Prática de Música Antiga em Belo Horizonte Relato
Prática de Música Antiga em Belo Horizonte Relato
Prática de Música Antiga em Belo Horizonte Relato
RESUMO:
A atuação de grupos voltados à prática de música antiga em Belo Horizonte (MG) tem sido constante desde a
metade do século XX até os dias de hoje. Contudo, até o momento não foram realizados registros acadêmicos e
científicos desta práxis musical. Neste âmbito, este trabalho tem como objetivo apresentar um relato de
experiência sobre a prática de música antiga na capital mineira tendo como estímulo inicial o trabalho de
inventariação do fundo documental do Arquivo Georges e Ana Maria Vincent (Núcleo de Acervos da Escola de
Música da UEMG) – onde se encontram registros de dez grupos de música antiga atuantes entre 1982 e 2012 –
mediatizado pela memória-testemunho do professor Domingos Sávio Lins Brandão, músico que participou de
grande parte dos grupos dos quais há registros no arquivo em questão.
Palavras-chave. Musicologia; Acervos musicais; Núcleo de Acervos da Escola de Música da UEMG; Memória-
testemunho.
INTRODUÇÃO
Nenhuma mudança influenciou mais profundamente a interpretação musical nas últimas duas
décadas que o crescimento do movimento de performance histórica (O‟DEA, Jane).
O que nos inspirou a realizar o presente trabalho, por intermédio de Mnémosyné, foi o
nosso contato com o Arquivo Georges e Ana Maria Vincent, pertencente ao Núcleo de
Acervos da Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG). Este
conjunto documental foi encaminhado ao Núcleo em 2012 após o falecimento de Georges
Joseph Pascal Marie Vincent (1935-2012)12, a inventariação do material foi iniciada em 2017
e vem sendo realizada desde então com apoio do Programa Institucional de Apoio à Pesquisa
da UEMG (PAPq/UEMG) e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica e
Tecnológica (PIBIC/FAPEMIG/UEMG)13.
9
Mestre, Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais, [email protected].
10
Doutoranda, Universidade do Estado de Minas Gerais, [email protected].
11
Graduando em Música, Universidade do Estado de Minas Gerais, [email protected].
12
Sua esposa, Ana Maria Aguiar Machado Vincent, havia falecido em 2008.
13
Em tempo, agradecemos aos bolsistas Weslley Luiz Aranda dos Santos, Letícia Maria da Costa Pinto, Felipe
Eugênio Dias Soares e João Lucas de Oliveira Pantoja pela dedicação no trabalho de inventariação e pesquisa no
Arquivo Georges e Ana Maria Vincent.
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O Núcleo de Acervos abriga hoje os seguintes conjuntos documentais: Acervo Maestro Vespasiano Gregório
dos Santos, Acervo da Rádio Inconfidência (partituras e discos), Acervo Maestro Chico Aniceto, Acervo da
Banda de Ilicínea (Maestro Francisco Passos), parte do Acervo Hostílio Soares, Arquivo Georges e Ana Maria
Vincent, Arquivo Lodi e Arquivo Delza Gonçalves. Além destes acervos, também se encontram no Núcleo
algumas obras avulsas, a saber: Sonata 2ª (Sonata “Sabará”, manuscrito proveniente do Acervo da Sociedade
Musical Santa Cecília de Sabará/MG), duas edições encadernadas realizadas por Francisco Curt Lange e cinco
cadernos de música provenientes da cidade de Pará de Minas/MG.
15
São eles: 1) Duo composto por Georges Vincent e Maria Rachel; 2) Trio de Música Antiga (Georges Vincent,
Ana Maria Vincent e Maria do Carmo Correa); 3) Conjunto de Música Antiga da UFMG; 4) Trio composto por
Georges Vincent, André Prous e Domingos Sávio Lins Brandão; 5) Collegium Musicum Brasiliensis; 6)
Collegium Musicum de Minas; 7) Grupo de Música Antiga da UEMG (Escola de Música); 8) Camerata Athaíde;
9) Os Caminhos do Campo; 10) Camerata Lusitana.
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MEMÓRIA-TESTEMUNHO
O passado não existe: são as recordações que acumulamos, que arranjamos e que
falsificamos... (TERZANI, Tiziano).
Consideramos que toda memória é uma construção social, mesmo que fundamentada
em documentação – como é o caso do nosso autor memorialista, professor Domingos Sávio
Lins Brandão –, pois a organização documental não deixa de ser um arranjo social.
Alecsandra Matias de Oliveira tece considerações pertinentes a esse respeito:
A história-registro, por muitos anos, considera que um esforço de lembrança (através, por
exemplo, de um documento ou monumento) poderia ressuscitar o passado, transformando o
presente em uma „amálgama‟ – uma reconstrução e uma releitura do que passa, a partir da
inserção do indivíduo na coletividade e em momentos presentes sucessivos. Por essa razão, se
dá a insistente interpretação sobre os „vestígios de objetos e lembranças de realidades
vivenciadas. As „pistas‟ e „índices‟ provenientes de imagens verbais e não verbais,
especialmente as registradas, permitem, pelos fragmentos, uma busca lógica e elucidativa em
determinado tempo e espaço (OLIVEVIRA, 2009, p. 4).
Cabe considerar que, mesmo que a nossa investigação via memória-testemunho tenha
sido desencadeada pela documentação onde o autor memorialista é participante, o uso da
intuição e da sensibilidade para argui-la com criatividade deve estar sempre presente, e deve-
se estar atento aos atos falhos que os registros de gênero textual não contemplem, mesmo
sendo “cúmplice” e “estranho” da documentação perscrutada. Sobre este aspecto Arlete Farge
pondera que:
O sabor do arquivo passa por esse gesto artesão, lento e pouco rentável, em que se copiam
textos, pedaço por pedaço [...]. Sem pensar muito nisso. E pensando o tempo todo. Como se a
mão, ao fazê-lo, permitisse ao espírito ser simultaneamente cúmplice e estranho ao mesmo
tempo [...] (FARGE, 2009, p. 23).
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Recorremos ainda a Lucien Goldmann que considera que, como fator humano,
histórico e social, as etapas envoltas à construção do conhecimento científico considera a
identidade parcial entre sujeito e objeto (GOLDMANN, 1979). Assim, deve o pesquisador
estar ciente que seus juízos de valores não podem ser eliminados, ainda mais em nosso texto
onde temos um “cúmplice” dos acontecimentos registrados pela documentação. Porém, cabe
ao investigador esforçar-se para chegar ao espírito “estranho” procurando evitar, portanto uma
possível deformação provocada por suas memórias, onde a contenda de simpatias ou por
antipatias pessoais são inevitáveis. Além disso, Goldman ressalta que, ainda que alcançada de
maneira restringida, o investigador deve se empenhar ao entendimento de realidades totais e
concretas (GOLDMANN, 1979).
Minha vida musical no Brasil foi marcada por tocar música antiga europeia. Agora, olha que
interessante, só tenho feito música antiga brasileira (Georges Vincent, 1999)
16
Segundo Domingos Sávio Lins Brandão, discos fundamentais para sua formação como flautista doce, professor
e musicólogo.
17
O professor Domingos participou de oficinas realizadas por Helder Parente, flautista do Quadro Cervantes, na
capital mineira nos anos de 1970.
18
Um dos músicos desse grupo, Mario Orlando, gambista, flautista doce e cantor, realizou oficinas e participou
de grupos musicais em Belo Horizonte em que o professor Domingos também atuou: o Conjunto de Música
Antiga da UFMG, o Collegium Musicum de Minas e o Camerata Athaide.
19
Do qual o professor Domingos foi aluno em Belo Horizonte e em Juiz de Fora.
20
Segundo Domingos, discos igualmente referenciais para sua formação profissional.
21
Que também atuou em Belo Horizonte no Trio de Música Antiga juntamente com Georges e Ana Maria
Vincent e nos inícios do Conjunto de Música Antiga da UFMG. Maria do Carmo também foi professora do
Domingos e alguns de seus instrumentos estão em fase de incorporação ao Núcleo de Acervos.
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Embora o recorte temporal da tese se limite aos anos de 1970, a autora ultrapassa esta
data ao abordar os cursos oficiais do referido instrumento e a atuação do grupo Le Bizzarre
(Pouso Alegre, Minas Gerais) dirigido por Marialba Mattos. Outra vez, Belo Horizonte não é
referenciada, embora a habilitação em flauta doce nos cursos de graduação da Escola de
Música da UEMG tenha sido autorizada a funcionar em 1998 pelo Conselho Estadual de
Educação de Minas Gerais a partir da primeira gestão do professor Domingos como diretor da
Escola de Música.
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Nosso autor memorialista, professor Domingos, participou de algumas edições do festival, primeiro como
aluno e, depois, como musicólogo e músico.
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Para fazer música, é necessário pensar e tocar inteligentemente [...]. Se você parte do princípio
que uma partitura do período barroco, por exemplo, é simplesmente um plano, um esboço do
que é para ser feito, você se depara com essa questão do conhecimento, da pesquisa, da
necessidade de aprender outras coisas, extra-mecanicamente, extra-musicalmente (Luis Otávio
dos Santos)
Um dos motes que nos impulsionou para a realização destas considerações é como as
pesquisas e os estudos sobre a interpretação da música antiga têm estimulado as reflexões
sobre a performance musical de maneira geral. Os parâmetros metodológicos para a
performance da música barroca propostos por Ross W. Duffin (DUFFIN, 1995), por exemplo,
vêm sendo utilizados para performances de obras de outras temporalidades históricas, como a
apresentada no artigo de Lara Greco e Lúcia Barranechea sobre obra de Frederico Richter
(1932), Inspiratio para piano e violão (GRECO; BARRENECHEA, 2007), e por Mario Sève
num artigo em que se discute questões relacionadas à interpretação do choro (SÈVE, 2016). O
mesmo autor, além de utilizar Ross Duffin, evoca igualmente Nicolaus Harnoncourt, para
discutir questões pertinentes à notação musical e ao estilo de interpretação da Schottisch-
Choro, segundo movimento da Suíte popular brasileira para violão solo, de Heitor Villa-
Lobos (SÈVE, 2016).
Por estes exemplos, constata-se que a música antiga, antes considerada uma prática de
amadores23, conseguiu sua respeitabilidade musicológica e, conforme declarou Andreas
Holschneuder, diretor e produtor da série Archiv24 entre os anos de 1970 a 1992, mesmo com
avalanches de críticas persistentes até o tempo presente, especialmente no que tange à questão
da autenticidade25.
A interpretação histórica passou à corrente principal da vida européia. Algumas obras antigas
de Bach e Haendel antes do “boom” histórico eram interpretadas por grandes orquestras. Agora
esse tipo de abordagem soa ridículo. O público exige interpretações baseadas nas fontes
históricas (FOLHA DE SÃO PAULO apud BRANDÃO, 1993).
23
O compositor Luciano Berio, ao ser questionado sobre o renascimento da música antiga afirma que “o
fenômeno da descoberta de Bach esteja ligado à descoberta, por parte dos jovens, da dimensão prática do fazer
música. E isso pode acontecer com músicas relativamente simples [...] que podem ser tocadas inclusive como o
mínimo de técnica, como a flauta doce [...]” (BERIO, sem data). Esta consideração de Berio é um elogio e não
uma declaração desdenhosa ao movimento da música antiga como alguns críticos consideraram.
24
A série Archiv foi responsável por gravações de discos referenciais sobre a música medieval, renascentista e
barroca, com instrumentos de época e com interpretações historicamente orientadas.
25
“Segundo Charles Rosen, a busca de autenticidade coloca em primeiro plano o estudo das condições de
execução e não do texto. Ora, o emprego de instrumentos de época não garante um resultado à antiga, assim
como informações interessantes em um programa não garantem uma interpretação „autêntica‟ [...] Enfim, música
reduzida ao seu aspecto fônico, abstraída de todas as suas funções sociais, de toda interação com o resto da
cultura” (GANDELMAN, sem data).
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Os objetos musicais podem ser entendidos como objetos sociais e, em consequência, como representações
sociais. É por essa razão que “o modo como indivíduos e grupos reagem ante eles [os objetos musicais] seria
influenciado pelas representações que os indivíduos têm sobre música e sobre a instituição a que estão
vinculados” (ARCANJO, 2008).
27
Destes três últimos fomos premiados, neste início de século com três publicações em português: Ensaio sobre
a maneira correta de tocar teclado, de Carl Phillipp Emanuel Bach (UNICAMP, 2009), Cartas de Monteverdi
(UNESP, 2011) e O teatro à moda de Benedetto Marcello (UNESP, 2010).
28
Foram elencados aqui os autores aos quais nosso autor memorialista, professor Domingos, teve acesso antes da
era da internet. Alguns livros foram de grande de valia, segundo ele, para os estudos teóricos e estéticos sobre a
música antiga. Destacamos aqui o Source readings in music history: the Renaissance (STRUNK, 1965), onde
vários textos do passado estão selecionados e o Historical anthology of music (DAVIDSON; APPEL,1946), que
reúne partituras e comentários sobre as mesmas.
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prática da música antiga, os quais destacamos Arnold Dolmetsch, Roger Cotte, Thurston Dart,
Joseph Kerman, Hans-Martin Linde, Nikolaus Harnoncourt29, Robert Donington, Mario
Videla, Jean-Claude Veilhan, Ross W. Duffin e Jordi Savall dentre outros. Dos autores
brasileiros destacamos os livros de José Maria Neves30, Raul Costa d‟Avila31, Rogério
Budasz32, Laura Rónai33 e Silvana Ruffier Scarinci34, além de um livro ontológico, sem igual
a nosso ver, que é o Da interpretação da música, de Paulo Couto e Silva, catedrático de
História da Música do Instituto de Belas Artes do Rio Grande do Sul35.
Uma fonte de pesquisa para a prática da música histórica é a escuta de gravações dos
grupos e orquestras de música antiga, desde os pioneiros aos dos dias e atuais, como também
a apreciação de vídeos. Outra proposição intrínseca à performance historicamente informada36
é o uso dos chamados instrumentos antigos (originais ou cópias), ou instrumentos de época.
Essa questão não se trata de uma opção exótica: os instrumentos de época há muito, fazem
parte da paisagem sonora musical da atualidade. No entanto, não é o simples uso destes
instrumentos e seus timbres peculiares que serão os responsáveis por uma interpretação mais
fidedigna e autêntica de um repertório. Cesar Marino Villavicencio Grossmann comenta como
a complexidade que envolveu historicamente o uso de instrumentos antigos:
Um problema inicial da releitura das obras do passado era conseguir redescobrir como os
instrumentos eram construídos e tocados. Quem ouviu as primeiras gravações dos anos setenta
e oitenta, anunciadas como “interpretações autênticas” em “instrumentos originais”, deve
recordar quão rudimentar era o controle instrumental. Iniciava-se um processo, não só de
redescoberta estilística, mas de transformação instrumental e estética do modo de tocar a
música anterior ao século XIX (GROSSMANN, 2011).
29
Apenas alguns livros dos autores estrangeiros citados se encontram traduzidos para a língua portuguesa:
Interpretação da música de Thurston Dart (Martins Fontes, 1990), Musicologia de Joseph Kerman (Martins
Fontes, 1987), Música e simbolismo de Roger Cotte (Cultix, 1990), Pequeno guia para ornamentação da música
barroca de Hans-Martin Linde (Musicália, 1979), O discurso dos sons (Jorge Zahar, 1990) e o Diálogo musical
de Nikolaus Harnoncourt (Jorge Zahar, 1993).
30
NEVES, Joé Maria. Música sacra mineira. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1987.
31
D‟AVILA, Raul Costa. A articulação na flauta transversal moderna: uma abordagem histórica, suas
transformações, técnicas e utilização. Pelotas: UFPEL, 2004.
32
BUDASZ, Rogério. A música no tempo de Gregório de Matos. Curitiba: DeArtes/UFPR, 2004.
33
RÓNAI, Laura. Em busca de um mundo perdido. Rio de Janeiro: Topbooks, 2008.
34
SCARANCI, Silvana Ruffier. Safo novella: uma poética do abandono nos lamentos de Barbara Strozzi,
Veneza, 1619-1677. São Paulo: Algol Editora/EDUSP, 2008.
35
SILVA, Paulo Couto e. Da interpretação da música. Porto Alegre: Editora Globo, 1960.
36
Outro termo para música antiga.
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Enfim, consideramos o praticante da música antiga como um musicólogo que deve ser
movido pela curiosidade intelectual, interrogar e estabelecer um diálogo com as obras e seus
autores, considerar as composições musicais como documentos-monumentos, que mais do que
uma herança do passado, são construções culturais, são representações sociais. Nas obras
musicais estão cravejadas as memórias de seus autores e de suas coletividades, onde as
concepções estéticas das poéticas musicais devem ser buscadas num jogo que exige do
músico decisões interpretativas conscientes. E, conforme observa José Eduardo Costa Silva,
uma questão angular emerge sobremaneira neste jogo: “de alguma forma eles [os intérpretes
da música antiga] dialogavam com a essência ambígua da arte – ser estético e histórico ao
mesmo tempo” (SILVA, 2000).
37
Essa questão temporal, desde os anos mil novecentos e noventa, foi rompida. Interpreta-se Mozart, Beethoven,
Berlioz, Schubert, Verdi e até Mahle com instrumentos de época e segundo os princípios da música
historicamente informada.
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Universidade Federal de Minas Gerais adquiriu em 1983 cópias de instrumentos antigos que
eram praticamente desconhecidos dos professores e alunos desta instituição. Os professores
Georges Vincent e André Prous foram então convidados a ministrar um curso de extensão de
música antiga e, a partir daí, formou-se o Grupo de Música Antiga da UFMG, dirigido por
Vincent durante todo período de atividade do grupo (1983-1995), que mereceu reconhecimento
público (GOMES et al, 2016, p. 3).
Outro programa de concerto que registra uma das últimas apresentações do Conjunto
de Música Antiga da UFMG (Sala Juvenal Dias nos dias 26 e 27 de agosto de 1994),
constatamos a participação dos músicos Ana Maria Vincent, André Prous, Domingos Sávio
Lins Brandão, Georges Vincent, Lúcia Melo e Weruska Wilke, tendo sido usados flautas
doces, khummhorn, gemshorn, alaúde, violas da gamba, rauschpfeife, korthaut, percussão e
quarteto vocal.
38
Para mais informações sobre este grupo, consultar: GOMES, Amanda et al. Grupo de Música Antiga da
UFMG: levantamento documental a partir do Arquivo Georges e Ana Maria Vincent. In: Nas Nuvens...
Congresso de Música, v. 2. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2016.
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O Collegium Musicum de Minas chegou a gravar três CDs: Ninguém morra de ciúme
(1997), Senhora del mundo (1998) e A origem (2000). No encarte do primeiro CD estão
apresentados seus fundamentos tecidos pelo esteta e alaudista do grupo, José Eduardo Costa
Silva:
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O Collegium Musicum de Minas foi um grupo de Belo Horizonte (Brasil) dedicado à pesquisa
e à execução da música colonial brasileira. Criado em 1993, sob a coordenação musical e de
pesquisa do musicólogo Domingos Sávio Lins Brandão [...]. O Collegium Musicum encerrou
suas atividades em 2003, deixando um legado de pessoas que se apaixonaram pela música
histórica graças ao trabalho realizado pelo grupo (PQP BACH, 2018).
39
Para mais informações sobre o Acervo Maestro Chico Aniceto, consultar: BRANDÃO, Domingos Sávio Lins;
AZEVEDO, Aline. Acervo Maestro Chico Aniceto: relato descritivo após incorporação de fundo documental
pertencente a Onofre Aniceto. In: Encontro de Musicologia Histórica do Campo das Vertentes, v. 1. São João
del-Rei: Universidade Federal de São João del-Rei, 2018, p. 98-111.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não há música antiga. As partituras são antigas, mas quando são executadas elas se tornam
vivas (SAVALL).
Para encerrar este texto, apresentamos mais uma explanação de Jordi Savall que
acreditamos epilogar nosso discurso:
Uma das características de qualquer civilização é a sua capacidade de recordar, uma vez que é
impossível imaginar o futuro sem memória. No entanto, a memória e o esquecimento são
indissociáveis, o que já sabiam os antigos. Perto do oráculo de Trofhonios, na cidade de
Lebadeia, na Boécia, existiam duas fontes das quais bebiam os que procuravam conselho:
Léthé, a Fonte do Esquecimento, e Mnémosyné, a Fonte da Memória. Ambas eram
indispensáveis, o qual é tão certo como que, sem certa capacidade de esquecimento, a vida
seria inviável, mas também não seria possível a vida humana sem memória. Contudo, é
possível que o nosso passado apenas exista na nossa memória pessoal, como afirma Tiziano
Terzani? “O passado não existe: são as recordações que acumulamos, que arranjamos e que
falsificamos” As obras de arte tangíveis de outros tempos [...] falam-nos sempre, por si
próprias, através de sua simples presença. Mas as artes intangíveis, tal como a música,
precisam sempre de artistas de hoje para existirem verdadeiramente. [...] (SAVALL, 2008, sem
número de página).
Segundo Marilene Chauí, “[...] lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir com
imagens e ideias de hoje, as experiências do passado” (CHAUÍ, 1987, p. 20). Em se tratando
de histórias de vida, são muitas as tarefas do musicólogo: alertar para os elementos de
invenção, de aproximação ou de fantasia que ronda toda narrativa, mesmo que fundamentada
em documentação, pois na memória se entrelaçam passado e presente, temporalidades e
espacialidades, o pessoal e o coletivo, registro e invenção, dado e construção, história e
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ficção, as recordações que acumulamos, que arranjamos e que falsificamos, o indivíduo e sua
rede de sociabilidade.
REFERÊNCIAS
AGUILAR, Patricia Michelini. A flauta doce no Brasil: da chegada dos jesuítas até 1970.
2017. 258f. Tese de doutorado. Departamento de Música da Escola de Comunicações e Artes.
São Paulo: Universidade de São Paulo, 2017.
BRANDÃO, Domingos Sávio Lins; AZEVEDO, Aline. Acervo Maestro Chico Aniceto:
relato descritivo após incorporação de fundo documental pertencente a Onofre Aniceto.
Encontro de Musicologia Histórica do Campo das Vertentes, v. 1. São João del-Rei:
Universidade Federal de São João del-Rei, 2018, p. 98-111.
CAVAZOTTI, André; BREDEL, Pierre Guedes. Entrevista com o violinista barroco Luis
Otávio Santos. Per Musi, no. 8. Belo Horizonte, jul-dez, 2003, p. 152-156.
DUFFIN, Ross W. Performance Practice: Que me veux-tu? What do you want from me?
Early Music America, v. 1, no. 1, 1995, p. 27-36. Tradução não publicada de Paulo César
Martins Rabelo, sem data, p. 1-12.
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OLIVEVIRA, Alecsandra Matias de. Arte como lugar da memória. Travessias, v. 3, no. 1,
2009
PQP BACH. Collegium Musicum de Minas: Ninguém morra de ciúme – 1997 (Acervo
PQPBach) – P.Q.P. Bach.
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