OMelhorAnodeNossasVidas PDF
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de Nossas Vidas
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O Melhor Ano
de Nossas Vidas
Superação e Sonhos
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© 2007 Sérgio Amaro Gomes
Revisão de texto:
Antonio Lopes, Jonas M. Gomes, Carolina M. Gomes
Capa e Fotos:
Sérgio Amaro Gomes
Projeto Gráfico:
Sérgio Amaro Gomes
Editoração Eletrônica:
Alexei A. Woelz
Tratamento de imagens:
Alexei A. Woelz
ISBN:
CDD – 919-5
Índices para catálogo sistemático:
1. Brasil: Descrição e viagens 919-5
[2008]
Todos os direitos desta edição reservados a Sérgio Amaro Gomes.
Site para contato: www.tresnomundo.com.br
Impressão e Acabamento: PAPERCROM Editora e Gráfica Ltda.
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Aos que, de alguma forma, ajudaram nosso
projeto.
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“Ser feliz é deixar de ser vítima de seus
problemas, para ser autor de sua
história”.
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Sumário
Prefácio 11
Introdução 13
1. Nossa História 15
2. Preparativos 21
3. Acostumando a Viver a Bordo 25
4. A Tranqüilidade de Parati 41
5. Ilhas de Angra 51
6. Ilha Grande e Marambaia 55
7. Primeiros Percalços 59
8. Visitas em Parati 63
9. Superando Sempre 71
10. Convalescença em Parati 75
11. A Caminho do Rio 81
12. Mar Duro 93
13. Arraial e Cabo Frio 97
14. Contratempos em Búzios 103
15. Travessia Decisiva 107
16. Vitória e Chocolates 111
17. Lar das Baleias 115
18. Costa do Descobrimento 131
19. São Jorge Amado dos Ilhéus 139
20. Camamu – Paraíso Isolado 145
21. Capital dos Contrastes 151
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22. Tinharé, Boipeba e Morro 159
23. Aratu-Maragogipe – Festa Baiana 167
24. Maceió das Alagoas 181
25. Amizades Reforçadas 185
26. Noronha – Paraíso na Terra 191
27. Natal e suas Dunas 197
28. Paraíba Hospitaleira, Gente Nobre Sim Sinhô! 205
29. Barco Perfeito 213
30. Dor da Despedida 217
31. Indo Mais Longe 219
32. Muito Trabalho em Fortaleza 223
33. A Galope para o Caribe! 229
34. Que Saudade Eu Tenho da Bahia! 239
35. Retorno a Camamu 245
36. Surfando em Itacaré 249
37. Belíssima Trancoso 253
38. Paraíso dos Mergulhadores 259
39. Quinze Minutos de Fama 265
40. Torpedos Fosforescentes 271
41. Primeira Chegada 277
42. Paradoxos 283
43. Hora da Volta 287
44. Pós-Escrito 289
Apêndices 291
Glossário 293
10
Prefácio
11
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Introdução
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1
Nossa História
20
2
Preparativos
23
24
3
Acostumando a Viver a Bordo
28
Acabamos o dia com um belo churrasco, onde as crianças ajudaram
muito: ensinei o Jonas a fazê-lo e a Carol cozinhou miojos. Fizemos uma
experiência muito satisfatória: colocamos maçãs na churrasqueira e as
comemos assadas, como sobremesa. “Apaguei” perto das dez e nem
escutei o Jonas lendo o livro para nós.
Levar nosso carro até Parati foi uma idéia que nasceu do exemplo
dos amigos Webber e Míriam, do veleiro Acauã. Eles têm uma moto e a
levam de porto para porto, por terra, pois ficam muito tempo em cada
local. Como iríamos ficar o verão todo em Ubatuba e Parati, aguardando
o final da estação, para começar a subir lentamente a costa brasileira,
valeria a pena ter o carro conosco. Com ele, fizemos muitos passeios nas
imediações dos lugares onde estávamos.
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caminho para Parati) e deixei as crianças descansarem. Há várias praias
bonitas por aqui, que eles não conheceram ainda.
Quando acordaram, o Jonas me ajudou a instalar um suporte de
motor de popa no Fandango, sob um sol escaldante. Com ele, podemos
usar o motor de popa do bote como motor sobressalente, em caso de falta
de vento e pane no motor principal. Segurança nunca é demais!
Após uma hora de trabalho árduo, vimos que a água estava
transparente! Dava para ver todo o fundo. Fomos à praia das Sete Fontes,
que é atrás do Flamengo. Tentei pegar alguns peixes, mas o plural virou
singular: arpoei apenas um badejo, mas vi uma raia enorme passar ao
meu lado, uma pequena tartaruga que se assustou comigo e um budião,
que devia ter uns dois quilos e foi esperto o suficiente para não se
aproximar de meu arpão. Quando levantamos a âncora e seguimos em
direção à praia, a Carol gritou: “- Golfinhos!”. Chegamos perto, mas eles
estavam tímidos. Vi um pequeno, que devia ser filhote, além de dois
maiores. Desapareceram subitamente e não os vimos mais. Na praia,
pedimos porções de batatas fritas, lulas e pedi para fritarem o peixe que
eu havia caçado. Estava tudo muito gostoso e as batatas foram as
melhores que comi até hoje!
Após um passeio pela praia, fomos até a praia de Santa Tereza,
próxima ao Flamengo. Pegamos uma poita e descemos na bela praia. No
final da tarde, o tempo fechou. Voltamos ao Flamengo usando o motor de
popa, de apenas 3.3 hp, para testá-lo no suporte. Deu o esperado: com
mar liso e sem corrente, o barco se desloca a quatro nós, mais que o
suficiente para manobrarmos em uma situação de emergência.
21/12/2005 - Acordei cedo. Como não temos cortina no barco, a luz do dia
entra sempre ao nascer do dia e fica difícil dormir. Mas não reclamo, não,
pois há muita coisa para ser vivida e o tempo parece sempre curto.
Fui voto vencido para o programa do dia e descemos para fazer
uma trilha, que leva da praia do Flamengo até a praia das Sete Fontes. Ela
é muito íngreme e, no meio do caminho, dois já estavam arrependidos!
Mesmo assim, após uma trilha dura, a reconfortante praia de Sete Fontes
e uma porção das deliciosas batatas fritas, que não podíamos deixar de
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comer, nos colocou em ordem. A curiosidade é que a volta foi bem mais
fácil.
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O principal medo da Carol, a falta de amizades, já se dissipava. Era
muito fácil fazer amigos! As brincadeiras na praia sempre uniam as
crianças. Começávamos a conversar com adultos, contávamos nossos
planos de viagem e, invariavelmente, ganhávamos a simpatia e
curiosidade das pessoas. Alguns nos achavam loucos. Outros queriam
fazer o que estávamos fazendo. Indiferente, nunca ninguém ficou!
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A Tranqüilidade de Parati
31/12/2005 - Dia de Reveillon!!! Saímos com o barco para passear pela baia
de Parati. Passamos pela ilha da Bexiga, Duas Irmãs, Rasa e acabamos na
enseada de Jurumirim. Após duas tentativas frustradas de ancorar na
praia do Engenho, resolvemos mudar e parar na praia do meio. A âncora
não unhava, mas após algum tempo, deu a impressão de estar firme.
Tentei mergulhar para cravá-la, mas não se enxergava nada no fundo.
Fomos para a praia, mas, pouco tempo depois, vi o barco se deslocando e
nadei rapidamente até ele. Subi, tirei-o da situação difícil em que havia
ficado, enroscado em outro barco, e embarquei a Lu e a Mônica para me
ajudarem a ancorar outra vez. Troquei a âncora (estava com uma âncora
tipo Danforth, da Fortress) por uma tipo Bruce e esta unhou
imediatamente. Boa lição: a âncora que se mostrara tão boa em fundo de
areia e alguns tipos de lodo, não gostou do lodo de Jurumirim.
Após um bom passeio pela praia, sempre de olho no barco, fiz um
macarrão com atum (a comida predileta de onze entre dez velejadores),
que foi muito elogiado. Ficamos no barco, arrumando algumas coisas e
brincando. Arrumamos a ceia de reveillon: comemos muitíssimo bem as
coisas gostosas que as “meninas” trouxeram.
O Jonas e a Carol prepararam o “Yemanjá”, barquinho que
esculpiram para soltar na virada do ano. Perto da meia-noite, acenderam
a vela e o soltaram ao sabor do mar e do vento. Acabou-se 2005 e, no início
deste 2006, ano de viagem e aventuras, nos cumprimentamos e ficamos
vendo a luz do Yemanjá se afastando e os fogos queimando ao norte de
Parati, na lindíssima enseada protegida de Jurumirim, palco de tantas
partidas e chegadas de Amyr Klink.
Que 2006 nos leve todos ao sabor do mar e do vento, como levou o
Yemanjá, e que todos os amigos que me lêem possam sentir como é bom
e importante se deixar levar. Alguém já escreveu: “Não posso controlar o
vento, mas posso regular as velas e meu rumo”.
“No mar, quem tem um, não tem nenhum!” Esse ditado vale muito!
Normalmente eu tinha um item em funcionamento e um item reserva.
Peças de reposição importantes, como o rotor de bomba d’água,
procurava manter, no mínimo, duas. Planejamento é fundamental,
porque também já disseram: “Quem vai ao mar, se avia em terra”.
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05/01/2006 - Após muitas compras para abastecer o barco, voltamos à
marina. Começamos a carregar as coisas para o Fandango, mas estranhei
ele estar fora de posição, quase lado a lado com o barco que, antes, estava
atrás dele. Pouco depois, percebi que ele se movia! A manilha da poita
havia se soltado! Todo o material era novíssimo, mas a manilha
desrosqueou com o movimento. Mudamos o barco de poita e acabamos
de carregar o barco. Que sorte! Retornarmos a ele exatamente na hora que
a manilha soltou!
Acabou o gás de cozinha e troquei o bujão. Antes da viagem, eu
estimei o consumo em um bujão para 20 dias. O primeiro, bem usado,
durou 26 dias: nada mal. Nós usamos um bujão pequeno, de dois quilos.
Seguimos para a ilha da Cotia, apreciando o lindo litoral e, no final
da tarde, ancoramos atrás dela, onde já estavam vários barcos. As crianças
ensinaram navegação e nós para a Mônica.
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É importante saber fazer uma série de manutenções a bordo,
principalmente de motores. Há várias coisas que são muito fáceis de
arrumar e que são as causadoras de oitenta por cento dos problemas num
barco. Há cursos de motores diesel e de motores de popa no mercado, que
ensinam muito. Mas, algumas vezes, há que ser curioso: deve-se “meter
a mão”, desmontar, entender o funcionamento, arrumar e, finalmente,
“orar” muito para funcionar!
Todas as manutenções que mandei fazer no meu barco, sempre
procurei estar perto para ver o que era feito e como era feito. Dessa forma,
aprendia a fazê-las e verificava o serviço. Isso também facilita na hora do
pagamento, pois sabemos exatamente o que foi feito, tanto para reclamar
se a cobrança foi exagerada, como para aumentar o valor quando vemos
que o trabalho foi difícil ou demorado.
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11/01/2006 - Escutamos um pouco de música de manhã e debatemos a
letra da música “Pais e Filhos”, do Legião Urbana. Filosofar sobre o tema
foi um momento especial e emocionante!
Conhecemos a Casa da Cultura de Parati. O lugar é especial e o
esquema que montaram para mostrar um pouco da cultura e história de
Parati é bem bolado! Vários computadores são estações para ver cada
pedaço importante da história da cidade. Objetos de cultura ficam
pendurados no teto, dentro de caixas, e podem ser puxados para baixo
para serem visualizados em detalhes. Fotos, entrevistas e filmes de
pessoas importantes de Parati estão disponíveis para serem vistos e
ouvidos. Toda a decoração do local reflete as festas populares, história e
cultura. É, sem dúvida, um lugar para ser visitado. Quem sabe Ilhabela
não se inspira e monta um local semelhante?
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Ilhas de Angra
20/01/2006 - Logo que acordei, pulei na água. Adoro fazer isso de manhã
para despertar de verdade!
Quando eu estava no bote, preparando as coisas para irmos à praia,
vi um grande “pingo” cair na água, ao meu lado. Pensei: “- Chuva, com
esse sol?!!”. Imediatamente, outro “pingo” grande e branco caiu no bote,
a trinta centímetros de mim e outro no espelho de popa do Fandango,
perto das crianças. Olhamos para cima e vimos que estávamos sendo
sobrevoados por dezenas de fragatas, que nos “bombardeavam”! O Jonas
correu para dentro do barco e eu e a Carol pulamos na água!
Demos muitas risadas da situação ridícula e, quando nossas
“amigas” se foram, seguimos para a praia. Ela é lindíssima! Tomamos
banhos de mar, conversamos com pescadores e passeamos até a longa
ponta de pedras, na qual quase batemos há quinze anos atrás. Lá havia
uma grande árvore cheia de parasitas que lhe davam a aparência de ter
longos cabelos. As bromélias em profusão e os pássaros cantando em seus
galhos completavam o quadro deslumbrante. Enquanto a Carol olhava os
caranguejos nas pedras e o Jonas colocava barquinhos de folhas na água,
eu apreciava o espetáculo. Que lugar lindo!
No meio da tarde, levantamos âncora e saímos por trás da ilha, a
motor, em direção à ilha Sandri. Após Tarituba, o vento entrou favorável
e passamos a velejar em orça folgada. Passamos por várias ilhas e lajes,
tão comuns em Parati e Angra e chegamos à ilha Sandri às seis. Uma coisa
impressionante na ilha é a visão das usinas nucleares de Angra. Torcemos
para elas não darem problema justo agora, pois a impressão que temos é
a de estar sentados numa bomba!
A água estava transparente e fomos mergulhar na ilha Mingu.
Estávamos com cinco metros de profundidade e uma visibilidade de dez
metros! Vimos muitos peixes coloridos, muitas estrelas grandes, peguei
um pepino-do-mar, para as crianças verem de perto, e voltamos ao barco.
Fizemos um churrasco ao anoitecer, quando um manto estrelado desceu
sobre nós. Deitei no cockpit, de barriga para cima, para ver as estrelas e,
em pouco tempo, o Jonas e a Carol deitaram ao meu lado. O Jonas me
mostrou a Ursa Menor, que vira no livro de ciências. Eu e a Carol vimos
uma estrela cadente. Ela só errou na hora de fazer o pedido: “- Eu quero
que o Jonas vire Palmeirense!”, em vez de “- Eu quero que o Jonas vire São
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Paulino!”. É, parece que vamos ter de agüentar um palmeirense na família
por muito tempo!
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pequeno, com pouca luz, estiver passando no seu caminho, com certeza
eles passam por cima.
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Ilha Grande e Marambaia
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Marambaia, de 641 metros de altura. A vegetação é de mata atlântica, rica
e exuberante.
A palavra “marambaia”, que em tupi-guarani quer dizer “cerco do
mar”, representa a região da Baia de Sepetiba, local totalmente protegido
entre o continente e a restinga. É um lugar maravilhoso e histórico, onde
batalhas sangrentas foram travadas para afastar intrusos holandeses,
durante a colonização do Brasil. As visitas são permitidas apenas para
convidados autorizados.
Visitamos a Praia Grande, que fica perto do CADIM e onde as
crianças entraram na água. O próximo ponto de parada foi a piscina com
água da cachoeira, onde nem eu resisti e caí na água. Em seguida, fomos
à gruta, outro lugar lindíssimo, próximo a uma cachoeira. A gruta tem
algumas imagens de santos e serve como uma pequena capela.
Todo o local está muito preservado. A proibição de pesca nas praias
internas da ilha faz dela um grande criadouro de peixes para a região.
Livre do turismo intensivo, da especulação imobiliária e sob os cuidados
constantes da Marinha e das pessoas que lá trabalham, que gostam e se
preocupam com o local, essa jóia do litoral brasileiro permanece intocada
em quase toda sua totalidade. Percebíamos carinho e cuidado, quando
cada uma das pessoas que conhecíamos, desde oficiais até as pessoas mais
simples, falavam sobre a ilha. Nas instalações militares que visitamos,
tudo é muito bem cuidado. As construções antigas estavam preservadas
e foram aproveitadas para as necessidades da base. As trilhas não têm
lixo algum e não vi nenhum sinal de erosão ao longo delas. As praias são
muito bem cuidadas, belíssimas, utilizadas apenas por moradores e
convidados.
Os únicos sinais de poucos cuidados foram, infelizmente, nas casas
dos moradores não militares da ilha. Nelas ainda vivem muitas famílias
de pescadores, que não foram desalojados por motivos sociais, quando
da instalação da base. É nos locais de moradia de várias dessas famílias,
cercados por arames e madeiras para limitar a propriedade, que impera
o caos. Sujeira, vegetação destruída e barracos são o que existem nesses
locais “particulares”. É triste que essas pessoas, nascidas na ilha e cujos
descendentes viveram centenas de anos ali, são as que menos cuidam
dela. Tomara que a base funcione lá por muito, muito tempo ou que o
governo tenha o bom senso de transformá-la em reserva ou parque
estadual, se a Marinha perder o seu controle.
Fomos convidados para almoçar com o Avelino no Hotel de
Trânsito, uma construção muito antiga, com paredes de pedras idênticas
às que vimos nas ruínas da ilha Anchieta e em Parati-Mirim. A comida
estava deliciosa: arroz, feijão, frango e seleta de legumes. O engraçado do
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almoço foi que o Jonas, louco por feijão, comeu um monte de seleta de
legumes e a Carol, louca por legumes, comeu dois pratos de arroz com
feijão! Avelino nos contou um pouco de sua vida, sua paixão por cross-
country e de lugares que conheceu participando de provas representando
a Marinha do Brasil.
Após o almoço, seguimos ao local da batalha contra os holandeses,
que fica em frente à casa do comandante. Lá há uma praia lindíssima, que
lembra demais as praias do nordeste, com seus coqueiros e areia branca,
grossa, bem solta. Nessa casa, alguns Presidentes da República passaram
suas férias.
Caminhamos até a outra ponta da Praia Grande, passando por
lindas trilhas, que lembram muito as do Parque Estadual de Ilhabela, só
que mais preservadas. Caímos novamente na água, desta vez
rapidamente, pois ela estava cheia de águas-vivas. Todos a quem fomos
apresentados foram muito simpáticos conosco, perguntando muitas
coisas sobre nossa viagem. Só sentimos que o tempo era curto demais
para conhecer melhor a ilha.
Soltamos amarras às quatro, após despedidas e agradecimentos ao
Avelino, pela atenção e paciência dispensadas conosco. Levantamos velas
para aproveitar um ventinho gostoso que começava. Vimos vários
golfinhos e nos aproximamos. Eram uns dez e deviam estar caçando, pois
vários atobás os sobrevoavam, mergulhando sobre um cardume de
peixes. Demos três voltas perto deles e seguimos para Ilha Grande.
Entrou um excelente vento, de quinze nós pelo través e velejamos
deliciosa e rapidamente até Sítio Forte.
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28/01/2006 - Zarpamos para a Lagoa Azul, que estava repleta de lanchas.
Era sábado e o número de barcos em finais de semana nesses lugares
aumenta muito. Ancoramos o veleiro no meio da “lagoa”.
Vimos um cachorro nadando e especulamos se caíra de algum
barco, tentando chamá-lo. Ele não deu “bola” e seguiu direto para a casa
na Ilha Comprida! O cachorro atravessa toda a lagoa a nado e isso deve
ser diário! O maior perigo é ele ser atropelado, pois o trânsito de lanchas,
a toda velocidade, no local é grande.
Fomos de bote para o local de mergulho, tendo que passar com
cuidado entre as várias lanchas que fechavam a passagem. A água estava
fria e com pouca visibilidade, em comparação com a última vez que
mergulhamos ali. Vimos poucos peixes e poucas estrelas. Por outro lado,
as lanchas e pequenos barcos a motor passavam a toda velocidade ao
nosso lado, causando uma sensação de desconforto e perigo. Saímos dali
para o outro lado da lagoa e, apesar da água turva, vimos mais peixes.
Resolvemos voltar, pois o tempo fechava. Paramos,
despretensiosamente, na ponta de Aripeba. Que mergulho! A água estava
linda e vimos muitos frades, peixe-trombeta, peixe-cofre, muitas estrelas-
do-mar, uma moréia, uma tartaruga numa toca, outra nadando e uma
pedra forrada com lindas anêmonas amarelas abertas parecendo
pequenas flores. Mas, o melhor, foi uma “cobrinha” colorida que assustou
a Lu, que a confundiu com uma serpente do mar. Ela arrastou a Carol
para longe do lugar, mesmo ela explicando que era apenas uma
manduréia. A Lu virou a “bola da vez” pelo resto da noite!
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Primeiros Percalços
03/02/2006 – Achei uma boa solução: puxei e instalei o Skype, para falar
com as pessoas queridas sem custo telefônico!
No meio da madrugada, acordei assustado, com barulho e vozes.
Pescadores recolhiam uma rede para pegar paratis ao lado do barco e a
rede enroscou no leme. Soltaram sem dificuldade e eu aproveitei para
olhar o céu estrelado, que prometia um dia bonito para um passeio.
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04/02/2006 - Vamos conhecer a Ponta Negra! Tomamos café na casa da
Berê e fomos para a praia de Laranjeiras, de onde saem os barcos para a
Ponta Negra e Praia do Sono. Pegamos uma perua do condomínio, que
nos levou para o portinho e fomos apreciando as belas casas, campo de
golfe, helicópteros e lanchas. Chegando ao porto, subimos no pequeno
barco de fibra com motor de popa e, rapidamente, chegamos na praia da
Ponta Negra. No caminho, vimos as maravilhosas praias, quase desertas
e sem acesso de carro, se descortinando: Sono, Antigos, Antiguinhos,
Galhetas e, finalmente, a praia da Ponta Negra.
Ela é uma típica praia de pescadores, muito bonita e ainda muito
isolada. Ajudamos a carregar algumas coisas para a casa da Berê e, em
seguida, andamos uns 20 minutos até uma cachoeira maravilhosa.
Tomamos um banho refrescante num poço e retornamos. Já era tarde e,
após banhos de mar e de rio, comemos peixes fritos com arroz, feijão,
farinha e salada no barzinho da praia. Enquanto o Jonas e a Carol
brincavam com outras crianças, eu dormi um pouco, sentado ali na mesa
mesmo. Só faltou uma rede! Retornamos no final da tarde, com a traineira
de pesca do Careca, que também faz transportes.
09/02/2006 - Resolvemos ter uma aula “em campo” e fomos para Angra
visitar o centro de informações das usinas nucleares. O centro é bem
montado e muito interessante. Ele é cheio de maquetes e esquemas sobre
fissão nuclear e os componentes das usinas. Foi uma bela aula e é uma
maravilha de projeto de engenharia. As crianças adoraram e
compreenderam bem todo o esquema de geração de energia.
Mas sobram sempre algumas perguntas com respostas não
satisfatórias. Porquê o Brasil investe tanto na geração de energia elétrica,
usando um meio que gera um resíduo altamente radioativo e que leva
3.000 anos para “desaparecer”, com o enorme potencial hídrico que tem?
Quantas usinas hidrelétricas poderiam ser construídas e quanta energia
elétrica gerariam com todo o dinheiro já gasto com as usinas nucleares?
O que falam é que a usina nuclear é limpa e sem riscos. Só que usam,
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como fator de comparação, usinas movidas a diesel e carvão, que são
altamente poluentes. Usam também o “apagão”, que aconteceu há dois
anos, como desculpa para a construção de Angra 3 e para justificar Angra
1 e 2. Só não falam que, se tivessem sido construídas mais usinas
hidrelétricas com o dinheiro dessas usinas nucleares, muito
provavelmente não teria acontecido a falta de energia. Torçamos que as
defesas contra vazamentos sejam suficientes e que acidentes não
aconteçam, porque a região é bela demais para ser destruída.
Voltamos para a marina, onde as crianças fizeram um trabalho
sobre a usina para enviar ao colégio e uma aula de matemática. Eu tenho
atuado mais como orientador e tenho feito correções dos exercícios que
eles fazem. Eles mesmos tomam a iniciativa de estudar, lêem o capítulo e
respondem as questões. O papel de “professor” tem sido muito fácil.
Pouco tenho a explicar ou tirar dúvidas. Acho isso ótimo! Aprender a
estudar sozinho e gostar disso é importantíssimo nos dias de hoje, se você
não viver num grande centro.
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Quando chegamos à praia Grande de Cajaíba, a primeira coisa que
eu fiz foi dar uma espiada na quilha. Só havia um pequeno raspão na tinta
de fundo e nem chegou a amassá-la (ela é de chumbo).
Fomos à praia com o bote. Ela é muito bonita. Nela só existem
poucas casas de pescadores e um bar no seu canto esquerdo, com um
pequeno rio saindo no meio dela. Caminhamos por toda a praia e as
crianças brincaram de escorregar nos morrinhos de areia do rio.
Perguntamos, no barzinho, como chegar até a famosa cachoeira de
Cajaíba. O pessoal, muito simpático, ensinou-nos o caminho. A trilha é
fácil e leva apenas dez minutos. A cachoeira é linda! Tomamos banho e
retornamos pela trilha. Na volta, vimos uma cobrinha passar ligeira à
nossa frente.
Levamos o barco para trás da ilha Itaoca, que nos indicaram ser
melhor para pernoitar (que eles chamam de “lugar do embate” – nunca
havia escutado esse termo!).
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17/02/2006 - Meu irmão, Celso, chegou para nos visitar, com a Di, minha
cunhada e a Giulli, minha sobrinha. Mostramos a marina a eles e fomos a
Parati jantar na creperia. Enquanto estávamos lá, voltamos cinqüenta
anos no tempo e vimos uma banda passar duas vezes. Essa bandinha,
com as pessoas dançando, algumas fantasiadas, lembrou-nos o antigo e
inocente carnaval de rua. As crianças, que gostam tanto da música “A
Banda” de Chico Buarque, puderam viver um pouco dessa realidade, tão
distante de crianças de grandes cidades.
20/02/2006 - Fui convidado para tomar uma cerveja com o vizinho, Peter,
que tem um lindíssimo “Alegro Vivace 43”. Quanto espaço!!!
Conversamos com ele e com a Edna, sua simpática esposa.
O amigo Dimitri correu a Eldorado-Brasilis. Que tentação! Ele foi a
bordo do Kanaloa e disse que a regata foi maravilhosa. Falou muitíssimo
bem de Trindade, onde foram recebidos com todas as atenções pelo
pessoal da Marinha do Brasil.
Conhecemos o Alceu, dono de um Arpege 30’ chamado Atlantis,
que nos presenteou com uma âncora danforth. Gosto de ter várias âncoras
reserva no barco. Nunca se sabe quando uma âncora vai prender em algo
no fundo e se perder.
Um senhor se aproximou do barco e me chamou, perguntando se
eu ia subir a costa. Se apresentou: Janjão, do veleiro Sweet. No mar todos
se auxiliam e procuram passar informações. Janjão vai além disso:
muitíssimo prestativo, me deu várias informações, conselhos e telefones
de contatos ao longo da costa, pelos lugares onde pretendemos passar e
que ele conhece bem. O gostoso de velejar, também está no prazer de
encontrar pessoas como o Janjão, que não são poucas no meio náutico. A
minha impressão é que, como todos já foram ajudados e respeitam
demais o mar e seus perigos, o ato de passar e receber informações é
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natural e feito com prazer, além de ser um excelente meio para se fazer
amigos.
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03/03/2006 - Recebemos a visita da Renata e da Nishi, amigas nossas, e
seguimos para Jurumirim. Nadamos até a praia e ficamos curtindo o
lugar e conversando. Enquanto estávamos na praia, algumas pessoas
vieram falar conosco. Eram Ricardo e Fernanda do “Zatara” e pessoal do
“Mr. Jazz”. Por coincidência, Ricardo e Fernanda aprenderam a velejar
no Fandango em 2003. Gostaram e agora são os felizes velejadores
proprietários de um belíssimo Delta 36.
Resolvemos ir à praia do Engenho, onde o Ricardo disse haver uma
roda d’água enorme. O local é, realmente, bonito. Como o desejo era
mergulhar, resolvi tentar um novo lugar e seguimos para a Ilha
Comprida. A água estava boa e vimos muitos peixes.
Voltamos para a marina velejando muito bem e caímos na piscina.
Fomos convidados pelas meninas para comer uma peixada em
Parati, que estava excelente. A Carol foi dormir com a Nishi e a Rê, para
matar saudades do “Clube da Luluzinha”.
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conosco, Zulmira, é velha amiga do Ladislau e da Thereza! Êta mundinho
pequeno!
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Superando Sempre
18/03/2006 - Acordei cedo e comprei o Estado de São Paulo, para ver uma
matéria sobre nós no Estadinho. A “notinha” que a Taíssa, jornalista do
Estadinho, me falou que iria sair, se transformou em uma matéria de
página inteira e com várias fotos. Ficou muito legal! Com o jornal na mão,
foi fácil acordar todos.
Logo saímos e a “pedida” para o dia foi velejar. O Nelson está
pensando em fazer curso de vela e acho que curtiu a velejada. As crianças
fizeram “isca de tubarão” e paramos na ilha Rasa para eles conhecerem e
para comermos.
De repente, alguém gritou: “golfinhos!”. Fomos vê-los e eles
passaram bem perto da ilha, caçando e brincando, com vários deles
dando saltos de alegria. Alguns, pequenos, tinham a barriga cor-de-rosa,
o que fez muito sucesso com as meninas. Após o almoço, voltamos ao
barco para tentar encontrá-los e, após quinze minutos a motor, já
começamos a vê-los. Navegamos perto deles até a ilha da Sapeca e
ficamos mais de uma hora vendo, admirando e fotografando os lindos
animais. Os gritos de alegria não eram contidos e isso parecia atrair ainda
72
mais os golfinhos, que se aproximavam. Eles passavam bem perto do
barco e cheguei a ver uns seis, vindo todos, um ao lado do outro, em
direção ao barco, no alto da onda e mergulharem quando faltavam cerca
de dois metros para atingirem o barco.
Foi fascinante e, não fossem algumas nuvens de chuva e raios que
se encaminhavam para nós, vindo da direção de Angra, teríamos ficado
mais tempo.
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Leitor, até aqui você já deve ter idéia da importância dessa viagem
para nós e tudo que tivemos que superar para chegar onde estamos. A
Carol, após a perda da Mônica, ficou muito ligada e preocupada comigo.
Quando tenho problemas de saúde, percebo-a sempre inquieta e o medo
de outra perda é muito grande. Ela expressa isso muito bem! O Jonas não
expressa, mas sei que também tem esse sentimento.
Os riscos eram vários. Primeiro e imediato, o risco de vida
decorrente de uma cirurgia, mesmo simples. Segundo, o risco da cirurgia
não dar muito certo e eu não ter condições de prosseguir a viagem de
nossos sonhos. Chegar até Parati, experimentar o “gostinho” de aventura
e de morar a bordo e ter que abortar a viagem, quando realmente iriam
começar as novidades, seria extremamente decepcionante para todos nós.
E terceiro, seguir a viagem e o problema reaparecer no meio do caminho,
agravado, em lugar de difícil acesso.
O primeiro risco, apesar de ser o mais preocupante, foi fácil de
definir: “- É necessário? Então, que seja o mais rápido possível!”. Eu sabia
que não poderia ficar carregando aquela arriscada hérnia inguinal pelo
resto da vida por medo de uma cirurgia, mesmo suspendendo a viagem.
O exemplo recente do dente do siso já fora suficiente! Mas, suspender a
viagem também não estava nos planos, ao menos, enquanto houvesse
esperanças de termos condições de cumpri-la bem. A determinação para
continuar a viagem me levou rapidamente para São Paulo e me colocou
em cima da mesa de operação. E o Dr. César, cirurgião muito bem
indicado, me inspirava confiança. Sei que, quando chega a nossa hora,
não há o que fazer. Pode ser atravessando uma rua, enfrentando uma
tempestade, numa mesa de cirurgia ou dormindo numa cama. E não há
o que temer: finalizado nosso ciclo, partimos. Mas, algo me dizia que meu
ciclo ainda não estava finalizado. Tranqüilizei os meus filhos, deixei-os
nos avós e segui para o hospital.
A recuperação foi lenta, dolorida e preocupante. Nela, foi
fundamental a confiança inspirada pelo Dr. César, dizendo sempre que
tudo estava bem e que a recuperação era assim mesmo. Ele me dizia: “-
Depois de quarenta e cinco dias, vida normal!”. E foi o que aconteceu!
Nessa fase, eu percebia a apreensão das pessoas queridas com
relação à continuação da viagem. Imagino que viviam um sentimento
paradoxal: preocupavam-se de seguirmos viagem após uma cirurgia e,
por outro lado, sabiam o quanto era importante continuarmos. Em
momento nenhum escutei: “- Não é melhor parar?”, nem de meus filhos,
nem de parentes, nem de amigos. Todos eram só incentivos!
O terceiro risco, o problema reaparecer agravado, era o
imponderável, que nunca aceitamos, mas com o qual temos que saber
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conviver. E a convivência com ele não pode ser deixar de realizar
objetivos por medo. Não podemos deixar de atravessar ruas por receio de
atropelamento. Devemos atravessar cada rua que cruza nossas vidas com
todo o cuidado necessário! Os imponderáveis nos cercam, nos
atormentam e, quando acontecem, destroem nossos planos, castelos
construídos carinhosamente. Cuidar para que não aconteçam, não temê-
los, pois senão nosso medo nos paralisará, e ter forças para reerguer os
castelos destruídos quando o imponderável acontece, é a maneira sábia
de lidar com eles. O restante da viagem eu tomaria cuidado para não fazer
esforços excessivos e sempre os faria na posição correta. O risco, eu o
colocaria com todos os outros, doenças, acidentes, problemas financeiros,
etc., numa “caixinha” trancada, numa região de difícil acesso no fundo da
memória.
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Convalescença em Parati
19/04/2006 - Fizemos uma ótima viagem ontem. Dirigi as cinco horas que
separam Parati de Sampa, sem problemas com a região da cirurgia. Mas
hoje, o corpo reclamou um pouco. Dormi até tarde e o local da cirurgia
doía. O Fandango estava perfeito, como nós o deixamos!
Retomamos a leitura do “Cem Dias entre Céu e Mar”, que
interrompemos quando fomos para São Paulo. É bom estar de volta!
22/04/2006 - Após três dias “de molho”, fomos ao grande teste: soltamos
do píer, levantamos âncora e seguimos para Jurumirim. Levantar a
âncora foi um problema! Como eu não podia fazer força, usamos a catraca
da genoa para isso. Mas, como o cabo da âncora havia ficado muito tempo
dentro da água, criaram-se muitas cracas, que subiam trazendo mau
cheiro, muito lodo e se estraçalhavam quando passavam na catraca. Foi a
maior sujeira!
Mesmo assim, felizes por sairmos da marina depois de um mês em
Sampa, seguimos para Jurumirim, deixando para limpar o barco lá. Notei
que o rendimento do barco estava ruim a motor e havia muita trepidação.
Poderia ser um cabo enroscado no hélice ou muitas cracas incrustadas
nele. Paramos antes da ilha da Bexiga e mergulhei para ver o que estava
acontecendo. O hélice estava abarrotado de cracas! Como o vento estava
bom, fomos velejando e deixei para limpar o hélice em Jurumirim, com a
água mais limpa.
A velejada estava deliciosa e brincamos de regata com um Fast 360,
que estava ao lado. Fiquei contente comigo mesmo: conseguia fazer tudo
que precisava a bordo, mesmo evitando os esforços maiores. Chegamos
em Jurumirim e fomos todos para a água. Que delícia, depois de tanto
tempo!!! Comecei a limpar o fundo do barco e a Carol entrou na dança,
ajudando muito. Aliás, antes de irmos para a água, ela lavou e esfregou
todo o cockpit sujo pelas cracas!
Chegou um veleiro com o nome de Toatoa, ao nosso lado. Ele tinha
uma bassetzinha e as crianças ficaram ouriçadas para brincar com ela. O
dono do barco entrou no bote e ela entrou junto! Quando chegou ao nosso
lado, reconheci o Fan, conhecido de Ubatuba de muito tempo e que
também correu várias regatas no Carapau, de um amigo nosso. Batemos
um papo e ele nos convidou para visitar o seu barco, um Jeanneau 45 pés
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maravilhoso! Conhecemos sua simpática esposa, Harumi, a Filó
(bassetzinha) e o Zehn (que será o novo nome do Toatoa). Conversamos
muito e comemos um sanduíche de forno, que a Harumi fez e que espero
aproveitar a receita.
Voltamos ao barco debaixo de uma garoa gostosa que embalou
nossos sonhos. E eu estava muito feliz! Tudo estava dando certo em
minha recuperação final, inclusive velejar e mergulhar!
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dos Schürmann. Tudo na seqüência, num intervalo de duas horas. Acho
que eles estão pensando em nós e torcendo pela continuação de nossa
viagem!
Às sete e meia, pegamos o Dadi e a Denise na Marina do Engenho
e fomos a Parati jantar. Pedimos uma lula recheada à moda da casa, que
estava deliciosa. Conversamos muito, as crianças contaram um monte de
“histórias”, falamos de nós e soubemos um pouco do Dadi e da Denise,
que têm planos de fazer uma belíssima viagem. Passamos uma noite
muito gostosa e voltamos cantando MPB para a Marina do Engenho (a
Denise adora cantar também!), muito mais tarde do que prevíamos.
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abertos e ouvindo outros barcos que também dormiam, descobri que a maior
felicidade que existe é a silenciosa certeza de que vale a pena viver.”
02/05/2006 - Acordamos cedo, com um dia muito bonito e fui direto para
a água tomar o banho de mar matinal. Saímos às dez e meia com destino
a Ilha Grande, instituindo turnos de uma hora. O Jonas foi o primeiro e
pegou um ventinho fraco de proa. No segundo turno, a sortuda da Carol
pegou um vento de través maravilhoso, que saía do saco do Mamanguá,
sinal de frente fria entrando. Ele nos obrigou a rizar a mestra e enrolar
um pouco a genoa. Foi uma velejada deliciosa, mas que durou apenas
vinte minutos. O vento enfraqueceu, tiramos o rizo e, quando chegou a
minha vez, estava muito fraco. Comecei a ver “carneirinhos” ao longe e,
pouco depois, o vento apertou. Começamos a velejar muito rápido,
obrigando-nos a enrolar a genoa e soltar bem a mestra. Depois de uns
vinte minutos de excelente velejada, com o mar engrossando e tendo que
fazer muita força para segurar o barco sempre que entrava uma onda na
popa, achei melhor rizar a mestra novamente. Eu sempre diminuo a
mestra diretamente para o segundo rizo, e aí manipulo o tamanho da
genoa, que é fácil com o enrolador, conforme o vento apertar ou diminuir.
O vento aumentou mais um pouco e o mar também (depois fiquei
sabendo que em Ilhabela a balsa parou!). Quem acabou se divertindo para
valer, batendo recordes de velocidade (chegamos a 10,5 nós numa
surfada!) foi o Jonas. Em quatro horas, mesmo pegando vento fraco em
boa parte da viagem, chegamos a Sítio Forte e ancoramos na frente do bar
do Lelé, onde batiam rajadas fortes de vento, mas que não eram nada em
comparação à entrada da frente fria que pegamos e que nos empurrou
maravilhosamente para a enseada. Após a arrumação do barco, pois
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várias coisas caíram ou saíram dos seus lugares, fiz um risoto de carne
seca, azeitona e milho, que ficou delicioso.
À noite recebemos uma visita inesperada: os gansos “estressados”,
que atacaram a Carol da outra vez, vieram nadando até o barco pedir
comida. Ficaram grasnando à popa do barco até resolvermos dar alguns
pedaços de pão para eles. Com isso, juntou um grande número de peixes
embaixo do barco, que víamos com a lanterna. Quando apagávamos as
lanternas, víamos uma grande fosforescência da ardentia, causada pelo
movimento dos pés dos gansos e pelo movimento dos peixes. Quando os
gansos foram embora (tivemos que apagar tudo para eles pararem de
pedir comida!), li para as crianças um pouco do livro “Do Rio à Polinésia”
e dormimos com o barco todo fechado pela primeira vez, pois estava um
pouco frio.
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A Caminho do Rio
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Mesmo assim, atrasados e com as pernas doendo, o soldado Kaslley
nos recebeu muito bem, mostrou as instalações da escola, falou um pouco
sobre como se tornar aluno dela e como é a vida dos estudantes. Mostrou-
nos o lugar onde foi celebrada a primeira missa completa do Brasil, que
fica dentro da escola e passamos num corredor com grossas portas de
madeira, que era uma prisão antigamente. Uma curiosidade é que a
Escola Naval do Rio de Janeiro foi a primeira escola de ensino superior
do Brasil. Vimos os belos veleiros da Escola Naval que correm regatas e
encerramos nossa visita.
Próxima parada: Rio-Boat Show! Chegando lá, vimos mais alguns
belos barcos em exposição e encontramos o Pêra, da “Pêra Náutica” (ex-
BL3 da Guarapiranga), onde o Jonas “navegou” num simulador de vela,
muito bom para dar cursos. Compramos o nosso novo substituto do
Jarbas, um GPS auxiliar novo e uma manilha de engate rápido para o
cinto de segurança da Carol. Encontramos ainda o Nestor Volker, famoso
projetista naval e falamos rapidamente com ele.
Quando estávamos retornando, fomos até a ponta do píer dos
cruzeiristas e tivemos uma grata surpresa: encontramos o Ricardo e a
Glória do “Tao”. Que encontro gostoso! Eles estão bem, mas o Ricardo
me mostrou uma queimadura na mão, provocada por lançamento de
álcool, fazendo um churrasco a bordo (eu tenho que tomar muito cuidado
também). Conversamos bastante no tempo curto que tínhamos para
pegar o barco de volta ao Iate Clube. Conhecemos o Marçal e a Eneida
Ceccon, do Rapunzel, que falavam com o Ricardo.
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dele; buracos gradeados no chão, usados para amarrar tudo que estiver
solto (aviões, helicópteros, etc.) enquanto se navega.
Subimos para o passadiço ou ponte de comando. Dezenas de
instrumentos de navegação e também de uma torre de controle de aviões
disputavam espaço no local. Sim, o navio tem que ter uma torre de
controle de pouso e decolagem, pois é um aeroporto também (o tenente
brincou, dizendo que o navio “não é uma pequena cidade, mas sim uma
grande cidade, pois tem até aeroporto”).
Achei engraçado o timoneiro do navio ficar “cego”, ou seja, não tem
visão nenhuma do que está acontecendo fora. Apenas segue ordens da
direção a seguir, dadas por quem está comandando o navio, num grande
tubo acústico.
Na seqüência, fomos à sala do COC (Comando de Operações de
Combate) e vimos as várias mesas que controlam todo o navio em
situação de combate (como o tenente disse, o “cérebro do navio”).
Diversos instrumentos, controlando o céu, a superfície do mar e as suas
profundezas, estavam organizados ali, coisa que só vimos em filmes.
Pena que o tempo era pouco para ver mais coisas, mas, segundo o
comandante Américo, que agendou para nós a visita, poderíamos ficar
uma semana andando pelo navio e não conheceríamos tudo. Fiquei
impressionadíssimo com a instituição Marinha do Brasil, pela
organização, cuidado e seriedade com que trabalham os seus homens,
além da qualidade dos equipamentos.
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16/05/2006 - Eu e o Jonas acordamos e ficamos esperando a Carol acordar.
Assim que ela deu sinal de vida, cantamos e demos os parabéns pelo seu
décimo-primeiro aniversário!
Agradecemos a atenção do pessoal do Paquetá Iate Clube, onde nos
sentimos realmente em casa. Adoramos o lugar, mas tínhamos que seguir
viagem.
Motoramos pela baía da Guanabara, pois não havia vento e nos
dirigimos ao Clube Naval Charitas, em Niterói. Encostamos ao lado do
veleiro australiano Flame, do casal Paul e Diane, e conversamos um
pouco, com nosso pobre inglês. No restaurante do clube fizemos um
almoço de comemoração para a Carol.
Retornando ao barco, a Diane chamou a Carol e lhe deu um
presente de aniversário. Ela ficou toda contente!
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Saímos da fortaleza e seguimos para o Parque da Cidade, um local
de 270 metros de altura, que é pista de decolagem de para-pente. A vista
de lá é maravilhosa. Via-se toda a baia da Guanabara, até a Ilha do
Paquetá e, do lado de mar aberto, todas as ilhas oceânicas.
Retornamos ao clube e jantamos um excelente prato “veleiro”
(grande, bom e barato!). Quem passar pelo Charitas, não deixe de pedir
uma refeição “veleiro” no restaurante ou lanchonete: arroz, feijão, salada,
batatas fritas e um belo ovo, “velejando” sobre um suculento bife.
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Mar Duro
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e na tripulação, depois que passamos o sufoco dessa travessia, foi
fundamental para eu seguir viagem tranqüilo.
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Arraial e Cabo Frio
20/05/2006 – Depois de vários dias sem poder entrar na água, por causa
da poluição da baía da Guanabara, a primeira coisa que fiz foi tomar um
banho de mar! A água não estava tão fria quanto o “Cabo Frio” prometia.
Ele tem esse nome por ser é uma zona de ressurgência de águas cheias de
nutrientes, que vêm das ilhas Falkland. Exatamente por isso, suas águas
são frias e há muitos peixes.
Coloquei tudo para secar ao sol e fomos até a praia do Forno com o
bote. A praia é maravilhosa! Uma das mais bonitas que encontramos até
hoje. Areia fina, branca e solta, daquela que faz “barulho” quando a gente
anda. Há pouquíssimas construções na praia, que está bastante
preservada. Vimos muitas gaivotas pousadas na beira-mar e sobre os
restos de um navio bem próximo à praia. A água é transparente e fica com
um lindo tom azul claro quando as pequenas ondas quebram.
Estranhamos a vegetação de cactos, que dá a impressão de lugar que
chove pouco.
Subimos uma trilha no canto da praia, quase toda calçada de pedra
mineira, e se descortinou uma linda vista alta da praia, deixando-a mais
bonita ainda. Chegamos ao topo e começamos a descer, vendo a cidade
de Arraial do Cabo e o porto. Nele, vi um veleiro conhecido, o Moara, de
Ubatuba, e um submarino.
Voltamos para a praia, onde eu descansei e as crianças construíram
um enorme e belíssimo forte de areia: a visita à Fortaleza de Santa Cruz
da Barra mudou o conceito deles de castelos de areia!
Fomos para o barco e seguimos para a praia dos Anjos, que fica ao
lado da praia do Forno e onde há um porto. Chegando lá, passamos ao
lado do belíssimo submarino da Marinha e vimos outro veleiro conhecido
amarrado ao píer: o Tiki, também de Ubatuba.
Pegamos o bote e saímos para conhecer a cidade. Rumamos para o
Tiki, para ver se poderíamos amarrar nosso bote ao veleiro. Achei
estranho ele estar sem mastro. Quando subimos ao píer, conhecemos o
Edélcio, seu dono, e soubemos das peripécias de sua vinda para cá. Ele
veio um dia antes que nós e pegou a mesma lestada. Orçando em vento
muito forte, por fora da ilha de Cabo Frio, não conseguia avançar e,
enquanto descansava, sentiu um tranco forte e o mastro veio abaixo,
arrancando um pedaço do convés. Ele mergulhou, cortou a vela dos
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sliders e conseguiu recuperar tudo, com mar mexido e muito vento.
Tentou ligar o motor e ele não pegou. Pediu socorro pelo rádio e a
Marinha, através do projeto Salvamar, providenciou tudo que ele
precisava para o resgate: um barco pesqueiro rebocou-o e o deixou
atracado ao píer para fazer o reparo. Quando foi agradecer, novamente a
resposta: “- Não fizemos mais do que a nossa obrigação”. Mais um exemplo
recentíssimo, que nos tranqüiliza quanto ao socorro no mar e mais um
“parabéns” à Marinha do Brasil. O custo do resgate foi zero e a estadia no
píer, enquanto ele estiver arrumando as avarias, também (gentileza do
porto).
Conhecemos também o Claudinei, do Moara, que chegou com o
Edélcio. Depois de duas noites sem dormir, enfrentando a mesma lestada,
foi ancorar na Prainha e encalhou. Na tentativa de desencalhe, um cabo
estourou e arrancou uma ponta do dedo dele. Mesmo machucado,
continuou trabalhando no desencalhe, que foi em vão. A maré desceu, o
barco ficou em seco e só foi liberado na próxima maré alta. Foram três
noites sem dormir!
Comparando nossa travessia com a deles, fizemos um passeio!
Passado o susto, ambos estão brincando com o acontecido, pois são muito
bem humorados e já planejando o próximo trecho, que deve ser o mais
duro da viagem.
21/05/2006 - Comprei lulas para pescar e fomos para perto da ilha de Cabo
Frio. Ancoramos num local fundo, bem ao lado do banco de areia do
canal, mas não pegamos nada. Uma frente fria começava a entrar e o que
se via dela era o vento sudoeste fraco e o horizonte acinzentado.
Resolvemos tentar na praia do Forno e, ancorados bem no meio da
enseada, logo começamos a pegar peixes. Então, apareceu um cardume
de cangulos, também conhecido como peroá ou peixe-porco, o popular
“porquinho”, todos enormes e nadando na tona. Era só baixar a isca e
esperar algum deles pegar o anzol. Logo estávamos com quatro lindos
“porquinhos” a bordo! Paramos de pescar, pois já era peixe suficiente.
Limpei-os e os temperei, junto com o que sobrou das lulas. Aproveitamos
o final do sol na praia, onde as crianças fizeram um novo castelo de areia.
No barco, tomamos nosso banho completo na popa. Quando o tempo está
bom e quente, é melhor do que chuveiro elétrico!
Voltamos para a praia dos Anjos, pois havíamos prometido aos
amigos que levaríamos alguns peixes para eles. As crianças pegaram o
bote e foram levá-los, contentes. A Carol, que pegou o maior peixe, ficou
toda “cheia” quando o Claudinei tirou-o do saco plástico e exclamou: “-
Olha o tamanho do peixe que ela pegou!!!”.
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Fiz um risoto de lula para acompanhar o peixe frito e posso dizer
que nunca fiz nada tão gostoso no barco! Resolvemos comer a sobremesa
na cidade. Ao passar ao lado do Moara, o Claudinei nos chamou a bordo.
O Moara, um Cal 9.2, é muito confortável e tem soluções muito
inteligentes. Principalmente, uma bela geladeira a gás e a adaptação de
um bujão de 13 quilos na popa para isso. Após uma boa hora e meia de
papo com ele e com o Edélcio, escutando as engraçadíssimas histórias de
suas “incursões noturnas” ao longo da viagem, fomos finalmente para a
cidade tomar sorvetes e açaís.
22/05/2006 - Descemos para conhecer melhor a praia dos Anjos. Lá, vimos
alguns pescadores recolhendo uma rede de arrastão. Havia muitas
gaivotas no local e as crianças jogavam os peixes pequenos, que
escaparam da rede vivos, de volta para a água e os mortos, para as
gaivotas (às vezes, erravam e acontecia o contrário!).
Retornamos ao barco e seguimos para a ilha de Cabo Frio, para
conhecer a lindíssima praia do Farol. Muitos peixes pulavam ao longo do
caminho. Ancoramos ao lado da base da Marinha e, conseguida a
autorização para descer, fomos passear na praia. Ela é maravilhosa!
Muitas dunas, com areia branca e solta. No meio dela há “pedras”,
formadas por areia unida a outras substâncias. A vista de lá é linda!
Na cidade, matamos saudades de pizza. O pessoal por aqui é muito
simpático e sempre estão querendo ajudar. Entre eles, especialmente, o
Paulo, o Edgar, da lancha LEG 10 da Marinha e o Átila, todos
gentilíssimos. Conversando com as crianças, chegamos à conclusão que
este é um dos melhores lugares que paramos até agora: água limpa, povo
simpático e lugar lindo!
Retornamos ao Tiki, para uma aula de confecção de redes
promovida pelo Edélcio, com agulhas que compráramos na cidade.
25/05/2006 - Fomos até o Forte São Mateus e gostamos muito. Ele foi muito
bem restaurado e é um belo cartão de visita da cidade. A vista ao redor
dele é maravilhosa. Na praia, tomamos sorvetes de graviola, açaí e
cupuaçu, aproveitando para provar os novos sabores de cada lugar.
Seguimos para a Casa dos 500 Anos, que funciona como Casa da
Cultura de Cabo Frio. Havia várias maquetes da cidade e reproduções de
mapas antigos no local. As maquetes estavam bem feitas e reproduziam
os pontos turísticos da cidade, como eram antigamente. O Jonas ficou
impressionado e começou a imaginar como foram feitas. Várias fotos
antigas da cidade compunham o restante do acervo e vimos que foi feito
um grande trabalho de restauração de vários prédios, que apareciam
totalmente destruídos nas fotos. Ainda passamos na fonte do Itajuru e na
igreja Nossa Senhora d’Assumpção.
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Contratempos em Búzios
02/06/2006 - O Grilo nos falou para mudar o Fandango para outra poita,
mais perto da praia. Ele tentou aumentar o preço da diária da poita, que
o Dadi me disse ser de quinze reais, para vinte e cinco. Quando falamos,
com jeitinho, que ficaríamos ancorados, ele voltou atrás e deixou por
quinze (em cidades de muito fluxo turístico, temos que ficar espertos!).
Amarrado o barco à nova poita, descemos e deixamos o bote na praia.
Ontem vimos vários botes lá, inclusive com motor, e o Grilo nos falou
que, de dia, não há problemas. Caminhamos até o final da praia dos Ossos
e pegamos uma trilha. Rapidamente chegamos nas praias Azeda e
Azedinha, que são muito bonitas. Voltamos e seguimos até uma praça.
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Lá, bem perto do barco, havia um mercadinho e vários comércios.
Procurei um mapa da cidade. Um sebo, no meio da praça, me vendeu um.
Mais tarde fiquei sabendo que o mapa é de distribuição gratuita! Fugi de
um golpe, entrei em outro!
Caminhamos pela rua principal até chegar ao centro: a famosa Rua
das Pedras. Andamos pela sucessão de lojas, que me lembraram muito a
Vila de Ilhabela, só que muito maior e com muitas lojas fechadas. Já havia
escutado falar que muitos dos comércios voltados ao turista só funcionam
no verão. Cruzamos com vários turistas estrangeiros passeando e uma
criança do local, com uniforme de escola, tentou falar em inglês com o
Jonas. Depois tiramos o sarro dele, dizendo que ele tinha cara de
“gringo”! Andamos bastante, ziguezagueando entre as ruas para tentar
conhecer tudo. Procuramos um lugar para comer e vimos que aqui é
muito parecido com Ilhabela: restaurantes caros para os turistas e poucos
restaurantes para os “locais”, com preço acessível. Achamos uma casa de
empanadas e levei as crianças para conhecerem essa delícia. Estavam
maravilhosos! Procuramos um mercado grande, mas o que encontramos
foi uma decepção: tem tudo, mas é tão caro (ou até mais) quanto os
mercados pequenos. Ainda bem que estamos bem abastecidos e só
precisamos comprar perecíveis. Caminhando pela orla, que dá a
impressão de “fervilhar” na temporada, aproveitamos para tirar as
tradicionais fotos das estátuas dos pescadores, da Brigitte Bardot e do
Juscelino Kubitschek.
Retornamos ao Fandango, onde começamos uma aula de inglês
diferente. As crianças ganharam um jogo de cartas com as instruções em
inglês. Fiz com que elas as traduzissem sozinhas. Levou três horas, mas
acabamos a noite com várias partidas do jogo, que é bem interessante.
O vento nordeste soprando promete um dia bonito para amanhã.
04/06/2006 - A noite não foi boa. Acordei diversas vezes para verificar se
estávamos firmes e o barco balançou bastante. Meu alarme de muito
vento, que é a adriça da mestra que bate no mastro quando venta muito,
tocou a noite toda. As crianças dormiram bem (como é bom não ter
preocupações e ter um “grande berço” para nos embalar!). Mesmo com
as marolas e o nordeste forte de vinte nós, o barco não saiu do lugar.
Desci em terra para procurar o Grilo e ele nos indicou outra poita,
com duas escunas ao lado, mas com mais espaço. Levamos o Fandango
para lá e, quando saíamos do barco, quase batemos em uma delas! Cacei
mais os cabos de poita do Fandango e ficamos mais afastados.
Fomos até a rua das Pedras e passeamos por lá. Fiquei mais
tranqüilo quando vi a escuna que quase bateu no Fandango navegando
na frente do centro. Retornamos passeando tranqüilamente,
aproveitando um maravilhoso pôr-do-sol. Chegamos na praia, pegamos
106
o bote e, quando íamos para o Fandango, o vimos girando para bater em
outra escuna. Uma pessoa na escuna evitou o choque. Quando chegamos
perto, ele se apresentou: era o Luís, irmão do Grilo e dono das poitas. Ele
arrumou uma âncora pesada e a soltou atrás do Fandango. Amarramos a
popa de nosso barco na âncora e nos afastamos da escuna.
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Travessia Decisiva
06/06/2006 - Ontem durante o dia, decidi não ir para Guarapari por causa
da ressaca. Iríamos ficar mais uns dias em Búzios esperando outra frente
fria. Em virtude do buraco no Fandango e de eu haver acordado às quatro
da manhã, com outra escuna quase arrancando o estai de popa do
Fandango, mudei de idéia. Acessei a internet e vi que havia uma janela
de tempo certinha para a complicada travessia se saíssemos cedo. Resolvi
sair da “armadilha” da Praia dos Ossos e ver como estava o mar aberto.
Se o mar estivesse muito ruim, retornaríamos para Arraial do Cabo. Se
estivesse bom, aproveitaríamos a janela de tempo e seguiríamos para
Guarapari. Comecei a arrumar o barco após ter acessado a previsão de
tempo e, às seis, eu soltava as amarras, com as crianças ainda dormindo.
Quando saímos, vi que as ondas não estavam tão altas assim. Seguimos
nosso caminho para Guarapari, cento e setenta milhas à nossa frente.
Entre nós, o temível Cabo de São Tomé e seu perigoso banco de areia, que
fica entre o cabo e as plataformas de petróleo da bacia de Campos, com
grande tráfego marítimo na região.
A Carol enjoou quando foi ao banheiro, pouco depois de acordar, e
voltou a deitar. Eu e Jonas nos revezamos na vigília e “Alfredo” levava o
barco. Íamos a motor, com o vento por trás muito fraco, fazendo bater a
mestra. A manhã estava linda e o mar bonito. Nos afastamos de Búzios e
vimos vários pássaros no caminho. Prometi um sorvete para quem
avistasse a primeira baleia. Às duas da tarde o vento rondou e aumentou,
permitindo que abríssemos as velas. Isso aumentou nossa média de
velocidade, importante para cruzarmos logo o cabo. Vi alguns barcos de
pesca perto de Búzios, mas depois eles desapareceram. Já os navios,
também não foram tantos assim e sempre passaram distantes. Seguíamos
uma linha entre os quarenta e cinqüenta metros de profundidade. Apenas
um navio passou mais perto, provavelmente vindo de Macaé em direção
às plataformas de petróleo.
Às quatro e meia da tarde, desligamos o motor e colocamos diesel,
para que o tanque não ficasse baixo: se trabalharmos com menos de meio
tanque de combustível, o pescador pode puxar sujeiras ou ar, se o barco
estiver balançando muito. Tudo correu muito bem e às cinco da tarde
deixávamos para trás o farol de São Tomé, seguindo para a ponta do
banco de areia. Presenciamos um pôr-do-sol muito belo!
108
Quando chegávamos no waypoint para Guarapari, o vento rondou,
na hora exata e para a direção exata que havia sido previsto! Desde a
travessia Rio-Arraial, quando a previsão furou feio, estou usando o Buoy
Weather como site principal de previsão do tempo. Ele tem acertado tudo
até agora. Avançamos até o waypoint e guinamos cinqüenta graus,
ficando com o vento favorável novamente. Seguíamos um rumo norte
puro, que nos levava a diminuir progressivamente graus de latitude,
coisa que venho sonhando desde que os dias começaram a ficar mais frios
e mais curtos! O Jonas não agüentou e dormiu cedo. Fiquei sozinho em
companhia da meia-lua crescente, muito brilhante, das estrelas
totalmente descobertas e dos navios e barcos que passavam. No trecho
São Tomé-Guarapari apareceram vários barcos de pesca, mas foi um
trecho tranqüilo e, por isso, me deixou com muito sono.
111
16
Vitória e Chocolates
112
Retornamos ao Fandango exaustos. Antes de dormir, acessando a
internet, vi que nosso amigo Ricardo Anderaos, jornalista do Estado de
São Paulo, está na Alemanha cobrindo a Copa do Mundo e tem um blog
sobre ela, atualizando-o com um notebook sem fio, como nós. Deixamos
nossa mensagem para ele, torcendo para que a seleção não se embarace
com a bola. As crianças estão loucas para ver o primeiro jogo. O
sofrimento vai começar em breve. Haja coração!
115
17
Lar das Baleias
118
redondezas e, se não, voltam a dormir mais 15 minutos. Fiz isso umas
cinco vezes e já senti o cansaço e o sono irem embora.
O vento voltou para o través e apertou novamente. Para não
acordar as crianças, resolvi tirar toda a genoa e andar só com a mestra no
segundo rizo. Funcionou bem! O problema era só a velocidade.
Continuávamos andando a seis ou sete nós apenas com a mestra no
segundo rizo! Nessa hora, o vento já devia ter passado dos vinte e cinco
nós e as ondas tinham mais de dois metros. Era mais ou menos o que
pegamos na ida do Rio de Janeiro para Arraial, mas, desta vez, a direção
do vento fazia toda a diferença, pois era favorável.
Às quatro da manhã, avistei as luzes do farol de Abrolhos e fiquei
muito contente. Estávamos chegando e não faltava muito! Assim que o
dia clareou um pouco, mesmo sem o sol ter nascido, chamei o Jonas, pois
o sono estava insuportável. Ele acordou rapidamente e ficou no meu
lugar. Falei para ele ficar de olho em barcos e não sair debaixo do dog-
house, que o protegia totalmente dos ventos e dos respingos e que, se
houvesse qualquer mudança na situação, me chamasse.
Deitei, fechei os olhos e dormi imediatamente. Dez minutos depois,
acordei com um grito: BALEIA!!! Pulei da cama e sai imediatamente, a
tempo de ver a água voando ao lado do barco. Uma baleia tinha espirrado
um grande volume de água, bem ao lado do Fandango e foi isso que o
Jonas viu de dentro do dog-house. Saí e olhei para o lado de boreste a
tempo de ver o grande dorso da baleia a três metros do costado, naquele
acinzentado do nascer do dia, mergulhando sob o barco. Falei para
ligarem o motor, sem engatá-lo, pois dizem que o barulho as espanta.
Nisso, a Carol já estava no cockpit também, procurando as baleias, mas
nenhuma se apresentou novamente. Com o mar muito picado e o vento
ainda muito forte, era difícil ver alguma baleia à nossa volta, a não ser
que estivéssemos bem ao lado dela. Nossa visitante, assim como apareceu
foi embora e nos deixou um sentimento conflitante: ao mesmo tempo em
que estávamos um pouco assustados com a aparição tão perto do barco,
ficamos com gosto de “quero mais”! Continuamos com o motor ligado
para fazer barulho e voltei a dormir.
Dormi até as oito horas e, quando levantei, vi que a situação
continuava a mesma: vento forte, mar picado e o Fandango velejando
maravilhosamente bem, a seis nós, só com a mestra no segundo rizo.
Desligamos o motor. O dia estava bonito e o mar grosso o deixava mais
bonito. A única pena é que não avistávamos as baleias por causa disso.
Com o sol mais forte, o vento enfraqueceu e permitiu a abertura de
parte da genoa. O mar foi ficando mais liso e às nove horas avistávamos
as ilhas de Abrolhos: Santa Bárbara, Redonda, Siriba, Sueste e Guarita, as
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belíssimas ilhas, que um dia foram a borda de um grande vulcão, estavam
à nossa espera. Estávamos todos no convés apreciando a chegada.
Enquanto conversávamos distraidamente no cockcpit, olhei para o
lado e vi jorros de baleias a uns 500 metros de distância. Vimos os dorsos
e um belo salto de costas de uma delas. Deviam ser duas ou três. Pensei
em voltar para vê-las, mas o cansaço estava grande e a vontade de chegar
imensa.
Nos aproximamos das ilhas pela rota de maior profundidade.
Informei nossa aproximação ao rádio-farol de Abrolhos e pedi instruções
para pegar uma poita. Me recomendaram pegar a poita ao norte da ilha.
Como estava batendo o sueste, tanto o lado norte quanto o lado sul ficam
desprotegidos, mas disseram que o norte estava menos ruim. Nos
aproximamos com cuidado e chegamos à poita. Um pesqueiro estava
ancorado calmamente ao lado dela. Demos a volta por trás do pesqueiro
e nos aproximamos. Como a bóia da poita era de ferro e grande, eu não
queria que o barco batesse contra ela. Juntando a isso o vento forte que
soprava e as ondulações no local, resultou que precisamos de umas seis
ou sete tentativas para conseguir pegá-la! E foi na raça, pois quando as
crianças conseguiram “pescá-la”, quase a soltaram junto com o croque,
porque não conseguiam segurar o barco com o vento e as ondas
empurrando. Consegui chegar a tempo e com grande esforço
conseguimos passar o cabo de amarração. Puxa, conseguimos!
Começamos a arrumar o barco e uma pessoa com equipamento de
mergulho saiu da praia e se aproximou. Era o sargento Iran, responsável
pelo comando da base da Marinha da Ilha de Santa Bárbara. Nos
apresentamos, começamos a contar as histórias da travessia, com o barco
balançando bastante, quando ele, meio sem jeito, falou que, enquanto
tentávamos pegar a poita, o outro lado da ilha ficou com melhor situação
de vento e que a previsão era do vento virar mais para nordeste. Ou seja,
deveríamos soltar a poita tão difícil de pegar e ir para o lado sul! Ai, ai!
Mas, como não adianta chorar pelo leite derramado, começamos a nos
preparar para isso. O sargento foi muito gentil e voltou à ilha para inflar
o bote deles e nos ajudar a pegar a poita do outro lado. Soltamos a poita,
à qual deixei um cabo amarrado, caso precisássemos voltar, e
contornamos a ilha pelo lado do farol. A correnteza era violenta (ela devia
estar entre três e quatro nós!) e mal conseguíamos andar para frente entre
a ilha da Guarita e a de Santa Bárbara. Quando acabamos de contornar, a
velocidade aumentou violentamente e rapidamente chegamos à poita. O
sargento já estava lá com o bote e passou nosso cabo dentro do olhal da
poita. Falou que seria mais seguro se colocássemos um cabo mais grosso
(o meu era de doze milímetros!) e outro de reserva, pois já aconteceu de
120
um veleiro arrebentar o cabo e ir parar nas pedras. Assim que ele se foi,
tendo feito o convite para visitarmos a Ilha de Santa Bárbara, arrumamos
nossas coisas e almoçamos.
Eram onze e meia e finalmente, após trinta e seis horas de viagem,
sendo onze a motor e vela e o restante apenas velejando (e muito bem!),
estávamos em Abrolhos, um paraíso que todo brasileiro amante de
natureza deveria conhecer um dia! E não é só um paraíso embaixo da
água, não. É bela demais na superfície também. Antes de descer para a
ilha, peguei a máscara e a nadadeira e fui até a bóia da poita, para colocar
outro cabo com uma proteção, para não ficar roçando na bóia de ferro.
Voltei ao barco e o amarrei mais curto. Dessa forma, tinha um cabo
tensionado prendendo o barco e outro mais comprido, para segurá-lo se
o primeiro arrebentasse.
Descemos em terra com o bote do sargento Iran e conhecemos o
Egno, guarda-parque do Ibama. Muito gentil, ele nos falou as regras do
Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, nos deu folhetos com
informações do parque e falou para as crianças uma série de coisas
interessantes sobre ele. Conhecemos o simpático sargento Flávio, que nos
levaria para conhecer a ilha. Extremamente gentil, ele nos levou para
conhecer tudo: geradores, instrumentos meteorológicos, cisternas..., nada
faltou mostrar. Flávio falou que, na noite em que chegáramos, o
anemômetro marcou vinte e seis nós! Ele também nos levou para ver
alguns atobás brancos, que nidificaram na ilha. Vimos um filhote de atobá
morto, com uma fêmea protegendo-o. Deu muita pena! Como as fragatas
roubam o alimento dos atobás e dos filhotes, estes morrem de inanição.
Ele pegou o filhote e o jogou longe, despenhadeiro abaixo. É muito
melhor para a mãe isso, do que ficar tentando alimentar um filhote morto,
mas acabamos ficando tristes vendo a mãe perdida, procurando-o.
Depois, fomos até um ninho com um filhote grande e, como são muito
mansos, ele pegou o filhote para que passássemos a mão. A Carol ficou
fascinada! A penugem é extremamente macia. Parece pelúcia! Ele
explicou diversas coisas sobre o desenvolvimento dos filhotes e suas
mudanças.
Por último, vimos uma das grandes belezas da ilha: seu
importantíssimo farol! Subimos até o topo e vislumbramos a linda vista
lá de cima. O Fandanguinho pulava como cavalo chucro amarrado em
sua poita e, de lá, enxergávamos até o horizonte. Ficamos sabendo, por
ele, que chegamos exatamente junto com as baleias! Hoje é o primeiro dia
do ano que as estão avistando e, do farol, nós vimos mais algumas
pulando atrás da ilha sueste, provavelmente, as mesmas que vimos
quando chegamos. É, acho que estamos com sorte!
121
Ficamos de voltar no dia seguinte, para conhecer a outra ponta da
ilha de Santa Bárbara. O Flávio nos levou de volta ao barco, onde
conversamos e ele assinou nosso livro de visitas.
Logo que ele saiu, deitei um pouco. Eram cinco horas da tarde.
Dormi imediatamente. As crianças fizeram sanduíches quentes e me
ofereceram. Comi deitado mesmo e, por duas vezes, adormeci com
pedaços do sanduíche na boca. Eles liam e faziam seus os diários. Quanto
a mim, dormia o merecido sono do qual tanto estava precisando, mesmo
com o mar mexido e o barco balançando muito!
26/06/2006 - O dia estava muito bonito e o vento havia virado mais para
nordeste, nos deixando abrigados na poita em que estávamos.
Pegamos o botinho e seguimos para uma pequena poita perto da
praia da ilha de Sta Bárbara. Caímos na água e ela estava transparente,
apenas um pouco fria. Começamos a ver muitos e muitos peixes. Vimos
vários frades, três budiões azuis que deviam ter de 4 a 5 quilos cada um
e dezenas de cardumes de peixes coloridos! O Jonas sentiu frio e voltou
ao bote. Eu e a Carol mergulhamos outro tanto! Foi um mergulho
maravilhoso, digno de Abrolhos. Vimos muitos corais diferentes e
vegetação marinha desconhecida para nós. Os grandes corais cérebro são
o destaque no local. Achamos um “mini-chapeirão”, que é uma estrutura
coralínea que cresce em forma de cogumelo, vindo do fundo e que alcança
124
grandes tamanhos (até vinte metros de altura e cinqüenta de diâmetro!).
Foi um belo mergulho e retornamos ao barco com fome.
Depois do almoço, fomos à ilha de Santa Bárbara para acessar a
previsão de tempo. Ela não está nada favorável para seguirmos viagem.
Prevê vento na cara amanhã e vento favorável muito forte na quarta-feira.
Teremos que ficar por aqui amanhã (as crianças adoraram isso!) e verei
se a previsão muda para quarta.
Conversamos bastante com o sargento Iran, que passou
experiências de vida muito importantes. Muitas vezes, as crianças firmam
mais um conceito, se não forem os pais falando e acho que foi o caso, pois
foi repetição de várias coisas que eu já havia falado, com exemplos
vividos por outra pessoa. Também falamos bastante de Abrolhos e sobre
os cuidados da Marinha com as pessoas que navegam por aqui. Se todos
os navegantes seguirem as recomendações deles, informarem quando
estão chegando, pedirem instruções para aproximação e pedirem
previsões de tempo para eles, que são extremamente gentis para dá-las,
tudo seria muito fácil e seguro, como foi conosco. Não se pode brincar
por aqui, pois as forças da natureza são imensas nesta região.
Fomos convidados para ver o jogo do Brasil amanhã com eles, já
que não poderemos seguir viagem e aceitamos prontamente. Retornamos
ao barco para arrumar algumas coisas e estudar. O Jonas “devorou” o
livro de história do colégio e o acabou hoje. Saímos um pouco da cabine
e a Carol falou que nunca viu céu tão bonito!
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18
Costa do Descobrimento
133
falésias e a vista lá de cima é maravilhosa, com praias se perdendo de
vista para os dois lados.
Quando retornamos para a Aquamar, levei compras no barco e
acendi a luz de tope, para facilitar nosso retorno à noite. Na ida, reparei
que havia uma rede no caminho e quase a atropelei. Marquei bem sua
posição e os barcos que estavam perto, para desviar dela na volta.
Assistimos, na Aquamar, à humilhante derrota para a França, do
futebolzinho preguiçoso e sem vontade da milionária seleção do Parreira.
Desanimados, pegamos o bote para voltar ao barco. Estava frio e
ventando forte. Fui até a traineira que eu havia marcado para safar a rede
e depois pegamos o caminho direto para o Fandango. No meio do
caminho... atropelamos uma rede! A danada da rede deve estar solta ou
havia outra no local! O hélice do motor enganchou feio na rede e levei um
bom tempo para arrebentá-la com a mão, pois não tinha faca. É incrível
como eles soltam redes no meio do local de navegação dos próprios
barcos! Muita linha ficou presa no hélice, não permitindo que usássemos
o motor. Pegamos os remos e, com muita água dentro do bote, seguimos
para o Fandango, com o vento contra e uma correnteza lateral, os dois nos
empurrando de volta para a praia. Após muito tempo remando com força
(o Jonas vai voltar bem mais musculoso para a Ilha!), chegamos ao
Fandango. A única coisa boa nisso tudo é que passou nosso frio com as
remadas! Nos secamos e, para esquecer as redes e o futebol, começamos
a ler “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água”, de Jorge Amado.
Lendo em voz alta, envolvidos na leitura, acabamos o livro na mesma
noite! Fizemos comentários sobre os locais do livro, pelos quais
provavelmente iremos passar, e discutimos a “moral” do livro. Talvez
esse seja o livro mais curto e o que eu mais gosto de Jorge Amado.
Encerrado o livro, dormimos sob um céu estrelado, ao balanço do mar
baiano, sonhando com histórias da Bahia.
03/07/2006 - Cedo estávamos com tudo arrumado para sair. O sol nascia
no mar e chamei as crianças para auxiliarem na saída da barra. Levantei
âncora, enquanto o Jonas manobrava o barco e, às seis, deixávamos
Cumuruxatiba. O lugar vai deixar saudades!
Contornamos os recifes Itacolomis com cuidado e aproveitamos o
vento favorável que se apresentava. O dia estava bonito, mas algumas
nuvens pesadas com chuva se encontravam à nossa frente. A Carol viu
um jorro de baleia a uns trezentos metros e, alguns minutos depois, o
Jonas viu uma grande jubarte dar um salto de costas, tirando todo o corpo
da água! Por duas vezes, vimos golfinhos tímidos passarem ao lado do
barco, muito rapidamente. O vento parou momentaneamente, quando
chegamos ao lado de uma grande nuvem de chuva e mudou de direção.
São os pirajás! Andamos com o vento dessa nuvem por um bom tempo e
chegamos perto de outra nuvem. Novamente, o vento girou e continuou
nos levando muito bem para Porto Seguro. Nas manobras do gira-gira, o
fio de segurança dos meus óculos se enroscou em algo e os senti saírem
voando, arrancados do meu pescoço. Mais um par de óculos perdido!
Ainda bem que tenho um reserva no barco. Quando faltavam dez milhas
para chegarmos, o vento parou e ligamos o motor. Cumprimos as últimas
duas horas de travessia apreciando o litoral de Porto Seguro e região, com
suas barreiras vermelhas tão características.
Na chegada, a Marinha nos esperava com a embarcação do Hotel
Marina Quinta do Porto para nos guiar na barra. Levaram-nos barra
adentro e paramos no píer municipal, pois a maré estava muito baixa para
chegar à marina. Eram quatro da tarde e a travessia havia sido ótima.
Conversamos com o oficial André Gomes, que se colocou à disposição
para qualquer problema que tivéssemos.
Com o barco amarrado e Porto Seguro ao lado, descemos e fomos
conhecer a cidade. Vimos barraquinhas ao longo de uma rua e comemos
acarajés. As crianças ficaram contentes de experimentar uma das coisas
gostosas que viram nos livros de Jorge Amado e do Cabinho!
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Enquanto comíamos, vi pessoas subindo no Fandango. Corri para
lá e encontrei três moças batendo fotos em cima do barco. Acabei dando
uma de fotógrafo e batendo uma foto das três juntas na proa.
Anoiteceu e voltamos ao barco, aguardando o Japonês, funcionário
da marina, vir nos buscar. Ele nos falou que o Dadi e a Denise, do trawler
Jade, estavam lá e ficamos ansiosos por reencontrá-los. Mudei os cabos
de atracação para soltar o barco mais facilmente, passando-os ao redor de
estacas no píer. Acho que deixei a ponta do cabo da proa muito curta e,
pouco depois, o barco se soltou. Saímos rapidamente e arrumamos o
problema, com a ajuda de uma pessoa que estava no píer.
Chegando na marina, após passar bem perto dos recifes,
amarramos o barco na vaga vizinha ao Jade. Logo, abraçamos o Dadi e a
Denise. Depois de um bom papo, conhecemos o gentil Sérgio Pessoa,
dono da marina, que se colocou à nossa disposição. O lugar é maravilhoso
e é o único apoio náutico da região. Sentimos o povo muito alegre e gentil.
O lugar, muito belo, nos lembrou Ilhabela à noite.
04/07/2006 - Dormimos muito bem! Aliás, nos últimos dez dias, foi o único
dia que dormimos com o barco sem balançar. Conhecemos a marina, que
é lindíssima, e seus funcionários são atenciosos e educados.
Na volta ao Fandango, vi o dono do Scorpion, um Tropic 1200, que
estava na marina e que me disseram ser do litoral norte de São Paulo. Fui
falar com ele, pois estava no cockpit. Ele veio a nós, sorridente, e lhe
reconheci as feições: era o Carlos, dono da Give Way de Ubatuba, que
conheço há dezessete anos! Que coincidência! Ainda mais, pois foi num
papo com ele, em Ubatuba, que eu e Mônica começamos a sonhar com
mais força numa mudança para o litoral. Na época, ele havia saído de São
Paulo para montar a empresa e nós tínhamos o Topete. Lembro
perfeitamente da nossa conversa! Ele nos falou como conseguia conviver
bastante e bem com os filhos, almoçar em casa, fazer a “sesta” e voltar ao
trabalho rapidamente. Ele nos apresentou a qualidade de vida que
buscávamos e era um exemplo vivo do que queríamos. Não é muita
coincidência reencontrá-lo em Porto Seguro, viajando de barco, depois de
tantos anos? Alguns dizem que coincidências não existem. Pode ser!
Após arrumarmos o barco, Tate Parracho, o amigo que nos ajudou
a amarrar o Fandango ontem, ligou convidando para fazermos um
passeio com ele. Fomos para Porto Seguro e o encontramos no pequeno
porto. Ele nos levou ao centro histórico, aonde vimos um museu com
objetos e informações indígenas, coisas da época do descobrimento e uma
linda igreja do século XVI. Lá também fica o farol da Marinha, que guia a
entrada de Porto Seguro e o marco de posse da terra, deixado pelos
136
portugueses na sua chegada. Seguimos para Cabrália e, no caminho,
paramos na Coroa Vermelha, onde foi realizada a primeira missa no
Brasil. O lugar é belíssimo e fico imaginando a emoção de uma primeira
missa realizada em terra, naquele local. Conhecemos o centro histórico de
Cabrália, também muito bonito e com uma bela vista. O lugar todo cheira
a história! Dá a impressão que, a qualquer momento, veremos uma
caravela chegando junto aos recifes e ancorando.
Retornamos para Porto e aproveitei para mandar fazer outro par de
óculos. À noite, andamos pela “Passarela do Álcool”, nome da rua cheia
de barraquinhas, onde se passeia quando escurece.
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São Jorge Amado dos Ilhéus
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Descansei mais um pouco e voltei às oito para meu longo turno. A
noite estava perfeita! Mar de poucas e pequenas ondas, vento leste de 8 a
10 nós e o Fandanguinho andando a cinco nós, em orça folgada. A lua,
com sua luz muito forte, jogava nossas sombras em cima do convés
branco do Fandango, que também se iluminava pela lua.
Chegamos ao través de Belmonte rapidamente e guinamos alguns
graus para bombordo. O vento começou a entrar por través e aumentou
um pouco, indo para 12 nós. O Fandango respondeu imediatamente,
aumentando nossa média de velocidade para 6 nós.
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Camamu – Paraíso Isolado
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21
Capital dos Contrastes
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Para o jantar: minha primeira lentilha! Fiz a lentilha e o arroz
separados, pois não sabia quanta água colocar para os dois juntos.
Acrescentei lingüiça defumada e alguns temperos e... ficou maravilhoso!
As crianças adoraram e temos um novo prato de bordo. Nas travessias,
posso fazer com antecedência e deixar dentro da panela de pressão.
Assim, não precisamos cozinhar com o barco em movimento. Depois
demos um pulo até o Pelourinho. É uma delícia passear por lá!
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está viajando de veleiro, sua amiga e o filho. As crianças brincaram juntas
e se entenderam bem, mesmo não falando a mesma língua.
Conhecemos a bica, fonte de água mineral que abastece o local. A
água é excelente e abastece a marina toda, até os banheiros. Isso significa
que tomamos banho e lavamos o barco com água mineral! Na fonte, há
uma frase engraçada: “Êh, água fina, faz velha virar menina”. As crianças
aproveitaram para tirar um sarrinho da Lu e da Mô!
158
foram atrás dela. Daí a pouco, escutei a Carol chamando: “- Pai, vem tirar
uma foto com a Zélia!”. Fui para lá com o Jonas, enquanto uma moça,
percebendo nossa intenção, se ofereceu para bater a foto com a máquina
da Mô. De repente, enquanto nos aproximávamos, a moça chamou Zélia:
“- Mãinha, vamos tirar uma foto com seus amigos de São Paulo”. Era ninguém
menos que Paloma Amado, filha de Jorge e Zélia, que segurava a
máquina! Extremamente simpática, Zélia começou a conversar com a
Carol, que contou que estávamos velejando pelo Brasil. Ela perguntou se
a Carol não tinha medo. Contei um pouquinho de nossa viagem, naqueles
segundos que nos foram permitidos, e falamos que estávamos lendo
“Capitão de Longo Curso”. Enquanto isso, Paloma tirava fotos nossas.
Tivemos que sair, pois começava o lançamento e a Globo cobrava a
atenção da Zélia.
Saímos emocionados com o encontro, eu talvez mais, por conhecer
bastante da vida dessa senhora, de uma juventude e força admiráveis,
através do livro “Navegação de Cabotagem”, de Jorge Amado. Nesse
livro de memórias, ele conta muitas passagens de sua vida com Zélia.
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22
Tinharé, Boipeba e Morro
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04/08/2006 - O irmão e o filho de Genival nos levarão para conhecer
Boipeba. Subimos na traineira e, após Canavieirinhas, entramos num
braço de mar estreito. Andamos por quase uma hora naquele braço, que
tinha de vinte a cem metros de largura.
Ao longo do caminho, vimos várias garças azuis e a bela vegetação
de mangue, com suas raízes estruturais, conforme ia descrevendo a
“enciclopédia” Jonas. A profundidade variava muito e, em alguns
trechos, a embarcação raspava no lodo do fundo. Começamos a ver uma
ponta de areia e o mar aberto. Chegamos à praia do Pontal, com a bela
Boipeba Velha na frente. O lugar é maravilhoso! De um lado do braço de
mar, uma grande ponta de areia cheia de coqueiros avança, ameaçando
invadir o canal. Do outro, uma pequena vila, quiosques de praia e várias
belas pousadinhas dividem seu espaço, numa praia parte dentro do canal
protegido e parte voltada para mar aberto. Enquanto cruzávamos a barra,
conseguimos ver coqueiros para os dois lados, em praias desertas que se
perdiam no horizonte.
Na saída da barra, várias ondas nos esperavam e algumas
quebraram na proa da traineira. Nosso destino era Cueira. Essa praia é
considerada uma das mais belas do Brasil e o “título” é merecido.
Descemos na praia deserta e encontramos vários búzios na areia.
Caminhamos até uma ponta próxima, de onde víamos praias e coqueiros
se perdendo dos dois lados. Na nossa frente, havia a sombra dos recifes
de coral, que se estendiam por quase dois quilômetros na direção do mar.
Pena não termos a maré certa para mergulhar neles! Caminhamos pela
praia até um lindo vilarejo. As crianças brincaram com um cachorro, que
adorava buscar pedaços de madeira.
No retorno, entramos novamente na barra só que, desta vez,
surfando. Apenas uma onda deu um pouco mais de emoção, mas para
mim foi o suficiente! Uma coisa é surfar ondas em lugares profundos com
o veleiro. Outra é surfar com uma traineira, em lugares rasos, onde, se o
barco atravessar, capota!
Descemos em Boipeba Velha e andamos pela praia. Sentamos na
sombra de um quiosque, aproveitando o início da tarde. Comemos
batatas fritas, tomamos uma água de coco e, eu e a Mônica, não resistimos
a tomar uma “rósca” (caipirinha de vodka – pronuncíasse com o primeiro
“r” fraco). Como é bom não ser o comandante do barco, de vez em
quando! Estendemos até as duas horas nessa praia. Tomamos banho de
mar, curtimos o delicioso sol do inverno baiano, mas chegou a hora de
voltar, por causa da maré que descia.
O retorno foi feito em outro canal, um pouco mais profundo, mas
muito mais estreito. Passamos por lugares onde os galhos das duas
162
margens batiam ao mesmo tempo dos dois lados da embarcação, cuja
boca era cerca de três metros e meio! Quando o canal alargava, vinha o
perigo: a profundidade diminuía. Em vários lugares passamos “arando”
o fundo e, mesmo com o motor em alta rotação, nos arrastávamos pelo
lodo. Não havia perigo, mas não gostaríamos de ficar encalhados ali,
esperando a subida da maré. Finalmente, vimos a saída e enxergamos o
Fandango nos esperando. Agradecemos o passeio e fomos para terra.
Estávamos com muita fome e nos sentamos à mesa da casa do
Genival. Uma grande travessa de feijão, cheia de carnes (carne seca,
costela e paio!), foi colocada a nossa frente. Olhei para o Jonas e seus olhos
brilharam! Pouco depois, veio o arroz e a deliciosa moqueca de camarão
da Dna. Carminha. Nos servimos e tudo estava delicioso! Como cozinha
bem essa mulher! O Jonas, especialista em feijão, disse que o local deveria
ser famoso, também, por causa dele, “talvez até acima das moquecas”.
Comemos maravilhosamente bem. Quem comeu menos foi a Carol, que
fez “só” três pratos! O incrível é que, depois de satisfeitos (ou deveria
dizer “abarrotados”), ainda comemos uma cocada que uma menina
passou vendendo.
Depois de meia hora de descanso, conversando com Dna. Carminha
e Tânia, nós começamos a brincar com uma tarrafa. Treinamos em terra
e, com a orientação da Tânia, começamos a acertar. O Jonas pegou o jeito
e seguimos para o píer, na esperança de pegar algum peixe para estreá-
la. Não o pegamos, mas conseguimos jogá-la cada vez melhor, sempre
caindo bem aberta.
Quando o sol se pôs, retornamos ao barco. Curtimos o belo visual
do anoitecer, com a lua e as estrelas espelhadas no mar calmo, totalmente
liso. Que lugar! Que paraíso! Que gente boa!
163
barco, serviço de guia, ostras e refeições. Nos despedimos de Dna.
Carminha, Tânia e das outras pessoas do local, pois amanhã partiremos.
Recebi uma ligação de Ilhabela com ótimas notícias: nasceu o casal
de gêmeos, filhos de nossos amigos Edmon e Yara, de Ilhabela, que há
mais de doze anos tentavam tê-los. De quebra, eles são netos da Dna.
Cida, que por uma coincidência muito grande citamos ontem no almoço,
pois é muito parecida com a Dna. Carminha. Foi a Dna. Cida que me
ajudou a cuidar das crianças na pior fase de nossas vidas.
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víamos Curral, a igreja de Galeão e Salvador, com o sol se pondo sobre o
continente. Linda vista, com várias pessoas apreciando o pôr-do-sol!
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23
Aratu-Maragogipe – Festa Baiana
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Chegamos ao lado do lindo veleiro (como nos sentimos pequenos
dentro do botinho, ao lado dele!) e vimos todos os detalhes de sua proa e
costado. Além de muito bem construído, ele é rico em detalhes e belos
acabamentos. Subimos a escadinha quebra-peito e fomos recebidos pelo
simpático Comandante Leonardo Puntel e pelo atencioso Imediato Paolo
Coriolo. Seguimos para uma linda sala, toda em madeira e ficamos
conversando sobre o navio e suas viagens e sobre o sonho que estamos
realizando. Presenteamos o Comandante e o Imediato com bandanas e
uma revista de Ilhabela, com uma matéria nossa.
Vimos um filme sobre o barco e fomos presenteados com bonés,
camisas, um CD com o filme e fotos do veleiro e um livro muito bonito
sobre o Cisne Branco. Este último foi fruto de disputas, para ver quem o
lia primeiro, quando voltamos para o Fandango (resolvemos lê-lo os três
juntos!). Fizemos uma visita completa, inclusive sala de máquinas, neste
“maravilhoso navio do século XVIII do convés para cima e com a alta tecnologia
do século XXI do convés para baixo”, como disse o imediato.
Ficamos impressionados com os números de visitantes deste
cartão-postal da Marinha do Brasil: quinze mil em um único dia! Todos
os lugares por onde ele passa chama a atenção, pela beleza e elegância,
transformando-o num embaixador brasileiro em cada porto que chega. A
visita foi maravilhosa e esperamos vê-lo muitas vezes ainda (foi a nossa
quarta visita, mas sempre ficamos impressionados). Tomo a liberdade de
transcrever versos de Álvaro Campos, do livro “Passagem das Horas”, de
1916 da Editora Nova Fronteira que se encontram no livro “Cisne Branco
– Uma Ode Marítima”:
“Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que não se pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero...”
Retornamos ao Fandango felizes e logo saímos para encontrar
Marcelo Estraviz, que está acompanhando nossa viagem na internet e que
se encontra visitando Salvador. Em poucos minutos de papo, parecia que
nos conhecíamos há anos. Convidou-nos para ver a missa na Igreja de
Nossa Senhora do Rosário dos Negros, no Pelourinho, que é realizada
utilizando-se instrumentos musicais do Candomblé. Vimos uma boa
parte da missa, muito mais alegre e musical do que as nossas tradicionais,
retratando bem o que é o espírito baiano.
171
Visitamos o Nelson, a Sônia e a Nádia do barco “Salmo 33”.
Enquanto conversávamos tranqüila e alegremente, escutamos pedidos de
socorro. Um senhor estrangeiro, que está num barco na ponta do píer, que
sempre víamos retornar “bebaço”, abusou da sorte e da ajuda dos “anjos-
da-guarda dos bêbados”, despencando dentro da água. Foram
necessários quatro homens para tirá-lo da água! Mesmo o susto e o banho
frio, não o fizeram melhorar. Ele seguiu cambaleando para o seu barco,
com duas pessoas atrás para não deixá-lo cair novamente, sob o efeito,
provavelmente, de muitas “róscas” da Bahia.
24/08/2006 - Após uma noite bem ruim, na qual acho que tive febre e
delirei, acordei sem disposição e continuei na cama. Pela primeira vez na
viagem, eu queria estar na minha casa tranqüilo e com a empregada para
cuidar das coisas. As crianças fizeram o nosso café da manhã. Tomei
remédios e continuei na cama.
Três horas da tarde, as crianças foram até o clube brincar e eu
aproveitei para levantar um pouco. Mais disposto, troquei os filtros de
175
diesel para ver se resolvia o problema de falhas do motor e, quando
acabei, deitei novamente. Pouco tempo depois, as crianças voltaram e
fizeram o jantar. À noite, o Jonas assumiu meu lugar na leitura.
26/08/2006 - Hoje é dia de festa e regata! Fomos para a raia ver a largada
da primeira bateria, onde escunas e saveiros dariam o show. O dia estava
lindo e prometia vento e sol.
A primeira largada foi muito bonita e vimos os barcos desfilarem
na frente da ilha de Maré. Esperamos treinando e vimos a largada da
segunda bateria, um pouco mais concorrida, às onze horas.
Não vimos o barco dos Hagge e ficamos preocupados, mas com
quase duzentos barcos na raia, não era fácil achar os barcos. Estávamos
nos preparando para nossa largada, quando vimos os Hagge chegando à
reboque. O motor esquentou de novo! Eles largaram atrasados, mas
seguiram em direção a Maragogipe, num bom vento.
Preparamo-nos para nossa primeira regata, apenas os três, largando
muito bem e fora da confusão. A primeira perna foi de contravento forte,
mas tivemos que fazer apenas dois bordos. Chegando na primeira bóia,
arribamos para a entrada do canal que dá para Maragogipe, mas não
levantamos balão. O vento estava muito forte e, se houvesse algum
problema com o balão, não teríamos mãos suficientes para arriá-lo. Vários
barcos o levantaram. Alguns sabiam usá-lo. Outros atravessavam,
colocavam-no para “pescar” e faziam outras trapalhadas.
Seguimos as marcas do percurso, mas nem todos o fizeram. Isso é
assim mesmo: em regatas festivas nem todos cumprem as regras direito.
Com medo de não chegar, alguns não contornam marcas ou ligam
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motores, mas, mesmo assim, cruzam a linha de chegada! Isso não tirou o
brilho da festa, que foi muito bonita, apesar de alguns comandantes
ficarem estressados no rádio. Noronha é a mesma coisa. No meio da noite,
muitas embarcações ligam o “vento de porão” para chegar mais rápido.
Lembro que, em 2002, um barco ganhou o terceiro lugar, mas foi
“reclassificado”, porque um dos tripulantes não achou justo e contou que
o comandante ligou o motor boa parte do tempo.
Subimos o canal para Maragogipe, que é lindíssimo. Muitas praias
bonitas, mar liso, muita vegetação e história. Vimos um forte, numa curva
do rio que, sozinho, segurou uma esquadra portuguesa inteira na luta
pela independência. Passamos pelos lugares onde João das Botas, com
rápidos e leves saveiros, atacou as naus portuguesas que, sem
mobilidade, eram alvos fáceis. Nós também, leves e ágeis subíamos o rio
com pouco vento, ultrapassando vários barcos. Passamos os Hagge perto
da linha de chegada. Cruzamos a linha passava das cinco da tarde e
voltamos para rebocá-los, após eles cruzarem a linha.
Arrumamos um lugar para ancorar em frente ao píer, no meio de
trezentos barcos, entre lanchas e veleiros. Nossa âncora não quis segurar
de jeito nenhum. Amarramos a contra-bordo do Gabushí e, com duas
âncoras, ficamos firmes. A maré começou a virar e vimos um bloco, com
uma grande escuna e umas sete lanchas amarradas ao lado dela, vindo
para cima de nós. A lancha mais externa passou raspando e tivemos sorte,
coisa que faltou a um Fast 310, perto de nós. O bloco foi para cima dele e
não sei como se safou, mas quando olhei já estava tudo resolvido.
Chamamos um barquinho de transporte, que pegou a todos nós.
Afastamos de nossos barcos e, logo, o barquinho passava embaixo de
uma lancha, quase enroscando no cabo da âncora dela. Bem, “- Foi uma
pequena distração do timoneiro”, pensei. Não passou um minuto e meio e,
novamente, ele estava embaixo de outra lancha, só que desta vez não teve
sorte: enroscou o leme no cabo dela. Comecei a ficar preocupado. Soltou,
mas logo depois foi de encontro a uma canoa a remo, com dois
pescadores. Não parou e não desviou até bater nela! Mas fiquei
preocupado mesmo, quando vi algo chapinhando na água e o barco indo
direto para cima daquilo sem desviar. Ele passou a menos de meio metro
de um nadador, ao lado de uma lancha! Vocês acham que estávamos
passivos a isso tudo? Não! Todos avisávamos, apontávamos e
iluminávamos com uma lanterna potente, mas o cara, ou era cego ou
estava fazendo de propósito. Quando chegamos foi um alívio! O
timoneiro foi o primeiro a pular do barco e sumir!
Comemos, bebemos e demos uma volta pela cidade. Era a festa do
padroeiro e havia muita gente e muitos tipos de música tocando. Subimos
178
até a Igreja Matriz, muito bonita, onde se realizava uma missa. Passamos
num parque de diversões e voltamos ao píer, admirando as casas, que já
identifico como típicas das pequenas cidades baianas.
Chegamos no começo da premiação, mas, enquanto eu procurava
os resultados, um maluco soltou fogos bem em cima do pessoal. Retornei
e todos estavam traumatizados com o susto, barulho e pequenas
queimaduras. O maluco voltou com outro foguete e, protestando, quando
o mandaram para longe, soltou-o novamente, sobre a cabeça de outros,
ao lado do palanque! Resolvemos voltar para a segurança e tranqüilidade
do barco.
Subimos em outra lanchinha, que nos obrigou a entrar no mangue
para subir e queria ir embora deixando metade da tripulação em terra,
mesmo havendo muito espaço. Só parou depois de uns berros meus, que
já havia perdido a paciência de vez!
No barco, conversamos um pouco sobre a velejada e as aventuras
do dia. Mesmo com todas as confusões, valeu!
30/08/2006 - Liguei para o Dadi, do Trawler Jade, e ele veio nos visitar.
Apresentei-o ao Hugo e ao Rodrigo, pois todos vão para o Caribe. Eles
ficaram me “tentando” a ir também! Enquanto isso, as crianças brincaram
muito com o Nick e a Talita. Amanhã seguiremos viagem.
Patrícia veio se despedir de nós e prometemos ligar na volta. Os
Hagge chegaram para as despedidas cheios de presentes, inclusive
comida para a nossa travessia! Gentileza é o que não falta neles! Levaram-
nos para um restaurante chamado “Centola”, onde comi caranguejos e
lambretas pela primeira vez. São ótimos! Eu já havia comido patinhas de
caranguejo e muitos siris na minha vida, mas acho o caranguejo inteiro
melhor.
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Maceió das Alagoas
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Amizades Reforçadas
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Às sete, o vento diminuiu muito e girou, ficando fraco pela popa.
Ligamos o motor, pois eu escutara no rádio uma chamada geral, feita pela
rádio Maceió, falando de ventos muito fortes na próxima noite.
Vários navios passaram perto de nós e nos aproximamos da costa.
Quando estávamos bem perto de Recife, outra surpresa: duas jubartes ao
lado da cidade! Entrando no porto protegido, vi dois golfinhos nadando
na água turva, bem ao lado do farolete de boreste.
Entramos no porto e passamos pelos navios, pelas docas e pelas
esculturas de Brennand. Demos a sorte de chegar no ponto mais alto da
maré enchente, permitindo que entrássemos diretamente para o
Cabanga, sem esperar ancorados no porto pela subida dela.
Procuramos as balizas e entramos devagar, sem problemas. No
clube, o senhor Hélio nos recebeu e nos colocou numa vaga. Enquanto eu
arrumava o barco, as crianças fizeram o almoço. Nesta travessia, de orça
e mar agitado, comemos apenas frutas, bolachas e chocolates.
Remamos os quarenta metros que nos separavam da rampa do
clube e comecei a mostrá-lo para as crianças, que estavam ansiosas para
conhecê-lo. Passamos ao lado de uma piscina infantil. Eles falaram: “- É
essa a grande piscina do Cabanga que tinham falado, Pai?”, com cara de
decepção. Eu disse, disfarçando, que sim.
Vi um barco conhecido fora da água: o Nativo, que foi de um
conhecido nosso, o Beto de Ilhabela. De cima do barco me chamam. Era o
sobrinho do Beto, que administrou uma marina onde o Fandango ficava.
Reconheci no “mascarado”, que fazia um trabalho com resina no barco, o
Jorge. Contei sobre nossa viagem e continuamos nosso “tour”.
Chegamos na frente do clube, onde um suspiro de alívio e satisfação
partiu das crianças: viram a belíssima e grande piscina! Enquanto eu fui
na secretaria, para dar entrada do barco, eles foram para a água. Quando
voltei, tomei uma ducha e mergulhei! É muito bom, depois de uma
travessia, água doce em abundância! Brincamos, eles fizeram alguns
amigos e fomos tomar um banho de verdade. A água do chuveiro, apesar
de não ser aquecida, era morna, deliciosa. O mesmo acontecia na ducha
de fora e na piscina. Santo Nordeste!
Quando retornamos ao barco, deixamos o cansaço dominar e
dormimos satisfeitos. Estávamos em Recife, atravessamos vários estados
na última semana e nossa próxima grande travessia seria para um dos
lugares mais lindos do mundo: Fernando de Noronha!
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15/09/2006 - Fomos ao “palhoção”, bar onde se reúnem os velejadores,
para aguardar a assessora de imprensa do Cabanga. Ela chegou com a
equipe da Rede Globo (desta vez, não nos expulsariam!). No barco, eles
nos filmaram e entrevistaram para um programa que passará no
domingo. Ficamos duas horas com eles e acho que a matéria ficou legal.
Quando deixamos o pessoal da Globo no píer, apareceu um
jornalista do Jornal do Comércio. Lá fomos nós para o barco, repetir nossa
história para ele. Após uma hora e meia com ele, quando o deixamos no
píer, apareceram mais um repórter e um fotógrafo, de outro jornal.
Conversamos no “palhoção”, para deixar o sol abaixar, e lá fomos nós
outra vez para o barco, repetir as mesmas histórias, já cansados de repeti-
las. Acabamos a entrevista e fomos para a piscina.
Retornando ao barco, encontramos os amigos do Nativo. Convidei-
os para conhecer o Fandango e ficamos conversando até a meia-noite,
contando e escutando histórias divertidas.
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26
Noronha – Paraíso na Terra
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Retornamos ao barco e levei a Carol no Beduína. Para essa
operação, visto o vento forte soprando e empurrando para o Caribe,
fizemos comunicação por rádio, para monitorar minha saída e chegada
nos barcos. Adoraria fazer essa travessia, mas não de bote!
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09/10/2006 - Pegamos a balsa para Redinha e fomos conhecer o lugar. A
praia tem um lindo visual das dunas. Havia muita gente no local e, pelo
jeito, segunda-feira é a folga do pessoal da região. Experimentamos um
prato local: tapioca com ginga! Eles fazem o beiju de tapioca com
manteiga e trazem uma porção de ginga frita, que é um pequeno peixe
que parece nossa manjubinha.
Passeamos na passarela do grande quebra-mar que protege o porto.
De lá, vemos as dunas de Genipabu, o forte e o rio Potengi.
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Seguimos para a praia de Graçandu, onde tomamos um banho.
Conversamos bastante sobre Natal e sobre as diferenças entre o Rio
Grande do Sul (terra natal de Antonio e Rô) e o Rio Grande do Norte.
Após o banho de mar, seguimos para a Lagoa do Pitangui, para um
banho de água doce. Essas lagoas são uma maravilha! Em Ilhabela,
quando o dia fica muito quente, saímos da praia e vamos para as
cachoeiras nos refrescar. Aqui, as deliciosas lagoas são o correspondente
de nossas cachoeiras, com bares em suas beiradas e diversões aquáticas.
A vontade era continuar ali o resto do dia, mas tínhamos mais para ver.
Fomos à praia de Pitangui, onde várias piscinas naturais nos
esperavam, na maré baixa. Andamos por elas, descobrindo pequenos
peixes coloridos dentro delas. Os recifes são bonitos nessa praia e, dela,
avistávamos Genipabu ao longe.
Estávamos com vontade de conhecer os sky-bundas que iam dar na
água e seguimos para o parque de Jacumã. O parque é bem estruturado
e foi muito bem aproveitado. Uma grande duna acaba num lago de água
doce, onde fizeram uma pista de sky-bunda. Ao lado dela, outro lago e
uma tirolesa grande. Para subir ao alto da duna, há um carrinho de
madeira num trilho, puxado por um cabo de aço, acoplado ao chassi e
motor de um fusca. Um “motorista” controla a subida e descida do
improvisado “bondinho”. O Jonas e Carol desceram duas vezes no sky-
bunda e uma no aero-bunda, curtindo bastante.
Jantamos no Camarões, um excelente e caro restaurante. O jantar
foi ótimo e eles deixaram uma mensagem em nosso livro de visitas,
prometendo nos visitar em Ilhabela. Essas despedidas não são fáceis!
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Paraíba Hospitaleira,
Gente Nobre Sim Sinhô!
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adernou e seguimos o rumo dos prédios de Cabedelo, que já víamos ao
longe. Às oito da manhã, entrávamos pela barra do rio Paraíba, seguindo
direto para Jacaré, onde fica o Iate Clube da Paraíba. O rio é muito bonito
e vimos várias praias de areia branca ao longo do caminho. Navegamos
cerca de seis milhas no rio e chegamos a Jacaré, pegando uma poita do
clube. A travessia foi ótima! Fizemo-la em dezessete horas, sendo cinco a
motor e doze velejando bem!
A Talita nos chamou no rádio e a Carol logo atendeu. Que bom
rever os amigos! Vimos o Kanaloa, o Radum e outros barcos conhecidos.
Infelizmente, nem todos estavam lá: o pessoal do Cavalo Marinho havia
ido para São Paulo, o Valmir não estava no Radum e o Plânkton partira.
Tomamos um “café da manhã” diferente, preparado pelas
crianças: miojo! Eu estava muito cansado, mas com vontade do danado
do “quinojo”. O Hugo buscou as crianças para brincarem com a Talita e
eu aproveitei para dormir três horas, mesmo com o calor forte. Matamos
saudades dos amigos do Beduína e do Kanaloa e levamos o Fandas para
uma vaga no píer. Jantamos no Beduína e conhecemos um pouco do
lugar: Jacaré é cheio de lojas de artesanato, restaurantes à beira do rio, que
tocam o “Bolero de Ravel” ao pôr-do-sol, e pequenos comércios. Tudo
fecha cedo e só poderemos ver o lugar funcionando amanhã.
Retornamos ao Beduína, onde comemos pêssegos em calda
GELADOS! Meu próximo barco terá uma geladeira e painéis solares para
mantê-la. Que bom rever as pessoas que aprendemos a gostar!
20/10/2006 - Acordei com a Talita nos chamando para dar pães frescos,
que a sempre atenciosa Gislaine foi buscar de bicicleta na padaria. As
crianças foram para a piscina brincar. O Jonas acabou de fazer uma
“escuna” de material reciclado para a Talita e lhe deu o nome de
“Horizonte”, em homenagem à escuna do Antonio de Ilhabela.
O Hugo e a Gi tiraram o barco da água para fazer o fundo. Aqui,
em Jacaré, há o estaleiro do Brian, com ótimos profissionais e boa
estrutura para manutenções. Dei uma força para raspar as cracas, pois, se
demorar para raspar, elas endurecem e o trabalho quintuplica. Depois do
trabalho, conversamos com o Hugo e ele nos contou um pouco de sua
infância e sua iniciação na vela, com ótimas histórias!
Tomamos banho e esperamos o churrasco argentino com
“choripan”, que o Henrique, do Huayra faria. Conversamos sobre mar,
escutamos histórias náuticas, com as quais aprendemos muito, só de
ouvir, comendo carnes (o “choripan” é nosso pão com lingüiça!), bebendo
cervejas e refrigerantes até uma hora da manhã!
Das histórias que escutei, algumas não podem ser esquecidas: o
primeiro barco do Hugo e sua primeira regata, a ida de Santos a Parati do
Cavalo Marinho, com um skipper contratado e o apuro do Torres em
Itaparica, com o vento empurrando-o para as pedras. Contamos o
primeiro charter do Márcio (um funeral!) e nossa “ancoragem” em
Jurumirim, com a âncora Fortress. Essas histórias deviam ser escritas,
pois geram grande aprendizado e são engraçadíssimas!
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Barco Perfeito
04/11/2006 - Eram cinco horas da manhã, já com luz do dia, quando senti
um pequeno tranco no barco. Alguém soltara o cabo de proa do
Macanudo preso ao píer e ele e o Cavalo Marinho vieram para cima do
Fandango, prensando-o quando a maré começou a baixar violentamente.
O Fandango estava servia de defensa para dois barcos que, juntos,
pesavam vinte e cinco toneladas! Não consegui puxar os barcos e pedi
socorro ao Torres. Logo, estávamos os dois puxando o Macanudo. Para
isso, precisamos soltá-lo do Cavalo Marinho. Com muito esforço,
conseguimos levá-lo no lugar. Na hora de puxar o Cavalo Marinho, um
barco maior e mais pesado, não conseguimos fazê-lo com as nossas forças.
Levamos um cabo comprido do Cavalo Marinho ao Macanudo e o
puxamos usando a catraca. O Fandango veio facilmente. Os barcos
ficaram de frente para a correnteza e o problema foi resolvido.
Afrouxei o cabo que prendia o Fandas ao outro lado do píer, para
levá-lo para frente. Péssima idéia: todos os barcos começaram a tombar
para o outro lado! Novamente, tivemos que acertá-los. Finda a operação,
após uma hora e meia de trabalho, tomei café com o Torres e a Eliza.
Na piscina conheci o Cleidson, popular “Torpedinho”, e o Camilo,
do “Curumim”. Conversamos e conheci o lindo barco do Cleidson. Tirei
uma soneca rápida no Fandas. Ao levantar, olhei pela vigia e vi o Beduína
retornando do charter. Nosso cabo de âncora iria prejudicar a manobra
do Hugo. Então, fui até a proa e o soltei para ele entrar safo.
A maré vazava muito e o Hugo manobrou para soltar a âncora,
prejudicado por um catamarã atracado no píer da frente. Ao manobrar,
ele lembrou do meu cabo (não percebera que eu o havia soltado) e evitou
engatar o motor de boreste. O barco girou um pouco e o acidente
aconteceu: o Beduína foi pego lateralmente pela forte correnteza e
arremessado para cima do Fandango! As seis toneladas do Beduína
bateram na bochecha do Fandas, que o segurou. Com a correnteza
pressionando-o, não conseguíamos removê-lo dali! O Fandango servia de
defensa, agora entre o Beduína, o Cavalo Marinho e o píer.
Passamos um cabo e várias pessoas tentaram puxá-lo sem sucesso.
Todos que estavam nos outros barcos e no clube vieram ajudar, com
idéias e ações. O grande catamarã, que atrapalhara a manobra sem
querer, pegou o cabo e tentou rebocar o Beduína, com força. Puxado para
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frente, ele girou a popa e raspou sua lateral na ferragem de proa do
Fandas. Deu, então, uma forte batida no Cavalo Marinho e parou,
enganchado na corrente de âncora dele! Era tolice tentar removê-lo de lá,
pois, apesar dos barcos estarem prensados, estavam seguros. Fora os
raspões, nada havia quebrado. O único problema era a popa do Fandas,
que entrou por baixo do píer, onde havia uma viga. Deixaríamos o
Beduína amarrado ao píer em frente e esperaríamos a correnteza parar.
No outro lado do píer, quem segurava todos os barcos era o costado do
Kaká-Maumau. Ainda bem que ele voltou hoje, pois estava fora d’água!!!
Foi uma longa espera! Tomamos refrigerantes e batemos papo para
distrair o arrasado Hugo. O Rodrigo dizia que “o barco perfeito” tinha
que valer pouco, ter seguro e não ter frescura, pois não nos preocupamos
com ele. Era minha situação! Quando a maré parou, sem esforço o
Beduína foi removido, fez a ancoragem e amarração. Quanto ao Fandas,
estava com um buraco no espelho de popa com dez centímetros. Mais
uma “cicatriz de guerra”, somando-se à de Búzios.
A Gislaine me convidou para jantar no Beduína, enquanto as
crianças passeavam num shopping. Falaram que a Baia da Traição é
bonita e que o passeio foi bom, mas não dormiram direito, pois as ondas
passavam por cima dos recifes que protegiam a ancoragem na maré alta.
Falando sobre o acidente, chegamos à conclusão que, o mais seguro,
num lugar com tanta correnteza, é ficar numa poita até a correnteza parar.
Mas, se o Hugo tivesse a possibilidade de soltar a âncora ou eu o tivesse
avisado pelo rádio que eu removera o cabo, dificilmente algo teria
acontecido. As crianças voltaram contentes, já passava da meia-noite. Nós
todos fomos dormir com mais algumas lições aprendidas (no mar,
estamos sempre aprendendo!) e contentes, porque o prejuízo foi mínimo
e ninguém se machucou, apesar do susto.
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donos, que quase nunca saem com eles, eu não gostaria de estar na pele
do Hugo! Quanto a mim, pretendo ter sempre “barcos perfeitos”!
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06/11/2006 - Acordei com a voz do Brian. Pedi que fizesse um orçamento
para arrumar o Fandas, que foi bem razoável e mandei fazer o serviço. O
Hugo aprovou previamente, por saber que o Brian é sério e honesto.
O Rodrigo havia chegado na madrugada. Logo, o Nick, o Rafinha e
a Márcia acordaram. Que saudades! Foi uma surpresa para eles, pois não
sabiam que havíamos mudado de planos e ficado, para esperá-los.
Às onze horas, o Fandango já estava arrumado e ficou melhor do
que antes, pois mandei arrumar também a “cicatriz” de Búzios!
À noite, fomos ao Cavalo Marinho tomar vinhos, junto com as
tripulações do Kanaloa, Beduína e o Fernando, do Kaká-Maumau.
Histórias pessoais foram contadas. Os momentos de alegria com esses
amigos são muito intensos, talvez, por sabermos que logo acabarão.
07/11/2006 - Acordamos cedo para aproveitar nosso último dia, antes dos
amigos partirem. De repente, chamaram pelo meu nome, com um
sotaque carregado! Eram o Paul e a Diane, que conhecêramos em Niterói!
Que bom revê-los! Soubemos que irão para Noronha. Dei-lhes as dicas do
lugar e falei para tomarem cuidado com a “taxa de ancoragem” que
tentam cobrar dos barcos para ancoragem, que é proibida pela Marinha.
Avisamos, na Capitania, a nossa saída rumo a Atapus e Recife.
O clube foi arrumado para um jantar festivo: hoje será a abertura
do primeiro rally Cabedelo-Caribe (quando o Bernardo faz, faz bem
feito!). Logo estávamos todos “chiques”: as mulheres todas arrumadas e
os homens colocaram tênis e dock siders, abandonando a tradicional
sandália havaiana. Que diferença! Muitas pessoas chegaram, além da
imprensa. A Talita chorou sentida, abraçada à Carol, dando um nó na
garganta de todos. O jantar foi excelente! Comida nordestina, com carne
de sol, frango, porco, farofa, feijão verde, inhame e macaxeira.
No final da festa, com a alegria contagiante da largada para o Caribe
contrastando com a tristeza da separação dos amigos, o Jonas puxou um
abaixo-assinado, para que o Fandango fosse junto para o Caribe, tentando
me fazer mudar de idéia. TODOS assinaram!!!
Fiquei triste por não poder realizar esse desejo deles agora. Por
outro lado, fiquei feliz que as crianças estavam gostando tanto da viagem,
desejando estendê-la! Recebi vários convites para ir ao Caribe nos barcos
dos amigos e fiquei de pensar, sem muita esperança.
Fomos dormir à meia-noite, tendo que acordar amanhã às quatro.
Após deitarmos, a Talita chegou com um presente para a Carol, que
já dormia. Elas sentirão muita falta uma da outra!
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Dor da Despedida
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Indo Mais Longe
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Muito Trabalho em Fortaleza
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mãos!!! Atendimento de primeira, profissionalíssimo e... JÁ PODEMOS
IR AO CARIBE!!! Todos ficaram muito contentes!
A próxima fase era tomarmos as vacinas contra febre amarela para
as carteiras internacionais de vacinação. Aconteceu o oposto da Polícia
Federal: má vontade de funcionários, que atrapalhavam usando a
“burrocracia”. A Márcia, com “jeitinho”, contornou tudo. Até “uma tia”
e “uma casa” em Fortaleza ela “arrumou”, para podermos tomar as
vacinas. Aprendi uma lição: nunca jogar pôquer ou truco contra ela!
Com a vacina tomada, a carteira internacional só poderia ser
conseguida na Secretaria de Saúde. Por sorte, era perto e lá fomos nós,
correndo três quadras, carregando o Rafinha nos ombros, para chegar a
tempo. Quando chegamos, o guarda nos disse que já havia fechado, mas,
olhando melhor para nossas caras decepcionadas, suadas e aquele monte
de crianças, falou para subirmos rápido, pois o funcionário ainda não
havia descido. Deixamos as crianças no saguão e subimos quatro andares
de escadas, correndo novamente, pois o elevador demorava. Valeu a
pena!!! Um funcionário gentil, o Raul, nos recebeu e fez nossas carteiras,
em plena sexta-feira, já encerrado seu horário de trabalho!
Com tudo resolvido, no limite exato do tempo, voltamos à marina,
onde tomei cervejas com o Rodrigo, Hélio e Fernando, falando da vida e
sentindo estar com tudo pronto. Jantamos no barco e fomos dormir, na
minha primeira noite de bom sono, depois de três noites mal dormidas.
Os quatro últimos dias foram uma loucura e mudaram muito
nossos planos. Foi um sono tranqüilo, com mais nada nos impedindo de
realizar o sonho impensado de chegar ao Caribe navegando!
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Nós trabalhávamos o dia inteiro nos barcos, consertando,
instalando, limpando, comprando e carregando coisas, para a longa
viagem que teríamos pela frente. Arrumando meus óculos numa ótica, vi
uma frase que me tocou, pois é o que vivemos.
Só tive uns “probleminhas” com o Jonas no primeiro dia que, com
a brincadeira, não fez quase nada dos seus deveres. Resultado: o pessoal
saiu para passear e nós ficamos no barco, acabando as obrigações. Após
botar “ordem na casa”, tudo foi “de vento pelo través”!
Tudo se organizava: o Bernardo e a Beta, que iriam no Kaká-
Maumau, chegaram e reuniões alegres foram feitas, para se definir as
paradas do rally. Não pudemos conhecer Fortaleza e imediações, mas
vimos o suficiente para ficar com muita vontade de voltar um dia!
28/11/2006 – Logo cedo, fomos ao INACE para ver como estavam o eixo e
o hélice. Surpresa!!! Os dois estavam prontos! Ainda seria fabricada uma
porca para substituir a porca do hélice, que estava fora de medida e que
quase causou a perda dele! Voltamos contentes ao barco.
No final da tarde, peguei o Jonas e visitamos o fantástico estaleiro,
o maior particular do Brasil, e vimos os lindos barcos que fabricam.
Trawler’s luxuosíssimos, extremamente bem acabados e um novo barco
patrulha da Marinha do Brasil, dividiam espaço na área de construção. O
lugar é ótimo para fotografar e a visita valeu muito para o Jonas, que quer
ser engenheiro naval. Tivemos a boa notícia que o guincho está voltando
e amanhã poderemos tirar o barco para acabar o serviço!
A Márcia levou o Rafinha no médico. Descobriu que ele está com
infecção de ouvido e garganta e terá que tomar antibióticos.
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teríamos o Rafinha bem doente na longa viagem, sem contato com
médicos. Nada acontece por acaso!
29/11/2006 - Como tudo que se faz pela segunda vez fica mais fácil, às dez
da manhã já subíamos o barco, com tudo em ordem. Desta vez, a tensão
foi menor e até fotografei a subida. Eu e o Rodrigo escalamos o barco e
removemos o eixo emprestado. O eixo desempenado foi recolocado e, ao
meio-dia, descíamos o barco arrumado. O Rodrigo ligou o motor,
manobramos o Cavalo Marinho e o levamos até a marina. O motor não
vibrava nada! Estava melhor do que antes.
Manobramos o barco e encostamos ao píer. Não havia ninguém lá
e tive de laçar o cabeço para amarrar o barco. O Rodrigo desceu para
amarrar direito os cabos e aconteceu o único acidente de todo o conserto:
lá foi o Rodrigo para dentro da água, quando tentou subir no píer!
Arrumamos tudo e resolvemos seguir para o Caribe amanhã.
O Cláudio apareceu para se despedir novamente e demos um
grande abraço no novo amigo, prometendo não perder comunicação.
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33
A Galope para o Caribe!
No nosso quarto dia de viagem, ainda faltando seis dias pela frente,
a água do tanque acabou, por causa de algum vazamento. O que poderia
ser um problemaço para alguém desacostumado ao mar, não nos causou
stress algum. Ninguém se incomodou! Tínhamos muita água mineral
para beber, em galões de vinte litros. Tomávamos banho e passamos a
lavar louça com água do mar. Para escovar os dentes, passamos a usar
meio copo de água mineral.
Se me dissessem, antes de sairmos de viagem com o Fandango, que
eu iria ficar seis dias num barco sem água doce no tanque, eu posso dizer
que ficaria muito preocupado. Aprendemos, depois, que tudo é simples
e fácil e que o mar é nosso grande provedor!
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06/12/2006 - Quando acabei meu turno da madrugada, o vento
enfraquecera muito. Acordei às oito, com o dia ensolarado, mas com
muitas nuvens em toda nossa volta. Tomamos o café e coloquei as
crianças fazendo diários e estudando (não sem algum esforço!).
Durante a tarde, mais alguns pirajás entraram e, quando eram cinco
horas, entrou um mais forte, que não nos deixou tomar o tradicional
banho de mar no final da tarde. Este, além de forte, com rajadas de trinta
nós, não parou. Recolhemos a mezena, para passar a noite tranqüilos, mas
deixamos a mestra toda em cima. Nos defendíamos e aproveitávamos o
vento para avançar na direção de Tobago.
De repente, entrou uma rajada muito forte, com mais de quarenta
nós de velocidade aparente e nos fez dar um jibe involuntário e
atravessar, pois veio de outra direção! Foi o maior pandemônio! Ficamos
aquartelados no sentido contrário para o qual íamos, com o barco
adernado (ainda bem que o Cavalo Marinho é bem pesado e não deitou
demais). Escutei barulho de coisas caindo dentro do barco e começamos
a agir: soltamos a genoa para ela passar para o outro lado e panejar; e
soltamos, aos poucos, o preventer para não danificar mastro e retranca.
Com as velas do lado certo e o vento assobiando a trinta e quatro
nós constantes, fechamos a genoa e olhei para dentro para ver se todos
estavam bem. O que eu vi foi hilário! As crianças continuavam assistindo
a um filme, deitados, do mesmo jeito que estavam antes, só que com um
travesseiro em cima da cabeça por causa das coisas que caíram! Nem
perder a atenção do filme, eles perderam!
O vento soprava forte, com trinta nós constantes e trazia nuvens de
chuva com rajadas mais fortes. Ficamos com o vento entre través e alheta,
folgando as velas quando era necessário.
Quando houve condições, fizemos o segundo rizo na mestra. A
partir daí, tudo melhorou. Com a mestra bem menor e a genoa
parcialmente enrolada, podíamos correr facilmente com o vento, que
soprou, na rajada mais forte, quarenta e um nós de vento aparente
(calculo uns quarenta e cinco nós de vento real nessa rajada!).
A noite foi longa! O vento e a chuva só arrefeceram perto do
amanhecer e, enquanto isso, eu e o Rodrigo nos revezávamos ou
ficávamos juntos no cockpit. A Márcia cuidava das crianças, que
dormiam tranqüilamente. O mar também ficou bem grosso e acho que as
ondas chegavam a três metros de altura ou mais, pois as víamos chegando
na altura dos painéis solares da targa do Cavalo Marinho.
Fora a atravessada do início da noite, tudo correu normalmente e o
barco se mostrou muito marinheiro em mar grosso e vento forte. Quando
amanheceu, com o vento bem mais fraco, mas com o mar ainda grosso,
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pude dormir, enquanto a Márcia e o Rodrigo assumiram o comando. Tirei
a roupa de tempo e, gelado e molhado, peguei uma manta para deitar.
Nunca gostei tanto de um cobertor!
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Os barcos Kanaloa, Kaká-Maumau, Beduína e Tess já estavam no
local. Passamos por eles e eles tocaram suas buzinas e sinos, nos dando
boas vindas. O Rodrigo deixou o timão, foi para a proa. Nos demos as
mãos e as elevamos, em sinal de alegria, agradecimento e vitória, por
termos chegado bem, depois de dez dias e seis horas de viagem.
O Hugo pulou na água e veio a bordo nadando. O Bernardo e o
Hélio vieram com o bote, trazendo uma caipirinha, talvez o maior
símbolo brasileiro depois do futebol, que foi consumida rapidamente.
Soltamos a âncora e recebemos todos no Cavalo Marinho, para
contar as novidades das travessias. Foram momentos inesquecíveis na
nossa vida! As crianças encontraram a Talita e fizeram a maior festa! A
mão doía menos e percebi que não havia fratura, ficando sossegado.
Tentei me lembrar, mas não me recordei da última vez que vi um
grupo tão feliz e realizado. O objetivo de todos estava realizado ali: ter
seus barcos, suas “casas”, ancorados numa pequena ilha paradisíaca do
Caribe! O sonho de chegar estava realizado. Agora só resta aproveitar
essa nova realidade, que mais parece um sonho. Quanto a nós, ter feito
essa travessia com pessoas tão especiais foi um presente e tanto!
Todos se surpreenderam que as crianças não deram trabalho
nenhum no barco (ao menos, nenhum a mais do que dariam
normalmente em terra!) e riram muito com a história dos travesseiros na
cabeça, após nosso jibe involuntário.
Quando começou a escurecer, tomamos banho de mar na popa e
fomos para terra. Escutamos reagge num barzinho e conversamos,
enquanto as crianças brincavam de esconde-esconde ao lado do bar.
Pedimos um “roti” de carne, comida típica local, para o jantar. Era
um tipo de panqueca de milho dobrada, com carne e batatas cozidas,
preparada com muito curry e pimenta. Adorei, o Jonas também, mas a
Carol não comeu muito, pois não gosta de coisas apimentadas.
Conhecemos um brasileiro, que mora na ilha e trabalha com
mergulho, e o Bill, americano que viaja num catamarã com a filha de doze
anos. Após papearmos muito e as crianças matarem as saudades da
Talita, Jesse e Riley, e de brincarem com espaço, voltamos ao barco.
Nossa comemoração de aniversário de viagem foi de um jeito que
eu nunca poderia ter sonhado, quando saímos de Ilhabela um ano antes:
chegar numa ilha paradisíaca do Caribe, todos bem e alegres, encontrar
esse grupo de velejadores amigos, tomar um banho no mar caribenho e
escutar, de meu filho, que este foi o melhor ano da vida dele!
Obrigado, Papai do Céu! Obrigado Rodrigo, Márcia, Nick e
Rafinha! Obrigado Cavalo Marinho!
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Nunca imaginamos ir tão longe! Nunca imaginamos fazer amizades
tão intensas durante nossa viagem! Cada tripulação tem sua história de
vida e suas dificuldades, mas todas essas pessoas têm as características
de “sonhar” e “ousar tornar seu sonho realidade”, o que faz dessa tribo
dos “vagabundos do mar”, como são carinhosamente chamados, pessoas
especialíssimas.
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Que Saudade Eu Tenho da Bahia!
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17/12/2006 - Desistimos de parar em Maceió para dormir, pois consegui
descansar bastante durante o dia. Fiz um risoto, com um filé do peixe
salgado, leite de coco e ervilhas.
Outra noite totalmente estrelada se apresentou, após um belo pôr-
do-sol. O vento continuou de nordeste e fazíamos seis nós de média.
Assumi meu turno à noite e passamos bem perto, a cem ou duzentos
metros, de um grande navio e desviamos para evitar o choque. Apesar de
tê-lo visto bem longe, só consegui entender para onde ele ia quando
estávamos perto. Nós tínhamos prioridade de passagem, mas não dá para
discutir com um monstro daqueles!
Dá gosto navegar nestas noites estreladas e quentes do nordeste,
quando o vento sempre dá os ares de sua graça!
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29/12/2006 - Com um lindo dia de sol, começamos a trabalhar. Enquanto
eu e a Lu trocávamos o óleo do motor e apertávamos a correia do
alternador, o Jonas e a Carol lavavam as muitas garrafas que estamos
guardando, há meses, para encher com a água da fonte da bica, “que faz
velha virar menina”. Após uma hora nesses trabalhos, fomos para o
próximo, que, com o calor que estava, se tornou agradável: limpar o
fundo do Fandango. Como navegamos muito, os bordos de ataque de
leme, quilha e a proa do Fandango estão pegando cracas. O resto do
fundo está bom e acho que durará mais meio ano.
Após o trabalho, nos lavamos com água doce para remover os
minúsculos crustáceos que grudam no nosso corpo, cabelos e, às vezes,
entram no ouvido, sempre que limpamos o fundo.
Encontramos com o Carlão e a Sandra, do outro Fandango, que
passarão o reveillon aqui em Itaparica! Eles, como sempre, estavam com
o Loro, o manso papagaio deles, que sempre faz sucesso aonde chega.
O pôr-do-sol foi lindíssimo e o assistimos sentados no píer.
Passaremos o reveillon em Itaparica, pois o lugar é agradabilíssimo.
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Retorno a Camamu
04/01/2007 - Hoje vamos para Taipus de Fora, uma das três praias do
Brasil considerada “seis estrelas” (as outras duas são em Noronha!).
A viagem foi tranqüila e rápida, numa boa estrada de terra e areia
que, quando chove, dizem ficar intransitável. A praia é realmente
fantástica! Muitos coqueiros ao longo da orla, mar agitado ao longe e bem
calmo perto da praia, sob a proteção dos recifes de coral. O horário para
mergulhar estava perfeito, no final da vazante de lua cheia, deixando as
piscinas naturais com pouco volume de água. Colocamos o equipamento
e fomos para a água, quente e com boa visibilidade.
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Nadamos até os recifes e vimos vários peixes coloridos.
Acompanhamos os recifes nadando para o sul, até chegarmos a um lugar
que chamam de “piscina”, onde o recife tem uma entrada e forma uma
região abrigada. Vimos muitos peixes, de vários tipos: cirurgiões azuis,
budianos, com o corpo meio azul e meio amarelo, muitas viuvinhas e
muitas marias-da-toca. Descobrimos coisas inéditas! Coloquei a mão no
coral, perto de uma viuvinha, que fez algo que eu nunca vira: ela se
aproximou da minha mão, virou “de costas” e tentou afastá-la com a
nadadeira caudal, batendo nos meus dedos! Fez isso várias vezes, até que
desistiu. Mostrei para a Carol e para a Lu o acontecido e, logo, estávamos
fazendo isso com várias viuvinhas, cujo comportamento era semelhante.
Vimos, também, um pequeno peixe, com três centímetros e o corpo azul
escuro com manchas azuis claras fosforescentes. Havia vários deles, mas
um, especificamente, tinha muitas manchas e chamava demais a atenção.
Outra coisa, talvez mais bonita e rara, era um molusco, parecendo uma
lebre-do-mar, branco com as abas amarelas, com três centímetros e
carregando uma bela conchinha bege com listras marrons! Eu nunca vi
esse ser em nenhum lugar, nem em livros! Admiramos o bichinho e o
deixamos sossegado. Foi um belíssimo mergulho! O lugar faz jus à fama.
Em seguida, fomos a uma praia ao lado da Lagoa Azul. Subimos
um morro (que subida dura!), onde apreciamos uma linda vista da região,
com o farol de Taipus de Fora perto de nós e a praia se perdendo de vista
para ambos os lados, com o coqueiral abaixo de nós. Passeamos na praia,
fomos a pé para a lagoa e entramos na água quente e doce. Ao lado da
lagoa, um barzinho servia tapiocas e cocos. Experimentei uma tapioca de
siri catado com molho de tomate (deliciosa!). O coco estava refrescante e
o tomamos dentro da água, com peixes nos rodeando. Quando
começamos a comer a polpa do coco, vimos que eles ficaram muito
excitados e a cada pedacinho de coco que caia na água, era um frenesi
para cada um pegar sua parcela.
Retornamos ao Fandango e, após o banho, com todos morrendo de
fome, falei para irmos à Soninha, pois eu havia ficado de “passar” lá, no
final da tarde. Todos ficaram desgostosos, com cara de que queriam o
jantar antes, mas ninguém ousou contrariar o “capitão”. Devo ter sido
muito incisivo, pois minha tripulação não se “deixa levar” facilmente!
Chegando lá, o Jonas, a Carol e a Lu acharam estranho colocarem a
mesa para nós e, só então, eu contei a surpresa: a Soninha vai fazer seu
famoso filé para nosso jantar de hoje! O sorriso surgiu em todas as bocas,
que automaticamente começaram a salivar. Foram servidos suculentos
filés, arroz com salsa e um delicado molho de cebolas, puxado no molho
de fritura da carne! Com o apetite que estávamos, nem precisava estar tão
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gostoso! Não sobrou nem um pedaço de cebola para contar a história (e
olha que foi muito bem servido!).
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Surfando em Itacaré
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Voltamos ao barco, deitei no cockpit e apaguei. De madrugada,
acordei com um cobertor em cima de mim e as crianças dormindo nos
bancos, ao meu lado. Como a noite estava gostosa e sem chuva, deixei-os
dormindo lá, pois pediam isso desde o começo da viagem.
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Belíssima Trancoso
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arriscar a entrada, para esperar o prático dentro do quebra-mar, pois o
vento aumentara e o mar estava cada vez mais agitado, ele chegou.
Chegamos na marina e encostamos. Quase batemos no píer, pois o
Jonas não conseguiu caçar o cabo de proa por causa de um nó! Corri para
frente e foi a conta justa de caçá-lo para safar a popa.
Conversamos com o funcionário que nos recebeu e soubemos que a
marina foi terceirizada. Os preços triplicaram e o serviço de praticagem
está sendo cobrado! Como não nos avisaram antes, não cobrariam. O
funcionário justificou o preço dizendo que o serviço havia melhorado,
mas quando o sempre atento Jonas desceu do barco, viu que não travaram
nosso cabo de atracação com a última virada do nó oito. Para piorar, no
meio da tarde, enquanto eu descansava, o barco vizinho, que estava
vazio, arrebentou seu cabo de popa e bateu no Fandango. Subi no barco
e passei outro cabo para o Jonas, que o amarrou ao píer, pois não havia
funcionários. As luzes no píer foram a única melhora. Quanto aos
serviços, da outra vez ele foi muito bom.
Fomos à “Passarela do Álcool”, onde tomamos cocos e comemos
acarajés. Vimos as esculturas “eólicas”, feitas em arame, que já víramos
da outra vez. O artista tem idéias fantásticas e sempre há novidades.
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17/01/2007 - Saímos para andar na praia até Arraial D’Ajuda, um passeio
imperdível. O Jonas adorou os windcar’s, examinando detalhadamente a
construção. Andávamos, conversávamos e olhávamos os corais
quebrados na praia. Só cansamos ao chegar no Eco-Parque. Tomamos
banhos de mar e subimos para almoçar em Arraial.
Após tomarmos sorvetes, para minha surpresa, todos preferiram
voltar a pé para o hotel! Descemos para a praia e retornamos por ela.
Vimos o dia se encerrar na praia!
21/01/2007 - A Carol deve estar com uma virose, pois virou a “rainha” do
Fandango: passou a noite inteira no “trono”! Ficaremos mais dois dias em
Porto Seguro, para ela melhorar. Por isso, infelizmente, não pararemos
em Cumuruxatiba, para rever o Cigano, a Thaís e suas filhas.
Ficamos no barco e, no final do dia, a Carol já estava melhor.
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Paraíso dos Mergulhadores
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Quando ela saiu, almoçamos e fomos mergulhar na ilha de Sta.
Bárbara, no cantinho que mais gostamos. Desta vez, a maré estava mais
baixa e não deu para ir à grande laje, aonde vimos tartarugas da outra
vez. Mas também não precisava: os peixes estavam no paredão antes da
laje! Muitos budiões e cirurgiões azuis passeavam tranqüilamente pelo
local. Vimos dois grandes badejos, um com cerca de cinco quilos e outro
bem maior, com uns dez quilos. A Lu deu um grito: dentro de uma toca
havia um lambaru (tubarão-lixa)! Entramos para vê-lo. Ele, manso, não
se mexia. Ainda vimos uma pequena arraia e muitos outros peixes.
Minha cabeça começou a doer e pedi para voltarmos ao barco.
Cheguei ao barco, num final de tarde lindo, com cabeça estourando,
tomei remédios e dormi. Acho que, com a ansiedade, não esperei o tempo
necessário para mergulhar após o almoço.
28/01/2007 - Acordei antes das seis da manhã, com a voz do Sgto. Irã
chamando no rádio todos os pesqueiros trabalhando em Abrolhos.
Pensando ser algum aviso de mau tempo, fui escutar. Após algumas
tentativas, ele conseguiu contatar o barco de pesca “Rodrigo”. Escutei o
Sgto. Irã informando, ao comandante da embarcação, que o pai dele havia
falecido ontem e que o enterro seria hoje. Imaginei a tristeza da pessoa
que recebeu o recado e percebi a grande importância desta base na
comunicação para esses trabalhadores do mar e todos que navegam por
aqui. Meio “down”, voltei para a cama e dormi até tarde.
Tomamos um café leve e fomos mergulhar. O “café leve” não foi
suficiente para o adolescente Jonas, que preferiu ficar no barco e comer
mais, em vez de mergulhar. Fomos para a ponta oeste da ilha de Sta.
Bárbara e também foi um lindo mergulho. Vimos um cardume de budiões
azuis que me impressionou: mais de trinta! Numa toca, encontramos um
baiacu-arara cego de um olho e vários badejos grandes. Cruzamos com
uma pequena tartaruga e, logo após, outra maior, que deixava passar a
mão e era bem mansinha. Havia vários sargos grandes no local e muitos
frades, cirurgiões e dezenas de peixes coloridos de vários tipos. Após uma
hora e meia de mergulho, que pareceram ser dez minutos, retornamos ao
Fandas. Descansamos na parte da tarde e, após a sesta, voltamos ao
mergulho.
Repetimos a nossa enseada preferida de Sta. Bárbara, que fica
próxima ao veleiro. Fomos para uma poita com o bote e eu caí na água.
Vi, nitidamente, um pregador de roupas no fundo do mar, num local com
seis ou sete metros de profundidade, que algum barco perdeu! Desci e o
recuperei, para compensar a perda de quatro dúzias de pregadores ao
longo do ano, nosso maior item de “poluição marinha”.
Nos dirigimos à enseada e paramos no meio do caminho, com a
visão de um grande badejo, de uns dez quilos, no alto de um coral! Lindo!
Fomos vê-lo de perto e, então, vimos outro, outro e mais outro. Quatro
grandes badejos nadavam juntos no local e eram muito mansos, deixando
que nos aproximássemos bastante deles. Ficamos um tempão olhando-os
e mergulhando com deles. O primeiro grande badejo sempre voltava para
seu “ninho”, no alto do coral, um mini-chapeirão.
Seguimos para a enseada e a maré estava baixa. Mergulhamos no
paredão, vendo os sempre belos peixes, entre eles um peroá muito bonito,
escuro, com pintas redondas mais claras e uma parte do corpo alaranjada.
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Escutei o grito: “- Tartaruga!”, e nadamos ao encontro de uma assustada
tartaruguinha, que se afastou rapidamente. Em compensação,
encontramos mais uma, “de pente”, mansa e maior, que nos deixou
acariciá-la. Vimos mais uma, ainda maior que as outras, com um metro
de comprimento. Ela circulou entre nós, nos observando. Deixou que
todos passássemos a mão nela e eu nadei com o rosto a trinta centímetros
de sua cabeça. Linda e muito mansa!
Retornamos ao bote e, no caminho, revimos os badejos e achamos
uma pequena arraia, que passeava no fundo de areia. Dentro da água,
vimos o maravilhoso pôr-do-sol, ao lado da ilha Redonda, muito
alaranjado e com o sol descendo diretamente dentro do mar, sem nuvens
para atrapalhar a visão do espetáculo. Chegamos ao Fandango extasiados
e, após o banho, uma sopinha quente e estudos, dormimos com o
nordeste soprando forte o estaiamento.
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Saímos do parcel maravilhados e continuamos nosso mergulho no
paredão. Numa toca, vimos um grande baiacu-arara e chegamos em
outro recife. Desci para ver uma toca e a Lu foi para o recife.
Estava tranqüilo, olhando um lindo vermelho-cioba na toca,
quando senti pancadas de nadadeira na minha cabeça e subi. Quando
chegava à tona, percebi que o Jonas, a Carol e a Lu estavam bem em cima
de mim e o “circo estava armado”! A Lu gritava “- Tubarão!” e pedia para
voltarmos rapidamente ao barco. As crianças estavam com cara de
assustadas e eu resolvi perguntar qual o tamanho do tubarão que ela viu,
antes de “corrermos”. Ela abriu os braços, numa distância aproximada de
oitenta centímetros, e disse que ele estava no recife. Para desespero da Lu,
resolvi dar uma olhada nele e o Jonas e a Carol vieram atrás de mim!
Quando chegamos lá, vimos um tubarão-limão com o tamanho exato que
ela falara. Ele era pouco maior que os filhotes que ela e a Carol estudaram
bem de perto, outro dia. Como caçava, estava agitado e isso a assustou.
Tentei me aproximar, mas ele “deu no pé”, saindo em alta velocidade na
direção da arrebentação. Voltamos e tranqüilizamos a Lu, que virou a
“bola da vez”, com as crianças tirando o sarro dela toda hora. Eu fiquei
quieto: “- Dá de aparecer a mãe deles, eu hein!”.
Ao final da tarde, retornamos para outro mergulho. A água estava
turva e o mergulho perto da praia de Sta. Bárbara, não foi bom como os
outros. Entretanto, o “pior” foi muito belo. Abrolhos é “FANTÁSTICO”!
Voltamos ao Fandas e arrumamos as coisas para seguir viagem.
Agradeci a acolhida ao Sgto. Irã e pedi que avisasse a Capitania dos
Portos que zarparíamos à meia-noite, com destino a Vitória.
Abrolhos vai ficar na saudade! Como é duro sair daqui! Acho que
ainda renderá muitos sonhos com água limpa, quente, muitos peixes e,
talvez, alguns pequenos pesadelos com tubarões!
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Quinze Minutos de Fama
30/01/2007 - Levantei (não posso dizer que “acordei”) era zero hora, início
de um novo dia. Coloquei o piloto automático, soltei a poita e liguei o
GPS. Saímos, com ótima visibilidade, ajudada pelo farol e pela lua que
crescia, já faltando pouco para estar cheia. Deixamos as ilhas e aproamos
para sair pelo canal de Abrolhos. A lua descia na alheta de boreste e o
farol se afastava pela alheta de bombordo, deixando entrever o contorno
de Sta. Bárbara, Redonda, Siriba e Sueste. O vento estava fraco e abri a
genoa. Andamos a motor até as duas da manhã para carregar as baterias,
ajudados pela genoa toda aberta. Desliguei o motor e o silêncio voltou a
reinar na cabine, onde todos dormiam. Andávamos entre três e quatro
nós, só com a genoa e não levantei a mestra para deixar a tripulação
descansar bem.
Às três e meia senti sono e chamei a Lu, que assumiu o turno.
Passamos ao lado de um barquinho de pesca (há muitos nesta região) e,
quando amanheceu o dia, o Jonas assumiu. Quando levantei às sete,
colocamos a vara de pesca e adriçamos a mestra no segundo rizo, fazendo
uma asa de pombo. O vento apertou e andávamos na casa dos seis nós. O
molinete começou a cantar como louco e, quando diminuímos a
velocidade e pegamos a vara, ele parou: o peixe escapara!
A genoa começou a bater muito e a enrolamos, pois o vento ficara
mais forte. Só com a mestra no segundo rizo, andávamos perto de sete
nós. Calculo que, no começo da tarde, o vento estava na casa dos vinte e
cinco nós e o mar cresceu para dois metros, ficando muito bonito, cheio
de carneirinhos. O céu estava com poucas nuvens e o sol delicioso.
No meio da tarde perdemos mais dois peixes grandes, pois os
anzóis abriram. Antes do anoitecer, recolhemos a vara, descemos a mestra
e abrimos toda a genoa, pois, se o vento aumentasse, bastaria ir enrolando
a genoa, mantendo uma área vélica compatível com o vento.
Durante a noite o vento diminuiu e fiz um belo turno, com a lua
quase cheia. Saímos da maravilhosa e acolhedora Bahia e da nossa linda
região nordeste. Isso foi sentido “na pele”, pois voltei a usar blusa nas
travessias noturnas, coisa que não precisava há muito tempo.
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02/02/2007 - Ajudei a Lu a arrumar suas coisas e desembarcamos suas
“malinhas” (tivemos que pedir ajuda ao bote grande da marina!).
Chegamos cedo ao aeroporto e esperamos o vôo. Ela e as crianças
aproveitaram para comprar coisas bonitas na lojinha do Tamar. Depois
de quarenta dias de muitas aventuras e lugares bonitos, demos “até
breve” à nossa amada tripulante.
Retornamos ao clube, onde conhecemos o pessoal do veleiro “Hot
Day”, de Floripa. É um pessoal bem animado e simpático.
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Tomamos banho e esperamos os amigos Mauro e Cristina. Eles
chegaram com o Kalunga, seu motor-home. O Mauro é extremamente
cuidadoso e caprichoso e a casa ambulante deles ficou excelente.
Conversamos na “sala” do Kalunga, esperando o Aurélio e sua família.
Fomos para um restaurante tomar vinhos e comer queijos, além de
conversar sobre peixes, ventos, mar, viagens e barcos.
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06/02/2007 - Quando era quase meio-dia, fomos ao clube, dar uma olhada
no jornal da TV Tribuna. Anunciaram a nossa matéria e as crianças
ficaram sorridentes e ansiosas, aguardando o início dela (como ficam
compridos os comerciais nessa hora!). A matéria ficou ótima e a filmagem
da nossa curta velejada ficou bonita. Profissionais de primeira!
Eu não havia visto o que a repórter gravou com as crianças dentro
do barco. Então, diverti-me em dobro, quando ela perguntou à Carol, “que
estava viajando pelo Brasil, conhecendo lugares, vendo golfinhos, baleias e
aprendendo muito”, o que ela achava das meninas da mesma idade, “que se
divertiam indo a salões de cabeleireiros e atrás de namorados”. A Carol se
ajeitou melhor no sofá, parecendo incomodada com a pergunta, mas
respondeu “na lata”: “- Algumas meninas são meio frescas!!!”. Dei muitas
risadas com a resposta e como foi colocada na matéria, propositalmente,
para que alguns expectadores pudessem “rever seus valores”.
Pouco depois, fomos ao shopping. No ônibus, uma moça olhava
muito para nós. Quando descemos, ela se virou para a Carol e disse: “-
Carol, eu vi você na televisão... e adorei a resposta das ‘meninas frescas’!”.
Fomos para a praça de alimentação, pois a fome estava grande.
Almoçávamos, quando chegou uma senhora para falar conosco sobre a
matéria. Era de São Paulo e freqüentou Ilhabela desde antes de existirem
as balsas, quando, para se ir à Ilha, tinham que contratar pescadores com
canoas para levá-los. Ela sentou conosco e conversamos bastante.
Isso ainda se repetiu em outras duas lojas e ficamos nos sentindo
“importantes”! Após comprar um dock sider e aproveitar os “quinze
minutos de fama”, retornamos ao clube a pé, curtindo o lindo calçadão.
No caminho, uma bicicleta, que vinha em nossa direção, passou por
nós, fez meia volta e veio conversar conosco. Pensei: “- Outro que nos viu
na TV!”, mas me enganara. Era um marinheiro do clube, que nos
informou que o cabo de âncora do “Fandas” partiu, que ele deu uma
pequena encalhada na praia, sem deitar, e que já estava tudo bem. Ele foi
amarrado à popa do barco que o rapaz é marinheiro. Agradecemos e
voltamos rapidamente ao clube. Soubemos que, na hora em que o cabo
de âncora partiu, um bote do clube passava por lá e retirou o Fandango
da leve encalhada. Agradeci o gerente do clube pela rápida ação.
Chegando no Fandango, vi que o cabo partira no fundo. O cabo de
âncora deve ter roçado em algo, talvez uma pedra ou um bloco de poita.
Vasculhamos o fundo por uma hora, com uma garatéia e o bote, mas não
achamos nossa âncora. Só enroscamos em algo que não se movia,
provavelmente o bloco de cimento ou pedra que partiu o cabo.
Desistimos de recuperar a âncora e fomos para fora do clube.
Soltamos nossa âncora reserva, bem mais pesada, mas sem corrente.
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Avisamos o clube e a Capitania dos Portos de nossa saída amanhã
e dormimos cedo. A travessia de amanhã será tensa, pois passaremos pelo
pior lugar para se navegar de nossa viagem.
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Torpedos Fosforescentes
11/02/2007 - Acordei com o sol iluminando meu rosto, sinal de que o barco
estava virado ao contrário, de proa para a praia e popa para a ilha de Cabo
Frio. O vento mudara e já soprava de sudoeste, indicando que a frente
fria já está chegando. Começamos mudar o barco de lugar, mais para
perto da praia, onde é mais abrigado do sudoeste. Levantei as âncoras e
coloquei a corrente, que eu comprara em Arraial. Quando fui descer a
âncora, tive uma surpresa: um metro da corrente estava emendado, ao
restante dela, por um araminho de fechar sacos de pães! Se eu não
estivesse atento, estaríamos numa roubada, pois as duas âncoras iriam se
perder e o barco ficaria solto! Como o vendedor ou fornecedor teve a
“grande” idéia de emendar a corrente com aquilo, eu não sei, mas os
prejudicados (e bem prejudicados) seríamos nós.
Fomos para a praia, que estava cheia de gente. Tomamos banho de
mar, as crianças brincaram com barquinhos e castelos de areia e a tarde
transcorreu gostosa. Observei as pessoas na praia: “tribos” muito
heterogêneas aproveitavam sua praia, seu churrasco, sua cervejinha e o
ambiente era de alegria total. Apesar de muitas brincadeiras, não vi
nenhuma confusão e o clima era de descontração total. Nuvens de chuva
chegaram e o tempo esfriou, fazendo-nos retornar ao Fandas.
Para acompanhar o jantar, fiz as primeiras batatas fritas da viagem,
a pedido das crianças! Eles pediram com muito “afinco” ontem e resolvi
fazê-las (sempre é bom prevenir um motim!).
O Jonas acabou seu estudo cedo e tivemos um bom “atrito”, para
que ele adiantasse mais algumas páginas. É difícil fazer com que os
argumentos vençam a preguiça e também ensiná-los que imprevistos
acontecem e que, nesta noite chuvosa, ele pode adiantar estudos para
aproveitar melhor um outro dia.
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Primeira Chegada
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Faltando pouco para amanhecer, vi um “barquinho alaranjado”
navegando no horizonte. Era a lua, quase nova, que vinha velejar
conosco! Ela subiu pouco a pouco, perdeu a cor alaranjada e, algum
tempo depois, o dia raiava. Eu estava acostumado a ver o céu clarear pelo
través de bombordo, onde estava tudo escuro. “- Ué, esqueceram de acender
o sol ou vai vir uma tempestade daquelas?!!”. Esqueci-me que já fazíamos um
curso leste-oeste e, quando olhei para trás, tudo clareava.
Deixamos a restinga da Marambaia e chegamos em Ilha Grande.
Resolvemos passar por fora dela, pois não conhecíamos seu o lado
externo. Conversamos com o “Hot Day II” pelo rádio. Fizeram boa
travessia e combinamos nos encontrar em Parati amanhã.
Passamos na frente da praia de Lopes Mendes e da lindíssima ilha
de Jorge Grego. O lado abrigado dela é muito bonito e centenas de
pássaros marinhos a sobrevoavam, principalmente os atobás, retornando
de sua pescaria, e as fragatas, tentando roubar-lhes o alimento.
Distinguimos, também, Dois Rios e a praia do Aventureiro.
O vento apertou muito e as ondas cresceram, tornando o barco
difícil de ser levado, mas o “Alfredo” resistia bravamente. Quando
chegamos no través da Ponta Alta da Parnaioca, a peça de plástico de
encaixe do piloto na cana de leme se partiu. Eu estava dentro do barco e,
antes que o Fandango atravessasse com o vento forte, a Carol já havia
soltado o piloto e o Jonas assumido o leme! Que tripulação! Saí, peguei o
leme e aproveitei a empopada de vento forte, com ondas para surfar! Não
adiantava colocar o outro piloto, pois quebraria, a menos que tirássemos
vela, mas a velejada estava deliciosa. Navegávamos vendo grandes
paredões de pedra, que as ondas tentavam galgar, e nos defendendo do
refluxo do mar e das grandes ondas que vinham pela popa. Deixamos a
ilha para trás e o mar se acalmou. As ondas, mesmo grandes, eram mais
organizadas e previsíveis.
Deixei o Jonas no leme, que curtiu muito a velejada e não quis sair
do turno quando este acabou, para continuar levando o barco. Ele leva
muito bem o leme! Continuamos assim até chegar à ilha do Mantimento.
Falei com a Capitania dos Portos pelo celular e avisei sobre nossa
chegada, agradecendo o acompanhamento da travessia. Passando a ilha
do Mantimento o vento acabou e motoramos até Jurumirim, nossa
ancoragem preferida. Eram sete da noite e tínhamos feito uma ótima
travessia, com trinta e três horas de duração e pouco uso do motor.
Ancoramos no “paraíso” e pulei na água. Estava deliciosamente
quente! Um pescador, de um barco de pesca vizinho, estragou minha
diversão, pois nos avisou para não nadar ali. Disse que pegaram um
grande tubarão na baia outro dia e que ele viu um tubarão ali mesmo, que
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chegou a dar um “encontrão” no barco dele! Por via das dúvidas, meio
contrariado e desolado, saí da água. Agradeci ao homem e peguei o balde.
Tomamos banho no cockpit, sonhando com mergulhos no mar.
Fiz nosso jantar: filés do grande dourado fritos no azeite, com
macarrão na manteiga. O peixe não foi temperado, apenas salgado, seco
e re-hidratado. Quando foi frito no azeite, ficou fantástico!
Um barco com luzes fortes se aproximou. Era uma lancha da
Capitania dos Portos, que veio nos dar boas vindas e ver se chegamos
bem. O Sgto. Nóbrega, muito simpático, com mais dois comandados,
mostrou-nos a lancha da Capitania e vieram a bordo para conhecer o
“Fandas”. Conversamos um pouco sobre nossa viagem e eles, curiosos,
perguntaram vários detalhes de nossa vida a bordo.
Finalmente, voltamos a Parati! O amigo Vilfredo Schürmann me
escreveu, nos incentivando a seguir viagem, meses atrás: “- Há muitas
‘Paratis’ para serem conhecidas na costa brasileira”. Nós as conhecemos,
adoramos, mas não perdemos o carinho e admiração por esta “Parati”,
tão bela e acolhedora. É muito bom estar de volta!
Só esperamos que os tubarões não tenham todo este carinho e
admiração e se mudem logo daqui!
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Paradoxos
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As crianças, na mesa ao lado, também contavam suas histórias e todos
comentaram que o Jonas voltou bem mais falante.
Ao final do sashimi, estouramos um dos dois champanhes, que o
Dimitri nos trouxe de presente, para comemorarmos a chegada. O outro,
ele nos disse para estourar quando chegarmos na Ilha.
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Hora da Volta
24/02/2007 - Acordamos com uma manhã perfeita: sol, céu azul e água
transparente! Quando eu disse: “- Vamos arrumar as coisas para irmos para
a Ilha?”, a resposta foi um sonoro “- Obaaaa!!!”. Tomamos um bom café
da manhã, o último da viagem (como essa sensação persegue a gente!).
Quando estávamos prontos, recebemos uma visita inesperada: a
Daniela, do barco vizinho, veio conversar conosco. Contamos nossa
história e alguns detalhes da nossa viagem. Ela e o marido são
apaixonados pelo mar e têm uma poita perto do Fandango, em Ilhabela.
Uma tartaruga grande veio se despedir de nós, passando sob o barco.
Soltamos as amarras faltavam vinte para o meio-dia. O vento dava
o ar de sua graça, lestado. Estávamos com toda a aparelhagem de balão
armada: será que, finalmente, levantaremos o balão na nossa viagem? O
vento, com oito a dez nós, vindo de través, permitiu que o levantássemos
e tivéssemos bom rendimento. Demos folga ao “Jarbas” e ao “Alfredo” e
timoneamos o “Fandas”, nos revezando.
Nossa Ilha crescia no horizonte e se mostrava totalmente. As ilhas
Anchieta e Mar Virado iam ficando pequenas e cada vez menos nítidas.
Estávamos chegando!!! Aconteceu um último “stress”, para fazer as
crianças comerem alguma coisa. Elas estavam tão ansiosas e com tanta
vontade de comer no Cheiro Verde, que não queriam almoçar.
A Ponta das Canas nos recebeu em alto estilo, com uma lestada forte
e muitos kite’s e wind’s cortando a nossa frente, enfeitando
perigosamente o mar. Ao nosso lado, passou o Betão Pandiani, que já foi
da Antártica ao Ártico com seus fantásticos catamarãs pequenos sem
cabine. Adoramos ver a incrível performance de seu veleirinho.
E a Ilha, como estava bonita!!! O coração batia mais forte! Os amigos
começaram a nos telefonar e contatar por rádio: Denir, Márcio, Lu e
outros estavam todos à nossa espera. Liguei para a Delegacia dos Portos
de São Sebastião e avisei da nossa chegada, agradecendo o apoio. Foi o
Capitão-dos-Portos daqui que me orientou para conseguir o apoio da
Marinha do Brasil, fundamental para a execução de nosso projeto.
Passamos em frente à Vila, bem defronte ao píer. Gostamos do que
vimos: parece estar muito bonita e vimos muitas árvores. Tínhamos medo
de achá-la sem verde algum, pelo que nos contaram.
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Abaixamos o balão na entrada do canal do Pindá, chegando em alto
estilo, e fomos para nossa antiga poita, emprestada pelo amigo Luis Puig,
que nos esperava. Eram cinco horas da tarde e chegamos todos bem,
realizando de uma vez só os três desejos feitos ao Nosso Senhor do
Bonfim, quando foi amarrada ao meu pulso a fita dele, na nossa primeira
chegada a Salvador. Agora posso dizê-los: “Voltarmos a salvo, voltarmos a
salvo e voltarmos a salvo!”.
Quando pegávamos a poita, gritos de “- Carol, Carol...” nos chamou
a atenção e lá vinham três amigas dela a nado. Fui buscar as meninas com
o bote (a praia de onde saíram era longe!!!) e logo elas matavam saudades.
A Marina, a primeira a chegar, escreveu para a Carol a viagem toda e
sempre queria saber notícias dela. Pouco depois, o André, um amigão do
Jonas, também chegava nadando, grandão e com voz grossa. Como é
engraçado ver o crescimento e mudança dessas crianças-adolescentes! A
mesma surpresa todos tiveram com o Jonas e a Carol, que cresceram e se
desenvolveram muito no último ano.
Fomos rapidamente para a praia. Foram muitos beijos e abraços,
num emocionante reencontro com vários amigos queridos. Estouramos o
champanhe do Dimitri e o tomamos na praia. Tiramos o que era
imprescindível do barco, vimos o pôr-do-sol, espetáculo do qual não nos
cansamos um dia sequer em nossa viagem e fomos para nossa casa.
Como foi bom entrar em casa! Apesar de tudo estar igual, a
impressão de tudo estar muito longe no tempo é grande. Em alguns
momentos, parece que saímos há dez anos! Outros, parece que faz um
dia! Um banho restaurador nos elevou mais o astral e, como é dia de
comemorações, fomos direto comemorar o aniversário da Camila, uma
amiga nossa, com direito a churrasco, violão, histórias e cantorias.
Passamos uma noite muito agradável, vimos duas vezes a meia-
noite (é final de horário de verão!), finalizando duas vezes este dia
especial! Retornamos à nossa casa e às nossas camas. De tão cansados,
não estranhamos a mudança e também não sentimos tudo balançando,
como acontece quando desembarcamos de uma viagem longa.
Completamos nossa viagem, vivemos intensamente nosso sonho e,
agora, cá estamos de volta, ao carinho dos amigos, belezas de Ilhabela e
conforto do lar. Dormi profundamente, profundamente, mas... sei que
sonhei! Com navegadas por novos mares e novos lugares. Novos amigos
e novas coisas para ver, aprender e apreciar. Eu já disse que a maior
beleza da vida é que ela se renova continuamente. E a maior beleza do ser
humano é que seus sonhos também se renovam sempre. Resta, a nós,
perseguir vivê-los, sempre e sempre!
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Pós-Escrito
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Dois dias depois da chegada, já senti a Carol mais “mocinha”, talvez
pelo contato com as amigas, que estão bem mudadas.
As crianças fizeram provas na escola, para ver se tinham condições
de acompanhar a antiga turma. E não foram apenas as duas provas de
reclassificação, de português e matemática, combinadas anteriormente.
Foram de todas as matérias! Em duas semanas, eles fizeram doze provas:
seis referentes às matérias completas do ano passado, e mais seis
referentes às matérias deste ano letivo, que já havia iniciado e cujas aulas
eles haviam perdido. Apesar de, nessas duas semanas doidas, alguns dias
eles terem ido dormir às onze e meia da noite e terem acordado às quatro
da manhã para estudar, valeu o sacrifício. O rendimento foi ótimo e só
receberam elogios de professores e diretores! Fiquei muito orgulhoso de
meus filhos, principalmente, pela responsabilidade que demonstraram.
Quanto a mim, estou colocando a casa em ordem e os negócios em
dia. Novos sonhos vão se delineando, todos ligados ao mar. Sempre
gostei de trabalhar por objetivos e estes não faltam. Quero aproveitar
muito o contato com amigos e parentes, dos quais estamos matando
saudades. Espero receber muitos amigos, que nos receberam tão bem
durante a viagem, para apresentar-lhes um pouco do nosso litoral.
Esperamos ansiosamente a família Hagge, o Mauro e a Cristina, o
Aurélio, a Simone, o Edgar, a Patrícia e a Pilar, a Soninha, o Antônio e a
Rô, o Rogério e família, a Berê, a Esther, o Serginho e outros tantos
amigos, que prometeram aparecer para nos ver. Como disse a Simone,
“uma espiral de amigos, que nos torna andarilhos para aplacar a saudade do
coração”. E torcemos, do fundo do coração, para que Rodrigo, Márcia,
Nick e Rafinha, Hugo, Gi e Talita, Torres e Eliza, Claudiney, Edélcio e
outros que conhecemos, aproveitem essa maravilha que é viver viajando,
por muito tempo. Que “o mar sempre os deixe passar”! Quem sabe, não
nos encontraremos em breve por esse marzão de Deus (de preferência,
sem as “correntezas nos fazendo esbarrar”, não é Gi!!!).
Sei que só saberemos a real dimensão desta viagem em nossas vidas
dentro de alguns anos, mas, tenho certeza, será positiva. Foi um ano feliz,
muito feliz mesmo, que desejamos repartir com todos!
Só sinto que temos que fazer mais uma coisa, para encerrar
definitivamente a nossa viagem: procurar um “templo” para agradecer!
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Apêndices
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Glossário Simplificado
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Bomba D’água Bomba de puxar água. Pode ser usada nas pias, para trazer
água salgada ou doce. O motor tem uma para puxar água
salgada para resfriá-lo.
Bombordo Lado esquerdo do barco de quem olha para a proa.
Boqueirão Passagem estreita.
Bordo Manobra onde giramos o barco apontando-o para o vento
e continuamos girando até receber o vento pelo outro lado.
Bordo de Ataque Parte da quilha, rabeta e leme que recebem primeiro a
água quando estamos navegando.
Boreste Lado direito do barco de quem olha para a proa.
Bruce Tipo de âncora boa para vários tipos de fundo.
Burro Peça que impede que a retranca suba em ventos por trás.
Cabeço Lugar para amarração de cabos num píer.
Cabine Parte interna de um veleiro.
Cabo É a popular “corda”, usada para amarrar algo.
Caíque Pequeno barco de apoio, para subir e descer do barco
maior.
Calado Distância vertical entre a água e a parte mais submersa do
barco.
Carneirinhos Ondas brancas causadas pelo vento.
Catamarã Barco com dois cascos.
Catraca Peça para auxiliar a efetuar grandes esforços em cabos
(basicamente um carretel com uma alavanca).
Caturrar Bater nas ondas no sentido longitudinal do barco.
Centro Vélico Ponto onde está concentrada toda a força do vento
aplicada nas velas.
Cerco Rede circular para prender peixes.
Ceviche Peixe cru com limão, sal e alho.
Chapeirão Formação de coral que sobe do fundo do mar no formato
de um cogumelo.
Charter Aluguel de barcos.
Cockpit Convés protegido de um barco de onde a tripulação o
manobra.
Convés Parte superior de um veleiro.
Corrico Pescar arrastando uma linha com uma isca.
Costado Lateral do casco de um barco.
Craca Organismo que se prende ao casco e cria uma concha dura.
Cruzeta Peça transversal ao mastro para mudar a direção dos
esforços dos estais.
Cunho Peça para amarração de cabos.
Danforth Tipo de âncora boa para fundos de areia e vento constante.
Day Sailer Pequeno veleiro de passeio.
Defensa Material mole para evitar choques contra outros barcos ou
píeres, permitindo que se encoste a eles.
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Dessalinizador Aparelho que remove o sal da água do mar e a torna
própria para o consumo.
Divinicell Material muito leve para a construção de barcos.
Dog-House Proteção da entrada da cabine, como se fosse uma tenda.
Doldruns Região sem vento próxima à linha do Equador.
Encastoado Arame ou fio de aço ao qual o anzol fica preso.
Enrolador Peça composta de um carretel e distorcedor usada para
enrolar as velas.
Escada Quebra- Escada de cabo, mole e difícil de subir, usada em barcos
peito grandes.
Escota Um dos punhos da vela. Também indica o cabo que caça
esse punho, que permite esticar a vela.
Escuna Tipo de embarcação usada para passeios.
Espelho de Popa Fechamento da popa de um barco.
Espinhel Cabo com muitos anzóis para pesca profissional.
Estai de Popa Cabo de aço, localizado na popa de um veleiro, que não
deixa o mastro cair para frente.
Estaiamento Conjunto de cabos de aço que sustentam o mastro.
Estais Cabos de aço que sustentam o mastro no sentido
longitudinal.
Fortress Fabricante de uma âncora especial de alumínio.
Fragata Pássaro marinho parasita dos atobás.
Freio da Catraca Alavanca para travar a catraca especial para cabos de aço.
Frente Fria Massa de ar frio que vem dos pólos, trazendo muito vento.
Fundeio Ancorar.
Gaiutas Peças que fecham grandes aberturas num barco.
Gamboa Armadilha para peixes.
Garrar Arrastar a âncora no fundo, sem estar firme.
Genoa Vela da frente, que não vai presa ao mastro.
GPS Aparelho eletrônico que informa sua posição no globo
(latitude e longitude).
Guia Peça para desviar um cabo.
Gurupés Haste comprida na proa de alguns veleiros e escunas.
Iate Clube Clube reservado voltado ao mar, com associados que os
mantém e que podem receber visitantes ou não.
Jibe (Jaibe) Manobra onde giramos o barco levando a proa a favor do
vento e continuamos girando até recebê-lo pelo outro lado.
Lazy-jack Conjunto de cabos para manter a mestra em cima da
retranca quando ela desce.
Leme Conjunto de peças que permitem dar direção ao barco.
Linha D’água Linha de flutuação do barco.
Luva Peça que envolve a retranca e a reforça.
Manicaca Alavanca para ser usada na catraca.
Manilha Peça de aço usada para prender algo.
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Marcações Alinhamentos com estruturas fixas em terra para realizar
navegação.
Marear Efetuar regulagem.
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Quebra-mar Estrutura fixa para absorver o impacto de ondas e proteger
um porto.
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