Manuel Loff - O Fascismo Não Morreu - AbrilAbril
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Notificações AbrilAbril
NACIONAL | FASCISMO
5 DE OUTUBRO DE 2019
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02/06/2020 Manuel Loff: «O fascismo não morreu» | AbrilAbril
A extrema-direita que hoje nos aparece, não vou dizer que não seja uma novidade,
porque corresponde a uma conjuntura histórica diferente da do passado. Mas é
herdeira do fascismo dessa época e esteve sempre presente no espectro político
europeu e à escala mundial desde 1945.
Ora, depois dos anos 80 dá-se uma mudança profunda no sistema económico
internacional com a viragem económica a que se tem chamado globalização e que é
uma ulterior expansão do sistema capitalista a regiões do globo de onde tinha
desaparecido, aliada a uma nova ordem internacional com a construção de um
mundo unipolar resultante da implosão do sistema soviético.
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Ao contrário do fascismo dos anos 20, hoje têm o cuidado de nunca pôr
NÃO OBRIGADO CONTINUAR
formalmente em causa a natureza liberal-democrática dos regimes, embora
assumindo um discurso ultra-securitário do ponto de vista de criação de inimigos
externos, que têm manifestação interna a partir da imigração.
Bem, Portugal é só uma relativa excepção. Porque, como acontece geralmente com
este tipo de correntes de opinião, a extrema-direita pragmaticamente insere-se
mais ou menos dissimuladamente nos partidos da direita clássica. Como sempre
acontece com as ideias políticas, um dos aspectos centrais é saber o que é mais útil:
se a autonomia orgânica e criação de partidos próprios ou se, pelo contrário, entrar
em partidos já organizados e mais próximos do poder.
Não entendo que a extrema-direita até agora tenha praticado uma espécie de
entrismo, ou seja, não eram submarinos dissimulados dentro da direita. A direita
clássica portuguesa sempre incorporou homens e mulheres que assumiam, em
determinado tipo de debates, valores abertamente próximos da extrema-direita,
designadamente no que diz respeito à memória da ditadura salazarista. Mas
optaram por estar politicamente organizados dentro desses partidos.
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Para além disso, tenho insistido que há uma cultura política de massas em
Portugal, disseminada à escala da sociedade portuguesa, que incorporou a rejeição
da ditadura salazarista.
Sim, alguns dizem que havia mais segurança, mais respeito, menos corrupção, mas
são narrativas normalmente moralistas e todas elas de pura reconstrução do
passado. No caso português, essa nostalgia concentra-se sobretudo na figura de
Salazar.
A criação desta expressão, «ideologia de género», que não é nova, é mais uma
reacção que vem ao encontro do discurso legitimador da desigualdade, que tende a
querer recordar os velhíssimos argumentos da naturalização. Que conceitos como a
família, a autoridade, a nação, a religião seriam fenómenos da natureza. Dizer que
«isto sempre foi assim» é uma pura invenção, nada na História «sempre foi assim».
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Sobre a imigração vale a pena dizer que um dos modismos que a extrema-direita
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portuguesa descobriu, e que podia ter saída em Portugal, é a discussão em torno do
outro. No caso português é simultaneamente a imigração e os ciganos. Mas no caso
da imigração existe um problema de fundo: o luso-tropicalismo mitifica a ideia de
que os portugueses seriam uma excepção na história colonial CONTINUAR
NÃO OBRIGADO à escala mundial e
que teriam demonstrado uma capacidade de relacionamento pacífico com os povos
coloniais.
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Ora, a questão é que criar um Centro Interpretativo do Estado Novo não requer o
território, o lugar da memória, o território associado à figura de António de Oliveira
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Salazar. Ele pode ser feito no Porto, em Guimarães ou em Valença do Minho, em
Olhão ou no Crato. Eu reconheço a razoabilidade de passar de Museu Salazar a
Centro Interpretativo porque um Museu Salazar não teria praticamente nada para
mostrar, não há espólio que justifique fazer-se um museu do antigo ditador.
O que está aqui em questão é: porquê então ter escolhido um lugar da memória?
Um território, um conjunto de edifícios, um espaço natural na paisagem, na
geografia, que está directamente associado e que é relembrado e recordado pela
comunidade como sendo o território de Oliveira Salazar.
Há informações sobre um grande número de pessoas que ali vão numa atitude de
nostalgia e homenagem ao ditador. E será muito difícil criar uma interpretação do
que foi o Estado Novo dentro deste território, sendo expectável que a grande
maioria dos seus visitantes serão nostálgicos do salazarismo. Teriam que começar
por interpretar aquelas placas.
regime que ele relação a essa atitude que eu, se entendo o que se
pretende vir dizer, não posso senão manifestar a
dirigiu. Eu não
minha discordância total.
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Uma das estratégias mais presentes, e até certo ponto mais eficazes, para tentar
legitimar ou reforçar politicamente o triunfo do neoliberalismo na fase final do
século XX e reforçar a legitimidade da ordem capitalista, é a tese que foi criada a
partir da chamada teoria do totalitarismo, que procura do ponto de vista académico
usar a seguinte argumentação: começa por definir como extremismo as opiniões
que de facto ou aparentemente contrariam o pensamento dominante. E daí faz o
raciocínio de que «no meio está a virtude» e que os extremos se tocam. Essa tese,
criada nos anos 30 mas reforçada nos anos 50 durante a Guerra Fria, afirma que
esses extremos são o nacional-socialismo, de um lado, e, do outro lado, o
comunismo, ainda não derrotado militarmente nem politicamente nessa altura.
Por exemplo, sempre que haja críticos da UE e da sua política económica, estejam à
esquerda ou à direita, banaliza-se a ideia de que os extremos se tocam. Em primeiro
lugar, há aqui um simplismo de análise e um forçar da realidade. É uma espécie de
tripartição do mundo e a opção correcta está no meio. Em segundo lugar é
descontextualizar o aparecimento destas ideologias, a sua origem e a natureza
social e de classe dos seus projectos.
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Chegando ao poder, pode dessa forma usar os recursos deixados por esses
governos, que não sendo de extrema-direita se comportaram exactamente como
qualquer governo da extrema-direita se comportaria. É fundamental não ter medo
das contradições: para resistir ao avanço do fascismo temos que simultaneamente
denunciar a deriva autoritária das chamadas democracias que escancaram as portas
à extrema-direita e às suas lógicas de acção política alicerçadas na violência.
TÓPICO
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