Aula2 MorfesAlomorfesaAnaliseMorficaUnidadesdeAnalise PDF
Aula2 MorfesAlomorfesaAnaliseMorficaUnidadesdeAnalise PDF
Aula2 MorfesAlomorfesaAnaliseMorficaUnidadesdeAnalise PDF
1
DLCV – FFLCH / USP
FLC0276 – Morfologia do Português I
Profa: Flaviane R. Fernandes Svartman
o Mecanismo de plural sintático (através dos § Problema com a consideração do morfe vazio: a definição do
determinantes, por exemplo), não morfológico morfema como elemento mínimo de som e significado cai por
terra
(4) ourives, lápis, bíceps, pires § Saída: assumir definições de morfema como a de Jensen (1990) e
Aronoff (1976)
o Substantivos comuns de dois gêneros: considerar o
morfe zero como indicativo de feminino é um “Os morfemas são primariamente unidades estruturais e são
contrassenso, já que ele não pode se opor a outro tipicamente, porém não necessariamente, portadores de
zero, o do masculino significado” - Jensen, 1990:3.
o Marca de feminino por critério sintático – através dos
determinantes “Demonstrei que, abaixo do nível da palavra, encontramos
morfemas que, embora devam ser associados a verdadeiros
(5) a. o estudante; a estudante elementos linguísticos, não apresentam nenhum significado que
b. o artista; a artista possa ser identificado independentemente de cada uma das
c. o doente; a doente palavras isoladas em que eles ocorrem” – Aronoff, 1976:7.
o Uso abusivo de zeros por não haver fronteiras 1.1.3. Morfe cumulativo
definíveis para a justificativa do seu emprego § Morfe que possui mais de um significado, expressa duas ou mais
noções
1.1.2. Morfe vazio § Exemplo:
§ Morfe sem significado e que não é atribuído a nenhum morfema
§ Exemplos: (8) desinência [mos] em “viajamos” indica a pessoa (primeira) e
o número (plural)
(6) Vogal temática na flexão verbal: cant + a + re + mos
§ Problema com a consideração do morfe cumulativo: um único
(7) Vogal de ligação no processo de derivação: saud + a + vel morfe expressando duas ou mais noções, o que quebra a
2
DLCV – FFLCH / USP
FLC0276 – Morfologia do Português I
Profa: Flaviane R. Fernandes Svartman
correspondência ideal entre morfe e morfema, uma vez que o 1.1.6. Morfes alternantes
morfe cumulativo se relacional a mais de um morfema § Morfes expressos pela mudança da estrutura fônica da raiz, seja
por alternância vocálica (11a), consonantal (11b), ou
1.1.4. Morfe superposto suprassegmental (acento ou tom) (11c)
§ Morfes cumulativos: quando dois ou mais morfemas aparecem
representados por uma única forma em qualquer contexto – ver (11) a. pude - pode; tudo – todo; fiz – fez; avô – avó
exemplo (8) acima: a desinência de “mos” marca número e b. [trag] – o, [traz] – es; [faç] – o, [faz] - es
pessoa para vários tempos e modos verbais do português. c. exército – exercito; comércio - comercio
§ Morfes superpostos: quando dois ou mais morfemas aparecem
representados por uma única forma apenas em determinados 1.1.7. Morfes redundantes
contextos. Exemplos; § Quando, além dos morfes aditivos que opõem duas formas,
também são encontradas alternâncias que reforçam a oposição:
(9) a. am – a – Ø – ste; am – a – Ø – stes: no pretérito perfeito do
indicativo em português, [ste] e [stes] expressam as noções de (12) a. avô – avós; poço – poços
número, pessoa, tempo e modo b. ovo – ovos; grosso - grossos
b. viaj + o; corr + o; durm + o: no presente do indicativo em
português, [o] expressa as noções de número, pessoa, tempo e 1.1.8. Morfes homônimos
modo § Um único morfe corresponde a dois ou mais morfemas distintos:
1.1.5. Morfes aditivos (13) a. as amas; tu amas è o mesmo morfe [s] indica plural no
§ Morfema que se realiza pelo acréscimo de segmento(s) fônico ao primeiro caso, mas pessoa e número no segundo
semantema. Exemplos morfemas flexionais (10a) e derivacionais b. amemos; vivemos è o mesmo morfe [e] representa
(10b) em português presente do subjuntivo no primeiro caso, mas presente do
indicativo ou pretérito perfeito do indicativo no segundo
(10) a. ave + s; alun + a; am + o c. terra, terrestre, terreno; terror, terrível, aterrorizar
b. livr + inho; re + ler è o mesmo semantema [terr] está associado à base de “terra”
no grupo de palavras, mas não no segundo
3
DLCV – FFLCH / USP
FLC0276 – Morfologia do Português I
Profa: Flaviane R. Fernandes Svartman
4
DLCV – FFLCH / USP
FLC0276 – Morfologia do Português I
Profa: Flaviane R. Fernandes Svartman
5
DLCV – FFLCH / USP
FLC0276 – Morfologia do Português I
Profa: Flaviane R. Fernandes Svartman
(21) a. contrarrevolucionário = “adepto da contrarrevolução” e o Forma divisível: que possui mais de um elemento, é, em
não “contra um revolucionário” geral, forma livre e é constituída de forma livre +
b. [[contra[revolucion]N] Ø]N ário]A, mas não forma(s) presa(s) ou duas ou mais formas presas
[contra[[revolucion] N ario] A Ø] A
§ Importância do critério morfológico: as (23) a. [lut]a]s]
considerações semânticas não podem ser o ponto b. [[po]zinh]o]s]
de partida para as análises mórficas, mas os
critérios morfológicos (por exemplo: o critério de o Atenção:
ordenação das camadas estruturais de um § Nem todo vocábulo é forma livre – ver
derivado): preposições, artigos, conjunções e certos
“invariavelmente” = invariável + mente, pronomes. Porém, se o vocábulo enunciado
mas não [in] + variavelmente, porque sozinho formar sentido, é palavra: preposição
*variavelmente não existe contra
§ Nem toda palavra prosódica é palavra simples, em
3. Unidades de análise termos morfológicos. Ex.: “Dom” em “Dom
3.1. Palavra simples Casmurro”, “guarda” em “guarda-chuva”
§ Forma livre com independência fonológica
o Forma livre: qualquer vocábulo que possa ser empregado 3.2. Raiz
isoladamente § “É o elemento irredutível e comum a todas as palavras de uma
o Compare “mar”, “marujo” e [ujo] no teste de formação mesma família” – Saussure (1970:216)
de enunciado § Equivale ao semantema
o Forma indivisível: que só apresenta um constituinte, § Elemento de onde parte a primeira operação morfológica
podem ser livres (nomes, alguns pronomes) ou § É uma forma necessariamente presa, portadora de carga
dependentes (instrumentos gramaticais) semântica da palavra
§ Apresenta forma e significado, podendo receber elementos
(22) a. pó, mar, pé, luz, sol, pá, eu, tu, me, mas, de, para diversos e servir como ponto de partida para a produção de
cognatos
6
DLCV – FFLCH / USP
FLC0276 – Morfologia do Português I
Profa: Flaviane R. Fernandes Svartman
o Cognatos: vocábulos que possuem a mesma raiz ou § F {casa, casebre, casinha... casario}
semantema § G {morada, moradia, morador... morar}
o Família léxica: conjunto de termos cognatos entre si § H {vivenda, vivente, vivedor ... viver}
§ Exemplo de raiz
o Em A{mar, maré, marinha, marinheiro, marítimo, 3.3. Radical
maresia, submarino, marola}, o elemento [mar] é a raiz e § Inclui a raiz e os elementos afixais que entram na formação das
todos os vocábulos do conjunto A são aparentados por palavras
um vínculo comum de forma e significado § “A diferença entre radicais e raízes é que raízes são
§ A raiz pode sofrer variação na forma, aparecendo em outras morfologicamente inanalisáveis, ao passo que os radicais podem
palavras como alomorfe ter, além da raiz, um ou mais afixos derivacionais” – cf. Lyons
o O significado é que é essencial no conceito de raiz (1982:112).
o Exemplos: § Exemplos de raízes e radicais:
o D:{amor, amar, amável, amigo, amizade... desamar}
o D’: {inimigo, inimizade... inimizar} (24) a. descobrimento: R = [cobr]; Rd = [descobriment]
o [am] em D e [im] em D’divergem na forma e equivalem b. juramento: R = [jur]; Rd = [jurament]
no significado – [am] e [im] são alomorfes c. criaturinha: R = [cri]; Rd = [criaturinh]
§ O conjunto D’está contido em D: U {amor, amar, d. reviverei: R = [viv]; Rd = [reviv]
amável, amigo, amizade, desamar, inimigo,
inimizade... inimizar} § Na forma primitiva, o radical é a própria raiz
§ O significado é essencial no conceito de raiz, mas o vínculo § Em derivado, a raiz é o radical primário e pode haver vários
formal também é necessário para a caracterização da raiz outros radicais, entretanto, o radical verdadeiro é o de grau mais
o Em E{casa, morada ... vivenda}, os vocábulos não têm a elevado
mesma raiz, pois não possuem relação mórfica, eles o Exemplo de radicais na palavra “desregularização”
formam uma série de sinônimos, mas não de cognatos
o As raízes de cada elemento em E não constituem (25) a. [reg]: radical de 1o grau
alomorfes entre si e cada uma delas cria conjuntos b. [regul]: radical de 2o grau
próprios: c. [regular]: radical de 3o grau
7
DLCV – FFLCH / USP
FLC0276 – Morfologia do Português I
Profa: Flaviane R. Fernandes Svartman
d. [regulariz]: radical de 4o grau § Quanto aos nomes, nem todos terminam por vogal, são radicais
e. [desregulariz]: radical de 5o grau atemáticos (não possuem vogal temática)
f. [desregularizaçã]: radical de 6o grau, verdadeiro o Exemplos: nomes terminados por vogal tônica ou nasal e
radical consoantes
§ O verdadeiro radical do vocábulo deve ser tomado sempre a (28) carnaval, mulher, inglês, qual, fé, cipó, mandacaru, ímã,
partir da palavra que lhe serviu de base: lã
o [regulariz] é radical de regularizar
o [desregulariz] é radical de desregularizar o É possível postular que as palavras terminadas por /l/, /s/,
/z/ ou /r/ são temas teóricos em /e/, pois essa vogal
3.4. Tema temática aparece no plural, na maioria dos casos: marè
§ Radical + vogal temática mares, vezè vezes
§ Em português, os temas se classificam em nominais e verbais § A vogal temática é grafada com “i”, se a palavra
§ Os temas nominais terminam por qualquer vogal átona e se termina em /l/ no singular: finalè finais
agrupam, na grande maioria, em três tipos: § A vogal temática, por ser átona, em contato com sufixo iniciado
por vogal, sofre elisão ou crase:
(26) a. Tema em /a/: vida, terra, beleza
b. Tema em /o/: feio, cachorro, mosaico; (29) a. pedra + ada = pedrada
c. Tema em /e/: triste, decente, pedestre b. casa + ebre = casebre
§ Nos temas verbais, a vogal temática pode ser tônica e também se § Nos nomes terminados em vogal tônica ou nasal, não há
enquadram em 3 grupos: elisão ou crase com o acréscimo do sufixo iniciado em
vogal:1
(27) a. Tema em /a/: cantar, pular, viajar
b. Tema em /e/: correr, fazer, saber 1
Apenas em casos excepcionais a vogal desaparece, como em Ceará + ense =
c. Tema em /i/: sair, fugir, partir cearense. Isso posto, é possível supor que “Ceará” já tenha sido pronunciado como
paroxítono.
8
DLCV – FFLCH / USP
FLC0276 – Morfologia do Português I
Profa: Flaviane R. Fernandes Svartman
3.5. Base
(30) a. cipó + al = cipoal § Elemento sobre o qual se assenta a regra de formação de
b. caju + ina = cajuína palavra
§ Na prática, é possível confundi-la com o tema, o radical ou a
§ Nos ditongos decrescentes: raiz
o O índice temático é a semivogal que não aparece nos § Uma base pode ser qualquer unidade morfológica, com
derivados exceção dos afixos, incluindo tanto vocábulos derivados,
o Há alomorfia na raiz como compostos:
(31) a. le + i / leg + al ([le] ~[leg]) o –screver é a base de [pre] para formar “prescrever”
b. cé + u / cel + este ([cé] ~ [cel]) o prescrev- é a base de [ção] para formar “prescrição”
c. pã + o / pad + eiró ([pã] ~ [pad]) o porta é a base de [inha] para formar “portinha”
o portinha é a base de [ola] para formar “portinhola”
§ Quando é acrescentado um sufixo derivacional iniciado por
consoante, depois da vogal temática, ela deixa de vir antes 4. Considerações finais
das flexões e passa a ser vogal de ligação ou interfixo e não 4.1. Sumário
mais vogal temática § Morfes e alomorfes
o Morfe zero
(32) a. [decente] + e + [mente] o Morfe vazio
b. [flor] + e + [zinh]a]s] o Morfe cumulativo
o Morfe superposto
§ A mesma interpretação pode ser feita para os verbos o Morfe aditivo
o Nos verbos, a vogal temática vem antes da o Morfe alternante
desinência: [am]a]r], [venc]e]r], [pun]i]r] o Morfe redundante
o Nos nomes derivados, a vogal antes do sufixo, não é o Morfe homônimo
vogal temática, mas vogal de ligação (morfe vazio): o Alomorfes
[[am]á(r)]vel]], [[venc]e(r)]dor]], [[pun]í(r)]vel]] § Análise mórfica
§ Unidades de análise
9
DLCV – FFLCH / USP
FLC0276 – Morfologia do Português I
Profa: Flaviane R. Fernandes Svartman
o Palavra simples
o Raiz
o Radical
o Tema
o Base
10