria do materialismo dialético, não só generalizaram
analisando-os de maneira crítica,
de Darwin não só pusera em evidència a evolução na natureza, tos científicos de sua época,
também seu desenvolvimento ulterior. Adian-
como também a transtormação por saltos, e que ela confirmava como prepararam
grandemente à Ciencia de sua época no que
concerne
cientificamente o materialismo dialético. taram-se
62 63
Engels pensava que, na sica, ia-se descobriro atomismo maioria dos
com as idias adotadas pela
da eletricidade. Escreveu que "uma descoberta como de seu conteúdo objetivo, do século XIX
Dal. a
sábios. Numerosos sábios ocidentais,
no fim
ton, quc
para töda a Ciência e uma bas
fornece um centro
até nos nossos dias, não
só
ser teita no domíni comëço do século XX, c mesmo
sólida para a pesquisa, resta ainda a da
c no
a metatísica e o materialismo mecanicista no
bertaria dos entraves da mctatisica e do mecanicismo. Ela só dioatividade. A Fisica estabeleceu que os átomos complexos
no decurso
o faria após as descobertas do fim do século XIX e do comêço de elementos químicos tais como o urânio e o rádio,
da emissão de raios radioativos, se desagregam espontäneamen-
do século XX. Contudo, já na década de 40 do século XIX, mais simples de outros elemen
Marx e Engels mostraram quc o desenvolvimento objetivo da te, transtormam-se em átomos
de energia, Até
tos libertando uma quantidade considerável
Ciência revelava a dlialética dos objetos e dos fenômenos da natu de exemplo de trans-
reza. Pode-se objetar que, apesar da descoberta da dialética
então a Física e a Qufmica não dispunham
átomo
mutação de um átomo de um clemento químico em um
objetiva da natureza por Marx e Engels, a maioria dos síbios de outro elemento, embom Engels, em sua época, baseando-se
continuava prisioncira da metafísica e do mecanicismo. Mas
no materialismo dialético, houvesse previsto êsse fenômeno.
é preciso dizer que n+o se deve confundir o nlvel da Ciência, Pensava-se que o átomo era um elemento imutável da natureza.
As novas descobertas revelaram a profunda ligação interna c
a
dispunham de uma mas- em Filosofia e em Política, que partiam para o ataque do ma-
sa. A massa não é uma
grandeza fixada definitivamente para terialismo dialético, do socialismo científico.
diferentes objetos, mas varia em
função do movimento. Essas Contudo, a maioria dos sábios se mantinha em posições
ma-
movimento, mostraram que a partícula elétrica cons- nível do materialismo filosófico. Eles acreditavam instintiva
tituía um
particular da matéria.
aspecto mente na realidade objetiva do mundo exterior, retletido por
Nos fenômenos físicos e nossa consciência. Lênin qualiticava essa crença, difundida en
químico que se conheciam an-
teriormente, o átomo se comportava como uma particula una tre maioria dos sábios, de "materialismo das Ciências da Na-
a
e indivisível.
tureza" e mostrou que essa é uma base que se torna "cada vez
As novas descobertas mostraram que o átomo
maior e mais poderosa, contra a qual se espatifam os vãos es
possui uma estrutura interna complexa. Estabeleceu-se que na
composição do átomo entram os eléctrons e as partículas elétri- forços de mil e uma escolas do idealismo filosótico, do positi-
vismo, do realismo, do empiriocriticismo e de qualquer outro
cas de carga positiva. Foi assim que se demonstrou como era confusionismo". 25
talsa a concepção metafísica que afirmava que o átomo era in- Mach, Poincaré e outros, qualificando a nova revolução na
divisível, e contra a qual Engels, em sua época, se levantara. Fisica de "destruição completa dos princípios" da Física do sé
Eliminou-se da Ciência a oposição metafísica da matéria ordi
nária e dos fenômenos eletromagnéticos. culo XIX, de rufna de tôdas as suas bases, atacaram a "tendên-
cia a exagerar o valor e a significação da Ciência, o materialis-
Obtiveram-se igualmente resultados extremamente impor- mo das Ciências da maior
parte dos sábios. Afirmaram a no- que
tantes no que concerne à irradiação eletromagnética. Provou-se va revolução em Fisica provava que esta, como qualquer Ciência,
que a irradiação possuía simultâneamente propriedades ondula nao
valor objetivo
possuíaFisica para o conhecimento. Na medida
tórias e corpusculares. Mais tarde, mostrou-se que as partículas em antiga
considerava
que a suas teorias como um retle
xo da realidade objetiva e em que
da matéria, além de suas características corpusculares, revela- a maioria dos fisicOs estava
vam igualmente propriedades ondulatórias. Essas descobertas convencida de que isso era correto, mesmo nas novas condições,
estabeleceram de maneira nova a questão da continuidade e da
descontinuidade e de suas relações reciprocas. 25 V. Lenin, CEuvres, t. 14, p. 365.
66
61
Mach e scus partidários puseram-se afirmar que "as Ciências
o beijo do cristão Judas foi para Cristo. Juntando-se, no fundo,
da Naturcza estavam absolutamente impregnadas de metafisica" 23
ao idealismo filosófico, Mach entrega a ciência ao fideísmo",
c tratavamo materialismo das Ciências de "metafísica da rua".
A maioria dos físicos, que estava convencida de que leis como Os discípulos contemporâncos de Mach em Física e em
a da conservação da energia, da conservaçaão da massa, refletiam Filosofia acham igualmente que tóda a Física do século XIX era
a realidade objetiva, cram acusados de ter preconceitos metaf- mecanicista e que sua tendéncia materialista era metafísica. Ne
unc a Física nova à
sicos, de se deixarem encerrar nos limites do mecanicismo. gam completamente o elo de filiação que
criada
século XIX, pretendendo quc a Física moderna só foi
Caracterizando a situação críada em conseqüéncia das no do
afastando a herança materialista da Física do século XIX, e ca-
vas descobertas em Física, Abel Rey, que Lênin definira corre-
racterizam a interpretação idealista da teoria da relatividade
e
68 69
coservação da energia só é válida na escala estatística, mas pode Fisica, refletem tendência geral dos sábios burgueses contem
a
mais escala individual. herança
porâneos, discípulos de Mach, que é a de rejeitar
na
não o ser a
Física do século
ria" e estabeleceram que a lei da conservação e da transformação cepção subjetiva e idealista como Filosofia da sù-
da energia mantém todo o seu valor. XX. E com essa finalidade que declaram que a Física do
culo XIX e tôdas as suas descobertas não são mais que uma
Em 1930, para explicar a irradiação , alguns sábios oci tõdas
Ciencia mecanicista e metafísica e que tentam denegrir
dentais lançaram um nôvo ataque contra a lei da conservação as idéias materialistas na Física moderna.
da energa. Mas se cvidenciou que a pretensa contradição en
re essa lei e certas particularidades da irradiação podia fàcil- há dúvida de que a interpretação do conteúdo da Fi-
Nãoséculo
sica do XIX continha muitos exageros metafísicos e es
mente ser superada.
treiteza mecanicista. Em suas obras, Marx, Engels e Lénin
Em fins de 1934, a luta em tôrno da lei da conservação os trouxeram à luz e os criticaram. Mas, tempo, os
ao mesmo
e da transformação da energia, provocada pelo problema sus- fundadores do comunismo científico mostraram que
a Ciência
itado pela irradiação , rão havia tido sequer o tempo de em geral e a Fisica em particular haviam atingido,
desde os mea-
terminar quando recrudesceu de nôvo em conseqü¿ncia das cx- nível possível de-
dos do século XIX, um tal que se tornara
do século XVIII. O
periências inezatas de Shankdand. Este publicou o resultado sembaraçar-se da estreiteza mecanicista
de suas experiéncias em que "mostrava" que quando os raios conteúdo objetivo da Ciência foi um dos elementos que per-
se difundem no ar, no alumínio c na parafina, não há identida- do materialismo dialético. A aparição das
mitiram a formação
de entre os eléctrons ezpulsos e os quanta irradiados. A repe novas teorias fisicas do século XX foi igualmente preparada
tição dessas ezperiências provou o caráter totalmente erróneo das por todo o desenvolvimento da Física do século XIX.
conclusões de Shankland. Demonstrou-se que seus resultados Não seria correto pensar que as concepções dos sábios do
bastante
Se ezplicavam porque éle não havia utilizado raios século XX teorias científicas modernas estão isentas de e s
e as
70
71
transfor-
destrutibilidade da natureza, a perpetuidade de sua
procura-
mação, de scu movimento, de seu desenvolvimento;
vam fazer derivar os fenômenos da natureza, perceptíveis pelos
do ele
sentidos, bem como os processos que nela se desenrolam,
sido ini-
mento mnaterial primeiro (a protomatéria, que havia
cialmente concebida como um dos aspectos da substância).
e do movimento, os pensado
CAPITULo II
Com suas concepções da matéria
res da antiguidade compreendiam, no conjunto, de maneira cor
uma repre-
ainda era
reta fenômenos da natureza, mas essa
os
A MATÊRIA E O MOVIMENTO À LUZ DAS sentação ingênua do mundo,
baseada na contemplação da natu-
nenhum fundamento científico.
DESCOBERTAS DA CI£NCIA reza c que não tinha
Filosofia ma-
No decorrer dos séculos XVII e XVIII,
a
73
72
a diversidade das
mento, unidade da matéria e do movimento,
a Segundo Newton, a massa de um corpo é uma grandeza
formas da matéria e dos movimentos,
os laços dialéticos dessas constante que não depende da velocidade do movimento e que
diversas formas c as possibilidades de passagem de uma à ou A estreiteza da concepção de
não ésede de atividade alguma.
Newton reside justamente nessa separação da matéria e do
daí resultam; estabeleceram a unidade do mundo mate. mo-
tra, que
do movimento de
rial. A teoria materialista dialética da matéria e
vimento. Isto se explica pelas condições históricas e o grau
nos trabalhos de pela dos
foi desenvolvida e elevada a um nível superior desenvolvimento da Ciência naquela época, e natureza
tífica do materialismo dialético: 1) a indivisibilidade da ma- das independentemente umas das outras.
movimento r e c e
téria e do movimento; 2) a diversidade qualitativa das formas Em Newton, a separação da matéria e do
sôbre a história
da matéria e de scu movimento;) a unidade dos diferentes beu seu coroamento lógico em suas concepções
à lei da gravi-
aspectos da matéria e de seu movimento, a unidade do mundo da evolução do sistema solar no tempo. Graças
concretamente o m 0
material. tação universal, Newton conseguiu explicar Sol e representar
vimento dos planêtas no espaço em tôrno do
estado atual de movimento como o resultado da ação
seu
1. Indivisibilidade da Matéria e do Movimento
o sem
da fôrça de atração do Sol. Mas uma questão permaneceu
em movimento? Como,
resposta: como os planëtas se puseram
A Mecânica clássica, com as Matemáticas, foi a primeira matéria não tem, em si mesma, a tonte de
segundo Newton, a
massa determinada e seu movimento mecänico é provocado pela cia de um "piparote inicial". Isto significava admitir a cria-
ação de tôrças exteriores, pela de outros corpos materiais. A ção divina do mundo.
Mecânica clássica se limita ao estudo das leis do deslocamento Como já dissemos, a idéia metafísica da separação da ma-
dos corpos no espaço, nas quais um só elemento dêsses corpos, téria e do movimento estava de tal modo enraizada na Ciência
a massa, representa um papel quase exclusivo; ela só
estuda os que foi transposta, no século XVIII, para os novos ramos da
movimentos que não acarretam moditicações da massa dos cor- Ciencia, os dos fenômenos térmicos, eletromagnéticos e químicos.
pos e provocados pela ação de outros corpos
de fôôrças exteriores. O desenvolvimento da Física abalou pouco a pouco as ba-
das concepções metafísicas e mecanicistas que separavam a
Sobre essa base, Newton formulou as seguintes noções: a ses
matéria do movimento; fornecia todos os dias provas novas de
massa é uma quantidade da matéria; a fôrça é a fonte exterior
do movimento, e o movimento é o deslocamento mecânico da
seu caráer limitado, errôneo, da indivisibilidade da matéria e
massa no espaço. Newton partia de uma concepção materialis do movimento, de sua unidade orgänica. As descobertas que
ta, considerande a natureza como um conjunto de corpos mate tiveram maior importância nesse domínio foram: primeiro a da
riais, e o movimento mecânico como seu deslocamento no espa- conservação e da transformação da energia, que foi uma das
Mas ele identificavaa matéria à massa, que não é senão condições cientificas da fundação do materialismo dialético; se-
gundo, o estudo dos fenômenos eletromagnéticos; terceiro, a ela-
uma de suas características físicas, e o
movimento ao desloca-
mento mecânico, que não é seno uma das formas especíticas boração da teoria da relatividade e, enfim, a constituição da
do movimento. Fisica do núcleo atômico e das partículas elementares.
74 7
A lei da conservação c da transformação da energia possui
dois aspectos: um aspecto quantitativo e outto qualitativo. De conteúdo qualitativo do processo e onde
lembrança do criador sobrenatural".
se extingue a última
uma parte, cla atirma que a energia não se destrói nem se cria,
que sua quantidade total permanece invariável em todos os fe A capacidade das formas do movimento de se transforma-
nomenos naturais; de outra parte, ela confirma a capacidade das rem umas nas outras, a impossibilidade de destruir ou de criar
diterentes formas de energia (mecânica, térmica, eletromagné. movimento, descobertas por Engels na lei da conservação e da
tica, etc. ) de se transtormarcm umas nas outras em relações de transformação da energia, representaram um papel muito im-
terminadas, isto é, que a energia como tal não pode ser destruí portante na demonstração da indivisibilidade da matéria e do
da nem criada. movimento, enquanto conteúdo e forma. Além do abandono
da idéia do "piparote inicial", a indestrutibilidade do movimen-
O movimento, no sentido amplo da palavta, uma cate
to, que decorre da lei da conservação e da transformação da
goria filosófica que significa a transformação em geral. A ener- energia, deu igualmente a Engels a possibilidade de demonstrar
gia é uma concepção científica que não é idêntica ao movimento, o caráter errôneo da "teoria da morte térmica do Universo",
mas que se lhe assemelha quando se trata da natureza
inorgâ- que também separava a matéria do movimento, e afirmava que,
nica ou de seus fenômenos relativos aos atos elementares. A com o tempo, o Universo perderia sua atividade interna, se con-
energia é a característica científica mais importante do movi- densaria e se transformaria num amontoado de matéria morta.
mento, de seu aspecto quantitativo e qualitativo. A grandeza Se o "piparote inicial" de Newton supunha que o mundo ma-
da energia constitui a característica quantitativa do movimento, terial, condensado no tempo, havia sido pôsto, em certo momen-
e as diterentes formas da energia representam o aspecto qualita to do passado, em movimento por um choque exterior, a teoria
tivo das tormas correspondentes do movimento. da "morte térmica" afirmava que o mundo atual se condensa
ria e perderia seu movimento no tuturo.
Eis por gue, em sua formulação geral, a lei da conservação
e da transtormaço da energia é a da conservação e da trans A teoria da "morte térmica" apareceu em conseqüência da
tormação do movimento. Ela prova cientiticamente que o mo- falsa interpretação do segundo princípio da Termodinâmica.
vimento não pode ser criado nem destruído, que suas diferentes
formas podem transformar-se uma na outra qualitativamente.
Segundo êsse princípio, o calor não pode transformar-se in-
teiramente em trabalho mecânico. Por exemplo, se tomamos
Se o movimento não pode ser destruído nem criado, se não im- a máquina a vapor, é impossível, mesmo com todos os aperfei-
porta que movimento, na natureza, não pode ocorrer senão em çoamentos técnicos, obter um rendimento de 100%: uma parte
conseqüencia de uma quantidade correspondente de outra for. da energia térmica desprendida pela caldeira deve ser utilizada
ma de movimento, não resta mais lugar, na Ciência, para um "pi- condensador e, por não
para aquecer o conseguinte, a energia
parote inicial"; pode-se explicar cientificamente a origem de pode transtormar-se inteiramente em trabalho. Como se sabe
todo movimento; é uma transformação que se desenrola no es que o trabalho mecânico se pode transformar inteiramente em
paço, mas que possui também sua história no tempo. "Há dez concluir daí que o processo da transfor-
anos, ainda", escrevia Engels, "a grande lei fundamental do mo-
energia datérmica, pode-se ocorre
na natureza, se desenrola de tal
vimento que se acabava de descobrir era concebida como sim-
mação energia, que
modo que todas as formas de energia têm a tendência de se
ples lei da conservação da energia, como simples expressão da transtormarem em calor, e que êste último não pode transfor
impossibilidade de destruir e de criar, concebida sòmente por seu mar-se inteiramente em outra forma de energia.
lado quantitativo: mas o movimento, do qual cada vez mais
essa expressão negativa cede lugar à expressão positiva da trans-
1 F. Engels, Anti-Dühring,
formação da energia, onde, pela primeira vez, se taz justiça ao Pp. 42-43.
76 77
nesse segundo princípio da Ter.
se basearam cm energia física difundida uniformemente no espaço. Exclui
Alguns sábios
modinamica para atirmar que no Universo tödas as formas de a possibilidade, para a energia, de perder
em todo o Universo
transtormar-se em calor e qu
o tempo,
energia devem, com de um corpo quente outro que,
a capacidade de se transformar.
èste. por sua vez, passando Conseqüentemente, a teoria da morte térmica é falsa por-
é distribuiu unitormemente, nivelando as diferen.
menos, se
errônea do segundo princípioo
que se baseia numa interpretação
o
Na medida em que a energia térmica, ir.
as de tcmperatura. da Termodinâmica. Este se aplica a fenómenos que ocorremn
se pode transtormar em outra
ridiando-se no espaço, não sistemas isolados e bem delimitados e não pode estender-se
em
forma de o Universo perderá
energia,
sua
atividade e será atingi. infinidade do Universo. Desde o nascimento da Termodina-
à
do pela "morte térmica". "Cedo ou tarde", escrevia Jean, mica, já se sabia que o segundo princípio só se aplicava aos sis
último erg de energia terá atingido o último escalão da disponibili. temas fechados. Ultimamente, demonstrou-se matemàticamen-
dade e nesse momento a existência do Universo terá perdido Mos-
te que no se aplicava aos espaços intinitos do Universo.
toda atividade: a energia estará presente, porém não terá mais ab-
trou-se que o segundo princípio não se aplicava de maneira
nenhuma capacidade de transtormação; será igualmente pouco limitada do Universo. Se
Universo como a água estagnada de soluta, mesmo no caso de uma regio
capaz de fazer marchar o tomamos regióes finitas do Universo limitadas
no espaço, mas
um pântano de fazer girar a roda de um moinho. Restará um
2 contendo um número infinitamente grande de partículas, não
universo morto, embora provido, ainda, talvez de calor"'. podemos aplicar o segundo princípio da Termodinâmica.
A Filosofia burguesa deu grande importância à teoria da da Termodinâmica é válido para fe-
O segundo princípio
"morte térmica" do Universo e se serviu dela para uma base nömenos caloriticos que se produzem num sistema que compre-
"científica" das concepções metatísicas e idealistas que separam ende um número tinito de partículas e que ocupa um setor limi-
a matéria do movimento para "provar a possibilidade de des- tado do espaço. Mas os partidários da teoria da "morte tér-
truir ou de criar o movimento. O certo, porém, é que a teoria mica" do Universo consideram o segundo princípio da Termo-
da morte térmica do Universo decorre não do segundo princí- dinâmica como uma lei válida em tôda parte, e o estendem
pio da Termodinâmica, mas de uma interpretação errônea dêste. ao Universo inteiro.
Acha-se em contradição fundamental com a própria base da Ter-
modinâmica, como, aliás, de tôda a Física moderna.
Poder-se-ia citar um grandenúmero de outros exemplos
mostrando o caráter errôneo da teoria da morte térmica, mas
teoria é falsa, nos contentaremos com dois que mencionamos acima, pois se
Como Engels o mostrou, essa
está em contradição com a lei da conservação e da transftorma-
primeiro porque trata da ocorrência do valor que tem a lei da conservação e da
são da energia, que é uma lei absoluta da natureza e que se transformação da matéria para refutar as tentativas de utilizar
acha, em particular, na base da Termodinâmica (o primeiro prin- o segundo princípio da Termodinâmica para separar a matéria
cípio da Termodinâmica é constituído pela lei da conservação do movimento.
e da transformação da energia, formulada para os fenômenos A descoberta da lei da conservação e da transformaço da
caloríficos). energia intormou igualmente a concepção metafísica dos impon-
A lei da conservação e da transformação da energia afirma deráveis, que traduzia a separação da matéria e do movimento
a indestrutibilidade do movimento. Ela exclui a possibilidade nos domínios dos fenômenos calorificos, eletromagnéticos e quí
para os fenômenos naturais, de chegarem em seu desenvolv micos. Se essa concepção relacionava os fenômenos dêsses ra-
mento a uma transtormação geral de tôda a energia do Universo
3 J. Plotkine, Revue physique théorique et expérimentale, t. 20,
1950, p. 1051 (edição russa).
2J. Jeans, L'Univers, p. 267.
78 79
c das fôrças cortes.
nos à cxistência de fluidos imponderáveis massa. O estudo da natureza dos fenômenos eletromagnéticos
a dcscoberta da lei
ondentes que punham
em movimento, teve igualmente uma enorme importância na demonstração cien-
transtormação da cnergia provou que não
da conservação e da tífica da indivisibilidade da matéria e do movimento.
na naturcza c que os processos calo-
cxistiam "imponderávcis" No momento cm que se tornou uma Ciência independente,
químicos cram tormas qualitativa-
riticos, cletromagnéticos c
a Fisica cstudava os corpos e a luz. Os sábios, que em sua
matéria, capazes de se trans.
mente diterentes do movimento da
tormarem uma na outra.
grande massa se mantinham instintivamente em posições mate
rialistas, identificavam os corpos à matéria. No que diz res-
Mencioncmos ainda outra circunstánCia importante que sa.
peito à luz, não se lhe havia descoberto massa; ora, a massaéo
da ener.
lienta o papelda lei da conservação c da transtormação critério mais importante da materialidade dos corpos. Foi uti-
indivisibilidade da matéria e do mo-
gia na demonstração da lizada pelos filósofos e os sábios idealistas para "demonstrar"
vimento. o caráter material da luz. Esta constituiria "o movimento pu-
séulo XVIII, Lomonossov e Lavoisier haviam de- ro", privado de todo apoio material. Por sua vez, os sábios
Já no
indestrutibilidade da materialistas formularam diversas hipóteses e se esforçaram pobr
monstrado cientificamente a eternidade e a
transformações que se estabeleceu a lei. idéia segundo a qual as ondas luminosas se propagariam no éter,
destruir nem criar deve acon-
matéria, meio que possui diferentes propriedades elétricas e magnéticas,
Se não se pode nem
Segundo os corpoS que penetra.
movimento, que é torma essencial
a
tecer o quanto ao
mesmo
da existência da matéria. A lei da conservação e da transtor A tentativa de ligar a natureza material da luz (as ondas
cientiticamente a eternidade e a in-
mação da energia
provou eletromagnéticas) à concepção tradicional da matéria sob a for-
destrutibilidade do movimento. Essa lei, com a da conservação ma do éter não foi coroada de sucesso. A hipótese do éter foi
mostrou
da massa, que havia sido descoberta um pouco antes, destruída como o tinha sido anteriormente a dos fluidos lumi
do movimento, sua indivisibi. nosos imponderáveis'"; mas a teoria eletromagnética da luz
a ligação profunda da matéria e
natureza
lidade. Isto significa que em todos os fenômenos da não estava ligada orgânicamente hipótese do éter luminoso.
criar matéria nema
sem não se
exceção, destruir ou pode nem
Conservou sua importância. O fracasso da hipótese do éter
luminoso não signiticava que as ondas eletromagnéticas
movimento. careces
sem de apoio material. Maxwel, baseando-se nas pesquisas ex-
Mostramos alguns aspectos da unidade da matéria e do
e da perimentais de Faraday, fundou um ramo amplo do saber, a
movimento, revelados pelas leis da conservação da energia
80 81
teoria dos processos eletrodinâmicos da qual decorria, cm par velhas idéias sôbre a estrutura
do campo eletromagnético. As
ticular, a tcoria eletromagnética da luz. A Eletrodinâmica de c as propriedades
da matéria desmoronaram c as que
foram con
Maxwell permitiu a solução do problema da natureza material ainda não achavam perfeitamente de
da luz. Foi no quadro dessa teoria que se formulou a noção
vocadas a substituí-las se
magnético (no comêço do século XX estabeleceu-se que a luz divisível em eléctrons, afirmavam êles que
a matéria, também,
não tinha sòmente propriedades ondulatórias, mas também cor Substituindo a no-
constituía um movimento puro e imaterial.
pusculares, o que veremos mais adiante). perpétua transtormação
ção de matéria pelas representações em
A Eletrodinâmica afirmou a natureza eletromagnética da e de suas propriedades, os adep-
que formamos de sua estrutura
tinha desaparecido" e
luz e elaborou a noção de campo, meio material no qual see tos de Mach afirmaram que "a matéria
propagam as ondas Iluminosas. Mas isto não explicava como As descobertas que evidenciavamn
que só restava o movimento.
átomos neutros podiam emitir ondas eletromagnéticas. No iní
o caráter material da luz foram interpretadas como prova do
cio do nosso século descobriu-se a estrutura interna complexa caráter imaterial da luz e dos corpos. As tentativas de conce-
dos átomos que compõem os diferentes corpos. Percebeu.se ber o movimento sem a matéria receberam grande difusão na
que o átomo compreendia eléctrons que constituíam o invólu- teoria reacionária da energética.
cro que circundava o núcleo. Aprendeu-se que a emissão das Lênin revelou o êrro dos discípulos de Mach que preten-
ondas eletromagnéticas por um corpo luminoso está ligada ao
diam que as descobertas da Física justificavam a energética e
movimento dos eléctrons que entram na composição dos átomos
provavam que "a matéria tinha desaparecido" e que só
restava
desse corpo. Demonstrou-se assim que a emissão de luz era,
o movimento. Mostrou êle que essas elucubrações idealistas
por si mesma, um fenômeno material que s e produzia no in-
terior dos átomos.
se baseiam na substituição das representações científicas concer-
nentes à estrutura e às propriedades da matéria pela noção de
Essas descobertas, que evidenciavam o caráter material da categoria filosófica. Oprogresso contínuo do
matéria como
luz, foram interpretadas pelos idealistas como uma "prova" do saber acarreta a renovação incessante da idéia que fazemos da
caráter imaterial dos fenômenos eletromagnéticos em geral e matéria cuja estrutura e propriedades se refletem sempre mais
luminosos em particular. fielmente em nossa consciência. Nossos conhecimentos se modi
Os físicos ligavam a noção de matéria à representação m e ficam, como mostrou Lênin, em conseqüência da descoberta de
tafísica do átomo concebido como elemento primeiro e irredu- novas propriedades e de novos aspectos da matéria, de novas
tível, e do éter. As novas descobertas mostraram que essas formas de seu movimento. A noção de matéria é uma categoria
concepções eram talsas. Descobriu-se uma estrutura compli- filosófica que designa a realidade objetiva existente independen
cada do átomo: o eléctron era um de seus elementos. O cam- temente da consciência dos homens e retletida por ela. Não se
po revelou ser o apoio luminosas, e fracassou
material das ondas pode substituí-la pelos conhecimentos em perpétua modificação
a tentativa de relacioná-lo ao éter. Muitas coisas, porém, con- que a Ciência nos oferece. Lênin escreveu que "a única pro-
tinuavam desconhecidas söbre as propriedades do eléctron e Priedade da matéria que o materialismo filosófico reconhece
82 83
realidade objetiva, de existir fora de nossa cons noso náo possuia sómente energia, mas também uma massa, que
a de ser uma
a matéria e o movimento aí se encontravam indivisivelmente
Ciencia".
Com o auxílio dessa representação da matéria, jus. a única unidos.
a descoberta do eléctron não significava Assim, a descoberta da lei da conservação e da transforma
ta, Lênin mostrou que
o "desaparecimento da matéria", mas a
descoberta de um aspec- ção da energia, o estudo da natureza dos fenômenos luminosos,
to novo da matéria; os fenömenos eletromagnéticos não são forneceram tôda uma série de ensinamentos importantes que com-
um movimento puro, mas uma nova torma de movimento mate.
puseram o quadro físico da indivisibilidade da matéria e do mo-
à Física energética de Ostwald, ela re- vimento, e provaram cientlficamente a teoria do materialismo
rial. No que concerne
idealistas
presenta"a fonte de novas para conceber
tentativas dialético segundo a qual o movimento é uma propriedade intrín-
o movimento sem a consequëncia da decomposição
matéria em seca da matéria, uma torma de sua existência.
sido consideradas
de partículas de nmatéria que até então haviam O laço da matéria e do movimento é particularmente sen-
da descoberta de novas tormas, até então
indecomponíveis, e sível na teoria da relatividade de Einstein. A êsse propósito é
desconhecidas, do movimento material". » preciso notar, antes de tudo, a relação entre massa e velocidade,
A argumentação filosófica Lênin estabeleceu o
pela qual estabelecida pela teoria da relatividade, e a lei da interdepen-
caráter material do eléctron teve importäncia para se
enorme dência entre a massa e a energia, que daí decorre.
compreender a natureza material da luz. Se o eléctron não é
Na Mecânica de Newton e em tôda a Física clássica, con-
êle emite não pode ter caráter material.
material, a luz que um
siderava-se a massa como algo constante que não dependia do
O problema do caráter material do eléctron está orgânicamente
movimento do corpo. Não se conheciam fenômenos que reve
ao do caráter material dos fenômenos eletrodinâmicos
ligado lavam a dependência da massa em relação à velocidade. Essa
em gerale dos que se produzem no campo eletromagnético, em circunstâância foi utilizada pelos idealistas e os metatísicos para
Admitir que eléctron é um "movimento imate
particular. o
"provar" que a matéria era separada do movimento.
rial", como propunha a energética, equivale a negar o caráter A teoria da relatividade estabelece que
material do campo eletromagnético que está orgânicamente li a massa de um
cor
po em movimento m depende da velocidade do corpo v. Essa
gado às cargas elétricas.
relação é traduzida pela fórmula
Os progressos da Física, desde o comêço do século XX,
forneceram uma prova científica da materialidade da
nova luz.
a luz era imaterial se invo0
Se, anteriormente, para provar que
o
cava o fato de que não tinha massa (constituindo a massa
caráter físico essencial do caráter material de uma substância)
as experiências de Lebedev mostraram que ela a possuia.
V1-v/¢3
Com o auxílio de experiências extremamente minuciosas, m a s s a do corpo em estado de repouso relativo,
Lebedev demonstrou que a luz exerce uma pressão sôbre o cof-
po iluminado, e êle a mediu. Essa pressão está sempre ligada C-velocidade da luz.
aofato de que o corpo que a exerce possui uma massa ea
elumi-
depende da grandeza dessa massa. Seguiu-se que o tluxo Segue-se
que, no caso de um movimento lento, efetuando-
-Se a
velocidade muito pequena em relação à da luz, a
uma
sa não é mas
pràticamente modificada. Eram precisamente ësses
v. Lenin, CEuvres, t. 14, p. 271.
6 Ibid, p. 285.
movimentos que a Física clássica estudava
e, por
conseguinte,
84 85
não tratava da relação massa-velocidade. Mas, no caso da velo- da massa e da energia e
tão quanto a interdependência
geral com o qual
cidade da ordem da luz, essa relação torna-se muito importante
um grau de
cxatidão tão satisfatório quanto aquéle
os traços principais
as experiëncias rea- e de encrgia retletem
c impossível negligenciá-la. Com cfeito, as noções de massa
A lei dá, por assim dizer, uma
ex-
lizadas o m os eléctrons deslocando-sc a grandes velocidades da matéria e do movimento.
cien
tatos que caraterizam a imagem
mostraram que tal relação existia. pressão concentrada dos movimento.
cientíticas da tífica daindivisibilidade da matéría e do
A relação massa-velocidade é uma das provas ofereceu a possibilida-
indivisibilidade da matéria e do movimento: a massa é uma das A lei da equivalência massa-energia
indivisibilidade da matéria e do movimento
essenciais da matéria, velocidade uma
de de reencontrar a
propriedades físicas c a
de transmutação das partículas ele.
das propriedades tísicas essenciais do movimento, e elas estão nos fenômenos complicados
nucleares.
organicamente ligadas uma à outra. Essa ligação da massae mentares e nas reações
da velocidade constitui um dos aspectos da unidade da matéria em Física, no sé-
Uma das descobertas mais importantes em
e do movimento, de sua indivisibilidade. de um par eléctron-posítron
culo XX, foi a da transmu tação
estabeleceram que
A lei da equivalência da massa a e da energia E, descober fótons e vice versa. Numerosas experiências
cessam de existir
maneira E, descober- e um posítron,
aose chocarem,
por Einstein, permite caracterizar de
ta um eléctron
dois fótons de irradiação
interdependência entre a matéria e o movimento. Assim se como corpúsculos e se transformam em
Y. Estabeleceu-se igualmente que
u m fóton, dotado de gran-
escreve ela: con-
milhão de eléctrons-volts), em
E = mc de energia (superior a 1,02 do
se aproxima muito perto
dições bem determinadas (quando
núcleo atômico), se transforma em um par eléctron-positron.
A significaçãofísica dessa lei consiste em que uma quanti reações nucleares teve
dade definida E, de não importa que tipo de energia, está sem- A descoberta da falta de massa nas
téria: a luz. (Permitiram formular a lei da interdependência nêutrons e dos prótons que a compõem, tomadas separadamente:
é o que se denomina falta de massa. Por outro lado,
entre a massa e a energia na luz.) A teoria da relatividade pre- se se con-
cisa que a massa de todo objeto real está ligada a uma energia sidera fissão do átomo, percebe-se que ai,
a a
somaigualmente,
estabelecida pela em repouco (massa própria) é inferior à soma
das
correspondente. A relação massa-velocidade, das massas
teoria da relatividade,
exprime a interdependência entre a por o exemplo
massas correspondentes antes da reação. Tomemos
ção da que resulta do movimento relativo e a energia ci-
massa da fissão do átomo de lítio. Originalmente tínhamos um núcleo
nética dêsse movimento. A equivalência massa-energia atirma de litio e um próton de uma massa total de 8,026294. Se os
que tôda massa, aí compreendida
uma
massa em repouso (massa
própria do corpo), está ligada a uma forma de energia.
bombardeamos com prótons, obtemos duas partículas dois
núcleos de hélio) de uma massa total de 8,007720. Produziu-se
uma falta de massa em conseqüência da reação: a massa em re
A importância filosófica dessa lei consiste em que ela re
da pouso diminuiu de Am = 0,018574. Em todos os casos em
presenta a expressão cientifica mais geral, no momento atual, que se produz uma falta de massa se desprende energia cuja quan-
indivisibilidade da matéria e do movimento, de sua unidade or
gånica interna enquanto conteúdo e forma. A unidade da ma- tidade, função da falta de massa, é expressa pela equivalência
téria e do movimento, expressa por essa lei, possui um caráter massa-energia.
6
S7
Como já dissemos, a talta
de massa, fenômeno
assim como o
constante e y freqüência dos
a
fenômenos periódicos que
em dois fótons uma
A energia do fóton, segun-
da transformação de um par elétron-positron de caracterizam a irradiação considerada.
como uma prova
radiação Y, foram interpretados pelos 1dealistas
de sua transtormação total em da m=
do "desaparecimento da matéria,
massa
do a equivalência massa-energia, é função
idealistas dessas des.
movimento, em energia. As interpretaçoes
e de
cobertas outras fizeram renascer energetica como varieda.
a
exatidão que, no curso da aniquilação e da
Estabeleceu-se com
de do idealismo "físico". Os partidários dessa Filosofia vêem. tanto a lei da conservação da massa
criação de um par, atuam
na transformação de um par eléctron-positron em dois fótons, massas do eléc
como a da conservação da energia. A soma das
da matéria. Para èles, o par eléc- à dos dois fótons que
um fenômeno de aniquilação tron e do posítron é absolutamente igual
ao passo que o fóton A soma das energias do posí
tron-posítron representa o Sistema material, aparecem após o aniquilamen
à energia dos
seria a energia pura, destituida de qualquer apoio material. Os tron do eléctron também é rigorosamente igual
e
partidários da energética explicam a falta de massa, diminuição sua colisão. Ocorre o mes-
dois fótons que apareceram após
a
da massa em repouso, que se produz na reaçao nuclear, pela trans- mo no que concerne à criação
de u m par eléctron-posítron par-
formação da massa em energia. Concluem, daí, pela possibili- tindo de um fóton que possua uma energia maior. E claro que
u m a transtormação da
dade de transformação da matéria em energia, pela inconsistência massa
não se trataaqui absolutamente de
Foi, sobretudo, com a criação da bomba atô- A massa e a energia, comno
do materialismo. em energia ou da energia em massa.
mica que essa conclusão anticientífica se difundiu. Sabe-se que, conservam-se in-
propriedades físicas da matéria e do movimento,
Conserva-se igualmente a
no momento da explosão de uma bomba atômica, uma quanti tegralmente durante êsses processos.
a qual se baseia o materia-
dade enorme de energia se liberta com a diminuição simultânea única "propriedade" da matéria sôbre
lismo filosófico, a saber, a realidade objetiva do par eléctron-
da massa em repouso (a massa própria). Para os
energética era uma prova evidente da transformação da maté
da partidários de n o s
-posítron e dos fótons, que existem independentemente
ria em energia. O idealista "fisico" C. Chase escreveu que "os sa consciência. Por conseguinte, não há base alguma, tanto no
céticos que não criam na transformação da matéria em energia plano filosótico como no plano cientítico, para interpretar ësses
podiam fàcilmente com o exemplo da bomba atôo
convencer-se fenômenos como exemplos de transformação da matéria em
mica, onde se produziu "uma transformação explosiva da ma energia.
téria em energia". Declarou que "o século materialista chegara
ao fim com o estrondo de trovão de Hiroxima e Bikini".*
Na realidade, nesses fenômenos, as partículas elementares
matéria se transformam umas nas outras. O eléctron e o posí-
da
Essa elucubrações idealistas nada têm a ver com a explica- tron, como partículas elementares de um aspecto qualitativo de
ção cientifica dessas descobertas. A verdadeira significação ti
sica e filosófica dessas descobertas é inteiramente outra. terminado da matéria, transtormam-se em partículas elementares
de outro aspecto da matéria, isto é, « ótons e vice versa.
No
Um par de eléctron-posítron transforma-se em dois fótons, curso dessa transtormação produz-se, de um lado, uma transtor-
e um fóton dotado de grande energia em um par de
eléctron-po mação energética e, em estreita correlaço com ela, uma trans-
sítron. Durante êsse fenômeno não se produz transformação da formaço da massa.
massa em energia nem o inverso. O eléctron e o posítron pos A falta de massa que se produz
reações nucleares pode
nas
suem uma massa e uma energia, e ocorre o mesmo quanto a0
de
tótons. Cada fóton tem uma energia igual a hv, em que b e
ser
como
explicada
durante
maneira similar.
sua fissão, produz-se uma
Durante
a formação do núcleo,
diminuiço da massa
acompanhada de uma liberação correspondente da energia. Mas
enquanto certa massa diminui de uma grandeza A m, torma-se
6 C. Chase, The Etolution of Modern Ph1ysics, 1947, p. 221.
88 89
uma quantidade
correspondente de outra massa. Durante a for. da massa. Isto ilustra a indivisibilidade da
matéria e do mo-
mação do núcleo a partir dos núcleons, produz-se uma falta de 7
massa. A energia se liberta, por exemplo, sob a forma de cmis- vimento, sua unidade profunda.
diversidade qualitativa da
so de
tótons. Essa energia aparece não em conseqüência de Examinemos agora a questão da tem uma grande
uma transtormação de massa em energia, mas em conseqüência matéria das formas e de sceu movimento, que
materialista-dialética dessas duas
da transtormação da energia nuclear em outra importância para a compreensão
forma de energia,
notadamente em energia eletromagnética. Simultâneamente pro- noções.
duz-se uma transformação da massa. A energia de irradiação
eletromagnética, liberada durante a reação, está ligada a uma 2. Diversidade das Formas da Matéria e de seu Movimento
massamassa
correspondente conforme a equivalência massa-energia.
A concepção da protomatéria, tal como foi formulada origi-
Essa de fótons é o resultado da transtormação de uma
parte da massa das partículas da matéria que entram em reação. da per
nalmente pela maioria dos pensadores antigos, decorreu
Ela igual à falta de massa que se produz no decurso dessa é aquilo que é
reação.
é cepção sensível direta do mundo
Mais
(a protomatéria
tarde, o materialista antigo
imediatamente perceptível).
A mesma coisa no que concerne à falta de massa na fissão Demócrito e seus continuadores, Epicuro e Lucrécio, rejeita-
relacionava a matéria a um objeto ime-
nuclear.A massa das duas partículas a que aparecem depois ram essa concepção que
dos esta-
diatamente perceptivel (a água, o ar, etc.), ou a um
do bombardeio do núcleo de lítio por prótons é menor que o
formularam a hipótese
dos particulares dos corpos (o togo),
e
total da massa do núcleo do lítio e do próton. Mas desta vez
a noção de matéria à
existência de elementos
ainda se trata da diminuição da massa em repouso. Pela fissão, atômica, ligando
o núcleo de lítio dá nascimento a partículas a que se deslocam imutáveis indivisíveis, qualitativa-
e
materiais muito pequenos,
mente semelhantes e só diferindo pela forma
e a grandeza (ou
com uma grande velocidade e que possuem uma importante ener- êles, diferentes combinações quan-
gia cinética. Este é o resultado da transformação da energia ainda pelo pêso). Segundo constituem
titativas dêsses "componentes últimos do Universo"
nuclear dodalítio e não da falta de massa em energia. A trans- diversidade infinita dos elementos da natureza.
tormação massa que se produz está orgânicamente ligada à a
da energia. A falta de massa em repouso se transtorma em mas- A hipótese atômica dos pensadores antigos foi um sucesso
notável da Ciência da época. Os atomistas antigos também
sa em movimento das partículas a expulsas. Quando se cal ti-
cula a grandeza da massa dependente da energia cinética de duas
veram o mérito de ultrapassar
o plano da simples percepção sen
partículas (essa energia é igual a 17 milhões de eléctrons- sível sôbre o qual se mantinha até então a noção de protoma
-volts), percebe-se que ela corresponde exatamente à falta da téria. Ao mesmo tempo, a concepção dos atomistas sotria dos
êles identilicavam o conceito de
massa Am 0,018574. Quer dizer que, se tomamos a massa to- primeiro,
=
seguintes deteitos:
de
tal resultante da fissão do átomo, não encontramos diminuição matéria com representação que taziam de sua estrutura e
a
90 91
dos como clementos materiais todos scmelhantes, imutávcis elemcntos constituti-
indivisíveis, como os componentes últimos do Universo, De titativas de um número determinado de
Filosofia dësse tempo
uma "protomatéria", cujas di era devida ao caráter metaffsico da
fato, &sses átomos também eram
vos
a condição de sair de seu quadro.
ferentes combinaçöcs quantitativas recriam a diversidade quali. c só podia ser superada com
democratas
Entre os materialistas pré-marxistas, foram os
tativa da natureza. filosófica mais justa
revolucionários que deram a definição
Na ctapa scguinte do desenvolvimento histórico da Ci. matéria não se confundia
com as t e o
da matéria, Sua idéia da estrutura e
éncia nos séculos XVII e XVIlI, o conhecimento do mundo sóbre sua
rias científicas, històricamente relativas,
material progrediu, aprofundou-se. Mas a Ciência continuava sua diversidade qualitativa. Para
propricedades, nem negava
sempre a dar como conteúdo do conceito de matéria a estrutura da cons
que existe independentemente
e as propriedades concretas desta. A matéria era identificada eles, a matéria é aquilo
matéria cxprime o que há
de comum em
de
quer aos átomos, à sua massa (Newton e seus adeptos), quer CIencia. A noção verdade que a Filosofia dos
todos os objetos. menosNão é
o hipotético éter que era representado como um meio homo. democratas revolucionários não elaborou uma concepção rigo-
revelou em
gêneo, contínuo, espalhado por todo o Universo e penctrando rosa da matéria como categoria filosótica. Não
todos os corpos (Descartes e seus adeptos), ou ainda a uma com- diferenças entre a idéia fi-
toda a sua plenitude as ligações e as
binação de uns e outros. No que se retere aos átomos, mes. teorias cientíkicas relativas a suas pro
losótica da matéria c as
atravessar com-
mo depois que o atomismo deixou de ser uma hipótese filosó. sua estrutura. Ela no conseguiu
priedades e a
fica para tornar-se uma teoria científica, continuou-se a consi limites metafísicos e mecanicistas dessas concepções.
pletamente os
derar os átomos como imutáveis e indivisiveis. Mesmo depois Os democratas revolucionários não conseguiram
explicar
que se demonstrou experimentalmente a diterença qualitativa desenvolvimento, podia dar
como a matéria, no curso de seu notadamente
dos átomos de elementos químicos diferentes, assistiu-se a nume nascimento a objetos qualitativamente diferentes,
Por outro
rosas
tentativas de relacionar cssa
diferença a combinações quan- a suas formas superiores dotadas de consciência.
titativas, diferentes de um "proto-átomo" químico. em condições de dar
lado, sua concepção da matéria não estava
A Filosofia materialista dos séculos XVII e XVIII ten- conta dos fenömenos sociais.
do sé-
tou chegar à noção de uma substância material única, mais ge. tarefa, Marx e Engels a realizaram na metade
Essa
ral que a idéia que os sábios faziam da matéria. Os materia- culo XIX, criando a forma superior da Filosofia materialista,
listas franceses do século XVIII, em particular, tentaram dar o materialismo dialético. Partindo de uma solução correta con-
eles
uma definição filosófica geral da matéria. Mas a Filosofia ma- seqüente e completa do problema fundamental da Filosofia,
elaboraram uma noção filosótica da matéria plenamente de acôr-
terialista do século XVIII não resolveu ésse problema e não do com a Ciência. A noção materialista dialética da matéria
foi
podia fazé-lo. Isto lhe era aimpossível, primeiro, em virtude desenvolvida por Lênin nas novas condições históricas do tim
dos limites que lhe impunha metafísica. O materialismo me-
tafísico dos séculos XVII e XVIII rejeitou, com a noção an do século XIX e comêço do XX. Ele revelou as relações dessa
92 93
categoria com a visão da estrutura e das propriedades da maté- Comecemos pela primeira dessas duas conclusões.
ria que as Ciências da Natureza dão, precisou o que as aproxima No fim do século XVIII e comêço do XIX, estabeleceu-
e o que as separa. -se que os diferentes corpos existentes na natureza, quando sub-
Lênin mostrou que as concepções científicas da matéria metidos à análise química, se dividiam em elementos químicos,
estão ligadas, em cada época histórica, às propriedades das for- compostos de átomos. Foram igualmente descobertas leis se-
mas e dos estados particulares da matéria, refletindo os limites gundo as quais os corpos simples se unem para formar os cor
os átomos dêsses ele-
históricos de nossos conhecimentos. A Filosofia dá uma no- pos compostos. Foi demonstrado que
são tão geral quanto possível, ligada a uma única propriedade mentos químicos possuíam propriedades qualitativamente dife.
da matéria, a saber, que ela é a realidade objetiva existente in- rentes que não se podiam relacionar às dos átomos de um só
dentre êles. Por um lado, o atomismo tornou-se uma teoria
dependentemente de nós, fora de nossa consciência, isto é, a
propriedade comum a tôdas as tormas e a todos os estados cientifica e, por outro foi
lado, destruída idéia da similitude
a
qualitativa dos átomos. Não se podia mais reduzir a diversi-
da matéria. dade qualitativa dos corpos compostos, formados de elemen-
As concepções científicas da matéria mudam à medida que tos químicos qualitativamente diferentes, a combinações quan-
se descobrem novas formas e novos estados da matéria, que titativas de um único e mesmo elemento.
mais aprendemos sôbre sua estrutura e suas propriedades, Em O qualitativo rece-
bia uma explicação qualitativa. Mas, assim tazendo, os pr
certos momentos nossos conhecimentos são revirados de cima prios átomos continuavam a ser considerados como partículas
a baixo. Paralelamente, a noção filosófica da matéria se enri- imutáveis e indivisíveis.
quece, se amplia, mas, tendo em vista sua generalidade, ela não
sofre uma reviravolta radical. As novas formas e proprieda Mendeleev, ao descobrir sua lei periódica dos elementos quí
des da matéria que a Ciência descobre provam cada vez melhor micos, fêz depender as propriedades dos elementos químicos do
a realidade objetiva do mundo, revelam sua diversidade infinita. valor de sua massa atômica. Demonstrou le que, se dispo-
mos os elementos químicos segundo sua massa atômica cres-
A noção materialista dialética da matéria se opõe ao mes- de elemento
mo tempo à tentativa metafísica de reduzir a matéria a uma de cente, a
passagem um químico para outro tem um
valor qualitativo. Percebeu-se que as massas atômicas de to-
suas formas, exclui a existência de elementos imutáveis e irre-
dutíveis compondo o Universo. A noção materialista dialética dos os elementos químicos eram, em primeira aproximação, múl1
tiplas das do hidrogênio. Alguns sábios valeram-se disso para
da matéria supõe a diversidade qualitativa de suas formas, a pretender que os átomos de todos os elementos químicos eram
infinita riqueza de sua estrutura e de suas propriedades. O compostos de átomos de hidrogênio e que a diferença quali
progresso da Ciência tornece todos os dias dados novos em apoio tativa dos átomos de todos os elementos químicos podia
dessa concepção.
redu-
air-se a combinações quantitativamente diferentes de átomos de
Estudemos essa questão mais detalhadamente. hidrogênio
Durante numerosos séculos a matéria era identificada aos Mendeleev levantou-se resolutamente contra tal interpreta
corpos materiaise se consideravam os átomos dêsses corpos são mecanicistada natureza dos elementos químicos e mostrou
como partículas tödas semelhantes e indivisíveis. a
impossibilidade de explicar as propriedades dos diferentes ele-
O progresso da Ciencia nos séculos XIX e XX mostrou, mentos químicos considerando seus átomos como a simples com
binação de átomos de hidrogênio.
por um lado, a diversidade qualitativa dos corpos materiais, a
lado, No do desenvolvimento da Ciência, estabeleceu-se
infinidade de seus elementos constitutivos e, por outro a
que a
curso
diterença qualitativa das dos elementos qul-
impossibilidade de reduzir a matéria a êsses corpos. propriedades
94 95
micos provinha de que os átomos de cada clemento possulam
partículas elementares das quais cada uma é composta de par.
Sua própria estrutura que não se podia reduzir à soma das es. elemen-
tículas desconhecidas no momento. Essas partículas
truturas dos átomos dos elementos mais simples. Os dados sô. só no interior do átomo, mas também in-
tares existem no
bre os quais se baseavam para atirmar que os valöres das mas. dependentemente dêle.
sas atômicas dos elementos químicos eram múltiplos dos do reduzir
Foi assim que se estabeleceu a impossibilidade de
hidrogênio se revelaram aproximações grosseiras. única disparidade qualitativa dos áto-
a diversidade dos corpos à
No momento em que Mendeleev descobriu sua lei perió. mos dos diferentes elementos químicos,
às suas combinações.
dica, conheciam-se apenas 64 elementos químicos. Depois ês Issoéimpossível, primeiro porque a disparidade qualitativa
das
dos próprios átomos decorre da disparidade qualitativa
e
se número aumentou bastante. No momento atual conhecemos
Por lado conhecem-se centenas de variedades dês- elementares e das relações que nascem entre êles
102. outro partículas
ses elementos que denominamos isótopos. São átomos que pos- quando da formação do átomo e do núcleo atômico; depoisexiste
por-
suas combinações
suem o mesmo número de ordem (carga nuclear) e que, por a matéria ao lado dos átomos e de
que
conseguinte, ocupam o mesmo lugar no sistema periódico, mas sob a forma de partículas elementares livres.
que diterem pela sua massa. Além dos eléctrons, prótons e nêutrons que, em determi
Assim, no momento atual, a diversidade química qualita nadas condições, entram na estrutura do átomo e do núcleo
atô0
fora dessa des-
tiva dos corpos compostos explica-se pela existência de uma mul. mico, que
e também são encontrados estrutura,
tidão de átomos diferentes. O mais importante, porém, é que cobriu-se um grande número de outras partículas elementares
elementos da
a disparidade qualitativa dos átomos não é a última explicação que não se encontram no interior do átomo como
da diversidade dos corpos. A disparidade qualitativa dos pró- arquitetura nuclear. São, em particular, os mésons e os hipé-
97
96
antineutron, antipró
em diversos tipos segundo o valor de sua massa, sua "duração Seexistem antipartículas(posítron, "antiá-
de vida" e outras características. Conhecem-se os seguintes tipos: a questo da existência de
levanta-se naturalmente o núcleo
ton), de posítrons e
invólucro seria composto
tomos" cujo antiátomos existem, não
- C o m uma massa igual a 206 e uma carga igual a +1, e
Se tais
antinëutrons.
de antiprótons átomos que
conhecemos até o mo-
identificados aos
T O -com uma massa igual a 264 e uma carga igual a 0, podem ser antiá-
a diterença entre os átomos e os
mento. Pareceria que um átomo
T - com uma massa igual a 273 e uma carga igual a =1. exemplo,
tomos seria
a seguinte: se tomamos, por cada um
H, - -
de ""anti-hidrogênio"
de hidrogênio H e
outro
contato com partí-
em caso de
E seguida vêm os mésons com uma massa igual a 966, dêles seria estável no vácuo ou
"antí-hidro-
que constituem o grupo de partículas K, compreendendo 11 va (hidrogênio com hidrogênio,
culas do m e s m o tipo caso de contato de
uma
riedades. "anti-hidrogênio"). Em
gênio" com com outra de hidrogênio
normal, elas
No que se refere aos hipérons, sua massa é maior que a partícula "anti-hidrogènio"
imediatamente (cessariam de existir, transtor-
dos núcleos e são instáveis (sua duração de "vida" está com se aniquilariam da matéria).
outro aspecto
preendida entre 3 10-10 e 1:10-11 segundos). Conhecem-se mando-se em partículas de
descobriu-se um aspecto nôvo da
ma-
diferentes tipos de hipérons: os que possuem uma massa igual Com a antipartícula de-
a 2 182 e uma carga igual a 0; os que possuem uma massa 1gual da substância usual (pode-se
téria, diferindo qualítativamente
1° Mas não temos fundamento al-
a 2327 e uma carga igual a =l; os que possuem uma massa nominá-la "antimatéria").
"antimatéria" a mesma extens ão
igual a 2 320 e uma carga igual a 0; e os que possuem massa conceder à noção de
gum para
mundo que nos cerca contém
uma
igual a 2 580 e carga igual a -1. da noção de matéria. O
ao passo que as antipar-
Tais são as partículas elementares que se conhecem no quantidade inesgotável de particulas, inteiramente parti-
momento atual. Tôdas essas partículas elementares e os cor- tículas existem ou se formam em condições
terrestres, se
diversas combi- culares. Se existissem antiátomos nas condições
pos que se tormam em conseqüência de suas átomos ordinários, sem t e
nações ( como o núcleo atômico, o átomo e suas combinações riam imediatamente aniquilados pelos
de ""antima-
químicas) constituem a substância ponderável. Mas esta, ape- rem tido tempo de formar agregados importantes
sar de tôda a diversidade de suas formas concretas, não esgota téria. Não possuímos, também, dados convincentes que nos
ainda a noção de matéria. permitam admitir a existência de concentrações, por pequenas
mesmo nas partes do
desenvolvimento da Física trouxe à luz novas manites que sejam, consideráveis de "antimatéria",
O espaço distanciadas de nós. Não obstante, a existência das an-
tações da matéria que ampliaram consideràvelmente a noção que tipartículas prova que não se pode reduzir a matéria a seus as
até então dela se tinha.
pectos clássicos.
Nos últimos anos foi descoberta a existência de antipartí
A descoberta da natureza material do campo teve impor
culas que constituem um nôvo domínio da matéria qualitativa
mente diferente. tânciadecisiva para provar cientlficamente a impossibilidade de
identificar a matéria com a substância ponderável. A impor-
Já em 1932 havia-se descoberto o posítron (antieléctron),
partícula elementar que possui massa e carga iguais às do eléc-
contrário. Em 1955-1956 foi descoberto o
tron, mas de sinal do "anti-
antipróton, partícula de massa e carga iguais
às do próton, mas 10 A descoberta das antipartículas e a utilizaço têrmo
tendo a m e s matéria" não justificam de modo algum as elucubrações misticas e
de sinal contrário, e o antinêutron, partícula neutra
idealistas sôbre a existência de um "além". As antipartículas repre-
momento magnético que o nëutron, mas
ma massa e o mesmo sentam um aspecto
unidade do mundo
da matéria e, com todos
material em que vivemos.
os outros, constituem a
de sinal contrário.
98 99
da matéria
tância dessa descoberta é ainda maior, porquanto o campo estáí diferindo qualitativamente dos aspectos
particular, fótons, partículas
de fenômenos naturais. Foram descobertos os
ligado a todo um conjunto até então conhecidos.
dêsse meio material.
Na origem, a noção de campo apareceu como uma noção
os fótons, pos
auxiliar, cômoda para o cálculo das fôrças de interação gravita- As partículas do campo eletromagnético,
não s o qualitativa-
cional de duas massas m e mg, a förça que age söbre a massa massa. Todos os fótons
suem energia e e pela energia. Se
depende da distância que separa m, de m. Cada ponto do Diterem pela massa
mente homogêneos. diferentes.
têm propriedades
espaço que cerca a massa m se caracteriza por uma dada gran- gundo massa e sua energia,
sua
da luz, os raios X, os
deza da fôrça que age sôbre a massa m Eis por que se pode Os fótons da parte visível do espectro diferente. Pode-se
m a n i t e s t a m de maneira
denominar, o meio circundando uma massa qualquer, campo das raios gama, etc., se
fóótons m e s m o pelo se-
dos
tôrças gravitacionais. perceber essa difeernça qualitativa raios gama, como vimos,
se
trans
os tótons dos
No momento em que apareceu essa noção, e em conse guinte exemplo: ao passo que Os da parte vi-
qüência dela, os idealistas consideraram o campo como uma no- formam par elétron-posítron,
num
101
100
mo, denominada massa em repouso. Os fótons, pelo contrário, propagação mesônico, segundo os dados teóricos, é
do campo
massa em repouso. A massa dos fótons, da qual menor que a da luz e depende
da freqüéncia, ao passo que a ve
não possuem da
falamos acima, é uma massa do movimento. O campo eletro- locidade de propagação do campo eletromagnético (velocidade
magnético e os corpúsculos possuem, pois, massas qualitativa- Juz no vácuo) é constante e não depende da freqüência.
mente diferentes e, por conseguinte, energias qualitativamente Por conseguinte, não se podem situar os campos eléctron-
diferentes. diferentes formas da
posítron e mesônico na classificação das
Depois, os corpúsculos podemn ter as mais diversas velocida- matéria que vimos mais acima.
des, até 300 000 km/s, ao passo que os fótons têm uma veloci- de que próprio campo eletromagnético
não pode
dade constante, igual a 300 000 km/s. O fato o
cipais (ou aspectos físicos) da matéria que se diferenciam segun- Esses campos também
ticulares dos campos correspondentes.
do os critérios indicados acimna. podemos consi-
não podem ser reduzidos a suas partículas, que
Tal classificação era correta na época em que, primeiro, nao derar como estados de excitação de seu campo.
se conheciam as antipartículas, em que, depois, ao lado dos tó- assim como existe uma "an-
Entim, deve-se observar que,
tons do campo eletromagnético, não se havia descoberto ainda deve existir um "anticampo" (anti-
timatéria" (antipartículas),
as partículas dos outros campos e em que, terceiro, ignoravam Considera-se o neutrino como uma partí-
partículas do campo).
-se os estados de campos sem partículas. uma massa própria ex-
cula hipotética de carga nula, possuindo
Mas no momento atual as coisas se apresentam diferente tremamente Nos últimos anos, novos dados permi-
pequena.
mente. Ao lado das partículas existem antipartículas. Estas tiram estabelecer definitivamente a existência dessa partícula e
se diferenciamfótons provàvelmente
dos da mesma maneira que autorizam a relacioná-la ao campo nuclear na qualidade de par-
os corpúsculos diferenciam
se dos fótons. Mas
antipart as
tícula que não tem massa em repouso. Provou-se, igualmente,
culas não podem ser identificadas, tampouc0, com as partículas
a existência do antineutrino. Pode-se, pois, considerar o anti-
ordinárias. Mesmo que fôsse por êsse motivo, não se poderia neutrino como uma antipartícula do campo. Tudo isto mostra
fazer entrar a grande variedade das tormas da matéria no esque variedade das formas da matéria, a impossibilidade de
a grande
ma de que falamos acima. reduzí-la a um só de seus aspectos. A diversidade qualitativa
A situação complica ainda mais quando consideramos o
se da matéria nos é revelada sob o ângulo da diversidade de suas
Mas essa diversidade também apa-
fato de que a noção de campo não pode ser reduzida à do cam- formas, de sua estrutura.
Este, com tôda a diversidade das partícu- rece nas formas de seu movimento. Examinaremos agora ësse
po eletromagnético.
las que contém, representa apenas uma forma qualitativamente aspecto do problema.
determinada do campo físico. Existemn, além dêle, o campo de A questão dos aspectos da matéria está estreitamente liga-
gravitaço, o campo eléctron-posítron, o campo mesônico, o cam- da à das tormas de seu movimento. Isso é compreensivel,
po nuclear e suas partículas. Esses campos já não possuem as não existe matéria sem movimento, não existe
pois assim como
propriedades que diferenciam os fótons dos corpúsculos. As par
movimento imaterial. Não é por acaso, pois, que, como se
tículas dos campos eléctron-posítron e mesönico possuem massa confundiu a matéria com um de seus aspectos, a substância, con-
têm. A velocidade da
própria, ao passo que os tótons no a
103
102
fundiu-se o movimento com um de seus aspectos, o movimento reduzir tôdas formas do movimento ao
da impossibilidade de
as
existência, interior do
mação em geral. Baseando-se na anáise e nos dados Cientl plexa do átomo e se estabeleceu a no
104 105
to de duração cztremamente pequena. Isto contradiz os fa-
bita, propriedades corpusculares dos objetos
característica das
tos conhecidos c irrefutáveis estabelecidos pea prática. O mo- movimento
materiais. Foram descobertas leis específicas do
delo planetário do átomo entra em contradiço com outro fato diferiam qua-
leis da Mecânica Quântica que
dos microcorpos, as
estabelecido pela cxperiéncia. Segundo ésse modélo, as ondas mecânicos e eletrodinâmicos.
litativamente das dos fenómenos
cletromagnéticas emitidas pelo átomo eram consideradas como mostrou que o
movimento
Assim,progresso da Física
o
o resultado do movimento orbital dos eléctrons. Os cálculos uma torma específica que não se
dos microcorpos representa
teóricos bascados nessas concepções revelaram estar em contra eletromagnético e, ainda menos,
dição com a observação espectroscópica. pode reduzir ao movimento Mecânica Quântica nos fêz conhe-
mecânico. A
Essa descoberta foi fatal para a idéia da unidade eletro-
ao movimento de re-
cer leis désse movimento, mostrou a impossibilidade
as
magnética do mundo físico. A inconsisténcia das tentativas neo- Física clássica.
duzi-las às leis dos movimentos estudados na
mecanicistas de reduzir os processos do mundo do infinitamente fim do século
evidente. O Lénin, analisando o progresso da Física no
pequcno ao movimento eletromagnético tornou-se
XIX e comêço do XX à luz do materialismo dialético,
afirmou
único meio de superar essa contradição era descobrir o movi- universalizar
o
o caráter vão das tentativas neomecanicistas de
mento especifico das micropartículas, suas leis próprias.
movimento eletromagnético, de dar uma imagem eletromagné
Os primeiros passos a êsse respeito foram dados por Bohr, tica geral dos fenômenos fisicos. Na época, quando para a
com seus célebres postulados. Emitiu éle a idéia de que não maioria dos sábios parecia quase indiscutível a possibilidade de
se podia aplicar plenamente a teoria clássica, que admite uma criar tal imagem, Lenin escrevia que o desenvolvimento futuro
variação contínua da energia, aos eléctrons que gravitam em da Ciência mostraria os limites da teoria eletrônica assim como
tôrno do núcleo, isto é, que os eléctrons no interior do átomo o desenvolvimento dessa teoria havia mostrado os limites da
não possuem a propriedade característica do movimento eletro- Mecanica clássica.
magnético de emitir energia de maneira contínua. Segundo nascimento e o desenvolvin nto da Mecânica Quântica
Bohr, existem no interior do átomo estados energéticos discre contirmaram logo a idéia de Lênin. Todos admitem hoje que
tos nos quais o eléctron em movimento não irradia. A mu-
dança de estados de energia possui um caráter discreto que se
não se pode fazer entrar as leis do movimento dos microcorpos
no quadro da teoria eletrônica. Traduzem o lado específico dos
manifesta no momento em que um eléctron passa de um nível
microfenômenos como forma à parte do movimento.
a outro.
O desenvolvimento da Física do núcleo atômico e das par
Mostrou-se, assim, das principais particularidades do
uma
tículas elementares mostrou que a Mecânica Quântica também
movimento dos microcorpos que o diferenciava das formas fí- tinha um domínio de aplicação limitado. Se, no comêço do es
sicas do movimento até então conhecidas. Mas, ao mesmo tem- tudo da Mecânica Quântica, numerosos fisicos supuseram que
po, os fisicos se podia das
supuseram que aplicar
ao
movimento ela constituiria uma teoria universal dos microtenômenos, está
partículas a teoria clássica da variação contínua da energia no
claro agora que os tenômenos que se desenrolam no interior do
caso de movimento sóbre um dado nível de energia, por outras núcleo não podem ser explicados partindo das leis da Mecânica
palavras, a concepção da trajetória, ou da órbita do eléctron. Quantica. Ao penetrar no interior do núcleo atômico, a Física
A descoberta das propriedades ondulatórias dos microcor encontrou uma forma nova do movimento da matéria que não
os, de sua natureza ao mesmo tempo corpuscular e ondulató- se podia reduzir ao movimento mecânico, térmico e eletromag-
ia, constitui um segundo passo adiante, muito importante. Tor nético, mesmo ao da Mecânica Quântica. Com maior razão, a
nou-se, assim, evidente que não se podia tampouco aplicar ao Mecanica Quântica não pode explicar os fenômenos ligados à
movimento dos microcorpos a concepção da trajetória, da ór- estrutura das partículas elementares. A Mecânica Quântica
106 107
constitui a teoria do movimento dos microcorpos, aí comprecn- e bio
sua cssência. Se bem que o estudo bioquímico
didas as partículas elementares, mas não retlete a ligação inter. não esgota aminoácidos, te-
dos elementos da célula, dos
fisico da e s t r u t u r a
na, a estrutura dessas partículas. e das proprie-
nha aprofundado a concepção das particularidades
Pode-se dizer que, agora, os sábios rejeitaram a fórmula ficaram menos convencidos de que,
dades da albumina, todos não uma soma dos
clássica segundo a qual se pode reduzir ao movimento mecânico
a molécula de
albumina no pode ser reduzida a
quc as leis biológicas
as formas superiores do movimento, aí compreendidos os fenô- espe
aminoácidos. Sabe-se igualmente
menos biológicos. Mas, por outro lado, assistimos hoje a nume- vivos e de suas partes n o podem ser
cíficas dos organismos
rosas tentativas de fazê-la reviver sob uma forma nova. Um dos fenômenos estu-
deduzidas diertamente das propriedades
dos aspectos mais difundidos dessa renovação do neomecanicis- Biofísica.
dados pela Bioquímica e a
matéria e de seu
ência, sobretudo no momento em que a Biofísica e a Bioquí- A questão da diversidade das formas da
mica se desenvolveram consideràvelmente e oferecem grandes leva a examinar o caráter das relações causais nos
movimento
perspectivas. diferentes domínios da natureza.
conhecem-se n u m e r o
Numerosos resultados muito importantes da Ciência Bio- Na história da Filosofia e da Ciência
lógica moderna são devidos à aplicação dos métodos físicos e sas tentativas de identificar o princípio
de causalidade com o
químicos. determinismo mecanicista, de reduzir tôda a diversidade dos la-
A aplicação do método dos indicadores de isótopos possi- só forma determinada,
sos de causalidade na natureza a u m a
bilita observar diretamente substâncias no organismo e pene concretizada pelo determinismo mecanicista. Essa teoria está
trar a natureza de fenômenos até agora inacessíveis ao estudo. estreitamente ligada à concepção metafísica que vimos mais aci-
A utilização do microscópio eletrônico abriu novas possibilida- ma, que negava a grande variedade das formas da
matéria e de
des da estrutura da cécula de seus elementos (áci- seu movimento, que reduzia todos os fenômenos da natureza
ao
estudo e
a um aspecto concreto da matéria, a uma forma definida de seu
dos nucleicos, molécula albuminosa) O estudo biofísico e bio-
químico dos elementos da célula, que representou imenso papel movimento. A negação da diversidade qualitativa das formas
na análise das manifestações vitais que nela ocorrem, é utiliza da matéria e de seu movimento leva obrigatòriamente a negar
do com sucesso pelos biologistas para obter uma explicação a variedade qualitativa dos laços de causalidade.
mais protunda de sua natureza. Utiliza-se, em Fisiologia, o
método da análise bioquímica e biofísica para o estudo da ati-
Quando se fala da diversidade dos aspectos da matéria e
de seu movimento, não se pensa apenas na variedade dos ele
vidade vital de certos organismos, inclusive para o estudo do mentos constitutivos da matéria e nas transtormações que se pro-
córtex cerebral dos animais superiores. duzem em cada um dêles, mas também na variedade dos laços
Mas, ao mesmo tempo, não há dúvida de que os processos de interdependência. Considerando-se que a causalidade é, no
biológicos não se podem reduzir aos fenômenos físicos e quí encadeamento universal, o elemento que dá conta do condicio-
micos. O exame bioquímico e biofísico dos fenômenos vitais namento dos objetos e processos uns pelos outros, é claro que
108
109
diversidade qualitativa dos laços de causalidade decorre da va fenómenos os laços de c a u
Física estatística, se bem que nesses
riedade qualitativa das formas da matéria c de seu movimento. salidade também possuam seu caráter específico.
Se. pelo contrário, tôda a variedade do mundo é reduzida a um Mecânica Quan-
No século XX, com o desenvolvimento da
só aspecto da matéria c a uma forma específica de seu movimen- inteiramente nóvo dos microcorpos.
tica, descobriu-se o caráter
to, a varicdade dos laços de causalidade pode ser reduzida à relações de incerteza consis
Essa particularidade expressa pelas das
unidade. as coordenadas e o impulso
te em que, como já dissemos,
Essa negação da variedade qualitativa dos laços de Mecánica Quántica não são defínidos simultánea
causa partículas em
não importa que outro momento. Tal é, na essência, a for- cionados causalmente, que a Mecânica Quântica tratava de te.
mulação do princípio de causalidade aplicado aos fenômenos da nömenos que não obedeciam ao princípio de causalidade. A
vontade de
Mecânica. fonte gnosiológica dessas idéias idealistas reside na
reduzir o princípio de causalidade ao determinismo mecanicis-
Chegou-se a pensar que essa formulação tinha um valor de causalidade,
ta, de ignorar a variedade qualitativa dos laços
universal para a Ciência, que se podia ligar a ela todos os laços de reduzir os laços de causalidade dos microfenömenos aos que
de causalidade existentes na natureza. Essa idéia vinha da con- caracterizam a Mecânica clássica, de faze-los entrar no quadro
como leis
cepção mecanicista que considerava as leis da Mecânica estreito do determinismo mecanicista.
universais da matéria. Ela se difundiu largamente na Ciên- A impossibilidade de aplicar o determinismo mecanicista
cia, por um lado em virtude do imenso sucesso da Mecânica e,
aos microtenõmenos decorre das relações de incerteza. Nada
por outrolado, porque os laços de causalidade descobertos nos
novos domínios da Física aparecidos no fim do século XVIII e há de espantoso nisso porque os microcorpos, suas propriedades,
no XIX combinavam em grande parte com os laços de causa- suasrelações, seu movimento, são diferentes dos corpos que
lidade existentes no movimento mecânico. A formulação do a Mecanica clássica estuda, de suas propriedades, de suas rela-
determinismo mecânico foi um pouco modificada para adaptar- sões e de seu movimento. Não há razão alguma para pensar
-se aos novos domínios da Física. Os sábios ainda voltavam
que as relações causais dos microfenômenos poderiam ter sido
a ele em sua interpretação dos fenômenos eletrodinâmicos, da expressas em têrmos de determinismo mecanicista. A impossi-
110 111
bilidade de aplicá-lo aos microfenömenos significa due
não
idéia do caráter aproximativo, relativo,
de tô-
tenha falhado. A Mecânica Oun Lenin insistia na
da
principio de causalidade cientifica da estrutura e das propriedades
qualitativamente difcrente da representação dessa estrutura e des
descobriu a natureza particular os matéria; cle falou do caráter inesgotável
dos microfenômenos. absolutas na natureza,
aços de causalidade
sas propriedades,
da ausência e fronteiras
da posição de um a movimento, de um estado a
outro.
Em Mecanica Quântica, a detinição da passagem da matéria em
se
em Mecânica das concepções cientíticas
jeto é diferente da Mecânica classica.de clás. desenvolvimento
No século XX o
sica a posição de um móvel se caracteriza, como já o dissemos Filosofia.
o sentido definido por Lênin em
gue
por valôres precisos
das coordenadas e do impulso se referindoa
um momento único do tempo, em Mecanicauaântica a posicão
de uma partícula ou de um sistema e representada pela funcão 3. Unidade das Formas Qualitativamente Diferentes
da Matéria e de seu Movimento
p.Se, em Mecânica clássica, relagões de causalidade são
as
relações entre posições definidas por valöres precisos das coorde
nadas e do impulso definidas simultäneamente, em Mecânica JA afirmação, pelo materialismo dialético, da grande varie-
movimento parte do tato
de
Quântica as relações de causalidade são relações entre estados dade das formas da matéria e seu
rialismodialético insiste no caráter transitório, relativo, aprox exclui, mas supõoe, a diversidade qualitativa dos aspectos da
mativo de todos os marcos do conhecimento da natureza pela matéria e das formas de seu movimento. Não reduz os fenôo
CHencia humana que caminha emprogressão", 12 Eis por que menos infinitos da natureza a um só aspecto da matéria e a
uma só torma de seu movimento. Falando da variedade infi-
12 V. nita da estrutura e das propriedades da matéria, do caráter ines
Lênin, CEuvre, t. 14, p. 273.
112 113
Lenin escrevia que "a
gotável do átomo e do eléctron,
nat..
gás se transforma em partículas carregadas elètricamente, em pode observar na obscuridade, a ôlho nu. E com a ajuda dês
ses clarões que se pode contar o número de partículas a.
íons. No comêço do século XX foram descobertos experimen-
talmente êsses íons. Conseguiu-se igualmente calcular o seu Existem igualmente contadores especiais que registram
as
117
116
outros corpos cristali. meios de comunicação. O homem não só definiu a
número e adisposição nos metais e em nicos, nos
léculas separadas (grandes moléculas de albumina). constituem, mas aprendeu ainda a decompor e a recompor o
120 121
A unidade das formas que não era, separar a Cibernética como Ciência da
qualitativamente diferentes do mo- o
interpre
vimento, que se refletem nos métodos matemáticos, é particu- tação mecanicista e idealista de seu objeto.
larmente evidente em Cibernética. Parece que o valor dos métodos matemáticos da Ciber-
A Cibernética é a Ciência que fornece os métodos matemá nética para o estudo dos processos de comando e de contrôle
ticos de estudo do contrôle dos fenômenos da natureza. Ela em diferentes domínios da automação, em particular nos cal
estuda o tuncionamento dos sistemas de comando. Estuda-se culadores eletrônicos rápidos, jamais suscitou a menor dúvida.
o tuncionamento dêsses sistemas na técnica e nos organismos vi- E a validade da aplicação dos métodos da Cibernética ao estudo
VOS Com o auxilio de métodos matemáticos gerais que utilizam, dos fenômenos da natureza viva (fenômenos biológicos), que
em larga escala, a lógica matemática. A similitude descoberta suscitou dúvidas. Essas dúvidas não têm nenhuma razão de
pela Cibernética entre o funcionamento dos sistemas de coman- ser se não tentamos incluir os fenômenos biológicos no quadro
do na técnica e nos organismos vivos estende-se relativamente da Cibernética.
longe: os calculadores eletrônicos executam funções semelhan- Em que consiste a base objetiva que permite a utilização
tes a certas operações simples da atividade intelectual do homem da Cibernética em Biologia? Consiste no fato de que entre o
efetuam operações matemáticas complicadas, dirigem operações funcionamento dos sistemas de comando na técnica e nos orga-
de produäo, jogam xadrez, traduzem ajuda do homem).
sem a nismos vivos, existe certa similitude que traduz a unidade in-
E preciso observar, primeiro, que não se chegou imediata- terna das formas da matéria e de seu movimento, estudadas pela
mente a situar a Cibernética no sistema da Ciência. No mo- Biologia e pela Física.
mento em que ela apareceu, os matemáticos e os filósofos du-
O organismo vivo é composto de moléculas, de átomos,
vidaram que a Cibernética pudesse existir como Ciência sepa- de embora não constitua uma simples
rada. Por um lado, a Cibernética foi elaborada graças à fusão
partículas elementares,
reunião dêsses elementos. O funcionamento dos organismos
de pesquisas empreendidas em diferentes domínios das Mate vivos está ligado a fenômenos físicos bem determinados sem os
máticas. No comêço certos matemáticos pensavam que era ra- quais a forma biológica do movimento é impossível. Certamen-
cional continuar essas pesquisas nos domínios matemáticos em
te, os fenômenos físicos dos quais os organismos vivos são a
que elas haviam nascido, sem reuni-las numa Ciência nova. sede têm seus aspectos especificos que são estudados por um
Atualmente essas dúvidas se dissiparam. Por outro lado, no ramo particular: a Biofísica. Mas têm, ao mesmo tempo, pro-
Ocidente, a Cibernética teve a pretensão de ser a Ciência das priedades comuns, continuam submetidos às leis gerais que re
leis gerais de desenvolvimento da natureza, da sociedade e do vêem o no-vivo, o que dá a possibilidade de utilizar os mesmos
pensamento humano. Fizeram-se e se fazem ainda numerosas métodos para a análise matemática dos processos que se desen-
tentativas para incluir no quadro das leis da Cibernética os fe rolam nas máquinas mais complexas e de certos aspectos do
nômenos biológicos, psicológicos, históricos e sociais. Tal con- funcionamento dos organismos vivos. A possibilidade de tais
cepção da Cibernética reflete o neomecanicismo difundido nos métodos não se baseia sòmente na dependência que existe en
países capitalistas e nada tem a ver, de fato, com a concepção cien- tre as formas física e biológica do movimento. Os organismos
tifica de seu conteúdo objetivo, de seu objeto. E claro que os vivos estudados em Biologia e os objetos materiais da natureza
filósofos marxistas não podiam estar de acôrdo com essa con inorgânica estudados pela Fisica so aspectos diferentes da mes-
cepção. Mas, ao mesmo tempo, alguns filósofos que criticavamn ma matéria, os objetos de um único mundo material. Eis por
essa maneira profundamente errônea de conceber o objeto da do movimento,
que os organismos vivos e a forma biológica
Cibernética não souberam distinguir o que era científico do que quaisquer que possam ser suas particularidades, devem ter cer-
122 123
tasaspropriedades
e
em
formas de seu
conmum com os aspectos fisicos da matéria fundo, "se aparentam à sensação". Entre a atividade de re
movimento. flexão dos organismos vivos sôbre as quais se baseia a sensação
Essa dialética objetiva das formas da matéria e de seu mo- e o funcionamento das máquinas cibernéticas, existe uma simi-
vimento dão uma base para a litude bem determinada que pode ser expressa com a ajuda do
aplicação dos métodos gerais da
Cibernética em domínios tão diferentes como os sistemas técni- mesmo aparelho matemático que permite utilizar, dentro de cer.
cos de comando e os tos limites, uma teoria geral do comando e do contróle.
organismos vivos.
Quanto
à
capacidade das máquinas cibernéticas de efetuar
certas funções semelhantes às operações lógicas efetuadas pelo
A similitude existente entre as formas de reflexo ineren
tes à matéria inorgånica e as que são próprias aos organismos
cérebro humano, nada tem a ver com a interpretação idealista vivos vai ainda mais longe. O fato de que as máquinas ciber
das
relações entre os calculadores eletrônicoseo cérebro huma néticas podemreproduzir as operações maisde simples do
espir a
no e preciso, aqui, recorrer à teoria marxista-leninista do reflexo. to humano é a prova de que a faculdade reflexo própria
O pensanento, como função do reflexo, apareceu como essas combinações complexas de objetos da natureza inorgánica
124 125
nica Quântica". 10 A identificação do cérebro com a calcula-
cionamento dessa máquina se diferencia fundamentalmente dos
dora eletrônica provém do fato de que os neopositivistas consi. processos biológicos e sociais que condicionaram o aparecimento0
deram o psíquico e o físico como duas interpretações da nossa da consciência e que se acham na base do
experiência, como dois aspectos da nossa percepção. Eis por pensamento.
que, para êles, as relações entre a consciëncia e a matéria, entre Assim, estabelecemos que a unidade das diferentes formas
da matéria e de seu movimento se reflete em suas
o psíquico e o físico não suscitam nenhum problema científico. propriedades
fisicas comuns, nas leis físicas que regem todos os fenômenos da
Já dissemos que não se podiam reduzir os fenômenos bio- natureza, na analogia matemática própria às leis de domínios di-
lógicos aos atos físicos e químicos elementares ligados ao movi-
ferentes da natureza.
mento da substância no organismo.
O emprêgo do mesmo mé- Essa unidade reflete
todo matemático para a análise do funcionamento dos sistemas se
igualmente na possibilidade que tem
técnicos de comando e da atividade dos organismos vivos não as formas da matéria e de seu movimento de se transtormarem
significa tampouco a ausência de diferenças qualitativas entre êles uma na outra.
e a possibilidade de reduzir os fenômenos biológicos aos fenó. Outrora, os filósofos e os sábios pensavam que os átomos
menos físicos. Sabe-se, por exemplo, que se podem representar dos diterentes elementos químicos tinham uma estabilidade ab-
sob a mesma forma matemática as leis que regem os fenômenos
soluta que excluíaqualquer transformação que fôsse. A desco-
ondulatórios eletromagnéticos e mecânicos. Mas nenhum físi- berta dos elementos radiativos e o estudo dos tenômenos que se
co duvida que as vibrações e as ondas eletromagnéticas e mecâ-
nicas representam fenômenos qualitativamente diferentes que não desenrolam no momento da radioatividade mostraram que exis-
iam elementos químicos que se desintegravam em condições
podem ser confundidos. Utilizam-se certos princípios da Hidro- naturais, transtormavam-se em outros elementos. Os elementos
dinâmica para estudar a circulação do sangue, mas é claro que dotados de radioatividade natural podem ser divididos em qua-
não se pode identificar o sistema cardiovascular com um sistema tro grandes grupos. Cada um dêsses grupos representa uma se
de bombas e de tubos elásticos em que circula um líquido. Uma
quencia sucessiva de transmutações de certos elementos em ou-
das diferenças fundamentais entre o organismo vivo e as máqui tros. Essa transmutação começa com elementos de base como
nas consiste em que o primeiro é um sistema em constante reno-
o uranio, o tório, o actínio, o netúnio e termina pela formação
vação que se cria a si mesmo e que está na origem de novos sis-
de elementos estáveis que não possuem radioatividade natural.
temas semelhantes, ao passo que as máquinas cibernéticas se
caracterizam pela sua estrutura rígida e imutável. Após a descoberta da radioatividade, numerosos sábios su-
puseram que a transmutação era a propriedade de um conjunto
No que se refere às calculadoras eletrônicas e ao cérebro
humano, é preciso ter em conta que a capacidade da máquina
determinado de elementos e que a maior parte dos outros eram
de efetuar operações semelhantes a certas funções elementares do desprovidos dela. Mas logo se estabeleceu que mesmo os ele
cérebro depende de um programa introduzido na máquina pelo mentos que não eram naturalmente radioativos podiam, sob a
homem. A calculadora eletrônica é o produto da atividade do influência de circunståncias exteriores, artificiais, transformar-se
homem e funciona segundo um programa impôsto por ele. Es- uns nos outros. Demonstrou-se que a transmutação é a proprie-
dade geral d e todos o s elementos químicos. E assimq u e s e
126 127
E assim, por exemplo, que um próton p se transforma em umn
outro
idealismo, o materialismo pré-marxista, baseando-se no caráter
condições determinadas, é capaz de se transtormar em mo-
material do mundo, elaborou a noção da realidade objetiva do
vimento e sempre em proporções determinadas.
espaço e do tempo.
Assim, o progresso da Ciência fornece dados sempre mais O materialismo anterior a Marx não revelou completamente
numerosos que testemunham a unidade das formas qualitativa- - e não podia fazê-lo- a natureza do espaço e do tempo, como
mente diterentes da matéria e de seu movimento. A unidade forma essencial da existência da matéria, que se manitestam no
do mundo material se retlete antes de tudo nas leis mais gerais movimento; não pôs em evidência-e não podia tazë-lo-o
do desenvolvimento da natureza, da sociedade e do pensamento laço indestrutível, a unidade orgânica do espaço, do tempo e do
humano, objetos de estudo do materialismo dialético. Mas as movimento, condicionado pela unidade do mundo material. A
pectos particulares, elementos essenciais dessa unidade se retl noção que os materialistas pré-marxistas tinham do espaço e do
tem 1gualmente nas leis cientíticas. tempo não escapava à influência da metafísica e da Mecanica,
das quais se podia aproveitar o idealismo. A solução filosófica
e científica correta do problema da natureza do espaço e do tem-
129
128
po foi dada pelo materialismo dialético. Os fundadores do mar.
cm movimento já não se dctinc de outro modo senão pela rela-
xismo-leninismo demonstraram o caráter errôneo da concepção
ção com o espaço co tempo tomados em sua interdependéncia.
idealista do espaço e do tempo, rejeitaram os elementos meta- A ligação entre o espaço, o tempo c o movimento é cxpressa em
tísicos e mecanicistas dos quais continuavam até então contami
noções tão simples como as de velocidade c de aceleração que
nadas as opiniões dos materialistas, descobriram a natureza com caracterizam o movimento mecânico. A velocidade é a derivada
plexa, dialética e materialista do espaço e do tempo como formas primeira e a aceleração derivada segunda da distância percor
essenciais da existência da matéria movente, estabcleceram
a uni- rida (distância espacial) em relação ao tempo. No caso Sim
dade orgânica do espaço, do tempo e do movimento, a
impossi- ples de um movimento retilíneo uniforme, a velocidade é igual
bilidade de separar o espaço e o tempo da matéria. à distância espacial dividida pelo intervalo de tempo; a distân-
Essa nova concepção do espaço e do tempo foi confirmada cia percorrida por um corpo em movimento no espaço é igual
pelo desenvolvimento da Física moderna. Para nos convencer ao produto da velocidade pelo tempo. Por sua vez, o intervalo
mos disso, analisaremos em que medida certas descobertas da de tempo se define em função da velocidade e do espaço percor
Fisica moderna permitem justiticar: 1) os laços recíprocos en- rido. O movimento mecânico de um corpo qualquer se define
o e o movimento como formas essenciais da
tre o espaço, tempo cm particular pelo valor de sua velocidade e de sua aceleração
existência da matéria; 2) a impossibilidade de separar o es-
paço e o tempo da matéria.
em diferentes pontos do espaço e em diferentes momentos. Na
fórmula que dá o movimento mecânico, o tempo e o espaço inter
vêm conjuntamente.
. Interdependência do Espaço e do Tempo à Luz Encontramos qualquer coisa de análogo na teoria do calor,
da Teoria da Relatividade Restrita da Eletrodinâmica. A ligação entre o espaço, o tempo e o mo-
vimento eletromagnético está refletida nas leis de Maxwell. Es
Na ciência dos séculos XVII tabelecem elas um laço para os fenômenos eletromagnéticos en-
XVIII reinavam as concep-
e
tre as variações de intensidade dos campos elétrico e magnético
do
coes metafísicas do espaço, tempo e doo movimento, formula-
das por Newton. (E e H) no tempo e no espaço tomados em sua interdepend ncia.
Este, adotando embora ponto de vista mate
rialista sôbre a realidade objetiva do espaço, do tempoe do movi- Assim, as leis da Física clássica refletem a unidade orgânica
mento, separou-os uns dos outros e da matéria. Para êle, são do movimento, do espaço e do tempo. Apesar disso, os sábios
dos séculos XVIII e XIX, em sua concepção do espaço, do tem-
realidades exteriores em relação à matéria e destacadas umas
das outras. po e do movimento, não puderam compreender essa unidade.
Em seu conjunto, os sábios foram incapazes de superar cs- O fato não é surpreendente, pois a contradição entre o con
sas concepções metafísicas, mesmo depois que Marx e Engels, teúdo objetivo da Ciência e as concepções dos sábios existia em
à luz do materialismo dialético, mostraram seu caráter errôneo
ea ligação orgânica existente entre o cspaço, o tempo e o movi-
tôda uma série de outros domínios.
130 131
dades em certos limites. Seria falso pensar que as leis da Mc-
canica, da Eletrodinâmica x, definindo a posição do móvel num instante ! e na direção do
do calor refletem todos os aspectos
e
da unidade do espaço, do deslocamento do trem, terá valôres diferentes. Se no sistema
tempo e do movimento. Não se pode das coordenadas ligadas à terra, a cooordenada tem o valor x,
atirmá-lo, mesmo quanto à teoria da relatividade. Trata-se,
das contradições que existiam entre o conteúdo aqui, nas ligadas ao trem ela será x = * 1 - vt, onde v é a veloci-
132
133
constante. Se, por exemplo, tomamos uma régua em movi- A teoria da relatividade restrita é bascada nos dois princí
mento retilíneo e uniforme e medimos a diferença de coorde pios seguintes que decorrem da experiéncia: 1) a velocidade
da luz no vácuo é a mesma em todos os sistemas referenciais,
nadas de seus dois pontos extremos (seu comprimento) no sis-
coordenadas relacionado ela 2) as leis da Física (e não sòmente as da Mecánica) são as
tema
de a ou em outro em repouso
mesmas em todos os sistemas referenciais.
a esta, obteremos a O intervalo
em relaço mesma grandeza.
de espaço ocupado pela régua será o mesmo, quer se encontre
Partindo désses princípíios, podem-se obter as transforma-
em estado de repouso, quer sofra uma translação retilínea e ções de Lorentz-Einstein que definem as modificações de coor
uniforme. Igualmente, se medimos, num sistema dado, o in denadas espaciais e temporais quando da passagem de um sis
tervalo de tempo entre dois acontecimentos, éle terá a mesma tema para outro. Chega-se igualmente a outra conclusão muito
grandeza em outro sistema que esteja em movimento de trans- importante. Os intervalos espaciais e temporal entre dois acon-
lação retilínea e uniforme em relação ao primeiro.
tecimentos distanciados no espaço, medidos num sistema de
Assim, os intervalos espaciais e temporais estudados pela coordenadas, não terão a mesma grandeza em outro sistema que
Mecánica de Newton são tais que se definem fora de sua liga- se desloque com um movimento retílíneo e uniforme em rela-
ção entre éles e de sua ligação com o movimento. ção ao primeiro.
Esses fenómenos estudados pela Mecánica clássica foram Em sistemas diferentes, deslocando-se com um movimento
tomados num sentido absoluto. Foram elevados à categoria de retilíneo e uniforme, um em relação ao outro, ésses intervalos
propriedades gerais do espaço e do tempo. Essa é uma das tém valóres diferentes que estarão em função da velocidade do
razões principais pelas quais as concepções metafísicas que se- movimento relativo dos sistemas. A teoria da relatividade res
param o espaço do tempo e éstes do movimento estavam pro- trita estabeleceu que entre as dimensões lineares de um corpo
fundamente enraizadas entre os sábios, na direção do movimento e a velocidade do movimento existe
uma relação tal que essas dimensões diminuem com o aumento
A teoria da relatividade restrita, elaborada por Einstein no
coméço do século XX, mostrou que as relações espaço-tempo-
rais estabelecidas pela Mecáníca clássica só eram válidas para os da velocidade de V1 evézes,
s sendo v - a velocidade
movimentos efetuados a uma velocidade
relativamente pequena
em relação à da luz e que, por conseguinte, não se podia situá- do corpo e c - a velocidade da luz. No que concerne ao in-
las na categoria de propríedades gerais do espaço e do tempo. tervalo de tempo entre dois acontecimentos, ele aumenta de
A teoria da relatividade estabeleceu que no domínio das
grandes velocidades, comparáveis às da luz, não são apenas as v'1 vezes.
coordenadas espaciais que definem a posição de um ponto que c2
variam quando se passa dc um sistema para outro, mas igual-
mente o tempo. As coordenadas e o tempo variam
fun- em Resulta daí que os eintervalos espaciais temporal estão em
e
134 135
teoria da Qual é o valor filosófico do "universo" de quatro dimen-
mos
relatividade tem uma grande importância
compreender a ligação entre
se
quiser- sões, de Minkowski?
espaço c o tempo; ela dá
um quadro correto de sua unidade. Essa unidade do espaço e
E preciso primeiro observar que'essa noção foi utilizadao
do tempo se reilete na concepção do espaço-tempo elaborada idealistas sôbre
para justificar tôda uma série de elucubrações
por Minkowski. espaço e o tempo.
Detenhamo-nos um pouco mais longamente nessa questão. Pouco depois de seu aparecimento, a noção de espaço-tem-
A concepção do espaço real de três dimensões era baseada, po deu lugar a falsificações idealistas grosseíras.
na Fisica clássica, no princípio da constância de
seu intervalo dl Em sua época, Mach procurou destruir a concepção do
em todos os sistemas referenciais. A teoria da relatividade
espaço de três dimensões.
Pretendia êle que estivesse supera-
mostra claramente que êsse princípio nãao é verdadeiro para o E
da e que constituía um obstáculo ao progresso da Ciência.
domínio das grandes velocidades. Minkowski demonstrou que,
assim, exemplo, que
por considerava obriga-
talso representar
se acrescentava às três dimensões do espaço real x, y e z uma
tòriamente os elementos químicos, os átomos, moléculas, as
as
1 ct à maneira de quarta, intervalo do uni- elétricas, num de três dimensões. Falando das
grandezaV- o cargas espaço
dificuldades surgidas no fim do século XIX no estudo da estru-
verso de quatro dimensões ds = V dx2 + dy2 + dx- a d, tura da matéria e da natureza da eletricidade, Mach
afirmava:
permanece invariável em todos os sistemas referenciais, indepen- até formular uma teoria
"O fato de que no se chegou agora a
O universo de Minkowski é o conjunto de todos os valôres rido explicar a todo custo o fenômeno elétrico por processos
1
possfveis de x, y, z e t. Um sistema de valôres determinados moleculares num espaço de três dimensões".
de x, y, z et representa um ponto dêsse continuum de quatro Essas opiniões de Mach e de seus adeptos estão estreita-
dimensões (Minkowski denomina-o ponto do universo). Quan- mente ligadas ao fato realidade objetiva da
de que negam a
do o parâmetro t varia de - o a + o , os pontos dêsse con- matéria e de seus elementos constitutivos, a realidade objetiva
tinuum representam uma linha no espaço de quatro dimensões do espaço e do tempo. Como, para Mach, os elementos quí-
(segundo Minkowski: linha do universo). micos, os átomos, as moléculas, as cargas elétricas e os outros
Assim, Minkowski elaborou a concepção do universo de qua- elementos constitutivos da matéria eram "objetos puramente
tro dimensões com uma medida hiperbólica onde o tempo (mais mentais", "produtos da nossa consciência", propunha êle con-
siderar êsses "objetos" num "espaço imaginário" que compor
exatamente V-1 ct) representa o papel de quarta coordenada. tava um número arbitrário de dimensões.
Com a ajuda do universo de quatro dimensões, Minkowski As concepções de Mach e de seus adeptos relativas ao es
deu uma interpretação geométrica do laço entre os intervalos do ensinamento
paço etempo estão estreitamente ligadas ao
ao
cspaço de três dimensões e o tempo. Segundo essa interpre do além. Os teólogos, que experi-
teológico sôbre o mundo
tação, o intervalo do espaço de três dimensões dl e o intervalo mentavam dificuldades em situar o mundo do sobrenatural, se
de tempo dt entre acontecimentos separados no espaço repre- multidimensional e se estorça-
apegaram à idéia de um espaço
sentam a projeção do intervalo do "universo" de quatro di- ram por utilizá-lo para dar uma base científica à concepcão
teo-
mensões dS sôbre a hipersuperficie. O intervalo dS é invariá- lógica do mundo.
vel e os intervalos dl e dt, considerados como suas projeções geo
métricas, variam em função da escolha da hipersuperfície onde
se projeta dS. 1 V. Lenin, CEueres, t. 14, pp. 185-186.
136 137
Assim, Mach e seus discípulos, aproveitando-se das difi da experiència constitui apenas um dos numerosos espaços pos
culdades da Física clássica, tentaram refutar a concepção mate síveis dos quais a imaginação pode estabelecer imagens pre
ialista do espaço de trés dimensões verificada pela Ciência e
pela prática e dar uma base "científica" à concepção teológica
cisas".
Lênin
mostrou que todos os elementos da Ciência, inclu-
sive os fornecidos pelo
mos sêres de três dimensões, imperfeitos, não possuindo
um
progresso gigantesco do fim do século sentido da quarta dimensão. A concepção tridimensional que
XIX e comêço do XX, no estudo da estrutura e das temos do espaço em que vivemos resulta da nossa imperfeição,
des da matéria, só concordam com a
proprieda
concepção materialista do da nossa percepção. No que concerne ao continuum de qua
espaço de três dimensõcs, da realidade objetiva do espaço e tro dimensões, ee caracterizaria o mundo de quatro dimensões,
do tempo, e que as afirmações de Mach e Cia. são uma (de acôrdo com êsse
negação seu espaço inacessível à nossa percepço
da Ciência. "As Ciências da Natureza", escrevia Lénin, "não se mundo superior de
ponto de vista, só percebemos a seço do
demoram no fato de que a matéria que estudam existe ùnica- mundo de três dimensões, sob a
quatro dimensões e do nosso
mente num espaço de três dimensões e
que, por conseguinte, forma da cooperaço dos corpos que conhecemos). O mundo
as partículas dessa matéria, fôssem elas ínfimas a ponto de nos de três dimensões que habitamos e que nos parece o único exis-
serem invisíveis, existem "necessåriamente no mesmo espaço tente "flutua" num mundo superior de quatro dimensões.
Os
de três dimensões".2 habitantes dêsse mundo superior, que possuem o sentido da
sobrenatu-
Vivamente atacadas por Lênin, as concepções de Mach re- quarta dimensão, devem ser dotados de capacidades
rais, podendo ver ao mesmo tempo o passado, o presente e o
lativas ao espaço e ao tempo renasceram na base da interpreta-
ção idealista do "universo" de quatro dimensões. A interpre futuro (o que vemos desenvolver-se no tempo, eles o vêem de
um só golpe, em sua totalidade, estendido no espaço). Os sê-
tação que se lhe deu está estreitamente ligada à concepção dos
teólogos sôbre o além. res superiores de quatro dimensões deveriam ser capazes de ver
através das paredes de uma caixa.
Segundo essa interpretação, considera-se o continuum de
quatro dimensões como um espaço de quatro dimensões onde o O caráter errôneo de tal interpretação não consiste no tato
tempo serviria de quarta dimensão. Segundo os autores dessa de que se considere o tempo como quarta dimensão dos feno-
interpretação, a significação da concepção do espaço-tempo na menos físicos. No existe fenômeno físico, ou outro fenôme-
teoria da relatividade consiste em que "para nós, o tempo... no material, que se desenrole fora do tempo ou fora do espaço.
não é mais que a quarta medida do espaço". 3 Como o mostrou a teoria da relatividade, a variação das rela-
Os autores dessa interpretação não podem deixar de ver ções espaciais está estreitamente ligada ao desenrolar dos feno-
que a concepção do espaço de quatro dimensões está em con- menos no tempo. Tudo isso se passa em nosso mundo real e
tradição flagrante com a experiência secular da humanidade, pa- não em um "mundo superior'" imaginário, situado no além.
ra a qual o espaço tem três dimensões. Impotentes para re O caráter errôneo dessa interpretação consiste em que colo-
jeitar os dados da experiência e da Ciência, admitem êles que caram na concepção do continuum de quatro dimensöes e, por
"nosso espaço" tem mesmo três dimensões. Mas "êsse espaço
conseguinte, na da quarta dimensão, um conteúdo filosótico e
físico inteiramente falso.
2 V. Lênin, Eutres, t. 14, p. 187.
138 139
No plano filosófico, retilfncoe uniforme em relação ao primeiro. Os resultados das
essa
interpretação bascia-se na
nega do devem então ser transformados
são da realidade objetiva do espaço e do tempo. Consideram- medidas do espaço e tempo
Lorentz-Einstein.
-se
éstes não
como formas objetivamente reais da existência do com o auxílio das fórmulas
mundo
material, mas
como formas subjetivas da percepção hu- Minkowski generalizou os métodos da Geometria de très
formas do conhecimento. Partindo dêsse dimensões acrescentando às três coordenadas do espaço
mana, como uma
ponto
de vista subjetivo e idealista, chega-se a afirmar o caráter estendemos os métodos da Geometria
tado do espaço de três dimensões
limi quarta, a do tempo. Se
do espaço de trés dimensões ao espaço-tempo, cada aconteci
a fabricar especulativamente
um
espaço de quatro dimensões onde a quarta dimensão caracte. mento do mundo material será figurado por um ponto preciso
riza um "mundo superior". di-
em tal sistema. Os intervalos desse continuum de quatro
de re
Tal interpretação do continuum de quatro dimensões tam- mensões serão invariantes para não importa que sistema
po no intervalo de quatro dimensões (dS*= dx* + dy2 + dz2 um caráter geométrico, é necessárío, para explicar sua signitica-
da
c*dt2) não dá o direito de considerar o tempo como uma dizer pelo menos algumas palavras sôbre o problema
-
ção, reali-
quarta dimensão do espaço. Em primeiro lugar, o intervalo Geometria de n dimensões e sôbre suas relações com a
flete-se a
heterogeneidade das coordenadas do espaço e do tem- tas geométricas de n dimensões. Ajudam a explicar numero-
po (às três dimensões do espaço une-se coordenada de sas leis importantes da realidade objetiva. Não se pode negar,
a
temn noção do "espaço de *
po muliplicada por V- le). tampouco, a possibilidade de utilizar
dimensões" ou a do "espaço" de menos de três dimensões, com
Examinemos agora a verdadeira significação do continuum n o espaço só tem, de tato, trës
de quatro dimensões. a condição de esquecer que o
de
dimensões e que èsses continuums geométricos de mais ou
E preciso partir do fato de que tem um caráter geométrico. menos que trës dimensões só tëm caráter
convencional. O tato
Cada acontecimento do mundo material se caracteriza de que o espaço tenha três dimensões não significa absolutamen-
por três
coordenadas do espaço que fixam o acontecimento no te que a Geometria de n dimensões não seja mais que uma sim
espaço e retlete
momento em que se produziu. Os métodos da Geometria usual ples criação do espírito (um meio de cálculo) e que não
permitem determinar a posição do acontecimento no espaço uti- a realidade objetiva. O reconhecimento do valor objetivo da
lizando o sistema de coordenadas de três dimensões. A posi- Geometria de n dimensões não signitica absolutamente que se
ção se define por um ponto geométrico situado no espaço de aceite a noção do espaço de n dimensões, porque a Geometria
três dimensões. O momento em
que se produz o acontecimen- não é sòmente a Ciência das relações espaciais e da korma dos
se detine Cien-
corpos. Històricamente, a Geometria apareceu
to
independentemente por outro método. Essa ma- como a
neira de encarar separadamente o tempo e o cia das relações espaciais e da torma dos corpos; mas com o
espaço, quando se
estudam os fenômenos físicos, obriga a passar de um sistema tempo seu objeto estendeu-se e englobou outras relações e toor
de
três dimensões para outro, deslocando-se com um mas da realidade de uma estrutura similar às do espaço.
movimento
140 141
Se tomamos um gás ideal, a posição de cada uma de suas trico de quatro dimensões só aparece quando se une às trés
moléculas se caracterizará pelos valôres das três coordenadas e coordenadas do espaço aquela do tempo multiplicada por
dos três componentes da velocidade
para cada momento dado
do tempo. Se quisermos definir o estado e as propriedades do 1 c. Na expresso do intervalo quadridimensional, as
gás ideal, precisamos examinar a repartição das moléculas coordenadas do espaço e do tempo se escrevem com sinais di
se
gundo as coordenadas (se tomamos o sistema cartesiano: x, y,
ferentes, o que mostra que não são da mesma natureza. Mas,
z)e os componentes da velocidade (segundo os três eixos: de qualquer modo, há entre o espaço e o tempo relações se
v, w). Decorre daí a idéia do "espaço das fases" de seis di u,
melhantes às que existem entre as coordenadas do espaço eé
mensões, onde o continuum tem seis dimensões. Entre elas, porque se podem estender os métodos da Geometria do espaço
trës (x, y, z) detinem o
espaço (ou, como se diz, o "espaço de de três dimensões ao caso de um espaço de quatro dimensões,
configurações), e três (u, v, w), o valor das velocidades (ou, sendo a quarta a do tempo.
por analogia, o "espaço das velocidades"). Evidencia-se que
se podem estender os métodos da Geometria do
O continuum de quatro dimensões de Minkowski repre
espaço de três senta relações geométricas determinadas, existentes entre as co-
dimensões, depois das generalizações necessárias, às três medi-
das da velocidade e às seis dimensões que definem
ordenadas do espaço de três dimensões e o tempo. Essas rela-
o sistema tí-
sico considerado. Essa analogia traduz-se pela noço ções decorrem da ligação entre o espaço e o tempo. O espaço
de "es
paço das velocidade" ou do "espaço das fases". Entre as seis e o tempo constituem formas diterentes da existência a ma-
téria e é porque não se pode separá-las. A ligação entre o
es
dimensões que definem um
sistema dado, as relações
Ihantes às que existem entre as três coordenadas do espaço.
são seme-
paço e o tempo expressa geomètricamente pelo continuum de
quatro dimensões traduz a interconexão entre as formas essen-
Conhecem-se, igualmente, numerosos exemplos em que se
uiliza a noção do "espaço de duas dimensões". Se, para deter ciais da existência da matéria. continuum de quatro dimen-
O
minar um estado de um sistema qualquer (por exemplo, um soes de Minkowski é a expressão geométrica da ligação interna
gás que se comprime) tem-se necessidade de conhecer duas gran- existente entre as formas fundamentais da existência da matéria.
dezas (a temperatura T e a pressão P), pode-se representar o Quando roçamos o quadro da união íntima do espaço e do
conjunto dos estados de tal sistema em momentos diferentes tempo descoberta pela teoria da relatividade restrita, é preciso
por uma curva num sistema duas dimensões
de coordenadas de observar que essa teoria ainda permanece na moldura das repre-
(com as coordenadas T e P). O estado do sistema, num mo sentações da Mecânica clássica segundo as quais o espaço, em
mento dado, se definirá por um ponto correspondente nesse
todos os seus pontos e em tôdas as sua direções, possui as mes
"espaço de duas dimensões". E claro que, quando falamos de mas propriedades. A teoria da relatividade restrita ainda não
espaço de duas dimensões, pensamos na ocorrência do fato de
féz ressaltar claramente a ligação entre o espaço, o tempo
que entre as duas grandezas T e P existem relações semelhantes e a matéria. E a teoria da relatividade generalizada que ire
às que achamos entre duas coordenadas do espaço.
mos examinar um pouco mais adiante que fornece uma ima-
Assim, não é difícil compreender o sentido do espaço-tem- gem coerente. Antes de falar das conclusões filosóticas decor-
po de Minkowski. rentes, no domínio que nos ocupa, da teoria da relatividade ge
Minkowski mostrou que entre o tempo e o espaço exis- neralizada, detenhamo-nos em algumas propriedades dos campos
tem relações semelhantes, até certo ponto, às que existem en- fisicos e das partículas elementares que põem em evidencia a
tre as coordenadas do espaço de três dimensões. Essa simila- impossibilidade de separar espaço da matéria.
o
ridade está longe de ser completa porque o continuum geomé
142 143
2. A União Intima da Matéria e do Espaço Newton, em sua Mecânica, desenvolveu igualmente umn
à Luz das Propriedades dos Campos Fisicos
ponto de vista essencialmente materialista, admitindo a realida-
e das Particulas Elementares de objetiva do espaço e do tempo. Mas, diferentemente de Des-
cartes, reconhecia a
independéncia do espaço e do tempo em
Os materialistas pré-marxistas resolveram corretamente o relação à matéria, o espaço vazio.
problema da realidade objetiva do espaço e do tempo, mas es- As concepções de Newton sôbre a matéria, o espaço e o
barraram no da natureza da ligação entre o espaço, o tempo e tempo e sua ligaço eram contraditórias. Por um lado, admi-
a matéria. Duas maneiras de encarar essa ligação marcaram par. tia êle que os intervalos de tempo e de espaço registrados na
ticularmente a história da Filosofia materialista e da Ciência, vida quotidiana, acessíveis aos sentidos, mediam a duração e
as de Descartes e de Newton. a extens o dos objetos e dos fenômenos naturais. Traduzia êle
Descartes afirmava a realidade da existência material do êsse conteúdo da idéia usual dos intervalos de tempo e de es-
espaço, rejeitando a idéia de um espaço onde não se encontras paço pela noção do tempo relativo e do espaço relativo. Ao
se nenhum objeto material e onde não se desenrolasse tenôme- mesmo tempo, elaborou a concepção do tempo absoluto e do
no algum. Mas, ao mesmo tempo, identificava a matéria ao espaço absoluto, existentes independentemente dos objetos e dos
espaço. Em sua Física, como dizia Marx, a matéria é a única fenômenos naturais, sem ligaço entre êles. "O espaço absoluto,
substância, a razão única do ser e do conhecimento. Mas Des que é por natureza isolado de tudo quanto é exteri0r, perma-
cartes só concedia à matéria as propriedades do espaço. Escre nece sempre semelhante e constante".* "O tempo absoluto,
veu êle que verdadeiro e matemático, por si mesmo e segundo sua natureza
a natureza dos corpos materiais "consiste apenas
no que percebemos distintamente, que é uma substância exten- própria, decorre de maneira igual, sem ser intluenciado por ta-
sa em comprimento, largura e profundidade. Ora, o mesmo tôres exteriores e se denomina ainda: duração".
está compreendido na idéia que temos do espaço, não só do
Assim, Newton divide o mundo objetivo, a natureza, em
que está cheio de corpos, mas ainda daquele que denomina um espaço absoluto e em um tempo absoluto existentes "iso-
mos vácuo".
O mérito de Descartes foi o de haver considerado a exten- lados de tudo o que é exterior", e em objetos materiais "exterio
res em relação a êles. Segundo êsse ponto de vista, o tempo
são como umá propriedade inerente aos objetos materiais, de
haver rejeitado a idéia do espaço vazio." Mas, ao mesmo absoluto e o espaço absoluto existem independentemente dos
tem- objetos e dos fenômenos naturais, independentemente um do
po, Descartes contftundia a extensão e a materialidade, tinha outro. De acôrdo com Newton, o espaço absoluto é um recep
uma idéia demasiado estreita da matéria à
qual não concedia táculo infinito dos corpos materiais, um cenário infinito onde
outra propriedade senão a da extensão. Por conseguinte, em se representam os fenômenos da natureza. O espaço é um
Descartes, a ligação entre a matéria e o espaço é de tato uma
receptáculo vazio que possui por tôda parte e em tôdas as di
identificação. reçoes as mesmas propriedades. Quanto ao tempo, éle decor
re independentemente dos fenômenos materiais e de suas rela-
5 Cf. K. Marx, Euvres ções espaciais.
Paris, 1927, t. II, p. 225. philosophiques, Alfred Costes editor,
Descartes, Les Principes de la philosophie, Paris, MDCLXXXI,
2. parte, p. 64. 8 Isaac Newton. Mfathematical Principles of Natural Philosophy
7
achava que o espaço "vazio" estava cheio de and His System of the World, University of California Press, Berkeley,
Descartes subs- 1946, p. 6.
tancia material que não era diretamente perceptível pelos órgos dos
sentidos. 9 Ibid.
144 10 145
ação à distância e recebeu uma confirmação Osexperimental bem
Essa concepção que separa o tempo e o espaço da matéria partidários da
recebeu sua interpretação cientí- como uma justificação matemática exata.
e que os isola um do outro afirmaram que existia uma ligação orgânica
fica concreta na "teoria da ação à distância' ação aproximada outro
e o tempo, de um lado,
e a matéria, de
entre o espaço
um do outro
Se tomamos dois corpos materiais separados lado, e rejeitaram a idéia do espaço vazio.
söbre o outro (ação gra-
teorias da ação aproximada e da ação à
no espaço, exercendo uma ação um dis-
de saber A luta entre as
eletromagnética, etc.),
vitacional, levanta-se a questo materialismo e o idealismo no que
como se opera essa interação no espaço e no tempo. As res tância refletia a luta entre o
e do tempo em Fisica.
A vitória
consi se retere à natureza do espaço
postas dos sábios diferem segundo a maneira pela qual da teoria da ação aproximada, sua demonstração
teórica e expe
deram a natureza do espaço e do tempo. compreensão
rimental tiveram uma importância imensa para
a
com
da natureza do espaço e do tempo, de seu laço orgânico
Se o espaço que separa ësses corpos existe por si mesmo,
probantes cargas ou duas partículas que exerciam ação uma sôbre a outra
não existe espaço vazio de tôda forma não era vazio. *A matéria enche o espaço todo e não existe
Se, pelo contrário,
espaço intermediário imaterial", escrevia Faraday;
"ela não pode
da matéria e de todo fenômeno material, a interação entre os
10
Concretizou idéia formu-
corpos deve exercer-se num meio intermediário que os separa e agir onde não se encontra". sua
linhas de fôrça deu nascimen-
setransmitirá a uma finita, pois o
velocidade que vai de sinal lando sua famosa noção das que
um corpo a outro desencadeia, no espaço circundante, processos to, mais tarde, à do campo eletromagnético. Esta última re-
presentou papel mutio importante no desenvolvimento da
materiais que exigem certo lapso de tempo. Tal é, no essen- Ele-
cial, a teoria da ação aproximada. trodinâmica. Com a noção de campo, a teoria da ação apro-
A teoria da ação aproximada é, de fato, uma teoria ma- ximada recebeu uma nova formulação: o campo representa um
cepções de isotropia e de homogeneidade do espaço sòmente são da paridade não era universal, que não era válida em
válidas com um grau limitado de exatidão do qual falaremos mais vação
tôda uma série de casos. Isto significa que a simetria por in-
adiante.
versão, decorrente da concepção do espaço homogêneo e isotró
Nestes últimos tempos, descobriram-se, em Fisica, novas pico, não é rigorosa; o espaço do vazio e sua imagem refletida,
propriedades de partículas elementares que não só estabelecem propriedades geométricas,
a
impossibilidade de separar o espaço da
matéria, mas que ain
não possuindo
sabe-se
as mesmas diferem.
Agora igualmente que não existe tampouco simetria por
da intirmam as concepcões de homogeneidade e de isotropia conjugação de carga.
do vácuo espacial, herdadas da Física clássica.
Estabeleceu-se queas leis da Física variam
quando se per-
A concepção do sentido das direções no espaço ou quando as
espaço homogêneo e isotrópico signitica muta o
particulas
que, se permutamos o sentido de tôdas as se transtormam em
antiparticulas, mas que permanecem imu-
direções no espaço
(se mudamos o sinal de tôdas as coordenadas realizando o que táveis quando essas duas transtormações são simultäneas. Isto
se denomnina uma significa que as propriedades do espaço do vazio, e do sistema
inversão), todos os fenômenos físicos perma
150
151
umas das ou.
de partículas que aí se encontra, são inseparáveis Na Mecânica de Newton, como em Euclides, o espaço
tras, que existe um laço orginico entre elas; a concepção do
toda
pos
espaço homogèneo c isotrópico
é limitada, não retlete as múl. sui por parte as mesmas propriedades geométricas. Con-
siderava-se a Geometria de Euclides, com sua noção do espaço
tiplas propriedades do espaço condicionadas pelo movimentoo e
a repartição da matéria.
homogêneo e isotrópico, como a única Geometria objetiva, re
fletindo as propriedades do espaço infinito.
A teoria da relatividade generalizada faz aparecer clara- N. Lobatchevski
mente a dependência na qual se encontram as propriedades do mostrou que não se podia colocar o
es
espaço em relação ao movimento e à repartição
da matéria, a paço infinito, com suas propriedades da
múltiplas, no quadro
Geometria euclidiana. Para ele, esta só era válida para as pro-
concepção da homogeneidade do espaço acha-se, assim, infirmada.
priedades de certos domínios limitados do espaço que a Mecâni-
ca clássica estuda. Ao mesmo tempo, Lobatchevski criou uma
Geometria não-euclidiana e descobriu novas propriedades do
3. Ligação Entre a Matéria, o Espaço e o Tempo espaço.
à Luz da Teoria da Relatividade Generalizada em postulados e axiomas
A Geometria euclidiana baseia-se
determinados. Entre êles acha-se o quinto postulado que habi-
Como dissemos mais acima, a concepção newtoniana doo tualmente é formulado assim: por um ponto exterior a uma
espaço absoluto supõe que o espaço existe por si mesmo, inde- reta pode-se conduzir uma única paralela a essa reta.
pendentemente dos objetos e dos tenômenos materiais, que pos Durante numerosos séculos, pensou-se que sse postulado
sui por tôda parte e em tôdas as direções as mesmas proprie de Euclides era a conseqüência de todos os outros postulados
dades, independentemente da repartição e do movimento da e axiomas. Mas apesar de inumeráveis tentativas nunca se che
matéria. Isto corresponde exatamente às propriedades do es- gou a demonstrá-lo. Lobatchevski explicou sses fracassos pe
paço euclidiano. A Geometria de Euclides e a Mecânica de lo tato
de que êsse postulado no decorria dos outros, exprimia
Newton baseiam-se nas mesmas concepções gerais das proprie as propriedades de domínios limitados do espaço e podia ser
dades do espaço. De um lado, a Geometria euclidiana nasceu substituído por outro postulado. Lobatchevski rejeitou o pos-
em ligação estreita com o desenvolvimento da Mecânica em seus tulado de Euclides pôs outro na base da teoria das paralelas;
e
começos, ela generaliza a atividade prática dos homens nesse do- porum_ponto exterior a Uma reta podem-se conduzir varias pa-
minio. , de outro lado, foi sôbre ela que Newton fundou ralelas a essa reta. Partindo daí, criou um nôvo sistema geo
métrico que retlete as propriedades espaciais do mundo objetivo.
sua concepção do espaço. Ele próprio calculou o laço entre a
Geometria e
a Mecânica da seguinte maneira: "A Geometria Decorre da Geometria de Lobatchevski que o espaço é curvo.
baseia-se naprática da Mecânica e não é mais do que a parte Descobriu-se, assim, uma nova propriedade muito importante
da Mecânica universal que formula e demonstra exatamente que não era refletida na Geometria de Euclides e nas concepções
arte da medida.
a que a Mecânica clássica fazia do espaço. Ao mesmo tempo,
Mas como as artes manuais servem
sobretudo
para fazer mover os corpos, veritica-se que utilizamos habitual- Lobatchevski demonstrou que a Geometria de Euclides conti-
mente a Geometria para estudar a nuava válida para dominios limitados do espaço, que era um caso
Mecänica para estudar seu movimento".11
grandeza
dêsses corpos, e a
limitado da Geometria não-euclidiana.
A descoberta de uma nova Geometria não-euclidiana por
Lobatchevski significava que o espaço não tem, por tôda parte,
11 Isaac Newton, Mathematical Princlples of
and His Natural Philosophy as mesmas propriedades geométricas, que não se
podiam colo-
System of the World, p. XVII. car as propriedades múliplas do espaço infinito no quadro da
152 153
as propriedades geo. As idéias de Lobatchevski foram desenvolvidas nos traba-
Gcometria cuclidiana. Isto signiticava que Ihos de vários sábios célebres do século XIX. 13 Demonstrou-
mesmas em todos os seus domí
métricas do espaço não eram as
-se que além da Geometria de Lobatchevski existiam outras Ge0
fenômenos materiais que aí
nios, que cram determinadas pelos metrias não-cuclidianas. Riemann descobriu uma nova Geome-
desenvolvem. O fundador da Geometria
não-cuclidiana viu,
se
Na natureza", escre tria não-cuclidiana. Como Lobatchevski, Riemann partiu da
ele próprio, tôdas as suas conseqüências.
idéia de que a Geometria de Euclides não correspondeu absolu-
"só conhecemos o movimento sem o qual as
veu Lobatchevski, tamente às propriedades espaciais do mundo material. Mas,
são impossíveis. Assim, tôdas as
impressões de nossos sentidos diferentemente de Lobatchevski, rejeitando o quinto postulado
outras noções geométricas, notadamente, produto artiticial da de Euclides, estabeleceu que, por um ponto exterior a uma reta,
são tomadas por empréstimo às propriedades
nossa inteligência, não se podia conduzir nenhuma paralela a essa reta, isto é, ële
eis não exIste tora de nós.
do movimento; por que o espaço admitia que duas retas quaisquer tëm sempre um ponto de in-
em nosso es-
Depois disso, não pode haver contradição alguma terseção. A idéia de Lobatchevski sôbre o caráter heterogêneo
admitimos certas törças da natureza obede-
pírito quando que 12 do espaço intinito, sôbre a dependéncia das propriedades de seus
a uma Geometria e, outras, à sua Geometria própria"'.
cem
Como se vê, Lobatchevski insiste na idéia de que as proprieda
diferentes domínios em tace dos fenómenos materiais que ai
se desenrolam, chegou à descoberta de uma nova Geometria
des geométricas do espaço estão estreita ligação com os te.
em
não-euclidiana.
nomenos materiais que nêle se produzem. Tendo demonstra-
Esses princípios geométricos, que refletiam propriedades
do a existência da Geometria não-euclidiana, Lobatchevski es-
do novas do espaço, desconhecidas na Física clássica, que revelavam
tabeleceu ao mesmo tempo a diversidade dodas propriedades toram
espaço, determinada pela interdependência espaço e dos feno a ligação orgânica entre essas propriedades e a matéria,
menos materiais. contirmadas na teoria da relatividade generalizada.
As descobertas de Lobatchevski em Geometria, suas idéias A teoria da relatividade restrita havia esboçado um quadro
progressistas, tiveram grande inmportância na luta contra as con da ligação entre o espaço e o tempo, mas ela partia da concepção
cepções idealistas e metatísicas do espaço. da homogeneidade de suas propriedades. Na base dessa teoria
Sabe-se que Kant e seus discípulos consideravam o espaço encontra-se a concepção euclidiana das propriedades do espaço
como uma
forma a priori, precedendo a experièência, da intuição de três dimensões. O continuum de quatro dimensões de Min-
sensível, privada de conteúdo material. Foi partindo dêsse prin- kowski, que dá uma imagem geométrica concreta da interde
cípio que Kant e os kantianos consideravam a Geometria de pendência do espaço e do tempo, baseia-se 1gualmente na con-
descobrir u m a
13 O matemático húngaro Janossi foi o primeiro a
12 N. Lobatchevski, Eutres complètes, t. II, Gostekhizdat, Mos Geometria não-euclidiana após Lobatchevski e independentemente
dele.
cou-Leningrado, 1949, p. 147.
155
154
liberada dos limi.
A teoria da relatividade generalizada é trica à gravitação determina o caráter heterogeêneo do espaço
do c do tempo; de gravitação depende da repartição, da concen-
tes que impõe a idéia da homogeneidade
espaço
não-cuclidianas do espaço, esta-
pois o
campo
tração das massas.
ela tem em conta propriedades
belece uma dependência direta das relações espaço-temporais em As propriedades métricas do continuum de espaço-tempo,
relação à concentração e ao movimento das
massas. intluência do campo de gravitação, não en-
determinadas pela
Sabe-se que a gravitação, descoberta por Newton, é
uma tram no quadro da Geometria euclidiana. As equações de gra-
massa. Eis por que determinamos a massa dos objetos terres propriedades correspondem à Geometria não-euclidiana.
tres que utilizamos na vida quotidiana pela atração que sofrem Mas a teoria da relatividade generalizada não se limitou a
por parte da Terta, isto é, o pêso. A lei da gravitação estabe- es tabelecer o caráter não-euclidiano das propriedades geométricas
lece que dois corpos de um söbre o do continuum de espaço-tempo e a subordinação da métrica ao
m, e
massa m agem
com uma tôrça proporcional ao produto dessas massas e inver-
outro
campo de gravitação. Ela mostrou ainda que as propriedades
$amente proporcional ao quadrado da distância. Quer dizer do campo de gravitação são tais que as leis da Física para do
que, na Mecânica de Newton, a gravitação se caracteriza pela mínios limitados do espaço e do tempo podem ser enunciadas
tôrça com a qual um corpo, encontrando-se num momento dado sob uma forma idêntica no só nos sistemas galileicos, mas ain-
num dadolugar do espaço, age outro corpo sôbre distanciado da nos sistemas de coordenadas movendo-se com uma aceleração.
dele. Temos aqui uma imagem semelhante à interação elétrica Isto assim se apresenta.
das cargas definida pela lei de Coulomb. Mas, como vimos A massa de um corpo é a medida de sua inércia. Eis por
mais acima, a imagem da interação de Coulomb foi aprofunda-
da, em Eletrodinâmica, pela teoria do campo de Faraday e de que pode achar o valor da massa pela sua inércia. Por outro
se
lado, pode-se determinar essa mesma massa independentemente
Maxwell que fêz aparecer o modo de propagaço dos fenóme Nos dois casos,
nos eletromagnéticos no espaço e no tempo. O mesmo na teo-
da lei de inércia, pelo pêso, pela fôrça do pso.
o resultado é o mesmo, isto é, a massa inerte é absolutamente
ria da relatividade generalizada, para caracterizar a
gravitação, igual à massa pesante.
utiliza-se a noção do campo de gravitação; estuda-se a ligação
entre os acontecimentos que se passam num dado ponto do es-
A teoria da relatividade generalizada explicou a igualdade
a massa inerte e a massa pesante partindo das proprieda-
paço e num dado moment0 e outros que se passam um pouco entre
vizinhança imediata. O movimento do corpo, des do campo de gravitação. Queremos falar do princípio de
antes na
deter
minado pela gravitaçao, se caracteriza nesse caso pela mudança equivalência de Einstein que estabelece que o campo de gravi
difere
por sua influência sôbre os tenômenos físicos,
no
do campo. tação,
Assim, a teoria da relatividade generalizada pôs em relêvo do campo criado por um movimento unitormemente acelerado,
um campo
a dependncia direta das propriedades do espaço-tempo e da mé que o campo de gravitação pode ser substituído por
resultante de um movimento unitormemente acelerado. Einstein
trica do continuum de espaço-tempo de quatro dimensões em exemplo:
relação ao campo de gravitaç o. 4 Essa subordinação da mé- ilustra a significação dêsse principio pelo seguinte su-
cão do Bspaço-Tempo em Fístca, edições da Universidade de Lenin- dois se deslocam com a mesma aceleração (a aceleração de um
grado, 1956. corpo em queda livre não depende de sua massa.) Conside-
156 157
espaço porque n0 curso do movimento uniformemente acele
rando que èsse objeto não cai sôbre o chão, a pessoa que se en-
contra no elevador tem a impressão de que nenhuma förça age rado, todos os corpos sólidos sofrem uma deformação e não se
sobre ele, que cle se acha em repouso, exatamente como esta- pode negligenciá-la senão para os corpos de pequena dimensão.
"A característica local do princípio de equivalência exclui a
ria num sistema galileico, quando nenhuma fôrça age sôbre êle.
Pelo contrário, para uma pessoa que se achasse tora do eleva- possibilidade de aplicá-lo aos objetos físicos como o sistema so
dor, èste e o objeto que se encontra no seu
interior se deslocam lar. Com efeito, se não nos limitamos a objetos e espaços de
com uma aceleração em razão da aço do campo de gravitação tempo suficientemente pequenos para que o campo de gravita-
da Terra. Portanto, a pessoa que se acha fora do elevador ob- ção seja homogêneo e constante, não podemos substituir èste
serva um campo de gravitação e um movimento acelerado, ao
campo pela aceleração; por outro lado, neste caso, também não
passo que a pess0a que se acha no interior do elevador observa podemos substituir a aceleração pela gravitação". 15
um estado de repouso, semelhante ao que se observa num sis- O conteúdo essencial da teoria da relatividade generalizada
tema galileico, quando a influência do campo de gravitação é nula. não está no princípio da equivalncia, mas na demonstração da
do espaço subordinação das propriedades do espaço-tempo à concentração
Por conseguinte, nos
domínios limitados e
do e ao movimento das massas, na demonstração da subordinação
tempo onde o princípio da é válido, os sistemas de
equivalência
coordenadas que se deslocam com aceleração são todos equiva da métrica ao campo de gravitação.
lentes para o enunciado das leis tísicas. Esta dependência da métrica do continuum de espaço-tem-
O próprio Einstein deu uma interpretação do princípio po em relação ao campo de gravitaço deve-se refletir na lei da
de equivalência segundo a qual a equivalência dos sistemas de propagação da luz no desvio do raio luminoso no campo de
coordenadas não-galileicas possui um caráter universal. Par- gravitação. A curvatura do continuunm de espaço-tempo em
tindo daí, afirmou êle que os sistemas de Copérnico e de Ptolo- quatro dimensões determinada pela gravitação depende da con-
meu tinham um valor igual e que a luta secular dos sábios de centração das massas. Em razão da enorme rapidez da propa-
vanguarda para impor o heliocentrismo de Copérnico não tinha gação da luz (300 000 kms por segundo no vácuo), o desvio
sentido. Essas afirmações do fundador da teoria da relativida- de uma trajetória toma proporções acessíveis à observação sò
de foram utilizadas pelos filósofos idealistas para provar o ca- mente quando os raios passam nas vizinhanças de uma grande
ráter arbitrário dos princípios da Ciência, a ausência, nesses prin- concentração de matéria. Os cálculos mostraram que, passan-
cípios, de um conteúdo objetivo, independente da consciência. do próximo ao disco solar, os raios luminosos devem sofrer
Mas o princípio de equivalência não pode servir de base um desvio possível de ser
observado com os
instrumentos astro-
para afirmar o valor igual dos sistemas de Ptolomeu e de Co nomicos. Com efeito, as observações astronômicas revelaram
êste tenômeno, no qual a ordem de grandeza correspondia ao
pérnico. Esse principio, como o mostrou o acadêmico Fok,
possui um caráter limitado no espaço e no tempo, só é váido que havia sido previsto teoria da relatividade generalizada.
pela
para campos e movimentos homogêneos e de fraca intensidade. vizinhanças do Sol é de-
O desvio do raio luminoso nas sôbre
Analisando o célebre exemplo do elevador, Fok observa que Vido à ação do campo de gravitação a massa de tótons e
158 159
Assim, a significação filosófica da tcoria da relatividade ge- do espaço real ter três dimensões. No
continuum em quatro
neralizada consiste principalnmente em que, tendo cla descoberto dimensões da teoria da relatividade generalizada, três coorde-
a ligação direta entre a métrica do continuum em quatro di- nadas indicam as grandezas se relacionando com o espaço. O
mensões e o campo de gravitação, deu uma imagem tísica con- tempo não é uma coordenada do espaço, mas uma
quarta di-
creta da dependência das propriedades do cspaço e do tempo mensão do continuum unindo o tempo e o espaço.
em relação à matéria. Descobrindo a dependência da curva- Assim, o conteúdo objetivo da teoría da relatividade ge-
tura do espaço-tempo com relação à concentração das massas, neralizada enriquece as bases cientíticas da concepção materia-
a teoria da relatividade generalizada fêz surgir a característica lista e dialética do espaço e do tempo enquanto condições fun-
limitada das conccpções clássicas sôbre a homogeneidade do es- damentais da existência da matéria, concretiza esta concepção
paço e o correr uniforme do tempo. Esta teoria dá uma ima no plano cientítico, tornece rico material para seu desenvolvi-
gem mais completa da ligação entre o espaçoe o tempo que a mento. Apesar disso, após o nascimento da teoria da relati-
tcoria da relatividade restrita. Se esta última chegara à repre vidade generalizada, encontram-se diferentes interpretações idea-
sentaçãogeométrica da ligação entre o espaço e o tempo (o listas entre filósofos e sábios.
continuum em quatro dimensões de Minkowski), na teoria da A interpretação idealista desta teoria surgiu principalmente
relatividade generalizada esta relação aparece como conseqüên- nos domínios da Cosmologia, estreitamente ligada aos problemas
cia da dependência das propriedades do espaço-tempo em rela. do espaço e do tempo. Modelos cosmológicos apareceram para
ção à divisão e ao movimento da matéria (o continuum em qua- demonstrar" queo Universo é limitado no espaço e no tempo.
tro dimensões da teoria da relatividade generalizada é diferente Einstein propôs em 1917 a primeira variante do modelo
do de Minkowski). Além disso, a teoria da relatividade gene. cosmológico do Universo limitado no espaço. Em seguida, en-
ralizada estabelece a unidade do espaço e do tempo expressa, saiou-se desenvolver esta idéia de diversas formas. Os auto
pelo continuum em quatro dimensões para os fenômenos físicos res dêsses modelos tomam como ponto de partida a curvarura
aos quais a teoria da relatividade restrita do continuum de espaço-tempo, estabelecida pela teoria da re-
é inaplicável.
Mas isto não quer dizer que a teoría da relatividade ge- latividade generalizada, e tentam demonstrar que, em razão des.
neralizada suprima tôdas as diferenças entre o espaço e o tempo ta curvatura, acreditar-se-ia no continuum de espaço-tempo em
como formas relativamente independentes da existência da ma quatro dimensões, nosso espaço em três dimensões fechado e
téria. Tendo desembaraçado a unidade orgânica do espaço e limitado.
do tempo, esta teoria não exclui, por êste motivo, sua indepen- Mais ou menos dez anos após a aparição do primeiro mo-
dência relativa. E preciso sublinhar que as leis da teoria da dêlo da teoria do Universo "limitado no espaço", descobriu-
relatividade generalizada contêm, por um lado, as grandezas que -se o fenômeno conhecido como deslocamento dos raios do es-
Consiste no deslocamento dos
caracterizam o espaço e o tempo em sua unidade, que refletem pectro em direção ao vermelho.
raios luminosos que nos vêm das outras galáxias, com o tempo,
suas propriedades comuns, invariáveis por um conjunto de
maior em direção aos raios vermelhos do espectro, ou seja, o compri-
transtormações que na teoria restrita, que se aplicam ao
das ondas luminosas recebidas dessas galáxias
aumenta.
continuum em quatro dimensQes em seu todo (intervalo de es mento
paço-tempo, curvatura do continuum em quatro dimensões). Pode-se explicar êsse deslocamento dos raios luminosos (raios
Por outro lado, a teoria da relatividade generalizada opera com atastarem de nós com uma
espectrais) pelo fato das galáxias se
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grandezas ligadas às propriedades do espaço e do tempo toma rapidez que é função de sua distância.
das não em conjunto, mas isoladamente (impulso e energia). acústicas.
fenômeno análogo das ondas
Da mesma forma que a
teoria da relatividade restrita, a
teoria da relatividade generalizada não põe em dúvida o fato de
16 Produz-se
compararmos o
aqui
apito de
um
uma locomotiva
ao
161
160
se tenta conciliar do campo de gravitaçao, por um conjunto finito de massas; não
Existem modelos cosmolögicos nos quais
no espaço com o fenô- dá uma teoria universal das propriedades do espaço e do tempo
a oncepção de um universo limitado falar válida para o Universo no seu todo.
nebulosas extragalácticas.Queremos da
meno da tuga das tormulada matemàticamente
tooria do "Universo em cxpansão Em seguida, ésses modelos cosmológicos supõem que o
e desenvol.
no comèço da década de 20,
por A. Friedmann, já dessa
espaço não está igado senão a um aspecto da matéria: as mas-
vida por Lemaitre, assim como
outras variantes teoria. sas pesantes, os campos de gravitação que elas criam. Não le-
esta teoria, o Universo seria uma estera limitada no
vam em conta a existëncia de campos eletromagnéticos, e outros,
Segundo
espaço, cujo raio
aumentaria continuamente. Partindo daí, Le- e os objetos materiais que 0s criam também não levam em
maitre tentou demonstrar, igualmente, que o Universo estava conta as propriedades do espaço determinadas por outros aspec
limitado no tempo. Se o Universo aumenta constantemente, tos da matéria.
SÃO PAULO
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