Lean Manufacturing e Ergonomia - Revisão Sistematica Da Literatura

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JOURNAL OF LEAN SYSTEMS, 2017, Vol. 2, Nº 3, pp.

22-36

Lean Manufacturing e ergonomia: uma revisão sistemática da


literatura
Lean Manufacturing and ergonomics: a systematic literature review

Carla Beatriz da Luz Peralta* – [email protected]


Fernando Henrique Lermen* – [email protected]
Márcia Elisa Soares Echeveste* – [email protected]
Paula Lunardi de Mello* – [email protected]
Claudia Rafaela Basso* – [email protected]

* Universidade Federal do Rio Grande do Sul – (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do Sul

Article History:
Submitted: 2016 – 09 – 08 Revised: 2016 – 10 – 20 Accepted: 2016 – 11 – 15
-

Resumo: No decorrer dos anos as temáticas de lean manufacturing, ergonomia e segurança vem sendo
estudadas e integradas para melhorias de processos, porém, muitas vezes os recursos humanos são esquecidos.
Desta forma, a presente pesquisa busca verificar como tais temáticas estão sendo empregadas juntas. Com base
nisso, o presente artigo teve como objetivo analisar na literatura qualificada de estudos referentes a tais
temáticas. Para desenvolver trabalho, utilizou-se o método teórico-conceitual, por meio de uma revisão
bibliográfica sistemática. No que se refere aos procedimentos e técnicas utilizados, trata-se de uma pesquisa
bibliográfica, que recorre recursos tecnológicos para identificação, seleção e indexação dos artigos científicos do
portfólio com a utilização do software Endnote Basic. Inicialmente, foram coletados 66 artigos, porém após uma
breve interpretação, resultaram 21 artigos que fizeram parte do portfólio da pesquisa. Com a realização do
trabalho, notou-se que muitas vezes a ergonomia e a segurança ficam em segundo plano, pois as empresas
buscam a produtividade e o lucro.

Palavras-Chave:Sistema Toyota de Produção; Ergonomia; Gerenciamento da Segurança; Segurança.

Abstract: Over the years the themes of lean manufacturing, ergonomics and safety have been studied and
integrated to improve processes, but often human resources are forgotten. However, this research aims to verify
how these themes are being employed together. Based on this, this article aims to analyze the qualified literature
studies relating to such issues. To develop work used the theoretical and conceptual method through a systematic
literature review. With regard to the procedures and techniques used, it is a literature search, which uses
technology to identification, selection and indexing of scientific articles of the portfolio using the Software
Endnote Basic. Initially, they collected 66 articles, but after a brief interpretation resulted 21 articles that were
part of the research portfolio. With the achievement of the work, it was noted that often the ergonomics and
safety are the background, as companies seek productivity and profit.

Key-words: lean; toyota production system; ergonomics; safety management; safety.

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1. Introdução

Em 1973 a crise do petróleo, seguida de recessão afetou empresas, governos e


sociedades no mundo inteiro. No ano de 1974, a economia japonesa havia caído para um nível
de crescimento zero e diversas empresas passavam por problemas. Porém, na Toyota Motor
Company, embora os lucros tenham diminuído ganhos maiores do que os de outras empresas
foram mantidos durante os anos seguintes. A diferença, a cada dia maior, entre ela e outras
companhias fez com que as pessoas se perguntassem sobre o que estaria acontecendo na
Toyota (Ohno, 1997).
A partir deste fato inicia-se a implementação do Sistema Toyota de Produção pelo
mundo, quando critério como o just-in-time passou a ser adotado por empresas de variados
setores, tanto no Ocidente como no Oriente (Graeml e Peinado, 2007). Porém, para que seja
possível a compreensão do Sistema Toyota de Produção torna-se necessário compreender a
função produção como um todo, consistindo em uma rede de processos e operações.
Denomina-se processo como o fluxo de materiais ou informações no tempo e no espaço, ou
seja, é a transformação da matéria-prima em componente semiacabado e por consequência em
produto acabado. E as operações podem ser visualizadas como o trabalho realizado para
efetivar essa transformação (Shingo, 1996).
De acordo com Werkema (2011), o Lean Manufacturing é uma iniciativa que busca
eliminar ou reduzir desperdícios, isto é, excluir o que não tem valor para o cliente e produzir
agilidade à empresa. O Sistema Toyota de Produção, por representar uma forma de produzir
cada vez mais com menos, foi denominado um sistema Lean Manufacturing.
Tapping e Shuker (2010) destacam que várias organizações procuram “fazer o Lean”,
sem necessariamente tornarem-se Lean. E para se tornar enxuta, uma organização precisa
mudar sua mentalidade, sua cultura, precisa aprender a enxergar os desperdícios em todos os
seus processos. Assim sendo, de nada adianta escolher uma área da empresa/organização para
“ser Lean”, o que geralmente ocorre apenas na manufatura, negligenciando outras áreas.
Por outro lado, para a implementação da filosofia Lean, que reduzem os tempos de
ciclo de trabalho e a variedade de tarefas tendem a aumentar a tensão fisiológica e psicológica
dos trabalhadores. Deste modo, para evitar problemas de saúde e de segurança para os
trabalhadores e custos para as organizações (por exemplo, ao aumento de erros, à perda de
produtividade, ao aumento do absentismo ou à indemnização aos trabalhadores) torna-se
fundamental a integração dos aspectos relacionados com os fatores humanos adequando a
implementação desta abordagem (Nunes e Machado, 2007).

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A Ergonomia pretende maximizar a eficiência dos recursos humanos, assegurando a


sua segurança, minimizando a exposição a fatores de risco por falta de adequação ergonômica
e obter proativamente um programa de melhoria continua na fase inicial de qualquer atividade
de concepção, ou quando ocorrem alterações no fluxo de produtos ou processos (Smyth,
2003). Neste sentido, essa contribui positivamente para a segurança do trabalho, que tem o
propósito de prevenção aos acidentes de trabalho, assim como de promoção à saúde e à
integridade física dos trabalhadores.
Desta forma, conforme foi apresentada a relevância das temáticas anteriores, a
presente pesquisa busca verificar como tais temáticas estão sendo empregadas juntas. Sendo
assim, o presente artigo tem como objetivo analisar na literatura qualificada de estudos
referentes a tais temáticas.

2. Procedimentos metodológicos

O método, teórico-conceitual foi utilizado nesta pesquisa, com base na revisão


bibliográfica sistemática. No que se refere aos procedimentos e técnicas utilizados, trata-se de
uma pesquisa bibliográfica, que recorre recursos tecnológicos para identificação, seleção e
indexação dos artigos científicos do portfólio com a utilização do software Endnote Basic.
Segundo Kitchenham (2004), este tipo de revisão proporciona uma avaliação a
respeito de um tópico de pesquisa, fazendo uso de uma metodologia de revisão que seja
confiável, rigorosa e que permita ser auditada. A Figura 1 apresenta as etapas que foram
divididas à revisão.

Figura 1- Etapas da pesquisa

Na primeira etapa, selecionou-se a base de dados para busca dos artigos, a Web of
Science, por dominar a maior parte dos artigos publicados internacionalmente. Após, as
palavras-chave foram determinadas e realizou-se um teste para verificar se a quantidade de

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artigos retornados seria suficiente para o estudo. As palavras-chave utilizadas foram: lean OR
toyota production system AND ergonomics OR safety management OR safety OR health.
Na base de dados, Web of Science colocaram-se as palavras chaves e com relação ao
tempo estipulado, optou-se por todos os anos conforme a Figura 2. Posteriormente, foi feita a
pesquisa para ver quantos estudos retornariam, desta maneira apareceu 5.220 trabalhos.

Em seguida, realizou-se um filtro, para os tipos de documento, sendo escolhidos


apenas artigos. Outro filtro realizado foi em relação aos idiomas dos documentos. Sendo
assim, utilizaram-se apenas três línguas sendo elas: inglês, espanhol e português, após os
filtros resultaram 3.188 documentos.

Figura 2 – Tempo estipulado


Fonte: Web of Science, 2016.

Esses 3.188 foram transferidos para o Endnote Basic. Em seguida, foram encontradas
as duplicações dos mesmos, resultando 3.047 documentos para realizar a leitura dos títulos.
Em seguida realizou-se a leitura dos títulos. Vale destacar que a pesquisa resultou em
muitos artigos voltados a área da saúde. Desta forma, resultaram 92 artigos para serem
baixados, desses 92 artigos 26 não permitiam o acesso gratuito, limitando o portfólio do
estudo.

3. Resultados e discussões

Como primeiro resultado, 26 artigos não possuíam acesso gratuito, e foram


automaticamente excluídos. Realizou-se então leitura dos resumos dos 66 artigos restantes.
Após essa interpretação, resultaram 21 artigos (listados na Figura 3) para serem lidos na
íntegra e dar sequência à análise de conteúdo.

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Figura 3 - Lista dos 22 artigos que constituem o portfólio

Artigos Autores
Ergonomics, employee involvement, and the Toyota Adler, P. S.; Goldoftas, B.;Levine, D. I.
production system: A case study of Nummi's 1993
model introduction

A proposed approach for setup time reduction


Mohammed Ali Almomani; Mohammed
through integrating conventional SMED method with
Aladeemy; Abdelhakim Abdelhadi; Ahmad
multiple criteria decision-making techniques

Is lean mean? workplace transformation and Anderson-Connolly, R.; Grunberg, L.;


employee well-being Greenberg, E. S.; Moore, S.
Measuring the effectiveness of a near-miss
management system: An application in an automotive S. Andriulo; M.G. Gnoni
firm supplier

David I Ben-Tovim, Jane E Bassham, Denise


Lean thinking across a hospital: redesigning care at
Bolch, Margaret A Martin, Melissa Dougherty
the Flinders Medical Centre
and Michael Szwarcbord

Assessment of Working Conditions in Two Different


Semiconductor Manufacturing Lines: Effective Saw Bin Wong; Stanley Richardson
Ergonomics Interventions

The rationalisation movement in perspective and


Torsten BjGrkman
some ergonomic implications
The effects of lean organizational practices on
employees' attitudes and workers' health: evidence Bouville, Gregor; Alis, David
from France
Job design under lean manufacturing and its impact Cullinane, Sarah-Jane; Bosak, Janine; Flood,
on employee outcomes Patrick C; Demerouti, Evangelia
Applying lean manufacturing system to improving Biman Das; Uday Venkatadri; Pankajkumar
productivity of airconditioning coil manufacturing Pandey
"Lean occupational" safety: An application for a M.G. Gnoni; S. Andriulo; G. Maggio; P.
Near-miss Management System design Nardone
Lean Production-An Evaluation of the Possibilities
Hasle, Peter
for an Employee Supportive Lean Practice
Effect of lean process improvement techniques on a Hintzen, Barbara L.; Knoer, Scott J.; Van
university hospital inpatient pharmacy Dyke, Christie J.; Milavitz, Brian S.
The impact of Kaizen on safety in modular home James, Joel; Ikuma, Laura H.; Nahmens,
manufacturing Isabelina; Aghazadeh, Fereydoun

The impact of lean production on musculoskeletal and


psychosocial risks: An examination of sociotechnical Koukoulaki, Theoni
trends over 20 years

Call Centers as lean service environments: Job-


Sprigg, Christine A.; Jackson, Paul R.
related strain and the mediating role of work design
Diretrizes para avaliação dos impactos da produção Saurin, Tarcisio Abreu; Ferreira, Cléber
enxuta sobre as condições de trabalho Fabricio

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Artigos Autores
Lean Job Design and Musculoskeletal Disorder Risk: Womack, Sarah K.; Armstrong, Thomas J.;
A Two Plant Comparison Liker, Jeffrey K.

Lean production and psychosocial risks: the case of a Stenger, Eunice; Monteiro, Maria Ines; Sabino,
multinational merger in a metallurgical company in Marcos Oliveira; Campos Miquilin, Isabella de
Brazil Oliveira; Correa Filho, Heleno Rodrigues

The impacts of lean production on working


Saurin, Tarcisio Abreu; Ferreira, Cleber
conditions: A case study of a harvester assembly line
Fabricio
in Brazil
The USA perspective: Current issues and trends in the
management of work stress Murphy, L. R.; Sauter, S. L.

A Figura 4 apresenta a quantidade de artigos por periódicos com base no portfólio


final. Embora em um primeiro momento os periódicos pareçam estar bastante distribuídos, é
possível destacar os periódicos: Applied Ergonomics; Human Factors and Ergonomics in
Manufacturing & Service Industries e International Journal of Advanced Manufacturing
Technology com dois artigos respectivamente.
Figura 4 – Quantidade de artigos por periódico

Periódicos Quantidade
American Journal of Health-System Pharmacy 1
Applied Ergonomics 2
Australian Health Review 1
Australian Psychologist 1
Cadernos De Saude Publica 1
Computers & Industrial Engineering 1
Human Factors and Ergonomics in Manufacturing 1
Human Factors and Ergonomics in Manufacturing & Service Industries 2
Industrial & Labor Relations Review 1
International Journal of Advanced Manufacturing Technology 2
International Journal of Human Resource Management 1
International Journal of Industrial Ergonomics 1
Journal of Occupational Health Psychology 1
Organizational Psychology Review 1
Production 1
Reliability Engineering & System Safety 1
Safety Science 1
Work Employment and Society 1

No que diz respeito à distribuição de periódicos por ano, a maior concentração dos
artigos está concentrada no ano de 2014, com 7 artigos, conforme é possível observar na
Figura 5.

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Figura 5 - Distribuição por artigo por ano

3.1. Avaliação de conteúdo

Os artigos trataram, em sua maioria, de estudos de caso abrangendo empresas de


diferentes atividades, como indústria, serviços e saúde. A mesma diversidade se deu quanto à
sua localização, ocorrendo em países da Europa, América do Norte, América do Sul e
Oceania.
Inicialmente os trabalhos contextualizavam a situação das empresas, principalmente
quanto ao estágio da implementação lean do seu sistema de produção (Adler et al., 1997;
Saurin, Ferreira, 2009; Stenger et al., 2014; Womack et al., 2009). As empresas do ramo
industrial possuíam certa maturidade do sistema, passados anos da implementação, enquanto
estudos do setor de serviços e saúde tinham algumas práticas e iniciativas implementadas, o
que possibilitou a sua avaliação (Sprigg et al., 2006).
Detalhando cada um dos artigos, foi possível verificar que apesar de conterem as
palavras-chave e seus resumos serem pertinentes ao tema, o objetivo de alguns era estabelecer
avaliação das operações das empresas quanto ao bem-estar e qualidade de vida no ambiente
de trabalho na percepção dos funcionários, ergonomia dos postos de trabalho, além de analisar
isoladamente os ganhos com algumas práticas de lean production, porém não avaliando
exatamente o impacto delas na saúde dos trabalhadores (Almomani et al. 2013; Andriulo, S. ,
Gnoni, M.G. , 2014; Ben-Tovim et al., 2007; Murphy et al., 2003).
Almomani et al. (2013) propuseram uma metodologia para avaliação de alternativas
na redução de tempos de setup, utilizando a técnica Single Minute Exchange of Dies (SMED)

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de Taiichi Ohno. Vários fatores foram considerados para a escolha da melhor alternativa,
dentre os quais saúde, segurança e ergonomia. Porém foram apenas listadas como ganhos e
não analisadas no detalhe.
Já os autores Ben-Tovim et al. (2007) trouxeram o caso de uma instituição de saúde
que empregou o mapeamento do fluxo de pacientes para otimizá-lo e reduzir perdas, tornando
o atendimento mais seguro e acessível, porém sem avaliar especificamente a situação dos
funcionários após a melhoria.
Andriulo e Gnoni (2014) propuseram uma sistemática de avaliação da eficácia de
Sistemas de Gerenciamento da Segurança Operacional na prevenção de acidentes, através da
análise correta de incidentes que antecedem um acidente de trabalho. A ligação com o tema
lean se dá quando os autores identificam que estes sistemas fornecem tanto engajamento
empregador na melhoria dos níveis de segurança e um conhecimento atualizado do campo
operacional sobre os níveis de segurança reais no local de trabalho.
Murphy et al. (2003) fornecem uma perspectiva sobre questões de estresse no trabalho
e os esforços em curso para reduzi-lo. Indicam que as tendências na reestruturação do trabalho
e do emprego apresentam novos riscos de estresse do trabalhador. A disseminação da
produção enxuta foi uma das possíveis fontes de estresse identificadas, devido a intensificação
do trabalho e sobrecarga, e consequentes efeitos sobre o estresse, doença e risco de lesão. Eles
acreditam que a instabilidade de emprego associada a práticas de redução de postos de
trabalho e emprego flexível podem ser capazes de comprometer a capacidade dos
trabalhadores e das organizações para acumular e reter o conhecimento de segurança, ou
ainda a criação de altos níveis de estresse através de incerteza emprego. Desta forma, foi
realizado um levantamento dos possíveis riscos para a qualidade de vida do trabalhador no
ambiente de trabalho, sem relação direta com a produção enxuta.
Sprigg et al. (2006) estudaram o ambiente de trabalho em um call center que utiliza
comunicação padronizada na interface com clientes, além do monitoramento de desempenho
dos funcionários durante o atendimento. Utilizaram essas duas iniciativas para caracterizar o
call center como lean, e identificaram conflitos entre o objetivo dos gestores e dos
empregados, que sentem-se insatisfeitos em meio ao ambiente sob pressão. Ainda sugerem
que tais práticas sejam minimizadas e que as empresas tenham maior rigor no projeto dos
postos e das atividades, contemplando aspectos não só do negócio e do cliente, como também
do trabalhador.

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Saurin e Ferreira (2008, 2009) propuseram diretrizes para avaliação dos impactos da
produção enxuta sobre as condições de trabalho de operadores de chão-de-fábrica. Na opinião
dos trabalhadores, houve uma melhora das condições de trabalho após a adoção das práticas
de produção enxuta. Importante salientar que o ambiente em questão permitia menor rigidez
no cumprimento dos padrões de operação, tornando o trabalho menos rígido e mais
autônomo, sendo a força de trabalho composta por operadores experientes em suas atividades,
contribuindo para uma menor dependência dos padrões prescritos.
A análise que Adler et al. (1997) fazem dos anos iniciais da operação da joint venture
entre General Motors e Toyota traz a experiência da implementação de diversas práticas lean,
demonstrando a realidade de uma empresa que empregou essa filosofia desde o princípio. O
projeto dos postos de trabalho considerava demandas tanto do ponto de vista produtivo como
ergonômico. Ainda assim, muitas das demandas levantadas por parte dos trabalhadores não
eram plenamente atendidas, o que gerava debates entre a gestão e a operação de empresa. Os
autores reconhecem que produtividade e qualidade superior do Sistema Toyota de Produção
(STP) depende do empenho e da motivação do trabalhador. Eles concluem que se os
trabalhadores sentem que a gestão é sensível aos seus interesses de segurança e saúde, o STP
sob as pressões conjugadas dos trabalhadores, gestores, sindicatos e órgãos fiscalizadores,
desloca para cima a curva de trade-off de lucros e saúde e segurança, numa direção que
permita níveis mais elevados para trabalhador e empresa.
O caso estudado por Anderson-Conolly et al. (2002) foi um processo de reestruturação
em uma organização, utilizando princípios de produção enxuta. Os resultados do estudo
sugeriram que o aumento da intensidade foi a dimensão mais nociva das mudanças
implementadas. Eles ainda destacam o papel dos funcionários, que ao invés de resistir
completamente à introdução de alterações no local de trabalho que aumentam a produtividade,
podem aceitar tais mudanças, quando são acompanhadas de mais autonomia, senso crítico e
enriquecimento do trabalho, tendo benefícios físicos e psicológicos. Também determinam que
o pesquisador pode desempenhar um papel mais positivo, avaliando quais mudanças têm
maiores benefícios e prejuízos, usando sua posição para orientar a política social na direção
apropriada.
Por usa vez, Womack et al. (2009) examinaram a relação entre design trabalho lean e
fatores de risco de distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT). Repetição,
força e postura foram avaliadas em postos em diversos departamentos em uma lean
manufacturing e em uma fábrica tradicional. Os resultados sugerem que a produção enxuta

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não necessariamente aumenta o risco de DORT dos trabalhadores. Na fábrica lean, a busca de
melhores processos iniciou na concepção do produto e seguiu até fase de testes do piloto,
envolvendo inclusive os trabalhadores da produção, que eram desafiados a criar melhores
processos através de avaliação e resolução de problemas. O grupo de segurança apoiava os
grupos de produção realizando avaliações ergonômicas formais e avaliando contramedidas
para eliminar as fontes potenciais de lesões identificadas.
Stenger et al. (2014) estudaram elementos associados com riscos psicossociais
relacionados ao trabalho em empresa multinacional de autopeças. Os autores identificaram a
produção enxuta como um desses elementos, pois foi implantado após a fusão da empresa
com outras multinacionais. Eles reforçaram a necessidade da precaução em relação a saúde do
trabalhador quando mudanças no processo produtivo introduzem novos e maiores riscos de
doenças físicas e mentais aos trabalhadores. Destacaram também que “as condições de
trabalho com adensamento de máquinas e homens, ausências de pausas durante as jornadas de
trabalho, as longas jornadas de trabalho (com inclusão insistente de horas extras), a pressão de
trabalho relacionada à produção just-in-time e a sobrecarga de tarefas relatadas pelos autores,
caracterizam uma situação de trabalho intensificado e em condições ergonômicas
desfavoráveis”. Por fim concluíram que a produtividade elevada não tem sido convertida em
melhores condições de trabalho e de saúde dos trabalhadores.
Os autores Wong e Richardson (2010) analisaram duas linhas de produção de
semicondutores que produzem diferentes conceitos de tecnologia, ou seja, uma linha
convencional (CL) e uma linha de Lean Production (LP). Ambas as linhas fabricam esses
mesmos produtos foram comparados usando vários fatores, incluindo as condições de
trabalho, riscos de tarefas e os perigos do trabalho e estresse. Abordagens ergonômicas foram
adotadas na investigação das duas linhas. Questionários foram administrados a 30% dos
trabalhadores, e múltiplos testes estatísticos foram utilizados para determinar preditores
cruciais e para investigar as interações entre os fatores. Esta pesquisa mostrou que a melhoria
dos fatores de ergonomia levará a melhores condições de trabalho e, assim, maior satisfação
no trabalho. As diferenças ergonômicas observadas destas duas linhas de produção são
comparadas, e são recomendadas medidas corretivas. As intervenções para ambas as linhas
devem reduzir as taxas de acidentes, minimizar o desperdício de recursos, melhorar a eficácia
do trabalho, e proporcionar um melhor ambiente de trabalho que aumenta o moral dos
funcionários e maximiza a produtividade e os lucros.

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BjGrkman (1996) dá uma visão geral do Movimento Racionalização de Taylor para os


mais recentes modelos de organização, tais como “Reengenharia de Processos de Negócios".
Especial ênfase é colocada sobre as implicações das diferentes estratégias de racionalização
em termos de ergonomia e fisiologia do trabalho. Além disso, são definidos os termos e
conceitos básicos. Segundo o autor, o taylorismo, fordismo e Lean Production parecem
oferecer um potencial suficiente para uma boa ergonomia. No entanto, os modelos
organizacionais mais recentes, como “Gestão baseada em tempo” e “Reengenharia de
Processos de Negócios”, podem aparecer mais promissor, mas, infelizmente, quase nenhuma
pesquisa foi conduzida para descrever as implicações de ergonomia destes modelos.
Os autores Bouville e Alis (2014) destacam que a organização do trabalho mudou
profundamente durante na última década, em particular, com a introdução de um novo tipo de
sistema de produção de gestão nos setores industriais e de serviços - o sistema de produção
enxuta. Poucos estudos têm considerado os resultados sociais de formas de organização do
trabalho. Desta maneira eles utilizaram referencial teórico de sistema de trabalho de alto
desempenho para analisar a influência das práticas Lean específicas da organização do
trabalho. Estes concluíram que práticas Lean de organização do trabalho, como um conjunto
têm um efeito prejudicial sobre a saúde no trabalho.
Para Cullinane et al. (2013), as implicações de manufatura enxuta para o bem-estar do
funcionário permanecem obscuros como os rendimentos de pesquisas anteriores conflitantes
descobertas e se esforça para identificar um modelo aplicável de projeto de trabalho. O
trabalho se adapta e integra tanto o modelo de características do emprego e do modelo de
demandas de recursos de trabalho para demonstrar as implicações cotidianas de manufatura
enxuta para o projeto de trabalho, e ao fazê-lo, utiliza princípios de fabricação que
influenciam a motivação e a saúde dos funcionários. A agenda de pesquisa foi criada para
melhorar a compreensão da experiência do empregado do trabalho lean, e uma série de
implicações práticas para a configuração de trabalhos sob manufatura enxuta são descritas.
Das, Venkatadri e Pandey (2014) implementaram o sistema de manufatura enxuta para
melhorar a produtividade na fabricação de ar condicionado. Foram utilizadas algumas
ferramentas do Lean como mapeamento do fluxo de valor, troca rápida de ferramentas, e
Kaizen. Alguns benefícios foram obtidos através da redução do estoque em processo, que por
sua vez reduziu o congestionamento de chão de fábrica e danos bobina devido ao manuseio
bobina extra e maior segurança no local de trabalho.

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Gnoni et al. (2013) a estratégia Lean Thinking (ou Management) representa


atualmente uma ferramenta competitiva a nível mundial para melhorar a produtividade no
setor de manufatura em todo o mundo. Assim, a aplicação destes princípios obriga as
empresas a definir novas abordagens para projetar e gerenciar toda a organização e,
consequentemente, o sistema de gestão da segurança. Sendo assim os autores propõem um
método inovador baseado na integração de princípios de Lean Management em segurança do
trabalho para uma empresa fornecedora automotiva mundial. Como nenhum modelo de
referência foi definido anteriormente, vários fatores foram avaliados com o objetivo de
integrar eficientemente segurança no trabalho no atual sistema Lean Management.
Características inovadoras caracterizando o modelo proposto foram também discutidas em
conjunto com os primeiros resultados obtidos com a aplicação em grande escala.
Hasle (2014), Lean é um conceito contestado, embora tenha sido elogiado pela
capacitação de funcionários, e tem sido criticado por intensificação do trabalho e prejudicando
a saúde e o bem-estar dos colaboradores. O autor realizou uma revisão da literatura sobre as
relações entre Lean e funcionários, e sugere formas para o desenvolvimento de uma prática
Lean-funcionário de suporte. Há fortes evidências de consequências adversas do Lean para os
trabalhadores pouco qualificados na indústria automobilística e outros trabalhos de fabricação,
mas também há exemplos de resultados positivos. É importante ressaltar que, não só o
pensamento enxuto, mas também o contexto e implementação do Lean tem consequências
para os resultados de funcionários. Pesquisa ainda é necessária para demonstrar que na vida
real, esta análise do pensamento enxuto, contexto e execução sugerem possibilidades para o
desenvolvimento de uma prática Lean que é genuinamente de suporte ao empregado.
Hintzen et al. (2009) implementaram técnicas enxutas em uma farmácia em regime de
internamento para melhorar o fluxo de trabalho, reduzir o desperdício e obter economias de
custos substanciais. Metodologia Lean foi implementada com sucesso. Qualidade e segurança
também foram melhorados, conforme avaliado pelas reduções nas doses faltantes, produtos
vencidos e erros de produção.
James et al. (2014) mencionam que as altas taxas de prejuízo e fatalidade prevalentes
em todos os tipos de construção nos EUA podem ser abordados através da combinação de
iniciativas de segurança com a melhoria de processos através do Lean. Os autores avaliaram o
impacto sobre a segurança do trabalhador, fazendo uso da ferramenta Kaizen. Estes
concluíram que o Kaizen tem o potencial para melhorar a segurança na construção civil
modular e, possivelmente, outras indústrias transformadoras e as atividades de construção.

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Koukoulaki (2014) fornece uma extensa revisão de estudos realizados em ambientes


de produção enxuta nos últimos 20 anos. Sua pesquisa identificou os efeitos da produção
enxuta (positivos ou negativos) sobre a saúde ocupacional e os fatores de risco relacionados.
Trinta e seis estudos sobre os efeitos Lean foram aceites a partir da pesquisa bibliográfica e
classificadas por setor e por tipo de resultado. A produção enxuta foi encontrada para ter um
efeito negativo na saúde e fatores de risco, os resultados mais negativos foram encontrados
nos primeiros estudos na indústria automotiva. No entanto, exemplos de efeitos mistos e
positivos foram também encontrados na literatura. As correlações mais fortes da produção
enxuta com o estresse foram encontradas com características da produção just-in-time que
estão relacionadas com a redução do tempo de ciclo e redução de recursos. Aumento de
sintomas musculoesqueléticos de risco foi relacionado ao aumento de ritmo de trabalho e falta
de tempo de recuperação também encontrado nesses sistemas.

4. Conclusões

Conforme a análise de conteúdo, apesar de muitos casos trazerem experiências de


melhora nas condições de trabalho, a maior parte dos artigos expõe as deficiências e prejuízos
causados aos trabalhadores por sistemas de manufatura enxuta implementada sem considerar
demandas humanas no momento do seu projeto ou design. Um viés bastante produtivo e
material está sendo dado pelas empresas como objetivo da utilização das técnicas e
ferramentas lean, embora elas tenham consequências diretas na qualidade de vida dos
trabalhadores.
Certamente a melhora no ambiente de trabalho alcançada pelo lean manufacturing é
destacável, pois através da organização e prescrição de atividades a serem realizadas, tem-se
um maior controle de movimentações e fluxo de materiais/pessoas no ambiente de trabalho, o
que acaba por diminuir a exposição dos trabalhadores a lesões e acidentes não previstos.
Porém, essa importante consequência não está sendo devidamente planejada e analisada,
tendo um resultado sub otimizado.
Por isso, as futuras implementações do lean manufacturing nas empresas deve prever
além dos impactos na produção, os impactos na saúde e segurança, utilizando técnicas de
projeto de postos de trabalho e suporte aos funcionários e suas demandas.

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REFERÊNCIAS

Adler, P. S., Goldoftas, B., & Levine, D. (1997). Ergonomics, Employee Involvement, and The Toyota
Production System: A Case Study Of Nummi's 1993 Model Introduction. Industrial & Labor Relations Review.
50 (3): 416-437.
Almomani, M., Aladeemy, M., Abdelhadi, A., & Mumani, A. (2013). A Proposed Approach for Setup Time
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