Alves, R. Et Al

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 15

ARTIGO Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 23, n. 51, p.

59-
73, jan./abr., 2018. ISSN 1518-2924. DOI: 10.5007/1518-2924.2018v23n51p59
Recebido em:
12/05/2017

Aceito em: Técnicas de análise de dados empregadas no Programa de


01/12/2017 Pós-graduação de Ciência da Inf ormação da Universidade
Estadual de Londrina
Data analisys techniques used in the Information Science Postgraduate
Program of Londrina State University

Rosemari Pereira dos Santos ALVES ([email protected])*


Sueli BORTOLIN ([email protected])**
Adriana Rosecler ALCARÁ ([email protected])**
* Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação - UEL.
** Professora do Departamento de Ciência da Informação - UEL.

Resumo: A metodologia da pesquisa constitui um dos elementos que confere aos estudos
investigativos rigorosidade e reconhecimento perante a ciência. Diante disso, o objetivo deste
artigo foi investigar quais os procedimentos de análise de dados usados nas dissertações do
Programa de Pós-Graduação de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina e
aferir, nestas, a frequência do emprego da análise de conteúdo. Para tanto, foi realizada uma
pesquisa documental indireta, de cunho bibliográfico, recuperando 28 dissertações, defendidas
nos anos de 2014 e 2015, e sintetizando o conteúdo daquelas que utilizaram a análise de
conteúdo. Entre os resultados verificou-se que a análise de conteúdo foi uma das técnicas mais
empregadas nas pesquisas deste Programa.
Palavras-chave: Metodologia da pesquisa; Técnicas de análise de dados; Análise de conteúdo.

Abstract: Research methodology constitutes one of the elements which bestows, to


investigative studies, rigorousness and acknowledgement before Science. Thus, this paper
intends to investigate what procedures of data analysis are used in the dissertations of the
Information Science Postgraduate Program of Londrina State University, measuring the
frequency of the adoption of content analysis. In order to fulfill this objective, an indirect
bibliographic documental research was conducted, retrieving 28 dissertations, from 2014 and
2015, and synthesizing the contents of those that used the content analysis. Among the
results it was verified that content analysis was one of the most used techniques in the
researches of this Program.
Keywords: Research Methodology; Data analysis techniques; Content analysis.

v. 23, n. 51, 2018.


p. 59-73
ISSN 1518-2924 Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

59
1 INTRODUÇÃO
A produção científica é responsável pela construção e solidificação de novos
conhecimentos, continuidade das investigações e evolução de determinado campo,
além de colaborar para o desenvolvimento científico e tecnológico de um país.
Juntamente com o avanço tecnológico, que tem contribuído para que a ciência seja
amplamente divulgada e expandida, as Instituições de Ensino Superior, a partir dos
cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado), vem ao longo do tempo formando
pesquisadores para contribuir com a propagação e a utilização do conhecimento.
A metodologia da pesquisa, na produção científica, constitui um dos elementos
que confere aos estudos investigativos rigorosidade e reconhecimento perante o
estatuto de Ciência. Seu uso perfaz um importante instrumento de caracterização de
uma investigação, dando-lhe a correta forma mediante a qual se empregam métodos e
técnicas que são adotados para a obtenção do conhecimento acerca do objeto de
estudo. Logo, seu emprego possibilita buscar a solução de um problema estabelecido,
testar uma hipótese, bem como fazer cumprir objetivos que se constituem na
produção de determinado conhecimento.
Dada a amplitude de tal conjectura é necessário buscar a melhor forma de se
escolher métodos adequados e eficientes para o desenvolvimento racional de uma
pesquisa, pois a escolha impacta sobremaneira na análise dos dados científicos. Outro
ponto a se considerar é que tal escolha deve, necessariamente, estar intrinsecamente
ligada aos objetivos estabelecidos, já que uma escolha errada, em termos de métodos,
compromete todo um trabalho e perde o rigor metodológico imprescindível a
qualquer trabalho de natureza científica (POPPER, 1993). Marconi e Lakatos (2010)
entendem que o uso dos métodos é de certa forma uma prerrogativa da ciência. Em
termos específicos, o método é entendido como um conjunto de atividades racionais e
sistemáticas que possibilitam alcançar o objetivo de modo seguro e sem esforços
desnecessários.
Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo investigar quais foram os
procedimentos de análise de dados usados nas dissertações do Programa de Pós-
graduação de Ciência da Informação da Universidade Estadual de Londrina
(PPGCI/UEL) e aferir a frequência do emprego da análise de conteúdo. Para tanto, foi
realizada uma pesquisa documental indireta, de cunho bibliográfico, que recuperou
28 dissertações, defendidas nos anos de 2014 e 2015. Em seguida, foi realizada uma
síntese das dissertações que utilizaram a técnica de análise de conteúdo. O artigo se
justifica por evidenciar à comunidade cientifica o emprego desta técnica, explanando
seu conceito e identificando como tem sido aplicada neste Programa.
Quanto à estrutura deste artigo, na primeira parte é apresentado o referencial
teórico, o conceito de análise de conteúdo, principalmente com base na obra de
Laurence Bardin. Na segunda parte, é mostrado o levantamento de todas as
dissertações com seus respectivos procedimentos de análise, visando a incidência do
percentual de adoção de análise de conteúdo para determinar sua frequência e, enfim,
sintetizar os trabalhos que adotam a técnica em questão, para determinar em que tipo
de pesquisa ela tem sido empregada.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
A Análise de Conteúdo (AC) é um conjunto de técnicas. Segundo Marconi e
Lakatos (2002), técnicas de pesquisa são preceitos e processos que servem uma
ciência ou arte na obtenção de seus propósitos. Conforme Bardin (2011), a AC utiliza
procedimentos sistemáticos e objetivos para obter indicadores que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às variáveis inferidas da mensagem. Ela possui

60
três fases: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados –
inferência e interpretação (sendo importante destacar que as duas primeiras fases
constituem a etapa descritiva da análise), que serão detalhadas mais adiante.
As técnicas que compõem esse conjunto são: análise categorial, análise de
avaliação, análise da enunciação, análise da expressão, análise das relações e análise
do discurso (BARDIN, 2011). Apesar disso, é comum que autores se refiram à análise
de conteúdo simplesmente como um “método”.
A análise de conteúdo é uma técnica de pesquisa que trabalha com a palavra,
permitindo de forma prática e objetiva produzir inferências do conteúdo da
comunicação de um texto replicáveis ao seu contexto social. Nela o texto é um meio de
expressão do sujeito, onde o analista busca categorizar as unidades de texto (palavras
ou frases) que se repetem, inferindo uma expressão que as representem. Conforme
Godoy (1995), na sua origem a análise de conteúdo tem privilegiado as formas de
comunicação oral e escrita, o que não deve excluir outros meios de comunicação.
Qualquer comunicação que vincule um conjunto de significações de um emissor para
um receptor pode, em princípio, ser traduzida por esta técnica.
De acordo com a definição, a intenção da análise de conteúdo é obter
indicadores para se fazer inferências. Bardin (2011) ensina que os indicadores são
índices fornecidos pela etapa descritiva da análise, cumprindo o papel de vestígios
com os quais o analista pode trabalhar, assim como os sintomas cumprem o mesmo
papel para o trabalho dos médicos. Woida (2010) esclarece que os indicadores podem
revelar aspectos implícitos do conteúdo analisado. As inferências, por sua vez, são
deduções lógicas que explicam os antecedentes e as consequências da mensagem
analisada. Bardin (2011) explica que a inferência se situa entre a descrição e a
interpretação da mensagem, em uma etapa intermediária.
As variáveis inferidas da mensagem, termo final da definição, consistem no
objeto da análise de conteúdo. Por intuição seria razoável esperar que o objeto da
análise fosse a própria palavra, porém tal posição é ocupada pelo campo das
determinações da mensagem, ou seja, pelas condições de sua produção. Bardin
(2011) critica essa denominação (condições de produção) pelo fato de ela excluir as
condições de recepção, que também estão contidas no objeto. Portanto, ela prefere a
expressão “variável inferida”, que possui uma conotação mais neutra. Woida (2010)
sintetiza que o ponto central do método é a descrição do conteúdo de um texto levando
em conta a construção de indicadores para realizar inferências. Portanto, trata-se de
um processo de descrever, inferir e interpretar.
Como mencionado, o conjunto de técnicas em questão possui três fases para
sua utilização. A primeira delas é a pré-análise, na qual as ideias iniciais são
sistematizadas. Segundo Bardin (2011), essa fase possui três missões: 1ª) escolha do
material a ser submetido à análise; 2ª) formulação das hipóteses e objetivos; 3ª)
elaboração de indicadores. Trata-se de uma fase com procedimento informal e
intuitivo, podendo ser impossível cumprir as missões em ordem cronológica, visto
que os fatores são interdependentes.
A escolha do material é uma atividade que culmina na constituição de um
corpus. Bardin (2011) define corpus como o conjunto de documentos a serem
submetidos à análise. Sua construção segue algumas regras, das quais se destacam: a
exaustividade, que impede que documentos elencados deixem de ser analisados,
devendo-se esgotar a totalidade das comunicações que serão utilizadas; a
representatividade, que exige que a amostra abranja todo o universo representado, a
fim de que os resultados da análise sejam generalizáveis; a exclusividade, que impede
que um mesmo elemento seja classificado em mais de uma categoria; a
homogeneidade, que exige que os documentos sejam escolhidos com base em

61
critérios preestabelecidos, impedindo a inclusão arbitrária de materiais e garantindo a
consistência do corpus; e a pertinência, que exige que os documentos sejam
adequados ao objetivo da análise.
Enquanto os materiais são adicionados ao corpus, eles devem ser submetidos
a uma leitura flutuante (BARDIN, 2011). Trata-se de leitura livre com o intuito de
conhecer o conteúdo do documento. Se, após a leitura, for decidido que o documento
deve permanecer no corpus, passa a ser possível formular, a partir dele, hipóteses e
objetivos. Bardin (2011) entende que hipóteses são afirmações provisórias que se
pretende confirmar ou infirmar por meio da análise. Objetivos, seguindo o
entendimento, são as finalidades gerais da análise, em prol das quais os resultados
obtidos seriam usados.
Enfim, a elaboração de indicadores fornece as ferramentas que viabilizam a
interpretação. Os indicadores são fixados com base nos materiais selecionados e nas
hipóteses e objetivos estabelecidos. No entanto, eles podem acabar inspirando novas
hipóteses e objetivos, bem como sugerindo novos documentos para integrar o corpus.
Esse caráter espontâneo da pré-análise, por meio do qual são criados e alterados
planos durante a execução, decorre da interdependência anteriormente mencionada.
A missão do pesquisar nessa fase começa com índices provisórios que vão se
definindo ao longo da fase, até se tornarem indicadores precisos e seguros. Ao final da
fase, é importante realizar o pré-teste de análise dos indicadores, ou seja, testar sua
eficácia e pertinência para que as etapas posteriores tenham um fundamento sólido
para se desenvolverem (BARDIN, 2011). Antes de encerrar a pré-análise, esta autora
lembra como é indispensável fazer a preparação do material. Trata-se de um
procedimento formal de organização e padronização dos documentos selecionados.
Ela engloba desde a transcrição de entrevistas até a classificação de textos.
Finda a primeira fase da análise de conteúdo, procede-se para a fase de
exploração do material, que é a mais mecânica de todo o processo. Sua missão
consiste em codificar e categorizar os dados brutos analisados, em conformidade com
o que foi estipulado na pré-análise (BARDIN, 2011). O procedimento começa com o
recorte do texto, para identificar os elementos a serem analisados, que podem servir
como unidade de registro ou de contexto. As unidades de registro são os elementos
básicos da análise, podendo ser palavras, temas, eventos etc, dependendo da técnica
aplicada. A unidade de contexto é no ambiente no qual a unidade de registro está
inserida, ou seja, consiste em um recorte ao redor desta (com dimensões fixadas em
função da pertinência) necessária para a compreensão de sua significação exata
(BARDIN, 2011).
A partir do recorte, é possível enumerar os elementos, contar suas
frequências e constatar, com base em referência, sua presença ou ausência. A
enumeração é orientada por uma regra, que pode atribuir pesos para unidades de
registro e alterar seus valores de acordo com sua intensidade (que pode ser observada,
por exemplo, em advérbios, quando se trata de texto), entre outros recursos de
avaliação (BARDIN, 2011). Para ilustrar esse procedimento, no caso da ponderação
com base na intensidade dos elementos, ao se medir a frequência de palavras que
expressam desaprovação, em entrevistas sobre a Reforma Previdenciária, termos
como “injusto” e “absurdo” possuem um valor que pode ser amplificado por advérbios
como “muito” e “demais”. Assim, enquanto se conta 1 ponto para “injusto”, pode-se
contar 2 ou mais pontos para “injusto demais”.
Vale destacar que o recorte e a enumeração representam atividades de
codificação, o procedimento seguinte é de natureza taxonômica. Trata-se da
categorização, que se inicia com o inventário, etapa que isola os elementos
codificados, e prossegue com a classificação, que consiste em sua organização de

62
acordo com categorias. Bardin (2011) adverte que boas categorias devem seguir
condições de ser: mutuamente exclusivas, com cada elemento sendo mapeado para
apenas uma categoria, como uma função, na matemática, que só é válida se para cada
valor de entrada há um único valor de saída; homogêneas, obedecendo, todas elas, aos
mesmos princípios de classificação; pertinentes, se adequando às hipóteses e
objetivos preestabelecidos; objetivas, superando a tendência do classificador de emitir
juízos subjetivos; e produtiva, devendo possuir o potencial para fornecer resultados.
Após a exploração do material, procede-se para a terceira fase da análise de
conteúdo, que é a de tratamento dos resultados em que se faz a inferência e a
interpretação. Nessa etapa, conforme Bardin (2011), os resultados brutos obtidos são
transformados em informações significativas e válidas que podem ser representadas
em tabelas e diagramas. Nesse momento, surge a possibilidade de se propor
inferências e dar início ao trabalho interpretativo. A inferência, como já foi dito, busca
explicar os antecedentes e consequentes do conteúdo analisado, ou seja, conforme
Bardin (2011), entender as causas (variável inferida) a partir dos efeitos (variável de
inferência, ou seja, indicador).
Dois tipos de inferências se apresentam para realizar essa função: a específica
e a geral. A inferência específica é usada para responder uma pergunta pontual,
trabalhando, assim, com uma variável inferida não generalizável. Ao contrário, a
inferência geral procura estabelecer causas gerais, que se relacionem não apenas com
um caso especial. Bardin (2011) explica que, para transcender a esfera das
inferências específicas, é preciso rever os índices e inferências de análises anteriores,
bem como a situação da comunicação, fazendo, de certa maneira, uma análise de
conteúdo que tem como objeto outra análise de conteúdo.
A partir das inferências, são realizadas as interpretações. Conforme Lima e
Manini (2016), trata-se da atividade com a qual o pesquisador alcança os objetivos
propostos pela AC. Ela consiste em expressar os elementos necessários para elucidar
o objeto de estudo e as hipóteses, exigindo do analista criatividade e diligência.
Finda a terceira fase, encerra-se a aplicação desta técnica, sendo possível fazer
uso dos resultados para fins teóricos, pragmáticos ou como fundamento para uma
nova análise (BARDIN, 2011). Trata-se, portanto, de um método objetivo e sistemático
que tanto serve como fonte para justificar argumentos científicos quanto para base
de novas análises, que podem deixar os resultados cada vez mais refinados.
É importante observar que a análise de conteúdo é um método muito versátil,
podendo ser aplicado em diversas áreas do conhecimento. Enquanto Bardin trabalha
no campo da Psicologia, deixando evidente a utilidade do método na saúde, o caráter
lógico-semântico da análise de conteúdo, que, de acordo com Woida (2010), consiste
na preocupação tanto da lógica para categorização quanto da semântica para
entender o significado das unidades de registro, permite sua aplicação nas Ciências
Humanas e, até mesmo, nas Exatas. No entanto, sua maior afinidade está na área da
Comunicação, o que é confessado na definição de Bardin, estudada no início do
referencial teórico.
Tendo em mente esse trânsito por diversas áreas do conhecimento, percebe-
se a importância de se conhecer a história do método. Os antecedentes da análise de
conteúdo consistem em diversas práticas que envolviam processos hermenêuticos.
Tais práticas englobam desde a interpretação de sonhos até a lógica e a retórica
(BARDIN, 2011). A primeira prática conhecida com maior rigor metodológico, e que,
portanto, se aproxima mais da análise de conteúdo propriamente dita, foi uma
pesquisa sueca sobre hinos religiosos luteranos, de 1640, que analisava seus temas,
valores, modalidades de aparição e complexidade estilística.

63
Bardin (2011) relata que a história passa dos antecedentes para a própria
análise de conteúdo no começo do século XX, especialmente devido ao trabalho
desenvolvido pela Escola de Jornalismo de Colúmbia, nos Estados Unidos. Na época, o
foco da aplicação da técnica era em estudos quantitativos, como confirma Woida
(2010).
O marco desse período histórico foi, em 1927, a publicação do livro
Propaganda Technique in World War I, de Harold D. Lasswell, um dos pioneiros no
estudo da análise de conteúdo. Lasswell (2010) discutiu como classificar o conteúdo
da propaganda e sumarizar os procedimentos de organização e condução das
campanhas propagandísticas. Realizou, assim, uma análise categorial extremamente
importante tanto para as comunicações sociais, devido ao conteúdo trabalhado,
quanto para a metodologia científica, pelo método empregado e pela discussão
metodológica de como empregá-lo.
De acordo com Bardin (2011), além das Comunicações Sociais, outra área
muito importante para o desenvolvimento da análise de conteúdo foi a Psicologia,
especialmente o behaviorismo, que prefere trabalhar com técnicas objetivas ao invés
de introspecções intuitivas. Com o término da Segunda Guerra Mundial, foi a Ciência
Política que assumiu papel de destaque no desenvolvimento da análise de conteúdo.
Bardin (2011) afirma que 25% dos estudos que empregavam o método eram
investigações políticas. Desde então, muitos cientistas começaram a se especializar
neste método. O outro evento de significância para este assunto foi a definição do
método por Berelson, segundo o qual “a análise de conteúdo é uma técnica de
investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa do
conteúdo manifesto da comunicação” (1948 apud BARDIN, 2011, p.19).
Após esta fase, a análise de conteúdo passou por um período de desengano,
provavelmente por ter sido superestimada e, eventualmente, revelado suas limitações.
Graças ao estudo da psicolinguística, no entanto, o método voltou a receber atenção,
ganhando, até mesmo, uma dimensão qualitativa. O retorno pelo interesse por esta
técnica coincidiu com o desenvolvimento dos computadores, fenômeno de
importância devido ao recurso do ordenador. Bardin (2011) explica que ordenadores
são programas capazes de executar qualquer tarefa que possa ser expressa pelo
analista com instruções livres de ambiguidade. O uso de ordenadores permite “digerir”
rapidamente quantidades astronômicas de dados, que seriam impossíveis de se tratar
manualmente. Portanto, trata-se de um recurso que vem otimizando a aplicação do
método.
Conforme já foi mencionado, a análise de conteúdo apresenta-se como uma
técnica bastante variável, sendo que as três fases apresentadas (pré-análise,
exploração do material e tratamento do resultado) podem ser conduzidas de diferentes
formas, dependendo do objeto e unidades de análise.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para atender ao objetivo desta pesquisa foi realizada uma pesquisa
documental indireta, de cunho bibliográfico, com abordagem quantiqualitativa. Para
tanto, inicialmente foram identificadas, por meio da Biblioteca Digital de Teses e
Dissertações da UEL, as dissertações defendidas no PPGCI/UEL nos anos de 2014 a
2015.
Foram localizadas 28 dissertações, que se constituíram no corpus desta
pesquisa. Por meio da leitura do resumo e do capítulo destinado aos procedimentos
metodológicos, identificou-se os delineamentos e técnicas de coleta e análise de dados
adotados e em seguida construiu-se um quadro relacionando os resultados. Em

64
seguida, com base no referencial teórico, selecionou-se todas as dissertações que
empregaram a análise de conteúdo ou técnicas que pertencem ao conjunto e, por
meio da leitura das dissertações, realizou-se uma síntese de cada pesquisa, destacando
o objetivo e como a análise de conteúdo foi empregada.
A princípio, esperava-se que a simples leitura do resumo ou dos
procedimentos metodológicos fosse o suficiente para se determinar, com segurança,
quais delineamentos e técnicas foram adotadas, no entanto, em muitos casos, fez-se
necessário buscar tais informações em outros capítulos das dissertações analisadas.
Isso indica um descuido na maneira como a redação dos procedimentos
metodológicos está sendo tratada. É necessário detalhar a metodologia com clareza e
que os métodos empregados sejam declarados com exatidão, no entanto muitas
redações anunciam as técnicas escolhidas com timidez e as definem de maneira
ambígua.

4 RESULTADOS
Para obter o título de mestre é preciso desenvolver uma dissertação para
defender uma ideia, o que exige uma rigorosa investigação cientifica sobre o tema da
pesquisa por parte do mestrando. Sendo assim, as dissertações contribuem
significativamente para o crescimento e fortalecimento da comunicação científica,
servindo como fonte de pesquisa para futuros trabalhos acadêmicos.
Por meio do quadro 1, é possível observar que, em 2014, ano em que o
PPGCI/UEL teve sua primeira turma de defesas de dissertações no Programa de
Mestrado Acadêmico, o número de dissertações apresentadas foram 13 e no ano
seguinte 15, totalizando 28 dissertações.

Quadro 1: Títulos e Relação de técnicas adotadas em cada dissertação


Índice Título da Dissertação Delineamentos e Técnicas Ano
Adotadas
1 A abordagem da análise de domínio na Pesquisa bibliográfica e 2014
organização e representação do documental;
conhecimento em arquivística Análise de Domínio.
2 A aplicação do modelo RDF na descrição Pesquisa bibliográfica e 2014
arquivística: em foco a Norma ISAD(G) documental;
Análise documental (Técnica
de Modelagem Unified
Modeling Language).
3 A interdisciplinaridade na Ciência da Análise Bibliométrica. 2014
Informação: investigações
bibliométricas
4 A representação temática da informação Pesquisa bibliográfica e 2014
na saúde coletiva: tendências temáticas documental;
dos trabalhos desenvolvidos pelo Análise de Assunto.
programa de pós-graduação da
Universidade Estadual de Londrina
5 A topografia da dark web e seus não Pesquisa bibliográfica e 2014
lugares: por um estudo das dobras documental;
invisíveis do ciberespaço Método indutivo informal e
dedutivo formal;
Análise documental.
6 Compartilhamento da informação e do Formulário e questionário; 2014
conhecimento na rede dos Análise de Redes Sociais
coordenadores dos Programas de Pós- (ARS);
Graduação em Ciência da Informação Análise documental

65
7 Comportamento Informacional de pais Pesquisa documental; 2014
de crianças com Síndrome de Down Análise de conteúdo.
8 Desenvolvimento e formação de Pesquisa bibliográfica e 2014
competência em informação: um documental;
mapeamento de modelos, padrões e Análise documental, com
documentos representação dos
documentos por meio de
mapa conceitual
9 O negro e a mediação: a ciência da Pesquisa bibliográfica e 2014
informação como campo de discussão documental;
étnico-racial Análise produção cientifica;
Análise de documento
10 Organização da informação em sites de Pesquisa documental; 2014
televisões de universidades públicas Análise documental.
brasileiras
11 Organização e representação do Análise de conteúdo. 2014
conhecimento por meio de mapas
conceituais
12 Saúde coletiva: organização e Pesquisa documental; 2014
representação da informação sob a Análise de palavras chaves
perspectiva das palavras-chave de (técnica não especificada).
artigos de periódicos científicos e a
formação acadêmica de seus autores
13 Uso da oralidade na mediatização dos Pesquisa documental; 2014
websites de bibliotecas públicas Análise documental.
14 A colaboração científica no Brasil nos Análise de Redes Sociais 2015
periódicos com Qualis A1 da Ciência da (ARS).
Informação
15 A organização da informação em Método dedutivo de 2015
prontuário eletrônico do paciente na delineamento documental.
perspectiva das recomendações de
usabilidade
16 Comportamento informacional de Entrevista (técnica do 2015
pacientes odontológicos incidente crítico).
17 Habilidades informacionais dos Pesquisa colaborativa; 2015
estudantes de artes visuais multimídia: Observação e diário de
uma abordagem da competência em pesquisa.
informação e competência digital
18 Interfaces como metacomunicação: a Análise documental; 2015
contribuição da engenharia semiótica Análise categorial
na representação no ciberespaço
19 Materialidade da informação no Pesquisa bibliográfica; 2015
contexto dos ambientes informacionais Gestão de conteúdos
digitais e os impactos na Arquivologia empresariais.
nas conjunturas da preservação digital
20 Mediação pedagógica e mediação da Análise do discurso. 2015
informação no curso de Biblioteca
inclusiva, modalidade EAD
21 Memória do Sistema Municipal de Entrevista por meio da 2015
Bibliotecas Públicas de Londrina questão gerativa de narrativa;
Análise documental.
22 Motor de busca aberto como estratégia Pesquisa bibliográfica; 2015
de indexação e mineração de dados Análise temática.
23 O capital social e o compartilhamento de Pesquisa documental; 2015
informação jurídica: um estudo na Questionário e formulário.
mídia social Facebook

66
24 O comportamento informacional de Entrevistas 2015
advogados trabalhistas com os autos Análise de conteúdo.
digitais
25 O documento fotográfico na Pesquisa bibliográfica; 2015
organização do conhecimento: o Análise de conteúdo.
processo de transcodificação na
classificação arquivística
26 O grupo Temma e a organização da Pesquisa bibliográfica e 2015
informação no âmbito do ENANCIB documental;
Análise documentária de
conteúdo.
27 Práticas de pesquisa na pós-graduação: Questionário; 2015
um estudo das habilidades para a busca Análise de dados (técnica não
de informação especificada).
28 Tecnologias para aplicação da web Pesquisa bibliográfica e 2015
semântica nas unidades de informação documental;
Estudo de caso;
Análise de conteúdo
Fonte: Resultados da Pesquisa.

Considerando que o objetivo desta pesquisa envolve apenas procedimentos de


análise de dados, não é necessário considerar as pesquisas bibliográfica, documental e
colaborativa, bem como a observação, a entrevista, o questionário e o estudo de caso,
pois tais delineamentos e técnicas são usados para os procedimentos da pesquisa e
para coletar dados, não para analisá-los.
Percebe-se que a análise de conteúdo é adotada em apenas seis trabalhos, nos
índices 7, 11, 24, 25, 26 e 28. Pode-se incluir os índices 4, 18 e 22, visto que: análise
categorial é uma das técnicas que pertence ao conjunto “análise de conteúdo”; que
análise temática é uma espécie de análise categorial; e que análise de assunto
equivale, em sua essência, à análise temática. Nove das dissertações, portanto,
aplicaram a análise de conteúdo.
Por outro lado, alguns artigos não especificaram expressamente, no resumo
ou na metodologia, a técnica de análise de dados. Isso aconteceu, por exemplo, no
índice 27, que, apesar de explicar como a análise foi feita, não identificou qual técnica
estava sendo empregada. Ademais, alguns dos que declararam uma técnica, não
explicaram como ela é definida na literatura, como no índice 12, que declarou a
análise de palavras-chave sem apresentar referência alguma. Tais artigos foram
contados como “técnica não especificada”. Assim, com os ajustes mencionados, segue,
no Quadro 2, a contagem de técnicas de análise de dados adotadas.

Quadro 2: Contagem das técnicas de análise de dados.


Técnica Ocorrências
Análise bibliométrica 01
Análise de conteúdo 09
Análise de discurso 01
Análise de domínio 01
Análise de redes sociais 02
Análise documental 09
Técnica não especificada 07
Fonte: Resultados da pesquisa.

Calculando-se o percentual entre o número de ocorrências de cada técnica e o


número total de técnicas de análise de dados empregadas, é possível obter a

67
disposição centesimal das técnicas. O resultado do cálculo está representado no Gráfico
1.

3.33%

Análise bibliométrica
23.33%

Análise de conteúdo
30.00%
Análise de discurso

Análise de domínio

Análise de redes sociais

Análise documental
3.33%

3.33% 30.00% Técnica não especificada


6.67%

Gráfico 1: Disposição centesimal do emprego de cada técnica


Fonte: Resultados da pesquisa.

Conforme o Gráfico 1, a análise de conteúdo e a análise documental foram as


técnicas mais utilizadas, ambas com nove ocorrências. Juntas, as duas técnicas
representam 60,00% de todo o espectro, ou seja, quase dois terços das técnicas de
análise empregadas.
Esse resultado corrobora com White e Marsh (2006), em um artigo que listou
trabalhos de CI publicados entre 1991 e 2005, quando elas concluíram que a AC é
altamente flexível, tendo sido amplamente usada em estudos da Ciência da Informação
com diversos objetivos.
Destaca-se, também, que 23,33% do gráfico é composto por técnicas não
especificadas. Isso demonstra um descuido no modo como as metodologias foram
redigidas nessas pesquisas, pois, se o pesquisador está utilizando um procedimento
reconhecido pela comunidade científica, é importante que o especifique e o descreva
com as devidas referências. Caso, entretanto, esteja aplicando um método novo, é
apropriado que essa inovação seja, expressamente, declarada como tal.

5 SÍNTESE DAS DISSERTAÇÕES QUE APLICARAM A ANÁLISE DE CONTEÚDO


Percebendo a quantidade de vezes que a análise de conteúdo foi empregada,
passa a ser relevante investigar como ela foi utilizada. O Quadro 3 apresenta as nove
dissertações que adotaram a técnica em questão, destacando o ano de sua defesa e a
qual linha de pesquisa do PPGCI/UEL pertencem: Organização e Representação da
Informação e do Conhecimento (1) e Compartilhamento da Informação e do
Conhecimento (2).

68
Quadro 3: Sumário das dissertações analisadas.
Índic Título da Dissertação Ano Linha
e
1 A representação temática da informação na saúde 2014 1
coletiva: tendências temáticas dos trabalhos
desenvolvidos pelo programa de pós-graduação da
Universidade Estadual de Londrina
2 Comportamento Informacional de pais de crianças 2014 2
com Síndrome de Down
3 Interfaces como metacomunicação: a contribuição 2015 1
da engenharia semiótica na representação no
ciberespaço
4 Motor de busca aberto como estratégia de indexação 2015 1
e mineração de dados
5 O comportamento informacional de advogados 2015 1
trabalhistas com os autos digitais
6 O documento fotográfico na organização do 2015 1
conhecimento: o processo de transcodificação na
classificação arquivística
7 O grupo Temma e a organização da informação no 2015 1
âmbito do ENANCIB
8 Organização e representação do conhecimento por 2014 1
meio de mapas conceituais
9 Tecnologias para aplicação da web semântica nas 2015 1
unidades de informação
Fonte: Resultados da pesquisa.

Pode-se observar no Quadro 3 que a técnica análise de conteúdo foi usada em


dissertações com temáticas variadas e com diferentes locus de coleta de dados,
evidenciando as diversas possibilidades de aplicação dessa técnica. Isso corrobora
com Bardin (2011), segundo a qual a análise de conteúdo é marcada por uma grande
disparidade de formas e adaptável a um campo de aplicação muito vasto, que inclui
qualquer tipo de comunicação.
Segundo Souza e Stumpf (2009, p.52), “as linhas de pesquisa aglutinam as
investigações que tem afinidades entre si, e a elas se filiam os projetos de pesquisa dos
docentes e, consequentemente, as dissertações que orientam”. O volume de
dissertações concluídas segundo as linhas de pesquisa também pode ser visualizado
no quadro 3, mas o que chama a atenção é que ela foi usada quase na totalidade na
linha de pesquisa 1, referente à organização e representação da informação e do
conhecimento.
Com o sumário das dissertações e as considerações preliminares sobre a linha
de pesquisa concluídos, é possível proceder para as sínteses e observar como a
análise de conteúdo foi empregada.
A dissertação, A representação temática da informação na saúde coletiva:
tendências temáticas dos trabalhos desenvolvidos pelo Programa de Pós-Graduação da
Universidade Estadual de Londrina, aborda a Saúde Coletiva, por meio de seus
conteúdos temáticos, contribui, entre outros aspectos, com o estudo do processo
social conhecido como saúde-doença, no âmbito coletivo e suas decorrentes propostas
de ação. Entretanto, dada à expressiva gama de temas e enfoques que constituem o
campo, evidencia-se a importância da organização destas informações para sua
disseminação. Nesse sentido, recorreu-se aos aportes teóricos e metodológicos da
Ciência da Informação, em especial, da representação da informação e, por
intermédio do procedimento denominado Análise de Assunto, os termos que

69
representam os assuntos e enfoques foram identificados nos resumos das
dissertações e teses do Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Saúde Coletiva da
UEL. Outros aspectos analisados relacionam-se à formação acadêmica de seus autores
e às linhas de pesquisa correlacionadas às temáticas dos trabalhos. Caracterizado
como estudo qualitativo, de cunho descritivo, concretizado por meio de pesquisas
bibliográficas e documentais. O corpus da pesquisa constituiu-se de 36 resumos de
dissertações e teses. A partir da leitura dos resumos e palavras-chave foi realizada a
seleção de conceitos e extração de termos e suas buscas nos Descritores de Ciências
da Saúde (DeCS), para então proceder a análise temática para identificação dos
assuntos dos trabalhos analisados.
Quanto a dissertação, Comportamento Informacional de pais de crianças com
Síndrome de Down, teve como objeto de investigação o comportamento informacional
de pais de crianças com Síndrome de Down. Foram analisados as necessidades, a busca
e o uso da informação em diferentes contextos, considerando-se a abordagem
cognitiva, os aspectos de acesso à informação e do significado cultural atribuído pelos
participantes às pessoas com deficiência, decorrentes das influências ideológicas e
sociais. O estudo foi de natureza exploratória e qualitativa. A amostra foi delineada
com base nos prontuários do Instituto Londrinense de Educação para Crianças
Excepcionais (ILECE), composta por dois grupos de pais de filhos com Síndrome de
Down, crianças nascidas nas décadas de 1960 a 1980 e outro grupo com crianças
nascidas nos anos de 2009 a 2013. Foram usados como instrumentos de coleta de
dados formulário para a pesquisa documental e entrevista semiestruturada. Utilizou-se
a técnica de análise de conteúdo para tratamento dos dados coletados nas entrevistas. A
análise foi feita por meio da transcrição completa das entrevistas, a categorização das
respostas com base no objetivo de identificar o comportamento informacional dos
entrevistados. A categorização permitiu a construção de quadros e a realização de
inferências.
Na terceira, Interfaces como metacomunicação: a contribuição da engenharia
semiótica na representação no ciberespaço apresenta-se as Interfaces como
Metacomunicação do designer no ciberespaço, identificando a contribuição da
Engenharia Semiótica no processo de significação e representação. Para efetuar a
Análise Documental, utilizou-se a técnica de análise categorial, ou seja, um
desmembramento dos signos em categorias orientadas pela semiótica peirciana,
sendo: os Ícones/Hipoícones, Índices e Símbolos; e também pelas categorias
elencadas pela Teoria da Engenharia Semiótica: Signos Estáticos, Dinâmicos e
Metalinguísticos. Analisou o uso destes para uma metacomunicação do designer para
o sujeito informacional que navega no site da Biblioteca Nacional da Austrália e da
Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.
A quarta dissertação, Motor de busca aberto como estratégia de indexação e
mineração de dados teve como objetivo analisar o motor de busca, baseado em
software livre YaCy/Solr como estratégia de indexação e mineração de dados. Foi
utilizada pesquisa qualitativa, exploratória, bibliográfica e aplicada com a técnica de
análise temática. Para que fosse alcançado o objetivo de evidenciar as capacidades de
mineração de dados nos motores abertos de busca, o estudo fez uso, como base de
análise, do banco de dados da Revista Informação & Informação da Universidade
Estadual de Londrina. O autor declarou que usou a técnica de análise temática, no
entanto não explicou como ela foi aplicada. Ao ler o trabalho, foi possível observar
que ele apresentou um relatório de seu experimento com o motor de busca e efetuou
inferências sobre seus relatos. Não foram constatadas, portanto, a identificação e a
categorização temática dos elementos básicos de análise.

70
O objetivo da quinta dissertação, O comportamento informacional de
advogados trabalhistas com os autos digitais, foi analisar o comportamento
informacional dos advogados trabalhistas da região de Londrina na elaboração das
peças judiciais, utilizando o processo judicial eletrônico (PJe), com foco na transição
do processo físico para o eletrônico. Utilizou-se a entrevista semiestruturada para
coletar os dados, com uma amostragem composta por dez advogados que atuam na
área trabalhista e usam os sistemas de autos digitais disponíveis no Estado, o
Escritório Digital do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-PR) e o PJe nacional. Os
dados foram tratados utilizando-se a técnica de análise de conteúdo. Com base no
instrumento de coleta e nas respostas, o autor categorizou diversos elementos e
mediu suas frequências. As inferências foram reveladas durante a apresentação dos
resultados da análise.
O documento fotográfico na organização do conhecimento: o processo de
transcodificação na classificação arquivística é o título da sexta dissertação que buscou
questionar como se dá o processo da transcodificação do documento fotográfico na
organização do conhecimento, em especial na classificação arquivística. Como
objetivo principal pesquisou o processo da transcodificação para a classificação do
documento fotográfico, assim como verificou o processo, elencou os elementos para a
classificação arquivística e categorizou os elementos a luz da análise de conteúdo. A
autora partiu da hipótese de que a identificação da imagem pelo usuário se dá por
aspectos estéticos, não pelos caminhos da Ciência da Informação. Seu experimento foi
realizado na mídia social Facebook, onde se coletou comentários aleatórios de
internautas. Ela identificou os elementos a serem analisados, elaborou indicadores e,
com base neles, interpretou os dados.
A sétima dissertação, O Grupo Temma e a organização da informação no
âmbito do ENANCIB teve como objetivo explorar a diversidade de pesquisas
desenvolvidas pelos membros do Grupo, bem como apresentar fundamentação teórica
e metodológica da Organização da Informação com base nos diferentes enfoques
temáticos e concepções do Grupo no âmbito GT2 do ENANCIB. Por meio de resumos e
palavras-chave buscou identificar as temáticas presentes nos estudos do Grupo
TEMMA, no contexto no GT mencionado. Nesse sentido, para que os objetivos
propostos pudessem ser realizados, utilizou como corpus da pesquisa o principal
evento científico da Ciência da Informação: o ENANCIB, considerando o período de
1994 a 2014. Dessa forma, como percurso metodológico para a coleta de dados, o
autor utilizou como locus o Repositório “Questões em Rede” e, para a análise dos
trabalhos coletados utilizou o procedimento de análise documentária de conteúdo. Ao
todo foram coletados 83 artigos dos 18 membros do Grupo. Em seguida, foi realizada a
análise dos resumos e palavras-chave dos trabalhos, por meio da leitura técnica e
identificação dos conceitos que representavam os assuntos abordados em cada
trabalho.
O objetivo geral da Organização e representação do conhecimento por meio de
mapas conceituais, oitava dissertação, foi desenvolver um estudo teórico-metodológico
para a aplicação dos Mapas Conceituais no processo de análise – síntese –
representação para aprimorar a Organização e Representação do Conhecimento, pelo
fato de ser um exercício intelectual. Quanto aos procedimentos metodológicos,
caracterizou-se como exploratório e descritivo com abordagem qualitativa, utilizando
o método análise de conteúdo. O universo da pesquisa constituiu-se em um estudo
teórico-metodológico entre os anos de 2003 a 2013, em periódicos científicos
eletrônicos nacionais, dos quais foram selecionados 18 periódicos e 11 produções
científicas dos ENANCIBs. Para a coleta de dados, utilizou-se da estratégia de busca por
meio da palavra-chave mapa conceitual no singular e no plural, nos idiomas

71
português, espanhol e inglês. A autora constituiu corpus do trabalho (já mencionado),
identificou elementos para a unidade de registro, realizou a categorização (gerando
uma lista de conceitos para atribuição aos mapas conceituais) e efetuou suas
inferências com base nas perguntas “por quê”, “como”, “para que” e “para quem”, bem
como interpretou suas ilações em cada categoria.
A última dissertação, isto é a nona, foi Tecnologias para aplicação da web
semântica nas unidades de informação. Este estudo descreveu as tecnologias,
recomendações e padrões necessários para a aplicação da Web Semântica nas
unidades de informação. Realizou uma abordagem qualitativa como proposta
metodológica, que permitiu uma percepção minuciosa das características do objeto de
pesquisa. As técnicas adotadas foram os estudos bibliográficos e documentais, aliadas
à metodologia de estudo de caso e análise de conteúdo, que proporcionou uma
percepção mais precisa das tecnologias que abrangem o projeto da Web Semântica,
sendo analisado o site da Biblioteca Virtual Europeana. Para a realização da
investigação do estudo de caso organizou-se em cinco categorias que tornaram-se
itens elementares da pesquisa durante todo o processo de análise de resultados.
Elaborou-se um framework com o propósito de representar o processo de
estabelecimento da Web Semântica nas unidades de informação. A elaboração do
framework com as cinco categorias, ou seja, o fato de ter sido realizada uma
categorização foi o que levou o autor a declarar que empregou a análise de conteúdo,
no entanto, ao ler a dissertação, não fica evidente a aplicação da técnica.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As pesquisas analisadas distinguiram-se quanto ao tipo de coleta de dados e
quanto às etapas de análise de resultado. Adotaram-se para a coleta de dados pesquisas
bibliográfica, documental e colaborativa, bem como a observação, a entrevista, o
questionário e o estudo de caso. Quanto à análise dos resultados, cada trabalho
relacionou a categorizarão da fala dos autores com a fundamentação teórica levantada.
A organização dos resultados nos diferentes casos derivou na construção do
significado do discurso reordenado pelo pesquisador.
As temáticas abordadas na produção refletem as características da área de
concentração e de suas linhas de pesquisa. Com base no Quadro 1 e no Gráfico 1,
entende-se que a análise de conteúdo foi uma das técnicas mais empregadas, com a
frequência de aplicação de 30,00%, enquanto a outra foi a análise documental, com a
mesma porcentagem. As demais, juntas, somaram 40,00%. Acredita-se que o
resultado se deve à versatilidade do método, que, conforme foi explicado no referencial
teórico, pode ser aplicado em diversas áreas do conhecimento. Ademais, o fato de o
método consistir em um conjunto de técnicas também contribui para os resultados,
visto que três das dissertações analisadas não declaravam, expressamente, o uso da
análise de conteúdo, mas de técnicas que fazem parte do conjunto.
Como observado nas dissertações que utilizaram o método, não existe um
esquema rígido de utilização. A análise do método de operacionalização das
dissertações demonstrou a peculiaridade de cada trabalho e a influência determinante
da sensibilidade e percepção do pesquisador na reconstrução do significado embutido
nos discursos coletados. Entretanto, foram constatados casos em que a aplicação da
técnica não foi explicada com clareza e, até mesmo, um caso em que, apesar de seu
emprego ter sido declarado, ele não foi executado.
Enfim, acredita-se que não exista uma análise superior ou inferior, o
importante é que o pesquisador conheça as várias formas de análise existentes e
saiba as suas diferenças, o que permite uma escolha consciente do referencial

72
teórico-analítico, decorrente do tipo de análise que irá empregar na pesquisa, fazendo
sua opção com responsabilidade e conhecimento. Somando-se a isso, ressalta-se
também a relevância de se elaborar com clareza e de forma detalhada a descrição dos
procedimentos adotados nas pesquisadas de dissertações.

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.


GODOY, A. S. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de
Empresas, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 20-29, maio/jun. 1995.
LASSWELL, H.D. Propaganda Technique In World War I. 2010. Disponível em:
<https://mitpress.mit.edu/books/propaganda-technique-world-war-i>. Acesso em: 20 fev.
2017.
LIMA, J. L. O.; MANINI, M. P. Metodologia para análise de conteúdo qualitativa integrada à
técnica de mapas mentais com o uso dos softwares NVIVO e FREEMIND. Informação &
Informação, Londrina, v. 21, n. 3, p. 63-100, set./dez. 2016. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/view/23879>. Acesso em:
30 abr. 2017.
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de pesquisa. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MARCONI, M. de A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 7. ed. São
Paulo: Atlas, 2010.
POPPER, K. Lógica da pesquisa científica. 9. ed. São Paulo: Cultrix, 1993.
SOUZA, R. F.; STUMPF, I. R. C. Ciência da Informação como área do conhecimento: abordagem
no contexto da pesquisa e da pós-graduação no Brasil. Perspectivas em Ciência da
Informação, Belo Horizonte, v.14, número especial, p. 41-58, 2009. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/pci/v14nspe/a04v14nspe.pdf>. Acesso em: 03 mar. 2017.
WHITE M. D.; MARSH E. E. Content analysis: a flexible methodology. 2006. Disponível em:
<https://www.ideals.illinois.edu/bitstream/handle/2142/3670/ResearchProcess.pdf?sequen
ce=2>. Acesso em: 28 abr. 2017.
WOIDA, L. M. Análise de conteúdo aplicada a uma pesquisa de cultura informacional. In:
VALENTIM, M. L. P. (Org.). Ambientes e fluxos de informação. 17.ed. São Paulo: Cultura
Acadêmica, 2010.

73

Você também pode gostar