Avaliacao Educacional Livro - Unid II
Avaliacao Educacional Livro - Unid II
Avaliacao Educacional Livro - Unid II
Unidade II
Avaliação do ensino-aprendizagem: dimensões legais, políticas e éticas
Coerente com uma perspectiva formativa, a atual legislação da educação básica no Brasil (LDB,
1996), apresenta os critérios que deverão ser observados para a verificação do rendimento escolar,
conforme segue:
Lembrete
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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
A concepção presente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) compreende a avaliação “como
parte integrante e intrínseca ao processo educacional” (PCN, p. 56), afirmando que:
Fica clara nos PCN a abordagem formativa da avaliação, uma vez que é entendida como fonte de
informação para professor, aluno e escola, conforme sintetizamos a seguir (PCN, p. 56):
Quadro 10
Essa é a concepção que precisa ser valorizada para o sucesso dos alunos, pois possibilita ajustes
constantes em um mecanismo de regulação do processo de ensino e aprendizagem que evita o
surgimento de lacunas difíceis de serem preenchidas, se for postergada a ajuda de que o aluno precisa
para sua progressão na aprendizagem.
Isto não quer dizer que não haja a necessidade de se considerar determinadas etapas para
acompanhamento e reorganização do processo de ensino e aprendizagem na escola, pois uma abordagem
formativa não exclui avaliação de resultado.
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Unidade II
2. Planejamento:
• Oferece subsídios para o planejamento das possíveis intervenções pedagógicas e de estratégias
de diferenciação do ensino.
3. Regulação da aprendizagem:
• Permite o levantamento de informações e adequação ou ajuste constante das situações
didáticas e dos próprios conteúdos de trabalho às necessidades de aprendizagem.
• Requer considerar que toda situação ou atividade são fontes de informações para que o
professor conheça o aluno para ajudá-lo.
Sobre a avaliação final, os PCN enfatizam que “o processo também contempla a observação dos
avanços e da qualidade da aprendizagem alcançada pelos alunos ao final de um período de trabalho,
seja este determinado pelo fim de um bimestre ou de um ano, seja pelo encerramento de um projeto ou
sequência didática” (PCN, 1997, p. 56).
O entendimento de avaliação contido nos PCN (1997) está baseado nos seguintes pressupostos de
uma abordagem formativa:
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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
• A avaliação envolve tanto o processo que o aluno desenvolve ao aprender como o produto alcançado.
Observação
Em resumo, para que seja um instrumento do avanço intelectual e social do aluno, ajudando a escola
a alcançar seus objetivos de democratização do conhecimento, os PCN (1997, p. 57) propõem que a
avaliação seja considerada como:
• conjunto de ações cujo objetivo é o ajuste e a orientação da intervenção pedagógica para que o
aluno aprenda da melhor forma;
• conjunto de ações que busca obter informações sobre o que foi aprendido;
• instrumento que possibilita ao aluno tomar consciência de seus avanços, dificuldades e possibilidades;
• ação que ocorre durante todo o processo de ensino e aprendizagem e não apenas em momentos
específicos caracterizados como fechamento de grandes etapas de trabalho.
Também encontramos nos PCN (1997, p. 57) indicações de como o professor pode realizar a avaliação,
conforme o quadro a seguir:
Figura 9
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Unidade II
Os PCN (1997) chamam a atenção para dois aspectos muito importantes para que a avaliação não
seja arbitrária:
1º) garantir que as atividades de avaliação sejam semelhantes às situações de aprendizagem, com
estruturas semelhantes às que os alunos estão habituados em sala de aula;
2º) deixar claro para os alunos o que se pretende avaliar, pois é nesta direção que os alunos se
mobilizarão, tendo maiores chances de demonstrar o que aprenderam.
Observação
Quanto à Educação Infantil, primeira etapa da educação básica, cuja finalidade “é o desenvolvimento
integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade” (art. 29, LDB, 1996), “a avaliação far-se-á
mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo
para o acesso ao Ensino Fundamental” (LDB, 1996, Capítulo II, art. 31).
Considerando esse princípio, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (Resolução
CNE/CEB 5, de 18/12/2009) apresentam as seguintes determinações para a avaliação da Educação
Infantil:
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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
Para que a avaliação na Educação Infantil sirva para o propósito de desenvolvimento do aluno,
recomenda-se a observação sistemática do comportamento de cada criança e de grupos de crianças e
das brincadeiras e interações entre elas no cotidiano, registrando-os por meio de relatórios, desenhos,
fotografias, álbuns etc. Tais observações devem compor registros diversificados feitos por adultos e
crianças em diferentes momentos para que se possa compreender “como a criança se apropria de modos
de agir, sentir e pensar culturalmente constituídos” (Parecer CNE/CEB, 2009, p. 16).
Por meio da observação sistemática, o professor terá condições de conhecer (Parecer CNE/CEB,
2009, p. 16):
• quem são seus parceiros prediletos para a realização de diferentes tipos de tarefas;
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Unidade II
Observação
Também os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil – RCNEI (p. 65-66) orientam
quanto à necessidade de proceder à avaliação formativa por meio de observação e registro “das formas
de expressão das crianças, de suas capacidades de concentração e envolvimento nas atividades, de
satisfação com sua própria produção e com suas pequenas conquistas” de forma que o professor possa
acompanhar o trabalho e planejar a ação pedagógica de forma adequada.
Figura 10
É importante ressaltar que a avaliação formativa, conforme propõe os RCNEI, deve recair sobre
as situações de aprendizagem criadas para a criança, vinculando a expectativa de aprendizagem às
oportunidades e experiências que foram oferecidas a ela, valorizando suas conquistas e seus avanços,
de forma compartilhada com a criança.
A observação e seu registro podem ser feitos por diversos meios além da escrita, como: gravação
em áudio e vídeo, produções das crianças ao longo do tempo, fotografias etc., compondo o portfólio do
professor e/ou do aluno.
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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
Observação
Os RCNEI ratificam a importância da avaliação como instrumento para que a escola possa planejar o
trabalho educativo considerando as informações oferecidas pela avaliação e estabelecendo as prioridades
para o trabalho educativo. Por meio da avaliação, os professores identificam os aspectos que necessitam
de intervenção pedagógica planejada, servindo de reorientação da prática e subsidiando decisões sobre
o que ensinar e como avaliar. Para isso, é necessário considerar que
A avaliação oferece informações também aos pais, os quais têm o direito de acompanhar o processo
de aprendizagem dos filhos e conhecer seus avanços e conquistas. Mas, mais do que isso, a avaliação
permite que eles compreendam os objetivos e as ações da escola (RCNEI, p. 59-60).
Observação
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Unidade II
Figura 11
Freitas et al aponta aspectos de uma visão linear do processo pedagógico que ainda é característico
das práticas escolares, conforme vários estudos têm demonstrado, como o de Silva (2005) que identificou
uma das mais fortes representações que permanecem no cotidiano escolar: a avaliação como uma
atividade separada das demais situações didáticas. Há um momento para ensinar, um momento para
aprender e um momento para avaliar.
A pesquisa realizada por Silva (2005) mostra que de fato é forte o peso da visão linear do
processo pedagógico, tendo constatado a existência de representações que ainda circulam no
ambiente escolar e que entendem a avaliação como sinônimo de aplicação de provas padronizadas
ao final dos bimestres, a par de representações da avaliação como processo contínuo, do dia a dia,
porém de forma difusa, sem a devida qualificação, conforme postula Freitas et al. Para este autor,
“devemos qualificar o que estamos reivindicando como avaliação contínua adicionando que, além
de ser contínua, tem a finalidade de orientar a inclusão e o acesso de todos a todos os conteúdos”
(FREITAS et al, 2011, p. 17).
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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
De acordo com Freitas et al, a escola teria certa “compulsão” pela exclusão por meio de processos
didáticos e de avaliação pelos quais realiza as funções impostas socialmente, relação assim explicada
pelo autor:
Organização do
trabalho pedagógico Organização do trabalho na
global da escola sala de aula
Figura 12
Conforme ilustra a figura, pode-se afirmar, com base em Freitas et al, que:
• A avaliação escolar incorpora objetivos que vão além das matérias escolares, ligados à função
social e presentes na organização do trabalho pedagógico global da escola.
• Há dois níveis de organização do trabalho pedagógico que são interdependentes: o nível global da
escola que incorpora a função social seletiva e o nível dos processos didáticos e de avaliação que
acontecem na sala de aula, pelos quais a escola cumpre sua função.
Então, o autor situa as duas funções principais da educação em uma sociedade capitalista, apoiado
em Mészáros (apud FREITAS et al, 2011, p. 18):
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Unidade II
Os objetivos da escola incorporam as funções citadas, que encontram nas práticas de avaliação um
lugar privilegiado para sua consecução, à medida que opera por mecanismos que determinam uma
trajetória de sucesso ou fracasso escolar. Essa função social “é incorporada aos objetivos da escola e
repassada às práticas de avaliação e passa a fazer parte da própria organização do trabalho pedagógico”
(FREITAS et al, 2011, p. 18).
Para Tragtenberg (apud FREITAS et al, 2011, p. 18), as funções da educação em nossa sociedade
incluem, mais especificamente, excluir e subordinar os estudantes. Para Freitas et al, o fato de a escola
ser espaço de lutas e de haver resistência às funções citadas não altera as intenções da sociedade atual.
No entanto, é necessário considerar esse problema sob uma perspectiva dialética, que reconheça o papel
transformador da escola, ainda que relativo, dado ao fato de que a escola não goza de total autonomia
em face de seus determinantes sociais e econômicos.
Além do fato de os objetivos pedagógicos das matérias escolares dissimularem a função seletiva
da escola como se fossem neutros, há outras maneiras, nem sempre explícitas, pelas quais a escola
produz a exclusão. Uma delas é a organização do trabalho pedagógico da escola na forma seriada que
se apoia em uma concepção de educação baseada na seletividade pela homogeneização dos tempos de
aprendizagem (FREITAS et al, 2011, p. 19). De acordo com o autor, “tal homogeneização fornece igualdade
de acesso, mas não necessariamente igualdade de desempenho, já que os ritmos de aprendizagem dos
estudantes são diferenciados” (FREITAS et al, 2011, p. 19).
Essa seria a forma da escola incorporar a função seletiva à sua prática, ainda que não declaradamente.
E qual seria o papel da avaliação, neste contexto? “A avaliação tem sido utilizada para legitimar a
distribuição desigual das rotas de sucesso e fracasso dos estudantes, sob o argumento da meritocracia”
(FREITAS et al, 2011, p. 19), sendo o fracasso ou sucesso explicado pela ideologia do esforço pessoal. A
raiz do problema estaria em uma concepção liberal da escola, conforme explica o autor:
liberais dos anos 1990 aos atuais colocaram 97% das crianças brasileiras
em idade escolar na escola, mas não conseguiram garantir qualidade para
todas. Este é o limite do projeto liberal (FREITAS et al, 2011, p. 19).
A função sancionadora é analisada também por Zabala (1995), que atribui os problemas de
compreensão do que acontece nas escolas aos hábitos e costumes acumulados de uma tradição escolar
cuja função básica ainda tem sido seletiva e propedêutica, isto é, de preparar para receber ensino mais
completo em etapa posterior. Por essa razão, o sujeito da avaliação é o aluno, e o objeto da avaliação
são as aprendizagens alcançadas em relação ao que é fixado como sendo necessário para entrar para a
universidade.
Essa forma de compreender as finalidades da educação básica que identificamos ainda hoje nos
discursos e práticas pedagógicos distancia a escola de sua função social, concordando com Zabala (2005),
que defende a formação integral como a finalidade principal do ensino, o que exige uma mudança nos
pressupostos da avaliação, conforme já assinalado na primeira unidade deste livro-texto.
Fica claro que o principal problema é como conseguir desenvolver ao máximo todas as capacidades
dos alunos, considerando-se também aquelas necessárias para que se tornem bons profissionais. Para
que isto seja possível, é necessário promover mudanças nos conteúdos de avaliação, não se limitando
apenas aos chamados conteúdos conceituais. Torna-se necessário ainda mudar o caráter e a forma
de intervenção didática, para que esta possibilite o conhecimento das aprendizagens realizadas,
considerando as expectativas das aprendizagens previstas. As informações levantadas não devem ter
um tratamento apenas quantitativo, traduzido por notas, porque se referem a valorações e indicadores
personalizados que exigem instrumentos e formas de interpretação diferentes dos instrumentos
avaliativos tradicionais, limitados a provas de papel e lápis (ZABALA, 1995).
As provas usadas apenas como meio de classificação dos alunos por meio de notas contêm uma
mensagem que não diz ao aluno o que ele sabe, mas “o que pode lhe acontecer se continuar assim até
o fim do ano” (PERRENOUD, 1999, p. 12). A nota inscreve-se em uma relação de negociação à medida
que contém também uma mensagem aos pais: “intervir antes que seja tarde demais”, assumindo uma
função assim descrita por Perrenoud:
Trata-se de questões do âmbito do trabalho pedagógico da sala de aula, um dos níveis de organização
do trabalho pedagógico que se relaciona com o nível do trabalho pedagógico global da escola, como já
vimos. Assim como o trabalho pedagógico organiza-se em dois níveis – da sala de aula e da escola –, há
dois níveis de avaliação na instituição escolar que poderíamos resumir da seguinte forma: a avaliação
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Unidade II
institucional, cujo foco é o projeto político pedagógico da escola; e a avaliação da aprendizagem na sala
de aula, cujo foco é a relação professor-aluno (FREITAS et al, 2011, p. 20).
Coloca-se assim a necessidade de questionamento dos objetivos da escola e sua relação com a
avaliação, cujo caráter de transformadora, contínua e comprometida com o desenvolvimento do
aluno só tem sentido se não encobrir mecanismos que impedem a escola de atender a todos. Sendo
a escola para todos, há que se evitar a criação de hierarquias escolares que refletem as hierarquias de
desigualdades existentes na sociedade. Ao evitar a criação de hierarquias de excelência, enfraquece –se
sua função reprodutivista (FREITAS et al, 2011).
A respeito das hierarquias de excelência escolar, Perrenoud tece inúmeras considerações mostrando
seu caráter arbitrário decorrente de julgamentos do funcionamento rotineiro e negociado da avaliação
(1999, p. 2). Para o autor,
No contexto em que a avaliação serve mais para informar em que posição o aluno se encontra
em relação ao grupo do que para identificar os conteúdos e competências que desenvolveu, para “se
sair bem na avaliação”, o aluno necessita defrontar-se sozinho, por uma nota, com tarefas muito
semelhantes àquelas realizadas no âmbito do trabalho pedagógico da sala de aula. Assim, para
Perrenoud, “a excelência escolar é, em larga medida, a arte de refazer o que acaba de ser exercitado
em aula” (1995, p. 44).
Para o autor, é necessário substituir as práticas tradicionais de ensino e avaliação por “pedagogias mais
abertas, ativas, individualizadas, abrindo mais espaço à descoberta, à pesquisa, aos projetos, honrando
mais os objetivos de alto nível, tais como aprender a aprender, a criar, a imaginar, a comunicar-se” (1995,
p. 66). O autor aponta, porém, alguns obstáculos à inovação, que merecem uma reflexão rigorosa pelos
desafios que representam às práticas atuais e futuras de professores comprometidos com a mudança.
São obstáculos à inovação, segundo Perrenoud (1995, p. 66-67):
• a avaliação absorve a melhor parte da energia dos alunos e professores e não sobra tempo para inovar;
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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
• os alunos trabalham pela nota: todas as tentativas de implantação de novas pedagogias chocam-
se com esse minimalismo;
• o trabalho escolar tende a privilegiar atividades fechadas, estruturadas, desgastadas, que podem
ser retomadas no quadro de uma avaliação clássica;
• sob a aparência de exatidão, a avaliação tradicional esconde uma grande arbitrariedade, difícil de
alcançar unanimidade em uma equipe pedagógica: como se entender quando não se sabe nem
explicitar, nem justificar o que realmente se avalia?
Tais obstáculos dificultam o alcance da função social da escola, inserindo-se no âmbito da organização
da escola e da sala de aula, conforme discussão de Freitas et al (2011). Para que a escola atenda a todos,
o autor aponta a necessidade de se resistir à subordinação do eixo conteúdo/método ao eixo objetivos/
avaliação, para que haja o acesso de todos a todos os conteúdos, o que implica lutar em dois níveis:
“um imediato, no âmbito da escola e da sala de aula, por meio do questionamento do projeto político-
pedagógico da escola e das práticas pedagógicas; outro, a médio e longo prazo no âmbito da sociedade”
(2011, p. 21).
pela melhoria do aprendizado dos estudantes. Não se deve ignorar que a sala
de aula é um espaço de atuação tão importante quanto outros espaços de luta
por melhores condições de vida (FREITAS et al, 2011, p. 21).
A seguir, passaremos ao terceiro âmbito de discussão, que se refere “à questão clássica sobre a
necessidade de ultrapassar a mera função de instrução no processo de ensino-aprendizagem, explicitando
a função formativa da escola” (FREITAS et al, 2011, p. 14), conforme propôs o autor.
Em uma sociedade competitiva, o domínio do conhecimento passa a ser o foco da escola, dada a
sua importância para o sucesso dos estudantes, colocando em questão as interações entre os aspectos
formativos e instrutivos do processo pedagógico, uma vez que a transmissão do conhecimento não é o
único objetivo da escola. “Seja tácita, seja planejadamente, a escola é formativa” (FREITAS et al, 1995,
p. 21). Considerando a dualidade do processo educativo, que fornece instrução e formação, Freitas et al
faz o seguinte comentário:
No dia a dia da escola e da sala, são vivenciados valores de submissão e conformismo que resultam
da própria organização da escola, que confina os alunos em salas de aula onde a vida não tem espaço.
Neste contexto, a avaliação serve de instrumento de disciplinamento dos estudantes, incidindo
permanentemente sobre o comportamento dos alunos para obter a atenção à aula e ao professor
(FREITAS et al, 2011).
Neste contexto, o que caracteriza a relação entre professor e aluno envolvidos no processo
pedagógico são relações de troca por meio das quais o aluno aprende o valor de troca de “mercadorias”
em que o conhecimento transforma-se em uma mercadoria que perde seu valor de uso, relação assim
exemplificada: “o aluno mostra que ‘sabe História’ e, em troca, o professor lhe dá uma nota” (FREITAS
et al, 2011, p. 22).
Dessa forma, valores que são vitais para a sociedade capitalista são difundidos pela escola, ancorados
nas práticas pedagógicas, especialmente nos processos de avaliação, limitando-se a escola a prover de
forma desigual a apropriação da instrução. Assim, a formação ocorre de maneira informal, como fruto
da vivência de situações cotidianas no interior da escola, reproduzindo valores da sociedade atual como
o individualismo e a competição (FREITAS et al, 2011).
conjunto de valores vigentes em nossa sociedade ou se estamos dispostos a pensar em novo conjunto
de valores” (FREITAS et al, 2011, p. 23).
Para Freitas et al (p. 23), a visão de mundo dos estudantes é influenciada pelos processos de avaliação
formais e informais, pelas relações que se estabelecem em sala de aula, razão pela qual não é apropriado
tratar a avaliação como uma questão somente técnica, uma vez que:
• a avaliação dita as regras do próprio acesso ao conteúdo e interfere no método de ensino escolhido
para os alunos.
Concordando com Freitas et al, pela centralidade que a avaliação ocupa na escola e na sociedade, é
necessário que os professores façam uma leitura crítica das suas implicações no trabalho pedagógico,
usando esse papel central da avaliação a favor do desenvolvimento dos alunos, sob uma perspectiva
emancipatória. Para tanto, é necessário inverter a lógica dos processos ainda característicos das atuais
práticas de avaliação, que envolvem “testes padronizados, provas feitas pelo próprio professor, perguntas
anexadas a textos, provas informais de domínio da aprendizagem, feedback, entre outros” (FREITAS et
al, 2011, p. 24). Cremos ainda ser necessário desenvolver nos professores a sensibilidade para a leitura
das implicações dessa forma de conceber e praticar a avaliação no trabalho pedagógico, na escolha dos
métodos de ensino e no próprio acesso aos conteúdos pelos estudantes.
Por outro lado, é necessário que os professores compreendam que, além das formas explícitas de
avaliação citadas, há as formas invisíveis por meio das quais o professor constrói juízos de valor sobre o
aluno que influenciam os resultados das avaliações finais. Dessa forma, Freitas et al (2011) classificam a
avaliação em dois planos, conforme o quadro a seguir:
Quadro 11
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Unidade II
Freitas adverte que não se trata do fato de construir imagens sobre o aluno, mas sim do controle das
consequências de tais imagens sobre o estudante, ou seja, dos efeitos dos juízos de valor no desempenho
dele, na aprendizagem, juízos estes que podem ter sido formulados com base na origem social do aluno,
por exemplo, interferindo na metodologia que orienta o ensino (FREITAS, 2010, p. 28).
Insistindo que o problema da avaliação não se reduz à dimensão técnica do âmbito formal, relativa,
por exemplo, à elaboração de bons instrumentos, o autor considera que “o problema de fundo diz
respeito a como o juízo que o professor faz do aluno afeta suas práticas em sala de aula e sua interação
com este aluno. É a relação que aprova ou reprova” (FREITAS, 2010, p. 29). A nota ou o conceito são,
de acordo com o autor, manifestação de um processo interno de análise construído pelo professor
com base na memória sobre o desempenho do aluno em aspectos não só cognitivos, mas também
disciplinares, atitudinais e ideológicos (FREITAS, 2010).
Lembrete
Não se pode aceitar que nas práticas pedagógicas prevaleça o espontaneidade que atinge
mortalmente a especificidade da atividade educacional como trabalho intencional guiado
por objetivos. Se quisermos que a escola atinja sua função social por meio de uma educação
integral e humanizadora, devemos considerar que, além dos saberes de referência, há um saber
pedagógico cujo domínio é condição de profissionalização e de desenvolvimento profissional.
Neste saber pedagógico, incluem-se os conhecimentos didáticos que permitam ao professor
resolver os problemas do dia a dia da sala de aula vinculados ao ensino e à aprendizagem escolar
de determinados conteúdos e, portanto, vinculados à avaliação como uma dimensão integrante do
processo de ensino-aprendizagem.
Neste sentido, continua atual a discussão de Luckesi (1996), que evidencia a inter-relação existente
entre os campos formal e informal da avaliação, mostrando como tem sido a atual prática de avaliação
da aprendizagem escolar, seus efeitos antidemocráticos e propondo formas de encaminhamento
que recuperem a necessidade de rigor técnico na elaboração de instrumentos e rigor científico na
interpretação dos dados coletados.
Sobre os efeitos excludentes da avaliação, convém considerar o próprio significado que assume
o termo inclusão nos discursos educacionais. Para discutir esse conceito, Freitas reporta-se a uma
instigante palestra de encerramento do II Seminário de Educação Brasileira proferida por Miguel
Arroyo, ao tratar a questão do que comumente denominamos inclusão, na qual discute que a pessoa
que se deseja incluir é vista como alguém caracterizado pela “negatividade”, desprovido, portanto, de
cidadania. Dessa forma, o desejo de incluir o outro desconsidera a vontade própria da outra pessoa,
como se a nossa constituição de vida fosse a única melhor e que as demais pessoas tivessem desejos e
interesses idênticos aos nossos. “Trata-se de incluir para garantir a cidadania (Qual? O direito de ser um
consumidor?). Ou seja, a inclusão se caracteriza como uma ‘aculturação’ do excluído sob a ótica daquele
que inclui – é preciso disciplinar os bárbaros” (FREITAS, 2010, p. 90).
Analogamente, esse mesmo princípio de inclusão existe na educação, pois os seus objetivos são
os mesmos para os dois lados: incluídos e excluídos. A partir dessas acepções, o autor apresenta os
seguintes questionamentos: a quem cabe estabelecer estes objetivos? O que se pretende falar em nome
dos excluídos? Questiona a ideia da forma da escola igual para todos, considerando que haveria interesse
dos excluídos em dominar o que os incluídos dominam e, não havendo esse interesse, a avaliação é
utilizada para obrigá-los e conformá-los.
Freitas explica que deve ser garantido a todos o acesso ao conhecimento, às bases das ciências,
porém, sem o molde feito pela classe dominante, impregnado de seus valores e interesses; defende que
o conhecimento deve ser apresentado pela escola em estado puro, ou seja, a partir de suas origens no
mundo real.
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Unidade II
O autor lembra que comemoramos até hoje a inclusão da pobreza na escola, mas que não há uma
reflexão a respeito de como se deu essa inclusão e o quanto as pessoas incluídas, as que já estavam e as
novas, estão subordinadas à forma da escola. Cita os autores Vincent, Lahire e Thin (2001) que alertam
para o fato de que a forma da escola descaracterizou o trabalho escolar e sujeitou tanto professores
como estudantes a uma mesma lógica, definida por regras preestabelecidas, dentre elas a avaliação.
Dessa maneira, a inclusão na escola pode ser vista como subordinação e, nesta mesma ótica, o conteúdo
escolar cumpre o papel de qualificar o aluno como consumidor das oportunidades que lhe são oferecidas.
De acordo com este raciocínio, as realidades de classe é que determinam as possibilidades de inclusão ou
exclusão na sociedade e quando não há ascensão social por meio da escola cabe ao aluno a culpa por
não saber aproveitar as oportunidades.
Para Freitas, esse processo, ora descrito, não deve ser visto como algo permanente e imutável,
considerando as possibilidades de saída e resistência a esse modelo gerador de subordinação. Por isso,
afirma que
[...] a luta pela inclusão e acesso ao conteúdo escolar não pode separar-se
da luta pela modificação da atual forma escolar, geradora de subordinação.
Neste campo, não será suficiente declarar que a “gestão escolar” será
“democrática” ou que os diretores serão eleitos. Nem é suficiente propor
que as relações entre professores e alunos nas salas de aula sejam
“democráticas”, ou ainda que o conteúdo deve ser “crítico”. [...] Não será
suficiente argumentar que a avaliação será contínua, não classificatória,
baseada em “pareceres sobre o desenvolvimento do estudante”. Que ela
será democrática, inclusiva (a quê?), entre outros adjetivos frequentemente
usados (FREITAS, 2010, p. 91-92).
O autor lembra ainda que, nos últimos vinte anos, a escola soube utilizar as palavras inclusão
e democracia enquanto continuava a excluir e subordinar. E que as pesquisas ao longo do tempo
demonstram que a diferenciação entre os alunos está associada ao seu nível socioeconômico e, portanto,
já está determinada quando ingressam na primeira série do Ensino Fundamental, permanecendo, dessa
forma, nas demais séries.
Reproduzimos o gráfico a seguir utilizado por Freitas como um exemplo de como o desempenho
escolar vem sendo determinado pelo nível socioeconômico dos alunos.
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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
Figura 13
Trata-se de uma avaliação realizada pelo Projeto GERES que acompanhou cerca de cinco mil alunos
em 61 escolas das redes particular, estadual e municipal, entre os anos de 2005 e 2008, no município
de Campinas. Foram usados testes com equivalência, baseados em TRI (Teoria da Resposta ao Item), nas
disciplinas de matemática e português no momento em que iniciavam a primeira série e ao final de cada
ano até a 4ª série, (5º ano) do Ensino Fundamental.
Saiba mais
81
Unidade II
caso, geralmente, trata-se daqueles que já possuem uma cultura de valorização do ensino como
meio de ascensão social e assim acompanham mais a vida escolar dos filhos e isso certamente
repercute nos resultados.
Dentre as razões para a subordinação, o autor aponta a lógica do sistema capitalista de produzir
a conformidade e evitar assim um pensamento crítico. Da mesma forma, os objetivos da educação
capitalista buscam moldar os estudantes à forma da escola, isolando-os em seu interior sem questionar
o que existe do lado de fora. E, neste contexto, a avaliação acontece mais ou menos como na charge de
Tonucci, reproduzida a seguir:
Figura 14
Tais considerações nos levam a analisar e perguntar: até que ponto a forma de ensinar nos moldes
do atual sistema é adequada e atende às necessidades ou supre as lacunas dos alunos considerados
marginalizados? Compreendemos, a partir desta análise, que a escola precisa urgentemente se avaliar,
rever seu currículo e sua metodologia e construir uma cultura educacional que dê sentido ao ensino, na
qual o aluno tenha a oportunidade de participar ativamente.
As considerações de Freitas (2010) sobre o sentido da avaliação feita para moldar os estudantes
à forma da escola encontram eco em diversos trabalhos nesta mesma linha, dentre os quais
vale citar uma pesquisa realizada por Camargo (1997), na qual analisou as representações de
390 universitários de suas experiências em avaliação e os sentidos nelas contidos. Com essa
pesquisa, procurou identificar as contradições entre aprender e avaliar dentro de uma visão
sociopedagógica.
82
AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
No relato dos sujeitos pesquisados aparecem experiências negativas e positivas em relação à avaliação.
As experiências negativas referem-se à avaliação como prática de disciplinamento e dominação, como
relatado a seguir:
[...] na quinta série do 1º grau vivi uma terrível experiência, talvez a mais cruel
de todas que um professor pode submeter uma classe. Bem, a professora de
Geografia, logo na primeira semana de aula avisou que faria uma caixinha
com o número de todos os alunos e outra com perguntas dos textos das
unidades estudadas. Haveria também uma terceira caixinha com castigos
para quem as errasse. ‘Castigos simples’ como: pintar o nariz de vermelho,
pôr chapéu colorido, andar para trás por toda a sala etc. Isso acontecia uma
vez por semana com sorteio de cinco números. O nervosismo era terrível (...)
(CAMARGO, 1997, p. 5).
Camargo define como deprimentes as revelações de um terço dos estudantes sobre as práticas
docentes em nome da avaliação, de como o professor reagia diante do erro com críticas destrutivas,
gritos, ofensas morais, punições, ameaças, ridicularização e discriminação. Na atualidade, chamamos
essa forma de tratamento de bullying. Cabe-nos a questão: isso ainda ocorre nos dias de hoje? De
que forma?
Saiba mais
O modo como parte dos alunos entrevistados descreve sua percepção sobre a influência da avaliação
em seu percurso escolar denota que sua única finalidade é obter a aprovação. Segundo a autora, esta
vivência sob o domínio da avaliação torna os alunos passivos em relação ao saber, o que impede
uma aprendizagem efetiva; além disso, inclui o rebaixamento da autoestima em consequência de
sentimentos nutridos na escola, como medos, bloqueios e frustrações causados por repetência, ausência
de aprendizagem e pela privação do exercício intelectual, entre outros problemas que bloqueiam a
relação, de fato, com o conhecimento.
A autora também cita exemplos de experiências positivas e suas repercussões na vida social do
aluno, como no exemplo seguinte:
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Unidade II
[...] uma experiência positiva que eu tive foi quando estava na 6ª série a
professora de Ciências não dava avaliações escritas, escolhíamos um tema do
livro para apresentarmos e depois montávamos a aula de acordo com o tema.
Utilizávamos slides, cartazes, íamos a vários estabelecimentos fazer entrevista,
enfim, aprendíamos com mais interesse e vontade (CAMARGO, 1997, p. 6).
Ao longo do seu trabalho, Camargo ressalta a importância de uma vivência positiva em relação
à avaliação para a construção de uma identidade individual e social. Tal avaliação baseia-se nos
seguintes princípios:
A autora lembra que há várias e diferentes pesquisas sobre avaliação escolar cujos dados mostram
as mesmas dimensões da problemática estudada no que tange à predominância dos aspectos negativos
do processo avaliativo que repercute na ausência de estímulos à aprendizagem. Para enfrentar este
problema, aponta, dentre outras possibilidades, o investimento na formação do professor e na atualização
continuada do profissional já formado que revelem as funções sociais da avaliação com base na teoria
crítica da educação.
Freitas (2010), no entanto, lembra que o nosso modelo atual de educação contrapõe os ideais de uma
teoria crítica da relação entre ensino, aprendizagem e avaliação. Sendo assim, este modelo perpetua o
modo de vida da sociedade capitalista, impedindo que as contradições de seu entorno penetrem na
escola e permitam que os alunos estejam de fato conscientes dessas lutas e contradições e possam se
posicionar, pensar e construir um modelo diferente de sociedade e de mundo.
Bauman refere-se a este mundo que construímos como “um mundo, que não se identifica mais
pela ’carteira de trabalho assinada’, como no passado [...], mas que se identifica pelo ’cartão de crédito’
e pela sua fugacidade nas relações, em que a obsolescência é um mecanismo de alimentação do eterno
consumo [...]” (apud FREITAS, 2010). Neste modelo capitalista, a escola se isola da vida uma vez que
se afasta das contradições e lutas sociais e, consequentemente, do mundo do trabalho. Desse modo,
transforma a sala de aula em um ambiente artificial no qual os estudantes não encontram significado
e razões para aprender.
É interessante que essa mesma fala de Freitas encontra eco nas reclamações dos estudantes, do
tipo: por que estou aprendendo isto ou aquilo? Onde vou usar este conhecimento? E desde sempre
continuam reclamando das enfadonhas e repetitivas aulas e usando indiscriminadamente o recorta e
cola nos trabalhos de pesquisa. Para o autor, é com este modelo de subordinação que a avaliação formal
se impõe, com a finalidade de motivar artificialmente o aluno para verificar o que ele aprendeu para
demonstrar ao professor, deixando do lado de fora a vida real.
84
AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
Freitas ressalta que, para se restituir as ligações da escola com a vida, é necessário modificar o atual
modelo educacional, que fixa objetivos e conteúdos, não cabendo ao estudante opinar sobre estes, uma
vez que não participa da sua seleção e nem da vida escolar de forma ativa, só de forma pontual, não
sendo visto como sujeito de seu desenvolvimento e de sua própria história.
Realmente, vemos que, na maioria das escolas que se intitulam democráticas e participativas, por
força de diretrizes legais, não há de fato espaço para a participação dos alunos, senão por representação
em conselhos de classe, conselhos de escola e órgãos colegiados como o grêmio que há muito perdeu
sua identidade histórica de formador de opinião e seu papel proativo. Alguns grêmios só existem no
papel para cumprir uma formalidade exigida pela escola; outros atuam predominantemente em eventos
esportivos, festivos ou exercendo atividades de voluntariado como arrecadação de prendas para festas
escolares, monitoria de recreios, entre outras funções do mesmo gênero. Parece que a imagem que se
tem da atual situação é a de que está tudo muito bem e de que não há motivos para se pensar em
mudanças na escola e na sociedade.
Freitas reforça que a avaliação está intimamente ligada aos objetivos educacionais que servem
ao sistema capitalista, sendo necessária a alteração dos seus objetivos de forma que possibilitem a
construção de novas práticas de avaliação.
Enquanto essa mudança não ocorre, este é o panorama apontado pelo autor:
Freitas não vê possibilidade de mudança desse panorama com a criação isolada de novos padrões
de avaliação, como das ditas democráticas, ou contínuas e formativas. Na opinião deste autor, em
todos os tipos de avaliação prevalece o antagonismo entre professor e o aluno. O aluno continua
num estado de submissão ao julgo do professor, o qual parte de critérios formalmente estabelecidos
para esta ou aquela avaliação. Embora se possa concordar que na prática atual da avaliação ainda
predomine esse antagonismo, cremos ser possível a produção de outra cultura avaliativa que não
subordine os estudantes.
A avaliação deve servir para conhecer os estudantes e para ajudá-los a aprender e a dar sentido ao
conhecimento, vinculando o ensino ao cotidiano em que vivem e reinventando as formas de se conseguir
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Unidade II
seu engajamento nas aulas. Essa abordagem é importante para que as estratégias não se reduzam aos
argumentos dos quais os professores lançam mão com frequência para conseguir a atenção do aluno
durante a aula, tais como: “isso vai cair na prova!”; ou ainda “a prova Brasil é no mês que vem”. Esse
procedimento nem sempre traz bons resultados.
Para que a escola cumpra sua função emancipadora, é imprescindível inverter o quadro descrito por
Freitas, no qual a relação entre professor e aluno é legitimada pela autoridade que o professor exerce por
meio das avaliações, sejam elas classificatórias ou baseadas em conceitos e pareceres. Ou seja, deve-se
promover uma relação entre professor e aluno legitimada pela experiência ou pelo conhecimento que
este professor tem a oferecer, como sugere o próprio autor.
Dessa forma seria possível redimensionar a questão do poder que a avaliação confere ao professor
em relação ao aluno, construindo estratégias de problematização da ideia segundo a qual o aluno é
visto, neste sistema, como uma pessoa a ser “incluída” em um mundo pronto, o mundo capitalista.
Tais estratégias possibilitariam a abertura de espaços para questionamentos relevantes quanto ao
seu funcionamento, de forma a se contrapor à ideia de um mundo adequado que deve apenas ser
aperfeiçoado seguindo os padrões existentes. Dessa forma, estaríamos caminhando em direção à
construção de caminhos concretos para travar a luta necessária por outra realidade social, sem deixar
de considerar as dificuldades dessa tarefa, como pontua Freitas (2010):
O autor lembra que essa configuração dos usos da avaliação para subordinar os estudantes e conformá-
los ao sistema vigente só poderá ser diferente se a escola for repensada a partir de novas funções sociais,
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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
funções estas que visem transformar a sociedade atual. Na visão dos autores Shulgin (1924) e Pistrak (2009),
citados por Freitas, isso só será possível se a instituição escola favorecer o domínio do conteúdo das ciências
por meio da auto-organização dos estudantes e integração com a atualidade social.
Freitas destaca que, embora as pedagogias críticas defendam a transformação social por meio da
formação de alunos críticos, não deixam claro a que tipo de transformação se referem e também não
demonstram o desejo ou a necessidade de mudar de forma significativa a forma escolar vigente.
O autor nos lembra de que as discussões atuais no meio acadêmico sobre as transformações na
escola estão voltadas à garantia ou não do acesso ao conhecimento de forma crítica, sonegado até
então às classes populares. Dessa forma, ressalta, a escola se mantém como é hoje. Cita Lenin (1986)
para ilustrar a necessidade de articulação da escola com a vida: “a escola, à margem da vida, à margem
da política, é falsidade e hipocrisia” (FREITAS, 2010).
Até essa parte das reflexões do autor, a nós leitores pairam as seguintes indagações: será que já
não estaria bom garantir o conhecimento de forma crítica; isto não seria suficiente? Porém, Freitas nos
tira do lugar-comum confortável, no qual grande parte dos educadores encontra-se bem adaptada por
saber o discurso de cor: “formar cidadãos críticos e conscientes”. Vamos ver então que mudanças o autor
propõe.
Freitas defende que, para uma educação autêntica, é necessária a criação de sujeitos históricos
engajados nas lutas para a transformação da sociedade. Dessa forma, explica que a garantia do acesso
ao conhecimento de forma crítica é apenas um dos lados deste processo; o outro é a conexão da escola
com a realidade social, realidade esta que dá sentido ao que se aprende na escola.
O cartunista Bill Watterson, criador do personagem Calvin, sintetizou bem, em um de seus quadrinhos,
a falta de ligação entre os conteúdos escolares e o cotidiano dos alunos por meio do seguinte diálogo:
Para que a escola garanta esta ponte com a realidade e que a sala de aula deixe de ser um
refúgio contra a vida, o autor propõe que os alunos sejam formados na prática social a partir da
realidade das lutas sociais. Ressalta que para a realização desses preceitos a metodologia deve ser
baseada em procedimentos voltados para a vivência da vida, na qual a sala de aula e a aula deixem
de exercer o papel central no ambiente formativo do aluno. Para que isto ocorra, a ação educativa
deve ser
O autor explica que deve haver uma intermediação entre a prática (realidade) e a teoria
(sistematização) que pode ser realizada por meio de instrumentos de ensino como pesquisa, trabalho
em oficinas, laboratórios de ensino específicos, entre outros. Quanto à organização dos alunos, Freitas
propõe o trabalho em grupos que podem ser organizados pela idade de forma flexível e variada, para que
cada estudante possa contar com o auxílio dos colegas e com o tempo necessário para aprender num
clima de solidariedade (FREITAS, 2010).
Freitas também destaca que a principal mudança neste novo modelo de escola se dá quando
o aluno deixa de ser apenas um espectador do professor e passa a ser ativo, tanto no processo
de criação como em relação ao conhecimento já produzido pelo exercício das relações sociais que
ocorrem no interior do espaço escolar. Dessa forma, ele terá condições de se organizar para conduzir
sua vida na escola.
O autor sugere como exemplo de participação ativa dos alunos no processo escolar a formação
de comissões de estudantes que seriam responsáveis por aspectos do cotidiano escolar, como as
comunicações, a limpeza, a infraestrutura, os laboratórios e equipamentos, a biblioteca, entre outros.
Propõe a formação de uma assembleia da escola, a organização de grupos de estudos e outros espaços
de participação e criação que proporcionem aos estudantes experiência de vida em coletividade, tanto
na escola quanto em seu entorno.
Coadunam-se com este ponto das reflexões do autor, as afirmações de Luiz Carlos de Menezes,
em entrevista à Revista Escola, quando defende que as avaliações devem orientar o ensino e não
se reduzirem a simples provas periódicas. Como forma integrada de avaliar, cita as atividades
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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
desenvolvidas em uma gincana, por exemplo, em que o aluno escreve bilhetes com instruções
para as ações dos colegas. Tais bilhetes são capazes de demonstrar ao professor as competências
de ler e escrever de cada aluno.
Freitas conclui sua reflexão questionando a existência da avaliação formal que, em sua visão,
deve ser substituída pelo contato direto com a vida, em que as lacunas no conhecimento aparecerão
naturalmente assim como os acertos. Quanto à motivação para o estudo, defende que não venha
mais da nota, mas da necessidade de se construir o novo, por meio de um projeto de vida.
Resumo
A observação e seu registro podem ser feitos por diversos meios além
da escrita, como: gravação em áudio e vídeo, produções das crianças ao
longo do tempo, fotografias etc., compondo o portfólio do professor e do
aluno.
Exercícios
Questão 1. (FGV 2008) Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) orientam que a avaliação
se aplique não apenas ao aluno, considerando as expectativas de aprendizagem, mas às condições
oferecidas para que isso ocorra. Segundo esse documento, avaliar a aprendizagem, portanto, implica
avaliar o ensino oferecido, ou seja, avaliar a instituição educativa em sua globalidade.
A) identifica os pontos fortes e fracos, as potencialidades e os limites da ação educativa para que se
possam corrigir os rumos do trabalho que se está desenvolvendo.
B) está interessada em identificar os erros, punindo os responsáveis e contribuindo para a melhoria
do trabalho que está sendo realizado.
C) está empenhada em premiar o mérito de cada professor e escola, valorizando os profissionais
dedicados e competentes.
D) promove uma competição produtiva a partir da divulgação de gráficos de desempenho e do
estabelecimento de um ranking entre as escolas.
E) é fruto da adesão compulsória dos membros da escola, promovendo, assim, a necessária melhoria
dos padrões de qualidade oferecidos.
A) Alternativa correta.
Justificativa: como vimos no decorrer desta unidade, a avaliação institucional permite que a
instituição avalie o processo de ensino-aprendizagem identificando os aspectos que precisam ser
revistos e reorganizados no trabalho educativo.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a alternativa está incorreta porque não é objetivo da avaliação instituição apontar
apenas os erros, mas sim identificar as fragilidades do processo para que a ação educativa possa ser
revista.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa: essa alternativa está incorreta porque a avaliação institucional não tem a função de
avaliar e nem classificar apenas os professores das escolas.
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AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a avaliação institucional não deve ser utilizada para promover a competição entre as
instituições educacionais. Ela deve servir para identificar os pontos frágeis, as possibilidades e a limitação
da ação educativa no processo de ensino-aprendizagem, permitindo que as instituições revejam o seu
projeto educativo.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: para que a avaliação institucional atinja seus reais objetivos é necessário que a
comunidade escolar compreenda a sua função e utilize de seus resultados para planejar, replanejar e
reelaborar a ação educativa.
Questão 2. Assinale a alternativa que melhor explica a relação representada na figura abaixo, de
acordo com Freitas et al. (2009):
Organização do
trabalho pedagógico Organização do trabalho na
global da escola sala de aula
II – A avaliação escolar incorpora objetivos que vão além das matérias escolares, ligados à função
social e presentes na organização do trabalho pedagógico global da escola.
III – Há dois níveis de organização do trabalho pedagógico que são independentes: o nível global
da escola que incorpora a função social seletiva e o nível dos processos didáticos e de avaliação que
acontecem na sala de aula.