Fernando Lopes Graça

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VIDA E OBRA DE

FERNANDO
História e Cultura das Artes
LOPES

Pedro Meireles
8º Grau
junho 2020

1
APRESENTAÇÃO

O presente trabalho insere-se na disciplina de História e Cultura das Artes, 8º grau.


Com o desafio de fazer um trabalho sobre a vida e obra de um compositor, a escolha recaiu sobre,
Fernando Lopes Graça, considerado uma figura cimeira na música portuguesa do séc. XX. Foi pianista,
compositor, professor, conferencista, regente (grupos corais e instrumentais), investigador, musicólogo,
publicista, escritor, ensaísta, crítico, jornalista, promotor de concertos e divulgador da sua arte, a música.
Neste trabalho faz-se uma apresentação breve do compositor, seguida de uma síntese sua vida e obra,
com ênfase para a sua história como músico, professor e escritor, uma vez que seria muito exaustivo abordar
todo o seu extenso e profícuo trabalho de uma vida, toda ela, ligada de uma forma activa e intensa, ao
mundo musical português.
Ao fundar a sociedade de concertos SONATA (Lisboa, 1942-1960) dedicada à produção e
programação de concertos preenchidos por novas obras, com um caráter não lucrativo e progressista, regista
a importância que Lopes-Graça tem para a história cultural portuguesa. Nesses anos, a SONATA programou
um total de 85 concertos, nos quais apresentou cerca de 450 peças, da autoria de 126 compositores, sendo
mais de um terço delas em estreia portuguesa.
A liberdade e a verdade foram, de facto, emblemas pelos quais Lopes-Graça sempre lutou, e pelos
quais sofreu várias adversidades ao longo da sua vida, desde lhe terem sido recusados empregos, bolsa de
estudos, até a várias ordens de prisão.
As suas obras foram premiadas e estimadas em Portugal e no estrangeiro. Fernando Lopes-Graça foi
o primeiro galardoado do Concurso do Prémio de Composição do Círculo de Cultura Musical, em 1940,
com o seu Concerto n.º 1 para piano e orquestra. Recebeu a referida distinção mais três vezes, em 1942
com a História trágico-marítima, em 1944 com a Sinfonia per orchestra e em 1952 com a Sonata para
piano n.º 3. No estrangeiro, o seu Quarteto de arcos n.º 1 ganhou o Prémio de Composição Príncipe Rainier
III de Mónaco em 1965 e o seu Concerto da camera col violoncello obbligato foi encomendado e tocado em
estreia mundial por Mstislav Rostropovich em Moscovo, em 1967.
O Presidente da República General Ramalho Eanes condecorou-o, no início dos anos oitenta, com o
grau de Grande Oficial da Ordem Militar de Santiago da Espada. Em 1986, foi-lhe reconhecido um
Doutoramento Honoris Causa pela Universidade de Aveiro, e pouco tempo depois foi condecorado pelo
Presidente da República Mário Soares com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Foi também
condecorado com a Ordem de Mérito Cultural no Dia Mundial da Música em 1988.
Fernando Lopes-Graça, como a maioria dos compositores, experimentou formas e estilos diferentes
ao longo da sua vida. Os tipos de composições são substanciais, da pequena peça de fantasia livre à estrutura
sólida da forma sonata, de peças para um só instrumento a obras para coro e orquestra. A ópera foi o único
género que apenas rascunhou, o que não será estranho se atentarmos no que afirmou aos vinte e três anos de

2
idade A forma musical ópera não me apaixona, reconhecendo, no entanto, a boa música que há em muitas
delas.1
Escreveu, essencialmente, e dentro dos moldes ou formas tradicionais, peças em forma livre ou “de
carácter” (Epitáfios, Bagatelas, etc.), fugas, corais, sonatinas e sonatas. Praticamente toda a sua obra possui,
de um ou outro modo, uma junção à cultura portuguesa, explicitado em títulos como, por exemplo, Natais
portugueses.
As características principais do estilo de Lopes-Graça são o ritmo impulsivo e aceso e o uso de
harmonias construídas à base de intervalos agregados (segundas, quartas aumentadas, etc.). A sua música
raramente paralisa; os temas desenvolvem-se, em geral, até atingirem um clímax tempestuoso que
rapidamente se desaba. O carácter geral de uma obra tanto pode ser energético como sereno ou fluido. Ideias
novas são expostas num ritmo exaltado ou, no extremo oposto, apresenta-se a repetição de um tema de uma
forma prolongada, mas com sucessivas e ligeiras transformações extremamente imaginativas e originais. A
estas características acrescem uma prodigiosa variedade rítmica, com uso de polírritmia, o que leva a
frequentes mudanças de compasso e finalmente ao abandono das linhas de compasso. No campo harmónico,
Lopes-Graça prefere uma construção axial articulada com uma estrutura diatónica ou modal.
O seu estilo foi, como o próprio referiu, influenciado por vários compositores: As minhas afeições
são Beethoven, Ravel, Bach, Schubert, Debussy, Stravinsky e Bartok. Em maior ou menor grau são estes os
meus pais. A minha música reflecte a sua tutelar luz.
O trabalho de Lopes-Graça também foi, grandemente inspirado, pelo seu vasto conhecimento da
música tradicional ou folclórica portuguesa, uma fonte constante de inspiração. Exemplos disto são as
dezenas de canções regionais portuguesas produzidas no capítulo da música coral. Elegendo o piano,
que estudou desde os 11 anos, como instrumento de excelência, legou-lhe, uma grande parte da sua
produção musical, onde se destacam 6 sonatas. Escreveu numerosos ciclos para voz e piano baseados em
poesia, principalmente de autores, portugueses: Camões, Pessoa, Andrade, Torga e Pessanha, entre
outros.
Morreu em 27 novembro 1994, com 87 anos, na sua casa na Parede, Cascais, onde sempre viveu
sozinho.
A vivacidade, a mestria e a inovação das suas criações são, apenas, algumas das razões para se
apreciar o seu inteligente trabalho.

1
Entrevista concedida a Américo Durão, e publicada em 1930. “O grupo dos quatro”. Ilustração, Ano V, n.º 108, 16/06/1930, pp.
35-36. Lisboa. 3
VIDA E OBRA

Fernando Lopes-Graça nasceu a 17 de dezembro de 1906, em Tomar. Filho de Silvério e Emília


Lopes da Graça, pessoas da baixa classe burguesa, que conseguiram uma valorização social com o seu
trabalho pessoal e se tornaram donos de um hotel, à altura muito popular em Tomar.
Foi neste hotel, então com 11 anos, que Lopes Graça começou a dedilhar num piano, procurando
reproduzir as melodias que ouvia, tudo de ouvido.
A sua família não possuía antecedentes musicais de relevo e, como ele próprio referia: A música foi
para mim um puro acaso, um acidente, uma brincadeira aí dos meus onze anos.2
Iniciou os seus estudos musicais, com aulas particulares de piano sob a orientação da Senhora D.
Maria da Imaculada e mais tarde com a Senhora D. Rita Ramos Lopes.
Em 1924, com dezassete anos de idade, inscreveu-se no Conservatório Nacional de Música, em
Lisboa, no 1º ano do grau superior de Piano, tendo como professor Adriano Mereia, ao mesmo tempo que se
matriculou no 2º ano de Ciências Musicais, disciplina esta que envolvia Acústica, História da Música e
Estética Musical, com o professor Luís de Freitas Branco, e no 1º ano do grau elementar de Composição
com o professor Tomás de Borba. Seguiu-se a matrícula no 2º ano do grau superior de Piano, no 3º ano de
Ciências Musicais e no 2º ano do grau elementar de Composição, com os mesmos professores.
Paralelamente, prosseguia os seus estudos liceais no Liceu de Passos Manuel, onde se registou, em 1924, no
Curso Complementar de Letras. Fez a sua primeira inscrição no curso de Ciências Históricas e Filosóficas
da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (e mais tarde na Universidade de Coimbra), curso que
nunca chegou a concluir.
Prosseguindo os seus estudos musicais no conservatório, em julho de 1927, terminou o 5º e ultimo
ano da disciplina de ciências musicais com 18 valores e o terceiro e último ano da classe Superior de Piano a
8 de julho de 1927, com a classificação de dezanove valores. Terminou o Curso Superior de Composição em
6 de julho de 1931 com a classificação máxima de vinte valores. O seu principal interesse musical, desde os
estudos no Conservatório, era, no entanto, notoriamente inclinado para a composição.
As primeiras obras do seu catálogo foram apresentadas em Lisboa em concertos organizados em
colaboração com os seus colegas do Conservatório, na mesma época em que iniciava um notável trabalho
como cronista musical, manifestando um raro talento literário e uma ampla cultura.
Data de 1929 a primeira apresentação pública de Fernando Lopes-Graça
como criador musical; interpretou ele próprio as Variações sobre um tema popular
português (a sua, oficialmente, primeira composição, de 1927) ao piano, bem como
dirigiu o seu Poemeto para orquestra de cordas, interpretado por alunos do Programa de Concerto.
12º Concerto da Associação
conservatório em concertos realizados no Salão Nobre do Conservatório Nacional de Académica do Conservatório
Nacional. Lisboa 20/06/1929.
Música.
2
Disto e daquilo. Col. Obras literárias de Fernando Lopes-Graça, n. 13. Lisboa: Edições Cosmos, 1973
4
Durante os seus tempos no conservatório, fundou o jornal “A Acção: semanário
republicano” onde apareceram as primeiras publicações dos escritos de Lopes-
Graça.
Para além da ocupação que desenvolveu como escritor, para seu sustento, nesta
época interpreta, como pianista acompanhador, na orquestra do Cinema Central em
Lisboa.
Imerso na arte musical, Fernando Lopes-Graça fundou, pouco tempo depois com o seu amigo, Pedro
do Prado, a revista “De música”, publicada através da Associação Académica do Conservatório, com o
primeiro número publicado em junho de 1930.
Nesta altura participava em vários saraus musicais, de troca de ideias e convívios, onde se
destacavam, além de Lopes-Graça, três outros rapazes alunos do conservatório, jovens compositores e
músicos promissores: Pedro do Prado, Jorge Croner de Vasconcelos e Armando José Fernandes. Chamados
de “Grupo dos quatro” em analogia ao “cinco” russos e aos “seis” franceses.
O “grupo dos quatro” teve a sua importância na vida cultural Lisboeta. Pelas qualidades dos seus
componentes como instrumentistas, compositores ou organizadores de sociedades musicais, especialmente a
partir da década de 40, quer pela sua atitude crítica perante a falta de qualidade de certas manifestações
musicais e diante da falta de vida musical na cidade.
Pouco tempo depois de ter feito o último exame como aluno do
Conservatório Nacional, em 1931, concorreu para professor de solfejo
e piano nesta instituição e sofreu o primeiro grande revés da sua vida,
ao ser preso, por razões políticas, e assim impedido de ocupar o cargo
que ganhou por concurso, foi desterrado para Alpiarça.
Em 1932 começou a ensinar na Academia de Música de
Coimbra, cidade onde permaneceu radicado até 1936.
Estes anos coincidiram com o primeiro período no seu percurso
como compositor, que se pode qualificar como modernista, durante o
qual o seu estilo revelou a influência de autores como Arnold
Schonberg e Paul Hindemith.3 Nas suas primeiras obras também é de
destacar o seu gosto por géneros vocais. Estimulado pelo
relacionamento constante com poetas contemporâneos, manifestava nas suas canções poetas como Adolfo
Monteiro, José Régio ou Fernando Pessoa, gosto este que permaneceu ao longo de toda a sua vida.
Em Setembro de 1935 é de novo preso e mandado para o forte de Caxias. Quando foi libertado, em
Maio de 1937, está convicto na decisão de sair do pais. Parte, então, para Paris em 1937. A 27 de outubro
inscreveu-se na Faculdade de Letras da Universidade de Paris. Na Sorbonne assistiu às aulas de Musicologia

3
Hindemith era considerado nessa altura o mais importante representante da nova escola alemã de composição. Quanto a
5 música pela "invenção do dodecatonismo"
Schoenberg, nos anos trinta, era aceite como o profeta da nova
de Paul-Marie Masson e trabalhou particularmente Composição e Orquestração com Charles Koechlin.
Aproveitou, assim, para ampliar os seus conhecimentos musicais.
Em 1937 inicia, também, uma extensa colaboração na Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira
como redactor musical.
Em Paris compôs várias obras para piano, a música para o bailado realista La Fièvre du Temps,
estreada a 28 de maio de 1938 no Théâtre Pigalle, em Paris, pela Companhia dos Bailados Internacionais e
realiza as suas primeiras harmonizações para voz e piano de canções tradicionais portuguesas.
É nesta período que se dá, no seu estilo, a viragem decisiva no sentido de uma orientação de timbre
nacionalista, com o aproveitamento e a elaboração, na sua linguagem, dos elementos harmónicos, melódicos
e rítmicos do folclore português. As suas obras já apresentam uma linguagem peculiar e reconhecível.
Passam a orientar-se no sentido de conferir à sua música um cunho marcadamente português.
Teria sido por incentivo da cantora Lucie Devinski que Lopes-Graça se inclinou, de um modo
diferente do que no passado, sobre a música tradicional portuguesa, e de que resultaria, ao longo da sua vida,
dezenas de harmonizações de canções populares.
A sua orientação nacionalista reafirma-se e amadurece em obras como a Suite Rústica
(para orquestra, sobre melodias tradicionais portuguesas), os cinco Velhos Romances Portugueses (para
pequena orquestra), as Nove Canções Populares Portuguesas (para voz e orquestra), os Natais Portugueses
e Melodias Rústicas Portuguesas (para piano), além de numerosos ciclos de harmonizações de canções
populares, para voz e piano, e para coro a capella.
Dois exemplos são a  Sonata para piano nº 2 e a primeira versão do Quarteto com piano, onde a
referência estilizada às canções populares surge junto com o uso de uma colorística harmonia e de ritmos
percutidos alternados com polirritmias lineares. Esta nova tendência no seu estilo de compor manifesta a
influência de Bela Bartók e de Manuel de Falla e a dos escritos de Koechlin publicados nestes anos.
Ao despontar a 2ª Guerra Mundial, em 1939, Fernando Lopes-Graça alistou-se no corpo de
voluntários dos Amis de la République Française mas, tendo recusado uma proposta de naturalização
francesa, em outubro, foi forçado a regressar a Portugal.
Já fixado em Lisboa, lançou-se numa série de atividades. Retomou a sua atividade como cronista
musical, musicólogo e professor e iniciou-se como organizador de concertos e maestro coral. Ensinou piano,
harmonia e contraponto na Academia de Amadores de Música e constituiu a sociedade SONATA que, entre
1942 e 1960, promoveu a apresentação de programas inteiramente preenchidos por música do século XX.
Lopes-Graça também retomou as suas colaborações nas publicações periódicas Seara Nova e O
Diabo, como crítico musical e teatral respetivamente. Participou na organização da Biblioteca Cosmos e
publicou vários livros onde, para além de editar seleções dos seus artigos jornalísticos, se dedicou à difusão,
com intuito pedagógico, de diversos assuntos de caráter musical.
Em 1940 ganhou o primeiro concurso do Prémio de Composição do Círculo de Cultura Musical com
o Concerto para piano e orquestra n.º 1, a sua primeira obra importante após o seu regresso de Paris.
6
Recebeu a mesma distinção mais três vezes: em 1942, com a cantata História Trágico-Marítima sobre
textos de Miguel Torga, em 1944, com a Sinfonia per orchestra, e, em 1952, com a Sonata nº 3 para piano
solo.
Realiza inúmeros concertos, muitos deles são dedicados inteiramente à sua obra, e o seu valor era
reconhecido.
Em fevereiro de 1942 começa a ensinar harmonia, contraponto, e fuga e piano, na Academia de
Amadores de Música, leciona vários graus do curso geral e foi diretor artístico da instituição até ao fim da
sua vida.
Nesta instituição formou dois coros: em 1945, o Coro do Grupo Dramático Lisbonense, mais tarde,
em 1950 o Coro da Academia de Amadores de Música. Para além do trabalho de regência, Lopes-Graça
escreveu para este agrupamento dezenas de harmonizações corais de canções tradicionais portuguesas
(especialmente do folclore nacional), que constituíram o seu repertório.
Por outro lado, participava, também, activamente como pianista, tanto com obras suas como com
obras de outros compositores, como consta dos vários programas da Academia.
É por esta altura, 1945, que adere ao Partido Comunista Português. A repressão por parte do regime
fascista cresce e acentua-se: na década de cinquenta as orquestras nacionais são proibidas de interpretar
obras de Fernando Lopes-Graça; os direitos de autor são-lhe roubados; é-lhe anulado o diploma de professor
do ensino particular; é obrigado a abandonar a Academia de Amadores de Música.
 É também deste ano o início da composição das célebres Canções Heróicas, canções de intervenção
que Lopes-Graça, apesar da proibição que pesava sobre a sua execução pública, continuou a compor até
1974, e inclusive em anos posteriores.
Em 1948 desloca-se à Polónia onde participa no 1º Congresso dos Intelectuais para a Paz, em
Vroclav. Participou também, como secretário da Sociedade Internacional de Música Contemporânea
(SIMC), no congresso da mesma realizado em Amesterdão.
Outro exemplo das suas múltiplas funções, mostra-se quando Fernando Lopes-Graça dirige a
Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional nas comemorações do bicentenário da morte de J. S. Bach, no
Tivoli, em Lisboa, a 6 de maio de 1950.
Por esta época, apoia a criação da revista Gazeta Musical, mais tarde, Gazeta Musical e de Todas
as Artes, editada durante duas décadas.
Em 1954, o Ministério da Educação decide retirar a Lopes-Graça o diploma de professor do ensino
artístico e particular, valendo-lhe para sobreviver a intensificação das outras atividades que exercia, tendo
expressado à época, vontade de emigrar.
O desenvolvimento posterior da obra musical de Lopes-Graça permite definir uma nova fase no seu
estilo, iniciada na segunda metade da década de cinquenta, e marcada por obras como o ciclo vocal As mãos
e os frutos (1959), sobre poemas de Eugénio de Andrade, o Canto de Amor e de Morte, quinteto com piano
composto em 1961, e a Sonata para piano nº 5, escrita em 1977. Estas duas obras contam-se entre a
7
produção mais intensa e exigente em termos formais e expressivos do compositor, evidenciando esta nova
orientação. Embora nunca chegasse a abandonar completamente as referências explícitas à canção
tradicional no seu catálogo, nestes anos, o compositor passou a explorar de maneira intensiva o ritmo e a
harmonia, sendo o trabalho sobre este parâmetro baseado na utilização de um número muito reduzido de
relações intervalares, em estruturas mais elaboradas.
Esta é também a época do Concerto da camera col violoncelo obbligato, encomenda de Mstislav
Rostropovich que o interpretou em primeira audição num concerto em Moscovo, e do Quarteto de cordas nº
1, vencedor do prémio de composição Rainier III de Mónaco em 1965.
Data, também, de 1965 ano a primeira gravação de obras sinfónicas da sua autoria interpretadas pela
Orquestra do Porto sob a regência de Silva Pereira, que tinha dirigido no ano anterior um concerto
inteiramente preenchido com composições para orquestra de Lopes-Graça, promovido pela delegação
portuense da Juventude Musical Portuguesa.
Em 1960, Fernando Lopes-Graça já tinha fixado residência na Parede, Cascais, edita com Michel
Giacometti, o primeiro volume da Antologia da música regional portuguesa.
Em 1973 Fernando Lopes-Graça voltou a pertencer à Direcção Artística da Academia de Amadores
de Música.
Após o 25 de Abril de 1974, preside à Comissão para a Reforma do Ensino Musical.
No mesmo ano, desloca-se duas vezes a Budapeste para conduzir uma gravação discográfica de
obras suas. Voltou a gravar na Hungria em 1979 e 1981. Em 1977 chega a realizar uma série de concertos na
ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Em 1979 termina o Requiem pelas vítimas do fascismo em Portugal. A única composição coral-
sinfónica da sua extensa carreira.

Fernando Lopes-Graça deixou-nos um espólio musical imenso e diversificado; a ópera, pois nela não
incluímos a cantata dramática D. Duardos e Flérida, foi o único género que apenas esboçou. Num longo
percurso em que naturalmente experimentou diferentes linguagens, a sua música pode ser caracterizada
basicamente por uma exímia condução rítmica e harmónica, por uma clara estruturação frásica e seccional,
pelo rebuscado manejo temático e pela rica e criativa paleta tímbrica, resultante da aplicação das mais
variadas técnicas composicionais, de alicerces tradicionais.
O criador afigura-se-nos como perfeccionista. Os seus manuscritos apresentam uma escrita perfeita,
matematicamente lógica. Podem-se observar, nos poucos autógrafos que nos deixou, e em que se incluem
por vezes mais do que duas revisões, um contínuo e evolutivo trabalho de ideias. O compositor raramente
mantinha os esboços das suas ideias musicais.

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Fernando Lopes-Graça não consta na maioria das monografias sobre História da Música em geral,
nem tão pouco é uma figura conhecida do panorama musical mundial, mesmo como inovador. No entanto,
sempre se encontram menções, nomeadamente nas entradas enciclopédicas.

http://resonancias.uc.cl/es/N%C2%BA-40/modernismo-e-internacionalismo-como-programa-o-compositor-
fernando-lopes-graca-e-a-sociedade-de-concertos-sonata-lisboa-1942-1960.html

https://www.publico.pt/2006/12/17/jornal/o-revolucionario-da-musica-portuguesa-112632

https://sites. google.com/site/patrimoniomusical/lopes-graca-fernando#TOC-BIBLIOGRAFIA-BIBLIOGRAPHY

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