Planejamento de Processos de Usinagem - V1
Planejamento de Processos de Usinagem - V1
Planejamento de Processos de Usinagem - V1
USINAGEM
Março 2018
ÍNDICE
Sumário
1. Introdução ......................................................................................................................................................3
2. Exemplo de um Planejamento de Processo de usinagem..............................................................................7
2.1: Sub-operações de usinagem .................................................................................................................13
2.2: Concentração/Separação de operações ...............................................................................................15
2.4: Seleção de máquinas-ferramentas........................................................................................................17
2.5: Seleção de ferramentas.........................................................................................................................17
2.6: Seleção de dispositivos de fixação ........................................................................................................17
2.7: Seleção de superfícies de referência para a fabricação ........................................................................18
2.8: Determinação de sobremetal em peças a serem usinadas ..................................................................20
2.6: Determinação de dimensões e tolerâncias de usinagem .....................................................................22
2.7 Seleção de condições de corte ...............................................................................................................23
2.8 Determinação de tempos padrão ..........................................................................................................24
2.9: Documentação do plano de processo ...................................................................................................24
3: Literatura para consulta adicional ................................................................................................................30
1. Introdução
Este texto tem como principal objetivo apresentar e orientar o Planejamento de Processos de
Usinagem. O “Planejamento de Processos” é um tema muito abrangente, envolvendo todos os
aspectos referentes ao planejamento de atividades que conduzam à fabricação de qualquer bem ou de
serviço na sociedade moderna. O presente texto não tem a pretensão de abordar todos os inúmeros
aspectos relacionados ao tema geral, mas somente aos processos de usinagem e, mais especificamente
aplicado a matérias metálicos. Muitos dos aspectos aqui abordados, no entanto, servirão como base
para abordagens mais gerais.
O planejamento de qualquer Processo Produtivo é uma função vital para qualquer indústria, pois
reúne as informações necessárias para a transformação de matéria-prima, ou produtos semi-acabados
em produtos finais. Alguns dos processos de manufatura mais frequentemente utilizados para tal
transformação são: Processos Primários (fundição, forjamento, soldagem, puncionamento,
estampagem), Processos Secundários, ou de acabamento (usinagem, tratamentos térmicos e
químicos). Mais recentemente, no entanto, está em desenvolvimento uma terceira classe de processos
chamados Processos Aditivos (Fusão Seletiva por Laser, Deposição Energética Direta) os quais são
capazes de produzir forma 3D diretamente já com dimensões próximas às finais. Alguns desses
processos são chamados também de “impressão 3D”. Para a obtenção de um produto final é
necessário um planejamento das operações e sub-operações que permitam obter um produto final nas
especificações. Os requisitos associados a seleção de um, ou a uma sequência desses processos,
podem ser divididos em requisitos para a peça e para o processo.
Para a peça tem-se aspectos funcionais, os quais já vem, em geral, definidos no projeto da peça, tais
como tolerância dimensional, tolerância de forma e posição, rugosidade superficial, forma geométrica
e material. O projeto mecânico de um novo produto deve incluir estes atributos para possibilitar à
atividade de planejamento do processo e a especificação do Plano de Processo, preferencialmente,
com alternativas que poderão ser utilizadas na fabricação da peça. Já requisitos de processos devem
levar em conta aspectos tecnológicos e econômicos como: tamanho do lote, custo e tempo de
preparação de equipamento, custo unitário e taxa de produção.
A seleção das superfícies de referência para garantir a execução precisa do processamento das
operações, simultaneamente com a seleção de dispositivos de fixação e a estabilidade da peça
usando uma apropriada fixação;
A seleção de máquinas para executar as operações, levando em conta o número de peças a ser
produzido (tamanho do lote);
Não necessariamente a sequência para planejar as atividades de um plano de processos deve seguir a
ordem apresentada na Figura 1. Muitas vezes também esse processo é iterativo e correções naquilo
que foi inicialmente pensado podem ocorrer. Para orientar o processo todo, de maneira geral, usa-se
inicialmente um Plano Macro de processos no qual se estabelecem de forma geral uma sequência de
máquinas e operações, para depois ser detalhado. Novamente não se espera que esse seja um processo
único. Uma recomendação para esse processo, de maneira mais lógica pode ser:
Nesta proposta a seleção da máquina-ferramenta vem após a escolha dos parâmetros de corte e estes
devem ser orientados para o mínimo tempo de produção (maior produtividade) ou menor custo de
usinagem. Por este método as restrições para escolha da máquina baseiam-se nas condições
tecnológicas de usinagem que irão definir a potência e a velocidade requerida para a máquina a ser
selecionada e outras restrições disponíveis. Em planejamento do processo cada escolha feita em uma
atividade e isso poderá causar restrições nas atividades posteriores. Estas restrições devem ser
administradas para que se consiga definir planos de processos possível, realistas e com alternativas.
A partir da listagem da ordem lógica das operações deve-se realizar um detalhamento do plano de
processos com as informações necessárias para as instruções de fabricação da peça.
Neste exemplo se faz a análise da peça determinando as operações necessárias à sua fabricação e
estabelecendo uma sequência de processos e operações para fabricação da mesma.
Como o desenho da peça é a base para a geração do plano de processo, a sua análise deve ser o
primeiro passo para a definição do plano de processo. A análise a ser empreendida deve considerar
os fatores:
Estrutura da peça: As peças fabricadas por usinagem apresentam formas e tamanhos variados,
contudo é possível descrever uma peça em termos de formas básicas como cilindros, planos,
cones, etc. Uma análise cuidadosa da estrutura da peça é importante, pois a seleção das
máquinas de usinagem para cada superfície é função da sua forma básica. Por exemplo, uma
superfície cilíndrica externa é feita, normalmente, num torno. As dimensões de cada superfície
também são de grande importância, pois dentro de um mesmo tipo de superfície, diferentes
operações poderão ser necessárias, como no caso de uma superfície de revolução que pode se
apresentar na forma de um eixo, um disco, um anel ou um tubo. Peças prismáticas contendo
faces planas normalmente serão feitas por fresamento, aplainamento, etc. Assim, se o
engenheiro conhece as formas básicas e as dimensões de uma peça saberá quais são os
métodos de usinagem mais adequados.
Observação de superfícies críticas e menos críticas: Uma superfície será crítica quando
mantém contato com as superfícies de outras peças, já as que não apresentam este tipo de
contato são menos críticas. As superfícies críticas são aquelas que apresentam maior exigência
de precisão dimensional ou de forma. Assim, o planejamento do processo deverá dar maior
prioridade às operações feitas nestas superfícies. Com base nas tolerâncias e acabamento
especificados para uma superfície crítica, se determina qual a máquina e/ou operação de
usinagem a ser utilizada. As operações de desbaste e semi-acabamento são determinadas em
função do método especificado para o acabamento. Assim o engenheiro com experiência e
conhecimento dos principais métodos de usinagem que são utilizados pode se orientar melhor.
Estudo do material e de tratamentos térmicos: As propriedades mecânicas do material de uma
peça são um fator importante na seleção do método de usinagem, pois apresentam grande
influência nas condições de corte que poderão ser utilizadas. Como tratamentos térmicos
alteram as propriedades mecânicas, eles devem ser observados com cuidado e com
conhecimento.
Estudo das dimensões entre as superfícies da peça: As dimensões entre as superfícies de uma
peça podem ser apresentadas de diversas formas. A Figura 2(a) mostra um sistema de cotas
em paralelo, na qual todas as dimensões se referem a uma única superfície. A Figura 2(b)
mostra cotas em série e a Figura 2(c) mostra cotas em sistema combinado, que por sinal, é o
método mais comum de dimensionamento de peças. A forma como as superfícies de uma peça
são dimensionadas influencia a significativamente a sequência de operações uma vez que
expressa a maneira como o projetista necessita com resultado final no produto.
A Figura 3(a) mostra o desenho de uma peça conforme o projetista imaginou. A Figura 3(b) e 3(c)
mostram duas possíveis formas de se usinar a referida peça. Na sequência apresentada em 3(b) não
se pode garantir que as superfícies internas das cotas A e B estarão rigorosamente paralelas àquela da
OP10. Como a peça foi removida e novamente fixada pelo diâmetro externo nas duas operações e
este não foi usinado na OP10, não há garantias de que as faces torneadas na OP20 estejam paralelas
àquela obtida na OP10. Quando se remove uma peça fixando-a novamente, há risco de que a peça
não se mantenha concêntrica e perpendicular, mesmo usando as melhores placas de fixação. Assim,
deve-se sempre que possível executar o máximo de operações possíveis em cada fixação para
aumentar a precisão dimensional e relativa entre as partes usinadas. Com isso, pode-se minimizar as
tolerâncias de usinagem. Quando há a necessidade de se remover e novamente fixar a peça, deve-se
preferir fixar em uma superfície já usinada na operação anterior, em alguma superfície de referência,
como forma de se minimizar os erros relativos (tolerâncias) entre as partes de uma mesma peça.
A sequência proposta em 3(c) parece mais adequada, pois a segunda fixação usa as superfícies já
usinadas na operação anterior. Mesmo assim, as dimensões A e B sempre serão consequência de uma
boa fixação, devidamente encostando a peça axialmente durante a OP20. Se o sistema de fixação não
pressionar a peça no sentido axial contra a fixação na OP20, haverá variações nas duas dimensões, A
e B, conforme a peça encosta, ou não, na OP20. Percebe-se assim, que a sequência de usinagem e o
sistema de fixação tem uma significativa influência na tolerância dimensional e de forma da peça, na
tentativa de se fabricar seguindo-se fielmente as cotas do desenho da peça.
(a) (b) (c)
Figura 3 – Duas possibilidades de torneamento de uma peça simples
A seleção da sequência de operações de usinagem de uma peça é uma das etapas mais importantes
no planejamento do processo, pois está diretamente ligado às tolerâncias possíveis de se obter e,
consequentemente, aos custos de produção. Para que o engenheiro possa escolher adequadamente
uma sequência de usinagem, é necessário que tenha conhecimento dos diversos processos e operações
disponíveis. Também deve estar atualizado e bem informado sobre as características das máquinas e
das ferramentas diversas que estas utilizam.
Dentre os processos convencionais de usinagem podem-se citar os mais comuns: torneamento,
furação, fresamento, mandrilamento, retificação, entre outros. Para a usinagem de peças complexas
ou de materiais de baixa usinabilidade (ligas de alta dureza), utilizam-se processos não-convencionais
de usinagem como: eletro-erosão (EDM), usinagem eletroquímica (ECM), usinagem por ultrasom,
etc.
Cada processo de usinagem tem uma faixa típica de valores de tolerância dimensional, assim como
de rugosidade superficial, sob condições mais usuais. A Tabela1 mostra um exemplo dos valores de
tolerância dimensional de acordo com o processo de usinagem. É importante observar que estes dados
podem variar conforme a condições de trabalho das máquinas, das ferramentas, condições de corte e
da experiência do operador.
Tabela 1: Valores típicos de tolerância dimensional para diversos processos de usinagem
Tolerâncias geométricas
Tolerânia para 20 mm
Processo Qualidade IT
(± mm) Paralelismo Perpendicularidade Concentricidade Tolerância angular Circularidade
Torneamento de acabamento IT08 0,033 0,010 a 0,020 0,020 0,005 a 0,0010 0,010 0,010
Torneamento de desbaste IT09 0,052
Fresamento IT10 0,084 0,010 a 0,020 0,020 0,005 0,010
Furação IT12 0,210 0,200 0,100 0,100 0,100 0,100
Aplainamento plano IT10 0,084 0,200 0,100 0,100
Aplaimento de formas IT12 0,210 0,200 0,100 0,100 0,500
Mandrilamento IT08 0,033 0,005 0,001 0,002 0,002 0,001
Brochamento IT07 0,021 0,005 0,001 0,002 0,002 0,005
Serramento IT14 0,520 0,250 0,150 0,150
Retificação plana IT06 0,013 0,001 0,001 0,002
Retificação cilindrica IT04 0,006 0,001 0,001 0,0001 0,002 0,0005
Lapidação IT04 0,006 0,001 0,001 0,005
Brunimento IT04 0,006 0,0005 0,001 0,010 0,010 0,0005
Alargamento IT08 0,033 0,050 0,050 0,002 0,050 0,001
Corte de engrenagens por caracol IT07 0,021 0,010 a 0,020 0,020 0,010 0,005
A Figura 4 ilustra a relação entre a tolerância e o custo resultante, mostrando uma relação
exponencial entre ambas as variáveis.
A Tabela 2 mostra alguns valores típicos para a rugosidade das superfícies obtidas por diversos
processos de usinagem.
Tabela 3: Sequência de operações de usinagem sugeridas para uma superfície cilíndrica externa
Acabamento superficial
OP Descrição da Operação Classe IT
Ra (mm)
10 Torneamento desbaste 12-13 10-80
Torneamento desbaste
20 9-11 2,5-10
Torneamento semi-acabamento
Torneamento desbaste
30 Torneamento semi-acabamento 7-9 1,25-2,5
Torneamento acabamento
Torneamento desbaste
40 Torneamento semi-acabamento 5-6 0,08-1,25
Torneamento ultra-precisão
Torneamento desbaste
50 Torneamento semi-acabamento 7-9 0,63-2,5
Retificação desbaste
Torneamento desbaste
Torneamento semi-acabamento
60 5-6 0,08-0,16
Retificação desbaste
Retificação acabamento
Torneamento desbaste
Torneamento semi-acabamento
70 Retificação desbaste 3-6 0,008-0,63
Retificação semi-acabamento
Lapidação
Torneamento desbaste
Torneamento semi-acabamento
80 Retificação desbaste 3-5 0,008-0,16
Retificação acabamento
Superacabamento
Torneamento desbaste
Torneamento semi-acabamento
90 4-5 0,003-1,25
Retificação desbaste
Polimento
Acabamento. Tem como objetivo garantir que superfícies críticas tenham a tolerância e
acabamento superficial requeridos. Sendo assim, a quantidade de material removida numa
sub-operação de acabamento é, em geral, mínima.
A divisão da sequência em sub-operações pode ser explicada com base nos seguintes motivos:
Detectar possíveis defeitos internos no material o mais cedo possível. Peças obtidas por
fundição podem conter defeitos internos revelados somente após a remoção das primeiras
camadas de material. Se uma peça apresenta defeitos internos, que não podem ser corrigidos,
todo trabalho de usinagem a peça será refugada. Assim, a detecção de prováveis defeitos deve
ser executada o mais cedo possível. Em uma peça que apresente defeitos internos, estes serão
revelados, muito provavelmente, durante as sub-operações de desbaste e, portanto, o
agrupamento destas operações em uma etapa torna a detecção dos defeitos mais rápida;
Evitar que superfícies acabadas sejam danificadas. Durante a fixação, o processo de corte e o
transporte de uma peça, esta fica sujeita a choques que podem danificar suas superfícies. A
execução de todas as sub-operações de desbaste e semi-acabamento antes do acabamento
diminui esta possibilidade.
A decisão por dividir uma sequência de processo operações dependerá do grau de influência da
deformação da peça na tolerância especificada. Para peças de baixas tolerâncias e baixa rigidez a
divisão do processo em operações é de grande utilidade. Para peças de alta tolerância e de grande
rigidez a divisão do processo em operações não é tão importante assim (inclusive deve ser evitada),
já que eleva os custos de produção (pois aumenta a quantidade de setups) e não traz benefícios.
Um aspecto que não pode ser esquecido, durante a divisão do processo em operações, é a necessidade
de acabamento das superfícies de referência para a fabricação mesmo durante o desbaste.
Para a execução de uma operação necessita-se, basicamente, selecionar a máquina, fixar a peça,
selecionar a ferramenta, acionar o eixo-árvore, ou a ferramenta, posicionar a ferramenta, avançar a
mesma, remover o material, inspecionar as dimensões geradas. Há variações e atividades adicionais
a estas, mas estas são as fundamentais. O final de uma operação se caracteriza pela execução de todas
as sub-operações, operações elementares, remoção da peça do atual sistema de fixação e inspeção,
deixando a peça pronta para a operações seguinte, na qual outra máquina-ferramenta, ou fixação serão
necessárias. Assim, pode-se assumir que qualquer mudança de fixação da peça, ou de máquina-
ferramenta, caracterizará uma outra operação.
Diminuição do tempo de manuseio e transporte das peças, pois o número de fixações também
diminui;
A separação de operações se traduz em operações mais simples e em grande número, o que oferece
as seguintes vantagens:
1. As tolerâncias da peça. Para peças com baixas tolerância a usinagem deve ser dividida em
sub-operações de desbaste, semi-acabamento e acabamento e em operações elementares com
diversos passes visando minimizar o aumento de temperatura e as deformações;
3. Tamanho e peso da peça. Para peças grandes e pesadas (difíceis de manusear) a concentração
deve ser priorizada.
Em casos especiais, nos quais há operações de tratamento térmico, como: recozimento, normalização,
envelhecimento, têmpera e revenido as operações de usinagem devem ser pensadas segundo as
alterações que estes provocam nas características mecânicas do material. Tratamentos térmicos, em
geral, deformam e alteram as dimensões das peças, assim como suas tolerâncias. Têmpera e
revenimento aumentam a dureza, além das alterações já citadas. Assim, muitas vezes as operações de
usinagem devem, ou podem ser executadas antes ou depois dos tratamentos térmicos visando atingir
as especificações da peça.
Além das operações de usinagem e de tratamentos térmicos, outras operações e sub-operações podem
constar em um plano de processo. Operações como: inspeção dimensional, superficial, pesagem e
limpeza também podem ser relacionadas, mesmo que não sejam de usinagem.
A área de trabalho da máquina deve apresentar dimensões compatíveis com as da peça que
será usinada;
Se os resultados da utilização desta ferramenta não forem satisfatórios, ferramentas específicas são
apresentadas para cada tipo de corte e material.
Pode-se também estabelecer a referência de fixação ou de posicionamento como sendo uma superfície
da peça que define a sua posição, na direção da dimensão de fabricação, para a sua fixação na
máquina-ferramenta. Assim, a posição da superfície a ser fabricada, em relação à ferramenta utilizada,
depende da referência de fixação ou de posicionamento. Para a inspeção, quando for necessário pode-
se estabelecer uma referência de medição. Esta é um ponto, linha ou superfície a partir do qual a
posição de uma determinada superfície é medida após a usinagem. Nos planejamentos de processos
que incluem a montagem, além da usinagem, pode haver a necessidade de uma referência de
montagem, a qual é um ponto, linha ou superfície que determina a posição de uma peça em um
conjunto, ou a posição de um subconjunto em uma máquina.
As dimensões de projeto, juntamente com suas tolerâncias, representam restrições a que cada
elemento da peça está submetido. Uma dimensão de projeto é definida com base em requisitos
funcionais de cada elemento. Já as dimensões de fabricação, com as respectivas tolerâncias,
representam os requisitos que os processos de fabricação devem satisfazer. As dimensões de
fabricação são elaboradas de tal forma que as dimensões de projeto sejam sempre garantidas. Pode-
se, por motivos diversos, que serão abordados à frente no texto, estabelecer-se dimensões e tolerâncias
diferentes daquelas do desenho de projeto do produto ou peça. Tais casos se tornam mais comuns em
peças com tolerâncias muito pequenas e exigências maiores em termos de acabamento superficial.
Por outro lado, a seleção de métodos de posicionamento e medição estão diretamente relacionados às
dimensões de fabricação. Na verdade, as referências de projeto, posicionamento e medição são
conectadas como ilustrado na Figura 5.
Figura 5: Relação entre referências de projeto, fabricação, fixação e medição nas superfícies de uma
peça
A referência de fabricação é a superfície, ou detalhe, a partir do qual a posição da superfície que será
usinada é cotada. Na operação de acabamento de uma superfície, se a referência de fabricação é a
mesma da referência de projeto, então esta será obtida será diretamente por meio da fabricação e a
tolerância será de acordo com a máquina, fixação, ferramenta e operação selecionadas. Caso não
ocorra a coincidência entre referências de fabricação e projeto, há então, a necessidade de realizar
uma transferência de cotas. A Figura 6(a) mostra o desenho de projeto de uma peça. A Figura 6(b)
mostra o desenho de fabricação da mesma peça. A cota C, assim como a sua tolerância, são
determinadas por meio da transferência de cotas. Para exemplificar usemos as tolerâncias das cotas
como: cota A = TolA, cota B = TolB e cota C = TolC.
(a) (b)
Figura 6: Situação onde as referências de projeto e fabricação não são as mesmas. (a) Projeto. (b)
Fabricação
A cota A será obtida indiretamente por meio da cota C. As dimensões de fabricação devem garantir
que as dimensões de projeto sejam atendidas. O valor da cota C e da sua tolerância podem ser então
calculados da seguinte forma
C = A+B (1);
Pode observar que houve uma redução na tolerância de fabricação (isto é, TolC < TolA). Isto indica
que pode haver a necessidade de um processo de usinagem mais preciso, o que poderá levar a um
maior custo. O mesmo raciocínio pode ser desenvolvido com relação à coincidência entre referências
de fabricação/posicionamento e fabricação/medição. Desta forma, pode-se notar que não havendo
coincidência entre referências de fabricação e referências de projeto, posicionamento e medição,
poderá resultar em um estreitamento das tolerâncias na fabricação, o que deve ser evitado. Este é o
chamado princípio de coincidência de referências e deve ser buscado desde a concepção do projeto
para evitar possíveis aumentos nos custos de usinagem e de fabricação.
Na seleção de referências para a usinagem de operações finais, principalmente, (de acabamento) deve-
se procurar adequadas referências de fabricação para a medição que sejam aquelas já observadas no
projeto e estas superfícies devem ser aquelas de posicionamento. Tais procedimentos básicos
aumentam as chances de sucesso no produto final.
Figura 7: Superfície que será usinada mostrando dimensões e sobremetal parcial com respectivas
tolerâncias.
O sobremetal adotado para as operações executadas numa superfície influencia de forma significativa
a qualidade final e a produtividade do processo. Uma camada excessiva de sobremetal leva a um
consumo exagerado de material, perda de tempo e de recursos, o que eleva os custos de produção e
diminui a produtividade. Se a camada de sobremetal é muito fina, a rugosidade superficial e a camada
afetada pela operação anterior não serão completamente removidas, o que pode levar a uma qualidade
superficial inadequada.
SOBREMETAL NO DIÂMETRO
DESBASTE SEMI-ACABAMENTO OPERAÇÃO ANTERIOR
DIÂMETRO
TORNEAMENTO TORNEAMENTO
(mm) COMPRIMENTO (mm)
DA CASCA DE DESBASTE
<=200 >200 -400 <=200 >200 -400
<=10 1,5 1,7 0,8 1,0
>10-18 1,5 1,7 1,0 1,3
>18-30 2,0 2,2 1,3 1,3
>30-50 2,0 2,2 1,4 1,5
>50-80 2,3 2,5 1,5 1,8 IT14 IT12-13
>80-120 2,5 2,8 1,5 1,8
>120-180 2,5 2,8 1,8 2,0
>180-260 2,8 3,0 2,0 2,3
>260-360 3,0 3,3 2,0 2,3
Figura 8: Dimensões das operações executadas numa superfície plana externa, juntamente com os
sobremetais adotados
Uma vez que ap tenha sido determinada para uma operação de torneamento, deve-se selecionar um
avanço (f) adequado. Se for o caso de uma operação de fresamento, largura de usinagem ae deve vir
a seguir, segundo as mesmas considerações para a profundidade. O avanço utilizado depende da
capacidade da máquina-ferramenta (para operações de desbaste) e da qualidade superficial desejada
(para operações de semi-acabamento e acabamento). Avanços nas faixas maiores, recomendadas
pelas tabelas técnicas devem ser preferidos em desbaste e os menores para acabamento e semi-
acabamento. Há também cálculos e recomendações de valores de avanço segundo a rugosidade
superficial desejada.
Com os valores de ap e f determinados segue-se ao cálculo da velocidade de corte (vc). de acordo com
a teoria da economia da usinagem, pode-se determinar a velocidade mais adequada à máxima
produção, ou ao mínimo custo (Stemmer, 1993, Machado, 2012).
Depois que o conjunto de processos de fabricação foi previamente planejado, deve ser formalmente
documentado. Inicia-se com dois documentos fundamentais: o Plano Macro e o Plano de Operações.
Estes documentos são a base para a organização do chão-de-fábrica assim como para a realização de
cada operação.
O Plano Macro mostra o processo de fabricação da peça como um todo. Relaciona os processos, as
máquinas e ferramentas que devem ser utilizados em cada operação, assim como os tempos
estimados. A Figura 9 mostra o esboço de um Plano Macro.
Para cada peça a ser usinada, um Plano Macro deve ser adotado, a menos que situações muito
particulares determinem de forma diferente.
Já o Plano de Operações é um documento detalhado para cada operação, que informa ao operador
como cada operação deve ser executada. Contém informações tais como, a fixação da, a sequência
de operações elementares, máquinas e ferramentas a utilizar, condições de corte que devem ser
adotadas, etc. A Figura 10 ilustra um exemplo de formulário para o Plano de Operações.
Para os croquis das operações de usinagem usam-se as mesmas regras do Desenho Técnico Mecânico
e para indicar as fixações usam-se representações como aquelas indicadas na Figura 12.
Figura 12 – Exemplos de indicações de fixação em croquis para operações de usinagem.
As indicações de fixação devem ser claras e devem fixar as peças em pontos que não interfiram com
a operação em andamento. Também deve-se minimizar o número de fixações durante o
processamento de uma peça, evitando os erros decorrentes das mudanças. Por último, as fixações
devem, sempre que possível, refletir as superfícies de referência indicadas no projeto da peça
(desenho técnico).
Para facilitar e muitas vezes se faz mesmo necessário, um formulário para um Plano de Preparação
de Máquinas, existe. Este se faz impositivo quando se trata de máquinas complexas, ou mesmo
alguma preparação muito diferente da usual. A Figura 13 mostra um exemplo desse formulário.
Figura 13 - Exemplo de formulário para o Plano de Preparação de Máquinas.
Adicionalmente também, para os casos especiais nos quais há uma complexidade maior do que o
usual para seleção de ferramental, pode-se usar um resumo de todas as ferramentas e dispositivos
necessários para cada operação. Isso é especialmente necessário em casos de sistema fabris maiores
nos quais as tarefas de preparação de máquinas e de dispositivos é distribuída ou terceirizada. A
Figura 14 mostra um exemplo de um formulário para esse fim.
Em seguida aos planos de usinagem segue-se com a documentação para o plano de inspeção. Muitas,
embora a inspeção se dê após cada operação de usinagem, evitando-se assim maiores perdas
permitindo a usinagem de peças que deveriam ser refugadas ao longo da sequência de operações, ao
final deve-se executar uma inspeção final. Nesta inspeção somente devem ser inspecionados aspectos
que dependem da finalização da peça. Nestes casos, um plano de inspeção pode ser elaborado, como
o que sugere o formulário da Figura 15.
Ao final, para produtos que necessitam de montagem, pode-se proceder com um plano de montagem
a fim de instruir corretamente os executores deste procedimento. A Figura 16 mostra um exemplo
para esse tipo de formulário.
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