Geografia Urbana
Geografia Urbana
Geografia Urbana
U1 - Título da unidade 1
Geografia Urbana
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Danielly Nunes Andrade Noé
Grasiele Aparecida Lourenço
Isabel Cristina Chagas Barbin
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Daniela Resende de Faria
Editorial
Camila Cardoso Rotella (Diretora)
Lidiane Cristina Vivaldini Olo (Gerente)
Elmir Carvalho da Silva (Coordenador)
Letícia Bento Pieroni (Coordenadora)
Renata Jéssica Galdino (Coordenadora)
ISBN 978-85-522-1130-3
CDD 910
Thamiris Mantovani CRB-8/9491
2018
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
A Geografia Urbana e o
estudo das cidades
Convite ao estudo
Você sabia que as cidades nem sempre foram objeto
principal de interesse da Geografia? Na verdade, as cidades e o
urbano passaram a constituirum modesto objeto de interesse
apenas no século XIX. Destacam-se os trabalhos isolados
de FriedrichRatzel, que realizou um estudo sobre as cidades
norte-americanas em 1876, e os EliséeReclus, que incluíram
as descrições de cidades em sua obra Nouvelle Géographie
Universelle, composta por 19 volumes publicados entre 1876
e 1894, e sua obra teórica L’évolutiondesvilles, publicada em
1895 (VASCONCELOS, 2012).
Assimile
O Darwinismo Social consiste no emprego para as análises do meio
social da teoria de Seleção Natural (ou Evolução das Espécies), elaborada
no contexto da biologia por Charles Darwin (1809-1882). A ideia de que
animais e plantas competem pela ocupação dos territórios é transposta
para o estudo das sociedades no espaço urbano. Parte-se da premissa de
que a cidade é um tipo de organismo social em que o comportamento
individual e a organização social são conduzidos pela luta pela existência.
Pesquise mais
Na Revista Mercator, o professor José Carlos Godoy Camargo
publicou o artigo O problema do método nas Ciências Humanas: o
caso da Geografia. A leitura do artigo é uma oportunidade para retomar
pontos relevantes que foram discutidos na disciplina de Fundamentos
Epistemológicos da Geografia e que são importantes para compreensão
das transformações no estudo do espaço urbano. Recomendamos
especialmente a leitura das páginas 12 a 18 do artigo:
Exemplificando
Uma tese de doutorado foi elaborada no Departamento da Geografia
da PUC-Campinas em 1976, sob a orientação do professor Antônio
Christofoletti, com o objetivo de identificar a morfologia espacial dos 83
municípios da Região de Campinas. O formato hexagonal era tomado
como o mais eficiente do ponto de vista da minimização dos custos para
os transportes e, por isso, o formato ideal para os municípios. O autor
datese adotou em seus cálculos o Índice de Fórmula S, anteriormente
aplicado por Peter Haggett (1974) em suas pesquisas nos municípios de
Mas onde o autor queria chegar de fato com tudo isso? Em linhas
gerais, considerando que a forma hexagonal seria a ideal, o autor
recomendou que os futuros desmembramentos e a formação de
Pesquise mais
Consulte os artigos críticos sobre o urbano no site da Revista Antipode,
dedicada à Geografia Radical, criada em 1968. Lávocê poderá encontrar
artigos de pesquisadores do mundo todo a respeito de assuntos
diversos e, até mesmo, sobre Geografia Urbana, tal como o artigo
sobre a crise econômica grega e sua influência no espaço urbano,
intitulado Governmentalities of Urban Crises in Inner-city Athens,
Greece, da autora Penny Koutrolikou (publicado na Revista Antipode
de 2016, volume 48, edição 1), ou o artigo sobre o consumo de energia
nas aglomerações urbanas, Contesting Urban Metabolism: Struggles
Over Waste-to-Energy in Delhi, India, deFederico Demaria.
Assimile
Para Lefebvre, o espaço é uma poderosa mediação social e política.
A fim de superar as análises dicotômicas e parciais, Lefebvre propõe
uma teoria unitária para a análise do espaço, composta por uma tríade
conceitual formada pelo percebido-concebido-vivido, que perde
seu alcance se vista como um modelo abstrato. As práticas espaciais
correspondem ao espaço percebido, espaço da experiência material
da realidade urbana, espaço físico. As práticas espaciais “englobam a
produção e reprodução de lugares específicos e conjuntos espaciais
próprios de cada formação social”. As representações do espaço
correspondem ao espaço concebido, isto é, espaço dos planejadores,
cientistas, dos signos e da fragmentação. As representações do espaço
“se vinculam às relações de produção, à ordem que se impõe e,
desse modo, aos conhecimentos, signos, códigos...”. Já os espaços
de representação correspondem ao espaço vivido, isto é, ao espaço
simbólico e da imaginação dentro de uma existência material. Os
espaços de representação “expressam [...] simbolismos complexos
ligados ao lado clandestino e subterrâneo da vida social, porém
também a arte” (LEFEBVRE, 2013, p. 92, tradução nossa).
Reflita
Muitos textos da Geografia Crítica fazem referências à luta de classes e à
dominação da classe opressora sobre a classe oprimida. As instituições,
normas, regras morais e até mesmo os gostos e hábitos são impostos
aos indivíduos pelos meios de comunicação, criadores de modas e
difusores de crédito. Como consequência, produzem um consumo
alienado e uma sociedade cuja maior parte não é capaz de analisar
criticamente sua própria condição. Reflita: em que medida essa visão
tira ou coloca nas mãos dos cidadãos a possibilidade de mudança?
Exemplificando
Uma tese bastante atual desenvolvida com base no conceito marxista
de modo de produção e no conceito de acumulação por despossessão,
proposto por Harvey (2004), foi elaborada por Cordeiro (2016). O autor
investigou como a valorização turística do arquipélago de Fernando
de Noronha (PE) passou a atrair empresários interessados em investir
e lucrar com o setor hoteleiro. A acumulação por despossessão é
uma faceta do sistema capitalista em que ocorre a tomada de bens
alheios. Como as possibilidades econômicas na ilha são restritas, os
empresários têm se associado ou arrendado as moradias de ilhéus para
ofertá-las ao turismo e sustentar a expansão do capital. A acumulação
por despossessão é, portanto, uma forma de espoliação dos habitantes
da ilha, frente às poucas oportunidades de trabalho e geração de renda
para os habitantes.
a) Milton Santos.
b) Henri Lefebvre.
c) David Harvey.
d) Doreen Massey.
e) Alexander von Humboldt.
Cada homem vale pelo lugar onde está: o seu valor como
produtor, consumidor, cidadão, depende de sua valorização
no território. Seu valor vai mudando, incessantemente,
para melhor ou para pior, em função das diferenças de
acessibilidade (tempo, frequência, preço), independente de
sua própria condição. (SANTOS, 2002, p. 81)
Fonte: <https://www.shutterstock.com/image-photo/social-inequality-icon-paulo-brazils-biggest-654727156>.
Acesso em: 28 maio 2018.
Pesquise mais
O texto A segregação como fundamento da crise urbana, da professora
Ana Fani Carlos é marco das discussões sobre segregação socioespacial
para a realidade das cidades brasileiras. Nele a professora apresenta uma
abordagem que discute a segregação a partir de seu significado para
as cidades, refletindo acerca das consequências da segregação e suas
manifestações em crises urbanas, tais como a ecológica ou a social.
Assimile
De acordo com o dicionário Michaelis (2018), o termo segregação
significa “Ato ou efeito de segregar ou segregar-se; afastamento,
separação”. A segregação não é um fenômeno novo nas cidades,
pois desde as antigas cidades gregas e romanas já existiam formas de
segregar o espaço definidas com base em divisões de ordem social
ou política. Contudo, a partir da criação dos Estados modernos e,
mais especificamente, da Revolução Industrial, a segregação espacial
nas cidades passou a ser majoritariamente determinada pela classe
econômica ou etnia. A segregação socioespacial pode ser definida
como a repartição da população no espaço urbano, que depende
fundamentalmente do poder aquisitivo de cada classe social.
Reflita
As geotecnologias permitem criar modelos virtuais do mundo real,
reunindo diversas variáveis em diferentes planos de informação. Um
Reflita sobre em que medida um produto como esse é útil para a vida
nas cidades. Ele é suficiente? Como ele pode se desdobrar em outros
estudos e ações? Seria interessante cruzar essas informações com
outras variáveis para gerar a maior compressão sobre localização no
espaço e no tempo?
Exemplificando
Existem prefeituras que investiram na implementação e no uso de
geotecnologias para facilitar a gestão e o planejamento de seus
municípios. Algumas foram além e criaram sistemas públicos para
consultas de informações territoriais, como é o caso da prefeitura de
Florianópolis, no estado de Santa Catarina. Vale a pena consultar o site
do Geoprocessamento Corporativo, onde é possível pesquisar bairros,
logradouros, unidades de conservação, zonas de especial interesse
social, entre outras variáveis especializadas.
2. Observe a imagem:
Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/3/38/Rocinha_Favela_Brazil_Slums.jpg/640px-
Rocinha_Favela_Brazil_Slums.jpg>. Acesso em: 28 maio 2018.
3.
Mas Milton Santos não se limitou numa visão estática da
realidade, tal como a realizam os GIS de hoje. A noção
complementar de “sistemas de ações” aponta para a necessidade
de capturarmos (explicitamente) os fatores de mudança: Como
estão evoluindo os indicadores sociais em nossas cidades?
Quais as novas articulações de poder que condicionam os
diferenciais intraurbanos? O que vem acontecendo em São
Paulo em função da internacionalização da economia brasileira
nos últimos 10 anos? (CÂMARA, [s.d.], p.2)
Capitalismo e
urbanização mundial
Convite ao estudo
Caro aluno, na primeira unidade abordamos como a
Geografia alterou seu olhar para o estudo das cidades ao
longo do século XX; agora, mudaremos o foco de nossos
estudos sobre a cidade, buscando entender como elas se
manifestaram a partir de diferentes formas, conteúdos e
funções ao longo do processo histórico de evolução da
humanidade, e como, há poucos anos, passou a concentrar
a maior parte da população mundial. Por isso, apresentamos
um panorama sobre as cidades, que vai desde o surgimento
dos primeiros aglomerados considerados, de fato, cidades na
Mesopotâmia e no Egito até as chamadas cidades globais do
século XXI. Essa tarefa é árdua e o desafio é grande, mas vamos,
aos poucos, identificando os pontos mais relevantes desse
percurso e tornando acessível todo o conteúdo. Importante
ressaltarmos que, a história da urbanização aqui apresentada
é, na verdade, uma história da urbanização europeia. Isso
mostra o quanto a nossa história, cultura e ciência é tributária
do velho continente, mas também mostra que o modelo de
urbanização europeu foi exportado a partir do século XV para
todo o mundo, a fim de que as cidades servissem de suporte
para o desenvolvimento capitalista. Contudo, isso não significa
que outras iniciativas de constituição de cidades não tenham
prosperado. Vale pesquisarmos sobre as cidades que surgiram
a partir do século II a.C. onde hoje se encontra a Índia, a China
e ilhas próximas. Vale também pesquisarmos a respeito das
cidades pré-colombianas no continente americano. Os maias,
incas e astecas viveram em grandes comunidades com traços
urbanos, apesar de não possuírem a escrita.
Pensando em uma perspectiva histórica, as cidades estão
em constante processo de transformação porque elas são
resultado do trabalho da sociedade combinado com as
condições físicas do meio. Se a sociedade muda, mudam
também as cidades, por mais que elas sejam constituídas
de fixos que lhes dão sua configuração espacial. Porque
conhecemos a configuração de cidades de tempos passados
podemos ter certeza de sua dinâmica e evolução. Existem
cidades pretéritas que estão razoavelmente conservadas
tais como foram criadas e há cidades pretéritas das quais
só encontramos vestígios. A renovação do tecido urbano
e a construção de “cidades sobre cidades” é um processo
responsável pelo desaparecimento de muitas delas. Diversos
sítios urbanos antigos ainda bem conservados passaram por
períodos de crise e foram abandonados pelos seus habitantes.
Em alguns casos, a falta da capital e de novos investimentos
é o principal elemento de preservação de uma estrutura
urbana. Kátia, a funcionária do departamento de cartografia da
prefeitura, compreende a essência dinâmica das cidades e está
ciente de que o planejamento urbano deve estar voltado para
orientar esse dinamismo de forma a garantir mais harmonia e
qualidade de vida para os habitantes.
Seção 2.1
A cidade na história da humanidade
Diálogo aberto
A cidade em que Kátia habita e à qual ela dedica suas reflexões
possui um centro histórico bem preservado. Essa preservação não
pode ser considerada resultado de políticas patrimoniais bem-
sucedidas. Não. A cidade passou por um grande desenvolvimento
econômico no século XIX em função da descoberta de jazidas
de diamantes em suas proximidades. As lavras atraíram novos
moradores e investidores. Nos 50 anos em que a atividade de
extração prosperou, o centro histórico foi o núcleo urbano que
deu suporte à ela e foi alimentado por ela, mas com o declínio
das atividades nas minas, foram surgindo novas centralidades
economicamente dinâmicas e distantes do centro histórico. Com o
processo de urbanização em ritmo acelerado, em poucas décadas,
a malha urbana das novas centralidades encontrou o antigo centro.
O centro histórico pertence a outro tempo e foi construído em
função de necessidades que já não fazem sentido ou que estão
ultrapassadas. O centro histórico não é mais o centro econômico
do município, mas mantém atividades comerciais e residenciais.
Em função de suas características, o centro histórico é um espaço
muito diferente do restante município; hoje é pouco aproveitado
apesar de sua localização privilegiada na cidade. O que Kátia, como
funcionária da Secretaria de Urbanismo e Cartografia, poderia propor
à prefeitura para melhor aproveitar e integrar centro e município?
Pesquise mais
As primeiras cidades apresentam amplo campo de estudo para
a Geografia, que perpassam a forma com que o território foi então
pensado e organizado por essas civilizações. Para saber mais sobre as
cidades mais antigas, leia o artigo “Um olhar sobre o passado” em que
o autor traça um interessante panorama geral a respeito das primeiras
cidades e complementa os textos aqui apresentados.
Exemplificando
Diversas cidades europeias importantes de hoje têm origens na
Antiguidade ou na Idade Média e conservam, em maior e menor
medida, certas características da cidade medieval. Entre muitas outras,
são exemplos as cidades de Londres, Milão, Veneza, Florença, Burges,
Bolonha, Nuremberg, Siena, Chartres e Paris. Benevolo (2009) ressalta
que a estrutura da cidade medieval em Paris, ainda hoje, influencia a
cidade contemporânea em três grandes partes: a cité, na Ilha no rio
Sena; a ville, na margem direita; e a université, na margem esquerda.
A figura a seguir apresenta o mapa da cidade produzido no século XVI
bem como destaca essas três divisões e revela o muro que a protegia.
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.
a) F, F, F.
b) F, F, V.
c) F, V, V.
d) V, F, V.
e) V, V, F.
Diálogo aberto
O município em que Kátia mora é economicamente dinâmico e
influenciou o surgimento e crescimento de outros em seu entorno.
As relações desses municípios estão suficientemente consolidadas a
ponto de caracterizar o processo de metropolização, sendo que o
município de Kátia é o mais importante e é o município sede dessa
região. A consequência mais visível da dinamização econômica –
além do crescimento do tecido urbano até os limites municipais,
o que reduz a zona rural a quase nada – foi o encarecimento do
preço do solo urbano e a densificação do município sede, por meio
de um processo de verticalização que ocorreu em diversos bairros.
O Jardim Olavo Bilac é um bairro predominantemente residencial,
habitado pela classe média, formado na década de 1960 e 1970.
Trata-se de um bairro horizontal, isto é, formado basicamente por
casas residenciais. Contudo, três grandes empreiteiras estão com
projetos de construção de condomínios verticais. Para as empresas,
o bairro está bem localizado e possui grande potencial para demanda
de apartamentos. Por isso, as empresas iniciaram a compra de
algumas casas contíguas cujos terrenos depois de “limpos” darão
lugar a novos prédios. Entretanto, uma associação de moradores
do Jardim Olavo Bilac, contrários ao processo de verticalização, foi
formada para solicitar, junto à prefeitura, o embargo e a proibição dos
projetos de verticalização do bairro. Frente a isso, ajude os moradores
a redigir um manifesto contra as mudanças e exponha argumentos
que podem ser utilizados para demonstrar como a qualidade de vida
do bairro poderá ser comprometida com esses novos projetos.
Exemplificando
Assimile
O movimento higienista tem origem no século XVIII nos países europeus,
em especial na França, Inglaterra e Alemanha, e se traduziu em políticas
públicas que retomavam as descobertas de Hipócrates, cinco séculos
antes de Cristo, a respeito dos impactos dos fatores ambientais sobre
o organismo humano. As descobertas na medicina foram usadas para
se estabelecer analogias entre o corpo humano e o corpo social; nesse
sentido, a canalização e expulsão dos detritos foram apontadas como
necessárias à higiene pública. Os tratados sanitaristas e de higiene pública
passaram a impor novas regras para a organização das cidades a fim
de propiciar a limpeza dos detritos gerados pela aglomeração e permitir
a circulação do ar, por isso a preocupação em se criar ruas amplas e
avenidas. As teorias higienistas sustentaram a necessidade de promoção
de investimentos nos sistemas de abastecimento de água e drenagem
dos esgotos; remoção de cemitérios; relocalização dos abatedouros;
drenagem dos bairros periféricos pantanosos; calçamento das ruas com
paralelepípedos, entre outros.
Senhor Prefeito,
A Associação de Moradores Olavo Bilac, representando os
moradores do Jardim Olavo Bilac, manifesta-se contrária aos
projetos de verticalização autorizados pela prefeitura para o bairro.
Os projetos pretendem triplicar a densidade habitacional de um
bairro até então marcado pela tranquilidade e qualidade de vida
urbana já deterioradas em outros bairros da cidade. Esta é nossa
maior riqueza no Jardim Olavo Bilac: as famílias ainda se conhecem
pelos nomes e existe uma solidariedade entre os vizinhos. O
comércio local é pequeno, mas é constituído por comerciantes
que moram nos bairros e produzem uma dinâmica própria. A
verticalização do bairro trará com ela muitos problemas para os
moradores antigos e uma situação desconfortável para os novos.
Em primeiro lugar, o aumento de moradores provocará aumento
dos congestionamentos das ruas principais, que já apresentam esse
problema. Nas ruas secundárias, haverá aumento da circulação
de veículos, o que colocará em risco nossas crianças, que ainda
utilizam as vias públicas para brincar e se divertir, visto que no
bairro não existem praças públicas ou áreas de lazer abertas.
Uma outra questão que se coloca está relacionada à privacidade
nos quintais das casas e ao sombreado que os prédios provocam.
É de conhecimento popular o poder terapêutico do sol contra
doenças e infecções. Os prédios privarão muitas residências desse
elemento natural indispensável à vida. Diante dessas questões, nós
da Associação de Moradores do Jardim Olavo Bilac, esperamos que
a) F, F, F.
b) F, V, F.
c) F, V, V.
d) V, F, V.
e) V, V, F.
Diálogo aberto
Nos séculos XIX e XX o planejamento urbano foi essencialmente um
assunto do Estado. Contudo, no final do século XX o fortalecimento
dos movimentos sociais passou a reivindicar uma maior participação
da sociedade civil organizada nas decisões que afetam a nossa vida
cotidiana. Somado a isso, o processo de redemocratização de nosso
país exigiu a maior participação da sociedade como uma bandeira
da nova cidadania que se consolidava. É comum que moradores
de um bairro se organizem quando o bairro apresenta problemas a
serem enfrentados, como o processo de verticalização. Entretanto,
a participação popular é, antes de tudo, uma exceção à regra em
nosso país. Apesar da obrigatoriedade do planejamento participativo
são poucos os cidadãos que se dispõe a participar dos debates e
reuniões. É mais frequente encontrar nas sessões e fóruns públicos de
planejamento urbano participativo a presença do poder público, que
organiza os eventos e é o responsável pelo planejamento urbano, de
fato, e dos empresários do ramo imobiliário, que defendem os seus
interesses comerciais. O desafio é tornar essas reuniões mais plurais
com a ampla participação da sociedade.
Ao refletir sobre essa participação limitada, que gera
consequências negativas para todos os cidadãos, e sobre uma
situação real de organização de reuniões em que a sociedade possa
debater e opinar, quais estratégias uma Secretaria de Urbanismo
e Cartografia poderia adotar para atrair um maior número de
participantes para o processo de planejamento a fim de que este
seja, de fato, participativo e suficientemente democrático?
Exemplificando
“Pela ordem, promover a liberdade”. Essa frase do urbanista francês
Le Corbusier (1887-1967), ícone do planejamento urbano moderno,
sintetizou as principais reflexões desse momento sobre as cidades. Le
Corbusier foi uma das principais influências para a redação da Carta de
Atenas e uma referência para o urbanismo modernista. Vasconcelos
(2009) ressaltou que a obra de Le Corbusier transparecia a vontade
de modernizar as cidades antigas para permitir que o modo de vida
moderno se desenvolvesse, mesmo que, para isso, fosse necessário
sacrificar o patrimônio histórico e urbanístico.
Reflita
O urbanismo moderno se pautou na ideia de dividir as cidades em zonas
com funções específicas, tais como a zona residencial, a industrial, a
comercial. Isso seria indispensável porque a mescla de usos diferentes
no espaço urbano contribuiria para a deterioração da qualidade de
vida das pessoas, em especial nas residências que eram incomodadas
pela poluição e pelo barulho excessivo das indústrias e dos comércios.
Dessa forma, pode-se dizer que o estabelecimento de zonas funcionais
foi proposto com base em boas intenções. Diante disso, reflita sobre
os possíveis problemas que esse zoneamento ortodoxo poderia trazer
para as cidades e para as pessoas.
Pesquise mais
Uma leitura indispensável para o curso de Geografia e importante para
o assunto trabalhado nesta seção é a do livro Condição pós-moderna,
do David Harvey, publicado inicialmente em 1989. Sobre o assunto
estudado aqui, ver especialmente a Parte 1 – Passagem da Modernidade
à pós-modernidade na cultura contemporânea, em que o autor aborda
a influência do modernismo e do pós-modernismo na arquitetura e nos
projetos urbanos.
Assimile
O processo de metropolização não é recente, mas sofreu acentuado
crescimento com a Revolução Industrial e ganhou nova dinâmica
a partir do século XX em função das transformações econômicas
e tecnológicas no processo de urbanização. A metropolização é
um fenômeno que reflete o padrão de crescimento das cidades
em todo o mundo e seu estudo é essencial para a compreensão
do urbano contemporâneo. A metropolização implica integração
socioeconômica entre diversos municípios polarizados por um
município principal, a metrópole, também chamada de cidade-mãe.
A metropolização também diz respeito ao processo de conurbação
a) A, B, C.
b) B, A, C.
c) A, C, B.
d) B, C, A.
e) C, A, B.
Porque
A urbanização brasileira
Convite ao estudo
Caro aluno, segundo dados recentes do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 84% da população
brasileira vive nas cidades. Esse nível de urbanização tão
elevado e acima da média mundial, que gira em torno de 55%,
segundo a Organização das Nações Unidas (2017), é resultado
de um processo longo que tem origem com a colonização
do país, quando foram criadas as nossas primeiras cidades.
De 1532, ano de criação de São Vicente, no estado de São
Paulo, até os dias de hoje, o meio natural foi transformado
e deu lugar a uma das maiores criações da humanidade: as
cidades. As cidades brasileiras têm características singulares
referentes a nossa formação socioespacial, mas também
possuem características comuns a outras cidades de
países em desenvolvimento para utilizar a expressão ainda
empregada pela ONU, tais como o crescimento acelerado
e sem planejamento, a insuficiência de infraestrutura urbana,
gestões deficientes e corruptas, entre outras. Na primeira
seção desta Unidade, analisaremos o processo histórico de
urbanização brasileira e encerraremos estudando as propostas
de planejamento urbano desenvolvimentistas traçadas nos
anos 1970 e 1980. Na segunda seção nos dedicaremos ao
entendimento da configuração da rede urbana brasileira, o
processo de metropolização e desmetropolização. Na seção
três, exploraremos o quadro legal em que está inserido o
planejamento urbano, apresentando os principais instrumentos
atualmente disponíveis.
O contexto de aprendizagem proposto para esta unidade
consiste em olhar a situação em que se encontram o
planejamento e a gestão nas cidades brasileiras. Sabemos que
nossas cidades enfrentam enormes e diversos problemas, tais
como a poluição do ar, poluição visual e sonora, as enchentes
e os alagamentos, a falta de moradia, o crescimento disperso,
entre outros. Muitas dessas questões poderiam ser amenizadas,
até mesmo resolvidas, por meio de um planejamento urbano
realizável, isto é, que não se limitasse aos documentos técnicos
e fosse colocado em prática para a verdadeira melhoria da
qualidade de vida nas cidades. É sempre importante reforçar
que a organização do espaço urbano tem reflexos diretos na
qualidade de vida urbana. Contudo, o planejamento urbano
antes de ser uma questão técnica é uma questão política, pois
envolve interesse dos habitantes, mas também dos grandes
produtores do espaço urbano, tais como os proprietários dos
meios de produção e de imóveis e o Estado. Por envolver
interesses difusos e complexos, as mudanças que beneficiam a
maioria da população nem sempre são facilmente alcançadas
mesmo que tecnicamente possíveis e/ou previstas nos
documentos oficiais. É exatamente isso o que Kátia, geógrafa
do Departamento de Cartografia da prefeitura, constatou em
mais de 10 anos de atuação no órgão executivo municipal: as
decisões do poder público municipal nem sempre beneficiam
a grande maioria da população e certas vezes são contrárias
às recomendações técnicas do setor de planejamento urbano.
Dessa forma, Kátia está em uma posição delicada, pois cabe
a sua equipe estabelecer diretrizes para o uso do solo urbano,
mas foge de sua jurisdição a decisão final por adotá-las ou
fazer cumpri-las. Kátia pensa que se os problemas da cidade
dependessem apenas de decisões técnicas, eles poderiam
ser mais facilmente superados. Entretanto, a urbanização
brasileira é resultado da combinação de decisões políticas e
recomendações técnicas.
Seção 3.1
A urbanização na formação territorial brasileira
Diálogo aberto
Durante um feriado prolongado, Kátia participou de um almoço em
família na chácara de seus tios. Encontros em famílias são divertidos,
mas vez ou outra ficam explícitas as divergências entre gerações ou
pequenos grupos. Nessa confraternização, em especial, estavam os
parentes de Kátia e alguns convidados. Um deles era o senhor José,
administrador e funcionário de confiança da prefeitura do município
vizinho. José e Kátia não se conheciam, mas se sentaram próximos
para o almoço. Um dos assuntos levantados foi a crise econômica e
o desemprego no país. José explicava para ela e para outro senhor
que, em seu município, um empresário recém-chegado comprou
um terreno com a ideia de abrir uma concessionária de veículos e
empregar cerca de 20 pessoas. Contudo, desconhecendo a cidade,
o terreno comprado estava localizado em uma zona não comercial
do município de acordo com o plano diretor, isto é, em uma zona
que não permitiria construção e abertura da concessionária. O
senhor José, preocupado com o progresso do município, foi uma
das personalidades que pressionou para que o prefeito modificasse
a lei municipal a fim de que o empresário pudesse abrir o seu
negócio, o que, por fim, foi realizado. Essa situação, apesar de
absurda é muito comum nos municípios brasileiros. Estarrecida
com a história do senhor José e pensando no seu próprio trabalho
com o planejamento urbano, Kátia contra-argumenta. O que Kátia
pode responder ao senhor José, de forma educada e convincente,
porém, sem abrir mão dos fundamentos críticos, uma vez que ele
acredita estar trabalhando pelo progresso do seu município?
U3 - A urbanização brasileira 97
a finalidade estratégica de garantir o domínio dessa porção e evitar
invasões por outros possíveis colonizadores. Essa estratégia de
ocupação tem importância ainda hoje para a configuração da rede
urbana brasileira e para a concentração de nossas cidades, como
estudaremos em breve. Além disso, como a economia colonial
estava voltada para a exportação de itens agrícolas ou extrativos,
era interessante que os primeiros núcleos urbanos estivessem
localizados próximos às planícies litorâneas. Scarlato (2003) resume,
assim, que as primeiras cidades fundadas no Brasil tiveram a função
militar e de porto comercial.
Os indígenas que habitavam o território que veio a se tornar o
Brasil não se organizavam em nenhum modelo que se assemelhasse
às cidades, mas em tribos agrícolas, com população escassa e
tecnicamente pouco desenvolvida se comparada às culturas
encontradas na América colonizada pelos espanhóis. Assim,
podemos dizer que a urbanização brasileira tem início tímido e
lento com o processo de colonização. Há autores como Santos
(2013) que preferem abordar esse momento como o processo de
geração de cidade em vez de falar em um processo de urbanização
propriamente dito, haja vista a fraca relação entre os lugares e a
debilidade desse processo frente a um território de dimensões
continentais como o Brasil. Até o século XIX, o Brasil foi caracterizado
por ser um país agrícola, cujos núcleos urbanos formavam apenas
ilhas em meio rural ou natural então predominante.
Segundo Reis (2000), a rede urbana brasileira tem como
referência inicial o estabelecimento do regime das capitanias e a
fundação de São Vicente, em 1532. Em seguida, foram criadas as
cidades de Olinda, em 1537; Santos, em 1543; Salvador, em 1549,
que passou a ser a capital da colônia; São Paulo, em 1554 e Rio de
Janeiro, em 1565. Reis (2000) aponta que até meados do século
XVII Portugal delegava aos donatários a função de criar vilas em
suas capitanias e reservava-se a função de criar apenas as cidades
que serviram como centros regionais de controle. Com esse
intuito e com a função de proteger a costa contra a ocupação
pelos franceses, foram criadas as cidades do Rio de Janeiro, São
Luís e Belém.
Com o declínio do ciclo da cana-de-açúcar, no final do século
XVII, as bandeiras e a descoberta de minas de ouro e de prata
98 U3 - A urbanização brasileira
despertaram o interesse de Portugal, que passou a permitir a
criação de cidades nas porções interioranas da colônia. Assim,
o século XVIII foi marcado pelo avanço na criação de vilas e de
cidades, ainda que de forma descontínua, pelo interior brasileiro.
Foram criadas nesse contexto as cidades de Goiás (GO), Ouro
Preto (MG), Cuiabá (MT), Campinas (SP). Assim, mesmo no período
colonial, surgiu uma incipiente rede urbana polarizada por alguns
centros regionais que concentravam as trocas comercias. Vale
acrescentarmos ainda que as cidades tanto no período colonial
quanto no imperial cresciam de forma espontânea e desalinhada,
e “muitos desses antigos centros acabaram transformando-se
posteriormente em obstáculos ao processo de modernização da
cidade pelo automóvel e pelos transportes de massa” (SCARLATO,
2003, p. 419).
No início do século XIX, com a transferência da corte e da
capital do Império português para a cidade do Rio de Janeiro,
a cidade passa por grandes transformações urbanísticas, que
tomaram por base as capitais europeias. Às construções para
abrigar instituições públicas administrativas e culturais foram
somadas as construções da elite oligárquica desejosas de
participar da vida social da cidade. Destacou-se no século XIX a
criação e o crescimento da rede urbana paulista, impulsionada
pela agricultura do café e pela implantação de ferrovias para sua
exportação, e no final do século XIX, destacou-se o crescimento
das cidades de Manaus e Belém, na região Norte, em função da
exploração da borracha.
Scarlato (2003) aponta que o Brasil chegou aos anos de 1870
com apenas 10% de população urbana e concentrada em cinco
principais cidades: Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belém e
Niterói, nessa ordem, de acordo com o número de habitantes.
De acordo com o autor, os índices tão baixos de urbanização
podem ser explicados pela base econômica agroexportadora, que
fixava a população trabalhadora no campo. Essa situação mudou
significativamente a partir do final do século XIX, com a introdução
do trabalho assalariado e as transformações na base econômica,
que resultaram na expansão do setor terciário e no desenvolvimento
dos mercados urbanos. Fato que contribuiu para a multiplicação de
vilas e cidades no interior do Brasil.
U3 - A urbanização brasileira 99
Reflita
“As senzalas foram substituídas pelos cortiços, principalmente nas
grandes cidades litorâneas”. Essa frase categórica de Scarlato (2003,
p. 425) faz referência ao fim da escravidão e ao estabelecimento do
trabalho livre e assalariado no Brasil, no final do século XIX. Trata-se,
na verdade, de uma provocação, que coloca em xeque a ideia de
que a decisão política e econômica pelo trabalho assalariado constitua a
libertação do trabalhador. Reflita sobre o conteúdo e a crítica que a frase
carrega a respeito da perpetuação da pobreza ao longo dos séculos.
Pesquise mais
Um estudo desenvolvido por André Nunes de Azevedo, professor
da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), trouxe novas
interpretações para as reformas urbanas empreendidas. De acordo
com o professor, a ideia de que as reformas empreendidas por Pereira
Passos teriam o objetivo de promover a segregação espacial na cidade é
proveniente de uma interpretação baseada em correntes neomarxistas
da década de 1980. Com base nos documentos oficiais, o professor
refuta as explicações de que a reforma urbana tinha a intenção primeira
de promover a expulsão das classes pobres e trabalhadoras das regiões
centrais. Segundo ele, a reforma empreendida tinha por objetivo o
alargamento de ruas, a canalização de rios, a criação de novas avenidas
para conectar o subúrbio ao centro, a construção de equipamentos
culturais e vilas operárias no entorno da região central.
Período Urbanização
1872 10%
1890 10%
1920 10%
1940 31%
1950 36%
1960 44%
1990 75%
2010 84%
Fonte: Geiger (1963, p. 20 apud SANTOS, 2013, p. 23) e IBGE (2010, [s. p.]).
Assimile
Santos (2002) entende a transformação do espaço geográfico operada
pelo ser humano em três fases: o meio natural, o meio técnico e o
meio técnico-científico-informacional. O meio natural, a fase mais
extensa, é marcada pela luta pela sobrevivência humana em um meio
hostil que precisa ser dominado. Nessa fase, de forma geral, o humano
promove alterações de baixo impacto e que podem ser recuperadas
pela dinâmica da própria natureza. No meio técnico, o ser humano já
dispõe de instrumentos e conhecimento para contornar as adversidades
do meio e é capaz de submeter a natureza a sua necessidade com
maior intensidade, por meio da mecanização do território. A passagem
do meio natural ao técnico não foi marcada por um acontecimento
único, mas se constituiu em um processo lento de transição para o
qual contribuíram a Renascença, a formação dos Estados nacionais
modernos, a Revolução Científica, a Revolução Urbana, entre outros.
A transição do meio técnico para o técnico-científico-informacional
ocorre no pós-guerra e é marcada pela importância assumida pela
ciência e informação para a remodelação do espaço geográfico.
Exemplificando
São exemplos dos superplanos produzidos no período estudado:
o Plano Doxiadis, proposto para o Rio de Janeiro, em 1965; o Plano
Urbanístico Básico de São Paulo (PUB-SP), em 1967, e o Plano para a
Região Metropolitana de Porto Alegre (1973). O PUB-SP foi elaborado
por um consórcio formado por diversas empresas e reunia seis volumes
de informações sobre a área metropolitana de São Paulo.
a) III.
b) II.
c) I e III.
d) I e II.
e) II e III.
Sobre a urbanização de São Paulo, julgue verdadeiro ou falso cada item a seguir
( ) Até meados do século 19, São Paulo não figurava entre as grandes
cidades brasileiras. Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Belém eram cidades
que concentravam maior quantidade de habitantes em relação a ela.
( ) No século 20, São Paulo se tornou ícone da urbanização brasileira, mas
somente na década de 1960 se tornou a maior cidade do país, quando o
Rio de Janeiro deixa de ser capital do Brasil.
( ) A economia do café gerou no estado de São Paulo mercados internos
e uma vasta rede de cidades, o que reforçou a importância política e
administrativa da capital do estado perante o país
Pesquise mais
Assista ao documentário elaborado pelo Sesc TV sobre a configuração
urbana de Brasília. O documentário traz trechos de palestras com Oscar
Niemeyer, em que ele explica suas intenções na arquitetura dos edifícios
de Brasília, e trecho de entrevista com Lúcio Costa. O documentário
destaca os pressupostos do modernismo que estão presentes na forma
de Brasília e releva a utopia de se criar uma cidade (forma urbana) que
pudesse dar conta de amenizar conflitos sociais ao propor o espaço
público como local de convivência entre os moradores. Também
aborda os antecedentes históricos e as explicações geopolíticas para a
transferência da capital do país.
Exemplificando
Não só o desenvolvimento tecnológico e o econômico implicam
transformações na rede urbana brasileira. As decisões políticas têm
importância excepcional na configuração da rede urbana. As decisões
sobre a construção de uma universidade pública, asfaltamento de
rodovia, construção de usina hidrelétrica, implementação de uma zona
franca, podem trazer novas dinâmicas a centros urbanos e reposicionar
as cidades na hierarquia regional e nacional. A própria construção de
Brasília e a transferência da capital do país causou grandes mudanças
na rede urbana brasileira. Hoje, Brasília é o centro da gestão federal e
possui importância empresarial comparada a Curitiba e Belo Horizonte.
Reflita
Os municípios constituem estruturas políticas-administrativas
autônomas; contudo, quando integram uma região metropolitana,
passam a existir interesses e problemas compartilhados com municípios
vizinhos ou próximos. Reflita sobre quais questões relativas ao urbano
ultrapassam a escala municipal e podem ou devem ser pensadas e
resolvidas em escala metropolitana.
Assimile
Nas décadas de 1980 e 1990, Milton Santos levantou a hipótese
de ocorrência do processo de desmetropolização no Brasil,
resultante da redução da população relativa concentrada em
cidades acima de 2 milhões de habitantes comparada à população
relativa em cidades de 50 mil até 2 milhões de habitantes. Santos
define desmetropolização como “a repartição, com outros grandes
núcleos, de novos contingentes de população urbana” (2013, p. 91).
Não se trata, portanto, da dissolução de regiões metropolitanas ou
redução populacional absoluta nas metrópoles.
a) V, V, V.
b) V, F, F.
c) F, V, V.
d) F, F, V.
e) V, F, V.
Assimile
A reforma urbana representa para as cidades o que a reforma agrária
representa para o campo, “com todas as limitações que ambas possam
ter, por serem conduzidas dentro dos marcos gerais do modelo
social capitalista” (SOUZA, 2004, p. 158). A reforma urbana pode ser
caracterizada como:
Pesquise mais
A cidade compreendida na política urbana e no plano diretor, a
chamada cidade legal, não constitui a totalidade do território das
cidades brasileiras. Boa parte das cidades estão à margem dos cadastros
das prefeituras e concessionárias de serviços públicos, dos sistemas de
financiamento habitacional e em terrenos frágeis. Trata-se das cidades
informais, das áreas de ocupação irregular. No artigo A construção de
uma política fundiária e de planejamento urbano para o país, Raquel
Rolnik traça o cenário das políticas urbanas no Brasil e aponta as
limitações dessa esfera de atuação sobre as cidades.
Exemplificando
Vamos usar como exemplo a Lei Orgânica do Município de Valinhos,
interior de São Paulo. Entre seus capítulos está aquele que orienta
o desenvolvimento urbano. Em relação ao plano diretor, o Capítulo
determinou que:
Reflita
Villaça (2004) destaca que a partir da década de 1990 os planos
diretores se tornaram politizados em função do avanço da consciência
e do fortalecimento das organizações populares. Reflita se os planos
diretores anteriores podem ser tomados como planos objetivos, não
políticos e ausentes de ideologia e sobre o que muda com os planos
politizados, que incorporam os ideais de reforma urbana.
Estatuto da Cidade
A Lei n. 10.257, conhecida como Estatuto da Cidade, entrou em
vigor em 2001 com o objetivo de regulamentar os artigos n. 182 e
n. 183 da Constituição Federal, que tratam sobre a política urbana,
conforme vimos anteriormente. Proposto em 1989, o projeto de lei
demorou mais de uma década até ser de fato aprovado pela Câmara
dos Deputados e pelo Senado em função das resistências de grupos
de promotores imobiliários e de tecnocratas do planejamento, com
forte peso nas decisões políticas.
O Estatuto da Cidade representou a possibilidade de concreção
da reforma urbana no país, pois apresentou mecanismos diversos
que, se não resolvessem os problemas das cidades brasileiras,
poderiam atenuá-los, tais como os mecanismos com o objetivo de
fazer cumprir a função social da propriedade e outros para inibir a
especulação imobiliária. Rolnik apresenta o Estatuto como “conjunto
inovador de instrumentos de intervenção” sobre os territórios das
cidades, “além de uma nova concepção de planejamento e gestão
urbanos” (2001, p.5). Embora permita uma nova possibilidade
de prática sobre o urbano, a autora ressalta que a efetividade do
Estatuto “depende fundamentalmente do uso que dele fizerem as
cidades” (ROLNIK, 2001, p. 9).
De modo geral, o Estatuto da Cidade consiste em uma lei
composta por 58 artigos que apresenta as diretrizes gerais que
Pesquise mais
Não abordamos de forma aprofundada todos os instrumentos e
estatutos possíveis de serem aplicados no planejamento e gestão
urbanos, já que eles são muitos e diversificados, mas reiteramos a
importância de conhecê-los, conhecer seus objetivos e formas de
emprego. Pesquise e aprenda mais em:
Fonte: VILLAÇA, F. Uma contribuição para a história do planejamento urbano no Brasil. In: DEÁK, C.; SCHIFFER,
S. R. (orgs.). O processo de urbanização no Brasil. São Paulo: Edusp, 2004, p. 169-244.
a) III.
b) II e I.
c) I e III.
d) II e III.
e) I.
Cidadania, meio
ambiente e
desenvolvimento
Convite ao estudo
Caro aluno, chegamos à última unidade da disciplina
Geografia Urbana, hora oportuna para relembrar um pouco
do caminho até aqui: estudamos inicialmente os conceitos e
métodos de análise em Geografia Urbana; compreendemos o
processo de urbanização mundial em seguida; e analisamos
as especificidades e os desafios postos pelo processo de
urbanização no Brasil. Esse percurso proporcionou a você um
embasamento sólido para aprofundar seus estudos sobre as
cidades. O que propomos para esta última unidade é que você
entre em contato com a atual realidade das cidades brasileiras.
Para isso, agrupamos os temas em torno de três principais
vertentes: cidade e meio ambiente, cidade e desenvolvimento
econômico e cidade e cidadania. Na primeira seção desta
unidade, analisaremos o papel das cidades no projeto de
desenvolvimento sustentável e para isso não deixaremos
de abordar os principais problemas ambientais urbanos. Na
segunda seção, aproximaremos as cidades das discussões
sobre desenvolvimento econômico e do planejamento
estratégico. E na última seção, exploraremos o tema da
cidadania, com especial destaque para a exclusão social e a
violência urbana, principal sintoma da desigualdade social e da
falta de oportunidade no mercado de trabalho formal.
Pesquise mais
Assista ao programa O crescimento das cidades e a periferização,
produzido pelo Canal Futura. Esse episódio aborda o crescimento
horizontal das cidades brasileiras e o encarecimento do custo de vida,
além do aumento dos custos ambientais.
Exemplificando
As geotecnologias são um importante instrumento para a identificação
de lotes e áreas de vazio urbano. É possível fazer a identificação e a
Reflita
Na cidade de São Paulo do início do século XX, começavam a chegar
os primeiros automóveis importados, espalhando pelas ruas fumaça e
buzinas aos pedestres ainda distraídos. Havia motoristas que infringiam
as leis de trânsito e dirigiam acima de 20 km/h, velocidade que só era
permitida nas estradas. Hoje, São Paulo é uma pungente megacidade,
multicultural e hiperativa. Contudo, a mobilidade em São Paulo é
precária. A Secretaria Municipal de Mobilidade e Transporte divulga em
tempo real a velocidade média nos corredores de ônibus da cidade,
e, em junho de 2018, o site indicava a velocidade de 19 km/h nos
corredores do sentido bairro-centro. Reflita sobre as transformações
pela qual a cidade passou e sobre as diferenças e continuidades na
mobilidade urbana enfrentada pelos paulistanos ontem e hoje.
Fonte: DETRAN - SP. Frota de veículos em SP: por tipo de veículo. 2018. Disponível em: <https://bit.ly/2LLESxu>.
Acesso em: 13 jun. 2018.
a) I e IV.
b) III e II.
c) IV e II.
d) III e IV
e) II e I.
Reflita
Analise os dados levantados pelo IBGE no Censo de 2000: no Brasil
existiam 48,2 milhões de famílias e 54,3 milhões de domicílios
particulares (BRASIL, 2000 apud ALVES; CAVENAGHI, 2006). Reflita
sobre como é possível falar em déficit habitacional se o número de
residências é superior ao número de famílias. Procure compreender e
explicar essa discrepância e incongruência nos dados.
Pesquise mais
Para saber mais sobre as cidades brasileiras, assista à série de programas
Desenvolvimento urbano disponíveis no Canal Futura. O episódio
Como promover moradia popular nas cidades, em especial, aborda o
déficit de moradias e a ocupação irregular realizada pela população de
baixa renda como única alternativa encontrada para a sobrevivência nas
cidades, assim como os trabalhos para a regularização dessas áreas.
Assimile
O neologismo gentrificação é a tradução do inglês da expressão
gentrification, que por sua vez é proveniente da palavra gentry, uma
referência às pessoas de alta classe social. A expressão gentrification
começou a utilizada nos Estados Unidos nos anos de 1960, nos
estudos de Geografia e Sociologia Urbana, para fazer referências aos
projetos de reabilitação residencial de certos conjuntos habitacionais
de baixa renda considerados degradados, muitas vezes em função do
próprio projeto modernista que propôs formas incompatíveis com a
vida em comunidade e resultou em monotonia, quadras muito longas,
uso residencial exclusivo, entre outras. Os investimentos, públicos e/
ou privados, modernizaram e valorizaram os imóveis e terrenos, fato
que atraiu classes sociais de maior poder aquisitivo. A valorização
resultou no deslocamento da população de baixa renda para outras
porções das cidades mais acessíveis. Na década de 1990, o termo
passou a ser empregado para retratar as consequências das operações
de renovação urbana de forma geral. A expressão gentrification pode
também ser traduzida pela palavra enobrecimento, já que indica o
processo de apropriação de certo local por classes de mais alta renda
após o processo de renovação urbana.
a) I, II e III.
b) I e III.
c) I, II e IV.
d) I e IV.
e) II e IV.
a) I – C; II – A; III – B.
b) I – C; II – B; III – A.
c) I – B; II – C; III – A.
d) I – A; II – B; III – C.
e) I – B; II – A; III – C.
Assimile
O cientista político e professor da USP Lúcio Kowarick (1993, p. 62)
emprega o termo espoliação urbana para se referir ao:
Cultura urbana
Reflita
Qual futuro queremos para as nossas cidades? Reflita sobre que
aspectos você gostaria de ver transformados e trace um cenário
desejado para as cidades. Pense se é possível (e/ou necessário)
rompermos com o modo de organização atualmente adotado e
criarmos outros modelos. Ou se é possível traçar um futuro desejado a
partir da eliminação de aspectos negativos – tais como a exploração, a
desigualdade e a injustiça – e do aprimoramento de aspectos positivos
– tais como as artes e os conhecimentos tecnológicos –, caso esses
elementos componham seu ideal de cidade.
Hoje é cada vez mais fácil o acesso aos recursos didáticos diversos,
tais como vídeos, imagens, textos complementares e literários, obras
de arte, revistas, jornais, blogs, sites especializados, canais em redes
sociais, que podem enriquecer e tornar o conteúdo das aulas e dos
livros didáticos mais significativos para os alunos. Os temas de Geografia
Urbana (mas não só) podem ser beneficiados com o uso desse
instrumental complementar, para iniciar discussões, estimular reflexões
e incitar a curiosidade dos alunos para um recorte temático. Fora isso,
deve-se destacar a prática de campo (estudo do meio), componente
obrigatório da metodologia de pesquisa em Geografia, como importante
instrumento para o estudo do espaço urbano, que possibilita estabelecer
relações e comparações e permite interpretar/perceber as múltiplas
relações entre a sociedade e a natureza. O estudo do meio pode ser
também um momento no ensino-aprendizagem para desenvolver novas
perspectivas sobre o urbano e potencializar o papel de procedimentos
fundamentais – como a problematização, a observação, a descrição, a
comparação, o levantamento de hipóteses e possíveis soluções – que
auxiliam a aprendizagem.
Pesquise mais
Há um livro fundamental para aqueles que querem aprofundar seus
conhecimentos sobre o ensino da cidade e do espaço urbano na
educação básica. Nele, a autora aborda a importância da Geografia
para a formação de cidadãos a partir da dinâmica cotidiana das cidades.
Fonte: Fundação Seade. Mapas: indicadores sociais demográficos, para os distritos do
município de São Paulo. Disponível em: <http://produtos.seade.gov.br/produtos/ivj/index.
php?tip=map&mapa=9>. Acesso em: 12 jul. 2018.
a) I, II e III.
b) III e IV.
c) I e IV.
d) II e III
e) I, III e IV.