Resumo - Capital Moral

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SEMINÁRIO PRESBITERIANO BRASIL CENTRAL

CURSO DE BACHARELADO EM TEOLOGIA


ALEX FALCÃO RIBEIRO

RESUMO
CAPITAL MORAL – DR. ROEL KUIPER

Resumo apresentado em cumprimento às


exigências da disciplina de Ética Cristã como
requisito parcial para a conclusão do segundo
semestre do terceiro ano do curso de
Bacharel em Teologia pelo Seminário
Presbiteriano Brasil Central, feito sob
orientação da prof. Rev. Ronaldo Crispim
Ribeiro.

GOIÂNIA
2°SEM/2020
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RESUMO
Alex Falcão Ribeiro – [email protected]
Bacharelando em Teologia
Seminário Presbiteriano Brasil Central
KUIPER, Roel. Capital Moral: o poder da conexão da sociedade. 1°. ed. Brasília: 2010. 310
p.

O presente resumo busca apresentar os principais pontos trabalhados pelo autor Roel
Kuiper na obra Capital Moral: o poder de conexão da sociedade, a obra tem por objetivo analisar
a moralidade da sociedade pós-moderna e apresentar a necessidade do desenvolvimento do
capital moral para resolução e melhor desenvolvimento dos conflitos sociais modernos. O
presente resumo irá apresentar os principais pontos trabalhados em cada capítulo do livro.

Introdução – Mundo desregulado

A introdução tem por objetivo apresentar um panorama sobre os principais pontos do


livro de maneira geral e dos principais assuntos que serão focos de abordagem analítica. Ele
começa apresentando uma problematização sobre o que é uma sociedade, na qual ele conclui
que não é uma estrutura total ou um organismo, mas uma equação de elementos, um
heterônomo e acontecer dinâmico, um grupo cooperativo em que as pessoas aprendem a se doar
a outros e a confiar umas nas outras. (p.19). Contudo, o autor apresenta que a sociedade se
tornou um mundo desregulado gerando pessoas desreguladas.

Essa situação decorre do fato da sociedade estar instável e com isso suas instituições
vacilarem, pois para que haja uma sociedade é necessário que haja, também, confiança entre as
pessoas. Essa desconfiança causa o que ele denomina de pânico moral, que nada mais é quando
as pessoas têm a sensação de que o seu mundo não está mais em ordem porque valores e
garantias que sempre pareceram confiáveis repentinamente deixaram de existir. Por isso as
pessoas têm a sensação que nada nem ninguém pode protegê-las. (p.21). Segundo o autor esse
problema está em um nível mais profundo do que a melhora de um capital social, pois encontra-
se no que Fevre chama de desmoralização da cultura ocidental que significa tanto o processo
da perda de contato com a moralidade como a forma em que a nossa cultura perdeu a sua razão
de ser. Fevre também aponta que essa desmoralização está atrelada a termos uma sociedade que
calcula racionalmente as suas relações, até mesmo as mais básicas, ao invés de sustenta-las na
confiança.
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Diante dessa problemática, o autor questiona como é possível estabelecer uma


comunidade moral. Sua solução está atrelada a desenvolver, reforçar e utilizar o que ele chama
de capital moral. Capital moral, segundo Kuiper, é a capacidade tanto individual quanto coletiva
de estar junto ao próximo e ao mundo de forma preocupada, ou seja, de maneira a apresentar
amor e lealdade. Sendo assim, o capital moral é expresso em padrões de responsabilidade social
e, portanto, tem por definição bases e características sociais. De maneira simples, é a capacidade
individual e coletiva de estabelecer relações morais.

Mas por que as práticas sociais precisam ser denominadas de morais? Duas correntes
são apresentadas para mostrar que ou a moralidade é algo extirpado e secundário, como
defendem os existencialistas, ou elas são produtos de relações sociais como defendem os
historicistas. Contudo, o autor se distancia delas e apresenta que a moralidade é algo que
transcende as relações humanas visto a existência de valores universais. Por fim, o autor
apresenta sua base teórica pautada na teologia reformacional, baseada em Kuyper e
Dooyeweerd e apresenta sua base argumentativa e estrutura do livro: na primeira parte
(capítulos 1, 2 e 3) Kuiper irá apresentar a sua análise da moralidade na modernidade, na
segunda parte (capítulos 4-7) ele irá apresentar como se desenvolve o capital moral e; por fim,
na terceira parte (capítulos 8-11) ele apresenta como é aplicado a teoria da parte anterior na
família, estado e religião.

I PARTE – MODERNIDADE DE MORALIDADE

Capítulo 1 - Tempo de transformação

Após a Segunda Guerra Mundial a sociedade passa por várias transformações, uma delas
é destacada pela sociedade de consumo inaugurada pelo modelo norte-americano de sociedade
do walfare state (Estado de Bem-Estar social). Além disso, a sociedade passou por aceleração
na sua mudança devido a três fatores que Kuiper destaca: a informatização, globalização e
individualização. Esses fatores contribuem para provocar na sociedade um grande processo de
afastamento social. Kuiper tenta, então, apresentar neste capítulo os fatores que levaram ao
estilo de pensamento e padrões de agir moderno e que são responsáveis por causar esses fatores
que consequentemente leva a um deslocamento do capital moral.

O ponto central dessa argumentação é que a globalização se torna o principal agente de


disseminação global desse afastamento, pois dissemina na sociedade a mentalidade mercantil
sobre o mundo, ocasionando uma racionalidade econômica e tecnológica. Contudo, por mais
que implanta o desenvolvimento tecnológico ela causa a perda de valores em todos os lugares
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do mundo, pois acaba disseminando a “crise de valores” que já estava presente no mundo
ocidental. Aliado a isso, os comportamentos sociais em que ainda há necessidade do outro é
curta, e precariamente usada e explorada e, em todo caso, tem de se funcional para algo que o
individuo deseja ou necessita. O resultado no qual o autor conclui nesse capítulo é que a
sociedade se transformou em uma sociedade de relacionamentos líquidos que cria a cultura da
exclusão e da perda de confiança entre os indivíduos. Ele conclui que diante desse cenário o
“capital moral”, e com isso a força de conexão moral, surge nas relações cotidianas diretas entre
pessoas e, por isso, são as relações que precisam ser estudadas de forma mais aprofundada. Nas
relações cotidianas, as pessoas acabam se chocando com a alteridade do outro. Perceber e lidar
com isso exige uma postura moral de aceitação, tolerância, lealdade e amor ao próximo. Essas
atitudes fundamentais entre as pessoas e grupos dentro da sociedade são fundamentais para
estabelecer vínculos fortes nelas.” (p.51). Sendo assim, uma sociedade líquida e individualista
afasta cada vez mais a construção de um capital moral próprio e tende a sofrer mais com a
carência de valores e a sua liquidez.

Capítulo 2 – Encantamento utópico

Nesse capítulo, Kuiper tratará de como o pensamento utópico influenciou a construção


da sociedade e a dificuldade que isso traz para a solidez das relações sociais modernas. Ele faz
isso partindo de uma análise do pensamento de res publica do protestantismo e do humanismo.
Ele fará uma análise crítica tendo como pressuposto a visão do protestantismo em relação ao
humanismo. A primeira questão que ele demonstra é que a projeção utópica gerou grande
influência no pensamento político ocidental. Para isso ele define da seguinte maneira o que é
considerado por utopia nesse capítulo: “a utopia é a projeção do que se espera ou se deseja no
espaço histórico-formativo do mundo. [...] No pensamento utópico, o homem aparece como um
ser capaz de aperfeiçoar a si mesmo e o mundo. A história se transforma num processo de
progresso que sob a direção humana é capaz de produzir uma sociedade melhor. Na utopia, a
ação humana na história encontra um horizonte moral.” (p. 57)

Sendo assim, a utopia moderna configura-se no desejo de substituir o que está imperfeito
pelo que será perfeito. Isso deu bases para que regimes totalitários convencessem as massas em
seus projetos utópicos. Isso se dá porque os utopistas acreditam na viabilidade da sociedade
como um todo e eles partem do princípio de que é necessária uma ruptura para com o existente
para poder atingir o objetivo. A crítica a essa mentalidade se dá que o pensamento utópico é
incapaz de reconhecer a condição social existente, pois eles o desconsideram e saltam para
buscar a alteração daquilo que já existe. Portanto, o ponto moral nunca estará no presente, sim
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no futuro e qualquer um que vier em nome de um”futuro melhor” terá o seu direito resguardado,
mesmo que seja como regimes totalitário como o social nacionalismo e o regime socialista na
URSS.

É importante destacar que esse pensamento utopista se baseia em um pensamento


anterior ao pensamento moderno. Ele advém do dualismo de Platão, que apresenta a ideia de
um mundo ideal que nunca será alcançado pelo mundo sensível, que vivemos agora. Por isso,
More ao desenvolver essa ideia indica que nunca haverá uma sociedade ideal na terram pois o
homem é fraco demais para isso, sendo assim o que é necessário é que o homem busque através
de uma melhora intelectual e cultural o desenvolvimento da sociedade em prol de criar uma
sociedade.

Em contra partida, Kuiper mostra que a posição reformada vai em oposição a


mentalidade utopista. Lutero e Calvino acreditavam que o homem é corrompido e que não é
capaz de desenvolver a sociedade sem uma intervenção de um terceiro (Deus). Althusius afirma
que o homem por si só não está suficientemente equipado para uma vida completa, ninguém é
igual ao outro, pois o homem depende das qualidades um do outro e com isso dependem de
Deus. “As visões federalistas de Althusius, que invocam fortemente as estruturas de
autorresponsabilidade, foram para erroneamente no segundo plano, inundado pelo pensamento
radical do iluminismo.”

A “alta modernidade” recebe dos pensamentos humanistas essa influência e desemboca


no projeto de uma sociedade melhor. Por isso, o século XX é o auge do pensamento utópico
por meio de expressões estatais. A partir disso, fomentou-se uma crença no progresso que
permitiu projetos de engenharias sociais que, por sua vez, foram internalizadas ao imaginário e
à moral dos indivíduos. A conclusão que se chega disso é que o “encantamento utópico que
ainda continua vivo no pensamento moderno subverte os contextos de vidas concretos
necessários para a formação do capital moral, assim como as questões sobre continuidade nas
relações e lealdade de um com o outro, e justamente quando a vida não é perfeita.”

Capítulo 3 – Esquecimento Moral

A tese de Kuiper nesse capítulo é: “a modernidade é caracterizada pela construção de


formas de racionalidade que se desenvolvem como um lado contrário da natureza. Esse lado
contrário se transforma num mundo por si só, uma nova verdade e, consequentemente,
perdemos o contato com o que está à volta e nos alienamos do concreto da realidade cotidiano.
O esquema racional, planejado como declaração de uma ordem natural, portanto, também cria
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o afastamento em relação a esta ordem natural.” Isso acontece pelo fato de a sociedade moderna
mudar o significado das coisas do SER para as coisas-entes. Kuiper faz isso ao longo do capítulo
mostrando como essa inversão se constrói ao longo do pensamento ocidental partindo desde o
sistema aristotélico-tomista, passando pela filosofia de Hobbes e culminado no pensamento de
Hegel. Ele mostra que esses pensamentos desembocam em um sistema de vida tecnicizado que
acaba afetando a confiança moral e gera um ambiente de vida orientado por liberdade que
suspende os laços morais.

O esquecimento moral apresentado no capítulo resulta da perda intersubjetividade, pois


primeiro coloca o homem como o fator predominante. Isso se distancia do pensamento
reformado e de Althusius de que a lei natural está claramente expressa no Decálogo e tem seu
fundamento no divino. Agora, cada individuo tem um direito natural à autopreservação. Isso é
desenvolvido por Hobbes na sua teoria contratualista, que tem como pressuposto de que o
homem é o lobo do homem. Sendo assim, a luta de um contra os homens passa de um direito
natural. Isso acaba resultando na perda de um vem comum, pois o modo natural do homem
passa a não ser um local de exemplos morais, a sociedade com suas relações intersubjetivas é
descartada como criatório de uma moral que possa nos guiar.

Diante de todo esse cenário, Kuiper encerra o capítulo 3 mostrando que os padrões
normativos da criação precisam ser recuperados para termos um fundamento moral de nosso
relacionamento com o outro e com o mundo criado.

Capítulo 4 – O paradoxo da individualização

Nesse capítulo Kuiper tenta apresentar outro efeito da sociedade moderna que ele chama
de paradoxo da individualização. Esse paradoxo consiste na necessidade de se construir a nossa
vida pautado em nós mesmo e em nossas próprias escolhas, mas ao mesmo tempo nos
esbarrarmos aos limites de nossa liberdade e ativamos uma autorreflexão moral que nos leva ao
outro e às existências que partilhamos com eles. Isso significa que as necessidades pessoais em
primeiro geram um conjunto de regras e formas sociais negociáveis, o que acaba gerando um
clima de desequilíbrio e desconfiança social.

Desse modo, surge o conceito de emancipação e projeto de vida. A emancipação trata


da libertação de indivíduos de vínculos sociais que obstruem as suas perspectivas de vida.
Planejamento de vida é idêntica a política de vida é a autorrealização e trata da modelagem das
escolhas da própria vida com base nas possibilidades existentes. Isso ocasiona o processo
denominado de reflexibilidade que atenua o processo de individualização, pois parte na busca
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baseada do que ele chama de “eu sou eu”. Contudo, mesmo nessa busca há ainda uma
necessidade de aproximação moral com o outro.

Kuiper avalia esse processo dizendo o seguinte: “O paradoxo da individualização torna


claro que o homem, em sua busca de sentido e conforto, não pode prescindir de outros e nem
de bases sociais. Amor e confiança são padrões morais e estes, por sua vez, precisam de bases
sociais para serem confirmados no comportamento humano. Se privam o homem de seu
contexto social – e essa é a constatação da sociologia modernizadora- então chegamos à imagem
do homem que a filosofia social moderna criou: um individuo hobbesiano que, em luta
constante com o seu meio, tenta aumentar seu poder.” (p.119) O autor demonstra assim que se
a sociedade se baseia no eu, a sua relação para com os outros de fato se torna como Hobbes
descreve – o homem é lobo do próprio homem. As relações de interesse e até as de altruísmo
são baseadas em interesses e não na priorização do bem comum e na relação com o mundo.
Para isso ele defende que não é o próprio individuo que dá sentido à sua vida, mas o individuo
aprende a descobrir esse sentido no compromisso com outros e nas interações do ambiente
social. É nesse tema que ele desenvolverá a segunda parte do livro.

PARTE II – A FORMAÇÃO DO CAPITAL MORAL

Capítulo 5 – O homem cuidador

Nesse capítulo, Kuiper trabalha com temas ligados a natureza do homem. Ele quer
demonstrar que para que haja uma formação de capital moral, o homem não pode ser entendido
como uma máquina biológica, nem mesmo um ser autossuficiente voltado para si mesmo. Nem
mesmo fazer um dualismo entre a parte material e alma do homem. Ele trabalha com a visão de
que consciência (alma) e corpo estão relacionalmente entrelaçados e juntos formam a pessoa
inteira. O relacional é uma característica da persona humana como tal. É a partir daí que pode
ser dito que o homem existe, ou seja, se torna evidente para outros. Desse modo, a dimensão
moral dos homens está intimamente envolvida com o fato de que ele foi chamado para se
relacionar de maneira preocupada com os seus semelhantes e com o mundo.

Tendo isso definido, Kuiper mostra que a alteridade é a origem da realção moral, pois
quando outro se dirige a nós, ele nos exorta a cuidar e amar. A relação moral surge da autoridade
do contato e nos obriga a um ato moral. Para que haja essa alteridade é necessário dois
comportamentos complementares a diminuição da diferença com o outro para gerar o ato de
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compreender ou identificar e a de deixar existir a diferença com o outro, essa última ele
denomina de um ato de preocupação, que significa que há uma construção de se envolver com
o outro. A intersubjetividade aqui se baseia na compreensão comum do outro no igual e é o
retorno do igual que formaliza o diálogo com o passar do tempo.

Por isso, Kuiper mostra que é necessário remontar ao conceito de imago dei para
entendermos a nossa verdadeira natureza. Para ele a imagem de Deus é o compromisso amoroso
com o outro em uma fidelidade relacional. Sendo assim, o homem configura-se em uma missão
de ser fiel com o seu chamado para abraçar e fiel com a criação. Ao abraçar a criação de forma
preocupada-responsiva, o homem demonstra a imagem de Deus.

Nesse capítulo, ele defende a tese de que nosso relacionamento deve ser pautado em
uma estrutura pactual e não contratual. O contrato é a concordância formalizada ou não com
um compromisso. Contudo, os vínculos de um contrato são condicionais e não cria vínculos de
lealdade fora dos interesses partilhados. O quanto alguém se sente obrigado a cumprir o contrato
depende totalmente dele mesmo. Já nas relações pactuais, entramos em uma relação pessoal
com algo que é superior a nós mesmos. E através das relações pactuais, somos chamados a
servir à vida numa existência preocupada-responsiva que se estende a tudo o que existe. É para
isto que as relações pactuais convidam.; por meio de suas qualidades específicas – mediante
sua abertura e inclusividade -, elas criam o compromisso fundamental capaz de forjar uma
sociedade em uma comunidade moral. (p.145-146) Para que haja estrutura sólidas é necessário,
portanto, se ter uma sociedade que entenda que o chamado do homem é agir de maneira a se
preocupar com outro e com a criação dentro de uma estrutura pactual que transcende as relações
contratuais humanas.

Capítulo 6 – Estruturas sociais e práticas morais

Nesse capítulo o autor vai apresentar como o capital moral é formado em estruturas
sociais concretas, onde as pessoas assumem a preocupação umas com as outras. Sua tese é de
que o “capital moral é primariamente formado em contextos sociais pactuais. Neles, o homem
não é só abordado, mas ele é chamado a se compadecer com a preocupação pelo outro. A
autoridade desse chamado leva à noção de uma obrigação essencial ante outros e forma a atitude
fundamental moral que se manifesta na preocupação com o outro e na preocupação com o
mundo. O capital moral é um patrimônio de pessoas que primariamente aprendem em relações
pactuais o que é adotar uma atitude fundamental preocupada em relação ao que se apresenta na
realidade cotidiana.” (p.148)
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Partindo de um ponto de vista dooywerdiano, o autor mostra que a posição sociológica


moderna fracassa em criar capital moral, pois parte de relações supostamente neutras, que não
possuem compromissos morais. Por isso ele apresenta o ponto de vista do filósofo holandês e
que é necessário que se reconheça que existem estruturas naturais que independem da vontade
pessoal, que são as instituições que regulam a sociedade e estruturas que são criadas para
cumprir determinados objetivos e não são permanentes. Kuiper mostra que as estruturas
permanentes que estabelecem laços comunitários naturais e instituições tem em si uma estrutura
pactual apresentada em três critérios: a durabilidade, a inclusividade e autoridade. As
associações que não são permanentes são pautadas em relações contratuais.

Sendo assim, o autor conclui que A sociedade é, portanto, um “conjunto encáptico”,


uma rede de entrelaçamentos de instituições, naturais ou criadas, e indivíduos. Essa é a forma
pela qual se dá as relações entre as estruturas. Por meio de uma correlação dinâmica existente
nessa rede, estabelecem-se relações comunitárias e interindividuais, havendo reciprocidade e
dependência entre si. É por meio dessa reciprocidade dialógica que há entre as diferentes
esferas, permeadas pelo capital moral dentro das estruturas, que os vínculos são proliferados
gerando integração, inclusividade e durabilidade. É dentro desses pilares que se pode
fundamentar uma comunidade moral. Contudo, para isso é necessário que a base esteja além
das estruturas humanas. Kuiper vai afirmar que “a verdadeira autoridade [para essa estrutura
dialógica] transcende até mesmo as instituições do Estado. A verdadeira é o “totalmente Outro”,
o “Tu Eterno”. Em relações pactuais e consequentemente, também na sociedade como pacto,
tudo no final se refere a uma Pessoa que é o Doador de todo bem.” (p.170) Kuiper, então,
conclui que se a sociedade deseja ser um conjunto integrado de relações é necessário que se
tenha uma autoridade moral que seja maior e transcenda ao homem.

Capítulo 7- Pacto e Contrato

Se o capítulo anterior termina com a necessidade uma autoridade moral maior do que o
homem para que haja um conjunto integrado de relações, nesse capítulo Kuiper mostra que os
fundamentos da sociedade não estão bem alicerçados e não são suficientes para desenvolver a
intersubjetividade. Isso se dá, pelo fato de estarmos pautados em relações de contrato e não em
relações de pacto. O problema da estrutura moral ser baseada em contrato está no fato dela
tentar recuperar a confiança social criando uma confiança institucional pautada em contratos.
Contudo, os contratos são frágeis, pressupõe rompimentos e dependem da vontade humana
cumpri-los ou não.
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Kuiper propõe que os contratos têm o seu espaço e servem para relações
interindividuais, contudo, ele não é capaz de dar normatividade para as demais estruturas
sociais. Por isso, ele propõe que a sociedade quer e deve ser vivida como um pacto. O pacto é
uma forma de acordo que começa com o todo, ele é aberto e universal, parte de um laço natural
e vê a relação eu-tu como sagrada e moral, promovendo assim reciprocidade, antecipando as
necessidades do outro. O maior exemplo de pacto é o que Deus tem como o seu povo e nos dá
esse modelo para nossas relações. A grande questão que pacto recupera é a importância da
promessa em nossa sociedade e isso necessita e faz com que a confiança social seja retomada.
Conforme afirma Althusius, o pacto é a base necessária do reconhecimento mútuo e de uma
ordenação sociopolítica comum. É uma sociedade firmada em padrões pactuais que o capital
moral cresce e dá estabilidade a sociedade.

PARTE III – O BEM ESTAR SOCIAL

Capítulo 8 – Relações responsáveis: parceira e fraternidade

Na parte 3, Kuiper faz uma apresentação de como são as estruturas particulares dentro
de uma estrutura pactual. A primeira estrutura apresentada é a família que segundo ele é a
unidade menor e mais importante para a formação de capital moral, pois é onde os indivíduos
aprendem e são convidadas a se doarem uns pelos outros. Ela se origina de uma relação de
parceria que começa com um projeto de vida conjunto, na união entre duas pessoas que
prometem amor e fidelidade até a morte. A promessa, então, se torna a base da relação
matrimonial e da perpetuidade da família. Dentro disso, há uma forte prática dialógica de
entrega e comunicação um pelo outro. Elas são apresentadas em 4 responsabilidades que
permitem a boa integração da relação de parceria: a comunicação, a gestão, a criatividade e a
preocupação. Essa relação de parceria acaba se desembocando no desenvolvimento da relação
de parentalidade que é pautada numa relação de desigualdade justa devido a assimetria de sua
relação. É na família que se desenvolve, também, as relações de fraternidade que começam nas
relações de iguais entre os irmãos e culmina nas relações de amizade. Sendo assim, a família
dentro de uma estrutura pactual desenvolve as bases de relacionamento e de educação de um
indivíduo e é principal gerador de capital moral. Sem a família o empenho pela comunidade
não existiria, a amizade não existiria, se não tivesse tudo um exemplo e sido aprendidos na
menor de todas as comunidades.
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Capítulo 9 – A comunidade política: dimensões morais do direito

Nesse capítulo, Kuiper apresenta as dimensões morais da comunidade estatal, isso se dá


pelo fato de que a atividade do Estado é uma condição para as relações morais gerais numa
sociedade, pois abre a perspectiva para o desenvolvimento do bem comum, que é o objetivo da
comunidade política. Contudo, o que temos hoje é uma relação paradoxal entre o desejo de mais
apoio do Estado e ao mesmo tempo ele ser um empecilho em nossas vidas. Para isso, Kuiper
retoma que o Estado deve estar volatdo em direito de bem-estar público. Esse direito precisa
ser orientado em duas vias: o mishpat (direito) e chesed (compromisso). O primeiro apresenta
um caráter mais instrumental e está ligado ao como fazer algo de forma justa, o segundo está
associado ao significado moral desse proceder. As duas coisas precisam andar interligadas, na
qual o mishpat se baseia no chesed. Isso permite que o direto se sustente em normas pactuais.
Kuiper ainda apresenta as funções do Estado que são: proteger o ordenamento jurídico visando
a segurança de seus cidadãos; empenhar-se por uma unidade a autonomia de uma sociedade; e
representar o todo e a perspectiva transcendente de justiça de todos. Dentro desse ordenamento,
o Estado tem a função de exercer a sua posição como autoridade e gerir a sociedade em uma
representação também pactua que visa o bem comum.

Capítulo 10 – a sociedade como pacto: o bem comum

Esse capítulo trabalha com um dos temas mais atuais: a pluralidade. Kuiper defende a
tese de que o Estado deve visar o bem comum no que ele denomina de uma pluralidade
estrutural, isso significa que a sociedade está diferenciada com todos os seus laços,
organizações e redes. Essas têm as suas diferenças, mas devem interagir entre si. Aqui ele
apropria-se conceito de Kuiper e Dooyweerd de soberania das esferas, porém faz uma crítica e
abrange o conceito, mostrando que por mais que eles defendessem a autoridade e pluralidade
das esferas, eles falhavam na proposição da interação entre as esferas. Para isso, Kuiper propõe
a relação de alternância entre autoridade e subordinação. Isso significa que em dados momentos
uma sociedade que visa o bem comum saberá ouvir determinada autoridade de determinada
esfera que não é a sua, sendo subordinado, mas em outro momento a autoridade de sua esfera
será exercida. Kuiper afirma que é necessário haver uma moralidade complexa para que haja
uma sociedade bem conectada. Ela busca equilíbrio entre as diferentes esferas e interesses por
exigir atenção à contribuição legítima de todos e uma necessária “realização simultânea de
normas”. Essa sociedade, no entanto, só é possível quando ela apoia na promessa de
preocupação e fidelidade comunitária, pois todas as práticas são direcionadas a essa promessa.
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Capítulo 11 – Arremates morais: civilização e religião

Conforme, Kuiper termina o capítulo anterior, é necessário que a sociedade se oriente


para uma promessa e nesse capítulo ele aponta que a civilização só conseguirá orientar-se a essa
promessa quando retomar o espaço da religião. Durante toda a história sempre as civilizações
se apoiaram em crenças fundamentais fornecidas pela religião. O abandono dessas crenças
fundamentais e a fragmentação da sociedade a tornou incapaz de fazer as promessas e sustentá-
las de modo a causar uma desconfiança social generalizada. Para que se retome o caminho,
Kuiper afirma que é necessário voltar aos princípios morais judaico-cristãos e com isso
desenvolver um capital moral na sociedade, pois este afirma e chama a todos a uma
responsabilidade moral que permite trazer mudanças e oposições ao sistema individualista do
capitalismo. O chamado da responsabilidade moral é que o homem esteja novamente presente
para outro. Isso pautado na fórmula dada por Cristo de amar uns aos outros.

Epílogo

No epílogo, Kuiper conclama a todos a desenvolver uma ética de responsabilidade que


é solidária, prática e permite confiança interpessoal e institucional, diferentemente da ética
vazia e sem respostas que se tem hoje. Ele conclui que é necessário resgatar o chamado do
homem para se estar presente aos outros, sem projeções utópicas sistemas de alienação e
suposição de autonomia objetiva. E termina dizendo que todos os princípios morais que foram
esquecidos e afastados pela sociedade são hoje redescobertos e fornecem uma excelente
resposta aos questionamentos do mundo no século XXI.

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