Regimento de 1640 - 1 Parte
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Regimento de 1640 - 1 Parte
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LIVRO I
bc Dos ministros e oficiais do Santo Aficio,
t,t e das coisas que nele lai de hover
rÍrut oI
Do número, qwlidades e obrigações dos ministros
e ofrciais da Inquisição
lo. Em todas as Cidades deste Reino, onde residir o S. Ofício, haverá fês
Inquisidores, quatro Deputados com ordenado e sem ele, os mais que nos
parecer, um Promotor, quaüo Notários, dois Procuradores de pÍesos, e os
Revedores que forem necesúrios, um Meiriúo, um Alcaide e quaúo Guardas
5o. Tanto que foram feitas as informações das pessoas, que houverem de
entrar no servigo do S. Oficio, os inquisidores as enviarão ao Conselho-Geral,
para nele as verem e sendo aprovadas, lhes mandaremos passar carta do caÍgo,
ou oÍïcio, em que forem providas, a qual irá assinada por nós, e lhe será entregue
pelo Secretário do Conselho; e com ela, antes de começaÌem a servir, se
apresentarão na mesa da Inquisição e aí tomarão juramento de segredo, e de
bem, e fielmente, cumprirem com as obrigações dos seus ofícios, de que fanâ
termo um Notário, que os providos assinarão com os inquisidores no livro das
criações, onde também se registraní a provisão; e este juramento não se tomará
por procurador, sem especial licença nossa.
TÍTULO il
Das casas do despacho, audiências, secreto,
oratório, e cárceres,
e das coisas que lhes pertencem
1o. Haverá em cada uma das Inquisições uma casa para a mesa do despacho,
a qual estarã em lugar tão resguardado, que de fora dele se não possa coisa
alguma do que aí se tratar, e estarão nesta casa as cadeiras de espaldar, e rasas,
que parecem necessárias, e um banco para os presos se assentarem, e estará
armada no inverno com panos de raz e guarnições no verão. Sobre um estado
de altura de quatro dedos haverá uma mesa coberta com seu pano de damasco
carmesim, e por cima couro negro, e será capaz de ter menos cinco cadeiras de
cada parte, e nesta mesa haverá três gavetas com chaves diferentes, em que cada
um dos Inquisidores possa recolher os seus papéis, mas não meterão nelas os
3o. Haverá mais uma casa de secreto, em que estarão todos os processos,
repertórios, livros e papéis de segredo, e asjanelas, que tiver pela parüe de fora
terão grades de ferro fortes, e estreitas de maneira que não se possa entrar por
elas, e terá uma só porta para a casa do despacho bem segura, e com fechadura
de três chaves de guardas diferentes, das quais se dará ao Promotor, e as outras
aos dois Notários mais antigos, e sendo algum deles impedido, se entreganá a
sua chave a um dos outros Noüários, qual os Inquisidores ordenarem.
6o. No mesmo secreto estârão duas mesas, uma para o Promotor, e outra
paÍa os Noüârios, com tinteiros, tesouras, eanivetes, área, penas, tinta, linhas,
agulhas, obreia e papel em abundância, para que por falta de alguma destas
coisas não se retarde o ministério, e bem assim arcas ancoradas para levar ao
Auto da Fé os processos despachados, um caixão de gavetas, em que o
tesoureiro possa recolher os papéis, que por razáo de seu ofïcio lhe tocarem, e
cada um dos Inquisidores terá sua gaveta, em que se possa recolher os papéis
de segredo, que em particular se lhe encarregarem. Item haverá uma úbua por
nós assinada dos dias feriados, que na Inquisição se hão de guardar, e uma arca
com três chaves, em que se recolha todo o diúeiro, que por qualquer via tocar
ao S. Offcio.
7o. Os livros, que pertencem ao secreto, são os seguintes, um Repertório
geral, em que se lancem todas as pessoas, que no S. Ofïcio estiverem delatas,
salvo as que pertencerem aos três Repertórios particulares, de que abaixo se
dirá; um índice deste mesmo Repertório em livro separado, em que se poúam
os nomes das pessoas, que nele estiverem reportadas; três Repertórios particu-
lares, com seus índices no princípio; um em que se lancem os culpados, e
confessos no pecado nefando; oufo em que se lance os solicitantes culpados,
e confessos; e o terceiro dos delatos sem nome, os liwos que vão formando das
denunciações, e confissões, que se tomam na mesa do S. Oficio; os livros que
se compõem das petições que se dão em favor de partes; um livro em que se
escrevam os decretos de prisão, quando não houver tempo para se trasladarem
as culpas de seus originais; outro de marca maior, em que se lancem pelas letras
do ABC todas as pessoas, que no S. Oficio, forem despachadas; livro em que
se lancem as listas dos Autos da Fé, conforme à ordem com que neles se lerão
as sentenças; outro das listas dos Autos, que das outras Inquisições se enviarem;
um liwo de regisho de todas as diligências que se mandaram fazr.r do S. Ofïcio.
Todos estes livros estarão sempre no secreto, donde não sairão nem ainda parta
a mesa do despacho (salvo os de decreto de prisão) sem especial licença nossa"
e os Repertórios dos culpados no pecado nefando, e dos confessores solicitan-
tes, estarão sempre fechados, e a chave terá o Promotor.
8o. Além dos livros acima declarados haverá na Inquisição um livro, que
se há de formar das comissões, que os Prelados dão às pessoas, que assinarem
em seu lugar no despacho de seus súbditos: outro das criações, ejuramentos
dos ministros, e oficiais do S. Ofïcio; livro de registro das provisões de seus
ordenados; livro de todas as terras que pertencem ao distrito, com os nomes dos
Comissrírios, Escrivães, e familiares, que nelas se criaram; quatro liwos de
receita, e despes4 que pertence ao Tesoureiro, e se hão de fazer em cada ano
na forma que em seu título se dirá: haverá mais livro das fianças; livro da entrada
dos presos no cárcere, em que se tomará por lembrança o fato, diúeiro, e peças
de ouro, e prata que trouxeram, para que põe ele conste se farão lançados em
em que se possÍrm recolher as pessoas, que por assento da mesa forem mandadas
por em custódiq em quanto se faz alguma diligênci4 para se ver se devem ser
presas nos cárceres secretos.
l2.Haverâmais ouüo cárcere, em que sejam instruídas, e sacrarnentadas,
as pessoas penitenciadas pelo S. Ofício, e em que possam estar, até os Inquisi-
dores lhe assinarem lugar onde vão cumprir as penitenciÍN; no qual estará um
Oratório, em que se diga a missa, e administrem os Sacramentos aos peniten-
ciados, e será de maneira que possam ir, e estar nele os homens divididos das
mulheres quando se lhe frzer a instrução; e neste cárcere se poderão pôr em
custódia, ou prender, as pessoas que não tiverem culpas para serem presas no
cárcere secreto, e os privilegiados delinqüentes, de que cs Inquisidores são
juízes.
TÍTULo ilI
Dos inquisidores
1o. De tanta importânciq e t2io graves são as causÍrÍi de que se conhece no
Tribunal do S. Oficio, que as pessoas que elegermos para Inquisidores, não
somente devem ter as qualidades que requerem, conforme a direito Canônico,
e Breves Apostólicos, e a mais de que estrí dito no Título I $ 2o mas além disso
é necessário que sejam licenciados por exames privado em alguma das facul-
dades de Teologi4 Cânones, ou Leis, e que tenham ao menos trinta anos de
idade, pessoas nobres, Clérigos de Ordens sacras, e que primeiro hajam servido
no cargo de Deputado e nele teúam dado mostras de prudência, letras, e
virtude, assim para saberem resolver, e decidir as causas que hão dejulgar,
como também para nelas se haverem com grande inteirez4 e igualdade: livres
de toda a paixão, e respeitos, que costumam perturbar o ânimo dos juízes; de
maneira que nem o favor e piedade, cheguem a ofender a justiç4 nem o rigor
exceda os termos de temperança; e sobretudo serão pessoas de tal procedimen-
to, e de tanta autoridade, que com ela possam bem compreender ao muito que
deles confiamos. E para cumprirem melhor com a obrigação de seus caÍgos, e
descarregarem nossa consciência" e asu4 terão sempre presentes nossas ordens,
especialmente o que se dispõe nesse regimento, e farão guardar inteiramente
tudo o que nele se contém.
2o. Posto que entre os Inquisidores haja a mesma jurisdição, e a todos se
deva igual pré-eminênciq contudo arazio de bom governo esüá pedindo que
algumas coisas particularmente se concedam, e encÍüïeguem ao Inquisidor
mais antigo. Portanto, ordenamos, que ele entre, e saia sempre à mão direita
dos mais Inquisidores, e ministros, e se assente na primeira cadeira que estiver
na casa do despacho com o rosto para a porta. Na mesa tocará a campaiúa" e
dilrlâ a oraçáo do Espírito Santo todos os dias, em que houver despacho, pela
3o. Todos os despachos, ordens, e papéis que forem do Conselho geral para
a mesa, e assim mais os papéis, cartas, e diligências que vierem de for4 e
tocarem ao S. Ofïcio, se entregarão em mesa ao Inquisidor mais antigo, o que
com a brevidade possível, os que verii e os comunicaní aos mais Inquisidores,
paÍa que todos resolvam na matéria, o que parecer conveniente, e se faça o que
pela maior parte dos votos se assentar.
ele até um quarto de hora sem entrar em negócio, mas, passado o quarto, se
começará o despacho com o mais antigo Inquisidor dos que estiverem na mesa.
7o. Acontecendo que o Inquisidor mais antigo não proponha em mesa
aquelas coisas que convém serem propostas, ou não execute o que está mandado
executar, ou não procure que se façam as diligências mandadas fazer, o
Inquisidor segundo o advertirá em mesa, e não dando o mais antigo causajusta
em que funde a dilagão, e tal que na mesma mesa se aprove por mais votos,
logo lhe será nela ordenado, que execute as ditas coisas no tempo em que a
mesa limitar, e se dentro dele as não der à execugão, em tal cÍlso o segundo
Inquisidor as fará executar, sem ser necessário para isso ordem nossa ou do
Conselho. E se quando o segundo Inquisidor frzer a advertência referida, não
estiverem na Inquisição mais que dois Inquisidores, e não concordarem, entre
si, será chamado o Deputado de que na mesa se tiver maior satisfação para votar
na mateira, porque nela se há de seguir o que se vencer por dois votos
conformes. E pelo muito que convém, que os negócios do S. Ofïcio se não
dilatem, os Inquisidores terão particular cuidado na observância desta ordem,
e havendo no compartimento dela algum descuido, o Inquisidor mais moderno
nos dará conta em segredo para caso proverÍnos como for mais serviço de Deus,
e do S. Oficio, e lhe estraúaÍemos muito qualquer descuido que nisto tiver.
8o. Por ser de grande importância paÍaa,autoridade do S. Oficio que seus
Inquisidores sejam muito respeitados, e é certo que todos lhe guardarão respei-
to, segundo for seu procedimento; portanto ordenamos que além de guardarem
o que estiâ disposto no $ 8o do Tít.I deste livro, tratem de viver com grande
honestidade, e com muita modéstia, não usando do poder de seu ofïcio, mais
que nos casos, e nas coisas para que lhe foi concedido, e se dispõem neste
Regimento. Terão grande tento em ver com que pessoas hão de comunicar, e
não visitarão senão aquelas, que forem muito graves, e de bons costumes na
vida; não irão a acompanhamentos, nem a outros autos públicos, para que não
aconteça estar neles com menos decência da que é devida a suas pessoas, e a
seus cargos; nem servirão em confrarias; salvo na de S. Pedro Mártir; não
escreverão cartas, nem mandarão recados em nome da mes4 porque a expe-
riência tem mostrado que mais se arrisca neles a autoridade do S. Ofïcio, do
que recebem de proveito os oficiais, e pessoas, que os pedem.
9o. Na Inquisição se haverão com tal moderação em tudo, e com tanta
gravidade, que possam aos oufros ministros aprender deles o modo com que se
devem tratar; escusarão porfias nas matérias, que não tocam ao S. Oficio, e nas
coisas, que em serviço dele houverem defaze4 serão conformes quanto lhe for
possível; e acontecendo entre eles alguma inquietagão ou diferença, aterão em
segredo, e nos darão conta para mandarmos prover no caso como for justiça.
I 0. Por enquanto, os Inquisidores não só devem guardar segredo inviolável
nas coisasn que pertencem ao S. Oficio, mas convém que hajam regras, pelas
estas diligências lhe não poderão cometer; salvo quando para isso tiverem
especial licença nossa, a qual nos pedirão quando paÍecer necessária para o
despacho dos negócios do S. Ofïcio.
I I 5. Cada um dos Inquisidores terá caderno dos presos do cárcere, e no título
I de cada preso se declarará sua qualidade, terra de que for natural, e morador, a
idade oficio, e estado, que tiver, o dia em que foi preso, as testemuúas, que
contra ele depuseram, o dia, em que testemunharam, o tempo, em que dizem
que foi a culpa cometida, a substância dela, os cúmplices, e cerimônias, que
tiverem. Terão outro si declarado as sessões judiciais de seus processos, e nos
confidentes acrescentaram a substância da confissão, o dia em que afrzeram,
o tempo, em que cometeram a culpa, até quando lhe durou a crença de seus
eros, o Autor deles, os cúmplices, e cerimônias; paÍa que deste modo estejam
sempre presentes no merecimento das causÍrs dos presos, e no estado, em que
estão.
16. Terão também outro caderno, em que porão por títulos diferentes, as
sessões, que se hão de fazer aos presos, convém a saber, título dos que estão
para sessão de genealogia, título dos que estão para sessão In genere,e assim
irão continuando portítulos os mais termos dos processos, e no fim farão título
particular das comissões, e diligências, que se hão de fazer em virtude dos
despachos, que tem dado, e todos estes títulos estarão com grande distinção, e
em cada um deles se porá o nome do preso, que está para se lhe fazer algum
dos ditos termos, ou sessões, e tanto que lhe forem feitas se riscará o nome do
preso, e se passará ao título do termo que seguir; para que por este modo saibam
com facilidade as sessões, que tem parafazer, e despachos, que hão de dar, e
acabada a audiência, todos estes cadernos se recolherão ao secreto.
17. Neúum dos Inquisidores se ausentará do S. Ofïcio, sem especial
licença nossa, e virão à Inquisição todos os dias, que não forem feriados, e nela
assistirão três horas pela maúã e três à tarde na forma, que está disposto no
Tít. I deste livro, $11. Procurarão quanto for possível, estar na mesa na hora
ordenada, e tendo algum deles causajusta, que o empeça vir a ela, o fará saber
aos mais Inquisidores logo no princípio da audiência; para que se não retarde
por seu respeito o despacho; e depois de estarem junto, antes de entrar em
negócio, dirá o Inquisidor mais antigo a oração do Espírito Santo, para que
mediante a favor divino se acerte no que tanto convém ao serviço de Deus nosso
Senhor; e logo conferiram entre si, o que cada um deles na audiência precedente
tiver feito, lançando nos cadernos as sessões, que fizeram aos presos, e despa-
chos, que deram em seus processos, pÍlra que os hagam sempre ajustados.
18. Depois chamarão o Alcaide à mesa, e perguntar-lhe-ão pelo estado do
cárcere, para ver se há nele coisa, a que se deva acudir; e logo assentarão, que
diligências convém que se façam, emrazáo do que ultimamente processÍram,
pareça aos Inquisidores, que não convém dar notícia dela a quem não for
ministro da inquisição.
22. Quando os presos vierem paÍa os cárceres, os Inquisidores terão
particular cuidado e advertência no lugar, e casa, em que os mandam pôr, e na
companhia, que lhe dão; porque qualquer eÌro nesta mateira, pode ser de grande
prejuízo no S. Ofício; pelo que mandaram que toda a pessoa que vier presa de
novo, esteja só em uma casa, ao menos três, ou quatro dias; se houver causa tão
forçosa, que obrigue a outa coisa, ou for mulher moga; porque a esta se dará
logo companhia, de outra mulher, com que esteja, e nunca porão em uma mesma
casa, nem ainda no mesmo corredor, pessoas, que tiverem parentesco entre si,
e (quando for possível) ordenarão o cfucere de modo, que no mesmo corredor
não fiquem pessoas coúecidas, ou de uma mesma terra" nem aquelas, que
tiverem cometido o mesmo crime, ou presos novos com antigos.
23. Não mudarão os presos de uma casa para outra, particularmente aos
que começarem a confessar suas culpas, sem justa causa, e terão grande tento,
quando pedirem que os mudem porrazío de brigas que tiveram, de saber se são
verdadeiras; porque a experiência tem mostrado, que eles as costumam muitas
vezes fingir para este efeito; e para os poderem mudar com a notícia, e cautela
que convém, quando for precisamente necessário, tomarão informação do
Alcaide, e terão a planta das casas do ciárcere, e em cada casa os nomes dos
presos, que nela estiverem, e de que casa tiúam vindo, e as terras donde são,
e além dissolverão os seus processos, para saberem com que compaúia no
discurso de sua prisão. E porque assinar casa aos presos, ou dar-lhes companhia,
ou mudá-los de uma casa paÍa outra; é coisa que pede mesa por assento dos
mais votos, votando todos os três Inquisidores: e estando algum deles impedido
de maneira, que não venha ao S. Oficio, se os dois não concordarem, votará o
Promotor.
24. Os Inquisidores não falarão com os presos, sem estar presente algum
Notrírio, nem consentirão em tempo algum que minisho, ou oficial do S. Oficio,
ou alguma outra pessoa entre no cárcere secreto, nem fale com eles; salvo nos
casos em que por este Regimento se ordena o contrário, e também entiío estanâ
um Notrário presente. Não tratarão com os presos, nem diante deles mateir4
que não ftzer a bem de sua causa, ou for precisamente necessária; falarão a
todos por vós, e mandarão que se assentem no banco, que para esse efeito há
\1 de estar nas casas de despacho, e audiência; mas no modo de os tratar, terão
respeito à qualidade de suas pessoas. Quando os ouvirem, ou lhes falarem, será
com gravidade, e modéstia; não fazendo, nem dizendo cois4 de quejustamente
possam ter escândalo, ou queix4 antes se compadecerão de sua miséria,
procurando reduzir todos ao camiúo da salvação. Mandarão que sejam provi-
dos de tudo o que lhe for necessário, e a seu tempo, e principalmente os doentes,
particular além dos sobreditos lhes parecer que será conveniente dar-se confes-
sor aos presos, darão conta ao Conselho, para nele se tomar a resolução que
mais conveúa.
29.Paraconfessar os presos, escolheram os Inquisidores pessoas de limpo
sangue, douta, prudente virtuosa, e de muita confiança, e antes de entrar no
cárcere lhe darão juramento de segredo, e sob cargo dele lhe mandaram, que
não tate com o preso mateira alguma que não tocar a sua consciência, e que
manifeste na mesa fudo o que ele disser fora da confissão, e enquanto o
confessor estiver com o preso, não estará presente outra pessoa, por razão do
segredo da confissão; e os Notrírios não serão chamados para estas confissões,
salvo em caso de tal necessidade, que haja grande perigo na tardanga. E porque
pode acontecer ao doente tal perigo, que não sofra dilação, nem dar-se conta
aos Inquisidores para nomeaÍem confessor, nem se ache Notiário que o confesse,
os Inquisidores terão nomeado ao Alcaide quatro pessoas conhecidas, das quais
ele possa chamar uma no caso, em que concorïerem as circunstâncias sobredi-
tas.
30. Ordenamos aos Inquisidores que mandem dar aos presos o sacramento
da Eucaristia nos casos seguintes. Primeiro, aos relapsos e sodomitas na forma
que se dispõem no Livro 2, Título 15, $ 5o. Segundo, aos confidentes, que
tiverem satisfeito à informação da justiga, e estiverem recebidos no artigo da
morte por viático; e nestes dois casos precederá a absolvição da excomuúão
só no foro interior. Terceiro, se dará cada ano na quaresma às pessoas presas
por culpas que provadas não concluem heresia, e no artigo da morte por viático.
Os presos sãos irão comungar no Oratório da Inquisição, e aos doentes que não
puderem vir a ele, se levará o Sacramento a seu cárcere, onde lho irá adminisüar
um dos Notários; e os inquisidores terão particular cuidado que se administre
com decência, e autoridade que convém.
do crédito que tem as testemuúas, para que com mais certeza se proceda por
seus ditos.
33. Tendo os Inquisidores notícia que algumas pessoas de seu distrito
decretadas à prisão se ausentaram para outro, o farão logo saber a Inquisigão
em cujo distrito estiverem, enviando as culpas, e decreto, com todas as con-
frontações dos culpados, para que facilmente se possa vir em seu coúecimento,
e sejam presos; não estando decretadas, pronunciarão sobre elas, e com o
assento que na mesa se tomar, as enviarão na mesma forma. E não sendo
possível que as culpas se transladem, vê-las-ão pelos originais, e, parecendo
que são bastante para prisão, farão disso assento, e por caÍta avisarão dele aos
Inquisidores, e, dando a ocupação lugar, lhe mandarão o translado das culpas,
e do decreto. E se de uma Inquisição a oufa se pedirem culpas de pessoas no
seu distrito, sobre as quais ainda não tem pronunciado, os Inquisidores depre-
cados a mandarão remeter, sem pronunciar sobre elas, com as quais irá certidão
do credito das testemuúas, e não havendo culpas, mandarão certidão disso,
feita, e assinada por um Notário, e pelo Promotor.
34. Por enquanto convém muito para a expedição do S. Oficio que na
Inquisição esteja viva a lembrança das cartas, comissões, requisitorias, e mais
papéis que se mandam para forq e se remetem a outras Inquisições; ordenamos
que os Inquisidores não assinem papel algum tocante ao S. Oficio, sem primeiro
lhe constar por cota de Notiârio posta no mesmo papel, que fica lançado no livro
do registro, e a quantas folhas.
35. As cartas que os Inquisidores escreverem ao Conselho, as informações,
e consultas que a ele enviarem, e assim mais os despachos, e assentos dos
processos, farão sempre por sua própria mão; porém as cartas, que não forem
desta qualidade, poderão ser escritas por mão dos Notrários, e ditadas pelos
Inquisidores, e tratando-se de negócios de segredo, serão escritas em meia
laud4 advertindo às pessoas, a quem se escreverem, que respondam à margem
das mesmas cartas na outra meia lauda" pelos graves inconvenientes que se
podem seguir de ficarem as caÍtas em seu poder.
36. Parecendo aos Inquisidores que os processos estão em estado para se
poder entar em despacho geral, chamarão à mesa o Promotor, e nela lhe dirão
que faça uma lista de todos os presos do cárcere, e das pessoas que nesse tempo
se livrarem soltas na forma que em seu títuIo, $24, vai ordenado, a qual nos
enviarão com carta da mesa, para mandarmos ver, se convém, que se entre em
despacho.
37. No dia em que se celebrar o Auto da Fé estando nós presentes tanto
que os presos começarem a sair para o cadafalso, nos enviarão lista deles, e
estando ausentes, acabando os presos de sair da Inquisigão, despacharão com
ela, e com carta sua um próprio, para que, com a maior brevidade que for
45. Ordenarão que, ao preso que sair sem confiscação de bens, seja logo
entregue assim o diúeiro, que o Tesoureiro lhe ficar devendo do que tinha
recebido para seus alimentos, como também algumas pessoas, ou moedas de
ouro, ou prata" e quaisquer outras coisas, que lhe fossem achadas ao tempo que
entrou no cárcere, e tudo se lhe entregará na mesma espécie, em que foi achado;
e sendo caso que o preso fique devendo algum diúeiro, mandarão ao Tesou-
reiro que o cobre dele, e não sairá do cárcere de penitência, sem primeiro pagtr,
ou ao menos dar peúores, ou fiança segura a satisfazer em certo tempo, e
passado ele, o farão executar, e não lhe poderão prorrogar a espera, nem o tempo
de fianç4 sem ordem do Conselho.
46. Ordenarão que no açougue da Inquisição se dêem em primeiro lugar a
carne que for necessáriaparaos presos, e logo aos ministros, e oficiais da cas4
conforme à precedência, com que vão na folha, e disto mandarão advertir à
pesso4 que repartir a caÍne, e aos marchantes que não excedam ataï,4.ou preço
do açougue da Cidade, e se hajam em tudo de maneira, que não causem no povo
escândalo, ou prejuízo algum.
47. Quando algum Inquisidor souber de certo, que outro tem cometido
culpa digna de castigo, nos dará conta disso em segredo; e tendo os Inquisidores
notícia, que algum dos ministros, ou oficiais do S. OÍïcio, não cumprem bem
com sua obrigação, ou que com o poder de seu ofïcio, e pretexto dos privilégios,
de que goza, faz a alguma pessoa moléstiq ou vexação, ou que cometeu delito
tal, que mereça castigo, repreensão, ou advertência; sendo Deputado, <.,u Pro-
motor, nos dará conta para mandarmos prover no caso, como houvennos por
bem; e sendo algum dos Noüários, se for a culpa leve, o advertirão, ou lhe darão
a repreensão, que parecer, e dela mandarão fazer termo por ele assinado, quando
seja necessiírio; e sendo oficial contínuo, além de o repreender, o poderão
também multar até quantia de mil reis em um quartel, porém, sendo a culpa
grave, darão conta ao Conselho para nele se ordenar o que for conveniente;
salvo se os culpados forem homens do Meirinho, ou guardas do cárcere da
penitencirâria; porque a estes poderão castigar conforme suas culpas merece-
rem, até os privar de seus ofícios, assim como os podem prover? e admitir, sem
para isso preceder ordem, ou provisão nossa, na forma, que no título destes
oficiais estrí disposto. E vindo alguma pessoa fazer queixa" ou denunciar na
mesa de algum ministro ou oficial do S. Oficio, os Inquisidores lhatomatio,e,
se for necessário fazer sobre isso alguma diligência" a farão, ou a mandarão
fazer com a cautela, e segredo que convém e sendo feita, guardarão no proceder
a ordem sobredita. E se a queixa for de Inquisidor, Deputado, ou Promotor,
também a tomarão; mas não farão em rczáo del4 sem primeiro nos dar contas.
48. A todos os ministros, e oficiais do S. Oficio tratarão os Inquisidores
com a cortesia, que a cada um deles se dever, por razáo de sua qualidade, e
ofïcio; mas pelo respeito, que se deve ao Tribunal; ordenamos que na mesa
nunca falem ao meiriúo por mercê, e ao Alcaide, e mais oficiais falarão por
vós; e a neúum oficial ocuparão em seu serviço, nem mandarão fazer negócio,
que não tocaÍ ao S. Oficio, nem receberão deles úádivas, ou presentes.
49. Não darão licença a ministro, ou oficial algum para se poder ausentar
da Inquisição, estando nós presente; mas em nossa ausência a poderão dar,
havendo causajusta, porvinte dias em um ano, oujuntos, ou intercalados, com
tanto que não seja para ir à Corte, nem quatro léguas ao redor; poderão mandar
pílssar para fora da Inquisição certidões aos ministros, oficiais, e mais partes,
que as pedirem, nas causas dos privilegiados, que na mesa se terão, ou tratarão,
e dos ministros, e oficiais, que servem, ou serviram no S. Oficio.
50. Não chamarão, nem admitirão à mesa os Deputados, senão nos casos,
que expressamente declara o Regimento; salvo aqueles, que para isso tiverem
especial licença nossa, porque tendo-a, os poderão chamar, e cometer-lhe
alguns negócios, conforme ao que está disposto no gl4 deste título; não
mandarão Deputado, ou Promotor, fazer diligência (ainda daquelas que neste
Regimento se declaram) fora da cidade, em que assiste o S. Ofïcio, sem nos dar
primeiro conta.
5l. Quando algum oficial, ou familiar do S. Ofïcio frzer emmesa saber aos
Inquisidores, como trata de se casar, eles pedirão o nome da mulher e de seus
pais, e avós, e da terra donde são naturais, e moradores, e lhe dirão, que não
deve receber se até a mesa lhe ordenar o que convém fazer nesta matéria; e logo
lhe mandarão tirar informação da limpeza de sangue, na forma, que no título
primeiro deste livro, $ 4o se dispõem; e, sendo aprovada no Conselho, lhe dirão
que pode casar com ela livremente, e não sendo, lhe dirão que se casar não pode
ser oficial do S. Oficio. E casando alguns deles sem dar conta primeiro na mes4
os Inquisidores o suspenderão de seu oficio, até se fazer a sobredita informação;
e sendo aprovada no Conselho, lhe será levantada a suspensão; e sendo
reprovada, será privado do ofïcio que tiver.
52. Cometerão as diligências que se houverem de fazer nas terras, em que
não há Inquisição, aos Comissários, e familiares, que nelas residirem (salvo se
houver legítima causa para se cometerem a outrem); porque convém muito, que
os negócios, que pertencem ao S. Ofício, se façam por pessoas, que estejam por
ele qualificadas; e nos lugares onde não houver Comissiário, ou familiar,
cometerão o negócio as justiças Eclesiásticas da terra, e em sem defeito as
seculares; salvo se tiverem coúecimento de pessoa de maior satisfação, que o
possa bem fazer. Mas para que não haja falta de Comissários, e familiares, terão
cuidado de nos fazer lembrança, em que terras será necessário fazê-los de novo,
para que mandemos prover nisso, como nos paÍecer que convém.
53. Por quanto no Regimento dos Visitadores dos navios dos estrangeiros,
se ordena que nos lugares marítimos do Reino, onde houver Convento de S.
Domingos, seja o Prior dele Visitador dos ditos navios, e em sua ausência o
leitor dos casos; os Inquisidores, tanto que for eleito o Provincial da dita ordem,
o advertirão, que quando se fizer Prior, ou Leitor nos tais conventos, nos dêem
conta de quem são, porque pode suceder, que sejam pessoas, que não possam
servir o S. Ofício, e será necessário que mandemos prover de outras.
54. Se algum dos inquisidores, ministro, ou oficial do S. Ofïcio e, queixar
em mesa de lhe ser feito algum agravo, ou de se lhe não guardar o privilegio,
de que goza; os Inquisidores o ouvirão, e não sendo o caso reservado ao
Conselho, por razdo da pessoa, ou da matéria, farão inteiro comprimento da
justiça; e sendo reservado, darão conta ao conselho, para dele se lhes ordenar
o que devem fazer.
Licenciados, e às pessoas, que por sua naturez4 e oficio parecer aos mais votos,
que se lhe deve. E se alguma destas pessoas cometer algum excesso porque
mereça ser repreendida, ou advertida na mesa, os Inquisidores a não chamarão
a ela, sem primeiro nos dar conta com informação do caso, para lhe ordenarmos,
como nele se deve proceder; e a toda a outra pessoa, darão cadeira rasa.
rÍruro rv
Dos visitadores
ao Bispo, ou a quem por ele governar, de modo que por falta da resposta se não
retaÍde a visita.
5o. Quando o Bispado estiver em Sé vagante ou o Prelado da terra não for
Bispo, se ele, ou os Governadores do Bispado, vierem ver ao Visitador a sua
casa, nela lhe dirá como vai visitar aquela terra, ou Bispado, com ordem nossa,
por parte do S. Ofício, e lhe mostrará os poderes, as provisões, que também
leva; e em caso, que aí os não queiram ver, ou o não veúam visitá-los mandará
mostrar pelo Notrário da visita, ao Cabido ou casa do Prelado, ou dos Governa-
dores; e de tudo o sobredito fará auto o Notiírio no livro da visitq que o Visitador
assinará.
7o. Depois disto, no primeiro dia santo, que houver mandará publicar nas
igrejas do lugar, o dia em que se há de fazer a publicação da visita, com o sermão
da Fé, que sempre será domingo, ou dia santo; e que portanto encomenda muito
ao povo Cristão se ache presente; e mandará por autoridade Apostólica, que
nesse dia não haja outra provisão, nem pregação em alguma Igreja; aos e
Religiosos, Priores, Curas, e mais Clero da Cidade, vil4 ou lugar, acompanhem
a procissão, que se hâ de fazer, nomeando as lgrejas, de que há de sair, e onde
a visita se há de publicar, que serão as que lhe parecer convenientes; e avisará
as justiças da Câmara, para que na procissão o acompaúem, e ao saber da terra,
ou Alcaide-mor, paÍa que na publicação se achem presentes.
TÍTULO V
Dos deputados
TITULO VI
Do promotor
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_-.1
Sônia Aparecida de Siqueira
I
pecado nefaÍìdo. Mas se a denunciação tocar a uma só pessoa" que já estiver
presa, logo a farájuntar a seu processo; e, feitos estes livros, os proporá aos
Inquisidores para numeraÍem, e rubricarem na forma, que se dispõem no $ 8o
do Título II deste livro, vers. Todos. E se as conftssões, e denunciações forem
crescendo, guardará a mesma ordem, que acima fica dada, quando as petições,
# que se dão em favor das partes crescerem de maneira, que obrigam a que se
multipliquem os cadernos.
7". Contaút o Promotor todas as denúncias, que no S. Ofïcio se tomarem,
na forma seguinte; a saber, em cima da denúncia porá quem denunciou, e contra
quem; e pela maÍgem irá pondo o juramento, que se deu ao denunciante, sua
idade, tempo, e lugar do delito, e substancia dele, circunstâncias que agravem
e revelem cúmplices, se os houver, e o que disser ao costume. Nas confissões
fará as mesmas contas, e além delas contará o ensino que ao réu se fez, e em
que tempo, e até quando lhe durou a crença dos erros, que confessa.
10. Reportado tudo da maneira, que acima fica dito, logo lançará no índice
do Repertório pelas lefias do ABC o nome da pessoa delata ou confessa;
declarando o estado, o oficio que tiver, e o lugar donde é natural, e morador,
paÍa que deste modo possa com muita brevidade ir reportando as culpas, que a
calando a Igreja, que é a parte, e assim nos mais casos semelhantes. E quando I
I
R IHGB, Rio de Janeiro, I 5 7 (392) : 693-883, jul./set. I 996.
I
Regimento do Santo Ofrcio 1640
-
o lugar, em que os réus cometeram o delito for tão pequeno, ou tiver tais
circunstâncias, que se for declarado ao réu, virá ele em coúecimento de quem
são as testemuúas, o Promotor considerando a distância que vai desse lugar
à cidade, vil4 ou lugar mais notável, dirá que o réu cometeu a culpa em tal
distância da dita cidade, vila, ou lugar; convém a saber, quando o réu cometeu
o crime em uma quinta uma légua de Lisboa" dirá que o réu cometeu o crime
uma légua ao redor de Lisboa, e se as culpas forem cometidas no ciírcere; sendo
o réu morador na cidade, em que assiste o S. Oficio, ou havendo notícia certa,
que veio a ela no tempo, que a publicação da prova da justiça lhe dá a culp4
declarará o Promotor que o réu o cometeu na tal cidade; mas não sendo nela
morador, nem havendo notícia certa" que veio a ela no tal tempo, dirá que a
culpa se cometeu no Arcebispado, ou Bispado, em que reside o S. Oficio.
23. Parecendo ao Promotor que ajustiça é agravada nos despachos, ou
sentenças dos Inquisidores, poderá apelar para o Conselho-Geral, como se
dispõem no Livro 2 Título )Oil. E quando amesa lhe não deferira suaapelação,
ou a seus requerimentos, fará petição ao Conselho, em que relate o caso, e peça
se evoquem a ele os autos para se lhe deferir com justiça.
24. Estando os negócios e processos em termos paÍa se entrar em despacho
geral, o Promotor, de mandado dos Inquisidores, faú lista para o conselho de
todos os presos do cárcere, e das pessoas, que se livrarem soltas, declarando
nela os nomes, idade, e qualidades dos réus, donde são naturais e moradores, o
tempo em que foram presos, ou apresentados, a qualidade das culpas, a prova
I que contra ela há e os termos, em que estão seus processos; e antes de se dar
início ao despacho, procurará saber se nas outras Inquisições há culpas conüa
as pessoas, que se houverem de despachar, e para isso fará outra lista com as
t confrontações necessiírias para se vir em conhecimento de quem são; e a mesma
diligência procurará que se faça por certa da mesa todas as vezes que se houver
de despachar algum processo. Antes dos processos se proporem em mesa, fará
diligência no Repertório, para ver se estão nele transladadas todas as culpas,
que há contra o réu, e no fim delas fará declaração de sua letra, de como não
há contra o réu mais culpas do que ali estão transladadas.
25. Terá, grande cuidado de se formarem os processos de maneira que
quando se despacharem em final, lhe não falte coisa alguma; e no rosto de cada
um deles fará pôr o nome, qualidade, estado, oÍïcio, e pátria do réu, e o dia" mês
e ano em que foi preso; e se for solteiro ou mulher casada" o nome, o estado do
pai, ou marido, com a advertênciq que se declara no $ I l,Título XXII do Livro
\
2 e o mesmo cuidado terá de ver se os processos estêio formados, como se
dispõem no livro 2, Título V e os que houverem de ir ao Conselho, numerará
) tanto que estiverem conclusos em final, para que com mais clarczapossa fazer
I
os relatórios, e irá cada parte numerada por si, paÍa que possa continuar os
números, no que depois acrescer, sem riscar os que já tiver posto; mas não forem
27. Estando concluído o despacho, ao tempo, que se tratar de pedir dia para
o Auto da Fé, fará de ordem dos Inquisidores outra lista para o Conselho, na ì
forma acima declarada" das pessoas despachadas, acrescentando somente o
despacho, que cada uma delas teve, e declarando as que foram a tormento; e
para o dia, em que o auto se celebrar, terá feito ouba lista das pessoas, que nele
houverem de sair, declarando em cada uma o nome, idade, qualidade, e terra
donde é natural, e moradora; a qualidade de sua culpa, e a pena, que por ela se 3
lhe dá; a qual lista se entregará aos inquisidores para eles no-la enviarem na
forma, que no Título III fica ordenado.
_l
28. Das pessoas, que achar delatas nas confissões, e denúncias, que
reportar, e pertencerem a distrito diferente, fará lista, declarando o dia em que .
depôs a testemunha, a qualidade da culpa, o tempo, e lugar, em que lha dá, se
diz ao costume, e se está ratificada; e esta lista entregará na mesa, donde será
enviada a Inquisição, a que tocar, com a brevidaãe possível, porque não
aconteça ausentarem-se os culpados, em tanto prejuízo de nossa Santa Fé, e de
suas almas. E quando de outra Inquisição se pedirem algumas culpas, o
promotor fará logo tansladar pelos Notrârios as que houver, e procurariár, que
com toda a brevidade se enviem à Inquisição, que as pediu; e no repertório faní
declaração do dia, mês e ano, em que se remeteram, e a que Inquisição; e não
as havendo, fará passar certidão por um Notário, a qual ele também assinaná; i
se satisfará à Inquisição, donde as culpas se pediram.
TÍTULO VII
Dos notarios
1o. Os Noüârios do S. Ofïcio serão Clérigos de ordens sacras que saibam
bem escrever, de suficiência, e capacidade coúecida para poderem cumprir
com a obrigação de seu ofïcio; e podendo-se achar letrados, serão preferidos
aos mais; e todos terão as qualidades, de que estrá dito no Título I $ 2o deste
livro.
2o. Por quanto além de ser continua a assistência, que os Notrários faz,em
no S. Ofïcio, muitas vezes acontece de serem também necessiírios nos rlias em
que não há despacho; encomendamo-lhe muito, que tratem quanto for possível,
de viverjunto da Inquisição; dois deles, os que forem mais antigos, terão chaves
da porta da casa do secreto; e em falta de algum deles, a terá um dos outros,
qual os Inquisidores ordenarem; e quando tiverem justa causa para não vir ao
S. Ofïcio, enviarão a chave na forma, que se ordena no $ 4o do Título II deste
livro.
3o. Todos os dias, que não forem feriados, virão ao S. Ofício na forma
ordenada; e um delespelamanhã, meia-horaantes de se enfrarno Tribunal, dirá
missa no oratório da Inquisição; e paÍa com maior facilidade poderem cumprir
com esta obrigagão, que há de ser inviolável, a repartirão às semanas entre si,
e as missas poderão aplicar por quem lhe parecer; e pelo trabalho de as dizer
haverão por ano cinco mil réis cada um; e cometendo algum deles falta na
semana, que lhe cabe, alem de lho mandarmos estranhar, como é razão, serã
multado naquilo que lhe couber por cada missa.
4o. Assistirão no secreto três horas pela maúã, e três à tarde, e nelas não
sairão fora, sem para isso haver causa muito just4 ou os Inquisidores os
chamarem; e se ocuparão só naquelas coisas, que pertencem a seu oficio, sem
se divertirem em matérias e práticas escusas, que não servem mais, que de
impedir o curso dos negócios; e quando os Inquisidores os não ocuparem na
mesa, saberão do Promotor as coisas, a que devem acudir, para que sejam
preferidas as demais.
5o. Escreverão em todas as causas, em que os Inquisidores são Juízes, assim
por breves Apostólicos, como por privilégio Real; e assistirão a todos os atos
judices, que com os presos, e mais pessoas se fizerem; Fansladarão as culpas,
e mais papéis, que forem necessiírios paÍa os processos, e farão neles todos os
termos, conclusões, e ratificações; farão os mandados, cartas de inquirições,
requisitórias, comissões, precatórios, e certidões, que se houverem de passar
para fora; cozniao os processos e fecharão as cartas, e farão os maços delas, e
dos mais papéis, que se remeterem, e selarão aqueles, que houverem de ter selo;
estarão presentes quando se houver de falar com algum preso, ou fazer com ele
alguma diligência, ainda que seja extrajudicial; salvo nos casos, em que o
Regimento outra coisa permitir, ou dispuser.
6o. Lançarão a receita" e a despesa nos livros do Tesoureiro, e farão os
conhecimentos em forma; como Escrivães de seu caÍgo, e formarão os livros,
que pertenceÍem a este ofïcio, como no título seguinte se declara; farão os
termos dojuramento, que se deraos minishos, e oficiais do S. Oficio, e copiarão
suas provisões nos livros das criações, e ordenados; e neúum papel dos
sobreditos escreverão por terceira pessoa, senão por sua própria mão.
7o. Nas audiências não falarão com Íìs partes coisa alguma e escreverão
pontualmente todas as palavras, que o Inquisidor disser à parte, e o que ela
responder, lançando assim as perguntas, como as respostas por extenso, não se
contentando com dizer, e sendo perguntado, respondeu. E quando acontecer,
que o Inquisidor se saia no meio da audiência para logo a vir continu ar, pararâ
no estado, em que estiver, sem se escrever mais palavra alguma; e parecendo-
lhe que é precisamente necessário adverti-lo de alguma coisa tocante ao
negócio, de que se trata, podê-lo-ão, fazer por escrito, com amodéstia, e cautela"
que convém ; e quando a sessão se não puder acabar na audiência em que
começou, declararão arazÃo, que houve para isso.
8o. Começarão os termos das audiências pelo dia, mês, ano e lugar em que
se Íizerem; e sendo no cárcere, dirão a razão, que houve para nele se fazerem;
se foi em audiência da tarde, ou da maúã, declarando por seu nome e pessoa,
que a elas assistir como juiz; e, sendo Deputado, dirão a ordem, ou comissão
porque assistiu; logo porão o nome da pessoa, que é ouvida; e se pediu
audiência, ou foi chamada, e se lhe foi dado juramento para diznr averdade, e
ter segredo. Quando se fizerem duas sessões no mesmo dia com uma pessoa,
não começará o termo da segunda, dizendo; e logo no mesmo dia; senão na
forma sobredita pelo dia, mês e ano; porem antes das partes se assinarem,
infalivelmente lhe será lido o que com elas se escreveu; e assim se declararáno
mesmo termo, com o que as partes responderem; e no fim concluirão, o que o
Juiz, e a parte assinaraÍn, e ele Noüário o escreveu; e sendo preso, dirão que o
molestado em forma foi mandado a seu cárcere.
9o. Por enquanto, conforme a direito, e ao que se dispõem no $ 4o, Título
V do Livro 2 se deve dar Curador ao menor de vinte e cinco anos; na primeira
audiência, que com ele tiver, faú o Notário termo de curadoria separado da
sessão, o qual o Curador assinarár, eterâparticular cuidado de lembrar, que se
dê sempre Curador aos menores, antes de se fazer com eles auto algum judicial;
e que o curador venha estar presente quando lhe forem lidas as sessões, que
com ele se fizerem, € as assine, e no termo fará menção como assistiu, e assinou.
10. Quando os Noüírios transladarem testemunhos dos originais para os
processos, ou parte se enviarem a outra Inquisição; em cada testemuúa farão
um relatório muito distinto, em que se declare sua idade e qualidade, donde é
natural, o di4 mês e o ano em que foi presa, ou apresentad4 e porque culpas;
o estado em que estava seu processo quando começou a confessat, e quando
disse do réu; se variou no discurso da confissão, ou a revogou em todo, ou em
paÍte, com tudo o mais que parecer necessário, para que melhor conste do
crédito que se deve dar a seu depoimento. Depois deste relatório, hansladarão
o termo da audiência, em que disse do réu, e a comunicação, que teve com ele,
na forma em que estiver escrtta, sem acrescentar nem diminuir palavra algum4
e no fim dirão a razão que houve para se fiarem o réu, e a testemuú4 se ela a
tiver declarado, e o que disser ao costume; e se o testemunho for dado em
tormento, ou depois da sentença dele, transladarão toda a audiência do tormen-
to, com o que tocar ao réu; e assim mais a ratificação da banca" e tudo
concertarão com oufro Notiário, em presença do Promotor, declarando no termo
do concerto, que nesta forma foi concertado, e conferido.
ll. Quando algum processo estiver em termos de se lhe dar algum
despacho, um dos Notrírios lhe porá a conclusão, dizendo, que estando em tais
termos de mandado dos Inquisidores o fez concluso para se lhe haver de deferir;
e estando em termos de se despacharem final, dirá" que o fezconcluso em final.
17. O Noüário, a quem o Alcaide avisar (com tanto que não sej4 o que
naquele tempo servir de Tesoureiro) que entrou no S. Ofïcio algum preso, irá
logo fazer auto de entrega, no qual irá declarado o di4 mês e ano em que entrou
no cárcere, quem o trouxe, e tudo o que lhe foi achado; e assinado o auto pelo
Alcaide, o juntará ao processo do preso; carregarí em receita ao Alcaide no
livro, que fica ordenado no Título II $ 8" deste liwo, os ferros, fato e roupa, que
o preso trouxer para seu uso; e fará que o Alcaide assine logo o termo da receita,
e assistirá à busca, que se há de fazer ao pÍeso antes de o levarem para o ciárcere;
e tudo o que se lhe achar, que não for roupa de seu uso lançaÍá por lembrança
no livro, que está ordenando, e as pessoas de ouro, ou prata, diúeiro, escritos
ou letras dele, entregará ao tesoureiro, carregando-lhe tudo em receita no título
do mesmo preso.
19. Os Notários levarão de cada selo que puserem nos papéis, que houve-
rem de selar, um vintém; e do que escreverem nos processos, levarão o que pelo
Promotor lhe for contado; e o pagamento se lhe fará quando se pagarem as mais
custas dos processos.
rÍruro un
Do tesoureiro e seu escrivão
i
Sônia Aparecida de Siqueira
5o. Quando na entrada do cárcere forem achados aos presos algumas letras,
ou escritos de diúeiro, o Tesoureiro tanto que lhe forem enfiegues, com ordem
da mesq os passará ao tesoureiro do Íïsco, cobrando dele coúecimento em
forma, para se descarregar, quando der sua conta; e isto haverá lugar naqueles
presos, em que houver seqüesfuo de bens; poÍque não o havendo, se entregarão
as letras, e escritos às pessoas, a quem os presos deixarem encarregados seus
bens.
6o. No livro das condenações fará dois títulos, um de receita por lembrança
onde carregará ao Tesoureiro todo o diúeiro, que há de cobrar de condenações,
pecuniárias, que fizerem os Inquisidores, ou se mandarem fazer,por despacho
do Conselho, e o diúeiro das dispensassões, e comutações, que se fizerem por
nossas provisões; declarando no termo da carga as pessoas, de quem se hão de
cobrar, e a provisão, ou despacho donde procederão; e no mesmo despacho, ou
provisão, porá à margem verba de como vai canegando no tal livro, e a quantas
folhas; e o outro do diúeiro vivo, no qual carregará tudo o que o Tesoureiro
for cobrando, remetendo-se na carga ao termo de receita por lembrança, à
margem do qual porá verba, de como se cobrou, e vai carregado a folhas tantas.
7o. A principal obrigação do tesoureiro há de ser procurar a cobrança de
tudo o que Oficio, e lembrar com tempo aos Inquisidores, o que
se dever ao S.
deve fazer para este efeito; e assim mesmo lhe lembrará com tempo, quando
na aÍca houver falta de dinheiro para os gastos necessários da casa, ou para
alimentos dos presos; e terá nestas matérias tal cuidado, que nunca por este
respeito se retardem os negócios.
8o. Tanto que o Tesoureiro cobrar algum dinheiro, o fará saber na mesa, e
logo diú ao escrivão, que lho caregue em receita no livro a que tocar; e na
carga iná declarado o dia, mês e ano em que o recebeu, a pessoa que o entregou,
e porque conta; e do que receber passará coúecimento em forma feito pelo
escrivão, e assinado por ambos, no qual o escrivão declarará o livro, e folha em
que o dinheiro fica carregado, e no mesmo livro à margem da carga porá verba
como passou coúecimento. E o Tesoureiro em nenhuma forma cobrará diúei-
ro, sem primeiro se lhe caffegar em receita nem passará escritos rasos do
receber; e fazendo o contrário, lhe será dado em culpa.
9o.Todo o diúeiro, que cobrar pertencente à inquisição colocará logo na
arca de três chaves, das quais há de ter uma, donde não sairá dinheiro algum,
se não com ordem da mesa, e em presença dos dois Inquisidores, que hão de
ter as outras chaves. No inicio de cada mês, tirará a quantidade de dinheiro, que
os Inquisidores ordenarem, assim para os gastos ordinários da casa, que terá
em seu poder, como também para alimentos dos presos, que entregará ao
despenseiro, do qual receberá conhecimento; e no fim do mês fará com ele conta
pela folha que o Alcaide tiver feito, e Íicando-lhe a dever algum dinheiro, lhe
L
Regimento do Santo OJício 1640
-
e dos três ministros, e reformação das coisas que servem no Oratório, casa do
despacho, secreto, e audiências, e excedendo as ditas coisas, que se ouvirem de
fazer em um ano, a quantia referida, as não farás sem provisão nossa, ou
despacho do Conselho; e neúum dos pagamentos, ou despesas referidas, fará
dinheiro das condenações, ou comutâçõesdas penitências, nem dele despenderá
coisa alguma sem expressa ordem nossa; e fazendo o contriáric, ou alguma outra
despesa, que o Regimento não ordene, lhe não será em conta.
15. Depois que o Auto da Fé se celebrar, o tesoureiro, com ordem dos
Inquisidores, fará conta com as possoaÍi, que nele saíram, e não foram conde-
nadas em pedimento de bens, do que recebeu paÍa seus alimentos, e do que
neles se gastou; e colocará na conta de cada um as visitas do médico, e cirurgião, I
conforme ao rol, que o Alcaide lhe der; e feita conta, se lhe ficar devendo algum
dinheiro, lhe dará logo satisfação; e tendo pessoas suas de ouro, ou prata" ou I
moedas de ouro, alguma outra coisa lhe fará logo entrega de tudo na mesma
espécie, e cobrará qurtação paÍa com ela se descarregar quando der sua conta;
e as ditas pessoas ficarem a dever algum diúeiro, também o cobrará logo delas,
e não pagando, requererá aos Inquisidores, que as mandem deter no carcere da
penitenciári a, ate pagarcm com efeito na forma, que lhe esüá ordenado no Título
rrr $ 4s.
16. Tanto que acabar o ano, dará sua conta ao Inquisidor, que para isso
nomeannos; e ficando a dever algum dinheiro, o entregará de contado ao
Tesoureiro, que lhe suceder, o qual o não tomará em receita sobre si, sem que
realmente o receba, e se coloque na arca das três chaves; e ficando o S. Ofïcio
a dever ao Tesoureiro algum dinheiro, não se lhe dará dele satisfação; por
quanto não é nossa vontade, que ele empreste de sua casa diúeiro ao S. Offcio,
nem é de presumir, que seja seu o que acrescer; e por este modo cessarão os
inconvenientes, que se podem seguir do contrário.
17. Porém acontecendo, que haja tal necessidade, que seja forçado buscar
o tesoureiro algum dinheiro emprestado para acudir ao S. Ofïcio, ele o faní
saber na mesa, para que o tome com ordem dos Inquisidores, e constando do
empréstimo, lhe mandem dar satisfação do primeiro dinheiro, que se cobrar; e
pelo trabalho do ofïcio, e quebra do diúeiro, haverá além de seu ordenado,
doze mil réis de mercê pelo ano, em que servir.
rÍruro x
Dos procuradores dos presos
rÍruro x
Dos qualificadores
t,- as poderão cometer a outro, e terão grande cuidado em lhe dar expedição, e de
as fazer na formq que lhe for encarregado, para que por sua culpa não se
retardem os negócios. Procurarão, que as testemuúas, que perguntarem, dêem
sempre razÃo de seu dito, principalmente quando aos artigos de contraditas
depuserem de alguma razío de inimizade; e neste caso lhe farão declarar se o
réu e a pessoa recusada, depois das diferenças, ou mzío de inimizade, de que
depuserem tornarão a tratar-se como amigos.
são, e dirá às pessoas cujos forem, aÍazáo, que há para se recolherem, e como
lhos hão de tornar ao tempo de sua partida; e assim o guardará inteiramente, e
a mesma ordem guardará a respeito das imagens, se achar algumas indecentes.
9o. De todas as pessoas, que vierem nos navios, para ficarem de assento,
ou por algum tempo neste Reino, tomará os nomes no livro da visita, e se
informará das terras, em que determinam fazer sua morada; e sendo povos
grandes ou Cidades, do bairro, em que hão morar, e disso mandará fazertermo
no livro da visit4 e avisará aos Inquisidores para que o teúam entendido, e
façam o que mais convier ao serviço de Deus.
11. Não poderá o Visitador, nem os mais oficiais, pedir aos capitães,
Mestres, ou pessoas, que vierem nos navios, coisa alguma, ainda que seja com
título de esmola; nem deles aceitarão, posto que voluntariamente lhe ofereçam;
não comerão com eles nem lhe comprarão alguma coisa no auto da visita, e se
depois lha comprarem, será pelo preço ordinário da terra, e não por menos.
12. As despesas, que se fizerem em cumprir o que fica ordenado, serão por
conta do S. Ofício, e para se lhe dar satisfação enviará o Visitador aos
Inquisidores do distrito, certidão delas, passada pelo escrivão da visita.
13. Nos portos de mar, onde houver convento de S. Domingos, ordenamos
que o Prior, dele seja Visitador das naus, e em sua ausência o leitor dos casos,
contanto que tenham as qualidades que acima se declaram; e porque, conforme
ao costume da Província, a eleição das tais pessoas é trienal, o Prior ou Leitor
novamente eleitos não poderão servir o dito cargo, sem primeiro nos dar cont4
e terem ordem nossa.
rÍruro xn
Do meirinho
lo. O Meiriúo do S. Oficio será homem de boa pessoa de suficiência e
capacidade; terá as condições e qualidades que no Título I, $ 2o deste livro se
declaram, e guardará inteiramente tudo o que se dispõem nos $$ 6o, 7o, 8o e 9o
do mesmo título.
2'. Assistiú na sala da Inquisição todos os dias, que não forem feriados
nas horas que os Inquisidores estiverem na mesa, salvo se eles lhe ordenarem
outra cois4 aos quais acompaúará à entrada e saída do Tribunal, e até sua casa,
quando para ela forem, ou dela vierem a pé; irá outros com eles ao Auto público
da Fé, e mais partes, a que forem em forma de Tribunal. Na Inquisição
acompanhará os Deputados até a porta da saleta, quando entrarem, e quando
saírem até a escada, e a nenhuma outra pessoa acompanhará pela cidade,
levando vara.
3o. Todas as vezes que os Inquisidores lhe ordenarem estar com os
Advogados, enquanto estiverem na Inquisição procurando pelos presos, e
advertirá se falam com eles em matéria, que não toque a sua defesa, e bem de
suas causas; e notando alguma cois4 que possa prejudicar ao S. Ofïcio, logo o
fará saber na mesa.
4o. Não consentirá, que na sala do S. Ofïcio haja inquietação alguma, antes
fará que as pessoas, que nela estiverem estejam com a composição devida, e as
advertirá, quando for necessário, da cortesi4 que devem fazer aos ministros
quando entrarem, ou saírem; ordenará aos seus homens, que havendo no pátio,
ou escadas da Inquisição, jogo, ou alguma inquietação, o avisem para acudir a
tudo, como é obrigado; porém sendo a coisa de qualidade, que ele a não possa
remediar, dará conta na mes4 onde se lhe ordenará o que deve fazer.
5o. Sempre trará consigo os três homens, que o S. Ofïcio lhe dá para o
acompaúarem, aos quais ordenará, que enquanto estiver aberto o Tribunal, se
não saiam do pátio da Inquisição, para que os Inquisidores os achem, quando
forem necessáÍios, e não os ocupará em seu serviço por quanto para o servir lhe
dá o S. Ofïcio o salário de outro.
6o. Quando estiver vago algum dos seus homens, apresentará aos Inquisi-
dores pessoacapuz de o servir, e sendo por eles aprovada, e tendo tomado
juramento na mesa, o admitirá, sem ser necessário para isso provisão nossa; e
se algum dos ditos homens cometer falta,ou culpa digna de castigo, o fará saber
na mesq para nela se dar o remédio, que for mais conveniente, mas não os
castigará só por sua autoridade.
7o. Não fará prisão, nem alguma outra diligência, sem primeiro ter manda-
do assinado pelos Inquisidores; e tanto que o tiver, fará a diligência assim, e de
maneira" que lhe for encanegada, a qual não poderá cometer a outrem; mas
havendo alguma razio, para ele a não faznr pessoalmente, dará conta na mesa,
e seguirá o que se lhe ordenar; e se nas prisões, e mais diligências lhe for
necessiário ajudar-se de algum familiar, ou de outras pessoas, o poderá fazer,
contanto que delas se possam confiar sem prejuízo do S. Ofïcio; e quando não
puder executar o negócio, que lhe for encarregado, com toda a brevidade avisará
aos Inquisidores dando arazáo por que não teve efeito.
8o. Prendendo em sua casa alguma pesso4 com seqüestro de bens, todas
as pessoas, que com ela morarem na mesma cÍNq ou aí estiverem ao tempo da
prisão se não forem coúecidas, e sem suspeita, fará logo recolher em paÍte
desviada daquela, em que o preso estiver, pondo com elas algum familiar, ou
pessoa, de que tenha igual confiança para que não possam falar com o preso,
nem dar-lhe algum aviso; e não consentirá que falem com ele seus parentes, ou
criados, nem alguma outra pessoa; e sendo os presos mais de um, terá grande
resguardo, em que não se comuniquem entre si, mas far-lhe-á bom tratamento,
e não consentirá que se faça agravo na prisão, nem pelos caminhos, e estalagens,
especialmente às mulheres, as quais tratará com grande honestidade e decência.
9o. Tanto que executar a prisão, mandará recado ao Juiz do Fisco para que
vâfazer inventario dos bens do preso, e por sua fazendaem segurança; e não
I
havendo aí Juiz do fisco, avisará ao Corregedor, ou Juiz de fora, e em falta deles,
I
ao Juizda terra, e entretanto tomará as chaves da casa" e, vindo qualquer deles,
; lhe pediní cama para o preso e roupa paÍa seu uso e o dinheiro que no mandado
se ordenar para seus alimentos, e tudo isto virá em companhia do preso.
10. Chegando ao S. Ofício, faúr entrega do preso ao Alcaide, e ao Notário,
que assistir a ela, pedirri que lhe cÍuïegue o fato, e a roupa do preso, e ferros,
se os trouxer, e o diúeiro entregará ao Tesoureiro, e de ambos cobraú
conhecimentos em forma, um deles feito pelo Noüirio, que assistir à entrega, e
outro pelo escrivão do Tesoureiro, os quais fará juntar ao inventiârio do preso,
para que conste, que entregou no S. Oficio o que lhe deram. E quando não
touxer o que no mandado se ordena, trará certidão do inventrário, passada com
autoridade do Juiz" em que declare arazÃo por que não cumpriu em parte, ou
em todo, o mandado dos Inquisidores. E tardando o Juiz" ou sendo necessiírio
por algum outro respeito, não esperar por ele, podeú encarregar a casa, chaves
e bens do preso a algum familiar do S. OÍicio, e não achando, a outra pessoa
de igual confi*ga assistindo porém com eles alguma pessoa mais da obrigação
do preso, para maior segurança de seus bens.
11. Depois de entregar o preso ao Alcaide, como acima fica dito, irá dar
conta a mesa de fudo o que na prisão lhe sucedeu, e entregará os mandados de
prisão ainda que não tivessem efeito, e quando a prisão se mandar fazer sem
seqüestro de bens, o Meiriúo dirá ao preso que os deixe encarregados à pessoa
que melhor lhe parecer; salvo os Inquisidores lhe ordenarem outra coisa.
12. Quando os Inquisidores lhe mandarem que leve alguma pessoa presa
à cadeia da cidade, onde reside o S. OÍicio, cobrará do carcereiro certidão da
entrega do preso, e a dará na mesa, para que conste aos inquisidores, como está
executando seu mandado.
13. No Auto da Fé assistirá junto ao Altar das abjurações, e ordenará pelo
rol, que se lhe der que os presos estejam prestes de maneira, que não haja dilação
em chegarem ao lugar, onde hão de ouvir suas sentenças, e ai os fará pôr, e estar
em forma, e com a compostura, que convém, e tirará os hábitos àqueles, a quem
sua sentença mandar, que no Auto se lhe tirem, os quais lhe ficarão; e dos
presos, que forem relaxados, fará entrega às justiças seculares.
TÍruLo xIV
Do alcaide do cárcere secreto
lo. O Alcaide dos cárceres secretos será casado, homem de tanta confiança
e virtude como convém que sej4 pelo contínuo trato que tem com os presos;
será de tal idade, e disposição, que possa bem acudir às obrigações de seu oficio,
e, além disto, terá todas as qualidades, que se dispõem no Título I, $ 2o deste
livro, e guardaná inteiramente o que se ordena nos $$ 6o, 7o, 8o e 9o do mesmo
título.
2o. Assistiú de ordinário no cárcere, e principalmente nas horas do despa-
cho; e se achará sempre presente ao tempo, que o médico, cirurgião ou barbeiro
visitarem os doentes, ou outra pessoa de fora viet fazet nele alguma coisa
necessária; e tanto que lhe tocarem as campaiúas acudirá com diligência a
saber o que lhe querem.
3o. Terá no ciárcere um livro, em que lançará todos os presos, que nele
entrarem, declarando o dia, mês e ano da entrad4 e no mesmo livro lhe será
carregado por termo de um Noüírio que ele assinanár, o fato, roupa, e ferros, que
os presos trouxerem; terá um caderno, no qual com a distinção e clarcza
necessiíria estarão lançadas as casas dos cárceres, e as pessoas, que em cada
J
Sônia Aparecida de Siqueira
nela lhe ordenarem. A todos os presos tratará com muita caridade, sem respeito
algum particular, procurando, que o necessário lhe não falte, e se lhes dê nos
tempos, e horas, que convém.
9o. No princípio de cada mês saberá deles o que querem paÍa seu manti-
mento, e se acomodaút ao que eles lhe pedirem, com tanto que não exceda a
ordinária, que lhe está assinada, nem seja em coisas, que mais pareçam pedidas
por apetite, que para mantimento; e tudo irá assentado em livro, do que tirará
uma cópia por maior, das coisas, que os presos tiverem pedido, que entreganá
ao despenseiro a tempo, que ele as possa comprar; e quando o despenseiro as
trouxer, verá se são boas, e compradas conforme ao preço ordinário datena;
porque, não sendo assim, lhas podeú enjeitar; e parecendo- lhe que é necessário
haver nisto alteração, dará conta na mesq declarando a razão, que para isso tem,
efarâo que nela se ordenar.
10. No fim do mês fará folha da despesa dos presos, declarando, nela, o
que cada um gastou em ordinrá.ria" extraordinári4 doenças e sangrias, se as tiver;
e juntas as receitas da botica, e entregará ao Tesoureiro, o mais tardar, até o
segundo dia do mês seguinte, para que, constando lhe do que se gastou no mês
atriís, possa fazer conta com o despenseiro; e das sangrias, que se fizerem no
cárcere, passaráescrito aoBarbeiro parahaverpagamento delas do despenseiro.
I 1. Dará mais aos presos tudo aquilo, em que forem providos da visita"
tanto que o receber do Tesoureiro, mas fora disso lhe não dará coisa alguma
ainda que seja própria dele Alcaide, ou os mesmos presos lhe dêem dinheiro
para se comprar. Em cada semana lhe fará dar roupa lavada, e ao menos não
passará de quinze dias, e a roupa, que houver de ir a lavar, mandará entregar
pelos guardas à lavanderia" a qual será pessoa coúecida e quando a touxer,
depois de feita conta do que nela se monta, lhe passará escrito ao despenseiro
para lho pagar e lançará esta despesa no rol das miudezas.
12. Quando algum preso adoecer não havendo perigo na tardança, o farâ
saber aos Inquisidores, para que ordenem que o médico o visite e lhe mandem
dar e fazer tudo o que for necessiário para bem de sua saúde, e, no discurso da
doença, terá particular cuidado, que os remédios que os médicos mandarem se
lhe apliquem, com toda a pontualidade nos tempos e horas que lhes forem
assinadas entendendo, que se nesta matéria cometer alguma falta lhe será muito
estraúada.
13 . Assentará com o médico a hora, em que há de visitar os doentes, e será
aquel4 em que o possa acompaúar, sem fazer falta quando os Inquisidores o
chamarem à mesa; e a mesma ordem guardará com o cirurgião, barbeiro e mais
pessoas que forem chamadas para os doentes, porque convém muito que ele
esteja presente, quando as pessoas estiverem com os presos; não consentiriá"
que falem com eles mais, que nas matérias paÍa que são chamados, nem que
vejam, ou falem com outros presos; e algum dos oficiais, ou pessoas sobreditas
cometer falta, ou descuido em sua obrigação, logo o fará saber na mesa, para
nela advertirem de tudo o que for conveniente a seu oficio. Terá um livro, em
que assente as visitas, que o médico, e cirurgião fazemaos presos, e depois de
celebrado o Auto da Fé, tirará dele uma lembrança das visitas, que tiverem feito
às pessoas, que saíram sem confiscação de bens, a qual entregará ao Tesoureiro
para lhe fazer o pagamento.
14. Quando o médico julgar que a doença é perigos4 e que se deve dar
confessor ao doente, sendo em dia feriado, hâ dar conta ao Inquisidor mais
antigo em sua casa, e em seu defeito, ao segundo, para saber o confessor, que
há de chamar; mas havendo perigo natardança, chamará uma das pessoas, que
os Inquisidores para esse efeito lhe tiverem ordenado; e no tempo da quaresma
lembrará na mesa, que veja se há alguns presos, a quem se haja de dar confessor,
seguirá a ordem, que se lhe der.
15. Falecendo no cárcere algum preso, ou achando o Alcaide, que volun-
tariamente se matou, logo o fará saber na mesa; e sendo em dia feriado, ou fora
das horas do despacho ao Inquisidor mais antigo, e em falta dele a algum dos
outros; para que mande fazer a diligência, que convém nesta matéria; e o preso,
que morrer seráenterradono lugarordinário, com distinção, e sinalnasepultura"
para que a todo o tempo se possa saber onde esüÍo os ossos.
16. O Alcaide vigiará o cárcere por si, e pelos guardas, de maneira que não
possa nele haver coisa, de que não tenha notícia; e terá particular advertência
em ver se os presos comem as coisas que lhes dão, e quais deixam de comer, e
os guardas lhe disserem, dará conta na mesa com toda a brevidade.
17. Ordenará que haja sempre muita quietação no cárcere, e que os presos
não teúam brigas, ou diferenças entre si; nem joguem jogo algum, nem usem
de nomes diferentes dos que tiverem, nem tenham liwos, nem se comuniquem
de um cárcere para outro, batendo, falando ou escrevendo, e que falem em
manso naquele, em que estiverem; terá grande cuidado, que no comer da
cozinha não vá algum aviso, com que os presos possam ter notícia uns dos
outros; e se algum deles exceder em alguma destas coisas, o fará saber na mesa
paÍa que se lhe dê o remédio, e castigo, que convém; mas ele os não poderá
castigaÍ, nem lançar-lhes fenos por autoridade própria.
18. Acompaúará os presos quando vierem à mesa, e delas tornarem para
o cárcere, trazendo sempre um dos guardas, e não consentirá que vão falando
pelos corredores nem falará com eles, nem os persuadirá, que confessem suas
culpas, e quando acerca delas lhe quiserem comunicar alguma cois4 lhes diú
que daquela matéria só na mesa do S. Oficio hão de tratar; salvo se o preso for
menor, e ele seu curador, porque neste caso, diante do guarda, lhe poderá
advertir o que entender, que convém a sua alma, e a bem de seu despacho.
19. Não comerá nem beberá com os presos, nem com eles terá comunicação
particular nem lhes falará estando só, nem ocupará aos que forem oficiais, em
obra sua, ainda que lha haja de pegar inteiramente. Aos letrados, não comuni-
cará negócio algum, nem de algum preso aceitará dádiva alguma" ainda que
seja de pouca importância, nem de amigos, ou parentes seus, ou de pessoas, que
por eles Íequererem, nem com elas terá trato, comunicação, ou amizade, nem
irá a sua casa.
20. O Alcaide não culpará os guardas em coisa alguma, que não tocar a seu
oficio, e os fará cumprir com sua obrigação pontualmente, e que acudam com
cuidado às necessidades, e provimento dos presos, tratando-os bem; não
consentirá que façam alguma das coisas, que no parágrafo precedente havemos
proibido ao mesmo Alcaide, e alcançando, ou presumindo, que cometerão nelas
culpa, o fará saber aos Inquisidores, com toda a brevidade, para que eles atempo
lhe acudam com o remédio, que convém.
21. Ordenará, que dos quaho guardas, dois fiquem de noite nos cárceres,
repartidos de maneira que possam ter notícia de tudo o que neles se fizer; e,
paÍa esse efeito, tená iluminado os cárceres nos lugares que lhe parecer, e a
despesa, que se fizer no azeite,lançafir no rol das miudezas e não consentirá,
que, em nenhum tempo, saiam do cárcere, sem causa muito justa; e quando
forem a comer, chamar o médico, cirurgião, ou barbeiro buscar as mesinhas à
botica, ou fazer alguma coisa necessária" lhes advertiná" que tornem com toda
a brevidade; e ordenará o serviço do cárcere de modo que sempre nele estejam
ao menos dois guardas.
22. Quando os presos saírem do ciircere paÍa o Auto da Fé,terí cuidado
de que vão compostos em seu traje, e as mulheres com toucado honesto, e não
lhes consentirão que levem toucas por cima dos hábitos penitenciais, com que
os possam encobrir, nos lenços sobre os rostos, a fim de não serem conhecidas;
e alguns dias antes, lembrará na mesa os presos, que tiverem necessidade de
vestido, para que possam ser providos, e saiam a público com decência.
23. Depois do Auto da Fé, mandarájuntar, e levar todo o fato, a roupa, que
ficou no cárcere,e tendo-ojunto, o fará saber na mesa, para que os Inquisidores
lho mandem carregar por um Noüírio no livro, que esüí ordenando, e ambos
assinarão o termo; e quando os Inquisidores depois dispuserem do dito fato, ou
de parte dele, pedirá a um Noüírio, que no mesmo livro lhe lance a descarg4
para que sempre conste que se despendeu, e com que ordem.
24. O Alcaide além de seu ordenado haverá dois tostões de carceragem de
cada preso; e quando algum for mudado de uma Inquisição para outra, em
ambas pagarãcarceragem por inteiro, o qual se pagará sempÍe ao Alcaide, que
servir no tempo da soltura dos presos, ainda que fosse outro quando entraram;
porém a carceragem dos defuntos se pagará ao Alcaide, que servia no tempo
rÍrulo xv
Dos guardas
inteiramente tudo o que se dispõem nos $$ 6o, 7o, 8o e 9o do mesmo título; terá
as chaves da sala da Inquisição, e da casa do despacho, Oratório, e audiências;
e se viver dentro do pátio, terá também a chave dele, e cuidado de lhe fechar as
portas às nove horas da noite no verão, e às oito no inverno, e de as abrir, quando
for dia.
2o. Nos dias, que não forem feriados, virá pela manhã ao S. Oficio uma
hora antes de entrar em despacho, e à tarde meia-hora; para que possa mandar
vaÍreÍ as casas, limpar e prepaÍÍÌr as mesas, e provê-las de todo o necessário,
principalmente de boa tinta e penas; e para que não aconteça haver falta nestas
coisas, as pedirá sempre com tempo ao tesoureiro.
3o. Ajudará à missa, que se há de dizer no Oratório da Inquisição os dias,
que forem de despacho, e terâ um caderno, em que apontará os dias, em que
faltar o Notário, que a há de dizer, o qual apresentará na mesa, no fim de cada
quaúel; porém se as faltas forem muitas, antes disso darão conta aos Inquisi-
dores, para que provejam, como lhe parecer, terá grande cuidado do concerto,
e limpeza do Oratório.
4o. Não consentirá, que na casa do despacho entre pessoa alguma, que não
for ministro, ou oficial do S. Oficio, ainda que seja antes de se entrar no
Tribunal, ou depois de sair. E tanto que os Inquisidores entrarem em despacho,
para que possa facilmente acudir quando eles lhe tocarem a campaiúa, assistirá
na saleta, que fica entre a sala e a casa do despacho, e com toda a diligência
acudirá, e farâ o que os Inquisidores lhe mandarem; e depois de começada a
audiência" não consentirá, que entre pessoa de fora na saleta, nem que algum
outro oficial esteja nela devagar, advertindo-o, que saia para a sala; e se ele
insistir em querer estar aí, o fatí saber na mesa, para que os Inquisidores
ordenem, o que deve fazer acerca disso.
5o. Depois que os Inquisidores estiverem na mesq e mandarem fechar a
porta da casa do despacho, o porteiro não poderá abrir, salvo quando for
chamado; porém se for necessário dar algum recado, ou o Alcaide trouxer preso
para ela" fará sinal na porta, e não entrará sem primeiro se tocar a campaiúa;
e se na mesa estiver algum preso, fechará a porta por dentro, para que nunca
diante dele esteja aberta; e assim mesmo, quando o Alcaide houver de Írazer
preso para a mesa, ou levá-lo dela para o cárcere, terá muito cuidado de ter
fechada a porta, que vai da saleta para sala.
60. A todas as pessoas, que vierem requerer ao S. Oficio, tratará com muita
cortesia, e nunca lhes dará ocasião de escândalo, ou queixa; e se alguma delas
quiser falar na mesa, ou vier chamada à Inquisição, logo dará recado aos
Inquisidores; e se a não coúecer, por bom modo se informará dela, de sua
qualidade, e do que lhe responder dará conta na mesa, paÍa que se lhe dê o
assento que há de ter, conforme o Regimento; porém antes de entrar, com
cortesia lhe pedirá" que deixe as aÍmas, e aiÍáLacompanhando, para lhe chegar
o assento, e ao sair lhas tornará a entregar; e se duvidar de as tirar, de nenhum
modo consentirá, que entre dentro com elas, antes o fani saber aos Inquisidores,
seguirá o que lhe ordenarem.
7o. As petições, e mais papéis que se lhe derem, apresentará na mesa com
toda a brevidade; e se neles se der algum despacho, que se haja de tornaÍ as
partes, não levará por isso coisa algum4 ainda que voluntariamente lhe ofere-
gam; e quando na mesa ficarem alguns papéis de uma audiência para outra,
estarão com todo o resguardo, e não os lerri nem consentirá que outra pessoa
os veja.
8o. Tanto que se acabarem as horas do despacho, o farâ saber na mesa, e
depois de saírem os minisfros, fechará as portas; porém quando na casa do
despacho ficar algum Inquisidor, ou Deputado continuando com negócio,
esperará até que sai4 ainda que a hora seja dada. Quando estiver impedido de
maneira" que não possa acudir a sua obrigação, o fará saber aos Inquisidores,
paÍa que lhe ordenem, a quem deve entregar as chaves, as quais não fiará de
pessoa alguma" sem expressa ordem sua.
9o. Nas coisas dos defuntos, e ausentes, que ocoÍïem a revelia, apregoatâ
as partes, quando lhe for mandado, e haveú pelos pregões, o que o Promotor
no processo lhe contar. E quando os Inquisidores lhe mandarem, que chame
algum ministro do secreto, ouque dele peçaalgum papel, ou leve algumrecado,
não entrará da porta para dentro, e dela dirá ao que vai, e ali tomará a respost4
que lhe derem.
10. Terá a seu cargo todos os móveis pertencentes às casas do despacho,
audiências, e oratório, os quais lhe serão carregados em receita por um Notiírio,
no livro, que estiá ordenado; e para melhor lembranga das coisas, de que se lhe
tem feito c?{rgç terá em seu poder o taslado do inventrârio delas; e quando
alguma se gastar, procurará que amargem dareceita o declare um dosNoüários,
para que por este modo fique descarregado.
11. Terá cuidado dos livros defesos, que vierem ao S. Oficio, os quais
estarão em seu poder na Inquisição, no lugar, que os Inquisidores ordenarem,
e lhe serão carregados em outro livro por um dos Solicitadores, que os
Inquisidores nomearem; e quando os Inquisidores dispuserem deles, pedirá ao
escrivão, que lhe fez a carg4 que à margem da receita o declare para sua
descarga.
12. Além de seu ordenado, terá em cada ano treze mil réis, a saber, quatro
para o moço, que há de varrer as casas, três pelo pano da mes4 que lhe havia
de ficartodos os anos; porem estes não terá no ano, que o pano se fizer de novo,
mas levará o pano velho; dois para leúa para o fogo da casa do despacho, que
fará nos dias, que os Inquisidores ordenaÍem, e quatro para vinho, hóstias, e
lavagem da roupa do oratório: e terá outrossim os hábitos dos penitenciados,
que na mesa lhes mandarem tirar.
rÍrwo xvn
Dos solicitadores
1o. Os Solicitadores do S. Ofïcio, além das qualidades, de que se faz
menção no Título I, $ 2o deste liwo, serão pessoas diligentes, e que teúam
notícia de negócios; e guardarão inteiramente o que se dispõem nos $$ C,7o,
8o e 9o do mesmo títuIo.
)
I
Sônia Aparecida de Siqueira
rÍruro xvm
Do dispenseiro
lo. O despenseiro será pessoa inteligente, e de boa condição, e terá o mais,
que se requer nos oÍiciais do S. Ofício, e guardará inteiramente o que se dispõem
nos $$ 6o,7o,8o e 9o do Título I, deste livro. Assistirá de ordinrário na casa da
despensa; e, indo fora dela, deixará dito a um dos guardas onde o poderão achar
quando for necessário.
2o . T erâ na despensa tudo o que for necessário para provimento dos presos,
e procurará que seja o melhor, que houver, e o dará, pelo preço ordinrário da
terra; e para que em tudo guarde fidelidade, que convém, será obrigado a ter na
despensa, pesos e medidas afiadas, e trazertodos os sábados escritos dos preços
da carne, e cada mês a estiba do peso do pão; não dará para o cárcere mais que
as coisas que o Alcaide lhe der em rol, ainda que os guardas lhas peçam; porém
as que o Alcaide lhe mandar trazer, entregará com toda a brevidade; do que
tivernadespensa, nãovenderácoisa alguma, parafora, nem aindaaos ministros,
e oficiais do S. Ofício: não consentiú, que nela entrem mais que as pessoas,
que trouxerem o necessário para os cárceres.
3o. Pagará todos os meses ao barbeiro, eà lavadeira, quando trouxer a roupa
lavad4 tudo o que constaÍ, que se lhe deve pelo rol, que o Alcaide lhe der;
comprará tudo o que o Tesoureiro lhe disser, que é necessrário para o S. Ofïcio,
e todos os meses fará conta eom ele pela folha da despesa dos presos, que o
Alcaide há de fazeq e pelos conhecimentos, que lhe houver dado, e o que ficar
devendo, paguâ logo com efeito.
4o. Tudo o que comprar, pagará com pontualidade; e na compra das coisas
se haverá de maneira, que não possa haver dele queixa alguma; e quando houver
carestia na terra, e for necessário tomar algumas coisas por justiça" dará conta
na mesa, para que nela se ordene o meio que mais suave parecer.
TITULO xIX
Dos homens do meirinho
lo. Os homens do Meiriúo serão mancebos bem dispostos, e tais, que com
diligencias possÍrm acudir à obrigação de seu oficio, e ao diante servir de
guardas, e serão admitidos na forma, que fica dito no TítuloXIII, $ 20 deste
livro: saberão ler, e escrever, e guardarão inteiramente o que dispõem nos $$
6o,7o,8o e 9o do Título I, deste livro. Na terra, em que assiste a Inquisigão,
acompanharão sempre ao Meirinho, salvo quando o S. Ofício os ocupaÍ em
outra coisa; e fora da terra não irão com ele, senão quando os Inquisidores lhe
mandarem.
2o. Nos dias, que não forem feriados, enquanto estiver aberto o hibunal
assistitão à porta do pátio da Inquisição, e não consentirão que nele, ou nas
escadas hajajogo, ou alguma outra inquietação; e havendo-4 darão conta ao
Meiriúo, e em sua ausência ao Solicitador mais antigo, que na sala estiver,
para que eles o remedem na forma, que em seus títulos fica dito.
3o. Farão com toda a brevidade as diligências que os Inquisidores lhe
mandarem fazer; e assim mais o que o Meiriúo lhe ordenar, contanto, que seja
em coisas, que pertençam ao S. Ofício mas será sempre de modo, que ao menos
um deles fique à porta da Inquisição, enquanto os Inquisidores estiverem em
despacho, salvo se os ocuparem em outra coisa; um deles, qual os Inquisidores
ordenarem, guardará a porta do pátio dalnquisição, quando for noite, e no verão
às nove horas, e pelo inverno às oito, fará sinal na porta, paÍa que o Alcaide a
mande fechar; não consentirá, que no pátio estejam pessoas de suspeita" e das
que entrarem, saberá o que buscam; e paru que possa dar fé de todas, terá o
pátio iluminado com uma lâmpada, e o azeite que para ela for necessário, lhe
pagarâ o Tesoureiro, e terâ por este trabalho a mercê, que parecer.
40. Darão nas audiências os pregões, que se mudarem dar nas causas dos
privilégios, e levarão por cada um, o que lhe for contado; e quando forem fora
da cidade fazer algumas diligências, levarão dois tostões por cidade; mas pelas
que fizerem na cidade, e seus arrabaldes, não levarão salário algum.
TÍTULo XX
Do médico, cirurgião e barbeiro
2o. Todas as vezes que forem chamados para o cárcere, acudirão com
grande pontualidade, nas horas, que lhe forem assinadas, para que o Alcaide os
possa acompaúar nas visitas, que fizerem; advertindo, que sem ele estar
presente, não hão de visitar preso algum. Quando visitarem os presos, não terão
com eles mais práticas, que as que forem necessrárias por respeito de suas
enfermidades e acerca delas os ouvirão com paciência, e tratarão caridade, de
maneira que os presos vejam, o cuidado, que se tem de sua saúde. Todas as
mesinhas, e remédios, que forem necessários,lhes mandaríofazer, e aplicarno
tempo que convém, e quando algum deles tiver doença grave, logo no princípio
darão conta na mesa, e pelo discurso dela, do estado, em que o doente está,
\
rÍruro xx
Dosfamiliares do Santo Ofrcio
lo. Os familiares do S. Ofïcio, serão pessoas de bom procedimento, e de
confiança, e capacidade coúecida: terão fazenda, de que possam viver abas-
tadamente, e as qualidades, que no Título I, $ 2o deste livro se declaram, e
guardarão inteiramente tudo o que se dispõem nos $ $ 6o, 7o e 8o do mesmo títuIo.
2o. Acudiram à mesa do S. Oficio com pontualidade todas as vezes que os
Inquisidores os chamarem a ela; e viverem fora das cidades, em que reside o
S. Ofício, irão aos comissários, e Visitadores das naus, sendo chamados por
eles, e farão o que lhes disserem; vindo à mesa algum familiar, ou seja com
negócio, ou chamado, esperará na sala até o mandarem entrar, e sem isso não
entrará na saleta, que eúí antes da casa do despacho; salvo se os Inquisidores
ordenarem oufua coisa.
3o. Na véspera, e dia de São Pedro Mártir, sendo possível, se acharão na
Inquisição de seu distrito para acompanharem o Tribunal, e assistirão na igrej4
em que se celebrar a festa do santo; no dia, em que se fizer o Auto da Fé, se
acharão ante manhã na Inquisição, para irem com os presos na procissão; e
somente nestes dias, e quando forem prender alguma pesso4 ou a trouxerem
presa paÍa os cárceres, levarão o habito de familiar do S. Oficio, que hão de ter.
rÍrwo xxr
Do alcaide, garda, e capelão do córcere de penitência
4o. Não comerá, nem beberá com os presos, nem com parentes seus, nem
com eles terá comunicação particular, nem aceitará coisa algum4 que lhe derem
pelo tempo, que estiverem no cárcere; levaná carceragem assim, e da maneira,
que a leva o Alcaide do ciárcere secreto, como se dispõem no Título XfV,
parágrafo 24. deste livro.
5o. Quando os Inquisidores mandarem recolher no cárcere da penitencia a
alguns presos do segredo, o Alcaide os terá em casas separadas com tal
resguardo, que não se possam comunicar uns com os outros, nem com pessoas
de fora; e não falanâ com eles, nem consentirá, que falem com.o guard4 e irá
sempre com ele, quando os prover do necessário; e mandando os Inquisidores
chamar à mesa algum dos ditos presos, o Alcaide o trará, levando diante do
guarda, do qual fiará as chaves do ciírcere.
6o. Procurará que os pÍesos sejam bem providos, e com os melhores
mantimentos da terra, os quais o Guarda comprará, e quando os trouxer terá
cuidado de os ver, para saber se são bons, e se vem neles algum aviso; e, estando
enfermos, dará conta aos Inquisidores, para que os mandem curar pelo médico
da casa, e prover de todo o necessiírio, e se guarde em tudo na doença a ordem,
que se dá no título do Alcaide dos ciírceres secretos.
7o. O guarda que houver de servir no cárcere da penitência, será provido
pelos lnquisidores, mas não lhe passarão provisão, ou carta do oficio; e somente
depois de ser aprovado em mes4 lhe darão juramento para bem, e fielmente
cumprir com sua obrigação, e com isso será admitido a servir, sem ser neces-
sária outra ordem, ou provisão nossa. Porém terá as qualidades, de que se faz
menção no Título I, $ 2o deste livro.
8o. Guardará inteiramente o que se dispõem no Título I, $$ 6o, 7o, 8o e 9o,
não terá comunicação alguma com os presos, ou penitenciados, mais que
aquela, que convier para os prover do necessário; e se os presos lhe mandarem
algum recado, o não levará, nem outrossim lhe trará de fora, antes avisará de
tudo ao Alcaide, para que ele veúa dar conta na mesa, parecendo-lhe necessá-
rio; tratará a todos com muita caridade, e fará pontualmente o que o Alcaide
lhe ordenar em todas as coisas, que tocarem ao cárcere, e às pessoas que nele
estiverem.
9o. Não comprará coisa alguma para os presos, e penitenciados, sem ordem
do Alcaide, e todas as que com ordem sua comprar, serão as melhores, que se
acharem na terra, e pelo preço ordinário; e estando nos cárceres presos de
segredo, não teú as chaves dele, ainda que o Alcaide lhas queira dar, nem com
eles falará se não presente o mesmo Alcaide, ao qual acompanhaná quando vier
com eles à mesa, e os tomar a seu cárcere. Não aceitará dos presos, e peniten-
ciados coisa alguma, ainda que lha dêem voluntariamente; nem outras de seus
parentes, ou amigos, nem com eles terão comunicação particular.
70. Enquanto durar o tempo da visita não mandarão prender pessoa alguma,
ainda que para o faznr ache bastante prov4 mas fará tasladar as culpas pelo
Notário de visita, que enviará ao Conselho geral, com informação do caso por
carta sua" e com seu parecer; e se as pessoas culpadas forem suspeitas de fuga"
faní disso sumário de testemuúas, que também virá ao Conselho com as
mesmas culpas; e entretanto ordenará, que as justiças seculares ou Eclesiásticas
da terr4 com alguma coisa corada e sem se entender, que é por ordem su4
reteúam na cadeia as ditas pessoas, onde estarão até haver ordem do Conselho;
se dentro do tempo da graça as pessoas assim retidas lhe pedirem audiência e
confessarem suas culpas ficarão gozando del4 porém alguma pessoa, que foi
presa por seu mandado (precedendo ordem do Conselho) pedir, que a ouga para
confessar suas culpas, tomar-lhe-á sua confissão, e sem proceder mais avante
em sua causa, remeterá com suas culpas, e confissão, a própria pessoa presa ao
S. OÍïcio.
8o. E porque nas visitas dos lugares ultramarinos, fica sendo o recurso ao
Conselho, mais dificultoso, e grande o prejuízo, que se podená seguir da dilagão
I
I da resposta: ordenamos, que na visita dos ditos lugares, possa o Visitador, alem
I dos casos declarados no $ 2, deste título, despachar com o ordinrário as pessoas,
que confessarem culpas de heresia formal, e fizerem inteira, e verdadeira
confissão, recebendo-os ao grêmio; e união da santa madre Igreja, na form4
que no fim deste Regimento irá declarado, e guardando o que se dispõem no
título seguinte, e no livro 3,Títulol. E parecendo que a confissão não é inteira"
e verdadeira, guardará o que atrás fica disposto no $ 4, deste título. Poderá outras
despachar com o Ordinrário os casos, de que somente resulta leve suspeita na
ì Fé, declarados no parágrafo 2, deste tífuIo, posto que os culpados se não hajam