Textos - Vida Antes Do 25 de Abril
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25 de abril de 1974, o dia em que o País voltou a ser uma democracia, depois de 48 anos
de ditadura. Sabe como tudo se passou!
Mas o governo português da altura teimava em manter a posse das colónias, e por isso
enviava para a guerra todos os jovens. O serviço militar a tropa, como se costuma dizer
durava então quatro anos, os primeiros dois passados na «metrópole», em instrução e
os dois últimos no «ultramar», em combate.
Muitos jovens morriam nos combates em África. Durante os 13 anos que durou a guerra
perderam a vida quase 9 mil e uns 30 mil ficaram feridos ou estropiados. Quase todas
as famílias estavam de luto, pois tinham pelo menos um morto na guerra. Em 1973,
Portugal tinha 150 mil homens a combater. Muitos dos sobreviventes, depois de
regressarem, mostravam dificuldade em integrarem-se na vida civil e eram frequentes
as doenças psiquiátricas provocadas pela terrível experiência por que tinham passado.
Além disso, Portugal (que era, como agora, um país pobre) dirigia para as despesas da
guerra cerca de metade do dinheiro que gastava. Portanto, quase não havia obras
públicas; construíam-se poucas estradas, pontes, escolas ou hospitais.
A Guerra Colonial nunca poderia ser ganha pelos portugueses, pois o seu combate era
contra a própria História. Quase toda a África era já independente.
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Nesse tempo não se podia criticar o governo, mas como a guerra se arrastava, os
mortos eram já muitos e as despesas cresciam cada vez mais, as pessoas passaram a
estar fartas daquilo tudo. A certa altura, os militares começaram a ser apontados como
os culpados por a guerra se arrastar.
Ora, como eles sabiam melhor do que ninguém que uma guerra daquelas nunca poderia
ser ganha, resolveram derrubar o governo pela força. Fazer o que se chama um golpe
de Estado. Para isso fundaram o Movimento das Forças Armadas (MFA).
O dia escolhido para a ação foi 25 de abril de 1974. De madrugada, militares do MFA
ocuparam os estúdios do Rádio Clube Português e, através da rádio, explicaram à
população que pretendiam que o País fosse de novo uma democracia, com eleições e
liberdades de toda a ordem. E punham no ar músicas de que a ditadura não gostava,
como Grândola Vila Morena, de José Afonso.
Ao mesmo tempo, uma coluna militar com tanques, comandada pelo capitão Salgueiro
Maia, saiu da Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, e marchou para Lisboa. Na
capital, tomou posições junto dos ministérios e depois cercou o quartel da GNR do
Carmo, onde se tinha refugiado Marcelo Caetano, o sucessor de Salazar à frente da
ditadura.
Durante o dia, a população de Lisboa foi-se juntando aos militares. E o que era um golpe
de Estado transformou-se numa verdadeira revolução. A certa altura, uma vendedora
de flores começou a distribuir cravos. Os soldados enfiavam o pé do seu cravo no cano
da espingarda e os civis punham a flor ao peito. Por isso se falava de Revolução dos
Cravos. Foram dados alguns tiros para o ar, mas ninguém morreu nem foi ferido. Ao fim
da tarde, Marcelo Caetano rendeu-se e entregou o poder ao general Spínola, que,
embora não pertencesse ao MFA, não pensava da mesma maneira que o governo acerca
das colónias.
Um ano depois, a 25 de abril de 1975, os portugueses votaram pela primeira vez em
liberdade desde há muitas décadas.
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MILITARES DA LIBERDADE
Além do capitão Salgueiro Maia, que comandou a coluna de blindados saída de
Santarém, outros militares desempenharam papéis muito importantes na preparação do
25 de abril. O major Otelo Saraiva de Carvalho foi o comandante operacional, ou seja,
dirigiu as operações todas a partir do quartel da Pontinha, junto de Lisboa.
Mas quem tinha as ideias mais claras sobre a necessidade de democratizar o País era o
major Melo Antunes. Outros elementos muito importantes do MFA neste período
foram o capitão Vasco Lourenço e o major Vítor Alves. Spínola veio a tornar-se
Presidente da República, mas alguns meses depois demitiu-se por não concordar com a
entrega das colónias aos seus habitantes. O que ele queria era constituir uma
federação da «metrópole» com elas. O Presidente passaria então a ser o general Costa
Gomes.
ANTES
DEPOIS
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- Passou a haver muitos partidos políticos
- As eleições passaram a ser completamente livres
- Toda a gente pode votar (e é pena que muitos se abstenham de o fazer). O Carlitos, o
Luís e o Emídio votariam quando completassem 18 anos. Mas a mãe, a irmã e a avó do
Carlitos votariam pela primeira vez na vida nas eleições de 25 de abril 1975 (um ano
depois da revolução), as primeiras disputadas em liberdade.
- Mulheres e homens têm os mesmos direitos
- Passou a haver liberdade de opinião
- Não existe polícia política
- O divórcio estendeu-se a toda a população
- Passou a haver um salário mínimo nacional
- A Imprensa é livre
- Acabou a Guerra Colonial. Uns anos mais tarde, o serviço militar deixou mesmo de ser
obrigatório.
Durante o dia, a população de Lisboa foi-se juntando aos militares. E o que era um golpe
de Estado transformou-se numa revolução. A certa altura, uma vendedora de flores
começou a distribuir cravos. Os soldados enfiaram o cravo no cano da espingarda e os
civis puseram a flor ao peito. Por isso, hoje em dia lhe chamamos Revolução dos Cravos.
Foram dados alguns tiros para o ar, mas ninguém morreu nem foi ferido: foi uma
revolução pacífica, como nunca existiu na história.
As desigualdades entre sexos não são de hoje. Mas, em 1974, havia ainda um longo
caminho a percorrer.
A data de 25 de abril de 1974 foi marcante por diversos motivos. Para as mulheres,
este foi um momento de viragem, um marco na longa jornada por um mundo menos
desigual. É sempre difícil medir o impacto direto dos acontecimentos, mas, neste caso,
reunimos quatro factos que conduziram à mudança nas condições de vida das mulheres
da época – e de agora.
Direito ao voto
As mulheres apenas tiveram direito de voto universal nas primeiras eleições pós-25 de
abril, em 1975. Num decreto lei (DL 621-A/74, de 15.11) publicado no final de 1974,
foram abolidas todas as restrições baseadas no sexo quanto à capacidade eleitoral dos
cidadãos. Até então, as mulheres só tinham acesso ao direito ao voto com o curso de
liceu ou sendo «chefes de família». No entanto, mesmo que se tratasse do primeiro
caso, e fossem instruídas, estas perderiam o direito ao voto de fossem casadas com um
marido capaz de votar.
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Privacidade
Trabalho e carreira
Estima-se que antes de 1974, as mulheres ganhavam menos 40% do que os homens, no
que ao salário diz respeito. Além disso, estas estavam impedidas de enveredar por
determinadas carreiras. Só depois do 25 de abril foi tornado possível que as mulheres
se candidatassem à magistratura judicial, ao ministério público e aos quadros de
funcionários da justiça (DL 251/74,12.06). Também todos os cargos de carreira
administrativa local (DL 251/74, de 22.06) e carreira diplomática (DL 308/74, de 6.07)
estavam interditos aos indivíduos do sexo feminino até 1974.
Casamento e liberdade