Alimentao para Atleta - Texto Atualizado PDF
Alimentao para Atleta - Texto Atualizado PDF
Alimentao para Atleta - Texto Atualizado PDF
Por Jamilie Lima, nutricionista da Diretoria de Esporte e Lazer (DEL/DAC/UnB), e Paula Correia
Santana, nutricionista graduada na Universidade de Brasília
Introdução
Alimentação
Alimentar-se não é apenas comer para deixar de sentir fome ou porque o que se
escolheu é muito saboroso. A alimentação envolve aspectos mais profundos como quantidade,
que deve ser suficiente para suprir as necessidades energéticas; qualidade, os alimentos
consumidos devem suprir as necessidades nutricionais; harmonia, pois se deve ter equilíbrio
entre os nutrientes e a quantidade em que são consumidos; adequação, ou seja, deve ser
adequada às necessidades específicas de cada pessoa.
Por exemplo, quando a dieta está adequada as necessidades do esportista ou do atleta,
ele estará em melhores condições para se adaptar ao estímulo do exercício e apresentar
menores riscos a lesões e enfermidades. Na alimentação de esportistas e atletas, os nutrientes
particularmente importantes para manutenção de sua saúde e de seu rendimento esportivo são:
cobre, cromo, ferro, manganês, magnésio, sódio, zinco, cálcio, vitamina A, E, C e vitaminas do
complexo B, particularmente as vitaminas B6 e B12.
Tudo isso, aliado ao adequado fornecimento de
energia e de proteínas é facilmente disponibilizado ao
organismo quando provém de uma dieta rica em
cereais, leguminosas, frutas, hortaliças, carnes
magras, pescados, produtos lácteos e lipídeos
insaturados.
Atletas que restringem o consumo alimentar,
que consomem alimentos em quantidade abaixo do que necessitam ou que eliminam de suas
refeições algum grupo de alimentos, que restringem a ingestão calórica para perda de peso sem
qualquer orientação, estão em maior risco de inadequação nutricional. Isso porque, consumo
energético baixo pode levar a maiores riscos de doenças ou injúria, dificuldade de aumentar a
densidade óssea, fadiga, processo de recuperação pós-esforço mais prolongado. O praticante
de atividade física deve avaliar sua conduta alimentar para evitar danos a sua saúde.
Outro ponto interessante é o que diz respeito a algumas crenças sobre alimentação para atleta.
Muitos creem que somente com o consumo mais elevado de proteínas eles terão os melhores
resultados em termos de aumento de massa muscular e desempenho esportivo. No entanto,
essa é uma crença errônea, pois o melhor é o ajuste específico da alimentação às necessidades
de cada atleta, levando em conta suas particularidades nutricionais e seus objetivos. Dessa
forma, o atleta desfrutará de boa saúde e os efeitos de treinamento serão maximizados.
Carboidratos
As proteínas têm uma função plástica no nosso organismo – formam estruturas. Elas
têm uma participação mínima para produção de energia quando a dieta está adequada no
fornecimento calórico. Por serem responsáveis pela formação e reparação dos tecidos,
proporcionam adaptações em resposta ao treinamento físico, além de estarem envolvidas na
formação de hormônios e de enzimas que participam de diversas funções, dentre as quais, o
metabolismo.
A recomendação para o consumo de proteínas por atletas treinados deve ser maior (de
1,1 a 2g/kg) quando comparado ao consumo de pessoas levemente ativas ou sedentárias (0,8
g/kg) ou atletas recreacionais que façam treinamento mínimo (1g/kg). Mas a quantidade de
proteínas está relacionada ao tipo de atividade praticada, por exemplo: para atletas de
endurance recomenda-se consumo de 1,2 a 1,4 g/kg diariamente, para atletas de força, 1,6 a 1,7
e para atletas de ultraendurance pode chegar a 2g/kg. O mais importante é saber que essas
quantidades normalmente são supridas por alimentação balanceada, não necessitando, na
maioria das vezes, do uso de suplementos protéicos.
Além do mais, o aproveitamento de proteínas provindas
de alimentos é semelhante ou em alguns casos melhor
que das proteínas provindas de suplementos que
possuem algum tipo de proteína ou aminoácido isolado.
A ingestão de proteínas acima dos valores
recomendados ou acima de suas necessidades
momentâneas é um problema por que não permite que
exista carboidrato suficiente para restaurar o glicogênio
muscular em depleção durante dias de treinamento. Muita proteína na dieta também faz com
que seus aminoácidos sejam utilizados sob a forma de energia ou se convertam em tecido
adiposo; elevem o risco de desidratação em decorrência de maior excreção de amônia e uréia
pelos rins, de aumentar as perdas de cálcio, prejudicando a contração muscular.
Boas fontes de proteínas são os alimentos de origem animal, principalmente porque
apresentam melhor distribuição e melhor perfil de aminoácidos (possuem todos os aminoácidos
essenciais). Mas, muitos vegetais também são boas fontes de proteínas, como soja e seus
derivados, determinadas combinações entre cereais e leguminosas também fornecem melhor
conteúdo de aminoácidos como, por exemplo, a combinação de arroz e feijão na alimentação.
Outro ponto importante em relação às proteínas é o de que elas apresentam melhor resultado
na estimulação da síntese protéica muscular quando consumidas em conjunto com
carboidratos. Estudos avaliando o desempenho físico de atletas realizando exercícios de
endurance e de força mostrou que o consumo conjunto de proteínas com carboidratos quando
comparado ao consumo isolado de carboidratos resultou em menor dano muscular gerado pelo
exercício e melhora no desempenho esportivo. Além disso, nos atletas de força que ingeriram
proteínas junto com carboidratos foi encontrado melhor efeito hormonal para o anabolismo
(maiores quantidades do hormônio insulina) quando comparados com os que consumiram
somente carboidrato.
Lipídeos
Os lipídios são importantes para o nosso organismo porque fazem parte da estrutura
celular, estão envolvidos com algumas funções hormonais, são essenciais para a absorção e
utilização de vitaminas lipossolúveis, estão envolvidos na
proteção térmica e contra choques mecânicos.
Em razão de sua importância, recomenda-se o
consumo entre 15 e 30% de lipídios em relação ao valor
calórico total de uma dieta para pessoas pouco ativas ou
sedentárias e entre 20%- 25% da ingestão energética diária
para atletas.
A gordura pode ser utilizada como fonte de energia
adicional à dieta, devendo, porém, alcançar, no máximo
30% do valor energético total (VET). Estudos mostram que
o elevado consumo de gordura, em torno de 35% do valor
calórico total da dieta, prejudica o armazenamento de glicogênio muscular devido ao
consequente menor consumo de carboidratos Por outro lado, um consumo inferior a 15% do
VET causa inadequada absorção de vitaminas lipossolúveis e de ácidos graxos essenciais. Outras
consequências negativas de alta ingestão de lipídios é a relacionada ao acúmulo de gordura no
sangue e ao aumento do colesterol de baixa densidade (colesterol “ruim” ou LDL), uma das
causas da formação de placas nos vasos sanguíneos e do maior risco de doenças
cardiovasculares como infarto do miocárdio e AVC.
Para que se consiga o melhor aproveitamento deste macronutriente, é importante saber
qual tipo e quanto de cada um a ser consumido na alimentação. A recomendação de consumo
dos diferentes tipos de gordura são: menor de 10% de ácidos graxos saturados, 10% de
monoinsaturados, 6% a 10% de gorduras poli-insaturadas e inferior a 1% de gordura trans. As
gorduras insaturadas estão presentes em alimentos como óleos vegetais, azeites, peixes,
abacate, castanhas, amendoim, nozes.
Vitaminas e minerais
Para competição
Atleta em preparação para competição deve dar atenção a sua dieta e não descuidar de
sua hidratação. Nos dois, três dias anteriores à competição é importante que a dieta seja
modificada para fornecer elevado teor de carboidratos, de maneira que o corpo possa
armazenar ao máximo o glicogênio muscular e hepático. Uma dieta que contenha entre 65-75%
de carboidratos, 10-12% de proteínas e 15-20% de gorduras e que esteja adequada no
fornecimento de energia é suficiente para que o corpo consiga fazer esse armazenamento.
Além de a dieta estar adequada no
fornecimento de energia e de nutrientes, é
importante que o atleta tenha o cuidado de se
alimentar em intervalos regulares e não ficar em
jejum, principalmente horas antes da competição, a
fim de manter o nível de glicose sanguínea. Quando
a glicose sanguínea abaixa, o fígado é induzido a
degradar o glicogênio armazenado, o que faria
diminuir os estoques e “acabar” com o preparo para
a competição. Para isso não ocorrer, é recomendado que o atleta fracione sua alimentação em
cinco a sete refeições por dia.
A importância do maior armazenamento de glicogênio pode ser explicada devido ao fato
de que a intensidade em que realizamos um exercício físico vai depender do substrato
energético utilizado. Isso porque o glicogênio é mais rapidamente convertido em energia que os
ácidos graxos. Um estudo avaliando o efeito de uma dieta rica em carboidrato, uma com valores
convencionais e outra rica em lipídeos mostrou que os atletas que receberam dieta rica em
carboidrato nos três dias anteriores ao exercício conseguiam manter-se em atividade de alta
intensidade por mais tempo que os demais, sendo o menor tempo encontrado para os atletas
que receberam dieta rica em lipídeos.
É interessante também que nesse período pré-competição o atleta consuma alimentos
habituais, que sejam de seu costume, sem experimentar novos alimentos, para que fique mais
tranquilo antes da competição e evitar possíveis intercorrências gastrointestinais. Lembrar que
assim como não se compete sem ter antes treinado por algum tempo, o mesmo ocorre com a
alimentação, que deve ser considerada uma aliada ao treinamento e que os benefícios somente
serão alcançados quando feita de forma correta e contínua.
Para Viagens
Para vegetarianos
Todo praticante de exercício físico deve dar muita atenção ao consumo alimentar seja
ele onívoro ou vegetariano, para que supra adequadamente suas necessidades nutricionais.
Vegetariano é aquele cuja composição dietética alimentar é a base de vegetais, no
conceito geral, porém, os ovolactovegetarianos, baseiam sua alimentação em cereais,
leguminosas, hortaliças, frutas, amêndoas e castanhas, laticínios e ovos. Enquanto o padrão
alimentar do vegetariano restrito (veganos, frutarianos e alguns vegetarianos macrobióticos),
por exemplo, exclui qualquer alimento de origem animal.
Dietas estritas são muitas
vezes, extremas para fornecer todos
os nutrientes, deste modo, os
adeptos deste tipo de padrão
alimentar podem se beneficiar da
suplementação com cálcio, ferro,
zinco e vitamina D e com frequência
precisam tomar suplementos com
vitamina B12, uma vez que esta
vitamina é derivada unicamente de
produtos de origem animal.
Para vegetarianos em geral deve ser dada atenção aos nutrientes como proteínas, os
minerais (ferro, cálcio e zinco), ômega 3 e a vit.B12, devido a sua biodisponibilidade reduzida
quando comparada a dieta de pessoas que consumem todos os grupos alimentares. A menor
biodisponibilidade pode ocorrer devido ao baixo consumo de alimentos de origem animal e/ ou
pela má combinação alimentar ou por excesso de alimentos de origem vegetal na dieta, já que
a maior parte dos alimentos de origem vegetal está combinada a compostos inibidores de
absorção, que incluem ácidos oxálicos, ácido fítico, fosfato e fibras.
É possível melhorar o conceito de biodisponibilidade combinando alimentos. Para
aproveitar o ferro não heme contidos nos vegetais, por exemplo, recomenda-se a ingestão de
alimentos fonte de vit.C na mesma refeição. Em relação ao aproveitamento das proteínas é
importante obter o melhor perfil de aminoácidos compondo a dieta com 60% de origem nos
cereais, 35% de origem nas leguminosas e 5% de origem nos vegetais de folhas verdes. Estudos
verificaram que o valor biológico da soja e de seus derivados é próximo ao valor da proteína
animal, então convém que vegetarianos incluam a soja e alimentos fermentados à base de soja
em suas refeições.
Atletas vegetarianos, segundo recomendam alguns estudos, devem aumentar o consumo
de proteínas em 10%, para compensar o menor aproveitamento delas e consumi-las em todas
as refeições, de maneira a suprir o organismo durante todo o dia.
É importante não elevar o consumo de alguns elementos contidos nos alimentos de
origem vegetal, que podem interferir no aproveitamento de determinados nutrientes, como
zinco, ferro e alguns minerais traços. Esses elementos são os polifenóis, o fitato (encontrados
no farelo), o tanino (encontrado em chás) e as fibras.
Devemos ter em mente que uma dieta balanceada, que forneça quantidades suficientes
de energia e de nutrientes consegue suprir as necessidades nutricionais tanto de pessoas que
consomem todos os tipos de alimentos quanto os não consomem todos os tipos. Uma dieta
vegetariana só não consegue suprir essas necessidades quando restringe o consumo em termos
de quantidade energética, de variedade e de combinações.
Hidratação
Conclusão
Todo praticante de atividade física deve ter a consciência de que uma alimentação
adequada é essencial para suprir as necessidades energéticas e nutricionais aumentadas devido
à prática de exercícios físicos. Para isso, é preciso estar atento ao tipo de alimento a ser
consumido, à quantidade que deverá estar ajustada aos seus gastos calóricos. A combinação de
diferentes tipos de alimentos faz com que seus nutrientes possam ser mais bem utilizados já
que cada um tem uma função específica e são interdependentes entre si.
Além disso, uma alimentação equilibrada leva em consideração o objetivo específico
que se almeja, as necessidades particulares de cada pessoa, que variam de acordo com o sexo,
idade, atividade praticada e outras, como hidratação, horário das refeições e, no caso de
praticantes de exercício físico, o tipo de alimento recomendado para antes, durante e após o
treino/competição, alimentos que ajudem na recuperação pós-exercício e restauração das
reservas de glicogênio, tolerância alimentar, etc.
Os suplementos nutricionais são recomendados em casos específicos como carência
nutricional, complementação de aporte energético, etc. Por esta razão devem ser prescritos por
profissionais nutricionistas ou médicos, sempre em conjunto com uma dieta prescrita e bem
orientada e à prática regular de treinamento físico.
Em relação a ingestão de bebida alcoólica é importante que o atleta esteja atento aos
prejuízos relacionados a excessos. Nessa condição, o álcool atrapalha o hormônio responsável
pela regulação hídrica, interferindo na boa hidratação num momento em que o atleta precisa
recuperar perdas hídricas depois de uma atividade física, ou de estar euhidratado antes da
atividade.
Devemos sempre lembrar que a alimentação e hidratação adequadas e o treinamento
físico estão aliados e que a negligência de qualquer um deles faz com que os resultados não
sejam os melhores esperados.
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