Alicerce Do Paraíso Vol 2 Revisado

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COLETÂNEA

ALICERCE DO
PARAÍSO

VOLUME 2

IGREJA MESSIÂNICA MUNDIAL DO BRASIL


organização e tradução:
Secretaria de Tradução da IMMB
São Paulo
6ª edição revisada e ampliada – novembro de 2017
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

ÍNDICE

APRESENTAÇÃO DA REEDIÇÃO .......................................................................................................3


RELIGIÃO ................................................................................................................................................5
COMO AVALIAR A RELIGIÃO .................................................................................................................5
RELIGIÃO E MANDAMENTOS ................................................................................................................8
ELIMINAÇÃO DO MEDO..........................................................................................................................9
A VERDADEIRA PAZ INTERIOR ...........................................................................................................11
RELIGIÃO PROGRESSISTA .................................................................................................................13
A VERDADEIRA RELIGIÃO ...................................................................................................................15
RELIGIÃO DAIJO ...................................................................................................................................16
A VERDADEIRA RELIGIÃO DAIJO ........................................................................................................18
A RELIGIÃO PRECISA SER MUNDIAL .................................................................................................20
PRÁTICAS ASCÉTICAS ........................................................................................................................21
RELIGIÃO ANTIGA E RELIGIÃO ATUAL ...............................................................................................23
O QUE É UMA NOVA RELIGIÃO ...........................................................................................................25
NOVAS LOJAS E LOJAS RENOMADAS ...............................................................................................28
RELIGIÃO E RAMIFICAÇÕES ...............................................................................................................30
RELIGIÃO PARADISÍACA E RELIGIÃO INFERNAL ..............................................................................32
RELIGIÃO E FÉ ......................................................................................................................................36
INSENSIBILIDADE EM RELAÇÃO À RELIGIÃO ...................................................................................37
FÉ SHOJO ..............................................................................................................................................39
GRAÇAS RECEBIDAS NESTA VIDA .....................................................................................................43
MILAGRE E RELIGIÃO ..........................................................................................................................46
RELIGIÃO É MILAGRE ..........................................................................................................................48
RELIGIÕES E MILAGRES......................................................................................................................50
ANÁLISE DO MILAGRE .........................................................................................................................53
MUNDO ESPIRITUAL ............................................................................................................................56
PREFÁCIO DO LIVRO “HISTÓRIAS SOBRE O MUNDO ESPIRITUAL” ...............................................56
A FORÇA DA NATUREZA ......................................................................................................................58
O MUNDO DESCONHECIDO ................................................................................................................61
A EXISTÊNCIA DO MUNDO ESPIRITUAL ............................................................................................62
O TEMPO PRESENTE E O MUNDO ESPIRITUAL ................................................................................64
MUNDO ESPIRITUAL E MUNDO MATERIAL........................................................................................67
CONSTITUIÇÃO DO MUNDO ESPIRITUAL ..........................................................................................71
ATUAÇÃO DOS ESPÍRITOS MALIGNOS ..............................................................................................86
DERROTADOS ESPÍRITOS MALIGNOS ..............................................................................................90
RELIGIÃO E OBSTÁCULO ....................................................................................................................92
POSSESSÃO POR DIVINDADES ..........................................................................................................95
MANIFESTAÇÃO DE ESPÍRITOS DE SERES VIVOS ..........................................................................97
AS DIVERSAS SITUAÇÕES APÓS A MORTE ....................................................................................100
DOENÇA E ESPÍRITO .........................................................................................................................104
OS JAPONESES E AS DOENÇAS PSÍQUICAS ..................................................................................105
ELOS ESPIRITUAIS .............................................................................................................................111
A RESPEITO DOS SONHOS ...............................................................................................................119
AS TRÊS CALAMIDADES MAIORES E AS TRÊS CALAMIDADES MENORES .................................121
A TEMPESTADE É UMA CALAMIDADE CAUSADA PELO SER HUMANO ........................................126
CONSIDERAÇÕES ESPIRITUAIS SOBRE OS INCÊNDIOS ..............................................................129
INCÊNDIO E JOHREI ...........................................................................................................................131

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

APRESENTAÇÃO DA REEDIÇÃO

Os primeiros Ensinamentos de Meishu-Sama publicados em


português contam, atualmente, com mais de quarenta anos. E, neste
período, a língua portuguesa escrita e falada sofreu alterações.

Outro relevante indicativo da evolução no trabalho de divulgação


dos conceitos da doutrina messiânica está no fato de que, no início da
expansão da Igreja no solo brasileiro e da disponibilização da tradução
dos Ensinamentos de Meishu-Sama e outras publicações da Igreja,
esses materiais eram objetos de leitura tanto para se ter conhecimento
dos ideais e conceitos de salvação preconizados por Meishu-Sama,
quanto para encaminhamento de pessoas à fé messiânica. Na
atualidade, esse quadro se alterou, e os Ensinamentos de Meishu-Sama
se tornaram, em suas diversas dimensões, proficientes materiais de
estudo de grupos sistematicamente organizados, tanto nas unidades
religiosas, como em instituições educacionais, empresas e outras
comunidades. Isso tudo reforça nossa esperança de que seus
Ensinamentos criem e modelem pensamentos e filosofias que visem à
formação de uma civilização cada vez mais paradisíaca.

Assim sendo, chegamos à versão final do volume 2 da coletânea


Alicerce do Paraíso.

Quanto à alteração em relação às edições anteriores deste


volume, destaca-se a retirada do Ensinamento "A lógica em religião" por
se tratar de trecho de um Ensinamento mais completo, que poderá
futuramente ser publicado, e a do Ensinamento "Os elementos fogo,
água e solo", que constará do volume 3 para ser mais condizente com
sua temática.

As alterações nos títulos estão indicadas no índice de cada


volume. Alguns Ensinamentos estão com textos maiores porque assim
se apresentam no original e, atualmente, são publicados pela Igreja no
Japão, na coletânea Tengoku no Ishizue (Alicerce do Paraíso). A data

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

do Ensinamento é, via de regra, aquela que consta nesta mesma


coletânea.

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÃO

COMO AVALIAR A RELIGIÃO

Tenho observado que, quando as pessoas avaliam a religião, não


conseguem atingir o ponto vital da questão, que é a sua posição. A
religião está acima de qualquer outra coisa. Comparadas com a religião,
a filosofia, a moral e a ciência ocupam uma posição inferior. Entretanto,
por desconhecimento disso, usam-se expressões como "filosofia da
religião" e outras semelhantes, tentando-se interpretar filosoficamente a
religião, quando deveria ser exatamente o inverso. Em outros termos, é
como se procurássemos explicar algo metafísico por meio de princípios
materiais. Afinal, a religião foi criada por Deus, e a filosofia, pelo ser
humano. A religião também difere da moral. Esta, como a filosofia,
também é criação humana, mas há uma diferença entre ambas: a
filosofia é de caráter ocidental e científico, ao passo que a moral é de
caráter oriental e psicológico. Comparada com a filosofia e a moral, a
ciência é mais voltada à matéria, sendo notórios os pontos divergentes
entre ela e a religião. Por todos esses motivos, podemos perceber o
quanto a visão dos intelectuais da atualidade em relação à religião está
distorcida.

Analisemos isso mais profundamente. A filosofia se estrutura por


meio de teorias criadas pelo ser humano e, por esse motivo, fica
evidente sua posição quando comparada à religião. Quando se vai a
fundo numa questão por meio da filosofia, é comum deparar-se com
uma barreira intransponível e não se chegar a lugar nenhum. Uma prova
disso é que quanto mais se pesquisa, mais perdido se fica. Uma dúvida
gera outra, sendo praticamente impossível chegar a uma conclusão. Em
consequência disso, a tendência é ficar desgostoso da vida e, em caso
extremo, há quem chegue a pensar que a solução é recorrer ao suicídio.
Este é um fato que todos conhecem.

Por outro lado, não se pode negar que a moral tenha contribuído
muito para o bem da sociedade até os dias de hoje. Ela, no entanto,

5
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

nasceu da mente de pessoas sábias e busca o aperfeiçoamento


humano por meio de códigos de conduta e, por essa razão, não chega a
mover a alma. Além disso, no Japão antigo talvez fosse aceitável, mas
uma vez que a moral possui caráter oriental e, atualmente, tudo está
dominado pela cultura ocidental, aquela já não consegue convencer as
pessoas. Prova disso é o seu contínuo enfraquecimento.

Não vejo necessidade de maiores comentários a respeito da


ciência materialista, por esta ser alvo de nossa constante crítica.
Atualmente, falar em cultura é o mesmo que falar em ciência.
Interpretam o progresso cultural como sendo avanço científico. Contudo,
é de se duvidar o quanto o progresso da ciência tenha promovido a
felicidade do ser humano. A realidade nos leva a pensar que a
infelicidade cresceu proporcionalmente ao avanço da ciência. Não é
preciso dizer muito: basta ver a situação da humanidade, que hoje está
exposta à ameaça de uma temível guerra nuclear.

Evidentemente, exceto uma parte da humanidade, o desejo desta


é alcançar a felicidade. O progresso da ciência também tem esse
objetivo. Todavia, é muito triste constatar que, na realidade, ocorre
justamente o oposto. Urge, portanto, averiguar a causa.

Se a filosofia, a moral e a ciência, como acabei de expor, não têm


força suficiente para resolver o problema, o que poderá solucioná-lo a
não ser a religião? Provavelmente os intelectuais também já tenham
percebido esse ponto. Entretanto, como na realidade, eles têm as
religiões tradicionais como referência, não acreditam que, por meio
delas, se consiga resolver a questão. Consequentemente, não é
possível prever quando se concretizará a felicidade do ser humano.
Vemos, pois, que é muito sombria a situação da sociedade atual.

Todavia, eis que surgiu, neste mundo totalmente resignado,


nossa grande força de salvação ultrarreligiosa. Talvez seja difícil aceitá-
la, pois ninguém poderia imaginar algo semelhante, mas o fato é que
não se pode negar aquilo que é realidade. Uma vez conhecendo a

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

verdade da nossa religião, tal como os cegos que experimentam a


alegria de ver a luz, todos despertam imediatamente. A prova do que
dizemos está nos inúmeros relatos repletos de alegria em nossas
publicações. Assim, aqueles que desejam conquistar a verdadeira
felicidade, façam uma experiência: entrem em contato com a nossa
religião! Por mais delicioso que seja um alimento, é impossível avaliar
seu sabor apenas vendo-o ou ouvindo explicações a seu respeito. Antes
de mais nada, é preciso prová-lo. Tenho certeza de que todos ficarão
satisfeitos com o sabor jamais experimentado até então.

29 de abril de 1950

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÃO E MANDAMENTOS

Assim como a política, as religiões também podem ter caráter


liberal ou autoritário. A maioria das religiões tradicionais é do segundo
tipo. Os inúmeros mandamentos que possuem, preconizando o que
deve ou o que não deve ser feito, mostram que são opressoras, de
caráter shojo 1 , Nossa religião, por sua vez, quase não tem
mandamentos e é realmente liberal.

Os mandamentos da religião assemelham-se às leis da


sociedade. O fato de o ser humano conter o mal por meio das leis não é
o correto. Se o ser humano for realmente íntegro, esteja ele onde estiver,
mesmo num local onde não vigorem leis reguladoras, jamais praticará o
mal. Este é um verdadeiro ser humano.

Os mandamentos podem ser considerados as leis das religiões.


Caso se consiga praticar corretamente a fé apenas por meio deles, é
porque a fé não é verdadeira. Apesar dessa observação, sabemos que,
no tempo dos povos primitivos, sendo a inteligência humana pouco
desenvolvida, não havia condições de se compreender realmente a
religião. Por conseguinte, foi necessário controlar o mal por meio de
mandamentos.

Está claro, pois, que a religião de uma época de cultura elevada


que avançar a ponto de levar o ser humano à verdadeira compreensão
da Vontade Divina, não mais necessitará valer-se das punições
chamadas mandamentos. Ela será, de fato, a religião capaz de construir
o Paraíso Terrestre, o mundo de eterna paz.

17 de dezembro de 1949

1
Shojo: Neste caso, refere-se à religião de caráter fundamentalista, de preceitos rigorosos, que preza
pelo bem-estar do indivíduo acima do bem-estar da sociedade.
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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

ELIMINAÇÃO DO MEDO

Conforme venho repetindo, nosso objetivo é a salvação da


humanidade o que, em poucas palavras, significa eliminar da sociedade
toda espécie de medo.

Evidentemente, os maiores medos do ser humano vêm a ser a


doença, a pobreza e o conflito. Dentre os três, o principal,
indiscutivelmente, é o medo da doença. Nada é mais ameaçador para o
ser humano. Certamente, ninguém conseguirá estar livre dessa
apreensão enquanto estiver vivo. O segundo medo é a pobreza, que,
evidentemente, é motivada pela própria doença. E a realidade nos
mostra que, por mais que a cultura se desenvolva, o medo da doença,
ao invés de diminuir, tende a aumentar.

Diferentemente do passado, as pessoas de hoje têm muito medo


dos micróbios, considerando-os causadores das doenças. Em vista
disso, medidas consideradas adequadas estão sendo tomadas, tais
como: exame de saúde, vacinação, radiografia, entre outras. Todos os
estabelecimentos criados para prevenir as doenças, ou seja, postos de
saúde, sanatórios, hospitais públicos e particulares etc., dispõem de
muitas instalações. As imensas despesas e a mão de obra necessárias
são incalculáveis, e o ônus imposto à população não é nada pequeno.

Em seguida, falaremos do medo da pobreza. Sua maior causa,


conforme me referi, é a doença. A vultosa quantia empregada no
tratamento de uma doença e o prejuízo gerado pela impossibilidade de
trabalhar acarretam as maiores dificuldades econômicas para os
familiares. E tal situação piora quando o enfermo é o chefe da casa e
vem a falecer. Isso certamente constitui uma das causas do significativo
aumento da criminalidade após a guerra. Naturalmente, esse fato não
deixa de ser uma consequência da guerra, cujos danos são
passageiros; no entanto, a doença assume maior gravidade porque os
malefícios que ela causa são permanentes.

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

O medo da guerra é um grande sofrimento que pode ser


verificado claramente por meio da situação que a humanidade está
enfrentando. Isto porque, devido aos graves atritos entre os Estados
Unidos e a União Soviética, a situação chegou a um ponto em que uma
guerra pode eclodir a qualquer momento. Além disso, nestes tempos em
que existe uma arma terrível como a bomba atômica, até mesmo alguns
cientistas dizem que, caso se inicie a Terceira Guerra Mundial, a
destruição da humanidade será inevitável. Portanto, não é difícil
imaginar que este seja o maior medo da humanidade na atualidade.

A eliminação desses três grandes medos é a importante tarefa


imposta à humanidade. A bem da verdade, até hoje o ser humano viveu
em um mundo de sofrimento ininterrupto. E, se realmente Deus existe,
Seu incomensurável amor não permitirá que a humanidade permaneça
por longo tempo nessa situação. Indubitavelmente, esta época de
sofrimento terá fim e nascerá o Paraíso Terrestre, pleno de virtude e
beleza. Absolutamente certos disso e imbuídos da mais inabalável
convicção, estamos nos empenhando com força total. Que outro sentido
poderia ter a profecia de Jesus Cristo sobre a chegada do Reino dos
Céus a não ser a predição desse acontecimento?

Por tudo isso, estou convencido de que a verdadeira missão da


religião é eliminar os três grandes medos aqui citados.

7 de janeiro de 1950

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

A VERDADEIRA PAZ INTERIOR

Fala-se muito em paz interior e me parece que as pessoas acham


que esse estado se limita ao aspecto emocional. Contudo, essa forma
de pensar constitui um grande erro, posto que, para se obter a
verdadeira paz interior, obviamente é preciso incluir o fator material.
Pensem bem: se houver um que seja dos três infortúnios - doença,
pobreza ou conflito - onde estará a paz? Quando as pessoas estiverem
convictas de que, durante a vida, não terão preocupações com doenças,
não ficarão pobres e tampouco haverá possibilidade de se envolverem
em conflitos, aí sim, elas terão a verdadeira paz interior. Hoje em dia,
porém, possuir essas três condições não passa de um sonho, e
diríamos que, provavelmente, não existe, no mundo inteiro, uma só
pessoa assim.

Observando ao nosso redor, logo percebemos que nada ocorre


conforme desejamos; as coisas desagradáveis sobrevêm
sucessivamente, e as boas, só de vez em quando. O mundo em que
vivemos é o próprio inferno.

No que se refere à saúde, por exemplo, não sabemos quando


vamos ficar doentes. Um simples resfriado tanto pode acabar logo,
como também pode complicar e causar uma doença grave. Portanto,
não podemos ficar despreocupados, pensando tratar-se apenas de um
resfriado. Segundo a medicina, os micróbios estão em toda parte e, por
esse motivo, é impossível saber quando vamos contrair uma doença
contagiosa ou quando um bacilo da tuberculose vai nos atacar.
Consequentemente, as autoridades são muito exigentes em matéria de
higiene, aconselhando-nos a manter tudo limpo, a não comer nem beber
em demasia, a fazer gargarejo ao voltar da rua, a lavar as mãos antes
das refeições, a prestar atenção aos alimentos e outras medidas
semelhantes. São tantas as advertências que chega a nos incomodar.
Levar tudo isso em consideração é o mesmo que viver em uma
sociedade assolada pelo medo.

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Na maior parte dos casos, a pobreza e os conflitos provêm de


problemas financeiros, que, por sua vez, se originam da doença. Assim,
é óbvio que, se não nos tornarmos verdadeiramente sadios, jamais
conseguiremos a tranquilidade absoluta. Talvez as pessoas achem isso
inviável, mas se for de fato possível, não será uma extraordinária boa-
nova? Eu asseguro que é possível, sim! A Igreja Messiânica surgiu com
tal finalidade e afirmo que, além dela, não existe outra capaz de fazê-lo.

10 de dezembro de 1952

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÃO PROGRESSISTA

Observando a sociedade atual, constato que não há nada que


não esteja acompanhando o progresso. Entretanto, por incrível que
pareça, a religião, que tem a mais profunda relação com a humanidade,
continua da mesma forma, não apresentando nenhum progresso e
tomando, até mesmo, a direção oposta. Como prova disso, as religiões
tradicionais pregam para que voltemos às origens, ou seja, ao ponto de
partida de seus precursores. Ora, se devemos voltar ao caminho original
é porque nos desviamos e, caso tenhamos que proceder assim
repetidas vezes, significa que não fizemos nenhum progresso. É
realmente um contraste em relação ao avanço da cultura. Tais religiões
nos mostram isso claramente à medida que perdem o poder de atrair
pessoas e têm dificuldades até para manter a situação em que se
encontram.

De fato, todas as religiões que existem atualmente, mesmo


sofrendo perseguições e pressões na época de sua fundação - o que
parece ser a predestinação de uma religião nova -, de alguma forma
conseguiram revigorar-se e expandiram-se intensamente, passando por
períodos de esplendor. Todavia, com o passar do tempo, diferentemente
do cristianismo, a maioria delas está caminhando para a estagnação.
Vamos analisar por que tal fato se sucede.

Sem dúvida alguma, por não acompanharem a marcha do tempo


e manterem irredutivelmente os ensinamentos do seu fundador como
regras de ouro, acabaram por se afastar da realidade. Em consequência
disso, esse distanciamento tornou-se cada vez maior, até que as
religiões chegaram à situação atual: são criticadas pela falta de força.
Se existe causa e efeito em tudo, é importante que as religiões
tradicionais reflitam muito sobre o assunto, pois não há como ficarem
indiferentes para sempre. Assim, um dos princípios básicos de nossa
religião é que tudo deve progredir e acompanhar o tempo. Esta é a
razão pela qual não nos prendemos às formalidades como as religiões
tradicionais, economizando tempo e recursos, pois, na prática, o ônus
para se manter as formalidades não gera benefício algum. E, além do
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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

mais, não há qualquer motivo para as divindades ficarem contentes com


elas.

Em face do que dissemos, a missão da verdadeira religião é


desempenhar sua função de orientadora, para tornar a vida do ser
humano cada vez melhor. Resumindo, podemos afirmar que só uma
religião progressista tem capacidade de salvar o homem contemporâneo.

30 de janeiro de 1950

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

A VERDADEIRA RELIGIÃO

A verdadeira religião deve ter como princípio o cosmopolitismo2.


Não será verdadeira se tiver como foco apenas um país, povo ou classe,
porque quando ela é limitada, existe o risco de surgir conflito de
interesses. Visto que a paz é a base da religião, a eliminação dos
conflitos deveria fazer parte da sua essência. Consequentemente, entrar
em conflito significa renegar a religião. Não obstante, desde a
antiguidade, a História registra inúmeras lutas religiosas tanto no Oriente
como no Ocidente.

Chamamos de fé shojo a religião que é restritiva, e de religião


daijo a que abrange o mundo.
3

Logo se vê que a religião daijo é, de fato, a verdadeira religião.

5 de novembro de 1949

2
Cosmopolitismo: Meishu-Sama se referiu ao pensamento filosófico que considera a humanidade
uma única nação, não vendo diferença entre as mesmas, considerando o mundo como uma só pátria.
3
Daijo: Neste caso, refere-se à religião de caráter liberal, abrangente, que preza pelo bem-estar da
coletividade acima do bem-estar individual ou de apenas um grupo.
15
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÃO DAIJO

Todos sabem que as religiões apresentam aspectos daijo e shojo,


especialmente no budismo; mas me parece que o assunto não foi
devidamente aprofundado até nossos dias. Vou expor meu ponto de
vista a esse respeito.

Em linhas gerais, daijo se refere à "Grande Natureza". E Grande


Natureza, logicamente, diz respeito ao nascimento e ao
desenvolvimento de todas as coisas existentes. Portanto, daijo abrange
tudo, nada escapa. Neste sentido, o daijo a que me refiro não é o daijo
do budismo, mas sim, o caminho 4 daijo, que engloba a religião, a
filosofia, a ciência, a política, a educação, a economia e a arte.
Evidentemente, inclui também a guerra e a paz, o bem e o mal.

Ao observarmos o desenvolvimento de todas as coisas, notamos


o caminho da Natureza. Logicamente, o valor de um verdadeiro ser
humano reside no fato de ele ser capaz de reconhecer que, por meio da
obediência ao caminho, tudo se desenvolve naturalmente. Por essa
razão, quando há desvio do caminho, força-se a situação, o que
acarreta, infalivelmente, obstáculos e, por conseguinte, estagnação ou
ruína. Assim, a realidade do mundo nos mostra que, se estivermos em
conformidade com o caminho, haverá construção; se nos desviarmos
dele, haverá destruição. É exatamente como se passa com um trem:
quando se encontra sobre os trilhos, avança; fora deles, não anda.
Seguindo essa lógica, pode-se dizer que, em tudo, se algo desaparece é
porque existe uma razão para tal. Da mesma forma, se algo nasce
também há uma causa. O acaso não existe: tudo ocorre porque há um
motivo.

Nesse sentido, quando uma ideologia tende para a esquerda,


surge uma para a direita e vice-versa. Em qualquer situação, devemos

4
Caminho daijo: Em japonês, "daijo-do", Na cultura japonesa, "do" (caminho) é um sufixo muito
utilizado no sentido de método, ensinamento, princípio, como por exemplo em "arte da ikebana"
conhecida como kado (caminho das fiares); "arte do chá", conhecida como sado ou chado (caminho
do chá) e, na arte marcial, "judô" (caminho suave).
16
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

seguir o caminho, sem pender para só um lado. É como dirigir um


automóvel. Respeitando esse princípio, podemos dizer que o
capitalismo, o socialismo, o comunismo, as alas conservadoras e as
progressistas, o ativismo e o passivismo, e demais "ismos" nascem por
haver uma necessidade e, igualmente, desaparecerão quando não
forem mais imprescindíveis. Evidentemente, as religiões também são
assim: elas só surgem por haver uma razão para tal. Acontece que os
seres humanos, em sua grande parte, presos ao próprio ponto de vista,
acabam considerando uma heresia tudo o que difere de sua maneira de
pensar. O provérbio "Tentar ver todo o céu através de um orifício no
telhado" se refere a essa maneira de observar as coisas com a própria e
estreita visão. No entanto, aos olhos de Deus, que governa a Terra, a
pequenez do ser humano, que discute por coisas insignificantes, deve
ser bastante decepcionante.

Neste mundo, tudo o que se torna dispensável para o ser humano


sofre uma seleção natural. Entretanto, se uma coisa é necessária, por
mais que o ser humano tente, não conseguirá eliminá-la. Suponhamos
que surja uma nova religião ou ideologia. Mesmo que ela pareça
supersticiosa ou errada aos olhos humanos, se for necessária à
humanidade, progredirá; caso contrário, será eliminada. Assim sendo,
até certo ponto, devemos deixar os acontecimentos seguir seu curso
natural. Se for uma religião realmente atuante e de valor, a perseguição
feita pelo ser humano até contribuirá para o seu crescimento. O maior
exemplo disso é o cristianismo. Quem contestaria seu atual e próspero
crescimento apesar de seu líder espiritual ter sido crucificado?

Escrevi este artigo para estimular o homem moderno a refletir


sobre o erro de se ater à sua visão demasiadamente estreita e curta.

30 de janeiro de 1950

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

A VERDADEIRA RELIGIÃO DAIJO

É do conhecimento de todos que há religiões de caráter daijo e


outras de caráter shojo. As opiniões dos religiosos e dos estudiosos da
religião a esse respeito são extremamente ambíguas e equivocadas e,
na maioria, acham-se desviadas da Verdade. Portanto, desejo expor o
assunto, de forma mais aprofundada.

Antes, porém, precisamos conhecer a realidade das religiões


existentes no mundo. Desde os tempos remotos, elas se fundamentam
nos ensinamentos de seus respectivos fundadores e possuem suas
formas e métodos de doutrinação. Ou seja, dessa maneira, diferenciam-
se entre si.

Vejamos: tanto as religiões difundidas mundialmente, como o


budismo e o cristianismo, e também o xintoísmo e o budismo no Japão,
são assim. E ainda: dentro de cada ramificação, há subdivisões que são
diferentes entre si. Analisando essa realidade, sinto que ela está
totalmente fora da lógica porque, se o amor fraternal e o espírito de
cooperação e paz constituem a própria vida das religiões, o objetivo de
todas elas deveria ser único.

Portanto, o certo seria que não houvesse diferenças, nem na


forma nem no método. Enquanto as religiões se mantiverem separadas,
evidentemente o pensamento da humanidade também continuará
dividido, e isso pode se tornar a causa do caos social. Como a força dos
que estão do lado da religião, ou seja, do bem, é dispersa, os seres
humanos não conseguem opor-se à força do mal.

Percebemos isso ao observarmos a realidade, em que


frequentemente não é a religião que vence, mas sim o mal, que está do
lado oposto. A força de Deus é cem por cento, e a força do mal, noventa
e nove por cento. No final, evidentemente Deus vencerá, mas até lá, o
sofrimento pelo qual as pessoas de bem passarão não será nada fácil.
Tive muitas experiências nesse sentido. O mal possui grande poder e
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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

tem domínio sobre quase tudo. Ele está constantemente à espreita,


esperando uma brecha para atacar. Portanto, sinto que os episódios
envolvendo Satanás5 e Jesus Cristo, e Devadatta6 e Buda Sakyamuni se
repetem até hoje.

Vemos, pois, que a religião precisa ter maior força que o mal; do
contrário, este mundo não se tornará um mundo feliz, onde o bem triunfe.
É dessa forma que as religiões se unirão, e o mundo se tornará um só,
fazendo surgir um mundo de felicidade e sem preocupações.

Será um trabalho difícil, mas não impossível, porque o objetivo de


Deus, ou seja, o Paraíso Terrestre, está próximo. A condição básica é
abandonar o caráter shojo e pautar-se no caráter daijo. Trata-se de um
amplo movimento cultural que abrange todas as áreas da vida humana
como: religião, ciência, política, economia, arte etc. e, para
desempenhar a função de líder, é necessário que apareça um gigante
com força e sabedoria sobre-humanas.

6 de janeiro de 1954

5
Nota: Refere-se às passagens bíblicas das tentações de Jesus Cristo por Satanás (ver Mateus 4,
Marcos 1 e Lucas 4).
6
Devadatta: Nas escrituras budistas, Devadatta, primo de Buda Sakyamuni, é descrito como um
homem perverso, que intentou matar Buda e destruir a ordem budista.
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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

A RELIGIÃO PRECISA SER MUNDIAL

Se a religião não for mundial na sua essência, mesmo que reúna


todas as outras condições como tal, não se pode dizer que seja uma
verdadeira religião. Caso ela se restrinja a uma nação ou a um povo,
surgirão conflitos tal como é a realidade atual do mundo. Isto porque
cada religião se orgulha da própria superioridade e facilmente
desmerece as demais. Assim, além de elas não conseguirem se
harmonizar, dependendo da situação, podem até ser manipuladas pelos
governantes. A exploração do xintoísmo de forma extremista pela
ditadura militar japonesa durante a Segunda Guerra Mundial e as
Cruzadas da antiga Europa são fatos que explicam o que estamos
dizendo.

Não são poucos os exemplos, mas a causa, conforme já afirmei,


está no fato de que as religiões eram restritas a determinados povos.
Obviamente, não podia ser diferente, pois, naquela época, quando a
cultura ainda estava na fase inicial, os meios de transporte eram pouco
desenvolvidos e as relações internacionais, limitadas. Hoje, quando tudo
se tornou mundial, o correto seria as religiões também acertarem seus
passos com essa realidade. É por essa razão que reformulamos o nome
da nossa religião tirando a palavra "Japão" e passamos a chamá-la de
Igreja Messiânica Mundial.

11 de fevereiro de 1950

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

PRÁTICAS ASCÉTICAS

Desde a antiguidade, a fé e as práticas ascéticas são vistas pelas


pessoas como se tivessem íntima relação entre si.

As práticas ascéticas tiveram origem no bramanismo, na antiga


Índia. Antes do surgimento de Buda Sakyamuni, a maioria dos indianos
professava o bramanismo. A ascese de Bodhidharma7, que permaneceu
sentado diante de uma parede por nove anos, representa isso. Rakan é
a representação de monges praticando a ascese observada em pinturas
e esculturas. Vemos, por exemplo, monges mantendo algo suspenso só
com um braço ou permanecendo sentados na bifurcação de dois galhos.
A mais extrema delas é a prática do zazen8 sobre uma tábua cheia de
pregos. Devido às perfurações das nádegas, as dores são insuportáveis,
mas sabe-se de ascetas que se mantêm anos seguidos na mesma
posição. Eles acreditam que, perseverando em tais sofrimentos,
conseguirão alcançar a sabedoria, ou melhor, se tornarão iluminados.

É famosa a história de Bodhidharma, que, após nove anos de


prática ascética, numa noite em que contemplava a lua cheia,
repentinamente, teve a nítida sensação de que o luar iluminou seu
coração e intuiu a Verdade. Segundo a lenda, Bodhidharma não tem
pernas porque elas ficaram atrofiadas devido à prática do zazen durante
tantos anos, sentado na mesma posição.

Dizem que ainda há muitos ascetas brâmanes na Índia, os quais


chegam a operar milagres. A meditação do falecido Rabindranath
Tagore9 (1861 - 1941) nas profundezas de uma floresta e o jejum feito
diversas vezes por Mahatma Gandhi10 (1869 - 1948) devem ser práticas
ascéticas brâmanes.

7
Bodhidharma: Monge budista nascido na Índia que viveu durante o século V - VI; no Japão, é
conhecido como Daruma.
8
Zazen: Meditação profunda em que a pessoa se senta com as pernas cruzadas.
9
Rabindranath Tagore: Escritor, poeta e músico indiano. Recebeu o Prêmio Nobel da Literatura de
1913.
10
Mahatma Gandhi: Mohandas Karamchand Gandhi, mais conhecido como Mahatma Gandhi, foi o
idealizador e fundador do moderno Estado indiano e o maior defensor do Satyagraha (princípio da
não agressão, forma não-violenta de protesto) como um meio de revolução.
21
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

A ascese brâmane era amplamente praticada na época de Buda


Sakyamuni. Não contendo sua compaixão diante de tamanho martírio,
ele ensinou que qualquer pessoa poderia tornar-se um iluminado por
meio da leitura dos sutras. Então, na época, comovido com esse ato de
benevolência de Buda Sakyamuni, o povo indiano tornou-o alvo de
adoração. Nesse sentido, quando budistas fazem práticas ascéticas,
estão renegando essa benevolência.

No Japão, ainda há um considerável número de religiosos que


insistem nas asceses brâmanes, o que eu não concordo. Isto porque os
fiéis da nossa Igreja, sem fazer prática ascética de nenhuma espécie,
conseguem atingir a Iluminação, seguem o caminho correto e cumprem
a missão e a vocação que lhes foram designadas por Deus.

25 de janeiro de 1949

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÃO ANTIGA E RELIGIÃO ATUAL

Atualmente, para desenvolver a obra de salvação, tenho adotado


uma forma religiosa bem simples, que difere grandemente da existente
até hoje.

Os antigos fundadores ou precursores de religiões optavam por


um estilo de vida despojado, com alimentação frugal e vestimentas
precárias. Além disso, para se aperfeiçoarem, faziam todo tipo de
práticas ascéticas, tais como permanecer isolados em montanhas quase
inacessíveis, purificar-se com banhos gelados, ler e recitar os sutras
ininterruptamente.

Dessa maneira, em se tratando da trilogia Verdade, Bem e Belo,


este último era negligenciado, pois poucos se interessavam pelas artes.
Até ocorriam alguns milagres, mas a principal atividade era a leitura dos
sutras. As formas religiosas eram respeitadas, os ritos eram valorizados
e a salvação das pessoas se dava unicamente por meio de pregações.
Limitei-me a analisar apenas o budismo, pois no Japão, o xintoísmo
instituído como religião e a difusão do cristianismo surgiram na
modernidade. Deixo de fazer referência ao xintoísmo antigo, anterior à
introdução do budismo, porque não há registro nem na história nem na
tradição oral.

Contrariamente, minha forma de atuar é bem diferente.

Em primeiro lugar, porque venho anunciando de forma bastante


audaciosa o estabelecimento do Paraíso Terrestre, um mundo isento de
doença, pobreza e conflito, que é tido como um sonho descabido.

Apenas isso seria suficiente para evidenciar o quanto somos


diferentes das religiões tradicionais. O primeiro passo para atingir nosso
objetivo é salvar o ser humano do seu maior sofrimento, que é a doença.
Em relação a isso, nem precisamos dizer que estamos apresentando
resultados concretos. É dessa maneira que, tornando o ser humano
23
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

saudável de corpo e alma, tanto a pobreza como o conflito são


eliminados por si só. Assim, é com essa convicção que os nossos fiéis
formam um só corpo e se empenham dia e noite.

Assim, a proclamação do estabelecimento do Paraíso Terrestre,


ou seja, a transformação deste mundo em paraíso, longe de ser um
mero ideal, é uma realidade e tem apresentado surpreendentes
resultados.

Como parte do Plano Divino, atualmente estamos planejando a


construção de modelos do Paraíso Terrestre, escolhendo locais com
belas paisagens, em Atami e Hakone, onde serão construídos
magníficos edifícios e jardins. Com a conclusão dessas obras, pretendo
mostrar ao mundo quão sublime e belo é o paraíso.

Originariamente, o Paraíso Terrestre deveria ser chamado de


Mundo da Arte, razão pela qual a arte é o que a nossa religião mais
enfatiza. Conforme o Plano Divino for progredindo, com base na mais
nova revelação Divina, pretendo apresentar diretrizes inéditas relativas a
todos os setores da vida, como política, economia, educação etc. Creio
que, por meio disso, poderão reconhecer a magnitude do nosso projeto.

9 de julho de 1949

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

O QUE É UMA NOVA RELIGIÃO

Atualmente, no Japão, a expressão "novas religiões11" tem sido


assunto em vários setores da sociedade e vem sendo abordada, com
maior seriedade, em jornais e revistas, o que é motivo de alegria.
Observamos, entretanto, que esses órgãos de comunicação consideram
uma religião nova só porque ela surgiu recentemente, sem demonstrar
qualquer interesse pelo seu conteúdo. É, também, lamentável constatar
que até mesmo indivíduos ligados a tais religiões ajam assim.

A propósito, devo dizer que não tem sentido uma religião ser
"nova" apenas na aparência e seu conteúdo não corresponder a essa
designação. Se uma nova religião apenas substituir ou tornar mais
atrativas doutrinas vastamente conhecidas - sejam elas antigos
ensinamentos de fundadores de religiões, escrituras ou tradição oral -
não se poderá dizer que ela seja nova. Aliás, ao conservar as mesmas
formalidades, construções e demais elementos como no passado, e ao
propor o retorno aos ensinamentos de seus precursores, ela se aliena
cada vez mais da época atual. É impressionante que ninguém ache isso
estranho.

Hoje em dia, se tivermos de lidar com pessoas que cursaram o


nível superior e que são intelectualizadas, principalmente entre a
camada jovem, por mais que tentemos demonstrar a importância de
uma doutrina que cheira a mofo, certamente elas não a aceitarão. Assim,
podemos dizer que, atualmente, a maioria dos seguidores das religiões
tradicionais é simplesmente arrastada pelas tradições e ideologias.

Por outro lado, os fiéis das novas religiões são diferentes, dado
que ingressaram nelas à procura de algo inédito, o que é compreensível.
Todavia, parece que são poucos os de verdadeira fé inabalável. Por
conseguinte, pode-se dizer que é quase impossível fazer com que o
homem da atualidade creia do fundo da alma, se não estiver de acordo

11
Novas religiões: Denominação utilizada para religiões que surgiram no Japão a partir do século XIX
e são relativamente novas se comparadas com as religiões tradicionais como budismo, xintoísmo,
judaísmo, cristianismo, islamismo etc.
25
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

com a lógica e não for acompanhada de inquestionáveis graças


recebidas nesta vida. Diante de tudo isso, é óbvio que seja efêmera e
dure pouco a fé dos que seguem uma religião do mesmo modo como
acompanham a moda.

Não creio que as pessoas da atualidade sejam completamente


destituídas de sentimento religioso, mas o fato é que, vendo pelo ponto
de vista da modernidade, não existem muitas religiões que lhes inspirem
confiança. Se houvesse alguma, elas certamente a seguiriam, e afirmo
isto por experiência própria. Na verdade, é grande o número daquelas
que buscam uma religião assim. Não obstante, não a encontrando,
permanecem descrentes, por não terem alternativa. Em contrapartida,
uma vez que a ciência satisfaz os anseios humanos, de forma rápida e
visível, é natural que fiquem à mercê dela. Por essa razão, acho que
não podemos censurar os descrentes.

Aqui, porém, existe um problema. Muitas vezes, surgem questões


que nem a ciência, na qual se tem tanta confiança, nem a própria
religião conseguem resolver, e as criaturas caem num dilema. Depois,
por falta de qualquer perspectiva, alguns intelectuais acabam tornando-
se céticos, outros perdem as esperanças, vivem apenas para o
momento presente ou ficam completamente perdidos; outros, ainda, em
melhores condições financeiras, entregam-se aos prazeres mundanos.
Este é o panorama atual da nossa sociedade. A ideia preconcebida de
que não aparecerá ninguém que supere os grandes líderes religiosos da
história contribui ainda mais para aumentar a desesperança das
pessoas. Dentre estas, as que estão um tanto quanto resignadas e
distantes da realidade vivem estudando doutrinas antiquadas. Em suma,
o pensamento contemporâneo está totalmente confuso, e ninguém sabe
que rumo tomar.

Rompendo a escuridão que envolve o mundo, eis que surgiu a


Igreja Messiânica, que, ousadamente, tece duras críticas a todos os
setores da cultura estabelecida, apontando, uma por uma, suas falácias,
ensinando como deve ser a verdadeira civilização. E como essa força de
atuação está sendo manifestada continuamente, podemos afirmar, com
26
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

absoluta imparcialidade, que nossa Igreja é a maravilha do século XX.


Tal afirmação fundamenta-se naquilo que sempre digo: o mundo, até
agora, estava na Era da Noite, em que havia apenas o tênue luar como
fonte de luz. Contudo, como surgiu a luz do Sol, todas as coisas
desnecessárias e prejudiciais, invisíveis até hoje, começaram a vir à
tona. Eis o significado da expressão "Luz do Oriente 12 ", empregada
desde os tempos antigos. Atualmente, estamos atravessando a fase da
aurora; com o passar do tempo, aos poucos, o Sol chegará ao seu
zênite e iluminará o mundo inteiro.

Seguindo esta lógica, tudo o que venho apresentando são teorias


desconhecidas por todos até o presente. Em função disso, elas causam
espanto e ainda há até quem as interprete erroneamente. Como o
mundo esteve na Era da Noite durante longo tempo, não é de se
admirar que os olhos de todos tenham se acostumado à escuridão e
fiquem ofuscados ante a repentina revelação da Cultura do Dia. Existe,
no entanto, um problema: uma vez chegado o Mundo do Dia, Deus
conservará da Cultura da Noite aquilo que tiver utilidade e o que não for
útil, fatalmente será abandonado13. Além do mais, sendo a luz do Sol
sessenta vezes mais intensa do que o luar, até os casos de doenças
não identificadas ou consideradas incuráveis, serão facilmente
solucionados. Os fatos evidenciados diariamente por meio do Johrei de
nossa religião mostram isso nitidamente. Explicando melhor, diria que,
assim como a Lua perde o brilho diante do fulgor do Sol, a civilização
passará por uma grande mudança.

Com o que acabo de dizer, creio que compreenderam o quanto


nossa religião representa um grandioso empreendimento.

8 de abril de 1953

12
Luz do Oriente: Refere-se a uma profecia surgida na Ásia Central, por volta do século I, que fala da
vinda de um Messias, senhor da paz, que viria do este para salvar a humanidade.
13
Nota: Meishu-Sama utilizou uma palavra correspondente ao termo aufheben frequentemente
utilizado pelo filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 - 1831). Aufheben ou aufhebung é
uma palavra alemã com vários significados aparentemente contraditórios, incluindo "erguer", "abolir",
"preservar" e também "cancelar" ou "transcender".
27
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

NOVAS LOJAS E LOJAS RENOMADAS

Observando atentamente o comércio varejista, vemos que


existem dois tipos de lojas - as novas e as renomadas. Como todos
sabem, as lojas novas objetivam desenvolver-se amplamente e, por isso,
são dinâmicas, mas ainda não ganharam a plena confiança das pessoas.
Uma vez que estas desconhecem a qualidade das mercadorias e não
sabem se os preços são razoáveis, com certa preocupação, compram
nas novas lojas apenas a título de experiência ou para atender às
necessidades imediatas.

Se a loja é renomada, sem hesitar, os fregueses depositam


absoluta confiança. Para eles, se for tal artigo de tal loja, certamente
será bom. Na incerteza, ao invés de comprar nas novas lojas, preferem
comprar naquelas lojas que lhes inspirem confiança, ainda que tenham
que ir mais longe. E se for uma grande compra, é ainda mais certo que
se dirijam às lojas renomadas, pelo bom nome que elas possuem,
construído após longo tempo de atuação no mercado. Em face disso, as
novas lojas trabalham arduamente para conseguir atrair pelo menos
algumas pessoas acostumadas a comprar nas lojas renomadas. Trata-
se de uma situação que todos conhecem e, por conseguinte, dispensa
maiores comentários.

O interessante é que, no campo das religiões, ocorre o mesmo.


As dificuldades que uma religião nova enfrenta são ainda maiores que
as do comércio varejista. De antemão, ela é tachada de supersticiosa e
falsa, ou até mesmo de fraudulenta. É realmente cruel. Existem, sem
dúvida, muitas novas religiões às quais se possam atribuir esses
adjetivos; porém, gostaria que soubessem que, ocasionalmente, surgem
também religiões verdadeiras. Do mesmo modo, não podemos esquecer
que todas as religiões ditas renomadas, no início, invariavelmente foram
novas. Foi com o passar do tempo que, pouco a pouco, elas se
tornaram conceituadas. Da mesma forma, as novas lojas, trabalhando e
oferecendo mercadorias de qualidade a preços justos, um dia, também
se tornarão renomadas. Diante disso, nota-se o quanto é errado rotular
as religiões recém-surgidas como trapaceiras e falsas.
28
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Pelos motivos expostos, creio que a correta atitude dos críticos


deveria ser analisar as novas religiões japonesas o suficiente antes de
julgá-las como boas ou más, e só depois escrever a seu respeito.

30 de março de 1949

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÃO E RAMIFICAÇÕES

Nas religiões existem diversas ramificações. No cristianismo, por


exemplo, as principais são o catolicismo e o protestantismo, além de
muitas outras, novas e antigas. Quanto ao budismo, em se tratando
apenas do Japão, as principais são Shingon, Tendai, Jodo, Shinshu,
Zen, Nichiren e outras, as quais, por sua vez, também estão
subdivididas. Atualmente, há cinquenta e oito sub-ramificações. No
xintoísmo moderno, sem considerar o xintoísmo de santuário14, há treze
seitas no xintoísmo sectário 15 , sendo as principais: Taisha, Mitake,
Fusso, Missogui, Tenrikyo, Konkokyo, etc.

O fato de as religiões se dividirem em tantas ramificações me


parece ilógico, mas vejo essa questão da seguinte maneira: será que a
causa não estaria nas suas escrituras? Isto porque tanto a Bíblia como
as escrituras búdicas contêm muitos pontos controversos e de difícil
compreensão, cuja interpretação varia de pessoa para pessoa, o que
contribui enormemente para o surgimento de ramificações. Já as
ramificações do xintoísmo sectário, diferentemente do budismo e do
cristianismo, não possuem um grande precursor. Elas se fundamentam
em textos históricos clássicos - entre os quais o "Kojiki"16 e o "Nihon
Shoki'" 17 -, ou se formaram a partir de doutrinas transmitidas pelas
divindades através da possessão, ensinamentos dos fundadores de
cada ramificação, entre outros.

Dessa forma, o fato de uma mesma religião dividir-se em várias


ramificações faz surgir a tendência aos conflitos, o que é lamentável,
pois influencia negativamente a missão original da religião de ensinar o
amor pela humanidade. A causa disso, sem dúvida alguma, reside,
como já afirmei, na dificuldade de interpretação das escrituras sagradas.
Embora haja alguma lógica em dizer que justamente a dificuldade de

14
Xintoísmo de santuário: xintoísmo baseado no culto às divindades locais.
15
Xintoísmo sectário: Grupo de treze seitas religiosas populares no Japão que foram separadas do
xintoísmo estatal por um decreto governamental em 1882.
16
Kojiki: livro mais antigo sobre a história do Japão antigo, contém mitos e lendas utilizados pelo
xintoísmo. Foi transcrito da tradição oral pela primeira vez em 712 d.C.
17
Nihon Shoki: livro de crônicas do Japão antigo. É o segundo livro mais antigo sobre a história do
Japão, compilado em 720 d.C.
30
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

interpretá-las é o seu atrativo, acredito que, no sentido de salvar a


humanidade, tudo deveria ser de fácil compreensão.

Sendo assim, evito ao máximo colocações de difícil entendimento,


busco apresentar os Ensinamentos de uma nova forma, de modo que
possam ser assimilados por qualquer pessoa. Pretendo, ainda, do meu
ponto de vista religioso, publicar gradativamente novas interpretações
sobre política, economia, educação, arte, etc.

5 de setembro de 1948

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÃO PARADISÍACA E RELIGIÃO INFERNAL18

Ao escrever abertamente sobre religião, não tenho a intenção de


insultar quando digo que todas as religiões surgidas até hoje foram
infernais, já que os fundadores das principais religiões, sem exceção,
foram vítimas de diversas perseguições e martírios em sua fase inicial.
Por essa razão, tornou-se comum pensar que o sofrimento é inerente à
religião. Da mesma forma, é fato que até seus fiéis vieram sendo vítimas
de perseguições e martírios registrados pela história em incontáveis
episódios; alguns, insuportáveis de ler, tão aterradores que são.

Até mesmo Jesus Cristo, precursor do cristianismo, hoje difundido


mundialmente, passou por tal situação. A perseguição pelos fariseus e a
morte na cruz são histórias conhecidas.

No Japão, pode-se dizer que todos os religiosos, uns mais, outros


menos, tiveram uma vida repleta de sofrimentos. Buda Sakyamuni e o
Príncipe Shotoku19 foram exceções e não sofreram perseguições pelo
fato de serem príncipes.

Logicamente, os fundadores de religião não são maus; muito pelo


contrário, são mais virtuosos que as pessoas comuns. Sendo dotados
de um extraordinário sentimento de amor e misericórdia, não
conseguem deixar de salvar os desafortunados, mesmo que para isso
sacrifiquem a própria vida. Por essa razão, são pessoas santas, a
própria personificação do bem. Por conseguinte, seria justo o governo e
o povo reconhecerem seus esforços, agradecê-los e tratá-los com a
máxima consideração. Ao invés disso, preferem odiá-los como se
fossem os líderes dos demônios, perseguem-nos, oprimem-nos e
tentam tirar-lhes até mesmo a vida. Portanto, não existe absurdo maior.
Ao analisarmos friamente, não seria mais lógico considerar como
demoníacas, justamente, as pessoas que abominam, torturam e tentam
eliminar esses grandes virtuosos?
18
Nota: Neste caso, "infernal" não se refere à religião que cultua o demônio ou o diabo, mas sim,
àquela que valoriza o sofrimento.
19
Príncipe Shotoku: Em japonês, Shotoku Taishi (7 de fevereiro de 574 - 8 de abril de 622). Foi um
regente semilendário e político influente no Japão. Atribui-se a ele a fundação do budismo japonês.
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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

O ser humano, originariamente, ou é bom ou é mau; não existe


estado intermediário. Em outras palavras, ele está aliado ou a Deus ou
ao demônio. Assim, é muito natural que, quem abomina a Deus,
defende o ateísmo e ataca as religiões que praticam o bem, torna-se
servo do demônio.

Até mesmo os fundadores de religiões hoje consideradas


importantes, no começo, foram tratados como seres demoníacos e
tenazmente perseguidos. Conforme a própria história mostra, no final, o
mal foi derrotado pelo bem. As santas palavras proferidas por Jesus
Cristo, "Venci o mundo", em meio ao seu martírio, encerram o mesmo
sentido e são dignas de reflexão.

Assim, a maioria das religiões tradicionais foi finalmente


reconhecida longos anos após a morte de seus fundadores, que
passaram a ser reverenciados como divindades ou budas. Certamente,
isso se deve, em grande parte, à felicidade que seus ensinamentos
proporcionaram às pessoas e à notável contribuição para o aumento do
bem-estar da sociedade. Pode-se dizer que não existe religião que
tenha sido devidamente reconhecida enquanto seu fundador estava vivo.
Por isso, o sofrimento é visto como algo natural e até os fiéis ficaram
propensos a se comprazer com uma vida de sacrifícios.

Principalmente no caso do cristianismo, ficamos comovidos ao ler


a história trágica dos missionários que, seguindo o exemplo do ato
redentor de Jesus Cristo e conscientes dos sofrimentos a que seriam
expostos, ofereceram-se, mesmo correndo risco de vida, para trabalhar
em territórios selvagens. Por esse motivo, creio que não há, hoje,
nenhuma religião tão solidamente enraizada em todos os recantos do
mundo como o cristianismo. Inclusive no Japão, as conhecidas
"Expulsão dos Padres"20 e a "Rebelião de Amakussa"21 nos mostram as
perseguições aos cristãos. Todavia, todos esses sofrimentos foram

20
Expulsão dos Padres: Em 1587, o governo japonês (xógum Toyotomi Hideyoshi) proibiu os padres
de difundir o cristianismo e os expulsou do Japão.
21
Rebelião de Amakussa: Entre 1637 e 1638, cristãos japoneses se rebelaram contra os senhores
feudais, insatisfeitos com os impostos excessivos. Os cristãos foram dominados pelo exército do
xogunato Tokugawa.
33
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

causados por fatores externos. Por outro lado, não são poucas as
crenças em que os fiéis, voluntariamente, procuram o próprio
padecimento. No cristianismo, por exemplo, há grupos que seguem
estritamente os mandamentos, os que praticam a abstinência e os que
se entregam à vida monástica. Da mesma forma, o islamismo, o
lamaísmo e o taoísmo da China, bem como o bramanismo da Índia,
caracterizam-se por considerar a abstinência como foco principal da fé.

Embora em proporções diferentes, desde os tempos antigos,


ocorrem fatos semelhantes entre diversas religiões do Japão, como a
perseguição religiosa que o budismo impôs ao xintoísmo, a ponto de,
durante algum tempo, a imagem budista de Amida Nyorai ter sido
entronizada no grande santuário xintoísta de Ise. Além disso, o
ascetismo dos xintoístas e as grandes perseguições vividas pelos
bonzos são do conhecimento de todos. Entre estas, uma das mais
famosas talvez seja a vivida por Nichiren Shonin, conhecida como
"Tatsu-no-kuchi' 22 '. Quando a espada que o executaria foi levantada,
ocorreu um milagre e ele se livrou da morte iminente. Por outro lado,
existem algumas ramificações budistas que levam ao extremo o
cumprimento dos mandamentos e se entregam às práticas ascéticas, e
muitas que se concentram apenas em práticas de meditação.

Conforme vimos acima, podemos dizer que, de forma geral, todas


as religiões até hoje são infernais, pois consideram o sofrimento inerente
a elas um meio para polir a alma. Assim, acabam transformando o
homem em um ser anormal, que faz do sofrimento o seu prazer.
Falando claramente, visto que essas religiões eram fracas, precisavam
acrescentar a força humana.

Então, quando menos se esperava, surgiu a nossa Igreja


Messiânica neste mundo de crenças infernais. Tudo nela difere
radicalmente das religiões existentes, sendo até mesmo seu oposto.
Nossa religião repudia principalmente as atrozes práticas ascéticas,
considerando a vida paradisíaca como a verdadeira fé. Por conseguinte,

22
Tatsu-no-kuchi: Segundo a lenda, no momento em que Nichiren seria executado, no povoado de
Tatsu-no-kuchi, a espada de seu carrasco se quebrou e ele teve a vida salva.
34
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

aquilo que ela ensina às pessoas é completamente diferente das


religiões tradicionais no que se refere tanto à forma de pensar quanto à
forma de agir. Além disso, o grande escopo de nossa instituição abarca
religião, filosofia, ciência, arte e, sobretudo, os fatores essenciais para a
salvação da humanidade, como a solução do problema da saúde e a
revolução da agricultura, todas elas, obras surpreendentes. Pode-se
dizer que tudo isso constitui a condição para transformar o inferno em
paraíso. E o que seria isso senão o verdadeiro amor de Deus e a
misericórdia búdica? Por conseguinte, praticar o ascetismo não é um
caminho correto, pois viver de forma paradisíaca e transbordante de
alegria é que significa ter sido verdadeiramente salvo. Quando isto se
expandir ao mundo inteiro, surgirá de fato o Paraíso Terrestre.

Nesses termos, o mundo paradisíaco, que é o lema da nossa


religião, se inicia a partir do lar. É evidente que, com o aumento
gradativo de lares paradisíacos, um dia o mundo se transformará em
paraíso. Ao conhecerem essa verdade, as pessoas deveriam elogiar e
louvar nossa religião e, prontamente, nela ingressar. Todavia, como os
homens são influenciados negativamente por conceitos ateístas ou por
religiões de caráter shojo, ficam desconfiados e nos interpretam mal,
protelando a oportunidade de se tornarem felizes. Chegará o dia em que
a verdade sobre a nossa religião certamente será compreendida. Eu
aguardo este momento e empenho-me, dia e noite, de acordo com os
desígnios de Deus.

25 de março de 1953

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÃO E FÉ

É comum pensar que religião e fé significam a mesma coisa. Na


verdade, há muitos aspectos em que uma e outra se diferenciam. O
ditado popular japonês: "Até mesmo uma cabeça de sardinha pode ser
alvo de crença" é próprio da fé e não da religião. Da mesma forma, a
adoração de estranhos ídolos de pedra ou de madeira feitos pelos
homens primitivos é fé e não religião.

Por esse motivo, é compreensível que as pessoas cultas da


atualidade desprezem a fé em que se adoram ídolos, considerando-a de
baixo nível. Por outro lado, isso não quer dizer que basta ser religião,
pois há aquelas de nível superior, médio e inferior. Pode parecer
estranha a afirmação de que existem níveis entre as religiões, mas é
preciso que a religião seja de nível superior para salvar verdadeiramente
o ser humano. O fato é que os níveis estão presentes em todas as
coisas do Universo, e as religiões não fogem à regra. As de nível
superior são dirigidas pelo Supremo Deus. Visto que Ele é poderoso
devido à Sua elevada e grandiosa virtude, é natural que a força de
salvação dessas religiões também corresponda a isso, e seus milagres
sejam notáveis.

É por isso que, em nossa religião, ocorrem milagres como livrar-


se de doenças consideradas incuráveis pela medicina, conseguir
escapar de desastres iminentes, sair ileso de um incêndio etc. Por
conseguinte, devemos saber que, quanto mais relevantes forem as
graças recebidas nesta vida, mais evidente é a presença do Supremo
Deus nessa religião.

20 de abril de 1950

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

INSENSIBILIDADE EM RELAÇÃO À RELIGIÃO

De acordo com o senso comum, servir em prol do bem-estar da


sociedade ou fazer feliz o próximo são boas ações e, por isso, apoiá-las
e desejar colaborar é a verdadeira natureza humana. Entretanto, por
incrível que pareça, frequentemente vejo pessoas, e não são poucas,
que agem friamente com referência a essa questão. Parece que, em seu
íntimo, pensam da seguinte maneira: "Pouco me importa o bem da
sociedade e dos outros, isso tudo não passa de perda de tempo. O que
interessa sou eu e aquilo que me beneficia. Isso, sim, é ser inteligente.
De outro modo, é impossível ganhar dinheiro ou subir na vida." De fato,
o mundo é mesmo estranho, porque pessoas desse tipo é que são tidas
como espertas.

Criaturas assim pensam de forma calculista e materialista quando


se deparam com algum sofrimento. Por exemplo, elas dizem que, no
caso de ficarem doentes, basta-lhes ir ao médico; em assuntos
complicados, recorrer à força da lei; a quem não lhes obedece, é
suficiente repreender ou fazê-lo sofrer e, assim, elas vão resolvendo os
problemas da maneira mais simples possível. Como acham que, se
estiverem bem, não importa como estejam os outros, permitem-se fazer
extravagâncias.

Ora, por não pensarem também no próximo, não são alvo de


consideração alguma. Os que se juntam à sua volta são apenas
interesseiros e, por esse motivo, quando a situação fica ruim, se afastam.
É natural que justamente tais pessoas vivam em meio a problemas e
reclamações. Por fim, tudo começa a ir mal. Quando fracassam, elas se
afobam, tentando recuperar-se por meio de seu ga23; forçam a situação,
que já estava adversa, e assim, acabam em um estado lamentável,
chegando a não conseguir reerguer-se.

Exemplos como esses são muito frequentes na sociedade.


23
Ga: palavra japonesa que significa literalmente "eu/ego". Refere-se ao temperamento humano,
geralmente utilizado para indicar egocentrismo, estar preso às próprias opiniões, impor seu ponto de
vista, etc.
37
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Obviamente, pessoas desse tipo não querem ouvir de forma


alguma falar em fé. Elas dizem com desprezo: "É um absurdo afirmar
que existem divindades e budas que nem conseguimos enxergar; isso
não passa de superstição. Eles estão na imaginação humana. Eu
mesmo sou um deus. Por conseguinte, gastar tempo e dinheiro com tais
coisas é o cúmulo da tolice." Assim, elas nos ignoram completamente
achando que a fé não passa de consolo para covardes ou passatempo
de quem não tem o que fazer.

Para nós, essas pessoas sofrem de insensibilidade em relação à


fé.

8 de abril de 1950

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

FÉ SHOJO

Atualmente, quando se critica a religião, ouve-se muito que os


líderes espirituais e sacerdotes deveriam ter uma alimentação frugal,
vestimentas e moradias modestas, andar a pé ou usar transporte público
como trem, ônibus etc., vivendo da forma mais simples possível.

É fato que, antigamente, para divulgarem os ensinamentos, os


precursores e fundadores saíam pregando pelas ruas sozinhos,
calçando sandálias de palha. Por vezes, dormiam ao relento, retiravam-
se nas montanhas, faziam jejuns, meditavam debaixo de cascatas,
experimentavam todos os tipos de sofrimentos e sacrifícios. Outras
vezes, eram atirados na prisão ou exilados em ilhas longínquas.
Observando isso hoje, é impossível não nos comover ao pensar nos
sofrimentos e nas dificuldades que eles viveram. Entretanto, só
conseguiram estender suas doutrinas a uma localidade ou a uma região
restrita. A maioria delas, após a morte desses precursores e fundadores,
se expandiu somente depois de várias gerações. Dessa forma,
comparando-se aos dias atuais, essas constantes adversidades
enfrentadas estão além de nossa imaginação.

Por outro lado, tais fatos permanecem gravados na mente das


pessoas; por isso, é natural que elas tenham uma visão equivocada
sobre as novas religiões. Logicamente, as religiões caracterizadas por
tais práticas são de fé shojo. Elas têm origem no bramanismo, que
surgiu na Índia, antes do nascimento de Buda Sakyamuni, e cujos
ensinamentos tinham por objetivo a Iluminação por meio de práticas
ascéticas. Segundo dizem, naquele país, ainda existe um pequeno
número de bramanistas que conseguem realizar milagres manifestando
um considerável poder espiritual. Creio que o jejum praticado pelo
famoso Mahatma Gandhi (1869 - 1948) talvez fosse uma decorrência de
ele ter professado o bramanismo quando jovem.

Há uma história interessante sobre o motivo que levou Buda


Sakyamuni a pregar os oitenta e quatro mil sutras. Ao analisar a

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

situação da Índia naquele tempo, ele percebeu que, devido ao fato de o


bramanismo ser predominante, considerava-se que a Iluminação só
podia ser alcançada por meio da ascese e que este era o verdadeiro
caminho da fé. As pinturas e as estátuas rakan, que encontramos hoje
em diversos lugares do Japão, retratam as práticas ascéticas dos
bramanistas. Por meio dessas obras, podemos imaginar como elas
eram. Não suportando ver semelhante situação, Buda Sakyamuni, com
sua grande misericórdia, revelou uma forma para as pessoas obterem a
Iluminação sem precisar recorrer a tais práticas: os sutras budistas.
Segundo ele, a simples recitação dos sutras seria o bastante.
Obviamente, o povo se alegrou com isso e passou a admirá-lo e a
reverenciá-lo como o mais respeitável de todos os homens santos. Foi
assim que o budismo dominou a Índia. Podemos dizer que essa foi a
realização mais relevante de Buda Sakyamuni entre suas atividades de
salvação.

Religiões shojo são anacrônicas

Diante do exposto, compreende-se o quanto a fé shojo, que se


baseia em práticas ascéticas, contraria a vontade e a grande
misericórdia de Buda Sakyamuni. Esse tipo de fé tende ao bramanismo,
que foi objeto da salvação realizada por ele. Creio que, do paraíso
búdico, ele está lamentando essa situação. Assim, é importante saber o
quanto a fé shojo é equivocada e anacrônica.

Por outro lado, no que se refere à difusão religiosa, observamos


que aquilo que antigamente se levava dez anos para conseguir, hoje
pode ser feito em apenas um dia, graças ao avanço tecnológico da
imprensa e dos meios de transporte. O correto, por conseguinte, é
adequar-nos à época em que vivemos, utilizando-nos de todos os
recursos que a civilização moderna nos oferece. Se apenas a religião
continuar persistindo nos métodos antigos, obviamente não conseguirá
atingir seus verdadeiros objetivos. Isso se evidencia pelo fato de que as
religiões tradicionais estão cada vez mais anacrônicas.

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Quando as pessoas de visão shojo veem nossas atividades


religiosas, limitam-se a ficar surpresas e sequer tentam compreender
aquilo que verdadeiramente objetivamos. Se elas se restringissem a isso,
não haveria problema; porém, há aquelas que espalham boatos contra
nós, dizendo que levamos uma vida de luxo, moramos em palacetes.
Posto que desenvolvemos nossas atividades exclusivamente com as
doações de fiéis, é desnecessário depender de outros recursos. Além
disso, se concordássemos com as críticas de pessoas de fé shojo,
teríamos que deixar estragar ou até jogar fora os alimentos
especialmente ofertados pelos fiéis. E, também, não tem cabimento
devolver ou vender no mercado paralelo os objetos que recebemos. Da
mesma forma, não poderíamos deixar de utilizar grandes imóveis que
nos são oferecidos com tanto amor pelos fiéis. Muito pelo contrário, é
por intermédio dessas doações que podemos desenvolver o grande
trabalho de salvação da humanidade e, quando pensamos nisso,
compreendemos quão equivocada é a visão das pessoas de fé shojo.

Nossa religião cria uma vida de alegria

Uma vez que o ideal de nossa religião é construir um mundo sem


doença, pobreza e conflito, as pessoas que nela ingressam passam a
viver com saúde e prosperidade, plenas de harmonia e alegria. Todavia,
do ponto de vista daqueles que padecem numa sociedade infernal,
como a de hoje, isso é algo inimaginável. Eles refutam a possibilidade
da concretização desse ideal e pensam que tudo não passa de
artimanhas para atrair o povo. Pode ser também que, para essas
pessoas, os modelos do Paraíso Terrestre que estamos construindo
sejam meras construções suntuosas, totalmente desnecessárias. Nosso
objetivo, no entanto, é promover o cultivo de nobres sentimentos,
possibilitando, de vez em quando, que as pessoas se distanciem desta
sociedade infernal e se deleitem em lugares paradisíacos envoltas por
uma atmosfera celestial de Verdade, Bem e Belo, imersas em um
estado de suprema alegria. Assim, fica claro que a construção desses
modelos é uma necessidade para o homem contemporâneo.

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Atualmente, o ambiente social produz pessoas desprezíveis e


degrada os jovens, não havendo, portanto, um lugar sequer que não
seja origem do mal social. Por esse motivo, podemos afirmar que o
nosso Paraíso Terrestre é o único oásis no mundo atual. Se as pessoas
compreendessem realmente o quanto nosso projeto é nobre e arrojado,
ao invés de nos censurarem, deveriam manifestar seu inteiro apoio.

Existe, ainda, uma importante questão. Nem é preciso dizer o


quanto os japoneses, devido às guerras e invasões que perpetraram
tempos atrás, foram recriminados pelo mundo e perderam sua confiança.
Portanto, recuperar essa confiança, o mais breve possível, é uma
questão seriíssima que nos é imposta. Neste sentido, o modelo do
Paraíso Terrestre é um local de extrema importância para mostrar tanto
as belezas naturais do Japão, como também o talento artístico
característico dos japoneses. Desde já, minha expectativa é que esse
modelo, ao ser concluído, se torne alvo de admiração mundial, pois,
além de contribuir para a satisfação dos visitantes estrangeiros, fará
reconhecer o elevado nível da cultura japonesa.

De acordo com o que foi dito acima, fica explicado o que é fé


shojo e fé daijo.

11 de março de 1950

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

GRAÇAS RECEBIDAS NESTA VIDA

Modéstia à parte, em nossa religião, as graças recebidas nesta


vida são maravilhosas.

Desde a antiguidade, surgiram extraordinárias religiões, como o


cristianismo, o islamismo, o budismo e tantas outras importantes
religiões, que mantêm sua influência até hoje. Como se sabe, a maioria
delas, desde o seu início, se ocupou exclusivamente da salvação
espiritual.

Nossa religião tem pouco tempo de existência e, comparada com


as demais, seu alcance ainda é limitado. Apesar disso, a rapidez de sua
expansão pode ser considerada inédita e está sendo alvo das atenções,
o que nos tem trazido muitos inconvenientes. Contudo, trata-se de
inevitáveis fenômenos próprios de um período de transição. É apenas
uma questão de tempo; naturalmente, virá o dia em que seu verdadeiro
valor será reconhecido pela sociedade de forma imparcial.

Nós também temos ideais e doutrina e estamos nos empenhando


como todas as religiões. Gostaria, porém, de escrever que há uma
diferença fundamental entre nós e as religiões tradicionais. Se as
pessoas não a reconhecerem, não conseguirão compreender nossa
essência.

A grande diferença é que, na nossa religião, as pessoas recebem


muitas graças ainda nesta vida. Para os intelectuais, religiões que
enfatizam esse tipo de graça são de baixo nível e, por esse motivo, eles
se mantêm indiferentes a elas. Se pensarmos bem, veremos que existe
uma razão para tal atitude.

Atualmente, observando a situação das inúmeras religiões do


Japão, constatamos que existem dois tipos: as que possuem traços
populares e as que não os possuem. No primeiro caso, por exemplo, o
objeto da fé são diversas divindades. Seus devotos, sem exceção, têm
como objetivo receber graças nesta vida e praticamente são pessoas
43
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

sem formação intelectual, que não entendem de aspectos teóricos ou


filosóficos. Ora, do ponto de vista dos intelectuais, tal tipo de religião é
uma tolice e não merece a mínima atenção. Assim, eles definem que a
busca de graças ainda nesta vida é própria da fé de nível inferior.

Por outro lado, eles valorizam as religiões que, não se importando


com graças ainda nesta vida, teorizam habilmente suas doutrinas para
fins de estudo. Se tais religiões possuírem uma longa história e, durante
esse tempo, tiverem surgido grandes líderes ou sacerdotes de grandes
virtudes, eles as prestigiarão ainda mais, considerando-as de alto nível.
Em síntese, para os intelectuais, o nome e a tradição da religião
significam muito.

A propósito disso, desejo expor minha crítica sincera. Dos dois


tipos de fé mencionados, o primeiro pode ser vulgar, mas a verdade é
que ele influencia a massa popular mais do que podemos supor. Dado
que a massa tem um baixo nível intelectual, nem princípios nem teorias
lhe interessam. Essas pessoas visitam santuários de vez em quando,
fazem pedidos de graça e oferta monetária e se satisfazem com isso.
Trata-se de uma fé muito simples, mas que, indiscutivelmente, influencia
positivamente o sentimento. Mesmo esse tipo de crença, como ele parte
de uma visão espiritualista que acredita no invisível, certamente
contribui para o bem social mais do que aquela que se baseia no
materialismo. Afinal, uma pessoa que possui o sentimento de orar a
divindades dificilmente cometerá crimes brutais a sangue frio.

O segundo tipo de fé, diferentemente do primeiro, é seguido por


pessoas que, partindo do princípio que não se deve acreditar naquilo
que não se vê, rejeitam a crença no invisível, considerando como
superstição. Parece que, atualmente, a maioria dessas pessoas
pertence à classe intelectual. Naturalmente, uma vez que são
materialistas, elas até lidam com as religiões, mas como uma forma de
estudo. Consequentemente, quando discutem o assunto, não o
aceitarão se não o colocarem em termos teóricos e filosóficos. A nosso
ver, seus argumentos são extremamente superficiais, e as críticas que
fazem à nossa religião não passam de comentários maledicentes.
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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Para se analisar verdadeiramente uma religião, é preciso nela se


aprofundar e, com olhar aguçado, ver como de fato ela é. Nesse caso,
deve-se abandonar completamente a subjetividade, sem se deixar levar
por ideias preconcebidas. Originariamente, a essência de uma religião
não está em sua forma, mas em seu conteúdo. Portanto, é necessário
que os intelectuais mudem de postura ao tecer suas críticas.

De acordo com o exposto acima, consideramos grosseiro e


leviano criticar nossa religião julgando apenas pela aparência e tachá-la
de crença popular só porque prioriza o recebimento de graças nesta
vida. Enquanto as críticas persistirem nesse foco, elas não terão
nenhum sentido. Se fizerem uma profunda análise da nossa religião,
compreenderão que ela não só é de caráter popular mas também
teórica. Podemos dizer mesmo que é uma ultrarreligião jamais antes
experimentada pela humanidade. E não é só isso. O que defendemos
não se limita à religião. Estamos lançando as mais altas diretrizes
referentes ao campo da medicina, da agricultura, da arte, da educação,
da economia, da política; enfim, a todas as atividades desenvolvidas
pelo ser humano. Em suma: queremos demonstrar concretamente a
teoria de que fé e vida cotidiana são indissociáveis.

8 de novembro de 1950

45
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

MILAGRE E RELIGIÃO

Seria desnecessário dizer que milagre é a ocorrência de algo


considerado impossível, fora da lógica e impensável pelo senso comum.
Portanto, mistério é a melhor palavra para designar milagre.

Desde quando existe o milagre? Temos o registro dos milagres


de Jesus Cristo, os quais são muito conhecidos e dispensam
comentários. No Japão, é notório o milagre que ocorreu com Nichiren
quando foi perseguido em Tatsu-no-kuchio Também são conhecidos os
inúmeros milagres ocorridos com os fundadores das religiões Tenrikyo,
Oomoto, Konkokyo e Perfect Liberty.

Em toda parte, há pequenos milagres, mas o estranho é que nas


grandes e antigas religiões, parece que eles quase não ocorrem.
Enquanto seus fundadores estavam vivos, é bem provável que tenha
havido muitos milagres. Contudo, com o passar do tempo, eles foram
cessando por completo.

Por esse motivo, para garantir a sobrevivência de suas religiões,


os estudiosos precisaram desenvolver algo de valor que substituísse os
milagres. Talvez a Filosofia da Religião, a Ciência da Religião, a
Teologia e outras formas de estudos sistematizados sejam resultados
disso. O ponto central desses estudos é que o correto é a religião
ocupar-se da salvação espiritual e, por isso, as graças recebidas nesta
vida vieram sendo menosprezadas. Além disso, foram acrescentadas as
tradições próprias de cada religião, o que de alguma forma manteve os
ensinamentos vivos. Todavia, as pessoas com discernimento, bem
como as camadas mais cultas da população, não as aceitam e, desde
que não encontram uma fé cujo teor as satisfaça, é natural que muitos
não adotem nenhuma fé, conforme se sucede atualmente. Torna-se
claro, portanto, que a fé ansiosamente procurada pelo homem
contemporâneo é, antes de mais nada, algo novo, despojado de velhas
roupagens e respaldado em fatos, livre de teorias vazias. Enfim, em
todos os aspectos, essa fé deve ter uma abordagem racional.

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Por outro lado, no momento, até que algumas crenças estão se


expandindo significativamente, como a Narita-no-Fudosson, Toyokawa,
Fushimi-Inari, Kompira-Gonguen e uma ramificação da Nichiren-shu.
Elas, talvez, de certa forma, estão sendo úteis à sociedade, porém,
como visam unicamente às graças e são tidas como de nível inferior,
não exercem nenhuma atração sobre as pessoas cultas nem sobre a
camada jovem. Observando com imparcialidade, elas só atendem a uma
parcela da população.

O atual panorama religioso do Japão é realmente desanimador,


pois conta apenas com entidades religiosas de dois tipos de fé: as que
se concentram em teorias e as que visam às graças. Sendo assim, o
que essa situação está nos mostrando? A necessidade do surgimento
de uma religião nova e ideal. Creio que, em termos de religião capaz de
corresponder plenamente aos anseios da atualidade, modéstia à parte,
não há outra senão a nossa Igreja Messiânica. Seu diferencial consiste
em ensinar como deve ser a nova cultura, mostrar as diretrizes para a
criação de uma nova civilização, apontar as falhas da cultura
contemporânea e expor interpretações novas e inéditas sobre Filosofia,
Ciência, Teologia e outras áreas. Logo, podemos dizer que ela é mais
do que uma religião.

Ingressando nela e analisando-a minuciosamente, a pessoa se


surpreenderá com a veracidade do que acabamos de dizer.

Uma vez fiel, a pessoa compreenderá que uma grande


característica da nossa religião é a ocorrência de muitos milagres.
Certamente, na história não há registro de nenhuma outra religião em
que eles sejam tão numerosos. Milagre, como já dissemos, é a obtenção
da graça ainda nesta vida e, por isso, não temos nenhuma dúvida da
possibilidade de construir um mundo isento de doença, pobreza e
conflito, que é o nosso lema.

Escrevi de maneira bastante direta sobre a nossa religião. No


mais, resta aos leitores experimentar conhecê-la.
5 de março de 1952
47
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÃO É MILAGRE

Várias heranças literárias provam que religião e milagre são


inseparáveis. Religião sem milagre deixa de ser religião. Isso ocorre
porque Deus é que faz milagres; por meio da força do ser humano, não
é possível operar um único milagre sequer. Assim, uma religião sem
milagres é uma existência sem valor. Podemos dizer que, por mais que
a forma seja religiosa, ela perdeu seu valor como religião.

É natural que, quanto mais elevada é a religião, maior é o número


de milagres que apresenta. Milagre, em outras palavras, significa o
aparecimento de graças inesperadas. Estas despertam um sentimento
religioso no fundo do coração da pessoa que ingressa na fé e se salva
da infelicidade. Não seria essa a verdadeira religião? É desnecessário
dizer que um único fato vale por mil argumentos. Embora se diga que a
situação que vivemos atualmente seja uma consequência da derrota na
Segunda Guerra Mundial, é muito preocupante o aumento do mal social,
em especial, o fato de a camada jovem - sustentáculo do futuro do país -,
encontrar-se totalmente confusa, tomada por ideologias nocivas. Se
buscarmos a causa, veremos que ela resulta da educação que tem o
pensamento materialista como regra de ouro. Enquanto não
despertarmos dessa falácia, não há como solucionar a questão.

Então, o que fazer para derrotar o pensamento materialista? É


preciso avivar o sentimento religioso no ser humano. Para isso, como
sempre pregamos, o fundamental é fazer reconhecer a existência
invisível de Deus. E o milagre é o único meio para tal.

Milagre é tornar possível aquilo que se considera impossível


realizar pela ação do ser humano. Quando ocorrem, diante dos olhos,
fatos que não podem, de forma alguma, ser compreendidos por meio de
teorias, é natural que toda e qualquer dúvida se dissipe de uma só vez.

Portanto, como o título sugere, podemos dizer que "religião é


milagre e milagre é religião". Assim, se não fizermos reconhecer a
existência de Deus por meio do milagre e não cultivarmos o
48
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

espiritualismo, será impossível alcançar os resultados almejados quanto


à construção de um Japão pacífico e à exclusão do mal social.

Na história da humanidade, não se conhece nenhuma religião


que tenha apresentado tantos milagres como a nossa. Neste sentido, o
objetivo da nossa religião nesta época de grande transição é, pelo sopro
do milagre, despertar as almas adormecidas deste mundo, o qual
perdeu a consciência espiritualista.

Deus, Todo-Poderoso, pelas mãos de Kanzeon Bossatsu 24 ;


também conhecido como Komyo Nyorai25, vem utilizando Sua força de
maneira livre e desimpedida, manifestando os mais variados e
incontáveis milagres. Dessa forma, Ele vem realizando a grande obra de
salvação por meio da nossa religião.

11 de junho de 1949

24
Kanzeon Bossatsu: Em sânscrito, Avalokiteshvara ("Aquele que enxerga os clamores do mundo") é
o bossatsu que representa a suprema compaixão. Conhecido no Japão também apenas como
Kannon.
25
Komyo Nyorai: Nome de uma das manifestações de Kanzeon Bossatsu, segundo Meishu-Sama.
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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÕES E MILAGRES

Desde tempos remotos, costuma-se dizer que os milagres são


inerentes à religião, o que realmente é verdade. Modéstia à parte, talvez
nunca tenha existido uma religião com tantos milagres como a nossa.
Em poucas palavras, eu diria que isso ocorre porque o Deus que a rege
possui a posição mais digna e elevada.

Na sociedade, quando se fala em divindades, pensa-se que


quase não existe diferença entre elas, e há a tendência de cultuá-las
como se fossem iguais. Entretanto, precisamos saber que, até entre elas,
existe uma hierarquia: superior, média e inferior. Em ordem decrescente,
essa hierarquia, iniciando pelo Altíssimo, passa por Ubussunagami 26 ,
chega até Tengu27, Ryujin28, Inari29 e outros.

Gostaria de falar detalhadamente sobre essa hierarquia, mas


assim eu estaria desvelando divindades de outras religiões. Portanto,
por uma questão de respeito, não o farei. Desejo apenas mostrar, por
meio de um exemplo, quão elevada é a posição do Deus que dirige
nossa religião. Nem preciso dizer como o Johrei é maravilhoso, pois,
com o passar do tempo, à medida que se torna conhecido, ele está se
constituindo o grande fator da expansão da nossa religião. Aliás, sobre a
cura de doenças pelo Johrei, muitos acham um mistério que ela ocorra
mesmo que a pessoa duvide, receba-o apenas a título de experiência ou
julgue ser impossível curar-se por meio de "uma tolice dessas". Até o
26
Ubussunagami: É o deus protetor de uma localidade, que se assemelha aos santos padroeiros na
tradição católica. No Japão, ele se encarrega dos nascimentos, matrimônios e funerais daqueles que
nasceram na respectiva localidade.
27
Tengu: Ser mitológico, tem a missão de proteger as montanhas. O que ele mais aprecia é uma
discussão; quando sai vencedor, sua posição espiritual se eleva. É orgulhoso, ambicioso, amante do
jogo e também da pintura e da poesia. Seu maior prazer é a bebida. Nas pinturas e nas máscaras,
ele é representado com nariz muito longo e com o rosto vermelho.
28
Ryujin: Seres mitológicos conhecidos como" dragões", que estão em constante atividade para o
cumprimento de suas missões. Fenômenos naturais, como o vento, a chuva, o relâmpago e outros,
são atribuídos aos dragões, cujo objetivo é a purificação do espaço entre o Céu e a Terra. Os
dragões grandes, médios e pequenos residem nos oceanos, nos mares, nos lagos, nos pântanos,
nos rios, nos poços e até mesmo nos lagos artificiais, protegendo-os.
29
Inari: Segundo uma lenda, para tornar fértil o solo do Japão, Deus ordenou a uma divindade que
espalhasse arroz pelos quatro cantos do país. Na ocasião, essa divindade utilizou raposas para
semeá-la. Assim, a palavra inari significa "raposa que carrega o arroz". Por esse motivo, a raposa é
venerada como divindade em todo o Japão. Os agricultores sentem-se no dever de realizar-lhe cultos
de gratidão e pedido de boa colheita. lnari é igualmente o nome de templo ou oratório onde se
cultuam espíritos de raposa.
50
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

presente, em se tratando de cura de doença por meio de terapias


religiosas, era corrente o pensamento: "Acredite desde o início. Não se
pode duvidar." Assim, é normal que, condicionadas a este pensamento,
as pessoas achem isso misterioso. Vou explicar a razão.

Crer antes de ver algum resultado, na verdade, é enganar a si


próprio. Querer que se acredite numa coisa antes de ter alguma prova é
um contrassenso. Assim, é óbvio que isto está errado.

Empregar todos os esforços para crer porque nos foi dito para
crer produz algum efeito, pois isso é melhor do que duvidar. Tal efeito,
porém, não provém de Deus: trata-se apenas da força pessoal de cada
um. Por que motivo um pensamento tão errado veio sendo aceito como
a coisa mais natural, até hoje? É que se desconhecia que essas
divindades não tinham poder suficiente e supria-se essa deficiência com
a força humana. Nesse sentido, em nossa religião, as pessoas se curam
mesmo que duvidem. Isso se verifica porque a força de Deus é grande,
não sendo necessário, portanto, acrescentar a força pessoal. Logo, se
uma divindade não tem força suficiente para curar doenças, é porque
seu nível é inferior.

Muitas vezes, quando as graças não ocorrem do modo desejado,


os sacerdotes e os membros mais antigos dão a desculpa de que a
pessoa não tem fé suficiente. Parece que eles acham que a graça é
conseguida com o esforço humano, ao invés de ser concedida por Deus.
Na verdade, Deus é infinitamente misericordioso; por isso, basta pedir
que, infalivelmente, Ele nos concede a graça. Ao contrário, quando o ser
humano se esforça demasiadamente e ultrapassa os limites, o
verdadeiro Deus fica desgostoso. Principalmente fazer jejuns,
abstinências e outros ascetismos é o que mais se distancia da Vontade
de Deus, pois Seu grande amor abomina o sofrimento humano.

Pensemos bem. Nós, seres humanos, somos filhos de Deus.


Será que existem pais que se alegram com o sofrimento dos filhos?
Ainda que a pessoa tenha conseguido receber uma graça por meio de
práticas ascéticas, quem a concedeu não foi o verdadeiro Deus, mas
51
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

alguma divindade maligna. Graças desse tipo não são duradouras. As


graças concedidas pelo verdadeiro Deus são diferentes: à medida que
nos dedicarmos à fé, nossos infortúnios diminuirão gradativamente,
atingiremos o estado de paz interior e seremos felizes.

Em síntese: forçar as pessoas a crer a fim de alcançar graças é


típico de religião de baixo nível; por outro lado, o fato de Deus conceder
a graça, independentemente da pessoa acreditar ou duvidar, é a prova
de que se trata de uma divindade de alto nível.

11 de abril de 1951

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

ANÁLISE DO MILAGRE

Costuma-se definir milagre como a ocorrência de um fato


considerado impossível. No entanto, se ele ocorreu, então, não era
impossível: é porque era para acontecer. Por conseguinte, considerar
que algo é impossível é um grande erro. Essa explicação parece
complicada, mas vou mostrar por que estou fazendo tal afirmativa.

A ideia preconcebida de que determinada coisa nunca poderá


ocorrer já constitui uma ilusão, pois essa ideia considera apenas o
fenômeno, isto é, aquilo que se manifesta exteriormente. Visto que até
agora a forma de pensar da sociedade baseava-se em conceitos
materialistas, caso algo fora do normal se sucedesse, pensava-se tratar-
se de um mistério. Ou seja, em tese, aquilo que não era para acontecer,
se passa diante de nossos olhos.

Por exemplo: uma criança cair do alto de um penhasco e não


sofrer nada; um carro bater numa bicicleta e não haver ferimentos nem
prejuízos; uma pessoa se salvar por ter se atrasado e perdido um trem
que depois descarrilou, virou ou colidiu com outro; um ladrão que estava
entrando numa casa, fugir em decorrência da ministração do Johrei;
uma pessoa recuperar o que lhe foi roubado; um incêndio que se havia
alastrado até à casa do vizinho, ser desviado devido à repentina
mudança de direção do vento, por efeito do Johrei. Dessa forma, a
verdade é que os fiéis da nossa religião, particularmente, vivenciam um
grande número de milagres, sejam estes grandes ou pequenos.

E por que motivo os vários milagres ocorrem? Onde está a


causa? Creio que todos querem saber.

É claro que a origem do milagre, na verdade, se encontra no


Mundo Espiritual. Entretanto, dentre os milagres há também os
decorrentes da própria força e os da força alheia. Inicialmente, falarei
sobre o primeiro tipo.

53
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Conforme eu sempre digo, o ser humano possui aquilo que se


chama aura, que é a vestimenta do espírito. Ela é invisível às pessoas
comuns e se assemelha a uma névoa branca envolvendo o espírito no
formato do corpo físico. Sua largura é variável, e isso se deve ao grau
de pureza da alma; quanto mais pura ela for, mais larga é a aura. Nas
pessoas comuns, ela varia de três a seis centímetros; a dos virtuosos
tem de sessenta a noventa centímetros; nos seres divinos, é infinita. Ao
contrário, no corpo e alma impuros, a aura é fina e frágil.

Ao escapar de um desastre, por exemplo, no instante em que um


carro - que também possui espírito -, vai bater numa pessoa, não
conseguirá atingi-Ia se for alguém de aura larga. O indivíduo se salva,
porque é empurrado para o lado. Pessoas de aura larga, quando caem
de um local alto, mesmo indo de encontro ao espírito da terra ou de uma
pedra, não se machucam, apenas batem de leve. As casas também
possuem espírito, de modo que, se o dono for virtuoso, a aura da casa
será larga; no caso de incêndio, o espírito do fogo não a atinge, pois é
barrado pela aura. Pelo mesmo motivo, na ocasião do grande incêndio
de Atami, a sede provisória da nossa Igreja misteriosamente não pegou
fogo. Não é que nunca teremos incêndios, mas se houver, é porque era
necessário; embora seja algo raro, isto terá ocorrido devido ao Plano de
Deus.

Vejamos, a seguir, os milagres decorrentes da força alheia. O ser


humano possui três espíritos protetores: o primordial, o guardião e o
secundário. Vou-me abster de maiores explicações sobre a relação
existente entre eles, pois já falei sobre isso em outras oportunidades.30

O espírito protetor guardião é escolhido entre os ancestrais; ele


salva seu protegido no caso de um perigo iminente ou lhe manda avisos
importantes por meio de sonhos. Quando se trata de pessoa que tem
missão especial, pode ocorrer que uma divindade (em geral,
Ubussunagami 31 ) venha em seu socorro. Por exemplo, se a pessoa
estiver num trem que está prestes a colidir com outro, essa divindade,
30
Nota: Ver o ensinamento "Espíritos protetores" no Alicerce do Paraíso, v. 3.
31
Ubussunagami: Vide nota de rodapé 26.
54
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

por ter conhecimento do fato, pode fazer o espírito do trem parar


instantaneamente. Mesmo que o fato esteja ocorrendo a milhares de
quilômetros, aquela divindade chega ao local para salvar a pessoa em
frações de segundo.

Como vemos, o milagre não se verifica absolutamente por


coincidência ou por acaso; há sempre uma razão. Se compreenderem
isso, verão que não há nada de misterioso nele. Para mim, o natural é
haver milagres; se não houver é que eu acho estranho.

Por exemplo, quando me encontro diante de um problema difícil,


cuja solução está demorando, eu penso: "Daqui a pouco vai acontecer
um milagre." E é muito frequente que, de repente, ele ocorra,
solucionando o problema. Creio que aqueles que têm profunda fé e
somaram atos meritórios, já passaram por muitas experiências nesse
sentido. Portanto, se o ser humano desejar e praticar o bem, somar atos
meritórios e procurar tornar sua aura mais larga, jamais lhe advirão
desgraças inesperadas.

Ao contatarmos com pessoas, quanto mais larga for sua aura,


mais calor humano emanará dessas pessoas, fazendo-nos sentir por
elas uma grande afeição. Esse tipo de pessoa é que atrai outras. Posto
que muitos se juntam naturalmente à sua volta, seu trabalho também se
desenvolve a contento e progride. Eu gostaria de dar um exemplo:
sempre que começo a frequentar um lugar, infalivelmente ele prospera.
E, ainda, quem fica próximo de mim, com certeza, melhora e se torna
feliz. Isso ocorre porque a pessoa recebe influência da minha aura.

6 de junho de 1951

55
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

MUNDO ESPIRITUAL

PREFÁCIO DO LIVRO “HISTÓRIAS SOBRE O MUNDO


ESPIRITUAL32”

Neste volume, registrei os fenômenos do Mundo Espiritual que


pesquisei durante mais de vinte anos. Não há exagero ou qualquer
intervenção de minha parte, pois procurei retratá-los com a máxima
exatidão.

Dizem que os estudos e a inteligência humana progrediram muito,


mas o que houve foi apenas o avanço da parte material; a parte
imaterial, lamentavelmente, progrediu muito pouco. O verdadeiro valor
do progresso da cultura está no avanço paralelo dos estudos de ambas
as partes. Apesar do maravilhoso desenvolvimento da cultura, a
felicidade humana não está conseguindo acompanhá-lo e a principal
causa, conforme eu disse anteriormente, se deve ao desequilíbrio com
que se dá o progresso. Em outras palavras, somente a cultura material
se desenvolveu, enquanto que a cultura espiritual continua atrasada.

Diante disso, desejo despertar a humanidade por meio do


extraordinário desenvolvimento da cultura espiritual. Uma vez que os
fenômenos espirituais, em decorrência de sua natureza, não podem ser
percebidos pelos cinco sentidos humanos, torna-se muito difícil fazer
com que sua existência seja apreendida. Todavia, tenho absoluta
certeza que meu objetivo pode ser alcançado, porque não estou
apresentando fatos inventados, mas sim reais.

Está mais do que claro que, à medida que se acredita nos


fenômenos espirituais, mais possível se torna a apreensão do princípio
da felicidade plena. Portanto, seja qual for a fé que se professe, sem se
alcançar um profundo conhecimento de tais fenômenos, não será
possível obter a verdadeira paz interior. Relacionado a isso, existe um
ponto que merece reflexão. Apesar de o ser humano estar ciente de que
32
Nota: Este livro foi o terceiro volume da “Coletânea Jikan”, composta por 15 volumes.
56
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

um dia vai morrer, ele conhece muito pouco sobre a vida após a morte.
Meditemos. As pessoas em geral vivem no máximo setenta ou oitenta
anos. E pensam que a morte representa o fim de tudo. Se fosse assim,
a vida não seria realmente vã e efêmera? Esse pensamento ocorre
porque elas desconhecem que existe vida após a morte, no Mundo
Espiritual. Ao adquirir profundo conhecimento a esse respeito, o ser
humano encontra alegria tanto diante da vida quanto da morte. Assim,
ele conseguirá ser eternamente feliz.

É pelos motivos expostos que escrevi este livro.

25 de agosto de 1949

57
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

A FORÇA DA NATUREZA

Em relação à constituição deste mundo em que respiramos e


vivemos, ou seja, da Grande Natureza, segundo minha pesquisa,
existem a grosso modo três elementos - Fogo, Água e Terra - conforme
explanei em outra oportunidade. Atualmente, por intermédio da ciência e
dos cinco sentidos do ser humano, tomamos conhecimento do
eletromagnetismo, da atmosfera, dos elementos da matéria etc. Meu
propósito, porém, é falar sobre um componente etéreo, ou seja, a
energia espiritual, que ainda não pode ser conhecida por meio da
ciência e dos cinco sentidos.

Até hoje, a expressão "energia espiritual" ou "espírito" tem sido


muito usada, mas ficou circunscrita à religião ou à parapsicologia.
Consequentemente, a palavra "espírito" foi associada à superstição. Não
só isso, tornou-se praxe a negação do espírito como condição para ser
considerado intelectual, mas não é bem assim: na verdade, a energia
espiritual é a fonte da surpreendente força da qual dependem o
nascimento, o desenvolvimento e a transformação de todas as coisas
deste Universo. Chamo-a de Força Invisível. Sendo assim, chamarei o
mundo conhecido simplesmente de Mundo Material, e o desconhecido,
de Mundo Espiritual.

Como lei universal, todas as coisas do Mundo Material se


originam e se põem em movimento, primeiramente, no Mundo Espiritual.
O mesmo se dá quando movimentamos nossos braços e pernas, em
que a vontade é que se move primeiramente. Contudo, os estudos de
até agora tinham por princípio a busca de soluções apenas com base
nos fenômenos do Mundo Material, e esse é o motivo por que, embora
se admita um avanço da cultura, o bem-estar da humanidade não
acompanhou esse progresso. Portanto, para resolver qualquer questão
do Mundo Material, é necessário solucioná-la primeiro no Mundo
Espiritual. Nesse sentido, mesmo no caso de doenças, é necessário
curá-las a partir do Mundo Espiritual, ou seja, o verdadeiro método de
tratamento consiste em tratar o espírito por meio do espírito.

58
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

É evidente que o corpo humano é constituído de um corpo


espiritual, referente ao Mundo Espiritual, e de um corpo material,
pertencente ao Mundo Material. A doença, conforme já tenho explicado,
é a purificação de toxinas solidificadas, ou seja, é o processo de
dissolução dessas toxinas. Esse processo aplicado ao corpo espiritual
se configura da seguinte maneira: as toxinas se apresentam em forma
de nuvens espirituais em uma parte do espírito, e a dissolução das
toxinas corresponde à dissipação dessas nuvens. Já que todos os
tratamentos existentes até hoje buscavam a solução apenas no corpo,
eles agiam de forma contrária e, por isso, não eram a verdadeira
solução da doença.

Dado que a dissipação das nuvens do corpo espiritual é a regra


básica da cura das doenças, qual é a força necessária para extingui-
Ias? Ela é uma espécie de luz misteriosa irradiada do corpo humano. Só
é possível apreender verdadeiramente esse princípio por meio da
prática contínua do Johrei por vários anos. Peço aos leitores que fiquem
cientes, portanto, que aqui não é possível ir além de uma noção geral do
assunto.

Antes de explicar o que é o corpo espiritual do ser humano, torna-


se necessário saber o que é a morte. Quando o corpo físico se torna
incapaz de continuar desempenhando suas funções devido ao
envelhecimento, doença, ferimento, perda de sangue etc., o espírito se
separa da matéria. A esta separação chamamos de morte. Dessa forma,
a morte se dá quando o corpo espiritual abandona o corpo material.
Com a morte, o espírito regressa ao Mundo Espiritual e, passado algum
tempo, reencarna; o corpo físico, como todos sabem, se decompõe e
retorna à terra. Pelo exposto, compreende-se que o corpo espiritual é de
vida infinita, e o corpo material, uma existência secundária e finita.
Consequentemente, ao lidar com as questões do ser humano, o corpo
espiritual deve ser o verdadeiro alvo.

Finalmente, a ciência moderna está descobrindo a existência de


uma espécie de radiação em todos os seres vivos, inclusive nos

59
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

vegetais e até mesmo nos minerais. Segundo minhas pesquisas, a


radiação do corpo humano é de natureza superior, pois, como os
antigos diziam, "o ser humano é o mais elevado entre todas as criaturas".

Quanto mais elevado for um espírito, maior é o grau de rarefação


de seus elementos e, quanto mais aumenta o grau de rarefação do
espírito, mais difícil é detectá-lo por meio de equipamentos, o que
contraria a visão materialista. Desse modo, é muito mais fácil perceber a
radioatividade nos minerais e a fosforescência nos vegetais, por serem
espíritos de nível inferior. Assim, quanto mais rarefeito for o espírito,
mais aumentará sua força. A compreensão de tal princípio é muito
importante. Apesar da radiação emitida pelo corpo humano ser a mais
forte, dependendo da pessoa, essa radiação apresenta enorme
diferença que está além da imaginação. Quanto mais forte for essa
radiação, maior será sua força de curar doenças.

Assim, para torná-la mais potente, concentrei-a em uma parte do


corpo, alcançando êxito na dissipação das nuvens espirituais. Obtive
sucesso também em desenvolver uma técnica especial que potencializa
ainda mais a força de radiação que cada um possui.

Aplicando esse método, conhecendo seu princípio e somando


experiências, consegue-se manifestar uma extraordinária capacidade de
curar doenças.

5 de fevereiro de 1947

60
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

O MUNDO DESCONHECIDO

O mundo em que vivemos e respiramos é o Mundo Material, o


Primeiro Mundo. Com a morte, tornamo-nos habitantes do Mundo
Espiritual, o mundo desconhecido, isto é, o Segundo Mundo.

O Mundo Desconhecido é invisível, inapreensível e, por se


assemelhar ao Nada, torna-se difícil crer em sua existência apenas por
meio de textos ou de uma simples explicação. Entretanto, desde que o
Mundo Espiritual não é um verdadeiro Nada, mas sim uma existência
real, ele deve manifestar-se de alguma forma por meio de fenômenos.

Com efeito, aquele mundo tem-se revelado em grande, média ou


pequena escala nos aspectos da vida humana, nos seus mínimos
detalhes, em todas as épocas e locais do mundo. Simplesmente, o ser
humano é que não conseguia percebê-lo.

Isso foi causado pela educação da cultura tradicional, que não


tinha interesse algum pelo espírito, pois era o Mundo da Noite. Afinal, na
escuridão da noite, só se consegue enxergar fracamente com a luz da
Lua, mas de dia, com a luz do Sol, é possível distinguir
instantaneamente as coisas de forma nítida e clara. Num futuro bem
próximo, o Mundo Desconhecido se tornará o Mundo Conhecido, e o
mundo da luz da Lua se tornará o mundo do Sol, ou seja, um mundo de
luz muito intensa. Como resultado disso, os segredos, as falsidades e as
falácias virão à tona aos olhos de todos. Nesse sentido, o primeiro
destes foi a falácia da Medicina atual, descoberta por mim.

5 de fevereiro de 1947

61
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

A EXISTÊNCIA DO MUNDO ESPIRITUAL

Em primeiro lugar, é preciso entender a finalidade do nascimento


do ser humano neste mundo.

Deus criou os seres humanos para construir o Mundo Ideal, que é


o objetivo do Seu plano na Terra, concedeu uma missão a cada um e
faz com que atuem conforme Sua vontade. A evolução do estágio
primitivo para o atual estágio de deslumbrante cultura, bem como o
desenvolvimento da inteligência humana ao nível atual, se devem
exclusivamente a esse fim.

Não só os seres humanos, que são os mais desenvolvidos, mas


também as demais criaturas, inclusive os vegetais e os minerais - tudo
aquilo que tem forma -, estão constituídos de duas partes: espírito e
matéria. Quando o espírito se separa da matéria, o ser deixa de existir,
seja ele qual for, mas aqui, pretendo falar apenas sobre o ser humano.

Quando o corpo material fica impossibilitado de ser utilizado


devido ao envelhecimento, doença, grande perda de sangue, etc., o
espírito o abandona e dirige-se ao Mundo Espiritual, onde passa a viver
como seu habitante. Tal fato é idêntico no mundo inteiro, seja qual for a
raça. Por exemplo, temos a obra intitulada "Raymond - Uma prova da
existência da alma", da autoria de Sir Oliver Lodge (1851 - 1940), que foi
best-seller na época de sua publicação na Inglaterra logo após a
Primeira Guerra Mundial. Ela registra as mensagens que lhe foram
enviadas do Mundo Espiritual por seu filho que falecera na Bélgica,
durante uma batalha daquela guerra. Na época, o livro foi lido por
pessoas de diversos países, gerando um inesperado movimento de
pesquisas sobre o Mundo Espiritual e, dessa forma, surgiram também
grandes médiuns.

Também o famoso autor de "O Pássaro Azul", o belga Maurice


Maeterlinck (1862 - 1949), ao tomar conhecimento da existência do
espírito, mudou completamente sua visão sobre o destino e tornou-se

62
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

um fervoroso estudioso dos fenômenos espirituais, fato que é do


conhecimento de todos dessa área. Houve igualmente a publicação,
logo a seguir, do livro "Registros de pesquisas sobre o mundo
espiritual33", do Dr. Ward (1885 - 1949), que impulsionou ainda mais as
pesquisas parapsicológicas. O Dr. Ward, uma vez por semana, por uma
hora, entrava em estado de transe sentado a uma cadeira e se
transportava para o Mundo Espiritual. E assim pesquisou
minuciosamente este mundo. Nessas ocasiões, o espírito do Dr. Ward
era guiado pelo espírito de um tio seu que lhe mostrava todos os
aspectos daquele mundo, explicando, em detalhes, sua verdadeira
natureza. Havia, ainda, os espíritos de amigos que desempenhavam
papéis de mentores, enriquecendo os conhecimentos que lhe eram
ministrados. Trata-se de uma obra muito interessante, que pode ter
grande validade para o conhecimento da vida no Mundo Espiritual,
razão pela qual espero que os leitores a leiam.

Inegavelmente há diferenças significativas entre o Mundo


Espiritual do Ocidente e o do Japão. Pretendo, posteriormente, por meio
de diversos exemplos, explicar os fenômenos espirituais de um e de
outro.

Há mais de dez anos, notícias vindas da Inglaterra diziam que


haviam surgido naquele país centenas de sociedades de pesquisas
psíquicas desenvolvendo intensas atividades e que até fora fundada
uma universidade para esse fim. Eu gostaria de saber a situação
presente, porque com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, não tive
mais notícias a respeito.

25 de agosto de 1949

33
Registros de pesquisas sobre o mundo espiritual: Edição japonesa do livro Gone West: Three
Narratives of After-Death Experiences, publicado em 1930 por Dr. John Sebastian Marlowe Ward
(1885 - 1949).
63
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

O TEMPO PRESENTE E O MUNDO ESPIRITUAL

Atualmente, o mundo enfrenta uma crise de grandes proporções


jamais vista na história. Evidentemente, a ideia de que a Terceira Guerra
Mundial é inevitável domina quase toda a humanidade. Por ser um
problema bastante sério, que envolveria mais de cinquenta países, a
extensão de seu impacto também seria sem precedentes.

Esta é a imagem do mundo atual, que se projeta à vista de


qualquer um. Todavia, o Mundo Espiritual é a origem de tudo o que
ocorre neste mundo e, se não conhecermos sua realidade,
evidentemente, não poderemos descobrir a origem dos problemas.
Somente com essa compreensão, teremos uma ideia mais clara quanto
ao futuro e obteremos uma profunda paz de espírito. É sobre esse tema
que vou discorrer.

Para que o Supremo Deus, dentro de Seu plano, pudesse


construir o Paraíso Terrestre no futuro, foi necessário fazer com que a
cultura material progredisse até determinado ponto. Nesse sentido,
Deus criou o bem e o mal e foi pelo atrito entre ambos que se alcançou
o extraordinário progresso material da atualidade. Agora, chegou-se a
um passo do surgimento do Paraíso. Isso é algo ao qual sempre me
refiro, mas tive que fazê-lo novamente, pois as pessoas que nunca
ouviram falar sobre o assunto, teriam dificuldade de compreender o que
vou expor a seguir.

Desde que os seres humanos foram criados no Mundo Espiritual,


ali mesmo, iniciou-se o conflito entre eles. Os mais fortes queriam
apoderar-se de todas as regiões existentes na época, dominando-as
conforme sua vontade. Para tanto, recorriam à violência, sem distinguir
o bem do mal, tal como ocorre presentemente. Assim, pouco a pouco, a
inteligência humana foi-se desenvolvendo e, à medida que a população
aumentou, a dimensão das lutas se ampliou, tendo-se chegado à atual
situação.

64
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

O plano de conquista da supremacia mundial foi elaborado há


mais de dois mil anos, e seu chefe era certo espírito de dragão34 de
grande poder no Mundo Espiritual. Uma divindade foi influenciada
espiritualmente por esse espírito que, utilizando os meios mais atrozes,
quis manipular o mundo a seu bel-prazer. Para atingir seu objetivo,
recorreu indiscriminadamente a todos os meios e, durante algum tempo,
achou que fora bem-sucedido. Todavia, ao alcançar 99% de seu objetivo,
fracassou. Por fim, esse espírito recebeu severa punição do Supremo
Deus e, por um tempo, arrependeu-se, voltando a ser uma entidade do
bem. Posteriormente, grandes personalidades de cada época foram
influenciadas por tal espírito, que procurou levar a cabo seu plano de
dominar o mundo. Fracassou sempre, mas não aprendeu a lição, e até
hoje continua lutando tenazmente. Desde a Antiguidade, as pessoas
consideradas grandes personagens ou heróis se enquadram nessa
descrição. A história nos mostra que, embora eles fossem muito
poderosos na época, acabaram tendo um final infeliz. São exemplos
disso César, Napoleão, Guilherme II, Hitler e outros.

Creio que, com o que escrevi, os leitores já tiveram uma noção


sobre a origem da situação atual.

Referindo-me aos personagens que mencionei, sempre digo que


eles são os "chefões" que têm o papel de destruir o mundo. Afinal, até
agora, o mundo não era verdadeiramente civilizado, e mesmo o ser
humano apresentava um lado selvagem. Em termos espirituais, a
humanidade cometeu muitos pecados e acumulou impurezas; portanto,
a necessidade de uma ação purificadora surge ocasionalmente. Para
isso é preciso haver alguém que desempenhe o papel de destruição e
também o de limpeza. Assim compreenderão que o aparecimento de
heróis que desempenham o papel de limpeza é igualmente uma
manifestação do Plano de Deus. Portanto, não adianta indignar-se ou
perder a esperança. Para finalizar, vou escrever um pouco sobre a
minha pessoa.
34
Espírito de Dragão: Ser espiritual da mitologia japonesa responsável por fenômenos naturais como
o vento, a chuva, o relâmpago e outros, com o objetivo de purificar o ambiente terrestre. Existem
também dragões malignos, como por exemplo, os dragões pretos e vermelhos. O dragão vermelho é
conhecido na Bíblia pelo nome de "Satanás".
65
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

No ano passado, de maio para junho, devido a um inesperado


incidente 35 , passei na prisão por momentos de sofrimentos, impostos
pela polícia. Nessa ocasião, fui atormentado pela legião do citado
espírito de dragão, que influenciou espiritualmente os investigadores.
Nos momentos em que eles se excediam, meu espírito protetor guardião
interferia e, assim, eu conseguia algum descanso. Embora fossem
autoridades, na verdade, eles foram manipulados por esses espíritos.
Passado algum tempo, quando eles se derem conta do que fizeram,
sem dúvida, se lamentarão e pensarão: "Por que será que eu fiz
aquilo?"

Apresentei apenas uma pequena parcela a respeito do Mundo


Espiritual, mas acredito que, de alguma forma, será uma referência útil.
Na realidade, se eu tivesse me aprofundado mais, poderia ter elucidado
o assunto melhor. Lamentavelmente, não poderei fazê-lo em virtude do
Plano Divino.

25 de fevereiro de 1951

35
Inesperado incidente: Para saber detalhes, vide o livro Luz do Oriente, volume 2 - A perseguição
religiosa.
66
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

MUNDO ESPIRITUAL E MUNDO MATERIAL

Se alguém se interessa por religião e deseja compreendê-la a


fundo, é-lhe indispensável conhecer a relação entre o Mundo Espiritual e
o Mundo Material. Isso porque o alvo da fé são divindades, as quais são
espíritos. Sendo que elas são invisíveis aos olhos humanos, querer
apreender sua essência apenas por meio de teoria é tão fora de
propósito quanto procurar peixe numa árvore.

No entanto, posto que divindades e budas existem de fato, não


há como negá-lo. Da mesma forma que teria sido difícil fazer com que
os homens da era primitiva reconhecessem a existência do ar,
evidentemente também é difícil fazer com que a maioria dos homens da
era contemporânea reconheça o espírito.

Em primeiro lugar, tentarei explicar de forma minuciosa a


constituição do Mundo Espiritual, a vida de seus habitantes e outros
aspectos.

O ser humano é formado por dois elementos: o corpo físico e o


corpo espiritual. Com a morte, os dois se separam, e o espírito
imediatamente entra no Mundo Espiritual, onde ali começa sua vida. No
momento da separação, o espírito das pessoas muito virtuosas sai pela
testa; o espírito dos extremamente maldosos, pela ponta dos dedos do
pé, e o das pessoas comuns, pela região umbilical.

O budismo refere-se à morte com a expressão "ir para nascer".


Realmente, observando a partir do Mundo Espiritual, trata-se de nascer
naquele mundo. Seguindo essa mesma lógica, os xintoístas usam a
expressão "retornar ao Mundo Espiritual". Existe ainda a expressão
"antes de nascer", que se refere ao período antes da morte.

Como é dito desde antigamente, ao se tornar um habitante do


Mundo Espiritual, o espírito primeiramente atravessa um rio36 e, a seguir,

36
Rio: Conhecido no budismo como rio Sanzu, que separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos.
67
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

dirige-se ao Fórum de Enma37, que equivale a um tribunal do Mundo


Material. Isso é verdadeiro, pois coincide com o que ouvi de muitos
espíritos. Quando o espírito acaba de atravessar o rio, a cor de suas
vestes se altera. As vestes dos que têm menos impurezas tornam-se
brancas; os tons das cores vão-se tornando mais fortes, de acordo com
o peso das impurezas: amarelo, vermelho, azul ou preto. A cor lilás, no
entanto, é reservada às vestes de divindades.

No fórum do Mundo Espiritual, os trabalhos ficam sob a


responsabilidade dos deuses da purificação 38 ; e seus auxiliares
procedem ao interrogatório do espírito, para decidir sobre a sentença
apropriada a cada um. Nessa ocasião, os muito virtuosos são
conduzidos ao Paraíso; os extremamente perversos caem no Inferno; as
pessoas comuns vão para o Plano Intermediário, que, no xintoísmo, é
chamado de "encruzilhada de oito caminhos 39 " e, no budismo,
"cruzamento de seis caminhos40", A maioria vai para este Plano, onde
passa por um aprimoramento cujo ponto principal é ouvir as orientações
dos capelães - trabalho realizado pelos sacerdotes de cada religião. O
aprimoramento tem duração máxima de mais ou menos trinta anos.
Decorrido esse tempo, é determinado o local a que o espírito será
destinado. Aqueles que conseguem se arrepender e se modificam vão
para o Paraíso; os demais, para o Inferno.

O Mundo Espiritual é constituído de três planos, e cada um deles


se subdivide em três, formando, ao todo, nove subplanos. O Plano
Superior é o Paraíso; o do meio é o Plano Intermediário; o Inferior é o
Inferno. Como o Mundo Material equivale ao Plano Intermediário, a
expressão búdica "cruzamento de seis caminhos" vem a ser os
caminhos que levam aos três subplanos do Paraíso e também aos três
37
Enma: Nome dado pelo budismo ao juiz do Mundo Espiritual, Enma Daio, que faz o julgamento dos
espíritos após a morte.
38
Deuses da purificação: Em japonês, haraido no kami. Segundo o xintoísmo, são quatro divindades
responsáveis pela limpeza espiritual dos ambientes.
39
Encruzilhada de oito caminhos: Conhecido em japonês como ama no yachimata. Consta no livro
sobre história do Japão - Kojiki - como sendo o local intermediário entre o mundo dos deuses e o
mundo dos seres humanos.
40
Cruzamento de seis caminhos: Em japonês, rokudo no tsuji. Segundo o budismo japonês, é um
local que fica na fronteira do Mundo Material com o Mundo Espiritual em que há o entroncamento de
seis caminhos: Inferno, Mundo dos Famintos, Mundo das Bestas, Mundo das Lutas, Mundo dos
Homens e Céu.
68
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

subplanos do Inferno. Na "encruzilhada de oito caminhos" do xintoísmo,


além desses seis caminhos do budismo, acrescentam-se um acima, sob
a denominação de "Paraíso Superior", e um abaixo, chamado de "Fundo
do Inferno".

Explicando de forma simples como é o Paraíso e o Inferno, à


medida que se sobe ao Paraíso Superior, mais intensos são a luz e o
calor, e os espíritos, em sua maioria, vivem quase nus. Por essa razão,
na maior parte das pinturas e esculturas de budas, observamos o uso de
poucas vestes. Ao contrário, à medida que se desce ao fundo do Inferno,
mais fracos são a luz e o calor; no ponto mais fundo, os espíritos vivem
paralisados e em completas trevas. Portanto, mesmo os mais perversos,
ao sofrerem nessa situação, não têm outra saída senão arrepender-se.

Esta foi uma explicação extremamente simples, e talvez as


pessoas da atualidade achem que o que estou dizendo é uma tolice.
Todavia, trata-se de uma descrição baseada em pontos coincidentes
entre levantamentos e pesquisas que fiz durante mais de vinte anos com
inúmeros espíritos, por intermédio de médiuns e de todos os meios
possíveis. Dessa maneira, gostaria que procedessem à leitura,
depositando plena confiança em mim. Eu acredito que o Gokuraku41 e o
Inferno descritos por Buda Sakyamuni, e a "Divina Comédia42", de Dante
Alighieri (1265 - 1321), não são pura invenção.

Pode-se praticamente deduzir para qual dos três planos vai o


espírito observando-se a face do morto. Os que não apresentam
expressão de sofrimento e cuja pele permanece corada, como se ainda
estivessem vivos, vão para o Paraíso; aqueles cuja expressão é de
profunda tristeza e cuja pele se apresenta pálida ou amarelo-
esverdeada, como ocorre com a maioria, vão para o Plano
Intermediário; os que ficam com uma expressão de profunda agonia e
com a pele escura ou preto-azulada, vão, logicamente, para o Inferno.

41
Gokuraku: Lugar paradisíaco no Mundo Espiritual onde vivem os budas e seus seguidores,
segundo o budismo japonês.
42
Divina Comédia: É um poema de viés épico e teológico escrito por Dante Alighieri no século XIV e
dividido em três partes: Inferno, Purgatório e Paraíso.
69
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Estas explanações têm por objetivo transmitir conhecimentos


básicos sobre o Mundo Espiritual. Em outras oportunidades, voltarei a
falar sobre diversos fenômenos espirituais constatados por intermédio
de minha experiência.

25 de agosto de 1949

70
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

CONSTITUIÇÃO DO MUNDO ESPIRITUAL

Como explanei em outras oportunidades, o Mundo Espiritual está


constituído de três planos: Paraíso, Intermediário e Inferno, subdivididos
em nove subplanos. A diferença entre cada plano é determinada pela
luz e calor. No plano mais elevado, a luz e o calor são extremamente
intensos; o Inferno, que é o mais baixo, caracteriza-se por ser um
mundo de escuridão e de ausência de calor; o Plano Intermediário situa-
se entre os dois e equivale ao Mundo Material. O fato de existirem
pessoas felizes e infelizes no Mundo Material ocorre porque elas estão
em níveis condizentes com o Paraíso e o Inferno.

No Paraíso mais elevado, ou seja, no Primeiro Paraíso, a luz e o


calor são muito fortes, os seres celestiais que lá habitam vivem quase
nus. Poderão ter uma ideia disso observando as imagens das
divindades búdicas como Nyorai, Bossatsu e outras, que estão
representadas com poucas vestes. À medida que se desce para o
Segundo e o Terceiro Paraíso, a luz e o calor diminuem gradativamente.
Suponhamos que um espírito fosse elevado do Inferno direto para o
Paraíso; ele seria ofuscado pela intensa luz e, não suportando o
sofrimento causado pelo calor, retornaria ao Inferno. Isso é idêntico ao
que se passa no Mundo Material: mesmo que uma pessoa seja
promovida, se a posição não lhe for condizente, ela sofrerá.

Em cada subplano do Paraíso Xintoísta, existe uma divindade


que o rege. O Primeiro Paraíso é regido por Amaterassu Oomikami -
divindade do Sol; o Segundo Paraíso, pelas divindades da Lua,
Tsukiyomi-no-mikoto e Kamu-Sussanoo-no-mikoto; e o Terceiro Paraíso,
pela divindade Wakahimeguimi-no-mikoto.

O Mundo Espiritual Budista está em um subplano abaixo do


Mundo Espiritual Xintoísta, e seu nível mais elevado corresponde ao
Segundo Paraíso Xintoísta, não possuindo, portanto, o Primeiro Paraíso.
O Segundo Paraíso Budista é regido por Komyo-Nyorai (Kanzeon
Bossatsu) e o Terceiro, por Amida-Nyorai e Buda Sakyamuni.

71
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

No Mundo Espiritual, também existem as várias organizações


religiosas: as treze seitas do xintoísmo sectário, as cinquenta e seis
seitas do budismo, assim como todas as suas ramificações. Em cada
uma delas existem suas divindades e seus respectivos fundadores. Por
exemplo, no xintoísmo, Okuninushi-no-mikoto, que rege a seita Taisha-
Kyo; Kunitokotati-no-mikoto, a seita Ontake-Kyo; as divindades
Tohashira43, a seita Tenrikyo. No budismo, ocorre o mesmo.

Amida rege a seita Shinshu; Daruma Daishi, a seita Zen;


Kanzeon Bossatsu, a seita Tendai etc. Os fundadores de seitas, como
Kobo, Shinran, Nichiren, Dengyo, Honen e outros, atuam como
orientadores de cada uma delas. Assim, os espíritos das pessoas que
tinham religião durante a vida terrena, ao entrarem no Mundo Espiritual,
se filiam à organização à que elas pertenciam. Não se pode calcular o
quanto são mais felizes que os espíritos dos que não possuem uma
crença, pois estes, por não terem uma organização à qual se filiar, ficam
perdidos e confusos. A expressão "ser um espírito errante", que é
utilizada desde épocas remotas, refere-se exatamente aos espíritos
descrentes que perambulam pelo Plano Intermediário.

Assim sendo, quem desconhece o Mundo Espiritual e não crê na


vida após a morte, ao passar para aquele mundo, não consegue um
lugar tranquilo para viver e, durante certo tempo, permanece atordoado.
Como exemplo, citarei um caso ocorrido há alguns anos. Soube que,
durante uma reunião de estudos de parapsicologia, o espírito do famoso
romancista Roka Tokutomi (1868 - 1927) manifestou-se por intermédio
de um médium. Chamaram, então, a viúva, a qual, pela maneira como o
espírito falava e se comportava, confirmou que se tratava do falecido
marido. Fizeram-lhe perguntas, mas as respostas eram completamente
sem nexo. O motivo é que, em vida, ele não acreditava na existência do
Mundo Espiritual. Vemos que, mesmo pessoas que eram eminentes
neste mundo como esse escritor, no Mundo Espiritual acabam ficando
em tal situação. Por conseguinte, as pessoas, durante a vida terrena,

43
Tohashira: Segundo a Igreja Tenrikyo, Tohashira-no-Kami é a conjunção das dez divindades que
regem os diversos aspectos da natureza e da vida do ser humano.
72
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

precisam crer na existência do Mundo Espiritual e se preparar para a


vida após a morte.

Que tipo de lugar é o Paraíso, ou melhor, será que ele realmente


existe? A maioria pensa que isso não passa de fantasia dos homens da
antiguidade, mas eu tenho plena convicção da sua existência.

Há um episódio a respeito disso. Muito tempo atrás, um bonzo


ilustre e um estudioso discutiam sobre a existência do Inferno e do
Paraíso após a morte. Ao final do debate, o sacerdote concluiu que eles
existem, e o estudioso, que não existem. Enfim, alegando que, para ter
certeza, não havia outro meio senão morrer, o religioso sugeriu que
ambos se matassem e, em vista disso, o intelectual se rendeu.

O assunto não é para brincadeira: o que o bonzo disse era


verdade. Se existisse a possibilidade de conhecer o Mundo Espiritual
sem precisar morrer, seria uma grande felicidade. Por esse motivo,
gostaria de apresentar, a seguir, alguns fatos que pude comprovar pelas
minhas experiências.

Uma senhora de trinta anos, esposa do diretor de uma empresa,


recorreu à minha ajuda por estar gravemente enferma. Como já tinha
sido desenganada pelo médico, seus familiares me pediram
encarecidamente que a salvasse.

Ela residia a cerca de quarenta quilômetros de distância, razão


pela qual não me era possível visitá-la com a frequência que o caso
requeria. Por conseguinte, eu a trouxe de carro imediatamente para
minha casa. Pensando na possibilidade de ocorrer o pior durante a
viagem, pedi ao marido que também viesse junto. Eu, ao mesmo tempo
em que a amparava com uma das mãos, ministrava-lhe Johrei com a
outra e, assim, chegamos à minha residência sem qualquer contratempo.

De madrugada, a acompanhante da doente veio me chamar e


corri para o quarto onde ela se encontrava. Segurando minha mão com
força, ela me disse: "Sinto que algo vai sair do meu corpo e estou com
73
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

muito medo. Deixe-me segurar sua mão. Tenho o pressentimento de


que vou morrer hoje. Gostaria que chamasse meus familiares com
urgência."

Telefonei-lhes em seguida e, quando eles chegaram de carro,


acompanhados do médico da firma do marido, já havia decorrido mais
de uma hora. A essa altura, ela estava em coma, com a pulsação fraca.
O médico examinou-a e disse que sua morte era questão de horas.

No entanto, a enferma continuou em estado de coma, rodeada


pelos familiares, sem alteração do quadro até a noite. Por volta das vinte
horas, repentinamente, ela abriu os olhos e começou a olhar à sua volta
e, admirada, disse: "Estive num local tão bonito, que nem sei como
descrevê-lo. Era um jardim totalmente florido, onde se encontravam
muitos entes celestiais de rara beleza. Mais adiante, ao fundo, um
senhor de ares nobres, semelhante à figura de Kanzeon Bossatsu que
se vê em pinturas sacras, olhou em minha direção e sorriu. Ajoelhei-me
em agradecimento e, justo nesse momento, acabei despertando. Agora,
estou me sentindo tão bem, como não acontecia desde que adoeci."

No dia seguinte, ela não tinha mais nenhuma dor ou sofrimento;


na verdade, ela se restabeleceu por completo, restando apenas um
pouco de fraqueza. Após aproximadamente um mês, ela retornou ao
seu estado normal. Esse exemplo nos mostra que o espírito daquela
senhora saiu do corpo por alguns instantes, foi até o Segundo Paraíso
Budista e lá teve seus pecados e impurezas purificados por Kanzeon
Bossatsu.

Outro exemplo.

Uma jovem de aproximadamente vinte anos foi curada de uma


tuberculose pulmonar grave. Depois de aproximadamente um ano, teve
uma recaída e morreu. Então, fiz o sufrágio do seu espírito. Essa jovem
tinha um irmão mais velho problemático, que era beberrão e preguiçoso.
Certo dia, dois ou três meses após o falecimento da moça, ele estava
sentado na sala e notou uma espécie de nuvem lilás a alguns metros à
74
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

sua frente, no alto. Essa nuvem começou a baixar devagar, e ele viu sua
falecida irmã em pé sobre a nuvem. Olhando bem, notou que seu
semblante estava mais belo do que quando era viva e que usava uma
elegante vestimenta semelhante aos quimonos da antiga nobreza. Ela,
então, lhe disse carinhosamente: "Eu vim aconselhá-lo a abandonar a
bebida. Por favor, pense no bem da nossa família e no seu próprio e
deixe o álcool." Dizendo isso, desapareceu na nuvem lilás em direção ao
alto.

Decorridos alguns dias, aconteceu a mesma coisa, e o fato tornou


a se repetir pouco tempo depois. Na terceira vez, uma bela ponte curva,
toda pintada de vermelho, surgiu diante do rapaz, e a irmã, descendo da
nuvem lilás, atravessou a ponte e lhe disse: "É a terceira vez que venho.
A partir de hoje, não terei mais permissão de Deus para vir. Esta é a
última vez." Novamente, aconselhou que ele abandonasse a bebida.
Depois disso, o fato não se repetiu. Evidentemente, nesse caso, a
pessoa teve temporariamente a capacidade da visão espiritual.

Este é um exemplo real que ilustra muito bem a descida de um


habitante do Paraíso ao Mundo Material. Outra observação interessante
é o fato de que o referido irmão não professava nenhuma fé e não tinha
qualquer interesse por questões espirituais. Portanto, como não havia
influência do subconsciente, evidentemente, aquela visão não foi fruto
da sua imaginação. Foi sua mãe quem me contou essa história.

O próximo exemplo é de um rapaz de pouco mais de vinte anos


com uma doença que não era do corpo físico, mas sim, que poderíamos
chamar de espiritual. Nessa época, ele estava perdidamente apaixonado
por uma meretriz. A um passo da consumação do duplo suicídio,
consegui salvá-los milagrosamente. Foi por pouco, pois, no bolso do
rapaz, estava o veneno que ambos iam tomar. Levei-o para minha casa
e, ao iniciar o exame espiritual, um espírito de raposa44 se manifestou
por meio dele e disse-me que o havia influenciado para levá-lo ao
44
Espírito de raposa: As raposas, em japonês kitsune, são seres presentes na mitologia japonesa. As
histórias as descrevem como seres inteligentes e com capacidades mágicas que aumentam com a
idade e sabedoria. Entre estes poderes mágicos, a habilidade de assumir a forma humana -
normalmente na forma de uma mulher.
75
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

suicídio. Em cerca de vinte minutos, terminei o exame, não sem antes


ter advertido aquele espírito. O jovem, no entanto, continuava na mesma
postura, de olhos cerrados, com as palmas das mãos unidas à altura do
peito (postura da pessoa durante o exame espiritual). Sua cabeça
estava inclinada para o lado esquerdo. Passados três ou quatro minutos,
finalmente abriu os olhos, mas continuou ainda com a cabeça inclinada,
com ar de espanto e disse-me: "Vi uma coisa misteriosa. Alguém ao
meu lado estava tocando um instrumento semelhante ao koto 45 , cujo
som era indescritivelmente belo e refinado. Encantado, eu olhava à
minha volta e notei que estava em um lugar que me pareceu o interior
de um santuário muito espaçoso. No fundo, havia uma escada e, no
topo desta, uma cortina de bambu. Aí, o senhor, vestido com trajes
litúrgicos xintoístas46, subiu a escada suavemente e entrou no aposento,
do outro lado da cortina." Então, contestei: "Se você viu a pessoa de
costas, não podia ter reconhecido quem era." Ele replicou: "Não! Tenho
certeza que era o senhor." E descreveu a indumentária: ornamento de
cabeça, túnica azul e calça vermelha. Ele teve a visão espiritual
temporária e pôde ver o Mundo Espiritual. Esse rapaz era funcionário de
uma loja comercial e, por não professar nenhuma fé, não tinha
conhecimento em absoluto sobre assuntos espirituais; por isso mesmo,
acho que seu relato merece total credibilidade. Ressalta-se que, à
esquerda do lugar onde ele estava sentado, ficava o Altar com a
Imagem de Deus. Provavelmente, naquele momento, meu yutai47, que
estava no interior daquele santuário, apareceu para ele.

Os três exemplos citados poderão servir de referência para o


conhecimento do interior das edificações e dos jardins do Paraíso, e
também de como seus habitantes descem à Terra.

45
Koto: Instrumento musical japonês, com caixa de ressonância e 13 ou mais cordas de seda. É
tocado sobre cavaletes ou no piso.
46
Traje litúrgico xintoísta: Traje tradicional completo da nobreza japonesa utilizado pelos sacerdotes
xintoístas, conhecido como ikan-sokutai.
47
Yutai: Nomenclatura criada por Meishu-Sama e descrito da seguinte maneira por ele: "Pode-se
dizer que é o espírito do espírito. O yutai rege o corpo espiritual do mesmo modo que o corpo
espiritual rege o corpo material. Nesse sentido, pode-se dizer que o yutai é a verdadeira fonte da vida
do ser humano. Portanto, uma vez que o yutai habita no Mundo Espiritual, assim que o ser humano
morre, seu corpo espiritual é atraído imediatamente pelo yutai e se integra a ele. Essa integração é a
mesma que o corpo material e o corpo espiritual tinham entre si durante a vida terrena.

76
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Em seguida, vou descrever a situação do Paraíso búdico. Uma


virgem de dezoito anos serviu de médium, incorporando o espírito de um
de seus ancestrais, um samurai que falecera numa batalha travada há
mais de duzentos anos. Este guerreiro fora ardoroso adepto da seita
budista Shingon48. Logo após sua morte, portanto, passou a integrar a
organização liderada por Kobo Daishi.

Em resposta às minhas perguntas, o espírito disse: "Quando


cheguei a esta organização, havia centenas de espíritos; mas, ano após
ano, o número de espíritos que reencarna é maior que o número de
espíritos que ingressa nela, de modo que agora só existem mais ou
menos cem. Moramos em um grande mosteiro e não executamos
nenhum serviço propriamente dito. Passamos as horas apenas nos
divertindo: tocamos koto, shamissen 49 , flauta, tambor e outros
instrumentos musicais; pintamos, esculpimos, lemos, caligrafamos,
jogamos jogos de tabuleiro etc., ou nos distraímos de outras maneiras
semelhantes às existentes no Mundo Material. De vez em quando, há
palestras feitas pelo próprio Kobo Daishi ou por um respeitável bonzo,
cujo nome esqueci, e isso constitui a maior das alegrias para nós.
Parece que, às vezes, Kobo Daishi vai ao encontro de Buda Sakyamuni,
que, por sua vez, está em um subplano acima do Paraíso búdico, num
lugar em que a luz é tão intensa e ofuscante a ponto de quase não se
conseguir olhar em sua direção.

Fora do mosteiro, há um grande lago em cuja superfície flutuam


inúmeras folhas de lótus, tão grandes que nelas cabem duas pessoas. A
maioria é ocupada por casais, que são levados aonde desejam ir sem
precisar remar. Não há noite; é sempre dia, e a claridade é um pouco
mais branda do que a dos dias ensolarados do Mundo Material. Os raios
de luz são dourados e provocam uma sensação suave e agradável.”

Em muitas oportunidades, ouvi os espíritos que habitam o


Paraíso Búdico dizer que se sentem enfadados quando já se encontram
ali há muito tempo. Uma vez que apenas se divertem o tempo todo,

48
Shingon: seita budista fundada por Kobo Daishi (774 - 835), também conhecido como Kukai.
49
Shamissen: Instrumento musical japonês de três cordas e uma caixa de ressonância.
77
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

acabam ficando entediados; por isso, frequentemente, eles me solicitam


para serem remanejados para o Mundo Divino. Não foram poucos os
espíritos que transferi para este último, atendendo a seus pedidos. Isso
se dá devido ao fato de eles tomarem conhecimento de que o Mundo
Divino entrou recentemente numa fase de grande atividade e que todas
as divindades e espíritos estão extremamente atarefados.
Evidentemente, isso é causado pela aproximação do Mundo do Dia.
Este é regido pelos deuses, ao passo que o mundo da Noite era regido
pelos budas.

Vejamos agora o Inferno.

O mais baixo dos três subplanos do Inferno é um mundo de


completa trevas e escuridão, um local totalmente congelado. É chamado
pelos xintoístas de Fundo do Inferno; os budistas o denominam de
Inferno de Frio Extremo e, no Ocidente, simplesmente dão-lhe o nome
de Inferno. O espírito que cair aí fica sem ver nada durante dezenas ou
centenas de anos; petrificado, permanece completamente imóvel. Sua
situação é tão lastimável que não encontro adjetivos para descrevê-la.

Ao ouvir um espírito salvo desse local, fiquei horrorizado. O gélido


Inferno 50 retratado por Dante Alighieri na "Divina Comédia" não é
nenhuma fantasia.

O subplano médio do Inferno é formado por locais conhecidos


desde os tempos antigos como Mundo das Lutas, Mundo das Bestas,
Mundo dos Desejos Carnais, Mundo dos Famintos, Montanha de
Agulhas, Lagoa de Sangue, Inferno de Serpentes, Inferno da Sala das
Abelhas, Inferno de Formigas etc. Os encarregados de supervisionar
esses locais são criaturas semelhantes aos ogros ou demônios que
vemos nas pinturas sacras budistas, de cor azul ou vermelha. Os
policiais e os carcereiros que, em vida, foram extremamente violentos e
cruéis, se transformam nessas criaturas.

50
Gélido inferno: O lugar mais fundo do inferno de Dante Alighieri denominado por ele como Nono
Círculo.
78
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Um dos castigos do Inferno consiste em espancar os espíritos


com barras de ferro cheias de espinhos. Segundo relatos dos espíritos,
a dor é várias vezes maior do que se fosse no corpo carnal. Isso talvez
ocorra porque, sem a proteção deste, os nervos são atingidos
diretamente.

Darei mais alguns exemplos de sofrimentos no Inferno. A


Montanha de Agulhas é o local onde os espíritos são obrigados a andar
sobre agulhas, e a dor que sentem é indescritível.

O Inferno da Lagoa de Sangue é o lugar aonde, obrigatoriamente,


vão os espíritos das mulheres cuja morte foi motivada por gravidez ou
parto51. Pelo que ouvi de muitos espíritos, eles ficam submersos até o
pescoço nessa lagoa, cujo ar se encontra impregnado do cheiro de
sangue. Ali existe uma infinidade de vermes que sobem continuamente
pelo rosto, provocando uma sensação horrível, e os espíritos vivem a
tirá-los incessantemente com a mão. Esse sofrimento geralmente dura
mais ou menos trinta anos.

O Inferno da Sala de Abelhas foi descrito pelo espírito de uma


gueixa que incorporou no empregado de um salão de beleza. O espírito
é colocado dentro de uma caixa onde mal cabe uma pessoa, e inúmeras
abelhas picam todas as partes do corpo, causando um sofrimento
indescritível.

O Inferno do Fogo é para onde vão aqueles que morreram


queimados ou se atiraram na cratera de um vulcão. Vou relatar um caso
a respeito disso.

Um homem de meia-idade que sofria de epilepsia causada por


fogo me contou que costumava despertar de repente, de madrugada.
Então, enxergava labaredas a alguns metros de distância e, quando elas
chegavam bem perto, ele tinha convulsões e perdia os sentidos; além
51
Nota: Meishu-Sama explica, em outra ocasião, que não são todas as mulheres que morreram
nessa situação que vão para o Inferno da Lagoa de Sangue, mas sim, aquelas que, durante a vida
terrena, não professaram nenhuma fé e tiveram muitos pensamentos, sentimentos e ações ligados ao
mal.
79
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

disso, seu corpo apresentava febre altíssima. Ele disse que esse
problema teve início no ano seguinte ao Grande Terremoto52, razão pela
qual se pode concluir que o espírito que incorporava nele era de alguém
que morrera carbonizado no referido terremoto. Nesse sentido, a maioria
dos espíritos daqueles que morreram carbonizados, vítimas do recente
bombardeio aéreo53, deve estar evidentemente sofrendo no Inferno do
Fogo. Por esse motivo, seus familiares não devem negligenciar o
sufrágio.

O Mundo dos Desejos Carnais é o Inferno em que os espíritos


caem devido a relacionamentos amorosos impuros e, para cada caso,
há um sofrimento diferente. Por exemplo: quando o casal se suicida por
amor, os espíritos de ambos ficam grudados e não podem se separar.
Isso é causado pelo sonen 54 que tiveram de não se separar até à
próxima reencarnação. Os que se suicidam abraçados, ficam colados
entre si e se arrependem profundamente devido ao incômodo e à
vergonha. Do mesmo modo, no caso de incesto e de relações imorais
entre mestres e discípulos etc., os espíritos ficam grudados ao contrário;
enquanto um permanece de pé, o outro fica de cabeça para baixo. O
incômodo, o sofrimento e a vergonha fazem com que os espíritos sintam
profundo remorso.

Diante do que foi exposto, poderão entender o grave equívoco


daqueles que se suicidam por amor acreditando que, após a morte,
poderão, juntos, viver alegremente no Paraíso. Pode-se, também,
compreender que o Mundo Espiritual é realmente imparcial.

É preciso saber, ainda, o que ocorre com os que são avarentos


no Mundo Material, apesar de possuírem muito dinheiro. Trata-se de
pessoas materialmente ricas, mas espiritualmente pobres. Passando
para o Mundo Espiritual, elas se tornam paupérrimas e, por ficarem
numa situação de penúria, acabam se arrependendo imensamente.
52
Grande Terremoto: Refere-se ao forte terremoto ocorrido em 1923, na Região Leste do Japão, e
que deixou a cidade de Tóquio em cinzas, devido ao grande incêndio que ocorreu depois.
53
Bombardeio aéreo: Meishu-Sama se refere ao bombardeio aéreo que várias cidades japonesas
sofreram no final da Segunda Guerra Mundial.
54
Sonen: palavra japonesa comumente traduzida como pensamento, a qual não se limita ao ato de
pensar racionalmente. Seu significado abrange o sentimento, a vontade e a razão.
80
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Outras, porém, no Mundo Material, mesmo tendo um nível de vida


inferior ao da classe média, se contentam com o que têm, vivem o dia a
dia com muita gratidão e, sempre que podem, empenham-se na soma
de atos meritórios, dedicando em prol da sociedade e do próximo. Tais
pessoas, ao entrarem no Mundo Espiritual, tornam-se ricas e vivem
felizes.

Contudo, existe outra causa para a ruína dos milionários.

Há pessoas que não desembolsam o dinheiro que deveriam


despender e não pagam o que deveriam pagar. Como isso constitui uma
espécie de roubo, espiritualmente significa que elas estão acumulando
dinheiro furtado, a que se acrescentam juros. Consequentemente, na
prática, os bens vão diminuindo e, pela Lei Espírito Precede a Matéria,
um dia essas pessoas acabam arruinadas. Geralmente, o herdeiro de
um milionário é esbanjador e dilapida toda a fortuna da família. Temos
visto esses casos com frequência; mas, conhecendo o princípio acima
referido, poderão compreender o motivo.

A decisão de se dissolver os poderosos conglomerados


empresariais japoneses, em decorrência da Segunda Guerra Mundial,
teve a mesma causa. Esses conglomerados não pagaram aos
funcionários e operários a remuneração que lhes era devida, e
enriqueceram às custas do acúmulo desse dinheiro.

Com relação às taxas de rendimento de capital, sendo que a


caderneta de poupança, por exemplo, é o investimento mais seguro,
deveria ter uma porcentagem de lucros de mais ou menos 3%. Já os
rendimentos dos títulos públicos, que são um pouco menos seguros,
deveriam ser de 3,5%; os dos fundos de investimento, de 3,8%, e a
compra e venda de ações, que envolvem mais riscos, de 4 a 5%. Com
base no critério exposto acima, se pensarmos racionalmente,
considerando essas porcentagens adequadas, a porcentagem justa de
lucros do capitalista deveria ser de 7 a 8% ou até 10%. No caso de um
lucro maior, o justo seria dividir a parte excedente entre os trabalhadores.

81
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Contudo, a maioria dos capitalistas não mostra nenhuma predisposição


nesse sentido, pensando apenas em satisfazer sua ambição e em obter
o máximo de lucro. É por isso que eles temem os movimentos
trabalhistas e sofrem com problemas como o das greves.

Ora, apropriar-se do rendimento que deve ser distribuído aos


trabalhadores significa tirar-lhes dinheiro, ou seja, roubá-los. Por
conseguinte, pelo fato desses capitalistas se tornarem poderosos
conglomerados empresariais por meio do acúmulo de dinheiro roubado
e de viverem no luxo e na ostentação, os Céus não perdoam. Além
disso, no Mundo Espiritual, os juros aumentaram tanto que agora tais
organizações estão sendo obrigadas a devolver o valor roubado,
acrescido dos juros. Na verdade, por terem cavado a própria sepultura,
não há como culpar os outros. Em contrapartida, se eles fizerem uma
justa distribuição dos lucros com os trabalhadores e somar atos
meritórios empregando sua fortuna em prol da sociedade e do próximo,
serão respeitados por todos e prosperarão eternamente.

Falemos sobre o subplano mais alto do Inferno.

É o local para onde vão os espíritos que estão prestes a alcançar


o Plano Intermediário, após terem cumprido a pena no Inferno. A maioria
dos trabalhos a que estão submetidos é de natureza leve, como levar os
alimentos oferecidos nos oratórios e nas moradas dos ancestrais nos
lares, ser portador de avisos e mensagens, dar assistência a outros
espíritos etc. A propósito, existe um ponto importante a saber a respeito
dos alimentos ofertados aos espíritos.

Mesmo os espíritos, se não se alimentarem, sentem fome.


Contudo, em que consiste esse alimento? O espírito serve-se da energia
espiritual dos alimentos; ao contrário do que se passa no Mundo
Material, ele se satisfaz com uma quantidade extremamente reduzida de
comida, por exemplo, uns três grãos de arroz por dia. Portanto, o
alimento comumente oferecido nos lares é bastante para um grande
número de espíritos e ainda resta muito. As sobras são dadas àqueles

82
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

que se encontram no Mundo dos Famintos. Graças a esse ato virtuoso,


os antepassados dessa família elevam-se mais rapidamente.

Sempre que possível, devemos oferecer alimentos aos


antepassados, pois, se devido à nossa negligência, eles ficarem
famintos e se verem forçados a roubar para comer, consequentemente,
cairão no Mundo dos Famintos ou encostarão55 em animais, como cão
ou gato, para satisfazer sua fome e acabarão descendo ao Mundo das
Bestas. Tal como diz o ditado:

"Quem se junta aos porcos, farelo come", quando o espírito


humano encosta em algum animal, ele perde gradativamente a forma
humana e assume o aspecto desse animal. No caso da reencarnação,
ele nasce como esse animal cuja forma ele assumiu. Entretanto,
diferentemente dos espíritos dos simples animais, ele entende a fala
humana. Existem cavalos, cães, gatos, raposas, tanuki56, serpentes etc.
que entendem a linguagem humana: trata-se da reencarnação desse
tipo de espírito. Após certo grau de aprendizado sob forma animal, o
espírito volta a reencarnar como um humano.

Devo chamar a atenção para o seguinte ponto: caso alguém seja


acometido por infortúnios após matar cobras, gatos etc., é porque se
tratava de um espírito humano sob forma de animal. Se não for esse tipo
de espírito, não ocorrem infortúnios.

Existe uma cobra esverdeada chamada de aodaisho, que


costuma viver por várias gerações próximo das casas de famílias
tradicionais. Ela é a reencarnação do espírito de um ancestral em forma
de cobra que está protegendo seus descendentes. Se estes a matarem,
o espírito do antepassado se zangará e aplicará punições, como por
exemplo, a ocorrência de falecimento na família ou sua decadência. Da
mesma forma, quando se destrói o Inari57 ou quando se descuida da
55
Encostar: Ação em que um espírito se aproxima de um ser encarnado para infiuenciá-lo, dominá-lo
ou satisfazer seus desejos e necessidades.
56
Tanuki: cão-guaxinim japonês. Conhecido também como um personagem do folclore japonês muito
travesso e alegre.
57
lnari: Vide nota de rodapé 29 no Ensinamento "Religiões e milagres".
83
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

realização de cerimônias que vinham sendo realizadas tradicionalmente,


é comum receber sinais de advertência. Se isso não for percebido, pode
ser até que ocorra o fim da linhagem familiar. Por esse motivo, é muito
importante ficar atento a tais fatos.

É grande o número de exemplos como estes; portanto, entre os


leitores, sem dúvida, deve haver quem tenha conhecimento de algum
caso semelhante. Vou contar uma experiência minha.

Certa vez, fui ministrar Johrei e, na casa, havia um cão de grande


porte. O dono me disse: "O comportamento deste cão é curioso. Nunca
sai para a rua, vive a maior parte do tempo na sala de estar e só se
senta em almofada de seda de alta qualidade. Se uma pessoa da família
o chama, ele atende, mas o mesmo não acontece se for um empregado.
Em relação à comida, também é cheio de luxo: jamais come qualquer
coisa. Entende perfeitamente a fala humana e não gosta de ficar na
cozinha nem nos aposentos inferiores; enfim, em tudo ele é idêntico a
um ser humano." Então, dei a seguinte explicação: "Este cão é um
ancestral seu que desceu ao Mundo das Bestas e reencarnou em forma
de cão. Pela afinidade espiritual, passou a ser criado por sua família.
Por esse motivo, ele faz questão que lhe dispensem o tratamento devido
a um ancestral." Assim, a pessoa se sentiu satisfeita com a explicação.

O caso seguinte, também verídico, foi vivido por um dos meus


discípulos há mais de vinte anos. Ele tomou conhecimento de que uma
senhora de meia-idade, residente na cidade de Yokohama, estava
sofrendo uma tortura incomum e, cheio de curiosidade, foi logo visitá-la.
Ela usava um pano branco em volta do pescoço, e qual não foi a sua
surpresa quando ela o tirou: havia uma cobra enrolada ao seu pescoço.
Essa cobra entendia a linguagem humana. Na hora das refeições, a
referida senhora pedia-lhe permissão para se alimentar, dizendo que
limitaria a comida a uma ou duas tigelas. Nesse caso, a cobra afrouxava
a pressão; porém, quando tentava comer além do prometido, o animal
pressionava novamente e não a deixava comer de forma alguma. Foi a
própria senhora que lhe contou por que aquilo se sucedia. "Pouco
depois do meu casamento, minha sogra adoeceu, e eu não lhe dava
84
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

comida para que ela morresse logo. Em consequência disso, ela acabou
morrendo praticamente de inanição." E continuou: "Seu espírito foi
tomado de grande ódio e, para vingar-se de mim, reencarnou sob forma
de cobra e me tortura desta maneira." E concluiu: "Gostaria de alertar o
maior número possível de pessoas sobre quão terrível é o pecado e,
assim, redimir-me um pouco que seja." Este era o seu mais profundo
desejo.

Há um equívoco na sociedade a respeito do emprego de animais


no trabalho: considerar que o animal é igual ao ser humano. A forma
grosseira de lidar com os animais pode parecer doloroso do ponto de
vista humano, mas não é bem assim. Bois e cavalos, por exemplo, até
desejam esse tratamento e, por isso, propositalmente caminham
devagar para serem chicoteados. Correm, não por causa da dor, mas
pelo prazer do açoite. Entre homens e mulheres, existe uma anomalia
sexual conhecida como masoquismo, em que eles sentem prazer por
meio de violência física. Isso é motivado pelo encosto do espírito de
animais como bois e cavalos, que gostam de apanhar.

Para finalizar, acrescento uma explicação sobre o butsudan -


oratório budista. Seu interior reproduz o Paraíso búdico, para onde os
antepassados são convidados. No Paraíso búdico, a comida e a bebida
são fartas, todos os tipos de flores desabrocham, paira no ar um
perfume agradável e ressoam as mais refinadas músicas. Portanto, com
base nessa imagem, mesmo que de forma singela, são oferecidos
alimentos, flores e incenso. Seguindo esse mesmo raciocínio, nos
templos, as batidas no mokugyo58 nos pratos de metal, bem como o som
das flautas, têm o efeito de música. O bater do sino na ocasião em que
se oferece comida no butsudan serve como um sinal para o Mundo
Espiritual.

5 de fevereiro de 1947

58
Mokugyo: Instrumento de percussão de madeira usado para acompanhar a recitação de sutras
budistas.
85
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

ATUAÇÃO DOS ESPÍRITOS MALIGNOS

Nem é preciso dizer que tudo o que existe no Universo se move


por meio da Lei Espírito Precede a Matéria. Esse movimento ocorre
primeiramente no Mundo Espiritual e, depois, é projetado no Mundo
Material mais cedo ou mais tarde, dependendo da amplitude dos
mesmos. Essa projeção pode ocorrer imediatamente, dentro de alguns
dias ou mais tardiamente, após alguns anos. Entretanto, esse tempo irá
se abreviar à medida que o Mundo do Dia for se aproximando e,
ultimamente, parece que está bem mais curto. Não bastasse isso, o
Mundo Espiritual, atualmente, acha-se numa situação confusa jamais
vista até agora. Da mesma forma, o fato de as transformações serem
intensas evidenciam claramente o Fim do Mundo.

Intensificação da atuação dos espíritos malignos

Atualmente, é notável a atuação desesperada dos espíritos


malignos. Eles exerceram grande influência durante milhares de anos. À
medida que sua derrota se aproxima, debatem-se desesperadamente,
atuando com uma violência cada vez maior.

Os espíritos malignos possuem chefes, e os que hoje estão mais


atuando são o dragão vermelho e o dragão preto, cujas legiões chegam
a somar cerca de um bilhão de integrantes. Entre eles também há
classes - superior, média e inferior - e suas funções são determinadas
de acordo com elas. Os espíritos malignos também se esforçam o
máximo para executar fielmente os trabalhos que lhes são ordenados,
pois se sentem estimulados ante a possibilidade de subir de classe e
receber prêmios, conforme seu mérito.

Os chefes emitem ordens detalhadas do quartel-general onde se


encontram assentados. Essas ordens são transmitidas ao espírito
protetor secundário da pessoa, por intermédio do elo espiritual. Assim,
os espíritos malignos atuam em concordância com o status ou a classe
social da pessoa aqui neste mundo, e sua missão é conduzi-la cada vez

86
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

mais para o mal, utilizando-se de todos os meios para tal. É realmente


complicado, pois essa situação tem-se mostrado claramente na
sociedade atual. Os métodos são de fato extremamente hábeis e cruéis.
Por exemplo: fazem algumas pessoas cometer crimes perversos, como
latrocínio e outros tipos de violência; se forem um pouco mais
inteligentes, induzem-nas à fraude, às falsificações de dinheiro, de
títulos, de caligrafias, de pinturas etc. Além disso, divertem-se fazendo
com que as pessoas cometam o adultério e pratiquem o aliciamento e o
sequestro de mulheres e crianças. Os espíritos malignos mais
graduados induzem as pessoas à prática de crimes engenhosos, sob o
disfarce de pessoas de bem.

É hábito dos espíritos malignos induzirem as pessoas a apropriar-


se de bens alheios; enriquecer enganando o próximo; subornar;
corromper; sonegar impostos; contrabandear; fazer transações no
mercado negro e outros atos escusos, incluindo embriagar mulheres e
abusar delas. Atos dessa natureza, se vierem à tona, ferem a lei, e os
infratores se tornarão criminosos, vistos como indivíduos maus aos
olhos de qualquer um.

Contudo, há casos diferentes, em que os espíritos malignos


levam as pessoas a praticar o mal sob o disfarce de pessoas de bem.
Isso ocorre mais frequentemente entre as pessoas de classe acima da
média, principalmente entre os intelectuais. Por essa razão, é preciso
tomar o máximo de cuidado. Por exemplo, tais pessoas escrevem
teorias que, à vista de qualquer um, parecem corretas, e defendem
ideologias como se fossem a Verdade. Fazem a sociedade confiar no
que dizem, porém, na prática, às escondidas, agem de forma contrária.
Por serem intelectuais, inspirarem confiança e serem extremamente
hábeis, fica difícil avaliar o certo e o errado do que dizem. Existem
muitos indivíduos assim entre os políticos, os formadores de opinião e
aqueles que possuem certo destaque social, sendo respeitados por
todos. Realmente, não podemos nos descuidar.

87
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

O bem, na visão de Deus

Não existe nada pior do que alguém dedicar-se devotadamente a


uma causa acreditando ser um bem e os resultados mostrarem
exatamente o contrário, isto é, que se trata de um mal. Os chamados
Incidente de 15 de Maio59 e Incidente de 26 de Fevereiro60, ocorridos no
Japão, são exemplos disso.

Existem casos extremos em que pessoas importantes agiam


acreditando que se tratava de uma boa e correta ação, apostando a
própria vida, mas obtiveram resultados às avessas. Incluem-se nesta
situação aqueles que recentemente foram condenados e executados
como criminosos de guerra.

Ressalto, ainda, um pecado que geralmente passa


completamente despercebido. Há indivíduos que se devotam à prática
de uma teoria, julgando-a maravilhosa; na realidade, são pessoas
dignas de pena, pois estão causando desgraça à humanidade.
Logicamente, tais criaturas estão sendo manipuladas pelos espíritos
malignos, mas, por terem o cérebro moldado pela ciência, certamente
não têm como perceber a situação.

Por outro lado, existem pessoas admiráveis e extraordinárias.


Nesta categoria, se enquadram os grandes personagens da história,
como os fundadores de religiões, os grandes cientistas autores de novas
teorias e descobertas, os consagrados pensadores etc. Muitas dessas
pessoas, alguns séculos após sua morte, se tornam alvo de veneração e
respeito. Evidentemente, há aquelas que são dignas de admiração, pois
sem qualquer parcela de mau pensamento, de interesse ou de ambição
pessoal, renunciaram à própria vida, acreditando ser uma causa em prol
da humanidade. Todavia, do meu ponto de vista, mesmo nessas
59
Incidente de 15 de Maio: No dia 15 de maio de 1932, jovens oficiais da marinha japonesa
assassinaram o então primeiro-ministro Tsuyoshi Inukai, que havia aceito as restrições sobre o
número de integrantes desta força militar.
60
Incidente de 26 de Fevereiro: Do dia 26 a 29 de fevereiro de 1936, jovens oficiais do Exército
Imperial Japonês fizeram um levante para assassinar diversas autoridades e funcionários do governo
japonês, com o intuito de reivindicar reformas sociais.
88
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

realizações, houve aspectos que beneficiaram a humanidade e outros


que acarretaram danos. Por esse motivo, a meu ver, não são poucos os
casos em que é impossível determinar méritos ou deméritos.

Não resta dúvida de que tais pessoas não têm o menor


pensamento maligno, mas pode acontecer que suas realizações sejam
úteis até certa época e, depois disso, venham a se tornar prejudiciais e
sem valor. Isso também pode ocorrer com cientistas e religiosos. É
comum ouvir falar de casos de religiões que eram magníficas na época
de sua fundação, mas, com o passar do tempo, perderam o foco, e
surgiram dentro delas conflitos, religiosos degradados etc., tornando-se
perniciosas.

Fato idêntico ocorre na ciência: mesmo certas descobertas que


inicialmente encantaram o mundo, muitas vezes, com o passar dos anos,
podem vir a ser nefastas.

Em suma, tudo faz parte do Plano do Supremo Deus. Para


impulsionar a cultura, o bem e o mal entram em conflito, a luz e a
escuridão, o belo e o feio se misturam, e a cultura aproxima-se passo a
passo do ideal. Saibam que isto também é a profunda Vontade Divina,
insondável por meio da inteligência humana.

25 de dezembro de 1950

89
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

DERROTADOS ESPÍRITOS MALIGNOS

É do conhecimento de todos que Jesus Cristo foi tentado por


Satanás e que Buda Sakyamuni foi atormentado por Devadatta. Nossa
religião também vem sendo espreitada persistentemente por satanases
e devadattas. O interessante é que, com a aproximação do momento
crucial, os espíritos malignos estão cada vez mais desesperados e,
ultimamente, têm agido com força total. Creio que é possível perceber
isso, por meio das matérias publicadas em nosso jornal. Observando a
situação, podemos deduzir que está iminente o destino dos espíritos
malignos, o que significa que estamos às vésperas do "Fim do mundo"
profetizado por Jesus Cristo.

Falando em espíritos malignos, na verdade existem vários tipos,


sendo que seus chefes governam o Mundo dos Perversos. Quanto mais
nuvens espirituais o ser humano tiver em seu espírito, mais livremente
será manipulado por eles, por intermédio dos elos espirituais do mal e,
sem ter consciência disso, tomará atitudes que atrapalham a atuação de
Deus. Uma vez que os espíritos malignos vêm agindo ao seu bel-prazer
há milhares de anos e não têm conhecimento da mudança no Mundo
Espiritual, continuam praticando suas maldades normalmente.
Entretanto, por eles não terem consciência que essa mudança está
muito próxima, é compreensível que tenham entrado em desespero.

Isso porque o que os espíritos malignos mais temem é a luz e, à


medida que o Mundo Espiritual vai-se tornando dia, aquela vai-se
intensificando. Isso significa que está chegando a época de pavor para
os espíritos malignos, pois diante da luz, eles se encolhem e perdem a
força de ação. É por isso que esses espíritos não conseguem atuar se a
luz não estiver apagada nas sessões de pesquisas parapsicológicas.
Somente espíritos que alcançaram a posição de divindade61 conseguem
atuar dentro da luz.

61
Posição de divindade: Refere-se ao espírito que elevou sua posição no Mundo Espiritual e
adentrou o Paraíso.
90
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Nesse sentido, os espíritos malignos que criam obstáculos para


nossa religião, por temerem a luz que emana da Força de Deus,
recorrem a todos os meios para obstruí-la. Isso mostra o quanto eles
estão desesperados. Já que a luz do dia é produzida pelos raios do sol,
por mais que tais espíritos lutem desesperadamente para obstruí-la,
seus esforços serão em vão. Aqui existe uma questão de suma
importância à qual todos devem ficar alerta: aqueles que se aliaram aos
espíritos malignos estarão fadados a extinguir-se para sempre, quando
houver o juízo Final. E, nesse momento, por mais que se arrependam,
de nada adiantará, pois com toda certeza, seu fim será a extinção. É por
esse motivo que recomendamos insistentemente que todos devem,
enquanto é tempo, reconhecer seus erros, arrepender-se e corrigir-se. E,
envoltos pelo grande amor de Deus, devem livrar-se do mal, aliar-se às
pessoas de bem, tornar-se felizes e, assim, alcançar a vida eterna.

20 de novembro de 1949

91
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

RELIGIÃO E OBSTÁCULO

Desde a Antiguidade, costuma-se dizer que obstáculos são


inerentes à religião. Acredito que o maior deles tenha sido o sofrimento
imposto a Jesus Cristo. É igualmente famoso o infligido a Buda
Sakyamuni por Devadatta. No Japão, a perseguição que os bonzos
Honen, Shinran, Nichiren e outros sofreram é do conhecimento de todos.
Mais recentemente, as religiões Tenrikyo, Oomoto, Hito-no-Miti 62 etc.
passaram pela mesma situação. Nossa religião também não constitui
exceção, pois já sofremos muitas perseguições em que aparecemos
inúmeras vezes nos jornais e chegamos a ser a mais difamada dentre
as religiões novas. O interessante é que, quanto mais promissor for o
futuro de uma religião e quanto mais notável for o seu valor, maiores
serão os obstáculos que ela enfrentará. Vou explicar por quê.

Evidentemente, de acordo com a Lei Espírito Precede a Matéria,


em cumprimento às determinações do Supremo Deus, as divindades no
Mundo Espiritual realizam a salvação concernente ao lugar e ao povo de
cada época por meio das religiões. Nesse sentido, o Cristianismo, o
Budismo e o Islamismo são os maiores exemplos disso. A religião tem
por princípio pregar o bem e transformar a sociedade em paraíso. Do
ponto de vista humano, isso é bom, mas para os espíritos malignos é
exatamente o oposto, pois seu objetivo é criar seres humanos malignos,
bem como uma sociedade repleta de sofrimentos. Por conseguinte, eles
lutam incessantemente contra as divindades do bem. Esta é a realidade
do Mundo Espiritual, que se reflete no Mundo Material, o qual, por esse
motivo, é um mundo infernal, conforme podemos constatar.

Naturalmente, para um pequeno bem, há o obstáculo dos


espíritos malignos de pouco poder; para um grande bem, ocorre um
obstáculo dos espíritos malignos de grande poder. Assim, são os chefes
do mundo maligno que vêm provocando contínuos obstáculos à nossa
religião. Sendo ela uma religião de grandeza jamais vista desde o início
da história, o mundo dos espíritos malignos está tomado por grande
pavor. Tenho pleno conhecimento a respeito disso e acredito que
62
Atualmente, instituição religiosa Perfect Liberty.
92
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

mesmo nossos fiéis já tenham certa noção, por meio das incorporações
que ocorrem por todo o país. Atualmente, os espíritos malignos mais
ativos são os chefes dos dragões vermelhos e pretos, e eles estão
criando obstáculos em conjunto, utilizando-se de suas inúmeras legiões,
o que torna nossa situação quase insuportável. A luta é tão intensa que
vai além da imaginação. Gostaria de escrever a respeito disso com toda
clareza. Infelizmente, no momento, não tenho permissão de Deus, mas
desejo fazê-lo quando tiver chegado o momento adequado.

Por mais que os chefes dos espíritos malignos tentem nos


atrapalhar de todas as formas, temos do nosso lado o Supremo Deus,
que manifesta poder absoluto. Assim, mesmo que estejamos perdendo
a luta temporariamente, ao final sairemos vencedores. Portanto, não há
com o que se preocupar. Contudo, até vencermos, nosso sofrimento
será intenso. Como podem perceber, apesar dos contínuos obstáculos,
nossa Igreja está se expandindo satisfatoriamente.

Convém conhecer, agora, as características dos espíritos


malignos. Eles possuem uma persistência assustadora e, ainda que
falhem repetidas vezes, não desanimam nem desistem de maneira
nenhuma. Utilizam-se de todo tipo de artimanhas que o ser humano
sequer pode imaginar. Não há adjetivos para exprimir sua mentalidade
satânica, impiedosa e cruel. No entanto, não há o que se fazer porque
esta é a própria natureza dos espíritos malignos. Os demônios mais
poderosos escolhem e encostam em pessoas que ocupam posições de
destaque na sociedade, bem como em intelectuais e em jornalistas.
Creio que as pessoas ficarão espantadas ao saberem desta realidade.

Embora a luta entre esses terríveis demônios e Deus, que é mais


poderoso, seja travada incessantemente no invisível Mundo Espiritual,
não há como se tomar conhecimento disso. É por esse motivo que o ser
humano - o senhor de todas as coisas - é manejado como se fosse uma
marionete. Evidentemente, por estar envolvido, eu estou bem a par da
situação: às vezes, ocorrem coisas terríveis, mas também coisas
interessantes ou até divertidas. Por essa razão, as pessoas em geral
jamais compreenderão meu estado de espírito.
93
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Atualmente, a luta entre o bem e o mal, na Obra Divina, é uma


grande peça teatral composta por diversas tramas e artimanhas jamais
vistas na história. Portanto, só posso dizer que se trata de um divino
mistério.

A propósito, há uma questão muito importante a considerar: a


grande transição do planeta Terra. Na luta travada até hoje entre deuses
e demônios, quando o lado de Deus sofria uma derrota, era necessário
bastante tempo para ele se recuperar porque se estava na Era da Noite.
No entanto, como todos os fiéis sabem, ultimamente esse tempo está se
encurtando consideravelmente. Agora que o mundo está se tornando dia,
o poder dos espíritos malignos está se enfraquecendo cada vez mais. A
realidade tem mostrado que, graças a essa rápida recuperação, há
casos em que a derrota pode ser até vantajosa.

Em maio do ano retrasado, recebemos um golpe que, por um


momento, parecia fatal à nossa organização. A sociedade chegou até a
pensar que jamais conseguiríamos nos recuperar. Hoje, porém,
passados apenas dois anos, o avanço das construções dos protótipos
do Paraíso Terrestre de Hakone e de Atami e a expansão da fé são tão
grandes como ninguém poderia imaginar. Se aquele problema não
tivesse ocorrido, não se sabe se alcançaríamos tal desenvolvimento.
Essa é uma prova de que o poder de Deus ficou muito mais forte. Isso
significa que, sem dúvida, logo virá o tempo em que seremos
procurados pelo mundo inteiro. Por ser uma obra de salvação da
humanidade tão grandiosa, acho até natural que enfrentemos
obstáculos dessa proporção.

3 de setembro de 1952

94
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

POSSESSÃO63 POR DIVINDADES

Desde épocas remotas, são numerosos os casos de possessão


por divindades, cujos tipos também variam bastante. Atualmente, as
pessoas tidas como mais esclarecidas julgam que isto é mera
superstição e não dão a mínima atenção. E utilizam a expressão
"possessão por divindade" apenas em sentido irônico. Entretanto,
segundo minhas pesquisas, a possessão, sem dúvida, não é uma ilusão.
Dado que existe a possessão tanto do bem como do mal, ela é algo útil
se puder ser diferenciada corretamente.

As possessões podem ser classificadas em três tipos. A primeira


se dá por intermédio de divindades propriamente ditas - que mesmo
sendo do bem, podem ser de nível elevado, médio ou baixo. A segunda,
por espíritos de animais que fingem ser divindades; e a terceira, por
espíritos humanos. No primeiro tipo, temos, por exemplo, aquelas
ocorridas com os fundadores de religiões, como Miki Nakayama, da
Igreja Tenrikyo; Nao Deguchi, da Oomoto; Tokumitsu Kanada, da
religião Tokumitsu; Tokuharu Miki, da Perfect Liberty (PL), e também
com os fundadores da Konkokyo, Kurozumikyo etc. e, ainda, dos antigos
bonzos Kobo-Daishi, Nichiren, Honen e En no Gyodja. No segundo tipo,
há as possessões ocorridas nas inúmeras crenças questionáveis, tais
como "Inari oroshi no gyodja", "Iizuna tsukai" e outras, que utilizam os
espíritos de animais. O terceiro tipo refere-se principalmente à
possessão por espíritos dos ancestrais e de parentes próximos. Neste
caso, a denominação não deveria ser "possessão por divindade", mas
sim incorporação.

Portanto, em relação à possessão por divindade, se for possível


desenvolver a capacidade de discernir seus diferentes tipos e se a
postura e a orientação forem adequadas, ela seria muito útil à sociedade.
Todavia, se o conhecimento sobre o assunto for apenas superficial,
evidentemente corre-se o risco de haver consequências desastrosas.

63
Possessão: Fenômeno espiritual em que um espírito incorpora em um ser humano.
95
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Na Europa e nos Estados Unidos, as pesquisas sobre


parapsicologia estão muito em voga. Na Inglaterra e nos demais países,
existem até mesmo faculdades que estudam os fenômenos espirituais e
vem surgindo um grande número de médiuns notáveis. São dignos de
nota os registros de mensagens do Mundo Espiritual transmitidas pelos
espíritos do eminente presidente norte-americano Woodrow Wilson
(1856 - 1924) e de Sir Northcliffe (1868 - 1940), ex-editor do "The
London Times" em forma de psicografia e de psicofonia. De certa forma,
em todos os lugares, a situação é idêntica. Na verdade, mesmo na
Europa ou nos Estados Unidos, aqueles que se dedicam a esse tipo de
pesquisa estão sempre se empenhando e lutando contra a rejeição por
parte de indivíduos inflexíveis que se intitulam esclarecidos, e dos
cientistas materialistas. A vantagem é que, naqueles países, não existe
um controle autoritário como no Japão, e a pesquisa é livre. Aqui, devido
à opressão do governo e à oposição dos cientistas, até hoje,
lamentavelmente, ainda não foi realizada nenhuma pesquisa nesse
sentido.

5 de fevereiro de 1947

96
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

MANIFESTAÇÃO DE ESPÍRITOS DE SERES VIVOS

Certa vez, houve o seguinte caso. Falei a um universitário sobre


espíritos, mas ele não se convencia. Como que me desafiando, disse:
"Então, veja se estou com algum espírito me influenciando."
Imediatamente procedi ao exame espiritual e, não demorou muito, o
rapaz entrou em transe e começou a falar com jeito de uma jovem. A
manifestação era do espírito de uma mulher que trabalhava em uma
casa noturna em Assakussa, aonde ele ia se divertir de vez em quando.
A mulher se enamorara dele, e o espírito fez o seguinte pedido: "Faz
tempo que ele não vem me ver. Gostaria que lhe dissesse para vir, pois
estou com muita saudade." Senti-me constrangido por ser solicitado
para transmitir o recado de uma pessoa apaixonada, mais ainda pelo
pedido ter sido uma manifestação do espírito de uma pessoa viva64.

Logo que o universitário voltou a si, apresentava um semblante


de quem não estava entendendo nada. Então, perguntei: "Como foi?" Ao
que ele respondeu: "Não sei se entrei em transe, mas a verdade é que
não me lembro de nada." Quando lhe contei sobre o que a jovem disse,
ele ficou espantado e envergonhado. Além disso, se deu por vencido e
reconheceu a existência de espíritos.

Uma vez, quando fiz o exame espiritual numa jovem gueixa,


manifestou-se o espírito de uma pessoa viva. Depois de lhe fazer várias
perguntas, compreendi que se tratava do espírito de seu amante, que
era proprietário de uma loja atacadista de açúcar. Ele disse o seguinte:
"Combinei encontrar-me com esta gueixa hoje à noite; como surgiu um
compromisso inadiável, peço-lhe o favor de dizer-lhe que só posso
encontrar-me com ela amanhã." Suas palavras e gestos eram de um
homem de quarenta a cinquenta anos, o que não deixava margem de
dúvida. Quando transmiti o recado à jovem, esta se espantou. Disse que

64
Manifestação do espírito de uma pessoa viva: É um fenômeno espiritual conhecido no Japão como
ikiryo. No folclore japonês, um ikiryo é uma manifestação da alma de uma pessoa viva, fora de seu
corpo. Tradicionalmente, se alguém mantém um rancor suficiente por outra pessoa, acredita-se que
uma parte ou a totalidade da alma pode temporariamente deixar o corpo e aparecer perante o alvo de
seu ódio, para jogar-lhe uma maldição ou prejudicá-lo.
97
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

entrara em transe, que não sabia absolutamente o que falara, mas que
realmente havia combinado aquele encontro.

Uma ocasião, fui procurado por uma moça de mais ou menos


vinte anos que me disse que lhe parecia estar com depressão e que
estava achando o mundo muito sem graça. Eu lhe disse que não havia
lógica uma pessoa de aparência tão sadia e tão bonita estar naquela
situação e que certamente devia haver um motivo muito forte para isso.
Então, após fazer várias perguntas, finalmente compreendi que a causa
era um rapaz da vizinhança que se apaixonara por ela. "Ele tenta me
conquistar por meio de cartas e de outras formas - disse a moça - mas
eu não gosto dele e já o rejeitei por várias vezes. Entretanto, ele fica
sempre perto da minha casa e, por medo, eu quase não saio." Então, eu
expliquei à jovem que o espírito daquele rapaz se manifestava nela.
Sabendo disso, ela ficou mais tranquila, pois compreendeu que não
estava doente. A partir daí, foi melhorando pouco a pouco até se
recuperar completamente.

Se é difícil fazer uma pessoa da atualidade compreender a


existência de espírito de quem já morreu, mais difícil ainda é fazê-la
compreender a manifestação de espírito de quem ainda está vivo.
Todavia, como se trata de uma verdade indiscutível, gostaria que
lessem cientes disso.

Ainda poderia citar vários exemplos de manifestação de espíritos


de seres vivos, mas penso que esses três são suficientes. Isso ocorre,
na maioria das vezes, nas relações amorosas entre homem e mulher.
Quanto à depressão daquela moça, qual seria a causa? Era a
melancolia do rapaz gerada pelo amor não correspondido que se
transmitia por meio do elo espiritual até ela. Dessa forma, a
manifestação do espírito de uma pessoa viva se reflete no sonen da
outra pessoa. Portanto, se fosse o contrário do caso anterior, ou seja, se
os dois se amassem, os elos espirituais de ambos se inter-relacionariam
e produziriam uma sensação agradável. É essa sensação que colabora
grandemente para que o relacionamento se fortaleça. No caso de

98
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

encosto de espírito de um desencarnado, sente-se calafrio enquanto


que, na manifestação de espírito de pessoa viva, sente-se calor.

Tratando-se de espíritos de pessoas vivas como os dos casos


citados, não há grande problema, mas existem os que são terríveis. É o
que ocorre entre a esposa e a amante do marido, em triângulos
amorosos etc. Quando as duas disputam o homem, os ciúmes de
ambas se transformam em entidades espirituais que lutam entre si. Em
geral, a esposa sai vencedora, porque é natural o correto vencer; sua
obstinação fará com que a amante seja acometida por doença,
falecendo ou fugindo com outro homem. Consequentemente, sempre
ocorre uma situação em que a amante acaba se distanciando.

Se a manifestação for de espírito de uma pessoa viva, não é tão


problemática quanto se for de espírito de kudaguitsune vivo.
Kudaguitsune é um animal um pouco menor que um melão, leve e
felpudo, de pelos brancos e macios; seu espírito é muito obediente ao
ser humano e faz qualquer maldade que lhe ordenem. Desde tempos
antigos, existem ascetas do sexo feminino chamadas de iizuna-tsukai,
que utilizam esses espíritos. Esses espíritos aceitam os trabalhos que
lhes pedem, como, por exemplo, de vingança.

Há, também, manifestação de espírito de raposa viva. Seu corpo


habita os oratórios inari65 ou as matas, e só o seu espírito atua.

25 de agosto de 1949

65
lnari: Vide nota de rodapé 29 no ensinamento "Religiões e milagres".
99
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

AS DIVERSAS SITUAÇÕES APÓS A MORTE

A morte pode ocorrer de diferentes formas. Algumas pessoas


tornam-se habitantes do Mundo Espiritual subitamente, acometidas de
acidente vascular cerebral isquêmico ou hemorrágico, parada cardíaca,
morte não natural etc. Quem nada conhece sobre o assunto diz que
essas pessoas é que são felizes, porque não passam pelo sofrimento e
pelas dores da doença. Entretanto, não há nada mais errado; ninguém é
mais infeliz do que esses espíritos. Como não estavam preparados para
a morte, mesmo indo para o Mundo Espiritual, não têm noção de que
faleceram e continuam pensando que estão vivos. No entanto, por não
terem o corpo físico, desejam-no desesperadamente. Nesse caso,
buscam aqueles com quem possuem elos espirituais. Já que esses elos
com parentes consanguíneos se mantêm mesmo após a morte, os
espíritos tentam, por meio deles, encostar em um familiar. Geralmente é
mais fácil encostar em pessoas fisicamente enfraquecidas, em mulheres
anêmicas em consequência de parto e, principalmente, em crianças, nas
quais o encosto é mais frequente. Isso é a causa da verdadeira 66
paralisia infantil e também da epilepsia. Por esse motivo, a paralisia
infantil apresenta muitos sintomas semelhantes aos de acidente
vascular cerebral. Na crise epilética, manifestam-se características do
momento em que o espírito encostado morreu.

Por exemplo: quando a pessoa espuma, é porque se trata do


espírito de alguém que morreu afogado; se tem crises ao ver fogo,
significa espírito de uma pessoa que morreu queimada. As outras
formas de epilepsia também mostram as diferentes circunstâncias de
morte não natural. O sonambulismo e a deficiência mental também
podem ser causados por encosto de espírito que teve morte não natural.

Sobre mortes não naturais, há um aspecto que convém conhecer.


Todos os espíritos daqueles que tiveram morte por acidente, suicídio,
homicídio etc. ficam presos ao local em que ocorreu a morte durante
determinado tempo, e são chamados de "espíritos presos à terra".
66
Nota: Meishu-Sama classifica algumas doenças em "verdadeira" ou "falsa" dependendo da causa.
Neste caso, Meishu-Sama denominou de "verdadeira" paralisia infantil aquela que é causada por
encosto.
100
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Geralmente, eles ficam circunscritos a um espaço máximo de cerca de


60 metros e, não suportando a solidão, tentam atrair companhia.

É também devido à solidão que se tornam frequentes as mortes


nos locais onde ocorreram, por exemplo, atropelamentos nas estradas
de rodagem e de ferro, nas margens de lagos e rios onde houve
afogamentos, ou em árvores em que alguém se enforcou.

Os "espíritos presos à terra" geralmente permanecem nesses


locais durante cerca de trinta anos. Contudo, com a realização pelos
familiares de ofícios religiosos em sufrágio a esses espíritos, esse tempo
pode ser bastante abreviado. Portanto, devemos realizar cultos em
sufrágio aos espíritos que tiveram mortes por catástrofes, acidentes,
suicídio, homicídio etc. com toda sinceridade de coração.

Os mortos continuam no Mundo Espiritual com as dores e os


sofrimentos do momento em que morreram; isso se dá porque o Mundo
Espiritual é a continuação do Mundo Material. Por tal motivo,
especialmente os suicidas, se arrependem profundamente.

Pelo mesmo motivo, mesmo que se trate de uma pessoa


realmente bondosa, se a morte ocorre em meio a sofrimentos, o espírito
vai para o Plano Intermediário ou para o Inferno. Quem era solitário
antes de morrer, continua solitário no Mundo Espiritual; quem não tinha
sorte, continua desafortunado.

Contudo, há casos em que ocorre o inverso. Por exemplo:


aqueles que enriqueceram à custa do sofrimento alheio, por serem
avarentos e por praticarem atos ilícitos, ao irem para o Mundo Espiritual,
devido ao pecado cometido, ficam paupérrimos e se arrependem
profundamente. Ao contrário, pessoas que, no Mundo Material,
despenderam seus recursos para o bem do próximo e da humanidade e
somaram atos meritórios, tornam-se prósperas e felizes no Mundo
Espiritual. Pode acontecer também o seguinte. Mesmo pessoas que
aparentam ser maravilhosas enquanto vivem neste mundo, poucos
101
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

meses ou um ano depois da passagem para o Mundo Espiritual, ficam


com o semblante de acordo com seu verdadeiro sonen. Visto que o
Mundo Espiritual é o mundo do sonen e já não existe o corpo carnal que
envolve o espírito, o sonen de fealdade e maldade faz com que a
aparência do espírito se torne feia e vil; já o semblante daquele que
somou atos meritórios torna-se belo e virtuoso. Podem, assim,
compreender como o Mundo Espiritual é diferente do Mundo Material e
o quanto ele é realmente justo e imparcial.

Tempos atrás, havia entre meus subordinados um jovem


chamado Yamada. Certo dia, ele me disse: "Peço licença para ir a
Osaka tratar de um assunto urgente." Sua expressão e seu
comportamento não eram normais. Perguntei-lhe que assunto ele tinha
a tratar naquela cidade, mas suas respostas foram evasivas e confusas.
Decidi, então, examiná-lo espiritualmente. Nessa ocasião, eu estava
pesquisando os fenômenos espirituais com grande interesse.

Fiz com que o rapaz se sentasse e cerrasse as pálpebras.


Quando iniciei o exame espiritual, ele passou a mostrar uma feição de
grande aflição e a se contorcer de dor. Manifestou-se, então, um espírito
que se identificou como sendo o de um amigo seu.

"Quando eu era empregado de uma firma em Osaka - disse ele -


fui despedido por um dos diretores, que acreditou nas calúnias de certa
pessoa. Fiquei num tal estado de desgosto e frustração que acabei por
me suicidar, tomando veneno. Pensava que, suicidando-me, voltaria ao
Nada. Ao invés disso, os sofrimentos dos instantes da morte persistiram,
o que me levou a perceber que tinha tomado a decisão errada. Além
disso, resolvi vingar-me do diretor da firma, achando que ele fora o
causador de tudo e, por isso, encostei em Yamada, com a intenção de
levá-lo a Osaka e, por suas mãos, matar aquele homem." Essas
palavras eram entrecortadas em meio a dores intensas. O espírito
implorou-me ainda que lhe aliviasse o padecimento. Então, eu o fiz ver
seus erros e, após aplicar-lhe o método de eliminação do sofrimento, ele

102
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

disse que estava se sentindo aliviado. Muito feliz, agradeceu-me do


fundo do coração e, prometendo desistir do crime, retirou-se.

Durante o tempo em que o espírito esteve incorporado 67 em


Yamada, este ficou totalmente inconsciente; por isso, não se lembrava
de nada do que tinha dito. Quando retornou a si, contei-lhe o que se
passara. Ele ficou surpreso e, ao mesmo tempo, muito contente por ter
sido salvo de um iminente perigo.

Pelo exposto, devem compreender que, embora esteja


enfrentando o maior dos sofrimentos, o ser humano jamais deve
cometer suicídio. As pessoas em geral estão equivocadas
principalmente em relação ao suicídio por amor porque pensam que,
morrendo dessa forma, vão para o Céu, onde deslizarão por um lago
tranquilo, sentadas numa folha de lótus, e viverão na maior felicidade.
Contudo, isso é um grande engano. Vou explicar com mais detalhes.

Quando um homem e uma mulher se suicidam abraçados, os


espíritos de ambos, ao entrarem no Mundo Espiritual, ficam grudados
um ao outro sem poder separar-se, sujeitos a grandes incômodos. Pelo
fato de expor essa situação vergonhosa aos demais espíritos, não é
pequeno o arrependimento. Nos demais casos de suicídio duplo por
amor, o casal geralmente fica colado, por exemplo, costa com costa, ou
barriga com costa, de acordo com o sonen e a atitude do momento da
morte. Assim, eles perdem toda a liberdade, o que torna tudo mais difícil.
Os espíritos daqueles que, durante a vida, tiveram relacionamentos
pervertidos ao extremo, como por exemplo o incesto, além de ficarem
grudados, se um fica de pé, o outro fica com a cabeça para baixo, de
modo que o sofrimento e o transtorno estão além da imaginação.
Quando se trata de relações imorais de sacerdotes, educadores e de
outras pessoas que devem dar o exemplo às demais, evidentemente a
pena é mais pesada que a dos outros.

25 de agosto de 1949

67
Incorporar: Ação em que um espírito manifesta a própria consciência por meio de um ser
encarnado, deixando seu hospedeiro em estado de semiconsciência ou de completa inconsciência.
103
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

DOENÇA E ESPÍRITO

Conforme já expliquei pormenorizadamente, a doença é o


aparecimento e o processo da ação purificadora. Ao mesmo tempo,
convém saber que existem muitas doenças causadas pelos espíritos.
Muito se tem falado sobre o assunto, desde tempos remotos, havendo
mesmo algumas religiões que afirmam que quase todas as doenças são
causadas pela ação de espíritos. Entretanto, por meio de pesquisas,
descobri que a causa da doença decorre da ação de espírito ou da ação
purificadora e que ambos possuem uma relação íntima e inseparável,
pois o encosto do espírito doentio limita-se à parte em que há nuvens no
corpo espiritual do doente. Portanto, se este estiver purificado até certo
grau, pela dissolução das nuvens espirituais, não só desaparecerá a
doença do corpo material, mas também será impossível ocorrer o
encosto do espírito doentio, e a pessoa se tornará saudável, tanto física
quanto espiritualmente.

5 de fevereiro de 1947

104
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

OS JAPONESES E AS DOENÇAS PSÍQUICAS

Atualmente, as pessoas vivem falando sobre a degradação do


pensamento, o aumento de crimes, a deficiência na política etc.
Mostrarei que a causa tem profunda relação com a doença psíquica.

Em primeiro lugar, qual é a verdadeira causa dessa doença?

Tratando-se de um assunto sem precedentes, ninguém imagina


qual poderia ser. Evidentemente, por se tratar da própria Verdade, creio
que qualquer pessoa, a menos que tenha problemas mentais,
concordará com o que vou dizer.

A verdadeira causa da doença psíquica é física e, ao mesmo


tempo, de influência espiritual. Para o homem da atualidade, que foi
submetido à educação materialista, talvez seja um pouco difícil
entender; mas compreendemos esse ponto perfeitamente, posto que ele
foi educado no sentido de que não se deve acreditar naquilo que não se
vê. Não obstante, por mais que se negue, a Verdade é a Verdade. Se
disserem que o espírito não existe por ser invisível, então terão que
dizer que o ar e os sentimentos e pensamentos também não existem.

O espírito existe porque existe; os fenômenos espirituais também


existem porque existem. Se não partirmos dessa premissa, não poderei
expor a minha tese. Assim, àqueles que negam terminantemente a
existência do espírito, devemos dizer que eles se assemelham aos que
nos julgam supersticiosos; mas, para nós, eles é que lamentavelmente o
são.

A partir de agora, discorrerei sobre o assunto principal.

Se a doença psíquica é um fenômeno espiritual, por que isso


acontece? Muitas pessoas se queixam de pescoço e ombros enrijecidos,
o que é uma realidade. Posso dizer que praticamente todos os
japoneses se ressentem disso. Aliás, pela minha longa experiência,
105
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

posso afirmar que todas as pessoas apresentam esses sintomas. É raro,


mas há quem diga não sentir isso. Nestes casos, o pescoço e os
ombros estão tão rijos, que elas não têm dor. Ou seja, é possível que
todos tenham predisposição para isso. Creio que o leitor ficará surpreso
se eu disser que esse enrijecimento constitui a verdadeira causa da
doença psíquica. Com o desenrolar da explicação, acabarão
concordando comigo.

Com o enrijecimento do pescoço e dos ombros, os vasos


sanguíneos que levam o sangue ao cérebro ficam comprimidos,
causando anemia na parte frontal da cabeça. Isso é um problema,
porque a anemia no interior da cabeça não se resume a uma simples
anemia. Uma vez que o sangue é a materialização do espírito, essa
anemia leva à diminuição das "células espirituais" da região cerebral,
que caracteriza a "anemia espiritual". Essa é a causa imediata da
doença psíquica. A influência na forma de encosto ocorre no local do
corpo espiritual, que está anêmico. A maioria desses espíritos é de
animais como raposa, tanuki e, mais raramente, de cães e gatos, sendo
sempre espírito desencarnado. Pode ocorrer também encosto em
conjunto de espírito humano e espírito animal.

Analisando o sonen do ser humano, diremos que ele é constituído


de razão, emoção e vontade. Esta transforma os dois primeiros em ação.
A explicação é que a função da parte frontal do cérebro é comandar a
razão, e a da parte posterior, comandar a emoção. Prova disso é o
desenvolvimento maior da parte frontal da cabeça nas pessoas de raça
branca, que indica riqueza de razão; em contrapartida, as de raça
amarela possuem a parte frontal estreita e a parte posterior
desenvolvida, indicando riqueza de emoções. Todos sabem que o
indivíduo da raça branca é mais racional, e o da raça amarela, mais
emocional. Além disso, razão e emoção estão sempre em luta no interior
do ser humano. Se a razão predomina, não há erros, mas por outro lado,
reina a insensibilidade; se a emoção for dominante, fica-se à mercê dos
instintos, e isso é perigoso. O ideal seria ambos estarem harmonizados,
sem que nenhum deles prevaleça. Todavia, o ser humano sempre
acaba pendendo para um dos lados. Para manifestar a emoção ou a
106
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

razão em ação, necessita-se da vontade, independentemente do seu


grau de intensidade. A fonte dessa vontade localiza-se na região
umbilical. Podemos dizer que este é o local que tem a função de gerar a
ação. O trabalho conjunto da razão, emoção e vontade constitui a
trilogia do sonen.

A "anemia espiritual" da parte interna frontal da cabeça provoca


insônia. Esta, na maioria das vezes, é causada pelos nódulos na região
da medula oblonga, na zona occipital direita, os quais comprimem os
vasos sanguíneos. A insônia acentua a "anemia espiritual", e os
espíritos de animais aproveitam a oportunidade para encostar. Sendo a
parte interna frontal da cabeça o comando central do corpo humano, ao
ocupá-la, o espírito consegue manipular livremente o indivíduo.
Principalmente o espírito de raposa, este tem interesse em utilizá-lo à
sua vontade, pois com isso se torna influente entre seus companheiros,
fato que o ser humano nem imagina. Em breve, baseado nas minhas
experiências, pretendo escrever detalhadamente sobre os espíritos de
raposa. Por conseguinte, gostaria que aguardassem ansiosamente.

Como vimos, é tarefa inerente da razão controlar constantemente


a emoção - que é instintiva ao ser humano - cuidando para que este não
cometa erros. De qualquer modo, a pessoa consegue manter a
normalidade devido à razão, que atua como "força da lei" sobre a
emoção. Portanto, se houver a perda dessa força, a emoção ficará
totalmente desgovernada. Eis o que é a doença psíquica.

Quando a "força da lei" está atuando plenamente no interior da


parte frontal da cabeça, ciente disso, o encosto não consegue dominar a
pessoa. No entanto, quando o espírito da pessoa se enfraquece, o
espírito maligno consegue realizar seu intento. E, como existe variação
de intensidade no enfraquecimento, o espírito maligno atua
proporcionalmente a esse enfraquecimento. Por exemplo, considerando
que a plenitude do espírito da pessoa na parte frontal da cabeça seja
100%, não há possibilidade de encosto; sendo 90%, o encosto ocorrerá
numa proporção de 10%. À medida que essa totalidade vai diminuindo,
a proporção do encosto vai aumentando para 20, 30, 40 50, e quando o
107
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

encosto chega a 60%, a razão está com apenas 40%, que caracteriza
sua derrota para a emoção. Nessas condições, o encosto consegue
controlar livremente a pessoa.

Como disse no início, o enrijecimento do pescoço e dos ombros


comprime os vasos sanguíneos e causa a "anemia espiritual",
propiciando ao encosto atuar nessa mesma proporção. Atualmente, não
há ninguém que esteja livre do enrijecimento; portanto, podemos dizer
que ninguém possui plenitude espiritual; até mesmo aqueles que são
respeitados na sociedade, têm uma deficiência espiritual de 20 a 30%.
Às vezes, perguntamos: "Por que uma pessoa tão brilhante cometeu um
erro desses?" ou "Por que será que não compreendeu algo tão
simples?" ou ainda, "Por que será que ela fracassou?" etc. O motivo
está na deficiência espiritual, que atingiu de 20 a 30%. Entretanto, essa
deficiência não é fixa e está constantemente oscilando. Ao realizar
ações louváveis, a deficiência não passa de 20%; quando, por algum
motivo, ela incorre no mau pensamento e comete um crime, a
deficiência ultrapassou os 40%. Frequentemente, vemos casos de
pessoas que se arrependem após cometerem um crime; nesse
momento, geralmente, o nível de deficiência já retomou a cerca de 20 ou
30%. Relaciona-se a esse caso o dito popular: "Ela foi tentada pelo
demônio!"

Normalmente, as pessoas em geral têm uma deficiência espiritual


em torno de 30 a 40%, mas, por algum motivo, essa porcentagem pode,
a qualquer momento, ultrapassar os 50%. Nesse caso, elas acabam
cometendo crimes que nem imaginavam. Um exemplo dessa deficiência
é a histeria, cuja causa, quase sempre, está no espírito de raposa, que
domina a parte frontal da cabeça do indivíduo, e por causa do ciúme ou
da ira, a deficiência excede os 50%. Assim, as pessoas passam a fazer
escândalos ou a dizer coisas incoerentes, nas quais nem estavam
pensando. Essa situação não dura por muito tempo, pois, ao ultrapassar
o limite de 50%, a deficiência espiritual novamente se reduz. Sendo
assim, a pessoa deve fazer o possível para se manter no limite de 30%
de "anemia espiritual"; acima desse nível, já é perigoso.

108
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Creio que, tomando conhecimento do que acabei de explicar,


poderão compreender perfeitamente por que há tantos criminosos hoje
em dia. O encosto, evidentemente, é de animal; por isso, se sua força
de atuação ultrapassar os 50%, a psiquê humana se igualará ao de um
animal, embora a aparência seja de um ser humano; ela passa, então, a
praticar ações animalescas com toda a naturalidade. Neste ponto, há
uma diferença notável entre o ser humano e o animal. Enquanto o amor
existe entre os seres humanos, em algumas espécies de animais, ocorre
o amor entre o macho e a fêmea e destes pelos filhotes, mas o amor
solidário é muito escasso. Em comparação, as aves e os insetos o
possuem em maior grau. Contudo, a maioria dos animais não possui
sequer o amor entre o casal e deste pelos filhotes. Por esse motivo,
quando o ser humano manifesta características animais, revela uma
crueldade inimaginável.

Conforme eu afirmei, já que não existe ninguém em estado de


plenitude espiritual, ou seja, de 100%, todas as pessoas - umas mais,
outras menos - são influenciadas espiritualmente e pode-se dizer que
todos são doentes psíquicos. Logo, falando sem reserva, podemos
afirmar que todos os japoneses, em algum grau, são doentes psíquicos.

Vejamos algumas situações que tenho presenciado. Diariamente


encontro-me com dezenas de pessoas e converso com elas sobre
vários assuntos. Posso dizer que todas apresentam algum tipo de
alienação e, sem dúvida, têm suas esquisitices. Conforme se vê, mesmo
pessoas valorizadas pela sociedade têm deficiências comumente
imperceptíveis. Desse modo, podemos dizer que a doença psíquica em
pequeno grau é comum a todos.

E não é só o que as pessoas dizem, mas também o modo como


agem. Praticamente todas cometem absurdos no dia a dia, além de não
demonstrarem o mínimo interesse pela civilidade e pelas boas maneiras.
Em geral, quando entram na sala e me cumprimentam, fazem-no de
maneira incorreta, por exemplo, curvando-se em direção à parede, à
porta, à janela etc. Realmente, há pessoas de todos os tipos: algumas

109
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

são excessivamente corteses, e outras, ao contrário, secas demais;


podemos concluir, portanto, que todos são doentes psíquicos em
pequeno grau.

Para finalizar, vou falar sobre o método fundamental de solução,


que é a eliminação do enrijecimento do pescoço e ombros que obstrui o
envio de sangue para o cérebro. Posso afirmar que, para eliminar esse
enrijecimento, evidentemente, não há neste vasto mundo outro meio
além do nosso Johrei. Por conseguinte, os membros da nossa religião
normalmente possuem deficiência espiritual entre 20 ou 30% e é certo
que não existe aquele que ultrapasse os 30%. Para comprovar essa
realidade, basta observar o caráter dos nossos membros. Nesse sentido,
acredito que, na atualidade, a Igreja Messiânica tem dado grande
contribuição para a prevenção do mal social. E, ao indagarem "Qual é a
constituição do enrijecimento do pescoço e ombros?", posso afirmar que,
sem dúvida, são as toxinas medicamentosas.

20 de abril de 1950

110
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

ELOS ESPIRITUAIS

Até agora, a expressão "elos espirituais" tem sido pouco utilizada,


talvez por ainda não se conhecer sua importância e também pelo fato de
eles serem invisíveis e mais rarefeitos que o ar. Entretanto, não se deve
menosprezar a influência que eles exercem tanto nas coisas como no
ser humano. Os elos espirituais são a causa da felicidade e da
infelicidade humana. Em sentido amplo, influenciam até mesmo a
História. Portanto, é imprescindível que as pessoas conheçam seu
significado.

Antes de mais nada, quero esclarecer que minha explicação


sobre os elos espirituais é Ciência, Religião, e também, um
conhecimento que existirá no futuro. O princípio da relatividade, os raios
cósmicos e todas as questões referentes à sociedade e ao indivíduo:
enfim, tudo se relaciona com os elos espirituais. Vejamos a relação
existente entre eles e o ser humano.

Tomemos como exemplo o próprio leitor. Não se pode calcular


quantos elos espirituais estão ligados a ele. Podem ser poucos, dezenas,
centenas ou milhares. Há elos espirituais grossos e finos, compridos e
curtos, corretos e incorretos, que constantemente exercem alguma
influência e provocam mudanças no ser humano. Portanto, não é
exagero dizer que o homem se mantém vivo graças aos elos espirituais.
Entre estes, o mais grosso é o que existe entre um casal; a seguir, o que
existe entre pais e filhos, entre irmãos, entre tios e sobrinhos, entre
primos, amigos, conhecidos etc. tornando-se, nessa ordem, cada vez
mais fino. Creio que as expressões "laços de afinidade" e "vínculos de
afinidade ", usadas desde a antiguidade, referem-se aos elos espirituais.

Os elos espirituais sempre se modificam, tornando-se grossos ou


finos. Quando há harmonia entre o casal, ele é grosso e brilhante;
quando os cônjuges estão em conflito, ele torna-se mais fino e perde o
brilho. O mesmo se verifica entre pais e filhos, entre irmãos etc.

111
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Da mesma forma, novos elos podem se formar quando se fazem


novos amigos e, principalmente, quando se começa um namoro.
Chegando o namoro ao ápice, o elo espiritual entre o casal torna-se
infinitamente grosso e a troca de sentimentos, intensa: não apenas
sensações agradáveis e sutis, como também sentimentos de tristeza e
saudade são transmitidas entre eles. Ao final, o elo espiritual é
potencializado ao extremo a ponto de uma separação não ser mais
possível. Conforme todos sabem, nesse caso, mesmo que uma terceira
pessoa tente convencer do contrário, além de não obter nenhum
resultado, fará aumentar ainda mais o calor da paixão. Quando duas
pessoas se amam, é como o polo positivo (yang) e o polo negativo (yin)
em eletricidade, que geram a energia elétrica ao entrarem em contato;
nesse caso, o elo espiritual passa a ter função de fio elétrico. Tempos
atrás, extinguindo espiritualmente o polo positivo (yang), salvei duas
estudantes que, envolvidas num amor lésbico, estavam a um passo de
cometerem duplo suicídio. Consegui que a moça que representava o
polo positivo voltasse à normalidade em cerca de uma semana. Esfriado
o ardor da paixão, a outra também voltou à normalidade.

Dessa forma, o elo espiritual entre pessoas que não têm laços de
consanguinidade pode ser rompido, mas não é possível romper o que
existe entre parentes consanguíneos. No caso de elos espirituais entre
pais e filhos, existe um ponto ao qual se deve prestar atenção: como
eles sempre estão pensando uns nos outros, há um reflexo mútuo, e a
índole dos filhos sofre a influência da índole dos pais, por intermédio do
elo espiritual.

Portanto, se os pais desejam melhorar os filhos, em primeiro


lugar devem melhorar o próprio espírito. Frequentemente, vemos pais
que repreendem os filhos, apesar de eles próprios não terem uma
conduta adequada. Isso surte pouco efeito, e o motivo é o que
acabamos de expor. Muitas vezes, entretanto, nós nos perguntamos:
por que pais tão maravilhosos têm um filho delinquente? A verdade é
que esses pais são boas pessoas por interesse e apenas na aparência,
mas a alma está nublada, e isso se reflete no filho.

112
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

No caso de dois irmãos, em que um é bom e o outro é mau, o


motivo tem relação com vidas passadas ou com os pecados dos pais.
Vou começar explicando pelo princípio da reencarnação.

O ser humano, após a morte, vai para o Mundo Espiritual, isto é,


nasce naquele mundo. No budismo, isso é chamado de "ir para nascer".
A partir da perspectiva do Mundo Espiritual, isso faz sentido. Ali se
efetua a purificação das impurezas e dos pecados cometidos no Mundo
Material, e os espíritos que atingiram certo grau de purificação voltam a
nascer neste mundo, ou melhor, reencarnam. Todavia, há aqueles que
foram maus em vida e, no momento da morte, devido às penalidades
imputadas e a outros motivos, se arrependem e compreendem que não
se deve praticar o mal de forma alguma. Ao reencarnarem, fazem o
firme propósito de se tornarem virtuosos na próxima vida e se dedicam
enormemente ao bem. Vemos, pois, por este princípio, que, embora
alguém seja muito bom nesta vida, na encarnação anterior pode ter sido
um grande perverso.

Existem, ainda, muitas pessoas que não acreditam na vida após


a morte e, por isso, depois que morrem, não conseguem viver em paz
no Mundo Espiritual. Pelo apego à vida, reencarnam antes de estarem
suficientemente purificadas. Assim sendo, devido ao fato de lhes
restarem impurezas e pecados de vidas passadas, ocorrem ações
purificadoras nesta vida. Por tais ações serem sofrimentos, o fato de
uma pessoa ser desafortunada, apesar de ser boa desde que nasceu, é
devido a isso.

Gostaria de apresentar, a seguir, um fato marcante relacionado à


reencarnação. Há crianças que nascem com feições de velho e só dois
ou três meses depois é que tomam feições normais de bebê. Isso se
verifica por se tratar da reencarnação de idosos. Quem já viu casos
assim, haverá de concordar comigo.

Voltando ao assunto da influência dos pais sobre os filhos, temos


o caso do reflexo dos pensamentos e sentimentos incorretos dos pais
sobre um dos filhos, o qual se torna mau, ao passo que a consciência -
113
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

o lado bom - se reflete no outro filho e, por isso, este se torna bondoso.
Ocorre também, com frequência, o seguinte. Quando os pais acumulam
fortuna ilícita, os antepassados, cientes de que se não acabar com essa
fortuna a família não terá prosperidade, escolhem um descendente e
fazem com que este gaste todo o dinheiro como água, até acabar com a
fortuna da família. Na verdade, quem foi escolhido como filho
esbanjador está desempenhando o importante papel de salvar a família.
Desconhecendo essa verdade, as pessoas acham que tal filho é um
desvirtuado que acabou com a fortuna dos pais. Contudo, na realidade,
ele é digno de pena.

O ser humano está ligado por elos espirituais não só aos


parentes e amigos vivos, mas também aos que se encontram no Mundo
Espiritual. Existem, ainda, o elo espiritual que se liga às divindades do
bem, e aquele que pertence às divindades do mal. Evidentemente, as
divindades do bem estimulam a prática do bem e as do mal, a prática do
mal. O ser humano é manejado constantemente pelo bem ou pelo mal.

O espírito que foi purificado até certo ponto no Mundo Espiritual é


escolhido como espírito protetor guardião, o qual protege a pessoa
confiada à sua guarda, por meio do elo espiritual. Ou seja, quando ela
está sujeita a um perigo iminente, o espírito protetor guardião emite-lhe
um aviso de perigo e tenta salvá-la. Como exemplo disso, podemos citar
o caso de uma pessoa que vai embarcar em um trem mas que, por ter
se atrasado ou por algum outro impedimento, não o pega, tomando o
trem seguinte. Aí, ocorre um desastre com o trem que ela não tomou, e
muitos morrem ou ficam feridos. Isso se dá graças ao trabalho do
espírito protetor guardião, que conhece antecipadamente o destino de
quem lhe fora confiado no Mundo Material e procura avisá-lo, utilizando-
se de vários meios.

A quantidade de elos espirituais varia de acordo com o grau de


influência da pessoa. Vejamos exemplos de pessoas que os possuem
em grande número. Numa família, o responsável possui elos com
familiares, empregados, parentes e amigos. Tratando-se do presidente
de uma firma, este possui elos com todos os funcionários. Se for pessoa
114
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

pública, por exemplo, representante de bairro, subprefeito, prefeito,


governador, primeiro-ministro, presidente ou monarca, todos possuem
elos espirituais com aqueles que estão sob sua administração ou
governo. Quanto maior a influência da pessoa, maior o número de seus
elos espirituais. Sendo assim, o caráter de um líder deve ser nobre, pois,
se sua alma estiver nublada, isso se refletirá sobre grande número de
pessoas, atuando maleficamente sobre suas ideias. O primeiro-ministro
de um país, por exemplo, deve ser uma pessoa de caráter ilibado e de
muita sabedoria. Caso contrário, o pensamento dos cidadãos se
degrada, a moral relaxa, o número de criminosos torna-se cada vez
maior e a responsabilidade de tudo isso caberá aos governantes. Os
educadores, em especial, cientes de que seu caráter se reflete sobre os
alunos por meio dos elos espirituais, devem tornar-se pessoas dignas de
exercerem com honradez essa profissão, procurando constantemente
polir a alma.

Especialmente os religiosos, como o fundador de uma religião,


seu presidente e seus sacerdotes, devem ter em mente que, por serem
reverenciados como divindades por grande número de fiéis, sua alma
possui um notável poder de influência sobre as pessoas. Se praticarem
atos condenáveis, aproveitando-se de sua posição, tais atos se refletirão
no conjunto dos fiéis, e a decadência dessa religião será inevitável.
Casos como esses são do conhecimento de todos.

No entanto, os elos espirituais não se limitam aos seres humanos.


As divindades também se ligam aos seres humanos por meio dos elos.
A diferença é que os elos que nos chegam das divindades são de luz
intensa. Em geral, os elos dos seres humanos são fios cinza-claro, sem
luz, sendo que os de pessoas de alma elevada são de luz tênue. Quanto
mais perversa for a pessoa, mais escuros serão os elos. Comumente,
ao se escolher amigos, deseja-se que eles sejam boas pessoas, pois,
misturando-se com o bem, o ser humano torna-se bom, e misturando-se
com o mal, torna-se mau, devido ao reflexo dos elos espirituais.

Mesmo entre as divindades, há as do bem e as do mal. Uma vez


que os elos espirituais das divindades do bem são de luz, ao reverenciá-
115
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

las e orar constantemente a elas, o ser humano tem sua alma purificada.
Já dos espíritos malignos, ao invés de luz, a pessoa recebe influências
maléficas, que corrompem suas ideias, e ela acaba tornando-se infeliz.
Portanto, ao professar uma fé, é essencial discernir se a divindade
dessa fé é ou não benigna. Mesmo entre as divindades do bem, a
intensidade da luz varia de acordo com a hierarquia divina. Quanto mais
elevada ela for, maior será o número de milagres entre os fiéis, pois a
luz dos seus elos espirituais é muito mais forte.

Acima, expus resumidamente o significado dos elos espirituais


relacionados ao ser humano. Contudo, devo dizer que os elos espirituais
atuam não só nos humanos, mas também nas demais coisas. Por
exemplo: a casa onde residimos, os objetos que apreciamos e sempre
usamos, entre os quais roupas e acessórios e, principalmente, as coisas
que mais estimamos, possuem conosco um elo espiritual mais grosso.
Numa antiga revista de pesquisas parapsicológicas dos Estados Unidos,
foi publicada uma reportagem sobre uma senhora que tinha uma
capacidade misteriosa: pelos objetos, ela identificava a fisionomia, a
idade e as ações mais recentes do seu dono. Quando olhava fixamente
para o objeto, a imagem do dono surgia estampada nele como uma
fotografia devido aos elos espirituais. Por intermédio desse exemplo,
podemos perceber como é sutil e misteriosamente profunda a atuação
dos elos espirituais.

Ultimamente, têm sido realizadas pesquisas científicas sobre os


chamados raios cósmicos, os quais, a meu ver, são os elos espirituais
que unem a Terra aos outros astros. Na verdade, a Terra mantém o
equilíbrio no espaço graças aos elos espirituais dos astros ao seu redor,
que a atraem. Esses elos, cujo número é incalculável - milhões ou
bilhões - penetram até o centro da Terra.

Aproveitando a oportunidade, vou explicar rapidamente a relação


entre o céu e a Terra. Eles parecem dois espelhos, refletindo um ao
outro. Há dois tipos de corpos celestes: os luminosos e os escuros. Por
não ter luz, o corpo celeste escuro não é visível aos olhos humanos.
Ano a ano, no entanto, esses corpos celestes se tornam luminosos e
116
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

aumentam de número. Por que eles se transformam em corpos


luminosos? É porque existe no Universo a ação de endurecimento de
matérias. Ao atingir o máximo de enrijecimento, o corpo celeste começa
a brilhar. É por esse princípio que o mineral mais duro existente na Terra
- o diamante - é o que mais brilha. Portanto, na época da criação do
nosso planeta, o número de corpos luminosos era tão pequeno quanto o
das estrelas no alvorecer. O aumento do número de corpos luminosos
no céu cresce proporcionalmente ao aumento da população na Terra,
pois eles refletem um ao outro como dois espelhos. Portanto, não se
pode mensurar o quanto a população humana e o número de corpos
luminosos aumentarão no futuro. Frequentemente, os astrônomos
descobrem novos astros, mas o que realmente ocorre é a transformação
de um corpo escuro em corpo luminoso, o qual passa a ser percebido
pelos olhos humanos. Os meteoros nada mais são que a desintegração
de corpos celestes, e os meteoritos são fragmentos oriundos disso.

Além dos grandes corpos celestes, como Júpiter, Marte, Saturno,


Vênus e Mercúrio, existe uma infinidade de outros, de tamanhos grande,
médio e pequeno, e todos exercem influência sobre o planeta Terra e a
humanidade. Assim, da mesma forma que existem os cinco grandes
planetas citados, em cada época, existem cinco personalidades
mundiais. Também acho interessante comparar o ser humano aos
astros e, referindo-se a personalidades renomadas, falar em
"aparecimento ou queda de uma grande estrela".

A História registra que, no Ocidente, houve uma época em que a


astrologia se tornou bem popular, e os sacerdotes a utilizavam para
analisar as doenças, para ver a boa e a má sorte, a felicidade ou a
infelicidade etc. Na China, por exemplo, a ciência da adivinhação
também tomava por base os nove planetas. Penso que não foi sem
motivo que os antigos tinham interesse pelos astros.

Existe a teoria que há vida no planeta Marte, mas isso é um


equívoco. No meu entendimento, existem seres vivos somente no
planeta Terra, que é o centro do Universo. Posto que tudo existe em prol

117
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

da humanidade, é preciso refletir sobre o quanto o ser humano é


elevado.

5 de setembro de 1948

118
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

A RESPEITO DOS SONHOS

Constantemente me fazem perguntas a respeito dos sonhos, por


isso falarei sobre esse tema.

Certamente não há um só ser humano que, ao dormir, não sonhe.


Os sonhos podem ser de vários tipos: sonhos em que a divindade
transmite mensagens; sonhos em que o espírito protetor guardião faz
advertências; sonhos variados e sem relevância, que a maioria das
pessoas têm; sonhos que vêm a se concretizar de forma idêntica ou
oposta ao sonhado, entre outros.

A palavra yume (sonho) é redução da palavra yumei (mundo do


espírito). Por conseguinte, durante o sono, o espírito sai do corpo físico
e vai para o Mundo Espiritual. Nessa circunstância, o que existe no
nosso subconsciente e os nossos constantes desejos aparecem
sucessivamente nas formas mais variadas, sem nenhuma lógica, sendo,
portanto, uma criação humana. As mensagens das divindades limitam-
se às pessoas que têm fé. A divindade que é alvo de sua crença dá-lhes
avisos pelo sonho sempre que houver necessidade. O espírito protetor
guardião geralmente cria sonhos em forma de alegoria ou em sentido
figurado para transmitir suas advertências. Muitas vezes, esses sonhos
precisam ser interpretados. Como já disse anteriormente, o Mundo
Material é um reflexo do Mundo Espiritual, onde os mais variados
fenômenos ocorrem primeiro. Por esse motivo, o espírito protetor
guardião, que se encontra naquele mundo e está ciente do que se
sucederá, utiliza-se dos sonhos para nos alertar. Os pressentimentos
que temos são, comumente, avisos seus.

Quando o espírito sai do corpo e vai para o Mundo Espiritual


enquanto a pessoa dorme, ele fica ligado ao corpo pelo elo espiritual e,
no momento em que a pessoa desperta, ele volta instantaneamente.

Há alguns pontos que devemos esclarecer. Há quem diga que


não se sonha durante o sono profundo, mas é um engano. Naturalmente,

119
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

não se sonha quando se está exausto, mas ocorre o contrário no caso


de sono leve. Contudo, não há o que se preocupar, pois sonhar mesmo
durante um sono leve significa que, de fato, está dormindo. Às vezes,
cochilo enquanto converso com as pessoas e chego até a sonhar por
um ou dois minutos. Também há ocasiões em que sonho em pé,
segurando na alça do trem, mas isso é normal.

Há pessoas que, por sonharem, ficam preocupadas, achando que


não são inteligentes, mas isso não é verdade. Eu, por exemplo, quando
era jovem, quase não sonhava e acho que naquela época era menos
inteligente.

5 de setembro de 1948

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

AS TRÊS CALAMIDADES MAIORES E AS TRÊS CALAMIDADES


MENORES

No Japão, desde eras remotas, ouve-se falar das "três


calamidades maiores" causadas pelo vento, água e fogo, e das "três
calamidades menores", que são a fome, a doença e a guerra. Vou
explicar o significado fundamental dessas calamidades68.

As tempestades e as inundações são ações purificadoras do


espaço entre o Céu e a Terra. E por que elas ocorrem? Porque, no
Mundo Espiritual, se acumulam nuvens espirituais, ou seja, impurezas
invisíveis. Dissipá-las pela força do vento e lavá-las com a água da
chuva é a finalidade da tempestade. Sendo assim, o que são essas
nuvens espirituais e de que forma se acumulam?

As nuvens espirituais se formam a partir do sonen69 e do espírito


das palavras70 do ser humano. Em outros termos, o sonen que pertence
ao mal, como insatisfação, ódio, insulto, inveja, ira, mentira, desejo de
vingança, apego etc., nublam o Mundo Espiritual.

Vejamos, agora, as palavras. As queixas em relação à Natureza,


como por exemplo, o mau tempo, o clima e a safra ruim; críticas e
ataques verbais às pessoas; gritos e vaias; fofocas e intrigas;
repreensões, lamúria e outras expressões desse tipo têm origem no mal
e nublam o Mundo do Espírito das Palavras, que se posiciona logo após
o Mundo do Sonen. Quando a quantidade acumulada desses diversos
tipos de nuvens espirituais ultrapassa certo limite, surge um tipo de
toxina que causa distúrbio à vida humana. Por esse motivo, ocorre a
purificação natural. Esta é a lei do Céu e da Terra.

68
Três calamidades maiores e três calamidades menores: duas expressões que têm origem no
budismo.
69
Sonen: Vide nota de rodapé 55.
70
Espírito das palavras: Em japonês, kototama ou guenrei. Refere-se à energia espiritual contida em
cada palavra proferida pelo ser humano, que pode ser benigna ou maligna.
121
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Como já disse, as nuvens do Mundo Espiritual, ao mesmo tempo


em que influenciam a saúde humana, afetam a vegetação e, em
especial, os produtos agrícolas, tornando-se a causa da má colheita e
do alarmante aparecimento de pragas na lavoura. É esse o motivo pelo
qual, atualmente, estão surgindo insetos nocivos que secam pinheiros e
cedros em todas as regiões do Japão. Portanto, sem que haja uma
significativa elevação espiritual do ser humano, será difícil evitar essas
ocorrências. Em outras palavras: os erros cometidos pelos próprios
japoneses é que estão provocando a morte dos pinheiros e dos cedros
do país, de modo que eles precisam tomar cuidado com seu sonen e o
espírito das palavras.

Todos sabem que da mesma forma das catástrofes provocadas


por elementos da Natureza, as calamidades causadas por influência do
ser humano também são terríveis. Principalmente a guerra, que é a que
traz maiores danos aos homens. Vou apresentar uma tese inusitada
sobre as causas da guerra. Por ela ser surpreendente, gostaria que os
leitores a lessem com toda a atenção.

A guerra é, evidentemente, uma luta coletiva e, até hoje, a


humanidade tem demonstrado mais propensão ao conflito do que à paz.
Observando atentamente, veremos que os conflitos ocorrem em âmbito
nacional e internacional, em todos os campos da atividade humana. Nas
repartições públicas, nas firmas, nas associações, enfim, em qualquer
agrupamento de indivíduos, sempre há lutas ininterruptas nos bastidores,
e as pessoas vivem se criticando e se discriminando. Observamos,
ainda, disputas de concorrentes comerciais, conflitos entre casais,
irmãos, pais e filhos, amigos etc. Realmente, o ser humano gosta muito
de desavenças. Notamos com frequência que ocorrem atritos até
mesmo no interior de trens e ônibus, na rua, entre os transeuntes etc.
Observa-se assim o quanto o conflito está presente na vida humana.
Vou explicar o motivo da natureza belicosa do ser humano.

As pessoas possuem toxinas de diferentes tipos, sejam elas


congênitas ou adquiridas. É comum dizer que essas toxinas se
122
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

concentram nos locais em que os nervos são mais ativos. De acordo


com minha tese, esses locais estão acima do pescoço. Enquanto se
está acordado, mesmo que os braços e as pernas não estejam sendo
utilizados, o cérebro, os olhos, o nariz, a boca e os ouvidos estão em
constante atividade. É natural, portanto, que as toxinas se reúnam nas
proximidades desses órgãos. Esta é também a causa do enrijecimento
da região do pescoço e dos ombros de que muitos se queixam. As
toxinas acumuladas, com o passar do tempo, vão-se transformando em
nódulos e, quando esse processo atinge certo estágio, surge a ação
contrária, isto é, a dissolução e a eliminação que nós chamamos de
ação purificadora. Nessa ocasião, a febre surge infalivelmente, para
dissolver o nódulo e torná-lo líquido e, assim, facilitar a eliminação das
toxinas. Essa purificação natural é a gripe; e as excreções como escarro,
coriza, suor etc. demonstram isso.

Por outro lado, a maioria das pessoas, apesar de aparentar estar


em condições normais, encontra-se sob a ação purificadora de um
constante resfriado extremamente leve. Por ser essa purificação
praticamente imperceptível, as pessoas se sentem saudáveis.
Entretanto, elas não sabem o que é ser verdadeiramente são. Isto
porque, caso se submetam a um exame minucioso, será constatada,
infalivelmente, a existência de uma febre branda em toda a cabeça,
estendendo-se aos ombros. Entre outros sintomas, inevitavelmente, a
pessoa apresenta sensação de peso na cabeça, cefaleia, secreção
ocular, coriza, zumbido no ouvido, periodontite e enrijecimento do
pescoço e dos ombros. Devido a isso, sempre apresenta certa
indisposição, a qual constitui um problema, pois provoca a ira, que
resulta em conflito, o qual culmina em guerra. Assim, não há outro meio
de extinguir a natureza belicosa do ser humano, a não ser o de eliminar
a indisposição. Eis por que, numa mesma situação, se a pessoa está
bem-disposta, ela nem se incomoda ao ouvir coisas desagradáveis; mas,
se ela está indisposta, não consegue conter a ira. Creio que a maioria já
passou por essa experiência.

Vou apresentar, a seguir, alguns exemplos. Frequentemente


vemos bebês que choram demais. Geralmente se diz que eles são
123
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

nervosos ou se dão outras justificativas. Examinando-os com atenção,


sempre se constata uma febre quase imperceptível na cabeça e na
região dos ombros. Embora se trate de bebês, muitos têm os ombros
rijos. Em tais casos, com a ministração de Johrei, as toxinas diminuirão
e, consequentemente, cessará a febre e eles deixarão de chorar com
frequência. Com as crianças desobedientes e com as que se irritam
facilmente, a causa é a mesma. Isso também se resolve por meio do
Johrei. Elas se tornam obedientes e passam a detestar o conflito; seu
nível de aproveitamento escolar também melhorará. As brigas de casal
têm a mesma origem: recebendo Johrei, os cônjuges conseguirão se
harmonizar.

Como vimos, a causa fundamental do conflito é a indisposição


ocasionada pela febre purificadora das toxinas da cabeça, bem como da
região do pescoço e dos ombros. Por conseguinte, o único meio para
acabar com o conflito é curar por completo essa indisposição. Então,
não será exagero afirmar que, no mundo inteiro, o Johrei da nossa
religião é o único, inigualável e radical método de eliminação do conflito.
Isso não se limita à guerra, pois todos os problemas que hoje constituem
motivo de sofrimento, como ideologias destrutivas, conflitos entre as
classes sociais etc., também se originam da insatisfação e das queixas
provenientes da indisposição das pessoas. Muitos, para fugirem dela,
inconscientemente procuram estímulos fortes, e isso resulta em
consumo excessivo de bebida alcoólica, em luxúria, em preguiça, em
brigas e outros, que fatalmente acabam ocasionando crimes.

Tirando proveito dessa realidade, os ambiciosos materialistas de


cada época estimulam a insatisfação, incitam revoluções sociais nocivas
e provocam guerras. Consequentemente, para se estabelecer a paz
eterna sobre a Terra, antes de mais nada, deve-se erradicar a
indisposição e aumentar o vigor e a disposição de cada indivíduo. Não
há dúvida de que, assim, o ser humano abominará o conflito e amará a
paz.

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

Saibam todos que nossa religião é que tem força para esclarecer
o princípio aqui exposto e demonstrar resultados concretos.

13 de agosto de 1949

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Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

A TEMPESTADE É UMA CALAMIDADE CAUSADA PELO SER


HUMANO

É do conhecimento de todos que, desde tempos remotos, os


tufões, as tempestades, as inundações etc. são tidos como calamidades
naturais e as pessoas têm-se conformado com esses fenômenos
considerando-os inevitáveis. No meu ponto de vista, entretanto, tais
catástrofes não são calamidades naturais, mas sim causadas pelo ser
humano. Vou explicar por quê.

Atualmente, a ciência busca avançar no campo das pesquisas


meteorológicas, objetivando a diminuição dos prejuízos causados por
essas catástrofes. No Japão também se investem, todos os anos,
elevadas quantias em instalações mais adequadas. Apesar de terem
obtido alguns resultados, parece que, dificilmente, se atingirá o objetivo
esperado. Haja vista que, a cada ano, as perdas originadas pelas
calamidades atingem cifras altíssimas. No recente tufão, estima-se uma
perda de cerca de 320 mil toneladas na safra de arroz, além de 4.229
casas que foram destruídas pelas águas. Entre mortos e desaparecidos,
somam-se 144 pessoas e dezenas de milhares ficaram feridas. Além
disso, de acordo com as declarações dos órgãos competentes, os
prejuízos com as plantações, com as destruições das rodovias e diques,
com as casas e instalações etc. foram de aproximadamente 87 bilhões
de ienes: um prejuízo realmente enorme. Somando-se os danos
materiais e imateriais causados por grandes e pequenos tufões, que
ocorrem várias vezes ao ano, creio que as perdas são incalculáveis.

Em face de tal situação, mesmo que não haja possibilidade de


erradicar essas calamidades, é necessário fazer o mais completo
esforço para minimizar os danos. O governo e as entidades civis vêm
aplicando todas as medidas possíveis, mas até por falta de verbas, os
resultados não chegam nem a um décimo do esperado. Se essas
deficiências persistirem, é claro que não haverá solução para o
problema. Se ficar na dependência apenas da pesquisa meteorológica,
como ocorre hoje, não se conseguirá suprir as necessidades urgentes. É

126
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

como ficar aguardando "cem anos para que as águas do Rio Amarelo
fiquem claras" 71 , Isto porque, as pesquisas científicas se baseiam na
parte material, ou seja, analisam apenas a superfície das coisas e são
incapazes de identificar o seu interior. Para solucionar o problema, não
há outro recurso absoluto senão apreender a causa fundamental mais
profunda. Surge, então, a pergunta: o que devemos fazer para
conhecermos essa causa?

É exatamente isso que vou expor a seguir.

A tempestade é uma ação de limpeza do Mundo Espiritual, isto é,


do espaço em torno da Terra visto que, constantemente, as impurezas
se acumulam no Mundo Espiritual. Em termos materiais, é tal qual o
acúmulo de lixo numa cidade ou numa casa. Só que, pelo fato de o
Mundo Espiritual ser invisível, o ser humano apenas não via o acúmulo
de impurezas e, por isso, não conseguia percebê-lo. Evidentemente,
isso é o ônus pelo fato de a ciência ter menosprezado até hoje as
pesquisas espirituais e se voltado somente para a parte material.
Sempre afirmamos que essa é a maior falha cometida pela humanidade.
Se ela não desenvolver as pesquisas, reconhecendo a existência do
Mundo Espiritual, não terá como conhecer a causa fundamental das
tempestades.

Apesar de a missão original da religião consistir em fazer com


que se reconheça a existência do Mundo Espiritual - não reconhecida
até hoje - as religiões tradicionais são indiferentes ao assunto, ou melhor,
elas se mostram completamente desinteressadas, o que me causa
estranheza.

Como expliquei há pouco, uma vez que se acumulam impurezas


no Mundo Espiritual, é óbvio que surja naturalmente uma ação de
limpeza. O vento dispersa as impurezas e a água as lava: isto é a
tempestade. Na verdade, ela não é nem um pouco diferente da limpeza
que se faz aqui no Mundo Material Portanto, a chave para a solução
71
Nota: Provérbio japonês utilizado frequentemente para se referir a algo aparentemente impossível
de se concretizar.
127
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

definitiva do problema consiste em identificar a causa fundamental


dessas impurezas. Então, o que são essas impurezas?

As impurezas são as nuvens espirituais criadas pelo sonen, pelas


palavras e pelas atitudes do ser humano, isto é, maus pensamentos,
más palavras e más ações influenciam o invisível Mundo Espiritual e,
corno resultado, surgem nuvens. Por essa razão, em face da frequente
ocorrência de fortes vendavais, podemos compreender como o
pensamento humano se deteriorou e o quanto são numerosas as más
palavras e as más ações.

Digo, entretanto, que há uma maneira extremamente fácil de


eliminar essas nuvens espirituais: basta que se inverta a situação, ou
seja, que os pensamentos, as palavras e as ações do ser humano se
tornem bons, isto é, que o Mundo Espiritual nublado pelo mal seja
clareado pelo bem. Nesse caso, o bem transforma-se em luz e dissipa
as nuvens. Os hinos dos corais cristãos, os sutras budistas e as orações
xintoístas, por exemplo, são palavras de louvor e glória a Deus e, por
isso, contribuem de certa forma para a limpeza do Mundo Espiritual. Se
elas não existissem, as tempestades seriam ainda mais violentas que as
atuais.

Diante do exposto, a Verdade é que as tempestades são geradas


pelo ser humano, e ele próprio sofre com isso. Elas seguem o mesmo
princípio da ação purificadora conhecida como doença, que ocorre
quando se acumulam impurezas no corpo humano. Realmente, a
Natureza é perfeita.

Portanto, o método para prevenir as tempestades é compreender


o princípio acima exposto, deixar de praticar o mal e passar a praticar o
bem. É preciso que saibam que, além deste, não há, em absoluto, outro
método que apresente uma solução definitiva.

30 de janeiro de 1950

128
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

CONSIDERAÇÕES ESPIRITUAIS SOBRE OS INCÊNDIOS

Obviamente, todos sabem como ocorrem os incêndios. A maioria


deles, como temos visto frequentemente nos jornais, é causada por
fósforo, cigarro, braseiro, aquecedor elétrico etc. e geralmente tem corno
motivo o descuido do ser humano. Evidentemente, isso não está errado.
Todavia, creio que, na posição de religioso, não seria demais esclarecer
a causa dos incêndios do ponto de vista espiritual.

A doença, como sempre explicamos, é a ação purificadora do


corpo humano. Quando as toxinas que nele se acumulam atingem certo
limite, passam a causar distúrbios à saúde e, por isso, surge uma ação
para eliminá-las. Esta é uma ação de limpeza sem a qual não é possível
manter a saúde. Trata-se, pois, de uma lei universal e uma grande
dádiva de Deus. Como a ciência ainda não conseguiu identificar essa lei,
interpreta tudo de forma completamente errada. Portanto, por mais que
ela alcance o progresso, é fato que permanece preocupada, sem saber
o que fazer, frente ao número de doentes que continua aumentando.

Talvez achem estranho eu falar de doença para explicar as


causas do incêndio, mas, na verdade, a causa de ambos é a mesma,
visto que o incêndio também é uma ação purificadora.

A causa das tempestades também é o acúmulo de impurezas no


Mundo Espiritual, ou seja, nuvens espirituais. E estas são originadas
pelo mau sonen, más palavras e más atitudes do ser humano, e as
tempestades sobrevêm como ação de purificação e de limpeza dessas
nuvens. Ou seja, elas são dispersadas pelo vento, lavadas e carregadas
pela água e secadas pelos raios solares. Assim se processa a
purificação.

Conforme pudemos ver, a doença é a ação de purificação e de


limpeza do corpo humano, da mesma forma que a tempestade é do
ambiente terrestre. O mesmo se dá com as edificações. Quando as
impurezas nelas acumuladas atingem certo grau, ocorre o incêndio, que
129
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

é uma ação purificadora. Essas impurezas se devem ao fato de ter sido


empregado dinheiro "sujo" nessas construções e ao acúmulo de más
ações por aqueles que as utilizam.

Em relação a isso, tempos atrás, ouvi um caso interessante,


relatado por uma pessoa que tinha o dom da clarividência.

Alguns anos antes do Grande Terremoto que atingiu a Região


Leste do Japão, andando pelas ruas de Tóquio, ela teve uma visão
espiritual e, em lugar de casas e prédios magníficos, ela viu barracos
enfileirados e achou estranho. Somente quando ocorreu o terremoto
entendeu o significado da visão que tivera. Sempre afirmamos que tudo
ocorre primeiramente no Mundo Espiritual, o que é verdade. Em outras
palavras, pela Lei Espírito Precede a Matéria, a purificação tem lugar
antes no Mundo Espiritual e, depois, se projeta no Mundo Material.

Por ocasião do recente incêndio da cidade de Atami, o edifício


onde funcionava a nossa sede provisória, apesar de ter sido cercado
pelas chamas, não foi tomado pelo fogo. É natural isso acontecer, pois
nele não havia impurezas como as que citamos anteriormente.
Conforme vemos por meio desse fato, se materialmente as edificações
forem construídas com materiais não inflamáveis, e espiritualmente o
acúmulo de impurezas for evitado, aí sim, nascerá uma cidade
permanentemente segura.

A esse respeito, alguém pode retrucar: "No caso das cidades


ocidentais, que são construídas com materiais não inflamáveis, mesmo
que tenham impurezas, elas não têm por quê se incendiar." Contudo,
não é bem assim. O fato de cidades inteiras terem sido destruídas por
bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial mostra o princípio
acima exposto. É importante estar ciente que, realmente, a lei do
universo é absolutamente inviolável.

20 de maio de 1950

130
Coletânea Alicerce do Paraíso – Volume 2

INCÊNDIO E JOHREI

São frequentes as experiências de fé de pessoas salvas de


incêndio que, ao ministrarem Johrei, a direção do vento mudou
repentinamente no momento em que as chamas já estavam prestes a
atingir sua casa.

Isso se dá porque o incêndio é a ação purificadora por meio do


fogo. Se há impurezas acumuladas na matéria, o espírito também está
nublado. Em consequência disso, o fogo alastra-se com facilidade. Ao
se ministrar Johrei, porém, essas nuvens espirituais desaparecem,
deixando de existir aquilo que deveria ser queimado. Por esse motivo, é
natural que o fogo mude de direção. Para acabar com os incêndios, pois,
é preciso evitar o acúmulo de nuvens no espírito da matéria. Não há
outro processo para exterminá-los radicalmente. Assim, o primeiro
passo é entronizar a Imagem da Luz Divina no lar e purificar o Mundo
Espiritual da família.

Nos últimos tempos, têm ocorrido incêndios em várias regiões. Já


que são muitas as casas destruídas pelo fogo, embora se esteja
construindo em grande escala, o atual problema da falta de moradia,
obviamente, continua sem solução. E o incêndio não causa apenas
danos materiais, mas também grandes danos psicológicos. Além disso,
sabemos que é enorme o trabalho exigido até a recuperação, e não são
pequenos os prejuízos acarretados pela interrupção dos negócios.
Diante de tal situação, as autoridades competentes até estão dando o
máximo de si, mas não alcançam os resultados esperados, porque não
conhecem as causas espirituais acima expostas.

Para acabar definitivamente com os incêndios no Japão, bastaria


que a maioria de seus habitantes se tornassem fiéis da nossa religião.
Já que isso não deve verificar-se, no momento, só resta utilizar métodos
materiais de prevenção de incêndio e esperar, pois acredito que, algum
dia, Deus tomará alguma providência.

20 de fevereiro de 1952
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