CLTS Nampula Port
CLTS Nampula Port
CLTS Nampula Port
Novembro de 2009
Um novo grupo de artesãos foi treinado em CLTS no distrito de Moma, mas não alcançaram
o mesmo sucesso que os seus homólogos do distrito de Mecuburi. Alguns dos factores que
podem ter contribuído para esta falta de sucesso incluem as habilidades e interesses
manifestados pelos artesãos, a proximidade das praias fora do ambiente imediato de
vivência das comunidades costeiras, a instabilidade dos solos, a falta de uma liderança forte
com interesse em mudar as práticas de saneamento, a longa tradição de defecar na praia e
a falta de tecnologias de latrinas apropriadas e a preços acessíveis.
Embora o CLTS não foi bem sucedido no distrito de Moma, o resultado em Mecuburi
mostrou que o CLTS poderia desencadear mudanças e a adopção do uso de latrinas numa
escala inédita. Mostra também a validade da abordagem e a utilidade de incluir o CLTS na
estratégia nacional para a promoção do saneamento nas zonas rurais.
Constatações das visitas de campo indicam que, com um planeamento mais abrangente, o
CLTS poderia alcançar melhores resultados. A experiência do projecto ASNANI indica a
necessidade de ter mecanismos contínuos de acompanhamento e apoio, para poder
aproveitar bem os recursos locais, tais como os artesãos, para o despertar. Isso incluiria um
sistema bem definido de verificação e relatórios de progresso; na ausência de um tal
sistema, seria bastante difícil validar os números de latrinas construídas pelos artesãos. Há
também uma necessidade de examinar em profundidade como fazer com que o CLTS e/ou
outras abordagens inovadoras funcionem nas comunidades costeiras, e de introduzir
tecnologias de baixo custo adequadas a essas comunidades. As constatações realçam o
papel importante dos líderes comunitárias no período pós-despertar. É mais provável que
um líder empenhado e progressivo, que apoia o processo CLTS, consiga promover
efectivamente a mudança. O impacto de um bom líder comunitário no sucesso do CLTS é
quase igual ao de um activista especializado.
Finalmente, é muito importante que as comunidades onde o CLTS foi despertado, sejam
avaliadas para determinar as que tenham atingido o status ODF.
i
Índice
ii
1 Introdução
1.1 Sumário
A abordagem CLTS para a promoção do saneamento está a ganhar credibilidade em todo o
mundo. Recentemente foi aplicado pela primeira vez em Moçambique, com resultados
aparentemente muito bons, e declarações recentes do Ministro das Obras Públicas e
Habitação indicam que é intenção do Governo adoptar esta abordagem ao nível nacional.
1
água e artesãos para promover a construção de latrinas e a manutenção de bombas
manuais, a partir de Novembro de 2008. Os comités de água (926 pessoas) e artesãos (136
pessoas) foram treinados na utilização da metodologia PHAST para promover a higiene e o
saneamento em vinte distritos. A abordagem CLTS foi introduzida em Maio de 2009, com a
formação de oito artesãos no distrito de Mecuburi pela Geo-Austral, uma empresa que está
a trabalhar também com CLTS na província de Sofala. Outro grupo de sete artesãos foram
treinados em Junho de 2009 no distrito de Moma. O distrito de Mecuburi tinha artesãos que
já estavam a trabalhar com o projecto HAUPA da CARE, no âmbito do qual tinham sido
treinados na construção de latrinas.
2
tem implicações na construção e uso de latrinas, devido a fraca coesão dos solos. Ao
contrário de Mecuburi, as principais fontes de renda são a pesca, a mineração e a
agricultura. As casas são construídas principalmente com materiais locais, incluindo a
maioria das partes do coqueiro, e matope. No entanto, a situação é ligeiramente diferente
em Macone-Moma Sede, onde muitas casas são feitas de blocos de cimento com telhado
de chapas galvanizadas.
Segundo o relatório de base, a prática mais comum de fecalismo é o método "gato", seguida
pelo fecalismo a céu aberto, com uma percentagem muito pequena de latrinas tradicionais.
Dados sobre as práticas de fecalismo estavam disponíveis para apenas 160 das 233
comunidades. O relatório indicava que mais de 45% das comunidades onde 65-100% da
população pratica o fecalismo a céu aberto estão localizadas no PA Macone-Moma Sede,
que curiosamente, também tem o maior número de comunidades com a cobertura mais
elevada de latrinas: 82% em Coropa; 77% em Pilivili A; 68 em % Naicole e 53% em Pilivili B.
O PA de Mucuali tem o segundo maior número de comunidades (16) com latrinas
tradicionais
3
PARTE 1: Resultados da Avaliação
3 Abordagens à Promoção do Saneamento
3.1 PHAST
Um dos objectivos do projecto ASNANI na província de Nampula é a melhoria das práticas
de higiene, saúde e as relacionadas com o meio ambiente, nas comunidades onde foram
instaladas infra-estruturas de água e saneamento. Para atingir este objectivo, comités de
água e saneamento e artesãos foram capacitados na educação sanitária e higiene com
enfoque na prevenção das doenças relacionadas a água e saneamento, e do HIV/AIDS. Os
artesãos e os comités de água foram treinados sobre o uso da metodologia PHAST para
promover "práticas seguras" de higiene. No Distrito de Mecuburi, 8 artesãos e um comité de
água foram treinados, e no Distrito de Moma, 7 artesãos e nenhuma comité de água foram
treinados.
Todos os formandos foram equipados com as ferramentas PHAST para permiti-los trabalhar
com suas diversas comunidades. Os artesãos compreendiam não só pedreiros, mas
também mecânicos, pequenos retalhistas, e líderes comunitários. Os artesãos não têm
responsabilidade apenas para a promoção de saúde e higiene, mas também para a
manutenção de bombas e a mobilização comunitária, daí a inclusão de pessoas além de
pedreiros. Cada Posto Administrativo nomeou 2 artesãos. Os 8 artesãos do distrito
Mecuburi, ao contrário de seus homólogos no distrito de Moma, tiveram alguma experiência
anterior em projectos de saneamento e higiene, pois eles foram treinados pelo projecto
HAUPA da CARE.
4
Em teoria, deveria haver 2 artesãos para cada um dos 4 PAs para facilitar o despertar do
CLTS nas comunidades. No entanto, 5 dos artesãos residem de facto no PA Mecuburi-
Sede, incluindo os 2 que deveriam representar Milhana, e um para Muite; os 2 artesãos de
Namina residem no respectivo PA e outro para Muite também é reside no PA de Muite mas
parece estar inactivo.
Cada um dos 8 artesãos treinados foi dado uma bicicleta para ajuda-lo nas visitas às
comunidades. Considerando que a maioria reside no PA Mecuburi-Sede e que as distâncias
para a comunidade mais próxima no PA de Muite é de cerca de 30 km, e no Milhana é de
cerca de 20 km numa estrada acidentada e empoeirada, não é de admirar que a equipe
tenha dificuldade para chegar a essas comunidades, daí a quase ausência de actividade
nestes dois PAs. O único artesão residente em Muite não parece fazer parte da equipe e
está praticamente inactivo. Os PAs de Namina e Mecuburi-Sede são os únicos com
artesãos treinados residentes. Mesmo se todos os artesãos residissem nos seus respectivos
PAs, é quase impossível duas pessoas cobrirem todas as 64 comunidades de Muite, e de
modo semelhante para os outros PAs. Mesmo em Namina, onde existem somente 15
comunidades, as distâncias fazem com que seja impossível para duas pessoas despertarem
o CLTS em todas as comunidades. A tabela abaixo resume a situação no distrito de
Mecuburi.
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A única mulher na equipe está baseada no PA de Namina e parece concentrar-se mais no
despertar do CLTS, e foi capaz de explicar o processo de forma mais abrangente. Ela
parece ser muito respeitada na sua comunidade e conseguiu convencer o líder comunitária
a exigir a construção de uma latrina como pré-requisito para novas pessoas que queiram
instalar-se na comunidade. Mais de 30 latrinas estavam em construção no momento da
visita. Um total de 492 latrinas foram construídas entre Maio e Julho, sem dados disponíveis
para Setembro e Novembro de 2009.
Conforme mencionado anteriormente, nada parece estar acontecendo nos PAs de Muite e
Milhana onde os artesãos nomeados não são residentes.
Fig 1: Plataforma da latrina tradicional (em construção) Fig 2: Plataforma da latrina tradicional concluída
6
folhas de plástico são colocadas sobre a madeira antes de barro compactado que é utilizado
para finalizar o chão, (Figs. 1-4). As casotas das latrinas são feitas de barro e bambu e
cobertas com capim. A maioria das latrinas tinham uma pequena casa de banho anexada,
feito de capim, que muitas vezes servia de entrada para a latrina (Figs. 5-8). As entradas
das latrinas eram ligeiramente elevadas com uma cerca de bambu, que impede o ingresso
de porcos e cobras nas latrinas.
Fig 5: Super-estrutura da latrina (em construção) Fig 6: Super-estrutura da latrina tradicional e banheiro
Fig 7: Latrina tradicional completa com capim Fig 8: Latrina tradicional completa
Os artesãos treinados pareciam muito motivados e têm as habilidades para construir vários
tipos de latrinas. No entanto, a sua capacidade de ampliar a distribuição de latrinas fora do
Mecuburi-Sede onde residem é limitada por causa do transporte e as distâncias aos outros
PAs. No momento da visita, os artesãos formaram uma associação e estavam no processo
de finalizar o seu registo oficial, o que atraiu vários outros membros além daqueles que
foram treinados. O registo oficial da associação dar-lhes-á a personalidade jurídica
necessária para concorrer a contratos do governo para construir latrinas institucionais.
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Embora os dados existentes são contraditórios, é claro que a introdução do CLTS fez um
impacto significativo na adopção e utilização de latrinas. Esses resultados só podem ser
atribuídos ao CLTS porque os artesãos e os comités de água estavam a promover higiene
com as ferramentas PHAST ao longo de mais de um ano, mas com pouco resultado. Outros
indicadores incluem a ausência de fezes em locais comummente utilizados para o fecalismo
a céu aberto antes do despertar do CLTS, e o número de latrinas novas concluídas e em
construção. Ficou evidente durante a visita de campo às comunidades nos PAs de
Mecuburi-Sede e Namina que muitas latrinas foram construídas nos últimos seis meses.
Segundo um relatório apresentado pela equipe ASNANI, um total de 3.630 latrinas foram
construídas entre Maio e Julho, e 920 latrinas entre Setembro e 5 de Novembro de 2009.
Não foi possível verificar esses dados, pois não havia os valores exactos de referência para
o número de latrinas antes do despertar do CLTS nas respectivas comunidades.
Depois da sua formação em CLTS, os artesãos deviam continuar a despertar o CLTS nas
várias comunidades nos seus respectivos PAs. Não havia critérios óbvios para a selecção
das comunidades a despertar, e parece que os artesãos não têm realizado muitas
actividades de CLTS desde a formação. Os artesãos de Chalaua pareciam desconfortáveis
8
com a abordagem do CLTS e preferiam usar as ferramentas PHAST, que não envolvem a
demonstração de transmissão fecal-oral, utilizando fezes. Um líder comunitário que é um
membro do grupo comentou que as pessoas apontavam para ele quando foi a uma reunião
em Macone-Moma, dizendo que ele estava um daqueles que brincam com fezes.
A fim de obter uma visão geral das tecnologias de latrinas usadas no PA de Macone-Moma,
visitaram-se as comunidades onde o relatório de base indicou uma cobertura elevada de
latrinas. As comunidades visitadas incluíam Pilivili A e B, com aproximadamente 3.397 e
2.163 famílias, respectivamente, e Coropa, com cerca de 890 famílias. De acordo com o
relatório de base de 2007, a cobertura de latrinas nestas três comunidades é de 100% em
Pilivili A, 51% em Pilivili B, e 82% em Coropa. Isto é consistente com as observações de
campo: todas as dez casas aleatoriamente visitadas em Pilivili A tinham latrinas; em Pilivili B
três não tinham latrinas; e em Coropa, todas as casas visitadas tinham latrinas.
Todas as latrinas observadas eram latrinas tradicionais construídas com materiais locais. Há
algumas inovações, incluindo latrinas básicas de descarga manual (pour-flush) feitas com
0,5 m de tubo PVC de 4 polegadas, conectado a uma cova externa. O ponto de entrada das
excretas consiste numa pequena estrutura circular de cimento construída em volta de uma
extremidade do tubo PVC. A latrina é utilizada também para tomar banho (fig. 9). A maioria
das latrinas tradicionais tinham plataformas elevadas para impedir a entrada de água nas
covas no caso de chuvas (fig. 10).
9
3.4 A variação dos resultados entre os Distritos de Mecuburi e Moma
De acordo com os relatórios do ASNANI e as observações feitas nas visitas de campo, o
CLTS foi muito melhor sucedido no Distrito de Mecuburi que em Moma. Isto pode ser
atribuído a diversos factores relacionados com os artesãos, as comunidades, e a tecnologia,
alguns dos quais já foram mencionados nas partes anteriores deste relatório.
Localização
As observações feitas no campo sugerem que houve mais sucesso nas comunidades onde
um artesão formado é residente, ou em comunidades vizinhas, onde despertaram o CLTS e
podiam acompanhar a evolução pós-despertar. Isso explica porque o maior êxito foi
alcançado em Mecuburi-Sede, onde 5 dos 8 artesãos treinados são residentes e em Namina
onde 2 dos artesãos são residentes. Houve muito pouco sucesso nos PAs de Muite e
Milhana, já que nenhum dos artesãos formados estão actualmente a morar nestas áreas.
Interesse e entusiasmo
O interesse e entusiasmo para ver as alterações nas práticas de defecação foi muito óbvia
na equipe de Mecuburi, em comparação com os seus homólogos de Moma. A maioria da
equipe de Mecuburi eram pedreiros jovens e dinâmicos, que pode explicar também porque
eles estão interessados em aumentar a procura e adopção de latrinas. Este interesse em
fazer mudanças também pode ser devido ao surto de cólera no Mecuburi-Sede, que resultou
em muitas mortes. A maioria dos artesãos que foram capacitados para despertar o CLTS
em Moma-Sede não tinham uma latrina em casa, o que tornou ainda mais difícil convencer
os outros a construir uma. O líder da comunidade foi muito pessimista sobre a construção de
latrinas e não demonstrou muita vontade de apoiar o CLTS, ao contrário dos do distrito de
Mecuburi. Tampouco, o Director do Departamento de Obras Públicas e Habitação em Moma
não creditava muito no CLTS, e dizia várias vezes que as covas não revestidas não são
viáveis nas comunidades costeiras por causa do solo instável.
10
visitadas. Adultos foram vistos em pleno dia a defecar na praia, na presença de muita gente.
O acesso fácil à praia, longe de suas imediações, onde eles não têm de encontrar
diariamente as suas próprias fezes, tem contribuído para manter esta prática antiga. Outras
comunidades do mesmo Posto Administrativo, como Coropa, Pilivili A e B que não têm
acesso fácil à praia, e onde o CLTS não foi despertado, tinham uma cobertura de latrinas
superior a 85%.
Escolha de tecnologia
A tecnologia é um factor chave na aceitação de latrinas na maioria das comunidades. As
tecnologias de latrinas de baixo custo (por exemplo, latrinas tradicionais sem revestimento)
acessíveis às comunidades rurais, muitas vezes não são apropriadas para as comunidades
costeiras e as localizadas em zonas com solos soltos e arenosos, como os encontrados ao
longo da costa no PA de Macone-Moma. As alternativas são caras, e a maioria das famílias
não podem comprá-los, o que poderia também explicar por que poucas mudanças foram
observadas em Moma. O único artesão formado em Mocone-Moma que tinha uma latrina,
escavou a cova no espaço deixado por um coqueiro morto na esperança de que as raízes
pudessem ajudar a estabilizar a cova.
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Tabela 2: Estimativa do custo de estabelecer CLTS nos distritos de Mecuburi e Moma em Nampula
Actividade No. No. de dias Custo unitário ($) Total
Distrito de Moma
Artesãos e lideres formados 12 4 20 960
Treinador (facilitador) 1 4 250 1000
Transporte 1 4 300 1200
Material para a construção de latrinas 300
Material para a preparação do CLTS
Colheita de materiais 100
Reprodução de manuais 12 1 100 1200
Actividades comunitárias 2 2 50 200
Pagamento local 1 3 100 300
Alimentação, laser e transporte dos activistas 12 3 70 2,520
Subtotal (Distrito de Moma) 7,780
Distrito de Mecuburi
Líderes e artesãos treinados 12 4 20 960
Treinador (facilitador) 1 4 250 1,000
Transporte 1 4 300 1,200
Material para a construção de latrinas 300
Material para a preparação do CLTS
Colheita de materiais 100
Reprodução de manuais 12 1 100 1,200
Actividades comunitárias 2 2 50 200
Pagamento local 1 3 100 300
Alimentação, laser e transporte dos activistas 12 3 70 2,520
Relatório das duas fases 2 100 200
Subtotal (Distrito de Mecuburi) 7,980
Itens Gerais Meticais
Camisetas 50 0 500 25,000
Chapéus 50 0 150 7,500
Bicicletas 6 0 1,800 10,800
Kit de artesão 8 0 2,730 21,840
Custo do pessoal de apoio do ASNANI - - - -
Subtotal Meticais 65,140
Subtotal (US$) $2,171
TOTAL GLOBAL $17,931
12
PARTE 2: Implicações das Conclusões e Recomendações
4 Introdução
Alguns dos factores principais que contribuem para o sucesso do CLTS incluem as
habilidades dos facilitadores; um forte apoio pelos líderes comunitários; o tamanho e a
natureza de cada comunidade; o uso de alimentos considerados especiais pela
comunidade; despertar o CLTS sozinho sem combiná-lo com outras metodologias de
promoção do higiene e saneamento. A introdução do CLTS na província de Nampula no
âmbito do projecto ASNANI, embora ad-hoc, produziu resultados convincentes, mostrando
que o CLTS têm o potencial para provocar mudanças nas práticas de fecalismo em grande
escala. Embora nenhuma das comunidades onde CLTS foi despertado fosse declarada
ODF, algumas delas estavam certamente a chegar lá. No entanto, a ausência de um
sistema de avaliação e no final do ciclo do projecto ASNANI significa que estes resultados
nunca poderão ser apurados.
Esta secção analisa as implicações dos resultados da revisão e termina com algumas
recomendações para a expansão do CLTS na província de Nampula. É dividida em
subsecções, abrangendo várias áreas chave que têm um impacto potencial na expansão do
CLTS. As principais questões analisadas incluem: capacitação para o CLTS; o despertar do
CLTS; tecnologias e a oferta de latrinas melhoradas; monitoria e apoio; e a avaliação e
reconhecimento das comunidades ODF.
Não foi possível verificar os números reais das comunidades onde os artesãos formados
despertaram o CLTS após a formação, porque não houve nenhum sistema específico de
registo ou de monitoria. Havia algumas dúvidas sobre se os artesãos no Distrito de Moma
de facto despertassem o CLTS em qualquer comunidade após a formação, ou se
utilizassem algumas ferramentas PHAST para a promoção do saneamento. A expansão do
CLTS na província de Nampula exige uma estratégia clara que define o perfil e os critérios
de selecção dos facilitadores e das comunidades; sistemas de monitoria e avaliação das
comunidades ODF; incentivos para os facilitadores; e um sistema simples e económico de
reconhecimento das comunidades ODF.
Recomendações:
As habilidades dos facilitadores são a chave para o sucesso do CLTS e por isso
deveriam formar a base sólida sobre a qual o CLTS é introduzido na comunidade. O uso
de artesãos para despertar o CLTS é um sistema inovador e potencialmente mais
13
rentável que o uso de ONGs. No entanto, deve-se tomar cuidado sobre o perfil dos
artesãos, e deve-se também estabelecer um forte sistema de monitoria e apoio.
Os artesãos devem consistir principalmente de pedreiros com os líderes comunitários
num papel de apoio e devem basear-se dentro ou perto das comunidades onde irão
despertar o CLTS. Isto tornará mais fácil eles chegarem nas comunidades e enfocar no
despertar em vez de se preocupar com o transporte.
Se forem usados facilitadores baseados na comunidade para o despertar, tais como os
artesãos e líderes comunitários, pelo menos 2 artesãos e um Régulo devem ser
formados no CLTS em cada Regulado. O número de pessoas a serem formadas deve
corresponder à meta anual de comunidades ODF. O relatório de base fornece bons
dados básicos, e pode informar a selecção dos Regulados/comunidades alvo.
O perfil dos artesãos deve incluir o dinamismo, o interesse na mudança e o entusiasmo
manifestado. É contraproducente seleccionar pessoas com pouco ou nenhum
entusiasmo, que têm reservas com o processo de CLTS. Despertar o CLTS exige um
tipo específico de facilitador, que está interessado e disposto a usar as fezes para a
demonstração. Isto significa que a idade pode desempenhar um papel no perfil de um
facilitador. Nas culturas onde as pessoas mais velhas não são tidas como tendo contacto
com fezes, será improdutivo usá-los como facilitadores; eles podem ser mais eficazes no
pós-despertar. Este pode ser o caso do PA de Chalaua em Moma, onde os membros
mais velhos da equipe não estavam dispostos a despertar o CLTS mas usavam
ferramentas PHAST para promover a mudança nas práticas de fecalismo. Em Mecuburi,
os artesãos eram mais jovens, interessados e entusiasmados em efectuar a mudança
usando métodos de promoção de higiene e saneamento, incluindo o CLTS.
Ter mais pedreiros na equipe poderia motivá-los a despertar mais comunidades, pois
eles podem ser capazes de aumentar a demanda por seus serviços. Para além de estar
interessados na mudança, os pedreiros serão motivados também pelo provável benefício
económico.
As mulheres que têm demonstrado grande interesse e qualidades de liderança durante
os diálogos comunitários devem ser contempladas também para formação em CLTS. As
mulheres são frequentemente mais afectadas pelo saneamento e estão mais
interessadas em melhorias, portanto, incluindo-as como facilitadoras vai chegar a mais
mulheres e pode trazer uma mudança sustentável. A única mulher da equipe de
facilitadores no distrito de Mecuburi, baseada no PA de Namina teve um impacto muito
forte na mudança das práticas de fecalismo na sua comunidade, sem quase nenhum
apoio externo.
14
Recomendações:
É importante que o despertar do CLTS não seja combinado com outras abordagens de
promoção do saneamento, a fim de garantir que o impacto chocante seja transmitido aos
membros da comunidade sem ser diluído .
Se existem preocupações de que o CLTS sozinho não esteja a abordar as práticas de
higiene, as visitas de seguimento e monitoria podem ser usadas para enfocar estes
aspectos. Nesta fase, as ferramentas PHAST e outros métodos de promoção de higiene
podem ser usados para reforçar as mensagens. O importante é assegurar que as
comunidades não estejam sobrecarregadas com mensagens e que pelo menos uma
única mensagem seja bem comunicada.
É importante que pequenas comunidades rurais sejam seleccionadas para o despertar
do CLTS, mesmo que os artesãos treinados vivam em comunidades peri-urbanas.
Algumas das condições conhecidas favoráveis ao CLTS incluem pequenos
assentamentos; comunidades remotas; homogeneidade social e cultural; falta de
cobertura ou locais com acesso fácil para o fecalismo ao céu aberto; liderança jovem e
progressista; existência de um grupo activo dentro da comunidade, etc.
O CLTS pode não ser adequado às comunidades costeiras, com áreas de praia
abundantes, e em outras comunidades onde há locais de fácil acesso para fecalismo a
céu aberto, isolados do ambiente imediato da comunidade. Vale a pena considerar
outras abordagens, tais como o marketing do saneamento. Para começar, um estudo
deve ser realizado para compreender os motivadores e barreiras potenciais para a
aceitação de latrinas por vários grupos, e também os atributos que preferem em uma
latrina. Isso irá preparar o terreno para o desenvolvimento de uma estratégia de
marketing de saneamento, incluindo escolhas de tecnologias e mecanismos de
fornecimento. Uma abordagem seria de começar por despertar o CLTS com um
facilitador altamente qualificado. O marketing de saneamento pode ser iniciado após do
despertar, para reforçar o CLTS e oferecer latrinas à população a preços acessíveis. Isto
deveria ser testado antes da expansão, já que há pouca habilidade e experiência do
marketing do saneamento em Moçambique.
15
Fornecimento de latrinas melhoradas
A disponibilidade de pessoas especializadas que podem aconselhar e construir latrinas
para as famílias é fundamental para realizar melhorias no saneamento. A participação
dos artesãos no despertar do CLTS e também na provisão de serviços de saneamento é
uma boa abordagem que poderia incentivar os artesãos (especialmente pedreiros) a
promover o saneamento.
Embora os serviços de um pedreiro são normalmente necessários para a fabricação da
laje e o acabamento da plataforma de uma latrina melhorada, precisa-se também de
outros artesãos, como escavadores de covas. No distrito de Mecuburi, artesãos,
especializados em cavar covas estão operacionais e cobram entre 50 a 100 Mts para
escavar uma cova de 1m (diâmetro) por 4m (profundidade), utilizando instrumentos
simples. Eles trabalham geralmente em pares, entrando na cova por turnos. Seus
clientes são viúvas, mulheres que vivem sozinhas ou cujos maridos estão doentes,
homens e mulheres velhos e doentes; basicamente as pessoas que não são capazes de
cavar suas próprias covas. Eles cobram valores extras para fazer o acabamento da
plataforma e a casota da latrina tradicional.
A promoção de versões mais baratas de latrinas melhoradas tradicionais, tais como o
uso de sanplats em vez de lajes largas deve ser incentivada. A maioria dos pedreiros e
os membros da comunidade, muitas vezes assumem que latrinas melhoradas só podem
ser feitas com as bem-conhecidas lajes redondas. Apesar destas lajes serem mais fáceis
de colocar, pois requerem a utilização de menos toros de madeira na fundação, e mais
fáceis de limpar, são também mais caras e mais difíceis de transportar. O importante é
garantir que as famílias recebam informações claras que lhes permitam fazer escolhas
informadas.
16
artesãos, mas fá-los perceber que o Governo apoia as suas actividades. Portanto, é
importante que o projecto tenha os Administradores Distritais interessados no conceito
do CLTS antes de expandi-lo.
Os serviços individuais, tais como Infra-estrutura, tem um papel importante a
desempenhar. Serão os funcionários técnicos que os artesãos vão procurar para obter
apoio e assistência, e devem portanto ser incluídos na formação de CLTS. Fazer que
estes funcionários se comprometam com a abordagem CLTS é tão importante quanto o
envolvimento dos Administradores Distritais e Chefes de Posto. Eles podem também
desempenhar um papel importante na identificação e modificação de tecnologias de
latrinas onde há condições do solo difíceis.
Objectivos anuais
Para orientar os artesãos ou futuros facilitadores do CLTS, pode valer a pena trabalhar
com eles no início do ano a desenvolver um plano e estabelecer metas para o despertar
do CLTS nas comunidades.
O plano anual de trabalho e as respectivas metas devem ter o objectivo geral de facilitar
um determinado número de comunidades a tornar-se ODF. No entanto, isso pode ser
muito mais difícil de conseguir, na ausência de incentivos para os artesãos. Esta
abordagem era mais viável na “Iniciativa Um Milhão” da UNICEF porque os ONGs são
pagos na base dos resultados alcançados.
Se pretende-se expandir o CLTS na província de Nampula com artesãos locais a agir
como facilitadores, pode valer a pena considerar a criação de concorrência entre os
diversos grupos de artesãos, baseada em indicadores claros. Isto pode incluir o número
de comunidades despertadas e o número que se tornaram ODF. Um incentivo para o
grupo artesão vencedor poderia ser alguns sacos de cimento para fazer lajes de latrinas
para venda.
Métodos de avaliação
A avaliação do estado ODF das comunidades deve ser realizada por grupos de pessoas
neutras sem interesses conflituantes, para garantir que os resultados sejam válidos. A
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monitoria regular pós-despertar do CLTS ajudará a decidir o momento para realizar uma
avaliação. Uma abordagem usada noutros lugares é que os líderes comunitários e
funcionários locais de comunidades vizinhas (preferivelmente ODF) façam o avaliação.
Isto pode ser auditado numa base de amostragem por uma equipa técnica de nível mais
alto, e nas áreas onde se verificar que mais que uma certa percentagem de avaliações
feitas localmente são incorrectas, TODAS as avaliações no local são invalidadas.
No caso em que os artesãos conseguirem despertar o CLTS em muitas comunidades,
devem ser encorajados a realizar a sua própria pré-avaliação e dar indicações das
comunidades que tenham atingido mais de 50% de cobertura. Isto pode ser comparado
com os relatórios de monitoria, e decisões podem ser feitas acerca das comunidades a
serem avaliadas, sem informar os artesãos sobre as datas e as comunidades que serão
visitadas.
Os resultados da avaliação devem ser divulgados publicamente e todos os grupos de
artesãos devem estar cientes dos melhores grupos, bem como aqueles que ainda
precisam melhorar. A Administração Distrital pode ser convencida a escrever cartas de
felicitação ao grupo de artesãos que tiver o melhor desempenho. Isto irá criar um senso
de competição saudável entre os vários grupos e também identificar os grupos que
necessitam de mais apoio.
4.6 Conclusões
A introdução do CLTS no projecto ASNANI na província de Nampula começou no final do
período de projecto com a contratação da Geo-Austral para formar artesãos. A presença de
um grupo de artesãos já criado e parcialmente formado pelo projecto HAUPA da CARE
facilitou o início do trabalho. Embora o ASNANI já tinha formado alguns destes grupos sobre
higiene e promoção de saneamento, a introdução do CLTS deu-lhes a oportunidade de
obter resultados melhores e mais rápidos. Nos primeiros três meses, a equipe relatou cerca
de 3.000 latrinas, um número bem maior do que foi alcançado ao longo dos três anos
anteriores. Isso indica que o CLTS, quando for devidamente despertado, pode produzir
resultados em grande escala dentro de um curto período. Reforça também a recomendação
de que a abordagem CLTS seja expandida nacionalmente depois dos sucessos registados
pelo projecto "Iniciativa Um Milhão" do UNICEF em 2008 e 2009.
18
Constatações das visitas de campo mostram também que, embora artesãos locais possam
ser utilizados em vez de ONGs, eles devem ser baseados nas áreas onde despertam o
CLTS. Em termos logísticos, eles não são capazes de conseguir bons resultados, se forem
obrigados a trabalhar em comunidades há mais de 5 quilómetros do local onde residem.
Após o sucesso no Distrito de Mecuburi, um novo grupo de artesãos foi treinado no Distrito
de Moma, que tem a pior cobertura de saneamento na província de Nampula. Estes
artesãos, ao contrário dos seus homólogos em Mecuburi, não tinham sido envolvidos em
qualquer projecto de água e saneamento e não tinham nenhuma experiência da mobilização
comunitária. Devido a vários factores, incluindo as habilidades limitadas dos artesãos, a
facilidade de acesso à praia para o fecalismo a céu aberto, e as condições instáveis do solo,
o CLTS não foi tão bem sucedido no Distrito de Moma como no Distrito de Mecuburi.
19
Bibliografia
Geo-austral (2009) Relatório dos Resultados da Promoçao de CLTS em Moma (Pós
despertar).
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