O Impacto Causado Pela Doença Mental Na Família

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7 O impacto causado pela doença mental na família

Ana Carla Moura Campos Hidalgo de Almeida1; Lujácia Felipes2; Vanessa Caroline Dal Pozzo3

RESUMO Center for Psychosocial Care (CAPS) in Brazil. The study


subjects consisted of five family members of individuals
Após a reforma psiquiátrica o modelo de assistência ao with mental illness, and collecting data was through semi-
portador de doença mental passou a incluir a família e structured interviews.
buscou inserir o indivíduo na sociedade.
Results
Objetivo Lack of knowledge and information about the disease are
Identificar o impacto causado pela doença mental na família elements that make treatment more difficult, increasing the
e a concepção da família acerca da doença mental. feeling of powerlessness and helplessness on the part of the
family.
Metodologia
Estudo qualitativo, exploratório e descritivo desenvolvido Conclusion
em um Centro de Atenção Psicossocial no Brasil, realizado It is the nursing intervention with scientific and systematic
com familiares de indivíduos com doença mental, utilizando guidance on family support.
entrevista semi-estruturada gravada.
KEYWORDS: Family; Illness; Nursing.
Resultados
A falta de conhecimento e de informação sobre a doença
são elementos que dificultam o tratamento, aumentando o
sentimento de incapacidade e de desamparo por parte da INTRODUÇÃO
família.
A doença mental surge como uma barreira que dificulta o
Conclusão contato do indivíduo com o ambiente em que está inserido,
Cabe a enfermagem intervir com conhecimentos científicos tornando-o alienado e na maioria das vezes privando-o de
sistematizados e orientações sobre o apoio à família. sua liberdade e da possibilidade do convívio com as pessoas.
Para Espinosa (2000, p. 18), o transtorno mental pode ser
PALAVRAS-CHAVE: Família; Doença Mental; entendido como uma alteração fisiológica ou orgânica e
Enfermagem. psicológica, ou ainda um desequilíbrio emocional causado
por fatores externos ou internos.

Compreender a doença mental significa modificar e


ABSTRACT desconstruir ideologias, crenças e valores em relação a
patologias mentais, utilizando princípios norteadores do
After the reform psychiatric care model for mental patients processo de transformação institucional através da Reforma
now includes the family and tried to insert the individual in Psiquiátrica, Lei n.º 10.216 instituída em 06 de abril de 2001,
society. que tem como proposta transformar o modelo assistencial
de Saúde Mental através da construção de um novo estatuto
Objective social para pessoas portadoras de transtornos mentais
To identify the impact of mental illness in the family and respeitando os princípios fundamentais de cidadania (Murta,
identify what the concept of family about the disease mental. 2006).

Methodology A partir da década de 1970, ocorreram no País inúmeros


Qualitative study, exploratory and descriptive developed a casos de denúncias relacionados aos maus tratos de

Enfermeira, Professora de Enfermagem da Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Campus Toledo (PUCPR – Toledo) Paraná – Brasil.
1, 2

3
Enfermeira, Estudante de Mestrado em Enfermagem no Instituto de Ciências da Saúde, Universidade Católica Portuguesa – Porto, [email protected]
Submetido em 20-09-2011. Aceite em 16-12-2011.
Citação: Moura, A. C.; Almeida, C. H.; Dal Pozzo, V. C. (2011). O impacto causado pela doença mental na família . Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental. 6, 40-47.

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pacientes em instituições psiquiátricas. Então ocorreu O preconceito e o despreparo de muitos profissionais da
a necessidade de uma reforma em todo o sistema de área da saúde, aliado aos recursos financeiros envoltos na
assistência ao portador de doença mental, surgindo desta adaptação de um hospital geral, contribuem com a demora
maneira um novo paradigma em relação à assistência da realização da reforma psiquiátrica de forma integral.
psiquiátrica que propunha a inclusão do indivíduo portador
de distúrbio mental na sociedade e no âmbito familiar. Embora seja percebido um desconforto em relação à
qualificação dos profissionais no que diz respeito à assistência
A reforma não pretende acabar com o tratamento clínico da ao cliente com transtorno mental e compreendendo que o
doença mental, mas eliminar a pratica da internação que mesmo necessita de cuidados especializados, entende-se
é entendida como forma de exclusão social dos indivíduos que essa dificuldade possa ser minimizada mediante o treino
com doenças mentais. contínuo da equipe de saúde (Mion, 2003).

Partindo dessa necessidade, houve a implementação de A autora ressalta ainda a questão financeira, pois se sabe
instituições que propunham inserir pacientes portadores de que há insatisfação dos profissionais e dos serviços-médicos
doença mental que tinham permanecido internados por um hospitalares em relação aos pagamentos dos serviços
longo período, assim como orientar e ajudar a restabelecer o prestados pelo ao Sistema Único de Saúde.
vínculo com suas famílias, para tanto foi constituído o Centro
de Atenção Psicossocial (CAPS). Contribuindo com esse pensamento acredita-se que somente
ocorrerão transformações na maneira de se conviver com o
A partir do movimento da Reforma Psiquiátrica surgem estigma da doença mental, quando houver um entendimento
os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os Núcleos global da doença e no cuidado integralizado ao portador do
de Atenção Psicossocial (NAPS) que tinham a intenção sofrimento psíquico.
de programar uma nova estratégia de trabalho através de
mudanças no plano legislativo, assegurando a atenção no De acordo com Osório (1996, p. 27), “Os laços familiares, de uma
meio sociocultural do portador de transtorno mental (Rosa, forma ou de outra, continuam ocupando lugar de destaque na
et al. como citado em Ferreira, 2003, p.21). maneira com que a maioria de nós vê e vive o mundo; portanto
falar de família é enfocar um conjunto de valores que dá aos
Entende-se que a reforma procura resgatar a cidadania indivíduos uma identidade e à vida um sentido”.
e o amparo dos doentes mentais e gradualmente consiga
diminuir o uso dos manicômios, substituindo-os por serviços Para este autor a família pode ser considerada como uma
extra-hospitalares e, quando necessário, o internamento unidade grupal, que tem por objetivos a preservação da
realizado em hospitais gerais, porém em alas reservadas a espécie, nutrir e proteger a descendência e ainda fornecer-
psiquiatria. lhes condições para aquisição de suas identidades pessoais,
transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e
A proposta de desinstitucionalização do doente mental culturais.
configura uma tentativa no sentido de diminuir o isolamento
do cliente, como ocorria nos hospitais psiquiátricos. Sobre Reafirmando, Almeida (2008, p.27) escreve que a família
a ótica de uma assistência mais humanizada para com é reconhecida como a instituição que auxilia a vivência do
o indivíduo portador de doença mental deve-se levar em indivíduo em sociedade, pois nela se formarão as novas
consideração todos os aspectos envolvidos no mesmo, gerações de cidadãos e se darão as primeiras experiências
como o enfrentamento da doença, convívio familiar e social. de relacionamentos. Diante disso é preciso estimular uma
vivência saudável entre pais e filhos mediante o diálogo, a
Em meio a essas transformações e mudanças, a Reforma troca de experiência, de afeto, e a convivência entre seus
Psiquiátrica Brasileira procura oferecer aos indivíduos membros.
portadores de transtornos mentais direitos à cidadania, à
liberdade e à privacidade, que são de certo modo prejudicados O entendimento e a aceitação da doença mental por parte
pelo internamento prolongado. da família se tornam um elemento de extrema importância na
reabilitação do individuo com doença mental.
Nota-se a importância do atendimento prestado pelos
CAPS’s, no entanto há necessidade de se manter leitos Entende-se que essa angústia é passível ate mesmo de
psiquiátricos em hospitais de atendimento a assistência à inconformidade, uma vez que muitas das famílias não se
saúde, no caso de surtos nestes pacientes. Concordando sentem preparadas para cuidar de seus entes portadores
com o descrito acima, a preconização da assistência de alguma doença mental e necessitam de auxilio para
humanizada pautada na legislação entende que não há desempenhar o papel de cuidador, visando conseguir
a necessidade de se oferecer uma ala psiquiátrica em um atender os cuidados integrais do mesmo.
hospital geral, e sim cuidados de forma qualificada para esse
segmento de clientela.

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A família pode ser entendida de uma forma mais tradicional OBJETIVOS
do que é considerada na atualidade, dessa maneira as
transformações ocorreram devido a maior intimidade entre Têm-se como objetivo geral desse estudo retratar o impacto
seus membros, assim nas relações entres as gerações e nas causado pela doença mental na família e como específico
variáveis externas incorporadas à família (Petzold, 1996). identificar qual a concepção da família acerca da doença
mental, assim como verificar quais estratégias que a família
Em relação à concepção que a família tem sobre a doença utiliza para enfrentar a doença mental.
mental pode-se perceber que algumas dificuldades de
entendimento da doença mental, bem como da instabilidade
afetiva, fatores estes que entendem que o sofrimento mental
possui como característica a cronicidade e incurabilidade JUSTIFICATIVA
desta doença, tais situações mostram que o familiar tem
pouca compreensão sobre a sintomatologia e as mudanças De encontro com esta nova política da saúde mental, entende-
de comportamento do sujeito em sofrimento mental, o que se que são necessárias mudanças no atendimento do doente
se deve, talvez pela falta de esclarecimento acerca da e de sua família e na compreensão dos sentimentos envoltos
doença. no portador de transtorno mental.

Embora alguns estudos mostrem que a convivência da Nesse sentido, a enfermagem pode contribuir com o cuidado
família altera os costumes e hábitos do ser humano, humanizado e integralizado, visando não apenas o paciente,
entende-se também que a existência de um doente mental mas também a família do mesmo.
pode desestruturar a rotina da família, exigindo da mesma
uma demanda de atenção para com o individuo doente. Com o entendimento da nova conduta do tratamento para
Nesse sentido cada integrante que constitui a família passa psicóticos oferecidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde),
a adquirir um papel e significado próprio para conseguir compreende-se que a família exercerá papel fundamental
administrar o novo cotidiano da vida familiar. para viabilizar a reabilitação do paciente, para que se possa
estabelecer o convívio social.
Deve-se levar em consideração as sobrecargas que a
família passa em decorrência com o doente mental, podendo Entender as angústias que os parentes enfrentam diante
classificá-las como financeiras, nas rotinas familiares, como dessa nova realidade e se há qualificação dos mesmos
doença física ou emocional e as alterações das atividades para oferecer os cuidados necessários que o portador
de lazer e relações sociais. de doença mental precisa, é de extrema relevância não
somente para os profissionais de saúde, mas também
Para Miles et al (1982 como citado em Ferreira, 2003, p. para a sociedade.
27) a família ao deparar-se com a doença mental apresenta
três formas de abordagens: o encobrimento, o ocultamento O resultado deste retato poderá ajudar a enfermagem
da doença do meio social e a normalização, prosseguindo psiquiátrica com conhecimentos dos sentimentos e
com as atividades normais, encobrindo a realidade e a expectativas dos familiares para com essa transformação.
dissociação afastando-se do convívio da sociedade a fim de
evitar futuros aborrecimentos. Desta forma poder-se-á construir um plano de orientações
que ofereça suporte tanto emocional quanto de cunho
“O cuidado oferecido deve respeitar e acolher a diferença do cientifico para a qualificação ao atendimento que a família
psicótico, ele deve ser percebido como um sujeito humano prestará aos portadores de doença mental.
e não como um sintoma a ser debelado; além disso, o
exercício da ousadia, da criatividade e da alegria deve estar
sempre associado à atividade terapêutica.” (Teixeira, 1999).
METODOLOGIA
Para o autor citado, o enfermeiro esta cada vez mais atuante
e consciente de seu novo papel e tem condições de explorar O presente estudo é descritivo, exploratório de natureza
diversas modalidades terapêuticas no desempenho do qualitativa, que conforme Minayo (2002, p.21) “Trabalha com
exercício profissional. um universo de significados, crenças, valores e atitudes, o
que corresponde a um espaço mais profundo das relações,
Cabe aos profissionais da área da saúde, em especial a dos processos e dos fenômenos que não podem ser
enfermagem que trabalha na área psiquiátrica, informar, reduzidos à operacionalização de variáveis”.
esclarecer não somente aos parentes do indivíduo portador
de doença mental, mas também a sociedade, para que se Teve como local para a realização da pesquisa um Centro de
possa enfim contribuir para a diminuição de estigmas do Atenção Psicossocial situado em um Município do Oeste do
passado que ainda atualmente atinge os portadores de Paraná cuja organização possui Programa de Saúde Mental
doença mental, bem como seus familiares. coordenada por uma enfermeira. Foram incluídos cinco

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familiares indicados pelo próprio CAPS que concordaram em distúrbios psiquiátricos graves caracterizados pela presença
assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. de delírios ou alucinações e o distúrbio do funcionamento
interpessoal e da relação com o mundo externo”.
A pesquisa aconteceu após o parecer favorável do Comitê
de Ética, no período de agosto de 2008 até janeiro de 2009. Desse modo, vale mencionar como se torna difícil o
Foi utilizada a entrevista semi-estruturada gravada que, após entendimento de uma doença onde o individuo em questão
análise do material, foi transcrita na íntegra. As respostas tem momentos de alucinações. Para Kaplan et al. (2003,
obtidas das entrevistas foram agrupadas e analisadas p.03) “é tido como significado tradicional do termo psicose
conforme a sua similaridade, respeitando a metodologia de a perda do teste de realidade e comprometimento do
análise de conteúdo. Os dados foram analisados por meio funcionamento mental, expressos por delírios, alucinações,
da análise de conteúdo, e os familiares identificados como confusão e comprometimento da memória”. Assim como
(F01), (F02), (F03), (F04) e (F05). mostra os pesquisados:

“É uma pessoa que não é que, não ta agindo com a realidade


que tenta coisa, ta totalmente fora da realidade”. (F01).
RESULTADOS
“Doença mental para mim é um eu vou falar no caso do
Inicialmente foram requisitados dez familiares para serem meu filho. que é esquizofrênico ele normalmente foge da
entrevistados, contudo apenas cinco familiares concordaram realidade(...)”.(F03)
em participar da mesma.
“(...) Ela não tem decisão própria, você tem que tá atento
Dos cinco familiares participantes da pesquisa, quatro eram a todo o momento com ela e é que nem eu disse tem que
do gênero feminino e um do gênero masculino, a faixa etária ficar ligando na casa dela, porque ela tem momentos de
variou de 43 a 57 anos, quanto ao estado civil todos eram lucidez, mas é pouco e outros são de delírios e alucinação
casados, em relação ao nível de escolaridade, dois tinham o (...)”. (F04)
terceiro grau incompleto, dois o segundo grau completo e um
o primeiro grau incompleto, quanto às condições de moradia A família necessita ter conhecimentos específicos e claros
todos possuíam casa própria e quanto a renda variava de 02 sobre a doença e saber conviver com o mesmo durante o
a 03 salários mínimos. período de alucinações, no entanto, cabe ressaltar que em
diversas vezes justamente nos momentos de alucinações
Através da análise do material coletado, pode-se obter que que o portador de doença mental pode ser extremamente
os participantes entendiam a patologia mental como uma agressivo.
doença onde há fuga da realidade, assim o processo de
aceitação da doença pelos familiares se configurou como As categorias formadas abaixo resultam da recepção da
algo inesperado e difícil. noticia de ter um portador de doença mental na família:

Após a aceitação da doença os integrantes do grupo


familiar utilizam-se do diálogo e paciência como estratégia Algo inesperado para os familiares
de convivência com o doente mental e relataram também
sobre a falta de informação e a pouca proximidade com a Em resposta a questão indagada aos familiares de pacientes
equipe de saúde. Mencionam sobre a importância do uso portadores de doença mental, sobre como foi receber a
da medicação e internação nos momentos críticos como notícia de ter um portador desta doença na família, possibilitou
elementos para melhorar a qualidade de vida do portador de perceber em alguns dos relatos dos sujeitos entrevistados
transtorno mental e o convívio com o mesmo. sentimento de indignação, algo difícil de se aceitar, enfim
uma experiência nova.

Conforme o autor Góes (2004, p. 05) “quando ocorre a


DISCUSSÃO confirmação de que o familiar tem distúrbio mental tal situação
causa um trauma psíquico originando grande inquietação
Em resposta sobre o entendimento da doença mental, e angustia nos pais e família tornando-se um choque ao
construiu-se a seguinte temática: inesperado.”. Estes sentimentos podem ser observados em
algumas respostas.

Doença em que há fuga da realidade “Pra mim foi bem difícil na época eu tava grávida de sete
meses foi um baque (...)”. (F02)
A doença mental demonstra uma conotação diferente em
relação á outras doenças por ser pouco difundida e cercada “Olha eu fiquei chocada. Agente fica sem chão(...)”. (F04)
de muitos mitos. Conforme Townsend (2002, p.21) “são

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“Pra mim foi um experiência nobre e terrível ao mesmo esta nova patologia que acomete seu familiar para assim
tempo, porque eu tava só acostumado com doenças físicas dar inicio ao tratamento e reestruturação do modo de vida
e não mentais (...)”. (F05) dessas famílias.

“(...) Primeiro foi procura sabe o que seria essa doença e Conforme Spadini et al (2006, p.126), “o reconhecer e aceitar
depois veio o próximo passo da aceitação da doença (...) a doença é entendido como necessário e essencial para a
bastante difícil (...)”. (F03) melhora da qualidade de vida de pacientes e familiares”.

Contribuindo com a idéia do autor, e em base das respostas dos Corroborando com as idéias das autoras vale mencionar, com
participantes deste estudo pode-se citar que as famílias estão a aceitação inicial da doença pelas famílias fica mais fácil
acostumadas em seio familiar com pessoas sem alteração para que o portador da doença mental aceite, construindo
mentais assim oferecendo continuidade as expectativas para assim um caminho mais fácil a fim de buscar ajuda junto aos
o futuro, muitas vezes planejadas quando a criança ainda na centros de atenção psicossocial, visando com isso trabalhar
fase de desenvolvimento no útero da mãe. as necessidades do paciente, bem como de seus familiares,
com orientações corretas sobre a doença e o proceder do
A partir deste diagnóstico se modificam os planos para tratamento e suas limitações concomitante a reinserção a
o futuro, a vida de todos os entes da família requer uma vida social.
readequação, visto que alguns dos familiares relutam em
aceitar o sofrimento psíquico, aliado a este sentimento de Para Cavalheri et al (2002 como citado em Nasi, C., Stumm,
recusa têm – se os estigmas e preconceitos atribuídos ao L. K., Hildebrandt, L. M., 2004, p.04): “Quando a família
doente mental pela sociedade. possui um membro com uma doença mental, toda ela
acaba mobilizando-se inteiramente. Independente de ser
Contribuindo com este pensamento as autoras Zanetti e orgânica ou mental, o desgaste é agravado quando se trata
Galera (2007, p.389) citam: “...o sofrimento da esquizofrenia é de uma doença de duração prolongada, com freqüentes
visto como algo inesperado, que aconteceu de repente sendo casos de agudização de sintomas e quando é considerada
comparado a um choque pela família. O desenvolvimento incapacitante e estigmatizante.”
dos filhos, aparentemente saudáveis, não permitia, aos pais,
imaginarem que os mesmos viessem sofrer uma doença que Concordando com o pensamento do autor, é possível retratar
causasse tantas restrições como causou.” que o acompanhamento dos familiares e o entendimento dos
mesmos, sobre tratamento desta doença em diversas fases
Através da coleta de dados para este estudo foi possível são de extrema importância, pois se trata de uma doença de
vivenciar um pouco da experiência do cotidiano dos familiares sinais e sintomas diferentes das quais estão acostumados.
de portadores de doença mental, observando assim os
seus sentimentos e suas expectativas no tratamento dos Essa doença acarreta em desgaste tanto para o portador
mesmos. quanto para sua família, pois acontecem episódios em que
os doentes entram em crise onde se destaca agressividade.
Pode-se falar que não é fácil esta nova forma de vida que
os mesmo foram submetidos a se readequar, devido às Diante disso muitos portadores da doença querem abandonar
necessidades de seus familiares. o tratamento, é neste momento que a aceitação da família
deve falar mais alto, intervindo na situação, deixando clara
Entende-se que a sociedade necessita ter maior a importância do mesmo para todos os entes da família, e
conhecimento sobre a patologia mental a fim de diminuir a aconselhar a não desistência do tratamento, mostrando
descriminação imposta pela mesma, visto que apesar da assim que ele é amado por sua família e todos contribuem
reforma psiquiátrica, os doentes mentais ainda carregam para recuperação do doente psíquico.
estigmas de loucos, sendo necessário a privação do mesmo
para não comprometer o convívio na sociedade. Segundo a autora Nasi et al. (2004, p.03), “A família é
um suporte básico para a vida de qualquer pessoa, mas
Vale mencionar que os portadores de doença mental são para os doentes mentais psicóticos ela possui especial
capazes, e devem desenvolver as atividades de sua vida importância, pelo fato desses sujeitos, na maior parte das
normal, é claro com orientações e acompanhamento de seus vezes, necessitarem de cuidados e acompanhamentos dos
familiares e equipe de saúde, fazendo com que os mesmos membros do grupo familiar”.
se percebam capazes e valorizados.
Colaborando com a aceitação da doença pelos familiares
podem-se citar alguns dos relatos das entrevistas.
Aceitação da doença pelos familiares
“Minha mãe já é assim desde que eu nasci então praticamente
Percebeu-se em alguns dos relatos dos sujeitos entrevistados à gente convive com isso a vida toda entende”. (F01)
a aceitação da doença visando buscar informações sobre

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“Fui procura sabe o que seria essa doença e depois, daí veio “Mais a gente procura assim fazer, fazer com que ele tenha
o passo, o próximo passo de aceitação da doença”. (F03) uma qualidade de vida melhor, com a volta da medicação
eles tem condição de levar uma vida não vou dizer totalmente
Com os dados da entrevista em mãos, podemos mencionar normal, mas controlável ih dessa forma que a gente procura
que o primeiro passo para melhorar a qualidade da né, pra que leve a vida pra frente. (F03)
assistência psiquiátrica prestadas pelos familiares aos entes
acometidos pela doença mental, é a questão de aceitar que Nessa categoria entende-se que a medicação assim como o uso
seu filho ou outro ente da família agora necessita de uma de internação quando o doente mental se torna extremamente
atenção especial, o segundo passo é buscar ajuda junto aos agressivo torna-se um meio facilitador da convivência.
centros de atenção psicossocial, visando o entendimento da
doença e o tratamento adequado para mesma. Assim como mostra os autores Duarte et al. (2007, p.06):
“O uso de psicofármacos é eficiente, principalmente nos
Ao serem entrevistados os familiares sobre quais estratégias momentos de agudização dos sintomas e constitui um
a família utiliza para realizar o cuidado do individuo portador importante elemento terapêutico, embora complementar ás
de doença mental, obteve-se as seguintes temáticas: terapias individuais e ás em grupos.”

Cabe aos profissionais de saúde orientar em relação ao uso


Diálogo e paciência como estratégia de convivência correto dos medicamentos e a importância da internação,
com o doente mental quando a agressividade do portador de doença mental atribui
risco eminente aos demais membros da família.
Os pesquisados foram unânimes ao mencionarem que utilizam
da paciência como meio facilitador para o convívio familiar. Os entrevistados ao serem indagados sobre o convívio com
o membro familiar que tem sofrimento psíquico e sobre suas
“Paciência a gente tem que ter paciência pôr que falam ou dificuldades e facilidades, neste processo, foram construídas
eles num entendem por motivo da doença ou eles querem as seguintes categorias:
ter razão. Então tem que ter paciência i levando. A gente
sofre muito... se incomoda”. (F02)
Informação e proximidade com a equipe de saúde
“Quando eles tão muito alterado, eu pego e saio vou andar sobre a doença como forma de melhorar o cuidado
caminho vou andar pela estrada, saio em lugares, vou
conversar com alguém daí quando ele já ta mais calmo né, Em relação ao entendimento sobre a doença mental
então agente viu que é tudo assim, sai deixar ele quieto não os participantes mencionaram a necessidade de mais
retrucar nada por que quanto mais você questionar com ele informações sobre a mesma. Assim surgiu a categoria acima
pior ele fica, mais ele se altera então agente busca pega sai que refere ao trabalho em equipe, que envolvem órgãos desde
ou puxa outro assunto com ele que faça esquecer aquilo a atenção primaria de saúde á hospitais manicomiais.
que ele ta falando”. (F04)
“Eu procurei identificar quais seriam as conseqüências
Para Pereira e Pereira (2003, p.97): “As hostilidades, os dessa doença mental, daí comecei a aprender junto com
comentários críticos o intenso envolvimento pessoal podem eles com os médicos e com os psicólogos do posto mesmo
ser fatores preditivos de recaídas, de reagudização dos de saúde publica e consegui identificar”. (F05)
sintomas. Uma redução na intensidade de expressão destes
fatores pode possibilitar uma maior estabilidade emocional, Percebe-se o quão fundamental é a informação correta sobre
contribuindo para a diminuição dos conflitos que circulam a doença mental ao portador e seus familiares.
no interior da vida familiar.”
Dessa forma corroborando com a autora Romagnoli (2006,
Por tudo, a utilização do exercício da paciência auxilia na p.311) “as famílias quando chegam, a saber, o nome da
diminuição destes conflitos caracterizados pelo desgaste doença mental não sabe o que ela significa”. Nota-se o
da convivência, pela agressividade que em grande parte da despreparo das famílias envolto em um sentimento de solidão
doença mental e demais sintomas conflituosos gerados pelo e desamparo por falta do conhecimento da doença.
próprio processo da doença mental, na rotina familiar.
Em relação ao sentimento de desamparo por parte dos
familiares com a equipe de saúde os autores Nasi et al. (2004,
Uso da medicação e internação para melhorar a p.07) dispõe “a equipe de saúde, freqüentemente, só atenta
qualidade de vida para o que esta acontecendo com a pessoa acometida pelo
adoecer psicótico e com sua medicação”.
Durante o convívio familiar surgem estratégias que facilitam
e proporcionam melhorias na qualidade de vida no seio da “A gente não entende muita coisa é meio difícil, mas já ta
família. com tantos anos que venho acompanhando é que uma

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coisa, uma coisa que pra muitos é não consegue entender, doente mental, classificando-as como financeira, nas rotinas
mas é difícil”. (F02). familiares, como doença física ou emocional e alterações
das atividades de lazer e relações sociais.
Conforme Nasi et al. (2004): “Tais falas demonstram que o
familiar tem pouca compreensão sobre a sintomatologia e as
mudanças de comportamento do sujeito portador de doença
mental, o que se deve talvez pela falta de esclarecimento CONSIDERAÇÕES FINAIS
acerca da doença Moreno et al. (2000, p.04 como citado em
Rabelo et al. 1998), coloca que o diagnóstico da doença é A pesquisa propôs retratar o impacto causado pela doença
muito valorizado pelo familiar, mas, na maioria das vezes ele mental na família, identificar qual a concepção da família
não possui o entendimento da patologia propriamente dita. acerca da doença mental e verificar quais estratégias que a
Cabe ressaltar que as orientações a respeito da doença e família utiliza para enfrentar a doença mental.
de como conviver com o doente mental, deve ser fornecidas
pela equipe de saúde tanto ao paciente quanto ao familiar.” A enfermagem compreende um elemento fundamental para
otimizar o tratamento da doença de sofrimento psíquico.
Entender a angústia por parte dos familiares é fundamental
Privação da vida social da família para uma boa relação entre o profissional de enfermagem e
os envolvidos assim como o doente.
As Famílias que possuem entre seus membros um sujeito
acometido por um sofrimento mental chegam a alguns A falta de conhecimento e o entendimento correto sobre
casos restringir-se da participação de vida social, muitas a doença são elementos que dificultam o decorrer do
vezes pelo preconceito existente na sociedade e também tratamento, além de aumentar o sentimento de incapacidade
porque precisam mudar determinados hábitos acerca do e de desamparo por parte da família.
relacionamento familiar, pois o doente mental precisa ser
cuidado e acompanhado por alguém ininterruptamente. Cabe a enfermagem intervir com informações acerca da
doença, o uso correto das medicações envolvidas que
Tais falas demonstram como os familiares se sentem em acaba por se tornar um grande aliado nas estratégias da
relação privação da vida social e de lazer. convivência familiar.

“As dificuldades é o seguinte... Que tu num se acha, não se Para finalizarmos é necessário ressaltar a importância
sente bem sai com ele, ele tem aquelas atitudes diferentes da família na assistência ao portados de doença mental,
ele tem... Num tem mais aquele comportamento pra sai num e também a necessidade de cuidado e apoio por parte da
almoço, num jantar na sociedade, é difícil.” (F02). equipe de saúde e principalmente da enfermagem com o
familiar que na maioria das vezes encontra-se desgastado
“As dificuldades é o que eu tenho que viver em casa, eu não e desamparado.
posso sair (...) Não posso trabalhar fora eu tenho que estar às
vinte e quatro horas pra cuidar dele, tem que dar medicação
três vezes ao dia, a gente não pode viajar... Tem que levar
ele e se levar em vez de descansar volta mais estressado REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ainda(...). Então se for pra ir tem que deixar com alguém ou
viajar na época que ele ta internado, quando ele interna daí a Almeida, H. (2008). A enfermeira no contexto da educação
gente da uma descansada uma arejada na cabeça, quando sexual dos adolescentes e o olhar da família. Disponível em:
volta pra casa segue de novo continua então é o único jeito <http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/14404/2/
mesmo da gente poder descansar “(F04) capa.pdf>. Acesso em: 15 out. 2009.

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exemplificada pela ausência em festas e eventos, a diminuição Mesa Redonda. Importância da família na saúde mental,
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contato mais próximo ao individuo em situação de sofrimento 20 set. 2009.
mental usualmente não dispõem de tempo nem espaço
para manter outros relacionamentos, envolvem-se apenas Duarte, C.L.M.; Souza, J.; Kantorski, P.L. & Pinho, B.L.
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