Camões Aula 06 de Fevereiro
Camões Aula 06 de Fevereiro
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Luís de Camões
1. Os desenvolvimentos renascentistas
2. Luís de Camões
Épica: Os Lusíadas1
Antecedentes
Características
1
Os Lusíadas é a única obra que Camões publica em vida, o resto da sua obra seria publicada depois da
sua morte em diversas antologias.
2
Chamado Cabo das Tormentas ou Cabo Tormenteiro, já que ninguém era quem de o atravessar, até
que Bartolomeu Dias o faz e o cabo troca o seu nome.
1
Introdução à Literatura Portuguesa
USC, 2006/2007, http://apuntamentos.iespana.es/introlitpt/20.doc
10. Os desenvolvimentos renascentistas. O Maneirismo até aos finais do século. Luís de Camões
Lírica
Características gerais
Obras
3
Em muitas ocasiões Camões só traduz os versos de Petrarca para o português, mesmo chega a incluir
versos em italiano.
4
A palavra fortuna não tem em português um matiz positivo, significa simplesmente destino, mas é
usada muitas vezes com conotações negativas.
5
Na métrica portuguesa com medida velha faz-se referência a moldes poéticos coma a redondilha que,
na Renascença, já era velho. É equivalente ao que a métrica espanhola chama versos de arte menor.
6
No sistema métrico português, ao igual que no francês, só se conta até a última sílaba tónica, pelo que
se conta uma sílaba menos que no espanhol e no italiano. Há também redondilhas com versos de sete e
cinco sílabas, são as redondilhas de pé quebrado.
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Desde o século XVI com cantiga só se denomina às composições com mote e glosa.
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10. Os desenvolvimentos renascentistas. O Maneirismo até aos finais do século. Luís de Camões
Temática Amor.
Descrição hiperbólica que supõe uma excepção, já que a mulher é preta e
Descriptio
isso rivaliza com o branco. Isto permite-se nas redondilhas pela sua
puellae
liberdade temática, mas não poderia ocorrer num soneto.
Interpretações
da crítica A rapariga seria um amor de Camões na Índia.
biografista
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10. Os desenvolvimentos renascentistas. O Maneirismo até aos finais do século. Luís de Camões
B) MEDIDA NOVA 8:
SONETOS:
*
Exemplo1: “Enquanto quis Fortuna que tivesse”
É um soneto no que Camões apresenta a sua literatura (atitude, temática,
estado de ânimo) e se dirige ao leitor (“quando lerdes”):
Soneto –
- Busca a captatio benevolentiae: “num breve livro” (breve = modesto).
prólogo
- Diz-lhe ao leitor que segundo o seu estado de ânimo entenderá os
versos duma ou doutra maneira.
Destino (“Fortuna”, v.1) e Amor (palavra Amor no 2º quarteto e no 1º
terceto).
Temas Camões diz que quando o destino lhe permitiu esperança escreve do amor,
mas chega um momento no que já não é quem de ocultar as desgraças do
amor.
8
Na métrica portuguesa medida nova (dolce stil nuovo em italiano) faz referência a novos moldes
poéticos como o soneto, a égloga (ou écloga) ou a canção. Caracterizam-se por serem mais cultos e
usarem versos mais longos (versos de arte maior na métrica espanhola). O introdutor da medida nova
em Portugal foi FRANCISCO SÁ DE MIRANDA, quem viaja a Itália com uma beca concedida pelo
rei e, ao seu regresso, conhece em Espanha a Garcilaso ou Juan Boscán. A medida nova entra em
Portugal através da literatura espanhola.
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Lembremos a diferença entre enamorad@, é dizer, aquele que está apaixonado por outra pessoa, e
namorad@, aquela pessoa com a que se tem uma relação sentimental ou há cumplicidade (diferente de
noiv@, que seria já uma relação oficial).
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Também é frequente em Camões a palavra saudade.
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10. Os desenvolvimentos renascentistas. O Maneirismo até aos finais do século. Luís de Camões
Filosofia
Expõe-se a separação entre alma e corpo e também entre Céu e terra (lá
platónica e
e cá). A voz lírica quer ir para o céu com a sua amada.
tradição cristã
Tema Amor
Interpretações
A crítica biografista interpreta que este soneto e alguns outros, que incluem
da crítica
no ciclo ou série de Dinamene, estão feitos pela morte num naufrágio
biografista:
duma moça chinesa com a que Camões teria amores. Camões chama-lhe
ciclo ou série
Dinamene já que este é o nome duma ninfa.
de Dinamene
Há uma versão deste soneto feita por Noriega Varela, uma versão muito
próxima.
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10. Os desenvolvimentos renascentistas. O Maneirismo até aos finais do século. Luís de Camões
Exemplo1: “Canção X”
Temas Amor e destino.
O poeta dirige-se a um secretário (no sentido etimológico, o que guarda os
Referências 11
segredos), esse secretário é o papel, “papel com que a pena se
metaliterárias
desafoga”.
Referências
“um Minino sem olhos me ferisse”: referência a Cupido.
eruditas
*
A professora fiz uma proposta de comentário exame consistente em pôr em diálogo dois textos, por
exemplo “Enquanto quis Fortuna que tivesse” e “Sôbolos rios que vão”: nos dois há notas
metaliterarias, fazem referência ao amor e ao destino... É conveniente falar também da basta cultura e
erudição de Camões.
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Usa a palavra pena em dois sentidos: tristura e instrumento para escrever.
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10. Camões
1. Vida
1) Data e lugar de nascimento: crê-se que nasce em 1524 / 1525, mas não há
documentos que o acreditem. Tampouco se sabe qual foi o seu lugar de nascimento, há
hipóteses que assinalam Lisboa e outras que mesmo defendem a sua origem galega
(Filgueira Valverde relaciona o apelido Camões com o topónimo pontevedrês Camos).
Morre o 10 de Junho de 1580.
2) Formação: não se sabe onde adquire a sua formação, mas crê-se que estuda filosofia e
literatura na Universidade de Coimbra sob a protecção dum tio que era Padre (D. Bento).
3) Procedência social: tudo parece indicar que pertencia à pequena nobreza, que naquela
altura vivia numas condições económicas bastante adversas. Camões mostrou sempre o seu
inconformismo com esta situação, razão pela que um dos seus biógrafos diz que era
demasiado pobre para viver como fidalgo e demasiado fidalgo para viver como pobre.
4) Passagens significativas da sua vida:
a) Atribuíram-se-lhe vários desterros, entre os que destaca um desterro para Ceuta onde
teria exercido de soldado e perderia o olho direito, uma perda que refere nos seus
versos.
b) Atribuíram-se-lhe várias relações amorosas, entre as que destaca a que manteve com a
Infanta D. Maria, irmã do rei D. Manuel I, a qual inspiraria alguns dos seus textos. Um
exemplo é “Perdigão perdeu a pena”, umas redondilhas em que o perdigão, que é um
auto-pseudónimo do autor, quer subir demasiado alto e tem um final trágico.
c) Conhece-se a sua passagem pela cadeia como consequência dum conflito com um
funcionário da Corte. Esteve um ano em prisão e saiu depois de ser perdoado pelo rei e
pelo agredido, mas com a condição de viajar para a Índia para servir a Coroa.
d) Na Índia:
■ Parece que sentiu uma grande decepção com Goa pela ambição dos portugueses,
cidade que que literariamente chamaria Babilónia (terra de exílio dos israelitas) por
considerá-la uma terra má e à que se refere com expressões negativas. Esta
identificação da Índia com Babilónia baseia-se na composição “Sóbolos rios que vão /
de Babilónia a Sião”.
■ Participou em várias expedições marítimas e numa delas Camões iria perde-lo tudo
por causa duma tempestade nas proximidades da costa da Indochina. Segundo a lenda,
nesta tempestade:
Morre uma moça chinesa com a que Camões teria uma relação amorosa e que
baptizara literariamente como Dinamene. Pouco depois teria escrito os sonetos
elegíacos dedicados a Dinamene.
Correu grande risco o manuscrito de Os Lusíadas (cujo primeiro canto teria sido
redigido na Índia, segundo alguns biógrafos), que Camões teria salvado das águas.
e) Camões abandona a Índia e, com a ajuda económica das suas amizades, vai para
Moçambique, onde contrai cada vez mais dívidas.
f) Regressa de novo a Lisboa, parece que também com a ajuda económica dos seus amigos,
um dos quais parece que foi João de Barros 1. Em Lisboa publica Os Lusíadas (1572) e
consegue sobreviver com uma tença anual concedida pela Monarquia como
reconhecimento ao seu serviço à pátria como soldado e escritor. Com tudo, Camões é
apresentado pelos seus biógrafos como um homem orgulhoso e insatisfeito, contestatário
com a falta de reconhecimento dos seus valores, tanto como homem de letras como de
armas. Esta é uma interpretação tirada dos últimos versos de Os Lusíadas, em que diz que
silencia a sua voz porque não quer já mais cantar para gente vil e desagradecida.
g) Camões morre em 1580, mas não temos dados exactos do que acontece com os seus
restos, que parece que foram enterrados sob uma placa em que se lia Aqui jaz Luís de
Camões, príncipe de poetas, viveu pobre e miserável e assim morreu. O terramoto de
1
Entre as seis cartas conservadas de Camões há algumas dirigidas a João de Barros.
1
Literatura Portuguesa I (das origens à Renascença)
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10. Camões
1755 arrasou o seu sepulcro e hoje os seus restos estão presumivelmente nos
Jerónimos de Lisboa.
2. Obra
2.1. Lírica
A obra lírica de Camões só foi publicada postumamente, sob o título de Rimas 2. Crê-
se que Camões teria projectado publicar a sua obra, que já estaria pronta num manuscrito sob o
título de Parnaso Lusitano, mas este seria-lhe roubado.
Esta parte de obra de Camões apresenta, ainda na actualidade, muitos problemas de
edição já que circulam muitas variantes dos textos, textos atribuídos a Camões que não são dele
(de Diogo Bernardes, poemas do Cancioneiro Geral 3) e textos atribuídos a outros autores que são
em realidade de Camões. Deste modo, na actualidade não há nenhuma edição aceite por toda a
crítica (algumas atribuem-lhe mais de mil textos, e outras menos de quinhentos). Com tudo,
podemos citar as de:
a) Júlio da Costa Pimpão;
b) Leodegário de Azevedo Filho, edição muito diferente às tradicionais.
Significado Significante
1. pluma (das aves) 1. pena
2. instrumento da escrita 2. penar
3. mágoa 3. apenado
4. condena 4. depenado
5. rocha 5. ...
3) Estrofes:
a) Cantiga (mote + glosa).
b) Vilancete (mote + glosa).
c) Trova: estrofes dum número indeterminado de versos que não estão sujeitos a nenhum
mote.
2
Bocage publicaria uma obra com o mesmo título pela admiração que sentia por Camões.
3
Publicado em 1516, antes do nascimento de Camões.
2
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10. Camões
Composição Comentário
Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.
- Interpretações sobre o contido:
Perdigão que o pensamento Didáctica: quem muito aspira corre o risco de cair, e a queda
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar, será muito dolorosa.
Ganha a pena do tormento. Biografista: alusão autobiográfica de Camões sobre o seu
Não tem no ar nem no vento amor com a Infanta D. Maria, irmã do rei D. Manuel I, que
Asas com que se sustenha:
seria um sonho demasiado alto.
Não há mal que lhe não venha.
- Forma: cantiga composta de mote e glosa.
Quis voar a ũa alta torre, - Estilo engenhoso no uso da palavra pena:
Mas achou-se desasado; Pluma: perde a pena do voar (verso 6)
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre. Condena: ganha a pena do tormento (verso 7)
Se a queixumes se socorre, Repetição paralelística (perde a pena do voar / ganha a pena do
Lança no fogo mais lenha: tormento) e jogo com o significante (pena, penado).
Não há mal que lhe não venha.
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
- Temática amorosa, que faz referência ao amor que o autor
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos sentiria por uma escrava.
Fosse mais fermosa. - Forma: cinco trovas de 8 versos.
- Estilo engenhoso:
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Cativa / cativo:
Me parecem belas ~ Cativa socialmente (escrava);
Como os meus amores. ~ Cativo psicologicamente pela paixão.
Rosto singular, Viver:
Olhos sossegados,
Pretos e cansados, ~ Viver do ponto de vista físico: já não quer que viva.
Mas não de matar. ~ Viver do ponto de vista psicológico: porque em ela vivo.
Senhora vs. cativa:
U~a graça viva,
Que neles lhe mora,
~ Senhora do ponto de vista psicológico.
Pera ser senhora ~ Cativa do ponto de vista social.
De quem é cativa. Estranha vs. bárbora:
Pretos os cabelos, ~ Bárbora como estranha e também como incivilizada. A
Onde o povo vão
Perde opinião crítica biografista interpreta esta forma com dissimilação
Que os louros são belos. vocálica como um pseudónimo de Bárbara 4.
~ Estranha como desconhecida em oposição a bárbora como
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
incivilizada.
Que a neve lhe jura Pena (verso 36): com o significado de
Que trocara a cor. ~ instrumento da escrita,
Leda mansidão, ~ condena,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha, ~ dor, tristeza.
Mas bárbara não. - É uma composição muito singular porque se elogia uma mulher
preta, o que se afasta do cânone da época. Porém, isto faz-se na
Presença serena
Que a tormenta amansa;
medida velha, pelo que não é um facto tão estranho (seria
Nela, enfim, descansa impensável na medida nova).
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.
4
Da que se disse que foi uma vendedora mulata que o mantinha (Faria e SOusa); uma bailarina índia (Teófilo Braga);
uma cocinheira (Carolina Michaëlis); simplesmente uma mulher morena à que Camões chama preta de modo carinhoso.
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10. Camões
MOTE
VOLTA
- Temática: elogio duma moça à maneira de descriptio puellae. É
Leva na cabeça o pote, uma descrição plástica (alusão a cores, tecidos, penteados,
o testo nas mãos de prata, ornamentação, pela mais branca que a neve pura...)
cinta de fina escarlata,
sainho de chamalote;
- É interpretada coma a primeira composição duma trilogia em que
traz a vasquinha de cote, Camões comentaria os três estados da paixão. Este primeiro
mais branca que a neve pura; estado seria o da liberdade, mas com o risco de ficar nas garras
vai fermosa e não segura. da paixão (vai fermosa e não segura).
Descobre a touca a garganta, - É uma composição ligada ao folclore e à tradição (fonte).
cabelos d' ouro o trançado,
fita de cor d' encarnado...
Tão linda que o mundo espanta!
Chove nela graça tanta
que dá graça à fermosura;
vai fermosa, e não segura.
MOTE SEU
VOLTAS
VOLTAS DO CAMÕES
- Temas:
MUDANÇA OU MUTAÇÃO, sempre para pior, um tema recorrente
na obra de Camões e na Renascença em geral.
FORTUNA: ventura (verso 136).
FAMA, mais poderosa do que a morte (barões assinalados de Os
Lusíadas).
SAUDADE da terra de origem, enfatizada mediante imagens
violentas (versos 190 e 191: a voz, quando a mover, / se me congele
no peito.) que lembram a do soneto O dia em que eu naci
moura a pereça.
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10. Camões
Composição Comentário
Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento, Soneto – prólogo em que Camões apresenta a sua obra
o gosto de um suave pensamento literária:
me fez que seus efeitos escrevesse. - Referências ao processo da comunicação literária:
Mensagem amorosa.
Porém, temendo Amor que aviso desse Autor como agente da escrita (escrevesse).
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co’o tormento,
Destinatário: Ó Vós [...] quando lerdes.
para que seus enganos não dissesse. - Humilitas: escureceu-me o engenho, breve livro.
- Poema egotista. Camões insiste em que ele canta verdades
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos puras, não defeitos (erros).
a diversas vontades! Quando lerdes - Apresentação de temas recorrentes da sua lírica:
num breve livro casos tão diversos, Fortuna: Enquanto quis Fortuna que tivesse.
Passagem do tempo, ligada à Fortuna, que é sempre
verdades puras são e não defeitos; para pior. Assim, contrapõe-se o passado (tempo de
e sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos.
esperança) com o presente (tempo de desengano).
Soneto – prólogo:
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
- Processo de comunicação literária:
Que dous mil acidentes namorados Mensagem amorosa: cantarei de amor.
Faça sentir ao peito que não sente. Autor: Eu cantarei.
Destinatário: Faça sentir ao peito que não sente / Farei que o
Farei que o amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados, amor a todos avivente.
Brandas iras, suspiros magoados, - Temas recorrentes:
Temerosa ousadia e pena ausente. Amor e os seus efeitos contraditórios: Brandas iras,
suspiros magoados, / temerosa ousadía e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa, Imagem da mulher: senhora protótipo do amor cortês e
Contentar-me-ei dizendo a menor parte. da literatura petrarquista. É uma mulher esquiva e doce
ao mesmo tempo (desprezo honesto [...] vista branda e
Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa, rigorosa), intangível, superior ao poeta e de qualidades
Aqui falta saber, engenho e arte. inefáveis (contentar-me-ei dizendo a menor parte), descrita só
do ponto de vista psicológico.
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10. Camões
Mas como causar pode seu favor É uma definição baseada no paradoxo, tanto no contido como na
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
forma, já que o amor, apesar dos seus efeitos negativos, é quem
de unir corações, pelo que é um conceito paradoxal.
Um mover d’olhos, brando e piedoso,
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quase forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;
um despejo quieto e vergonhoso; - Definição duma mulher – ideia (descriptio puellae), da que só
um repouso gravíssimo e modesto;
uma pura bondade, manifesto
faz uma descrição psicológica e, no caso de ser física, tem de
indício da alma, limpo e gracioso; ser seguindo os cânones da época. É uma mulher intangível,
superior ao poeta (celeste formosura) e também contraditória
um encolhido ousar, uma brandura; (encolhido ousar, medo sem ter culpa).
um medo sem ter culpa; um ar sereno; - Referências mitológicas: Circe, feiticeira da Odisseia, uma obra
um longo e obediente sofrimento: que Camões conhece muito bem.
- Inspiração em Petrarca.
esta foi a celeste formosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento.
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10. Camões
Continuamente vemos novidades, - Mudança para pior, apresentada como uma lei universal
Diferentes em tudo da esperança; (todo o mundo é composto de mudança).
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
- Passagem do tempo na natureza (estações do ano) e no
homem, que termina com a morte (E, afora este mudar-se cada
O tempo cobre o chão de verde manto, dia, / outra mudança faz de mor espanto: / que não se muda já como
Que já coberto foi de neve fria, soía.)
E em mim converte em choro o doce canto.
- Referência metaliterária: em mim converte em choro o doce
E, afora este mudar-se cada dia, canto.
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
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10. Camões
2.2. Épica
A) O género da epopeia
1) Definição:
a epopeia é uma composição narrativa de carácter histórico em que se reflectem
diferentes aspectos dum povo através das aventuras dalguns heróis. Normalmente está
protagonizada por um herói central.
2) História da epopeia:
a) Literatura grega: a Odisseia de Homero apresenta o protótipo de herói épico, Ulisses, e
a partir desta obra desenvolver-se-ia o género épico.
b) Literatura latina: imita o modelo da Odisseia, e a obra mais importante é a Eneida de
Virgílio, que recolhe as aventuras de Eneias e a convenção das lutas entre deuses.
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10. Camões
B) A epopeia em Portugal
Desde o século XV há chamamentos para a elaboração dum poema épico em Portugal
sobre as descobertas. Por exemplo:
1) Cancioneiro Geral.
2) Poemas lusitanos de António Ferreira.
C) Os Lusíadas (1572)
1) Título: supõe uma declaração de princípios, já que lusíadas é um neologismo criado pelo
humanista André de Resende que designa os portugueses, os filhos do deus Luso
(propriedades semidivinas).
2) Personagens:
a) O protagonista da obra é o povo português, que é apresentado através das façanhas de
Vasco da Gama na sua viagem do Restelo a Calecut.
b) A obra também apresenta as lutas entre deuses mitológicos, uma convenção do género.
Assim, Baco apresenta-se como inimigo dos portugueses, Vénus como a sua protectora e
Júpiter como moderador. Isto introduz um elemento sobrenatural, importante sobre
tudo no Canto IX.
3) Acções: a viagem de Vasco da Gama é o fio condutor, já que através dela conta-se toda a
história de Portugal desde a fundação de Lisboa até o momento em que Camões está com a
pena na mão a escrever Os Lusíadas. Para isto relatam-se histórias de modo retrospectivo e
prospectivo (mediante as personagens sobrenaturais, como Adamastor). Encontramos assim
um entrecruzamento de planos:
História de
Viagem Deuses Intervenções do poeta
Portugal
Estrofes 1 – 18:
Inês de Castro,
Proposição: diz que vai cantar ao
apresentada como
peito ilustre lusitano. Os primeiros
Estrofe 19: apresenta rainha depois de morta
versos são uma tradução de Virgílio
os portugueses e focalizando sobre tudo
(arma virumque cano).
navegando, pelo que o amor, não os
Invocação às musas portuguesas, que
supões um começo in elementos políticos
denomina Tágides / Tégides.
medias res. (como António
Dedicatória ao rei D. Sebastião
Ferreira).
quando ainda é muito jovem, já que vê
nele a grande esperança de Portugal.
Ilha dos amores: ilha
Velho do Restelo, apresentado portátil à que chegam os
como uma pessoa sábia que lança portugueses na sua viagem
um discurso aparentemente contra de regresso. Apresenta-se
as descobertas, mas que também acompanhada dum discurso
pode ser interpretado como um carregado de lirismo e
elogio dos portugueses. também de erotismo (Canto
IX).
Adamastor: personagem que
aparece na viagem como uma visão
sobrenatural, mas que também faz
referências ao futuro dos
portugueses. Tem uma dupla face:
1. Lírica: está apaixonado de
Tetis.
2. Monstruosa: é a
personificação do Cabo das
Tormentas.
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