A Internacionalização Das Comunidades Lusófonas e Ibero-Americanas PDF
A Internacionalização Das Comunidades Lusófonas e Ibero-Americanas PDF
A Internacionalização Das Comunidades Lusófonas e Ibero-Americanas PDF
DAS COMUNIDADES
LUSÓFONAS E
IBERO-AMERICANAS
DE CIÊNCIAS SOCIAIS
E HUMANAS ODACASO DAS CIÊNCIAS
COMUNICAÇÃO
Organização
Moisés de Lemos Martins
POR UMA COMUNIDADE CIENTÍFICA, POLICENTRADA E POLIFACETADA, UMA COMUNIDADE COM SENTIDO HUMANO
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A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES LUSÓFONAS E IBERO-AMERICANAS
DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS – O CASO DAS CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Coordenação
MOISÉS DE LEMOS MARTINS
Impressão: Papelmunde
1.ª edição: novembro de 2017
Depósito legal: 434342/17
ISBN: 978-989-755-306-6
Apoio:
Coordenação
Moisés de Lemos Martins
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A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES LUSÓFONAS E IBERO-AMERICANAS DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
ÍNDICE
PRIMEIRA PARTE
COMUNICAÇÃO, CULTURA E INTERNACIONALIZAÇÃO
SEGUNDA PARTE
POLÍTICA CIENTÍFICA, PUBLICAÇÃO E
INTERNACIONALIZAÇÃO
TERCEIRA PARTE
LÍNGUA, GLOBALIZAÇÃO E INTERCULTURALIDADE
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dúvida que, no seu conjunto, estes textos são de uma importância extraordinária,
pela esperança que os anima, de desenvolvimento, alargamento e consolidação
da comunidade ibero-americana de Ciências da Comunicação 1.
As Ciências da Comunicação são uma atividade de pensamento crítico, uma
atividade que se exerce sobre a sociedade. E exercer este olhar reflexivo sobre os
modos como interagimos uns com os outros no espaço ibero-americano concorre
para a construção desta grande comunidade científica.
Ao falarmos do espaço ibero-americano, estamos a falar de uma diversidade
de culturas, estamos a falar de comunidades que se exprimem em duas línguas,
a portuguesa e a espanhola, duas línguas que por serem de cultura, pensamento
e conhecimento, concorrem para a construção da comunidade científica ibero-
-americana, contrariando a visão de um mundo monocolor, um mundo globali-
zado, hegemonicamente falado em inglês 2.
As Ciências das Comunicação dos países ibero-americanos têm esta respon-
sabilidade, uma responsabilidade ao mesmo tempo científica, estratégica, política
e cívica, de concorrer para a construção da comunidade de investigação ibero-
-americana de Ciências da Comunicação, fazendo obra de cultura, de pensamento
e de conhecimento. Ao interrogarem em português e em espanhol os modos como
nos distintos países deste espaço transnacional e transcontinental fazemos obra
de conhecimento e interagimos uns com os outros, as Ciências da Comunicação
constroem a sua própria comunidade científica.
As expressões maiores do espírito apenas podem ser realizadas na língua
materna. E entre as expressões maiores do espírito estão o pensamento e a cultura
(Martins, 2015 b).
O II Congresso Ibero-americano de Ciências da Comunicação exprimiu o
entendimento de que as línguas, portuguesa e espanhola, por serem ser línguas
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Referências bibliográficas
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Resumo
É meu propósito discutir a comunicação da ciência no atual contexto da globalização do
conhecimento e da cultura digital, interrogando as políticas de ciência, língua e comuni-
cação, e o modo como elas modelam e condicionam o desenvolvimento das comunidades
lusófonas e ibero-americanas de Ciências Sociais e Humanas.
Proponho a hipótese de estarmos a fazer uma travessia tecnológica, em muitos aspetos
análoga à travessia marítima europeia dos séculos XV e XVI. Coloco, pois, em confronto a
natureza tecnológica da atual globalização financeira e a natureza comercial da expansão
marítima europeia. E se da primeira travessia resultou a colonização de povos e nações, com
a segunda travessia passámos, em século e meio, àquilo a que Edgar Morin chamou a “colo-
nização do espírito” de toda a comunidade humana (Morin, 1962). Neste contexto, tomámos
em consideração as consequências, para a cultura, da revolução ótica, que se iniciou por
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meados do século XIX, com a invenção da máquina fotográfica, e concluiu, no nosso tempo,
com a Internet e a realidade virtual de produção tecnológica (Martins, 2010, 2011 a, 2014).
Vou situar nos estudos pós-coloniais as identidades transnacionais e transcontinentais,
analisando as comunidades lusófonas e ibero-americanas de Ciências Sociais e Humanas,
no contexto da “batalha das línguas” (Lopes, 2004), para utilizar uma expressão do linguista
moçambicano, Armando Jorge Lopes, a que dou, todavia, um novo sentido. Vou, pois,
considerar as políticas de ciência, língua e comunicação como combates pela ordenação
simbólica do mundo (Bourdieu, 1977, 1979, 1982), onde se colocam os problemas de língua
hegemónica e de subordinação científica.
Sendo tecnológica a condição da época, tomo o ciberespaço como um novo lugar do
conhecimento científico, sem dúvida em língua inglesa, com as políticas de comunicação
a saltar para os web sites, os portais eletrónicos, as redes sociais, os repositórios digitais e
os museus virtuais; mas do ponto de vista que nos interessa, o novo lugar do conhecimento
é em língua portuguesa, e também em língua espanhola.
Finalmente, apresento um conjunto de elementos sobre a presença de uma comunidade
científica de Ciências Sociais e Humanas, o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade
(CECS), num Repositório académico digital, o Repositorium da Universidade do Minho.
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mercado global (Martins, 2010; 2015 a, p. 9-10). E exprime, além disso, uma conceção
cosmopolita de cultura, a cultura-mundo (Martins, 2011 b; Martins, Cabecinhas,
Macedo, 2011), uma cultura da unidade, servida por uma única língua, o inglês.
Mas se é verdade que o mundo se unificou, através da expansão do capi-
talismo, também se diversificou, por via de resistências e adaptações diversas
(Sahlins, 1993, p. IX). Como assinala Manuel Ivone Cunha, “A integração global
e a diferenciação local seriam até certo ponto concomitantes. A diferenciação
desenvolver-se-ia como resposta à integração mundial” (Cunha, 2015, p. 227) 2.
É este o contexto em que me parece dever ser situado aquilo a que podemos
chamar de “globalização multiculturalista”, que nos permite enquadrar, seja o
espaço lusófono, seja o espaço ibero-americano. A “globalização cosmopolita”,
fundada nas tecnologias da informação e na economia, não pode ser contra-
riada por indivíduos solitários e impotentes, nem por Estados-nações em crise.
Pode-o ser, todavia, pela globalização multiculturalista, que reúne os povos de
áreas geoculturais alargadas, promove e respeita as diferenças, dignificando, do
mesmo passo, as línguas nacionais. A globalização multiculturalista é a globali-
zação do que é diverso, do que é diferente, do que é outro. É feita pela mistura,
pela miscigenação de etnias, línguas, memórias e tradições 3. E é este o sentido
que me parece dever ser dado à possibilidade, seja de comunidades lusófonas,
seja de comunidades ibero-americanas, de cultura, arte, pensamento e ciência.
2 A este propósito, ver também Arjun Appadurai (2005), Dimensões Culturais da Globalização.
3 Sobre a tensão entre a globalização cosmopolita e a globalização multiculturalista, ver “Globali-
zation and Lusophone world. Implications for Citizenship” (Martins, 2011 b). Veja-se, também,
Vítor Sousa, 2017.
4 Ver, por exemplo, Roger Crowley (2015), Conquerors. How Portugal forged the first global Empire;
também Martin Page (2002), The First Global Village: How Portugal Changed the World; e ainda,
A. G. R. Russell-Wood (1992), The Portuguese Empire, 1415-1808. A World on the Move.
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sistemas de signos não verbais. E coisa bem diferente é a leitura a que se refere o
transmedia storytelling, ou cross-media, que significa a expansão da narrativa,
por meio de vários média (Sousa, Martins & Zagalo, 2016) 10.
Os média digitais significam, ainda, a interatividade, e não propriamente a
interação, ou seja, significam práticas sociais, que não remetem apenas para a
liberdade e a autonomia dos atores sociais; remetem, igualmente, para os cons-
trangimentos da ação social, a qual ocorre, sempre, como referi, em condições
específicas de tempo, espaço e interlocução.
E são os atuais dispositivos eletrónicos de programação e de design, numa
linha que é tanto de continuidade como de rompimento com a máquina foto-
gráfica, que generalizam o processo de produção de imagens como práticas de
“simulacro e simulação” (Baudrillard, 1981), entre a troca lúdica e a partilha diária
de imagens digitais, nos ambientes reais e virtuais dos nossos telemóveis e com-
putadores, de idêntica forma à que ocorreu, no passado, com os postais ilustrados
(Correia, 2013; e Martins & Correia, 2014).
Os média digitais significam, então, novas práticas de produção do sentido, ou
seja, novas práticas da linguagem e da comunicação: por um lado, textualidades
multimodais (“hipertextualidades”); e por outro, formas de comunicação digital
interativa. Entretanto, nesta travessia, atribuímo-nos uma “pele tecnológica”
(Kerckhove, 1997), uma pele para a afeção, o que quer dizer, uma pele para o
ser-e-estar-com-outros.
Ao adotar o imaginário dos ecrãs, a circum-navegação eletrónica, concretiza
o paradigma da cibercultura como uma travessia em direção à nova América de
um novo arquivo cultural, que reativa o antigo, o arcaico, enfim o mitológico
(Jenkins, 2008) e, ao mesmo tempo, reconfigura em permanência a comunidade,
pelo desejo de ser-e-estar-com-outros 11. E é a história, mas a história toda, tanto
10 Carlos Alberto Scolari (2011, p. 128) utiliza como sinónimos os conceitos de transmedia storytelling
e cross-media, o último dos quais, reconhece, é todavia mais usado nos meios profissionais do que
nos meios académicos. O termo transmedia storytelling foi cunhado por Henry Jenkins (2003).
François Jost (2011, p. 95) prefere falar de “luta intermídia”, em vez de utilizar o termo convergência.
Ver, também, sobre transmedia storytelling, Christian Salmon (2007), que propõe um ponto de
vista crítico sobre a storytelling: “uma máquina de fabricar histórias e de formatar espíritos”.
11 Desenvolvi a ideia de cibercultura como circum-navegação tecnológica, noutros textos. Ver, neste
sentido: Maffesoli & Martins (2011), “Ciberculturas”, pp. 43-44; Martins (1998 b), “A biblioteca
de Babel e a árvore de conhecimento”; Martins (2011 a), Crise no castelo da cultura. Das estrelas
para os ecrãs, pp. 18-19; Martins (2011/2012), “Média digitais – hibridez, interatividade, multi-
modalidade”, pp. 52-54; Martins (2015 c), Média digitais e lusofonia, pp. 37-43.
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12 Pierre Bourdieu insiste na ideia de que representar o mundo social é classificá-lo, ou melhor, dividi-
-lo, e também lutar pela di/visão em que nos empenhamos. Neste combate são investidos interesses
simbólicos, sendo que o simbólico exprime relações de força social, ou seja, relações de poder.
28
13 Veja-se, neste sentido, Brito & Martins (2004); Martins (2006); Martins, Sousa & Cabecinhas
(2006, 2007). E também, Martins (2014); e ainda, Comunicação e Sociedade, vol. 26, organizado,
em 2016, por Maria do Carmo Piçarra, Rosa Cabecinhas e Teresa Castro, sobre Imaginários
coloniais: Propaganda, militância e “resistência” no Cinema.
14 Foi por partilhar um entendimento semelhante a este sobre a dinâmica das culturas que os
sociólogos portugueses, Boaventura Sousa Santos e Maria Paula Meneses, publicaram, em 1995,
Epistemologias do Sul. Veja-se, também, sobre este assunto, História Sociopolítica da Língua
Portuguesa, de Carlos Alberto Faraco (2016).
15 A proposta lusófona, que aqui fazemos, de comunidades científicas transnacionais e transcontinen-
tais inscreve-se nas resistências aos processos de homogeneização cultural, de que falava Sahlins
(1993, p. IX), e também no entendimento que Manuela Ivone Cunha (2015, p. 277) tem dos processos
de diferenciação, que respondem à integração mundial. A ambos os autores nos referimos atrás.
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16 Ver, entrevista de Luís Reto ao site “Inteligência Económica”, a 17 de dezembro de 2012 (Reto,
2012 b). Retirado de http://inteligenciaeconomica.com.pt/?s=Lu%C3%ADs+Reto.
17 Ibidem.
18 Do que acabo de escrever nesta secção 4 – “A ciência como combate linguístico e a descolonização
da língua”, fiz uma 1.ª versão no artigo “Ciências da Comunicação e mundo lusófono”, publicado
no Anuário Internacional de Comunicação Lusófona (Martins, 2015/2016, pp. 11-18).
19 Vendo bem, não estamos assim tão longe do pensamento de Eliot Freidson, que entendia as Uni-
versidades como invenções sociais notáveis para apoiar o trabalho que não tem valor comercial
imediato (Freidson, 1986). Embora também seja verdade que é necessário compreender o valor
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económico das universidades, uma realidade que ainda era desconhecida há algumas décadas
(Barr, 2012).
20 Consultar o portal da Federação Lusófona de Ciências da Comunicação (Lusocom). Endereço ele-
trónico: www.lusocom.net. A Lusocom foi constituída, em 1998, na cidade de Aracaju, em Sergipe
(Brasil), tendo como comunidades associadas a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares
da Comunicação (Intercom) e a Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação (Sopcom).
A reunião de constituição da Lusocom contou com observadores angolanos e moçambicanos.
Em 2002, em Maputo (Moçambique), a Lusocom passou a contar, entre as suas associadas, com
a Amescom (Associação Moçambicana de Comunicação) e a Angocom (Associação Angolana
de Comunicação), hoje inativa. Entretanto, em 2004, a Associação Galega de Comunicação
(Agacom) passou a integrar a Lusocom; e a mesma coisa aconteceu, em 2014, com a Associação
Cabo-verdiana de Comunicação (Mediacom); por sua vez, em 2016, tendo sido criada a Acicom
(Associação Moçambicana de Ciências da Informação e da Comunicação), a Lusocom acolheu-
-a no seu seio. Esta federação associativa realizou, até hoje, doze Congressos Científicos: cinco
em Portugal; três no Brasil; dois em África e dois na Galiza. Por outro lado, desde 2003, que a
Lusocom publica o Anuário Internacional de Comunicação Lusófona, seu órgão científico, tendo
a Lusocom/Intercom publicado quatro volumes; a Lusocom/Sopcom/CECS cinco volumes; e a
Lusocom/Agacom quatro volumes.
21 A Confibercom realizou, até hoje, dois Congressos, o primeiro na Universidade de São Paulo, em
2011, e o segundo na Universidade do Minho, em 2014. Realizou também três Fóruns científicos:
em Quito (2012); Porto (2013) e São Paulo (2015). E editou as seguintes publicações: Kunsch &
Melo (2012), Kunsch (2013), Martins & Oliveira (2014).
31
22 Sobre todas estas questões, veja-se o vol. 3 (2), 2015/2016, da Revista Lusófona de Estudos Cul-
turais / Lusophone Journal of Cultural Studies, consagrado à Ciência e conhecimento: políticas
e discursos (M. L. Martins et alii, Eds., 2015-2016). Disponível em: http://rlec.pt/.
Ver, também, A Gradim & C. Moura (2015) e A. Grandim & R. Morais (2016). Veja-se, ainda, “As
Ciências da Comunicação e o mundo lusófono” (Martins, 2015/2016); “A liberdade académica e
os seus inimigos” (Martins, 2015 b); “Interview with Moisés de Lemos Martins”, in Academics
Responding to Discourses of Crisis in Higher Education and Research (Martins, 2013); “Revistas
científicas de ciências da comunicação em Portugal: da divulgação do conhecimento à afirmação
do Português como língua de pensamento e conhecimento” (Martins, 2012 a); “Política cientí-
fica de comunicação em Portugal: desafios e oportunidades para os doutoramentos (Martins &
Oliveira, 2013); “As Ciências Sociais e a política científica” (Martins, 2008 ); Ensino Superior e
Melancolia (Martins, 2002 c).
23 Corpus do estudo. Portugal: Comunicação e Sociedade (CECS, Univ. Minho), v. 26, 1.º semestre de
2014; Estudos em Comunicação (UBI), n. 16, 1.º semestre de 2014; e Prisma (U. Porto e U. Aveiro), n.
24, 1.º semestre 2014. Brasil: Matrizes (USP), v 8, n. 1, 1.º quadrimestre de 2014; Eco-Pós (UFRJ), v. 17,
32
tugueses, brasileiros e espanhóis são muito pouco citados nos artigos; são-no,
sobretudo, os investigadores anglo-saxónicos. Em Espanha, são citados a 63%; no
Brasil, a 58%; e em Portugal, a 57% (Serra, 2015/2016). Por outro lado, os autores
portugueses praticamente não são citados em Espanha. E é residual a percentagem
dos investigadores portugueses citados no Brasil. Mas, também em Portugal, os
autores espanhóis são citados apenas a 5%. E a razão de os autores brasileiros
serem citados nas revistas portuguesas a 18% apenas se deve ao facto de haver
uma percentagem elevada de investigadores brasileiros como autores de artigos
nas revistas portuguesas, sem paralelo, aliás, com o que se passa nas revistas bra-
sileiras. Com efeito, são brasileiros 35% dos autores nas revistas portuguesas de
Ciências da Comunicação. E é residual a presença de investigadores portugueses
como autores de artigos nas revistas brasileiras.
Vejamos, de seguida, as percentagens nas figuras 1 e 2, de Autores e de
Referências.
Figura por mim elaborada, a partir de P. Serra (2015/2016). In “O (des)conhecimento recíproco dos
investigadores ibero-americanos de Ciências da Comunicação”, Revista Lusófona de Estudos Culturais
/ Lusophone Journal of Cultural Studies, Braga: CECS, vol. 3, n. 2, pp. 7-17.
Retirado de http://estudosculturais.com/revistalusofona/index.php/rlec/issue/current/showToc
n. 1, 1.º quadrimestre de 2014; e Contemporânea (UFBA), v. 12, n. 1, 1.º quadrimestre de 2014. Espa-
nha: Comunicación y Sociedad (U. Navarra), v. 27, n. 1, 1º trimestre de 2014. Ver Serra (2015/2016).
Retirado de http://estudosculturais.com/revistalusofona/index.php/rlec/issue/current/showToc.
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A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES LUSÓFONAS E IBERO-AMERICANAS DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
Figura por mim elaborada, a partir de P. Serra. In “O (des)conhecimento recíproco dos investigadores
ibero-americanos de Ciências da Comunicação”, Revista Lusófona de Estudos Culturais / Lusophone
Journal of Cultural Studies, Braga: CECS, vol. 3, n. 2, 2015/2016, pp. 7-17.
Retirado de http://estudosculturais.com/revistalusofona/index.php/rlec/issue/current/showToc
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COMUNICAÇÃO DA CIÊNCIA, ACESSO ABERTO DO CONHECIMENTO E REPOSITÓRIOS DIGITAIS
A Internet não tem penetrado, de modo homogéneo, as populações dos países dos
vários continentes. Pelo facto de ela propulsar a época e nos mobilizar a todos, a
Internet penetra de modo mais abrangente as populações dos países mais ricos.
Deste modo, as possibilidades abertas pela Internet para a divulgação do conhe-
cimento, assim como para o interconhecimento e a cooperação entre os povos,
não favorece por igual todos os povos, nem todas as línguas. Dou o exemplo do
espaço lusófono. A penetração da Internet na população dos países que falam
35
Com efeito, o Brasil tem uma força de penetração da Internet mais forte que
o continente sul-americano. E a mesma coisa acontece com Cabo Verde, relati-
vamente ao continente africano. Cabo Verde tem uma penetração da Internet de
42%, quando a média do continente africano se cifra em 26,9%.
Existe, também, uma grande discrepância de penetração da Internet entre as
populações dos diferentes países lusófonos:
• Angola – 22,3%
• Cabo Verde – 42%
• Guiné-Bissau – 4,3%
• Moçambique – 6,2%
• São Tomé e Príncipe – 25%
• Brasil – 67,5%
• Portugal – 67,6%
• Timor-Leste – 27,5%
Resultados por mim elaborados, a partir da Internet World Stats, 2017*
* Retirado de http://www.internetworldstats.com/.
36
Foi em 2002 que ocorreu a Budapest Open Access Initiative, uma magna reunião,
que reuniu responsáveis de universidades e de outras instituições de investigação,
além de investigadores, para responder ao desafio da disponibilização online do
conhecimento, em acesso aberto. Por “Acesso Aberto” à publicação científica
com revisão por pares, “queremos dizer a sua disponibilização livre na Internet,
de modo a permitir que qualquer utilizador possa ler, fazer download, copiar,
distribuir, imprimir, pesquisar ou referenciar os textos integrais desses artigos,
recolhê-los para indexação, introduzi-los como dados em software, ou usá-los
para outro qualquer fim legal, sem barreiras financeiras, legais ou técnicas, que
não sejam inseparáveis do próprio acesso à Internet” 24.
Logo em 2003, a Universidade do Minho criou o Repositorium, uma plata-
forma digital de acesso aberto do conhecimento, com o objetivo de promover
a divulgação online da produção científica dos seus docentes e investigadores,
assim como dos seus estudantes de pós-graduação (dissertações de mestrado e
teses de doutoramento) 25.
Entretanto, a Agência para a Sociedade de Conhecimento (UMIC) concebeu o
projeto de criação do Repositório Científico de Acesso Aberto de Portugal (RCAAP).
Este projeto foi concretizado pela Fundação para a Computação Científica Nacio-
nal (FCCN), com o apoio de uma equipa da Universidade do Minho, no segundo
semestre de 2008.
Mais recentemente, a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) definiu
um conjunto alargado de Políticas de Acesso Aberto. Essas políticas entraram em
vigor a 5 de maio de 2014 e compreendem “o acesso livre e online a publicações
24 Retirado de http://www.budapestopenaccessinitiative.org/boai-10-recommendations.
25 Ver Repositorium da Universidade do Minho: https://repositorium.sdum.uminho.pt/.
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Retirado de http://repositories.webometrics.info/
39
A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES LUSÓFONAS E IBERO-AMERICANAS DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
Retirado de https://www.rcaap.pt/
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COMUNICAÇÃO DA CIÊNCIA, ACESSO ABERTO DO CONHECIMENTO E REPOSITÓRIOS DIGITAIS
306
174
157
153
85
77
54
53
44
40
41
A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES LUSÓFONAS E IBERO-AMERICANAS DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
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Elaboração pessoal, a partir dos dados fornecidos pelos Serviços de Documentação da Universidade
do Minho (SDUM), sobre a atividade do CECS no Repositorium, a 21 de julho de 2017. Fonte: https://
repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/819
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44
COMUNICAÇÃO DA CIÊNCIA, ACESSO ABERTO DO CONHECIMENTO E REPOSITÓRIOS DIGITAIS
33 1 4
68
2
%de
% dedocumentos
documentos por
por
421 língua
língua
Português 76,51%
Português 76,51%
Inglês 18,69%
Inglês 18,69%
Francês 3,02%
Francês 3,02%
Espanhol 1,47%
Espanhol 1,47%
Italiano 0,18%
Italiano 0,18%
Alemão 0,09%
Alemão 0,09%
Polaco 0,04%
Polaco 0,04%
Total 100%
1723 Total 100%
45
A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES LUSÓFONAS E IBERO-AMERICANAS DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
País/enquadramento Downloads %
Portugal 440 540,00 68
Brasil 193 947,00 30
Outros países lusófonos 10 622,60 2
Outros países ibero-americanos 6320,10 1
Total 651 429,70 100
Elaboração pessoal, a partir de dados dos Serviços de Documentação da Universidade do Minho (SDUM).
46
47
48
49
Referências bibliográficas
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56
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Endereços eletrónicos
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Resumo
A condição de cidadãos do espaço ibero-americano deve servir de suficiente motivação
para nos valermos perante o mundo. Pleno de contradições, negações, é certo, mas no
quadro de permanentes reivindicações de especificidade cultural e linguística. Tal desafio
passará naturalmente pelo cumprimento da internacionalização de instituições, saberes,
de investigadores, enfim, de uma cultura. Parto por isso convencido de que a interna-
cionalização não pode resultar do tradicional axioma de que a ciência não tem pátria. A
abertura à cultura exterior resultará, portanto, do intercâmbio de estudantes e docentes,
da disponibilização de bases de dados e fomento de publicações e ainda da integração de
equipas de investigadores na contínua resposta a desafios comunicativos e sociais numa
escala local e regional.
Para cumprir este importante desafio, será de reforçar o estádio de maturidade que corres-
ponde à afirmação do trabalho feito pelos nossos centros de investigação, pelas nossas uni-
versidades, associações e unidades de pesquisa, que são permanentemente «atacados» pelas
lógicas economicistas, da escassez de fontes de financiamento para a investigação, eixos
determinantes para ao desenvolvimento deste contexto que reúne cerca de 329 milhões
de língua espanhola, a segunda falada no mundo, e de 250 milhões de língua portuguesa.
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Conforme salienta o estudo coordenado por Luís Reto, e já aqui citado, assim
como outros estudos, designadamente aqueles que foram levados a cabo pela
European Federation of National Institutions for Language (EFNIL), “a proximi-
dade entre o espanhol e português, para além de factores de ordem geográfica e
de vizinhança, levou a um significativo desenvolvimento de iniciativas ibero-a-
mericanas, que tendem a fomentar essa intercompreensão” (Reto, 2012, p. 53) 1.
A intercompreensão das línguas, espanhola e portuguesa, é particularmente
cultivada por países como a Argentina e o Brasil. A Argentina foi o primeiro país a
ter o português como língua estrangeira de oferta obrigatória em todo o sistema
(Muller, citado em Reto, 2011, p. 53). E, não obstante a natureza específica do
galaico-português, não deixa de ser histórica a resolução que o Parlamento da
Região espanhola da Galiza tomou ao introduzir o português no sistema de ensino.
Aliás, em Portugal, tem sido crescente o número de alunos que nas opções de
ensino escolhem o espanhol como matéria de estudo. Obviamente, se o principal
desígnio da Confibercom é encontrar e estreitar caminhos para a internaciona-
lização, no campo científico e cultural, não podemos negligenciar a prática e a
intercompreensão das nossas línguas como uma via estratégica muito singular
para conseguirmos os nossos objetivos, uma vez que a intercompreensão destas
1 Foi esse também o sentido que presidiu à Organização do III Congresso Ibérico de Comunicação,
realizado em Sevilha, em 2006, cujas Atas foram publicadas, em 2008 (Gómez, De Lemos &
Sierra, 2008: Comunicación y Desarollo Cultural en la Península Ibérica. Retos de la Sociedad de la
Información). Veja-se, sobretudo, nestas Atas, “Habitar o território das Ciências da Comunicação
na Península Ibérica” (Martins, 2008, pp. 23-25) e “A ideia ibérica como recusa da ‘reductio ad
unum’. A propósito de A Jangada de Pedra, de José Saramago” (Martins, 2008, pp. 57-65).
Devemos ter também em atenção as publicações feitas no quadro dos Congressos e Fóruns
da Confibercom: Comunicação Ibero-americana: os Desafios da Internacionalização (Martins
& Oliveira, 2014); Comunicação Ibero-americana: sistemas midiáticos, diversidade cultural,
pesquisa e pós-graduação (Kunsch & Melo, 2012) e La Comunicación en Iberoamérica. Políticas
científicas y tecnológicas, posgrado y difusión de conocimiento (Kunsch, 2013).
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A ambicionada internacionalização
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“No domínio das práticas sociais e culturais transnacionais, as trocas desiguais dizem
respeito a recursos não mercantis cuja transnacionalidade assenta em diferenças
locais, tais como, etnias, identidades, culturas, tradições, sentimentos de presença,
imaginários, rituais, literatura escrita ou oral” (Ibidem).
2 Também Moisés de Lemos Martins associa o atual mercado global, de cariz eminentemente
económico-financeiro e tecnológico, à expansão europeia, fazendo, aliás, uma analogia entre a
circum-navegação marítima, dos séculos XV e XVI, e a moderna circum-navegação tecnológica,
dos média digitais (Martins, 2015, 2014, 2011 a, 2011 b).
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As práticas da internacionalização
3 Para o caso português, ver Moisés de Lemos Martins, “A política científica e tecnológica em
Portugal e as ciências da comunicação: prioridades e indecisões” (Martins, 2012 a) e “Revistas
científicas de ciências da comunicação em Portugal: da divulgação do conhecimento à afirmação
do Português como língua de pensamento e conhecimento” (Martins, 2012 b). Ver também, de
Moisés de Lemos Martins e Madalena Oliveira, “Política científica de comunicação em Portugal:
desafios e oportunidades para os doutoramentos” (Martins & Oliveira, 2013).
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Delimitações e constrangimentos
4 Ver, no mesmo sentido, “A liberdade académica e os seus inimigos” (Martins, 2015 b).
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Conclusão
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comunicação: prioridades e indecisões. In M. Kunsch & J. M. Melo (Org.). Comunicação
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Resumo
Proponho-me fazer a abordagem crítica do atual conceito de comunicação, enquanto
síntese de estudos e pesquisas. Pronunciar-me-ei, pois, sobre os seguintes aspectos: a
entronização da palavra pela Academia e pela mídia, com foco na transmissão de mensagens
e na filosofia da linguagem; a aceitação do entendimento corrente pela cultura das mídias e
pela ordem dos dispositivos eletrônicos; a questão do comum e a metáfora da comunicação
como o conjunto das placas tectônicas sob a superfície do comum; a proposição de um
novo lugar no interior do pensamento social.
Primeira questão
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Segunda questão
1 Cf. Trow, George S. (1980). With the context of no context. NY: Atlantic Monthly Press, p. 41.
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2 A escravidão, por exemplo, constitui uma relação (jurídica, política, social), mas não um vínculo,
devido à impossibilidade do senhor de movimentar-se heterotopicamente na direção do escravo.
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“A parelha formada por Sócrates e Platão marca a entrada da nova ideia educativa.
Em face do convencionalismo e do oportunismo dos professores de retórica e dos
sofistas, eles desenvolvem um arrazoado em favor duma reforma global do homem.
Paideia ou a educação como formação do homem para um grande mundo com a impe-
rialidade latente ou manifesta, não é só um termo fundamental da prática antiga da
filosofia, mas designa também o programa da filosofia como prática política. Pode-se
aí discernir o nascimento da filosofia, condicionada pela emergência de uma nova
forma de mundo, arriscada e encarregada de poder – hoje, nós as chamamos culturas
urbanas e impérios”. 3
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Referências bibliográficas
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5 Ibidem, p. 19.
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Resumen
En la actual investigación sobre comunicación, como en general en las ciencias sociales,
se entrecruzan tres principales ejes. Uno de carácter ético –político (valores, compro-
misos, finalidades), otro de carácter epistemológico (métodos, enfoques, disciplinas,
cambios de paradigma), y, finalmente, un tercer factor que, aunque pueda considerarse
menor, tiene un importante efecto sobre la práctica de la investigación: el eje de carác-
ter administrativo, cada vez más crucial en la economía política de la investigación en
comunicación. Tres planos de importancia y dimensiones distintas que se interfieren
en la realidad de nuestros estudios.
* Una primera versión de este texto fue presentada como conferencia en el ITESO (Guadalajara,
México), el 26 de Junio de 2013.
** Doutorado em Filosofia pela Universidade de Barcelona (1974), foi o primeiro Presidente da
Sociedade Catalã de Comunicação (IEC), cargo que exerceu entre 1985 e 1987. Foi ainda Decano
da Faculdade de Ciências da Comunicação da Universidade Autónoma de Barcelona (UAB), onde
desempenhou as funções de Vice-Reitor da Investigação. Foi fundador e diretor do Instituto de la
Comunicación (InCom-UAB) (1997-2009), e dirigiu o Centro de Estudios Olímpicos (1988-2009).
Desenvolve investigação sobre teorias e políticas da comunicação, e estudos sobre desporto. Foi o
primeiro Presidente da Asociación Española de Investigación de la Comunicación (AE-IC), cargo
que desempenhou de 2008 a 2016. É desde 2015 Professor Catedrático e Emérito da UAB.
E-mail: [email protected].
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La investigación y su contexto
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siglo– sobre un gran número de investigaciones. Esto nos permite afirmar que la
comunicación es, a la vez, campo de estudio y disciplina.
En mi libro Interpretar la comunicación (Moragas, 2011) he propuesto dis-
tinguir entre “teorías de la comunicación” y “estudios de la comunicación”. La
“comunicación” hace referencia a un fenómeno transversal que interesa –y debe
interesar– a todas las Ciencias Sociales y Humanidades. La historia de la inves-
tigación sobre la comunicación pone al descubierto que los planteamientos que
han pretendido constituir una “disciplina independiente”, han resultado ser muy
poco rentables en términos de desarrollo de nuestros conocimientos sobre la
comunicación. La tendencia más general en los actuales estudios universitarios
sobre comunicación, lamentablemente, tiende a tomar otro camino, confundiendo
el incremento de la demanda de estos estudios con su autonomía epistemológica.
En el fondo estos planteamientos responden más a razones de orden burocrático
destinadas al reconocimiento y a la obtención de prestigio académico, que a
razones epistemológicas contrastadas.
La comunicación es un objeto/campo de estudio en cuyo análisis puedan
confluir métodos y puntos de vista aportados por las distintas ciencias sociales
y humanidades. La antropología puede ayudarnos a la comprensión de las rela-
ciones entre comunicación y migraciones; la geografía nos permite interpretar los
espacio asociados a la comunicación; la psicología es indispensable para conocer
fenómenos como los mecanismos de placer, temor o deseo asociado a la recepción
de mensajes; la historia nos permite interpretar las etapas de la comunicación; la
economía nos permite reconocer los fenómenos de concentración de los medios
y las condiciones que las estructuras de la propiedad pueden imponer a los pro-
cesos de significación; la semiótica, en fin, es un instrumento indispensable
para el análisis de los discursos y, así, podríamos seguir con nuevos ejemplos.
En este sentido la “comunicación” es más bien una post-disciplina que supone
la colaboración entre disciplinas y tradiciones académicas, a quienes formula
las preguntas pertinentes, en beneficio de la compresión de la complejidad de
su objeto específico.
Esta condición de ser disciplina y campo de estudio al mismo tiempo no es en
absoluto una desventaja, sino todo lo contrario, sitúa a los estudios de comuni-
cación a la vanguardia de los estudios sobre la sociedad contemporánea, tiempo
de cruces, de derrumbe de antiguas fronteras, para afrontar la complejidad de
los fenómenos sociales.
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Referencias bibliográficas
1 Sobre este tema ver Kunsch & Melo (2012); Martins & Oliveira (2014).
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Resumo
Con aquel pronunciamento finisecular publicado en L’Aurore so o conciso título
“J’Accuse”, que asinaba Zola, viña a público nun medio de comunicación unha figura nova,
o/a intelectual, que Foucault, en que a arreda da pretensión de universalidade, resitúaa
en tempo presente como “especificidade”, que é o sentido actual do que, no común, se
entende por toma de posición a prol de determinados motivos e modos de intervención,
neste caso no ámeto da cultura e do dereito a comunicar na esfera internacional, como
representativa da construción dunha nova e urxente hexemonía, tamén no campo do
coñecemento. A través de pasaxes múltiplas cara a obxectos común; pendentes de defi-
nirmos un escenario que advirta da necesidade de reexaminar o sentido de palabras
calculadamente distorsionadas como, por exemplo, “diversidade”; na aposta por lle
voltar a súa capacidade realizativa e crítica ao intercambio de bens simbólicos, o texto
apropriase e converte certos debates en síntoma, reactualiza reflexións e, sobremaneira,
*
Professora Catedrática de Comunicação Audiovisual da Universidade de Santiago de Compos-
tela, onde coordena o Grupo de Estudos Audiovisuais. Foi a investigadora principal dos projetos
“Cara o espazo dixital europeo: o papel das pequenas cinematografías en VO” (2012-2015); “Cine,
Diversidad y Redes” (2009-2011); “Lusofonía: interactividade e interculturalidade” (2008-2010).
Publicou, entre outros livros, Finlandiq, Gales, Galicia: os retos dos pequenos cinemas en línguas
non-hexemónicas (2016) e Cine de fotógrafos (2005). Atualmente, preside à Federação Lusófona
de Ciências da Comunicação (LUSOCOM) e é Vice-Presidente da Associação Ibero-americana
de Comunicação (ASSIBERCOM).
E-mail: [email protected].
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vindica unha actitude, voir ensemble, como acto de cooperación entre escolas de pen-
samento e mais programas interculturais.
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angueira do outro] porque sente (ou presente) a dor do que lle falta. E entón cando
vai para a praza e teima en lle retornar ao mundo o que ela, o que el propio perdeu.
Vai para a praza para se salvar el mesmo, ela mesma do irreal cara a onde, talvez,
a súa obra a levou.
Esta angueira do outro como modo de se liberar do eu irreal, este ir para
a praza é, de seu, a obra como tecelá das relacións que conforman un espazo
común, é dicir, un espazo igual. Estamos, da man de Francisco Sampedro (2004),
no Marx da Ideoloxía alemá, en que nos aprende que os individuos non forman
unha communitas (unha clase, un suxeito colectivo) máis que na medida en que
están comprometidos nun obxectivo.
No reverso, un dous excluínte e non dialéctico onde as cousas entran en con-
traposición en que se espalla a idea do non conciliábel, unha idea que abranxe a
necesidade de desaparición para que unha nova aparición teña lugar. Por iso cando
Badiou (2005) define o XX coma o século da paixón polo real, coma o século que
pon en acto, en presente absoluto, as promesas do XIX, engade que para o facer
ten que carecer de moral: o vello debe ser destruído para que emerxa o novo como
tal, e non a novidade – cativa, prendida do pasado –, remarcará.
No ronsel desta ausencia de moral, a cultura contemporánea, en innúmeras
das súas fasquías, adoito fascina polo que ten de accesíbel e intercambiábel, de
mutante. A maior abondamento, para negar e negativizar calquera ancoraxe,
adoito represéntase cunha certa aura de proposta sempre en transformación, feita
de intervalos, enxergada no que pasa entre determinada ocorrencia e os modos
polos que se converte en artefacto para ver, escoitar, se cadra, tocar … O futuro,
porque aída non é, proclámase en vencello con lugares en movemento, lugares
inestábeis, lugares pouco convencionais onde algo acolle existencia no tempo en
que unha pálpebra se pecha e garda determinada sensación no seu interior. O resto
é a súa posta en conexión a través de todos os espazos e de todos os escenarios.
Ráchase, así, cun imaxinario que inclúe pasado, crebas, escollas, contradicións,
e vóltanselle as costas á comunicación como realizativo dun sistema que procura
a harmonia na sociedade da que é constitutiva.
U-lo a idea de compromiso? Como albiscar, en suma, a dor do que nos falta?
Imos suturar esta primeira fenda cunha extensa cita-homenaxe, na que o Stuart
Hall (2014, p. 3) pon en valor os 50 anos dos Estudos Culturais a través dun dos
seus devanceiros e da súa propia toma de posición:
Raymond Williams, no famoso segundo capítulo de The Long Revolution tra-
zou unha definición de cultura, como parte dun proxecto de vida. Esta definición,
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Aínda, na que veu ser a súa derradeira entrevista, Hall sitúa o legado dos Estu-
dos Culturais no desenvolvemento de ferramentas intelectuais para a comprensión
da natureza da cultura e as súas relación coa economía ou a política, para alén do
seu papel nunha restra de campos outrora desconectados, na procura de establecer
un novo ligame entre disciplinas e de contribuir para a inclusión, no debate da
Academia, das relación verbo do Poder. E os froitos continuaron aquilatándose
na xeración que seguíu, con estudosos e estudosas que atinaron con entradas
veladas, coma é o caso de Philip Schlesinger (2000) e as súas consideracións á
volta da nación como espazo comunicativo, – con ou sen Estado, remarca na súa
achega como diferenza – que é tamén, para nós, a condición de calquera proposta
de internacionalización no entrecruzamento de Cultura e Comunicación.
Esta actitude a prol de aspectos outrora non contemplados; este exercicio
de observar cais obxectos poderían valer como indicadores do valor político de
territorios, físicos e simbólicos, situados fóra da axenda, devén seminal para a
pesquisa crítica e acorda a neesidade de introducir outras variábeis. Estou a pensar,
e non por acaso, nos dereitos lingüísticos, no seu desenvolvemento e aplicación
naqués eidos que fan de nós unha nación: a eduación… ou a partilla pública de
mensaxes que singularizamos na parte polo todo, nos medios de comunicación.
E os tempos novos son tamén os novos escenarios que nos atinxen como espazo
de intercambio de bens culturais mediados pola(s) lingua(s): falo dos países for-
malmente denominados hispanófobos e dos lusófonos, e falo da diáspora (Ledo,
2012; Martins, 2015; Martins, Sousa & Cabecinhas, 2007) 1. Falo de voltar os ollos
e os miolos para a posta en valor de imaxes de existencia e de representación, de
1 Ver, ainda, neste sentido, Kunsch & Melo (Eds.) (2013), Comunicação Ibero-americana: sistemas
midiáticos, diversidade cultural, pesquisa e pós-graduação; Martins et alii (Eds.) (2014), Interfaces
da Lusofonia; e Martins & Oliveira (Eds.) (2014), Comunicação ibero-americana: os desafios da
Internacionalização.
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Unha outra razón que nos fixo escoller o cinema como un suxeito representa-
tivo para a nosa pesquisa foi, obviamente, a súa performatividade, esa hipotética
fasquía de produto no que todo se aproveita ao tratárese dun ben que non poder
estrañar da súa mesma realidade aspectos que vencellan a economía creativa con
funcións simbólico-representativas. No hourizonte a deseñar, a aposta por irmos
das prácticas culturais en curto para as prácticas da diversidade, co cinema en
linguas minoritarias e minorizadas como un espazo expandido no que convocar
– outra volta os ecos de Hall – o mundo que está á nosa volta e o noso lugar nel.
Porén non ignoramos que a Unión Europea – o marco insitucional de refe-
rencia no devandito proxecto – leva trinta anos tecendo e destecendo unha sorte
de madeixa que, con variacións adxetivas, declara o cinema como obxecto de
programas específicos de axudas en base á súa consideración como un operador
da diversidade. En contradicción coque se enuncia, temos denunciado que, co
punto de mira no retorno comercial, a UE somete o cinema a políticas competi-
tivas, prioriza os filmes de xénero e traslada cara a periferia do sistema o cinema
que, dende aquela “política dos autores”, pasando polos cinemas nacionais, se
expresan dende o interior, singular e plural, da cultura. En suma, a UE precariza
aquele cinema no que Alain Bergala, por exemplo, aprecia precisamente a crea-
ción de vínculos, aquele cinema no que ecoa unha certa fraternitas – recollía
unha investigadora do noso equipo, a profesora Antía López na intervención no
“Foro Internacional sobre alfabetización fílmica e novas audiencias”, que tivo
lugar en octubre de 2014 na Universidade de Santiago ed Compostela –, aquele
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E fica para a fin unha experiencia, talvez dificil de trasladar polo seu esgo
persoal, que como feminista considero mostrativa do persoal no compromiso, do
persoal no político, da experiencia como parte das propostas de coñecemento, dese
Voir Ensemble que singulariza a toma de posición intelectual e que adaptamos
do noso discurso de ingreso na Real Academia Galega, RAG, en febreiro de 2009.
Partimos, xa que logo, da descrición dunha acción encadeada que exemplifica o
encontro físico como encontro político.
O 21 de xaneiro de 2004, a escritora Luísa Villalta asistiu á presentación
pública do meu primeiro filme, Santa Liberdade, no Teatro Principal de Com-
postela. No ambigú, finalizada a proxección, a atmosfera continuaba prendida
nesa difícil figura fílmica, a da empatía, que se tiña producido entre o lugar e o
que nel tiña lugar, entre o filme e aquela viaxe na que, por trece días, un mundo
que se chama Galiza e outros que se chama Portugal foron a república da Santa
Liberdade, despois de que un comando do DRIL, dirixidos polo capitán Galvao,
o comandante Soutomaior e o republicano galeguista Xosé Velo, ocupasen o
trasatlántico Santa María para chamar a atención ontra as ditaduras de Franco e
Salazar. E a Luísa achegouse a min: como me gustan eses bucles, ese movemento
de testa que fan as mulleres. Temos que quedar e falar.
Luísa fora, talvez, a primeira en ver esa mudanza do espazo, dende o oculto e
cara a descubrir para un outro o sentido da ollada. Ás veces para un outro no plano
do filme, polo xeral para un outro, nós, as persoas que agardan expectantes. Aos
poucos días, Luísa Villalta publicou unha columna no semanario A Nosa Terra,
“Cromosoma L”, L de Liberdade, de Ledo, de Luísa, nun xogo trenzado que eu lle
respondín cun correo no que fixen lembranza do desexo que ela manifestara de
quedar. E falar.
Pasados uns días, nunha sala do Hotel Araguaney, tamén en Compostela,
houbo un serán literario a prol de Palestina. Luísa recitaba. Eu asistín como
espectadora. Luísa sentaba na esquerda, primeira fila. Eu sentei cara o fondo,
máis cara o medio e mireina de costas. Pouco antes de lle tocar intervir, ela
moveu o colo lixeiramente e comezou a facer un movemento en bucle cara
atrás. Sentín que o seu ollar viña para onde eu estaba e eu mesma comecei
un movemento cara o seu ollar pero ela, sen deixar a secuencia, retornaba ao
momento inicial e esa fibela imaxinaria que construímos unha cara a outra
ficou no bango. Os nosos ollos non se cruzaron pero soubemos que nese intre
tiñamos desenvolvido un ligame entre nós. O visíbel, outra volta, collía sentido
no invisíbel. Aos poucos días Luísa faleceu. A partir de entón refírome a este
97
momento como o dobre bucle, como un dous, e penso na fenda, niso que non
tivo lugar. Penso na nosa conversa.
O acto no bango, ese Ver Xuntas, ver cada unha o que a outra non pode ver
porque cada unha ocupaba un lugar diferente, pero saber que nos axuntamos
nese cuarto para mirar o mesmo, para trenzar un espazo común, foi collendo
corpo en múltiplos quites, en frases que eu repetía ao chou, en declaracións, en
pequenos textos e mesmo en falas sen fin nin comezo que deixaban en suspenso
a comunicación.
Até que procurei un certo sosego no ámbito da investigación e na lectura
dunha observadora-pensadora, Marie José Mondzain, que entra no mundo das
imaxes para facernos mudar de paradigmas a propósito de determinadas crenzas,
de certos valores incorporados que impiden recoñecer a posibilidade real do vín-
culo entre a creación dunha obra e a transmisión, para outras e outros, desa obra.
Por vontade e por necesidade, non demorei en chegar a unha proposta súa que
considero nodal para a produción de coñecemento na sociedade contemporánea
e que tentarei desenvolver a rentes da fin.
Coa idea de transitar o legado do corso Jean-Toussaint Desanti, un filósofo que
pensa a filosofía como a práctica do encontro, daquilo que só colle senso fóra, no
exterior, Mondzain convida diferentes persoas a partillar a lectura da conferencia
que impartiu Desanti na Escola das Belas Artes de París seis meses denantes da súa
morte, o 6 de xuño de 2001, Voir Ensemble. Para esta visita, ela aplicará o método
que lle dicta o seu material, a actitude do propio Desanti: establecer ligames entre
persoas que non teñen por que ter moito en común. O común, advirte, non é o
que se nos dá. O común, constrúese.
Das persoas que participan, só dúas, a mesma Mondzain e o director de Cah-
iers du Cinema, Jean Michel Frodon, animador, pola súa banda, de L’Exception,
groupe de reflexión sur le cinéma 3 tiñan asistido, no seu día, á sesión de Desanti
en París. Os dez outros participantes leron e debateron sobre o texto. Eran filó-
sofos, un médico, un artista plástico, directores de teatro e directores de cinema,
xentes que teñen por oficio dar a ver ou, seguindo o mobilizador proemio, xentes
que fan sentir.
Ao se fixar no pensamento de Desanti, a convocante amósanos como a subxec-
tividade non significa ren de considerármola independente do que a constitúe
para un outro, namentres pronuncia unha frase a favor da duración que quero
98
que fagamos tamén nosa agora, as persoas que esteamos dispostas a un acto ben
representativo da vocación de partillar e de construír un lugar do común: é no
tempo onde se xoga o tecido invisíbel do senso.
Todo o devandito, este sentido do visíbel no invisíbel é do que eu máis gosto
na cultura e, de modo sobranceiro, nunha cultura que se tece no visíbel de maneira
descontinua e que atravesa por situacións de morte, como atravesou a cultura
galega. Unha cultura que para alén da gran produción, a Nación política, no con-
creto e no que a min me atinxe, se expresa en producións da industria cultural – o
libro, o xornal, o filme-, en producións nas que un outro – o público, singular e
plural – é constitutivo, en producións que non existen á marxe da súa posta en
relación, do Voir Ensemble, unha frase realizativa da que non dou atinado coa
tradución, pero que precisa do encontro para se producir, do que nós estamos a
desenvolver neste intre preciso.
Do encontro físico e do encontro político que sinala o paso polo XIX cara o
XX, así como o compromiso da intelligentzia coa sociedade civil, resta no XXI a
posibilidade de certas alianzas, con normas non escritas, que nos identifican cun
proxecto das que agroman vencellos que se rexen polo compromiso da igualdade
do lugar e do que no lugar ten lugar, da igualdade entre países e entre as persoas
que en acto poboan os países. E é no ronsel dese encontro onde acolle valor de
seu Voir Ensemble, axuntarse para partillar o acto de ver e para tecer un lugar de
relacións.
Nesta vontade de asumir nos nosos actos prácticos, na fala, aos outros,
iso que tanto nos recomenda Alain Badiou no devandito O Século, vou referir
o exemplo do costrutor de barcas do porto de Ajaccio que un neno de 13 anos
observaba ben de mañanciña. Un día, cóntanos o Desanti rapaz, vexo madeira
polo chan; miro táboas, achas longas e fracas, tacos, ollo para as diferentes pezas
esparexidas por aco e por aló. E miro diante, estantío, o construtor de lanchas.
Pregúntolle se vai facer unha gamela con esa madeira. Tornase de súpeto e
espeta: cal madeira? Para de seguido dicir: Ti ves táboas, eu vexo outra cousa.
Vexo os mariñeiros que me fixeron a encarga desta barca. Son sete, sete remei-
ros e o home do leme, o patrón. E non son semellantes, hainos grosos e magros.
Teño que saber cómo facer... e así continuou coa leria de que tamén miraba os
castiñeiros, que tampouco son iguais nin é o mesmo a madeira que serve para
a trabe dunha casa que a que vale para facer a lancha. E non falemos da sorte,
rosmaba en corso, facendo os cornos cos dedos da man. Imaxina – insistía – que
vergoña para min e para os meus se, unha noite de mar brava, estes mariñeiros
99
afogan porque eu non din sabido escoller, hai tempo, o bo castiñeiro nin acertei
co xeito de dispor as pezas da madeira.
Pezas que arestora nós debemos saber discernir para a súa función nesta pai-
saxe que singularizamos nos rótulos Cultura, Comunicación e Internacionalización.
Referencias bibliográficas
100
Referencias fílmicas
101
102
Resumo
Este estudo propõe a necessidade, a possibilidade e a importância de se estudar a história
das mídias numa ótica lusófona. Nesse sentido, mostra a utilidade das novas tecnologias
da informação e da comunicação para a pesquisa em causa, tanto mais que é manifesta a
insuficiência de informações a respeito dessa história, em Portugal e no Brasil, como de
um modo geral, em todos os países de língua portuguesa. Em termos teóricos, este estudo
inscreve-se em tradições académicas, que remetem a Marshall McLuhan e Lúcia Santaella.
103
104
1 Deve-se tomar o termo mídia como interface, mediação, entre emissor e receptor de uma men-
sagem, dada a impossibilidade de comunicação direta (Melo, 2010, p. 816).
2 Lembremos a histórica experiência de Orson Welles, quando radiofonizou A guerra dos mundos,
romance original de H. G. Wells, em 1938.
3 Lead, em inglês, já tem a forma dicionarizada de lide, no idioma português.
105
século XIX, na busca que o jornalismo fez de princípios e práticas que o legitimas-
sem perante outras práticas comunicacionais, como a publicidade ou as relações
públicas, buscando aproximá-lo do campo científico. No Brasil, a objetividade é
sistematicamente valorizada no trabalho jornalístico, tanto como valor, quanto
como conjunto de regras práticas, nas ações da imprensa, a partir dos anos 1950.
Por influência americana, foram adotadas novas técnicas redacionais, tais como o
lide e a pirâmide invertida 4, entre outros. Mais do que normas a serem obedecidas,
a partir de um manual, a objetividade do jornalista passou a sustentar uma certa
imagem positiva e confiável desses profissionais, além de reforçar a crença de
que eles têm, por vocação, a defesa dos interesses coletivos (Melo, 2010, p. 882).
Robert Darnton já mostrou, com clareza, que a história da comunicação “pode
revelar como os homens e mulheres de um tempo e lugar compreendem sua
própria experiência a partir do entendimento de como davam sentido aos acon-
tecimentos e transmitiam informações” (Darnton, 2005, p. 41). Esse conceito tem
sido retomado e aplicado, com excelentes resultados, por exemplo, por Marialva
Barbosa, em diferentes obras, resultando numa história cultural, tanto do jorna-
lismo, quanto da comunicação brasileiros (Barbosa, 2007, 2010, 2013). Tal pers-
pectiva permite fugir ao risco dos anacronismos que, muitas vezes, encontramos
em obras de história das mídias, inclusive de excelentes autores, como é o caso
de Nelson Werneck Sodré (2011[1966]), sobretudo no capítulo em que estuda o
nascimento da imprensa brasileira, no século XIX, após o translado da Coroa
portuguesa para a então colónia sul-americana, logo elevada à condição de reino.
A história da comunicação permitirá, inclusive, compreender e valorizar as
relações culturais, os valores ideológicos, as preocupações e as necessidades que
uma determinada comunidade enfrentou/enfrenta. Recentemente, participáva-
mos de banca de Doutorado, para avaliação de pesquisa que se dedicou a estudar
os jornais brasileiros das duas primeiras décadas dos 1800, para compreender
como se formaram e disseminaram conceitos como nação, liberdade e brasilidade
(Flores, 2015). Ora, acompanhar o debate que tais jornais promoveram, na ocasião,
ajuda, não apenas a compreender, historicamente, a formação de tais conceitos,
quanto entender porque, entre nós, eles são tão tênues, hoje em dia: para isso,
basta aproximarmos aquele texto da perspectiva adotada por José Marques de Melo
quanto aos motivos que levaram à impossibilidade da existência da imprensa na
colónia brasileira, entre 1500 e 1808, e que vão bem além da simples proibição da
4 Narrativa dos fatos a partir dos mais importantes para os menos significativos.
106
Coroa portuguesa. Melo mostra que não havia condições para a imprensa entre
nós, naquela época, na medida em que inexistiam cidades; a maior parte da
população era analfabeta e, enfim, as distâncias a serem cobertas eram absoluta-
mente inviáveis para qualquer projeto deste tipo (Melo, 2003). Do mesmo modo,
permitimo-nos tomar um exemplo que envolve o conjunto de nossas pesquisas
em torno do jornalismo luso-brasileiro, com ênfase na história dos jornalismos
das antigas colónias portuguesas, aí incluídos Brasil, Moçambique, Angola, etc. O
que vimos propondo é uma história que integre as diferentes histórias nacionais,
o que vai evidenciar por exemplo que, assim como a legislação metropolitana
portuguesa proibia a existência de prelos nas colónias e, por conseqüência, qual-
quer atividade editorial, seja para a produção de livros, seja para a concretização
de uma imprensa jornalística, os acontecimentos de 1817 e, especialmente, a
Constituição portuguesa de 1820, levou a uma reviravolta. Os fatos políticos por-
tugueses geraram conseqüências, primeiro, no Brasil: o retorno de Dom João VI a
Portugal, sob pena de perder a coroa; a permanência de Dom Pedro de Alcântara 5
no Brasil; posteriormente, as decisões das Côrtes, em Lisboa, buscando reduzir
o Brasil novamente à condição colonial: tudo isso desencadeou o processo que
redundou na independência de 1822. Ora, em 1836, o governo português institui
a obrigatoriedade de as administrações coloniais passarem a publicar boletins
oficiais nos mesmos moldes da antiga Gazeta de Lisboa e da então Gazeta do Rio
de Janeiro, o que abriu caminho para a imprensa independente daquelas demais
colónias. Ora, se não buscarmos uma leitura comparada das histórias individua-
lizadas de cada antiga colónia, continuaremos com uma perspectiva isolacionista
e voluntarista, o que é absolutamente equivocado e nada explica.
Do mesmo modo, entendemos que a prática típica do século XIX, de os jor-
nais se lerem entre si, levou a uma forte influência do jornalismo panfletário e
republicano, que já então se desenvolvia no Brasil – guardadas as proporções e
diferenciações locais, é claro – sobre a imprensa das demais colónias.
Outro exemplo importante: o Brasil tem Hipólito José da Costa como o patrono
da imprensa nacional. Ora, se consultarmos historiadores da imprensa, como
Nelson Werneck Sodré e José Tengarrinha (2013[1998]), respectivamente, no Brasil
e em Portugal, verificaremos que cada um deles incluiu Costa, a seu modo, nas his-
toriografias que escreveram. No Brasil, Hipólito passa por brasileiro; em Portugal,
por português. Nenhum desses historiadores, contudo, parece dar-se conta de que
107
108
Avancemos o segundo ponto sob esta mesma perspectiva. Se, até aqui, examina-
mos a necessidade, reflitamos agora sobre as possibilidades. No caso da imprensa
jornalística, o pesquisador depende fundamentalmente de museus e arquivos,
sejam eles privados ou públicos. Podem ser a Biblioteca Nacional, do Brasil; a
Biblioteca Pública Municipal do Porto ou a Bibliothèque Nationale, da França;
ou também instituições mais regionais, como o Museu de Comunicação Social
Hipólito José da Costa, pertencente ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul,
no Brasil, ou a Hemeroteca Municipal de Lisboa, integrada à Câmara Municipal
de Lisboa. O tempo, contudo, é o maior inimigo desses arquivos, porque o papel
sempre corre sérios riscos: sua qualidade, no século XIX, como nos princípios do
século XX, não era tão boa: o papel escurece, esfarela-se, etc. No caso dos jornais
6 Voltamos mais uma vez a Marshall McLuhan. O livro The mechanical bride, de sua autoria,
infelizmente ainda inédito no Brasil, propunha, justamente, a leitura da publicidade norte-
-americana, divulgada em revistas e jornais, para entender o American way of life.
109
7 Refiro-me ao simpático e eficiente acesso que tive ao acervo da Biblioteca Pública Municipal do
Porto, cuja direção facilitou-me sobremodo as pesquisas que desenvolvi.
8 Por incrível que pareça, neste sentido, os períodos ditatoriais, enfrentados tanto pelo Brasil como
por Portugal, às vezes ajudaram à salvação desta história, pois as autoridades exigiam gravações
dos programas apresentados para análise antecipada ou a posteriori, parte dos quais acabou
guardada.
9 A própria TV Globo, no Brasil, não possuía nenhuma política de guarda de seu acervo. Só recen-
temente, há cerca de uma década, e graças ao relacionamento crescente com as universidades,
é que a emissora decidiu-se por gravar e guardar tudo, passando a constituir seu memorial.
Na Cidade Cenográfica que a emissora mantém, próxima do Rio de Janeiro, organizou-se um
extraordinário acervo, que se mescla com a central de figurinos e a central de produção técnica
da emissora, onde se experimentam novos materiais ou se podem reutilizar materiais, mediante
novas estilizações.
110
em geral, o estudo pode ser feito a partir da cópia digitalizada. Neste sentido, as
instituições, tanto aquelas antes mencionadas, quanto outras muitas, criaram
programas específicos e excelentes de digitalização e constituição de acervos
digitais, o que permite ao interessado acessar qualquer documento, até mesmo
desde sua casa, sem ter necessidade de fazer-se presente fisicamente na institui-
ção. Temos experiências concretas a respeito disso: quando preparávamos a tese
de doutorado sobre romances-folhetins na imprensa de Porto Alegre, passamos
quase dois anos manipulando jornais, na sede do Museu de Comunicação Social.
Mais adiante, conseguimos uma licença especial para levar os periódicos para casa,
onde montamos verdadeira oficina para consumar a pesquisa. Do mesmo modo,
quando estudamos na Biblioteca Pública Municipal do Porto, precisávamos ali
estar presentes diariamente para, com o auxílio dos funcionários da instituição,
deslocar os volumes das valiosas coleções até a mesa que nos fora destinada, dia
a dia, ao longo de meses.
Recentemente, porém, quando precisamos consultar um jornal português,
entramos no sítio da Hemeroteca Municipal de Lisboa e em alguns minutos
acessamos o periódico procurado. Atualizando-nos com os procedimentos da
instituição, logo tínhamos os exemplares procurados à disposição, sem sujar
mãos, sem importunar funcionários, sem depender da condição qualitativa do
material. Por isso mesmo, quando regressamos de nosso estágio de Pós-doutorado
no Porto, decidimos criar um sítio capaz de publicizar digitalizações e postagens
de periódicos, o que se concretizou no endereço www.pucrs.br/famecos/nupecc,
onde já temos, disponibilizados, centenas de exemplares de jornais alternativos 10,
da época da ditadura brasileira posterior a 1964. Aí também se encontram as
primeiras edições de jornais das antigas colónias de expressão portuguesa, do
mesmo modo que disponibilizamos a coleção da primeira (e única) revista sobre
televisão, publicada no Rio Grande do Sul, a TV Sul Programas 11. Outro projeto
10 Jornais quase sempre tablóides, com conotação de resistência à ditadura, alguns nitidamente
ideológicos e/ou partidários, outros culturais, que dependiam exclusivamente de assinaturas e
circulavam fora das bancas de venda tradicional. No momento, estamos digitalizando Movimento
e Opinião; já digitalizamos Pato macho e estamos iniciando a digitalização do Coojornal.
11 Enquanto a televisão brasileira permaneceu regionalizada, também era possível ter revistas
regionalizadas. No entanto, com o surgimento do videotape, as emissoras televisivas criaram
as grades nacionais de programação e, com isso, o noticiário televisivo centrou-se em São Paulo
ou no Rio de Janeiro, desaparecendo as revistas regionais, como a TV Sul Programas, na medida
em que praticamente desapareceram os programas produzidos regionalmente, confinados a
pequeníssimos espaços obrigados por lei.
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112
nossos estudos, se eles não chegarem a ser conhecidos. Por exemplo, valorizar
o fato de que ainda temos um jornal escrito em português em Macau... e diá-
rio!... Mas o quanto sobrou da herança lusófona em Goa, cuja imprensa, em seu
desenvolvimento, tem uma forte presença portuguesa em seus primeiros sécu-
los (lembremos que o governo português admitiu prelos em Goa, levados pelos
jesuítas, ainda no século XVI...).
Esta é uma das tarefas e dos desafios da Confibercom, conforme já temos
discutido, por exemplo, no encontro ocorrido no CIESPAL, há cinco anos. Aliás,
esta foi uma colocação que também fizemos no primeiro encontro da entidade,
na Universidade de São Paulo (2011), quando chamamos a atenção para o fato de
que não nos lemos: portugueses não lêem espanhóis e brasileiros não lêem latino-
-americanos; portugueses pouco conhecem os pesquisadores brasileiros e estes
quase nada sabem dos pesquisadores africanos. Há esforços quase infinitos que
precisam ser feitos, sem o quê não desconheceremos apenas a história das mídias,
em nossas terras, quanto não conseguiremos jamais contextualizá-la e relacioná-la
com outras histórias. Temos defendido que, por etapas, precisamos a) conhecer a
história das mídias tal como ela se desenvolveu no Brasil; b) conhecer a história das
mídias tal como ela correu em Portugal e nas antigas colónias; c) aproximar esta
história lusófona de uma história ibérica, cotejando a história de Espanha e das
colónias de Espanha; d) aproximar esta história ibero-americano-africano-asiática
da história européia em geral e, enfim, da história das mídias, nas antigas treze
colônias da América do norte e, depois, nos Estados Unidos, a partir do século
XVIII. Não deveremos esquecer, igualmente, o continente asiático ou o longínquo
leste europeu (referimo-nos especialmente à Rússia e a seus antigos territórios).
Também precisaremos levar em conta as antigas civilizações americanas, quer do
norte, do centro ou do sul. E a história das mídias do chamado quinto continente:
encontraremos surpresas que vão evidenciar que os conceitos de jornalismo e de
mídia, de modo geral, são muito mais universais do que poderíamos supor. Mas,
sobretudo, este projeto deve nos ajudar a entender que não temos história inferior
ou superior à de outras civilizações, mas que, pelo contrário, vivemos os mesmos
processos, ainda que, às vezes, mais distanciados temporalmente, se bem que, sob
outros aspectos, poderemos nos ter antecipado a eles. Lembremos, neste sentido,
as antigas e pioneiras relações de Manuel Severim de Faria, tão bem estudadas
por Jorge Pedro Sousa (2007). Ou aproximemos os sermões medievais da prática
dos romances de cordel: uns no âmbito da Igreja, outros no amplo espaço do adro
religioso, cada um a seu jeito, promovendo certa informação jornalística, direta ou
113
Referências bibliográficas
12 Um bom contributo para alterar o profundo desconhecimento que existe entre as comunidades
científicas de Ciências da Comunicação dos países do espaço ibero-americano, é aquele que nos
é dado em Comunicação Ibero-americana: Sistemas Midiáticos, Diversidade Cultural, Pesquisa
e Pós-Graduação, livro editado em 2012, por Margarida Kunsch e José Marques de Melo. Esta
obra reúne os principais trabalhos, apresentados ao I Congresso da Confibercom, realizado em
São Paulo, em 2011 (Kunsch & Melo, Eds., 2012). Ver, também, Comunicação ibero-americana:
os desafios da internacionalização (Martins & Oliveira, Eds., 2014). Trata-se do Livro de atas do
II Congresso Mundial de Comunicação ibero-americana, realizado em Braga, em 2014.
Por outro lado, e cingindo-se, estritamente, ao espaço lusófono, mas com o propósito idêntico
de desenvolver dinâmicas que permitam ultrapassar a atual situação de desconhecimento entre
os países que têm o português como língua oficial, Moisés de Lemos Martins editou, em 2015,
Lusofonia e Interculturalidade. Promessa e Travessia. Ver, também, Interfaces da Lusofonia
(Martins et alii, Eds., 2014). Esta obra reúne os trabalhos apresentados à Conferência Interfaces
da Lusofonia, realizada em Braga, em 2013.
114
Hohlfeldt, A. (2008). Deus escreve certo por linhas tortas, Os romances-folhetins nos
jornais de Porto Alegre (1850-1900). Porto Alegre: EDIPUCRS.
Kunsch, M. & Melo, J. M. (Eds.) (2012). Comunicação Ibero-americana: sistemas midiáticos,
diversidade cultural, pesquisa e pós-graduação. São Paulo: Confibercom & Escola de
Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo.
Martins, M. L. (Ed.) (2015). Lusofonia e Interculturalidade. Promessa e Travessia. Famalicão:
Húmus. Retirado de: http://hdl.handle.net/1822/39693.
Martins, M. L., et alii (2014). Interfaces da Lusofonia. Atas da Conferência “Interfaces
da Lusofonia” – 4-6 de julho de 2013. Braga: Universidade do Minho / Centro de
Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS). eBook. Retirado de: http://hdl.handle.
net/1822/29765.
Martins, M. L. & Oliveira, M. (2014). Comunicação ibero-americana: os desafios da inter-
nacionalização. Livro de atas do II Congresso Mundial de Comunicação ibero-ameri-
cana. 13-16 de abril de 2014. Braga: Confiberom / Universidade do Minho / Centro de
Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS). eBook. Retirado de: http://hdl.handle.
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Tengarrinha, J. (2013 [1989]). História da imprensa periódica portuguesa. Lisboa: Caminho.
115
116
Resumo
Este estudo reflete sobre o modo como diversos aspetos das culturas pré-coloniais, sob
o impacto da expansão portuguesa e espanhola e de quase duzentos anos de experiência
pós-colonial, compartilhada entre colonizadores e colonizados, conformaram um diferente
padrão de desenvolvimento das indústrias televisivas latino-americanas. Este capítulo
centra-se nos contributos das culturas pré-colombianas para a linguagem e a geocultura,
que ainda atravessam as fronteiras nacionais na América Latina, enquadrando espaços
culturais e mercados. Neste estudo também são analisadas as relações da era colonial entre
a Igreja Católica e os impérios, português e espanhol, na definição de fronteiras linguísticas,
que continuam a separar o Brasil da restante América Latina, afetando os fluxos televisivos
contemporâneos, os processos de hibridismo cultural e os padrões comerciais. Tendo a
sua origem no período colonial, tais padrões foram-se estabilizando com o tempo, para o
117
que contaram com a experiência colonial, depois com a experiência pós-colonial, e ainda,
com processos políticos, mais recentes, como é o caso do populismo, que configuram a
Península Ibérica e a América Latina. Atravessando fronteiras, interagindo com os Estados,
assumindo determinadas formas industriais e dando origem a conteúdos específicos, os
sistemas de televisão latino-americanos são modelados por estas condicionantes.
É nosso intuito, neste estudo, interrogar os atuais espaços e mercados televisivos, que são,
ao mesmo tempo, não apenas regionais e transnacionais, como também, geolinguísticos e
linguístico-culturais. O nosso ponto de vista é baseado, parcialmente, num entendimento
que remete os média regionais modernos para as origens da expansão europeia, e mesmo
para tempos anteriores (Kraidy & Al-Ghazzi, 2013; Straubhaar, 2007).
Introdução
118
1 Também neste sentido, ver Martins & Oliveira (Eds.) (2014), Comunicação ibero-americana: os
desafios da internacionalização. Livro de atas do II Congresso Mundial de Comunicação ibero-
-americana. Por outro lado, cingindo-se ao espaço lusófono, também investigadores portugueses
119
Influências pré-coloniais
Alguns estudos recentes têm procurado argumentar que tanto os impérios mais
antigos (como o chinês), como outros mais modernos e recentes (p. ex., o espanhol),
influenciaram decididamente a televisão e outros média regionais (Straubhaar &
Sinclair, 2014). No caso latino-americano, consideraremos três estratos imperais.
Em primeiro lugar, os antigos impérios pré-colombianos, dos Astecas, dos Maias
e dos Incas. Seguem-se os primeiros impérios modernos, como o espanhol e o
português. E, por fim, a recente zona de influência comercial, política e militar
dos Estados Unidos, aqui considerando o papel diretamente neoimperial, desem-
penhado por Cuba, Porto Rico e partes do Panamá. Esta geologia histórica dos
impérios é importante para caracterizar a atual América Latina. Ela criou formas
linguísticas, religiosas, étnicas, geo-espaciais, artístico-culturais e organizacio-
nais e institucionais persistentes, que se mesclam ou hibridam, com movimentos
subsequentes, que enformam a televisão latino-americana.
Os vestígios dos impérios pré-colombianos tornam-se mais visíveis por toda
a América Latina, enquanto parte de uma cultura popular híbrida (Canclini,
1982), abaixo descrita, que enformam fortemente os média modernos, como a
televisão. Todavia, em certas sub-regiões latino-americanas, particularmente as
nações andinas da Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, e talvez Chile e Venezuela,
a cultura e a cozinha, as tradições estéticas e as línguas quéchua e aimará perma-
necem culturalmente unidas, em alguma medida, por influência do império Inca
(Collier, Rosaldo & Wirth, 1982). De um modo similar, a zona sudoeste do México,
têm refletido, em muitos estudos, sobre os conceitos de região geolinguística, região geocultural
e identidade transcultural. Moisés de Lemos Martins, por exemplo, fá-lo no quadro da distinção
que estabelece entre “globalização cosmopolita” e “globalização multicultural”. Veja-se, por
exemplo Martins (2006, 2011, 2014, 2015). Consultar, ainda, neste sentido: Martins et alii, 2014;
e Martins, Sousa & Cabecinhas (2006, 2007).
120
Origens coloniais
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124
ideologia de integração étnica, tendo como base uma língua comum, dada a
necessidade de construir a nacionalidade, assim como o seu significado, nos
seus diversos Estados, que são territórios de grande vastidão, com povos de dis-
tintas histórias – os nativos da Amazónia, os escravos da Bahia, os imigrantes
da Europa e, depois, do Japão. Atualmente, a língua portuguesa confere à nação
uma visível unidade, enquanto a mitologia nacional fornece às elites brancas
uma herança negra. Também neste caso, a ideologia da integração étnica não
pode ser explicada como uma imposição das elites para controlo da construção
de uma cultura nacional. Os movimentos intelectuais modernistas teorizaram o
hibridismo e o sincretismo latino-americano no Brasil desde 1928, argumentando
que a mistura cultural constituía uma força para os artistas brasileiros (Shohat,
1992, pp. 108-109), enquanto a mistura étnica foi celebrada por romancistas tão
populares quanto Jorge Amado, que viu vários dos seus trabalhos adaptados ao
cinema e à televisão. De facto, dada a diversidade cultural e a extensão geográfica
do Brasil, vimos programas noticiosos e de entretenimento tornarem a televisão
particularmente importante no processo de construção nacional. Este processo
não descolou até aos anos 1960, momento em que o Brasil ainda podia ser descrito
como “um arquipélago cultural formado por regiões geoeconómicas semiautó-
nomas” (Marques de Melo, 1992, p. 1). No entanto, a partir do momento em que,
no início dos anos 1970, a expansão das cadeias televisivas nacionais as levou a
uma cobertura crescente do Brasil, acelerou rapidamente a construção de uma
cultura nacional mais integrada (Straubhaar, 1982). Na frase memorável do estu-
dioso de Colombo, Jesús Martín-Barbero, o que a televisão fez nesta fase no Brasil,
quanto ao seu papel na construção nacional, foi transformar “a massa em povo
e o povo em nação” (Martín-Barbero, 1993, p. 164). As questões de fusão cultural
e de identidades nacionais tornaram-se uma das preocupações maiores entre os
teóricos latino-americanos. O argentino Nestor García Canclini prefere o termo
“hibridismo” a “mestiçagem”, para exprimir a grande multiplicidade de elementos
culturais, não apenas de linguagem e etnicidade, que a idade da globalização traz
consigo. Em seu entender, o hibridismo ocorre a todos os níveis, local, nacional e
transnacional (Canclini, 1995, pp. 22-23). De modo similar, Martín-Barbero chama
a atenção para o facto de na América Latina as duas línguas ibéricas comuns e
as tradições culturais em presença fornecerem também um nível regional de
identidade, ainda que a comercialização deste facto pela televisão e o seu papel
na promoção de uma ‘sociedade de consumo’ estejam a enfraquecer o imaginário
latino-americano (Martín-Barbero, 1993, p. 18).
125
126
produtores televisivos não têm deixado de explorar. Estamos a falar, para além
disso, não apenas de uma região geográfica, que inclui a América Central e do Sul,
bem como as Caraíbas, de fala espanhola, mas de todo o conjunto de entidades
geolinguísticas e linguístico-culturais, criadas pela colonização ibérica. Significa
isto que as nações de Espanha e Portugal, elas próprias, e as antigas colónias por-
tuguesas de África e da Ásia, têm de ser incluídas como parte da região em que os
seus idiomas são falados. Nitidamente, existe uma procura para a programação
local, nacional e regional, e a América Latina desenvolveu os seus próprios pro-
gramas e géneros televisivos, que são populares a todos estes níveis. Contudo,
é igualmente nítida a existência de um pequeno número de produtores, que
foram capazes de explorar a vantagem estratégica de potenciar a semelhança, em
detrimento da diferença e, desse modo, de construírem, eles mesmos, posições
hegemónicas na comercialização de similitudes culturais, nas suas respetivas
regiões geolinguísticas e linguístico-culturais.
127
2 Sobre os guiões (deste os anos 50), programas (desde aos anos 70) e formatos (desde 2000),
consultar Straubhaar (1991, 2001) e Wilkinson (1995).
128
129
130
3 “A Televisa esteve aliada com o partido político no poder [PRI], mais ou menos abertamente, até
à morte de Emilio Azcárraga, Jr., em 1997” (Hallin & Papathanassopoulos, 2002, p. 179).
131
132
133
134
135
136
Conclusão
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141
142
143
Resumo
Num processo em contínuo crescimento, a investigação em comunicação abriu caminho
para a sua emancipação no período pós Segunda Guerra Mundial. Foi reforçada a coo-
peração e a colaboração entre investigadores académicos e instituições, e a criação da
IAMCR (International Association for Media and Communication Research), em 1946,
pretendeu promover a formação dos jornalistas e o estudo dos problemas da imprensa
por todo o mundo. Mais de cinquenta anos depois deste trabalho seminal, a IAMCR
junta-se à luta constante e ao empenho internacional em envolver os investigadores
académicos, na compreensão dos fenómenos sociais e comunicacionais dos média,
luta essa que está ameaçada por recursos limitados e orçamentos universitários cada
vez mais pequenos.
145
1 Neste sentido, gostaria de referir o trabalho desenvolvido, nas últimas décadas, pela Lusocom
(Federação Lusófona de Ciências da Comunicação) e pela Confibercom (Confederação Iberoame-
ricana das Associações Científicas e Académicas de Comunicação), com os seus Congressos e as
suas publicações. Destaco na Lusocom a Revista Lusófona de Ciências da Comunicação, editada
desde 2003. E no que respeita à Confibercom, assinalo os livros dos dois Congressos realizados:
M. Kunsch & J. M. Melo (2012); e M. L. Martins & M. Oliveira, 2014.
146
História da IAMCR
147
148
A IAMCR, hoje
149
150
Os princípios da IAMCR
151
A IAMCR e a Unesco
152
Relações externas
153
Referências bibliográficas
154
155
156
Resumo
Como parte de um processo ideológico, a emancipação das Ciências da Comunicação na
Europa resultou também de uma tentativa de harmonização de perspetivas conflituantes,
entre abordagens linguísticas histórico-discursivas (Wodak, 2001) e sociocognitivas (Van
Dijk, 2009). Para além de entendimentos multidisciplinares, promoveu-se inclusivamente
a multiculturalidade em sintonia com a emergência do próprio projeto europeu.
Contudo, o descentramento de diferentes teorias surgidas na Europa do pós-guerra, decor-
rentes de especificidades nacionais e regionais, conduziu a um certo abrandamento no
ímpeto da globalização e da internacionalização que marcavam o espírito promissor da
emergência da investigação em Comunicação. Deste modo, as culturas académicas latino-
-americanas nesta área assumem um papel especialmente importante, na medida em que
devem reforçar a necessidade de imprimir uma mais-valia concreta aos desafios colocados
pela história de violência colonial, racial, social e de género, levando-nos a reconhecer a
necessidade de se preservar espaços de crítica contra a iniquidade.
157
158
159
160
161
Internacionalização e Hibridez
162
163
Conclusão
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Referências bibliográficas
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167
168
Resumo
A política científica nacional, que decorre de opções locais e de imposições dos quadros de
financiamento europeu, tem sofrido alterações recentes que colocam em causa as formas
tradicionais de fazer ciência, em particular na área das Ciências Sociais e das Humanidades.
Passou-se de um modelo bottom-up, em que se confiava nas comunidades científicas
para avaliar e definir o impacto da investigação e das propostas de pesquisa para modelos
estandardizados e com definições apriorísticas de qualidade e relevância.
Neste texto, proponho uma breve reflexão sobre o papel da confiança na definição de
políticas científicas, usando como exemplo de partida a evolução recente na minha área
de trabalho, a linguística formal.
Abordarei, como eixos para o estabelecimento de uma política assente na confiança na
comunidade científica, o papel da literacia científica no acesso ao conhecimento, o papel
da Universidade na construção do conhecimento e a necessidade de reconhecimento da
diversidade nos outputs científicos.
169
170
encontradas. Estes contributos para um diagnóstico cada vez mais fino da PEDL
decorrem de várias décadas de investigação em linguística teórica.
Esta investigação desenvolveu-se a partir dos trabalhos de Noam Chomsky,
nos anos 50, sem que houvesse qualquer preocupação com a sua aplicabilidade
imediata. Em 1957, Chomsky enuncia os primeiros princípios da gramática trans-
formacional numa perspetiva mentalista sobre a gramática. Este trabalho introdu-
zia a noção de movimento sintático – que permite dizer que em (1b) o constituinte
que menina se move para o início da frase, mas não sistematiza ainda as proprieda-
des e restrições deste tipo de movimento, o que é apenas feito em 1969, com a tese
de John Ross (1969). Na década de 80, são muitos os trabalhos que aprofundam as
propriedades formais das estruturas interrogativas e consegue-se, em particular
através dos trabalhos de Luigi Rizzi (1990), entender as diferenças entre estru-
turas com e sem intervenção, o que estabelece diferenças cruciais formais entre
frases como (1a) e (1b). Nos anos 90, assistimos a um interesse crescente sobre a
aquisição e desenvolvimento da linguagem, no estudo de diversas línguas, que
permitiram estabelecer a idade em que diferentes estruturas são adquiridas e como
frases como as de (1) são produzidas e compreendidas pelas crianças em diferen-
tes línguas e em diferentes estádios de desenvolvimento. Este tipo de trabalho
permitiu que se estabelecessem normas para o desenvolvimento da linguagem.
Graças ao trabalho da década de 90, foi possível, na década seguinte, observar
que há contextos em que o desenvolvimento sintático não corre bem e estabelecer
os desvios em diferentes quadros clínicos. Mais, com o enorme contributo de
investigadores como (Friedman, Belletti & Rizzi, 2009), foi possível entender-se
que as perturbações da linguagem são seletivas e guiadas por princípios abstratos
explicáveis à luz das restrições sintáticas identificadas nos anos 70 e 80.
Com base neste conhecimento, nos últimos anos, tem sido possível que lin-
guistas, psicólogos e terapeutas da fala colaborem na construção de instrumentos
de rastreio e diagnóstico mais precisos para a identificação precoce de problemas
de desenvolvimento da linguagem, que tenham em conta as especificidades das
diferentes línguas.
Ninguém negará que é importante que haja instrumentos para o diagnóstico
de perturbações da linguagem.
Hoje, infelizmente, ouve-se recorrentemente a pergunta: para que serve o que
tu estudas? Como se todo o estudo tivesse de ter um retorno prático imediato,
para além do aprofundamento do próprio conhecimento. Se é verdade que, no
exemplo dado, a fase final é inegavelmente relevante, é sobretudo verdade que só
171
foi possível chegar a este tipo de aplicação porque houve 50 anos de trabalho de
investigação fundamental, que não tinha em vista qualquer impacto económico
imediato, que não respondia a nenhum desafio societal emergente. Estes 50 anos
de investigação fundamental existiram porque houve financiamento assente na
confiança na comunidade científica para avaliar a relevância e impacto desta
investigação.
2. Políticas científicas
172
173
Chamo a atenção para estas condições porque não vale a pena fazer diagnós-
ticos sobre o baixo impacto da produção científica se não forem sendo garantidas,
progressivamente, às instituições condições para uma execução continuada e
previsível da sua produção.
174
175
176
Referências bibliográficas
177
178
Resumo
Este estudo aborda a questão da internacionalização acadêmica, ou internacionalização
da ciência, especialmente no que se refere às Ciências Sociais, como estratégia política
dos países ocidentais. Examina aspectos como a hegemonia da língua inglesa, o estabele-
cimento de métricas controvertidas de avaliação, a uniformização dos procedimentos de
produção acadêmica, os perigos dessa política para a liberdade de pesquisa e para a defesa
da diversidade e das especificidades de cada domínio de conhecimento.
Tudo é narrativa. A ciência também conta sobre si e para si uma história. Não
basta, porém, convencer os convencidos ou, como se diz, pregar para os conver-
tidos. A narrativa sobre a grandeza da ciência precisa ser contada também para
o grande público, o dito homem comum, aquele que se beneficia com os avanços
179
180
1 Sobre os efeitos que a metodologia positivista está a ter na produção científica das Ciências
Sociais e Humanas, ver, também, “As Ciências Sociais e a política científica” (Martins, 2008);
“A política científica e tecnológica em Portugal e as Ciências da Comunicação: prioridades e
indecisões” (Martins, 2012); e “A liberdade académica e os seus inimigos” (2015 b).
181
2. Internacionalização e globalização
182
183
perda da diversidade? O que vale para o turismo, negócio cada vez mais rentável,
deve valer também para a ciência? 5
5 Sobre a diversidade linguística, ver “Interfaces da Lusofonia” (Martins et alii, Eds., 2014); e “Os
Estudos Culturais como novas Humanidades” (Martins, 2015 c). O ponto de vista de Moisés de
Lemos Martins é o de contrariar aquilo a que chama “globalização cosmopolita”, feita pelo uso
exclusivo do inglês, pela contraposição daquilo a que chama “globalização multiculturalista”
(Martins, 2011, 2015 a).
184
Embora ostente a segunda maior economia dos Brics, o país é o último em número de
instituições entre as melhores. Os chineses têm nada menos que 27 representantes
na tabela, seguidos pelos indianos, com 11, pela Rússia (com sete) e pela África do
Sul (cinco). O grande destaque do ano ficou com a Turquia, com oito universidades
entre as 100 melhores, incluindo a Universidade Técnica do Oriente Médio, em 3.º
lugar (O Globo, ibidem).
Por que tudo isso? O que explica o fracasso brasileiro? A resposta faz pensar:
“Isso ocorre porque essas universidades oferecem, além dos cursos em suas lín-
guas, aulas em inglês” (O Globo, ibidem).
O problema não está na qualidade do ensino e da pesquisa brasileiros, mas
no fato de que as aulas não são ministradas em inglês. O critério de classificação
torna-se mais importante do que a qualidade possível do que é classificado. Falar
185
6 Folha de São Paulo. Por Sabine 02/10/13 20:34. Retirado de: http://abecedario.blogfolha.uol.com.
br/2013/10/02/por-que-as-universidades-brasileiras-vao-tao-mal-nos-rankings-internacionais/.
Acedido a 18.08.2017.
186
187
7 Sobre a avaliação científica, ver “A liberdade académica e os seus inimigos” (Martins, 2015 b).
8 Em 20 de dezembro de 2014, o jornal O Globo voltou ao assunto com o título “UFRJ volta atrás
e fará provas em diversos idiomas para contratação de professores estrangeiros”. Explicação: A
decisão foi tomada após reportagem de O Globo mostrar que o idioma é um dos maiores entraves
para a abertura das instituições brasileiras ao mundo, algo que se reflete negativamente nos
rankings internacionais de avaliação das universidades devido à pouca internacionalização”.
Disponível em: http://oglobo.globo.com/sociedade/educacao/ufrj-volta-atras-fara-provas-
-em-outros-idiomas-para-contratacao-de-professores-estrangeiros-14876457. Consultado a
18.08.2017.
188
4. A internacionalização distorcida
9 Sobre a febre da competição desenfreada e útil a que está sujeito, hoje, o ideal académico da
cooperação e da internacionalização, ver “A política científica e tecnológica em Portugal e as
ciências da comunicação: prioridades e indecisões” (Martins, 2012).
10 Flávia Melville Paiva (2014). Disponível em: http://www.anpae.org.br/IBERO_AMERICANO_IV/
GT5/GT5_Comunicacao/FlaviaMelvillePaiva_GT5_integral.pdf Consultado a 18.08.2017.
11 Sobre as injunções do mercado sobre o campo científico ver “A liberdade académica e os seus
inimigos” (Martins, 2015 b).
189
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192
Resumo
As exigentes reconfigurações da vida académica moderna obrigam investigadores e docen-
tes a desenvolver esforços redobrados na disseminação da sua produção científica, tendo
em vista o alargamento e a visibilidade do trabalho realizado nas universidades. Contudo,
sobram elementos para definir concretamente de que forma os cientistas devem valorizar
a sua atividade, sobretudo quando se trata de apelar ao interesse dos decisores públicos e
políticos para a ligação que a academia procura estabelecer com o mercado.
A internacionalização da investigação, a partir da comunidade ibero-americana que aqui se
concretiza, surge como estratégia complementar para a visibilidade de um contexto ainda
excessivamente dominado pela aproximação a um estilo anglo-saxónico.
Introdução
193
Entre 2011 e 2015, ocorreu, de facto, a desvalorização das Ciências Sociais e Huma-
nas, em geral, em benefício das biociências, particularmente das ciências da saúde
e das ciências da vida. Esta desvalorização foi percebida transversalmente, mas em
194
195
3. O desinvestimento financeiro
196
dos seus recursos humanos e da sua economia. Mas foi precisamente o contrário
que ocorreu, durante o XIX e o XX Governos Constitucionais.
Procurando ainda aspetos genéricos que, de alguma forma, nos ajudem a com-
preender a realidade do país, de 2011 a 2015, julgamos que é possível falar da
desvalorização da universidade pública, em geral, e da universidade pública, em
particular, como espaço de excelência da investigação científica. Na realidade, o XIX
e o XX Governos Constitucionais ignoraram o modo como, ao longo dos anos, se
foi estruturando a rede de investigação científica nas universidades, em articulação
com os projetos de ensino pós-graduado. A ideia com que se ficou sobre as políticas
científicas do país foi a de que os centros das universidades públicas portuguesas
foram preteridos, em relação a unidades de investigação privadas, como por exem-
plo, o Instituto Gulbenkian de Ciência e a Fundação Champalimaud. Respeitando,
naturalmente, o trabalho meritório que estas Fundações têm desenvolvido, em prol
da ciência em Portugal, pareceu-nos no mínimo estranho que tenha sido o próprio
Estado a financiar fundações privadas, que estiveram, em algumas circunstâncias,
a competir, com as universidades públicas, pelos mesmos recursos financeiros. Um
investigador em exclusividade, de uma Fundação privada, não deveria competir,
diretamente, com um docente-investigador, de uma universidade pública, porque
as condições de produtividade têm necessariamente que ser diversas.
5. Nota conclusiva
197
Neste quadro, que é português, mas que terá certamente pontos de contacto
com outros contextos e ramificações várias, importa interrogar o papel da comu-
nidade científica, enquanto estrutura e agente de mudança, ou de resistência, a
políticas que, a prazo, têm como consequência condicionar a liberdade de pen-
samento científico e reduzir a diversidade da sua expressão. O imediatismo a que
a ciência parece estar submetida, a lógica produtivista e a hípercompetitividade
podem ajudar no curto prazo a colocar as universidades um ponto acima ou abaixo
nos rankings nacionais e internacionais. Mas o que importa interrogar é a razão
de ser das universidades, que contributo podem efetivamente dar para que se
mantenham como entidades relevantes e socialmente significativas.
Interrogamo-nos, pois. Estes problemas são comuns no espaço ibero-a-
mericano? Enfrentamos, porventura, os mesmos desafios? Sem querer anteci-
par o debate, diria talvez que um risco partilhado será o de vermos diminuir a
capacidade de pensamento crítico que tem caracterizado, em larga medida, o
trabalho na área das Ciências da Comunicação na América Latina e no espaço
ibérico. Assistimos, hoje, a uma verdadeira deriva positivista e imediatista, que
compromete a visibilidade de textos mais progressistas, mais normativos ou mais
comprometidos com o desenvolvimento social (Martins, 2008 b, 2012 a, 2015 b).
Há resistência, é claro! Mas será suficiente? Estaremos a fazer tudo o que está
ao nosso alcance? A ciência deve ser verdadeiramente plural (nas perspetivas
teóricas, nas metodologias utilizadas, nos problemas que coloca, nas dúvidas que
suscita). Hoje, apesar da explosão de publicações e dos movimentos de acesso livre
à produção científica publicamente financiada, assistimos a um estreitamento dos
quadros dominantes de pensamento. Será que as redes académicas, lusófonas e
ibero-americanas, têm a vitalidade necessária e indispensável para desempenha-
rem, com vigor, um papel de insubordinação, de pensamento contraintuitivo, de
reação aos paradigmas dominantes?
Não há qualquer dúvida de que a nossa comunidade é já hoje vibrante, cheia
de vitalidade, com associações dinâmicas. Há já importantes redes de cooperação
e relações solidamente estabelecidas. Julgamos que devemos valorizar o que foi já
conquistado e aprofundar o caminho realizado. As associações e redes temáticas
e disciplinares ibero-americanas, que existem hoje, têm contribuído de forma
decisiva para a mundialização da nossa investigação. Estas redes têm potenciado
o nosso envolvimento noutras estruturas de investigação regionais, tais como
a European Communication Research and Education Association (ECREA), a
International Association for Media and Communication Research (IAMCR) e
198
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199
200
Resumen
Este trabajo analiza las consecuencias de la crisis sobre la política científica en España y su
incidencia en el campo de la comunicación. Este campo vive un crecimiento intenso en la
talla de investigadores operativos como consecuencia de un crecimiento exponencial de
los centros de formación de comunicadores que se ha registrado en los últimos lustros. Las
exigencias establecidas en las instancias oficiales para evaluar la producción condicionan
tanto el tipo de investigaciones como las formas de su difusión. Se aborda la cuestión de la
medida de la calidad con herramientas externas como el Factor de Impacto de las revistas
y sus limitaciones en un momento en el que ha surgido una puesta en cuestión de los
mismos a nivel internacional y se realizan propuestas de mejora.
201
1. Introducción
202
203
15 000,00
14 500,00
14 000,00
13 500,00
13 000,00
12 500,00
12 000,00
11 500,00
2010 2011 2012 2013 2014
Millones de Euros 14 588,46 14 184,29 13 391,61 13 011,80 12 820,76
Fuente: Elaboración propia con datos de EAE extraídos del Instituto Nacional de Estadística.
6 500,00
6 000,00
5 500,00
5 000,00
4 500,00
4 000,00
3 500,00
3 000,00
2010 2011 2012 2013 2014
Millones de Euros 5858,80 5497,10 14630,00 4261,00 4532,90
204
205
206
207
208
5. Consecuencias de la externalización
de la evaluación de la calidad
209
científica en lengua castellana, y en mayor medida aún de las otras lenguas ofi-
ciales, se reduzca drásticamente. Puede parecer un problema menor, pero si en
el ámbito científico en general puede considerarse relativamente importante,
en el campo de las ciencias sociales y las humanidades es relevante y en el de
la comunicación, especialmente en algunas disciplinas, puede resultar crucial.
No vamos a profundizar en otros aspectos condicionantes pero merecen ser
mencionados por lo menos dos. Primero las diferentes disciplinas del campo de la
comunicación no tienen las mismas proporciones de revistas indexadas por lo que
eso puede influir en la orientación de los investigadores hacia temáticas o líneas
con mayor oportunidad de publicar porque hay más revistas interesadas en ellas.
Segundo las revistas marcan, legítimamente, sus líneas editoriales y los aspectos
metodológicos exigidos para publicar en las mismas, con lo que indirectamente se
produce un “efecto girasol” por el que los investigadores adoptan metodologías y
aproximaciones para las que hay más oportunidades de publicación.
Hay que remarcar que ninguno de estos problemas es atribuible a los autores
del índice, sino al hecho de universalizarlo como herramienta privilegiada de
medida de la calidad de la labor investigadora. Ciertamente las agencias españolas
han ido introduciendo en los criterios de evaluación, el reconocimiento también
de otros índices e indicios de calidad como SCOPUS, así como otros, de existencia
efímera y carácter nacional, como IN-RECS, pero persiste su consideración entre
los evaluados como de “segunda división” por lo que la capacidad de atracción de
las revistas que no están en los índices de “primera división” es mucho menor. Los
investigadores perciben que si tienen las publicaciones requeridas en el índice de
JCR su evaluación positiva será mecánica, mientras si sus publicaciones están en
otras revistas van a depender del criterio que le merezcan a las comisiones evalua-
doras. En la práctica se produce por tanto una externalización de la evaluación que
se delega en las revistas de los índices más valorados por las agencias, en manos
de corporaciones privadas, que en consecuencia se convierten en gatekeepers
tanto en el proceso de selección de los académicos cuya carrera se consolida, como
de las temáticas abordadas por los investigadores o las líneas de investigación y
metodologías privilegiadas.
210
El Factor de Impacto de las revistas se utiliza con frecuencia como el principal paráme-
tro con el que comparar la producción científica de los individuos y las instituciones. El
Factor de Impacto de las revistas, según los cálculos de Thomson Reuters, fue creado
originalmente como una herramienta para ayudar a los bibliotecarios a identificar las
revistas para la compra, no como una medida de la calidad de la investigación científica
en un artículo. Con esto en mente, es importante entender que el Factor de Impacto de
las revistas tiene, de forma probada y documentada, una serie de deficiencias como
herramienta para la evaluación de la investigación. Estas limitaciones incluyen: a) las
distribuciones de citas en las revistas son muy sesgadas; b) las propiedades del Factor
de Impacto de las revistas son específicas para cada campo: es una combinación de
múltiples y diversos tipos de artículos, incluyendo artículos de investigación y artículos
de revisión; c) El Factor de Impacto de las revistas puede ser manipulado (o “trucado”)
por la línea editorial; y d) los datos utilizados para calcular el Factor de Impacto de las
revistas no son transparentes ni accesibles para el público (DORA, 2012).
211
212
de cinco años, del Eigenfactor y de Article Influence scores y los SNIP (Source
Normalized Impact per Paper) y SJR (SCImago Jornal Rank) de Scopus.
Estos movimientos son positivos pero siguen siendo indicadores limitados,
que además de ser utilizados de forma combinada deben ser complementados
con otros indicadores de impacto. La digitalización y el acceso en línea a los artí-
culos permite tomar en consideración indicadores como el número de descargas
o accesos en línea a un determinado texto. La digitalización de las tesis doctorales,
de los informes de investigación para las instituciones permite ampliar las fuentes
de citas para medir el impacto e influencia de un determinado artículo. Además
debe poder contabilizarse el impacto social de la investigación. No tiene sentido
que el resultado de investigación pueda influenciar un cuerpo normativo, como
la organización del servicio público audiovisual, o la ley general del sector de las
comunicaciones, sea incluso referenciada en la propia norma y este hecho resulte
trasparente a los mecanismos de valoración del impacto.
7. Conclusiones
213
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handle.net/1822/36695.
214
215
216
Resumo
Este texto sintetiza os trabalhos realizados no Fórum de Publicações e Difusão de Conheci-
mento Científico da Confibercom, entre 2011 e 2015. Em termos gerais, este Fórum compro-
vou a dispersão das produções científicas na área das Ciências da Comunicação, no espaço
ibero-afro-americano. A participação em bases de dados, a circulação de investigadores
e a sustentabilidade de alguns projetos editoriais sempre se debateram com limitações
decorrentes do escasso financiamento público na ciência.
O desafio da internacionalização da investigação, publicada em Comunicação no espaço
geográfico ibero-afro-americano não pode, todavia, deixar de valorizar, progressivamente,
o português e o castelhano como línguas de cultura e ciência, em diálogo atento com o
mundo anglófono. O rumo não pode deixar de ser o reforço da comunicação eletrónica,
relativamente às revistas científicas, aos grupos de pesquisa e às publicações online, em
acesso aberto.
217
Introdução
218
219
de sistemas de avaliação de periódicos. Por outro lado, foi sempre assinalado pelos
investigadores o seu desconforto perante o grau de comprometimento do sistema
internacional de difusão da produção científica com os mecanismos de mercado,
controle e hierarquização do conhecimento, segundo padrões norte-americanos
e europeus das áreas das ciências já consolidadas.
7 Ver Castillo Esparcia; Almansa; Álvarez Nobell (2012), Martins (2012), Peruzzo (2012, 2013), Serra
(2013), Sierra (2013), Suing (2013), Cohendoz (2013) e Valarezco; Gutierrez (2013).
220
8 Como diz Paulo Serra (2013: 93-94), “é certo que a digitalização da ciência tem vindo a ser feita
a passos largos – mas, de forma predominante, em língua inglesa e marcada pelos interesses
comerciais de grandes companhias como a Thomson Reuters (ISI), a Elsevier (SCOPUS), a IGI
Global e outras, que procuram fazer mais-valias privadas à custa do trabalho produzido com
fundos públicos pelos cientistas das diversas universidades, laboratórios e centros de investigação
– com a aquiescência mais ou menos resignada destes, submetidos ao imperativo do ‘publish
or perish’. O resultado desta verdadeira paródia do imperativo mertoniano da publicação da
ciência é aquilo a que se tem vindo a chamar a ‘fast science’, e que mais não é que uma caricatura
221
2. Existe, por outro lado, um jogo antiético de práticas, que acaba condi-
cionando os índices de fator de impacto 9, em favor de alguns periódicos
e das grandes empresas de bases indexadoras.
3. Também acontece que o sistema instituído destrói, ou então não reco-
nhece, o valor das ciências publicadas em outros idiomas que não o inglês.
4. Em síntese, podemos concluir que o artigo que não seja publicado em
periódico indexado parece não ter valor científico, nem social, o que é
contraproducente, uma vez que toda a pesquisa de qualidade, que seja
apropriada socialmente, demonstra valor, esteja ou não indexada 10.
da ciência – uma caricatura que, a mais ou menos curto prazo, não deixará de pôr em causa a
própria qualidade da ciência”.
9 Com base em estudo bibliométrico, o fator de impacto de uma revista é de determinado e
calculado todo ano da seguinte maneira: primeiramente são contabilizadas as citações que
recebem durante esse ano (ex. 2008) todos os documentos publicados na revista nos dois anos
anteriores (ex. 2007 e 2206). O número total de citações é o numerador. Em segundo lugar, são
contabilizados todos os ‘itens citáveis’ publicados na revista nesses dois anos (ex. 2007 e 2006)
e já temos o denominador. O fator de impacto se calcula dividindo o numerador entre o deno-
minador” (Castillo Esparcia; Almansa Martinéz y Álvarez Nobell, 2012, p. 387). A partir dessa
métrica surgem as artimanhas para aumentar o FI...
10 Veja-se M. L. Martins (2015), A liberdade académica e os seus inimigos.
222
11 Journal Citation Reports, da Thomson Reuters, empresa proprietária também da Web of Science
e da Science Citation Index – SCI.
12 De propriedade da Elsevier.
13 Veja-se Paulo Serra (2013).
14 Ver a leitura atenta de Barreto (2012) sobre essa dimensão do pensamento de Popper.
223
multidão de pessoas que têm a língua portuguesa como primeira língua. São 190
milhões os falantes de português, quase tantos como os falantes de francês (110
milhões) e de alemão (100 milhões) juntos. Depois do mandarim, com 1000 milhões
de falantes, do hindi com 460 milhões, do espanhol com 300 milhões, do inglês com
350 milhões e do árabe com 200 milhões, o português vem a seguir, em sexto lugar.
No entanto, na era da informação global, impressiona saber que o total de falantes
em língua inglesa é de 1000 milhões, enquanto o Hindi é 650 milhões, o Francês 500
milhões, o Árabe 425 milhões, o espanhol é 320 milhões, o russo 280 milhões e o
português 230 milhões 16.
15 As grandes revistas científicas indexadas nas bases antes mencionadas, por exemplo, têm entre
os critérios para aceitação de artigos, aqueles que enfocam de temas de interesses globalizantes,
portanto, pesquisas sobre realidades específicas de países ibero-americanos são desprestigiadas,
além da exigência de padrões metodológicos e de linguagem mais afeitos a determinadas lógicas
metódicas anglo-saxônicas dominantes.
16 Fonte usada pelo autor: http://wapedia.mobi/pt/L%C3%ADngua_mundial [valores em dezembro
de 2009].
224
225
226
227
Considerações finais
Referências bibliográficas
228
229
Sites
230
Resumo
O desenvolvimento dos estudos de Comunicação – como certamente os de outras ciências
– tem sido acompanhado pela atividade de inúmeras associações científicas. De âmbito
nacional ou internacional, disciplinares ou transversais às várias áreas, estas organizações
têm desempenhado importantes funções de reunião, dinamização e promoção do trabalho
realizado em universidades e centros de investigação. Com iniciativas muito diversificadas
– como a organização de eventos científicos e a publicação de séries de livros e revistas
– as associações científicas são hoje um indicador relevante do grau de consolidação de
campos e grupos científicos. Estão vinculadas à ideia de criar redes de trabalho e coope-
ração, um objetivo condizente com o desenho de uma sociedade global, feita de ligações,
ou conexões, entre pessoas e instituições. No entanto, é na palavra comunidade – ou seja,
na ideia de partilha – que o sentido das associações científicas encontra, pelo menos na
área das Ciências da Comunicação, o seu fundamento mais expressivo.
231
As sociedades científicas
232
233
3 Acrescenta a autora que algumas destas sociedades poderiam também ter como finalidade a
difusão do conhecimento também para as massas.
234
235
mind, a segunda visa impor uma espécie de group think, assente na delimitação
de fronteiras epistemológicas.
Baseadas, portanto, na força própria do coletivo, as associações científicas
constituem-se como núcleos legitimadores quer de problemas formulados como
objeto de determinadas ciências quer dos métodos prescritos para a sua aborda-
gem. A constituição de associações científicas, sejam elas nacionais ou interna-
cionais, disciplinares ou interdisciplinares, está, por isso, ligada à consolidação
de determinados campos científicos e suas comunidades. Daí que, em parte, a
maturidade de um dado ramo científico possa, de algum modo, ser também aferido
tanto pela longevidade das suas associações como pela dimensão e espessura dos
seus corpos de cientistas.
Para além de representarem a identidade e legitimidade de um grupo e de
um campo científico, as associações científicas estão também ligadas à expec-
tativa de promoção de integridade da investigação. Quer isto dizer que se lhes
atribui igualmente uma responsabilidade ética que Iverson, Frankel e Siang tra-
duzem nesta convicção: “as sociedades científicas estão bem posicionadas para
funcionarem como guardiãs dos valores profissionais e dos padrões éticos que
foram sendo estabelecidos pelos seus membros ao longo do tempo e para aju-
dar a transmiti-los às subsequentes gerações de cientistas” (Iverson, Frankel, &
Siang, 2003, pp. 141-142). É nesse sentido que as associações de ciência são, por
outro lado, impulsionadoras de “uma variedade de atividades e estratégias que
visam promover a conduta de investigação responsável” (Frankel & Bird, 2003,
p. 140). Felice Levine e Joyce Iutcovich também reconhecem que o vasto papel
das associações científicas tem incluído “o desenvolvimento de códigos de ética
e o apoio público de políticas com vista à defesa de práticas éticas na conduta de
investigação” (Levine & Iutcovich, 2003, pp. 257-258). De acordo com os autores,
as associações foram, por isso, comprometendo-se com a necessidade de sensi-
bilizar para problemas como “a fabricação ou falsificação de dados, a proteção
dos indivíduos humanos, a confidencialidade, o relato rigoroso dos resultados e
o plágio” (Iverson, Frankel, & Siang, 2003, p. 258).
Reconhecendo que “aos poucos foram sendo agregados papéis e funções
cada vez mais relevantes” às associações científicas, Geraldina Witter admite que
estes organismos se foram diversificando, ampliando e tornando mais normati-
vos e poderosos (Witter, 2007, p. 2). Com efeito, qualquer que seja o seu domínio
científico de atuação, uma das expectativas progressivamente identificadas com
as associações prende-se com o papel que podiam ter na definição de políticas
236
públicas de ciência. Para Ana Delicado, “seria de esperar que as associações cien-
tíficas fossem de algum modo consultadas no desenho das políticas de ciência”,
uma participação que, em Portugal, “é (e praticamente sempre foi) quase inexis-
tente” (Delicado, 2015, p. 333).
A dinamização da ciência
237
238
contactos diretos com agentes políticos (…) ou reuniões convocadas por iniciativa das
associações, cartas ou testemunhos endereçados a decisores políticos, comentários em
jornais e comunicados de imprensa, policy briefs e livros brancos, declarações, criação
de gabinetes ou programas especializados em medidas de política, organização de
simpósios e conferências, emissão de resoluções e pareceres, constituição de painéis
de aconselhamento, participação em processos de consulta pública (…), apresentação
de queixas a instâncias judiciais, etc… (Delicado, 2015, p. 344)
4 Projeto financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia em 2008, desenvolvido por
investigadores do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, em cooperação com
o Centro de Investigação e Estudos Sociais do Instituto Universitário de Lisboa e com o Centro
de Investigação em Sociologia Económica e das Organizações do Instituto Superior de Economia
e Gestão.
239
240
5 Ver https://www.icahdq.org/page/History .
6 Ver https://iamcr.org/objectives .
7 Ver http://alaic.org/site/historia-alaic-historia-alaic/ .
8 Ver http://ecrea.eu/about/history .
9 Informação igualmente disponível no site da organização, em http://ecrea.eu/about/history .
241
10 Relativamente ao contexto português, dizem Ana Delicado, Luís Junqueira, Raquel Rego, Cris-
tina Conceição e Inês Pereira que “é a partir dos anos 80 que se dá o verdadeiro arranque no
desenvolvimento científico, com a entrada da ciência na orgânica dos governos (…) e a criação
de programas estáveis de financiamento”, um desenvolvimento “acompanhado pela fundação
crescente de associações científicas” (Delicado, Junqueira, Rego, Conceição, & Pereira, 2011, p. 101)
242
Dificuldades e desafios
243
vivendo muitas vezes da exclusiva dedicação voluntária dos seus corpos sociais
e associados. Por outro lado, apesar da relevância reconhecida pelos cientistas
em geral ao facto de se pertencer a uma associação, o grau de comprometimento
dos associados é, não raras vezes, pouco expressivo; faltará aos membros das
associações o sentido de militância e de envolvimento político que caracteriza
outras organizações coletivas como os partidos políticos ou os sindicatos.
Concorrendo para uma certa fragilização do sentido de coesão do grupo,
estes fatores repercutem-se, por consequência, na pouca notoriedade e no insu-
ficiente reconhecimento das associações por parte das instituições de gestão e
apoio à ciência, que se traduz, diz Ana Delicado, numa “fraca abertura por parte
das instâncias de decisão a este tipo de participação” (Delicado, 2015, p. 348). Ao
inventariar as razões por que as associações científicas acabam por ter um papel
diminuto em matéria de políticas de ciência, a autora menciona ainda “o facto
de as atividades de aconselhamento nas políticas públicas e lobby serem, pela
sua própria natureza, irregulares ou poderem não ser perspetivadas pelas asso-
ciações como centrais no quadro da sua missão”, bem como “a pulverização das
associações científicas e a ausência de uma federação ou associação agregadora”
(Delicado, 2015, p. 348).
Retardando aquilo que poderiam ser os benefícios políticos decorrentes da
atividade das associações, estas circunstâncias não suprimem, no entanto, rele-
vância ao movimento associativo. No contexto lusófono, por exemplo, mantêm-se
bem expressivos os imperativos de defesa do potencial do Português como língua
de conhecimento, de pensamento e de ciência, estendido no âmbito ibero-ameri-
cano à promoção dos idiomas ibéricos, que correspondem, no conjunto, à segunda
maior província linguística do mundo 11. De acordo com Moisés de Lemos Martins,
“uma língua apenas pode fazer valer a sua força pela informação e pelo conhe-
cimento que veicula” (Martins, 2015, p. 19). Continua o autor, sugerindo que “só
numa língua materna é possível a expressão de sentimentos complexos, como a
expressão artística, a reflexão filosófica e a manifestação espiritual e sentimental,
que não cabem na linguagem simplificada que uma segunda língua pode permitir”
(2015, p. 20). Ainda que seja hoje uma batalha perdida a refutação da hegemonia
11 De acordo com o Alphatrad Portugal – Optilingua Internacional, o Espanhol será a segunda lín-
gua mais falada, com 332 milhões de falantes, aparecendo o Português em sexto lugar, com 170
milhões de falantes. No conjunto, ambos os idiomas são ultrapassados apenas pelo Mandarim,
falado por 885 milhões de pessoas. Ver https://www.alphatrad.pt/50-linguas-mais-faladas-no-
-mundo .
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mento da ciência e formação profissional-pesquisador. Boletim de Psicologia, LVII(126),
001-014.
246
Resumo
Pretendemos com este estudo fazer um levantamento sobre as possibilidades de financia-
mento em políticas científicas de comunicação em Moçambique, olhando para as agências
financiadoras, o quão as mesmas olham para a área das Ciências Sociais, como campo maior
e, em específico a Comunicação, enquanto área prioritária para o investimento e, acima de
tudo, o desenho de políticas que contribuem na difusão da informação e comunicação em
Moçambique. Buscamos também fazer um breve panorama sobre o ensino da Comunicação,
a nível de licenciatura e com maior ênfase para a pós-graduação, como desafio às futuras
pesquisas nesta área de conhecimento, tomando em consideração que, só recentemente,
iniciaram os cursos de licenciatura em Ciências da Comunicação.
247
Introdução
248
1. Objectivos e Metodologia
249
Nome da
Província Cursos oferecidos Níveis
instituição
• Jornalismo
Maputo e Escola Superior • Relações Públicas
Licenciatura
Manica de Jornalismo • Publicidade e Marketing
• Biblioteconomia e Documentação
Escola de • Jornalismo
Maputo Comunicações e Licenciatura
• Ciências da Informação
Artes (ECA-UEM)
250
Na segunda fase, foi feita uma pesquisa em profundidade sobre o perfil dos gra-
duados das IES que leccionam os cursos das Ciências da Comunicação, para aferir o
tipo de enquadramento, assim como as formações pós-licenciatura. Isto permitiu, de
certa forma, que obtivéssemos um dado importante, que mostra que mais da metade
dos graduados não fizeram as suas pós-graduações em Ciências da Comunicação,
por várias razões, que apontaremos em outra secção do presente trabalho.
A terceira fase consiste no segundo mapeamento, que é dedicado às agências
de fomento de pesquisa, que canalizam suas acções para a área das Ciências da
Comunicação. Aqui, em particular, fez-se um levantamento das agências exis-
tentes em Moçambique, desde as governamentais, entre outras, com o intuito
de tentar perceber que lugar se dá à pesquisa em Comunicação, que editais são
abertos para esta área, e se existem temáticas que ocupam lugar de relevo.
251
Não há debates que não reconheçam que qualquer ciência, para que possa conso-
lidar-se e ganhar seu espaço na academia, bem como nas sociedades, não precise
do envolvimento de académicos que militem nessa área, com vista a desenvolver
pesquisas científicas. É a actividade de pesquisa científica que aguça o raciocínio
do estudante universitário e que torna o trabalho de ensino mais próximo daquilo
que a sociedade dele possa esperar.
A evolução industrial, como um dos marcos históricos das sociedades moder-
nas, contou com actividades de pesquisas que puderam impulsionar invenções
humanas e demonstram a utilidade dessas invenções para a vida no planeta.
Por outro lado, é de grande importância o reconhecimento de que a activi-
dade académica, nas instituições do ensino superior, não se limita ao trabalho
de docência, mas sim, ela está e deve estar enquadrada na tríplice dimensão
“ensino-pesquisa-extensão”. Só com o reconhecimento da indissociabilidade e
a retroalimentação desses três pilares é que se pode ter aquilo que a sociedade
espera das instituições de ensino superior. A necessidade da manutenção e busca
252
Estas palavras encontram eco nas entrelinhas referidas por Boaventura Sousa
Santos (2004, p. 17), ao explicar que desde sempre, as formas privilegiadas de
conhecimento, quaisquer que elas tenham sido, num dado momento histórico
e numa dada sociedade, foram objecto de debate sobre a sua natureza, as suas
potencialidades, os seus limites e o seu contributo para o bem-estar da sociedade.
E as Ciências da Comunicação, em Moçambique, não se podem furtar a esse
debate, sobre as suas contribuições para o bem-estar e a consolidação de um
Estado democrático, que é e pretende ser.
Embora a academia e o mercado sejam espaços distintos a primeira, enquanto
produtora de conhecimento; e a segunda, como aplicadora de conhecimento pro-
duzido perla primeira –, as duas instituições devem coexistir e interagir, quando se
pensa num conhecimento que não vira as costas às necessidades das sociedades
nas quais esteja inserido. E é com base nas pesquisas, básicas ou aplicadas, que
se pode pensar a aplicabilidade do conhecimento produzido nas academias e o
fornecimento de colaboradores capacitados para o mercado do trabalho.
A área de pesquisa em Ciências da Comunicação, em Moçambique, é bem
mais recente que a emergência das instituições de ensino superior, que oferecem
cursos nesta área de conhecimento. Mais ainda, são poucas as IES, que dispõem
de uma plataforma clara e de unidades orgânicas internas, ligadas à pesquisa.
Referimo-nos à diminuta existência de departamentos e de centros de pesquisa
em Ciências da Comunicação. Das três instituições públicas do ensino superior
moçambicano, que oferecem cursos de graduação e pós-graduação na área da
Comunicação, apenas uma, concretamente a ESJ, é que tem departamentos de
pesquisa constituídos.
Olhando para as IES privadas, apenas a Universidade Católica de Moçam-
bique (UCM) é que dispõe de um centro de pesquisa, voltado para as Ciências
253
254
255
256
Referências bibliográficas
257
258
259
Resumo
Tal como outrora aconteceu com o latim e a escolástica, a afirmação do inglês como língua
franca representa, hoje, a afirmação de um certo paradigma de ciência – um paradigma
que Monbiot (2011) qualifica como de “monopólio de conhecimento” e “parasitismo
económico”. Visando interrogar o atual império do inglês como língua franca, este
artigo propõe-se os seguintes objetivos: i) fazer uma arqueologia mínima da história e
do conceito de “língua franca”; ii) caracterizar o paradigma contemporâneo que tem o
inglês como língua franca; iii) discutir as principais consequências epistémicas desse
paradigma.
261
Introdução
No prefácio da sua obra How to write and publish a scientific paper, escreve
Robert Day:
1 A tradução deste e de outros trechos de obras estrangeiras, citadas neste artigo, para língua
portuguesa, é da responsabilidade do autor.
262
263
264
North Whitehead e Bertrand Russell publicaram os três volumes dos seus Principia
mathematica (1910, 1912 e 1913).
Ainda no século XX, o matemático italiano Giuseppe Peano, exasperado com
o facto de não ter percebido a carta de um seu colega japonês, subscreve em 1903
a proposta de criação de uma língua universal (artificial), baseada no latim, a que
chamou “Latino sine flexione”, e que mais tarde veio a ser chamada “Interlíngua”
e, ainda mais tarde, “Europeano” (Ostler, 2007). No entanto, e precisamente pelas
razões já antevistas por Descartes, na sua carta de 1629, tal projeto de língua
artificial universal acabou por não vingar.
O império do inglês
Nos séculos XVIII e XIX, e no século XX, pelo menos até finais da I Guerra Mun-
dial, são o francês, o inglês e o alemão que são utilizados como “línguas francas”
da ciência. Assim, aquilo a que se costuma chamar a “ciência moderna” é, no
essencial, produzido não sob o monopólio de uma língua franca, mas sob o signo
da pluralidade linguística, traduzida na coexistência de várias línguas francas –
embora umas o fossem mais do que outras, em determinados períodos.
Se o francês – com a Encyclopédie, o Iluminismo, a Revolução Francesa e o
Império – e o inglês são predominantes no século XVIII, já o alemão afirma-se
sobretudo durante o século XIX, com a formação do império prussiano, em 1871,
e a criação do sistema universitário humboldtiano (a Universidade de Berlim foi
criada em 1810 por Humboldt). Como refere Ostler (2010, §27.18) 3,
3 Utilizamos a versão do livro em epub, pelo que se indica o número do parágrafo em vez do número
da página; o programa de leitura é o Calibre, versão 64 bits.
265
As duas primeiras revistas científicas, que surgem ambas em 1665, são também
ambas editadas em vernáculo: o Journal des Sçavans, em francês; e as Philosophical
Transactions, em inglês (Banks, 2009; Banks, 2010).
Com o surgimento das revistas científicas, os livros e as cartas, que entre os
séculos XV e XVII, tinham sido as formas predominantes de publicação e comu-
nicação científicas, vão progressivamente dar lugar ao artigo científico, durante
os séculos XVIII e XIX (Garfield, 1980; Garfield, 1992).
Ao longo desse período, e sobretudo a partir dos finais do século XIX, o artigo
científico vai adquirindo a estrutura que viria a cristalizar, já no pós-II Guerra
Mundial, no modelo chamado IMRaD – Introduction, Methods, Results, and Dis-
cussion (Day, 1998, pp. 6-7). De acordo com a explicação de Day,
A lógica do IMRaD pode ser definida na forma de questões: Que questão (problema)
foi estudada? A resposta é a Introdução. Como foi estudado o problema? A resposta
são os Métodos. Quais foram as descobertas? A resposta são os Resultados. O que
significam estas descobertas? A resposta é a Discussão (Day, 1998, p. 7).
266
267
Se é certo que ao erigir o latim como língua franca, os antigos e os medievais deram
à ciência uma certa universalidade – os sábios de cada país podiam ensinar e ser
lidos em qualquer outro país –, não é menos certo que ele excluía todos os que
não dominavam essa língua, e se exprimiam nos diversos vernáculos (a maioria).
Na realidade, mesmo entre os sábios, o latim não era a língua franca da ciência,
mas a língua de um certo tipo de ciência: a escolástica. Compreende-se, assim, que
tenha sido em conflito com o latim, e em nome dos vernáculos, que alguns dos
principais criadores da ciência moderna, como foi o caso de Galileu ou Descartes,
orientaram a sua publicação.
Talvez a passagem em que se revelam de forma mais clara as razões desse
conflito dos sábios modernos com o latim, enquanto língua franca de um certo
tipo de ciência, seja a seguinte, do Discurso do Método (1637):
E se escrevo em francês, que é a língua do meu país, em vez de latim, que é a dos
meus preceptores, é porque espero que aqueles que não se servem senão da sua pura
razão natural ajuizarão melhor acerca das minhas opiniões do que aqueles que não
acreditam senão nos livros antigos. E no que se refere àqueles que juntam o bom senso
com o estudo, os únicos que desejo como meus juízes, eles não serão tão parciais em
relação ao latim, que recusem entender as minhas razões, pelo facto de eu as explicar
em língua vulgar (Descartes, 1980, p. 59).
Por razões semelhantes, Galileu publica em italiano o seu Dialogo sopra i due
massimi sistemi (1632), que é traduzido para o latim apenas em 1635 (Ostler, 2007).
4 Ver http://pdos.csail.mit.edu/scigen.
268
5 Como refere Kuhn, os paradigmas “fornecem aos cientistas não apenas um mapa, mas também
algumas das indicações essenciais para a elaboração de mapas. Ao aprender um paradigma, o
cientista adquire ao mesmo tempo uma teoria, métodos e padrões científicos, que usualmente
compõem uma mistura inextricável. Por isso, quando os paradigmas mudam, ocorrem altera-
ções significativas nos critérios que determinam a legitimidade, tanto dos problemas, como das
soluções propostas” (Kuhn, 1996, p. 109).
269
Mesmo Deus não conseguiria uma bolsa hoje, porque alguém do júri diria, oh essas
experiências foram muito interessantes (a criação do universo), mas elas nunca foram
repetidas. E, em seguida, alguém diria, sim, ele fez isso há muito tempo, o que fez ele
recentemente? E uma terceira pessoa diria, para culminar, ele publicou tudo isso numa
revista sem arbitragem (a Bíblia).
270
Os caminhos divergentes
6 Esta solução foi tomada pelas revistas portuguesas de Ciências da Comunicação, Revista Lusó-
fona de Estudos Culturais / Lusophone Journal of Cultural Studies (www.rlec.pt) e Comunicação
e Sociedade (http://revistacomsoc.pt/), e também pela revista brasileira Matrizes (http://www5.
usp.br/tag/revista-matrizes/).
7 Ver, respetivamente, https://translate.google.com, http://www.worldlingo.com e http://tradutor.
babylon.com.
271
O inglês poderá ser, assim, tal como o sugere o título do livro de Ostler, “a
última língua franca”, que antecede “o regresso de Babel” – só que, agora, uma
Babel em que, por via da mediação das tecnologias da tradução automática, todas
as línguas se entendem umas às outras 9.
Contudo, o fim do inglês como língua franca global, por efeito das tecnologias
de tradução automática, não implica, necessariamente, o fim das línguas francas.
De facto, se é verdade que, como procurámos mostrar no que antecede, “as ‘línguas
francas’ da ciência são mutáveis” (Forattini, 1997, p. 8), e que essa mutabilidade
terá mais a ver com razões extra científicas – nomeadamente económicas e polí-
ticas – do que com razões científicas, nada impede que, à semelhança do que
aconteceu em outros períodos da história, alguns deles muito recentes (séculos
XVIII a XX), haja várias línguas francas da ciência, em vez de uma; isto é, que a
hegemonia global (do inglês) seja também por esse lado contrariada por contra
hegemonias locais (Cabral, 2007).
Mais concretamente, nada impede que o português, com os seus cerca de
250 milhões de falantes, seja uma dessas línguas francas da ciência 10. Aliás, o
português já atualmente está longe de se encontrar na situação de países como
a Eslovénia ou a Holanda, que precisam de publicar em inglês para que as suas
publicações tenham um mínimo de impacto (Carvalho, 2013).
8 Utilizamos a versão do livro em epub, pelo que se indica o número do parágrafo em vez do número
da página; o programa de leitura é o Calibre, versão 64 bits.
9 Como que a reforçar esta opinião de Ostler, os responsáveis do Skype anunciaram, em meados
de dezembro de 2014, que, depois de uma fase de testes do Skype Translator, o serviço de video-
chamada se prepara para, daqui a alguns meses, oferecer tradução simultânea gratuita aos seus
utilizadores – numa primeira fase apenas entre inglês e espanhol e, numa segunda fase, entre
quarenta diferentes línguas (Jiménez Cano, 2014).
10 É essa a proposta de Moisés de Lemos Martins, em Lusofonia e Interculturalidade. Promessa e
Travessia (Martins, 2015 a). Elegendo o ciberespaço como o novo lugar do conhecimento cien-
tífico, nas atuais condições da sociedade tecnológica, com a língua portuguesa a saltar para as
redes sociais, os repositórios digitais de conhecimento e os museus virtuais, M. L. Martins fala
da “nova América de um novo arquivo cultural”, como consequência da travessia tecnológica em
curso. Nesse sentido, procede a uma analogia entre a circum-navegação marítima dos séculos
XV e XVI e atual circum-navegação tecnológica, remetendo para figuras como as de “região
geolinguística”, “região geocultural” e “identidade transcultural” (ver, especificamente, “Média
digitais e lusofonia”, pp. 27-56).
272
Considerações finais
Afirma Hegel, nas suas Lições sobre a Filosofia da História (2001, p. 20), contra
os que defendem que devemos aprender com as “lições da história”, que o que a
experiência e a história ensinam é que “os povos e os governantes nunca apren-
deram nada com a história” – e isso porque, sendo cada época idiossincrásica e
original, é também de forma idiossincrásica e original que os homens dessa época
devem decidir, não podendo transpor para o seu presente as lições do passado.
Não pondo de parte esta posição de Hegel, diremos, no entanto, que há pelo
menos uma lição que todos nós aprendemos com a história: precisamente a de
que há uma história, isto é, que por muito que dure, nada permanece imutável.
Evocar aqui o “E pur se muove” de Galileu, perante o Tribunal do Santo Ofício,
ou o “Nada é impossível de mudar”, do título do poema de Bertolt Brecht, não
passaria de um lugar-comum. No entanto, já não é um lugar tão comum a “súplica”
que, neste mesmo poema, Brecht nos faz, de que examinemos “sobretudo o que
parece habitual”, e que não o aceitemos como “coisa natural” (Brecht, 1983, p.
45) – já que é no habitual, na sua naturalidade e evidência, que se consagra a
dominação e a tirania.
O habitual hoje, na ciência ocidental, é aquilo que aqui designámos como
“paradigma dominante”, e que procurámos caracterizar a partir de três traços
essenciais: publicação em língua inglesa, de artigos em formato IMRaD, suscetíveis
de indexação nas bases de dados, como a Thomson Reuters e outras.
Questionar cada um destes traços – a começar pela fatalidade do inglês como
língua franca única e global – é, para além de uma exigência académica, uma exigên-
cia cultural e política a que os académicos não podem eximir-se 11. Não é que sejamos
contra o inglês; mas somos contra o paradigma asfixiante que ele hoje suporta.
11 Veja-se, neste sentido, por exemplo, Moisés de Lemos Martins, em “A liberdade académica e os
seus inimigos” (Martins, 2015 b).
273
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Revistas consultadas
276
Resumo
A presente reflexão discute a questão da produção científica em língua portuguesa na
área das Ciências Sociais e Humanas, em particular no espaço da comunidade científica
lusófona. Mas este estudo procura ir mais longe, colocando também, de forma mais ampla,
a questão do uso da língua própria, como questão central na criação de conhecimento, em
todas as áreas que visam a compreensão cultural do humano, em tempos de globalização
e multiculturalismo cultural.
Em segundo lugar, defenderemos que a internacionalização científica, essencialmente
regida pelas regras do mercado global, constitui um paradoxo (mas não necessariamente um
obstáculo), instalado na interculturalidade, tão repetida e estudada pelas Ciências Sociais
277
Introdução
278
que só existe a partir do ato linguístico que o nomeia, a partir da nossa própria
memória cultural (Baptista 2009, 2011).
No caso da Lusofonia, o equívoco pode surgir, podendo ser-se levado a pen-
sar que o caminho está feito, quando a realidade nos mostra que estamos numa
encruzilhada (ou em várias) feitas de paradoxos e ambiguidades (Martins, 2011
e 2015 a).
279
280
Como não há ciência sem comunicação, pois ela visa sempre a publicação, ela
organiza-se estruturalmente como uma atividade interpessoal e intercultural (o
que não significa que ela vise toda e de imediato a internacionalização).
Porém, a interculturalidade, que é visada nas áreas dos estudos artísticos,
sociais e humanos não se resolve pela redução de toda a ciência produzida em
línguas diversas à hegemonia da língua inglesa, o que constituiria a ortodoxia do
1 Estes exercícios vazios da investigação científica estão entre as ameaças à “liberdade académica”,
de que fala Moisés de Lemos Martins em “A liberdade académica e os seus inimigos” (Martins,
2015 c).
281
ninguém deveria ser obrigado a ‘expatriar-se’ mentalmente cada vez que abre um livro,
de cada vez que se senta diante de um écran, de cada vez que (…) discute ou reflecte.
Cada um devia poder apropriar-se da modernidade, em vez de ter constantemente a
impressão de a estar a pedir emprestada aos outros.
a língua materna é o berço em que nascemos para os outros e para o mundo (…). Cuidar
do pensamento e cuidar da cultura é também cuidar da língua através da qual somos
capazes de dizer o pensamento e a cultura. Nessa língua se sedimentam e decantam
memórias, tradições e identidades, nela foram depositando os que nos precederam a
282
sua compreensão do tempo e da história, nela ecoam contactos com os outros povos
que nos fizeram na interacção com eles, desde os gregos e os latinos aos árabes e
visigodos, desde os nossos vizinhos espanhóis aos franceses, ingleses e alemães.
283
Da rosa no Rosa
(…)
E deixa os portugais morrerem à míngua
Minha pátria é minha língua
Fala Mangueira
Fala!
Flor do Lácio Sambódromo
Lusamérica latim em pó
O que quer
o que pode
Esta língua
284
Referências bibliográficas
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Federal do Pará.
286
Resumo
Nesta comunicação apresentam-se reflexões sobre a língua portuguesa e alguns dos seus
enquadramentos em Moçambique, em particular, a relação desta língua com a língua
espanhola nesta parte de África, a globalização e a pedagogia da equidade.
Interagir com diferentes línguas e culturas, e do mesmo modo, interagir com a mesma
língua e diferentes culturas é muito útil porque estas interacções fornecem perspectivas
diferentes da nossa e nos libertam de preconceitos que, muitas vezes, são condicionados
culturalmente. Neste contexto, torna-se fundamental estudar os processos históricos que
moldaram e continuam a moldar os contextos sociais, culturais e linguísticos de Moçam-
bique, com destaque para a coabitação linguística e cultural entre a língua portuguesa e as
línguas bantu, em contexto de harmonia multilinguística e multicultural.
São ilimitadas as contas do colar linguístico moçambicano, que é também universal, cada
uma encerrando histórias sobre a modernização da língua portuguesa, temperada pela
* Armando Jorge Lopes, mestrado [York, UK, 1982], doutorado [Wales, UK, 1986] e pós-doutorado
[USC, California, 1991 & Cambridge, UK, 1993], é linguista [Linguística Aplicada] e dedica-se há
mais de 45 anos ao ensino de línguas—como explicador de Inglês [1967], professor no ensino
secundário [1972-77], docente, investigador e gestor universitário [1977--] e Professor Catedrático
[2000--] na Universidade Eduardo Mondlane [UEM], Moçambique. Tem ensinado em programas
de doutoramento e pós-doutoramento também em universidades na Europa, América e outros
países de África. Foi Director Pedagógico da UEM [1987-90], Director-Adjunto da Faculdade de
Letras para a Investigação [1993-96], Chefe do Departamento de Linguística e Literatura [2001-04]
e Director da Faculdade de Letras e Ciências Sociais [2007-12]. Exerceu o cargo de Editor-Chefe da
LASU, Associação de Linguística das Universidades da SADC [1990-95] e realizou interpretação
simultânea e tradução na SADCC e em outras instituições políticas e económicas em Moçambique
e outros países [1975-1994]. Publicou 11 livros e uma centena de artigos em revistas internacionais
e nacionais. Foi Vice-Reitor (Científico-Pedagógico) da Universidade Politécnica de Moçambique
[2014-2017].
287
Introdução
Reflectir sobre temas que as missangas encerram não é tarefa simples. Língua,
globalização, interculturalismo, intraculturalismo, lusofonia, hispanofonia, entre
outros, são temas que entendo como contas ou missangas. Sem necessariamente
serem as de Mia Couto de 2008, muito embora nos deslumbremos através delas,
as contas do colar moçambicano, que se pretende universal e partilhado, apresen-
tam-se ilimitadas. São missangas que vamos introduzindo no fio da comunicação,
aquelas contas de vidro coloridas e de outros materiais—as missangas moçambi-
canas, que são também missangas do mundo (Lopes, 2013ª). Reflicto aqui sobre
algumas missangas da língua, da cultura e da inclusividade.
Não pertencendo ao espaço ibero-americano de forma directa, por assim
dizer, a história deste país que tem a língua portuguesa como língua oficial e, acima
de tudo, a sua situação híbrida entre a anterior vivência com o mundo português
e a recente e intensa experiência também partilhada com o mundo hispânico
tornam Moçambique num lugar privilegiado de reflexão e problematização desse
mesmo espaço e fazem com que a nação africana seja sua parte integrante, mesmo
que de forma indirecta. Ao aceitar-se que uma língua não é uma parte isolada de
um sistema ecológico complexo, mas sim, e necessariamente, parte integrante
do mesmo, ao compreender-se a importância do sistema ecológico do espaço
ibero-americano e o facto das línguas nele faladas serem línguas pluricêntricas,
não idênticas nas suas variedades metropolitanas, e ao reconhecer-se que cada
um dos centros cria uma pressão na direcção da sua variedade—não apenas em
termos fonológicos, morfológicos, sintácticos, semânticos e lexicais, mas também
em termos discursivos—e que estas pressões se exercem tanto diacrónica como
sincronicamente, deduz-se que as influências do Português e do Espanhol sobre
todas as outras variedades, incluindo as variedades emergentes de vários estados
e ainda sobre as línguas indígenas neles faladas sejam profundamente complexas
e diversas. É neste sentido que entendo Moçambique como parte integrante da
iberofonia.
288
1. Linguagem e globalização
1 Sobre a previsibilidade do Esperanto, diz Abley (2003, p. 93) o seguinte: “Todos os substantivos
terminam em –o, todos os adjectivos em –a, todos os advérbios em –e...Uma árvore é arbo; uma
árvore pequena é arbeto; uma árvore grande arbego; uma floresta é arbaro...O homem é viro;
a mulher vir’ino. O marido é edzo; a esposa edzino. A base da língua assenta na masculinidade,
289
tudo o que é feminino é criação posterior”. [All its nouns end in –o, all its adjectives in –a, all
its adverbs in –e... A tree is arbo; a small tree is arbeto; a big tree is arbego; a forest is arbaro...
Man is viro; woman is vir’ino. A husband is edzo; a wife is edzino. At the base of the language is
maleness, anything female is an afterthought].
290
291
É claro que noções como aldeia global e cultura mundial significam muito
pouco ou mesmo quase nada para as pessoas que têm uma cultura de subsis-
tência como única cultura ou que não vêm o seu dia-a-dia melhorado. Teremos
nós vontade de vencer a prática da sobrevivência do mais forte? Ou os cidadãos
do mundo continuarão a fingir que estão apaixonadamente interessados pelo
Outro, e a imaginar o mundo do outro de um modo em que o outro já não é mais o
Outro? Pessoalmente, gosto, em particular, da ideia de que me posso transformar
interagindo com o Outro sem me distorcer, sem perda. Assim, e novamente em
sintonia com o que diz Glissant:
Tu podes mudar, podes mudar com o Outro, podes mudar com o Outro ao mesmo
tempo que permaneces tu próprio, tu não és um, tu és múltiplo e és tu próprio. Não
estás perdido porque és múltiplo. É difícil admitir isto, porque temos medo de nos
perdermos. Dizemos para connosco: se eu mudar, perco-me. Se eu me apropriar de
alguma coisa do Outro, o meu ser desaparece. Temos decididamente de abandonar
este erro (Barson & Gorschlüter, 2010, p. 61).
292
É óbvio que a globalização não consiste de uma interconexão efectiva de todo o pla-
neta por meio de uma grelha articulada de comunicações e de trocas. A globalização
é sim um sistema radial que se estende de diversos centros de poder com dimensão
variada a múltiplas zonas económicas bastante diversificadas. Tal estrutura implica
a existência de vastas zonas de silêncio, praticamente sem ligação entre si ou apenas
ligadas indirectamente por via das metrópoles...A globalização melhorou sem dúvida
as comunicações a um nível extraordinário, dinamizou e pluralizou a circulação cultu-
ral e criou uma consciência mais pluralista. Contudo, fê-lo através dos mesmos canais
seguidos pela economia, reproduzindo-se assim, em larga medida, as estruturas do
poder (Mosquera, 2001, p. 32).
293
294
…Houve logo uma empatia, aquele sentimento de proximidade. Assim que se diz que
se é de Moçambique, tornamo-nos irmãos, filhos, melhores amigos do povo cubano.
(…) É comum ouvir o meu amigo, o amigo do meu amigo, um parente do parente esteve
em Moçambique. (…) Passadas três horas, já me sentia em casa, tinha arranjado família,
amigos. Devo dizer que o povo cubano foi dos povos com quem mais gostei de privar,
de partilhar. (…) Oxalá um dia possa regressar a Cuba e encontrar ainda aquela magia
que só ali senti (Sultuane, 2013, pp. 72; 74-75).
295
2 Email de 12 de Abril de 2014, em resposta a um pedido de depoimento feito pelo autor do presente
estudo.
3 O Estado é simultaneamente o objectivo final do movimento nacionalista e o instrumento para
a construção da nação que, consequentemente, deve ter uma natureza multicultural. A política
linguística vem assim substituir os processos violentos que levaram à formação das actuais
296
política linguística. Por outro lado, e como deixei implícito na secção anterior, em
algumas sociedades do mundo pós-colonial, o conceito de sociedade multicul-
tural tem significado a manutenção de uma cultura dominante sobre as outras
culturas, regra geral culturas das ‘minorias’, e a aceitação dessas mesmas culturas.
Esta aceitação das outras culturas é, por outro lado, questionada, reivindicando-
-se um projecto cultural plural, assente no princípio de que nenhuma cultura é
superior a outra, nenhuma cultura é mais verdadeira ou tem mais valor do que
outra e que, por isso, vale o esforço de tentar pôr juntas, num todo heterogéneo,
formas culturais diversas sem perda e sem grande conflito. Julgo importante
manter-se este enfoque no contexto que agora discuto, ou seja, o contexto das
ciências da comunicação, e sobretudo no âmbito do que designaria por pedagogia
da equidade.
Em termos amplos, a pedagogia da equidade reconhece o direito à existência
de diferentes grupos culturais, considera a diversidade linguística e cultural como
um bem e não uma desvantagem, reconhece os direitos de todos os grupos cultu-
rais da sociedade como direitos iguais e promove a igualdade de oportunidades
educacionais.
Em termos mais específicos, a pedagogia da equidade não ocorre apenas num
único curso ou programa mas, sim, numa variedade de programas e práticas. É
claro que também pode ter significados diferentes em diferentes escolas e com
diferentes grupos de indivíduos, segundo as suas necessidades e circunstâncias.
O sucesso do professor relativamente ao desenvolvimento académico de alunos
oriundos de diferentes grupos culturais e sociais constitui o cerne da pedagogia
da equidade. Atenção especial é dada à integração ao nível dos conteúdos, o que
significa que os conteúdos de algumas disciplinas são retrabalhados de molde a
representar experiências diversas e perspectivas diferentes, sobretudo das pessoas
que habitualmente são sub-representadas ou excluídas. Promove-se a interacção
e cooperação mútuas, incentiva-se a valorização de todas as culturas e reforça-
-se o poder dos chamados grupos étnicos minoritários. Há uma relação dupla
entre comunicação e cultura, porque a comunicação é moldada pela cultura e é
um poderoso agente de transmissão e preservação cultural. O mestre transmite e
interpreta o conhecimento da cultura dominante e o conhecimento das microcul-
turas, proporcionando, assim, uma formação multicultural. São sobretudo três os
297
Conclusão
298
Termino com uma passagem de Amin Maalouf (2009) que discute a indis-
sociável articulação entre a cultura e a língua, no âmbito dos direitos humanos:
…Não aceito a ideia de que deverão existir uns direitos humanos para os europeus
e outros para os povos islâmicos, africanos, asiáticos. Têm que ser os mesmos. Mas
depois deverá existir uma grande diversidade de expressões culturais. A principal é a
linguagem. (…) e toda a cultura associada à língua deverá tornar-se conhecida, mesmo
para lá das fronteiras dessa cultura.
É, por isso, que acho que as missangas com que fui tentando compor o fio da
comunicação vão também para além das fronteiras do espaço ibero-americano.
Não será o espaço moçambicano de comunicação também iberófono? E tendo
299
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que/The Battle of the Languages: Perspectives on Applied Linguistics in Mozambique.
Maputo, Livraria Universitária.]
300
301
302
Resumo
A globalización neoliberal tende a reducir o valor das linguas á súa dimensión económica,
reducíndoas a mercadorías (comodificación). A vella noción de comunidade lingüística-
-cultural sofre a competencia da nova noción de mercado lingüístico. Por outra banda, a
globalización tamén erosiona o estatus das linguas oficiais dos estados nacións, favore-
cendo a posición do inglés, mentres que as novas tecnoloxías da comunicación ofrecen
máis posibilidades de visibilización dunha diversidade lingüística previamente ocultada.
Culminará a tendencia uniformizadora coa definitiva imposición da lingua global? Pode-
rán algunhas das grandes linguas, como o español ou o portugués, atopar acomodación
como linguas de comunicación internacional? Que vai acontecer coas linguas menores?
Do que non hai dúbida é de que a comodificación das linguas resulta incompatible coa
interculturalidade, desde que baleira e desposúe ás linguas da súa bagaxe cultural. Non
obstante, a volta ao vello escenario da lingua nacional do estado monolingüe é inviable.
Neste contexto, cómpre vindicar a alternativa ecolingüística, de respecto á diversidade
lingüística. Non será renunciando á súa condición bilingüe e dispersa como conseguirán
abrir camiño comunidades lingüísticas menores como a galega. En canto ao espazo ibero-
-(afro-)americano, o futuro virá da construción dun espazo de comunicación horizontal
entre socios libres, diversos e iguais. A clave radica en activar e fomentar o coñecemento
*
Forma parte do Instituto da Lengua Galega da Universidade de Santiago de Compostela. Pro-
fesor de Filoloxía Galega e Portuguesa, é especialista en Sociolingüística e Historia da Lingua.
Foi docente convidado na University of Birmingham, City University of New York, University
of California – Santa Barbara, Universidade de Lisboa, Universidade de Coimbra, Universidade
de São Paulo, Universidade Federal Fluminense, Universidad de Buenos Aires e Universidad
de la República (Montevideo). Son obras súas: Historia social da lingua galega (1999), Galego e
Português Brasileiro. História, variação e mudança (coeditor, 2012), Linguas, sociedade e política
(editor, 2012). É tamén codirector de Grial. Revista Galega de Cultura. Desde 2013 é Secretario
da Real Academia Galega.
E-mail:[email protected].
303
304
1 Anotemos de camiño que esta afirmación ás veces esta afirmación é mal interpretada: unha visión
do mundo non constitúe unha concepción do mundo. Unha lingua non impón unha determinada
305
ideoloxía – unha concepción do mundo –, senón que ofrece unha perspectiva peculiar sobre a
realidade, unha específica ordenación desta.
306
das clases altas educadas (sempre tendo en conta que a forma ideal dun idioma
era escrita, en canto que a fala viña a ser considerada unha versión deturpada ou
imperfecta desta). As linguas estato-nacionais eran monárquicas, ou, como moito,
aristocráticas ou elitistas: lembremos aqueles manuais titulados The King’s English
ou The Queen’s English. As academias, os dicionarios, o uso das calses cultivadas
marcaban o que era ‘correcto’; o resto era ‘incorrecto’. De feito, A Lingua identifi-
cábase coa súa modalidade culta, estándar, escrita, a que describían as gramáticas,
a que se ensinaba na escola, a que se codificaba na ortografía e nos dicionarios
a que falaban as persoas cultas en contextos formais: O Francés, O Italiano, O
Español, O Alemán, O Portugués tomaban corpo naquelas modalidades cultivadas
e codificadas e confundíanse con estas (Joseph, 1987). Por outra banda, as grandes
linguas de civilización tiñan o seu berce en Europa, e aquelas que por avatares da
historia se difundiran fóra de Europa tiñan o seu centro aquí. Todo ao máis a que
podían aspirar os ianquis, os hispanoamericanos, os brasileiros… era a imitar as
formas de falar e escribir correctas das elites educadas de Inglaterra, España ou
Portugal. Os malpocados africanos malamente podían aspirar nin sequera a iso.
A nación ideal, co seu estado propio, era monolingüe, e o falante ideal era
tamén monolingüe: a cultura lingüística do estato-nacionalismo era e é estrita-
mente monoglósica. O bilingüismo –ou máis en xeral, o poliglotismo– era unha
condición especial dunha reducida elite privilexiada, ou ben era unha condena que
recaía en emigrantes e /ou falantes de linguas subalternas. Calquera desviación da
norma lingüística era condenable –un desvío, unha anomalía, unha dexeneración–
e o contacto e a mestura de linguas constituían o cúmulo da aberración: se falar
un patois (i.e., dialecto) era desprezable ou ridículo nunha persoa culta (aínda
que desculpable nun pobre aldeán), como comportamento propio de analfabetos,
linguaxar creoulo era inequívoco e perturbador síntoma de confusión mental,
peor aínda, de déficit de humanidade.
Sintetizando moito, ese foi o paradigma occidental moderno de xestión da
diversidade lingüística: o ideal (ou, visto desde outro ángulo, o obxectivo) era a
creación de espazos lingüísticos homoxéneos dentro dos límites de cada estado,
coa imposición da lingua nacional dese estado e a subordinación e finalmente a
eliminación de calquera outra lingua que existise previamente dentro do territorio
do estado. A diversidade lingüística, pois, imaxinábase fundamentalmente terri-
torializada, e, como dixemos, verquida nos moldes do estado-nación: cada lingua
–cada comunidade lingüística– tiña un territorio, cada territorio unha lingua.
Dentro de cada lingua, existía unha ríxida xerarquía cunha variedade (ou conxunto
307
308
309
2 Véxanse títulos como Valor económico del español (Delgado / Alonso / Jiménez 2012). Como non
é este o tema da nosa disertación, non imos deternos nel nin na amplísimas bibliografía que
arredor del se produciu nos últimos anos. A título orientativo, pode consultarse os sitios webs
sobre o asunto do Instituto Cervantes e do Observatório da Língua Portuguesa.
Retirado de http://www.cervantes.es/bibliotecas_documentacion_espanol/valor_economico_
espanol/libros.htm.
http://observatorio-lp.sapo.pt/pt/geopolitica/o-valor-economico-da-lingua-portuguesa.
3 Retirado de http://cultura.elpais.com/cultura/2014/10/17/actualidad/1413548153_026732.html.
310
“El español genera en la actualidad el 16% del valor económico del Producto
Interior Bruto (PIB) y el “factor ñ” de los contenidos en ese idioma provenientes
de las industrias culturales aporta el 3% del PIB en España, según un nuevo
estudio de la presentado hoy en Nueva York. El informe, titulado El valor
económico del español: una empresa multinacional, revela que ese idioma es
el activo intangible más valioso que posee la economía, y destaca que es la
única de las grandes lenguas internacionales que hoy tiene un diccionario,
una ortografía y una gramática comunes. (ABC, 7/12/2011)5.
4
Outro exemplo, este gráfico, no sentido máis literal da palabra, agora referido
ao portugués:
4 Retirado de http://www.abc.es/20111206/economia/abci-espanol-produccion-201112060303.html.
311
A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES LUSÓFONAS E IBERO-AMERICANAS DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
5 Retirado de http://www.vallenajerilla.com/berceo/marcos/lenguainternacional.htm.
312
desaparecerá o 90% das linguas que se falaban ao comezo deste. Pode discutirse
o significado deste feito en termos de perda de riqueza para o conxunto da huma-
nidade, pero o que non se pode discutir é que o feito está en camiño de ocorrer
(Nettle & Romaine, 2000).
Por outra banda, na globalización tamén coexisten outros elementos –novos
medios de comunicación, novos recursos tecnolóxicos e lingüísticos, novos valores,
novas mentalidades– que poden facilitar a creación de condicións de sustentabili-
dade do multilingüismo, e en concreto, da revitalización e mantemento das linguas
ameazadas. O que cómpre, en todo caso, é ter claro por que modelo se desexa optar.
313
314
Referencias bibliográficas
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316
317
318
Resumo
Pensamos sobre a realidade social em termos de modelos cognitivos e culturais e, conse-
quentemente, utilizamos estes modelos para categorizar e avaliar a variação linguística.
Neste estudo, analisaremos os modelos cognitivos e culturais subjacentes às perceções
e atitudes relativamente às variedades europeia e brasileira do português. Emergindo
necessariamente no discurso, esses modelos serão estudados com base num corpus de
debates sobre políticas de língua e comunicação, normatização linguística e lusofonia.
Identificaremos modelos românticos e modelos racionalistas, tanto de convergência como
de divergência entre as duas variedades nacionais, que estão na base de atitudes puristas e
pró-independentistas face ao português como língua pluricêntrica. O modelo racionalista
vê a norma padrão como meio de participação social, ao passo que o modelo romântico olha
para a língua padrão como meio de discriminação de identidades. Discutiremos a influência
destas ideologias românticas e racionalistas no pluricentrismo do português e na lusofonia.
319
1. Introdução
320
321
1 Sobre o português como língua pluricêntrica, ver Baxter (1992), Castilho (2005, 2010) e Silva
(2014b).
2 Sobre as diferenças entre PE e PB, ver Teyssier (1982: 78-88), Baxter (1992), Mateus et al. (2003:
45-50), Silva, R.V. (2004: 140-147), Castro (2006: 228-231), Castilho (2010: 171-195) e Silva (2014b).
322
323
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326
327
328
Esta atitude romântica divergente está presente nos media brasileiros: por
exemplo, a legendagem de entrevistas a jovens portugueses no programa televisivo
do canal MTV e a dobragem de filmes/séries portugueses, como o filme Capitães
de Abril, produzido em 2000 por Maria de Medeiros e baseado na Revolução de
25 de Abril de 1974, e a série televisiva Equador, baseada no romance homónimo
de Miguel Sousa Tavares e produzida pela canal português TVI, em 2008.
329
330
3 Em Silva (2015), desenvolvemos uma análise detalhada sobre os processos cognitivos que
estão na base dos quatros modelos cognitivos e culturais da variação do português, bem
como das relações dinâmicas e complexas entre estes modelos. Esses processos cognitivos
incluem a metáfora conceptual (p. ex., a metáfora racionalista da funcionalidade a língua
é um instrumento, a metáfora romântica da identidade a língua é a alma de um povo e
a metáfora tanto romântica com racionalista a língua é uma barreira), a metonímia
conceptual, a categorização baseada em efeitos de prototipicidade e processos de inte-
gração conceptual.
331
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334
335
336
Resumo
Este artigo reúne bases conceituais e reflexões sobre os temas de comunicação e poder,
comunicação intercultural, cidadania, novas formas de cidadania e diversidade cultural
no contexto da globalização e da era digital. Com base na revisão da literatura, este estudo
discute inicialmente o poder da comunicação na sociedade contemporânea, o papel da
comunicação intercultural no contexto da interculturalidade e, em seguida, aborda os
conceitos fundamentais de cidadania, direito à cultura como cidadania cultural, diversi-
dade cultural e cidadania planetária, como pressupostos essenciais para a valorização e
existência do interculturalismo em seu verdadeiro significado.
337
1. Introdução
338
Esta sociedade em rede é a sociedade que eu analiso como uma sociedade cuja estru-
tura social foi construída em torno de redes de informação microeletrônica estruturada
na internet. Nesse sentido, a internet não é simplesmente uma tecnologia; é um meio de
comunicação que constitui a forma organizativa de nossas sociedades; é o equivalente ao
que foi a fábrica ou a grande corporação na era industrial. A internet é o coração de um
novo paradigma sociotécnico, que constitui na realidade a base material de nossas vidas e
de nossas formas de relação, de trabalho e de comunicação. O que a internet faz é processar
a virtualidade e transformá-la em nossa realidade, constituindo a sociedade em rede, que
é a sociedade em que vivemos (Castells, 2009, p. 287).
Poder é algo mais que comunicação e comunicação é algo mais que poder. Mas o poder
depende do controle da comunicação. Igualmente o contrapoder depende de romper
o dito controle. E a comunicação de massas, a comunicação que pode chegar a toda a
sociedade, se conforma e é gerida mediante relações de poder enraizadas no negócio
dos meios de comunicação e da política do Estado. O poder da comunicação está no
centro da estrutura e da dinâmica da sociedade (Castells, 2009, p. 3).
Castells (2009, pp. 24-25) questiona “por que, como e quem constrói e exerce
as relações de poder mediante a gestão dos processos de comunicação e de que
forma os atores sociais que buscam a transformação social podem modificar essas
relações influenciando na mente coletiva”. Para ele, o “processo de comunicação
opera de acordo com a estrutura, a cultura, a organização e a tecnologia de comu-
nicação de uma determinada sociedade” (Ibid., p. 24). E hoje “a estrutura social
concreta é a da sociedade-rede, a estrutura social que caracteriza a sociedade no
início do século XXI, uma estrutura social construída ao redor das redes digitais
de comunicação” (Ibidem). Essa nova estrutura da sociedade-rede modifica as
relações de poder no contexto organizativo e tecnológico derivado do “auge das
redes digitais de comunicação globais e se eleva no sistema de processamento de
símbolos fundamental da nossa época” (Castells, 2009, pp. 24-25).
Rafael Alberto Pérez relaciona o poder da comunicação com o poder da comu-
nicação estratégica e sintetiza da seguinte forma: “a comunicação tem um poder
muito superior do que costumamos conceder a ela” (Pérez, 2008, p. 445). Para o
autor, “esse poder pode ser ‘domado’ se atuamos/comunicamos estrategicamente”
(Ibidem). Daí pode-se perceber o papel relevante exercido pelos atores envolvidos
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3. Comunicação intercultural
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2002, p. 67). Este mesmo autor chama ainda a atenção para o fato de que isto
“implica que, quando estudamos a comunicação entre pessoas de um mesmo país
que pertencem a grupos diferentes, se toma raramente em conta a influência de
suas diferenças culturais sobre os processos de comunicação” (Servaes, Ibidem).
Guo-Ming Chen e William L. Starosta tratam da questão da competência no
manejo da comunicação intercultural:
As línguas são os vetores das nossas experiências, dos nossos contextos intelectuais e
culturais, dos nossos modos de relacionamento com os grupos humanos, com os nos-
sos sistemas de valores, com os nossos códigos sociais e sentimentos de pertencimento,
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tanto no plano coletivo como individual. Sob o ponto de vista da diversidade cultural,
a diversidade linguística reflete a adaptação criativa dos grupos humanos às mudanças
no seu ambiente físico e social. Nesse sentido, as línguas não são somente um meio
de comunicação, mas representam a própria estrutura das expressões culturais e
são portadoras de identidade, valores e concepções de mundo (Unesco, 2009, p. 12).
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– tem a ver com o universo cognitivo e a visão que cada indivíduo ou grupo pos-
sui perante o mundo; papel social – exercido nas relações sociais nos ambientes
interculturais que proporcionam conhecimentos de como uma cultura mantém
seus valores, a ordem social e o controle entre seus membros; e padrões de pen-
samento – dizem respeito a análises da informação que provém das impressões
e experiências cotidianas.
Acredita-se que além dessas variáveis tão presentes nos ambientes inter-
culturais, alguns princípios fundamentais como valorização da cidadania, da
democracia e dos direitos humanos constituem condições sine qua non para a
existência de um interculturalismo que de fato contribua para uma convivência
mais pacífica entre os povos de diferentes culturas.
Os estudos sobre cidadania perpassam desde as suas origens 3 na polis grega (tra-
dição política) e na civitas romana (tradição jurídica) até os dias de hoje, quando,
segundo Adela Cortina (2005), se multiplicam novas formas de cidadania. Essa
autora espanhola chama a atenção para o fato de que, apesar de parecer antigo,
o tema está em pauta e se faz muito presente na atualidade, com o acréscimo
constante de novas “teorias da cidadania”. Para ela, dentre as múltiplas razões
que poderiam ser invocadas para tanto,
3 Um dos estudos clássicos sobre a evolução do conceito de cidadania, da polis grega ao pensamento
liberal, é o da filósofa alemã Hannah Arendt (2005). Pode-se consultar também Cortina (2005).
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4 Consultar obras e palestras de Paulo Bonavides no Youtube e o artigo de Emmanuel Teófilo Furtado
e Ana Stela Vieira Mendes no artigo: “Os direitos humanos de 5ª geração enquanto direito à paz
e seus reflexos no mundo do trabalho: inércias, avanços e retrocessos na Constituição Federal e
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assim, muitas as dimensões que poderão ser trabalhadas quando nos referimos
à cidadania.
Segundo Jack M. Barbalet (citado em Peruzzo, 1998), a cidadania encerra
manifestamente uma dimensão política, mas isto não é suficiente para que ela
seja compreendida. O problema está em quem pode exercê-la e em que termos. A
questão está, de um lado, na cidadania como direito e, de outro, na incapacitação
política dos cidadãos, em razão do grau de domínio dos recursos sociais e de
acesso a eles. Por exemplo, da ágora grega (praça onde se reuniam os cidadãos
para debater os assuntos da cidade) não participavam escravos, mulheres e metekes
(estrangeiros). No Brasil, a mulher e os analfabetos só adquiriram o direito de votar
em 1934 e 1988, respectivamente. Assim, dependendo do período histórico e do
país ou lugar, só uma parcela da população pode exercer plenamente a cidadania.
A propósito disso, Ralf Dahrendorf diz que a cidadania, como expressão de direitos
e obrigações associados à participação em uma unidade social e, notadamente,
à nacionalidade, é
comum a todos os membros, embora a questão de quem pode ser membro e quem
não pode faça parte da história turbulenta da cidadania. Esta turbulência ainda está
bastante em evidência. Tem a ver com a questão da inclusão ou exclusão lateral ou
nacional (em contraste com vertical ou social). Afeta a identidade das pessoas, porque
define a qual unidade pertencem. Na maioria das vezes, envolve traçar fronteiras que
sejam visíveis nos mapas ou pela cor da pele ou por algum outro meio (Dahrendorf,
1992, pp. 45-46)
na legislação”. Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do Conselho Nacional
de Pesquisa e Pós-graduação em Direito (Conpedi), realizado em Brasília, DF, nos dias 20, 21 e 22
de novembro de 2008. Retirado de http://pazedireito.blogspot.com.br/2010/05/direito-paz-5-
-geracao.html
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essa ampliação que leva alguns pensadores a falar em “novas cidadanias” definidas no
marco da sociedade civil não chega a ocultar (...) que o enfraquecimento da clássica
figura da cidadania – marcado por um evidente ceticismo quanto à vida política –
implica sérios desafios no que se refere a pensar na transformação dos ordenamentos
coletivos injustos vigentes em nossas realidades (Mata, 2002, p. 66).
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Uma definição alargada da cultura (...); uma definição política da cultura pelo prisma
democrático e, portanto, como direito de todos cidadãos, sem privilégios e sem exclu-
sões; uma definição conceitual da cultura como trabalho de criação; (...) uma defini-
ção dos sujeitos sociais como sujeitos históricos, articulando o trabalho cultural e o
trabalho da memória social (Chauí, 2006, p. 72).
5 No livro Cidadania cultural: o direito à cultura ((2006), Marilena Chauí relata sua experiência
como secretária municipal de Cultura da cidade de São Paulo na gestão da prefeita Luiza Erundina
(1989-1993), quando implantou uma política cultural centrada na prática democrática da cultura.
6 Para mais informações, consultar www.unesco.org/en/world-reports/cultural-diversity. E-mail:
[email protected].
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7 Esse documento está disponível na internet na versão para impressão (pdf) em www.cultura.
gov.br/.../convencao...promocao-da-diversidade-das-expressoes-culturais e na versão oficial em
inglês (pdf).
8 Ver Unesno online: www.cultura.gov.br/.../convencao...promocao-da-diversidade-das-expres-
soes-culturais (pdf).
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Referências bibliográficas
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