Weder Faria - Trancamento - Inépcia - Justa Causa - Revolvimento - Colaboração Premiada PDF
Weder Faria - Trancamento - Inépcia - Justa Causa - Revolvimento - Colaboração Premiada PDF
Weder Faria - Trancamento - Inépcia - Justa Causa - Revolvimento - Colaboração Premiada PDF
DECISÃO
Defende a carência de lastro probatório, visto que a peça acusatória não teria
indicado nenhum documento ou depoimento que, amparando a hipótese da acusação,
mencione o recorrente ou permita atribuir-lhe a prática dos crimes que lhe são imputados.
Afirma, assim, que a narração dos fatos na denúncia em nenhum momento descreve
condutas subsumíveis ao crime de lavagem de capitais ou de participação em organização
criminosa.
Salienta, nesse passo, que nenhum dos colaboradores premiados haveria tecido
referência ao recorrente no curso do procedimento.
Noutro giro, aponta que a peça acusatória não indicou o nexo causal entre o
fato descrito e a conduta atribuída ao recorrente, em violação ao art. 41 do Código de
Processo Penal. Defende ser necessária, mesmo nos crimes de autoria coletiva, a
descrição individualizada da conduta de cada um dos denunciados, por força do princípio
da culpabilidade, da responsabilidade pessoal e da dignidade da pessoa humana. Propõe,
nesse particular, que o recorrente está sendo objeto de persecução penal tão somente por
ter figurado, em tese, como sócio das empresas Leyroz e Praiamar.
Contudo, a falta de justa causa para o exercício da ação penal - i. e., quando
não forem expostos a contento a prova da materialidade e os indícios da autoria - é causa
de rejeição da denúncia, nos termos do art. 395, III, do CPP.
Com relação à descrição fato criminoso nos crimes de autoria coletiva, esta
Corte Superior tem decidido que, conquanto não se possa exigir a descrição
pormenorizada da conduta de cada denunciado, é necessário que a peça acusatória
estabeleça, de modo objetivo e direto, a mínima relação entre o denunciado e os crimes
que lhe são imputados. O entendimento decorre tanto da aplicação imediata do art. 41 do
CPP como dos princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório, da
individualização das penas e da pessoalidade.
Nesse sentido:
"2.2. Em apertada síntese, "a denúncia, ainda, imputa aos acusados Walter
Faria, Roberto Luís Ramos Fontes Lopes, Maria Elena de Souza, Naede de Almeida,
Nelson de Oliveira, Altair Roberto de Souza Toledo, Vanuê Faria Vanusa Faria, Clério
Faria, W F, Cleber Faria, Silvio Pelegrini, Marcio Roberto Alves do nascimento e
Wladimir Teles de Oliveira o delito de pertinência a organização criminosa, pelos fatos
supostamente criminosos até aqui resumidos (item 2.2 da imputação, fls. 99-101)".
Como examinado na decisão ora impugnada, "W F é sobrinho de Walter
Faria. Foi sócio do Grupo Petrópolis até meados de 2011. Ele era o responsável pela
administração das empresas Leyroz e Praiamar, ambas de São Paulo/SP, através das
quais foram viabilizados recursos em espécie à Odebrecht. Tais empresas foram, ainda,
utilizadas para realizar os supostos repasses de vantagem indevida dissimulada de
doações eleitorais. Em troca dos pagamentos em espécie e das doações o Grupo
Petrópolis receberia pagamentos no exterior".
As imputações estão diretamente associadas às condutas de Walter Faria e o
Grupo Petrópolis, com envolvimento de diversos personagens comuns a Walter. Alguns
mais próximos, outros mais distantes. A denúncia em desfavor do paciente segue assim
resumida:
'W F pela prática, i) por 163 vezes, do crime previsto no art. 1º, caput, da Lei
9.613/98, conforme descrito no capítulo 2.1.3.1.1; ii) por 147 vezes, do crime previsto no
art.1º, caput, da Lei 9.613/98, conforme descrito no capítulo 2.1.3.1.2; e, iii) por 50
vezes, do crime previsto no art. 1º,caput, da Lei 9.613/98, conforme descrito no capítulo
2.1.3.2, na forma do art. 69 do CP;'
De fato, descabe a esta Corte, nesta ação constitucional de garantia, que, por
não possuir fase instrutória, exige a demonstração manifesta da ilegalidade, adentrar
questões societárias ou indagar da veracidade das declarações de colaboradores
premiados e dos documentos que as corroboram. Neste particular, note-se que um
provimento jurisdicional nos termos reclamados pelo recorrente, na prática, resultaria em
supressão do próprio juízo natural dos autos.