Exegese MC 13.3-13
Exegese MC 13.3-13
Exegese MC 13.3-13
GOIÂNIA
2°SEM/2020
SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL
CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA
DEPARTAMENTO DE TEOLOGIA EXEGÉTICA
GOIÂNIA
2°SEM/2020
ALEX FALCÃO RIBEIRO
EXEGESE DE EVANGELHOS
Exegese de Marcos 13.3-13
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Ms. Lázara Divina Coelho.
Seminário Presbiteriano Brasil Central
LISTA DE ABREVIATURAS DOS LIVROS DA BIBLIA
OUTRAS ABREVIATURAS
a. C. ......................................................... Antes de Cristo
aprox. ....................................................... Aproximadamente
apud ......................................................... citado por, conforme, segundo
ca. ............................................................ cerca de
cap. ...........................................................Capítulo
cf. .............................................................Confira, confronte
coord. .......................................................Coordenador
d. C. ........................................................ Depois de Cristo
ed. .......................................................... Edição
Ed. .......................................................... Editor
e. g. ......................................................... Por exemplo
et al. ........................................................ E outros
etc. .......................................................... Assim por diante
gr. ........................................................... Grego
hb. ........................................................... Hebraico
idem, Id .................................................. mesmo autor
ibidem, Ibid ............................................. na mesma obra
i. e. .......................................................... Isto é
lit. ............................................................ Literalmente
loc. cit. .................................................... No lugar citado
op. cit. ..................................................... Obra citada e não antecedente
Org. ......................................................... Organizador da obra
p. ............................................................ página
passim ..................................................... aqui e ali, em várias passagens
s., ss. ....................................................... Seguinte, seguintes
séc. ......................................................... Referência ao século
Et seq. ..................................................... sequentia, seguinte
vl., vls. .................................................... Volume, volumes
v.. VV. .................................................... Versículo, versículos
SIGLAS
AT ........................................................... Antigo Testamento
BHS ........................................................ Bíblia Hebraica Stuttgartensia
BG ........................................................... Bíblia de Genebra
BJ ............................................................ Bíblia de Jerusalém
CB............................................................. Confissão Belga
CFW ....................................................... Confissão de Fé de Westminster
CMW ...................................................... Catecismo Maior de Westminster
DITAT .................................................... Dicionário Internacional de Teologia do AT
DITNT ..................................................... Dicionário Internacional de Teologia do NT
GNT ......................................................... The Greek New Testament
NT ............................................................ Novo Testamento
NVI ......................................................... Nova Versão Internacional
SINAIS E CONVENÇÕES
Colchetes, [( )] ............................. acréscimos Colchetes,
[(...)] ............................. Omissões, etc.
Colchetes, ([sic]) ............................ incorreções, etc.
Colchetes, ([ ! ]) ............................. Ênfase, ao texto citado
Colchetes, ([ ? ]) ............................ Dúvida, ao texto citado
Grifo, itálico (“grifo nosso”) ......... destaque com inscrição “grifo nosso”
Aspas duplas, (“ “) ....................... citações diretas, literais ou textuais
Aspas simples, (´ ´) ...................... citação de citação
Asterisco, ( * ) ............................... comunicações pessoais em notas de rodapé
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 8
1 ESTRUTURA DO EVANGELHO DE MARCOS ............................................................. 9
1.1 ESBOÇO DA OBRA ...................................................................................................... 9
1.2 ESBOÇO DA PASSAGEM .......................................................................................... 10
2 CONTEXTOS ................................................................................................................... 10
2.1 CONTEXTO HISTÓRICO EM GERAL ...................................................................... 10
2.1.1 Canonicidade e Características do Texto ................................................................... 11
2.1.2 Fontes e Texto, Autenticidade e Integridade ............................................................. 14
2.1.3 Título da Obra ............................................................................................................ 22
2.1.4 Autoria e Destinatário; Local e Data; Ocasião e Propósito ....................................... 22
2.2 CONTEXTO HISTÓRICO ESPECÍFICO .................................................................... 28
2.2.1 Histórico..................................................................................................................... 29
2.2.2 Sociopolítico .............................................................................................................. 32
2.2.3 Cultural ...................................................................................................................... 33
2.3 CONTEXTO LITERÁRIO............................................................................................ 35
2.3.1 Gênero Literário ......................................................................................................... 35
2.3.2 Natureza Literária ...................................................................................................... 37
2.3.3 Contexto Remoto ....................................................................................................... 38
2.3.4 Contexto Imediato ...................................................................................................... 40
2.4 CONTEXO TEXTUAL ................................................................................................. 42
2.5 CONTEXTO LINGUÍSITCO ....................................................................................... 47
2.6 CONTEXTO CANÔNICO............................................................................................ 49
3 ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA ................................................................................. 52
3.1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 52
3.2 PROPÓSITO CONTROLADOR DO AUTOR DO DOCUMENTO ................................ 53
3.3 ANÁLISE HISTÓRICO-GRAMATICAL E TEOLÓGICA ............................................. 56
3.3.1 A Dúvida Dos Discípulos – Mc.13.3-4 ........................................................................... 56
3.3.2 O Primeiro “Entenda”: Os Sinais no Mundo – Mc.13.5-8 .............................................. 59
3.3.3 O Segundo “Entenda”: Os Sinais na Comunidade dos Eleitos – Mc.13.9-13 ................. 65
3.4 ARTICULAÇÃO COM A INTERPRETAÇÃO DOS PAIS DA IGREJA ....................... 70
3.5 CONCLUSÃO DA ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA .................................................. 71
4 SÍNTESE TEOLÓGICA ................................................................................................... 72
4.1 VISÃO GERAL DA PASSAGEM ............................................................................... 73
4.2 TEOLOGIA DA PASSAGEM ...................................................................................... 74
4.2.1 Teologia Bíblica ......................................................................................................... 74
4.2.2 Teologia Sistemática .................................................................................................. 75
4.2.3 ARTICULAÇÃO COM O PENSAMENTO CALVINSITA .................................... 77
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 78
5.1 PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS .................................................................... 78
5.2 CONTRIBUIÇÕES DESSES RESULTADOS AO TEMA .......................................... 79
5.3 IMPLICAÇÕES DESSE RESULTADOS PARA A VIDA .......................................... 79
5.4 ESBOÇO HOMILÉTICO ............................................................................................. 80
5.5 SUGESTÃO DE NOVAS ABORDAGENS ................................................................. 80
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 81
APÊNDICES ............................................................................................................................ 85
8
INTRODUÇÃO
Esta exegese tem como objetivo a análise do texto de Marcos 13.3-13. Vale ressaltar
que a exegese em si é a arte de interpretar um texto. Para Grassmick (2009, p. 11), “a exegese
é a aplicação hábil de bons princípios hermenêuticos ao texto bíblico na língua original com o
objetivo de entender e proclamar o significado pretendido pelo autor”. Podemos pensar também
nela como a arte de perguntar corretamente ao texto, com o fim de alcançar o sentido autoral
(BATISTA, 2005, p.63). Nesta exegese bíblica, o método que utilizaremos, será o histórico
gramatical que “[...] busca o significado de um trecho da Escritura segundo as regras da
gramática e da forma literária, os fatos da história e a estrutura do contexto.” (GRASSMICK,
2009, p. 15). Para executar esse método se empregará a abordagem de pesquisa bibliográfica,
levantando material necessário para realizar as pesquisas contextuais da passagem e, em
seguida, a partir dos dados levantados na pesquisa será feita uma análise dessas bibliografias
buscando sempre tentar chegar ao sentido mais próximo do trecho da Escritura dentro de seu
contexto gramatical e histórico.
O objetivo da pesquisa a ser apresentada estará no limite do sentido natural das palavras
do texto, isto é, a mensagem do autor e como o público alvo se portou estará em foco. Para a
execução desse trabalho exegético serão utilizadas como referências teóricas: o Manual de
Exegese Bíblica: Antigo e Novo Testamento (2008), de Gordon D. Fee; a obra Exegese do
Novo Testamento: Manual de Metodologia (1998), de Uwe Wegner; Exegese do Novo
Testamento (2009) de John D. Grassmick Introdução a Exegese Bíblica (2017) de Michael J.
Gorman como referências de metodologia exegética; A Espiral Hermenêutica (2009), de Grant
Osborne, Entendes o que lês? (2011) de Gordon Fee e Douglas Stuart e Introdução à
hermenêutica bíblica (2014) de Walter Kaiser Jr e Moisés Silva como referenciais
hermenêuticos exegéticos. Quanto aos referenciais teológicos foram empregados: Anthony
Hoekema, A Bíblia e o Futuro (2001); G.K Beale, Manual do Antigo no Novo Testamento
(2013) e Teologia Bíblica do Novo Testamento (2018); J.R Edwards, O comentário de Marcos
(2018) e R. T. France, The Gospel of Mark – The Greek Commentary on the Greek Text (2002).
desses elementos contextuais servirá de base para a exposição e argumentação teológica que
em posteriormente a análise contextual. A seguir, será apresentado os elementos estruturais do
Evangelho de Marcos.
Segundo Uwe Wegner (1988, p. 84), a delimitação dos textos tem a ver “com a exata
extensão como unidades literárias autônomas.” Wegner ainda continua afirmando que na
delimitação pode-se determinar se o conteúdo dos textos forma um todo orgânico e coerente,
ou se são perceptíveis quebras e rupturas no desenvolvimento do assunto (1988, p. 84). É
importante ressaltarmos que originalmente os livros foram escritos de forma contínua e sem
espaço entre as palavras e subdivisões de versículos, perícopes e capítulos (WEGNER, 1988,
p. 84).
1O esboço da obra e da passagem foi feita pelo autor desta exegese, contudo foram utilizadas outras
obras para fazer a comparação das estruturas por elas adotadas.
10
2 CONTEXTOS
2.1.1.1 CANONICIDADE
2 Os critérios foram extraídos de: BRUCE, F.F. O canon das Escrituras. Hagnos. P.232-244
12
(2) A antiguidade dos documentos deve remontar ao período apostólico (Séc. I). Nesse
segundo elemento remonta a data de composição. Além dos pontos apresentados anteriormente,
outro elemento que corrobora para a canonicidade desse evangelho está a sua datação. Dentro
da discussão sobre a data (Cf. Data e Local) todas trabalham com a possibilidade de que o livro
foi escrito no Sec. I. Varia-se apenas a década na qual os especialistas divergem supondo ser na
quarta, quinta, sexta ou sétima década do primeiro século. Dos estudiosos levantados nessa
pesquisa, a maioria compreende que possivelmente o Evangelho de Marcos foi escrito entre as
décadas de 50 e 60, sendo que mesmo nos estudiosos que divergem da composição entre as
décadas de 50 e 60, não há nenhum deles que apresentem um proposição de que este evangelho
foi composto em uma data posterior ou anterior ao séc. I., sendo a data mais anterior remontando
a década de 40 e a data mais posterior sendo a década de 70. Além desses fatores, tomando a
hipótese de que o Evangelho de Marcos possivelmente serviu de inspiração para a composição
dos demais evangelhos sinóticos – Mateus e Lucas – fica evidente que é necessário apontar que
este documento em análise remonte ao período apostólico. (Cf. Fontes e texto, autenticidade e
integridade).
Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido
por obra do Espírito Santo; nasceu da virgem Maria; padeceu sob o poder de
Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades; ressurgiu
13
dos mortos ao terceiro dia; subiu ao céu; está assentado á mão direita de Deus
Pai Todo-poderoso, de onde há de vir para julgar os vivos e mortos.3
Dessa forma, vemos que além das verdades destacadas, os relatos históricos da pessoa de Jesus
descritos em Marcos foram reconhecidamente canônicos e serviram de base para a composição
do Credo.
(5) Por fim, era reconhecido a inspiração do autor ao compor a sua obra. Juntamente
com o critério anterior, esse corrobora com a confirmação histórica da canonicidade do livro ao
reconhecer que o autor era divinamente inspirado. Esse critério pode ser validado pela seguinte
lista exposta por Carso, Moo e Morris (2014, p.103) de autores e documentos dos primeiros
quatro séculos que afirmavam que Marcos era autor inspirado e que tinha como sua principal
fonte os relatos do Apóstolo Pedro: Irineu, Adv. Hae. 3.1.2 (180d.C); Tertuliano, Adv. Marc.
4.5 (c.200); Clemente de Alexandria, Hypotyses (c.200), Orígenes; Eusébio, além do já
mencionado Canon Mauritoniano.
3Trecho do Credo Apostólico extraído de: Bíblia Sagrada e Hinário Novo Cântico. Tradução: João
Ferreira De Almeida. 2°. ed. rev. e atual. Barueri - SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011. p.222.
14
2.1.2.1 FONTES
Nesse momento compete apresentar a discussão atrelada as possíveis fontes que fizeram
parte do processo de composição do documento. Para isso é necessário fazer uma apresentação
dos estudos relacionados as fontes que poderiam fazer parte do processo de composição dos
evangelhos.
O Evangelho de Marcos faz parte dos evangelhos classificados como sinóticos. O termo
sinótico deriva de duas palavras gregas, “συν” (syn), que pode ser traduzida por “junto” e
“οψις” (opsis) que pode ser traduzida por “ver”, assim a palavra expressa o sentido de “ver em
15
conjunto”. Esse grupo de evangelhos é composto por Mateus, Marcos e Lucas. Eles apresentam
a “mesma visão” ou uma visão similar na sua narrativa sobre Jesus. Essa semelhança pode ser
destacada em três aspectos: a estrutura dos livros possui uma organização similar, o mesmo
conteúdo (histórias, discursos, parábolas etc.) são apresentados de maneira similar nos três
evangelhos e principalmente os três apresentam a mesma visão acerca do ministério de Jesus.
Ambos iniciam na região norte de Israel (Galileia e vizinhança), em seguida se desenvolve na
Judeia tendo em vista chegar em Jerusalém e conclui em Jerusalém destacando a morte e a
ressureição de Jesus. João por sua vez se distancia dos três evangelhos ao se diferenciar tanto
na sua estrutura, quanto no conteúdo e dar um outro enfoque na condução do ministério de
Jesus (CARSON et al., 2014, p.19-20)
Sendo assim, compete apresentar as teorias que envolvem as fontes de composição
desses evangelhos. A primeira delas é Crítica da Forma, sua preocupação está em estudar as
fontes orais que estruturam as narrativas acerca da vida de Jesus. De acordo com Gundry (1987)
“os críticos da forma procuram determinar a natureza e o conteúdo da tradição oral,
classificando as unidades individuais do material escrito dos evangelhos, de conformidade com
a forma literária e o uso comum na Igreja primitiva”. Dessa forma, os relatos sobre o ministério
de Jesus eram divididos em pequenas unidades independente denominadas de perícopes, tendo
essa transmissão uma comunidade responsável. Isso significava que as perícopes não somente
tinham a sua forma determinada pela comunidade, como também a comunidade modificava
esses relatos sob a pressão de suas próprias necessidades e rituais. Algumas críticas são feitas
a essa abordagem: 1) Não há como precisar quanto de material era considerado parte da tradição
oral. Além disso, por se tratar de grande parte de um material agrafo a pesquisa beira muito o
campo da especulação. 2) A crítica da forma subestima a comunidade cristã do I séc, pois deixa
de levar em conta a presença de testemunhas oculares que tinham condições para contestar
qualquer criação de incidentes e declarações em grande quantidade. Além disso, subestima a
capacidade de memorização dos judeus de séc. I., que tinham como prática cultural decorar
toda a Torá e transmitirem tradições inteiras oralmente. (CARSON et al., 2014; GUNDRY,
1987)
protoevangelho que já circulava na Igreja primitiva e das quais Mateus, Marcos e Lucas
utilizaram para sustentar as suas narrativas. De acordo com essa teoria é possível que esse
protoevangelho tenha sido escrito na língua aramaica e foi traduzido em língua grega pelos
outros autores, que fizeram acréscimos de acordo com as fontes orais que eles possuíam. O
grande problema dessa hipótese está no fato de se houve um protoevangelho porque a Igreja
não o sustentou e o considerou canônico, por que não há nenhuma menção dele em outras fontes
extra canônicas? Além disso, ela tem falhas em explicar o alto grau de semelhança do texto
grego dos três evangelhos e acaba, também, não explicando as diferenças existentes entre os
três. A segunda teoria sustenta-se na dependência comum de fontes orais dos três evangelhos.
Isso significa que os autores partiram das mesmas fontes orais e de um relato oral relativamente
fixo para descrever a vida de Cristo. No entanto, da mesma forma que a Crítica da Fontes caiu
em descrédito por não conseguir remontar a possível tradição oral, essa hipótese também foi
perdendo a sua força. A terceira hipótese acredita que eles dependiam um número grande de
fragmentos dispersos e que os autores utilizaram desses fragmentos para compor o seu
evangelho. Contudo, essa hipótese padece ao não poder remontar a esses fragmentos, além de
ter uma hipótese mais aceita e elaborada atualmente. Essa quarta hipótese, que é a mais
desenvolvida entre os estudiosos, é a hipótese da interdependência entre os autores dos
sinóticos. Mais à frente essa hipótese será exposta com mais detalhes, mas por hora ela
demonstra que os autores utilizaram um dos evangelhos que já estava circulando para servir de
base para sua composição. (CARSON et al.; GUNDRY, 1987)
Por fim, temos a Crítica da Redação. Essa busca em analisar os trabalhos editoriais dos
autores bíblicos. Para essa metodologia deve-se reconhecer o papel dos autores, por mais
dependentes que eles fossem das tradições, há uma abordagem pessoal, criativa e com
propósitos que moldaram um estilo literário a teologia transmitida. É nessa abordagem que hpa
uma busca pelo Jesus histórico, que se desliga da mitologia construída pelos primeiros cristãos.
Sendo assim, ela está preocupada na atividade editorial dos autores bíblicos e quer fazer
distinção entre tradição e a redação. Contudo, a Crítica da Redação tem uma grande dificuldade
entre distinguir o que é tradição e o que é redação e que se precisa admitir que as modificações
não foram somente teológicas, isso inclui também mudanças estilísticas. Além disso, seus
pressupostos são totalmente ancorados em uma cosmovisão cética e precisa partir da ideia de
que não é possível afirmar que os relatos bíblicos são em sua completude históricos, por isso
deve sempre se questionar a fidedignidade das informações, o que torna a pesquisa direcionada
17
1Visto que muitos houve que empreenderam uma narração coordenada dos
fatos que entre nós se realizaram, 2conforme nos transmitiram os que desde o
princípio foram deles testemunhas oculares e ministros da palavra,
3igualmente a mim me pareceu bem, depois de acurada investigação de tudo
desde sua origem, dar-te por escrito, excelentíssimo Teófilo, uma exposição
em ordem, para que tenhas plena certeza das verdades em que fostes
instruídos. (Lc.1.1-4)
Lucas mostra que houve etapas de recolher relatos de transmissão oral (v.2), de fontes escritas
(v.1 e 3) e realizar um processo editorial para compor a sua obra (v.4). Sendo assim,
utilizaremos de algumas dessas teorias para expor as possíveis fontes do evangelho de Marcos.
Tradicionalmente, acredita-se que Marcos utilizou-se dos relatos de Pedro para compor
o livro, baseando-se em um relato oral de umas das testemunhas que mais estiveram próximas
a Jesus. Isso dá validade ao evangelho, pois há uma ampla discussão se Marcos foi ou não
testemunha ocular e por isso o argumento de que Marcos estaria recorrendo a própria memória
seria frágil. A primeira pessoa a afirmar essa proposição foi Papias em 130d.C., através do que
relata Eusébio na História da Igreja (apud CARSON, MOO, MORRIS, 2014, p.102-103):
4Compare Mc. 6.5 e Mt 13.58 em que Mateus explica o motivo de não ser realizado o milagre e Marcos
apenas menciona o fato sem dar explicação
19
Mateus e Lucas que vieram posteriormente. Essa hipótese ficou conhecida com a hipótese das
duas fontes e explica bem as divergências entre os evangelhos. Ademais, sugere que Marcos
possa ter recorrido a outras fontes externas, porém que não compreendem grande parte de seu
material, sendo apenas alguns trechos, p.ex. 90 versículos entre Mc.6.30 a 8.27 que deixa de
utilizar o nome Jesus, sendo esse nome empregado durante todo o restante de seu livro, mas
que nesse bloco ele não utiliza em nenhum momento. (CARSON, MOO, MORRIS, 2014;
EDWARDS, 2018; ELWELL; YARBROUGH, 2002; GUNDRY, 1987; POHL;1993).
Por fim, pode-se apresentar que Marcos teceu um processo editorial tanto das fontes
orais de Pedro e do que ele ouvia no círculo apostolar, quanto algumas possíveis fontes escritas
para compor o evangelho. A forma final é dada por ele e que ele pretende manter um propósito
nas narrativas (Cf. Ocasião e Propósito), conforme se vê na citação de Papias mencionada
anteriormente em que Marcos dá a forma ao evangelho de acordo com as suas lembranças e
relatos por ele colhidos, principalmente de Pedro. Dessa forma, a conclusão a que se chega a
respeito das fontes do Evangelho Segundo Marcos, parte da nossa posição acerca do problema
dos sinóticos e da compreensão acerca da tradição da Igreja, embora apresente-se uma posição
ela não pode ser tomada como cabal uma vez que não temos informações suficientes. Por isso,
entende-se que Marcos utilizou-se primariamente da fonte oral de Pedro e suas memorias acerca
da pessoa Jesus Cristo e que Marcos teceu a partir de seus relatos e algumas breves fontes orais
e escritas para compor seu evangelho. Sendo assim, entende-se que Marcos é o primeiro dos
quatro evangelhos a ser escrito e que ele dá direção aos demais evangelhos sinóticos.
2.1.2.2 TEXTO
0257/ 0263/ 0269/ 0274/ 0276. Dentro da perícope que será trabalhada (Mc.13.3-13) pode-se
destacar que serão trabalhados com os seguintes documentos: א, A, B, D, L, W , Δ, Σ, Θ, Ψ, 28,
33, 157, 180, 205, 597, 565, 579, 700, 892, 1006, 1010, 1071, 1241, 1243, 1292, 1424, 1342,
1505 2427, f1, f13, Lec, ita, aur, b,c,d, ff, i, k, l, n, q, r,, Biz [E F G H] sirs, copsamss, geoA, B,1, esl. Destaca-
se o pai latino Orígenes O grego koinê é a língua utilizada nesse texto. Por fim, podemos
destacar que os documentos א, Θ, A, B, D, L e W como os documentos mais importantes para
serem consultados em questões importantes de todo o livro. (ALAND; ALAND, 2013;
CARSON et al., 2014; GNT, 2012;).
2.1.2.3 AUTENTICIDADE
2.1.2.4 INTEGRIDADE
Marcos. (GEISLER; NIX, 1997, p. 171). O texto do livro de Marcos apresenta dois problemas
de integridade, no seu início e no seu final (CARSON et al., 2014)
O problema no início de Marcos decorre das palavras “Filho de Deus” no v.1. Alguns
manuscritos de grande relevância omitem essa expressão do texto bíblico (Uncial אe Θ) o que
sugere um alto grau de desconfiança da presença das palavras no texto. Contudo Carson, Moo
e Morris (2014, p.116) sugerem que essa expressão possa ter sido “omitida pelos copistas, pois
os olhos de algum copista podem ter saltado de ου (ou) no final de Χριστου (Christou, lit. "de
Cristo") para as mesmas letras no final de θεον (theou, lit. "de Deus"), omitindo aquilo que
estava no meio, dessa forma pondo de lado υιου θεοτ (huiou theou, "do Filho de Deus").” Além
dessa possibilidade, duas outras coisas corroboram pela presença da expressão: primeir, há
outros manuscritos com alto grau de importância que apresentam a presença da expressão
“Filho de Deus”(Unciais A,B, D, L e ); segundo, a expressão concorda com a cristologia de
Marcos e as nomenclaturas que ele utiliza para designar a Jesus. Sendo, assim, segue-se a ideia
de Carson, Moo e Morris (2014) que entendem que o texto está correto.
O segundo problema de integridade dentro do livro de Marcos está quanto ao seu final.
Carson, Moo e Morris (2014) descrevem o problema da seguinte forma:
O fim do evangelho de Marcos apresenta um problema diferente e bem mais
sério. A maioria dos manuscritos inclui o denominado final longo, em que são
narradas (sic) os diversos aparecimentos de Jesus, após a ressurreição, a tarefa
que Jesus dá a seus discípulos e a sua ascensão. Esse final longo é impresso
como versículos 9-20 na ARA; em algumas versões mais modernas esse final
aparece em geral na margem ou com alguma nota [ou entre colchetes]. (p.116)
Sendo assim, a tese para a defesa do final longo de Marcos é que por haver mais manuscritos
que utilizam mais esse final longo, é provável que ele remonte mais ao texto original. As
objeções para esse argumento e que defendem um final curto que se encerra em Mc 16.8 são as
seguintes: 1) Os manuscritos mais importantes não contem o final mais longo. 2) Alguns
personagens da Igreja dos primeiros séculos, como Jerônimo e Eusébio, declaram que os
melhores manuscritos que eles possuíam não continha esse final longo. 3) O final longo contém
diversas palavras e expressões que não fazem parte da característica do restante livro e do autor.
4) O final mais longo tem menos fluidez narrativa e parece se assemelhar ao final dos demais
sinóticos, sugerindo um possível acréscimo posterior. Dessa forma, a conclusão é sugerir não
reconhecer o final longo de Marcos como canônico e nem material íntegro. É possível que esse
final “abrupto” de Marcos tenha sido forçado a parar de escrever ou que existe um final mais
22
longo que se perdeu ao longo de tempo. Contudo, a opinião mais aceita entre os estudiosos5 é
de que Marcos tenha optado pelo final abrupto devido a certo tom de mistério de seu livro e do
tom de medo dos discípulos. (CARSON et al., 2014; WALLACE, 2015)
Trata-se de uma narrativa histórica, denominada evangelho, cujo título utilizado nas
versões gregas GNT (2012) é ΚΑΤΑ ΜΑΡΚΟΝ (trad. SEGUNDO MARCOS). Determinar
qual é o verdadeiro título dessa obra é uma tarefa difícil. Pohl (2013, p.13) afirma que é difícil
precisar o verdadeiro título dessa obra, uma vez que o manuscrito mais antigo começa já no
meio do texto (Mc. 4.36). Já os manuscritos mais confiáveis como o Códice do Vaticano e o
Códice Sinaítico apresentam o título breve “Segundo Marcos”. Pohl (2013, p.13) também
afirma que é muito comum na literatura da época não dar nome aos livros, pois essa tarefa era
comum aos bibliotecários que davam os nomes para classificá-las e geralmente davam o nome
do autor. Carson, Moo e Morris (2014) sugere que a Igreja atribuiu esse título para diferenciar
os autores de cada evangelho e assim distingui-los. Sendo assim, pode-se denominar o livro de
Marcos por Evangelho segundo Marcos ou apenas Segundo Marcos conforme sugere a GNT
(2012).
2.1.4.1 AUTORIA
Compete apresentar agora a discussão sobre a autoria do livro. O principal nome aceito
pela maioria dos estudiosos do Novo Testamento (dentro da ortodoxia) é João Marcos, mais
conhecido como Marcos. Marcos era filho de uma mulher chamada Maria, a qual se tem
conhecimento em Atos 12.12, demonstrando que era um local conhecido e um centro de reunião
da igreja primitiva, uma vez que o apóstolo Pedro se direciona a essa casa após ser liberto da
prisão. Possivelmente, essa casa foi, também, o local da última ceia (At. 1.13,14; Mc 14.14).
Tudo indica que Marcos pertencia a uma família que ajudou em muito a fé cristã e foi uma das
5Os estudiosos ortodoxos que defendem o final curto de Marcos são Daniel Wallace, D. A. Carson,
Douglas Moo e Leon Morris.
23
primeiras participantes. Marcos aparece, explicitamente, pela primeira vez nas Escrituras em
Atos 12.25 e 13.4, quando ele acompanha Barnabé e Paulo na viagem missionária e a qual ele
posteriormente abandona, tornando-se ponto de divergência entre Barnabé e Paulo. Em Atos
15, após a divisão de Barnabé e Paulo, Marcos acompanha Barnabé e não se tem registo nas
Escrituras dele até a primeira carta de Pedro (1 Pe 5.13), que mostra Marcos trabalhando
conjuntamente com ele. Alguns estudiosos sugerem que Marcos foi testemunha ocular da vida
de Jesus, prova disso é algumas menções que podem remeter a reminiscências autobiográficas.
A passagem do jovem que foge nu no início do relato da Paixão (Mc14.51-52), possivelmente
remete ao próprio Marcos como observador dos acontecimentos e é um exemplo dessas
reminiscências. Por fim, a biografia de Marcos é acrescentada por informações do período da
Patrística que afirmavam Marcos era o hermeneutes, ou seja, o intérprete ou tradutor de Pedro.
(CARSON et al., 2014; EDWARDS, 2018; POHL, 1993; SHORT, 2008; STOTT, 1996)
2.1.4.2 DESTINATÁRIOS
Nesse momento, compete apresentar quem era o público principal a qual a obra era
direcionada. A principal hipótese é de que o evangelho tem sua direção para um público
gentílico, contudo, não há nenhuma afirmação explicita dessa hipótese, o que leva a buscar
dados extrabíblicos para corroborar essa ideia. (cf. Data e Local) Primeiro, sugere que no
momento da escrita Marcos e Pedro estão em Roma e estão dedicando-se ao trabalho
missionário entre os romanos. As evidências internas desse enfoque nos não-judeus,
principalmente nos romanos são: (1) a explicação mais detalhada de costumes judaicos (Ver
Mc. 7.2ss; 12.42; 14.12; 15.42 (2) as várias traduções de elementos comuns a língua aramaica
para a língua latina (3.17; 5.41; 7.11, 34; 14.36; 15.22,34). Até alguns termos são explicados
para a língua latina. (3) Há pouquíssimas referências ao Antigo Testamento dentro do livro de
Marcos em comparação aos outros dois sinóticos; (4) Marcos dá um tom mais neutro aos
romanos que fazem parte da história de Jesus (Ver Mc. 12.17; 15.1, 2, 21,22; 15.39). Todos
esses dados sugerem que Marcos escreve primariamente para leitores gregos cuja primária
referência era o Império Romano e tinha fortes ligações com a língua latina. Sugere-se que as
pessoas que estavam em Roma eram o alvo primário deste evangelho, pois era necessário
estabelecer na capital do Império Romano um relato fiel sobre a pessoa de Jesus e que tinha o
intuito de preservar a mensagem do evangelho em Roma, entre os gentios. (CARSON et al.,
2014; EDWARDS, 2018; GUNDRY, 1987; SHORT, 2008)
Tendo sido definido o destinatário do livro, é necessário traçar a data e o local em que
ele foi composto. A discussão sobre a data do livro de Marcos é abrangente. Quatro hipóteses
são apresentadas: 40d.C; 50d.C; 60d.C; 70d.C. (CARSON et al., 2014; EDWARDS, 2018;
ELWELL E YARBROUGH, 2002; GUNDRY, 1987; POHL, 1993)
A hipótese que defende que Marcos foi escrito na década de 40 d.C é defendida por C.C
Toreey. Ele defende que a sentença do abominável da desolação que aparece em Mc. 13 no
sermão profético de Jesus é uma referência ao imperador Calígula de tentar colocar a sua
imagem no templo. Há também a proposta de que há fragmentos encontrados em Qurman que
continham supostamente trechos de Marcos. A maioria dos estudiosos não consideram a
hipótese de que a menção se refira a Calígula, uma vez que ela apresenta correspondentes nos
outros evangelhos e que foram possivelmente escritos posteriormente ao evangelho de Marcos.
A data de 40 d.C parece pouco provável entre os estudiosos ortodoxos e, até mesmo, entre
liberais. (CARSON et al., 2014; EDWARDS, 2018; ELWELL E YARBROUGH, 2002;
GUNDRY, 1987; POHL, 1993)
A próxima hipótese está na década de 50 d.C. Essa hipótese parte da premissa de que
Pedro tinha estado em Roma em meados da década 50 d.C. Segundo a tradição Marcos era o
intérprete de Pedro e possivelmente o acompanhou até Roma. Além disso, o ponto mais forte
dessa hipótese está no fato de Marcos ter servido como base para o evangelho de Mateus e
Lucas. A data que se tem mais certeza é do evangelho de Lucas e estimasse que ele o escreveu
por volta do ano 62d. C. Sendo assim, a data de Marcos tem que ser posterior a década de 60
d.C. Dos autores pesquisados, essa hipótese é defendida por Carson et al. (2014) e Gundry
(1987). Ela está de acordo com a proposta apresentada nas fontes (Cf. Fontes) que dão forma
ao evangelho de Marcos. A objeção essa data está no fato de que se adote outra hipótese para
as fontes de Marcos, como a hipótese de Agostinho de que esse livro é um resumo do evangelho
de Mateus, poderá se ter uma data posterior. (CARSON et al., 2014; EDWARDS, 2018;
ELWELL E YARBROUGH, 2002; GUNDRY, 1987; POHL, 1993)
A década de 60 d.C também recebe grande força. Essa hipótese é defendida pela maioria
dos estudiosos. Três razões são apontadas em defesa dessa data: (1) as tradições da Igreja
sugerem que Marcos tenha escrito seu evangelho após a morte de Pedro. (2) As evidências
internas sugerem que Marcos tem o tema do sofrimento da Cruz como central na sua narrativa.
Isso sugere que o período em que ele foi escrito os cristãos em Roma estavam sendo
perseguidos, possivelmente pela perseguição de Nero (65 d.C), por isso a ênfase na narrativa
26
da Paixão era uma exortação aos crentes manterem firme diante do martírio eminente. (3)
Marcos 13 faz uma forte descrição da Palestina durante a revolta judaica e a aproximação do
exército romano antes da famosa invasão de 70 d.C. Edwards (2018) sugere que a data se
encontra na década de 60, por volta dos anos 64-65 d.C. Pohl (1993) sugere que a data está por
volta do ano 67-68 d.C. Esta data tem duas fortes objeções, a primeira está no fato de o
argumento mais forte basear-se numa suposição, uma vez que no começo do cristianismo a
perseguição sempre foi um risco iminente. Por isso, Marcos não necessariamente tinha em vista
a perseguição de Nero. Segundo, nenhuma das testemunhas da tradição da patrística afirma que
Marcos escreveu seu evangelho após a morte de Pedro, apenas há uma sugestão dessa
possibilidade. (CARSON et al., 2014; EDWARDS, 2018; ELWELL E YARBROUGH, 2002;
GUNDRY, 1987; POHL, 1993)
(CARSON et al, 2014, p.107) Nesse caso, ainda assim há a ideia de um evangelho sendo escrito
em Roma. A outra hipótese é de que ele tenha escrito em Antioquia, que argumentam que o
autor tinha conhecimento da região da Palestina. Outros afirma que ele foi escrito no extremo
oriente ou até mesmo na Galileia. Contudo, a opinião mais aceita tanto na tradição quanto entre
os estudiosos é de que Roma foi o local de composição desse evangelho, pois não há nenhuma
evidência que desconstrua concretamente tradição. (CARSON et al, 2014; ELWELL E
YARBROUGH, 2002; GUNDRY, 1987; SHORT; 2008)
Sendo Roma o local de composição, a posição para data que mais se ajusta está entre os
as décadas de 50-60 d.c. Assumindo que a teoria de Marcos como o primeiro evangelho tem
grande respaldo e que sua fonte era Pedro e ambos estavam juntos em Roma, a datação mais
plausível para este evangelho se encontra na primeira metade da década de 50d.C, anterior a
composição do evangelho de Lucas (60d.C).
Nesse momento, compete expor qual a ocasião e o propósito do livro de Marcos. Quando
se trata de ocasião, busca-se compreender a situação ou a causa que levou a composição daquele
texto. Quando se trata de propósito busca-se compreender o objetivo no qual o autor quer chegar
com a sua escrita.
Marcos quer que seus leitores entendam que Jesus é o Filho de Deus, mas
especialmente o Filho sofredor de Deus. Além disso, crentes devem ser
seguidores de Jesus. Marcos também mostra que os cristãos devem trilhar o
mesmo caminho percorrido por Jesus — o caminho da humildade, do
sofrimento e até mesmo, se necessário, da morte. Marcos quer gravar no
coração dos seus leitores as famosas palavras do Senhor: ‘Se alguém quer vir
após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me’ (8.34).
Essa apresentação contempla a situação de maneira geral, pois, coloca o ponto central para os
crentes de Roma e apresenta a verdadeira autoridade de Cristo. Além disso, demonstrar o caráter
que o crente deve ter de estar preparado para “tomar a sua cruz”, ou seja, estar disposto a passar
pelos sofrimentos que o próprio Jesus passou. Além disso, Elwell e Yarbrough (2002, p.90)
complementa que Marcos tem em mente mostrar quem verdadeiramente é Jesus. O foco em
apresentar Jesus como Filho de Deus é uma das mensagens centrais deste evangelho e o
principal fundamento. Alguns ainda sugerem que Marcos tinha um propósito evangelizador em
sua narrativa. Essa ideia pode ser considerada, contudo ela é secundária, seu foco primário está
em apresentar Jesus quem é Jesus e sua natureza divina como Filho de Deus. (CARSON et al.,
2014; ELWELL; YARBROUGH, 2002; GUNDRY, 1987; HENDRIKSEN, 2014)
2.2.1 Histórico
O nível histórico trata dos eventos que fazem parte do pano de fundo da narrativa. Esses
eventos podem estar influenciando a narrativa de maneira indireta ou direta. (GORMAN, 2017,
p.90). Como primeiro movimento histórico, podemos destacar os movimentos de domínio
imperiais que foram construídos ao longo do tempo e que se apresentam de maneira direta ou
indireta na perícope narrada. O primeiro domínio é o Persa. Para a narrativa bíblica esse
domínio se torna amplamente importante na progressividade narrativa bíblica por ser o povo
responsável a libertar Israel do cativeiro babilônico e permitir seu retorno a Terra Prometida.
Esse retorno permite que Israel reconfigure-se como uma nação e comece a reconstruir
elementos importantes para sua cultura como a cidade de Jerusalém e o templo, símbolos do
judaísmo e sua cultura. Nesse período, também, surge a chamada Grande Sinagoga, que era um
concílio de anciões que regiam as coisas religiosas, essa Grande Sinagoga se desdobrará em
dois movimentos: o fortalecimento do poder do político do Sumo Sacerdote, o desenvolvimento
da autoridade dos escribas e o surgimento do sinédrio, que aparecem fortemente nos cenários
narrativos do Novo Testamento. No livro de Marcos em específico, a presença do poder político
sacerdotal e dos escribas fica forte e evidente. Além da importância central de Jerusalém e do
Templo. São esses elementos que perduram nos domínios posteriores ao domínio persa.
(TENNEY, 1994, 1995)
O templo foi roubado dos seus tesouros e transformado numa casa de culto a
Zeus Olímpico. Em 15 de dezembro de 168 a.C, foi posta sôbre (sic) o altar
uma imagem de Zeus, e dez dias depois foi sacrificada uma porca, em sua
honra. Altares pagãos eram levantados por todo o país e era obrigatório a
realização dos festivais pagãos. O Judaísmo foi inteiramente proscrito e a pena
de morte era aplicada a todo aquele que possuísse ou lêsse (sic) a Torah. A
observância do sábado e a circuncisão eram proibidas (Cf. 1 de Macabeus
1:21-50). (TENNEY, 1995, p.58-59)
Com essa situação de ampla perseguição, dois movimentos são praticados pelos judeus: o de
apostasia e o de resistência. Tiveram judeus que se apostataram e foram envolvidos pela pressão
30
Por fim, após o domínio grego, se tem o domínio romano. O Império Romano consegue
se tornar o império com maior dominação geográfica. É nesse domínio que está todo o pano de
fundo do Novo Testamento. Sua influência é majoritariamente política e jurídica, mantendo a
influência cultural e filosófica grega. Os romanos possuíam duas formas de administrar as
províncias conquistadas. Tinham as províncias que se submetiam e eram leais a Roma, estas
eram governadas por Procônsul que possuíam mais liberdade no seu governo. Já as províncias
turbulentas eram diretamente comandadas por Roma, através de governadores escolhidos por
Roma (p.ex. Pilatos). O início da dominação romana sobre a mão dos Idumeus, especificamente
pela mão de Herodes, o grande. Herodes faz uma aliança de paz com os romanos e é proclamado
rei sobre toda Judeia. Essa proclamação de Herodes não agrada os judeus, que o vinha como
um rival, afinal os ideumeus eram descendentes dos edomitas, que eram povo rival de Israel
desde o período pré-monarquia de Israel. Numa tentativa de conciliação política, Herodes
promove a reforma do templo de Jerusalém, que estava danificado devido aos acontecimentos
na época da dominação grega. Herodes, o grande, é o rei na época do ressecamento na época
do nascimento de Jesus e que promove a matanças das crianças abaixo de 2 anos – ele é
conhecido pela brutalidade de seus assassinatos e sua prosperidade política. Após a sua morte
seu reino é dividido entre seus filhos6. Nesse período o poder do sumo sacerdote é fortalecido,
sendo ele o grande representante dos judeus e há forte influência de grupo políticos religiosos
como os fariseus e saduceus. (TENNEY, 1995)
6Sobre essa divisão e sua influência no mundo do Novo Testamento a discussão será mais abrangente
nos aspectos sociopolíticos.
31
Tendo feito essa reconstrução panorâmica que influenciou o mundo no tempo de Jesus.
É necessário fazer uma pequena exposição sobre o Templo de Jerusalém que é um dos objetos
centrais da perícope de Mc. 13.3-13. Ao longo da história do povo judeu, o templo é um dos
principais elementos de sua identidade nacional. Na história temos dois templos: O Templo de
Salomão anterior ao exílio e o denominado Segundo Templo, após a volta dos judeus do
cativeiro babilônico. O principal significado do templo é ser o local de habitação de YHWH,
por isso, os judeus tinham tanto orgulho com ele. Compete aqui discorrer apenas sobre o
Segundo Templo, uma vez que o Templo de Salomão, foi completamente devastado e o
segundo baseia a sua construção nas descrições do primeiro. As medidas desse novo templo é
de 27m de altura (60 côvados) por 27m de comprimento (60 côvados). Os alicerces eram
basicamente os mesmos, mas a ornamentação e grandiosidade do templo não era o mesmo. Ao
redor do santuário havia alguns depósitos e aposentos para os sacerdotes. Quantos a mobília do
templo sabemos que a Arca da Aliança havia desaparecido no tempo do exílio e nunca mais foi
recuperada nem substituída. O candelabro era diferente, pois ao invés de 10 hastes passou a ter
7 hastes e ficava situado junto com os pães da proposição e o altar do incenso. Os objetos do
templo têm uma estrita relação da batalha entre os macabeus e o domínio de Antíoco Epifânio,
pois durante o domínio deste o templo foi profanado. Os macabeus se revoltaram e expulsaram
os profanadores do templo e purificaram o templo. Nesse período surge a Festa das Luzes como
comemoração a essa libertação. Depois desse domínio o templo foi transformado em uma
fortaleza e resistiu ao cerco de Pompeu durante três meses. A reforma do templo de Jerusalém
foi motivada por questões políticas entre Herodes, os judeus e o Império Romano. Conforme
apresenta Douglas et al (1988):
Herodes aumentou a estrutura do templo e deu características mais suntuosas ao templo, como
podemos observar que os próprios discípulos se encantam com a grandiosidade do templo (Mc.
13.1-2). Nesse período o templo perdeu sua característica santa e começou a ser utilizado para
diversas outras questões, tais como econômicas, políticas e militares. (BÍBLIA DE GENEBRA,
2009; DOUGLAS et al, 1988; LONGAMAN III, 2016; TENNEY et al, 2009)
32
2.2.2 Sociopolítico
Os judeus tinham também seus movimentos políticos internos, contudo, eles estavam
intimamente ligados à sua posição religiosa. Existia nesse período o grupo dos fariseus, que
eram os mais conservadores, geralmente, assumiam os cargos de sumo sacerdote. Eles eram os
principais guardiões da lei. Sua crença básica estava ligada ao fato de que o exílio babilônico
foi causado pelo fracasso de não se observar a lei. Os escribas que geralmente estavam
associados aos fariseus eram os principais responsáveis para determinar o conteúdo da lei. Eles
catalogaram aproximadamente 613 mandamentos. Devido a esse rigor e sua influência política,
os fariseus eram respeitados pelo povo e eram tidos como autoridade a ser respeitada por um
verdadeiro israelita. O segundo grupo são os saduceus, eles faziam franca oposição ao grupo
dos fariseus. (Exceto para combater a Jesus). Eles são considerados como descendentes direto
dos hasmoneus e são mais rigorosos quando aos costumes judeus. Seu rigor é marcado na sua
principal distinção teológica que está ligada a não crença na ressureição do corpo. Outros
grupos são os essênios, que eram uma comunidade isolada (p. ex. Comunidade de Qurman); os
zelotes, que eram politicamente avessos ao governo de Roma e extremamente radicais; os
herodianos, que eram judeus simpatizantes ao governo de Herodes e tidos como liberais e
apostatas. Há a presença dos samaritanos, contudo, esses eram considerados um outro povo
pelos judeus, no qual os judeus nutriam um sentimento xenofóbico, ou seja, eles rivalizavam
entre si e conforme diz Jo 4.9: “porque os judeus não se dão com os samaritanos”. (DOUGLAS
et al, 1988; TENNEY, 1995)
vital de sua economia. Essa influência econômica se dá a posição geográfica de Jerusalém, que
era rota de passagem comercial no império. Jeremias (1983, p. 75-76) faz a seguinte descrição:
Voltemos nosso olhar para a própria cidade. Sua posição central salta aos
olhos. Já na época, causava forte impressão aos escritores. Jerusalém situa-se
bem no meio da Judéia 1S9. Siloé — bem entendido pars pro toto, é, digamos,
para Jerusalém, o ponto central de todo Israel 19°. Mais ainda: Jerusalém é o
centro do mundo habitado 191, o ponto central da terra inteira 192. Devido a
sua localização, a cidade é designada como umbigo do mundo 193; os pagãos
e Satanás subirão até a superfície da terra (Ap 20, 9). Jubileus VIII 19 enfatiza
a expressão referente à montanha de Sião, chamando-a de “o umbigo da terra’.
Além de sua posição, a cidade beneficiava-se de relações marítimas fáceis
pelos portos de Ascalon, Jafa, Gaza e Acra. Um ponto de particular
importância: Jerusalém situa-se a igual distância de todos esses portos. Ocupa,
portanto, uma posição central em relação a eles, como bem observa o Pseudo-
Aristeu, § 115.
Sendo assim, o comércio se torna vital nas relações dessa cidade. Esse aspecto se une
fortemente com outro aspecto que comandava as relações da cidade – a relgião. O centro
religioso judaico era Jerusalém. Isso se deve ao fato de estar localizado o templo, o centro da
presença de Deus de acordo com a concepção judaica. Sendo assim, a maioria das atividades
religiosas tinham seu foco em Jerusalém. As festas eram comemoradas lá. O próprio contexto
da perícope se dá próximo as celebrações da Páscoa, a principal festa religiosa dos judeus. É
nessa mescla econômica e religiosa que se dá a pano de fundo social da cidade de Jerusalém.
(JEREMIAS, 1983)
2.2.3 Cultural
agregador tanto de opositores quanto aliados de Herodes. Por isso, Jesus toca em um ponto
central religioso do judeu. (KENNER, 2004)
A linguagem que Jesus usa nos versículos 4 e 5 eram comuns aos ouvidos de um judeus.
“Falsos messias eram comuns e seguidamente atraíam um grupo significativo de seguidores
judeus na Palestina, como Bar Kochba, mais tarde, a quem o rabi Akiba saudou como o messias
por volta do ano 130.” (KENNER, 2004, p.178). Além disso, a ideia de um fim era
frequentemente retratada por antigos mestres da profecia judaica. Eles costumeiramente
tratavam como uma batalha final ou como dores de parto. Contudo eles estavam intimamente
ligados apenas a sinais do fim. Jesus diferentemente introduz esse conceito como características
normais da vida até o fim. (KENNER, 2004)
Richards (2008) propõe que no sermão profético de Jesus ele está apresentando os sinais
da perseguição em três núcleos sociais basilares de qualquer sociedade: a comunidade local, a
ampla sociedade em níveis nacionais e a família. Na comunidade local judaica era comum os
casos serem julgados por anciãos. Novamente Kenner (2004) aponta elementos do significado
disso para os ouvidos judeus:
Por fim, o último âmbito seria os próprios familiares. Esse é um dos elementos mais
significativos para qualquer leitor e principalmente em um contexto judeu. A rejeição de um
familiar, principalmente de um patriarca, era considerada uma desonra. Isso decorre da
importância que a família tem para o contexto palestino. Era muito comum famílias com muitos
membros, havia uma crescente felicidade no nascimento de um homem devido a expectativa
messiânica, quando ocorria um falecimento a tristeza era amplamente manifestada através de
jejum e rasgar veste. Fora isso, todos as atitudes de um membro deveriam estar sujeitas a
35
aprovação de seu patriarca. A cultura oriental envolve muita questão de submissão do filho
enquanto o pai vive. Bailey (1985) ao comentar sobre o costume de submissão ao patriarca
mostra que isso ocorre até os dias de hoje. Ele diz que é natural na cultura do oriente médio um
homem casado de 40 anos pedir autorização para seu pai para fazer viagens internacionais,
fechar negócios, mudar de emprego etc. É comum nessa cultura que enquanto o pai vive ele
exerce autoridade sobre o filho. Dessa forma, incitar um contra o outro era escândalo para os
ouvidos daquela época. (BAILEY, 1985; GUNDRY, 1987; KENNER, 2004; RICHARDS,
1994)
Dessa forma, o intuito de analisar o contexto literário é dizer o porquê essa passagem
está dizendo isso. O que o autor quis dizer com essas palavras dentro de um contexto histórico
e literário. Por que essa passagem está exatamente aqui? Todas essas perguntas serão
respondidas analisando os seguintes pontos: Gênero literário, natureza literária, contexto
remoto e contexto imediato.
Tomando como base essa definição, podemos classificar o texto de Marcos como
pertencente ao gênero narrativo. De acordo com Walter C. Kaiser Jr:
36
John Dury (1997) ainda acrescenta que há uma especificação quanto ao gênero literário.
Para ele, Marcos de fato se constitui como uma narrativa, entretanto, é mais correto classificá-
lo dentro de um dos tipos de gênero narrativo, que nesse caso é o conto. Esse tipo narrativo tem
o intuito de prender o leitor na dinamicidade narrativa e ao mesmo tempo tem o intuito de
apresentar um herói. Elwell e Yarbrough (2002) também concordam que Marcos seja um conto
longo e que ele é dinâmico em sua narrativa. Sendo assim, podemos classificar Marcos como
um conto narrativo. Vale ressaltar que essa classificação não despreza a canonicidade deste
livro, apenas enxerga no aspecto mais amplo as estruturas literárias do livro. (DURY,1997;
ELWELL; YARBROUGH, 2002)
37
Isto posto, vale destacar duas características literárias muito empregadas por Marcos.
De acordo com Edwards (2018, p.37-38) Marcos tem uma narrativa mais breve e compacta,
38
contudo, suas histórias quando contadas são bem detalhadas. Há cerca de 1270 palavras
diferentes em seu evangelho. O vocabulário de Marcos é comum e simples o que combina com
a dinamicidade da narrativa. Constantemente, Marcos emprega expressões gregas tais como kaí
(trad. “e”); euthys (trad. “imediatamente”); palin (trad. “de novo”) dão a dinamicidade na
narrativa para enfatizar as ações de Jesus, dando menos espaço a descrições de cenários e mais
ênfase nos que está acontecendo com as personagens, destacando a vivacidade é uma marca
literária desse texto. Marcos emprega fortemente a técnica de sanduíche que nada mais é do que
interrompe com frequência uma história ou perícope ao inserir ali uma segunda história sem
qualquer relação com a primeira (p.ex. Capítulo 5 e narrativa da cura da mulher com hemorragia
e a filha de Jairo que se intercalam). Por fim, a forte utilização do recurso retórico da ironia. O
uso dessa técnica é importante para esse segundo evangelho, pois coloca Jesus como mestre
que desafia, quebra estereótipos e até mesmo confunde. Principalmente, quando Jesus era
colocado diante de um embate entre ele e os fariseus. (EDWARDS, 2018; HENDRIKSEN,
2014)
Além de possuir narrativas, Marcos insere outros subgêneros para compor sua obra
como p.ex. as parábolas e sermões. A passagem de Marcos 13, encontra-se na forma de uma
resposta-sermão. Isso se dá no fato do sermão de Jesus ter origem na pergunta dos discípulos
sobre quando o fato por ele profetizado aconteceria. Sendo assim, a perícope encontra-se na
forma de um sermão profético, pois a partir da questão Jesus ensina seus discípulos e os adverte
sobre os acontecimentos que viriam.
Segue a estrutura dos blocos do livro elaborada por este autor e comparada com as
estruturas de Robert H. Gundry (1987), Walter A. Elwell e Robert W. Yarbrough (2002), Bíblia
de Genebra (2009), Carson, Moo e Morris (2014) e James Edwards (2018) para a melhor
compreensão da localidade da passagem: I. Introdução: Testemunhos de que Jesus é o Messias
(1.1-13); II. Ministério na Galileia e arredores (1.14-9.50); III. Ministério na Judeia (10.1-
16.20).
Tendo em vista esse esboço dos três grandes blocos de Marcos, percebe-se que o texto
de Marcos 13. 3-13 localiza-se dentro do bloco que narra o ministério de Jesus na Judeia. O
primeiro bloco é mais curto e tem o propósito imediato de apresentar quem é Jesus validado
por três testemunhos de sua posição como o Messias, Filho de Deus: o testemunho dado através
da profecia do Antigo Testamento, o testemunho dado no batismo de Jesus, onde o próprio
Deus apresenta ele como seu Filho e temos a presença das três pessoas da Trindade na cena e
por fim, o testemunho de Jesus ao resistir a tentação no deserto. Em seguida, está o maior bloco
do livro de Marcos, que narra o ministério de Jesus na Galiléia. Nesse bloco é o grosso do
ministério de Jesus em ensinar, curar enfermos e expulsar demônios. Esse ministério não se
restringe apenas a Judeus, mas se estende também aos gentios. Há nesse tempo também os
diversos embates que Jesus tem com seus opositores e cada vez mais aumentar o crescente ódio
sobre a sua pessoa. Por fim, os embates e todo progresso do ministério levam ao clímax tanto
narrativo quanto da história de Jesus. Em Jerusalém, os embates se intensificam a ponto de levá-
lo a ser crucificado.
O terceiro bloco pode ser dividido em duas partes: a atividade de Jesus antes de
Jerusalém (Mc.10) e a atividade de Jesus em Jerusalém (Mc. 11-16). A perícope se encontra
dentro da atividade de Jesus em Jerusalém. Nesse ponto, já foram apresentados: (i) Entrada
triunfal em Jerusalém (11.1-11); (ii.) O templo estéril (11.12-26); (iii) Debates no templo
(11.27-12.44). De maneira geral, até o capítulo 13 as narrativas relatadas por Marcos terão sua
ambientação fortemente ligada ao Templo.
Além do contexto vertical, ou seja, dentro do próprio livro, Fee (2011) atenta para se
observar o contexto horizontal, ou seja, ver se a passagem apresenta elementos paralelos em
outros livros, principalmente sua correspondência nos sinóticos. Hendriksen (2014, p.551) faz
uma importante comparação das perícopes que tratam dessa passagem de maneira muito
semelhante, mas de pontos de vistas diferentes:
40
Mateus nos chama diversas vezes a atenção para observar que a linguagem que Jesus
utiliza em sua profecia já foi utilizada anteriormente por outro profeta, nesse caso Daniel. A
utilização do termo abominável da desolação é encontrada em Daniel 9.27; 11.31; 12.11. Isso
significa que o que está sendo profetizado por Jesus está ampliando elementos que foram
outrora profetizados por Daniel. Posteriormente, essas duas profecias – de Jesus e Daniel –
serão expostas em Apocalipse demonstrando elementos já cumpridos e elementos que ainda
não forma concretizados.
No que se refere a contexto imediato, Batista (2005, p. 69) diz que este “busca a relação
existente entre a passagem escolhida e os textos que antecedem e seguem.” Conforme
mencionado anteriormente no Contexto Remoto, a perícope de Marcos 13.3-13 situa-se no
terceiro bloco do livro, onde é tratado do ministério final de Jesus, na região da Judeia,
especificamente em Jerusalém. (cf. Esboço do livro e Contexto Remoto). É importante nesse
momento responder as seguintes perguntas: Qual é o propósito deste parágrafo? Com base no
que o autor disse até aqui, por que ele agora diz isto?; O material que segue o texto é conectado
41
diretamente a ele ou ajuda a explica-lo? Por que essa perícope se encontra nesse local e que
efeitos ela teria se não estivesse ali?
Após a perícope de Mc 13.3-13, que trata diretamente do princípio das dores. Tem-se
mais elementos proféticos sendo desdobrados, demonstrando a intensificação dos sinais e a
grande tribulação até a vinda do Filho do Homem. O capítulo conclui com a exortação para os
discípulos estarem vigilantes. Em seguida, no capítulo 14 começa os preparativos para Páscoa
e Marcos apresenta os elementos preliminares para a paixão, dando início ao relato que
culminará na morte e ressureição.
Diante dessa exposição, pode-se concluir que a perícope de Mc.3-13 tem o propósito de
dar valor escatológico a Paixão. Além disso, dá significado a discussão que vinha sendo exposta
sobre o templo de Jerusalém. Por fim, tem como propósito advertir e alertar os discípulos sobre
o que eles enfrentariam e ao mesmo tempo dar valor escatológico ao que está por vir, ou seja,
os acontecimentos da Paixão e seus desdobramentos.
42
Essa perícope encontra-se em um local importante, pois, seguindo a linha de todo o livro
onde se tem por propósito exortar os crentes de Roma a se prepararem e estarem cientes das
dificuldades de seguir a Cristo, essa perícope se torna um importante aviso e advertência para
os seguidores de Cristo. Além disso, direciona a esperança escatológica corretamente. Sem a
presença deste texto, ter-se-ia um hiato e não teríamos tanto implicações para o templo e nem
advertências para vigilância. Essa perícope é fundamental pois encerra os debates sobre as
questões religiosas dos judeus, apontando para sua esterilidade e ao mesmo tempo introduzindo
os leitores para os acontecimentos ligados a Paixão de Cristo.
Neste momento, faz-se importante dedicar uma análise aos aspectos textuais, portanto
será abordado a delimitação da passagem, será apresentado o texto original, a tradução realizada
com base nesse texto original, a crítica textual baseada no aparato crítico do texto em estudo e
a diagramação dessa passagem.
Delimitar a passagem é “[...] se certificar de que a passagem que você escolheu para a
exegese é uma unidade genuína e completa”. (STUART; FEE, 2008, p. 207). E, também,
segundo Wegner (2001, p.84) é “[...] o estabelecimento da exata extensão do texto como
unidade literária autônoma, ou seja, o estabelecimento dos limites do texto de uma passagem a
ser interpretada.” Para realizar esse estabelecimento dos limites do texto é necessário analisar
na Língua Fonte do texto grego as construções que estabelecem uma unidade autônoma da
passagem. Dessa forma, essa atividade de delimitação possuí os seguintes critérios: coerência
interna (avaliar a unidade autônoma), os limites estabelecidos nas versões gregas (NA28 e
GNT4); as mudanças de gêneros literário, de cronologia, de topografia, de personagem, de
conteúdo geral e de linguagem que ocorrem no decorrer das perícopes; e a natureza das
conjunções.
3
Καὶ καθημένου αὐτοῦ εἰς τὸ Ὄρος τῶν Ἐλαιῶν κατέναντι τοῦ ἱεροῦ
ἐπηρώτα αὐτὸν κατʼ ἰδίαν Πέτρος καὶ Ἰάκωβος καὶ Ἰωάννης καὶ Ἀνδρέας· 4
Εἰπὸν ἡμῖν πότε ταῦτα ἔσται, καὶ τί τὸ σημεῖον ὅταν μέλλῃ ταῦτα
συντελεῖσθαι πάντα. 5 ὁ δὲ Ἰησοῦς ἤρξατο λέγειν αὐτοῖς· Βλέπετε μή τις ὑμᾶς
πλανήσῃ· 6 πολλοὶ ἐλεύσονται ἐπὶ τῷ ὀνόματί μου λέγοντες ὅτι Ἐγώ εἰμι, καὶ
πολλοὺς πλανήσουσιν. 7 ὅταν δὲ ἀκούσητε πολέμους καὶ ἀκοὰς πολέμων, μὴ
θροεῖσθε· δεῖ γενέσθαι, ἀλλʼ οὔπω τὸ τέλος. 8
ἐγερθήσεται γὰρ ἔθνος ἐπʼ
ἔθνος καὶ βασιλεία ἐπὶ βασιλείαν, ἔσονται σεισμοὶ κατὰ τόπους, ἔσονται
λιμοί· ἀρχὴ ὠδίνων ταῦτα. 9
βλέπετε δὲ ὑμεῖς ἑαυτούς· παραδώσουσιν ὑμᾶς
εἰς συνέδρια καὶ εἰς συναγωγὰς δαρήσεσθε καὶ ἐπὶ ἡγεμόνων καὶ βασιλέων
σταθήσεσθε ἕνεκεν ἐμοῦ εἰς μαρτύριον αὐτοῖς. 10
καὶ εἰς πάντα τὰ ἔθνη
πρῶτον δεῖ κηρυχθῆναι τὸ εὐαγγέλιον. 11
καὶ ὅταν ἄγωσιν ὑμᾶς
44
Observação: Palavras entre colchetes ([ ]) não estão presentes no texto original, foram
acrescentadas apenas para dar fluidez ao texto da tradução literal
Marcos 13.3: E ele sentou-se sobre o Monte das Oliveiras ante a face do templo; Pedro e Tiago
e João e André perguntava [para] ele em particular:
Marcos 13.4: Dize para nós quando será estes7, e qual o sinal [de] quando acontecerá [e]
cumprir todas [elas]?
Marcos 13.5: Então, Jesus começou [a] falar para eles: Entenda [para que] alguém não desvie
vós;
Marcos 13.6: Muitos farão vir em meu nome dizendo que sou eu, e muitos desviarão.
Marcos 13.7: Quando, porém, ouvirdes [falar] de guerras e rumores de guerra, não lamentes,
[pois] necessita acontecer, mas ainda não [é] o fim.
Marcos 13.8: Porque levantará nação contra nação e reino contra reino, acontecerão terremotos
sobre lugares, terão fome; este [é] o princípio das dores de parto.
Marcos 13.9: Entenda, contudo, vos entregarão nas mãos para o sinédrio e na sinagoga sereis
açoitados e vos farão ficar de pé diante de governadores e reis para o testemunho deles.
Marcos 13.11: E quando trazerem vocês os entregando, não ficais ansiosos [com o] que dizer,
mas o que será dado a vocês não será por causa de vós, os que falam, mas o Espírito Santo.
Marcos 13.12: E irmão entregará irmão para a morte, pai e filho rebelar-se-ão contra os
progenitores e matarão ele
Marcos 13.13: E sereis odiados por todos por causa do meu nome, mas [o que] permanecer
até o fim será salvo.
Marcos 13.3: E Jesus sentou-se no Monte das Oliveiras de frente para o templo. Então, Pedro,
Tiago, João e André perguntavam em particular para ele:
Marcos 13.4: Diga para nós, quando acontecerão essas coisas e qual o sinal de quando elas
acontecerão e se cumprirão
Marcos 13.5: Então, Jesus começou a falar para eles: Entenda para que ninguém engane vocês;
Marcos 13.6: Muitos farão vir em meu nome dizendo que sou eu, e muitos desviarão por causa
disso.
46
Marcos 13.7: Quando, porém, ouvirdes falar de guerras e rumores de guerra, não lamentes nem
se desespere, pois isso precisa acontecer, contudo isto ainda não é o fim.
Marcos 13.8: Porque levantará nação contra nação e reino contra reino, acontecerão terremotos
sobre vários lugares, terão fome; este é o princípio das dores de parto.
Marcos 13.9: Portanto, entenda o seguinte: eles entregarão vocês nas mãos do sinédrio e na
sinagoga vocês serão açoitados e farão ficar diante de governadores e reis para servir de
exemplo para o testemunho deles.
Marcos 13.11: E quando vocês forem entregues as autoridades, não fiquem ansiosos com o que
dizer, mas prestem atenção com o que será dado a vocês para dizer. Isto não é por causa do que
vocês dizem, mas por causa do Espírito Santo que concederá a palavra a vocês.
Marcos 13.12: E irmão entregará irmão para a morte, pai e filho rebelar-se-ão contra os
progenitores e matarão ele.
Marcos 13.13: E vocês serão odiados por todos por causa do meu nome, mas o que permanecer
até o fim será salvo.
Dessa forma, a crítica textual buscará chegar, com maior exatidão possível, ao texto
original. Para isso, usaremos duas tarefas para realizar esse trabalho: a) constatar as diferenças
entre os diversos manuscritos que contêm cópias do texto da exegese; b) avaliar qual das
variantes poderia corresponder com maior probabilidade ao texto originalmente escrito pelo
autor bíblico. (WEGNER, 1998). Para realizá-la, serão utilizadas as seguintes referências:
47
Aland e Aland (2010, p. xiiixxxvi, 913-916), GNT (2008, p. v-xlii; 354-355, Paroschi (1993) e
Wegner (1998, cap. 3).
Diante do analisado, O Novo Testamento Grego (GNT, 2008) apresenta quatro variantes
para a leitura que considera original na passagem de Mc 13.8. A variante é seguida de uma série
de testemunhas e, sinalizando o início de uma nova variante para a leitura proposta, ocorre o
uso de dois traços transversais. Veja a tabela abaixo:
8
Leitura: {B} ἔσονται λιμοί
Variante 1: καὶ λιμοί
Variante 2: καὶ λιμοὶ καὶ ταραχαί
Variante 3: καὶ ἔσονται λιμοὶ καὶ ταραχαί
Variante 4: καὶ ἔσονται λιμοὶ καὶ λοιμοὶ καὶ ταραχαί
Diante disso, em todos os versículos optou-se pela leitura proposta pelos editores da
GNT (2008, p.354-355) por se adequar melhor aos critérios internos e externos da Crítica
Textual. Para conferir análise detalhada da crítica textual cf. Apêndice A.
2.4.5 Diagramação
Nesse momento, compete apresentar a diagramação. De acordo com Fee (2008, p.238)
esse processo visa avaliar as estruturas do parágrafo e o fluxo do argumento do autor bíblico.
O objetivo dessa estruturação é apresentar as relações sintáticas das várias palavras e grupos de
palavras a fim de buscar a melhor interpretação do texto bíblico. Para compor o diagrama de
Marcos 13.3-13 foram feitas: 1) Análise gramatical das palavras; 2) Análise semântica das
palavras e 3) Tradução. Foram utilizados como material de apoio o software Logos 8 (2020),
as gramáticas de Rega (2014) e de Wallace (2009). A diagramação encontra-se detalhadamente
exposta na seção de Apêndices (cf. Apêndice C - Diagramação), juntamente com a análise
morfossintática realizada (cf. Apêndice B- Análise Morfossintática).
2.5.1 Morfossintático
2.5.2 Semântico
p.274). O estudo detalhado está exposto na seção de Apêndices (Cf. Apêndice D – Análise
Semântica)
O texto de Marcos 13, Mateus 24 e Lucas 21, que são as passagens paralelas que
trabalham o mesmo tema de óticas diferentes, contudo tendo um ponto em comum – a
semelhança e referências diretas com Daniel 7 a 12. As passagens de Daniel abaixo ilustram de
a semelhança do discurso de Jesus com o texto do profeta:
Mediante isso, Beale (2018, p.187-188) expõe que Marcos 13 e os textos paralelos se baseiam
em uma exposição coerente sobre Daniel 7-12. Parece ser de Daniel que Jesus extrai que o
princípio das dores indica um período de oposição a Deus na forma tanto de apostasia quando
de perseguição. Tudo indica que o conceito de Jesus de impiedade tem sua clara referência
nesse texto de Daniel.
Tendo a “hora escatológica” de Daniel como base para o que Jesus está proferindo de
tribulação como base, que indica que o sofrimento e tribulação é inaugurado com o seu
sofrimento e, consequentemente, com o sofrimento dos apóstolos Marcos 13 e João 15.18-
16.11 nos oferece um excelente comparativo entre a expectativa futura e o cumprimento dessa
predição já na vida dos apóstolos. A tabela abaixo expressa essa comparação entre as duas
passagens8:
13.12: “Um irmão entregará à morte seu 16.2 “Quem vos matar pensará que está
irmão; e um pai, seu filho. Filhos se prestando serviço a Deus”.
levantarão contra os pais e os matarão.”
Dentro do apresentado por essa comparação entro os textos de Marcos e João, podemos
perceber a presença do aspecto profético denominado de Já e ainda não. Os paralelos apontam
para ideia de que Jesus estava avisando que a era escatológica já estava inaugurada a partir de
sua crucificação. Esse seria como dito em Mc. 13.8 sobre ser o princípio das dores. O tema da
perseguição daqueles que fazem parte da aliança, perpassa e progride para aqueles que são
inseridos na aliança através de Cristo.
Outro aspecto que chama atenção neste texto está em Mc. 13.11 quando Jesus exorta os
discípulos a dizerem somente o que lhes for dado através do Espírito Santo. Essa ideia é presente
em toda a Escritura. Êx. 4.12 nos mostra que mesmo Moisés alegando dificuldades na fala,
Deus mostra que ele dará a Moisés tanto o que dizer quanto o como dizer. Nm 23.5 mostra
Balaão incapaz de profetizar e maldizer Israel, pois era Deus quem colocava palavras de benção
na sua boca. Em Isaías vemos que Deus purifica os lábios impuros do profeta. Em Atos 6 e 7
vemos Deus enchendo Estevão com seu Espírito para proclamar a mensagem do evangelho
52
diante do Sinédrio. Em 1Co 2, Paulo diz que não utilizou de linguagem nem sabedoria humana,
mas do poder do evangelho para pregar naquela cidade. A ideia de Deus capacitar os seus
mensageiros perpassa toda a Escritura e Jesus utiliza dela para exortar os apóstolos.
3 ARGUMENTAÇÃO TEOLÓGICA
3.1 INTRODUÇÃO
Segue-se agora para a Argumentação Teológica que se encontra como uma das
principais tarefas da atividade exegética. O objetivo básico da argumentação teológica é
demonstrar a intenção autoral ao escrever sua obra, expondo como a passagem apresenta
elementos teológicos. A seguir será apresentada, com base na pesquisa previamente realizada,
que a passagem de Marcos 13.3-13 tem uma função muito importante na progressividade da
revelação por apresentar uma advertência clara de nosso Senhor Jesus Cristo para o início do
sofrimento escatológico, dos quais os apóstolos formam os primeiros e se estende o
cumprimento profético a Igreja no decorrer dos anos. Para apresentação desse ponto serão
expostos os seguintes pontos: (a) Propósito controlador do autor do documento (b) Análise
histórico-gramatical e teológica (c) Conclusões da Argumentação, tendo por base como
referencial teológico Anthony Hoekema, A Bíblia e o Futuro (2001); G.K Beale, Manual do
Antigo no Novo Testamento (2013) e Teologia Bíblica do Novo Testamento (2018); J.R
Edwards, O comentário de Marcos (2018) e R. T. France, The Gospel of Mark – The Greek
Commentary on the Greek Text (2002)
53
relatos de Pedro, pode-se perceber na passagem uma apresentação dos relatos de acordo com a
mentalidade petrina, ou seja, os pontos de vista vão ser de acordo com a memória e interpretação
de Pedro e dos ensinamentos que ele recebeu diretamente de Cristo. Isso é notável na perícope,
pois a pergunta é feita por quatro discípulos – Pedro, Tiago, João e André- dos quais Pedro se
torna o porta voz e a resposta em todo momento é direcionada a eles. Sendo assim, é possível
que esse discurso escatológico de Jesus será apresentado do ponto fidedigno da visão de Pedro.
(Cf. Contexto Geral)
Além da questão da autoria e das fontes, deve-se considerar a ocasião da escrita deste
evangelho. A ocasião está totalmente ligada a cidade de Roma, uma vez que defende-se que
Marcos e Pedro estão em Roma no momento da escrita e que o destinatário primário eram os
crentes de Roma que necessitavam de um relato fiel e organizado partindo de Pedro para
sustentar a sua crença em uma cidade que conhecia pouco das tradições judaicas. Sendo assim,
o propósito deste evangelho, de maneira geral, é mostrar que Jesus é o Filho de Deus e com
isso apresentar tanto que ele é o verdadeiro Deus, no qual sua natureza divina se manifestará
durante todo o livro; mas também é o servo sofredor, o qual mostra que seus seguidores devem
trilhar com ele o mesmo caminho percorrido por ele de sofrimento. A dinâmica do livro de
Marcos vai sempre estar entre o Rei e a Cruz. (Cf. Ocasião e Propósito)
Uma vez que o tema do sofrimento tanto de Cristo quanto de seus seguidores é um tema
primário deste evangelho, é importante destacar que o tema canônico da passagem está ligado
ao sofrimento dos seguidores de Cristo. Sendo assim, a passagem apresenta diversos paralelos
com outros textos das Escrituras. Em sua essência, o discurso de Jesus tem clara alusão a
mensagem ao livro de Daniel. De acordo com Beale (2018, p.187-188) Marcos 13 e os textos
paralelos se baseiam em uma exposição coerente sobre Daniel 7-12. Parece ser de Daniel que
Jesus extrai que o princípio das dores indica um período de oposição a Deus na forma tanto de
apostasia quando de perseguição. Tudo indica que o conceito de Jesus de impiedade tem sua
clara referência nesse texto de Daniel. Ademais, a passagem de Marcos 13 e seus paralelos em
Mateus 24 e Lucas 21, tem mais desdobramentos e desenvolvimentos em outras partes da
Escritura tais como os cumprimentos de parte dessas profecias em Atos, os ensinamentos
escatológicos de Paulo aos Tessalonicenses, a carta de 1 João e o Apocalipse de João. Todos
esses desdobramentos apresentarão uma intertextualidade entre Daniel, o discurso escatológico
dos sinótico, a escatologia paulina e escatologia de João (nas suas cartas, evangelhos e
Apocalipse)
Entretanto, é necessário que se compreenda que embora o propósito da passagem seja
escatológico não significa que ele é apocalítico, no sentido literário. France (2002, p.498-499)
55
argumenta que todo o discurso de Jesus está pautado na pergunta dos discípulos sobre quando
aconteceriam todas estas coisas, ou seja, a destruição do templo que é profetizada na perícope
anterior em Mc.13.1-2. De acordo com France o que deve direcionar a interpretação dessa
passagem é a tentativa de elucidação do pronunciamento de Jesus dos discípulos através da
pergunta e essa resposta apresentará “o fim da velha ordem”, simbolicamente representada pelo
templo de Jerusalém e pela religiosidade morta dos judeus. Sendo assim, France (2002, p.499)
afirma que9:
Nessa medida, tem características apocalípticas no conteúdo, mesmo que não
na forma literária, e seu uso de linguagem familiar de partes proféticas e
apocalípticas do AT é apropriado para essa orientação. Mas não é um
'apocalipse', e rotulá-lo como tal é arriscar seriamente a desviar o foco de um
discurso que se preocupa mais em amortecer a excitação escatológica
prematura do que em encorajá-la, e cujo foco está tanto na necessidade
pastoral para preparar discípulos para tempos difíceis à frente, pois é para
explicar o curso futuro dos eventos. Um discurso que é construído
principalmente em torno de imperativos de segunda pessoa dirigidos aos
discípulos não se parece com o que é normalmente entendido por
'apocalíptico'.
Diante disso, deve-se entender que a passagem não apresenta uma característica comum de
literaturas apocalípticas e que Jesus tem um proposito claro e objetivo ao realizar seu discurso.
O propósito controlador, portanto, não pode ser meramente uma profecia que anuncia
acontecimentos futuros. Tanto Beale (2018) quanto France (2002) entendem que o foco da
passagem está em uma instrução clara de Cristo em apresentar aos seus discípulos que eles
enfrentariam tempos difíceis em breve e exortá-los a suportar esses tempo tendo em vista o
sofrimento que ele enfrentaria logo em seguida descrito em Marcos 14-16.
Considerando o que foi exposto, pode-se afirmar que o princípio controlador do autor
da passagem é a orientação de Jesus quanto as coisas que sucederiam em breve, tendo em vista
amortecer a excitação teológica dos discípulos e encorajá-los a suportar a perseguição
escatológica, a qual eles seriam os primeiros a passar, por que ele passaria primeiro e
inauguraria a nova era. Em suma, o tema da passagem é: Jesus instrui os discípulos sobre o
princípio do sofrimento escatológico. Será esse norteador que guiará a análise histórico-
gramatical e teológica da passagem.
9Para traduzir a citação foi empregado o uso de tradutor eletrônico, feito as devidas correções de
coesão e coerência.
56
Marcos 13.3: Καὶ καθημένου αὐτοῦ εἰς τὸ Ὄρος τῶν Ἐλαιῶν κατέναντι τοῦ ἱεροῦ ἐπηρώτα
αὐτὸν κατʼ ἰδίαν Πέτρος καὶ Ἰάκωβος καὶ Ἰωάννης καὶ Ἀνδρέας· (E ele sentou-se sobre o Monte
das Oliveiras ante a face do templo; Pedro e Tiago e João e André perguntava [para] ele em
particular:)
O versículo 3 começa com uma conjunção aditiva muito comum nas narrativas de
Marcos. A conjunção kαὶ (e, então) faz uma conexão lógica com as sentenças anteriores. Essas
57
sentenças são os versículos expostos anteriormente que trazem a profecia de Jesus em relação
a finitude do Templo de Jerusalém.
1
Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um de seus discípulos: Mestre! Que
pedras, que construções! 2Mas Jesus lhe disse: Vês estas grandes
construções? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derribada.
(Marcos 13.1-2)
A conexão gramatical da conjunção com os dois primeiros versículos do capítulo auxilia a
compreensão exegética da passagem, pois apresenta a situação inicial que leva a pergunta dos
discípulos e o discurso de Jesus como resposta. Considerando isso, percebe-se a continuidade
apresentada no fluxo narrativo com o emprego do particípio verbal καθημένου, essa expressão
assume um valor de gerúndio que indica continuidade na narrativa. Sendo assim, a narrativa
expressa a ideia de “e assentando-se”, ou seja, demonstra a continuidade da saída de Jesus e
dos discípulos do Templo e de Jerusalém.
Edwards (2018, p.482) também concorda com esse ponto de vista e acrescenta que
Por fim, vemos que diante do que foi proferido nos dois versículos anteriores, alguns
discípulos têm dúvidas sobre quando a profecia de Jesus aconteceria e quando seria o fim. A
presença de Pedro, Tiago, João e André sugere que a uma interlocução entre eles e Jesus adiante.
O verbo ἐπηρώτα sugere que a pergunta foi realizada por Pedro em nome dos outros três.
Marcos 13.4: Εἰπὸν ἡμῖν πότε ταῦτα ἔσται, καὶ τί τὸ σημεῖον ὅταν μέλλῃ ταῦτα συντελεῖσθαι
πάντα. (Dize para nós quando será estes, e qual o sinal [de] quando acontecerá [e] cumprir todas
[elas]?)
A pergunta se inicia com o verbo Εἰπὸν que está no imperativo, contudo, não
necessariamente indica que os discípulos estão dando uma ordem para Jesus, mas um pedido
para saber quando as cosias mencionadas por Jesus acontecerão. Aqui não há uma dicotomia
na pergunta dos discípulos, em que a primeira parte está se referindo a destruição do Templo e
a segunda de um acontecimento escatológico. Na verdade, ele sugere que os discípulos
compreendiam que os dois acontecimentos eram coligados. Sugerir que a primeira parte da
pergunta é menos escatológica que a segunda é basear-se na inferência de que Marcos copiou
e teve por base os relatos de Mateus, o que não é adotado nessa análise (Cf. Fontes). A expressão
πότε ταῦτα sugere se referir a ταῦτα da segunda metade da pergunta, ou seja, essas coisas da
qual os discípulos estão perguntando é a mesma coisa mencionada no v.2 (EDWARDS, 2018;
FRANCE, 2002; HENDRIKSEN, 2014).
apresenta denotações de sinais que indicavam a vontade dos deuses. Esses sinais poderiam ser
tanto de acontecimentos, quantos de presságios acústicos ou visuais. No AT grego, essa palavra
ocorre umas 125 vezes e na maioria de suas ocorrências ela está ligada a ideia de maravilhas.
No NT a palavra apresenta diversos usos para indicar uma marca ou sinal. Na expressão do AT
que Lucas utiliza m 2.12, o sinal demonstra a veracidade da mensagem. A percepção de certos
detalhes tem o propósito de confirmação. O sêmeíon dado aos pastores os coloca em movimento
(v. 15) de maneira que eles próprios, implicitamente, tornam-se um sinal para Maria. Em Mt
26.48, Judas usa o beijo como um sinal para indicar quem os guardas devem prender. Em Mt
24.3 e Mc. 13.4 os discípulos pedem um sinal de elementos escatológicos. Este não precisa ser
um sinal milagroso ou apocalíptico. Por si mesmo, ele simplesmente torna a parousia
reconhecível. Dessa forma, pode-se concluir que a palavra sêmeíon tem aqui a ideia de um sinal
que indique o cumprimento de uma situação escatológica. (Cf. Apêndice D)
Marcos 13.5: ὁ δὲ Ἰησοῦς ἤρξατο λέγειν αὐτοῖς· Βλέπετε μή τις ὑμᾶς πλανήσῃ· (Então, Jesus
começou [a] falar para eles: Entenda [para que] alguém não desvie vós;)
Novamente, temos uma conjunção que marca uma conexão entre termos anteriores e
posteriores. A conjunção δὲ funciona como uma conjunção adverbial de circunstância, isso
significa que ela indica na oração que devido a pergunta dos discípulos, Jesus começa a falar.
A expressão ἤρξατο λέγειν é uma locução verbal, na qual é composta de um indicativo e um
60
infinitivo. A combinação do verbo infinitivo e aoristo sugere uma ação que ocorre sem exprimir
aspecto temporal, ou seja, marca o acontecimento de uma ação sem exprimir a duração e quando
ocorreu. Rega (2014) sugere que esse aoristo seja ingressivo, pois foca no momento inicial de
uma certa ação ou estado. Portanto, significa que a ação enfatizada por Marcos, que é o discurso
de Jesus, teve seu momento inicial ali, logo após a pergunta dos discípulos.
Tendo sido introduzido o discurso, temos as primeiras informações passadas por Jesus.
A primeira palavra é o imperativo Βλέπετε, traduzido como vede, veja, entenda. Seu sentido
mais comum é atrelado ao ato de ver, contudo, na passagem Jesus está pedindo que eles tenham
um olhar atento. Está chamando-os a terem atenção no que será dito em seguida (Cf. Análise
Semântica – Apêndice D). Esse imperativo se repetirá outras vezes no decorrer do capítulo (v.
9, 23 e 33). Jesus está orientando os discípulos a terem uma visão correta acerca dos
acontecimentos escatológicos.
A expressão que segue o imperativo μή τις ὑμᾶς πλανήσῃ (alguém não vos desvie)
demonstra uma característica essencial do discurso de Jesus. As admoestações e orientações
que ele passará a seguir tem por propósito fazer com que os discípulos não sejam desviados do
caminho correto. A palavra πλανήσῃ está na forma subjuntiva do aoristo, sugerindo o que Rega
(2014) chama de uma ação pontilear, ou seja, indica apenas a execução de uma ação em
determinado momento sem determinar aspecto temporal para essa ação. Além disso, a palavra
tem como raiz o vocábulo πλαναω e de acordo com Günther (2007) o sentido original de planaõ
(Homero) dá a entender movimento no espaço: no at., “desviar”; no méd. e pass., “desgarrar-
se”, “ser desviado” planè ou planos (que ocorre pela primeira vez nos poetas trágicos) significa
“desviando-se”, “perambulando”, planétés é “vagueador”. Na LXX, a expressão é utilizada para
61
indicar o ato de se fazer alguém perder o seu caminho, por exemplo fazer um cego errar o seu
caminho. No NT, no sentido em que é empregado por Marcos, é indicar o erro de se desviar da
doutrina certa, ou seja, apostasia. Dessa forma, “ser ‘desviado’ por falsos ensinamentos na
forma da filosofia ou de palavras vis, e ser ‘desviado’ para atos específicos de pecado, são
processos que vão de mãos dadas. Isso tudo ocasionado pelos falsos cristos que têm o intuito
de enganar os verdadeiros discípulos. (Cf. Análise Semântica – Apêndice D).
Marcos 13.6: πολλοὶ ἐλεύσονται ἐπὶ τῷ ὀνόματί μου λέγοντες ὅτι Ἐγώ εἰμι, καὶ πολλοὺς
πλανήσουσιν. (Muitos farão vir em meu nome dizendo que sou eu, e muitos desviarão.)
Após indicar o propósito do discurso, Jesus apresenta o primeiro motivo para que
ninguém se desvie: a vinda de falsos messias. O uso do verbo futuro ἐλεύσονται traz um
importante nuance exegética. Primeiro, por estar no futuro do indicativo indica muita certeza
de que essa ação acontecerá em determinado momento, embora não especifique sua duração.
(REGA, 2014). Sendo assim, Jesus está afirmando categoricamente que ação irá acontecer, ou
seja, muitos virão ou farão vir10. A palavra ἐλεύσονται está costumeiramente atrelada a vinda
de elementos escatológicos, tais como a vinda do Reino de Deus, a vinda de Jesus etc. O sentido
básico no NT é “vir” ou “ir”, normalmente com uma referência à vinda do povo ou a eventos
decisivos ou fenômenos naturais, e algumas vezes no sentido de uma aproximação hostil (Lc
14.31). Algumas expressões interessantes com eis são “vir a ter má reputação” (At 19.27),
“voltar a si” (Lc 15.17) e “mudar para outro assunto” (2Co 12.1); também “ir a pior” em Mc
5.26 (eis tó cheíron eltheín) Nos evangelhos sinóticos a palavra pode apresentar significado
especial para atribuir a Vinda de Jesus, vir até Jesus, a vinda do Reino de Deus, a vinda do
Messias. No caso do texto em estudo a palavra não tem um significado especial. (Cf. Apêndice
D)
Considerando que algo será feito vir no futuro, intuitivamente nos leva a perguntar: o
que ou quem será feito vir? A resposta está na expressão ἐπὶ τῷ ὀνόματί (em meu nome). O
nome no contexto oriental, principalmente judaico, era de grande importância e significado.
Costumeiramente, o nome era considerado essência do indivíduo e era extremamente
significativo para indicar quem era a pessoa e até mesmo atributos da pessoa, por exemplo o
nome Jacó, interpretado como enganador. Essa construção judaica foi incorporada no
significado do termo ὀνόμα. No AT é comum o termo “nome” (shem) ser utilizado para indicar
que se está falando no nome de alguém, tais como os profetas faziam. A expressão pode indicar
uma representatividade, que as vezes pode ser uma falsa representatividade. Em Jr 14.14, os
falsos profetas mencionam o nome de Deus, ou falam pretensamente em seu nome, ou apelam
ao seu nome. (Cf. Apêndice D)
No NT, o termo é usado para expressar nome próprio, reputação e na fórmula através
de uma preposição. O nome, a pessoa e a obra de Deus estão inseparavelmente ligadas aos de
Cristo. O nome de Deus relaciona-se com revelação, e, neste sentido, está ligado a “glória”,
expressando assim uma abordagem e um relacionamento específicos. Sendo assim, falar no
nome de Jesus é apresentar a representatividade do próprio Deus. Isso sugere que Jesus esteja
falando não só de mestres que utilizariam seu nome para enganar as pessoas, mas também que
atribuiriam para si o título de messias. France (2002) afirma que esses falsos mestres não
necessariamente viriam para intitular-se ser o próprio Deus encarnado ou ser o próprio Jesus,
pois essa mentalidade no contexto judaico do I séc. era inaceitável.11 Entretanto, eles atribuiriam
para si o título de Messias, ou seja, eles diriam ser o libertador de Israel, principalmente no que
tange ao aspecto político. Essa ideia é utilizada por Mateus, quando ele utiliza a expressão grega
χριστός, que é a forma grega para se intitular o messias, ao invés de utilizar ὀνόματί.
Historicamente essa ideia pode ser comprovada visto que no I séc. diversas insurgências
judaicas tiveram pessoas que atribuíram para si o título messiânico. Nos anos que antecederam
a Revolta Judaica em 66 d.C, houve o surgimento de vários pretendentes messiânico. Na década
de 40, Teudas (que também é mencionado por Gamaliel em At 5.36) vangloriou-se dos vários
sinais, que segundo cita Josefo, “levou muitos a se desviarem”. Outro personagem citado por
Josefo é um egípcio que afirmava ser um profeta e que conseguiu enganar a muitos. De fato,
percebe-se que há um cumprimento já no período apostólico da advertência de Jesus.
(EDWARDS, 2018; FRANCE, 2002)
Marcos 13.7: ὅταν δὲ ἀκούσητε πολέμους καὶ ἀκοὰς πολέμων, μὴ θροεῖσθε· δεῖ γενέσθαι, ἀλλʼ
οὔπω τὸ τέλος. (Quando, porém, ouvirdes [falar] de guerras e rumores de guerra, não lamentes,
[pois] necessita acontecer, mas ainda não [é] o fim.)
Marcos 13.8: ἐγερθήσεται γὰρ ἔθνος ἐπʼ ἔθνος καὶ βασιλεία ἐπὶ βασιλείαν, ἔσονται σεισμοὶ
κατὰ τόπους, ἔσονται λιμοί· ἀρχὴ ὠδίνων ταῦτα. (Porque levantará nação contra nação e reino
11Ver Mt 9.1-8; Mc 2.1-12 e Lc 5.17-26 em que os fariseus na sua dureza de coração abominam Jesus
por realizar um papel que é somente de Deus, que é de perdoar pecados. Isso demonstra que qualquer
pessoa que se apresentasse como o próprio Deus não seria bem aceita.
63
contra reino, acontecerão terremotos sobre lugares, terão fome; este [é] o princípio das dores de
parto.)
O versículo 7 se inicia com uma conjunção temporal ὅταν, que apresenta uma possível
circunstância em determinado tempo. Dessa forma, Jesus está indicando que quando os
acontecimentos que ele falará a seguir acontecerem deve se ter uma determinada postura. A
expressão ἀκούσητε πολέμους καὶ ἀκοὰς πολέμων chama a atenção para possíveis
instabilidades internacionais, as guerras eram indicativas de sinais, contudo a expressão ἀλλʼ
οὔπω τὸ τέλος. (ainda não é o fim) sugere que essas instabilidades não devem ser vistas como
conclusão dos tempos, conforme sugere a palavra τέλος (fim, completude) apresentada na
expressão. (Cf. Apêndice D)
Jesus, ao mostrar que Jesus responde a indagação mostrando negativas do que seria o fim, ou
seja, mostrando o que não era o fim. A seguinte estrutura abaixo ajuda a elucidar a questão12:
O v.8 surge como uma explicação, indicada pela conjunção γὰρ (porque), em que Jesus
elenca mais algumas situações de desastres tais como fomes, os embates entre as nações e
desastres naturais, tais como terremotos. Jesus quer mostrar que todos esses sinais são apenas
um prenúncio da grande tribulação.
Nesse ponto é necessário ponderar sobre a variante textual que acrescenta a expressão
καὶ ταραχαί (e epidemias) em alguns manuscritos. A explicação mais provável quanto ao uso
desse termo é uma harmonização com o texto paralelo de Lucas, que faz o acréscimo da
expressão. Contudo, conforme análise detalhada apresentada no Apêndice A sobre a Crítica
Textual do texto, conclui-se que o texto mais provável seja o proposto pelos editores da GNT
(2008), que mantém o texto se o acréscimo dessa expressão. (Cf. Apêndice A)
Por fim, compete apresentar a análise da expressão ἀρχὴ ὠδίνων ταῦτα (princípio das
dores de parto). O termo não aparece na literatura judaica antes do NT com propósitos
escatológicos, a expressão aparece com conotações escatológicas depois do I séc. Antes disso,
a expressão era utilizada costumeiramente para associar-se a grandes dores e sofrimentos que
alguém estava passando ou até mesmo associar-se a morte de maneira metafórica na LXX (Ver.
2 Sm 22: 6; Sl. 18: 4). Além disso, descreve correntemente o anúncio do sofrimento que
algumas cidades passariam antes de serem destruídas. (Ver. Is. 13: 8, Babilônia; Je.6: 24,
12Veja também essa estrutura sendo apresentado como esboço estrutural da passagem no Apêndice
C – Diagramação.
65
Jerusalém; 22:23, Líbano; Mi. 4: 9-10, Sião), o que sugere uma aproximação com o texto de
Mc. 13.8. No NT a expressão é apenas utilizada para indicar as “dores de morte” (Atos 2:24,
ecoando Salmos 18: 4-5 ), as dores de Paulo em trazer seus convertidos ao nascimento (Gl
4:19), a antecipação agonizante do mundo do tempo da salvação ao longo da história até agora
(Rm. 8:22), e para descrever o início repentino do Dia do Senhor (não um período de preparação
para isso) em 1 Ts. 5: 3.
Concluindo, o bloco de 5-8 trata de uma série de avisos que visavam orientar os
discípulos a terem uma orientação escatológica quanto ao que não vem a ser o fim. Edwards
(2018, p.486) aponta que o propósito dessas orientações não é atrair os cristãos para
especulações sobre o fim, mas para ancorá-los na atenção e fidelidade ao presente. Esses
apontamentos apenas levariam os indícios do fim da velha era culminado na destruição tanto
de Jerusalém como no Templo. Todos esses acontecimentos ainda colocam os discípulos na
condição de espectador, que devem atentos para os alertas e, conforme esse bloco termina é
apenas o início do problema. O próximo bloco vai tratar de acontecimentos que tem os
discípulos com participantes ativos de situações de cumprimento escatológico, partilhando da
dor e sofrimento, mas executando a missão de levar as boas notícias ao mundo.
Antes de apresentar a análise gramatical de cada versículo, é necessário fazer uma breve
contextualização canônica dos v.9-13, baseado no que foi apresentado na contextualização
canônica (Cf. Contexto Canônico). O texto de Marcos 13, Mateus 24 e Lucas 21, que são as
passagens paralelas que trabalham o mesmo tema de óticas diferentes, contudo tendo um ponto
em comum – a semelhança e referências diretas com Daniel 7 a 12. Sendo assim, Beale (2018,
p.193) faz o seguinte comentário:
Marcos 13.9: βλέπετε δὲ ὑμεῖς ἑαυτούς· παραδώσουσιν ὑμᾶς εἰς συνέδρια καὶ εἰς συναγωγὰς
δαρήσεσθε καὶ ἐπὶ ἡγεμόνων καὶ βασιλέων σταθήσεσθε ἕνεκεν ἐμοῦ εἰς μαρτύριον αὐτοῖς.
(Entenda, contudo, vos entregarão nas mãos para o sinédrio e na sinagoga sereis açoitados e
vos farão ficar de pé diante de governadores e reis para o testemunho deles.)
Marcos 13.10: καὶ εἰς πάντα τὰ ἔθνη πρῶτον δεῖ κηρυχθῆναι τὸ εὐαγγέλιον. (E para todas
nações primeiro necessita proclamar o evangelho.)
Novamente, a palavra βλέπετε rege o bloco. Da mesma forma que no versículo 5 seu
sentido mais comum é atrelado ao ato de ver, contudo, na passagem Jesus está pedindo que eles
tenham um olhar atento. Contudo, agora a intenção do discurso chamará a atenção para
elementos que acontecerão com os próprios discípulos. A conjunção δὲ faz a ligação com o que
foi dito anteriormente no versículo 8 sobre ainda não ser o fim. Ela exerce o papel conjunto
com a expressão βλέπετε de chamar a atenção dos discípulos a atentarem-se para algo. Nesse
caso, Jesus introduz uma questão adversativa, desviando, agora, atenção para outra questão.
Isso sugere que Jesus, por mais que ele dissesse que as questões anteriores não se referiam ao
fim, os discípulos precisavam entender e estar atentos para uma outra questão.
Essa questão é apresentada pela expressão παραδώσουσιν ὑμᾶς (vos entregarão nas
mãos). O verbo παραδώσουσιν está no futuro do indicativo, que conforme sugere Rega (2014)
indica uma ação certa no futuro sem necessariamente expressar a sua duração, ou seja, a ação
indicada pelo verbo sugere que algo acontecerá com certeza no futuro. Essa ação expressa por
esse verbo denota a ideia de entregar algo de presente a alguém, o que sugere no contexto que
alguém será entregue nas mãos de outra pessoa. Ela apresenta também um significado jurídico
de entregar alguém à custódia, para ser julgado, condenado, punido, açoitado, atormentado,
entregue à morte e remeter a uma entrega por traição (STRONG, 2002) O uso desse termo faz
alguns ecos com outros momentos em que pessoas foram entregues na mão de outras pessoas.
O próprio termo tem o intuito de ressoar com a entrega e martírio de João Batista e
posteriormente com os relatos da Paixão. (Ver. Mc. 1:14; 9:31; 10:33; 13:9, 11, 12; 14:10-11,
18, 21, 41-42; 15:1, 15.) O que se sugere, portanto, é que alguém será entregue a força e como
se fosse um presente nas mãos de outras pessoas. (EDWARDS, 2018; FRANCE, 2002;
STRONG, 2002)
67
O que nos resta é saber a quem eles serão entregues e por quem. A ausência de um termo
no nominativo para indicar quem está praticando a ação de entregar sugere que a possibilidade
de ser entregue e traído pode vir de qualquer pessoa, o que entra em consonância com o
versículo 12 em que Jesus diz que os próprios membros de uma família entregariam um ao
outro.
que remete justamente ao açoite, que era uma pena que era dada e aplicada pelos membros do
sinédrio (KENNER, 2004; RICHARDS, 2008). Os outros dois termos que seguem são
governadores (ἡγεμόνων) e reis (βασιλέων) que são as verdadeiras autoridade civis e detinham
o direito de condenar as pessoas a morte, o verbo que sugere eles seriam levados até as
autoridades civis é σταθήσεσθε tendo a ideia de que os discípulos estariam diante das
autoridades por causa do testemunho deles (ἕνεκεν ἐμοῦ εἰς μαρτύριον αὐτοῖς ). A ideia dessa
última expressão está ligada ao um testemunho pejorativo por parte dos traidores, Wallace
(2009) sugere que o dativo pode apresentar um aspecto pejorativo, sendo assim a ideia aqui é
que o testemunho que seria dado era um testemunho pejorativo em relação aos discípulos. (Cf.
Contexto Histórico Específico).
Contudo, não se pode entender essa passagem distante seu contexto ligado a profecia da
destruição do templo. Jesus está trazendo respostas referentes a destruição do templo e os
discípulos entendem que essas coisas estão se referindo a essa destruição. Novamente, é
necessário recorrer ao paralelo de Atos em relação a esses anúncios. Quando se olha a estrutura
de Atos, percebe-se o intento de mostrar o evangelho se expandindo em Jerusalém, Judeia,
Samaria e até os confins da Terra tendo como ponto central a própria Roma. Dessa forma, o
livro de Atos demonstra um aspecto do cumprimento do sermão profético de Jesus, tanto na
questão de perseguição quanto da necessidade de o evangelho ser levado a todas as nações.
69
Marcos 13.11: καὶ ὅταν ἄγωσιν ὑμᾶς παραδιδόντες, μὴ προμεριμνᾶτε τί λαλήσητε, ἀλλʼ ὃ ἐὰν
δοθῇ ὑμῖν ἐν ἐκείνῃ τῇ ὥρᾳ τοῦτο λαλεῖτε, οὐ γάρ ἐστε ὑμεῖς οἱ λαλοῦντες ἀλλὰ τὸ πνεῦμα τὸ
ἅγιον. (E quando trazerem vocês os entregando, não ficais ansiosos [com o] que dizer, mas o
que será dado a vocês não será por causa de vós, os que falam, mas o Espírito Santo.)
Marcos 13.12: καὶ παραδώσει ἀδελφὸς ἀδελφὸν εἰς θάνατον καὶ πατὴρ τέκνον, καὶ
ἐπαναστήσονται τέκνα ἐπὶ γονεῖς καὶ θανατώσουσιν αὐτούς· (E irmão entregará irmão para a
morte, pai e filho rebelar-se-ão contra os progenitores e matarão ele)
Marcos 13.13: καὶ ἔσεσθε μισούμενοι ὑπὸ πάντων διὰ τὸ ὄνομά μου. ὁ δὲ ὑπομείνας εἰς
τέλος οὗτος σωθήσεται. (E sereis odiados por todos por causa do meu nome, mas [o que]
permanecer até o fim será salvo.)
Considerando o que foi exposto anteriormente, pode-se perceber que os versículos 11-
13 continuam tratando do tema da perseguição. Agora, passa-se a ter orientações sobre como
se portar diante dos julgamentos que os discípulos serão alvos. Essa orientação parte de uma
negativa de não estar atemorizado ou, como melhor sugere a palavra, ansioso. A expressão μὴ
προμεριμνᾶτε consiste em um imperativo negativo, que nesse caso tem valor de ordem. Os
discípulos, portanto, não deveriam se atemorizar nem estar se portando com ansiedade. A causa
dessa não necessidade deles ficarem atemorizado, ansiosos planejando o que deveria ser dito é
que o Espírito concederia a eles o que deveria ser dito. Hendriksen (2014, p. 562–563) explica
essa situação da seguinte maneira:
é diversas vezes mencionado que estava cheio do Espírito e fala sob o poder do Espírito aos
membros do sinédrio.
O versículo 12 faz agora uma menção sobre como uma das estruturas mais básicas da
sociedade judaica que é a família sendo afetada pelo cumprimento escatológico. As palavras
ligadas a pais e progenitores estão associadas a membros de família. O uso de ἀδελφὸς sugere
mesmo ser membros de uma família, conforme o exposto na Análise Semântica (Cf. Apêndice
D). Aqui estabelece uma conexão de sentido com o que foi mencionado no v.9 quando há um
sujeito indefinido sobre quem entregaria para o sinédrio, Jesus quer mostrar que isso aconteceria
até mesmo dentro da instituição social da qual mais se exigia fidelidade que era a família.
Por fim, o versículo 13 demonstra que todos serão odiados por causa do nome dele,
novamente a ideia do nome aqui se refere a uma personificação de Jesus. Isso sugere que eles
serão odiados não por causa das atribuições e características deles, mas por pregarem o nome
de Jesus. Conforme afirma Hendriksen (2014) esse ódio é motivado pelo fato do mundo,
representado pela expressão πάντων que se refere a qualquer pessoa, odiar a Deus e a sua obra
e se posicionar em oposição a todos aqueles que são seus representantes. Contudo, a mensagem
termina com a promessa de que todos aqueles que permaneceram até o fim serão salvos da
condenação e de se apostatarem.
Nesse ponto compete apresentar como a comunidade próxima aos apóstolos e que
conviveram com muito dos autores bíblicos compreenderam a passagem ou os temas a ela
associadas. Considerando que assim como foi demonstrado no Contexto Canônico, será feito
essa análise observando como os pais apostólicos enxergavam o tema escatologia e sua
interpretação a perícope de Marco 13.3-13.
Beale (2018, p.151) ao analisar os escritos dos pais apostólicos diz o seguinte sobre a
visão que eles tinham dos temas escatológicos:
Essa afirmação de Beale (2018) pode ser observada em alguns escritos dos pais da Igreja. O
escritor Barnabé em Cartas de Barnabé (134-135 d.C) entende estar vivendo nos “últimos dias”
e nota sinais de apostasia, ensino de falsos mestre e perseguição em sua era semelhante ao texto
de Daniel 7-12, que conforme foi apresentado é utilizado por Jesus para se referir aos
acontecimentos escatológicos que os apóstolos deveriam passar.13
Outro pai apostólico que é conhecido pelos seus escritos como O pastor, de Hermas,
declara que “grandes tribulações” já foram suportadas pelos apóstolos e estavam preparando os
próximos cristãos para suporta “a grande tribulação” que culminaria na vinda do abominável
da desolação e com isso no fim dos tempos.
Concluindo, a mentalidade comum dos pais da Igreja era que houveram aspectos já se
cumpridos, principalmente pelos apóstolos – conforme sugere essa interpretação que o
propósito primário do princípio das dores (Mc 13.3-13) era diretamente ligada aos discípulos e
eles como os precursores do sofrimento escatológico, com intuito de Jesus encorajá-los a
suportar a perseguição escatológica, a qual eles seriam os primeiros a passar, por que o próprio
Deus encarnado passaria primeiro e inauguraria a nova era com a inauguração do Reino de
Deus pela obra redentora de Jesus – contudo, eles também entendiam que esse cumprimento
encontra desdobramentos para os crentes de sua época que deveriam estar vigilantes e atentos
aos acontecimentos e tinham a esperança escatológica da parousia, ou seja, da Segunda Vinda
de Jesus.
Diante do que foi exposto, podemos ter as seguintes conclusões: (1) o propósito
controlador de Marcos é apresentar aos crentes de Roma que os discípulos, os doze, são os
precursores do sofrimento escatológico que estava sendo anunciado por Jesus. (2) A
característica do discurso de Jesus é mais similar aos discursos de despedida de personagens
históricos importantes do que de uma literatura apocalíptica. (3) A perícope (Mc13.3-13) está
relacionada diretamente com a perícope anterior (Mc.13.1-2) na qual Jesus anuncia que o
Templo de Jerusalém será destruído, sendo assim a pergunta dos discípulos apresenta um
13As informações dos pais da Igreja foram extraídas de: Padres Apostólicos. 2°ed. São Paulo: Paulus,
1997. Vol.1; Padres Apologistas. 2°ed. São Paulo: Paulus, 1997. Vol.2; algumas citações de Beale
(2018, p.149-151)
72
apontamento direto para esses acontecimentos, em que a expressão πότε ταῦτα (todos estes)
está apontando para o que fora dito anteriormente por Jesus. (4) Jesus deseja apresentar tanto
sinais externos destes acontecimentos, relacionados a situações externas como a vinda de falsos
messias e desastres mundiais, como sinais que envolverão diretamente os discípulos. (5) Os
acontecimentos já apresentam cumprimento na vida dos apóstolos. (6) O relacionamento do
conteúdo dessa perícope apresenta ressonância com a descrição que Lucas faz em Atos dos
Apóstolos, tanto na sequência da pregação do evangelho quanto na perseguição na forma como
Marcos apresenta nos relatos de Jesus. (7) Esses acontecimentos todos estão relacionados
diretamente com a destruição do Templo de Jerusalém. (8) A passagem apresenta aspectos
escatológicos conhecidos como já e ainda não, partindo da ideia de que os discípulos foram os
pioneiros do sofrimento escatológico, mas se estendem hoje a comunidade eleita em todas as
épocas, o que pode ser confirmado com a interpretação dos pais apostólicos.
4 SÍNTESE TEOLÓGICA
Partindo de toda pesquisa contextual da passagem é possível traçar uma visão mais
ampla e panorâmica dos elementos contextuais da passagem, que compreende desde elementos
morfossintático, elementos literários e históricos da passagem. Primeiramente, é preciso situar
a perícope de Marcos dentro de todo o cânon, considerando seu contexto mais abrangente. O
livro de Marcos tem por propósito apresentar que Jesus é o Filho de Deus encarnado e mostrar
seu caminho de sofrimento, na qual também se espera que os discípulos passem. Possivelmente,
o livro de Marcos também é o primeiro evangelho escrito e serviu de base para a composição
dos demais sinóticos. Marcos também tem o propósito de apresentar a fragilidade dos discípulos
e Cristo como seu Senhor que prefigura o sofrimento no qual eles também deveriam passar.
De acordo com Beale (2018), a escatologia deve ser considerada como parte elementar
dentro do enredo da história da redenção. Isso não significa que toda ela trate sobre a segunda
volta de Cristo, mas se trata de todo cumprimento das promessas de Deus em enviar o redentor
e com seu clímax apontado para vida e obra de Jesus Cristo que com isso inaugura os “últimos
dias”. Diante disso, todo o tema do NT será envolvido pela temática ligada aos últimos dias. A
passagem de Marcos 13 se relaciona com o que é chamado de sofrimento escatológico. Diante
disso, o tema que Beale (2018, p.173-205) apresenta é a Grande Tribulação inaugurada em
Jesus e na Igreja.
de Marcos 13 tem como pano de fundo algumas profecias do AT, especialmente as registradas
no livro do profeta Daniel, nos capítulos 7-12.
Outro tema escatológico é levantado por Bartholomew & Goheen (2017. p.186-187) em
que os capítulos 11-13 todos tem por propósito de demonstrar o papel de Jesus como juiz e que
seu juízo é encenado no templo. Eles apresentam que durante todo o ministério, Jesus ameaçou
a nação infiel de Deus com o juízo deste; agora, durante o período que passam em Jerusalém,
seu ensino se concentra cada vez mais sobre esse tema. Dessa forma, quando Jesus profere suas
palavras de juízo, ele está representando tudo o que ele tem ameaçado contra uma nação infiel,
que é apresentada nos capítulos anteriores.
Diante disso, pode-se entender que a passagem deve ser interpretada sobre a ótica do
“já e ainda não”. O sermão final de Jesus apresenta aspectos intimamente ligados primeiro ao
seu sofrimento, visto que as instruções que ele passa demonstra que em breve ele iria morrer e
que da mesma maneira que ele inaugura o sofrimento escatológicos do povo de Deus, os
discípulos passariam em breve também pelas amarguras do sofrimento. A passagem de Marcos
3.3-13 pode ser entendida então como já cumprida pelos apóstolos, conforme apresentado na
Argumentação Teológica, mas que apresenta aspectos de “ainda não” quando a Igreja hoje pode
aplicar as instruções como uma advertência a Igreja que passará pelas amarguras por defender
o nome de Cristo em um mundo que se opõe a ele e que precisa “entender” os sinais e os
elementos que tentam se opor ao povo de Deus até o dia da Consumação com a Segunda Vinda
em que Cristo consumará seu julgamento.
crentes é uma marca da Igreja triunfante, que irá prevalecer sobre a oposição por conta da vitória
conquistada por Cristo.
Além disso, no capítulo XXV sobre a Igreja a Confissão de Fé afirma que todo aquele
que assume para si atributos messiânicos são considerados anticristos. O que a Confissão está
atentando em muito tem a ver com o momento histórico, visto que nesse momento o Papa
arrogava para si o título de Cabeça da Igreja, assim como o rei Henrique VI também fez na
Igreja Anglicana. A Confissão defende que há somente um Messias e apenas um cabeça da
Igreja, que é o próprio Jesus Cristo. Sendo assim, o exposto na Argumentação Teológica sobre
o alerta que Jesus dava aos seus discípulos sobre a vinda de homens que arrogariam para si
títulos messiânicos encontra o desdobramento profético para a vida dos crentes no futuro, visto
que até mesmo dentro da Igreja Visível surgiriam e surgirão pessoas se autointitulando
mediadores entre Deus e os homens e assumirão papéis exclusivos dos ofícios de Cristo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
passagem é pela ótica do já e ainda não. Isso ajuda a ver elementos já cumpridos e
desdobramentos para a fé cristã no presente e no futuro. (7) Quando Jesus afirma que é
necessário que o evangelho seja pregado a todas as nações para que venha o fim, ele não está
se referindo a parousia, mas a destruição do Templo. Sendo assim, os entusiastas missionários
interpretam equivocadamente a passagem ao entender que é necessário pregar a todas as nações
para que Jesus volte. (8) O livro de Atos apresenta grande parte do cumprimento da passagem.
É muito importante correlacionar o livro de Atos com esse sermão, pois ele mostra que tudo
aquilo que Jesus avisou que aconteceria se cumpre na vida dos discípulos.
Diante de tudo que foi exposto, sugere-se como novas abordagens: (1) uma orientação
escatológica que compreenda melhor os princípios teológico hermenêuticos do já e ainda não.
(2) Seja ensinado na Igreja a importância do pensamento escatológico na vida cristã,
principalmente os seus efeitos sociais. (3) Uma abordagem que contemple a perícope seguinte
observando melhor os pontos que se relacionam com a destruição do Templo.
81
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85
APÊNDICES
A primeira análise é feita da leitura. Essa apresenta segundo a GNT (2008, cap.3) uma
classificação do tipo B (apresentada na forma {B}), que segundo os editores da GNT indica
que é quase certo que esse é o texto original de acordo com a Comissão. (GNT, 2008, p.XIV).
Tomada essas informações, segue a análise da leitura com sua interpretação do v.43.
Interpretação:
Conforme afirmado anteriormente, o fato dessa leitura ser classificada como B, implica
que esse texto teve uma dificuldade moderada para resolver a questão, o que indica que é quase
certo a utilização da leitura proposta. (GNT, p.XIV). Diante disso, constata-se que a leitura
apresenta: grande quantidade das testemunhas com datas mais próximas aos dois primeiros
séculos; (2) há presença de texto de categoria 1, que conforme afirma Aland são texto de
qualidade toda especial e que em hipótese alguma devem ser descartadas como grande
probabilidade de remontar o texto original. (2013, p.169); (3) apresenta uma quantidade
considerável de textos alexandrinos que são considerados os mais próximos do texto original;
(4) apresenta uma boa expansão dos textos, ou seja, o texto que contém essa leitura se espalhou
ao longo da comunidade cristã dos primeiros séculos.
Critérios Testemunhas
D it a it aur it b it c it d it ff2 it i it k it l it n it q it r vg
Idade V IV VII V XII-XIII V V V IV-V VII V VI/VII VII IV-V
Categoria 4 - - - - - - - - - - - -
Expansão - - - - - - - - - - - - - -
Tipo Textual Ocid. Ocid. Ocid. Ocid. Ocid. Ocid. Ocid. Ocid Ocid. Ocid. Ocid. Ocid. Ocid
Interpretação:
Essa variante apresenta as seguintes características: (1) grande quantidade de
manuscritos (2) a datação dos manuscritos estão mais distantes dos dois primeiros séculos, o
que torna o texto menos confiável; (3) Há somente textos ocidentais, indicando pouquíssima
expansão do texto; (4) Possivelmente a omissão de termos indica uma tentativa do copista de
simplificar e adaptar o texto.
Testemunha:
Critérios Testemunhas
W Θ 565 700 sir s cop as geo b
Idade V IV IX XI Séc. V IV X
Categoria III II III III - - -
Expansão - - - - - - -
Tipo Textual Ind. Alex. Ind.Indep. Ces. - -
Interpretação:
Essa variante possui: (1) Uma boa diversidade de tipos de manuscritos; (2)Manuscritos
com datações mais próximas ao primeiros dois séculos; (3)Variedade na expansão do texto; (4)
Os manuscritos são em sua maioria categorizados como II e III, o que indica textos de menos
qualidade e menos confiabilidade. Há um acréscimo de informação, o que pode sugerir uma
inserção de um copista.
87
Critérios Testemunhas
A Δ f1 f13 28 33 157 180 205 597 1006 1010 1071 1241 1243 1292 1424 1505
Idade V IX X-XIV XI / XV XI IX XII XII XV XII XI XII 1071 1241 XI XIII IX / X XII
Categoria I III - III III II III V 3 V V XII XII I II III V
Expansão - - - - - - - - - - III III - - - -
Tipo Textual Alex. Ind. - Ind. Ind. Alex. Ind. Biz. - Biz. Biz. - - Alex. Alex. Indep. Biz.
Critérios Testemunhas
Biz Lec it q sir p sir h esl geo 1 geo a Orígenes
Idade - VI/VII Séc. V VII esl IX X 380 d.C
Categoria - - - - - - - -
Expansão - - - - - - - -
Tipo Textual - Ocid. Ces. - - - - -
Interpretação:
Quanto a variante 3, percebe-se uma presença forte de manuscritos que datam nos mais
variados períodos, contudo, sua presença majoritária é de textos mais recentes, ou seja, com
datações próximas ao século X. Outros pontos positivos dessa variante são os manuscritos
categorizados como 1, indicando ser um melhor texto e a ampla expansão do texto. Contudo,
internamente, esse texto pode sugerir um acréscimo de copista, pois acrescenta termos ao invés
de reduzi-lo. Além disso, há uma possível tentativa de harmonização com outros textos bíblicos,
como o caso de Lucas 21.11 que utiliza a palavra ταραχαί. Essa variante, se torna a mais
possível a ter uma oposição ao texto proposto pela leitura.
Testemunha:
88
Critérios Testemunhas
Σ 1342
Idade VI XIII / XIV
Categoria V II
Expansão - -
Tipo Textual Biz. Alex.
Interpretação:
A variante 4 torna-se extremamente fraca para ser considerada como a possível leitura
do texto. Primeiro, há pouquíssimas quantidade de testemunhas. Segundo, a categoria dos
textos é considerado II e V, o que reduz ainda mais a qualidade do texto. Há um texto bizantino
e alexandrino. Além disso, internamente esse texto apresenta forte harmonização com
passagens paralelas de outros textos dos evangelhos sinóticos e possivelmente sugere um
acréscimo de copista, visto que o texto foi ampliado em relação a leitura.
Mediante essa avaliação, faz-se necessário avaliar critérios internos. Segundo Omanson
(2010, p.94), é possível que as palavras καὶ ταραχαί sejam originais, pois copistas poderiam
acidentalmente tê-las omitido, devido a semelhança com a palavra ἀρχὴ, que está logo em
seguida. Entretanto, é mais importante considerar que um texto mais longo seja um acréscimo
e que os copistas poderiam ter acrescentado para harmonizar o texto com a passagem de Lucas
21.11, por exemplo. Vale considerar que na época entendia-se que Marcos era um resumo dos
outros dois sinóticos, por isso havia mais tentativas de harmonizar esse evangelho com os
demais.
Isto posto, conclui-se que a leitura proposta é a mais provável de remontar ao texto
original, pelos seguintes motivos: (1) Os editores da GNT (2008) considerarem essa opção do
tipo B, indicando alto grau de certeza; (2) Os critério externos da leitura são mais favoráveis
89
em relação a variante 3, embora sejam muito próximos; (3) Os critérios internos favorecem a
opção pela leitura, pois há menos tentativa de harmonização com outros textos.
ou descrever, se
apresenta no caso
genitivo. Acompanha
o Substantivo Ὄρος
κατέναντι Preposição; advérbio Advérbio de Lugar. Em frente/ ante
Funciona a face de
sintaticamente como
uma preposição
τοῦ Artigo, genitivo, Define o substantivo [d]o
singular, neutro τοῦ
ἱεροῦ Substantivo, genitivo, Quando um [do]templo
singular, neutro substantivo
(adjetivo, genitivo, desempenha a função
singular, neutro) de especificar, definir
ou descrever, se
apresenta no caso
genitivo. Indica o
local pelo qual está a
frente
ἐπηρώτα Verbo, imperfeito, Indica uma ação perguntava
ativo, indicativo, contínua no passado,
3°pessoa, singular mas que já chegou a
cessar.
αὐτὸν Pronome, pessoal, O pronome no caso [para] ele
terceira pessoa, acusativo indica que
acusativo, singular, sofre a ação do verbo
masculino anterior
κατʼ Preposição Indica o Para / em
direcionamento
ἰδίαν Adjetivo, acusativo, Faz uma Próprio/
singular, feminino caracterização do particularmente
pronome αὐτὸν
Πέτρος Substantivo, Nome próprio, sujeito Pedro
nominativo, singular, da ação
masculino
καὶ Conjunção Acréscimo de e
informação
Ἰάκωβος Substantivo, Nome próprio, sujeito Tiago
nominativo, singular, da ação
masculino
καὶ Conjunção Acréscimo de e
informação
Ἰωάννης Substantivo, Nome próprio, sujeito João
nominativo, singular, da ação
masculino
καὶ Conjunção Acréscimo de e
informação
Ἀνδρέας Substantivo, Nome próprio, sujeito André
nominativo, singular, da ação
masculino
91
Versículo 4
Εἰπὸν Verbo, aoristo, ativo, Indica um pedido, Dize
imperativo, 2° ordem.
pessoa, singular
ἡμῖν Pronome, pessoal, 1° Por estar no dativo, a A/ para nós
pessoa, dativo, plural ação expressa recai
sobre ele. Está
substituindo aqui os
discípulos que
arguiram a Jesus.
πότε Advérbio Advérbio que Quando?
interrogativo expressa uma
pergunta temporal
ταῦτα Pronome Localiza o estas
demonstrativo, substantivo que está
nominativo, plural, perto ou foi
neutro mencionado por
último.
ἔσται Verbo, futuro, médio, Indica uma ação finita será
indicativo, 3° pessoa, que irá acontecer. Por
singular estar no indicativo
indica uma ação com
grande segurança de
que ela ocorrerá.
καὶ Conjunção Conjunção aditiva e
τί Pronome, Pronome indefinido. qual
interrogativo, Funciona como um
nominativo, singular, pronome relatico
neutro
τὸ Artigo, nominativo, Define o substantivo o
singular, neutro σημεῖον
σημεῖον Substantivo, Sujeito da oração sinal
nominativo, singular,
neutro
ὅταν Conjunção adverbial Dá valor temporal a quando
temporal oração
μέλλῃ Verbo, presente, Um verbo no tempo acontecerá
ativo, subjuntivo, 3° presente indica uma
pessoa, singular ação contínua.
ταῦτα Pronome, Localiza o estas
demonstrativo, substantivo que está
nominativo, plural, perto ou foi
neutro mencionado por
último.
συντελεῖσθαι Verbo, presente, Um verbo no tempo cumprir
passivo, infinitivo presente indica uma
ação contínua. Por
estar na foram
infinitivas irá a
92
assumir a forma
substantivo verbal
πάντα Adjetivo, nominativo, Está associado ao todas
plural, neutro/ pronome
adjetivo, acusativo, demonstrativo
plural, neutro
Versículo 5
ὁ Artigo, nominativo, Especifica o o
singular, masculino substantivo Ἰησοῦς
δὲ Conjunção Conjunção adverbial então
de circunstância
Ἰησοῦς Substantivo, Nome Próprio Jesus
nominativo, singular,
masculino
ἤρξατο Verbo, aoristo, Ação que não Iniciou/
médio, indicativo, 3° especifica a duração. começou
pessoa singular Apenas que a ação foi
iniciada
λέγειν Verbo, presente, Verbos está na forma falar
ativo, infinitivo infinitiva assumindo
caráter substantivo
verbal
αὐτοῖς Pronome, pessoal, 3° Por estar no dativo, a Para eles
pessoa, dativo, plural ação expressa recai
sobre ele
Βλέπετε Verbo, presente, Indica uma ordem Vede/ entenda
ativo, imperativo, 2°
pessoa, plural
μή Conjunção, conteúdo Partícula de negação não
substantival;
partícula, negativo
τις Pronome, indefinido, Pronome indefinido Alguém
nominativo, singular, que indica ser o
masculino sujeito da oração.
Sujeito indefinido.
ὑμᾶς Pronome, pessoal, 2° Substitui os vós
pessoa, acusativo, discípulos. Funciona
plural como objeto do verbo
a seguir, pois sofre a
ação do verbo.
πλανήσῃ Verbo, aoristo, ativo, O verbo está no desvie
subjuntivo, 3° pessoa, aoristo indicando uma
singular ação sem especificar
sua duração. O modo
subjuntivo expressa
possibilidade da ação
ocorrer.
Versículo 6
πολλοὶ Adjetivo, nominativo, Adjetivo que expressa Muitos/ Vários
plural, masculino quantidade; sua
93
função no nominativo
está ligada ao sujeito.
ἐλεύσονται Verbo, futuro, médio, Indica certeza de uma Farão vir
indicativo, terceira ação que acontecerá.
pessoa, plural
ἐπὶ Preposição Indica procedência de em
algo
τῷ Artigo, dativo, Específica o o
singular, neutro substantivo a seguir
ὀνόματί Substantivo, dativo, A ação recai sobre nome
singular, neutro esse substantivo
μου Pronome, pessoal, 1° Esse pronome está meu
pessoa, genitivo, atribuindo posse ao
singular substantivo anterior
λέγοντες Verbo presente, Assume valor verbal. Dizendo/
ativo, particípio, Indica uma ação falando
plural, nominativo, contínua.
masculino
ὅτι Conjunção (Conteúdo Exerce papel de que
substantival) conjunção
subordinada
substantiva
Ἐγώ Pronome, pessoal, 1° Sujeito da oração eu
pessoa, nominativo,
singular
εἰμι Verbo, presente, Verbo ser. Indica sou
ativo, indicativo, 1° nesse caso o estado
pessoa, singular de alguém
καὶ Conjunção Conjunção aditiva e
πολλοὺς Adjetivo, acusativo, Sofre a ação. Está muitos
plural, masculino ligado ao sujeito
abaixo
πλανήσουσιν Verbo, futuro, ativo, Indica certeza de que desviarão
indicativo, 3° pessoa, uma ação acontecerá
plural
Versículo 7
ὅταν Conjunção, Advérbio Dá valor temporal a Quando
temporal oração
δὲ Conjunção Conjunção Mas / porém/
adversativa entretanto
ἀκούσητε Verbo, aoristo, ativo, O verbo está no ouvirdes
subjuntivo, 2° pessoa, aoristo indicando uma
plural ação sem especificar
sua duração. O modo
subjuntivo expressa
possibilidade da ação
ocorrer.
πολέμους Substantivo, Recebe a ação. [de] guerras
acusativo, plural, Funciona como
masculino
94
objeto direto da
oração
καὶ Conjunção Conjunção aditiva e
ἀκοὰς Substantivo, Substantivo que rumores
acusativo, plural, recebe a ação.
feminino Funciona como
objeto direto da
oração
πολέμων Substantivo, genitivo, Quando um De guerras
plural, masculino substantivo
desempenha a função
de especificar, definir
ou descrever, se
apresenta no caso
genitivo. Indica o
local pelo qual está a
frente
μὴ Advérbio, negativo Função de negação não
θροεῖσθε Verbo, presente, Indica uma ordem lamentes
passivo, imperativo,
2° pessoa, plural
δεῖ Verbo, presente, Ação contínua. necessita
ativo, indicativo, 3°
pessoa, singular
γενέσθαι Verbo, aoristo, Caráter substantival acontecer
médio, infinitivo
ἀλλʼ Conjunção Conjunção mas
adversativa
οὔπω Advérbio, negativo Partícula de negação Ainda não
τὸ Artigo, nominativo, Especifica o sujeito O
singular, neutro
τέλος Substantivo, Sujeito da oração fim
nominativo, singular,
neutro
Versículo 8
ἐγερθήσεται Verbo, futuro, Ação futura com Levantará
passivo, indicativo, certeza de acontecer
3° pessoa, singular
γὰρ Conjunção Conjunção porque
explicativa explicativa que
explica a sentença
anterior
ἔθνος Substantivo, Sujeito da oração nação
nominativo, singular
neutro
ἐπʼ Prepospição Indica oposição contra
ἔθνος Substantivo, Recebe a ação nação
nominativo, singular
neutro
καὶ Conjunção Conjunção aditiva E
95
APÊNDICE C – DIAGRAMAÇÃO
Legenda:
[ ] – Termo oculto, ao qual se faz referência
101
102
103
104
A palavra ἀδελφὸς é raiz, que em sua formação tem como origem a união do radical
delphys (que significa útero) e o prefixo “a” (que significa nesse caso do mesmo). Dessa forma,
a palavra tem como significado etimológico a expressão do mesmo útero (GÜNTHER apud
KITTER, 2007, p.1049). De acordo com Taylor (2011, p.10) a palavra pode apresentar como
significado as palavras irmão, patrício, correligionário.
No AT, a palavra equivalente a essa em hebraico é (אָ חirmão), que poderia significar
além de irmão de sangue, um vizinho ou alguém próximo. O significado dessa palavra
costumeiramente era mais abrangente no período do AT, uma vez que estava bastante atrelada
a significação da grande comunidade nacional de Israel, por isso os israelitas se chamavam de
irmãos. No período intertestamentário, na comunidade de Cunrã a palavra era utilizada pelos
membros da comunidade que se achavam a verdadeira Israel que não se corrompeu aos
costumes helênicos. E com o passar do tempo da história judaica a palavra teve diferenciação
entre próximo e irmão, em decorrência dos judeus prosélitos. (GÜNTHER, 2007, p.1041)
πλανήσουσιν - desviarão
Na língua hebraica não há um equivalente direto para essa palavra, porém, utiliza-se
essa palavra na LXX para situações como fazer errar o cego o seu caminho (Dt.27.18). Além
disso, Günther afirma que (2007, p.631) “no período intertestamental, foram acrescentados
alguns elementos importantes ao conceito de “ser desviado”. Os agentes frequentemente são
espíritos ou poderes[...]. A literatura apocalíptica prediz o planè como um precursor do fim do
mundo, o dia do messias (SB IV 977 e segs.).”
No NT, no sentido em que ela é utilizada por Marcos é indicar o erro de se desviar da
doutrina certa, ou seja, apostasia. Dessa forma, “ser ‘desviado’ por falsos ensinamentos na
forma da filosofia ou de palavras vis, e ser ‘desviado’ para atos específicos de pecado, são
processos que vão de mãos dadas. Isso tudo ocasionado pelos falsos cristos que tem o intuito
de enganar os verdadeiros discípulos. (GÜNTHER, 2007, p.633).
σημεῖον – sinal
percebem em tempos de crise. Duas coisas que não são realmente a mesma combinam-se na
fórmula, porque ambas são significativas em tempos de impotência humana. No AT grego, essa
palavra ocorre umas 125 vezes e na maioria de suas ocorrências ela está ligada a ideia de
maravilhas. Os sinais e maravilhas de Deus. Quando relacionado a sinais e maravilhas de Deus,
o estilo quase assume um caráter hínico. A referência é, usualmente, ao êxodo, e a combinação
é especialmente comum em Deuteronômio. A ênfase nele está na ação de Deus numa
intervenção revolucionária nos afazeres humanos (cf. também Is 8.18). No NT a palavra
apresenta diversos usos para indicar uma marca ou sinal. Na expressão do AT que Lucas utiliza
m 2.12, o sinal demonstra a veracidade da mensagem. A percepção de certos detalhes tem o
propósito de confirmação. O sêmeíon dado aos pastores os coloca em movimento (v. 15) de
maneira que eles próprios, implicitamente, tornam-se um sinal para Maria. Em Mt 26.48, Judas
usa o beijo como um sinal para indicar quem os guardas devem prender. Em Mt 24.3 e Mc.
13.4 os discípulos pedem um sinal da parusia de Cristo. Este não precisa ser um sinal milagroso
ou apocalíptico. Por si mesmo, ele simplesmente torna a parusia reconhecível. Os sêmeía em
Lc 21.25 são sinais astronômicos, mas mesmo estes sinais da parusia não são apocalípticos
como tais. Em At 4.16,22, sêmeion ocorre em ligação com a cura do coxo e, em 8.6,13 (com
dynámeis no v. 13), o termo descreve a obra de Filipe. Assim como nos nove casos de semeia
kaí térata, o uso é praticamente o mesmo que nos Sinóticos. As obras são sinais, porquanto são
acontecimentos notórios que apontam para aquele em cujo nome e poder elas são realizadas.
Por meio delas, como também pela palavra, Jesus mostra que ele é o Senhor vivo a quem o
próprio Deus autêntica. O novo aspecto em Atos é que agora, na nova situação inaugurada pela
morte e ressurreição de Cristo, há uma cadeia de sêmeía, ou seja, de indicações que ninguém
pode ignorar. As obras poderosas não são maravilhas. Elas demandam interpretação e estão,
assim, subordinadas à palavra (pela qual vive a fé) como atos obedientes e altruístas que são
feitos no poder de Jesus e por causa dele. A expressão semeia kaí térata merece atenção especial.
Ela aparece em Atos nove vezes nos primeiros oito capítulos. Esse uso apresenta uma marca
importante para teológica bíblica, pois indica o início da nova era da redenção escatológica
como marcaram anteriormente o tempo da libertação mosaica. Os holofotes dessas expressões
em Atos nos apóstolos indicam que eles se movem de Jesus para eles, pois é ele que opera nos
atos deles (Cf. At 4.30; 14.3). Onde a tipologia está presente, a ordem térata kaí sêmeía ocorre
(cf. 6.8; 7.36), contudo, em vista do tema comum, não está totalmente claro porque isto deva
ser assim. Atos usa ambas as expressões (4.30; 5.12; 14.3; 15.12; 2.19, 22, 43; 6.8; 7.36). Talvez
em sèmeía kaí térata a ênfase esteja em Deus que dá uma marca nova e específica ao presente,
ao passo que em térata kaí sèmeía o presente se encontra debaixo do sinal de seu avanço e há,
108
assim, um convite para uma volta a ele, com dynamis como a palavra de chamada. Paulo
também usa dynamis ligado a sèmeía kaí térata em Rm 15.19,2Co 12.12, e mesmo em 2Ts 2.9,
onde tem a vinda do anticristo em vista.
A palavra συντελεῖσθαι é uma forma infinitivo do verbo συντελέω esse verbo tem sua
raiz no substantivo τελος.. No Grego Clássico, a raiz télos significa primeiramente “realização”,
“cumprimento”, “execução”, “sucesso” e então “poder”, “poder oficial”, e “ofício”. Ela também
pode ser apresentada no intuito de apresentar uma conclusão ou quando usado no contexto
cultual de oferta. Na LXX a expressão apresentar de formas diferentes o mesmo sentido de
finalidade da utilização clássica, substituindo palavras que denotam execução, alvo ou
resultado. Na literatura judaica extrabíblica
ἐλεύσονται – virão
A palavra tem como raiz a forma verbal ερχομαι. A palavra no Grego Clássico é usado
no sentido básico do verbo ir ou vir com nuanças atribuídas por preposições ou variadas pelo
contexto em que se tá inserido. Mundle (apud. CONEN et al, 2009, p. 2658) diz que na LXX
“as palavras se empregam mormente no seu sentido original e literal. À luz do seu propósito,
no entanto, o ‘vir’ pode ter um significado religioso. O homem vem para oferecer sacrifício (1
Sm 16:2, 5), e para adorar e louvar a Deus diante do santuário (Lv 12:4; 1 Rs 8:42; SI 100:2,
4). Os pagãos também vão à casa do deus deles (2 Cr 32:21). O vb. composto eiserchomai
também se emprega para significar uma vinda desta natureza.” Em um sentido metafórico, diz-
se que a oração, a súplica (2 Cr 30:27; SI 88:3; 119:170), e o clamor de um homem (Ex 3:9; SI
102:2), chegam diante de Deus. Referências à vinda dos gentios a Israel e, portanto, a Deus, se
vinculam com a expectativa messiânica (Is 60:5-6; 66:18; Jr 16:19; Ag 2:7). Os escritores do
AT freqüentemente mencionam a vinda de Deus em julgamento. Os dias do julgamento já se
mencionam em Oséias (9:7). O dia de Javé se destaca nas profecias (cf. Jl 2:31; Zc 14:1; Mq
4:5; SI 96:13; 98:9). Deus, porém, não vem somente como - Juiz, mas também como Libertador
(Is 35:4; SI 50:3-4, 15; Zc 14:5 e segs.). Vem como Salvador que alimenta Seu rebanho, como
Redentor que remove os pecados de Jacó, como Aquele que traz a luz para Jerusalém (Is 40:10-
11; 59:20; 60:1; - Redenção). A esperança da vinda de Deus se vincula com a expectativa
messiânica. O Messias (Jesus Cristo, art. christos) virá como Rei da paz (Zc 9:9), e como Aquele
que foi declarado bendito em -> nome do Senhor (SI 118:26). Dn7:13 fala da vinda de “um
como o Filho do homem”, Servo do Senhor. Na primeira instância, isto se relaciona com o reino
dado aos “santos do Altíssimo” (w. 22,27). Sendo, porém, que não se pode pensar num reino
sem um rei, o Filho do homem aqui foi identificado com o Messias mesmo em tempos pré-
cristãos (cf. En. Et. 46:34;48.2). Os escritos de Qumran indicam uma viva expectativa do
Messias vindouro. (CONEN et al, 2009; KITTEL et al, 2013)
apresentar significado especial para atribuir a Vinda de Jesus, vir até Jesus, a vinda do Reino
de Deus, a vinda do Messias. No caso do texto em estudo a palavra não tem um significado
especial.
ὀνόματί – nome
A palavra ὀνόματί vem da raiz ονομα. É crença comum da antiguidade que o nome não
é meramente uma indicação, mas é parte da personalidade de quem o recebe. Vários ritos são
usados para se encontrar nomes para as crianças. Novos nomes, frequentemente, são dados na
puberdade. O nome leva consigo determinação e poder. A pessoa deve saber os nomes dos
deuses para ter relações com eles ou poder sobre eles. O nome invoca a pessoa; há, assim, um
desejo de conhecê-lo e uma relutância em oferecê-lo. Possuir nomes secretos é uma forma de
proteger a liberdade. Seu uso no grego clássico serve para indicar justamente nome de algo ou
objeto. A uma construção filosófica sobre o nome da pessoa ser de fato parte da pessoa ou
apenas uma apresentação. Na mentalidade Platônica o nome era apenas um indicativo do mundo
sensitivo e não condizia com a realidade. No AT, a palavra hebraica shem é utilizada 770 vezes
no singular e 80 no plural e é usado para nomes de deuses, homens, animais e também para
características geográficas tais como rios, montanhas e cidades. Em seguida, para coisas ou
tempos. Com referência a atos, ele pode ser usado para uma boa ou má “reputação” e, então,
para “memória” ou “fama” após a morte, embora haja um debate se ele é usado
metonimicamente para a pessoa ou no sentido de “memorial” ou “sinal”. Uma expressão
comum é “ao nome” (usualmente de Deus), e verbos familiares usados com o nome (de Deus)
são “invocar”, “falar”, “bendizer” e “profetizar”. Para o hebreu típico o nome tem fundamental
importância, pois eles creem no significado dos nomes Assim, Adão exerce domínio ao dar
nome aos animais (Gn 2.19-20). Dar nome a uma cidade é estabelecer controle sobre ela (2Sm
12.28). As mulheres buscam o nome de um homem em tempos de aflição (Is 4.1), ou seja, para
se colocarem sob a proteção dele. Deus chama pelo nome as estrelas (SI 147.4) e Israel (Is
43.1). Seu nome é invocado sobre Israel (Is 63.19), e também sobre o templo, a arca e Jerusalém.
Ele conhece Moisés pelo nome (Êx 33.12, 17). Os nomes sobrevivem nos filhos (Gn 21.12).
Os nomes daqueles que não têm filhos são apagados. Os nomes dos justos são escritos no livro
da vida (Êx 32.32-33; SI 69.28). A expressão “no nome” é bastante utilizada no AT nome”.
Algumas vezes, ela é basicamente a mesma que “segundo o nome” (Jz 18.29). Em outros
111
lugares, ela significa “em nome” (cf. lRs 21.8). De forma mais vigorosa, significa “por encargo”
(cf. Et 2.22; lSm 25.9). Mais comumente, encontramos a expressão com referência a Deus.
Cultualmente, ela tem o significado de invocar “o nome” (Gn 4.26; 12.8), jurar ou abençoar
“pelo” ou “em o nome” de Deus (Dt 6.13; 10.8). Davi vai contra Golias “em nome” de Deus
(lSm 17.45), Elias constrói um altar “em seu nome” (lRs 18.32) e o crente pode se fortalecer ou
hastear pendões “em seu nome” (SI 20.5, 7). Em Dt 18.18-19, o sentido é, provavelmente, “por
delegação de Deus”, mas não em 18.20; em Jr 14.14, os falsos profetas mencionam o nome de
Deus, ou falam pretensamente em seu nome, ou apelam ao seu nome. No NT, o termo é usado
para expressar nome próprio, reputação e na fórmula através de uma preposição. O nome, a
pessoa e a obra de Deus estão inseparavelmente ligados aos de Cristo. O nome de Deus
relaciona-se com revelação, e, neste sentido, está ligado a “glória”, expressando assim uma
abordagem e um relacionamento específicos. Em Jo 12.28, Deus glorifica seu nome na vida e
obra e, depois, na morte e ressurreição de Jesus (cf. Jo 17.6). Jesus revela o nome obscuro de
Deus a seus discípulos, dando a este nome o conteúdo específico de “Pai”. Ser recebido no
nome é encontrar-se na esfera do amor do Pai e do Filho (17.11, 12, 21). Quando o nome é
declarado, ele desperta nova vida nos crentes (l Jo 4.7), na medida em que o Filho se faz presente
neles, no amor do Pai. Glorificar o nome de Deus é supremamente a obra de Cristo como uma
obra de revelação e reconciliação. Fundamentada na obra de Cristo, a igreja tem a promessa de
que esta obra continuará nela (Jo 17.26). A plenitude do ser e da obra de Cristo pode ser vista
em seu nome. O nome divinamente concedido de “Jesus” expressa sua humanidade e sua
missão (Mt 1.21). Ele significa “Deus conosco” (1.23). O nome exaltado que ele recebe é o de
Filho (Hb 1.4). Ele também é chamado Senhor (Fp 2.9-10), que denota igualdade divina e é o
nome que está acima de todo nome. Consequentemente, Jesus é o Senhor dos senhores.
Revelando o domínio divino, ele é também o Rei dos reis (Ap 19.16). A unidade entre natureza
e nome pode ser vista em Ap 19.13 e Jo 1.1. Só ele conhece o seu nome, no sentido de que só
ele conhece a plenitude de seu relacionamento com Deus (Ap 19.12). Jesus age em nome de
Deus como o Cristo (Jo 10.24-25). Sua vinda futura completa sua obra (Mt 23.39). Seu nome,
então, envolve todo conteúdo dos atos redentores de Deus (ICo 6.11). A justificação e a
santificação em seu nome relacionam-se não com a mera pronúncia do nome, mas ao batismo
no sentido de Rm 6.1ss. O perdão está em seu nome (At 10.43; cf. 1 Jo 1.7; 2.12). A vida é dada
em seu nome, ou seja, mediante a entrada em sua esfera de ação ou na esfera de sua pessoa (Jo
20.31). Como Pedro afirma, a salvação está somente em seu nome (At 4.12). Aqueles que
entram nela devem fazer todas a coisas, e dar graças por tudo, neste nome (2Ts 1.12; Cl 3.17;
Ef 5.20). Seu nome é a esperança de todos os povos, embora ele possa significar tanto
112
julgamento como salvação (Jo 3.18). O Pai envia o Espírito no nome de Jesus (Jo 14.16).
CONEN et al, 2009; KITTEL et al, 2013)