Sonia Coelho Tempo Logico Lacan Upld 4
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Freud e o tempo
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XII Jornada Freud-Lacaniana, Recife/PE, 2006.
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Psicanalista. E-Mail: [email protected].
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isso fala, instante anterior, estava- o desejo inconsciente - ali devo ser esse eu” -
isto é, a elucidação da relação ao falo.
Ainda com Freud, leio na correspondência com Fliess: “para que uma
faça seus efeitos espere de cinco a 10 anos”.
De que tempo se trata, nesta afirmativa?
Nas “Conferências Introdutórias XXXI” podemos ler:
“No id não existe nada que corresponda a ideia de tempo, e (...) nenhuma
alteração em seus processos mentais é produzida pela passagem do tempo.
Impulsos plenos de desejo que jamais passaram além do id (...) são
virtualmente imortais, depois de se passarem décadas comportam-se como se
tivessem ocorrido a pouco”.
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resposta e, assim, deveria sair pela porta, contanto que pudessem explicar os motivos
lógicos que os levaram ao resultado.
.Eis o teste: havia cinco discos, três brancos e dois pretos e três destes iriam ser
fixados nas costas dos prisioneiros, sem que pudessem saber a cor. Eles não poderiam
se comunicar entre si, apenas podiam se olhar.
Havia três respostas possíveis aos prisioneiros:
Aconteceu que o terceiro raciocínio foi utilizado pelos três, que saíram ao
mesmo tempo e, assim, a liberdade prometida não foi alcançada. Lacan abordou este
tema do seminário 1 ao 163[1]. No seminário 9, “A Identificação”, ocupou com o
assunto as lições 5, 6, 20 e 21.
O que aconteceu? Onde a dificuldade? Que leitura fez Lacan desse sofisma?
O que se destaca nesta adivinhação é que o movimento dos outros dois coloca
em dúvida a própria cor de cada um. Cada sujeito pensa que os outros estão partindo
justamente porque ele seria preto. Mas o fato de todos os três pararem juntos, precipita o
terceiro tempo o “momento de concluir’’. Eles foram tomados pela mesma dúvida, o
que exclui definitivamente a possibilidade de que um dos três porte o disco preto. Esta
segunda hesitação só é possível na presença de três brancos, e os três saem juntos com a
mesma conclusão.
A leitura psicanalítica deste sofisma indica que se trata de um apelo ao sujeito
convocado a dizer quem ele é: preto ou branco. Mas ele não sabe quem é porque essa
cor colocada as suas costas não dependeu de sua escolha. No primeiro momento -
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instante de ver -, ele vê tudo que está fora de si - vê os outros, mas não sabe
quem é. No segundo momento - tempo de compreender - realiza a elaboração -
corresponde ao que Freud chamou de ‘perlaboração’: acredita poder dizer quem
é, mas não tem convicção; hesita e volta a olhar os outros e, sua hesitação, se
articula com a deles - são os momentos de parada que ocorreram duas vezes
durante o teste com os prisioneiros e se denominam “moções suspensas”. No
terceiro tempo criam coragem para se posicionar e passam da hesitação,
apressando-se para concluir, embora sem garantias e de forma provisória. Esses
movimentos, segundo Lacan, resultam do fato do sujeito ser finito, sexuado,
incompleto, isto é, ser um ser de falta e, assim, como não tem todos os sexos,
também no sofisma proposto não carregam todas as cores e devem se
responsabilizar e se arriscar por sua parte, afirmar sua condição de liberdade.
O artigo sobre o tempo lógico, recebeu da filosofia com Heidegger, a
inspiração, no que diz respeito à asserção de uma certeza antecipada, pois, para
aquele filósofo, é a partir da certeza da morte enquanto possibilidade que o
tempo se coloca como questão para o homem. Lacan substitui a finitude absoluta
da morte pela finitude do sujeito, que o convoca a se posicionar, a dizer quem é.
A finitude do sujeito está em sua dependência com o outro, e daí se
apressar para afirmar seu desejo.
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NOTAS:
COELHO, Sonia. Tempos Lógicos: Tempo de uma Análise, Jornada Freud - Lacaniana -
2006
FREUD, Sigmund, Obras Completas:
− Vols. 4 e 5, Os Sonhos (cap. sobre regressão e esquecimento de nomes)
− Vols. 10, Conferencias Introdutórias XXXI
GAZZOLA, Luiz Renato. Estratégias na neurose obsessiva, Edição do Campo
Freudiano no Brasil, Ed. Zahar, Rio de Janeiro/RJ.
GONDAR, Jô. Editora Ágora, RJ, Internet, Rio de Janeiro, acesso em fevereiro, 2007
LACAN, Jacques. A Identificação: Seminário 9: Edição Eletrônica Portfolio Views.
− Lição 5, de 3/12/61
− Lição 6, de 20/12/61
− Lição 20, de 16/05/62
− Lição 21, de 23 /05/62
LACAN, Jacques, Obras Completas, Edição Eletrônica Portfolio Views.
Onde Lacan fala do tempo lógico: Do seminário 1 ao 17
MOURÃO, Arlete. Sobre o Tempo Lógico e o Inconsciente,
www.interseccaopsicanalitica.com.br/bib, acesso em fevereiro, 2007.
ROUDINESCO, Elisabeth. Jacques Lacan - Esboço de uma Vida, História de um
sistema de pensamento. Tradução: Paulo Neves- São Paulo. Companhia das Letras,
1994.