Book Mech Mario Pinheiro
Book Mech Mario Pinheiro
Book Mech Mario Pinheiro
Pinheiro
Mecânica e Ondas
– Curso e Problemas Resolvidos –
Springer
À memória de Bento de Moura Portugal
(1702-1776)
Foreword
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The foreword covers introductory remarks preceding the text of a book that are
written by a person other than the author or editor of the book. If applicable, the
foreword precedes the preface which is written by the author or editor of the book.
vii
Preface
Learn from yesterday, live for today, hope for tomorrow. The important thing is not stop
questioning.
- Albert Einstein
Este é um curso teórico-prático de “Mecânica e Ondas” e que se destina a todos
os alunos de Engenharia e Fı́sica. São notas que foi redigindo ao longo das min-
has aulas para os alunos de Engenharia Mecânica e de Engenharia Naval do Insti-
tuto Superior Técnico. Procuramos expor a matéria com objectividade e com cunho
prático. Neste curso não se pretende que se memorizem muitas fórmulas, apenas
as essenciais, que assinalaremos no devido tempo. Procuramos transmitir conceitos,
ideias e as leis da mecânica e, ao mesmo tempo, introduzir os princı́pios funda-
mentais da fı́sica. Não é um curso em que se trata apenas da aplicação numérica
das fórmulas que fazem a matéria da Mecânica e Ondas ! É fundamental aprender
a pensar, porque só assim se poderá compreender, criar, inovar ! É esta diferença
no nı́vel de apreensão que distingue um cientista, engenheiro, de um técnico com
formação básica.
Alguns problemas de aplicação procuram ilustrar melhor a aplicação da matéria.
Todos os assuntos teóricos e exercı́cios que estejam marcados com asterisco (F)
são facultativos, ou trata-se de matéria para ler se o desejarem (há também que ter
cultura cientı́fica...)
No desenrolar do curso iremos conhecer quais foram as contribuições cientı́ficas
de grandes mestres pensadores, como o foram Kepler, Galileu, Copérnico, Maxwell,
Einstein, entre uma plêiade de muitos outros. Os seus trabalhos constituem o fun-
damento da nossa compreensão do mundo actual que, não obstante, continua em
perpétua transformação. O curso de Mecânica e Ondas constitui também uma opor-
tunidade para se introduzir técnicas matemáticas básicas: cálculo diferencial e inte-
gra, cálculo vectorial, resolução de equações diferenciais.
Estas notas de curso discordam ortograficamente.
A Mecânica estuda o movimento e as suas causas.
Introduziremos os elementos essenciais da linguagem da fı́sica:
• medidas de grandezas fı́sicas, unidade fı́sicas e padrões de unidades;
ix
x Preface
Posição:
Se a partı́cula move-se ao longo de uma:
• curva → 1 dimensão;
• superfı́cie → 2 dimensões;
• volume → 3 dimensões.
A descrição do movimento requer
• a escolha de um sistema de referência apropriado (a Terra, uma viatura, um plano
inclinado,...) 1 ;
• um sistema de coordenadas com uma origem (sistema de eixos orientados);
• instruções para associar o ponto material com o sistema de eixos e origem 2 .
No âmbito da Mecânica clássica o espaço é a 3 dimensões, espaço euclideano,
isto é, a soma dos ângulos internos de um triângulo no plano é: ∆ = 180 0 .
O tempo é absoluto, isto é, a taxa de variação do tempo (ou ritmo dos relógios)
é independente do lugar e da velocidade (isto é, é o mesmo para todos os obser-
vadores).
Fig. 0.3 Na base da Mecânica clássica está a suposição de que o universo é regido por uma ge-
ometria euclideana e o tempo é absoluto.
Relógios que se movam a velocidades próximas da luz (v ∼ c), ou que estejam su-
jeitos a campos gravı́ticos, registarão um ritmo temporal diferente quando compara-
dos com relógios em repouso, ou longe da acção de campos gravı́ticos, fenómeno
este que tem o nome de dilatação do tempo.
Existem outros domı́nios onde os conceitos da Mecânica Clássica claramente
não se aplicam. É também o caso das estrelas de neutrões 3 onde se verificam
acelerações da ordem dos a = 1011 g , e os buracos negros 4 que aprisionam a luz.
Para descrever, compreender e predizer fenómenos com essa amplitude, foi criada
por Albert Einstein duas novas teorias:
• a Teoria da Relatividade Especial,
• a Teoria da Relatividade Generalizada (onde se assume que a energia curva o
espaço-tempo, e é esta curvatura que dita a dinâmica dos corpos).
Contudo, os efeitos acima referidos são desprezáveis a baixas velocidades (v
c) desempenhando um papel muito insignificante na mecânica newtoniana que ire-
mos estudar.
As partı́culas elementares não podem ser estudadas no âmbito clássico, pois que
elas normalmente se deslocam a v ∼ c, e numa escala temporal e espacial muito
pequena, onde os efeitos quânticos adquirem uma importância muito grande.
Agradeço a todos os estudantes que reviram o texto, em especial AB, Instituto su-
perior Técnico CD, Universidade Nova de Lisboa, ...
xiii
Contents
1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2 Noções Fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.1 Noções Fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
2.2 Espaço e Tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2.1 Noções pré-clássicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2.2 Intervalos de tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2.3 Ordens de grandeza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.2.4 Unidades derivadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.5 Incertezas em medições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.6 Arredondamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2.7 Sistemas de dimensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2.8 Equações dimensionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2.9 Homogeneidade dimensional. Análise dimensional . . . . . . . . 11
2.2.10 Medidas de comprimento: distâncias pequenas . . . . . . . . . . . . 12
2.2.11 Medidas de comprimento: longas distâncias . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2.12 Sistemas de coordenadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.2.13 Medidas de tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
3 Movimento unidimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.1 Movimento unidimensional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3.2 Velocidade instantânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3.3 Movimento a velocidade constante (ou uniforme) . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.4 Rapidez de uma bala de espingarda; Métodos experimentais para
determinação da sua velocidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.5 Aceleração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.6 Aceleração instantânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
3.7 Aceleração constante; caso particular . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
3.8 Aceleração da gravidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.9 Equação do movimento a = −g . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
xv
xvi Contents
4 Vectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.1 Vectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
4.2 Representação geral de vectores; Notação; Deslocamento . . . . . . . . . 40
4.2.1 Vectores iguais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.2.2 Adição de vectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
4.2.3 Ordem da adição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
4.2.4 Soma de três ou mais vectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
4.2.5 Negativo de um vector . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2.6 Subtracção de vectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2.7 Multiplicação de um escalar por um vector . . . . . . . . . . . . . . . 43
4.2.8 Regra do Paralelograma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
4.2.9 Componentes de um vector . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.2.10 Resultante de um número arbitrário de vectores . . . . . . . . . . . 47
4.2.11 Vectores unitários . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.2.12 Representação de um vector arbitrário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.2.13 Plano inclinado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
4.3 Multiplicação de vectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.3.1 Produto interno (ou escalar) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.3.2 Produto externo (ou vectorial) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.4 Estática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.4.1 Stevinus de Bruges . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5 Cinemática a 3 dimensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
5.1 Cinemática em 3 dimensões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
5.1.1 Velocidade média . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
5.1.2 Rapidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.1.3 Aceleração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
5.1.4 Aceleração: componentes a⊥ e ak . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.1.5 Movimento com aceleração constante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.1.6 Movimento de projécteis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
5.1.7 Movimento balı́stico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.1.8 Estratégia na resolução de problemas sobre projécteis . . . . . . 77
5.1.9 Movimento circular uniforme. Coordenadas cartesianas e
polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
5.2 Movimento circular não uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
6 Relatividade do Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
6.1 Relatividade do movimento. Transformação de Galileu . . . . . . . . . . . 87
6.1.1 Velocidade relativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
6.2 Dinâmica - Leis de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
6.3 Forças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
6.3.1 Forças fundamentais na Natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
6.3.2 Primeira Lei de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
Contents xvii
6.3.3 Referenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
6.3.4 Segunda lei de Newton ou princı́pio fundamental da
mecânica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
6.3.5 Definição de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
6.3.6 Superposição de forças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
7 Forças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
7.0.7 Terceira lei de Newton ou lei da ação e reação . . . . . . . . . . . . 101
7.1 Força gravitacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
7.1.1 Peso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
7.1.2 Elevador acelerado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
7.1.3 Massa gravitacional, massa inercial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
7.1.4 O Princı́pio da Equivalência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
7.1.5 Lei de Hooke. Molas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
7.1.6 Movimento com força constante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
7.1.7 Polias ideais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
7.1.8 Fricção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116
7.1.9 Força de atrito e velocidade terminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
7.1.10 Força resistiva proporcional à velocidade . . . . . . . . . . . . . . . . 122
7.1.11 Queda dos corpos no ar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
7.1.12 Cordas e postes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
12 Colisões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209
12.0.1 Choques no referencial do centro de massa . . . . . . . . . . . . . . . 209
16 Gravitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289
16.1 Lei da Gravitação Universal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 289
16.1.1 Lei da Gravidade de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 291
16.1.2 Energia potencial gravitacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 292
16.1.3 Princı́pio da sobreposição . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 293
16.1.4 Energia potencial de uma calote esférica e de uma partı́cula . 294
16.1.5 Descrição da experiência de Cavendish . . . . . . . . . . . . . . . . . . 296
16.1.6 Análise elementar da órbita translunar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 298
16.1.7 Energia potencial do sistema esfera-partı́cula . . . . . . . . . . . . . 300
16.1.8 Força gravitacional exercida entre objectos com simetria
esférica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 302
16.1.9 Forças gravitacionais sobre objectos extensos . . . . . . . . . . . . . 302
16.1.10Força de marés (ou força tidal) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 303
16.1.11Peso e força gravitacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 304
16.2 Movimento planetário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 306
16.2.1 Velocidade de escape . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 308
16.2.2 Movimento Planetário Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 309
16.2.3 Propriedades Gerais do Movimento Planetário geral . . . . . . . 311
16.2.4 Movimento planetário-sistema de 2 partı́culas . . . . . . . . . . . . 312
16.2.5 Órbitas caracterı́sticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 318
16.2.6 Órbitas circulares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 319
16.2.7 Órbitas elı́pticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 321
16.2.8 Leis de Kepler revisitadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 323
16.3 Fı́sica no sistema de coordenadas em rotação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 326
17 Lagrangianos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333
17.1 Introdução à Mecânica Lagrangiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 333
17.1.1 Princı́pio da Mı́nima Acção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 335
17.1.2 Equações de Lagrange para uma partı́cula . . . . . . . . . . . . . . . . 336
17.1.3 Momento generalizado ou momento conjugado.
Hamiltoniano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 341
xx Contents
18 Oscilações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 377
18.1 Oscilações amortecidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 377
18.1.1 O factor Q de um oscilador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 381
18.1.2 Oscilações forçadas: ressonância e impedância mecânica . . . 383
18.1.3 Ressonância da amplitude. Ressonância da velocidade . . . . . 385
18.1.4 Ressonância da velocidade. Impedância mecânica . . . . . . . . . 387
18.1.5 Aspecto energético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 389
18.1.6 Absorção de potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 390
18.1.7 Oscilações acopladas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 392
18.2 Conceito de onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 399
18.2.1 Equação das cordas vibrantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 402
18.2.2 Intensidade de uma onda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 404
18.2.3 Modos normais de vibração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 404
18.2.4 Natureza das ondas sonoras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 411
Index . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 457
Acronyms
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tions or symbols in the Springer layout.
Lists of abbreviations, symbols and the like are easily formatted with the help of
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ABC Spelled-out abbreviation and definition
BABI Spelled-out abbreviation and definition
CABR Spelled-out abbreviation and definition
xxiii
Chapter 1
Introdução
1.1 Introdução
1 Consulte o sı́tio htt p : //physics.nist.gov onde poderá encontrar informações sobre constantes
fı́sicas fundamentais, unidade e incertezas.
1
2 1 Introdução
Saber é poder.
1 Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.) nasceu em Estagira. Foi discı́pulo de Platão e professor de
perı́odo que decorre de 1100 a 1500 d.C. Integrava a filosofia antiga do tempo dos Gregos com a
filosofia medieval cristã. Baseava-se no julgamento, desprezando a observação dos fenómenos.
3 Arquimedes (287-212 a.C.) foi morto por engano por um soldado romano, após a tomada de
Siracusa durante a Segunda Guerra Púnica. A sua sepultura foi decorada com o desenho de uma
esfera dentro de um cilindro, uma das suas demonstrações matemáticas de que mais se orgulhava.
3
4 2 Noções Fundamentais
A partir de Stevinus toda uma plêiade de grandes cientistas contribuiu para os al-
icerces da ciência mecânica, entre eles: Galileu (1564-1642), Huygens (1629-1695),
Newton (1642-1727), Descartes (1596-1650), Leibniz (1646-1716).
Todos os processos fı́sicos têm lugar no espaço e no tempo. Todas as leis fı́sicas
contêm, explı́cita ou implicitamente, relações entre comprimentos (espaço) e inter-
valos de tempo (duração).
é a mudança de posição espacial dos corpos com o tempo. A posição do corpo
é uma posição relativa, definida em relação a outros corpos. Até à actualidade, e
após a revolução conceptual inaugurada por Einstein com a Teoria da Relatividade
Restrita, o conceito de posição absoluta, isto é, a posição de um corpo no espaço
absoluto não terá qualquer sentido.
Na verdade, a noção de espaço absoluto ou éter desde muito cedo entrou na lin-
guagem da ciência. 4 (544-460 AC) introduziu a noção de contı́nuo em fı́sica, em
oposição à ordenação descontı́nua de todos os corpos, incluindo a recta que, como
toda a figura geométrica, seria formada de mónadas - corpúsculos - postas sequen-
cialmente, ideia defendida por 5 (c. 580 e 504 AC). Um dos discı́pulos mais famosos
de Parménides foi .
A ideia de Parménides teve eco em Descartes que imaginava que o vácuo não
era vazio, que a matéria é contı́nua e que ela forma uma coisa com extensão (res
extensa).
Os trabalhos de Young, Fresnel e Huyghens afirmam a teoria ondulatória da luz
em contraposição à teoria corpuscular da luz. Porém, permanecia por explicar o
carácter especı́fico da sua propagação. Servindo-se da analogia com a propagação
do som, idealizaram que a onda luminosa fazia vibrar um suporte material elástico
e deformável com propriedades exóticas, o éter 6 .
Os trabalhos de , publicados em 1873 num trabalho notável, mostraram que as
ondas electromagnéticas e a luz têm uma origem comum (os campos eléctrico e
magnético) e mostraram igualmente que a sua propagação requeria um substrato
”material”, o éter luminı́fero.
4 Ele resumiu o seu programa numa frase célebre: “Não se pode conhecer o que não existe, nem o
enunciar: porque o que pode ser pensado e aquilo que pode existir são uma mesma coisa”.
5 , destacado discı́pulo de Pitágoras, afirmou: “todas as coisas têm um número e nada se com-
2.2.1.1 Comprimento
Todas as leis fı́sicas contêm relações do tipo espaço-tempo. Comprimentos são me-
didos com réguas. Só corpos rı́gidos podem ser usados como réguas.
O padrão usado na medida de comprimentos é o . Em mecânica as três são:
comprimento (L), massa (M) e tempo (T). Todas as outras quantidades fı́sicas ()
podem ser expressas por meio dessas quantidades.
Em 1960 foi estabelecido um conjunto de padrões para essas quantidades funda-
mentais - trata-se do (SI). As outras quantidades estabelecidas pelo comité criado
para o efeito são:
• o Kelvin, para a , sı́mbolo (K);
• o mol, sı́mbolo (mol), para a ;
• o ampère, para a , sı́mbolo (A);
• a candela para , sı́mbolo (cd).
6 2 Noções Fundamentais
2.2.1.2 Massa
Intervalos de tempo são medidos com relógios ou por qualquer outro processo repet-
itivo, cı́clico.
A sua unidade padrão é o segundo (s) e define-se como a duração de 9192631770
perı́odos correspondentes à transição entre dois nı́veis hiperfinos do estado funda-
7 Esta definição resulta do Postulado da Teoria da Relatividade Restrita, onde se define que a
velocidade da luz é constante e não depende da direcção de propagação.
2.2 Espaço e Tempo 7
2.2.3.1 Comprimentos
2.2.3.2 Tempo
2.2.3.3 Massa
As unidades derivadas são unidades que podem ser expressas a partir das
unidades de base através de sı́mbolos matemáticos de multiplicação e divisão.
Alguns exemplos:
• Volume = L3 ;
massa = ML−3 (unidades no S.I. em kg/m3 );
• Densidade: ρ = Vm = volume
comprimento
• Velocidade = tempo = LT −3 (unidades no S.I. em m/s);
Por vezes é conveniente usar a massa molecular relativa de uma substância. Massa
molecular relativa de uma substância é a massa de uma molécula dessa substância
relativa à unidade de massa atómica u igual a 1/12 da massa do isótopo
carbono-12, 12C. Usa-se em:
• Reacções nucleares: 12C = 12u (unidade de massa atómica ou Dalton);
• Outras massas podem ser medidas relativas ao carbono com grande precisão.
1u ∼ 1.66054 × 10−27 kg.
Nas aulas de laboratório terão oportunidade de adquirir bases mais sólidas sobre
diferentes métodos de tratamento de erros.
Qualquer medida de uma quantidade fı́sica não é perfeita. Utiliza-se o termo
incerteza da medição para expressar este desvio em relação ao seu valor real.
Por outro lado convém ter presente que os resultados das medidas experimentais
são adaptados às necessidade reais, pois que ao procurar obter-se o valor de uma
quantidade fı́sica com grande exatidão há sempre um custo a pagar. Muitas análises
são efectuadas de modo a verificar se determinados limites não são ultrapassados,
por exemplo, a concentração de fluoreto na água potável não deverá ultrapassar o
11 O peso de um corpo é a força exercida pelo campo gravitacional.
2.2 Espaço e Tempo 9
2.2.6 Arredondamentos
[A] = M α Lβ T γ . (2.4)
A equação de dimensão de uma grandeza fı́sica só tem significado num dado sistema
de dimensão. Na tabela 2.2 apresentamos a equação de dimensão de diferentes
grandezas fı́sicas.
F1 = MLT −2 F2 . (2.5)
Isto implica que x = 103 × 102 × (1)−2 =105 , ou seja 1 N = 105 dine.
v= v0 + at 2
d2 x (2.7)
m dt 2
= g
Faça uma análise dimensional de cada equação e diga porque não estão correctas.
A análise dimensional é útil para:
1. encontrar erros nas fórmulas obtidas através de um cálculo ou mesmo erros ti-
pográficos;
2. útil para verificação das unidades no final de longos cálculos matemáticos.
A análise dimensional é baseada no facto que todos os termos de uma equação
que descreve um fenómeno têm as mesmas dimensões.
Aplicações da análise dimensional:
1 verificação de derivações matemáticas;
2 transformação de uma expressão matemática noutra forma mais simples para
verificação experimental;
3 Dedução, a partir de um grande número de dados experimentais, de uma
fórmula mais apropriada para usos práticos;
4 obtenção de coeficientes e relacionar o modelo matemático com o modelo
fı́sico;
5 simplificação da apresentação de dados experimentais.
Resumindo, as regras a reter desde já são as seguintes:
• Numa equação só podemos adicionar ou subtrair quantidades com a mesma di-
mensão;
• as quantidades nos dois membros de uma equação devem ter a mesma√ dimensão;
• a análise dimensional não permite verificar se constantes como π, 2,...estão
correctas ou não.
Exemplo 2: Novo exemplo de análise dimensional com a equação da velocidade:
Estará a equação v = v0 + at 2 /2 correcta?
A equação dimensional será
L L 1 L
= + [T 2 ] (2.8)
T T 2 T2
o que nos confirma não estar a equaça o correcta. Na verdade, sabemos que a
equação correcta é v = v0 + at.
Exemplo: - obtenção da expressão do perı́odo do pêndulo simples por meio da
análise dimensional.
12 2 Noções Fundamentais
Suponha que se verificou, por meio de uma experiência, que o perı́odo T de-
pende da massa m do corpo suspenso pelo fio, comprimento do fio do peêndulo l,
aceleração da gravidade g e ângulo de deflexão θ .
Começamos assim por assumir
T = Cl w mx θ y gz , (2.9)
sendo C uma constante numérica sem dimensões. Repare que o ângulo θ não tem
dimensões e portanto não aparece no cálculo. Repare que s = rθ ou seja, θ = s/r
e sendo o ângulo o rácio de dois comprimentos, não tem dimensão. Voltemos a
escrever a Eq. 2.9 na forma
L z
[T ] = [L]w [M]x [ ]. (2.10)
T2
Comparando o membro esquerdo com o direito, concluı́mos que as seguintes igual-
dades dever ser verificadas:
1 = −2z (2.11)
0 = w+z (2.12)
0=x (2.13)
As medidas das grandezas fı́sicas só poderão ser directas se estiverem dentro de uma
gama de 4 ou 5 ordens de grandeza em torno da nossa escala natural, que é digamos,
1 m.
Distâncias longas são medidas com frequência pelo . Munidos de um 18 , com me-
0
didas efectuadas em dois pontos de observação O e O distantes de b, poderı́amos
determinar a distância a um ponto A (Fig. 2.1):
d sin α = d 0 sin α 0
0 0 (2.15)
d cos α + d cos α = b
donde se obtém:
b
d= sin α
. (2.16)
(cos α + sin α 0 cos α 0 )
Esta técnica é muito usada em Astronomia, onde é conhecida como “” e é apli-
cada na determinação das distâncias a que se encontram as estrelas.
fundadores da Mecânica Quântica e um dos maiores fı́sicos do Séc. XX. Em Mecânica Quântica,
o Princı́pio da Incerteza de Heisenberg afirma que a localização de uma partı́cula microscópica
numa pequena região faz com que a determinação do seu momento linear fique afectado de uma
incerteza, ou de modo complementar, quando se mede o momento linear de uma partı́cula, tal
implica que a posicao da mesma é incerta.
18 O teodolito é um pequeno telescópio usado em geodesia ou astronomia. Geralmente tem a forma
de um tripé centrado sustentando uma plataforma onde se encontra o telescópio óptico colocado
de tal forma que permite a leitura em escalas graduadas dos ângulos de direção e de inclinação de
um determinado ponto.
14 2 Noções Fundamentais
19usou uma variante deste processo no séc. III a.C. para medir o raio da Terra.
Aristóteles tinha argumentado que a Terra era redonda, pois era esta a forma da
sombra projectada pela Terra sobre a superfı́cie lunar sempre que se interpõe entre
o Sol e a Lua. O seu método foi o seguinte: enquanto bibliotecário em Alexan-
dria, disponha do registo de um grande número de observações diárias sobre toda a
espécie de eventos, soube que no dia do soltı́scio de verão (o dia mais longo do ano),
na cidade de Siena (actual Assuão) ao meio dia os raios solares eram exactamente
verticais. Ao mesmo tempo, em Alexandria, sobre o mesmo meridiano 20 , os raio
solares faziam um ângulo de θ ' 7.20 com a vertical. Os estafetas que percorriam
essa distância afirmam que 5040 estádios separam as duas cidades. Designemos pela
letra s a distância entre Alexandria e Siena. Ora é fácil de ver que
s 5000 stadia
s = Rθ =⇒ R = = , (2.17)
θ 7.2
donde se tira
s 7.2 1
= = =⇒ C = 2πR = 50 s, (2.18)
2πR 360 50
e
5000 × 158m × 50
R= = 6.37 × 106 m. (2.19)
2π
19 Eratóstenes de Alexandria (276-194 a.C.), nascido em Cirene, actual Shahhat, Lı́bia, foi um
famoso geógrafo grego. Eratóstenes foi chamado ao Egipto por Ptolomeu III, fazendo-o precep-
tor do seu filho e bibliotecário em Alexandria. A cidade de Alexandria foi um importante centro
cultural, fundada por Alexandre Magno.
20 Linha imaginária passando pelos Polos Norte e Sul e fazendo um ângulo recto com o equador.
Eratóstenes avança com a ideia que um ponto à superfı́cie da Terra poderia ser referenciado por
duas linhas, uma perpendicular e outra paralela ao equador.
2.2 Espaço e Tempo 15
A descrição do movimento é muito subtil. Por experiência própria todos já nos
apercebemos que quando a chuva cai pode nos parecer que cai na vertical se es-
tivermos parados, mas o mesmo fenómeno observado a partir de um carro em movi-
mento já nos parecerá diferente, a chuva parecerá cair obliquamente. O pêndulo
em oscilação terá um comportamento diferente quando observado num local em re-
pouso, mas terá um comportamento diferente se for posto em oscilação no interior
de uma viatura em andamento acelerado ou em vibração devido à irregularidade do
piso. Estas situações sugerem uma relatividade do movimento e levanta a seguinte
questão: em relação a quê deveremos reportar o movimento? Assim, deveremos
definir um e com ele , isto é, um .
Distâncias e ângulos são usados para fixar a posição de um ponto no espaço,
em relação a um dado referencial. O caso mais simples é o das 21 , definido por
uma origem O e dois eixos ortogonais, em relação aos quais a posição de um ponto
P é definida pelas suas coordenadas x (abscissa) e y (ordenada): P(x, y), tal como
ilustramos na Fig. ??. Do estudo das cónicas Descartes teve a ideia do sistema de
coordenadas.
O é definido por uma origem O e uma direcção de referência Ox, tal como mostra
a Fig. 2.3. A posição de um ponto P é fixada pela sua distância r à origem e pelo
ângulo θ que a direcção OP faz com Ox: P(r, θ ).
O modo mais simples de visualizar o movimento de um ponto no espaço recorre
a três coordenadas (x,y,z) cartesianas (Vd. Fig. 2.4). Por exemplo, podemos aplicar
um sistema a 3 dimensões semelhante às coordenadas polares para descrever o
movimento de uma nave à superfı́cie da Terra com o auxı́lio de 3 números: (r, θ , λ ).
21O essencial das matemáticas Gregas está exposto nas obras de Euclides, Pitágoras e Arquimedes.
Os Gregos desenvolveram uma visão muito clara e abstracta da natureza e dos seus elementos.
Reduziram toda a construção geométrica a algumas figuras que podiam ser traçadas com o auxı́lio
de um esquadro e de um compasso. Os Gregos já usavam de certa forma o que hoje designamos por
coordenadas, mas estas serviam apenas para a representação, por exemplo, no estudo das cónicas.
2 2
Assim, eles escreviam MP
2 + MQ2 = 1, onde M representa um ponto sobre a elipse de semi-eixos
OA OB
maior OB e semi-eixo menor OA sendo MP e MQ comprimentos. A grande descoberta de Descartes
consistiu em substituir MP por y e MQ por x, substituindo o que era uma propriedade geométrica
de uma elipse por uma expressão algébrica.
16 2 Noções Fundamentais
Fig. 2.2 Do estudo das cónicas Descartes teve a ideia do sistema de coordenadas.
Qualquer fenómeno periódico pode ser medido por meio de um relógio. Exemplos:
• relógio de Sol;
• relógio de água (clepsidra) 22
• relógio de areais (ampulhetas);
• relógio de pêndulo;
• relógio atómico
Os métodos directos de medidas de são . Um dos aparelhos utilizados para este
fim é o .
O principal método empregado para medir é o da :
N0
t = T1/2 ln (2.20)
N(t)
onde T1/2 designa a . Por exemplo, para o U 238 , T1/2 ≈ 4.5 × 109 anos. Se N0 rep-
resenta a população inicial de átomos radioactivos, após decorrido um tempo t se
encontrará presente na amostra a população N(t). Existem ainda outros métodos de
medida de perı́odos de tempo longos:
1 datação geológica pelo K 40 ;
2 datação geológica com carbono radiactivo.
...The entire preoccupation of the physicist is with things that contain within themselves a
principle of movement and rest.
- Aristóteles.
A cinemática descreve a geometria do movimento de uma partı́cula 1 . Usa a
matemática para descrever o movimento em função da posição, da velocidade e da
aceleração. A dinâmica estuda as causas do movimento.
Começaremos pelo estudo do movimento de translacção, por ser o mais simples.
Utilizaremos o conceito de partı́cula ideal. Uma partı́cula ideal é um corpo cuja
dimensão é tão pequena que pode ser tido como a quantidade de matéria colectada
num ponto singular.
19
20 3 Movimento unidimensional
posição de uma partı́cula varia com o tempo, ela encontra-se em movimento, adquire
velocidade. Define-se velocidade média de uma partı́cula por meio da expressão
(vd. QN# 1):
∆ x x(t2 ) − x(t1 )
v= = , (3.2)
∆t t2 − t1
onde ∆ x representa a mudança da posição e ∆t representa o intervalo de tempo
decorrido. O sinal ± designa o sentido do movimento. Repare que v pode ser posi-
tivo ou negativo. |v| chama-se rapidez 2 .
Na Fig. 3.1 mostra-se uma linha de universo . Define-se rapidez média pela
expressão:
distância percorrida [L]
Rapidez média = = (3.3)
tempo dispendido [T ]
ou
d
s= >0 (3.4)
t
sempre positivo e com unidades em m/s. Damos em seguida alguns valores tı́picos:
• Luz: 3 × 108 m/s;
• Som: 300 m/s;
• Corredor: 12 m/s;
• Glaciar: 10−6 m/s;
• Continente: 10−9 m/s.
Movimento e rapidez são grandezas relativas porque dependem do sistema de re-
ferência. Por exempo, um corredor poderá mover-se com a rapidez de 12 m/s no
solo, mas o planeta Terra move-se em torno do Sol com a velocidade de 29.8 m/s.
Qualquer movimento rectilı́neo não-uniforme chama-se acelerado.
A velocidade média é dada pelo coeficiente angular da corda P1 P2 que une os
dois pontos (x1 ,t1 ) e (x2 ,t2 ).
Se v > 0 o movimento vai no sentido positivo do eixo Ox; se v < 0 o sentido do
movimento vai no sentido negativo do eixo Ox.
v = v1 − vr (3.6)
e de B para A
v = v2 + vr . (3.7)
Logo, conclui-se que
v1 − v2
vr = = −3km/h (3.8)
2
ou seja, 0.83 m/s.
Exemplo 2: A velocidade de um atleta foi registada na tabela 3.2.
- Determine v para os primeiros 1.53 s da corrida.
22 3 Movimento unidimensional
t(s) 0.00 0.18 0.25 0.37 0.43 0.54 0.74 0.84 1.12 1.37 1.53
x(m) 0.00 0.61 0.91 1.52 1.83 2.44 3.66 4.27 6.10 7.93 9.14
Table 3.2 Posições e instantes de tempo registados durante a aceleração inicial de um atleta numa
prova de velocidade.
x2 − x1 9.14 − 0
v= = = 5.97m/s.
t2 − t1 1.53 − 0
- Determine v no intervalo de tempo t1 = 0.54 s e t2 = 0.93 s:
x2 − x1 4.88 − 2.44
v= = = 6.3m/s.
t2 − t1 0.93 − 0.54
À medida que o ponto P2 se aproxima do ponto P1 (na Fig. 7.7), ∆ x/∆t tende para
o coeficiente angular da tangente T T 0 à curva neste ponto (cf. 7.7):
dx ∆x x(t0 + ∆t) − x(t0 )
= lim = lim (3.9)
dt t=t0 ∆t→0 ∆t ∆t→0 ∆t
∆ x dx
v = lim = . (3.10)
∆t→0 ∆t dt
A velocidade é igual à derivada geral em ordem ao tempo da função posição.
Os valores numéricos de v ou de v(t) são independentes do sistema de coor-
denadas (se não houver movimento relativo) pois que dependem da diferença das
posições. Isto é, são invariantes relativamente à escolha da origem ou do sistema
de coordenadas.
Exemplo 3: Exemplo de uma partı́cula movendo-se ao longo de uma linha recta
com a posição dada por x(t) = 2.1t 2 + 2.80 (m).
a) Dê os valores de v e v(t) nos instantes t = 3 e t = 5 s.
ou seja,
∆x
= 2at + a∆t + b, (3.20)
∆t
e, no limite,
∆x
lim∆t→0 = 2at + b. (3.21)
∆t
Finalmente obtém-se a expressão da derivada de x em ordem a t:
24 3 Movimento unidimensional
dx
= 2at + b. (3.22)
dt
∆x
v= = const. = vo . (3.23)
∆t
Também se tem
dx
v(t) = = const. = vo , (3.24)
dt
ou seja
v = v, (3.25)
a velocidade média iguala a velocidade instantânea. Suponha x(t = 0) = xo . Tem-se
logo
v = vo = x(t)−x
t−0
o
(3.26)
∴ x(t) = xo + vot.
É a equação do movimento linear uniforme (Fig. 3.3).
Fig. 3.4 Velocidade de uma bala de espingarda. Método I: Determinação directa do tempo de voo
(Em inglês, “Time-of-flight” method).
∆θ 77o − 20o
∆t = 0.0293 = 0.0293 = 0.0046s. (3.27)
360o 360o
A rapidez do projéctil é, por sua vez, dada por
d 1.50m
c= = = 326.1m/s. (3.28)
∆t 0.0046s
5 Em inglês, “rotating shaft”
26 3 Movimento unidimensional
Fig. 3.5 Velocidade de uma bala de espingarda. Metodo II: veio em rotação (em inglês, “rotating
shaft” method).
De modo a ter-se uma noção dos erros inerentes à determinação da rapidez us-
ando o método experimental exposto, resumimos as fontes de erro mais significati-
vas:
Erros e incertezas:
• Medida do tempo de revolução do veio: ∆tR = 0.001 s, inferior a 0.5 %;
• Posição dos orifı́cios (na verdade, medida do ângulo, ∆ θ ∼ (5 − 10)%;
• Medida da distância ∆ d ∼ 0.01 m, inferior a 1%.
Podemos avaliar o erro cometido na medição usando o método do tipo-B, tal
como foi descrito no Fasc. 1:
d.E∆t −∆t.Ed
d
Es = E( ∆t )= ∆t 2
= 1.5×0.001−0.0046×0.01
0.0046 (3.29)
Es = 0.3m/s
u vdu − udv
d( ) = . (3.31)
v v2
It is a good thing to proceed in order and to establish propositions. This is the way to gain
ground and to progress with certainty.
3.5 Aceleração
a é igual ao declive do segmento de recta que liga os pontos (v1 ,t1 ) e (v2 ,t2 ) (vd.
Fig. 3.6).
dv(t) d 2 x(t)
a(t) = = . (3.34)
dt dt 2
Fig. 3.8 Velocidade vs. tempo. Nem sempre quando v=0 tem-se a=0.
3.7 Aceleração constante; caso particular 29
∆ v (4.5 − 0.5)
a= = β = 2β m/s2 (3.36)
∆t 2
Se derivarmos a velocidade, obtemos
dv
a(t) = = βt. (3.37)
dt
A aceleração nos instantes t = 1 s e t = 3 s, é, resp., a(1) = β e a(3) = 3β . Pode
verificar que
a(1) + a(3)
a= = 2β . (3.38)
2
dv
a(t) = = a = constante, (3.40)
dt
∴ v(t) ≡ linha − recta. (3.41)
Quando um corpo tem aceleração uniforme (Fig. 3.9)
a(t) = a = const.
a = a = v(t)−v
t−0
o
(3.42)
∴ v(t) = vo + at.
30 3 Movimento unidimensional
Fig. 3.9
v − v0 1 v − v0 2
x(t) − x0 = v0 + (3.47)
a 2 a
1 1
= [v0 (v − v0 ) + (v − v0 )2 ] (3.48)
a 2
2a(x(t) − x0 ) = v2 − v20 (3.49)
e, finalmente,
v(t)2 − v20 = 2a(x(t) − x0 ). (3.50)
Após os cálculos anteriores chegamos à seguinte expressão:
1
30 = 0 + (0)t + × 2t 2 . (3.56)
2
√
∴ t = 30 = 5.5s. (3.57)
Exemplo 4: Uma partı́cula encontra-se em x0 = 5 m no instante inicial t = 0,
movendo-se com velocidade inicial v0 = 20 m/s. A partir desse momento começa
a desacelerar (i.e., com aceleração oposta à velocidade). No instante t = 10 s a
partı́cula tem a velocidade v = 2 m/s.
a) Qual é a sua aceleração?
b) Determine a função posição.
c) Qual o intervalo de tempo que decorre até a partı́cula voltar à posição inicial?
Resposta:
a) Temos as condições iniciais
x0 = 5m
v0 = 20m/s
v(10) = 2m/s, quando t = 10 s.
v = v0 + at (3.58)
1
x = x0 + vot + at 2 (3.59)
2
2 2
v − v0 = 2a(x − x0 ). (3.60)
5 = 5 + 20t − 0.9t 2
2
0.9t − 20t = 0
(0.9t − 20)t = 0
ou seja
20
t = 0∨t = = 22.22s.
0.9
3.9 Equação do movimento a = −g 33
Trace um sistema de coordenadas com o eixo Oy orientado para cima. Como já
vimos, as equações do movimento com a constante são as seguintes:
a = −g (3.63)
v = v0 − gt, (3.64)
1
y = y0 + vot − gt 2 , (3.65)
2
e
v2 − v20 = −2g(y − y0 ). (3.66)
tividade Geral.
34 3 Movimento unidimensional
a = ga(gees), (3.68)
y0 = 0 m
v0 = 25 m/s
a = −g
Usemos as equações
1
y(t) = vot − gt 2
2
v(t) = v0 − gt
v(T ) = 0 = v0 − gT
v0 25 m/s
T = = = 2.55 s.
g 9.8m/s2
7 Com o desenvolvimento estrutural dos aparelhos e motores mais potentes, a tendência é os aviões
v2 − v20 = −2g(y − y0 )
Quando v(T ) = 0, tem-se y(T ) = ym , donde
0 − v20 = −2g(ym − 0)
v20 (25)2
ym = = = 31.9 m.
2g 2 × 9.81
c) Qual é a velocidade quando atinge de novo o solo?
Tem-se
v2 − v20 = −2g(y − y0 )
v2 − v20 = −2g(0 − 0)
v = ±v0 = −25m/s.
1
y = v0t − gt 2
2
1 1
0 = v0t − gt 2 = t(v0 − gt)
2 2
2v0
t = 0∨t = = 2T = 2 × 2.55s.
g
isto é:
ve 2x0a a
t= [1 ± (1 − 2 )1/2 ]. (3.70)
a ve
O sinal ± indica que poderá haver em geral dois instantes de tempo correspondendo
a dois eventos diferentes.
Por exemplo, escolha a origem do sistema de coordenadas na posição em que se
encontra o estudante no instante t = 0: x0e = 0 e x0a = 15 m. Temos também ve = 6
m/s, a = 1 m/s2 , v0a = 0.
Tem-se
2x0a a 2 × 15 × 1
= = 0.83, (3.71)
v2e 6×6
6
t = [1 ± (1 − 0.83)1/2 ] (3.72)
1
donde resulta t = 3.5s 8 e t = 8.4 s 9 .
Qual a distância percorrida pelo autocarro entretanto?
1
xa − x0a = v0at + at 2 = 6m (3.73)
2
onde xa − x0a é a distância percorrida, isto é, 6 m.
Exemplo 7: Uma pedra é atirada para cima do alto de um edifı́cio com a veloci-
dade inicial vertical de 20 m/s. O edifı́cio tem 50 m de altura e a pedra passa a razar
o edifı́cio no seu movimento para baixo.
a) Ao fim de quanto tempo a pedra atinge o ponto mais alto da sua trajectória?
Sabe-se que
v = v0 − gt. (3.74)
A altura máxima é atingida quando v = 0, pois que a pedra tem que inverter o sentido
do movimento e há um momento em que ela pára no ar para voltar a descer:
v0 20
∴t = = = 2.04s. (3.75)
g 9.8
b) Qual é a altura máxima atingida?
Parte-se da equação
1
y = v0t − gt 2 , (3.76)
2
donde se obtém
1
ymax = 20 × 2.04 − × 9.8 × (2.04)2 = 20.4m. (3.77)
2
8 Corresponde ao intervalo de tempo que seria necessário para alcançar o autocarro quando este
mento.
3.10 Problema a 2 corpos 37
c) Qual é o tempo que a pedra demora a chegar ao ponto de onde foi lançada
(onde está o atirador)?
1
y = v0t − gt 2 . (3.78)
2
O nı́vel do atirador é o nı́vel de referência, a origem do sistema de coordenadas por
questão de conveniência, y = 0.
t = 0s t = 4.08s. (3.80)
A primeira corresponde ao instante inicial quando a pedra foi lançada (mas que
aqui é irrelevante), e a segunda corresponde ao intervalo de tempo decorrido desde
o instante inicial 10 .
d) Qual é a velocidade da pedra no instante t = 4.08 s?
Temos
v = v0 − gt (3.81)
v = 20 − 9.8 × 4.08 = −20.0m/s. (3.82)
Repare que a pedra chega ao nı́vel do atirador com a mesma velocidade em módulo
com que partiu, só o sinal se inverteu.
e) Qual é a posição da pedra e do objecto quando t = 5 s?
Recorremos de novo à expressão:
assim como
1
y = v0t − gt 2 . (3.84)
2
1
y = 20 × 5 − × 9.8 × 52 = −22.5m (3.85)
2
f) Com que velocidade, e em que instante de tempo, a pedra bate no solo?
1
−50 = vot − gt 2 (3.86)
2
Esta é uma equação algébrica em t, cuja soluções são, t1 = 5.83 s e t2 = −8.75 s,
esta última sem significado fı́sico.
A velocidade com que a pedra embate no solo, mais uma vez, determina-se por
meio da equação v = 20 − 9.8 × 5.83 = −37.1 m/s.
4.1 Vectores
Os vectores surgiram nas primeiras duas décadas do Séc. XIX com a representação
geométrica dos números complexos. Caspar Wessel (1745–1818) , Jean Robert Ar-
gand (1768–1822) , Carl Friedrich Gauss (1777–1855) , estão entre os que mais
contribuiram ao conceberem os números complexos como pontos num plano a
2 dimensões, isto é, como vectores bidimensionais. Em 1827, August Ferdinand
Möbius publicou um livro intitulado “The Barycentric Calculus” no qual introduziu
segmentos rectos orientados que designou por letras do alfabeto, que eram em todos
os aspectos os actuais vectores usados na matemática, ciência e engenharia.
Caspar Wessel desenvolveu uma técnica algébrica para lidar com segmentos de
recta orientados. Ele introduziu uma unidade i (o número imaginário puro) para
expressar qualquer segmento de recta orientado na forma a + bi, sendo a e b
números reais. No desenvolvimento da sua técnica, Wessel obteve uma interpretação
dos números complexos 1 . A invenção dos vectores, representados hoje na forma
→
− →
− →
− → −
a i + b j , onde i e j são vectores unitários, foi apenas mais um passo audacioso
dos matemáticos com pensamento criativo.
Vectores são entidades matemáticas úteis para representar grandezas fı́sicas que
têm magnitude (módulo), direcção e sentido.
1 Na verdade só mais tarde desenvolvida de forma explı́cita pelo matemático francês D’Argand,
39
40 4 Vectores
Verifica-se que
→
− → −
A = B, (4.2)
→
− →
−
somente se | A |=| B | têm o mesmo módulo, mesma direcção e sentido; a
localização e o ponto de aplicação não são relevantes (vectores equipolentes). As
unidades fı́sicas têm que ser necessariamente as mesmas.
Quando se tem mais de dois vectores a soma processa-se tal como está ilustrado na
Fig. 4.3.
Usa-se a propriedade distributiva da soma vectorial:
→
− →
− → − →
−
R = ( A + B )+ C
− →
→ − − →
→ − (4.3)
R = A +( B + C )
Forças podem ser representadas por linhas rectas: Para definir uma força é
necessário especificar: i) o seu ponto de aplicação; (ii) a sua direcção; (iii) a sua
−→
magnitude. Assim, AB representa uma força actuando de A para B.
4.2 Representação geral de vectores; Notação; Deslocamento 43
→
− →
− −
Por exemplo: F = m→ −a, F e → a têm a mesma direcção e sentido, apesar de a
massa m ter unidade própria (kg, no SI).
jos lados são essas duas forças; e reciprocamente, se uma única força fôr represen-
tada por uma linha recta, se desenharmos um paralelograma tendo por diagonal esta
recta, esta força pode ser substituı́da por duas forças representadas pelos dois lados
do paralelograma. Veja a Fig. 4.5-(a) para ilustração da ideia.
→
−
P ROPOSIÇ ÃO 2. A expressão da resultante de dois vectores → −a e b inclinados
em relação um ao outro de um ângulo φ , consiste num vector resultante →
−
c , tal que:
q
−→ 2
R =| OC |= a2 + b + 2a · b. (4.6)
→
− −
onde a, b e c são as magnitudes de → −
a, b e→ c , respectivamente, enquanto que φ e
→
− → − →
−
θ são os ângulos que b e c fazem com a . A Eq. 5.20-(a) determina a magnitude
e a Eq. 5.20-(b) a direcção de →
−
c.
L EI DOS SENOS : A lei dos senos estabelece que para um triângulo arbitrário com
lados a, b e c e ângulos opostos a esses lados α, β e γ:
a b c
= = . (4.8)
sin α sin β sin γ
46 4 Vectores
= 300cm 2
√
∴ c = 10 3cm
= 17.3cm (4.9)
b sin φ
tan θ = a+b cos φ
10cm. sin(60o )
= o
√ cos(60 )
10cm+10cm.
3
= 3
∴ θ = 30o .
O deslocamento resultante tem módulo 17.3 cm e está orientado ao longo da
direcção N 60o E.
3 A palavra álgebra é á a variante latina da palavra Árabe “al-jabr”. Esta palavra foi usada pelo
grande matemático árabe Mohammed ibn-Musa al-Khowarizmi cerca de 825 no seu livro escrito
em Bagdad e intitulado “Hidab al-jabr wal-muqubala”.
4.2 Representação geral de vectores; Notação; Deslocamento 47
Se →
− a tiver componentes ao longo dos três eixos num sistema rectangular (ou
cartesiano), as seguintes equações expressam o vector em termos das suas compo-
nentes:
→
−a =→ −a x +→
−
a y +→−
az
ax = a cos α1
ay = a cos α2 (4.10)
azq= a cos α3
a= a2x + a2y + a2z
rx = ax + bx + cx + ...,
ry = ay + by + cy + ..., (4.15)
rz = az + bz + cz + ...
Para determinar →
−r analiticamente iremos primeiro determinar os seus compo-
nentes. Temos sucessivamente:
rx = [3 cos 60o + cos0o + 2 cos(−45 o o o
√ ) + 4 cos(−90 ) + cos(120 )]km
= (2 + 2)km,
= 3.41km
ry = [3 sin(60o ) + sin(0o ) + 2√ o o o
√ ) + 4 sin(−90 ) + sin(120 )]km
sin(−45
= (2 3 − 2 − 4)km (4.17)
= −1.95km
q
∴r= rx2 + ry2
= 3.93km
→
−r = →
−
rx + →
−
ry , (4.20)
ou
−r = x→
→ − →
−
i +y j . (4.21)
p
O módulo do vector é r = x2 + y2 , sendo que x = r cos θ e y = r sin θ , e tan θ =
y/x. O ângulo θ é o ângulo que o vector →
−r faz com o eixo Ox.
Qual é o significado da expressão:
→
− →
− →
−
x i + y j + z k =? (4.22)
−r = x→
→ − →
− →
−
i +y j +z k . (4.23)
Exemplo 4: 2-dim
Sejam as componentes de um vector:
Ax = A cos θ
(4.25)
Ay = A sin θ .
→
−
Exemplo 5: Considere dois vectores A (dirigido no sentido positivo do eixo Ox)
→
− →
− → −
e B (fazendo um ângulo de 600 com o eixo Ox). Calcule a sua soma A + B .
Comece por escolher o sistema de coordenadas mais conveniente, por exemplo,
escolha um dos eixos orientado ao longo de um dos vectores.
→
− →
−
Os módulos dos vectores são, | A |= 3 e | B |= 4. Tem-se sucessivamente
→
− →
− →
− →
− →
−
A = A − x i + Ay j = A i + 0 j (4.29)
→
− →
− →
− →
− →
−
B = Bx i + By j = B cos 60o i + B sin 60o j (4.30)
→
− →
− → − →
− →
−
R = ( A + B ) = (Ax + Bx ) i + (Ay + By ) j (4.31)
→
− →
−
= (A + B cos 60o ) i + (0 + B sin 60o ) j (4.32)
→
− →
− →
− →
−
= (3 + 4 cos 60o ) i + (4 sin 60o ) j = 5 i + 3.46 j (4.33)
Fig. 4.9 Representação de um vector a três dimensões em função dos ângulos dos cosenos direc-
tores
Ax = A cos α
Ay = A cos β (4.34)
Az = A cos γ
4.2 Representação geral de vectores; Notação; Deslocamento 51
Ax
cos α = (4.36)
A
Ay
cos β = (4.37)
A
Az
cos γ = (4.38)
A
→
−
O vector A pode escrever-se
→
− →
− →
− →
−
A = A cos α i + A cos β j + A cos γ k . (4.39)
Sejam
→
− →
− →
− →
−
A = Ax i + Ay j + Az k
→
− →
− →
− →
− (4.40)
B = Bx i + By j + Bz k
A adição é dada pela operação:
→
− →− →
− →
− →
−
A + B = (Ax + Bx ) i + (Ay + By ) j + (Az + Bz ) k (4.41)
→
−
Decomponha o vector B :
• Bq : paralelo a x;
52 4 Vectores
→
− →−
A · A = AA cos 00 = A2 (4.47)
Os vectores são paralelos.
→
− →
−
A · (− A ) = −A2 . (4.48)
Os vectores são antiparalelos.
A Fig. 7.6 ilustra como se pode obter as componentes de A ao longo de B e
vice-versa.
→
− →
− →
−
Note que B cos φ é a projeção de B em A e que A cos φ é a projeção de A em
→
−
B.
→
− →−
0o < φ < 900 (A · B)>0
→
− →−
900 < φ < 1800 (A · B)<0 (4.49)
→
− →−
φ = 900 (A · B)=0
→
− → −
No último caso A e B são perpendiculares um ao outro. O produto interno de dois
vectores constitui um excelente teste de verificação da sua perpendicularidade.
Quando os vectores unitários são paralelos, verifica-se:
4.3 Multiplicação de vectores 53
→
− → −
i · i =1
→
− → −
j · j =1 (4.50)
→
− → −
k · k =1
- Propriedade distributiva
→
− → − → − → − → − → − → −
(C + D)· E = C · E + D · E . (4.52)
→
− →−
Exemplo 7: Calcule o produto interno (ou escalar) A · B .
Temos
→
− →− →
− →
− →
− →
− →
− →
−
A · B = (Ax i + Ay j + Az k ) · (Bx i + By j + Bz k ) (4.53)
Obtemos finalmente
54 4 Vectores
→
− →−
A · B = Ax Bx + Ay By + Az Bz . (4.55)
− →
→ −
- Qual é o significado do produto interno j · A ?
− →
→ − → − →
− →
− →
−
j · A = j · [Ax i + Ay j + Az k ] = Ay (4.56)
− →
→ − →
−
Portanto, o produto interno j · A representa a componente do vector A no eixo
Oy. O produto interno será muito utilizado no cálculo do trabalho efectuado por
→
− →
−
uma força F sobre um corpo deslocado da distância d :
− →
→ −
W= F · d. (4.57)
→
− →
− →
− → − →
− − →
→ −
Exemplo 8: Sejam os dois vectores A = 3 i + 7 k e B = − i + 2 j + k .
→
− →−
- Calcule o produto interno A · B e o ângulo θ que fazem os dois vectores.
Tem-se
Ax = 3; Bx =
−1
Ay = 0; By =
2
Az = 7; Bz =
1
Logo,
→
− → −
( A · B ) = Ax Bx + Ay By + Az Bz
= (3)(−1) + (0)(2) + (7)(1) = +4
→
− → −
(A · B) 4 4
cos θ = =√ p =√ √
AB 32 + 02 + 72 (−1)2 + 22 + 12 58 6
→
− → −
donde se segue que o ângulo formado pelos dois vectores A e B é
⇒ θ = 77.6o .
→
− →
− → −
C = [ A × B ]. (4.58)
C = AB sin φ (4.59)
4.3 Multiplicação de vectores 55
→
−
QuadroNegro 8 - (a) A sin φ é a componente de A perpendicular a B ; (b)
AB sin φ é a área do paralelograma.
→
−
Como mostra a Fig. 4.12 o vector C está orientado perpendicularmente ao plano
→
− → − → − →
− → −
formado por A e B . C é perpendicular a A e B .
56 4 Vectores
→
− →− − →
→ −
A × B =−B × A. (4.60)
→
− →− →
− →
− →
− → − →
−
C = i [7(0)−(−1)(−1)]− j [3(0)−(1)(−1)]+ k [3(−1)−(1)(7)] = − i − j −10 k
(4.75)
→
− →− →
− → − →
− →
− − →
→ −
C · A = (− i − j − 10 k ) · (3 i + 7 j − k ) = −3 − 7 + 10 = 0, (4.76)
→
− →− →
− → − →
− →
− → −
C · B = (− i − j − 10 k ) · ( i − j ) = −1 + 1 = 0. (4.77)
→
− →
− → −
C é perpendicular a A e B .
Em módulo:
C = AB sin θ (4.78)
ou seja
p √ r
C (−1)2 + (−1)2 + (−10)2 102 102
sin θ = =p p =√ √ = , (4.79)
AB 2 2 2 2
3 + 7 + (−1) 1 + (−1) 2 59 2 118
donde resulta r
102
θ = arcsin = 70.80 . (4.80)
118
Exemplo 13: Lei dos cosenos
Trace um triângulo com os vectores. Tem-se
→
− → − →
−
C = A−B (4.81)
donde
→
− → − →
− → − →
− → − →
− →− →
− → − → − → −
C · C = ( A − B )·( A − B ) = A · A −2 A · B + B · B , (4.82)
58 4 Vectores
ou seja
C2 = A2 − 2AB cos θ + B2 . (4.83)
Exemplo 14: Lei dos senos A lei dos senos 4 estabelece uma relação entre os
lados e os ângulos de qualquer triângulo (Fig. 4.13):
a b c
= = = 2R. (4.84)
sin A sin B sinC
4.4 Estática
de vento e a roda de água eram de facto máquinas inventadas para tornar o esforço
humano mais conveniente. Contudo, nesse tempo, a máquina não era algo que tra-
balhava em lugar do homem, tal como acontece hoje com a máquina eléctrica. O
que se procurava era um dispositivo que proporcionasse vantagem mecânica, uma
máquina que poupasse tempo ao homem. Os princı́pios sobre os quais se funda a
ciência da estática foram estabelecidos por Arquimedes e Stevenius.
O primeiro princı́pio deve-se a Arquimedes (287-212 A.C.) 5
Todos nós sabemos por experiência própria que uma pequena força aplicada num
extremo de uma alavanca, longe do ponto de apoio (ou fulcro) pode ultrapassar em
magnitude uma força muito maior aplicada perto do fulcro.
O tratado de Arquimedes no qual trata desta matéria mostra que Arquimedes
fala de pesos (e não forças) e o seu raciocı́nio trabalha com Axiomas, Redução ao
absurdo e a teoria geométrica das proporções.
P RINC ÍPIO DA ALAVANCA : Seja AB uma barra suportada em C, e sejam P e Q
dois pesos suspensos nos pontos A e B. No equilı́brio verifica-se:
P × AC = Q × BC. (4.85)
Exemplo 14: Alavanca simples: A maior parte dos membros do corpo são desta
classe. O ante-braço move-se em torno do cotovelo sendo este o fulcro. A potência
é aplicada pelos músculos bı́ceps (Vd. Fig. 4.14-(a)). A vantagem mecânica é muito
pequena e os músculos devem ser muito fortes.
Exemplo 15: A alavanca simples funciona com base num fulcro fixo e só pode
elevar um peso até à altura acima do flucro e igual ao comprimento do braço menor.
Esta restrição é ultrapassada com o segundo dos poderes mecânicos, a roda e o eixo
(Vd. Fig. 4.14-(b)). Em qualquer instante o diâmetro ACB pode ser visto como uma
alavanca com o flucro em A. Logo, P × AB = W × AC. A força potente é aplicada na
roda maior. A condição de equilı́brio é a da alavanca, Eq. 10.3.
Fig. 4.14 (a) Alavanca simples na máquina do corpo humano; (b) cabrestante, aparelho muito
usado em navios (náutica); (c) Polia.
na Escola Real dos Ptolomeus (uma dinastia de faraós que governou o Egipto desde a morte de
Alexandre O Grande, até ao ano 30 a.C.) Euclides estudou aqui meio século antes. São conhecidas
as histórias da coroa do rei Hiero, os espelhos ustórios (que pegam fogo) com os quais destruiu as
embarcações romanas, e o seu assassinato no final do cerco a Siracusa, e apesar das ordens estritas
do general Marcellus para que a sua vida fosse poupada.
60 4 Vectores
Exemplo 16: Determine em que ponto de uma barra, de peso desprezável, deve
colocar um corpo de modo que o peso suportado por uma criança numa das suas ex-
tremidades seja a terça parte daquele que suporta um homem na outra extremidade.
Seja W o peso suportado pela criança e 3W o peso suportado pelo homem. Se-
jam x1 e x2 respectivamente o braço potente e o braço resistente. Estando a barra
em equilı́brio a soma dos momentos deve ser nula, ou por outra via, aplicando o
princı́pio da alavanca, W x1 = 3W x2 , isto é, x1 = 3x2 e o peso deve ser colocado a
uma distância mı́nima de 3/4 do comprimento da barra.
Exemplo 17: A polia é uma roda com uma corda enrolada e suportada numa
extremidade. A força potente é aplicada na outra extremidade. O peso é pendurado
no eixo da polia, como mostra a Fig. 4.14-(c). Em qualquer instante o diâmetro ACB
pode ser visto como uma alavanca com fulcro em A. Donde
P × AB = W × AC
P AC 1 (4.87)
W = AB = 2 .
W = 2n × P
P 1 (4.89)
W = 2n
Exemplo 19: Polipasto Há dois blocos, cada um dos quais com várias polias no
mesmo eixo. A corda está amarrada a um dos blocos e enrolada em torno da todas
as polias como mostra a Fig. 4.15-(b). A tensão da corda é a mesma em todo o lado
e o peso é suportado por todas as tensões de modo que
P 1
= . (4.90)
W n
Em todos estes casos ignorámos o efeito do atrito que é com frequência consider-
avel. Sem atrito, o trabalho que a força aplicada P deve efectuar para elevar o peso
R na distância s0 deve ser igual ao trabalho efectuado por P ao deslocar o seu ponto
4.4 Estática 61
P × s = R × s0 . (4.91)
A Fig. 4.17 mostra a solução avançada por Stevinus. Seja um triângulo com o
plano perpendicular ao horizonte e com a sua base paralelo a ele. De cada lado do
triângulo coloque-se uma série de esferas de igual massa, constituindo uma cadeia
infinita. Stevinus mostrou que a força necessária P aplicada sobre um dos lados do
triângulo para suportar o corpo em repouso sobre o lado oposto do plano inclinado
deve estar na seguinte proporção:
P altura − do − plano
= . (4.93)
W comprimento − do − plano
Nesta expressão hoje sabemos que está implı́cita a conservação da energia mecânica,
na forma W = ∆U. Ele chegou a este resultado pela experimentação e pelo conhec-
imento instintivo. Sabemos de antemão que a cadeia de esferas não se pode mover,
nunca vimos nada semelhante na nossa experiência de vida, podemos dizê-lo até
por instinto. Foi por esta via do conhecimento instintivo que Stevinus começou as
suas investigações e construiu as bases da mecânica.
→
−
Exemplo 21: Um cubo de lado a é actuado por uma força P , tal como mostra a
→
−
Fig. 4.19. Determine o momento de F :
→
−
a) em torno de A, M A ;
→
−
b) em torno do lado AB, M AB ;
→
−
c) em torno da diagonal AG do cubo, M AG .
Solução do Problema.
→
−
a) Escolheu-se o sistema de eixos, tal como ilustra a Fig. 4.19. O vector P é
−→
representado em coordenadas Cartesianas e o vector → −r
F/A = AF com origem no
→
−
ponto A e término no ponto de aplicação F de P . Deste modo tem-se
−r = a→
→ − →
− →
− → −
i − a j = a( i − j ) (4.94)
→
− P →− P →− P →− →
−
P = √ j −√ k = √ ( j − k) (4.95)
2 2 2
→
−
O momento do vector P em torno de A é
→
− →
− →
− → − P →− → −
MA = →
−r
F/A × P = a( i − j ) × √ ( j − k ). (4.96)
2
→
−
b) O momento em torno do lado AB é obtido fazendo a projeção de M AB no eixo
Ox:
→
− → − →
− aP → − → − → − aP
MAB = i · M A = i · √ ( i + j + k ) = √ . (4.97)
2 2
4.4 Estática 63
→
−
Fig. 4.19 Determinação do momento de P .
→
−
c) A partir do momento que temos o momento de P relativo ao ponto A, o
→
− →
−
momento de P relativo à diagonal AG é obtido projectando M A sobre AG. Temos
então primeiro que obter o vector unitário que vai de A para G.
−→
→
− AG
λ = . (4.98)
AG
Ora, pela Fig. 4.19, concluı́mos que
−→ →
− →
− →
−
AG = a i − a j − a k . (4.99)
√ √
O seu módulo é AG = a 12 + 12 + 12 = a 3, donde
−→ →
− →
− →
−
→
− AG a i − a j − a k 1 →− → − → −
λ = = √ = √ ( i − j − k ). (4.100)
AG a 3 3
Obtém-se em seguida
→
− → − 1 →− → − → − aP → − → − → −
MAG = ( λ · M AG ) = √ ( i − j − k ) · √ ( i + j + k ), (4.101)
3 3
ou seja
aP aP
MAG = √ (1 − 1 − 1) = − √ . (4.102)
3 6
Chapter 5
Cinemática a 3 dimensões
’If people do not revere the Law of Nature, It will ...adversely affect them. If they accept it
with knowledge and reverence, It will accommodate them with balance and harmony.’
- Tao Te Ching, “O Livro do Caminho e sua Virtude”, escrito pelo grande sábio
chinês Lao Tzu (circa 600 A.C.)
All religions, arts and sciences are branches of the same tree. All these aspirations are
directed toward ennobling man’s life, lifting it from the sphere of mere physical existence
and leading the individual towards freedom.
- Albert Einstein
65
66 5 Cinemática a 3 dimensões
−r = ∆ x→
∆→
− →
−
i +∆y j . (5.2)
→
− ∆→
−r ∆x→ − ∆y→ − ∆z→ −
v = = i + j + k, (5.3)
∆t ∆t ∆t ∆t
O vector velocidade média tem a direcção e o sentido de ∆ →
−r , e tem módulo ∆ r/∆t
(cf. Fig. 5.1).
Fig. 5.1 (a) - Vector posição no espaço cartesiano a três dimensões; (b) - Vector deslocamento.
→
− ∆→
−r d→
−r
v = lim = . (5.5)
∆t→0 ∆t dt
→
− d →− →
− →
−
v = [x i + y j + z k ] (5.6)
dt
→
− dx →
− dy → − dz → −
v = i + j + k, (5.7)
dt dt dt
→
− →
− →
− →
−
v = v i +v j +v k .
x y z (5.8)
O módulo do vector velocidade é dado pela expressão:
q
|→−v |= v2x + v2y + v2z (5.9)
5.1.2 Rapidez
d→
−r q
s =| |= v2x + v2y + v2z . (5.11)
dt
Repare que a rapidez instantânea tem o módulo do vector velocidade (enquanto que
a velocidade instantânea tem, além desta propriedade, direcção e sentido).
distancia − percorrida
rapidez − media = . (5.12)
tempo
5.1.3 Aceleração
→
−
Portanto, temos sempre a 6= 0 se a velocidade muda de direcção, ou se a veloci-
dade muda em módulo.
68 5 Cinemática a 3 dimensões
A aceleração instantânea, →
−a , no ponto P define-se em módulo, direcção e sen-
tido como o limite para o qual tende a aceleração média quando o ponto Q aproxima-
se do ponto P e ∆ v e ∆t ambos aproximam-se de zero.
QuadroNegro 2 - Problema.
5.1 Cinemática em 3 dimensões 69
QuadroNegro 3
• →
−
a ·→
−
v = 0 - o módulo da velocidade permanece constante, mas a velocidade
muda de direcção ⇒ movimento circular.
→
− ∆→
−
v
a = . (5.16)
∆t
Se a velocidade inicial é →
−
v 0 , então após o intervalo de tempo ∆t = t será:
→
−
v =→
−
v 0 +→
−
a t, (5.17)
vx = vox + axt
vy = voy + ayt (5.18)
vz = voz + azt
→
−r = →
−r + →
− 1→−
o v ot + a t 2 . (5.19)
2
As suas componentes são:
1
x(t) = xo + voxt + axt 2 (5.20)
2
1
y(t) = yo + voyt + ayt 2 (5.21)
2
1
z(t) = zo + vozt + azt 2 (5.22)
2
Repare que nas Eqs. 17.172-Eq. 17.173 e Eqs. 5.20- 5.22 as várias componentes do
movimento são independentes umas das outras. Embora o tempo seja comum em
todas elas, vx é só afectado por ax ; x é afectado pela velocidade inicial vox e ax , e por
aı́ adiante.
Começamos aqui o estudo do movimento dos corpos aos quais se comunica uma
velocidade inicial a partir de uma posição inicial e que seguem uma trajectória de-
terminada pelo efeito do campo gravitacional e pela resistência do ar.
O modelo ideal é o seguinte:
• As trajectórias são de curto alcance de modo que → −g é (praticamente) constante
em módulo e direcção;
• Despreza-se a resistência do ar;
• Despreza-se o efeito da rotação da Terra;
• O movimento é de aceleração constante.
Para descrever este movimento pode assumir que (cf. Fig. 5.4):
• o movimento realiza-se no plano XZ;
• O eixo OZ é dirigido verticalmente;
• O eixo OX é dirigido no sentido da componente horizontal da velocidade;
Ou seja:
ax = 0
ay = 0
(5.23)
az = −g = −9.80m.s−2 (aceleracao-oposta-a+Oz)
voy = 0.
Equações do movimento:
x(t) = x0 + v0xt
(5.25)
⇒ t = x(t)−x 0
v0x .
Substitua t em z(t):
x − x0 2
x(t) − x0 1
z = z0 + v0z − g (5.26)
v0x 2 v0x
z = A + Bx +Cx2 , (5.27)
O movimento balı́stico foi estudado por Galileu tendo ele chegado à conclusão que a
curva traçada pelo projéctil 1 é uma parábola, consistindo na combinação do movi-
mento de queda livre na vertical com o movimento inercial na horizontal (o de-
sacoplamento das componentes que referimos na Sec. anterior.)
Sejam quais forem as condições iniciais, a trajectória será sempre uma parábola,
desde que seja desprezável o efeito da resistência do ar.
O objectivo é determinar:
• altura máxima;
• tempo de voo 2 ;
• Alcance 3
Normalmente assume-se:
• z(0) = 0 e x(0) = 0, a partı́cula é colocada na origem das coordenadas;
• vz (0) = vzo - componente vertical da velocidade inicial;
• vx (0) = vxo - componente horizontal da velocidade inicial.
O movimento efectua-se no plano XZ. Quando o projéctil atinge a altura máxima,
vz (0) = 0 ele está movendo-se efectivamente horizontalmente:
o módulo é: q
|→
−
v |= v2x + v2z (5.31)
e a direcção e sentido são dados por
vz (t)
tan θ = . (5.32)
vx (t)
Fig. 5.6 Esquema do foguetão V2 construı́do na Alemanha Nazi, na base de Peenemünde na costa
Báltica. Werner Von Braun era o cientista-chefe deste projecto que aterrorizou os bitânicos durante
a Segunda Guerra Mundial. Em 1945, os cientistas mais famosos especialistas em foguetões foram
acolhidos pelos americanos sob a capa da operação secreta “Paperclip”. Wernher von Braun, ci-
entista lı́der no desenvolvimento de foguetes na Alemanha foi levado para os Estados Unidos e
tornou-se director do Centro Espacial de Vôo Marshall de 1960 a 1970, onde desenvolveu o Pro-
grama Apollo que colocou o homem na Lua.
vox = vo cos θ
(5.38)
voz = vo sin θ
As equações do movimento balı́stico são as seguintes:
vx (t) = dx
dt = vo cos θ (5.40)
vz (t) = dz
dt = vo sin θ − gt.
Altura máxima:
v2o sin2 θ
Zmax = (5.41)
2g
Tempo de voo:
2vo sin θ
tvoo = = 2tmax . (5.42)
g
Alcance:
2v2o sin θ cos θ v2 sin 2θ
xmax = = o (5.43)
g g
Atenção: Os resultados apresentados anteriomente podem ser aplicados de ime-
diato se o ponto de impacto e de lançamento se encontrarem à mesma altura. De
outra forma deverá reacertar a origem.
A expressão do alcance:
v2 sin 2θ
R= o , (5.44)
g
é função do ângulo θ , de modo que podemos procurar o ângulo θ que corresponde
ao alcance máximo.
De imediato nos apercebemos que o valor máximo do alcance é obtido quando
sin 2θ = 1, ou seja
• 2θ = 90o
• θ = 45o
Podemos chegar à mesma conclusão por meio do cálculo das derivadas. Primeiro
obtemos o valor extremo:
dxmax v2
= o 2 cos 2θ = 0 ⇒ θ = 45o , (5.45)
dθ g
e depois verificamos se corresponde ao máximo:
76 5 Cinemática a 3 dimensões
d 2 xmax
< 0. (5.46)
dθ 2
Exemplo 3: Qual é o alcance de uma bala de espingarda calibre 22, supondo que
v0 = 330 m/s? Considere θ = 45o . Despreze a resistência do ar.
donde
x(T ) = 18 × 3.19 = 57.42 (5.53)
dx
vx (T ) = = vo = 18m/s (5.54)
dt
dz
vz (T ) = = −gT = −9.80 × 3.19 = −31.26m/s. (5.55)
dt
4Um arremessador (“pitcher”) lança uma bola para o o rebatador (“striker”), que a atinge com um
bastão e tenta em seguida correr em torno de um circuito de bases sem ser atingido pela bola pelos
defesas.
5.1 Cinemática em 3 dimensões 77
vz −31.26
tan β = = (5.56)
vx 18.0
β = −60.1o (5.57)
q
|→
−
p
v |= v2x + v2y = 182 + 31.262 = 36.1m/s (5.58)
vx (t) = vo cos θo
(5.60)
vz (t) = vo sin θo − gt.
Exemplo 6: Pretende-se atingir uma maçã com uma flecha no mesmo instante
em que ela cai da árvore (Fig. 7.1)
Para onde deve apontar o atirador de modo a atingir a maçã?
Fig. 5.8 Como atingir uma maçã em queda livre com uma flecha.
A trajectória da flecha é dada por x f (t), y f (t), donde resulta o vector posição:
−r (t) = x (t)→
→ − →
−
f f i + z f (t) k . (5.61)
O impacto da flecha com a maçã acontece no instante t = T e para que tal aconteça
é necessário que
z f (t) = zm (t)
(5.63)
x f (t) = xm (t)
As equações do movimento da maçã são:
xm (t) = L
(5.64)
zm (t) = H − 12 gt 2
x f (t) = voxt
(5.65)
z f (t) = vozt − 12 gt 2
78 5 Cinemática a 3 dimensões
→
− d→
−v
a = , (5.71)
dt
e também vimos na Sec. anterior que, se a velocidade varia em módulo ou em
direcção, a partı́cula está acelerada.
Por exemplo, se uma partı́cula move-se num cı́rculo a rapidez s =| →
−
v |= constante,
embora a direcção mude continuamente.
Considere dois instantes de tempo consecutivos muito próximos, ∆t, no movi-
mento de uma partı́cula ideal. Tem-se:
|→
−
v 1 |=| →
−
v 2 |= v = const, (5.72)
∆→
−
v =→
−
v 2 −→
−
v 1. (5.73)
|→
−
v |≈ v∆ θ (5.74)
Portanto,
| ∆v | ∆θ
a= ∼ v( ). (5.75)
∆t ∆t
O que significa este rácio ∆∆tθ ?
Repare que no intervalo de tempo ∆t a partı́cula tem o deslocamento v∆t. Esta
quantidade deve ser igual a R∆ θ (com θ em radianos).
v2
a⊥ = = ω 2 R, (5.79)
R
em unidades m/s2 .
Qual é a direcção (e sentido de →
−
a )?
No limite ∆t → 0 é claro que também ∆ θ → 0. Uma figura rápida do movimento
circular é suficiente para nos apercebermo-nos que ∆ → −v é perpendicular a → −
v, ∴
→
− →
−
a ⊥ v , em todo os pontos da curva.
Portanto, como o vector velocidade → −v é tangencial à trajectória conclui-se que
o vector aceleração é orientado para o centro do cı́rculo. Esta aceleração é chamada
de aceleração centrı́peta (“orientada para o centro”).
Podemos exprimir esta aceleração em termos do perı́odo τ do movimento. Se a
partı́cula percorre uma distância 2πR no intervalo de tempo τ, então a sua veloci-
dade é:
2πR
v= , (5.80)
τ
donde se obtém
4π 2 R
a⊥ = 2 . (5.81)
τ
Temos procurado calcular a velocidade e aceleração a partir do procedimento das
coordenadas. Em seguida iremos obter a aceleração de um objecto movendo-se ao
longo de um arco usando a coordenada de arco s. Emprega-se este método quando
se conhece previamente a trajectória da partı́cula. A posição do ponto P fica deter-
minada pela coordenada do arco s, isto é, pela distância à origem de referência eleita
O. Fica assim também estabelecido o sentido positivo da leitura da coordenada s.
S OLUÇ ÃO :
Note que
an
tan α =
at
Determinemos as componentes da aceleração:
v2 C2 s dvt dvt ds C √ C2
an = ρ = ρ ; at = dt = ds dt = √ C s
2 s
= 2
donde se obtém:
2s
α = arctan .
ρ
Exemplo 2: Num carrossel os passageiros movem-se num cı́rculo horizontal de
raio R = 5.0 m, completando uma volta ao fim de 40 s. Calcule a⊥ .
S OLUÇ ÃO :
2πR 2π(5.0)
v= = = 0.785m/s (5.82)
τ 40
v2 7.852
a⊥ = = = 0.123m/s2 (5.83)
R 5.0
ou seja, em termos de fracção de “gees”:
a⊥
= 1.25gees. (5.84)
g
Repare que
→
−
1. Na queda livre, →
−a é constante em módulo e direcção e ddta = 0;
2. No movimento circular uniforme, → −
a é constante em módulo mas não em direcção
→
−
que está sempre dirigida para o centro e em contı́nua mudança, ddta 6= 0 ⇒ →
−
a 6=
constante.
Exemplo 3: Velocidade de uma pequena esfera ao longo de um raio de uma roda
de bicicleta (Vd. Fig. 18.14(b))
S OLUÇ ÃO :
Uma esfera move-se ao longo do raio de uma roda de bicicleta com velocidade
constante v. A velocidade angular da roda é θ̇ = ω em rad/s em torno de um eixo
82 5 Cinemática a 3 dimensões
→
− d→
−ur
v = ṙ→
−
u r +r . (5.87)
dt
Encontramos um termo novo, que é o que se encontra no final da Eq. 17.212. Vamos
então calculá-lo:
d→ − →
− d →
− d
ur= i cos θ + j sin θ
dt dt dt
→
− →
−
= − i θ̇ sin θ + j θ̇ cos θ
→
− →
− (5.88)
= θ̇ (− sin θ i + cos θ j )
→
− → −
Repare que os vectores unitários i e j permanecem fixos no sistema de coorde-
nadas escolhido. Repare agora que se fizermos roda o vector unitário → −
u r de 90o
→
−
obtemos o novo vector unitário azimutal u : θ
→
− →
− →
−
u θ = i cos θ + 2 + j sin θ + π2 )
π
→
− →
− (5.89)
= − sin θ i + cos θ j
b) Em coordenadas cartesianas:
Neste caso convém partir da expressão
→
− d →− →
−
v = (x i + y j ) (5.93)
dt
Ou seja
→
− d →
− →
−
v = (r cos θ i + r sin θ j ) (5.94)
dt
→
− → −
Repare que agora os versores i e j estão fixos no espaço, não rodam com o tempo
como o fazem →−
u e→ r
−
u . Temos assim sucessivamente
θ
→
− →
− →
− →
−
v = ṙ cos θ i − rθ̇ sin θ i + ṙ sin θ j + rθ̇ cos θ
→
− →
− →
− (5.95)
v = i (v cos θ − v sin θ ) + j (v sin θ + v cos θ )
r θ r θ
→
− d−
a = → v
dt
→
− d −
a = (ṙ→
u r + rθ̇ →
−
u θ) (5.96)
dt
• r̈→
−
u r - aceleração linear na direcção radial devido à variação do módulo da ve-
locidade;
• rθ̈ →
−
u θ - aceleração linear na direcção tangencial devido à variação do módulo da
velocidade angular ω (termo de Euler);
• −rθ̇ 2 →
−u r - aceleração centrı́peta;
→
−
• 2ṙθ̇ u θ - aceleração de Coriolis5 (força fictı́cia que aparece nos referenciais em
rotação)
Fig. 5.10 (a) Movimento circular e em linha recta em coordenadas polares. (b) Uma esfera move-
se radialmente ao longo de um raio de roda de bicicleta com velocidade v.
Quando o movimento é circular mas porém a rapidez varia, aparece o termo que já
discutimos a⊥ mas também um novo termo que representa uma componente tan-
gencial da velocidade:
∆ vk dvk
ak = lim = , (5.98)
∆t→0 ∆t dt
continuando com a componente normal:
v2
a⊥ = . (5.99)
R
O módulo é dado por q
a= a2⊥ + a2k . (5.100)
É claro que no inı́cio do movimento circular a partir do repouso estas duas compo-
nentes estão sempre presentes.
A força centrı́fuga é a força que parece dirigida no sentido contrário ao do centro
O.
Imagine que está no interior de uma viatura em movimento circular e que atira
uma maçã para fora do carro. Temos duas perspectivas diferentes do mesmo evento:
5 Gaspard-Gustave de Coriolis ou Gustave Coriolis (1792 1843), foi um matemático, engenheiro
mecânico e cientista francês, tornado famoso pela descoberta do efeito Coriolis. Coriolis foi o
primeiro a cunhar a palavra “trabalho” para o produto da força pelo deslocamento. Em 1829 Cori-
olis publicou o livro “Calcul de l’Effet des Machines” onde expôs a mecânica na forma que a
tornava de compreensiva aplicação no contexto da engenharia.
5.2 Movimento circular não uniforme 85
- Referencial do solo.
• o objecto é atirado para fora da viatura
• move-se numa linha recta relativo ao solo (ou ao laboratório)
• tudo se passa como se a viatura tivesse uma aceleração centrı́peta a⊥ que afasta
a viatura do objecto.
- Referencial da viatura
• o objecto é atirado para fora da viatura
• aparenta estar animado da aceleração centrı́fuga −→
−
a⊥
• é evidente então pela comparação dos eventos observados nestes dois referen-
ciais diferentes que surgem forças com carácter fictı́cio 6 (ou ainda por vezes
denominadas por pseudo-forças).
As chamadas forças fictı́cias surgem normalmente em referenciais não-inerciais
(isto é, acelerados), e nestes a descrição da mecânica sofre modificações apropri-
adas, como veremos a seguir.
6 Isto é, forças que não resultam de uma interacção fı́sica, que não resultam da presença de um
’Be a philosopher; but, admidst all your philosophy, be still a man.’ - (David Hume, 1737)
’It does not matter how slowly you go so long as you do not stop’. - Confucius (571 BC
–479 BC)
87
88 6 Relatividade do Movimento
Tem-se sucessivamente:
y = h − 12 gt 2
x = vt
2
⇒ t = xv2
2
y = h − gx
2v2
2 (6.1)
y = 0 [saco no solo] ⇒ h = gx
q 2v2
x = v 2h g
q
105 2x500
x = 3600 10 ≈ 210 m.
Esta adição imediata pode ser feita porque fora do contexto relativista (v c) os
comprimentos dos objectos fı́sicos são absolutos.
→
− → −
R =Vt (6.3)
∴→ −r 0 + →
−r = → −
V t, (6.4)
ou
→ −r − →
−r 0 = → −
Vt (6.5)
→
−
C ASO PARTICULAR : V orientado ao longo do eixo OX.
De
→ −r −V t →
−r 0 = → −
i.
Daqui resulta a Transformação de Galileu (válida no limite v c, comprimentos
e tempos absolutos): 0
x = x −V t
0
y =y
(6.6)
z0 = z
0
t = t
Para obter a velocidade derivamos a Eq. 17.200 em ordem ao tempo:
→
− d→
−r 0 d→
−r 0 d → −r − →
− d→
−r →−
v0= 0
= = ( V t) = −V. (6.7)
dt dt dt dt
→
−
∴→ − v0=→ −v −V, (6.8)
ou então,
→
−
∴→
−
v =→
−
v 0+V (6.9)
Isto significa que a velocidade do veleiro relativa ao navio é a diferença entre a ve-
locidade do veleiro relativo à Terra e a velocidade do navio relativo à Terra. Também
a poderı́amos escrever na forma:
→
− →
−
v V0 N = →
−
v V T − V NT ,
→
− →
− (6.10)
v VT =→−
v0 +V .
VN NT
90 6 Relatividade do Movimento
Repare na forma como está escrita a última equação com os sub-ı́ndices do vector
velocidade com a seguinte sequência: {V T } → {V N} + {NT }.
→
−
Em particular, se V dirige-se ao longo do eixo Ox, temos:
vx = vx −V
vy = vy (6.11)
vz = vz
→
− d→
−v0 d→
−v0 d − → −
a0= 0
= = (→v −V) (6.12)
dt dt dt
→
−
Como V assume-se constante (estudamos aqui o movimento uniforme), então
conclui-se que
→
− d→
−v
a0= =→ −
a. (6.13)
dt
Isto é, a aceleração é absoluta relativamente aos referenciais de inércia.
No caso geral em que a velocidade entre os dois referenciais não é constante,
teremos
→
− d→ −
a0=→ −
a − V. (6.14)
dt
Temos:
6.1 Relatividade do movimento. Transformação de Galileu 91
→
−
V er − velocidade da embarcação relativa ao rio
→
−
V et − velocidade da embarcação relativa à Terra (6.15)
→
−
V rt − velocidade do rio relativamente às margens
→
−
Nós queremos que o movimento tenha o sentido do vector V et , o ângulo θ deve ser
tal que
Vrt 12
sin θ = = = 0.60
Ver 20
donde
θ = 36.90 .
Exemplo 3: Uma embarcação desloca-se no sentido 30o Norte-Oeste a 30 m/s
relativamente à água dum rio (Vd. Fig. 7.4). A corrente do rio é dirigida para Sul
a 5 m/s relativamente à margem. Considere em seguida que um objecto move-se
com a velocidade de 6 m/s no sentido 30o SO relativamente à embarcação. Qual é
a velocidade do objecto relativamente à margem do rio?
S OLUÇ ÃO :
A transformação de Galileu permite-nos escrever:
→
−
v ot = →
−
v oe + →
−
v er + →
−
v rt . (6.16)
Com base nos dados de que dispomos podemos desde logo escrever:
→
− →
− →
−
v oe = 6[− cos 30o i − sin 30o j ] (6.17)
→
− →
− →
−
v er = 30[− sin 30o i + cos 30o j ] (6.18)
→
− →
−
v rt = −5 j (6.19)
6.3 Forças
• cordas;
de modo a exercer forças nos objectos. Ou então:
• liquidos;
• gases;
para exercer forças em paredes (ou superfı́cies) e gases para criar forças de fluctuação
(por ex., o balão de ar quente, força de empuxe de um foguete).
Os exemplos acima referidos representam forças de contacto porque os objectos
estão em contacto directo uns com os outros.
Existe um certo tipo de forças, forças de acção à distância onde este contacto
directo não existe, tais como o são as forças gravitacional e electromagnética.
Para completar a visão actual que a ciência tem sobre os tipos de força, faremos em
seguida a descrição mais detalhada das suas propriedades.
Gravitacional - É um tipo de força que age entre corpos que possuem massa, é
sempre atractiva, e é a força de mais fraca magnitude que se conhece na Natureza.
Segundo as teorias modernas baseadas na Mecânica Quântica, todas as forças
fundamentais são transmitidas entre partı́culas reais por meio de partı́culas virtu-
ais que não podem ser detectadas directamente, mas cuja existência transitória é
permitida pelo Princı́pio da Incerteza de Heisenberg. É possı́vel que esta força
resulte da troca de gravitões entre os corpos. Poderão os corpos acelerados ra-
diar energia? Se tal acontecesse, radiariam ondas gravitacionais.
Electromagnética - Atracção ou repulsão consoante a carga eléctrica. A partı́cula
que transmite a força é o fotão. Cargas aceleradas radiam fotões.
Força nuclear forte - A força nuclear age no interior do núcleo atómico entre nu-
cleões (ou entre quarks)
Força nuclear fraca - É exercida entre partı́culas elementares, por exemplo, na
desintegração beta do nucleão: n → p + e− + ν. Esta força foi observada experi-
mentalmente no CERN e predita teoricamente, afectando os leptões e os quarks 2
e é mediada pelos bosões W e Z.
Quinta força? A experiência de Ëtvös verificou a igualdade da massa gravita-
cional com a massa inercial. Mas é possı́vel que exista uma pequenı́ssima
diferença entre elas devido à possı́vel existência desta 5a força. A hipotética
partı́cula mediadora seria uma espécie de hiper-fotão. Porém, actualmente não
há certeza sobre a sua existência.
A estrutura e comportamento do universo pode ser descrito por meio da acção
das primeiras 4 forças referidas.
2 No estágio actual da teoria de partı́culas toda a matéria é composta de dois tipos de partı́culas:
i) leptões - partı́culas parecidas com os electrões com massa e carga eléctrica e os neutrinos; ii)
quarks - compõem os protões e neutrões e são basicamente de dois tipos, up e down.
94 6 Relatividade do Movimento
Table 6.1 Forças fundamentais da natureza e sua magnitude e alcance. Nota: Força relativa exer-
cida entre 2 protões distantes de 10−15 m.
Tipo Alcance importância relativa mediadores
Força nuclear forte ∼ 10−15 m 1 mesões, gluões
Força electromagnética ∞ 10−2 fotão
Força nuclear fraca 10−17 m 10−13 W ±, Zo
Força gravitacional ∞ 10−38 (Nota) gravitão ?
A estas quatro forças básicas estão associadas quatro formas de energia que po-
dem converter-se numas nas outras. Por exemplo, a gravitação pode converter-se
em electricidade (por exemplo, numa central hidroeléctrica), ou a interacção nu-
clear forte em electromagnetismo (tal acontece quando no interior do Sol a energia
nuclear converte-se em energia electromagnética do calor dos raios solares). Os tra-
balhos do prémio Nobel da Fı́sica Abdus Salam, mostraram que essencialmente
todas as forças fundamentais da natureza são fundamentalmente de origem electro-
magética !
3 Curiosamente, as palavras que Newton usou para enunciar esta lei apresentam grande parecença
com o perı́odo inicial do segundo capı́tulo do Leviathan, a obra máxima do filósofo materialista
inglês Thomas Hobbes: “Que quando uma coisa está parada, assim permanecerá eternamente a
menos que alguma outra coisa a mova, é verdade de que ninguém duvida. Mas que, quando uma
coisa se encontra em movimento, assim permanecerá eternamente a menos que alguma outra coisa
a detenha, não é tão facilmente que se concorda com isso, embora a razão seja a mesma, a de que
nada pode modificar-se po si mesma”. O Leviathan aborda a questão do contracto social (acordo
sobre direitos e deveres entre os diversos membros de uma sociedade) e as origens da criação de
um Estado ideal.
4 No Latim original as leis exprimem-se assim: Lex I. Corpus onme perseverare in statu suo qui-
escendi vel movendi uniformiter in directum; nisi quatems a viribus impressis cogitur statum illum
mutare; Lex II. Mutationem motus preportionalem esse vi motrici impressæ, et fieri secundum
lineam rectam qua vis illa imprimitur; Lex III. Actioni contrarium semper et æqualemesse reac-
tionem; sive corporum duorum actiones in se mutuo semper esse æquales et in partes contrarias
dirigi.
6.3 Forças 95
→
− →
−
Isto é, se F = 0 ⇒ V = const., o corpo na ausência de forças descreve um
movimento tendo a velocidade a mesma direcção e módulo.
Na realidade a maioria dos corpos que observamos no quotidiano param quando
abandonados a eles próprios devido às forças de fricção (do ar, do solo,...).
Os corpos no vácuo, os planetas, persistem num estado de movimento uniforme.
Um corpo liberto da acção de forças externas é dito um corpo livre. A primeira
Lei de Newton afirma a inércia da matéria 5 .
6.3.3 Referenciais
As leis de Newton não são válidas em todos os referenciais, somente nos designados
referenciais de inércia.
A Fig. 7.5 mostra um observador sobre uma carruagem em movimento aceler-
ado com → −
a > 0. No ponto de vista deste observador a bola que está no solo é sub-
metida a uma aceleração. A bola parece ao observador animada por uma aceleracão
espontânea, mesmo se na realidade não há nenhuma força actuando sobre ela.
A resultante das foras de agem num corpo é igual ao produto de sua massa pela
aceleração adquirida.
→
− d→
−p
F = m→−a = . (6.20)
dt
A última forma da equação é a mais correcta, como veremos no estudo do sistema
de massas variáveis.
Em resumo:
• É uma lei fundamental da Natureza, ditando a dinâmica dos objectos;
• É a definição exacta de força;
• É válida unicamente em referenciais de inércia.
→
− →
−
• a ∝ F e tem o mesmo sentido que a força.
Unidades: Newton (N)
F = ma
(6.21)
F = mS aS
m aS
∴ = . (6.22)
mS a
A massa resulta da resistência que os corpos oferecem à variação da sua velocidade.
A massa é uma quantidade fı́sica aditiva, m = m1 + m2 .
6.3 Forças 97
∑ Fx = max
∑ Fy = may (6.24)
∑ Fz = maz
Fg = mg = N cos θ ,
donde se obtém:
v2
tan θ =
gr
Fig. 6.5 (a) Partı́cula em movimento circular presa por um fio; (b) o fio parte-se e a partı́cula parte
ao longo da tangencial à curva no ponto em que se parte o fio...A força centrifuga é fictı́cia!; (c)
Viatura numa curva inclinada vista de fronte ou pela traseira.
98 6 Relatividade do Movimento
Exemplo 7: Um bloco de massa m = 7/3 kg, é actuado por duas forças, uma
→
− →
−
horizontal F 1 de 7 N e outra vertical F 2 de 5 N. Determine a aceleração do bloco.
6.3 Forças 99
S OLUÇ ÃO :
→
−
Comece por encontrar a resultante das forças, F R . Escolha um sistema de coor-
denadas apropriado:
→
− →
− →
−
F 1 = 7 i +0 j
→
− →
− →
−
F 2 = 0 i +5 j
donde resulta
→
− →
− →
− →
− →
−
F R = F 1 + F 2 = 7 i +5 j
Módulo: p
FR = 72 + 52 = 8.60N
FRy 5
tan θ = = ⇒ θ = 35.5o
FRx 7
→
− →
−
→
− FR 7 i +5 j →
− 15 → −
a = = =3 i + j.
m 7/3 7
8.60
a= = 3.69m/s2 .
7/3
Exemplo 8: Um disco plano de massa m = 2 kg desliza sobre um lago gelado
com velocidade inicial vo = 5 m/s. Exerce-se sobre o disco uma força de fricção
fr = 4 N oposta ao movimento, como mostra a Fig. 7.6. Qual a distância percorrida
pelo disco até este atingir o repouso?
Fig. 6.6 Um disco desliza sobre um lago gelado com velocidade inicial vo e move-se submetido a
uma força de frição fr .
Solução: O disco não tem movimento vertical (a soma das componentes verticais
é nula). Escolhemos o eixo Ox ao longo do movimento:
→
−
− f i = m→−a
→
− f →
− 4N →
− →
− (6.26)
a = − m i = − 2 kg i = −2 i m/s2 .
v20 5×5
−v20 = 2as ⇒ s = − =− = 6.25 m. (6.28)
2a 2 × (−2)
Chapter 7
Forças
Não há quem aprenda alguma coisa simplesmente por tê-la ouvido, e quem não se esforça
sozinho em certas coisas acaba por conhecê-las apenas de modo superficial e pela metade.
101
102 7 Forças
T ERCEIRA L EI DE N EWTON: A toda ação há sempre oposta uma reação igual,
ou, as acções mútuas de dois corpos um sobre o outro são sempre iguais e dirigidas
a partes opostas 3 .
Como se depreende da Fig. 7.1:
→
− →
−
F AB = − F BA . (7.1)
Fig. 7.2 Uma força de 2 N é aplicada no bloco A que está em contacto com o bloco B.
F − FAB = mA aA . (7.3)
Repare que, como neste caso as forças estão todas aplicadas ao longo do eixo Ox
não há necessidade de escrevê-las na forma vectorial.
Como os blocos estão em contacto, temos necessariamente a (condição de con-
strangimento do problema):
∴ aA = aB = a (7.4)
3 Na formulação original em Latim: “Lex III: Actioni contrariam semper et aequalem esse reac-
tionem: sine corporum duorum actiones in se mutuo semper esse aequales et in partes contrarias
dirigi.”
7 Forças 103
∴ F = (mA + mB )a (7.7)
Tudo se passa como se a força resultante estivesse actuando sobre a massa total m
que é a soma da massa das outras duas, m = mA + mB . A aceleração adquirida pelos
blocos movendo-se solidários é então dada por:
F 2N 2
a= = = m/s2 . (7.8)
mA + mB (1 + 2)kg 3
FBA = mB aB = mB a
(7.9)
= 2 × 23 = 43 N.
4 Os Chineses repeliram os Mongóis com uma barragem de foguetes, ou nas suas próprias palavras,
de “setas de fogo voador”. Essas setas eram foguetões a combustı́vel sólido, constituı́dos por um
tubo fechado num extremo e aberto no outro e contendo pólvora (outro grande invento chinês).
O tubo era ligado a uma longa vara para estabilizar o movimento (vd. Fig.4). A pólvora quando
deflagrada produz fogo, fumo e o gás produzido é expelido com grande velocidade pelo exaustor.
A pólvora é feita basicamente de 75 % de nitrato de potássio, 12.5 % de carvão em pó e 12.5 % de
enxofre purificado (in Arte dos Fogos de Artifı́cio, Tipografia do Comércio, Lisboa, 1908). A partir
da batalha de Kai-Keng, os Mongóis produziram os seus próprios foguetes e difundiram-nos na
Europa. Em Inglaterra, Roger Bacon aumentou o alcance dos foguetes. Em França, Jean Froissart
descobriu que lançando os foguetes por meio de tubos de lançamento melhorava a precisão do
tiro, estava inventada assim a “bazooka”. Em Itália, Joanes de Fontana inventou um torpedo que se
deslocava à superfı́cie da água com o propósito de incendiar os navios inimigos.
Johann Schmidlap, no séc. XVI inventou o foguetão com andares: um foguetão de maior ca-
pacidade (primeiro andar) transportava um foguetão mais pequeno (segundo andar). Quando o
foguetão maior extinguia-se, o mais pequeno incendiava-se, atingindo uma maior altitude. Todos
os foguetões a propulsão quı́mica destinados a alcançar o espaço exterior usam esta simples ideia
de Schmidlap.
104 7 Forças
Fig. 7.3 A máquina a vapor de Hero de Alexandria (10-70 A.C.), matemático e engenheiro. Este
simples motor a vapor também é conhecida por “Eolı́pila”.
feitos extraordinários, tais como voar em bolas de canhão, viajar até à Lua, e escapar
de um pântano simplesmente puxando pelos seus próprios cabelos...
GmT
g≡ , (7.12)
R2T
é a aceleração da gravidade.
Fig. 7.5 Força de atracção gravitacional entre dois corpos de massa m1 e m2 distantes de r12 .
Fig. 7.6 Secção vertical da balança de torsão de Cavendish. As esferas maiores estavam pen-
duradas num quadro de modo a poderem rodar aproximando-se das esferas menores.
gR2T
mT = . (7.13)
G
Considere a seguinte situação: um objecto m encontra-se à superfı́cie da Terra.
Duas forças opostas agem sobre ele (Vd. Fig. 7.7-(a)). A força gravitacional da Terra
→
− →
−
é F g e a força de contacto denota-se por N com o solo. Se o objecto não se move,
temos
→
− → −
N + F g = 0,
ou seja
→
− →
−
N = − F g.
Por sua vez a Terra encontra-se submetida à força gravitacional da massa m e à força
de contacto com o objecto →−
w (Vd. Fig. 7.7-(b)):
→
− →
−
w = − F g.
Fig. 7.7 Força gravitacional, reacção do solo e peso w. (a): forças actuando sobre o objecto; (b):
forças actuando sobre a Terra; ambas são pares de forças obedecendo à lei da acção-reacção.
6 Henry Cavendish (1731 - 1810), foi um excêntrico cientista britânico. Descobriu o hidrogénio.
Usou uma balança de torsão para determinar G. Contribuiu para o conhecimento dos fenómenos
eléctricos propondo a lei da atracção entre cargas eléctricas e utilizando o conceito de potencial
elétrico.
106 7 Forças
Repare que todas as forças referidas no exemplo anterior possuem igual magni-
tude (módulo).
Ao nı́vel quântico as leis de Newton não descrevem com rigor a trajectória das
partı́culas quando submetidas ao campo gravı́tico (→ −g constante). A Fig. 7.8 rev-
ela a natureza discreta das propriedades da matéria. Sabe-se da Mecânica Quântica
que qualquer partı́cula aprisionada num poço de potencial estará sujeita a estados
quânticos ligados. É por este motivo que os electrões existem em estados quânticos
(discretos) na presença de um campo electromagnético e daqui resulta a estrutura
atómica. Do mesmo modo, na presença do campo gravı́tico deverá haver a formação
de estados quantificados. Na experiência realizada por Valery V. Nesvizhevsky,
no Instituto Laue-Langevin, neutrões eram atirados para um espelho horizontal
numa configuração tal que, em conjunto com o campo gravı́tico, se assemelha às
condições de um potencial finito. Verificou-se então que os neutrões em queda não
se movem de forma contı́nua, mas dão saltos de uma altura para outra, tal como é
predito pela teoria quântica. Este exemplo ilustra bem os limites da aproximação da
mecânica clássica no âmbito microscópico.
Fig. 7.8 Os pontos experimentais são obtidos com intervalo de 2 m. A curva a tracejado corre-
sponde a um ajuste usando cálculos de mecânica quântica. A curva contı́nua é obtida com o cálculo
clássico do movimento balı́stico. Ref. Valery V. Nesvizhevsky, Nature 415, 297-299 (2002).
Fig. 7.9 A troca de partı́culas virtuais (ou mediadores) resulta numa força de atracção nuclear
forte, de acordo com a ideia original de Hideki Yukawa.
7.1.1 Peso
N − Fg = ma,
(7.15)
N = Fg + ma = mg + ma = m(g + a).
N representa a força que o elevador exerce sobre o objecto; Fg é a força que a Terra
→
−
exerce sobre o objecto. Atendendo a que a reacção do piso é N = −→ −
w , tem-se:
→
−
N = −→−w
→
− (7.16)
∴| w |= m(g + a)em módulo.
w = m(g − a0 ), (7.17)
Fig. 7.10 Um objecto encontra-se colocado no chão de um elevador que é acelerado para cima.
(a): forças que agem sobre o objecto; (b): forças que agem sobre o elevador.
Fs = Fg = Mg0 . (7.19)
fa = fg − N = mg0 . (7.20)
∴ w = N = 0.
Tal significa que o astronauta não sente nenhuma força de contacto com o chão e,
portanto, o astronauta tem a sensação que não tem peso. Na verdade o astronauta
continua a ter o peso fg = mg0 , a diferença é que à superfı́cie da Terra g = 9.8m/s2
aproximadamente e a 400 km de altitude g0 = 8.7 m/s2 : o peso dum astronauta com
a massa de 100 kg passaria de 98 N para 87 N, o que não representa uma mudança de
peso muito significativa. Na verdade o satélite e o astronauta estão ambos em queda
livre para a Terra e daı́ resulta a sensação fı́sica de perda de peso efectiva, porque o
astronauta não tem uma força de contacto que o faça sentir a força gravitacional,
que efectivamente continua agindo sobre ele.
Fig. 7.11 Um astronauta num satélite em torno da Terra não sente a gravidade.
Uma questão fundamental em fı́sica é: serão as duas iguais? Ajustando a con-
stante da gravitação universal G, obtemos de facto mI = mg
Todos os corpos são elásticos até certo ponto. Quando são submetidos a uma força
de compressão ou extensão deformam-se.
Exemplos:
• bolas de aço;
• tiras de borracha;
• molas.
Um corpo resiste à deformação por meio de uma força de restauração. A ex-
periência mostra-nos que quando puxamos uma mola ela por sua vez puxa-nos
também.
Em primeira aproximação a relação existente entre a força de restauração e
a deformação obedece a uma lei empı́rica muito simples conhecida por lei de
Hooke 7 .
L EI DE H OOKE: a magnitude da força de restauração é directamente propor-
cional à deformação.
A lei de Hooke é conhecida na forma
l0 − l
T =E (7.22)
l
onde T é a tensão (ou pressão) exercida sobre um corpo (por exemplo, uma barra de
metal); l é o comprimento natural (ou na ausência de tensão) da mola; E é o módulo
de Young (expresso em Pascal Pa no S.I.) 8 ; l 0 o comprimento da mola sob tensão.
Pode ser também expressa em termos de uma força ou tensão:
Fig. 7.13 (a) - Se +x obtemos alongamento da mola e a força negativa opõe-se ao estiramento;
(b) - Se −x temos compressão da mola e a força com que a mola reage é positiva opondo-se à sua
compressão. Sempre os pares de forças presentes na lei da acção-reacção.
→
−
F = m→
−
a
→
−
Se F = const. então →
−
a = const.
Num sistema de eixos ortogonais:
∑ Fx = max
∑ Fy = may (7.25)
∑ Fz = maz
Forças:
• Tensão,
• gravidade,
• força normal, de contacto
• fricção.
• mola.
Exemplo 3: Considere duas massas em tandem (Fig. 7.15) deslizando sobre um
plano horizontal, sem fricção e despreze a massa dos cabos de ligação.
112 7 Forças
Fig. 7.15 (a) Duas massas em tandem unidas por um cabo sem massa; (b): forças actuando sobre
a massa m2 ; (c): forças actuando sobre a massa m1 .
F − T2 = m2 a2 eixo Ox
(7.26)
N2 − m2 g = 0 eixo Oy
T1 = m1 a1 eixo Ox
(7.27)
N1 − m1 g = 0 eixo Oy
F = (m1 + m2 )a (7.28)
donde
F
a= (7.29)
m1 + m2
Da Eq. 7.28 obtém-se
m1
T = m1 a = F.
m1 + m2
• São usadas polias ideias para mudar a direção da força exercida pelos cabos;
• Se o cabo e a polia não tiverem ambos massa, a tensão é a mesma de ambos os
lados da polia
• No caso contrário, isto já não é verdade;
• Assume-se que as polias ideais não têm massa nem exercem fricção.
A componente normal da força de contacto é suposta bisectar o ângulo entre os
extremos do cabo (Fig. 7.16).
Fig. 7.16 A componente normal da força de contacto bisecta o ângulo entre os extremos do cabo.
Os cabos só podem servir para puxar (exercer tensão, não compressão).
• Se a massa do cabo é diferente de zero, trata-se como outro corpo massivo qual-
quer;
• O cabo é suposto não ter resistência interna e alinha-se com a força aplicada;
• assume-se que não há alongamento do cabo (mantém o comprimento constante).
Fig. 7.17 (a) Dois blocos encontram-se ligados por meio de um cabo e são puxados por uma força
aplicada F. O cabo tem comprimento L e massa mc . (b), (c), and (d) Diagramas das forças actuando
sobre o bloco m2 , o cabo de ligação mc , e o bloco m1 , respectivamente.
Exemplo 4: Dois blocos estão ligados por uma corda, como mostra a Fig. 7.17.
Como os blocos estão unidos a aceleração de ambos é a.
m1 : F − T1 = m1 a
m2 : T2 = m2 a (7.30)
mc : T1 − T2 = mc a
O somatório resulta em
F = (m1 + m2 + mc )a
assim como
T1 = F − m1 a = (m2 + mc )a
e
T2 = m2 a,
isto é, T1 6= T2 .
Verificamos que, devido à massa do cabo, a tensão não é a mesma ao longo do
seu comprimento. Seja l o seu comprimento e Tl a tensão no ponto l (Fig. 7.18).
QuadroNegro 3 -
114 7 Forças
que deve ser resolvido com o que já tinhamos obtido a1 = 2a2 .
Exemplo 6: Massas acopladas: Assuma que não há fricção e os cabos têm massa
desprezável (Fig. 7.20).
Massa m1 :
eixoOx m1 g sin θ − T = m1 a
(7.33)
eixoOy N1 − m1 g cos θ = 0
Massa m2 :
eixoOx T = m2 a
(7.34)
eixoOy N2 − m2 g = 0
Somando as componentes em Ox das Eqs. 7.33- 7.34, obtém-se
Considere o conjunto de duas polias com massa desprezável e sem atrito e um cabo
com massa igualmente desprezável (Fig. 7.21) - máquina de Atwood 10 .
Massa m1 :
(T − m1 g) = m1 a
Massa m2 :
(m2 g − T ) = m2 a
A sua soma resulta em
(m2 −m1 )g =(m2 + m1 )a
m2 −m1
∴a= m2 +m1 = 15 (m/s2 )
10A máquina de Atwood foi inventada em 1784 pelo Reverendo George Atwood para ser uma
montagem de laboratório destinada a testar as leis do movimento uniformemente acelerado.
116 7 Forças
O bloco não deslizará se tiver aceleração igual à do plano inclinado (porque tal
significa que ele move-se em conjunto com o plano). O sistema de forças resulta nas
seguintes equações (escolhendo o sistema de coordenadas com Ox na horizontal):
f orcasaolongodeOx N sin θ = ma
(7.37)
f orcasaolongodeOy N cos θ − mg = 0.
7.1.8 Fricção
f k = µk N (7.39)
N + F sin 30o − mg = 0.
F cos 30o − fk = 0
ou seja
µk mg
F=
cos 30o + µk sin 30o
0.40 × 100 × 9.80
F= = 368N.
0.866 + 0.40 × 0.50
Repare que
θ = 0o F = 392N
θ = 45o F = 396N (7.40)
θ = 90o F = 981N
118 7 Forças
fs ≤ µs N, (7.41)
Fig. 7.24 (a) e (b): quando fs < fs,max , a força de fricção é exactamente igual à força (externa)
aplicada, e não há aceleração do bloco. (c): quando uma força de suficiente magnitude é exercida
de modo que o moviemento se torna possı́vel, a força de fricção é igual a µk N e a aceleração é
(F − µk N)/m.
eixoOy N − mg cos α = 0
(7.42)
eixoOx mg sin α − f = 0
Repare que este ângulo α constitui o limiar a partir do qual o bloco acelera, portanto
ainda estamos na condição →
−
a = 0. Temos assim
f mg sin α
= = tan α (7.43)
N mg cos α
7.1 Força gravitacional 119
f
= µs = tan 23o = 0.424.
N max
O ângulo máximo é chamado de ângulo de repouso e é independente da massa do
bloco.
Exemplo 11: Bloco a deslizar num plano inclinado sob a ac.āo da gravidade.
donde resulta:
ax = (sin θ − µk cos θ )g. (7.48)
Se ax = 0, então obtemos o coeficiente de fricção cinético procurado:
sin θ
µk = = tan θ . (7.49)
cos θ
Assim, concluı́mos que um método razoável para determinar µk consiste em deter-
minar o ângulo limite a partir do qual dá-se uma aceleração do bloco.
Fig. 7.25 Bloco a deslizar num plano inclinado sob a ação da gravidade.
∑ Fx = P − N = 0(a)
(7.50)
∑ Fy = fs − w = 0(b)
Portanto, a força de compressão mı́nima para que não haja deslize do “apagador”
do quadro negro é:
w
P= . (7.53)
µs
Fig. 7.26 Apagador puxado por um operador na vertical contra o quadro negro.
Donde resulta
f = µk N = µk mg cos 60o (7.56)
ou
F − mg sin 60o − µk g cos 60o
ax = = −6.55m/s2 . (7.57)
m
Fig. 7.27 (a) - Bloco puxado contra a gravidade ao longo de um plano inclinado. (b) - Pino de
disparo do torpedo Mark-6.
Isto é, o bloco coom os valores numéricos assumidos está acelerado para baixo;
há que inverter o sentido da força de atrito!
Resolvendo obtém-se a = −2.43 m/s2 . Agora a direcção do bloco é para baixo, mas
é consistente com as hipóteses iniciais.
Exemplo 14: Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) os norte-americanos
tiveram sérios problemas no funcionamento dos torpedos lançados pelos seus sub-
marinos. Um desses problemas estava relacionado com o mecanismo de disparo
que não funcionava correctamente. Até que fosse compreendido a causa do prob-
lema cerca de 70 % dos torpedos não explodiam! Descobriu-se que a causa estava
7.1 Força gravitacional 121
no atrito enorme a que era submetido o pino de disparo. Este dispositivo tem basi-
camente a estrutura mostrada na Fig. 7.27-(b). A massa M desliza na superfı́cie AA
→
− →
−
sendo actuada por uma força de fricção F = µk N . Quando o dispositivo está em
repouso e a compressão da mola é ∆ x = D, a mola exercerá uma força kD sobre M
e a aceleração de M relativa à superfı́cie imóvel AA será
kD
a= − µk g. (7.59)
M
Porém, se o dispositivo estiver submetido a uma aceleração vertical a0 = Kg, onde
designamos por K uma constante positiva sem dimensões, a aceleração sentida no
referencial do dispositivo acelerado será
kD
a= − µk g(1 + K) (7.60)
M
porque a força normal exercida entre AA e M aumentou de Mg para Mg(1 + K).
Conclui-se assim que a aceleração vertical aumentou consideravelmente a força de
atrito e reduzindo a aceleração de M ao longo de AA, podendo em particular im-
pedir o deslize da massa M e portanto provocando a falha do pino de disparo do
torpedo. Uma atempada resolução da falha dramática dos pinos de disparos feita
postriormente pelos norte-americanos mostrou que o final da guerra poderia ter sido
antecipado.
Os objectos que se movem em meio fluido (água, ar,...) estão submetidos a uma
força de atrito que se opõe ao movimento. A resolução detalhada deste problema
é muito complexo. Geralmente considera-se existir 2 regiões distintas do fluxo do
fluido em torno do objecto.
1. Fluxo laminar: fluxo estável em torno do objecto; FD ∼ v; a lei de Stokes 12
aplica-se (Fig. 7.28).
2. Fluxo turbulento: FD ∼ v2 , a velocidade é suficientemente elevada de modo que
o fluxo de ar atrás do objecto é turbulento. As partı́culas do fluido fluctuam de
modo desordenado, caótico, produzindo vórtices (ou vortexes), vd. Fig. 7.28.
O escoamento do fluido em torno de um objecto é sempre turbulento 13 nos casos:
12 In 1851, George Gabriel Stokes obteve uma expressão matemática das forças de fricção (ou
resistiva) exercida sobre objectos de forma esférica válida quando o número de Reynolds é muito
pequeno (em particular, válida para partı́culas muito pequenas) num fluido viscoso, FD = 6πRµv,
onde FD é a força de fricção, R é o raio do objecto esférico, µ é a viscosidade dinâmica do fluido,
e v é a velocidade da partı́cula.
13 Conta-se que alguém teria perguntado ao célebre cientista alemão Werner Heisenberg o que ele
perguntaria a Deus, se tivesse essa oportunidade. Ele teria respondido: “Quando me encontrar com
122 7 Forças
Fig. 7.28 Fluxo laminar (a) e turbulento (b-d) em torno de uma esfera.
Qual a forma da força de atrito, resistiva, exercida pelo meio sobre os objectos?
• objectos em queda através de um fluido;
Deus irei colocar-Lhe duas questões: Porquê a relatividade? E porquê a turbulência? Eu acredito
deveras que Ele terá uma resposta para a primeira.”
14 Osborne Reynolds (1842 1912), engenheiro irlandês, deu contribuiuções importantes na área
da dinâmica dos fluidos. Estudou igualmente os fenómenos de transferência de calor entre sólidos
e fluidos, contribuindo assim nos melhoramentos em caldeiras e condensadores.
15 Em mecânica dos fluidos, o número de Reynolds é uma grandeza sem dimensões dado pelo
onde
• →
−v - velocidade do objecto;
• b - constante que depende do meio e da forma do objecto. Por exemplo, para uma
esfera, tem-se b ∼ r em unidades SI kg/s.
Fig. 7.30 As forças resistivas dependem da forma do objecto e em particular da área da seção
transversal do objecto. Na figura mostra-se desenhos de um avião Messerschmitt Me 262 A-1a de
fabrico alemão.
∑ Fy = may (7.62)
dv
a(t = 0) = = g. (7.63)
dt
Fig. 7.31 (a): As asas dos aviões são concebidas para terem um fluxo laminar.
dv 1 v2
= g− CD Sρv2 = g(1 − 2 ) (7.67)
dt 2m vl
mgH = 12 mv2
v2 (7.73)
⇒ Heq = 2g ≈ 149m
quando vl = 54 m/s, e Heq ≈ 2 m, quando vl = 6.44 m/s.
Considere uma corda enrolada em torno de um poste (Cf. Fig. 7.33). Queremos
relacionar a força nas extremidades da corda com o comprimento da corda enrolada
em torno do poste se o coeficiente de fricção estático for µ.
• assume-se que não ocorre deslize;
• A secção da corda faz um ângulo dγ no centro;
• Seja N a força normal actuando na corda por unidade de comprimento em qual-
quer ponto.
Rγ = l
e
µl
T = To exp
R
Por exemplo, uma corda enrolada com uma só volta em torno do poste, resulta em
l
γ= = 2π
R
e seja µ = 0.40. Vem
17 A matéria exposta neste exemplo tem um carácter meramente informativo para resolver este
problema, não precisa de a decorar para o exame.
18 Um túnel de vento é um aparelho de investigação em aerodinâmica, usado para estudar o escoa-
Fig. 7.34 (a) Gráfico do CL vs. ângulo de ataque. (b) . (c) Força de sustentação.
Qual o CL necessário para que o avião não caia antes de tocar a pista, supondo
que o avião atinge a pista a 190 km/h?
O CL é dado por:
2FL
CL = .
ρV 2 S
FL deve ser exactamente igualado pelo peso da aeronave, pois no momento do pouso
a aeronave toca o solo suavemente, quase em voo nivelado, e lembre-se que em voo
nivelado as forças se equilibram. Verificamos assim:
2 × 13888.1
CL = == .193.
1.22 × 532 × 42
Observando o gráfico, verificamos que este perfil não atinge o CL necessário. O CL
máximo ocorre quando o ângulo de ataque é de cerca de 20o . A aeronave irá perder
sustentação e um acidente dramático certamente ocorrerá...
19 O A-10 Thunderbolt foi o primeiro avião norte-americano cosntruı́do para apoio próximo das
forças terrestres, possui uma grande maneabilidade a baixa altitude e velocidade, representando
em particular um adversário perigosı́ssimo para os tanques.
130 7 Forças
Peso = força-de-sustentação.
Rz v2
= 1− . (7.78)
wg wg R
Desta expressão concluı́mos que a força é dirigida para baixo a velocidades pe-
quenas (relativamente àquelas que normalmente são atingidas pelos satélites), mas
quando a nave atinge velocidades mais elevadas, a força é dirigida para cima
(no chamado “voo invertido”), Vd. Fig. 16.1.6. O uso da força aerodinâmica de
sustentação permite controlar o voo da nave, ou melhor, a re-entrada na atmosfera
terrestre, aumentando também o tempo de voo.
Table 7.1 Fração do peso do veı́culo mantido pela força de sustentação. Voo a altitude constante.
rapidez (milhas/s) 0 1 2 3 4 5 6 7 8
FL /wg 0.96 0.84 0.64 0.36 0 -0.44 -1 -1.56
Mach number 0 4.8 9.6 14.4 19.2 24 29 34 38.4
20 Flaps são dispositivos hiper-sustentadores, presentes nos bordos de fuga e semelhantes a abas;
slats são superfı́cies aerodinâmicas colocadas no bordo de ataque de uma asa que, quando aciona-
dos, permitem o aumento do ângulo de ataque.
7.1 Força gravitacional 131
Fig. 7.36 (a) : Formas e diferentes tipos de atritos gerados. A introdução do conceito de corpo
de reentrada rombudo (“blunt-body”) foi criado por H. Julian Allen and A. J. Eggers, Jr. do “Na-
tional Advisory Committee for Aeronautics” (NACA) em 1951. Eles descobriram que um corpo
de reentrada rombudo era o mais eficaz a criar um escudo térmico, mostrando que a carga térmica
experimentada pelo veı́culo de reentrada era inversamente proportional ao coeficiente de atrito.
Com a forma rombuda o ar não consegue escapar rapidamente, actuando como uma almofada que
empurra a onda de choque e a camada limite térmica (“heat shock layer”) para longe do veı́culo.
(b) : Reentrada directa ou mais tangencial do veı́culo espacial. (c) : Quatro imagens representando
concepções iniciais dos veı́culos de re-entrada na atmosfera. A teoria do corpo de reentrada rom-
budo permitiu o “design” que foi posteriormente utilizado nas cápsulas espaciais Mercury, Gemini
e Apollo, tornando possı́vel a sobrevivência dos astronautas durante a reentrada da atmosfera ter-
restre.
T Cx
=θ+ . (7.84)
P Cz
pois que sin θ ≈ θ . Questão: Suponha que uma aeronave possui a eficieência das
asas igual a 0.1 e que o rácio tração peso é de 0.3. Qual é o declive máximo que esta
pode atingir na ascenção?
0.3 = ϑ + 0.1
(7.85)
∴ ϑ = 0.2
isto é, pode subir com um declive máximo de 20 %, onde θ = sin θ , ou seja sobe de
20 m cada 100 metros de percurso.
Chapter 8
Trabalho e Energia
“Although nature commences with reason and ends in experience it is necessary for us to
do the opposite, that is to commence with experience and from this to proceed to investigate
the reason’.
- Leonardo da Vinci
NOTA PRÉVIA - Grande parte da matéria exposta constitui uma revisão e será
rapidamente exposta na aula teórica. Os exemplos apresentados são tı́picos proble-
mas que o aluno deve rever em casa com atenção.
As leis de Newton estabelecem uma relação entre as forças actuantes numa partı́cula
e a aceleração resultante, tornando possı́vel predizer quais são os futuros valores da
posição e da velocidade da partı́cula (por integração sucessiva).
Mas o movimento de sistemas mecânicos mais complexos nem sempre é sus-
ceptı́vel de uma análise baseada na variação temporal do momento linear, tal como
o propôs Isaac Newton. Gottfried Wilhelm von Leibniz argumentou que existia uma
outra quantidade fı́sica, a energia 1 , cujos valores deveriam ser mı́nimos.
Assim, no desenvolvimento inicial da mecânica clássica, co-existiam duas per-
spectivas diferentes em como resolver os problemas da mecânica, tendo-se ambas
desenvolivdas de forma separada até à actualidade: uma é a teoria das forças vecto-
riais e as condições para o seu equilı́brio; a outra trata da teoria escalar da energia,
fundamentada na crença que a Natureza requer que certas propriedades do movi-
mento tenham um valor máximo ou um valor mı́nimo.
Veremos em seguida como relacionar a força com o movimento da partı́cula
seguindo o segundo processo. Sabemos já que o produto escalar da força pelo deslo-
1 Na verdade, na altura chamavam-na por vis viva, um tipo de energia cinética, definida como mv2
(faltando o factor 1/2).
133
134 8 Trabalho e Energia
Fig. 8.1 Emmy Noether (1882-1935) foi a primeira mulher a tornar-se numa matemática na Ale-
manha, donde era natural. Ela teve que obter uma autorização especial para poder assistir às aulas
na universidade e não podia ensinar estudantes. Na verdade acabou por ensinar, mas usando o
nome do seu colega, e excepcional matemático, David Hilbert.
Fig. 8.2 O trabalho depende do referencial. (a) homem-aranha com bola no referencial do ele-
vador: não há trabalho realizado. (b) homem-aranha visto do referencial (exterior) do laboratório:
há trabalho realizado.
Vamos supor que a força é uma função da posição, Fx = Fx (x). A questão que nos
colocamos neste momento é: qual é o trabalho realizado W (a → b) ao deslocar-se
uma partı́cula de x = a para x = b?
Para o calcular o método consiste no seguinte: divide-se o deslocamento total
num número muito grande de pequenos intervalos ∆ x. Para cada intervalo tem-se
isto é,
136 8 Trabalho e Energia
Z b
W= Fx (x)dx (8.4)
a
que representa um integral definido e onde Fx (x)dx representa o integrando. O
trabalho é igual à área delimitada pela curva Fx (x) e pelas linhas situadas em x = a
e x = b.
Para determinadas formas do integrando f (x) a integração de 8.4 pode ser feita
analiticamente consultando uma tabela de integrais ou fazendo um desenvolvimento
em série assimptótica. Porém, muitos integrais devem ser avaliados numericamente
pois não se conhece o seu valor ou são muito complexos. Os métodos de integração
numérica baseiam-se na interpretação geométrica do integral da Eq. 8.4 como sendo
a área delimitada pela curva de f (x) em função de x do ponto x = a ao ponto x = b.
Como se vê na Fig. 8.3 divide-se o eixo Ox em n intervalos de largura ∆ x, sendo ∆ x
dado por
b−a
∆x = (8.5)
n
e
xn = x0 + n∆ x, (8.6)
sendo xo = a e xn = b. O integral pode ser estimada usando a aproximação rectan-
gular, somando sobre todos os rectângulos mostrados na Fig. 8.3:
n−1
W= ∑ Fx (xi )∆ x. (8.7)
i=0
F = −kx
Rb
F(x)dx = ab (−kx)dx
R
W= a
2 b
= −kx 2 |a
(8.9)
= − 2k (b2 − a2 )
W < 0, isto é, realiza-se trabalho sobre a mola quando ela é distendida.
2 BASIC (Beginner’s All-purpose Symbolic Instruction Code) é uma linguagem desenvolvida para
resolver problemas simples. É usado em modo interactivo e é a linguagem mais usada em micro-
processadores, em particular com fins educacionais ou de diversão.
8.1 Trabalho e energia 137
Table 8.2 Programa em linguagem BASIC para o integral na aproximação rectangular. A função
a integrar neste exemplo é o coseno.
PROGRAM integral
CALL inicial (a,b,h,n)
CALL rectangulo (a,b,h,n,area)
CALL output(area)
END
SUB rectangulo(a,b,h,n,area)
DECLARE DEF f
LET x=a
FOR i=1 to n-1
LET sum=sum + f(x)
LET x=x+h
NEXT i
LET area=sum*h
END SUB
SUB output(area)
PRINT using ”.”:area
END SUB
DEF f(x)=cos(x)
Em geral,
→
−
W = ( F ·∆→ −r )
(8.10)
= F(∆ r) cos θ
→
−
Verifica-se de imediato que, quando F ⊥∆ →−r → W = 0.
A projeção nas suas componentes resulta em
W = Fx (∆ x) + Fy (∆ y) + Fz (∆ z). (8.11)
Temos Z P2
→
−
∆W = F · d→
−r . (8.12)
P1
Este exemplo ilustra muito bem a ideia geral que se tem de um campo de forças.
A força gravitacional na proximidade da superfı́cie terrestre tem as seguintes
componentes cartesianas:
Fx = 0
Fy = 0 (8.15)
Fz = −mg
Z x2 Z y2 Z z2
W= Fx dx + Fy dy + Fz dz. (8.16)
x1 y1 z1
Z z2
W= (−mg)dz = −mg(z2 − z1 ) = −mg(∆ z) (8.17)
z1
F cos θ − f = 0
(8.18)
−F sin θ + N − mg = 0
donde obtemos
f = µk N = µk (F sin θ + mg) (8.19)
∴ F cos θ − µk (F sin θ + mg) = 0 (8.20)
µk mg
∴F = (8.21)
cos θ − µk sin θ
O trabalho é dado pelo produto
8.1 Trabalho e energia 139
→
− −
WF = ( F · d →
s) (8.22)
W = −3.34 × 109 J.
Podemos referir, como curiosidade, que em torno de dois corpos massivos su-
jeitos ao campo gravı́tico mútuo, existem 5 posições do espaço onde uma terceira
massa m3 mais pequena pode orbitar a distância fixa de ambos. São chamados
pontos de Lagrange porque foram descobertos pelo matemático franco-italiano
Joseph-Louis Lagrange. Os Pontos de Lagrange são pontos onde a resultante da
atração gravitacional exercida por ambos os corpos compensa exactamente a força
centrı́peta necessária para rodar com eles.
Dos 5 Pontos de Lagrange, 3 são instáveis e 2 são estáveis. Na Fig. 8.5 os pontos
L1 , L2 e L3 são instáveis; os pontos L4 e L5 são pontos estáveis.
O ponto L4 do sistema Terra-Sol permite colocar um satélite em permanente
observação do Sol e é onde se encontra actualmente “Solar and Heliospheric Ob-
servatory Satellite” (SOHO). No ponto L5 do sistema Terra-Sol encontra-se a nave
“WMAP” (e provavelmente no ano 2011 será também aı́ colocado o “James Webb
Space Telescope”). Os pontos L1 e L2 são instáveis numa escala de tempo de 23
140 8 Trabalho e Energia
dias mas, apesar disso, são utilizados pelos satélites com frequência, embora sendo
necessário corrigir frequentemente a atitude do satélite (isto é, a orientação do
veı́culo relativamente a um dado sistema de referência). O ponto L3 não tem sido
utilizado porque situa-se por detrás do Sol. Apesar de ser um ponto instável numa
escala de tempo de 150 anos, tem sido referido nos escritos de ficção cientı́fica como
o ponto onde se encontra oculto o “Planet-X”.
Conhecem-se apesar de tudo a presença de 2 satélites Trojanos 3 nos dois pontos
de Lagrange L4 e L5 acima referidos do sistema Saturno-Luas de Saturno. Esses
satélites Trojanos são Telesto e Calypso.
Fig. 8.5 Na presença de dois corpos massivos exercendo uma força gravitacional mútua existem 5
Pontos de Lagrange.
3 O termo Trojano aplica-se no sentido estrito aos asteróides que ocupam os pontos de Lagrange L4
e L5 do sistema Sol-Júpiter. No sentido geral, designa também qualquer corpo situado nos pontos
de Lagrange de qualquer sistema. Como curiosidade, refira-se que no sistema Terra-Lua não existe
nenhum satélite nos pontos L4 e L5 , embora parece aı́ acumular-se poeira cósmica.
Chapter 9
Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia
Cinética
The profit we possess after study is to have become better and wiser.
- Michel Eyquem de Montaigne (1533 1592) foi um dos escritores mais influentes
do Renascimento Francês
1 Actio sequitur esse, isto é, a acção segue a essência da natureza, era o que diziam os Antigos (isto
é, aqueles que viveram antes da queda do Império Romano do Ocidente). A palavra “trabalho”
vem do Latim, “tripalium”, que era como se chamava o tripé onde as mulheres se apoiavam para
dar à luz os seus filhos, mas que também era usado como instrumento de tortura...
141
142 9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética
Z P2
W= (Fx dx + Fy dy + Fz dz). (9.4)
P1
dvx
Fx = max = m . (9.5)
dt
Substituindo na fórmula da força, tem-se
Z P2 Z P2
dvx
Fx dx = m dx. (9.6)
P1 P1 dt
Fig. 9.1 Uma partı́cula move-se ao longo de uma trajectória curvilı́nea do ponto P1 a P2 actuada
por uma força F que varia em módulo e direção.
- Teorema trabalho-energia
QuadroNegro 1 -
9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética 143
W = K2 − K1 = ∆ K. (9.10)
F = Fg − Fs = mg − kx (9.12)
Fig. 9.2 Massa m é puxada até xA e liberta com uma velocidade inicial para cima vo .
144 9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética
∑ Fy = may
v2
mg + T = m RT (9.15)
v2
∴ Fg = mg = m RT
ou seja,
W (A → B) = mgh = KB − KA
mg(2R) = 12 mv2o − 12 mv2T
∴ v2T = gR 2
vo = v2T + 4gR = √
gR + 4gR = 5gR
∴ vo = 5gR.
Exemplo 3: Uma partı́cula de massa m desliza pela curva da Fig. 9.4. Os pontos
sucessivos assinalados na Fig. 9.4 correspondem às seguintes cotas: hA = 7 m, hB =
4 m, hc = 7.2 m, hD = −1 m, tendo no ponto A a rapidez vA = 3 m/s. Qual é a
rapidez da partı́cula nos pontos x = xB , xC e xD ?
→
− →
− −
A normal N não realiza trabalho, ( N · d → s = 0), portanto só a força gravı́tica
efectua trabalho sobre a partı́cula (ou bloco).
Calculemos primeiro o trabalho das forças actuantes:
R → − − RB
W (A → B) = AB F · d →
s = A (−mg)dy
(9.16)
W = mg(hA − hB ).
∴ v2B = v2A + 2W 2
m = vA + 2g(hA − hB )
2
= 3 + 2 × 9.8(hA − hB )
(9.18)
= 67.8(m/s)2
vB = 8.23m/s.
9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética 145
Uma questão adicional: até que ponto acima de x = xD poderá ir o bloco? Esse ponto
de altura hm será atingido quando vm = 0.
0 = v2A + 2g(hA − hm )
v2
⇒ hm = hA + 2gA (9.19)
∴ hm = 7.46m.
Exemplo 4: Uma viatura de massa m = 103 kg, sofre uma aceleração de v1 = 20
m/s para v2 = 30 m/s. Qual foi o trabalho realizado (por ex., forças de tracção)?
W = 12 mv22 − 12 mv21
= 12 m(v22 − v21 )
1 (9.20)
= 2 × 1000 × (900 − 400)
= 2.5 × 105 J.
onde
U(z) = mgz, (9.22)
é chamada a energia potencial gravitacional (ou gravı́tica).
Wg = K2 − K1
Wg = U(z1 ) −U(z2 ) (9.23)
∴ K1 +U(z1 ) = K2 +U(z2 )
Vamos supor agora que, além da gravidade, outras forças actuam sobre a partı́cula,
por exemplo, forças de frição, que são forças do tipo dissipativo. Designemos por
Wd o trabalho realizado por forças de outra natureza, excluindo a gravı́tica. Temos
9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética 147
W = Wg +Wd = K2 − K1 = ∆ K
Wd − (mgz2 − mgz1 ) = 21 mv22 − 12 mv21
(9.29)
Wd = ( 12 mv22 − 12 mv21 ) + (mgz2 − mgz1 )
= ∆ K + ∆U
O trabalho efectuado por todas as outras forças actuantes sobre a partı́cula (com
excepção da gravı́tica) iguala a variação da energia mecânica total da partı́cula.
Em particular:
• Wd > 0 ⇒ energia mecânica total aumenta;
• Wd < 0 ⇒ energia mecânica total decresce.
Exemplo 5: Um corpo de peso w é suportado por uma corda de comprimento R
→
−
(Fig. 9.6). Uma força horizontal variável P que começa de zero e aumenta grad-
ualmente, empurra o corpo até que este atinja o valor final θo . Qual é o trabalho
→
−
realizado pela força P ? Assuma que o corpo move-se com lentidão, K ≈ 0.
→
−
As componentes da força “propulsiva” P e do peso →
−
w são:
(x) : P = T cos θ
(9.31)
(y) : w = T cos θ .
∴ Wg = ∆U = w∆ y
∆ y = l(1 − cos θ ) (9.34)
Wg = wl(1 − cos θ )
148 9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética
K2 +U2 = K1 +U1
1 2
2 mv2 + 0 =√0 + mgR (9.35)
∴ v2 = 2gR
√
Se R = 3.0 m, v2 = 2 × 9.80 × 3.0 = 7.67 m/s.
Questão: o que acontece se está presente uma força de atrito e v2 = 3.00 m/s?
Assuma m = 25 kg.
Temos agora
Wd = W f
W f = ( 12 mv22 − 12 mv21 ) + (mgz2 − mgz1 ) (9.36)
= ( 12 × 25 × 3.02 − 0) + (0 − 25 × 9.80 × 3.02 ) = 112 − 735 = −623J.
d2x dx d dx dv
⇔ ( )=v . (9.38)
dt 2 dt dx dt dx
Temos assim
dv k
v = − x, (9.39)
dx m
9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética 149
e ainda
vdv = − mk xdx(a)
vdv = − mk xdx(b)
R R
(9.40)
v2 k 2
2 = − 2m x +C.(c)
Podemos ainda escrever:
k 2
v2 = 2C − x , (9.41)
m
ou ainda, pondo C0 = 2C,
C0 − mk x2
v2 =q
(9.42)
v = ± C0 − mk x2
Questão: quanto tempo leva a massa a alcançar B?
Como vimos r
dx k
v= = ± 1 − x2 . (9.43)
dt m
Como x diminui quanto t aumenta, v é negativo. Podemos escrever:
q
dx
dt = − C0 − mk x2
dt = − q dx k
C 0 − m x2 (9.44)
dt = − √ 0 q dx k 2
C 1− mC0 x
q
k
Façamos a mudança de variável u = mC0 x. A Eq. escreve-se agora numa forma
mais apropriada q
mC0 √ du
dt = − √1 0 k
C 1−u2
= − mk √du 2 +C00 (9.45)
R
t
1−u
t = − arcsin u +C00
Na última expressão substituı́mos o valor numérico de modo a apresentar o integral
na forma que se conhece em tabelas de integrais. A nova constante de integração é
obtida a partir das condições iniciais, x(t = 0) = 1:
0 = − arcsin 1 +C00
(9.46)
∴ C00 = π2 .
Logo
t = − arcsin x + π2 = arccos x
∴ x = cost (9.47)
t = arccos 0 = π2 = 1.57s
A partı́cula leva 1.57 s a atingir o ponto B.
Podemos determinar a constante de integração C, observando que no inı́cio
quando a partı́cula é liberta no ponto A, tem-se v = 0 m/s e x = 1 m. Logo
150 9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética
k
0 = − 2m × (1)2 +C
(9.48)
C = 2m × (1)2 ∴ C = 12 .
k
Exemplo 8: Determine a velocidade com que cai para a Terra um veı́culo espacial
provindo do espaço interestelar. Considere a Terra em repouso e a ação única da
força gravı́tica. Suponha que o veı́culo cai de um ponto A distante de r do centro da
Terra. Faça um esboço do problema.
Vamos escrever a força gravı́tica na forma mais simplificada
λ
F= . (9.51)
r2
Como sabemos que F = mg quando r = RT (raio da Terra), também podemos escr-
ever
mg = Rλ2 ∴ λ = mgR2T
T
mgR2
(9.52)
F = r2 T .
A lei fundamental da dinâmica toma a forma
d2r mgR2T
m = − (9.53)
dt 2 r2
Logo
d2r gR2T
= − . (9.54)
dt 2 r2
A integração desta equação requer novo método: multiplicamos ambos os membros
por 2dr/dt. Fixe este “truque”...
2 2gR2
2 dr d r T dr
dt dt 2 = − r2 dt
d dr 2 2gr2
= − r2T dr (9.55)
dt dt dt
2
d drdt = −2gR 2 dr .
T r2
dr 2 dr 2gR2T
Z
( ) = −2gR2T = +C. (9.56)
dt r2 r
Inicialmente em t = 0 temos dr/dt = 0 e sabemos que o veı́culo se encontra distante
de r = l do centro da Terra. Logo
9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética 151
2gR2T
0= l +C
2gR2 (9.57)
C=− lT
( dr 2 2 1 1
∴ dt ) = 2gRT r − l
O resultado deste integral pode ser encontrado em tabelas de integrais, que aconsel-
hamos o estudante a consultar 2 . Encontra-se o seguinte:
R rdr √
√ = − lr − r2 + 2l √ dr 2
R
2
lr−r √ lr−r
= − lr − r 2 + l arcsin 2r−l (9.59)
√ h√ 2 l i
l 2 l 2r−l
∴ t = 2gR
√ lr − r + 2 arcsin l + K.
T
2 A edição mais exclente que conheço é a de Gradshteyn, I.S. e Ryzhik, I.M. “Tables of Integrals,
Series, and Products”, 6th ed. San Diego, CA: Academic Press, 2000
152 9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética
A validade desta lei está comprovada por observações experimentais. Enquanto que
a leis de Newton falham ao nı́vel microscópico, dos núcleos e átomos, a lei da
conservação da energia é sempre válida. É um dos grandes princı́pios unificadores
da ciência.
O seu estudo e uso é importante em Mecânica porque, enquanto a resolução
das leis de Newton envolve grandezas vectoriais e suas projeções nos eixos das
coordenadas, o uso das leis de conservação:
• energia;
• momentum;
• momentum angular,
permite-nos obter as caracterı́sticas do movimento de um sistema e do seu movi-
mento de um modo mais fácil.
9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética 153
dv
m = −av (9.63)
dt
donde obtemos
dt = − ma dvv (9.64)
t = ma ln vvo
onde vo é a velocidade inicial. Para resolver a última das Eqs. 17.204, note que
at vo
= ln (9.65)
m v
ou at v
o
exp = (9.66)
m v
donde se obtém at
v(t) = vo exp − . (9.67)
m
Note en passant que a embarcação ao ver a sua velocidade reduzida, poderá pas-
sar a ter um movimento de deriva lateral e a aproximação usada não é mais válida,
devendo-se usar um valor diferente para a (que o estudantye de engenharia apren-
derá em nı́veis mais adiantados do curso).
Questão: qual a distância percorrida?
Parte-se de
dv
mv = −av (9.68)
ds
e, consequentemente,
a
v = vo − s. (9.69)
m
Integrando-se a Eq. 17.207, tem-se
ds at
= vo exp − (9.70)
dt m
mvo at
s= (1 − exp − ). (9.71)
a m
É espantoso, mas um petroleiro necessita em média de cerca de 10 km até parar
completamente!
E = K +U(z). (9.72)
Quais são as condições necessárias e suficientes para que uma força conservativa
exista?
Considere uma partı́cula que se desloca de P1 para P2 sob a atuação de uma
→
−
força F . Assuma que a força depende unicamente da posição, mas não depende
explicitamente do tempo.
O trabalho exercido pela força quando a partı́cula desloca-se ao longo do per-
curso I é: Z P2
→
− →
WI =
12 F · d −r , (9.73)
P1
enquanto que o trabalho efectuado sobre a partı́cula quando ela se desloca ao longo
do percurso II é:
Z P2
→
− →
W II =
12 F · d −r . (9.74)
P1
→
−
Definição: F é uma força conservativa se o trabalho depende apenas da posição
dos pontos P1 e P2 , mas é independente dos percursos efectuados entre P1 e P2 :
I II
W12 = W12 , (9.75)
Imagine agora que a partı́cula efectua um percurso fechado, tal como mostra a
Fig. ??. Se a força for conservativa o trabalho total é exactamente igual a zero para
um trajecto fechado:
I II I II
W12 +W21 = W12 −W12 = 0. (9.76)
Z P2 Z P1 Z P2 Z P2
→
− →
− →
− →
−
F · d→
−r + F · d→
−r = F · d→
−r − F · d→
−r = 0, (9.77)
P1 P2 P1 P1
Pode-se verificar que a força gravı́tica e a força elástica são ambas forças conser-
vativas.
A força de atrito não é conservativa porque opõe-se ao movimento:
→
− →
I
F · d −r 6= 0. (9.80)
d 1 2
[ ṙ +Ve f f (r)] = 0, (9.85)
dr 2
onde se introduziu um “potencial efectivo”:
α2
β r 2 r
Ve f f (r) = 2 + [ln ] + α żo ln . (9.86)
2r 2 ro ro
r − ro 2
2
β β r − ro α α żo 3β
Ve f f (r) = 2 + (α żo − 2 ) + − + 2 . (9.87)
2ro ro ro 2 2 2ro ro
q
d) Elimine o termo linear da Eq. anterior e mostre que ro = αβżo .
A energia potencial só pode ser definida para forças conservativas. É conveniente
escolher-se um ponto de referência Po ao qual é atribuı́do um determinado valor
U(Po ), qualquer número arbitrário de facto, embora com mais frequência seja con-
veniente escolher U(Po ) ≡ 0.
Deste modo, qualquer outro ponto P situado num campo de forças determinado,
tem a energia potencial dada pela expressão geral:
Z P
→
−
U(P) = U(Po ) − F · d→
−r . (9.88)
Po
9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética 157
K2 − K1 = U(P1 ) −U(P2 )
K2 +U(P2 ) = K1 +U(P1 ) (9.91)
E = K +U = Const.
ou seja
U(z) = mgz. (9.95)
A energia mecânica total é
1
E = K +U = mv2 + mgz. (9.96)
2
1 1
E = K +U = mv2 + kx2 . (9.98)
2 2
Fig. 9.10 (a) : Força elástica no sistema massa-mola. (b) : Energia potencial vs. x.
→
− GmM −
Fg=− 2 →ur (9.99)
r
QuadroNegro 3 -
9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética 159
→
−
onde a força resultante F R é dada pelo somatório das forças:
N
→
− →
−
F R = ∑ F i. (9.103)
i=1
Decorre deste resultado que a energia potencial total será dado pela soma de cada
uma delas individualmente:
N
U = ∑ Ui . (9.104)
i=1
A energia mecânica total entre dois estados do sistema fı́sico inicial ≡ i e final
f inal ≡ f é conservada:
N N
Ki + ∑ U j = K f + ∑ U f = E. (9.105)
j=1 j=1
Exemplo 12: Uma massa m é deixada cair a partir do repouso sobre uma mola
(Fig. 9.11). Determine a compressão máxima da mola.
Repare que só se encotram aplicadas forças conservativas sobre o sistema massa-
mola:
E = K +U = Const. (9.106)
Quando é deixada cair a massa parte do repouso, v1 = 0 ⇒ K1 = 0. No instante
de compressão máxima da mola a massa encontra-se em repouso, K2 = 0. Logo
160 9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética
K1 +U1 = K2 +U2
0 + mgh = 0 − mg(y) + 21 ky2
y2 − 2mg
k y − 2mg h = 0 (9.107)
q k
y = 12 2mg k ± ( 2mg 2 8mg
k ) + k .
∆ K = W (φo → φ )
1 (9.108)
2 mv(φ )2 − 12 mv2o = W
logo r
2W
v(φ ) = . (9.109)
m
Agora temos que calcular o trabalho. Repare-se no diagrama de forças mostrado na
→
−
Fig. 9.12-(b). Duas forças encontra-se actuando sobre a massa m, N e m→
−g . Como
→
− →
−
se vê N ⊥ d r e, portanto não realiza trabalho. Resta-nos o trabalho do campo
gravı́tico:
m→−
g · d→
−r = mgl cos φ − π dφ .
2 (9.110)
= mgl sin φ dφ
onde usámos | d →
−r |= ldφ .
Rφ
Wφ ,φo = φo mgl sin φ dφ
φ (9.111)
= −mgl cos φ |φo
= mgl(cos φo − cos φ )
QuadroNegro 4 -
Fig. 9.13 (a) : O “Teeter toy” na posição de equilı́brio; (b) : ligeiro desvio da posição de equilı́brio.
162 9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética
Exemplo 15: Um comboio faz uma curva de 300 m de raio com a rapidez de 50
km/h. De quanto deve ser elevado o carril externo de modo a que as rodas exerçam
igual pressão sobre ambos os carris? Assuma que os carris estão calibrados de
acordo com o standard gauge 1435 mm.
Se colocarem um fio de prumo no vagão e este não oscilar, então ele deverá fazer
um ângulo recto com o eixo das rodas. O comboio descreverá uma trajectória circu-
→
−
lar no espaço sob a ação de 2 forças: a gravı́tica, m→−g e a tensão da corda T . Suponha
que o fio de prumo faz um ângulo α com a vertical. Nestas condições a componente
→
−
vertical de T equilibra a força gravı́tica (pois que não existe movimento vertical do
fio de prumo). Logo
mv2
T sin α = N = ,
r
logo,
v2 142
tan α = = = 0.067
gr 9.8 × 300
Dá 3.8 o , e portanto o carril mais externo deverá assentar cerca de 4.7 cm acima
do carril mais interno de modo a que a pressão sobre ambos os carris seja igual.
Exemplo 16: Vaso de centrifugação.
Este dispositivo é usado com frequência em quı́mica, mas foi em tempos us-
ado para determinar a velocidade de uma locomotiva...com uma velocidade angular
proporcional à rapidez do trem (Fig. 9.16).
Suponha que se tratava de um óleo movendo-se como se tratasse de um corpo
rı́gido, sem correntes transversais ou outras perturbações internas. Qual será a forma
9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética 163
da superfı́cie? Imagine para este fim uma pequena partı́cula na superfı́cie do óleo.
→
−
Ela será actuada pela força gravı́tica, m→
−
g e pela impulsão de Arquimedes I . A re-
→
−
sultante destas duas forças deve igualar a força centrı́fuga N necessária para manter
a partı́cula na sua trajectória.
Daqui obtém-se:
ω2 2
y= x . (9.118)
2g
A superfı́cie livre do óleo (ou de qualquer fluido em geral) é uma parábolade
revolução. Em particular, podemos concluir que a altura máxima atingida pelo
lı́quido é dada em função do raio do vaso R:
ω2 2
h= R . (9.119)
4g
Exemplo 17: Operação do rotor de um helicóptero em condições de fluxo
oblı́qua.
Todos os sistemas de rotor estão sujeitos a` assimetria da força de sustentação
num voo para a frente. Quando o helicóptero paira no ar, a força de sustentação é
igual sobre todo o disco do rotor. Porém, quando o helicóptero ganha velocidade, a
pá do rotor que avança desenvolve uma sustentação maior devido à velocidade maior
do ar (por exemplo, se as pás do rotor quando estão paradas movem-se a 100 km/h,
quando o heli move-se a 100 km/ para a frente a pá que avança terá a velocidade
de 200 km/h, enquanto que a pá que se desloca para trás terá a velocidade relativa
de 0 km/h... Este efeito da dissemetria da força de sustentação é compensado pelo
“blade flapping”. O ângulo de ataque das pás do rotor (que são na realidade asas)
é modificado de modo a compensar o aumento da sustentação da pá que avança e
164 9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética
reduzindo na pá que retrai. Se este efeito não é corrigido o helicóptero é submetido
a grandes vibrações que comprometem a durabilidade do rotor.
Logo
mgL(1 − cos θo ) = 12 mv2 + mgL(1 − cos θ )
(9.122)
v2 = 2gL(cos θ − cos θo )
Na parte inferior, θ = 0: p
vB = 2gL(1 − cos θo ) (9.123)
∆ K + ∆U = W f . (9.124)
→
− −
dU = U(P1 ) −U(Po ) = − F · d →
r
(9.131)
= −Fx dx − Fy dy − Fz dz.
Fx = − ∂U
∂x
Fy = − ∂U
∂y (9.134)
Fz = − ∂U
∂z
166 9 Formas de Energia. Teorema Trabalho-Energia Cinética
Combinando temos
→
− → − ∂U →− ∂U
F = − ∂U
∂x i + ∂y j + ∂z
→
− (9.135)
F = −∇U
O sı́mbolo ∇ representa o operador diferencial vectorial. Podemos escrever o oper-
ador del no sistema de coordenadas cartesianas:
∂ →− ∂U → − ∂ →−
∇= i + j + k, (9.136)
∂x ∂y ∂z
→
− → − → −
onde i , j e k constituem a base em R3 .
Exemplo 20: Força elástica.
A energia potencial da mola é dada por:
1
U(x) = kx2 . (9.137)
2
Obtém-se facilmente:
Fx = − ∂U
∂ x = −kx
Fy = − ∂U
∂y = 0 (9.138)
∂U
Fz = − ∂ z = 0.
Fig. 9.19 Energia potencial U de um sistema massa-mola vs. x. Quando a mola é comprimida,
x < 0 o declive da curva é negativo e a força positiva; quando a mola é esticada, x > 0, o declive é
positivo e a força negativa.
U(x) = − b2ax
+x2 (9.139)
F(x) = − ∂U(x)
∂x
QuadroNegro 5 -
Chapter 10
Equilı́brio e Estabilidade de um Sistema Fı́sico
“A careful analysis of the process of observation in atomic physics has shown that the
subatomic particles have no meaning as isolated entities, but can only be understood as
interconnections between the preparation of an experiment and the subsequent measure-
ment. Quantum theory thus reveals a basic oneness of the universe. It shows that we cannot
decompose the world into independently existing smallest units. As we penetrate into mat-
ter, nature does not show us any isolated basic building blocks, but rather appears as a
complicated web of relations between the various parts of the whole.”
167
168 10 Equilı́brio e Estabilidade de um Sistema Fı́sico
dx0
Z x Z t
q = dt 0 , (10.3)
x0 =xo 2 0 t 0 =0
m [E −U(x )]
onde x0 = xo quando t 0 = 0.
Como podemos depreender, o integral da Eq. 10.3 não é necessariamente de
obtenção analı́tica fácil. Coloca-se então a seguinte questão: será que olhando o di-
agrama da energia potencial podemos extrair conclusões gerais sobre o movimento
da partı́cula?
Exemplo 1: O potencial (a 1-dim) de uma partı́cula alfa α na proximidade de
um núcleo de ouro de raio rB ∼ 10−13 cm tem a forma apresentada na Fig. 10.1.
∂U(x)
F =−
∂x
1. Nos pontos xB e xD , ∂U/∂ x = 0 e, portanto F(x) = 0;
2. Se ∂U(x)/∂ x → 0 quando x → ∞, então F(x) → 0 quando x → ∞.
3. F(x) > 0 no intervalo 0 < x < xB , porque ∂U/∂ x < 0. Também no intervalo x >
xD , tal se verifica. Portanto, conclui-se que nestes intervalos a força é repulsiva.
4. F(x) < 0 no intervalo xB < x < xD , porque o declive de U(x) é positivo: a força
neste intervalo é atractiva (no sentido da origem).
Este exemplo sugere-nos um método útil para podermos interpretar outras curvas
de potencial: imagine uma esfera a rolar entre as “colinas” da curva de potencial
sujeita à força da gravidade. A esfera é empurrada na direcção de F(x).
Exemplo 2: Sistema massa-mola (Fig. 10.2): Uma massa é puxada para a direita
até à posição x = xo e liberta com velocidade inicial nula. Supostamente não há
dissipação de energia. A energia total inicial permanece constante:
E = 12 kxo2
1 2 1 2 1 2 (10.4)
∴ 2 mv + 2 kx = 2 kxo .
Quando:
i) x > 0, verifica-se ∂U(x)/∂ x = kx > 0, logo F < 0, e a força é atractiva
acelerando a massa em direcção à posição de equilı́brio.
ii) x < 0, ∂U(x)/∂ x = kx < 0, F > 0 e a força é igualmente atractiva, acelerando
a massa em direcção à posição de equilı́brio.
Fig. 10.2 (a) : curva da energia potencial U = U(x); (b) : sistema massa-mola.
Fig. 10.3 Representação gráfica da energia potencial U(x) de uma partı́cula num movimento con-
stangido a 1 dimensão.
10.2 Equilı́brio
Fig. 10.4 Os pontos A, B, C e D no gráfico da energia potencial em função da posição são pontos
de equilı́brio. O equilı́brio pode caracterizar-se como estável (A), instável (B), ou neutro (D).
Um gráfico como aquele onde assenta o ponto B é instável porque a força que age
sobre um objecto que se encontre nesse ponto afasta-o permanentemente da posição
x = xB .
Exemplo 4: Pêndulo simples constituı́do por uma massa m e uma haste de com-
primento L. Determine os pontos de equilı́brio estável e instável.
A energia potencial da massa m é
Conclui-se que dU/dθ = 0 para θ = 0, π, mas a derivada segunda mostra que para
θ = 0, U 00 > 0, sendo o equilı́brio estável e,para θ = π, tem-se U 00 < 0, sendo
portanto o equilı́brio instável.
Fig. 10.5 Pêndulo simples constituı́do por uma massa m e haste de comprimento L.
Fh = − dU
dr i
12 6
= −Uo −12 ar13 + 6 ar7 (10.10)
h 13 7 i
= 6Ua o 2 ar − ar
isto é:
172 10 Equilı́brio e Estabilidade de um Sistema Fı́sico
A
U(x) =
. (10.14)
x
O gráfico desta função está representado na Fig. 10.6.
onde U(xmin ) = E.
→
−
Seja θ o ângulo que a tangente em qualquer ponto da curva faz com Ox e T o
→
−
e T as tensões em C e P, e seja CP = s. O comprimento CP da corrente está em
equilı́brio sob a acção de três forças: T0 , T e o peso ws = λ sg (λ é uma densidade
linear de massa) que actua no centro de gravidade G do arco CP:
T cos θ = To
T sin θ = ws (10.18)
dy ws
∴ dx = tan θ = To
O peso da corrente no ponto C pode ser encontrado por meio da energia potencial
da corda de comprimento ds à altura y do ponto de referência O (onde assumimos
U(0) = 0):
dU = λ dsyg. (10.19)
Obtemos logo a força calculando a derivada em ordem a s:
∂U
Fx = − = −λ yg. (10.20)
∂x
Aqui substituı́mos ds = dx pois estamos a considerar a componente horizontal da
força. ds é o arco elementar que obedece à equacção
4 A palavra catenária deriva da palavra latina “catena”, que significa corrente. Esta curva também
se chama de “alysoid”, “funicular”, ou “chainette”. O problema da determinação da forma de
uma correia pesada suspensa em dois pontos foi proposto por James Bernoulli. OS dois irmãos
Bernoulli, Huyghens e Leibniz, resolveram a questão, porém sem efectuarem uma análise defini-
tiva, julga-se que na intenção de deixar alguns louros para outros.
174 10 Equilı́brio e Estabilidade de um Sistema Fı́sico
2 2 2
ds
dy ≡ 1+ dx
dy = 1 + ys2
∴ dy = ± √ sds
2 2 (10.22)
qs +y0
∴ y + A = ± s + y20
2
Repare que o sinal que aqui faz sentido é o sinal positivo, pois que quando x e s
aumentam, também y deve aumentar. Quando s = 0, temos y + A = y0 . Portanto, se
o eixo Ox fôr escolhido de modo que se localiza à distância y0 do ponto mais baixo
C da corrente, deve-se ter A = 0. Obtemos então
y2 = s2 + y20 . (10.23)
y ds
q 0 = dx, (10.24)
s2 + y20
o que resulta em q
y0 ln[s + s2 + y20 ] = x + B. (10.25)
Atendendo a que quando x = 0 quando s = 0, tem-se B = y0 ln y0 . Finalmente obtém-
se q
s2 + y20 + s = y0 ex/y0 . (10.26)
Teremos que incluir agora a solução para a região negativa do eixo Ox:
q
s2 + y20 − s = y0 e−x/y0 . (10.27)
Somando as duas soluções da Eq. 10.26 e Eq. 10.27, e usando a Eq. 10.23, obtém-se
y0 yx −x
y= e 0 + e y0 (10.28)
2
O eixo OX e Oy chamam-se, resp., a directrix e o eixo da catenária, e o ponto C
chama-se vertex.
As Eqs. 10.23 revelam as três importantes
P ROPRIEDADES DA CATEN ÁRIA :
1. A tensão horizontal em qualquer ponto da curva é constante e igual a T0 = λ y0 g;
2. a tensão vertical em qualquer ponto P é igual a λ dsg, onde s é o arco medido a
partir do ponto mais baixo da curva;
3. a tensão resultante em qualquer ponto é igual a λ dsyg, sendo y a ordenada medida
a partir da directrix.
Exemplo: Um cilindro tem raio r e altura h. Para um valor fixo do volume, qual
é o raio que deverá ter o cilindro de modo a minimizar a sua superfı́cie?
Temos V = πr2 h=fixo. A superfı́cie é dada por S = 2πr2 + 2πrh. Subsituindo
h = V /πr2 , obtemos
V 2V
S = 2πr2 + 2πr = 2πr2 + . (10.29)
πr2 r
Procuremos em seguida o valor da primeira e segunda derivada:
dS
dr = 4πr − 2V
r2
=0 ⇒ r3 = 2V
4π
d2 S (10.30)
dr2
d
= 4π − 2V dr (r−2 ) = 4π + 4V
r3
> 0.
V 1/3
= h2 é o que minimiza a superfı́cie de
Verificámos assim que o valor rmin = 2π
um cilindro, para um dado valor fixo do volumeV .
Recorda-se aqui que o valor máximo de uma função de uma variável x é obtido
procurando o valor xmin que corresponde a d f (x) = dx = 0, e verificando que
d 2 f (x)/dx2 > 0. Se d 2 f (x)/dx2 < 0, então o respectivo x é o valor que corresponde
ao máximo da função f (x) nesse ponto.
10.4 Potência
A potência P proporcionada por uma força é a taxa temporal com que a força efectua
o trabalho. Quando uma força externa aplicada a um objecto realiza a quantidade de
trabalho ∆W no intervalo de tempo ∆t, a potência média P é dada por
∆W
P= . (10.31)
∆t
A potência instantânea P é o valor limite da potência média quando ∆t → 0:
∆W dW
P ≡ lim = . (10.32)
∆t→0 ∆t dt
As unidades são [P] = J/s = Watts (W). 1 horse-power é igual a 745.7 W.
Podemos expressar a potência em função da velocidade da partı́cula da seguinte
forma: →
− −
dW = ( F · d → r)
→
− d→−r →
− − (10.33)
P = dt = ( F · dt ) = ( F · →
dW
v ).
Note-se que o trabalho depende do referencial a que se refere e o mesmo se passa
com a potência.
Tendo a potência, podemos obter a energia:
176 10 Equilı́brio e Estabilidade de um Sistema Fı́sico
E = tt12 Pdt
R
(10.34)
E = Pt
A potência é
→
− −
P = (F ·→
v ) = 3100 × 22 = 6.8 × 104 W (10.36)
ou seja 91 Hp (lê-se “Horse Power”) (sendo 1 Hp= 746 W). Refira-se que 1 Hp =
735.49875 W, 1 CV= 0.9863 Hp, sendo CV o “Cavalo-vapor”. São todas unidades
diferentes de potência.
Exemplo 9: O movimento de qualquer corpo num meio fluido está sempre sub-
metido a uma força resistiva. Infelizmente, só num número de casos reduzidos se
pode calcular teoricamente a força resistiva, e usualmente quando os corpos têm
uma forma simples. Um caso notável é a lei de Stokes para um corpo esférico. Na
maioria dos casos tem que se recorrer a técnicas experimentais a fim de determinar-
se com exactidão a força resistiva. É usual apresentar-se os resultados experimentais
da força resistiva em termos de um coeficiente de atrito sem dimensão:
D
CD = 1 2
A, (10.37)
2 ρV
1
P = ρV 3 ACD . (10.38)
2
Para as viaturas CD ≈ 0.5 o que significa que a potência necessária para vencer a
resistência do ar quando a rapidez da viatura passa de 22.35 m/s para 31.29 m/s
aumenta de um factor 2.74. A situação mais dramática quando se considera os gastos
energéticos dos camiões, pois que estes oferecem uma área transversal mais signi-
ficativa e na maior parte das vezes não têm uma forma aerodinâmica apropriada.
Exemplo 10: Uma roldana fixa, cuja massa pode ser desprezada, tem uma corda
pesada de massa M que se encontra enlaçada. No instante inicial um sujeito de
massa m agarra-se à corda num ponto situado entre a roldana e o extremo inferior
da corda e começa a trepar para se manter a uma altura constante. Qual a potência P
deverá o sujeito dispender para assim se manter? Ao fim de quanto tempo o sujeito
deixará de conseguir manter-se nessa posição, sabendo que ele consegue desen-
volver a potência muscular máxima Pmax ?
Repare que, para o sujeito se manter a uma dada altura, ele deverá exercer mus-
cularmente uma força igual e de sinal contrário à força gravı́tica, que o puxa para
baixo. Isto é, deve-se estabelecer o seguinte equilı́brio de forças:
F = mg
mg = Ma (10.39)
m
∴a= M g
→
− − (mg)2
Z Z
P= ( F · d→
v)= Fdv = mgv = t (10.41)
M
Na realidade, uma pessoa consegue desenvolver por curtos intervalos de tempo uma
potência muscular Pmax = 200 W, o que dá neste caso concreto t ∼ 1 ms. O que a Eq.
mostra é que o sujeito conseguiria manter-se mais tempo suspenso se aumentasse a
massa da corda!
d→
−p ∂U
=− → = −∇U, (10.43)
dt ∂ −r
deixa estas duas equações inalteradas. Isto quer dizer que se um sistema é capaz de
um determinado movimento, então o movimento inverso também é possı́vel; diz-se
que
S EGUNDO AS LEIS DA MEC ÂNICA CL ÁSSICA TODOS OS MOVIMENTOS S ÃO
REVERS ÍVEIS .
A expressão quantitativa deste facto é a lei da conservação da energia. O pro-
gresso da ciência tem confirmado que as leis de conservação do momento (linear e
angular) e da energia são leis fundamentais da natureza. Todas as teorias fı́sicas que
se conhecem descrevendo inúmeráveis fenómenos podem ser obtidas a partir destas
duas leis de conservação.
Formas de energia:
• eléctrica
• quı́mica
• calor
• nuclear
Unidades de energia usadas ao nı́vel atómico e nuclear:
• 1 eV= electrão-volt
• = 1.602 × 10−19 J.
Unidades de energia usados nas centrais de energia:
• 1 kW.h = 3.6 × 106 J.
Unidades de combustı́vel:
• 1 kilocaloria= 4.187 × 103 J
10.5 Formas de energia 179
Temos
2mo c2 = 2Eγ = 2 × 0.511Mev (10.44)
Portanto liberta-se 1.022 MeV de energia. Toda a massa em repouso das duas
partı́cula que sofreram aniquilação de pares converteu-se em energia. É natural
que se procure utilizar este processo em propulsão de naves, como é o caso das
naves “Enterprise” e “Voyager” da série StarTrek. Esta ideia de usar motores de
anti-matéria é lavada a sério pela Marshall Space Flight Center, da NASA.
Enquanto que os processos quı́micos podem produzir até 107 J/kg, a fissão nu-
clear 8×1013 J/kg, a fusão nuclear 3×1014 J/kg, a aniquilação completa da matéria
com anti-matéria, como se pode verificar usando a relação de Einstein, pode libertar
9 × 1016 J/kg.
Porém existem limitações tecnológicas actuais: a anti-matéria não existe em
quantidades significativas na natureza, tem que ser fabricada (como acontece em
instalações com potentes aceleradores de partı́culas, no FermiLab, perto de Chicago,
e no CERN, na Suı́ça. A quantidade de anti-protões) produzida actualmente no Fer-
milab e no CERN é de cerca de 1 − 10 nanogramas. Outro problema ainda por
resolver é como se armazena a anti-matéria...na medida em que em contacto com
as paredes do contentor se aniquilaria de imediato. Uma solução provisoriamente
sugerida consiste no uso de um dispositivo conhecido para aprisionar partı́culas, o
“Penning Trap”. Bastaria 71 mg de anti-matéria para se libertar tanta energia quanto
a que possuem os tanques de combustı́vel do “Space Shuttle”...
180 10 Equilı́brio e Estabilidade de um Sistema Fı́sico
As leis de Newton são formuladas com maior rigor quando expressas em termos de
quantidade de movimento 5 , →−p .
A quantidade de movimento linear de uma partı́cula de massa m movendo-se
com velocidade →
−v é definida pela expressão:
→
−p = m→
−
v (10.45)
É um vector que tem a mesma direção e sentido que o vector velocidade e tem as
unidades fı́sicas no SI em kg.m/s.
A Primeira Lei de Newton, recordamos, afirma que na ausência de forças a quan-
tidade de movimento de uma partı́cula é constante.
F = 0 ⇒ V = constante
(10.46)
p = constante
quando dm/dt = 0, isto é, a massa do sistema permanece constante. Daqui vemos
também que a forma mais geral da equação fundamental da dinâmica escreve-se
→
− d→
−p
F = . (10.49)
dt
podendo-se assim estudar sistemas de massa variável, como é o caso do foguetão.
∆→−p = →−p − →
f
−p
i
→
−
= −2mB vo i (10.50)
→
−
= −2 × 0.1 × 50 i = −10kg.m/s.
Logo
→
−p = →
−p + →
−p = Const. (11.3)
1 2
183
184 11 Sistema de 2 partı́culas. Centro de Massa
A força gravitacional e a força de Coulomb são ambas forças centrais onde F(r)
varia como 1/r2 .
Exemplo 13: Forças que violam a lei da acção-reacção. Forças do tipo giroscópico,
→
− →
− →
−
isto é, na forma F = q[→
−v × B ], ou F = 2m[ω ω ×→ −v ], não satisfazem a lei da ação-
reação.
QuadroNegro 1 -
11.1 Sistema de duas partı́culas 185
→
−
O momento inicial é: m1 v1 i .
→
−
O momento final é: (m1 + m2 )v0 i .
→
−
Repare que as forças verticais anulam-se reciprocamente, N = m→ −
g . Supõe-se
que não existem forças exercidas horizontalmente: a conservação do momento dá-
nos a seguinte expressão:
m1 v1 = (m1 + m2 )v, (11.6)
donde obtemos sucessivamente
m1
v= m1 +m2 v1
104 (11.7)
= 2×104
× 24 = 12m/s.
1 m1 v21
K f = (m1 + m2 )v2 = Ki (11.9)
2 4
Exemplo 15: Duas partı́culas com massa m1 = 2.0 kg e m2 = 5.0 kg podem
deslizar com atrito desprezável numa haste (Fig. 11.3-(a)). Uma mola com con-
stante elástica k = 103 N/m encontra-se ligada à massa m2 . Suponha que num dado
instante tem-se v1 = 14 m/s e v2 = 0.
a) Qual é a compressão máxima da mola quando as partı́culas colidem?
b) Quais são as velocidade finais das partı́culas?
Quando a mola está com a máxima compressão, a velocidade relativa das duas
massas é zero. O sistema tem porém a velocidade de conjunto vo :
Fig. 11.3 Colisão entre duas massas m1 e m2 tendo no meio uma mola.
186 11 Sistema de 2 partı́culas. Centro de Massa
m1 v1 + m2 × 0 = (m1 + m2 )vo
(11.10)
∴ vo = m1m+m
1
2
v1 = 2×14
2+5 = 4m/s.
Wd = ∆ (K +U) = 0 (11.13)
pois que não há trabalho efectuado pelas forças dissipativas (como as de frição),
donde concluı́mos que
Ki + 0 = K f +U f
U f = Ki − K f
1 2 1 2 (11.14)
2
q kx = 2 k(l −
qlo ) = Ki − K f
2(Ko −K) 2×(196−56)
∴x= k = 1000 = 0.53m.
b) Após a colisão elástica com a mola, as duas massas separam-se uma da outra
com uma dada velocidade que importa agora calcular. Quando as partı́cula se sepa-
ram, a energia armazenada na mola é convertida em energia cinética das partı́culas
e a energia total e o momento são necessariamente conservados:
m1 v01 + m2 v02 = m1 v1 + m2 × 0
1 02 1 02 1 2 1 2 (11.15)
2 m1 v1 + 2 m2 v2 = 2 m1 v1 + 2 m2 × 0 .
Esta última equação tem duas soluções: v01 = 14 e v01 = −6. A primeira dá-nos v02 = 0
(que não é fisicamente correcta, porque significaria que só m1 seria propelida e m2
ficaria em repouso), e a segunda solução, que essa sim, faz sentido, ficando então,
v02 = 8 m/s.
Exemplo 16: Uma bola animada com velocidade → −
v e energia cinética K colide
com um conjunto de duas bolas ligadas por uma mola que se encontram em repouso
11.2 Centro de massa 187
sobre uma superfı́cie lisa, sem atrito, como mostra a Fig. 11.3-(b). Na sequência
da colisão (elástica) a bola reparte em movimento no sentido contrário com energia
cinética K 0 . Assume-se que as três bolas têm igual massa m. Calcule a energia das
oscilações do conjunto das duas massas acopladas depois da colisão.
Designe por p e p0 os momentos lineares da bola que vai ao encontro das outras
duas, resp., antes e depois da colisão. E sejam pc , Kc0 e Er o momento linear, a
energia cinética e a energia devido ao movimento relativo do conjunto das duas
bolas acopladas, depois da colisão.
As leis da conservação do momento linear e da energia cinética (trata-se de uma
colisão elástica) dão-nos as seguintes relações:
px = −p0x + p0c
(11.18)
K = K 0 + Kc0 + Er
1 √
Er = (K − 3K 0 − 2 KK 0 ). (11.19)
2
Até agora temos considerado partı́cula pontuais, mas veremos em seguida que para
objectos de dimensão finita, o centro de massa representa perfeitamente o movi-
mento do sistema de partı́culas.
D EFINIÇ ÃO DE CENTRO DE MASSA : o vector posição do centro de massa (CM)
representa a posição média da massa do sistema e define-se por meio do vector:
→
− →
− →
−
−r = m1 r 1 + m2 r 2 + ...mn r n
→ (11.20)
cm
m1 + m2 + ...mn
ou ainda
→
− →
− →
− N →
−
−r = m1 r 1 + m2 r 2 + ...mn r n = ∑i=1 mi r i .
→ (11.21)
cm
M M
M = ∑M
i=1 mi representa a massa total do sistema.
Em termos da suas componentes, temos
Exemplo 17: CM de duas partı́culas (KBr, ou brometo de potássio, Vd. Fig. 11.5.
ycm = 0
(11.24)
xcm = m1mx11 +m2 x2
+m2
QuadroNegro 2 -
onde M = MB + MG , ou ainda
→
− 1 →
− →
−
R = [MB R B + MG R G ]. (11.30)
M
∑ x i ∆ mi
xc = . (11.31)
M
Façamos tender para zero a massa destes pequenos elementos de massa:
∑ xi ∆ mi 1
Z
xc = lim = xdm. (11.32)
∆ mi →0 M M
−r = 1
Z
→ →
−r dm. (11.34)
cm
M
A Eq. 17.190 revela-nos que o CM de um objecto rı́gido, homogéneo e simétrico
Fig. 11.6 Um corpo rı́gido pode ser considerado uma distribuição de pequenos elementos de massa
∆ mi .
deve situar-se num eixo de simetria. Por exemplo, se um objecto possui um ponto,
linha ou plano de simetria, então o CM deve ficar sobre esse ponto, linha ou plano
de simetria. Além disso, repare que não é necessário que haja partı́culas sobre o CM
de um dado objecto, como é o caso do CM de um “donut”.
A maior parte das vezes é conveniente exprimir a distribuição das massas em
termos da densidade local de massa e de um elemento de volume:
dm = ρdV (11.35)
QuadroNegro 3 -
11.2 Centro de massa 191
Fig. 11.7 (a) - CM de dois cı́rculos descritos no Exemplo 19; (b) - CM da lâmina parabólica.
dm =√2σ ydx
(11.38)
= 2σ 2pxdx.
11.2.3 CM de áreas
∆ mi = σ ∆ ai (11.41)
enquanto que
Z h
1 1
Z
zcm = zdm = ρzπr2 dz. (11.45)
M M 0
192 11 Sistema de 2 partı́culas. Centro de Massa
O raio de cada cilindro está relacionado com a sua altura z por meio da relação:
r
z= Rh
(11.47)
⇒ r = Rzh
QuadroNegro 1 -
→
− m1 →
−r + m →
1
−
2 r 2 + ...
R = , (11.48)
M
onde M = m1 + m2 + ... é a massa total do sistema. Este ponto normalmente é deno-
tado por CM.
Calculemos a derivada temporal do vector posição do CM. Obtém-se facilmente:
→
− d→
−r
cm 1 d→
−r
1 d→
−r
2 d→
−r
n
v cm = = [m1 + m2 + ...mn ]. (11.49)
dt M dt dt dt
Pode-se ainda escrever
→
−
v cm = 1 →
− →
−v 2 + ...mn →
−
M (m1 v 1 + m2→ v n)
→
− −
P
(11.50)
v cm = M .
Decorre da Segunda Lei de Newton que as forças internas cancelam-se par a par,
→
−
de modo que a ∑i F inti = 0. Ora este resultado é rigorosamente verdadeiro se se
tratarem de forças centrais, como é o caso da força gravı́tica 1 .
Do teorema do movimento do CM podemos tirar várias conclusões de grande
importância:
1) Vamos admitir que a soma das forças exteriores que actuam sobre o sistema é
igual a zero:
→
−
∑ F ext
i = 0. (11.53)
Da Eq. 17.182 concluı́mos que
→
−
dP
= M→
−
ac=0 (11.54)
dt
ou seja
→
−
P = M→
−
v c = constante (11.55)
Se a soma das forças exteriores que actuam sobre um sistema é igual a zero, o
CM do sistema desloca-se com uma velocidade constante em módulo e direcção. O
movimento é rectilı́neo e uniforme e o momento total do sistema conserva-se.
Vejamos alguns exemplos ilustrativos das aplicações desta lei:
Exemplo 2: Movimento do CM do sistema solar: A atracção das estrelas sobre
o sistema solar é praticamente desprezável, isto é, não existem praticamente forças
agindo sobre o CM do sistema solar, donde podemos concluir que o seu movimento
é rectilı́neo e uniforme, em primeira aproximação.
Exemplo 3: Acção de um binário sobre um corpo: Se aplicarmos um binário
→
− → −
( F , F 0 ) sobre um sólido livre este entrará certamente em rotação. Porém, como
→
− → −
F + F 0 = 0, o seu CM permanecerá em repouso (ou em movimento uniforme, se
já estivesse com esse movimento).
Exemplo 4: Explosão de um projéctil: Um “rocket” é disparado para o ar, tal
como se encontra ilustrado na Fig. 11.9. No seu ponto de altura máxima distante
horizontalmente de D da origem, o rocket separa-se em duas partes de igual massa.
A parte I cai verticalmente para a Terra. Onde cairá a parte II? Assuma g constante.
QuadroNegro 2 -
Determine o alcance do óbus e mostre que a distância entre este e o vagão quando
o primeiro atinge o solo é independente de M e m.
QuadroNegro 3 -
1 1 1
K = m1 v21 + m2 v22 + ... mn v2n . (11.56)
2 2 2
Pode-se condensar esta expressão na forma:
1
K = ∑ mi v2i . (11.57)
i 2
A inserção das Eqs. 11.59 na Eq. 11.56 conduz-nos à seguinte sucessão de cálculos:
K = 21 (→ −u i +→−
v cm )2 + ... 12 mn (→
−
u n +→ −
v cm )2
1 →
− 2 →
− →
− 2
= 2 m1 ( u 1 + 2 u 1 · v cm + vcm ) + ...
= [ 21 m1 u21 + 12 m2 u22 + ...] + [m1 →
− u 1 + m2 →
−
u 2 + ...] · →
−v cm + 21 [m1 + m2 + ...]v2cm
(11.60)
Obtemos após um cálculo simples
1 1
K = ∑ mi u2i + [∑ mi →
−
v i − ∑ mi →
−
v cm ] · →
−
v cm + Mv2cm . (11.61)
i 2 i i 2
trada no seu CM deslocando-se com ele, e a energia cinética desse mesmo sistema
em movimento relativo ao seu CM.
Se forças conservativas internas e externas actuam sobre o corpo, o sistema
também terá energia potencial, U, que será função da posição de todas as partı́culas
e que deverá ser adicionada à energia cinética de modo a obtermos a energia total
do sistema de n partı́culas:
Etot = Ktot +Utot . (11.63)
Considerando em particular um corpo extenso composto de n partı́cula sob a
acção do campo gravı́tico, a sua energia gravitacional será dada pelo somatório:
Temos estudado atá aqui sistemas em que a massa é constante. A equação funda-
→
−
mental da dinâmica é F ext = d → −p /dt. O que acontece quando a massa do sistema
varia? Podemos definir uma fronteira do sistema de tal forma que haja massa a en-
trar ou sair. O foguetão é o exemplo mais evidente. Os sistemas de massa variável
incluem-se entre uma classe importante e fundamental de problemas fı́sicos.
Começaremos então por tratar o problema do foguetão. O argumento foi dado
por Ivan Vsevolodovich Meshchersky em 1897. Considere um foguetão com massa
m(t) e velocidade → −
v relativa a um dado referencial de inércia num instante t. A Terra
é usada como referencial de inércia por uma questão de conveniência. Num instante
posterior t +∆t é ejectada a quantidade de matéria de massa δ µ (combustı́vel e com-
burente queimados) com a velocidade −→ −v e relativa ao foguetão (a velocidade do
combustı́vel ejectado é normalmente considerada constante), enquanto que a massa
restante do foguetão (m − δ µ) adquire a velocidade → −
v +∆→ −v . Mas agora repare que
→
− →
− →
−
a massa δ µ tem a velocidade v + ∆ v − v e relativamente ao solo.
sendo ve a velocidade de ejecção dos gases pelo exaustor (em m/s), R = −dm/dt
a taxa de combustão, m0 é a massa total inicial incluindo o propelente (em kg).
O empuxo do foguetão (isto é, a força que age sobre o foguetão), no SI exprime-
se em kg.m./s ou N:
dm
Fem = Rve =| | ve . (11.67)
dt
11.3 Sistemas de massa variável. Equação do foguetão 201
tronáutica. O seu trabalho inspirou os engenheiros soviéticos leaderes do bem sucedido programa
soviético, Sergey Korolyov e Valentin Glushko.
202 11 Sistema de 2 partı́culas. Centro de Massa
m0
∆ v = ve ln (11.73)
m1
onde m1 é a massa total final (em kg). ∆ v lê-se delta-v.
Da Eq. 11.66 pode-se obter a fracção mássica que resta quando ocorre uma
variação da velocidade ∆ v:
m0 − m1
= 1 − e−∆ v/ve (11.74)
m0
QuadroNegro 5
4 Low Earth orbit (LEO) em inglês. Nesta órbita os objectos encontram-se entre 350 e 1400 km
acima da superfı́cie da Terra. Os satélites na órbita LEO movem-se com a velocidade de 8 km/s.
As órbitas inferiores a esta são instáveis, pois ficam sujeitas ao arrastamento atmosférico.
11.3 Sistemas de massa variável. Equação do foguetão 203
Este último resultado mostra-nos que a variação da energia cinética não iguala o
trabalho realizado pela força gravı́tica, que só parcialmente terá sido usado para
aumentar a energia cinética. A razão para esta discrepância está em que só se pode
usar o Teorema trabalho-energia cinética para sistemas de mass constante; e aqui
estamos frente a um sistema de massa variável, tal como o é o foguetão.
c) Suponha uma outra situação em que a ponta pendente do cadeado (que agora
está “em linha” sobre a mesa, Fig. 11.13-(b)). Determine a velocidade e a energia
cinética da parte pendente do cadeado em função do comprimento z.
Agora a massa total do cadeado m = λ L põe-se em movimento sob a acção do
peso da parte pendente do cadeado, λ zg. Resolvendo pelo método mais usual, tem-
se
d dz
(λ L ) = λ zg (11.76)
dt dt
ou seja
2
λ L ddtz = λ zg
2
d z
dt 2
− Lg z = 0
dv g dv dz g
dt − L z = 0 ⇒ dz dt − L z = 0 (11.77)
dv g
v dz − L z = 0
vdv − Lg zdz = 0
v2 gz2 2 g 2
2 − L 2 = C1 ⇒ v − L z = 2C1 .
Sendo as constantes iniciais z(t = 0) = z0 e v(t = 0) = v0 = 0, conclui-se que 2C1 =
− Lg z20 , ou seja
v2 =qLg (z2 − z20 )
(11.78)
∴ v = Lg (z2 − z20 ).
A energia cinética é
K = 21 mv2 = 12 (λ L) Lg (z2 − z20 )
(11.79)
∴ K = λ2g (z2 − z20 ).
Repare agora que no instante inicial, z = z0 e Ki = 0 e no instante final, z = L,
K f = λ2g (L2 − z20 ), donde resulta
λg 2 2
∆ K = K f − Ki = (L − z0 ). (11.80)
2
204 11 Sistema de 2 partı́culas. Centro de Massa
O trabalho realizado pela força gravı́tica é, por sua vez, dado por:
h 2i
W = zL0 (λ z)gdz = λ g zL0 zdz = λ g z2 = λ2g (L2 − z20 )
R R
(11.81)
∴ W = ∆ K,
Fig. 11.14 (a) Rocket propelido a peróxido de hidrogénio (repare na pequena dimensão do en-
genho); (b) esquema de funcionamento.
→
−p (t + ∆t) = (m + δ µ)(→
−
v +∆→
−
v ). (11.83)
dµ
Fxext = v = 2.2 × 75.0 = 165N. (11.86)
dt
Exemplo 11: Um foguetão tem a massa inicial mo = 21000 kg e a massa final
m f = 6000 kg (após queima de combustı́vel). A taxa de combustão é dm/dt = −190
kg/s e a velocidade de exaustão dos gases é ve = 2800 m/s. Assuma g = 9.81 m/s2 .
a) Tração: ve dm 5
dt = (2800)(190) = 5.3 × 10 N.
b) F = mg = 2.1 × 10 × 9.81 = 2.1 × 105 N (no inı́cio)
ext 4
→
− →
− →
− →
− →
−
Se F = 0, deduz-se que d V cm /dt = 0, logo V cm = const. e de P = M V cm ,
→
−
também se conclui que P = const.
Podemos inferir facilmente que a posição do CM é dado pela expressão:
→
− →
− →
−
R cm (t) = V cmt + R cm (0). (11.89)
→
− →
− 1
R cm = R cm (0) = (m1 →
−r + m →
1
−
2 r 2) (11.90)
m1 + m2
onde →−r e →
1
−r são os vectores posição do homem e da balsa relativamente a um
2
ponto fixo da margem.
Daqui podemos determinar a relação entre os deslocamentos do homem e da
balsa:
m1 ∆ →
−r + m ∆ →
1
−
2 r 2=0 (11.91)
Tendo em conta a Transformação de Galileu:
∆→
−r = ∆ →
1
−r + ∆ →
2
−r 0 , (11.92)
11.4 Centro de massa. Referencial do centro de massa. 207
onde →
−
v ic é a velocidade da partı́cula i no referencial do CM e Ee representa a energia
mecânica interna do sistema.
Chapter 12
Colisões
“There is nothing more difficult to plan, more doubtful of success, more dangerous to man-
age than the creation of a new system. The innovator has the enmity of all who profit by the
preservation of the old system and only lukewarm defenders by those who would gain by
the new system. ”
- Machiavelli, 1513
“The scientists of today have substituted mathematics for experiments and they wander off
through equation after equation and eventually build a mathematical structure which has
no relation to reality. They are metaphysicians rather than scientists.”
- Nikola Tesla, in Dr. Tesla, at 77, seldom sleeps, July 11th 1933, New York Times
209
210 12 Colisões
QuadroNegro 1
K = 12 MVcm 2 +K
int
1 2 1 2 + 1 m v2 . (12.2)
= 2 MVcm + 2 m 1 v1c 2 2 2c
→
− →
− →
− →
− − 2→
→ − (12.5)
v =→
2c
−v −V =→
2
−
cmv − m1 v 1 +m2 v 2 = − m1 ( v 1 − v 2 )
2 m1 +m2 m1 +m2
1 1 m1 m2 →
2
∴ K = MVcm + (−
v 1 −→
−
v 2 )2 (12.6)
2 2 m1 + m2
O último termo representa a energia máxima disponı́vel numa colisão perfeitamente
inelástica.
Sejam
→
−
v rel = →
−
v 1c − →
−
v 2c
→
− →
− (12.7)
= v 1− v 2
as velocidades relativas das duas partı́culas. Podemos então escrever a Eq. 17.177
na seguinte forma:
1 2 1
K = MVcm + µv2rel , (12.8)
2 2
onde
m1 m2
µ= (12.9)
m1 + m2
representa a massa reduzida do conjunto de duas partı́culas.
Exemplo 3: Num plano horizontal de atrito desprezável encontram-se duas pe-
quenas esferas de massa m unidas por uma mola de massa desprezável. Comunica-se
a uma das massas a velocidade → −
v o , como o mostra a Fig. 12.2. Determine a energia
mecânica interna Ee associada ao movimento.
O sistema é isolado - não há forças externas aplicadas sobre ele - e o momento
linear conserva-se. A energia cinética inicial é aquela que é comunicada à partı́cula
m, K = mv2o /2, e o momento é o que ele possui inicialmente, → −p = m→
−v o . A energia
interna no referencial CM é dada pela Eq. 12.4:
P2 mv2
Ee = E − = E− o. (12.10)
2M 4
e representa a energia de rotação e de oscilação da mola entretanto adquirida pelo
conjunto mecânico na sequência da colisão.
Exemplo 4: Um conjunto mecânico é composto por duas esferas de massas m1 e
m2 , unidas entre si por uma mola de massa desprezável. São comunicadas às esferas
as velocidades →−v1e→ −v 2 (perpendiculares entre si), tal como o mostra a Fig. 12.3,
e o conjunto começa em movimento sob a ação do campo gravı́tico terrestre. De-
sprezando o atrito com o ar e supondo que no instante inicial a mola não se encontra
→
−
deformada, determine: 1) a velocidade do CM ao longo do tempo V c ; 2) a energia
mecânica do conjunto no processo do movimento.
→
− →
−
Da equação fundamental da dinâmica, M d dt
Vc
= F ext = M →
−
g , deduzimos que
→
−
dV c = →
−
g dt (12.11)
→
− v 1 + m2 →
m1 →
− −
v2 →
V c (t) = +−
gt (12.13)
m1 + m2
Procuremos em seguida o valor da energia. A energia mecânica interna do conjunto
(tal como é medida no referencial do CM) representa-se por E. e
A colisão da massa m1 com a mola vai naturalmente deformá-la logo após a
→
−
colisão, pois que há trabalho exercido. Denotando por F 12 a força exercida pela
→
−
massa m1 sobre m2 na sequência da velocidade v 1 que é comunicada a m1 e que
a faz deslocar-se de d →−r , a massa m por sua vez vai exercer uma reacção −→ −
F 21
2 2
sobre m1 :
→
− −r + →−
dW = F 12 · d → 2 F 21 · d →
−r .
1 (12.14)
→
− →
−
Como pela lei da acção-reacção tem-se F 12 = − F 21 , acabamos por obter
→
− −r ) = →
−
dW = F 12 · d(→
−r − →
2 1 F 12 · d →
−r , (12.15)
12 Colisões 213
Vemos assim, passo a passo, que podemos definir uma energia mecânica total Ee no
referencial do CM:
Ee = Kint +U(r), (12.17)
onde U(r) = 12 ks2 , sendo r = ro + s, e ro o comprimento natural da mola. Como
vimos
1 −
Kint = µ(→ v 1 −→−
v 2 )2 . (12.18)
2
A energia mecânica total do conjunto de 2-corpos é constante porque os campos são
conservativos, ∆ E,
e e por conseguinte a energia não variará, bastando-nos utilizar o
valor inicial da energia:
m1 m2 1
Ee = (v21 + v22 ) + ks2 , (12.19)
2(m1 + m2 ) 2
com s = 0, pois que foi dito que no inı́cio não há deformação da mola. No caso de
haver uma deformação inicial da mola, a energia interna será dada com generalidade
pela Eq. 17.190, ∀s.
Em qualquer tipo de colisão - elástica ou inelástica - quando as forças externas
são desprezáveis, o momento linear total conserva-se e, portanto temos:
→
−
P = m1 →
−
v 1 + m2 →
−
v2 (12.20)
→
−
Repare que o valor de P depende do sistema de coordenadas escolhido. A conservação
do momento linear é verificada para todos os sistemas de referência inerciais 2 .
Se nos colocarmos no referencial do CM podemos obter as soluções das equações
de conservação do momento linear ou da energia de um modo mais intuitivo. Para
duas partı́culas o CM do conjunto define-se da seguinte forma:
−r = m1 →
→ −r +m →
1
−
2 r2
cm m1 +m2
→
− →
−v 1 +m2 →
− (12.21)
V cm = m1 m 1 +m2
v2
.
2 O teorema de Noether mostra que as leis de conservação resultam das simetrias dos sistemas
fı́sicos.
214 12 Colisões
Como já referimos, as colisões podem ser analisadas de modo mais simplifi-
cado no referencial do CM. As velocidades iniciais e finais determinam o plano de
colisão. Cada partı́cula é caracterizado pelo seu respectivo ângulo de colisão (ou
difusão) 3 θ ou Θ no referencial do LAB. Segundo uma terminologia introduzida
pelo prémio Nobel indiano Subrahmanyan Chandrasekhar, chama-se partı́cula teste
à partı́cula de massa m2 (que frequentemente considera-se em repouso) e partı́cula
do campo à partı́cula de massa m1 .
1) Colisão elástica (Fig. 12.4-(a)):
Na ausência de forças externas, o CM move-se com rapidez constante Vcm , antes,
durante e após a colisão. Verifica-se
|→
−p |=| →
1c
−p 0 |
1c (12.25)
| p 2c |=| −p 02c |
→
− →
→−p 0 = −→
−p
1c
→−p 01c →
−
= − p 2c
2c (12.26)
⇒→ −
v 01c = −→
−v 1c
⇒→ −
v0 2c
→
−
= − v 2c .
m1 →
−
v 1c + m2 →−
v 2c = 0 ⇒ m1 v1c − m2 v2c = 0.
(12.27)
m1 v 01c + m2 −
→
− →
v 02c = 0 ⇒ m1 v01c − m2 v02c = 0.
1 1 1 1 02
m1 v21c + m2 v22c = m2 v02
1c + v2c ,
2 2 2 2
obtém-se logo o que procurávamos:
Isto quer dizer que, numa colisão elástica, no referencial do CM a rapidez de cada
partı́cula é a mesma antes e depois da colisão e que os vectores velocidade apenas
rodam no plano de colisão.
É frequente uma das partı́culas estar parada e, neste caso, a rapidez do CM é
constante:
m1 v1
Vc = , (12.29)
m1 + m2
sendo que
→
− m2 → −
v 1c = v 1, (12.30)
m1 + m2
e
→
− m2 → −
v 2c = − v 1, (12.31)
m1 + m2
pois que →
−p = m →
1c
− →
− →
−
1 v 1c = m1 m2 ( v 1 − v 2 )/(m1 + m2 ). Daqui resulta a relação
Vc m1 v 1 m1 + m2 m1
= = ,
v1c m1 + m2 m2 v 1 m2
que será usada mais adiante.
Na colisão frontal ambas as partı́culas antes e depois da colisão movem-se so-
bre a mesma linha recta. Na colisão não frontal, no referencial do CM ambas as
partı́culas têm igual módulo e estão dirigidas em sentido contrário antes e depois
da colisão. Após a colisão, →−p faz um ângulo Θ com a direcção da incidente no
1c
referencial do CM. O ângulo Θ feito no CM depende do tipo de interacção entre as
partı́culas e da sua posição relativa (Fig. 12.4). Θ pode tomar qualquer valor entre 0
e π: 0 ≤ Θ ≤ π.
Vê-se que a relação que existe entre o ângulo de difusão que a partı́cula incidente
faz no referencial do laboratório, θ , e o ângulo que faz no referencial do CM, Θ , é
a seguinte:
v01c sinΘ
tan θ = . (12.37)
V + v01c cosΘ
Como a colisão é elástica verifica-se v01c = v1c e V /v1c = m1 /m2 , então
sinΘ
tan θ = , (12.38)
γ + cosΘ
m1 −1/2
m1 Q
γ= 1− 1+ . (12.39)
m2 K1i m2
Esta relação é válida no âmbito não-relativista e pode ser usada em particular nas
reacções nucleares no decurso da qual uma partı́cula de massa m1 interage com uma
partı́cula de massa m2 para dar duas partı́culas de massas m3 e m4 . Q tem o nome de
calor de reacção.
C ALOR DE REACÇ ÃO : Define-se calor de reacção à quantidade de energia
cinética convertida noutra forma de energia:
Ki = K f + Q,
(12.40)
Q = Ki − K f .
Isto significa que, quando o projéctil é muito mais leve do que o alvo, o referencial
do CM e do LAB coincidem praticamente.
Nm1 = m2 :
Θ
⇒θ = , (12.43)
2
ou 0 < θ ≤ π/2, o que significa que, quando as massas são iguais, não ocorre re-
versão da direcção do movimento 4 .
Nm1 > m2 :
m2
⇒ θmax = arcsin , (12.44)
m1
ou 0 < θ ≤ θmax . Neste caso existe um ângulo máximo de difusão (ou ângulo
limite).
Nm1 m2 :
m2
⇒θ ≈ sinΘ . (12.45)
m1
Quando dois objectos colidem as forças que eles exercem um sobre o outro du-
ram usualmente um pequeno intervalo de tempo. A fim de caracterizar a acção
exercida por uma forca ¸ sobre um corpo durante um determinado intervalo de
tempo, introduziu-se a noção de impulsão de uma força. Forças desta natureza
são chamadas de forças impulsivas, ou forças de percussão.
I MPULSO E TRABALHO: quando uma força actua sobre um corpo surgem dois
resultados completamente distintos chamados impulso (∆ → −p ) e trabalho (W ).
Durante a colisão a força impulsiva produz uma variação grande do movimento
do objecto.
Chama-se
IMPULS ÃO ELEMENTAR DE UMA FORÇA a uma grandeza vectorial d p dada
→
−
→
−
pelo produto da força F pelo intervalo de tempo elementar dt:
−p = →
d→
−
F dt. (13.1)
219
220 13 Colisões. Continuação
A variação do momento linear do objecto é igual ao impulso que actua sobre ele.
Este resultado traduz o
T EOREMA DO MOMENTO LINEAR DE UM PONTO MATERIAL NO DECORRER
DE UM CHOQUE: A variação do momento linear do objecto é igual ao impulso que
actua sobre ele.
É a equação fundamental da teoria das colisões, tendo o mesmo papel que a
→
−
equação m→−a = F no estudo do movimento produzido por forças que não sejam de
percussão.
→
− →
−
O produto da força F pelo intervalo de tempo ∆t resulta na impulsão I 1 .
→
− →
−
M OMENTO LINEAR : o vector p = m v é chamado momento linear 2 . Há que
referir em relação a qual referencial ele é definido (se a Terra, um vagão, laboratório,
CM).
Exemplo 1: Um sujeito empurrando um vagão de massa m desde o repouso com
→
−
a força F constante, terá comunicado a velocidade v ao fim do tempo ∆t:
mv
∆t = , (13.4)
F
porque, de acordo com o teorema anteriormente exposto, a impulsão I = F∆t é igual
à variação da quantidade de movimento comunicada ao vagão. O trabalho efectuado
é igual à variação da energia cinética adquirida pelo vagão:
1 (mv)2 I2
W = mv2 − 0 = = . (13.5)
2 2m 2m
Para uma mesma impulsão corresponde um trabalho tanto maior quanto menor for
a massa do vagão.
Por vezes é conveniente definir uma força média F actuante durante o intervalo
de tempo ∆t = t f − ti produzindo o mesmo impulso e igualmente a mesma variação
do momento:
1 R tf
F = ∆t ti F(t)dt
−p ) = →
− (13.6)
F∆t = (→−p − →
f i I.
Examinemos agora o choque de duas esferas duras A1 e A2 . Durante a colisão, A1
→
−
fica sujeita à reacção N exercida por A2 . Podemos ainda admitir que o sistema das
duas esferas não está isolado, exercendo-se eventualmente forças eléctricas ou o
→
−
peso, F . Em cada instante verifica-se
→
− → − d→
−v1
F + N = m1 (13.7)
dt
donde
1 Os criadores da mecânica tiveram uma grande dificuldade em distinguir as duas noções de im-
pulsão possı́veis, o produto da força pelo tempo e o produto da força pelo deslocamento.
2 Ou ainda momento cinético, quantidade de movimento linear, ou simplesmente momento. Prefe-
rimos chamá-lo por momento linear de modo a sermos consistentes com a designação do momento
angular que usaremos no estudo da dinâmica rotacional.
13.1 Noção de impulso. Colisões 221
Z t0 →
d−
Z t0
→
− →− v1
( F + N )dt = m1 dt. (13.8)
t t dt
Daqui obtém-se
Z t0
→
− →
− →−
I 1 = m1 [→
−
v 1 (t 0 ) − →
−
v 1 (t)] = ( F + N )dt. (13.9)
t
Exemplo 3: Uma bola de massa 100 g é atirada para o solo de uma altura h = 2
m. A bola ressalta até uma altura h = 1.5 m. Assuma que o tempo de colisão é 0.01 s
(aliás um valor tı́pico). Determine a velocidade imediatamente antes da colisão com
o solo:
1 2
2 mvi = mgh
√ (13.14)
vi = 2gh = 6.26m/s
Depois do ressalto, a bola adquire a velocidade
1 2 0
2 mv f = mgh
√ (13.15)
v f = 2gh0 = 5.42m/s.
→
−
O impulso I = ∆ →
−p = → −p = →
−p − → −
F ∆t resulta em
f i
−p = [0.54 − (−0.63)]→
∆→
−
k
→
−
= 1.17 k (kg.m/s) (13.17)
→
− →
− →− →
−
∴ F = ∆∆tp = 1.17 k
0.01 = 117 k (N)
13.1.1 Colisões
C OLIS ÕES EL ÁSTICAS : A energia total é conservada, assim como o momento linear
total.
Começamos por analisar o caso a 1 dimensão. Assumimos que as partı́culas
movem-se com velocidade → −v1e→ −
v 2 antes da colisão, tendo após a colisão as ve-
→
− 0 →
− 0
locidades respectivas v 1 e v 2 . Se v > 0 a partı́cula move-se para a direita; se v < 0,
a partı́cula move-se para a esquerda.
→
− →
−
1) Conservação do momento: P i = P f
m1 →
− v 01 + m2 →
v 2 = m1 →
v 1 + m2 →
− − −
v 02 . (13.18)
2) Conservação da energia: Ki = K f
1 1 1 1
m1 v21 + m2 v22 = m1 v02 02
1 + m2 v2 (13.19)
2 2 2 2
Temos 2 equações e 2 incógnitas: o problema está bem definido:
m1 (→
−
v 1 −→
−
v 01 ) = m2 (→
−
v 02 − →
−
v 2) (13.21)
m1 (→
−
v 21 − →
−
v 02 →
− 02 →−2
1 ) = m2 ( v 2 − v 2 ) (13.22)
ou seja
→
−
v 1 −→
−
v 2 = −(→
−
v 01 − →
−
v 02 ). (13.24)
A velocidade relativa de duas partı́culas depois da colisão é o negativo da velocidade
relativa antes da colisão para qualquer colisão directa (ou central), quaisquer que
sejam as massas.
A impulsão de percussão que ocorre durante a colisão de dois corpos depende das
suas massas, das suas velocidades antes do choque e das propriedades elásticas que
se caracterizam por meio do chamado coeficiente de restituição, k. A razão da sua
existência é a seguinte: quando uma bola de massa M em movimento de translação
colide com o solo (suposto perfeitamente rı́gido) as velocidades das partı́culas que a
constituem, que no inı́cio têm um dado valor →−v , diminuem até zero. A bola começa
a deformar-se e toda a sua energia cinética inicial 21 Mv2 transforma-se em energia
potencial interna do corpo deformado. Em seguida, terminada esta fase, a energia
potencial elástica interna converte-se de novo em energia cinética de movimento das
partı́culas da bola, sendo agora →
−u a velocidade resultante do conjunto das partı́culas
1 2
e a sua energia 2 Mu . Porém, uma parte da energia mecânica total da bola não é re-
cuperada inteiramente pois foi usada em produzir deformações residuais, aumentar
a energia térmica da bola e na emissão de ondas acústicas, essencialmente. Então é
expectável que u seja inferior a v. No caso de um choque frontal de um corpo contra
outro corpo fixo (solo, por ex.), define-se o coeficiente de restituição k:
u
k= . (13.25)
v
A tabela 14.1 dá alguns valores de k para velocidades de choque da ordem de 3 m/s.
Table 13.1 Coeficientes de restituição para alguns materiais para velocidades da ordem de 3 m/s.
corpos em contacto k
madeira contra madeira 0.5
aço contra aço 5/9
marfim contra marfim 8/9
vidro contra vidro 15/16
bola de basquete 0.76
v01 = v1 − m12m
+m2 (v1 − v2 )
2
0 2m1 (13.29)
v2 = v2 + m1 +m2 (v1 − v2 )
v02 = v1
(13.30)
v01 = 0
v02 ≈ 2v1
(13.34)
v01 ≈ v1 .
Isto quer dizer que a velocidade da partı́cula pesada que colide não é substancial-
mente modificada, mas que a partı́cula de massa menor move-se para a frente com
praticamente o dobro da velocidade do objecto pesado.
iii) Se v2 = 0 e m1 m2 , a partı́cula leve que colide contra um objecto pesado,
então:
• v02 ∼ 0, v01 ∼ −v1 : o objecto pesado permanece praticamente em repouso;
• a partı́cula leve reverte a direcção do movimento e move-se com a velocidade
com que incidiu inicialmente.
c) Solução geral:
QuadroNegro 1
13.1 Noção de impulso. Colisões 227
m1 v1 + m2 v2 = m1 v01 + m2 v02
−e(v1 − v2 ) = v01 − v02
∴ v01 = v1 (m1 −em2 )+m2 v2 (1+e) (13.41)
m1 +m2
m1 v1 (1+e)+v2 (m2 −m1 e)
v02 = m1 +m2
2∆ K = m2 v02 02 2
2 + m1 v1 − (m1 v1 + m2 v2 )
2
02 2 02
= m2 (v2 − v2 ) + m1 (v1 − v1 ) 2 (13.42)
= m2 (v02 − v2 )(v02 + v2 ) + m1 (v01 − v1 )(v01 + v1 )
Como verifica-se a conservação do momento linear:
m2 (1 + e)(v2 − v1 )
v01 − v1 =
m1 + m2
obtendo-se finalmente a expressão pedida:
1 m1 m2
∆K = − (1 − e2 )(v1 − v2 )2 . (13.45)
2 m1 + m2
Exemplo 5: Colisão perfeitamente inelástica a 1-dim.
Duas partı́culas de massas m1 e m2 movem-se com velocidades → −
v 1i e →−
v 2i ao
longo de uma recta (Vd. Fig. 13.2). Elas colidem e ficam coladas uma à outra com
velocidade final →
−
v f após colisão.
O momento total conserva-se:
→
− →
−
Pi = P f (13.46)
obtendo-se sucessivamente
v 1i + m2 →
m1 →
− −
v 2i = (m1 + m2 )→ −
vf
→
− m1 →
−v 1i +m2 →
−
v 2i (13.47)
vf= m1 +m2
m1 →
−
Exemplo 6: Considere o corpo 2 em repouso, →
−
v 2i = 0. Então, →
−
vf= v 1i
m1 +m2 . As
energias cinéticas respectivas são:
Ki = 12 m1 v21i
m21 v21i
K f = 12 (m1 + m2 ) (m 2 (13.48)
1 +m2 )
Kf m1
Ki = m1 +m2 < 1.
Neste tipo de colisões a energia cinética final é sempre inferior à energia cinética
inicial. Nas colisões perfeitamente inelásticas a energia cinética dos corpos tem a
sua perda máxima. A variação da energia cinética é dada por
13.1 Noção de impulso. Colisões 229
1 1
Ki − K f = m1 (v1i − v f )2 + m2 (v2i − v f )2 . (13.49)
2 2
Se →
−
v 2i = 0, então:
m1
Kf = Ki (13.50)
m1 + m2
Resolvendo:
vA2 = −1m/s
(13.53)
vB2 = 3m/s.
As energias cinética são as seguintes:
230 13 Colisões. Continuação
Exemplo 10: Deixa-se cair uma bola sem velocidade inicial de uma altura h0
acima de uma superfı́cie horizontal. A bola toca o plano com uma velocidade v0 ,
ressalta e parte para cima com uma velocidade v1 = ev0 (e denota o coeficiente de
restituição). Estude a sucessão dos ressaltos.
O choque da bola sobre o plano é acompanhado pela dissipação da energia
cinética:
mv21 < mv20 ⇒ e < 1. (13.55)
Vamos admitir que a velocidade (em valor absoluto) após o salto n á dada por:
vn = evn−1 (13.56)
1
mghn = mv2n , (13.57)
2
obtendo-se em seguida
hn v2n
hn−1 = v2n−1
= e2
(13.58)
∴ hn = hn−1 e2
ou seja, temos a seguinte sucessão das alturas máximas sucessivas atingidas pela
bola:
h0
h1 = h0 e2
h2 = h0 e4 (13.59)
...,
hn = h0 e2n .
A bola reparte para o alto com uma velocidade vn após o salto n, segundo a lei
v = vn − gt (13.60)
Esta análise do problema mosta-nos que a duração de cada ressalto diminui à medida
que n aumenta fazendo que no final a duração total dos ressaltos tenha um valor
finito igual a τ.
QuadroNegro 2
232 13 Colisões. Continuação
1 2
2 (m + M)v f =√(m + M)gh
∴ v f = 2gh (13.66)
√
⇒ v1 = (m+M)
m 2gh
13.1 Noção de impulso. Colisões 233
2
Ki = 12 mv21 = 21 m (m+M)
m2
2gh
1 2 1
K f = 2 (m + M)v f = 2 (m + M)2gh (13.67)
Kf m
Ki = m+M 1
Mas como
v f = vo + at (13.69)
deduz-se que
vo
= 6.7 × 10−4 s,
t ∼− (13.70)
a
q é bemqinferior em várias ordens de grandeza ao perı́odo do pêndulo T =
o que
2π Lg = 2π 1.14
9.81 = 2.14 s, t T .
C OLIS ÕES INEL ÁSTICAS : As colisões que não conservam a energia cinética são di-
tas colisões inelásticas. Parte da energia cinética é absorvida pelos corpos e conver-
tida noutras formas de energia (térmica, sonora,...). A colisão inelástica acompanha-
se sempre de uma diminuição da energia cinética do movimento macroscópico.
C OLIS ÃO TOTALMENTE INEL ÁSTICA : No caso em que a energia cinética ab-
sorvida atinge o valor máximo permitido pela conservação do momento, a co-
lisão é chamada totalmente inelástica. Os dois corpos após a colisão unem-se
comportando-se como um só corpo sólido.
234 13 Colisões. Continuação
Assume-se que a energia interna é nula, Kint = 0, só restando a energia cinética
do CM.
Na realidade grande parte das colisões são inelásticas até certo ponto. A resolução
dos problemas que envolvem colisões inelásticas são muito dificeis porque é necessário
saber qual a quantidade de energia que foi perdida.
Os problemas mais simples são aqueles que envolvem colisões totalmente inelásticas.
A consideração da conservação do momento é suficiente.
Exemplo 13: Colisão totalmente inelástica a 2-dim.
Sabemos que o momento linear é sempre conservado na ausência de forças ex-
→
− →
−
ternas, P i = P f .
Temos assim
m1 v1 = (m1 + m2 )v cos θ (a)
(13.71)
m2 v2 = (m1 + m2 )v sin θ (b)
Dividindo a Eq. 13.71-(b) pela Eq. 13.71-(b), obtemos
m2 v 2
tan θ = (13.72)
m1 v1
Da Eq. 13.71-(b) resulta
m2 v2
v= . (13.73)
m1 + m2 sin θ
Sejam:
m1 = 70kg, v1 = 2m/s
m2 = 50kg v2 = 3m/s
donde se obtém
50 × 3 50 3
tan θ = ⇒ θ = 47o ⇒ v = = 1.71m/s. (13.74)
70 × 2 50 + 70 sin 47o
QuadroNegro 3
ou seja
v20 = v2 + 4V 2 (13.77)
Na alı́nea anterior obtivemos as componentes da velocidade do átomo de hélio após
a colisão. Podemos ver então que temos
√ !2 √ !2
v0 2 2
V 2 = Vx2 +Vy2 = − v + v (13.78)
4 8 8
sinΘ
tan φ = ,
γ + cosΘ
onde γ ≡ m1 /m2 .
QuadroNegro 4
donde se obtém √
Vx = v40 −
√ 8
2
v
2
(13.88)
Vy = 8 v
A equação do balanço energético é:
QuadroNegro 5
A segunda solução negativa não nos interessa porque o protão não recua, tal como
o mostra a Fig. 13.6. Resta-nos então v = 0.789v0 e pode-se agora obter as compo-
nentes em Ox e Oy da velocidade do átomo de hélio:
√
Vx = v40 −√ 82 v = 0.1105v0 ,
Vy = 82 v = 0.139v0 .
sinΘ
tan φ =
γ + cosΘ
m1 −1/2
m1 Q
γ= 1− 1+ . (13.92)
m2 K1i m2
Neste caso γ = 0.3015, sabendo que o protão faz um ângulo de difusão de 450 com
a direcção incidente, tem-se
sinΘ
1 = 0.3015+cosΘ
0.3015 + cosΘ = sinΘ
0.3015 = sinΘ − cosΘ
0.0909 = sin2 Θ + cos2 Θ − 2 sinΘ . cosΘ = 1 − sin 2Θ (13.93)
sin 2Θ = 0.9091
2Θ = 65o , 38
Θ = 32o , 69
13.1.5.1 Condições
• Elástica - K é conservado;
• Inelástico - K não é conservado;
• Completamente inelástica - as partı́culas colam-se uma à outra após a colisão.
13.1.5.3 Notação
13.1.5.4 Equações
m1 →
−
v 1i + m2 →
−
v 2i = m1 →
−
v 1 f + m2 →
−
v 2f . (13.94)
emplo a corda AB tal como é mostrada na Fig. 13.8. O trem entra no ponto A e sai
no ponto B. Suponha que o raio da Terra é RT = 6370 km.
Vamos começar por supor que o trem parte de A onde x = a (atendendo à nossa
colocação da origem das coordenadas em O) com velocidade inicial nula, vo = 0. Na
→
− → −
posição arbitrária em que estáo trem, ele é actuado pelas forças F e N . Projectando
no eixo Ox, tem-se:
Nesta última equação pusemos k2 = g/R, onde g = GMT /R2 representa a aceleração
da gravidade.
Como supomos que na posição onde considerámos estar o trem a velocidade vai de
m para O, escolhemos o sinal negativo, vx < 0. Portanto temos
dx p
= −k a2 − x2 (13.100)
dt
Separando as variáveis (pelo método da separação das variáveis), temos também
dx
kdt = − √ . (13.101)
a2 − x2
242 13 Colisões. Continuação
kt = arccos ax +C2
(13.102)
∴ x(t) = a cos kt
“People say to me, ”Are you looking for the ultimate laws of physics?” No, I’m not... If it
turns out there is a simple ultimate law which explains everything, so be it that would be
very nice to discover. If it turns out it’s like an onion with millions of layers... then that’s the
way it is”.
- Richard Feynman.
Na vida real os objectos não são pontuais mas apresentam uma distribuição de
massa, além de terem dimensões e forma.
Como já vimos, no movimento dos objectos reais podemos distinguir:
• o movimento de translação do CM;
• o movimento rotacional em torno de um eixo, que frequentemente passa pelo
CM, ou algum outro eixo fixo.
Neste capı́tulo discutiremos o movimento do corpo rı́gido.
C ORPO R ÍGIDO : Entende-se por corpo rı́gido um objecto no qual as coordenadas
relativas que ligam todas as partı́culas constituintes permanecem constantes.
Trata-se de uma idealização, como é evidente, mas que permite aceder aos as-
pectos fenomenológicos fundamentais do problema. Iremos tratar em geral objectos
familiares tais como: a roda volteando em torno do eixo principal; o eixo cilindrico;
a mó; o pêndulo.
243
244 14 Cinemática do Corpo Rı́gido
Fig. 14.1 Rotação de um corpo rı́gido em torno de um eixo fixo (eixo Oz).
s = Rφ . (14.1)
Recordamos aqui que faz-se a conversão de ângulos de graus para radianos 1 através
da regra
π
φ (rad) = φ (graus). (14.2)
180
C ONVENÇ ÃO : Por convenção, φ é positivo quando roda no sentido anti-horário
e φ = 0 sobre o eixo positivo do Ox, e φ = 2π quando se dá uma volta completa até
ao eixo Ox de novo. φ não é um vector (a operação de rotação não é comutativa),
→
− →
−
mas d φ = dφ k que representa uma rotação infinitesimal, é um vector.
O movimento rotacional de um corpo é descrito pela taxa de variação de φ . Em
geral, a posição é uma função do tempo:
φ = φ (t). (14.3)
φ2 − φ1 ∆φ
ω= = , (14.4)
t2 − t1 ∆t
→
− ∆φ dφ →
−
ω = lim = k (rad.s−1 ). (14.5)
∆t→0 ∆t dt
Fig. 14.3 Uma partı́cula num objecto rı́gido move-se de P para Q ao longo de um arco de cı́rculo.
No intervalo de tempo ∆t = t2 − t1 , o vector posição varre um ângulo ∆ φ = φ2 − φ1 .
ω = ωo . (14.6)
ω2 − ω1 ∆ω
α= = . (14.9)
t2 − t1 ∆t
A aceleração instantânea define-se como o limite do rácio quando ∆t → 0:
→
− ∆ω d→
−ω −2
α = lim = (s ). (14.10)
∆t→0 ∆t dt
Visto que ω = dφ /dt, é válida a seguinte relação:
→
−
→
− d2 φ
α = . (14.11)
dt 2
2 Ou revoluções, ou voltas, ou ciclos
246 14 Cinemática do Corpo Rı́gido
Na rotação em torno de um eixo fixo cada partı́cula do corpo rı́gido possui a mesma
velocidade angular e a mesma aceleração angular.
A direção de → −
α é ao longo do mesmo eixo que → −
ω . Se o eixo de rotação varia
→
−
então α não coincide com ω . →
−
R EGRA DA M ÃO DIREITA : A regra da mão direita permite conhecer a orientação
de ambos os vectores. Quando os dedos da mão direita enrolam-se ao longo da
direção de rotação, então →
−
ω aponta ao longo do polegar (Vd. Fig. 14.4-(a)).
A direção de α está relacionada com d →
→
− −
ω /dt:
→
−
• ddtω > 0: → −α tem o mesmo sentido que → −ω.
dω→
− →
− →
−
• dt < 0: α tem o sentido oposto a ω .
Vamos assumir que o movimento faz-se em torno de um eixo. Iremos ignorar por
agora a notação vectorial na medida em que nos basta os sinais das grandezas fı́sicas
para determinarmos a direcção. As conclusões que iremos alcançar são válidas
mesmo se o eixo se encontra em movimento de translação. Da aceleração angular:
dω
= α, (14.12)
dt
intgrando, obtém-se: R R
dω = αdt,
(14.13)
ω = αt +C.
A constante de integração C é determinada a partir das condições iniciais, ω =
ωo (t = 0) ⇒ C = ωo . Ou seja:
ω = ωo + αt, (14.14)
ou ainda:
QuadroNegro 1
14.1 Cinemática do corpo rı́gido 247
Table 14.1 Comparação entre o movimento com aceleração linear constante e com aceleração
angular constante.
movimento com aceleração linear constante movimento com aceleração angular constante
a = constante α = constante
v = vo + at ω = ωo + αt
x = xo + vot + 12 at 2 φ = φo + ωot + 12 αt 2
v2 = v2o + 2a(x − xo ) ω 2 = ωo2 + 2α(φ − φo )
Quando um corpo rı́gido roda em torno de um eixo fixo, cada partı́cula do corpo
move-se num cı́rculo em torno do eixo de rotação.
Considere um ponto P em movimento circular. O vector velocidade linear é tan-
gente ao cı́rculo. O módulo é ds/dt, onde s é a distância percorrida ao longo do
percurso circular:
s = rφ
dφ
v = dsdt = r dt
(14.15)
v = rω
A rapidez da partı́cula é directamente proporcional à distância do eixo de rotação;
quanto mais distante do eixo maior é a sua velocidade.
Podemos relacionar a aceleração do ponto P com a aceleração angular do corpo
rı́gido em torno de um eixo fixo. Toma-se a derivada de v em ordem ao tempo:
dv dω
at = ak = =r = rα. (14.16)
dt dt
Esta é a componente tangencial (paralela) da aceleração linear de um ponto à
distância r do eixo de rotação. Mede a taxa de variação da rapidez da partı́cula.
Atendendo a que a partı́cula move-se num cı́rculo, já vimos que ela deve ter
uma componente centrı́peta (ou radial) da aceleração que resulta da sua mudança de
direcção:
v2
ar = a⊥ = = rω 2 . (14.17)
r
A aceleração linear total da partı́cula é →
−
a:
→
−
a =→ − →
−
t+ ar
a√
p (14.18)
a = at + ar = r α + ω 4 (m/s2 ).
2 2 2
248 14 Cinemática do Corpo Rı́gido
K = ∑Ni=1 12 mi ri2 ω 2 ,
(14.20)
K = 12 Iω 2 .
ωo = (33rev/min)(2πrad/rev)(1min/60s) = 3.46rad/s
ω = ωo αt
(14.23)
ω(t = 20s) = 0
∴ α = ω−ω
t
o
= 0−3.46 2
20 = −0.173rad/s .
O sinal negativo significa que o disco está em desaceleração.
Repare no procedimento da conversão em cadeia de modo a expressar a grandeza
fı́sica na unidade que nos interessa. Na conversão em cadeia multiplica-se a medida
original por um factor de conversão. Por exemplo, 1 min/60 s=1. Assim, se mul-
tiplicarmos a grandeza pela unidade não modificamos não modificamos o valor da
grandeza.
14.1 Cinemática do corpo rı́gido 249
∆ φ = φ − φo = ωot + 12 αt 2
= 3.46(20) − 21 (0.173)202
(14.24)
= 34.6rad
= 34.6
2π = 5.51rev.
c) Determine a aceleração de um ponto à distância de r = 14 cm do centro no
instante t = 0.
at = rα = 14cm(0.173rad/s2 ) = 2.42cm/s2
ac = rωo2√= 14cm(3.46rad/s)2 = 168cm/s2 (14.25)
a = 2.422 + 1682 = 168.0cm/s2 .
Velocidade desse ponto no instante t = 0 é:
Exemplo 2: Calcule a energia cinética duma roda cilı́ndrica de massa M que rola
sem deslizar. Sabe-se que o momento de inércia do cilindro em relação ao eixo que
passa pelo CM é Iz = MR2 /2.
QuadroNegro 2
QuadroNegro 3
Chapter 15
Momentos de Inércia
“No intelligent idea can gain general acceptance unless some stupidity is mixed in with it.”
- Fernando Pessoa
ρ = lim∆V →0 ∆∆Vm = dm
dV , (15.2)
∴ dm = ρdV,
251
252 15 Momentos de Inércia
Fig. 15.1 Corpo sólido em rotação em torno do eixo OZ. r representa a distância em relação ao
eixo OZ (na perpendicular) da massa ∆ m.
Fig. 15.4 Momento de inércia de um cilindro oco. A massa elementar consiste num cilindro de
raio r e espessura dr.
QuadroNegro 1
15 Momentos de Inércia 253
ML2
Z L/2
M
Z
I= r2 dm = 2 r2 dr = . (15.8)
L 0 12
Referimos aqui, sem proceder ao seu cálculo, que o momento de inércia de uma
esfera, I = 25 MR2 . Todos os exemplos referidos mostram que é possı́vel (e também
usual) representar o momento de inércia como o produto da massa do corpo M pelo
quadrado de um comprimento a que se chama raio de giração em torno do eixo de
rotação, k:
I = Mk2 . (15.9)
Se qualquer outro corpo tiver a massa total M localizada à distância k do eixo, o
momento de inércia será igual à de qualquer um dos corpos sólidos acima referidos.
O raio de giração é definido pela relação:
Fig. 15.5 Diferentes distribuições de uma mesma massa M relativamente ao eixo Oz. a) barra; b)
cilindro; c) disco. Os momentos de inércia verificam a desigualdade: Iz (R1 ) < Iz (R2 ) < Iz (R3 ).
254 15 Momentos de Inércia
Ix + Iy + Iz = const. (15.11)
P ROPOSIÇ ÃO : Em qualquer plano que passa por um dado ponto fixo do corpo,
os eixos de maior e menor momento de inércia, para esse plano, fazem um ângulo
recto um com o outro.
Para compreedermos, fixemos um dos eixos, o eixo Oz, por exemplo, sendo o
respectivo momento Iz . Portanto, Ix + Iy = Const. Logo, quando Iz é um máximo, Iy
é um mı́nimo para o plano xy, e vice-versa.
P ROPOSIÇ ÃO : Se o momento de inércia relativo a qualquer eixo (Ox) que passe
por um ponto fixo do corpo tem o seu valor máximo, então o momento de inércia rel-
ativo a outro eixo (Oz), fazendo um ángulo recto com Ox, terá o seu valor mı́nimo; e
o momento de inércia relativo ao eixo perpendicular restante (Oy) terá um máximo
no plano yz, e um mı́nimo no plano xy.
Seja Ox um eixo de momento de inércia máximo para o ponto O. Então o eixo
com o momento de inércia mı́nimo deve estar no plano que passa por O e lhe é
perpendicular. Em seguida, suponhamos que o eixo mı́nimo é Oz. O momento de
inércia relativo ao eixo restante, Oy, deve ter um máximo para o plano yz. Para Ix
fixo, Iy + Iz = Const., e portanto Iy é um máximo pois que Iz é mı́nimo.
D EFINIO̧ES : Os eixos rectangulares correspondentes aos momentos de inércia
máximo, mı́nimo e intermediário são chamados eixos principais do ponto do corpo
a partir do qual foram traçados, e os momentos de inércia respectivos são chamados
momentos de inércia principais para esse ponto. Um plano que contenha dois
desses eixos principais é chamado de plano principal para esse ponto. Quando o
ponto coincide com o centro de massa, os eixos principais chamam-se principais
eixos do corpo e os momentos de inércia, momentos de inércia principais do
corpo.
P ROPOSIÇ ÃO : O momento de inércia (IOP ) relativo a qualquer eixo OP fazendo
os ângulos α, β e γ com os eixos principais que passam por qualquer ponto O, em
relação aos quais os momentos de inércia principais são A, B e C, é dado por:
Os cálculos dos momentos de inércia podem ser muito facilitados com o uso
de dois importantes teoremas que apresentamos em seguida. O teorema dos eixos
15 Momentos de Inércia 255
O Teorema dos Eixos Paralelos encontra-se referido em outras obras como o Teo-
rema de Huygens, ou o Teorema de Steiner.
O momento de inércia depende da posição do eixo de rotação. Supondo que já
conhecemos o momento de inércia em relação a um eixo qualquer, vamos ver como
se determina o momento de inércia em relação a outro eixo paralelo ao primeiro.
Seja Ic o momento de inércia em relação a um eixo que passa pelo CM. O mo-
mento de inércia em relação a um dado eixo z é igual a Ic mais o produto da massa
do corpo M pelo quadrado da distância d entre os dois eixos:
Iz = Ic + Md 2 . (15.13)
Exemplo 3: Barra
Sabemos que o momento de inércia em relação a um eixo que passa pelo meio
é, Ic = ML2 /12. Qual é o momento de inércia em relação a um eixo que passa pela
extremidade?
d = L2
2 L 2
I = ML
12 + M 2 (15.14)
2
I = ML
3 .
Este teorema estabelece uma relação entre os momentos de inércia em relação a três
eixos (mutuamente perpendiculares entre si) de um corpo plano de espessura muito
pequena e de forma arbitrária.
Consideremos uma placa muito fina que pode rodar em torno de qualquer dos
três eixos (Ox,Oy,Oz). Suponhamos que a placa assenta sobre o plano xy. Seja um
ponto O arbitrariamente colocado sobre a placa e um eixo z perpendicular a ele. O
momento de inércia do corpo em relação a z é Iz . Um elemento de massa dm situado
à distância r do eixo contribui com r2 dm, sendo no total
256 15 Momentos de Inércia
Z
Iz = r2 dm. (15.15)
Fig. 15.7 Placa muito fina que pode rodar em torno de qualquer eixo Ox, Oy, Oz.
Fig. 15.9 Com a rotação do cilindro, a corda desenrola e a massa m cai no solo da altura h.
Repare que o conjunto mecânico não possui inicialmente energia cinética, mas
tem energia potencial U. No final, imediatamente antes de a massa m colidir com o
solo, m e M possuem ambas energia cinética.
E1 = K1 +U1 E2 = K2 +U2
(15.24)
E1 = 0 + mgh E2 = 12 mv2 + 12 Ic ω 2 + 0
sendo v = ωR e I = MR2 /2. Atendendo à conservação da energia, E1 = E2 , conclui-
se que:
v 2 1
mgh = 21 mv2 + 12 12 MRr
2 = 2 m + M2 v2
R
2gh (15.25)
⇒v = 1+ M ,
2m
com ω = v/R.
Exemplo 8: Uma das partes constituintes dum mecanismo comporta uma peça
(Fig. 15.10) que efectua um movimento de translação de velocidade →
−
u e uma haste
258 15 Momentos de Inércia
Fig. 15.10 Mecanismo comportando uma peça que efectua um movimento de translação de ve-
locidade u e uma haste AB de comprimento L e massa M, ligada à peça exterior por meio de um
eixo A.
sendo vr = ωl/2. O momento de inércia da haste é, como já vimos, Ic = Ml 2 /12.
Portanto temos:
2
K = 21 M(u2 + ω l4 + 2ωu 2l cos α) + 24 1
Ml 2 ω 2
1 2 Ml 2 ω 2 1 2 2 1 (15.28)
K = 2 Mu + 8 + 24 Ml ω + 2 Muωl cos α
K = 12 Mu2 + 16 Ml 2 ω 2 + 12 Mlωu cos α.
→
−
L = [→
−r × →
−p ], (15.29)
Fig. 15.11 O momento angular L de uma partı́cula de massa m e momento p localizado a uma
distância r é um vector dado por L = [r × p].
15 Momentos de Inércia 259
→
−
O módulo e direcção de L dependem do sistema de coordenadas. A direcção
→
−
de L é perpendicular ao plano que contém →−r e →
−p , como ilustra a Fig. 15.12. Em
→
−
particular, L = 0 se →
−r for paralelo a →
−p .
Geometricamente:
• r⊥ - distância na perpendicular entre a origem e o vector →
−p ;
• →
−
p⊥ - componente de p perpendicular a r . →
−
→
−
• L = [→−r × →−p ].
Lz = r⊥ p = rp⊥ . (15.31)
→
−
L = [→
−r × →−p ]
→
− →
− →
− →
− (15.33)
L = rp k = mrv k = (mr2 )ω k .
→
−
Como o movimento é uniforme, L permanece constante em módulo e direcção.
Neste exemplo há forças actuando sobre a partı́cula:
2
ac = vr
2 (15.34)
Fc = mvr
A força centrı́peta actua na direção do centro do cı́rculo que foi tomada como
→
−
origem. É importante notar que se tivessemos escolhido qualquer outra origem, L
não teria sido constante.
Exemplo 11: Momento angular do pêndulo cónico.
Assuma que o pêndulo descreve um movimento circular com velocidade angular
ω. Escolha a origem em A, como o mostra a Fig. 15.15-(a).
→
−
L = [→
−r × →
−p ]
→
− (15.35)
= rp k
p = mv = mrω
→
− →
− (15.36)
L A = mr2 ω k
→
−
Repare que L A é constante em módulo e direcção.
onde | →
−r 0 |= L é o comprimento da corda (vd. Fig. 15.15-(b)). Repare que o módulo
→
−
de L B não é constante porque depende da localização do pivot B e a direcção
também não é constante, como é claro na Fig. 15.15-(c).
Sendo B um ponto fixo, o módulo de LB é constante, mas a direcção traça um
cone em cada rotação.
→
−
A componente em z de L B é constante, enquanto que a componente horizontal
(Fig. 15.15-(c)) traça um cı́rculo com velocidade angular ω.
Vamos determinar qual a grandeza fı́sica que é responsável pela variação do vector
→
− →
−
L num sistema de referência dado. Diferenciando L em ordem ao tempo, obtemos
→
−
dL
dt = dtd [→
−r × →
−p ]
→
−
= ddtr × →
−p + → −r × d →−
dt p
(15.38)
= v × (m v ) + r × dt −p ,
→
− →
− →
− d→
→
− −r × →
−
A fim de obtermos d L /dt = 0, devemos necessariamente ter → F = 0, isto é,
devem-se verificar as seguintes condições:
→
−
• F deve ser paralelo a →−r .
→
−
• F deve apontar para dentro ou para fora da origem, isto é, deve ser uma força
central.
262 15 Momentos de Inércia
→
− →
−
• Se F é central, tem-se d L /dt = 0.
Obtemos assim a lei da conservação do momento angular:
→
−
• ⇒ L é constante.
→
−
Se a força é não-central, L não se conserva.
→
−
A grandeza → −r × F chama-se momento da força ou torque 1 :
→
− −r × →
τ = [→
−
F] (15.42)
→
−
dL
=→ −
τ. (15.43)
dt
Esta é a equação fundamental da dinâmica do corpo rı́gido: a taxa de variação tem-
poral do momento angular iguala o momento da força (ou torque). Ambos os vec-
→
−
tores →
−τ e L devem ser referidos à mesma origem O de um sistema de coordenadas
inercial.
Exemplo 12: Cometas.
Um cometa descreve uma elipse em torno do sol com um apogeu (distância
maior) e um perigeu (distância menor). Nesses pontos o vector posição → −r e a ve-
→
−
locidade v são perpendiculares um ao outro, como ilustra a Fig. 15.16.
QuadroNegro 2
1
I f = MR2 + mr2 . (15.45)
2
Não havendo algum momento de força externa em relação ao centro do disco que
actue no sistema (plataforma + estudante), o estudante caminha para o centro O com
o momento angular constante, Li = L f .
Portanto tem-se:
Ii ωi = I f ω f
( 12 MR2 + mR2 )ωi = ( 21 MR2 + mr2 )ω f
( 21 MR2 +mR2 ) (15.46)
ωf = 2 ωi
( 12 MR 2
+mr )
200+240
ωf = 200+5 (2) = 4.1rad/s.
O vector →
− −r e →
τ aponta numa direcção perpendicular ao plano definido por →
−
F.
Fig. 15.18 O torque τ aponta numa direcção perpendicular ao plano formado pelo vector posição
r e pela força aplicada F.
−r sobre →
Repare que podemos fazer duas projecções, ou do vector →
−
F , ou vice-
versa:
• (a) d = r sin θ : o braço da força: é a distância perpendicular desde o eixo de
→
−
rotação até à linha de acção de F ; ou seja, momento da força=braço vezes força
−r || →
τ =| →
−
F | (15.49)
⊥
→
−
• (b) Se representarmos F em termos das suas componentes, temos: Ft = F⊥ , com-
−r , F = F sin θ ; F = F cos θ , componente paralelo a →
ponente perpendicular a → t k
−r .
Assim τ=distância radial vezes força transversa.
−r || →
τ =| →
−
Ft | (15.50)
Concluindo:
• Fk não contribui para o momento da força ou rotação;
• →
−r não contribui para o momento da força ou rotação.
k
No Sistema S.I. a unidade fı́sica de τ é o N.m. Se bem que tal seja igual ao joule,
não se usa esta unidade no torque.
Há que distinguir força do momento da força, como se depreende dos três casos
apresentados na Fig. 15.20.
τ = mgl sin θ
≈ mglθ quando θ é pequeno (15.51)
∴ R = momento−do−binario
deslocamento = mglθ
θ = mgl
τ = −F1 R1 . (15.53)
266 15 Momentos de Inércia
Fig. 15.21 Um cilindro pode rodar em torno do eixo z que passa por O. O braço do torque da força
F1 é R1 e o braço do torque da força F2 é R2 .
→
−
O momento da força F 2 é dirigido no sentido anti-horário (→
−
τ é agora dirigido para
fora da folha), portanto positivo:
τ2 = +F2 R2 . (15.54)
F1 = 5N R1 = 1.0m
(15.56)
F2 = 6N R2 = 0.5m
donde se obtém
τres = −(5)(1) + (6)(0.5) = −2N.m (15.57)
O momento da força é negativo e portanto o movimento resultante é no sentido
horário.
Fig. 15.22 As forças centrais que duas partı́culas exercem uma sobre a outra são iguais em módulo
e de sentido contrário.
Considere uma partı́cula em movimento circular de raio r sob a acção de uma força
→
−
tangencial F t . Esta força produz uma aceleração tangencial at :
Ft = mat (15.60)
→
−
O torque de F em torno da origem é dado por
ou seja
→
−
τ res = I →
−
α. (15.67)
Fig. 15.23 Um corpo rı́gido roda em torno dum eixo que passa pelo ponto O. Cada elemento de
massa dm roda em torno de O com a mesma aceleração angular α, e o torque resultante actuando
sobre o corpo é proporcional a α.
→
−
τ = I→
−
α. (15.68)
QuadroNegro 3
15.1 Dinâmica do corpo rı́gido: rotação em torno de um eixo fixo 269
Exemplo 17: Como se encontra ilustrado na Fig. 15.25, uma massa m1 desliza
sem frição sobre uma superfı́cie horizontal. A polia é um pequeno cilindro de massa
M e raio R. A corda encontra-se ligada à massa m2 e puxa a massa m1 sem derrapar
na polia.
Analisando os digramas das forças que acutam sobre cada um dos corpos obte-
mos:
T1 = m1 a1
m2 g − T2 = m2 a2 (15.69)
T2 R − T1 R = Iα = (MR2 )α
Como a corda é inextensı́vel, a1 = a2 = Rα. Assim, as equações anteriores podem-
se escrever de novo na forma
T1 = m1 a1
m2 g − T2 = m2 a1 (15.70)
T2 − T1 = Ma1
Se M = 0 então a1 = m1m+m
2g
2
e T1 = T2 , caso já estudado no âmbito da cinemática
sem momentos de inércia.
Repare que somamos porque o momento angular de cada uma das partı́culas orienta-
se na mesma direcção. Continuando o cálculo, obtemos
ou seja
Lc2
K= . (15.76)
2Ic
Exemplo 18: Duas partı́culas de massa m encontram-se nas extremidades de uma
haste de massa desprezável. A haste faz um ângulo θ com o eixo z (Vd. Fig. 15.26).
Fig. 15.26 Duas partı́culas de massa m estão nas extremidades de uma haste que faz um ângulo θ
com o eixo de rotação.
Temos
R = r sin θ ;
(15.77)
v = ωR = ωr sin θ ,
donde se segue que o momento angular de cada partı́cula é dado por
m|→
−r × →
−
v |= mvr = mωr2 sin θ . (15.78)
→
− →
−
Repare agora que L 1 e L 2 apontam na mesma direção, donde resulta o momento
angular total:
L = 2mωr2 sin θ . (15.79)
→
−
Porém, Lz é a projeção de L total (que faz um ângulo de 90o − θ ) sobre Oz:
Lz2 p2 (15.81)
K= 2I ⇔K= 2m
Suponha que o momento angular dum sistema mecânico em relação a um dado eixo
z é constante, Lz = constante.
Se o sistema contrai-se e I decresce, a energia cinética aumenta. Mas, para que
tal aconteça, é necessário que haja uma fonte de energia.
Quando estrelas ou galáxias colapsam, a fonte é a gravidade. A energia potencial
gravitacional é negativa e aumenta em módulo à medida que os objectos se con-
traem. É o que sucede à bailarina quando os seus braços e pernas são puxados para
dentro e alinhados com o eixo de rotação (Vd. Fig. 15.27).
Se →
−
τ tot = 0, obtemos a lei da conservação do momento angular:
O momento angular total dum sistema isolado conserva-se.
A corda é encurtada até ter um novo raio r2 . Qual é a nova velocidade angular
adquirida pelo objecto?
QuadroNegro 4
272 15 Momentos de Inércia
Exemplo 20: Momento angular induzido num electrão por um campo de indução
→
−
magnético externo B : Uma partı́cula de massa m e carga q move-se numa trajectória
circular de raio r sujeita a uma força do tipo central. A sua coordenada angular é θ .
Um campo magnético é criado perpendicularmente à órbita da partı́cula, ao longo
do eixo Oz. Segundo a lei da indução de Faraday, é induzido um campo eléctrico
tangente ao cı́rculo, Eθ :
1 dBr2
Eθ = − . (15.84)
2r dt
a) Qual é a força que aje sobre a partı́cula?
Fθ = qEθ (15.85)
→
−
b) Calcule o torque e o momento angular induzido quando o campo B atinge o
seu valor estacionário.
O torque é dado por:
τ = rFθ
2 (15.86)
τ = − q2 dBr
dt
dirigido segundo Oz.
dLz 2
dt = − q2 dBr
dt
2 (15.87)
Lz = Lz (0) − qr2 B.
Para uma carga negativa q = −e, tem-se
eB 2
∆ Lz = + r (15.88)
2
Existe uma relação fundamental entre o momento angular e o momento magnético
→
−
M:
→
− q →−
M= L (15.89)
2m
e, neste caso, obtemos
e2 B 2
∆ Mz = − r . (15.90)
4m
Podemos verificar que o momento magnético induzido é sempre oposto ao campo
B.
Exemplo 21: Roda de bicicleta em rotação.
Um sujeito sentado num banco rotatório sustém uma roda de bicicleta, tal como
é mostrado na Fig. 15.29. Ele encontra-se inicialmente em repouso. A roda revolve
→
−
no plano horizontal com momento angular inicial L o dirigido para cima.
o
Quando a roda é invertida dum ângulo de 180 o que acontece?
O sistema é constituı́do pelo estudante + roda + banco.
→
−
O momento angular total é L o , o que se deve unicamente ao movimento inicial
da roda.
15.1 Dinâmica do corpo rı́gido: rotação em torno de um eixo fixo 273
Uma força que actua sobre um corpo e o põe em movimento efectua trabalho sobre
→
−
esse corpo. O trabalho efectuado pela força F fazendo com que o corpo rode de um
arco elementar ds = rdθ no intervalo de tempo dt é dado por:
→
− −
dW = ( F · d →
s ) = (F sin φ )rdθ , (15.93)
→
−
onde F sin φ é a componente tangencial de F . A componente radial não realiza
→
−
trabalho porque é perpendicular a d s (Vd. Fig. 15.30).
O torque exercido pela força é
τz = (F sin φ )r (15.94)
W = τz ∆ θ . (15.96)
Fig. 15.30 Um corpo rı́gido roda em torno de um eixo que passa pela origem O sob a ação de uma
força externa aplicada em P.
Fig. 15.31 Uma força aplicada a um corpo em rotação realiza trabalho nesse corpo.
dW dθ
P= = τz = τz ω. (15.97)
dt dt
O trabalho efectuado pelo torque produz uma variaçao da energia cinética do corpo
de acordo com a sequência:
τ →α ω1 → ω2 .
dω dω dθ dω
τ = Iα = I =I =I ω, (15.98)
dt dθ dt dθ
ou seja:
τdθ = dW = Iωdω. (15.99)
Finalmente, o trabalho total efectuado é assim dado pelo somatório dos trabalhos
elementares
1 1
Z θ2 Z ω2
W= τdθ 0 = Iω 0 dω 0 = Iω22 − Iω12 . (15.100)
θ1 ω1 2 2
1 1
W = ∆ K = K f − Ki = Iω22 − Iω12 . (15.101)
2 2
Se a força actuante fôr conservativa (ex: força gravı́tica, elástica, electrostática), o
trabalho realizado é o negativo da variação da energia potencial:
1 1
−∆U = −U2 +U1 = Iω22 − Iω12 . (15.102)
2 2
Isto é,
1 2 1
Iω +U1 = Iω22 +U2 . (15.103)
2 1 2
No movimento rotacional a energia mecânica total conserva-se:
1
E = Iω 2 +U = Const. (15.104)
2
15.1 Dinâmica do corpo rı́gido: rotação em torno de um eixo fixo 275
E1 = E2
K1 +U1 = K2 +U2 (15.105)
0 = 12 m1 v2 + 21 m2 v2 + 12 Iω 2 + m1 gh − m2 hg.
Fig. 15.32 Duas massas ligadas por uma corda suspensa numa polia.
d→
−p →
−
a variação do momento linear dt = F no intervalo de tempo ∆ = t2 − t1 é tal que
∆→
−p = → −p = →
−p − → −
I. (15.108)
f i
Exemplo 23: Considere um sistema mecânico constituı́do por dois discos com
momentos de inércia I e I 0 , cada um deles em rotação com velocidades angulares ω
e ωo0 (Vd. Fig. 15.33). A seguir, os dois discos são colocados um sobre o outro por
ação de uma força externa que actua paralelamente ao eixo de rotação. No estado
final, os dois discos rodam com velocidade angular final ω.
Fig. 15.33 Dois discos rodam na configuração final com velocidade angular ω.
QuadroNegro 5
Quando um cilindro de raio R rola (sem deslizar) sobre uma superfı́cie horizontal
de um ângulo θ (Fig. 15.34-(a)) o seu CM move-se de uma distância s = Rθ . A
velocidade e a aceleração do CM para a rotação sem derrapagem são dadas pelas
expressões conhecidas
vc = ds dθ
dt = R dt = Rω
dvc (15.111)
ac = dt = R dωdt = Rα
15.1 Dinâmica do corpo rı́gido: rotação em torno de um eixo fixo 277
Fig. 15.34 (a)-Na rotação de um cilindro sem deslizamento de um ângulo θ , o seu CM desloca-
se de uma distância s = Rθ ; (b)-Todos os pontos de um corpo ao rodar movem-se numa direção
perpendicular ao eixo que passa pelo ponto de contacto P. O CM move-se com velocidade vc ,
enquanto que o ponto P0 move-se com velocidade 2vc .
P : vp = 0
C : vc = Rω (15.112)
P0 : vP0 = 2Rω.
Repare que todos os pontos do cilindro possuem a mesma velocidade angular ω.
Assim, podemos concluir o seguinte:
Na translação todos os pontos têm a mesma velocidade v = vc (Fig. 15.35-(a)).
Na rotação, vc = Rω, todos os pontos têm a mesma velocidade angular ω e a
velocidade linear é proporcional à distância ao eixo de rotação (Fig. 15.35-(b)).
No movimento combinado de translação e rotação (Fig. 15.35-(b)), tem-se:
vP = vc − Rω = 0
vc = vc + 0 = vc (15.113)
vP0 = vc + ωR = 2vc
K = 12 IP ω 2
IP = Ic + MR2
(15.114)
∴ K = 12 Ic ω 2 + 12 MR2 ω 2
= 21 Ic ω 2 + 12 Mv2c
τs = Is dω
dt = Is α (15.119)
K = 12 MV 2 + 12 Is ω 2 .
Exemplo 24: Objecto redondo rolando num plano inclinado (Fig. 15.37).
Um objecto redondo parte do topo do plano inclinado a partir do estado de re-
pouso. Supõe-se não haver derrapagem. O movimento de rolamento só é possı́vel
na presença de atrito que produz o torque em relação ao CM.
Não há perda de energia porque o ponto de contacto não se move relativamente
à superfı́cie! A energia mecânica total conserva-se.
vc = Rω
1 vc 2
+i 12 Mv2c
K= 2 Ih
c R (15.120)
1 Ic 2
= 2 R2 + M vc .
∆U = −Mgh
∆ K = −∆U
1 Ic 2 = Mgh
(
2 R2 + M)v
r c (15.121)
2gh
vc = Ic .
1+
MR2
Fig. 15.37 Objecto redondo rolando sobre plano inclinado. A energia mecânica conserva-se se não
ocorrer derrapagem.
No caso particular do objecto redondo ser uma esfera, tem-se Ic = 25 MR2 , donde
podemos obter s r
2gh 10
vc = = gh. (15.122)
2 MR2 7
1+ 2 5 MR
∑ τc = Ic α
τ f + τg + τN = R f + 0 + 0 = Iα (15.124)
∑ fx = Mg sin θ − f = Mac
vc = Rω; ac = Rα (15.125)
2 ac
Mg sin θ − RI α = Mg sin θ − β MR
R R
= Mg sin θ − β Mac = Mac (15.126)
sin θ
∴ ac = g1+β .
Fig. 15.38 Diagrama de forças de uma esfera sólida rolando sobre um plano inclinado.
f s ≤ µs N
Iα β MR2 1 g sin θ
fs = R = R R 1+β ≤ µs Mg cos θ (15.127)
∴ tan θ ≤ µs 1+β β .
a) Aceleração do CM:
15.1 Dinâmica do corpo rı́gido: rotação em torno de um eixo fixo 281
F 5
ac = = = 2.5m/s2 . (15.129)
M 2
b) Torques:
τc FR 2F 2×5
α= = 1 = = = 50rad/s2 . (15.130)
Ic 2 MR
2 MR 2 × 0.10
vo = Rω +V
as = dv o dω
dt = R dt + ac
(15.131)
= Rω + ac = 7.5m/s2 .
τc = Ic α
2T R = 12 MR2 α
(15.132)
Mg − 2T = Ma
a = Rα
Resolvendo, obtém-se
a = 23 g
(15.133)
T = 16 Mg.
Exemplo 28: O estudante e a prancha.
Um estudante salta para cima de uma prancha (Fig. 15.41). Qual é a posição da
prancha 1.2 s após o salto?
• massa do estudante : m = 70 kg;
• massa da prancha : M = 50 kg;
• largura da prancha estreita 2b = 5 m;
• superfı́cie horizontal sem atrito;
• velocidade inicial do estudante : v = 3 m/s.
• sistema inicial : prancha + estudante a correr
• sistema final : (prancha + estudante) em movimento como corpo rı́gido.
→
−
Não há forças horizontais e portanto, o momento P hor conserva-se:
282 15 Momentos de Inércia
QuadroNegro 6
mover de qualqer modo e se essa força passar pelo centro de massa do corpo, esse
corpo ficará animado com um movimento de translacção; se a linha de actuação
dessa força não passar pelo centro de massa, o corpo terá como movimento geral
uma translacção e uma rotação em torno do seu centro de massa
Mostramos na Fig. 15.43 uma comparação entre as grandezas fı́sicas do movi-
mento linear e rotacional.
Exemplo: Cada uma das 4 rodas de uma viatura de massa total M tem o raio R e
massa m. A viatura é propelida com a ação do torque G aplicado no eixo das rodas
traseiras. Calcule a aceleração da viatura em movimento horizontal (Fig. 15.44).
Seja θ o ângulo de rotação de cada roda. A força de frição F nas rodas traseiras
propele a viatura para a frente, enquanto que em cada roda dianteira se exerce uma
força de atrito que obriga a roda a rodar (sem deslizar) e actua no sentido oposto ao
movimento. A equação dinâmica aplicada à roda traseira dá-nos o resultado:
1 d2θ
G − RF = mR2 2 . (15.134)
2 dt
Nas rodas dianteiras teremos
1 d2θ
RF1 = m 2 . (15.135)
2 dt
→
− →
−
O CM da viatura move-se devido à ação da força resultante 2 F − 2 F 1 :
→
− → − d2θ
2( F − F 1 ) = MR 2 . (15.136)
dt
Verifica-se que o torque capaz de mover a viatura com as rodas em aceleração an-
gular α = θ̈ é:
(m + M)R2 θ̈
G= , (15.137)
2
e a aceleração da viatura é
2G
a = Rθ̈ = (15.138)
(m + M)R2
284 15 Momentos de Inércia
15.2 Giroscópio
N = Mg, (15.139)
Fig. 15.45 O movimento de um simples giroscópio em torno de um ponto de apoio sem atrito O.
O eixo vertical é o eixo de precessão e o eixo do gisroscópio é o eixo de rotação (ou spin).
∴ Lo ∼ Iωs
→
− (15.141)
dL
dt =→−τ
3 Léon Foucault, “Sur une nouvelle démonstration expérimentale du mouvement de la terre fondée
sur la fixité du plan de rotation”, Compt. Rend. 35, 421 (1852).
15.2 Giroscópio 285
dφ Mgl
Ω = ωp = = . (15.144)
dt Lo
Como se depreende, o movimento de precessão é independente do ângulo de
inclinação e de facto o movimento pode ser horizontal.
Podemos reescrever a expressão anterior na forma:
Fig. 15.47 Movimento de precessão de um giroscópio girando em torno do seu eixo de simetria.
A única força externa actuando sobre o giro é a força normal N e a força gravı́tica Mg. A direção
do momento angular, L, é ao longo do seu eixo de simetria.
Exemplo 29: O cálculo da precessão pode ser também feito por outro processo.
Considere 2 partı́culas de massa m ligadas por meio de uma haste rı́gida de compri-
mento 2L. O momento angular é Ls em relação ao eixo z. As massas têm a veloci-
dade vo (Fig. 15.48).
286 15 Momentos de Inércia
e o CM não se move.
Ocorre uma variação do momento de cada uma das massas:
→
−
∆→
−p = m∆ →
−
v = F ∆t. (15.148)
Portanto ∆ →
−v é perpendicular a →−
v o.
Tal significa que ocorre uma mudança da direção da velocidade e a haste roda em
torno de uma nova direção - o eixo de rotação inclina-se ligeiramente de um ângulo
∆ ϕ:
∆ v F∆t
∆ϕ ∼ = (15.149)
vo mvo
O torque é τ = 2FL e Ls = 2mvo L onde L é o comprimento da haste
F∆t 2LF∆t τ∆t
∴ ∆ϕ = mvo = 2Lmvo = Ls (15.150)
onde
∆ϕ τ
Ω= = (15.151)
∆t Ls
denota a frequência de precessão, como já foi referido.
Exemplo 29: O giroscópio que faz parte do horizonte artificial para um avião
possui as seguintes caracterı́sticas:
m = 5kg
Ik = 8 × 104 g.cm2
(15.152)
l = 0, 25cm
ω = 2094rad/s
2π
a) Calcule o perı́odo de precessão T = Ω .
2π Ik ω
T= = 2π = 860s = 14mn20s. (15.153)
Ω mgl
15.2 Giroscópio 287
Ik2 ω 2
L= = 180km. (15.154)
m2 l 2 g
Repare que a velocidade angular da precessão estimulada é cerca de 1.7 × 106 vezes
inferior à velocidade angular de rotação em torno do eixo de revolução.
sendo que → −
ω representa a velocidade angular do referencial em rotação. Vamos
aqui supor, para simplificar, que os eixos cartesianos se encontram ao longo dos
eixos pricipais de inércia de um corpo em rotação. Assim, podemos escrever
Lx = Ix ωx ; Ly = Iy ωy ; Lz = Iz ωz , (15.157)
não esquecendo que os eixos principais estão rigidamente ligados ao corpo sólido.
Podemos agora introduzir a Eq. 15.157 na Eq. 15.156. É fácil ver que a primeira
componente da Eq. 15.157 é
− →
→ −
dLx
dt rot + [ ω × L ]x = dIdt + ωy Lz − ωz Ly
x
(15.158)
= Ix dω
dt + ωy Iz ωz − ωz Iy ωy = τx
x
288 15 Momentos de Inércia
dωx
Ix + (Iz − Iy )ωy ωz = τx , (15.159)
dt
dωy
Iy + (Ix − Iz )ωx ωz = τy , (15.160)
dt
dωz
Iz + (Iy − Ix )ωx ωy = τz . (15.161)
dt
Exemplo 30: Movimento de precessão de um giroscópio simétrico
O giroscópio simétrico possui a propriedade Ix = Iy 6= Iz . Na ausência de torque
externo, verifica-se de imediato que a Eq. 15.161 dá ωz constante. As restantes
equações resultam em
sendo A uma constante de integração que pode ser determinada com as condições
iniciais do problema.
Chapter 16
Gravitação
- Fernando Pessoa
“The Future is indeed within us and is woven by ourselves. Not being fixed, like the Past,
it can be transformed by our own efforts. The Reparable of the present soon becomes the
Irreparable of the future. The action of Chance, that is to say, of unknown causes, is con-
siderable in the march of events, but it has never yet stopped a nation from deciding its own
fate.”
Em 1687 Sir Isaac Newton publicou a lei da gravitação universal na sua obra Prin-
cipia Mathematica. Nela era dito que:
cada partı́cula do universo atrai outra partı́cula com uma força que é proporcional ao produto
das suas massas e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre elas.
289
290 16 Gravitação
ciclos, cı́rculos no interior do grande cı́rculo traçado por cada planeta, chamado o
deferente 2 . Em particular, admitiu que os centros dos epiciclos de Mercúrio e Vénus
alinhavam-se numa linha recta que ligava a Terra ao Sol. Este modelo explicava a
variação do brilho dos planetas e podia predizer as futuras posições dos planetas.
Tudo isto está ilustrado na Fig. 16.1.
Sir Isaac Newton conseguiu explicar as Leis de Kepler com apenas algumas leis
simples que constituem a Mecânica Newtoniana. Em particular, Newton descobriu
que alguns princı́pios gerais unificavam o Céu e a Terra, mostrando que todos os
fenómenos na Natureza, aqui na Terra como nos Céus 3 , estavam sujeitos às mesmas
leis do movimento e da gravitação.
Newton mostrou que se duas partı́culas têm massas m1 e m2 e estão separadas
pela distância r, o módulo da força gravitacional que as atrai é dado por:
Gm1 m2
F= , (16.1)
r2
onde G = 6.672 × 10−11 N.m2 /kg2 é a constante da Gravitação Universal, que é
usualmente medida por experências do tipo de Cavendish 4 .
As suas caracterı́stica são as seguintes:
• lei do quadrado inverso;
• força atractiva;
• aplica-se a todo o objecto com massa;
• os seus efeitos estendem-se ao infinito.
Na forma vectorial esta lei escreve-se:
→
− Gm1 m2 −
F 12 = − 2 → u r, (16.2)
r21
→
−
onde F 12 é a força que m1 exerce sobre m2 . De acordo com a lei da acção-reacção
para forças centrais, verifica-se sempre
→
− →
−
F 12 = − F 21 . (16.3)
3 “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na Terra como no Céu” - excerto do Evangelho
m3 Kg−1 s−2 e foi baseado nas medidas feitas por Luther e Towler em 1982. Contudo, o valor
de G foi posto em questão devido a novas medidas feitas por grupos na Alemanha, Nova Zelândia
e Russia. Por exemplo, em 1996, um grupo alemão do “German Institute of Standards” liderado
por W. Michaelis obteve um valor para G que é 0.6 % superior ao valor aceite. Outro grupo da
University of Wuppertal, Alemanha, liderado por Hinrich Meyer encontrou um valor que é 0.06 %
inferior. O grupo russo encontrou uma variação curiosa no tempo e no espaço que vai até +0.7 %.
Daqui resulta uma controvérsia, e uma procura para realizar experiências mais precisas, mas tem
sido impossı́vel até agora...
292 16 Gravitação
Fig. 16.5 Marés tal como aparecem num velho Almanaque publicado em Londres por James
Reynolds em 1801. Quando a maré está no seu máximo chama-se maré alta, maré cheia ou prea-
mar; quando atinge o seu nı́vel mı́nimo chama-se maré baixa ou baixa-mar. Podemos dizer que, em
média, as marés têm um perı́odo de 12 horas e 24 minutos. As doze horas devem-se à rotação da
Terra e os 24 minutos são devidos à órbita lunar. Quando as forças gravitacionais do Sol e da Lua
estão alinhadas, na ocasião da lua nova e lua cheia, produzem-se marés mais altas, são as marés
de sizı́gia (do Grego, sysygos). Pelo contrário, nas luas minguante e crescente as forças gravita-
cionais do Sol e da Lua estão em quadratura, resultando no enfraquecimento da força resultante e
produzindo-se marés mais baixas: são as chamadas marés de quadratura.
No núcleo galáctico, a formação das estrelas ocorre no seio das nuvens molec-
ulares. Os astrónomos acreditam actualmente que uma nuvem de gaz isola-se,
afundando-se sobre ela mesma devido ao seu peso (à força da gravidade). A pressão
no núcleo aumenta, aquecendo-o, e assim favorecendo a ocurrência de reacções nu-
cleares, na origem da emissão de luz. A nossa Galáxia forma o equivalente a três
vezes a massa solar por ano, o que representa muito pouco em relação ao que se-
ria expectável, dada a profusão de gás interestelar. E porquê? Porque há uma fonte
de perturbação, as nuvens onde se formam as estrelas são alvo de turbulência que
provoca a dispersão desse gśs, provocada pela actividade das estrelas mais próximas
que explodem, criando uma onda de choque. A dimensão das estrelas depende dessa
turbulência e, no seu nascimento, a maioria das estrelas tem a massa aproximada-
mente de 0.3 massas solares. Algumas delas atravessam regiões do espaço ricas em
matéria, aumentando a sua massa por acreção de gás. Por exemplo, a nebulosa RCW
49, é uma das mais prolı́ficas produtoras de estrelas na nossa Galáxia.
Mostrámos em Secção anterior que a variação da energia potencial entre dois esta-
dos i e f é dada por
Z r2
→
−
∆U = U f −Ui = − F (r) · d →
−r . (16.4)
r1
GMT m
U(r) = − . (16.7)
r
tendo nós inserido a relação M = ρ 43 πR3 . O sistema solar possui a massa total M =
2 × 1033 g, e o raio médio é de R = 7.5 × 1014 cm. A Eq. 16.8 permite-nos estimar
o tempo de colapso do sistema solar em tc ≈ 1.8 × 109 s.
Exemplo 2: O nascimento das estrelas resulta do gradual colapso gravitacional
de uma nuvem de gás interestelar.
1 N N
GMi M j
U =− ∑ ∑ . (16.10)
2 i= j;(i6= j) j=1 ri j
U ≈ −4 × 1051 J.
Fig. 16.8 Geometria dos cálculos da energia potencial de uma calote esférica e uma partı́cula. A
espessura da calote é t.
s2 = r2 + R2 − 2rR cos θ
ds
2s dθ = 2rR sin θ
sin θ ds (16.16)
s dθ = rR
2πGmRtρ
∴ dU = − r ds
θ = 0 s = r−R
(16.17)
θ = π s = r+R
Mas M = V ρ = (4πR2t)ρ:
GmM
∴U =− . (16.19)
r
Concluı́mos assim que o potencial criado por uma calote esférica de massa M com
raio R é exactamente igual ao potencial criado por uma partı́cula pontual de massa
M localizada no centro (no caso de pontos fora da calote).
→
− → dU → GMm −
F (−r ) = − −
ur =− 2 →u r. (16.20)
dr r
Caso II: r < R: (m está dentro da calote esférica)
296 16 Gravitação
→
− → dU →
F (−r ) = − −
ur =0 (16.23)
dr
A força exercida sobre m no interior da esfera anula-se porque por simetria todas as
partes anulam-se par a par. A Fig. 16.9 mostra as curvas de potencial gravı́tico e a
força gravitacional que dela deriva.
A experiência de Cavendish consiste basicamente num par de esferas, cada par for-
mando um halter que tem um eixo comum em torno do qual pode rodar (Fig. 16.10).
Um dos halteres está suspenso por uma fibra de quartzo e é livre de rodar torcendo
a fibra. A torsão é medida pela posição de um raio de luz reflectido por um espelho
colado à fibra. O segundo halter pode girar sobre um eixo de tal modo que cada uma
das suas esferas fica muito próxima de uma das esferas do outro halter. A atração
gravitacional exercida entre os dois pares de esferas produz uma torsão da fibra, e é
a magnitude da torsão que permite calcular a força gravitacional.
A força exercida sobre as massas M e m distantes de r uma da outra é:
GMm
F= . (16.24)
r2
→
− →
− → −
τ = [ L × F ], (16.25)
tendo como módulo
lGmM
τ= (16.26)
r2
Mas o fio torcido resiste ao binário criando um torque oposto que segue a lei de
Hook para os fios de torsão:
τ = −kφ (16.27)
Mostra-se que o perı́odo das oscilações de um pêndulo de torsão é dado por
r
I
T = 2π , (16.28)
k
−kφ = lGmM r2
φ = lGmM
kr 2
(16.29)
φ 0 = 2lGmM
kr2
θ 2lGmM
2 = kr2
r = 4.65cm
M = 1.5kg
m = 0.015kg
l = 10cm
L = 5.7m
k = 8.5 × 10−9 N.m/rad (16.30)
∆ s = Lθ
T ∼ 10 min
∆ s = 4lLGmM
kr2
4×0.10L×6.672×10−11 ×0.15×1.50
= 8.5×10−9 ×(0.0465)2
∆ s = 0.0327L(m)
D u2 (1 + ε)D
− = − (16.42)
2a 2 B
onde pusemos u ≡ vB /vM . Obtemos então
vM = 3670km/h.
u = 0.92
D (16.43)
B = 1 + ε = 1.11
∴ 2a = 1.23D.
voo não é o único critério a ter em conta para selecionar a órbita, pois que em todos
os casos tratam-se de missões extremamente dispendiosas.
Exemplo 7: Sabendo que o perı́odo da órbita é dado pela expressão (despreza-se
a influência da Lua): s
a3
T = 2π (16.45)
GMT
determine o tempo que leva a viagem à Lua 6 . Admita que se escolheu a órbita
elı́ptica, tal que 2a = D.
q
(1.92×108 )3
T = 2π 6.67×10 −11 ×5.983×1024
A viagem à Lua decorre em cerca de 10 dias (ida e volta) no caso de usarmos a órbita
elı́ptica. As naves Apollo levaram cerca de três dias percorrendo órbitas diferentes
(Fig. 16.11).
Soviética Luna-3 lançada a 4 de Outubro de 1959 e que sobrevoou a face oculta da Luaa 7 de
Outubro. Em lugar de uma órbita heliocentrica, a Luna-3 era de facto um satélite da Terra com
uma órbita muito excentrica com o raio no apogeu ra = 469000 km e um perı́odo de 16.2 dias.
16.1 Lei da Gravitação Universal 301
Como já foi abordado na Secção anterior, a força e a energia potencial criada
pela camada dependem somente da sua massa e da distância r a que uma partı́cula
m se encontra : →
−
F = − GmM →
−u r , (r ≥ R)
r2 (16.47)
GmM
U =− r , (r ≥ R).
No interior da esfera o caso difere.
Caso II: r ≤ R:
A partir do resultado obtido quando tivemos em conta as camadas esféricas, a
força exercida numa partı́cula é devida inteiramente a toda a massa contida entre
r = 0 e r = r:
(r)
∴ F = GmM r2
, (r ≤ R). (16.48)
Estes dois casos distintos encontram-se sumariados no gráfico da Fig. 16.12.
Fig. 16.12 A força exercida sobre uma partı́cula no exterior da esfera sólida homogénea é dada
por GmM/r2 e está dirigida para o centro. A força qua actua sobre a partı́cula quando ela está na
região interna da esfera é proporcional a r e tende para zero no centro.
QuadroNegro 1
302 16 Gravitação
Fig. 16.13 Energia potencial e força de atração gravitacional exercida sobre uma partı́cula de
massa m por uma esfera sólida homogénea.
Fig. 16.14 A força gravitacional exercida sobre uma esfera A devido a uma esfera B actua sobre o
CM de A.
Sabemos que a força gravitacional exercida pela Terra sobre uma partı́cula de massa
mi é
→
−
f i = mi →
−
g (16.52)
7 Repare bem que nos referimos a objectos que têm volume e forma, não se trata mais aqui de
onde →
−g é a aceleração da gravidade. Considerando relativamente pequenos objectos
onde se pode assumir → −g constante sobre a extensão do objecto, obtemos
→
− →
−
g = (∑ →
F = ∑ f i = ∑ mi →
− −
m i )→
−
g = M→
−
g, (16.53)
i i i
onde M é a massa total do objecto. A questão que agora nos colocamos é a seguinte:
em que ponto do objecto actua esta força efectiva?
Calculemos o torque em torno do CM do objecto resultando da acção de todas as
→
−
forças f i :
→
− −r × →
τ c = [∑ →
−
f i] = ∑ →
−r × m →
− →
− →
−
i i i g = (∑ mi r i ) × g . (16.54)
i i i
−r = M →
Ora por definição, ∑i mi →
−
R c e como estamos aqui a medir distâncias em
i
→
−
relação ao CM, de modo que podemos pôr R c = 0. Logo, obtemos assim
→
−
τ c = 0. (16.55)
→
−
Em conclusão, a força total F não pode produzir torques em torno do CM. Isto é,
→
−
F actua exactamente no CM do objecto. Este ponto também é chamado de centro
de gravidade do objecto.
Se o objecto for de tal forma extenso que →
−
g varia em toda a sua extensão, o centro
de gravidade não pode ser facilmente identificado, excepto para objectos esféricos.
Fig. 16.15 As partı́culas individuais mi que fazem parte de um objecto são actuadas por forças
gravitacionais mi g. A soma de todas essas forças indiciduais é equivalente a uma única força que
actua em C, o CM do objecto.
Fig. 16.16 (a) num campo gravitacional uniforme um objecto experimenta a mesma aceleração;
(b) Quando o campo não é uniforme, a gravidade actua diferentemente nas diferentes partes do
objecto. O resultado é uma força diferencial que tende a alongar um objecto ao longo das linhas de
campo ou a comprimi-lo ao longo da direcção perpendicular às linhas de campo.
Fig. 16.17 As marés resultam em primeiro lugar da força diferencial criada pela lua. A força
gravitacional exercida sobre a massa dos oceanos no lado próximo da lua é maior, sendo menor
no lado mais distante. Desta situação resulta que a massa oceânica do lado voltado para a lua é
para aı́ atraı́da desenvolvendo-se duas pretuberâncias de maré e fazendo que um dado lugar possa
experimentar duas marés altas por dia à medida que a Terra roda. A força da gravidade não é
mostrada por ser menor, mas desempenha um papel também importante.
w = mg. (16.58)
Se a igualarmos à força que actua sobre um corpo em queda livre, obtemos a con-
stante de aceleração da gravidade:
GMT m
mg = R2T
GMT (16.59)
∴g ≡ R2
T
Suponha agora que um objecto de massa m está à altura h acima da superfı́cie ter-
restre, ou seja, está à distância r do seu centro:
16.1 Lei da Gravitação Universal 305
r = RT + h. (16.60)
Fig. 16.18 A força tidal actuando sobre um objecto resulta da diferença em magnitude da força
gravitacional através do objecto.
GMT m
U(RT ) = − . (16.63)
RT
A variação da energia potencial é a sua diferença:
1 1 r − RT
∆U = U(r) −U(RT ) = −GMT m − = GMT m (16.64)
r RT rRT
ou seja
GM
v2 = (16.68)
ro
o raio da órbita fixa a rapidez. O perı́odo de uma revolução é:
T = circun f erencia/rapidez
(16.69)
T = 2πr o
v .
Fig. 16.19 Um corpo de massa m move-se em órbita circular em torno de um corpo de massa M.
2
GM 2πro
∴ = (16.70)
ro T
donde se obtém a
Terceira Lei de Kepler:
4π 2 3
T2 = r . (16.71)
GM o
8 Anaximandro de Mileto (609-610 a.C. - c. 546 a.C.) foi um filósofo pré-Socrático e discı́pulo de
Tales. Foi um geógrafo, matemático, astronomo e polı́tico. Anaximandro defendia a ideia de que o
princı́pio de tudo reside numa substância primordial chamada “apeiron”, infinita e indeterminada.
16.2 Movimento planetário 307
QuadroNegro 2
QuadroNegro 3
308 16 Gravitação
Fig. 16.20 Um objecto de massa m é lançado para cima da superfı́cie terrestre com uma velocidade
inicial vi e atinge a altitude máxima h (MT > m).
M = M
R = R (16.78)
v = 618km/s
M = MT
R = RT (16.79)
vT = 11.2km/s.
Sejam:
→
−
• R : o vector posição do CM do sistema relativamente a uma origem O.
• →
−r : o vector coordenada relativa das duas partı́culas.
→
− −r +m →
→ −
R = m1 m 1 2 r2
1 +m2
→
−r = →
−r − → −r (16.81)
2 1
→
− →
−
onde M = m1 + m2 e F 12 = − F 21 , de acordo com a lei da acção-reacção.
Combinando as equações anteriores obtém-se
→
−
d2 R
M = 0, (16.83)
dt 2
donde obtemos →
−
dR →
−
= V c = Const. (16.84)
dt
→
−
Na ausência de forças externas, o movimento do CM descrito por R (t) é uniforme e
é independente do tipo de interação entre as partı́culas, tendo como simples solução
→
− → − →
− →
− → −
R = R o + V t. As constantes R o e V dependem das condições iniciais e da escolha
do sistema de coordenadas. Esta é uma primeira vantagem da transformação feita.
Podemos ainda obter
d2→
−r →
−
m1 m2 2 = M F 21 . (16.85)
dt
Definindo a massa reduzida µ = mm11+m m2
2
do sistema de 2-partı́culas, podemos escr-
ever a Eq. 16.85 na forma abreviada
d2→
−r →
−
µ = F 21 . (16.86)
dt 2
Vemos assim que o problema a dois corpos ficou reduzido ao problema bem
mais simples do problema a um corpo! Podemos fazer a seguinte interpretação da
Eq. 16.86: a coordenada relativa → −r (t) do sistema de 2-partı́culas comporta-se como
se se tratasse da coordenada de uma só partı́cula de massa µ em movimento no
→
− −
campo de forças F 12 (→ r ) que representa a força mútua exercida entre o par de
partı́culas.
A energia cinética total no referencial de inércia O pode ser expresso em termos
→
− →
−
de V = d R /dt (velocidade do CM), e → −
v = d→ −r /dt (velocidade relativa das duas
partı́culas).
16.2 Movimento planetário 311
1 1
K = m1 v21 + m2 v22 (16.87)
2 2
e
→
− →
− d→
−r d →
−r
v21 = d dtr 1 d dtr 1 v22 = dt
2 2
dt .
(16.88)
Usando as Eqs. 16.82 para →
−r e → −r , obtemos
1 2
→
− →
−
1 dR dR 1 d→
−r d→
−r
K= 2 M( dt ) · ( dt ) + 2 µ( dt ) · ( dt ) (16.89)
1 1
K = 2 MV 2 + 2 µv2
µ→
−v = m1Mm2 (→
−
v 2 −→
−v 1)
1 →
− →
− (16.91)
= M (m1 p 2 − m2 p 1 )
Se o sistema de 2 partı́culas estiver isolado (sem que haja forças externas actuantes),
então conclui-se que
→
−
P = Const. (16.92)
→
−
e, em particular, no referencial do CM, o momento total é nulo, P = 0.
onde →−
v 01 = d →
−r 0 /dt e →
1
−
v 02 = d →
−r 0 /dt. Usando o vector posição de m e m relativos
2 1 2
ao referencial do CM, temos:
→
−r 0 = m2 → −
1 m +m r
−r 0 = − 1 m1 2 →
→ − (16.94)
2 m1 +m2 r .
312 16 Gravitação
M = m1 + m2 ;
µ = m1Mm2 ;
→
−r = → −r − →−r ;
2 1 (16.98)
→
−r = − µ → −
1 m1 r ;
→
−r = µ → −
2 m2 r .
16.2 Movimento planetário 313
E = K +U (a)
(16.99)
= 12 µv2 +U(r) (b).
Nas Eqs. 16.99(a)-(b) considerou-se que o CM do sistema tem velocidade nula, isto
→
−
é, V = 0, uma escolha apropriada a fim de simplificar a álgebra.
Agora repare: a velocidade tem componentes radiais e azimutais, a saber
→
−v = vr →
−
u r + vφ →
−
u φ. (16.100)
vφ = vt = rω = r dφ ;
dt (16.101)
dφ
L = µr2 ω = µr2 dt .
Fig. 16.23 (a) Duas partı́culas orbitam em torno do seu CM comum localizado no ponto O; (b)
A situação em (a) é descrita em termos de uma partı́cula hipotética de massa µ. O vector r é a
coordenada relativa das partı́culas.
L2 Gm1 m2
Ve f (r) ≡ 2
− . (16.104)
2µr r
A energia mecânica total pode-se agora escrever numa forma simplificada, invol-
vendo unicamente o movimento radial:
1
E = µv2r +Ve f (r). (16.106)
2
Em consequência desta apropriada transformação podemos agora representá-la
graficamente usando a técnica dos diagramas de energia 9 . A Fig. 16.24 mostra
os gráficos de ambas as curvas.
Fig. 16.24 A energia potencial efectiva Ve f (r) no caso do movimento planetário. A energia poten-
cial comum é U(r) = −GµM/r = −k/r.
Fig. 16.26 Devido à rotação do planeta Terra ocorre uma deformação das superfı́cies equipotenci-
ais.
Fig. 16.27 Campo gravı́tico a diversas altitudes. Com a altitude perde-se os detalhes, aparecendo
o campo gravı́tico como perfeitamente homogéneo.
Fig. 16.29 Devido à inhomogeneidade do campo gravı́tico terrestre, a órbita de um satélite não é
rigorosamente do tipo Kepleriano (a), mas sim do tipo (c). O caso (b) seria um caso intermédio,
devido à perturbação criada pela rotação da Terra.
Para começar, repare que podemos integrar de imediato a Eq. 16.108-(a), obtendo
Z r
dr
t − to = q . (16.109)
ro 2
µ (E −Ve f (r))
12 São funções tabuladas. Por exemplo: P0,0 (x) = 1; P1,−1 (x) = −P1,1 (x)/2; P1,0 = x,..., onde neste
caso x = sin φ .
13 Detalhes deste modelo e os seus coeficientes podem ser obtidos no sı́tio da NASA:
http://cddis.gsfc.nasa.gov/926/egm96/egm96.html
16.2 Movimento planetário 317
dφ L 1
= 2q . (16.111)
dr µr 2
(E −V (r))
µ e f
Isto é, p
µkr − L2 = r µ 2 k2 + 2µEL2 sin(φ − φo ). (16.114)
Resolvendo agora em ordem a r obtém-se finalmente
L2
µk
r= q
2
. (16.115)
1− 1 + ( 2EL
µk2
) sin(φ − φo )
L 2
ro ≡ µk (a)
q
2EL2
(16.116)
ε ≡ 1 + µk2 (b).
14 Por exemplo, Gradshteyn and Ryzhik, Table of Integrals, Series, and Products, Ed. Alan Jeffrey,
Fifth edition (January 1994) ISBN number: 0-12-294755-X.
318 16 Gravitação
ro εp
= 1 − ε cos φ = , (16.118)
r r
que representa uma equação de uma secção cónica; p é o parâmtero focal; ro é o
semi-latus rectum. Como já referimos, ε denota a excentricidade:
s
2EL2
ε = e = 1+ . (16.119)
µk2
µG2 M 2 m2
E =− (1 − e2 ). (16.120)
2L2
É conveniente aqui referir a seguinte relação:
rmax − rmin
e= . (16.121)
rmax + rmin
Da análise dos resultados obtidos podemos concluir:
• Quando Ve f < E < 0, o movimento tem lugar entre dois pontos de retorno rmax e
rmin . A órbita é uma elipse tendo ro como ponto focal;
max −rmin
• Quando E → 0, rmax → ∞, e a excentricidade e = rrmax +rmin → 1, isto é, a tra-
jectória descreve uma parábola;
max −rmin
• Quando E > 0, e = rrmax +rmin > 1 e a trajectória é uma hiperbole, onde rmin é a
distância mı́nima de aproximação.
Fig. 16.30 Trajectórias possı́veis de um satélite: (a) parábola; (b) elipse; (c) hiperbole.
onde
L2 Gm1 m2
Ve f (r) = 2
− . (16.123)
2µr r
Da soma de ambos os termos resulta um mı́nimo:
→
−
Quando L 6= 0, o potencial centrı́fugo repulsivo L2 /2µr2 é o termo dominante para
pequenos valores de r, enquanto que para grandes valores de r é o potencial gravı́tico
Gm1 m2 /r que domina.
A energia cinética associada ao movimento radial é:
Fig. 16.31 Gráfico da função energia potencial efectiva no caso do movimento planetário,
mostrando diferentes valores dos raios para duas energias que correspondem à órbita circular e
elı́ptica.
E > 0: Hiperbole r não tem limites para valores elevados, mas deve exceder um
→
−
certo valor mı́nimo se L 6= 0. As partı́culas estão separadas por uma barreira
centrı́fuga. (e > 1)
E = 0: Parábola órbita que fica no limite entre curva fechada e aberta. (e = 1).
E < 0: Elipse O movimento é confinado para grandes e pequenos valores de r.
Duas partı́culas formam um sistema fechado. (0 < e < 1).
E = Emin : Cı́rculo r tem um único valor exacto e as partı́culas orbitam em redor
uma da outra a uma distância constante. (e = 0).
Fig. 16.32 Trajectórias orbitais diferentes correspondendo ao mesmo valor do momento angular.
L2
Ve f (r) = 2µr2
− kr (a)
dV L2
(16.126)
dr =− µr3
+ rk2 = 0 (b).
320 16 Gravitação
L2
ro = , (16.127)
µk
Usámos para RT o valor médio do raio da Terra, pois que o nosso planeta Terra tem
a forma de um geóide ou esferóide oblato.
Portanto compreendemos agora que os satélites geoestacionários parecem estar
fixos sobre um ponto sobre o equador. As antenas de emissão e recepção podem
estar fixos no solo e são mais económicas. Estes satélites são de grande importância
nas comunicações globais, televisão, previsão do tempo e em comunicações mil-
itares. Uma desvantagem destes satélites reside na altitude elevada a que são
forçados a estar, levando o sinal electromagnético aproximadamente 0.25 segundos
a fazer ida e volta provocando um atraso significativo do sinal. Outra desvantagem
significativa está na dificuldade da recepção do sinal em latitudes superiores a 60o .
Recorre-se então a satélites com órbitas elı́pticas.
Quando o satélite tem uma órbita geosı́ncrona em torno da Terra quer dizer que
ele volta a um ponto fixo na Terra exactamente no mesmo dia e instante a esse ponto
fixo.
Exemplo 10: Mostre que na verdade um satélite em torno da Terra está em queda
para a Terra.
Considere a situação da fig. 16.33. No instante t = 0 o satélite está na posição P1
em órbita circular à velocidade v. No instante posterior t2 está em P2 . Na ausência
de qualquer aceleração o satélite prosseguiria ao longo da tangencial de P1 e cairia
como se fosse um projéctil disparado por um canhão. Em P2 terá caı́do de
ou
v2t 2 = 2Rt s − s2 (16.135)
o que representa a distância percorrida pelo satélite na sua queda com aceleração
g = GMT /R2T .
Podemos usar a Eq. 16.137 para determinar o valor máximo de r que ocorre para
φ = 0, rmax e o valor mı́nimo de r que ocorre para φ = π, rmin . Esses são os pontos
de retorno do movimento e correspondem às seguintes expressões:
ro
rmax = 1−ε , (φ = 0) (a)
ro (16.138)
rmin = 1+ε , (φ = π) (b).
A = rmin
+ rmax = 2a
1 1
= ro 1+ε + 1−ε (16.139)
2ro
A = 1−ε 2.
Fig. 16.34 (a) Elipse; (b) Geometria para obter as equação geral da cónica; (c) Movimento elı́ptico
de m1 e m2 em torno do sue CM em O. O ponto O é o focus do lado direito da elipse menor e o
focus esquerdo da elipse maior; (d) O movimento correspondente da partı́cula hipotética µ em
torno de O0 .
Note que
rmax 1+ε
rmin = 1−ε
rmax −rmin (16.140)
ε = rmax +rmin .
2L2
2ro µk
A= 1−ε 2
= 2 .
1−(1+ 2EL2 ) (16.141)
µk
k
A= (−E) .
Fig. 16.35 (a) Representação geométrica da Segunda Lei de Kepler; (b) Ilustração da Segunda Lei
de Kepler.
∆ A = 12 r2 ∆ φ
lim∆t→0 ∆∆tA = 12 r2 lim∆t→0 ∆∆tφ (16.143)
dA 1 2 L
dt = 2 r ω = 2µ = const.
dt = 2µ
L dA (16.144)
dt = 2µ
R R
L dA
324 16 Gravitação
e
L2
a(1 − ε 2 ) = . (16.147)
µk
Pode-se assim obter a Terceira Lei de Kepler:
4µ 2 2 2 2 2
T2 = L2
π a b = 4µ L2
π 2 a2 a2 (1 − ε 2 )
4µ 2 2 2 π a3
2 2 a3 mM
= L2
L
π 2 a3 µk = 4µGMm = 4π GMm m+M
(16.148)
4π 2 a3
T 2 = G(m+M) .
A = (r p + ra + 2RT ) km
(16.149)
a = 1.8 × 107 km
b) Calcule a energia inicial do satélite antes da descolagem.
GMT m
Ei = − = −mgRT = −12.5 × 1010 J (16.150)
RT
c) Calcule a energia do satélite em órbita.
15 Kleppner and Kolenkow, “An introduction to mechanics”, (McGraw-Hill, New York, 1973), p. .
16.2 Movimento planetário 325
W = ∆E
(16.152)
W = E − Ei = 8 × 1010 J.
e) Calcule o momento angular do satélite na sua órbita.
r0
rmin = 1+ε
r0
rmax = 1−ε
rmax −rmin
∴ ε = rmax +rmin (16.153)
rmax −rmin 3×103 1
ε= A = 1.8×104
= 6
2EL2
ε2 = 1 + mk2
⇒L = 1.2 × 1014 kg.m2 /s
f) Calcule a velocidade do satélite no perigeu.
E = 21 mv2 − kr
r p = (1100 + 6400)km = 7.5 × 106 km (16.154)
∴ v p = 7900m/s.
g) O momento angular conserva-se. Porquê? Calcule a velocidade no afélio, va .
La = L p
µr p v p = µra va (16.155)
r v
va = pra p = 5600m/s.
Exemplo 12: O satélite russo Sputnik I, foi lançado pela USSR a 4 de Outubro de
1957 emitindo sinal durante três semanas 16 e descrevendo uma órbita elı́ptica, tinha
um perı́odo de rotação em torno da Terra de T = 96 mn 12 s e uma altitude máxima
de H = 939 km. Este feito tornou a Rússia numa potência espacial e constitui um
marco histórico na conquista do espaço. Use a Terceira Lei de Kepler para determi-
nar a altura de ejecção do satélite (Fig. 16.36). Determine também a velocidade no
perigeu, que corresponde à velocidade de ejecção.
Sabe-se que: q
GM 2
a = 3 4π 2T
(16.156)
∴ a = 6949.85km
onde usámos G = 6.674 × 10−11 m3 .kg−1 .s−2 e MT = 5.96 × 1024 kg.
Fig. 16.36 Elementos da órbita elı́ptica de um satélite artificial da Terra. O centro da Terra O é um
dos focos da elipse, Pe é o perigeu, (ponto mais próximo da Terra), Ap é o apogeu (ponto mais
distante), M é o centro geométrico da elipse, e a é o semi-eixo maior. H e h são as alitudes em Ap
e Pe.
16 Era esférico com 84 kg de massa e 58 cm de diámetro. A altitude no apogeu era h = 947 km,
a
inclinação i = 65.128o , perı́odo T = 96.17 min.
326 16 Gravitação
h + H = 2a − 2RT
(16.157)
∴ h = 205km
Na realidade foi a 215 km da superfı́cie, mas este exemplo mostra como as leis do
movimento planetário levam-nos a conclusões imutáveis.
A velocidade de ejecção calcula-se por meio da seguinte equação:
q
RT +H
v p = GM a RT +h (16.158)
∴ v p = 7970m/s.
→
−
→ − →− →
− −
a in = d dtv in = d dtv in + [Ω × → v in ]
in rot
→
− →
− →
− →
− →
− −
a in = [ dtd (→
−v rot + [ Ω × →−r ])] + [ Ω × →
rot
−
v rot ] + [ Ω × [ Ω × → r ]] (16.162)
∴→−
a =→ −a + [Ω̇ × → −r ] + 2[→
− →
Ω ×−
→
− →
v ] + [Ω [Ω × →
− −
r ]]
in rot rot
→
−
Da Eq. 16.162 concluı́mos que a força aparente F rot num sistema de coorde-
nadas em rotação é dada por
17 (Repare que o intervalo de tempo é o mesmo em ambos os referenciais, não é suposto ocorrer
efeitos relativistas.
16.3 Fı́sica no sistema de coordenadas em rotação 327
→
−a rot = →−
a in − [Ω̇ × →−r ] − 2[→− →
Ω ×−
→
− →
− −
v rot ] − [ Ω × [ Ω × →
r ]]
→
− →
− → →
− →
− −
F rot = m a rot = m a in − m([Ω̇ × r ] + 2[ Ω × v rot ] + [ Ω × [ Ω × →
→
− →
− →
− − r ]])
→
− →
− → −
F rot = F + F f ict
→
− →
− − →
− →
− −
F f ict = −2m[ Ω × → v rot ] − m[ Ω × [ Ω × → r ]] − m[Ω̇ × →
−r ].
(16.163)
O primeiro termo à direita da força fictı́cia é chamado força de Coriolis, o segundo
termo, apontando para fora do eixo de rotação é chamado de força centrı́fuga.
Finalmente, o último termo é chamado força de Euler.
Essas forças são em geral consideradas fictı́cias porque não resultam de ver-
dadeiras interacções fı́sicas 18 , são o resultado de relações puramente cinemáticas.
Exemplo 13: Uma pequena esfera desliza sem atrito numa haste rı́gida em
rotação em torno de um eixo com momento angular constante ω.
a) Determine a força exercida pela haste na esfera (Fig. 16.37).
→
− −
Repare que a força de Coriolis resulta do produto extermo [ Ω × → v rot ], onde
→
−v rot é a velocidade da esfera no referencial em rotação. A força de Coriolis, emb-
ora fictı́cia, realiza trabalho no referencial em rotação (portanto, acelerado), agindo
perpendicularmente à haste, donde resulta o aparecimento de uma “pressão de con-
→
− →
−
tacto” N , com a direcção oposta a F Cor . Repare também que na vertical estão
aplicadas o peso da esfera e a respectiva normal, mas como a resultante é nula, não
nos interessa neste problema. A força centrı́fuga é exercida radialmente para fora do
eixo de rotação.
Fig. 16.37 (a) - Força de Coriolis num referencial em rotação; (b) - queda de uma massa m de uma
torre de altura h = 50 m situada no equador.
Temos assim
mar = mr̈ = Fcent
N − FCor = 0
(16.164)
Fcent = mω 2 r
∴ mr̈ − mω 2 r = 0
A última Eq. 16.164 é a equação do oscilador harmónico, cuja solução é
N = FCor = 2mω ṙ
(16.166)
FCor = 2mω 2 (Aeωt − Beωt ).
18 A força centrı́fuga aumenta com a distância do eixo de rotação enquanto que as forças de
A = 12 (r0 + vω0 )
(16.167)
B = 12 (r0 − vω0 )
Exemplo 14: Defleção de massas em queda livre. Calcule a defleção a que está
submetida uma massa m quando cai de uma torre de 50 metros de altura no equador.
Veja a Fig. 16.37-(b).
a) Calcule as componentes da velocidade e da força no referencial da Terra (em
rotação em relação às estrelas).
As forças da gravitação e centrı́fuga são radiais, e a força de Coriolis assenta
no plano equatorial, como se depreende aplicando a regra-da-mão-direita. Podemos
usar a expressão
→
−v rot = ṙ→
−
u r + rθ̇ →
−
uθ (16.168)
para representar a velocidade da massa m no referencial em rotação da Terra. Em
seguida, obtém-se as componentes fr e Fθ e a equação do movimento radial:
QuadroNegro 4
r̈ = −g + Ω 2 RT
= −g0 (16.169)
0
g ≡ g − Ω 2 RT
QuadroNegro 5
Para um observador sobre a superfı́cie terrestre existem duas forças fictı́cias a ter
em conta: a força centrı́fuga e a força de Coriolis. Num plano horizontal do lugar,
a força de Coriolis é dada por 2mvΩ sin λ (procure ver porquê), onde λ é a latitude
do lugar, e Ω sin λ é a componente vertical da velocidade angular da Terra.
a) Obtenha as equações do movimento da massa m suspensa num fio de compri-
mento l.
Designemos o deslocamento em relação à vertical por r. A força restauradora é
mgr/l. As componentes da velocidade de m, radial e transversa, são ṙ e rθ̇ . As suas
acelerações são: ar = r̈ − rθ̇ 2 e aθ = rθ̈ + 2ṙθ̇ . Daqui podemos escrever de imediato
as eqs. do movimento:
Fg = FT
Gm0 m 0r
r2
= 2GMm
qd 3
∴ d = r 3 2Mm
3 (16.174)
M = ρM 4πR
3
4πr3
m = ρq
m 3
d = R 3 2 ρρMm .
Um satélite natural ou artificial que esteja ligado por forças mais fortes do que
a gravitação naturalmente que pode orbitar dentro do limite de Roche. É o caso
de Metis, lua de Jupiter, e Pan, lua de Saturno, pois são sólidos ligados por forças
de tensão fortes. Um cometa poderia quebrar-se no limite de Roche, no caso de as
ligações entre as suas partes forem fracas 21 .
21 Não parece ser o caso de Apófis, o asteróide que porá eventualmente a vida em perigo no nosso
planeta em 13 de Abril de 2036.
Chapter 17
Lagrangianos
“Para mim, saber que tenho uma só vida para viver num universo que também só tem uma,
oferece um paralelismo poético. A vida é preciosa! Só temos cada dia, cada pessoa que
encontramos, cada experiência - nada mais. Desgosta-me que tanta gente atravesse a vida
alienada, sem perceberem que é a única oportunidade que têm, que não haverá outra”.
1 Pierre Louis Moreau de Maupertuis foi um matemático e astrónomo francês. Nasceu a 7 de Julho
mı́nima.
3 Estes métodos constituem também uma tentativa de construir uma teoria mecânica alternativa à
de Newton.
333
334 17 Lagrangianos
aplicação dos princı́pios dinâmicos permite-nos obter relações entre as várias pro-
priedades dos corpos. Em particular, a vantagem do método de Lagrange e Hamilton
reside em fazer depender todas as propriedades do sistema fı́sico de uma simples
função, o Lagrangiano do sistema.
Este capı́tulo é uma introdução à mecânica clássica avançada.
n = 3N − m, (17.1)
A expressão mais geral da lei do movimento dos sistemas mecânicos é dada pelo
Princı́pio de Hamilton. Segundo este princı́pio
P RINC ÍPIO DE H AMILTON : A dinâmica de um sistema mecânico fica perfeita-
mente caracterizado por uma função
tenha o menor valor possı́vel 4 . O integral da Eq. 17.62 chama-se Acção entre os
instantes t1 e t2 (e com a unidade J.s).
Fig. 17.1 Um corpo desloca-se entre dois pontos fixos. Pode-se imaginar uma série de percursos
“virtuais” (curvas a pontilhado) entre esses pontos extremos, mas apenas uma obedece ao princı́pio
da mı́nima ação que corresponde à equação Newtoniana.
Exemplo 1: Uma maçã com massa m = 100 g cai de uma altura de 4.9 m.
a) Qual o valor da Acção entre o instante inicial (t = 0 s) e o instante em que a
maçã atinge o chão (t = 1 s)?
Tem-se
m = 100 g
H = 4.9 m
O Lagrangiano é dado por
1
L = T −U = mv2 − mgy (17.4)
2
onde escolhemos y para a altura da massa m. A Acção é então dada por
Z t=1
S= Ldt (17.5)
t=0
Assim, temos
1 1
L = mg2t 2 − mg(h − gt 2 ) = mg2t 2 − mgh (17.7)
2 2
e
R1 3 1
S= 0 (mg2t 2 − mgh)dt = mg2 t3 |t=1 t=1 2
t=0 −mght |t=0 = 3 mg − mgh (17.8)
S = −1.6 J.s.
L = 12 mv2 − mgy
(17.9)
S = 12 mv2t − mgvt
y = y0 − 13 ct 3 = h − 13 ct 3
0 = h − 13 c (17.11)
∴ c = 3h
Logo,
L = 12 mc2t 4 − mg(h − 13 3ht 3 )
5 4 (17.12)
S = 21 mc2 t5 |10 −mght |10 + 13 mgc t4 |10 = 3.24 J.s
c) Pode concluir, a partir dos cálculos efectuados, isto é, sem resolver as equações
de Euler-Lagrange, qual destas três leis descreve a queda dos graves?
Embora só tenhamos parcialmente analisado três casos, o caso alanlisado na
alı́nea a) corresponde ao menor valor da Acção, tendo-se obtido o seu o valor
numérico com a conhecidada lei das quedas dos graves.
Seja T a trajectória APB seguida realmente pela partı́cula entre os instantes t1 e t2 es-
tando a partı́cula momentaneamente no ponto P no instante t. Seja T 0 uma trajectória
actualmente não descrita pela partı́cula mas hipoteticamente possı́vel. Suponhamos
que as coordenadas do ponto P0 são (x + δ x, y, z), e a velocidade da partı́cula aı́
sendo (ẋ + δ ẋ, ẏ, ż) enquanto que as coordenadas do ponto P são (x, y, z) e as com-
17.1 Introdução à Mecânica Lagrangiana 337
ponentes da velocidade da partı́cula são (ẋ, ẏ, ż). Suposemos aqui para simplificar
que a trajectória T 0 difere de T nas coordenadas x.
Impõe-se que a trajectória T 0 passe pelos pontos M1 e M2 por onde o sistema
efectivamente passou nos instantes t1 e t2 , de forma que
d
δ ẋ = (δ x). (17.15)
dt
Na notação inventada por Lagrange, o sı́mbolo δ é somente aplicado para variações.
Os sı́mbolos da variação (δ ) e diferenciação (d) são permutáveis.
A variação da acção quando se passa da trajectória real T para a trajectória fictı́cia
é: Z t Zt
2 2
δS = δ Ldt = δ Ldt. (17.16)
t1 t1
Mas atendendo a que o Lagrangiano depende supostamente da posição (x, y, z), as-
sim como das componentes da velocidade (ẋ, ẏ, ż), L = L(x, ẋ,t), a variação δ L de L
deriva das variações δ x de x, e δ ẋ de ẋ:
δ L = ∂∂ Lx δ x + ∂∂ Lẋ δ ẋ
(17.17)
δ L = ∂∂ Lx δ x + ∂∂ Lẋ dtd (δ x).
O último termo deve ser nulo pois que imposemos δ x(t1 ) = 0 e δ x(t2 ) = 0. A
trajectória T é real e corresponde ao valor extremo do integral da Acção, isto é, δ S
deve ser nulo para qualquer que seja o valor de δ x:
338 17 Lagrangianos
d ∂L ∂L
− = 0. (17.20)
dt ∂ ẋ ∂ x
O mesmo raciocı́nio aplicado às variações das outras coordenadas da partı́cula,
levam-nos às restantes equações:
d ∂L ∂L
− = 0. (17.21)
dt ∂ ẏ ∂ y
d ∂L ∂L
− = 0. (17.22)
dt ∂ ż ∂ z
E QUAÇ ÕES DE E ULER -L AGRANGE :
As equações diferenciais que correspondem ao mı́nimo da Acção constituem as
Equações de Euler-Lagrange.
Uma das vantagens da mecânica de Lagrange é o à vontade com que se pode
tratar as coordenadas cartesianas, esféricas, cilı́ndricas. A apresentação deste método
pode ser generalizado facilmente se, em lugar de escrevermos as equações em
termos de (x, y, z), (ρ, φ , z), ou (r, θ , φ ), usarmos as coordenadas generalizadas
(q1 , q2 , ..., qN ).
O Lagrangiano é referido como
d ∂L ∂L
− = 0, (i = 1, 2, ..., N) (17.24)
dt ∂ q̇i ∂ qi
Exemplo 2: Demonstre que a linha mais curta entre dois pontos a e b sobre a
superfı́cie lateral de um cilindro é uma hélice.
O comprimento s de uma linha arbitrária sobre o cilindro, entre os pontos a e b é
dada por:
s = b ds
R
(a)
Rb√ a
s = a dz2 + dr2 (b)
dr = rdθ (17.25)
Rbh 2
i1/2
∴ s = a 1 + r2 dθ dz = ab Φdz. (c)
R
dz
c2 = rθz22 ,
(17.30)
∴ rθ = rθz22 z.
x = l sin φ
(17.36)
y = l cos φ
QuadroNegro 1
17.1 Introdução à Mecânica Lagrangiana 341
∂U d
− = rFφ = (mr2 φ̇ ). (17.46)
∂φ dt
∂L
pj = . (17.47)
∂ q̇ j
342 17 Lagrangianos
∂L
= Fj . (17.48)
∂qj
∂L d ∂L
= (17.49)
∂qj dt ∂ q̇ j
q̇i = ∂∂ H
pi
(17.52)
ṗi = − ∂∂ qHi .
5 Este termo não representa necessariamente uma força, mas actua como uma força e daı́ vem o
seu nome.
17.1 Introdução à Mecânica Lagrangiana 343
H = K +U = E. (17.53)
p2
K= , (17.54)
2m
e a energia potencial é
1
U = kx2 (17.55)
2
O Hamiltoniano é neste caso dado por
H(x, p) = K +U
p2 (17.56)
= 2m + 12 kx2 .
O estudo feito das propriedades do movimento levam-nos agora de modo mais es-
correito do domı́nio macroscópico para uma descrição microscópica da natureza.
Restringimo-nos apenas à descrição de uma partı́cula ideal de massa m animada com
velocidade muito pequena quando comparada à velocidade da luz, v c. Quando
a mecânica clássica combina-se com a electrodinâmica com o fito de descrever os
fenómenos atómicos, chegam-se a conclusões que por vezes colidem com a ex-
periência. Por exemplo, segundo a electrodinâmica, os electrões em órbita em torno
do núcleo atómico deveriam perder energia por emissão de radiação, caindo para o
núcleo, o que não acontece.R
Para contornar este obstáculo, Niels Bohr postulou a
condição de quantificação pdq = nh, permitindo o estudo do espectro do átomo
de hidrogénio, que veremos já a seguir.
Exemplo 8: Condição de quantificação de Bohr e espectro do átomo de hidrogénio.
Niels Bohr determinou as órbitas estacionárias dos electrões no átomo de hidrogénio,
propondo que as suas órbitas obedeciam a uma condição de quantificação:
344 17 Lagrangianos
Z
pdq = nh, (17.59)
Seja n = 1 a primeira órbita, tem-se r1 = h̄2 /me2 = 0.5292 × 10−8 cm, que repre-
senta o raio do átomo de hidrogénio.
A energia do átomo de hidrogénio pode ser obtida a partir da energia mecânica
total:
mv2 e2
E= − (17.63)
2 r
Usando a Eq. 17.60, obtém-se
mv2 1 e2
2 = 2 r (17.64)
2
∴ E = − e2r
e a órbita de raio rn corresponde à energia
e2 me4 1
En = − =− 2 2 (17.65)
2rn 2h̄ n
O estado fundamental do átomo de hidrogénio H(n = 1) tem a energia
me4
E1 = − = 13.54eV. (17.66)
2h̄2
17.1 Introdução à Mecânica Lagrangiana 345
b = ih̄ ∂ Ψ ,
HΨ (17.69)
∂t
b o operador Hamiltoniano do sistema.
onde designamos por H
Vamos supor que foi escolhida alguma coordenada dum sistema que não é indepen-
dente, mas que se encontra ligada por m equações de contrangimento do tipo:
6 Em inglês, “eigenvalues”.
7 Representa-se um operador quântico por uma letra com um “chapéu”, por exe., L.
b
8 Em geral, uma função complexa.
346 17 Lagrangianos
d ∂L ∂L
− = λl alk (17.71)
dt ∂ q̇k ∂ qk ∑
l
e m equações do tipo
∑ alk dqk + alt dt = 0. (17.72)
k
e resolve-se para
Fx = 0
Fy = 0
(17.74)
Fz = 0
Fλ = 0
Exemplo 10: Suponhamos que são produzidos aparelhos de televisão em duas
fábricas A e B e que, em particular, x televisões são produzidas em A e y em B.
Vamos também supor que o custo da sua produção avaliado pelo departamento de
Marketing é dado por
C(x, y) = 6x2 + 12y2 . (17.75)
Imagine que a sua empresa quer produzir 90 aparelhos de televisão, x na empresa A
e y na empresa B. Quais devem ser os valores de x e y de modo a que os custos de
produção sejam mı́nimos?
[Sol.: O objectivo é minimizar a função C. O constrangimento consiste em pro-
duzir 90 aparelhos de televisão, x + y = 90. Portanto a função que procuramos min-
imizar é
F(x, y, λ ) = 6x2 + 12y2 − λ (x + y − 90) (17.76)
Podemos obter as derivadas parciais
Fx = 12x − λ = 0
Fy = 24y − λ = 0 (17.77)
Fλ = −x − y + 90 = 0
As soluções das duas primeiras equações (que por vezes, dependendo do prob-
lema podem adquirir uma grande dimenss̃o e tendo que ser resolvidas por meios
informáticos), são
λ
x = 12
λ (17.78)
y = 24
17.1 Introdução à Mecânica Lagrangiana 347
x = 2l sin θ
(17.83)
y = 2l cos θ
K = 21 m(ẋ2 + ẏ2 )
U = mg 2l cos θ
ẋ = 2l cos(θ )θ̇
ẏ = − 2l sin(θ )θ̇
(17.84)
∴ K = 18 ml 2 θ̇ 2
1
L = 8 ml 2 θ̇ 2 − mg 2l cos(θ )
d ∂L ∂L
dt ∂ θ̇ − ∂ θ
2g
∴ θ̈ = l sin θ .
L = K −U
(17.91)
L = 12 mR2 (θ̇ 2 + ωo2 sin2 θ ) − mgR(1 − cos θ ).
donde se obtém
g
θ̈ + sin θ ( − ωo2 cos θ ) = 0. (17.93)
R
Exemplo 13: Máquina de Atwood Composta.
Considere a máquina de Atwood ilustrada na Fig. ??. Despreze as massas das
polias a e b. Os cabos têm o comprimento fixo la e lb . Determine as velocidades
das três massas m1 , m2 e m3 , a energia cinética do sistema, energia potencial, o
Lagrangiano e as equações de Euler-Lagrange para as coordenadas generalizadas x
e y (Vd. Fig. ??).
As coordenadas das três massas são dadas por
x1 = x ⇒ v1 = ẋ
x2 = la − x + y ⇒ v2 = −ẋ + ẏ (17.94)
x3 = la − x + lb − y ⇒ v3 = −ẋ − ẏ.
U = Uo − m1 gx − m2 g(x + y) − m3 g(la − x + lb − y)
U = Uo − gx(m1 + m2 − m3 ) − gy(m2 − m3 ) − gm3 (la + lb )
Uo0 = Uo − gm3 (la + lb ) = const. = 0 ∴ U = −gx(m1 + m2 − m3 ) − gy(m2 − m3 )
(17.96)
Obtivemos a Eq. 17.96 arbitrando Uo0 = 0 e atendendo a que só nos interessa
variações de energia potencial. O Lagrangiano do sistema é assim dado por
350 17 Lagrangianos
L = K −U
L = 12 m1 ẋ12 + 21 m2 (ẏ − ẋ)2 + 12 m3 (ẋ + ẏ)2 + gx(m1 + m2 − m3 ) + gy(m2 − m3 )
∂L
∂ x = g(m1 − m2 − m3 )
∂L
∂ ẋ = (m 1 + m2 + m3 )ẋ + (m3 − m2 )ẏ
d ∂L
dt ∂ ẋ = (m1 + m2 + m3 )ẍ + (m3 − m2 )ÿ
(17.97)
Daqui resulta a equação do movimento
Repare que as duas equações estão acopladas, mas ambas evidenciam uma aceleração
constante de todas as massas.
Exemplo 14: A Fig. 17.6 representa um pêndulo cujo ponto de suspensão se
move sem atrito sobre uma linha recta; a massa do bloco onde o pêndulo está sus-
penso é desprezável em relaç˜ao a m e o fio é inextensı́vel (m = 1 kg, e L = 1 m).
Assim, o Lagrangeano é
1
L = K −U = m(ḃ2 + 2ḃθ̇ L cos θ + L2 θ̇ 2 ) + mgL cos θ . (17.106)
2
Repare que omitimos o termo constante da energia potencial (mgL) pois em nada vai
afectar a dinâmica do problema, pois é a variação da energia potencial que se con-
verte em trabalho ou movimento. Pode-se agora escrever a Eq. de Euler-Lagrange
para a coordenada θ (o único grau de liberdade do problema):
QuadroNegro 2
352 17 Lagrangianos
b) Supondo que b(t) = at 2 /2, com a = 2 m/s2 (o que significa que o ponto de
suspensão move-se com aceleração constante). Determine o ponto de equilı́brio e
resolva a equação do movimento para pequenas oscilações θ 1.
b(t) = 21 at 2
ḃ(t) = at (17.107)
b̈ = a.
Substituindo na equação obtida anteriormente, tem-se
g a
θ̈ + sin θ = − cos θ (17.108)
L L
Para pequenas amplitudes θ 1, sin θ ≈ θ e cos θ ≈ 1:
g a
θ̈ + θ = − (17.109)
L L
No equilı́brio, tem-se
g
L θeq = − Lg ⇒ θeq = − La = −0.204rad ∼
= −12o (17.110)
φ ≡ θ − θeq = θ + ag
φ̈ = θ̈
⇒ φ̈ + Lg (φ − ga ) = − La
(17.111)
∴ φ̈ + Lg φ = 0
⇒ φ (t) = A. cos(ω0t + α)
⇒ θ (t) = − ag + A. cos(ω0t + α).
17.2 Oscilações 353
“All sciences are now under the obligation to prepare the ground for the future task of
the philosopher, which is to solve the problem of value, to determine the true hierarchy of
values. ”
17.2 Oscilações
Os fenómenos periódicos são todos aqueles que repetem a intervalos regulares al-
guma variaável independente:
• movimento orbital dos planetas;
• relógio pendular;
• sistema massa-mola;
• vibrações atómicas.
O movimento oscilatório é todo o fenómeno periódico no tempo. O movimento
ondulatório resulta de perturbações periódicas que se propagam no espaço (por ex.,
ondas electromagnéticas, ondas sonoras, ondas em lı́quidos,...). Estes exemplos sug-
erem que o movimento ondulatório é o método natural de transmissão de energia.
É conveniente classificar os movimentos periódicos em duas categorias:
Vibração : o objecto em movimento permanece em torno de um estado médio ou,
em particular, de um estado de equilı́brio ⇒ vibração
Oscilação : o objecto pode deslocar-se de um ponto do espaço para outro, como
acontece numa onda sonora. É um tipo de fenómeno que ocorre em sistemas
fı́sicos, mas que também ocorre frequentemente em sistemas biológicos (por ex.,
nos ritmos circadianos 9 ) e nas próprias sociedades humanas (por ex., os conflitos
étnicos).
O domı́nio coberto por estes tipos de fenómenos é muito vasto e constitui um
objecto de estudo para o cientista e engenheiro, tendo inúmeras aplicações técnicas.
As vibrações podem ser um fenómeno provocado, por exemplo dedilhando as cordas
de uma guitarra, ou gerando uma corrente eléctrica alternada. Podem também ser
um fenómeno que se procura evitar, por exemplo, as vibrações numa viatura devido
a uma peça excêntrica, os ruı́dos indesejáveis do motor de uma aeronave, etc.
O movimento ondulatório mais simples - e igualmente o mais importante na
compreensão deste tipo de fenómenos - consiste na vibração de uma partı́cula em
torno de uma posição de equilı́brio, por exemplo, actuada pela força elástica de
Hooke. Esta força é proporcional ao deslocamento da partı́cula e é “restauradora”,
no sentido em que dá origem a um movimento para cá e para lá em torno da posição
de equilı́brio. Este tipo de vibração, a que está associada uma só frequência (onda
9 Ritmo (ou ciclo) circadiano, designa em Latim “circa diem”, o que significa “cerca de um dia”.
É o perı́odo de aproximadamente 24 horas constituindo o ciclo biológico do corpo humano e de
todos os seres vivos, influenciado pela luz solar e por fenémenos astronómicos em geral.
354 17 Lagrangianos
Uma partı́cula movendo-se ao longo do eixo Ox descreve MHS quando o seu deslo-
camento a partir do estado de equilı́brio varia com tempo na forma geral:
10 Jean Baptiste Joseph Fourier (1768-1830).
17.2 Oscilações 355
onde A, ω e δ são constantes. A Fig. 17.7 apresenta o gráfico dessa função do tipo
co-seno.
Fig. 17.7 Deslocamento versus tempo para uma partı́cula descrevendo o movimento harmónico
simples. A amplitude do movimento é A e o perı́odo T .
dx
v= = −ωA sin(ωt + δ ), (17.117)
dt
e a aceleração da partı́cula é dada por:
dv
a= dt = −ω 2 A cos(ωt + δ )
(17.118)
a = −ω 2 x(t).
vmax = ωA
(17.119)
amax = ω 2 A
Seja x = A cos(ωt + δ ). A amplitude A e a constante de fase δ devem ser apropri-
adamente escolhidas de modo a verificarem as condições iniciais do movimento.
Suponha assim que essas condições iniciais em t = 0 são x = xo e v = vo . Obtém-
se:
356 17 Lagrangianos
Fig. 17.8 Representação gráfica do movimento harmónico simples: a) deslocamento versus tempo;
b) velocidade versus tempo, c) aceleração versus tempo. Repare que a velocidade encontra-se
90o fora de fase com o deslocamento e a aceleração está 180o fora (em oposição) de fase com o
deslocamento.
x = A cos(ωt + δ ) ⇒ xo = A cos δ
v = −ωA sin(ωt + δ ) ⇒ vo = −ωA sin δ (17.120)
vo
∴ tan δ = − ωx o
F = ma(t)
(17.122)
= −mω 2 x
Considere um sistema constituı́do por uma massa m ligada a uma mola com con-
stante elástica k e movendo-se numa superfı́cie horizontal sem atrito (Fig. 17.9).
Se a mola estiver esticada de uma quantidade x a partir da sua posição de
equilı́brio, a massa é actuada por uma força restauradora linear proporcional ao
deslocamento (lei de Hooke) e sempre dirigida para o ponto de equilı́brio, oposta ao
deslocamento:
F(x) = −kx. (17.123)
Sob a acção desta força, a equação do movimento de m é imediatamente obtida:
d2x
m = −kx, (17.124)
dt 2
17.2 Oscilações 357
d2x k
+ x = 0. (17.125)
dt 2 m
Seja ω 2 = k/m. A equação do movimento pode-se assim escrever na forma usual:
d2x
+ ω 2 x = 0. (17.126)
dt 2
x = A cos(ωt + δ )
dx
v = = −ωA sin(ωt + δ )
dt (17.127)
2
a = ddt 2x = −ω 2 A cos(ωt + δ ) = −ω 2 x
Note que a solução matemática da Eq. 17.200 pode ser escrita na forma assinal-
ada, ou nas duas seguinte formas equivalentes:
x(t) = A sin(ωt + δ )
(17.129)
x(t) = A cos ωt + B sin ωt.
x(t = 0) = A
v(t = 0) = 0
∴ x(t) = A cos ωt (17.130)
v = dx
dt = −ωA sin ωt
2
a = ddt 2x = −ω 2 A cos ωt
Fig. 17.10 Sistema massa-mola que parte do repouso em xo = A. Neste caso δ = 0 e x = A cos ωt.
Fig. 17.11 Deslocamento, velocidade e aceleração versus tempo para uma partı́cula submetida a
um MHS, sob as condições iniciais, xo (t = 0) = A e vo (t = 0) = 0.
x(t = 0) = 0 (a)
v(t = 0) = vo (b)
(17.131)
0 = A cos(δ ) (c)
vo = −ωA sin(δ ) (d)
∴ x = vωo cos ωt − π2
(17.132)
x = vωo sin ωt.
v = vo cos ωt
(17.133)
a = −ωvo sin ωt
17.2 Oscilações 359
1
E = K +U = kA2 [sin2 (ωt + δ ) + cos2 (ωt + δ )]. (17.136)
2
Obtemos finalmente a expressão geral da energia do movimento harmónico simples:
1
E = kA2 . (17.137)
2
A energia do MHS é uma constante do movimento e é proporcional ao quadrado
da amplitude do movimento. A Fig. 17.13 mostra K e U em função do tempo e da
amplitude.
Na sequência do curso necessitamos de introduzir o conceito de média temporal
de uma dada função f (t):
Z T
1
h f (t)i ≡ f (t)dt. (17.138)
T 0
A média temporal de sin2 (ωt + δ ) ou de cos2 (ωt + δ ), tem o valor de 1/2 para
cada um dos integrais temporais:
Z T
1 1
hcos2 (ωt + δ )i ≡ cos2 (ωt + δ )dt = , (17.139)
T 0 2
ou Z T
1 1
hsin2 (ωt + δ )i ≡ sin2 (ωt + δ )dt = . (17.140)
T 0 2
Fig. 17.13 (a) Energia cinética e energia potencial versus tempo para o caso do movimento
harmónico simples com δ = 0; (b) K e U versus deslocamento. Verifica-se sempre E = K +U =
Const.
360 17 Lagrangianos
Fig. 17.15 Movimento harmónico simples do sistema massa-mola e a sua analogia com o pêndulo
simples. Os parâmetros na Tabela à direita referem-se ao sistema massa-mola, assumindo-se que
x(t = 0) = A, donde x = A cos ωt.
QuadroNegro 1
362 17 Lagrangianos
ξ = y − mg
k
d2 ξ 2
m dt 2 = m ddt 2y = −kξ
ξ = A cos(ωt + δ ) (17.151)
y(t) = ξ + mg k
y(t) = A cos(ωt + δ ) + mg k .
QuadroNegro 2
17.2 Oscilações 363
d2x
m + kx = 0 (17.152)
dt 2
corresponde a equação análoga do circuito eléctrico LC:
d2q 1
L + q = 0, (17.153)
dt 2 C
donde concluı́mos com base nesta analogia que os perı́odos respectivos de oscilação
são dados por √
T = 2π LC; T = 2π mk
p
(17.154)
Exemplo 5: De modo semelhante podemos inferir da equação do oscilador
harmónico com atrito a equação matematicamente análoga:
d2q dq q
L 2
+R + = 0 (17.155)
dt dt C
e, no caso de o sistema eléctrico se encontrar sob a acção de oscilações sinusoidais
forçadas com a diferença de potencial eléctrica (ou tensão) de pulsação ω:
d2q dq q
L + R + = V cos(ωt). (17.156)
dt 2 dt C
Vejamos o circuito LC ilustrado na Fig. 17.18. Sabemos que a tensão nos polos
da bobina é dada pela expressão
di
VL = L (17.157)
dt
e a tensão eléctrica nos polos do condensador é dada por
Q 1
Z
VC = = i(t)dt (17.158)
C C
A lei das malhas diz-nos que num circuito fechado a soma algébrica de todas as
tensões num circuito qualquer fechado é igual a zero. Portanto, temos a seguinte
equação:
di 1
Z
−L − idt = −V, (17.160)
dt C
R
ou então, servindo-nos da expressão Q = − idt:
d2Q 1
L + Q = −V (17.161)
dt 2 C
Por analogia com o problema do sistema massa-mola podemos desde já adivinhar
que a solução será do tipo
i(t) = io sin ωt (17.162)
q
1
onde ω = LC . Podemos assim determinar a diferença de potencial nos terminais
da inductância (bobina) e do condensador:
q
VL = −Li̇ = −Lωio cos ωt = − CL i
q (17.163)
io
VC = − C1 i(t)dt = C1 ω 1
i = CL i.
R
cos ωt = ωC
K = 21 mv2 = 21 mL2 θ̇ 2
(17.164)
U = −MgL cos θ
H = pq̇ − L
(17.166)
H = E = θ̇ ∂∂ θ̇L − L
∂L
p= = mL2 θ̇ . (17.167)
∂ θ̇
e daqui resulta a expressão completa do hamiltoniano
1 1
H = mL2 θ̇ 2 − mL2 θ̇ 2 − mgL cos θ = mL2 θ̇ 2 − mgL cos θ . (17.168)
2 2
As equações do movimento obtêm-se a partir da sucessão calculatória:
d ∂L ∂L
dt ∂ θ̇ − θ = 0
∂L
∂ θ = −mgL sin θ
∂L
= mL2 θ̇
∂ θ̇
d ∂L 2
(17.169)
dt ∂ θ̇ = mL θ̈
∴ 2
ML θ̈ + mgL sin θ = 0
θ̈ + Lg sin θ = 0.
Considere uma massa pontual m suspensa num ponto O de um fio de massa de-
sprezável e comprimento L. O movimento ocorre no plano vertical alimentado pela
força gravı́tica (Fig. 17.19).
→
−
As forças actuantes sobre a massa m são a tensão da corda T e o peso m→ −
g.A
→
−
componente tangencial de m g constitui uma força restauradora, sempre agindo na
direcção da vertical em θ = 0. Podemos escrever as equações seguintes:
2
Ft = −mg sin θ = m ddt 2s
s = Lθ
dθ
v = L dt
(17.171)
τ = Io α = −FL = −mgL sin θ
mL2 θ̈ = −mgL sin θ
d2 θ g
dt 2 + L sin θ = 0.
θ3
sin θ ≈ θ − + ..., (17.172)
3!
e a equação do movimento toma a forma simplificada
d2θ g
+ θ ' 0. (17.173)
dt 2 L
A solução geral desta equação apresenta-se na seguinte forma:
θ = θo cos(ωt + δ ), (17.174)
Fig. 17.19 Quando θ é pequeno, o pêndulo simples tem um movimento harmónico simples em
torno do equilı́brio (θ = 0). A força restauradora é a componente tangencial ao cı́rculo, mg sin θ .
A fim de calcularmos →
−
τ , podemos usar a notação matricial:
→
− → − →
−
i j k
→
−
τ = [→−r × →
−
F ] = 0 L sin θ −L cos θ (17.177)
0 0 −mg
→
− →
−
τ = i (−mgL sin θ ) (17.178)
→
−
Ora, o momento angular L o em relação ao eixo que passa por O é dado por:
→− →
− →
−
→
− i j k
L o = [→
−r × →
−p ] =
0 L sin θ −L cos θ (17.179)
0 mLθ̇ cos θ mLθ̇ sin θ
→
− →
− →
−
L o = i (mL2 θ̇ sin2 θ + mL2 θ̇ cos2 θ ) = i L2 θ̇ m. (17.180)
Recorrendo agora à lei fundamental da dinâmica rotacional, obtemos a equação
do movimento harmónico simples (MHS):
→
−
dL
dt =→ −τ
−mgL sin θ = mL2 θ̈ (17.181)
∴ θ̈ + Lg sin θ = 0.
E = 12 mgLθo2 ⇒ θo = mgL 2E
q p
dθ g
dt = L q θo2 − θ
√ dθ = Lg dt
θo2 −θ 2 q R
Rθ
√ dθ g t (17.183)
θ1 2 2
= L 0 dt
θo −θ q
∴ arcsin θθo − arcsin θθ1o = Lg t
hq i
g θ1
⇒ θθo = sin L t + arcsin θo
∴ θ = θo sin(ωt + δ ).
Esta pode ser reescrita numa forma mais conveniente por forma a construirmos as
trajectórias de fase do sistema dado no espaço de fase:
QuadroNegro 3
C ≥ −2ωo2 , (17.188)
θ̇ 2 = C + 2ωo2 > 0
(17.189)
θ̇ 2 = C − 2ωo2 < 0.
Mostra-se que
1 2
ω ' ωo (1 − θ + ...) (17.194)
16 o
Concluı́mos que, quando a amplitude é grande, a frequência do pêndulo depende da
amplitude: as oscilações do sistema são não isócronas 13 .
Exemplo 7: Pêndulo fı́sico.
Qualquer corpo rı́gido suspenso de um eixo fixo que não passa pelo seu CM
oscilará sempre que fôr deslocado da sua posição de equilı́brio. Suponhamos que
se coloca um “pivot” a uma distância d do CM de um corpo, tal como se encontra
ilustrado na Fig. 17.21.
O torque fornecido pelo campo gravı́tico é dado por
13 As oscilações são isócronas quando não dependem da amplitude e, portanto, o seu perı́odo é
constante. Um relógio de pêndulo ou um relógio de pulso de corda que funcione neste princı́pio
tem uma taxa temporal constante, independemente se se dá mais ou menos corda ao relógio.
17.2 Oscilações 371
Fig. 17.21 O pêndulo fı́sico consiste num corpo rı́gido que pode rodar em torno de um “pivot”
colocado num ponto O, distinto do CM. No equilı́brio, o peso passa por O, situação que corre-
sponde a θ = 0. O torque resultante em torno de O quando o sistema é deslocado de um ângulo θ
é mgd sin θ .
τ = Iα
2
−mgd sin θ = I ddt θ2
2 (17.195)
d θ
dt 2
+ mgd
I θ = 0(θ 1)
θ = θo cos(ωt + δ )
onde q q
mgd 2π I
ω= I ⇒T = ω = 2π mgd .
(17.196)
Substituindo em T 0 :
r
Io0 0
q
Ic +m(L−d)2
T0 = 2π = 2π
mg(L−d) mg(L−d)
r
I +m( Ic )2
T 0 = 2π c Icmd (17.199)
mg( m d)
q q
0 md 2 +Ic Io
T = 2π mgd = 2π mgd
∴ T0 = T
14 Isto é, pontos que podem ser unidos por uma linha recta.
372 17 Lagrangianos
I
L=
q md q
I L
TA = 2π mgd = 2π g (17.200)
g g TA 2
ω2 = L ⇒L= ω2
⇒L = ( 2π ) g = ( 1.5 2
2π ) × 9.8 = 55.9cm
τ = −kθ . (17.201)
Fig. 17.24 Um pêndulo de torsão consiste num corpo rı́gido suspenso por um fio ligado a um
suporte rı́gido. O corpo oscila em torno da linha OP com amplitude θo .
Há vários sistema oscilantes deste tipo: roda do balanço do relógio, galvanómetros,
balança de torsão de Cavendish, barras de torsão que suportam as componentes de
suspensão dos automóveis.
Exemplo 10: Pêndulo de comprimento variável.
Consideremos um pêndulo simples cujo comprimento é função do tempo: L =
Lo + vt. O teorema fundamental da dinâmica rotacional dá-nos:
17.2 Oscilações 373
d 2
dt (L θ̇ ) = −gL sin θ (17.203)
∴ Lθ̈ + 2vθ̇ + g sin θ = 0.
d2θ dθ g
L +2 + θ = 0. (17.204)
dL2 dL v2
Fazendo a seguinte mudança de variáveis:
v2 2
L= 4g x ; θ = Zx . (17.205)
d 2 Z 1 dZ
1
+ + Z 1 − = 0. (17.206)
dt 2 x dx x2
Assim, temos
374 17 Lagrangianos
θ = Zx
π
θ= 2 θo xo [xo ρ sin φ
+ ρ cos φ ]ρ sin
√
φ − π2 θo xo [ρ sin φ − xo ρ cos φ ]ρ cos φ
xo xo
θ = θo x√x cos(xo − x)
x = 2v g(Lo + vt).
p
(17.212)
As oscilações têm amplitude instantânea θo 3 xxo , e aumenta ou diminui quando
p
17.2.8 Percussão
Considere um corpo suspenso de um ponto O (Fig. 17.25). Suponha que num dado
instante este corpo recebe um impulso aplicado em O0 situado abaixo do CM:
→
− →
−
Z
I = ∆ (m→
−
v c) = F dt. (17.213)
A velocidade resultante do CM é
→
−
→
− I
vc= (17.214)
m
O impulso comunica velocidade angular ao corpo que tende a rodar em torno do
CM:
Ir0
ω= c (17.215)
Ic
pois que
∆ L = ∆ (Ic ω) = τdt = Irc0 . (17.216)
Em resultado do impacto, o corpo adquire um movimento de translacção e rotacão
→
−
em torno do CM. Se a força de impacto F fosse aplicada no CM, o corpo teria
→
−
movimento de translação para a direita, no sentido de F , sem rodar em torno do
ponto “pivot” O.
Fig. 17.25 Movimento do pêndulo fı́sico imediatamente após receber um impulso I em O0 , centro
das oscilações quando está suspenso do ponto O.
mrc rc0
0 I I
vo = vc − v = vc − ωrc = − ωrc = 1− (17.217)
m m Ic
Mas
rc rc0 = Imc ⇒ vc = ωrc
(17.218)
∴ vo = 0.
Assim, verificamos algo surpreendentemente que os objectos quando percutidos no
ponto certo (à distância rc0 do CM) rodam em torno do eixo que passa por O. O
centro de oscilação também se chama centro de percussão.
Exemplo 11: Poço de potencial.
Uma partı́cula esférica de massa m rola em torno do mı́nimo de potencial de uma
superfı́cie curva de raio R. A esfera tem raio r (Fig. 17.26).
Assuma θ 1, de modo que x ∼ Rθ , e
- Poço de potencial.
QuadroNegro 4
Chapter 18
Oscilações
“Everyone has been made for some particular work, and the desire for that work has been
put in every heart.”
onde b é uma constante positiva que depende das propriedades do fluido e geometria
do objecto. A equação do movimento é dada por
→
−
m→
− 2
a = m ddt 2x = ∑i F ext
i
2 (18.2)
m ddt 2x = −kx − bv.
377
378 18 Oscilações
α 2 + 2λ α + ωo2 = 0, (18.3)
b
onde 2λ = m e ωo2 = mk . O seu descriminante reduzido é:
∆ = λ 2 − ωo2 . (18.4)
onde
γ2
β2 = − ωo2 . (18.7)
4
• ∆ < 0 ou λ < ωo - movimento oscilatório amortecido: o atrito fluido é fraco.
As raı́zes da equação caracterı́stica são:
α1 = −λ + iω 0 α2 = −λ − iω 0 , (18.8)
√
onde i representa o número imaginário, i = −1.
A solução desta equação é do tipo:
b
x = Ao e− 2m t cos(ω 0t + δ ) (18.9)
x = A(t) cos(ω 0t + δ )
onde
k b2
ω 02 = − 2 (18.10)
m 4m
e, portanto,
k
ω 02 < ωo2 = (18.11)
m
A Fig. 18.2 mostra o gráfico da função para dois valores distintos do coeficiente de
atrito b.
18.1 Oscilações amortecidas 379
Fig. 18.2 Gráfico do deslocamento x versus tempo. Quanto maior for b, maior o amortecimento,
e mais rapidamente decresce a amplitude (mostrada com curvas a tracejado), enquanto que T au-
menta, sendo To o perı́odo na ausência de atrito.
E = 12 kA2
b
E(t) = 21 kA2o e− m t (18.12)
b
E(t) = Eo e− m t = Eo e−γt
Q = ωτ. (18.13)
energia − do − oscilador
Q = 2π . (18.14)
energia − dissipada − por − periodo
Exemplo 1: Oscilador acústico.
Um vaso de volume V encontra-se obstruı́do por um êmbolo de secção S e de
massa m, podendo-se mover no interior do colo de comprimento l do tubo cilindrico
(Fig. 18.3). No equilı́brio, a posição do êmbolo está em x = 0 e a pressão no interior
do vaso é P, sendo Po a pressão no exterior, e as duas são iguais no equilı́brio, P = Po .
QuadroNegro 1
380 18 Oscilações
A PLICAÇ ÃO NUM ÉRICA : S = 1 cm2 , Po = 105 Pa, ρo = 10−3 g/cm3 , l = 1 cm,
Vo = 1 l, ω = 1.2 rad/s, ou ν ' 200 Hz.
Exemplo 2: Movimento de rolar 1 de um navio.
O movimento de “roulis”, brusco ou lento, provoca sempre problemas a bordo:
carga solta, acidentes humanos, enjoo, ...Em geral, os navios possuem sistemas
estabilizadores que contrariam o movimento. Pequenas quilhas laterais ou esta-
bilisadores activos, tais como hidrofólios anti-roulis comandadas por uma central
de estabilisação contrariam o movimento. Assimile um navio a um meio-cilindro
homogéneo de raio R, comprimento L e densidade volúmica ρ. O momento de
inércia el relação ao eixo XX’ mostra-se que é Ix = 21 MR2 . Quando o navio está
→
−
em equilı́brio, o peso M → −
g aplicado no ponto Go e a impulsão de Arquimedes Π
aplicada em G0 - por baixo de G - para que resulte equilı́brio do navio, são iguais e
directamente opostos. Quando o navio se inclina de um ângulo θ , o volume de água
→
−
deslocado e Π permanecem invariáveis, enquanto que o o ponto de aplicação do
peso desloca-se de Go para G. O navio fica sujeito a um binário que tende a trazê-lo
de volta ao equilı́brio e o navio é estável. Determine o perı́odo das oscilações do
navio devido a este tipo de movimento.
⇒ T = 5.33s. (18.18)
Seja
k b 2
− 4m
m =0
2√
(18.20)
⇒ bc = 2 km.
bc é o factor de amortecimento crı́tico que corresponde ao caso limite para o qual
o movimento muda de oscilante para aperiódico.
Recordamos que a frequência de oscilação do sistema massa-mola com atrito é
dada por
γ2
ω 02 = ωo2 − . (18.21)
4
Se b > bc , ω 02 < 0, o que significa que não há oscilação.√
No caso do amortecimento crı́tico, temos b = bc = 2 mk.
O amortecimento crı́tico é importante no sistemas mecânicos. Uma força con-
stante aplicada subitamente a um sistema que se encontra inicialmente em repouso
resulta numa nova posição de equilı́brio sem oscilação ou solavanco. Logo que se
pretende um regresso rápido à posição de equilı́brio, tem-se que ser escolhido este
regime crı́tico. O que acontece, por exemplo, com os amortecedores dos automóveis,
os instrumentos de medida das balanças, os galvanómetros.
Note também que:
E = 21 mv2 + 12 kx2
dE dv dx
dt = mv dt + kx dt (18.22)
= v(ma + kx)
= −bv 2
Em resumo:
Se b = 0, não existe amortecimento, dE/dt = 0, isto é, E = Const..
Se b 6= 0, E decresce com o tempo.
d<E >
∆ < E >= − τ =γ <E >τ (18.25)
dt
Define-se o factor de mérito (ou factor “Q” 2 ) do oscilador, à grandeza sem di-
mensões:
Energia − armazenada − no − oscilador
Q = 2π . (18.26)
Energia − dissipada − por − ciclo
ω0 2π440
Q= = ≈ 7000. (18.30)
γ 0.4
A equação do movimento é
d2x dx
m 2
+ b + kx = fo cos ωt. (18.32)
dt dt
384 18 Oscilações
A solução geral desta equação é a soma de um integral geral da equação sem se-
gundo membro, x1 (t), e de um integral particular x2 (t) da equação com segundo
membro:
x(t) = x1 (t) + xo cos(ωt + δ ), (18.33)
onde δ representa o ângulo de fase de x com F. O esquema representativo deste
sistema mecânico encontra-se representado na Fig. 18.6.
Fig. 18.6 Representação gráfica do sistema massa mola forçado e com atrito.
d2z dz
m + b + kz = fo eiωt , (18.35)
dt 2 dt
onde z é uma quantidade complexa. Vamos procurar uma solução da forma
onde
x = xo eiδ , (18.37)
√
e i = −1 é o número imaginário puro. Temos sucessivamente
z = xeiωt (a)
dz
dt = iωxeiωt = iωz (b) (18.38)
d2 z
dt 2
= −ω 2 z (c)
de onde resulta
(−mω 2 + ibω + k)x = fo (a)
(18.39)
x = (k−mωf2o )+iωb (b)
Podemos desenvolver um pouco mais o cálculo:
18.1 Oscilações amortecidas 385
fo [(k−mω 2 )−ibω]
xo eiδ = x = (k−mω 2 )2 +(bω)2
(a)
fo (k−mω 2 )
= (k−mω 2 )2 +(bω)2
− i (k−mωf2o)bω
2 +(bω)2 (b)
ωh
(18.40)
∴ tan δ = − k−mω 2 (c)
fo
xo = √ (d)
(k−mω 2 )2 +(bω)2
A fase δ diz-nos que o deslocamento atinge o seu valor máximo para um dado
ângulo δ antes da força.
Este regime é uma oscilação sinusoidal de pulsação (ou frequência angular)
q igual
k
à pulsação excitatriz ω, diferente da pulsação própria do oscilador ωo = m . Diz-se
que o movimento é uma oscilação forçada por um excitador externo.
xo = fo A−1/2 (18.41)
A = (k − mω 2 )2 + (bω)2
dA
∴ dω 2
= 2(k − mω 2 )(−m) + b2 = 0
(18.42)
−2mk + 2m2 ω 2 + b2 = 0
2 b2
∴ ωm2 = 2mk−b
2m2
= mk − 2m 2.
ωb 2ωλ
tan δ = = . (18.44)
mω 2 − k ω 2 − ωo2
Com o cálculo anterior podemos traçar o gráfico de δ (ω), tal como está represen-
tado em baixo:
tan δ = ∞ ⇒ δ = − π2
xo = 2mλfo fo fo (18.47)
ω = b = bω
2m 2m ω
.
Quanto menor for o atrito, maior será a amplitude do movimento e maior será o
tempo de relaxação do movimento,
m
τ= . (18.48)
b
A resposta máxima é obtida para um ângulo δ = −π/2, quando o deslocamento tem
um atraso de π/2 sobre a força.
A potência absorvida pelo oscilador não depende directamente da fase entre a
força aplicada e o deslocamento, mas entre a força aplicada e a velocidade.
• Excitação a alta frequência, ω ωo :
δ → −π
fo (18.49)
xo → mω 2.
Neste limite, a resposta diminui como 1/ω 2 : a inércia da massa controla a resposta
às altas frequências.
dz
x é a parte real de z = xeiωt (isto é, x = Re{z}) e v é a parte real de dt = iωz.
Vamos agora escrever
dz
= veiωt ⇒ v = iωx. (18.50)
dt
Portanto, temos igualmente
v iωt
z= e , (18.51)
iω
donde se obtém ainda
388 18 Oscilações
dz iωt
dt = ve
d2 z (18.52)
dt 2
= iωveiωt .
Introduzindo estas derivadas sucessivas na equação diferencial 18.52, obtém-se fi-
nalmente
k
(imω + b + )v = fo . (18.53)
iω
Ora, chama-se impedância mecânica à expressão:
k
Z = b + i mω − . (18.54)
ω
Sabemos que
K = 12 mv2 U = 12 kx2
dx (18.56)
x = xo cos(ωt + δ ) v = dt = −v0 sin(ωt + δ )
donde se obtém sem dificuldade
Resta-nos assim:
Z T Z T
− f o vo sin(ωt + δ ) cos ωtdt = bv2o sin2 (ωt + δ )dt. (18.62)
0 0
Atendendo a que:
1
cos α sin β = [sin(α + β ) − sin(α − β )], (18.67)
2
o valor médio do último termo da Eq. precedente tem como resultado
1 1
< cos ωt sin(ωt + δ ) >= < sin(2ωt + δ ) − sin(−δ ) >= sin δ , (18.68)
2 2
porque
< sin ωt cos ωt >= 0. (18.69)
Ora já vimos que
fo −2ωλ
sin δ = p , (18.70)
xo m (ωo2 − ω 2 )2 + (2λ ω)2
e inserindo esta expressão na fórmula da potência média, obtemos finalmente
1 fo2 2ω 2 λ
P= . (18.71)
2 m (ωo2 − ω 2 )2 + (2λ ω)2
A potência média absorvida fica reduzida a metade do seu valor no ponto de res-
sonância quando ω varia de ±(∆ ω)1/2 , tal que (Fig. 18.7):
ω
τ = ωo2 − ω 2 = (ωo + ω)(ωo − ω) ' 2ωo (∆ ω)1/2 .
(18.73)
⇒ 2(∆ ω)1/2 ≈ τ1
Fig. 18.8 A ponte de “Tacoma Narrows” no dia em foi destruı́da pelo fenómeno de ressonância.
Use aqui Q = 2(∆ωω)o = 100 0.1 = 1000. Este valor é muito superior ao que e en-
1/2
contra na maioria dos sistemas mecânicos.
Exemplo 8: O factor de qualidade Q de um alti-falante estereo deve ser por um
lado baixo, pois de outro modo continuaria a vibrar mesmo após o final da nota
musical registada e, por outro lado, sendo baixo, maior será a gama de frequências
que ele pode reproduzir (relacionado com o factor 2(∆ ω)1/2 ).
k
K= . (18.78)
m
Dividindo as Eqs. 18.77 por m, obtemos as equações do movimento na forma
q1 = 12 (x1 + x2 );
(18.82)
q2 = 21 (x1 − x2 ),
É fácil confirmar que x1 e x2 são ambos dados em função destas variáveis q’s:
Fig. 18.9 (a) Sistema de dois pêndulos acoplados; (b) modo simétrico; (c) modo antissimétrico.
394 18 Oscilações
δ1 = δ2 = 0; A1 = A2 = a2 . (18.91)
∆ ω ≡ ωo − ω2 (18.94)
K = 21 m1 ẋ12 + 12 m2 ẋ22
U = 12 kx12 + 12 k0 (x1 − x2 )2 + 12 kx22 (18.98)
L = K −U = 12 m1 ẋ12 + 12 m2 ẋ22 − 12 kx12 − 12 k0 (x1 − x2 )2 − 21 kx22
Fig. 18.11 Duas massas unidas por três molas elásticas a duas paredes fixas.
k + k0
1
4
ω − ω2 + [(k + k0 )2 − k02 ] = 0 (18.106)
µ m1 m2
Exemplo 10: Uma mola une dois rotores iguais montados em dois veios circu-
lares idênticos, tal como mostra a Fig. 18.12.
a) Obtenha o Lagrangiano.
b) Obtenha as equações do movimento.
c) Assumindo k = 5 N/m, K = 90, Ic = 1 e a = 2, determine as frequências
naturais do sistema.
Fig. 18.12 Uma mola une dois rotores iguais montados sobre dois veios.
Solução:
a) Designemos por θ1 e θ2 os deslocamentos angulares dos rotores. As energias
cinética e potencial são dadas por:
18.1 Oscilações amortecidas 397
θ1 = A sin(ωt + ψ)
(18.114)
θ2 = B sin(ωt + ψ)
−Ic ω 2 +C −ka2
, (18.116)
−ka2 −Ic ω 2 +C
m = 2kg
k = 400N/m
b = 2.00kg/s (18.118)
Fo = 10N
ω = 10rad/s
A solução é do tipo:
x = xtrans + x perm
x perm = A cos(ωt − δ )
A = √ 2 2 Fo 2 2 2 2 (18.120)
m (ωo −ω ) +b ω
tan δ = m(ωbω2 2
o −ω )
QuadroNegro 6
18.2 Conceito de onda 399
φ = f (x − vt). (18.122)
onde f (x0 ) representa uma perturbação num ponto x0 , que corresponde a um ref-
erencial que acompanha a onda. Se quisermos passar para um referencial que está
fixo no espaço, teremos que aplicar as transformações de Galileu, para uma onda
progressiva que se desloca para a direita será x0 = x − vt, e a amplitude da onda neste
referencial fixo passará a ser
ϕ(x,t) = kx − ωt + δ , (18.128)
dx ω
= = v = νλ . (18.130)
dt k
A frequência ν = 1/τ dá o número de oscilações por unidade de tempo, e σ = 1/λ
dá o número de comprimentos de onda por unidade de comprimento, designando-se
por número de onda.
Podemos generalizar a Eq. 18.125 de modo a lidar com ondas planas a 3 di-
mensões. Uma onda plana é uma onda que exibe a mesma perturbação num plano
perpendicular à direcção do movimento. Esse plano chama-se de frente de onda.
Se a direcção de propagação é feita ao longo dos eixos Ox, Oy e Oz, então a equação
da frente de onda é dada por:
lx + my + nz = constante, (18.131)
3 Uma relação de dispersão contém uma relação funcional entre energia e quantidade de movi-
mento.
4 Recordamos que um vector → −
V = Vx →
−u x +Vy →
−
u y +Vz →
−u z definido em coordenadas cartesianas, se
→
−
chamarmos por α, β e γ os ângulos que o vector V faz com os eixos Ox, Oy e Oz, respectivamente,
18.2 Conceito de onda 401
Esta é uma onda estacionária, devendo o seu nome ao facto que o perfil não
se altera, a onda anula-se nos pontos onde cos kx = 0, isto é, para x = (n + 21 )π,
n = 0, ±1, ±2, .... Estes pontos chamam-se nós, e os pontos intermédios, onde a
amplitude da onda atinge o valo máximo chama-se ventres.
A três dimensões terı́amos as ondas harmónicas representadas na forma:
2π 2π
φ = 2a cos (lx + my + nz) cos (vt). (18.135)
λ λ
Neste caso, a onda anula-se nos planos nodais:
2π 1
λ (lx + my + nz) = (n + 2 )π (18.136)
1 λ
lx + my + nz = (n + 2 ) 2 , n = 0, ±1, ±2, ...
∂f 1 ∂2 f 1 ∂n f
f (x) = f (xo ) + (x − xo )( )o + (x − xo )2 ( 2 )o + ... + (x − xo )n ( 2 )o + ...
∂x 2! ∂x n! ∂x
(18.140)
que, neste caso, se ∆ x 1, podemos escrever (tente fazer)
∂y ∂y ∂ 2y
(x + ∆ x) ≈ ( )(x,t) + ∆ x( 2 ) (18.141)
∂x ∂x ∂x
Substituindo a Eq. 18.141 na Eq. 18.139, obtemos
QuadroNegro 7
∂ 2y ∂ 2y
µ = T (18.142)
∂t 2 ∂ x2
onde a velocidade de propagação da onda transversal é
s
T
v= . (18.143)
µ
√
Exemplo 13: A impedância de uma corda vibrante é Z = F/µ = µF [kg/s].
404 18 Oscilações
∂y
Fy = −T (x,t). (18.144)
∂x
O trabalho realizado sobre o elemento da corda por unidade de tempo é dado pelo
produto da força pela velocidade:
∂y ∂y ∂y
P(x,t) = Fy = −T . (18.145)
∂t ∂ x ∂t
Para uma onda harmónica temos
∂y
∂ x = −kA sin ϕ (18.146)
∂y
∂t = ωA sin ϕ
1
I =< P >= P = ωkTA2 . (18.148)
2
Como já vimos, T = µv2 e ω = kv, e a intensidade da onda também se pode escrever
1
I = P = µvω 2 A2 . (18.149)
2
A intensidade da onda exprime-se em unidades W/m2 , é proporcional ao quadrado
da amplitude (A2 ), à velocidade da onda v e ao quadrado da frequência ( f 2 ).
1 ∂ 2y 2
v2 ∂t 2
= − ωv2 A(x) cos(ωt + δ )
∂ 2y 2 (18.151)
∂t 2
= ddxA2 cos(ωt + δ )
ou seja
d2A
+ k2 A(x) = 0 (18.152)
dx2
cuja solução geral é da forma
A(0) = a = 0
(18.155)
A(l) = b sin(kl) = 0
Atendendo a que b 6= 0 forçosamente (de outro modo seria tudo nulo), concluı́mos
que esta condição só pode ser satisfeita para valores discretos da variável k:
nπ
kn = (18.156)
l
onde n = 1, 2, 3, .... As frequências dos modos normais de vibração são
nπ
ωn = kn v = v (18.157)
l
e a expressão dos modos normais de vibração é dada por
2π 2l
λn = = . (18.159)
kn n
A frequência νn do modo n é
ωn v
νn = = n = nν1 (18.160)
2π 2l
406 18 Oscilações
q
onde ν1 = 2lv = 2l1 Tµ é a frequência do modo fundamental. As frequências da corda
vibrante são múltiplos inteiros da frequência ν1 do modo fundamental. Para tocar
a nota fundamental temos que dedilhar a corda no meio. A segunda harmónica é
produzida quando dedilhamos a corda com ela presa no meio; a terceira harmónica
é produzida quando dedilhamos a corda com ela presa a um terço do seu compri-
mento, e por aı́ adiante.
Os sons também podem ser produzidos por uma corda vibrante por meio da sua
fricção usando-se um arco feito de madeira, com um feixe de filamentos (geralmente
feitos de crina de cavalo) que são fixados às suas extremidades sob tensão. Tocam-se
assim os seguintes instrumentos: o violino, a viola, o violoncelo, o contrabaixo, a
viola da gamba e a rabeca.
A produção de sons pode igualmente ser feita por percussão com baquetas,
martelos ou com o próprio arco. A intensidade das notas é controlada pela força
da percussão. No piano usa-se um teclado com 88 teclas, e cada nota possui um
martelo.
Mais raramente produzem-se os sons nas cordas por movimento do ar. É o caso
da harpa eólica.
As cordas vibrantes são material que dão sonoridade a instrumentos de corda,
tais como a guitarra, o cello, ou o piano.
Fig. 18.13 (a) Modos de vibração de uma corda vibrante. (b) Escala harmónica em notação musi-
cal.
Exemplo 14: Duas ondas transversais de mesma frequência ν = 100 s−1 são pro-
duzidas num fio de aço de 1 mm de diâmetro e densidade ρ = 8 g/cm3 , submetido
a uma tensão T = 500 N. As ondas são dadas por
y1 = A cos kx − ωt + π6
y2 = 2A sin(ωt − kx).
ν = 100s−1 s = 100Hz.
ω = 2πν = 628rad/s.
µ = ρA = ρπ( D2 )2
−3 kg/m
qµ = 2π10
q
T 500
∴v= µ = 2π10−3
= 282.1m/s
⇒k= ω
= 628 −1
v 282.1 = 2.23m .
18.2 Conceito de onda 407
y = y1 + y2
π (18.162)
⇒ z = z1 + z2 = Aei(kx−ωt+ 6 ) + 2Aei(ωt−kx)
Para o cálculo que se segue é muito importante referir o seguinte. Um número com-
plexo pode-se colocar na forma trigonométrica.
F ORMA TRIGONOM ÉTRICA DO N ÚMERO COMPLEXO :
y = Re{z} = Arei(φ +δ )
(18.171)
y = 5.20 × 10−3 cos(kx − ωt + 1.237).
I = (y1 + y2 )2
1 2 2
qI = 2 µνω A (18.172)
I = 12 6.28 × 10−3 500
6.28×10−3
(2π100)2 (5.29 × 10−3 )2
I = 9.79W
x1 (t) = A1 cos(ωt + φ1 )
(18.173)
x2 (t) = A2 cos(ωt + φ2 ),
Podemos obter com facilidade o resultado anterior da Eq. 18.174 se usarmos a rep-
resentao complexa da onda:
18.2 Conceito de onda 409
A intensidade é dada pela parte real do produto de z pelo seu complexo conjugado
z∗ :
I = |z|2 = zz = (z1 + z2 )(z1 + z2 ). (18.176)
Ou seja
Por sua vez, os mı́nimos de intensidade correspondem aos seguintes valores de δ12 :
Exemplo 15: A facilidade com que se calcula a soma de N ondas é notável. Ora
vejamos. Consideremos a soma de N ondas, tendo cada onda um pequeno acréscimo
da fase:
y1 = yo cos(ωt − kx)
y2 = yo cos(ωt − kx + δ )
(18.181)
...
yN = yo cos(ωt − kx + (N − 1)δ )
O somatório dessas ondas em representação complexa é:
y = y1 + y2 + ... + yN
= yo ei(ωt−kx) [1 + eiδ + ... + ei(N−1)δ ]
iNδ /2 iNδ /2 iNδ /2 )
1−eiNδ
= yo e i(ωt−kx)
1−eiδ
= yo ei(ωt−kx) eeiδ /2 (e eiδ /2 −e
−eiδ /2 (18.182)
Nδ /2 sin Nδ /2 i(ωt−kx+(N−1)δ )
= yo ei(ωt−kx) ei(N−1)δ /2 sin
sin δ /2 = yo sin δ /2 e
Nδ /2
= yo sin
sin δ /2 cos[ωt − kx + (N − 1) 2 ].
δ
410 18 Oscilações
Esta onda tem uma amplitude que depende da fase δ e do número de ondas.
Exemplo 16: Uma corda de harpa com 0.5 m de comprimento tem uma frequência
fundamental de 800 Hz.
a) Qual a velocidade de propagação das vibrações na corda?
q
v = Tµ = λ ν
ν= v = v (18.183)
λ 2l
∴ v = 2lν = 800m/s
b) Qual a tensão na corda que produz essa frequência, se a massa por unidade de
comprimento da corda for 2 × 10−2 kg/m?
µ = 2 × 10−2 kg/m
⇒ T = µv2 = (2 × 10−2 )(800m/s)2 (18.184)
T = 1.28 × 104 N
A massa total da corda é m = µl = 10 g.
c) Qual o comprimento de onda da quarta harmónica?
νn = nv2l
4v
⇒ ν4 = = 3.2 × 103 Hz
2l (18.185)
⇒ λ4 = νv4 = v2l l
4v = 2
Podemos referir para efeitos de comparação que, no ar, uma onda com a frequência
da quarta harmónica teria o comprimento de onda:
vsom 344m/s
λ (ar) = = = 0.11m. (18.186)
ν4 3200s−1
Uma onda sonora é produzida por uma vibração. Forma-se então uma onda lon-
gitudinal que necessita de um meio para se propagar. No vácuo não se propaga a
onda sonora, que resulta de uma perturbação das posições médias das moléculas (ou
átomos que constituem o substrato). Na Fig. 18.14 mostra-se as curvas do desloca-
mento das partı́culas do meio onde se propaga o som, a pressão e a sua velocidade,
supondo que a onda sonora se propaga no sentido de A para B.
Fig. 18.14 Curvas do deslocamento das moléculas, pressão e velocidade das partı́culas que con-
stituem o substrato.
∆V
θ= , (18.188)
V
acompanhada por uma sobrepressão ∆ P = p (supõe-se que a pressão do meio não é
praticamente perturbada). A densidade (volumétrica) do fluido é
M
ρ= . (18.189)
V
A S VARIAÇ ÕES DE PRESS ÃO E DENSIDADE S ÃO EXTREMAMENTE PEQUENAS
EM COMPARAÇ ÃO COM OS VALORES DE EQUIL ÍBRIO .
Designemos os valores não perturbados 5 da pressão e densidade, respectiva-
mente, por p0 e ρ0 , e por P e ρ os mesmos valores na presença de uma onda:
P = p0 + p
(18.190)
ρ = ρ0 + δ
onde se verifica:
| p | p0 , | δ | ρ0 (18.191)
Os fluidos perfeitos são definidos por um coeficiente (ou módulo) de compress-
ibilidade K:
1 ∆V
K = ∆P = − (18.192)
V δp
que se pode reescrever na forma
5 Quando o meio está em perfeito equilı́brio.
412 18 Oscilações
1 ∆V
P=∆p=− = −Eθ , (18.193)
k V
mostrando que a sobrepressão e a dilatação são proporcionais. O módulo de elasti-
cidade volumétrico (ou ainda módulo de Young 6 ) é dado por
1 ∆p
E= =− . (18.194)
K ∆V /V
Quando a onda sonora passa o seu volume (dilatado ou comprimido) passa a ser
dx π π
v= = ωA sin(ωt − kx) = ωA cos ωt − kx + = vm cos ωt − kx +
dt 2 2
(18.198)
ocorrendo também uma dilatação local instantânea:
∆V de π
θ= = = −kA cos ωt − kx + . (18.199)
V dx 2
Quando a onda progride pelo meio ocorre uma variação de pressão
π
P = −Eθ = kEA cos ωt − kx + . (18.200)
2
A condensação θ e a velocidade v são sı́ncronas:
O comprimento de onda é
cs
λ = cs T = (18.206)
f
As ondas sonoras audı́veis variam entre ∼ 20 Hz e ∼ 20 kHz. Visto que cs ≈ 340
m/ conclui-se o comprimento das ondas sonoras varia entre ∼ 1.7 cm e ∼ 17 m.
Da Eq. 18.200, vemos que a amplitude máxima da onda de pressão é dada por
414 18 Oscilações
∂e
F = ωSpm e sin2 (ω − kx) (18.209)
∂t
A potência média por unidade de área é o que se entende por intensidade I da onda:
1 ∂e 1
I= <F >= ω pm e. (18.210)
S ∂t 2
Como ω = kcs , podemos reescrever
1
I = ρcs ω 2 e2 . (18.211)
2
A INTENSIDADE DA ONDA É PROPORCIONAL AO QUADRADO DO PRODUTO
DA FREQU ÊNCIA PELA AMPLITUDE DA ONDA DE DESLOCAMENTO
Outra expressão alternativa é
1 p2m
I= (18.212)
2 ρcs
As analogias continuam aqui a ser muito úteis. A impedância eléctrica é dada por
V
Z= (18.213)
I
onde V é a tensão eléctrica e I a corrente. Em acústica temos
pressao − acustica
Za = , (18.214)
velocidade
onde Za é a impedância acústica que pode ser uma grandeza complexa:
Za = Ra + jXa , (18.215)
onde Ra e Xa são as resistência e reactância acústica. Numa onda plana vimos que
18.2 Conceito de onda 415
E
P= v = Ra v (18.216)
cs
sendo portanto a resistência acústica pura igual a
E
Ra = = ρcs , (18.217)
cs
porque E = c2s ρ.
A impedância acústica é de grande importância na determinação da transmissão
e reflexão acústica na fronteira entre dois meios caracterizados por impedâncias
acústicas diferentes; na concepção de transductores acústicos 8 ; na absorção do som
num meio.
Exemplo 18: A impedância acústica dos materiais é dada por Z = ρv, ρ sendo a
densidade do meio e v a velocidade da onda acústica nesse meio.
Ii = Ir + It . (18.218)
8 Podem converter uma tensão eléctrica em som ou vice-versa. O mais simples transductor acústica
é o velho microfone de telefone com grão de carbono.
416 18 Oscilações
Suponhamos que uma onda luminosa incide segundo a normal sobre uma superfı́cie
de vidro de ı́ndice de refracção n2 = 1.5. Seja n1 = 1 (ar). Qual é a fracção de energia
reflectida?
2
1 − 1.5 1
r= = (18.224)
1 + 1.5 25
ou seja, é reflectida por uma superfı́cie ar-vidro é de apenas 4 % da intensidade
incidente.
Chapter 19
Aplicação da Mecânica dos Fluidos
“I hold that the mark of a genuine idea is that its possibility can be proved, either a priori
by conceiving its cause or reason, or a posteriori when experience teaches us that it is in
fact in nature.”
- Leibniz, 1670
“Indeed in general I hold that there is nothing truer than happiness, and nothing happier
and sweeter than truth.”
- Leibniz, 1670
1 Expressão que se aplica no caso dos fluidos compressı́veis, como éo caso do ar. Nos lı́quidos
fala-se de pressão hidrodinâmica.
2 Um aerofólio é uma secção bidimensional concebida para modificar a direcção e a magnitude da
417
418 19 Aplicação da Mecânica dos Fluidos
1
p0 − p = ρo gh = ρv2 . (19.2)
2
Desta expressão obtém-se a velocidade do fluido escoando sobre o aerofólio:
r
ρ0
v = 2 gh, (19.3)
ρ
consistindo num método usual para medir a velocidade relative duma aeronave rel-
ativamente ao ar com uma incerteza de cerca de 1%.
Fig. 19.1 (a) - Tubo de Pitot instalado sobre um aerofólio; (b) - Tubo de Venturi.
F = dmdt v
F = (ρσ2 v)v (19.7)
(p − Π )σ1 = σ2 ρv2
pσ1 − Π σ2 = σ2 ρv2
2 Π /σ1 (19.9)
∴ σσ22 = 12 p−σp−Π .
Neste caso, σ2 /σ1 > 1/2. Or Romanos conheciam estes factos por observação e
usavam estas técnicas na distrbuição de água.
19.1.2 Circulação
1
p − p0 = − ρv2 = −0.5 × 1.293 × (160 × 103 /3600)2 (19.16)
2
Pode-se mostrar que a circulação é dada por
CΓ = 2ωS (19.17)
QuadroNegro 1
422 19 Aplicação da Mecânica dos Fluidos
E = −ρv∞CΓ , (19.21)
em unidades N/m.
Exemplo 7: O cilindro de diâmetro igual a 2.5 cm gira no sentido dos ponteiros
do relógio, como na Fig. 19.4, com 3600 rpm no ar nas condições PTN, sendo a
velocidade do fluido no infinito v∞ = 30.5 m/s. Estimar o empuxo dinâmico em
N/m.
Admita-se que
Z 2π
→
−
I
CΓ = (→
−
v ·d l ) = (−rω)rdθ = −2πr2 ω, (19.22)
0
Fig. 19.4 Efeito Magnus (as linhas de corrente estão muito deformadas na figura).
19.1.4 Viscosidade
F dv
=η (19.24)
A dy
o que siginifica que
A TENS ÃO É PROPORCIONAL À TAXA DE VARIAÇ ÃO ESPACIAL DA VELOCI -
DADE .
A constante η é o coeficiente de viscosidade do fluido, cuja unidade é o N.s/m2 .
Na prática usa-se a unidade centipoise (cp):
QuadroNegro 2
(p1 − p2 ) 2
v(r) = (a − r2 ). (19.25)
4Lη
424 19 Aplicação da Mecânica dos Fluidos
Ondas de gravidade são geradas num meio fluido ou na interface de entre dois meios,
por exemplo a atmosfera e o oceano. A força restauradora éa gravidade ou a im-
pulsão de Arquimedes.
Quando um elemento do fluido é deslocado numa interface ou internamente para
uma região de diferente densidade, a força gravı́tica tende a restaurar o equilı́brio re-
sultando numa oscilação em torno do equilı́brio. Ondas de gravidade numa interface
ar-oceano são chamadas de ondas gravı́ticas de superfı́cie ou ondas de superfı́cie en-
quanto que ondas gravı́ticas internas são chamadas de ondas internas. Exemplos de
ondas gravı́ticas são as ondas geradas pelo vento, tsunamis e ondas oceânicas.
Exemplo 8: Uma massa de ar à temperatura de T = 280 K está separada por um
plano horizontal de uma massa de ar à temperatura T = 300 K localizada por cima.
Assuma a presença de ondas gravitacionais de comprimento de onda λ e de pequena
amplitudem gerando uma onda sinusoidal na interface de separação dos dois meios.
Trate as oscilações da massa de ar como incompressı́vel.
Sejam ρ1 e ρ2 as densidades do meio superior e inferior, respectivamente. Con-
siderando as oscilações incompressı́veis significa que ∇2 p = 0 em todos os pontos
do espaço. A interface é supostamente perturbada por uma onda sinusoidale, do tipo
η = α sin(ωt − kx) propagando-se ao longo de x.
Vamos supor que a pressão em cada uma das duas regiões, abaixo e acima
da interface, é ligeiramente perturbada pelas oscilações do seu valor estático (de
equilı́brio na ausência da onda) e que essa perturbação se atenua exponencialmente
a partir da interface (porquê?):
O valor das amplitudes β1 e β2 tendem para zero quando η tende para zero, como é
expectável.
Temos que impôr as seguintes condições de contorno:
p1 = p2 , em : z = η. (19.27)
∂→
−v →
−
ρ = − ∇ p. (19.28)
∂t
Ou seja, devemos resolver
ρ1 η̈ = − ∂∂pz1
(19.29)
ρ2 η̈ = − ∂∂pz2
QuadroNegro 2
19.1 Aplicações da mecânica dos fluidos 425
Fig. 19.5 (a)-“Ondas mostras” ou “Freak waves” engulindo um navio em alto mar; (b) - ondas de
gravidade na atmosfera.
Chapter 20
Teoria da Relatividade Restrita
“And I think that you too would call it propaganda when people are enticed into a change of
opinion by promises of pleasure, or terrified into it by threats? Yes, propaganda and deceit
always go together.”
- Platão, em a República
“I soon learned to scent out what was able to lead to fundamentals and to turn aside from
everything else, from the multitude of things that clutter up the mind.”
- Albert Einstein
427
428 20 Teoria da Relatividade Restrita
Fig. 20.1 Observador em Terra, referencial Oxy, e nave donde é disparado um feixe de raios laser,
referencial O’x’y’.
A teoria ondulatória da luz, desenvolvida por Young apresentava a luz como uma
onda, sujeita aos efeitos de interferência, difracção, polarização,...A luz apresenta
20.1 Teoria da Relatividade Restrita 429
caracterı́sticas análogas às que são evidenciadas nos processos ondulatórios. Por
exemplo, o som precisa de um meio material para se propagar, o ar. Consequente-
mente, foi com naturalidade que se supôs que a luz necessita igualmente de um
meio, historicamente denominado o éter luminı́fero, tudo levando a crer que a rapi-
dez da luz através desse meio deva ser independente da velocidade da fonte que a
produz.
Mas, se esse hipotético meio existe, deverá haver uma maneira de detectar o
movimento através dele. Duas experiências ficaram célebres pela sua tentativa de
determinar a velocidade “absoluta” da Terra em relação ao “éter”: o fenómeno
da “aberração estelar” estudada por James Bradley (1726) e a experiência de
Michelson-Morley.
A filosofia mostra-nos que o que vemos à nossa volta não é o mundo real 1
A cultura Europeia nos finais do Séc. XIX e inı́cio do Séc. XX estava recep-
tiva a novas ideias sobre o espaço e o tempo, impressionistas como Picasso que-
bravam a perspectiva convencional. Ciência e Arte interagiam constructivamente.
A famosı́ssima peça de teatro de Samuel Beckett “Waiting for Godot” explora a
nossa percepção do tempo: as nossas sensações e pensamento. Em 1895, H. G.
Wells escreve aquela que se julga ser a primeira obra de ficção cientı́fica “The Time
Machine”, explorando o conceito de viagem no tempo.
Até cerca de 1880 muitos relógios das povoações eram acertados ao meio-dia.
Com o advento dos comboios surgiu a necessidade do passageiro poder aceder a um
relógio-padrão. Ao fim e ao cabo os relógios mecânicos facilmente podem atrasar-se
ou adiantar-se. Surgiu assim o problema técnico da sincronia dos relógios.
PARA FALARMOS DO TEMPO TEMOS QUE SINCRONIZAR OS REL ÓGIOS .
O problema da sincronização dos relógios tornou-se um problema central das
companhias rodoviárias, dos governos, dos militares.
Em 1883, delegados de 27 nações encontram-se em Washington, D.C., numa
conferência para estabelecer o tempo mundial. Acordaram num sistema semelhante
ao actual, dividindo o planeta em fusos horários 2 , divididos por 24 meridianos
padrão de longitude, separados por 150 , com partida em Greenwich, Inglaterra. To-
1 Em Immanuel Kant será a coisa em si, isto é, aquilo que existe para lá da experiência humana e
dos os fusos horários encontram-se à frente ou atrás uma hora, sendo que em alguns
meia-hora.
Nos Estados Unidos, todos os relógios são sincronizados com a ajuda de com-
putadores, rádios e antenas, em Fort Collins, que transmitem o tempo preciso para
todo o paı́s, pois é de vital importaancia nos mercados de valores (stock market) e
sinais de trânsito.
∆t = t1 + t2 − 2to
L
=h c−v L
+ c+v − 2L
c i
1 1
= Lc 1−v/c + 1+v/c −2 (20.3)
h i
= 2L 1
c 1−v2 /c2 −1
2L v2
' c c2
Fig. 20.5 (a) Versão simplificada do interferómetro de Michelson mostrando o feixe provindo da
fonte S dividido em dois feixes por um espelho semi-transparente M. Os feixes são reflectidos pelos
espelhos M1 e M2 , retornando ao espelho semi-transparente. Os feixes são depois transmitidos ao
telescópio T onde interferem, dando como resultado um padrão de franjas de interferência. Na
Figura →−v é a suposta velocidade do éter relativamente ao interferómetro.
Fig. 20.6 (a) Sobreposição de ondas em fase: máximo de intensidade; (b) Sobreposição de ondas
em oposição de fase: mı́nimo de intensidade.
Fig. 20.7 O interferómetro está orientado de modo que um dos seus braços está orientado ao longo
da direcção do movimento da Terra.
O tempo total para a luz viajar do espelho A até M2 e voltar ao ponto de partida
é:
20.1 Teoria da Relatividade Restrita 433
T2 = 2τ = 2L
c
√ 12 2
1−v /c
2L
1 v2
L v2
(20.6)
T2 ' c 1 + 2 c2 ⇒ ∆ T = T1 − T2 = c c2
δ = ∆ nλ . (20.7)
L v2 2(10−4 c)2
∆T ≈ = = 3.33 × 10−16 s (20.9)
c c2 (3 × 108 )c2
v2 2
∆N = c2 λ
(2L) = 2Lvλ c2
2(11)v2 (20.10)
0.005 = (5900×10−10 m)(3×108 m/s)2
∴ v = 3.47 × 103 m/s.
Hendrik Lorentz na sua obra intitulada “Theory of electrons”, propôs uma teoria
hoje chamada “Teoria do Éter de Lorentz” (TEL) e que constitui o desenvolvimento
final das teorias clássicas do éter muito em voga nos finais do Séc. XIX e inı́cio do
Séc. XX.
O matemático e fı́sico francês Henri Poincaré desenvolveu essa teoria, que
nomeou de “Nova Mecânica”. O aspecto caracterı́stico fundamental destas novas
teorias reside na explicação da impossibilidade de se detectar qualquer movimento
relativo ao éter imóvel, com a introdução das transformações de Lorentz.
Estas teorias foram desenvolvidas entre 1892 e 1906, baseando-se na teoria
do éter de Augustin-Jean Fresnel, nas equações de Maxwell do campo electro-
magnético e na teoria do electrão de Rudolf Clausius.
Uma das caracterı́sticas mais salientes introduzidas por Lorentz na sua teoria
foi a separação entre matéria (em especial os electrões supostos os portadores do
“fluido eléctrico”) e o éter, suposto completamente imóvel e não susceptı́vel de ser
arrastado pela matéria. De acordo com estas teorias, o estado fı́sico do éter pode ser
→
− →
−
descrito pelo campo eléctrico E e o campo de excitação magnético H . Com esta
nova abordagem, o éter electromagnético substitui os velhos modelos mecanı́sticos
do éter.
Como se pode depreender, muitos aspectos da Teoria da Relatividade Especial
de Einstein (TREE) contêm a Teoria de Lorentz-Poicaré.
Os efeitos da contracção dos comprimentos ou da dilatação do tempo são referi-
dos a um referencial “preferido” (o éter) e não é possı́vel distinguir-se a TREE da
TEL. A diferença fundamental entre a TREE e a TEL está em que a TEL assume-
se a impossibilidade de se detectar o éter (sendo todo o movimento relativo a esse
espaço absoluto agora apelidado de éter) e a validade do princı́pio da relatividade é
apenas pura coincidência, enquanto que a TREE assume que o éter é supérfluo pois
que não existem meios de se detectar o movimento em relação a ele.
Exemplo: Meio transparente em movimento Considere um tubo flexı́vel de
massa M por unidade de comprimento, sujeito a uma extensão longitudinal ao longo
do eixo Ox devido à acção de uma tensão T . O tubo está preenchido por um lı́quido
de densidade linear de massa m. Considere a propagação de ondas de deslocamento
transversais ao longo do eixo Oy no tubo e no lı́quido que está no seu interior. Agora
20.1 Teoria da Relatividade Restrita 435
faça as considerações gerais que usámos aquando do estudo das ondas nas cordas
vibrantes (a tensão é a mesma em todo o lado; a curvatura da corda é aproximada-
mente proporcional à segunda derivada; etc).
Seja c a velocidade das ondas ao longo do tubo vazio; quando o tubo contém
lı́quido a velocidade das ondas passa a ser c/n quando o lı́quido se encontra esta-
cionário el relação ao tubo. Seja u a velocidade das ondas quando o tubo se encontra
em movimento com velocidade v em relação a um referencial fixo. Para simplificar,
podemos assumir que v é pequeno, de modo que iremos desprezar todas as quanti-
dades siguais ou superiores a v2 .
a) Supondo que o tubo se encontra acelerado com ∂ 2 y/∂t 2 , qual é a aceleração
do lı́quido. Use a derivada convectiva.
2
∂ 2y ∂ 2y
∂ ∂
+v y≈ 2
+ 2v . (20.11)
∂t ∂x ∂t ∂ x∂t
b) Calcule a aceleração a está sujeito um elemento de comprimento dx.
∂ 2y ∂ 2y
(M + m) 2 + 2mv dx. (20.12)
∂t ∂t∂ x
c) Aplique a equação fundamental da dinâmica a este elemento da estrutura de
comprimento dx (reveja o cálculo que foi feito aquando do estudo das cordas vi-
brantes).
∂ 2y ∂ 2y ∂ 2y
(M + m) + 2mv = T . (20.13)
∂t 2 ∂ x∂t ∂ x2
d) Suponha que as ondas que se propagam são do tipo sinusoidal sin k(ut − x).
Insira na Eq. 20.13 e mostre que
u2 (M + m) − 2muv − T = 0. (20.14)
x0 = γ(x − vt)
y0 = y
(20.21)
z0 = z
0
t = γ(t − cvx2 )
onde
1
γ=p (20.22)
1−β2
sendo
v
β≡ . (20.23)
c
Nestas expressões v conta-se como positivo se O0 desloca-se no sentido positivo, e
conta-se como negativo no caso contrário.
Na Fig. 20.10 mostra-se a variação muito rápida de γ quando o rácio v/c → 1.
Na verdade, estas equações foram propostas ad-hoc por Lorentz de modo a “ex-
plicar” o resultado nulo da experiência de Michelson-Morley.
Considere o evento E:
• (x,t) em S;
• (x0 ,t 0 ) em S0 .
Temos
x0 = γ(x − vt)
(20.25)
t 0 = γ(t − cvx2 )
Podemos verificar o seguinte:
Se os dois eventos se produzem no mesmo lugar, xA0 = xB0 , e eles serão simultâneos
igualmente para O; de outro modo, se xa0 6= xB0 , os dois eventos A e B não serão
simultâneos para o observador O.
Exemplo 4: Qual deve ser a velocidade atingida por um foguetão para que o seu
comprimento represente 99% do seu comprimento próprio?
r
L v2
= 0.99 = 1 − 2 ⇒ v = 0.141c. (20.32)
Lo c
A : x00 tA0
(20.33)
B : x00 tB0
T = γ(tB0 − tA0 )
T = γτ (20.35)
T = √ τ 2 2.
1−v /c
τ 2 × 10−6
τ 0 = γτ = p = = 31.6 × 10−6 s. (20.38)
1 − v2 /c2 1 − (0.998)2
c) Qual é a distância percorrida?
“O homem vulgar, por mais dura que lhe seja a vida, tem ao menos a felicidade de a não
pensar. Viver a vida decorrentemente, exteriormente, como um gato ou um cão - assim
fazem os homens gerais, e assim se deve viver a vida para que possa contar a satisfação do
gato e do cão. Pensar é destruir. O próprio processo do pensamento o indica para o mesmo
pensamento, porque pensar é decompor. Se os homens soubessem meditar no mistério da
vida, se soubessem sentir as mil complexidades que espiam a alma em cada pormenor da
acção, não agiriam nunca, não viveriam até. Matar-se-iam assustados, como os que se
suicidam para não ser guilhotinados no dia seguinte.”
20.1.12 Exercı́cios
dx0 = √dx−vdt
2 1−v /c2
dt− v2 dx
dt 0 =√ c
1−v2 /c2
dx −v (20.42)
dx0
u0x = dt 0 = dx−vdt dt
dt− v2 dx = 1− v dx
c c2 dt
∴ u0x = 1−ux −v
v u
c 2 x
d→
−p m0 →
−
" #
→
− d u d −
F = = p = (m→ u ). (20.47)
dt dt 1 − u2 /c2 dt
20.1 Teoria da Relatividade Restrita 445
20.1.15 E=mc2
E − E0 = mc2 − m0 c2 . (20.53)
Fig. 20.11 (a) - Caixa de massa 2M e comprimento L e fotão; (b) - caixa de Einstein.
p = 2Mv
E
c = 2Mv (20.54)
E
∴ v = 2Mc
O quantum de luz (ou fotão) viaja durante o intervalo de tempo ∆t, bate no extremo
oposto, transmitindo-lhe o momento igual e oposto ao inicial. A distância percorrida
pela caixa é
EL
d = v∆t = . (20.55)
2Mc2
Como o centro de massa não pode mexer-se, deve permanecer estacionário relativa-
mente a um observador externo e tem que se verificar:
m1 x1 +m2 x2
Xcm = m1 +m2
(M−µ)(−L/2−d)+(M+µ)(L/2−d) (20.56)
0= 2M
Ou seja
L
Md = µ (20.57)
2
Como d = EL/2Mc2 , conclui-se que o quantum de luz comporta-se como se tivesse
a “massa equivalente”:
µ = cE2
(20.58)
E = µc2 .
O ELECTR ÃO - VOLT É A ENERGIA CIN ÉTICA ADQUIRIDA POR UM CORPO COM
A CARGA DO ELECTR ÃO ACELERADO A UMA DIFERENÇA DE POTENCIAL DE 1
VOLT.
1 eV= (1.602 × 10−19 )(1Volt) = 1.602 × 10−19 J
Exemplo 3: Calcule a energia em repouso de um electrão em electrão-volts (eV).
p E 2 = (pc)2 + m20 c4
pc = (1MeV + 0.511MeV )2 − (0.511MeV )2 (20.60)
p = 1.42MeV /c
Na Fı́sica Relativista o momento linear exprime-se usualmente em unidades MeV/c.
Num memorável artigo publicado na revista Nature em 1951, o prémio Nobel Paul
Dirac discute a existência de um referencial preferido (“prefered frame of refer-
ence”), aplicando a mecânica quântica ao éter e argumentando que “with the new
theory of electrodynamics we are rather forced to have an aether”. Interessante-
mente, Dirac não vê nenhum conflito entre a Teoria da Relatividade de Einstein e a
teoria do éter.
Repare que a Eq.
E 2 = m20 c4 + (pc)2 (20.61)
admite uma solução positiva e outra negativa:
q
E = ± (m0 c2 )2 + (pc)2 (20.62)
Dirac não viu nenhuma razão para se eliminar as energias negativas da Mecânica
Quântica. Um electrão de energia negativa terá tanto menos energia quanto maior
for a sua velocidade. Dirac conjecturou então que todos os electrões do Universo
tendem a cair nesses estados de energia negativa emitindo radiamento. Assim, natu-
ralmente todos os estados de energia negativa estarão ocupados, com a excepção de
alguns com baixa velocidade. Estando estes estados de energia negativa quase todos
ocupados, será muito pouco provável que os electrões de energia positiva sofram
uma transição que os façam passar para esses estados. Como a distribuição dos
electrões de energia negativa é uniforme, esses electrões não podem ser observados.
Porém, podem ocorrer pequenos desvios a esse estado de uniformidade, criando-se
lacunas, estados desocupados nesse “mar” de energia negativa. Dirac mostrou que
esses buracos, essas lacunas moviam-se sob a acção de um campo electromagnético
448 20 Teoria da Relatividade Restrita
É desta expressão que se tem de partir a fim de se obter a equação que descreve o
electrão (partı́cula de spin-1/2) no âmbito da Mecânica Quântica Relativista.
Havia essa necessidade, pois a Mecânica ondulatória desenvolvida por Erwin
Schrödinger não tinha em conta o spin do electrão e a funcão de onda Ψ era uma
quantidade escalar.
A fim de ter em conta do spin do electrão, Paul Dirac sugeriu a substituição da
Eq. 20.63 por
E op → op
−p )( E + →
( −−σ ·→ −
σ ·→
−p ) = (mc)2 , (20.64)
c c
onde todas as observáveis devem passar a ser representadas por operadores quânticos:
E op = ih̄ ∂t
∂
= ih̄c ∂∂x
−p = −ih̄→
→ − 0 (20.65)
∇
Assim, podemos passar a escrever a Eq. 20.66 na forma de uma equação diferencial
de segunda ordem para um electrão livre, onde Ψ representa uma função de onda
com duas componentes:
→
− →
−
+→
− −→
−
∂ ∂
(ih̄ σ · ih̄ ∇ )(ih̄ σ · ih̄ ∇ )Ψ = (mc)2Ψ (20.66)
∂ x0 ∂ x0
→
−
σ são as chamadas matrizes de Pauli:
01
σx =
10
0 −i
σy = (20.67)
i 0
1 0
σz =
0 −1
(20.69)
Fazemos notar que as duas Eqs. 20.69 acoplam Ψ R e Ψ L tal como nas equações de
→
− → −
Maxwell (equações diferenciais de primeira ordem) acoplam E e B . As Eqs. 20.69
são equivalentes às equações de Dirac. A fim de escrevermos na forma original de
Dirac, somamos e subtraı́mos as duas Eqs. 20.69, representando a soma e a diferença
por ΨA e ΨB : R
Ψ +Ψ L
ΨA
Ψ= = (20.70)
ΨB Ψ R −Ψ L
Deste modo, a Eq. 20.70 pode escrever-se na forma mais concisa:
∂ mc
γ · ∇ + γ4 Ψ + Ψ = 0, (20.71)
∂ (ix0 ) h̄
ou → →
−
ainda
[ıh̄−
σ · ∇ − ıh̄ ∂∂x ]Ψ L = −mcΨ
R
∂ mc
0
γµ + Ψ = 0, (20.72)
∂ xµ h̄
onde se usa a convenção de Einstein na soma dos ı́ndices, e γµ com µ = 1, 2, 3, 4
são matrizes 4 × 4 dadas por
0 −iσk I 0
γk = ; γ4 = (20.73)
iσk 0 0 −I
e, por exemplo
450 20 Teoria da Relatividade Restrita
0 0 −i 0 1 0 0 0
0 0 0 i 0 1 0 0
γ3 = γ = (20.75)
i 0 0 0 4 0
0 −1 0
0 −i 0 0 0 0 0 −1
As matrizes 4 × 4 γµ são chamadas matrizes gama ou matrizes de Dirac. As
Eqs. 20.72 são na verdade 4 equações que acoplam as 4 componentes da função
de onda Ψ :
Ψ1
Ψ2
Ψ =
Ψ3 (20.76)
Ψ4
que se chama um bispinor ou um spinor de Dirac.
A descoberta da energia de repouso por Einstein em 1905 fizera sem dúvida grande
furor. Essa teoria afirmava a existência de uma nova fonte de energia, afirmando
por exemplo que a aniquilação de 1 grama de matéria equivaleria a à combustão de
3000 toneladas de carvão. A sua confirmação veio depois da descoberta do neutrão.
Um núcleo fica inteiramente definido pelo seu número de protões, Z, e de neutrões,
N. O seu número de massa é então A = Z + N. A notação usada na representação 7
de um núcleo X com número de massa A, número atómico Z e número de neutrões
N = A − Z é AZ XN (por exemplo, 3517Cl18 ).
Ao medir-se com precisão a massa AZ M do núcleo atómico pelo processo que
utiliza o desvio da trajectória de uma partı́cula carregada ao passar por um campo
magnético, verificou-se que
A
ZM < Zm p + (A − Z)mn , (20.77)
7 Os átomos dum conjunto constituı́dos por um dado núcleo chamam-se nuclidos; os nuclidos do
mesmo Z e com A diferente isótopos; aqueles que têm o mesmo A mas contêm diferentes N e Z
chamam-se isóbaros.
20.2 O sistema de referência preferido em Paul Dirac 451
n → p + e− + ν e . (20.78)
Fermi incidiu um feixe de neutrões sobre o urânio na expectativa que este ab-
sorvesse neutrões que ficariam em excesso no núcleo, decaindo em seguida em
protões com a emissão para fora do núcleo do electrão, e formando-se assim um
novo elemento quı́mico com número atómico superior ao urânio; na realidade, um
elemento novo artificial.
Em Janeiro de 1939, Hahn e Strassmann descobriram que o bombardeamento do
núcleo de urânio produzia o elemento Ba.
U + n → Ba + Kr + 3n (20.79)
8 O decaimento nuclear é um tipo de decaimento radioactivo no qual uma partı́cula beta (um
electrão ou um positrão) é emitido.
452 20 Teoria da Relatividade Restrita
G = aL3
P = bL2
(20.80)
G > P ⇒ bL2 > aL3
∴ L > ab .
Fig. 20.12 (a) - Esquema do primeiro reactor nuclear Chicago Pile-1; (b) - pintura da época
ilustrando o momento em que decorre a experiência (que decorreu sem que houvesse escudo de
protecção contra o radiamento letal que se liberta na fissão nuclear...)
Fig. 20.13 (a) - Esquema da bomba atómica construı́da em Los Alamos durante a WWII; (b) -
Foto do “cogumelo” formado pela explosão nuclear da bomba atómica lançada sobre Hiroshima.
A idade atómica apareceu ao grande público de forma brutal quando foi con-
hecido o lançamento da bomba de urânio enriquecido sobre a cidade de Hiroshima a
6 de Agosto de 1945, seguida pelo lançamento de uma segunda bomba (de plutónio)
sobre a cidade de Nagasaki a 9 de Agosto de 1945. Foi nesta altura que a co-
munidade cientı́fica se apercebeu de forma dramática das suas responsabilidades
polı́ticas...
20.3 Teoria da Relatividade Geral 453
4φ = −ρ (a)
→
− . d→
− →
− (20.81)
F = dtp = −q ∇ φ . (b)
A Eq. 20.81 prediz que variações instantâneas de carga δ ρ implicam variações in-
stantâneas e simultâneas de potencial δ φ . Porém, noutro referencial equivalente es-
sas variações não são simultâneas 9 . Torna-se necessário proceder a uma modificaçã
9 Recorde a não simultaneidade dos eventos na TREE.
454 20 Teoria da Relatividade Restrita
∂ 2φ
4φ − = −ρ. (20.82)
∂t 2
Em 1911 Albert Einstein formulou uma nova teoria válida para sistemas acel-
erados. Einstein apercebeu-se que a teoria da Gravitação devia ser formulada no
quadro teórico do espaço-tempo. Nas regiões sem gravitação o espaço seria plano.
Nas regiões com gravitação ele seria curvo. Na presença unicamente de campos
gravitacionais os corpos descrevem geodésicas no espaço curvo. No espaço plano
(e na ausência de campos gravı́ticos) os corpos descrevem linhas rectas.
A matéria curva o espaço-tempo, espaço de Riemann. T αβ é o tensor de energia-
impulsão. Einstein descobriu que a equação fundamental do campo:
onde χ = 8πG/c4 .
Em 1916, Schwarzschild descobriu uma solução uma solução particular para esta
equação num espaço sem matéria mas com uma singularidade pontual onde é su-
posta encontrar-se um corpo muito massivo M:
2m −1 2m 2
ds2 = (1 − ) − r2 (dθ 2 + cos2 θ dφ 2 ) + c2 (1 − )dt , (20.84)
r r
onde pusemos m = MG/c2 . Convém referir que as equações da Relatividade Geral
são de uma extrema dificuldade, conhecendo-se a sua solução em apenas alguns
casos.
“Do not say a little in many words but a great deal in a few.”
- Pitágoras.
Consideremos agora os dois eventos A e B referidos na Sec. 20.3.2, mas agora vis-
tos no referencial de inércia de um segundo observador O0 , movendo-se com ve-
locidade uniforme v em relação a O. Para O0 os dois eventos ocorrem em dois lu-
gares diferentes e precisará de dois relógios deferentes e sincronizados (um com o
outro) para poder determinar o intervalo de tempo tB0 −tA0 = ∆t 0 . Substraindo as duas
transformações temporais de Lorentz:
tB − v2 (xB −xA )
tB0 = c
r ;
2
1− v2
c
tA − v2 (xB −xA )
tA0 = c
r ; (20.85)
2
1− v2
c
∴ ∆t 0 = r∆t0 ,
2
1− v2
c
ares. Um estudo mais profundo destes campos permitiu que fossem reconhecidas
estruturas mais abstractas chamadas espaços fibrados.
Index
457
458 Index