Camões Aula 06 de Fevereiro

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10. Os desenvolvimentos renascentistas. O Maneirismo até aos finais do século.

Luís de Camões

1. Os desenvolvimentos renascentistas

2. Luís de Camões

Épica: Os Lusíadas1
Antecedentes

No século XVI Portugal era uma importante potência económica, mas


não cultural, razão pela que havia necessidade de uma grande obra épica,
necessidade que já se denuncia em o prólogo de o Cancioneiro Geral de Garcia de
Resende. Haveria tentativas posteriores a esta obra e anteriores a Os Lusíadas, como
a de António Ferreira com Castro.

Características

a) Tem como pretexto narrar as descobertas portuguesas em geral, e a viagem


de Vasco da Gama de Lisboa a Calecut em concreto.
b) Mais fundamente narra toda a Historia de Portugal até o século XVI.
Episódios mais representativos

A) Inês de Castro: coroada rainha depois de morta.


B) Velho do Restelo: o Restelo é o porto de Lisboa, desde o que partem as
expedições portuguesas. Quando Camões narra a partida à Índia apresenta a
figura do Velho do Restelo:
 Um ancião com experiência que, em estilo directo, ataca as expedições e as
descobertas portuguesas.
 Com este episódio Camões amostra-nos a dupla cara das descobertas: o
sucesso político e económico fronte à perda de vidas, as desaparições
(humana)...
 Para alguns estudiosos isto é realmente um elogio, já que os portugueses,
apesar das dificuldades, seguem a descobrir terras (visão imperialista).
C) Adamastor: Adamastor é um gigante com o que se topa Vasco da Gama quando
passa pelo Cabo da Boa Esperança 2. Adamastor é um monstro visto desde duas
perspectivas:
 Épica: é uma personificação do Cabo que pretende assustar aos portugueses e
lhes prognostica grandes desgraças por atreverem-se a cruza-lo.
 Lírica: Adamastor também tem um coração, já que está namorado de Tetis
(deusa das águas). O gigante intenta abraça-la mas não o consegue, e fica com
a forma de um cabo. Por isso, é um ser que sofre pelo amor não correspondido.
D) Ilha dos Amores (no episódio nono, o penúltimo de Os Lusíadas): ilha
imaginária (pode que Camões se baseie em alguma ilha real) situada pelo autor na
viagem de volta desde Calecut, perto desta cidade. Nesta ilha, dirigida por Vénus,
os portugueses mantêm relações sexuais com ninfas, o qual:
 É uma recompensa pela sua coragem e valentia.
 Glorifica aos portugueses, já que se misturam com seres superiores, quase
divinos como são as ninfas.

1
Os Lusíadas é a única obra que Camões publica em vida, o resto da sua obra seria publicada depois da
sua morte em diversas antologias.
2
Chamado Cabo das Tormentas ou Cabo Tormenteiro, já que ninguém era quem de o atravessar, até
que Bartolomeu Dias o faz e o cabo troca o seu nome.

1
Introdução à Literatura Portuguesa
USC, 2006/2007, http://apuntamentos.iespana.es/introlitpt/20.doc
10. Os desenvolvimentos renascentistas. O Maneirismo até aos finais do século. Luís de Camões

Lírica
Características gerais

A) Mimese ou imitação: é considerada uma atitude muito positiva na época, quando


se imita a cultura greco-latina, o que supõe que se conhece muito bem os
grandes autores greco-latinos. Camões imita, em especial, a Petrarca 3, as suas
rime.
B) Descrição da mulher (descriptio puellae): a mulher é o principal objecto
cantado nas composições renascentistas. Camões descreve uma mulher que lembra
à Laura de Petrarca, uma mulher com características especiais:
 Representa a Beleza.
 Perante ela sente-se um amor platónico, já que é um ser superior,
intangível, que o homem não pode alcançar.
 Descreve-se sempre com os mesmos traços e com as mesmas metáforas,
já que é a mulher em geral, um conceito. É uma mulher que responde ao
cânone renascentista (cabelos loiros, pele branca, olhos azuis...)
C) Temas:
 AMOR: sente-se amor perante a mulher, essa mulher idealizada. É um
amor que produz tensão em quem ama entre o desejo e a razão, já que
leva à frustração.
 DESTINO (ventura, fado, fortuna 4): a voz lírica sente-se perseguida
negativamente pelos astros, mas também admite os seus erros humanos.
É dizer, acredita no destino, mas também nas acções humanas.
 Outros temas que ocupam uma menor extensão acabam, geralmente,
ligados aos dois anteriores.

Obras

A) MEDIDA VELHA 5: REDONDILHA é uma composição que provem da lírica


castelhana do século XV e que tem um grande sucesso. Não é uma composição
erudita, senão popular, está ligada ao folclore. O registo que se usa é coloquial e
a temática é mais livre. Em consonância com isto, o verso é curto, de sete
sílabas 6. Há redondilhas de dois tipos:
 CANTIGAS 7: têm duas partes:
 Mote: pequena estrofe que encabeça o texto e que pode ser do
próprio autor, doutro autor ou popular.
 Glosa: desenvolvimento da mote. Exemplo1:

Exemplo1: “Perdigão perdeu a pena,”


Camões joga em muitas ocasiões com o significado e o significante das
Jogos de
palavras. Um caso destacado é o da palavra pena, palavra polissémica
palavras
(cobertura das aves, instrumento para escrever, tristeza, pedra, condena).
Temática Amor.

3
Em muitas ocasiões Camões só traduz os versos de Petrarca para o português, mesmo chega a incluir
versos em italiano.
4
A palavra fortuna não tem em português um matiz positivo, significa simplesmente destino, mas é
usada muitas vezes com conotações negativas.
5
Na métrica portuguesa com medida velha faz-se referência a moldes poéticos coma a redondilha que,
na Renascença, já era velho. É equivalente ao que a métrica espanhola chama versos de arte menor.
6
No sistema métrico português, ao igual que no francês, só se conta até a última sílaba tónica, pelo que
se conta uma sílaba menos que no espanhol e no italiano. Há também redondilhas com versos de sete e
cinco sílabas, são as redondilhas de pé quebrado.
7
Desde o século XVI com cantiga só se denomina às composições com mote e glosa.

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a) Leitura biográfica: Camões sentir-se-ia apaixonado pela infanta dona


Interpretações Maria, irmã do rei.
da crítica b) Leitura moral: não se pode subir muito alto já que a caída será muito
mais dolorosa.

Exemplo2: “Descalça vai pera a fonte”


Temática Amor.
Há uma descrição da mulher em dois sensos:
a) Física, muito vistosa, mas seguindo os cânones (pele
Descriptio
branca...)
puellae
b) Psíquica (“vai fermosa, e não segura”): a rapariga é livre de
receber o amor e não está protegida contra a paixão.
É a primeira parte duma trilogia:
1) A rapariga é livre de receber o amor e está desprotegida contra a
paixão e o amor (“Descalça vai pera a fonte”).
Interpretações
2) Estado amoroso que domina tudo e passa por cima das leis humanas
da critica
(“Descalça vai pola neve”).
3) Desilusão, decepção do amor, um amor inevitável, mas que sempre
faz sofrer (“Na fonte está Lianor”).

 TROVAS: composições em redondilhas sem mote nem glosa.

Exemplo1: “Aquela cativa,”


- cativa (escrava -social-)/cativo (preso -sentimental, psicológico-)
- vivo (sustenho-me)/viva (sobrevive)
Jogos de - senhora (sentimentalmente)/cativa (socialmente)
palavras - pretidão: raça/ tristeza de amor
- bárbora/estranha → é estranha, mas não incivilizada.

Temática Amor.
Descrição hiperbólica que supõe uma excepção, já que a mulher é preta e
Descriptio
isso rivaliza com o branco. Isto permite-se nas redondilhas pela sua
puellae
liberdade temática, mas não poderia ocorrer num soneto.
Interpretações
da crítica A rapariga seria um amor de Camões na Índia.
biografista

Exemplo2: “Sôbolos rios que vão”


Temática Moral, didáctica, religiosa.
Camões inspira-se no salmo 136 da Bíblia, no que se narra a tristeza do
Ponto de
povo judeu ao ter que se exilar de Sião (Jerusalém) a uma terra alheia,
inspiração
Babilónia. A voz lírica participa da saudade da terra mãe.
Segundo a crítica biografista Camões sente-se fora de lugar, esquecido,
Interpretação exilado, pelo que é incapaz de “fazer um doce canto”.Diz a crítica biografista
da crítica que Camões escreve estas redondilhas no final da sua vida, quando não
biografista se sente valorado pelo povo português e seriam, ademais, uma despedida
da literatura (“pena cansada”).
Notas Nestas redondilhas Camões faz referência à sua obra, algo muito frequente
metaliterarias neste autor.
Exposição da
Platão é um dos filósofos dos que mais lança mão Camões. Neste caso
filosofia
expõe a separação da carne e o espírito.
platónica

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B) MEDIDA NOVA 8:
 SONETOS:
*
Exemplo1: “Enquanto quis Fortuna que tivesse”
É um soneto no que Camões apresenta a sua literatura (atitude, temática,
estado de ânimo) e se dirige ao leitor (“quando lerdes”):
Soneto –
- Busca a captatio benevolentiae: “num breve livro” (breve = modesto).
prólogo
- Diz-lhe ao leitor que segundo o seu estado de ânimo entenderá os
versos duma ou doutra maneira.
Destino (“Fortuna”, v.1) e Amor (palavra Amor no 2º quarteto e no 1º
terceto).
Temas Camões diz que quando o destino lhe permitiu esperança escreve do amor,
mas chega um momento no que já não é quem de ocultar as desgraças do
amor.

Exemplo2: “Amor é um fogo que arde sem se ver,”


9
Tema Amor, um amor que é fonte de tensões na alma do indivíduo enamorado .
- Contraditório: antíteses
Poema - Unitário: paralelismos, ademais a palavra Amor inicia e termina o texto.
unitário e Camões apresenta o amor como algo impossível de explicar, algo cheio
contraditório de contradições mas que consegue unir.

Exemplo3: “Pede o desejo, Dama, que vos veja;”


Contradição que produz o amor entre o desejo (instintos) e a razão
(sublime, perfeição). Pede-se-lhe desculpas à dama por deseja-la, mais
Tema
justifica-se esse desejo, já que é muito difícil não seguir os instintos
humanos.
Erudito e culto, como em todos os sonetos. Assim, nomeia-se uma lei da
Estilo
física, a lei da gravidade (terça estrofe).

Exemplo4: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,”


- Visão ampla: do destino.
Tema
- Visão concreta: passagem do tempo, constantes mudanças.
- Camões alude muito frequentemente à passagem do tempo da que
todos e tudo são vitimas (no primeiro terceto faz-se referência ao passo
do tempo na natureza aludindo às estações). Para referir-se a isto usa a
Tempus fugit 10
palavra mudança muito frequentemente .
- É um motivo que se da em toda a literatura, mas especialmente na da
Renascença.
Pessimismo Segue uma linha in crescendo, já que no último verso refere-se da morte.

Exemplo5: “Alma minha gentil, que te partiste”


É uma composição à morte duma pessoa amada e jovem que morrera de
Elegia
forma inesperada.

8
Na métrica portuguesa medida nova (dolce stil nuovo em italiano) faz referência a novos moldes
poéticos como o soneto, a égloga (ou écloga) ou a canção. Caracterizam-se por serem mais cultos e
usarem versos mais longos (versos de arte maior na métrica espanhola). O introdutor da medida nova
em Portugal foi FRANCISCO SÁ DE MIRANDA, quem viaja a Itália com uma beca concedida pelo
rei e, ao seu regresso, conhece em Espanha a Garcilaso ou Juan Boscán. A medida nova entra em
Portugal através da literatura espanhola.
9
Lembremos a diferença entre enamorad@, é dizer, aquele que está apaixonado por outra pessoa, e
namorad@, aquela pessoa com a que se tem uma relação sentimental ou há cumplicidade (diferente de
noiv@, que seria já uma relação oficial).
10
Também é frequente em Camões a palavra saudade.

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Filosofia
Expõe-se a separação entre alma e corpo e também entre Céu e terra (lá
platónica e
e cá). A voz lírica quer ir para o céu com a sua amada.
tradição cristã
Tema Amor
Interpretações
A crítica biografista interpreta que este soneto e alguns outros, que incluem
da crítica
no ciclo ou série de Dinamene, estão feitos pela morte num naufrágio
biografista:
duma moça chinesa com a que Camões teria amores. Camões chama-lhe
ciclo ou série
Dinamene já que este é o nome duma ninfa.
de Dinamene
Há uma versão deste soneto feita por Noriega Varela, uma versão muito
próxima.

Exemplo6: “Ai, minha Dinamene, assim deixaste”


Há uma referência explícita a um naufrágio e a Dinamene no que
Crítica
supostamente morre a moça chinesa, o que alimenta a teoria de que
biografista
Camões teve uma vida muito desgraçada.
Tema Destino e amor.
Disfórico, frequente neste tipo de textos (magoa, triste, morte, negro
Léxico
manto...)

Exemplo7: “O dia em que eu naci moura e pereça”


- Tom trágico e hiperbólico (o dia que nasceu deve ser borrado do
Soneto calendário por ser muito horroroso).
apocalíptico - Imagens de fatalidade e referencias implícitas ao livro da Apocalipse
(“mostre o mundo sinal de se acabar”).
Interpretação
da crítica Vida desgraçada de Camões.
biografista

Exemplo8: “Erros meus, má fortuna, amor ardente”


- Destino, que influencia na vida relativamente, já que os erros
humanos também são responsáveis da vida desgraçada. Há também
Temas
uma necessidade de vingança por essa vida trágica.
- Amor.
Interpretação
da crítica Vida desgraçada de Camões.
biografista
Léxico Disfórico (perdição, mágoa...)

Exemplo9: “Dizei, Senhora, da Beleza ideia:”


Amor: descriptio puellae (mulher tímida e soberba à vez, intangível,
Temática
inacessível).
São sempre as mesmas: “aurio crino”, “ouro fino”; “perlas preciosas
Metáforas
orientais”...
- Luz febeia: referência a Febo, deus do sol.
Referências - Medeia: referência a uma feiticeira greco-latina.
eruditas - Narciso: referência erudita depois da descriptio puellae, para que a
mulher não se apaixone de si mesma.

Exemplo10: “Um mover d’olhos brando e piadoso,”


Amor: descriptio puellae como no soneto anterior, mas neste caso a
Temática mulher está rodeada duma auréola de mistério e calma. É uma mulher
atrevida e tímida (contradições).
Paralelismos que contribuem à descrição, não há movimento nem
Estrutura
verbos (os que há estão substantivados ou são copulativos).
Referências
Circe: referência mitológica, Circe é uma feiticeira.
eruditas

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10. Os desenvolvimentos renascentistas. O Maneirismo até aos finais do século. Luís de Camões

Exemplo11: “A fermosura desta fresca serra”


- É frequente na lírica camoniana e na renascentista em geral.
- Serve de comparação com os sentimentos do amante em dois
sentidos:
Presença da
 Espelho: se o amante está triste a natureza também.
natureza
 Contraste: o amante está triste e a natureza amostra-se
contente, verde. Isto magoa ainda mais ao amado e é o que
ocorre neste soneto (“nas mores alegrias, mor tristeza.”).

 CANÇÕES: só conservamos dez canções camonianas (sonetos e redondilhas


há centos). As características da canção são:
a) É tipicamente renascentista, um género novo trazido da Itália.
b) Introduz notas metaliterárias.
c) Formalmente caracteriza-se por ter um envio, uma pequena estrofe na que
o poeta se dirige à canção que acaba de escrever.

Exemplo1: “Canção X”
Temas Amor e destino.
O poeta dirige-se a um secretário (no sentido etimológico, o que guarda os
Referências 11
segredos), esse secretário é o papel, “papel com que a pena se
metaliterárias
desafoga”.
Referências
“um Minino sem olhos me ferisse”: referência a Cupido.
eruditas

Outros aspectos a ter em conta de Camões


A) Camões também escreve teatro, deixou-nos três obras de temática mitológica. É
a sua faceta menos conhecida.
B) Conservam-se também algumas cartas, especialmente da sua estadia na Índia.
C) Em vida só deixa publicado um livro, Os Lusíadas, ele nunca veria publicada a
sua obra lírica, mas:
 Tinha preparado um volume para publicar a sua obra lírica, mas parece
que lhe foi roubado. O seu título seria Parnaso Lusitano, mas nada nos
consta fielmente deste volume.
 A primeira publicação da sua obra lírica seria Rimas (imitação da obra
lírica de Petrarca: Rime). Rimas tem muitos problemas de edição, já que
não é doado saber com certeza quais são as composições de autoria
camoniana e quais não (tem-se-lhe atribuído composições datadas antes do
seu nascimento). Na actualidade não há nenhuma edição aceitada por
todos os estudiosos.
D) Camões pratica o bilinguismo, escreve um número considerável de textos em
castelhano. Isto é uma moda literária na época (já o pratica Gil Vicente, Garcia
de Resende no seu Cancioneiro Geral ou Francisco Sá de Miranda). Mas há uma
excepção: António Ferreira, quem não o pratica e, ademais, o critica
severamente (acredita que o artista tem de servir a sua pátria). Mais tarde, no
século XVIII (Barroco) o bilinguismo impõe-se com força (ademais Portugal
ficará unido à Coroa espanhola).

*
A professora fiz uma proposta de comentário exame consistente em pôr em diálogo dois textos, por
exemplo “Enquanto quis Fortuna que tivesse” e “Sôbolos rios que vão”: nos dois há notas
metaliterarias, fazem referência ao amor e ao destino... É conveniente falar também da basta cultura e
erudição de Camões.

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Usa a palavra pena em dois sentidos: tristura e instrumento para escrever.

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10. Camões

1. Vida

1) Data e lugar de nascimento: crê-se que nasce em 1524 / 1525, mas não há
documentos que o acreditem. Tampouco se sabe qual foi o seu lugar de nascimento, há
hipóteses que assinalam Lisboa e outras que mesmo defendem a sua origem galega
(Filgueira Valverde relaciona o apelido Camões com o topónimo pontevedrês Camos).
Morre o 10 de Junho de 1580.
2) Formação: não se sabe onde adquire a sua formação, mas crê-se que estuda filosofia e
literatura na Universidade de Coimbra sob a protecção dum tio que era Padre (D. Bento).
3) Procedência social: tudo parece indicar que pertencia à pequena nobreza, que naquela
altura vivia numas condições económicas bastante adversas. Camões mostrou sempre o seu
inconformismo com esta situação, razão pela que um dos seus biógrafos diz que era
demasiado pobre para viver como fidalgo e demasiado fidalgo para viver como pobre.
4) Passagens significativas da sua vida:
a) Atribuíram-se-lhe vários desterros, entre os que destaca um desterro para Ceuta onde
teria exercido de soldado e perderia o olho direito, uma perda que refere nos seus
versos.
b) Atribuíram-se-lhe várias relações amorosas, entre as que destaca a que manteve com a
Infanta D. Maria, irmã do rei D. Manuel I, a qual inspiraria alguns dos seus textos. Um
exemplo é “Perdigão perdeu a pena”, umas redondilhas em que o perdigão, que é um
auto-pseudónimo do autor, quer subir demasiado alto e tem um final trágico.
c) Conhece-se a sua passagem pela cadeia como consequência dum conflito com um
funcionário da Corte. Esteve um ano em prisão e saiu depois de ser perdoado pelo rei e
pelo agredido, mas com a condição de viajar para a Índia para servir a Coroa.
d) Na Índia:
■ Parece que sentiu uma grande decepção com Goa pela ambição dos portugueses,
cidade que que literariamente chamaria Babilónia (terra de exílio dos israelitas) por
considerá-la uma terra má e à que se refere com expressões negativas. Esta
identificação da Índia com Babilónia baseia-se na composição “Sóbolos rios que vão /
de Babilónia a Sião”.
■ Participou em várias expedições marítimas e numa delas Camões iria perde-lo tudo
por causa duma tempestade nas proximidades da costa da Indochina. Segundo a lenda,
nesta tempestade:
 Morre uma moça chinesa com a que Camões teria uma relação amorosa e que
baptizara literariamente como Dinamene. Pouco depois teria escrito os sonetos
elegíacos dedicados a Dinamene.
 Correu grande risco o manuscrito de Os Lusíadas (cujo primeiro canto teria sido
redigido na Índia, segundo alguns biógrafos), que Camões teria salvado das águas.
e) Camões abandona a Índia e, com a ajuda económica das suas amizades, vai para
Moçambique, onde contrai cada vez mais dívidas.
f) Regressa de novo a Lisboa, parece que também com a ajuda económica dos seus amigos,
um dos quais parece que foi João de Barros 1. Em Lisboa publica Os Lusíadas (1572) e
consegue sobreviver com uma tença anual concedida pela Monarquia como
reconhecimento ao seu serviço à pátria como soldado e escritor. Com tudo, Camões é
apresentado pelos seus biógrafos como um homem orgulhoso e insatisfeito, contestatário
com a falta de reconhecimento dos seus valores, tanto como homem de letras como de
armas. Esta é uma interpretação tirada dos últimos versos de Os Lusíadas, em que diz que
silencia a sua voz porque não quer já mais cantar para gente vil e desagradecida.
g) Camões morre em 1580, mas não temos dados exactos do que acontece com os seus
restos, que parece que foram enterrados sob uma placa em que se lia Aqui jaz Luís de
Camões, príncipe de poetas, viveu pobre e miserável e assim morreu. O terramoto de

1
Entre as seis cartas conservadas de Camões há algumas dirigidas a João de Barros.
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Literatura Portuguesa I (das origens à Renascença)
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10. Camões

1755 arrasou o seu sepulcro e hoje os seus restos estão presumivelmente nos
Jerónimos de Lisboa.

2. Obra
2.1. Lírica
A obra lírica de Camões só foi publicada postumamente, sob o título de Rimas 2. Crê-
se que Camões teria projectado publicar a sua obra, que já estaria pronta num manuscrito sob o
título de Parnaso Lusitano, mas este seria-lhe roubado.
Esta parte de obra de Camões apresenta, ainda na actualidade, muitos problemas de
edição já que circulam muitas variantes dos textos, textos atribuídos a Camões que não são dele
(de Diogo Bernardes, poemas do Cancioneiro Geral 3) e textos atribuídos a outros autores que são
em realidade de Camões. Deste modo, na actualidade não há nenhuma edição aceite por toda a
crítica (algumas atribuem-lhe mais de mil textos, e outras menos de quinhentos). Com tudo,
podemos citar as de:
a) Júlio da Costa Pimpão;
b) Leodegário de Azevedo Filho, edição muito diferente às tradicionais.

2.1.1. Obra lírica escrita na medida velha


São mais de cem composições ligadas à lírica tradicional, com um carácter mais
folclórico e desenfadado. As suas principais características são:
1) Temática lúdica e brincalhona, ligada ao galanteio ou ao humor e à sátira.
2) Estilo engenhoso: exploração das possibilidades significativas da linguagem através de
jogos de palavras. Frequentemente encontra no corpo da palavra um pretexto para
desenvolver um discurso estabelecendo uma rede de nexos. Isto supõe uma similitude com o
Barroco (Quevedo, Baltasar Gracián), razão pela que Camões é visto por muitos autores
como um autor de transição para o Barroco (maneirista). Neste sentido destaca a
exploração que faz da palavra pena:

Significado Significante
1. pluma (das aves) 1. pena
2. instrumento da escrita 2. penar
3. mágoa 3. apenado
4. condena 4. depenado
5. rocha 5. ...

3) Estrofes:
a) Cantiga (mote + glosa).
b) Vilancete (mote + glosa).
c) Trova: estrofes dum número indeterminado de versos que não estão sujeitos a nenhum
mote.

2
Bocage publicaria uma obra com o mesmo título pela admiração que sentia por Camões.
3
Publicado em 1516, antes do nascimento de Camões.
2
Literatura Portuguesa I (das origens à Renascença)
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10. Camões

Composição Comentário
Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.
- Interpretações sobre o contido:
Perdigão que o pensamento  Didáctica: quem muito aspira corre o risco de cair, e a queda
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar, será muito dolorosa.
Ganha a pena do tormento.  Biografista: alusão autobiográfica de Camões sobre o seu
Não tem no ar nem no vento amor com a Infanta D. Maria, irmã do rei D. Manuel I, que
Asas com que se sustenha:
seria um sonho demasiado alto.
Não há mal que lhe não venha.
- Forma: cantiga composta de mote e glosa.
Quis voar a ũa alta torre, - Estilo engenhoso no uso da palavra pena:
Mas achou-se desasado;  Pluma: perde a pena do voar (verso 6)
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.  Condena: ganha a pena do tormento (verso 7)
Se a queixumes se socorre,  Repetição paralelística (perde a pena do voar / ganha a pena do
Lança no fogo mais lenha: tormento) e jogo com o significante (pena, penado).
Não há mal que lhe não venha.

Endechas a Bárbara escrava

Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
- Temática amorosa, que faz referência ao amor que o autor
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos sentiria por uma escrava.
Fosse mais fermosa. - Forma: cinco trovas de 8 versos.
- Estilo engenhoso:
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
 Cativa / cativo:
Me parecem belas ~ Cativa socialmente (escrava);
Como os meus amores. ~ Cativo psicologicamente pela paixão.
Rosto singular,  Viver:
Olhos sossegados,
Pretos e cansados, ~ Viver do ponto de vista físico: já não quer que viva.
Mas não de matar. ~ Viver do ponto de vista psicológico: porque em ela vivo.
 Senhora vs. cativa:
U~a graça viva,
Que neles lhe mora,
~ Senhora do ponto de vista psicológico.
Pera ser senhora ~ Cativa do ponto de vista social.
De quem é cativa.  Estranha vs. bárbora:
Pretos os cabelos, ~ Bárbora como estranha e também como incivilizada. A
Onde o povo vão
Perde opinião crítica biografista interpreta esta forma com dissimilação
Que os louros são belos. vocálica como um pseudónimo de Bárbara 4.
~ Estranha como desconhecida em oposição a bárbora como
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
incivilizada.
Que a neve lhe jura  Pena (verso 36): com o significado de
Que trocara a cor. ~ instrumento da escrita,
Leda mansidão, ~ condena,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha, ~ dor, tristeza.
Mas bárbara não. - É uma composição muito singular porque se elogia uma mulher
preta, o que se afasta do cânone da época. Porém, isto faz-se na
Presença serena
Que a tormenta amansa;
medida velha, pelo que não é um facto tão estranho (seria
Nela, enfim, descansa impensável na medida nova).
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.

4
Da que se disse que foi uma vendedora mulata que o mantinha (Faria e SOusa); uma bailarina índia (Teófilo Braga);
uma cocinheira (Carolina Michaëlis); simplesmente uma mulher morena à que Camões chama preta de modo carinhoso.
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10. Camões

MOTE

Descalça vai pera a fonte


Lianor, pela verdura;
vai fermosa e não segura.

VOLTA
- Temática: elogio duma moça à maneira de descriptio puellae. É
Leva na cabeça o pote, uma descrição plástica (alusão a cores, tecidos, penteados,
o testo nas mãos de prata, ornamentação, pela mais branca que a neve pura...)
cinta de fina escarlata,
sainho de chamalote;
- É interpretada coma a primeira composição duma trilogia em que
traz a vasquinha de cote, Camões comentaria os três estados da paixão. Este primeiro
mais branca que a neve pura; estado seria o da liberdade, mas com o risco de ficar nas garras
vai fermosa e não segura. da paixão (vai fermosa e não segura).
Descobre a touca a garganta, - É uma composição ligada ao folclore e à tradição (fonte).
cabelos d' ouro o trançado,
fita de cor d' encarnado...
Tão linda que o mundo espanta!
Chove nela graça tanta
que dá graça à fermosura;
vai fermosa, e não segura.
MOTE SEU

Descalça vai pola neve. . .


Assi faz quem Amor serve.

VOLTAS

Os privilégios que os reis


não podem dar, pode Amor,
que faz qualquer amador
livre das humanas leis.
- É interpretada como a segunda composição da trilogia, em que se
Mortes e guerras cruéis, desenvolve a segunda fase da paixão amorosa: vivência do
ferro, frio, fogo e neve, enamoramento e o cativeiro que supõe. Canta-se ao serviço
tudo sofre quem o serve. amoroso, mais poderoso do que qualquer lei humana (compara-se
Moça fermosa despreza com o serviço ao rei ou à guerra).
todo o frio e toda a dor. - Forma: mote (de autoria colectiva) + glosa.
Olhai quanto pode Amor - Metáforas recorrentes em Camões: neve (brancura) e fogo
mais que a própria natureza:
medo nem delicadeza
(amor).
lhe impede que passe a neve. - Ligação com a tradição: pé descalço e erotismo.
Assi faz quem Amor serve.

Por mais trabalhos que leve,


a tudo se of'receria;
passa pela neve fria
mais alva que a própria neve;
com todo o frio se atreve...
Vede em que fogo ferve
o triste que o Amor serve.
CANTIGAS ALHEIAS

Na fonte está Lianor


lavando a talha e chorando,
às amigas perguntando:
«Vistes lá o meu amor?»

VOLTAS DO CAMÕES

Posto o pensamento nele,


porque a tudo o Amor a obriga,
cantava; mas a cantiga
eram suspiros por ele.
Nisto estava Lianor
o seu desejo enganando,
às amigas perguntando:
- Terceira fase da paixão: desengano e desilusão.
Vistes lá o meu amor? - Intertextualidade com a lírica tradicional (às amigas perguntando:
“vistes lá o meu amor?”).
O rosto sobre üa mão, - Expressão do amor de maneira hiperbólica (olhai que extremos de
os olhos no chão pregados,
que, do chorar já cansados, dor!) e referência ao choro como um alívio.
algum descanso lhe dão.
Desta sorte Lianor
suspende de quando em quando
sua dor; e, em si tornando,
mais pesada sente a dor.

Não deita dos olhos água,


que não quer que a dor se abrande
Amor; porque, em mágoa grande,
seca as lágrimas a mágoa.
Que despois de seu amor
soube novas perguntando,
d' emproviso a vi chorando.
Olhai que extremos de dor!
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10. Camões

- Assunto grave, a diferença das outras composições em


redondilhas, como nas composições em medida nova.
- Composição inspirada no Salmo 136 da Bíblia de modo bastante
fiel. Neste Salmo narra-se o exílio dos israelitas que têm de
abandonar Sião e fugir a Babilónia.
- Contraposição de dois cronotopos:
Sião (Hierusalém) Babilónia
passado feliz presente triste
origem exílio
bem mal

- Temas:
 MUDANÇA OU MUTAÇÃO, sempre para pior, um tema recorrente
na obra de Camões e na Renascença em geral.
 FORTUNA: ventura (verso 136).
 FAMA, mais poderosa do que a morte (barões assinalados de Os
Lusíadas).
 SAUDADE da terra de origem, enfatizada mediante imagens
violentas (versos 190 e 191: a voz, quando a mover, / se me congele
no peito.) que lembram a do soneto O dia em que eu naci
moura a pereça.

O dia em que eu naci moura e pereça,


não o queira jamais o tempo dar;
não torne mais ao mundo e, se tornar,
eclipse nesse passo o sol padeça.

A luz lhe falte, o sol se [lhe] escureça,


mostre o mundo sinal de acabar,
“Sobolos rios que vão” naçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
a mãe ao próprio filho não conheça.

As pessoas pasmadas de ignorantes,


as lágrimas no rosto, a cor perdida,
cuidem que o mundo já se destruiu.

Ó gente temerosa, não te espantes,


que este dia deitou ao mundo a vida
mais desgraçada que jamais se viu!

 MEMÓRIA que, sob a filosofia platónica é o registo ou


conservação passiva das vivências experimentadas
anteriormente. Está relacionada com o conceito de
REMINISCÊNCIAS, as ideias contempladas na vida anterior (mito
da caverna: versos 236 - 250).
 CRUZAMENTO entre a TEORIA PLATÓNICA e o CRISTIANISMO.
- Mímese dum soneto de Boscán (versos 114 – 115), que marca a
intertextualidade com o dolce stil nuovo.
- Arte de engenho ou estilo engenhoso: jogos com a palavra pena
(versos 169, 175, etc.)
- Reflexões metaliterárias:
 Referência a ABANDONAR A LIRA nos ramos dos salgueiros, o que
parece remeter a um abandono da escrita ou ao abandono do
tom brincalhão por um tom mais grave.
 REFERÊNCIAS AO LEITOR, que também são frequentes nos seus
sonetos - prólogo
- Interpretação biográfica:
 Interpretação do tema da MUDANÇA como a lembrança da sua
própria mocidade, o que contrasta com o que se diz nos versos
101 – 110.
 Interpretação da oposição SIÃO VS. BABILÓNIA como equivalente
à oposição PORTUGAL VS. ÍNDIA.
 Interpretação simbólica do número de versos (365) como um
PERCURSO BIOGRÁFICO (um ano).

2.1.2. Obra lírica escrita na medida nova

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10. Camões

1) Seguimento do modelo petrarquista, mesmo fazendo traduções quase literária ou


introduzindo versos em italiano.
2) Dois blocos temáticos:
a) Amor:
■ É fonte de tensões e contradições:
 Entre o amor sexual e o espiritual (neoplatonismo).
 Entre o desejo e a insatisfação do desse desejo.
■ Presentação da amada como um ser virtual, descrita segundo os cânones
estabelecidos por Petrarca para cantar a Laura nas suas Rime. É uma mulher-ideia,
intangível, distante, que representa a imagem da Beleza e produz sofrimento no
coração do poeta.
b) Destino (Fortuna, ventura, sorte), apresentado sempre dum ponto de vista negativo:
■ É o máximo responsável da vida do poeta, mas também pode compartilhar essa
responsabilidade com os seus próprios actos:
Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente


A grande dor das cousas que
passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;


Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.


Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

■ Está ligado ao tempo, que implica mudança (metáfora do rio).

Composição Comentário
Enquanto quis Fortuna que tivesse
esperança de algum contentamento, Soneto – prólogo em que Camões apresenta a sua obra
o gosto de um suave pensamento literária:
me fez que seus efeitos escrevesse. - Referências ao processo da comunicação literária:
 Mensagem amorosa.
Porém, temendo Amor que aviso desse  Autor como agente da escrita (escrevesse).
minha escritura a algum juízo isento,
escureceu-me o engenho co’o tormento,
 Destinatário: Ó Vós [...] quando lerdes.
para que seus enganos não dissesse. - Humilitas: escureceu-me o engenho, breve livro.
- Poema egotista. Camões insiste em que ele canta verdades
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos puras, não defeitos (erros).
a diversas vontades! Quando lerdes - Apresentação de temas recorrentes da sua lírica:
num breve livro casos tão diversos,  Fortuna: Enquanto quis Fortuna que tivesse.
 Passagem do tempo, ligada à Fortuna, que é sempre
verdades puras são e não defeitos; para pior. Assim, contrapõe-se o passado (tempo de
e sabei que, segundo o amor tiverdes,
tereis o entendimento de meus versos.
esperança) com o presente (tempo de desengano).
Soneto – prólogo:
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
- Processo de comunicação literária:
Que dous mil acidentes namorados  Mensagem amorosa: cantarei de amor.
Faça sentir ao peito que não sente.  Autor: Eu cantarei.
 Destinatário: Faça sentir ao peito que não sente / Farei que o
Farei que o amor a todos avivente,
Pintando mil segredos delicados, amor a todos avivente.
Brandas iras, suspiros magoados, - Temas recorrentes:
Temerosa ousadia e pena ausente.  Amor e os seus efeitos contraditórios: Brandas iras,
suspiros magoados, / temerosa ousadía e pena ausente.
Também, Senhora, do desprezo honesto
De vossa vista branda e rigorosa,  Imagem da mulher: senhora protótipo do amor cortês e
Contentar-me-ei dizendo a menor parte. da literatura petrarquista. É uma mulher esquiva e doce
ao mesmo tempo (desprezo honesto [...] vista branda e
Porém, para cantar de vosso gesto
A composição alta e milagrosa, rigorosa), intangível, superior ao poeta e de qualidades
Aqui falta saber, engenho e arte. inefáveis (contentar-me-ei dizendo a menor parte), descrita só
do ponto de vista psicológico.
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10. Camões

- Humilitas, usada para sublinhar a grandeza da mulher: aqui


falta saber, engenho e arte.
- Definição poética do conceito de amor
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;  Que se estabelece em termos dialécticos a partir da
É um contentamento descontente; oposição entre a dor e a felicidade que produz.
É dor que desatina sem doer;  Mas, ao ser um conceito paradoxal, há também uma
vontade de unificar as ideias do discurso através da
É um não querer mais que bem querer; palavra amor (com a que começa e termina o poema).
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
- Forma:
É cuidar que se ganha em se perder;  Forma circular (o poema começa e termina com a mesma
palavra) e cheia de paralelismos (anáfora).
É querer estar preso por vontade;  Também seria possível assinalar uma forma antitética, já
É servir a quem vence, o vencedor; que o último terceto é introduzido com a partícula
É ter com quem nos mata lealdade. adversativa mas.

Mas como causar pode seu favor É uma definição baseada no paradoxo, tanto no contido como na
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
forma, já que o amor, apesar dos seus efeitos negativos, é quem
de unir corações, pelo que é um conceito paradoxal.
Um mover d’olhos, brando e piedoso,
sem ver de quê; um riso brando e honesto,
quase forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;

um despejo quieto e vergonhoso; - Definição duma mulher – ideia (descriptio puellae), da que só
um repouso gravíssimo e modesto;
uma pura bondade, manifesto
faz uma descrição psicológica e, no caso de ser física, tem de
indício da alma, limpo e gracioso; ser seguindo os cânones da época. É uma mulher intangível,
superior ao poeta (celeste formosura) e também contraditória
um encolhido ousar, uma brandura; (encolhido ousar, medo sem ter culpa).
um medo sem ter culpa; um ar sereno; - Referências mitológicas: Circe, feiticeira da Odisseia, uma obra
um longo e obediente sofrimento: que Camões conhece muito bem.
- Inspiração em Petrarca.
esta foi a celeste formosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento.

Pede o desejo, Dama, que vos veja;


Não entende o que pede; está enganado.
É este amor tão fino e tão delgado,
Que, quem o tem, não sabe o que deseja.

Não há coisa, a qual natural seja,


Que não queira perpétuo o seu estado;
- Contradições do amor: desejo vs. razão:
Não quer logo o desejo o desejado, - Estrutura antitécia, já que primeiro pede e justifica o
Por que não falte nunca onde sobeja. desejo (qualificando-o como uma lei natural, igual do que a lei
da gravidade), mas afinal considera-o uma baixeza (influencia
Mas este puro afeito em mim se dana;
Que, como a grave pedra tem por arte da teoria neoplatónica)
O centro desejar da Natureza,

Assi o pensamento, pela parte


Que vai tomar de mim, terrestre, humana,
Foi, Senhora, pedir esta baixeza.
Transforma-se o amador na coisa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho, logo, mais que desejar, - Temática amorosa, desenvolvendo o motivo da
Pois em mim tenho a parte desejada.
transformação do amador na coisa amada
Se nela está minha alma transformada, (neoplatonismo). É um motivo que já estava presente no
Que mais deseja o corpo de alcançar? Cancioneiro Geral, mas que se desenvolve agora na
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está ligada.
Renascença.
- Inspiração em Petrarca (imitatio).
Mas esta linda e pura semidéia, - Estrutura antitética: corpo vs. alma, acidente vs. sujeito,
Que, como o acidente em seu sujeito, matéria vs. forma.
Assim com a alma minha se conforma,
- Intertextualidade com outros textos dele e doutros autores
Está no pensamento como idéia; renascentistas.
E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples, busca a forma.
Presença bela, angélica figura,
Em quem, quanto o Céu tinha, nos tem dado;
Gesto alegre, de rosas semeado,
Entre as quais se está rindo a Fermosura;
- Descrição da mulher – ideia, introduzindo a figura da mulher
Olhos, onde tem feito tal mistura – anjo.
Em cristal branco e preto marchetado,
Que vemos já no verde delicado
Não esperança, mas enveja escura;
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10. Camões

Brandura, aviso e graça que, aumentando


A natural beleza c'um desprezo
Com que, mais desprezada, mais se aumenta;

São as prisões de um coração que, preso,


Seu mal ao som dos ferros vai cantando,
Como faz a sereia na tormenta.

Alma minha gentil, que te partiste


Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste. - Soneto pertencente ao ciclo de Dinamene, que a crítica
biografista identificou com uma moça chinesa que teria
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
afogado no mesmo naufrágio em que Camões quase perde os
Não te esqueças daquele amor ardente Lusíadas. Dinamene é muito recorrente no século XVI e é de
Que já nos olhos meus tão puro viste. origem clássica, já que é o nome duma ninfa.
- Tom elegíaco, em relação com a teoria neoplatónica da
E se vires que pode merecer-te
Algu~a coisa a dor que me ficou morte como volta às origens. Também se faz referência ao
Da mágoa, sem remédio, de perder-te, conceito neoplatónico da memória.
- Influência de Petrarca (imitatio, versos iniciais).
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
- Estrutura dialéctica: céu vs. terra.
Quão cedo de meus olhos te levou.

Ah, minha Dinamene assi deixaste


Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah, Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!

Como já para sempre te apartaste


De quem tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te - Ciclo de Dinamene.
Que não visses quem tanto magoaste? - Fortuna: sorte (verso 12)
- Tom elegíaco.
Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto - Aparece a palavra pena (verso 13), mas não há aqui um jogo
Em teus olhos deitado consentiste! de palavras (é mais frequente nas redondilhas).
Ó mar! Ó céu! Ó minha escura sorte!
Qual pena sentirei, que valha tanto,
Que ainda tenho por pouco o viver triste?

O céu, a terra, o vento sossegado...


As ondas, que se estendem pela areia...
Os peixes, que no mar o sono enfreia...
O nocturno silêncio repousado...

O pescador Aónio, que, deitado


Onde co vento a água se meneia,
Chorando, o nome amado em vão nomeia,
Que não pode ser mais que nomeado: - Ciclo de Dinamene.
- O autor transveste-se no pescador Aónio e chora a morte da
— Ondas – dezia – antes que Amor me mate,
Tornai-me a minha Ninfa, que tão cedo sua ninfa.
Me fizestes à morte estar sujeita.

Ninguém lhe fala; o mar de longe bate;


Move-se brandamente o arvoredo;
Leva-lhe o vento a voz, que ao vento deita.

Eu cantei já, e agora vou chorando


O tempo que cantei tão confiado;
Parece que no canto já passado
- Composição metaliterária que poderia ser qualificada de
Se estavam minhas lágrimas criando.
soneto – epílogo, já que o autor diz Eu cantei já (vs. Eu cantarei
Cantei: mas se me alguém pergunta "quando": de amor tão docemente)
Não sei, que também fui nisso enganado. - Mudança, sempre para pior, acompanhada dum discurso
É tão triste este meu presente estado
Que o passado por ledo estou julgando. disfórico (chorando, triste...)
- Responsabilidade compartilhada entre a Fortuna e os erros
Fizeram-me cantar, manhosamente, dele, mas a Fortuna é mais culpável das desgraças do poeta.
Contentamentos não, mas confianças;
Em relação a isto apresenta intertextualiade com Erros meus,
Cantava, mas já era ao som dos ferros.
má Fortuna.
De quem me queixarei, se tudo mente?
Mas eu que culpa ponho às esperanças

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10. Camões

Onde a Fortuna injusta é mais que os erros?

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,


Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades, - Mudança para pior, apresentada como uma lei universal
Diferentes em tudo da esperança; (todo o mundo é composto de mudança).
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
- Passagem do tempo na natureza (estações do ano) e no
homem, que termina com a morte (E, afora este mudar-se cada
O tempo cobre o chão de verde manto, dia, / outra mudança faz de mor espanto: / que não se muda já como
Que já coberto foi de neve fria, soía.)
E em mim converte em choro o doce canto.
- Referência metaliterária: em mim converte em choro o doce
E, afora este mudar-se cada dia, canto.
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Oh, como se me alonga, de ano em ano,


A peregrinação cansada minha!
Como se encurta, e como ao fim caminha
Este meu breve e vão discurso humano!

Vai-se gastando a idade e cresce o dano;


Perde-se-me um remédio, que inda tinha;
Se por experiência se adivinha, - Passagem do tempo (peregrinação) e mudança para pior,
Qualquer grande esperança é grande engano. que leva à perda da confiança.
- Referência metaliterária: este meu breve e vão discurso
Corro após este bem que não se alcança;
No meio do caminho me falece, humano! (discurso = percurso vital e também processo da
Mil vezes caio, e perco a confiança. escrita).
Quando ele foge, eu tardo; e, na tardança,
Se os olhos ergo a ver se inda parece,
Da vista se me perde e da esperança.

Cá nesta Babilónia, donde mana


Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá donde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá, onde o mal se afina e o bem se dana,


E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a desengana;
- Intertextualidade con Sobolos rios que vão.
Cá, neste labirinto, onde a nobreza,
Com esforço e saber pedindo vão
Às portas da cobiça e da vileza;

Cá neste escuro caos de confusão,


Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

O dia em que eu naci moura e pereça


não o queira jamais o tempo dar;
não torne mais ao mundo e, se tornar,
eclipse nesse passo o Sol padeça.

A luz lhe falte, o Céo se lhe escureça,


mostre o mundo sinais de se acabar,
nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
- Soneto apocalíptico.
a mãe ao próprio filho não conheça. - Referências bíblicas: Apocalipse e base no Livro de Job. O
poeta, a diferença de Job, perde a confiança.
As pessoas, pasmadas de ignorantes, - Imagens violentas (sangue chova o ar).
as lágrimas no rosto, a cor perdida, - Hipérbole.
cuidem que o mundo já se destruiu. - Referência ao leitor futuro (ó gente temerosa).

Ó gente temerosa, não te espantes,


que este dia deitou ao mundo a vida
mais desaventurada que se viu.

Erros meus, má fortuna, amor ardente


- Responsabilidade compartilhada entre a Fortuna e os
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram, próprios erros.

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Que pera mim bastava amor somente. - Temática amorosa.


Tudo passei; mas tenho tão presente
- Discurso disfórico.
A grande dor das cousas que passaram, - Passagem do tempo: Tudo passei; mas tenho tão presente /A
Que as magoadas iras me ensinaram grande dor das cousas que passaram, / Que as magoadas iras me
A não querer já nunca ser contente. ensinaram / A não querer já nunca ser contente.
Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.


Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

Dizei, Senhora, da Beleza ideia:


Para fazerdes esse áureo crino,
Onde fostes buscar esse ouro fino?
De que escondida mina ou de que veia?

Dos vossos olhos essa luz febeia,


Esse respeito, de um império dino?
Se o alcançastes com saber divino, - Descriptio puellae: mulher – ideia, da que se dá uma
Se com encantamentos de Medeia?
descrição física, mas baseada nos cânones da época.
De que escondidas conchas escolhestes - Referências mitológicas: luz febeia, Narciso, Medeia.
As perlas preciosas orientais
Que, falando, mostrais no doce riso?

Pois vos formastes tal como quisestes,


Vigiai-vos de vós, não vos vejais;
Fugi das fontes: lembre-vos Narciso.

Verdade, Amor, Razão, Merecimento


Qualquer alma farão segura e forte;
Porém, Fortuna, Caso, Tempo e Sorte
Têm do confuso mundo o regimento.

Efeitos mil revolve o pensamento, - Estrutura dialéctica: verdade, amor, razão e


E não sabe a que causa se reporte;
Mas sabe que o que é mais que vida e morte, merecimento vs. fortuna, caso, tempo e sorte. São os
Que não o alcança o humano entendimento. últimos os que realmente regem o mundo.
- Presença da fé em Deus (mas o melhor de tudo é crer em Cristo),
Doutos varões darão razões subidas;
Mas são experiências mais provadas,
algo muito pouco frequente em Camões, ainda que também
E por isso é melhor ter muito visto. podemos encontrar isto em Sobolos rios que vão.

Cousas há i que passam sem ser cridas


E cousas cridas há sem ser passadas...
Mas o melhor de tudo é crer em Cristo.

- Estrutura das canções:


 Texto da composição.
 Envio, estrofe de pequena extensão que contém um apelo
à canção. É dizer, são composições metaliterárias.
Canção X: “Vinde cá, meu tão certo - Contido: o autor dirige-se ao papel nos primeiros versos,
secretário” personificado na figura do secretário (quem guarda os
secretos). Poderia ser considerada como uma canção –
epílogo.
- Estilo engenhoso (palavra pena).

2.2. Épica
A) O género da epopeia
1) Definição:
a epopeia é uma composição narrativa de carácter histórico em que se reflectem
diferentes aspectos dum povo através das aventuras dalguns heróis. Normalmente está
protagonizada por um herói central.
2) História da epopeia:
a) Literatura grega: a Odisseia de Homero apresenta o protótipo de herói épico, Ulisses, e
a partir desta obra desenvolver-se-ia o género épico.
b) Literatura latina: imita o modelo da Odisseia, e a obra mais importante é a Eneida de
Virgílio, que recolhe as aventuras de Eneias e a convenção das lutas entre deuses.

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10. Camões

c) Renascença: as obras épicas mais importantes são:


■ Orlando furioso, de Ariosto (narrativa cavaleiresca).
■ Orlando enamorado, de Boiardo (narrativa cavaleiresca).
■ Jerusalém libertada, de Torquato Tasso (épica que elogia a história cristã servindo-se
do motivo das cruzadas).

B) A epopeia em Portugal
Desde o século XV há chamamentos para a elaboração dum poema épico em Portugal
sobre as descobertas. Por exemplo:
1) Cancioneiro Geral.
2) Poemas lusitanos de António Ferreira.

C) Os Lusíadas (1572)
1) Título: supõe uma declaração de princípios, já que lusíadas é um neologismo criado pelo
humanista André de Resende que designa os portugueses, os filhos do deus Luso
(propriedades semidivinas).
2) Personagens:
a) O protagonista da obra é o povo português, que é apresentado através das façanhas de
Vasco da Gama na sua viagem do Restelo a Calecut.
b) A obra também apresenta as lutas entre deuses mitológicos, uma convenção do género.
Assim, Baco apresenta-se como inimigo dos portugueses, Vénus como a sua protectora e
Júpiter como moderador. Isto introduz um elemento sobrenatural, importante sobre
tudo no Canto IX.
3) Acções: a viagem de Vasco da Gama é o fio condutor, já que através dela conta-se toda a
história de Portugal desde a fundação de Lisboa até o momento em que Camões está com a
pena na mão a escrever Os Lusíadas. Para isto relatam-se histórias de modo retrospectivo e
prospectivo (mediante as personagens sobrenaturais, como Adamastor). Encontramos assim
um entrecruzamento de planos:

História de
Viagem Deuses Intervenções do poeta
Portugal
Estrofes 1 – 18:
Inês de Castro,
Proposição: diz que vai cantar ao
apresentada como
peito ilustre lusitano. Os primeiros
Estrofe 19: apresenta rainha depois de morta
versos são uma tradução de Virgílio
os portugueses e focalizando sobre tudo
(arma virumque cano).
navegando, pelo que o amor, não os
Invocação às musas portuguesas, que
supões um começo in elementos políticos
denomina Tágides / Tégides.
medias res. (como António
Dedicatória ao rei D. Sebastião
Ferreira).
quando ainda é muito jovem, já que vê
nele a grande esperança de Portugal.
Ilha dos amores: ilha
Velho do Restelo, apresentado portátil à que chegam os
como uma pessoa sábia que lança portugueses na sua viagem
um discurso aparentemente contra de regresso. Apresenta-se
as descobertas, mas que também acompanhada dum discurso
pode ser interpretado como um carregado de lirismo e
elogio dos portugueses. também de erotismo (Canto
IX).
Adamastor: personagem que
aparece na viagem como uma visão
sobrenatural, mas que também faz
referências ao futuro dos
portugueses. Tem uma dupla face:
1. Lírica: está apaixonado de
Tetis.
2. Monstruosa: é a
personificação do Cabo das
Tormentas.

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Literatura Portuguesa I (das origens à Renascença)
USC, 2007/2008, http://apuntamentos.iespana.es/litpt1/litptI_01.doc

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