CP Iuris - Ebook de Direito Empresarial PDF
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DIREITO EMPRESARIAL
1ª edição
Brasília
CP Iuris
2020
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SOBRE O AUTOR
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SUMÁRIO
1. Introdução ................................................................................................................................ 24
a) Profissionalismo ............................................................................................................ 31
c) Atividade organizada...................................................................................................... 32
4
1.1.4. Espécies de empresário ................................................................................................ 33
c) Leiloeiro......................................................................................................................... 35
d) Incapaz .......................................................................................................................... 35
c) Cooperativas .................................................................................................................. 37
5
1.4. Registro das Cooperativas ................................................................................................... 45
1. Conceito ................................................................................................................................... 52
1. Conceito ................................................................................................................................... 58
6
2. Princípios do Nome Empresarial ................................................................................................ 59
1. Introdução ................................................................................................................................ 63
3. Publicidade ............................................................................................................................... 63
7
4. Classificação das sociedades ...................................................................................................... 71
4.4. Quanto à composição (ou quanto às condições de alienação da participação societária) ...... 73
8
8.1.2. Causas de dissolução parcial ......................................................................................... 81
1.9.2. Responsabilidade por débitos enquadráveis como dívida ativa tributária ou não tributária
............................................................................................................................................. 89
9
2.1. Introdução ......................................................................................................................... 92
5. EIRELI........................................................................................................................................ 96
10
6.5. Responsabilidade limitada do acionista ............................................................................. 101
11
6.10. Acionista controlador ..................................................................................................... 114
12
3. Previsão Constitucional ........................................................................................................... 126
6.3. Prazo de proteção das patentes de invenção e de modelo de utilidade .............................. 131
7. Registros................................................................................................................................. 133
13
7.2.2. Espécies de marca ...................................................................................................... 135
14
4.4. Quanto à circulação .......................................................................................................... 145
b) Endosso-caução/penhor/pignoratício........................................................................... 149
c) Endosso-fiduciário........................................................................................................ 149
8. Protesto.................................................................................................................................. 153
15
11. Cheque ................................................................................................................................. 156
12.5. Duplicata virtual (duplicata eletrônica ou sob forma escritural) ....................................... 163
16
13.4. Títulos de investimentos ................................................................................................. 166
8.2. Requisitos para que o devedor possa pedir recuperação .................................................... 172
17
d) Prazo de duração da recuperação judicial ..................................................................... 180
18
9.5.1. Impontualidade injustificada ...................................................................................... 191
19
9.16.2. Efeitos da falência quanto aos credores .................................................................... 201
20
h) Créditos subordinados ................................................................................................. 209
4. Teoria da imprevisão (cláusula rebus sic stantibus) e pacta sunt servanda ................................ 216
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6.4. Contrato de chegada ........................................................................................................ 220
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4.1. Alienação fiduciária em garantia ....................................................................................... 235
6. Capitalização........................................................................................................................... 244
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1. Introdução
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Esse ainda é um período de descentralização política, isto é, cada feudo tinha suas leis,
ordálias e leis consuetudinárias. A construção dos estados nacionais modernos é um fenômeno
posterior.
Com isso, os comerciantes (os mercadores, aqueles que se dedicavam à atividade
econômica) puderam se organizar em associações privadas (famosas corporações de ofício),
criando as próprias regras que regulariam as atividades que exerciam. Assim nasceu o Direito
Comercial.
As corporações criavam suas próprias regras e seus próprios institutos com base nas
práticas usuais do mercado e compilavam tais regras e institutos em seus estatutos (Direito
Estatutário – por isso, essa época é conhecida como “época do Direito Estatutário italiano”),
aplicando-os aos seus respectivos membros, quando necessário, por meio de uma jurisdição
própria (juízos ou tribunais consulares).
Não havia participação do Estado nem na produção nem na aplicação desse Direito,
porque as regras eram os usos e costumes de cada localidade, além de serem aplicadas por
juízos ou tribunais consulares, praticamente juízos arbitrais, pessoas escolhidas pelos próprios
comerciantes, como cônsules e árbitros.
Ausente um poder central forte destinado a assegurar a paz pública e a ordem jurídica,
aqueles que exerciam o mesmo ofício se reuniam em associações ou corporações como forma
de prover a defesa de seus interesses. Como nos traz Mello Franco, o regulamento básico dessas
corporações estava consubstanciado em estatutos, nos quais foram transcritos e fixados os
costumes decorrentes da prática mercantil.
Depois desse período, o Direito Comercial evolui e entra na era das codificações. É assim
que o Direito Comercial atinge sua “maioridade”, separando-se claramente do Direito Civil, ao
ponto de cada um ter seu próprio diploma legislativo.
Nessa mesma época, destaca-se a formulação da Teoria dos Atos de Comércio,
formulada para delimitar a abrangência dessas regras especiais que compõem o Direito
Comercial.
Após o seu período inaugural de afirmação como um direito específico, ou como um
regime jurídico autônomo, distinto e separado do direito comum, o Direito Empresarial iniciou
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um intenso processo evolutivo, adotando, ao longo dele, basicamente dois sistemas para a
disciplina da atividade econômica: o francês, conhecido como Teoria dos Atos de Comércio – em
sua segunda fase, já no período das codificações; e o italiano, conhecido como Teoria da
Empresa – em sua terceira fase, que se inicia com a edição do Código Civil italiano de 1942.
Em virtude da Teoria dos Atos de Comércio, nessa segunda fase do Direito Comercial,
podemos perceber uma importante mudança quanto à mercantilidade, que antes era definida
pela qualidade dos sujeitos da relação jurídica (o Direito Comercial era o direito aplicável aos
membros das Corporações de Ofício), e passa a ser definida pelo seu objeto (os atos de
comércio). Em outras palavras, o que importa agora não é quem são os atores da relação
jurídica, mas qual é o objeto dessa relação. Se o objeto é um ato de comércio, assim definido
em lei, essa relação jurídica é uma relação comercial, e, portanto, será regida pelas regras do
Direito Comercial, que estão em um código próprio de normas: o Código Comercial.
É uma importante mudança que surge no Direito Comercial. A mercantilidade deixa de
ser definida pelo sujeito e passa a ser definida pelo objeto. Por essa razão, afirma-se que nessa
época houve uma objetificação do Direito Comercial:
Alguns países optaram por dar uma definição genérica de atos de comércio, ou seja,
todas as relações jurídicas que se enquadrassem naquela definição seriam consideradas atos de
comércio. Outros ordenamentos jurídicos, como o Brasil, por exemplo, optaram por estabelecer
um rol de atividades que eram consideradas atos de comércio (Regulamento 737, de 1950).
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mais extensa que fosse a lista de atos de comércio criada, algumas atividades acabavam ficando
de fora, gerando uma disciplina anti-isonômica do mercado, uma vez que alguns agentes
econômicos seriam caracterizados comerciantes, e, portanto se sujeitariam a todas as regras do
regime jurídico comercial, enquanto outros agentes econômicos, que praticavam atividades que
não se enquadravam no conceito de atos de comércio, ou não estavam na lista de atos de
comércio, não seriam considerados comerciantes, e, portanto, ficariam fora desse regime
jurídico.
Exemplos da situação acima descrita: (a) a prestação de serviços inicialmente não era
caracterizada como ato de comércio; (b) a negociação de bens imóveis não era considerada
mercantil, só era considerada mercantil a negociação de bens móveis e semoventes; (c) as
atividades rurais historicamente foram excluídas dos atos de comércio; (d) os atos mistos às
vezes eram atos de comércio para uma das partes e não eram para a outra.
Havia, portanto, necessidade de se estabelecer outro critério, uma nova teoria, que
desse abrangência ao Direito Comercial, que englobasse todas as atividades econômicas, e não
apenas aquelas atividades comerciais, mercantis, porque, com o passar do tempo e a
complexidade da economia, percebeu-se que o comércio propriamente dito deixou de ser a
atividade mais importante, ou a única atividade econômica relevante.
a) o perfil subjetivo, pelo qual a empresa seria uma pessoa (física ou jurídica), ou
seja, o empresário;
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b) o perfil funcional, pelo qual a empresa seria uma “particular força em movimento
que é a atividade empresarial dirigida a um determinado escopo produtivo”, ou seja,
uma atividade econômica organizada;
c) o perfil objetivo (ou patrimonial), pelo qual a empresa seria um conjunto de bens
afetados ao exercício da atividade econômica desempenhada, ou seja, o
estabelecimento empresarial; e
d) o perfil corporativo, pelo qual a empresa seria uma comunidade laboral, uma
instituição que reúne o empresário e seus auxiliares ou colaboradores, ou seja, “um
núcleo social organizado em função de um fim econômico comum”. (CRUZ, 2019).
Santa Cruz afirma que o perfil corporativo estaria ultrapassado “pois só se sustentava a
partir da ideologia fascista que predominava na Itália quando da edição do Código Civil de 1942”
(CRUZ, 2019). Mas já caiu em prova a afirmação de Bugarelli no sentido de que o aspecto
corporativo, no Brasil, se submete ao regramento da legislação trabalhista.
De qualquer modo, é possível constatar que os demais perfis guardam correlação com
importantes focos de estudo do direito empresarial: o empresário (perfil subjetivo); o
estabelecimento (perfil objetivo); e a atividade empresarial (perfil funcional).
O Código Civil italiano também promoveu uma unificação formal do direito privado,
disciplinando as relações civis e comerciais em um único diploma legislativo. Essa unificação foi
meramente formal, porque a partir de agora tudo estava em um único diploma legislativo, mas
materialmente/substancialmente, Direito Civil e Direito Comercial continuaram a ser ramos
distintos.
O nosso atual Código Civil se inspira fortemente na codificação italiana.
Como destaca Fábio Ulhoa:
Isso porque o conceito de empresa, como atividade econômica organizada, é muito mais
abrangente do que o conceito de ato de comércio, que está preso à atividade mercantil de troca,
o comércio propriamente dito. Por outro lado, a empresa é toda e qualquer atividade
econômica, comércio, prestação de serviço, indústria, etc.
Então, a partir do Código Civil Italiano, o conceito de empresa é que passa a orientar
todo o regime jurídico empresarial. Por isso que o nome mudou de Direito Comercial para
Direito Empresarial, porque se abandona a Teoria dos Atos de Comércio e se passa para a Teoria
da Empresa.
• Revolução Industrial – o mercado ganha uma complexidade tal que o comércio deixa
de ser a atividade econômica mais relevante para ser apenas mais uma das atividades
econômicas praticadas no mercado;
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• Código Civil italiano de 1942 – rompe-se com a tradição das codificações de separar o
direito privado em diplomas legislativos;
• Unificação do Direito Privado – não significa que o Direito Empresarial perdeu sua
autonomia. Materialmente, Direito Civil e Direito Empresarial continuam sendo direitos
distintos e autônimos, mas as regras nucleares estão no mesmo diploma legislativo, no Código
Civil.
• Teoria da Empresa – Substituição da Teoria dos Atos de Comércio.
Antes da chegada da família real ao Brasil, as leis que vigoravam aqui eram as leis de
Portugal, as Ordenações do Reino (antes tivemos as Ordenações Manuelinas, Afonsinas,
Filipinas).
Com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, dão-se os primeiros passos para o
advento de um Direito Comercial propriamente brasileiro, porque começa a existir um amplo
movimento reivindicatório da criação de leis nacionais, que viria a culminar na edição do Código
Comercial de 1850.
O Código Comercial brasileiro, inspirando-se no Código Comercial Napoleônico, adota a
Teoria dos Atos de Comércio. O Brasil opta por estabelecer um rol de atividades caracterizadas
como atos de comércio.
Os mesmos problemas apontados para a Teoria de Atos de Comércio no mundo
aconteciam também no Brasil, o que perdurou até há pouco tempo, porque nossa transição da
Teoria dos Atos de Comércio para a Teoria da Empresa apenas se deu em 2002, com o atual
Código Civil.
Mas a partir da edição do Código Civil Italiano de 1942 e da importação para o Brasil das
ideias da Teoria da Empresa, o cenário já havia começado a mudar. Nas décadas de 50 e 60, a
doutrina brasileira começa a falar da Teoria da Empresa e a abordar com mais ênfase as
vicissitudes da Teoria dos Atos de Comércio. Ademais, prolatam-se decisões judiciais inspiradas
na Teoria da Empresa e há a edição de leis inspiradas na Teoria da Empresa (por exemplo, o
conceito de fornecedor no Código de Defesa do Consumidor, muito mais abrangente que no
Código Comercial). Esse movimento culmina, por fim, com a edição do Código Civil de 2002, que
completa a transição da Teoria dos Atos de Comércio para a Teoria da Empresa no ordenamento
jurídico brasileiro.
O CC de 2002 adota, então, a Teoria da Empresa, abandona a Teoria dos Atos de
Comércio e tenta a unificação formal do direito privado (sob um código apenas, embora
preservando a autonomia das disciplinas). Como o Brasil demorou muito para fazer essa
transição, quando o CC de 2002 foi editado, vivia-se a era dos microssistemas legislativos, e essa
ideia de codificação é oitocentista, presunçosa de que seria possível esgotar o tratamento
legislativo de uma matéria em um único diploma legislativo. A ideia atual é oposta, dada a
complexidade do mercado e da relação econômica e social. A unificação seria ruim, inclusive,
porque engessaria esse ramo do direito.
Embora o CC de 2002 tenha trazido essa intenção de unificação formal do direito
privado, acaba cuidando muito pouco do Direito Empresarial, pois existem diversas leis
especificas que tratam da matéria.
Há alguns anos, tramita no Congresso Nacional, projeto de Código Comercial que tenta
revogar a parte do Código Civil que trata do Direito Empresarial, retornando-se à existência de
um Código Comercial autônomo.
O Código Comercial de 1850 está em vigor apenas na parte segunda, de comércio
marítimo. Era dividido em três partes. A parte terceira, de quebras (falência), foi revogada há
mais de 100 anos. A parte primeira, Teoria Geral do Direito Empresarial, foi revogada pelo CC de
2002.
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Com a queda da Teoria dos Atos de Comércio e adoção da Teoria da Empresa pelo
Código Civil de 2002, o Direito Comercial deixa de cuidar de determinadas atividades
previamente definidas como de mercancia e passa a disciplinar uma forma específica de
circulação de bens ou serviços: a forma empresarial.
No Brasil, pelo Código Comercial de 1850, que adotava a Teoria dos Atos de Comércio,
só eram consideradas atividades de mercancia:
• compra e venda de bens móveis semoventes, no atacado ou no varejo;
• indústrias;
• bancos;
• logísticas;
• armação e expedição de navios.
Perceba que o Código deixava de lado atividades como negociação de imóveis,
atividades rurais e principalmente prestação de serviços, que não era uma atividade comercial
para a época.
O Direito Comercial vem do desenvolvimento com a burguesia, a qual rompeu com o
feudo, criando uma regulamentação que acabasse por proteger as suas atividades. Por isso,
deixaram-se de lado as demais atividades dos feudos, que eram tipicamente rurais, não
exercidas pela burguesia de então.
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Até hoje a inserção da atividade rural como empresarial depende de uma opção nesse
sentido pelo produtor rural.
Ricardo Negrão, ao tratar sobre os perfis da empresa, leciona que o conceito poliédrico
desenvolvido por Alberto Asquini concebe quatro perfis à empresa, visualizando-a, como
objeto de estudos, por quatro aspectos distintos, a saber:
• perfil subjetivo: consiste no estudo da pessoa que exerce a empresa, ou seja, a
pessoa natural (empresário individual) ou a pessoa jurídica (sociedade empresária)
que exerce atividade empresarial;
• perfil objetivo: foca-se nas coisas utilizadas pelo empresário individual ou
sociedade empresária no exercício de sua atividade. São os bens corpóreos e
incorpóreos que instrumentalizam a vida negocial. Em suma, consiste no estudo da
teoria do estabelecimento empresarial;
• perfil funcional: refere-se à dinâmica empresarial, isto é, a atividade própria do
empresário ou da sociedade empresária, em seu cotidiano negocial. Nesse aspecto,
empresa é entendida como exercício da atividade (complexo de atos que compõem
a vida empresarial);
• perfil corporativo ou institucional: estuda os colaboradores da empresa,
empregados que, com o empresário, envidam esforços à consecução dos objetivos
empresariais.
Pelo fato do aspecto corporativo se submeter às regras da legislação laboral no direito
brasileiro, Waldírio Bulgarelli prefere dizer que, no Brasil, a Teoria Poliédrica da Empresa foi
reduzida à Teoria Triédrica da Empresa, abrangendo tão-somente os perfis subjetivo, objetivo
e funcional, que interessam à legislação civil. Ressalte-se que essa afirmação já foi objeto de
cobrança em diversos concursos.
Partindo desses elementos, Waldírio Bulgarelli define empresa como atividade
econômica organizada de produção e circulação de bens e serviços para o mercado, exercida
pelo empresário, em caráter profissional, por meio de um complexo de bens.
a) Profissionalismo
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b) Atividade econômica
Por atividade econômica quer-se dizer que o sujeito visa à obtenção de lucro. Empresa
é o sinônimo de empreendimento. Não se pode dizer que o sócio da empresa é empresário, pois
empresário é quem exerce a atividade. Em outras palavras, no caso de uma sociedade, quem
exerce a atividade empresária é a própria sociedade. O sócio poderá até mesmo ser um
empreendedor, ou um investidor, mas quem exerce a atividade é a empresa, ou seja, a
sociedade empresária.
A atividade empresarial é econômica pois busca obter lucro para quem a explora.
A FGV não tem fins lucrativos, mas isto não se confunde com o fato de não ter lucro. O
que distingue a sociedade empresária da sociedade não empresária é a finalidade. Isso porque
a sociedade empresária visa a obter lucro, ainda que não o tenha, enquanto a sociedade não
empresária não tem a finalidade de lucro, ainda que o obtenha.
c) Atividade organizada
A atividade é organizada, pois o empresário faz a junção dos quatro fatores de produção
(CMIT):
• capital;
• mão de obra;
• insumo;
• tecnologia.
A atividade, para ser empresarial, deve ser voltada para a produção ou a circulação de
bens ou de serviços.
A distinção entre bens e serviços perdeu a razão de ser, visto que antes bens teriam
natureza corpórea e os serviços seriam de natureza incorpórea. Todavia, com a internet, essa
distinção não mais se sustenta, pois é possível adquirir um jornal virtual, sendo esse um produto.
O CC não define empresa, mas o conceito de empresa está implícito no conceito de
empresário. Diz-se que se considera empresário quem exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para produção e circulação de bens e serviços. Logo, empresa é
justamente isso: atividade econômica profissional organizada para produção e circulação de
bens e serviços.
Ao contrário do conceito de atos de comércio, a empresa engloba toda e qualquer
atividade econômica que preencha os demais requisitos previstos no art. 966 do Código Civil e
não esteja contemplada entre as exceções de seu parágrafo único.
Refere-se, esse conceito, tanto ao empresário pessoa física, que é o empresário
individual, quanto à pessoa jurídica, que é a sociedade empresária ou, excepcionalmente, a
EIRELI.
Cuidado: para o Direito, empresa é uma atividade. Atente-se para a incorreção das
noções vulgares de empresa, tais como o local físico onde se exerce atividade ou a própria
sociedade empresária.
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Sobre o tema, são também importantes os Enunciados 193, 194 e 195 do Conselho da
Justiça Federal, aprovados na III Jornada de Direito Civil, segundo os quais: “o exercício das
atividades de natureza exclusivamente intelectual está excluído do conceito de empresa”; “os
profissionais liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de
produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida”; e “a expressão elemento
de empresa demanda interpretação econômica, devendo ser analisada sob a égide da absorção
da atividade intelectual, de natureza científica, literária ou artística, como um dos fatores da
organização empresarial”.
De acordo com o Código Civil, o empresário deve se inscrever perante o Registro
Público de Empresas Mercantis da respectiva sede (Junta Comercial) antes do início de sua
atividade. Caso inicie a atividade antes do registro, ainda assim será considerado empresário,
embora irregular, aplicando-se-lhe os ônus típicos de um empresário, mas não alguns bônus em
relação aos quais a lei exige regularidade empresarial (ex: não poderá requerer a falência de um
devedor nem pleitear recuperação judicial) (Enunciado 198 das Jornadas de Direito Civil do CJF).
Nesse caso, portanto, o registro a posteriori perante a Junta Comercial é declaratório, ou seja,
empresário ele já é, mas o registro é necessário para que ele seja considerado regular.
Empresário Rural: No caso dos empresários rurais, o registro é facultativo e pode ser
desempenhado após o exercício efetivo de suas atividades. Assim, a inscrição do empresário
rural possuirá natureza constitutiva, equiparando-o, para todos os efeitos, às demais classes
empresariais.
Dito de outro modo, o registro transfere quem desempenha a atividade econômica rural
para o regime empresarial. Sendo o registro facultativo, a regularidade no exercício da atividade
rural existe independentemente do registro. Para o empresário rural “é o registro que faz o
empresário”. Caso opte por não se registrar, não será considerado empresário irregular, apenas
não será tratado como empresário. Isso vale tanto para o empresário rural quanto para a
sociedade rural (arts. 971 e 984 do CC).
Inclusive, recentemente, o STJ firmou o entendimento de que para cumprir os 2 anos
exigidos por lei (art. 48 da Lei nº 11.101/2005) para que um devedor possa requerer a
recuperação judicial, o produtor rural pode aproveitar o período anterior ao registro, pois se
considera atividade empresarial regular esse período anterior ao registro (STJ. 4ª Turma. REsp
1.800.032-MT, julgado em 05/11/2019).
a) Considerações gerais
Nesse sentido, pode-se afirmar, então, que os impedidos não podem se registrar na
Junta Comercial como empresários individuais (pessoas físicas que exercem atividade
empresarial), não significando, em princípio, que eles não possam participar de uma sociedade
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São vários aqueles que estão proibidos de exercer empresa. Porém, o principal caso é o
falido não reabilitado.
Quando a falência não é fraudulenta, ou seja, não houve crime falimentar, haverá,
oportunamente (veremos em tópico próprio), a declaração de extinção das obrigações, nesse
caso, o sujeito já seria considerado reabilitado, podendo exercer atividade empresária.
Contudo, se houve crime falimentar, e, portanto, a sua falência foi fraudulenta, nesse
caso, estará o sujeito vedado do exercício de sua atividade, pois é não reabilitado. Então, serão
declaradas extintas as suas obrigações, e só poderá exercer atividade empresária quando o
sujeito obtiver a reabilitação penal também.
c) Leiloeiro
Quando a lei diz que o incapaz não pode ser empresário, a lei quer proteger o incapaz.
Todavia, quando a lei diz que o falido ou o leiloeiro não pode ser empresário, estaria protegendo
a sociedade, o Estado, bem como as pessoas que tratam com o leiloeiro.
d) Incapaz
O incapaz não pode ser empresário individual, salvo no caso do art. 974 do CC, quando
a incapacidade for superveniente ou quando ele herdar o exercício de uma atividade
empresarial. Sobre o tema, também muito explorado em provas, é importante atentar para o
verbo continuar. O incapaz só pode ser autorizado a continuar o exercício de empresa que já
era exercido por si mesmo ou por alguém (seus pais ou autor da herança). Nesse caso, atuará
por meio de representante ou assistente. Em hipótese alguma poderá ser autorizado a iniciar o
exercício de uma atividade empresarial. Nesse sentido, vide o Enunciado 203 do CJF, aprovado
na III Jornada de Direito Civil: “o exercício de empresa por empresário incapaz, representado ou
assistido, somente é possível nos casos de incapacidade superveniente ou incapacidade do
sucessor na sucessão por morte”.
Em primeiro lugar, destaque-se que o art. 974 do Código Civil se refere ao exercício
individual de empresa. Trata-se, pois, de casos em que o incapaz será autorizado a explorar
atividade empresarial individualmente, ou seja, na qualidade de empresário individual (pessoa
física). A possibilidade de o incapaz ser sócio de uma sociedade empresária configura situação
totalmente distinta, já que o sócio de uma sociedade não é empresário.
É direito do incapaz continuar a atividade? Não. Deve haver autorização judicial,
consoante § 1º do artigo 974, CC:
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Art. 974 (...) § 1º Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após exame
das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-
la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou
representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos
por terceiros.
a) Profissional intelectual
O art. 966, p.u., afirma que não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, mesmo que contrate empregados para
auxiliar no seu trabalho.
Todavia, a própria lei traz uma exceção, pois quando o exercício da profissão constituir
elemento de empresa se tornará empresário, conforme já visto acima.
Ex.: dois escritórios de advocacia. Um deles, João abriu com o seu irmão, contratando
uma secretária. Não será empresário. Outra situação será a hipótese do escritório com mais de
mil advogados, e diversos departamentos. Esse segundo é empresa.
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b) Empresário rural
As atividades rurais do Brasil são exploradas em duas linhas radicalmente distintas. Uma
delas é baseada na agricultura familiar, e a outra é a agroindústria.
Para ser empresário rural, basta que o indivíduo se registre na Junta Comercial.
A ideia é que o sujeito que pratica agricultura familiar não faça a inscrição.
O legislador reserva um tratamento específico ao empresário rural.
c) Cooperativas
Nos termos do art. 982, p.u., do CC, muito explorado em provas, a sociedade anônima
será sempre empresária, enquanto a cooperativa nunca será sociedade empresária, sendo
sempre sociedade simples.
Portanto, ainda que as cooperativas preencham todos os requisitos da definição legal
de empresário, não serão sociedades empresárias.
d) Empresário individual
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Para que se considere uma infração contra a ordem econômica, portanto, basta a prova
de que a prática adotada pelo empresário trouxe um efeito lesivo ou que poderia trazer uma
lesão à estrutura livre do mercado.
A ideia, como se vê, é a de que, ainda que não se tenha esse objetivo e
independentemente de culpa, caso a prática comercial acabe trazendo prejuízos à livre
iniciativa, à livre concorrência, implique em dominação do mercado relevante ou aumento
arbitrário dos lucros, ou ainda exercício de forma abusiva de posição dominante, estará
configurada uma infração contra a ordem econômica!
Havendo uma infração contra a ordem econômica, ganha destaque a atuação do
Conselho Administrativo de Defesa Econômica. Trata-se de uma autarquia federal vinculada ao
Ministério da Justiça e profere decisões de caráter repressivo, a qual tem força de título
executivo extrajudicial. No âmbito do CADE, funcionam o Tribunal Administrativo de Defesa
Econômica, a Superintendência-Geral e o Departamento de Estudos Econômicos.
As sanções que aquele que praticar infração contra a ordem econômica estão previstas
nos artigos 37 e seguintes da Lei nº 12.529/2011, com destaque para as seguintes:
• multa, que varia de acordo com os critérios previstos na lei;
• publicação na imprensa do extrato da sentença condenatória;
• proibição de contratar com o poder público.
• inscrição do infrator no Cadastro de Defesa do Consumidor;
• proibição de exercer o comércio em nome próprio ou como representante de pes-
soa jurídica, pelo prazo de até 5 (cinco) anos;
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1.4. Parasitismo
Esse é um dos temas mais atuais acerca da matéria concorrência desleal. Há certa
polêmica dentro do tema, porque não há unanimidade da doutrina sobre a própria
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nomenclatura, tampouco quanto à definição de quais condutas seriam legítimas e quais seriam
ilegais.
De forma simplista, é a conduta do empresário que se utiliza sutilmente de ativos
intangíveis de outro empresário, tentando pegar carona no sucesso deste (free riding).
Há autores que subdividem o parasitismo em (i) concorrência desleal parasitária e (ii)
mero aproveitamento parasitário. Para eles, a diferença estaria no fato de que, na primeira, a
apropriação intelectual alheia tem o potencial de causar confusão entre os consumidores e/ou
desviar clientela. Em contrapartida, na segunda, não há desvio de clientela nem possibilidade
de confusão entre os consumidores.
Geralmente, os Tribunais, principalmente o STJ, preocupam-se quanto à questão da
confusão dos consumidores. Havendo confusão aos consumidores, o STJ reprime a conduta.
Como há uma imitação sutil de ativos intangíveis, pode ser que não haja cópia da marca,
mas do modelo de negócio. Dessa forma, vem surgindo discussões acerca do conjunto imagem
do produto, ou trade dress. Não há cópia do negócio, mas do modelo do negócio.
Sobre o tema, decidiu o STJ o seguinte:
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Em outras palavras, nas ações propostas contra a Junta Comercial a competência será
da Justiça Federal quando se tratar de matéria técnica, referente ao registro de empresa, porém,
será da Justiça Estadual quando se tratar de matéria administrativa.
CUIDADO!
Diante de várias ações que tratavam subsidiariamente ou superficialmente de matéria
relacionada ao registro de empresa, propostas contra Juntas Comerciais perante a Justiça
Federal, o STJ fez uma reinterpretação da jurisprudência supramencionada, esclarecendo que
apenas quando a matéria questionar a lisura de ato praticado pela Junta Comercial, ou no caso
de Mandado de Segurança contra presidente da Junta Comercial, é que se proporá a ação
perante a Justiça Federal.
Portanto, quando se tratar de demanda que envolve apenas questões particulares,
como conflitos societários, a competência será da Justiça Estadual, ainda que no processo esteja
sendo discutido um ato ou registro praticado pela Junta Comercial. Confira-se:
Recurso especial. Litígio entre sócios. Anulação de registro perante a junta comercial.
Contrato social. Interesse da administração federal. Inexistência. Ação de
procedimento ordinário. Competência da justiça estadual. Precedentes da segunda
seção. 1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça tem decidido pela
competência da Justiça Federal, nos processos em que figuram como parte a Junta
Comercial do Estado, somente nos casos em que se discute a lisura do ato praticado
pelo órgão, bem como nos mandados de segurança impetrados contra seu
presidente, por aplicação do artigo 109, VIII, da Constituição Federal, em razão de
sua atuação delegada. 2. Em casos em que particulares litigam acerca de registros
de alterações societárias perante a Junta Comercial, esta Corte vem reconhecendo
a competência da justiça comum estadual, posto que uma eventual decisão judicial
de anulação dos registros societários, almejada pelos sócios litigantes, produziria
apenas efeitos secundários para a Junta Comercial do Estado, fato que obviamente
não revela questão afeta à validade do ato administrativo e que, portanto, afastaria
o interesse da Administração e, consequentemente, a competência da Justiça
Federal para julgamento da causa. Precedentes. Recurso especial não conhecido
(REsp 678.405/RJ, 3.ª Turma, Rel. Min. Castro Filho, j. 16.03.2006, DJ 10.04.2006, p.
179).
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Enfim, a competência só será da Justiça Federal quando a Junta Comercial estiver agindo
no exercício de delegação de função pública federal, referente aos atos de registro previstos na
Lei nº 8.934/1994.
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As cooperativas são um tipo societário sui generis, consideradas sociedades simples por
determinação legal, consoante parágrafo único do artigo 982 do Código Civil:
“independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples,
a cooperativa”, submetendo-se, em tese, ao registro no Cartório de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas, não nas Juntas Comerciais.
Todavia, o art. 18 da Lei nº 5.764/1971 (Lei do Cooperativismo) e o art. 32, II, “a” da Lei
nº 8.934/1994 preveem que as cooperativas devem ser registradas nas Juntas Comerciais.
Enunciado 69 das Jornadas de Direito Civil: “as sociedades cooperativas são sociedades
simples sujeitas à inscrição nas Juntas Comerciais”.
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Art. 29. Qualquer pessoa, sem necessidade de provar interesse, poderá consultar os
assentamentos existentes nas juntas comerciais e obter certidões, mediante
pagamento do preço devido.
Atente-se: se dentro dos 30 dias os efeitos serão ex tunc, ultrapassado esse prazo, os
efeitos serão ex nunc.
Art. 41. Estão sujeitos ao regime de decisão colegiada pelas juntas comerciais, na
forma desta lei: I - o arquivamento: a) dos atos de constituição de sociedades
anônimas, bem como das atas de assembléias gerais e demais atos, relativos a essas
sociedades, sujeitos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins;
b) dos atos referentes à transformação, incorporação, fusão e cisão de empresas
mercantis; c) dos atos de constituição e alterações de consórcio e de grupo de
sociedades, conforme previsto na Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976; II - o
julgamento do recurso previsto nesta lei.
Art. 42. Os atos próprios do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades
Afins, não previstos no artigo anterior, serão objeto de decisão singular proferida
pelo presidente da junta comercial, por vogal ou servidor que possua comprovados
conhecimentos de Direito Comercial e de Registro de Empresas Mercantis.
Esses artigos explicam como são tomadas as decisões em uma Junta Comercial.
As Juntas Comerciais têm estrutura administrativa, e os membros das Juntas Comerciais
que analisam os atos são chamados de vogais, três vogais formam turmas, que se reúnem,
eventualmente, em plenário.
Alguns atos podem ser objeto de decisão monocrática e outros devem ser objeto de
decisão colegiada, sendo essas as quatro hipóteses elencadas no artigo 41 supratranscrito.
As Juntas Comerciais não podem criar exigências não previstas na lei como condição
para registro do ato. Algumas Juntas, por exemplo, exigem certidão de regularidade fiscal para
o registro de alteração contratual, mas o STJ tem entendido que tal exigência é ilegítima, porque
não está prevista na lei de regência (Lei nº 8.934/1994) nem em seu decreto federal
regulamentar (Decreto 1.800/1996).
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(REsp 724.015/PE, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, Quarta Turma, j. 15.05.2012,
DJe 22.05.2012).
AGRAVO INTERNO EM RECURSO ESPECIAL. MANDADO DE SEGURANÇA. JUNTA
COMERCIAL. EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DE CERTIDÃO DE REGULARIDADE
FISCAL PREVISTA EM DECRETO ESTADUAL. PRECEDENTES DA CORTE. 1. Não é
possível a exigência de apresentação de certidão de regularidade fiscal como
condição para arquivamento de alteração contratual por decreto estadual, pois
não preenche o requisito do art. 34 do Decreto n. 1800, que regulamentou a Lei
Federal n. 8.934/94. Precedente da Segunda Seção. 2. Agravo interno a que se nega
provimento. (AgInt no REsp 1256469/PE, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
QUARTA TURMA, julgado em 29/09/2016, DJe 05/10/2016)
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E EMPRESARIAL. JUNTA COMERCIAL. EXIGÊNCIA DE
CERTIDÃO NEGATIVA TRIBUTÁRIA. ANTINOMIA JURÍDICA DE SEGUNDO GRAU.
CONFLITO ENTRE O CRITÉRIO CRONOLÓGICO E O DA ESPECIALIDADE. HIPÓTESE DE
PREVALÊNCIA DO CRITÉRIO CRONOLÓGICO. PREVALÊNCIA DA LIVRE INICIATIVA. 1.
Exigência, por Junta Comercial, de certidões negativas tributárias como condição
para o arquivamento de ato de transformação de sociedade simples em sociedade
empresária. 2. Antinomia jurídica entre a Lei 8.934/94, ao regular o registro público
de empresas mercantis e atividades afins, e leis tributárias específicas anteriores. 3.
Possibilidade de aplicação do critério cronológico ou do critério da especialidade,
caracterizando um conflito qualificado como "antinomia de segundo grau". 4.
Prevalência excepcional do critério cronológico. Precedente da Terceira Turma. 5.
Derrogação tácita dos dispositivos de leis tributárias anteriores que condicionavam
o ato de arquivamento na Junta Comercial à apresentação de certidão negativa de
débitos. 6. Interpretação condizente com o princípio constitucional da livre iniciativa.
(REsp 1393724/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro
PAULO DE TARSO SANSEVERINO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 28/10/2015, DJe
04/12/2015)
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Quando se fala em empresário irregular, quer-se dizer que não está atuando
regularmente, mas não deixa de ser empresário.
O empresário não registrado é considerado empresário irregular. Pelo fato de não estar
em uma situação regularizada, sofrerá algumas restrições legais, entre as quais:
• não pode requerer a falência de um devedor, mas pode pedir a sua autofalência,
e outro credor também poderá pedir a sua falência;
• não tem legitimidade para requerer recuperação judicial, pois um dos requisitos
para que seja admitida é que esteja no exercício regular da atividade por dois anos;
• não consegue ter livros autenticados na Junta Comercial. A consequência da
autenticação é a de que os livros tenham eficácia probatória, motivo pelo qual não
poderá se utilizar do livro como meio de prova. Se a falência for decretada, será
considerada fraudulenta, incorrendo em crime falimentar;
• se o caso é de sociedade empresária, e ela está em situação irregular, pelas
responsabilidades sociais, o sócio responderá solidária e ilimitadamente, além de
que aquele que administra a sociedade responderá diretamente, não se valendo
do benefício de ordem previsto no art. 1.024 do Código Civil.
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Os livros comerciais podem ser utilizados como meios de prova. Em tese, os livros
deverão observar o princípio do sigilo, pois há que se proteger a concorrência.
A exibição total dos livros só pode ser determinada pelo juiz, e em algumas ações,
devendo haver requerimento da parte, como nos casos de:
• sucessão;
• ingresso na sociedade;
• retirada da sociedade.
O Código Civil autoriza que o juiz exiba integralmente os livros e papéis de escrituração
quando necessário para resolver questões relativas à sucessão, à comunhão ou sociedade, à
administração ou gestão à conta de outrem, ou em caso de falência.
A exibição parcial dos livros poderá ser determinada pelo juiz, inclusive de ofício, e em
qualquer ação. Já a exibição total do livro somente irá ocorrer quando se mostrar
imprescindível, não podendo o juiz decretar de ofício.
Atente-se que somente na falência é que o juiz poderá de ofício determinar a exibição
total dos livros.
O livro empresarial vai provar contra o seu titular, pois, conforme art. 417 do CPC, os
livros empresariais provam contra seu titular, sendo permitido ao empresário, todavia,
demonstrar, por todos os meios, que os lançamentos não correspondem à verdade dos fatos.
Por outro lado, o art. 418 estabelece que os livros empresariais provam a favor de seu autor
no litígio entre empresários, mas é preciso que o livro preencha os requisitos intrínsecos e
extrínsecos.
Em outras palavras, se for para prejudicar quem não se mostrou prudente, não precisará
preencher os requisitos intrínsecos e extrínsecos. Porém, se for para beneficiar quem está
apresentando o livro, deverá ele estar absolutamente regular.
O princípio do sigilo, na verdade, não exime o titular de exibir esse livro para
determinadas autoridades administrativas, como a autoridade fiscal, e para a fiscalização da
seguridade social.
2. Balanços anuais
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Já o balanço de resultado econômico serve para apontar os lucros e as perdas do ano (art. 1.189
do CC).
Registre-se, porém, que as instituições financeiras deverão fazer esses balanços
semestralmente.
Sendo decretada a falência, será considerado crime falimentar a inexistência desses
documentos de escrituração contábil obrigatório: balanço patrimonial e balanço de resultado
econômico.
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1. Conceito
O “ponto” é o local onde se exerce a atividade, qualificado pelo fato de ali se exercer
uma atividade econômica. Bem imaterial importante, quando analisado sob a ótica da Lei de
Locações, por exemplo.
Quando se trata de locação empresarial, o empresário tem direito à renovação do
contrato de aluguel, quando presentes certos requisitos previstos no art. 51 da Lei de Locações
de Imóveis Urbanos (Lei nº 8.245/91). São eles:
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá direito a
renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente:
I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado;
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos
contratos escritos seja de cinco anos;
III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo
e ininterrupto de três anos.
Ainda que não consiga a renovação do contrato de aluguel, em virtude de uma das
exceções legais (art. 52), eventualmente o locatário poderá ser indenizado pela perda do ponto
(§ 3º do art. 52 da Lei nº 8.245/91).
2. Natureza Jurídica
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Art. 1.144 do CC. O contrato que tenha por objeto a alienação, o usufruto ou
arrendamento do estabelecimento, só produzirá efeitos quanto a terceiros depois
de averbado à margem da inscrição do empresário, ou da sociedade empresária, no
Registro Público de Empresas Mercantis, e de publicado na imprensa oficial.
Portanto, deverá ser celebrado por escrito, pois será registrado na Junta Comercial e só
produzirá efeitos perante terceiros após a averbação à margem da inscrição do empresário (que
está vendendo), e publicado na imprensa oficial.
Cuidado: esse não é um requisito de validade do contrato, mas condição de eficácia
perante terceiros (incidência de pegadinha em provas).
Art. 1.145 do CC. Se ao alienante não restarem bens suficientes para solver o seu
passivo, a eficácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos
os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em trinta dias
a partir de sua notificação.
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4. Sucessão Empresarial
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fundação, sindicato, etc.). Sendo assim classificada, para proteger o empresário, a lei assegura
a denominada renovação compulsória do contrato de locação.
Os requisitos para a renovação compulsória são:
• Contrato escrito e por prazo determinado;
• Prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos dos
contratos escritos seja de cinco anos: é admitida a soma de prazos de contratos
renovados sucessivamente, desde que haja esta renovação por acordo. Admite-se
que neste prazo se contabilize o prazo em que o sucedido estava lá, situação na qual
o sucessor acrescentará o prazo para fins de renovação. A súmula 482 do STF diz
que o locatário, que não for sucessor ou cessionário do que o precedeu na locação,
não pode somar os prazos concedidos a esse, para pedir a renovação do contrato,
nos termos do Decreto n° 24.150. Por sua vez, o STJ já entendeu que pequenos
lapsos temporais entre o fim de um contrato anual e o contrato subsequente entre
as mesmas partes, necessários para a formalização dos ajustes da renovação do
contrato, não afastam a caracterização do prazo mínimo de 5 anos ininterruptos
exigidos pela lei.
• locatário deverá estar explorando o mesmo ramo de atuação pelo prazo mínimo
de 3 anos na data de propositura da ação renovatória.
A ação em que se busca a renovação compulsória deverá ser proposta no último ano de
vigência do contrato até o prazo de 6 meses antes do vencimento do contrato. Então deverá ser
proposta no prazo de 1 ano a 6 meses antes do término do contrato que se pretende renovar.
Caso a ação não seja proposta no prazo, haverá a decadência da renovação do direito.
Existem casos em que essa renovação compulsória, apesar de cumpridos esses
requisitos, não ocorrerá. Nesse caso, a atividade da empresa, livre iniciativa e proteção da
empresa, não vai se sobrepor ao direito de propriedade.
Vale lembrar que não é necessária a citação do fiador para a renovação compulsória,
visto que a própria lei não exige.
Com base nesta ideia, é possível entender as exceções legais que desautorizam a
renovação compulsória, apesar de preenchidos seus requisitos:
• Insuficiência da proposta de renovação apresentada pelo locatário
• Se houver uma proposta melhor de terceiro
• Reforma substancial no prédio: a reforma poderá ser por vontade do locador ou do
poder público e deverá ser substancial. Caso se passem 3 meses sem que iniciem
as obras, a lei determina que é cabível uma indenização ao locatário.
• Para uso próprio: é possível que se obste a renovação compulsória quando houver
o interesse do bem para uso próprio, desde que não seja no mesmo ramo de
atividade do locatário, salvo se a locação também envolvia fundo de comércio. que
realizava o locatário. Fabio Ulhoa Coelho admite que seja obstada a renovação nesse
caso. A lei estabelece que para uso da mesma atividade não caberia a retomada,
mas se se tratar de um caso de locação-gerência, haveria a possibilidade de
retomada do bem. A locação-gerência ocorre nos casos em que a locação
compreende não só o imóvel, mas o estabelecimento lá instalado. Isto é, se o
indivíduo aluga um galpão e monta um restaurante, o locador não poderá mandar
embora o locatário para montar outro restaurante. Todavia, se alugou para o
indivíduo o próprio restaurante, não há dúvidas de que o locador poderá mandar
embora o locatário para gerenciar o restaurante.
• Transferência do estabelecimento empresarial que existe há mais de um ano,
sendo titularizado por descendente, ascendente ou cônjuge do locador, ou por
uma sociedade que eles integrem, e desde que este estabelecimento seja de ramo
diverso do locatário: por exemplo, a mulher do locador, que tem loja no bairro X,
quer transferir-se para o bairro Y, onde está a locação do locatário. O locatário, neste
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caso, terá direito a uma indenização, se o novo usuário acabar exercendo a mesma
atividade que a anterior.
Atente-se que, em se tratando de sublocação total do imóvel, o direito a renovação
somente poderá ser exercido pelo sublocatário.
Em se tratando de locação empresarial em Shopping Center, a situação muda de
contexto. Com efeito, em um Shopping Center, há o tenant mix, sendo o espaço em que há uma
distribuição de produtos e serviços que tornem o complexo atraente ao cliente. Não há como
pensar em shopping center com 20 farmácias, razão pela qual há uma preocupação com o
tenant mix, ou seja, preocupação com a oferta e variedade para o cliente.
A lei reconhece o direito de interesse do locatário, mas em determinadas situações esta
renovação compulsória não se sustenta. Isso porque, se for garantida a renovação compulsória
para o locatário que preenche os requisitos legais, poderá haver o prejuízo e impedimento de
desenvolvimento daquele complexo.
Então, Fabio Ulhoa diz que o direito do lojista não pode esvaziar o direito de propriedade
do empreendedor do shopping center. Em outras palavras, se o locador do shopping center não
conseguir realizar devidamente o tenant mix com aquele locatário, deverá haver uma rejeição
ou não acolhimento da ação de renovação compulsória.
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1. Conceito
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registro do nome do domínio obtido pelo primeiro requerente pode ser contestada
pelo titular de signo distintivo similar ou idêntico anteriormente registrado – seja
nome empresarial, seja marca. 4. Tal pleito, contudo, não pode prescindir da
demonstração de má-fé, a ser aferida caso a caso, podendo, se configurada, ensejar
inclusive o cancelamento ou a transferência do domínio e a responsabilidade por
eventuais prejuízos. (...) (REsp 594404/DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
Terceira Turma, j. 05.09.2013, DJe 11.09.2013).
Assim, o fato de o empresário ter uma marca registrada há muitos anos, não significa
ter o direito de domínio sobre a expressão. Se a mesma expressão já havia sido registrada por
outrem, o direito a ele assiste, porque o direito de domínio se rege pelo princípio first come, first
served, ou seja, domínio concedido ao primeiro requerente que satisfizer as exigências para o
registro, salvo comprovação de má-fé, que será analisada caso a caso.
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de os nomes não serem os mesmos, o núcleo do nome empresarial é o mesmo, uma vez que as
pessoas irão dizer que se trata da empresa primavera.
No campo do Direito Penal, haverá sanção no caso de usurpação do nome empresarial,
configurando crime de concorrência desleal.
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1. Introdução
O presente capítulo tangencia tema que é mais bem aprofundado e cobrado em provas
dentro da Disciplina de Direito do Consumidor. Aqui, serão apresentadas apenas noções gerais
sobre qualidade do produto ou do serviço e sobre publicidade, remetendo-se o leitor à citada
disciplina para estudo completo das questões abaixo ventiladas e outras correlatas.
O conceito de empresário está contido no conceito de fornecedor. Isso significa que
todo o empresário é fornecedor, mas nem todo fornecedor é empresário.
3. Publicidade
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No julgamento do caso, o STJ destacou que tal prática está normatizada na Resolução 126 do
Mercosul, embora não haja previsão normativa interna expressa. Há, apenas, menção sobre sua
possibilidade no Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária (apesar da
nomenclatura, não tem força de lei, é oriundo de entidade privada).
Deve-se observar, todavia, algumas balizas para sua válida aplicação. Devem ser
utilizados apenas esclarecimentos objetivos, que informem o consumidor sobre as diferenças
dos produtos comparados, sem que se denigra a marca concorrente. Em outras palavras, a
publicidade comparativa deve obedecer ao princípio da veracidade das informações, ser
objetiva e não abusiva.
Ademais, para que se viole o direito marcário do concorrente, “as marcas devem ser
passíveis de confusão ou a referência da marca deve estar cumulada com ato depreciativo da
imagem de seu produto;serviço, acarretando a degenerescência e o consequente desvio da
clientela” (STJ, REsp 1.377.911).
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A sociedade empresária pode ser conceituada, segundo COELHO (2003), como sendo
uma pessoa jurídica de direito privado, não estatal, que explora empresarialmente o seu objeto
social ou adota a forma de sociedade por ações.
A sociedade empresária é:
• pessoa jurídica de direito privado
• pessoa jurídica não estatal: se fosse estatal, as regras seriam diferentes. Portanto,
mesmo que se trate de uma empresa estatal, a ela não são aplicadas todas as regras,
pois há por detrás o princípio do interesse público e a incidência de outras normas
específicas, a exemplo do Estatuto das Empresas Estatais (Lei nº 13.303/2016);
• pessoa jurídica que explora empresarialmente o seu objeto social: é possível que
uma pessoa jurídica não estatal explore o seu objeto social de forma não
empresarial, como é o caso de uma clínica formada por dois médicos e uma
secretária;
• pessoa jurídica que adota a forma de sociedade por ações: toda sociedade por
ações é uma sociedade empresária, independentemente de seu objeto.
A sociedade empresária é uma pessoa (jurídica) e tem sócios com personalidade (natural
ou jurídica) distinta da sociedade. Em outras palavras, a sociedade é um sujeito de direito
personalizado.
A partir do momento em que tem personalidade jurídica, poderá praticar todo e
qualquer ato ou negócio jurídico, desde que não exista proibição nesse sentido.
EIRELI também é uma pessoa jurídica, mas não se enquadra no conceito de sociedade
empresária, tratando-se de novo ente jurídico personalizado (Enunciado 469 das Jornadas de
Direito Comercial do CJF). Ele também terá personalidade jurídica distinta.
A personalização das sociedades empresárias gera consequências:
• titularidade negocial: é a sociedade que assume um dos polos da relação negocial,
ainda que o ato ou contrato seja assinado por (re)presentante;
• titularidade processual: tem capacidade de ser parte em uma relação processual;
• autonomia patrimonial: sociedade empresária tem um patrimônio próprio, distinto
do patrimônio de seus sócios;
• fim da personalidade: o fim da personalidade da sociedade se dá por meio de um
processo denominado de dissolução da sociedade. É uma dissolução em sentido
amplo, sendo que o ato de dissolução em sentido estrito será o ato de desfazimento,
o qual dará início à liquidação que vai apurar o ativo e pagar o passivo. Por último,
se sobrar, haverá a partilha, em que os sócios irão participar do acervo da sociedade.
Há outros modos de se extinguir a sociedade, diferentes da dissolução, a exemplo
da incorporação, da fusão, da cisão e da falência.
Ao contrário do que ocorre com as pessoas naturais, cujo reconhecimento da
personalidade independe de registro, já que “a personalidade civil começa do nascimento com
vida” (art. 3º do Código Civil), as sociedades só adquirem personalidade a partir do registro no
órgão competente (Registro Civil de Pessoas Jurídicas, se for uma sociedade simples, ou Junta
Comercial/Registro Público de Empresas Mercantis, se for uma sociedade empresária),
conforme previsão do art. 985 do Código Civil: “a sociedade adquire personalidade jurídica com
a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos”.
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De acordo com o art. 1.024 do Código Civil, “os bens particulares dos sócios não podem
ser executados por dívidas da sociedade, senão depois de executados os bens sociais.” Essa
regra trata da autonomia patrimonial das sociedades, estabelecendo a responsabilidade
subsidiária dos sócios pelas obrigações sociais, responsabilidade essa que pode também ser
limitada ao próprio valor da quota do sócio, a depender do tipo societário.
Portanto, enquanto a sociedade possuir bens, são esses bens que devem responder
pelas dívidas sociais, o que assegura aos sócios o conhecido benefício de ordem. Caso,
entretanto, a sociedade não possua mais bens, deve-se verificar o tipo de responsabilidade dos
sócios: se for ilimitada (como ocorre na sociedade em nome coletivo, por exemplo), seus bens
particulares poderão ser executados; se for limitada (como ocorre na sociedade limitada e na
sociedade anônima, por exemplo), seus bens particulares não poderão, em princípio, ser
executados.
A situação muda, no entanto, caso se verifique o uso abusivo da personalidade jurídica
da sociedade em detrimento dos credores. Configurada essa hipótese, poderá ser determinada
a desconsideração da personalidade jurídica, o que permitirá a execução dos bens pessoais dos
sócios mesmo que se trate de uma sociedade limitada, por exemplo.
Resumo: em todas as sociedades, a responsabilidade do sócio é, via de regra, subsidiária:
enquanto a sociedade tem bens quem responde é a própria sociedade. Em algumas sociedades,
a responsabilidade, embora seja subsidiária, é ilimitada, quando a sociedade não tem mais bens,
executa-se o sócio. Porém, nas sociedades em que o sócio responde de forma limitada, quando
a sociedade não tem mais bens, em princípio não se pode executar os bens dos sócios, salvo se
o capital não estiver integralizado, hipótese em que poderá ser executado até o limite da
integralização, ou se estiver presente alguma circunstância que admita a desconsideração da
personalidade jurídica, hipótese em que será responsabilizado em virtude dessa
desconsideração.
A teoria da desconsideração da personalidade jurídica (disregard doctrine) já é
conhecida há bastante tempo, mas só foi positivada em nosso ordenamento jurídico em 1990,
com a edição do Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), cujo art. 28 tem a
seguinte redação:
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(...)
§ 5º Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
causados aos consumidores.
Em 2019, porém, houve significativa alteração nesse dispositivo pela Lei de Liberdade
Econômica, que serão exploradas adiante, quando tratarmos da teoria maior da
desconsideração da personalidade jurídica.
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Em suma,
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Pode-se também fazer o caminho inverso: desconsiderar a pessoa jurídica para executar
bens sociais por dívidas pessoais de um de seus sócios.
A desconsideração inversa consiste, pois, em aplicar os fundamentos da disregard
doctrine para permitir que a pessoa jurídica responda por obrigações pessoais de um ou mais
sócios, conforme já decidiu o STJ:
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Ainda sobre o assunto, confira-se o enunciado 283 das Jornadas de Direito Civil do CJF:
“é cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada ‘inversa’ para alcançar bens
de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a
terceiros”.
Inicialmente sem previsão legal, passou a constar expressa referência a essa modalidade
de desconsideração no art. 133, § 2º, do CPC e atualmente também no art. 50, § 3º, do CC, que,
aliás, determina também a aplicação dos conceitos de desvio de finalidade e de confusão
patrimonial atualmente presentes nos §§1º e 2º do art. 50 do CC à desconsideração inversa da
personalidade jurídica.
Deve-se tomar muito cuidado para não confundir a desconsideração inversa com a
indireta. Embora o nome possa fazer supor que se trata do contrário da desconsideração direta,
em verdade nenhuma relação guarda com aquela.
Trata-se da desconsideração que ocorre no contexto de grupos
econômicos/empresariais.
O novo § 4º do art. 50 do CC também determina a observância dos requisitos previstos
nesse artigo à desconsideração indireta. Confira-se: “Art. 50. (...) § 4º A mera existência de grupo
econômico sem a presença dos requisitos de que trata o caput deste artigo não autoriza a
desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.”
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Perceba-se que o novo CPC não criou hipótese de desconsideração, mas apenas
disciplinou o seu procedimento. Em caso de litígios empresariais, os “pressupostos previstos em
lei” a que se refere o art. 133, § 1º, são aqueles do art. 50 do CC e seus parágrafos. Em litígios
consumeristas, “os pressupostos previstos em lei” serão os do art. 28 do CDC, nas ações por
danos ambientais, os do art. 4º da Lei nº 9.605/98, e assim por diante.
Antes do novo CPC, o STJ entendia que a desconsideração podia ser decretada nos
próprios autos, sem necessidade de citação, de modo que o sócio atingido pela medida só podia
defender-se após já realizada a constrição de seus bens pessoais (nesse sentido: REsp
1.096.604/DF e AgRg no REsp 1.459.784/MS).
A partir da vigência do novo CPC, porém, parece-nos que essa jurisprudência terá de ser
revista, uma vez que será preciso instaurar um incidente processual específico, com a
imprescindível citação do sócio ou da pessoa jurídica. Confira-se, a propósito, o que diz o art.
135: instaurado o incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e
requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
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que a sociedade simples use por empréstimo um dos tipos societários previstos para as
sociedades empresárias (com exceção das sociedades por ações, já que estas são sempre
empresárias, nos termos do art. 982, parágrafo único, Código Civil).
O parágrafo único do art. 983 do Código Civil ressalva os casos da sociedade em conta
de participação (que, em verdade, não é uma sociedade, mas um contrato especial de
investimento), da sociedade cooperativa (que é uma sociedade simples, independentemente do
objeto social, e é regida por lei própria, a Lei nº 5.764/1971) e das sociedades que devem adotar
um determinado tipo societário por determinação legal (caso das instituições financeiras, por
exemplo, que devem adotar a forma de sociedade anônima, nos termos do art. 25 da Lei nº
4.595/1964).
Quanto às sociedades rurais, o art. 984 do Código Civil prevê o seguinte:
Art. 984. A sociedade que tenha por objeto o exercício de atividade própria de
empresário rural e seja constituída, ou transformada, de acordo com um dos tipos
de sociedade empresária, pode, com as formalidades do art. 968, requerer inscrição
no Registro Público de Empresas Mercantis da sua sede, caso em que, depois de
inscrita, ficará equiparada, para todos os efeitos, à sociedade empresária.
Essa regra está para as sociedades rurais assim como a regra do art. 971 do Código Civil
está para os empresários rurais individuais: se o objeto da sociedade for o exercício de atividade
rural, ela tem a faculdade de se registrar na Junta Comercial, só sendo considerada uma
sociedade empresária, para os efeitos legais, se optar por esse registro. Registre-se, porém, que
o STJ firmou o entendimento de que para cumprir os 2 anos exigidos por lei (art. 48 da Lei nº
11.101/2005) para que um devedor possa requerer a recuperação judicial, o produtor rural pode
aproveitar o período anterior ao registro na Junta Comercial, pois se considera atividade
empresarial regular esse período anterior ao registro (STJ. 4ª Turma. REsp 1.800.032-MT,
julgado em 05/11/2019).
Sabe-se que a sociedade tem patrimônio distinto do patrimônio dos sócios, razão pela
qual o pagamento das dívidas sociais pelos sócios é, via de regra, subsidiário.
É, inclusive, assegurado por lei que seja primeiro executado e exaurido o patrimônio
social para que, somente após, os sócios sejam atingidos, ainda que de responsabilidade
ilimitada (art. 1.024 do CC).
A discussão aqui é para verificar se a responsabilidade dos sócios será subsidiária em
caráter limitado ou em caráter ilimitado. Nesse aspecto, a sociedade empresária se subdivide
em:
• sociedade ilimitada: todos os sócios respondem ilimitadamente pelas obrigações
sociais. Nessa categoria só há a sociedade em nome coletivo e a sociedade em
comum;
• sociedade mista: parte dos sócios responde de forma limitada e parte responde de
forma ilimitada. São os casos da sociedade em comandita simples (comanditado
responde ilimitadamente e os comanditários respondem limitadamente) e
sociedade em comandita por ações (sócios-diretores respondem ilimitadamente e
os demais acionistas respondem limitadamente);
• sociedade limitada: todos os sócios respondem limitadamente pelas obrigações
sociais. Há aqui as sociedades limitadas e a sociedade anônima.
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A classificação visa entender para quem pode ser alienada a participação societária.
• sociedade de pessoas (ad personae): quem é o sócio interessa para a sociedade.
Nesse caso, haverá a affectio societatis, podendo os sócios vetarem o ingresso de
pessoas estranhas, ainda que seja herdeiro do ex-sócio;
• sociedade de capital (ad pecuniae): são as sociedade estatutárias. Aqui, não
importa quem é o sócio, pois o importante é apenas o capital. Há o princípio da livre
circulabilidade, podendo o acionista alienar as ações para quem quiser.
Nas sociedades de pessoas, via de regra, haverá a dissolução parcial da sociedade por
conta da morte de um dos sócios, quando o sócio sobrevivente não concordar com o ingresso
do sucessor.
Atente-se para o fato de que não é o tipo societário que define se a sociedade é de
pessoas ou de capital. Uma sociedade limitada pode ser de capital e uma sociedade anônima
pode ser de pessoas (ex: sociedade anônima fechada forma por núcleo familiar).
Na sociedade limitada, o contrato vai definir a existência ou não do chamado direito de
veto. Portanto, o contrato poderá dar à sociedade limitada uma natureza de sociedade de
pessoas ou de sociedade de capital. Caso o contrato seja omisso, será possível a cessão da
quota a terceiros estranhos à sociedade, mas poderá ser obstada por sócios que tenham mais
de 1/4 do capital social. Assim, percebe-se que, sendo omisso o contrato social, a sociedade
limitada será uma sociedade de pessoas. Isso porque 1/4 do capital social poderá vetar a
entrada de estranho no quadro social.
Questão dirimida pela jurisprudência do STJ é a da possibilidade ou não de penhora das
quotas sociais em uma sociedade de pessoas. Sustentava-se que, se fosse permitida a penhora
de cotas particulares dos sócios, haveria o ingresso de estranhos no quadro societário (credor
ou adquirente das cotas penhoradas). Todavia, tal quadro não se sustenta. Com efeito,
conforme decidiu o STJ (ex: REsp 221.625), se houver restrição ao ingresso do credor como sócio,
a solução é facultar à sociedade, na qualidade de terceira interessada, “remir a execução, remir
o bem ou conceder aos demais sócios a preferência na aquisição das cotas, a tanto por tanto
(CPC, arts. 1.117, 1.118 e 1.119), assegurando-se ao credor, não ocorrendo solução satisfatória,
o direito de requerer a dissolução total ou parcial da sociedade”.
Atualmente, o tema encontra respaldo no art. 861 do novo CPC, que prevê o seguinte:
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§ 1º Para evitar a liquidação das quotas ou das ações, a sociedade poderá adquiri-las
sem redução do capital social e com utilização de reservas, para manutenção em
tesouraria.
Segundo o art. 977 do Código Civil, “faculta-se aos cônjuges contratar sociedade entre
si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens,
ou no da separação obrigatória.”
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A regra vale tanto para sociedades empresárias quanto para sociedades simples,
conforme já decidiu o STJ: “as restrições previstas no art. 977 do CC/02 impossibilitam que os
cônjuges casados sob os regimes de bens ali previstos contratem entre si tanto sociedades
empresárias quanto sociedades simples” (REsp 1.058.165/RS).
O objetivo do art. 977 do CC é impedir que cônjuges casados sob os regimes da
comunhão universal ou da separação obrigatória façam parte de uma mesma sociedade, nada
impedindo, pois, que alguém casado sob esses regimes contrate, sozinho, sociedade com
terceiro, conforme enunciado 205 das Jornadas de Direito Civil do CJF: “a vedação à
participação dos cônjuges casados nas condições previstas no artigo refere-se unicamente a
uma mesma sociedade”.
É importante registrar também que a vedação em questão só se aplica a sociedades
constituídas após a vigência do atual Código Civil, em respeito ao ato jurídico perfeito (art. 5º,
inciso XXXVI, da CF/88), conforme enunciado 204 das Jornadas de Direito Civil do CJF.
Por fim, registre-se que o art. 977 do Código Civil “abrange tanto a participação
originária (na constituição da sociedade) quanto a derivada, isto é, fica vedado o ingresso de
sócio casado em sociedade de que já participa o outro cônjuge” (enunciado 205 das Jornadas
de Direito Civil do CJF).
Em provas, é comum as bancas tentarem confundir os candidatos mesclando o art. 977
(para o qual o regime de bens importa) com o art. 978, que trata da alienação dos bens afetados
à atividade empresarial pelo empresarial individual casado sem necessidade de outorga conjugal
(que independe do regime de bens do casamento).
Código Civil, art. 1.055: “O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais,
cabendo uma ou diversas a cada sócio. (...) § 2º É vedada contribuição que consista
em prestação de serviços.”
Lei nº 6.404/1976, art. 7º: “O capital social poderá ser formado com contribuições
em dinheiro ou em qualquer espécie de bens suscetíveis de avaliação em dinheiro.”
7. Um ou mais negócios
Por fim, o parágrafo único do art. 981 do Código Civil prevê a possibilidade de uma
sociedade ter por objeto a realização de um ou mais negócios determinados, caso em que ela
pode, por exemplo, ter prazo determinado de duração (exemplo: sociedades de propósito
específico – SPE; essa nomenclatura não constitui um tipo societário, apenas denota uma
característica de uma sociedade com prazo de existência determinado).
8. Sociedade irregular
Se há uma sociedade regular, que observa as regras legais, a sociedade irregular é aquela
que não observa as regras legais. A sociedade sem registro é chamada de sociedade irregular
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(há contrato social, mas não foi registrado) ou sociedade de fato (nem sequer há contrato
social).
No Código Civil, embora a literalidade do art. 986 possa fazer crer que apenas a
sociedade irregular seja regida pelas normas da sociedade em comum, estas também regem
as sociedades de fato. Ambas sofrem uma série de restrições, como, por exemplo:
• não têm legitimidade para pedir a falência do seu devedor;
• não podem pedir a sua própria recuperação judicial;
• os livros, por não terem autenticação, não têm eficácia probatória em favor da
sociedade.
• os sócios respondem ilimitadamente pelas obrigações sociais e os sócios que estão
à frente da sociedade, administrando e fechando negócios, responderão
diretamente pelas dívidas da sociedade, sem aplicação do art. 1.024 do CC. Os
demais sócios respondem de forma subsidiária, ou seja, em primeiro lugar é
esgotado o patrimônio da sociedade, para depois serem atingidos os bens dos
sócios.
• impossibilidade de contratar com o poder público.
Ademais, a existência dessa sociedade, em demandas entre os próprios sócios, apenas
pode ser provada por escrito. Já os terceiros podem prová-la de qualquer modo. Tal regra já foi
chancelada também pelo STJ:
STJ - Sociedade de fato. Litígio entre supostos sócios. Prova documental. Requisito
indispensável. A prova documental é o único meio apto a demonstrar a existência da
sociedade de fato entre os sócios (REsp 1.706.812-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 03/09/2019, DJe 06/09/2019).
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3. Cláusulas contratuais
De acordo com o inciso I do art. 997 do Código Civil, o contrato social deve mencionar
“nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a
firma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas.”
Percebe-se, logo, que as sociedades contratuais podem, em princípio, ter como sócios
tanto pessoas físicas (pessoas naturais) quanto pessoas jurídicas (outra sociedade, por
exemplo). Mas cuidado: certos tipos de sociedade não admitem pessoa jurídica como sócio.
A Sociedade em nome coletivo, por exemplo, somente pode ter como sócios pessoas
físicas (art. 1.039 do Código Civil). Quanto à sociedade em comandita simples, somente os sócios
comanditários podem ser pessoas jurídicas (art. 1.045 do Código Civil), enquanto os
comanditados devem ser pessoas naturais.
Lembre-se: quando se trata de sócio pessoa física, é preciso ter cuidado. Se esse sócio
for alguém que tem impedimento legal para exercício de empresa, não poderá ter poderes de
administração, nem responsabilidade ilimitada. Logo, deve ser verificado o tipo de sociedade,
bem como o poder de administração. Também se deve tomar cuidado caso o sócio pessoa física
seja incapaz, porque nesse caso deverão ser obedecidos os pressuposto do artigo 974, § 3º do
CC (“I – o sócio incapaz não pode exercer a administração da sociedade; II – o capital social deve
ser totalmente integralizado; III – o sócio relativamente incapaz deve ser assistido e o
absolutamente incapaz deve ser representado por seus representantes legais”).
Conforme previsão do inciso II do art. 997 do Código Civil, o contrato social também
deve mencionar “denominação, objeto, sede e prazo da sociedade.” Em vez de denominação, o
dispositivo legal deveria ter usado a expressão nome empresarial, que é genérica e engloba
também a firma.
Quanto ao objeto social, ele será determinante para definir a natureza da sociedade
(simples ou empresária, conforme art. 982, do Código Civil), bem como o respectivo órgão de
registro (Cartório ou Junta Comercial). A sede definirá o Cartório ou a Junta Comercial onde será
feito o registro do contrato social, já que a competência desses órgãos é local.
O prazo definirá o período de duração da sociedade, lembrando-se apenas de que, em
regra, as sociedades são constituídas por prazo indeterminado.
Outro dado que o contrato social deve necessariamente mencionar, segundo o art. 997,
inciso III, do Código Civil, é o “capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária”.
Capital social é o montante de contribuições dos sócios para a sociedade, a fim de que
ela possa cumprir seu objeto social.
O capital social deve ser sempre expresso em moeda corrente nacional, e pode
compreender dinheiro ou quaisquer outros bens (bens móveis, imóveis ou semoventes;
materiais ou imateriais), desde que sejam suscetíveis de avaliação pecuniária.
Embora não esteja expressamente previsto na lei, há cada vez mais preocupação, tanto
doutrinária quanto jurisprudencial, no sentido de que o capital social seja condizente com o
objeto social, para que não se tenha o fenômeno chamado de “subcapitalização” – sociedade
que tem capital irrisório em relação ao seu objeto social. Há, inclusive, quem defenda que a
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Poderá o contrato social ter cláusulas não essenciais, como é a cláusula de como se dará
a sucessão em caso de morte de um dos sócios.
O contrato social deverá ser escrito para a sociedade regular ser registrada.
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O contrato social poderá ser alterado. Para tanto, é preciso que os sócios deliberem
sobre as alterações.
Quando a deliberação dos sócios implicar em alteração do contrato social, no caso da
sociedade em comandita simples e na sociedade em nome coletivo, será indispensável a
unanimidade dos sócios para mudar uma cláusula essencial. Sendo cláusula não essencial,
basta a vontade de mais da metade do capital social.
Na sociedade limitada, a alteração do contrato social exige o voto de 3/4 do capital
social a favor da alteração. Aqui, não importa a natureza da cláusula, se é essencial ou não
essencial.
Os minoritários, caso não concordem, deverão se submeter aos interesses da maioria,
ou então exercer seu direito de retirada, devendo ser reembolsados pelo valor patrimonial de
suas quotas.
7. Transformação do registro
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1. Sócio remisso
O sócio tem direito de participação nos resultados sociais. Conforme já visto, é vedada
a cláusula leonina.
O sócio tem direito de administração da sociedade ou, ainda que não administre, tem
direito de participar da escolha do administrador e da estratégia geral adotada pela sociedade.
Em regra, é assegurado a todos os sócios esse direito de participação das deliberações sociais.
Também é direito do sócio a fiscalização da administração, a qualquer tempo.
O sócio igualmente possui o direito de retirada, previsto no art. 1.029 do CC. Caso se
trate de sociedade por prazo indeterminado, o sócio poderá se retirar sem qualquer motivação,
bastando que comunique os demais sócios com antecedência de sessenta dias.
No entanto, no caso de retirada de sociedade com prazo determinado, esta saída
antecipada do sócio só é possível se houver justa causa, a ser demonstrada judicialmente. Isso
significa dizer que é preciso comprovar motivação idônea para se retirar antes do prazo final
da duração da sociedade.
De acordo com o STJ, em que pese o art. 1.029 do CC estar no capítulo referente às
sociedades simples, tal previsão se aplica a todos os demais tipos societários, exceto quanto às
Sociedades Anônimas, que possuem regência específica na LSA. Trata-se, para esse Tribunal, de
“direito potestativo positivado em favor de cada sócio, individualmente considerado” (REsp
1.602.240/MG).
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3. Exclusão de sócio
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1. Sociedade limitada
É o tipo societário mais utilizado na praxe comercial brasileira, porque é o ideal para
pequenos e médios empreendimentos, por reunir duas características muito importantes: em
primeiro lugar, a contratualidade, tornando-lhe um modelo societário mais simples de se
constituir e, em segundo lugar, a limitação da responsabilidade.
Em verdade, dos cinco tipos de sociedade empresária tratados, apenas dois são usados
na prática hoje em dia, a sociedade limitada e a sociedade anônima, os demais são tipo
societários que, na atualidade, basicamente só existem no papel.
De acordo com o art. 1.052 do Código Civil, “na sociedade limitada, a responsabilidade
de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela
integralização do capital social”.
Assim, pois, é que se dá a responsabilidade limitada dos quotistas desse tipo societário:
se o capital social estiver totalmente integralizado, não se deve executar eventual dívida social
pendente nos bens dos sócios (salvo em situações excepcionais, como no caso de
desconsideração da personalidade jurídica, por exemplo); se, porém, o capital social não estava
totalmente integralizado, pode-se executar eventual dívida social pendente nos bens dos
sócios, mas apenas até o limite da integralização. E mais: como essa responsabilidade dos sócios
pela integralização do capital social é solidária, qualquer sócio pode ser executado por eventual
dívida social pendente, mesmo aquele que já tenha integralizado suas quotas (caberá a ele,
posteriormente, agir em regresso contra os demais).
Atenção: a redação do artigo 1.052 cai muito em prova. Cuidado com a troca de palavras
e atente-se para o fato de que, enquanto não estiver totalmente integralizado o capital social,
não haverá responsabilidade ilimitada dos sócios! Na responsabilidade ilimitada, os sócios
respondem pela integralidade das obrigações sociais. No caso do art. 1.052, continuará havendo
uma limitação na obrigação dos sócios, mas não será mais o valor de sua cota, e sim o valor que
falta para a integralização do capital social.
Além disso, responderão os sócios também solidariamente pela exata estimação dos
bens conferidos ao capital social, mas, nesse caso, apenas pelo prazo de cinco anos da data do
registro da sociedade.
Muita atenção também para uma grande inovação trazida pela Lei da Liberdade
Econômica: a previsão da sociedade limitada unipessoal, constante do novo § 1º do art. 1052 do
Código Civil, que possivelmente tornará superada a figura da EIRELI, uma vez que não há as
mesmas amarras normativas para sua constituição.
Como na sociedade limitada unipessoal não há sócios, tampouco há falar em contrato
social, mas sim em mero “documento de constituição do sócio único”, que deverá observar, no
que couber, as normas referentes ao contrato social (art. 1.052, § 2º, do CC).
O CC permite que a sociedade limitada institua conselho fiscal. Com efeito, dispõe o art.
1.066 que, “sem prejuízo dos poderes da assembleia dos sócios, pode o contrato instituir
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conselho fiscal composto de três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não,
residentes no País, eleitos na assembleia anual de que trata o art. 1.078.”
Trata-se de mera faculdade, a qual só tem sido exercida pelas sociedades limitadas de
maior porte. Em sociedades limitadas pequenas, com poucos sócios, a existência de conselho
fiscal é desnecessária.
O conselho fiscal deve ser heterogêneo e o art. 1.066, § 2º, assegura “aos sócios
minoritários, que representem pelo menos um quinto do capital social, o direito de eleger,
separadamente, um dos membros do conselho fiscal e o respectivo suplente.” Ademais, para
que o Conselho exerça suas atribuições de maneira imparcial, dispôs o Código, em seu art. 1.066,
§ 1º, que
não podem fazer parte do conselho fiscal, além dos inelegíveis enumerados no § 1.º
do art. 1.011, os membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela
controlada, os empregados de quaisquer delas ou dos respectivos administradores,
o cônjuge ou parente destes até o terceiro grau.
A sociedade limitada tem um capítulo próprio no Código Civil, mas com aplicação
subsidiária das regras da sociedade simples em relação aos casos omissos (art. 1.053). Porém, é
possível que o contrato social preveja também a aplicação supletiva por regras da Lei das
Sociedades Anônimas (art. 1.053, parágrafo único), questão simples, porém de grande
incidência em provas.
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A regra para os tipos societários em geral é a de que a exclusão de sócio seja feita pela
via judicial, nos termos do artigo 1.030 do Código Civil.
Tratando-se de sociedade limitada, todavia, o artigo 1.085 do CC prevê uma hipótese
excepcional de exclusão extrajudicial de sócio, ou seja, os demais sócios podem excluir um sócio
sem necessidade de ingressar em juízo. Para tanto, há a necessidade de observância dos
requisitos cumulativos previstos no citado dispositivo legal, que são os seguintes:
• Deliberação pela maioria dos sócios (> ½ do capital social)
• Sócio estiver pondo em risco a continuidade da empresa
• Em virtude de atos de inegável gravidade
• Previsão da exclusão por justa causa no contrato social.
• Reunião ou Assembleia especialmente convocada para tal fim, ciente o acusado
em tempo hábil para comparecer e exercer direito de defesa.
Há, porém, alguns questionamentos sobre esses requisitos.
O quórum da maioria absoluta deve ser computado considerando-se todo o capital
social?
De acordo com o STJ (REsp 1.459.190/SP, Informativo nº 575), deve-se excluir a cota do
interessado, computando-se a maioria absoluta com base no capital social restante. Na mesma
linha é o entendimento do Enunciado 216 do CJF, amparado no art. 1.074, § 2º, do CC, que
consagra o princípio da moralidade e a vedação do conflito de interesses ao estipular que
“nenhum sócio, por si ou na condição de mandatário, pode votar matéria que lhe diga respeito
diretamente”.
O contrato deve prever quais são os atos considerados graves?
Não. Apenas precisa prever a possibilidade de exclusão por justa causa. Porém, nada
obsta que o contrato diga expressamente quais são os atos considerados graves, sendo,
inclusive, boa maneira de eliminar ou ao menos reduzir possibilidade de discussão futura.
Qual o prazo decadencial que o sócio possui para pleitear judicialmente a anulação da
deliberação que o excluiu da sociedade?
Conforme decidiu o STJ, o prazo decadencial será de três anos, ainda que haja regência
opção pela regência supletiva pela Lei das Sociedades Anônimas (que a seu turno prevê um
prazo de dois anos para requerer a anulação de deliberações da sociedade).
De acordo com esse Tribunal, não há necessidade de buscar regência supletiva na LSA
em virtude da existência de norma própria na parte geral do Código Civil sobre o tema (art. 48,
parágrafo único).
Art. 1057 Na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou
parcialmente, a quem seja sócio, independentemente da audiência dos outros, ou a
estranho, neste caso se não houver oposição de titulares de mais de ¼ do capital
social.
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Essa é outra questão polêmica e que teve mudança de entendimento no início de 2017.
O Decreto 3.078/1919 (antiga lei das limitadas – status de lei ordinária), no seu art. 8º,
autorizava expressamente a aquisição de quotas pela própria sociedade limitada, para
colocação em tesouraria ou cancelamento. Assim, essas cotas não pertenciam a ninguém, mas
à própria sociedade.
Havia quatro requisitos: (i) as quotas deveriam estar devidamente integralizadas; (ii) a
aquisição deveria ser feita com fundos disponíveis; (iii) não poderia resultar em diminuição do
capital social; e (iv) a operação deveria ser aprovada em deliberação unânime.
Assim que o Código Civil entrou em vigor, estabeleceu-se uma polêmica sobre essa
questão, e o entendimento inicial do DREI foi de que não era possível mais a aquisição de quotas
pela própria sociedade.
No entanto, havia grande reclamação dos operadores do direito societário em relação a
tal entendimento. Tanto que foi aprovado o Enunciado 391 das Jornadas de Direito Civil do CJF:
“a sociedade limitada pode adquirir suas próprias quotas, observadas as condições
estabelecidas na Lei das Sociedades por Ações”.
No início de 2017, o DREI revisou algumas de suas instruções normativas, passando a
admitir a aquisição de quotas pela própria sociedade limitada, desde que esta adote a regência
supletiva da LSA, sendo aplicado, portanto, o artigo 30, § 1º, dessa Lei, que prevê a possibilidade
de a sociedade adquirir suas próprias ações para “permanência em tesouraria ou cancelamento,
desde que até o valor do saldo de lucros ou reservas, exceto a legal, e sem diminuição do capital
social, ou por doação”.
Destaque-se, outrossim, que o art. 861 do novo CPC, já analisado quando se tratou da
possibilidade da penhora de quotas sociais, expressamente passou a prever em seu § 1º a
possibilidade de aquisição de quotas sociais pela sociedade, para manutenção em tesouraria,
embora disciplinasse especificamente a questão da penhora.
De qualquer modo, ante a previsão desse artigo, não teria como o DREI manter seu
entendimento. Ademais, um dos fundamentos para se adquirir quotas pela própria sociedade é
o artigo 1.058 do CC, pois quando o sócio remisso é excluído, a sociedade pode adquirir suas
quotas, colocá-las em tesouraria para depois repassá-las a terceiros etc.
A sociedade limitada pode ser administrada por ou uma ou mais pessoas designadas no
contrato social ou em ato separado, de acordo com o art. 1.060 do CC. Referido artigo não deixa
claro se a administração pode ser realizada por pessoa jurídica, uma vez que só utiliza o termo
“pessoa”. Porém, quando cominado com o artigo 997, inciso VI, do mesmo diploma legal, chega-
se à conclusão de que os administradores precisam ser pessoas naturais.
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1.9.2. Responsabilidade por débitos enquadráveis como dívida ativa tributária ou não tributá-
ria
Quanto aos débitos da sociedade que sejam enquadráveis como dívida ativa, tributário
ou não tributário, respondem pelo inadimplemento os administradores, sócios ou não-sócios.
Esses administradores poderão alegar que o inadimplemento não implicou em descumprimento
de lei ou de contrato. Trata-se de difícil sustentação.
A certidão de dívida ativa emitida contra aquela sociedade poderá ser executada
diretamente no patrimônio particular do administrador. Em tal caso, caberá ao administrador
apresentar embargos de devedor, sustentando que o inadimplemento não foi por violação de
lei ou contrato social, ou alegar ser o valor indevido.
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Vale lembrar, no entanto, que a adoção da teoria dos atos ultra vires pelo Código Civil é
criticada pela doutrina, havendo quem entenda que o credor de boa-fé sempre pode cobrar a
sociedade, mesmo nesses casos, em homenagem à teoria da aparência. Em verdade, trata-se de
entendimento majoritário (CRUZ, 2019). Nesse sentido, existe enunciado aprovado nas Jornadas
de Direito Comercial do CJF, bem como decisão do STJ. Segundo o Enunciado 11 da I Jornada
de Direito Comercial do CJF: “a regra do art. 1.015, parágrafo único, do Código Civil deve ser
aplicada à luz da teoria da aparência e do primado da boa-fé objetiva, de modo a prestigiar a
segurança do tráfego negocial. As sociedades se obrigam perante terceiros de boa-fé”.
De acordo com o STJ:
Os atos de gestão serão praticados pelos administradores que possuem poderes para
isso, mas certas matérias mais importantes/complexas não podem ser decididas pelo(s)
administrador(es), dependendo de uma deliberação social.
No seu art. 1.071, o CC previu, em rol exemplificativo, que
Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas
na lei ou no contrato:
I – a aprovação das contas da administração;
II – a designação dos administradores, quando feita em ato separado;
III – a destituição dos administradores;
IV – o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;
V – a modificação do contrato social;
VI – a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de
liquidação;
VII – a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
VIII – o pedido de concordata.
Quanto ao último inciso, lembre-se de que o Código Civil é de 2002, ano em que ainda
estava em vigor a antiga lei de falências (Decreto-Lei nº 7.661/1945), que previa falência e
concordata. Em 2005, foi editada a atual lei de falência e recuperação de empresas, Lei nº
11.101/2005, que acabou com a concordata, que foi substituída pela recuperação judicial e pela
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• 3/4 para aprovar incorporação, fusão ou dissolução da sociedade: os 25% que não
concordarem poderão exercer o direito de retirada;
• 2/3 do capital social para designar administrador não sócio, se o capital estiver
totalmente integralizado;
• 2/3 para destituir o administrador sócio, nomeado no contrato social;
• mais da 1/2 (metade) do capital social para designar administrador em ato separado
do contrato social: como é ato em separado, a exigência é menor;
• mais da 1/2 (metade) do capital social para destituir um administrador não sócio,
designado em ato separado do contrato social;
• mais da 1/2 (metade) do capital social para expulsar sócio minoritário.
Aqui vale uma última ressalva, quando a sociedade limitada é microempresária ou
empresa de pequeno porte, a lei dispensa a realização de qualquer assembleia ou reunião,
salvo se o objetivo é a exclusão de sócio minoritário, hipótese em que haverá a assembleia.
A lei estabelece que nas microempresas e empresas de pequeno porte, o quórum de
deliberação será sempre a maioria do capital social.
2.1. Introdução
É uma expressão utilizada por Fábio Ulhoa Coelho para se referir à sociedade em nome
coletivo, à sociedade em comandita simples e à sociedade em conta de participação.
Trata-se de sociedades pouco usuais no ordenamento jurídico brasileiro. Cabe ressaltar
que a sociedade em conta de participação é despersonalizada.
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Essa sociedade está definida no art. 991 do Código Civil, que assim dispõe: “na sociedade
em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social é exercida unicamente pelo
sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade,
participando os demais dos resultados correspondentes.”
Trata-se, em verdade, não de uma sociedade propriamente dita, mas de um contrato
especial de investimento que o sócio ostensivo (geralmente um empresário individual ou
sociedade empresária) faz com os sócios participantes, também chamados de sócios ocultos
(podem ser empresários ou não), a fim de desenvolver determinado negócio específico.
Cuidado: quem exerce a atividade é o sócio ostensivo, não o fazendo como
representante ou administrador da sociedade, mas em seu nome individual e sob sua própria e
exclusiva responsabilidade. É por isso que se diz que a sociedade em conta de participação é
mais um contrato de investimento do que uma sociedade, pois provavelmente o sócio ostensivo
é uma sociedade empresária, que angariou alguns investidores para fazer determinado negócio,
acertando a divisão dos lucros e prejuízos ao final. Os terceiros que contratam com o sócio
ostensivo sequer sabem da existência da sociedade em conta de participação ou os sócios
investidores, porque negociam diretamente com o sócio ostensivo.
É o sócio ostensivo (uma sociedade limitada, por exemplo) que vai colocar em prática o
negócio em questão, praticando todos os atos necessários para tanto (contratar com terceiros,
por exemplo). Perceba-se que os terceiros não contratarão com a sociedade em conta de
participação, mas com o próprio sócio ostensivo, e é por isso que a responsabilidade decorrente
desse negócio é apenas do sócio ostensivo, e não da sociedade, muito menos dos participantes
(estes, aliás, sequer devem aparecer nas relações do ostensivo com terceiros). A propósito, diz
o art. 991, parágrafo único, do Código Civil: obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio
ostensivo; e, exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social.
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3. Sociedade em comum
Quanto à sociedade em comum, o art. 986 do Código Civil tem a seguinte redação:
“enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto por ações em
organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente e no que com ele
forem compatíveis, as normas da sociedade simples.”
Sociedade em comum, portanto, é aquela que ainda não inscreveu seus atos
constitutivos no órgão competente, que pode ser a Junta Comercial (caso o objeto social seja o
exercício de uma atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou
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de serviços) ou o Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas (caso o objeto social seja o
exercício de uma atividade econômica não empresarial, como o exercício de profissão
intelectual, de natureza literária, artística ou científica).
Como é o registro que confere personalidade jurídica às sociedades (art. 985 do Código
Civil), a sociedade em comum não possui personalidade jurídica, obviamente. Trata-se, na
verdade, de uma sociedade em processo de constituição: como uma sociedade não é constituída
de imediato, existe um lapso temporal entre o momento em que os sócios se decidem pela
constituição e o momento em que ela é efetivamente constituída (registro no órgão
competente).
Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem provar a
existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.
A sociedade em comum não é uma sociedade devidamente registrada, então não tem
personalidade jurídica, não tem atos constitutivos registrados para que um terceiro possa
consultar. Por isso, permite-se ao terceiro provar a existência dessa sociedade de qualquer
modo. Porém, em se tratando dos próprios sócios que integram a sociedade, a prova da
existência da sociedade deverá ser feita por escrito.
De acordo com o art. 988 do CC, “os bens e dívidas sociais constituem patrimônio
especial, do qual os sócios são titulares em comum”.
Sobre o tema, dispõe o Enunciado 210 das Jornadas de Direito Civil do CJF o seguinte:
“o patrimônio especial a que se refere o art. 988 é aquele afetado ao exercício da atividade,
garantidor de terceiro, e de titularidade dos sócios em comum, em face da ausência de
personalidade jurídica”.
Assim, diz o Código Civil, que se os bens estão vinculados de certa forma à atividade,
consideram-se como patrimônio especial da sociedade em comum, sendo esses bens que
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deverão garantir eventuais credores. Cria-se, portanto, uma especialização patrimonial, sem
prejuízo da responsabilização ilimitada dos sócios.
Uma vez que o “patrimônio social” da sociedade em comum é formado pelos bens dos
sócios que estão afetados ao objeto social, é contra esses bens que os credores sociais devem
se voltar em caso de eventual execução, aplicando-se aos sócios o benefício de ordem previsto
no art. 1.024 do Código Civil, isto é, os credores devem primeiro executar esses “bens sociais”
antes de executar bens pessoais dos sócios. O único sócio que não poderá gozar do benefício de
ordem é aquele contratou pela sociedade, conforme previsão expressa do art. 990 do Código
Civil: todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do
benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade.
Recomenda-se a leitura atenta dos artigos 987 e 990 do Código Civil, pois são os que
mais caem em prova.
5. EIRELI
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Polêmica: inicialmente foi dito que seria uma subespécie de sociedade, uma sociedade
limitada de um sócio só. Não foi o entendimento que prevaleceu.
O que prevaleceu é que a EIRELI é uma nova categoria de pessoa jurídica de direito
privado. O principal argumento é de que além de o CC ter acrescido o artigo 980-A ao seu corpo
normativo, acrescentou também o artigo 44, inciso VI: “São pessoas jurídicas de direito privado:
(...) VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada. Confiram-se os enunciados do CJF
sobre o tema:
Como a EIRELI não é uma sociedade, critica-se o uso da palavra “social” no artigo 980-A
(Enunciado 472 da V Jornada de Direito Civil: “É inadequada a utilização da expressão ´social´
para as empresas individuais de responsabilidade limitada.”)
Há, ainda, exigência de capital mínimo para se constituir EIRELI, a qual foi muito
criticada, inclusive questionada por meio da ADIn nº 4.637 (relator Min. Gilmar Mendes).
O prof. André Santa Cruz (2019) é um crítico dessa exigência, porque não existe essa
imposição de capital mínimo no Brasil nem para constituição de Sociedade Anônima, a não ser
em situações muito específicas, não fazendo sentido exigir para constituição de EIRELI.
Outra questão sobre o capital da EIRELI: a exigência de capital mínimo é no ato da
constituição, uma vez constituído tem-se ato jurídico perfeito e eventuais alterações no valor
do salário mínimo não implicarão alterações do capital social, conforme já chancelado no
Enunciado 4 da I Jornada de Direito Comercial: “Uma vez subscrito e efetivamente integralizado,
o capital da empresa individual de responsabilidade limitada não sofrerá nenhuma influência
decorrente de ulteriores alterações no salário mínimo.”
“Art. 980-A, §1º. O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão
"EIRELI" após a firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade
limitada.”
Assim, resta claro que a EIRELI pode adotar FIRMA ou DENOMINAÇÃO (conteúdo a ser
estudado em aula posterior) e deve incluir a expressão EIRELI ao final do nome.
O artigo 980-A só fala em pessoa. É necessário ser pessoa natural ou pode ser pessoa
jurídica?
Há posicionamento que diz ser possível apenas a constituição por pessoa natural, uma
vez que a criação da EIRELI foi justamente para permitir que o empresário individual se tornasse
pessoa jurídica, não sendo objetivo do legislador autorizar que uma pessoa jurídica constitua
uma EIRELI.
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Outro posicionamento é o de que não há empecilho para que uma pessoa jurídica seja
sócia de outra pessoa jurídica, sendo possível a constituição de EIRELI por uma pessoa jurídica.
Inicialmente, foi o primeiro posicionamento que prevaleceu, inclusive com enunciado
do CJF nesse sentido (enunciado 468 das Jornadas de Direito Civil). Apenas pessoa natural
poderia constituir EIRELI.
O DREI também entendia que o titular da EIRELI tinha que ser uma pessoa natural, mas
esse entendimento mudou, e agora é possível que o titular de uma EIRELI seja uma pessoa
jurídica, podendo essa pessoa jurídica ser, inclusive, uma sociedade estrangeira (item 1.2, parte
inicial, e item 1.2.5.c do Manual de Registro de EIRELI).
Detalhe importante: o § 2º do art. 980-A do Código Civil veda a constituição de mais de
uma EIRELI pelo mesmo titular quando esse for uma pessoa natural. Assim, quando o titular da
EIRELI for uma pessoa jurídica, tal vedação não se aplicará, sendo possível que uma pessoa
jurídica seja titular de mais de uma EIRELI.
Serão a ela aplicadas as mesmas regras das sociedades limitadas, mas há algumas
peculiaridades:
• nome empresarial trará a expressão “EIRELI” ao final da firma ou denominação. Ex.:
João da Silva EIRELI ou Azul Comércio de Livros EIRELI;
• capital social será de pelo menos 100 salários mínimos, devendo estar totalmente
integralizado no ato da constituição da EIRELI;
• se o sócio for uma pessoa física, não poderá participar de uma outra EIRELI. Poderá
o sócio da EIRELI ser sócio de outra sociedade limitada, mas não poderá ser
unipessoal;
• poderá também ser constituída por transformação de registro. Isso pode se dar
pelo empresário individual que decide se transformar em EIRELI ou por meio da
concentração de titularidade da sociedade que era de dois sócios para que o sócio
restante promova a modificação dentro do prazo de 180 dias trazido pela lei.
6. Sociedade Anônima
Vale relembrar, que dos cinco tipos de sociedade empresária tratados, apenas dois são
usados na prática hoje em dia, a sociedade limitada e a sociedade anônima, os demais são tipo
societários que, na atualidade, basicamente só existem no papel.
Obs.: existem também as cooperativas, mas lembre-se que essas não são sociedades
empresárias, mas sociedades simples, assim como existem as sociedades simples puras e a
EIRELLI, que não é sociedade.
Duas são as sociedades por ações:
• sociedade anônima;
• sociedade em comandita por ações.
As regras da sociedade anônima possuem caráter geral.
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6.2. Classificação
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A Comissão de Valores Mobiliários foi instituída pela Lei nº 6.385/76, que, em seu art.
5º, prevê o seguinte:
a) a regulamentar, uma vez que cabe à CVM estabelecer o regramento geral relativo
ao funcionamento do mercado de capitais (possui instruções normativas);
b) a autorizante, uma vez que é a CVM que autoriza a constituição de companhias
abertas e a emissão e negociação de seus valores mobiliários; e
c) a fiscalizatória, uma vez que a CVM deve zelar pela lisura das operações realizadas
no mercado de capitais, sendo investida, para tanto, de poderes sancionatórios.
(RAMOS, 2016)
a) Primário x Secundário
Bolsa de valores é uma entidade privada, que tem a função de manter um local
apropriado, uma estrutura logística administrativa para a negociação pública de valores
mobiliários, com a finalidade de que se realize de forma mais dinâmica, transparente, segura,
ágil etc.
Geralmente, as Bolsas de Valores eram associações civis, sem fins lucrativos -
associações de corretoras, de instituições financeiras, formavam uma bolsa de valores -, mas
vem ocorrendo o fenômeno chamado de desmutualização das bolsas de valores, pois estão
deixando de ser associações civis sem fins lucrativos para elas próprias se tornarem empresárias,
muitas vezes se tornam S.A. de capital aberto. Exemplo: BOVESPA (Bolsa de Valores de São
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Por esse motivo, é um mercado extremamente sensível, que sofre pesada regulação
estatal, não sendo qualquer S.A. autorizada a abrir capital, já que existem regras extremamente
rígidas.
Hoje em dia, pequenas sociedades vêm tentando outras formas de se financiar, pois o
mercado de capitais acaba sendo muito restrito às sociedades anônimas. O desenvolvimento da
tecnologia tem permitido que pequenos empresários, EIRELIs, startups (que são sociedade que
começam um novo empreendimento, principalmente em áreas de tecnologia), etc., possuam
outras formas de financiamento direto, um deles é chamado de crowdfunding, que tem se
desenvolvido muito por causa da internet, pois capta recursos por meio de plataformas virtuais,
sendo, inclusive, já regulamentado pela CVM.
O acionista responde pelo preço de emissão das ações que ele subscrever ou adquirir.
A ação tem diferentes valores, mas falamos em preço de emissão, que não é todo o valor
que a ação poderá ter. Isso porque a ação poderá ter diferentes valores:
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• valor nominal: é aquele obtido a partir da divisão do capital social pelo número de
ações. O estatuto pode prever este valor nominal, ou poderá não prever;
• valor patrimonial: existe ainda o valor patrimonial das ações. Nesse caso, será feito
o cálculo com base no patrimônio líquido da sociedade dividido pelo número de
ações;
• valor de negociação: é o quanto o sujeito recebe por aquela ação no mercado. É o
preço que o titular da ação consegue quando a vende;
• valor econômico: é aquele que os experts dizem que vale aquela ação. Representa
valor que seria racional pagar por uma ação, a partir das perspectivas de
rentabilidade que se faz da ação.
O preço de emissão é o preço que o indivíduo deverá pagar pela ação que subscreveu,
seja este pagamento à vista, seja parcelado.
Caso a companhia tenha seu capital social constituído por meio de ações de valor
nominal, o preço de emissão não pode ser inferior ao valor nominal.
Por outro lado, caso tenha valor superior ao valor nominal, a diferença será denominado
de ágio. Este ágio, que será o valor entre o preço de emissão e o valor nominal da ação, comporá
a reserva de capital daquela sociedade anônima.
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Valores mobiliários não são apenas ações. Existem outros valores mobiliários.
Ação é aquela que representa uma unidade do capital social.
Além da ação, poderão ser emitidos:
• debêntures:
• partes beneficiárias:
• bônus de subscrição:
• nota promissória: em razão da instrução da CVM, será um valor mobiliário que se
destina à captação de recursos no curto prazo, sendo no mínimo de 30 dias e no
máximo de 360 dias. Capta recursos para restituição no curto prazo. É conhecido
como comercial paper.
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Quanto aos direitos e obrigações conferidos pelas ações, podem ser ordinárias,
preferenciais ou de fruição.
Ação ordinária, como o próprio nome já diz, é a ação que confere direitos normais
(direitos ordinários) aos seus titulares. Entre eles, sua grande característica, é o direito de voto:
“Art. 110. A cada ação ordinária corresponde 1 (um) voto nas deliberações da assembléia-geral.”
Atente-se: O direito de voto não é um direito essencial do acionista. Nas S.A., os direitos
essenciais estão previstos no artigo 109, in verbis:
Art. 109. Nem o estatuto social nem a assembléia-geral poderão privar o acionista
dos direitos de:
I - participar dos lucros sociais;
II - participar do acervo da companhia, em caso de liquidação;
III - fiscalizar, na forma prevista nesta Lei, a gestão dos negócios sociais;
IV - preferência para a subscrição de ações, partes beneficiárias conversíveis em
ações, debêntures conversíveis em ações e bônus de subscrição, observado o
disposto nos artigos 171 e 172;
V - retirar-se da sociedade nos casos previstos nesta Lei.
As ações ordinárias de companhia aberta não podem ser divididas em classes, por
expressa vedação legal.
Ação preferencial confere uma preferência ou vantagem ao seu titular, essas
preferências ou vantagens podem ser de natureza política ou econômica.
Exemplo de vantagem política conferida: “Art. 18. O estatuto pode assegurar a uma ou
mais classes de ações preferenciais o direito de eleger, em votação em separado, um ou mais
membros dos órgãos de administração.”
Há, também, a golden share, que é um tipo de ação preferencial, que foi previsto em
uma das reformas da LSA:
Art. 17 (...) § 7o Nas companhias objeto de desestatização poderá ser criada ação
preferencial de classe especial, de propriedade exclusiva do ente desestatizante, à
qual o estatuto social poderá conferir os poderes que especificar, inclusive o poder
de veto às deliberações da assembléia-geral nas matérias que especificar.
Ação de fruição é ação menos conhecida, apenas confere direito de gozo, porque é
emitida para substituir ação que foi amortizada, conforme art. 44 da LSA:
Art. 44 (...) § 5º. As ações integralmente amortizadas poderão ser substituídas por
ações de fruição, com as restrições fixadas pelo estatuto ou pela assembléia-geral
que deliberar a amortização; em qualquer caso, ocorrendo liquidação da companhia,
as ações amortizadas só concorrerão ao acervo líquido depois de assegurado às
ações não a amortizadas valor igual ao da amortização, corrigido monetariamente.
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Art. 20. (...) § 1º A transferência das ações nominativas opera-se por termo lavrado
no livro de ‘Transferência de Ações Nominativas’, datado e assinado pelo cedente e
pelo cessionário, ou seus legítimos representantes.
“Art. 34. O estatuto da companhia pode autorizar ou estabelecer que todas as ações
da companhia, ou uma ou mais classes delas, sejam mantidas em contas de depósito,
em nome de seus titulares, na instituição que designar, sem emissão de
certificados”.
Art. 35 (...) § 1º. A transferência da ação escritural opera-se pelo lançamento
efetuado pela instituição depositária em seus livros, a débito da conta de ações do
alienante e a crédito da conta de ações do adquirente, à vista de ordem escrita do
alienante, ou de autorização ou ordem judicial, em documento hábil que ficará em
poder da instituição.
b) Partes Beneficiárias
São títulos negociáveis sem valor nominal, estranhos ao capital social, conferindo aos
titulares um direito de crédito eventual, consistente na participação nos lucros anuais (art. 46
da LSA)
Por que direito de crédito eventual?
Porque esse direito de crédito consiste na participação dos lucros anuais e pode ser que
em um determinado exercício a sociedade não tenha obtido lucros.
Somente companhia fechada poderá emitir partes beneficiárias.
Dos lucros da companhia, não podem ser destinados mais de 10% às partes
beneficiárias. Ademais, poderão ter cláusulas para conversão em ações.
A lei diz que as partes beneficiárias podem ser emitidas pelas S.A. não apenas para
captação de recursos, mas também para remuneração da prestação de serviços, ou até mesmo
para atribuição gratuita.
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c) Debêntures
De acordo com o art. 52 da LSA: “Art. 52. A companhia poderá emitir debêntures que
conferirão aos seus titulares direito de crédito contra ela, nas condições constantes da escritura
de emissão e, se houver, do certificado”.
É um título representativo de um contrato de mútuo, de empréstimo. O titular da
debênture tem um direito de crédito em face da companhia. A comunidade de interesse dos
debenturistas poderá ser representada por um agente fiduciário (indenture trustee), que
inclusive poderá ser uma instituição financeira. Sempre que as debêntures forem negociadas no
mercado de valores mobiliários, esta nomeação de um agente fiduciário é obrigatória, e poderá
ser instituição financeira.
Assim como as partes beneficiárias, as debêntures poderão ter uma cláusula que
permita a sua conversão em ações.
Por outro lado, ao contrário das partes beneficiárias, não encerram um direito de crédito
eventual, mas direito de crédito certo.
São títulos que a S.A. emite para se endividar. Promete o pagamento de um valor aos
adquirentes e assim consegue obter recursos para se autofinanciar, por isso é comum encontrar
nos manuais a explicação de que as debêntures representam, grosso modo, um contrato de
empréstimo (mútuo) que a sociedade faz com os investidores.
A própria sociedade dirá em quanto tempo pagará o título, quais são os juros, se há
garantia, e etc.
Quanto à garantia, existem quatro tipos de debêntures: Debêntures com garantia real,
debêntures com garantia flutuante (lucros da sociedade), debênture quirografária (aquela que
não tem garantia), e a debênture subordinada (aquela que em um eventual concurso de
credores ficará abaixo até mesmo dos créditos quirografários).
A debênture é título executivo extrajudicial, portanto, não honrada no seu vencimento,
conforme a própria companhia estabeleceu, poderá ser executada.
d) Bônus de Subscrição
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no art. 109, IV, da LSA), deverá subscrever a emissão de bônus, para o que também possuem
preferência (art. 77, p.u., da LSA).
6.7.1. Assembleia-geral
a) Competências
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Art. 131. A assembléia-geral é ordinária quando tem por objeto as matérias previstas
no artigo 132, e extraordinária nos demais casos.
Parágrafo único. A assembléia-geral ordinária e a assembleia-geral extraordinária
poderão ser, cumulativamente, convocadas e realizadas no mesmo local, data e
hora, instrumentadas em ata única.
c) Quórum de instalação
d) Quórum de deliberação
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6.7.3. Diretoria
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Art. 155. O administrador deve servir com lealdade à companhia e manter reserva
sobre os seus negócios, sendo-lhe vedado:
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Art. 27-D. Utilizar informação relevante ainda não divulgada ao mercado, de que
tenha conhecimento e da qual deva manter sigilo, capaz de propiciar, para si ou para
outrem, vantagem indevida, mediante negociação, em nome próprio ou de terceiro,
com valores mobiliários:
Pena – reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa de até 3 (três) vezes o montante
da vantagem ilícita obtida em decorrência do crime.
Trata-se de disclosure.
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O art. 159 da Lei nº 6.404/76 é muito explorado em concursos em geral, já tendo sido
cobrado em diversas provas. Vale a pena memorizar seus parágrafos e tomar cuidado contra
eventuais pegas clássicos de prova, como mesclar a hipótese do § 3º com a do § 4º.
Caso tenha havido a deliberação favorável ao ajuizamento da ação social de
responsabilização do administrador pela assembleia, mas os administradores retardarem o
ajuizamento da ação por mais de 3 meses, qualquer acionista poderá propor esta ação, em
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nome da companhia. Isto significa dizer que ele próprio atuará em nome próprio, defendendo
direito alheio. É um caso de substituição processual, na modalidade derivada, pois só nasceu
em razão do retardamento da companhia.
Caso a assembleia não decida promover a responsabilização, os acionistas que
detenham ações que representem 5% ou mais do capital social poderão propor ação judicial
em nome próprio para proteção do direito alheio (da sociedade). Haverá uma substituição
processual originária, pois independe da inércia.
O prazo prescricional dessa ação será de 3 anos, a contar da data da assembleia geral
que realizou o balanço relativo àquele exercício, em que o ilícito foi praticado pelo
administrador. Esse é o termo a quo. Há uma exceção na lei estabelecendo que esse prazo de 3
anos vai ser contado da prescrição da ação penal, ou da sentença definitiva transitada em
julgado, caso o ilícito do administrador for também um ilícito penal.
Verdadeira aula sobre o tema é o resumo de precedente veiculado no informativo 563
do STJ:
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Cuidado também com o § 7º: existem duas ações de responsabilidade distintas, a ação
social de responsabilidade, que visa a reparar prejuízos causados à companhia, podendo ser
proposta pela própria companhia, por um acionista ou por grupo de acionistas, conforme o caso,
sendo ação revertida em favor da sociedade, e a ação individual de responsabilidade, na qual
um acionista específico, entendendo ter sofrido prejuízo em virtude de atos errados de gestão,
praticados por um administrador, entra com ação de responsabilidade, pedindo reparação de
danos a si próprio.
Em 2019, o STJ revisitou o tema e pronunciou-se afirmando que a comprovação da
deliberação por parte da Assembléia Geral, conforme determina o art. 159, poderá ser
comprovada posteriormente ao ajuizamento da ação.
STJ - A ação social reparatória (ut universi) ajuizada pela sociedade empresária contra
ex-administradores, na forma do art. 159 da Lei n. 6.404/1976, depende de
autorização da assembleia geral ordinária ou extraordinária, que poderá ser
comprovada após o ajuizamento da ação (REsp 1.778.629-RS, julgado em
06/08/2019, DJe 14/08/2019).
As S.A. são sociedades complexas, em que, muitas vezes, não são os proprietários que
dirigem os negócios sociais, por isso, diz-se que, nessas organizações, o que existe são, em
verdade, controladores. Esses geralmente possuem uma pequena quantidade de ações, não
podendo ser considerados “donos” da S.A., ou, excepcionalmente, podem ser um grupo não de
acionistas, mas de administradores que conseguem se manter no poder e dirigir a sociedade.
Em razão dessa questão é que o poder de controle das S.A. é tão estudado.
Existem autores que comparam as sociedades anônimas mais complexas com o próprio
Estado, mostrando como a estrutura político-administrativa da sociedade se parece com a
estrutura político-administrativa do Estado.
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É importante verificar quem realmente detém o controle da sociedade, até para que se
possam impor certos deveres e responsabilidades.
Art. 117. O acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados
com abuso de poder.
§ 1º São modalidades de exercício abusivo de poder:
a) orientar a companhia para fim estranho ao objeto social ou lesivo ao interesse
nacional, ou levá-la a favorecer outra sociedade, brasileira ou estrangeira, em
prejuízo da participação dos acionistas minoritários nos lucros ou no acervo da
companhia, ou da economia nacional;
b) promover a liquidação de companhia próspera, ou a transformação, incorporação,
fusão ou cisão da companhia, com o fim de obter, para si ou para outrem, vantagem
indevida, em prejuízo dos demais acionistas, dos que trabalham na empresa ou dos
investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia;
c) promover alteração estatutária, emissão de valores mobiliários ou adoção de
políticas ou decisões que não tenham por fim o interesse da companhia e visem a
causar prejuízo a acionistas minoritários, aos que trabalham na empresa ou aos
investidores em valores mobiliários emitidos pela companhia;
d) eleger administrador ou fiscal que sabe inapto, moral ou tecnicamente;
e) induzir, ou tentar induzir, administrador ou fiscal a praticar ato ilegal, ou,
descumprindo seus deveres definidos nesta Lei e no estatuto, promover, contra o
interesse da companhia, sua ratificação pela assembléia-geral;
f) contratar com a companhia, diretamente ou através de outrem, ou de sociedade
na qual tenha interesse, em condições de favorecimento ou não equitativas;
g) aprovar ou fazer aprovar contas irregulares de administradores, por
favorecimento pessoal, ou deixar de apurar denúncia que saiba ou devesse saber
procedente, ou que justifique fundada suspeita de irregularidade.
h) subscrever ações, para os fins do disposto no art. 170, com a realização em bens
estranhos ao objeto social da companhia.
§ 2º No caso da alínea e do § 1º, o administrador ou fiscal que praticar o ato ilegal
responde solidariamente com o acionista controlador.
§ 3º O acionista controlador que exerce cargo de administrador ou fiscal tem
também os deveres e responsabilidades próprios do cargo”.
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Como forma de proteger o acionista minoritário, a LSA não apenas define regras que
impõem deveres e responsabilidades ao acionista controlador, conforme destacamos acima,
mas também disciplina a alienação do poder de controle da companhia.
Pelo estudo da LSA, percebe-se que existe preocupação do legislador em regular a
alienação de controle, pois o acionista controlador pode vender o controle da companhia, e
essas operações são de interesse relevante dos minoritários.
Uma das regras mais importante da LSA sobre o tema é a prevista no art. 254-A, que
trata do chamado tag along, também conhecido como direito de venda conjunta:
Essa é uma das regras colocadas em ocasião das reformas dessa lei. Quando a primeira
reforma foi feita (1997), o tag along foi retirado, devolvendo-se o instituto modificado em outra
ocasião (tornando-se um tag along “meia boca”), pois é só para acionista com direito de voto,
não tendo o mesmo direito o acionista preferencial, e, ainda, não assegura paridade, uma vez
que há necessidade de apenas 80% de pagamento.
Na prática, muitos autores dizem que este tag along não é utilizado, porque hoje em dia
as empresas abertas devem seguir códigos de governança corporativa muito rígidos, que elas
mesmas criam como forma de se mostrar ao mercado como boa empresa para investimento.
Assim, nesses códigos, não raro, asseguram-se tag along melhor que o previsto na lei.
Por fim, tag along é um direito do acionista minoritário, mas este não é obrigado a
vender. Quem está comprando é que é obrigado a fazer a oferta.
Por vezes o controle das S.A. é adquirido por meio de uma série de acordos feitos entre
os acionistas da sociedade, que também são objeto de disciplina específica na LSA:
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São divididos em (i) acordos de voto, (ii) acordos de controle, e (iii) acordos de bloqueio.
Nos acordos de voto, os signatários assumem a obrigação de exercer o seu direito de
voto nos termos que acordaram, formando um bloco para atuação conjunta. Exemplo: acordos
que estabelecem a necessidade de reunião prévia a qualquer deliberação, a fim de combinar o
exercício do direito de voto em bloco (pooling agreements).
Nos acordos de bloqueio, impõem-se condições para a negociação das ações ou para o
exercício do direito de preferência. Exemplo: acionistas signatários ficam impedidos de negociar
suas ações por certo tempo (lock up).
Em determinados temas, caso esse acordo de acionistas esteja arquivado na sede da
companhia, a sociedade deverá observá-los obrigatoriamente.
Serão três temas:
• exercício do poder de controle ou do direito de voto;
• compra e venda de ações;
• preferência para aquisição dessas ações.
Esse arquivamento inviabiliza a possibilidade de, na hora da votação, um dos acionistas
mudar o voto.
O acordo de acionistas poderá existir em relação ao voto-vontade.
O voto-verdade é aquele em que não pode haver acordo, tal como ocorre nos casos de
votar o laudo de avaliação dos bens e nos casos de tomada de contas. O voto-verdade não pode
ser objeto de acordo de acionistas.
6.13. Controle
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Expressão que se cunhou para designar um conjunto de práticas de gestão das S.A.,
especialmente sociedades de capital aberto, que visam a dar longevidade, mais transparência,
proteção aos sócios minoritários etc.
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6.16. Acionista
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STJ - Possiblidade de dissolução parcial da SA que não gera lucros (ainda que não
formada por grupo familiar)
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É possível que sociedade anônima de capital fechado, ainda que não formada por
grupos familiares, seja dissolvida parcialmente quando, a despeito de não atingir seu
fim – consubstanciado no auferimento de lucros e na distribuição de dividendos aos
acionistas –, restar configurada a viabilidade da continuação dos negócios da
companhia. STJ. 3ª Turma. REsp 1.321.263-PR, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em
6/12/2016 (Info 595).
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• sociedade coligada: uma sociedade tem influência na outra, mas não há o controle
de uma sobre a outra;
• sociedade controladora: há um exercício do controle da sociedade, em que a
controladora controla a controlada.
A sociedade subsidiária integral é uma sociedade anônima constituída por escritura
pública, cujo único acionista é uma sociedade. Esta sociedade controladora poderá ser anônima,
limitada, etc., mas deverá ser sociedade brasileira.
Grupos de direito, por sua vez, são um conjunto de sociedades cujo controle é
titularizado por uma sociedade. Há uma sociedade que comanda, sendo denominado de
holding.
Esse grupo deverá ter um registro na Junta Comercial. Essa holding deverá ser
obrigatoriamente brasileira.
Atente-se que esse grupo não tem personalidade jurídica. Por isso, em relação às
sociedades do grupo, não haverá solidariedade, tampouco subsidiariedade, devendo cada uma
responder pelos seus atos, salvo direito trabalhista, consumidor, etc.
No caso de consórcios, ocorrerá quando duas sociedades combinarem seus esforços,
com recursos, a fim de desenvolver um empreendimento em comum. Nesse caso, as sociedade
consorciadas responderão por aquilo que contratarem. No entanto, o consórcio também não
terá personalidade jurídica própria.
Na verdade, o assunto não é exclusivo de S.A., mas é tratado na Lei das Sociedades
Anônimas.
Existem quatro operações societárias principais, que apesar de também estarem
disciplinadas no Código Civil, este basicamente repete o que diz a Lei das S.A.
6.22.1. Transformação
6.22.2. Incorporação
Art. 227. A incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são
absorvidas por outra, que lhes sucede em todos os direitos e obrigações. § 1º A
assembléia-geral da companhia incorporadora, se aprovar o protocolo da operação,
deverá autorizar o aumento de capital a ser subscrito e realizado pela incorporada
mediante versão do seu patrimônio líquido, e nomear os peritos que o avaliarão.
§ 2º A sociedade que houver de ser incorporada, se aprovar o protocolo da operação,
autorizará seus administradores a praticarem os atos necessários à incorporação,
inclusive a subscrição do aumento de capital da incorporadora
§ 3º Aprovados pela assembléia-geral da incorporadora o laudo de avaliação e a
incorporação, extingue-se a incorporada, competindo à primeira promover o
arquivamento e a publicação dos atos da incorporação.
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6.22.3. Fusão
Art. 228. A fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para
formar sociedade nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações.
§ 1º A assembléia-geral de cada companhia, se aprovar o protocolo de fusão, deverá
nomear os peritos que avaliarão os patrimônios líquidos das demais sociedades.
§ 2º Apresentados os laudos, os administradores convocarão os sócios ou acionistas
das sociedades para uma assembléia-geral, que deles tomará conhecimento e
resolverá sobre a constituição definitiva da nova sociedade, vedado aos sócios ou
acionistas votar o laudo de avaliação do patrimônio líquido da sociedade de que
fazem parte.
§ 3º Constituída a nova companhia, incumbirá aos primeiros administradores
promover o arquivamento e a publicação dos atos da fusão.
6.22.4. Cisão
Art. 229. A cisão é a operação pela qual a companhia transfere parcelas do seu
patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fim ou já existentes,
extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio, ou
dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.
§ 1º Sem prejuízo do disposto no artigo 233, a sociedade que absorver parcela do
patrimônio da companhia cindida sucede a esta nos direitos e obrigações
relacionados no ato da cisão; no caso de cisão com extinção, as sociedades que
absorverem parcelas do patrimônio da companhia cindida sucederão a esta, na
proporção dos patrimônios líquidos transferidos, nos direitos e obrigações não
relacionados.
§ 2º Na cisão com versão de parcela do patrimônio em sociedade nova, a operação
será deliberada pela assembléia-geral da companhia à vista de justificação que
incluirá as informações de que tratam os números do artigo 224; a assembléia, se a
aprovar, nomeará os peritos que avaliarão a parcela do patrimônio a ser transferida,
e funcionará como assembléia de constituição da nova companhia.
§ 3º A cisão com versão de parcela de patrimônio em sociedade já existente
obedecerá às disposições sobre incorporação (artigo 227).
§ 4º Efetivada a cisão com extinção da companhia cindida, caberá aos
administradores das sociedades que tiverem absorvido parcelas do seu patrimônio
promover o arquivamento e publicação dos atos da operação; na cisão com versão
parcial do patrimônio, esse dever caberá aos administradores da companhia cindida
e da que absorver parcela do seu patrimônio.
§ 5º As ações integralizadas com parcelas de patrimônio da companhia cindida serão
atribuídas a seus titulares, em substituição às extintas, na proporção das que
possuíam; a atribuição em proporção diferente requer aprovação de todos os
titulares, inclusive das ações sem direito a voto.
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Sociedade de economia mista é uma sociedade anônima cujo capital social é constituído
em sua maioria por capital estatal, com participação também de capital particular. Ex.: Banco
do Brasil.
A sua constituição depende de autorização legal. As companhias de economia mistas
são sociedades abertas e estão sujeitas ao controle e fiscalização da CVM, visto que negociam
ações em Bolsa.
Assim como as empresas públicas, devem obediência também aos ditames do Estatuto
das Estatais (Lei nº 13.303/2016).
Basicamente, as regras da S.A. são válidas para a sociedade em comandita por ações.
Algumas das diferenças estão nas peculiaridades que a sociedade em comandita por
ações apresenta:
• responsabilidade dos diretores: aqui, os diretores têm responsabilidade ilimitada
pelas obrigações e somente acionista poderá fazer parte da diretoria;
• nome empresarial: poderá ter tanto denominação quanto firma. Sendo firma, o
nome civil deverá ser de alguém que administra a companhia, pois responderá
ilimitadamente;
• identificação do tipo societário pelo nome empresarial: deverá conter C/A, ou
comandita por ações.
Em razão da responsabilidade ilimitada dos diretores, a assembleia-geral não tem
poderes para mudar o objeto essencial da atividade, caso não haja a anuência dos acionistas
que respondem ilimitadamente, que são os diretores. Tampouco poderá prorrogar o prazo de
duração, caso seja de prazo determinado. Além disso, também não poderá reduzir ou aumentar
o capital social sem a anuência daqueles que têm responsabilidade ilimitada.
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1. Propriedade Intelectual
3. Previsão Constitucional
A Constituição Federal de 1988 cuida dos direitos industriais na parte dos direitos e
garantias individuais, estabelecendo em ser art. 5º, inciso XXIX, o seguinte:
a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua
utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos
nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e
o desenvolvimento tecnológico e econômico do País.
4. Legislação específica
A lei a que se refere a CF/88 é a Lei nº 9.279/1996 (LPI – Lei de Propriedade Industrial),
que revogou a antiga Lei nº 5.772/1971 e que estabelece, em seu art. 2º, o seguinte:
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A LPI foi editada nos anos 90, período de abertura econômica brasileira, vindo em função
de acordos internacionais que o Brasil celebrou na área de propriedade intelectual,
especialmente os acordos “TRIPs”, que são acordos importantes em matéria de propriedade
intelectual.
Cuidado: patente é para invenção e modelo de utilidade, registro é para desenho
industrial e marca. É errado dizer que uma marca é patenteada, por exemplo, pois marca não é
objeto de patente, mas de registro, ou seja, a marca é registrada.
Em suma: a LPI disciplina a concessão de quatro direitos industriais distintos (patente de
invenção, patente de modelo de utilidade, registro de desenho industrial e registro de marca) e
a repressão de pelo menos dois tipos de conduta empresarial (falsa indicação geográfica e
concorrência desleal).
IMPORTANTE: os direitos industriais mencionados são considerados como bens móveis
para fins legais (art. 5º, da LPI), e é por isso que eles podem ser negociados pelos seus
respectivos titulares (cessão, licença, e etc.). (Incidência em provas).
5. Objetos de proteção
6. Patentes
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teóricas, como “regras de jogo” e “concepções puramente abstratas”, não são consideradas
invenção nem modelo de utilidade.
Nesse sentido, confira-se o art. 10, da LPI:
Art. 10. Não se considera invenção nem modelo de utilidade: I - descobertas, teorias
científicas e métodos matemáticos; II - concepções puramente abstratas; III -
esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros,
educativos, publicitários, de sorteio e de fiscalização; IV - as obras literárias,
arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética; V - programas de
computador em si; VI - apresentação de informações; VII - regras de jogo; VIII -
técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou
de diagnóstico, para aplicação no corpo humano ou animal; e IX - o todo ou parte de
seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que
dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os
processos biológicos naturais.
Atente-se às pegadinhas, pois as bancas costumam cobrar a letra de lei do artigo 10,
supramencionado, trocando as palavras e as expressões.
6.1.1. Novidade
Novidade: não basta que seja original, é preciso que seja desconhecida pela
comunidade científica, ou seja, não esteja compreendida no estado da técnica. O período de
graça é uma exceção ao estado da técnica e está disposto no art. 12 da LPI. Pode ocorrer de,
antes do depósito do registro de patente, ser necessário mostrar aquilo considerado um invento
para alguém, por exemplo, a investidores, a fim de angariar recursos para exploração da
invenção, ou à comunidade científica para receber aprovação etc. Nesse caso, se o próprio
inventor apresenta o invento e depósito do pedido de patente ocorre dentro de 12 meses
contados a partir do ato que tornou público o invento, isso não será considerado estado da
técnica. Em tese seria estado da técnica, porque já houve publicação antes do pedido de
patente, mas no caso acima narrado ou se foi publicado pelo INPI, em razão de um pedido de
patente feito por uma pessoa que obteve as informações do inventor e depositou o pedido de
patente sem o consentimento deste, não haverá estado da técnica. Ainda, tendo havido
apresentação privada, posteriormente divulgada por terceiro sem consentimento do inventor,
feito o pedido pelo inventor 12 meses após a divulgação, não haverá estado da técnica. Passados
12 meses, esse período de graça não mais existirá. Segundo Denis Borges Barbosa, a regra do
art. 12 da LPI serve para proteger o inventor hipossuficiente, isto é, “o inventor individual ou a
pequena empresa que, historicamente, tendem a perder o direito de pedir patente por
divulgarem o invento antes do depósito”. Assim, prossegue o autor, “nenhuma contemplação
poderá haver no caso de invento de titularidade de uma grande ou média empresa que descura
de pretender proteção a seus inventos; dormientibus non soccurit jus. Para estes, há que se
aplicar o período de graça com o máximo de restrição” (BARBOSA, 2003).
Atividade inventiva: não poderá ser de uma decorrência óbvia do estado da técnica,
que qualquer um faria. É necessário que haja um real progresso naquela atividade. Isto é, o
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indivíduo deve ter atuado de forma que este resultado alcançado não decorria logicamente do
estado da técnica. Conforme adverte CRUZ (2014):
Serve esse requisito, enfim, para distinguir a invenção de uma mera descoberta, de
modo que o direito de propriedade protege o inventor, mas não o mero descobridor.
Esse, por exemplo, descobre uma jazida de metal precioso; aquele, por sua vez, cria
um mecanismo para aproveitamento deste metal. Uma coisa é descobrir a
eletricidade, outra coisa é inventar a lâmpada.
6.1.4. Licitude
O artigo 18 difere do artigo 10 (visto acima) porque são hipóteses que até poderiam
configurar uma invenção ou modelo de utilidade, mas o legislador estabelece um impedimento
legal à concessão da patente.
IMPORTANTE: quanto aos impedimentos legais à patenteabilidade, é importante
destacar que a LPI não mais veda a concessão de patentes na indústria farmacêutica
(remédios/medicamentos). No entanto, inventos nessa área precisam preencher um requisito a
mais para serem patenteados: anuência da ANVISA (art. 229-C da LPI).
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Em princípio, o pedido de concessão da patente deve ser feito ao INPI pelo próprio
autor do invento (invenção ou modelo de utilidade), mas também pode ser realizado “pelos
herdeiros ou sucessores do autor, pelo cessionário ou por aquele a quem a lei ou o contrato de
trabalho ou de prestação de serviços determinar que pertença a titularidade” (art. 6º, § 2º, LPI).
Se o invento foi realizado em conjunto, “a patente poderá ser requerida por todas
ou qualquer delas, mediante nomeação e qualificação das demais, para ressalva dos respectivos
direitos” (art. 6º, § 3º, da LPI).
Em caso de inventos ou modelos de utilidade concomitantes, porém
independentes, terá direito à patente aquele que depositou o pedido de patente em primeiro
lugar (art. 7º da LPI). O Brasil adota, portanto, o sistema first-to-file, “o primeiro a depositar”.
Apenas os EUA adotavam o sistema first-to-invent até 2012/2013, depois adotaram o sistema
first-to-file. Atente-se: o artigo 7º pode ser cobrado em prova em forma de pegadinha, pois é
um dispositivo contraintuitivo.
Quando o invento é desenvolvido por funcionários do empresário (empregados ou
prestadores de serviços, por exemplo), é preciso atentar para as peculiaridades do caso, a fim
de determinar a correta titularidade da patente.
Há três possibilidades distintas:
• Uma situação que determinará a propriedade exclusiva da empresa sobre
a patente.
• Uma situação que determinará a propriedade exclusiva do empregado
sobre a patente.
• Uma situação que determinará a propriedade dividida entre empresa e
empregado sobre a patente.
O art. 88, da LPI prevê o seguinte:
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Nesse caso, não há necessariamente prática ilícita por parte do titular da patente, mas
mera ausência de exploração da patente por este ou exploração que não atenda aos interesses
do mercado.
Ainda, nesses casos, a licença será determinada por decisão administrativa do INPI, após
requerimento de um interessado e regular processo administrativo (art. 73, da LPI).
Tal hipótese é denominada pela doutrina equivocadamente como “quebra de patente”,
pois tal expressão sugere que o titular perdeu a patente, enquanto, em verdade, a pessoa
continuará sendo titular da patente, bem como permanecerá recebendo os royalties pelo seu
uso licenciado. A compulsoriedade apenas significa que não foi fruto de um acordo/contrato. Os
royalties, nesse caso, não serão acordados, mas sim determinados pelo próprio INPI.
O art. 71 da LPI, por sua vez, tem a seguinte redação:
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Nesse caso, a licença será determinada por Decreto do presidente da República, que
poderá agir de ofício (cite-se, por exemplo, o Decreto 6.108/2007, que concedeu licenciamento
compulsório, por interesse público, de patentes referentes ao medicamento Efavirenz, usado no
combate à AIDS).
Há, por fim, as licenças compulsórias previstas no art. 70 da LPI:
7. Registros
O desenho industrial diz respeito à forma dos objetos. Servirá tanto para conferir ao
objeto um ornamento ou uma aparência harmoniosa como para distingui-lo de outros do
mesmo gênero.
Diferencia-se do modelo de utilidade porque, ao contrário deste, não guarda relação
com a funcionalidade do objeto, possuindo viés mais estético. Para ajudar a gravar, a doutrina
salienta que “O desenho industrial é ‘fútil’, o modelo de utilidade é útil”.
a) Novidade
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b) Originalidade
Esse requisito estará presente quando do desenho industrial resultar “uma configuração
visual distintiva, em relação a outros objetos anteriores” (art. 97, LPI). O resultado original
“poderá ser decorrente da combinação de elementos conhecidos” (parágrafo único). Caso não
se consiga dar ao produto uma configuração distintiva, capaz de distingui-lo dos demais, não se
estará diante de um desenho industrial registrável, uma vez que sua função é exatamente a de
distinguir aquele produto dos demais.
c) Aplicação industrial
d) Licitude
Tal como em relação às patentes, a lei também enumera desenhos industriais nãos
registráveis, em razão de impedimentos legais. Confira-se:
Art. 100. Não é registrável como desenho industrial: I - o que for contrário à moral e
aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas, ou atente contra
liberdade de consciência, crença, culto religioso ou idéia e sentimentos dignos de
respeito e veneração; II - a forma necessária comum ou vulgar do objeto ou, ainda,
aquela determinada essencialmente por considerações técnicas ou funcionais.
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7.2. Marca
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que comercializam ou produzem” (CRUZ, 2014). Quem registra essa marca é o próprio
empresário que vai usá-la, valendo destacar que ele precisa declarar que exerce a atividade à
qual se relaciona a marca “efetiva e licitamente, de modo direto ou por meio de empresas que
controlem direta ou indiretamente” (art. 128, §1º, LPI).
A marca de certificação, por sua vez, “é aquela que atesta a qualidade de determinado
produto ou serviço conforme normas técnicas estabelecidas por institutos especializados, os
quais podem ser de natureza governamental ou apenas credenciados pelos órgãos oficiais
competentes” (CRUZ, 2014). Quem registra essa marca é a própria certificadora, “pessoa sem
interesse comercial ou industrial direto no produto ou serviço atestado” (art. 128, §2º), e os
empresários que atenderem seus requisitos poderão utilizá-la.
Por fim, a marca coletiva “é aquela que atesta a proveniência de determinado produto
ou serviço. Ela indica ao consumidor, por exemplo, que os empresários que a utilizam são
membros de determinada associação, e que seus produtos ou serviços estão em conformidade
com as regulamentações técnicas dessa entidade” (CRUZ, 2014). Quem registra essa marca é a
própria entidade, “pessoa jurídica representativa de coletividade, a qual poderá exercer
atividade distinta da de seus membros” (art. 128, § 3º da LPI), e estes poderão usar a marca nos
termos do regulamento (exemplo: AMORANGO, que atesta que o produtor é membro da
Associação dos Agricultores Familiares Produtores de Morango de Nova Friburgo).
Há outra classificação das marcas, quanto a sua forma de apresentação:
Esmiuçando: o INPI tem uma tabela com vários códigos, cada código representa uma
classe de produto ou serviço, cabe à pessoa que está registrando a marca indicar em qual
classe(s) está registrando a marca. Uma vez registrada, a proteção da marca ficará restrita
àquela classe de produtos ou serviços, portanto, em princípio, nada impede que uma marca
igual ou muito parecida seja registrada por outro empresário, em uma classe diferente de
produtos ou serviços.
Exemplo: Odebrecht construtora x Odebrecht café.
Quanto à abrangência territorial, a proteção do registro da marca conferido pelo INPI
vale em todo o território nacional, ao contrário da proteção conferida ao nome empresarial, que
apenas vale no(s) território(s) da(s) Junta(s) Comercial(is) em que houve sua inscrição.
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Não se deve confundir a marca de alto renome com a marca notoriamente conhecida,
disciplinada no art. 126 da LPI: “a marca notoriamente conhecida em seu ramo de atividade nos
termos do art. 6º bis (I), da Convenção da União de Paris para Proteção da Propriedade
Industrial, goza de proteção especial, independentemente de estar previamente depositada ou
registrada no Brasil”. A diferença pode ser sintetizada da seguinte forma: a marca de alto
renome precisa ser registrada e gozará de proteção em todos os ramos de atividade, já a marca
notoriamente conhecida não precisa ser levado a registro, mas terá proteção assegurada no
mesmo ramo de atividade (observa princípio da especialidade ou da especificidade da marca).
Complementando, a lei diz que o INPI “poderá indeferir de ofício pedido de registro de marca
que reproduza ou imite, no todo ou em parte, marca notoriamente conhecida” (§ 2º).
Cabe ressaltar recente entendimento do STJ no sentido de que o registro de uma
expressão como marca de alto renome não impede que essa mesma expressão seja utilizada
como nome de um edifício ou empreendimento imobiliário, uma vez que estes não representam
atividades empresariais, mas sim atos da vida civil (REsp 1.804.960-SP, 24/09/2019, DJe
02/10/2019).
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Por outro lado, no mesmo precedente acima indicado, decidiu o STJ que é possível que
se reconheça a caducidade do registro da marca quando, em um período de 5 anos, o valor e
o volume de vendas do produto relacionado à marca forem inexpressivos (na situação em
análise, 70 pacotes de cigarros que geraram receita de R$ 614,75) em comparação com
operações bilionárias realizadas pelo titular no mesmo período (produção de mais de 400 207
bilhões de cigarros).
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padronização dos produtos e dos serviços, ainda que o uso da marca tenha sido autorizado
sem condições ou efeitos limitadores.
Isso porque o licenciamento de uso autoriza o titular do registro da marca a exercer
controle sobre as especificações, natureza e qualidade dos produtos ou serviços prestados pelo
licenciado. Assim, com a licença de uso, o licenciado compromete-se, ex lege, a preservar a
integridade e a reputação da marca, obrigando-se a zelar por ela.
Ao licenciante assiste o direito de exercer controle efetivo sobre a atenção do licenciado
em relação ao zelo da marca que usa. Dessa forma, a não observância dos padrões dos produtos
e serviços pelo licenciado para o uso da marca demonstra seu uso indevido e autoriza a tutela
inibitória para impedir a utilização.
O registro da marca, embora garanta proteção nacional à exploração exclusiva por parte
do titular, encontra limite no princípio da especialidade, que restringe a exclusividade de
utilização do signo a um mesmo nicho de produtos e serviços. Assim, uma mesma marca pode
ser utilizada por titulares distintos se não houver qualquer possibilidade de se confundir o
consumidor. Para se verificar a possibilidade de confusão na utilização da mesma marca por
diferentes fornecedores de produtos e serviços, deve ser observada, inicialmente, a
Classificação Internacional de Produtos e de Serviços, utilizada pelo INPI como parâmetro para
concessão ou não do registro de uma marca. É verdade que a tabela de classes não deve ser
utilizada de forma absoluta para fins de aplicação do princípio da especialidade, servindo apenas
como parâmetro inicial na análise de possibilidade de confusão. Porém, na hipótese, embora os
serviços oferecidos sejam distintos, eles são complementares, pois têm finalidades idênticas,
além de ocuparem os mesmos canais de comercialização.
Marcas evocativas são aquelas que constituem expressão de uso comum, de pouca
originalidade, atraindo a mitigação da regra de exclusividade decorrente do registro, pois
passa a ter um âmbito de proteção limitado.
Essa proteção é reduzida, pois o monopólio de um nome ou sinal genérico em benefício
de um comerciante implicaria exclusividade inadmissível a favorecer a detenção e o exercício do
comércio de forma única, com prejuízo à concorrência empresarial. Com efeito, eventual
exclusividade impediria os demais industriais do ramo de divulgarem a fabricação de produtos
semelhantes por meio de expressões de conhecimento comum, obrigando-os a buscar nomes
alternativos estranhos ao domínio público. Ex: STJ manteve o registro da marca “America Air”,
apesar de pleito da companhia aérea “American Airlines”. Entendeu o STJ que a marca
impugnante valia-se de expressões de uso comum, de pouca originalidade, inviabilizando sua
utilização exclusiva.
A própria Lei nº 9.279/1996 dispõe não ser registrável como marca sinal de caráter
genérico, necessário, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto
ou serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para designar uma característica do
produto ou serviço. Outro exemplo: não poderia haver uma marca “Maçã” que vendesse maçãs,
pois guarda relação com o próprio produto. Mas nada impede que se use a marca “Maçã” para
vender smartphones.
Vale destacar que a linha que divide as marcas genéricas, que são aquelas não sujeitas
a registro, das marcas evocativas é extremamente tênue, por vezes imperceptível, fruto da
própria evolução ou desenvolvimento do produto ou serviço no mercado.
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Como já visto, o domínio identifica o estabelecimento virtual, que será acessado pela
internet a fim de comprar produtos e bens da sociedade empresária. Quem faz o registro é a
“Nick.br”, associação de direito privado.
Em virtude da inexistência de regramentos detalhados quanto ao registro de domínios,
muitas pessoas passaram a pegar marcas alheias e fazer registros de domínio, para depois lucrar
com a venda do domínio ao legítimo titular da marca. Diante disso, o STJ decidiu que, no conflito
entre a anterioridade na solicitação de nome de domínio e o registro do INPI, prevalece a
anterioridade no registro da marca, e não o registro do domínio. Em tese, quem registra
primeiro a marca terá direito ao registro do domínio. Isso evita que indivíduos registrem marcas
que já existem para depois negociar a venda desses domínios.
A ordem de registro de domínio só irá prevalecer quando os dois interessados possuírem
o registro da marca com aquele nome. Ex.: Lavanderia El Chaday é uma coisa e outra coisa são
as Bolachas El Chaday. O dono da lavanderia registrou o domínio, pagando a taxa, tornando-se
o dono do elchaday.com.br. Nesse caso, como os dois possuem o registro da marca, prevalecerá
o que registrou o domínio primeiro.
8. União de Paris
O Brasil é um país unionista. Isso quer dizer que o Brasil é signatário da Convenção de
Paris, que estabelece que é vedada a criação de distinções entre nacionais e estrangeiros em
matéria de direito industrial, ou seja, o Brasil reconhece o princípio da prioridade.
Esse princípio da prioridade estabelece ser possível que qualquer cidadão de um país
que seja signatário dessa União de Paris venha a reivindicar prioridade de registro de uma
patente ou de registro industrial no Brasil, com base em uma concessão que obteve
anteriormente no seu país de origem.
O reivindicante terá o prazo de:
• 6 meses: para o desenho industrial, marca ou para propaganda;
• 12 meses: para invenção ou modelo de utilidade.
Esse prazo é decadencial, devendo ser contado a partir do seu primeiro pedido.
A indicação de procedência está disciplinada no art. 177 da LPI, que assim dispõe:
“considera-se indicação de procedência o nome geográfico de país, cidade, região ou localidade
de seu território, que se tenha tornado conhecido como centro de extração, produção ou
fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.”
A denominação de origem, por sua vez, está disciplinada no art. 178 da LPI, que assim
prescreve: “considera-se denominação de origem o nome geográfico de país, cidade, região ou
localidade de seu território, que designe produto ou serviço cujas qualidades ou características
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Ao estudar essa matéria, é importante ter em mente o motivo do surgimento dos títulos
de crédito e sua função no mercado. Os títulos de crédito não devem ser analisados
isoladamente, mas dentro de um contexto de evolução dos meios de troca, de negociação e
pagamento.
Indo até a fase mais primitiva do mercado, tem-se que as transações comerciais se
realizavam por meio de escambo (troca direta de uma mercadoria por outra). Com o passar do
tempo, certas mercadorias, por serem mais demandadas que outras, acabam sendo utilizadas
como meio de troca indireta, porque essas mercadorias poderiam ser facilmente trocadas por
outras coisas efetivamente necessárias. Assim surge o dinheiro/a moeda. Os primeiros
“dinheiros” de que se tem notícia apareceram como mercadorias que eram mais procuradas
que outras, como o sal, por exemplo.
Depois de certo momento, o mercado ganha uma complexidade maior, e mesmo o
dinheiro, agora em uma fase controlada pelo Estado, não consegue dar vazão às dinâmicas
existentes no mercado e novos instrumentos vão surgindo e se desenvolvendo para facilitar
essas trocas: são os títulos de crédito.
Os títulos de crédito continuam em evolução, pois é sabido que foram e ainda são muito
importantes para a economia. Porém, vive-se hoje um novo momento, que é a fase do comércio
eletrônico, das transações virtuais, das criptomoedas etc.
Os títulos de crédito são, em síntese, instrumentos de circulação de riqueza, e a sua
principal função é justamente permitir que essa circulação de riqueza se dê de forma rápida e
segura, o que, por sua vez, só se tornou possível porque durante anos se desenvolveu todo um
conjunto de regras e princípios aplicáveis a eles: o regime jurídico cambial (Direito Cambiário).
Quanto a seu desenvolvimento histórico, podem ser apontados os seguintes períodos
ou fases:
Entre 1650 e 1848. O grande marco desse período foi o advento da cláusula à ordem, na
França, que passou a permitir a transferência dos títulos de crédito por meio do endosso,
independentemente de autorização do sacador.
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Nesse período (de 1848 a 1930), houve a ordenação geral do direito cambiário (normas
especiais sobre letras de câmbio), com consequente consolidação da letra de câmbio e dos
títulos de crédito como instrumentos de crédito viabilizadores da circulação de direitos.
Em outros termos, nas relações cambiais somente os atos que são devidamente
lançados no próprio título produzem efeitos jurídicos perante o seu legítimo
portador. A literalidade, em síntese, é o princípio que assegura às partes da relação
cambial a exata correspondência entre o teor do título e o direito que ele representa.
Por um lado, o credor pode exigir tudo o que está expresso na cártula, não devendo
se contentar com menos. Por outro, o devedor também tem o direito de só pagar o
que está expresso no título, não admitindo que lhe seja exigido nada mais. (CRUZ,
2014)
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5. Endosso
Há de se tomar cuidado com o assunto, porque existe uma lei, fruto de um tratado
internacional, chamada de Lei Uniforme de Genebra (LUG), que há muitas décadas serve de
referência informal como uma espécie de “Lei Geral sobre títulos de crédito no Brasil” e, apesar
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de regular especificamente as notas promissórias e as letras de câmbio, traz regras sobre aval,
endosso, pagamento, protesto, vencimento, etc., consideradas pela doutrina como padrão para
fins de ensino e que nortearam boa parte dos títulos de crédito mais importantes.
O problema é que o Código Civil de 2002, ao tratar sobre títulos de crédito (artigos 887
a 926), trouxe regras que vão de encontro às regras da LUG, com importantes divergências,
como veremos abaixo.
O entendimento que prevaleceu foi o seguinte: as disposições do Código Civil, em
princípio, não se aplicam aos títulos de crédito nominados/típicos que possuem legislação
especial. É o caso da duplicata, da letra de câmbio, da nota promissória e do cheque, para citar
apenas os principais.
O Código Civil funciona, pois, na parte relativa aos títulos de crédito, como um
regramento geral para os chamados títulos atípicos/inominados, isto é, que não possuem lei
específica. Quanto aos títulos típicos/nominados, o Código Civil somente se aplica quando há
lacuna ou omissão na legislação específica. Confira-se:
Enunciado 464 das Jornadas de Direito Civil: “As disposições relativas aos títulos de
crédito do Código Civil aplicam-se àqueles regulados por leis especiais no caso de
omissão ou lacuna”.
Enunciado 39 da I Jornada de Direito Comercial: “Não se aplica a vedação do art. 897,
parágrafo único, do Código Civil, aos títulos de crédito regulados por lei especial, nos
termos do seu art. 903, sendo, portanto, admitido o aval parcial nos títulos de crédito
regulados em lei especial”.
Tanto a letra de câmbio quanto a nota promissória são reguladas pela Lei Uniforme de
Genebra – LUG. Nos próximos tópicos, trataremos sobre os principais atos cambiais fazendo
referência tanto à LUG quanto ao Código Civil, o que servirá de estudo geral sobre esses atos e
também de estudo específico sobre o funcionamento das letras de câmbio e de notas
promissórias. Além disso, alguns pontos de distinção entre tais títulos e o cheque serão tratados
no tópico específico sobre cheques. Por essa razão, a letra de câmbio e a nota promissória não
contarão com tópico próprio extenso, pois serão analisados juntamente com a exposição geral
dos demais temas.
5.1. Endosso
O endosso é o ato cambiário que opera transferência do crédito que está representado
por um título à ordem. Caso seja um título não à ordem, poderá haver apenas cessão de
crédito.
Apesar de os títulos de crédito típicos/nominados serem essencialmente títulos
nominais à ordem, portanto transmissíveis via endosso, é possível a inserção da cláusula não à
ordem na maioria deles, caso em que o título poderá circular somente pela via da cessão civil
(art. 11 da LUG e art. 17, § 1º, da Lei do Cheque).
IMPORTANTE: O art. 890 do CC determina que sejam consideradas não escritas no
título, entre outras cláusulas, a cláusula proibitiva de endosso! Essa é uma das diferenças
importantes entre a norma geral do CC e o previsto no art. 11 da LUG e no art. 17, § 1º, da Lei
do Cheque, que expressamente admitem a cláusula não à ordem (obs: duplicata não admite
cláusula não à ordem)
Nos títulos de crédito típicos/nominados, o endosso produz dois efeitos: (i)
transferência da titularidade do crédito (ex: art. 14 da LUG) e (ii) em regra, responsabilização do
endossante, o qual se torna codevedor (devedor indireto) do título (ex: art. 15 da LUG; art. 21
da Lei do Cheque e art. 15, § 1º, da Lei das Duplicatas), admitindo alguns títulos a possibilidade
de se registrar expressamente a ausência de responsabilidade do endossante.
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IMPORTANTE: o art. 914 do Código Civil prevê o contrário do que prevê o art. 15 da LUG
“ressalvada cláusula expressa em contrário, constante do endosso, não responde o endossante
pelo cumprimento da prestação constante do título”, mas essa regra do Código Civil, assim como
a do aval parcial (art. 897, parágrafo único), aplica-se aos títulos atípicos/inominados.
O endosso deve ser feito no verso do título, mediante simples assinatura do
endossante. Se o endosso for feito no anverso da cártula, deverá conter, além da assinatura do
endossante, menção expressa de que se trata de endosso, para fins de diferenciá-lo de um aval
(art. 13 da LUG e art. 910, § 1º do Código Civil).
É vedado o endosso parcial ou limitado a certo valor da dívida representada no título, o
qual é considerado nulo. Veda-se também o endosso subordinado a alguma condição, a qual
será considerada não escrita (art. 12 da LUG, art. 18 da Lei do Cheque e art. 912 do Código Civil).
Ademais, não há limite quanto ao número de endossos, inclusive quanto ao cheque,
uma vez que foi revogada a legislação tributária aplicável à CPMF, que admitia apenas um único
endosso nesse título de crédito.
O endosso poderá ser feito em branco ou em preto (art. 13 da LUG, art. 19, § 1º, da Lei
do Cheque e art. 913 do Código Civil). O endosso em branco/geral é aquele que não identifica
o seu beneficiário (endossatário). Em tal caso, o endossante assina sem identificar a quem está
endossando, permitindo que o título circule ao portador, pela mera tradição da cártula, de modo
que o portador final do título poderá cobrar o crédito independentemente do fato de seu nome
não constar da cadeia cambial.
Ex: alguém emite um título nominal a André, que, por sua vez, endossa a nota
promissória a terceiro. Esse endosso, se for em branco, não diz para quem está sendo
endossado. André apenas escreve “por endosso e assina”. O título foi transformado em um
título ao portador, qualquer pessoa que estiver na posse desse título será a portadora do
crédito. Assim, a pessoa que o recebeu, se quiser repassar o título, não precisará fazer novo
endosso.
Conforme preceitua o art. 913 do CC: “O endossatário de endosso em branco pode
mudá-lo para endosso em preto, completando-o com o seu nome ou de terceiro; pode endossar
novamente o título, em branco ou em preto; ou pode transferi-lo sem novo endosso”.
O endosso que foi trabalhado até aqui, “endosso normal”, é chamado de endosso
translativo ou próprio, que transmite a titularidade do crédito.
O endosso impróprio traduz a prática de certo ato no título que não produz os efeitos
normais de um endosso, de transmissão da titularidade do crédito pura e simples. Será feito
com outros objetivos. Esse ato apenas legitima a posse de alguém sobre um título. Existem três
espécies: o endosso-mandato, o endosso-caução/penhor/pignoratício e o endosso-fiduciário.
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a) Endosso-mandato/procuração
b) Endosso-caução/penhor/pignoratício
c) Endosso-fiduciário
A Lei nº 4.728/65, em seu art. 66-B, § 3º, admite a alienação fiduciária em garantia de
títulos de crédito. Referida “alienação fiduciária” se efetiva mediante a aposição do endosso-
fiduciário no título, acrescentando-se a expressão “por fidúcia” ou “em alienação fiduciária”.
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d) Endosso póstumo/tardio
O art. 920 do Código Civil e o art. 20 da LUG, por exemplo, admitem que o endosso seja
dado após o vencimento do título, hipótese em que decorrerão normalmente seus efeitos de
transferência do crédito e de responsabilização do endossante. Contudo, o art. 20 da LUG prevê
ainda que “(...) o endosso posterior ao protesto por falta de pagamento, ou feito depois de
expirado o prazo fixado para se fazer o protesto, produz apenas os efeitos de uma cessão
ordinária de créditos.” O art. 27 da Lei do Cheque traz previsão semelhante para os endossos
realizados após o protesto ou após a expiração do prazo de apresentação do cheque.
Tal endosso realizado após o protesto ou após o prazo para a realização do protesto é
denominado pela doutrina de endosso póstumo ou tardio. Em tal caso, não produz os efeitos
normais de um endosso, valendo tão somente como uma mera cessão civil de crédito.
Por fim, o art. 20 da LUG estabelece a presunção de que o endosso sem data foi feito
antes do prazo para a realização do protesto. No mesmo sentido é a parte final do art. 27 da Lei
do Cheque.
A diferença entre a cessão civil de crédito e o endosso são basicamente duas:
• o cedente, que é quem cedeu o crédito, responde apenas pela existência do
crédito, mas não pela solvência do devedor. Via de regra (ao menos nos títulos
típicos), o endossante responde pela existência do crédito e pela solvência do
devedor;
• o devedor, quando há uma cessão civil, sendo executado pelo cessionário, poderá
arguir matérias relacionadas a sua relação jurídica com o cedente. Em outras
palavras, poderá o devedor alegar, contra o cessionário, matérias de natureza
pessoal que possuir contra o cedente (art. 294 do CC). No caso do endosso, vigora a
inoponibilidade das exceções pessoais em face de terceiro de boa-fé, em
decorrência do princípio da autonomia e do subprincípio da abstração.
Há alguns endossos que produzem efeitos de cessão civil de crédito, não respondendo,
por exemplo, pela solvência do devedor, sendo possível eventualmente levantar exceções
pessoais:
• quando o endosso é praticado após o protesto por falta de pagamento. Isto é, já
houve o protesto por falta de pagamento, mas foi feito o endosso, garante-se
apenas a existência do crédito, mas não a solvência;
• o endosso de títulos com cláusula não à ordem. Lembrando que para ser cláusula
não à ordem deverá ter cláusula expressa e haver disciplina sobre o tema na
legislação especial, pois o CC (norma geral) determina que seja considerada não
escrita a cláusula não à ordem. Caso tenha essa cláusula não à ordem, eventual
endosso produzirá efeitos de cessão civil de crédito.
6. Aval
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O instituto da fiança é semelhante ao aval, pois ambos são garantias pessoais, mas há
diferenças relevantes entre eles, que também são cobradas em prova.
O aval constitui uma obrigação autônoma em relação à dívida assumida pelo avalizado.
Logo, se a obrigação do avalizado estiver contaminada por algum vício (salvo vício de forma),
este não se transmite para a obrigação do avalista (art. 32 da LUG e art. 899, § 2º do Código
Civil). Como a fiança é uma obrigação acessória, isso não ocorre, pois seguirá a sorte da
obrigação principal a que está relacionada.
Já caiu em prova: “O cheque foi emitido e avalizado por alguém. Após, descobriu-se que
a assinatura do emitente do cheque era falsa. Ainda assim, o aval permanece válido” — correto.
A obrigação do avalista é autônoma.
Ademais, o aval não admite o benefício de ordem, razão pela qual o avalista pode ser
acionado juntamente com o avalizado, tendo, pois, responsabilidade solidária (art. 32 da LUG e
art. 899 do Código Civil).
Já na fiança, o benefício de ordem assegura ao fiador que apenas seja acionado após
tentativa de execução contra o afiançado. A responsabilidade do fiador é, portanto, subsidiária
(art. 827 do Código Civil).
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O art. 1.647, III, do Código Civil tratou de forma equivalente o aval e a fiança, no que diz
respeito à necessidade de outorga conjugal para que tais garantias sejam prestadas por pessoa
casada, ressalvando apenas a hipótese de os cônjuges serem casados no regime de bens da
separação absoluta, hipótese em que a outorga conjugal seria dispensada.
Sobre o tema, o STJ decidiu que se refere apenas ao regime da separação convencional
de bens, mas não ao da separação obrigatória de bens (em que a lei impõe esse regime aos
cônjuges). Desse modo, se os cônjuges forem casados no regime de separação convencional,
um deles pode prestar aval sem outorga do outro. Se forem casados no regime da separação
obrigatória, será necessária a autorização. Confira-se o que restou noticiado no Informativo 420
do STJ:
Segundo a exegese do art. 1.647, III, do CC/2002, é necessária a vênia conjugal para
a prestação de aval por pessoa casada sob o regime da separação obrigatória de
bens. Essa exigência de outorga conjugal para os negócios jurídicos de
(presumidamente) maior expressão econômica, tal como a prestação de aval ou a
alienação de imóveis, decorre da necessidade de garantir a ambos os cônjuges um
meio de controlar a gestão patrimonial; pois, na eventual dissolução do vínculo
matrimonial, os consortes podem ter interesse na partilha dos bens adquiridos
onerosamente na constância do casamento. Anote-se que, na separação
convencional de bens, há implícita outorga prévia entre os cônjuges para livremente
dispor de seus bens, o que não se verifica na separação obrigatória, regime
patrimonial decorrente de expressa imposição do legislador. Assim, ao excepcionar
a necessidade de autorização conjugal para o aval, o art. 1.647 do CC/2002,
mediante a expressão "separação absoluta", refere-se exclusivamente ao regime
de separação convencional de bens e não ao da separação legal. A Súm. n. 377-STF
afirma haver interesse dos consortes pelos bens adquiridos onerosamente ao longo
do casamento sob o regime de separação legal, suficiente razão a garantir-lhes o
mecanismo de controle de outorga uxória ou marital para os negócios jurídicos
previstos no art. 1.647 do CC/2002. Com esse entendimento, a Turma, ao prosseguir
o julgamento, deu provimento ao especial para declarar a nulidade do aval prestado
pelo marido sem autorização da esposa, ora recorrente. (REsp 1.163.074-PB)
Por fim, registre-se que o STJ também já decidiu que a regra do art. 1.647, III do Código
Civil apenas se aplica aos títulos de crédito atípicos/inominados, de modo que em títulos de
crédito típicos/nominados – letra de câmbio, nota promissória, cheque, duplicata etc. – é
possível que pessoa casada preste aval sem necessidade de outorga conjugal (REsp
1633399/SP), devendo-se proteger apenas a meação do cônjuge em relação a eventuais bens
comuns, caso sejam casados em regime que os comporte.
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8. Protesto
Outro instituto cambiário importante é o protesto, “que pode ser definido como o ato
formal pelo qual se atesta um fato relevante para a relação cambial. Esse fato relevante pode
ser (i) a falta de aceite do título, (ii) a falta de devolução do título ou (iii) a falta de pagamento
do título” (CRUZ, 2014).
Segundo o art. 1º da Lei nº 9.492/1997, “protesto é o ato formal e solene pelo qual se
prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros
documentos de dívida”.
para fins do art. 543-C do Código de Processo Civil, no regime próprio da Lei n.
9.492/1997, legitimamente protestado o título de crédito ou outro documento de
dívida, salvo inequívoca pactuação em sentido contrário, incumbe ao devedor, após
a quitação da dívida, providenciar o cancelamento do protesto.
Não confundir essa hipótese com a da exclusão da inscrição do devedor nos cadastros
de inadimplentes, que compete ao credor, no prazo de cinco dias úteis, a partir do integral e
efetivo pagamento do débito, nos termos da S. 548 do STJ.
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9. Letra de Câmbio
Sua regência se dá com base na Lei Uniforme de Genebra (LUG) ou Lei Uniforme sobre
Letras de Câmbio e Notas Promissórias. Além das normas da LUG já citadas nos tópicos
anteriores, merecem destaque também os temas a seguir analisados.
9.1. Saque
9.2. Aceite
Feito o saque, o beneficiário buscará o sacado para verificar se ele aceitará o título.
O sacado de uma letra de câmbio, antes de aceitar, não tem qualquer obrigação cambial
pelo fato de o sacador ter endereçado a ele a ordem.
O sacado só fica vinculado àquele título se ele concordar. O ato cambial pelo qual
concorda com a letra de câmbio é denominado aceite.
Com o aceite, o sacado passa a ser o devedor principal daquele título.
O aceite decorre da simples assinatura do sacado, lançado no anverso do título. Caso
seja assinado no verso do título, deverá mencionar a expressão “aceito” ou “estou aceitando”.
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Em caso de recusa do aceite, a qual é lícita na letra de câmbio (neste título, o aceite é
facultativo, embora irretratável), haverá consequências previstas em lei, sendo a principal delas
o vencimento antecipado da dívida. No caso da recusa do aceite, o tomador/beneficiário
poderá cobrar imediatamente do sacador o valor do título.
No caso de recusa parcial, o aceite poderá ser parcial, que admite duas espécies:
limitativo ou modificativo.
No aceite limitativo, o sacado não concorda com o valor contido na letra. Ex.: o indivíduo
aceita pagar R$ 50,00 em vez de R$ 100,00. Em tal caso, haverá vencimento antecipado parcial
do título, em relação à parcela não aceita.
No aceite modificativo, a recusa diz respeito a alguma condição de pagamento do título,
mas não ao valor. Ex.: sujeito apresenta o título para o sacado pagar em 30 dias. Ele diz que não
tem condições de pagar em 30 dias, mas que concorda em pagar em 60 dias., hipótese em que
também haverá o vencimento antecipado do título.
Para evitar que a recusa do aceite tenha o vencimento antecipado, o sacador poderá
lançar no título a chamada cláusula não aceitável. Com esta cláusula, o credor só poderá
apresentar o título ao sacado no dia do vencimento do título. Por conta disso, caso o sacado
recuse, não haverá maiores consequências contra o sacador.
Apresentado o título ao sacado, poderá ele se valer do prazo de respiro. Isto é, terá o
direito de pedir para que o título seja reapresentado no dia seguinte.
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Se o título não for pago no vencimento, o credor poderá executar diretamente o título,
visto que todos os títulos de crédito são títulos executivos extrajudiciais (arts. 784, I e XII, do
CPC/2015).
Os prazos prescricionais para o ajuizamento da execução da letra de câmbio variam a
depender de quem ajuíza e de quem está no polo passivo:
• deverá ser proposta no prazo de 3 anos, contados do vencimento do título, contra
o devedor principal ou contra seu avalista;
• deverá ser proposta no prazo de 1 ano, contados do protesto, caso seja execução
contra os coobrigados ou contra os avalistas;
• deverá ser proposta no prazo de 6 meses, a contar do pagamento, para exercício
de direito de regresso.
11. Cheque
É um título de crédito regido pela Lei nº 7.357/87. Suas características principais são as
seguintes:
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Título abstrato/não causal: Pode ser emitido em qualquer situação. Não há causa pré-
determinada na lei para sua emissão.
Ordem de pagamento: mas não comporta aceite. Sempre emitido contra um Banco.
Assim, terá o emitente do cheque (sacador), o banco, que será o sacado (contra quem a ordem
é emitida) e o tomador, que poderá ou não ser especificado (mas cuidado: somente poderá ser
ao portador se seu valor não for superior a R$ 100,00). O banco obedecerá à ordem de
pagamento em função da existência de fundos disponíveis do emitente do cheque na conta que
possui junto ao banco.
Vencimento à vista, considerando-se não escrita qualquer menção em contrário: É o
título que vence no momento da apresentação. Em regra, não se admite cheque pré-datado,
pois se considera não escrita qualquer menção contrária ao fato de se tratar de ordem de
pagamento à vista (art. 32 da Lei do Cheque). Por isso, ainda que o cheque seja “pré-datado”, o
banco é obrigado a realizar o pagamento ao apresentante do cheque. Todavia, o apresentante
que levar o cheque antes da data nele consignada responderá por danos morais, em virtude da
quebra da boa-fé em sua relação com o emitente (S. 370 do STJ).
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Art. 2º O título, a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo precedente
não vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir:
I - na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o lugar
designado junto ao nome do sacado; se designados vários lugares, o cheque é
pagável no primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no
lugar de sua emissão;
II - não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado
junto ao nome do emitente.
O cheque é um modelo padronizado fornecido pelo banco. Não é possível que alguém
faça um cheque em casa, ainda que tenha todos os requisitos.
O cheque, caso seja de valor não superior a R$ 100,00, poderá ser dado ao portador.
Sendo acima de R$ 100,00, é necessário que o cheque seja nominal, endereçado a alguém (art.
69 da Lei nº 9069/95), contendo a cláusula à ordem ou não à ordem.
O cheque observa as mesmas regras da letra de câmbio quanto à sua circulação, com
algumas diferenças:
• não admite o chamado endosso-caução;
• o endosso feito pelo sacado é nulo como endosso, valendo apenas como quitação:
isso porque a lei veda que a instituição financeira proceda ao endosso;
• o endosso feito após o prazo de apresentação (endosso-tardio) não tem efeitos de
endosso, mas tem efeitos de cessão civil de crédito.
O cheque é pago com a sua apresentação, já que se trata de uma ordem de pagamento
à vista.
O prazo para a apresentação do cheque varia:
• 30 dias, se for da mesma praça, contados da data de emissão;
• 60 dias, se for de praças distintas, contados da data de emissão.
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Ex.: se a minha praça é Brasília, mas foi emitido em Goiânia. O sujeito terá 60 dias para
apresentar.
São consequências para o credor que não observar o prazo:
• perda do direito de cobrar dos coobrigados;
• perda do direito de executar o cheque contra o emitente, se dentro daquele prazo
havia fundos e não há mais fundos por uma circunstância não imputável ao
devedor: ex.: banco faliu. Se o sacador emitiu o cheque e o credor teria 30 dias para
apresentar o cheque, mas não o fez, caso o banco venha a falir, como o devedor
tinha o dinheiro na conta antes, não poderá ser executado, visto que só o credor é
o culpado pelo não recebimento e não o devedor.
O cheque apresentado fora do prazo de apresentação poderá ser pago pelo banco,
desde que não esteja prescrito. Ex.: apresentação do cheque no 62º dia. O pagamento do
cheque pelo próprio banco é uma obrigação enquanto não estiver prescrito e houve recursos
na conta. Também poderá ser executado contra o emitente ou seus avalistas (S. 600/STF),
observado o prazo prescricional.
A partir do término do prazo de apresentação começa a correr o prazo prescricional de
6 meses para sua execução. O direito de regresso de um coobrigado contra outro também
prescreve no prazo de 6 meses, contados do momento em que um coobrigado pagou o título,
nascendo o direito de regresso contra o outro coobrigado.
Ainda que prescrita a ação executiva (ultrapassados os seis meses), a própria lei do
cheque prevê o prazo de dois anos para o ajuizamento de ação de locupletamento ilícito (art.
61).
Além disso, é cabível também ação monitória, nos termos da Súmula 299/STJ: “é
admissível ação monitória fundada em cheque prescrito”. Quanto ao prazo desta ação, a Súmula
503/STJ estabelece o seguinte: “o prazo para ajuizamento da ação monitória em face do
emitente de cheque sem força executiva é quinquenal, a contar do dia seguinte à data de
emissão estampada na cártula”. Já na Súmula 531/STJ, consta que “em ação monitória fundada
em cheque prescrito ajuizada contra o emitente, é dispensável a menção ao negócio jurídico
subjacente à emissão da cártula”.
Destaque-se, por fim, que passará a ser possível a oposição de exceção pessoal ao
portador de cheque após sua prescrição, conforme decidiu o STJ em precedente noticiado no
Informativo 658:
Prescrito o cheque, não há mais que se falar em manutenção das suas características
cambiárias, tais quais a autonomia, a independência e a abstração. Inclusive, em
razão da prescrição do título de crédito, a pretensão fundar-se-á no próprio negócio
subjacente, inviabilizando a propositura de ação de execução. Assim, perdendo o
cheque prescrito os seus atributos cambiários, dessume-se que a ação monitória
neste documento admitirá a discussão do próprio fato gerador da obrigação, sendo
possível a oposição de exceções pessoais a portadores precedentes ou mesmo ao
próprio emitente do título. Ressalte-se que tal entendimento vai ao encontro da
jurisprudência firmada nesta Corte Superior no sentido de que, embora não seja
exigida a prova da origem da dívida para a admissibilidade da ação monitória
fundada em cheque prescrito (Súmula 531/STJ), nada impede que o emitente do
título discuta, em embargos monitórios, a causa debendi. Isso significa que, embora
não seja necessário debater a origem da dívida, em ação monitória fundada em
cheque prescrito, o réu pode formular defesa baseada em eventuais vícios ou na
inexistência do negócio jurídico subjacente, mediante a apresentação de fatos
impeditivos, modificativos ou extintivos do direito do autor. (Informativo 658/STJ)
O cheque poderá ser sustado, ou seja, não ser pago, trazendo a lei duas modalidades:
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O cheque não é um papel de curso forçado. Isso significa que ninguém está obrigado a
receber um cheque contra a sua vontade. Ex.: restaurante com placas “não aceitamos cheque”.
O que não pode ocorrer é se negar a aceitar moedas nacionais.
O pagamento por meio de cheque tem efeito pro-solvendo, e não somente pro-soluto.
Ou seja, o fato de o cheque ter sido emitido e entregue ao credor não significa dizer que a
obrigação está quitada. A obrigação estará quitada apenas a partir do momento em que se
compensar o cheque.
Suponhamos a emissão de cheque para fins de pagamento de aluguel. A importância de
se entender essa obrigação como pro-solvendo é a de que, se o cheque não for compensado por
estar sem fundos, é possível que o credor se utilize da ação de despejo contra o emitente. Se
considerássemos o cheque pro-soluto, caso ele não fosse pago, o aluguel seria considerado
pago, podendo o credor apenas promover uma ação de execução contra o devedor.
Obviamente as partes podem pactuar de modo diverso, estabelecendo que o cheque
terá efeitos pro-soluto. Nesse caso, se eventualmente não for pago, restará apenas ao Direito
Cambial a regência da execução, mas essa não é a regra.
O cheque sem fundos deverá ser protestado dentro do prazo de apresentação. Isso
porque, somente assim, conservar-se-á o direito contra os coobrigados do título.
Em outras palavras, para se poder processar eventuais coobrigados, é necessário o
protesto, salvo quando o cheque possuir a cláusula sem despesas. Se o cheque possui cláusula
sem despesas, para se executar o coobrigado não haverá necessidade de se protestar o título.
O protesto do cheque poderá ser substituído por uma declaração do banco, informando
que seriam indisponíveis os recursos do emitente para pagar aquele cheque (art. 47, II, da Lei
do Cheque).
A emissão de cheque sem fundos poderá caracterizar crime de fraude por meio do uso
de cheque, enquadrando-se como estelionato. Em tal caso, se o emitente pagar o cheque até
o oferecimento da denúncia, não haverá mais justa causa para a ação penal. Todavia, caso haja
o pagamento do cheque após o oferecimento da denúncia, não obstará o prosseguimento da
ação penal, conforme súmula do STF.
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Daniel Carvalho
12. Duplicata
12.1. Conceito
Duplicata é um título de crédito regido pela Lei 5.474/68 (Lei das Duplicatas).
A emissão de duplicata é sempre facultativa, não sendo obrigatória sua emissão. Além
disso, a compra e venda mercantil ou prestação de serviços poderá ser representada por outro
título de crédito, como uma nota promissória ou um cheque. A diferença é que tanto a nota
promissória quanto o cheque são emitidos pelo comprador, enquanto a duplicata é emitida pelo
próprio vendedor.
A duplicata é um título causal, visto que apenas pode ser emitida diante de uma compra
e venda mercantil (art. 1º da Lei das Duplicatas) ou prestação de serviços (art. 20 da Lei das
Duplicatas).
Atenção: a duplicata, apesar de causal no momento da emissão, com o aceite e a
circulação adquire abstração e autonomia, desvinculando-se do negócio jurídico subjacente,
impedindo a oposição de exceções pessoais a terceiros endossatários de boa-fé, como a
ausência ou a interrupção da prestação de serviços ou a entrega das mercadorias. (STJ. 2ª Seção.
EREsp 1.439.749-RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 28/11/2018 - Info 640).
Art. 2º No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para
circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de
título de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância faturada
ao comprador.
§ 1º A duplicata conterá:
I - a denominação "duplicata", a data de sua emissão e o número de ordem;
II - o número da fatura;
III - a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista;
IV - o nome e domicílio do vendedor e do comprador;
V - a importância a pagar, em algarismos e por extenso;
VI - a praça de pagamento;
VII - a cláusula à ordem;
VIII - a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a
ser assinada pelo comprador, como aceite, cambial;
IX - a assinatura do emitente.
§ 2º Uma só duplicata não pode corresponder a mais de uma fatura.
§ 3º Nos casos de venda para pagamento em parcelas, poderá ser emitida duplicata
única, em que se discriminarão tôdas as prestações e seus vencimentos, ou série de
duplicatas, uma para cada prestação distinguindo-se a numeração a que se refere o
item I do § 1º dêste artigo, pelo acréscimo de letra do alfabeto, em seqüência.
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Daniel Carvalho
Lembre-se de que a duplicata é um título de modelo vinculado, pois deverá ser lançada
e impressa pelo sistema próprio do vendedor, estando sujeita a uma escrituração.
Quem emite duplicata deverá obrigatoriamente escriturar o livro de registro das
duplicatas. Em razão disso, cada duplicata terá um número de ordem.
A lei não admite a emissão de duplicata que represente mais de uma fatura. Sendo o
pagamento parcelado, é possível que o vendedor saque uma única duplicata, “em que se
discriminarão tôdas as prestações e seus vencimentos, ou série de duplicatas, uma para cada
prestação distinguindo-se a numeração a que se refere o item I do § 1º dêste artigo (número de
ordem), pelo acréscimo de letra do alfabeto, em sequência” (art. 2º, § 3º, da Lei das Duplicatas).
Ex.: duplicata tem o número de ordem 124, será possível emitir as duplicatas 124-A, 124-B e
124-C, pois o pagamento foi parcelado, representando cada letra uma das parcelas.
Detalhe para o “pega” que vem caindo em provas: cada duplicata deve corresponder a
uma fatura, mas esta poderá abranger mais de uma nota fiscal parcial (art. 2º da Lei das
Duplicatas e Informativo 581 do STJ).
Destaque-se, ainda, que o art. 172 do CP prevê como crime a emissão de duplicata
simulada.
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Daniel Carvalho
Segundo o STJ, as duplicatas virtuais encontram previsão legal no art. 8º, parágrafo
único, da Lei nº 9.492/97 e no art. 889, § 3º, do CC, além de estarem atualmente disciplinadas
na Lei nº 13.775/2018. Como prescinde (não necessita) de um suporte físico (documento),
constando apenas de registros eletrônicos, é uma exceção ao princípio da cartularidade.
O procedimento para emissão e cobrança da duplicata virtual é o seguinte:
• o contrato de compra e venda ou de prestação de serviços é celebrado;
• em vez de emitir uma fatura e uma duplicata em papel, o vendedor ou fornecedor
dos serviços transmite em meio magnético (pela internet) os dados referentes a
esse negócio jurídico a uma instituição financeira, contendo as partes, a relação
das mercadorias vendidas, o preço, etc.
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Outro título de crédito por prestação de serviços é a duplicata por conta de serviços.
Esta duplicata pode ser emitida pelo profissional liberal ou pelo prestador de serviços eventual.
Perceba que não se está tratando de empresário aqui.
Como se trata de prestador de serviço eventual, ficará dispensado de qualquer
escrituração, devendo registrar a duplicata no cartório de títulos e documentos.
Esse título de crédito é um título impróprio pois a conta de serviços não é suscetível de
circulação cambial.
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Daniel Carvalho
O portador desse título tem direito a uma prestação de serviço, ou acesso a um prêmio,
como o título de um metrô, que é um título de legitimação, pois com base nele se legitima o uso
do metrô. O mesmo ocorre com relação ao bilhete da loteria.
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Daniel Carvalho
que os títulos circulem no mercado financeiro e de capitais, tendo uma circulação maior do que
os warrants gerais.
O conhecimento de frete é um título representativo de uma mercadoria que está sendo
transportada. Quem tem o conhecimento de frete tem a propriedade da mercadoria. O
conhecimento de frete prova que a empresa transportadora recebeu a mercadoria. Em tal caso,
passa a ser possível ao proprietário da mercadoria despachada que negocie a mercadoria
mediante o endosso do título. O endossatário passará a ser o proprietário da mercadoria. A lei
veda a negociação do conhecimento de frete se ele possuir uma cláusula não à ordem, se se
tratar de mercadoria perigosa ou se forem cargas destinadas a armazéns gerais.
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O Art. 1º da LFRE prevê que “esta lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação
extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos
simplesmente como devedor”.
Quando o dispositivo cita “empresário”, refere-se ao empresário individual.
A lei se aplica à EIRELI?
Sim. A lei só fala de empresário e sociedade empresária porque é de 2005, ano em que
ainda não existia a EIRELI, que é do ano de 2011 (Lei nº 12.441/11).
As regras da LFRE não se aplicam a devedores civis (não empresários), os quais se
submetem, quando caracterizada a sua insolvência, às regras da execução contra devedores
insolventes previstas no Código de Processo Civil de 1973 (arts. 748 a 786-A do CPC/73 não
foram revogado pelo CPC/2015, permanecendo em vigor até que venha a ser editada uma lei
específica sobre o tema, nos termos do art. 1.052 do CPC/2015).
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São agentes econômicos que atuam em mercados regulados, que possuem leis
específicas disciplinando a liquidação extrajudicial em caso de insolvência (ex.: Lei nº
6.024/1974, aplicável às instituições financeiras, e o Decreto-lei 73/1966, aplicável às
seguradoras).
Se cair em provas de concurso a redação literal do art. 2º, dizendo que a lei de falências
não se aplica às entidades citadas no inciso II, deve-se marcar como correta a alternativa (ao
menos é o que tem prevalecido por ora nos concursos).
Mas se atente para o fato de que o art. 197 da LFRE prevê a possibilidade de aplicação
subsidiária de seus termos enquanto não houver legislação falimentar específica para seguros
privados, instituições financeiras e entidades de crédito. A própria Lei 6.024/74 também prevê
possibilidade de aplicação subsidiária da legislação falimentar (art. 34). Considerando que, em
2018 e 2019, apareceram mais de um julgado sobre essa aplicação subsidiária nos informativos
do STJ, é possível que os examinadores passem a questionar especificamente sobre essa
possibilidade nas provas.
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3. Foro competente
Segundo a Súmula 480 do STJ, o juízo da recuperação judicial não é competente para
decidir sobre a constrição de bens não abrangidos pelo plano de recuperação da empresa.
Por outro lado, o STJ decidiu que o juízo onde tramita o processo de recuperação judicial
é o competente para decidir sobre o destino dos bens e valores objeto de execuções singulares
movidas contra a recuperanda, ainda que se trate de crédito decorrente de relação de consumo
(RESP 1.630.702-RJ).
4. Participação do MP
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Art. 189 da LFRE: “aplica-se a Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo
Civil, no que couber, aos procedimentos previstos nesta Lei”. E quanto à contagem dos prazos?
Aplica-se o disposto no art. 219 do CPC (“Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou
pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-
se somente aos prazos processuais.”)?
A polêmica advinda desse dispositivo é que na LFRE nem todos os prazos são de natureza
propriamente processual e outros são deveras longos.
Para o STJ, é preciso analisar a natureza de cada prazo, além da finalidade do processo
falimentar e recuperação. Quanto ao stay period (art. 6º, § 4º, da LFRE), possui natureza material
(suspende inclusive prazo prescricional) e sua contagem em dias úteis, por ser um prazo de 180
dias, iria contra a unidade lógica da recuperação e do objetivo de uma solução célere para a
situação de dificuldade da empresa em dificuldades financeiras (REsp 1.698.283-GO).
O art. 1.015 do novo CPC trouxe rol específico para as hipóteses de cabimento do
recurso de agravo de instrumento, o que levou doutrina e jurisprudência a questionar se tal rol
seria taxativo, exemplificativo ou algo entre os dois (taxativo mitigado). O inciso XIII desse
dispositivo assegura o cabimento de agravo de instrumento em “outros casos expressamente
referidos em lei”.
De fato, há alguns casos em que a própria LFRE prevê o cabimento de Agravo de
Instrumento, não havendo dúvida quanto a esses, em virtude do citado dispositivo.
Mas, e nas decisões interlocutórias tomadas ao longo do “processo de recuperação”,
cabe Agravo de Instrumento?
Decidiu o STJ que é sim possível e que o rol do art. 1.015 do novo CPC é um rol taxativo
mitigado, admitindo extensão a casos cuja teleologia se amolde a uma das hipóteses previstas
nesse artigo. No caso, admite-se o agravo de instrumento nos processos falimentares e
recuperacionais a partir de uma leitura teleológica do parágrafo único do art. 1.015, que prevê
o recurso de agravo de instrumento contra as decisões proferidas em processos executivos. Isso
porque, no processo de recuperação e mesmo na falência, o objeto é semelhante ao de uma
execução ou de um cumprimento de sentença: ir atrás dos bens do devedor para assegurar o
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7. Administrador judicial
(...) O síndico é responsável pela prestação de contas da massa falida ao juízo a partir
do momento de sua nomeação, incluídos os atos realizados pelo gerente na
continuidade provisória das atividades (STJ. 4ª Turma. REsp 1.487.042-PR, julgado
em 05/12/2019).
8. Recuperação Judicial
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo
viabilizar a superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade
empresária se mantenha e, com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os
interesses dos credores.
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será
construído e executado um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de
efetivamente ir à falência. A recuperação visa recuperar quem tem chance de ser recuperado.
Do contrário, deverá falir.
A concordata era um direito do devedor, os credores não tinham muita participação no
processo, o juiz verificava se o devedor preenchia os requisitos e deferia a concordata, os
credores não eram ouvidos. Na recuperação judicial, quem decide são os credores. O devedor
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Daniel Carvalho
apresenta um plano de recuperação, os credores vão deliberar sobre esse plano e dizer se o
aprovam ou não e o juiz fica, quase sempre, vinculado à decisão da assembleia de credores. A
exceção a essa regra será estudada mais adiante (cram down).
Na concordata, o devedor apenas poderia pedir parcelamento da dívida, abatimento da
dívida ou as duas coisas (concordata dilatória, concordata remissória ou concordata mista). Na
recuperação, o devedor tem que apresentar um plano, no qual pode propor diversas medidas
em prol de seu soerguimento. A própria lei, em seu artigo 50, sugere algumas dessas medidas,
sendo esse um rol exemplificativo:
• concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas
ou vincendas;
• cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição de
subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações, respeitados os direitos dos sócios,
nos termos da legislação vigente;
• alteração do controle societário;
• substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou modificação de seus
órgãos administrativos;
• concessão aos credores de direito de eleição em separado de administradores e de
poder de veto em relação às matérias que o plano especificar;
• aumento de capital social;
• trespasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à sociedade constituída
pelos próprios empregados;
• redução salarial, compensação de horários e redução da jornada, mediante acordo
ou convenção coletiva;
• dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou sem constituição
de garantia própria ou de terceiros;
• constituição de sociedade de credores;
• venda parcial dos bens;
• equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer natureza, tendo
como termo inicial a data da distribuição do pedido de recuperação judicial,
aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em
legislação específica;
• usufruto da empresa;
• administração compartilhada;
• constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar, em pagamento
dos créditos, os ativos do devedor.
Com base no art. 47 da LFRE, o STJ já admitiu a participação, em procedimento
licitatório, de sociedade empresária em recuperação judicial, entendendo ser dispensável a
apresentação de “certidão negativa de recuperação judicial” por parte da licitante (AgRg na MC
23.499/RS).
Obs.: a empresa em recuperação judicial continua suas atividades normalmente.
De acordo com o art. 48 da LFRE, o devedor que quiser pleitear sua recuperação judicial
deverá estar no exercício regular de suas atividades há mais de dois anos na data do pedido. A
atividade regular a que se refere o caput significa estar devidamente registrado na Junta
Comercial, ter todos os livros corretamente escriturados, ter registrado na Junta as alterações
escriturais, etc., ou seja, estar em dia com suas obrigações registrais e escriturais. Ressalte-se
que o STJ decidiu que, em se tratando de sociedades ou empresários rurais, cuja inscrição
perante o Registro Público de Empresas Mercantis é facultativa, é possível o cômputo do período
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I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em
julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial
com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador,
pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.
§ 1º A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente,
herdeiros do devedor, inventariante ou sócio remanescente.
§ 2º Tratando-se de exercício de atividade rural por pessoa jurídica, admite-se a
comprovação do prazo estabelecido no caput deste artigo por meio da Declaração
de Informações Econômico-fiscais da Pessoa Jurídica - DIPJ que tenha sido entregue
tempestivamente.
Destaque-se que esses requisitos são apenas para o ingresso do pedido em si, não se
confundindo com a efetiva concessão da recuperação judicial. Da mesma forma, a decisão
judicial que defere o processamento do pedido de recuperação judicial tampouco se confunde
com a decisão que concede a Recuperação Judicial (com a homologação do plano). São decisões
distintas, tomadas em momentos distintos e que produzem efeitos igualmente diversos, que
serão adiante explorados.
O requisito do inciso I (não ser falido e, se o foi, que estejam declaradas extintas, por
sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes) é específico para o
empresário individual.
Em 2019, o STJ entendeu que as sociedades empresárias integrantes de grupo
econômico devem demonstrar individualmente o cumprimento do requisito temporal de 2
(dois) anos de exercício regular de suas atividades, que consta no caput do referido art. 48, para
postular a recuperação judicial em litisconsórcio ativo (REsp 1.665.042-RS, julgado em
25/06/2019, DJe 01/07/2019).
Atendidos os requisitos do art. 48 da LFRE, vistos acima, poderá o devedor requerer sua
recuperação judicial. A petição inicial deverá trazer, obrigatoriamente, os motivos da situação
de dificuldade financeira, com as demonstrações contábeis, relações dos credores, relação dos
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empregados, atos constitutivos (contrato social ou estatuto), certidões de protesto, além das
ações judiciais em andamento, sem prejuízo dos demais documentos citados no art. 51 da LFRE.
Se a documentação estiver em termos e o postulante preencher os requisitos, o juiz
mandará processar a recuperação judicial, proferindo despacho. O pedido acolhido aqui é o de
processamento, verificando apenas a legitimidade e se foi instruída a petição inicial nos termos
da lei.
No despacho de processamento, o juiz nomeará o administrador judicial e determinará
a suspensão da prescrição e das ações e execuções contra o devedor e contra o sócio solidário.
Obs: Com o mero pedido de recuperação judicial, já ficam suspensos os pedidos de falência.
Quando o juiz determina o processamento da recuperação judicial, as demais ações e
execuções terão suas tramitações suspensas.
No entanto, existem exceções. Isso é, não serão suspensas, pois continuarão a tramitar:
• ações que demandem quantias ilíquidas;
• reclamações trabalhistas;
• execuções fiscais;
• execuções por credores não sujeitos à recuperação judicial (ex.: proprietário
fiduciário; ações de despejo e demais créditos citados nos §§ 3º e 4º do art. 49 da
LFRE).
Pela sua importância para fins de prova, vale transcrever o art. 6º da LFRE:
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Embora execuções fiscais não se suspendam (§ 7º), o STJ tem entendimento de que não
é possível ao juízo da execução fiscal determinar a prática de atos constritivos, pois tais decisões
devem estar sujeitas ao crivo da Recuperação Judicial.
O art. 5º, I, da LFRE, afasta também da recuperação judicial obrigações a título gratuito.
Quanto aos avais, o avalista pode realmente figurar em um título gratuitamente (ex: um familiar
que se oferece para avalizar um título em prol de um parente próximo) ou onerosamente (mais
comum no caso de avais prestados por sociedades empresárias). Por essa circunstância, o STJ
firmou entendimento no sentido de que é imprescindível a verificação da natureza onerosa ou
gratuita do aval prestado antes do pedido de recuperação judicial por sociedade empresária,
para que se determine se a garantia se sujeita ou não ao processo de soerguimento. Isso porque
nas relações empresariais geralmente existe alguma contraprestação direta ou indireta pelo aval
com o objetivo de se obter algum tipo de ganho, situações nas quais não será possível considerar
tal obrigação como a título gratuito (REsp 1.829.790-RS, julgado em 19/11/2019, DJe
22/11/2019).
A suspensão das ações e execuções de que cuida o art. 6º é temporária em relação à
Recuperação Judicial podendo cessar em dois momentos, o que ocorrer primeiro:
• após aprovação do plano de recuperação judicial, que implica novação da dívida;
• com o decurso do prazo de 180 dias.
Em que pese a redação peremptória do § 4º do art. 6º da LFRE, entende o STJ que esse
prazo de 180 dias, denominado de stay period, pode ser prorrogado, em prol do princípio da
preservação da empresa, se o retardamento da ação de recuperação judicial não puder ser
atribuído ao devedor.
A decisão que defere o processamento da recuperação judicial é recorrível?
No início da vigência da lei, alguns entendimentos surgiram dizendo que não seria
recorrível, aplicando-se por analogia uma súmula antiga do STJ referente à concordata, que dizia
ser a decisão que defere o processamento da concordata irrecorrível. Todavia, atualmente há
posicionamento forte doutrinário, amparado pelo Enunciado 52 das Jornadas de Direito
Comercial do CJF, no sentido de que “a decisão que defere o processamento da recuperação
judicial desafia agravo de instrumento”.
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meramente exemplificativo, quais são esses meios que o devedor pode propor em seu plano de
recuperação judicial para solução de sua crise econômico-financeira, que podem ser simples,
como a “concessão de prazos e condições especiais para pagamento das obrigações vencidas ou
vincendas” (inciso I), ou complexos, como a “cisão, incorporação, fusão ou transformação de
sociedade” (inciso II).
Na prática, geralmente o que se pede é dilação do prazo de pagamento, tal como era na
vigência da concordata.
Dentre as medidas que o devedor pode propor para solucionar sua crise, está também
a venda judicial de filiais e unidades produtivas isoladas. Nesse caso, o parágrafo único do artigo
60, trouxe uma medida inovadora (“O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não
haverá sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária,
observado o disposto no § 1º do art. 141 desta Lei”), que inclusive foi atacada em ADI junto ao
STF, posteriormente julgada improcedente. Sobre tal artigo, vide o Enunciado 47 das Jornadas
de Direito Comercial: “nas alienações realizadas nos termos do art. 60 da Lei 11.101/2005, não
há sucessão do adquirente nas dívidas do devedor, inclusive nas de natureza tributária,
trabalhista e decorrentes de acidentes de trabalho”.
Ainda sobre o plano, a lei trouxe algumas diretrizes gerais. Por exemplo:
• O plano de recuperação judicial não poderá prever prazo superior a 1 (um) ano para
pagamento dos créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de
acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação judicial.
• O plano não poderá prever prazo superior a 30 (trinta) dias para o pagamento, até
o limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, dos créditos de natureza
estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores ao pedido de
recuperação judicial.
• deverá buscar o parcelamento do crédito fiscal;
• se o plano previr a alienação de bens onerados, para que seja viável essa supressão
da garantia ou sua substituição, deverá haver a concordância do credor titular da
garantia;
• os créditos em moeda estrangeira, para sua conversão em moeda nacional, também
dependerão da concordância de quem é o titular desse crédito.
Art. 56. Havendo objeção de qualquer credor ao plano de recuperação judicial, o juiz
convocará a assembléia-geral de credores para deliberar sobre o plano de
recuperação.
(...)
§3o O plano de recuperação judicial poderá sofrer alterações na assembléia-geral,
desde que haja expressa concordância do devedor e em termos que não impliquem
diminuição dos direitos exclusivamente dos credores ausentes.
§4o Rejeitado o plano de recuperação pela assembléia-geral de credores, o juiz
decretará a falência do devedor.
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Como visto acima, a assembleia pode aprovar o plano sem alterações ou com alterações,
ou, ainda, rejeitar o plano. Em qualquer caso, o resultado é submetido ao juiz, mas a decisão
judicial dependerá daquilo que ficou decidido em assembleia.
Para a aprovação do plano, a assembleia-geral de credores será dividida nas classes
indicadas no art. 41 da LFRE:
• 1ª classe: credores trabalhistas;
• 2ª classe: titulares de garantia real;
• 3ª classe: titulares de privilégios, seja geral, seja especial, além dos quirografários
e subordinados;
• 4ª classe: microempresários individuais e empresários de pequeno porte.
Será considerado aprovado o plano que for efetivamente aprovado no âmbito de cada
uma das classes, observadas as regras constantes do art. 45 da lei.
Nas classes dos credores trabalhistas e dos microempresários individuais e empresários
de pequeno porte, será votado por cabeça, ou seja, não será levado em conta o valor do crédito
dos credores, mas sim o voto singularizado dos credores.
Já em relação à 2ª e à 3ª classes acima citadas, a aprovação do plano de recuperação,
além de depender da aprovação dos credores em cada classe por cabeça, exigirá também a
aprovação da maioria dos créditos presentes. Em outras palavras, exige-se a maioria dos
credores e a maioria dos créditos. Há, como se vê, um requisito cumulativo.
Por exemplo, se o credor A possuir um crédito de R$ 100 mil, o credor B possuir um
crédito de R$ 20 mil e o credor C um crédito de R$ 30 mil e eles forem credores trabalhistas,
bastará o voto de quaisquer dois deles (inclusive apenas B e C) para o plano ser aprovado nessa
classe.
Todavia, se forem credores com garantia real, B e C sozinhos não conseguem aprovar o
plano, pois apenas preenchem o requisito da maioria dos credores, mas não da maioria dos
créditos. Por outro lado, A, sozinho, em que pese tenha créditos que correspondam ao dobro
do crédito somado dos demais, tampouco logrará obter a aprovação do plano, pois nessas duas
classes se exige a maioria por cabeça também. Ressalte-se que essas contagens são feitas com
base nos credores e nos créditos presentes à Assembleia!
Obs: o STJ entendeu que é possível a criação de subclasses entre os credores da
recuperação judicial, desde que estabelecido um critério objetivo, justificado no plano de
recuperação judicial, abrangendo credores com interesses homogêneos, ficando vedada a
anulação de direitos de eventuais credores isolados. (REsp 1.634.844-SP, julgado em
12/03/2019, DJe 15/03/2019).
Caso qualquer das classes rejeitem o plano, será considerado não aprovado e, em regra,
convolar-se-á a recuperação judicial em falência, salvo se presentes os requisitos da cram down.
d) Cram down
Ainda que rejeitado o plano, há uma hipótese em que o juiz poderá, a despeito de tal
fato, homologar o plano de recuperação, desde que presentes os requisitos do art. 58, §§ 1º e
2º, da LFRE, hipótese denominada de cram down. Confiram-se os requisitos:
Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do
devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta
Lei ou tenha sido aprovado pela assembléia-geral de credores na forma do art. 45
desta Lei.
§ 1º O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não
obteve aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembléia,
tenha obtido, de forma cumulativa:
I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos
os créditos presentes à assembléia, independentemente de classes;
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II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei
ou, caso haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo
menos 1 (uma) delas;
III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos
credores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei.
§ 2º A recuperação judicial somente poderá ser concedida com base no § 1º deste
artigo se o plano não implicar tratamento diferenciado entre os credores da classe
que o houver rejeitado.
Existe uma discussão acerca de até onde vai o controle jurisdicional da assembleia geral
de credores. Em princípio, trata-se de um órgão soberano, mas doutrina e jurisprudência se
debruçam sobre o tema.
O Enunciado 46 das Jornadas de Direito Comercial do CJF, por exemplo, prevê que: “não
compete ao juiz deixar de conceder a recuperação judicial ou de homologar a extrajudicial com
fundamento na análise econômico-financeira do plano de recuperação aprovado pelos
credores”. No mesmo sentido caminhou a jurisprudência do STJ: “cumpridas as exigências
legais, o juiz deve conceder a recuperação judicial do devedor cujo plano tenha sido aprovado
em assembleia (art. 58, caput, da Lei 11.101/2005), não lhe sendo dado se imiscuir no aspecto
da viabilidade econômica da empresa” (REsp 1.359.311).
Há também os seguintes enunciados do CJF:
Assim, frise-se que, em princípio, a assembleia é soberana, não cabendo ao juiz, por
exemplo, se imiscuir em aspectos de viabilidade econômica do plano para fins de indeferir
homologação de um plano aprovado pela AGC. No entanto, isso não significa que ela está imune
ao controle judicial. É possível um controle judicial da assembleia de credores quando se analisa
aspectos de legalidade, como na hipótese de abuso de direitos no exercício de votos por parte
de um credor.
É possível, em tese, que o Poder Judiciário faça o controle de legalidade do plano de
recuperação judicial aprovado pela assembleia geral de credores?
Sim. Afigura-se absolutamente possível que o Poder Judiciário, sem imiscuir-se na
análise da viabilidade econômica da empresa em crise, promova controle de legalidade do plano
de recuperação judicial. Esse controle de legalidade do plano de recuperação não significa a
desconsideração da soberania da assembleia geral de credores. À assembleia-geral de credores
compete analisar, a um só tempo, a viabilidade econômica da empresa, assim como da
consecução da proposta apresentada. Ao Poder Judiciário, por sua vez, incumbe velar pela
validade das manifestações expendidas, e, naturalmente, preservar os efeitos legais das normas
que se revelarem cogentes. Esse é o entendimento do STJ, firmado no Info 591.
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De acordo com o art. 59 da LFRE, o plano de recuperação judicial implica novação dos
créditos, mas está-se diante de uma novação sui generis.
Com efeito, a novação prevista no Código Civil extingue os acessórios e as garantias da
dívida, sempre que não houver estipulação em contrário (art. 364). No entanto, na novação
prevista no art. 59 da Lei nº 11.101/2005 ocorre justamente o contrário, ou seja, as garantias
são mantidas, sobretudo as garantias reais, as quais só serão suprimidas ou substituídas
“mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da
alienação do bem gravado (art. 50, § 1º).
Ademais, como implica novação das obrigações anteriores, as execuções individuais
ajuizadas contra o próprio devedor devem ser extintas. Porém, como é uma novação sui generis,
as garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao
credor exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e
execuções aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral.
Nessa linha de intelecção, o STJ entende que a homologação do plano de recuperação
judicial da devedora principal não implica a extinção de execução de título extrajudicial ajuizada
em face de sócio coobrigado, visto que as garantias (reais ou fidejussórias), como regra, são
preservadas.
Por conta disso, o próprio STJ fixou a tese em recursos repetitivos no sentido de que a
recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem
induz suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou
coobrigados em geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a
suspensão prevista nos arts. 6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59,
caput, por força do que dispõe o art. 49, § 1º, todos da Lei nº 11.101/2005.
Atualmente, a questão está inclusive sumulada (Súmula 581), no sentido de que a
recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das ações e
execuções ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por
garantia cambial, real ou fidejussória.
Outra característica sui generis da novação decorrente do plano de recuperação judicial
é sua sujeição a uma cláusula resolutiva: em caso de eventual decretação da falência da
devedora dentro do curso da ação de recuperação judicial, o § 2º do art. 61 determina que § 2º
“os credores terão reconstituídos seus direitos e garantias nas condições originalmente
contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos validamente
praticados no âmbito da recuperação judicial”.
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c) Dispensa de garantias
De acordo com o art. 49 da LFRE, “.Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos
existentes na data do pedido, ainda que não vencidos”. Mas não é bem assim. Além dos créditos
tributários, que não se sujeitam à recuperação judicial, os §§ 3º e 4º do mesmo artigo também
preveem exceções:
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No tocante aos “credores proprietários” (§ 3º), suas ações e execuções também não se
suspendem com o deferimento do processamento da recuperação judicial, porque esses
créditos não se sujeitam à recuperação (art. 49, §§ 3º e 4º da LFRE). A lei veda, porém, “durante
o prazo de suspensão a que se refere o § 4º do art. 6º [180 dias], a venda ou a retirada do
estabelecimento do devedor dos bens de capital essenciais a sua atividade empresarial”.
De acordo com a jurisprudência do STJ, a competência para analisar se o bem é ou não
essencial à atividade empresarial da recuperanda é do juízo da recuperação judicial.
Outro importante entendimento do STJ a respeito do tema é o de que os créditos
concernentes a contrato de compra e venda com reserva de domínio não estão sujeitos aos
efeitos da recuperação judicial da compradora, independentemente de registro da avença em
cartório (REsp 1.725.609-RS, julgado em 20/08/2019, DJe 22/08/2019).
Quanto ao adiantamento de câmbio, em 2019 o STJ firmou o entendimento de que “os
encargos derivados de adiantamento de contratos de câmbio se submetem aos efeitos da
recuperação judicial da devedora” (Informativo 661) . Não se pode confundir o valor do principal
do contrato de adiantamento de câmbio (que não se sujeita à recuperação), com os encargos
(ex: juros de mora) que sobre ele incidem. A despeito de os arts. 49, § 4º, e 86, II, da Lei n.
11.101/2005 estabelecerem a extraconcursalidade dos créditos referentes a adiantamento de
contratos de câmbio, há de se notar que tais normas não dispõem, especificamente, quanto à
destinação que deve ser conferida aos encargos incidentes sobre o montante adiantado ao
exportador pela instituição financeira. Inexistindo regra expressa a tratar da questão, a
hermenêutica aconselha ao julgador que resolva a controvérsia de modo a garantir efetividade
aos valores que o legislador privilegiou ao editar o diploma normativo, e, no caso, sujeição
dos encargos aos efeitos do procedimento recuperacional “é a medida que mais se coaduna
à finalidade retro mencionada, pois permite que a empresa e seus credores, ao negociar as
condições de pagamento, alcancem a melhor saída para a crise enfrentada”. (REsp 1.810.447-
SP, julgado em 05/11/2019, DJe 22/11/2019).
O art. 52, III da LFRE determina que o juiz, ao deferir o processamento da recuperação
judicial,
O art. 6º da LFRE, por sua vez, tem a seguinte redação: “(...) o deferimento do
processamento da recuperação judicial suspende o curso da prescrição e de todas as ações e
execuções em face do devedor, inclusive aquelas dos credores particulares do sócio solidário”.
Assim, a regra é a suspensão das ações e execuções individuais contra o devedor,
devendo-se ressalvar, porém, as ações que demandam quantia ilíquida (art. 6º, § 1º), as
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reclamações trabalhistas (art. 6º, § 2º), as execuções fiscais (art. 6º, § 7º) e as ações e execuções
movidas por credores cujos créditos não se sujeitam à recuperação judicial (art. 49, §§ 3º e 4º:
alienação fiduciária, arrendamento mercantil etc.).
Na recuperação judicial, a suspensão de que trata o art. 6º da LFRE é temporária (stay
period):
(...) a extrapolação do prazo de 180 dias previsto no art. 6º, § 4º, da Lei 11.101/2005
não causa o automático prosseguimento das ações e das execuções contra a
empresa recuperanda, senão quando comprovado que sua desídia causou o
retardamento da homologação do plano de recuperação (AgRg no CC 113.001/DF;
no mesmo sentido: REsp 1.193.480/SP e AgRg no CC 111.614/DF).
Quanto às execuções fiscais, embora elas realmente não se suspendam (art. 6º, § 7º da
LFRE), o STJ tem entendido que, em respeito ao princípio da preservação da empresa, é
incompatível o cumprimento da recuperação judicial e o prosseguimento normal dessas
execuções (com penhoras, bloqueios de ativos etc.), porque isso atinge o patrimônio do devedor
e pode comprometer o sucesso do plano de recuperação. Assim, quaisquer atos de constrição
do patrimônio do devedor devem se submeter ao crivo do juízo da recuperação judicial, mesmo
que sejam referentes a eventual execução fiscal. Nesse sentido: “apesar de a execução fiscal não
se suspender em face do deferimento do pedido de recuperação judicial (art. 6º, § 7º, da LF n.
11.101/05, art. 187 do CTN e art. 29 da LF n. 6.830/80), submetem-se ao crivo do juízo universal
os atos de alienação voltados contra o patrimônio social das sociedades empresárias em
recuperação, em homenagem ao princípio da preservação da empresa” (CC 114.987/SP; no
mesmo sentido: AgInt no REsp 1605862/SC, AgInt no CC 140.021/MT, AgRg no REsp
1.519.405/PE e AgRg no AREsp 760.111/RS).
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STJ - A ação de habilitação retardatária de crédito deve ser ajuizada até a prolação
da decisão de encerramento do processo recuperacional, pois uma vez encerrada a
recuperação judicial, não se pode mais autorizar a habilitação ou a retificação de
créditos. A única via que ainda resta para esse credor será a ação judicial autônoma
que tramitará pelo rito ordinário, nos termos do art. 10, § 6º da LFRE (STJ. 3ª Turma.
REsp 1.840.166-RJ, julgado em 10/12/2019).
Enfim, contra essa relação de credores feita pelo administrador judicial, “o comitê,
qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público” terão 10 (dez) dias para
apresentar impugnação (art. 8º da LFRE), que será autuada em apartado. Caso, todavia, não
haja impugnação, a referida relação se consolidará como quadro-geral de credores (art. 14 da
LFRE).
Obs.: o comitê de credores é um órgão não obrigatório, que pode existir quando for
requerido pela assembleia geral ou se o juiz entender pela sua instalação.
Após autuar as impugnações em apartado, o cartório providencia a intimação dos
credores impugnados, os quais se manifestarão no prazo de 5 dias dessa intimação.
Feito isso, serão intimados o devedor ou o representante legal do devedor, bem como
o comitê de credores. Vencidos os prazos, quem dará o parecer será o administrador judicial em
5 dias.
Os autos, então, retornam ao juiz. Se for necessária a dilação probatória, ele designará
a audiência de instrução e julgamento. Não sendo o caso de designar a audiência, o juiz poderá
julgar a impugnação desde já.
Homologado o quadro-geral, ele ainda poderá ser alterado, tanto por eventual ação de
credor retardatário, conforme já mencionado (art. 10, § 6º da LFRE), quanto por ação do
administrador judicial, qualquer credor, comitê de credores ou Ministério Público, desde que,
nesse caso, se demonstre que houve “falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou,
ainda, documentos ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral
de credores” (art. 19 da LFRE).
IMPORTANTE: de acordo com o STJ, uma vez que o procedimento de habilitação de
crédito tem caráter contencioso, com instrução probatória, o título que o embasa não precisa
ser um título executivo, entendimento que vale tanto para a lei anterior quanto para a lei atual
(REsp 992.846/PR).
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O STJ também firmou o entendimento de que são devidos honorários advocatícios nos
casos em que a habilitação de crédito é impugnada, porque nesse caso a impugnação confere
litigiosidade ao procedimento (REsp 1197177/RJ e AgRg no AREsp 62.801/SP).
Pode ser que a propriedade fiduciária seja constituída sobre créditos. Isso ocorre
quando o empresário dá em garantia créditos que tem a receber (recebíveis), constituindo
garantia fiduciária. Isto é feito a partir da abertura de uma conta, os recebíveis entrarão nesta
conta e irão direto para o Banco credor. Então, quando há pedido de recuperação judicial, caso
se entenda que esses créditos não se sujeitam à Recuperação Judicial, o devedor não poderá
incluir no plano e nem terá acesso a esse dinheiro (“travas bancárias”), ficando sua recuperação
comprometida.
Assim, foi lançada a tese de que esses contratos seriam ilegítimos, uma vez que não se
poderia constituir propriedade fiduciária sobre créditos e, ainda, argumentando com base no
princípio da preservação da empresa, pois estariam sendo criadas travas bancárias, impedindo
o empresário de se recuperar, requerendo-se aos juízes que desconsiderassem tais contratos.
Todavia, o STJ já firmou jurisprudência sobre o tema:
Imagine que uma sociedade está em crise, contando com empréstimos, nos quais seus
sócios são avalistas. Não tendo pago, a empresa está sendo executada, assim como seu sócio
avalista. A sociedade, então, pede recuperação judicial, sendo deferido o processamento pelo
juiz, que também determina a suspensão das ações de execuções individuais contra a sociedade
empresária.
No caso de credor executando contrato contra a empresa e contra o avalista, a execução
continuou contra o sócio. O advogado do sócio entra com pedido na execução, requerendo a
suspensão desta em relação ao sócio (avalista) também, em virtude do disposto na parte final
do artigo 6º da LFRE.
O juiz poderá indeferir o pedido, sob a fundamentação de que a expressão “sócio
solidário” constante da parte final do art. 6º da LFRE, de acordo com o entendimento do STJ,
trata apenas do sócio que tem responsabilidade ilimitada e solidária com a sociedade, como o
sócio da sociedade em nome coletivo, por exemplo. Segundo esse entendimento, a expressão
não abrange sócios de responsabilidade limitada que são avalistas da sociedade em certas
operações. Nesse caso, aplica-se o art. 49, § 1º, da LFRE (“os credores do devedor em
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8.8.1. Assembleia-geral
a) Convocação da assembleia
Poderá a assembleia ser convocada pelo juiz, mas também poderá ser convocada pelos
próprios credores, desde que os créditos desses credores representem ao menos 1/4 do
passivo do recuperando (25%).
Para instaurar a assembleia, é necessário que haja credores que representem mais da
metade do passivo em cada classe. Caso não seja alcançado tal quórum, será necessário fazer
uma 2ª convocação, devendo ser instaurada a assembleia com qualquer número de credores.
b) Competências da assembleia
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O comitê é órgão facultativo, pois quem decide a sua instalação é a assembleia geral.
Cada classe de credores elegerá 1 membro, com 2 suplentes. Nessa deliberação, os
credores com privilégio especial passarão a compor a classe dos credores de garantia real (2ª
classe).
a) Competências do comitê
Na recuperação judicial:
a) fiscalizar a administração das atividades do devedor, apresentando, a cada 30
(trinta) dias, relatório de sua situação;
b) fiscalizar a execução do plano de recuperação judicial;
c) submeter à autorização do juiz, quando ocorrer o afastamento do devedor nas
hipóteses previstas na Lei Falimentar, a alienação de bens do ativo permanente, a
constituição de ônus reais e outras garantias, bem como atos de endividamento
necessários à continuação da atividade empresarial durante o período que antecede
a aprovação do plano de recuperação judicial.
a) Funções do administrador
O administrador tem como função administrar a sociedade nos casos em que houver o
afastamento dos diretores da sociedade e enquanto não for eleito gestor judicial pela
assembleia, o qual fará as mesmas atividades que os administradores faziam.
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Art. 57 da LFRE. Após a juntada aos autos do plano aprovado pela assembleia-geral
de credores ou decorrido o prazo previsto no art. 55 desta Lei sem objeção de
credores, o devedor apresentará certidões negativas de débitos tributários nos
termos dos arts. 151, 205, 206 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 – Código
Tributário Nacional.
Dispositivo polêmico, pois ou o plano foi aprovado tacitamente, porque não houve
objeções, ou o plano foi apresentado em assembleia. Há quem critique muito esse dispositivo,
sob a alegação de que há uma sanção política, questionando-se a constitucionalidade desse
dispositivo.
Para compensar, tem-se o dispositivo 68:
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vez que passou a ser regulamentado o parcelamento, pode-se pode exigir a CND, levando-se em
conta as circunstâncias mencionadas.
Art. 70. As pessoas de que trata o art. 1o desta Lei e que se incluam nos conceitos de
microempresa ou empresa de pequeno porte, nos termos da legislação vigente,
sujeitam-se às normas deste Capítulo.
§ 1o As microempresas e as empresas de pequeno porte, conforme definidas em lei,
poderão apresentar plano especial de recuperação judicial, desde que afirmem sua
intenção de fazê-lo na petição inicial de que trata o art. 51 desta Lei.
§ 2o Os credores não atingidos pelo plano especial não terão seus créditos habilitados
na recuperação judicial.
Art. 71. O plano especial de recuperação judicial será apresentado no prazo previsto
no art. 53 desta Lei e limitar-se á às seguintes condições:
I - abrangerá todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos,
excetuados os decorrentes de repasse de recursos oficiais, os fiscais e os previstos
nos §§ 3º e 4º do art. 49;
II - preverá parcelamento em até 36 parcelas mensais, iguais e sucessivas, acrescidas
de juros equivalentes à taxa SELIC, podendo conter ainda a proposta de abatimento
do valor das dívidas;
III – preverá o pagamento da 1ª parcela no prazo máximo de 180 dias, contado da
distribuição do pedido de recuperação judicial;
IV- estabelecerá a necessidade de autorização do juiz, após ouvido o administrador
judicial e o Comitê de Credores, para o devedor aumentar despesas ou contratar
empregados.
Parágrafo único. O pedido de recuperação judicial com base em plano especial não
acarreta a suspensão do curso da prescrição nem das ações e execuções por créditos
não abrangidos pelo plano.
Art. 72. Caso o devedor de que trata o art. 70 desta Lei opte pelo pedido de
recuperação judicial com base no plano especial disciplinado nesta Seção, não será
convocada assembléia-geral de credores para deliberar sobre o plano, e o juiz
concederá a recuperação judicial se atendidas as demais exigências desta Lei.
Parágrafo único. O juiz julgará improcedente o pedido de recuperação judicial e
decretará a falência do devedor se houver objeções, nos termos do art. 55, de
credores titulares de mais da metade de qualquer uma das classes de créditos
previstos no art. 83, computados na forma do art. 45, todos desta Lei.
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9. Falência
9.1. Introdução
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• etapa pré-falencial: indivíduo ingressa com o pedido de falência. Aqui, ainda não há
decretação da falência. Essa etapa se encerra no momento da sentença declaratória
de falência;
• etapa falencial: inicia-se no momento da decretação da falência e se conclui com o
encerramento da falência;
• etapa de reabilitação: há uma extinção das responsabilidades do falido, e ele volta
a se tornar apto ao exercício da atividade empresarial.
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do crédito tributário, a Lei nº 6.380/1980 (Lei de Execuções Fiscais), falta-lhe interesse de agir
para o pedido de falência. No mesmo sentido, foi aprovado o enunciado 56 das Jornadas de
Direito Comercial do CJF: “A Fazenda Pública não possui legitimidade ou interesse de agir para
requerer a falência do devedor empresário”.
A lei estabelece alguns requisitos para determinados credores promoverem o pedido de
falência:
• credor empresário deverá comprovar a regularidade do exercício da empresa:
perceba então que a sociedade irregular poderá requerer a sua autofalência, mas
não poderá pedir a falência do devedor;
• credor estrangeiro: deverá prestar caução, pois poderá ser responsabilizado se agiu
com dolo;
• exibição do título.
Obs: Pelo inciso IV, o credor não precisa ser empresário para pleitear a falência do
devedor, pode ser qualquer pessoa. Porém, se o credor for empresário, precisa apresentar
certidão da Junta Comercial que comprove sua situação regular.
Não é necessário que o requerente da falência tenha o seu próprio título vencido, pois
poderá pedir falência fundando-se em título de outro credor. Ex.: João pede a falência de Souza
Cruz S.A., pois ela não pagou Pedro Comércio de Cigarros Ltda., estabelecendo que o título da
credora supera 40 salários mínimos.
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Mesmo antes de 2001, os Tribunais já não estavam aceitando pedidos de falência com
base em dívida de pequeno valor, tendo o legislador incorporado esse entendimento
jurisprudencial na lei. Porém, quando havia pedido de falência embasado em uma dívida muito
baixa, o juiz fundamentava que aquela dívida não era suficiente para presumir a insolvência do
devedor e extinguia o processo de falência liminarmente. Em outras palavras, a jurisprudência
criou um requisito que não estava na lei “a dívida precisa ser de monta X que presuma a
insuficiência do devedor”.
Depois do estabelecimento do patamar mínimo da dívida em 40 salários mínimos, não
há mais dúvidas de que não cabe pedido de falência para créditos de pouca monta. Porém,
alguns juízes mesmo com um patamar fixado, continuaram a analisar se o valor da dívida é
mesmo suficiente para caracterizar a insolvência do devedor.
Então, decidiu o STJ:
Também justifica a decretação da falência a execução frustrada (art. 94, II, da LFRE).
A frustração da execução se caracteriza quando o devedor, executado por qualquer
quantia líquida (ou seja, independentemente do valor):
• não paga;
• não deposita;
• nem nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal.
Perceba-se que, no caso de execução frustrada, há uma tríplice omissão.
O credor, munido de uma certidão judicial trazendo a tríplice omissão, ingressa com o
pedido de falência, não precisando o título estar protestado, tampouco que seu valor ultrapasse
os 40 salários mínimos exigidos na hipótese da impontualidade injustificada.
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Art. 98. Citado, o devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias.
Parágrafo único. Nos pedidos baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 desta Lei,
o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor correspondente ao
total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios,
hipótese em que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido
de falência, o juiz ordenará o levantamento do valor pelo autor.
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Quanto ao inciso II, alguns atos praticados após o termo legal da falência são
considerados fraudulentos, o que demonstra a importância da fixação do termo.
Registre-se, outrossim, que a suspensão das execuções e do prazo prescricional contra
o devedor da falência se dá até o seu encerramento, diferentemente da recuperação judicial,
em que a suspensão se dá por 180 dias.
Ao decretar a falência, o devedor é afastado, ficando a cargo de um administrador
judicial a administração da empresa. Ressalte-se, porém, que, conforme jurisprudência do STJ
(vide informativo 653), a decretação da falência não implica, por si só, na extinção da
personalidade jurídica da sociedade, razão pela qual pode atuar como assistente nas ações em
que a massa falida seja parte ou interessada e mesmo requerer providências conservatórias dos
bens arrecadados na ação falimentar.
Não há nulidade se a falência for decretada sem a oitiva do Ministério Público, porque
não há previsão legal para intimar o MP antes da sentença.
A lei fala em sentença declaratória da falência, mas apesar deste nome a sentença tem
caráter constitutivo. O juiz, ao prolatar a sentença, submeterá os credores, bens, interesses,
sujeitos ao regime jurídico específico. Por isso é que se diz que ela tem natureza constitutiva.
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Da sentença que declara a falência caberá agravo de instrumento, com base no princípio
da especialidade.
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Art. 101. Quem por dolo requerer a falência de outrem será condenado, na sentença
que julgar improcedente o pedido, a indenizar o devedor, apurando-se as perdas e
danos em liquidação de sentença.
§ 1o Havendo mais de 1 (um) autor do pedido de falência, serão solidariamente
responsáveis aqueles que se conduziram na forma prevista no caput deste artigo.
§ 2o Por ação própria, o terceiro prejudicado também pode reclamar indenização dos
responsáveis.
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Existem algumas restrições pessoais a que se submete a pessoa falida, seja empresário
individual ou o responsável legal da sociedade empresária. Por exemplo:
• o falido não pode se ausentar do lugar da falência, se não houver autorização
judicial: sendo autorizado, deverá constituir um procurador;
• a partir da declaração da falência, as agências postais serão comunicadas para que
entregue as correspondências ao administrador judicial: caso ele verifique que a
correspondência não diz respeito à atividade empresarial, o administrador
encaminhará para o falido;
• o falido fica impedido de se restabelecer como empresário, mas somente
enquanto não for reabilitado: após a reabilitação, é possível se tornar empresário.
Essas restrições alcançam o empresário individual e os representantes da sociedade
falida.
Com a decretação da falência, o falido sofre uma capitis diminutio referente aos
direitos patrimoniais envolvidos na falência, sendo afastado da administração dos seus bens.
Isso significa que o falido sofre uma restrição de sua capacidade, ou seja, depois que é
decretada a falência, a sociedade empresária falida não mais possui personalidade jurídica e não
poderá postular, em nome próprio, direitos da massa falida, nem mesmo em caráter
extraordinário.
Todavia, segundo o STJ, o falido tem capacidade para propor ação rescisória para
desconstituir a sentença transitada em julgado que decretou a sua falência.
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A arrecadação dos bens do devedor falido não deve se restringir ao ativo que ele possui
no momento em que sua falência foi decretada. Afinal, é bem possível que o devedor tenha se
desfeito de bens que compunham seu ativo antes da decretação da quebra com o objetivo (ou
não) de evitar que tais bens fossem arrecadados no processo falimentar. Por isso, os credores
podem investigar os atos que o devedor praticou antes da falência com o objetivo de identificar
quais deverão ser considerados ineficazes perante e massa e, com isso, assegurar a recuperação
de ativos importantes, trazendo-os para a massa falida. É por essa razão, vale lembrar, que o
juiz fixa o termo legal da falência (“período suspeito”) na sentença que decreta a quebra (art.
99, inciso II, da LFRE).
Esses atos não são nulos e não são anuláveis. Em relação a terceiros serão plenamente
válidos e produzem efeitos, mas não produzirão efeitos perante a massa. As consequências,
portanto, se encontram no terceiro degrau da Escada Ponteana (plano da eficácia).
A lei emprega duas expressões diferentes para designar os atos ineficazes em sentido
amplo:
• atos ineficazes em sentido estrito;
• atos revogáveis.
O que os diferencia são as condições exigidas para que o ato seja ineficaz em sentido
estrito ou revogável, ou também o meio processual, como poderá se dar esse reconhecimento.
Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante
conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não
intenção deste fraudar credores:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo
legal, por qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do
próprio título;
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Segundo o art. 130, são revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar
credores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que com ele
contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.
Aqui, não há rol específico de atos nem se perquire sobre a data da prática do ato, pois
o que importa é que sejam comprovados o conluio fraudulento e o prejuízo para a massa.
Atenção: caso, por exemplo, um ato do art. 129, I, II ou III, tenha sido praticado 120 dias
antes da decretação da falência (fora do termo legal), se estiverem preenchidos os requisitos do
art. 130, poderá ser ajuizada ação revocatória.
Os legitimados e o prazo da ação revocatória estão disciplinados nos arts. 132 da LFRE:
“Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá ser proposta
pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo
de 3 (três) anos contado da decretação da falência”.
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A falência, em tese, compreende todos os credores, excluindo a lei alguns, tais como os
credores de obrigações a título gratuito e os créditos por despesa para que o credor possa
ingressar na massa falida subjetiva (gastos que o credor teve para se habilitar na falência não
será recebido).
• o credor poderá intervir como assistente, em qualquer ação em que a massa falida
seja parte, ou mesmo interessada;
• fiscalização da administração judicial;
• examinar, sempre que quiser, os livros e demais documentos da massa.
Já tratamos da suspensão das ações de que trata o art. 6º acima. Aqui, deve-se
complementar o tema com alguns detalhes adicionais.
Para o resguardo de seus interesses, o autor da ação individual que não se submete à
suspensão poderá (e a prudência indica que deve) requerer ao juiz que faça reserva daquele
valor, ainda que por estimativa (no caso de ações que demandem obrigações ainda ilíquidas).
Os arts. 6º, caput, e 99, V, da Lei nº 11.101/05 estabelecem, como regra, que, após a
decretação da falência, tanto as ações quanto as execuções movidas em face do devedor devem
ser suspensas. Trata-se de medida cuja finalidade é impedir que sigam em curso,
concomitantemente, duas pretensões que objetivam a satisfação do mesmo crédito.
Exceto na hipótese de a decisão que decreta a falência ser reformada em grau de
recurso, a suspensão das execuções terá força de definitividade (não há prazo específico para
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A quebra implica suspensão da fluência dos juros, porém também existem exceções,
como é o caso das obrigações com garantia real. Neste caso, serão pagos os juros posteriores à
decretação da falência, desde que o bem dado em garantia seja suficiente para pagar inclusive
os juros.
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De acordo com o art. 139 da LFRE, “logo após a arrecadação dos bens, com a juntada do
respectivo auto ao processo de falência, será iniciada a realização do ativo”, a qual consiste,
basicamente, na venda dos bens arrecadados, a fim de juntar dinheiro para pagamento dos
credores habilitados. Registre-se, porém, que a venda dos bens deve ser iniciada antes mesmo
de formado o quadro-geral de credores (art. 140, § 2º da LFRE), uma novidade da lei atual em
relação à anterior.
Existem três formas de venda: leilão, proposta fechada, ou pregão, que não se
confundem com as modalidades de venda, previstas no art. 140 da LFRE na seguinte ordem de
preferência:
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§ 1º Aplica-se à sociedade mencionada neste artigo o disposto no art. 141 desta Lei.
§ 2º No caso de constituição de sociedade formada por empregados do próprio
devedor, estes poderão utilizar créditos derivados da legislação do trabalho para a
aquisição ou arrendamento da empresa.
§ 3º Não sendo aprovada pela assembléia-geral a proposta alternativa para a
realização do ativo, caberá ao juiz decidir a forma que será adotada, levando em
conta a manifestação do administrador judicial e do Comitê
Em relação ao art. 145 da LFRE, a deliberação em AGC será aprovada se houver votos
favoráveis de credores que representem 2/3 dos créditos presentes à assembleia (art. 46 da
LFRE).
Para a alienação ordinária, a lei exige publicação prévia em jornal de ampla circulação
com 15 dias de antecedência, se os bens forem móveis, e com 30 dias de antecedência, se forem
bens imóveis (art. 142, § 1º, da LFRE). Tal regra se aplica à alienação extraordinária? De acordo
com o STJ, não.
A realização do ativo não compreende apenas a venda dos bens, mas também a busca
em obter bens em favor da massa falida, como é o caso dos devedores da massa. A cobrança
dos créditos do falido deverá ser feita pelo administrador judicial, pois cabe a ele fazer a
realização do ativo.
Exaurido o produto da venda, o administrador judicial apresentará a prestação de
contas. Após o julgamento, apresentará o relatório final.
Após, o juiz proferirá uma sentença, declarando encerrado o processo de falência. Esta
sentença, diferentemente da sentença declaratória de falência, poderá ser atacada por meio de
recurso de apelação.
Pode ser que a arrecadação atinja bens de terceiros que estão em poder do devedor na
data da decretação da falência. Nesses casos, os titulares desses bens poderão formular pedidos
de restituição.
De acordo com o art. 85 da LFRE, “o proprietário de bem arrecadado no processo de
falência ou que se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá
pedir sua restituição”. É o caso, por exemplo, de bens que estavam com o devedor em razão de
contratos de alienação fiduciária em garantia ou arrendamento mercantil. Por disposição
expressa do DL 911/69, em seu art. 7º, caberá o pedido de restituição da coisa alienada com
garantia fiduciária. A instituição financeira, proprietária fiduciária, pode fazer o pedido de
restituição do bem que estava no estabelecimento do falido a título de alienação fiduciária.
O art. 85, parágrafo único da LFRE, por sua vez, dispõe o seguinte: “também pode ser
pedida a restituição de coisa vendida a crédito e entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias
anteriores ao requerimento de sua falência, se ainda não alienada”. Trata-se de bem que foi
vendido a crédito ao falido, entregue a ele até quinze dias antes do pedido de falência e ainda
não alienado a terceiros.
Sobre o tema, vale ressaltar também o entendimento do STJ de que os Certificados de
Depósito Bancário – CDBs – que ainda não tenham sido liquidados no momento de intervenção
do Banco Central sobre uma instituição financeira –, serão submetidos aos efeitos da falência
da instituição. Segundo o STJ, “quando se trata de contrato de depósito bancário, ocorre a
transferência da propriedade do bem para a instituição financeira, assumindo o depositante, em
consequência, a posição de credor daqueles valores” (REsp 1.801.031-SP, julgado em
04/06/2019, DJe 07/06/2019).
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Outra hipótese de restituição está prevista no art. 86, inciso II, da LFRE, que prevê que
caberá a restituição em dinheiro
Nos casos em que não couber pedido de restituição, fica resguardado o direito dos
credores de propor embargos de terceiros, observada a legislação processual civil.
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O segundo (art. 151), por sua vez, dispõe que “os créditos trabalhistas de natureza
estritamente salarial vencidos nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o
limite de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja disponibilidade
em caixa”. Assim, frise-se, os pagamentos previstos nos arts. 150 e 151 da LFRE devem ser
realizados assim que houver disponibilidade de caixa.
Nos termos do art. 149 da LFRE, o administrador judicial também deve pagar, antes dos
credores concursais habilitados e descritos no quadro-geral, as restituições em dinheiro
deferidas pelo juiz (art. 86 da LFRE), que não são créditos propriamente ditos, e os créditos
extraconcursais. Esses créditos extraconcursais são descritos no art. 84 da LFRE, que assim
dispõe:
Art. 84. Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com precedência
sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir, os relativos a:
I – remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares, e créditos
derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho
relativos a serviços prestados após a decretação da falência;
II – quantias fornecidas à massa pelos credores;
III – despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do
seu produto, bem como custas do processo de falência;
IV – custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida tenha sido
vencida;
V – obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação
judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a decretação da falência, e tributos
relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a
ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.
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Nesse último precedente, o STJ chegou a consignar expressamente que “as diversas
espécies de verbas que ostentam natureza alimentar, dada a afinidade ontológica que lhes é
inerente, devem receber tratamento isonômico para os fins da Lei de Falência e Recuperação
de Empresas, ainda que ausente disposição legal específica versando sobre cada uma elas”.
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Com relação aos créditos com garantia real, a preferência incide apenas até o limite do
valor do bem gravado. Ex.: o bem é de R$ 100 mil, mas a dívida é de R$ 150 mil. No caso, serão
pagos os R$ 100 mil do bem gravado, mas os R$ 50 mil restantes serão gravados como crédito
quirografário.
Mas há uma peculiaridade entre essa quebra do crédito que ocorre em relação aos
trabalhistas e a que ocorre em relação aos credores com garantia real. Quanto aos trabalhistas,
nas deliberações assembleares por classes, os seus titulares (credores trabalhistas) apenas
votarão na classe dos credores trabalhistas, pelo valor total do seu crédito. Já os credores com
garantia real cujo valor do crédito seja inferior ao do bem gravado votarão tanto na classe dos
credores com garantia real (pelo valor do bem) quanto na classe que abrange os quirografários
(pelo valor excedente).
c) Créditos tributários
Com relação aos créditos tributários, há uma ordem interna para recebimento:
• créditos da União e suas autarquias;
• créditos dos Estados e suas autarquias;
• créditos dos municípios e suas autarquias.
Ressalte-se que aqui entram os créditos tributários independentemente de sua natureza
e tempo de constituição, excetuadas as multas tributárias, que ocupam local bem abaixo na
ordem de prioridade de pagamento.
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f) Créditos quirografários
É, comumente, a grande massa das obrigações do falido. São os créditos que não têm
quaisquer especialidades, como contratos em geral, por exemplo, bem como os excedentes dos
créditos trabalhistas e dos credores com garantia real, conforme visto acima.
g) Multas
Após o pagamento dos créditos quirografários, caso sobre algo, aí os recursos serão
destinados ao pagamento de multas contratuais e penalidades pecuniárias por infrações penais,
administrativas ou tributárias.
h) Créditos subordinados
Por último, pagam-se os créditos subordinados, que serão aqueles relacionados aos
sócios, administradores, sem vínculo empregatício, bem como às debêntures subordinadas.
9.23. Encerramento
De acordo com o art. 154 da LFRE, “concluída a realização de todo o ativo, e distribuído
o produto entre os credores, o administrador judicial apresentará suas contas ao juiz no prazo
de 30 (trinta) dias”, em autos apartados, porém apensados aos autos da falência.
Na sequência, o juiz determina a publicação de aviso de que as contas foram entregues,
para que os interessados as analisem e eventualmente apresentem impugnação no prazo de 10
dias. Realizadas as diligencias necessárias à apuração dos fatos, o juiz intimará o MP, que se
manifestará no prazo de 5 dias, após o qual “o administrador judicial será ouvido se houver
impugnação ou parecer contrário do Ministério Público” (art. 154, § 3º). Por fim, o juiz decide
acerca das contas.
“A sentença que rejeitar as contas do administrador judicial fixará suas
responsabilidades, poderá determinar a indisponibilidade ou o seqüestro de bens e servirá como
título executivo para indenização da massa” (art. 154, § 5º).
De acordo com os arts. 155 e 156 da LFRE:
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A Lei autoriza que o devedor que preencha os mesmos requisitos do art. 48 da LFRE
proponha e negocie diretamente com os credores um plano de recuperação extrajudiciário.
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11.1. Introdução
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11.2.1. Intervenção
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1. Introdução
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3. Teoria da aparência
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Com relação à força obrigatória do contrato, existe outra limitação denominada exceptio
non adimpleti contactus (exceção de contrato não cumprido), prevista no art. 476 do CC.
Isto é, uma parte não poderá exigir o cumprimento do contrato pela outra, caso ela
mesma esteja em mora. O art. 477 do CC complementa o disposto no art. 476, ao estipular que:
Art. 477. Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratantes
diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa a
prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe
incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de
satisfazê-la.
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O contrato de partida traz a cláusula EXW (Ex Works – local de chegada), a qual
estabelece que se o contrato é de partida, o comprador assumirá com exclusividade os custos
relativos ao recolhimento da mercadoria do estabelecimento do devedor.
A partir da partida da mercadoria, caberá ao comprador o pagamento do transporte.
Isto é, o comprador busca a mercadoria no estabelecimento do vendedor.
Aqui, o transporte principal não será pago pelo vendedor, sendo uma exceção à regra
de que sobre o vendedor recaem as despesas da tradição.
Existem três cláusulas previstas:
• cláusula FCA (free carrier – local indicado): O vendedor completa suas obrigações e
encerra sua responsabilidade quando entrega a mercadoria, desembaraçada para a
exportação, ao transportador ou a outra pessoa indicada pelo comprador, no local
nomeado do país de origem. A partir daquele momento, cessam todas as
responsabilidades do vendedor, ficando o comprador responsável por todas as
despesas e por quaisquer perdas ou danos que a mercadoria possa vir a sofrer. O
comprador poderá indicar outra pessoa, que não seja o transportador, para receber
a mercadoria. Nesse caso, o vendedor encerra suas obrigações quando a mercadoria
é entregue àquela pessoa indicada. Esse termo pode ser utilizado em qualquer
modalidade de transporte;
• cláusula FAS (free alongside ship – porto de embarque indicado): por este contrato,
o vendedor se obriga a transportar o bem até determinado porto. Caberá ao
comprador as despesas do desembaraço para exportação, com o embarque da
mercadoria, seguro e outras necessárias, começando ele a pagar antes mesmo do
transporte. O vendedor encerra suas obrigações no momento em que a
mercadoria é colocada ao lado do navio transportador, no cais ou em embarcações
utilizadas para carregamento, no porto de embarque designado. A partir daquele
momento, o comprador assume todos os riscos e custos com carregamento,
pagamento de frete e seguro e demais despesas. O vendedor é responsável pelo
desembaraço da mercadoria para exportação. Esse termo pode ser utilizado
somente para transporte aquaviário (marítimo fluvial ou lacustre);
• cláusula FOB (free on board): as despesas com transporte da mercadoria até um
certo ponto, com o embarque das mercadorias no navio e com o desembaraço da
exportação correm por conta do vendedor. Os demais encargos correm por conta
do comprador. Isto é, o vendedor entrega a mercadoria a bordo do navio no porto
de embarque indicado, e a partir daquele momento, o comprador assume todas as
responsabilidades quanto a perdas e danos. A entrega se consuma a bordo do navio
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designado pelo comprador, quando todas as despesas passam a correr por conta do
comprador. O vendedor é o responsável pelo desembaraço da mercadoria para
exportação. Esse termo pode ser utilizado exclusivamente no transporte aquaviário
(marítimo, fluvial ou lacustre).
*Obs: as informações acima foram compiladas do site:
<https://www.rmseguros.com.br/incoterms.htm>
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• cláusula CIP (carriage and insurance paid to – transporte e seguro pago até): o
vendedor vai arcar com as despesas do transporte principal, inclusive com eventuais
perdas ocorridas durante o transporte. Nessa modalidade, as responsabilidades do
vendedor são as mesmas descritas no CPT, acrescidas da contratação e pagamento
do seguro até o destino. A partir do momento em que as mercadorias são entregues
à custódia do transportador, os riscos por perdas e danos se transferem do
vendedor para o comprador, assim como possíveis custos adicionais que possam
incorrer. O seguro pago pelo vendedor tem cobertura mínima, de modo que
compete ao comprador avaliar a necessidade de efetuar seguro complementar.
Cláusula utilizada em qualquer modalidade de transporte.
*Obs: as informações acima foram compiladas do site:
<https://www.rmseguros.com.br/incoterms.htm>
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7. Contratos de colaboração
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7.5. Franquias
A franquia é um contrato por meio do qual uma empresa (franqueador) transfere a outra
(franqueado) o direito de usar a sua marca ou patente e de comercializar seus produtos ou
serviços, podendo, ainda, haver a transferência de conhecimentos do franqueador para o
franqueado.
O empresário franqueador, além de licenciar o uso da sua marca a outro empresário
(franqueado), prestará os serviços de organização empresarial.
A franquia consiste na conjugação de dois contratos:
• contrato de licenciamento do uso de marca;
• prestação de organização de serviços empresariais do franqueador.
Segundo a Lei nº 8.955/94, em seu art. 2º, franquia empresarial é o sistema pelo qual
um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito
de distribuição exclusiva ou semiexclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também
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O art. 6.° da Lei 8.955/1994, por sua vez, estabelece que “o contrato de franquia
deve ser sempre escrito e assinado na presença de 2 (duas) testemunhas e terá
validade independentemente de ser levado a registro perante cartório ou órgão
público”. Não obstante, o art. 211 da LPI determina que os contratos de franquia
devem ser registrados no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), nos
seguintes termos: “o INPI fará o registro dos contratos que impliquem transferência
de tecnologia, contratos de franquia e similares para produzirem efeitos em relação
a terceiros”. Como conjugar, então, as duas regras? Ora, uma trata da validade do
contrato, e a outra da sua eficácia perante terceiros. Assim, a ausência de registro
da franquia no INPI não invalida o contrato, mas nesse caso ele só produzirá efeitos
perante as partes contratantes – franqueador e franqueado –, não sendo oponível
perante terceiros.
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tenha sido suficiente para recuperar o investimento realizado. Neste caso, o proponente será
obrigado a indenizar em razão dessa cessação precoce do contrato.
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1. Introdução
Para que haja contrato bancário, por óbvio, deve haver um banco.
Atividade bancária pode ser conceituada como uma atividade destinada à coleta,
intermediação e aplicação de recursos financeiros, sejam eles próprios, sejam eles de
terceiros.
São operações econômicas ligada à concessão de crédito, circulação e administração dos
créditos.
As instituições financeiras adotam necessariamente a forma de sociedade anônima.
Para que se fale em contrato bancário, tais requisitos deverão ser cumpridos:
• uma das partes deverá ser um banco;
• o contrato deve se referir ao exercício da atividade bancária: coleta, intermediação
e aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros. Quando o banco
compra uma sede, não se trata de contrato bancário, assim como quando contrata
uma empresa de engenharia. Apesar de figurar num dos polos, não há por objeto
coleta, circulação ou aplicação de recursos financeiros.
3. Atividades bancárias
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Operações ativas são aquelas em que o banco assume a posição de credores, sendo os
principais contratos:
• mútuo bancário;
• desconto bancário;
• abertura de crédito bancário;
• crédito documentário.
Com relação à taxa de juros, já está pacificado pela súmula 541 que a previsão no
contrato bancário de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal é suficiente para
permitir a cobrança da taxa efetiva anual contratada. Para tanto, a súmula 530 estabelece que,
nos contratos bancários, na impossibilidade de comprovar a taxa de juros efetivamente
contratada - por ausência de pactuação ou pela falta de juntada do instrumento aos autos -,
aplica-se a taxa média de mercado, divulgada pelo Bacen, praticada nas operações da mesma
espécie, salvo se a taxa cobrada for mais vantajosa para o devedor.
Segundo a súmula 379, nos contratos bancários não regidos por legislação específica, os
juros moratórios poderão ser convencionados até o limite de 1% ao mês.
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Ademais, vale lembrar que o STJ editou a súmula 30, estabelecendo que a comissão de
permanência e a correção monetária são inacumuláveis.
O contrato de abertura de crédito ocorre quando o banco coloca uma certa quantia em
dinheiro à disposição do cliente, caso queira utilizar. Neste caso, somente pagará juros e
demais encargos se o cliente utilizar e quando utilizar.
Caso seja utilizado, o cliente entrará no cheque especial. O cheque especial é a abertura
de crédito.
São características do contrato de abertura de crédito:
• contrato bilateral;
• contrato consensual: já está formalizado com o acordo de vontades, pois o sujeito
poderá usar ou não, visto que o crédito está disponível. Não se trata de contrato
real.
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A expressão contratos bancários impróprios é utilizada por Fábio Ulhoa Coelho, pois
existem divergências doutrinárias se estes contratos seriam contratos bancários ou não.
São exemplos de contratos bancários impróprios:
• alienação fiduciária em garantia;
• faturização;
• arrendamento mercantil;
• cartão de crédito.
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opera um simples endosso, mas a negociação de um crédito cuja origem é objeto de análise
pela faturizadora.
Nesse contexto, a faturizadora não pode ser equiparada a um terceiro de boa-fé a
quem o título pudesse ser transferido por endosso. De fato, na operação de factoring, há
verdadeira cessão de crédito, e não mero endosso, ficando autorizada a discussão da causa
debendi, na linha do que determina o art. 294 do CC, segundo o qual: “o devedor pode opor ao
cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no momento em que veio a ter
conhecimento da cessão, tinha contra o cedente”.
Ademais, o STJ já decidiu que é desnecessária a notificação de emitente de cheque com
cláusula “à ordem”, para que o faturizador que tenha recebido a cártula por meio de endosso
possa cobrar o crédito decorrente de operação de factoring.
Ainda sobre o tema, o STJ entendeu recentemente que empresas em processo de
recuperação judicial podem celebrar contratos de factoring sem prévia autorização judicial
(REsp 1.783.068-SP, julgado em 05/02/2019, DJe 08/02/2019).
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1. Introdução
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3.1. Merchandising
4. Transferência de tecnologia
5. Comercialização de software
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1. Conceito
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5. Espécies de seguro
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5.3. Seguro-saúde
6. Capitalização
Capitalização é o contrato em que uma sociedade anônima, que está autorizada pelo
governo federal, compromete-se, por meio de contribuições periódicas que o outro contratante
manda a ela, a pagar determinada importância ao final do prazo determinado.
Normalmente, firma-se uma cláusula contratual com a previsão de prêmios, ou mesmo
pela possibilidade de antecipação do capital.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Revista de Direito Mercantil,Econômico, Industrial e Financeiro, nº 103, julho-setembro de
1996.
ASQUINI, Alberto. “Perfis da empresa”. Tradução de Fábio Konder Comparato. In: Revista de
Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro, nº 104, outubro dezembro de 1996.
BARBOSA, Denis Borges. Uma introdução à propriedade intelectual, 2ª ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2003.
BARRETO FILHO, Oscar. “A dignidade do direito mercantil”. In: Revista de Direito Mercantil,
Econômico, Industrial e Financeiro, nº 11, 1973
COELHO, Fábio Ulhoa, Curso de direito comercial. V. I, 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
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FÉRES, Marcelo Andrade. “Empresa e empresário: do código civil italiano ao novo código civil
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