Teologia Dogmática - Os Anjos (Pe. Bujanda)

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TEOLOGIA DOGMÁTICA - OS ANJOS

Fonte: J. Bujanda, S.J, Manual de Teologia Dogmática, tradução de J. Dionísio de


Oliveira, S.J., Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1958, 30 edição, págs. 220 a 241

Tratado VI
Deus Criador
Capítulo II
Os Anjos

Art. 11 C Existência dos Anjos

Tese. Os Anjos existem


Qualificação: De fé
Explicação. C Os Anjos são seres intelectuais, inferiores a Deus, e mais perfeitos
que os homens. A palavra AAnjo@ é de origem grega; originariamente significa
mensageiro.
Adversários. C No tempo dos apóstolos, os Saduceus negavam a existência dos
1
anjos . Atualmente, negam-na todos aqueles que só admitem a existência de seres
materiais, como os ateus e grande parte dos racionalistas.

Provas
A) Tradição. C ADeus... desde o princípio do tempo criou do nada duas espécies de
seres C os espirituais e os corporais, isto é, os anjos e o mundo e depois criou o homem,
que sendo constituído de corpo e espírito, como que é comum a ambos os seres@2
B) Escritura. C A Sagrada Escritura fala-nos de seres intelectuais, inferiores a Deus
e superiores aos homens; logo, segundo ela, existem os seres que nós denominamos
AAnjos@.
a) Existem seres intelectuais, chamados AAnjos@
1. O anjo S. Rafael fala com Tobias e sua família. 3

1 ) Actos, XXIII, 8

2 ) Concílio 41 de Latrão, cap. 1, D.428

3 ) Tobias, XII, 15 e segs.


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2. O anjo S. Gabriel anuncia a Maria a Encarnação do Verbo e o próximo


nascimento de S. João Batista4.
3. Um anjo anuncia a ressurreição de Jesus Cristo às mulheres que vão ao
sepulcro5.

b) Os anjos são inferiores a Deus


Com efeito, segundo a Escritura:
11 Foram criados por Deus. Por ele Aforam criadas todas as coisas... visíveis e
invisíveis, quer sejam os tronos, quer as dominações, quer sejam os principados, quer as
potestades; tudo foi criado por ele e para ele@6
21 Os anjos pecaram. ADeus não perdoou aos anjos que pecaram@7.
31 Os anjos maus foram castigados com o inferno. Deus prendeu-os Acom cadeias
eternas, no seio das trevas@8.

c) Os anjos são superiores aos homens


AQue coisa é o homem, para que assim te lembres dele? ... Tu o fizeste um pouco
inferior aos Anjos@9 Falando do dia de Juízo, diz Jesus aos Apóstolos que ninguém sabe
quando será, Anem os anjos do Céu, nem o Filho, mas só o Pai@10, como se dissesse: é tão
difícil saber o dia em que Deus virá a julgar os homens, que não só estes, mas até os anjos
o ignoram, apesar de serem superiores aos homens.

Observação. C Para demonstrar a existência dos anjos, como os definimos, não


basta citar simplesmente qualquer texto da Escritura, porque esta chama também anjos ao

4 ) S. Lucas, I, 26 e segs.

5 ) S. Mateus, XXVIII, 5.

6 ) Colossenses, I, 16.

7 ) II S. Pedro, II, 4.

8 ) Judas, Vers. 6

9 ) Hebreus, II, 6 e 7.

10 ) S. Marcos, XIII, 32
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próprio Jesus Cristo, a S. João Batista11, aos bispos12, e até às criaturas irracionais, como o
faz o Salmista referindo-se aos ventos13.
A razão está em que todos eles são uma espécie de ministros enviados do Senhor, e
em hebraico a palavra que significa anjo tem propriamente o sentido de enviado.

C) Liturgia C A existência dos anjos deduz-se também da prática da Igreja, que os


menciona freqüentemente, por exemplo, em todos os prefácios da Missa e institui festas
em honra dos Anjos da Guarda, de S. Miguel, S. Gabriel e S. Rafael.

Art. 21 C Espiritualidade dos Anjos

TESE: Os Anjos são imateriais ou incorpóreos.

Qualificação: É doutrina comum dos teólogos e pode dar-se como


teologicamente certa.
Explicação C 1. Um ser é material ou corpóreo quando consta de partes sensíveis,
por exemplo, um livro, uma planta, o corpo do homem, são materiais, porque se podem
dividir em partes sensíveis.
2. A alma humana é imaterial, como se verá no capítulo seguinte, mas tem uma
relação íntima com o corpo, ao qual Deus a destinou a unir-se naturalmente, para formar
o homem. Nos anjos, pelo contrário, não há nenhuma relação à matéria, por serem puros
espíritos, isto é, por não constarem de matéria nem serem por natureza destinados a
unir-se a ela.
3. A doutrina da perfeita imaterialidade dos anjos, ao princípio, não esteve clara.
Mesmo alguns Padres da Igreja, por influências da filosofia pagã, e por não interpretarem
bem algumas passagens da Escritura, julgaram que os anjos constavam de alma e corpo,
mais subtil e leve que o nosso. Atualmente, os Teólogos católicos são unânimes em
afirmar a perfeita espiritualidade dos anjos. Seria, portanto, grande temeridade sustentar o
contrário.

Provas
A) Tradição C Eis como se exprime o IV concílio de Latrão, já mais de uma vez
citado: ADeus... desde o princípio do tempo criou do nada duas espécies de seres, os
11 ) 20"Ecce mitto angelum meum, et praeparabit viam ante faciem meam... et angelus
testamenti quem vos vultis@ Malaquias, III, 1. A interpretação deste texto encontra-se em s. Mateus,
quando Jesus Cristo se refere a São João: AHic est enim de quo scriptum est: Ecce ego mitto angelum
meum ante faciem tuam, qui praeparabit viam tuam ante te@. S. Mateus, XI, 10.

12 ) Apocalipse, XXI; 3, 1.

13 ) Salmo, CIII, 4
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espirituais e os corporais, isto é, os anjos e o mundo, e depois criou o homem, que sendo
constituído de corpo e alma, como que é comum a ambos os [email protected]
O Concílio tinha em vista definir a criação de todos os seres, e não a espiritualidade
dos anjos. Portanto, este testemunho não prova que seja de fé católica a espiritualidade
dos anjos.
B) Escritura C Maneira como se expressam os livros sagrados:
11 A Sagrada Escritura, ao falar dos anjos, chama-lhes espíritos.
a) São Paulo, referindo-se aos anjos bons, diz que Atodos são espíritos ministros de
Deus, enviados em auxílio dos que se hão-de salvar@15.
b) S. Mateus, aludindo à cura de vários possessos que Jesus libertara do demônio C
dos anjos maus C escreve: Aexpulsava, com a sua palavra, os espíritos@16.

21 A Escritura nunca faz menção do corpo dos anjos; pelo contrário, aplica aos
anjos a designação de espíritos, à semelhança do que faz com Deus: ADeus é espírito@17.
Ora, sendo Deus imaterial, ou puramente espiritual, segue-se que também os anjos o são.

31 Confirma-o ainda a Escritura, que ao falar da alma humana, não lhe chama
simplesmente espírito como aos anjos, mas o meu espírito, o espírito do homem: Anas
tuas mãos encomendo o meu espírito @, diz Jesus a seu Eterno Pai, antes de expirar 18.
ASenhor Jesus, recebe o meu espírito@, exclamou o protomártir Santo Estêvão, quando o
apedrejavam19. AQuem dos homens sabe as coisas que são do homem (isto é, o que se
passa no seu interior), senão o espírito do homem, que nele reside?@20, pergunta o
Apóstolo São Paulo.
Conclusão C Vemos pois que a Escritura chama aos anjos Aespíritos@, pura e
simplesmente, à semelhança do que faz com Deus, que nem é matéria, nem a esta se une
por natureza, para constituir um novo ser; por outro lado, quando se refere à alma
humana, apesar de ser espiritual, nunca lhe chama simplesmente Aespírito@, mas Ameu
espírito@, etc., por não ser o homem só espírito; temos, portanto, de concluir que os anjos
são espíritos puros ou completamente imateriais, como Deus.

14 ) Concílio 41 de Latrão, Cap. 1, D. 428

15 ) Hebreus, I, 14.

16 ) S. Mateus, VIII, 16.

17 ) São palavras de Jesus: ASpiritus est Deus@. S. João, IV, 24.

18 ) S. Lucas, XXIII, 46 e Salmo XXX, 6.

19 ) Actos, VII, 59.

20 ) I Coríntios, II, 11.


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Dificuldade C nas páginas da Escritura aparecem freqüentemente anjos em figura


de homens, e, como eles, comem e falam21; logo devem ter corpo.
Resposta C 11 Aparecem, é certo, em figura corporal, como São Rafael a Tobias;
mas também desaparecem instantaneamente, o que não sucederia se tivessem corpo como
nós.
21 Comem, é verdade, como atesta a Escritura, mas só aparentemente, conforme
declarou São Rafael a Tobias: Aparecia-vos que comia e bebia convosco, mas eu
alimento-me de uma comida invisível e de uma bebida que não pode ser vista pelos
homens@22; comida e bebida semelhante à de Jesus, quando dizia: Ao meu alimento é fazer
a vontade daquele que me enviou@23. Logo, por testemunho dos mesmos anjos, o fato de
comerem não signifca que tenham corpo real, mas aparente.
31 Também o Espírito Santo desce sobre Jesus em figura de pomba, no batismo 24,
ou sobre os discípulos em línguas de fogo no dia de Pentecostes 25, e contudo, o Espírito
Santo, como Deus que é, não tem figura nem corpo algum. Por conseguinte, se a Escritura
atribui aos anjos corpo ou propriedades exclusivas dos corpos, é porque eles apareceram
revestidos de figura corporal, ou então porque os livros sagrados os representam,
procedendo à maneira de homens. É o que também sucede, quando se afirma que Deus se
irou, desceu à terra, etc.

Art. 31 C Imortalidade dos Anjos

TESE: Os anjos são imortais

Qualificação: É de fé porque assim o ensina a Igreja no seu magistério


universal ordinário.

Noção e divisões da imortalidade C Imortalidade é a propriedade segundo a qual


um ser dotado de vida não está sujeito à morte, ou por outras palavras, está isento de
morrer.
Todos os animais são mortais, isto é,passado algum tempo deixam de existir. O
mesmo sucede com os homens. Somo formados de corpo e alma; o corpo depois de mais
ou menos anos, torna-se incapaz de continuar a viver, como atesta a experiência. Deus
21 ) Veja-se como exemplo típico o que se conta de S. Rafael. Tobias, III, 25; v, 5 e segs.

22 ) Tobias, XII, 19.

23 ) S. João, IV, 34

24 ) S. Lucas, III, 22

25 ) Actos, II, 3
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podia, é certo, fazer o milagre de nos conservar a vida perpetuamente; neste caso
seríamos imortais por graça ou favor. É a imortalidade que nos espera na outra vida,
depois da ressurreição.
A alma ao contrário do corpo, é imortal por natureza e assim, continuará a viver
eternamente, sem milagre de espécie alguma. É claro que Deus poderia, apesar de tudo,
tirar-lhe a vida, privando-a da existência.
Só Deus é de tal natureza que em caso nenhum pode perder a vida. Esta
imortalidade divina chama-se essencial.
Resumindo:
Imortalidade essencial, é a própria de um ser que em nenhum caso pode perder a
vida.
Imortalidade natural, é a própria de um ser que pela sua mesma natureza está livre
da morte, se Deus não lhe tirar a existência.
Imortalidade gratuita, é a própria de um ser, de natureza mortal, mas a quem Deus,
por milagre, conserva eternamente a vida.

Prova

Escritura C Cristo Nosso Senhor dirá ao réprobos no juízo final: AApartai-vos de


mim, malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o diabo e para os seus
anjos@26. Ora, se o fogo que há-se castigar os anjos é eterno, também eles o devem ser,
pois não se compreende que se prepare um castigo eterno a um ser que não dura para
sempre. Por conseguinte, os anjos são dotados pelo menos de imortalidade gratuita. Mas
poder-se-á igualmente deduzir do texto citado que é atributo dos anjos a imortalidade
natural? Parece que sim. Na verdade, se os anjos não fossem de natureza imortal e Deus
os castigasse eternamente, parece que seriam mais castigados do que eles mereciam;ora
isto, que repugna à justiça divina, seria uma blasfêmia pensá-lo.
Dificuldade C Deus castiga eternamente os homens réprobos, em corpo e alma,
embora o corpo não seja por natureza imortal; portanto, ou Deus é injusto neste caso, ou
também o não será castigando eternamente os anjos, embora eles não sejam naturalmente
imortais.
Resposta C Tal castigo, apesar de os homens não serem imortais quanto ao corpo,
funda-se em que Deus, segundo um favor da sua bondade, destinou o homem a viver em
corpo e alma eternamente, depois da ressurreição. Não o fez imortal por natureza, mas
por graça; ora uma vez imortal, se é justo que, salvando-se, goze eternamente em corpo e
alma, também o será que sofra eternamente, em corpo e alma, se se condena. Em
contraposição, não nos constando que os anjos sejam imortais por graça, se Deus os
castiga eternamente, devemos concluir que o são por natureza.

26 ) S. Mateus, XXV, 41.


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Observação C Entre os Santos Padres alguns afirmam que os anjos são mortais,
outros que são imortais. Esta contradição é apenas aparente. Ao afirmar que os anjos são
mortais, querem os primeiros significar que Deus poderia aniquilá-los: ao dizer que são
imortais, pretendem os últimos ensinar que à semelhança de nossa alma, nada há neles
que lhes possa originar a morte. Por outras palavras: os primeiros negam a imortalidade
essencial, própria só de Deus; os segundo afirmam a imortalidade natural. Na prática,
não se faz hoje tal distinção; dizemos simplesmente que os anjos são imortais.

Notas Complementares
10. Número de Anjos C Ninguém sabe quantos anjos criou Deus, mas a Escritura
deixa entrever que o seu número é muito grande. Daniel diz-nos: AMilhares de milhões o
serviam, e centenas de milhares assistiam ante o seu trono@27. Jesus Cristo declara a São
Pedro, no horto de Getsemani, que seu Pai Lhe enviaria, se ele lho pedisse, mais de doze
legiões de anjos28, e S. Pedro refere-se ao seu grande número29.
20 Diversidade de categoria nos Anjos C Que nem todos os espíritos angélicos são
da mesma categoria,parece insinuá-lo claramente a Escritura, ao afirmar que São Miguel
é Aum dos principais@30, e também ao falar-nos de Arcanjos31, palavra que,
indubitavelmente, indica uma classe superior à dos simples anjos. Os mesmos livros
sagrados designam os anjos com nove nome diferentes: anjos 32, arcanjos33, principados,
potestades, virtudes, dominações34, tronos35, querubins36 e serafins37.
Por esta razão se contam ordinariamente nove coros ou graus na hierarquia
angélica. Contudo não está averiguado se esses nomes representam diversos graus de
perfeição ou diversos ofícios apenas. São conhecidas, a este respeito, as palavras de Santo

27 ) Daniel, VII, 10.

28 ) S. Mateus, XXVI, 53. O número de soldados na legião romana oscilava entre 4.000 a
6.000
29 ) Hebreus, XII, 22.

30 ) Daniel, X, 13.

31 ) I Tessalonicenses, IV, 15; S. Judas, vers. 9.

32 ) I S. Pedro, III, 22.

33 ) I Tessalonicenses, IV, 15.

34 ) Efésios, I, 21.

35 ) Colossenses, I, 16.

36 ) Génesis, III, 24.

37 ) Isaías, VI, 2
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Agostinho: AComo se distribui essa altíssima dignidade, diga-o quem puder, eu confesso
que não sei@38.
30 Quando foram criados os Anjos? C Há diversidade de opiniões. Segundo a mais
corrente, foram criados no princípio do mundo, ao mesmo tempo que a matéria de onde
se formaram os céus e a terra.

Art. 41 C Prova, Prêmio e Castigo dos Anjos


11 A prova

TESE: Os anjos tiveram um período de prova, antes de receberem o


prêmio ou castigo definitivo.

Qualificação: Doutrina teologicamente certa.


Explicação C Os homens foram criados para fazer a vontade de Deus nesta vida e
receber na outra o prêmio correspondente, ou o castigo merecido se a não cumprirem. De
modo análogo, quis Deus que os anjos fossem sujeitos a um tempo de prova. E assim,
nem os bons foram criados no estado de felicidade de que hoje gozam, nem os maus nas
penas que hoje sofrem.
Adversários C Luís Vives e alguns autores mais julgavam que os anjos bons
tiveram ao princípio a felicidade sobrenatural dos bem-aventurados.
Prova da Escritura C S. Pedro afirma que os anjos pecaram39, e S. Judas que foram
castigados com penas eternas40. Destas passagens deduz-se, com toda a evidência, que
tiveram um tempo de prova, pois, de outra forma, não teriam sido castigados, nem
perdido a felicidade.
Os santos no Céu não podem pecar nem perder a felicidade. Com efeito, o Céu
deixaria de o ser, se nele pudesse entrar o temor de o perder, e muito mais o pecado.

21 Prêmio dos Anjos bons

38 ) Santo Agostinho, Enchiridion, cap. 58.

39 ) ADeus não perdoou aos anjos prevaricadores@. Deus angelis peccantibus non pepercit@. II
S. Pedro, II, 4

40 ) AAngelos vero qui non servaverunt suum principatum... vinculis aeternis sub caligine
reservavit@. S.Judas, ver. 6.
TESE: Desde que terminou o tempo de prova, os anjos que não
pecaram gozam da clara visão de Deus.

Qualificação: Doutrina teologicamente certa.

Provas

A) Tradição C Bento XII define que as almas dos que morrem em graça e
de nada têm que purificar-se, Aestão com Cristo no paraíso celestial,
associados à companhia dos Santos Anjos@41. Supõe-se, portanto, que, aos
anjos e aos homens, é concedido o mesmo prêmio. Ora, dado que as almas
dos bem-aventurados gozam da visão clara de Deus como se define no
mesmo documento, segue-se que os anjos também desfrutam dela.
B) Escritura C a) Cristo Nosso Senhor recomendou que se não
escandalizassem as crianças Aporque os seus anjos no céu incessantemente
estão vendo a face de meu Pai@42.
b) O Apocalipse apresenta-nos os anjos e os homens reunidos diante do
trono do Altíssimo43. Mas, gozando os homens, no céu, da visão clara de
Deus C na qual consiste a bem-aventurança eterna C, deduz-se claramente
do texto do Apocalipse, ao menos se o unimos ao anterior de S. Mateus,
que os anjos gozam da visão de Deus.

31 Pecado e castigo dos anjos

TESE: Uma parte dos anjos pecou e foi condenada a tormentos eternos.

Qualificação: De fé, pelo menos porque assim o ensina a Igreja no seu


magistério universal ordinário.
Adversários C Segundo os maniqueus e priscilianistas, Satanás e os seus anjos
eram maus, por assim terem sido criados pelo princípio do mal. (Os maniqueus admitiam
dois princípios, um do bem, outro do mal).

I) Os Anjos Pecaram
Provas

41 ) Constituição Benedictus Deus, 29 de Janeiro de 1336. D. 20530.

42 ) S. Mateus, XVIII, 10

43 ) Apocalipse, VII, 11.


A) Tradição C AO diabo e os outros demônios foram criados bons por natureza,
mas eles mesmos, por sua culpa, se fizeram maus@44.
A Santa Igreja Romana Acrê... que um só Deus verdadeiro, Pai, filho e Espírito
Santo, é Criador de todas as coisas visíveis e invisíveis. Quando lhe aprouve, deu por sua
bondade existência a todas as criaturas, tanto corporais como espirituais, C boas na
verdade..., e afirma (a Igreja) que não há nenhuma natureza do mal, porque, toda a
natureza, enquanto natureza, é boa@45. Logo, se alguns anjos são maus, são-no por culpa
sua, isto é, por terem pecado.
B) Escritura C ADeus não perdoou aos anjos que pecaram@46.

I) Os Anjos prevaricadores foram condenados a Tormentos


Eternos
Provas
A) Tradição C 1. ASe alguém diz ou sente que o suplício dos demônios e dos
homens ímpios dura só um certo tempo e depois terá fim, seja anátema.@ Assim se
expressa um sínodo particular, do ano 543, presidido por S. Menas, patriarca de
Constantinopla, e que, segundo parece, foi confirmado pelo Papa Virgílio (conferir D.
211 e a nota do número 203).
2. Os réprobos e os eleitos Ahão-de ressuscitar com os próprios corpos que agora
têm, para que recebam, segundo as suas obras os mereceram, uns pena perpétua com o
demônio, e os outros (os eleitos) glória eterna com Cristo. (Concílio 41 de Latrão,
capítulo primeiro, D. 429).
B) Escritura C 1. Deus Aprendeu com cadeias eternas, no seio das trevas, os anjos
prevaricadores@47.
2. AApartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno que está preparado para o
diabo, e para os seus anjos@48.

Notas Complementares
10 Os anjos maus não tiveram possibilidade de fazer penitência depois do pecado,
para conseguirem a felicidade eterna.
Qualificação: É doutrina comum dos teólogos.
Os homens ainda que pequem muitas vezes, nem por isso ficam irremediavelmente
perdidos, porque Deus concede-lhes, ordinariamente, entre o pecado e a morte, tempo
suficiente para se arrependerem, e livrando-se , por esta maneira, do inferno, obterem a
glória. Aos anjos, pelo contrário, não lhes foi dado tempo de arrependimento; com o
pecado, acabou-se0-lhes o tempo de prova. Assim o ensinamos teólogos, apoiados no

44 ) Concílio 41 de Latrão, cap. 1, D. 428.

45 ) Concílio de Florença, Decreto para os Jacobitas. D. 706.

46 ) II S.Pedro, II, 4.

47 ) S. Judas Tadeu, vers. 6.

48 ) S. Mateus, XXV, 41.


texto, várias vezes aduzido, ADeus não perdoou aos anjos que pecaram@49. Ora não é
verosímil que de tantos que se condenaram, nenhum tivesse feito penitência, se lhe fosse
dado tempo e graça para isso.
Se, de fato, os anjos tivessem recebido graça para se converterem, essa graça só
podia ter sido concedida em virtude dos méritos de Cristo ou por pura generosidade de
Deus. Ora, graça de Cristo não a tiveram porque a Escritura e a Tradição C únicas fontes
de informação C não a mencionam. Graça de Deus também não, porque, nesse caso,
Deus teria sido mais generoso com os anjos do que com os homens dando-lhes graça por
pura generosidade, quer dizer, sem ter em conta os méritos de Cristo. Tal afirmação iria
contra o sentir dos Santos Padres que ensinam que Deus se mostrou mais benigno com os
homens do que aos anjos, ao dar-lhes a graça.

20 O não ter sido concedido aos anjos, depois do pecado, tempo de arrependimento,
não repugna à misericórdia de Deus. C Os anjos não sentiam inclinações ao pecado,
como as que no homem provêm do corpo, e por outro lado a sua privilegiada inteligência,
via claramente o castigo a que se sujeitavam pecando.
Não obstante isso, e com plena deliberação do que faziam, ofenderam a Deus, Ora
bem, se os homens dificilmente abandonam uma resolução, que tomaram depois de
ponderarem com seriedade todos os inconvenientes que ela encerra, muito mais
dificilmente os anjos, cujo entendimento penetra incomparavelmente melhor que o do
homem, os motivos das suas decisões.
Negar tempo de penitência a quem pecara sem a isso se entir aliciado e conhecendo
perfeitamente as conseqüências a que se expunha, não é contra a misericórdia divina,
tanto mais se, dificilmente viria a ter arrependimento.

30 Qual foi o pecado dos anjos? C Não consta da Tradição nem da Escritura 50 em
que consistiu o pecado dos anjos. Os teólogos julgam tratar-se de um pecado de soberba,
ou seja, de complacência na própria excelência com menoscabo da honra e respeito
devidos a Deus. Estes elementos encontram-se aliás, em todo o pecado, pois quem ofende
a Deus prefere à divina a própria vontade, e nela se compraz.

Art. 51 C Os Anjos Custódios

49 ) II S. Pedro, II, 4.

50 ) 20N.D: Tal afirmação é rara, pois Vicente Risco, em sua AHistoria del diablo@, falando
sobre o mesmo tema, cita as seguintes passagens dos livros sagrados:
APero los textos del Eclesiástico 20X, 15: *El princípio de todo pecado es la soberbia +; de Tobías
20IV, 15.: *No permitas jamás que la soberbia domine en tu corazón o en tus palabras, porque de ella
tomó principio toda especie de perdición +; de Isaías 20XIV, 13-14. *Lucifer, tú decías en tu corazón:
escalaré el cielo, sobre las estrellas de Dios levantaré mi trono, sentaréme sobre el Monte del Testamento,
al lado del Septentrión; sobrepujaré a las nubes, seré semejante al Altísimo +, ha inclinado a la mayoría de
los Santos Padres y de los Doctores a creer que fue pecado de soberbia.
Según Santo Tomás, Lucifer quiso ser tanto como Dios: Elevatum est cor tuum, et dixisti: Deus
ego sum (Ezequiel, XXVIII.), y creyó que la bienaventuranza la era debida por naturaleza.@
TESE: Deus confia aos Anjos bons a guarda dos homens.

Qualificação: Doutrina de Fé.


Explicação C É doutrina de fé, por assim constar do magistério ordinário e
universal da Igreja que Deus envia os seus anjos para guardar os homens, não o é, porém,
que todos os homens tenham o seu anjo custódio. Que o tenham todos os fiéis, seria
temeridade negá-lo, visto que o afirmam geralmente os doutores da Igreja, e é doutrina
ordinária, embora menos certa que a anterior, que o tenham também os não cristãos.

Provas
A) Escritura C Diz-nos o Salmista que o anjo do Senhor Alevantará a sua tenda
(isto é, fixará a sua morada) no meio dos que temem a Deus e os tirará do perigo@51. Jesus
Cristo, referindo-se às crianças que certo dia tinha na sua frente, disse: AOs seus anjos no
céu incessantemente estão vendo a face de meu pai@52. O Apóstolo S. Paulo escreveu:
ATodos (os anjos bons) são espíritos, ministros de Deus, enviados em auxílio dos que se
hão-de salvar@53. Consta, pois, claramente da Escritura que, em geral, Deus envia os seus
anjos para guardar os homens.
É verdade, que o primeiro texto se refere diretamente aos Judeus tementes a Deus,
e o segundo às crianças israelitas que Jesus tinha diante de si: mas não havendo razão
para supor que se tratava de um privilégio, somos levados pela Escritura a concluir que
não só os predestinados mas todos os cristão, sejam ou não predestinados, têm o seu anjo
da guarda, já que eles formam atualmente o povo de Deus, como outrora os Judeus.
B) Liturgia C A Igreja na sua Liturgia, ao estender a todo o mundo a festa dos
Anjos Custódios, ensina-nos praticamente, que todos os fiéis têm o seu anjo da guarda.
Observação C Apesar de estar mais vulgarizada a doutrina de que cada fiel, tem o
seu Anjo da guarda próprio, não é, contudo, tão certa como o fato geral de que nos são
dados anjos da guarda. Poderia, muito bem, estar confiada a um, a guarda de várias
pessoas, como a um aio a de várias crianças.

Art. 61 C Os anjos maus e as tentações

TESE: Os anjos maus esforçam-se por levar o homem ao pecado.

Qualificação: É verdade de Fé54


Provas
51 ) Salmo, XXXIII, 8.

52 ) S. Mateus, XVIII, 10

53 ) Hebreus, I, 14.

54 ) Está claramente na Escritura, e a Igreja o ensina no seu magistério ordinário e universal


como doutrina revelada.
A) Tradição C Ninguém, nem sequer os que foram renovados com a graça
batismal, é apto para superar as tentações diabólicas... a não ser que por um auxílio diário
de Deus, receba o favor de perseverar em vida boa. (Indículo ou coleção de testemunhos
autorizados dos Papas anteriores ao século VI; D. 132).
B) Escritura C ASede sóbrios e estai vigilantes, porque o demônio, vosso inimigo,
anda ao redor de vós... buscando a quem devorar@55. ANós não temos que lutar contra a
carne e o sangue (os homens) mas contra os principados e potestades, contra os que
governam este mundo de trevas (do pecado), contra os espíritos maus@56.
Nota C São Paulo, na mesma carta aos Efésios, donde é tirado o texto que citamos,
dá aos anjos bons os nomes de potestades e principados. É, portanto, evidente que nos
dois lugares se refere aos anjos.

Art. 71 C A possessão diabólica

55 ) I S. Pedro, V, 8.

56 ) Efésios, VI, 12
TESE: Os anjos maus chegam às vezes a apoderar-se dos homens.

Qualificação: Que se tenham dado alguns casos, v. g. no Evangelho, é de fé; que depois se
tenham repetdio, é doutrina comum dos teólogos que não pode ser negada sem
temeridade.
Explicação C Diz-se que um homem está possesso quando nele entrou e mora o demônio.
Acreditar com facilidade que uma pessoa está possessa é próprio de ignorantes. Negar que se
tenham dado casos de verdadeira possessão, seria negar uma verdade claramente ensinada pela
Sagrada Escritura.

Adversários C Muitos racionalistas pretendem reduzir a possessão diabólica, de


que fala a Escritura, a casos patológicos de mania, loucura, histeria ou epilepsia. Jesus,
tratando esses doentes endemoninhados, dizem, não acreditava que estivessem possessos;
limitava-se a proceder de harmonia com as convicções do povo.

Provas
A) Escritura C Prescindindo, por agora, de outros casos que refere a Sagrada
Escritura, é certo que alguns deles só podem explicar-se por verdadeira possessão; logo, a
possessão diabólica é um fato real.
11 S. Lucas narra como Jesus, ao expulsar de certo homem o demônio, lhe
perguntou: AQue nome é o teu? Ele então respondeu: Legião. Porque eram muitos os
demônios que tinham entrado nele@57. E pediram a Jesus, que em vez de os mandar para o
abismo os deixasse entrar numa vara de porcos que ali andava a pastar. Jesus
permitiu-lhes, e logo os animais correram a precipitar-se no lago vizinho. Não se pode
negar que se trata aqui de verdadeira possessão diabólica.
21 S. Marcos escreve que um dias, Asendo já sol posto, levaram (a Jesus) todos os
que estavam doentes e os possessos do demônio@, e Jesus Acurou a muitos que se
achavam oprimidos de diversas enfermidades e expulsou muitos demônios@58. É evidente
que o evangelista se refere, nesta passagem, à cura de doentes e à expulsão de demônios,
como a dois casos diferentes.

57 ) S. Lucas, VIII, 30.

58 ) S. Marcos I, 32 e 34; S. Mateus, VIII, 16; S. Lucas, IV, 40 e 41.


B) Liturgia C O pensamento da Igreja manifesta-se claramente no rito da
ordenação dos exorcistas, isto é, dos ministros que têm a seu cargo expulsar dos possessos
o demônio. Se criou e mantém essa instituição, é porque acredita que o demônio algumas
vezes, se apodera dos homens. aol mesmo tempo, proibindo que tal ofício se exerça, sem
especial autorização, mostra que não se devem admitir facilmente casos de possessão.

Nota
Nomes que se costumam dar aos anjos maus: diabo, demônio, satanás, lúcifer e
lusbel
Lemos no IV concílio de Latrão que Ao diabo e os outros demônios foram criados
bons por natureza, mas eles mesmos, por sua culpa, se fizeram maus@59.
Jesus Cristo declara que o fogo do inferno Afoi preparado para o diabo e para os
seus anjos@60.
Nestas passagens da Tradição e da Escritura, o diabo é apresentado como chefe dos
espíritos a que chamamos anjos maus ou demônios. ADiabo@, palavra de origem grega,
significa inimigo, caluniador, e seria a tradução do vocábulo hebraico ASatanás@, que tem
o sentido de adversário. Em latim e português é freqüente chamar Lúcifer ao diabo C
embora na Escritura nunca se lhe dê este nome.
Alúcifer@ é tradução do vocábulo grego Aeosfóros@ que significa portador da aurora e
vulgarmente AEstrela da manhã@, nome que o Profeta Isaías61 dá ao rei de Babilônia, ao
descrever como este rei caiu, do mais alto esplendor na mais profunda miséria. Os Santos
Padres usaram desse fato como exemplo da queda de satanás, e daí se ocasionou o nome
de lúcifer. Em português chama-se-lhe também Alusbel@.
A palavra Ademônio@, de origem grega, parece significar um ser privilegiado,
intermédio entre Deus e os homens.
* * * * *

59 ) Concílio 41 de Latrão, Cap. 1, D. 428.

60 ) S. Mateus, XXV, 41.

61 ) Isaías, XIV, 12

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