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História Natural do Sertão da Trijunção

do Nordeste, Centro-oeste e Sudeste do Brasil

Reuber Albuquerque Brandão


Renata Dias Françoso Brandão
Theodoro de Hungria Machado
Neuber Joaquim dos Santos
(Organizadores)
História Natural do Sertão da Trijunção
Do Nordeste, Centro-oeste e Sudeste do Brasil

Reuber Albuquerque Brandão


Renata Dias Françoso
Theodoro de Hungria Machado
Neuber Joaquim dos Santos

Primeira Edição

Brasília
2020
Copyright ©2020 by Reuber A. Brandão, Renata Dias Françoso,
Theodoro de Hungria Machado, Neuber Joaquim dos Santos

Equipe técnica

Coordenação Reuber Albuquerque Brandão

Produção gráfica Renata Dias Françoso

Comitê de revisores Clarisse Rezende Rocha - Universidade de Brasília

Fernando Costa Straube - Hori Consultoria Ambiental

Luane Reis dos Santos - Universidade de Brasília

Natan Medeiros Maciel - Universidade Federal de Goiás

Nicolás Pelegrin – Universidade Nacional de Córdoba, Argentina

Renata Dias Françoso - Universidade Federal de Lavras

Reuber Albuquerque Brandão - Universidade de Brasília

Wilian Vaz-Silva - Pontifícia Universidade Católica de Goiás

Revisão de língua inglesa Sally Ann Thomson - Nuffield International


PREFÁCIO..........................................................................................................................................................6
LISTA DE AUTORES..........................................................................................................................................20
HOMENAGEM À JUDITH CORTESÃO...............................................................................................................26
INTRODUÇÃO GERAL......................................................................................................................................28
GENERAL INTRODUCTION..............................................................................................................................29
CAPÍTULO 1 - Caminhando pelo sertão da Trijunção dos Estados da Bahia, Minas Gerais e Goiás...............32
CAPÍTULO 2 - A região da Trijunção no contexto do bioma Cerrado..............................................................42
CAPÍTULO 3 - Caracterização florística e potencial de uso das espécies vasculares ocorrentes na região da
Trijunção.........................................................................................................................................................54
CAPÍTULO 4 - Anfíbios da Trijunção dos estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais e do Parque Nacional
Grande Sertão Veredas..................................................................................................................................88
CAPÍTULO 5 - Répteis da Trijunção e o itinerário de Spix e Martius entre o São Francisco e o Vão do Paranã
......................................................................................................................................................................128
CAPÍTULO 6 - História natural do jacaré-paguá (Paleosuchus palpebrosus), o pequeno notável das veredas
dos sertões da Trijunção entre Bahia, Goiás e Minas Gerais........................................................................148
CAPÍTULO 7 - Avifauna da Trijunção: as aves do Grande Sertão de Guimarães Rosa.................................164
CAPÍTULO 8 - Pequenos mamíferos da Trijunção, leste do Cerrado............................................................196
CAPÍTULO 9 - Os mamíferos de médio e grande porte da região da Trijunção, com observarção sobre
alguns pequenos mamíferos........................................................................................................................214
CAPÍTULO 10 - O ciclo das águas na região da tríplice junção dos estados de Goiás, Minas Gerais e Bahia 226
CAPÍTULO 11 - Uso e cobertura da Terra no sudoeste da Bahia municípios de Cocos e Jaborandi.............244
AGRADECIMENTOS.......................................................................................................................................256
AUTORES DAS FOTOS...................................................................................................................................258
4
Royal Botanic Garden Edinburgh

Fazendas Trijunção protects a vast area of native


vegetation and the business includes a native animal
breeding sanctuary. Furthermore, Fazendas Trijunção
was involved with research into nutrient
requirements of adapted cattle using native grass and
legume species. This study, focused on efficient and
Trijunção Region: a superbly conserved example of sustainable use of resources that also promoted
the Cerrado biome: An example of the conserved natural flora and fauna, was conducted by three
Cerrado biome at its best. It gives me enormous dedicated conservationists, José Roberto Marinho,
pleasure to write a preface for this book devoted to Theodoro Machado and Neuber J. Santos.
the biology, ecology and conservation of a truly The sustainable intensification of farming activities
excellent combination of private proprieties research on Leite Verde Leitíssimo is an exceptional example
study area and nature reserve. This book is a of using natural resources in a meaningful way to
masterpiece of insights across a region with half a improve productivity, while allowing great areas of
million hectares of farms, nature reserves and native cerrado to remain untouched.
research areas – fondly called the Trijunção region.
I should also mention the idyllic accommodation at
Located at the junction of three Brazilian states – Fazenda Trijunção, sited within a typical area of
Bahia, Goiás and Minas Gerais, this expansive species-rich cerrado woodland. It provides a superb
savannah landscape contains private property and blend of comfort with rustic charm, consisting of a
the spectacular 230,000 ha Grande Sertão Veredas quadrangle of single-storey buildings surrounding a
National Park. Here, farmers, researchers and delightful garden with on one side a long roofed-
naturalists work together with the common objective verandah in true vernacular style furnished with
to understand, construct and conduct farming comfortable traditional homemade wooden furniture
activities in a way that preserves and promotes and hammocks— an ideal place to sit reading one’s
ecosystem function. notes, resting before enjoying delicious Brazilian
The Trijunção region provides a splendid range of country food served in the large dining room.
habitats, in fact the complete gamut of variations of In summary, the Trijunção region is an ideal place to
the Cerrado Biome. Campo limpo, tall cerradão, carry out intensive field research, either restricted to
forests, and many aquatic types are present here and the rich biodiversity of the fazenda itself or visiting
shelter rich characteristic fauna, as described by other nearby hotspots. It is also a superb place for
specialists in the many pages of this book. less intense ‘tourist’ naturalists to enjoy a more
Besides studies purely related to the natural relaxed approach such as general bird-watching and
environment and its conservation, commercial other natural history pursuits in beautiful
agricultural activities such as the Fazendas Trijunção surroundings. This book will all but take you there.
and the Leitíssimo dairy project have environmental
protection and promotion at the core of business
strategy.

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Região de Trijunção: um exemplo soberbamente significativa para melhorar a produtividade,
conservado de bioma Cerrado: um exemplo da permitindo que grandes áreas de cerrado
conservação do Bioma Cerrado no seu melhor. É um permaneçam intocadas.
enorme prazer escrever um prefácio para este livro Devo também mencionar a acomodação idílica da
dedicado à biologia, ecologia e conservação de uma Fazenda Trijunção, localizada em uma área típica de
verdadeira e excelente combinação de pesquisa cerrado, onde há uma mistura de conforto com
focando áreas de estudo em propriedades charme rústico, composto por um quadrângulo de
particulares com reservas naturais. Este livro é uma edifícios de um andar em torno de um jardim
obra-prima de insights em uma ampla região com encantador, ao lado uma longa varanda coberta, no
mais de meio milhões de hectares de fazendas, verdadeiro estilo vernacular, decorado com
reservas naturais e áreas de pesquisa - mobiliário tradicional e confortável, além de redes.
carinhosamente chamada de região da Trijunção. Um lugar ideal para se sentar lendo as notas de
Localizada na junção de três estados brasileiros - campo, enquanto descansamos, antes de saborear
Bahia, Goiás e Minas Gerais, essa extensa paisagem deliciosos pratos típicos, servidos na grande sala de
de savana contém propriedades privadas e os jantar.
espetaculares 230.000 hectares do Parque Nacional Em resumo, a região da Trijunção é o local ideal para
Grande Sertão Veredas. Aqui, agricultores, realizar pesquisas de campo intensivas, restritas à
pesquisadores e naturalistas trabalham em conjunto rica biodiversidade da própria fazenda ou para visitar
com o objetivo comum de compreender, construir e outros pontos de acesso próximo. É também um lugar
conduzir a agricultura segundo atividades que excelente para turismo científico voltados para
permitam preservar e promover a manutenção e desfrutar de uma abordagem descontraída, como
função do ecossistema. observação de pássaros em geral e outras atividades
A região da Trijunção oferece uma esplêndida de história natural. Este livro quase o levará até lá.
variedade de habitats e muitos tipos aquáticos estão
presentes aqui e abrigam fauna rica em
características, como descrito por especialistas nas
muitas páginas deste livro.
Além de estudos puramente relacionados ao meio
ambiente e sua conservação, atividades agrícolas
comerciais como o Fazendas Trijunção e empresa
Leite Verde Leitíssimo têm ações ambientais de
proteção e promoção no centro de suas estratégias
de negócios.
As Fazendas Trijunção protegem uma vasta área de
vegetação nativa e o empreendimento inclui um
centro de reprodução de animais nativos. Além disso,
as Fazendas Trijunção realizaram pesquisa de
requisitos nutricionais de gado adaptado ao uso de
capim nativo e espécies de leguminosas do cerrado
como fonte de alimento. Este estudo, focado em
eficiência e uso sustentável da vegetação nativa do
Cerrado, foi conduzida por três conservacionistas
dedicados, José Roberto Marinho, Theodoro
Machado e Neuber J. Santos.
A intensificação sustentável das atividades agrícolas
na Fazenda Leite Verde/Leitíssimo é um exemplo
excepcional de uso recursos naturais de maneira

6
-
Order of the British Empire (2006), por serviços à Agricultura Tropical
Sustentável.
Agrônomo, Dr. Honoris Causa da Universidade Federal de Goiás
(2017) por serviços à Agricultura no Estado.
father of the Green Revolution, christened this the
most important revolution in modern agriculture, it
certainly turned the Cerrado region into a vast
I first visited the Trijunção region, where the three breadbasket, now in danger of over-exploitation.
states of Bahia, Minas Gerais and Goiás meet, in To address my task, I will quote from the Declaration
1998. This was in the company of John Cook of The of Madrid, which expounds the very basis of
Nature Conservancy, Scott Lindbergh, a zoologist biodiversity conservation and preservation: “This
specialized in big cats and monkeys and Theodoro Congress calls upon politicians, international
Machado an eclectic man of the world, concerned institutions, environmentalists, farmers, private
with preserving Nature and also a breeder of industry and society as a whole to recognize that the
pedigree Caracu beef cattle. We were accompanies conservation of natural resources is the co-
by that wonderful Portuguese scholar, Judith responsibility, past, present, and future, of all sectors
Cortezão, whose profound knowledge of Nature and of society, in the proportion that they consume
Philosophy held me in great awe. Over an intensive products resulting from the exploitation of these
week’s work, we drew up a plan for sustainable resources”, promulgated at the First World Congress
development in the region and the supporting studies on Conservation Agriculture, Madrid (2001).
related in this book. Later, I re-visited the region
several times and enjoyed the solitude and natural Farmers depend on Nature and must understand her
beauty of the landscape, while also appreciating the to farm sustainability. In the Trijunção region, can be
sense of stewardship of the farmers. But my principal found commercial, large-scale, examples of how to
claim to the honour of writing this prologue is that, farm and respect Nature. In these examples, they
in 1966, I took three members of the Royal Societies’ have respected the Forest Code and, concomitantly,
Expedition to Mato Grosso to get their first adopted new technology, whose greater efficiency
acquaintance with the native Cerrado vegetation at makes their products cheaper for the consumer, two
the site of the brand new Brasília Experiment Station, huge, unrequited, social benefits. All that is required
near Planaltina – DF which, today is, Embrapa’s in order to make these experiences the norm, for all
Cerrado Centre. Dr. Ian Bishop, a zoologist, was the farmers to produce sustainably, is for society to
leader of the expedition, the other two became the acknowledge these important contributions to social
first professors of Ecology at the University of Brasília, welfare and recognize the farmers as “Stewards of
the late Dr. David Gifford, ecologist latu sensu and the Land”. The corollary is to reward this to reward
the extant Dr. James Ratter, who now is recognized this stewardship and sustainable farming practice by
as a world authority on Cerrado vegetation, besides returning just a fraction of the true value of the above
being a retired Director of the Royal Edinburgh benefits to responsible farmers. Such recognition
Botanical Garden. would help to heal the deep chasm, artificially
created in Brazil that divides the farmers from the
Beside this, as a pioneer soybean farmer in Morinhos, very society they feed, all over a common cause, the
Goiás, I developed and disseminated the Zero Tillage preservation of the country’s natural resources.
technology for the tropics. Dr. Norman Borlaug,

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Eu visitei pela primeira vez a região de Trijunção, ambientalistas, agricultores, indústria e sociedade
onde os três estados da Bahia, Minas Gerais e Goiás como um todo, para reconhecerem que a conservação
se reúnem, em 1998. Foi na companhia de John Cook, dos recursos naturais é corresponsabilidade, no
da The Nature Conservancy, Scott Lindbergh, zoólogo passado, no presente e no futuro de todos os setores
especializado em grandes felinos e macacos e de da sociedade, na proporção em que consomem
Theodoro Machado, um eclético homem do mundo, produtos resultantes da exploração destes Recursos
preocupado com a preservação da natureza e ”.
também um criador da raça Caracu de bovinos de Os agricultores dependem da natureza e devem
corte. Fomos acompanhados por aquela maravilhosa entendê-la para a sustentabilidade de suas fazendas.
estudiosa portuguesa, Judith Cortezão, cujo profundo Na região de Trijunção podem ser encontrado
conhecimento da Natureza e filosofia pessoal me exemplos comerciais de como cultivar em larga
deixou admirado. Durante uma intensa semana de escala e respeitar a natureza. Nestes exemplos, eles
trabalho, elaboramos um plano de sustentabilidade respeitaram o Código Florestal e,
e desenvolvimento na região e os primeiros estudos concomitantemente, adotam nova tecnologia, cuja
que apoiaram parte das pesquisas agora relacionadas maior eficiência torna seus produtos mais baratos
neste livro. Posteriormente visitei novamente a para o consumidor, dois enormes benefícios sociais
região várias vezes, onde gozei da solidão e da beleza não correspondidos. Tudo o que é necessário para
natural da paisagem, enquanto apreciava a senso de tornar essas experiências a norma, para todos
hospitalidade dos agricultores locais. Mas minha agricultores a produzir de forma sustentável, é que
principal razão em receber a honra de escrever este a sociedade reconheça essas importantes
prólogo é que, em 1966, acompanhei três membros contribuições para a bem-estar da humanidade e
da expedição da Royal Society ao Mato Grosso para reconheçam os agricultores como “curadores da
terem seu primeiro contato e se familiarizem com a terra". O corolário é reconhecer esse papel para
vegetação nativa do Cerrado no local da novíssima recompensar essa prática de manejo sustentável e
Estação Experimental de Brasília, próximo à do desenvolvimento da agricultura sustentável,
Planaltina - DF, onde hoje é o Centro Embrapa retornando apenas uma fração do valor real dos
Cerrados. O Dr. Ian Bishop, zoólogo, foi o líder da benefícios gerados para os agricultores responsáveis.
expedição, enquanto os outros dois se tornaram o Tal reconhecimento ajudaria a curar o abismo
primeiros professores de ecologia da Universidade profundo, artificialmente criado no Brasil, que afasta
de Brasília, o falecido Dr. David Gifford, ecologista os agricultores da mesma sociedade que alimentam,
latu sensu e o Dr. James Ratter, que agora é unidos por uma causa comum, a preservação dos
reconhecido como autoridade mundial na vegetação recursos naturais do país.
do Cerrado, além de diretor aposentado do Royal
Edinburgh Jardim Botânico.
Além disso, como agricultor pioneiro de soja em
Morrinhos, Goiás, desenvolvi e divulguei a tecnologia
do plantio direto para os trópicos. Segundo o Dr.
Norman Borlaug, pai da Revolução Verde, essa foi a
revolução mais importante da agricultura moderna,
a qual certamente transformou a região do Cerrado
em um vasto celeiro, agora em risco de exploração
excessiva.
Para simplificar a minha tarefa, citarei a Declaração
Madri, promulgada no Primeiro Congresso Mundial
sobre Conservação Agrícola, em Madri (2001)., que
expõe a própria base de conservação e preservação
da biodiversidade: “Este Congresso apela a políticos,
organizações e instituições internacionais,

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9
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Reuber Albuquerque Brandão
A primeira vez que estive na região da Trijunção foi comunidades vizinhas andassem lado a lado, unidas
em 1992. Na época, ainda bem jovem e começando em um único vértice, como a Trijunção de três metas,
meus estudos em Ciências Biológicas, tive na Trijunção de três Estados brasileiros, no Sertão do
oportunidade de vislumbrar os fantásticos cerrados Formoso. Algo que sempre me chamou a atenção
sobre areia branca do oeste da Bahia, na companhia nessa região especial foi a estranha combinação
dos amigos Neuber Joaquim dos Santos, Theodoro entre proximidade e distância. Se no mapa, parecia
Machado e Flávia Pinto. bem perto, as péssimas estradas e a ausência de rotas
diretas tornavam a viagem longa e complicada.
A claridade das águas do rio Formoso, o horizonte
gigantesco e o incrível Cerrado da região Embora seja clichê, é realmente preciso conhecer
contrastavam com sinais de impactos passados para amar e para conservar. Desta forma, as
(grandes empreendimentos florestais baseados na primeiras ações voltadas à conservação da região
monocultura de pinheiros e eucaliptos, em sua foram levantamentos de fauna e flora, realizados por
maioria já abandonados) e presentes (o constante diferentes pesquisadores, em diferentes momentos.
assédio de caçadores organizados). A despeito desses O resultado desses levantamentos compõe a maior
impactos e do comportamento elusivo da fauna parte dos capítulos do livro. No entanto, outras ações
sobrevivente, a paisagem era realmente importantes foram realizadas. Na época, os
impressionante. Era um cerrado especial e único. Mal proprietários decidiram sabiamente incluir a criação
sabia eu o quanto aquela região seria importante de Reservas Particulares do Patrimônio Natural
para a pessoa e o profissional que eu iria me tornar. (RPPNs) no programa Trijunção, resultando na
Na Trijunção tive a grata oportunidade de conviver proteção de mais milhares de hectares de áreas
com pessoas que marcaram profundamente minha protegidas, distribuídas no marco geográfico da
vida, me deixando diversos ensinamentos.
Alguns anos depois da primeira
viagem retorno novamente às
cabeceiras do Rio Formoso. A sede da
Fazenda São Francisco da Trijunção já
estava quase pronta, com sua
arquitetura equilibrada entre o bom
gosto e a rusticidade das casas do
sertão. Nesse momento estava sendo
costurado um projeto ambicioso, o
Programa Trijunção, onde a produção
agrícola, a conservação e a melhoria
da qualidade de vida das

Neuber Joaquim (esquerda) e Reuber


Brandão (direita) na Fazenda Vale do Rio
Grande, em 1992. Foto: THM.

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Da esquerda para a direita: Lelli de
Orleans e Bragança, Pam e Jimmy
Ratter, Jonh Landers e Felipe
Ribeiro. Ao fundo Sr. Joaquim e
Wedson Silva na sede da Fazenda
São Francisco da Trijunção, em
2000. Foto: THM.

trijunção Bahia, Goiás e Minas Gerais e ao longo dos que iriam embasar a proposta de ampliação do
Rios Formoso e Itaguarizinho. Parque Nacional Grande Sertão Veredas. A partir
Com o conhecimento do uso da paisagem pela fauna, dessa oportunidade, acabei fazendo parte da
propusemos rotas de movimentação, sítios de coordenação responsável pelos estudos para a
reprodução e de abrigo para a fauna, bem como o criação de unidades de conservação, até a minha
mapeamento da região. Com isso em mãos, saída do IBAMA em 2006. Foi uma oportunidade
encaminhamos ao Ministério do Meio Ambiente, em única em minha carreira, justamente num momento
2001, a proposição da ampliação do Parque Nacional da história onde quase todas as unidades de
Grande Sertão Veredas, na época totalmente inserido conservação criadas do mundo foram criadas no
no estado de Minas Gerais, para terras da Bahia, Brasil, que assumia um protagonismo responsável e
protegendo as cabeceiras dos rios Itaguari, corajoso pela preservação da biodiversidade, dos
Itaguarizinho, Tabocas e Carinhanha. Assim como fez serviços ecossistêmicos e na manutenção da
o bando de Riobaldo em busca da justiça do Sertão, qualidade de vida para as futuras gerações. Participei
os limites do Parque cruzaram o rio Carinhanha e o dos estudos e da articulação responsáveis pela
tamanho do parque foi praticamente triplicado, se
tornando uma das unidades de conservação mais
significativas do Cerrado. Com a ampliação, o Parque
Nacional Grande Sertão Veredas somou território às
áreas já protegidas da Fazenda Trijunção e da APA do
Rio Vermelho, protegendo um amplo remanescente
de Cerrado, capaz de proteger predadores topo de
cadeia ameaçados de extinção, como onças-pintadas.
No entanto, tal ação não foi simples. Por um enorme
golpe do destino, fui aprovado em concurso público
no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, logo após
finalizar meu doutoramento na Universidade de
Da esquerda para a direita, Reuber Brandão, Theodoro
Brasília em agosto de 2002. Pouco antes de assumir Machado, Cláudio Savaget e Prof. James Alexander Ratter,
o cargo de analista ambiental, fui convidado para em um campo de palmeiras de caule subterrâneo na região
compor a equipe responsável pelos estudos prévios da Trijunção, em 2002. Foto: NJS.

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educação pública de qualidade e a entender o seu
papel na desenvolvimento do País. Na UnB criei o
Laboratório de Fauna e Unidades de Conservação
(LAFUC), voltado à formação de pessoas interessadas
em pesquisar e conservar a biodiversidade do
Cerrado. Nesse contexto, os Cerrados da região da
Trijunção dos estados Bahia, Goiás e Minas Gerais,
são o destino certo para abrigar pesquisas e cursos
de campo, voltados à formação científica de
estudantes de graduação e pós-graduação. Tenho o
prazer e o privilégio e poder apresentar aos
estudantes o mesmo Cerrado que, a quase três
décadas atrás, encheram os meus olhos de beleza e
encantamento. A oportunidade de nutrir os
estudantes com a beleza e o encantamento da
ciência, do Cerrado e do amor à vida. De ensinar que
o futuro requer inteligência, responsabilidade,
Antiga Estrada que ligava a cidade de Mambaí – GO ao
trabalho e coragem. Amor e razão.
Sertão da Bahia, por volta de 2004. Foto: NJS
Muitos planos foram traçados nesse imenso
horizonte. Esse livro é um desses planos, desenhados
criação de mais de 5 milhões de hectares de áreas lá atrás e que hoje é realidade. Assim como a
protegidas no Brasil, especialmente na Amazônia e Trijunção, esse livro é o resultado do trabalho de
Cerrado. Tive a oportunidade de trabalhar produtores rurais responsáveis, de pesquisadores
diretamente com o amigo Sérgio Brant Rocha, uma dedicados, de conservacionistas passionais, de
verdadeira escola de serviço público e de política professores e de diversos outros construtores. Esse
ambiental. livro é um relato de amor por uma das paisagens mais
A despeito do meu conhecimento prévio sobre a espetaculares do Brasil, seja do ponto de vista
região e sobre a proposta, os estudos e articulações ecológico, histórico, cultural ou agrícola.
necessárias para tornar real a ampliação do Parque Boa travessia!
Nacional Grande Sertão, o primeiro projeto de
ampliação ou criação de unidade de conservação em
que trabalhei, foi um dos mais desgastantes e
incertos. No entanto, mesmo com diversas pressões
contrárias, o Parque Nacional Grande Sertão Veredas
foi ampliado em 2006, gerando garantias reais de
conservação da biodiversidade ali presente e
coroando o trabalho, o desgaste e o esforço de todas
as pessoas preocupadas e envolvidas com a
conservação deste pedaço único do Cerrado
Brasileiro.
A partir de setembro de 2006 fui aprovado em outro
concurso público e decidi mudar de instituição,
passando a trabalhar como professor adjunto no
Departamento de Engenharia Florestal da
Universidade de Brasília (UnB). Para mim é motivo
de orgulho trabalhar hoje nessa Universidade, onde
O biólogo e amigo Edsel Amorim, da Fundação Biotrópicos,
realizei meus estudos acadêmicos, onde convivi com com macho adulto anestesiado de onça-pintada (Panthera
professores incríveis e onde aprendi a amar a onca) na região do marco da Trijunção, em 2010. Foto: THM.

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Renata Dias Françoso
É raro dar uma volta pela região e não se deparar com a paisagem saudável, fornecendo recursos e
um bando de caititus ou um par de veados- conectividade para a fauna e mantendo parte das
campeiros. Rastros de grandes felinos são frequentes funções ecossistêmicas, dentre elas a manutenção
nas brancas estradas de areia fofa. À noite, a lua cheia do regime hídrico regional e proteção da
ilumina os extensos espelhos d’água. Quando a lua biodiversidade. Nesse cenário de rara beleza e de alta
não se mostra, o céu estralado é o mais belo, e os importância agrícola e ambiental, a conciliação entre
lobos-guará aludem por perto. Quando se inicia o dia, produção e conservação ambiental é uma atitude
as araras, aos pares, percorrem os grandes caminhos responsável para com as futuras gerações.
de buriti em busca de frutos e abrigo. A vegetação do
cerrado se mantém misteriosamente vistosa sobre Esse livro traz informações biológicas inéditas sobre
os profundos solos arenosos. biodiversidade, paisagem e recursos hídricos das
áreas naturais da Trijunção entre os estados da Bahia,
Apesar do ar poético, o valor da região da Trijunção
Goiás e Minas Gerais, que são fruto de duas décadas
vai muito além do que olhos apaixonados podem
de pesquisas na região.
enxergar. É uma importante área de estabilidade
geológica e climática, constituindo um refúgio para
a fauna e flora do Cerrado. Atualmente, também
abriga importantes fragmentos de vegetação nativa,
incluindo o Parque Nacional Grande Sertão Veredas
e diversas reservas particulares. Esses fragmentos são
o último refúgio do cervo-do-pantanal no leste do
Cerrado.
Os extensos chapadões têm boa aptidão agrícola, e
nas últimas décadas, muitos produtores rurais se
estabeleceram na região. Algumas dessas atividades
se destacam na conciliação entre a produção agrícola
e a conservação da natureza. Nesse sentido, as
Reservas Particulares do Patrimônio Natural são as
mais importantes iniciativas privadas, pois mantêm Paisagem na região da Trijunção. Foto: RDF.

Theodoro de Hungria Machado


Minhas primeiras memorias do Cerrado remontam Anos mais tarde, depois das minhas primeiras
aos meus 8 anos de idade. Mestres de obras, impressões do Cerrado, trabalhando
trabalhadores, engenheiros, máquinas, jipe aos temporariamente, perto de Darwin na Austrália,
solavancos, o entusiasmo de meu pai, poeira decidi interromper minha graduação em Direito para
cobrindo a tudo e a todos, um horizonte enorme e me dedicar a estudar e entender assuntos
plano. Nascido entre praias, montanhas e vales, me relacionados com a agricultura e meio ambiente.
sentia desafiado pelos enormes horizontes do
Antes de iniciar atividades na Região da Trijunção, a
Cerrado.
conservação dos oceanos, dos recursos hídricos, das
Meu pai foi o arquiteto urbanista que projetou as florestas e dos solos eram temas de minhas
cidades de Sobradinho e Gama, cidades satélites de atividades junto a equipes de técnicos no
Brasília. Morando no Rio, minhas visitas a ele, no Zoneamento Ecológico e Florestal do Rio de Janeiro,
Planalto Central, foram marcantes. Me lembro de bem como nas atividades do Instituto Acqua.
uma visita ao jornal Correio Brasiliense, o barulho das Em 1984 conheci a Região da Trijunção quando fui
máquinas de impressão, o fascínio com as fazer um serviço de reconhecimento de
impressoras. A primeira fábrica que visitei, uma
reflorestamentos. Em 1992, como resultado de uma
fábrica de letras e palavras.
14
negociação de terras, adquiri uma idílica área de
vegetação nativa, junto ao marco da divisa dos três
estados.
Em uma primeira viajem à área recém escriturada,
Reuber Brandão, Neuber Joaquim e eu tivemos
oportunidade de conhecer aquela região de planícies
imensas, cobertas por vegetação nativa, de extensas
veredas, e alguns antigos reflorestamentos de pinus,
localizadas no início do Nordeste do Brasil e próxima
à Capital. Foi nestas primeiras viagens, acampados
junto às nascentes do rio Formoso, que entendemos
a grandiosidade daquela região imensa. John Cook, Scott Lindbergh, John Landers e Judith Cortesão
redigindo o Programa Original da Trijunção em 1998. Foto
Nesta época eu morava em Brasília, trabalhando na de NJS.
Secretaria de Meio Ambiente, no grupo de
organização da agenda cultural e de outros eventos de forma cooperativa, uma área de mais de 400.000
preparativos da Conferência de Meio Ambiente, a ha de pastagens nativas, associada à conservação de
Rio-92. Nesta época e durante os longos anos de áreas naturais. Foi quando conheci John Cook, na
convivência com Judith Cortesão, minha amiga e época trabalhando neste programa para a
professora, procurei sempre escutar seus organização The Nature Conservancy (TNC), que se
ensinamentos, muitos dos quais estão neste livro. tornou um exemplo de integração de pecuária e
Talvez, o mais importante deles é o entendimento de conservação de paisagens naturais.
que agricultura e a conservação do meio ambiente
são atividades interligadas e que só há um caminho Reunimos, posteriormente, um grupo de pessoas
para produzir com sustentabilidade, que é investir no para planejar o “Programa de Produção e
conhecimento, e que apenas a ciência informa sobre Conservação Ambiental Trijunção”, que contava com:
as características, os valores, o potencial e os limites Judith Cortesão, John Landers, John Cook, Scott
de cada região. Lindbergh, Amauri Solon e eu. Esse grupo foi o
responsável inicial pelo projeto.
Depois de anos trabalhando com formação de pastos
e convivendo com programas de pecuária e plantio O Programa Trijunção teve como propósito planejar
de grãos no Mato Grosso e Goiás, pareceu para mim, ações visando gerar conhecimento acerca dos
que a vocação daquela área seria a pecuária recursos naturais de propriedades da região, para
extensiva. Quatro anos se passaram e apresentei, ao propiciar produção agropecuária com
Banco do Nordeste, um projeto de financiamento sustentabilidade ambiental.
para a propriedade na Trijunção, visando cercar e O plano original, cujas ações foram definidas em
planejar uma área de pastagem intensiva, para dar 1998, incluía, como filosofia, o investimento e a
suporte a uma terra 10 vezes maior de pastagem no intensificação de pastagens em áreas abandonadas,
cerrado nativo, para abrigar nosso pequeno rebanho anteriormente usadas para plantio de Pinus ou grãos,
de gado Caracu, que criávamos em pastos arrendados mantendo áreas naturais para a conservação. A
desde 1984. Em setembro de 1996, meu amigo e conversão de áreas abandonadas em pastagens e a
colega fundador do Instituto Acqua, José Roberto conservação da biodiversidade nas propriedades
Marinho, visitou a área da Trijunção e iniciamos o integradas no programa envolvia a criação de
plano de escrever um programa de produção e reservas particulares do patrimônio natural (RPPNs),
conservação para aquela área. o levantamento sistemático de dados sobre os solos,
Meses depois, em uma viajem aos Estados Unidos, a hidrologia, a flora e a fauna, além do
Scott Lindbergh biólogo e pecuarista no Brasil, me monitoramento de corredores de biodiversidade e o
telefonou e conversamos sobre um grupo de manejo de pecuária de corte em vegetação nativa do
proprietários rurais no Arizona que administravam, cerrado.

15
Além de realizar inúmeros cursos de
campo de Ecologia do Cerrado
publicamos, em parceria com a Embrapa
Cerrado, o caderno 46, em 2001 e
reeditado em 2004, denominado
“Caracterização Florística e Potencial de
Uso das Espécies Vasculares Ocorrentes
nas Fazendas Trijunção”. Fomos
convidados a apresentar o Programa
Trijunção na Conferência Internacional
de Savanas Tropicais e Florestas Secas
em Edimburgo em 2003.
Neste período inicial, em 2002 o
Programa Trijunção foi citado em
publicações internacionais, como no
livro “Neotropical Savanas and
Seasonally Dry Forests” editado por
Toby Pennington, Gwilym P. Lewis e “Fogo no Cerrado”. Quadro de Jim Davis produzido durante o curso
James A. Ratter (pag. 53, capitulo 2) e Despertando talentos, Ação Comunitária do Brasil, Rio de Janeiro.
na Revista da Reserva da Biosfera do
Programa Man and Biosphere da Unesco, que conservação de fauna e flora, Warrenheip Reserve e
nominou as Fazendas Trijunção como projeto Piloto o Sanctuary Maungatautari, uma grande reserva de
da Reserva da Biosfera do Cerrado. Essas citações nos vida silvestre na Nova Zelândia, livre de espécies
incentivaram a prosseguir com o trabalho. invasoras. Esta reserva e os trabalhos científicos
feitos ali tornaram-se exemplo de conservação e
Com a ampliação do Parque Nacional Grande Sertão pesquisas do frágil ecossistema da Ilha do Norte,
Veredas, em 2004, parte de nossa propriedade foi incluindo a conservação do Kiwi, uma das aves mais
desapropriada. Entre 2004 e 2005, após uma longa icônicas e ameaçadas do planeta.
estadia na Nova Zelândia e na Austrália, somei
esforços com um grupo de proprietários interessados Hoje, depois de mais de 20 anos de esforços
em investir na região e, posteriormente, me associei conjuntos de produtores rurais conservacionistas, de
à Empresa Leite Verde/Leitíssimo, vizinha às áreas cientistas, de técnicos, de trabalhadores, de ecólogos
das Fazendas Trijunção. e de visitantes, apresentamos o primeiro volume
contendo o resultado de estudos realizados na
A Empresa Leite Verde/Leitíssimo apoia diversos região. A integração de várias áreas de
estudos de conservação de recursos naturais, com conhecimento, com resultados amealhados durante
intuito de conhecer o ecossistema de sua 20 anos na Região da Trijunção em diversos
propriedade. Os sócios da Empresa Leite encontros, cursos de campo e por instituições
Verde/Leitíssimo administram, desde 2003, acadêmicas, resultaram na presente edição deste
programas de produção de pecuária de leite em áreas livro.
de pastagens irrigadas, mantendo grandes áreas da
propriedade para preservação. A empresa mantém Este livro foi publicado por uma equipe que sabe que
uma RPPN e uma escola, onde ensinam a importância informação e ciência são os melhores aliados para
da sustentabilidade do ecossistema. Cerca de 50% da produzir e para conservar. Este livro tem como
propriedade da Empresa Leite Verde/Leitíssimo é objetivo incentivar aos leitores a conhecerem uma
coberta por vegetação nativa. região especial, com ecossistemas riquíssimos, no
encontro de biomas distintos, um ecótono de savanas
Um dos nossos principais sócios, fundadores da do Cerrado e carrascos da Caatinga.
empresa Leite Verde/Leitíssimo, David Wallace,
ajudou a realizar dois importantes programas de Curtam muito.

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“Vereda da Trijunção”. Quadro de Maria Gabriela de Orleans e Bragança.

Trechos de “O Buriti Perdido”, de Afonso Arinos de Junto a ti, à noite, quando os outros animais dormem,
Mello Franco, extraído do livro “Pelo Sertão”, 1898. passa o canguçu em montaria; quando volta a carne
da preá lhe ensanguenta a fauce e seu andar é mais
“Velha palmeira solitária, testemunha sobrevivente lento e ondulante.
do drama da conquista......
Talvez passassem junto a ti, há dois séculos, as
São teus companheiros, de quando em quando, os primeiras bandeiras invasoras; o guerreiro tupi,
patos pretos que arribam ariscos das lagoas escravo dos de Piratininga, parou então extático
longínqua em demanda de outras mais quietas e diante da velha palmeira e relembrou os tempos de
solitárias, que dominas, velha palmeira, com tua sua independência, quando tribos nômades vagavam
figura erecta, queda e majestosa como a de um velho livres por estas terras…
guerreiro,
Se algum dia a civilização ganhar essa paragem
As varas de queixadas bravios atravessam o campo longínqua, talvez uma grande Cidade se levante na
e, ao passarem junto a ti, talvez por causa do ladrido campina extensa que te serve de soco, velho Buriti
do vento em tuas palmas, redemoinham e rangem os Perdido...”
dentes furiosamente como o rufar de tambores de
guerra…

17
Neuber Joaquim dos Santos
Sou do Cerrado, do interior de Goiás. Meus pais se
mudaram para Bandeirantes, Paraná, quando eu era
ainda muito criança. Esse já era um lugar de terras
agrícolas, com a paisagem original bastante
modificada. Todos os anos íamos de lá para Goiás e,
no caminho, observávamos nitidamente a transição
da vegetação para o cerrado, o que acontecia ainda
em Minas Gerais.
As águas das chuvas, em Goiás, corriam pelo chão
límpida e não havia tanta poeira quando chegava a Crianças na vereda. Região da Trijunção. Foto: NJS.
seca. Os animais, araras, lobos, onças, papagaios,
curicacas, tamanduás eram comuns naquela região
e ainda são, mas em quantidades muito menores. Já filhos aprenderam muito com as pessoas
no Paraná, onde as terras foram desmatadas muitos interessantes, que frequentavam a fazenda e a
anos antes, nunca se ouvia falar nestes animais. região, especialmente com a Dra. Judith Cortesão.
Eles tiveram tempo para aprender a apreciar e
“Um lugar muito especial”, esse foi o pensamento respeitar o cerrado, talvez porque também
que me veio à cabeça quando passei pela primeira conheceram outros ecossistemas. Viajamos muito,
vez pelas veredas da Trijunção e pelos diversos tipos no Brasil e no exterior, visitamos mares, desertos,
de plantas do Cerrado que existem por lá. Continuei florestas, savanas, muitos agricultores. Também
a pensar que tudo aquilo ali parecia nunca ter sido vimos muita conservação e degradação de
alterado pelo homem, que estava completamente ambientes. Creio que mostrei a meus filhos o melhor
intacto, e eu conseguia imaginar animais extintos caminho, produzir pensando nos jovens que virão
andando e voando naquele cenário. Foi uma depois de nós.
sensação incrível fazer parte de tudo aquilo ali,
naquele momento. À minha frente, um lago calmo e
sereno, onde os buritis, saudáveis, eram a evidência
de que tudo estava assim, perfeito, há muito tempo.
A princípio me senti um intruso, e a pergunta era,
estou invadindo? A resposta era uma só: Sim.
Me parece que as chapadas são mais frágeis e
desprotegidas que serras e montanhas. As terras
planas das chapadas são fáceis de serem desmatadas.
Estou tentando descrever o sentimento que tive em
1992, andando naqueles primeiros tempos na região
da Trijunção. Além do som dos animais e dos ventos, Menino e Paepalanthus na vereda. Região da Trijunção.
um arrepio ao pensar que alguma onça poderia Foto: NJS.
aparecer, sempre com atenção redobrada onde
pisava. Muitas vezes vi este mesmo sentimento em
outras pessoas que chegavam às extensas áreas com
vegetação natural e conservadas dali, muitas delas
integradas hoje ao Parque Nacional Grande Sertão
Veredas.
Parte da infância e da juventude de meus filhos,
Pedro Paulo e João Pedro, foi na Trijunção. Meus

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EDITORES
Reuber Albuquerque Brandão. Biólogo, Doutor em Ecologia. Analista Ambiental do Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente (IBAMA) entre 2002 e 2006, onde atuou na criação ou ampliação de diversas unidades de
conservação principalmente no Cerrado e Amazônia, incluindo a ampliação do Parque Nacional Grande Sertão
Veredas. É professor associado do Departamento de Engenharia Florestal da Universidade de Brasília (2006
até o momento) e Coordenador do Laboratório de Fauna e Unidades de Conservação (www.lafuc.com).
Orientador credenciado nos Programas de Pós-Graduação em Ciências Florestais e de Zoologia da
Universidade de Brasília. Pesquisa principalmente a conservação, a ecologia e a taxonomia da herpetofauna
do Cerrado, no manejo e gestão de unidades de conservação e em políticas públicas de conservação
Renata Dias Françoso. Engenheira Florestal, especialista em Geoprocessamento, mestre em Ciências
Florestais e doutora em Ecologia, com período sanduíche realizado no Jardim Botânico de Edimburgo.
Trabalhou como consultora especializada para órgãos governamentais, empresas privadas e para organismo
internacional. Atualmente é professora adjunta na Universidade Federal de Lavras, no Departamento de
Ciências Florestais. Pesquisa a biogeografia e conservação do cerrado, ecologia vegetal e o impacto das
mudanças climáticas na biodiversidade.
Theodoro de Hungria Machado. Foi Consultor da Secretaria Especial de Meio Ambiente sob a gestão de José
Lutzemberger, trabalhou na equipe da agenda cultural da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente e Desenvolvimento (ECO 92). Participou de cursos técnicos de produção animal pela University of
Wisconsin (1976-1977) e American Breeders Service, Madison (1977). Foi responsável por empresas
agropecuárias no Mato Grosso e Goiás (1983-1987). Foi Assessor da Presidência do Banco de Desenvolvimento
do Estado do Rio de Janeiro, onde coordenou estudos que serviram como diretriz para a política florestal
para o estado do Rio de Janeiro conduzida pelo Banco, incluindo o Manual de Reflorestamento e Zoneamento
Ecológico Florestal do estado do Rio de Janeiro (1980). Foi diretor do Instituto Acqua - RJ (1994).
Neuber Joaquim dos Santos. Administrador de Empresas com experiência em gestão administrativa,
contabilidade e finanças de propriedades rurais. Possui cursos técnicos das relacionados às suas áreas de
atuação. Foi professor de horticultura em projetos sociais na comunidade da Maré, Rio de Janeiro, pela OSCIP
Ação Comunitária do Brasil. Participou ativamente do planejamento e execução do projeto Trijunção, além
de ter apoiado a ampliação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas, especialmente em ações de
planejamento e de estudos em campo.
AUTORES DE CAPÍTULOS
Alberto C. de Paula. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade de Brasília (1978) e mestrado
em Ecologia pela Universidade de Brasília (1983). Atualmente é Analista Ambiental do Instituto Chico Mendes
de Conservação da Biodiversidade, lotado na Diretoria de Conservação da Biodiversidade.
Alexandra Maria R. Bezerra. Pesquisadora vinculada ao programa DCR/CNPq/FAPESPA no Museu Paraense
Emílio Goeldi, Coordenação de Zoologia, onde atua também como curadora assistente da coleção de
mamíferos (ordens Didelphimorphia e Rodentia). Foi bolsista Atração de Jovens Talentos e pesquisadora
visitante na Fiocruz (2013-2016) e colabora junto ao Dipt. di Biotecnologie Charles Darwin, Università di
Roma, e à Universidade de Brasília. Possui doutorado em Biologia Animal pela Universidade de Brasília
(2004-2008), mestrado em Ciências Biológicas (Zoologia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(2000-2002) e graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Gama-Filho (1991-1995). Tem experiência

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na área de Mastozoologia, com ênfase em taxonomia e sistemática de roedores recentes e curadoria coleções
científicas.
Ana Beatriz de Freitas Ferreira. Possui graduação em Engenharia Florestal pela Universidade de Brasília (UnB)
e mestranda no programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais da Universidade de Brasília. Tem
experiência na área de Sementes e Viveiros e Geoprocessamento com foco em SIG e Sensoriamento Remoto.
Beatriz Diogo Vasconcelos. Graduanda em Ciências Biológicas pela Universidade de Brasília (UnB), com
experiência na área de Herpetologia, Ornitologia, Taxidermia, Conservação de ecossistemas naturais e Ensino
de Biologia, Ciências e Inglês. Atualmente, bolsista do Programa de Educação Tutorial – Biologia e
pesquisadora no Laboratório de Fauna e Unidades de Conservação - LAFUC - UnB, onde estuda ecologia e
conservação da herpetofauna.
Bruno Machado Teles Walter. Engenheiro Florestal e Engenheiro Agronômo, mestre e doutor em Ecologia
pela Universidade de Brasília. É pesquisador A da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen).
É curador-adjunto do Herbário Cenargen (CEN). Possui experiência em Botânica e Ecologia Vegetal, com
ênfase em florística, fitossociologia e herborização. Atua na coleta de recursos genéticos vegetais, na
caracterização vegetacional e em estudos da flora do bioma Cerrado e outras savanas e florestas.
Carolina Esteve da Cunha Lobo. possui graduação em Ciências Biológicas - Bacharelado e Licenciatura pela
Universidade de Brasília (2003). Tem experiência na área de Zoologia, com ênfase em Ecologia e
Comportamento Animal, atuando principalmente nos seguintes temas: Educação Ambiental, monitoramento
e levantamento de animais silvestres, população e borboletário.
Cibele Bonvicino. Bióloga pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, mestre em Zoologia
pela Universidade Federal da Paraíba e doutora em Genética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Atualmente é pesquisadora do Instituto Nacional de Câncer e pesquisadora colaboradora da Fundação
Oswaldo Cruz. Tem experiência na área de Genética, com ênfase em Genética Animal, atuando principalmente
Biogeografia, cariosistemática e taxonomia de roedores.
Daniel Oliveira Mesquita. Biólogo pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), mestre em Ecologia e
doutor em Biologia Animal, ambos pela Universidade de Brasília (com período sanduíche na Universidade de
Oklahoma), bolsista de Pós-Doutorado Júnior na Universidade de Brasília e Pós-doutorado na Universidade
do Texas em Austin. Atualmente é professor Associado do Departamento de Sistemática e Ecologia da
Universidade Federal da Paraíba em João Pessoa.
Davi Lima Pantoja Leite. Biólogo pela Universidade Federal de Viçosa, Mestre em Biologia Animal e Doutor
em Ecologia pela Universidade de Brasília, com Doutorado Sanduíche Universidade do Texas em Austin e
Pós-Doutorado na Universidade Nacional de Córdoba/CONICET (Argentina). Atua em Zoologia, Ecologia,
Biogeografia e Conservação da Natureza, com ênfase na Biologia de Répteis e Anfíbios. Possui experiência
com gestão socioambiental de Unidades de Conservação na Amazônia. É atualmente professor adjunto da
Universidade Federal do Piauí.
Eraldo Aparecido Trondoli Matricardi. Engenheiro Florestal pela Universidade Federal de Mato Grosso,
especialista em aerofotografia pela Universidade Federal de Santa Maria, mestre e doutor em Geografia
(Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento) pela Michigan State University. Atuou na iniciativa privada,
Governo de Rondônia, Nações Unidas e Michigan State University. Atualmente é professor Associado da
Universidade de Brasília, consultor Ad-hoc da National Science Foundation, da CAPES e do MMA-Projeto
ARPA, com atividades na área de Mudanças Climáticas, Geoprocessamento, Sensoriamento Remoto e Sistema
de Informação Geográfica aplicados ao Planejamento Físico-Rural, Zoneamento Ecológico-Econômico,
degradação florestal, incêndios florestais, análises ambientais e às mudanças do uso e cobertura da terra.
Fabiana Pellegrini Caramaschi. Bióloga pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestre em
Zoologia pelo Museu Nacional – UFRJ, doutora em Genética pela UFRJ, com pós-doutorado no Laboratório

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de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios na Fiocruz/RJ. Tem experiência em Zoologia,
com ênfase em Mastozoologia, atuando principalmente com mamíferos, Didelphidae, evolução e taxonomia
de grupos recentes. É professora do Departamento de Biologia e Ciências do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro.
Frederico Gustavo Rodrigues França. Biólogo, mestre e doutor em Ecologia pela Universidade de Brasília.
Atualmente é professor associado I do curso de graduação em Ecologia da Universidade Federal da Paraíba
(UFPB) - Campus IV, Vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Monitoramento
Ambiental (PPGEMA-UFPB) e coordenador do Laboratório de Ecologia Animal e do Núcleo de Ecologia de
Serpentes da UFPB. Atua em Herpetologia com ênfase em autoecologia e ecologia de populações e
comunidades de serpentes neotropicais.
Guarino Rinaldi Colli. Biólogo pela Universidade Federal de Juiz de Fora, Mestre em Ecologia pela Universidade
de Brasília e Ph.D. em Organismic Biology pela Universidade da California, Los Angeles. Atualmente é Professor
Associado do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília, Curador da Coleção Herpetológica da
Universidade de Brasília (CHUNB) e Affiliate Research Associate da Universidade de Oklahoma. Tem atuação
em Herpetologia, com ênfase na Ecologia, Evolução, Sistemática, Biogeografia e Conservação da herpetofauna
do Cerrado. É credenciado no PPG em Ecologia e no PPG em Zoologia da Universidade de Brasília.
José Eloi Guimarães Campos. Geólogo com mestrado e doutorado em Geologia pela Universidade de Brasília.
É professor Titular do Instituto de Geociências da Universidade de Brasília. Tem experiência na área de
Geociências, atuando principalmente em Hidrogeologia, Pedologia, Gestão de Recursos Hídricos
Subterrâneos, Estratigrafia, Sedimentologia, Geologia de depósitos de fosfato, Geologia Regional,
Mapeamento Geológico e Geologia Ambiental.
José Felipe Ribeiro. Biólogo pela Universidade Estadual de Campinas, mestre em Ecologia pela Universidade
de Brasília e doutorem Ecologia pela University of California em Davis. É pesquisador da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária atuando na Embrapa Cerrados e orientador no programa de Botânica da
Universidade de Brasília. Tem experiência em Ecologia, com ênfase em Biodiversidade, fitossociologia,
biogeografia, propagação e recuperação e restauração de ambientes ripários e de Cerrado.
José Marcos Abreu. Graduando em Ciências Biológicas na Universidade de Brasília (UnB) e aluno de Iniciação
Científica no projeto “Estrutura etária e movimentação de Paleosuchus palpebrosus em lagoas oligotróficas
no oeste da Bahia” no Laboratório de Fauna e Unidades de Conservação da Universidade de Brasília. Realiza
estudos e pesquisas em Biologia da Conservação, com ênfase em Crocodilianos e Ornitologia
José Salatiel Rodrigues Pires. Ecólogo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP),
mestre e doutor em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) e
Pós-Doutorado pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atualmente é Professor Associado da
Universidade Federal de Santa Catarina, alocado no Laboratório de Mamíferos Aquáticos (LAMAQ/UFSC).
Trabalha com Análise e Planejamento Ambiental voltados à Conservação da Biodiversidade, principalmente
nos seguintes temas: Conservação da Biodiversidade em paisagens em mosaico, Análise e Planejamento
Ambiental, Zoneamento Ambiental (ZEE), Manejo de Bacias Hidrográficas, Plano de Manejo de Unidades de
Conservação, Certificação Ambiental (FSC), Turismo Sustentável e em Plano Diretor Ambiental Municipal. Já
desenvolveu atividades de assessoria e consultoria para Scientific Certification Systems, Imaflora, ISPN, IABS,
KAMPATEC, OEA, PNUD, Banco Mundial, Ministério de Ciência e Tecnologia, FINEP e Ministério de Meio
Ambiente.
Keiko Fueta Pellizzaro. Bióloga em mestre em Ecologia pela Universidade de Brasília. É analista ambiental
na Reserva Biológica da Contagem/DF, no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Tem
experiência na área de Ciências Biológicas, principalmente nos seguintes temas Cerrado, Unidades de
Conservação, Orchidaceae e Restauração Ecológica.

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Leonardo dos Santos Gedraite. Biólogo pela Universidade Federal de Lavras e mestre em Biologia Animal
pela UNESP (Campus São José do Rio Preto). Atualmente atua como consultor ambiental e professor de
educação básica. Foca sua pesquisa em educação ambiental, Biologia da Conservação, Biogeografia, Ecologia,
Etologia e Evolução. Tem interesse em educação ambiental e educação em espaços não formais.
Marcelo Araújo Bagno. Ornitólogo talentoso falecido em janeiro de 2002. Autor de diversos artigos e capítulos
de livros sobre a avifauna do Cerrado. Foi homenageado pelo Departamento de Zoologia da Universidade de
Brasília que nomeou a coleção ornitológica da Universidade de Brasília como Coleção Ornitológica Marcelo
Bagno. Também foi homenageado na descrição do anuro Proceratophrys bagnoi. O levantamento de aves
da região da trijunção dos três estados foi um dos seus últimos trabalhos de campo.
Marcelo Lima Reis. Biólogo e mestre em Ecologia pela Universidade de Brasília. Atua em Ecologia e
Conservação de mamíferos, tendo experiência em estudos de levantamento de grandes e pequenos
mamíferos, na elaboração de Planos de Manejo em Unidades de Conservação, em estudos de impactos
ambientais e de monitoramento de fauna, no manejo de animais silvestres em cativeiro e na natureza e no
gerenciamento do risco de fauna aeroportuária. Tem atuado na elaboração de planos de ação de espécies
ameaçadas no IBAMA no ICMBio e no Programa de Monitoramento in situ da Biodiversidade em Unidades
de Conservação Federais (ICMBio).
Márcia Tereza Pantoja Gaspar. Geóloga, graduada na Universidade Federal do Pará com Mestra em Geologia
e Geoquímica (Subárea: Hidrogeologia) pela Universidade Federal do Pará e Doutora pela Universidade de
Brasília, estudando a hidrogeologia do Sistema Aquífero Urucuia. Trabalha na Coordenação de Águas
Subterrâneas da Agência Nacional de Águas.
Maria Cristina de Oliveira. Professora Adjunta do curso de Ciências Naturais da Universidade de Brasília,
Campus Planaltina. Bióloga pela Universidade Federal de Uberlândia, Mestre em Botânica e Doutora em
Ciências Florestais pela Universidade de Brasília. Orienta no Mestrado Profissional da Rede Nacional em
Gestão e Regulação de Recursos Hídricos. Atua em Ecologia de comunidades e de populações vegetais, em
restauração ecológica e em propagação vegetativa de espécies nativas.
Michel Barros Faria. Biólogo pela Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG, mestre em Biologia
Animal pela Universidade Federal de Viçosa-UFV, doutor em Genética pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro - UFRJ e Pós Doutor em Biodiversidade e Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz do Rio de Janeiro
(Fiocruz). É curador do Museu de Zoologia MZNB e chefe do Departamento de Ciências Biológicas da
Universidade do Estado de Minas Gerais Unidade Carangola-UEMG. Atua em inventários de campo nos biomas
Mata Atlântica, Cerrado e Amazonas.
Paula Leão Ferreira. Bióloga pela Universidade Federal de Viçosa e mestre em Ecologia Aplicada pela
Universidade Federal de Lavras. Atualmente é servidora pública do Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade, vinculada ao Parque Nacional das Sempre-Vivas (MG), atuando em atividades de gestão
e manejo da Unidade de Conservação. Foi gestora do Parque Nacional Grande Sertão Veredas (MG/BA) e
posteriormente vinculada ao Parque Nacional da Serra do Cipó (MG) dentro da mesma área de atuação. Atua
ainda em projetos de pesquisa com ênfase em herpetologia e conservação.
Roberta Cunha de Mendonça. Bióloga pela Universidade de Brasília, especialista em taxonomia de
fanerógamas. Tem experiência em Botânica, atuando nos seguintes temas: botânica, flora, ecologia,
levantamento florístico e fitofisionomias.
Scott Lindbergh. Scott Lindbergh cursou Moral Sciences no Emmanual College, Universidade de Cambridge
em meados dos anos 60 e Psychologie Physiologique na Sorbonne, Paris, e na Universidade de Estrasburgo
em 1968 e 1969. Fascinado por Etologia e Conservação da Vida Selvagem, aprimorou seus estudos sobre
Primatas Neotropicais no Centre de Primatologie de Verlhiac. Posteriormente conduziu os pioneiros projetos
de relocação e realocação de macacos bugios pretos em 1984 no Parque Nacional de Brasília, Brasil. A partir

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de então permaneceu no Brasil, participando de projetos institucionais e particulares de zoologia e ecologia
de animais selvagens, liderados por eminentes cientistas e conservacionistas da vida selvagem, como Philip
Hershkovitz, Cibele Bonvicino Rodrigues e Alberto Costa de Paula. Entre os trabalhos mais gratificantes de
sua carreira certamente figura o realizado na Fazenda Trijunção.
Tarcísio Lyra dos Santos Abreu. Biólogo e mestre em Ecologia pela Universidade de Brasília. Atualmente é
doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade de Brasília. Atua em Ornitologia,
principalmente em Conservação e ecologia das aves do Cerrado, Avaliação de Impactos Ambientais,
Gerenciamento do Risco de Colisões com Animais em Aeroportos, Inventários, Monitoramento e Manejo de
Fauna Silvestre.
Tarciso de Sousa Filgueiras. Graduado em Agronomia pela Universidade Federal de Goiás (1971), mestre
pela Oregon State University (1977) e doutor em Biologia Vegetal pela Universidade Estadual de Campinas
(1986). Foi membro do corpo editorial de diversos periódicos, membro do conselho superior da Sociedade
Botânica do Brasil e professor em diversas Universidades brasileiras. Professor Tarciso era dono de incrível
sensibilidade e amabilidade. Tinha vasto conhecimento das plantas do Cerrado, especialmente dos bambus
nativos, sua especialidade. Falecido em maio deste ano, aos 73 anos de idade, deixa como legado 106 artigos
científicos, 25 capítulos de livros e 10 livros solo, incluindo livros de romance.
Valeria de Oliveira Penna-Firme. Bióloga pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e é Atualmente Analista
Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.
Vívian da Silva Braz. Bióloga, mestre em Ecologia e doutora em Ecologia pela Universidade de Brasília. É
professora do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário de Anápolis (GO) e orienta no Programa
de Pós-Graduação em Sociedade e Meio Ambiente. Coordena o Núcleo de Educação Ambiental (NEA) da
UniEVANGÉLICA, é membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) e da Comissão de Ética no Uso de Animais
(CEUA). Atua em Ecologia, com ênfase em Conservação da Biodiversidade, principalmente da avifauna no
Cerrado.

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Nossa Judith Cortesão foi antes de tudo uma figura materna, com
sabedoria de ‘’Pacha Mama’’ que cuida de cada um de seus filhos. Se por
um lado era guerreira contra todas as injustiças, era pura compaixão com
cada pessoa, animal e planta que encontrava pelo caminho. Ensinava as
pessoas a se encantarem pela natureza, reverenciando suas incríveis forças
e delicadas sutilezas. E surpreendia sempre pela poesia que encontrava
em cada pequeno ‘’drama’’ da natureza humana com seu aguçado sentido
de solidariedade e verdadeiro compromisso social. Suas falas sempre
profundas e ao mesmo tempo divertidas nos faziam sempre buscar o
entendimento e celebrar o maior e mais belo de todos os mistérios: A Vida!

Clayton Ferreira Lino

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"Paisagens são importantes referências para a construção
das histórias pessoais e afetivas, culturais e sociais dos
povos. Algumas paisagens são consideradas patrimônios
naturais pelo valor universal excepcional do ponto de vista
estético e/ou científico."
Elza K. Kawakami Savaget
O produtor rural e os ambientalistas são os guardiões Mesmo processos mais gerais, como a fotossíntese
do futuro. Com o incremento da população e o e a incorporação de água no aquífero são processos
consequente aumento da demanda de alimentos, a dos ecossistemas. A qualidade do solo é resultado do
agricultura é basilar para a manutenção da trabalho de diversos organismos (bactérias, fungos,
humanidade como nós a conhecemos. Por outro lado, vermes, artrópodes) que produzem o solo. A
toda a agricultura é baseada no acesso à tecnologia, produção de frutos e grãos depende de polinizadores.
no uso e no manejo de recursos naturais. A evolução A vegetação nativa, com árvores de raízes profundas
dos sistemas ecológicos e a longa relação do ser e solos cobertos por serapilheira, são essenciais para
humano com o solo, com as sementes, com os o ciclo da água.
animais, com o clima e com a água, moldou as Problemas globais só podem ser resolvidos com
sociedades, a relação entre as nações e até mesmo respostas globais. Dados palinológicos mostram
o nosso entendimento como espécie. Desta forma, o mudanças importantes na composição da vegetação
produtor rural sempre teve relação próxima à ao longo do tempo no Cerrado. Há alguns milhares
natureza e não há sentido algum em afastar a de anos havia araucárias em grande parte do bioma,
agricultura e o meio ambiente. O futuro nos trará mostrando que o clima do Cerrado era mais frio no
cada vez mais desafios, demandando uma postura passado do que é hoje. Mudanças climáticas são reais
responsável com relação ao uso dos recursos naturais e atuam em ampla escala. Análises temporais atuais
e à conservação da natureza. Sem alimentos e sem mostram uma clara tendência na diminuição das
natureza, o futuro será sombrio. Desta forma, chuvas e no aumento da temperatura em toda a
natureza e produção agrícola, a despeito de serem extensão do bioma, especialmente nos bolsões de
temas distintos, são (e serão) intimamente calor gerados localmente por vastas áreas
relacionados. desmatadas. Todos nós, produtores, pesquisadores,
A economia hoje é globalizada e todos estamos políticos e conservacionistas, precisaremos lidar com
interligados pelos processos de criação e distribuição tal realidade no futuro próximo. Nesse momento já
de riqueza. De maneira análoga, os processos sentimos os efeitos dos eventos climáticos extremos
ecológicos também atuam em diferentes escalas e como resposta às mudanças humanas na natureza.
todos estamos interligados pela forma na qual A marca humana no planeta já é profunda, ampla e
acessamos, utilizamos e distribuímos recursos indelével.
naturais. A perda de serviços ecossistêmicos força Desta forma, é ingênuo e contraproducente acreditar
produtores a investirem cada vez mais em insumos, e/ou alimentar o conflito entre conservação da
com custos cada vez maiores. Quando o insumo natureza e a produção agrícola. Pior ainda é negar a
limitante é a água, a atividade agrícola é fortemente importância da ciência no avanço dessa relação.
afetada. Por outro lado, monoculturas extensas criam Nenhum viés político, nenhuma posição pessoal
“ecossistemas” artificiais, com microclimas próprios, substitui a relevância da ciência na construção do
com dinâmica de funcionamento completamente futuro. Apenas a ciência pode garantir o aumento da
diversa dos ecossistemas naturais. produção agrícola no futuro sem que esse aumento
Diversas questões essenciais à viabilidade da signifique o esgotamento de nosso patrimônio
agricultura são providas pela biodiversidade. São os genético, da nossa biodiversidade e dos recursos
processos ecossistêmicos, muitas vezes entendidos naturais. Apenas a ciência pode garantir que a
como serviços ambientais, que produzem solos produção agrícola não seja vítima do declínio dos
agricultáveis, que protegem efetivamente o solo serviços ecossistêmicos. É interessante perceber os
contra a erosão, que viabilizam a incorporação da ventos de uma nova revolução agrícola baseada na
matéria orgânica no solo, que realizam a polinização. busca por produtos mais saudáveis para os

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consumidores e para o meio ambiente, demandada grandes propriedades agrícolas e amplas extensões
pelo mercado, onde consumidores exigentes de vegetação nativa protegida. Pretendemos mostrar
escolhem outra origem e outra história para os as razões pelas quais proprietários rurais devem se
produtos que compram, enquanto novas preocupar com as consequências da perda da
possibilidades de negócios surgem. biodiversidade e de outros elementos do meio
ambiente sobre a sua produção. Por outro lado,
Existe uma importante lição a aprender com a região
pesquisadores devem estar atentos sobre como o uso
da Trijunção dos estados da Bahia, Goiás e Minas
da paisagem afeta a qualidade de vida daqueles que
Gerais, que vai muito além da conservação da
precisam da saúde dos ecossistemas, da qualidade
biodiversidade. Nesse cenário, cultura, história e
da vida humana e da vida não-humana. Para tanto,
ciência se unem num complexo mosaico que une a
é necessário sensibilidade, maturidade,
produção agrícola, a manutenção de vastas áreas de
responsabilidade e entendimento de toda a
vegetação nativa e a atuação de diferentes atores
sociedade. Sem essa percepção serão apenas
sociais. Ainda temos muito o que aprender no desafio
replicados conflitos e impactos que, em última
de manter uma agricultura pujante e saudável a longo
análise, irão prejudicar a produtividade agrícola,
prazo, associada à manutenção da biodiversidade e
afetando toda a sociedade. É importante que todos
dos processos ecológicos essenciais para a viabilidade
percebamos o quão importante é ter essa
do futuro da humanidade. Existe uma profusão de
sensibilidade. O mundo não é unilateral. Com isso, é
estratégias disponíveis para isso, mas nenhuma delas
cada vez mais urgente associar ciência de alta
esgota completamente o tema, especialmente
qualidade à responsabilidade que temas como
porque o assunto é complexo e as diferentes
Agricultura e Meio Ambiente merecem. Não haverá
interações existentes ampliam enormemente as
futuro algum sem esse entendimento.
questões envolvidas.
Os editores
O presente livro é o resultado da interação entre
produtores rurais e pesquisadores em biodiversidade
atuando em uma vasta paisagem que combina

Rural landholders and environmentalists are the With this in mind, this book is the result of farmers
stewards of the future. With the increasing and biodiversity researchers working together in a
population and the consequent increase in demand vast landscape that combines large farms and
for food, agriculture is fundamental to mainten extensive tracts of protected native vegetation. Rural
humanity as we know it. On the other hand, all landholders must pay attention to the consequences
agriculture (and the society that depends on it) is of the loss of biodiversity and other elements of the
based on access, use and management of natural environment on their ability to produce. Researchers
resources. The evolution of ecological systems and must be aware of how landscape use affects the
the long relationship of humankind with the soil, quality of life of those whose life depends on the
seeds, animals, climate and water has shaped our landscape. For this reason, it is a whole of society
societies, the relationships between our countries issue that requires engagement in with sensitivity and
and even our understanding as a species. In this way, intention to understand. Without this lens, conflicts
the rural producer has always had a very close and impacts will only be replicated, which will
relationship with nature and there is no sense in ultimately affect agricultural productivity, affecting
driving apart agriculture and the environment. They the whole society. It is important that we all realize
are different themes, but are very closely related. how important it is to have this sensitivity.

30
The economy today is globalized and we are all conservation of nature and agricultural production.
interconnected by the processes of creation and It is even worse to deny the importance of science in
distribution of wealth. Similarly, ecological processes advancing this relationship. No political bias, no
also act on different scales and we are all personal position replaces the relevance of science
interconnected by the way in which we access, use in building the future. Only good science can
and distribute natural resources. The loss of guarantee an increase in agricultural production in
ecosystem services forces producers to invest more the future without this increasing the depletion of
and more in inputs, with increasing costs. When the our genetic assets, our biodiversity and our natural
limiting input is water, agricultural activity is strongly resources. Only science can ensure that agricultural
affected. On the other hand, extensive monocultures production is not a victim of declining ecosystem
create artificial "ecosystems", with their own services. It is interesting to note the winds of a new
microclimates. The dynamics of operation completely agricultural revolution based on the quest for
different from the natural ecosystems. healthier products for consumers buy not only
products but also its story and source, creating
Biodiversity addresses several essential issues that
genuine new business possibilities.
affect agricultural viability. Ecosystem processes,
often called environmental services, include There is an important lesson to be learned from the
formation the "A" horizon of the agricultural land, Trijunção region in the states of Bahia, Goiás and
protection of the soil against erosion, incorporation Minas Gerais, and it goes far beyond biodiversity
of the organic matter in the soil, pollination and much conservation. In this scenario, culture, history and
more. Even more general processes, such as science are united in a complex mosaic that unites
photosynthesis and the incorporation of water into the agricultural production, the maintenance of vast
the aquifer, are ecosystem processes. Soil quality is areas of native vegetation and the performance of
a result of the work of various organisms (bacteria, different stakeholders. We still have much to learn
fungi, worms, arthropods) to produce soil. The about the challenge of maintaining a healthy and
production of fruits and grains depends on healthy agriculture in the long term, while
pollinators. Native vegetation, with deep-rooted maintaining the ecological processes essential for a
trees and litter-covered soils, are essential for the viable future for humanity. There are a plethora of
water cycle. strategies available for this, but none of them
completely addresses the issue, because the theme
Global problems can only be solved with global
is complex and specific.
responses. Palinology (the study of fossil pollen) data
show important changes over time in Cerrado’s The need for high quality science associated with the
vegetation composition. One example is the cold- responsibility of agricultural and environmental
climate loving Araucaria tree being present across issues is becoming increasingly more urgent. There
the region a few tens of thousands of years ago. will be no future without this understanding.
Climate change is real and has an effect on a large The editors
scale. Current temporal analysis shows a clear trend
in decreasing rainfall and increasing temperature
throughout the biome, especially in the pockets of
heat generated locally by vast deforested areas. All
of us, producers, researchers, politicians and
conservationists will need to deal with this reality.
We already feel the effects of extreme weather
events as human-induced change in nature. The
human mark on the planet is already deep, broad and
indelible.
In this way, it is naive and counterproductive to
believe and / or feed the conflict between

31
32
Theodoro de Hungria Machado

33
"Parece que já é tempo de se atentar nessas preciosas matas, nessas amenas selvas
que o cultivador do Brasil, com o machado em uma mão e um tição, na outra, ameaças
de um total incêndio e desolação. Uma agricultura bárbara, e ao mesmo tempo, muito
mais dispendiosa, tem sido a causa desse geral abrasamento. O agricultor olha ao
redor de si para duas ou mais léguas de matas como para um nada e, ainda não as
têm bem reduzidas a cinzas, já estende ao longe a vista para levar a destruição a outras
partes; não conserva apego nem amor ao território que cultiva, pois conhece muito
bem que ele talvez não chegará a seus filhos; a terra da sua parte não se ri para ele,
nem o gracioso ondear das louras espigas lhe alegra a vista; um áspero campo, coberto
de tocos e espinhos compõe os seus amenos ferragiais; a cultura se estende somente
a três ou quatro gêneros de sementeiras, a lenha principia já a faltar nos lugares mais
povoados e a madeira de construção se vai buscar já ao muito longe."

José Vieira Couto, 1799.


Opondo-se às derribadas dos matos nos arredores do povoado. In: Memórias sobre
a Capitania das Minas Gerais; Seu Território, clima e produções metálicas, dedicado
à Rainha Dona Maria I de Portugal.

34
Theodoro de Hungria Machado

Situado a quase 1000 metros acima do mar está a formam veredas que são alimentadas pelo imenso
chamada Trijunção, divisa natural entre três Regiões aquífero do Urucuia. Nessas veredas, solos turfosos
e três Estados do Brasil. Ali foi instalado, pelo Serviço escuros contrastam com a brancura das areias dos
Geográfico Brasileiro, o chamado Marco “da chapadões.
Trijunção”, ponto da divisa das regiões, Nordeste,
A fronteira do estado da Bahia segue da Trijunção por
Centro Oeste e Sudeste, e duas Bacias Hidrográficas,
400 km rumo ao norte, onde as vistas descortinam
das Bacias dos Rios Amazonas e São Francisco.
entre 800 a 1.000 metros de altura. Uma outra
O Marco está na divisão biogeográfica nos planaltos paisagem a oeste, adentrando no Estado de Goiás,
do Brasil, onde a Savana do bioma Cerrado encontra em planícies muitos metros abaixo destes arenitos,
os carrascos da Caatinga. Uma grande variedade de vales modulados pelo desgaste das águas dos
espécies da Flora e da Fauna enriquecem este córregos e rios seguem caminhos tortuosos, por
cenário, de extensos horizontes. Três Estados do vezes formando quedas d’água, seguindo por
Brasil têm sua junção de divisa neste Marco, os escarpas de pedra e também em carstes, formando
Estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais. cavernas, cânions, galerias, originalmente protegidas
Na Vertente da Bahia, seguindo a velha estrada até por veredas de buritis ou por Matas, rumo à
o São Francisco distante, abre-se uma antiquíssima Amazônia distante.
paisagem, de toda planura, apoiada sobre escarpas Ao Sul, adentrando os Sertões de Minas Gerais,
de arenito que descortinam, em direção Norte e encontramos águas límpidas e vastos espaços, onde
Nordeste, imensos horizontes, cobertos por campos escritores geniais escreveram sobre jagunços e as
limpos, cerrados e veredas a perder de vista; - onde, cores do cerrado nos campos e nas veredas que se
sobre solos predominantemente arenosos, cursos confundem nos olhos de quem cruza as vastas gerais.
d’água nascem em lagoas de águas claras, correndo Cavalos, armas, lutas, vastidões e travessias. Silêncio
calmamente para desaguar em sucessões de rios que e violência. Distâncias e proximidades.
seguem em encaixes paralelos na imensa paisagem,
O divisor silencioso está localizado junto a caminhos
enquanto percorrem a antiga planície até encorpar
antigos por onde, há mais de três séculos, tropas
estas águas nos afluentes do Rio São Francisco.
Portuguesas e Brasileiras percorriam as velhas trilhas
Sob esta magnífica paisagem de cerrado, permeando dos povos indígenas que cruzavam os vastos
os solos arenosos com pouca argila e com centenas horizontes entre as chapadas do oeste da Bahia. As
de metros de profundidade, incontáveis nascentes, principais jazidas de ouro de Goiás e do Mato Grosso

35
Região do marco geográfico da Trijunção entre os estados Bahia, Goiás e Minas Gerais. Foto: THM

foram descobertas depois de 1720. Uma quantidade que passou junto ao Marco da Trijunção. Paulo
grande de pessoas vindas de Portugal ou de Salvador, Bertran explicou que o Caminho da Bahia foi
Capital do vice-reino do Brasil até 1763, usaram os oficializado como Estrada Real por D. Joao V em 1736
caminhos que passam vizinhos ao Marco da e que por ali passaram diversos viajantes, inclusive
Trijunção, em direção às minas de Goiás. as autoridades da coroa Portuguesa, que
Movimentação passada que contrasta com a calmaria periodicamente visitavam povoados e postos fiscais.
do presente. Na foz do Rio Carinhanha, o caminho da Bahia
Já no início do século XVIII, antes da criação da bifurcava-se. O primeiro caminho ia pelo Rio São
Capitania de Minas Gerais em 1721 e da Capitania de Francisco à montante até São Romão, e daí
Goiás em 1749, desde a nascente do Rio Carinhanha desviando-se para Paracatu, até se encontrar com o
até os arenitos do Oeste da Bahia, onde está situado caminho de Goiás no registro fiscal dos Arrependidos,
o Marco da Trijunção. Este divisor de águas foi o perto de Luziânia, ou no Registro Fiscal de Lagoa Feia,
limite entre a divisa das Capitanias de Pernambuco e já em Formosa. A outra opção de caminho é a que
de São Paulo. Todo o Oeste da Bahia, desde o Rio São passava junto ao Marco da Trijunção, seguindo Rio
Francisco até a divisa ao Norte com o Estado do Piauí, Carinhanha acima até certo ponto, desviando-se até
e ao Sul desde a nascente do Rio Carinhanha e a nascente do Rio Itaguari e daí em direção ao marco
arenitos do Marco da Trijunção permaneceram, até atual da Trijunção. A partir do Marco, o caminho
a década de 1820, como terras pertencentes a seguia descendo pela chapada rumo à Sítio D’Abadia
Pernambuco. (em Goiás) e para Formoso (em Minas Gerais) e, a
partir daí, em direção ao posto fiscal de Registro de
O historiador Paulo Bertran, que visitou a Fazenda Santa Maria (hoje às margens da BR 020),
Trijunção em 2002, divulgou os textos originais da continuando rumo a Mestre d’Armas (atual
viagem da comitiva de Dom Luís da Cunha Menezes, Planaltina), Meia-Ponte (atual Pirenópolis), até

36
B

Lagoa de Santa Maria em abril de 1996, localizada ao lado do antigo Registro de Santa Maria, tendo ao fundo a Serra Geral
de Goiás. Foto: NJS.

alcançar Vila Boa (atual Goiás Velho), final da jornada Naquela época, o Rio Carinhanha era divisa da
do Governador D. Luís Cunha de Menezes, segundo Capitania de Pernambuco, e a Capitania de São Paulo
seu itinerário escrito em 1778. onde hoje é a divisa dos Estados da Bahia e de Minas
Conforme é relatado por Euclydes da Cunha em “Os Gerais.
Sertões” Os naturalistas Johann Baptist von Spix e Carl
“Os Portugueses de Manuel Nunes Vianna, que dali Friedrich Philipp von Martius, na viagem que fizeram
partiu de sua fazenda do Escuro em Carinhanha, para ao Brasil entre 1817 e 1820, percorreram as veredas
comandar os Emboabas no Rio das Mortes, os do Rio Formoso.
forasteiros, ao atingirem o âmago daquele sertão, Outro viajante naturalista e Botânico, que também
raro voltavam”, E. da Cunha - “Os Sertões”. passou pelas terras junto ao marco da Trijunção,
Em 1709, Manuel de Borba Gato, Superintendente conforme relata seu livro “Viagem no Brasil”,
das Minas e Guarda Mor do Distrito do Rio das Velhas, realizada entre 1836-1841 e publicado em Londres
determinou que o Português e Emboaba, Manuel em 1846, foi George Gardner, superintendente do
Nunes Vianna, fosse expulso de Minas Gerais, Jardim Botânico do Ceilão, que levou para Inglaterra
quando este apoiou Bento do Amaral Coutinho no uma extensa coleção de plantas da região da
ataque aos Paulistas Valentim Pedroso de Barros e Trijunção, hoje guardadas em herbários de Jardins
Pedro Paz de Barros, na ocasião que dezenas de Botânicos Ingleses.
Paulistas foram mortos, no início daquele ano, perto O caminho da Bahia, já com 200 anos, continuou
do arraial Ponto do Morro, Vila de São José Del Rey, sendo usado até a década de 1940/50 quando por
atual Tiradentes. ele ainda passavam caminhões transportando
Desde o início do século XVIII havia transito de tropa nordestinos para as cidades de Goiás e depois para
e gado, desde as margens do Rio Carinhanha até as Brasília, durante a construção da nova capital. Esta
minas de ouro entre Sabará e São João Del Rey. estrada sertaneja, vinda do interior da Bahia,

37
Mapa do Brasil anterior a 1824, onde o Rio Carinhanha é o limite dos estados de Pernambuco e Minas Gerais. A Trijunção é
cortada pela linha AB, que descreve o relevo do país como era até então conhecido, na base do mapa.

38
Afloramento Cárstico no rio Carinhanha. Retirado de Spix (1817-1820), Atlas zur reise in Brasilien.

“Repouso de uma Caravana” Johan Moritz Rugendas. Litografia 1835.

39
40
passando por terras da atual Fazenda Trijunção e Gardner e Hugh Algernon Weddell. Mestrado em
margeando os limites do Parque Nacional Grande História. Universidade Federal de -Goiás.
Sertão Veredas, seguindo por terras do Paredão e Spix, J. B. & Martius K. F. P. 1981. Viagem pelo
indo em direção à cidade de Sitio D’Abadia, foi Brasil: 1817-1820. 4a edição. São Paulo.
desativada em definitivo em 1959, quando foi Edusp/Itatiaia. 301 pp.
construída a BR-020 (Brasília-Fortaleza).
Spix, F. J. B. von (1817-1820). Atlas zur Reise in
Por mais de 200 anos, esse importante marco Brasilien: auf Befehl Sr. Majestät Maximilian Joseph
geográfico, que já delimitou províncias, estados I., Königs von Baiern, in den Jahren 1817 bis 1820
regiões, bacias hidrográficas e limites biogeográficos, gemacht und beschrieben.
foi testemunha de andanças e de mudanças. De https://doi.org/10.5962/bhl.title.16406.
gentes e de bichos. Hoje continua a marcar caminhos
para os viajantes ávidos por novas trilhas a serem
percorridas em uma região rica em Natureza, em
Biodiversidade, em História e em Agricultura.

REFERÊNCIAS CONSULTADAS
Bertran, P. 1988. Uma introdução à história
econômica do Centro-Oeste do Brasil. Brasília:
CODEPLAN; Goiás: UCG.
Bertran, P. 1995. História da Terra e do Homem no
Planalto Central: Eco-História do Distrito Federal: do
indígena ao colonizador. Brasília.
Bertran, P. 1997. Notícia Geral da Capitania de Goiás.
Goiânia: Editora da UCG, Editora da UFG.
Colli, G.R.; França, F.G.R.; Mesquita D.O. & Pantoja,
D. L. 2020. Répteis da Trijunção e o itinerário de Spix
e Martius entre o São Francisco e o Vão do Paranã.
Em: Brandão, R.A.; Françoso, R.D.; Machado, T.H. &
Santos, N. J. 2020. História Natural do Sertão da
Trijunção do Nordeste, Centro-oeste e Sudeste do
Brasil. Per Se Editora.
Cunha, E. 2017. Os Sertões. Editora Martin Claret.
Sâo Paulo, SP. 664 p.
Gardner, G. 1975. Viagem ao interior do Brasil
(Principalmente nas Províncias do Norte e nos
Distritos do Ouro e do Diamante durante os Anos de
1836-1841). Tradução de Milton Amado.
Apresentação de Mario Guimarães Ferri.
EDUSP/Itatiaia.
Mendes, Xico. Formoso de Minas : breve história. DF
Letras: suplemento cultural do Diário da Câmara
Legislativa v. 1, n. 9, p. 9-11, fev. 1994.
Rezende, F. S. 2017. Médicos estrangeiros em Goiás
no século XIX: Johann Emmanuel Pohl, George

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42
Renata Dias Françoso
Reuber Albuquerque Brandão

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Renata Dias Françoso
Reuber Albuquerque Brandão

INTRODUÇÃO amostragens de herpetofauna localizadas na porção


mineira do PNGSV e no seu entorno.
O que nós chamamos de “Região da Trijunção”
corresponde a uma área de aproximadamente A Região da Trijunção tem como principal
880.000 ha (Figura 1), abrangendo o extremo característica abranger as áreas relacionadas aos
sudoeste do estado da Bahia (oeste dos municípios neossolos quartzarênicos do Chapadão Oeste da
de Cocos e de Jaborandi), parte dos municípios Bahia/Serra Geral de Goiás e as áreas de colúvios
mineiros de Formoso, Arinos e Chapada Gaúcha desses arenitos eólicos, descritos em maior detalhe
(Noroeste Mineiro) e parte dos municípios goianos no capítulo sobre o aquífero Urucuia (Gaspar &
de Sítio da Abadia, Damianópolis e Mambaí (Figura Campos 2020). A paisagem do Chapadão no extremo
1). A delimitação dessa região que apresentamos não sudoeste da Bahia, logo acima da Serra Geral de
segue a metodologia utilizada pelo IBGE (1990) para Goiás, domina a região da Trijunção, determinando
a regionalização do território em Meso ou fortemente a composição de sua fauna e flora. A
Microrregiões, tão pouco se baseia em pretensões erosão dos depósitos sedimentares encontra um
geopolíticas. Nosso objetivo é delimitar uma região ponto de escoamento pelo próprio PNGSV, que
com características ambientais e ecológicas derrama parte dessa paisagem com sua biota no
semelhantes, onde realizamos estudos há mais de 20 noroeste de Minas Gerais.
anos. Nessa região é possível aplicar os inventários No contexto do bioma Cerrado, o polígono,
de fauna e flora apresentados neste livro com maior grosseiramente delimitado na Figura 1, está
segurança na replicação de resultados. Os capítulos majoritariamente na Província Floristica N & NE
que tratam do uso do solo e da hidrogeologia (Ratter et al. 2003), que corresponde ao distrito
regional podem ser aplicados a limites maiores e, biogeográfico NE (Françoso et al. 2019) (Figura 2). A
algumas vezes, um pouco diferentes. Mas a “região Serra Geral de Goiás é um limite biogeográfico
da Trijunção” continua sendo o pano de fundo para relevante para as árvores do Cerrado, delimitando o
o roteiro aqui apresentado. É nessa região que distrito biogeográfico NE. Certamente essa
ocorreu a maior parte dos inventários de fauna e de delimitação apontada pelas árvores do Cerrado
flora, incluindo amostragens em áreas hoje inseridas também se reflete em grupos faunísticos, afetando
na porção norte da poligonal do Parque Nacional a distribuição de diversas espécies. A Serra Geral de
Grande Sertão Veredas (PNGSV), bem como Goiás é, por exemplo, área de endemismo para
anuros e squamatas (Azevedo et. al 2016, De Mello
45
46
Figura 1. Contexto regional da Região da Trijunção com as Unidades de Conservação e os remanescentes do bioma Cerrado.
Figura 2. Regionalizações do bioma Cerrado baseadas em (i) espécies arbóreas (Ratter et al. 2003); (ii) plantas herbáceas e
arbustivas (Amaral et al. 2017 adaptado); e (iii) árvores (Françoso et al. 2019).

et. al 2015, Nogueira et al. 2011). Essa é também a especialmente ao longo da divisa entre o Estado da
região do Cerrado com maior estabilidade climática Bahia com os estados de Goiás e Tocantins
desde o Pleistoceno (Weneck et al. 2011). (MMA/IBAMA 2011). O relevo plano, o solo profundo
Além do oeste da Bahia e dos coluviões abaixo do e a vegetação aberta da região têm favorecido a
PNGSV, o distrito biogeográfico NE inclui os cerrados rápida conversão da paisagem do Oeste da Bahia em
do Piauí e sul do Maranhão, comportando o clima monoculturas fortemente dependentes de insumos
mais árido do Cerrado, caracterizado pela como água, fertilizantes, corretivos e agrotóxicos. A
proximidade com a Caatinga. As espécies arbóreas paisagem, outrora vasta e selvagem, agora se mostra
mais características desse distrito biogeográfico são simplificada, previsível e monótona.
Stryphnodendron coriaceum, Terminalia fagifolia, A região da Trijunção, embora sofra com a pressão
Homalolepis ferruginea, Myrcia ochroides, do avanço da agricultura industrial, possui 13
Exellodendron cordatum, Vochysia gardneri, Andira Unidades de Conservação (UCs) em seus limites
cordata, Combretum mellifluum, Parkia platycephala, (Tabela 1; Figura 1), que protegem 256.875 ha (c.a.
Heisteria ovata, Hirtella ciliata, Copaifera martii, 30% da região). Nesse cenário, merecem destaque
Psidium myrtoides, Pterodon emarginatus, Pouteria as UCs de Proteção Integral (PI) Parque Nacional
ramiflora e Cochlospermum vitifolium. Dentre essas Grande Sertão Veredas (PNGSV), uma das UCs mais
espécies, apenas Homalolepis ferrugínea, Parkia relevantes para o bioma Cerrado, e o Refúgio de Vida
platycephala e Cochlospermum vitifolium não foram Silvestre (RVS) Veredas do Oeste Baiano. Outro
registradas no estudo apresentados no capítulo 3 destaque relevante deve ser dado à expressiva
(Ribeiro et al. 2020). Considerando as espécies presença de Reservas Particulares do Patrimônio
herbáceas, a região da Trijunção está na chamada Natural (RPPNs), UCs criadas por desejo de
“Região Florística 6” (Amaral et al. 2017), que cobre proprietários rurais que buscam contribuir
a metade norte do bioma Cerrado e é caracterizada individualmente com o desafio da conservação da
pela presença de elementos Amazônicos. biodiversidade. De forma complementar, a região da
Parte do distrito fitogeográfico NE é considerado de Trijunção faz limite com Áreas de Proteção Ambiental
prioridade Extremamente Alta ou Muito Alta para a (APAs) no estado de Goiás (APA das Nascentes do Rio
conservação da biodiversidade do Cerrado (MMA Vermelho, com 176.320 ha) e em Minas Gerais (APA
2016). No entanto, essa importância biológica Bacia do Rio Pandeiros, 380.474 ha), e está próxima
contrasta com a rápida supressão de vegetação do Parque Estadual Serra das Araras (MG), com
nativa que vem sendo observada na região, 13.553 ha. Essas unidades de conservação, apesar de

47
Tabela 1. Unidades de Conservação (UC) localizadas na Região da Trijunção e entorno, conforme aqui definidos. Os códigos
correspondem ao número de cada UC conforme apresentadas na Figura 1. As abreviações das Unidades de Conservação são
Área de Proteção Ambiental (APA), Parque Nacional (PARNA), Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS), Refúgio de Vida
Silvestre (RVS) e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), distribuídas de acordo com o Grupo definido na Lei do
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), sendo Proteção Integral (PI) e Uso Sustentável (US).

Número Unidade de Conservação Categoria Grupo Esfera Área (ha)


1 APA Bacia do Rio Pandeiros APA US estadual 380474
2 APA Cochá e Gibão APA US estadual 284841
3 APA das Nascentes do Rio Vermelho APA US federal 176320
4 PARNA Grande Sertão Veredas Parque PI federal 230851
5 PE Serra das Araras Parque PI estadual 13553
6 PNM do Pequi Parque PI municipal 2419
7 PNM Ribeirão da Prata Parque PI municipal 3143
8 RDS Veredas do Acari RDS US estadual 58780
9 RPPN Arara Vermelha RPPN US federal 254
10 RPPN Guará I RPPN US federal 321
11 RPPN Leite Verde Guará II RPPN US federal 326
12 RPPN Lagoa do Formoso RPPN US federal 501
13 RPPN Reserva Ecológica Rio Vermelho RPPN US federal 1582
14 RPPN Rio Formoso RPPN US federal 120
15 RPPN São Francisco da Trijunção RPPN US federal 162
16 RPPN Veredas do Formoso RPPN US federal 450
17 RPPN Veredas do Pratudinho RPPN US federal 2238
18 RVS Veredas do Oeste Baiano RVS PI federal 128047

estarem em locais com características ambientais as RPPNs possuem especial interesse quando
diferentes da observada na região da Trijunção, localizadas no entorno de outras áreas protegidas
diversificam o ordenamento e o planejamento do uso (Silva et al. 2015), como ocorre no Parque Nacional
do território e dos recursos naturais presentes. Ainda Grande Sertão Veredas e no Refúgio de Vida Silvestre
assim, praticamente todo o polígono delimitado tem Veredas do Oeste Baiano. Essa disposição espacial de
prioridades Alta e Extremamente Alta para a Reservas Particulares do Patrimônio Natural amplia
conservação (MMA, 2016). a área efetivamente protegida e conectada,
As RPPNs da região da Trijunção somam 4.973 ha diversificando os hábitats protegidos em uma
destinados à conservação da biodiversidade, à determinada região (Françoso & Brandão 2013,
realização de pesquisas científicas, a atividades de Langholz 1996).
ensino e ao turismo na natureza. As RPPNs possuem A região da Trijunção é coberta principalmente por
papel de destaque no Sistema Nacional de Unidades formações abertas do bioma Cerrado, incluindo os
de Conservação (SNUC) por permitirem ampliar a campos e os cerrados em suas diferentes
conectividade entre remanescentes de vegetação manifestações, estruturas e composições, conforme
nativa (Mesquita 1999, Morsello 2001). Permitem abordado no Capítulo 3 do presente livro (Ribeiro et
maior planejamento de ocupação da paisagem por al. 2020). Ambientes florestais são mais escassos,
outras atividades (Alger & Lima 2003, Machado & geralmente associados a cursos de água, sendo
Mantovani 2007), além de diversificarem as basicamente florestas paludosas ou matas de galeria.
atividades econômicas possíveis no interior das Os cerradões que ocorrem na região se misturam à
propriedades rurais (Sanches et al. 2011). Por vegetação de carrasco, caracterizados por uma
permitirem o envolvimento do segundo e terceiro vegetação adensada de baixo porte, formando
setores no desafio da conservação da biodiversidade,

48
emaranhados de galhos e cipós que dificultam o taxas de evaporação e menor alimentação de
acesso ao seu interior. aquíferos, a despeito de anos como 2005, que pode
ter sido um ano de anomalia climática regional,
O clima da Trijunção é típico dessa região do Cerrado,
conforme previsões do IPCC (2014). Esse é um
com duas estações bem definidas, com menor
cenário preocupante para a atividade agrícola na
precipitação e maiores temperaturas se comparadas
região do Chapadão Ocidental da Bahia, altamente
com a média para o bioma. A precipitação média da
dependente da pluviosidade e da manutenção dos
série histórica do município mineiro de Formoso
aquíferos que alimentam os sistemas de irrigação.
entre 2000 e 2016 é de 1282 mm, com pequena
Esse cenário vem se concretizando ao longo das
tendência para a diminuição das chuvas nas últimas
últimas décadas com maior intensidade a partir de
décadas (Figura 3). Em 2005 ocorreu uma
2010. O rebaixamento do lençol freático está
precipitação total muito superior à dos demais anos,
diminuindo a água disponível para as atividades
amenizando a tendência de diminuição de chuvas no
agrícolas da região e para a manutenção de espécies
período, a qual, mesmo assim, continua evidente. Os
dependentes dos corpos hídricos.
dados apresentados na Figura 3 são a série histórica
para os anos com dados completos retirados do site Trabalhar por quase 20 anos nas cabeceiras do Rio
do INMET (www.inmet.gov.br), que só apresenta Formoso permitiu testemunhar os efeitos do
dados até o ano 2009. A partir de 2003, os dados são rebaixamento do lençol freático sobre a
provenientes da estação meteorológica da própria disponibilidade de água, seja para o uso humano ou
fazenda Trijunção, onde os anos com aferições para a biodiversidade regional. As lagoas
incompletas foram descartados. permanentes na cabeceira do Rio Formoso eram
imagens marcantes até a década de 1990. Lagoas
A temperatura média anual varia de 23,2°C no
temporárias, formadas durante as chuvas,
município de Formoso (GO) e 24,2°C em Barreiras e
desapareceram da região. Essas lagoas eram
Posse (BA), com tendência de incremento ao longo
formadas pelo aumento da tábua de água durante a
do tempo (Figura 4A, 4B e 4C). Os dados aqui
estação chuvosa no solo arenoso. Diversos anfíbios
apresentados são aqueles disponíveis para os
às utilizavam para reprodução, como Rhinella
municípios mais próximos da região da Trijunção,
veredas, Pleurodema diplolister, Physalaemus
cujo ano apresente amostragem anual completa, ou
centralis, Physalaemus marmoratus, Rhinella
seja, quando os dados estão presentes para os 12
mirandaribeiroi, dentre outros.
meses do ano. Esse cenário, de maiores temperaturas
e menor pluviosidade, acompanham tendências O mais preocupante é que o mesmo processo de
mundiais previstas para essa região da América do rebaixamento do lençol freático está sendo
Sul (IPCC 2014) e sugerem maiores períodos de observado em outros rios do Oeste da Bahia, mesmo
estresse hídrico. Assim, a expectativa é de maiores em áreas inseridas ou protegidas por unidades de

Figura 3. Histórico de precipitação


anual na região da Trijunção,
mostrando leve tendência de
diminuição ao longo do tempo.
Dados provenientes de estação
meteorológica ao Banco de Dados
Meteorológicos para Ensino e
Pesquisa (Instituto Nacional de
Meteorologia - INMET) (anos de
1978 a 2002) e estação
meteorológica local (anos de 2003
a 2016).

49
A

Figura 4. Histórico de temperatura (mínimas, médias e máximas mensais) para três municípios próximos à região da Trijunção.
Formoso - MG, o município mais próximo à região, apresenta dados incompletos, por isso foram incluídos dois outros
municípios mais próximos que possuem dados integrados ao Banco de Dados Meteorológicos para Ensino e Pesquisa (Instituto
Nacional de Meteorologia - INMET).

50
Quadro 1. Efeitos deletérios do rebaixamento do lençol freático
1. Diminuição da quantidade de água livre na paisagem, afetando as comunidades de fauna aquática ou
semiaquática;
2. Entrada de espécies invasoras nas áreas abertas, modificando a distribuição dos ecossistemas na
paisagem;
3. Diminuição das oportunidades de lazer, afetando atividades turísticas;
4. Aumento da frequência de incêndios causados pelo maior ressecamento do solo;
5. Aumento da ocorrência de incêndios em solos turfosos, levando à mortandade do banco de sementes
das formações previamente úmidas e da fauna subterrânea associada;
6. Mudanças na hidrografia, afetando o acesso à água, especialmente nas propriedades localizadas à
montante ;
7. Mudanças na produtividade agrícola, devido ao maior custo no acesso à água, na perda de biodiversidade
e no combate a incêndios florestais.

conservação, como é o caso dos rios Formoso, Amaral, A.G., Munhoz, C.B.R., Walter, B.M.T., Aguirre-
Pratudão e Pratudinho (equipe ICMBio do Refúgio de Gutiérrez, J. & Raes, N. 2017. Richness pattern and
Vida Silvestre Veredas do Oeste Baiano, comunicação phytogeography of the Cerrado herb–shrub flora and
pessoal). As famosas lagoas dos rios Pratudinho e implications for conservation. Journal of Vegetation
Pratudão estão reduzidas a pouco mais que poças. Science 28: 848–858.
Mesmo em áreas localizadas mais à jusante no rio
Azevedo, J.A.R., Valdujo, P.H. & de C. Nogueira, C.
Formoso, é nítido o rebaixamento do nível do rio,
2016. Biogeography of anurans and squamates in the
com maior exposição de barrancos. Há diversos
Cerrado hotspot: coincident endemism patterns in
efeitos deletérios do rebaixamento do lençol freático
the richest and most impacted savanna on the globe.
sobre os ecossistemas e a atividade econômica local
Journal of Biogeography 43: 2454–2464.
(Quadro 1), resultando em perda de biodiversidade
e alteração de serviços ecossistêmicos, além de Françoso, R.D. & Brandão, R.A. 2013. Dinâmica da
prejuízos econômicos às culturas irrigadas. paisagem no entorno da Reserva Natural Serra do
Tombador, norte de Goiás. Caminhos de Geografia
Esse pequeno relato demonstra o qual delicado é o
14: 284–293.
equilíbrio do aquífero Urucuia na região e quão
importante deve ser o cuidado com a água nessa Françoso, R.D., Dexter, K.G., Machado, R.B.,
região idílica que floresceu sobre os restos de um Pennington, R.T., Pinto, J.R.R., Brandão, R.A. & Ratter,
antiquíssimo deserto e abriga uma incrível J.A. 2019. Delimiting floristic biogeographic districts
diversidade biológica. É um alerta sobre a in the Cerrado and assessing their conservation
necessidade de maior atenção quanto ao uso da água status. Biodiversity and Conservation 29:1477-1500.
e suas consequências para a biodiversidade e a DOI: 10.1007/s10531-019-0189-3.
viabilidade das propriedades na região. Gaspar, M.T.P. & Campos, J.E.G. 2020. O ciclo das
águas na região da tríplice junção dos estados de
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51
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Ribeiro, J.F., Walter, B.M.T., Oliveira, M.C.,
Mendonça, R.C., Filgueiras, T. de S. & Silva, M.R. da.
2020. Caracterização florística e potencial de uso das
espécies vasculares ocorrentes na fazenda Trijunção,
BA. In Brandão, R.A., Françoso, R.D., Machado, T. de

52
53
"O sucesso das atividades agrícolas depende do bom uso
sustentável, de energia, água, solo e a conservação da
biodiversidade no ambiente da propriedade rural."

José Felipe Ribeiro

54
José Felipe Ribeiro
Bruno Machado Teles Walter
Maria Cristina de Oliveira
Roberta Cunha de Mendonça
Tarciso de Sousa Filgueiras
Miriam Rodrigues da Silva

55
56
José Felipe Ribeiro
Bruno Machado Teles Walter
Maria Cristina de Oliveira
Roberta Cunha de Mendonça
Tarciso de Sousa Filgueiras
Miriam Rodrigues da Silva

INTRODUÇÃO florística e a fitossociologia das principais


Manejo sustentável é aquele em que o planejamento fitofisionomias identificadas. Essas informações são
das atividades prevê a continuidade da extremamente úteis e fundamentais para a
disponibilidade dos recursos naturais. O passo inicial elaboração de planos de manejo em Unidades de
para o manejo adequado desses recursos, em Conservação, como Parques Nacionais, Reservas
determinada área, é a sua caracterização física (solo, Extrativistas ou Biológicas, mas também em Reservas
clima e topografia) e biológica (fauna, flora e Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e demais
microrganismos). Detalhes para essa caracterização áreas de conservação ou manejo particulares.
vão depender dos objetivos pretendidos, ou seja, do Neste capítulo a microrregião onde está localizada a
objetivo final do manejo. Fazenda São Francisco da Trijunção (BA) é
A caracterização pode ser feita a partir de caracterizada quanto a sua flora e aspectos
“levantamentos rápidos”, onde são obtidas fitossociológicos. Para tal foram identificadas as
informações primárias ou secundárias gerais sobre principais fitofisionomias ocorrentes na Fazenda,
os principais aspectos climáticos, fisiográficos, fornecendo um registro inicial da flora encontrada
topográficos, pedológicos e fitofisionômicos da área. e, ainda, uma indicação das espécies com potencial
Esses levantamentos devem ser entendidos como econômico, acrescentando um zoneamento e
métodos de caracterização similares ao Programa de alternativas de uso dos seus recursos naturais.
Avaliação Biológica Rápida (Rapid Assessment Caracterização Regional
Program), tal qual descrito por Fonseca (2001) e
A Fazenda São Francisco da Trijunção situa-se no
considerados em artigos como o de Walter e Guarino
sudoeste do Estado da Bahia, na região do Espigão
(2006). Por sua vez, a caracterização local detalhada
Mestre do São Francisco, também conhecida como
deve compreender a coleta de informações primárias
Chapadão Central (Cochrane et al. 1985). Esta região
de dados físicos, como química e física do solo,
vem sendo ocupada por monoculturas desde os anos
topografia, e de dados biológicos, entre os quais a
1980, com destaque para a soja, algodão e outros

57
cultivos irrigados. Como consequência, verifica-se a dos anos 1970. Além desses coletores, nomes como
eliminação de extensas áreas de Cerrado sentido Geraldo Mendes Magalhães, Amaro Macedo, José
amplo, autóctone, e alterações significativas na Angelo Rizzo e Gerdt G. Hatschbach também devem
drenagem natural de vegetações como os Campos ser mencionados por suas contribuições em termos
Úmidos, Matas de Galeria e Veredas. A paisagem de coleções botânicas. Já na época da criação do
regional é rica, com predomínio das principais Parque Grande Sertão Veredas, nos anos 1980, a
fitofisionomias do bioma Cerrado descritas em Fundação Pró-Natureza (FUNATURA), em parceria
Ribeiro e Walter (2008), além de apresentar manchas com pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB)
de Caatinga (Mendonça et al. 2000), uma vez que se e de outras instituições do Distrito Federal,
localiza em região de ecótono entre esses biomas. coordenou um estudo pioneiro comparando a
paisagem e a biodiversidade de várias áreas naquela
A única grande Unidade de Conservação existente na
região. Esse estudo culminou com a seleção do local
região é o Parque Nacional Grande Sertão Veredas,
onde, posteriormente, veio a ser criado o Parque. Em
localizado no noroeste do Estado de Minas Gerais.
estudo florístico de toda a região durante os anos
Nesse Parque existem ações que visam dar destaque
seguintes (Mendonça et al. 2000), foi possível
aos aspectos de uso da flora nativa, tal como foi
produzir uma lista contendo 1.273 espécies de
abordado por Silva (1998). No final do século
plantas vasculares, cujos espécimes vouchers estão
passado, quando foram divulgadas as propostas de
depositados no Herbário IBGE. Esse número, na
ações para a conservação da biodiversidade em
época, representou 19,8% do total então compilado
Minas Gerais, esse Parque foi classificado na
para o bioma Cerrado (Mendonça et al. 1998), e
categoria “área de importância biológica extrema”
revelava, assim, a grande riqueza florística da região.
(Costa et al. 1998). Posteriormente, durante o
Comparado ao que se conhece hoje sobre este bioma
primeiro workshop que discutiu áreas prioritárias
(JBJR 2019), cuja flora possui registro de 11.805
para conservação do Cerrado e do Pantanal (MMA
espécies (aqui incluídas Angiospermas,
1999), essa região também esteve na pauta das
Gimnospermas, Samambaias e Licófitas), isto
discussões, e continuou em foco até a última
representa 10,8% do total, o que ainda é significativo.
divulgação deste tema em 2007 (MMA 2007).
Como já mencionado, um grupo de espécies vegetais
A história da pesquisa botânica na região de divisa
utilizadas pelas comunidades do entorno do Parque
dos Estados da Bahia, Minas Gerais e Goiás não é
Nacional Grande Sertão Veredas foi divulgado por
recente. O grande pioneiro foi o naturalista George
Silva (1998) e, também, estão disponíveis análises
Gardner (Gardner 1975), que cruzou o Espigão
fitossociológicas e de diversidade de algumas áreas
Mestre próximo àquela divisa por volta do ano 1840.
da região do Espigão Mestre do São Francisco (p.ex.
Gardner fez muitas coleções botânicas em sua
Felfili & Silva-Junior 2001, Felfili et al. 2001, 2004,
passagem pela região, as quais foram então enviadas
Felfili & Fagg 2007), incluindo o Parque. Tendo por
para a Inglaterra. Depois disso houve um longo
base esses estudos, pode-se perceber que o Parque
intervalo, de mais de um século, para que novas
é bastante representativo quanto à florística e à
explorações botânicas acontecessem. Estas se
estrutura da vegetação da região do Espigão Mestre.
reiniciaram com alguma frequência por causa da
Entretanto, devido à sua grande extensão em área,
construção de Brasília, inaugurada em 1960. Em
houve recomendações para a criação de uma rede
1956, uma missão de que fez parte Elmer Yale
de Unidades de Conservação, em um planejamento
Dawson (Dawson 1957) recolocou o foco botânico no
de corredores ecológicos.
nordeste do atual Estado de Goiás, mas sem se
aproximar da tríplice fronteira. Com Brasília Como a Fazenda Trijunção localiza-se no entorno do
inaugurada, muitos botânicos, particularmente tendo Parque, a introdução de áreas de preservação
por base a Universidade de Brasília, passaram a fazer permanente, reservas legais e RPPNs em
excursões em áreas próximas às três divisas. Entre propriedades como estas, poderá compor e ampliar
estes, destaque-se Howard Samuel Irwin e Romeu P. os corredores de biodiversidade necessários para
Belém, nos anos 1960; e William Russell Anderson, garantir a manutenção da integridade genética das
Graziela Maciel Barroso e Bronwen E. Gates, a partir

58
populações de plantas e animais contidas no Parque,
assim como um todo daquela importante região.
Área do Estudo
A sede administrativa da Fazenda Trijunção
(www.trijuncao.com.br) está localizada a 14° 51’ S e
45° 56’ W, no Município de Cocos, Estado da Bahia,
na divisa com os Estados de Goiás e Minas Gerais. Na
fazenda está o marco geográfico que limita o
encontro desses três Estados (Figura 1), cuja
vegetação original no seu entorno é o Cerrado Típico.
Além dessa vegetação, e considerando as formações
do bioma Cerrado definidas por Ribeiro & Walter
Figura 1. Tarciso Filgueira e Jeanine Felfili no marco geográfico
(1998, 2008), a Fazenda apresenta formações
da Trijunção entre Bahia, Goiás e Minas Gerais.

A B

Xylopia emarginata

Figura 2. Mata de Galeria: trechos de Mata de Galeria inundável (A e B); diagramas de perfil (B) e cobertura arbórea,
representando uma faixa de 80 metros de comprimento por 10 m de largura. Fonte: Ribeiro & Walter (2008).

59
florestais, savânicas e campestres, contendo árvores varia de 15 a 20 m. A presença de espécies
intrusões do bioma Caatinga. O detalhamento dessas associadas aos solos encharcados, como Xylopia
formações é apresentado adiante. ermaginata (pindaíba-do-brejo), Mauritia flexuosa
(buriti), Calophyllum brasiliense (landim) e Richeria
Fisionomias
grandis, é expressiva.
Quanto às formações florestais, a Fazenda Trijunção
O Cerradão é a outra fisionomia florestal marcante
apresenta principalmente as Matas de Galeria
na Fazenda (Figura 3). Sem associação com cursos de
Inundáveis (Figura 2) e o Cerradão, estando ausentes
água, é uma floresta com aspectos xeromórficos e
as Matas Ciliares e as Matas Secas. São menos
ocorre em solos bem drenados (secos). Muitas vezes
representadas as Matas de Galeria não Inundáveis,
faz transição com a paisagem denominada
que ocorrem essencialmente como trechos (longos
“Carrasco”, que contém elementos de flora do bioma
ou não) das primeiras. As Matas de Galeria
Caatinga. O Carrasco apresenta-se como vegetação
Inundáveis ocorrem em solos mal drenados e formam
muito adensada, não florestal (portanto, sem um
corredores fechados (galerias) sobre o curso de água
dossel fechado), em que inúmeros arbustos
(Figura 2). Em geral, as Matas de Galeria são
espinhosos, espécies de lianas e árvores de pequeno
encontradas em fundos de vale, mas na região da
porte se entrelaçam, dominando a paisagem. Isto
Fazenda Trijunção elas estão associadas às cabeceiras
dificulta sobremaneira o caminhamento. Nas
de drenagem. Em termos de paisagem, ocorrem em
situações de predomínio florestal das espécies
áreas relativamente planas, onde os cursos de água
arbóreas, o Cerradão típico não se confunde com o
ainda não escavaram seu canal definitivo. A
“Carrasco”. Porém, a transição entre ambos é a
vegetação é perenifólia e circundada por uma
situação mais frequente, e revela a já mencionada
transição brusca com Campos Limpos Úmidos (ver,
em primeiro plano, a Figura 2A). A altura média das

Figura 3. Trecho de um Cerradão encontrado na área da Fazenda Trijunção, Bahia.

60
Figura 4. Vegetação de Cerrado Típico presente na Fazenda Trijunção, Bahia.

interface ali existente entre os biomas Cerrado e o Cerrado Típico (Figura 4) e o Cerrado Ralo (Figura
Caatinga. 5), onde se sobressaem espécies como Ouratea
hexasperma (cabelo-de-negro) e Pouteria ramiflora
Com relação às formações savânicas, na Fazenda há
(curriola). Já nas Veredas prevalece o buriti (Mauritia
o predomínio das fitofisionomias Cerrado sentido
flexuosa), em trechos sobre solos mal drenados
restrito e Vereda. A primeira é aquela que apresenta
(Figura 6). No caso das coletas indicadas neste
árvores tortuosas esparsas em meio ao estrato
capítulo, utilizou-se o termo “Brejo” para indicar o
graminoso, com dossel descontínuo cuja altura média
habitat de uma planta presente em locais desta
é de 5 m. Na área da Fazenda Trijunção destacam-se
fitofisionomia, quando fossem permanentemente

Figura 5. Cerrado Ralo em transição com Cerrado Típico e trecho de Campo Limpo.

61
Figura 6. Vereda, com destaque para os buritis (Mauritia flexuosa) na área da Fazenda Trijunção, Bahia.

Figura 7. Campo Limpo Seco (primeiro plano) e Campo Sujo Seco (segundo plano) na área da Fazenda Trijunção, Bahia.

62
Figura 8. Campo Limpo Úmido na área da Fazenda Trijunção, Bahia.

encharcados, ou mesmo quando posicionados na apresentadas, quais sejam: Mata de Galeria,


interface com Campos Úmidos, fossem estes Limpos Cerradão, Cerrado sentido restrito, Vereda, Campo
ou Sujos (sensu Ribeiro & Walter 2008). Sujo e Campo Limpo, além das transições para o
As formações campestres também são muito “Carrasco”. Todas as espécies de plantas vasculares
comuns, tanto na Fazenda Trijunção quanto em seu (Angiospermas, Gimnospermas, Samambaias e
entorno. Essas formações são desprovidas de Licófitas) que se encontravam férteis (isto é,
contendo flor ou fruto) por ocasião das visitas ao local
árvores, embora possam exibir muitos arbustos
grossos e algumas arvoretas isoladas (no Campo foram coletadas e estão listadas na Tabela 1. Além
Sujo). Como parte do complexo das Veredas, são dessas coletas, a Tabela 1 também inclui alguns
comuns campos puros contíguos às faixas de buritis nomes de espécies registradas somente nos
“levantamentos rápidos” e fitossociológicos, mas que
que ocupam os fundos das Veredas. Com paisagens
como estas, na Fazenda há os seguintes subtipos de ainda não dispõem de vouchers de herbário que
vegetação (sensu Ribeiro & Walter 1998, 2008): formalizem academicamente sua presença na
Campo Sujo Seco, Campo Limpo Seco (Figura 7) e Fazenda.
Campo Limpo Úmido (Figura 8), além do Campo Ordenado por famílias botânicas (sensu APG IV 2016),
Limpo com Murundus. a lista geral de espécies (Tabela 1) indica o hábito do
Flora táxon, seu habitat de ocorrência e a sigla do coletor
com seu número de coleta. As espécies identificadas
A composição da flora da Fazenda Trijunção foi com base apenas nas suas características vegetativas
realizada em termos expeditos, ou seja, sem um (sem vouchers), por não se encontrarem férteis nos
programa de coletas exaustivas, por longo período. períodos dos trabalhos de campo, estão
As coletas foram efetuadas nas fitofisionomias aqui acompanhadas da palavra “observada”. A

63
interpretação taxonômica aqui adotada seguiu a Lista de Orchidaceae coletadas (9 espécies), a terceira
de Espécies da Flora do Brasil (2019). família mais rica em espécies no bioma Cerrado (com
691 espécies, conforme a JBRJ 2019), assim como a
Na Tabela 1 estão listadas 501 espécies distribuídas
família Lythraceae, que teve apenas três espécies
em 307 gêneros e 97 famílias. A família mais
citadas, de um universo com mais de 155 espécies no
representada foi Fabaceae (54 espécies), que são as
bioma (Mendonça et al. 2008, JBRJ 2019), ou 17
tradicionalmente conhecidas Leguminosas (ou
espécies no espigão mestre do São Francisco
Leguminosae). Seguem-na Poaceae/Gramineae (40),
(Mendonça et al. 2000). Ainda assim já se revelaram
Asteraceae/Compositae (37), Rubiaceae (24),
dados interessantes, entre os quais novas citações
Melastomataceae (23), Cyperaceae (18), Myrtaceae
de ocorrência para o Espigão Mestre. Para ilustrar,
(16) e Malpighiaceae (15). Com 13 e 11 espécies
somente entre as Melastomataceae cita-se:
aparecem Euphorbiaceae e Eriocaulaceae,
Acisanthera variabilis, Lavoisiera imbricata, Miconia
respectivamente; e, com 10 espécies, Apocynaceae,
fallax, Siphanthera cordata e Siphanthera foliosa.
Polygalaceae e Vochysiaceae (Tabela 2). Essas treze
Outra informação relevante é a presença do açaí-
famílias somaram apenas 13% do total de famílias
amazônico (Euterpe oleracea), que talvez seja a
encontradas, mas englobaram 48% dos gêneros e
ocorrência mais meridional desta espécie na sua área
56% do total de espécies. Por sua vez, 39 famílias
de distribuição natural.
estão representadas por uma única espécie. São elas:
Alismataceae, Amaryllidaceae, Araliaceae, Com base nos registros atuais da Fazenda Trijunção
Balanophoraceae, Bixaceae, Blechnaceae, em que estão contabilizadas estas 504 espécies, esse
Boraginaceae, Caryocaraceae, Caryophyllaceae, número representa 37,5% da flora sugerida para a
Commelinaceae, Costaceae, Cucurbitaceae, região do espigão mestre do São Francisco
Cyatheaceae, Dilleniaceae, Droseraceae, Ebenaceae, (Mendonça et al. 2000), reunindo pelo menos 4,06
Icacinaceae, Lindsaeaceae, Lycopodiaceae, % da flora do bioma Cerrado, com base em
Mayacaceae, Menispermaceae, Moraceae, Mendonça et al. (2008) ou, com base na JBRJ (2019),
Myristicaceae, Olacaceae, Onagraceae, Opiliaceae, 4,26%. Nesse conjunto, encontram-se árvores,
Oxalidaceae, Piperaceae, Pontederiaceae, arbustos, subarbustos, ervas, trepadeiras e
Proteaceae, Rapateaceae, Santalaceae, hemiparasitas, sendo a maior parte das plantas
Simaroubaceae, Siparunaceae, Styracaceae, listadas classificadas como arbustivas e herbáceas.
Symplocaceae, Turneraceae, Velloziaceae e Vitaceae. Dessa maneira, constatou-se que para cada uma das
Nessa relação observa-se o caráter ainda preliminar 109 espécies de árvores aqui registradas (Tabela 1)
dessa listagem, uma vez que famílias como existem 3,63 espécies de plantas na categoria
Boraginaceae, Dilleniaceae, Moraceae, arbustivo-herbácea (ou, a proporção de 1:3,6); o que
Myristicaceae, Onagraceae, Oxalidaceae Piperaceae está abaixo do esperado para áreas nativas do bioma
e Turneraceae, entre outras, certamente devem Cerrado (Mendonça et al. 2008), que é de 1:5,6. Isto
conter maior número de espécies na Fazenda. Do indica que ainda há muitas espécies de arbustos e
mesmo modo, ainda é baixo o número de espécies
Tabela 1. Lista preliminar das espécies vasculares encontradas na Fazenda Trijunção, Bahia. Sigla dos coletores: BW - Bruno
M.T. Walter; JAR - James Alexander Ratter; MLF - Marina de Lourdes Fonseca; RCM - Roberta Cunha de Mendonça; TSF –
Tarciso de Souza Filgueiras; WGP - Welington G. Pinheiro
Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº
Acanthaceae Ruellia hapalotricha Lindau erva Cerrado RCM 4249
Ruellia incomta (Nees) Lindau subarbusto Campo Sujo, Cerrado MLF 2682
RCM 4393
Ruellia trachyphylla Lindau subarbusto Carrasco RCM 4424
Alismataceae Helanthium tenellum (Mart.) Britton erva Vereda/Brejo MLF 2734
Amaranthaceae Gomphrena agrestis Mart. subarbusto Campo Sujo, Cerrado Ralo MLF 2654
RCM 4403

64
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Gomphrena arborescens L.f. erva Cerrado BW 4892
Gomphrena celosioides Mart. erva Mata de Galeria BW 4971
Gomphrena virgata Mart. subarbusto Cerrado RCM 4408
Pfaffia sericantha (Mart.) T.M.Pedersen erva Cerrado RCM 4454
Amaryllidaceae Habranthus sylvaticus Herb. erva Cerrado Ralo TSF 3645
Anacardiaceae Anacardium humile A.St.-Hil. arbusto Carrasco/Cerrado, Campo MLF 2834
Sujo
Tapirira guianensis Aubl. árvore Mata de Galeria, Vereda BW 4970
MLF 2697
Annonaceae Annona crassiflora Mart. árvore Cerrado MLF 4573
RCM 4573
Annona crotonifolia Mart. arbusto Cerrado RCM 4329
Annona tomentosa R.E.Fries arbusto Carrasco/Cerradão RCM 4321
Annona warmingiana Mello-Silva & Pirani subarbusto Cerrado MLF 3025
Cardiopetalum calophyllum Schltdl. árvore Mata de Galeria Observada
Duguetia furfuracea (A.St.-Hil.) Saff. arbusto Cerrado, Carrasco/Cerrado BW 4952
RCM 4266
Xylopia aromatica (Lam.) Mart. árvore Cerrado Observada
Xylopia emarginata Mart. árvore Vereda MLF 2784
Xylopia sericea A.St.-Hil. árvore Carrasco/Cerradão, MLF 2753
Carrasco/Cerrado RCM 4419
Apocynaceae Aspidosperma macrocarpon Mart. árvore Carrasco/Cerrado Observada
Aspidosperma tomentosum Mart. árvore Cerrado RCM 4270
Hancornia speciosa Gomes arbusto Cerrado MLF 2726
Hemipogon acerosus Decne. erva Cerrado, Campo Limpo BW 4886
Himatanthus obovatus (Müll.Arg.) Woodson arbusto Cerrado, Carrasco/Cerrado Observada
Mandevilla tenuifolia (J.C.Mikan) Woodson erva Campo Sujo Úmido, Campo BW 4922
Limpo Úmido
Minaria micromeria (Decne.) T.U.P.Konno & subarbusto Cerrado MLF 2806
Rapini
Nephradenia acerosa Decne. erva Campo Limpo Úmido BW 4985
Odontadenia cf. nitida (Vahl.) Müll.Arg. trepadeira Cerrado RCM 4311
Odontadenia lutea (Vell.) Markgr. trepadeira Carrasco/Cerradão, Carrasco MLF 2768
RCM 4431
Aquifoliaceae Ilex affinis Gardner arbusto Mata de Galeria BW 4991
Ilex cf. conocarpa Reissek árvore Mata de Galeria BW 4975
Ilex theezans Mart. ex Reissek arbusto Vereda MLF 2715
Araceae Dracontioides desciscens (Schott.) Engl. erva Campo Limpo MLF 3104
Philodendron acutatum Schott erva Campo Limpo MLF 3103
Araliaceae Schefflera vinosa (Cham. & Schltdl.) Frodin & arbusto Cerrado JAR 8294
Fiaschi RCM 4309
Arecaceae Allagoptera sp. subarbusto Campo Sujo MLF 2658
Astrocaryum cf. campestre Mart. palmeira Campo Sujo MLF 2657
arbustiva
Euterpe oleracea Mart. palmeira Mata de Galeria BW 4983
arbórea
Mauritia flexuosa L.f. palmeira Mata de Galeria Observada
arbórea

65
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Mauritiella armata (Mart.) Burret palmeira Vereda BW 4992
arbórea MLF 2721
Asteraceae Acanthospermum australe (Loefl.) O.Kuntze erva Campo Sujo MLF 3085
Achyrocline alata DC. subarbusto Cerrado, Campo Sujo BW 4943
Aldama robusta (Gardner) E.E.Schill. & subarbusto Cerrado, Cerrado/Vereda RCM 4277
Panero
Aldama veredensis (Magenta & Pirani) subarbusto Cerrado, Vereda RCM 4338
E.E.Schill. & Panero
Aspilia leucoglossa Malme erva Cerrado, Vereda BW 4915
RCM 4569
Ayapana amygdalina (Lam.) R.M.King & arbusto Cerrado, Campo Limpo RCM 4410
H.Rob.
Baccharis linearifolia (Lam.) Pers. erva Cerrado RCM 4333
RCM 4376
Baccharis reticularia DC. arbusto Carrasco/Cerradão RCM 4322
Calea aff. ramosissima Baker erva Cerrado RCM 4579
Calea fruticosa (Gardner) Urbatsch, Zlotsky & arbusto Cerrado RCM 4361
Pruski
Chresta sphaerocephala DC. subarbusto Cerrado RCM 4354
Chromolaena squalida (DC.) R.M.King & subarbusto Cerrado RCM 4308
H.Rob.
Dasyphyllum donianum (Gardner) Cabrera subarbusto Cerrado/Vereda RCM 4339
Echinocoryne holosericea (Mart. ex DC.) subarbusto Carrasco/Cerradão, Cerrado MLF 2761
H.Rob.
Eremanthus brasiliensis (Gardner) MacLeisch. arbusto Carrasco MLF 2870
Eremanthus capitatus (Spreng.) MacLeisch. arbusto Cerrado MLF 2803
Eremanthus glomerulatus Less. árvore Cerrado RCM 4406
Eremanthus goyazensis (Gardner) Sch.Bip. árvore Cerrado JAR 8303
Koanophyllon adamantium (Gardner) subarbusto Cerrado RCM 4411
R.M.King & H.Rob.
Lepidaploa aurea (Mart. ex DC.) H.Rob. subarbusto Campo Sujo MLF 2670
Lepidaploa nitens (Gardner) H.Rob. subarbusto Cerrado RCM 4337
Lepidaploa rufogrisea (A.St.-Hil.) H.Rob. subarbusto Campo Sujo MLF 2683
Lessingianthus ligulifolius (Mart. ex DC.) H. subarbusto Cerrado RCM 4310
Rob.
Lessingianthus psilophyllus (DC.) H.Rob. erva Carrasco/Cerrado RCM 4340
Lessingianthus virgulatus (Mart. ex DC.) arbusto Cerrado RCM 4407
H.Rob.
Lessingianthus xanthophyllus (Mart. ex DC.) subarbusto Carasco MLF 2874
H.Rob.
Mikania cordifolia (L.f.) Willd. trepadeira Vereda MLF 2852
Mikania officinalis Mart. arbusto Campo Sujo Úmido BW 4917
MLF 3047
Moquiniastrum blanchetianum (DC.) subarbusto Carrasco/Cerradão RCM 4251
G.Sancho RCM 4317
Moquiniastrum polymorphum (Less.) arbusto Carrasco MLF 2869
G.Sancho
Piptocarpha rotundifolia (Less.) Baker árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão RCM 4279
Porophyllum angustissimum Gardner subarbusto Cerrado MLF 2884

66
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Pseudobrickellia brasiliensis (Spreng.) subarbusto Cerrado RCM 4391
R.M.King & H.Rob.
Riencourtia tenuifolia Gardner subarbusto Vereda, Campo Sujo BW 4906
MLF 2678
Strophopappus glomeratus (Gardner) subarbusto Carrasco MLF 2868
R.Esteves
Trichogonia salviifolia Gardner subarbusto Campo Limpo Úmido, MLF 3056
Vereda
Vernonanthura ferruginea (Less.) H.Rob. arbusto Campo Limpo, Cerrado RCM 4395
Balanophoraceae Langsdorffia hypogaea Mart. erva Carrasco/Cerrado MLF 2822
Bignoniaceae Adenocalymma pubescens (Spreng.) arbusto Carrasco/Cerradão, Carrasco RCM 4427
L.G.Lohmann
Anemopaegma glaucum Mart. ex DC. arbusto Campo Úmido com MLF 2745
Murundus
Anemopaegma scabriusculum Mart. ex DC. arbusto Carrasco/Cerrado RCM 4422
Cuspidaria sceptrum (Cham.) L.G.Lohmann arbusto Cerrado, Carrasco/Cerradão RCM 4373
RCM 4325
Fridericia craterophora (DC.) L.G.Lohmann subarbusto Cerrado RCM 4254
Handroanthus ochraceus (Cham.) Mattos árvore Cerrado Observada
Jacaranda simplicifolia K.Schum. ex Bureau & subarbusto Cerrado RCM 4267
K.Schum.
Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão Observada
Hook.f. ex S.Moore
Zeyheria montana Mart. subarbusto Cerrado RCM 4388
Bixaceae Cochlospermum regium (Mart. ex Schrank.) arbusto Cerrado MLF 2850
Pilg.
Blechnaceae Telmatoblechnum serrulatum (Rich.) Perrie, erva Vereda MLF 2776
D.J. Ohlsen & Brownsey
Boraginaceae Varronia truncata (Fresen.) Borhidi subarbusto Carrasco, Campo Limpo MLF 3069
RCM 4590
Bromeliaceae Dyckia tuberosa (Vell.) Beer erva Cerrado BW 4934
Tillandsia sp. erva Mata de Galeria BW 4954
Tillandsia streptocarpa Baker erva Mata de Galeria BW 4964
Burseraceae Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand árvore Mata de Galeria Observada
Protium ovatum Engl. arbusto Cerrado RCM 4250
Protium spruceanum (Benth.) Engl. árvore Mata de Galeria BW 4966
BW 4982
Calophyllaceae Calophyllum brasiliense Cambess. árvore Mata de Galeria Observada
Kielmeyera cf. petiolaris Mart. arbusto Cerrado BW 4893
Kielmeyera coriacea Mart. & Zucc. árvore Cerrado Observada
Kielmeyera lathrophyton Saddi árvore Cerrado, Carrasco/Cerrado RCM 4265
Kielmeyera rubriflora Cambess. arbusto Cerrado Observada
Kielmeyera variabilis Mart.& Zucc. subarbusto Cerrado MLF 2882
Caryocaraceae Caryocar brasiliense Cambess. árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão BW 4953
Caryophyllaceae Polycarpaea corymbosa (L.) Lam. erva Campo Sujo MLF 2648
Celastraceae Plenckia populnea Reissek árvore Cerrado RCM 4303
Salacia crassifolia (Mart. ex. Schult.) G.Don árvore Cerrado BW 4872
Salacia elliptica (Mart. ex. Schult.) G.Don arbusto Cerrado RCM 4561

67
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Tontelea micrantha (Mart. ex Schult.) A.C.Sm. arbusto Cerrado RCM 4385
Chrysobalanaceae Couepia grandiflora (Mart. & Zucc.) Benth. & árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão BW 4933
Hook.f.
Exellodendron cordatum (Hook.f.) Prance árvore Cerrado RCM 4268
RCM 4420
Hirtella ciliata Mart. & Zucc. árvore Cerrado MLF 2885
RCM 4343
Licania dealbata Hook.f. arbusto Campo Sujo, Cerrado MLF 2663
RCM 4392A
Parinari obtusifolia Hook.f. subarbusto Cerrado RCM 4392
Combretaceae Buchenavia tetraphylla (Aubl.) R.A.Howard árvore Carrasco RCM 4418
Buchenavia tomentosa Eichler árvore Cerrado RCM 4281
Combretum leprosum Mart. arbusto Cerrado BW 4877
Combretum mellifluum Eichler arbusto Carrasco/Cerradão, Cerrado RCM 4320
Terminalia fagifolia Mart. árvore Cerradão, BW 4926
Carrasco/Cerradão RCM 4315
Commelinaceae Commelina erecta L. erva Campo Limpo MLF 2751
Connaraceae Connarus suberosus Planchon arbusto Cerrado RCM 4301
RCM 4381
Rourea induta Planchon arbusto Cerrado BW 4874
RCM 4300
Convolvulaceae Cuscuta sp. erva Cerrado BW 4879
Evolvulus anagalloides Meisn. erva Vereda BW 4908
Evolvulus lagopodioides Meisn. subarbusto Campo Sujo MLF 2661
Merremia cf. flagellaris (Choisy) O’Donnell erva Cerrado Ralo RCM 4404
Costaceae Costus spiralis (Jacq.) Roscoe erva Vereda/Mata Úmida MLF 2785
Cucurbitaceae Cayaponia weddellii (Naudin) Cogn. trepadeira Cerrado Ralo RCM 4630
Cyatheaceae Cyathea delgadii Sternb. erva Mata de Galeria BW 4916
Cyperaceae Bulbostylis cf. conifera (Kunth) C.B.Clarke erva Cerrado BW 4890
Bulbostylis junciformis (Kunth) C.B.Clarke erva Vereda BW 4947
Bulbostylis scabra (J.Presl. & C.Presl.) erva Campo Limpo MLF 2690
C.B.Clarke
Bulbostylis sellowiana (Kunth) Palla erva Vereda MLF 2774
Cyperus aggregatus (Willd.) Endl. erva Cerrado RCM 4576
Cyperus haspan L. erva Campo Limpo Úmido MLF 2740
MLF 2811
Cyperus rigens C.Presl erva Vereda MLF 2718
Fimbristylis autumnalis (L.) Roem. & Schult. erva Campo Limpo MLF 2689
Fuirena robusta Kunth erva Vereda MLF 2790
Hypolytrum pulchrum (Rudge) H.Pfeiff. erva Carrasco MLF 2860
Rhynchospora cf. marisculus Lindl. & Nees erva Vereda/Brejo MLF 2733
Rhynchospora cf. tenerrima Nees ex Spreng. erva Campo Úmido MLF 2708
Rhynchospora exaltata Kunth erva Cerrado, carasco RCM 4375
RCM 4423
Rhynchospora globosa (Kunth) Roem. & erva Campo Limpo Úmido MLF 2692
Schult. MLF 2837
Rhynchospora sp. erva Campo Limpo MLF 2820
Scleria cf. latifolia Sw. erva Mata de Galeria RCM 4435

68
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Scleria hirtella Sw. erva Vereda BW 4944
Scleria scabra Willd. erva Carrasco MLF 2861
Dilleniaceae Davilla elliptica A.St.-Hil. arbusto Campo Sujo, Cerrado, MLF 2659
Carrasco/Cerradão RCM 4247
Droseraceae Drosera sp. erva Campo Limpo Úmido MLF 2846
Ebenaceae Diospyros lasiocalyx (Mart.) B.Walln. árvore Cerrado Observada
Ericaceae Gaylussacia brasiliensis (Spreng.) Meisn. var. arbusto Mata de Galeria, Vereda BW 4972
brasiliensis
Gaylussacia retusa Mart. ex Meisn arbusto Vereda MLF 2696
Eriocaulaceae Actinocephalus bongardii (A.St.-Hil.) Sano erva Campo Limpo MLF 2781
Comanthera xeranthemoides (Bong.) erva Campo Limpo Úmido MLF 2819
L.R.Parra & Giul.
Eriocaulon humboldtii Kunth erva Vereda, Vereda/Brejo MLF 2738
MLF 2838
Paepalanthus bifidus (Schrad.) Kunth erva Vereda/Brejo MLF 2735
Paepalanthus flaccidus (Bong.) Kunth erva Vereda MLF 2702
Paepalanthus oxyphyllus Körn. erva Vereda MLF 2794
MLF 2844
Syngonanthus caulescens (Poir.) Ruhland erva Vereda MLF 2812
Syngonanthus cf. gracilis (Bong.) Ruhland erva Vereda MLF 2810
Syngonanthus helminthorrhizus (Mart. ex erva Vereda MLF 2773
Körn.) Ruhland
Syngonanthus nitens Ruhland erva Vereda MLF 2693
Syngonanthus widgrenianus (Körn.) Ruhland erva Campo Limpo Úmido MLF 2703
MLF 2893
Erythroxylaceae Erythroxylum betulaceum Mart. subarbusto Cerrado/Campo Sujo BW 4885
MLF 2676
Erythroxylum suberosum A.St.-Hil. árvore Campo Sujo, Cerrado MLF 3089
Euphorbiaceae Croton agoensis Baill. subarbusto Campo Sujo MLF 2653
Croton campestris A.St.-Hil. subarbusto Campo Limpo RCM 4601
Croton chaetocalyx Müll.Arg. subarbusto Campo Limpo RCM 4588
Croton goyazensis Müll.Arg. subarbusto Cerrado Ralo RCM 4347
Croton pycnadenius Müll.Arg. subarbusto Campo Sujo MLF 2652
Euphorbia sp. erva Campo Limpo Úmido MLF 3051
Manihot aff. tenella Müll.Arg. erva Cerrado BW 4878
Manihot pentaphylla Pohl subarbusto Cerrado MLF 2802
Manihot violacea Pohl subarbusto Cerrado RCM 4440
RCM 4305
Manihot weddelliana Baill. subarbusto Campo Sujo MLF 3027
MLF 3088
Maprounea brasiliensis A.St.-Hil. arbusto Cerrado BW 4875
Maprounea guianensis Aubl. arbusto Cerrado, Vereda, Mata de MLF 2894
Galeria RCM 4371
Microstachys bidentata (Mart. & Zucc.) Esser subarbusto Campo Sujo Úmido, Vereda BW 4901
MLF 2743
Fabaceae Aeschynomene paucifolia Vogel subarbusto Campo Sujo RCM 4405
Andira cordata Arroyo ex R.T.Penn. & árvore Cerrado JAR 8297
H.C.Lima RCM 4290

69
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Andira cujabensis Benth. árvore Carrasco/Cerradão Observada
Andira vermifuga (Mart.) Benth. árvore Cerrado Observada
Bauhinia acuruana Moric. arbusto Cerrado, Campo Sujo RCM 4274
Bauhinia pulchella Benth. subarbusto Carrasco/Cerradão MLF 2762
RCM 4397
Bionia cf. coriacea (Nees & Mart.) Benth. subarbusto Carrasco/Cerradão RCM 4366
Bionia cf. pedicellata (Benth.) L.P.Queiroz subarbusto Cerrado RCM 4248
Bowdichia virgilioides Kunth árvore Cerrado Ralo, RCM 4345
Carrasco/Cerradão
Calliandra dysantha Benth. subarbusto Cerrado RCM 4378
Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip subarbusto Cerrado, Campo Limpo RCM 4286
Úmido MLF 2732
Chamaecrista fagonioides (Vogel) H.S.Irwin & subarbusto Cerrado RCM 4437
Barneby
Chamaecrista glandulosa (L.) Greene subarbusto Campo Limpo MLF 3081
Chamaecrista lundii (Benth.) H.S.Irwin & subarbusto Cerrado RCM 4382
Barneby
Chamaecrista ramosa (Vogel) H.S.Irwin & subarbusto Campo Limpo BW 4902
Barneby MLF 2752
Copaifera langsdorffii Desf. árvore Mata de Galeria Observada
Copaifera luetzelburgii Harms arbusto Cerrado, Carrasco/Cerradão RCM 4324
WGP 03
Copaifera martii Hayne arbusto Carrasco/Cerradão RCM 4319
Copaifera oblongifolia Mart. ex Hayne subarbusto Cerrado, Carrasco/Cerrado RCM 4285
RCM 4390
Crotalaria flavicoma Benth. subarbusto Campo Limpo RCM 4604
Crotalaria unifoliolata Benth. subarbusto Cerrado Ralo RCM 4619
Dalbergia acuta Benth. arbusto Cerrado RCM 4255
Dalbergia miscolobium Benth. árvore Carrasco/Cerrado, Observada
Carrasco/Cerradão
Dimorphandra mollis Benth. árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão RCM 4293
Dioclea coriacea Benth. trepadeira Carrasco RCM 4426
MLF 2666
Enterolobium gummiferum (Mart.) J.F.Macbr. árvore Cerrado, Carrasco/Cerrado WGP 04
Eriosema longifolium Benth. subarbusto Campo Limpo MLF 3097
Galactia grewiaefolia (Benth.) Taub. subarbusto Campo Limpo MLF 3093
Galactia stereophylla Harms. subarbusto Campo Sujo RCM 4628
Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão RCM 4358
Leptolobium dasycarpum Vogel árvore Carrasco/Cerradão, Observada
Carrasco/Cerrado
Machaerium acutifolium Vogel árvore Cerrado/Carrasco, Observada
Carrasco/Cerradão
Macroptilium sp. trepadeira Cerrado RCM 4334
Mimosa gracilis Benth. subarbusto Cerrado, Campo Limpo RCM 4593
Mimosa hypoglauca Mart. subarbusto Cerrado RCM 4262
Mimosa piptoptera Barneby subarbusto Cerrado MLF 3026
Mimosa sericantha Benth. arbusto Cerrado, Carrasco JAR 8300
MLF 2888

70
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Mimosa xanthocentra Mart. subarbusto Cerrado BW 4891
Peltogyne confertiflora (Mart. ex Hayne) subarbusto Cerrado RCM 4257
Benth.
Plathymenia reticulata Benth. árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão MLF 2827
RCM 4316
Pterodon emarginatus Vogel árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão RCM 46220
Pterodon pubescens (Benth.) Benth. árvore Cerrado RCM 4328
Senna cana (Nees & Mart.) H.S.Irwin & arbusto Carrasco/Cerradão MLF 2875
Barneby
Senna rugosa (G.Don.) H.S.Irwin & Barneby subarbusto Cerrado, Campo Sujo RCM 4253
Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão Observada
Stryphnodendron coriaceum Benth. árvore Cerrado RCM 4370
Stryphnodendron rotundifolium Mart. árvore Cerrado RCM 4389
Stylosanthes gracilis Kunth subarbusto Campo Limpo RCM 4594
Tachigali aurea Tul. árvore Cerrado MLF 3098
RCM 4436
Tachigali vulgaris L.G.Silva & H.C.Lima árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão Observada
Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke árvore Cerrado Observada
Vigna sp. trepadeira Cerrado RCM 4367
Zornia latifolia Sm. erva Vereda BW 4898
Zornia villosa (Malme) Herter erva Campo Limpo RCM 4607
Gentianaceae Chelonanthus viridiflorus (Mart.) Gilg erva Vereda MLF 2705
MLF 2778
Curtia tenuifolia (Aubl.) Knobl. erva Vereda MLF 2892
Deianira chiquitana Herzog erva Campo Limpo MLF 2780
Deianira pallescens Cham & Schltdl. erva Carrasco/Cerradão MLF 2759
Helia oblongifolia Mart. erva Vereda BW 4912
Schultesia guianensis (Aubl.) Malme erva Vereda MLF 2771
Tetrapollinia caerulescens (Aubl.) Maguire & erva Campo Limpo MLF 2691
B.M.Boom
Sinningia elatior (Kunth) Chautems subarbusto Campo Limpo MLF 3111
Icacinaceae Emmotum nitens (Benth.) Miers. árvore Carrasco/Cerradão, MLF 2757
Carrasco/Cerrado
Iridaceae Cipura paludosa Aubl. erva Campo Limpo RCM 4595
Sisyrinchium vaginatum Spreng. erva Campo Sujo Úmido, Campo BW 4918
Limpo Úmido BW 4989
Trimezia cathartica (Klatt) Niederl. erva Cerrado, Campo Sujo Seco BW 4936
Trimezia sp. erva Cerrado BW 4935
Krameriaceae Krameria argentea Mart. ex Spreng. subarbusto Campo Sujo MLF 2677
Krameria cf. tomentosa A.St.-Hil. subarbusto Cerrado RCM 4264
Lamiaceae Aegiphila verticillata Vell. árvore Carrasco Observada
Amasonia campestris (Aubl.) Moldenke subarbusto Cerrado aberto MLF 3038
Eriope cf. complicata Mart. ex Benth. subarbusto Cerrado RCM 4356
Hypenia cf. irregularis (Benth.) Harley subarbusto Campo Sujo MLF 2665
Hyptidendron cf. amethystoides (Benth.) arbusto Carrasco/Cerradão MLF 2758
Harley
Marsypianthes foliolosa Benth. subarbusto Campo Sujo MLF 2650

71
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Medusantha multiflora (Pohl ex Benth.) subarbusto Campo Sujo MLF 2643
Harley & J.F.B.Pastore
Lauraceae Aniba desertorum Mez arbusto Vereda MLF 3108
Cassytha filiformis L. trepadeira Campo Limpo Úmido, MLF 2742
Carrasco/Cerradão RCM 4313
Nectandra warmingii Meisn. árvore Vereda MLF 2783
Ocotea canaliculata (Rich.) Mez árvore Carrasco/Cerradão MLF 2764
Ocotea nitida (Meisn.) Rohwer árvore Cerradão BW 4927
MLF 2878
Ocotea xanthocalyx (Nees) Mez árvore Cerrado WGP 02
Persea aurata Miq. árvore Vereda MLF 2704
Lentibulariaceae Utricularia cf. tricolor A.St.-Hil. erva Vereda MLF 2848
Utricularia nervosa Weber ex Benj. erva Vereda BW 4900
Lindsaeaceae Lindsaea sp. erva Mata de Galeria BW 4962
Loganiaceae Antonia ovata Pohl arbusto Carrasco, Carrasco/Cerradão MLF 2862
RCM 4312
Strychnos pseudoquina A.St.-Hil. árvore Cerrado RCM 4273
Loranthaceae Psittacanthus robustus (Mart.) Mart. hemiparas Carrasco/Cerradão MLF 2756
ita
Struthanthus sp. hemiparas Cerrado RCM 4396
ita RCM 4565
Lycopodiaceae Lycopodiella cf. longipes (Grev. & Hooker) erva Vereda MLF 2851
Holub
Lythraceae Cuphea antisyphilitica Kunth subarbusto Campo Sujo, Vereda BW 4921
MLF 2698
Diplusodon thymifolius Mart. ex DC. subarbusto Carrasco MLF 2857
Lafoensia pacari A.St.-Hil. árvore Cerrado RCM 4327
Malpighiaceae Banisteriopsis malifolia (Nees & Mart.) subarbusto Cerrado RCM 4336
B.Gates
Banisteriopsis schizoptera (A.Juss.) B.Gates subarbusto Cerrado, Campo Sujo MLF 2840
RCM 4260
Byrsonima cf. dealbata Griseb. arbusto Cerrado, Carrasco RCM 4566
Byrsonima cf. rigida A.Juss. subarbusto Carrasco MLF 2863
Byrsonima coccolobifolia Kunth árvore Cerrado BW 4889
RCM 4353
Byrsonima correifolia A.Juss. subarbusto Cerrado RCM 4380
Byrsonima crassifolia (L.) Kunth árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão Observada
Byrsonima linearifolia A.Juss. subarbusto Campo Sujo MLF 3054
Byrsonima umbellata Mart. ex A.Juss. arbusto Vereda MLF 2699
Byrsonima vacciniifolia A.Juss. subarbusto Carrasco RCM 4432
Byrsonima verbascifolia (L.) DC. árvore Cerrado RCM 4289
MLF 2855
Diplopterys virgultosa (A.Juss.) W.R.Anderson trepadeira Carrasco MLF 2866
& C.C.Davis
Heteropterys aff. coriacea A.Juss. arbusto Carrasco MLF 2865
Peixotoa goiana C.E.Anderson subarbusto Cerrado MLF 2825
Peixotoa reticulata Griseb. subarbusto Cerrado RCM 4269
Malvaceae Ayenia angustifolia A.St.-Hil. & Naudin subarbusto Cerrado RCM 4365

72
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Byttneria oblongata Pohl erva Campo Sujo Úmido, Mata de BW 4919
Galeria
Eriotheca gracilipes (K.Schum) A.Robyns árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão MLF 2685
MLF 2883
Helicteres sacarolha A.St.-Hil., A.Juss. & arbusto Cerrado/Carrasco Observada
Cambess.
Hibiscus henningsianus Gürke subarbusto Vereda MLF 2789
Melochia spicata (L.) Fryxell subarbusto Cerrado, Vereda BW 4899
Pavonia rosa-campestris A.St.-Hil. subarbusto Campo Cerrado RCM 4284
Waltheria albicans Turcz. erva Vereda RCM 4282
Mayacaceae Mayaca sellowiana Kunth erva Vereda MLF 2792
Melastomataceae Acisanthera sp. erva Campo Limpo Úmido MLF 2814
Acisanthera variabilis (Naudin) Triana erva Vereda BW 4897
Cambessedesia hilariana (Kunth) DC. subarbusto Campo Limpo Úmido BW 4910
MLF 2746
Desmoscelis villosa (Aubl.) Naudin subarbusto Campo Limpo Úmido MLF 2731
Lavoisiera imbricata (Thunb.) DC. arbusto Vereda MLF 2694
Macairea radula (Bonpl.) DC. arbusto Vereda MLF 2714
Miconia chamissois Naudin arbusto Vereda MLF 2719
Miconia elegans Cogn. arbusto Vereda MLF 2849
Miconia fallax DC. arbusto Cerrado, Cerradão BW 4925
RCM 4398
Miconia herpetica DC. arbusto Cerrado, Vereda MLF 2805
RCM 4360
Miconia hirtella Cogn. árvore Mata de Galeria, Vereda BW 4959
MLF 2782
Miconia leucocarpa DC. subarbusto Cerrado RCM 4394
Miconia ligustroides (DC.) Naudin arbusto Cerrado MLF 3023
Miconia minutiflora (Bonpl.) DC. arbusto Carrasco/Cerradão MLF 2754
Miconia stenostachya DC. arbusto Cerrado, Campo Limpo MLF 3040
Úmido RCM 4615
Microlicia vestita DC. subarbusto Campo Limpo Úmido MLF 2779
Microlicia viminalis (DC.) Triana subarbusto Campo Limpo Úmido MLF 2845
Mouriri elliptica Mart. árvore Cerrado BW 4887
RCM 4245
Rhynchanthera gardneri Naudin subarbusto Vereda MLF 2700
Siphanthera cordata Pohl ex DC. erva Campo Limpo MLF 2688
Siphanthera foliosa (Naudin) Wurdack erva Vereda MLF 2839
Tococa guianensis Aubl. árvore Cerrado MLF 3072
Tococa nitens (Benth.) Triana arbusto Vereda MLF 2795
MLF 3113
Meliaceae Cedrela odorata L. árvore Mata de Galeria Observada
Guarea macrophylla Vahl subsp. tuberculata árvore Mata de Galeria BW 4920
(Vell.) T.D.Penn.
Menispermaceae Odontocarya acuparata Miers trepadeira Vereda RCM 4412
Moraceae Brosimum gaudichaudii Trécul arbusto Cerrado RCM 4326
Myristicaceae Virola urbaniana Warb. árvore Mata de Galeria BW 4957

73
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Myrtaceae Calyptranthes sp. arbusto Cerradão MLF 2879
Eucalyptus alba Reinw. ex Blume árvore Área antrópica RCM 4623
Eugenia dysenterica (Mart.) DC. árvore Cerrado/Carrasco, Cerrado Observada
Eugenia punicifolia (Kunth) DC. subarbusto Cerrado MLF 2807
RCM 4351
Eugenia stictopetala Mart. ex DC. subarbusto Cerrado MLF 3029
RCM 4352
Myrcia fenzliana O.Berg árvore Cerradão MLF 2880
Myrcia guianensis (Aubl.) DC. subarbusto Cerrado MLF 3030
Myrcia hebepetala DC. árvore Cerrado RCM 4587
Myrcia ochroides O.Berg árvore Cerrado JAR 8288
Myrcia pubescens DC. árvore Cerradão BW 4923
Myrcia pubescens DC. árvore Cerrado RCM 4585
Myrcia splendens (Sw.) DC. árvore Carrasco/Cerradão, Cerrado RCM 4624
Myrciaria sp. subarbusto Cerrado RCM 4439
Psidium bergianum (Nied.) Burret árvore Cerrado Observada
Psidium laruotteanum Cambess. árvore Cerrado RCM 4620
Psidium myrtoides O.Berg árvore Cerrado Observada
Nyctaginaceae Guapira graciliflora (Mart. ex Schimdt) árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão Observada
Lundell
Neea theifera Oerst. arbusto Cerrado, Carrasco/Cerradão MLF 3028
Ochnaceae Ouratea floribunda (A.St.-Hil.) Engl. subarbusto Cerrado RCM 4296
Ouratea hexasperma (A.St.-Hil.) Baill. arbusto Cerrado RCM 4288
Sauvagesia linearifolia A.St.-Hil. subarbusto Vereda MLF 2788
Sauvagesia racemosa A.St.-Hil. erva Vereda BW 4945
MLF 2775
Olacaceae Heisteria ovata Benth. árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão MLF 2722
WGP 01
Onagraceae Ludwigia nervosa (Poir.) Hara subarbusto Vereda MLF 2772
Opiliaceae Agonandra brasiliensis Miers ex Benth. & árvore Cerrado RCM 4292
Hook.f.
Orchidaceae Cleistes sp. erva Campo Limpo Úmido MLF 3046
Cyrtopodium blanchetii Rchb.f. erva Campo Sujo Úmido BW 4994
Cyrtopodium eugenii Rchb.f. erva Cerrado BW 4894
BW 4937
Cyrtopodium fowliei L.C.Menezes erva Campo Limpo Úmido BW 4988
Cyrtopodium parviflorum Lindl. erva Vereda, Campo Sujo BW 4976
Epistephium sclerophyllum Lindl. erva Cerrado RCM 4379
Habenaria aff. edwallii Cogn. erva Campo Limpo Úmido BW 4986
Habenaria parviflora Lindl. erva Campo Limpo Úmido BW 4942
Habenaria schwackei Barb.Rodr. erva Campo Limpo Úmido BW 4940
BW 4984
Orobanchaceae Buchnera lavandulacea Cham. & Schltdl. subarbusto Carrasco/Cerrado MLF 2823
Buchnera palustris (Aubl.) Spreng. erva Campo Limpo Úmido MLF 2816
Esterhazya splendida J.C.Mikan subarbusto Vereda MLF 2777
Oxalidaceae Oxalis densifolia Mart. & Zucc. ex Zucc. subarbusto Campo Sujo MLF 2841
Phyllanthaceae Hyeronima alchorneoides Allemão árvore Mata de Galeria Observada

74
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Phyllanthus stipulatus (Raf.) G.L.Webster erva Campo Limpo MLF 3106
Richeria grandis Vahl árvore Mata de Galeria BW 4980
Piperaceae Piper fuligineum Kunth arbusto Campo Sujo MLF 3109
Plantaginaceae Angelonia aff. arguta Benth. erva Campo Limpo RCM 4602
Angelonia crassifolia Benth. erva Campo Limpo Úmido MLF 2729
Angelonia goyazensis Benth. subarbusto Vereda, Cerrado BW 4905
RCM 4616
Scoparia dulcis L. subarbusto Vereda, Campo Limpo BW 4909
MLF 2686
Poaceae Andropogon macrothrix Trin. erva Campo Limpo Úmido MLF 2813
Andropogon virgatus Desv. erva Vereda MLF 2717
Anthaenantia lanata (Kunth) Benth. erva Campo Limpo Úmido MLF 2815
Aristida capillacea Lam. erva Vereda Observada
Aristida pendula Longhi-Wagner erva Cerrado MLF 2662
RCM 4263
Aristida setifolia Kunth erva Campo Sujo, Cerrado MLF 2830
MLF 2833
Arundinella hispida (Humb. & Bonpl. ex erva Vereda Observada
Willd.) Kuntze
Axonopus brasiliensis (Spreng.) Kuhlm. erva Campo Limpo Úmido MLF 2730
Axonopus comans (Trin. ex Döll) Kuhlm. erva Vereda Observada
Axonopus fastigiatus (Nees ex Trin.) Kuhlm. erva Campo Limpo Úmido MLF 2843
Axonopus pressus (Nees ex Steud.) Parodi erva Cerrado Observada
Echinolaena inflexa (Poir.) Chase erva Carrasco, Cerrado MLF 2873
Eragrostis guianensis Hitchc. erva Cerrado MLF 2797
Eragrostis maypurensis (Kunth) Steud. erva Campo Limpo Úmido MLF 2710
Eragrostis solida Nees erva Cerrado RCM 4276
RCM 4387
Eriochrysis laxa Swallen erva Vereda, Brejo MLF 2737
Filgueirasia arenicola (McClure) Guala erva Cerradão MLF 2877
Gymnopogon foliosus (Willd.) Nees erva Campo Sujo MLF 2656
Hyparrhenia bracteata (Humb. & Bonpl. ex erva Vereda Observada
Willd.) Stapf
Ichnanthus camporum Swallen erva Cerrado Observada
Ichnanthus procurrens (Nees ex Trin.) Swallen erva Cerrado, Campo Limpo MLF 3105
Ichnanthus sp. erva Carrasco/Cerradão MLF 2760
Loudetiopsis chrysothrix (Nees) Conert. erva Cerrado MLF 2796
Mesosetum loliiforme (Hochst.) Chase erva Campo Sujo MLF 2831
Panicum cervicatum Chase erva Campo Sujo MLF 2832
Panicum rudgei Roem. & Schult. erva Campo Limpo Úmido MLF 2744
Paspalum arenarium Schrad. erva Vereda Observada
Paspalum decumbens Sw. erva Vereda Observada
Paspalum gardnerianum Nees erva Cerrado/Vereda RCM 4570
Paspalum hyalinum Nees ex Trin. erva Campo Limpo Úmido MLF 2706
MLF 2818
Paspalum maculosum Trin. erva Campo Limpo, Vereda BW 4938
Paspalum multicaule Poir erva Vereda Observada

75
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Paspalum polyphyllum Nees erva Cerrado Observada
Paspalum stellatum Humb. & Bonpl. ex erva Campo Limpo Úmido MLF 2842
Flüggé
Sacciolepis angustissima (Hochst. ex Steud.) erva Vereda MLF 2791
Kuhlm.
Schizachyrium sanguineum (Retz.) Alston erva Cerrado RCM 4278
Sorghastrum sp. erva Campo Limpo MLF 3099
Sporobolus sp. erva Campo Limpo RCM 4606
Trachypogon macroglossus Trin. erva Vereda/Brejo MLF 2736
Trichanthecium parvifolium (Lam.) Zuloaga & erva Vereda MLF 2891
Morrone
Polygalaceae Bredemeyera barbeyana Chodat subarbusto Cerrado, Carrasco RCM 4259
MLF 2859
Caamembeca ulei (Taub.) J.F.B.Pastore erva Cerrado Ralo, Campo Sujo RCM 4631
Polygala adenophora DC. erva Campo Limpo Úmido, BW 4946
Vereda MLF 2749
Polygala carphoides Chodat erva Campo Limpo Úmido MLF 2711
Polygala celosioides Mart. ex A.W.Benn. erva Campo Limpo Úmido MLF 2712
Polygala hygrophila Kunth erva Vereda, Campo Limpo BW 4939
Úmido RCM 4414
Polygala longicaulis Kunth erva Vereda BW 4948
Polygala subtilis Kunth erva Campo Úmido MLF 2709
Polygala tenuis DC. erva Campo Limpo Úmido MLF 2748
Polygala timoutou Aubl. erva Campo Limpo Úmido MLF 2847
Coccoloba brasiliensis Nees & Mart. árvore Mata de Galeria, JAR 8292
Carrasco/Cerrado MLF 3063
Coccoloba scandens Casar. trepadeira Mata de Galeria BW 4969
Pontederiaceae Pontederia cordata L. erva Mata de Galeria BW 4973
Primulaceae Cybianthus detergens Mart. arbusto Cerrado, Carrasco/Cerrado MLF 2824
RCM 4399
Cybianthus goyazensis Mez arbusto Cerradão MLF 2890
Proteaceae Roupala montana Aubl. arbusto Cerrado Observada
Rapateaceae Cephalostemon angustatus Malme erva Campo Sujo Úmido BW 4951
Rubiaceae Alibertia edulis (Rich.) A.Rich. árvore Carrasco/Cerrado Observada
Borreria crispata (K.Schum.) E.L.Cabral & erva Campo Sujo MLF 2649
Bacigalupo
Borreria latifolia (Aubl.) K.Schum subarbusto Mata de Galeria MLF 3074
Borreria poaya (A.St.-Hil.) DC. subarbusto Campo Limpo Úmido MLF 2750
Borreria tenella (Kunth) Cham. & Schltdl. erva Campo Sujo MLF 2707
MLF 2747
Chomelia pohliana Müll.Arg. árvore Cerrado RCM 4562
Coccocypselum lanceolatum (Ruiz & Pav.) erva Campo Limpo Úmido MLF 2741
Pers.
Cordiera rigida (K.Schum.) Kuntze subarbusto Cerrado RCM 4575
Cordiera sessilis (Vell.) Kuntze arbusto Mata de Galeria MLF 3067
Declieuxia fruticosa (Willd. ex Roem. & subarbusto Cerrado, Campo Sujo, RCM 4363
Schult.) Kuntze Vereda MLF 2651
Ferdinandusa elliptica Pohl árvore Mata de Galeria, MLF 2763
Carrasco/Cerradão

76
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Ferdinandusa speciosa Pohl árvore Vereda MLF 2701
Galianthe grandifolia E.L.Cabral erva Cerrado RCM 4304
Mitracarpus steyermarkii E.L.Cabral & erva Campo Limpo Úmido MLF 3059
Bacigalupo
Pagamea plicata Spruce ex Bernth. árvore Mata de Galeria BW 4979
Palicourea coriacea (Cham.) K.Schum. subarbusto Cerrado/Carrasco, Cerrado MLF 2684
RCM 4298
Palicourea rigida Kunth arbusto Cerrado, Carrasco/Cerrado RCM 4564
Perama hirsuta Aubl. erva Campo Limpo Úmido BW 4950
Psychotria mapourioides DC. arbusto Vereda, Mata de Galeria MLF 2787
Psychotria sp. arbusto Mata de Galeria BW 4965
Retiniphyllum kuhlmannii Standl. árvore Mata de Galeria BW 4977
Richardia grandiflora (Cham & Schltdl.) erva Mata de Galeria, Cerrado BW 4974
Steud.
Staelia catechosperma K.Schum. erva Campo Sujo, Campo Limpo MLF 2647
MLF 2817
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) arbusto Cerrado, Carrasco/Cerradão MLF 4563
K.Schum. RCM 4275
Rutaceae Esenbeckia pumila Pohl arbusto Campo Sujo BW 4882
MLF 2675
Spiranthera odoratissima A.St.-Hil. subarbusto Cerrado MLF 2828
MLF 2876
Salicaceae Casearia commersoniana Cambess. subarbusto Cerrado RCM 4400
Casearia sylvestris Sw. arbusto Cerrado RCM 4357
Santalaceae Phoradendron quadrangulare (Kunth) Griseb. hemiparas Mata de Galeria BW 4958
ita
Sapindaceae Cupania paniculata Cambess. arbusto Cerradão/Carrasco RCM 4318
Serjania acutidentata Radlk. trepadeira Carrasco RCM 4429
Serjania erecta Radlk. trepadeira Cerrado, Campo Sujo RCM 4331
Serjania paradoxa Radlk. trepadeira Carrasco/Cerradão RCM 4342
Toulicia crassifolia Radlk. arbusto Cerrado JAR 8298
Toulicia tomentosa Radlk. arbusto Carrasco MLF 2889
Sapotaceae Manilkara triflora (Allemão) Monach. subarbusto Carrasco MLF 2887
Pouteria ramiflora (Mart.) Radlk. árvore Carrasco/Cerradão, Cerrado MLF 2767
RCM 4614
Pouteria subcaerulea Pierre ex Dubar. subarbusto Cerrado RCM 4295
Pouteria torta (Mart.) Radlk. árvore Cerrado, Carrasco/Cerradão BW 4880
RCM 4294
Simaroubaceae Simaba suffruticosa Engl. ex Char. erva Cerrado MLF 2808
Siparunaceae Siparuna guianensis Aubl. arbusto Mata de Galeria Observada
Solanaceae Solanum lycocarpum A.St.-Hil. árvore Cerrado BW 4930
Solanum stipulaceum Roem. & Schult. subarbusto Campo Limpo Úmido MLF 2769
Styracaceae Styrax sp. árvore Mata de Galeria BW 4967
Symplocaceae Symplocos nitens (Pohl) Benth. var. nitens árvore Mata de Galeria BW 4981
Turneraceae Piriqueta densiflora Urb. subarbusto Cerrado, Campo Sujo MLF 2679
RCM 4261
Urticaceae Cecropia pachystachya Trécul árvore Mata de Galeria Observada
Cecropia sp. árvore Vereda MLF 2853

77
Tabela 1. Continuação.

Família Espécie Hábito Habitat Coletor/nº


Velloziaceae Vellozia squamata Pohl subarbusto Cerrado aberto RCM 4346
Verbenaceae Casselia glaziovii (Briq. & Moldenke) erva Cerrado MLF 3033
Moldenke
Lippia acutidens Mart. subarbusto Vereda, Mata de Galeria MLF 2671
MLF 2786
Lippia lacunosa Mart. & Schauer subarbusto Cerrado MLF 2826
Lippia lupulina Cham. subarbusto Cerrado BW 4993
Lippia origanoides Kunth subarbusto Cerrado, Campo Sujo RCM 4256
MLF 2674
Stachytarpheta dawsonii Moldenke subarbusto Carrasco RCM 4428
Stachytarpheta martiana Schauer subarbusto Campo Sujo MLF 2644
Stachytarpheta sericea S.Atkins subarbusto Carrasco MLF 2858
Vitaceae Cissus erosa Rich. subsp. erosa trepadeira Vereda MLF 2720
MLF 2854
Vochysiaceae Callisthene major Mart. & Zucc. árvore Carrasco RCM 4425
Callisthene minor Mart. arbusto Cerrado JAR 8287
Qualea grandiflora Mart. árvore Cerrado RCM 4572
Qualea parviflora Mart. árvore Cerrado, Carrasco/Cerrado RCM 4330
RCM 4332
Salvertia convallariodora A.St.-Hil. árvore Cerrado Observada
Vochysia elliptica Mart. árvore Carrasco, Cerrado JAR 8291
RCM 4349
Vochysia gardneri Warm. arbusto Carrasco JAR 8301
RCM 4430
Vochysia pyramidalis Mart. árvore Mata de Galeria Observada
Vochysia rufa Mart. árvore Cerrado, Cerrado/Carrasco RCM 4271
Vochysia thyrsoidea Pohl subarbusto Cerrado, Carrasco/Cerrado Observada
Xyridaceae Abolboda poarchon Seub. erva Campo Limpo Úmido, BW 4941
Vereda
Xyris asperula Mart. erva Campo Limpo MLF 2687
Xyris fallax Malme erva Vereda BW 4911
Xyris hymenachne Mart. erva Vereda MLF 2793
Xyris savanensis Miq. erva Campo Limpo Úmido MLF 2836
MLF 2695
ervas a serem encontradas nas áreas autóctones da Os resultados florísticos apresentados revelam uma
Fazenda. expressiva riqueza florística regional contida na
Fazenda Trijunção, apesar dos dados ainda serem
Não obstante, apesar dos esforços de coletas de
material botânico em campo terem acontecido em preliminares, com possibilidades de se encontrar
período curto, os métodos adotados foram mais espécies com potencial econômico. Das espécies
já registradas, pelo menos 129 (pertencentes a 57
adequados para um estudo preliminar, revelando
famílias) ou cerca de 25,6% do total, apresentam
uma flora rica e com muitos elementos ainda a serem
catalogados. Por essa razão, os dados aqui algum potencial econômico. A bibliografia
apresentados são consistentes, pois evidenciam a disponibiliza várias informações sobre essas espécies
(p.ex. Almeida et al. 1998, Silva 1998, Lorenzi &
riqueza daquela flórula, embora ainda estejam
Matos 2002, Maia-Silva et al. 2012) e, na Tabela 3,
incompletos em relação à riqueza florística total
presente na Fazenda. estão disponibilizadas algumas delas. A Tabela 3 foi
organizada por ordem alfabética de famílias
Alternativas de Uso
78
Tabela 2. Distribuição dos gêneros e espécies para as famílias Alternativas para o uso sustentável dos recursos
mais ricas em espécies na Fazenda Trijunção, Bahia.
naturais, em áreas distantes dos grandes centros
Gêneros Espécies urbanos, como é a situação da Fazenda Trijunção,
Família devem sempre levar em conta a diversificação das
Número % Número %
atividades desenvolvidas na propriedade em função
Fabaceae 30 9,8 54 10,8 das características e peculiaridades da própria área.
Poaceae 22 7,2 40 8 A beleza cênica inerente às paisagens naturais dessa
Asteraceae 24 7,8 37 7,4 Fazenda é um fator de estímulo ao turismo ecológico
Rubiaceae 17 5,5 24 4,8 ou rural, dependente, entre outros fatores, da
Melastomataceae 11 3,6 23 4,6 instalação de estrutura adequada de hospedagem,
Cyperaceae 7 2,3 18 3,6 atividades de lazer e transporte para os visitantes. O
Myrtaceae 6 2 16 3,2 extrativismo direto de plantas empregadas no
Malpighiaceae 5 1,6 15 3 artesanato, na medicina popular e na alimentação
Euphorbiaceae 5 1,6 13 2,6 também pode vir a ser utilizado, desde que sejam
Eriocaulaceae 5 1,6 11 2,2 avaliados o manejo e a capacidade de suporte dessas
Apocynaceae 8 2,6 10 2 espécies. Vale lembrar também o uso direto da flora
Vochysiaceae 4 1,3 10 2 nativa como pastagem e, naturalmente, o uso
Polygalaceae 3 1 10 2 agrícola e pecuário da terra, considerando ações de
Subtotal 147 47,9 281 56,1 sustentabilidade da utilização e a capacidade de
Outras 84 famílias 160 52,1 220 43,9 suporte dos recursos do solo e da vegetação.
Total geral 307 100 501 100
Essas estratégias demandam análises mais
aprofundadas em estudos de longo prazo sobre o
botânicas, contendo os nomes científicos, nomes extrativismo sustentado, da domesticação de
populares (ou comuns) e os potenciais usos das algumas espécies, com eventuais plantios de
espécies. enriquecimento e do manejo ambiental para
Além dos usos positivos, até aqui indicados, na flórula ecoturismo em áreas antropizadas, buscando
da Fazenda já foram reveladas algumas espécies de transformar gradualmente o modelo de uso atual em
plantas reputadas como tóxicas (Matos et al. 2011), outras formas de uso sustentável. Isto pode-se
cuja indicação sempre é importante para que se conseguir por meio de mudanças no gerenciamento
tomem os devidos cuidados. Entre as mais para integrar e conservar os recursos naturais locais,
significativas estão Stryphnodendron adstringens, buscando parcerias com centros de pesquisa e
Stryphnodendron coriaceum e Stryphnodendron universidades da região, além do marketing positivo
rotundifolium, sendo que a primeira delas está citada de produtos alternativos. Dessa maneira, sugerem-se
na Tabela 3. Espécies de Psychotria e outras alternativas diferenciadas para cada paisagem na
Euphorbiaceae, Solanaceae e Asteraceae, que Fazenda Trijunção. Essas alternativas vão depender
possivelmente podem ocorrer na área, deverão da ocupação atual e da capacidade de suporte que
revelar outras plantas com estas características. cada ambiente poderá oferecer.
Também foram registradas plantas tipicamente Pelo Brasil Central, os Campos Limpos, por exemplo,
introduzidas, e a presença de Eucalyptus alba com pouca frequência ocorrem em áreas planas com
(eucalipto) é um bom exemplo. Espécies ruderais solos profundos, como acontece em certos locais na
também foram coletadas como Polycarpaea Fazenda. Em outras regiões, essa fitofisionomia
corymbosa e Scoparia dulcis (Tabela 1). Por certo há predomina em solos rasos nas encostas das
mais plantas com essas características, mas apenas chapadas, nos olhos de água, ou circundando
por meio de um trabalho sistemático de coletas é que Veredas. A fisionomia Campo Limpo ocorre em
novas ocorrências poderão ser reveladas. ambas as circunstâncias no Espigão Mestre do São
Francisco e na Fazenda Trijunção, em particular. Na
Zoneamento e alternativas de uso sustentável dos
Fazenda, essa paisagem acontece de modo peculiar
recursos naturais
em extensas áreas planas, conforme já comentado.

79
Tabela 3. Espécies com potencial econômico encontradas na Fazenda Trijunção, Bahia. Ver siglas no final da tabela.

Espécie Nome popular Usos


AMARANTHACEAE
Gomphrena arborescens L.f. Paratudinho, Paratudo Med
Gomphrena virgata Mart. Infalível Med
AMARYLLIDACEAE
Habranthus sylvaticus Herb. Orn
ANACARDIACEAE
Anacardium humile A.St.-Hil. Cajuí, Cajuzinho Ali/Api/Fau/Med/Tan
Tapirira guianensis Aubl. Pau-pombo Api/Mad/Orn
ANNONACEAE
Annona crassiflora Mart. Araticum Ali/Fau/Med/Orn
Cardiopetalum calophyllum Schltdl. Imbirinha Fau/Ma/Orn
Duguetia furfuracea (A.St.-Hil.) Saff. Pinha-de-guará Ali/Med
Xylopia aromatica (Lam.) Mart. Pimenta-de-macaco Ali/Con/Fib/Med/Orn
Xylopia emarginata Mart. Pindaíba-d’água Fau/Mad
Xylopia sericea A.St.-Hil. Pindaíba, Pimenta-da-costa Con/Fib/Mad/Med/Orn
APOCYNACEAE
Aspidosperma macrocarpon Mart. Peroba-do-campo Api/Art/Orn
Aspidosperma tomentosum Mart. Peroba-do-campo Art/Mad/Orn
Hancornia speciosa Gomes Mangaba Ali/Fau/Exu/Med
Himatanthus obovatus (Müll.Arg.) Woodson Lírio-do-campo, Pau-de-leite, Tiborna Mad/Med/Orn
ARALIACEAE
Schefflera vinosa (Cham. & Schltdl.) Frodin & Fiaschi Mandiocão Api/Fau/Mad/Orn/Tin
ARECACEAE
Euterpe oleracea Mart. Açai Ali/Orn
Mauritia flexuosa L.f. Buriti Ali/Art/Fau/Ole/Orn
Mauritiella armata (Mart.) Burret Buritirana, Xiriri Ali/Fau/Orn
ASTERACEAE
Acanthospermum australe (Loefl.) O.Kuntze Carrapicho Med
Achyrocline alata DC. Macela, Marcela Med
Eremanthus glomerulatus Less. _ Orn
Moquiniastrum polymorphum (Less.) G. Sancho Candeia Mad/Orn
Piptocarpha rotundifolia (Less.) Baker Macieira Api/Art/Cor/Mad/Med
Pseudobrickellia brasiliensis (Spreng.) R.M.King & H.Rob. Arnica-do-mato Med
Vernonanthura ferruginea (Less.) H.Rob. Assa-peixe Api/Med
BIGNONIACEAE
Handroanthus ochraceus (Cham.) Mattos Ipê-amarelo Api/Art/Mad/Med
Tabebuia aurea (Silva Manso) Benth. & Hook.f. ex Caraíba, Ipê-amarelo Api/Mad/Med/Orn
S.Moore
Zeyheria montana Mart. Pó-de-mico, Cinco-folhas, Bolsa-de-pastor Api/Art//Med/Orn

BIXACEAE
Cochlospermum regium (Mart. ex Schrank.) Pilg. Algodão-do-campo Med/Orn
BURSERACEAE
Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Almecegueira Fau/Mad/Med/Orn
CALOPHYLLACEAE
Calophyllum brasiliense Cambess. Landim, Guanandi Api/Fau/Mad/Med/Orn
Kielmeyera coriacea Mart. & Zucc. Pau-santo Api/Cor/Med/Orn/Tin

80
Tabela 3. Continuação.

Espécie Nome popular Usos


Kielmeyera lathrophyton Saddi Pau-santo-da-serra Mad/Orn
Kielmeyera rubriflora Cambess. Pau-santo Api/Cor/Orn
Kielmeyera variabilis Mart.& Zucc. Pau-de-são-josé Mad/Med/Orn
CARYOCARACEAE
Caryocar brasiliense Cambess. Pequi, Piqui Ali/Fau/Mad
CELASTRACEAE
Plenckia populnea Reissek Marmelinho Mad/Orn
Salacia crassifolia (Mart. ex. Schult.) G.Don Bacupari Ali/Art
Salacia elliptica (Mart. ex. Schult.) G.Don Bacupari Ali/Fau/Mad
Tontelea micrantha (Mart. ex Schult.) A.C.Sm. Sapotá Ali/Fau
CHRYSOBALANACEAE
Couepia grandiflora (Mart. & Zucc.) Benth. & Hook.f. Fruta-de-ema Api/Fau/Mad/Med/Orn
Exellodendron cordatum (Hook.f.) Prance Cariperana Api/Fau/Mad
Hirtella ciliata Mart. & Zucc. _ Api/Fau/Mad/Orn
COMBRETACEAE
Combretum leprosum Mart. Mofumbo Med
Terminalia fagifolia Mart. Capitão Mad/Orn
CONNARACEAE
Connarus suberosus Planchon Corticeira Cor/Med
Rourea induta Planchon Pau-de-porco Art/Med
CONVOLVULACEAE
Evolvulus lagopodioides Meisn. Pom-pom Art
COSTACEAE
Costus spiralis (Jacq.) Roscoe Canafiche Ali/Med
CYPERACEAE
Rhynchospora globosa (Kunth) Roem. & Schult. _ Art
DILLENIACEAE
Davilla elliptica A.St.-Hil. Lixeirinha, Sambaibinha Api/Med
ERIOCAULACEAE
Syngonanthus cf. gracilis (Bong.) Ruhland Sempre-viva Art
Syngonanthus nitens Ruhland Capim-dourado Art
ERYTHROXYLACEAE
Erythroxylum suberosum A.St.-Hil. Mercúrio-do-campo Api/Cor/Mad/Tin
EUPHORBIACEAE
Croton goyazensis Müll.Arg. Pé-de-perdiz Med
Maprounea guianensis Aubl. Vaquinha, Curtideira Mad/Med/Orn/Tin
FABACEAE
Andira cujabensis Benth. Pau-de-morcego Api/Fau/Mad/Med
Andira vermifuga (Mart.) Benth. Angelim Med
Bowdichia virgilioides Kunth Sucupira-preta Api/Mad/Med/Orn
Calliandra dysantha Benth. Flor-do-cerrado Med/Orn
Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip Vassourinha Art
Copaifera langsdorffii Desf. Pau-d’óleo, Copaiba Api/Mad/Med/Orn/Tin
Dalbergia miscolobium Benth. Jacarandá-do-cerrado Art/Mad/Orn/Tin

81
Tabela 3. Continuação.

Espécie Nome popular Usos


Dimorphandra mollis Benth. Faveiro, Fava-de-anta Mad/Med/Orn/Tan
Enterolobium gummiferum (Mart.) J.F.Macbr. Vinhático-cascudo Cor/Mad/Med
Hymenaea stigonocarpa Mart. ex Hayne Jatobá-do-cerrado Ali/Fau/Mad/Med
Leptolobium dasycarpum Vogel Chapadinha Api/Cor/Mad/Orn
Machaerium acutifolium Vogel Jacarandá-do-campo Mad/Med/Orn/Tin
Plathymenia reticulata Benth. Vinhático-do-campo Art/Mad/Orn/Tin
Pterodon emarginatus Vogel Sucupira-branca Mad/Med/Orn/Tin
Pterodon pubescens (Benth.) Benth. Sucupira-branca Mad/Med
Senna rugosa (G.Don.) H.S.Irwin & Barneby Fedegoso Med
Stryphnodendron adstringens (Mart.) Coville Barbatimão Api/Mad/Med/Tan/Tin
Tachigali aurea Tul. Carvoeiro, Tartarena Api/Mad/Med/Orn
Tachigali vulgaris L.G.Silva & H.C.Lima Carvoeiro, Pau-bosta Api/Mad/Tin
GENTIANACEAE
Deianira chiquitana Herzog Fel-da-terra Art/Orn
ICACINACEAE
Emmotum nitens (Benth.) Miers. Sobre Fau/Mad
LAMIACEAE
Aegiphila verticillata Vell. Fruto-de-papagaio Api/Cor/Ole
LOGANIACEAE
Strychnos pseudoquina A.St.-Hil. Quina-do-cerrado Cor/Med
LORANTHACEAE
Psittacanthus robustus (Mart.) Mart. Erva-de-passarinho Med
LYTHRACEAE
Lafoensia pacari A.St.-Hil. Pacari Mad/Med/Orn
MALPIGHIACEAE
Byrsonima coccolobifolia Kunth Murici-vermelho Ali/Fau
Byrsonima crassifolia (L.) Kunth Murici Api/Fau
Byrsonima verbascifolia (L.) DC. Murici Ali/Api/Fau
Peixotoa reticulata Griseb. Marmelo Med
MALVACEAE
Eriotheca gracilipes (K.Schum) A.Robyns Paineira-do-campo Fib/Mad/Orn
MELASTOMATACEAE
Lavoisiera imbricata (Thunb.) DC. Rama-verde Art/Orn
Macairea radula (Bonpl.) DC. 0
Microlicia viminalis (DC.) Triana Coronaria Art/Orn
Siphanthera cordata Pohl ex DC. 0 Art/Orn
MELIACEAE
Cedrela odorata L. Cedro, Cedro-branco Mad/Med/Orn
MORACEAE
Brosimum gaudichaudii Trécul Mama-cadela Ali/Fau/Med
MYRTACEAE
Eugenia dysenterica (Mart.) DC. Cagaita Ali/Cor/Fau/Med/Orn
Eugenia punicifolia (Kunth) DC. Murta, Muta Ali/Med
Myrcia pubescens DC. Pimenteira Fau/Mad/Orn
Psidium myrtoides O.Berg Araçá-de-veado Fau

82
Tabela 3. Continuação.

Espécie Nome popular Usos


OCHNACEAE
Ouratea hexasperma (A.St.-Hil.) Baill. Cabelo-de-negro Med
OPILIACEAE
Agonandra brasiliensis Miers ex Benth. & Hook.f. Pau-marfim, Quina-branca Cor/Fau/Mad/Med/Tin
OROBANCHACEAE
Esterhazya splendida J.C.Mikan Orn
OXALIDACEAE
Oxalis densifolia Mart. & Zucc. ex Zucc. Azedinha Med
PHYLLANTHACEAE
Hyeronima alchorneoides Allemão Licurana Mad
PLANTAGINACEAE
Scoparia dulcis L. Trapixaba, vassourinha Med
POACEAE
Echinolaena inflexa (Poir.) Chase Capim-flexinha Art/For
PROTEACEAE
Roupala montana Aubl. Carne-de-vaca Api/Art/Orn
RUBIACEAE
Alibertia edulis (Rich.) A.Rich. Marmelada, Marmelada-de-cachorro Ali/Fau
Palicourea coriacea (Cham.) K.Schum. Douradinha Med
Palicourea rigida Kunth Gritadeira, Bate-caixa Art/Fau/Orn
Tocoyena formosa (Cham. & Schltdl.) K.Schum. Genipapo-bravo Fau/For/Orn
RUTACEAE
Esenbeckia pumila Pohl Guarantã Art
Spiranthera odoratissima A.St.-Hil. Manacá Med/Orn
SALICACEAE
Casearia sylvestris Sw. Erva-de-teiú, Pé-torto Fau/For/Mad/Med
SAPINDACEAE
Serjania erecta Radlk. Tingui-cipó, Retrato-de-teiú Api/Art/Med
SAPOTACEAE
Pouteria ramiflora (Mart.) Radlk. Curriola, Grão-de-galo Ali/Mad/Med/Orn
Pouteria torta (Mart.) Radlk. Curriola Ali/Fau/Mad/Orn
SIPARUNACEAE
Siparuna guianensis Aubl. Negramina, Capitiú Med
SOLANACEAE
Solanum lycocarpum A.St.-Hil. Lobeira, Fruta-de-lobo Fau/Med
URTICACEAE
Cecropia pachystachya Trécul Imbaúba, Embaúba Fau/Mad/Med/Orn
VELLOZIACEAE
Vellozia squamata Pohl Canela-de-ema Art/Fib/For/Med/Orn
VERBENACEAE
Lippia origanoides Kunth Alecrim-de-tabuleiro Med
VOCHYSIACEAE
Qualea grandiflora Mart. Pau-terra-grande Api/Art/Mad/Med/Tin
Qualea parviflora Mart. Pau-terra-roxo Api/Mad/Med
Salvertia convallariodora A.St.-Hil. Bate-caixa Art/Mad/Med/Orn

83
Tabela 3. Continuação.
Espécie Nome popular Usos
Vochysia elliptica Mart. Pau-doce Art/Orn
Vochysia rufa Mart. Pau-doce Art/Med/Orn
Vochysia thyrsoidea Pohl Gomeira Art/Exu/Mad/Orn
XYRIDACEAE
Xyris asperula Mart. Besourão Art
Xyris hymenachne Mart. Pirequinho-amarelo Art
Xyris savanensis Miq. 0 Art

- Plantas alimentícias: Plantas cujos frutos, sementes - Plantas produtoras de fibras ou têxteis: produzem
ou palmitos fazem parte da dieta da população fibras utilizadas na produção de tecidos, redes,
regional. cordas, chapéus ou embiras.
- Plantas apícolas: Plantas que fornecem néctar ou - Plantas forrageiras: utilizadas como alternativa
pólen de boa qualidade e quantidade às abelhas. alimentar para o gado.
- Artesanato: Espécies utilizadas em trabalhos - Madeireiras: Espécies utilizadas nas serrarias locais
manuais. ou regionais.
Várias outras espécies de gramíneas e ciperáceas - Plantas medicinais: utilizadas na medicina caseira ou
também são utilizadas na região. mesmo em conjunto com a medicina tradicional em
- Plantas condimentares: aromatizantes e corantes, tratamentos fitoterápicos.
utilizadas como tempero, conferem aroma ou sabor - Plantas produtoras de óleos e gorduras: produzem
aos alimentos. óleos comestíveis ou para outros fins.
- Plantas corticeiras: possuem cortiça no tronco. - Plantas ornamentais: Espécies já utilizadas ou
- Plantas com exsudatos: Produzem látex, resinas, sugeridas para utilização no paisagismo, relevantes
gomas ou bálsamo, não só pelas suas folhagens, mas também pelas
geralmente, no tronco. floradas ou mesmo pelo porte da planta.
- Plantas usadas na alimentação dos animais silvestres: - Plantas taníferas: possuem taninos na casca ou no
Constituem a dieta lenho. Muito usadas em curtumes no processo de
alimentar básica de animais autóctones como a curtição de couro.
capivara, queixada, cateto ou caititu, paca, cotia, tatu - Plantas tintoriais: Dessas plantas, podem ser
e aves como o mutum, jacu, perdiz, jaó e pombas extraídos corantes diversos.
entre outras.
Fontes: Almeida et al. (1988); Silva (1998).

Ambientes como esse têm sido relatados como um Assim, além do uso para pastagem nativa pelo gado,
dos locais preferidos para o forrageamento para as formações campestres das Fazendas Trijunção
muitos animais nativos. Nas visitas realizadas nessa apresentam especial interesse para conservação pela
área foram observados sinais da presença desses suas características ainda muito próximas das
animais, tais como pegadas, fezes e evidências diretas originais, lembrando que devem ser observados
de pastejo. cuidados especiais como rotação de áreas e
verificações da capacidade de suporte. Destaca-se a
A criação de exemplares da fauna silvestre, como
veados e emas em regimes semi-extensivos, com importância dessas áreas devido à sua rara
suplementação alimentar, pode tornar esses Campos ocorrencia em relação ao bioma Cerrado. Entretanto,
o conhecimento botânico desta flórula ainda é
muito atrativos para o turismo uma vez que esses
preliminar, embora sejam bastante comuns
belos e vistosos animais raramente são avistados pelo
cidadão comum. Porém, para este fim, não se regionalmente. Apesar da aparente homogeneidade
recomenda a introdução de animais exóticos, sendo florística e fitofisionômica da paisagem local, devido
à sua grande extensão contínua, revelou-se uma
que introduções desse tipo, mundo afora, quase
significativa riqueza que se soma aos planos de
sempre resultam em alterações ou danos ambientais
sérios e de difícil controle. conservação regional capitaneados pela presença do

84
Parque Nacional Grande Sertão Veredas, no vizinho Cerrado, com elementos de Caatinga, e um
estado de Minas Gerais. aditamento significativo às funções de conservação
do Parque Grande Sertão Veredas. Além do mais, por
As observações de campo realizadas foram
meio de parcerias estabelecidas com instituições de
suficientes para constatar e prever a ocorrência de
ensino e pesquisa, o local poderia, inclusive, atuar
espécies vegetais raras, endêmicas, novas citações
como base para ministrar cursos de campo de
de ocorrência para os Estados da Federação em
ecologia, botânica e conservação ambiental. Ampliar
questão e, até mesmo, espécies novas que ali possam
o treinamento nesses temas deverá atuar como um
haver, ainda não descritas pela ciência. Por esses
dispersor do conhecimento e do respeito que merece
motivos, pode-se afirmar que a área da Fazenda é um
o importantíssimo bioma Cerrado.
importante repositório autóctone da flora do

Agradecimento
A Jeanine Maria Felfili (in memoriam), a quem
homenageamos pela significativa participação no
planejamento deste trabalho, com grande
contribuição na primeira publicação sobre estes
dados há mais de uma década.

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da região do espigão mestre do São Francisco, Bahia
e Minas Gerais. Boletim do Herbário Ezechias Paulo
Heringer. v.6, p.38-94.
Mendonça, R. C., Felfili, J. M., Walter, B. M. T.,
Silva-Júnior, M. C., Rezende, A. V., Filgueiras, T. S.,

87
Reuber Albuquerque Brandão
Paula Ferreira Leão
Leonardo Gedraite
Reuber Albuquerque Brandão
Paula Ferreira Leão
Leonardo Gedraite

INTRODUÇÃO corpos d’água, como riachos, poças permanentes ou


temporárias e brejos. Nestes locais, os anuros vocal-
Anfíbios como janelas para a biodiversidade
izam, formam casais em amplexo e desovam. Os
Os Anfíbios são divididos em três grandes Ordens, anuros apresentam diversos modos reprodutivos,
denominadas Anura (sapos, rãs e pererecas), Cauda- que variam em função do local de oviposição, car-
ta (salamandras) e Apoda ou Gymnophiona (cecílias acterísticas das desovas, desenvolvimento dos giri-
e cobras-cegas) (Duellman & Trueb 1986). Destas, a nos, período de eclosão dos ovos e existência ou não
ordem Anura é a mais diversa, contando com aprox- de cuidado parental, totalizando 39 modos reprodu-
imadamente 6894 espécies em todo o mundo, mas tivos reconhecidos até o momento, sendo que 28
com riqueza concentrada principalmente nas destes modos reprodutivos já foram registrados en-
regiões tropicais do planeta (Frost 2018). A grande tre os anuros do Brasil (Duellman & Trueb 1993;
maioria das mais de 700 espécies de salamandra do Haddad & Prado 2005). No Cerrado, a savana mais
mundo ocorre no hemisfério norte, com algumas diversa do mundo em anfíbios, são conhecidos 15
ocorrências no norte da América do Sul. Aparente- modos reprodutivos (Santoro & Brandão 2014).
mente, essa distribuição reflete um padrão antigo de
Os anfíbios, em função de algumas características
origem e dispersão do grupo (Duellman 2002). As
fisiológicas, como o ciclo de vida complexo, ovos
cecílias, por outro lado, estão distribuídas principal-
sem casca e a pele permeável, apresentam limita-
mente no Hemisfério Sul, notadamente em áreas
ções para a ocupação de ambientes áridos. Desta
que faziam parte do super-continente de Gondwana
forma, a mobilidade destes animais é relativamente
(Duellman 1999). São conhecidas atualmente 207
baixa, principalmente em interflúvios e fisionomias
espécies, 33 delas no Brasil.
mais secas do Cerrado. Por outro lado, as formações
Embora as três ordens sejam conhecidas no Brasil, de Cerrado com mais espécies são as formações
grande parte dos anfíbios brasileiros pertencem à campestres úmidas e não as formações florestais
Ordem Anura, cujas espécies são mais conhecidas (Brandão & Araujo 2001), sugerindo que a fauna de
sob os aspectos reprodutivos, taxonômicos, ecológi- anuros do Cerrado é uma fauna característica de
cos e biogeográficos que Salamandras e Cecílias. Os formações abertas.
Anuros, em geral, iniciam sua reprodução na estação
A baixa mobilidade dos anfíbios é um dos fatores
chuvosa, formando agregações nas proximidades de
que explicam a alta taxa de endemismos de anuros

91
no Cerrado (Valdujo et al. 2012). Cerca de 50% dos como excelentes bioindicadores da “saúde” do am-
sapos do Cerrado são restritos ao bioma. Ambientes biente, principalmente dos recursos hídricos (Vitt et
de altitude são reconhecidamente locais de ende- al. 1990).
mismos em anuros no Cerrado, como a Chapada dos Em contraste com a perda de populações que diver-
Veadeiros (Santoro & Brandão 2014) e a Serra do sas espécies de anfíbios sofrem, o número total de
Espinhaço (Eterovick & Sazima 2004). espécies descritas de anfíbios supera o total conhe-
No entanto, a despeito da importância do Cerrado cido de mamíferos (Glaw & Köhler 1998). Além dis-
para a conservação dos anfíbios, grandes porções do so, o número de espécies descritas anualmente
bioma já foram desmatadas e a cobertura de áreas apresenta uma clara tendência de incremento, devi-
protegidas atual não é suficiente para garantir a do ao aumento dos estudos em países neotropicais.
conservação desta fauna. Recentemente, o estudo Entre 1988 e 1998, 78% das espécies descritas em
dos padrões de endemismos e a modelagem de todo o globo foram espécies neotropicais (Glaw &
áreas potenciais para ocorrência de espécies Köhler 1998) e esse padrão tem se mantido desde
endêmicas tem sido utilizadas como uma ferramen- então (Diniz-Filho et al. 2004).
tas importantes para políticas públicas, como o re- Os anfíbios no Cerrado
conhecimento de áreas prioritárias para
conservação (Colli 2007, Azevedo et al. 2016) Informações sobre a riqueza e a biologia de anfíbios
que ocorrem no Cerrado estão crescendo rapida-
Declínios em populações de anfíbios têm sido regis- mente nos últimos anos. Embora ainda sejam mais
trados em várias localidades do globo. Este declínio, comuns os estudos desenvolvidos na Amazônia ou
considerado uma resposta ao aumento da degrada- na Mata Atlântica (p. ex. Crump 1971; Duellman
ção ambiental em todo o mundo, é parte da crise 1978; Heyer et al. 1990; Haddad & Sazima 1992
global da diversidade (Blaunstein 1994). Anfíbios são dentre outros), diversos estudos recentes tem trata-
afetados pela contaminação das águas por pestici- do da diversidade de anfíbios do Cerrado (p.ex.
das e metais pesados, introdução de espécies exóti- Valdujo et al. 2012; Valdujo et al. 2013; Toledo &
cas, mudanças climáticas globais, desmatamentos e Batista 2012), da diversidade de modos reprodutivos
diminuição da camada de ozônio (Phillips 1990), (Santoro & Brandão 2014; Vasconcelos & Rossa-
sendo que a perda de habitats naturais é provavel- Feres 2005; Conte et al. 2013; Kopp et al. 2010;
mente o fator mais importante no declínio das pop- Provete et al. 2011), taxonomia (Brandão et al. 2007;
ulações de anfíbios (Pechmann & Wilbur 1994, Brandão et al. 2013) e história natural (Magalhães et
Brandão & Araujo 2008, Becker et al. 2010). Por al. 2016).
outro lado, doenças emergentes, com destaque para
o fundo quitrídio Batrachochytrium dendrobatidis Devido ao isolamento histórico do interior do Brasil
parecem estar associados a declínios recentes em durante grande parte do século XX, o estudo dos
diversas partes do globo (Becker & Zamudio 2011, anfíbios brasileiros desenvolveu-se inicialmente ao
Berger et al. 1998). A ausência de sítios reproduti- longo do litoral ou do curso de penetração dos
vos, abrigos e disponibilidade de alimento afetam grandes rios (Amazonas e Paraná). Desta forma, a
negativamente a densidade de anfíbios (Stewart & anfibiofauna das regiões interioranas permaneceu
Pough 1983; Donnely 1989). Fortes geadas podem pouco conhecida, apesar do aumento dos esforços
ter causado a extinção de algumas espécies de de coleta observados em áreas de Cerrado e Caatin-
anuros em localidades do Sudeste (Heyer et al. 1988) ga (Haddad et al. 1988, Colli et al. 2002).
e perda de diversidade associada às mudanças Trabalhos básicos com anfíbios, como listagens de
climáticas são esperadas, incluindo o Cerrado (Silva- espécies e informações sobre sua história natural,
no et al. 2016). Devido à sua pele permeável e com são extremamente relevantes para demonstrar à
ovos aquáticos envolvidos em uma delgada camada sociedade o valor da biodiversidade do Cerrado,
gelatinosa que podem absorver rapidamente sub- influenciando a tomada de políticas públicas para a
stâncias do meio circundante, além de exigências na conservação desses valores e para promover mu-
qualidade de microhabitats para a reprodução e danças na forma como a sociedade se comporta
ciclo de vida curto, os anfíbios, têm sido apontados diante de tais organismos. Por outro lado, ainda

92
existe uma grande carência de informações sobre sos, como a Amazônia e a Mata Atlântica, a riqueza
aspectos ecológicos, taxonômicos e de conservação registrada em algumas localidades do Cerrado é
da fauna de anfíbios do Cerrado (Haddad & Sazima comparável à diversidade de algumas localidades da
1992, Colli et al. 2002). Mata Atlântica (Florestas estacionais) e localidades
de formações abertas da Amazônia (Savanas
Estudando padrões de distribuição de anfíbios na
Amazônicas, Lavrado e Campinaranas). Quando
América do Sul no final dos anos de 1980, Heyer
comparada à diversidade de outras formações aber-
(1988) observa que o conhecimento do grupo no
tas da América do Sul, como Caatinga (entre 16 a 26
Cerrado e Caatinga era praticamente inexistente
espécies por localidade), o Chaco (22 a 34 espécies
naquele momento, não se sabendo sequer se a
por localidade), as savanas amazônicas (18 a 20), o
anurofauna dos dois domínios era distinta ou se
Cerrado apresenta a maior diversidade alfa, com 20
compartilhavam espécies entre si e com o Chaco,
a 55 espécies por localidade (Santoro & Brandão
devido à continuidade das formações abertas e se-
2014).
cas da América do Sul (Heyer 1988, Ab’ Saber 1977).
Devido às lacunas de conhecimento do Cerrado não Vanzolini (1988), após analisar a fauna de lagartos
era possível caracterizar a herpetofauna do Cerrado no Cerrado e Caatinga, conclui que a herpetofauna
até então (Colli et al. 2002). Áreas razoavelmente destes biomas apresentam baixos níveis de diversi-
amostradas estão próximas a centros urbanos, como dade e endemismos, não apresentando elementos
Distrito Federal, Goiânia, Cuiabá e Belo Horizonte, característicos. Esta afirmação foi extrapolada para
enquanto áreas interioranas continuam largamente a herpetofauna da Diagonal Seca da América do Sul
pouco conhecidas. O oeste baiano e as regiões norte (Heyer 1988, Colli et al. 2002). Com relação aos
e noroeste de Minas Gerais são áreas prioritárias anuros, foi sugerida uma maior similaridade das co-
para realização de inventários da herpetofauna, vis- munidades do Cerrado com aquelas da Caatinga e
to que ainda são localidades praticamente descon- Pantanal, do que com as comunidades presentes em
hecidas (Colli 2005). Das áreas consideradas biomas florestais (Bastos et al. 2003), uma
prioritárias, apenas nove em quatorze regiões foram proposição que supõe baixa diferenciação da anuro-
definidas a partir do conhecimento disponível, o fauna do Cerrado. No entanto, estudos recentes
restante sendo definido em função das ameaças mostram que Cerca de 50% da fauna de anuros do
potenciais (Colli 2007). Com o incremento dos estu- Cerrado é endêmica do bioma, uma proporção de
dos faunísticos no Cerrado, muito se aprendeu sobre endemismo similar à observada na flora herbácea.
os anfíbios do bioma. Estudos prévios indicavam a Além disso, as descrições recentes de anuros no
ocorrência de 141 anfíbios para o bioma (Bastos Cerrado são referentes a espécies endêmicas, inclu-
2005). O número de espécies com registros conheci- indo alguns endemismos restritos (p.ex. Araújo et al.
dos para o Cerrado era de 209 espécies (Valdujo et 2009).
al. 2012), mas com um potencial de ocorrem 271 Existe relação negativa entre a similaridade na com-
espécies (Toledo & Batista 2012). Com as descrições posição de comunidades de anuros no Cerrado e a
recentes de espécies no Cerrado desde 2012, a distância geográfica (Figura 1), ou seja, quanto mais
riqueza do Cerrado já ultrapassa 220 espécies. distantes as comunidades, menos espécies em co-
Hoje, sabemos que a fauna de anuros do Cerrado se mum ocorrem entre elas. Embora essa seja uma
caracteriza por 1) alta diversidade; 2) alta proporção relação empiricamente esperada, o mesmo não
de endemismo; 3) elevada diversidade-beta; 4) ocorre com outros grupos da fauna, como lagartos
maior riqueza em formações abertas que em forma- (obs. Pess.).
ções florestais; 5) elevada proporção de modos re- Os gradientes ambientais do Cerrado atuam na de-
produtivos em relação à riqueza do bioma e 6) terminação dos padrões de diversidade beta dos
partilha de espécies com biomas vizinhos nas zonas anuros do Cerrado, sendo que diferenças altitudinais
de transição. parecem exercer grande influência sobre os padrões
Embora a diversidade de anfíbios do Cerrado seja de isolamento e especiação (Valdujo et al. 2013).
inferior à encontrada em biomas Florestais e chuvo- Interessantemente, quando espécies endêmicas do

93
florestas), atribuindo menor relevância a formações
savânicas e campestres, com evidente prejuízo às
espécies de formações abertas.
A fauna de anuros do Cerrado é comumente
imaginada como composta por espécies com girinos
exotróficos (ie., que se alimentam de itens
encontrados no ambiente, não utilizando reservas
internas de energia, como vitelo), que se
desenvolvem em ambientes lênticos (corpos de água
sem correnteza), como poucas espécies
apresentando modos reprodutivos diferentes dessa
estratégia mais basal e comum. No entanto, o
número de modos reprodutivos observados em uma
localidade do Cerrado pode ser elevado. Na
Figura 1. Relação entre distância e similaridade (índice de
comunidade de anuros da Chapada dos Veadeiros,
Jaccard) na composição de comunidades de 17 localidades
do Cerrado (comparadas par a par). Equação da reta: por exemplo, existem 14 modos reprodutivos
y = 0,588 – 0,0003x; r = -0,666; r2 = 0,443; p < 0,0001. (Santoro & Brandão 2014), uma riqueza de modos
reprodutivos similar à observada em localidades da
Amazônia (12 a 17 modos, Haddad & Prado 2005),
Cerrado, relacionadas a linhagens partilhadas com com uma proporção de modos reprodutivos pela
biomas adjacentes, tendem a ocorrem em locali- riqueza de 0,26, um valor alto quando comparados a
dades com características ambientais semelhantes áreas na Amazônia (0,10 a 0,26, Haddad & Prado
àquelas encontradas nos biomas vizinhos, sugerindo 2005 e referências apresentadas) e parecido com
um importante papel histórico no conservatismo de muitas áreas na Mata Atlântica (0,24 a 0,33, Haddad
nicho, incluindo o nicho climático. Isso ajuda a com- & Prado 2005). Tal resultado sugere que a evolução
preender porque linhagens “Amazônicas” tendem a e a diversificação de modos reprodutivos no Cerrado
ocorrer em ambientes florestais nos vales dos é um tópico para pesquisas bastante interessante.
grandes rios da bacia amazônica, linhagens “Atlânti-
cas” aparecem em matas de galeria ao longo de Nas chamadas “regiões de transição” do bioma
riachos associados a bacias que correm para a Mata Cerrado com outros biomas vizinhos (especialmente
Atlântica, linhagens de campos de altitude ocorrem Amazônia, Caatinga e Mata Atlântica) ocorrem
em formações abertas de Cerrado em áreas altas espécies partilhadas, cuja presença no Cerrado é
(usualmente acima dos 900 m), conforme sugerido possibilitada pela presença de ambientes e condições
em trabalhos prévios (Brandão & Araújo 2001; climáticas semelhantes. Se, por um lado, a presença
Brandão & Péres-Júnior 2001). de tais espécies reduz a proporção de endemismos,
por outro aumenta a riqueza de espécies do bioma.
A importância de espécies de áreas abertas para a Com isso, muitas áreas de transição apresentam
riqueza e diversidade de anuros no Cerrado já foi elevada riqueza, devido ao ecótono entre as savanas
apontada por diversos estudos (Brandão & Araujo de Cerrado e as Florestas. Outro ponto interessante
2001, Brasileiro et al. 2005, Santoro & Brandão 2014). é que estudos taxonômicos mais aprofundados com
Embora existam endemismos em ambientes as populações de tais organismos partilhados indica,
florestais, grande parte dos endemismos restritos do muitas vezes, a presença de uma espécie nova, que
Cerrado são espécies de formações abertas (Valdujo especiou em ambientes de Cerrado a partir de uma
et al. 2012), geralmente associadas a elevadas população ancestral partilhada com os biomas
altitudes. Tal condição aponta para questões vizinhos e que ocupa ambientes similares aos
importantes em conservação, especialmente na observados no bioma vizinho (p.ex. Valdujo et al.
chamada “Carbon Based Conservation”, que acaba 2013, Santana et al. 2015).
determinando maior importância aos ambientes com
grande estoque de carbono (especialmente as Histórico de estudos na região

94
O primeiro levantamento de anuros da região foram O presente capítulo visa apresentar a lista de espé-
elaborados para a elaboração do Plano de Manejo cies registrada ao longo destes anos, incluindo co-
do PNGSV, procedeu-se um estudo de anfíbios utili- mentários sobre a história natural, distribuição
zando a metodologia de Avaliação Ecológica Rápida. geográfica e estado de conservação, bem como dis-
Este estudo foi realizado em dois períodos distintos cutir a representatividade dos anfíbios da região da
nos anos de 1998 e 1999, quando foram amostrados Trijunção no contexto do Cerrado e sua relevância
seis sítios de coleta nos municípios de Chapada Gaú- para a conservação do grupo.
cha e Formoso, ambos em Minas Gerais. Esses resul-
tados foram divulgados no Plano de Manejo em
METODOLOGIA
2003 (IBAMA & FUNATURA 2003). A lista apresenta- Área de estudo
da no Plano de Manejo possui 22 espécies. O Parque nacional Grande Sertão Veredas (PNGSV)
Posteriormente, ocorreram levantamentos na está localizado nas porções noroeste de Minas
região das Fazendas Trijunção, no ano de 2001, con- Gerais e extremo sudoeste da Bahia, abrangendo os
centrados na vereda do rio Formoso e na Fazenda municípios de Cocos/BA (56% da área total do
Santa Luzia, delimitada grosseiramente pelos rios PNGSV), Formoso (30%), Chapada Gaúcha (12%) e
Itaguarizinho, Itaguari e córrego do Vieira e inserida Arinos/MG (2%). Sua área total corresponde a cerca
no município de Côcos, Bahia. Esta fazenda está de 231.700 hectares, totalmente inseridos no bioma
inserida atualmente na área incorporada ao Parque Cerrado. O principal objetivo desta Unidade de Con-
Nacional Grande Sertão Veredas em 2004. Esse estu- servação (UC) é a preservação de significativos re-
do também registrou 22 espécies, sendo que apenas manescentes do Cerrado brasileiro, na área
13 destas constavam na lista do Plano de Manejo. denominada de Gerais, de grande relevância cultural
Desta forma, até o ano de 2007, já haviam sido por abrigar os cenários descritos na obra Grande
registradas 31 espécies na região. Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa. Protege ainda
grande parte da bacia do rio Carinhanha, afluente da
Entre 2007 e 2011 foram realizadas pesquisas
margem esquerda do rio São Francisco, além de
abrangendo maior área e maior frequência de
abrigar alta diversidade florística e faunística. As
amostragem. Entre 2007 e 2009 as amostragens
áreas norte e sul do entorno do PNGSV já estão
foram aleatórias e oportunísticas, focadas nas
bastante degradadas e em sua maioria substituídas
regiões do rio Mato Grande, nascentes do rio Preto
por monocultivos de soja e capim. Entretanto, ainda
e Fazenda Diamante. No ano de 2010 foi feita uma
existem áreas de cerrado relativamente bem conser-
comparação entre ambientes dentro dos limites do
vadas no entorno da UC, principalmente nas porções
PNGSV, com foco em poças temporárias marginais
leste e oeste, onde basicamente pratica-se agricultu-
aos rios Preto e Carinhanha e no entorno, próximos
ra de subsistência e pecuária extensiva. Estas áreas
às comunidades do Ribeirão de Areia, Estiva e Rio
formam corredores naturais, interligando veredas e
dos Bois, além de alguns riachos semipermanentes
corpos d’água de maior porte, cerrados e outras
com leito rochoso. Entre 2010 e 2011 foi desenvolvi-
paisagens remanescentes. As altitudes na região es-
do um estudo ecológico dos girinos amostrados em
tão compreendidas entre as cotas de 700 a 900
poças temporárias no PNGSV, também nas margens
metros em relação ao nível do mar (IBAMA & FU-
dos rios Preto e Carinhanha. Por fim, em 2011, foi
NATURA 2003), chegando a 1000 metros no marco
realizada uma expedição onde foram focados os
da Trijunção.
riachos com matas de galeria, abrangendo as mi-
crobacias dos rios Mato Grande e Piratinga, este Para conhecer a fauna de anfíbios do PNGSV e áreas
último no entorno do PNGSV. Foram então adiciona- do entorno, foram amostrados mais de 40 pontos de
das mais 15 espécies à lista da região, além de regis- coleta, agrupados em três tipos principais de ambi-
trar quase todas as outras espécies anteriormente entes aquáticos: lagoas marginais a rios de médio ou
observadas, nos estudos da Trijunção e do Plano de grande porte; veredas e brejos; riachos temporários
Manejo desta Unidade de Conservação, exceto em lajes de arenito, as quais são descritas a seguir.
Rhinella cerradensis. Estes ambientes se localizam predominantemente
no interior do PNGSV e da Fazenda Trijunção. No

95
entorno do Parque e da Fazenda Trijunção foram dos a outras árvores como a pindaíba (Xylopia sp.) e
amostradas principalmente as regiões denominadas arbustos. São margeados por campos de gramíneas
Ribeirão de Areia, Estiva/Barra do Boi, Logradouro e que, eventualmente, sofrem alagamentos pelas che-
Assentamento São Francisco (nascentes do rio Tabo- ias dos córregos ou barramentos naturais presentes,
cas). Foram amostrados praticamente todas as fitofi- formando brejos. Estes brejos, em geral, possuem
sionomias da região, que são ambientes relevantes maior riqueza de anfíbios quando comparados ao
para a fauna de anfíbios na região, alguns dos quais curso de água da vereda e podem ser facilmente
descritos abaixo: amostrados. No PNGSV foram amostrados pontos
nas regiões denominadas Veredãozinho, Vereda das
a) Lagoas marginais
Grotinhas, Vereda Extrema, Diamante,
São grandes poças formadas pelo acúmulo de água Carrasco/Veredão, Itaguarizinho e Itaguari. Nas
da chuva e, eventualmente, pelas cheias dos rios regiões das nascentes do rio Preto e Santa Rita
contíguos, podendo ser permanentes ou tem- foram amostradas matas alagadas em veredas, onde
porárias. Estão localizadas em campos limpos e ou predominam os buritis (Mauritia flexuosa) e a pin-
associadas a veredas, sendo dominadas por daíba (Xylopia emarginata), que ficam alagadas no
gramíneas e arbustos esparsos, algumas vezes apre- período chuvoso. Também amostramos campos lim-
sentando vegetação aquática emergente ou flutu- pos e veredas ao longo do Rio Formoso, que ocupam
ante, sobre solos encharcados no período chuvoso. uma ampla faixa de território na propriedade.
No PNGSV são representadas por pontos de
amostragem distribuídos ao longo das várzeas (ou
vazantes) dos rios Preto, Carinhanha, Onça e Santa
Rita, este último nas proximidades da desembocadu-
ra da Vereda da Tiririca. No entorno foram amostra-
das lagoas marginais na região do Ribeirão de Areia
e foz do Rio dos Bois, as duas localidades situadas
em Chapada Gaúcha/MG.

Figura 3. Ambiente de vereda. Foto: RAB

c) Riachos com leito pedregoso


Esse é um ambiente pouco comum na região, geral-
mente associado a localidades mais elevadas e local-
izados nas encostas de chapadas. Os riachos
visitados ocorrem em formações de afloramentos de
arenito ou quartzito, onde estão presentes
Figura 2. Lagoa marginal do Rio Preto, Parque Nacional paredões, cânions e pequenas quedas d’água ao
Grande Sertão Veredas. Foto: RAB. longo dos seus cursos. Podem ser temporários ou
semipermanentes, isto é, ao longo do riacho, o fluxo
de água é interrompido no período seco, com água
b) Veredas e Brejos
parada nos poços mais profundos e áreas secas nas
Os ambientes de veredas e brejos adjacentes con- lajes areníticas. São margeados por matas ciliares
sistem de cursos de água permanentes que correm características. No PNGSV foram amostrados riachos
ao longo das drenagens e são acompanhados por afluentes do rio Mato Grande, como a Grota da
buritizais, em solos hidromórficos, por vezes associa- Cobra, Córrego Atrás do Céu, Lajinha e Pedra do

96
Forno. No entorno, situada no município de Formo- macrófitas, formando um ambiente muito utilizado
so, foram amostrados dois afluentes do rio Logra- por diversos anfíbios.
douro (Galho da Estrada e Barra Grande). Coletas de dados e identificação dos espécimes
As coletas foram realizadas nos períodos diurno e
noturno e os anfíbios procurados através de busca
ativa com auxílio de lanternas, quando necessário.
Ao serem encontrados, os adultos eram capturados
e acondicionados em sacos plásticos (Heyer et al.
1994). Para o sacrifício dos espécimes foi usado lido-
caína 5%. Posteriormente os indivíduos foram fixa-
dos em formol 5% e conservados em álcool 70%. Os
girinos foram coletados com peneiras ou puçás e
imediatamente sacrificados em formol 5%, onde se
mantém conservados.
Na primeira expedição de campo nas Fazendas Santa
Luzia, em outubro de 2001, foram também instala-
Figura 4. Riacho sobre leito de arenito. Córrego Mato Seco, das armadilhas de queda (pitfalls) em três pontos da
Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Foto: RAB.
propriedade, em um esforço total de 400
d) Lagoas de cabeceira armadilhas/noite e a 2400 horas/homem. Esses pon-
tos amostrais estão hoje nos limites do Parque Na-
Lagoas de cabeceira são ecossistemas raros no Cer- cional Grande Sertão Veredas.
rado, extremamente sensíveis à diminuição do nível
do lençol freático. No entanto, tais ecossistemas são Os indivíduos coletados foram identificados através
comuns nos rios do oeste da Bahia, onde todas essas de consultas à literatura pertinente e comparação
lagoas se encontram ameaçadas. Nós amostramos o com espécimes de outras coleções, tais como
lagoão do Formoso, localizado no rio homônimo. Coleção Herpetológica da Universidade de Brasília
Tais lagoas são formadas pelo afloramento do lençol (CHUNB), Museu de Ciências Naturais da Pontifícia
freático e, devido ao relevo extremamente plano da Universidade Católica de Minas Gerais (MCNAM) e
região, podem ter grande extensão. São geralmente Museu de Zoologia da Universidade Federal de Viço-
rasas (profundidade máxima de 4m), oligotróficas e sa (MZUFV). Os espécimes estão depositados na
coroadas por enormes buritis. Nas suas margens são CHUNB e MZUFV. A identificação apresentada das
comuns os adensamentos de Xyridaceae, Poacea e espécies segue Faivovich et al. (2005), Frost et al.
(2006), Grant et al. (2006), Hedges et al. (2008) e
Frost (2018).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diversidade e aspectos biogeográficos
Foram encontradas 47 espécies de anfíbios, dis-
tribuídos nas seguintes famílias: Siphonopidae (1),
Dendrobatidae (1), Bufonidae (6), Odontophrynidae
(1), Hylidae (14), Leptodactylidae (19), Microhylidae
(4), Craugastoridae (1) (Tabela 1).
São registradas para o Cerrado cerca de 220 espécies
(Valdujo et al. 2012, Brandão, dados pessoais). Desta
forma a região do PNGSV abriga quase um quarto
Foto 5: Lagoa do Rio Formoso, Reserva Particular do deste total. Esta riqueza de espécies é considerada
Patrimônio Natural Sertão do Formoso, Fazendas Trijunção.
alta no contexto do Cerrado. A riqueza em seis local-
Foto: RAB

97
Tabela 1: Espécies registradas no PNGSV e entorno, com distribuição geográfica, hábito e hábitat. Legenda de Distribuição
Geográfica: (AD) ampla distribuição geográfica, (CE) Cerrado (CA) Cerrado e Caatinga, (EN) endêmica do Cerrado; Legenda
de Hábito: (AR) arbóreo/arbustivo, (AQ) aquática, (FO) fossorial, (HE) herbácea, (TE) terrestre; Legenda de Hábitat: (LM)
lagoas marginais, (VE) brejos de veredas, (MA) matas alagadas, (RP) riachos pedregosos.

Espécie/Família Distribuição Hábito Hábitat


SIPHONOPIDAE (1)
Siphonops paulensis AD FO LM
DENDROBATIDAE (1)
Ameerega flavopicta CE TE RP
BUFONIDAE (6)
Rhinella diptycha AD TE RP
Rhinella cerradensis EN TE VE
Rhinella mirandaribeiroi AD TE LM, RP
Rhinella ocellata EN TE LM
Rhinella rubescens CE TE RP
Rhinella veredas EN TE LM
ODONTOPHRYNIDAE
Proceratophrys aff. branti 0 TE VE, RP
HYLIDAE (14)
Nyctimantis sp. EN AR MA
Dendropsophus jimi EN HE VE
Dendropsophus minutus AD HE, AR LM, RP
Dendropsophus nanus AD HE LM, VE
Dendropsophus rubicundulus CE HE LM, VE
Boana albopunctata AD AR, TE LM, VE, MA, RP
Boana lundii EN AR VE, RP
Pithecopus oreades EN AR RP
Pseudis bolbodactyla CE AQ LM
Scinax fuscomarginatus AD HE LM, VE
Scinax fuscovarius AD AR, TE LM, RP
Scinax similis AD AR, TE LM, VE, RP
Scinax tigrinus EN AR, TE, HE RP
Ololygon cf. skaios EN HE, TE, AR RP
Scinax sp. (gr. ruber) EN HE, AR RP
LEPTODACTYLIDAE (19)
Physalaemus centralis CE TE LM, VE
Physalaemus cuvieri AD TE VE, MA, RP
Physalemus marmoratus CE?? TE, FO LM, VE
Physalaemus nattereri EN TE LM
Pleurodema diplolister CA FO LM
Pseudopaludicola ameghini AD TE LM
Pseudopaludicola aff. saltica EN TE VE, RP
Pseudopaludicola sp. 0 TE LM

98
Tabela 1. Continuação.

Espécie/Família Distribuição Hábito Hábitat


Leptodactylus chaquensis CE TE LM
Leptodactylus furnarius CE TE, FO VE
Leptodactylus fuscus AD TE, FO LM, RP
Leptodactylus labyrinthicus AD TE LM, RP
Leptodactylus mystaceus AD TE RP
Leptodactylus mystacinus AD TE, AR LM, RP
Leptodactylus syphax EN TE, FO RP
Leptodactylus sertanejo EN TE, FO LM
Leptodactylus aff. cunicularius 0 TE RP
Leptodactylus troglodytes CA TE, FO RP
MICROHYLIDAE (3)
Chiasmocleis albopunctata AD FO LM
Dermatonotus muelleri AD FO LM
Elachistocleis cesarii AD FO LM, VE
Elachistocleis piauiensis CA FO LM, VE
CRAUGASTORIDAE (1)
Barycholos ternetzi EN TE RP

99
idades bem estudadas do Cerrado varia entre 27 a relativamente menor, com 25 espécies de anfíbios
43 espécies (Bastos 2007), sendo que a região com a (Kopp et al. 2010), enquanto a Estação Ecológica de
maior riqueza de anfíbios do Cerrado é a Chapada Águas Emendadas, com 10 mil ha, possui 27 espécies
dos Veadeiros, com 54 espécies, seguido pela Serra (Brandão et al. 1998).
do Cipó (Eterovick & Sazima 2004), áreas conhecidas Desta forma, a região dos sertões supera a
pelo alto grau de endemismos de anfíbios e répteis, diversidade de anfíbios do Parque Nacional das Emas
atualmente contemplados com Plano de Ação Na- em riqueza de espécies, possivelmente um reflexo da
cional. Algumas localidades recentemente estuda- heterogeneidade espacial encontrada nesta vasta
das, relativamente próximas ao PNGSV, região estudada. Outros quatro pontos merecem
apresentaram menor riqueza em comparação ao destaque: A grande proporção de espécies fossórias
parque, como 25 espécies no Parque Nacional das (subterrâneas) na comunidade (37%), a presença de
Emas, Goiás (Kopp et al. 2010), 32 espécies em São espécies típicas da Caatinga ou da faixa de transição
Desidério, Bahia (Valdujo 2003), 37 espécies em João entre esses dois biomas, como Elachistocleis
Pinheiro, Minas Gerais (Silveira 2006) e 39 espécies piauiensis, Pleurodema diplolister e Leptodactylus
na Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, To- troglodytes, a ocorrência de espécies recentemente
cantins (Valdujo 2011). descritas (Rhinella veredas, R. cerradensis) e espécies
Algumas espécies registradas neste estudo não novas ainda não descritas (Hylidae sp., Leptodactylus
foram observadas no interior do PNGSV, como sp. [aff. cunicularius] e Proceratophrys sp. [aff.
Rhinella ocellata, Pseudis bolbodactyla, Leptodacty- branti]) e a presença de novidades biogeográficas
lus mystaceus e L. sertanejo. É possível que tal fato para o estado da Bahia, como Chiasmocleis
se deva aos hábitos reprodutivos de algumas delas albopunctata e Siphonops paulensis.
ou mesmo a possíveis baixas densidades populacio- Cerca de metade das espécies registradas apresenta
nais no PNGSV, dificultando o registro por busca ampla distribuição geográfica, ocorrendo em diver-
ativa. sos biomas brasileiros ou mesmo em outros países.
Das espécies registradas, 80% são consideradas Algumas destas constituem complexos de espécies,
terrestres; 15% são fossórias, 22% são herbáceas e sendo necessário revisões taxonômicas para
apenas 10% utilizam árvores e arbustos. Dentre os definição de grupos distintos, caso existam, como
hábitats mais utilizados, todas as 90%espécies por exemplo Scinax fuscovarius, Rhinella diptycha,
utilizam campo limpo, 83%estão presentes nas Leptodactylus fuscus (Frost 2018). As demais espé-
veredas, 57%utilizam cerrado, 10% estão presentes cies são típicas do Cerrado, sendo oito delas com
também em áreas antropizadas e apenas 5% utiliza ocorrência primariamente neste, mas também em
ambientes florestais. Matas de galeria alagadas áreas abertas de outros biomas. Três espécies, Ela-
suportam poucas espécies de anfíbios, talvez em chistocleis piauienses, Leptodactylus troglodytes e
função da baixa disponibilidade de abrigos. Pleurodema diplolister, apresentam distribuição no
Cerrado e Caatinga. 15 espécies são endêmicas do
A diversidade de espécies da região reflete a sua
Cerrado, podendo citar Rhinella cerradensis, Rhinel-
heterogeneidade espacial. As áreas amostradas
la veredas, Dendropsophus jimi, Pithecopus oreades
apresentam mata de galeria alagada, que não são
e Leptodactylus sertanejo.
comumente utilizadas por anfíbios do Cerrado
(exceto por Aplastodiscus lutzorum, cujo limite norte Lista comentada de algumas espécies
de distribuição é o Distrito Federal, mas com Ordem Anura
destaque para uma nova espécie de Hylidae
relacionada apenas a este ambiente). Desta forma, Família Dendrobatidae
quase todas as espécies observadas são espécies Ameerega flavopicta (Lutz 1925)
campestres, já que os campos são a fisionomia
dominante na região. Devido a diferenças na Registros na região: Espécie registrada em grotas e
heterogeneidade espacial, o Parque Nacional das regiões de altitude do parque, com ocorrência em
Emas, com 130 mil ha, possui uma riqueza riachos temporários pedregosos na região do
córrego Mato Grande.

100
posicionamento durante o comportamento de corte,
variando de amplexo axilar para um posicionamento
no “meio do corpo” da fêmea, até chegar ao
posicionamento do amplexo cefálico, que é o tipo
predominante de amplexo (Magrini et al. 2010). A
desova normalmente é depositada diretamente no
solo, na forma de uma massa de ovos ou em
pequenos agrupamentos de ovos. Como em outras
espécies de dendrobatideos, existe cuidado parental
por parte dos machos. Machos de A. flavopicta já
foram encontrados com desovas em diferentes
estágios de desenvolvimento no mesmo território
(evidenciando um possível cuidado parental das
desovas e a territorialidade) e também existe o
cuidado parental com os girinos, caracterizado pelo
Figura 6. Macho adulto de Ameerega flavopicta. Foto: RAB transporte dos girinos pelos machos, desde o sítio de
ovoposição até pequenas poças onde os girinos
Distribuição geográfica: Esta espécie é conhecida de completam o desenvolvimento.
áreas de cerrado do sudeste e centro oeste do Brasil Existe relato de comportamento defensivo deimático
(Minas Gerais, Goiás e Tocantins) (Haddad et al. na espécie (comportamento de erguer o corpo com
1988, Haddad & Martins 1994, Bastos et al. 2003, as pernas na vertical) (Toledo 2011), onde machos
Eterovick & Sazima 2004, Oda et al. 2009) e áreas arqueiam o corpo e exibem colorações aposemáticas
abertas das regiões norte (Pará) e nordeste que ficam em partes normalmente escondidas do
(Maranhão) (Azevedo-Ramos & Galatti 2002, corpo, visando afugentar predadores. É interessante
Haddad & Martins 1994). Também existem registros que esse comportamento defensivo só foi registrado
dessa em espécie em cinco localidades da Bolívia em um indivíduo que transportava girinos nas
(Lötters et al. 2009), embora uma ampla revisão costas, podendo estar relacionado ao cuidado
deva ser feita com essa espécie. parental.
História natural: Espécie facilmente identificável pela Outro aspecto interessante que torna essa espécie
coloração característica. O dorso é preto, possuindo única é sua dieta (Biavati et al. 2004). Normalmente,
manchas amareladas e duas faixas dorsolaterais o principal item alimentar dos dendrobatídeos são
alaranjadas, os flancos e as partes superiores dos formigas, que contribuem para a alta toxicidade da
membros também possuem manchas amareladas; a pele desses anfíbios (Caldwell 1996). No entanto, A.
região inguinal e a tíbia possuem manchas flavopicta apresenta grande proporção de cupins na
alaranjadas. Ela possui hábitos diurnos e ocorre em dieta (em comparação com outros dendrobatídeos)
riachos temporários no Cerrado, geralmente e mantém a alta toxicidade da pele, característica
associada a campos rupestres. A. flavopicta é desse grupo. Estudos mais elaborados sobre a
singular dentro dos dendrobatídeos por ser a única relação entre toxicidade e dieta são necessários
espécie que utiliza ambientes abertos, sujeitos a nessa espécie.
altas temperaturas e baixa umidade (Costa et al.
2006). A espécie apresenta tolerância a distúrbios
antrópicos, sendo que existe o relato de uma
Machos vocalizam durante o dia no solo, em áreas população que sobreviveu ao enchimento de uma
rochosas próximas a riachos (Toledo et al. 2004, represa (Torres & Eterovick 2010), um impacto
Costa et al. 2006), e aparentemente são territoriais. intenso para a maioria dos anfíbios anuros do
O comportamento de corte de um casal dura cerca Cerrado (Brandão & Araújo 2008). Mesmo com a
de 85 minutos e é caracterizado pelo macho destruição de seus ambientes reprodutivos naturais
conduzindo a fêmea até o sítio de desova (Costa et essa população conseguiu adaptar sua reprodução
al. 2006). O macho apresenta uma variação de

101
aos ambientes alterados que estavam disponíveis e Rhinella mirandaribeiroi (Gallardo 1965)
sobreviver, mesmo com densidade reduzida.
Também existe relato de uma população reprodutiva
nas margens de uma rodovia em Minas Gerais que
mantem um alto número de machos vocalizando,
mesmo com a crescente alteração do ambiente pelo
homem (presença de lixo, asfaltamento da rodovia)
(Magrini et al. 2010).
Status de conservação: Least Concern
Família Bufonidae
Rhinella cerradensis Maciel, Brandão, Campos &
Sebben 2007

Figura 8. Macho de Rhinella mirandaribeiroi vocalizando,


com outro macho em repouso no segundo plano. Foto: RAB.

Registros na região: Espécie registrada em diversos


pontos no parque e entorno. É abundante durante as
primeiras chuvas da estação chuvosa, onde podem
ser encontrados vários indivíduos vocalizando em
praticamente qualquer tipo de corpo d’água lêntico.
Distribuição geográfica: Espécie de sapo típica do
Cerrado, ocorrendo em áreas de Cerrado do Brasil
Central nos estados de Bahia, Maranhão, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e
Figura 7. Macho adulto de Rhinella cerradensis, Fazenda
Guará, Bahia. Foto: RAB Piauí, bem como enclaves de cerrado nos Estados de
Amazonas e Rondônia; também no Departamento
de Santa Cruz, Bolívia (Noel Kempff Mercado
Registros na região: Espécie registrada apenas na National Park)
fazenda Trijunção
História natural: A reprodução ocorre em poças
Distribuição geográfica: Espécie endêmica do temporárias e permanentes localizadas em áreas
Cerrado, ocorrendo no Brasil nos seguintes estados: abertas, após chuvas de verão fortes. Os agregados
Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Mato reprodutivos são temporários com duração inferior a
Grosso e Piauí (Maciel et al. 2007, Valdujo et al. um ou dois dias (Narvaes & Rodrigues 2009). Essa
2009, Santana et al. 2010). espécie era até recentemente inserida em um
História natural: Espécie típica de fisionomias complexo de espécies e pouco se sabe a respeito de
abertas do cerrado, pouco se sabe a respeito de sua sua história natural. Aparentemente é resistente a
ecologia/história natural. Mesmo em suas áreas de alterações antrópicas no ambiente, sendo comum
ocorrência é uma espécie rara, ocorrendo na estação ver machos cantando em pequenas poças formadas
chuvosa e na transição da estação seca para a nas estradas de terra na região, mesmo no meio de
chuvosa (Maciel et al. 2007). Existem relatos de lavouras.
predação de adultos desta espécie por Jaratataca Status de conservação: Menos preocupante
(Conepatus sp.).
Status de conservação: Menos preocupante
Rhinella ocellata (Günther 1858)
Registros na região: Espécie registrada no entorno

102
do parque. Adultos foram encontrados vocalizando mudando a estrutura do canto de anúncio (Caldwell
no distrito de Ribeirão de Areia próximos à lagoa do & Shepard 2007). Girinos e sítios de ovoposição são
Sapateiro e ao rio Ribeirão de Areia. Não registrada desconhecidos para essa espécie.
na Fazenda Trijunção.
Status de conservação: Menos preocupante (Bastos
et al. 2004)

Rhinella rubescens (Lutz 1925)

Figura 9. Macho adulto de Rhinella ocellata. Foto: RAB.

Distribuição geográfica: Espécie endêmica do


Cerrado ocorre no Brasil a partir do Estado do
Maranhão até Minas Gerais. Os registros existentes
Figura 10. Macho adulto de Rhinella rubescens da região da
variam entre 200-1500m de altitude (Bastos et al.
Fazenda Trijunção, Bahia. Foto: RAB.
2004), embora nossos registros no Cerrado sempre
sejam abaixo dos 600m. Registros na região: É encontrada no entorno do
História natural: Espécie única dentre os sapos, já Parque Nacional, especialmente na região da Fazenda
que não migra para poças para se reproduzir. Os São Francisco da Trijunção.
indivíduos de R. ocellata são habitantes de matas Distribuição geográfica: Ocorre nos cerrados do Brasil
ciliares, frequentemente encontrados próximos a Central, nos estados de Minas Gerais, São Paulo,
grandes rios e são extremamente territoriais: A área Goiás, Pará, Piauí, Tocantins, Bahia e no Distrito
de vida de indivíduos dessa espécie é pequena (cerca Federal (Brandão et al. 2016).
de 163 m²) quando comparada com outros anfíbios
e eles deslocam muito pouco durante a temporada História natural: Rhinella rubescens ocupa áreas
reprodutiva (cerca de 80 m). A temporada abertas no Cerrado, associados a riachos
reprodutiva se estende pela estação chuvosa inteira, temporários, permanentes e poças. Adapta-se bem
diferente de outros sapos que possuem reprodução a ambientes alterados, ocorrendo inclusive em locais
explosiva (concentram sua reprodução em poucos antropizados como áreas urbanas. Reproduz
dias por ano, geralmente no começo das chuvas) frequentemente em corpos d'água lóticos, onde as
(Caldwell & Shepard 2007). desovas são depositadas em cordões gelatinosos.
Machos vocalizam à noite, durante a estação seca e
Durante a estação reprodutiva vemos a seleção de fria, com o corpo parcialmente submerso na água.
determinados sítios de vocalização por machos, que Possuem padrão de reprodução explosivo e seus
são revezados durante diferentes noites. No entanto, girinos, que se desenvolvem na água, formam
ao contrário do que se espera para uma espécie de agregações de dezenas a centenas de indivíduos. Em
sapo com território tão pequeno, não existe registro geral estas agregações contêm indivíduos no mesmo
de confronto físico entre machos. A única interação estágio larval. Os girinos são diurnos e, ao serem
registrada na literatura foi de machos vocalizando perturbados, refugiam-se nas partes mais profundas.
em locais próximos que cantavam em dueto, Durante a noite abrigam-se em sítios onde quase não

103
há correnteza, formando agregações bastante facilmente reconhecida pela presença de uma alta
densas. Esta característica, somada ao fato dos densidade de espículas nas glândulas dorsais, dando
girinos terem tamanho grande comparado a outros aspecto bastante verrugoso ao animal, além de
do mesmo grupo taxonômico, e ainda ao seu padrão possuir o crânio menos ossificado. O nome específico
de orientação de movimento sempre contra a presta homenagem ao escritor João Guimarães Rosa
correnteza, podem ser interpretados como e sua obra Grande Sertão: Veredas, ao Parque
adaptações às condições lóticas do seu habitat, Nacional Grande Sertão Veredas e às formações
embora também se reproduza em ambientes lênticos. vegetacionais de veredas, principal habitat da espécie
Status de conservação: Fora de perigo, de acordo com (Brandão et al. 2007).
a IUCN. Ocorre em várias unidades de conservação. Status de conservação: Fora de perigo de acordo com
a IUCN, ocorre em diversas áreas protegidas, como
a ESEC Uruçuí-Una, PN Grande Sertão Veredas, PE
Rhinella veredas (Brandão, Maciel & Sebben 2007) Serra das Araras, dentre outras (Brandão 2008).

Família Hylidae
Dendropsophus jimi (Napoli & Caramaschi 1999)
Registro no PNGSV: Espécie registrada em áreas
brejosas na região do Rio Preto durante a estação
chuvosa, onde machos cantavam empoleirados no
capim. Na mesma área também vocalizavam machos
de D. rubicundulus.
Distribuição geográfica: Espécie endêmica do
Cerrado, ocorrendo no Brasil nos estados de São
Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul (Napoli &
Figura 11. Macho adulto de Rhinella veredas, da região da
Fazenda Trijunção, Bahia. Foto: RAB.
Caramaschi 1999) e Goiás (Vaz-Silva et al. 2007,
Borges & Juliano 2007, Kopp et al. 2010). Existe um
Registros na região: É observada na região dos rios relato da existência dessa espécie na província de
Itaguari, Itaguarizinho e Formoso. A Fazenda Amambay no Paraguai (Brusquetti & Lavilla 2006)
Trijunção é a localidade-tipo da espécie. História natural: Espécie de pequeno porte, pouco
Distribuição geográfica: Espécie endêmica do bioma de sua biologia é conhecida. Sabe-se que sua
Cerrado, ocorre em chapadas arenosas no Piauí (ESEC reprodução é concentrada durante a estação
Uruçuí-Una), Bahia (Fazenda Trijunção) e noroeste chuvosa, geralmente ocorrendo de setembro até
de Minas Gerais (Buritizeiro, Pirapora, Chapada março (Brasileiro et al. 2005, Borges & Juliano 2007,
Gaúcha, Formoso e Várzea da Palma). Kopp et al. 2010) em diversos tipos de corpos d’água,
onde vocaliza a partir da vegetação herbácea
História natural: Indivíduos de R. veredas são marginal (Mello et al. 2018). Geralmente a espécie
observados sempre no início da estação chuvosa
usa áreas pantanosas, onde é muito abundante
(outubro/novembro), em áreas abertas, como
(Brasileiro et al. 2005), mas pode usar poças
cerrados, campos sujos, campos cerrados e veredas temporárias (Borges & Juliano 2007) e poças
(Brandão et al. 2007). Na ocasião, não foram permanentes (Brasileiro et al. 2005). O estágio larval
observados girinos ou atividade reprodutiva.
dessa espécie ainda não foi descrito, porem existe
Entretanto, jovens recém-metamorfoseados foram
registro de ocorrência de girinos para poças
observados em dezembro, próximos a áreas úmidas. temporárias (Brasileiro et al. 2005) e durante a
Apresenta dimorfismo sexual, sendo que os machos estação chuvosa (Kopp et al. 2010).
têm o dorso amarelo e fêmeas apresentam dorso
marmoreado de ocre e azul-água. A espécie é Status de conservação: Menos preocupante

104
Dendropsophus nanus (Boulenger 1889) agregados reprodutivos próximos a corpos d’água
lênticos (brejos, poças permanentes e temporárias).

Figura 12. Macho adulto de Dendropsophus nanus. Foto: RAB. Foto 13. Macho adulto de Dendropsophus rubicundulus.
Foto: RAB.
Registros na região: Espécie registrada na região do
rio Preto (ponte e barra) em lagoas temporárias e Distribuição geográfica: Espécie endêmica do
brejos durante a estação chuvosa. Geralmente Cerrado, típica de áreas abertas. No Brasil ocorre em
ocorre em simpatria com D. rubicundulus. Minas Gerais (Cardoso & Vielliard 1984, Silveira
2006), Goiás (Vaz-Silva et al. 2007), Distrito Federal,
Distribuição geográfica: A espécie ocorre em
Bahia (Valdujo et al. 2009), Tocantins (Brasileiro et al.
diversos Biomas e inclui a Argentina, Bolívia, Brasil,
2008), Piauí (Annunziata et al. 2007) e São Paulo
Paraguai e Uruguai (Frost et al. 2018).
(Napoli & Caramaschi 1999). Existem relatos dessa
História natural: Espécie de Dendropsophus espécie ocorrendo na Bolívia (de La Riva et al. 2000).
pequena, morfologicamente similar a D.
rubicundulus e D. jimi, pode ser diferenciada das História natural: Pouco se conhece a respeito da
história natural dessa espécie, apesar de ela ser
outras pela ausência de linhas e faixas no dorso (mas
extremamente abundante nas áreas de ocorrência.
podendo apresentar pontos) e por não apresentar
Os machos vocalizam durante a estação chuvosa em
coloração rosada nos indivíduos fixados. A região
vegetação arbustiva ou emergente, próximos a
gular da espécie pode variar entre o branco
corpos de água lênticos (tanto permanentes como
imaculado e verde claro.
temporários). Esses corpos d’água podem estar em
Pouco se conhece a respeito da história natural áreas abertas ou áreas próximas a borda de florestas
dessa espécie, apesar de ela ser extremamente (Brasileiro et al. 2008, Valdujo et al. 2009). O
abundante na sua ampla área de ocorrência. Lutz amplexo é axilar e os adultos depositam os ovos no
(1973) e Cei (1980) consideram a espécie como a corpo d’água (Bastos et al. 2003).
mais generalista espécie de “Hyla pequena” devido
Aparentemente a espécie possui tolerância a
à sua grande plasticidade quanto ao uso de
alterações em seu habitat, sobrevivendo até mesmo
ambientes reprodutivos e a grande tolerância a
a impactos grandes como enchimento de represas,
distúrbios antrópicos.
apesar da população remanescente apresentar uma
Status de conservação: Menos preocupante pequena densidade (Torres & Eterovick 2010)
Status de conservação: Menos preocupante
Dendropsophus rubicundulus (Reinhardt & Lütken
1862)
Boana albopunctata (Spix 1824)
Registros na região: Espécie comum durante a
Registros na região: Espécie registrada em várias
estação chuvosa, encontrada praticamente no
regiões do parque e de seu entorno. Indivíduos são
parque todo, bem como no entorno, sempre em
encontrados vocalizando em veredas, riachos, brejos

105
ou poças permanentes durante a maior parte do ano. de 8,5 machos:1 fêmea (Guimarães et al. 2011) e a
sobrevivência dos indivíduos varia com relação ao
sexo e a estação do ano. Machos possuem maior
taxa de sobrevivência que fêmeas (Guimarães et al.
2011) e a sobrevivência dos sexos está
negativamente correlacionada com a estação
chuvosa, provavelmente devido à maior presença de
predadores durante essa estação (Guimarães et al.
2011).
O amplexo varia entre as posições axilar e timpânica
(Muniz et al. 2008) e a ovoposição é feita
diretamente na água, onde o casal deixa uma única
camada de ovos flutuantes, com média de 769 ovos
Figura 14. Macho adulto de Boana albopunctata da região
(Muniz et al. 2008). O recrutamento de girinos é
das cabeceiras do Rio Formoso, Fazenda Trijunção, Bahia.
Foto: RAB. constante e ocorre ao longo do ano todo (Barreto &
Moreira 1996), sendo que os girinos de B.
Distribuição geográfica: Espécie com distribuição albopunctata passam por uma variação de coloração
ampla na América do Sul, ocorrendo Brasil (regiões durante seu desenvolvimento: eclodem pretos,
central, sulinas e sudeste), Argentina (região passam por uma coloração acobreada durante os
nordeste), Uruguai (região norte), Bolívia (região estágios intermediários e os estágios finais/pós-
leste) e Paraguai (leste) (Frost 2018). metamorfos são esverdeados (Muniz et al. 2008).
História natural: Espécie típica de áreas abertas,
facilmente identificável pela sua vocalização que
parece o mugido de uma cabra (por isso recebe o
nome popular de “perereca cabrita” em algumas
localidades). B. albopunctata possui uma temporada
reprodutiva prolongada, com machos vocalizando
durante o ano inteiro (Muniz et al. 2008, Guimarães
et al. 2011) e pode usar uma variada gama de
ambientes reprodutivos, sendo frequentemente
encontrada em brejos e poças permanentes.
Geralmente os machos são encontrados Figura 15. Imaturo de Boana albopunctata da região do
empoleirados em arbustos na margem das poças Parque Nacional Grande Sertão Veredas, Chapada Gaúcha,
(Muniz et al. 2008, Guimarães et al. 2011), sendo Minas Gerais, ainda absorvendo parte da cauda. Foto: RAB.
que a espécie também pode usar outros ambientes ,
Tanto a desova quanto os girinos dessa espécie co-
como o solo (Araújo et al. 2007). Diferentemente de
ocorrem frequentemente com predadores como
outras espécies de Boana, como B. faber, machos de
peixes, que causam um grande impacto em diversas
B. albopunctata aparentemente não apresentam
outras espécies de anuros, os quais podem até
comportamentos agonísticos, como combates físicos
provocar extinções locais ou impedindo a
durante a atividade reprodutiva, mas
colonização de ambientes aquáticos (Werner et al.
frequentemente são encontrados machos satélite
2007). As desovas são impalatáveis para peixes
tentando interceptar fêmeas atraídas pela
teleósteos, porém os girinos não o são e podem ser
vocalização de outros machos (Muniz et al. 2008).
consumidos independente do estágio (Muniz et al.
A espécie apresenta dimorfismo sexual, sendo que 2008), sendo que o mecanismo de co-existência
as fêmeas são maiores que os machos (Guimarães et entre predador e presa precisa ser elucidado para o
al. 2011). Durante as agregações reprodutivas, a estágio larval. Os girinos apresentam grande
população apresenta uma proporção sexual de cerca habilidade em se enterrarem no sedimento macio

106
dos ambientes onde ocorrem, permanecendo embaixo de raízes ou cavidades nas rochas (Brandão
imóveis, apenas com a extremidade do longo 2002).
espiráculo exposta.
Status de conservação: Considerada Menos
A dieta é generalista, sendo que frequentemente são Preocupante. Ocorre e diversas unidades de
ingeridos besouros e aranhas. Diferentemente de conservação no Distrito Federal, Goiás e Minas
outras espécies de anuro, não existe diferenciação Gerais (Silvano 2004; Brandão, obs. pess.).
na dieta entre sexos e diferentes idades (Muniz et al.
2008, Guimarães et al. 2011).
Status de conservação: Menos preocupante

Pithecopus oreades (Brandão 2002)

Figura 17. Macho adulto de Pseudis bolbodactyla de lagoas


de inundação do Rio Paracatu, Brasilândia de Minas, estado
de Minas Gerais. Foto: RAB.

Figura 16. Macho adulto de Pithecopus oreades da região da Pseudis bolbodactyla Lutz 1925
Serra do Tombador, Goiás. Foto: WR.
Registro no PNGSV: Espécie registrada apenas na
região de entorno do parque. Adultos foram
Registro no PNGSV: No PNGSV foi registrada apenas
em riachos em lajes de pedras. Foi observada na encontrados vocalizando no distrito de Ribeirão de
Grota da Cobra e na Lajinha, em atividade de Areia em noites chuvosas e na lagoa do Sapateiro.
vocalização nos meses de outubro e janeiro e girinos Distribuição geográfica: Ocorre em grandes
foram coletados entre janeiro e julho. ambientes lênticos com plantas aquáticas
abundantes, nos estados brasileiros de Minas Gerais,
Distribuição geográfica: Ocorre nos Platôs de Goiás
Goiás e Bahia (Garda et al. 2010).
(Serra da Mesa, Chapada dos Veadeiros, Serra dos
Pirineus), Minas Gerais (Cabeceira Grande) e Distrito História natural: Anfíbio aquático que habita poças
Federal, acima de 900m de altitude (Brandão 2002) com vegetação aquática abundante. Os indivíduos
são frequentemente visualizados ancorados à
História natural: Os machos podem vocalizar sobre a
vegetação submersa em posição horizontal. A
vegetação herbácea, próximo a pequenas quedas
espécie é ativa durante o período diurno e noturno,
d’água ou concentrados em piscinas formadas ao
sendo que durante a noite os indivíduos se
longo dos córregos em campos limpos ou campos
movimentam mais dentro da poça, enquanto no
cerrados. Quando coletados apresentam
período diurno ficam concentrados em áreas com
comportamento de tanatose. Os girinos ficam em
vegetação densa. Machos vocalizam tanto durante o
poças mais profundas, de águas limpas, em posição
dia quanto durante a noite (Brandão et al. 2003).
vertical na coluna d’água, com a boca votada para a
superfície e apenas a ponta da cauda se movendo. O comportamento de forrageio da espécie é do tipo
Apresentam atividade diurna e noturna, e quando senta e espera e a maior parte de sua dieta é
perturbados nadam para o fundo, refugiando-se constituída de insetos diurnos não-aquáticos, como

107
besouros, gafanhotos e percevejos que, por sua vez, distribuição. S. similis apresenta padrão reprodutivo
estão associados à vegetação do corpo d’água prolongado, sendo que machos vocalizam durante a
(Brandão et al. 2003). estação chuvosa em áreas abertas. A espécie pode
utilizar diversos tipos de corpos d’água, como poças,
O girino é nectônico (i.e. são ativos no meio da
lagoas temporárias, lagoas permanentes ou áreas
coluna de água, evitando o fundo dos ambientes
brejosas (Brasileiro et al. 2005, Zina et al. 2007,
onde vive) e seu corpo possui diversas linhas laterais
Prado et al. 2009).
bem evidentes. Além da descrição morfológica,
pouco se conhece a respeito da história natural Depois de chuvas fortes formam grandes coros
desse estágio larval. reprodutivos, sendo que uma única poça pode
agregar centenas de indivíduos (Brasileiro et al.
Status de conservação: menos preocupante
2005). Machos dessa espécie são frequentemente
encontrados vocalizando no mesmo ambiente que S.
fuscovarius, porem as espécies diferem na utilização
do sítio reprodutivo. Enquanto machos de S.
fuscovarius vocalizam no chão, sempre voltados em
direção à lagoa, machos de S. similis vocalizam
empoleirados na vegetação herbácea/arbustiva nas
margens das poças, com orientações variadas
(Rossa-Feres & Jim 2001).
Essa espécie é abundante nas áreas de ocorrência e
se adapta bem a distúrbios causados pelo homem,
sendo frequentemente encontrada em habitações
humanas, ou próximo a elas, em canos e outros
refúgios produzidos pelo homem. Ocasionalmente
vocalizam dentro de canos e ralos (Lutz 1973).
Figura 18. Macho adulto de Scinax similis de Chapada Status de conservação: menos preocupante
Gaúcha, estado de Minas Gerais. Foto: RAB.

Scinax similis (Cochran 1952)


Registro no PNGSV: Espécie comum durante a
estação chuvosa, foi encontrada praticamente no
parque inteiro, sempre em agregados reprodutivos
próximos a corpos d’água lênticos.
Distribuição geográfica: Espécie com ampla
distribuição, conhecida nos seguintes estados
Brasileiros: São Paulo (Brasileiro et al. 2005, Zina et
al. 2007, Araújo et al. 2009, Prado et al. 2009, Rossa-
Feres et al. 2011), Rio de Janeiro (Alves & Silva 1999,
Salles et al. 2009, Silva-Soares et al. 2010), Espírito
Santo (Rödder et al. 2006) e Goiás (Cintra et al.
2009). Também existe registro da espécie para o
município de Itapúa no Paraguai (Brusquetti & Lavilla Figura 19. Macho adulto de Ololygon skaios da Chapada dos
2006). Veadeiros, Goiás. Apesar de não se referir à população de
nossa área de estudo, são animais superficialmente
História natural: Espécie pertence a um grupo de semelhantes. Foto: RAB.
difícil taxonomia (Scinax grupo ruber) e pode se
tratar de um complexo de espécies ao longo de sua Ololygon cf. skaios Pombal Jr, Carvalho Jr, Canelas &

108
Bastos 2010 (Brandão et al. 2016) e na região de Cabeceiras.
Registro na região: Espécie registrada em grotas e História natural: Espécie endêmica do Cerrado,
regiões de altitude do parque. Existem diversos pouco se sabe de sua história natural. Indivíduos em
registros em riachos temporários pedregosos na atividade durante a estação chuvosa (Outubro –
região do córrego Mato Grande e na área de entorno Março), quando machos se reúnem em áreas
do parque (região do Logradouro). alagadas próximas a poças de áreas abertas com
vegetação emergente e marginal abundantes, aonde
Distribuição geográfica: Espécie conhecida na
cantam em folhas largas de gramíneas e arbustos
localidade tipo (Santa Rita do Novo Destino, Goiás),
desde o chão até 1,5 m de altura (Nunes et al. 2010).
no Distrito Federal (Brandão et al. 2016), na Chapada
dos Veadeiros e em Pirenópolis, Goiás (Parque Status de conservação: Não avaliada
Estadual dos Pirineus).
História natural: Espécie endêmica do Cerrado,
Família Leiuperidae
pouco se sabe de sua história natural. Essa espécie
ocorre em matas de galeria e machos foram
encontrados vocalizando a partir de 21:00 h em
arbustos, rochas ou no solo (variando de 0-1m de
altura da água). O amplexo é axilar (Pombal-Júnior et
al. 2010).
Status de conservação: Dados deficientes

Figura 21. Macho adulto de Physalaemus centralis do vale do


Rio Paracatu, Brasilândia de Minas, Estado de Minas Gerais.
Foto: RAB

Physalaemus centralis Bokermann 1962


Registro no PNGSV: Espécie comum, facilmente
encontrada em diversas poças temporárias e brejos
durante a estação chuvosa. Foi registrada
praticamente no parque inteiro e em toda a região
da Fazenda Trijunção.
Figura 20. Macho adulto de Scinax tigrinus do Distrito
Federal. Foto: RAB. Distribuição geográfica: Physalaemus centralis
ocorre nos seguintes estados brasileiros: Minas
Scinax tigrinus Nunes, Carvalho Jr & Pereira 2010 Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso
Registros na região: Espécie registrada em grotas e do Sul, Maranhão, Tocantins e São Paulo. A espécie
regiões mais altas do Parque Nacional e nas também ocorre no nordeste do Paraguai e no
cabeceiras do Piratinga e região do Logradouro. Departamento Beni, na Bolívia (Brusquetti & Lavilla
2006, Brasileiro et al. 2008, Frost 2018)
Distribuição geográfica: Espécie endêmica do
Cerrado, ocorrendo no Brasil em três localidades do História natural: Espécie de rã de pequeno porte,
Brasil Central: Cabeceira Grande (Localidade tipo), facilmente localizada por sua vocalização, que soa
Jaraguá e Santo Antônio do Descoberto (GO) (Nunes como “Ináa”. Os indivíduos dessa espécie se
et al. 2010). Também ocorre no Distrito Federal reproduzem durante o período chuvoso, quando

109
formam grandes agregações reprodutivas em brejos
e poças. Os machos defendem o território onde
Physalaemus cuvieri (Fitzinger 1826)
vocalizam, sendo que são freqüentes a emissão de
cantos territoriais e duetos entre machos que estão Registro na região: Espécie comum durante a
cantando próximos (Brasileiro & Martins 2006) ou estação chuvosa, encontrada praticamente em todos
até mesmo interações agressivas entre machos, os locais amostrados, sempre formando agregados
onde machos que não estavam vocalizando se reprodutivos em corpos d’água lênticos (brejos,
aproximam silenciosamente por trás do macho que poças permanentes e temporárias).
estava vocalizando e iniciam um combate pulando Distribuição geográfica: Espécie com distribuição
sobre ele (Brasileiro 1998). ampla na América do Sul, é nativa dos seguintes
As fêmeas parecem escolher os machos, sendo que países: Argentina, Brasil e Paraguai, sendo que sua
elas se deslocam através do coro de machos distribuição no Brasil ocupa quase toda a extensão
cantando por tempo variável (30 min – 1 hora) até do país. Existem registros duvidosos, que precisam
parar muito próxima ao um macho, que sem contato ser confirmados, para os a Bolívia, Guiana, Uruguai e
prévio nenhum, pula em cima dela e começa o Venezuela (Mijares et al. 2008).
amplexo axilar (Brasileiro & Martins 2006). Não História natural: Espécie conhecida comumente
existem relatos de machos tentando interceptar como “rã-cachorro” devido à sua vocalização. É
fêmeas em movimento ou que não pararam perto típica de ambientes abertos, possui reprodução
dele. Após a realização do amplexo, os pares ficam prolongada durante a estação chuvosa, e os machos
imóveis no mesmo lugar ou vão até lugares próximos vocalizam em ambientes lênticos. A espécie é bem
e ficam parados até atividade do coro diminuir, generalista, tolerando alto grau de modificação
quando se deslocam até o sítio de ovoposição ambiental (Bokermann 1962), sendo comum em
construir seu ninho de espuma. inventários pela América do Sul, geralmente
Os girinos eclodem entre 48 e 72 horas a partir da apresentando grande abundância nas áreas de
construção do ninho e ficam nas partes rasas e ocorrência, até mesmo podendo ser uma espécie
ensolaradas dos corpos d’água, no meio da dominante nas comunidades (Oda et al. 2009).
vegetação ou no sedimento mole. O estágio larval Os machos utilizam diversos sítios de reprodução,
tem duração de cerca de um mês em condições podendo ser encontrados nas margens das poças
naturais e girinos são encontrados durante toda a quando utilizam corpos d’água grandes ou utilizando
estação chuvosa (Brasileiro & Martins 2006). o ambiente inteiro em pequenas poças (como, por
Status de conservação: Menos preocupante exemplo, pegadas de gado) ou vocalizando flutuando
na água (geralmente em poças rasas) (Andrade
1995). Os casais geralmente nidificam no mesmo
local, porem algumas fêmeas se afastam da água
durante período variável, enquanto outros casais
começam o processo de ovoposição logo após o
amplexo (Bokermann 1962). O processo de
ovoposição e a construção do ninho de espuma
foram descritos por Bokermann (1962), sendo que o
macho é o principal responsável pela construção do
ninho de espuma.
Os ninhos de espuma podem ser depositados
isoladamente ou de maneira agregada, onde vários
ninhos de espuma de casais diferentes são colocados
juntos formando um ninho de espuma “comunal”.
Figura 22. Macho adulto de Physalaemus cuvieri do rio Isso provavelmente ocorre para evitar a dessecação
Formoso, Fazenda Trijunção, Estado do Bahia. Foto: RAB. dos embriões, um grande fator de mortalidade para

110
a fase jovem (Andrade 1995). Geralmente a espécie chuvosa os indivíduos formam grandes coros
é generalista em sua dieta e se alimenta de reprodutivos em poças temporárias formadas pela
pequenos artrópodes que são comuns nas áreas chuva (Arzabe 1999).
(Bokermann 1962). É importante ressaltar que, Os machos vocalizam flutuando na água e
apesar da espécie se adaptar bem a ambientes frequentemente ocorrem interações agonísticas
alterados pelo homem, em áreas com alta densidade entre eles, evidenciadas pelo deslocamento dos
de ocupação humana foi registrado uma machos no corpo d’água e por “encontrões” entre
diferenciação genética na população, demonstrando machos (Cardoso & Arzabe 1993). As fêmeas já
interrupção no fluxo gênico (Telles et al. 2007). chegam nos sítios reprodutivos ovuladas e após
Status de conservação: Menos preocupante poucos minutos entram em amplexo axilar (Hödl
1992). Ninhos de espuma são construídos no local
por casais em amplexo, sendo que diversos casais
podem formar um ninho comunal, e
frequentemente ninhos de espuma são depositados
próximos uns aos outros (Hödl 1992, Cardoso &
Arzabe 1993). A duração do ninho de espuma é
pequena, sendo que, após 22 horas após a desova,
os ovos começam a eclodir e entre 12-45 horas os
ninhos de espuma desmancham (Hödl 1992,
Cardoso & Arzabe 1993).
A larva é bentônica (i.e. vive no fundo dos ambientes
aquáticos), se desenvolve em poças temporárias e
possui desenvolvimento extremamente rápido. Em
Figura 23. Macho adulto de Pleurodema diplolister do rio
condições laboratoriais girinos completaram o
Roda Velha, Roda Velha, Bahia. Foto: RAB. desenvolvimento entre 16-19 dias (Peixoto 1982).
Girinos da população paraibana completaram o
desenvolvimento em 33 dias no laboratório (Cardoso
& Arzabe 1993)
Pleurodema diplolister (Peters 1870)
A dieta dessa espécie foi estudada para uma
Registro na Região: Espécie registrada apenas por
população na Bahia. Os itens alimentares mais
um indivíduo, encontrado em uma estrada de areia
importantes foram Isoptera (forma alada),
na região da estiva. Era comum na Fazenda
Coleoptera e Formicidae. Foi encontrada partilha de
Trijunção, mas não tem sido mais encontrada desde
recursos alimentares, sendo que indivíduos maiores
que poças temporárias existentes nas cabeceiras do
foram mais seletivos e se alimentaram mais de
Rio Formoso até 2006 desapareceram por completo.
Formicidae, enquanto jovens utilizaram mais os
Distribuição geográfica: Espécie ocorre em áreas de cupins (Santos et al. 2003). Apesar de ser espécie
Caatinga e de Cerrado, possuindo distribuição ampla comum em algumas das áreas amostradas, passa a
no nordeste do Brasil ocorrendo a partir do norte de maior parte do tempo estivando, enterrada na areia.
Minas Gerais indo até o norte dos estados do Rio Ocorre em grande abundancia nos meses
grande do Norte, Ceará e Maranhão (Peixoto et al. reprodutivos, que dura um ou dois meses durante o
2008). ano (Arzabe 1999, Silva et al. 2007, Valdujo, et al.
História natural: Pequeno sapo de coloração clara, 2009, Protázio et al. 2010).
extremamente adaptado a ambientes secos, sendo Status de conservação: Menos preocupante
que passa a maior parte do tempo enterrado em
terreno arenoso, podendo até mesmo fazer câmaras
comunais onde vários indivíduos ficam estivando
juntos (Carvalho & Bailey 1948). Durante a estação

111
Família Leptodactylidae

Figura 24. Macho adulto de Leptodactylus chaquensis. Foto: Figura 25. Macho adulto de Leptodactylus furnarius das
RAB. veredas do Rio Roda Velha, Roda Velha, estado da Bahia.
Foto: RAB.
Leptodactylus chaquensis (Cei 1950)
Leptodactylus furnarius Sazima & Bokermann 1978
Registros na região: Foi registrada no PNGSV e
Registro na região: Registrado apenas em campos
entorno, em lagoas marginais, veredas e brejos,
alagados associados a veredas e uma lagoa marginal
inclusive em áreas alteradas, como estradas.
(Veredãozinho, Vereda das Grotas e Santa Rita).
Distribuição geográfica: Sua distribuição geográfica Também observado ocasionalmente em um alagado
está associada à Diagonal Seca que corresponde a nascente de riacho, na região do
(Caatinga/Cerrado/Chaco) e Pampas. Ocorre na Logradouro, entorno do PNGSV e nas veredas do Rio
Argentina, Paraguai, Uruguai, Bolívia e Brasil (AC, MT, Formoso. Foi observado nos meses de outubro a
SP, MG, RS, MS, RO, DF) (Santos & Cechin 2008, fevereiro, em atividade de vocalização. Em fevereiro
Calderon et al. 2009). foram localizados algumas tocas no Veredãozinho.
História natural: Espécie terrestre, ocupa margens de Distribuição geográfica: Distribuição ampla e
poças e alagados, onde deposita ninhos de espuma descontínua, frequente em formações abertas do
flutuantes. Machos vocalizam nas margens dos sudeste e centro-oeste do Brasil, nos estados de
corpos d'água ou parcialmente submersos. A Minas Gerais, São Paulo, Goiás, Mato Grosso, Mato
reprodução é explosiva, ocorrendo no período Grosso do Sul, Distrito Federal, Tocantins, Bahia e Rio
chuvoso. A desova é depositada na superfície da água Grande do Sul. Ocorre também no Uruguai, Paraguai
em ninho de espuma flutuante, em poças e alagados e Argentina (Baldo et al. 2008, Zank et al. 2008,
com pouca vegetação. Apresenta cuidado parental, Santos et al. 2010).
onde a fêmea fica próxima ou no meio do grupo de
História natural: É uma espécie típica do Cerrado,
girinos, os quais possuem comportamento gregário,
ocupando também outros biomas. L. furnarius ocupa
guiando-os para locais seguros em meio à vegetação
áreas abertas, e reproduz-se em poças e brejos.
aquática. A fêmea pode ficar em meio ao ninho de
Podem vocalizar algumas horas antes do crepúsculo
espuma antes da eclosão dos girinos, também como
e à noite, sobre o chão úmido ou encharcado.
forma de cuidado parental. É consumida na
Deposita a desova em ninhos de espuma dentro de
alimentação humana na Argentina (Prado et al. 2000,
tocas subterrâneas escavadas previamente pelos
Heyer et al. 2004, Uetanabaro et al. 2008).
machos em solo argiloso, arenoso ou turfa, próximas
Status de conservação: Fora de perigo de acordo com aos ambientes aquáticos. Os girinos são capazes de
a IUCN. Compreende um complexo de espécies produzir espuma, renovando o ninho,
(Heyer et al. 2004). comportamento que pode ser preventivo à

112
dessecação. Quando as chuvas se iniciam, as tocas Status de conservação: Fora de perigo de acordo com
são inundadas e seus girinos carregados para as
poças, onde se desenvolvem (Eterovick & Sazima
2004, Giaretta & Kokubum 2004). A etimologia do
nome faz menção ao termo em Latim, que
corresponde a forno, devido à forma das tocas
construídas pelos machos (Heyer & Heyer 2004).
Status de conservação: Fora de perigo de acordo com
IUCN. Espécie considerada comum, ocorre em várias
áreas protegidas. (Colli et al. 2004)

Figura 27. Macho adulto de Leptodactylus labyrinthicus de


Roda Velha, oeste do estado da Bahia. Foto: RAB.

a IUCN, ocorre em diversas áreas protegidas (exceto


Panamá)
Leptodactylus labyrinthicus (Spix 1824)
Registro na região: Espécie pouco abundante no
PNGSV, encontrada predominantemente em lagoas
marginais e áreas brejosas, nas margens do rio Preto,
Figura 26. Macho adulto de Leptodactylus fuscus das veredas Santa Rita e Carinhanha. Encontrada ocasionalmente
do Rio Formoso, Jaborandi, Estado da Bahia. Foto: RAB na Fazenda Trijunção. Distribuição geográfica: Ocupa
cerrados e caatingas no Brasil Central, Paraguai,
Leptodactylus fuscus (Schneider 1799) Argentina e Bolivia, podendo ocorrer também em
áreas degradadas anteriormente ocupadas por
Registro na região: Espécie muito comum, ocorre em florestas (Santos & Haddad 2006, Frost 2018).
quase toda a região.
História natural: É um dos maiores anuros brasileiros,
Distribuição geográfica: Ocorre da Argentina ao conhecida popularmente como rã-pimenta, devido à
Panamá (Frost et al. 2018). coloração vermelha na região inguinal e posterior da
História natural: É terrestre e noturna; reproduz coxa e por apresentar toxina cutânea que causa
durante a estação chuvosa. Os machos são territoriais ardência na pele e mucosas de humanos. Pode ser
e constroem tocas subterrâneas próximas a poças utilizada na alimentação humana em algumas
temporárias, vocalizando nas proximidades da toca. regiões. Espécie com grande adaptabilidade, inclusive
Os ovos são depositados no interior da toca, em em ambientes antrópicos, vem sendo usada
ninhos de espuma. No início das chuvas, a água experimentalmente em empreendimentos de
inunda a toca e transporta os girinos para as poças, ranicultura. Alimenta-se de artrópodes, pequenos
onde estes completam seu desenvolvimento. vertebrados e outras rãs (Feio et al. 2008, Heyer et
Provavelmente é um complexo de espécies. Adapta- al. 2008). Presume-se que seja uma espécie comum
se bem a habitats modificados, e é comum ao longo ao longo de sua distribuição. Os machos reprodutivos
de sua distribuição (Lima et al. 2006, Reynolds et al. apresentam antebraços hipertrofiados, espinhos
2004). córneos no peito e na base do polegar. O período
reprodutivo ocorre na estação chuvosa e os machos
podem iniciar atividades de vocalização antes do

113
crepúsculo, nas margens de ambientes aquáticos História natural: Habita áreas florestadas, tem hábito
permanentes ou temporários. As desovas em ninhos criptozóico (ocupa galerias, buracos naturais ou
de espuma são depositadas em bacias ou depressões escavados, ou barrancos), adaptando-se bem a
escavadas pelo casal em meio a tufos de gramíneas, ambientes alterados. Reproduz-se durante a estação
ou mesmo em bacias já construídas. Neste último chuvosa, quando machos vocalizam nas margens de
caso, as mesmas são reformadas pelas fêmeas. poças, próximos ou dentro das tocas, principalmente
Quando as chuvas inundam estas depressões, os após fortes chuvas. Iniciam a atividade de vocalização
girinos são carregados para as poças, onde podem se antes do crepúsculo, podendo continuar até o meio
alimentar de desovas e girinos de outras espécies ou da noite. Machos constroem tocas subterrâneas que
de sua própria espécie, completando seu podem formar galerias, onde é depositada desova
desenvolvimento. Girinos são noturnos, abrigando-se em ninho de espuma. Os girinos ficam aglomerados
durante o dia sob folhas, lama ou outros ninhos de e podem produzir espuma para evitar dessecação. A
espuma. Existe interação agonística (lutas) entre água da chuva inunda as tocas e os girinos são
machos, nos quais os espinhos córneos são utilizados transportados para as poças, onde completam seu
para ferir o oponente (Silva et al. 2005). No período desenvolvimento (Toledo et al. 2005, Lima et al. 2006,
diurno, os adultos ficam em tocas preenchidas por Haddad et al. 2008, Heyer et al. 2008).
água ou perfurações entre raízes de gramíneas, Status de conservação: Fora de perigo de acordo com
próximos aos ninhos de espuma (Silva et al. 2005,
a IUCN, ocorre em diversas áreas protegidas (Heyer
Silva & Giaretta 2008).
et al. 2008)
Status de conservação: Fora de perigo de acordo com
a IUCN, ocorre em várias áreas protegidas (Heyer et

Figura 28. Macho adulto de Leptodactylus mystaceus da Figura 29. Macho adulto de Leptodactylus mystacinus da
região de Brasilândia de Minas. Foto: RAB. região de Brasilândia de Minas, Minas Gerais. Foto: RAB.

al. 2008).

Leptodactylus mystacinus (Burmeister 1861)


Leptodactylus mystaceus (Spix 1824) Registro na região: Observada nas lagoas marginais
Registro na região: Foi registrada no entorno do ao rio Preto e Carinhanha, no PNGSV e entorno,
PNGSV, no mês de setembro, antes do início das próximo à região do Rio dos Bois e ainda em uma
chuvas, em riacho permanente com leito de pedras lagoa marginal ao Ribeirão de Areia. Foi registrada
(Barra Grande, Logradouro), não estava em atividade também em riachos, principalmente antes do início
de vocalização. das chuvas, como alguns riachos tributários do rio
Mato Grande (Córrego Estiva/Diamante, Atrás do Céu
Distribuição geográfica: Ocorre amplamente na
e Pedra do Forno), que ainda mantinham poças
América do Sul: Brasil, Peru, Bolívia, Paraguai,
Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e permanentes ao longo de seu curso.
Guiana Francesa (Lima et al. 2006).

114
Distribuição geográfica: L. mystacinus é uma espécie mas em populações dispersas, portanto raramente
comum no Cerrado e no Chaco, além de outros
biomas no Brasil. Ocorre na Bolívia, Argentina,
Paraguai e Uruguai (Heyer et al. 2008, Frost 2011).
História natural: Ocorre em áreas abertas, florestas
e áreas desmatadas, adaptando-se bem em locais
alterados. Utiliza predominantemente poças
temporárias ou cursos d'água permanentes, sendo
raramente visualizados em áreas de veredas (Heyer
et al. 2008, Oliveira-Filho & Giaretta 2008). Espécie
terrestre e noturna, vocaliza entre o folhiço no chão
ou em meio a vegetação herbácea, em locais
próximos a corpos d'água, durante a estação chuvosa
(Heyer et al. 2008, Uetanabaro et al. 2008). Os
machos escavam câmaras subterrâneas e após a
Figura 30. Macho adulto de Leptodactylus syphax de Brasília,
corte, guiam as fêmeas até elas. As fêmeas se Distrito Federal. Foto: RAB.
aproximam de machos que estão em atividade de
vocalização ou de machos silenciosos, que mantém
um comportamento de bater repetidamente suas são encontradas séries extensas coletadas (Heyer et
mãos e pés no chão. Este comportamento pode al. 2008).
consistir em alguma forma de comunicação sísmica
ou display visual. A desova em ninhos de espuma é
Leptodactylus syphax Bokermann 1969
depositada nestas tocas. Girinos também são capazes
de produzir espuma, para renovação do ninho. Os Registro no PNGSV: Espécie registrada em grotas e
girinos crescem nas tocas, que ao serem inundadas regiões de altitude do parque existem diversos
ao início das chuvas, liberam as larvas nas poças para registros em riachos temporários pedregosos na
completar seu desenvolvimento, o qual pode finalizar região do córrego Mato Grande e na área de entorno
em cerca de 13 dias. Apresenta dimorfismo sexual do parque (região do Logradouro). Os machos são
com relação ao tamanho corporal, sendo fêmeas abundantes durante a estação chuvosa, porem são
maiores que os machos e ainda no formato do de difícil visualização, já que a maioria canta dentro
focinho (espatulado nos machos) e coloração da de cupinzeiros ou buracos profundos.
região gular (pode ser escura nos machos). Durante Distribuição geográfica: Espécie endêmica do
o dia podem abrigar-se nas câmaras subterrâneas, Cerrado, ocorrendo no Brasil nos estados de São
em meio a raízes de gramíneas ou em buracos de Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Piauí e Paraíba
rachaduras na lama seca (De Carvalho et al. 2008, (Martins & Silva 2009). Existem registros não
Oliveira-Filho & Giaretta 2008, Heyer et al. 2008). confirmados para Bolívia e Paraguai (Frost 2011).
Oliveira-Filho & Giaretta (2008) observaram
interações agonísticas entre machos, nas quais os História natural: Espécie típica de regiões rochosas e
machos residentes emitem vocalizações territoriais riachos de altitude, se reproduz durante a estação
e batem pés e mãos no chão para afugentar os chuvosa (Ávila & Ferreira 2004, Uetanabaro et al.
invasores. Caso estes últimos persistam no território 2007). Os machos vocalizam escondidos em buracos
ocupado, ocorre a luta até que um deles fuja. O nome (locas de pedra ou cupinzeiros) (Bokermann 1969),
vem do grego "mystax", que significa bigode, fazendo geralmente iniciando o período de vocalização antes
referência à coloração clara no seu lábio superior que das primeiras chuvas (Silva & Giaretta 2009). Os
dá aparência de um bigode (Heyer et al. 2003). machos são territoriais, geralmente mantendo um
espaçamento entre si (Silva & Giaretta 2009) e
Status de conservação: Fora de perigo de acordo com interações agressivas estão registradas na literatura,
IUCN. Provavelmente trata-se de um complexo de incluindo cantos territoriais e comunicação sísmica
espécies. Espécie comum ao longo da distribuição, entre machos (Cardoso & Heyer 1995). Essa

115
comunicação sísmica foi relatada durante uma
interação agonística, quando um macho invadiu o
território de outro macho que já estava vocalizando.
Os ninhos de espuma são depositados em pequenas
bacias próximas à água, que podem ser escavadas no
meio de gramíneas, sob o folhiço, em locas na rocha
ou sobre o solo nu. Os ninhos geralmente são
depositados em locais sombreados (Silva & Giaretta
2009) e apresentam uma alta mortalidade (são
frequentemente atacados por insetos, secam ou são
levados por enxurradas).
Geralmente os girinos eclodem após quatro dias da
deposição do ninho e ocorrem durante a estação
Foto 31. Macho adulto de Chiasmocleis albopunctata da
chuvosa em riachos temporários de ambientes
Fazenda Trijunção, Cocos, Bahia. Foto: RAB.
rochosos. Pouco se sabe a respeito de sua ecologia a
não ser um relato de produção de espuma pelos na região do Rio Itaguarizinho, ao norte do Parque.
próprios girinos (Silva & Giaretta 2009). Adultos foram encontrados vocalizando em um
Status de conservação: Menos preocupante grande coro em poça temporária no distrito de
Ribeirão de Areia. Na Fazenda Trijunção ocorre na
sede Guará.
Leptodactylus sertanejo Giaretta & Costa 2007 Distribuição geográfica: Espécie nativa de três
Registros: Espécie observada no entorno do parque países: Bolívia (Köhler & Lötters 1999), Paraguai
nacional. Adultos foram encontrados vocalizando no (Aquino et al. 2004) e Brasil. No Brasil essa espécie
distrito de Ribeirão de Areia em uma área recém ocorre em Goiás (Borges & Juliano 2007, Oda et al.
queimada durante a estação chuvosa. Os machos 2009), Distrito Federal (Brandão et al. 2016), Mato
vocalizavam em cima de moitas queimadas de Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais
capim. Já foram registrados ao longo dos campos (Caramaschi & Cruz 1997) e São Paulo (Toledo et al.
alagados do Rio Formoso. 2003, Ribeiro-Júnior & Bertoluci 2009, Silva et al.
2009). No entanto a população Boliviana pode
Distribuição geográfica: Espécie endêmica do
pertencer a outra espécie, devido a diferenças no
cerrado, com ampla distribuição no bioma.
canto (Oliveira-Filho & Giaretta 2006).
História natural: Espécie endêmica do Cerrado,
História natural: Essa espécie de anfíbio é pequena e
pouco se conhece a respeito de sua história natural.
bem característica. Seu corpo é preto ou marrom-
Sabe-se que machos cantam em áreas com
escuro e cheio de manchas brancas, incluindo a
gramíneas, naturais ou artificiais, perto de veredas
ponta de seu focinho, que apresenta uma grande
ou lagoas. Machos costumam cantar embaixo de
mancha branca em forma de “V”. Essa espécie possui
vegetação densa, dentro de câmaras subterrâneas
hábitos fossoriais, ou seja, passa a maior parte do
(N=2), ou expostos no chão (N=10) (Giaretta & Costa
tempo enterrada e pode ser encontrada com
2007).
freqüência dentro de cupinzeiros (Moreira & Barreto
Status de conservação: Menos preocupante 1996, Moreira et al. 2009). É comum ser encontrada
nas mesmas cavidades dos cupinzeiros ocupadas por
caranguejeiras. A espécie possui reprodução
Família Microhylidae explosiva durante a estação chuvosa, onde se
Chiasmocleis albopunctata (Boettger 1885) formam grandes aglomerados reprodutivos em
poças temporárias. Os machos vocalizam em partes
Registros na região: Espécie registrada no entorno
rasas perto das margens com o corpo parcialmente
do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Ocorre
submerso, em posição vertical (Oliveira-Filho &

116
Giaretta 2006) ou no solo próximo à margem (De La escuro, com diversas manchas amareladas e
Riva et al. 1996). A reprodução é frequentemente brancas, principalmente na região inguinal e na
concentrada durante as primeiras chuvas e a lateral do corpo. Sua vocalização é bem marcante e
atividade reprodutiva ocorre em um curto período parece um mugido bovino, o que dá o nome popular
de tempo (Toledo et al. 2003, Borges & Juliano 2007, dessa espécie em algumas regiões: Rã “Berro de boi”.
Schulze et al. 2009). Os girinos se desenvolvem em
Dermatonotus muelleri têm hábitos fossoriais, sendo
poças temporárias (Oliveira-Filho & Giaretta 2006).
que os indivíduos passam a maior parte de sua vida
Essa espécie é rara na maioria dos inventários,
enterrados, garantindo proteção contra a
possuindo baixa abundância nas áreas de
dessecação e/ou reidratação (Parker 1963), proteção
ocorrência, mesmo quando são utilizadas
contra predação e até mesmo disponibilizando
armadilhas de queda (Fredericksen & Fredericksen
novos recursos alimentares (Nomura et al. 2009).
Diferentemente do modo ancestral de outros
anuros, que cavam com os membros posteriores
(Emerson 1976), D. muelleri cava com o focinho e os
membros anteriores (Nomura et al. 2009). O pescoço
de D. muelleri possui alta mobilidade, sendo que, ao
iniciar a escavação, a cabeça do indivíduo faz um
ângulo de 90º com o chão. O procedimento de cavar
é extremamente rápido, com duração média de 71 ±
30.66 s, desde o começo do processo
(posicionamento da cabeça) até a câmara
subterrânea construída.
Dermatonotus muelleri possui dieta especializada
Figura 32. Macho adulto de Dematonotus muelleri de em cupins (Nomura & Rossa-Feres 2011) e um
Chapada Gaúcha, Minas Gerais. Foto: RAB. repertório comportamental interessante durante o
forrageio
2004, Brasileiro et al. 2005, Vasconcelos et al. 2010).
A reprodução na espécie é explosiva, com a
Status de conservação: Menos preocupante formação de grandes aglomerados reprodutivos
durante a estação chuvosa, podendo chegar a
centenas de indivíduos (Nomura 2003). Esses
Dermatonotus muelleri (Boettger 1885) aglomerados reprodutivos geralmente ocorrem
Registros na região: Existem registros de ocorrência durante períodos curtos no ano (Vieira et al. 2007),
em alguns pontos do Parque Nacional Grande Sertão durando poucos dias. O amplexo é axilar e a desova
Veredas, como a região da ponte do rio Preto e é depositada no fundo de corpos de água lênticos
lagoas na Bahia. (Cei 1980), onde os girinos se desenvolvem. O
estágio larval pode ser encontrado durante a estação
Distribuição geográfica: Espécie com distribuição
chuvosa (Rossa-Feres & Nomura 2006).
ampla na América do Sul, é nativa da Argentina,
Brasil, Bolívia e Paraguai. No Brasil a espécie ocorre A espécie é típica de ambientes abertos, porém pode
desde o Maranhão até Goiás e São Paulo (Frost 2011). ser encontrada ocasionalmente em fragmentos
florestais (Silva & Rossa-Feres 2007) e perto de
História natural: Espécie facilmente diagnosticada
habitações humanas (Ávila & Ferreira 2004).
pelo formato e coloração do corpo: O corpo é
Indivíduos geralmente ficam enterrados em solo
globoso e robusto, com membros muito curtos. Os
úmido e provavelmente não se adaptam bem a
dedos não possuem membrana e o focinho é curto,
distúrbios antrópicos no solo (Colli et al. 2004).
grosso, com uma ponta pronunciada e projeta-se
sobre a mandíbula inferior (Cei 1980). A coloração Status de conservação: Least concern
dorsal varia entre o mostarda, castanho e até verde

117
Figura 34. Macho adulto de Elaschistocleis piauiensis da
Fazenda Trijunção, Cocos, Bahia. Foto: RAB.

Figura 33. Macho adulto de Elachistocleis cesarii da região de


Roda Velha, Bahia. Foto: RAB. costeiras no Maranhão (São Luís) e Piauí (Cajueiro da
Praia, Parnaíba, Luiz Correia), bem como diversas
Elachistocleis cesarii (Miranda-Ribeiro 1920) localidades na Caatinga do Ceará (Viçosa, Caucaia,
Pacatuba, Mombaça, São Gonçalo do Amarante) e
Registros na Região: Espécie comum durante a
do Piauí (Picos, localidade-tipo). Ocorrem também
estação chuvosa foi encontrada praticamente no
em outras áreas de Cerrado, no Tocantins (Peixe,
parque inteiro, sempre formando agregados
Paranã) (Caramaschi & Jim 1983, Nunes et al. 2010,
reprodutivos em poças temporárias.
Toledo et al. 2010, Borges-Leite et al. 2012).
Distribuição geográfica: Ocorre no Brasil com ampla
História Natural: Espécie típica ambientes abertos,
distribuição em áreas abertas. Ocorre no Nordeste
incluindo ambientes antropizados. Como as demais
(Ceará, Sergipe e Bahia), no Brasil central (Mata
espécies de Elachistocleis, possui corpo ovóide e
Grosso, Goiás e Distrito Federal) e na região Sudeste
cabeça reduzida, triangular, mais larga que longa. O
(Espirito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São
focinho agudo e os olhos reduzidos indicam seu
Paulo) (Caramaschi 2010).
comportamento fossório. Distingue-se das demais
História natural: Espécie recentemente revalidada, espécies do gênero pelo tamanho, distribuição e
ela foi inicialmente descrita como uma sub espécie tamanho das manchas amarelas no ventre, axilas e
de Elachistcleis ovalis (Schneider 1799). É região inguinal (Caramaschi & Jim 1983). Apesar do
diagnosticada por possuir 1) Coloração ventral mais canto ser muito semelhante a outras espécies do
clara que o dorso, com marcas amareladas e mesmo gênero (apitos longos e agudos), distingue-
reticulações; 2) Presença de glândulas pós- se do canto de E. cesarii, que ocorre em simpatria,
comisurais atrás dos cantos da boca 3) tímpano por ser mais agudo, mais longo, mas com pulsos mais
oculto 4) Canto de anúncio com frequência curtos (Toledo et al. 2010, Nunes et al. 2010).
dominante média de 3.5 kHz (Toledo et al. 2010).
Quando manipulados tendem a simularem estarem
É fossorial e comumente encontrada em cupinzeiros. mortos, em um comportamento conhecido como
Status de conservação: Menos preocupante tanatose (Borges-Leite et al. 2012). Esse
comportamento, observado em diversos anuros, é
geralmente provocado por situações de estresse
Elachistocleis piauiensis Caramaschi & Jim 1983 extremo (no caso do E. piauiensis, a manipulação por
parte do pesquisador) e pode ser muito eficiente
Registros na região: Espécie registrada apenas na
contra serpentes.
fazenda Trijunção, mas com registros em outras
localidades do oeste da Bahia. Status de conservação: Menos preocupante
Distribuição geográfica: Espécie de ampla
distribuição geográfica, ocorrendo em áreas Famíla Craugastoridae

118
Figura 35. Macho de Barycholos ternetzi da região de Figura 36. Indivíduo de Siphonops paulensis da Fazenda
Cavalcante, Goiás. Foto: RAB. Trijunção, Cocos, Bahia. Foto: RAB.

Barycholos ternetzi (Miranda-Ribeiro 1937) Ordem Gymnophiona


Registros na região. Registrada apenas no entorno Família Caecilidae
do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Adultos
Siphonops paulensis Boettger 1892
foram encontrados vocalizando no distrito de
Ribeirão de Areia. Registro na região: Por ser um animal fossório e
pouco abundante, os encontros com a espécie
Distribuição geográfica: Espécie endêmica do
costumam ser ocasionais. Indivíduos foram
Cerrado possui grande área de ocorrência dentro do observados no interior do Parque Nacional Grande
bioma, com registros para Distrito Federal, Goiás, Sertão Veredas (região da Estiva) e também nos
Minas Gerais, São Paulo e Tocantins (Araujo et al. ambientes ao longo do rio Formoso, na Fazenda
2007, Martins et al. 2009, Brandão et al. 2016, Pavan Trijunção.
et al. 2004).
Distribuição geográfica: Espécie possui uma
História natural: Espécie terrestre de pequeno porte distribuição ampla na América do Sul, ocorrendo na
comum no cerrado, adultos são frequentemente Argentina (região norte), Brasil (regiões leste, oeste,
encontrados sobre a serapilheira de matas de central e sudeste), Paraguai (região nordeste) e
galeria, cerradões e em cerrado denso. Os machos Bolívia (região sudeste) (Aquino et al. 2004).
apresentam reprodução prolongada, vocalizando
durante vários meses durante a estação chuvosa. O História Natural: Possui corpo acinzentado, similar
amplexo é axilar e a desova é depositada na ao de uma minhoca, sendo diagnosticada pelo
serapilheira (Bastos et al. 2003). Os ovos podem grande número de segmentos e pelos sulcos
aderir entre si formando grupos de 3 ou 4 ovos transversais profundos (completos) (Cei 1980). É
(Caramaschi & Pombal-Júnior 2001). A superfície fossorial, habita ambientes terrestres úmidos e se
externa dos ovos é recoberta por partículas de solo, alimenta de minhocas, larvas e artrópodes (Cei
e machos adultos são encontrados próximos a 1980). Ocorre em áreas abertas ou formações
desovas, evidenciando um possível cuidado parental florestais abertas de terras baixas (Montero et al.
(Caramaschi & Pombal-Júnior 2001). Essa espécie 2005).
possui desenvolvimento direto, não tendo um Pouco se sabe a respeito da história natural da
estágio larval de vida livre (girino), como a maioria espécie, sendo que os poucos relatos que se tem da
das outras espécies de anfíbios. reprodução foram dados ocasionais de indivíduos
Status de conservação: Menos preocupante em cativeiro (Gans 1961). A espécie possui ovos
relativamente grandes (4,3 a 4,5 mm de diâmetro) e
uma ninhada pequena (6 ovos).

119
Os ovos são depositados na serapilheira e existe Araújo, O.G.D.S., Toledo, L.F., Garcia, P.C.A. &
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Guarino Rinaldi Colli
Frederico Gustavo Rodrigues França
Daniel Oliveira Mesquita
Davi Lima Pantoja

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Guarino Rinaldi Colli
Frederico Gustavo Rodrigues França
Daniel Oliveira Mesquita
Davi Lima Pantoja

A Fazenda Trijunção é parte de uma grande região baiano é parte de um refúgio de estabilidade
fisiográfica conhecida como Médio São Francisco climática—Refúgio da Serra Geral de Goiás—onde
que, no oeste da Bahia, compreende as bacias dos condições climáticas adequadas para a ocorrência do
rios Carinhanha, Corrente e Grande, tributários da Cerrado existiram mesmo durante as flutuações
margem esquerda do rio São Francisco (Secretaria climáticas do Quaternário (Werneck et al. 2012b).
de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Em função disso, é esperado que abrigue uma alta
Ambiente 2006). O oeste baiano é um vasto platô diversidade taxonômica e genética de linhagens
chamado de “Espigão Mestre”, “Serra Geral de endêmicas do Cerrado.
Goiás”, “Chapadão Ocidental Baiano” ou ainda
Graças à topografia plana, solos profundos e grande
“Chapadão Ocidental do São Francisco”, cuja altitude
disponibilidade de água, o oeste baiano sofreu
varia entre 750-950 m (Grohmann & Riccomini 2012,
profundas transformações nas últimas décadas,
Villela & Nogueira 2011). Esse platô consiste
passando de um grande vazio econômico e
primariamente de arenitos do Grupo Urucuia
populacional a uma das mais importantes fronteiras
(Cretáceo) depositados sobre calcários do Grupo
agrícolas no Brasil (Brannstrom 2005, Santos 2008,
Bambuí (Neoproterozóico) que, pela sua porosidade,
Mendonça 2006, Brannstrom et al. 2008). Isso teve
contribuem para a formação do aquífero Urucuia,
grande impacto sobre os ambientes naturais, sendo
importante suprimento das bacias do Parnaíba e do
que entre 1988 e 2011 as áreas de vegetação nativa
São Francisco (RADAMBRASIL 1982, Campos &
passaram de 89,41% a 62,84%, indicando uma taxa
Dardenne 1997, Iglesias & Uhlein 2009). Os solos
de desmatamento de cerca de 1,61% ou 87.355 ha
predominantes são Latossolos Vermelho-Amarelos
por ano (de Oliveira et al. 2017a). Essa região possui
Distróficos e Neossolos Quartzarênicos (EMBRAPA.
quatro unidades de proteção integral, que cobrem
Centro Nacional de Pesquisa de Solos 2006, Jacomine
cerca de 5% de sua área (Parque Nacional das
1976). O clima é do tipo Aw na classificação de
Nascentes do Rio Parnaíba, Parque Nacional Grande
Köppen, fortemente sazonal, com precipitação anual
Sertão Veredas, Estação Ecológica Serra Geral do
concentrada entre Outubro e Abril, maior na parte
Tocantins e Refúgio de Vida Silvestre das Veredas do
oeste da região (~1400 mm) e diminuindo para cerca
Oeste Bahiano), e quatro de uso sustentável, que
de 600 mm próximo ao rio São Francisco, na
cobrem cerca de 15% da área (Área de Proteção
Depressão Sertaneja (Agência Nacional de Águas –
Ambiental Bacia do Rio de Janeiro, Área de Proteção
ANA et al. 2004, Alvares et al. 2013). A vegetação está
Ambiental do Rio Preto, Área de Proteção Ambiental
descrita no Capítulo 3 (Ribeiro et al. 2019). O oeste

131
de São Desidério e Floresta Nacional de Cristópolis) circulação do ouro pelo Caminho da Bahia em 1702,
(de Oliveira et al. 2017b). ele continuou sendo muito utilizado para o
transporte de mercadorias, cavalos e escravos para
Os primeiros naturalistas a pisarem a região da
Goiás, bem como para o contrabando de ouro
Trijunção, na divisa entre os estados da Bahia, Goiás
(Straforini 2012, Costa 2016). Através do Caminho da
e Minas Gerais, foram o zoólogo Johann Baptist von
Bahia, entrava-se em Goiás principalmente por
Spix e o botânico Carl Friedrich Philipp von Martius.
Natividade, Taguatinga ou São Domingos (Karash
Durante o segundo semestre de 1818, eles
2016), mas Spix e Martius tomaram uma rota mais
atravessaram o rio São Francisco em Januária, vindos
ao sul.
de Montes Claros, foram em direção oeste até Flores
de Goiás e voltaram para Salvador, atravessando Os topônimos do trecho da viagem de Spix e Martius
novamente o rio São Francisco entre Carinhanha e entre o rio São Francisco e o Vão do Paranã estão
Malhada (Spix & Martius 1828). Essa parte do listados abaixo, na forma original em Latim científico
itinerário que diz respeito à Trijunção, indicada no apresentada na obra Flora Brasiliensis pelo seu último
atlas da viagem que realizaram ao Brasil (Spix & diretor (Urban 1906) e um dos mais brilhantes
Martius 1831), sofre de limitações devido aos colaboradores (de Sampaio 1928). A grafia original é
recursos disponíveis à época para a cartografia. O seguida da forma traduzida (Kaltner 2017) e, quando
itinerário e os topônimos da viagem de Spix e Martius necessário, é feita uma correspondência com nomes
foram descritos por diversos autores (Vanzolini 1996, atuais e são feitas correções. A localização de alguns
Kaltner 2017, Tiefenbacher 1983, Urban 1906, pontos relevantes desse itinerário está indicada na
Papavero 1971); entretanto, essas descrições são Figura 1.
pouco esclarecedoras quanto à exata localização e 1. Porto de Salgado [Porto de Salgado]. Porto
nomes atuais de muitos dos locais visitados, para a travessia para Januária, na margem
provavelmente pela falta de conhecimento de direita do rio São Francisco.
primeira mão da geografia e da história da região da
Trijunção. Dessa forma, consideramos adequado aqui 2. trans Rio S. Francisco ad Brejo de Salgado
suprir algumas dessas limitações na tentativa de (usque 1. IX.) [através do Rio São Francisco
resgatar o itinerário dos dois naturalistas na região até o Brejo de Salgado (até 01.09.1818)].
da Trijunção. Januária.
No trecho da viagem entre o rio São Francisco e o Vão 3. Serra de Salgado [Serra de Salgado]
do Paranã, Spix e Martius percorreram parte do 4. mons Itabirasava [Monte Itabiraçava]
Caminho da Bahia (ou Caminho dos Currais), que
conectava Salvador ao interior de Goiás e Minas 5. Faz. Sumidouro [Fazenda Sumidouro]
Gerais (Andrade 2013, Straforini 2012). Essa rota foi 6. Rio das Pedras [Rio das Pedras]
utilizada desde o século XVI para acessar as minas do
7. Serra das Araras [Serra das Araras]
interior do país através do rio São Francisco e
tributários (Karash 2016). Apesar de bem mais longo, 8. Sete Lagoas [Sete Lagoas]
o Caminho da Bahia era considerado preferível a 9. Agoa Doce [Água Doce]
atravessar da Serra do Mar partindo-se do Rio de
Janeiro ou São Paulo, em função da topografia menos 10. Rib. Patos [Ribeirão dos Patos]
acidentada e da abundância de currais e roças ao 11. Rib. dos Boys [Ribeirão dos Bois]
longo do trajeto, que facilitavam o deslocamento e
12. Yba [Fazenda Iá]
alimentação de mulas e bois (Antonil 1837). É
importante notar que o transporte nessa época 13. Rio Caranhanha [Rio Carinhanha]
envolvia tropas de mulas, com dezenas de animais 14. Vao do Paranán [Vão do Paranã]
que necessitavam de pastos para a alimentação,
inexistentes em áreas de florestas, e de currais nos 15. Faz. do Rio Fermozo [Fazenda do Rio
pontos de parada para evitar que se dispersassem à Formoso]. Provavelmente o local onde hoje
noite (Silva et al. 1997). Apesar da proibição da existe a cidade de Formoso (Mendes, 2002).

132
Figura 1. A. Detalhe do mapa—General-Charte von Süd-America—incluído no atlas da viagem de Spix e Martius ao Brasil (Spix
& Martius, 1831), mostrando o itinerário entre o rio São Francisco e o Vão do Paranã. B. Mapa atual da mesma região (Fonte:
Mapa Político do Brasil na escala 1:5.000.000, IBGE, 2016).
16. Rib. Paratinga [Ribeirão Paratinga]. Rio Santa Maria. Os registros foram criados para
Piratinga, que nasce no município de a cobrança do “quinto” do ouro nas “saídas”
Formoso e é tributário da margem esquerda das minas ou de impostos sobre as
do rio Urucuia que, por sua vez, é tributário mercadorias nas “entradas” das minas,
da margem esquerda do rio São Francisco. enquanto que “contagens” eram registros
especializados na tributação sobre os
17. Contagem de S. Maria [Contagem de Santa
animais transportados entre as capitanias
Maria]. Posto de arrecadação de tributos, na
(http://www.receita.fazenda.gov.br/historic
maioria das vezes chamado de Registro de
o/srf/historia/catalogo_colonial/letrar/regist

133
ros.htm). Alencastre (1864) indicou que se (outrora pertencente a Pernambuco), Arraial
situava na divisa entre o distrito de Carinhanha (até 24.09.1818) através do Rio
Cavalcante (p. 292) e o de Santa Luzia (p. 293; São Francisco até Malhada]
atualmente, Luziânia). Mattos (1874) indicou Além dos topônimos listados acima, a obra Reise in
que distava 13 léguas do Arraial de Flores (p. Brasilien (Spix & Martius 1828) fornece algumas
346; atualmente, Flores de Goiás), 12.5 informações adicionais:
léguas do Arraial de Santa Rosa (p. 347;
atualmente, Santa Rosa, distrito de Formosa) 1. Serra de Salgado [Serra de Salgado]
e que se situava “Sobre o córrego de Santa 2. mons Itabirasava [Monte Itabiraçava]
Maria, braço do Corrente” (p. 373). Mattos
(1875) indicou que distava 94 léguas de 3. Faz. Sumidouro [Fazenda Sumidouro]
Goyas (pp. 101-102; atualmente, Goiás), três 4. Borrachudo [Riacho Borrachudo]
léguas de S. Roque (antiga Fazenda São
5. Rio das Pedras [Rio das Pedras]
Roque, em Flores de Goiás) e 22.5 léguas de
Flores de Goiás “no tempo das aguas” e 12.5 6. Serra das Araras [Serra das Araras]
léguas “no tempo secco” (pp. 112-113). Essas 7. Fazenda de S. Domingos [Fazenda São
informações permitem precisar a localização Domingos]
desse registro em Santa Maria, distrito de
Flores de Goiás, no ponto onde a BR-020 8. Sete Lagoas [Sete Lagoas]
passa sobre o Ribeirão Santa Maria (Figura 1). 9. Agoa Doce [Água Doce]
18. civit. Goyaz Faz. de S. Roque [na capitania de 10. Bache Patos [Córrego dos Patos]
Goiás: Fazenda de São Roque]. Antiga
11. Ribeirâo dos Boys [Ribeirão dos Bois]
Fazenda São Roque, na altura do km 126 da
BR-020, em Flores de Goiás. 12. Yhá [Fazenda Iá]
19. Serra do Meio [Serra do Meio] 13. Rio Carynhanha [Rio Carinhanha]
20. civit. Minas Geraës Contagem de S. Maria [na 14. Chapada de (do) Paranán [Chapada do
capitania de Minas Gerais: Contagem de Paranã]
Santa Maria] 15. Fazenda do Rio Fermozo [Fazenda Rio
21. Faz. do Rio Fermozo [Fazenda do Rio Formoso]
Formoso] 16. Paratinga [Ribeiro Paratinga]
22. Rib. Juquery [Ribeirão Jequeri]. Afluente das 17. Paranan-Thales (Vâo) [Vão do Paranã]
cabeceiras do córrego Tabocas (tributário do
rio Piratinga), que ficam a cerca de 5 km ao 18. Contagem de Santa Maria (Contagem de S.
sul do marco da Trijunção, na extremidade Maria)
noroeste do Parque Nacional Grande Sertão 19. Fazenda de S. Roque [Fazenda de São Roque]
Veredas. Spix e Martius dormiram nas
20. Serra do Meio [Serra do Meio]
nascentes do Juqueri, na primeira noite
depois de saírem da Fazenda do Rio Formoso 21. Contagem de S. Maria nach der Fazenda do
em direção a Carinhanha, e se referiram a Rio Fermozo [Volta para “Contagem de S.
essa área como de “verdadeira beleza idílica” Maria”, na “Fazenda do Rio Fermozo”
(Spix & Martius 1828, p. 579) (Formoso)]
23. Rio Fermozo [Rio Formoso] 22. Rio Carynhanha [Rio Carinhanha]
24. ultra Caranhanha prov. Bahia (olim ad 23. Ursprunge des Juquery [Nascente do Juqueri]
Pernambuco pertin.) Arr. Caranhanha (usque 24. Rio Fermozo [Rio Formoso]
24. IX.) trans Rio S. Francisco ad Malhada
[além de Carinhanha na província da Bahia

134
25. Carynhanha in den Rio de S. Francisco lagartos endêmicas da região, e foram também
[Carinhanha na Foz do Rio São Francisco] realizadas as primeiras análises da fauna de répteis
da região (Recoder & Nogueira 2007,
26. Arrayal Carynhanha [Arraial de Carinhanha]
IBAMA/FUNATURA 2003, Nogueira et al. 2009,
27. Registro [Registro] Freitas et al. 2016). Ainda, na descrição do lagarto
28. Malhada [Malhada] Vanzosaura savanicola foram utilizados espécimes
coletados na Fazenda Trijunção, embora eles não
O atlas dessa viagem (Spix & Martius 1831), traz ainda tenham sido incluídos na série-tipo (Recoder et al.
um mapa—General-Charte von Süd-America—com o 2014). Esses estudos revelaram alta diversidade de
seguinte itinerário entre Formoso e o Vão do Paranã: répteis na região da Trijunção, com maior influência
1. Formozo. Fazenda do Rio Formoso. do Cerrado, mas também da Caatinga, bem como a
existência de espécies endêmicas.
2. Curral. Provavelmente Sítio d’Abadia.
Nós registramos 48 espécies de répteis na Fazenda
3. Capão do Mel. Provavelmente Povoado
São Francisco da Trijunção, o que representa quase
Capão, a cerca de 35 km de Sítio d’Abadia,
50% das espécies de répteis conhecidas para a região,
onde se situa a Escola Municipal Fazenda
incluindo o oeste da Bahia e o extremo noroeste de
Capão.
Minas Gerais (Tabela 1). Nossos registros consistem
4. Contagem de Sa. Maria. Registro de Santa de uma espécie de jacaré, 5 de anfisbênias, 18 de
Maria. lagartos e 24 de serpentes. Desse total, 12 espécies
5. Frotta. Fazenda São Roque, onde vivia o Sr. são registradas pela primeira vez na região: quatro
Frotta (wo der Vorstand (Commandante) anfisbênias ou cobras-de-duas-cabeças
dieses Districtes, Senhor Frotta, wohnte; Spix (Amphisbaena bedai, A. brasiliana, A. kraoh, A.
& Martius 1828, p. 578) leeseri), quatro lagartos (Bachia bresslaui, Cercosaura
ocellata, Hemidactylus mabouya e Tropidurus sp.) e
Esse itinerário indica claramente que Spix e Martius quatro serpentes (Apostolepis assimilis, Eunectes
passaram, no retorno do Vão do Paranã para murinus, Phalotris labiomaculatus e Leptodeira
Carinhanha, pelo local onde hoje se situa a Trijunção annulata). Acrescentando Lygophis meridionalis e
e pernoitaram nas cabeceiras do Juqueri, um local Philodryas patagoniensis, mencionadas em um
bem próximo do marco da Trijunção. O único réptil estudo sobre as serpentes do oeste baiano (Freitas
seguramente descrito a partir do material coletado et al. 2016), temos que 14 espécies são conhecidas
por Spix e Martius nesse trecho da viagem é o cágado na região unicamente por terem sido registradas na
Phrynops geoffroanus (Schweigger 1812), cuja Trijunção. Dentre as espécies da Trijunção
localidade-tipo é o rio Carinhanha perto da sua destacamos uma espécie ainda não descrita de
confluência com o rio São Francisco, “Habitat in aquis lagarto do gênero Tropidurus e a serpente Phalotris
lacustribus fluminis Carinhanhae, confluentis Sti labiomaculatus, espécie endêmica do Cerrado, até
Francisci” (Spix 1824, Vanzolini 1996). O exemplar então conhecida apenas por poucos registros na
(ZSMH 3008/0), um casco ainda bem preservado, está região de divisa entre os estados do Maranhão e
depositado na seção de herpetologia do Zoologische Tocantins. Nosso registro de P. labiomaculatus na
Staatssammlung München (The Bavarian State Trijunção, além de ser o primeiro registro no estado
Collection of Zoology), em Munique, Alemanha da Bahia, amplia expressivamente a distribuição
(Hoogmoed & Gruber 1983). Apenas recentemente geográfica conhecida para esta espécie, sendo o
os répteis da região foram devidamente estudados, registro mais meridional de ocorrência da espécie
em função do estabelecimento do Parque Nacional (Hamdan et al. 2013). A distribuição geográfica de P.
Grande Sertão Veredas, envolvendo diversos labiomaculatus é conhecida como o limite norte da
professores e alunos da Universidade de Brasília e de distribuição do gênero Phalotris (Hamdan et al.
outras instituições (IBAMA/FUNATURA 2003). A partir 2013). Destacamos ainda as espécies de
desses estudos, foram descritas Stenocercus Amphisbaena, de distribuição e biologia
quinarius (Nogueira & Rodrigues 2006) e Psilops extremamente mal conhecidas pois, devido aos seus
seductus (Rodrigues et al. 2017), duas espécies de

135
Figura 2. A. Ameiva ameiva (RAB); B. Ameivula xacriaba (RAB); C. Brasiliscincus heathi (DOM); D. Norops meridionalis
(DOM); E. Salvator duseni (DLP); F. Stenocercus quinarius (DOM); G. Tropidurus sp. (RAB); H. Vanzosaura savanicola (DOM).
Créditos: Davi L. Pantoja (DLP), Daniel O. Mesquita (DOM), Reuber A. Brandão (RAB).

136
Figura 3. A. Apostolepis ammodites (DOM); B. Epicrates crassus (RAB); C. Eunectes murinus (RAB); D. Leptodeira annulata
(RAB); E. Phalotris labiomaculatus (DLP); F. Philodryas patagoniensis (RAB); G. Phimophis guerini (RAB); H. Xenodon nattereri
(RAB). Créditos: Davi L. Pantoja (DLP), Daniel O. Mesquita (DOM), Reuber A. Brandão (RAB).

137
hábitos subterrâneos, são dificilmente amostradas imaculadas e sete infralabiais (Hamdan et al. 2013,
(Colli et al. 2016). O uso de armadilhas de Moura et al. 2013).
interceptação-e-queda contribuiu para termos Aproximadamente 76 espécies de lagartos (42% de
registrado essas espécies de difícil visualização. endêmicas), 158 serpentes (32%) e 33 anfisbênias
Nós registramos 100 espécies de répteis na região da (61%) são encontradas no Cerrado (Nogueira et al.
Trijunção e seu entorno, incluindo o oeste da Bahia 2011). Considerando lagartos, a região da Fazenda
e o extremo noroeste de Minas Gerais: duas de São Francisco da Trijunção apresenta riqueza
jacarés, três de tartarugas, oito de anfisbênias, 30 de consideravelmente alta (30 espécies) quando
lagartos e 57 de serpentes (Tabela 1). Destas, 58% comparada a outras localidades de Cerrado (Nogueira
são generalistas no uso do hábitat, sendo et al. 2009), que geralmente variam de oito espécies
encontradas em dois ou mais ambientes, e 36% são em Alvorada do Norte, Goiás e Dianópolis, Tocantins
especialistas, sendo seis aquáticas, 20 de cerrado e (Mesquita et al. 2007), 10 espécies na Reserva
10 de florestas (Tabela 1). Quanto à distribuição das Biológica Unilavras-Boqueirão, no sul de Minas Gerais
espécies, 53% são de ampla distribuição, ocorrendo (Novelli et al. 2012), 16 espécies em Paracatu, Minas
no Cerrado, Caatinga e em pelo menos mais um gerais e São Domingos, Goiás (Mesquita et al. 2007),
bioma, 33% das espécies são endêmicas do Cerrado, 17 espécies no Cerrado da Área Alfa, ao sul de Brasília
4% da Caatinga e 9% ocorrem tanto no Cerrado (Nogueira et al. 2005), 20 espécies na Reserva
quanto na Caatinga (Tabela 1). Das espécies de ampla ecológica do IBGE em Brasília (Colli et al. 2011), até
distribuição, algumas ocorrem em apenas mais um 26 espécies da região do Jalapão, Tocantins (Vitt et
ambiente além do Cerrado e da Caatinga (e.g., al. 2005). Ainda, a riqueza de serpentes encontrada
Amphisbaena brasiliana, Brasiliscincus heathi, para a região também é consideravelmente alta em
Corallus hortulanus, entre outras) e outras ocorrem comparação com localidades bem amostradas do
na maior parte da América do Sul (e.g., Caiman Cerrado, onde varia entre 21 espécies para a Estação
latirostris, Ameiva ameiva, Boa constrictor, entre Ecológica de Santa Bárbara, São Paulo (Araujo et al.
outras). Dentre as espécies endêmicas do Cerrado, 2010); 36 espécies em Itirapina, São Paulo (Sawaya
destacamos algumas pouco conhecidas como et al. 2008); 43 espécies em Nova Ponte, Minas Gerais
Amphisbaena bedai, Amphisbaena carli, Psilops (Costa et al. 2014); 47 espécies no Parque Nacional
seductus, Kentropyx paulensis, Salvator duseni, da Chapada dos Veadeiros, Goiás (França & Braz
Tupinambis quadrilineatus, Apostolepis ammodites, 2013); até 61 espécies no Distrito Federal (Franca et
Phalotris labiomaculatus, Lygophis meridionalis e al. 2008). Mesmo com esse alto número de espécies
Trilepida brasiliensis. A região de estudo se encontra para a Trijunção, é certo que novas espécies serão
na transição entre a Caatinga e o Cerrado, e adicionadas a esta lista em novos inventários. Duas
apresenta quatro espécies consideradas endêmicas espécies que muito provavelmente ocorrem na
da Caatinga (Tabela 1). Finalmente, acreditamos que região, mas que ainda não foram registradas, são as
o registro de Bothrops leucurus na área de estudo serpentes aquáticas Helicops angulatus e
(Freitas et al. 2016) trate-se na verdade de B. Hydrodynastes gigas. Finalmente, apesar da
moojeni, uma vez que a primeira é mais associada à dificuldade de inventários bem realizados de
Floresta Atlântica (Campbell & Lamar 2004). Da anfisbênias, a riqueza da região é alta (6 espécies),
mesma forma, nós constatamos que o registro prévio comparável a localidades muito bem amostradas,
de Phalotris concolor na área de estudo (Freitas et al. como a Reserva ecológica do IBGE em Brasília, com
2016) foi baseado em um indivíduo de P. cinco espécies (Colli et al. 2011).
labiomaculatus (CHUNB 51553); portanto, não há Os répteis da Trijunção têm relevância para a
confirmação da ocorrência de P. concolor no estado compreensão de processos biogeográficos que
da Bahia. Phalotris labiomaculatus se diferencia de operaram no Cerrado e na Caatinga, bem como para
P. concolor por apresentar escamas labiais em cor subsidiar o manejo e a conservação da biodiversidade
creme com manchas pretas e oito infralabiais, da região. O oeste baiano faz parte de um refúgio de
enquanto P. concolor apresenta escamas labiais estabilidade climática do Cerrado, designado
“Refúgio da Serra Geral de Goiás” (Werneck et al.

138
Tabela 1. Répteis da Fazenda São Francisco da Trijunção (*) e entorno (oeste da Bahia e extremo noroeste de Minas Gerais).
Hábitat: aquático (AQ), campo (CP), cerrado (CR), mata (M). Distribuição: endêmica da Caatinga (CA), endêmica do Cerrado
(CE), ou de ampla distribuição (AD). Ameaça segundo “Lista Nacional Oficial de Espécies da Fauna Ameaçada de Extinção”
e CITES. Ap. 2: Apêndice II, CITES; VU: vulnerável. Fonte: 1- Carvalho e Véras Batista (2013); 2- Carvalho (2013); 3- Freitas et
al. (2016); 4- MMA, IBAMA/FUNATURA (2003); 5- Recoder e Nogueira (2007); 6- Rodrigues et al. (2017); 7- Silveira, 2009;
8- Nogueira e Rodrigues (2006); 9- Pinna et al. (2010); 10- Moura et al. (2013); 11-Arias et al. (2014); 12-Recoder et al. (2014);
13- Spix (1824); 14- Iverson (1992); 15- Hoogmoed e Gruber (1983); 16- Rhodin et al. (1984); 17- Brandão et al. (2002)
Táxon Hábitat Distribuição Ameaça Fonte
“RÉPTEIS” (100)
CROCODYLIA (2)
Alligatoridae (2)
Caiman latirostris (Daudin, 1801) AQ AD 1
Paleosuchus palpebrosus (Cuvier, 1807)* AQ AD 1,4
SQUAMATA (95)
Amphisbaenia (8)
Amphisbaenidae (8)
Amphisbaena bedai (Vanzolini, 1991)* ? CE
Amphisbaena brasiliana (Gray, 1865)* ? AD
Amphisbaena carli Pinna, Mendonça, Bocchiglieri & Fernandes, 2010* CR CE 9
Amphisbaena kraoh (Vanzolini, 1971)* ? CE
Amphisbaena leeseri Gans, 1964* CR AD
Amphisbaena vermicularis Wagler in Spix, 1824 CR? AD 4,5
Leposternon microcephalum Wagler in Spix, 1824 ? AD 5
Leposternon sp. ? CE 5
“Lagartos” (30)
Anguidae (1)
Ophiodes striatus (Spix, 1825)* CP, CR AD 5
Dactyloidae (1)
Norops meridionalis (Boettger, 1885)* CP, CR, M CE 5
Gekkonidae (2)
Hemidactylus brasilianus (Amaral, 1935) CR CA 5
Hemidactylus mabouia (Moreau de Jonnés, 1818)* CP, CR, M AD
Gymnophthalmidae (6)
Bachia bresslaui (Amaral, 1935)* CP, CR CE
Cercosaura ocellata Wagler, 1830* CP, CR, M AD
Colobosaura modesta (Reinhardt e Luetken, 1862)* M CE 4
Micrablepharus atticolus Rodrigues, 1996 CR CE 5
Psilops seductus Rodrigues, Recoder, Teixeira Jr., Roscito, Guerrero, CR, M CE 5,6
Nunes, Freitas, Fernandes, Bocchiglieri, Dal Vechio, Leite, Nogueira,
Damasceno, Pellegrino, Argôlo & Amaro, 2017
Vanzosaura savanicola Recoder, Werneck, Teixeira Jr., Colli, Sites & CP, CR CE 5,12
Rodrigues, 2014*
Iguanidae (1)
Iguana iguana (Linnaeus, 1758) M AD 4
Mabuyidae (5)
Aspronema dorsivittatum (Cope, 1862) CP, CR AD 5

139
Tabela 1. Continuação.

Táxon Hábitat Distribuição Ameaça Fonte


Brasiliscincus heathi (Schmidt e Inger, 1951)* CP, CR AD 5
Copeoglossum nigropunctatum (Spix, 1825) CR, M AD 4,5
Manciola guaporicola (Dunn, 1935)* CP, CR, M CE 4
Notomabuya frenata (Cope, 1862) CR, M CE 5
Phyllodactylidae (1)
Phyllopezus pollicaris (Spix, 1825) CR, M CE, CA 5
Polychrotidae (1)
Polychrus acutirostris Spix, 1825* CP, CR CA, CE 5
Teiidae (5)
Ameiva ameiva (Linnaeus, 1758)* CP, CR, M AD 5
Ameivula xacriaba Arias, Teixeira Jr., Recoder, Carvalho, Zaher & CP, CR CE, CA 4
Rodrigues, 2014*
Kentropyx paulensis Boettger, 1893* CP, CR CE 4,5
Salvator duseni (Lönnberg in Lönnberg & Andersson, 1910)* CP, CR CE Ap. 2 5
Tupinambis quadrilineatus Manzani & Abe, 1997 M CE 5,7
Tropiduridae (7)
Stenocercus quinarius Nogueira & Rodrigues, 2006* CR CE 5,8
Tropidurus etheridgei Cei, 1982* CP, CR AD 2,5
Tropidurus hispidus (Spix, 1825) CR, M AD 2
Tropidurus itambere Rodrigues, 1987 CR CE 2,5
Tropidurus oreadicus Rodrigues, 1987* CR CE 2
Tropidurus sp.* CR CE
Tropidurus torquatus (Wied, 1820) M AD 5
Serpentes (57)
Anomalepididae (1)
Liotyphlops ternetzii (Boulenger, 1896) CR AD 3,5
Boidae (5)
Boa constrictor Linnaeus, 1758 CP, CR, M AD 3
Corallus hortulanus (Linnaeus, 1758) CR, M AD 3
Epicrates assisi Machado, 1945 CR, M CA, CE 3
Epicrates crassus Cope, 1862* CP, CR, M CE, CA Ap. 2 3
Eunectes murinus (Linnaeus, 1758)* AQ AD Ap. 2
Colubridae (42)
Apostolepis ammodites Ferrarezzi, Barbo & Albuquerque, 2005* CR CE 3,5
Apostolepis assimilis (Reinhardt, 1861)* CP, CR, M AD
Apostolepis polylepis Amaral, 1922 CP, CR CA, CE 3
Boiruna sertaneja Zaher, 1996 CR, M AD 3
Chironius flavolineatus (Jan, 1863) CR, M CA, CE 3,5
Chironius quadricarinatus (Boie, 1827) CR CE 5
Drymarchon corais (Boie, 1827) CP, CR, M AD 4
Erythrolamprus aesculapii (Linnaeus, 1766) CR, M AD 3
Erythrolamprus almadensis (Wagler in Spix, 1824) CP, CR AD 3
Erythrolamprus poecilogyrus (Wied, 1824) CP, CR, M AD 3,5

140
Tabela 1. Continuação.

Táxon Hábitat Distribuição Ameaça Fonte


Erythrolamprus reginae (Linnaeus 1758) M AD 4
Erythrolamprus typhlus (Linnaeus, 1758) M AD 5
Erythrolamprus viridis (Günther, 1862) CR CA 3
Helicops modestus Günther, 1861* AQ CE 3
Leptodeira annulata (Linnaeus, 1758)* CR, M AD
Leptophis ahaetulla (Linnaeus, 1758) M AD 3
Lygophis dilepis (Cope, 1862) CP, CR AD 3,5
Lygophis meridionalis (Schenkel, 1901)* CP, CR CE 3
Lygophis paucidens Hoge, 1953* CP, CR CE 5
Mastigodryas bifossatus (Raddi, 1920)* CP, CR, M AD 3
Oxybelis aeneus (Wagler in Spix, 1824)* CP, CR, M AD 3
Oxyrhopus guibei Hoge & Romano, 1978 CP, CR, M AD 3
Oxyrhopus petolarius (Linnaeus, 1758) M AD 3
Oxyrhopus rhombifer Duméril, Bibron & Duméril, 1854 CP, CR, M AD 3
Oxyrhopus trigeminus Duméril, Bibron & Duméril, 1854* CP, CR, M AD 3
Phalotris labiomaculatus Lema, 2002* CP, CR, M CE
Philodryas agassizii (Jan, 1863) CP, CR CE 3,4
Philodryas nattereri (Steindachner, 1870)* CP, CR, M AD 3
Philodryas olfersii (Liechtenstein, 1823) CP, CR, M AD 3
Philodryas patagoniensis (Girard, 1858)* CP, CR, M AD 3
Phimophis guerini (Duméril, Bibron & Duméril, 1854)* CP, CR AD 3,5
Pseudoboa neuwiedii (Duméril, Bibron & Duméril, 1854) CP, CR CE 5
Pseudoboa nigra (Duméril, Bibron & Duméril, 1854) CP, CR, M AD 3,5
Psomophis joberti (Sauvage, 1884) CR AD 5,1
Rodriguesophis iglesiasi (Gomes, 1915)* CR CA 3,5
Sibynomorphus mikanii (Schlegel, 1837) CP, CR, M AD 3
Spilotes pullatus (Linnaeus, 1758) CP, CR, M AD 3
Taeniophallus occipitalis (Jan, 1863)* CP, CR, M AD 3
Tantilla melanocephala (Linnaeus, 1758)* CP, CR, M AD 3
Thamnodynastes hypoconia (Cope, 1860)* CR AD 3
Xenodon merremii (Wagler, 1824)* CP, CR, M AD 3,5
Xenodon nattereri (Steindachner, 1864) CP, CR CE 4
Elapidae (1)
Micrurus brasiliensis Roze, 1967 CP, CR, M CE 3
Leptotyphlopidae (2)
Trilepida brasiliensis (Laurent, 1949)* CR CE 3,1
Trilepida koppesi (Amaral, 1955) CR CE 3,5
Viperidae (6)
Bothrops erythromelas Amaral, 1923 CR CA 3
Bothrops leucurus Wagler in Spix, 1824 M AD 3
Bothrops lutzi (Miranda-Ribeiro, 1915)* CR CA, CE 3
Bothrops moojeni Hoge, 1966* M CE 3
Bothrops neuwiedi Wagler, 1824 CP, CR CE 4
141
Tabela 1. Continuação.

Táxon Hábitat Distribuição Ameaça Fonte


Crotalus durissus Linnaeus, 1758* CP, CR, M AD 3,4
TESTUDINES (3)
Chelidae (3)
Acanthochelys spixii (Duméril & Bibron, 1835) AQ CE 15
Mesoclemmys tuberculata (Lüderwaldt, 1926) AQ CE, CA 4,14
Phrynops geoffroanus (Schweigger, 1812) AQ AD 13,14

2012b). Os refúgios de estabilidade climática são Antonil, A. J. 1837. Cultura e opulência do Brasil, por
considerados por especialistas como áreas de alta suas drogas e minas: com várias notícias curiosas do
prioridade para a conservação da biodiversidade, pois modo de fazer o assucar, plantar e beneficiar o
propiciam condições favoráveis para a especiação e tabaco, tirar ouro das minas, e descubrir as da prata,
a manutenção de espécies (Araújo et al. 2008, e dos grandes emolumentos que esta conquista da
Carnaval & Moritz 2008, Werneck et al. 2012a). A alta America Meridional da’ ao reino de Portugal com
diversidade de répteis da Trijunção pode ser ainda estes, e outros generos e contratos reaes; Obra de
explicada pelo fato da região estar situada na André João Antonil, offerecida aos que desejão ver
transição entre o Cerrado e a Caatinga, resultando glorificado nos altares ao venerarel Padre José
em um expressivo número de espécies Anchieta, Sacerdote da Companhia de Jezus,
compartilhadas e pela presença de espécies tidas Missionario Apostolico, e novo Thaumaturgo do
como endêmicas de cada um desses biomas (Tabela Brazil. Impresso em Lisboa, na Officina Real
1). Em suma, a região da Trijunção reveste-se de Deslanderina com as licenças necessarias, no anno
importância por abrigar uma grande diversidade de de 1711, novamente reimpresso no Rio de Janeiro,
espécies de répteis e algumas espécies endêmicas, Rio de Janeiro, Typ. Imp. e Const. de J. Villeneuve e
bem como por preservar sítios percorridos por dois Ca.
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Herpetológica da Universidade de Brasília (CHUNB) CHUNB51262, CHUNB51263, CHUNB51264,
CHUNB51265, CHUNB51266, CHUNB51267,
Ameiva ameiva (10): CHUNB02166, CHUNB51169,
CHUNB51268, CHUNB51269, CHUNB51270,
CHUNB51170, CHUNB51171, CHUNB51172,
CHUNB51271, CHUNB51272, CHUNB51273,
CHUNB51439, CHUNB51440, CHUNB51441,
CHUNB51274, CHUNB51275, CHUNB51276,
CHUNB51442, CHUNB51443.
CHUNB51277, CHUNB51278, CHUNB51279,
Ameivula xacriaba (64): CHUNB07614, CHUNB51280, CHUNB51281, CHUNB51282,
CHUNB07615, CHUNB07616, CHUNB08150, CHUNB51283, CHUNB51284, CHUNB51285,
CHUNB08151, CHUNB24591, CHUNB24592, CHUNB51286, CHUNB51287, CHUNB51288,
CHUNB49165, CHUNB49166, CHUNB49167, CHUNB51289, CHUNB51290, CHUNB51291,
CHUNB49168, CHUNB49191, CHUNB50195, CHUNB51292, CHUNB51293, CHUNB51294,
CHUNB50196, CHUNB50197, CHUNB50198, CHUNB51295, CHUNB51471, CHUNB51472,
CHUNB50267, CHUNB51173, CHUNB51174, CHUNB51473, CHUNB51474, CHUNB51475,
CHUNB51175, CHUNB51176, CHUNB51177, CHUNB51476, CHUNB51477.
CHUNB51178, CHUNB51179, CHUNB51180,
Cercosaura ocellata (1): CHUNB51318.
CHUNB51181, CHUNB51182, CHUNB51183,
CHUNB51184, CHUNB51185, CHUNB51186, Colobosaura modesta (4): CHUNB51319,
CHUNB51187, CHUNB51188, CHUNB51189, CHUNB51320, CHUNB51321, CHUNB52388.
CHUNB51190, CHUNB51191, CHUNB51192, Crotalus durissus (1): CHUNB49195.
CHUNB51193, CHUNB51194, CHUNB51447,
CHUNB51448, CHUNB51449, CHUNB51450, Epicrates crassus (1): CHUNB38643.
CHUNB51451, CHUNB51452, CHUNB51453, Helicops modestus (1): CHUNB42548.
CHUNB51454, CHUNB51455, CHUNB51456,
CHUNB51457, CHUNB51458, CHUNB51459, Hemidactylus mabouia (1): CHUNB51541.
CHUNB51460, CHUNB51461, CHUNB51462, Lygophis meridionalis (1): CHUNB50190.
CHUNB51463, CHUNB51464, CHUNB51465,
Manciola guaporicola (5): CHUNB49150,
CHUNB51466, CHUNB51467, CHUNB51468,
CHUNB49151, CHUNB49152, CHUNB49153,
CHUNB51469, CHUNB51470, CHUNB52385.
CHUNB49154.
Amphisbaena bedai (3): CHUNB50193,
Norops meridionalis (24): CHUNB49169,
CHUNB51555, CHUNB52389.
CHUNB49170, CHUNB49171, CHUNB49172,
Amphisbaena carli (1): CHUNB51554. CHUNB49173, CHUNB49174, CHUNB50194,
Amphisbaena leeseri (2): CHUNB50270, CHUNB51195, CHUNB51196, CHUNB51197,
CHUNB51556. CHUNB51198, CHUNB51199, CHUNB51200,
CHUNB51201, CHUNB51202, CHUNB51203,
Apostolepis ammodites (1): CHUNB51360. CHUNB51204, CHUNB51205, CHUNB51206,
Apostolepis assimilis (1): CHUNB23715. CHUNB51207, CHUNB51208, CHUNB51209,
CHUNB51444, CHUNB51445.
Bachia bresslaui (8): CHUNB25633, CHUNB34006,
CHUNB34007, CHUNB48054, CHUNB50192, Ophiodes striatus (1): CHUNB28918.
CHUNB51322, CHUNB51323, CHUNB51324. Oxybelis aeneus (2): CHUNB23714, CHUNB50183.
Bothrops lutzi (8): CHUNB13873, CHUNB23793, Oxyrhopus trigeminus (1): CHUNB23713.
CHUNB50185, CHUNB50186, CHUNB51363,
CHUNB51364, CHUNB51365, CHUNB51366. Paleosuchus palpebrosus (6): CHUNB53278,
CHUNB53279, CHUNB53280, CHUNB53281,
Bothrops moojeni (1): CHUNB50184. CHUNB53282, CHUNB53283.
Brasiliscincus heathi (48): CHUNB50199, Phalotris labiomaculatus (1): CHUNB51553.
CHUNB50200, CHUNB51257, CHUNB51258,

146
Philodryas patagoniensis (5): CHUNB51369, CHUNB51520, CHUNB51521, CHUNB51522,
CHUNB51370, CHUNB51371, CHUNB51372, CHUNB51523, CHUNB51524, CHUNB51525,
CHUNB51373. CHUNB51526, CHUNB51527, CHUNB51528,
CHUNB51529, CHUNB51530, CHUNB51531,
Phimophis guerini (2): CHUNB23789, CHUNB23790.
CHUNB51532, CHUNB51533, CHUNB51534,
Polychrus acutirostris (2): CHUNB00009, CHUNB51535, CHUNB51536, CHUNB51537,
CHUNB51478. CHUNB52378, CHUNB52379, CHUNB52380,
Rodriguesophis iglesiasi (3): CHUNB15612, CHUNB52381, CHUNB52382, CHUNB52383.
CHUNB50189, CHUNB50271. Tropidurus sp. (35): CHUNB28917, CHUNB42577,
Salvator duseni (1): CHUNB50985. CHUNB49155, CHUNB49157, CHUNB49161,
CHUNB49162, CHUNB49192, CHUNB49193,
Stenocercus quinarius (2): CHUNB49164, CHUNB50203, CHUNB50204, CHUNB51241,
CHUNB51317. CHUNB51242, CHUNB51243, CHUNB51244,
Taeniophallus occipitalis (2): CHUNB50191, CHUNB51245, CHUNB51246, CHUNB51247,
CHUNB51552. CHUNB51248, CHUNB51249, CHUNB51250,
CHUNB51251, CHUNB51252, CHUNB51253,
Tantilla melanocephala (7): CHUNB50187,
CHUNB51254, CHUNB51255, CHUNB51256,
CHUNB50188, CHUNB50268, CHUNB50269,
CHUNB51479, CHUNB51480, CHUNB51481,
CHUNB51361, CHUNB51362, CHUNB51367.
CHUNB51482, CHUNB51483, CHUNB51484,
Thamnodynastes hypoconia (1): CHUNB42549. CHUNB51485, CHUNB51486, CHUNB51487,
Trilepida brasiliensis (2): CHUNB38644, CHUNB52384.
CHUNB51368. Vanzosaura savanicola (39): CHUNB49175,
Tropidurus oreadicus (100): CHUNB06095, CHUNB49176, CHUNB49177, CHUNB49178,
CHUNB06097, CHUNB06100, CHUNB06102, CHUNB49179, CHUNB49180, CHUNB49181,
CHUNB06105, CHUNB49156, CHUNB49158, CHUNB49182, CHUNB49183, CHUNB49184,
CHUNB49159, CHUNB49160, CHUNB49163, CHUNB49185, CHUNB49186, CHUNB49187,
CHUNB49194, CHUNB50201, CHUNB50202, CHUNB49188, CHUNB49189, CHUNB49190,
CHUNB51210, CHUNB51211, CHUNB51212, CHUNB51296, CHUNB51297, CHUNB51298,
CHUNB51213, CHUNB51214, CHUNB51215, CHUNB51299, CHUNB51300, CHUNB51301,
CHUNB51216, CHUNB51217, CHUNB51218, CHUNB51302, CHUNB51303, CHUNB51304,
CHUNB51219, CHUNB51220, CHUNB51221, CHUNB51305, CHUNB51306, CHUNB51307,
CHUNB51222, CHUNB51223, CHUNB51224, CHUNB51308, CHUNB51309, CHUNB51310,
CHUNB51225, CHUNB51226, CHUNB51227, CHUNB51311, CHUNB51312, CHUNB51313,
CHUNB51228, CHUNB51229, CHUNB51230, CHUNB51314, CHUNB51315, CHUNB51316,
CHUNB51231, CHUNB51232, CHUNB51233, CHUNB52390, CHUNB52391.
CHUNB51234, CHUNB51235, CHUNB51236, Xenodon merremii (3): CHUNB05879, CHUNB23788,
CHUNB51237, CHUNB51238, CHUNB51239, CHUNB30912.
CHUNB51240, CHUNB51488, CHUNB51489,
CHUNB51490, CHUNB51491, CHUNB51492,
CHUNB51493, CHUNB51494, CHUNB51495,
CHUNB51496, CHUNB51497, CHUNB51498,
CHUNB51499, CHUNB51500, CHUNB51501,
CHUNB51502, CHUNB51503, CHUNB51504,
CHUNB51505, CHUNB51506, CHUNB51507,
CHUNB51508, CHUNB51509, CHUNB51510,
CHUNB51511, CHUNB51512, CHUNB51513,
CHUNB51514, CHUNB51515, CHUNB51516,
CHUNB51517, CHUNB51518, CHUNB51519,

147
148
Beatriz Diogo Vasconcelos
José Marcos do Nascimento dos Santos Abreu
Reuber Albuquerque Brandão

149
150
Beatriz Diogo Vasconcelos
José Marcos do Nascimento dos Santos Abreu
Reuber Albuquerque Brandão

INTRODUÇÃO (Botero-Arias 2007). A espécie tem sido registrada no


estado de Goiás (Vaz-Silva et al. 2007, Mendonça
Todos os jacarés, gaviais e crocodilos atuais
2009), corroborando sua ampla distribuição na
pertencem à ordem Crocodylia, enquanto a família
América do Sul. Ocorre desde a Venezuela até o
Alligatoridae abriga as seis espécies que ocorrem no
Paraguai, com populações, no Brasil, nos biomas
Brasil. O gênero Paleosuchus Gray 1862 é
Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e no
caracterizado pela completa ossificação das
entorno do Pantanal (Magnusson 1992). É conhecida
pálpebras, a ausência de “degrau” no osso transversal
por ocupar pequenos corpos de água na Amazônia,
pré-orbital (que gera o nome em inglês “smooth
igarapés e savanas na Venezuela e no Pantanal
fronted caiman”) (Medem 1958) e a presença de
brasileiro e veredas e formações fechadas no Cerrado
osteodermos (placas ósseas) no couro (Ross 1998).
(Magnusson 1985, Ayarzaguena 1983; Campos &
Os maiores indivíduos de P. palpebrosus possuem
Mourão 2006, Rebêlo & Louzada 1984).
cerca de 150 cm em machos e 120 cm em fêmeas
(Magnusson 1992), sendo que, no Pantanal, fêmeas Embora a espécie apresente ampla distribuição
se tornam reprodutivas a partir de 60 cm de geográfica, a escassez de dados sobre sua biologia é
comprimento focinho-cloaca, por volta dos oito anos um problema para a sua conservação
de idade (Campos et al. 2012, Campos et al. 2013). (Thorbjarnarson et al. 1992). Mesmo sendo
classificada como LC (Menos Preocupante)
O jacaré Paleosuchus palpebrosus é considerado o
globalmente (Crocodile Specialist Group 2016, IUCN
menor e o menos estudado crocodiliano do mundo
2018), possivelmente sofre diminuição de populações
(Magnusson & Campos 2010). Sua nomenclatura
causada principalmente pela destruição de hábitat.
deriva do grego, onde Paleosuchus significa "antigo
Como possui comportamento críptico e ocupa locais
crocodilo", e palpebrosus significa "pálpebra óssea",
de difícil acesso, foi classificada como DD (Dados
em referência às placas ósseas (palpebrais) nas
Insuficientes) por Bressan et al. (2009).
pálpebras superiores (Britton 2009).
Apesar de não estar ameaçado de extinção, seu
Jacaré-paguá é, possivelmente, a espécie de
status e tamanho das populações podem ser
crocodiliano neotropical mais abundante, devido à
alterados caso a exploração e comércio da espécie
sua ampla distribuição e uso de diferentes ambientes

151
Figura 1. Indivíduo de P. palpebrosus utilizando a margem da lagoa do Formoso como local de forrageamento. Foto: BDV.
fiquem acima da capacidade de suporte. A espécie (Botero-Arias 2007) e casos relatados de
pode sofrer com a ocupação do solo, poluição de crocodilianos mortos por colisão de veículos (Vyas
córregos, rios e lagos e fragmentação de hábitat 2005). Há muitas ameaças ao jacaré-paguá e sua
(Louzada-Silva 2008). Além da destruição direta do conservação depende da preservação dos ambientes
habitat, a agricultura também traz outros fatores naturais que protegem as bacias hidrográficas
potencialmente adversos, incluindo pesticidas (Magnusson et al. 2010).
(Macías-Duarte et al. 2016). A erosão perto dos rios
O comportamento territorial dos crocodilianos é
em épocas chuvosas resulta no aumento da turbidez
conhecido por machos manterem territórios e
das águas que influencia nas comunidades biológicas
excluírem outros machos adultos. Áreas de
aquáticas (CETESB 2009), podendo afetar a
nidificação, sítios de alimentação, vegetação para
capacidade de forrageamento da espécie (Figura 1).
esconderijo e áreas para termorregulação são
A construção de novas estradas também é recursos importantes para serem defendidos,
considerada perigo à espécie, pois há registros de principalmente no período de reprodução.
Paleosuchus palpebrosus em lagoas artificiais criadas Paleosuchus spp. é o gênero brasileiro com menor
por estradas pavimentadas ou não-pavimentadas tolerância a indivíduos da mesma espécie, mantendo
território e afastando outros indivíduos (Land 1987).
Desta forma, indivíduos de P. palpebrosus não são
encontrados em grupos, nem mesmo juvenis, que

Figura 2. Quando estressado, é comum o jacaré-paguá Figura 3. Sinal de encontro agonístico entre indivíduos de P.
escancarar a boca em postura agressiva. Foto: RDF. palpebrosus. Foto: RAB.

152
sugere um comportamento de agressividade entre 2010, Campos & Sanaiotti 2006, Villaça 2004). O
indivíduos (Medem 1958) (Figuras 2 e 3). gênero Paleosuchus tem comportamento de
percorrer áreas secas, principalmente P. trigonatus,
A espécie possui dimorfismo sexual e machos são
que possui o hábito de se esconder em tocas nos
maiores que fêmeas (Magnusson 1992), sugerindo
barrancos dos rios e no interior da floresta
competição por fêmeas ou entre machos (Shuster et
(Magnusson 1991, Medem 1958).
al. 2003). Para a espécie do mesmo gênero, P.
trigonatus, o grande número de fêmeas aponta para Sua temperatura corporal varia entre 20,1 e 25,6 ºC,
o fato delas não defenderem seus territórios sugerindo adaptação para viver em ambientes frios
fortemente ou são permissivas com proximidade das (Magnusson & Campos 2013, Medem 1981). No Brasil
vizinhas, enquanto machos possuem maiores sua área de extensão é 7.282.346,5 km², calculada
distâncias entre cada indivíduo (Magnusson 1991). pelas bacias hidrográficas que a espécie ocorre. Sua
área de ocupação é estimada em mais de 20.000 km²
O hábitat típico de P. palpebrosus é composto por
(Campos et al. 2013).
vegetação arbustiva na margem de lagoas e
ambientes aquáticos (Ribeiro et al. 1998) (Figura 4). Um dos ambientes mais peculiares que o jacaré-
Além de ser encontrada em ambientes aquáticos na paguá é encontrado são as lagoas oligotróficas. A
Amazônia, a espécie habita florestas inundadas perto maior particularidade desses tipos de lagoas é que
dos principais rios e lagos (Vasconcelos et al. 2007). nutrientes, tais como nitrogênio, fosfatos e silicatos
No Pantanal, o jacaré-paguá ocorre nas cabeceiras estão presentes em concentrações muito baixas
de rios e em córregos (Campos et al. 2006), locais (Mohit et al. 2014). Apesar desse baixo input de
onde ocorre perda de habitat devido ao nutrientes, a remineralização bacteriana, o acesso
desmatamento, erosão, poluição, urbanização e caça rápido a nutrientes devido à mistura contínua da
(Campos et al. 2006). coluna de água pelos ventos e à penetração de luz
criam condições adequadas para a produção de
A espécie está associada a florestas alagadas,
células autotróficas nas lagoas (Koutitonsky et al.
veredas, margens com vegetação em grandes rios e
2002, Trottet et al. 2007).
pequenos riachos, áreas antropizadas, ambientes
aquáticos com solo arenoso e lagoas (Campos et al.

Figura 4. Fêmea jovem de P. palpebrosus no Lagoão do Formoso. Foto: RDF.

153
A presença do jacaré-paguá nessas lagoas vertebrados aquáticos e terrestres na dieta
oligotróficas de águas límpidas (Figura 4) levanta, a (Uetanabaro 1989, Medem 1981, Botero-Arias 2007,
questão de como um predador de topo de cadeia Britton 2009). Variações ontogenéticas na dieta já
consegue sobreviver em ambientes pobres em foram amplamente relatadas em P. palpebrosus
nutrientes. Assim, a conservação dessas lagoas é de (Medem 1981, Magnusson et al. 1987, Da Silveira et
extrema importância, pois reduções dramáticas na al. 1999).
oferta de tais ecossistemas podem afetar diversos A dieta do jacaré-paguá já foi descrita na Amazônia
organismos aquáticos (Stoddard et al. 2016). (Magnusson et al. 1987), sendo composta por peixes,
A maioria dos crocodilianos termorregula ativamente caranguejos, moluscos e invertebrados terrestres. Na
durante períodos frios, se deslocando entre terra e várzea do rio Solimões, foi encontrada uma
água e entre sombra e sol (Campos & Magnusson diversidade ainda maior, composta por uma
2011). Paleosuchus palpebrosus é considerado predominância de aranhas e insetos, tendo sido
resistente a baixas temperaturas e, mesmo já tendo reportada a presença de vertebrados terrestres,
sido registrado exposto ao Sol, não há evidências de como pequenos mamíferos, aves, répteis e anuros
que termorregula ativamente para aumentar sua de pequeno porte (Botero-Arias 2007). No estudo
temperatura corporal (Campos et al. 2013). Nas feito no Pantanal (Campos et al. 1995), dos cinco
estações quentes, a temperatura corporal é menor indivíduos analisados, houve somente resíduos de
do que as temperaturas do ar e da água, enquanto crustáceos nos estômagos analisados.
que nas estações frias, a maioria dos indivíduos tem Dos estudos feitos com P. palpebrosus, sabe-se que
temperatura corporal ligeiramente acima da a época reprodutiva da espécie é maior nas áreas da
temperatura da água e menor do que a temperatura Amazônia (6 meses), em comparação com Pantanal
do ar, o que possivelmente pode refletir um (3 meses). Os picos de nidificação na Amazônia
comportamento terrestre (Campos et al. 2013). ocorrem no final da estação seca, enquanto no
O fato da espécie ocorrer em maiores altitudes do Pantanal ocorrem na estação chuvosa (Campos et al.
que outras espécies de crocodilianos e habitarem 2015). No Cerrado foram encontrados ninhos em
locais onde a temperatura da água é mais fria e partes secas de matas paludosas, com a disposição
constante pode ocorrer porque os indivíduos de P. de gravetos, folhas e terra, ao pé de uma árvore
palpebrosus são mais tolerantes à baixa temperatura emergente (Louzada-Silva 2008) e neonatos foram
ambiental (Campos et al. 2013). encontrados no mês de outubro (Figura 5).
A dieta dos crocodilianos é conhecida por ser O tamanho da ninhada de P. palpebrosus pode variar
dependente do habitat em que eles vivem, já que são entre biomas (Campos & Magnusson 1995),
animais generalistas e oportunistas e diferentes
hábitats podem ter disponibilidade de presas
diferentes (Campos et al. 2010, Campos &
Magnusson 2010). Os crocodilianos podem se
alimentar de qualquer organismo em posição
vulnerável, até mesmo os da mesma espécie (Santos
et al. 1993). Porém, a literatura sobre a dieta de P.
palpebrosus ainda é escassa. Pouco se sabe sobre a
amplitude de sua dieta, modo de forrageamento, e
o próprio comportamento alimentar da espécie
(Botero-Arias 2007, Campos et al. 1995).
A dieta de crocodilianos varia com a idade, hábitat,
estação e região geográfica (Webb et al. 1982). Os
estudos disponíveis sugerem que, em geral, filhotes
se alimentam de invertebrados aquáticos e terrestres
Figura 5. Neonatos de P. palpebrosus encontrados em
e, após atingirem um tamanho maior, incorporam
outubro de 2001 na região do Rio Itaguarizinho. Foto: RAB.

154
dependendo do hábitat e da disponibilidade de et al. 2016). O cuidado parental ainda não foi
material (Magnusson 1979), já que a espécie ocorre registrado para a espécie no bioma Cerrado, porém
em áreas com regimes climáticos muito diferentes. esperamos encontrar o mesmo comportamento por
A radiação solar e a vegetação auxiliam no aumento aqui.
da temperatura no ninho. O sexo dos jacarés é A manutenção de predadores topo de cadeia é de
determinado pela temperatura em que são extrema importância para a conservação e equilíbrio
incubados (Campos 1993) e, dependendo das dos ecossistemas, visto que a retirada ou a queda na
condições de incubação dos ovos e dos cuidados das população de predadores pode afetar as
fêmeas, a eclosão pode levar até 70 dias (Campos & comunidades da cadeia alimentar a qual a espécie
Magnusson 1995). Somente fêmeas são geradas em pertence (Layman et al. 2015). Estudos utilizando
baixas ou altas temperaturas e, no intervalo entre isótopos estáveis comprovaram que o jacaré-paguá
essas, podem ocorrer machos ou fêmeas (Lang et al. é um animal topo de cadeia. Na região amazônica, a
1994). espécie ocorre e compete com outras três e ainda é
Na Amazônia central, onde o clima é relativamente classificada como predador topo de cadeia. Em
quente ao longo do ano (Ferreira et al. 2005), foi comparação com P. trigonatus, que foi classificada
encontrado um ninho com 15 ovos (Campos & em nível trófico inferior por possuir maiores hábitos
Sanaiotti 2006). Há registros de ninhadas localizadas terrestre, e com Caiman crocodylus que também
em florestas inundáveis vizinhas a lagos na Amazônia possui posição topo de cadeia por possuir dieta rica
Central (Campos 2004). Porém, no Cerrado, onde o em peixes assim como P. palpebrosus (Villamarín
clima predominante é de inverno seco, foram 2016).
encontrados dois ninhos, com ninhada de 7 e 11 ovos, Animais topo de cadeia são elementos-chave para a
respectivamente, construídos na base de buritis manutenção do fluxo de energia em ecossistemas e
Mauritia flexuosa (Rebêlo & Louzada 1984). Foi no controle da população de predadores
relatado que o tamanho da ninhada em córregos que intermediários. Sem predadores topo de cadeia pode
drenam para o Pantanal variam entre 6 e 21 ovos ocorrer uma cascata trófica, com o desaparecimento
(Campos et al. 2015). de diversas espécies nos níveis tróficos inferiores.
O cuidado parental dos ovos e dos jovens é comum Além disso, a extirpação desses predadores pode
nos crocodilianos e muitas espécies cuidam dos aumentar o risco de doenças zoonóticas (Estes et al.
jovens por semanas (Staton et al. 1977), porém isto 2011, Prugh et al. 2009). A conservação de P.
pode variar de espécie para espécie (Campos et al. palpebrosus depende da manutenção de áreas de
2012). Há relatos de que juvenis de Paleosuchus preservação permanente, tanto de rios como de
palpebrosus são encontrados geralmente sozinhos riachos, nascentes e veredas e da conectividade
ou em pares, sem a companhia de um adulto (Medem hidrológica nesses ambientes (Campos et al. 2013).
1981). Contudo, em algumas regiões da Amazônia, a Assim, é recomendado o estabelecimento de
espécie apresentou cuidado parental semelhante ao reservas aquáticas permanentes para a proteção da
de outros crocodilianos, mesmo com condições espécie (Campos et al. 2013).
ambientais diferentes entre elas e, geralmente, o Apesar de ocorrer em diversos estados do Brasil, há
cuidado parental é feito pelas fêmeas do grupo, uma enorme falta de informação sobre a biologia de
possivelmente as mães (Campos et al. 2012). Paleosuchus palpebrosus limitando a tomada de
Os ovos de crocodilianos servem de alimento para ações para a sua conservação. O monitoramento da
várias espécies de mamíferos e lagartos. Assim, a abundância e avaliação da degradação dos seus
presença das fêmeas é importante para a habitats devem ser motivos de pesquisa no Brasil
manutenção da ninhada e proteção dos filhotes, o (Magnusson & Campos 2010). O desmatamento de
que aumenta a probabilidade de sucesso da áreas com florestas alagadas ou a construção de
sobrevivência dos ovos e filhotes. No entanto, nem barragens são ações que degradam os habitats em
sempre sua presença ao lado do ninho é suficiente que vive, pois podem mudar as condições de um
para garantir o sucesso de eclosão dos ovos (Campos ambiente lótico para lêntico, levando à exclusão

155
muitas espécies aquáticas (Castello et al. 2016, Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda
Benchimol et al. 2015). Trijunção. Nas adjacências da lagoa é possível
encontrar matas de galeria inundáveis com transições
O conhecimento sobre a biologia dessa espécie é
abruptas para campo limpo úmido.
limitado (Campos et al. 2006) e apresentam enorme
potencial de estudo (Campos 2004). Aqui Os indivíduos de P. palpebrosus foram capturados
apresentamos alguns resultados dos estudos manualmente, através da aproximação com caiaques
realizados com Paleosuchus palpebrosus na Fazenda na Lagoa do Rio Formoso (Figura 7). Cada indivíduo
Trijunção desde 2002. capturado teve medido o comprimento rostro-cloacal
(CRC), comprimento total, comprimento da cauda,
MATERIAL E MÉTODOS largura do corpo, comprimento, altura e largura da
As Fazendas Trijunção, situadas entre os três estados cabeça, diâmetro dos olhos, distância focinho-olho,
brasileiros Bahia, Minas Gerais e Goiás, estão largura e comprimento do braço, do antebraço, da
localizadas na região do espigão mestre do São tíbia, do fêmur e da pata, com o uso de uma fita
Francisco, também conhecido como Chapadão métrica e paquímetro (0,01), foram pesados com
Central (Cochrane et al. 1985). O relevo é balança digital e sexados.
extremamente suave, com predomínio das principais
O conteúdo estomacal para estudo da dieta foi obtido
fitofisionomias do Cerrado (Ribeiro & Walter 1998),
por lavagem estomacal (stomach flushing), um
apresentando, também, manchas da Caatinga
método pouco prejudicial ao animal. Após terem os
(Mendonça et al. 2000).
olhos cobertos para evitar o stress, os jacarés foram
As Fazendas Trijunção estão no entorno do Parque segurados gentil e firmemente e a boca foi aberta
Nacional Grande Sertão Veredas e possui c.a. 2000 pela adução da mandíbula sob pressão e foi mantida
ha de Reserva Particular do Patrimônio Natural. Essas aberta por um anel de PVC de diâmetro ajustado ao
áreas de proteção ambiental ampliam os corredores tamanho do animal.
de biodiversidade necessários para garantir a
Uma cânula de silicone foi introduzida pelo anel do
manutenção das espécies de fauna e flora presentes
esôfago, que apresenta pregas altamente
na região.
distensíveis, e uma quantidade de água foi inserida
A lagoa do Formoso, uma lagoa próxima à cabeceira para lubrificação. Assim, a cânula chegou ao
do Rio Formoso (14°47'22" S 45°56'55" W), é uma estômago pelo esôfago e uma quantidade de água
lagoa oligotróficas. O rio Formoso nasce próximo ao foi bombeada para induzir a regurgitação, até que
marco da Trijunção dos três estados (Bahia, Goiás e não aparecesse mais fragmentos de alimento na água
Minas Gerais) e se renomeia no encontro das suas regurgitada. Após o procedimento, os indivíduos
águas com o rio Corrente, do qual é afluente (Almeida foram soltos no mesmo local de captura.
2010).
O bolo alimentar foi capturado com peneira coberta
A lagoa possui 42 hectares, com largura máxima de por papel filtro e o material coletado foi armazenado
350 m e comprimento de 2 km, está a 850 metros em álcool 70%, juntamente com os dados de
acima do nível do mar e localizada dentro da Reserva

Figura 6. Indivíduo de
Paleosuchus palpebrosus
abaixo da superfície em lagoa
oligotrófica, mostrando a
transparência da água. Foto:
JMSA.

156
Invertebrados foram a maioria da oferta disponível
para Paleosuchus palpebrosus na lagoa estudada
sendo, por consequência, os itens mais encontrados
no conteúdo estomacal (Tabela 1).
O fato da Ordem Coleoptera ser encontrada somente
no ambiente terrestre e ser o item mais consumido
pelos indivíduos de Paleosuchus palpebrosus sugere
um comportamento de caça terrestre pela espécie,
semelhante ao observado para a espécie cogenérica
P. trigonatus na Amazônia. Estudos na Amazônia e
Figura 7. Pesquisadores iniciando a procura do jacaré-paguá. em córregos urbanos do Brasil Central também
Foto: RAB. relataram ingestão de invertebrados terrestres
(Magnusson et al. 1987, Mudrek 2016).
identificação do indivíduo, como espécie, número do
indivíduo, sexo, localização da captura e data. As estimativas de oferta obtidas nas áreas de água
aberta registraram apenas peixes, o item vertebrado
Foram realizadas, também, coletas da oferta de mais consumido pelos jacaré-paguá estudados.
alimento disponível para os jacarés-paguá, através
de armadilhas tipo puçá e tarrafa. A oferta de Todos os indivíduos capturados por nós eram fêmeas
alimento foi estimada na margem da lagoa, nas sub-adultas, segundo classificação proposta por
macrófitas, na água e na terra (mais afastado da Campos et al. (2013), com predominância de
margem), por 15 minutos de amostragem em cada. invertebrados na dieta (Tabela 2). Porém, a presença
de vertebrados, tais como aves e peixes, não pode
Em campo, tomamos medidas de microhabitats, tais ser ignorada, já que esteve presente em grande parte
como vegetação presente no local da captura, dos estômagos analisados de indivíduos, com classes
temperatura e umidade do ar, profundidade e de tamanhos diferenciadas.
distância da margem. No Laboratório de Fauna e
Unidades de Conservação (LAFUC), Universidade de No presente estudo, os besouros (Ordem Coleoptera)
Brasília (UnB), foi realizada a triagem de todo foram os itens mais consumidos, como o visto na
material coletado, tanto estomacal quanto da oferta
de alimento, sendo classificados em Classes e Ordens Tabela 1. Dados de oferta de presas nos quatro ambientes
Taxonômicas (ou até o menor nível taxonômico utilizados pelo jacaré-paguá na lagoa do Rio Formoso,
Fazenda Trijunção.
possível).
Para determinar a densidade relativa de jacarés-
paguá nos dias de campo, usamos a média de Macrófitas Araneae
indivíduos avistados pelo comprimento percorrido Hymenoptera
por noite (cerca de um quilômetro por dia). Para Orthoptera
estimar o tamanho de um indivíduo morto por Terrestre Orthoptera
caçadores, do qual encontramos apenas a carcaça, Diptera
fizemos regressões entre CRC, tamanho da cauda e Araneae
largura do fêmur dos indivíduos capturados com a Blattaria
medida retirada da carcaça da largura do seu fêmur. Lepidoptera
O valor de comprimento estimado foi comparado Coleoptera
com a média proposta em literatura para uma fêmea
Margem Odonata
adulta com o teste t.
Diptera
RESULTADOS E DISCUSSÃO Araneae
Jacarés são ditos oportunistas por ingerirem as presas Blattaria
mais abundantes do ambiente (Horna et al. 2011). Hymenoptera
Água Peixe

157
Tabela 2. Abundância (N) e frequência (F) de itens alimentares ordem, foram os itens alimentares mais relevantes
presentes na dieta de 13 exemplares de Paleosuchus para a dieta do jacaré-paguá na lagoa do Rio
palpebrosus provenientes da lagoa do Rio Formoso, Fazenda Formoso. Esse resultado sugere que os jacarés
Trijunção, Bahia.
forrageiam principalmente em locais de águas rasas,
por entre as plantas aquáticas.
Araneae 2 3,03 1 2,78 2,9
A maioria dos indivíduos eram capturados próximos
Ave 2 3,03 2 5,56 4,29
às margens da lagoa e a presença de material vegetal
Belostomatidae 3 4,55 2 5,56 5,05 no estômago indica que muitos se alimentam perto
Blattaria 1 1,52 1 2,78 2,15 das macrófitas (Figura 8). Semelhantemente, a
Ophidia 1 1,52 1 2,78 2,15 ingestão de material vegetal pode ter ocorrido de
Coleoptera 37 56,06 12 33,33 44,7 forma acidental, já que as proteínas vegetais não são
Diptera 1 1,52 1 2,78 2,15 assimiladas por crocodilianos (Staton 1990). O
Disticidae 2 3,03 1 2,78 2,9 indivíduo com o menor comprimento rostro-cloacal
Formicidae 2 3,03 1 2,78 2,9 encontrado não apresentou nenhum conteúdo
Hemiptera 1 1,52 1 2,78 2,15 estomacal.
Hymenoptera 1 1,52 1 2,78 2,15 Répteis são mais difíceis de serem encontrados no
Isoptera 3 4,55 1 2,78 3,66 conteúdo estomacal de P. palpebrosus (Botero-Arias
Odonata 2 3,03 2 5,56 4,29 2007), porém registramos uma serpente no
Orthoptera 1 1,52 2 5,56 3,54 estômago de um indivíduo pertencente à maior
Peixe 7 10,61 7 19,44 15,03 classe de tamanho. Diferentemente da dieta da
espécie em outros biomas, não encontramos
moluscos, camarões e caranguejos na dieta de
Paleosuchus palpebrosus, visto que tais itens não são
comuns em lagoas oligotróficas.
Amazônia, onde invertebrados dominaram a dieta de Constatamos uma densidade relativa de 4,25
P. palpebrosus (Magnusson et al. 1987). Porém, jacarés/Km na estação chuvosa e 3,33 jacarés/Km na
muitos dos indivíduos analisados possuíam peixe na estação seca. No entanto, essa diferença não foi
sua dieta, corroborando com o estudo no Suriname significativa (t = -0.708, df = 4.914, p = 0.5108).
(Ouboter 1996), onde peixes eram o item alimentar Quando comparamos a densidade relativa observada
de maior ocorrência. Besouros aquáticos, peixes, com a de outros estudos, verificamos que a
baratas d’água (Belostomatidae) e aves, nessa densidade de Paleosuchus palpebrosus na lagoa do

Figura 8. Lagoa oligotrófica do rio Formoso, com destaque para a presença de macrófitas e o relevo muito suave da
paisagem. Foto: BDV

158
Formoso é alta. Em dois córregos do Pantanal foi avistados possuem uma correlação de 0,45. Os
encontrado densidades variando entre 2 e 8 resultados refletem uma tendência aos
jacarés/km. Na Amazônia foi reportada a densidade crocodilianos se manterem mais ativos nos dias mais
para Paleosuchus palpebrosus de 1,52 a 1,58 quentes e úmidos.
jacarés/km no período de seca, e de 0,45 a 0,79
jacaré/km na cheia, além de 1,3 jacarés/km para
Caiman crocodylus e 0,7 jacarés/km para
Melanosuchus niger. Outro estudo na Amazônia
relatou 0,1 P. palpebrosus /km (Botero-Dias 2007,
Campos et al. 1995, Rebêlo & Lugli 2001).
Apesar de ser uma área protegida, localizada dentro
de uma propriedade particular, encontramos uma
carcaça de Paleosuchus palpebrosus abatida por
invasores que adentram a região para praticar caça
e pesca. A carcaça (Figura 9) era de um indivíduo com Figura 10. Relação entre umidade e número de indivíduos
avistados em cada noite de campo.
fêmur de 52,5 cm e cerca de 103,8 ± 7,0 cm de
comprimento total, sendo 53,7 ± 4,5 cm de CRC e
cauda de 50,1 ± 2,5 cm. O indivíduo caçado era
provavelmente um adulto (t = -1.5454; df = 2; p-value
= 0.2623; Campos 2012). É conhecida que as espécies
do gênero Paleosuchus spp. não são tão visadas pela
caça e comércio de couro, por conta da grande
ossificação em seu couro e carne (Ross 1998). No
entanto, como não ocorrem outros jacarés na região,
que são mais atrativas ao comércio ilegal, os
indivíduos de P. palpebrosus possivelmente sofrem Figura 11. Relação entre temperatura e número de
maiores pressões na região. indivíduos avistados em cada noite de campo.

Os resultados apresentados auxiliam no


entendimento da ecologia da espécie e abrem futuras
questões de pesquisa sobre um predador tão
importante para os ambientes em que ocorre. O
Paleosuchus palpebrosus é um predador topo de
cadeia, com grande impacto na manutenção dos
ecossistemas onde ocorre. Proteger essa espécie
trará a preservação, não só do animal, mas de todo
o ecossistema aquático que habita e seu estudo é
Figura 9. Carcaça de fundamental para o planejamento do manejo das
Paleosuchus
palpebrosus
áreas protegidas na região.
encontrada em O jacaré-paguá é exigente quanto à qualidade
janeiro de 2018. de água, usando lagoas oligotróficas e riachos com
Foto: JMSA.
boa qualidade ambiental. Estudá-lo auxilia na
medição da qualidade dos ecossistemas aquáticos,
Aparentemente existe um efeito da umidade e da importantes, também, para os seres humanos. Assim,
temperatura sobre a chance de observação de entender a ecologia da espécie é essencial para a
jacarés (Figuras 10 e 11). A umidade e número de tomada de ações de manejo nos ambientes em que
indivíduos avistados possuem correlação de 0,59, ocorre.
enquanto a temperatura e número de indivíduos

159
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163
164
Marcelo A. Bagno
Tarcísio L.S. Abreu
Vívian S. Braz

“As barras do dia quebrando, e cima da Serra dos Gerais, o roxoal


da sobrealba abrida, os passarinhos instruindo, vinha por tudo
o bafo de um dia que ia ser bonito. Que queriam os periquitos.
As fogo-apagou, se dizendo alto, e os pássaros-pretos, palhaços,
na brincação. Bandos de jutiris, tantas, tão junto de casa. Nem
eram só juritis, eram pombas-verdadeiras...” (Manuelzão e
Miguilim - Guimarães Rosa)

165
166
Marcelo A. Bagno
Tarcísio L.S. Abreu
Vívian S. Braz

INTRODUÇÃO do planeta de importância biológica especial sob


forte ameaça de perda da biodiversidade (Silva &
O Cerrado é uma das savanas mais ricas do mundo,
Bates 2002).
abrigando notória diversidade e/ou endemismo de
plantas, aves, peixes, répteis, anfíbios e insetos (Klink O bioma Cerrado possui notável diversidade de aves,
& Machado 2005). O Cerrado ocupa mais de dois sendo conhecidas 856 espécies para bioma, incluindo
milhões de quilômetros quadrados no território dentre elas, táxons relevantes para o funcionamento
brasileiro, fazendo limite com outros cinco biomas dos ecossistemas, além daqueles endêmicos de
sul-americanos (Floresta Amazônica, Floresta distribuição restrita ou ameaçados a nível global
Atlântica, Pantanal, Chaco e Caatinga), sendo o único (Silva & Santos 2005). O mosaico de habitats das
bioma com tantos contatos biogeográficos (Silva & paisagens do Cerrado favorece a existência de
Santos 2005). A altitude no bioma varia entre 100 elevada riqueza de aves que alternam o uso dessas
(vale do Araguaia) e 1.800 metros (na Chapada dos diferentes formações. Desta forma, a composição de
Veadeiros) e geograficamente está definido como um avifauna é influenciada por elementos de outros
conjunto de chapadas e serras intercaladas por domínios fitogeográficos do país (Silva 1996). Em
extensos vales (Brasil 2007). As fitofisionomias do adição, ainda há pouco conhecimento básico a
Cerrado estão distribuídas em mosaico, mesclando respeito da história natural das aves do Cerrado, as
formações vegetais abertas (campo limpo, sujo, quais são ameaçadas pela progressiva perda de
parque de cerrado, cerrado sensu stricto, veredas e habitat (Silva 1995c, Pinto et al. 2008). Estima-se que
corpos d’águas lóticos e lênticos) com formações em torno de 70% do bioma não foi minimamente
florestais (cerradão, matas de galeria, matas de amostrada em termos ornitológicos e, portanto,
interflúvio e matas secas) (Ribeiro & Walter 1998). novos esforços de inventários das aves são relevantes
Em contraste, cerca de 50% da área do bioma já está para s desafios de conservação do Cerrado (Silva et
modificada pela atividade humana, em função al. 2003).
principalmente do agronegócio, da expansão da A região Fazenda Trijunção é parte da beleza
malha urbana e da construção de empreendimentos paisagística do Grande Sertão Veredas tão bem
hidrelétricos e minerários no Brasil Central (Machado descrito por Guimarães Rosa (1946, 1956a, 1956b).
et al. 2004, Françoso et al. 2015). A progressiva Sua flora e fauna, que ainda pode ser vista aos olhos
remoção das áreas naturais numa região de relevante nus, justificam o encantamento e a inspiração com
biodiversidade inclui o Cerrado na condição de que estes textos literários nos arrebatam. A região é
hotspot mundial da conservação, isto é, uma região chamada de “Trijunção” por estar na divisa dos

167
estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais, um pedaço Veredas é a maior unidade de proteção integral de
da riquíssima e frondosa região conhecida como toda esta vasta região, com seus quase 231.000 ha,
Chapadão Central, no Espigão Mestre do São resguardando relevante diversidade de flora e fauna,
Francisco (Brasil 2003). Comparada a outras áreas além de belíssimas paisagens cênicas que ficaram
dentro do bioma, a região distingue-se pela presença notórias nos livros de Guimarães Rosa (1946,1956a,
de “carrascos”, vegetação espinhenta e 1956b). O clima da região é caracterizado por duas
impenetrável, típica da zona de transição do Cerrado estações sazonais bem definidas: uma estação
com a Caatinga, em fragmentos onde afloram certas chuvosa, entre os meses de outubro a abril; e o
condições de solo e umidade (Santos 2008). A região período de estiagem, que vai de maio a setembro
da Trijunção não é um dos enclaves de Cerrado (Eiten 1993). A classificação segundo Köppen é de
dentro da Caatinga (Silva et al. 2003), mas devido à clima tropical úmido (Aw) (Kottek et al. 2006), com
relativa proximidade entre esses biomas, há de se temperatura média anual em torno de 23oC e índices
avaliar a importância local como transição entre os pluviométricos acima de 1.500mm ao ano.
mesmos. O presente estudo apresenta o inventário
O somatório de áreas protegidas criadas entre o
de aves realizado na Fazenda Trijunção e parte baiana
PNGSV, a Fazenda Trijunção e os remanescentes de
do Parque Nacional Grande Sertão Veredas entre
vegetação nativa encontrados na Área de Proteção
dezembro de 2000 e outubro de 2002, incluindo
Ambiental do Rio Vermelho e em propriedades
também alguns registros realizados desde então. A
vizinhas formam um importante bloco contínuo de
análise da composição de espécies presentes na
Cerrado do bioma, com mais de 300 mil hectares.
região objetivou destacar táxons relevantes para a
Nessa importante paisagem ocorrem ainda
conservação (espécies ameaçadas, endêmicas e de
populações expressivas de diversos animais do
interesse cinegético), identificar inter-relações das
Cerrado que encontram proteção na ação combinada
aves com as fitofisionomias locais e avaliar as
do poder público e de proprietários conscientes e
características biogeográficas da avifauna local e sua
responsáveis.
representatividade para o bioma Cerrado.
A paisagem é um mosaico de fitofisionomias, cuja
Área de estudo
sequência se repete regionalmente. As matas de
O inventário de aves foi realizado na “Fazenda galeria são encontradas nas cabeceiras de rios,
Trijunção” (14°46’37.1’’ S; 45°56’35.2’’ W), a qual se normalmente densas e estreitas (largura de seis
situa na divisa de três Estados brasileiros, entre os metros). Comumente alagadas na maior parte do
municípios de Cocos (BA), Formoso de Minas (MG) e ano, apresentam considerável diversidade de
Sítio D’Abadia (GO). Geomorfologicamente, a fazenda espécies arbóreas. As matas de galeria situam-se
está inserida na região do Espigão Mestre do São adjacentes às extensas veredas, fitofisionomia
Francisco, também conhecida como Chapadão abundante região, que possui o buriti (Mauritia
Central (Brasil 2003), entremeada pela Serra Geral flexuosa) como espécie vegetal dominante. Junto às
do Goiás e a Serra da Capivara, com altitudes que veredas, observam-se os campos limpos úmidos,
variam de 800 a 900 metros acima do nível do mar, formações compostas basicamente pelo estrato
mas chegando a 1000 metros no marco da Trijunção. herbáceo, com predomínio gramíneas e ciperáceas
Atualmente, a região da Trijunção possui mais de sobre solos arenosos. Na seqüência, há
10.000 ha de cerrado nativo, sendo que ocasionalmente uma faixa estreita de campo de
aproximadamente 2 mil ha estão na forma de Reserva murundu, área campestre onde é identificada a
Particular do Patrimônio Natural. Uma parte da presença de buritiranas (Mauritiella armata) ao lado
Fazenda Trijunção foi incorporada ao Parque de protuberâncias no solo chamadas de “murundus”.
Nacional Grande Sertão Veredas (PNGSV) em sua Estes murundus são formados por diferenças na
ampliação de 2005. A propriedade e o PNGSV são erosão e no acúmulo de substrato criados por
confrontantes diretos em mais de 8 quilômetros de cupinzeiros e são importantes em termos ecológicos
extensão, permitindo amplo contato e expressiva por promoverem variados micro-hábitats utilizados
conectidade entre as áreas protegidas da Fazenda e por vários tipos de animais, fornecendo alimento e
o Parque Nacional. O Parque Nacional Grande Sertão abrigo para aracnídeos, cobras, lagartos, roedores e

168
aves (p.ex., pica-paus e psitacídeos). À medida que carrascos apresentam vegetação de estrato médio
espécies arbóreas se adensam sobre as formações bastante densa e com muitos cipós, dossel com dois
campestres, a paisagem vai sendo denominada de a dez metros de altura e predominância de duas
campos sujos e campos-cerrados, até chegando ao espécies arbóreas, o carvoeiro (Sclerolobium
cerrado sensu stricto, fitofisionomia dominante na paniculatum) e a pimenta-de-macaco (Xylopia
região, caracterizada por possuir boa densidade de aromatica).
espécies arbóreas de 3 a 6 metros de altura, em Os corpos d’água locais compõem-se das cabeceiras
conjunto com expressivo estrato herbáceo- dos grandes rios regionais (Itaguari, Formoso,
graminoso. A paisagem chamada de “cerradão” Carinhanha e Pratudão), consistindo em córregos
possui uma composição de floras similar com o típicos de regiões elevadas, geralmente estreitos,
cerrado sensu stricto, porém apresenta maior com até três metros de largura. Também são
densidade lenhosa, dossel mais fechado e alto, acima observadas lagoas naturais, formadas por grandes
de três metros de altura, e muito pouca cobertura remansos nas áreas de nascentes, entremeadas por
herbácea. Além destas paisagens típicas do bioma buritis e veredas. Dentre os principais processos
Cerrado, são encontradas outras fitofisionomias ecológicos no entorno da Fazenda Trijunção, registra-
peculiares da região, como uma localmente chamada se uma elevada ocorrência de queimadas sobre
de “campina”, presente sobre solo arenoso, pouco remanescentes naturais, durante a estação seca.
encharcado, semelhante às demais formações Além disso, a região possui extensas áreas de
campestres já descritas (campos limpos e campos pastagens, agricultura mecanizada e de
sujos) porém com expressiva presença de palmeiras reflorestamentos com espécies dos gêneros
de caule subterrâneo, além de pequenas e isoladas Eucalyptus e Pinus (Lago et al. 2001).
manchas de “carrascos”, que consistem numa
fitofisionomia bastante peculiar da região. Estes

169
O estudo de campo foi realizado em doze pontos amostrais, descritos abaixo:

● Ponto 1 – Atual Pousada Trijunção (coordenadas 14o 49' 05"S e 45o 58' 40"W), onde foram amostradas
as seguintes fitofisionomias: veredas, lagoas e ambientes antropizados (pastagens nativas).
● Ponto 2 - Carrasco (14o 52' 02"S e 46o 01' 48"W) - carrasco alto e denso, repleto de lianas e cipós
espinhentos que o deixa quase impenetrável.
● Ponto 3 – Lagoão do Formoso (14o 47' 22"S e 45o 56' 55"W) – grande lagoa entre veredas, onde foram
amostrados um cerrado sensu stricto, uma mata alagada e alguns corpos d’água (curso de água do
rio Formoso e lagoa natural).
● Ponto 4 - Marco da Trijunção (14o 52' 33"S e 46o 02' 32"W) - extensa baixada de cerrado sensu stricto
próximo ao marco da Trijunção dos três Estados.
● Ponto 5 - Cabeceiras do Rio Corrente (14o 50' 25"S e 46o 04' 07"W) - região repleta de córregos, onde
veredas, florestas secundárias e cerrados sensu stricto foram amostrados.
● Ponto 6 – Rio Formoso no local chamado “Sucuri” (14o 40' 06"S e 45o 49' 37"W) - principal cabeceira
do rio Formoso, onde foram amostradas veredas, floresta secundária e algumas áreas antropizadas.
É onde se localiza a primeira ponte sobre o rio Formoso.
● Ponto 7 – Cerradão do Sucuri (14o 36' 46"S e 45o 51' 16"W) - cerradão denso próximo ao rio Formoso.
● Ponto 8 - Vereda do Sucuri (14o 39' 12"S e 45o 49' 36"W) - região de extensas nascentes, onde foram
amostrados campo limpo e vereda.
● Ponto 9 – Campina (14o 36' 45"S e 45o 50' 54"W) - área de extensas formações campestres, onde
predominam campinas e campos limpos. Esse ambiente campestre, único por apresentar grande
densidade de palmeiras de caule subterrâneo associadas à gramíneas no estrato herbáceo.
● Ponto 10 - Santa Luzia (14o 54' 50"S e 45o 57' 46"W) - região das nascentes do córrego Itaguarizinho,
onde foram amostrados cerrado sensu strico e áreas de veredas, hoje no interior do Parque Nacional
Grande Sertão Veredas.
● Ponto 11 - Ponte do Itaguari (14o 59' 15"S e 45o 53' 40"W) - entorno do rio Itaguari, com floresta de
galeria e cerrado sensu stricto. Também se encontra hoje no interior do Parque Nacional Grande
Sertão Veredas
● Ponto 12 – “Beco sem saída” (14o 57' 39"S e 45o 55' 49"W) - região do córrego Itaguarizinho, com
remanescentes de carrasco, veredas e cerrado sensu stricto. Também se encontra hoje no interior
do Parque Nacional Grande Sertão Veredas.

Os três últimos pontos descritos (Santa Luzia, Ponte METODOLOGIA


do Itaguari e Beco sem saída) pertencem a uma Para o inventário da avifauna presente na Fazenda
região com cerca de 18 mil hectares que foi Trijunção foram realizadas três excursões à área de
posteriormente incluída no Parque Nacional Grande
estudo, de 17 a 20 de dezembro de 2000, de 06 a 15
Sertão Veredas, após sua ampliação, em 2004. Os de outubro de 2001 e de 18 a 27 de outubro de 2002,
pontos 3 (Lagoão) e 5 (Rio Corrente) atualmente totalizando 21 dias de campo. Para otimizar o registro
compõem Reservas Particulares do Patrimônio
de espécies, o esforço de campo foram realizados
Natural, sendo que os inventários de aves foram preferencialmenre nos horários de maior atividade
realizados antes do estabelecimento oficial destas da aves, das 06:00hs às 10:00hs e das 16:00hs às
novas unidades de conservação. 20:00hs (Bibby et al. 1992, 2000). Os materiais de

170
apoio utilizados no campo incluíram câmera aquáticas, C1 - espécies estritamente campestres, C2
fotográfica, GPS e binóculos Bushnell 8 x 32. Foram - espécies essencialmente campestres, mas que
considerados todos os registros oportunísticos e também utilizam florestas, F2 - espécies
assistemáticos oriundos de procuras ativas diurnas, essencialmente florestais, que utilizam também
excursões ao longo das margens dos rios e buscas formações abertas e F1 - espécies estritamente
noturnas com o auxílio de farol de mão. Os registros florestais. As comunidades presentes nas diversas
baseiaram-se em registros fotográficos e sonoros, fitofisionomias da Fazenda Trijunção foram
oriundos de observação direta (visualização), comparadas àquelas amostradas no PARNA Grande
identificação de cantos e chamados (zoofonia), Sertão Veredas (Antas 2003), através do índice de
indução sonora (play-back) do canto de certas similaridade de Jaccard, calculado com base na
espécies crípticas, as quais se aproximam ou ao presença/ausência de cada espécie de ave em cada
menos respondem ao indutor. Nas duas últimas um dos sítios de amostragem (Brower & Zar 1977).
campanhas, foram feitas capturas com auxílio de dez Com base nesta similaridade foi realizado um
redes de neblina 2 m x 10 m (malha 30 mm) nas áreas agrupamento de forma hierárquica, método linear e
de cerradões (carrascos) dos pontos 2 (próximo à distância mediana, que visou determinar as maiores
Sede) e 7 (“Sucuri”). Após identificação, os indivíduos afinidades entre os ambientes da Fazenda Trijunção
foram soltos no mesmo local de captura, segundo e do PARNA Grande Sertão Veredas.
recomendações vigentes (IBAMA 1994). RESULTADOS
Para auxiliar na identificação das espécies foram O total de aves inventariadas para região da Fazenda
utilizados: 1) guias de campo e livros de referência Trijunção durante as expedições de amostragens foi
(Hilty & Tudor 1986, Forshaw & Cooper 1977, de 213 espécies, correspondentes a 54 famílias de 24
Grantsau 1988, Ridgely & Tudor 1989, 1994, Sick ordens distintas. Adicionalmente foram observadas
1997, De la Peña & Rumboll 2000); 2) sonogramas oportunisticamente mais seis espécies, elevando a
presentes em bancos de cantos de aves, para riqueza conhecida para a Fazenda Trijunção para 219
identificações comparativas dos registros sonoros, e espécices. As famílias mais representativas na região
3) eventuais consultas ao acervo de coleções são Tyrannidae (papa-moscas, bentevis e suiriris, com
ornitológicas. A ordem filogenétia e a nomenclatura 35 espécies); Traupidae (sanhaços e saíras, 13
científica utilizada baseiam-se na lista oficial do espécies); Emberezidae (papa-capins e tico-ticos, 11
Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (CBRO espécies) e Accipitridae (gaviões e águias; 11
2011). O status de conservação das espécies são espécies). A região se destaca pela notória
baseados, a nível nacional, no Livro Vermelho da abundância de periquitos, papagaios e araras (Família
Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Machado et Psittacidae), de pombas e rolinhas (Columbidae), de
al. 2008) e, a nível global, na classificação da União andorinhas (Hirundinidae) e andorinhões (Apodidae),
Internacional para Conservação da Natureza de beija-flores (Trochilidae) e, particularmente, de
(International Union for Conservation of Nature - aves de rapina (Famílias Accipitridae, Falconidae e
IUCN 2012). Segundo a literatura especializada,
Strigidae). A presença efetiva de aves pertencentes
classificou-se as aves endêmicas do bioma Cerrado a grupos que realizam funções ecológicas relevantes,
(Silva 1995a, Silva 1997, Cavalcanti 1999), as como polinizadores (p.ex. Trochilidae), dispersores
endêmicas da Caatinga (Pacheco & Bauer 2000, Silva de sementes (p.ex. Thraupidae, Psittacidae) e
et al. 2003), as endêmicas do Brasil (Sick 1997), bem predadores de topo de cadeia alimentar
como, as espécies com centros de distribuição no sul
(Accipitridae), denota a qualidade dos ecossistemas
da Floresta Atlântica e Amazônica (Silva 1996). locais e a importância da comunidade de aves
Todas as espécies de aves da região foram segregadas encontrada na região.
em cinco grupos ecológicos em relação ao grau de
Em relação ao esforço amostral, o número de aves
dependência às florestas e formações campestres, registradas é bastante representativo, com
considerando seus ambientes mais relevantes para expressivos 213 táxons em apenas 21 dias de campo.
forrageamento e reprodução, segundo Bagno & Este padrão sugere uma elevada riqueza para a
Marinho-Filho (2001): A - espécies estritamente avifauna regional, corroborada pela acentuada
171
Figura 1. Curva acumulativa das
espécies (curva do coletor) das aves
inventariadas por dia de campo na
Fazenda Trijuncão entre os
municípios de Cocos, BA; Formoso
de Minas, MG e Sítio da D’Abadia,
GO.

tendência progressiva da curva do coletor, que (Spizaetus melanoleucus), o tuiuiú (Jabiru mycteria),
mostra o acúmulo de espécies obervadas em campo as araras canindé (Ara ararauna) e vermelhas (Ara
(Figura 1). O número de novos registros de espécies chloropterus); o limpa-folhas (Syndactyla dimidiata)
foi elevado mesmo nos últimos dias de amostragem. e o curió (Sporophila angolensis).
A título de ilustração, foram incluídas 25 novas A única espécie criticamente ameaçada, o pato-
espécies à lista de aves da Fazenda Trijunção, nos mergulhão (Mergus octosetaceus) não foi registrada
últimos oito dias de inventariamento. dentro dos limites da Fazenda Trijunção. Sua inclusão
Dentre as aves inventariadas, onze espécies são no inventário baseia-se na ocorrência de registros
listadas como ameaçadas de extinção a nível mundial desta espécie para alguns dos afluentes do Rio São
(IUCN 2012), em quatro categorias distintas: uma Francisco do Estado da Bahia que nascem dentro ou
espécie criticamente ameaçada: o pato-mergulhão próximos à Fazenda Trijunção, como os rios
(Mergus octosetaceus); outra tida como “em perigo”: Carinhanha, Itaguari, Formoso, Pratudão, Pratudinho
a águia cinzenta (Harpyhahiaetus coronatus); três
consideradas vulneráveis: a codorna mineira
(Nothura minor), o papa-moscas–do-campo
(Culicivora caudacuta) e o tico-tico-mascarado
(Coryphaspiza melanotis); além de outras seis como
próximas de serem consideradas ameaçadas (“near-
dangered”): a ema (Rhea americana), o papagaio-
galego (Amazona xanthops), o barranqueiro
(Hylocryptus rectirostris), a maria-corruíra
(Euscarthmus rufomarginatus), o mineirinho
(Charitospiza eucosma; Figura 2) e o sanhaço-do-
cerrado (Neothraupis fasciata). As cinco primeiras
citadas também figuram dentre as espécies
brasileiras ameaçadas de extinção (Machado et al.
2008). Quatorze das aves inventariadas também são
listadas como ameaçadas para o estado do Minas Figura 2. Mineirinho (Charitospiza eucosma). Espécie
Gerais (Machado et al. 2005) (ver Anexo 1), das quais endêmica do Cerrado. Foto: RAB.
se destacam o mutum (Crax fasciolata), o gavião-pato
172
e Arrojado (Pineschi & Yamashita 2000, Pineschi com. (Cyanocorax cristatellus; Figura 3), a maria-corruíra
pessoal). Os registros foram realizados há mais de (Euscarthmus rufomarginatus), o bandoleta
vinte anos e toda a região está profundamente (Cypsnagra hirundinacea) e o bico-de-pimenta
ameaçada pela intensiva expansão da agricultura de (Saltator atricollis), além dos já citados como
soja, incluindo bombas para pivôs centrais, bem ameaçados: a codorna mineira (N. minor), o
como a instalação de centrais elétricas. São papagaio-galego (A. xanthops), o barranqueiro (H.
fundamentais novas excursões para se confirmar a rectirostris), o mineirinho (C. eucosma), o pula-pula
presença da espécie na região, ou mesmo, dos (B. leucophrys) e o sanhaço-do-cerrado (N. fasciata).
habitats adequados para estas aves, cursos d’água Ao se avaliar estas endêmicas, percebe-se que há
com cachoeiras em leitos rochosos. É importante a mais espécies (nove táxons) associadas às formações
realização de buscas pela espécie na região visando abertas do que as cinco endêmicas tipicamente
incluir a propriedade no Plano de Conservação do florestais, o que ressalta, mais uma vez, a íntima
Pato-Mergulhão. associação da avifauna da Trijunção com as paisagens
Dentre as espécies consideradas ameaçadas, poucas campestres típicas do bioma Cerrado, além da
são consideradas estritamente florestais, como o importância das formações campestres na
barranqueiro (H. rectirostris), o mutum (Crax manutenção da diversidade de aves na região.
fasciolata) e o limpa-folhas (Syndactyla dimidiata), o
que pode indicar a pouca importância dos ambientes
florestais na paisagem da região de estudo. A grande
maioria são aves típicas de formações campestres
(dez táxons), isto é, espécies intimamente associadas
aos variados tipos de campos presentes na região da
Trijunção (campos limpos, campos sujos, campos de
murundus, “campinas”, campos-cerrados e campos
úmidos). Por consequência, as populações destas
espécies são as mais sensíveis aos impactos negativos
advindos da crescente alteração de paisagens
naturais do Cerrado, principalmente como
decorrência da expansão da fronteira agrícola. São
justamente as formações campestres do Chapadão
Ocidental da Bahia as mais rapidamente substituídas Figura 3. Gralha-do-cerrado (Cyanocorax cristatellus).
por monocultivos na região. Espécie endêmica do Cerrado. Foto: RAB.

No Brasil existem 182 espécies endêmicas (11,9%)


dentre as 1.524 espécies residentes (Sick 1997, CBRO O inventário das aves da região não inclui nenhuma
2011). Das espécies registradas neste estudo, cinco das dezoito espécies consideradas endêmicas da
são aves endêmicas do país: o rapazinho-dos-velhos Caatinga (Stotz et al. 1996, Pacheco & Bauer 2000),
(Nystalus maculatus), o caneleiro-enxofre (Casiornia apresentando apenas uma única espécie considerada
fusca), o pula-pula-de-sobrancelha (Basileuterus típica do bioma, a rolinha-picuí (Columbina picui)
leucophrys), o bico-de-veludo (Schistochlamys (Vasconcelos et al. 2012). Entretanto, as rolinha-picuí
ruficapillus), além da já citada codorna mineira (N. foram encontradas, sobretudo, nas áreas de
minor). A avifauna da Fazenda Trijunção caracteriza- “carrascos”, incluindo algumas outras aves que são
se pela grande afinidade ao Cerrado, apresentando frequentemente registradas em estudos realizados
uma proporção considerável das aves endêmicas do na Caatinga (Santos 2001, Olmos et al. 2005, Farias
bioma, incluindo quatorze das 33 espécies (42,4%). et al. 2005) ou em áreas de transição Cerrado-
São elas: o chorozinho-de-bico-longo (Herpsilochmus Caatinga (Faria et al. 2009, Santos 2008), tais como,
longirostris), o meia-lua-do-cerrado (Melanopareia além da própria rolinha-picuí, a jandaia-de-testa-azul
torquata), o limpa-folhas (Syndactyla dimidiata), o (Aratinga acuticaudata; Figura 4) e o beija-flor-
soldadinho (Antilophia galeata), a gralha-do-cerrado vermelho (Chrysolampis mosquitus).

173
Figura 4. Jandaia-de-testa-azul (Aratinga acuticaudata) Figura 5. Beija-flor-chifre-de-ouro (Heliactin bilophus). Espécie
espécie típica da Caatinga. Foto: RAB. de ampla distribuição geográfica . Foto: NN.

Existe uma certa abundância de espécies comuns em


outros biomas, mas que são típicas do domínio da moscas-cinzento (Contopus cinereus cinereus) são as
Caatinga como o inhambu-xintã (Crypturellys únicas espécies de distribuição associadas às florestas
tataupa), a asa-branca (Patagioenas picazuro), a da Mata Atlântica.
avoante (Zenaida auriculata), o chorozinho-de- Variadas aves típicas de ambientes aquáticos são
chapéu-preto (Herpsilochmus atricapillus), o encontradas na Fazenda Trijunção devido à presença
alegrinho (Serpophaga subcristata) e o sanhaço-de- de um extenso sistema de veredas entremeadas de
fogo (Piranga flava). A maioria das espécies nascentes, lagoas e brejos, as quais abrigam: patos e
inventariadas para a Trijunção possui distribuição marrecas (família Anatidae), garças (Ardeidae),
geográfica ampla, geralmente associada à chamada biguás (Phalacrocorax brasilianus), mergulhões
“Diagonal Seca da América do Sul”, formada pela (Podicipedidae), jaçanãs (Jacana jacana), entre
Caatinga/Cerrado/Chaco. Entre estas estão a ema outras aves. Na Trijunção, apenas três espécies são
(Rhea americana), a seriema (Cariama cristata), a “visitantes setentrionais”, isto é, aves migratórias que
sanã-carijó (Porzana albicollis), a rolinha vaqueira se reproduzem em regiões distantes da América do
(Uropelia campestris), o beija-flor-chifre-de-ouro Norte e só são encontradas no Brasil quando não-
(Heliactin bilophus; Figura 5), o papa-formiga- reprodutivas, sendo dois maçaricos (Tringa solitaria
vermelho (Formicivora rufa) e a saíra-macaco e T. flavipes) e uma andorinha-de-bando (Hirundo
(Tangara cayana). Tambem comparamos as aves da rustica) (Sick 1983). Além destas, outras espécies
Trijunção com as espécies que possuem centro de migratórias aparecem apenas por alguns períodos do
distribuição nos outros grandes biomas florestais, a ano (p.ex: fim do período de seca), tais como o
Mata Atlântica e a Amazônia (Silva 1996). Das 213 tesourinha (Tyrannus savana) e príncipe
inventariadas para a região, apenas o maracanã-do- (Pyrocephalus rubinus). Ainda há espécies que,
buriti (Orthopsittaca manilata) e o sebinho-rajado- apesar de serem observadas o ano todo na região,
amarelo (Hemitriccus striaticollis) são aves florestais parte de suas populações migram para outras regiões
que possuem distribuição tipicamente amazônica, (Negret & Negret 1981, Negret 1983, Bagno &
enquanto o joão-teneném (Synallaxis spixi) e o papa- Marinho-Filho 2001), entre elas os irerês
174
(Dendrocygna viduata), as marrecas-do-pé-vermelho dos maus tratos e da submissão a condições
(Amazonetta brasiliensis), os patos-do-mato (Cairina inadequadas. Outro impacto regional sobre a fauna
moschata), os gaviões-peneira (Elanus leucurus), os silvestre é a caça, uma das alternativas de obtenção
falcões-de-coleira (Falco femoralis), os bem-te-vis- de alimento para as pessoas que habitam zonas rurais
pirata (Legatus leucophaius), a peitica (Empidonomus e ribeirinhas do interior do país. A caça, junto à pesca,
varius) e a peitica-de-chapéu-preto (Griseotyrannus pode representar a principal fonte de proteína para
aurantioatrocristatus), além de variadas espécies de algumas famílias brasileiras, mas podem causar
bacuraus, andorinhões e andorinhas (ver Lista de extinções locais em diversas espécies exploradas. Na
Aves na Tabela 1). Dentre as aves migratórias região da Fazenda Trijunção, entre as espécies de
encontradas na Trijunção ressalta-se o registro de aves mais visadas pela caça (espécies de valor
tuiuiú (Jabiru mycteria), cuja presença pode ser cinegético) estão jaós (Crypturellus undulatus),
atribuída à relativa proximidade com outros três inhambús-chororó (Crypturellus parvirostris),
pontos de colônias de aves aquáticas, fora do perdizes (Rhynchotus rufescens), codornas (Nothura
Pantanal. Foram descritas colônias reprodutivas de spp.), marrecas (Dendrocygna viduata e Amazonetta
cabeças-secas (Mycteria americana) na regiã o de brasiliensis), patos-do-mato (Cairina moschata) e,
Barra, no estado da Bahia; no rio Paracatu, no sobretudo, jacús (Penelope superciliaris) e mutuns
municı́ pio de Vazante, em Minas Gerais; e um (Crax fasciolata). Emas também são muito exploradas
sistema de lagoas estacionais conhecido como “Mato por caçadores na região.
Grosso de Goiás” ou “Pantanal Goiano”, no vale do Quanto à relação com as fitofisionomias regionais,
Paranã, afluente do rio Tocantins, no norte do Estado mais da metade das aves registradas na Fazenda
de Goiás (Faria et al. 2009). Situação semelhante Trijunção são nitidamente associadas a formações
parece explicar a presença de colhereiros (Platalea abertas, tais como cerrados sensu stricto, campos
ajaja) e do pernilongo (Himantopus melanurus). A limpos e campos sujos (C1 e C2 � 109 espécies =>
Trijunção, junto com toda a região do Grande Sertão 51,2% do total de espécies, ver Anexo 1). Esta
Veredas, aparenta ser um ponto de referência para proporção de espécies independentes de florestas é
estas aves que realizam extensos deslocamentos relativamente alta em comparação com as
migratórios (Antas 2003). comunidades de aves de outras localidades (Bagno
Variadas espécies de aves encontradas na Fazenda & Marinho-Filho 2001, Bagno & Abreu 2001), mas
Trijunção possuem valor comercial, devido à beleza deve-se à destacada quantidade de fitofisionomias
de sua plumagem ou à destreza de seus cantos e campestres preservadas localmente. Das espécies
imitações. Tais espécies são comumente apreendidas citadas, 38 aves (17,4%) são consideradas
em ações de repreensão ao tráfico de animais estritamente campestres, que incluem a ema (Rhea
silvestres em rotas que também levam à região do americana), a perdiz (Rhynchotus rufescens), as
Grande Sertão Veredas. Entre as aves mais cobiçadas codornas (Nothura maculosa e N. minor), a seriema
destacam-se araras (Ara ararauna e A. chloroptera), (Cariama cristata), a saracura-sanã (Porzana
maracanãs (Orthopsittaca manilata e Diopsittaca albicollis), as rolinhas (Uropelia campestris) e
nobilis), maritacas (Aratinga leucophthalma), (Columbina picui), o vipi (Synallaxis albescens) e a
jandaias (Aratinga aurea), periquitos (Brotogeris maria branca (Xolmis velata), entre outros.
chiriri), papagaios (Alipiopsitta xanthops e Amazona Quanto às matas de galeria e os cerradões, há uma
aestiva), tucanos (Ramphastos toco), sabiás (Turdus menor proporção de espécies associadas a ambientes
spp.), sanhaços (Tangara spp.), coleirinhos, patativas florestais (F1 e F2 � 80 spp = 36,5%), que atualmente
e curiós (Sporophila spp.), canários-da-terra (Sicalis possuem menos remanescentes na região. Ainda
flaveola), trinca-ferros (Saltator similis) e pássaros- assim, há algumas aves peculiares de formações
pretos (Gnorimopsar chopi). Muitas das vezes, a florestais como o coró-coró (Mesembrinibis
obtenção dos espécimes se faz por meio da retirada cayennensis), o jacu (Penelope superciliaris), o bico-
de ovos e filhotes dos ninhos, comprometendo a de-agulha (Galbula ruficauda), o chororozinho
reprodução de algumas aves. Além disso, tal prática (Herpsilochmus longirostris), o joão-teneném
aumenta de forma desproporcional a taxa de (Synallaxis hypoposdia), o sebinho (Hemitriccus
mortalidade dos indivíduos capturados, em função
175
striaticollis), o soldadinho (Antilophia galeata), o abrigam espécies de menor porte, adaptadas a locais
pula-pula (Basileuterus leucophrys) e o tiê (Nemosia escuros e densos do sub-bosque. Os carrascos
pileata). Destas aves florestais, apenas duas são apresentaram a terceira maior riqueza de aves, com
consideradas estritamente associadas a matas 113 espécies, sendo oito registradas exclusivamente
(0,9%): o limpa-folhas (Syndactyla dimidiata) e o neste habitat. Em geral, as espécies registradas
enferrujadinho (Lathrotriccus euleri). As espécies exclusivamente nos carrascos são aves típicas de
estritamente florestais não superam em número as formações abertas, como a codorna-mineira
espécies estritamente campestres, explicando a (Nothura minor), o tapaculo-de-colarinho
menor riqueza das florestas locais em relação às (Melanopareia torquata), o suiriri-cavaleiro
formações típicas de Cerrado. Das aves encontradas (Machetornis rixosa) e o tico-tico-de-máscara-negra
na Fazenda Trijunção, 23 espécies (10,5%) são (Coryphaspiza melanotis), ou mesmo, aves
associadas a ambientes alagados e brejos, algumas conhecidas por seus comportamentos migratórios,
bastante interessantes e exclusivas, como os tais como o príncipe (Pyrocephalus rubinus), a
mergulhões (Tachybaptus dominicus e Podilymbus andorinha-de-bando (Hirundo rustica) e o canário-
podiceps), o jaburu (Jabiru mycteria), o irerê rasteiro (Sicalis citrina). Esta fisionomia peculiar da
(Dendrocygna viduata), o gavião-caramujeiro região também apresenta estrato arbóreo
(Rosthramus sociabilis), a lavadeira (Fluvicola relativamente baixo, com vegetação densa em seu
albiventer) e a andorinha-do-rio (Tachycineta interior, conseqüente dos processos antigos de
albiventer). O secamento de rios, veredas e lagoas no perturbação antrópica (fogo e corte seletivo). Em
Oeste da Bahia ameaça a presença dessas aves na termos paisagísticos, os processos de colonização
região. observados na região já promovem, de forma
acelerada, o isolamento e a redução dos fragmentos
Ao comparar o número de espécies registrado em
de carrascos. Todas as espécies de aves registradas
cada fitofisionomia (Figura 6), o cerrado stricto sensu
neste ambiente, independente do grau de alteração,
foi o habitat que apresentou maior riqueza na região
sugerem uma composição diferente daquela
da Fazenda Trijunção, 148 espécies, com apenas seis
encontrada nos demais ambientes florestais da
destas exclusivas. Trata-se da fitofisionomia mais
região (matas ciliares, matas de galeria e cerradões),
abundante da região, que ainda preserva suas
denotando a peculiaridade e importância desses
características originais nas áreas protegidas. A
ambientes pouco estudados.
presença de remanescentes representativos de
cerrado stricto sensu se reflete na elevada As veredas e as formações campestres obtiveram
diversidade local. As florestas de galeria e cerradões riquezas compatíveis, com 100 e 99 espécies,
apresentaram a segunda maior riqueza, com 122 respectivamente. Devido à menor estratificação
espécies, sendo nove espécies exclusivas dos vertical nestes ambientes, há uma tendência da
ambientes florestais. Na região, as florestas possuem riqueza de espécies ser menor, quando comparada
estratos arbóreos pouco elevados, que comumente às florestas de galeria, cerradões, cerrados sensu
160 148
140 122
120 113
100 99
100
80
60
37 Figura 6. Número de espécies de aves em
40
18 cada habitat amostrado na Fazenda
20 9 8 6 7 2 Trijuncão. Barras brancas indicam o
0 número total de espécies registradas por
Florestas Carrascos Cerrados Campos Veredas Ambientes habitat; enquanto as barras cinzas indicam
aquáticos o nú mero de espécies exclusivas de cada
N. espécies N. espécies exclusivas habitat.

176
stricto; ambientes mais complexos estruturalmente composição das espécies de aves em relação às áreas
(Tubelis 2009). Cerca de 90% da avifauna local do Parque Nacional. Algumas espécies inventariadas
apresenta hábito arborícola, demonstrando uma numa localidade não foram registradas na outra e
certa exigência por estratos arbustivos e arbóreos. vice-versa. Dentre as 26 espécies registradas
Por fim, os corpos d’água e lagoas presentes na somente na Trijunção, destacam-se a codorna-
Fazenda Trijunção apresentam menor número de mineira (Nothura minor), o pato-de-crista
espécies, devido à restrita especialização de espécies (Sarkidiornis sylvicola), o gavião-caramujeiro
de aves à lâmina d’água. No entanto, os ambientes (Rostrhamus sociabilis), a águia-cinzenta (Urubitinga
aquáticos são os que apresentam maior proporção coronata), o gavião-pato (Spizaetus melanoleucus),
de espécies exclusivas. Em geral, as espécies o beija-flor-vermelho (Chrysolampis mosquitus), o
associadas a ambientes alagados e brejosos são fura-barreira (Hylocryptus rectirostris), o limpa-folha-
também migratórias, por consequência de serem do-brejo (Syndactyla dimidiata), o fruxu-do-cerradão
adaptadas ao regime sazonal de águas (Sick 1997). (Neopelma pallescens), o papa-moscas-do-campo
(Culicivora caudacuta), o alegrinho (Serpophaga
O agrupamento hierárquico realizado com base no
subcristata) e o enferrujado (Lathrotriccus euleri). Em
índice de similaridade de Jaccard (Figura 7) segregou
contraste, dentre as 35 aves que foram inventariadas
as fitofisionomias encontradas na Fazenda Trijuncão
excluvisamente no Parque Nacional, ressalta-se o
daquelas amostradas no Parque Nacional Grande
registro de jaó (Crypturellus undulatus), anhuma
Sertão Veredas (PNGSV). As comunidades de aves das
(Anhima cornuta), gavião-belo (Busarellus nigricollis),
florestas, cerradões, cerrados e carrascos mostraram
gavião-asa-de-telha (Parabuteo unicinctus), picaparra
maior similaridade de avifauna por localidade, em
(Heliornis fulica), beija-flor-de-veste-preta
relação às próprias fitofisionomias. Diferentemente
(Anthracothorax nigricollis), cochicho (Anumbius
os pontos de ambientes campestre que
annumbi), bichoita (Schoeniophylax phryganophilus),
apresentaram alta similaridade, mesmo ao se
assanhadinho-de-cauda-preta (Myiobius atricaudus),
comparar pontos do Parque Nacional com os da
flautim (Schiffornis virescens), piolhinho (Phyllomyias
Fazenda Trijunção. Os resultados sugerem que a
fasciatus), suiriri-de-garganta-rajada (Tyrannopsis
composição de aves das formações campestres,
sulphurea), guaracava-modesta (Sublegatus
campos limpos, campos sujos e as chamadas
modestus), sanhaçu-de-coleira (Schistochlamys
“campinas”; caracterizam-se por uma fauna bem
melanopis), tico-tico-de-bico-amarelo (Arremon
peculiar, enquanto as demais formações de florestas
flavirostris), garibaldi (Chrysomus ruficapillus) e asa-
e de cerradões compartilham mais espécies entre si.
de-telha (Agelaioides badius). Estes aspectos
Estes padrões também sugerem que os
justificam a preservação da Fazenda Trijunção de
remanescentes naturais presentes na Fazenda
forma complementar à do Parque Nacional Grande
Trijunção apresentam particularidades de

Figura 7. Dendrograma do
agrupamento hierárquico, de
distância mediana e com base no
índice de similaridade Jaccard,
calculado entre as espécies aves
registradas em cada uma das
diferentes fitofisionomias
amostradas na Fazenda Trijuncão e
no Parque Nacional Grande Sertão
Veredas (PNGSV).

177
Sertão Veredas, sobretudo em se tratando de influenciada pelas áreas de cerrado sensu stricto,
florestas, cerradões, carrascos e cerrados stricto embora tenha apresentado um nu ́ mero importante
sensu. de espé cies exclusivas (Antas 2003). Na Fazenda
DISCUSSÃO Trijunção o mesmo padrão foi identificado. As
diferenças de composição entre diferentes habitats
Embora o presente estudo ainda possa ser demonstram a importância da heterogeneidade
considerado um levantamento preliminar, o espacial na composição da diversidade regional (Silva
inventário de aves realizado denota a relevante et al. 2006). Tais carrascos são comuns nos ecótonos
riqueza da avifauna presente na Fazenda Trijunção. com a Caatinga, sendo que sua paisagem
O número de aves registradas, com 219 espécies, é impenetrável também compartilha espécies
proporcional ao de outros inventários realizados nos botânicas de ambos domínios, Cerrado e Caatinga
Estados de Goiás, Bahia e Minas Gerais, mantidas as (Prado 2003).
proporções de esforço de campo e de área amostrada
(Reinert et al. 1997, Silveira 1998, Parrini et al. 1999, Alguns estudos biogeográficos analisaram as
Hass 2002, Faria et al. 2009, Dornelas et al. 2012, mudanças paleo-ecológicas do Quaternário que
Vasconcelos et al. 2012). As 219 espécies de aves atuaram na formação das biotas atuais da região
inventariadas na Trijunção correspondem a 25% das Neotropical. No caso das comunidades de aves da
856 espécies registradas para o bioma Cerrado (Silva Caatinga e Cerrado, o intercâmbio biótico teve um
1995b, Silva & Santos 2005). Reunidos, os inventários papel mais importante na determinação da
realizados na Fazenda Trijunção e no Parque Nacional diversidade do que a especiação intra ou inter-
Grande Sertão Veredas (Antas 2003) totalizam 280 regional (Silva et al. 2003, Silva & Santos 2005). A
espécies para a região como um todo, o que consiste avifauna da Fazenda Trijunção corrobola com esta
num conhecimento ornitológico relevante para esta hipótese, visto a presença notável de elementos
porção do Brasil Central, antes incluída dentre as comuns a dois dos biomas adjacentes, Cerrado e
áreas do Cerrado que não haviam sido amostradas Caatinga. O intercâmbio de espécies entre os dois
de forma satisfatória (Silva 1995c). biomas já foi demonstrado em outras áreas de
transição, avaliando os padrões de distribuiçao de
A Fazenda Trijunção situa-se dentro dos limites aves endêmicas ou quase-endêmicas (Vasconcelos et
morfoclimáticos do bioma Cerrado (Ab’Saber 1977), al. 2012). E, de fato, como reflexo do intercâmbio
apesar de relativamente próxima (cerca de 200 km) biótico, tanto nas áreas de Caatinga, quanto nas de
à faixa de transição com a Caatinga (Silva & Bates Cerrado, há uma proporção significativa de espécies
2002). A avifauna encontrada na região da Trijunção que têm os centros de suas distribuições localizados
apresenta maior afinidade com o Cerrado, visto a em outros biomas (Santos 2008).
grande proporção de espécies endêmicas deste
A análise biogegráfica das espécies de aves florestais
bioma encontradas localmente. Entretanto, nota-se
uma certa similaridade da comunidade de aves local no Cerrado indicou que estas têm, em sua maioria,
com a descrita em estudos realizados na Caatinga centros de distribuição na Amazônia ou na Floresta
(Santos 2001, Olmos et al. 2005, Farias et al. 2005) Atlântica (Silva 1996). No entanto, para a Fazenda
ou em áreas de transição Cerrado-Caatinga (Faria et Trijunção, foram poucas as aves registradas com tais
al. 2009, Santos 2008, Dornelas et al. 2012, características, apenas duas espécies tidas como
Vasconcelos et al. 2012). De fato, a maioria das aves “amazônicas” e outras duas com centro de
da Trijunção, no caso de espécies campestres, possui distribuição atlântico. Isto deve-se à baixa proporção
de espécies dependentes de ambientes florestais
distribuição geográfica associada aos biomas da
Diagonal Seca (Caatinga, Cerrado e Chaco) (Ab’ Saber (36,5%) dentro da comunidade de aves da Trijunção.
1977, Cole 1986). A ocorrência do “carrasco” também Mesmo dentre as espécies endêmicas do Cerrado
influencia a similaridade da avifauna regional com a inventariadas para a região, apenas duas aves são
Caatinga, visto que esta fitofisionomia abriga consideradas dependentes de florestas. A análise da
avifauna peculiar em relação às demais formações comunidade local contrapõe-se ao padrão descrito
vegetais da região. No Parque Nacional Grande para o bioma, em que avifauna apresenta-se como
Sertão Veredas, a avifauna do carrasco foi predominantemente florestal, numa paisagem onde

178
predominam ambientes savânicos (Silva & Santos causada por pastos, cultivos e grandes
2005). empreendimentos desenvolvimentistas se desdobra
De fato, a avifauna da Trijunção caracteriza-se por em diversos impactos, como fragmentação de
uma elevada proporção de espécies independentes hábitats, perda de biodiversidade, invasão biológica,
das florestas, isto é, relacionadas aos ambientes erosão e degradação do solo, poluição da água,
campestres, em comparação a inventários mudanças no regime do fogo e uso abusivo de
ornitológicos de outras localidades (Bagno & Abreu defensivos químicos (Klink & Moreira 2002, Brandon
2001, Faria et al. 2009, Dornelas et al. 2012). Assim, et al. 2005, Silva et al. 2006). As fitofisionomias
a região possui a importante função de resguardar naturais na região da Trijunção mostram indícios de
grande quantidade de aves de cerrados sensu stricto, degradação ambiental e suscitam esforços de
campos limpos e campos sujos, visto que tais conservação. Algumas das matas de galeria
fitofisionomias são predominantes em suas encontradas na região já estão sem estrato arbóreo
paisagens. Ao se considerar as espécies ameaçadas representativo, como conseqüência da construção
e endêmicas registradas na região, a maior proporção de represas, da ocorrência de queimadas ou, mesmo,
constitui-se de aves típicas de formações abertas. Isto do corte seletivo de madeiras. Alguns remanescentes
ressalta, mais uma vez, a importância da Fazenda de carrascos apresentam relativo grau de alteração,
Trijunção para conservação das aves associadas a em função da abertura antrópica para formação de
estes ambientes tão característicos do bioma pastos, os quais foram posteriormente abandonados.
Cerrado. Considerando o ritmo no qual as paisagens Em outras localidades ainda são encontrados alguns
abertas do oeste da Bahia são destruídas, a Fazenda cerradões típicos, porém, marcadamente
Trijunção se tornará, em pouco tempo, o bastião da descaracterizados por queimadas freqüentes. Muitos
conservação desses ecossistemas peculiares, dos cerrados sensu stricto presentes nos arredores
assumindo um legado regional importante do ponto da Trijunção foram raleados e transformados em
de vista ecológico e histórico. É ainda importante cerrado ralo, campo cerrado ou campo sujo, de forma
ressaltar que os campos da área estudada abrigam a aumentar a área de pastagem para o gado. Como
uma fauna de aves diferentes mesmo de outros este ambiente predomina localmente, ainda há
ambientes abertos, como cerrado (Figura 3). variados pontos protegidos do pastoreio e pisoteio.
As paisagens de campos limpos, chamadas de
As diversas nascentes, lagoas e brejos da Trijunção “campinas”, estão degradadas localmente em função
resguardam muitas espécies limícolas que são, em da construção de desvios de cursos d’água, lagos e
sua maioria, espécies migratórias. As veredas, em da ocorrência de fogo. Nestas áreas campestres,
especial, e seus buritis (Mauritia flexuosa) servem de foram observados processos adiantados de erosão,
locais de descanso e dormitório de revoadas de favorecidos pela fragilidade dos solos arenosos,
garças, biguás, savacus e, ainda, de locais de porosos e friá veis; onde predomina uma cobertura
reprodução e alimentação para várias andorinhas e herbácea rala, sujeita a chuvas torrenciais (Brasil
psitacídeos (Faria et al. 2009). Estima-se que entre 2003).
60% e 70% das espécies do Cerrado realizam algum
tipo de movimento sazonal (Brasil 2007). Os sítios A importância da Fazenda Trijunção e arredores em
reprodutivos e de abrigos de aves migratórias termos faunísticos é evidenciada pela presença de
executam uma importante função na manutenção da várias espécies ameaçadas e endêmicas, bem como,
pela composição de suas aves. Esta diversidade
diversidade regional nas áreas de transição do
reflete o estado atual de conservação da região, que
Cerrado e Caatinga (Silva et al. 2003, Santos 2008,
Dornelas et al. 2012). se destaca como uma porção bastante representativa
do Cerrado em termos de ornitofauna (Antas 2003).
O Cerrado perdeu mais da metade de sua área Em contraste, as comunidades animais e vegetais de
original nos últimos 35 anos devido à substituição de grande parte dos estados da Bahia e de Goiás que
áreas naturais por monoculturas intensivas de grãos contornam toda a extensão da Fazenda Trijunção
e amplas pastagens com gramíneas africanas para estdão sob forte ameaça ambiental em função da
criação extensiva de gado (Machado et al. 2004, Klink expressiva expansão agrícola, em especial, cultura de
& Machado 2005). A intensa modificação ambiental soja. A conversã o das á reas de cerrado e carrasco em
179
criaçã o extensiva de gado e em monoculturas de com prioridade para a criação de unidades extensas
grã os são as principais ameaças à integridade do (600.000 a 2.000.000 hectares), interligadas por
Parque Nacional Grande Sertão Veredas (Lago et al. corredores ecológicos, sobretudo nas áreas de
2001) e à conservação da fauna da região do Espigão transição entre os biomas (Silva et al. 2003, Silva &
Mestre, como um todo (Brasil 2003, Silva et al. 2006). Santos 2005). Esta medida visa resguardar ciclos
Subseqüentemente, outros efeitos indiretos da bióticos sazonais sobre áreas extensas, por exemplo
ocupação humana trazem conseqüências negativas os fluxos migratórios realizados pelas aves da região,
para as populações animais, como extração de bem como os eventos fenológicos de floração e
madeira contaminação da água, degradação do solo, produção de frutos associados aos fenômenos de
a alteração, fragmentação e a destruição dos polinização e dispersão que influenciam a
ambientes naturais. Entre os impactos diretos sobre composição de aves. A criação de grandes unidades
a fauna figuram a caça oportunista, a captura de de proteção integral representa o maior desafio de
filhotes para tráfico de animais, o uso irregular do conservação no bioma Cerrado, tido como um dos
fogo e desmatamentos indevidos (Brasil 2007). A hotspots mundiais, devido à rápida transformação
maioria das aves endêmicas e ameaçadas da dos ecossistemas naturais ricos em biodiversidade
Trijunção, por serem intimamente relacionadas às em pastagens e cultivos de grãos (Bates & Silva 2005,
fitofisionomias campestres, tendem a ter populações Cavalcanti 2005). Também são demandados esforços
mais suscetíveis aos impactos oriundos da em conhecimento da flora e fauna regional para
progressiva transformação de paisagens naturais na fundamentar estratégias de manejo e conservação
região. dos ecossistemas, através do uso sustentável
(Brandon et al. 2005, Brasil 2007) e da atuação direta
Unidades de proteção em áreas com notória
de proprietários de terra engajados no desafio de
diversidade biológica são de extrema importância
conservação da natureza. Dentre as lacunas de
para estratégias de conservação (Bruner et al. 2001).
conhecimento zoológico no bioma, destaca-se a
Por ser singular em termos faunísticos, a região da
ausência de estudos dos padrões de migrações das
Fazenda Trijunção deve atuar como unidade de
conservação de proteção integral. Os carrascos e
campinas da região do Espigão Mestre do São
Francisco, bem como as matas mesofíficas e
afloramentos calcários das vertentes das chapadas
são citados dentre as áreas prioritárias para
conservação da diversidade biológica do Cerrado
(Brasil 2007). A análise com base no conhecimento
ornitológico também incluiu áreas de cerradões e
matas secas (florestas semi-decíduas), na região de
Posse (GO) e cerrados sensu stricto e veredas do
centro-norte de Minas Gerais e oeste do estado da
Bahia, na qual entremeia-se a região da Trijunção
(Silva 2007). Dentre as unidades ecológicas do bioma
Cerrado, a região do Grande Sertão Veredas
apresenta uma proporção notável de unidades de
conservação, incluindo o Parque Nacional homônimo
e o Parque Nacional das Cavernas do Peruaçú, em
Minas Gerais. A implantação de uma (ou uma rede
de) unidade de conservação, com cerca de 1.000.000
hectares, está entre as principais estratégias
sugeridas para esta região, nitidamente ameaçada
por empreendimentos agropecuários (Silva et al.
2006). Um sistema eficiente deve considerar a
heterogeneidade paisagística existente na região,
180
aves que vivem no sistema Cerrado e Pantanal (Alves Cerrado. O poder público deve incentivar tais
2007). iniciativas, visando buscar as informações básicas
Este projeto pioneiro permitiu a aquisição de capazes de fundamentar as estratégias de
conhecimento científico básico visando a conservação numa escala regional. Os gestores
conservação do Cerrado, a partir de iniciativa privada públicos, os proprietários de terra e os profissionais
de proprietários de terras particulares. Logicamente, vinculados à área ambiental devem buscar soluções
novos estudos faunísticos com o intuito fundamentar criativas para enfrentar os desafios de conservação
sugestões e medidas de conservação para a biota e manutenção da qualidade de vida para as gerações
local são desejáveis pois, certamente, trariam novos futuras que inclui, certamente, a preservação da
registros de espécies ao inventário local, bem como, riqueza de aves do Cerrado.
permitiria a aquisição de informações referentes a
aspectos relacionados à biologia dos animais do

Tabela 1. Lista das espécies de aves inventariadas na Fazenda Trijunção, municípios de Formoso - MG; Cocos - BA e Sítio
d’Abadia- GO, entre dezembro de 2000 e outubro de 2002, incluindo observações oportunísticas posteriores.
Legenda:
Status (de conservação): aves ameaçadas de extinção a nível mundial (IUCN 2012), nacional (MMA 2003) e para o estado
do Minas Gerais (Machado et al 2005), classificadas como: Crítica – espécie criticamente ameaçada de extinção; Vuln. –
vulnerável; Próx. –próxima de ser considerada ameaçada (near threatened);
Importância (Import.): Cin. – espécies com valor cinegético (de caça) e Com. – espécies com valor comercial.
Distribuição (Distrib.): End – espécie endêmica do Brasil; Cer – endêmica do bioma Cerrado; VN – espécie visitante
setentrional; migr. – espécie residente que apresenta fluxos migratórios; Amaz. - espécie com centro de distribuição na
Floresta Amazônica; Atlant. – centro de distribuição na Floresta Atlântica e; espécie introduzida (I).
Hábitos: restritamente florestal (F1); essencialmente florestal (F2); restritamente campestre (C1); essencialmente campestre
(C2); aquático (A) e; restrito a ambientes altamente antropizados (T), segundo Bagno e Marinho-Filho (2001).
Ambientes: FL - mata de galeria alagável; CD - cerradão; CE - cerrado sensu stricto; VE - veredas; CA – formações campestres
(campos limpo, sujo e de murundum); AQ – cursos d’água, lagos e rios; T – ambiente antropizado.

Táxon Nome vernacular Status Import. Distrib. Hábito Fitiofisionomias


STRUTHIONIFORMES Latham, 1790
Rheidae Bonaparte, 1849
Rhea americana (Linnaeus, 1758) ema IUCN (próx) cin. C1 CE, VE, CA
TINAMIFORMES Huxley, 1872
Tinamidae Gray, 1840
Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) inhambu-chororó cin. C2 CE, CA
Rhynchotus rufescens (Temminck, 1815) perdiz cin. C1 CE, CA
IUCN (vuln.) End.,
Nothura minor (Spix, 1825) codorna-mineira cin. C1 CA
BRA; MG Cer
Nothura maculosa (Temminck, 1815) codorna-amarela cin. C1 CE, CA
ANSERIFORMESLinnaeus, 1758
Anatidae Leach, 1820
Dendrocygninae Reichenbach, 1850
Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) irerê cin. Migr. A AQ
Anatinae Leach, 1820
Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) pé-vermelho cin. Migr. A AQ
Cairina moschata (Linnaeus, 1758) pato-do-mato cin. Migr. A FL, VE, AQ
Mergus octosetaceus Vieillot, 1817 pato-mergulhão IUCN (Crítica) A AQ
BRA; MG
Sarkidiornis sylvicola Ihering & Ihering, pato-de-crista A AQ
1907

181
Tabela 1. Continuação.

Táxon Nome vernacular Status Import. Distrib. Hábito Fitiofisionomias


GALLIFORMES Linnaeus, 1758
Cracidae Rafinesque, 1815
Penelope superciliaris Temminck, 1815 jacupemba cin. F2 FL, CD, CE
Crax fasciolata Spix, 1825 mutum-de-penacho MG (em cin. F2 FL, CD, CE
perigo)
PODICIPEDIFORMES Fürbringer, 1888
Podicipedidae Bonaparte, 1831
Tachybaptus dominicus (Linnaeus, 1766) mergulhão-pequeno A AQ
Podilymbus podiceps (Linnaeus, 1758) mergulhão-caçador A AQ
CICONIIFORMES Bonaparte, 1854
Ciconiidae Sundevall, 1836
Jabiru mycteria (Lichtenstein, 1819) tuiuiú MG (em Migr. A AQ
perigo)
Mycteria americana (Linnaeus 1758) cabeça-seca Migr. A AQ
SULIFORMES Sharpe, 1891
Phalacrocoracidae Reichenbach, 1849
Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) biguá A AQ
PELECANIFORMES Sharpe, 1891
Ardeidae Leach, 1820
Ardea alba Linnaeus, 1758 garça-branca- A FL, VE, AQ
grande
Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) garça-vaqueira C2 FL, CE, VE, CA,
AQ
Butorides striata (Linnaeus, 1758) socozinho A FL, AQ
Syrigma sibilatrix (Temminck, 1824) maria-faceira C2 VE, CA, AQ
Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) socó-boi F2 FL, AQ
Threskiornithidae Poche, 1904
Platalea ajaja (Linnaeus 1758) colhereiro MG (em Migr. A A
perigo)
Theristicus caudatus (Boddaert, 1783) curicaca C2 FL, CE, VE, CA,
AQ
Mesembrinibis cayennensis (Gmelin, 1789) coró-coró F2 FL, AQ
CATHARTIFORMES Seebohm, 1890
Cathartidae Lafresnaye, 1839
Cathartes aura (Linnaeus, 1758) urubu-de-cabeça- C2 FL, CD, CE, VE,
vermelha CA, AQ
Cathartes burrovianus Cassin, 1845 urubu-de-cabeça- C2 FL, CD, CE, VE,
amarela CA, AQ
Coragyps atratus (Bechstein, 1793) urubu-de-cabeça- C2 FL, CD, CE, VE,
preta CA, AQ
Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758) urubu-rei F2 FL, CD, CE, VE,
CA, AQ
ACCIPITRIFORMES Bonaparte, 1831
Accipitridae Vigors, 1824
Gampsonyx swainsonii Vigors, 1825 gaviãozinho C2 CE,
Elanus leucurus (Vieillot, 1818) gavião-peneira Migr. C1 CE, VE, CA,
Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) sovi F2 FL

182
Tabela 1. Continuação.

Táxon Nome vernacular Status Import. Distrib. Hábito Fitiofisionomias


Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) gavião-caramujeiro Migr. A AQ
Geranospiza caerulescens (Vieillot, 1817) gavião-pernilongo F2 FL, CD, CE, VE,
CA
Heterospizias meridionalis (Latham, 1790) gavião-caboclo C2 CE, VE, CA
Urubitinga coronata (Vieillot, 1817) águia-cinzenta IUCN (vuln.) C2 FL, CE, VE, CA
BRA; MG
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) gavião-carijó F2 FL, CD, CE, VE,
CA
Geranoaetus albicaudatus (Vieillot, 1816) gavião-de-rabo- C1 CE, VE
branco
Buteo albonotatus Kaup, 1847 gavião-de-rabo- C1 CE, VE
barrado
Spizaetus melanoleucus (Vieillot, 1816) gavião-pato MG (em F2 CE, VE
perigo)
FALCONIFORMES Bonaparte, 1831
Falconidae Leach, 1820
Caracara plancus (Miller, 1777) caracará C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Milvago chimachima (Vieillot, 1816) carrapateiro C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, acauã F2 FL, CD, CE, VE,
1758) CA
Falco sparverius Linnaeus, 1758 quiriquiri C1 CE, VE, CA
Falco femoralis Temminck, 1822 falcão-de-coleira com. Migr. C1 CE, VE, CA
GRUIFORMES Bonaparte, 1854
Rallidae Rafinesque, 1815
Laterallus viridis (Statius Muller, 1776) sanã-castanha F2 FL, CD, VE, AQ
Porzana albicollis (Vieillot, 1819) sanã-carijó C1 VE, CA
Porphyrio martinicus (Linnaeus 1766) frango-d’água-azul Migr. A AQ
CARIAMIFORMES Furbringer, 1888
Cariamidae Bonaparte, 1850
Cariama cristata (Linnaeus, 1766) seriema cin. C1 CE, VE, CA
CHARADRIIFORMES Huxley, 1867
Charadrii Huxley, 1867
Charadriidae Leach, 1820
Vanellus chilensis (Molina, 1782) quero-quero A AQ
Charadrius collaris batuíra-de-coleira A AQ
Recurvirostridae Bonaparte 1854
Himantopus melanurus pernilongo-das- Migr. A AQ
costas-brancas
Scolopaci Steijneger, 1885
Scolopacidae Rafinesque, 1815
Tringa solitaria Wilson, 1813 maçarico-solitário VN A AQ
Tringa flavipes (Gmelin, 1789) maçarico-de-perna- VN A AQ
amarela
Jacanidae Chenu & Des Murs, 1854
Jacana jacana (Linnaeus, 1766) jaçanã cin. A AQ
COLUMBIFORMES Latham, 1790

183
Tabela 1. Continuação.

Táxon Nome vernacular Status Import. Distrib. Hábito Fitiofisionomias


Columbidae Leach, 1820
Columbina talpacoti (Temminck, 1811) rolinha-roxa C2 FL, CD, CE, VE,
CA]
Columbina squammata (Lesson, 1831) fogo-apagou C2 CE, VE
Columbina picui (Temminck, 1813) rolinha-picui C1 CE, VE
Uropelia campestris (Spix, 1825) rolinha-vaqueira C1 CE, VE
Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) pombão cin. C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, pomba-galega cin. C2 FL, CD, CE, VE,
1792) CA
PSITTACIFORMES Wagler, 1830
Psittacidae Rafinesque, 1815
Ara ararauna (Linnaeus, 1758) arara-canindé MG (vuln.) com. C2 FL, CD, CE, VE
Ara chloropterus Gray, 1859 arara-vermelha- MG (crítica) com. F2 FL, CD, CE, VE
grande
Orthopsittaca manilata (Boddaert, 1783) maracanã-do-buriti Amaz. C2 VE
Diopsittaca nobilis (Linnaeus, 1758) maracanã-pequena F2 FL, CD, CE, VE
Aratinga acuticaudata (Vieillot, 1818) aratinga-de-testa- F2 FL, CD, VE
azul
Aratinga leucophthalma (Statius Muller, periquitão- com. F2 VE
1776) maracanã
Aratinga aurea (Gmelin, 1788) periquito-rei com. C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Alipiopsitta xanthops (Spix, 1824) papagaio-galego com. Cer. C2 CE, VE, CA
Amazona aestiva (Linnaeus, 1758) papagaio- com. C2 FL, CD, CE, VE,
verdadeiro CA
CUCULIFORMES Wagler, 1830
Cuculidae Leach, 1820
Cuculinae Leach, 1820
Piaya cayana (Linnaeus, 1766) alma-de-gato F2 FL, CD, CE
Crotophaginae Swainson, 1837
Crotophaga ani Linnaeus, 1758 anu-preto C2 FL, CE, VE, CA
Guira guira (Gmelin, 1788) anu-branco C2 CE, VE, CA
Taperinae Verheyen, 1956
Tapera naevia (Linnaeus, 1766) saci F2 FL, CD, CE, VE
STRIGIFORMES Wagler, 1830 Strigiformes
Tytonidae Mathews, 1912
Tyto alba (Scopoli, 1769) coruja-da-igreja C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Strigidae Leach, 1820
Megascops choliba (Vieillot, 1817) corujinha-do-mato C2 FL, CD, CE
Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) caburé C2 FL, CD, CE
Athene cunicularia (Molina, 1782) coruja-buraqueira C1 CE, VE, CA
Asio clamator (Vieillot, 1808) coruja-orelhuda C2 CE
Asio flammeus (Pontoppidan, 1763) coruja-dos- C2 CA
banhados
CAPRIMULGIFORMES Ridgway, 1881

184
Tabela 1. Continuação.

Táxon Nome vernacular Status Import. Distrib. Hábito Fitiofisionomias


Nyctibiidae Chenu & Des Murs, 1851
Nyctibius griseus (Gmelin, 1789) mãe-da-lua C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Caprimulgidae Vigors, 1825
Hydropsalis albicollis (Gmelin, 1789) bacurau Migr. F2 FL, CD, CE, VE,
CA
Hydropsalis parvula (Gould, 1837) bacurau-chintã Migr. C1 CE, VE, CA
Hydropsalis torquata (Gmelin, 1789) bacurau-tesoura C2 CE, VE, CA
Chordeiles pusillus Gould, 1861 bacurauzinho C1 CE, VE, CA
Chordeiles nacunda (Vieillot, 1817) corucão Migr. C1 CE
APODIFORMES Peters, 1940
Apodidae Olphe-Galliard, 1887
Streptoprocne zonaris (Shaw, 1796) taperuçu-de-coleira- Migr. C2 CD, CA
branca
Chaetura meridionalis Hellmayr, 1907 andorinhão-do- Migr. C2 FL, CD, CE, VE,
temporal CA, AQ
Tachornis squamata (Cassin, 1853) andorinhão-do- C2 FL, CD, CE, VE,
buriti CA, AQ
Trochilidae Vigors, 1825
Phaethornithinae Jardine, 1833
Phaethornis pretrei (Lesson & Delattre, rabo-branco- F2 FL, CD, CE
1839) acanelado
Trochilinae Vigors, 1825
Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura Migr. F2 FL, CD, CE, VE,
CA
Chrysolampis mosquitus (Linnaeus, 1758) beija-flor-vermelho F2 CD
Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812) besourinho-de-bico- F2 FL, CD, CE, VE
vermelho
Thalurania furcata (Gmelin, 1788) beija-flor-tesoura- F2 FL,
verde
Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788) beija-flor-de- F2 CD
garganta-verde
Heliactin bilophus (Temminck, 1820) chifre-de-ouro C2 CE, VE, CA
CORACIIFORMES Forbes, 1844
Alcedinidae Rafinesque, 1815
Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766) martim-pescador- A FL, AQ
grande
Chloroceryle amazona (Latham, 1790) martim-pescador- A FL, AQ
verde
GALBULIFORMES Fürbringer, 1888
Galbulidae Vigors, 1825
Galbula ruficauda Cuvier, 1816 ariramba-de-cauda- F2 FL, CD, CE
ruiva
Bucconidae Horsfield, 1821
Nystalus chacuru (Vieillot, 1816) joão-bobo C1 CE, VE, CA
Nystalus maculatus (Gmelin, 1788) rapazinho-dos- End. F2 CD
velhos
PICIFORMES Meyer & Wolf, 1810
Ramphastidae Vigors, 1825

185
Tabela 1. Continuação.

Táxon Nome vernacular Status Import. Distrib. Hábito Fitiofisionomias


Ramphastos toco Statius Muller, 1776 tucanuçu C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Picidae Leach, 1820
Picumnus albosquamatus d'Orbigny, 1840 pica-pau-anão- Atlânt. F2 FL, CD, CE, VE
escamado
Melanerpes candidus (Otto, 1796) pica-pau-branco C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Veniliornis mixtus (Boddaert, 1783) pica-pau-chorão C1 CE, CA
Colaptes melanochloros (Gmelin, 1788) pica-pau-verde- C2 FL, CD, CE, VE,
barrado CA
Colaptes campestris (Vieillot, 1818) pica-pau-do-campo C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766) pica-pau-de-banda- C2 FL, CD, CE, VE,
branca CA
PASSERIFORMES Linnaeus, 1758
TYRANNI Wetmore & Miller, 1926
Thamnophilida Patterson, 1987
Thamnophilidae Swainson, 1824
Thamnophilinae Swainson, 1824
Formicivora rufa (Wied, 1831) papa-formiga- C2 CE, CA
vermelho
Herpsilochmus longirostris Pelzeln, 1868 chorozinho-de-bico- Cer. F2 FL, CD, CE
comprido
Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764) choca-barrada F2 FL, CD
Thamnophilus torquatus Swainson, 1825 choca-de-asa- C2 CE, CA
vermelha
Melanopareiidae Ericson, Olson, Irested,
Alvarenga & Fjeldsa, 2010
Melanopareia torquata (Wied, 1831) tapaculo-de- Cer. C1 CA
colarinho
FURNARIIDA Sibley, Ahlquist & Monroe,
1988
Furnarioidea Gray, 1840
Dendrocolaptidae Gray, 1840
Sittasominae Ridgway, 1911
Sittasomus griseicapillus (Vieillot, 1818) arapaçu-verde F2 FL, CD, CE
Dendrocolaptinae Gray, 1840
Lepidocolaptes angustirostris (Vieillot, arapaçu-de-cerrado C2 FL, CD, CE, VE,
1818) CA
Dendrocolaptes platyrostris Spix, 1825 arapaçu-grande F2 FL
Furnariidae Gray, 1840
Furnariinae Gray, 1840
Furnarius rufus (Gmelin, 1788) joão-de-barro C2 FL, CD, CE, VE,
CA, AQ
Hylocryptus rectirostris (Wied, 1831) fura-barreira Próx. Cer. F2 FL, CD, CE
Syndactyla dimidiata (Pelzeln, 1859) limpa-folha-do- MG (em Próx. Cer. F1 FL
brejo perigo)
Synallaxinae De Selys-Longchamps, 1839
(1936)

186
Tabela 1. Continuação.

Táxon Nome vernacular Status Import. Distrib. Hábito Fitiofisionomias


Phacellodomus rufifrons (Wied, 1821) joão-de-pau C2 CE, CA
Phacellodomus ruber (Vieillot, 1817) graveteiro C2 FL, CD, CE, VE
Certhiaxis cinnamomeus (Gmelin, 1788) curutié A AQ
Synallaxis frontalis Pelzeln, 1859 petrim F2 CD
Synallaxis albescens Temminck, 1823 uí-pi C1 CE, CA
Synallaxis hypospodia Sclater, 1874 joão-grilo F2 FL, CD
Tyrannida Wetmore & Miller, 1926
Pipridae Rafinesque, 1815
Neopelminae Tello, Moyle, Marchese &
Cracraft, 2009
Neopelma pallescens (Lafresnaye, 1853) fruxu-do-cerradão F2 CD
Ilicurinae Prum, 1992
Antilophia galeata (Lichtenstein, 1823) soldadinho Cer. F2 FL, CD, CE
Cotingoidea Bonaparte, 1849
Tityridae Gray, 1840
Tityrinae Gray, 1840
Tityra cayana (Linnaeus, 1766) anambé-branco-de- F2 FL, CD
rabo-preto
Pachyramphus polychopterus (Vieillot, caneleiro-preto F2 FL, CD, CE
1818)
Tyrannoidea Vigors, 1825
Rhynchocyclidae Berlepsch, 1907
Rhynchocyclinae Berlepsch, 1907
Tolmomyias sulphurescens (Spix, 1825) bico-chato-de- F2 FL, CD, CE
orelha-preta
Todirostrinae Tello, Moyle, Marchese &
Cracraft, 2009
Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) ferreirinho-relógio F2 FL, CD, CE
Hemitriccus striaticollis (Lafresnaye, 1853) sebinho-rajado- F2 FL
amarelo
Hemitriccus margaritaceiventer (d'Orbigny sebinho-de-olho-de- F2 CD, CE
& Lafresnaye, 1837) ouro
Tyrannidae Vigors, 1825
Elaeniinae Cabanis & Heine, 1856
Euscarthmus rufomarginatus (Pelzeln, maria-corruíra IUCN (vuln.) Vuln. Cer C1 CE, CA
1868) BRA; MG
Camptostoma obsoletum (Temminck, risadinha C2 FL, CD, CE, VE,
1824) CA
Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) guaracava-de- F2 FL, CD, CE, VE,
barriga-amarela CA
Elaenia parvirostris Pelzeln, 1868 guaracava-de-bico- C2 FL, CD, CE, VE,
curto CA
Elaenia cristata Pelzeln, 1868 guaracava-de- C2 FL, CD, CE, VE,
topete-uniforme CA
Elaenia chiriquensis Lawrence, 1865 chibum Migr. C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Suiriri suiriri (Vieillot, 1818) suiriri-cinzento C2 FL, CD, CE, VE,
CA

187
Tabela 1. Continuação.

Táxon Nome vernacular Status Import. Distrib. Hábito Fitiofisionomias


Myiopagis viridicata (Vieillot, 1817) guaracava-de-crista- F2 CD
alaranjada
Phaeomyias murina (Spix, 1825) bagageiro F2 CE
Culicivora caudacuta (Vieillot, 1818) papa-moscas-do- IUCN (vuln.) Próx. C1 CE, CA
campo BRA; MG
Serpophaga subcristata (Vieillot, 1817) alegrinho C2 FL, CD, CE, VE
Tyranninae Vigors, 1825
Myiarchus swainsoni Cabanis & Heine, irré F2 FL, CD, CE
1859
Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) maria-cavaleira F2 FL, CD, CE
Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, maria-cavaleira-de- C2 CD, CE
1776) rabo-enferrujado
Casiornis rufus (Vieillot, 1816) maria-ferrugem F2 CD
Casiornis fuscus Sclater & Salvin, 1873 caneleiro-enxofre End. F2 FL, CD, CE
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi F2 FL, CD, CE, VE,
CA, AQ
Machetornis rixosa (Vieillot, 1819) suiriri-cavaleiro C1 CA
Myiodynastes maculatus (Statius Muller, bem-te-vi-rajado F2 FL, CD, CE
1776)
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) neinei F2 FL, CD, CE, VE,
CA
Myiozetetes similis (Spix, 1825) bentevizinho-de- F2 FL
penacho-vermelho
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 suiriri C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Tyrannus savana Vieillot, 1808 tesourinha Migr. C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Griseotyrannus aurantioatrocristatus peitica-de-chapéu- Migr. F2 CE
(d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) preto
Empidonomus varius (Vieillot, 1818) peitica Migr. F2 FL, CD, CE, VE
Fluvicolinae Swainson, 1832
Myiophobus fasciatus (Statius Muller, filipe C2 FL, CD, CE, VE,
1776) CA
Pyrocephalus rubinus (Boddaert, 1783) príncipe C2 CA
Fluvicola albiventer (Spix, 1825) lavadeira-de-cara- A AQ
branca
Arundinicola leucocephala (Linnaeus, freirinha A AQ
1764)
Gubernetes yetapa (Vieillot, 1818) tesoura-do-brejo C1 CE, VE, CA
Cnemotriccus fuscatus (Wied, 1831) guaracavuçu F2 CD
Lathrotriccus euleri (Cabanis, 1868) enferrujado F1 FL
Contopus cinereus (Spix, 1825) papa-moscas- F2 FL, CD, CE
cinzento
Xolmis cinereus (Vieillot, 1816) primavera C1 CE, VE, CA
Xolmis velatus (Lichtenstein, 1823) noivinha-branca C1 CE, VE, CA
PASSERI Linnaeus, 1758
Corvida Wagler 1830
Vireonidae Swainson, 1837
Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) pitiguari F2 FL, CD, CE

188
Tabela 1. Continuação.

Táxon Nome vernacular Status Import. Distrib. Hábito Fitiofisionomias


Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766) juruviara F2 FL, CD
Corvidae Leach, 1820
Cyanocorax cristatellus (Temminck, 1823) gralha-do-campo Cer. C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Passerida Linnaeus, 1758
Hirundinidae Rafinesque, 1815
Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) andorinha- Migr. C2 FL, CE, VE, CA
serradora
Progne chalybea (Gmelin, 1789) andorinha- Migr. C1 CE, VE, CA
doméstica-grande
Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783) andorinha-do-rio Migr. A AQ
Tachycineta leucorrhoa (Vieillot, 1817) andorinha-de- Migr. C1 CE, VE, CA
sobre-branco
Hirundo rustica Linnaeus, 1758 andorinha-de-bando VN C1 CA
Troglodytidae Swainson, 1831
Troglodytes musculus Naumann, 1823 corruíra C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Cantorchilus leucotis (Lafresnaye, 1845) garrinchão-de- F2 FL, CD, CE
barriga-vermelha
Polioptilidae Baird, 1858
Polioptila dumicola (Vieillot, 1817) balança-rabo-de- F2 FL, CD, CE
máscara
Turdidae Rafinesque, 1815
Turdus leucomelas Vieillot, 1818 sabiá-barranco com. F2 FL, CD, CE, VE,
CA
Mimidae Bonaparte, 1853
Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) sabiá-do-campo C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Coerebidae d'Orbigny & Lafresnaye, 1838
Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) cambacica F2 FL, CD, CE
Thraupidae Cabanis, 1847
Saltator similis d'Orbigny & Lafresnaye, trinca-ferro- com. F2 FL, CD
1837 verdadeiro
Saltatricula atricollis (Vieillot, 1817) bico-de-pimenta Cer C1 CE, CA
Nemosia pileata (Boddaert, 1783) saíra-de-chapéu- F2 FL, CD, CE
preto
Thlypopsis sordida (d'Orbigny & saí-canário F2 FL, CD, CE
Lafresnaye, 1837)
Cypsnagra hirundinacea (Lesson, 1831) bandoleta Cer. C1 CE, CA
Ramphocelus carbo (Pallas, 1764) pipira-vermelha F2 FL, CD
Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) sanhaçu-cinzento C2 FL, CD, CE
Tangara palmarum (Wied, 1823) sanhaçu-do- F2 FL, CD, CE, VE
coqueiro
Tangara cayana (Linnaeus, 1766) saíra-amarela F2 FL, CD, CE
Neothraupis fasciata (Lichtenstein, 1823) cigarra-do-campo IUCN (próx.) Cer. C1 CE, CA
Schistochlamys ruficapillus (Vieillot, 1817) bico-de-veludo End. C2 CD, CE, CA
Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) saí-azul F2 FL
Hemithraupis guira (Linnaeus, 1766) saíra-de-papo-preto F2 FL, CD, CE

189
Tabela 1. Continuação.

Táxon Nome vernacular Status Import. Distrib. Hábito Fitiofisionomias


Emberizidae Vigors, 1825
Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) tico-tico C2 CE, VE, CA
Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) tico-tico-do-campo C1 CE, CA
Sicalis citrina Pelzeln, 1870 canário-rasteiro C1 CA
Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) canário-da-terra- com. C2 CE
verdadeiro
Emberizoides herbicola (Vieillot, 1817) canário-do-campo C1 CE, VE, CA
Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) tiziu C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Sporophila plumbea (Wied, 1830) patativa com. C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) baiano com. C2 FL, CD, CE, VE
Sporophila angolensis (Linnaeus, 1766) curió com. F2 FL
Charitospiza eucosma Oberholser, 1905 mineirinho IUCN (próx.) Cer C1 CE, CA
Coryphaspiza melanotis (Temminck, 1822) tico-tico-de- IUCN (vuln.) Vuln. C1 CA
máscara-negra BRA; MG
Cardinalidae Ridgway, 1901
Piranga flava (Vieillot, 1822) sanhaçu-de-fogo C2 FL, CD, CE
Parulidae Wetmore, Friedmann, Lincoln,
Miller, Peters, van Rossem, Van Tyne &
Zimmer 1947
Parula pitiayumi (Vieillot, 1817) mariquita F2 FL, CD, CE
Geothlypis aequinoctialis (Gmelin, 1789) pia-cobra C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Basileuterus hypoleucus Bonaparte, 1830 pula-pula-de- F2 FL, CD, CE
barriga-branca
Basileuterus flaveolus (Baird, 1865) canário-do-mato F2 FL, CD
Basileuterus leucophrys Pelzeln, 1868 pula-pula-de- End., F2 FL, CD, CE
sobrancelha Cer.
Icteridae Vigors, 1825
Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766) inhapim com. F2 FL, CD, CE
Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) graúna com. C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Pseudoleistes guirahuro (Vieillot, 1819) chopim-do-brejo C2 VE, CA
Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) vira-bosta C2 FL, CD, CE, VE,
CA
Fringillidae Leach, 1820
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) fim-fim F2 FL, CD, CE
Passeridae Rafinesque, 1815
Passer domesticus (Linnaeus, 1758) pardal T T

190
Homenagem
Ao inesquecível Marcelo Araújo Bagno (in memoriam), nosso
amado BG, que gerou grande parte dos dados apresentados
nesse capítulo há mais de 15 anos. Foi nos campos da Trijunção
onde realizamos nosso último campo juntos, criando pegadas
profundas nas areias do sertão.

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195
196
Cibele R. Bonvicino
Scott M. Lindbergh
Michel B. Faria
Alexandra M. R. Bezerra
Valéria Penna-Firme
Fabiana P. Caramaschi
Alberto C. de Paula
Paulo S. D’Andrea

197
198
Cibele R. Bonvicino
Scott M. Lindbergh
Michel B. Faria
Alexandra M. R. Bezerra
Valéria Penna-Firme
Fabiana P. Caramaschi
Alberto C. de Paula
Paulo S. D’Andrea

INTRODUÇÃO morfológicas entre as espécies do mesmo gênero.


Este cenário torna a análise do cariótipo uma
O Cerrado, um mosaico de tipos de vegetação
ferramenta muito valiosa para a confirmação da
altamente diverso, está entre os 25 ‘hotspots’
identificação das espécies e para revelar essa
mundiais mais importantes, e sua biodiversidade é
biodiversidade.
extraordinária, com cerca de 10.000 espécies de
plantas, 251 espécies de mamíferos, 837 espécies de Variações na umidade, precipitação, tipo e
aves, 120 espécies de répteis, e 150 espécies de permeabilidade do solo contribuem para a
anfíbios registradas (Myers et al. 2000, Marinho-Filho diversidade de vegetação do bioma Cerrado, que
et al. 2002, Carmignotto 2005, Paglia et al. 2012). varia de campos a florestas (Eiten 1983). Apesar da
Alguns autores consideram que existem 22 espécies heterogeneidade da composição da vegetação em
de mamíferos endêmicas do Cerrado (Carmignotto diferentes regiões do Cerrado, estudos sobre a
et al. 2012, Gutiérrez & Marinho-Filho 2017). Esta comunidade de pequenos mamíferos são realizados
fauna de mamíferos endêmicos é principalmente principalmente no Cerrado do Distrito Federal e dos
composta por pequenos roedores e marsupiais estados de Goiás e Tocantins (e.g., Mares & Ernest
(Fonseca et al. 1999, Marinho-Filho et al. 2002, 1995, Bonvicino et al. 1996, 2005, Bezerra et al.
Carmignotto 2005, Carmignotto et al. 2012), 2009). Poucos estudos são conhecidos para áreas dos
possivelmente devido ao uso seletivo do habitat limites oeste (e.g., Cáceres et al. 2007) e leste (e.g.,
nesse grupo de espécies (Langguth & Bonvicino 2002, Pereira & Geise 2009) do Cerrado.
Marinho-Filho et al. 2002, Bonvicino 2003, Gonçalves Neste estudo foi estudada a fauna de pequenos
et al. 2005, Weksler & Bonvicino 2005). Esta mamíferos da região da Trijunção, situada entre os
diversidade de mamíferos não voadores é ainda estados de Goiás, Bahia e Minas Gerais, no leste do
subestimada, principalmente devido às similaridades Cerrado. Espécies de pequenos mamíferos

199
endêmicas são destacadas, assim como a distribuição
geográfica e a história natural dos espécimes.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo
A área de estudo se localiza na fazenda São Francisco Tabela 1. Número de espécies e indivíduos capturados
da Trijunção (14�49’04,6’’S e 45�58’36,9’’W), município durante as estações seca (1998) e chuvosa (1999 e 2010).
de Cocos, estado da Bahia, e na área vizinha, próximo
ao marco da Trijunção (14�46’37,1’’S e 45�56’35,2’’W), Taxa 1998 1999 2010
município de Jaborandi, também no estado da Bahia, DIDELPHIMORPHIA
e na fazenda Paredão Vermelho (14�47’08,8’’S e 46 Gracilinanus agilis x x x
�02’14,9’’W), no município de Sítio da Abadia, estado Didelphis albiventris x x
de Goiás. Esta região apresenta índice pluviométrico Thylamys karimii X
típico do Cerrado tropical, com 70 % da chuva Thylamys velutinus x
localizada entre os meses de novembro e março RODENTIA
(Nimer 1989). Na fazenda São Francisco da Trijunção Caviinae
foram amostradas as formações vegetais abertas de Galea spixii x x
campo cerrado e campo úmido; na fazenda Paredão
Eumysopinae
Vermelho a mata de galeria, na fazenda Leite Verde
Thrichomys apereoides x x x
amostramos o carrasco; e nas proximidades do marco
da Trijunção amostramos as florestas semidecíduas e Sigmodontinae
formações vegetais abertas de cerrado sensu stricto, Calomys tener x x x
campo cerrado, vereda, campo limpo e campo de Calomys expulsus x x
murundu. Cerradomys scotti x x
Cerradomys marinhus x x
As coletas foram realizadas entre 30 de agosto e 13 de
setembro de 1998 (final da estação seca), 23 a 31 de Necromys lasiurus x x
outubro de 1999 (início da estação chuvosa) e de 20 a Nectomys squamipes x
26 de abril de 2010 (estação chuvosa). Armadilhas do Oecomys sp. x
tipo Sherman e Tomahawk foram colocadas no solo Oligoryzomys mattogrossae x
em transectos lineares, algumas armadilhas foram Oxymycterus delator x x
colocadas nas árvores, a cerca de dois metros de Rhipidomys macrurus x x
altura. Os espécimes foram ou serão depositados na Thalpomys cerradensis x
coleção de mamíferos do Museu Nacional, Thalpomys lasiotis x
Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN, Rio de Wiedomys cerradensis x
Janeiro, Brasil).
Número de espécies (Total = 19) 13 9 11
RESULTADOS
Foram capturadas 19 espécies (Tabela 1), sendo 15 de
roedores, incluindo dois caviomorfos (Figuras 1 e 2) e
13 sigmodontíneos (Figuras 3 a 14), e quatro de
didelfídeos (Figuras 15 a 17). Indivíduos do gênero
Oecomys não foram ainda identificados ao nível de
espécie devido à complexidade taxonômica deste
grupo (Patton et al. 2015). Informações sobre cada
espécie capturada estão abaixo.

200
● Galea grupo spixii. Preá-do-campo.

Figura 1. Galea grupo spixii e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto:
CRB.

História Natural: espécie de tamanho médio pesando curto, de 48 dias (Moojen 1952, Mares et al. 1982),
de 140 a 560 g, com o tamanho cabeça-corpo e as fêmeas constroem ninhos entre rochas e
variando de 195 a 284 mm, cauda muito pequena, vegetação. Galea é um animal altamente social e
patas posteriores longas (44 a 64 mm) e orelhas de acasala em diferentes épocas do ano, mesmo na
tamanho médio (18 a 33 mm). É uma espécie estação seca quando os recursos alimentares são
terrestre e diurna, mas pode ter pequenos intervalos escassos (Oliveira et al. 2008).
de atividade noturna (Streilein 1982a). Esta espécie
Distribuição: Galea grupo spixii ocorre na Bolívia e
habita formações vegetais abertas no Cerrado e Brasil, do sul do estado do Pará ao estado da Bahia,
Caatinga do Brasil, e já foi registrada em lavouras na Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, e no Distrito
Caatinga (Streilein 1982b). Galea tem uma ninhada Federal (Moojen 1952, Bezerra 2008).
pequena, de 2 a 4 filhotes, um período de gestação

● Thrichomys apereoides. Punaré.

Figura 2. Thrichomys apereoides e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto: CRB.

História Natural: espécie de tamanho médio com o posteriores longas (45-46 mm) e orelhas de tamanho
tamanho da cabeça-corpo variando de 197 a 209 médio (22-24 mm). É terrestre e semiarborícola, com
mm, cauda longa e peluda (164-179 mm), patas hábitos diurno e noturno, sendo mais ativa no final

201
da tarde (Streilein 1982a). Habita formações vegetais importância de T. apereoides na dispersão destas
abertas do Cerrado e ecótonos similares na Caatinga. sementes (Lessa & Costa 2009). O punaré é um
Thrichomys apereoides é usualmente classificado roedor insetívoro que também consome frutas e
como frugívoro - herbívoro, mas publicações recentes outras partes de plantas em diferentes proporções
mostraram que sua dieta também contém durante as estações secas e chuvosas.
artrópodes, sendo Hymenoptera o item alimentar Distribuição: Thrichomys apereoides é endêmico do
mais frequente. Sementes pequenas de plantas
Cerrado, ocorrendo nos estados de Minas Gerais,
pioneiras também são consumidas, como Clidemia
Bahia e Goiás (Nascimento et al. 2013).
urceolata e Miconia holosericea, enfatizando a

● Calomys tener. Rato-bolinha.

Figura 3. Calomys tener e sua distribuição


geográfica no Brasil. Foto: CRB.

História Natural: espécie de tamanho pequeno, com 2008). É considerada hábitat especialista, sendo
o comprimento cabeça-corpo de cerca de 77,5 mm, capturado mais frequentemente em áreas com
cauda curta (60,6 mm), patas posteriores pequenas gramíneas pouco densas (Rocha et al. 2011). A
(16,6) e orelha de tamanho médio (14,2 mm). É população de Calomys tener aumenta após
terrestre e considerada granívora (Vieira & ocorrência de queimada, sugerindo que é uma
Baumgarten 1995), ou herbívora-onívora devido à espécie adaptada a áreas alteradas e queimadas pelo
predominância de material vegetal (principalmente fogo (Henriques et al. 2006).
frutos) em sua dieta. Hymenoptera e Isoptera são os Distribuição: Calomys tener ocorre na Argentina,
itens animais mais frequentes (Ramos 2007). Habita Bolívia, Paraguai e Brasil, do estado do Espírito Santo
formações vegetais abertas e formações florestais da ao do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, e oeste da
Caatinga, Cerrado e Pantanal, ocorrendo também no Bahia, Goiás, leste do Mato Grosso do Sul, e no
ecótono Mata Atlântica-Cerrado (Bonvicino et al. Distrito Federal.

● Calomys expulsus. Rato-bolinha, rato-calunga.


História Natural: espécie de tamanho pequeno com habitats arborícolas. É noturna, estando ativa desde
o comprimento cabeça-corpo de 99,7 mm, cauda o final da tarde. A média de filhotes é quatro,
curta, patas posteriores pequenas (20,2 mm) e orelha variando de 2 a 8, um período de gestação de 21,8
de tamanho médio (17 mm). Habita formações dias, com reprodução no ano todo (Streilein 1982b).
florestais e formações vegetais abertas da Caatinga A densidade varia de 0,19 a 0,25 indivíduos por
e Cerrado. Calomys expulsus é essencialmente hectare. Apesar de não ser uma espécie abundante,
terrestre, mas possui habilidade para explorar explosões populacionais conhecidas como “ratadas”

202
Figura 4. Calomys expulsus e sua distribuição geográfica no Brasil. Foto: CRB.

podem ocorrer, mas a densidade normal retorna no Bahia, oeste de Sergipe, Goiás, Minas Gerais, norte
ano seguinte (Alho et al. 1986, Lacher et al. 1989). de São Paulo, leste do Mato Grosso do Sul, leste do
Mato Grosso, e no Distrito Federal.
Distribuição: Calomys expulsus ocorre no Brasil nos
estados do Piauí (ao sul), Pernambuco, oeste da

● Cerradomys scotti. Rato-do-mato.

Figura 5. Cerradomys scotti e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto: CRB.

História Natural: espécie de tamanho médio, queimada da vegetação do Cerrado (Henriques et al.
pesando entre 54 e 126 g, tamanho cabeça-corpo de 2006).
116 a 152 mm, cauda longa (133-166 mm), patas Distribuição: Cerradomys scotti ocorre na Bolívia e
posteriores longas (30-34 mm) e orelhas de tamanho Brasil, nos estados de Goiás, noroeste de Minas
médio (20-25 mm). Tem hábito cursorial e pode subir Gerais, Mato Grosso do Sul, sul do Tocantins, sul do
em arbustos e árvores de pequeno porte, mas se Piauí, oeste da Bahia, sul do Mato Grosso, sudeste
desloca principalmente pelo chão, geralmente curtas de Rondônia, e no Distrito Federal (Bonvicino et al.
distâncias, cerca de 29 m durante um período de 24 2005, Carmignotto 2005, Oliveira & Bonvicino 2006,
horas (Vieira et al. 2005). Cerradomys scotti tem um Percequillo et al. 2008).
máximo de abundância dois ou três anos após

203
● Cerradomys marinhus. Rato-do-mato.

Figura 6. Cerradomys marinhus e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto:
CRB.

História Natural: espécie de tamanho médio, pesando filhotes, e a reprodução ocorre nas estações seca e
cerca de 108,4 g, com tamanho cabeça-corpo de 168 chuvosa (Bonvicino 2003).
mm, cauda longa (191 mm), patas posteriores longas Distribuição: Cerradomys marinhus ocorre no Brasil
(40 mm) e orelhas de tamanho médio (21,6 mm). É nos estados de Goiás, sudoeste da Bahia e leste do
endêmico do Cerrado, ocorrendo principalmente em Mato Grosso do Sul.
veredas. O tamanho da ninhada varia de 2 a 4

● Necromys lasiurus. Rato-pixuna.

Figura 7. Necromys lasiurus e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto:
CRB.

História Natural: espécie de tamanho pequeno com lasiurus é uma espécie generalista em relação ao uso
cauda curta, patas posteriores longas e orelhas de do habitat, ocorrendo em todas as fisionomias do
tamanho médio. Necromys lasiurus utiliza apenas o Cerrado, em áreas alteradas e não alteradas, exceto
chão e se desloca a distâncias relativamente curtas em formações florestais (Henriques et al. 1997). É
durante um período de 24 horas (cerca de 42 m). onívoro, se alimentando de insetos e material
Constrói ninhos em áreas de vegetação aberta (Vieira vegetal, incluindo frutas, com preferência por locais
et al. 2005). A ocorrência de ninhos de N. lasiurus no com mais disponibilidade de frutos (Vieira et al. 2005).
solo entre gramíneas, ou em buracos, aumenta sua Distribuição: Necromys lasiurus ocorre na Bolívia,
suscetibilidade à destruição causada pela queimada Paraguai, Argentina, e Brasil, nos estados do
da vegetação que ocorre frequentemente no Cerrado Maranhão, leste Pará, Piauí, Ceará, Rio Grande do
(Pivello & Norton 1996, Vieira et al. 2005). Necromys Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia,

204
Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, e no Distrito Federal (Oliveira &
norte do Rio Grande do Sul, sudeste de Rondônia, Bonvicino 2006).
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins,

● Nectomys squamipes. Rato-d’água.

Figura 8. Nectomys squamipes e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto: CRB.

História Natural: espécie de tamanho grande com ao longo de todo o ano e as fêmeas estão em
cauda longa, patas posteriores largas e longas, e condições reprodutivas a maior parte do ano, mas a
orelhas de tamanho médio. Tem hábito semiaquático gravidez ocorre de agosto a novembro. Ratos-d’água
e ocorre na Mata Atlântica, Amazônia e formações tem agilidade para escalar e nadar e podem localizar
florestais do Cerrado, Caatinga e Pantanal, em presas aquáticas pelo movimento das patas
vegetação preservada e alterada. É comum, mas dianteiras (Ernest & Mares 1986).
restrito a hábitats próximo a cursos d’água, se
Distribuição: Nectomys squamipes ocorre na
alimentando de peixes, fungos, frutas, sementes e Argentina, provavelmente Uruguai e Brasil, do estado
artrópodes (Bonvicino et al. 2002, Oliveira & de Pernambuco ao do Rio Grande do Sul, e em Minas
Bonvicino 2006). A área de vida é de 0,3 a 1,6 ha. Pelo Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul.
menos algum macho está em condição reprodutiva

● Oligoryzomys mattogrossae. Ratinho-do-mato.

Figura 9. Oligoryzomys mattogrossae e


sua distribuição geográfica no Brasil.
Foto: CRB.

205
História Natural: espécie de tamanho muito pequeno, localidades do Brasil central esta espécie está
pesando de 9 a 20 g, tamanho cabeça-corpo de 60 a associada a formações florestais (Bonvicino et al.
84 mm, cauda longa (90-111 mm), pés longos (22-24 2002).
mm), e orelhas de tamanho médio (12-13 mm). É Distribuição: Oligoryzomys mattogrossae ocorre na
comum, mas não abundante (Bonvicino et al. 2002).
Argentina, Paraguai e Brasil, no Distrito Federal e nos
No Cerrado do Distrito Federal, O. mattogrossae
estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás,
mostrou associação com vegetação sobre
Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Bahia e
afloramento rochoso (Santos et al. 2009b). Em outras
norte de Minas Gerais (Weksler & Bonvicino 2015).
● Oxymycterus delator. Rato-cachorro.

Figura 10. Oxymycterus delator e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto:
CRB.
História Natural: espécie de tamanho médio, pesando al. 2005). Ocorre principalmente em vegetação
de 35,4 a149 g, tamanho cabeça-corpo de 123 a 170 conservada (Bonvicino et al. 2002), apesar de sua
mm), cauda curta (73-108 mm), patas longas com ampla distribuição. Esta espécie pode ser considerada
garras (22-30 mm) e orelhas de tamanho pequeno um bom indicador da qualidade do ambiente.
(13-20 mm). É terrestre e semifossorial, habitando a
Distribuição: Oxymycterus delator ocorre no leste do
borda das formações florestais e formações vegetais Paraguai e Brasil, nos estados do Mato Grosso do Sul,
abertas, como vereda, campo úmido, brejos e Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Goiás, Tocantins,
campos de altitude no Cerrado, Caatinga e Pantanal. Minas Gerais, Bahia e Piauí (Oliveira 1998).
Pode ter de 2 a 4 filhotes por ninhada (Bonvicino et
● Rhipidomys macrurus. Rato-da-árvore.
História Natural: espécie de tamanho médio pesando de 140 a 560 g, tamanho
cabeça-corpo de 125 a 145 mm, cauda muito longa (cerca de 120 % do
tamanho cabeça-corpo, podendo ser maior), com um pincel de pelos na ponta
(5 a 15 mm), e patas posteriores de comprimento moderado (24 a 28 mm)
(Tribe 2015). Habita matas de galeria, cerradão e floresta semidecídua do
Cerrado, sendo comumente encontrada dentro de casa, inclusive na região
da fazenda Trijunção (veja Bonvicino & Bezerra 2003). Se alimenta
preferencialmente de frutos, sendo arborícola e noturna (Amaral 2005), mas
pode ser ativa em períodos curtos no crepúsculo (com. pessoal).
Distribuição: Rhipidomys macrurus ocorre no leste do Paraguai e no Brasil,
nos estados do Piauí, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Tocantins, Goiás, Paraná,
São Paulo, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul e no Distrito Federal (Tribe Figura 11. Distribuição geográfica
2015, Mapa 317). de Rhipidomys macrurus no Brasil.

206
● Thalpomys cerradensis. Rato-do-Cerrado.

Figura 12. Thalpomys cerradensis e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto: AMRB.

História Natural: espécie de tamanho pequeno (Carmignotto & Ayres 2011), especialmente em áreas
(cabeça-corpo 101 mm), cauda curta (73 mm), pata que queimam frequentemente no Cerrado do Brasil
posteriores longas (25 mm) e orelhas de tamanho Central (Vieira 1999).
médio (19 mm), sendo a maior das duas espécies do
Distribuição: Thalpomys cerradensis é endêmica do
gênero. Thalpomys cerradensis é terrestre e Cerrado, ocorrendo no Distrito Federal e nos estados
exclusivamente noturna (Vieira & Baumgarten 1995). de Goiás, Tocantins, oeste da Bahia e sudeste do
É uma espécie rara, com poucos exemplares nos Mato Grosso (Andrade et al. 2004, Carmignotto &
museus, mas que pode ser localmente abundante Ayres 2011, A.M.R. Bezerra pers. comm.).

● Thalpomys lasiotis. Rato-do-Cerrado.

Figura 13. Thalpomys lasiotis e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto:
CRB.

História Natural: espécie de tamanho pequeno Santos et al. 2009a). Vários estudos mostram
pesando de 13 a 25 g, tamanho cabeça-corpo de 74 densidade populacional baixa (Vieira & Baumgarten
a 85 mm, cauda pequena (45-58 mm), patas 1995, Marinho-Filho et al. 2002), mas pode ser
posteriores de tamanho médio (15,5-18 mm) e localmente abundante em Brasília (Ribeiro &
orelhas de tamanho médio (11-13 mm). É habitat Marinho-Filho 2005). Esta abundância também foi
especialista (Lacher et al. 1989), com dieta insetívora- detectada em pelotas da coruja Tyto alba em
onívora, com uma predominância de exoesqueleto setembro de 1998 em Cocos e Jaborandi, no estado
de inverterbrados nas fezes (70% das amostras; da Bahia (Bonvicino & Bezerra 2003). Esta espécie foi

207
coletada em campo de murundu, mas outros estudos Distribuição: Thalpomys lasiotis é endêmico do
mostraram que ocorre em áreas de transição entre Cerrado, ocorrendo nos estados de Goiás, oeste de
campo e cerrado sensu stricto, sendo mais comum Minas Gerais, sudoeste da Bahia, sul do Mato Grosso,
na porção estreita do campo que marca o ecótono sudeste de Rondônia e no Distrito Federal (Andrade
(Dietz 1983, Mares et al. 1989, Lacher et al. 1989), e et al. 2004).
em campo limpo e campo rupestre (Santos et al.
2009b).
● Wiedomys cerradensis. Rato-da–palmatória.

Figura 14. Wiedomys cerradensis e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto: CRB.
História Natural: espécie de tamanho pequeno Distribuição: Wiedomys cerradensis é endêmica do
(tamanho cabeça-corpo 107-110 mm), com cauda Brasil ocorrendo no sudoeste do estado da Bahia,
longa (142 a 161 mm), patas posteriores longas (cerca nordeste de Goiás, sul do Tocantins e norte do Ceará
de 26,5 mm) e orelhas de tamanho médio (19-20 (Gonçalves et al. 2005, Bezerra et al. 2013, Patton et
mm), com coloração laranja conspícua no focinho e al. 2015).
na parte final do dorso. É terrestre e arborícola,
ocorrendo em floresta semi decídua do Cerrado.

● Thylamys velutinus. Catita.

Figura 15. Thylamys velutinus e sua distribuição


geográfica no Brasil. Foto: PSM.

208
História Natural: espécie de tamanho pequeno 1996, Carmignotto & Monfort 2006). É rara e restrita
(tamanho cabeça-corpo 79-110 mm), com cauda à porção central e sul do Cerrado (Carmignotto &
curta (65-91 mm) e larga (3,5-7,0 mm de diâmetro), Monfort 2006).
patas posteriores pequenas e curtas, portando tufo Distribuição: Thylamys velutinus ocorre no Brasil, no
ungual e garras que ultrapassam a almofada apical
Distrito Federal (Vieira & Palma 1996) e nos estados
carnuda. Fêmeas não possuem bolsa. É estritamente
de São Paulo e Minas Gerais (Tate 1933), Goiás
noturna com dieta insetívora-onívora, constituída
(Bonvicino et al. 2005) e Bahia (Bonvicino & Bezerra
principalmente de matéria animal (Vieira & Palma
2003).

● Gracilinanus agilis. Catita.

Figura 16. Gracilinanus agilis e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto:
CRB.

História Natural: espécie com hábitos noturnos, estação seca (Bocchiglieri et al. 2010). A área de vida
ocorrendo em florestas de galeria do nordeste, do macho aumenta no período pré reprodutivo
centro e leste do Brasil, primariamente no Cerrado (Estação seca no Distrito Federal do Brasil) por
(Costa et al. 2003). O item mais frequente em sua necessidade de maior forrageamento durante esta
dieta são insetos (frequentemente 100% da amostra; estação de poucos recursos (Ribeiro 2011).
Coleoptera, Isoptera, Hymenoptera - formigas), e
Distribuição: Gracilinanus agilis ocorre na Bolívia,
frutas (frequentemente 30% da amostra), indicando Paraguai, Peru e Brasil, no Distrito Federal e nos
hábito insetívoro-onívoro (Bocchiglieri et al. 2010). estados do Maranhão, Ceará, Tocantins, Goiás, Mato
Artrópodes e frutas são consumidos em ambas as Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais
estações, Diptera e Aranae são mais frequentes na (Gardner 2008, Garcia et al. 2010).
estação chuvosa e Isoptera é mais frequente na
● Didelphis albiventris. Gambá-de-orelha-branca, mucura.
História Natural: espécie de habito generalista & Santori 1999). A reprodução é sazonal (de
(Eisenberg & Redford 1999), sendo um dos maiores setembro a maio) e as fêmeas possuem marsúpio
marsupiais do Brasil (tamanho cabeça-corpo 278 utilizado para carregar os filhotes, que nascem muito
mm), com cauda longa (315 mm) e dimorfismo sexual prematuros, durante cerca de 46 dias (Nowak 1999,
(machos maiores que as fêmeas, 800 g em machos e Talamoni & Dias 1999, Cáceres 2000). É noturna e
540 g em fêmeas). É onívora, se alimentando de durante o dia dorme em abrigos em árvores (Mares
invertebrados, frutas, sementes e pequenos & Ernest 1995). É solitária e agressiva com outros
vertebrados (Carvalho et al. 1999, Cáceres 2000), membros da espécie, principalmente entre machos.
incluindo a cobra jararaca, Bothrops jararaca (Oliveira

209
Fêmeas podem ser agressivas com machos enquanto no estro, mas o macho não retribui (Nowak 1999).
Distribuição: Didelphis albiventris ocorre no Peru, Bolívia, Paraguai, Uruguai, Argentina e do nordeste e centro
do Brasil (Caatinga e Cerrado) ao estado do Rio Grande do Sul (Cerqueira 1985, Gardner 2008).

Figura 17. Didelphis albiventris e sua


distribuição geográfica no Brasil. Foto:
AMRB.

AGRADECIMENTOS Bezerra, A.M.R., A.P. Carmignotto & F.H.G. Rodrigues.


Agradecemos a todos que ajudaram nos trabalhos de 2009. Small non-volant mammals of an Ecotone
campo e ao suporte logístico recebido dos donos das Region between the Cerrado Hotspot and the
fazendas São Francisco da Trijunção e Região da Amazonian Rainforest, with comments on their
Trijunção. A permissão para coleta dos espécimes foi Taxonomy and Distribution. Zoological Studies 48:
dada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de 861-874.
Conservação da Biodiversidade). Este trabalho foi Bezerra, A.M.R., A. Lazar, C.R. Bonvicino & J. Marinho
financiado pelo PAPES/FIOCRUZ, bolsa de estudos do Filho. 2013. Wiedomys cerradensis Gonçalves,
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Lourenço, MG.

213
214
Marcelo Lima Reis
Carolina Esteves da Cunha Lobo
Keiko Fueta Pellizzaro
Reuber Albuquerque Brandão

215
216
Marcelo Lima Reis
Carolina Esteves da Cunha Lobo
Keiko Fueta Pellizzaro
Reuber Albuquerque Brandão

INTRODUÇÃO por sua relevância nas cadeias alimentares, sendo


A fauna de mamíferos da América do Sul é a mais rica componentes fundamentais da dinâmica de quase
e mal conhecida do mundo (Pine 1982). São todos os ecossistemas terrestres (Delany 1974). Na
necessárias revisões taxonômicas em quase todos os região Neotropical os roedores estão presentes em
grupos e ainda há espécies não conhecidas pela todos os ambientes terrestres, ocorrendo do nível do
ciência sendo descritas, principalmente entre mar até a mais de 5.000m de altitude, desde os climas
pequenos mamíferos (roedores, marsupiais e mais frios aos mais tórridos, desde as florestas às
morcegos). Mesmo no Distrito Federal, uma das áreas mais desérticas (Hershkovitz 1962, Moojen
regiões mais estudadas em todo o Cerrado, três 1952). Além disso, são provavelmente uma das
novas espécies de roedores foram recentemente maiores fontes de alimento proteico para predadores
descritas . Embora algumas regiões já tenham tido a de maior porte, como diversas espécies de aves,
oportunidade para que um volume de conhecimento répteis e mamíferos (Pereira 1982, Dietz 1983, 1984).
razoável sobre a mastofauna brasileira fosse Mamíferos são também bons indicadores do estado
acumulado, ainda existem lacunas importantes em de preservação de uma área e seu estabelecimento
relação à variação e à distribuição geográfica das é um dos fatores essenciais para a recuperação de
linhagens. Além disso, a informação disponível sobre áreas degradadas. No relacionamento com o homem
a biologia, histórias de vida e ecologia das espécies é evidenciam grandes impactos, sejam de ordem
ainda escassa e, muitas vezes, anedótica. Há poucos econômica como pragas para na agricultura e
inventários locais exaustivos realizados e um número reflorestamento (Alencar 1969, Amante 1975); ou
ainda menor foi efetivamente publicado. sanitária, onde estão implicados direta ou
Os pequenos mamíferos (roedores, marsupiais e indiretamente num grande número de zoonoses e
morcegos) constituem um grupo ecológica e epizootias (Alho 1982a, Alho 1982b, entre outros)
economicamente importante, tanto do ponto de Aqui apresentamos um levantamento de
vista da abundância e diversidade de espécies, como informações ecológicas sobre os mamíferos da

217
região da Trijunção dos estados da Bahia, Goiás e modelos de armadilhas (“sherman” e gaiolas
Minas Gerais, que possam subsidiar a elaboração de “tomahawk traps”).
programas de conservação da fauna para a região, Em cada um dos habitats escolhidos (pontos de
considerada um importante Corredor Biológico do amostragem), foram feitas linhas de capturas, onde
Bioma Cerrado, principalmente para o Parque as armadilhas eram iscadas todas as tardes, e
Nacional Grande Sertão Veredas, para as áreas verificadas todas as manhãs bem cedo, para evitar a
protegidas no Chapadão do Oeste da Bahia e na morte dos animais capturados por insolação,
Serra Geral de Goiás. predação ou frio. Em cada linha de captura, as
Para tanto, apresentamos os resultados de armadilhas ficaram dispostas equidistantes 10
inventários rápidos da biodiversidade de mamíferos metros uma da outra e ativas (armadilha iscada e
da região, incluindo observações posteriores aberta) por, no mínimo, duas noites consecutivas.
realizadas pelos autores, incluindo um diagnóstico Quando o habitat apresentava estratificação vertical,
da área de estudo, por meio da análise da o estrato arbóreo também foi amostrado, com a
comunidade de pequenos mamíferos, com instalação de armadilhas em galhos, troncos e redes
comentários sobre os processos naturais e de cipó. A isca utilizada foi uma mistura de pasta de
antrópicos que afetam as comunidades naturais da amendoim, sardinha, milho verde e fubá, colocado
Fazenda e com sugestões para a prática de junto com pedaços de banana.
observação de fauna na região. Todos os animais capturados foram marcados por
MÉTODOS ablação de dígitos, possibilitando a identificação
individual e verificação das recapturas, e tiveram seus
Área de Estudo
dados biológicos e ecológicos (sexo, peso, data,
O presente capítulo apresenta resultados de condição reprodutiva, classe etária, local de coleta),
amostragens realizadas na região da Trijunção dos além da sua identificação específica, registrada.
estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais,
Como metodologias complementares foram
especificamente nas bacias dos rios Formoso, Itaguari
utilizadas as armadilhas do tipo “pitfall traps”, que
e Itaguarizinho, Bahia (essas duas últimas áreas estão
consiste em séries de baldes enterrados no chão
hoje incluídas nos limites do Parque Nacional Grande
(utilizada na amostragem da herpetofauna), além da
Sertão Veredas) e nas cabeceiras do Rio Vermelho,
procura manual em possíveis abrigos, como buracos
em Goiás. Observações oportunísticas foram
no chão e em árvores (observação direta) e indícios
realizadas entre Formoso (MG) e o marco geográfico
da presença do animal, fezes, pegadas, vocalização,
da Trijunção, bem como observações oportunísticas
dentre outras (observação indireta).
feitas ao longo de diversos anos ao longo da vereda
do Rio Formoso. A região, como um todo, está Pequenos mamíferos voadores (quirópteros). Na
localizada em área de transição entre dois grandes captura dos morcegos, a principal metodologia foi a
biomas abertos do Brasil, o Cerrado e a Caatinga, utilização de redes de interceptação de vôo (redes
apresentando vegetação predominante típica do de neblina ou "mist nets"), que também capturam os
Cerrado, com composta principalmente por animais vivos. Estas redes foram armadas ao final da
fisionomias aberta, como veredas, campos limpos, tarde em locais propícios à presença destes animais,
campos sujos e cerrado aberto sobre solo arenoso, como corredores de vôo (trilhas, clareiras, cursos
mas também manchas de cerradão e de carrasco. d’água) ou próximas a fontes de recurso alimentar
(pomares ou plantas nativas com flores ou frutos
Pequenos mamíferos não-voadores (roedores < 1kg
utilizados pelos morcegos) e abrigos (casas
e marsupiais). Na amostragem deste grupo, a
abandonadas, grutas) (Figura 1).
principal metodologia empregada foi a de captura-
marcação e recaptura. As capturas foram efetuadas Todo animal capturado foi identificado e teve seu
por meio de armadilhas do tipo “alçapão” com dado biológico e ecológico registrado. Como
atração por isca ("live trap"), onde o animal é metodologia complementar foi utilizada a captura
capturado vivo. Para melhor eficiência na manual (puçá) em possíveis abrigos como buracos
amostragem da diversidade local utilizamos dois
218
Figura 2. Pegada de felino de pequeno porte na região da
Trijunção. Foto: RAB.
Figura 1. Quirópteros em telhado de casa abandonada.
Foto: RAB.

em árvores, grutas e casas abandonadas (observação


direta).
Grandes e médios mamíferos. Na amostragem deste
grupo, o principal método utilizado foi o registro por
meio de rondas e sensos, onde o pesquisador, com
auxílio de binóculo, percorre (caminhando ou com
veículo motorizado) estradas e trilhas dentro da
vegetação, à procura dos animais (observação direta)
ou de sinais, marcas e/ou indícios da sua presença,
como pegadas, fezes, vocalizações, abrigos, carcaças,
odores (observação indireta). Também foram feitas
rondas noturnas, com auxílio de um farol de mão Figura 3. Macho adulto de cachorro-do-mato (Cerdocyon
thous) registrado em armadilha fotográfica na região da
(“sealed beam”) e/ou lanterna, para o registro dos Trijunção.
animais noctívagos. O esforço de amostragem foi a
distância percorrida em quilômetros (km) e/ou o
tempo em horas (hs), dispensada nessa atividade. Trijunção e a vereda Espora (porção goiana da
Foram também instaladas armadilhas fotográficas fazenda), parte da extensão da campina e Fazenda
Leite Verde, incluindo os carrascos. Parte da
para complementação das amostragens.
extensão da vereda do Formoso entre o Guará e a
RESULTADOS E DISCUSSÃO antiga casa da Sucuri. Selecionamos todos os
O primeiro inventariamento ocorreu no início da habitats para a amostragem dos mamíferos,
estação chuvosa , durante nove dias de campo, com incluindo ambientes de vereda, campo úmido,
maior ênfase na área da antiga Fazenda Sta. Luzia, campo limpo, cerrado aberto, cerrado denso,
com amostragens em cada um de seus habitats. A cerradão, cerrado rupestre, mata paludosa e capão
segunda expedição foi na estação seca, durante 10 de mata (mata de galeria). Além disso, foram
dias de campo na região da primeira lagoa do rio estabelecidos transectos de observação direta da
Formoso e na parte leste da Fazenda, na vereda do fauna, percorrendo os limites das Fazendas
Rio Formoso próximo à estrada que liga Formoso de Trijunção, entre os limites da Fazenda Guará e o
Minas à Mambaí, Goiás. Também foram incluídas a marco da Trijunção, a extensão entre a lagoinha do
área entre o Marco da Trijunção, a sede da Fazenda Formoso (hoje seca) e a antiga sede da Fazenda
Santa Luzia (atualmente no interior do Parque
219
Nacional Grande Sertão Veredas), toda a extensão Entre as espécies registradas, Rhipidomys macrurus
das duas margens do rio Itaguarizinho, desde sua foi a mais abundante, com cinco indivíduos, seguida
nascente até sua foz no rio Itaguari (atualmente no por Cerradomys scotti e Calomys tener, com três e
interior do Parque Nacional Grande Sertão Veredas) duas espécimes respectivamente. As demais espécies
e parte das margens do Rio Itaguari (atualmente no tiveram apenas uma ocorrência.
interior do Parque Nacional Grande Sertão Veredas). Na segunda etapa de amostragem o esforço total
Pequenos mamíferos não voadores. O esforço total empreendido foi de 890 armadilhas/noite com 54
empreendido na primeira amostragem foi de 998 capturas, o que resultou num sucesso de captura de
armadilhas/noite, com 14 capturas de pequenos 6,1%. No total foram capturadas nove espécies,
mamíferos, o que resultou num sucesso de captura sendo uma do marsupial Gracilinanus agilis e oito de
de 1,4%. No total foram capturadas sete espécies, roedores, sendo Rhipidomys macrurus, Calomys
sendo uma de marsupial: Didelphis albiventris e seis tener, Necromys lasiurus, Cerradomys scotti,
de roedores: Rhipidomys macrurus, Calomys Thrichomys apereoides, Cerradomys marinhus,
expulsus, Calomys tener, Necromys lasiurus, Thalpomys cerradensis e Oxymycterus delator. Além
Oligoryzomys sp. e Cerradomys scotti. Além destas,
também foram registradas mais uma espécie de
marsupial por coleta manual (Thylamys karimii) e
mais três de roedores: uma em armadilhas de queda
(“pitfall traps”) - Wiedomys cerradensis (Gonçalves
et al. 2005), uma com armadilha dentro de galpão
abandonado (Thrychomys apereoides) e outra (Galea
spixii) por observação direta.
A mata de galeria foi o ambiente com o maior sucesso
de captura (4,7%). Os ambientes com vegetação mais
aberta (campos) obtiveram as maiores riquezas. Nos
habitats de cerrado mais denso não houve nenhuma
captura.
Figura 4. Fêmea adulta de veado-campeiro (Ozotocerus
bezoarticus) no cerrado da Fazenda Trijunção. Foto: RAB

Figura 5. Macho adulto de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) na região da Trijunção. Foto: RDF.

220
destas, também foram efetuados outros registros, duas observações foram de dois animais juntos,
incluindo mais duas espécies de roedor: Galea spixii sendo um subadulto.
(preá) e Clyomys laticeps, por observação indireta - O lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) (Figura 5) foi
tocas. avistado duas vezes durante o dia na vereda do
O capão de mata foi o ambiente com o maior sucesso Itaguarizinho. Avistamentos de lobo-guará são
de captura (28%) seguido pelo campo úmido (16%) e relativamente comuns na região. Registramos a
o carrasco (7%). Entre as espécies registradas, predação de lobo-guará por suçuarana na vereda do
Rhipidomys macrurus foi a mais abundante com 27 rio Formoso através do encontro de uma carcaça de
indivíduos, seguida por Necromys lasiurus com sete lobo escondida em área de campo aberto, sob uma
espécimes, e, Gracilinanus agilis e Oxymycterus camada de capim seco, que foi arrancado e usado
delator, ambos com cinco capturas. para cobrir a carcaça. Além da carcaça do lobo, havia
também uma carcaça de um macho de veado-
Morcegos. Para a captura de quirópteros,
campeiro em situação semelhante, a alguns metros
empreendemos um esforço total de 8 horas/rede,
de distância do lobo.
com a captura de dez indivíduos de quatro espécies
diferentes. As espécies mais abundantes foram as A fauna de tatus da região é bastante rica e
nectarívoras Glossophaga soricina e Anoura caudifer, interessante. Ocorre nas Fazendas Trijunção ao
devido à coleta ter sido efetuada próximo a um menos quatro espécies de tatus. O tatu-peba
pequizeiro em floração. Observamos também
Glossophaga soricina utilizando fornos de carvoaria
abandonados na área da antiga sede da Santa Luzia
e Anoura caudifer utilizando galpões abandonados
na mesma sede. O registro mais interessante foi de
um indivíduo de Mimon crenulatum, um morcego
pouco comum no cerrado.
A diversidade de morcegos registrada está muito
aquém da fauna de morcegos que realmente deve
ocorrer na região, devido ao baixo esforço de
amostrado efetuado nessa etapa e novos estudos,
mais aprofundados, devem ser conduzidos na região.
Morcegos possuem papel extremamente relevante
na dispersão de sementes e na polinização de
centenas de espécies vegetais no Cerrado e sua
conservação afeta diretamente a manutenção da
dinâmica dos ecossistemas locais.
Grande e médios mamíferos. Durante os
deslocamentos dentro da área de estudo e as
“rondas’ diurnas e noturnas, que corresponderam a
aproximadamente 250 km, foram registradas por
observação direta (avistamento) as seguintes
espécies a seguir. Esses avistamentos podem ser
interpretados como a provável lista de observação
de animais silvestres por visitantes que transitem nos
cerrados da região.
Veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus) (Figura 4)
foi avistado tanto no período diurno como noturno, Figura 6. Macho adulto de tatu-bola (Tolypeutes tricinctus)
principalmente nas veredas. No total foram da Fazenda Trijunção. Foto: RAB.
efetuados 14 registros (três noturnos e 11 diurnos),
221
(Euphractus sexcinctus), pode ser observado nas pelo cachorro-do-mato-vinagre (Speothos venaticus)
veredas da região. (Edson Lima, comunicação pessoal), um dos
carnívoros mais raros da América do Sul, cuja
A espécie de tatu de maior destaque na região é o
presença circunstancial na região é reforçada por
tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) (Figura 6), espécie
observações putativas feita por funcionários (Renata
considerada EM PERIGO (Reis et al. 2015),
Pitombo, comunicação pessoal). Registros materiais
fortemente ameaçada pela grande perda de hábitat
da presença da espécie na região, como fotografias,
no oeste dos estados da Bahia, Piauí e Maranhão,
ainda precisam ser realizados.
últimos refúgios da espécie. O registro dessa espécie
nas áreas protegidas da Fazenda Trijunção mostra a A raposa-do-campo (Lycalopex vetulus) (Figura 8) é
importância da manutenção desses remanescentes um dos raros mamíferos de médio a grande porte
para a conservação da biodiversidade do Cerrado e endêmicos do Cerrado, onde está fortemente
o seu papel na ampliação do total de áreas naturais associada a ambientes abertos, como campos e
na região. cerrados abertos. É comum na região.
O tatu-de-rabo-mole (Cabassous unicinctus) é Além da raposa-do-campo, o cachorro-do-mato
relativamente abundante e diversos registos diretos (Cerdocyon thous) também é observado durante a
foram feitos em diferentes áreas da propriedade, noite na sede das Fazendas. Em março de 2018 um
sempre relacionado a áreas de cerrado mais denso. macho adulto de cachorro-do-mato foi morto por um
macho adulto de lobo-guará (Chrysocyon brachyurus)
O tatu-galinha (Dasypus novemcinctus) faz
na seda da Fazenda Guará.
abrigos/buracos nos campos, cerrados e veredas
(Figura 7). Um indivíduo predado foi localizado no A jaritataca (Conepatus semistriatus) é
interior da mata ripária que acompanha o rio eventualmente observada na vereda do Rio Formoso.
Formoso, próximo à Fazenda Guará. A carcaça estava Algumas vezes foi observada nas áreas de moradias
completamente aberta e toda a carne havia na Fazenda. Seu odor característico pode permanecer
desaparecido, mas a cabeça e a cauda continuavam por muito tempo nos locais onde urina, defeca ou se
conectadas à carapaça dorsal. Esse tipo de carcaça é abriga.
bastante característica da predação de tatus-galinha Áreas abertas de cerrado não apresentam uma fauna
muito diversificada de primatas. O mico-estrela
(Callithrix penicillata) pode ser observado em áreas
de matas paludosas e de cerradões na região.
Observações ainda não confirmadas sugerem a
ocorrência de bugios (Alouatta caraya) em alguns

Figura 7. Toca de tatu-galinha (Dasypus sp.) em beira de


barranco em região de solo arenoso nas proximidades da Indivíduo de raposa-do-campo (Lycalopex vetulus) oculto em
Fazenda Trijunção. área de campo sujo na região da Trijunção. Foto: RAB.

222
Figura 9. Anta (Tapirus terrestris) em cerrado na região da Trijunção. Foto: RDF.

pontos da região (Renata Pitombo, comunicação vereda do Rio Formoso e também utilizando áreas
pessoal). de cerrado e de mata (Figura 9).
Registros de antas (Tapirus terrestris) são comuns em No total foram registradas para a área 48 espécies
toda a propriedade, especialmente de pegadas e de mamíferos entre capturas, observações diretas e
fezes. Eventualmente são observados indivíduos na indiretas (Tabela 1).

Tabela 1: Lista das espécies de mamíferos registradas (confirmadas) durante as duas excursões para a Região da Trijunção
dos Estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais, incluindo áreas que hoje estão no interior do Parque Nacional Grande Sertão
Veredas. Essa lista foi acrescentada com observações posteriores feitas ao longo dos trabalhos desenvolvidos nas Fazendas
Trijunção e Leite Verde. Forma de registo: OD = observação direta (visualização de indivíduos vivos, de carcaças ou de
fotografias), OI = observação indireta (vocalização, pegadas, fezes, tocas, odor) e CP = captura. Habitats: Ca = campo, CaL =
campo limpo, CaS = campo sujo, Ce = cerrado, CD = cerradão, Car = carrasco, CM = capão de mata, MG = mata de galeria, Ve
= vereda .

(03)
(03)
Didelphis albiventris Gambá CP Ce
Thylamys karimii (#) Catita-da-areia OD Ca
Gracilinanus agilis Catita-de-máscara-arborícola CP Car
(05)
(05)
Dasypus septemcinctus Tatu-galinha-pequeno OI Ce CaS
Dasypus novemcinctus Tatu-galinha OD Ce
Euphractus sexcinctus Tatu-peba CP Ce CaS Ve
Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole OD Ce CaS Ve
Tolypeutes tricinctus (*) Tatu-bola OD Ce
(02)
(02)
Myrmecophaga tridactyla (*) Tamanduá-bandeira OI Ce MG
Tamandua tetradactyla Tamanduá-mirim OD Ce MG

223
Tabela 1. Continuação.

CHIROPTERA (05)
Phyllostomidae (05)
Glossophaga soricina Morcego-beija-flor CP Ce
Artibeus lituratus Morcego-fruteiro CP Ce
Anoura caudifer Morcego-beija-flor CP Ce
Platyrrhinus lineatus Morcego-fruteiro CP Ce
Mimon crenulatum Morcego CP Ce
CARNIVORA (12)
Felidae (05)
Puma concolor (*) Sussuarana OD Ce MG
Leopardus pardalis (*) Jaguatirica OI Ce MG
Panthera onca (*) Onça-pintada OiI Ce MG
Leopardus tigrinus (*) Gato-pintado-pequeno OI Ce MG
Puma yagouaroundi Jaguarundi OD Ce MG
Canidae (03)
Chrysocyon brachyurus (*) Lobo-guará OD Ce Ve
Cerdocyon thous Cachorro-do-mato OD Ce
Lycalopex vetulus Raposa-do-campo OD Ce Ca
Mustelidae (04)
Conepatus semistriatus Cangambá OI Ce
Lontra longicaudis Lontra OD MG
Galictis vittata Furão OD CD
Eira bárbara Irara OD CD
PRIMATA (01)
Callitrichidae (01)
Callithrix penicillata Mico-estrela-de-tufo-preto OD CM
ARTIODACTYLA (03)
Cervidae (02)
Ozotoceros bezoarticus (*) Veado-campeiro OD Ce Ve
Mazama gouazoubira Veado-catingueiro OD Ce
Tayassuidae (01)
Pecari tajacu Cateto OD Ce
PERISSODACTYLA (01)
Tapiridae (01)
Tapirus terrestris (#) Anta OI CD Ve CM
RODENTIA (16)
Cricetidae (10)
Calomys tener Ratinho CP CaL
Calomys expulsus Rato CP CaL
Necromys lasiurus Rato-do-cerrado CP Ce
Oligoryzomys sp. Ratinho CP Ca
Oxymycterus delator Rato-de-vereda CP Ve
Cerradomys marinhus Rato CP CM

224
Tabela 1. Continuação.

Cerradomys scotti Rato CP Ce Ve


Rhipidomys macrurus Rato-arborícola CP CD CM
Thalpomys cerradensis Rato CP CaS CaL
Wiedomys cerradensis Rato-da-caatinga CP Car
Echimyidae (02)
Thrichomys apereoides Rato-das-Pedras, punaré CP Ce
Clyomys laticeps Rato-toupeira OI CaL
Caviidae (02)
Galea spixii Preá OD Ce Ca Ve
Hydrochoerus hydrochaeris Capivara OI Ve CM
Cuniculidae (01)
Cuniculus paca Paca OI MG
Dasyproctidae (01)
Dasyprocta azarae Cutia OD CD
Total de espécies 48

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225
226
Márcia Tereza Pantoja Gaspar
José Eloi Guimarães Campos

227
228
Márcia Tereza Pantoja Gaspar
José Eloi Guimarães Campos

INTRODUÇÃO Formoso, Reserva Particular do Patrimônio Natural


Guará, Reserva Particular do Patrimônio Natural
Toda a fauna e flora exuberantes e em muitos casos
Guará I e Leite Verde Guará II, e Reserva Particular
endêmicas e até exclusivas da região do Sertão na
do Patrimônio Natural São Francisco da Trijunção.
fronteira dos estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás
Este mosaico de unidades de proteção ambiental é
tem seu desenvolvimento baseado na forma de
fundamental para a preservação do bem natural
ocorrência e disponibilidade das águas. Assim, pode-
mais importante da região, que é a água. No
se afirmar que a água é a base da cadeia da vida -
entanto, a disponibilidade da água já se mostra
flora e fauna - da região, pois o cerrado com suas
pressionada por processos relacionados às
variações de fitofisionomias e os animais que o
atividades agrícolas e agroindustriais em contínuo
habita na região são fortemente condicionados à
crescimento na região. Além das unidades de
sazonalidade climática, à presença de corpos
conservação, devem-se aplicar técnicas e sistemas
hídricos superficiais (como lagoas e áreas úmidas) e
mais sustentáveis para diminuir os impactos sobre a
à perenidade dos rios.
produção de água em toda a bacia.
Assim, a discussão sobre a água, e em particular, das
As águas em seus ambientes naturais devem ser
águas subterrâneas é questão fundamental para a
consideradas como reservatórios estratégicos, para
região, não apenas para o condicionamento e
serem utilizados em benefício humano. Entretanto,
controle da vida natural, mas também para a
sua função vai além do uso em processos
sustentabilidade dos projetos e empreendimentos
econômicos sendo também essencial para a
em desenvolvimento, que têm na água seu insumo
sustentação dos ambientes naturais. Quando
mais fundamental.
utilizada de forma sustentável, com base no
Na região da tríplice junção estadual (extremo conhecimento técnico, mantendo-se as reservas
sudoeste da Bahia) existem várias unidades de para as diferentes necessidades, as águas cumprem
conservação de diferentes categorias, incluindo o suas distintas funções. Contudo, quando ocorrem
Parque Nacional Grande Sertão Veredas (230.851 pressões e concorrência entre as diferentes
ha), o Refúgio da Vida Silvestre do Oeste Baiano demandas há o risco efetivo de escassez, resultado
(128.047 ha), além de inúmeras Reservas da sobrexplotação, com diversas consequências. Os
Particulares do Patrimônio Natural – RPPNs, como a primeiros compartimentos afetados são os naturais,
Reserva Particular do Patrimônio Natural Lagoa do com perda de biodiversidade e até de eliminação

229
irreversível de espécies. Por outro lado, em um água, exposições rochosas, dados sobre o clima
segundo momento, os próprios projetos humanos regional e imagens de satélite multitemporais.
podem ser afetados, com risco de O objetivo deste capítulo é discutir a problemática
comprometimento da produção agrícola e de falta da ocorrência e gestão dos recursos hídricos da
de sustentabilidade dos investimentos realizados e região, com destaque para o Sistema Aquífero
do potencial futuro. Nenhum empreendedor Urucuia, sua importância, formas de ocorrência das
gostaria de ter seus sistemas de irrigação fora de águas subterrâneas e propostas de ações para
funcionamento em função da escassez hídrica nos proteção e gestão sustentável das águas.
períodos em que as culturas mais demandam água.
Neste caso, o uso da água dentro das margens da Conceitos e definições fundamentais
sustentabilidade e com os devidos cuidados com a De forma geral, a área técnica da Hidrogeologia é de
sua gestão responsável são diretrizes que devem ser difícil percepção para a ampla maioria da população,
seguidas, não apenas na área do sudoeste baiano, sendo apenas de fácil entendimento por parte de
mas em qualquer região em que há necessidade de geólogos e outros profissionais com formação
amplos volumes de água para os diferentes usuários. acadêmica com disciplinas que incluem o
A região em estudo, apesar da aparente abundância conhecimento sobre rochas, solos, relevo, clima e
de água observada pela presença de lagoas e rios hidrologia. Desta forma, neste item serão
caudalosos, é fortemente dependente da renovação apresentados conceitos importantes para o
anual que se dá pelas chuvas que se concentram no entendimento das questões relativas às águas na
período do verão. Os anos de 2015 a 2017 região em estudo.
representou um triênio em que as chuvas ocorreram Aquífero é todo reservatório subterrâneo de água,
abaixo da média histórica, o que, mesmo em um incluindo solos, rochas alteradas (saprolitos) e
período curto, já causou problemas bastante rochas “frescas”. Em função do tipo de espaços
significativos para a ecologia e projetos da região, presentes nos materiais geológicos (porosidade dos
com incremento de queimadas, ressecamento de materiais) os aquíferos podem ser classificados
áreas úmidas, diminuição da poligonal dos espelhos como intergranulares, fraturados, cársticos ou ainda
d’água e diminuição de vazões dos rios. mistos. Aquíferos intergranulares são aqueles em
Se os eventos de secas mais severas já interferem de que a água ocupa os espaços entre os grãos ou
forma significativa nos sistemas hídricos, já é constituintes das rochas e solos. São comumente
possível vislumbrar o que pode ocorrer caso as associados a materiais não consolidados e às rochas
previsões de mudanças climáticas se concretizem. sedimentares. A rocha mais comum que compõe
Neste cenário, a diminuição efetiva de 10% da chuva estes aquíferos são os arenitos (rochas formadas
anual ou a simples mudança da distribuição mensal pela agregação de grãos tamanho areia). Uma vez
das chuvas pode resultar na queda da infiltração das que apresentam grande volume de porosidade
águas nos solos e redução da disponibilidade das (comumente entre 15 e 22%), estes aquíferos estão
águas superficiais e subterrâneas (incluindo entre os mais produtivos, com vazões que podem
diminuição irreversível das vazões dos rios). alcançar centenas de metros cúbicos por hora.
O presente capítulo foi confeccionado a partir do Aquíferos fraturados são associados a rochas que
conhecimento prévio dos autores acumulado nas não possuem espaços entre os cristais e a única
duas últimas décadas de desenvolvimento de possibilidade de acumulação de água está vinculada
trabalhos de campo e estudos na região, além de às fraturas ou fissuras nas rochas. Granitos, gnaisses
textos técnicos publicados incluindo os trabalhos de e outras rochas magmáticas e metamórficas como
Campos & Dardenne (1997a 1997b), Gaspar (2005), xistos, quartzitos, ardósias são exemplos desta
Gaspar & Campos (2007), Gaspar et al. (2007, 2012), modalidade de aquífero. Por conterem menor
Barbosa (2016), ANA (2017). Além dos dados volume de espaços vazios (variável de 0,5 a 3 %)
publicados, a produção do presente capítulo utilizou estes aquíferos produzem menor volume de água e
informações de poços tubulares para produção de apresentam elevada incidência de poços secos ou de
baixas vazões.

230
Aquíferos cársticos são desenvolvidos em rochas é necessária a presença de uma camada, em
carbonáticas, as quais contêm calcita (CaCO₃) e profundidade, de material com menor
dolomita (Ca,Mg(CO₃)₂) como minerais condutividade hidráulica (maior permeabilidade),
constituintes. Tais minerais apresentam a por exemplo, presença de uma camada argilosa
propriedade de se dissolverem quando em contato acima de uma camada arenosa (Figura 2).
com águas ácidas e assim formam cavidades A ideia intuitiva de que as águas subterrâneas
subterrâneas e permitem abertura de grandes ocorrem como “rios” ou “lagos” subterrâneos não é
volumes de vazios em profundidade, podendo correta. Apenas os aquíferos cársticos apresentam
formar cavernas. As águas de chuvas são esta possibilidade. Nos demais, a água ocupa os
naturalmente ácidas e responsáveis pela dissolução espaços infinitesimais nos maciços rochosos e a água
cárstica das rochas carbonáticas. flui com pequenas velocidades médias.
Reservatórios mistos são aqueles que apresentam, Na região em estudo, os aquíferos são do tipo
simultaneamente, mais de um tipo de porosidade, intergranular, sendo associados a arenitos eólicos e
sendo designados de aquíferos de dupla porosidade fluviais, depositados em antigos ambientes
(intergranular e fraturados) ou aquíferos físsuro- desérticos e de rios. Do ponto de vista geológico, as
cársticos (fraturado e dissolução pouco rochas são atribuídas ao Grupo Urucuia com idade
desenvolvida). de cerca de 60 milhões de anos (Grupo em Geologia
No aquífero são reconhecidas três porções distintas representa um conjunto de rochas de mesma idade
denominadas de zona não saturada, zona saturada e mesma gênese, composta por unidades menores
e zona de transição (Figura 1). A zona não saturada chamadas de formações). Grupo Urucuia,
corresponde à porção rasa do reservatório e é especificamente, é composto pelas formações Posse
comumente desenvolvida em solos, onde a água e Serra das Araras (Campos 1996).
ocorre na forma de umidade e parte dos espaços é O ciclo hidrológico (ou ciclo hídrico) representa
ocupada por ar atmosférico. Na zona saturada os todos os processos que a água sofre ao sair da
espaços estão integralmente ocupados por água e a atmosfera e se mover para a superfície e
zona de transição contém a franja capilar em que o subsuperfície da Terra e de volta para a superfície e
reservatório se mantém com elevada umidade de atmosfera (Figura 3). Envolve o processo de
forma permanente. evaporação, de condensação e de formação de
A superfície que separa as zonas não saturada e nuvens, de evapotranspiração (evaporação de
saturada é denominada superfície potenciométrica corpos hídricos e transpiração pela vegetação), de
ou lençol freático. Nos sistemas onde a superfície precipitação (na forma de chuva, gelo e neve), de
potenciométrica coincide com a superfície física da escoamento superficial, de infiltração (percolação
água, o sistema é denominado aquífero livre. nos solos), de evaporação, de acúmulo em
Quando a superfície potenciométrica ocorre acima depressões, de escoamento subterrâneo e de
da superfície física da água, o aquífero é interceptação (água retida pela vegetação).
denominado de confinado ou artesiano. Neste caso

Figura 1.
Representação
esquemática da
distribuição vertical
da água no solo e
subsolo, mostrando
as diversas formas
da presença da água
subterrânea (Fonte:
Cabral 2000).

231
Figura 2. Relação entre aquífero
livre e confinado. Camadas A e C
representam rochas pouco
permeáveis como argilitos; as
camadas B e D são rochas com
maior condutividade hidráulica (por
exemplo, arenitos). (Fonte: CPRM
2018).
Em princípio, a água disponível no planeta Terra tem chuvas (pluviosidade) diminui de aproximadamente
volume fixo, isto é, a mesma água se mantém em 1.400 mm/ano na divisa entre os estados de Goiás e
contínuo processo de transferências entre os Bahia, passando para cerca de 980 mm/ano na
diferentes compartimentos, que incluem atmosfera, cidade de Cocos (situada a 200 km a leste).
solos, águas superficiais (rios, lagos, mares) e
As chuvas na região são denominadas de chuvas
aquíferos. O sol é responsável pela energia que
orogênicas, isto é, são controladas pelo relevo
mantém o ciclo em funcionamento que, com
regional. A existência da Serra Geral de Goiás a oeste
aumento de energia, transforma água na forma
faz com que as massas úmidas sejam forçadas para
líquida para vapor, facilitando sua migração pela
a porção superior da atmosfera, causando sua
atmosfera.
desestabilização adiabática (sem perda de calor)
O entendimento do ciclo hidrológico é fundamental resultando na precipitação ou evento de chuva. As
para se compreender os controles da chuvas são sazonais, sendo concentradas entre os
disponibilidade de água na região em estudo. As meses de dezembro e abril. Nos demais meses do
chuvas no sudoeste do estado da Bahia são ano as chuvas são escassas ou até mesmo ausentes,
originárias de massas úmidas oriundas da região sendo comum a ausência completa de registros de
Amazônica, que migram com os ventos para sul e, chuvas entre maio e setembro. Este controle sazonal
em seguida, infletem para leste e depois se das chuvas e demais parâmetros climáticos é
desestabilizam, resultando nas chuvas. Por isso, as inclusive responsável pela vegetação de cerrados
chuvas na região diminuem progressivamente de que ocorre na região, uma vez que as fitofisionomias
oeste para leste, sendo que a altura média das encontradas neste grupo de cobertura vegetal são

Figura 3 - Ilustração
esquemática do ciclo
hidrológico (fonte: banco
de ilustrações da web).

232
adaptadas ao clima, com período de recessão de infinita de filtragem e cargas muito persistentes e
chuvas. volumosas de contaminantes podem alcançar a zona
de saturação e contaminar os aquíferos.
As chuvas médias de longo período variam de 1.400
a 980 mm/ano. Isto significa que, se fosse possível A função reguladora é aquela em que o aquífero
acumular toda a chuva de um ano em um recipiente, desempenha seu papel mais nobre e importante,
se acumularia de 1,4 metros a 98 cm de lâmina de que é a sua função ecológica de manutenção dos
água (em média). Trata-se de um valor recursos hídricos superficiais, alimentando pela sua
relativamente grande quando se compara com descarga de base a perenidade de nascentes, lagos e
outras regiões da Terra. Entretanto, apesar da taxa rios, mesmo nos períodos de recessão das chuvas.
moderada de chuvas, a região sofre com fenômenos Na região sudoeste do estado da Bahia, que
climáticos relativamente recorrentes que causam apresenta de 3 a 4 meses sem registros de chuvas,
períodos curtos sem precipitação em meses em que toda a rede de cursos d’água superficiais é
intensas chuvas são esperadas, a exemplo dos sustentada pelas águas do Sistema Aquífero Urucuia.
veranicos de quinze dias do mês de fevereiro ou Por fim, a função reservatório é a que determina a
períodos de 2 ou 3 anos em que as chuvas funcionalidade econômica do aquífero, que acumula
acumuladas são menores que as médias históricas. águas que podem ser utilizadas nos projetos
Tais fatos climáticos afetam a disponibilidade de humanos como insumo essencial para qualquer tipo
água e causam significativos impactos negativos à de empreendimento.
agricultura e pecuária da região.
O escoamento de base ou descarga de base é um
Três funções básicas são atribuídas aos aquíferos: conceito importante quando tratamos do Sistema
filtro, reguladora e armazenadora. A função filtro é Aquífero Urucuia, pois representa o fluxo do
relacionada à capacidade natural de depuração de aquífero em direção aos corpos hídricos superficiais,
eventuais cargas contaminantes que se infiltrem o que possibilita vazão mínima e perenidade para os
pela zona não saturada. Obviamente, que como rios de toda a região oeste da Bahia. Este
qualquer filtro, o aquífero não tem capacidade componente do fluxo contribui para a alimentação

Figura 4. Exemplo de corpo hídrico classificado como lagoa presente na região de cabeceira do Rio Formoso (sudoeste do
estado da Bahia). Foto: JEGC.

233
do Rio São Francisco, principalmente na época das eliminação do espelho d’água. Este grave problema
secas, quando não há escoamento superficial, pois tem sido recorrente na região e as perdas são, em
as chuvas cessam praticamente em toda a bacia muitos casos, irreversíveis, pois às margens das
hidrográfica. O fluxo de base materializa a lagoas ocorrem solos encharcados (organossolos e
importância dos aquíferos para os recursos hídricos gleissolos) que sustentam tipos de vegetação e
superficiais e explica porque os rios da região fauna especificamente adaptados que perdem seu
apresentam vazões regulares e manutenção das habitat e podem, inclusive, serem eliminados.
descargas, mesmo em épocas secas sem nenhum As mudanças dos padrões de uso e ocupação da
registro de chuvas. Isto significa afirmar que, no superfície do terreno nas bacias hidrográficas
extremo do período seco, meses de setembro e acarretam em diminuição da infiltração das águas de
outubro na região, as águas que fluem nos córregos chuva e consequente redução da recarga dos
e rios são exclusivamente originadas a partir dos aquíferos. Gaspar et al. (2007) mostraram, a partir
aquíferos, ou seja, águas subterrâneas. de ensaios de infiltração de água nos solos sob
Um componente importante da hidrologia da região diferentes tipos de usos, que a condutividade
do sudoeste do estado da Bahia são as lagoas ou hidráulica da porção superficial dos solos pode ser
lâminas d’água que ocorrem no extremo oeste nas reduzida em 10 vezes quando se altera uma área
cabeceiras das principais drenagens, como por natural de cerrado ralo para área urbana, e em até
exemplo, nas áreas de nascentes dos rios Formoso, 100 vezes, mudando da ordem de grandeza de 10‐⁴
Pratudinho, Itaguari e Carinhanha (Figura 4). Estes m/s para 10‐⁶ m/s, quando se transforma uma área
corpos d’água podem ter duas origens distintas: de cerrado típico em pecuária extensiva. Esta
serem associados a aquíferos suspensos ou mudança, quando observada em grandes áreas,
representarem a exposição do nível freático de pode causar o rebaixamento irreversível do nível dos
aquíferos regionais livres. Em ambos os casos, se aquíferos mais rasos, justamente os mais
tratam de feições muito singulares e sensíveis, com importantes para a manutenção dos cursos d’água
importância ecológica particular, pois tais corpos de superficiais.
água sustentam grande parte da fauna e flora O SISTEMA AQUÍFERO URUCUIA (SAU)
endêmicas da região.
O Sistema Aquífero Urucuia é um manancial
A sensibilidade das lagoas da região é vinculada à subterrâneo de extensão regional. Estende-se por
sua origem, pois como se trata da exposição da cerca de 126 mil km² e abrange seis estados
superfície freática do aquífero, qualquer redução brasileiros (Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia, Goiás
irreversível da espessura da zona saturada leva à e Minas Gerais). O SAU compõe uma área de
chapada limitada, onde se
destaca, no seu limite oeste, a
Serra Geral de Goiás. É constituído
por subtipos de aquíferos inter-
relacionados, onde o
armazenamento da água se dá nos
poros dos sedimentos
constituintes das rochas, as quais
são predominantemente arenitos
quartzosos, argilitos e níveis de
conglomerados associados a
cimentação silicosa (Gaspar 2006,
ANA 2017). Essas formações
rochosas foram formadas a cerca
de 65 milhões de anos, ainda no
período Cretáceo, num ambiente
Figura 5. Arenitos eólicos do Grupo Urucuia. Foto: JEGC.

234
eólico com influência de rios e encontram-se O fluxo subterrâneo deste manancial é direcionado
assentadas sobre um embasamento de rochas principalmente para leste. Devido à presença de um
calcáreas ou graníticas mais antigas (Figura 5). divisor em seu limite oeste, a direção do fluxo segue
leste (Figura 7).
Do ponto de vista geológico e regional o SAU
apresenta-se como um manancial subterrâneo O SAU é primordial para a manutenção do ciclo
homogêneo e isotrópico. Entretanto, algumas hidrológico regional, uma vez que garante a
características das rochas conferem ao sistema perenidade dos afluentes da margem esquerda do
importantes mudanças físicas regionais, que se rio São Francisco. Sua contribuição ao rio da
refletem nas propriedades hidrodinâmicas, integração nacional chega a 80 % da sua vazão nos
permitindo-se diferenciar subtipos de aquíferos, períodos de estiagem (Gaspar 2006, ANA 2017).
com propriedades hidráulicas diferenciadas. A Uma diminuição de 49% dessa contribuição foi
presença de níveis silicificados, as variações observada por Gonçalves et al. (2017) a partir de
granulométricas dos arenitos e a posição geográfica 1980, ao analisarem séries históricas de vazões em
e espacial são os principais parâmetros todas as sub-bacias interligadas ao SAU.
controladores dessa subdivisão. Assim, esse sistema A importância desse manancial também se estende
admite quatro subtipos de aquíferos: livre regional; para a bacia do rio Tocantins, tendo em vista que, no
suspenso local; confinado e semiconfinado e seu limite oeste, o fluxo subterrâneo se inverte.
aquífero livre profundo (Figura 6). Nessa região, o SAU exibe um eixo longitudinal
Os aquíferos do tipo livre regional e livre profundo divisor do fluxo subterrâneo, situado na borda oeste
são mais comumente utilizados nas sedes de da Chapada do São Francisco, que divide o sentido
fazendas para o abastecimento humano, onde não do fluxo regional do sistema aquífero para leste,
se extrai grandes vazões; os aquíferos alimentando os afluentes do rio São Francisco e a
semiconfinados e confinados são utilizados por oeste, quando alimenta os afluentes do rio Tocantins.
poços de altas vazões, comuns nos projetos de A recarga desse manancial subterrâneo se dá
irrigação, enquanto que os aquíferos suspensos são diretamente pela infiltração da água da chuva nos
fundamentais para a constituição das lagoas da solos da área da chapada. As áreas preferenciais de
região. recarga são aquelas com menor declive, geralmente
Os níveis de arenitos silicificados presentes nessas as mais convertidas em paisagens agrícolas. A água
formações rochosas não são contínuos na região, da chuva atinge a superfície e parte desse volume
mas sua presença confere comportamento infiltra nos solos e recarrega o aquífero em
hidráulico importante a esse sistema aquífero. Uma subsuperfície.
vez interceptada em superfície, é responsável pela As principais ameaças a esse processo são as
formação de lagoas, comuns nas cabeceiras das atividades de preparação dos solos para o plantio,
bacias hidrográficas dos rios Formoso, Pratudão, que acarreta a compactação dos solos devido ao uso
Pratudinho, dentre outros rios do oeste baiano.
W E
Latossolos arenosos
Serra Geral
de Goiás Cambissolos

Níveis de arenito silicificado


Arenitos inconsolidados GRUPO URUCUIA
Colúvios Colúvios

Calcários e Dolomitos

GRUPO BAMBUÍ

Pelitos e Margas
Figura 6. Modelo esquemático regional do Sistema Aquífero Urucuia (Gaspar 2006).

235
Figura 7. Sistema Aquífero
Urucuia.

236
de máquinas pesadas a partir de técnicas esse manancial. Considerando essa interação, a ANA
convencionais, ocasionando modificações nas (2017) recomendou utilizar 4,84 km³/ano da reserva
condições de infiltração da água nos solos, as quais renovada anualmente. Todavia, considerando que
são primordiais para a garantia de recarga dos as águas subterrâneas são de dominialidade
aquíferos (Gaspar et al. 2007). Este efeito negativo estadual, a disponibilidade de uso deve ser
também é observado durante a preparação dos determinada pelos estados em suas respectivas
solos para outros usos, como a instalação de canais normas.
e áreas de empréstimo para aterro de estradas BASES PARA A GESTÃO E DISCUSSÕES
(Figura 8).
A gestão responsável dos recursos hídricos é a única
As reservas hídricas armazenadas no SAU são da forma para se alcançar a sustentabilidade da
ordem de 1 trilhão de m³, onde a maior parte (104 exploração das águas superficiais e subterrâneas.
km³) é a reserva permanente ou “secular”, ou seja, Gestão inclui todas as ações que resultem na
situada abaixo do nível de oscilação sazonal do ampliação da oferta de águas de qualidade ou na
aquífero, enquanto o restante desse volume é limitação de sua exploração, de forma que os
reservatórios mantenham todas suas funções
(econômicas, ecológicas, de manutenção da vida
humana, dentre outras).
Dentre as ações propostas para a gestão dos
recursos hídricos da região são enumeradas aquelas
consideradas de implantação viável desde que com
a participação conjunta e efetiva dos agricultores
irrigantes, órgãos nacionais e estaduais responsáveis
pelo gerenciamento dos recursos hídricos e da
sociedade civil.
Figura 8. Remoção do solo para instalação de canal Limitação das áreas de Irrigação
(Correntina - BA). Foto: MR.
Ampliar as distâncias entre áreas irrigadas e ampliar
a superfície de áreas preservadas, inclusive as
atribuído à reserva sazonal ou renovável, variável a reservas legais, áreas de preservação permanentes,
cada ano hidrológico (ANA 2017). Um dos dados reservas particulares e demais áreas, para permitir o
utilizados para a estimativa da reserva permanente fluxo gênico e as salvaguardas para vegetação e
é a espessura das rochas que constituem o sistema animais. Esta ação visa permitir a conexão do
aquífero e, como na maioria dos casos, a estimativa mosaico de unidades de conservação e assim evitar
da espessura é feita de forma indireta, o valor médio a insularização destes polígonos. Do ponto de vista
da espessura não é um parâmetro unânime nas dos recursos hídricos, esta ação é fundamental para
pesquisas. Amorim Jr & Lima (2007) chegaram a garantir que o ciclo hidrológico local se mantenha,
valores de cerca de 500 metros de espessura; Gaspar pois as áreas com vegetação natural mantêm as
(2006) entre 50 e 600 metros; CPRM & UFBA (2007) melhores condições de recarga dos aquíferos e que
chegaram a 275 metros e ANA (2017) a 400 metros. os aquíferos são a fonte de água primária durante o
Embora haja essa controvérsia em relação ao valor longo período de seca que ocorre anualmente na
real da espessura do pacote rochoso do aquífero, região.
perfurações recentes da ANP e CPRM alcançaram a A manutenção de áreas naturais entre os maiores
base do aquífero no máximo em cerca de 600 metros. perímetros de irrigação ou de uso pecuário deverá,
Em termos de disponibilidades hídricas deve-se em última análise, garantir as águas necessárias para
considerar que a explotação das camadas mais a própria irrigação e para a dessedentação animal
superficiais dos aquíferos deve ser ponderada pelo (Figura 9).
fato da conexão com rios e lagoas alimentados por

237
Por outro lado, uma análise
preliminar das reservas hídricas
permite afirmar que a água
disponível, em rios e aquíferos, não é
suficiente para irrigar toda a área da
bacia. Caso se trabalhe com a
perspectiva de aumento sem critério
da área irrigada, a redução dos
estoques resultará no colapso dos
sistemas produtivos. Por isso a
concessão da outorga de direito de
uso é um importante instrumento de
gestão dos recursos hídricos que deve
ser fortalecido. Neste sentido, os
órgãos estaduais de gestão devem
considerar os aspectos técnicos para a Figura 9. Serra das Araras (MG), porção de cerrado preservado na região em
emissão das outorgas aos usuários, estudo. Foto: Zig Koch. Banco de Imagens da ANA.
tendo como base os diferentes
subtipos de aquíferos, suas disponibilidades hídricas, pontos distantes de áreas em que existam poços
vazões históricas e vazões de períodos mais recentes produtivos. Os poços podem ser instalados e
(últimos 10 anos), além de avaliar as mudanças de mantidos pelos próprios produtores, a exemplo, das
padrões de usos da superfície. Outro aspecto estações climatológicas ou pluviômetros utilizados
fundamental a ser avaliado na análise dos processos para se verificar o montante de chuvas acumulado
de outorga é a conexão hidráulica entre os aquíferos para a gestão dos ciclos de plantios e irrigação. A
e os corpos hídricos superficiais e realizar outorga CPRM empresa pública responsável pelo Serviço
integrada de recursos hídricos superficiais e Geológico do Brasil desenvolve o projeto RIMAS -
subterrâneos, pois em muitos casos, representam o Rede Integrada de Monitoramento das Águas
mesmo reservatório no ciclo hídrico. Subterrâneas, que já conta com cerca de 80 poços na
Realização de Estimativas e Reservas Hídricas região do Sistema Aquífero Urucuia, sendo alguns
instalados na região em estudo. Outro ponto
As estimativas de reservas hídricas e das fundamental é considerar as diferentes modalidades
disponibilidades de águas subterrâneas são motivo de reservas hídricas para os cálculos: reservas
de controvérsias e discussões entre os diferentes renováveis, permanentes e explotáveis ou
gestores. O que se discute é o quanto das reservas disponibilidades.
renováveis que pode ser bombeado dos aquíferos
ou outras questões, como os conceitos de vazões As reservas renováveis representam as águas que
seguras. anualmente reabastecem os aquíferos depois dos
períodos de chuvas abundantes. Este volume pode
De qualquer forma, para as estimativas seguras das ser obtido pela equação: Rr = A * h * e, onde A é
reservas hídricas subterrâneas passa pelo igual à área, �h é equivalente à variação anual do
conhecimento dos sistemas aquíferos, suas áreas de nível freático e �e é igual à porosidade efetiva
distribuição, monitoramento sazonais dos níveis (dependente da distribuição granulométrica do
freáticos, porosidade efetiva dos reservatórios e material que compõe o aquífero). As reservas
demais aspectos intervenientes. permanentes ou seculares correspondem ao
Um dado fundamental é a determinação da volume retido abaixo da zona de flutuação do nível
flutuação média dos níveis freáticos em longo freático no aquífero. Para as reservas permanentes
período. Para tanto é necessário que sejam pode-se aplicar a fórmula: Rp = A * b * e, onde b
instalados poços exclusivamente dedicados a esta representa a espessura da zona saturada do sistema
finalidade, os quais devem estar localizados em aquífero. Para se determinar a espessura da zona

238
saturada deve-se buscar dados de poços totalmente pressão ou manuais com uso de medidores elétricos
penetrantes no aquífero ou realizar estudos com sensores sonoros.
geofísicos (ex. Gaspar et al. 2012). As reservas Da mesma forma que realizado com dados
explotáveis correspondem ao volume anual que climáticos, as séries de dados de flutuação dos níveis
pode ser retirado do aquífero sem riscos de efeitos freáticos deverão ser avaliadas procurando
negativos ao próprio aquífero ou às águas estabelecer as tendências de rebaixamento ou
superficiais. A reserva explotável pode ser obtida estabilidade dos níveis. Durante a análise é
pela equação: Re = Rr + % / ano * Rp, onde Rr é a importante que os efeitos sazonais sejam eliminados
reserva renovável, Rp é a reserva permanente e % / e para isso, pode-se proceder com estudos de
ano é o percentual por ano da reserva permanente estatística cruzada entre dados de chuvas e de níveis.
passível de bombeamento sem comprometimento
da sustentabilidade do meio. Dependendo dos resultados alcançados, as vazões
de bombeamento podem ser modificadas para
O percentual por ano é um dos pontos mais maior ou menor intensidade, caso os níveis
controversos para a determinação das permaneçam estáveis ao longo do tempo ou caso
disponibilidades dos aquíferos e é variável em apresentem tendência de rebaixamento.
função das condições de circulação das águas,
incluindo as condições de recarga. Para o Sistema Uso de Técnicas de Irrigação Alternativas
Aquífero Urucuia, em princípio, se considera um O volume de água aplicado em irrigação é o maior
valor anual não superior a 10% da reserva dentre todos os usos de recursos hídricos,
permanente. alcançando cerca de 60% de toda a água consumida
Monitoramento dos Níveis dos Aquíferos no mundo. Para minimizar este consumo e permitir
a ampliação das áreas irrigadas é fundamental que
Mesmo após a aplicação de critérios técnicos para os sistemas de irrigação sejam mais bem
emissão de outorgas e da realização dos cálculos de dimensionados e técnicas alternativas e mais
reservas, é fundamental que os níveis estático e sustentáveis sejam aplicadas aos processos de rega.
dinâmico dos aquíferos sejam monitorados de forma
contínua. Essa ação é a única forma inequívoca de Para culturas permanentes, como café e cítricos, a
estabelecer as vazões sustentáveis para a irrigação localizada por gotejamento a partir de
explotação dos aquíferos, uma vez que existem mangueiras específicas (sistema tripa) já se provou
muitas incertezas, tanto para as estimativas das viável em outras áreas de produção (ex. Araguari e
reservas seguras, quanto para as emissões de Paracatu, em Minas Gerais).
outorgas de direito de usuários. Para o cultivo irrigado de soja, milho, algodão e
O monitoramento do nível estático requer que o demais culturas de ciclo curto realizado em grandes
poço esteja em repouso, fora de regime de áreas (centenas a milhares de hectares), o sistema
bombeamento por pelo menos 24 horas antes da de pivô central é o mais aplicado. Atualmente não é
realização da medição. Caso não seja possível possível substituir esta tecnologia. Entretanto, é
interromper o bombeamento, o nível dinâmico possível utilizar modificações nos equipamentos
(elevação da carga hidráulica após tempo para poupar água e alcançar resultados satisfatórios.
prolongado de bombeamento) deve ser medido. Neste sentido, pode-se modificar os sistemas de
Para tanto, é necessário estabelecer momentos com aspersão, ou mudar o comprimento do sistema
mesmo tempo de bombeamento para realizar as alimentador para diferentes fases de crescimento da
medidas. cultura, ou ainda reduzir a pressão do sistema para
minimizar a vazão.
Para as medições, os poços devem ser equipados
com tubos guias para possibilitar a entrada dos Outra técnica que pode resultar em economia de
equipamentos de medição, mesmo para poços em água na irrigação é a aplicação da rega em horários
regime de produção de água. As medições podem com menor perda por evaporação direta, como no
ser automáticas com auxílio de transdutores de início da manhã ou da noite, em que a energia solar
é reduzida, evitando perdas.

239
Experimentos por diferentes culturas também desenvolvida pela penetração das raízes no solo cria
podem ser realizados nas próprias áreas de cultivo condutos preferenciais para a infiltração da água das
pelos produtores sempre visando à redução do chuvas. As raízes podem penetrar até mais de 40 cm
consumo de água. na porção mais importante da zona não saturada
dos aquíferos, onde os processos de infiltração e
Cultivo de sequeiro com uso de pivô também pode
recarga se iniciam.
minimizar perdas associadas a veranicos que
ocorrem em períodos de chuvosos e podem A instalação de terraços e curvas de nível agrícolas
acarretar em grandes prejuízos (Figura 10). tem o objetivo primário de minimizar as perdas de
solos por erosão. Contudo, estas estruturas também
Adoção de Práticas Agrícolas Sustentáveis
resultam na maior permanência da água sobre a
superfície e aumento da infiltração e consequente
recarga dos aquíferos. Mesmo com o uso do plantio
direto, é importante que os terraços sejam
mantidos, pois estas ações são sinérgicas com
relação à otimização da recarga dos aquíferos. O
aumento da infiltração na própria área de geração
de excedentes pluviais ainda resulta na diminuição
do escoamento superficial, diminuindo o risco de
desenvolvimento de erosão e perdas de solos.
Instalação de baciões nas vias de acesso rurais é
outra ação que, além de minimizar o escoamento
superficial e limitar o risco erosivo, resulta em
Figura 10. Chapada Gaúcha (MG). Exemplo de cultivo de aumento da infiltração e recarga dos aquíferos. A
sequeiro que usa as chuvas naturais sem a necessidade de limpeza periódica (remoção de sedimentos no início
irrigação. Foto: Zig Koch. Banco de Imagens da ANA.
do período chuvoso) do fundo destas estruturas
amplia sua funcionalidade como estrutura de
infiltração. A limpeza é simples, sendo apenas
A agricultura e pecuária são atividades essenciais
necessário o uso de máquinas leves ou até mesmo
para produção de alimentos e manutenção da
serviços manuais. Alternativamente pode-se utilizar
população majoritariamente residente em cidades.
a técnica de instalação de “barraginhas” proposta
Contudo, estas atividades podem ser realizadas a
pela Embrapa, as quais foram utilizadas com sucesso
partir de diferentes práticas que resultem em maior
e são recomendadas para a elevação do lençol
ou menor impactos e consumo de insumos. Neste
freático e recuperação de nascentes e olhos d’água.
sentido, existem formas de desenvolver a
O Sistema Barraginhas consiste na construção de
agropecuária que podem minimizar os impactos aos
pequenos barramentos de água de chuva (mini
recursos hídricos, mantendo a recarga dos aquíferos
açudes efêmeros) à frente de cada enxurrada
e a produção hídrica das bacias.
perceptível em áreas de pastagem, lavouras e
Dentre as melhores práticas são destacadas e adjacências de estradas. O sistema se aplica bem na
comentadas as seguintes técnicas: plantio direto, recuperação de solos degradados (compactados ou
instalação de terraços agrícolas, instalação de erodidos), resultantes da não observação de práticas
baciões nas vias de acesso rurais, reformação de conservacionistas. Além disso, contribui para o
pastagens e formação consorciada de pastagens. recurso hídrico subterrâneo, pois a água da chuva
O plantio direto ou “plantio direto na palha” é uma captada por cada pequena barragem se infiltra no
técnica onde o solo não é anualmente revolvido e a solo inúmeras vezes durante a estação chuvosa,
cultura se dá sobre os restos da última safra. Esta proporcionando a recarga e a elevação do lençol
técnica, além de apresentar ganhos na diminuição freático, além do umedecimento de áreas
do consumo de combustíveis, representa vantagem rebaixadas.
com relação à recarga dos aquíferos. A bioturbação

240
A reforma periódica de pastagens é uma técnica que Este efeito é menos significativo para os aquíferos
resulta em dois ganhos: no aumento da biomassa de livres com níveis d’água profundos ou para o
capim e consequente peso do gado produzido e aquífero semiconfinado.
também na descompactação da porção superficial O mesmo efeito é esperado com relação às
dos solos, o que conduz ao aumento da infiltração eventuais cargas contaminantes que alcançam
das águas das chuvas. rapidamente a zona saturada e migram em função
A formação consorciada de pastagens é uma técnica do fluxo subterrâneo. Este efeito se dá, pois a
ainda pouco difundida e, de forma sucinta, se proteção dos aquíferos ou sua função filtro se
materializa pelo plantio de pastagens em conjunto processa na zona não saturada, que no caso dos
com gramíneas naturais. No processo de formação aquíferos suspensos é pouco espessa.
não se elimina totalmente a vegetação nativa
(arbórea e herbácea), de forma que o terreno ainda
CONSIDERAÇÕES FINAIS
mantenha algumas características naturais. Como Para fins de proteção e uso sustentável dos recursos
resultado, o sistema permitirá redução do hídricos da região é fundamental considerar a inter-
escoamento superficial e recarga dos aquíferos. relação entre as águas superficiais e subterrâneas.
Assim, o aproveitamento da água e a intenção de
Mapeamento de Áreas de Aquíferos Sensíveis
ampliação dos perímetros irrigados na região devem
Como anteriormente descrito, o Sistema Aquífero considerar essa questão, tendo em vista
Urucuia é composto por subtipos que apresentam principalmente a presença de ambientes sensíveis
diferentes comportamentos hídricos e sensibilidade como as lagoas muito utilizadas pela fauna para
distinta com relação a contaminação e às flutuações reprodução.
de níveis (Figura 11). Neste sentido, o conhecimento
Outra diretriz importante na explotação das águas
da distribuição lateral e vertical de cada tipo é
subterrâneas é evitar a captação em aquíferos rasos
fundamental para a implantação das ações de
suspensos, especialmente aqueles próximos às
gestão.
lagoas da região.
Dentre os tipos que compõem o Sistema Urucuia, o
De um modo geral, o manejo do solo nas áreas de
aquífero suspenso é aquele que merece os maiores
recarga afeta diretamente as condições de
cuidados, pois é o mais sensível do ponto de vista
infiltração da água da chuva nos solos. Deste modo,
qualitativo e quantitativo. Estes aquíferos têm forte
sugere-se a adoção da prática do plantio direto nas
conexão hidráulica com os sistemas de águas
lavouras do oeste baiano. Além do plantio direto,
superficiais, de forma que qualquer rebaixamento
outras técnicas que promovam a produção hídrica
sofrido em seus níveis potenciométricos deverá ser
na bacia devem ser consideradas e sempre optar
sentido na forma de diminuição da vazão dos cursos
superficiais ou secamento de áreas úmidas e lagoas.

Figura 11. Modelo esquemático dos subtipos de aquíferos presentes no SAU. Perfil composto de uma seção EW e NS. Linha
tracejada representa a superfície potenciométrica regional (Gaspar 2006). I - Aquífero livre Regional, II - Aquífero Suspenso,
III - Aquífero Semiconfinado e IV - Aquífero Livre Profundo.

241
“O chapadão é sozinho – largueza… Ali chovia?
Chove – e não encharca poça, não rola enxurrada,
não produz lama: a chuva inteira se sorvete em um
minuto terra a fundo, feito um azeitinho entrador”

Grande Sertão: Veredas


Guimarães Rosa

242
pelas melhores práticas, inclusive considerando as Campos, J.E.G. 1996. Estratigrafia, sedimentação,
experiências exitosas já desenvolvidas na região. evolução tectônica e geologia do diamante da porção
centro-norte da Bacia Sanfranciscana. Instituto de
A sustentabilidade do aumento na área irrigada na
Geociências, Universidade de Brasília. Tese de
região deve ser avaliada criteriosamente, devido ao
Doutorado, 204p.
risco de ausência de água para as diversas atividades
econômicas na região. Também são essenciais as CPRM. 2018. Aquíferos. http://www.cprm.gov.br/
ações que mantenham as áreas de recarga de (consulta realizada em setembro de 2018).
aquíferos, especialmente na forma de áreas Gaspar, M.T.P. & Campos, J.E.G. 2007. O Sistema
protegidas. Aquífero Urucuia. Revista Brasileira de Geociências,
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hidrogeológicos e de vulnerabilidade do Sistema caracterização regional e propostas de gestão. Tese
Aquífero Urucuia e proposição de modelo de gestão de doutorado. Instituto de Geociências, Universidade
integrada compartilhada. 138p. Volume 2. de Brasília. 158p.
Barbosa, N.S. 2016. Hidrogeologia do Sistema Gaspar, M.T.P., Campos, J.E.G. & Cadamuro, A.L.
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de Geociências, Universidade Federal da Bahia. 168p. recarga do Sistema Aquífero Urucuia no oeste da
Bahia sob diferentes condições de usos. Revista
Cabral, J. 2000. Movimento das Águas Subterrâneas.
Brasileira de Geociências 37(3): 542-550.
In: Feitosa F.A.C & Filho, J. M. (Coord.). Hidrogeologia
- Conceitos e Aplicações. (2ª edição) Fortaleza, Gaspar, M.T.P., Campos, J.E.G. & Moraes, R.A.V.
CPRM/REFO, LABHID - UFPE, p. 35 - 51. 2012. Determinação das espessuras do Sistema
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Urucuia para o Rio São Francisco, Brasil. Revista
Campos, J.E.G. & Dardenne, M.A. 1997b. Origem e
Águas Subterrâneas, v. 32, n. 1, p. 1-10, 2018.
Evolução Tectônica da Bacia Sanfranciscana. Revista
Brasileira de Geociências, 27(3): 283-294.

243
244
Eraldo Aparecido Trondoli Matricardi
Ana Beatriz de Freitas Ferreira
José Salatiel Rodrigues Pires

245
246
Eraldo Aparecido Trondoli Matricardi
Ana Beatriz de Freitas Ferreira
José Salatiel Rodrigues Pires

INTRODUÇÃO O bioma Cerrado é de grande relevância ambiental


devido à sua alta diversidade de espécies, habitats e
Os municípios de Cocos e Jaborandi estão localizados
fitofisionomias (Ratter et al. 1997, IBAMA 2011).
no sudoeste do estado da Bahia, na parte sul da
Devido a estas características, o Cerrado foi definido
região do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e
como um hotspot mundial da biodiversidade,
Bahia). A região do MATOPIBA é uma das regiões de
tornando-o uma área prioritária para conservação da
maior destaque na produção de commodities
natureza em escala global (Myers et al. 2000, Ferreira
agrícolas no Brasil, registrando crescentes safras
& Freire 2009).
agrícolas, que incluíram a soja, o milho e o algodão
(Magalhães & Miranda 2014). Apesar disso, aproximadamente metade desse bioma
foi desmatado e convertido em pastagem ou
Esta região se destaca pela preocupação ambiental,
agricultura (Klink & Machado 2005). Dentre outros
devido à sua inserção quase que integral no bioma
fatores que contribuem para o desmatamento no
Cerrado, onde se concentra a maior parte das áreas
Cerrado, destaca-se o Código Florestal vigente que é
de expansão agrícola. A conversão da cobertura de
menos restrito para desmatamentos neste bioma
vegetação natural para outros usos da terra
(por exemplo, enquanto no Cerrado a reserva legal é
contribuíram com a redução de mais da metade dos
de no mínimo 20%, na Amazônia é de 80% de cada
vários tipos de vegetação do cerrado (Miranda et al.
propriedade rural), permitindo a expansão agrícola e
2014, Beuchle et al. 2015).
pecuária sobre extensas áreas de vegetação nativa
O Cerrado apresenta grande riqueza de espécies, (Spera et al. 2016).
diversidade de habitats e diferentes fitofisionomias,
As áreas de cultivos agrícolas aumentaram 2,3
tornando-o a savana mais rica do mundo (Ratter et
milhões de hectares entre 2003 e 2013, ocupando,
al. 1997, Ribeiro et al. 1998, IBAMA 2011). Além de
em sua maioria, áreas de vegetação nativa do
possuir ampla diversidade biológica, o Cerrado presta
Cerrado (Spera et al. 2016). A conversão da vegetação
serviços ambientais essenciais na regulação do ciclo
nativa em pastagens ou agricultura tem fortes
do carbono e do ciclo hidrológico, uma vez que as
impactos nos serviços ecossistêmicos da região
principais cabeceiras de bacias hidrográficas
devido ao aumento da fragmentação da paisagem,
brasileiras, como as bacias do Tocantins e do São
da poluição da água, das alterações no regime do
Francisco, estão situadas nesse bioma (Lahsen et al.
fogo, da modificação do regime climático (Klink &
2016).

247
Machado 2005) e da erosão dos solos (Oliveira et al. biodiversidade e para a prestação de serviços
2015). ecossistêmicos necessários para a região, país e
mundo.
Cenários climáticos futuros para toda a região do
MATOPIBA indicam queda substancial da Alterações na utilização da terra que ocorrem em
precipitação (entre 10 e 20%) nas próximas décadas. diversos níveis espaciais e dentro de vários períodos
A redução da precipitação prevista contrasta com o são as expressões materiais, dentre outros, da
atual aumento da demanda de recursos hídricos, dinâmica ambiental e humana e de suas interações,
especialmente para a irrigação agrícola na região que são mediadas pelo uso da terra. Estas mudanças
(IPCC 2014), com destaque aos municípios de Cocos no uso e cobertura da terra têm efeitos benéficos e,
e Jaborandi. Do mesmo modo, estão previstos às vezes, impactos e efeitos prejudiciais, sendo que
aumentos graduais na temperatura anual, na devemos estar atentos a estes últimos que podem
frequência de dias quentes e a diminuição da prejudicar os primeiros e o bem-estar humano. O
evapotranspiração, que poderão afetar as atividades interesse científico e dos administradores de recursos
econômicas na região do MATOPIBA (Nóbrega et al. naturais e nas mudanças do uso da terra tem uma
2017, Salvador & Brito 2017). longa história, pois não há, em nenhum lugar do
planeta, como usar a terra e seus recursos sem causar
As mudanças no uso da terra e os cenários para a
nenhum dano.
região requerem uma reflexão sobre o as políticas
públicas e o ordenamento do uso e ocupação das Estudar os usos e a cobertura da terra, em diferentes
terras em todos os municípios da região. Destaque escalas é, portanto, assunto chave para a gestão
especial aos municípios de Cocos e Jaborandi que, sustentável do território e os municípios deveriam
embora tenham ampliado as áreas agricultáveis e a estar atentos para, ao fazerem este exercício,
produção agrícola, apresentam juntos mais de 70% discutirem quais mudanças no uso da terra serão
de remanescentes de vegetação nativa. A mais adequados para manter a economia e a
conservação desses remanescentes, entretanto, qualidade de vida saudável para seus habitantes.
requer a devida valoração econômica para garantir a Portanto, este capítulo tem por objetivo analisar os
sua manutenção futura. Tais remanescentes são usos e cobertura da terra nos municípios de Cocos e
relevantes do ponto de vista da conservação da Jaborandi, localizados na região do MATOPIBA, e

gura 1. Localização geográfica dos municípios de Cocos e Jaborandi no estado da Bahia e Brasil.

248
gura 2. Localização geográfica dos municípios de Cocos e Jaborandi e Unidades de Conservação.

discutir possíveis efeitos das mudanças de uso sobre destes municípios foram considerados de alta a muito
a qualidade ambiental deste território. alta prioridade de conservação.
Municípios de Cocos e Jaborandi O clima predominante em Cocos e Jaborandi é o do
Os municípios de Cocos e Jaborandi estão localizados tipo tropical semiúmido, com temperaturas médias
no sudoeste do estado da Bahia (Figura 1) e na parte acima de 18°C em todos os meses do ano e
sul da região do MATOPIBA. O município de Cocos precipitação média anual de 1.200 mm. Apresenta
abrange 1.014.057 hectares e Jaborandi 999,448 períodos de seca bem definidos, com duração de 4 a
hectares, somando juntos 2.013.505 hectares. 5 meses (IBGE 2018).
Tratam-se de municípios caracterizados pela Os planaltos de topos aplainados unidos à extensa
predominância de vários de tipos de vegetação do rede hidrográfica e aos solos antigos, profundos e
cerrado e pela expansão da atividade agrícola, bem drenados, tornam a região propícia à
atraídos pela grande extensão de terras e abundância implantação da agricultura de alta tecnologia
de água para a irrigação (IBGE 2018). (EMBRAPA 2011). Latossolos e Neossolos ocupam
O Refúgio de Vida Silvestre (RVS) das Veredas do aproximadamente 46 e 50% de todo o território dos
Oeste Baiano e parte do Parque Nacional (PN) Grande municípios de Cocos e Jaborandi (Figura 3),
Sertão Veredas estão localizados nos municípios de respectivamente. Os solos Cambissolos e Gleissolos
Cocos e Jaborandi. Além disso, no sudoeste do ocupam os outros 5% da área de Cocos e Jaborandi
município de Jaborandi está localizada a Reserva (EMBRAPA 2011). Os cultivos agrícolas de maiores
Particular de Patrimônio Natural (RPPN) Lagoa do extensões ocupam predominantemente os
Formoso, dentro da Fazenda Trijunção (Figura 2). Latossolos, enquanto os remanescentes de vegetação
nativa ocupam predominantemente os Neossolos.
A maior parte dos territórios destes municípios foram
considerados de alta prioridade de conservação da Estima-se que a população atual de Cocos e Jaborandi
natureza em 2007 pelo Ministério do Meio Ambiente é de 18.746 e 8.496 habitantes, respectivamente. Em
– MMA. Do mesmo modo, a maior parte do entorno 2010, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

249
Figura 3. Tipos de solos (EMBRAPA, 2011) que ocorrem nos municípios de Cocos e Jaborandi no estado da Bahia.

era de 0,596 e 0,613 para Cocos e Jaborandi, recursos hídricos na região, especialmente durante
respectivamente (IBGE 2018). o período de seca com maior escassez de água na
Uso e cobertura da terra em 2000 e 2016 região.

Dados do projeto MAPBIOMAS (2017), acrescidos As formações savânicas e a vegetação campestre


com as áreas de irrigação, indicam que os municípios foram as mais atingidas pelo processo de expansão
agrícola e pecuária na região. Apesar disso, mais de
de Cocos e Jaborandi aumentaram 210.228 hectares
(10,4%) de área de agricultura e pastagens entre 2000 74% dos territórios de Cocos e Jaborandi ainda
e 2016. Enquanto aproximadamente 1,5 milhões de estavam cobertos por algum tipo de vegetação nativa
hectares estavam cobertos por diversos tipos de em 2016 (Figura 4).
vegetação nativa, outros 517 mil hectares estavam O resultado da conversão da vegetação nativa para
ocupados por vários tipos de uso antrópico nos dois usos antrópicos foi a fragmentação dos habitats nos
municípios em 2016. As áreas de agricultura municípios de Cocos e Jaborandi. Após o
aumentaram mais de 2500% (aproximadamente 128 desmatamento, os remanescentes da vegetação
mil hectares) entre 2000 e 2016, enquanto as áreas nativa ficam dispersos em manchas na paisagem. O
irrigadas aumentaram mais de 1000% no mesmo manejo e conservação dos fragmentos de vegetação
período, passando de aproximadamente 3 mil nativa é crucial para a conservação dos habitats e dos
hectares em 2000 para 34 mil hectares em 2016 serviços ecossistêmicos (Saunders et al. 1991). A
(Tabela 1). E, consequentemente, a expansão das restauração e conexão entre os fragmentos aumenta
áreas irrigadas levou a um aumento do consumo de o potencial das “ilhas de biodiversidade” e o fluxo da

250
Tabela 1. Uso e cobertura da terra nos municípios de Cocos e Jaborandi em
2000 e 2016.

Uso e cobertura da 2000 2016


terra
Hectares % Hectares %
Irrigação 3.107,60 0,2 33.709,90 1,7
Formação florestal 71.943,10 3,6 38.782,60 1,9
Formações savânicas 824.944,50 41 719.083,90 35,7
Plantações florestais 0,5 3E-05 12,7 0,001
Vegetação campestre 784.481,90 39 719.984,90 35,8
Pastagens 73.000,40 3,6 230.417,00 11,4
Agricultura 5.180,50 0,3 133.345,50 6,6
Agricultura ou
225.188,00 11,2 119.168,90 5,9
pastagem
Áreas não vegetadas 25.329,50 1,3 18.725,00 0,9
Infraestrutura urbana 0,7 4E-05 111,9 0,01
Corpos de água 323,3 0,02 157,8 0,01
Total 2.013.500,00 100 2.013.500,00 100
fauna e flora, promovendo a colonização das áreas uma alta prioridade de conservação dos
degradadas (Sartori et al. 2012). remanescentes, pois ainda não perderam seu
Potencial para os serviços ecossistêmicos patrimônio biológico natural e, consequentemente,
o seu alto potencial de prestação de ecoserviços (por
A biodiversidade, a integridade ecológica e a exemplo, a provisão de água, proteção contra erosão
qualidade da paisagem para o fornecimento de dos solos, manutenção de umidade e diminuição do
serviços ecossistêmicos estão diretamente albedo) na região.
relacionadas. A qualidade dos fragmentos de
vegetação nativa pode garantir a qualidade de um As áreas com predominância de pequenos
sistema fornecer serviços ecossistêmicos). Silva et al. fragmentos de vegetação natural devem ser
(2005) demonstraram a importância da conservação consideradas áreas prioritárias para restauração
da cobertura da terra sobre as perdas de água e solo, ambiental, especialmente as Áreas de Proteção
dissipando a energia cinética do impacto direto das Permanente e Reservas Legal das propriedades
gotas da chuva na superfície, diminuindo assim, a particulares. Destaca-se ainda a prioridade de
quantidade de sedimentos lixiviados. manutenção de remanescentes de vegetação nativa
com o objetivo de formação e fortalecimento de
Dentre os serviços ecossistêmicos, destacam-se os corredores ecológicos entre as Unidades de
ecoserviços de provisão de água com a proteção de Conservação (RVS Veredas do Oeste Baiano, PN
aquíferos, de recreação e turismo, de polinização, de Grande Sertão Veredas e RPPN Lagoa do Formoso)
proteção às lavouras (manutenção de inimigos de inseridas nos municípios de Cocos e Jaborandi. Nesse
pragas agrícolas) e de conservação da biodiversidade. aspecto os municípios em foco se diferenciam dos
Por exemplo, a proteção de aquíferos para provisão demais municípios do oeste baiano onde, devido à
de água depende da e qualidade de conservação de baixa representatividade de unidades de
seus remanescentes de vegetação nativa. conservação, possuem proporções maiores de
Os municípios de Cocos e Jaborandi apresentam vegetação convertida e maiores taxas de
diferentes graus de fragmentação da paisagem. A desmatamento.
maior parte dos territórios destes municípios Neste sentido, a restauração da vegetação nativa nas
apresenta fragmentos de vegetação nativa de áreas dos municípios de Cocos e Jaborandi (e do
tamanhos médios e grandes. Tal característica indica oeste da Bahia como um todo) contribuiria para

251
Figura 4. Tipos de uso e cobertura da terra em 2000 e 2016 adaptados do MapBiomas (2017) nos municípios de Cocos e
Jaborandi no estado da Bahia.

252
melhorar a conexão de fragmentos, a formação de IBAMA- Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
corredores ecológicos entre as áreas mais Recursos Naturais Renováveis. 2011.
conservadas e melhorar a prestação dos serviços Monitoramento do bioma Cerrado 2009-2010.
ecossistêmicos da região. A vulnerabilidade à perda Brasília: MMA, 2011. 65p. (Monitoramento do
destes serviços está diretamente relacionada ao desmatamento nos biomas brasileiros por satélite).
aumento do desmatamento para a expansão agrícola,
IBGE. 2018. Conheça as cidades e Estados do Brasil.
pecuária e urbana na região.
Disponível em <https://cidades.ibge.gov.br/>.
Com base no exposto e discutido ao longo deste Último acesso em 27/09/2018.
capítulo cabe uma síntese. Os usos agrícolas da terra
tem contribuído para o crescimento econômico e IBGE. 2018. Mapa de Clima do Brasil. Disponível em:
bem-estar das populações humanas, entretanto, <http://www.vizualizador.inde.gov.br/>. Último
quando excedem limites ecologicamente acesso em: 27/09/2018.
sustentáveis e alteram sobremaneira a IPCC. 2014. Climate Change 2014. New York: PRESS,
biodiversidade e seus serviços ecossistêmicos, C.U., 2014. 169p.
destroem a base da sustentabilidade que permitiria
o crescimento econômico e satisfação de Klink, C.A. & Machado, R.B. 2005. Conservation of
necessidades humanas provocando o colapso dos the Brazilian Cerrado. Conservation Biology, 19: 707-
sistemas de suporte ambiental, como o clima e o 713.
equilíbrio do ciclo hidrológico, entre outros Lahsen, M., Bustamante, M.M.C. & Dalla-Nora, E.L.
ecoserviços. Estas preocupações devem estar sempre 2016. Undervaluing and overexploiting the Brazilian
vivas e as comunidades agrícolas devem ter Cerrado at our peril. Environment: Science and Policy
consciência que, sem a conservação da for Sustainable Development, 58: 4-15.
biodiversidade, as paisagens rurais agrícolas não se
manterão sustentáveis ao longo do tempo. Por fim, Magalhães, L.A. & Miranda, E.E. 2014. Matopiba:
os produtores que adotarem medidas sustentáveis quadro natural. Campinas, SP: Embrapa, 2014. 41p.
devem ser devidamente reconhecidos, distinguidos (Nota Técnica 5).
e valorizados em nível local, regional e global para
MAPBIOMAS. 2018. Projeto MapBiomas – Coleção
motivar a adoção de ações semelhantes de forma
2.3 da Série Anual de Mapas de Cobertura e Uso de
mais ampla em toda a região onde os municípios de
Solo do Brasil. 2018. Disponível em:
Cocos e Jaborandi estão inseridos.
http://mapbiomas.org/ . Último acesso em
27/09/2018.
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Mustard, J.F. 2016. Land-use change affects water
recycling in Brazil's last agricultural frontier. Global
Change Biology, 22: 3405-3413.

255
256
Um trabalho como o presente livro não pode ser Elizane, Jairo Alkimim, Domingos, Creuze, Darci
produzido sem a colaboração de diversas pessoas, Rodrigues, Marcilia, Jairo Fernandes, Domingos
que contribuíram de diferentes formas, em Magalhães, Monoelino Abadia, Roselito, João Pereira,
diferentes momentos da longa história que aqui Pedro Pereira, Ronaldo Magalhães, João Alves,
resumimos. A todos gostaríamos expressar nosso Deucinei, Reis Messias, Fabio Brito, Raimundo Souza,
mais profundo obrigado e já pedimos desculpas caso, José Rodrigues, Ronie Cesar, Flavia Santos, Valdemar
por descuido ou caduquice, esqueçamos de alguém. Pingo, Jorge Gomes, Divino e José Poeta, João Grande
e Ana, Farneio, Antonio Cabral, Jeronimo Ferreira,
Ao longo da nossa história contamos com diversos
Jorge Gomes, Antonio Cabral, Wilson Rodrigues, Luiz
Amigos, Parceiros e Apoiadores, que foram essenciais
Fernando Flores, Ivanelio Alves, Reis Messias, Moisés
em diversos momentos, especialmente Judith
Azevedo, Wedson Alves Ronie Cézar, Flávia Santos e
Cortesão, John Nicholas Landers, John Cook, Scott
Pedro Pereira.
Morrow Lindbergh, Amauri Solon, James Ratter,
Felipe Ribeiro, Samuel Bridgewater, José Roberto Às nossas famílias, sem as quais nada faz sentido e
Marinho, Henrique Brandão Cavalcanti, Claudio que, por diversas vezes, não pudemos estar próximos
Savaget, Daniel Rios Borges, Sergio Brant Rocha, Luiz como gostaríamos. À Sally Thomson, pela valiosa
Sérgio Martins, Raoni Japiassu, Luana Nogueira tradução e revisão da língua inglesa de partes desse
(ICMBIO), Giselda Duringan, Cezar Victor do Espirito livro. Aos Revisores dos capítulos que se dispuseram
Santo, Ricardo Soavinski, Eduardo S. Martins, Adrian a contribuir voluntariamente com a qualidade técnica
Garda, Raquel Milano, Renata Gastal, Elza K.K. dos textos: Dr. Wilian Vaz-Silva, Pontifícia
Savaget, Analzita Muller, Kobe Soares, Edsel Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás; Dra.
Nascimento, Clayton Ferreira Lino, Maria Clorinda Luane Reis dos Santos, Departamento de Zoologia,
Soares Fioravanti, José Geraldo Cândido, Paulo Universidade de Brasília; Dr. Nicolás Pelegrin,
Bertran W. Chaibub, Nathalie de Pompignan, Wendy Universidad Nacional de Córdoba, FCEFyN, Centro de
Glenn, Warren Glenn, Kelly Kimbro, Robin Alpin Zoología Aplicada, Investigador Asistente IDEA-
McGregor, Maria Gabriela de O. Bragança, Wedson CONICET; Dr. Natan Medeiros Maciel. Universidade
Silva, Moisés Azevedo, Rodrigo Flores, Renata Federal de Goiás, Instituto de Ciências Biológicas,
Pitombo Figueiredo, Allan Figueiredo, Dora Trindade, Departamento de Ecologia; Dra. Clarisse Rezende
Irmã Else, Irmã Irma, Cleuza Lindsay, Henry Geraldo Rocha, Centro UnB Cerrado, Universidade de Brasília
Lindsay, Craig W. Bell, Dave Broad, David Wallace, e Fernando Straube, Hori Consultoria Ambiental.
Sally Thomson, Simon N. Wallace, Nicole Shuller, Paul Agradecemos Fernando de Sá Fortes pela
Shuller. Agradecemos ao Dr. José Mauricio Barbanti contribuição com o aprimoramento das figuras das
Duarte, Unesp Jaboticabal - SP, pelo incentivo e apoio capa.
ao programa de conservação ex-situ da fauna nas Aos autores pela excelente qualidade dos capítulos
Fazendas Trijunção. que compõem o livro pelo excelente trabalho.
Gostaríamos de expressar nosso especial Muito obrigado a TODOS!
agradecimento as pessoas que ajudaram, no dia a
dia, na logística dos trabalhos de campo e nos cursos
de ecologia do cerrado, agro-ecologia e artes: Dionice
Alves dos Santos, Maria do Carmo Alves de Souza,
Marcioniro Oliveira, Valmira Souza, Valdete, Marcilia,
Ruben Barbosa, Paulo Martins, Divina Martins, Dilson
Gonçalves, Ivo, Clarisse Silva, Girlene, Aparecida,

257
258
Siglas dos autores das fotos. Os números após os Ilustrações
nomes dos autores correspondem às páginas com Detalhe do quadro “O Cerrado “ - Maria Gabriela de
fotos sem legenda. Orleans e Bragança, 2002, p. 10
AMRB – Alexandra M. R. Bezerra “Fogo no Cerrado” - Jim Davis, 1999, p. 16. Quadro
AS - Antônio Sebben (91) produzido durante o curso Despertando talentos,
BDV – Beatriz Diogo Vasconcelos Ação Comunitária do Brasil, Rio de Janeiro.
CRB – Cibele R. Bonvicino “Vereda da Trijunção” - Maria Gabriela de Orleans e
DLP – Davi Lima Pantoja Bragança, 2002, p. 17.
DOM – Daniel Oliveira Mesquita “A coruja” - Robin McGregor, 2002, p. 18.
EDHM - Estefânia Dália Hofmman Mota (29, 163,
257) Notas
JEGC – José Eloi Guimarães Campos (229) Fotos do capítulo 3 de autoria dos autores.
JMSA – José Marcos dos Santos Abreu Foto da página 6: arquivo pessoal de James
MLR – Marcelo Lima Reis Alexander Ratter
MR – Marcos Rogério Foto da página 7: arquivo pessoal de John Landers
NJS - Neuber Joaquim dos Santos (55/56)
NN – Niquele Nunes
PSM – Paola S. da Mata
RAB - Reuber Albuquerque Brandão (10, 21, 26, 28,
45, 54, 89/90, 100, 127, 129/130, 131, 149/150,
151, 165/166, 167, 170, 181, 192, 195, 197/198,
199, 215/216, 217, 227/228, 243, 244, 245/246,
255, 259)
RDF - Renata Dias Françoso (5, 35, 41, 43/44, 57,
87, 247)
THM - Theodoro de Hungria Machado (27, 33/34)
WR - Werther Ramalho

259

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