Apostila - Biologia Dos Indicadores Biolgicos Web PDF
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Apostila - Biologia Dos Indicadores Biolgicos Web PDF
2014
REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL
Presidenta
Dilma Rousseff
Vice-Presidente
Michel Temer
CDD XXX
CDU XXX
Coordenação Editorial
Pedro de Araujo Lima Constantino, Adriana Assis Arantes,
Marcelo Rodrigues Kinouchi
Autoria Borboletas
Elisa Herkenhoff
Jessie Pereira dos Santos
Marcio Uehara-Prado
Autoria Mamíferos
Rodrigo de Almeida Nobre - Seleção Natural – Inovação em Projetos
Ambientais
Ricardo Sampaio
Daniel Munari
Marcelo L. Reis
Carlos Eduardo de Viveiros Grelle
Autoria Aves
Henrique Bastos Rajão Reis
Thiago Orsi Laranjeira
AVES CINEGÉTICAS
1.Quem são as aves? 15
2. Por que usar aves em um monitoramento? 15
3. Quais aves serão monitoradas? 15
4. Características básicas 19
5. Padrões de riqueza e distribuição geográfica 20
6. Espécies ameaçadas em nível nacional 22
7. Morfologia, vocalização e caracteres diagnósticos 22
8. Comportamento 25
9. Lógica de identificação 27
Referências 30
BORBOLETAS FRUGÍVORAS
1. Borboletas 73
2. Borboletas e mariposas 75
3. Diversidade e ecologia de borboletas 76
4. Alimentação dos adultos 77
5. Borboletas: bons indicadores de biodiversidade 78
6. Borboletas frugívoras 79
7. Identificação das tribos de borboletas frugívoras 101
8. Riqueza das tribos nos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica 105
9. Conservação e monitoramento de borboletas 107
Referências 113
11
Onde
iplinas
7 disc
e
1.
s
ulo
2 Mód
Introdução à gestão
e monitoramento
da biodiversidade
iplinas 2 Módulos e 5
5 disc dis
e
5. 2.
cip
ulo
lina
1 Mód
Fundamentos
s
Articulação
intra e interinstitucional e Estratégias
Pedagógicas
CAPACITAÇÃO EM
MONITORAMENTO DA
BIODIVERSIDADE
4.
Análise,
3.
Protocolos
síntese
5 Módul
de
e gestão
Monitoramento
dos dados
os
2M a
e9
dis lin
s
c i pl ódu s ci p
in a s lo s e 9 d i
Com o objetivo de apoiar as aulas da disciplina, esta apostila apresenta princípios e ca-
racterísticas biológicas e ecológicas dos grupos indicadores de biodiversidade mamíferos Aves cinegéticas
diurnos e de médio e grande porte, aves cinegéticas e borboletas frugívoras selecionados
para avaliar a efetividade de conservação da biodiversidade das Unidades de Conserva-
ção do Sistema Nacional de Unidades de Conservação.
CAPÍTULO
12
1
CAPÍTULO 1: AVES CINEGÉTICAS 15
As aves (ou pássaros como muitas vezes são chamadas) são animais vertebrados
(Classe Aves) facilmente identificáveis pela presença de penas recobrindo o corpo, pelo
bico córneo, sem dentes e pelos membros dianteiros modificados em asas. Apesar das
asas e das penas, muitas aves não voam (como as emas) ou o fazem apenas esporadica-
mente (como os inhambus e as codornas).
servação dos habitats, pressão de caça etc. (PERES, 2000; RIBON et al., 2003; DEVELEY &
METZGER, 2006; HESS et al.,2006; GARDNER et al., 2008).
Tabela 1.1. Espécies de aves selecionadas como indicadores, incluindo status de conser- Taoniscus nanus inhambu-carapé VU 1
vação e presença nos biomas Amazônia, Mata Atlântica e Cerrado.
Cracidae
Pauxi tomentosa mutum-do-norte LC (NT) 1 Tinamídeos são aves exclusivas da região Neotropical, ocorrendo do México à Patagô-
ma de Monitoramento in situ da Biodiversidade se justifica por diversas razões, entre elas: Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos
a sensibilidade a impactos antrópicos, especialmente a caça; a facilidade de detecção em
função do grande porte, da vocalização conspícua e da utilização, em geral, dos estratos
Tinamus tao (azulona) – Família Tinamidae.
mais baixos de vegetação (muitas espécies são encontradas normalmente procurando
alimento no chão da mata ou de campos); a possibilidade de serem monitoradas através
de métodos simples e baratos, como o da transecção linear. A família Cracidae pertence à ordem Galliformes, a mesma de importantes aves do-
mesticadas pelo homem, como a galinha-doméstica e a codorna-doméstica (ambas da
família Phasianidae, do Velho Mundo). Cracídeos são essencialmente aves neotropicais,
encontradas dos Sul dos EUA até o Norte da Argentina (DEL HOYO, 1994; SICK, 1997).
São, em geral, maiores que os tinamídeos (as maiores espécies podem alcançar cerca de
1 metro de comprimento e pesar quase 4 kg), além de possuírem pernas mais fortes e
18 mais altas e cauda mais longa.
Podem apresentar, ao contrário dos tinamídeos, áreas nuas na cabeça de colorido in- Riqueza por gênero e bioma 21
tenso (vermelho, amarelo, azul ou verde). Particularmente coloridas são as barbelas na
região da gargantados jacus e jacutingas e a base do bico dos mutuns. Os sexos são ge- Tinamidae Cracidae
Pode ocorrer simpatria entre várias espécies de tinamídeos, ou seja, mais de uma
espécie pode ser encontrada na mesma localidade. SICK (1997) diz que no Rio de Ja-
Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos neiro, por exemplo, até passado recente, existiam localidades nas quais se podia en-
contrar até seis espécies: Crypturellus soui, C. obsoletus, C. variegatus, C. tataupa, C.
Crax fasciolata – Família Cracidae. noctivagus e Tinamus solitarius, embora essas espécies possam ocupar habitats dife-
rentes – como sub-bosques fechados ou abertos. O mesmo autor diz que na Amazô-
nia há, por vezes, três espécies de Tinamus e algumas espécies de Crypturellus viven-
do juntas, nas mesmas matas. Pode haver simpatria também entre as Nothura e entre
essas e Taoniscus e Crypturellus.
5. Padroes de riqueza e distribuicao geográfica
De acordo com SICK (1997), aparentemente todos os representantes de Crax e Mitu
Biologia dos indicadores biológicos
Cracídeos e tinamídeos são amplamente distribuídos pelo Brasil. A Amazônia é o bioma (incluindo Pauxi) têm disitribuição alopátrica, excluindo-se geograficamente. Espécies
que concentra a maior riqueza de espécies das duas famílias. Vejamos os dados de riqueza: de Pipile e de Ortalis também se excluem (duas espécies do mesmo gênero não são en-
contradas no mesmo local). Espécies de diferentes gêneros (Crax, Mitu e Penelope p.ex.)
Riqueza por biomas podem ser encontradas juntas, no entanto, assim como duas ou mais espécies do gê-
nero Penelope.
Tinamidae Cracidae
• 16 espécies na Amazônia • 15 espécies na Amazônia Durante a identificação das espécies na coleta de dados do monitoramento, a preocu-
(11 endêmicas) (11 endêmicas) pação maior deve ser com as espécies que apresentam co-ocorrência, pois, uma vez de-
• 8 espécies na Mata Atlântica • 6 espécies na Mata Atlântica tectado um gênero que apresenta o padrão de distribuição geográfica, facilmente poderá
(2 endêmicas) (4 endêmicas) identificar a espécie pela localidade da coleta.
• 7 espécies no Cerrado • 4 espécies no Cerrado (1 endêmica)
20 (3 endêmicas)
6. Espécies ameacadas em nível nacional comprimento, ao passo que as codornas (gênero Nothura) têm entre 19,5 cm e 25 cm. A 23
perdiz (Rhynchotus rufescens) é o maior tinamídeo campestre brasileiro, com até 37,5 cm
Os cracídeos estão entre as aves mais ameaçadas do planeta, com mais de um terço de comprimento (SICK, 1997).
22
• Bico: mutuns do gênero Crax com formações carnosas na base do bico e 8. Comportamento 25
cera de coloração vermelha ou amarela; mutuns do gênero Pauxi têm bico
avermelhado e em algumas espécies o cúlmen é elevado, formando uma crista
Uso vertical do habitat
• Barbelas e cristas: barbelas com duas cores (vermelho com azul) ou azuis, ao Tinamídeos são predominantemente terrestres, mas empoleiram a baixa altura. Cra-
contrário das Penelope, que têm barbela vermelha e dos Ortalis, que não têm cídeos podem ser terrestres ou arborícolas, dependendo do gênero:
barbela pronunciada; Aburria com penas longas e brancas no alto da cabeça e • Crax: terrestre, raramente arborícola (altura variável).
da nuca.
• Penelope, Aburria, Ortalis: arborícolas, usualmente na copa.
As vocalizações são geralmente bem semelhantes nas espécies aparentadas de crací-
• Nothocrax: forrageia no solo; empoleira durante a noite (PARKER, 2002).
deos, mas muito diferentes entre mutuns, jacus, jacutingas e aracuãns. A vocalização dos
aracuãns consiste em um cacarejar altamente rítimico, de timbre duro, emitido normal- • Pauxi: predominantemente terrestre, mas empoleira quando necessário.
mente por mais de um indivíduo simultaneamente. Jacus têm voz forte e rouca. Jacutin-
gas e cujubis emitem piados altos e finos, semelhantes aos de alguns pássaros. Mutuns Sociabilidade
têm canto baixo e profundo, semelhante ao som obtido ao se soprar uma garrafa vazia
(SICK, 1997). A sociabilidade apresenta-se diferenciada entre as famílias das aves-alvo do monito-
ramento, constituindo um elemento relevante à identificação das espécies. Tinamidae é
predominantemente solitário e o comportamento social varia em Cracidae, como segue:
Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos • Crax: usualmente em pares ou até 4-5 indivíduos (grupos familiares).
• Ortalis: bandos grandes.
Guia de identificação de aves: Crax alector, Pauxi tu-
berosum, Ortalis canicollis, Penelope jacucaca, Aburria • Pauxi: solitários ou em pares.
cujubi – Família Cracidae. • Penelope: em pares ou em pequenos bandos.
• Aburria: solitárias ou em pares.
Tendo diferenciado o gênero pelos aspectos aqui listados, pode-se proceder à iden- Comportamento de fuga
tificação das espécies de cracídeos pela sua ocorrência, uma vez que não apresentam
co-ocorrência dentro do mesmo gênero. Pode ocorrer simpatria entre algumas espé- Tinamídeos são geralmente tímidos e elusivos e, quando se sentem ameaçados, ten-
cies de Penelope. dem a permanecer parados e em silêncio na tentativa de passarem despercebidos. Tina-
mídeos são bons corredores. Quando alarmados, preferem se afastar andando ou cor-
Biologia dos indicadores biológicos
rendo de maneira silenciosa do que voar, uma vez que não são bons voadores em geral
(CABOT, 1992); os voos são rápidos, desajeitados e curtos.
Cracídeos são mais tranquilos, permitindo observação. Mas são também desconfia-
dos e tendem a se afastar lentamente ou ir para galhos mais altos.
24
27
Guias regionais do projeto (em construção) Excluir espécies de outras regiões dentro do bioma (elaboração de lista potencial
de espécies).
Biologia dos indicadores biológicos
Para Amazônia: guias de campo de países fronteiriços (Venezuela, Peru e Excluir espécies terrestres ou arborícolas.
Colômbia)
Excluir espécies muito pequenas ou muito grandes.
26
Um exemplo prático: Observações quanto à identificação das espécies em campo: 29
1. Onde você está? Bioma Mata Atlântica (exclui espécies endêmicas da Amazônia
• Sempre que possível, observar os caracteres morfológicos diagnósticos nos
Tabela 1.2. Espécies de Tinamidae e Cracidae no Parque Nacional da Serra dos Órgãos, • padrão de coloração predominante;
incluindo altitude e habitat de ocorrência.
• bico, barbela e crista;
28
REFERÊNCIAS Rajão, H., Cunha, A.A., Develey, P.F., Bacellar-Schittini, A.E.F., Cronemberger, C., Fon-
tana, C. S. 2013. Monitoring Birds in the Atlantic Forest: a Proposal for the Brazilian
31
Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos (2014) Listas das aves do Brasil. 11ª Edição,
1/1/2014, Disponível em <http://www.cbro.org.br>. Acesso em: [13/07/2014].
del Hoyo, J. 1994. Family Cracidae (chachalacas, guans and curassows). Pp. 310-363. In:
del Hoyo, J., Elliott, A. & Sargatal, J. (eds). Handbook of the birds of the world, vol.2.
New World Vultures to Guineafowl. Lynx Edicions, Barcelona.
Develey, P. & Metzger, J.P. 2006. Emerging threats to birds in Brazilian Atlantic Forest:
the roles of forest loss and configuration in a severely fragmented ecosystem. Pp.
269-290.In: W. Laurance & C. Peres (orgs.). Emerging Threats to Tropical Forests.
University of Chicago Press, Chicago.
Hess, G.R., Bartel, R.A., Leidner, A.K., Rosenfeld, K.M., Rubino, M.J., Snider, S.B. & Ri-
Biologia dos indicadores biológicos
Pacheco, J.F. 2001. Quando o que é da Colômbia não é do Brasil: o caso Crypturellus
casiquiare (Chapman, 1929). Nattereria 2: 14-15.
Peres CA, 2000. Identifying keystone plant resources in tropical forest: the case of
gums from Parkia pods. Journal of Tropical Ecology, 16:287-317.
Peres, C.A. & Cunha, A.A., 2011. Manual para censo e monitoramento de vertebrados
de médio e grande porte por transecção linear em florestas tropicais. WCS, MMA,
30 ICMBio.
Biologia dos indicadores biológicos
32
CAPÍTULO
2
grande porte
Mamíferos de médio e
1. Quem sao os médios e grandes mamíferos? 35
Em função da história natural das espécies que comtemplam cada ordem, entre as 12
ordens, somente 8 serão alvo deste monitoramento:
• Artiodactyla (veados, porcos)
• Carnívora (gatos, cachorros, quatis)
• Cingulata (tatus)
• Lagomorpha (coelho)
• Perissodactyla (anta)
• Rodentia (cutias, pacas, porco-espinhos)
34
• Pilosa (preguiças e tamanduás)
• Primates (macacos, micos, saguis, sauins)
2. Diversidade de mamíferos no Brasil 37
Figura 2.1. Tabela extraída de Paglia et al., 2013, exibindo a diversidade de ordens,
famílias, gêneros, espécies e novas espécies registradas no território brasileiro.
* Inclui uma espécie de anta descrita em 2013, Tapirus kabomani (COZZUO et al., 2013)
O conhecimento tradicional, por sua vez, também não é completo. Ele tende a ser restri-
to às espécies mais conhecidas/avistadas ou utilizadas pelos moradores locais. O conheci-
mento sobre as espécies também é um reflexo da cultura daquela comunidade, pela forma
como aquela comunidade se relaciona com o meio ambiente local. Como exemplo, mora-
dores tradicionais das Unidades de Conservação da região de Boca do Acre/AM indicam
com precisão e certeza quais espécies, caçadas por eles, ocorrem em determinados locais
nas referidas Ucs. Contudo, boa parte dos moradores não tem certeza sobre indicar qual
das três espécies de primatas [Figura 2.5 (simpátricas segundo o conhecimento científico)]
ocorrem em suas colocações ou próximo às suas casas (R. Sampaio com. pess.).
Aliar os dois saberes torna-se imprescindível para a elaboração de uma lista local de es-
pécies de mamíferos, contudo, conhecer as limitações de cada é necessário para se acurar
essa lista local. Para obter maiores informações sobre como devem ser feitas entrevistas
Figura 2.4. Número total de espécies de mamíferos e espécies exclusivas com moradores locais, vale a pena consultar a publicação do ICMBio (Brasil, 2012).
a cada bioma no Brasil. Figura extraída de Paglia et al. (2013).
Nota-se que as listas geradas a partir desta pesquisa são listas potenciais de espécies,
e certamente nem todas as espécies previstas necessariamente ocorrem na área. Fato-
Figura 2.5. Fotos de primatas Callitriquideos que ocorrem no interflúvio madeira-purus,
res ecológicos, histórios e alterações do habitat podem ter afetado as ocorrências locais
mais precisamente na região de Boca do Acre/AM. Fotos. Ricardo Sampaio. Esquerda Saguinus
de determinadas espécies. Ademais, espécies exóticas, introduzidas de outros biomas,
imperator; centro: Saguinus weddelli; direta: Callimico goeldii.
não são “captadas” por essa ferramenta.
38 Uma estratégia muito interessante para se definir uma lista local de espécies de mamí-
feros é aliar o conhecimento científico ao conhecimento popular/tradicional local. Ambos
4. Tópicos de destaque na biologia da conservacao 5. História natural e caracteres diagnósticos dos 41
Figura 2.6. A figura à esquerda mostra o número de espécies de mamíferos nas categoria
de nível de ameaça. A figura à direita mostra o número de espécies e espécies endêmicas
ameaçadas por bioma no Brasil. (Ambas figura foram extraídas de PAGLIA et al., 2013)
40
Figura 2.7. Figura que exibe a proporção de médios e grandes mamíferos por indígenas no
Peru. Figura extraída de REDFORD (1992).
ORDEM PRIMATES 43
São animais arborícolas e sociais. Possuem cauda, a qual é prêensil nos primatas de
maior porte. Possuem um focinho curto e a face geralmente é desprovida de pelos.
Família Callitrichidae
42
Na Amazônia, ocorrem 5 gêneros de callitriquídeos e a maiores diversidade de espé- O gênero Saguinus é mais diverso entre os callitriquídeos, possui atualmente 23 formas 45
cies está nesse bioma. (espécies e subespécies), no entanto, mais uma espécie foi descrita em 2014 (Saguinus ur-
sula; GREGORIM & VIVO, 2013), aumentando esse número para 24 espécies. É um grupo
Figura 2.11. Espécies do gênero Saguinus, evidenciando a distribuição geográfica das espécies
e subespécies (figura extraída de RYLANDS et al., 2008).
Os gêneros Cebuella e Callibelai (Figura 2.12) são conhecidos como micos-anão, leão-
Figura 2.10. Espécies do gênero Mico, evidenciando a distribuição geográfica das espécies zinho, taboqueiro, entre outros. São os menores primatas da América do Sul e são muito
(figura extraída de RYLANDS et al., 2008). raramente avistados em transecções lineares, pois são animais elusivos que tendem a se
44
esconder rapidamente por trás de troncos quando predadores surgem. De forma geral,
são primatas pouco conhecidos e estudados, são animais discretos que exibem uma vo- Família Cebidae 47
calização característica, mais discreta que a dos outros callitriquideos. Sua área de vida
é restrita a uma ou a algumas árvores somente, o que dificulta sua detecção durante as Os cebídeos são representados pelos micos de cheiro (Saimiri), cairaras (Cebus) e ma-
Os micos têm porte pequeno (800 g) e estão mais restritos a áreas inundáveis ou pró-
ximos a rios e igarapés. Os outros dois gêneros possuem porte maior (até 4,5 kg), cau-
da preênsil e tendem a habitar qualquer tipo de floresta. Vivem em bandos grandes, de
até 40 indivíduos, e são onívoros. Todas as espécies incluem animais “barulhentos”, sua
locomoção promove grandes deslocamentos de galhos e possuem volcalizações carac-
terísticas para cada gênero. Na maioria das vezes, o barulho (galhos ou vocalizações) re-
vela sua presença. Micos de cheiro são primatas de pequeno porte, contudo maiores que
Callitriqueos, possuem um andar quadrupede diferente dos Callitriqueos, micos de cheiro
e Callitriqueos tendem a não ocorrer simpatricamente. Os cairaras e os macacos pregos
são primatas de maior porte, com diferenças na coloração da pelagem; cairaras são mais
claros e macacos pregos têm um “topete”, conhecido por lapela, característico (Figura
2.14). O andar guadrupedal desses macacos revela uma silhueta única, o rabo enrolado
para baixo de ambos os gêneros (Figura 2.14).
Figura 2.14. Silhuetas de cairaras (Cebus; esquerda) e macacos pregos (Sapajus; direta).
Observa-se o “topete” de Sapajus, o rabo enrolado para baixo em ambos os gêneros. Figura
extraída de Alfaro et al., (2012a).
A família Aotidae possui apenas um gênero (Aotus), com 5 espécies parapátricas. É re- Assim como os callitriqueos, a distribuição geográfica das espécies é limitada por in-
conhecida localmente como macacos da noite ou macacos quatro-olhos, devido às gran- terflúvios pequenos, principalmente na Amazônia. As espécies de Callicebus são agrupa-
des manchas brancas sobre seus olhos. das em cinco grupos (Figura 2.16): grupo Personatus, que ocorre na Mata Atlântica e Ca-
atinga; grupo Moloch, no leste da Amazônia; grupo Torquatos, nas porções central, sul e
norte da Amazônia; grupo Cupreus, no sudoeste da Amazônia; e grupo Donacophilus, sul
Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos da Amazônia e Pantanal. As espécies de cada grupo são parapátricas, porém espécies de
grupos diferentes podem ocorrem simpatricamente no oeste da Amazônia.
Aotus trivirgatus
Biologia dos indicadores biológicos
48
Devido a este hábito discreto, visualizações dessas espécies podem ser mais difíceis a 51
observadores menos experientes.
Figura 2.16. Pranchas exibindo as faces de todas as espécies do gênero Callicebus. Prancha
extraída de van Roosmalen et al., (2002).
Figura 2.17. Prancha elaborada por S. Nash (FERRARI et al., 2013), mostrando as variações nas
colorações das subespécies do gênero Cacajao.
Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos
O gênero Chiropotes, endêmico da Amazônia, possui 5 espécies parapátricas, de gran-
Parauacu (P. irrorata). de porte (> 4 kg; Figura 2.18). São conhecidos localmente como Cuxiús, e a variação entre
as espécies estão na coloração de sua pelagem, e o nariz contrastante para C. albinasus.
Todas as espécies são parapátricas. Formam bandos grandes (> 40 indivíduos), os indiví-
Possuem porte médio (> 3 kg), mas parecem ter o porte maior devido ao aspecto de duos possuem cauda longa, peluda e não preênsil. Essa cauda lembra muito um pêndulo
sua pelagem. A face nua contrasta com a pelagem presente no restante do corpo. For- quando estes primatas estão parados em galhos e troncos e a mantém “balançando”. Há
mam grupos pequenos, compostos por até 6 indivíduos. A cauda é longa e não preênsil. presença de tufos de pelos na cabeça (topete) e possuem também “barba” na face. São
Alimentam-se de frutos e sementes, muitas vezes podem ser predadores de sementes. frugívoros e predadores de sementes. Utilizam os estratos altos da floresta e possuem
50 Emitem uma vocalização discreta e baixa, bem típica, parecem “conversar” entre si. A um hábito pouco discreto, fazendo muito barulho ao se locomover, possuindo uma voca-
locomoção também é bem discreta, mais concentrada nos troncos do que nos galhos.
lização típica, vocalizando durante quase todo seu período de atividade. São facilmente 53
detectáveis durante as transecções lineares e podem formam bandos mistos com maca-
cos prego.
O gênero Lagothrix é amazônico, com três espécies parapátricas (L. cana, L. lagotri-
Figura 2.18. Prancha elaborada por S. Nash (FERRARI et al., 2013), mostrando as cinco cha e L. poeppigii). São primatas de grande porte (> 11 kg; Figura 2.20), robustos e com
espécies de Chiropotes. pelagem felpuda. Vivem em bandos grandes, com mais de 40 indivíduos, mas subgrupos
menores também são frequentes e facilmente avistados. São frugívoros e folívoros, e
Família Atelidae ocupam todos os tipos florestais e tendem a utilizar os estratos médios e altos do dossel.
Possuem cauda longa e preênsil. As vocalizações incluem um grande repertório, sendo
A família Atelidae inclui os maiores primatas neotropicais e inclui 4 gêneros: animais barulhentos e de fácil detecção em campo.
• Aloautta – guaribas, bugios, capelões; barbados.
• Ateles – macacos aranha, macacos preto, coatás, cuambas.
• Lagothrix – macacos barrigudos.
• Brachyteles – muriquis, monocarvoeiros.
O gênero Aloautta possui 10 espécies no Brasil (GREGORIM, 2006); elas tendem a ser
parapátricas, no entanto, em várias áreas de contato entre espécies, simpatria é comum
Biologia dos indicadores biológicos
Figura 2.22. Ilustrações das duas espécies de Muriqui, ressaltando a distribuição geográfica de
cada (MITTERMEIER et al., 2007).
ORDEM PERISSODACTYLA
A ordem Perissodactyla possui duas espécies no Brasil – Tapirus terrestris, a anta co-
mum ou anta rosilia, que ocorre em boa parte do território brasileiro, e T. kabumani a anta
anã ou pretinha, que pode ocorrer simpatrimente com T. terrestris em algumas regiões da
Figura 2.21. Um indivíduo macho de Ateles belzebuth (esquerda) e A. paniscus (direita). Amazônia. Antas são remanescentes da megafauna, Tapirus terrestris é o maior mamífero
Fotos: Ricardo Sampaio. terrestre (250 kg).
Biologia dos indicadores biológicos
O gênero Brachyteles possui duas espécies (Figura 2.22), distribuídas nas florestas pri-
márias, secundárias e semidescíduas da Mata Atlântica. São conhecidos como Muriqui e Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos
Mono Carvoeiro. São primatas de grande porte (> 12 kg), o maior dos neotrópicos. Os
braços e as pernas são longos, assim como a cauda, que é também preênsil e especializa-
T. terrestris.
da. Por conta da extensão, a cauda funciona como uma terceira mão, auxiliando durante a
locomoção por semi braquiação. A pelagem é felpuda. Alimentam-se de frutos e folhas e
vivem em bandos grandes (> 90 indivíduos), contudo podem se subdividir para o forragea-
mento. São primatas que, ao se locomover, fazem muito barulho. Além disso, emitem vo- São solitárias, mas podem agregar-se em função da disponibilidade de alimentos. Ha-
calizações características e altas, relacionada à comunicação extra e intragrupo, ao longo bitam florestas densas e áreas abertas. Nadam bem, podendo atravessar até grandes
de quase todo seu período de atividade. rios. São crepusculares, tendendo a serem noturnas. São animais silenciosos, a identifi-
54 cação tende a ser mais focada na visualização. Possuem vocalização característica, que
se assemelha a um assobio longo. O padrão de fuga também é bem característico, asse- e, muitas vezes, são somente avistados quando o mesmo se “assuta” com o observador 57
melhando-se a um galope, momento no qual se torna um animal barulhento, devido ao e foge, emitindo um forte “assopro” ao iniciar a fuga. Neste momento o observador deve
seu porte. avaliar se conseguiu detectar o local exato onde o animal estava antes de iniciar a fuga.
No Brasil, a famíllia Tayssuidae é representada por apenas duas espécies: Pecari tajacu
(catitu, cateto, porquinho) e Tayassu pecari (queixada, porcão). São porcos, que possuem
Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos
caracteristicamente pernas curtas, cabeça grande, focinho proeminente, nariz arredon-
dado e pelagem áspera. Odocoileus virginianus, Ozotoceros bezoarticus e Blas-
tocerus dichotomus.
transecções lineares. Mazama americana é também chamado de veado vermelho ou capoeira. Habita flores-
tas fechadas e matas de galeria no cerrado, próximo a corpos d´água. É o maior veado
Família Cervidae “florestal” e possui extensa distribuição geográfica. É solitário e catemeral, embora tenda
a ser mais noturno. Alimenta-se de frutas, sementes, fungos, flores e brotos, podendo
A família Cervidae é representada, no Brasil, por 4 gêneros e 8 espécies de veados e utilizar-se de folhas e gramíneas quando os frutos tornam-se escassos.
cervos. São animais grandes, com longos membros, longos pescoços e caudas curtas. Os
machos possuem chifres ou gallhadas que crescem durante todo o ano. As fêmeas de al- M. nemorivaga e M. gouazoubira, conhecidos como veado-catingueiro, veados cinza ou
gumas espécies também possuem chifres. São mamíferos ruminantes verdadeiros, com branco e fuboca, eram considerados uma única espécie. Ocorrem em habitats florestais
estômago complexo. São principalmente pastadores, mas espécies florestais são mais ou associados a ele: M. nemorivaga ocorre na Amazônia e M. gouazoubira ocorre no Cer-
frugívoras. Todos os veados têm um hábito discreto e exibem comportamente de fuga rado e Mata Atlântica. São solitários, diurnos e possuem coloração mais branca, acinzen-
quando avistados. Em áreas abertas, a visualização dos mesmos pode ser feita a grandes tada e parda.
56 distâncias, no entanto no interior das florestas, veados são avistados a curtas distâncias
Mazama nana é conhecido também por veado-mão-curta, veado-poca, veado peque- O gênero Urosciurus se constitui pelos maiores esquilos do neotrópico e possui duas 59
no, veadinho, veado cambuta e cambucica. Ocorrem em floresta ombrófila mista (floresta espécies parapátricas. O gênero Microsciurus é mono-específico (M. flaviventer). O gê-
de Araucária) e seus ecótonos com floresta sazonal semidecídua, floresta ombrófila den- nero Sciurullus também é mono-específico (S. pusillus) e inclui os menores esquilos neo-
Agoutidae apresenta somente uma única espécie, Cuniculus paca, a paca, que se dis-
tribui por todo o território brasileiro. Um animal noturno e solitário, que pode ser avistado,
Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos raramente, durante o dia e possui um padrão de fuga com vocalização quando se sente
ameaçado. Possui manchas brancas no corpo.
Mazama america, M. nemorivaga, M. gouazoubira,
M. bororo e M. nana.
Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos
Cuniculus paca.
ORDEM RODENTIA
Os roedores são facilmente caracterizados pelos seus dentes, pois possuem um par
de incisivos em formato de lâminas, constituindo uma ampla ferramenta. A maioria tem
tamanho corporal menor que 1 kg. São terrestres, arbóreos, semiaquáticos e fossoriais. Famílias Dasyproctidae
A ordem Rodentia abrange 234 espécies no Brasil, contudo, uma pequena parte dessa A família Dasyproctidae é representada por 2 gêneros, Dasyprocta – com 9 espécies –
grande diversidade é alvo do Programa de Monitoramento in situ da Biodiversidade. e Myoprocta, com 2 espécies.
Família Sciuridae
Biologia dos indicadores biológicos
Sciuridae, a família dos esquilos, catipurus, catingueles e serelepes, possui 4 gêneros Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos
com 11 espécies.
Possui uma única espécie Hydrochaeris hydrochaeris, conhecida como capivara. É um A ordem Lagomorpha inclui os coelhos e tapitis. A única espécie nativa do Brasil é
animal catemeral, que vivie em grupos e associado à água. É o maior roedor do mundo, a Sylvilagus brasiliensis. É presente em todo o Brasil, herbívoro, solitário e noturno, po-
sendo facilmente identificado por visualização direta em todo território brasileiro. Pode dendo, portanto, ser avistado durante o dia. Na Amazônia, suas populações ocorrem em
habitar florestas próximas a cursos d´água e alagados, e em alguns casos sua presença se manchas, mas trata-se é um animal mais comum na Mata Atlântica e Cerrado.
registra nas transecções lineares. Existe comportamento de fuga com vocalização quan-
do o animal se sente ameaçado.
Família Dinomyidae
Possui uma única espécie Dynomys branickii (pacarana ou paca de rabo). É um animal Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos
noturno, que forma bandos familiares tendo uma distribuição geográfica restrita ao su-
doeste da Amazônia. Dificilmente será avistado durante o Programa de Monitoramento in
Tapiti.
situ da Biodiversidade.
Biologia dos indicadores biológicos
Capivara e pacarana. Os mamíferos da ordem Carnivora possuem dentes, musculatura e morfologia adap-
tados à carnivoria. Os caninos usualmente são grandes e os molares cuspidados. A dieta
é ampla, algumas espécies sendo estritamente carnívoras e outras onívoras (insetos, fru-
Família Erethizontidae tos e até folhas). Os carnívoros estritos possuem baixa densidade populacional e geral-
mente comportamento elusivo; é incomum avistá-los em transecções lineares; os onívo-
A família Erethizontidae, no Brasil, apresenta dois gêneros, Coendu, com 7 espécies, são ros são mais abundantes, sendo, relativamente, mais registrados.
conhecidos como porcos-espinho ou coendus e estão distribuídos por todo o Brasil; algu-
mas espécies podem ocorrem em simpatria, contudo tendem a ser parapátricos. O gênero
60 Chaetomys que é monoespecífico (C. subspinosus) e popularmente conhecido como ouriço
A ordem Carnivora possui 5 famílias: 63
• Canidae (cachorros do mato, lobos e raposas)
• Procyonidae (quatis, guaxinins) Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos
Família Canidae
O gênero Procyon inclui somente uma espécie no Brasil, P.cancrivorous, e ocorre em todo
Canidae é a família dos cachorros, lobos e raposas, que totalizam 6 espécies no Brasil. o Brasil. São conhecidos como guaxinins e mão pelada. Possuem máscara nos olhos,
anelamento na cauda e o corpo branco e preto. São solitários e noturnos, embora avista-
mentos diurnos possam ocorrer. O gênero Nasua inclui somente uma espécie no Brasil,
N. nasua, que ocorre em todo o país. São conhecidos como coatis: animais diurnos, que
Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos
podem ser solitários ou viver em grupos. Os pelos tem coloração marrom a avermelhada
Atelocynus microtes, Spheotus venaticus, Cerdocyon e a cauda é anelada. Ambos os gêneros têm grande habilidade arborícola. A vocalização é
thous, Chrysocyon brachyurus, Lycalopex gymnocercos e característica do gênero.
Lylacalopex vetulus.
Os procionídeos estritamente arborícolas e noturnos, que fortuitamente podem ser
Podem ser divididos em três grupos, mais relacionado ao seu hábito e nome popular. identificados durante o dia, assim como o macaco da noite (Aotus spp. ver acima), incluem
Os cachorros do mato (Atelocinus microtes e Spheotus venaticus) são florestais, o primeiro o gênero Potos, monoespecífico (P. flavus), conhecido como jupará, jurupará, gogó-de-
endêmico da Amazônia, o segundo ocorre tabém na Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. sola e macaco-da-noite. São animais solitários que ocorrem na Amazônia e Mata Atlân-
As raposas (Cerdocyon thous, Lylacalopex vetulus e Lycalopex gymnocercos) são animais tica, possuem cauda preênsil, mancha sem pelo na garganta e vocalização característica;
de área aberta (cerrado, pantanal e caatinga), embora C. thous também ocorra em vários e o gênero Bassaricyon, com uma única espécie ocorrendo no Brasil (B. alleni), são animais
ambientes florestais. Os lobos incluem somente uma espécie (Chrysocyon brachyurus), o solitários conhecidos por janaús e gatiaras, podendo ser confundidos com Potos flavus,
lobo guará, que se distribui no Cerrado, Caatinga e Pantanal. A dieta pode ser carnívora, presentes na Amazônia. A cauda não é preênsil e possui anelamento, sua vocalização é
insetívora ou onívora. As vocalizações são características e podem ser identificados pela característica.
visualização direta. Nas florestas tropicias, as espécies de cachorros-do-mato têm uma
densidade populacional muito baixa, sendo considerados animais raros; devido a isso e Família Mustelidae
ao seu comportamente elusivo, avistamentos desses animais em transecções lineares
No Brasil, ocorrem 6 espécies da família Mustelidade, sendo duas aquáticas e quatro
são eventos muito raros. Espécies de áreas abertas têm uma densidade populacional re-
terrestres.
lativamente mais alta e podem ser mais avistados. Algumas espécies de áreas abertas
Biologia dos indicadores biológicos
62
entre eles se dá pelo tamanho e pela coloração da pelagem.
Eira Barbara, a irara, é onívora e frugívora e ocorre em todo o Brasil, é solitária, diurna e com 65
grande agilidade arborícola e aquática. Seu corpo possui coloração escura, com algumas
variações de cor na cabeça, e mancha amarela na garganta. Galictis é o gênero dos furões.
A família Mephitidae possui duas espécies de gambás, camgambás e jaritataca. No Brasil, a família Myrmecophagidae inclui três espécies de tamanduás, pertencentes
a três gêneros: Tamandua tetradactyla, o tamanduá-mirim, terrestre/arborícola, possui
cauda preênsil, sendo distribuído por toda América do Sul.
Guia de identificacao de espécies alvo de aves e mamíferos
Conepatus semistriatus, que ocorre no Nordeste, e C. chinga, que ocorre no Sul e Su-
deste. São pequenos carnívoros negros com mancha branca da cabeça à cauda. Ocorrem
em áreas abertas, mas podem ocorrer em floresta de transição. Quando ameaçados, ex-
pelem um jato de fluido com forte odor. São solitários, noturnos e onívoros.
Família Felidae
Os felídeos são representados por 8 espécies no Brasil. São conhecidos como gatos do
Biologia dos indicadores biológicos
Tamanduá-mirim e tamanduaí.
64
Dasypus kappleri, conhecido como tatu 15 quilos, ocorre na Amazônia; Dasypus noven-
cinctus, conhecido como tatu galinha, é mais comum entre todos os tatus, presente em
Cyclops didactylus, o tamanduaí, arborícola de cauda preênsil, distribuído na Amazônia
todo o Brasil e em toda a América do Sul; Dasypus septemcinctus, conhecido como tatu
e em parte da Mata Atlântica; e Myrmecophaga tridactyla, o tamanduá-bandeira, um ani- 67
galinha, mais restrito ao Brasil Central (Pantanal e Cerrado); Euphractus sexcinctus, co-
mal solitário, terrestre, que também se distribui por toda América do Sul. Os tamanduás
nhecido como tatu peba, distribuído no Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica; Priodontes
não possuem dentes, possuem focinho longo e estreito, olhos e orelhas pequenos. São
Todas as preguiças (Choloepus e Bradypus) são arborícolas, solitárias e catemerais, Dasypus kappleri, D. novencinctus, D. Hybridus, D.
embora Choleopus sejam mais noturnas que diurnas. Não possuem cauda, se alimentam septemcinctus, Cabassous unicinctus, Euphractus
de folhas e tanto o metabolismo quanto a locomoção são lentos. As espécies de pregui- sexcinctus, Priodonte maximus, Tolypeutes tricinctus
ças reais são identificadas por meio de visualização e somente por isso; devido à sua lenta e Tolypeutes matacus.
locomoção, não fazem barulho.
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Biologia dos indicadores biológicos
CAPÍTULO
70
3
1. Borboletas 73
A palavra Lepidoptera tem origem grega: lepidos = escamas; pteron = asas. O revesti-
mento das asas por escamas é uma característica marcante da ordem Lepidoptera. A ou-
tra característica marcante desses insetos é a presença de um tipo especial de aparelho
bucal sugador, chamado de probóscide ou espirotromba.
Ovo
Borboleta Lagarta
Pupa
Biologia dos indicadores biológicos
O número de ovos postos por uma fêmea varia de algumas dezenas a milhares, depen-
dendo da espécie e do indivíduo, e a postura pode ser realizada de uma só vez ou paulati-
namente. O desenvolvimento embrionário varia de espécie para espécie, podendo levar
72 apenas 48 horas ou quase um ano, mas normalmente ocorre em um período de alguns
dias a cerca de um mês.
As lagartas, em geral, têm hábitos terrestres e são fitófagas. Na maioria das vezes, No abdômen, são encontradas as estruturas do aparelho digestório e reprodutivo. 75
consomem folhas, mas também há espécies que se alimentam de frutos, sementes, pó-
len, cogumelos ou líquens, e ainda de madeira. Entre as lagartas de Lepidoptera, também Normalmente, as fêmeas são maiores do que os machos, enquanto que estes costu-
corpo é mais delgado. As mariposas geralmente são mais escuras, têm o corpo mais ro-
Na cabeça, se localizam os olhos, as antenas e o aparelho bucal. Os olhos são consti-
busto, e costumam voar à noite. Entretanto, esses caracteres são artificiais, borboletas
tuídos por uma grande quantidade de unidades menores, os omatídeos, que em algumas
e mariposas não são categorias taxonômicas verdadeiras, e há algumas espécies de ma-
mariposas podem chegar a incríveis 27.000 unidades. As antenas apresentam sensores
riposas que voam durante o dia e são bem coloridas, assim como borboletas escuras que
de cheiro, porém receptores olfatórios também são encontrados nas pernas anteriores,
voam no crepúsculo. Também se costuma dizer que borboletas pousam com as asas fe-
na espirotromba e nos palpos labiais.
chadas e as mariposas com as asas abertas, mas exemplos contrários a essa afirmação
são amplamente encontrados.
No tórax, estão as estruturas responsáveis pela locomoção: dois pares de asas e três
pares de pernas. As asas anteriores geralmente são mais desenvolvidas do que as poste-
A melhor maneira de diferenciar borboletas e mariposas é olhar para as antenas (Figura
riores, sendo as mais ativas no voo. As escamas das asas podem ter até 1.400 estrias em
3.3). As borboletas têm antenas compridas com uma parte mais larga na ponta. As mari-
um milímetro, e geralmente formam uma superfície que produz cores brilhantes quando
74 posas não têm bulbos na ponta das antenas, que geralmente são filiformes (só a haste) ou
é iluminada. Os desenhos formados pelas cores das asas são usados para a identificação
pectinadas (formato de pluma).
de espécies.
Uma das funções mais importantes das escamas das asas de borboletas é a regula- 77
ção da temperatura. Uma vez que são animais ectotérmicos, as borboletas dependem
da energia luminosa do sol para conseguir voar. Embora animais alados, de forma geral as
O voo varia de espécie para espécie, podendo ser suave e lento, rápido e forte, ou er- As borboletas frugívoras se alimentam de frutos fermentados ou outras substâncias
rático. De forma geral, a característica que parece chamar mais atenção nas borboletas é em processo de fermentação, como resinas vegetais e excretas ou carniças de animais.
o colorido de suas asas. Tenha ela origem física ou química, a coloração das asas se rela- Representantes dessa guilda são encontrados apenas na família Nymphalidae, na região
ciona com vários aspectos comportamentais e ecológicos da vida desses insetos, como neotropical constituindo cerca de 70% das espécies da família. Em relação aos recursos
regulação da temperatura corporal, padrão de voo, reconhecimento de parceiros repro- alimentares utilizados por espécies frugívoras, há menos registros na literatura, e pouco
dutivos, camuflagem, aposematismo e mimetismo. se sabe sobre os alimentos consumidos em ambientes naturais, podendo ser citados os
76
frutos de embaúba (Cecropia sp.) e goiaba-de-anta (Bellucia sp.).
No entanto, essas borboletas são altamente atraídas por armadilhas que utilizam Por definição, as borboletas frugívoras são um grupo específico dentro da família Nym- 79
como isca frutos fermentados, principalmente banana. Esse método de amostragem phalidae, que se alimenta de frutos fermentados, excremento de mamíferos e exsudação
proporciona uma amostragem padronizada e a possibilidade de coletas simultâneas em de plantas (DeVRIES, 1987). Além das demais vantagens apresentadas nos estudos com
De modo geral, borboletas são animais diurnos e fáceis de serem observados. Apre-
sentam uma taxonomia relativamente bem resolvida em relação aos demais grupos de
invertebrados, e a identificação da maioria das espécies é passível de ser feita em cam-
po, sem necessidade de coleta. A estrita relação que as borboletas possuem com suas
Biologia dos indicadores biológicos
Na região Neotropical, 841 espécies (47%) das quatro subfamílias podem ser conside- Por exemplo, em um estudo que compilou dados de pesquisas realizadas no Cerrado
radas frugívoras, o que significa 35% dos ninfalídeos neotropicais e 11% das borboletas foram encontradas 128 espécies de borboletas frugívoras, num total de 213 Nymphalidae
da região (Tabela 5), com os Satyrinae representando 67,5% das espécies frugívoras nes- e 504 borboletas, ou seja, uma fauna onde as borboletas frugívoras representam 60% dos
sa região. ninfalídeos e 25% das borboletas (EMERY et al., 2006).
80
Em uma área de transição da Amazônia para o Cerrado, no Mato Grosso, foram listadas Em Cotia, São Paulo, foi levantado um total de 76 espécies de borboletas frugívoras, e 83
87 espécies de borboletas frugívoras, e os demais grupos não foram avaliados (RAMOS, este estudo se concentrou exclusivamente nessa guilda (UEHARA-PRADO et al., 2005).
2000).
As borboletas desta tribo estão distribuídas em quatro gêneros, que juntos somam
28 espécies (Tabela 3.8). As lagartas de Ageroniini se alimentam em euforbiáceas, prin-
cipalmente Caryodendron sp. (Batesia e Panacea) e Dalechampia sp. (Ectima e Hamadryas)
Figura 3.5. Tribos de Biblidinae (Fonte: www.nymphalidae.net) (Beccaloni et al., 2008). O gênero Hamadryas é o principal representante deste grupo, os-
tentando 71% da riqueza de espécies da tribo na região Neotropical e 67% no Brasil. As
borboletas do gênero Ectima sp. são pequenas, e de forma geral se parecem com as Ha-
Tabela 3.7. Número de gêneros e espécies de Biblidinae frugívoros neotropicais em cada tribo. madryas. Ambos os gêneros ocorrem nos três maiores biomas brasileiros.
Subfamília Tribo Gêneros Espécies Tabela 3.8. Número de espécies de Ageroniini frugívoras neotropicais, brasileiras, e
Ageronini 4 28 por bioma.
Biblidini 1 1
Callicorini 5 35 Mata
Biblidinae Gênero Neotropicais Brasil Amazônia Cerrado Freq
Epicalini 5 67 Atlântica
Epiphilini 4 26 Hamadryas 20 12 9 8 9 85
5 19 157 Ectima 4 2 2 2 1 54
Panacea 3 3 3 0 0 8
Biologia dos indicadores biológicos
Batesia 1 1 1 0 0 8
6.1.1. Tribo Ageroniini O gênero Hamadryas representa quase toda a diversidade de Ageroniini, sendo estas
também as borboletas mais estudadas do grupo. Há bastantes trabalhos com borbole-
Os Ageroniini são borboletas pequenas a médias, com coloração variada (Figura 3.6). O tas do gênero, evidenciando características da história natural das espécies (LEITE et al.,
gênero Hamadryas apresenta cor cinzenta ou azul na face dorsal com ocelos na face ventral 2012; MUYSHONDT & MUYSHONDT 1975ª; MUYSHONDT & MUYSHONDT, 1975b), e
da asa posterior. Normalmente pousam de asas abertas, em troncos de árvores, dificultan- relacionando aspectos como distribuição espacial, territorialidade, perseguições aéreas,
do a visualização, pois com asas abertas se confundem com os troncos cobertos por líquens produção de som, audição e reconhecimento sexual (GARZÓN-ORDUÑA, 2012; MARINI-
da floresta. Possuem voo rápido e planado. São territoriais, e algumas espécies produzem FILHO & BENSOS, 2010; MONGE-NÁJERA et al., 1998; ROSS, 1963; YACK et al., 2000).
um som de estalo ao defender o território, sendo conhecidas como “estaladeiras”.
As borboletas do gênero Ectima são bem parecidas com as Hamadryas sp., mas apre-
84 sentam um tamanho corporal menor.
Batesia Felder & Felder, 1862 e Panacea Godman & Salvin, 1883 são gêneros próximos, 87
e que têm sua biologia conhecida (DeVRIES et al., 1999; DANIELS et al., 2008), sendo tam-
bém disponível uma análise filogenética e revisão dos dois gêneros (HILL et al., 2002). Es-
O gênero monotípico Biblis é o único representante dos Biblidini entre as frugívoras ne-
otropicais (Figura 3.7). Biblis hyperia (CRAMER, 1779) é uma borboleta pequena, predomi- Figura 3.8. Callicorini. Fotos: Jessie Santos.
nantemente escura com uma faixa vermelha na asa posterior. Podem ser encontradas co-
mumente voando em áreas abertas ou clareiras. As lagartas de B. hyperia têm como plantas
hospedeiras principais euforbiáceas do gênero Tragia (BECCALONI et al., 2008). Esta bor- Tabela 3.10. Número de espécies neotropicais e brasileiras de Callicorini frugívoras.
boleta pode ser encontrada na Amazônia, no Cerrado e na Mata Atlântica (Tabela 3.9).
Mata
Gênero Neotropicais Brasil Amazônia Cerrado Freq
Tabela 3.9. Número de espécies de Biblis frugívoras neotropicais, brasileiras, e por bioma. Atlântica
Callicore 20 11 9 4 5 85
Gênero Neotropicais Brasil Amazônia Cerrado Mata Freq Diaethria 12 3 1 3 3 62
Atlântica Paulogramma 1 1 1 1 1 23
Biblis 20 1 1 1 1 46 Haematera 1 1 1 1 1 15
Catacore 1 1 1 1 0 8
Os Epicaliini (Figura 3.9) são borboletas de tamanho pequeno a médio, com colora-
ções e formatos de asa variados, que apresentam voo rápido. Alguns gêneros como Ca-
tonephele e Myscelia possuem dimorfismo sexual marcante, com machos bem coloridos,
e as fêmeas com padrão carijó. Podem ser encontradas em matas úmidas ou clareiras.
Os Callicorini são borboletas pequenas e de voo rápido. A face dorsal das asas apre-
senta coloração escura com detalhes variados em tons de azul ou vermelho. Na face ven-
tral de alguns gêneros, as asas posteriores apresentam um desenho simples ou mais de-
talhado e colorido de um “80”, “88” ou “98”, advindo daí os nomes populares das espécies
mais conhecidas da tribo: borboletas 88 e borboletas 80 (Figura 3.8). Podem ser encon-
tradas pousadas em áreas com areia úmida buscando sais ou substancias nitrogenadas.
Os Callicorini se distribuem em cinco gêneros, que juntos englobam 35 espécies neotro-
picais, das quais pelo menos 17 ocorrem no Brasil (Tabela 3.10). Lagartas dessa tribo cos-
tumam se alimentar em sapindáceas, principalmente Paullinia e Serjania (BECCALONI et Figura 3.9. Epicaliini. Fotos: Jessie Santos.
86
al., 2008). Todos os gêneros ocorrem nos três principais biomas brasileiros. Callicore é o
principal representante dos Callicorini, e dá nome à tribo.
Esta é a maior tribo dentro de Biblidinae. Distribuídas em cinco gêneros, que juntos 89
somam 67 espécies neotropicais, das quais 39 ocorrem em solo brasileiro (Tabela 3.11).
As principais plantas hospedeiras de lagartas de Epicaliini são euforbiáceas dos gêneros
Mata
Gênero Neotropicais Brasil Amazônia Cerrado Freq Figura 3.10. Epiphilini. Fotos: Jessie Santos.
Atlântica
Eunica 45 28 23 12 6 85
Catonephele 11 5 4 2 3 69 Tabela 3.12. Número de espécies neotropicais e brasileiras de Epiphilini frugívoras.
Myscelia 9 3 2 0 1 54
Nessaea 5 2 2 1 0 38 Mata
Gênero Neotropicais Brasil Amazônia Cerrado Freq
Cybdelis 3 1 0 1 1 Atlântica
Epiphile 14 3 1 2 2 38
O gênero Eunica é o mais diverso, sendo composto pelas menores borboletas da tribo. Temenis 3 3 2 2 2 85
Asterope 8 2 2 0 0
6.1.5. Tribo Epiphilini Nica 1 1 1 1 1 38
Os Epiphilini (Figura 3.10) são borboletas de tamanho pequeno a médio que possuem Espécies de Epiphile apresentam bandas de cor laranja no dorso da asa anterior. Em
voo muito rápido. Voam alto em áreas abertas, e costumam pousar também nos estratos espécies com dimorfismo, o macho é mais colorido, com detalhes em azul. Temenis é pre-
superiores da vegetação. dominantemente de cor laranja.
As borboletas desta tribo estão incluídas em quatro gêneros, que juntos englobam 25 6.2. Subfamília Charaxinae
espécies na região Neotropical, das quais nove no Brasil (Tabela 3.12). Lagartas de Epiphilini
são encontradas se alimentando em sapindáceas, principalmente dos gêneros Paullinia e As borboletas desta subfamília estão divididas em seis tribos (Figura 3.11), 19 gêne-
Serjania. (BECALONNI et al., 2008). Asterope é o gênero mais diferente da tribo, e exclusi- ros e 395 espécies, e têm como característica um voo rápido e vigoroso, normalmente
Biologia dos indicadores biológicos
vamente amazônico. De relance, as borboletas Asterope sp. podem ser confundidas com utilizando os estratos médios e altos das florestas. Muitas espécies possuem uma colo-
Callicorini, no entanto, olhando com atenção fica nítida a diferença de coloração e padrão ração críptica na face ventral, em um padrão que se assemelha a folhas secas (CANALS,
das manchas. Os demais gêneros de Epicaliini ocorrem nos três grandes biomas brasileiros. 2003). Costumam ser bastante agressivas, mesmo diante de predadores (BROWN, 1992).
Lagartas de Charaxinae estão entre as mais polífagas de Nymphalidae, tendo sido regis-
tradas pelo menos 16 famílias botânicas como plantas hospedeiras diversas, como Anno-
naceae, Lauraceae, Euphorbiaceae, Chrysobalanaceae, Piperaceae e Fabaceae (BECCA-
LONI et al., 2008).
88
91
Os Anaeini são borboletas pequenas a médias, com tórax bem desenvolvido, carac-
terístico de borboletas que apresentam voo rápido. São bastante ativas e voam em di-
versas alturas, com muitas espécies ocupando a região da copa das árvores. Apresentam
Biologia dos indicadores biológicos
As borboletas desta tribo estão distribuídas em sete gêneros, que juntos somam
86 espécies, representando 81 % dos Charaxinae frugívoros (Tabela 3.14). Memphis é o
maior gênero de borboletas frugívoras na região Neotropical. As lagartas de Anaeini fo-
90 ram registradas se alimentando em plantas das famílias Euphorbiaceae (Croton sp.), Fla-
courtiaceae (Casearia sp.), Lauraceae (Licaria sp., Nectandra sp. e Ocotea sp.), Monimia- Tabela 3.15. Número de espécies neotropicais e brasileiras de Preponini frugívoras. 93
ceae (Mollinedia sp.) Piperaceae (Piper sp.) (BECALONNI et al., 2008). Com exceção das
borboletas Polygrapha, gênero não encontrado no Cerrado, todos os outros gêneros es- Mata
Os Preponini são borboletas médias, de voo rápido e tórax bem desenvolvidos (Figura As borboletas desta subfamília se dividem em seis tribos (Figura 3.14), 57 gêneros
3.13). Possuem comportamento agressivo, defendendo seu território, atacando outras e 495 espécies. As lagartas têm como hospedeiras diversas famílias de plantas, como
borboletas em voo, ou até mesmo pessoas. As espécies desta tribo apresentam grande Acanthaceae, Asteraceae, Eriocaulaceae, Labiatae, Moraceae, Scrophulariaceae, Ver-
variação na cor das asas na face ventral, mas na face dorsal são todas muito semelhantes. benaceae, Urticaceae (BECALLONI et al., 2008). Borboletas frugívoras são encontradas
O dorso é de coloração escura, com uma faixa de azul metálico característica da tribo. apenas na tribo Coeini, o que significa que das 195 espécies neotropicais (LAMAS, 2004),
Os ventres das espécies desta tribo são bem variados, algumas apresentando ocelos. As apenas 11 (6%) são frugívoras.
borboletas desta tribo se distribuem em três gêneros, que juntos englobam 20 espécies
(Tabela 3.15). As borboletas Agrias sp. são muito apreciadas por colecionadores, e podem
ser confundidas com os Callicorini (diferenciação na seção de dúvidas). Os outros dois
gêneros da tribo, Archaeoprepona e , são muito parecidos, e distingui-los em voo é tarefa
difícil mesmo para especialistas. Com uma boa visão da face ventral das asas é possível
Biologia dos indicadores biológicos
92
Figura 3.13. Preponini. Fotos: Jessie Santos.
6.3.1. Tribo Coeini 6.4. Subfamília Satyrinae
Os Coeini são borboletas de voo ágil e rápido, geralmente médias e grandes, com ex- Esta é a maior subfamília de Nymphalidae. Distribuídas em nove tribos (Figura 3.16),
ceção de Tigridia. As borboletas desta tribo estão distribuídas em cinco gêneros e 11 es- 255 gêneros, e mais de 2.500 espécies, representam mais de 40% dos Nymphalidae na
pécies (Tabela 3.16). região Neotropical. Lagartas de Satyrinae têm como principais plantas hospedeiras as
monocotiledôneas (BECALLONI et al., 2008). Há borboletas frugívoras em cinco tribos:
Tabela 3.16. Número de espécies neotropicais e brasileiras de Coeini frugívoras. Brassolini, Haeterini, Melanitini, Morphini e Satyrini. Das 1.295 espécies neotropicais (LA-
MAS, 2004), pelo menos 478 (39%) são frugívoras (Tabela 3.17).
Mata
Gênero Neotropicais Brasil Amazônia Cerrado Freq
Atlântica
Historis 2 2 2 2 2 85
Colobura 2 2 2 1 1 77
Tigridia 1 1 1 1 0 54
Smyrna 2 1 1 1 1 31
Baeotus 4 4 4 0 0 31
O gênero Colobura tem tamanho médio, possui coloração “zebrada” na face ventral.
Costuma pousar de asas fechadas exibindo esta coloração. Borboletas do gênero Historis
são grandes, de coloração do dorso escura e laranja, com pequenos pontos brancos. Cos- Figura 3.16. Tribos de Satyrinae (Fonte: www.nymphalidae.net).
tuma estar próxima a frutos podres. O gênero Smyrna, representante mais comum desta
tribo, tem dorso alaranjado com a ponta das asas anteriores escuras. Já na face ventral as
Tabela 3.17. Número de gêneros e espécies de Satyrinae frugívoros neotropicais em
asas posteriores são variegadas com ocelos. A coloração laranja das asas anteriores pode
cada tribo.
ser notada de ambas as faces. O gênero Baeotus apresenta o ventre variegado e peque-
nos prolongamentos nas asas posteriores. Já o gênero Tigridia como o próprio nome faz
Subfamília Tribo Gêneros Espécies
menção, tem coloração ventral tigrada (Figura 3.15).
Brassolini 15 88
Biologia dos indicadores biológicos
Melanitini 1 1
Satyrinae Haeterini 3 18
Morphini 3 42
Satyrini 46 418
Os Brassolini (Figuras 3.17 e 3.18) são borboletas de tamanho médio a grande, com
asas arredondadas. De modo geral, espécies desta tribo apresentam hábitos crepuscu-
lares, voando ao anoitecer ou no amanhecer. Possuem voo vigoroso, e são comumen-
te encontradas pousadas em troncos no interior de matas e próximos a corpos d’agua.
94
Apresentam marcas em forma de grandes olhos na face ventral das asas posteriores, o
Mata
Gênero Neotropicais Brasil Amazônia Cerrado Freq
Atlântica
Caligo 21 10 7 4 5 77
Narope 17 10 5 4 4 38
Catoblepia 8 7 7 2 1 62
Opoptera 6 5 2 1 4 31
Opsiphanes 11 4 4 3 3 92
Dasyophthalma 4 4 0 1 4 23
Blepolenis 3 3 0 1 3 23
Eryphanis 6 3 1 2 2 62
Bia 2 1 1 1 0 46
Caligopsis 2 1 1 1 0 15
Figura 3.17. Brassolini. Fotos: Jessie Santos.
Penetes 1 1 0 0 1 8
Selenophanes
Biologia dos indicadores biológicos
3 1 1 1 0 15
Aponarope 1 1 6.4.2. Tribo Haeterini
96
99
Borboletas de tamanho médio a grande. Entre os Morphini, estão algumas das borbo-
letas mais apreciadas e conhecidas dos neotrópicos (Figura 3.21). A maioria das espécies
possui coloração iridescente na face dorsal, sendo famosas pelo intenso azul metálico
que reflete aos olhos do observador (BROWN, 1992). Na face ventral, ocelos podem estar
presentes. De forma geral, apresentam voo lento e planar. Algumas espécies possuem
Figura 3.18. Haeterini. Fotos: Jessie Santos. dimorfismo sexual acentuado, ou seja, com machos apresentando cores distintas das co-
res da fêmea.
As borboletas desta tribo estão incluídas dentro de três gêneros, que juntos somam
18 espécies neotropicais, sendo 11 no Brasil (Tabela 3.19). O gênero Cithaerias é encon-
trado apenas na Amazônia, Haetera também pode ser visto na Mata Atlântica e Pierella
abrange em sua distribuição, além destes biomas, o Cerrado.
Mata
Gênero Neotropicais Brasil Amazônia Cerrado Freq
Atlântica
Pierella 11 6 5 2 2 38
Biologia dos indicadores biológicos
Cithaerias 5 4 4 0 0 8
Haetera 2 1 1 0 1 23
Esta tribo é representada por apenas uma espécie no Brasil (Figura 3.20). Manataria
hercyna (HÜBNER,[1821]) possui tamanho médio, coloração marrom escura predominan-
te com ocelos na face ventral da asa posterior. O dorso apresenta cor marrom com deta-
lhes em branco na asa anterior, que são visíveis também na face ventral. Ocorre nos três
maiores biomas brasileiros, mas raramente é capturada em armadilhas. Na parte ventral
98 da asa posterior tem manchas que lembram os ocelos de Brassolini, mas as três manchas Figura 3.20. Morphini. Fotos: Jessie Santos.
centrais não têm a “’íris” do “olho”.
Esta tribo é inteiramente neotropical, e suas borboletas estão distribuídas em três gê- 101
neros, e 42 espécies (Tabela 3.20). São espécies bastante sensíveis a perturbações, des-
matamento, ou fragmentação florestal (BROWN, 1992). O gênero Caerois ocorre exclusi-
Mata
Gênero Neotropicais Brasil Amazônia Cerrado Freq
Atlântica
Morpho 29 16 11 5 8 92
Antirrhea 11 4 3 2 2 46
Caerois 2 1 1 0 0 0 Figura 3.21. Satyrini. Fotos: Jessie Santos.
Taygetis 29 19 Ageronini 1 3 2
Magneuptychia 40 16 Epiphilini 2 2 2
Yphthimoides 24 14 4 11 6 Morphini 3 3 2
Caeruleuptychia 25 12 12 2 3 Satyrini 3 3 2
Splendeuptychia 46 10 Coeini 3 3 3
Euptychia 35 8 Epicaliini 3 4 2
Chloreuptychia 12 7 Anaeini 4 4 2
Cissia 15 7 Brassolini 4 4 3
Pampasatyrus 10 6
Pareuptychia 8 6 Na tabela acima, as tribos estão ordenadas do menor grau de variabilidade para o
100 Paryphthimoides 13 6 4 5 4 maior. Intuitivamente, esse ordenamento indica maior grau de facilidade para a identifi-
Harjesia 9 5 cação da tribo, e esta variabilidade também é associada à riqueza da tribo.
Hermeuptychia 12 4
Podemos notar que a máxima variação dentro de um mesmo caractere é de quatro, 103
seja no padrão de cores ou no formato das asas. Pela tabela, percebemos também que,
de forma geral, o caractere que menos varia dentro de uma tribo é o formato das asas, e Atencao
Com alguma frequência, as borboletas capturadas nas armadilhas não estão em per-
Subfamília Charaxinae feitas condições, com parte das asas quebradas e/ou descamadas, o que pode dificultar
o diagnóstico das tribos. Nesse caso, a obtenção de registros fotográficos é altamente
Caso sua borboleta seja da subfamília Charaxinae, temos duas opções. recomendada, possibilitando que as fotos sejam enviadas a especialistas para a confir-
mação da identificação. Da mesma forma, o conhecimento sobre a riqueza das tribos nos
Preponini é uma tribo caracterizada por dois morfotipos, de diferentes biomas também pode auxiliar no processo diagnóstico.
fácil reconhecimento. De tamanho médio, algumas apresentam
manchas rosas/avermelhadas com ou sem manchas azuis na
parte dorsal, e no ventre padrão característico de manchas. O
outro morfotipo é representado por faixas azuis iridescentes no 8. Riqueza das tribos nos biomas Amazônia, Cerrado e
dorso das asas.
Mata Atlântica
As borboletas da tribo Anaeini são de tamanho médio, com
Satyrini é a tribo com o maior número de espécies nos três biomas (Tabela 3.23). Sua
um padrão ventral que lembra uma folha seca. A face ventral, por
proporção entre as borboletas frugívoras varia de 37% na Mata Atlântica a 42% no Cer-
sua vez, costuma ser colorida, principalmente em tonalidades de
rado, e sua riqueza nos biomas, de 62 espécies na Mata Atlântica a 103 na Amazônia. Em-
azul, laranja ou rosa/vermelho.
bora estes dois biomas variem bastante em riqueza de espécies, a proporção da tribo em
relação às borboletas frugívoras do bioma é bastante semelhante.
Subfamília Nymphalinae
Tabela 3.23. Riqueza das tribos de borboletas frugívoras no país e nos biomas.
Se você tiver em mãos uma borboleta frugívora da subfa-
mília Nymphalinae, esta será um representante da tribo Coeini,
Tribo Brasil Amazônia Cerrado Mata Atlântica
que se caracterizam por um padrão zebrado na face ventral. As
Satyrini 158 103 70 62
cores da face dorsal podem incluir preto, laranja e amarelo.
Brassolini 51 30 21 27
Epicaliini 39 31 16 11
Biologia dos indicadores biológicos
Quatro outras tribos podem ser agrupadas em um grupo com riqueza bastante semelhante É importante ressaltar que esses dados são baseados em estudos com diferentes me-
entre si e nos biomas. Ageroniini, Morphini, Callicorini e Preponini têm diversidade biomática que todologias (sub-bosque com ou sem dossel) e com diferentes intensidades amostrais, e
varia de 10 a 15, 7 a 15, 10 a 13, e 10 a 12 espécies, respectivamente. Juntas, essas tribos repre- cujo número varia de bioma para bioma. Portanto, esses números representam apenas
sentam de 21% a 24% das borboletas frugívoras em cada um dos biomas analisados. uma riqueza aproximada da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica, e em cada caso,
subestimada em determinado grau.
Entre as cinco tribos menos representadas, duas (Biblidini e Melanitini) têm apenas
uma espécie frugívora, e duas (Coeini e Haeterini) tem 10 e 11 espécies no país, cada uma Conforme já levantado, esses números nos dão apenas alguma perspectiva de proxi-
com riqueza de 10 na Amazônia, e números bem menores nos demais biomas. midade com a realidade, e caso haja publicações disponíveis para a área a ser monitorada,
essas informações podem ser utilizadas para aprimorar a lista de borboletas que possi-
Assim, embora de forma geral seja bastante semelhante, a proporção de espécies das velmente ocorrem na região.
tribos de borboletas frugívoras tem pequenas variações entre os biomas (Tabela 3.24).
O registro fotográfico das espécies encontradas é uma boa ferramenta que permite
confirmar a identificação realizada no campo e aprimorar o guia local, caso ainda não haja
Biologia dos indicadores biológicos
Satyrini.
Além da importância técnica, científica e política do PAN Lepidópteros, este trabalho The United Kingdom Butterfly Monitoring Scheme (http://www.ukbms.org/De-
possibilitou a reunião de inúmeros pesquisadores de Lepidoptera, culminando na criação fault.aspx) - programa de monitoramento da diversidade de borboletas do Reino
da REDELEP, rede que estabeleceu um canal de troca de informações e colaboração en- Unido.
tre diversas instituições de ensino superior, como UFRGS, UFSM, UFPR, UNICAMP, USP,
UFG, UFOPA, INPA, UFRN, UFRB e UFBA. Esta rede tem como objetivo principal atuar no Natural History Museum (http://www.nhm.ac.uk/research-curation/research/
desenvolvimento de pesquisa científica para ampliar o conhecimento sobre a diversidade projects/butmoth/search/) - catálogo de borboletas e mariposas do mundo.
brasileira de lepidópteros. Também são objetivos da REDELEP projetar impactos do de- Também tem um banco de dados de plantas hospedeiras (http://www.nhm.
senvolvimento e mudanças climáticas sobre a fauna de borboletas e mariposas, e propor ac.uk/research-curation/research/projects/hostplants/).
melhorias no SNUC com base nos dados dessas pesquisas.
Area de Conservación Guanacaste (janzen.sas.upenn.edu/caterpillars/database.
Com o auxílio de protocolos padronizados, o monitoramento de borboletas em várias lasso) - banco de dados com fotos de adultos, lagartas e pupas de área de con-
localidades pode ser realizado de uma forma replicável em escala nacional. servação na Costa Rica.
108
Possíveis dúvidas 111
Coloração é bastante útil para separar as tribos, mas não é a única característica confi-
Agrias sp. Callicore sp. Asterope sp. As borboletas do gênero Narope (Brassolini) podem ser confundidas com Anaeini. Gê-
nero mais diferente da tribo (lembrando que Brassolini é a tribo que tem ocelos), as bor-
Tribo Preponini Tribo Callicorini Tribo Epiphilini boletas Narope sp. são pardas e têm padrão semelhante à uma folha. Pelo dorso, é possí-
vel esclarecer a dúvida, pois as borboletas da tribo Anaeini têm nessa face manchas em
tons de azul, laranja ou vermelho. O gênero Narope também pode ser confundido como
Satyrini por ser marrom, mas Narope é um pouco maior que a maioria dos Satyrini e pos-
Biologia dos indicadores biológicos
110
Cithaerias e Haetera (Haeterini) podem ser confundidas com Ithomiini, mas o tamanho REFERÊNCIAS 113
e o padrão das asas posteriores são bem diferentes. Outra diferença é que as asas de Ha-
eterini possuem ocelos, o que não ocorre com as borboletas da tribo Ithomini.
Barlow, J., Overal, W. L., Araujo, I. S., Gardner, T. A., Peres, C. A. 2007. The value of pri-
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devido à semelhança no padrão de coloração. Entretanto, o tamanho e o padrão das asas tors: A review of tropical butterfly ecology and conservation. Biological Conserva-
posteriores são bem diferentes. As borboletas da tribo Preponini são maiores e mais fortes tion 143: 1831 – 1841.
que Doxocopa. Além disso, Preponini possui a asa posterior maior e com um formato mais
agudo, enquanto Doxocopa tem a asa posterior menor e com formato mais recortado. Brown Jr., K.S. 1991. Conservation of Neotropical environments: insects as indicators.
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