3-TEXTO APOIO - Filtro Biológico Percolador
3-TEXTO APOIO - Filtro Biológico Percolador
3-TEXTO APOIO - Filtro Biológico Percolador
Introdução
desalojado deve ser removido nos decantadores secundários, de forma a diminuir o nível de
sólidos em suspensão no efluente final.
Figura 2 - Lay-out Filtro Biológico Percolador de Baixa Taxa – CH: 1 a 4,0 m³/m².
Figura 3 - Lay-out Filtro Biológico Percolador de Alta Taxa – CH: 4,0 a 10,0 m³/m².
Figura 4 - Lay-out Filtro Biológico Percolador de Super Alta Taxa – CH: 10,0 a 60,0 m³/m².
FBP grosseiro
Trata-se de um filtro de alta taxa utilizado no pré-tratamento de esgoto, a montante do
tratamento secundário. O material de enchimento é sintético e a alimentação é realizada
continuamente. É de uso mais comum para despejos com concentrações de DBO mais altas.
Perdeu muito de sua aplicação com o desenvolvimento dos reatores UASB, que vêm sendo
utilizado em detrimento aos filtros grosseiros.
Um resumo das principais características dos diferentes tipos de filtros biológicos
percoladores é apresentado na Tabela 4.2. As Figuras 4.7 a 4.9 mostram fluxogramas típicos de
alguns tipos de FBP.
Considerações preliminares
Os critérios e parâmetros de projeto apresentados nesse item são originados, principalmente,
da experiência da aplicação de filtros biológicos para o tratamento de efluentes primários, ou seja,
após a passagem do esgoto por um decantador primário, ou equivalente. No caso da utilização de
FPB para o pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios, os critérios clássicos
recomendados para o projeto de FBP foram complementados com novos critérios e parâmetros,
fruto dos resultados obtidos nas pesquisas desenvolvidas no âmbito do PROSAB – Edital 2 –
Tema 2.
Fruto das pesquisas realizadas no âmbito do PROSAB, com filtros biológicos de alta taxa
utilizados para o pós-tratamento de efluentes de reatores UASB, tem-se observado que os FBP são
capazes de produzir efluentes que atendem aos padrões de lançamento estabelecidos pelos órgãos
ambientais, em termos de concentração de DBO e sólidos suspensos, quando os mesmos são
operados com taxas de aplicação hidráulica superficial máximas da ordem de 20 a 30 m3/m2.d.
é
= Eq. 2
Onde:
Cv: carga orgânica volumétrica (kgDBO/m3.d)
Qméd: vazão média afluente ao FBP (m3/d)
Sa: concentração de DBO do esgoto afluente ao FBP (kgDBO/m3)
V: volume ocupado pelo meio suporte (m3)
Da mesma forma que para a taxa de aplicação superficial, as pesquisas realizadas no âmbito
do PROSAB tem indicado que os FBP são capazes de produzir efluentes que atendem aos padrões
de lançamento estabelecidos pelos órgãos ambientais, em termos de concentração de DBO,
quando os mesmos são operados com cargas orgânicas volumétricas máximas da ordem de 0,5 a
1,0 kgDBO/m3.d.
37
Sistema de distribuição
Para otimizar a eficiência de tratamento dos filtros biológicos, tanto o crescimento quanto a
eliminação do biofilme que cresce em excesso, em função da carga orgânica aplicada, devem
ocorrer de forma contínua e uniforme. Para se conseguir isso, o sistema de distribuição deve ser
dimensionado de forma a possibilitar a aplicação adequada de esgotos sobre o meio suporte.
A alimentação do FBP com esgoto pode ser realizada através de distribuidores fixos ou
móveis (rotatórios). Os primeiros FBP eram dotados de sistemas de distribuição fixos, compostos
por tubulação dotada de aspersores. Este tipo de sistema ainda hoje é utilizado, principalmente em
instalações de pequeno porte. Entretanto, a maioria dos FBP projetados a partir de 1930 possuem
formato circular, com um sistema rotatório de distribuição da alimentação.
Sistemas fixos de distribuição
Os sistemas de distribuição fixos são compostos por uma tubulação de distribuição principal
e outra secundária (ou lateral), ambas situadas logo acima da superfície do meio granular. Os
aspersores (bocais) são instalados na tubulação secundária, sendo dimensionados e espaçados de
forma a se obter distribuição uniforme da alimentação. Em geral, os aspersores são constituídos
por um orifício de seção circular e um defletor.
A maioria dos sistemas fixos mais antigos previa uma alimentação intermitente do esgoto,
através de um reservatório de carga. A vazão de descarga neste tipo de dispositivo é variável,
devido à variação da lâmina de água no tanque de carga. No início do período de descarga, o
esgoto é lançado a uma distância máxima de cada aspersor, que diminui à medida que o tanque se
esvazia. O período entre cargas de esgoto varia de 0,5 a 5 minutos. A distribuição de esgoto,
realizada através deste tipo de sistema de distribuição, sobre a superfície do meio granular, é
relativamente boa.
Com o surgimento dos meios suporte sintéticos, os sistemas fixos de distribuição voltaram a
ser utilizados nos filtros profundos e nas biotorres. Nestes processos, o sistema de distribuição
também é dotado de distribuidores principais e secundários, situados imediatamente acima do
meio suporte, e a alimentação é realizada continuamente através de bombeamento.
As principais desvantagens deste tipo de sistema de distribuição são: a não uniformidade da
carga hidráulica sobre a superfície do FBP; as grandes extensões de dutos de distribuição; o
entupimento freqüente dos aspersores; a dificuldade de manutenção dos aspersores em grandes
FBP. Nos sistemas fixos, estima-se que, para se atingir a mesma distribuição alcançada através de
distribuidores rotatórios, a vazão aplicada deve ser de 3 a 4 vezes superior.
Através deste dispositivo, o esgoto é distribuído uniformemente sobre o meio suporte, por
meio de orifícios situados em um dos lados de cada braço horizontal. O movimento de rotação do
distribuidor é geralmente assegurado apenas pela energia proveniente do jato de descarga do
esgoto através do conjunto de orifícios. Em casos excepcionais, especialmente para controle de
moscas e para evitar paradas dos braços distribuidores em horários de muito baixa vazão afluente,
motores elétricos também são utilizados para movimentar o sistema de aplicação do esgoto à
superfície do filtro. Os braços distribuidores normalmente possuem seção transversal circular,
podendo também ser construídos com seção retangular ou outro tipo de quadrilátero. Um
dispositivo de abertura rápida, instalado na extremidade, permite a retirada de sólidos grosseiros
acumulados no interior de cada braço. A área da seção transversal dos braços geralmente diminui
com a distância da coluna central.
O espaçamento entre os orifícios é dimensionado para garantir uma uniforme distribuição
do esgoto sobre toda a superfície do meio suporte. Anteparos em plástico ou outro tipo de material
não corrosivo são instalados nos orifícios para assegurar melhor distribuição. Os braços devem ser
dimensionados de forma que a velocidade rotacional se situe entre 0,1 e 2 rpm e a velocidade não
exceda a 1,2 m/s, na vazão máxima.
Filtros com quatro braços distribuidores são equipados com um extravasor na coluna
central, concentrando a alimentação em apenas dois braços, nos períodos de pequenas vazões.
Nos períodos de vazões máximas, todos os quatro braços são alimentados com esgoto. Este
procedimento assegura velocidades de descarga e forças de reação adequadas à rotação do
distribuidor, sob as diversas condições de vazões. Orifícios no lado oposto dos braços também são
utilizados para reduzir a velocidade rotacional nos momentos de pico de vazão. Os braços
distribuidores possuem ainda tubos de ventilação, para evitar o acúmulo de ar no seu interior. A
estrutura de sustentação dos braços é composta por tirantes, que asseguram a estabilidade do
engaste na coluna central.
Todo o conjunto de drenagem de fundo do filtro deve ser resistente o suficiente para
suportar os pesos do meio suporte, da biomassa aderida e do próprio esgoto que percola pelo
filtro.
A estrutura de fundo deve ter declividade entre 1 e 5%, suficiente para possibilitar o
adequado escoamento do efluente para o centro ou para a periferia do filtro. As calhas de coleta
do efluente devem ser dimensionadas para garantir uma velocidade mínima de 0,6 m/s, para a
vazão média de alimentação do filtro.
O sistema de drenagem de fundo deve ser aberto em ambas as extremidades, de forma a
possibilitar a inspeção e a eventual limpeza com jatos de água, caso necessário. O sistema de
drenagem de fundo é também responsável pela ventilação do filtro, conforme tratado no item
seguinte.
Ventilação
A ventilação dos FBP é importante para se manter as condições aeróbias necessárias para o
efetivo tratamento dos despejos pela via aeróbia. Se propiciadas passagens adequadas para o ar, a
diferença entre temperaturas do ar e do líquido é considerada suficiente para produzir a aeração
necessária.
Uma boa ventilação pelo fundo do filtro é desejável. Na prática, são adotados os seguintes
cuidados para se ter uma ventilação natural adequada (METCALF & EDDY, 1991):
• O sistema de drenagem e os canais coletores de efluente junto ao fundo da estrutura dos
FBP devem permitir um fluxo livre do ar, que se escoa pelo filtro. Esses canais coletores de
efluente não devem ter mais que 50% de sua altura ocupada por efluente;
41
= Eq. 3
,
42
Onde:
E: eficiência de remoção de DBO5 (%)
Cv: carga orgânica volumétrica (kgDBO/m3.d)
F: fator de recirculação
Produção de lodo
A estimativa da produção de lodo em filtros biológicos percoladores pode ser feita por meio
da seguinte equação:
Plodo = Y x DBOremov Eq. 4
Onde:
Plodo: produção de lodo no FBP (kgSST/d)
Y: coeficiente de produção de lodo no FBP (kgSST/kgDQOremovida)
DBOremov: massa de DBO removida no FBP (kgDBO/d)
A avaliação da produção volumétrica de lodo pode ser feita a partir da seguinte equação:
= !"!
Eq. 5
# $
Onde:
Vlodo: produção volumétrica de lodo (m3/d)
Plodo: produção de lodo no FBP (kgSST/d)
g: densidade do lodo (usualmente da ordem de 1000 a 1040 kg/m3)
C: concentração do lodo removido do decantador secundário (usualmente na faixa de 1 a
2%)
Aspectos construtivos
Os filtros biológicos percoladores são, normalmente, construídos em concreto armado,
embora as unidades menores possam ser confeccionadas com diferentes materiais, como aço,
fibra de vidro etc. Qualquer que seja o material de construção do FBP, as maiores preocupações
construtivas devem se ater à longevidade e a integridade da estrutura do filtro e do meio suporte,
conseguida com a utilização de materiais adequadamente selecionados e resistentes às condições
adversas impostas pelos esgotos.
Particular atenção deve ser dispensada à escolha do material de enchimento e ao
preenchimento do filtro, uma vez que problemas recorrentes de entupimento e colmatação do
meio suporte têm sido reportados com alguma freqüência.
Nesse sentido, as recomendações contidas no item ASPECTOS OPERACIONAIS devem
ser seguidas com critério, particularmente no caso de filtros preenchidos com pedras, uma vez que
o tamanho e o formato indevido das pedras podem ocasionar a falha do sistema de tratamento.
Outro aspecto relevante refere-se à construção do sistema de drenagem de fundo, que deve ser
resistente o suficiente para suportar todo o peso da estrutura localizada na parte superior,
incluindo o meio suporte, o crescimento do biofilme e o próprio esgoto. Além disso, devem ser
garantidas, com rigor, as recomendações de projeto relativas às declividades do sistema de
drenagem e às áreas livres para permitir a ventilação do FBP.
Aspectos Operacionais
Os filtros biológicos percoladores caracterizam-se pela sua simplicidade operacional, uma
vez que o grau de mecanização do sistema é mínimo, atendo-se, principalmente, à distribuição de
vazão no FBP e à remoção de lodo no decantador secundário. Dessa forma, a operação do sistema
consiste, basicamente, de atividades corriqueiras visando:
• o monitoramento da eficiência do sistema de tratamento, feito através de um adequado
programa de análises físico-químicas do afluente ao FBP e do efluente do decantador secundário;
• o monitoramento da produção de lodo no sistema de tratamento, feito através de medições
de sólidos suspensos no efluente do FBP e, principalmente, no efluente e no lodo de descarte do
decantador secundário;
• a verificação da ocorrência de empoçamentos na superfície do FBP, que ocorre,
geralmente, quando o volume de vazios no meio suporte é tomado por crescimento em excesso da
camada biológica;
• a verificação da proliferação excessiva de moscas, que ocorre, notadamente, quando o FBP
é operado de forma intermitente e/ou com baixas taxas de aplicação hidráulica superficial;
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Exemplo de dimensionamento
Dimensionar um filtro biológico percolador de alta taxa para o pós-tratamento dos efluentes
de um reator UASB, sendo conhecidos os seguintes elementos de projeto:
a) Dados de entrada
• População: P = 50.000 hab
• Vazão afluente média: Qméd = 7.944 m3/d
• Vazão afluente máxima diária: Qmáx-d= 9.144 m3/d
• Vazão afluente máxima horária: Qmáx-h = 12.744 m3/d
• Carga orgânica afluente ao reator UASB: COA-UASB = 2.500 kgDBO/d
• DBO média afluente ao reator UASB: So-UASB = 315 mg/L
• Eficiência de remoção de DBO esperada para o reator UASB: 70%
• Carga orgânica efluente do reator UASB, em termos de DBO: COe-UASB = 750
kgDBO/d
• DBO média efluente do reator UASB: Se-UASB = 94,4 mg/L
• Concentração de DBO desejada para o efluente do FBP: Se-FBP < 30 mg/L
• Temperatura do esgoto: T = 23°C (média do mês mais frio)
• Coeficiente de produção de lodo no FBP: Y = 0,75 kgSST/kgDBOremov
• Concentração esperada para o lodo de descarte do decantador secundário: C = 1%
• Densidade do lodo: g =1.020 kgSST/m3.
Verifica-se, de acordo com a Tabela 3, que os valores das taxas de aplicação hidráulica
superficial ficaram compreendidos dentro das faixas recomendadas, para as três condições de
vazões aplicadas.
De acordo com a Tabela 3, a taxa de aplicação superficial máxima deverá estar situada entre
40 e 48
m3/m2.d e o valor calculado resultou:
O lodo dos decantadores secundários irá para o poço de lodo e daí bombeado para a entrada
dos reatores UASB. Para lodo removido com 1% de sólidos, tem-se:
Vlodo = Plodo / (gx C) = (563 kgSS/d) / (1020 kg/m3 x 0,01) = 55,2 m3/d
- produção total, incluindo o lodo secundário retornado aos reatores UASB, considerando-se
20% de redução do lodo volátil: