Gerenciando Pessoas 10 Leituras Essenciais HBR Harvard Business PDF
Gerenciando Pessoas 10 Leituras Essenciais HBR Harvard Business PDF
Gerenciando Pessoas 10 Leituras Essenciais HBR Harvard Business PDF
capa
DuatDesign
G317 Gerenciando pessoas [recurso eletrônico] / Daniel Goleman... [et al.]; [Harvard Business
Review]; tradução de Paulo Geiger. Rio de Janeiro: Sextante, 2018.
recurso digital (Coleção Harvard: 10 leituras essenciais)
1. Administração de pessoal. 2. Livros eletrônicos. I. Goleman, Daniel. II. Geiger, Paulo. II.
Série.
CDD: 658.3
18-49312 CDU: 005.95/.96
Autores
1
Liderança que gera resultados
Daniel Goleman
Em resumo
Na prática
Nossa pesquisa começou a adquirir uma visão mais molecular das conexões
entre liderança e inteligência emocional, e entre clima no ambiente de trabalho e
desempenho. Uma equipe formada por colegas de McClelland, chefiada por
Mary Fontaine e Ruth Jacobs, da Hay/McBer, analisou dados sobre milhares de
executivos, ou os avaliou, observando comportamentos específicos e o impacto
que tinham no clima. Como cada um motivava seus subordinados? Gerenciava
iniciativas de mudança? Lidava com as crises? Foi numa fase posterior da
pesquisa que identificamos quais capacidades da inteligência emocional
acionavam os seis estilos de liderança. Como o líder deve se classificar em termos
de autocontrole e destreza social? Deve demonstrar níveis altos ou baixos de
empatia?
A equipe testou o âmbito de influência imediata de cada executivo em
relação ao clima da organização. “Clima” não é um termo amorfo. Definido
primeiramente pelos psicólogos George Litwin e Richard Stringer e depois
aprimorado por McClelland e seus colegas, o clima se refere a seis fatores-chave
que influenciam o ambiente de trabalho de uma organização: sua flexibilidade –
isto é, quão livres os funcionários se sentem para inovar sem se enrolarem em
burocracia; seu sentimento de responsabilidade para com a organização; o nível
de padrões que as pessoas estabelecem; o sentimento de precisão na avaliação do
desempenho e da aptidão para recompensas; a clareza que os profissionais têm
em relação a missão e valores; e, finalmente, o nível de comprometimento com
relação a um objetivo comum.
Descobrimos que todos os seis estilos de liderança têm um efeito mensurável
sobre cada um dos aspectos do clima. (Para detalhes, veja o quadro O impacto
dos estilos de liderança nos fatores determinantes do clima, na página 18.)
Posteriormente, quando consideramos o impacto do clima nos resultados
financeiros – como o retorno em vendas, o crescimento da receita, a eficiência e a
lucratividade –, descobrimos uma relação direta entre os dois. Líderes que
empregaram estilos que afetaram de modo positivo o clima tiveram
decididamente melhores resultados financeiros do que os que não o fizeram. Isso
não quer dizer que o clima organizacional seja o único fator do desempenho.
Condições econômicas e a dinâmica competitiva têm uma importância enorme.
Mas nossa análise sugere com veemência que o clima é responsável por quase um
terço dos resultados. E trata-se, simplesmente, de um impacto relevante demais
para ser ignorado.
Os estilos em detalhes
Os executivos empregam seis estilos de liderança, mas apenas quatro têm
consistentemente um efeito positivo no clima e nos resultados. Examinemos,
portanto, cada estilo de liderança de forma minuciosa. (Para um resumo do
material que se segue, veja o quadro Os seis estilos de liderança em síntese, na
página 21.)
O estilo coercitivo
A empresa de computadores estava em crise – vendas e lucros caindo, o
estoque se desvalorizando vertiginosamente, e os acionistas em polvorosa. A
diretoria contratou um novo CEO com reputação de recuperar empresas. Ele
arregaçou as mangas e começou reduzindo cargos, vendendo divisões e tomando
as decisões duras que deveriam ter sido tomadas anos antes. A empresa foi salva,
ao menos a curto prazo.
No entanto, desde o início o CEO criou um ambiente de terror, intimidando
e rebaixando executivos, expressando aos berros sua insatisfação ao menor
deslize. Os escalões superiores da empresa foram dizimados não só pelas
demissões erráticas dele, mas também por abandonos. Os que se reportavam
diretamente ao CEO, aterrorizados pela tendência dele de culpar o portador de
más notícias, pararam de informá-lo de qualquer coisa. O moral era o mais baixo
de todos os tempos – o que se refletiu em outra queda nos negócios após a
recuperação de curto prazo. Pouco depois, o CEO foi exonerado pelo conselho
deliberativo.
É fácil entender por que, de todos os estilos de liderança, o coercitivo é um
dos menos eficazes na maioria das situações. Considere como esse estilo afeta o
clima de uma organização. A flexibilidade é o fator mais atingido. A tomada de
decisão extremamente autoritária do líder mata novas ideias pela raiz. As pessoas
sentem-se tão desrespeitadas que pensam: “Nem vou sugerir ideias – sei que vão
ser rejeitadas.” Da mesma forma, o senso de responsabilidade se evapora:
impedidas de agir por iniciativa própria, elas não se sentem copartícipes nem que
estão no controle do próprio desempenho. Algumas ficam tão ressentidas que
adotam a atitude hostil de não querer oferecer contribuições ao CEO.
A liderança coercitiva também tem efeito danoso no sistema de recompensa.
A maioria dos trabalhadores de desempenho alto é motivada por mais do que
dinheiro – eles buscam a satisfação de um trabalho bem-feito. O estilo coercitivo
corrói esse orgulho. E, finalmente, enfraquece uma das principais ferramentas de
um líder: motivar as pessoas ao mostrar a elas que o trabalho de cada uma se
encaixa numa grande missão compartilhada. A perda dessa ferramenta, medida
em termos de uma diminuição na clareza e no comprometimento, deixa as
pessoas alienadas das próprias tarefas, se perguntando: “Para que fazer tudo
isso?”
Considerando o impacto do estilo coercitivo, é de se supor que ele nunca
deveria ser aplicado. No entanto, nossa pesquisa revelou que houve ocasiões em
que ele foi providencial. Tome o caso do presidente de uma divisão contratado
para mudar o rumo de uma empresa de alimentos que estava perdendo dinheiro.
Sua primeira medida foi mandar reformar a sala de reuniões dos executivos. Para
ele, a sala – com uma mesa de mármore comprida que parecia o “convés da
espaçonave Enterprise” – simbolizava a formalidade tradicional que estava
paralisando a empresa. A reforma do espaço e a subsequente transformação da
sala de reuniões em um cômodo menor, mais informal, enviou uma mensagem
impossível de ser ignorada, e a cultura da divisão mudou rapidamente na esteira
desse reposicionamento.
Dito isso, o estilo coercitivo só deveria ser usado com cuidado extremo e nas
poucas situações em que é absolutamente imperativo, como num momento de
recuperação ou quando na expectativa de uma incorporação hostil. Nesses casos,
esse estilo pode romper com hábitos empresariais falhos e chamar a atenção das
pessoas para novas maneiras de se trabalhar. É sempre adequado numa situação
de emergência real, como logo após um desastre. E pode funcionar com
funcionários problemáticos com os quais tudo o mais fracassou. Mas, se um líder
se baseia apenas nesse estilo ou continua a usá-lo após o fim da situação, o
impacto a longo prazo de sua insensibilidade ao moral e aos sentimentos
daqueles que ele lidera será desastroso.
O estilo visionário
Tom era vice-presidente de marketing numa rede de pizzarias em
dificuldade. Desnecessário dizer que o baixo desempenho da empresa
preocupava os gestores do alto escalão, mas eles não sabiam o que fazer.
Reuniam-se toda segunda-feira para analisar as vendas, lutando para encontrar
soluções. Para Tom, essa abordagem não fazia sentido. “Estávamos sempre nos
perguntando por que nossas vendas tinham sido baixas na semana anterior. A
companhia inteira ficava olhando para trás em vez de descobrir o que deveria
fazer no dia seguinte.”
Numa reunião externa sobre estratégia, Tom divisou uma oportunidade para
mudar o modo de pensar das pessoas. A conversa começou com lugares-comuns
antigos: a empresa precisava aumentar os ganhos dos acionistas e o retorno sobre
ativos. Tom acreditava que esses conceitos não tinham o poder de inspirar um
gestor de restaurante a ser inovador ou fazer mais do que um trabalho
meramente satisfatório.
Assim, ele tomou uma atitude ousada. No meio de uma reunião, fez um
apelo apaixonado aos colegas para que pensassem a partir da perspectiva dos
clientes. “Os clientes querem conveniência”, disse ele. A empresa não estava no
mercado de restaurantes, estava no mercado de distribuição de pizzas de alta
qualidade, fáceis e convenientes de se obter. Essa noção – e nenhuma outra –
deveria impulsionar tudo o que a empresa fizesse.
Com seu entusiasmo vibrante e sua visão clara – marcas do estilo visionário
–, Tom preencheu um vácuo na liderança. De fato, seu conceito tornou-se o
cerne de uma nova definição da missão da empresa. Mas essa inovação
conceitual foi só o começo. Tom assegurou-se de que a missão se inserisse no
processo de planejamento estratégico como o fator propulsor de seu
crescimento. E garantiu que essa visão fosse articulada de tal modo que os
gestores dos restaurantes em cada local compreendessem que eram a chave para
o sucesso do negócio e que tinham liberdade para descobrir novos métodos de
distribuição de pizza.
As mudanças surgiram rapidamente. Em questão de semanas, muitos
gestores locais começaram a obter novos recordes de entrega das pizzas. Melhor
ainda, passaram a agir como empreendedores, encontrando soluções criativas de
locação para abrir novas filiais: quiosques em esquinas movimentadas e em
estações de ônibus e trens, até mesmo carrocinhas em saguões de aeroportos e de
hotéis.
O sucesso de Tom não foi um golpe de sorte. Nossa pesquisa indica que dos
seis estilos de liderança, o visionário é o mais eficaz, impulsionando cada aspecto
do clima. Vejamos o caso da clareza, por exemplo. O líder visionário motiva as
pessoas fazendo com que fique claro para elas como seu trabalho se encaixa
numa visão maior da organização. Profissionais que trabalham para líderes assim
compreendem a importância e a razão do que fazem. A liderança visionária
também maximiza o comprometimento com os objetivos e a estratégia da
organização. Ao enquadrar as tarefas individuais dentro de uma visão maior, o
líder visionário define padrões que circulam essa visão. Quando ele dá o feedback
de um desempenho – seja positivo ou negativo –, o único critério é se esse
desempenho leva ou não aquela visão avante. Os parâmetros para o sucesso estão
claros para todos, assim como as recompensas. Finalmente, considere o impacto
do estilo na flexibilidade. Um líder visionário define a finalidade, mas dá às
pessoas uma grande margem de manobra para conceber os próprios métodos.
Esse tipo de gestor confere liberdade para inovar, experimentar e assumir riscos
calculados.
Autoconhecimento
Autoconhecimento emocional: a aptidão de ler e compreender suas
emoções assim como de reconhecer seu impacto no desempenho
profissional, nos relacionamentos, etc.
Precisão na autoavaliação: uma avaliação realista de suas forças e de suas
limitações.
Autoconfiança: uma noção forte e positiva de seu próprio valor.
Autogestão
Autocontrole: a capacidade de manter sob controle emoções e impulsos
desintegradores.
Confiabilidade: uma demonstração consistente de honestidade e
integridade.
Conscienciosidade: capacidade de lidar consigo mesmo e com suas
responsabilidades.
Adaptabilidade: aptidão para se adaptar a situações de mudança e para
superar obstáculos.
Disposição para conquistas: o ímpeto para atingir um padrão interior de
excelência.
Iniciativa: prontidão para aproveitar oportunidades.
Consciência social
Empatia: aptidão para se colocar no lugar do outro, compreender seu ponto
de vista e assumir um interesse ativo por suas preocupações.
Consciência organizacional: capacidade de ler as tendências da vida
organizacional, construir redes de tomada de decisão e lidar com questões
de natureza política.
Disposição para atender ao cliente: capacidade de reconhecer e ir ao
encontro das necessidades dos clientes.
Destreza social
Liderança visionária: aptidão para assumir o comando e inspirar os outros
por meio de uma visão convincente.
Influência: aptidão para manejar uma gama ampla de táticas de persuasão.
Desenvolvimento focado nos outros: propensão para incrementar a
capacitação de outros profissionais mediante feedback e orientação.
Comunicação: aptidão para ouvir e enviar mensagens claras, convincentes e
afinadas.
Catalisação de mudanças: capacidade de dar início a ideias e liderar
pessoas numa nova direção.
Gestão de conflitos: habilidade para atenuar divergências e orquestrar
resoluções.
Construção de vínculos: proficiência no cultivo e na manutenção de uma
rede de relacionamentos.
Trabalho em equipe e colaboração: competência para promover
cooperação e formar equipes.
O estilo afetivo
Se o líder coercitivo ordena “Faça o que eu digo” e o visionário convoca
“Venha comigo”, o líder afetivo diz “As pessoas em primeiro lugar”. Esse estilo
de liderança tem como eixo as pessoas – seus representantes valorizam
indivíduos e suas emoções mais do que tarefas e objetivos. O líder afetivo
esforça-se para manter os colaboradores felizes e criar harmonia entre eles. Ele
gerencia estabelecendo ligações emocionais fortes e depois colhendo os
benefícios dessa abordagem, ou seja, lealdade absoluta. O estilo tem também um
efeito marcadamente positivo na comunicação. Pessoas que gostam muito umas
das outras conversam bastante entre si. Elas dividem ideias, compartilham
inspiração. E o estilo impulsiona a flexibilidade; amigos confiam um no outro, o
que geralmente estimula inovação e tomada de riscos. A flexibilidade também
aumenta porque o líder afetivo, como um pai ou uma mãe que adapta as regras
da casa para um adolescente que amadurece, não impõe restrições desnecessárias
ao modo como os funcionários realizam o trabalho. Ele dá às pessoas a liberdade
de fazer suas tarefas do modo como acreditam ser o mais eficaz.
No que se refere ao reconhecimento e às recompensas por um trabalho bem-
feito, o líder afetivo oferece amplo feedback positivo. Esse feedback tem uma
força especial no ambiente de trabalho por ser muito raro: fora a revisão anual, a
maioria das pessoas não recebe um retorno sobre seus esforços diários – ou só
tem um retorno negativo. Isso faz com que as palavras positivas do líder afetivo
sejam das mais motivadoras. Finalmente, os líderes afetivos são mestres na
construção de um sentimento de integração. É provável, por exemplo, que
convidem seus auxiliares diretos para um almoço ou um happy hour, para se
inteirar de como estão as coisas. Podem trazer um bolo para comemorar uma
conquista do grupo. São construtores naturais de relacionamentos.
Joe Torre, o coração e a alma da equipe de beisebol dos Yankees, de Nova
York, é um típico líder afetivo. Durante a Série Mundial de 1999, Torre cuidou
habilmente do estado psíquico dos jogadores quando suportavam a pressão
emocional da disputa. Durante toda a temporada, ele tratou especialmente de
enaltecer Scott Brosius, cujo pai tinha morrido no mesmo período, por manter o
comprometimento mesmo estando de luto. Na festa de comemoração depois do
jogo final, Torre mencionou o defensor direito Paul O’Neill. Embora tivesse
recebido a notícia da morte do pai naquela manhã, O’Neill decidiu participar do
jogo decisivo – e caiu em lágrimas no momento em que terminou. Torre
ressaltou o esforço pessoal de O’Neill, chamando-o de “guerreiro”. Ele se valeu
também do holofote que a comemoração da vitória representava para elogiar
dois jogadores cujo retorno ao time no ano seguinte estava ameaçado por
pendências na renovação dos contratos. Ao fazer isso, claramente enviou à
equipe e ao dono do time a mensagem de que valorizava demais aqueles
jogadores.
Ao mesmo tempo que leva em conta as emoções de seu pessoal, um líder
afetivo pode também ser abertamente suscetível às próprias emoções. No ano em
que o irmão de Torre esteve à beira da morte, esperando um transplante de
coração, o treinador compartilhou suas preocupações com os jogadores.
Também conversou francamente com a equipe sobre seu tratamento de um
câncer de próstata.
O impacto em geral positivo do estilo afetivo faz com que seja uma boa
abordagem para todas as ocasiões, mas os líderes devem empregá-lo sobretudo
quando tentam criar harmonia na equipe, incrementar a autoestima, melhorar a
comunicação ou reparar uma quebra de confiança. Por exemplo, uma executiva
em nosso estudo foi contratada para substituir um líder de equipe problemático.
Ele tinha assumido o crédito pelo trabalho dos subordinados e tentara jogá-los
uns contra os outros. Seus esforços afinal fracassaram, mas a equipe que ele tinha
deixado para trás estava desconfiada e desgastada. A nova executiva tratou de
corrigir a situação demonstrando prodigamente sua honestidade emocional e
reconstruindo vínculos. Vários meses depois, sua liderança tinha criado um
sentimento renovado de comprometimento e motivação.
Apesar de seus benefícios, o estilo afetivo não deve ser utilizado
isoladamente. Seu foco exclusivo no elogio pode fazer com que um mau
desempenho não seja corrigido; funcionários talvez concluam que há uma
tolerância com a mediocridade. E como os líderes afetivos raramente oferecem
aconselhamento construtivo sobre como melhorar, os colaboradores precisar
descobrir sozinhos como fazer isso. Quando pessoas necessitam de uma
orientação clara para enfrentar desafios complexos, o estilo afetivo as deixa sem
um leme que as direcione. De fato, se aplicado com excessiva confiança, esse
estilo tem o poder de levar um grupo ao fracasso. Talvez seja por isso que muitos
líderes afetivos, inclusive Torre, usam esse estilo em estreita conjunção com o
estilo visionário. Os líderes visionários apresentam uma visão, estabelecem
padrões e zelam para que as pessoas saibam como seu trabalho está favorecendo
os objetivos do grupo. Alterne essa atitude com a abordagem de cuidado e
atenção do líder afetivo e você terá uma combinação poderosa.
O estilo modelador
Assim como o estilo coercitivo, o modelador tem seu lugar no repertório do
líder, mas deve ser usado com moderação. Não é o que esperávamos. Afinal, as
marcas registradas do estilo modelador parecem ser admiráveis. O líder
estabelece padrões de desempenho extremamente elevados e ele mesmo serve de
exemplo. É obsessivo quanto a fazer tudo cada vez melhor e mais rápido, e pede
que o acompanhem nesse sentido. Ele rapidamente identifica os que têm baixo
desempenho e exige mais deles. Se não são capazes de ficar à altura do padrão
estipulado, os substitui. Você pode achar que essa abordagem melhoraria os
resultados, mas não é o que acontece.
Na verdade, o estilo modelador destrói o clima. Muitos funcionários sentem-
se massacrados pelas exigências de excelência por parte do modelador, e seu
moral cai. As diretrizes para o trabalho podem estar claras na cabeça do líder,
mas ele não as enuncia com clareza. Espera que os outros saibam o que devem
saber e chega até a pensar: “Se eu preciso explicar a vocês, é sinal de que não são
as pessoas certas para este emprego.” O trabalho passa a ser não uma questão de
fazer o melhor possível seguindo um roteiro claro, mas de adivinhar o que o líder
quer. Ao mesmo tempo, os colaboradores sentem com frequência que o
modelador não confia que eles trabalhem bem do seu próprio jeito ou que
tomem a iniciativa. A flexibilidade e a responsabilidade se dissipam; o trabalho
fica tão focado em tarefas e tão rotineiro que acaba sendo maçante.
Quanto a recompensas, o modelador ou não dá feedback sobre como as
pessoas estão se saindo ou intervém para assumir o controle quando acha que
estão se atrasando. E se o líder se ausenta, as pessoas se sentem perdidas, pois
estão acostumadas a ter sempre o “perito” estabelecendo as regras. Finalmente, o
comprometimento diminui sob o regime de um líder modelador porque as
pessoas não têm noção de como seus esforços pessoais se encaixam no objetivo
mais amplo.
Como exemplo do estilo modelador, consideremos o caso de Sam, um
bioquímico de pesquisa e desenvolvimento em uma grande companhia
farmacêutica. A grande aptidão técnica de Sam fez dele um astro num piscar de
olhos: era a ele que todos recorriam quando precisavam de ajuda. Logo foi
promovido a chefe de uma equipe que desenvolvia um novo produto. Os outros
cientistas na equipe eram tão competentes e automotivados quanto Sam; sua
função como líder acabou transformando-o em um modelo de como fazer um
trabalho científico de primeira linha sob grande pressão de prazo, intervindo
quando necessário. Sua equipe completou a tarefa em tempo recorde.
Mas então veio outra nomeação: Sam foi encarregado de chefiar a área de
pesquisa e desenvolvimento de toda a sua divisão. Quando suas tarefas se
expandiram e ele precisou articular uma visão mais geral, coordenar projetos,
delegar responsabilidade e ajudar a desenvolver outras pessoas, Sam se perdeu.
Ao não confiar que os subordinados fossem tão capacitados quanto ele, tornou-
se um chefe altamente controlador, obcecado com detalhes e assumindo a tarefa
de outros quando o nível do desempenho deles caía. Em vez de acreditar que
melhorariam com orientação e aperfeiçoamento, Sam acabava trabalhando
durante noites e fins de semana depois de intervir para assumir o lugar do líder
de uma equipe de pesquisa que estava deixando a desejar. Finalmente, seu
próprio gestor sugeriu, para seu alívio, que voltasse à antiga função à frente de
uma equipe de desenvolvimento de produto.
Apesar das falhas de Sam, o estilo modelador nem sempre acaba em desastre.
Essa abordagem funciona bem quando todos os funcionários estão estimulados,
são altamente competentes e não precisam de muita direção ou coordenação –
por exemplo, no caso de líderes de profissionais altamente qualificados e
automotivados, como grupos da área de pesquisa e desenvolvimento ou equipes
em escritórios de advocacia. E, tendo uma equipe qualificada sob sua liderança, o
modelador faz exatamente isto: conclui o trabalho a tempo, ou até mesmo antes
do prazo. Mas como todo e qualquer estilo de liderança, o modelador nunca deve
ser usado isoladamente.
Na prática
Desconstruindo a síndrome
Dissemos antes que a síndrome do fracasso inevitável em geral começa
devagar e discretamente – ou seja, é uma dinâmica que vai tomando conta do
chefe e do subordinado até que de repente ambos se dão conta de que o
relacionamento entre eles azedou. Mas subjacentes à síndrome existem várias
pressuposições a respeito de pessoas que têm baixo desempenho que os chefes
parecem aceitar sistematicamente. Nossa pesquisa demonstra, de fato, que é
comum os executivos compararem os funcionários que têm baixo desempenho
com os que se saem melhor usando as seguintes descrições:
Sobre a pesquisa
Discute objetivos de projetos, com foco limitado à É incisivo na discussão de tarefas e objetivos.
implementação do projeto. Dá ao subordinado a Concentra-se no que precisa ser feito e também
liberdade de optar por sua abordagem na solução em como deveria ser feito.
de problemas ou na forma de alcançar os
objetivos.
Trata variantes desfavoráveis, erros ou julgamentos Dá muita atenção a variantes desfavoráveis, erros
incorretos como oportunidades para aprender. ou julgamentos incorretos.
Faz-se disponível: “Diga-me como posso ajudar.” Fica disponível para o subordinado com base
Entabula conversas casuais e pessoais. numa atitude de “preciso ver o que você está
fazendo”. Conversa principalmente sobre
assuntos relativos ao trabalho.
Costuma aceitar a opinião do subordinado quando Em geral impõe as próprias opiniões quando há
há divergências. divergências.
Elogia o subordinado por um trabalho bem-feito. Enfatiza o que o subordinado está executando
mal.
TOM EDELMAN, como um milhão de gestores novatos antes dele, tinha feito um
trabalho maravilhoso colaborando com a equipe a nível individual. Era
inteligente, confiante e cheio de ideias inovadoras. Os clientes gostavam dele,
assim como seu chefe e seus colegas. Portanto, ninguém no departamento se
surpreendeu quando o chefe ofereceu uma posição de gestão a Tom. Ele aceitou
meio hesitante, pois gostava de trabalhar diretamente com clientes e relutava em
abrir mão disso, mas, no geral, ficou felicíssimo.
Seis meses depois, quando fui chamado para fazer um trabalho de coaching
com Tom (este é um nome fictício), tive dificuldade até para imaginar a pessoa
confiante e atuante que ele havia sido no passado. Parecia um filhote assustado e
perdido. Tom aparentava estar sobrecarregado e realmente empregou este termo
várias vezes para descrever o que sentia. Ele começara a duvidar de suas aptidões.
Seus subordinados diretos, que já tinham sido colegas próximos, não pareciam
mais respeitá-lo, nem sequer gostar dele. Além disso, começou a pipocar em seu
departamento uma série de pequenas crises, e Tom passava a maior parte do
tempo apagando esses incêndios. Estava ciente de que não era a maneira mais
eficaz de empregar seu tempo, mas não sabia como parar. Esses problemas ainda
não haviam se traduzido em resultados ruins para o negócio, mas mesmo assim
ele estava em apuros.
Seu chefe percebeu que era grande o risco de ele fracassar e me chamou para
lhe dar assistência. Com apoio e coaching, Tom obteve a ajuda de que estava
precisando e posteriormente tornou-se um gestor eficaz. Na verdade, foi
promovido duas vezes depois de nosso trabalho e agora dirige uma pequena
divisão na mesma empresa. Mas seu quase fracasso – e o caminho que o levou até
esse ponto – é surpreendentemente típico. A maioria das organizações promove
funcionários a cargos de gestão com base em sua competência técnica. Muitas
vezes, no entanto, os promovidos não conseguem perceber como seus papéis
mudaram – que seu trabalho não diz mais respeito a uma conquista pessoal, mas,
em vez disso, a viabilizar a conquista de outros, e que, às vezes, dirigir o ônibus
significa sentar-se no banco de trás e que formar uma equipe é quase sempre
mais importante do que fechar um negócio.
Até mesmo os melhores funcionários podem ter dificuldade para se adaptar à
nova realidade da gestão. Essa dificuldade pode ser exacerbada por uma
insegurança normal, que faz com que gestores inexperientes hesitem em pedir
ajuda, mesmo percebendo que estão em território desconhecido. Quando esses
novos gestores internalizam o estresse, seu foco torna-se interno também. Ficam
inseguros e preocupados consigo mesmos e não conseguem dar apoio adequado
às equipes. Inevitavelmente, a confiança é perdida, os subordinados se isolam e a
produtividade sofre com isso.
Muitas empresas favorecem involuntariamente essa derrocada em espiral ao
supor que os gestores inexperientes vão, de algum modo, assimilar aptidões
cruciais de gestão por osmose. Alguns novatos conseguem fazer isso, claro, mas,
segundo minha experiência, esses são as exceções. A maioria precisa de mais
ajuda. Na ausência de um treinamento abrangente e de coaching intensivo – o
que a maior parte das empresas não oferece – o chefe do gestor inexperiente
desempenha um papel essencial. É claro que a maioria dos gerentes de nível
estratégico não tem como passar horas e horas toda semana supervisionando o
trabalho de um novo gestor; mas, se você souber quais são os desafios típicos que
um gestor inexperiente enfrenta, será capaz de antecipar alguns problemas,
cortando o mal pela raiz.
Em resumo
Delegar
Delegar com eficácia pode ser uma das tarefas mais difíceis para gestores
inexperientes. Os superiores passam aos novatos grandes responsabilidades e
prazos apertados, e os pressionam para obter resultados. A reação natural dos
novos gestores diante desses desafios é dar um jeito para fazer o que precisa ser
feito, uma vez que foi essa atitude que garantiu sua promoção. Mas a relutância
em delegar atribuições também tem raízes em alguns temores bem reais. O
primeiro é o medo de perder status: se eu atribuir projetos de alto nível aos
membros de minha equipe, eles ficarão com o crédito. Que tipo de visibilidade
vai sobrar para mim? Será que estará claro para meu chefe e para a equipe o valor
de minha contribuição? O segundo é o medo de abdicar do controle: se eu
permitir que Frank faça isso, como posso ter certeza de que vai fazer
corretamente? Diante desse temor, o gestor inexperiente pode até delegar tarefas,
mas vai supervisionar Frank tão de perto que este nunca vai se sentir responsável
pelo próprio trabalho. Por fim, o novato pode hesitar em delegar porque tem
medo de sobrecarregar a equipe. Pode se sentir desconfortável ao atribuir tarefas
a ex-colegas por temer que fiquem ressentidos. Mas o ressentimento real
costuma surgir quando membros da equipe sentem que a falta de oportunidade
está bloqueando o progresso deles.
Na prática
Como ajudar:
Como ajudar:
Como ajudar:
Como ajudar:
Como ajudar:
Transmitindo confiança
Parecer confiante quando você não está – este é um desafio que todos nós
enfrentamos, e como gestores de nível estratégico em geral temos consciência
dessa necessidade quando ela se manifesta. Gestores inexperientes
frequentemente estão tão focados em si mesmos que não percebem essa
necessidade nem a imagem que estão projetando. Estão tão voltados para o
conteúdo que se esquecem de que a forma também conta. As primeiras semanas
e meses no trabalho constituem um período crítico para que novos líderes se
comuniquem com a equipe. Se não transmitirem confiança, dificilmente
conseguirão inspirar e levantar o ânimo da equipe.
Trabalho dia após dia com novos gestores que não têm consciência de que
seu comportamento prejudica a organização. Numa empresa de tecnologia que
estava crescendo com bastante velocidade, a gestora de atendimento ao cliente,
Linda, enfrentava altos níveis de estresse. Interrupções no serviço eram bem
comuns e estavam fora do controle dela. Clientes reclamavam, e eles também
sofriam grande pressão. A equipe de Linda, que crescia rapidamente, era no geral
pouco experiente. Clientes e funcionários agitados a estressavam sempre. Ela
parecia estar sempre cansada, apressada e com medo, já antecipando o pior.
Talvez o desafio fosse grande demais para uma gestora de primeira viagem, mas
é isso que acontece em empresas que crescem tão rápido. Em certo nível, Linda
estava fazendo um trabalho excelente, mantendo a operação em andamento. A
base de clientes aumentava e o índice de retenção era alto – em grande parte
como resultado da energia e por sua habilidade de lidar com problemas de modo
eficaz. Mas em outro nível, ela estava causando muitos prejuízos.
O comportamento frenético de Linda teve duas repercussões críticas.
Primeiro, ela involuntariamente definiu o padrão para uma conduta considerada
aceitável em seu departamento e sua equipe inexperiente começou a apresentar
os mesmos comportamentos. Não demorou muito e outros departamentos
ficaram relutantes em se comunicar com Linda ou com sua equipe, por medo de
incomodá-los ou de provocar uma reação emocional. Mas, para que a empresa
encontre soluções reais para problemas no atendimento, os departamentos
precisam trocar informação abertamente, e isso não estava acontecendo.
Segundo, não parecia, aos olhos dos gestores corporativos do alto escalão, que
Linda continuaria a ascender na empresa. Eles estavam satisfeitos com suas
aptidões na resolução de problemas, mas não viam nela uma gestora de nível
estratégico confiante e ponderada tomando forma. A imagem que Linda
projetava iria, afinal, empacar tanto sua carreira quanto seu departamento.
Nem todos os gestores inexperientes têm os problemas que Linda teve.
Alguns parecem excessivamente arrogantes. Outros não conseguem esconder a
própria insegurança. Se o gestor que responde a você parece assoberbado,
arrogante ou relutante, um feedback honesto é a melhor ferramenta. Você pode
ajudá-lo dizendo que o mais seguro é sempre pôr para fora o que está sentindo –
em sua sala, a portas fechadas. Reitere quanto o comportamento dele impacta o
grupo no momento em que ele assume posições de liderança. Os membros da
equipe os observam com atenção, e se virem profissionalismo e otimismo
provavelmente demonstrarão essas características também. Fale sobre o
comportamento consciente – a constante consciência da imagem que a pessoa
está transmitindo para o mundo. Se você observar que um gestor passa uma
imagem que não é positiva, diga isso a ele assim que notar.
Você também deve permanecer alerta quanto a novos gestores que solapam a
própria autoridade. Linda cometeu outro erro clássico de um gestor inexperiente
quando tentou fazer os membros da equipe implementarem uma iniciativa
sugerida pelo chefe. Ao apresentar a iniciativa, ela disse à equipe que era
importante implementá-la porque tinha vindo do vice-presidente sênior da
divisão. Embora sua intenção fosse boa – mobilizar a equipe para a ação –, suas
palavras fizeram o grupo focar a atenção acima dela, não nela. Não há forma
mais rápida de um novo gestor perder credibilidade junto à equipe do que
parecer apenas um porta-voz da gestão corporativa de alto escalão. Salientar que
os superiores vão verificar como está indo a iniciativa sem dúvida não será
prejudicial, mas o novo gestor deve tomar cuidado para nunca ser visto
simplesmente como um mensageiro.
Uma reunião de coaching no momento exato muitas vezes é o método mais
eficaz de demonstrar a novos gestores como transmitir confiança. Por exemplo,
na primeira vez em que você pedir a um novo gestor que implemente uma
iniciativa, dedique um pouco de tempo extra para conduzi-lo no processo. Incuta
nele a regra básica da gestão: a equipe não precisa necessariamente gostar do
chefe, mas precisa confiar nele. Assegure-se de que o novo gestor domine a
mensagem que transmite.
Demissões de funcionários são um exemplo clássico de mensagem que um
gestor inexperiente vai ter dificuldade em transmitir. Não deixe que um novo
gestor faça isso sem estar totalmente preparado. Compartilhe o máximo de
informação que puder. Assegure-se de que ele esteja pronto para todas as
prováveis perguntas e reações, pedindo que ensaie a situação com você. Você vai
ficar surpreso ao ver como ele transmite mal a mensagem nas primeiras
tentativas. Um pouco de prática preserva a imagem do gestor e da empresa.
_________
“O MELHOR CHEFE QUE JÁ TIVE.” É uma frase que a maioria de nós disse ou ouviu em
algum momento, mas o que ela significa? O que distingue um grande chefe de
um mediano? A literatura está cheia de textos instigantes sobre as qualidades de
gestores e líderes e se existe diferença entre os dois, porém pouco se tem falado
sobre o que acontece nas milhares de interações e decisões diárias que facultam
ao gestor obter o melhor da equipe e ganhar seu apoio. Mas o que realmente
fazem os grandes gestores?
Em minha pesquisa, que começou com uma análise feita com 80 mil gestores
pela Gallup e que continuou durante os últimos dois anos com estudos
detalhados de alguns poucos gestores de alto desempenho, descobri que, se por
um lado existem tantos estilos de gestão quanto existem gestores, por outro há
uma qualidade que realmente distingue os grandes gestores dos demais: eles
descobrem o que é único em cada pessoa e tiram vantagem disso. Gestores
medianos jogam damas, enquanto grandes gestores jogam xadrez. A diferença?
No jogo de damas, todas as peças são equivalentes e se movem da mesma
maneira; são intercambiáveis. Você precisa planejar e coordenar seus
movimentos, certamente, mas todas se movem pelos mesmos caminhos
paralelos. No xadrez, cada tipo de peça se move de modo diferente, e você não
conseguirá jogar se não souber como é o movimento de cada peça. Mais
importante, você não ganhará o jogo se não pensar cuidadosamente como mover
as peças. Grandes gestores conhecem e valorizam as aptidões que são singulares
em seus funcionários, e até mesmo suas excentricidades, e aprende como melhor
integrá-los num plano de ataque coordenado.
Isso é exatamente o oposto do que fazem os grandes líderes. Grandes líderes
descobrem o que é universal e capitalizam em cima disso. Seu trabalho é
conduzir pessoas em direção a um futuro melhor. Líderes só podem ter sucesso
quando são capazes de ignorar diferenças de etnia, sexo, idade, nacionalidade e
personalidade e, se valendo de narrativas e celebrando heróis, tirar proveito
dessas poucas necessidades das quais todos nós compartilhamos. Enquanto isso,
o trabalho de um gestor é transformar um talento específico de uma pessoa em
desempenho. Gestores só terão sucesso quando forem capazes de identificar
essas diferenças entre profissionais e de fazer uso delas, desafiando cada
funcionário a se sobressair, a seu próprio modo. Isso não quer dizer que um líder
não possa ser um gestor e vice-versa, mas, para se sair bem como um ou ambos, é
preciso estar consciente das diferentes aptidões que cada papel exige.
O jogo de xadrez
Com o que um jogo de xadrez em andamento se parece? Quando visitei
Michelle Miller, a gestora que abriu a loja número 4 mil da rede de farmácias
Walgreens, vi que a parede de seu escritório estava totalmente coberta com
horários de trabalho. A loja de Michelle, em Redondo Beach, na Califórnia,
emprega pessoas com aptidões nitidamente diversas e diferenças de
personalidade potencialmente desagregadoras. Parte crucial de seu trabalho,
portanto, é colocar essas pessoas em papéis e em turnos que lhes permitam
brilhar – e evitar juntar personalidades antagônicas. Ao mesmo tempo, ela
precisa encontrar caminhos que levem os indivíduos a crescer.
Por exemplo, tem o Jeffrey, um “roqueiro gótico” cujo cabelo é raspado em
um lado da cabeça e no outro é longo o bastante para cobrir seu rosto. Michelle
quase não o contratou porque ele não conseguia olhar nos olhos dela durante a
entrevista, mas ele queria o turno da noite, que quase ninguém quer, e assim ela
decidiu dar uma oportunidade ao rapaz. Após alguns meses, ela notou que
quando atribuía a Jeffrey uma instrução vaga, como “ajeite a mercadoria em
todos os corredores”, o que deveria ser uma tarefa para ser feita em duas horas,
ele levava a noite toda – e não fazia muito bem. Mas se ela desse a ele uma tarefa
mais específica, como “Prepare as gôndolas para o Natal”, todas as gôndolas
estariam dispostas simetricamente, com as mercadorias certas em cada uma
delas, todas etiquetadas com o preço correto e “de frente” (voltadas para o
cliente). Dê a Jeffrey uma tarefa genérica e ele vai ter dificuldades. Dê a ele uma
que o obrigue a ser preciso e analítico e ele vai se sair muito bem. Este, concluiu
Michelle, era o forte de Jeffrey. Assim, como teria feito todo bom gestor, ela
compartilhou com ele o que tinha concluído sobre seu desempenho e o elogiou
pelo bom trabalho.
Em resumo
Na prática
Um “observador” – aprimora suas aptidões Fazendo com que esteja sempre junto a
observando outras pessoas em ação funcionários que têm os mais altos
desempenhos
E um bom gestor poderia parar por aí. Mas Michelle sabia que era possível
obter mais de Jeffrey. Assim, ela bolou um esquema para redistribuir
responsabilidades na loja inteira de modo a valorizar as qualidades que lhe eram
únicas. Em cada loja Walgreens há uma responsabilidade chamada “reformular e
atualizar estocagem”. Reformular envolve estocar um corredor com novas
mercadorias, tarefa que em geral coincide com uma previsível mudança nos
padrões de compra do consumidor (no fim do verão, por exemplo, as lojas
substituem cremes de bronzear e protetores labiais por remédios contra alergia).
Atualizar é uma versão do reformular que consome menos tempo, no entanto é
mais frequente, como substituir as caixas de pasta de dente por uma variedade
nova e melhorada; ou expôr uma nova linha de detergente na extremidade da
fileira. Todo corredor requer alguma forma de atualização pelo menos uma vez
por semana.
Na maioria das lojas Walgreens, cada funcionário é “dono” de um corredor,
no qual é responsável não só por atender aos clientes como também ajeitar
adequadamente a mercadoria nos expositores, manter o corredor limpo e
arrumado, etiquetar itens e fazer toda a reformulação e atualização de estocagem.
Esse arranjo é simples e eficiente, e permite que cada funcionário tenha um senso
de responsabilidade pessoal. Porém Michelle decidiu que, como Jeffrey era tão
bom em reformular e atualizar – e não gostava de interagir com clientes –, este
seria seu trabalho, em tempo integral, em todos os corredores.
Era um desafio. O trabalho de atualizar a estocagem durante uma semana
preenche um fichário com 10 centímetros de espessura. Mas Michelle sabia que
não só Jeffrey ficaria empolgado com o desafio e que se sairia cada vez melhor
com a prática, como também outros funcionários, liberados de uma tarefa que
consideravam uma chatice, teriam mais tempo para receber e atender aos
clientes. O desempenho da loja provou que ela estava certa. Após a
reorganização, Michelle constatou um aumento não só nas vendas e no lucro,
mas também no parâmetro do desempenho mais crucial: a satisfação do cliente.
Nos quatro meses seguintes sua loja teve uma pontuação perfeita no programa
de cliente oculto da Walgreens.
Até aí, tudo bem. Infelizmente, não durou muito. Esse arranjo “perfeito”
dependia de Jeffrey continuar satisfeito, e ele não continuou. Com seu sucesso na
tarefa de reformular e atualizar, sua confiança aumentou e, depois de seis meses
nessa função, ele quis passar para uma gestão. No entanto, Michelle não ficou
desapontada; ficou intrigada. Ela tinha observado atentamente o progresso de
Jeffrey e havia decidido que ele poderia sair-se bem como gestor, apesar de saber
que não seria um gestor particularmente afetivo. Além disso, como todo bom
jogador de xadrez, ela tinha antecipado alguns movimentos.
Na ala de cosméticos trabalhava uma funcionária chamada Genoa. Michelle
via em Genoa uma espécie de ameaça dupla. Não só gostava de deixar os clientes
à vontade – lembrava o nome deles, fazia boas perguntas, era receptiva mas
profissional quando atendia ao telefone – como também era uma adepta da
organização. O departamento de cosméticos estava sempre com os produtos
perfeitamente alinhados e voltados para os clientes. Sua ala despertava o desejo
de estender a mão e tocar na mercadoria.
Para capitalizar sobre esses talentos gêmeos e para satisfazer o desejo de
Jeffrey de ser promovido, Michelle mexeu mais uma vez nos cargos dentro da
loja. Ela dividiu a função de Jeffrey, de reformular e atualizar, em duas e deu a
parte do “atualizar” para Genoa, de modo que a loja inteira pudesse agora se
beneficiar de habilidade dela de arrumar a mercadoria de maneira atraente. Mas
Michelle não queria que a loja perdesse o talento de Genoa no atendimento aos
clientes, por isso pediu a ela que se concentrasse na função de atualizar somente
entre 8h30 e 11h; depois disso, quando a loja começava a ficar mais
movimentada, Genoa deveria voltar sua atenção para os consumidores.
A operação de reformular continuou com Jeffrey. Subgerentes em geral não
têm uma responsabilidade contínua na loja, porém, pensou Michelle, Jeffrey
agora era tão bom e tão rápido em desmontar e remontar um corredor inteiro
que poderia facilmente fazer e terminar uma reformulação de estocagem
importante em cinco horas, e assim seria capaz de lidar com essa tarefa
juntamente com suas responsabilidades gerenciais.
Michelle continuou a conceber outras configurações eficazes e inventivas. A
habilidade de reajustar funções para capitalizar as qualidades singulares de cada
pessoa é a essência da boa gestão.
O modo como um gestor capitaliza as diferenças pode variar tremendamente
de lugar para lugar. Entre no escritório de outra loja Walgreens, esta em San Jose,
na Califórnia, gerenciada por Jim Kawashima, e não verá um único cronograma
com turnos de trabalho nas paredes. Em vez disso, as paredes estão cobertas com
números e estatísticas de vendas, os melhores circulados com uma caneta
vermelha, e dezenas de fotografias de vencedores de competições de vendas, a
maioria exibindo uma representante do serviço aos clientes chamada Manjit.
Manjit apresenta um desempenho melhor e mais consistente do que os
colegas. Quando ouvi falar dela pela primeira vez, tinha acabado de vencer, no
programa de sugestão de vendas da Walgreens, uma competição de quem vendia
mais unidades de desodorantes Gillette em um mês. A média nacional era 300;
Manjit tinha vendido 1.600. Câmeras descartáveis, pasta de dentes, baterias – não
importava o produto, ela era capaz de vender. E Manjit vencia uma competição
atrás da outra, apesar de trabalhar no pior turno, de 00h30 às 8h30, durante o
qual encontrava um número significativamente menor de clientes do que os
colegas.
Manjit nem sempre tivera um desempenho tão excepcional. Só passou a ser
incrivelmente bem-sucedida quando Jim, que criara o hábito de ressuscitar lojas
em dificuldades, entrou em cena. O que ele fez para dar início a essa mudança
em Manjit? Ele de cara identificou as idiossincrasias dela e imaginou como
traduzi-las num desempenho excepcional. Por exemplo, quando ainda estava na
Índia, Manjit era atleta – corredora e halterofilista – e sempre se animava ante o
desafio de medir seu desempenho. Quando a entrevistei, uma das primeiras
coisas que saíram de sua boca foi: “No sábado, vendi 343 barrinhas de cereais. No
domingo, 367. Ontem, 110, e hoje, 105.” Perguntei a ela se tinha sempre noção
de que estava se saindo bem. “Ah, claro”, respondeu. “Todo dia eu checo os
gráficos do chefe. Mesmo no meu dia de folga faço questão de vir para conferir
meus números.”
A pesquisa
Para reunir o material bruto para meu livro A única coisa que você precisa saber
sobre gestão, liderança e uma trajetória de sucesso, a partir do qual este artigo
foi adaptado, usei uma abordagem bem diferente da que eu havia empregado em
obras anteriores. Durante 17 anos tive a sorte de trabalhar para a Gallup, uma das
mais respeitadas empresas de pesquisa do mundo. No decorrer desse tempo, fui
contemplado com a oportunidade de entrevistar líderes, gestores, professores,
vendedores, corretores de títulos, advogados e servidores públicos de alto
desempenho. Essas entrevistas eram parte de estudos de grande escala que
envolviam pesquisar grupos de pessoas na esperança de encontrar amplos
padrões nos dados recolhidos. Para o meu livro, usei esse fundamento como
ponto de partida para uma pesquisa mais profunda, mais individualizada.
Em cada uma das três áreas visadas no livro – gestão, liderança e sucesso
individual sustentável –, primeiro identifiquei uma ou duas pessoas, em várias
funções e várias áreas, que tinham se desempenhado melhor do que seus
colegas. Entre estes estava Myrtle Potter, presidente de operações comerciais da
Genentech, que transformou um medicamento malsucedido no mais receitado e
vendido no mundo; Terry Leahy, presidente da gigante do varejo europeu Tesco;
Manjit, representante do serviço ao consumidor da loja Walgreens de alto
desempenho, sob os comandos de Jim Kawashima, em San Jose, na Califórnia,
que vendeu mais de 1.600 unidades de desodorante Gillette em um mês; e David
Koepp, o prolífico roteirista que escreveu grandes sucessos como Parque dos
Dinossauros, Missão: Impossível e Homem-Aranha.
O que me interessava nessas pessoas de alto desempenho eram os detalhes
práticos, aparentemente banais, de suas ações e de suas escolhas. Por que Myrtle
Potter repetidamente rejeitou promoções antes de assumir o desafio de conduzir
a reviravolta daquele medicamento malsucedido? Por que Terry Leahy, ao definir
a estratégia de sua empresa, confia mais nas lembranças provenientes de sua
origem humilde do que nos resultados de pesquisas do consumidor ou em grupos
de pesquisa específicos? Manjit trabalha no turno da noite e um de seus hobbies é
o levantamento de pesos. Serão esses fatores relevantes para o desempenho
dela? O que essas pessoas especiais estavam fazendo que as tornou tão boas em
suas funções?
Quando esses muitos detalhes começaram a ser devidamente observados e
registrados, lentamente foram se juntando para revelar aquela “coisa única” que
existe no cerne de uma grande gestão, uma grande liderança e de um sucesso
individual que se sustenta.
A elusiva singularidade
As três alavancas
Apesar de os românticos ficarem hipnotizados com as diferenças, em certo
momento os gestores precisam refrear sua curiosidade, juntar o que sabem sobre
uma pessoa e pôr em uso as idiossincrasias do funcionário. Para esse fim, há três
coisas que você precisa saber sobre alguém para poder gerenciá-lo bem: os
pontos fortes dessa pessoa, os gatilhos que ativam esses pontos e como ela
aprende.
_________
Vimos nas histórias de grandes gestoras como Michelle Miller e Judi Langley que
bem no âmago de seu sucesso está uma valorização da individualidade. Isso não
quer dizer que gestores não precisam de outras qualidades. Devem ser capazes de
contratar bem, de estabelecer expectativas e de interagir produtivamente com os
próprios chefes, para citar só algumas. Mas o que eles fazem – instintivamente –
é jogar xadrez. Gestores medíocres supõem – ou esperam – que seus
funcionários sejam todos motivados pelas mesmas coisas e movidos pelos
mesmos objetivos, que desejem os mesmos tipos de relacionamentos e aprendam
mais ou menos da mesma maneira. Eles definem os comportamentos que
esperam das pessoas e dizem a elas que trabalhem com comportamentos que não
lhes ocorrem naturalmente. Elogiam aqueles que são capazes de se sobrepor a
seus estilos naturais para se adaptar a ideias preestabelecidos. Em resumo,
acreditam que o trabalho do gestor é moldar, ou transformar, cada funcionário
para que desempenhe a versão perfeita do cargo atribuído a ele.
Grandes gestores não tentam mudar o estilo de uma pessoa. Não tentam
mover um cavalo da mesma maneira que um bispo. Sabem que seus funcionários
são diferentes no modo de pensar, em como constroem relacionamentos, na
maneira que ajudam os outros, em quão pacientes são capazes de ser, no grau de
especialização que precisam ter, em quanto precisam sentir que estão
preparados, no que os motiva, no que os desafia e em quais são seus objetivos.
Essas diferenças de característica e de talento são como tipos sanguíneos:
ignoram as variações superficiais de etnia, sexo e idade e captam a singularidade
essencial de cada indivíduo.
Quase todas essas diferenças são duradouras e resistentes a mudanças. O
recurso mais precioso do gestor é o tempo, e grandes gestores sabem que a
maneira mais eficaz de investir seu tempo é identificar exatamente em que
aspecto cada funcionário é diferente e depois imaginar como incorporar melhor
essas duradouras idiossincrasias no plano geral.
Para se destacar na gestão de outras pessoas, você precisa ter esse insight
presente em suas ações e interações. Lembre-se sempre de que a boa gestão tem a
ver com liberação, não com transformação. Tem a ver com estar constantemente
ajustando seu ambiente de modo que as contribuições únicas, as necessidades
únicas e o estilo único de cada funcionário sigam com rédeas soltas. Seu sucesso
como gestor dependerá quase totalmente de sua competência para fazer isso.
Em resumo
Na prática
Os três princípios
Em todos os diversos contextos de gestão que estudamos, pedimos às pessoas
que identificassem os elementos fundamentais de um processo justo. E quer
estivéssemos trabalhando com executivos de nível estratégico ou com atendentes
nas lojas, surgiam consistentemente os mesmos três princípios que se fortalecem
reciprocamente: engajamento, explicação e clareza nas expectativas.
Engajamento significa o envolvimento dos indivíduos nas decisões que os
afetam, pedindo-se sua contribuição e permitindo que refutem o mérito de
outras ideias e suposições. O engajamento expressa o respeito da gestão pelos
indivíduos e suas ideias. Incentivar a refutação aguça o pensamento de todos e
constrói uma sabedoria coletiva. O engajamento resulta em melhores decisões da
gestão e maior comprometimento de todos os envolvidos na execução dessas
decisões.
Explicação significa que cada pessoa envolvida e afetada deveria
compreender por que as decisões finais são aquelas que foram tomadas. Explicar
que coisas fundamentam as decisões faz com que as pessoas fiquem confiantes
pelo fato de os gestores terem considerado suas opiniões e tomado aquelas
decisões imparcialmente em meio aos interesses gerais da empresa. Permite que
os colaboradores confiem nas intenções do gestor, mesmo que suas próprias
ideias tenham sido recusadas. Isso serve também como um poderoso ciclo de
feedback que melhora o aprendizado.
Clareza nas expectativas requer que uma vez tomada uma decisão, os gestores
apresentem claramente as novas regras do jogo. Embora as expectativas possam
ser ambiciosas, os funcionários deveriam saber com antecedência por quais
padrões serão avaliados e quais são as penalidades se fracassarem. Quais são as
novas metas e marcos importantes esperados? Quem é responsável? Para se
alcançar um processo justo, importa menos quais são as novas regras e políticas,
e mais que elas sejam compreendidas claramente. Quando as pessoas entendem
o que se espera delas, manobras políticas e favoritismo são minimizados, e elas
podem se concentrar no trabalho imediato.
Tenha em mente que um processo justo não significa decisão por consenso.
Não se conduz um processo justo para se chegar a uma harmonia ou ganhar o
apoio das pessoas mediante concessões que acomodem as opiniões, as
necessidades ou os interesses de cada indivíduo. Embora a noção de um processo
justo inclua dar uma oportunidade a toda ideia, é o mérito das ideias – e não o
consenso – que orienta a tomada de decisão.
Tampouco é o processo justo o mesmo que democracia no ambiente de
trabalho. Promover um processo justo não significa que os gestores se
desapoderem da prerrogativa que têm de tomar decisões e estabelecer políticas e
procedimentos. O processo justo busca as melhores ideias, quer sejam
apresentadas por um ou por muitos.
É fácil ver um processo justo funcionar no chão de fábrica, onde sua violação é
capaz de produzir manifestações amplamente visíveis, como greves,
desaceleramento de operações e altos índices de defeitos. Mas o processo justo
pode ter um impacto ainda maior na qualidade em termos de trabalho
especializado e de gestão. Isso porque a inovação é o desafio da economia
baseada no conhecimento, e a inovação requer troca de ideias, que por sua vez
depende de confiança.
Executivos e especialistas raramente iniciam protestos, mas quando não
confiam no processo eles muitas vezes não colaboram mutuamente de forma
plena – e não transmitem suas ideias. No trabalho com base em conhecimento,
então, a omissão de um processo justo cria altos custos de oportunidade na
forma de ideias que nunca veem a luz do dia e de iniciativas que nunca são
aproveitadas. Por exemplo:
QUALQUER EMPRESA QUE ASPIRE AO SUCESSO primeiro precisa resolver um dilema básico:
o êxito no mercado depende cada vez mais de aprendizado, mas a maioria das
pessoas não sabe como aprender. Além do mais, os colaboradores que uma
organização julga serem os que melhor aprendem, na verdade não são muito
bons nisso. Estou me referindo aos profissionais com boa instrução, grande
autoridade e alto comprometimento que ocupam posições-chave de liderança na
corporação moderna.
A maior parte das empresas não só tem grande dificuldade para abordar o
dilema do aprendizado: elas nem mesmo sabem que ele existe. Isso acontece
porque elas compreendem mal o que é aprendizado e como promovê-lo. Como
resultado, cada uma costuma cometer dois erros em seus esforços para se tornar
uma organização na qual se aprende.
Primeiro, a maioria das pessoas define aprendizado de modo simplista, como
se fosse meramente “resolução de problemas”, e assim focam na identificação e
na correção de erros no ambiente externo. Resolver problemas é importante,
mas, para persistir no aprendizado, gestores e subordinados precisam também
olhar para dentro. Devem refletir criticamente sobre o próprio comportamento,
identificar as maneiras com que, muitas vezes, contribuem inadvertidamente
para os problemas da organização e então mudar o modo de agir. Em particular,
eles devem aprender como o próprio método que usam na definição e resolução
de problemas pode ser por si mesmo uma fonte de problemas.
Cunhei os termos aprendizado de circuito simples (single loop learning) e
aprendizado de circuito duplo (double loop learning) para essa distinção crucial.
Uma analogia simples: um termostato que automaticamente liga o aquecimento
sempre que a temperatura num ambiente cai para menos de 20°C é um bom
exemplo de aprendizado de circuito simples. Um termostato que perguntasse
“Por que estou regulado para 20°C?”, e então explorasse ou não algumas outras
temperaturas que pudessem ser mais econômicas no objetivo de aquecimento do
ambiente, estaria entrando num aprendizado de circuito duplo.
Profissionais altamente qualificados com frequência são muito bons no
aprendizado de circuito simples. Afinal, passaram boa parte da vida adquirindo
credenciais acadêmicas, dominando uma ou várias disciplinas e aplicando essas
disciplinas para resolver problemas do mundo real. Porém, ironicamente, esse
simples fato ajuda a explicar por que profissionais especializados costumam ser
tão ruins no aprendizado de circuito duplo.
Em termos simples, como muitos profissionais são quase sempre bem-
sucedidos no que fazem, raramente experimentam o fracasso. E porque
raramente falharam, nunca aprenderam a aprender com o fracasso. Assim,
sempre que suas estratégias de aprendizado de circuito simples dão errado, eles
ficam na defensiva, filtram as críticas e põem a “culpa” em todo mundo, menos
em si mesmos. Resumindo, sua aptidão para aprender desaparece quando mais
precisam dela.
A propensão entre profissionais especializados de se comportar de maneira
defensiva ajuda a esclarecer o segundo erro que as empresas cometem na questão
do aprendizado. É comum supor que fazer as pessoas aprenderem é em grande
parte uma questão de motivação. Quando colaboradores têm as atitudes certas e
comprometimento, o aprendizado se segue automaticamente. Assim, as
empresas se concentram na criação de novas estruturas organizacionais –
programas de recompensa, reavaliações de desempenho, cultura corporativa e
afins – destinadas a desenvolver funcionários motivados e comprometidos.
Em resumo
Na prática
1. Aplique o mesmo tipo de raciocínio rigoroso que você usa para fazer
análises estratégicas. Reúna os dados mais objetivos que puder
encontrar. Explicite suas inferências e teste-as constantemente.
Submeta suas conclusões ao mais rigoroso dos testes: assegure-se de
que elas não se autojustifiquem e de que não seja impossível que outros
as verifiquem.
2. Gestores de nível estratégico precisam primeiro servir de exemplo às
mudanças desejadas. Quando a liderança demonstra sua disposição
para analisar criticamente as próprias teorias que estão em uso,
mudando-as conforme indicado, todos acharão mais fácil fazer o
mesmo.
Mas no momento em que a busca por uma melhora contínua se voltava para
o desempenho dos próprios profissionais, alguma coisa dava errado. Não era
questão de uma atitude ruim. O comprometimento dos profissionais com a
excelência era autêntico e a visão da empresa era clara. Não obstante, a melhora
contínua não persistia. E quanto mais se prolongavam os esforços por essa
melhora contínua, maior era a probabilidade de que produziriam retornos
sempre piores.
O que tinha acontecido? Os profissionais começaram a se sentir
constrangidos. Estavam ameaçados pela perspectiva de analisar criticamente o
próprio papel na organização. De fato, por serem tão bem remunerados (e
geralmente acreditavam que seus empregadores os apoiavam e eram justos), a
ideia de que seu desempenho poderia não ser dos melhores os fazia se sentirem
culpados.
Longe de constituírem um catalisador de uma mudança real, esses
sentimentos fizeram com que a maioria deles reagisse defensivamente. Eles
jogaram a culpa por quaisquer problemas para longe de si, atribuindo-a ao que
diziam ser objetivos pouco claros, líderes insensíveis e injustos e clientes idiotas.
Tome este exemplo. Numa importante empresa de consultoria de gestão, o
gestor de um grupo de estudos de caso convocou uma reunião para analisar o
desempenho da equipe num projeto de consultoria recente. O cliente estava
muito satisfeito e tinha atribuído à equipe notas relativamente altas, mas o gestor
acreditava que a equipe não havia criado o valor agregado de que era capaz e que
a empresa de consultoria prometera. Dentro do espírito de melhora contínua, ele
achou que a equipe poderia fazer melhor. E, de fato, assim também pensavam
alguns dos membros da equipe.
O gestor sabia como é difícil para as pessoas refletir criticamente sobre o
próprio desempenho no trabalho, sobretudo na presença do gestor, portanto ele
adotou algumas medidas para possibilitar uma discussão franca e aberta.
Convidou para a reunião um consultor externo que os membros da equipe
conheciam e no qual confiavam. Concordou também que toda a reunião fosse
gravada. Desse modo, qualquer confusão ou divergência que se seguisse quanto
ao que se passou na reunião poderia ser checado na transcrição. Finalmente, o
gestor deu início à reunião enfatizando que nenhum assunto estava fora de
discussão – inclusive o próprio comportamento.
“Entendo que talvez vocês acreditem que não podem me confrontar”, disse o
gestor. “Mas eu os encorajo a me desafiar. Vocês têm a responsabilidade de me
dizer onde acham que a minha liderança está errando, assim como eu tenho a
responsabilidade de identificar os erros que acredito que vocês cometeram. E
todos nós devemos ter ciência de nossos próprios erros. Se não tivermos um
diálogo aberto, não vamos aprender.”
Os consultores aceitaram a sugestão do gestor referente à primeira metade do
convite, mas ignoraram a segunda. Quando foi pedido que apontassem
exatamente os principais problemas na experiência que tinham com o cliente,
eles tiraram o corpo fora. Os clientes foram pouco cooperativos e arrogantes.
“Eles não achavam que pudéssemos ajudá-los.” Os próprios gestores da equipe
estavam indisponíveis e malpreparados. “Às vezes, nossos gestores não estavam
preparados para as reuniões com o cliente.” Basicamente, os consultores
afirmaram que estavam impotentes para agir de modo diferente – não por conta
de quaisquer limitações deles mesmos, mas pelas limitações de outros.
O gestor ouviu atentamente os membros da equipe e tentou responder a suas
críticas. Falou sobre os erros que tinha cometido durante o processo da
consultoria. Por exemplo, um consultor havia apresentado objeções à maneira
como o gestor tinha conduzido as reuniões do projeto. “Percebo que o modo
como eu fazia perguntas encerrava as discussões”, respondeu o gestor. “Não era
minha intenção, mas agora consigo ver que você poderia concluir que eu já tinha
tomado uma decisão.” Outro membro da equipe reclamou que o gestor cedera à
pressão do superior para produzir um relatório do projeto depressa demais,
considerando a pesada carga de trabalho da equipe. “Creio que era minha
responsabilidade ter dito não,” admitiu o gestor. “Estava claro que todos nós
estávamos com uma imensa quantidade de trabalho.”
Por fim, após cerca de três horas de discussão sobre o próprio
comportamento, o gestor começou a perguntar aos membros da equipe se havia
alguns erros que eles tivessem cometido. “Afinal,” disse ele, “este cliente não era
diferente de muitos outros. Como poderemos ser mais eficazes no futuro?”
Os consultores repetiram que realmente a culpa tinha sido dos clientes e de
seus chefes. Um deles disse: “Eles precisam ficar abertos a mudanças e querer
aprender.” Quanto mais o gestor tentava fazer com que a equipe analisasse a
própria responsabilidade pelo resultado, mais os consultores ignoravam suas
preocupações. A melhor sugestão que um deles conseguiu fazer foi que a equipe
de estudos de caso “prometesse menos” – sugerindo que realmente não havia
como o grupo melhorar seu desempenho.
Os membros da equipe reagiam de maneira defensiva para proteger a si
mesmos, apesar de seu gestor não agir de modo que alguém de fora pudesse
considerar ameaçador. Mesmo que houvesse alguma verdade em suas alegações
– os clientes podem ter sido arrogantes e fechados, e os próprios gestores,
distantes –, a maneira com que apresentaram essas reclamações era certamente
um ponto final para o aprendizado. Com poucas exceções, os consultores
fizeram atribuições quanto ao comportamento dos clientes e dos gestores, mas
nunca deram prova dessas reclamações. Por exemplo, disseram que os clientes
não estavam motivados para aprender, mas nunca apresentaram qualquer
evidência que desse suporte a essa afirmação. Quando se apontou para eles essa
falta de evidência concreta, eles simplesmente repetiram a crítica, com ainda
mais veemência.
Se os consultores haviam tido uma impressão tão forte a respeito dessas
questões, por que nunca a mencionaram durante o projeto? De acordo com eles,
até mesmo isso tinha sido por culpa de outros. “Não queríamos criar uma
situação chata com o cliente”, alegou um. “Não queríamos ser vistos como
resmungões”, disse outro.
Os consultores estavam usando suas críticas a outros para proteger a si
mesmos do potencial embaraço de precisarem admitir que talvez eles também
tenham contribuído para o desempenho menos que perfeito da equipe. Além
disso, o fato de insistirem em repetir suas acusações ante os esforços do gestor
para chamar a atenção do grupo para o próprio papel demonstra que sua postura
defensiva tornara-se um reflexo rotineiro. Da perspectiva dos consultores, eles
não estavam resistindo; estavam se concentrando nas causas “reais”. Na verdade,
eles deveriam ser respeitados, se não elogiados, por trabalhar tão bem como o
fizeram em condições tão difíceis.
O resultado final foi um falatório improdutivo. Tanto o gestor quanto os
consultores haviam sido sinceros; expressaram suas opiniões energicamente. Mas
tiveram um diálogo de surdos, nunca encontrando uma linguagem comum para
descrever o que acontecera com o cliente. Os consultores continuaram insistindo
que a culpa era dos outros. O gestor tentou, sem sucesso, fazer com que eles
vissem como haviam contribuído para o que estavam criticando. A conversa tem
o seguinte aspecto:
Consultores: “Os clientes têm que estar abertos. Eles precisam querer mudar.”
Gestor: “É tarefa sua ajudá-los a ver que a mudança é do interesse deles.”
Consultores: “Mas os clientes não concordaram com nossa análise.”
Gestor: “Se eles não achavam que nossas ideias estavam certas, como
poderíamos tê-los convencido?”
Consultores: “Talvez devêssemos ter mais reuniões com o cliente.”
Gestor: “Se não estivermos preparados adequadamente e se os clientes não
nos considerarem merecedores de crédito, como é que mais reuniões vão
ajudar?”
Consultores: “Deveria haver uma comunicação melhor entre a equipe de
estudos de caso e a gestão.”
Gestor: “Concordo. Mas profissionais deveriam ter a iniciativa de informar o
gestor dos problemas que estavam vivenciando.”
Consultores: “Nossos líderes estão indisponíveis e distantes.”
Gestor: “Como vocês esperam que saibamos o que vocês não nos contam?”
Conversas como esta ilustram o dilema do aprendizado. O problema com as
reclamações dos consultores não é que elas estejam erradas, mas que não são
úteis. Ao afastar constantemente o foco do seu comportamento e do de outros,
os consultores estão levando o aprendizado a um ponto de interminável
estagnação. O gestor vê a armadilha, mas não sabe como sair dela. Para aprender
a fazer isso, ele precisa se aprofundar na dinâmica do raciocínio defensivo – e nas
causas especiais que fazem com que as pessoas sejam tão propensas a isso.
1. Ao criticar a empresa, faça-o de uma maneira que você acredite ser válida –
mas também de modo a impedir que outros decidam por si mesmos se sua
alegação de validade está correta.
2. Quando pedirem a você que exemplifique sua crítica, não inclua qualquer
dado que permita a outros decidir por si mesmos se suas exemplificações
são válidas.
3. Declare suas conclusões de modo a disfarçar suas implicações lógicas. Se
outros lhe mostrarem essas implicações, negue-as.
É claro que, quando essas regras foram descritas para os profissionais, eles as
acharam abomináveis. Era inconcebível que elas pudessem explicar suas ações.
Mesmo assim, ao se defenderem dessa observação, quase sempre eles
confirmavam as regras sem sequer reparar.
Aprendendo a raciocinar produtivamente
Se o raciocínio defensivo está tão disseminado quanto acredito que esteja,
concentrar-se nas atitudes ou nos comprometimentos individuais nunca será o
bastante para produzir uma mudança real. E, como ilustra o exemplo anterior,
tampouco o será a criação de novas estruturas ou novos sistemas
organizacionais. O problema é que, mesmo quando as pessoas estão
comprometidas de verdade na melhora de seu desempenho e a gestão fez
mudanças estruturais para poder estimular o tipo “correto” de comportamento,
as pessoas ainda ficam presas a um raciocínio defensivo. Ou continuam a não ter
consciência disso ou, se passam a tê-la, culpam os outros.
Há, no entanto, motivos para se acreditar que as organizações podem romper
esse círculo vicioso. Apesar da força do raciocínio defensivo, as pessoas se
esforçam para produzir o que pretendem. Elas valorizam uma atuação
competente. Sua autoestima está intimamente ligada a um comportamento
consistente e um desempenho eficaz. As empresas podem usar essas tendências
humanas universais para ensinar aos colaboradores como raciocinar de uma
nova maneira – efetivamente mudar a programação mental delas e com isso
reformatar seu comportamento.
As pessoas podem ser ensinadas a reconhecer o raciocínio que usam quando
estão concebendo e implementando suas ações. Podem começar a identificar as
inconsistências entre suas teorias adotadas e as efetivas teorias de ação. Podem
enfrentar o fato de que inconscientemente concebem e implementam ações que
não eram de sua intenção. Por fim, podem aprender como identificar o que os
indivíduos e grupos fazem para criar defesas organizacionais, e como essas
defesas contribuem para os problemas de uma organização.
Depois que a empresa tiver embarcado nesse processo de aprendizado, vai
descobrir que o tipo de raciocínio necessário para reduzir e superar as defesas
organizacionais é o mesmo tipo de “raciocínio rigoroso” que subjaz a todo uso
eficaz de ideias em estratégias, finanças, marketing, produção e outras disciplinas
da gestão. Qualquer análise estratégica sofisticada, por exemplo, depende de uma
coleta válida de dados, de sua análise cuidadosa e de testes constantes das
inferências extraídas desses dados. Os testes mais rigorosos são reservados para
as conclusões: bons estrategistas asseguram-se de que suas conclusões sejam
capazes de resistir a todos os tipos de questionamento crítico.
O mesmo vale para um raciocínio produtivo sobre o comportamento
humano. O padrão de análise é igualmente alto. Programas de recursos humanos
não precisam mais se basear em raciocínios “brandos”, mas deveriam ser tão
analíticos e fundamentados em dados quanto qualquer outra disciplina de
gestão.
Claro que não era esse o tipo de raciocínio que os consultores usavam
quando se deparavam com problemas constrangedores ou ameaçadores. Os
dados que coletavam dificilmente eram objetivos. As inferências que fizeram
poucas vezes se tornaram explícitas. As conclusões às quais chegaram eram na
maioria autojustificadas, impossíveis de serem testadas por outros e, como
resultado disso, impermeáveis a mudanças.
Como é possível que uma organização reverta essa situação e ensine seus
membros a raciocinar de maneira produtiva? O primeiro passo é os gestores de
nível executivo analisarem criticamente e mudarem as próprias teorias em uso.
Enquanto os gestores no alto escalão não tomarem consciência de como eles
raciocinam de maneira defensiva e das consequências contraproducentes que
isso implica, haverá pouco progresso real. Provavelmente toda ação de mudança
será passageira.
A mudança precisa começar no topo porque, de outro modo, gestores no alto
escalão rejeitarão toda transformação de modelos de raciocínio vinda de baixo.
Se gestores de nível médio e subordinados mudarem o modo como raciocinam e
agem, essas mudanças provavelmente serão vistas como estranhas – se não
realmente perigosas – pelos que estão no topo. O resultado é uma situação
instável, na qual gestores do alto escalão ainda acreditam que deixar passar e
encobrir questões difíceis é sinal de cuidado e sensibilidade, enquanto os
subordinados veem essas mesmas ações como defensivas.
A chave para qualquer experiência educacional designada a ensinar gestores
do alto escalão a raciocinar produtivamente é conectar o programa a problemas
reais do negócio. A melhor demonstração da utilidade do raciocínio produtivo
para esses líderes muito atarefados é ver como ele pode fazer uma diferença
direta no próprio desempenho e no da organização. Isso não acontecerá da noite
para o dia. Gestores precisam ter muitas oportunidades para praticar as novas
aptidões. No entanto, uma vez que percebem o poderoso impacto do raciocínio
produtivo em seu efetivo desempenho, eles têm um grande incentivo para
raciocinar produtivamente, não apenas numa sessão de treinamento, mas em
todas as relações de trabalho.
Uma abordagem simples que uso para dar início a esse processo é fazer com
que os participantes produzam uma espécie de estudo de caso simples. O caso é
um problema real de negócio com o qual o gestor quer lidar ou que tentou, sem
sucesso, abordar no passado. Descrever o caso no papel leva em geral menos de
uma hora, mas depois o caso torna-se o ponto focal de uma extensa análise.
Por exemplo, um CEO numa grande empresa de consultoria sobre
desenvolvimento organizacional estava preocupado com os problemas causados
pela competição intensa entre as várias funções do negócio representadas por
seus quatro subordinados diretos. Não só ele estava cansado dos problemas que
eram jogados em seu colo como também se preocupava com o impacto que os
conflitos interfuncionais estavam tendo na flexibilidade da organização. Ele até
havia calculado que o dinheiro gasto para aplacar as discordâncias chegava todo
ano a centenas de milhares de dólares. E quanto mais brigas havia, mais
defensivas ficavam as pessoas, o que só aumentava os custos para a organização.
Em mais ou menos um parágrafo, o CEO descreveu uma reunião que
pretendia ter com os subordinados diretos para abordar o problema. Em seguida,
dividiu o papel ao meio, e no lado direito da página escreveu um cenário para a
reunião – como se fosse o roteiro de um filme ou uma peça –, colocando o que
ele diria e como provavelmente seus subordinados responderiam. No lado
esquerdo da página registrou quaisquer pensamentos e sentimentos que pudesse
ter durante a reunião, mas que não expressaria por medo de desvirtuar a
discussão.
Porém, em vez de realizar a reunião, o CEO analisou este cenário com os
subordinados diretos. O caso tornou-se o catalisador de uma discussão na qual o
CEO aprendeu várias coisas sobre o modo como ele agia com sua equipe de
gestores.
Descobriu que os quatro subordinados diretos frequentemente achavam que
suas conversas eram contraproducentes. Sob o disfarce de estar sendo
“diplomático”, ele fingia que existia um consenso em relação ao problema. O
resultado não pretendido era que, em vez de se sentirem tranquilizados, seus
subordinados ficavam desconfiados e tentavam imaginar “o que ele está
realmente querendo”.
O CEO também se deu conta de que o modo como lidava com a
competitividade entre seus chefes de departamento era completamente
contraditória. Por um lado, ele os instava a “pensar na organização como um
todo”. Por outro, pedia ações – corte no orçamento de um departamento, por
exemplo – que os deixava em uma posição de competição direta uns com os
outros.
Finalmente, o CEO descobriu que muitas das tácitas avaliações e atribuições
que ele havia listado revelaram-se equivocadas. Como nunca tinha expressado
essas suposições, nunca descobrira quanto estavam erradas. Além disso, soube
que muito do que ele pensava omitir chegava a seus subordinados de qualquer
maneira – porém com a mensagem adicional de que o chefe o estava encobrindo.
Os colegas do CEO também tomaram conhecimento dos próprios
comportamentos ineficazes ao analisar o próprio comportamento quando
tentavam ajudar o CEO a analisar o caso dele; e depois ao escreverem e ao
analisarem os próprios casos. Começaram a ver que eles também costumavam
deixar passar e encobrir a situação real e que o CEO frequentemente tinha
ciência disso mas não dizia nada. Além disso, faziam atribuições e avaliações
inexatas que não externavam. E a crença de que tinham ocultado ideias e
sentimentos importantes do CEO, e uns dos outros, para não melindrar ninguém
acabou se mostrando enganosa. No contexto das discussões de caso, toda a
equipe executiva estava mais do que querendo discutir o que sempre tinha sido
indiscutível.
Na realidade, o exercício de estudar um caso torna legítimo falar de questões
que as pessoas nunca tinham sido capazes de abordar. Uma discussão assim pode
ser emocional – até mesmo dolorosa. Mas para os gestores com coragem para
persistir a recompensa é grande: equipes de gestão e organizações inteiras
trabalham de maneira mais aberta e eficaz, e têm mais opções para se comportar
com flexibilidade e se adaptar a situações específicas.
Quando gestores do alto escalão são treinados em novas competências de
raciocínio eles podem ter um grande impacto no desempenho da organização
toda – mesmo que outros funcionários ainda estejam raciocinando
defensivamente. O CEO que conduziu as reuniões sobre como proceder à
avaliação de desempenho conseguiu desfazer a insatisfação porque não
respondeu às críticas dos colaboradores por si mesmas, mas, em vez disso, fez
uma clara apresentação de dados relevantes. De fato, muitos participantes
interpretaram o comportamento do CEO como um sinal de que a empresa
realmente atuava com base nos valores que ela defendia, de participação e
envolvimento dos funcionários.
É claro que o ideal é que todos os membros de uma organização aprendam a
raciocinar produtivamente. Isso aconteceu na empresa em que houve a reunião
da equipe de estudos de caso. Os consultores e seus gestores são agora capazes de
enfrentar algumas das questões mais difíceis no relacionamento entre consultor e
cliente. Para ter uma noção da diferença que o raciocínio produtivo é capaz de
fazer, imagine como poderia ter sido a conversa original entre o gestor e a equipe
de estudos de caso se todos se engajassem num raciocínio eficaz. (O diálogo
seguinte baseia-se em sessões reais, às quais assisti, de outras equipes na mesma
empresa depois de concluído o treinamento.)
Primeiro, os consultores demonstrariam seu comprometimento com a
melhora contínua ao estarem dispostos a analisar o próprio papel nas
dificuldades que surgiram durante o projeto de consultoria. Não há dúvida de
que identificariam seus gestores e clientes como parte do problema, mas em
seguida admitiriam que eles também tinham contribuído para ele. Mais
importante, concordariam com os gestores que, quando explorassem os vários
papéis de clientes, gestores e profissionais, cuidariam de testar quaisquer
avaliações ou atribuições que pudessem contrariar os dados. Cada indivíduo
incentivaria os outros a questionar seu raciocínio. Na verdade, insistiriam nisso.
E cada um, por sua vez, entenderia o ato de questionar não como sinal de
desconfiança ou uma invasão de privacidade, mas como um valiosa
oportunidade de aprendizado.
A conversa sobre a falta de vontade do gestor de dizer “não” poderia se
parecer com isto:
Consultor 1: “Um dos maiores problemas que tive com a maneira como você
conduziu este caso foi que você parecia ser incapaz de negar quando ou o
cliente ou seu superior fazia exigências não razoáveis.” [Dá um exemplo.]
Consultor 2: “Tenho mais um exemplo a acrescentar. [Descreve um segundo
exemplo.] Mas também gostaria de dizer que nunca contamos a você como
realmente nos sentíamos em relação a isso. Por trás, falávamos mal de você –
algo do tipo, ‘ele está sendo fraco’ –, mas nunca dissemos publicamente.”
Gestor: “Com certeza teria sido útil se vocês tivessem dito alguma coisa. Eu
disse ou fiz algo que deu a ideia de que seria melhor não manifestar isso
comigo?”
Consultor 3: “Na verdade, não. Acho que não queríamos parecer reclamões.”
Gestor: “Bem, certamente não acho que estejam sendo reclamões. Mas me
ocorrem dois pensamentos. Se estou entendendo direito, vocês estavam
reclamando, mas essa reclamação em relação a mim e a minha incapacidade de
dizer não ficou às escondidas. Segundo, se tivéssemos discutido isso, eu poderia
ter obtido os dados dos quais precisava para poder dizer não.”
Consultor 1: “Todos sabemos que a questão real não é nossa idade; é se somos
ou não capazes de agregar valor à organização do cliente. Eles deveriam nos
julgar por aquilo que produzimos. E se não estivermos agregando valor,
deveriam se livrar de nós – não importa a nossa idade.”
Em resumo
Na prática
Inclinações inconscientes
Estarão as inclinações inconscientes a seguir impondo uma “taxa de
estereótipo” em sua empresa?
Colete dados
O primeiro passo para reduzir suas inclinações inconscientes é coletar dados
que revelem sua presença. Frequentemente, os dados serão contraintuitivos.
Considere a surpresa de muita gente quando descobre no IAT as próprias
inclinações em relação a gênero e etnia. Por que a surpresa? Porque a maioria de
nós confia nas “estatísticas” que nossa intuição nos fornece. Dados melhores
podem ser facilmente coletados, mas raras vezes são. Uma forma de obter esses
dados é analisar as nossas decisões de maneira sistemática.
Lembra-se do estudo com grupos de mestrandos cujos participantes
superestimaram suas contribuições individuais no esforço do grupo de modo
que a média dos totais foi de 139%? Quando os pesquisadores pediram a
membros do grupo que estimassem quanto fora a contribuição dos outros
membros antes de declarar a sua, o total caiu para 121%. A tendência a
reivindicar crédito demais ainda persistia, mas essa estratégia de “desagrupar” o
trabalho reduziu a magnitude da inclinação. Em ambientes caracterizados pela
alegação “Eu mereço mais do que você está me dando”, pedir aos membros da
equipe que individualizem as contribuições dos outros antes de reivindicar sua
parte do quinhão em geral deixa as reivindicações mais próximas daquilo que
efetivamente é merecido. Como demonstra esse exemplo, a verificação
sistemática dos processos de decisão, tanto individuais como de grupo, pode
ocorrer até mesmo enquanto as decisões estão sendo tomadas.
Esse processo de eliminação é uma estratégia simples que gestores deveriam
usar rotineiramente para avaliar a justiça das próprias reivindicações dentro da
organização. Mas eles também podem aplicá-lo em qualquer situação em que
membros da equipe ou subordinados estejam reivindicando mais do que
merecem. Por exemplo, ao explicar um aumento que um funcionário considera
inadequado, um gestor poderia lhe perguntar não o que ele isoladamente merece,
mas o que acredita ser um aumento adequado após levar em conta a
contribuição de cada colega de trabalho e o total disponível para aumentos de
salário. Da mesma forma, quando um indivíduo acha que está fazendo mais do
que seria, com justiça, sua parte no trabalho da equipe, pedir a ele que considere
os esforços de outras pessoas antes de avaliar os seus pode ajudar a alinhar sua
percepção com a realidade, restaurar seu comprometimento e reduzir uma visão
distorcida de um direito adquirido.
Fazer o teste do IAT é outra estratégia valiosa para coleta de dados.
Recomendamos que você e outros em sua organização usem o teste para expor
suas próprias inclinações implícitas. Mas uma palavra de advertência: como o
teste é uma ferramenta educacional e de pesquisa, não de seleção ou avaliação, é
crucial que você considere seus resultados e os de outras pessoas como
informação privada. O simples conhecimento da magnitude e da dominância de
suas inclinações ajuda a dirigir sua atenção a áreas no processo de tomada de
decisão que precisam ser cuidadosamente analisadas e reconsideradas. Por
exemplo, um gestor cujo teste revele uma inclinação de preferência em relação a
certos grupos deveria analisar as próprias práticas de contratação para ver se não
tem sido desproporcionalmente favorável a esses grupos. Mas como tanta gente
possui essas inclinações, eles também podem ser reconhecidos no âmbito geral, e
esse reconhecimento deve ser usado como base para mudar o modo com que
decisões são tomadas. É importante evitar que se use a dominância para justificar
complacência e inação: não é porque a miopia é tão comum que vamos dispensar
lentes corretivas.
O gestor vigilante
Se você respondeu “verdadeira” à pergunta que abre este artigo, você estava
sentindo, com alguma certeza, que é ético em sua tomada de decisões. Como
responderia agora? Está claro que nem uma simples convicção nem uma
intenção sincera são suficientes para assegurar que você é tão ético quanto
imagina ser. Gestores que aspiram a ser éticos precisam desafiar a suposição de
que estão sempre livres de inclinações e reconhecer que a vigilância, ainda mais
que uma boa intenção, é uma característica que define um gestor ético. Ele deve
colher dados, configurar seu ambiente e ampliar o âmbito de sua tomada de
decisões. Além disso, uma correção óbvia sempre está disponível.
Os gestores deveriam buscar toda oportunidade de implementar políticas de
ação afirmativas – não por causa de erros passados cometidos com um ou outro
grupo, mas por causa dos erros diários que agora podemos documentar como
inerentes ao comportamento normal e cotidiano de pessoas boas e bem-
intencionadas. Ironicamente, somente aqueles que compreendem o próprio
potencial para um comportamento não ético podem se tornar os tomadores de
decisões éticos que aspiram ser.
Originalmente publicado em dezembro de 2003.
8
A disciplina das equipes
Jon R. Katzenbach e Douglas K. Smith
Em resumo
A palavra equipe é usada tão aleatoriamente que muitos gestores se
esquecem de seu real significado – ou de seu verdadeiro potencial. Num
grupo de trabalho comum e rotineiro, o desempenho é resultado do que os
membros fazem individualmente. Um desempenho de equipe, por sua vez,
exige responsabilidade individual e mútua.
Embora não pareça ser nada especial, a responsabilidade mútua pode
levar a resultados impressionantes. Permite que uma equipe atinja níveis
de desempenho muito melhores do que os melhores resultados individuais
de seus membros. Para conseguir isso, cada um precisa fazer mais do que
ouvir, responder de modo construtivo e apoiar uns aos outros. Além de
compartilhar esses valores que constroem uma equipe, eles têm que
compartilhar uma disciplina essencial.
Na prática
A disciplina essencial de uma equipe compreende cinco características:
Uma vez estabelecida a disciplina essencial, uma equipe está livre para
se concentrar nos desafios fundamentais que ela enfrenta:
Habilidades interpessoais
Um entendimento e um propósito comuns não poderão surgir sem uma
comunicação eficaz e um conflito construtivo, o que por sua vez depende de
habilidades interpessoais. Entre elas está tomada de riscos, crítica construtiva,
objetividade, capacidade de ouvir atentamente, oferecer o benefício da dúvida e
reconhecer os interesses e as realizações dos outros.
Grupos de trabalho
Líder forte e com focos claros
Responsabilidade individual
O propósito do grupo é o mesmo da missão mais ampla da organização
Produtos do trabalho individual
Realiza reuniões eficientes
Avalia sua eficácia indiretamente por sua influência em outros (como o
desempenho financeiro do negócio)
Discute, decide e delega
Equipe
Papéis de liderança compartilhados
Responsabilidade individual e mútua
Propósitos específicos da equipe que a própria equipe apresenta
Produtos do trabalho coletivo
Incentiva discussão aberta e reuniões para solução ativa de problemas
Avalia o desempenho diretamente, segundo produtos do trabalho coletivo
Discute, decide e realiza o trabalho em conjunto
Imagine que sua equipe esteja tão motivada que os funcionários adoram
trabalhar mais horas, e não menos, tomam eles mesmos a iniciativa de
assumir mais responsabilidade e se gabam de seus desafios no trabalho,
não de seus salários ou bônus.
Um sonho impossível? Não se você compreender a força contraintuitiva
que existe por trás da motivação – e a falta de efetividade da maioria dos
incentivos que buscam um melhor desempenho. Embora muitas vezes se
diga o contrário, a motivação não vem apenas de benefícios extras, salas
espaçosas ou mesmo promoções ou remuneração. Esses incentivos
extrínsecos podem estimular pessoas a trabalharem duro, mas
provavelmente só até conseguirem o próximo aumento ou promoção.
A verdade é que você e sua organização têm um poder apenas limitado
de motivar funcionários. Sim, salários injustos podem prejudicar o moral.
Mas quando você de fato oferece contracheques gordos e outros
benefícios extrínsecos, as pessoas não necessariamente trabalharão mais
ou com mais eficiência.
Isso porque a maioria de nós é motivada por recompensas intrínsecas:
um trabalho interessante e desafiador e a oportunidade de obter mais
responsabilidade e de crescer com ela.
É claro que você precisará oferecer alguns incentivos extrínsecos.
Afinal, poucos de nós podem se permitir trabalhar sem receber nada em
troca. Mas a chave para motivar seus funcionários é capacitá-los para
ativar os próprios geradores internos. Do contrário, você ficará empacado
tentando recarregar as baterias deles – repetidamente.
Na prática
Como você ajuda seus funcionários a se motivar? Valorize as funções deles
aplicando os seguintes princípios:
PNT positivo
Se eu disser a você “Faça isso por mim ou pela empresa, e em troca lhe darei
uma recompensa, um incentivo, um status melhor, uma promoção, todas as
compensações que existem no setor”, estarei motivando você? A esmagadora
maioria dos gestores acredita que, sim, isso é motivação.
Tenho um schnauzer de 1 ano. Quando ele era filhote e eu queria que se
movimentasse, eu dava um leve empurrão com o pé no traseiro dele e ele se
movia. Agora que terminamos seu adestramento, mostro um biscoitinho quando
quero que ele se mova. Neste caso, quem está motivado: eu ou o cão? O cão quer
o biscoito, mas sou eu quem quer que ele se mova. Mais uma vez, sou eu quem
está motivado e é o cão que se move. Neste caso, tudo que fiz foi aplicar
frontalmente o PNT: dei um puxão em vez de um empurrão. Quando a empresa
quer usar esses PNT positivos, ela tem à sua disposição um número e uma
variedade incríveis de “biscoitos” para motivar os funcionários e com isso fazê-
los dar um salto.
3. Benefícios adicionais
As empresas superaram o estado mais voltado para o bem-estar social ao
prover um auxílio que vai do berço até a sepultura. Sei de uma organização que
teve um “clube do benefício adicional do mês” em funcionamento durante algum
tempo. O custo dos benefícios adicionais nos Estados Unidos atingiu
aproximadamente 25% do valor pago em salários, e os americanos ainda gritam
pedindo para serem motivados.
As pessoas estão passando menos tempo trabalhando por mais dinheiro e
mais segurança do que jamais fizeram antes, e não dá para reverter essa
tendência. Esses benefícios já não são recompensas; são direitos.
Quando as organizações começaram a se dar conta de que o apetite
financeiro e a falta de motivação de seus funcionários eram infinitos, começaram
a ouvir especialistas em ciência comportamental, os quais, com base mais em
tradição humanista do que em estudo científico, criticaram os gestores por não
saberem lidar com as pessoas. Daí seguiu-se facilmente o próximo PNT.
5. Treinamento da sensibilidade
Você realmente se conhece? De fato confia em outras pessoas? É mesmo
cooperativo? O fracasso do treinamento da sensibilidade agora está sendo
explicado – por aqueles que se tornaram exploradores oportunistas da técnica –
como um fracasso no processo de realizar cursos apropriados de treinamento de
sensibilidade.
Com a constatação de que os benefícios do PNT em termos econômicos,
interpessoais e de conforto são só temporários, gestores de recursos humanos
concluíram que a falha não estava naquilo que estavam fazendo, mas no fato de
os funcionários não apreciarem o que estavam fazendo. Isso abriu o campo da
comunicação, uma nova área de um PNT “cientificamente” sancionado.
6. Comunicação
O professor de comunicação foi convidado a se juntar aos programas de
treinamento da faculdade de administração e ajudar os funcionários a
compreenderem o que a direção estava fazendo por eles. Boletins internos,
sessões para instruções e esclarecimentos, palestras sobre a importância da
comunicação e todo o tipo de propaganda proliferaram. Mas nada mudou em
termos de motivação, e a conclusão óbvia foi que talvez a administração não
estivesse ouvindo o que os funcionários diziam. Isso levou ao PNT seguinte.
8. Participação no trabalho
Embora talvez não tenha sido esta sua intenção teórica, a questão da
participação dos funcionários no trabalho tornou-se uma abordagem do tipo “dê
a eles uma visão mais ampla”. Por exemplo, se um homem está apertando 10 mil
parafusos por dia numa linha de montagem com uma chave de torque, diga a ele
que está construindo um automóvel. Outra abordagem tinha o objetivo de
proporcionar ao funcionário a “sensação” de que era ele quem estava
determinando, em alguma medida, o que fazia no cargo. O objetivo era prover
um senso de realização, não a verdadeira realização de uma tarefa. Uma
realização mesmo, é claro, exige uma tarefa que torne isso possível.
Mas ainda não havia motivação. Isso levou à conclusão inevitável de que
havia algo errado com os funcionários, o que levou ao PNT seguinte.
9. Aconselhamento de funcionários
O início do uso sistemático dessa forma de PNT pode ser creditado ao
experimento de Hawthorne na Western Electric Company, no início da década
de 1930. Naquela ocasião, descobriu-se que os funcionários alimentavam
sentimentos irracionais que estavam interferindo na operação racional da
fábrica. O aconselhamento, nessa situação, foi um meio de fazer os funcionários
aliviarem sua carga emocional falando com alguém sobre seus problemas.
Embora as técnicas de aconselhamento fossem primitivas, o programa foi
amplamente adotado.
Esse enfoque no aconselhamento foi abalado pelo resultado de experimentos
feitos durante a Segunda Guerra Mundial, quando se considerou que os próprios
programas estavam interferindo na operação das organizações; os conselheiros
tinham se esquecido de que seu papel era o de ouvintes benevolentes e estavam
tentando fazer algo em relação aos problemas que eram relatados a eles. No
entanto, o aconselhamento psicológico conseguiu sobreviver a esse impacto
negativo e continua a florescer com renovada sofisticação. Infelizmente, parece
que muitos desses programas não diminuíram a pressão acerca da necessidade de
encontrar um modo de motivar os funcionários no trabalho.
Como o PNT só dá resultado a curto prazo, pode-se prever com segurança
que o custo desses programas vai aumentar constantemente e novas variedades
serão desenvolvidas à medida que os antigos PNT positivos atingirem seu ponto
de saturação.
O eterno triângulo
Existem três filosofias gerais de gestão de pessoas. A primeira baseia-se na
teoria organizacional, a segunda, na engenharia de produção e a terceira, na
ciência comportamental.
Os teóricos organizacionais acreditam que as necessidades humanas são
irracionais ou tão variadas e ajustáveis a situações específicas que a principal
função da gestão de pessoas é ser pragmática no nível que a situação demandar.
Se as funções estiverem organizadas de modo adequado, consequentemente a
estrutura de trabalho será eficiente e os comportamentos, favoráveis.
Os engenheiros de processos sustentam que o ser humano tem uma
propensão mecanicista e é economicamente motivado, e que as necessidades
humanas são mais satisfeitas quando o indivíduo tem acesso a processos de
trabalho mais eficazes. O objetivo da gestão de pessoal seria, portanto, conceber
o sistema de incentivos mais adequado e projetar condições de trabalho
específicas de modo a facilitar o uso mais eficiente da máquina humana. Ao
estruturar as tarefas de maneira que levem a uma operação mais eficiente, os
engenheiros acreditam que podem obter a melhor organização de trabalho
possível e os comportamentos mais adequados em relação ao trabalho.
Os cientistas comportamentais focam na noção de grupo, atitudes
individuais de funcionários e no clima social e psicológico da organização. Esse
método de persuasão dá ênfase a uma ou mais necessidades higiênicas e
motivadoras. Sua abordagem à gestão de pessoal é geralmente a de enfatizar
alguma forma de educação das relações humanas, na esperança de promover
atitudes saudáveis no funcionário e um clima organizacional considerado
propício aos valores humanos. A crença é de que comportamentos apropriados
vão levar a uma estrutura de trabalho e organizacional eficiente.
Existe sempre um debate acalorado a respeito da efetividade geral das
abordagens dos teóricos organizacionais e dos engenheiros de produção.
Inquestionavelmente, os dois grupos obtiveram muitos resultados. Mas a questão
que mais perturba os cientistas comportamentais tem sido: qual é o custo
relacionado a problemas de caráter humano que mais tarde vai causar despesas à
organização – por exemplo, rotatividade, faltas, erros, violação de regras de
segurança, greves, restrições na produção, salários mais altos e mais benefícios
adicionais? Por outro lado, os cientistas comportamentais encontram
dificuldades para documentar muitas e evidentes melhoras na gestão de pessoal
usando a abordagem desenvolvida por eles.
A teoria da motivação-higiene sugere que o trabalho seja enriquecido para
proporcionar uma utilização eficaz de pessoal. Essa tentativa sistemática de
motivar funcionários manipulando fatores motivadores está só no começo. O
termo enriquecimento do trabalho descreve esse movimento embrionário. Um
termo mais antigo, alargamento do trabalho, deveria ser evitado porque está
associado a fracassos passados oriundos de um mau entendimento do problema.
O enriquecimento do trabalho oferece ao funcionário a possibilidade de um
crescimento psicológico, enquanto o alargamento do trabalho só torna o
trabalho estruturalmente maior. Como o enriquecimento científico do trabalho é
muito recente, este artigo menciona apenas os princípios e as medidas práticas
que emergiram em períodos recentes de vários experimentos bem-sucedidos.
Carga de trabalho
Na tentativa de enriquecer certos trabalhos, os gestores costumam reduzir a
contribuição pessoal de funcionários em vez de dar a eles a oportunidade de
crescer nas fiunções com as quais estão acostumados. Essas medidas, que
chamarei de carga horizontal de trabalho (em oposição a carga vertical, ou
fornecimento de fatores motivadores), têm sido o problema dos programas
anteriores de alargamento de trabalho. A carga apenas aumenta a irrelevância do
trabalho. Alguns exemplos dessa abordagem, e seu efeito, são:
Desafiar os funcionários aumentando a quantidade de produção que se
espera deles. Se cada operário aperta 10 mil parafusos por dia, verificar se é
possível passar para 20 mil parafusos por dia. A aritmética envolvida
demonstra que zero multiplicado por zero é igual a zero.
Acrescentar mais uma tarefa irrelevante a outra já existente, em geral
alguma atividade rotineira. A aritmética aqui é somar zero com zero.
Fazer rodízio na atribuição de tarefas que precisam ser enriquecidas. Isso é
o mesmo que lavar pratos por um momento e depois lavar talheres. A
aritmética aqui é substituir um zero por outro zero.
Remover as partes mais difíceis das tarefas atribuídas aos funcionários, a
fim de liberá-los para cumprir mais das tarefas menos desafiadoras já
atribuídas a eles. Essa abordagem tradicional da engenharia de produção
corresponde a fazer uma diminuição na expectativa de obter um aumento.
O trabalho dos assessores mais experientes era revisto menos frequentemente por A
supervisores e essa revisão era feita na mesa dos assessores, fazendo a verificação cair
de 100% para 10%. (Antes, todas as mensagens dos assessores eram verificadas pelo
supervisor.)
A correspondência a ser enviada ia direto para a sala de expedição sem passar pela A
mesa dos supervisores. (Antes as mensagens sempre passavam pelos supervisores.)
Cada assessor foi considerado responsável pela qualidade e exatidão das mensagens. B, E
(Essa responsabilidade tinha sido domínio do supervisor e do verificador.)
Aquilo que fora chamado de estilo de supervisão centrado no funcionário vai
acontecer não mediante a educação dos supervisores, mas mudando-se o tipo de
trabalho que eles fazem.
_________
O enriquecimento do trabalho não vai ser uma proposta momentânea, mas uma
função contínua da gestão. As mudanças iniciais devem durar um longo período
de tempo. Há algumas razões para isso:
Nem todos os trabalhos podem ser enriquecidos, e nem todos precisam. Se,
no entanto, apenas um pequeno percentual do tempo e do dinheiro que agora se
aplicam na higiene fosse direcionado aos esforços pelo enriquecimento do
trabalho, o retorno em satisfação humana e ganho econômico seria um dos
maiores dividendos que a indústria e a sociedade jamais colheram de seus
esforços por uma melhor gestão de pessoal.
O argumento em prol do enriquecimento do trabalho pode ser resumido de
modo bem simples: se você tem funcionários para determinado trabalho, use-os.
Se não consegue usá-los, livre-se deles. Se não consegue usá-los e não consegue
se livrar deles, você terá um problema de motivação.
PARA MUITA GENTE, A EXPRESSÃO “gerenciar seu chefe” pode soar incomum ou suspeita.
Por causa da tradicional ênfase na hierarquia de cima para baixo na maioria das
organizações, não é óbvio que você precise gerir relacionamentos “de baixo para
cima” – a menos, é claro, que o faça por razões pessoais ou políticas. Mas não
estamos nos referindo a manobras políticas ou a bajulação. Esse termo expressa o
processo de conscientemente trabalhar com seu superior para obter os melhores
resultados possíveis para você, para ele e para a empresa.
Estudos recentes sugerem que gestores eficazes dedicam tempo e esforço a
gerir não só relacionamentos com seus subordinados, mas também com seus
chefes. Esses estudos também demonstram que esse aspecto essencial da gestão é
às vezes ignorado por gestores que, fora isso, são talentosos e dinâmicos. De fato,
alguns gestores que, de maneira ativa e eficaz, supervisionam subordinados,
produtos, mercados e tecnologias adotam uma postura de resistência de modo
quase passivo em relação aos chefes. Essa postura quase sempre prejudica a eles e
à empresa.
Se você duvida da importância de gerenciar seu chefe ou de como é difícil
fazer isso com eficácia, considere por um momento a seguinte história.
Frank Gibbons era um reconhecido gênio de produção em seu setor e,
segundo qualquer padrão de lucratividade, um executivo muito eficaz. Em 1973,
suas qualidades o levaram à posição de vice-presidente de produção da segunda
maior e mais lucrativa empresa da área. Gibbons não era, entretanto, um bom
gestor de pessoas. Ele sabia disso, assim como outros na organização.
Reconhecendo esse ponto fraco, o presidente assegurou-se de que seus
subordinados diretos fossem bons em trabalhar com pessoas e assim
compensassem as limitações dele. Esse arranjo funcionava bem.
Em 1975, Philip Bonnevie foi promovido a uma posição em que devia se
reportar a Gibbons. Mantendo o padrão anterior, o presidente escolhera
Bonnevie porque ele tinha um histórico e uma reputação de ser bom no
relacionamento com pessoas. Ao fazer essa escolha, no entanto, o presidente não
percebeu que, em sua rápida ascensão na organização, Bonnevie sempre tinha
tido chefes entre bons e excelentes. Nunca fora obrigado a gerir um
relacionamento com um chefe difícil. Em retrospecto, Bonnevie admite que
nunca pensou que gerenciar o chefe fosse parte do trabalho.
Quatorze meses após ter começado a trabalhar para Gibbons, Bonnevie foi
demitido. Durante aquele trimestre a empresa registrou o primeiro prejuízo
líquido em sete anos. Muitos dos que acompanharam de perto esses
acontecimentos disseram não compreender o que aconteceu. Contudo, o que se
sabe é o seguinte: quando a empresa estava lançando um novo produto –
processo que exige que grupos de vendas, engenharia e fabricação coordenem
muito cuidadosamente as decisões –, houve uma série de mal-entendidos e
ressentimentos entre Gibbons e Bonnevie.
Por exemplo, Bonnevie alega que Gibbons tivera conhecimento e aceitara a
decisão de Bonnevie de empregar um novo tipo de máquina para fabricar o
produto; Gibbons jura que não. Além disso, Gibbons alega que deixou claro a
Bonnevie que o lançamento do produto era importante demais a curto prazo
para que se assumissem quaisquer grandes riscos.
Como resultado desses mal-entendidos, o planejamento deu errado: foi
construída uma nova fábrica que não foi capaz de produzir o novo produto,
como projetado pela engenharia, no volume desejado pelas vendas, ao preço que
fora acordado pelo comitê executivo. Gibbons culpou Bonnevie pelo erro.
Bonnevie culpou Gibbons.
Em resumo
Na prática
Compreendendo o chefe
Para gerenciar o seu chefe você deve saber interpretar o papel dele e seu
contexto, assim como sua própria situação. Todos os gestores fazem isso em
alguma medida, mas muitos não de modo suficientemente meticuloso.
No mínimo, você precisa avaliar os objetivos de seu chefe, as pressões que
atuam sobre ele, seus pontos fortes e fracos. Quais são os objetivos pessoais e
organizacionais dele e quais são as pressões que sofre, especialmente as do chefe
dele e de outros no mesmo nível? Quais são suas grandes habilidades e suas
fraquezas? Qual é seu estilo de trabalho? Ele gosta de receber informação por
memorandos, em reuniões formais ou por telefone? Progride enfrentando
conflitos ou tenta minimizá-los? Sem essas informações um gestor está num voo
cego ao lidar com o chefe, e conflitos desnecessários, mal-entendidos e
problemas são inevitáveis.
Numa situação que estudamos, um gerente de marketing com um registro de
desempenho superior foi contratado como vice-presidente “para resolver
problemas de marketing e vendas”. A empresa, que estava tendo dificuldades
financeiras, fora adquirida recentemente por uma corporação maior. O
presidente estava ansioso por reverter a situação e deu ao novo vice-presidente
de marketing liberdade de ação, ao menos de início. Com base em sua
experiência anterior, o novo vice-presidente diagnosticou corretamente que a
empresa precisava atingir uma participação maior no mercado e que era
necessário uma forte gestão de produto para conseguir isso. Seguindo essa lógica,
tomou algumas decisões referentes a preços, destinadas a aumentar muito o
volume dos negócios.
No entanto, quando as margens de lucro diminuíram e a situação financeira
não melhorou, o presidente aumentou a pressão sobre o novo vice-presidente.
Acreditando que a situação se corrigiria depois por si mesma assim que a
empresa recuperasse uma fatia do mercado, o vice-presidente resistiu à pressão.
Como, no segundo trimestre, as margens e os lucros ainda não tinham
melhorado, o presidente assumiu o controle direto das decisões quanto a preço, e
pôs todos os itens num nível de preço que garantisse margem,
independentemente do volume das vendas. O novo vice-presidente começou a se
considerar excluído pelo presidente, e o relacionamento entre os dois se
deteriorou. Infelizmente, o novo esquema de preços do presidente tampouco
conseguiu aumentar as margens, e no quarto trimestre tanto o presidente quanto
o vice-presidente foram demitidos.
O que o novo vice-presidente não sabia até que já fosse tarde demais era que
melhorar o marketing e as vendas fora apenas um dos objetivos do presidente.
Seu objetivo mais imediato havia sido tornar a empresa mais lucrativa –
rapidamente.
O novo vice-presidente tampouco sabia que o chefe apostara nessa
prioridade de curto prazo por razões tanto de negócios quanto pessoais. O
presidente tinha sido um forte defensor da aquisição e sua credibilidade pessoal
estava em jogo.
O vice-presidente cometeu três erros básicos. Ele avaliou as informações que
lhe passaram como verdadeiras, fez suposições em áreas sobre as quais não tinha
informação e – o que foi mais prejudicial – nunca tomou a iniciativa de
esclarecer quais eram os objetivos de seu chefe. Como resultado, acabou
adotando ações que na verdade não correspondiam às prioridades e aos objetivos
do presidente.
Gestores que trabalham de maneira eficaz com seus superiores não se
comportam dessa maneira. Eles buscam informação quanto aos objetivos do
chefe, seus problemas e pressões. Estão atentos a oportunidades para questionar
o chefe e outros em volta dele ou para testar suas suposições. Prestam atenção
nas deixas sugeridas pelo comportamento do chefe. Embora seja imperativo que
façam isso sobretudo quando começam a trabalhar com um novo chefe, gestores
eficazes também o fazem numa base contínua, porque reconhecem que
prioridades e preocupações podem mudar.
Ser sensível ao estilo de trabalho do chefe pode ser crucial, especialmente
quando seu superior é novo no cargo. Por exemplo, um novo presidente que era
organizado e formal em seus métodos substituiu um outro que era informal e
intuitivo. O novo presidente trabalhava melhor quando recebia relatórios por
escrito. Também preferia reuniões formais com pautas preestabelecidas.
Um dos gestores de sua divisão percebeu essa sua necessidade e trabalhou
com o novo presidente para identificar os tipos e a frequência de informação e
relatórios que o presidente queria. Esse gestor também fazia questão de enviar
dados de campo e pautas preparadas antecipadamente para discussão. Tinha
descoberto que com esse tipo de preparação suas reuniões eram muito úteis – seu
novo chefe era até mais eficaz em problemas levantados em brainstorming do
que fora seu predecessor mais informal e intuitivo.
Em contrapartida, outro gestor de divisão nunca compreendeu totalmente
como o estilo de trabalho de seu novo chefe diferia do de seu predecessor. Aquilo
que via de diferente era interpretado como excesso de controle. Como resultado,
raras vezes enviava ao novo presidente a informação contextual da qual ele
necessitava, e o presidente nunca se sentia totalmente preparado para reuniões
com o gestor. Na verdade, quando se reuniam, o presidente passava grande parte
do tempo tentando obter informações que ele achava que deveria ter recebido
antes. Para o chefe essas reuniões eram frustrantes e ineficientes, e o subordinado
muitas vezes era pego desprevenido pelas perguntas feitas pelo presidente. Por
fim, esse gestor de divisão pediu demissão.
A diferença entre os dois gestores de divisão aqui descritos não era tanto de
capacidade ou adaptabilidade. Mas que um deles era mais sensível que o outro ao
estilo de trabalho de seu chefe e às implicações de suas necessidades.
Compreendendo a si mesmo
O chefe é somente metade do relacionamento. Você é a outra metade, e
também a parte sobre a qual tem controle mais direto. Desenvolver um
relacionamento de trabalho eficaz requer, portanto, que você conheça suas
necessidades, forças e fraquezas, e seu estilo pessoal.
Você não vai mudar a estrutura básica de sua personalidade nem a de seu
chefe. Mas pode ficar mais consciente dos fatores que impedem ou facilitam
trabalhar com seu chefe e, com essa consciência, adotar ações que tornem o
relacionamento mais eficaz.
Por exemplo, num caso que observamos, um gestor e seu superior
enfrentavam problemas toda vez que discordavam. A reação típica do chefe era
endurecer a posição até o exagero. A reação do gestor era então contra-
argumentar mais alto, intensificando a contundência de sua opinião. Ao fazer
isso, ele canalizava sua raiva nos ataques que fazia às falácias lógicas que via nas
suposições do chefe. E o chefe, por sua vez, ficava ainda mais inflexível na
sustentação de sua posição original. Previsivelmente, o resultado dessa escalada
era o subordinado evitar, sempre que possível, levantar qualquer tópico que
criasse um conflito potencial com o chefe.
Ao discutir esse problema com os colegas, o gestor revelou que sua reação ao
chefe era típica do modo como ele geralmente reagia a contra-argumentos, mas
com uma diferença: ela poderia impressionar seus colegas, mas não o chefe.
Como as tentativas de discutir esse problema com o chefe não obtiveram sucesso,
ele concluiu que o único jeito de mudar a situação era lidar com as próprias
reações instintivas. Sempre que os dois chegavam a um impasse, ele monitorava
sua impaciência e sugeria que fizessem uma pausa e pensassem sobre o assunto
antes de se reunirem outra vez. Em geral, quando retomavam a discussão,
tinham digerido suas diferenças e estavam mais aptos a trabalhar com elas.
Atingir esse nível de autoconsciência e agir com base nele é difícil, mas não
impossível. Por exemplo, ao refletir sobre suas experiências passadas, um jovem
gestor constatou que não era muito bom em lidar com questões difíceis e
emocionais nas quais outras pessoas estivessem envolvidas. Por não gostar dessas
situações e perceber que suas reações instintivas a elas raramente eram boas,
desenvolveu o hábito de conversar com seu chefe sempre que surgia um
problema assim. Essas conversas traziam à tona ideias e abordagens que o gestor
não tinha considerado. Em muitos casos, eles também identificavam quais
possíveis medidas o chefe poderia tomar para ajudar.
Embora o relacionamento entre chefe e subordinado seja de dependência
recíproca, o subordinado costuma ser mais dependente do chefe do que o
contrário. Essa dependência tem como resultado o subordinado sentir certa
frustração, às vezes raiva, quando suas ações ou opções são restringidas pelas
decisões do chefe. Esse é um aspecto normal da vida e ocorre no melhor dos
relacionamentos. O modo como um gestor lida com essas frustrações depende
muito de sua predisposição sobre a dependência de quem detém a autoridade.
A reação instintiva de algumas pessoas nessas circunstâncias é se ressentir da
autoridade do chefe e se rebelar contra suas decisões, por vezes fazendo o
conflito ir além do que seria razoável. Ao ver o chefe quase como um inimigo
institucional, esse tipo de gestor vai frequentemente, sem ter consciência disso,
brigar com o chefe só pelo conflito em si. As reações do subordinado ao ser
restringido muitas vezes são fortes, e às vezes impulsivas. Ele vê o chefe como
alguém que, em virtude de seu papel, é um empecilho ao progresso, um
obstáculo a ser contornado ou, no melhor dos casos, tolerado.
Psicólogos chamam esse padrão de reações de comportamento
contradependente. Embora para a maioria dos chefes seja difícil lidar com uma
pessoa contradependente, e esta em geral tenha uma história de relacionamentos
tensos com os superiores, esse tipo de gestor é capaz de ter ainda mais problemas
com um chefe que tenda a ser incisivo ou autoritário. Quando o gestor age
movido por seus sentimentos negativos, muitas vezes de maneira sutil e não
verbal, o chefe às vezes torna-se o inimigo. Percebendo a hostilidade latente do
subordinado, o chefe deixará de confiar nele ou em sua capacidade de
julgamento, e depois disso se comportará de modo mais fechado.
Paradoxalmente, um gestor com esse tipo de predisposições quase sempre é
bom na gestão de seu próprio pessoal. Ele muitas vezes fará o possível e o
impossível para dar apoio a eles, e não hesitará em defender seus interesses.
No outro extremo estão os gestores que engolem a raiva e se comportam
docilmente quando o chefe toma uma decisão que eles sabem estar errada. Esses
gestores concordarão com o chefe mesmo quando a discordância seria bem-
vinda ou quando o chefe facilmente mudaria a decisão se recebesse mais
informação. Como não se relacionam com a situação específica que está
ocorrendo, suas reações são tão exageradas quanto as dos gestores
contradependentes. Em vez de considerar o chefe um inimigo, essas pessoas
renegam sua raiva – o outro extremo – e tendem a vê-lo como um progenitor
cheio de sabedoria, que deve saber o que é melhor para eles, que assume a
responsabilidade pela carreira deles e os treina em tudo o que precisam saber e
que ainda os protege dos colegas excessivamente ambiciosos.
Tanto a contradependência quanto a superdependência levam os gestores a
terem uma noção irreal do que é um chefe. Nos dois casos eles ignoram que o
chefe, como qualquer outra pessoa, é imperfeito e falível. Não dispõem de tempo
ilimitado, não têm conhecimento enciclopédico ou percepção extrassensorial;
nem são inimigos perversos. Têm as próprias pressões e preocupações, que às
vezes estão em desacordo com os desejos do subordinado – muitas vezes por
boas razões.
Alterar predisposições em relação a autoridade, especialmente nos casos
extremos, é quase impossível sem uma psicoterapia intensiva (a teoria e a
pesquisa psicanalítica sugerem que essas predisposições estão profundamente
arraigadas na personalidade e na história de vida de uma pessoa). No entanto, ter
consciência desses extremos e da distância entre eles pode ser muito útil para
compreender aonde leva sua predisposição e quais são as implicações de como
você costuma se comportar em relação a seu chefe.
Se, por um lado, você acredita que tem alguma tendência para a
contradependência, pode compreender e até prever quais serão suas próprias
reações, inclusive as mais exageradas. Se, por outro lado, você acredita que tem
algumas tendências para uma superdependência, poderia questionar até que
ponto essa superdocilidade, ou incapacidade de enfrentar as diferenças que
realmente existem, está fazendo com que você e seu chefe sejam menos eficazes.
Expectativas mútuas
O subordinado que passivamente supor que sabe o que o chefe espera está
procurando problemas. Claro que alguns superiores dirão quais são suas
expectativas muito explicitamente e com muitos detalhes. Mas a maioria não o
faz. E embora muitas corporações tenham sistemas que proveem uma base para
comunicação de expectativas (como processos de planejamento formais, revisões
de planos de carreira e de avaliações de desempenho), esses sistemas nunca
funcionam perfeitamente. E também, entre essas revisões formais, as expectativas
invariavelmente mudam.
No fim das contas, é sobre o subordinado que recai o ônus de descobrir quais
são as expectativas do chefe. Elas podem ser amplas (como os tipos de problemas
dos quais o chefe quer ser informado e quando) assim como muito específicas
(como quando um determinado projeto deve ser concluído e os tipos de
informação de que o chefe precisa enquanto isso).
Pode ser dificil ter um chefe que costuma ser vago, ou não explícito, ao
expressar suas expectativas. Mas gestores eficazes encontram um modo de obter
essa informação. Alguns esboçarão um memorando detalhado cobrindo aspectos
principais de seu trabalho e o entregarão ao chefe para aprovação. A isso se
seguirá uma discussão presencial na qual repassarão cada item do memorando.
Uma discussão como esta muitas vezes traz à tona praticamente todas as
expectativas do chefe.
Outros gestores eficazes lidarão com um chefe inexplícito dando início a uma
série contínua de discussões informais sobre uma “boa gestão” e “nossos
objetivos”. Outros obterão informações úteis indiretamente por intermédio de
alguém que costumava trabalhar para esse chefe, e por meio dos sistemas de
planejamento formais em que o chefe assume compromissos com o próprio
superior. Qual abordagem você vai escolher dependerá, é claro, do que você
entendeu ser o estilo de seu chefe.
Desenvolver um conjunto de expectativas mútuas viáveis requer também que
você comunique ao chefe quais são as suas próprias expectativas, descubra se elas
são realistas e influencie o chefe a aceitar aquelas que são importantes para você.
Ser capaz de influenciar o chefe para que ele valorize suas expectativas pode ser
particularmente importante se ele for um superempreendedor. Um chefe desse
tipo muitas vezes estabelece altos padrões irreais que precisam ser enquadrados à
realidade.
Um fluxo de informação
A quantidade de informação que um chefe precisa ter quanto ao que o
subordinado está fazendo pode variar significativamente, dependendo do estilo
do chefe, da situação em que está e na confiança que ele tem no subordinado.
Mas não é incomum que um chefe precise de mais informação do que aquela que
o subordinado forneceria naturalmente, ou que o subordinado pense que o chefe
está sabendo mais do que de fato está. Gestores eficazes reconhecem que eles
provavelmente subestimam o que seus chefes precisam saber e se asseguram de
achar caminhos para mantê-los informados mediante processos compatíveis
com seus etilos.
Gerir o fluxo de informações de baixo para cima é particularmente difícil se o
chefe não gosta de ouvir problemas. Embora muita gente negue, chefes com
frequência mandam sinais de que só querem saber de notícias boas. Eles
demonstram grande insatisfação – em geral de forma não verbal – quando
alguém lhes conta sobre um problema. Podem até mesmo ignorar as realizações
individuais e avaliar mais favoravelmente subordinados que não levam
problemas até eles.
Entretanto, para o bem da organização, do chefe e do subordinado, um
superior precisa ter conhecimento das falhas tanto quanto dos sucessos. Alguns
subordinados lidam com um chefe-que-só-quer-notícias-boas encontrando
maneiras indiretas de lhe passar a informação necessária, como, por exemplo,
um sistema de gestão de informação. Outros cuidarão que problemas potenciais,
tanto na forma de boas surpresas quanto de más notícias, sejam comunicados
imediatamente.
Confiabilidade e honestidade
Poucas coisas são mais desqualificantes para um chefe do que um
subordinado do qual ele não pode depender, em cujo trabalho não pode confiar.
Quase ninguém é intencionalmente não confiável, porém muitos gestores o são
de forma inadvertida devido a desatenção ou incerteza quanto às prioridades do
chefe. Assumir o compromisso de uma data de entrega otimista pode agradar um
superior a curto prazo, mas se tornará motivo de insatisfação se não for
cumprida. É difícil para um chefe confiar num subordinado que seguidamente
não cumpre prazos. Como disse um presidente (descrevendo um subordinado):
“Eu preferia que ele fosse mais consistente, mesmo se obtivesse menos sucessos
grandiosos – pelo menos eu poderia confiar nele.”
Também são poucos os gestores que são intencionalmente desonestos com
seu chefe. Mas é fácil encobrir a verdade e minimizar as dificuldades.
Preocupações atuais quase sempre tornam-se futuros e surpreendentes
problemas. É quase impossível para os chefes trabalharem com eficácia se não
puderem confiar num relato razoavelmente preciso de seus subordinados. Por
minar toda a credibilidade, a desonestidade é talvez o traço mais perturbador que
um subordinado pode ter. Sem um nível básico de confiança, um chefe será
obrigado a checar todas as decisões de um subordinado, o que faz com que seja
difícil delegar tarefas a ele.
DANIEL GOLEMAN é copresidente do Consórcio para Pesquisa sobre Inteligência Emocional nas
Organizações, na Universidade Rutgers.
JEAN-FRANÇOIS MANZONI é professor de liderança e desenvolvimento organizacional no IMD, na Suíça.
JEAN-LOUIS BARSOUX é pesquisador sênior no Insead, na França.
CAROL A. WALKER é presidente da Prepared to Lead, firma de consultoria de gestão em Weston,
Massachusetts.
MARCUS BUCKINGHAM é consultor e palestrante em práticas de liderança e gestão.
W. CHAN KIM é o professor catedrático de estratégia e gestão internacional do Grupo de Consultoria Bruce
D. Henderson de Boston, no Insead, na França.
RENÉE MAUBORGNE é membro eminente e professora de estratégia no Insead, na França.
CHRIS ARGYRIS foi professor emérito na Escola de Pós-graduação em Educação de Harvard.
MAHZARIN R. BANAJI é professora de Ética Social da cátedra Richard Clarke Cabot na Universidade
Harvard.
MAX H. BAZERMAN é professor de Administração de Negócios na cátedra Jesse Isidor Strauss na Harvard
Business School.
DOLLY CHUGH é professora-assistente de gestão e organizações na Escola de Negócios Stern da Universidade
de Nova York.
JON R. KATZENBACH é diretor da PwC e fundador do Katzenbach Center.
DOUGLAS K. SMITH é consultor organizacional e ex-sócio da McKinsey & Company.
FREDERICK HERZBERG foi professor de gestão na Universidade de Utah.
JOHN J. GABARRO é professor emérito de Gestão de Recursos Humanos da Fundação UPS na Harvard
Business School.
JOHN P. KOTTER é professor emérito de Liderança na cátedra Konosuke Matsushita, na Harvard Business
School, a Escola de Negócios de Harvard.
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Review, Harvard Business
9788543107271
192 páginas