Cadeia Produtiva e Prospecção Tecnológica Como Ferramentas PDF
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Resumo
Os estudos prospectivos são importante ferramenta para a formulação de estratégia. O
conceito de cadeia produtiva é de natureza holística, e foi desenvolvido como instrumento de
visão sistêmica. A análise prospectiva se apóia na premissa da complexidade e na necessidade
de explorar e entender esta teia de relações complexas, para se estabelecer possíveis
alternativas de futuro. Ocorre que as técnicas empregadas em geral não distinguem graus de
hierarquias entre as variáveis, setores e eventos, ou seja, não consideram o caráter sistêmico
das relações entre esses elementos, tornando difícil a criação de um marco lógico sobre o
passado e o presente, que possa apoiar a formulação de hipóteses de futuros plausíveis. Neste
trabalho, propõe-se que a adoção do enfoque sistêmico, traduzido no conceito de cadeias
produtivas, pode constituir-se em um marco lógico importante, para complementar as técnicas
prospectivas mais empregadas. Apresentam-se e discutem-se as vantagens da adoção deste
marco conceitual como facilitador de estudos prospectivos, tomando-se como exemplo
trabalhos desenvolvidos pelos autores. Apontam-se e discutem-se as técnicas analíticas
associadas ao conceito de cadeias produtivas e como estas podem auxiliar e facilitar a
realização de estudos prospectivos, como base para a formulação de estratégia.
1 – Introdução
Muito se fala sobre enfoque sistêmico, teoria de sistemas, holismo, enfoque holístico, nos
mais variados campos do conhecimento e de atividades sociais. Tais abordagens, entretanto,
nem sempre carregam um significado preciso, claro e de utilidade. Para esclarecer esta
questão, é preciso se reportar às duas grandes escolas do método cientifico, Estas escolas são a
reducionista ou reducionismo e a holística ou holismo, cada uma delas com os seus
procedimentos, conceitos e instrumentos específicos, mas ambas com o mesmo objetivo, o
avanço do conhecimento (Castro et al., 1998).
Como o reducionismo e o holismo possuem finalidade semelhante - a compreensão dos
fenômenos interativos da natureza e do homem - por princípio estas escolas são
complementares. Tal proposição é evidente, embora possa parecer que haja competição entre
holistas e reducionistas e seus processos de aquisição de conhecimento. Em princípio, o
objetivo do método científico seria a compreensão da complexidade.
O reducionismo não é suficiente para explicar todos os fenômenos, notadamente aqueles que
envolvem a atuação concomitante de mais de uma causa, que são explicáveis pela atuação
conjunta de variáveis. A existência de interações entre múltiplos fatores causais tem sido uma
das dificuldades enfrentadas pela escola reducionista na busca do conhecimento dos
fenômenos. Tal situação impede que determinados fenômenos mais abrangentes, como os que
envolvem conhecimentos interativos de ciências humanas, biológicas e exatas, possam ser
compreendidos na sua plenitude.
Foi dessa insatisfação com as limitações do reducionismo que nasceu a motivação para o
enfoque sistêmico, a aplicação do conceito de sistemas e das suas ferramentas ana líticas na
ciência. As leis mecanicistas do reducionismo não eram consideradas adequadas para explicar
as relações entre as entidades econômicas, ou as complicadas interações de variáveis
biológicas ocorrendo dentro dos seres vivos.
Foi o biólogo alemão Ludwig von Bertalanffy quem inicialmente estabeleceu a Teoria Geral
dos Sistemas (Bertalanffy, 1951; 1968; 1977) e posteriormente, em diversos artigos e foros
científicos, ajudou a consolidar esta nova metodologia científica. A motivação principal era a
busca de novas leis, que fossem mais aplicáveis ao estudo dos seres vivos, menos
contaminadas pela rigidez das leis da física clássica newtoniana e, portanto, mais favoráveis
ao conhecimento da suas complexas relações e interações.
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Pela teoria dos sistemas, o todo (ou o sistema) é o produto de partes interativas, cujo
conhecimento e estudo deve acontecer sempre relacionando o funcionamento dessas partes
em relação ao todo. Pode-se esboçar uma definição para o que seja um sistema :
Um colorário dessa definição é a noção de limite de sistema, ou seja, uma abstração que é
aplicada pelos estudiosos para separar um determinado sistema de seu particular interesse, de
todos os demais que compõem o universo. Como a natureza é em geral um enorme complexo
de componentes interativos, e esta abrangência nem sempre é de interesse de um determinado
estudioso, a idéia de estabelecer limites permite a apreciação de conjuntos menores de
componentes interativos, facilitando o entendimento do seu funcionamento.
Do conceito de limite deriva-se um outro muito importante para o estudo dos sistemas, o de
hierarquia. Enquanto o conceito de limite está relacionado com os objetivos a alcançar, o
conceito de hierarquia decorre do fato de existirem na natureza sistemas dentro de sistemas,
numa ordem decrescente, onde um determinado sistema passa a ser componente, um subsistema
numa escala hierárquica mais alta e contém outro subsistema numa escala mais baixa. Em termos
didáticos, poder-se-ia imaginar sistemas em camadas hierárquicas, conforme expressa a Figura1.
Figura 1 – O conceito de hierarquia de sistemas
Comunidade
População
Organismo
Tecido
Célula
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Os primeiros trabalhos aplicando este conceito surgiram na década de 80, tendo sido
amplamente expandidos na década de 90. Contribuiu para esta expansão o desenvolvimento
de ferramentas analíticas consistentes (Castro et al., 1995 e 1998; Zylbersztajn, 1994; Batalha,
1995). Estas contribuições ampliaram o uso do enfoque sistêmico e de cadeias produtivas em
estudos e projetos de desenvolvimento, para ampliar a compreensão, a intervenção e a gestão
no desempenho da agricultura.
O enfoque de cadeia produtiva provou sua utilidade, para organizar a análise e aumentar a
compreensão dos complexos macroprocessos de produção da agricultura e para se examinar
desempenho desses sistemas, determinar gargalos ao desempenho, oportunidades não
exploradas, processos produtivos, gerenciais e tecnológicos. Ao incorporar na metodologia
alternativas para análise de diferentes dimensões de desempenho das cadeias produtivas ou de
seus componentes individualmente, como a eficiência, qualidade, competitividade,
sustentabilidade e a equidade, esta tornou-se capaz de abranger campos sociais, econômicos,
biológicos, gerenciais, tecnológicos, o que ampliou possíveis aplicações desse enfoque para
um grande número profissionais e de instituições. Entre estas aplicações, aquelas relacionadas
com a prospecção tecnológica e não tecnológica.
AMBIENTE ORGANIZACIONAL
PROPRIE -
FORNECE - COMÉRCIO COMÉRCIO
CP1 DORES DE
DADE
S IR
AG STÍCOLA
AGRO -
INDÚSTRIA ATACADISTA VAREJISTA
CONSUMIDOR
FINAL
INSUMOS PROD,1,
T5 2,3... n T4 T3 T2 T1
PROPRIE-
FORNECE- DADE AGRO- COMÉRCIO COMÉRCIO CONSUMIDOR
DORES DE S IR
ST ATACADISTA VAREJISTA
CP2 INSUMOS
AG ÍCOLA
PROD,1,
INDÚSTRIA FINAL
T5 2,3... n T4 T3 T2 T1
PROPRIE -
FORNECE - DADE AGRO - COMÉRCIO COMÉRCIO CONSUMIDOR
CP3 DORES DE S IRS ÍTC O L A
AG INDÚSTRIA ATACADISTA VAREJISTA FINAL
INSUMOS PROD,1,
T5 2,3... n T4 T3 T2 T1
NOVOS
PROPRIE - MERCADOS
FORNECE - DADE AGRO - COMÉRCIO COMÉRCIO CONSUMIDOR
CPn DORES DE S IR
AG STÍCOLA INDÚSTRIA ATACADISTA VAREJISTA FINAL
INSUMOS PROD,1,
T5 2,3... n T4 T3 T2 T1
AMBIENTE INSTITUCIONAL
Pode-se mencionar aplicações na gestão estratégica das cadeias produtivas (gestão de negócios),
no desenvolvimento setorial, na formulação de políticas publicas e na gestão estratégica de
tecnologia e de P&D. São exemplos dessas aplicações as seguintes:
AMBIENTE ORGANIZACIONAL
PROPRIE-
F O R N E C E- COMÉRCIO COMÉRCIO CONSUMIDOR
DADE AGRO-
DORES DE AGRÍCOLA INDÚSTRIA ATACADISTA VAREJISTA FINAL
INSUMOS
SIST
PROD,1,
2,3... n
T5 T4 T3 T2 T1
AMBIENTE INSTITUCIONAL
Examinando-se o modelo geral da cadeia produtiva, identificam-se alguns elementos que são
característicos de sistemas, como os componentes interconectados, neste caso organizações
dedicadas a alguma função produtiva direta ou a processo conexo à produção, como a
comercialização; os fluxos de materiais (setas brancas) de capital (setas negras) ou de informação
(setas ponteadas). Os componentes que determinam a especificidade da cadeia produtiva para a
agricultura são a propriedade agrícola e a agroindústria. Nestes, os produtos que serão
comercializados e consumidos são especificados (por exemplo, soja em grãos, café em pó, carne
enlatada).
Todavia, a aplicação do conceito, e o conseqüente desenvolvimento conceitual e metodológico
no tema (Castro et al. 1995; 1999), revelaram que este modelo pode ser aplicado para atividades
produtivas de outra natureza que não a agrícola, como a produção de produtos industriais.
Tomando-se como referência o modelo geral da Figura 3, para representar a atividade produtiva
de produtos oriundos da indústria, sem relação direta com a agricultura, basta eliminar o elo
propriedade agrícola. Os demais componentes da cadeia produtiva serão de mesma natureza que
os de uma cadeia produtiva agrícola, ou seja, fornecedores de insumos para a indústria,
comercialização atacadista e varejista, consumidores finais. Também se identificam nesse caso
um fluxo de materiais, capital e informação, transações na cadeia, processos produtivos e fatores
de desempenho, como eficiência produtiva, qualidade de produtos e processos, competitividade,
equidade como expressão de apropriação de benefícios ao longo da cadeia produtiva.
As semelhanças apontadas não ocorrem por acaso, uma vez que estes elementos são comuns ao
enfoque sistêmico. Apenas reforçam a idéia central da teoria geral de sistemas, de que os
fenômenos sociais, econômicos, físicos, biológicos são sistêmicos e que o enfoque sistêmico é
uma das boas ferramentas disponíveis no método científico, para aumentar a compreensão
isolada e interativa desses fenômenos.
Talvez por esta compreensão ampliada que a visão sistêmica oferece aos seus praticantes, o que
iniciou como uma abordagem setorial, o enfoque de cadeias produtivas agrícolas, passou a ser
adotado por outros setores da economia, como o setor industrial, gerando o enfoque em cadeias
produtivas industriais. Esta evolução aponta na direção da universalização do conceito, para
representar e compreender, orientar a intervenção e realizar a gestão de macro-processos
produtivos.
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Esta generalidade do enfoque permite que se possa referir, de uma maneira geral, a um enfoque
sistêmico em cadeias produtivas. Na seqüência, apresenta-se uma discussão da importância desse
enfoque para a realização de estudos prospectivos e exemplos dessa natureza.
O conceito de futuro tem relação com algumas dimensões fundamentais (Marinho & Quirino,
1995): a primeira delas é o tempo, cuja percepção e medida estão, em algumas sociedades,
relacionadas com os ciclos da natureza. Esta percepção do tempo (e de seus indicadores)
como ligada a fenômenos naturais que se repetem, leva a um conceito de futuro como uma
seqüência natural do passado e do presente. Outra dimensão importante diz respeito ao
progresso tecnológico: esta dimensão traz uma perspectiva de evolução e mudança, para as
sociedades industriais, o que rompe com a idéia anterior de futuro como continuação do
passado. Implica em um ambiente turbulento, em constante mutação, no qual os estudos de
futuro se tornam, ao mesmo tempo, mais difíceis e necessários.
As noções de incerteza e de ambiente turbulento se combinam para originar o conceito de
futuro adotado neste texto. Por este conceito, o futuro é visto como o resultado da interação
entre tendências históricas e a ocorrência de eventos hipotéticos (Castro et al., 1999, citando
Johnson, B.B.). Este conceito de futuro está fortemente vinculado a chamada “visão
prospectiva”, em estudos de futuro. Por outro lado, incorpora também elementos da escola
americana de estudos de futuro (forecasting ou estudos tendenciais) ao considerar as
tendências históricas para desenvolver sua análise.
As duas abordagens de estudos de futuro – a clássica e a prospectiva (ou foresigth) – não são
excludentes, e na verdade apresentam complementaridade. Quer utilizem princípios do estudo
tendencial clássico ou de prospecção, os estudos do futuro não podem prescindir de: a)
identificar padrões no comportamento das variáveis presentes no sistema sob estudo; b)
identificar relações entre estas variáveis.
Diversas abordagens metodológicas estão disponíveis nas duas escolas. Na escola
prospectiva, estes métodos e técnicas tem sido descritos por muitos autores, entre eles Castro
et al. (2001). As mais utilizadas internacionalmente são as técnicas de elaboração de cenários
e a técnica Delphi. Todavia, nenhuma dessas técnicas oferece ferramentas simples e
poderosas para organizar a complexidade inerente aos diversos ambientes internos e externos
dos temas dos estudos, e os seus diversos contextos (social, econômico, tecnológico,
gerencial, biológico, ambiental) que podem se inter-relacionar para compor diferentes
possibilidades de futuro.
Neste ponto reside um fator crítico de qualidade dos estudos prospectivos. Sem um bom
mapeamento das forças e eventos importantes que determinaram o passado e moldam o
presente, é impossível traçar boas visões de futuros plausíveis, com robustez suficiente para
orientar a formulação de estratégias. Visão de futuro sem conhecimento das ocorrências e
decorrências passadas e presentes é exercício de adivinhação e ficção, é conhecimento
mágico. Pode até se confirmar, mas a forma de se chegar a esta visão dificilmente poderá ser
incorporada na metodologia científica e gerencial.
O enfoque sistêmico pode agregar as ferramentas necessárias para solucionar esta dificuldade
metodológica. Quando se trata de produção de bens de consumo, as cadeias produtivas são o
tipo adequado de enfoque sistêmico a adotar. Na Figura 4, ilustra-se a complexidade inerente
a este processo de análise e como o enfoque sistêmico pode ser utilizado como ferramenta
analítica.
Utilizando os princípios da análise de sistemas e cadeias produtivas, propõe-se (Castro et al.,
1995; 2000) que um sistema pode ser caracterizado por seu desempenho, ou sua capacidade
de transformar insumos em produtos. Este desempenho pode ser representado por fatores
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críticos de desempenho, conforme representado pelas setas na Figura 4. Por sua vez, estes
podem ser afetados por forças propulsoras e restritivas. Uma força propulsora ou restritiva é
qualquer variável (ou grupo de variáveis, ou estrutura) que afeta fortemente o desempenho de
um sistema, de um modo positivo ou negativo. As forças propulsoras, portanto, mantêm uma
correlação positiva com o fator crítico, enquanto as forças restritivas apresentam uma
correlação negativa com aquele fator.
FORÇAS
RESTRITIVAS
RESTRITIVAS SN
DESEMPENHO
CP
FATOR FUTURO
CRITICO
DO
FATOR SP
CRITICO SISTEMA
FORÇAS
PROPULSORAS
PROPULSORAS
FORÇAS
PROPULSORAS
PROPULSORAS
SN=SISTEMA
SN=SISTEMA NATURAL
NATURAL CP=CADEIA PRODUTIVA SP=SISTEMA PRODUTIVO
PR ODUTIVO
Ao utilizar a abordagem descrita na Figura 4, se estará aplicando uma das ferramentas mais
poderosas do enfoque sistêmico, a análise de sistemas. Um sistema está analisado quando se
definem os seus objetivos, razão pela qual ele opera; os seus insumos, ele mentos entrando no
sistema; os seus produtos, elementos saindo do sistema; os seus limites; os seus componentes,
elementos internos que transformam insumos em produtos; os fluxos, movimento de elementos
entre os seus componentes, definindo as variáveis de estado e as taxas de fluxo, que podem ser
utilizadas para se medir o comportamento dinâmico e o desempenho do sistema (Saravia, 1986).
Além destes elementos, se estará decompondo a complexidade do sistema estudado em
hierarquias, com limites bem definidos e utilizando-se as técnicas de modelagem de sistemas.
Estas ferramentas ajudam na identificação e descrição das relações entre fatores críticos e suas
forças propulsoras e restritivas, na construção de uma rede de relações de causa e efeito que
terá um impacto sobre o desempenho do sistema que está sob análise. Determinar esta rede é
um passo essencial para a análise diagnóstica de um sistema, mas especialmente, para sua
análise prospectiva.
produtos com valor agregado ou diferenciados por algum tipo de característica distintiva e
produtos do tipo commodities. O estabelecimento de vantagem competitiva será diferente em
cada caso.
Em cadeias produtivas produtoras de commodities a competitividade é principalmente
estabelecida por baixos custos, que permite lucratividade para os segmentos da cadeia
produtiva, mesmo quando os preços dos produtos são baixos. Isto significa uma eficiência
produtiva maior, ao longo de toda a cadeia produtiva. Notar que a análise da cadeia produtiva
neste caso é comparativa, abrangendo as cadeias produtivas concorrentes.
Uma outra situação específica de competitividade é a que envolve produtos com valor
agregado, ou produtos diferenciados, onde a vantagem competitiva será estabelecida a partir
de um desempenho maior em qualidade de produtos, ou seja, no estabelecimento de uma
imagem de diferenciação, produtos que são reconhecidos pelos seus consumidores como
possuindo características diferenciadas. Esta diferenciação está relacionada com a emergência
de oportunidades e constitui-se num dos elementos importantes, para a formulação de
estratégias de gestão das cadeias produtivas.
4.2.3 – Processo de análise
A partir do modelo geral, os componentes da cadeia produtiva são qualificados e
quantificados, bem como as suas relações, sob a forma de transações. Definem-se os critérios
de mensuração de desempenho da cadeia produtiva entre os de eficiência produtiva,
qualidade, competitividade, sustentabilidade ou equidade. O desempenho será analisado em
relação a um ou a múltiplos critérios. A análise é conduzida considerando-se um fluxo de
capital, que se inicia no consumidor final e se desenvolve na direção do elo final da cadeia, os
fornecedores de insumos. As entradas e saídas de capital em cada componente são
quantificadas, para estudo individual da eficiência, qualidade e competitividade e da
distribuição de benefícios na cadeia.
Definido o desempenho dos componentes, o passo seguinte é explicar o seu comportamento.
O desempenho da cadeia produtiva será estudado, examinando-se os processos produtivos de
cada componente. Neste exame, identificam-se as variáveis críticas, denominadas fatores
críticos de desempenho, aquelas de maior impacto no(s) critério(s) de desempenho eleito(s), e
que explicam o funcionamento atual e passado da cadeia. Identificadas tais variáveis procede-
se à análise prospectiva, construindo-se as projeções futuras de desempenho da cadeia
produtiva e sobre o comportamento das variáveis críticas, sob o ponto de vista da eficiência,
qualidade, competitividade e equidade.
Os sistemas produtivos primários são, do ponto de vista da pesquisa agropecuária, um dos
elos mais importantes das cadeias produtivas. Por isso, a análise deste componente merece
maior atenção por parte do centro de P&D em agropecuária e deve ser realizada de forma
mais aprofundada, conforme expresso na Tabela 1.
Uma vez classificados, a partir da segmentação baseada em características tecnológicas,
ambientais e sócio-econômicas, os sistemas produtivos são analisados, considerando as
operações de manejo efetuadas, as entradas (ou custos) destas e a contribuição para formação
das saídas do sistema (receitas). A análise deve estimar qual a produtividade potencial e
econômica daquele sistema e quais as variáveis que se constituem em fatores críticos (atuais e
futuros) para se atingir tais parâmetros.
As demandas serão a síntese dos fatores críticos de maior impacto, atual e futuro, sobre o
desempenho do sistema produtivo, representado como eficiência, qualidade, competitividade
ou sustentabilidade.
Para facilitar a coleta de dados sobre desempenho das cadeias e sistemas produtivos, foram
desenvolvidos alguns instrumentos auxiliares para a busca de informação. Há também um
grande número de técnicas de pesquisa que podem ser empregadas. Para uma visão mais
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6 – Conclusão
A prospecção tecnológica é uma importante ferramenta para a gestão estratégica. Todavia, o seu
uso tem sido restrito a umas poucas áreas de excelência no País, em função das dificuldades
conceituais e metodológicas enfrentadas pelas equipes executoras de estudos prospectivos, em
organizar e compreender a complexidade dos sistemas.
O enfoque sistêmico e suas ferramentas analíticas oferecem uma importante contribuição para a
realização desses estudos. Ao decompor a complexidade do sistema estudado em hierarquias,
com limites bem definidos, utilizando-se as técnicas de modelagem de sistemas, estas
ferramentas ajudam na identificação e descrição das relações entre fatores críticos e suas forças
propulsoras e restritivas, na construção de uma rede de relações de causa e efeito que terá um
impacto sobre o desempenho do sistema. Tal abordagem representa uma vantagem, que pode
contribuir para melhorar a capacidade analítica das equipes e difundir a realização e o uso
desses estudos.
O enfoque sistêmico, traduzido na abordagem de cadeias produtivas, é aplicável em macro-
processos produtivos de qualquer natureza. Esta abordagem, inicialmente mais difundida no
setor agrícola e nas suas organizações de P&D, já foi utilizada, com sucesso, em outros setores
produtivos, como o setor industrial. Tal constatação aponta para a emergência de um enfoque
metodológico de grande capacidade de extrapolação e de ampla aplicação.
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