O Ensino Público No Brasil No Final Do Século Xix César Augusto Castro
O Ensino Público No Brasil No Final Do Século Xix César Augusto Castro
O Ensino Público No Brasil No Final Do Século Xix César Augusto Castro
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Professor do Programa de Pós_graduação em Educação e do Departamento de Biblioteconomia da UFMA.
Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo. E--mail: [email protected]
Professora do Departamento de Filosofia e Educação da Universidade Estadual do Maranhão. Mestre em
Ciências da Educação- IPLAC/CUBA. E-mail: [email protected]
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Uma das formas de modificar o quadro “caótico” do ensino brasileiro seria torná-lo
obrigatório Para tanto, Oliveira compara o papel do Estado com a responsabilidade dos pais
com os cuidados dos filhos, na medida em que a ambos caberia o papel de formar homens
probos, virtuosos e cumpridores de seus direitos e deveres, pois “Na ignorância e na falta
de educação é que reside a fonte da miséria e da desordem, dos crimes e dos vícios de toda
sorte, como é nestes malles que estam os principaes causas dos perigos e despesas sociaes”(
OLIVEIRA, 1874,p.75).
Uma das alternativas para minimizar este quadro seriam as Escolas Noturnas para
atender àqueles que não tinham condições de freqüentá-la no turno diurno, alteração do
horário das aulas com o objetivo de atender às necessidades dos meninos que precisavam
trabalhar e o povoamento do meio rural com escolas ambulantes. “Com as escholas
ambulantes mandará o Estado que os professores percorram annualmente taes e taes pontos
de cada comarca, demorando-se certo tempo em cada um delles”(OLIVEIRA, 1874, P.81),
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com a finalidade de ensinarem as primeiras letras aos (as) meninos(as). Entende este autor
que o custo com este tipo de ensino seria oneroso para o Estado, mas julgava que não existe
sacrifícios financeiros quando os benefícios são com a educação.
A fim de controlar este nível de ensino e os demais, o autor d`O Ensino Público
sugere a criação em todas as províncias e municípios de uma milícia militar que garantia
que todos os pais, situados nos mais distantes pontos, quando da oferta do ensino
ambulante, entregassem seus(as) filhos(as) aos cuidados dos(as) professores(as).
A educação obrigatória deveria preencher quatro requisitos essenciais:
ü Primeiro – estabelecer a idade escolar e determinar o perímetro das escolas.
ü Segundo – possibilitar ao executor (supervisor militar) todos os meios de
verificar se há na localidade crianças que deixaram de aprender.
ü Terceiro – solicitar ao Estado ajuda aos pais que, por sua pobreza, não puderem
mandar os filhos à escola, sendo a estes fornecidos roupas e todo o material
prévio para o ensino.
ü Quarto – estatuir e aplicar penalidades aos pais que deixaram de dar instrução
aos seus filhos.
Desse modo, esta modalidade de ensino deveria ser gratuita. Todavia, Oliveira
defende com veemência o ensino privado oferecido por instituições que possuem condições
de ofertá-la em qualidade, sob supervisão rigorosa do Estado, sendo que a mesma deveria
reservar um percentual do total de alunos inscritos para as camadas populares. Essa seria
uma forma de eliminar o “[...] contraste entre quase a ausência de educação popular e o
desenvolvimento da formação de elites, tinha de forçosamente estabelecer, como
estabeleceu, uma enorme desigualdade entre a cultura da classe dirigida, de nível
extremamente baixo, e a da classe dirigente, elevado sobre a grande massa de analfabetos”
(AZEVEDO, 1996, p.560).
Ao mesmo tempo em que a educação deveria ser gratuita para as camadas
populares deveria também predominar a liberdade de ensino, tanto nas escolas públicas
quanto nas escolas privadas. Por liberdade de ensino “ [...] não se comprehende só a
liberdade de abrir escholas, mas também a liberdade scientifica, ou o direito de exprimir o
professor livremente as suas idéias[...](OLIVEIRA,1874,p.101). Idéia que se
consubstanciou em 1879 com a reforma Leôncio de Carvalho, para quem muito deveria ser
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natural nos seus diversos ramos, música vocal, lição das coisas*, e línguas latina, francesa e
alemã. No último nível, aprenderiam os conteúdos do secundário, de modo de mais
científico e completo.
Nas escolas profissionais, as disciplinas seriam divididas entre aquelas de caráter
geral e as conhecimento específico, centradas no tipo de formação e deveriam abordar a
teoria e a prática, sendo esta desenvolvida em laboratório e atividade de campo.
Esse ensino deveria ser ministrado por meio de explicações simples e freqüentes,
voltados para o cotidiano presente na vida do aluno e do meio onde se insere, através de
anedotas, contos e exemplos. Para tanto, os professores seriam ajudados por seus adjuntos e
monitores. Esse tipo de ensino contribuiria para desaparecer “... essa espécie de fanatismo,
que até hoje tem havido pelos estudos literários, médicos e de direito” (OLIVEIRA, 1874,p.
205).
O ensino deveria ser de responsabilidade do Estado, das províncias e dos
Municípios,. sendo que a educação inferior deveria ser atribuição dos municípios, o ensino
superior, das províncias mediante as suas necessidades. Ao Estado caberia o controle de
todos os níveis, sendo que a administração escolar deveria ficar a cargo dos Conselhos
Escolares, compostos pelos professores e representantes dos pais. Os Conselhos das
Universidades seriam compostos pelos diretores das faculdades e pelos professores
catedráticos. Estes Conselhos seriam aglutinados e orientados por um Conselho Central,
que deveria manter um periódico com a finalidade de publicar todas as idéias que possam
interessar à instrução pública, isto é: “Estatística Escolar, livros clássicos, relatórios da
instrucção, estado das escolas, conferencias pedagógicas, methodos de ensino”
(OLIVEIRA, 1874, p. 218).
Essas responsabilidades deveriam priorizar o ensino noturno para atender à parcela
da população adulta que não cumpriu sua escolaridade ou nunca freqüentou uma escola.
Em 1874, havia em todo país 136 escolas noturnas, sendo 83 públicas e 53
particulares, todas para atender ao sexo masculino. “Parece que já isto não é tão pouco para
uma instituição que apenas remota a 1868. Em 1868 (1º de julho) foi que se abriu a
*
Conteúdos trabalhados com exemplo prático e selecionados ao dia a dia do discente; a exemplo do
funcionamento de um relógio, as partes das plantas, como fazer sapatos, os materiais, tempo gasto e o valor,
etc.
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primeira eschola nocturna que teve o Brasil, depois do Lyceu de Artes e Officcios da Côrte
– a do professor Cruz de São Bento, nesta província” (OLIVEIRA,1874,p226).
Se havia preocupação com a escola noturna, havia igual interesse com escolas para
atender crianças desvalidas, tanto do sexo masculino como do feminino. No Maranhão,
com esta finalidade existia desde 1841 a casa dos educandos artífices ( FERNANDES,
1929,p.279).
É evidente que em todos os níveis de ensino, independente da clientela a atender, o
professor ocuparia papel fundamental, na medida em que ele era o agente ativo do
processo, cuja característica é apresentada na forma de poema pelo Autor do texto
analisado.
século XVIII. Centravam-se em quatro distintas teorias educacionais: Escola Pia, Escola
Humanista, Escola Filantrópica e Escola Eclética. A primeira, fundada por Francke, na
Alemanha, defendia a idéia de que a educação deveria centrar no vivo conhecimento de
Deus. A segunda sustentava que os estudos das humanidades deveriam ser o centro de todo
processo da educação. A terceira centrava-se em Comenius, Rousseau e Locke. Defendia a
idéia de que a educação deveria dirigir-se de conformidade com as leis da natureza e
centrava-se nas diversidades do caráter, força e vocação dos meninos; nada ensinar-lhes
que eles não pudessem compreender e, sobretudo, deveria tornar o ensino o mais agradável
e simples possível. A escola eclética era um conjunto dos pontos positivos dos demais,
sendo Pestalozzi o principal representante.
O Método Pestalozzi serviu de orientação para a produção de várias textos básicos
de orientação à educação infantil, a exemplo de Livros de Leitura de Abílio Cezar Borges,
Augusto Freire de Silva e Antônio Pinheiro de Aguiar; Novo Methodo de Ensinar a Ler e
Escrever de autoria de Freire da Silva e Bacadafá, de Pinheiro de Aguiar.
Oliveira defende a idéia de que a aplicação adequada de qualquer método de ensino
dependeria dos modos de ensino, dos materiais de ensino e das condições estruturais das
escolas, sendo este o requisito mais importante. As escolas deveriam ser localizadas,
preferencialmente, no centro das cidades, com a frente voltada para o nascente ou para o
norte, porque desses pontos tornam-se mais arejadas, com pátios arborizados, amplas salas
de aula e de estudo, bibliotecas e mobílias adequadas tanto para professores como para os
alunos. “Para o professor, uma mesa, um estrado, uma cadeira, uma campainha e um
tinteiro [...] Para a biblioteca, vários livros de cada uma das matérias do ensino, alguns
cursos de pedagogia, o Código criminal, a Constituição do paiz, as Leis e Regulamentos da
instrução pública, alguns exemplares dos livros mais apropriados à leitura, um atlas geral,
outro especial do Brazil [...] Para os alunos uma escrivaninha, uma ardósia, um tinteiro,
uma cadeira, e um quadro de translados” (OLIVEIRA, 1874, p..352-353).
Essa estrutura, juntamente com outras condições necessárias ao processo de ensino-
aprendizagem, demandariam recursos provenientes do Município Neutro e das Províncias.
Entretanto cada escola deveria responsabilizar-se com toda ou parte de suas despesas
móveis e imóveis, através de arrecadação de multas, expedição de certificados, diplomas,
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atestados, inscrições, cursos de férias, doações, locação de seu espaço físico para festas
comemorativas da comunidade onde se insere etc.
Ao concluir sua obra, Oliveira chama atenção para o fato de que a mesma seja um
meio importante de esclarecimento e conscientização para quem deseja a reforma da
instrução pública no Brasil. Nesta perspectiva, convida o leitor para um triplo trabalho
REFERÊNCIAS