José Castellani - As Origens Históricas Da Mística Maçônica PDF

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AS ORIGENS HISTÓRICAS

DA MÍSTICA MAÇÔNICA
Título Original: AS ORIGENS HISTÓRICAS DA MÍSTICA MAÇÔNICA
Todos os direitos reservados à Editora Landmark Ltda.

Copyright  2003 by José Castellani

Diretor Editorial: Fábio Cyrino


Diagramação e Capa: Arquétipo Design+Comunicação

CA T A LOGA ÇÃ O-NA -PUB LICA ÇÃ O (CIP)


DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO

C348
CASTELLANI, José.
AS ORIGENS HISTÓRICAS DA MÍSTICA MAÇÔNICA/ José Castellani -
São Paulo: Landmark, 2005. 160p. ; 14 x 21 cm.

ISBN 85-88781-09-3 (1a edição)


ISBN 85-88781-22-0 (2a edição)
e-ISBN 978-85-88781-82-5

1. Maçonaria - 2. Misticismo. I. Título

CDD: 336.1

Reservados todos os direitos desta produção.

Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida por fotocópia microfilme, processo
fotomecânico ou eletrônico sem permissão expressa da Editora.

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Impresso no Brasil
Printed in Brazil
2010
JOSÉ CASTELLANI

AS
ORIGENS HISTÓRICAS
DA
MÍSTICA MAÇÔNICA
2A. EDIÇÃO REVISADA
Todas as boas máximas se encontram no mundo:
só falhamos ao aplicá-las.

Blaise Pascal
Índice

I - Considerações Gerais 11
A Metafísica 12
A Mitologia 13
A Teologia 14
A Teosofia 15
A Religião 16
A Astrologia 17

II - A Mística da Pré-História 21
O Paleolítico Inferior 22
O Paleolítico Médio 22
O Paleolítoco Superior 23
O Mesolítico 24
O Neolítico 24

III - O Misticismo na Mesopotâmia 27


História da Região 27
A Religião e o Misticismo Mesopotâmico 29
Misticismo Mesopotâmico e Maçonaria 33

IV - A Mística do Antigo Egito 37


História Egípcia 37
A Religião e o Misticismo Egípcio 38
Misticismo Egípcio e Maçonaria 46

V - A Mística Cretense 53
História de Creta 53
O Misticismo Religioso 55
Misticismo Cretense e Maçonaria 55

VI - A Mística da Antiga Grécia 57


História 57
Misticismo Grego e Maçonaria 69

VII - A Mística da Antiga Pérsia 74


História 74
A Religião e o Misticismo Persa 75
Misticismo Persa e Maçonaria 77

VIII - A Mística Hebráica 79


História Hebráica 79
A Religião 81
A Maçonaria e o Misticismo Hebraico 83

IX - A Mística no Hinduísmo, no Budismo e no Lamaísmo 105


História 105
As Religiões 107
X - O Misticismo Medieval 117
As Corporações de Ofício 117
A Alquimia 125
O Iluminismo 130
A Magia 131
A Ordem Rosa+cruz 135
A Astrologia 139

XI - Considerações Finais 151

Bibliografia Sumária 156


Obras do Autor José Castellani 158
1
Considerações Gerais sobre o Misticismo

A palavra Misticismo, como mistério, tem o significado de


algo que se percebe profundamente, no íntimo, no âmago do ser,
mas que não pode ser revelado, ou de que não se pode falar. Ela
tem origem no grego, “myo”, que significa “fechar a boca”.
O misticismo representa uma tendência à busca do Absolu-
to, com o qual o místico pretende fazer a fusão total, unindo-se a
ele, moralmente, através dos símbolos e alegorias. Ele nasce do
esforço que faz o homem, para absorver e assimilar a realidade
absoluta, ou divina, a qual está em íntima relação com as coisas do
Universo. É, portanto, na realidade, um conjunto de ações e de dis-
posições, cuja finalidade é a comunhão com a divindade, conside-
rada como o espírito criador, animador e regulador de tudo o que
existe.
Para atingir essa finalidade, é criado um complexo sistema
especulativo, que procura compreender os atributos divinos, bus-
cando a união íntima com o criador e a concretização do Um Abso-
luto, ou do Ente Único, supremo e onipotente.
O pensamento místico não segue a exatidão científica, co-
mandada pela evidência dos fatos, pela clareza e pela possibilida-
de de demonstração total; bem ao contrário, ele é nebuloso, com-
pletamente especulativo e age no terreno do incompreensível, o que
fez com que alguns pesquisadores o comparassem ao instinto dos
animais. Como este, ele é muito intenso, sempre obstinado e, na
maioria das vezes, pouco racional em seu mecanismo íntimo, o que
o leva a se utilizar os símbolos, das alegorias, das comparações e
das imagens literárias, pois tudo o que se encontra fora da realida-
de concreta e palpável do Homem, só pode ser exprimido e difundi-
do através do simbolismo.
As religiões, desde a mais remota Antigüidade, sempre fo-
ram intimamente ligadas ao misticismo. Para elas, ele consiste, ba-
sicamente, em experimentar, na parte puramente espiritual da alma,
a presença e a ação reguladora da divindade. Nas religiões con-
temporâneas, o místico tem os conhecimentos praticamente expe-
rimentais de Deus, que deixa de ser um objeto, para se transformar
em uma experiência. As religiões, de maneira geral, sempre procu-
raram incentivar e incrementar o impulso místico, por meio de prá-
ticas predisponentes a um êxtase total, de profundo impacto psico-
lógico; entre essas práticas estão a abstinência, o jejum, a castida-
de, a autoflagelação. Deprimindo as manifestações de atividade fí-
sica, essas práticas teriam a capacidade de libertar a mente, tor-
nando-a receptiva às especulações relativas à divindade e criando
um “estado de graça”, ou de experiência mística, nem sempre real,
mas sempre de grande efeito sobre o psiquismo do Homem.
Não deve, o misticismo, ser confundido com esoterismo. Na
Grécia arcaica, o vocábulo designava a doutrina ensinada aos Mis-
tos – iniciados nos Mistérios de Eleusis, culto da deusa Deméter, ou
a Ceres romana – pelos hierofantes, sendo o oposto do exoterismo.
Os dois termos, esoterismo e exoterismo, todavia, não tinham pri-
mordialmente, o sentido de ensinamento iniciático cerimonial, mas
designavam, sim, a obra dos grandes filósofos: algumas delas tor-
naram-se reservadas, formando os tratados esotéricos, ou seja,
destinados somente aos adeptos, enquanto que outras, ao contrá-
rio, eram destinadas ao público, daí a sua denominação de
exotéricos. Assim, entende-se por esoterismo a antiga denomina-
ção dada ao estudo dos Mistérios, guardados com zelo nas Antigas
Escolas, como a síntese das verdades ocultas, da investigação da
origem do mundo e do homem, da busca da verdade e da realidade
das coisas.
O misticismo mostra íntima relação com a Metafísica, com
a Mitologia, com a Teologia, com a Teosofia, com a Religião e com a
Astrologia.

A METAFÍSICA

Metafísica (do grego: mata ta physica: depois da Física) é a


parte da Filosofia que trata dos princípios e fundamentos últimos
da realidade; o termo foi usado, pela primeira vez, por ANDRÔNICO DE
RHODES, que foi o primeiro a reunir a obra de ARISTÓTELES, em 70 a.C.
Esse era o significado original, pois, posteriormente, o termo “meta”
iria adquirir o sentido de “mais além”, deixando de ficar restrito à
área da Física, para designar todas as teorias racionais, não passí-
veis de verificação experimental; “além da Física”, no caso, mostra
que os fenômenos físicos aparentes podem ser verificados experi-
mentalmente.
Depois de estabelecidos os seus fundamentos, a Metafísica
foi dividida em duas partes: a Ontologia, que contém a pesquisa
racional e sistemática dos últimos fundamentos do ser; e a
Cosmologia, cuja finalidade é transmitir uma visão racional do Uni-
verso. Assim, está, a Metafísica, intimamente vinculada ao Misticis-
mo e à Religião, já que todos elaboram especulações em torno do
“Um” Absoluto e procuram a certeza total sobre todas as coisas
que existem.
Além de se preocupar com a realidade, a Metafísica busca
compreender a natureza, a qualidade e a quantidade dos atributos
da realidade, adicionando a especulação e a discussão da natureza
psíquica, que pode se relacionar com a atividade cerebral, mas que
também pode ser um atributo específico da substância imaterial
conhecida como alma. A crença na existência e na imortalidade da
alma não é encontrada apenas nos sistemas religiosos, pois tam-
bém pode ser objeto da doutrina de sociedades filosóficas, iniciáticas
ou não.
A Filosofia começou, no Ocidente, como Metafísica, impon-
do questões basilares sobre se existiria, ou não, alguma coisa de
permanente por trás das mudanças contínuas da Natureza, e se
existiria uma única realidade fundamental, ou várias realidades. Tais
questões, evidentemente, dividiram os filósofos gregos, desde os
tempos da Grécia Arcaica, propiciando a formação de diferentes
escolas de pensamento filosófico.

A MITOLOGIA

Mitologia é o conjunto de mitos de um povo; é o conjunto


das tradições lendárias, que buscam, por meio do sobrenatural,
explicar os acontecimentos da Natureza. Embora ela não possa ser
confundida com a religião, a realidade é que um grande número de
mitos está fortemente ligado a algumas religiões, principalmente as
antigas, nas quais existia o politeísmo e o antropomorfismo1. O exem-

1
Antropomorfismo é a atribuição de figura e predicados humanos a um deus.
plo clássico está na mitologia da Grécia antiga, com deuses
antropomorfizados, assim como os mitos dos sumérios e babilônios,
e até dos egípcios, embora no Egito antigo imperasse, em relação
aos deuses, o totemismo e a zoolatria2.
Apesar da Mitologia ser, hoje, uma ciência totalmente
estabelecida, ainda há muita discussão em torno da origem dos
mitos, sobre a qual, por isso mesmo, existem dezenas de doutrinas,
algumas flagrantemente conflitantes. Pesquisadores modernos têm
se fixado no conceito de que os mitos derivam de interpretações de
fórmulas invocativas e de preces rituais, ou, ainda, dos símbolos
usados para exprimir os instintos reprimidos, ou recalcados, do ser
humano.
O significado dos mitos é também obscuro e objeto de po-
lêmica, pois, enquanto alguns buscam o significado nos fenômenos
regulares da Natureza – o dia e a noite, as estações, o ciclo dos
vegetais, etc. – outros o procuram nos fenômenos irregulares – tem-
pestades, tufões, terremotos, etc.
A grande importância da Mitologia está na influência, que
ela sempre exerceu, sobre as Artes e a Literatura – especialmente
no caso da mitologia grega – não só pelo seu alto conteúdo filosó-
fico e pela perfeição inventiva, mas, também, porque é a única que
possui uma completa hierarquia de valores místicos, abrangendo
desde a genealogia dos deuses até à exaltação dos feitos heróicos
humanos.

A TEOLOGIA

Teologia é a ciência que trata de Deus e das relações das


criaturas humanas com Deus, através da especulação racional e da
revelação divina. Ela possui dois ramos bem definidos: A Teologia
propriamente dita, em seu estrito senso, ou “sobrenatural”, e a “na-
tural”, que procura o conhecimento de Deus somente por meio do
espírito crítico e do uso da razão, excluindo, portanto, a revelação.

2
Totemismo é a crença nos totens; é o culto, ou prática dos totens. Totem é o
animal, planta, objeto, ou fenômeno natural a que certos povos primitivos julgam-se
ligados de forma sagrada, sendo proibido atentar contra eles. O exemplo mais comum
de totem, entre os povos primitivos é a vaca. Zoolatria é o culto ou adoração dos
animais.
Segundo os métodos empregados nos trabalhos teológi-
cos, a Teologia pode ser positiva – também chamada de prática –
quando pesquisa as verdades da revelação por métodos crítico-
históricos, ou especulativa – também chamada de dogmática –
quando a razão, escorada no sentimento de fé, explica a revelação.
A Teologia positiva, ou moral, ressalta e deduz, só racionalmente, os
deveres do homem para com Deus, enquanto que a especulativa
procura expor, comprovar e justificar os dados revelados da reli-
gião, num corpo único de doutrina. Na procura da racionalização da
fé, que é de natureza totalmente mística, o teólogo, especialmente o
cristão, combina as duas formas – teologia positivo-especulativa,
ou positivo-escolástica – associando o emprego do método lógico-
silogístico na prova, com a mera exposição dos dogmas e da dou-
trina, sem nenhuma retórica e nenhum artifício lógico.
Desejando obter bases racionais e sólidas para as religi-
ões, a Teologia é diferente para cada uma delas, existindo tantas
quantas forem as religiões históricas, que devem ser estudadas,
analisadas e expostas. A sempre crescente complexidade dos sis-
temas religiosos foi exigindo um aperfeiçoamento também crescen-
te da Teologia, a qual, praticamente, nasceu da rivalidade entre as
religiões e da necessidade, que cada uma sempre teve, de se de-
fender das outras, para que não se situasse em plano inferior no
terreno dos conhecimentos filosóficos.

A TEOSOFIA

Teosofia é palavra originada do grego theos (Deus) e sophia


(sabedoria), significando, de maneira geral, o conhecimento intuiti-
vo de Deus pelo homem. Primitivamente, todavia, o termo designava
as formas de pensamento religioso e filosófico, as quais se propu-
nham a dar uma explicação razoável sobre a natureza da divindade
e de suas relações com tudo os que existem.
A moderna Teosofia, porém, é um pouco diferente e foi po-
pularizada por HELENA BLAVATSKI e ANNIE BESANT. Blavatski foi a funda-
dora da Sociedade Teosófica, a 17 de novembro de 1875, e lançou
as bases da moderna teosofia em seu livro Isis Unveleid (Isis Reve-
lada), que trata das teorias da evolução religiosa e humana. De acordo
com a orientação dela, de Besant e de outros ocultistas, a teosofia
moderna é um panteísmo emanentista, inspirado, principalmente,
no hinduismo e no Budismo.
O moderno pensamento teosófico, ao contrário da filosofia,
procura, em suas especulações, o conhecimento de Deus, através
da intuição e não do processo dedutivo próprio da Filosofia. Esse
pensamento, também em oposição às religiões, não está restrito às
revelações dogmáticas emitidas em nome de Deus.
Apesar de ser, a teosofia, uma síntese de várias tendências
e correntes místicas de diversos povos, em diversas épocas da
evolução humana, ela é, nitidamente, muito mais influenciada pelo
hinduismo e pelo Budismo; Helena Blavatski, inclusive, escolheu, em
1879, a cidade de Madras, na Índia, como sede da Sociedade
Teosófica. Essa influência é bem demonstrada pela adoção da dou-
trina hindu do karma, ou seja, do ciclo sucessivo de reencarnações,
até que o homem, finalmente, liberte-se de todo o mal.
Muitos teólogos da Igreja Católica condenam, francamente,
tanto a teosofia quanto a antroposofia – esta fundada por STEINER,
com base no misticismo egípcio e grego - considerando-as opostas
à doutrina católica e negando-lhes qualquer valor científico, devido
ao caráter panteísta dos estudos teosóficos e ao seu dogma funda-
mental, não fundado na revelação, de que a alma está intimamente
ligada a Deus e pode alcançar um conhecimento intuitivo, ou cons-
ciente, da existência de Deus em si mesma. Todavia, negar valor
científico e condenar – como foi, a teosofia, condenada pelo Santo
Ofício – doutrinas que possam, eventualmente, entrar em choque
com segmentos da estrutura dogmática da Igreja, representa uma
intolerância incompatível com as modernas propostas de
ecumenismo.

A RELIGIÃO

Religião é palavra originária do latim religio, derivado de


religare, ou seja: atar, ligar para trás. Interpreta-se, portanto, a re-
ligião, como a ligação, o elo entre o homem e a divindade. Ela é o
conjunto das verdades dogmáticas e dos princípios éticos que diri-
gem a vida do homem para os seres divinos, dos quais o homem
sente depender e aos quais tributa atos de culto, tanto individual
quanto coletivo. Subjetivamente, segundo muitos teólogos, a reli-
gião seria a disposição voluntária da alma em reconhecer um Ser
Supremo e de lhe prestar o devido culto.
Na realidade, a religião é uma das mais antigas manifesta-
ções místicas do homem, já que ela responde a uma profunda ne-
cessidade, do ser humano, de se sentir protegido perante as agres-
sões das forças da natureza, os obstáculos da vida e o temor do
desconhecido. Em suma, ela representa uma atitude de propiciação
dos poderes divinos, que, segundo a crença humana, têm a capaci-
dade de dirigir a vida do homem e de controlar as forças naturais.
Os homens primitivos, cercados por uma natureza quase sempre
hostil, já criaram os seus deuses, associados aos astros e aos fenô-
menos naturais, crendo que tais divindades controlavam as forças
do universo e que, de acordo com a sua ira, ou com a sua tolerância
– ou seja, com o seu bom ou mau humor – proporcionavam grandes
catástrofes, ou eras de paz e de fartura. Para aplacar a ira dos
deuses, o homem, então, oferecia-lhes orações, ou sacrifícios
propiciatórios, ou, ainda, desenvolviam rituais de magia.
A finalidade dessas práticas era tornar os deuses propíci-
os e favoráveis à comunidade, em geral, e ao indivíduo, em particu-
lar. A grandeza da divindade resultava da comparação que o ho-
mem fazia de sua própria fraqueza e impotência perante o poder da
natureza, o que fazia com que os seres divinos fossem relacionados
com esse poder. Lentamente, porém, esse primitivo misticismo so-
freu grande transformação, pois a preocupação do homem voltou-
se da natureza física para a sociedade, proporcionando o caráter
ético-social da religião.
Todas as religiões do período histórico, ou seja, a partir da
Idade dos Metais (5.000 anos a.C.), têm em comum a visão sobre-
natural do mundo. Com base na fé, o homem crê que o universo tem
a sua origem em Deus – ou nos deuses – e que ele próprio, homem,
tende a se reunir com o princípio criador, ou Ente Supremo. A prin-
cipal característica de todas essas religiões é que, geralmente, a
sua doutrina sempre diz respeito à conduta do homem perante os
seus semelhantes, o que mostra o caráter predominantemente so-
cial das seitas religiosas, embora, além disso, elas procurem mol-
dar todo o comportamento do homem no plano físico, como se dis-
so dependesse a sua vida espiritual posterior.

A ASTROLOGIA

Astrologia é a arte, ou ciência, que estuda as influências


dos corpos celestes sobre a vida e o comportamento do homem,
bem como tenta predizer os futuros acontecimentos humanos, pela
posição desses corpos celestes.
O estudo da Astronomia e da Astrologia, embora já tivesse
os seus rudimentos na pré-história humana, em seu período Neolítico
(8.000 a 6.000 a.C.), iniciou-se, realmente, entre as civilizações
mesopotâmicas3, estabelecidas entre os rios Tigre e Eufrates, na
Ásia, das quais a primeira foi a dos sumérios (5.000 a.C.), seguida
pela dos acádios, babilônios e assírios. A crença na eficácia dessa
arte iria atingir o Egito e espalhar-se pela Grécia, no Século IV a.C.,
chegando, posteriormente, a Roma.
Os sumérios, bons observadores e matemáticos perspica-
zes, perceberam que os acontecimentos, no firmamento, seguiam
um determinado padrão: as estrelas moviam-se numa ordem fixa
através do céu, enquanto que os planetas vagavam, excentrica-
mente, mas no mesmo plano, contra o fundo estrelado. Evidenciou-
se, todavia, que os planetas também tinham um comportamento re-
gular, surgindo, então, as primeiras tábuas de movimentos planetá-
rios, ou efemérides, as mais antigas das quais foram traçadas no
Século VII a.C., na época do rei assírio ASSURBANIPAL.
Na Assíria e na Babilônia, a Astrologia era considerada, ofi-
cialmente, como um dos meios de que dispunham os sacerdotes,
para interpretar a vontade dos deuses (o outro era o exame das
entranhas dos animais mortos nos cultos sacrificais). Os sumérios,
quando elaboraram o seu sistema cosmológico, fizeram uso das
doze constelações principais, através das quais o Sol e a Lua pas-
sam regularmente. Observando a dependência da vida humana em
relação aos fenômenos atmosféricos, a relação existente entre a
fertilidade do solo e a abundância das colheitas, e as periódicas
inundações e secas que afligiam o vale do rio Eufrates, os babilônios

3
Mesopotâmia (“terra entre rios”), situada entre os rios Tigre e Eufrates, é a
mais antiga região civilizada do mundo, ao lado da do vale do rio Nilo. As primeiras
verdadeiras civilizações terrestres ali surgiram, favorecidas pela grande fertilidade do
solo, na planície aluvial dos dois rios, e pelo clima quente, favorável ao cultivo de
cereais. As mais antigas civilizações mesopotâmicas, de Uruc, Obeid e Djendet-Nache,
pertencentes, ainda, ao final do período neolítico da pré-história, só chegam ao co-
nhecimento atual através da arqueologia. As principais civilizações, porém, foram as
dos sumérios, acadianos, assírios e, posteriormente, dos babilônios, não só por sua
maior organização social, mas, também, por sua grande contribuição político-social
às civilizações posteriores. Os sumérios, que haviam ocupado o sul da Mesopotâmia,
onde, hoje, se situa o Iraque, já haviam estabelecido, por volta do quarto milênio a.C.,
o seu primeiro sistema de governo, o das cidades-estado, e um sistema agrícola avan-
çado, para a época.
concluíram que o céu era a morada dos deuses, os quais detinha o
governo de todo o universo. As religiões mais modernas, apesar de
toda a evolução científica, continuaram a incrementar essa conclu-
são babilônica, prometendo o “céu”, ou a “morada dos deuses” para
os seus fiéis.
Tinha os antigos povos mesopotâmicos, a consciência de
que o Sol e a Lua exerciam uma forte influência física sobre a vida
humana; tinham, também, profundamente arraigado em sua cultura,
o culto a esses corpos celestes, como divindades, que, certamente,
deveriam ser. Diante disso, a classe sacerdotal foi aperfeiçoando a
teoria do acordo integral entre os fenômenos celestes e os fatos
ocorridos na Terra; assim, se o Sol e a Lua eram considerados deu-
ses, também o eram os cinco planetas conhecidos - Mercúrio, Vênus,
Marte, Júpiter e Saturno – e as estrelas mais importantes.
A Astrologia mesopotâmica, porém, não era pessoal, pois
se preocupava mais com os acontecimentos coletivos, como as
enchentes, guerras, eclipses, etc., a partir de um conhecimento as-
tronômico meramente empírico. Apenas na Grécia é que começari-
am a serem traçados os horóscopos individuais, baseados na posi-
ção dos planetas no momento do nascimento da pessoa. Tal siste-
ma foi aproveitado e aperfeiçoado pelos árabes – por ocasião do
domínio muçulmano na Europa – e acabou sendo incluído nos tex-
tos cabalísticos judaicos e cristãos, chegando, dessa maneira, à
Idade Média.
No período medieval, o problema enfrentado pelos teólo-
gos, era classificar a Astrologia como ciência legítima, ou como
arte divinatória proibida. Na época, ainda como pseudociência, a
Astrologia, sob o título de Astrologia Racional, era equiparada à
Astronomia Natural, que estudava as leis, os movimentos e os fenô-
menos relativos aos corpos celestes. Graças, todavia, à herança da
cultura helênica, a Astrologia alargou o seu campo de atuação, atin-
gindo, então, quase todas as ciências conhecidas. Assim, animais,
plantas, metais, pedras, cores, etc., foram associados aos planetas
e colocados sob sua tutela e proteção, originando, a partir daí, uma
similar associação de idéias, que abrangeu as constelações
zodiacais, as quais, posteriormente, acabaram sendo equiparadas
aos planetas quanto à influência sobre os horóscopos individuais.
Hoje, para a Astrologia, um horóscopo é o mapa celeste tal
como se encontrava na hora do nascimento da pessoa, indicando a
posição de cada um dos corpos celestes e deduzindo, por ela, as
influências sobre o destino individual. A cada um dos signos do
Zodíaco atribuem-se influências e características próprias. Zodía-
co é uma faixa, na esfera celeste, que compreende as doze conste-
lações zodiacais, a qual, aparentemente, é percorrida pelo Sol, uma
vez por ano, quando ele atravessa a faixa de 360°. As doze conste-
lações, bem conhecidas já desde a Antigüidade, antes de serem
relacionadas por PTOLOMEU, em seu catálogo de estrelas (por volta
de 150 d.C.), são: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra,
Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes.
Obs. Embora a Maçonaria use o misticismo medieval e o de
antigas civilizações para armar sua doutrina moral e suas práticas
ritualísticas, ela não é, de modo algum, uma ordem mística, já que
foi criada como construtora social.
2
A Mística Pré-Histórica

A Pré-História é aquele espaço de tempo situado entre o


surgimento, na Terra, dos primeiros hominídeos dotados de cultura
e a descoberta da escrita pelos homens, quando se iniciou a Histó-
ria (escrita), já que o período pré-histórico não possui documentos
escritos, mas apenas pinturas rudimentares e restos de agrupa-
mentos nômades.
É importante, todavia, esse período, pois foi nele, em tem-
pos mais recentes, porém, que surgiram os rudimentos da tecnologia,
da religião, da arte e da magia, assim como os das instituições so-
ciais básicas, como a família, o governo, as normas de direito e
moral e o comércio.
Já foram propostas diversas classificações, para dividir os
períodos da Pré-história humana. Tornou-se clássica a divisão fei-
ta, em 1836, por THOMSEN, o qual classificou três épocas, ou idades,
distintas: Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro, sendo,
a Idade da Pedra, a mais vasta, já que só há cerca de 7.000 anos o
homem começou a trabalhar com metais. Diante disso, LUBBOCK, em
1865, propunha a divisão da Idade da Pedra em dois períodos: o
Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada, e o Neolítico, ou Idade da
Pedra Polida. MORTILLET, em 1883, sugeria uma subdivisão arqueoló-
gica, tendo por base os restos arqueológicos, descobertos em an-
dares, ou camadas, sendo, as diversas culturas pré-históricas, de-
signadas segundo o nome da localidade onde fossem encontrados
os seus primeiros exemplares; essa prática, aceita pela comunida-
de científica, é seguida até hoje. Complementando, ALLEN BROWN, em
1892, propunha o reconhecimento de um período intermediário, a
que deu o nome de Mesolítico, enquanto o mesmo Mortillet, que
propusera o método das camadas arqueológicas, dividia o Paleolítico
em três períodos: o Inferior – o mais antigo – o Médio e o Superior,
de acordo com o sistema proposto por ele.
A Pré-história, portanto, estende-se desde cerca de um
milhão de anos atrás, até ao V milênio a.C., quando da descoberta
da escrita e o início da Idade dos Metais. A parte mais extensa dela,
a qual se estende desde o início até cerca de 8.000 anos a.C., é
ocupada pelo Paleolítico.

O PALEOLÍTICO INFERIOR

Nesse período que se estende desde o início da pré-histó-


ria humana até cerca de 150.000 anos atrás, processou-se a rápi-
da evolução dos hominídeos, representados, inicialmente, pelos
australopitecíneos, encontrados na África (Australopitecus
Africanus) e, depois, pelos pitecantropíneos.
De acordo com os achados arqueológicos, esses hominídeos
já possuíam industriais líticas, com fabricação de instrumentos fei-
tos de pedra, ou seixos, além de usarem, também, outros materiais
como ossos, dentes e carapaças de animais. Essas indústrias líticas
foram se aperfeiçoando, através de todo o Paleolítico Inferior, mas a
grande descoberta humana desse período foi, sem sombra de dúvi-
da, o uso do fogo, ocorrido há cerca de 500.000 anos, de acordo
com achados arqueológicos realizados perto de Pequim, onde, tam-
bém foram encontrados restos de pitecantropíneos, o Homo Erectus
Pekinensis.
Não são conhecidas nesse período manifestações místicas
ou religiosas, nem através de ritos funerários, embora essa seja a
época mais nebulosa da pré-história humana.

O PALEOLÍTICO MÉDIO

É a época do aparecimento do Homo Neanderthalensis


(Homem de Neanderthal) e se distingue do Paleolítico Inferior pelo
aperfeiçoamento da indústria da pedra e pelo maior ritmo do pro-
gresso.
Esse período caracterizado, a princípio, pelo nomadismo
exclusivo mostrou, posteriormente, o aparecimento dos rudimentos
de linguagem e um pequeno esboço de organização social como
agrupamentos mais fixos. Tendo durado de 150.000 a.C. a 40.000
a.C. mostrou, inicialmente, um homem primitivo que talvez tivesse,
algumas vezes, se interrogado sobre os mistérios da natureza; to-
davia a falta de comunicação, além da intensa luta pela sobrevivên-
cia, em um ambiente hostil e sem proteção, não poderiam incentivar
especulações de ordem mística.
Em época mais recente desse período, todavia, surgiram as
primeiras manifestações místicas de caráter religioso: os homens
de Neanderthal enterravam, com cerimônias, os seus mortos, colo-
cando objetos em seus túmulos, o que mostrava já a crença em uma
vida futura a qual iria dominar, posteriormente, todas as religiões e
todos os sistemas filosóficos de doutrinação moral.

O PALEOLÍTICO SUPERIOR

Iniciada há 40.000 anos, estendeu-se até cerca de 10.500


a.C. sendo um período de grandes mudanças e rápido progresso,
onde existiram diversas raças de Homo Sapiens, sendo a principal
delas, a de Cro-Magnon.
Há um aperfeiçoamento dos instrumentos de pedra, com o
aparecimento de artefatos de uso mais especializado; além da pe-
dra são usados, com abundância, outros materiais, como osso, chi-
fre e marfim. Nota-se, já, um aumento da complexidade da organi-
zação social, com os rudimentos da formação dos clãs e com a
reunião dos homens para caçadas de animais de grande porte.
É nesse período que surgem as primeiras manifestações de
arte pré-histórica, com a invenção do desenho, o aparecimento de
esculturas em relevo, de entalhes, de objetos ornados, etc. Essa
arte das cavernas atingiu o seu apogeu por volta de 13.500 a.C. e
parece ter sido realizada com finalidades mágicas, para assegurar
êxito na caça, embora alguns pesquisadores creiam que os dese-
nhos e esculturas representam apenas uma reportagem pictórica e
estatuária do dia-a-dia do homem pré-histórico.
Também foram os homens do Paleolítico Superior que inici-
aram a povoação da América a qual chegaram vindos da Ásia, atra-
vessando a pé, o Estreito de Behring; isso teria ocorrido há cerca
de 30.000 anos.
A evolução do misticismo também foi apreciável, pois além
dos ritos funerários com oferendas, surgiram os rudimentos da ma-
gia, que era praticada para a cura das doenças, afastar os inimigos
e para propiciar boas caçadas (como seria o caso da finalidade da
arte das cavernas). A magia, iniciada nesse período, iria ser nota-
velmente incrementada nas civilizações da chamada Idade dos
Metais, em franca relação com a religião, através da qual viria a
influenciar a mística moderna.

O MESOLÍTICO

Com a duração de cerca de 3.000 anos, esse período é


nitidamente uma fase de transição entre os caçadores e coletores
(de frutos gerados espontaneamente) do Paleolítico e os produto-
res de alimentos do Neolítico. Sua característica principal foi uma
perfeita adaptação do homem às florestas que começavam a cobrir
as terras da Europa, após o desaparecimento do gelo proveniente
da última glaciação; além disso, houve um incremento da
sedentariedade e o início da domesticação dos animais, sendo, o
primeiro a ser domesticado, o cão.
Com relação ao misticismo, não houve grandes variações
em relação ao homem de Cro-Magnon.

O NEOLÍTICO

Esse período se estende até a época da invenção da escri-


ta, ou seja, até por volta de 4.000 a 5.000 a.C., sendo também cha-
mado de Idade da Pedra Polida, pois nessa época os homens apri-
moraram os instrumentos de pedra, tornando-os mais afiados atra-
vés do polimento.
Além disso, houve progresso em outros setores: foi desco-
berta a utilização da argila e a tecedura de fibras vegetais ou de
pelos de animais para a confecção de roupas mais práticas e ade-
quadas a vários climas, ao contrário das peles de animais usadas
anteriormente.
A realização mais importante, entretanto, do homem do
Neolítico foi o fato de ter dado início à agricultura, por volta de 8.000
a.C. Observando o ciclo do crescimento das plantas, o homem apren-
deu a cultivar para produzir e colher cereais, legumes e frutas, dei-
xando de ser apenas caçador e coletor, tornando-se agricultor. Tam-
bém prosseguiu na domesticação de animais, tendo, no fim do
Neolítico, já domesticado o cão, o boi, a cabra, o porco, o carneiro
e o cavalo, isso de acordo com a região da terra que habitava. Des-
sa maneira, além de agricultor, tornou-se criador, desenvolvendo o
pastoreio.
Como corolário da atividade agrícola e pastoril, os homens
começaram a se fixar ao solo, tornando-se sedentários e passando
a viver em moradias de madeira, pedra, tijolos ou barro, construindo
as primeiras aldeias, reunidos em tribos (grupos de famílias, unidos
pelos interesses comuns e pelos mesmos laços de sangue).
O misticismo religioso foi bastante incrementado nesse pe-
ríodo, pois, além dos rituais fúnebres com cunho fortemente religio-
so, as práticas de magia eram comuns e principiava uma sistemati-
zação da adoração de divindades relacionadas com as forças cós-
micas e com os astros visíveis, gerando o politeísmo que seria ca-
racterístico das primeiras civilizações da Idade dos Metais. O
politeísmo, de certa maneira, devido à visão fragmentária que o ho-
mem tinha do universo, só tenderia, muito posteriormente, para o
monoteísmo, como melhor expressão do sentimento religioso, quando
a visão unificada do universo foi dada pela filosofia.
Assim, nessa época, já surgiam os mitos solares, pois sen-
do a fonte da vida; através de sua atuação sobre todos os seres
vivos, o Sol era considerado o maior dos deuses dos humanos; tam-
bém era patente a preocupação mística relativa á morte e a uma
vida futura, fato que seria bastante desenvolvido, posteriormente,
pelos sumérios e pelos egípcios.
Apesar do já relativo desenvolvimento do sentimento religi-
oso não possuíam ainda, os homens do Neolítico, uma classe sa-
cerdotal que só viria a surgir posteriormente com as sociedades
fortemente teocráticas dos sumérios, dos babilônios, dos egípcios,
dos persas e dos hebreus, quando muitas práticas religiosas de
caráter estritamente esotérico, eram reservadas aos sacerdotes que
impregnavam suas doutrinas, com fortes doses de magia, já que
esta andava, sempre, ao lado da religião.
Os homens do Neolítico, nesse ponto, eram mais livres, pois
embora possuindo os seus mitos e as suas práticas de magia, não
viviam sob tutela sacerdotal, como viveram os seus pôsteres, que
tiveram todos os atos de sua existência processados de acordo
com os princípios religiosos ditados pela dominante classe dos sa-
cerdotes, a qual, embora proibisse o acesso do povo aos seus cír-
culos íntimos, queria ter o privilégio de comandá-los e dominá-los,
coisa que de resto acontece até nos dias atuais.
Mesmo não existindo os donos da religião, foi no Neolítico
que, verdadeiramente, teve início aquilo a que hoje chamamos de
metafísica, tomada, conforme já visto, como a ciência que trata dos
princípios primeiros universais, das coisas de ordem espiritual e,
também, do corpóreo, considerado em suas categorias mais gerais
e abstratas, ou seja, tomada como relativa a tudo que é
transcendental.
A Idade dos Metais, onde se inicia a História Antiga – a
História escrita – começa entre 5.000 e 4.000 a.C., primordialmente
na região mesopotâmica (entre os rios Tigre e Eufrates) e no vale do
rio Nilo.
Aí já surgem as primeiras civilizações realmente urbanas,
com estratificação da sociedade, emprego dos metais, uso da es-
crita e a consolidação do Estado e a religião, sendo, aquele, total-
mente dominado por esta; no caso, a única exceção foram os anti-
gos gregos, que formaram uma sociedade livre da teocracia e das
práticas de magia, o que lhes proporcionaria a civilização mais só-
lida e mais culta da Antigüidade.

PINTURAS PRÉ-HISTÓRICAS
As pinturas rupestres do Homem Pré-histórico foram produzidas como rituais de
magia propiciatória, sendo encontradas em diversas cavernas do sul de França e
Espanha. Acredita-se hoje que tais cavernas serviriam como santuários religiosos
rudimentares.
3
O Misticismo na Mesopotâmia

HISTÓRIA DA REGIÃO

A Mesopotâmia – que significa “terra entre rios” – é a re-


gião da Ásia, situada entre os rios Tigre e Eufrates, junto ao golfo
Pérsico, abrigou, ao lado do vale do rio Nilo, as mais antigas civili-
zações organizadas da Terra, favorecidas pela grande fertilidade
do solo, na planície aluvial dos rios, pela abundância de água e pelo
clima quente, próprio para o cultivo dos cereais.
A civilização, aí, começou junto ao golfo Pérsico, caminhan-
do, depois, em direção ao norte, rumo às montanhas da Armênia. As
mais remotas civilizações mesopotâmicas só nos chegam através
da arqueologia. Durante o IV milênio a.C., distinguiam-se três prin-
cipais: El-Obeid, Uruc e Djendet-Nache, baseadas, inicialmente, na
pedra, osso, e terracota, do Neolítico e, em fase posterior, no cobre,
na cerâmica e na glíptica. Na mesma época, era encontrada, para
lá do rio Tigre, já fora da região entre os rios, a civilização do dos
elamitas (do Elam), cuja capital era Susa e que revelava avançada
técnica, através dos trabalhos feitos em cobre e da cerâmica com
decoração estilizada. É nessa remota época que se costuma situar
as grandes inundações fluviais, que deram origem à lenda do dilú-
vio universal (já que ali era o “universo” conhecido), que seria apro-
veitada pelo escriba bíblico, passando a fazer parte do patrimônio
místico da Humanidade.
Entretanto, essas não foram consideradas as principais ci-
vilizações da região, já que esse título é reservado, graças à sua
maior organização social, às civilizações de Sumer, Acad e Subarru
(Assíria), estabelecidas, em ordem, do sul para o norte.
No fim do IV milênio a.C., ocorria o florescimento, junto ao
Golfo Pérsico, da organização urbana dos sumérios, povos de ori-
gem iraniana. Aí podem ser encontradas a grandes cidades-estado
de Ur, Lagash e Uma, cada uma delas sob o comando absoluto de
um chefe, o Ensag, ou Patesí (vigário do deus), ou, ainda, Lugal (o
grande). Sob a direção de um deles, ZAGUISI, ensag de Uma, foi fun-
dado o primeiro império mesopotâmico.
Posteriormente, por volta de 2.350 a.C., o domínio passaria
dos sumérios aos acádios, povos de origem semita. Essa suprema-
cia seria resultado de uma lenta infiltração nas regiões sumérias e
do uso de armamento leve, mais manejável do que o equipamento
pesado dos sumérios. Seu chefe, CHARRUQUIM, ou SARGÃO, apoderou-
se de toda a região, até ao Golfo Pérsico e, também, do Elam e da
terra dos amorritas (Amorru), tendo, o seu descendente, NARANSIN, se
apoderado também da Assíria (Subarru).
Foi, então, preparado, lentamente, o renascimento sumério,
cujo apogeu ocorreu durante a III dinastia de Ur, entre 2.150 e 2.050
a.C., sendo destruído pelas revoltas do Elam – que originaram a
migração do clã de Abraão, originário de Ur – e dos amorritas. Es-
tes, de origem semita, fundaram a dinastia dos reis de Isin e se
estabeleceram na cidade de Babel (Babilônia), que significa “Porta
dos Deuses” e que, posteriormente, por volta de 1.950 a.C., iria dar
nome a toda a região.
O sexto rei dessa dinastia amorrita foi o grande HAMURÁBI,
famoso pelo seu código de jurisprudência, economia e religião, gra-
vado em placa de diorito, que, hoje, se encontra no museu do Louvre.
Seu império acabaria abrangendo toda a Mesopotâmia, desde o
Golfo Pérsico, com as regiões de Sumer e Acad (reunidas sob o
nome de Babilônia) até às regiões que limitavam, ao norte, a Assíria,
e, a ao noroeste, a Alat Síria. A partir de 859 a.C., com SALMANAZAR III,
começa o domínio assírio, que se estenderia até 612 a.C., com
ASSURBANIPAL. Vários soberanos notáveis reinaram durante esses dois
séculos, tendo, por capital, Nínive, Calac, ou, então, a cidade criada
por SARGÃO II, Dur-Charruquim (Corsabad).
A partir da queda dos assírios, houve o renascimento da
Babilônia, com a instalação do reino neobabilônico, através de
NABOPOLASSAR, o destruidor de Nínive e, principalmente, através de
seu filho, NABUCODONOSOR. Sob o reinado deste é que se daria a toma-
da de Judá e a destruição de Jerusalém, seguida do exílio dos hebreus
na Babilônia. Esse reino neobabilônico iria se estender até a 539
a.C., quando se iniciaria o domínio persa, marcando o fim das gran-
des civilizações mesopotâmicas.
A RELIGIÃO E O MISTICISMO MESOPOTÂMICO

A civilização de sumer foi brilhantíssima, pois, além de te-


rem criado a escrita – cuneiforme, os sumérios criaram formas po-
líticas que vão, desde a cidade-estado até o império, administração
e justiça fundados em Códigos, instrumentos das trocas e da pro-
dução, formas do pensamento religioso, formas do misticismo e ru-
dimentos da Astrologia (também enquadrada no misticismo).
Os sumérios formavam uma civilização teocrática e, assim,
a religião estava no centro de toda a vida da comunidade. Politeísta
e, inicialmente, antropomórfica (deuses com forma humana), a reli-
gião era extremamente triste, pouco agradável e amplamente pes-
simista, pois não oferecia compensações e prêmios, após a morte,
para aqueles que tivessem tido uma vida virtuosa (fato que depois
se tornaria a grande “atração” de todas as religiões). Além disso,
acreditava-se que os deuses eram capazes de promover tanto o
bem quanto o mal, o que lhes dava, realmente um sentido de justiça
e equidade.
As divindades sumérias (como de todos os mesopotâmicos)
eram, de acordo com a crença do povo, ainda impregnado do mis-
ticismo neolítico, as que comandavam as forças da Natureza (sol,
lua, ventos, chuvas, raios, trovões e etc.), os astros celestes e os
elementos (água, ar, terra e fogo). Esses deuses tinham a aparência
e os sentimentos humanos, diferenciando-se dos homens pelo fato
de serem mais fortes, imortais e todo-poderosos.
No sistema das cidades-estado, cada deus era o senhor de
uma delas e, quando a cidade predominava politicamente sobre as
demais, o seu deus também se tornava mais influente.
Os deuses sumérios, todos de origem cósmica, eram os
seguintes:

Deuses primordiais
ANU – Rei do Céu
ENLIL – Rei da Terra
EA – Rei do Oceano

Esses deuses primordiais criaram os deuses astrais que se


ocupam, diretamente, dos homens:
SHAMASH – o deus-Sol
SIN – o deus-Lua
ICHTAR – o planeta Vênus
DUMUZI – o deus agrário dos mortos

Mercúrio, Marte, Júpiter e Saturno, os outros planetas (além


de Vênus) conhecidos na Antigüidade, também faziam parte do
panteão dos deuses, mas só iriam ter seus padrões perfeitamente
estabelecidos a partir dos babilônios e através da Astrologia.
Completando a estrutura politeísta, desenvolveram-se mui-
tas narrativas que teciam lendas poéticas em torno dos grandes
deuses, difundindo também os mitos cósmicos (Enlil), agrário
(Dumuzi), mágicos (Ichtar) e heróicos (através do ciclo do herói
GILGAMÉS, vencedor de monstros e precursor de ULISSES e HÉRCULES);
muitas dessas descrições lembram a fábula de ÍCARO e as narrativas
sobre o Dilúvio bíblico.
Nota-se, assim, no misticismo dos sumérios, o desenvolvi-
mento do germe religioso nascido no período Neolítico, concreti-
zando-se, então, na mente dos homens, a preocupação com as for-
ças naturais, antropomorfizando-as, e com os mistérios da vida e
da morte: os deuses primordiais referem-se às três grandes divi-
sões do mundo – céu, terra e água; os deuses astrais demonstram a
interrogação perante o cosmos, tomando-os como responsáveis por
tudo: o Sol vivificando as plantações e gerando a vida, a Lua lutan-
do contra as trevas maléficas da noite e atuando sobre as águas
marítimas; Vênus agindo sobre os homens, através dos seus misté-
rios, benéficos ou maléficos, associados à magia e, finalmente,
Dumuzi, representando o deus agrário que simboliza o ciclo imutá-
vel dos vegetais, composto de mortes e renascimentos anuais.
Do ponto de vista místico, a maior importância cabe ao deus
Dumuzi que, ao representar o ciclo de morte e renascimento dos
vegetais, é o símbolo da imortalidade do espírito e da eternidade. O
culto desse deus agrário foi o germe inicial de todos os mitos e
lendas da Antigüidade, relativas à morte e à ressurreição, incluin-
do-se a mais conhecida delas que é a lenda de Osíris, influindo,
ainda, sobre a elaboração de lendas maçônicas referentes à imor-
talidade da alma.
Já o misticismo religioso dos semitas acádios era sensivel-
mente igual ao dos sumérios, já que, sendo um povo guerreiro e
conquistador, não apresentou grandes criações culturais.
Os babilônios, dirigidos pelo rígido CÓDIGO DE HAMURÁBI, de
inspiração teocrática, tinham um espírito religioso ainda mais forte
do que o dos sumérios, embora sua religião fosse totalmente copia-
da da suméria, com todos os deuses desta, acrescida de MARDUC, o
supremo deus babilônico.
O Código de Hamurábi é um dos mais belos documentos da
história universal: de um lado, ele é a codificação de um direito
natural e consuetudinário em vigor nos territórios conquistados e
em vias de evolução, enquanto que, de outro, ele é a copilação de
diversos códigos sumérios. Ele é bastante preciso e de extrema
dureza nas questões sociais e jurídicas e na aplicação das penas
aos transgressores. Depois desse Código, a justiça passa, em to-
dos os setores, ás mãos de juízes de Estado, que agem sob a inspi-
ração dos deuses (Marduc ou Shamash), segundo esse processo
escrito, audição de testemunhos e recurso ao juramento.
A Arqueologia demonstrou, pela presença, nas tumbas de
Ur (3.000 a.C.) de provisões, jóias e utensílios que os babilônios
acreditavam na sobrevivência integral, ou seja, material e espiritual.
Com o passar do tempo, entretanto, a religião tornou-se pessimista
e a vida do além foi desprezada, já que os vivos, preocupados com
o gozo imediato de sua existência, não se preocupavam com os
mortos e seus túmulos, sendo, nisso, bastante diferentes dos egíp-
cios.
O povo babilônio tinha, além de seus deuses, uma verda-
deira corte de demônios que eram responsabilizados pelas más in-
fluências. Ele temia os deuses e pedia-lhes uma vida longa e feliz,
enquanto um terror constante fazia-o curvar-se diante dos demôni-
os e gênios. A noção de pecado não era difundida e a verdadeira
piedade consistia em apaziguar os deuses, oferecendo-lhes sacrifí-
cios, geralmente cruentos, ou, então, constrangendo-os através das
práticas de magia. Como para os sumérios, os deuses cósmicos
representam as forças naturais e os astros visíveis, dominando a
representação antropomórfica ao contrário do animismo, do
totemismo e da zoolatria egípcia.
A religião era, também, bastante estatizada, pois, cada ci-
dade possuía o seu deus-senhor, com seu templo próprio, sendo
que, acima deles, mas sem excluí-los, reinava, desde Hamurábi, o
deus-sol Marduc.
Os templos eram as moradas dos deuses e os santuários
completavam-se com uma torre em degraus. Marduc, assim, tinha o
seu santuário, o Esaguil (“casa do teto alto”), flanqueado ao norte
pela torre em degraus, o zigurat, chamado Etemenanqui (“templo
dos fundamentos do céu e da terra”), conhecido como Torre de Babel.
O povo jamais penetrava no templo e as suas relações com
o deus local apenas podiam ter lugar através da intervenção dos
sacerdotes, o que conferia à religião um aspecto hierático pouco
propício à piedade pessoal ou ao misticismo do fiel. Além disso, a
Magia – mãe da Medicina – a Adivinhação e a Astrologia – mãe da
Astronomia – estão entre as contribuições mais duráveis e mais
significativas e difundidas universalmente pela religião babilônica.
A Astrologia foi criada na Mesopotâmia pelos sumérios, cuja
idéia da superioridade celestial (de olhar para cima, em busca de
orientação) logo se tornou parte da vida diária, fazendo com que
eles situassem os seus deuses no Céu (o antigo símbolo sumério
para a divindade era a Estrela).
Vista da Terra, as estrelas parecem girar através de um
padrão imutável de um ano para o outro, embora os deslocamentos
sejam constantes, mas tão lentas que, primitivamente, acreditavam-
se que as estrelas eram fixas. O que os homens da Mesopotâmia
notavam era o movimento rígido, contra o céu estrelado, de sete
corpos celestes principais, ou seja: o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus,
Marte, Júpiter e Saturno. Desde os mais antigos registros encontra-
se a idéia de que todos esses astros representavam deuses com o
poder de dirigir a vida dos homens, intervindo nela. A religião nas-
ceria, então, a partir dessa concepção astrológica.
Na época babilônica, em que já havia observações astro-
nômicas, o panteão divino estava plenamente estabelecido, caben-
do a cada deus-astro um poder particular sobre uma área de expe-
riência humana. Assim, além do já estabelecido para o Sol (Marduc
e Shamash), a Lua (Sin) e Vênus (Ichtar), temos mais:

Mercúrio: deus veloz e astuto, era o senhor da sabedoria


calculista;
Marte: era o senhor da guerra;
Júpiter: um régio senhor dos homens, embora suplantado
pelo deus-Sol;
Saturno: era um deus frio, cruel e irascível.

Essas associações dos astros com os deuses acabaram


formando a base do saber astrológico, com os astros atuando so-
bre os homens, embora não mais como deuses venerados. Grandes
matemáticos e inventores da álgebra, os mesopotâmicos – princi-
palmente os sumérios e os babilônios – através da Astrologia, che-
garam a adquirir grandes conhecimentos de Astronomia, aprenden-
do a distinguir os planetas das estrelas e a prever os eclipses; além
disso, aprenderam a plantar de acordo com as fases da Lua, dividi-
ram o ano em doze meses lunares, os meses em semanas, a sema-
na em sete dias, sendo, cada um, consagrado a um astro, o dia em
vinte e quatro horas (o dia era dividido em doze horas duplas, sendo
cada uma dividida em trinta partes), a hora em sessenta minutos e o
minuto em sessenta segundos.
Ao elaborar o seu sistema cosmológico fizeram, então, uso
das doze constelações principais, através das quais o Sol e a Lua
passavam regularmente, e que foram as precursoras do Zodíaco.
Notaram que a cada duas horas as constelações se deslocavam
30° no firmamento, ou seja, um doze avos do círculo completo; e
durante muito tempo, a observação astronômica ficou presa ao nas-
cimento e o ocaso dos corpos celestes, dentro deste padrão.
Um outro sistema de doze divisões, sem ligação com o pri-
meiro, tinha suas doze casas numeradas a partir da inclinação ori-
ental sob o horizonte e representavam áreas da existência, de acor-
do com o seguinte padrão:

1. VIDA – 2. POBREZA/ RIQUEZA – 3. IRMÃOS – 4. PAIS – 5. FILHOS – 6.


DOENÇA/ SAÚDE – 7. ESPOSA/ MARIDO (CÔNJUGE) – 8. MORTE – 9. RELIGIÃO –
10. HONRARIAS – 11. AMIZADE – 12. INIMIZADE.

Os planetas eram, assim, descritos de acordo com a casa


ocupada e também da relação e dos ângulos entre eles, o que podia
revelar o tipo de influência que poderiam exercer sobre os homens.

MISTICISMO MESOPOTÂMICO E MAÇONARIA

As religiões posteriores à dos povos da Mesopotâmia, as-


sim como muitas sociedades iniciáticas e sistemas filosóficos, mui-
to utilizaram o culto solar, criado pelos sumérios, e da Astrologia,
aperfeiçoada pelos babilônios.
Em Maçonaria, o mito solar iria adquirir grande importân-
cia, já que a caminhada do iniciado representa uma marcha em
direção à Luz, ao Sol, meta transcendental dos povos antigos. O
fascínio do Sol, centro de nosso sistema planetário, está presente
em muitas áreas da mística humana: para a Alquimia, o Sol repre-
senta o ouro; para a teurgia, é a emanação de Deus; para a magia,
é a fonte de luz astral. Para a Maçonaria, entretanto, o Sol simboliza
a luz do conhecimento, a meta do iniciado, que, vindo das trevas
(simbólicas) do Ocidente (Oeste), caminha em direção à luminosidade
do Oriente (Leste), onde nasce o Sol e de onde veio a luz das anti-
gas civilizações orientais.
Assim, desconsiderando-se as diferenças entre os he-
misférios Norte e Sul da Terra e considerando-se apenas as condi-
ções do hemisfério Norte, onde surgiu a Maçonaria, para efeito de
padronização mundial, o candidato à iniciação penetra, em Loja,
pela parte ocidental, onde, simbolicamente, não há luz. Depois de
iniciado, em sua caminhada, em busca do aperfeiçoamento, terá
lugar, inicialmente, na parte menos atingida pelos raios solares – ou
seja, o Norte, no hemisfério Norte – passando, depois, pelo Sul,
onde já há mais luz, pela proximidade do equador terrestre, até che-
gar ao Oriente, onde, simbolicamente, reina a luz eterna do Sol. Isso
porque, simbolicamente, a Loja maçônica é cósmica, ou universal,
já que representa o nosso planeta, com seus pontos cardeais e o
seu firmamento, estendendo-se de Norte ao Sul, de Oriente ao Oci-
dente e do zênite ao nadir4. As suas colunas vestibulares, que se
encontram no átrio da Loja, representam, simbolicamente, os trópi-
cos de Câncer e de Capricórnio, o que quer dizer que a linha imagi-
nária que se encontra no centro do espaço entre elas, é o equador
terrestre.
Os principais cargos de dirigentes de uma Loja já sofreram
interpretações místicas, nem sempre aceitas, mas, todavia, menci-
onadas. Esses cargos seriam associados ao misticismo religioso
mesopotâmico, através de sua representação astronômica, englo-
bando os sete “planetas” conhecidos na Antiguidade – Sol, Lua,
Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Desta maneira, teríamos:
O Venerável Mestre (ou Presidente) é assimilado ao plane-

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Zênite, do árabe samt: caminho, direção, designa o ponto em que a vertical
de um determinado local corta a esfera celeste acima do horizonte. Nadir, do árabe
natir: ponto diametralmente oposto a outro, designa o ponto diametralmente oposto
ao zênite. É o ponto do céu, situado sobre a vertical do lugar, do lado da Terra em
oposição ao ponto em que estiver colocado o observador.
ta Júpiter que no panteão dos deuses babilônicos era o régio se-
nhor dos homens; simboliza a sabedoria.
O 1° Vigilante (ou 1° Vice-Presidente) é assimilado ao pla-
neta Marte que , como deus mesopotâmico, era o senhor da guerra;
simboliza a força.
O 2° Vigilante (ou 2° Vice-Presidente) é associado ao pla-
neta Vênus, feminilização na mitologia babilônica e que era a deusa
mágica da fertilidade e do amor; simboliza a beleza.
O Orador é assimilado ao Sol, pois dele emana a luz como
guarda da lei maçônica, que é, além de responsável pelas peças de
oratória.
O Secretário é assimilado à Lua, pois na confecção das
atas, reflete as conclusões legais do Orador (o Sol).
O Tesoureiro é assimilado ao planeta Saturno, o deus
babilônico frio e cruel; com seus “anéis”, simboliza a riqueza.
O Mestre de Cerimônias é assimilado ao planeta Mercú-
rio, o deus veloz e astuto, pois esse oficial maçônico, sempre circu-
lando pelo templo, como elemento de ligação, imita o planeta que
mais rapidamente circula em torno do Sol.
Todavia, sem sobra de dúvidas, a maior influência mística
da civilização mesopotâmica sobre a Maçonaria é aquela referente
ao culto do deus agrário Dumuzi, precursor de todas as lendas
sobre os mistérios da morte e ressurreição, incluindo-se a lenda
egípcia do deus Osíris e a lenda grega da deusa Deméter (Ceres,
dos romanos), inserida nos chamados “Mistérios de Eleusis”, ordem
iniciática da Grécia Antiga.
Sendo a Maçonaria, uma instituição iniciática hermética, que
ensina a sua ciência e a sua doutrina através de símbolos, de alto
significado espiritual e esotérico, ela também, como outras ordens
iniciáticas, considera a iniciação como o símbolo da morte do inici-
ado e o seu renascimento em um plano superior, mais espiritualizado.
O iniciado, por suas sucessivas e simbólicas mortes e ressurrei-
ções, chegará à plenitude dos ensinamentos esotéricos, alcançan-
do, então, a tranqüilidade e a paz do mais elevado mundo da
espiritualidade humana.
Dizem, muitos autores, que isso é baseado na lenda de Osíris
e nos Mistérios de Eleusis. Todavia, como essas lendas simbolizam
a eternidade, através da imortalidade do espírito, elas nada mais
são do que uma extensão do mito de Dumuzi. Aceitando essas len-
das e mitos e incluindo-os em sua doutrina moral e anagógica, a
Maçonaria aceita a imortalidade da alma, princípio que, ao lado da
crença em um ente criador supremo, domina a estrutura metafísica
da maioria dos ritos maçônicos, com exceção dos ritos chamados
racionais, ou adogmáticos.
Do culto do deus agrário Dumuzi e da lenda egípcia de Osíris,
originou-se na Maçonaria, a lenda de HIRAM ABI – embora existam
influências de outras lendas medievais das organizações de cons-
trutores – que, pela lenda, teria sido o construtor do primeiro Tem-
plo de Jerusalém (o de SALOMÃO), como se verá adiante.
4
A M´ística do Antigo Egito

HISTÓRIA EGÍPCIA

Apenas começamos a conhecer, realmente, o Egito, a partir


de 3.200 a.C., não existindo, todavia, qualquer solução de continui-
dade entre o Neolítico e a fase histórica, já que o país revela-se, ao
mesmo tempo, antigo e contínuo.
Antes do IV milênio a.C., homens vindos do Saara, que se
ressecava rapidamente, foram se estabelecendo em torno do rio
Nilo, num solo que era um verdadeiro oásis, em pelo clima saariano,
fértil e cultivável, graças às inundações do rio, regulares e extrema-
mente ricas em húmus. A configuração da região, entretanto, torna-
va precária uma unidade territorial, havendo, então, inicialmente,
uma divisão natural entre o Alto Egito, cercado pelos rebordos dos
desertos da Líbia e da Arábia, e o Baixo Egito, formado pelo delta
do Nilo, um largo leque, repleto de charcos, que, muitas vezes, tor-
navam difícil a circulação.
Depois de curto período proto-histórico, assinalado pela
predominância de povos asiáticos, vindos pelo istmo de Pelúsio,
uma revolução nacional realizou, do sul para o norte, a unificação
do Egito, fundindo, em uma só, as suas coroas: a vermelha, do Baixo
Egito, e a branca, do Alto Egito. Iniciava-se, então, a primeira dinas-
tia do Antigo Império, com o rei MENÉS – que muitos chamam de
MANU – tendo, por capital, Tinis. A partir da III dinastia, a capital
seria transferida para Mênfis, junto ao delta do rio Nilo. Assim, as
duas primeiras dinastias foram chamadas de tinitas, enquanto as
restantes, do Antigo Império, são as menfitas.
É durante o reinado das III, IV e V dinastias – corresponden-
tes, no tempo, ao período acádio da Mesopotâmia – que se encon-
tra o apogeu do Antigo Império, entre 2.700 e 2.400 a.C. Na III Dinas-
tia, o maior rei foi DJESER, assessorado por seu ministro IMHOTEP, que,
mais tarde, seria divinizado e assimilado a Esculápio, na época lágida
da Grécia Arcaica. Na IV dinastia, são encontrados os construtores
das pirâmides: KHUFU, KHAFRA e MENKHAURA, chamados, pelos gregos,
respectivamente, de QUÉOPS, QUÉFREN e MIQUERINOS. A V dinastia assi-
nala o início da decadência do Antigo Império, pois, nela, já é en-
contrado o início da teocracia, implantado pelos sacerdotes da ci-
dade de Heliópolis (nome dado, pelos gregos e que significa “cida-
de do Sol”), fanáticos seguidores do deus Rá (o Sol), que suplanta,
politicamente, o deus Phtá, de Mênfis.
A decadência do Antigo Império iria até à X dinastia, por
volta de 2.250 a.C., quando haveria o esfacelamento do Egito e,
posteriormente, a supremacia da cidade de Tebas, iniciando-se o
Médio Império, sob a direção dos faraós5 tebanos, dos quais os
maiores foram os da XII dinastia, a dos AMENEMAT e dos SENUSRET. O
fim do Médio Império seria assinalado pela invasão dos hicsos, povo
de origem semita e que seria o principal responsável pela ida dos
hebreus ao Egito. Ao final do domínio dos hicsos, suplantados, que
foram pelos faraós tebanos, inicia-se o Novo Império, cujos princi-
pais soberanos foram TUTMÉS III, RAMSÉS II e AMENÓFIS IV. Este último,
que reinou de 1370 a 1.352 a.C., passou à História como o soberano
que ousou quebrar o excessivo poderio dos sacerdotes de Ámon,
tornando-se um místico do Sol, simbolizado por seu disco (Áton);
assim, mudou seu nome para AQUENÁTON e a sede do reino, de Tebas
para Aquetáton (“horizonte do disco”), conhecida pelo nome de Tel-
el-Amarna, tentando tornar universal a sua religião solar monoteísta.
Seu sucessor, todavia, quase uma criança, pressionado pelo gran-
de poderio da classe sacerdotal, voltou a Tebas e mudou o seu nome,
de TUTANCÁTON para TUTANCÁMON, restaurando o culto de Ámon e satis-
fazendo aos verdadeiros dominadores do Egito.
Posteriormente, a nação egípcia seria esfacelada pelas gran-
des invasões de seu território, pelos assírios, persas, macedônios
e, finalmente, pelos romanos, quando deixaria de existir como uni-
dade nacional.

5
Faraó, do egípcio Par-aã, significava “casa grande”. O faraó era, portanto, o
senhor da casa grande.
A RELIGIÃO E O MISTICISMO EGÍPCIO

A teocracia, como se viu, dominou, praticamente, toda a


História do Egito Antigo, o que iria gerar conceitos religiosos arrai-
gados e práticas místicas, ainda pouco conhecidas, mas vastamente
explorada pelos místicos contemporâneos, mesmo sem comprova-
ção.
Ao analisar o Egito, o historiador grego HERÓDOTO assim es-
creveu:

Como o céu do Egito é diferente do céu de qualquer outro


lugar, como o Nilo não é como os outros rios, assim os
rituais e costumes dos egípcios são, em quase tudo, dife-
rentes dos outros povos. Eles são muito devotos, mais do
que outros povos.

Esse é o traço marcante da civilização egípcia, onde tudo


tinha caráter religioso e, quase sempre, a serviço do culto aos mor-
tos, pois a preocupação com o além dominava o misticismo egípcio,
estando presente, inclusive, nas Artes e na Arquitetura.
O monumentalismo da Arquitetura, a grande espessura dos
muros dos templos e um grande número de colunas que ocupam
quase todo o espaço interno são a expressão máxima da arte religi-
osa egípcia. Ao contrário das colunas gregas que suportam um
entablamento, as egípcias não necessitam escorar tetos pesados,
tendo, mais, um valor simbólico. Todas as formas das partes
arquitetônicas são mais determinadas pelo seu valor simbólico do
que por sua função estética; os templos representavam uma ima-
gem simbólica do mundo, com o teto representando o firmamento e
o piso, a Terra, da qual brotam as colunas como gigantescos papi-
ros. Com base nessa concepção é que as Lojas maçônicas também
representam uma imagem simbólica do mundo.
As esculturas e as pinturas dos faraós e outros dignitários
também possuíam um caráter místico, pois representavam uma
manifestação mágica, garantindo, ao retratado, a vida eterna.
Como a arte religiosa é monumental, carregada de símbo-
los e, principalmente, conservadora, a arte egípcia permaneceu pra-
ticamente imutável durante os séculos e milênios que durou a civili-
zação do Antigo Egito. Dentre as obras monumentais egípcias des-
tacam-se, obviamente as famosos pirâmides de Gizé, próximas ao
delta do Nilo, construídas durante a IV Dinastia do Antigo Império
(cerca de 2.600 a.C.) pelos faraós KHUFU, KHAFRA e MENKHAURA. Essas
pirâmides, principalmente a de Khufu, que é a maior e chamada de
Grande Pirâmide, despertam, até hoje, com base no elevado grau
de misticismo do povo egípcio, grandes elucubrações místicas e
pseudocientíficas, muitas vezes absurdas e afastadas da realidade
histórica.
O forte caráter religioso que dominou o Egito Antigo, já se
faz presente e é bem definido no próprio poder real, desde os seus
primórdios: o Faraó (“Senhor da Casa Grande”) era considerado
um deus, filho de Hórus, amado de Amon e filho de Rá. Na sua pes-
soa divinizada, combinavam-se as contribuições dos antigos reinos
do norte e do sul, simbolizadas pelas duas coroas (a vermelha, do
Baixo Egito, e a branca, do Alto Egito) e pelo entrelaçamento à volta
do pilar sagrado, das duas plantas sagradas egípcias, o lótus e o
papiro, e dos dois emblemas, o caniço e a abelha.
Inicialmente o deus governante não era dependente da clas-
se sacerdotal; posteriormente, com a fixação da teocracia, todo o
aparelho do Estado era, francamente, dominado pelos sacerdotes
que representavam a classe dominante e a única a ter acesso aos
mistérios maiores do culto e da magia.
A teologia egípcia baseava-se nas fontes populares e tinha
seus primórdios na pré-história; na zoolatria, sobreviveram cren-
ças antigas de adoração totêmica: do íbis, do crocodilo, do chacal,
do leão, do abutre, etc., animais transformados em demônios e deu-
ses. As forças da natureza, os astros, as forças da alma humana
transformaram-se em deuses vivos, proporcionando um incalculá-
vel número de divindades no mundo sobrenatural.
A partir daí, pode-se distinguir, em linhas gerias, duas mo-
dalidades distintas na religião egípcia: a popular e a sacerdotal,
representada, esta última, pelas doutrinas esotéricas dos sacerdo-
tes, não acessíveis ao povo.
A religião popular que encontra as suas origens no Neolítico
reconhecia múltiplos deuses, representados, simultaneamente sob
a forma animal e antropomórfica; o totemismo é o culto dos totens
e, esses, são animais, plantas, objetos ou fenômenos naturais, a
que certos povos primitivos se julgavam ligados de forma sagrada,
sendo vedado atentar contra eles.
A característica principal dessa religião popular totêmica
era o seu regionalismo, pois cada unidade territorial do Império egíp-
cio possuía o seu deus-rei, representado, com freqüência, acompa-
nhado de um animal, que seria a sua encarnação visível aos ho-
mens.
Os deuses populares do Norte seguiam mais essa caracte-
rística, como se pode perceber em Hórus (falcão), do Delta; Toth
(íbis), de Hermópolis; Hator (vaca), de Dendera, etc.; os deuses do
Sul, ao contrário, eram mais políticos e humanos: Min, de Coptos;
Amon, de Tebas e Consu, o deus-lua, de Hermonte, filho de Amon.
Todos esses deuses locais seguiram o destino político do
seu lugar de origem; desta maneira, houve, a partir da V Dinastia, a
supremacia do deus Rá, de Heliópolis, da maneira que, na XII Dinas-
tia, o deus Amon, de Tebas, tornou-se o supremo, propiciando, pos-
teriormente, um sincretismo, sob a forma de Amon-Rá. Diga-se, to-
davia, a bem da verdade, que, durante muito tempo, as crenças
populares ligaram-se somente aos deuses locais, ignorando o
dogmatismo e a teologia nacional imposta pelos sacerdotes e pelo
poder real.
Ao lado dessa religião popular, impregnada de zoolatria e
de magia (através dos amuletos), encontravam-se as doutrinas
esotéricas dos sacerdotes de Hermópolis e de Heliópolis, originan-
do cosmogonias complexas. Segundo o dogmatismo sacerdotal, os
deuses podiam ficar velhos e morrer; os seus filhos podiam herdar
os seus poderes e funções e gerar os descendentes com as própri-
as mães, sendo, estas, a parte constante da tríade pai, mãe e filho;
as tríades de deuses formavam uma enéade. Originavam-se daí,
muitas confusas cosmogonias, como a da criação do mundo, atra-
vés dos Oito ou Nove deuses primordiais (Octóade ou Enéade) sa-
ídos do caos primitivo.
O traço marcante da vida religiosa do povo era a preocu-
pação com o além, com o destino do homem depois da morte física.
Acreditavam os egípcios que, após a morte continuavam a vida em
um outro mundo, desde que houvesse a necessária conservação do
corpo, como moradia da alma. Dessa crença, surgiu a prática de
embalsamar e mumificar os corpos dos mortos que, a princípio,
atingiu as personalidades mais ilustres, estendendo-se, depois, ao
povo, embora a sofisticação do método estivesse, sempre, relacio-
nada com a escala hierárquica.
Além da mumificação, os mortos passavam para a outra
vida em companhia de tudo aquilo que lhes havia pertencido na
Terra e que iria servir-lhes em outra existência. A princípio, o finado
de alta classe não era encerrado sozinho na sua tumba que imitava
um verdadeiro palácio real: junto com ele, eram encerrados seus
criados, suas esposas, concubinas e oficiais. Isso, evidentemente,
ocorria mais com os faraós, pois, morto o faraó que era o deus vivo,
filho de Hórus e o sol para os membros da casa real, todos estes
deviam morrer, também. Posteriormente, esse sistema foi abando-
nado, implantando-se outro, apenas simbólico: no lugar das pesso-
as eram inumadas estatuetas – ushabtis – que as representavam.
Em relação com essa preocupação religiosa com o além,
pode-se notar, na história egípcia, uma evolução em relação à par-
ticipação do povo. No Antigo Império, apenas o faraó tinha acesso
à vida além-túmulo, pela sua identificação, primeiro a Osíris e, pos-
teriormente, ao deus-sol Rá. Todavia, a partir do Médio Império, os
altos funcionários e, depois, o próprio povo, passou a gozar dessa
regalia, sob a condição de terem tido uma vida baseada na justiça e
na retidão; desenvolveu-se então a doutrina de se efetuar o peso
das almas – psicostasia – acompanhadas, porém, progressivamen-
te de práticas de magia, com a finalidade de dissipar as ameaças
do fatal julgamento. Nota-se assim que o progresso na senda da
moral da vida, totalmente racional, foi praticamente substituída pelo
recurso à magia, prática que dominaria completamente e perene-
mente os costumes egípcios, fazendo com que se torne discutível a
contribuição egípcia no campo intelectual e científico.
Embora fosse muito confuso o conceito do deus-sol, tendo,
o astro, diversas representações – Rá, Amon, Hórus, o sol nascente
no horizonte, etc., o certo é que ele era num certo desvio para o
monoteísmo, o deus do Império unificado e o Senhor do Céu e dos
deuses. Havia, entretanto, apenas um deus egípcio, cuja importân-
cia, no panteão do Egito, era semelhante a do deus-sol:
Osíris, deus da fertilidade e do Reino dos Mortos, cuja len-
da tinha grande sucesso entre o povo, preocupado com o além,
pois mostrava os mistérios da morte e da ressurreição, como outras
lendas, incluindo a de Dumuzi, dos povos antigos.
Foi Plutarco que deu, no primeiro século da era cristã, a
melhor versão da lenda de Osíris, confirmada, depois pela tradução
dos textos hieróglifos. Em resumo, ela conta o seguinte:

Osíris foi um grande rei egípcio, muito sábio e bondoso,


cuja preocupação era civilizar o povo e tirá-lo de seu pri-
mitivo barbarismo. Ensinou ele, portanto, aos homens, o
cultivo da terra, o culto dos deuses e os fundamentos da
lei. Depois de concluir a sua obra no Egito, foi transmitir os
mesmos ensinamentos a outros povos, enquanto que, em
sua ausência, o país era governado por Isis, sua esposa,
que enfrentava a inveja e os instintos malévolos de Set, ou
Tifão, irmão de Osíris e personificação do mal.
Quando Osíris regressou ao Egito, Set tramou uma conspi-
ração contra ele, conseguindo convencer outras pessoas
a auxiliá-lo. Tendo conseguido tomar as medidas do corpo
de Osíris, mandou construir, secretamente, um caixão com
essas medidas; e, durante uma festividade, trouxe o cai-
xão até ao centro de seu salão de banquetes, onde, entre
outros convivas, estava Osíris, e, em tom de brincadeira,
prometeu dá-lo de presente àquele cujo corpo se ajustas-
se ao caixão. Todos os convidados atenderam à brincadei-
ra e fizeram a experiência, sem que nenhum deles tivesse
correspondido às medidas. Chegada à vez de Osíris, este
se deitou no caixão e, imediatamente, Set e seus sequa-
zes fecharam, firmemente, sua tampa, soldando-a com
chumbo, após o que o jogaram nas águas do Nilo.
Isis, tomando conhecimento do fato, vestiu-se de luto e
saiu à procura do corpo de Osíris, pois soubera que o cai-
xão havia sido carregado até a Biblos, no delta do Nilo,
onde se enroscara numa tamareira, que crescera, enor-
memente, em torno dele, ocultando-o; devido ao grande
tamanho da árvore, o rei daquela região a havia cortado e
a transformara numa coluna, para sustentar o peso do seu
palácio.
Assim, foi, Isis, para Biblos e empregou-se como ama de
um dos filhos do rei; e, em todas as noites, ela colocava a
criança no fogo, para consumir suas partes mortais, en-
quanto se transformava numa andorinha, para lamentar a
morte do marido. Em certa ocasião, porém, a rainha viu
seu filho em chamas e gritou, angustiada, privando-o, as-
sim, da imortalidade que lhe seria concedida por Isis. A
deusa, então, revelou-se à rainha e solicitou que esta lhe
desse a coluna que sustentava o teto do palácio. Atendida,
ela retornou ao Egito, levando o caixão com o corpo de
Osíris e ocultando-o em local secreto, enquanto procurava
seu filho Hórus.
Todavia, certa noite, enquanto caçava, Set, casualmente,
encontrou o caixão e, reconhecendo o corpo de Osíris,
cortou-o em quatorze pedaços e espalhou-os por todo o
Egito. Ao tomar conhecimento disso, Isis construiu um bar-
co de papiro e tratou de procurar e juntar todos os peda-
ços do corpo.
Osíris, com seu corpo reconstituído, voltou do além e or-
denou ao seu filho, Hórus, que lutasse contra Set. Obede-
cendo, Hórus lutou com o assassino de seu pai, durante
vários dias, até vencê-lo. Osíris, então, tornou-se o deus e
o juiz do reino dos mortos.

Essa lenda é, indisfarçavelmente, decalcada nos mitos so-


lares, já que, segundo ela, Osíris foi assassinado no 17° dia do mês
de Hator, data que marcava o começo do inverno. Assim, ela
mostra o Sol (Osíris), morto pelas forças das trevas (Set), para re-
nascer, posteriormente, completando um novo ciclo, que é, tam-
bém, representado pelas sucessivas mortes e renascimentos dos
vegetais, de acordo com a influência solar.
Isso mostra que a Astrologia era muito praticada no Antigo
Egito, trazendo, como conseqüência, grandes conhecimentos as-
tronômicos. Já no terceiro milênio a.C., os egípcios elaboraram um
calendário solar, que era o mais perfeito da Antigüidade, permitin-
do-lhes, inclusive, prever as cheias do rio Nilo. Desde essa época,
no Egito, praticava-se uma forma muito mística de Astrologia, total-
mente dependente do eixo econômico e religioso de sua civilização,
ou seja, o Nilo. O rio era a fonte de toda a vida e os egípcios acredi-
tavam que as cheias, que traziam fertilidade a uma região que seria
estéril sem ele, eram ativadas pela ação combinada do Sol e de
Sirius, tendo, esta estrela, em razão disso, assumido grande impor-
tância. As pirâmides, construídas durante a III Dinastia do Antigo
Império, tinham dupla finalidade: monumento funerário e calculado-
res astrológicos.

6
Ramsés II (1301-1225 a.C.), faraó da XIX Dinastia, também conhecido como “o
Grande”, era filho de Seti I e governou o Egito durante 67 anos. Sob a sua direção, o
país experimentou uma grande prosperidade econômica e uma era de paz, depois da
decisiva vitória sobre os hititas, na batalha de Kadesh (1272 a.C.). Faraó da época do
êxodo dos hebreus foi o responsável pela determinação dos signos astrológicos
cardeais. Construiu Tebas e, por ordem sua e sob a sua direção, o majestoso Templo
de Abu-Simbel foi esculpido na rocha, a partir de princípios astrológicos; também o
seu imponente hipostilo no Templo de Ámon, em Karnak, foi idealizado em relação
aos pontos fixos da esfera celeste.
ORIENTE

SOL

MERCÚRIO
JÚPITER

SPICA DA CONST.
DE VIRGEM

ARCTURUS

HÍADAS

ALDEBARAN

PLÉIADES

ORION

URSA MAIOR

SATURNO

FORMALHAUT

REGULUS
ANTARES

LUA
VÊNUS

OCIDENTE

A ABÓBADA ESTRELADA NO TETO DA LOJA


Embora a posição dos astros esteja equivocada do ponto de vista astronômico, a
Abóbada Estrelada representa o céu no dia 21 de março, durante o equinócio de
primavera no Hemisfério Norte

Ao faraó RAMSÉS II6, um dos maiores do Novo Império, é atri-


buída a responsabilidade pelo estabelecimento dos quatro signos
cardeais do Zodíaco: Áries, Libra, Câncer e Capricórnio. Era grande
o interesse desse soberano pela Astrologia e, em decorrência dis-
so, fez decorar o seu túmulo com motivos e símbolos astrológicos
(1.236 a.C.).
RAMSÉS VI foi, também, um nome importante na Astrologia
egípcia e, em sua tumba, aparece um notável mapa estelar, confec-
cionado na forma de um homem sentado.
Todo o misticismo egípcio foi, sempre, decalcado no
politeísmo; todavia um dos faraós mais místicos de sua história foi,
justamente aquele que tentou introduzir e impor o monoteísmo so-
lar: AMENÓFIS IV, o mais original e discutido dos faraós que reinou de
1.370 a 1.352 a.C. Empenhado em quebrar o excessivo poderio dos
sacerdotes de Amon, ele abandonou a política externa e a adminis-
tração para se tornar um místico do Sol, simbolizado por seu disco
– Áton – cujos raios espalham, por toda parte, a alegria e a felicida-
de.
Amenófis IV adotou o nome de AKENÁTON e deixou Tebas, onde
se encontrava a sede do governo faraônico, instalando-se na nova
localidade de Aketáton (“horizonte do Disco”), conhecida sob o nome
de Tel-el-Amarna. O culto foi renovado segundo as agressivas ten-
dências naturistas e monoteístas; parece que teologicamente,
Akenáton, contra o Amon tebano, o Rá-Haractés de Heliópolis, sim-
plificando-o, para tornar sua religião universal. Não se sabe, até
hoje, se essa iniciativa do faraó foi apenas a expressão de podero-
sa mística pessoal, do desejo de reforçar a monarquia, ou, até mes-
mo, do plano imperialista de associar todo o Oriente ao redor de
uma figura egipcianizada do Sol, comum a todos os povos. De qual-
quer maneira, a experiência pouco durou: com a morte do soberano
e na falta de herdeiros masculinos, subiu ao trono MERIT-ATON, filha
mais velha do faraó, não tendo, o seu reinado durado muito, pois
junto com seu marido, SMENKHARE, foi assassinada; com isso, sobe
ao trono o genro de Akenáton, casado com sua filha ANKSENPAÁTON.
Esse genro tinha o nome de TUTANCÁTON e assumiu o governo com
apenas nove anos de idade, tornando-se presa fácil dos sacerdo-
tes de Amon; sob a influência sacerdotal, ele restabeleceu o culto
de Amon e mudou seu nome para TUTANCAMON.

MISTICISMO EGÍPCIO E MAÇONARIA

A influência do misticismo egípcio sobre a Maçonaria é, em


sua grande parte, similar à influência mesopotâmica, no que se re-
fere ao culto solar e à Astrologia, sendo de se destacar que o hábito
de decorar o teto maçônico com estrelas, planetas, o Sol e a Lua é
de origem egípcia, pois imita o templo de Luxor que apresentava o
teto todo estrelado (como já foi relatado, os templos egípcios eram
a imagem simbólica do mundo, com o teto representando o céu).
A mais palpável influência mística egípcia no misticismo
maçônico é sem sombra de dúvidas, representada pela lenda de
Osíris que deu origem à lenda moral do Terceiro Grau maçônico, o
grau de Mestre (o Primeiro e o Segundo Graus são, respectivamen-
te, o de Aprendiz e o de Companheiro), também chamada Lenda de
Hiram.
Segundo a lenda, quando Salomão resolveu construir o Tem-
plo de Jerusalém, solicitou o auxílio de seu aliado HIRAM, rei da cida-
de fenícia de Tiro; este então lhe enviou HIRAM ABI (“Hiram, meu pai”)
que seria o mestre responsável pela construção do Templo.
Hiram, então, dividiu os seus subordinados em três
categoriais de artesãos, de acordo com as aptidões de cada um;
essas três categorias eram as de Aprendiz, Companheiros e Mes-
tres. Hiram também dava a oportunidade dos artesãos subirem de
categoria, de acordo com os seus méritos e os seus esforços.
Existiram, todavia, três companheiros, que sem o tempo
necessário e sem méritos, desejavam ascender à categoria de Mes-
tre, necessitando, para isso, da palavra do grau, ou da categoria,
chave da ascensão ao mestrado; negando-se Hiram a revelar esse
segredo, os três maus Companheiros o assassinaram e esconde-
ram o seu corpo que seria achado, posteriormente, pelos Mestres
enviados por Salomão, para esse fim. Hiram, então, reconstituído
renasce no plano espiritual, à semelhança de Osíris.
Essa lenda encerra duas lições sociais, ou seja: a cada um,
segundo as suas aptidões e a cada um, segundo os seus méritos;
essas lições envolvem um acentuado senso de justiça, que é uma
das metas primordiais da Maçonaria, já que esse tipo de justiça
quase inexiste no mundo, onde há uma inversão de valores, quase
generalizada, e, onde a ascensão dos homens, de maneira geral, se
faz por meios espúrios e antiéticos, através do poder corruptor da
pecúnia, ou das pressões físicas e mentais.
Além das lições sociais, ela mostra o misticismo em torno
dos mistérios da morte e do renascimento no plano espiritual, como
ocorre com a lenda de Osíris e outras lendas semelhantes do mun-
do antigo.
A lenda de Hiram Abi, evidentemente, é só uma lenda, sem
nada de verdadeiro, já que Hiram era um hábil entalhador de metais,
mas não construiu o templo. Seu trabalho teria sido – e assim con-
firma o texto bíblico – o de decorar as colunas e os objetos metáli-
cos do templo. Também não consta que tivesse sido assassinado.
E, por último, é claro que não existia Maçonaria naqueles recuados
tempos – ela é medieval – e nem a divisão de obreiros em Aprendi-
zes, Companheiros e Mestres.
Ainda com relação à lenda de Osíris, alguns autores citam a
expressão “filhos da viúva”, para designar os maçons, já que eles se
identificariam com Hórus, filho de Ísis, a Mãe Universal, a personifi-
cação da Natureza, viúva de Osíris, o deus dos mortos e a repre-
sentação da luz do Sol. Mas deve ser considerado, também, no caso,
o fato de Hiram Abi, a personificação do mestre perfeito, ser filho de
uma viúva, da tribo de Neftali.
As colunas vestibulares das Lojas maçônicas também mos-
tram influências egípcias, não tendo qualquer semelhança com as
colunas do templo de Jerusalém, de acordo com a descrição bíbli-
ca. Elas são do tipo babilônico, já que os egípcios sofreram influên-
cia da Babilônia, mas os seus elementos principais são egípcios,
com a ornamentação lembrando o lótus e o papiro7, as duas plantas
sagradas do Antigo Egito, que se encontravam entrelaçadas à volta
do pilar sagrado, simbolizando as contribuições do Alto e do Baixo
Egito, na pessoa divinizada do faraó.
Essas são as principais contribuições do Antigo Egito para
a concretização do misticismo maçônico. Não se pode, todavia en-
cerrar este capítulo sem uma referência mais específica à Grande
Pirâmide (a maior das três grandes pirâmides de Gizé: a de Khufu
ou Queóps), motivo de incontáveis especulações místicas.
Em relação à Maçonaria, muitos autores, desprezando a
realidade histórica e afundando num total misticismo falam dos MIS-
TÉRIOS EGÍPCIOS, cujo centro principal, para sua execução pública, era
a grande pirâmide, chamada Khut (a Luz) que teria sido construída
segundo rigorosos cálculos astronômicos e matemáticos para os

7
Papiro, do grego: pápyros, pelo latim: papyrus é uma planta da família das
Ciperáceas (Cyperus papirus), cultivada ao longo do rio Nilo e cujas hastes são formadas
por folhas sobrepostas. Os antigos egípcios separavam as folhas, utilizando-as para a
escrita, depois de preparadas, convenientemente. Lótus, do latim: lótus: loto, é uma
planta da família das ninféias; é, também, o nome da flor dessa planta. O papiro era,
ao lado do lótus, uma das plantas sagradas do Antigo Egito, pela sua importância,
como fator civilizador, através da escrita, nele imprimida, e também pelo seu caráter
místico: foi num barco de papiro que Ísis desceu o Nilo, à procura dos restos mortais
de seu marido, Osíris, assassinado por Seth, ou Tifão.
ritos iniciáticos astronômicos e matemáticos para os ritos iniciáticos
e como chave para os enigmas do Universo, 75.000 anos a.C., pelo
povo da Atlântida que teria ocupado o vale do Nilo há 150.000 anos.
A afirmação é passível de crítica por vários motivos:

1. O mito da Atlântida, introduzido na cultura ocidental por Platão,


permanece como mito, pois não teve, ainda comprovação, servindo
para toda gama de especulações. Sua história foi contada pela pri-
meira vez por Platão como uma parábola para exemplificar como o
Céu castiga aqueles que adoram deuses falsos; ao mesmo tempo, o
filósofo grego sugeria a autenticidade da narrativa, a qual seria a
reminiscência de um cataclisma terrível, cuja história foi transmiti-
da oralmente ao longo dos séculos.
Admite-se hoje que o que deu origem ao mito da Atlântida
foi uma explosão vulcânica da ilha de Kallisté, atualmente conheci-
da por Santorini, a qual produziu uma vaga sísmica que devastou a
maior parte da florescente ilha de Creta; esta se encontrava na era
minóica, a idade de ouro de sua civilização.
Não sendo grandes navegadores, os egípcios recebiam
muitas visitas marítimas dos cretenses e sabiam que eles possuíam
uma civilização muito avançada em relação à sua época, onde exis-
tia igualdade entre os homens e as mulheres – enquanto no resto do
mundo a mulher era considerada como uma propriedade – e onde
havia água canalizada e se construíam complexos sistemas de es-
gotos, enquanto os outros povos dependiam de poços.
Os egípcios certamente tiveram conhecimento da catástro-
fe que atingiu Creta, já que isso afetava a sua economia, muito de-
pendente do comércio marítimo cretense, e os navegadores haviam
desaparecido subitamente já que os seus barcos não voltaram aos
portos do Nilo. Desta maneira, para os antigos egípcios aquela ilha
rica e fértil, a noroeste, deixara de existir, sendo a lembrança de sua
extinção, ligada à memória da grande catástrofe que abalara a zona
leste do Mar Mediterrâneo. Aí nascia o mito da Atlântida.
Isso ocorreu por volta de 2500 a.C. e é preciso notar que a
avançada civilização, descrita por Platão, na lenda da Atlântida,
apresenta notável semelhança com a sociedade minóica, de acor-
do com as descobertas feitas na ilha de Creta pelo arqueólogo in-
glês SIR ARTHUR EVANS, em 1900.
Creta era um próspero império, a principal potência medi-
terrânea e local onde floresceu a primeira e mais original forma de
civilização requintada do Ocidente. Platão não poderia ter reconhe-
cido no mito da Atlântida, essa civilização cretense de antes da
catástrofe, a civilização minóica, pois ela era desconhecida na Grécia
da Antigüidade Clássica, que só conhecia os povos posteriores da
ilha.
2. Há 150.000 anos, conforme já foi esclarecido, a Humanidade
encontrava-se no Paleolítico Médio, sendo representada pelo Ho-
mem de Neanderthal, que povoaria a terra até cerca de 40.000 anos
a.C., sendo muito diferente, culturalmente do Homo Sapiens, não
tendo meios, portanto para construir grandes monumentos como as
pirâmides.
3. A Grande Pirâmide, apesar de todo o seu tamanho e volume
(ocupando uma área de 5,5 hectares, com uma base de 228 metros
de lado e com uma altura primitiva de 146 metros), tem na realidade
muito pouco espaço vazio: a Câmara do Rei e a Câmara da Rainha,
no corpo da pirâmide (há outra câmara subterrânea), além de cor-
redores de acesso e condutores de ventilação. Na verdade, como a
pirâmide era um monumento funerário, construindo por volta de 2.500
a.C., tanto a câmara subterrânea, como a Câmara do Rei (esta situ-
ada a 42 metros de altura) e a Câmara da Rainha, eram destinadas
ao faraó, caso ele morresse antes de ser terminada a construção,
ou melhor, antes que a verdadeira câmara mortuária (a do Rei) esti-
vesse pronta.
As duas câmaras do corpo da pirâmide são bastante dimi-
nutas: a maior delas (a Câmara do Rei), onde foi encontrado um
sarcófago vazio, de granito vermelho, tem apenas, cinqüenta metros
quadrados (05 por 10 metros). Ora, seria um contra-senso destinar
um local tão pequeno, em relação à grandeza de todo o monumento
para a execução dos chamados “Mistérios”.
Além disso, os arqueólogos encontraram, sobre a Câmara
do Rei, cinco pequenos compartimentos, bastante baixos e
superpostos, com seis metros de largura, destinados a servir de
amortecedores, para aliviar o teto da câmara da tremendo pressão
exercida pelas toneladas de pedra e, também, para que, em caso
de algum cataclisma (terremoto, por exemplo), que chegassem a
despedaçar o corpo da pirâmide, as pedras não atingissem o inte-
rior da câmara, mostrando a evidente preocupação com o conteú-
do da mesma, ou seja, o corpo de um grande governante e todos os
seus objetos de uso pessoal, dada a crença egípcia de que, após a
morte, o homem desfrutaria de uma vida, no além, semelhante à da
terra, para o que seriam indispensáveis o seu corpo e os seus bens
terrenos.
Alguns autores ocultistas, que querem fazer crer que a Gran-
de Pirâmide era usada para a prática de ritos iniciáticos, usam,
para contestar a destinação fúnebre da construção, o argumento
de que existiam condutos de ventilação, que iam desde o exterior
até as câmaras; dizem eles: “os mortos não respiram, logo não pre-
cisam de ar”. Ora de fato, esses condutos foram construídos para
os vivos, mas para os vivos que trabalhavam nas obras e não para
os adeptos dos “mistérios”; sob aqueles imensos blocos de pedra,
o ar era extremamente rarefeito e, assim, os operários, que traba-
lhavam nas câmaras necessitavam do ar que vinha através dos con-
dutos. Além disso, esses mistificadores esquecem-se, sempre, de
dizer que quando os homens do califa Al Mamum, no ano 820,
conseguiram entrar na pirâmide, encontraram os condutos de ven-
tilação nas câmaras intencionalmente obstruídos, por pedras ali
colocadas, mostrando que existiam para os operários da constru-
ção e que foram fechados quando perderam a sua utilidade, ou seja,
quando as câmaras ficaram prontas.
As pirâmides, garantia da imortalidade dos faraós que as
ocupavam, foram muito usadas, como monumentos funerários, du-
rante o Antigo Império Egípcio. A primeira grande tumba real, em
forma de pirâmide, foi construída em Sacará, próxima de Mênfis,
durante o reinado de Djeser, por volta de 2.650 a.C, essa tumba
conhecida como Pirâmide dos Degraus, marca as passagens da
arquitetura egípcia dos seus primórdios, em tijolo e madeira, para
as construções monumentais de pedra. Ela representou o início de
uma era de monumentos, e o projeto de Imhotep, para a construção
do túmulo real, seria, posteriormente, aperfeiçoado pelos seus su-
cessores, culminado com as pirâmides de Khufu, Kafra e Menkaura.
Os chamados Textos da Pirâmides, hieróglifos gravados
em colunas de pedra, encontradas na pirâmide do faraó Unas, em
1881, referem-se com bastante precisão ao conceito de que a pirâ-
mide seria uma escadaria divina que conduziria ao céu; a forma das
grandes pirâmides de Gizé, inclusive, poderiam ser interpretadas
como uma representação dos raios do sol, baixando do céu, de
acordo com os mitos solares egípcios.
Conclui-se, enfim, pela rejeição da hipótese de que as pirâ-
mides, principalmente a de Khufu, tivesse m servido como templos
de ordens iniciáticas, ou para execução pública dos “mistérios”.
Na realidade, a pirâmide típica é, apenas, o centro de um complexo
de edifícios destinados às cerimônias fúnebres; pouco acima da
base, encontrava-se o templo superior, destinado a acomodar o
corpo do faraó, sendo ligado a um templo inferior, ou santuário de
recepção, onde eram realizados os ritos de magia, que assegura-
vam, ao governante morto, uma vida eterna no além.
Embora seja extremamente difícil avaliar, com exatidão a
contribuição dos antigos egípcios no terreno intelectual e científico,
eruditos de boa-fé acreditaram ver, na construção das pirâmides,
os traços de extraordinários conhecimentos geométricos, astronô-
micos e, até, mágicos (alguns teóricos afirmam que, além de túmulo,
a Grande Pirâmide era relógio de sol, calendário e observatório as-
tronômico). Hoje, nomeio científico, predomina a prudência e a se-
veridade, pois nenhuma ciência foi, verdadeiramente, concebida,
como tal, por espíritos demasiado religiosos e muito empíricos, como
em todo o Oriente antigo, para poderem chegar à ciência pura, teó-
rica e desinteressada, que permanece como o maior e mais belo
título de glória do povo grego.
Foram os gregos, todavia, que, desde Heródoto, fizeram, da
ciência egípcia, misteriosa, pela sua ignorância da língua do Egito,
e mais grandiosa por causa das gabolices e ostentações dos sa-
cerdotes egípcios, uma idéia demasiadamente elevada, não
ratificada, nem corroborada pela crítica do mundo moderno.

PLANO SECCIONAL DA GRANDE PIRÂMIDE


1. Câmara do Rei; 2. Ante-Câmara; 3. Câmara da Rainha; 4. Grande Galeria;
5. Recintos superpostos (amortecedores); 6. Câmara subterrânea (falsa);
7. Condutos de ar.
5
A Mística Cretense

HISTÓRIA DE CRETA

Creta, situada no mar Mediterrâneo, é uma ilha com 8.378


km2, pertencendo, hoje, à Grécia (desde 1913).
A antiga civilização da ilha de Creta começou a ser um pou-
co conhecida apenas no século XX, a partir das escavações feitas
por sir Arthur Evans, que exumou o palácio real da cidade de
Cnossos, em 1900, último ano do século XIX.
Ela se mostra extremamente original e sedutora, através de
sua arte e por uma espécie de euforia de vida, tipicamente mediter-
rânea. É forçoso que se admita, todavia, que ela ainda nos é prati-
camente desconhecida, pois só temos conhecimento de alguns frag-
mentos de sua história, não sa sabendo nem mesmo o nome de um
rei, já que o famoso nome Minos corresponde a um título, ou ao
nome de uma dinastia, e não, especificamente, a um determinado
monarca. Torna-se, portanto, extremamente difícil o conhecimento
dos detalhes da sociedade, do regime político e das crenças religi-
osas do povo cretense. A história cretense, no dizer de Picard, é um
autêntico “livro de figuras sem legenda”.
Pode-se saber, entretanto, que se desenvolveu, em Creta,
no segundo milênio a.C., a civilização egéia, que serviu de base
para a civilização grega e que se desenvolveu de maneira brilhante,
diferente da do Egito e da Mesopotâmia. Tanto o Egito quanto a
Mesopotâmia, vastas potências continentais, sujeitas a invasões
bélicas do Exterior, tiveram de criar uma sólida estrutura militar,
política e social, a qual levaria à implantação da teocracia8, com os
reis semideuses e com as religiões como meios de coesão territorial.

8
Teocracia (do grego teokratia: império de deus) é o governo em que há
preponderância da classe sacerdotal.
Ao contrário, no mar Egeu, as condições existentes eram
bem diferentes: a população era diminuta e mostrava pouca
homogeneidade étnica, enquanto o território, pouco extenso, com-
preendia uma série de pequenas ilhas, com estreitas faixas costei-
ras, onde a produção agrícola mal dava para atender às necessida-
des da população. O litoral, entretanto, apresentava excelentes por-
tos naturais, o que fez, do povo cretense, uma comunidade dedicada
ao comércio marítimo, o que permitiu uma estrutura governamental
mais descentralizada do que a das potências continentais.
O período chamado minóico antigo, antes do segundo milê-
nio a.C., deixou vestígios arqueológicos, na parte oriental da ilha e
na planície de Messara, onde foram encontrados restos de cerâmi-
ca subneolítica, vasos de pedra e objetos de metal, que mostram
uma influência asiática.
No período denominado minóico médio, no início do segun-
do milênio a.C. – entre 1700 e 1500 a.C. – encontra-se a época dos
grandes palácios de Cnossos, Faistos e Malia, que seriam centros
de principados feudais. Posteriormente, todos os palácios seriam
incendiados, provavelmente em decorrência da incursão dos pri-
meiros aqueus, chegados ao Peloponeso. Pouco depois seriam
reconstruídos os palácios, iniciando-se, então, a supremacia de
Cnossos, o que seria um ensaio de monarquia centralizadora, da
dinastia dos “Minos”, por volta de 1450 a.C. É a época em que um
soberano – “o príncipe dos lírios” – reina num complicado palácio,
que recebe o nome de Labirinto, de acordo com o nome oriental da
dupla acha de armas, ou machado de dois gumes, o labris, emblema
político e, principalmente, religioso, freqüentemente reproduzido no
palácio. Daí surgiu a lenda da construção, por Dédalo, do labirinto,
no qual estava encerrado o Minotauro9.
As maiores informações sobre a civilização cretense, na
realidade, nos chegaram através de sua arte, extremamente desen-
volvida e que, ao contrário da egípcia e da asiática, repudia a
grandiosidade, já que as figuras representadas raramente ultrapas-
sam o tamanho natural. Além disso, as figuras são sempre repre-
sentadas em movimento, o que dá grande dinâmica e beleza ao
conjunto artístico.

9
O Minotauro era um monstro lendário, com corpo humano e cabeça de touro,
o qual, encerrado no Labirinto, se alimentava de carne humana. Foi morto, segundo a
lenda, por Teseu – filho do deus Posseidon (Netuno, para os romanos) e de Etra – que,
orientado pelo fio de Ariadne, penetrou no labirinto e o venceu.
O MISTICISMO RELIGIOSO

Através do estudo das estátuas votivas, pode-se deduzir


que a religião era dominada por um princípio feminino de
fecundidade, o que mostraria influências orientais: a divindade su-
prema é uma Grande-Mãe, servida por sacerdotisas de fartos sei-
os, que manipulam serpentes, símbolos ctônicos10, que seriam, de-
pois, adotados pelos gregos. Os ritos agrários eram freqüentes e os
sacrifícios, não cruentos, consistiam em oferendas de produtos agrí-
colas. É surpreendente a ausência de símbolos masculinos, bem
como de signos astrais e celestes, freqüentes nas religiões conti-
nentais da África e da Ásia; a presença de animais fantásticos, como
grifos e diversos monstros, todavia, mostra uma certa influência
mesopotâmica. O desnudamento do busto feminino aparece somente
em estátuas votivas, devendo ter tido um significado religioso e não
denotando uma moda de seios nus, entre as mulheres cretenses,
como afirmam alguns autores.
As escavações feitas em Creta, não mostraram, em parte
alguma, sinais seguros da existência de templos religiosos; o culto
era celebrado nas grutas, nas elevações, em torno de árvores sa-
gradas e em algumas salas do palácio real, onde foram encontra-
das bacias de água lustral e mesas de oferendas.
Nessas escavações, foram descobertas, entre outras coi-
sas, estátuas votivas, em diversas posições corporais e fragmentos
de pavimentos quadriculados e de barras decorativas, com motivos
geométricos, o que seria uma característica dos cretenses, assim
como de seus sucessores gregos, os quais as usavam para decorar
vasos, paredes, roupas, objetos de uso pessoal, entre outros mate-
riais.

MISTICISMO CRETENSE E MAÇONARIA

Sendo, a civilização cretense, ainda bastante desconheci-


da, seria muito difícil estabelecer suas influências sobre o mundo
contemporâneo e um elo entre ela e o misticismo maçônico. Toda-

10
Ctônico, ou ctônio (do grego: chthónios: da terra, pelo latim: chthonius), significa
subterrâneo. Mitologicamente designa os deuses infernais, por terem habitação debaixo
da terra. As serpentes, no caso, simbolizariam tais divindades.
via, alguns autores ocultistas, como o bispo Charles Leadbeater, da
Co-Maçonaria norte-americana, chegam a afirmar que, em Creta,
havia uma instituição iniciática idêntica à Maçonaria, nos símbolos
e nos sinais ritualísticos. Tais autores procuram ajustar os achados
arqueológicos às suas próprias concepções, ou teorias, repetindo
toda a mistificação que se ergueu em torno da civilização egípcia.
Os pretendidos símbolos maçônicos, na cerâmica cretense
– barras decorativas, com formato de esquadros, por exemplo – só
com muito esforço de imaginação podem ser aceitos. Os cretenses,
como os seus sucessores, os gregos, e como muitas antigas civili-
zações, costumavam usar motivos geométricos ao decorar, vasos,
roupas, paredes e objetos de uso pessoal. Assim, afirmar que as
barras decorativas, contendo figuras semelhantes a uma esquadria,
representam motivos maçônicos, é tão sem cabimento quanto se
dizer que o triângulo, instrumento de acompanhamento musical, é
de inspiração maçônica.
As estátuas votivas, representando homens e mulheres, em
diversas posturas – mãos sobre o peito, mão em pala, sobre os
olhos, braço levantado, etc. – não devem, também, representar qual-
quer atitude ritualística, pois são posturas comuns, do quotidiano;
muitas delas, nem com a mais pirotécnica imaginação, lembram
qualquer sinal maçônico.
Da mesma maneira, os pavimento quadriculados – cuja ori-
gem é suméria – foi imitado por todos os povos da Antiguidade,
principalmente como elemento decorativo, sem qualquer conotação
religiosa. Além disso, como já foi visto, em lugar algum de Creta foi
encontrado algum sinal seguro da existência de templos.
Não é difícil, portanto, concluir que, além da inexistência de
ordens iniciáticas semelhantes à Maçonaria, em Creta, não há nada,
na civilização da ilha, que tenha contribuído para armar a mística
maçônica.
6
A Mística da Antiga Grécia

HISTÓRIA

A Grécia antiga abrangia não só a parte continental, mas,


também, ilhas do mar Egeu, do mar Mediterrâneo e do mar Adriático,
além de uma extensa faixa de terra na Ásia Menor.
A Grécia continental não evoluiu tão rapidamente quanto
Creta e, até cerca de 1900 anos a.C., a região norte, constituída
pela Tessália e pela Macedônia, continuava no período neolítico,
enquanto o sul, junto ao mar, já conhecia o bronze. A partir de en-
tão, invasores indo-europeus começaram a se infiltrar na região:
por volta de 1600 a.C. surge, já constituída, a civilização da Argólida,
região altamente favorecida pela grande fertilidade de suas planíci-
es e pelas suas relações com Creta e com as ilhas do Mar Egeu.
Esse período seria caracterizado pela presença de um novo
grupo de indo-europeus, os aqueus, que se localizaram no
Peloponeso e entraram em contato com os cretenses, surgindo, daí,
a civilização micênica, assim chamada porque o seu principal cen-
tro era Micenas. Os indo europeus anteriores os jônio-miniamos,
que, junto com os aqueus, são os primeiros gregos da História, ten-
do sido civilizados por Creta, surgindo, então, uma combinação de
influências mediterrâneas e nórdicas.
É essa a época arcaica da civilização helênica e
corresponde aos chamados “tempos heróicos”, descritos por HOMERO,
na Ilíada e na Odisséia, cujas descrições são, hoje, comprovadas
por escavações realizadas em Micenas e Tirinto, além do reconhe-
cimento, pela Arqueologia, de sítios como a gruta de Calipso, a re-
gião de Circe, Caribde e Cila, entre outros, eliminando-se, é eviden-
te, a parte fantástica da obra homérica.
Posteriormente, entre os séculos XII e X a.C., ocorreria a
instalação dos dórios na Grécia, acabando de firmar a civilização
grega, ocasião em que os centros micênicos eram substituídos por
outros: Amicléia, por Esparta, Micenas e Tirinto, por Argos, e
Orcômeno, por Tebas. A partir daí se iniciaria a expansão e a colo-
nização grega, que atingiria a Sicília, o sul da Itália, o Mediterrâneo
ocidental e oriental (Calcídica e Trácia), a Propôntida (Mar de
Mármara) e os Esdtreitos, o Ponto Euxino (Mar Negro) e até a árida
costa africana, ao oeste do Egito.
O nome mais antigo da Grécia foi Pelasgia, ou seja, terra
dos pelasgos, vindo, depois, o nome de Acaia, tirado da designação
grega de uma das tribos dos aqueus, e, finalmente, Hélade, deriva-
do de HELEN, filha de DEUCALIÃO e de PIRRA, dando nome à civilização
helênica. Gregos (do latim: graeci) é um termo que foi introduzido
pelos romanos.
A organização social, no princípio da civilização helênica,
foi caracterizada pelos clãs e, posteriormente, pelas fratrias, for-
mas de agrupamento social, as quais sobreviveram durante muito
tempo, presidindo aos grandes atos da vida familiar e pública: ca-
samento, apresentação dos filhos legítimos, atribuição dos direitos
cívicos, inscrição do jovem adulto, entre outras coisas. Depois da
fratria, a evolução político-social chegou à cidade-estado e, poste-
riormente, às confederações, ou ligas, entre as cidades, sem se
chegar, contudo, à unidade política dos gregos, a qual só seria rea-
lizada com a sua incorporação à Macedônia, quando FILIPE a impôs.
Essa unidade, então, seria consolidada por ALEXANDRE MAGNO e con-
tinuaria, mesmo após a sua morte.
Em 146 a.C., a Grécia era tornada província romana, sob o
nome de Acaia, exercendo, então, uma notável influência moral, in-
telectual e artística sobre a cultura romana. Tal prestígio cultural só
declinaria após a fundação de Constantinopla, quando esta passou
a exercer a hegemonia na Europa oriental: durante a Idade Média,
os imperadores cristãos bizantinos não viam com bons olhos a cli-
ma pagão da Grécia; e o imperador JUSTINIANO, finalmente, mandou
fechar as escolas de Atenas, tidas como propagadoras do paganis-
mo. Essa foi, apenas, mais uma das violências da religião contra a
cultura.
Assim, a civilização grega, já desfigurada e sem forças para
manter a antiga pujança, foi arruinada pela invasão dos bárbaros.
No final do período medieval, em 1453, iniciava-se o domínio turco,
que só terminaria já na Idade Contemporânea.
O período da evolução grega, que mais interessa, para a
finalidade deste trabalho, é o dos primeiros dois séculos da história
da Grécia, quando houve o grande florescimento de suas artes, de
sua filosofia e de sua religião, que tanto influenciaram o mundo cul-
tural antigo e contemporâneo.
Apesar da religião já ter surgido nesse período aqueu, a
verdade é que jamais houve, entre os gregos, uma teocracia como
aquela existente nos impérios asiáticos e no Egito; isso permitiu o
desenvolvimento do pensamento, do raciocínio crítico e da ciência
pura, sem o primitivismo e o empirismo das demais civilizações, que
se encontravam subjugadas pelo poder sacerdotal.
A religião aquéia ainda é pouco conhecida, mas se aproxi-
mava bastante dos cretenses, embora o culto dos heróis, bastante
desenvolvido, fosse de origem nórdica; nesse período aqueu da his-
tória grega surgem os grandes deuses, já gregos, depois copiados
pelos romanos.
A partir do período micênio, a religião grega, mutável e
diversificada, evoluiu bastante: ao antigo culto creto-micênico, fo-
ram acrescentadas as contribuições indo-européias recentes e as
influências orientais. Dois ordenadores com grande genialidade im-
puseram as suas marcas no espírito religioso grego: HOMERO, cria-
dor de uma sociedade divina antropomorfizada, ou seja, à imagem
da humana, e HESÍODO, que concebeu uma total teogonia e lançou o
problema das forças misteriosas, que regem e decidem os destinos
do homem.
Através dos tempos, os gregos foram criando histórias e
lendas em torno dos deuses e de suas origens; essas lendas, imagi-
nosas e muitas vezes fantásticas, eram os mitos, cujo conjunto é a
mitologia. Interpretando os mitos os poetas e artistas (com Homero
à frente) foram, paulatinamente, esboçando as características pe-
culiares de cada deus, fixando sua imagem nas esculturas e pintu-
ras.
Os deuses gregos apresentam em relação aos demais deu-
ses do mundo antigo, uma particularidade: eles não eram distantes
e misteriosos, assemelhavam-se aos homens e viviam entre eles.
Como os humanos “mortais”, eles tinham defeitos e virtudes, pai-
xões e fraquezas, sendo, todavia mais fortes e, principalmente imor-
tais; tinham o dom da invisibilidade, mas podiam aparecer aos ho-
mens, sob forma humana. Desta maneira, a mitologia grega não é
uma religião ao sentido lata da palavra.
Os deuses do panteão grego, que estavam em toda parte,
ou seja, no céu, no mar, sobre a terra e sob o solo eram os seguin-
tes:
Zeus (Júpiter para os romanos): principal deus, soberano
do mundo, que reinava no Monte Olimpo, a mais alta montanha da
Grécia. Era o senhor dos fenômenos atmosféricos e de todos os
lugares atingidos pelo raio; cuidava da colheita da vinha, ocupava-
se das cerimônias de casamento dos tratados e juramentos, sendo
a figura arquetípica do pai; os raios e trovões chegavam à terra,
vindos diretamente dele, e eram usados como símbolos de sua
majestade. Controlando as ações humanas e as dos demais deu-
ses, ele era o protetor de toda Grécia, embora cada cidade tivesse
ainda, o seu deus protetor especial.
Hera (Juno para os romanos): era a esposa de Zeus e en-
contrava-se junto a ele no Olimpo; era deusa do casamento, dos
lares, da montanha e das crianças.
Ártemis (Diana para os romanos); filha de Zeus e de Hera,
representava a divindade protetora das florestas, da caça e das
flores; era, também, a deusa da Lua.
Apolo ou Febo (mesmo nome para os romanos): filho de
Zeus, deus do Sol, criador da poesia e da música, do canto e da lira,
das profecias e das artes.
Hermes (Mercúrio para os romanos): também filho de Zeus,
era o mensageiro dos deuses, além de deus, protetor dos pastores,
dos comerciantes, dos viajantes, dos atletas e dos oradores.
Héstia (Vesta para os romanos): filha de Zeus, zelava pela
chama sagrada, que devia arder em todas as casas.
Posseidon (Netuno para os romanos): irmão de Zeus e, como
este, filho de Cronos e de Réia, que, por sua vez, eram filhos de
Geia, a mãe terra, e de Urano, o céu. Era o deus do mar, a quem os
navegantes temiam e imploravam proteção.
Hades (Plutão era outro nome pelo qual era conhecido):
senhor absoluto e sempre invisível das profundezas da terra, era o
deus do misterioso reino dos mortos.
Ares (Marte para os romanos): deus da agricultura e da
guerra e apanágio da força.
Deméter (Ceres para os romanos): irmã de Zeus, era pro-
tetora dos agricultores, dos campos e das colheitas de cereais e
frutas, sendo representada com várias espigas de trigo nos braços.
Era, ao lado de Zeus, Hera e Posseidon, uma das mais antigas deu-
sas gregas, já que o seu mais antigo telesterion (templo, sala de
iniciação), na cidade de eleusis à época micênica. O seu culto agrá-
rio, englobado nos chamados “Mistérios de Eleusis”, é uma lembrança
do culto do deus sumério Dumuzi e influi no misticismo iniciático
maçônico.
Atená ou Palas Atená (Minerva para os romanos): nascida
da própria cabeça de Zeus, ela era a deusa da razão, da inteligên-
cia, da sabedoria e da paz.
Hefesto (Vulcano para os romanos): filho de Zeus era o
deus do fogo, das forjas e dos ferreiros.
Dionísio (Baco para os romanos): filho de Zeus, além de
ser o protetor da vegetação e das vinhas, era, também, o deus dos
mortos, através das promessas de ressurreição.

Além desses deuses principais, existiam as divindades me-


nores, ou subalternas, assim relacionadas:
As Musas, acompanhantes de Apolo, que inspiravam as
várias criações científicas e artísticas: Euterpe, a música; Clio, a
história; Terpsícore, a dança; Tália, a comédia; Melpômene, a tra-
gédia; Érato, a poesia lírica; Polimnia, a mímica; Urânia, a astrono-
mia; Calíope, a poesia épica e a eloqüência.
As Graças (Cáritas em grego), auxiliares de Afrodite, dis-
pensavam cuidados especiais ao reino vegetal.
As Horas, que assistiam a desenrolar das quatro estações
do ano.
As Parcas (Moiras em grego), que fiavam, teciam e corta-
vam o destino do homem.
Entre os deuses imortais e os homens, os gregos criaram,
ainda, os heróis (por influência do ciclo dos heróis sumérios),
semideuses antepassados e realizadores de feitos e de façanhas
extraordinárias:
Hércules (Heracles em grego): considerado o maior de to-
dos os heróis gregos; filho de Zeus e da princesa Alcmena, repre-
senta um ser poderosamente forte, o mais vigoroso de todos ho-
mens.
Jasão: filho de Élson, rei de Lalcos, chefiou a expedição
dos argonautas, incumbida de conquistar o carneiro do velo de ouro.
Perseu: filho de Zeus e de Dânae, encarregado pelo rei
Polidectos de combater as Górgonas e trazer a cabeça de Medusa;
com o auxílio de Atená, Hermes e Hades venceu as Górgonas e
decapitou a Medusa.
Orfeu: segundo alguns, seria filho de Oedrago, rei da Trácia
e da Calíope, musa da poesia; para outros seria filho do deus Apolo
e da musa Clio, inspiradora da história. Sua mulher, Eurídice, foi
picada pó uma serpente, no dia do casamento; descendo aos infer-
nos, Orfeu conseguiu reavê-la sob a promessa de partir sem olhar
para trás, mas, tendo quebrado essa promessa, perdeu-a para sem-
pre.
Teseu: filho de Posseidon e Etra. Segundo a lenda guiado
pelo fio de Ariadne, ele penetrou no labirinto de Creta, vencendo o
monstro Minotauro.
Ulisses (Odisseu para os gregos): rei de Ítaca e herói da
Odisséia, de Homero; distinguiu-se por sua estratégia na Guerra de
Tróia, tendo inventado o famoso cavalo de madeira (Cavalo de Tróia),
ardil que decidiu a guerra a favor dos gregos.
Édipo: filho dos reis de TEBAS, Laio e Jocasta, nasceu
precedido de horrível profecia: mataria seu pai e casaria com sua
mãe. Por isso, foi exposto pelos pés, dias após o nascimento, no
monte Cíteron; salvo, entretanto, por um camponês, concretizou a
profecia, anos mais tarde. Jocasta, ao saber-se mulher do próprio
filho, matou-se e Édipo arrancou os olhos.
Todos esses semideuses, entre outros, inspiraram desde a
Antiguidade, até aos dias atuais, a obra de escritores, poetas, pin-
tores, escultores, teatrólogos, compositores, etc., tendo influência,
também, em muitas áreas do misticismo.
Paralelamente a toda essa ordenação, a religião popular
adquiria os seus traços fundamentais e duradouros, baseada no
respeito às forças naturais antropomorfizadas (Zeus, Hermes,
Ártemis), nos ciclos eternos e imutáveis da vegetação, das semen-
teiras e das colheitas (Deméter e Dionísio), e no braseiro que se
deve proteger contra as más influências (Héstia, Zeus).
A religião era o elo da família, dos habitantes de uma cidade
e de todos os gregos, já que o culto religioso era desenvolvido nas
casas, nos templos e nos santuários pan-helênicos (comuns a to-
dos os helênicos). Os gregos solicitavam os favores dos deuses,
ofertando-lhes bebidas e alimentos (como vinho, leite e mel, no caso
de bebidas), além de sacrifícios de animais; o sacrifício mais solene
era a hecatombe (de hecaton; cem e bous: boi), ou seja, o sacrifício
de cem bois.
Sendo, a época arcaica da Grécia, um período de grande
instabilidades e perturbações, houve o desenvolvimento geral, e de
maneira relativamente acentuada, de crenças novas, mais
satisfatórias para os homens e resultantes do anseio do reconforto
íntimo e de certezas mor ais; houve, assim, um grande incremento
do Orfismo, do culto a DIONÍSIO e dos MISTÉRIOS DE ELEUSIS.
O Orfismo, de contornos vagos, mais uma disposição de
espírito do que uma doutrina racional, insistia na oposição da alma
e do corpo e na responsabilidade individual; concebia um ideal de
vida purificada, ascética e virtuosa, que a filosofia pitagórica, mais
científica em seus princípios e mais mística em seus dogmas, iria
desenvolver, posteriormente nas escolas pitagóricas, sobretudo
no sul da Itália.
Os gregos atribuíam ao próprio ORFEU a criação dos misté-
rios órficos. Segundo a lenda, Orfeu era uma hábil músico e ao som
de sua cítara, as feras ficavam mansas, as aves silenciavam, os rios
se detinham em seu curso e as árvores dançavam ao ritmo da mú-
sica; dizia-se inclusive, que ele se valera de sua música para fazer
com que os trácios abandonassem os seus hábitos selvagens. Ele
participou da expedição dos argonautas, chefiada por Jasão e foi
iniciado nos mistérios de Dionísio (Baco para os romanos), tornan-
do-se um pontífice, cuja sabedoria era inspirada pelos deuses. O
maior destaque de Orfeu, na lenda era dado pelo grande amor a
Eurídice, a quem tentou resgatar dos infernos, sem conseguir.
O CULTO A DIONÍSIO (ou Mistérios de Dionísio), apresentava
múltiplos aspectos, pois, além dele ser o deus da vegetação e das
vinhas, era, também, o deus dos mortos, através das promessas de
ressurreição, despertando, assim, grande entusiasmo e fervor reli-
gioso, entre o povo por deter o segredo da imortalidade.
Dionísio, que era representado com a fonte cingida de fo-
lhas de parreira, num carro puxado por panteras e tigres, teria, se-
gundo a lenda, viajado pela Ásia Menor e pela Índia, tendo dado, ao
rei Midas, o poder de transformar em outro tudo aquilo que tocasse.
Ele teria sido criado pelo mais velho dos sátiros, Sileno, divindade
dos bosques, e se casado com Ariadne, quando esta foi abandona-
da por Teseu.
Os atenienses celebravam, a cada quatro anos, festas, ritu-
ais em sua honra (Mistérios de Dionísio) e, dessas festas é que de-
riva o teatro grego. A lenda da morte e da ressurreição de Dionísio
corresponde, intimamente, à de Osíris e era ensinada com o mesmo
significado da lenda egípcia.
Os Mistérios de Eleusis justapõem o culto da deusa Deméter,
que ensina, aos homens, o cultivo do trigo, e o culto de sua filha
P ERSÉFONE , ou Core (Prosérpina para os romanos), cujo estágio
hibernal nos infernos simbolizaria o ciclo do nascimento e morte
dos vegetais.
Deméter (ou Ceres), deusa das colheitas, tinha grande amor
por sua filha Perséfone. E diz a lenda que, certo dia, quando colhia
flores no campo, Perséfone foi raptada por Hades (ou Plutão), deus
dos infernos. Deméter, depois de algum tempo, passou a procurar a
filho por todo o mundo, dias e noites, até que, ao se encontrar com
Apolo, o Sol, este a informou sobre o rapto. Tomada, então, de cóle-
ra contra a Terra, ela negou-se a permitir que, nela, crescessem os
grãos e o frutos. Diante do caos que se instalou, graças á falta de
produção agrícola, Zeus teria interferido junto a Hades, para que
este devolvesse Perséfone à mãe, estabelecendo, porém, como con-
dição para que ela retornasse ao Olimpo, não haver ingerido ne-
nhum alimento, durante o tempo em que permanecera no inferno.
Como ela havia ingerido os grãos de uma romã, não lhe foi possível
voltar, sendo-lhe permitido, apenas, que passasse seis meses do
ano com sua mãe e os outros seis meses no inferno.
Entre as muitas prerrogativas atribuídas a Perséfone havia
aquela de que ninguém poderia morrer, sem que ela lhe cortasse o
fio de cabelo, que ligava à vida. Isso fez com que o seu culto fosse
bastante desenvolvido: ela presidia aos funerais e os amigos do
morto cortavam os cabelos e os jogavam numa fogueira, em home-
nagem à deusa; acreditava-se, também, que ela fazia reencontrar
os objetos perdidos. Como ela fora raptada ainda adolescente, os
gregos lhe deram o nome de Core (a jovem).
Devido a essa lenda, Perséfone simboliza as sementes, que
permanecem sob a terra, durante meio ano, e depois frutificam so-
bre a mesma. Esotericamente, esse ciclo de nascimento e morte
dos vegetais, representa, em última análise, a eternidade e a imor-
talidade.
Desta maneira, os Mistérios de Eleusis forneciam, aos inici-
ados, os segredos da morte e da ressurreição. Ele se dividia em
dois graus, conforme o aperfeiçoamento do iniciado: Mistos e
Epoptas.
Aos MISTOS eram dados ensinamentos relativos à vida após
a morte, no mundo astral, intermediário entre o material e o espiritu-
al; eles tinham instrução, também, sobre a evolução do homem na
terra e sobre a cosmogonia (designação das várias teorias, que tem
por objetivo explicar a formação do Universo, seja do ponto de vista
místico, ou científico). Esses iniciados usavam, como vestimenta,
uma simples pele de corça.
Os EPOPTAS representavam um grau mais elevado e recebi-
am mais profundas instruções sobre a origem do universo e do ho-
mem, sobre o domínio da mente e sobre a espiritualidade. O símbolo
do grau era uma espiga de trigo, que além de representar a fartura
(através da deusa Deméter), aludia, também à renovação sempre
constante da vida, através das mortes e das ressurreições, como
no ciclo dos vegetais, representado pela deusa Perséfone. A
vestimenta desses iniciado era um velocino dourado, o que pode ter
contribuído para a formação da lenda de Jasão e velocino de ouro.
Embora mais desenvolvido, os mistérios de Eleusis não di-
ferem muito, em sua essência mística da lenda de Osíris dos egípci-
os, e do culto a Dumuzi dos mesopotâmicos, sendo este o germe de
todas as doutrinas que tratam dos mistérios da morte e da ressur-
reição. Também a lenda do assassínio de Dionísio pelos Titãs, se-
guido do seu esquartejamento e da sua ressurreição dentre os mor-
tos, que era abordada nos mistérios de Eleusis, é bastante seme-
lhante à lenda de Osíris.
O Pitagorismo foi um movimento de reforma do Orfismo e
foi através das escolas pitagóricas que o primeiro chegou à poste-
ridade. Como já foi esclarecido, o Pitagorismo era mais científico
em seus princípios, através do papel dos números e da harmonia e
mais místico em seus dogmas, através da crença na migração as-
tral das almas.
A comunidade fundada por PITÁGORAS, de Samos, na Itália
Meridional, era ao mesmo tempo, religiosa, filosófica e política. O
tratamento dedutivo-demonstrativo da matemática começou com
ele ligado a uma forma peculiar de misticismo.
Pitágoras afirmava que todas as coisas são constituídas de
números. Ele imaginava os números como pontos dispostos em for-
ma de figuras e nesse caso, as coisas seriam harmoniosamente
compostas de pequeninas partículas ordenadas em figuras numéri-
cas. Associou os números à música e a mística, derivando dessa
associação pitagórica os termos matemáticos “média harmônica” e
“progressão harmônica”.
Número, para a linguagem pitagórica, era sinônimo de har-
monia; em todo o Universo deve existir essa harmonia, que, em últi-
ma análise, é a própria responsável pela existência e manutenção.
Dentro desse conceito, o corpo humano saudável é uma harmonia,
sendo, o papel da Medicina, restabelecer essa harmonia ao máximo
que for possível, quando ela houver se rompido.
Os pitagóricos concebiam uma Terra esférica, sendo uma
estrela entre as estrelas, as quais se moviam todas ao redor de um
fogo central; suas distâncias desse fogo coincidiam com interva-
los musicais, de maneira que ressoava no Universo, uma harmonia
das esferas.
As escolas pitagóricas, a partir das propriedades dos nú-
meros, passaram sempre a buscar analogias entre todas as coisas
e os números, chegando à concepção de uma mística numérica. A
maior contribuição científica dessas escolas. Através do próprio
Pitágoras (que viveu no século VI a.C.), ou de seus discípulos imedi-
atos, foi a descoberta da relação existente nos triângulos retângu-
los provando que a soma do quadrado dos catetos é igual ao qua-
drado da hipotenusa.
Como crença religiosa básica, Pitágoras ensinava a
transmigração das almas e a abstenção de diversas práticas, inclu-
sive a de se comer carne; essa abstenção era originária do
ensinamento que mostrava a possibilidade da alma reencarnar em
animais.
Os discípulos das escolas pitagóricas estavam divididos
em três categorias ou graus: Ouvintes (akoustikoi), Matemáticos
(mathematikoi) e Físicos (physikoi).
Os OUVINTES participavam das reuniões, mas guardavam
absoluto silêncio, durante elas, numa fase que durava dois anos,
tempo durante o qual eles se limitavam a ouvir e aprender.
Os MATEMÁTICOS, que se encontravam numa fase mais avan-
çada, colocavam em prática o cerne da doutrina pitagórica: relaci-
onavam os diversos ramos da matemática com a música, desco-
brindo as correspondências entre as ciências.
Os FÍSICOS eram físicos, mas não no sentido atual do termo e
sim no sentido usado nos tempos da Grécia clássica: a Física
(physiké) era a filosofia natural, o ESTUDO DA NATUREZA. Os discípulos
pitagóricos nesse grau entregavam-se ao estudo místico dos misté-
rios da natureza e da vida interior do homem.
A comunidade criada por Pitágoras tinha, como símbolo dis-
tintivo, uma ESTRELA DE CINCO PONTAS que, desde a antiguidade servia
para representar os corpos celestes que, aparentemente, eram
menores que o Sol e a Lua. Para os pitagóricos, entretanto, ela sim-
bolizava outra coisa.

ESTRELA DE CINCO PONTAS (PITAGÓRICA)


No alto, a Estrela Hominal que simboliza a alta espiritualidade humana; embaixo, a
Estrela Invertida, onde se inscreve a figura de um bode, o símbolo da animalidade e
da materialidade.
A estrela de cinco pontas, o tríplice triângulo cruzado, re-
presenta, em sua posição normal (com uma ponta para cima e as
outras para os lados), o homem em sua alta espiritualidade, pois
nela se inscreve uma figura humana, com a cabeça ocupando a
ponta superior e os membros superiores e inferiores ocupando as
demais pontas. Por isso, ela é chamada de ESTRELA HOMINAL, repre-
sentando a sabedoria, a gnose e a espiritualidade com todos seus
atributos.
Quando a estrela de cinco pontas está invertida nela se
inscreve a figura de um bode, representando então a materialidade
e a animalidade, com todos os seus atributos.
Ainda no tocante à religião e ao misticismo transcendental
grego, além de todas as manifestações já citadas, cabe uma refe-
rência a dois aspectos coletivos da religião, que acabaram sendo
usados politicamente para a hegemonia das cidades e de seus deu-
ses locais:
1° As anfictônicas, que reuniam povos, ou cidades à volta
de santuários veneráveis, como o de Posseidon, no Cabo Mícale, e
o de Apolo Pítico, em Delfos;
2° Os oráculos e os jogos, ou festas pan-helênicas (jogos
Nemeus, de Neméia, jogos Ístmicos, de Corinto, Jogos Píticos, de
Delfos, Jogos Olímpicos, de Olímpia).
O principal oráculo era o de Delfos, no templo dedicado a
Apolo, ou Febo, que conduzia o carro do Sol, era reverenciado como
o deus da Luz e adorado nos festivais apolíneos. O oráculo de Delfos
exercia influência básica e transcendental sobre os gregos, pois,
através da orientação profética da sacerdotisa chamada PÍTIA (de
Pythón: serpente), Apolo incrementava alto espírito de justiça e de
moralidade. Durante as peregrinações a Delfos, todos aqueles que
iam consultar o oráculo levam grinaldas de louro, que representa-
vam o triunfo consagrado ao Deus da Luz.
A Astrologia, embora tenha chegado à Grécia um pouco tar-
de, adquiriu, entre os gregos, os seus aspectos fundamentais e mais
duradouros. A partir do século III a.C., os gregos se empenham em
transformar a Astrologia babilônica, de acordo com suas próprias
tradições, tornando-a cada vez mais complexa.
Eles foram os responsáveis pela popularização de um sis-
tema, que anteriormente, só era acessível aos reis, ou seja, o méto-
do de calcular destinos individuais, baseado no momento do nasci-
mento. O primeiro livro astrológico moderno e menos empírico, o
TETRABIBLOS, é atribuído ao matemático, astrônomo e geógrafo
PTOLOMEU, nascido em Alexandria e que trabalhou no século II d.C.,
estabelecendo os princípios da influência cósmica, que constituem
o cerne da moderna Astrologia.
Soa a influência grega, os planetas, as casas e os signos
do Zodíaco foram racionalizados, tendo determinada a sua função,
de tal maneira que, até hoje, houve pouquíssima mudança.

MISTICISMO GREGO E MAÇONARIA

Em relação à Maçonaria podemos encontrar incontáveis


influências da mística grega, destacando-se, todavia, as seguintes:

1. Da mesma maneira que os oficiais de uma loja maçônica re-


presentam os planetas conhecidos na antiguidade, de acordo com
a mística suméria, eles possuem, também o apanágio de deuses
olímpicos e semideuses do panteão grego. Assim, temos:

Venerável – seria a representação de Zeus (Júpiter), o rei


dos deuses, por sua condição de dirigente da loja. Representa,
também a deusa Atena (Minerva), da sabedoria, já que o Venerável
deve ter a sabedoria, a prudência, a inteligência e o discernimento
necessários para dirigir uma loja.
1° Vigilante – representa Ares (Marte), deus da agricultura
e da guerra, ou da força, já que essa é a característica desse cargo,
que, também é relacionado com Heracles (Hércules), o mais forte e
vigoroso de todos os homens, de acordo com a mitologia grega.
2° Vigilante – simboliza Afrodite (Vênus), a deusa do amor e
da beleza, apanágio desse oficial maçônico.
Orador – é a representação de Apolo, ou Febo, deus do
Sol, criador da poesia e da música, do canto e da lira; esse oficial,
responsável pela guarda da lei e peças de oratória, representa a
Luz, simbolizada por Apolo.
Secretário – corresponde a Ártemis (Diana), deusa da Lua,
da caça e das flores, já que esse oficial, refletindo nas atas, a Luz
que vem do Orador (Apolo, Sol), simboliza a Lua.
Mestre de Cerimônias – corresponde a Hermes (Mercú-
rio), mensageiro dos deuses olímpicos, já que esse oficial, em sua
circulação, é o mensageiro dos dirigentes da Loja.
Vale, ainda, esclarecer, que o Venerável, ao fazer a sagração
de um iniciado, usa para isso, uma espada cuja lâmina possui vári-
as curvaturas. Essa espada, que é chamada de ESPADA FLAMEJANTE,
lembra a representação artística de um raio e só por ser empunha-
da pelo presidente da loja, pois ele representa Zeus, que era o se-
nhor dos fenômenos atmosféricos e de todos os lugares atingidos
pelo raio.

2. Os Mistérios de Eleusis mostram grandes analogias com a


mística iniciática maçônica. As provas de iniciação maçônica, que
representam a morte física do iniciado e o seu renascimento num
plano superior, estão em completo acordo com os ensinamentos
sobre os mistérios da morte e da ressurreição, fornecidos aos inici-
ados no culto de Deméter e de Perséfone.
O primeiro grau dos mistérios de Eleusis, Mistos, tem gran-
de relação com o primeiro grau maçônico, Aprendiz, pois, em am-
bos, o iniciado se dedica ao estudo da evolução racional da espé-
cie humana e da formação do universo de acordo com as doutrinas
iniciáticas.
No segundo grau dos Mistérios de Eleusis, Epoptas, assim
como no segundo grau maçônico, Companheiro, o símbolo é uma
espiga de trigo. Na Maçonaria, o significado dessa espiga é o mes-
mo que nos mistérios gregos: ela além de representar a fartura,
simboliza, também, a renovação sempre constante da vida, através
das mortes e das ressurreições, como no ciclo dos vegetais, sendo,
em última análise, o símbolo da imortalidade da alma, pregada na
doutrina mística da Maçonaria.

3. O Pitagorismo mostra influência sobre o misticismo maçôni-


co, começando pelos seus graus de aperfeiçoamento.
Os três graus maçônicos (Aprendiz, Companheiro e Mes-
tre) representam as três grandes fases da evolução do pensamento
do homem: intuição, análise e síntese; de maneira geral, os três es-
tágios das escolas pitagóricas seguem, também, essa evolução. Além
disso, os Ouvintes, ou Acústicos, do Pitagorismo, guardavam abso-
luto silêncio, durante o aprendizado, limitando-se a ouvir e apren-
der, situação muito similar à da Maçonaria, onde o Aprendiz, simbo-
licamente é uma criança e, portanto também simbolicamente não
fala, limitando-se a ouvir e aprender. Os Mestres, na Maçonaria,
possuem, no simbolismo de seus trabalhos, semelhança com os Fí-
sicos do Pitagorismo, pois ambos tem o escopo de estudar os mis-
térios da natureza e a vida interior do homem.
A numerologia mística maçônica também mostra influência
pitagórica, embora a sua maior fonte seja os textos cabalísticos
hebraicos como veremos posteriormente. A dualidade “corpo” e
“alma” do orfismo e do pitagorismo (como também do culto a
Dionísio), e encontrada em toda a extensão da doutrina mística
maçônica.
A estrela de cinco pontas, Pentagrama (cinco letras), ou
Pentalfa (cinco princípios), que, a partir dos meados do século XVIII
passou com o nome de Estrela Flamejante, a fazer parte dos símbo-
los maçônicos, é de origem pitagórica, representando, na Maçona-
ria, a mesma coisa que no pitagorismo: como estrela hominal, re-
presenta o homem em sua alta espiritualidade. Alguns autores têm
associado a Estrela Flamejante com a estrela de cinco pontas usa-
da no Ocultismo, na Alquimia e na Magia da Idade Média, todas com
significado bem diferente daquele dado pelos pitagóricos. A reali-
dade, porém, é que a Estrela Flamejante é pitagórica mesmo.

4. A Maçonaria, como já foi esclarecido, adota os mitos solares


da antiguidade, identificando os deuses ligados ao Sol com a luz da
razão e do conhecimento, estando Apolo entre eles (assim como
Shamash, Osíris e Mitra). Existe, mesmo, um grau maçônico em que
o recepiendário é coroado com uma grinalda de louro, como nos
festivais de Delfos, em tributo a Apolo, que é, convém que se repita,
encarado pela Maçonaria como representação da luz do conheci-
mento e da percepção e não daquela proveniente de corpos mate-
riais.
Outras particularidades da civilização helênica muito influ-
enciaram a prática maçônica, contando-se, entre elas, a Filosofia, a
Geometria, a História e, principalmente, a Arquitetura, com suas or-
dens principais, dórica, jônica e coríntia, que também são analisa-
das de um ponto de vista místico, além do arquitetônico, através de
suas colunas características.
As denominações dos três estilos arquitetônicos foram,
durante a Renascença, tiradas da Antiguidade, embora eles não
possam ser literalmente tomados como específicos de uma deter-
minada região: a ORDEM DÓRICA não ficou limitada à região dos dórios
– no continente e no Peloponeso – a JÔNICA, embora surgida na Jônia
– Mileto, Samos e Dídima – originou a ordem ático-jônica, no conti-
nente, e a CORÍNTIA, muito posterior às duas primeiras, é muito seme-
lhante à jônica, só se diferenciando pelo capitel de suas colunas.
A ORDEM DÓRICA foi considerada, a partir do classicismo euro-
peu, a autêntica representante da arquitetura clássica grega e a
mais usada nos templos gregos.
A coluna dórica não tem base e o seu aspecto é o de uma
estrutura simples, mas de forma bastante convincente, pois, como
a função principal de uma coluna é erguer-se, suportando um peso,
a forma dela confirma essa função arquitetônica, para cuja realiza-
ção, todavia, colaboram alguns recursos bem sutis: primeiro, há o
adelgaçamento do fuste, ou seja, a gradual redução de seu diâme-
tro, de baixo para cima, de modo que, no topo, ela tenha três quar-
tos do diâmetro da parte inferior; em seguida, o canelado, que divi-
de o corpo da coluna em sulcos, mediante profundas estrias verti-
cais, separadas por agudas cristas; e, finalmente, o capitel, que
concretiza, com muita originalidade, a transição da força ascensional
do fuste para o peso do entablamento. Além disso, há, no extremo
superior do fuste, um estrangulamento, através de uma série de cris-
tas e caneluras horizontais, à quais se segue a parte inferior do
capitel, chamada de equino, já que os gregos a comparavam a um
ouriço do mar, em posição invertida. Esta parte representa a almo-
fada elástica, com a qual o apoio, que é a coluna, está pronto a
receber o peso do entablamento; este desce sob a forma de uma
pedra quadrada, o ábaco, que se coloca sobre a superfície do equino.
A ORDEM JÔNICA diferencia-se da dórica, principalmente por
suas colunas. A coluna jônica apresenta um fuste mais alto e mais
belo, onde existem caneluras cravadas profundamente e separadas
por listéis planos, ao invés de arestas vivas. Além disso, ela apre-
senta uma base circular, com bela estrutura, e um complicado capitel,
cuja parte inferior, com um ornamento em óvulos, repousa sobre o
fuste; à moldura de óvulos, seguem-se as volutas, que se estendem
para a direita e para a esquerda, superficialmente, em almofada
arqueada, que se enrola em torno de um eixo, com força elástica e

11
Acanto (do grego: ákanthos: espinho) é uma planta espinhosa, da família das
Acantáceas. Em Arquitetura, é a imitação que se faz das folhas do acanto, principalmente
na decoração do capitel da coluna coríntia, para distingui-lo do capitel jônico.
tensa. Seu capitel também possui o ábaco, sobre o qual se apóia a
arquitrave. A ordem jônica, na realidade, é relacionada mais com a
ornamentação superficial do que com uma arquitetura organizada,
como ocorre com a dórica.
A ORDEM CORÍNTIA segue todas as demais características da
jônica, diferindo apenas no capitel, que tem uma rica decoração de
folhas de acanto. A coluna coríntia teria origem em uma lenda, se-
gundo a qual o escultor CALÍMACO, teria visto em Corinto, no século V
a.C., sobre o túmulo de uma donzela, um cesto (kalathós), em torno
do qual crescia o acanto11. Assim, no capitel coríntio, nota-se um
núcleo central, em torno do qual estão dispostas as folhas de acanto,
que crescem a partir da base do capitel; nos cantos, em todas as
faces, sobem gavinhas, que vão até à curva do coroamento, quando
os seus enrolamentos sustentam a saliência do ábaco; do cesto,
saem outras gavinhas, que terminam em cálices de flores.
Ao contrário das colunas egípcias – e, também, daquelas
do pórtico do templo de Jerusalém – as colunas gregas são, real-
mente, destinadas à sustentação de entablamentos, embora a mais
apropriada para isso seja a dórica. Por isso, em Maçonaria elas
sustentam, simbolicamente, a Loja, sendo representadas pelas Dig-
nidades desta: Venerável Mestre (presidente) e Vigilantes (vice-pre-
sidentes).
A coluna jônica, símbolo da sabedoria, corresponde ao Ve-
nerável Mestre; a dórica, símbolo da força, corresponde ao 1° Vigi-
lante; e a coríntia, símbolo da beleza, corresponde ao 2° Vigilante12.

12
O rito inglês, que utiliza o Emulation Ritual (indevidamente chamado, entre
nós, de Rito de York) tem uma prática envolvendo essas colunas. Existem miniaturas
delas sobre as mesas dos três principais dirigentes da Loja: jônica, para o Venerável
Mestre (presidente), dórica para o 1° Vigilante (1° vice) e coríntia para o 2° Vigilante (2°
vice). A coluneta do Venerável Mestre permanece fixa, enquanto as dos Vigilantes são
móveis: quando a Loja está aberta e em trabalho, a coluneta do 1° Vigilante fica de pé
e a do 2° Vigilante fica deitada; quando, porém, os trabalhos são suspensos, para
recreação, ou para finalizá-lo, ocorre o contrário, ou seja, o 1° Vigilante abaixa sua
coluna e o 2° Vigilante levanta a sua. Lamentavelmente, tal prática vem sendo imitada,
em lojas sul-americanas de outros ritos, que não a possuem.
7
A Mística da Antiga Pérsia

HISTÓRIA

As várias tribos indo-européias, que se espalharam pelo


Planalto do Irã, deram origem a dois Estados: a Média e a Pérsia, ao
norte e ao sul, respectivamente. No princípio, o domínio da região
pertenceu aos medas, até 559 a.C., quando CIRO, O GRANDE, rei dos
persas, incorporou a Média aos seus domínios, principiando, então,
o período Aquemênida (da dinastia) da história persa. Ciro daria
início a uma política imperialista – seguida por seus sucessores –
que iria conquistar um vasto território: Europa Meridional, Ásia Me-
nor e Oriente Próximo, o qual constituiria o Império Persa.
O Império, iniciado por Ciro, com a conquista da Média, de
todas as cidades do litoral grego (546 a.C.), da Babilônia, da Síria e
da Palestina (539 a.C.), foi aumentado por seu filho, CAMBISES, que
conquistou o Egito, em 525 a.C., e consolidado pelo sucessor de
Cambises, DÁRIO I, que tomou Chipre, as ilhas gregas, toda a costa
da Ásia Menor, incorporando, ainda, a Cítia, a Trácia e a Macedônia.
Essa foi a época de ouro do antigo império persa, ocasião em que
foram construídos os famosos e luxuosos palácios de Persépolis,
Pasárgada e Susa, onde se percebe a extraordinária influência
babilônica.
Posteriormente, o Império Persa passaria por diversas fa-
ses: domínio helenístico, do século IV ao século II a.C., com Felipe
da Macedônia e seu filho, Alexandre Magno; Império Parta, do sécu-
lo II a.C. ao século III d.C., fundado com a expansão dos arsácidas,
através de MITRIDATES I, soberano da Pártia; dinastia dos Sassânidas,
do século II a VII, quando houve o restabelecimento do Império Persa,
através de ARDASHIR I (ARTAXERXES); domínio dos árabes, no século VII
(em 641), passando, no século XI, ao domínio dos turcos seljúcidas,
para, finalmente, no século XIII, sofrer a invasão das hordas
mongólicas de GÊNGIS KHAN e, posteriormente, das de TAMERLÃO, cujo
domínio se estenderia até ao século XVI; período áureo da Pérsia,
do século XVI ao século XVIII, quando renasceu a nação, sob a di-
nastia dos Safávidas, e quando a arte persa atingia seu máximo
florescimento; período moderno, a partir do século XVIII, quando o
território persa sofreu vários desmembramentos, através da Rússia
e da Turquia, no século XVIII, e através da Inglaterra e da Rússia, no
século XIX, havendo, todavia, um renascimento da nação, no século
XX, com a dinastia Pahlevi, quando, como símbolo dessa ressurrei-
ção, foi adotado o nome de Irã, mais antigo que o de Pérsia. Com a
queda do xá RHEZA PAHLEVI, a nação foi dominada pela teocracia
muçulmana.
O período histórico mais importante, para um estudo da
mística persa, é o de antes de Cristo, quando floresceu e frutificou
a religião persa, que, como a arte, era uma amálgama heterogênea
das religiões e das artes de outros povos.

A RELIGIÃO E O MISTICISMO PERSA

No tocante à religião, pode ser encontrada uma grande in-


fluência dos credos orientais. O deus máximo era Ahura Mazda,
criador do mundo e do céu, seguido por Mitra, deus do dia, e por
muitos outros deuses menores, além de demônios (daivas). A dou-
trina do MAZDEÍSMO fundamenta-se no combate constante entre o
bem (Ormuz) e o mal (Ahriman) e foi aperfeiçoada por ZOROASTRO, ou
ZARATUSTRA, reformador religioso, que procurou dar-lhe um cara´ter
monoteísta, baseado no deus único, Mazda. A doutrina de Zoroastro,
que influenciaria largamente a hebraica, está inserida no Avesta, o
livro sagrado dos persas.
No início, o Mazdeísmo era dominado pela classe sacerdo-
tal dos Magos, cuja doutrina não conformista, propondo um ideal
depurado de justiça social e de reforma espiritual, tornou-se um
poderoso fator de unidade nacional. Posteriormente, todavia, os
soberanos deformaram a religião em proveito próprio, pondo de
lado os Magos – hostis aos aspectos materiais – organizando, ao
redor do rei, um culto prático e fazendo, de Ahura Mazda, o suserano
dos demais deuses, assim como o rei era o suserano do Universo, o
soberano de direito divino e representante de Mazda na Terra. Como
sempre, em todos os tempos, a religião serviu à política e à promo-
ção dos poderosos.
Dentro da religião mazdeísta, avulta o Mitraísmo baseado
no deus da luz, Mitra, e com grandes influências hebraicas. O culto
mitráico representou uma ordem iniciática, restrita aos homens e
formada, geralmente pelas classes armadas e mercantis, que man-
tinham um grande espírito de camaradagem, de solidariedade, de
fraternidade. Era uma verdadeira fraternidade de armas, onde o
essencial era o amor fraternal.
Além de identificarem o objeto de adoração com a luz e o
Sol, apresentavam, em sua doutrina, muitas das crenças originárias
da seita judaica dos fariseus (e totalmente aproveitadas pela igre-
ja), tais como: imortalidade da alma, Juízo Final, ressurreição da
carne, céu e inferno, etc. Graças a isso é que muitos autores (e a
própria Enciclopédia Britânica), ao fazerem a exegese do Cristia-
nismo, situam a origem de suas crenças no Mitraísmo, o que não é
verdade, pois este foi, apenas, o veiculador da doutrina farisaica,
com exceção da santificação do dia 25 de dezembro, que é, real-
mente de origem mitráica.
Como o Mitraísmo cultuava o deus da luz e do sol, ele pro-
movia, na noite de 24 para 25 de dezembro, a solenidade chamada
NATALIS INVICTIS SOLIS (Nascimento do Sol Vitorioso; consta aqui, o nome
em latim, pois a cerimônia como todo Mitraísmo, foi transmitida aos
romanos, no século I a.C.). Sendo, essa noite, no hemisfério norte, a
mais comprida do ano (solstício de inverno), ofereciam-se durante
toda ela, sacrifícios propiciatórios pela volta da luz do sol e do ca-
lor. OP Cristianismo, aproveitando esse ritual, fixou, simbolicamente
no dia 25 de dezembro, o nascimento de Jesus, identificando-o com
a luz do mundo (Sol).
O Mitraísmo persa – copiado pelos romanos – como ordem
iniciática, apresentava sete etapas de aperfeiçoamento, que, de
acordo com o Mitraísmo romano, eram assim discriminadas:

Corax (Corvo): primeira etapa do aprendizado, era assim


chamado porque o corvo pode imitar a fala, mas não criar idéias
próprias, sendo, assim, mais um ouvinte, do que um participante
ativo.
Cryphius (Oculto): era o segundo grau.
Miles (Soldado): era o terceiro grau e significava a luta de
Ormuz (o Bem), contra Ahriman (o Mal), a serviço de Mitra e Mazda.
Leo (Leão): era o quarto grau e simbolizava o fogo, também
uma das formas de Mitra, pela emanação de luz e calor.
Perses (Persa): era o quinto grau e, como o Mitraísmo e o
Mazdeísmo foram influenciados por credos orientais asiáticos, re-
presentava a origem da religião.
Heliodromus (Correio do Sol): sexto grau da escala no qual
o recepiendário era identificado com Mitra.
Pater (Pai): grau máximo, que representava a maior ascen-
são espiritual em direção ao céu, onde Mitra morava e resplande-
cia.
Esses graus representavam uma caminhada mística em di-
reção à luz, partindo do Corax, o servo do Sol, até chegar ao Pater,
Mitra, ou seja, à Luz.

O MISTICISMO PERSA E A MAÇONARIA

Os cultores da religião mitráica reuniam-se em templos muito


semelhantes ao templo de Jerusalém. Graças a isso muitos autores,
ingenuamente, têm defendido a tese de que já existia a Maçonaria
na antiga Pérsia, o que não é verdade, pois é obvio que, se a religião
persa sofreu grandes influências do Judaísmo, os seus templos re-
ligiosos teriam de imitar os templos hebraicos.
O Mitraísmo possuía, também, um ritual cuja origem é total-
mente hebraica: o sacramento mitráico, que consistia de pão, vinho
e sal, cuja consagração era feita com grande cerimônia. Esse ritual
é, em essência, muito semelhante ao Kidush hebraico, origem da
eucaristia e, também, de algumas práticas maçônicas.
Apesar disso, entretanto, não restam dúvidas de que a es-
trutura da Maçonaria e a própria mística maçônica muito auferiram
do misticismo religioso persa, representado pelo Mitraísmo.
A partir do mito solar persa (seguido e difundido pelos ro-
manos), a senda iniciática da Maçonaria representa a caminhada
mística em direção ao Sol, que, no caso representa a luz do conhe-
cimento. Como o templo maçônico representa o mundo, com os seus
quatro pontos cardeais e com as colunas do pórtico simbolizando
os trópicos de Câncer e Capricórnio, o iniciado penetra nele pelo
ocidente, onde reinam as trevas, caminhando posteriormente, de
acordo com o seu aperfeiçoamento, pelo norte e pelo sul, até che-
gar ao oriente, onde o sol nasce e reina, completando a viagem
mística em busca da Luz do saber. Isso é, quase, uma repetição
constante do NATALIS INVICTIS SOLIS.
Embora não se possam procurar profundas semelhanças
entre os graus simbólicos da Maçonaria e os graus do Mitraísmo,
existem, todavia, alguns pontos em comum: o Corax (Corvo) apre-
senta muita semelhança com o Aprendiz, pois ambos (assim como
os Ouvintes do pitagorismo) não podem, simbolicamente criar idéi-
as próprias, limitando-se a ouvir, sem falar. O grau de Companheiro
maçom pode ser identificado com o Miles (Soldado) do Mitraísmo,
pois, como o Companheiro representa a dualidade e existe nele,
um equilíbrio entre a matéria e o espírito, ele é similar ao Miles, que
simboliza a luta entre o Bem (Ormuz) e o Mal (Ahriman), também
uma dualidade. O grau de Mestre maçom, finalmente encontra si-
milaridade com o Heliodromus e com o Pater, pois o seu grau re-
presenta o auge da caminhada em direção à luz, identificando-se a
Mitra e atingindo a máxima ascensão espiritual, enquanto se des-
poja da materialidade.
8
A Mística Hebraica

HISTÓRIA HEBRAICA

A história hebraica inicia-se com o clã de ABRAÃO, o qual, no


final do III milênio a.C., teria deixado a cidade suméria de Ur, pas-
sando muito tempo em Harrã, a este do Carquemich, progredindo,
posteriormente, ao longo do Crescente Fértil, estabelecendo-se em
Canaã.
Após algum tempo em Canaã, os hebreus13 emigraram para
o Egito, instalando-se no vale do Nilo, por volta de 1700 a.C. Embora
o motivo dessa emigração não esteja bem esclarecido, acredita-se
que, com o domínio do Egito pelos hicsos, povo de origem semita, a
região seria propícia ao desenvolvimento social e religioso do povo
hebreu.
Com a expulsão dos hicsos, em 1580 a.C., e a conseqüente
re-implantação das dinastias dos faraós tebanos, os hebreus pas-
saram por uma fase de agruras, extensamente abordada na Bíblia –
embora esta seja muito romanceada – até que, por volta de 1300
a.C., sob a direção de MOISÉS, puderam deixar o Egito, chegando a
Canaã, depois de quarenta anos de acidentada viagem. Como, to-
davia, outros povos haviam se instalado na região, a conquista da
terra fez-se à custa de muita luta, liderada por Josué.
Depois de JOSUÉ, iniciava-se o período dos Juízes (Shofetim),
de 1210 a 1130 a.C., época bastante conturbada da história hebraica,
já que, à necessidade de reafirmação da posse da terra, juntaram-

13
A tradição coloca a origem do termo hebreu em ibri, que significa “o povo do
lado de lá”, ou seja, do lado de lá do rio Eufrates. As fontes cuneiformes, todavia,
apontam para uma outra origem: referindo-se aos emigrantes, lavradores e mercenários
que apareceram na Assíria, no Egito, na Babilônia e em Canaã e que os descendentes
de Abraão invocam como seus ancestrais, dão-lhe os nome de habiru.
se às novas conquistas, os contatos com o culto de Moab e a pas-
sagem à vida sedentária, o que muito contribuiu para o que o povo
fosse se afastando da fé religiosa e para o quase esfacelamento da
sua unidade nacional. Tal situação, porém, seria superada em 1310
a.C., quando o profeta SAMUEL, sagrando o rei SAUL, restauraria a
unidade nacional, proporcionando o início da era do apogeu da his-
tória hebraica, a qual atingiria o seu acme com os reis DAVID e SALOMÃO.
Salomão, por volta de 980 a.C., aglutinaria o povo, religiosa e soci-
almente, erigindo o primeiro templo de Jerusalém, cidade que fora
conquistada por seu pai, David.
Após esse período áureo da história hebraica, ocorreria a
primeira grande tragédia nacional, com o cisma de 920 a.C., oca-
sião em que se formaram os reinos de Israel, ao norte, com capital
em Samaria, e de Judá, ao sul, com capital em Jerusalém. A intensa
rivalidade entre os dois reinos iria provocar o enfraquecimento de
ambos, propiciando as invasões de seus territórios. Assim, os
assírios, com Sargão II, conquistaram Israel, em 721 a.C., e os
babilônios, liderados por Nabucodonosor, tomaram Judá, destruin-
do Jerusalém e o Templo, em 586 a.C., dando origem ao exílio dos
hebreus na Babilônia, o qual seria a primeira diáspora (dispersão)
do povo. Esse exílio – que alguns autores rotulam como “cativeiro”
– foi até benéfico para o futuro do povo hebreu, pois, na Babilônia,
a sua civilização refloresceu. Muitos, inclusive, lá permaneceram,
quando da libertação do povo, sendo graças a isso que o Judaísmo
foi salvo da extinção, quando do domínio romano sobre Israel.
Em 539 a.C., Ciro, rei da Pérsia conquistava a Babilônia e
autorizava o povo hebreu a retornar à sua terra. Foi a partir desse
momento que os hebreus passaram a se denominar judeus, já que,
antes disso, o termo judeu, proveniente do latim judaeus, que, por
sua vez, deriva do gentílico hebraico yehudhi, referia-se ao indiví-
duo pertencente à tribo e, depois, ao Estado de Judá.
Por volta de 516 a.C., seria reconstruído, sob a direção de
ZOROBABEL, o Templo de Jerusalém, ainda sob o domínio persa, que
se estenderia até 312 a.C., quando Alexandre da Macedônia tomava
Jerusalém. Em 320 a.C., a Judéia é dominada pelos ptolomeus e,
em 198 a.C, pelos selêucidas, só voltando a ser um Estado livre, em
140 a.C. Essa liberdade, porém, foi efêmera, pois a guerra entre
ARISTÓBULO e HIRCANO, devido a dissensões internas, em 67 a.C, pro-
porcionaria a última e definitiva dominação estrangeira, a dos ro-
manos, até que, perante a reação judaica a esse domínio, houvesse
a destruição de Jerusalém, pelas legiões do imperador TITO, a 9 do
mês av do ano 70 d.C., fato até hoje relembrado na liturgia da sina-
goga.
O Judaísmo, todavia, continuaria a sua trajetória na Babilônia,
onde foram fundadas novas yeshivot (plural de yeshivá: academias
de estudo da Torá). Posteriormente, já sob a égide do Islã – a reli-
gião muçulmana, também originada na Bíblia – a partir do século
VII, o Judaísmo iria deslocar o seu eixo para a Espanha muçulmana
e para o resto da Europa cristã. Na Espanha, desenvolveu-se a era
de ouro do Judaísmo medieval, pois foi aí que a união árabe-judaica
produziu os melhores frutos de intelectualidade e de espiritualidade.
Depois ocorreriam as grandes expulsões do povo judeu dos
países europeus, enquanto crescia a onda de anti-semitismo, ilumi-
nada pelas fogueiras do Santo Ofício, no final da Idade Média e
continuando na fase moderna. Durante a II Grande Guerra (1939-
1945), o Judaísmo sofreria um grande golpe, oriundo do nacional-
socialismo alemão, sob o comando de ADOLF HITLER: o extermínio de
dois quintos do povo judeu. Todavia, logo depois dessa tragédia é
que seria restaurada a unidade nacional judaica, já que, a 29 de
novembro de 1947, a Assembléia Geral das Nações Unidas, presidi-
da pelo embaixador brasileiro, OSWALDO ARANHA, recomendava a cri-
ação de um Estado judeu, de um outro, árabe, e de uma zona inter-
nacionalizada, ao redor de Jerusalém. Após várias batalhas contra
os árabes, que não aceitavam a resolução da Organização das Na-
ções Unidas – ONU - o Conselho Nacional Judeu e o Conselho Geral
Sionista, a 14 de maio de 1948, proclamavam a criação de um Esta-
do judeu, sob o nome de Israel.

A RELIGIÃO

A religião e o misticismo hebraico foram os que mais subsí-


dios trouxeram à concretização da mística das religiões monoteístas,
que basearam as suas concepções metafísicas na fonte única do
Verbo de Deus, emanada da Torá14, base da filosofia e da mística
hebraico-judaica.
Os hebreus tornaram-se, realmente, “o povo do livro”, já que
dirigiram todos os deus esforços ao estudo e à interpretação da
Torá, não legando, às civilizações posteriores, nenhuma outra obra
14
A Torá: lei, mandamento, corresponde aos cinco primeiros livros do texto bíblico
(Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio).
de vulto, na área das artes e das ciências. Porém, graças a essa
atividade, houve um grande incremento do misticismo religioso. A
Bíblia (Livro), que foi redigida, possivelmente, entre os séculos VI
a.C. – período do exílio na Babilônia – e II a.C. – período dos
macabeus, para os últimos livros aceitos no Cânon – mostra uma
linguagem figurada e simbólica, muitas vezes fantástica, como os
poemas homéricos e, como estes, constituída por diversos elemen-
tos. Nela, se nota um esforço constante em direção ao monoteísmo,
extraordinário e de fundamental importância, já que oculta, ou com-
bate, os erros da massa popular, supersticiosa e até mesmo
politeísta, mas mostra o estado sucessivo da mentalidade religiosa
da elite judaica.
Na Babilônia seria compilada a Mishná – livro das leis mo-
rais judaicas – interpretação e complemento do texto da Torá. E
também na Babilônia seria composto o Talmud, que é a junção da
Mishná e da Guemará (comentários da Mishná)15.
Devido à destruição do templo de Jerusalém, fato que im-
pedia o culto sacrifical, surgiria, na Babilônia, a instituição que se
tornou o centro e o motor da vida judaica: a Beth-Am (Casa do
Povo), ou a Beth ha Kenesset (Casa da Coletividade): a Sinagoga,
onde a prece substitui o sacrifício, dando início à moderna liturgia
judaica16.

15
A exposição e interpretação do texto da Torá deu origem a duas correntes
exegéticas: a midrash halaká e a midrash hagadá. Midrash é o conjunto de lendas,
mitos e estudo da Torá, transmitido, durante séculos, por via oral, sendo compilado
nas yeshivot (plural de yeshivá: academias de estudos da Torá) babilônicas, após o
exílio. Halaká, em hebraico, significa, literalmente “modo de andar” (andar dentro da
lei moral). Hagadá, em hebraico e aramaico significa “conto, lenda, narrativa”. Assim,
midrash halaká é o ensinamento legislativo das partes jurídicas da Torá, enquanto
midrash halaká é o comentário livre das partes narrativas da Torá. As suas correntes
levaram à concretização da obra que é considerada a essência do Judaísmo: a Mishná,
que significa “ensino”, ou “repetição”. Isso se deveu aos tanaim (docentes). E, assim
como estes haviam interpretado a Torá, a Mishná também teve os seus estudiosos e
comentadores, os Amoraim, que, com seu trabalho nas academias da palestina e da
Babilônia, levaram à conclusão da Guemará, que, em hebraico, significa “complemento”.
A junção da Mishná com a Guemará forma o Talmud.

16
Sinagoga, do grego: synagogé: reunião, pelo latim: synagoga, designa a
assembléia dos fiéis, sob a antiga lei judaica. É o lugar onde o povo judeus reúnem-se
para orar, meditar e estudar os livros sagrados. Segundo a concepção judaica, a
sinagoga não é um templo, mas, sim, a casa do povo, à espera da reconstrução do
templo. Nela, as preces substituem o sacrifício cruento de animais, realizados no templo
de Jerusalém, segundo preceitos da Torá. As principais preces são: minc-há, shaharit e
arvit.
A profunda unidade religiosa permanente, sempre sob o
espírito da aliança, tantas vezes celebrada, entre Iavé (Deus) e seu
povo, aliança que era; freqüentemente ameaçada pelas fraquezas
espirituais do “povo eleito” e continuamente renovada e
incrementada, tanto pela minúcia litúrgica dos levitas, quanto pelas
violências dos profetas, que lutaram contra a idolatria fenícia, anun-
ciaram as catástrofes ameaçadoras, como punição de Israel e con-
dição de seu resgate, e insistiram, sempre no valor redentor do so-
frimento e na necessidade de se manter a antiga fé, para que hou-
vesse esperança, não só de salvação individual, como de todo o
povo.
Esse monoteísmo, criado e aprofundado pelas elites religi-
osas, mas nem sempre seguido pelo povo (como acontece em mui-
tas outras religiões), influiu, decisivamente sobre o misticismo
transcendental dos povos modernos, monoteístas, em sua maioria,
e deu à Maçonaria o dogma basilar da esmagadora maioria de seus
ritos (os ritos teístas ou dogmáticos), que é a crença em Deus, que,
para os maçons é o Grande Arquiteto do Universo. Esse conceito
domina, há muito o universo metafísico maçônico, sendo nos ritos
citados, condição sine quae non para a iniciação e para regulari-
dade maçônica.

A MAÇONARIA E O MISTICISMO HEBRAICO

Embora a Maçonaria não seja hebraica, como afirmam mui-


tos autores desavisados, a realidade é que as práticas místicas dos
hebreus e judeus começaram a se fazer presentes, nos trabalhos
maçônicos, a partir do século XVIII, após a criação da lenda de
Hiram Abi, o lendário construtor do templo de Jerusalém. As práti-
cas principais, presentes na atividade maçônica, podem ser assim
relacionadas:

1. Cobertura de Cabeça
Em todas as cerimônias litúrgicas judaicas, é obrigatória
para os homens a cobertura da cabeça com o solidéu (Kipá, em
hebraico), embora os teólogos afirmem que essa cobertura deve
ser constante e processada desde o nascimento do homem, ou,
mais precisamente, a partir do brit-milá (circuncisão), realizada no
oitavo dia de vida e que simboliza a aliança abrâmica com Deus.
Na Maçonaria, no grau de Mestre, todos os maçons devem,
durante a sessão da loja, manter-se coberto, enquanto nos dois
primeiros graus da Maçonaria simbólica (Aprendiz e Companheiro),
exige-se que o Venerável (Presidente) da loja esteja coberto duran-
te toda a cerimônia ritualística de abertura e de encerramento das
sessões. A cobertura da cabeça também é exercida em cerimônias
de pompas fúnebres realizadas pelos maçons.
O simbolismo maçônico dessa prática é similar ao judaico:
significa que, acima da cabeça do homem, existe algo transcendental,
onisciente, onividente e onipresente, que é Deus, o Grande Arquite-
to do Universo. Essa cobertura da cabeça, praticamente demonstra
a pequenez humana e a prostração do homem perante Deus, pois
sendo a cabeça, a sede da mente e do conhecimento, estando ela
coberta, mostra a incapacidade humana de entender a divinda-
de, sendo, quase uma afirmação agnóstica.

2. A Estrela de Seis Pontas


Essa figura, chamada de “estrela de David” (Magen David),
é um símbolo muito antigo, que foi usado e difundido pelos hebreus,

O TETRAGAMMATON
O nome divino de Deus em hebraico, da direita para a esquerda, as letras iôd, he,
vava e he, concentra em si toda a energia radical e a plenitude de poder de que
dimanou a criação.
tendo sido, também, utilizado pelo ocultismo e pela Alquimia.
Ela é formada por dois triângulos eqüiláteros entrecruzados
e em posição oposta, ou seja: um com o ápice voltado para cima e
o outro com o ápice voltado para baixo: o triângulo de ápice supe-
rior representa os atributos da espiritualidade, enquanto que o ápi-
ce inferior representa os atributos da materialidade.
Na Maçonaria, essa estrela simboliza a divindade suprema,
tendo, ao centro, as quatro letras hebraicas que formam o nome
(impronunciável) de Deus: IÔD, HE, VAV e HE. Na Maçonaria ingle-
sa, inclusive, ela é a estrela sagrada, a Blazing Star, flamejante,
utilizada em lugar da estrela de cinco pontas (hominal) dos
pitagóricos, o que está mais de acordo com o misticismo dos ritos
teístas.
O nome hebraico de Deus é encontrado, também no triân-
gulo eqüilátero, chamado de Delta Radiante, ou Luminoso, que se
encontra nos templos maçônicos, ao oriente, por trás da cadeira do
Venerável. Tendo os três lados e os três ângulos iguais, ele é uma
figura de grande equilíbrio e muita harmonia, tendo tido, também,
muito significado para os alquimistas, ocultistas e cabalístas. Na
Maçonaria, ele representa o Grande Arquiteto do Universo e, no
interior da figura, ao invés das quatro letras hebraicas ou, pelo me-
nos, da primeira (Iôd), pode também ser encontrada a representa-
ção de um olho esquerdo, que segundo alguns autores, seria o olho
onividente de Deus. Essa representação, todavia, deveria ser reser-
vada para os poucos ritos adogmáticos e não teístas, para os quais
o conjunto do triângulo com o olho simboliza a sabedoria humana;
para a mística dos ritos teístas, é preferível a primeira representa-
ção.
A estrela de seis pontas também serve para simbolizar os
dirigentes da loja maçônica, de acordo com as suas atribuições
ligadas à espiritualidade, ou à materialidade. Assim, no triângulo de
ápice superior, o ângulo superior representa o Venerável, enquanto
os dois outros representam os dois Vigilantes, pois, competindo a
esses oficiais maçônicos a orientação espiritual da loja, eles for-
mam o triângulo da espiritualidade. No triângulo do ápice inferior, o
ângulo inferior representa o Cobridor, enquanto os dois outros re-
presentam o Orador e o Secretário, pois, competindo a eles a orien-
tação material da loja (o Orador zelando pelo cumprimento das leis,
o Secretário redigindo as atas e o Cobridor velando pela segurança
a Loja), eles formam o triângulo da materialidade.
3. Simbolismo dos Números
Os hebreus consideravam certos números como sagrados
e outros como nefastos, sendo, todos eles, ligados a idéias da divin-
dade e do cosmos. A Maçonaria também apresenta a sua
numerologia, de acordo com o caráter místico de alguns números
fundamentais, com base não só no misticismo hebraico, mas, tam-
bém, no pitagorismo. Os principais números, cujo caráter místico,
para os hebreus de vê ser ressaltado, são os seguintes:

Número UM: unidade indivisível, é o símbolo de Deus, prin-


cípio e fundamento do universo, sendo, portanto um número sagra-
do.
Número DOIS: é um número nefasto, pois representa a
dualidade, ou a divisão entre o ser e o não ser. Essa dualidade,
calçada nos textos cabalísticos, não se refere a corpo e alma, mas
sim, à dúvida, à bipartição entre a existência e não existência.
Número TRÊS: é um número perfeito, de alto significado
místico, sendo assim, um dos números sagrados que, na teologia
cristã, originária do Judaísmo, culmina no mistério da Santíssima
Trindade, concepção metafísica que, até o século VII, comprometia
o conceito do monoteísmo, restabelecido então, rigidamente na Eu-
ropa, essa concepção foi retomada, voltando a comprometer o con-
ceito moneteísta, pois sugere três entidades divinas, ao invés de
uma. O número três aparece, diversas vezes, nos textos bíblicos: os
três filhos de Noé, os três varões que apareceram a Abraão, os três
amigos de Jó, os três dias de jejum dos judeus desterrados.
Número QUATRO: é considerado um número cósmico, pois
quatro eram os elementos tradicionais (ar, água, terra e fogo), qua-
tro as extremidades do mundo e quatro as bestas do Apocalipse.
Número SETE – é o número sagrado de todos os povos
antigos, que lhe atribuíam um valor astrológico e mágico, já que sete
eram os planetas conhecidos na antiguidade.Os hebreus também o
consideravam sagrado: Deus santificou o sétimo dia, sete eram os
braços do candelabro (menorá), sete os dias ázimos, sete os dias
da consagração dos sacerdotes, etc. A expressão “sete vezes sete”,
muito encontrada na bíblia, 9indica um número indefinido de vezes
que se supõe perfeito e total.
Além desses números fundamentais, outros, compostos,
também eram considerados pelo seu valor místico:
Número DEZ: é um número perfeito, pois resulta da soma
de números perfeitos, ou seja, 03 e 07. Dez foram os mandamentos
recebidos por Moisés, no Sinai, e dez as pragas do Egito.
Número DOZE: era a base da numeração entre os antigos
povos orientais. Existem doze signos no Zodíaco, doze tribos de
Israel, doze meses no ano, doze horas no dia, doze pães da propo-
sição, etc.
Número QUARENTA: simboliza a penitência e a expectati-
va, pois o dilúvio durou quarenta dias, quarenta foram os dias que
Moisés passou no Sinai e quarenta os anos em que os hebreus
perambularam pelo deserto, ao saírem do Egito, em direção à Pa-
lestina.
Número SETENTA: é um número perfeito, por ser múltiplo
de dois números perfeitos (07 e 10): setenta anos durou o exílio na
Babilônia e setenta eram os anciãos de Israel.
Número MIL: é um número essencialmente místico, pois o
Apocalipse, representa a perfeição da vida.
Os números místicos mais usados na Maçonaria são:
UM: símbolo do Grande Arquiteto do Universo.
DOIS: símbolo da dualidade entre o ser e o não ser, encon-
trada no grau de Companheiro.
TRÊS: encontrado na mística do Delta representativo de
Deus, simboliza a divindade única, o Supremo Árbitro dos mundos,
sem qualquer relação com tríades divinas, seja do antigo mundo
oriental, seja da concepção veladamente politeísta da Trindade.
SETE: número místico do Mestre, simboliza a perfeição
alcançada na evolução espiritual.
DEZ: pela junção dos perfeitos números 03 e 07, simboliza
o caminho do iniciado em direção à luz e é, também, um símbolo do
Grande Arquiteto do Universo.
DOZE: representado nas doze colunas zodiacais e nos doze
pães da proposição, que simbolizam, no plano exotérico, as doze
tribos de Israel, e, no esotérico doze signos do Zodíaco.

4. A Ordem dos Essênios


Após o exílio na Babilônia e a volta do povo hebreu a Pales-
tina, com conseqüente reconstrução do templo de Jerusalém,
destruído por Nabucodonosor II, a vida religiosa era intensa e vi-
brante, sendo dirigida no sentido da preservação da pureza e da
autenticidade da tradição hebraica, ameaçada pelos invasores.
As divergências teológicas, aliadas às rivalidades políticas,
deram origem a três partidos, ou seitas religiosas e dos SADUCEUS, a
dos FARISEUS e a dos ESSÊNIOS.
Os saduceus representavam o partido dos poderosos e da
classe sacerdotal, baseando a sua conduta numa intransigente fi-
delidade ao texto da Tora, lutando pela supremacia do povo eleito e
pela grandeza espiritual do Templo.
Os fariseus admitiam, ale, da tradição escrita, ou seja, além
do texto da Tora, uma extensa tradição oral, que permitia, aos estu-
diosos, interpretar aquele texto, adaptando-o às diversas
circunstâncias. Os fariseus (do hebraico perushin: separados) defi-
niram os conceitos religiosos do Judaísmo; que iriam ser totalmente
aproveitados pelo misticismo e pelo Cristianismo: a justiça divina e
a liberdade do homem, a imortalidade da alma e o julgamento de-
pois da morte, o paraíso, o inferno, o purgatório, a ressurreição dos
mortos e o reinado de glória. Paulo, que depois, seria canonizado
pela igreja, como São Paulo, e que era fariseu, levou todas essas
doutrinas para o Cristianismo, que difunde até hoje. O farisaísmo
foi, também totalmente aproveitado pelo Mitraísmo, fazendo com
que muitos pesquisadores situem, erradamente, a origem da doutri-
na cristã na ordem dos devotos de Mitra. Com a destruição total de
Jerusalém, no ano 70, foi a doutrina farisaica que assegurou a so-
brevivência do Judaísmo. Não se entende o juízo grosseiro e pejora-
tivo, que se faz dos fariseus, no Cristianismo, já que a doutrina cris-
tã é, totalmente, baseada na doutrina farisaica.
Os essênios praticavam o monaquismo; o homem e mulhe-
res viviam agrupados em uma vida de isolamento e contemplação,
de silêncio e amor. O seu monaquismo iria ser herdado em grande
escala pelo Cristianismo. Embora muitos autores procurem ver, nos
essênios uma ordem iniciática, similar à Maçonaria, a verdade é
que nada autoriza essa afirmação, pois eles formavam uma simples
entidade religiosa, que, por opção, ficava afastada do mundo. Um
rito tradicional, incrementado pelos essênios o KIDUSH (da raiz Kodesh
santo, sagrado) além de ser origem da eucaristia, na igreja, também
tem lugar nos rituais maçônicos.
O Kidush era realizado na véspera de uma festa religiosa,
ou na véspera do SHABAT (sábado, o dia santificado), para realçar a
santificação do dia. O principal dos convivas de uma confraria
(SHABURÁ) tomava o pão e, lançando sobre ele, as suas bênçãos,
distribuía-o entre os demais; fazia o mesmo com um copo de vinho
de que todos bebiam. Esse ritual, muito incrementado entre os
essênios, era habitual entre as confrarias de devotos, unidos por
alguma afinidade. A última ceia de Jesus com seus discípulos foi um
Kidush, que precedeu a Pêssech (Páscoa).
A liturgia eucarística da missa na igreja é totalmente base-
ada no Kidush: a “Preparação dos Dons” é quando se levam ao
altar, o vinho, o pão e a água, que, serão apresentados ao Senhor,
pela comunidade reunida; a “Oração Eucarística” é o ponto central
da ação de graças e da consagração, em que se revive a última ceia
de Jesus com seus discípulos, quando abençoando o pão e vinho,
ele o distribuiu entre os convivas.
Na Maçonaria dita Filosófica, ou dos altos graus, existe um
grau em que o Kidush é totalmente revivido, sendo, essa a única
influência mística dos essênios sobre o misticismo maçônico, ao
contrário do que querem fazer crer alguns autores mistificadores,
ou ingênuos, que chegam a afirmar que “existiram lojas essênias e
que Jesus foi iniciado numa delas, sendo, portanto maçom”. Isso é
uma heresia histórica que nem merece uma análise crítica.

5. O Tabernáculo e o Templo de Jerusalém


Segundo a Torá, Moisés, seguindo instruções recebidas no
Sinai, após a saída do Egito, descrita no Êxodo, mandou construir o
Tabernáculo (em hebraico miskhan: santuário), para guarda dos
mandamentos da Tora; e para os ofícios religiosos durante a vida
nômade pelo deserto. Para isso, delimitava-se um pátio (praça do
Tabernáculo) de cem côvados de comprimento (49,50 metros) e cin-
qüenta de largura (24,75 metros), vedado por uma cortina sustenta-
da por sessenta postes de 2,50 metros de altura, sendo o acesso a
ele feito pelo lado oriental.
O tabernáculo, propriamente dito, ou a tenda (em hebraico
suká) ficava no ocidente e constava de quatro tendas superpostas,
sendo a mais interna, bordada em excelente linho, enquanto as ou-
tras eram feitas de pele e tingidas de púrpura, ficando todas elas,
sobre um estrado de madeira. Dividido em duas tendas, a maior
formava um retângulo de cinco por dez metros, enquanto a menor
era um cubo de cinco metros de aresta.
A tenda menor era o Santo dos Santos (em hebraico: kodesh
há kodashim), o lugar mais sagrado, já que representava a habita-
ção terrena de Deus. Em seu interior era encontrada a Arca da Ali-
REPRESENTAÇÃO MÍSTICA DO TEMPLO DE SALOMÃO
Em primeiro plano as duas colunas vestibulares que nesta antiga figura
estão invertidas e estão representando as potências criadoras do macho e da
fêmea (pater e mater).
ança, contendo a lei de Deus (a Tora), e nela só penetrava o Supre-
mo Sacerdote (Cohen gadol), no YOM KIPUR (Dia do Perdão). A tenda
maior era o Santo (em hebraico kodesh) e continha: em frente e
bem ao centro da entrada, uma mesa onde se queimava incenso; ao
norte, uma mesa com doze pães da proposição, pães ázimos, ou
seja, sem fermento (em hebraico: matzol); ao sul, o candelabro de
sete braços (em hebraico: menorá).
Entre as tendas e a entrada do pátio, achava-se um altar
para os holocaustos ou sacrifícios do culto e, próximo à entrada
das tendas, ao sul, encontrava-se uma bacia com água para a puri-
ficação do sacerdote e para outras purificações ritualísticas.
O Templo de Jerusalém seguia essa mesma disposição e
apresentava as mesmas divisões. A diferença fundamental é que na
extremidade oriental do templo (na sua entrada), havia um pórtico,
com cinco metros de profundidade e grande altura, flanqueado por
duas colunas de bronze feitas pelo artífice Hiram Abi (JACHIN, a colu-
na da direita, e BOAZ, a da esquerda).
As três divisões do santuário representam em ambos os
casos, as três grandes divisões do universo, ou seja, o céu, o
mar e a terra; os doze pães propiciais representam esotericamente,
as doze tribos de Israel e os ventos setentrionais que, trazendo as
chuvas, vivificam as plantações, enquanto esotericamente, simboli-
zam os doze signos do Zodíaco, com suas influências sobre o ser
humano; o candelabro de sete braços, ou menorá, representa os
sete planetas conhecidos na antiguidade e simboliza o mundo dos
astros, que trazem a luz; a bacia de bronze (mar de bronze), com
água, para a purificação, simboliza a vida pura e honrada.

6. A Cabala
A Cabala, que significa “tradição”, é a essência do misticis-
mo judaico. Como doutrina mística e metafísica, ela é bastante an-
tiga, encontrando-se já na Tora, muitos traços da filosofia mística
transcendental que envolvia, posteriormente sofrendo influência de
outras culturas, mas conservando sempre, a sua primitiva originali-
dade e toda a sua beleza e profundidade espiritual.
Doutrina baseada no contado íntimo com a divindade, ela
embora sendo antiga, só se concretizou na idade média.Sua fonte
principal é, realmente bíblica: os essênios e os fariseus transmiti-
ram-na, oralmente e, na época talmúdica (século IV e V), a doutrina
mística analisava o homem, objeto da criação em sua relação su-
prema com Deus e estudava o cosmo sob dois aspectos: MA’ASSÊ
BERECHIT (História da Criação) e MA’ASSÊ MERKABÁ (História do Carro,
do Trono de Deus).
Os temas específicos do misticismo judaico, que foram as
fontes da literatura e da doutrina cabalística são:

1. O Apocalipse
Elemento importante do misticismo e do esoterismo judaico,
o tema apocalíptico é abordado em diversos trechos referentes a
vários profetas, como EZEQUIEL, AMÓS, ISAÍAS, JOEL, ZACARIAS, MALAQUIAS
e DANIEL, no Antigo Testamento, sendo retomado, no Novo Testamen-
to, por São JOÃO EVANGELISTA.
A base dessa literatura, que se prende às visões dos profe-
tas, é o fim de Israel e de toda a humanidade e ela é bastante rica
em ficções e especulações em torno da contemplação do espaço
celestial, das angustiantes visões do fim dos tempos e da hora do
julgamento final.
Além dos livros dos profetas, a literatura apocalíptica é
enriquecida por diversos textos apócrifos, como O APOCALIPSE DE
ABRAÃO, O APOCALIPSE DE ELIAS, LIVRO DE ENOC, TESTAMENTO DE ISAAC e ou-
tros. Nestes textos, a principal visão é o arcanjo Uriel – no Livro de
Enoc – ou o anjo Jeiel – no Apocalipse de Abraão – que, enviados
por Deus, vêm revelar, aos homens, os grandes mistérios do mundo
celestial, com a ascensão gradual da alma ao céu e a contempla-
ção das falanges angelicais do trono, ou carro de Deus.

2. A Visão da Merkabá
Esta visão é descrita no primeiro capítulo de Ezequiel, cujos
trechos principais são:

Olhei e vi: do norte soprava um vento fortíssimo: uma nu-


vem espessa acompanhada dum clarão e uma massa de
fogo resplandecente à volta; no meio dela, via-se algo se-
melhante ao aspecto dum metal resplandecente. E ao cen-
tro, distinguia-se a imagem de quatro seres vivos, todos
com aspecto humano. Cada um tinha quatro faces e qua-
tro asas. As suas pernas eram direitas e as plantas dos
pés assemelhavam-se às de boi e cintilavam como bronze
polido. Debaixo das suas asas, nos quatro lados, apareci-
am mãos humanas; as suas faces e as suas asas dirigiam-
se para os quatro pontos cardeais. As asas estavam liga-
das umas às outras; quando avançavam não se viravam
para os lados; cada um dos seres vivos caminhava diante
de si. No que toca ao seu aspecto, tinham face de homem,
à frente e os quatro tinham uma face de leão à direita, uma
face de touro à esquerda e uma face de águia à retaguar-
da. E as suas faces e as suas asas estendiam-se para o
alto; cada um tinha duas asas que se tocavam e duas que
lhe cobriam o corpo.
(Ezequiel, 1 - 4 a 11).

Eu via os seres vivos e notava que havia uma roda na terra


ao lado de cada um dos seres vivos. As rodas davam a
impressão de ter o brilho de crisólitos; todas davam a im-
pressão de ter o mesmo aspecto e pareciam trabalhadas
de tal maneira como se estivessem uma no meio da outra.
(Ezequiel, 1 - 15 e 16).

Havia algo semelhante a uma abóbada brilhante como o


cristal sobre as cabeças dos seres vivos; e a abóbada es-
tendia-se sobre as cabeças. As asas, voltadas umas para
as outras, estendiam-se sob a abóbada; cada um tinha duas
que lhe cobriam o corpo. Eu escutava o ruído das asas
como o barulho das grandes torrentes, como a voz do
Onipotente, quando eles avançavam, ou como o ruído do
campo de batalha; quando paravam, as asas baixavam. E
por cima da abóbada, que ficava sobre as suas cabeças,
fazia-se um grande ruído; quando paravam, as asas baixa-
vam. Pela parte de cima da abóbada que ficava sobre as
suas cabeças, estava uma coisa semelhante a pedra de
safira, em forma de trono, e sobre esta espécie de trono,
no alto, pela parte de cima, um ser com aspecto humano.
E verifiquei que, do que parecia a cintura para cima, tinha
como que um brilho vermelho, algo como fogo à sua volta,
e da cintura para baixo vi como que fogo espalhando um
clarão à sua volta. O esplendor à sua volta, parecia o arco-
íris que aparece nas nuvens nos dias de chuva. Era algo
que tinha o aspecto da glória de Deus.
(Ezequiel, 1 - 22 a 28).

Essas são as partes principais da descrição do trono de Deus


e dos querubins que o tracionavam, embora, em 28 versículos,
Ezequiel faça uma descrição bastante detalhada, inclusive das ro-
das do trono de Deus, daí também o nome de carro de Deus, dado
ao trono.
Pode-se notar que Ezequiel não tinha palavras humanas para
representar, com exatidão, as figuras celestiais, dizendo sempre que
se assemelhavam, que pareciam, que eram como, etc.
Os quatro seres vivos, que formavam uma espécie de qua-
drado, com um em cada um dos lados, recordam, muito fortemente,
os karifu dos assírios, cujo nome corresponde aos querubins da
arca da aliança. Eles tinham cabeça de homem, corpo de leão,
patas de touro e asas de águia; as suas figuras, esculpidas em me-
tal serviam para guardar os palácios assírios. As quatro formas sim-
bolizam a essência divina: o homem, como imagem da racionalidade,
representa a sabedoria de Deus: o leão, como rei dos animais, sim-
boliza a majestade divina: o touro, como símbolo do poder, repre-
senta a onipotência de Deus; a águia, símbolo da velocidade, re-
presenta a maneira como Deus conduz seu povo nas suas asas. É
interessante registrar que esses quatro seres, a partir de Santo IRINEU,
passaram, entre o clero, a ser o símbolo dos quatro evangelistas.
O Trono é o lugar da mais alta glória de Deus, é o objetivo da
visão mística e do caminho místico, através dos palácios celestiais
(em hebraico: hekalot), já que Merkabá se eleva ao sétimo e último
dos céus. Essa concepção dos sete céus, através dos quais a alma
se eleva, é bastante antiga, precedendo, mesmo, o estabelecimento
da mística hebraica. A representação do trono com rodas, como um
carro, serve para mostrar, aos judeus exilados, que Deus não está
ligado apenas ao templo de Jerusalém, mas pode mover-se livre-
mente, para sempre acompanhar o seu povo, nas diásporas e mes-
mo no cativeiro.
Segundo o tratado AS GRANDES MORADAS (em hebraico: Hekalot
Guedolot), a viagem visionária do espírito aos céus relaciona-se
com a descida da Merkabá; e o grupo místico a ela ligado é o dos
YORDÊ HA MERKABÁ (os que descendem da Merkabá). A literatura liga-
da à gnose da Merkabá é bastante extensa e hermética: além do já
citado Livro de Enoc, o qual traz a mais antiga descrição da con-
templação do Trono, temos As Grandes Moradas – o mais importan-
te tratado sobre o assunto – as Pequenas Moradas e o alfabeto do
rabi AKIBA.
Todos esses textos tornaram-se bastante herméticos, porque
foram produzidos por fraternidades que não transmitiam, publica-
mente, a sua secreta tradição mística. Tais fraternidades tinham
caráter iniciático e, para ser admitido à iniciação no fechado círcu-
lo místico da Merkabá, o candidato tinha que passar por um novici-
ado; neste, o noviço recebia profundos ensinamentos espirituais,
transmitidos no sentido de purificá-lo e introduzi-lo na vida
contemplativa, que permitia a ascensão através dos sete palácios
celestiais, até chegar à morada divina. Tais fraternidades influenci-
aram, profundamente, diversas sociedades herméticas iniciáticas,
que surgiram posteriormente, religiosas, ou não, como é o caso do
Mitraísmo persa, parte da religião mazdeista persa, totalmente cal-
cada no Judaísmo.
Juntamente com a visão da Merkabá e relacionada a ela, há
uma revelação hermética e estranha, que é a medida mística do
corpo de Deus (em hebraico: Shiur Komá). Esta já é encontrada nos
textos das Grandes Moradas e é a mais profunda linguagem primi-
tiva da mística judaica. Muitos cabalistas, como YEHUDA HALEVI con-
sideraram a linguagem obscura e intrincada da Shiur Komá como o
símbolo de uma espiritualidade particular. As medidas exageradas
atribuídas ao corpo místico de Deus servem para mostrar a insigni-
ficância do homem perante Deus.

3. A Halaká
HALAKÁ, que significa “modo de andar”, alicerce e pilar dos
princípios religiosos, é o comentário legislativo das partes jurídicas
da Torá.
É na interpretação da Torá que se manifesta, de maneira ori-
ginal e particular, o pensamento rabínico, tendo, os mestres do
Talmud, chamado a atenção para a sua extraordinária importância.
MAIMÔNIDES (MOSHÉ BEN MAIMON), um dos mais importantes teóricos do
Judaísmo ibérico, em sua principal obra, “Guia dos Transviados”, ou
“Guia dos Perdidos”, enfatiza o caráter original e filosófico dos man-
damentos da Torá (em hebraico: mitzvot, plural de mitzvá).
Como Maimônides, outros talmudistas consideraram a Halaká
de duas maneiras: quando ela se liga intimamente à Torá e quando
ela se mantém como tradição. Já para os cabalistas, ela é muito
mais importante e profunda, pois eles vêm, em cada mitzvá, um ato
com influência sobre o dinamismo do universo. Nesse sentido, a
Halaká contribuiu para o desenvolvimento do pensamento
cabalístico.

4. A Agadá
AGADÁ, que significa lenda, narrativa, alimentou extensamen-
te, as fontes místicas da Cabala. Ela se prende às narrativas tecidas
pela imaginação, ao longo de diversas gerações, e aos relatos pro-
digiosos atribuídos aos místicos da era talmúdica, que interpreta-
vam os mistérios da Torá (em hebraico: sitrê Torá), em relação à
estrutura universal. Desta maneira, ela apresenta, sob a aparência
de lenda, de ficção, de conto romanceado, uma atitude contemplativa
e mística.
Evidentemente, existe uma profunda diferença entre a Agadá
cabalística e a da interpretação da Torá, pois a cabalística tem
muito mais extensão e profundidade, sendo mais mística e mais
mítica do que a da interpretação da Torá.

5. A Alegoria
Estabeleceram, os filósofos místicos, que os mistérios da Torá
são esclarecidos através da alegoria. Os cabalistas, por sua vez,
enfatizaram o caráter transcendental da alegoria, que acabou por
ser revestida de um significado puramente simbólico. Chegar-se-ia,
desta maneira, a um simbolismo altamente desenvolvido, que iria
influenciar, de modo marcante, muitas sociedades de caráter
iniciático.
De acordo com o simbolismo cabalístico, o Criador,
macrocosmo, e a criatura, microcosmo, em lugar de se distinguir,
são uma só coisa, numa mística fusão, completa e íntima. Os mitzvot
(mandamentos) são símbolos graças aos quais o sentido oculto de
sua aplicação torna-se claro e transparente.
Esses são os principais temas específicos do misticismo
hebraico-judaico, fontes de toda a Cabala oral ou escrita, já que,
com o passar do tempo, houve a tendência a se escrever a tradi-
ção, que era propagada oralmente, como já acontecera com a Mishná
e o Talmude.
Existem vários textos da literatura cabalística,
influenciadores da filosofia mística contemporânea; entretanto os
dois principais são:

O Sepher Yetsira
O SEPHER YETSIRA (Livro da Criação), é um curto tratado es-
crito em hebraico, entre os séculos III e VI. É de autoria desconheci-
da, tratando-se da primeira obra que, sob o ponto de vista místico,
revela uma concepção filosófica dos elementos fornecedores do
universo, sem levar em conta o elemento étnico-religioso. Ele é o
guia espiritual para a visão da Merkabá, tendo, sua cosmologia e
sua cosmogonia, se tornado clássico.
Segundo o Yetsira, a criação dos elementos que formam o
mundo está subordinada aos dez números fundamentais (sefirote) e
às vinte e duas letras do alfabeto hebraico, que envolvem forças
cósmicas inatingíveis, submetidas a combinações, que variam atra-
vés da criação.
As vinte e duas letras do alfabeto hebraico são consoantes
e evoluíram a partir de um alfabeto pictográfico, onde as letras eram
representadas por pinturas, ou desenhos, do objeto
correspondente.As vinte e duas letras com o seu primitivo significa-
do são:

Aléf – Boi
Beth – Casa
Gimel - Camelo
Daleth – Porta
Zayn – Arma
He – Furo
Vav – Prego
Hêth – Barreira
Teth – Serpente
Iôd – Mão
Kaf – Palma
Lámed – Látego
Men – Água
Nun – Peixe
Samek – (?)
Ayin – Olho
Pe – Boca
Sade – Anzol
Kôph – Nuca
Rêsh – Cabeça
Shin – Dente
Tau – Sinal.
As vinte e duas letras hebraicas e as dez sefirotes são as
trinta e duas sendas místicas, com as quais Deus criou o Universo,
através da combinação e da permuta.
Dessa Maneira, o YETSIRA aborda as origens e as relações
das dez sefirotes com a divindade; as quatro primeiras eram o en-
cadeamento emanatista e as outras seis, ligadas às direções da
morada celeste emanam da oposição do sinete divino, representa-
do pelo tetragrama (IÔD, HE, VAV, HE), nome impronunciável de Deus.
Por outro lado, o mundo nasce pela ação das vinte e duas letras e
as criaturas nascem pela permutação delas; desta maneira, o po-
der do Verbo revelado produz a criação a partir do nada, a
passagem do não-ser ao ser.
Na Yetsira, as vinte e duas letras estão agrupadas da se-
guinte forma:

I. Três letras mão (IMOT), que são: Aléf, Men e Shin.


II. Sete signos, ou seja, de dupla pronúncia.
III. Doze signos simples ou de única pronúncia.

As três letras mãe correspondem aos três elementos su-


periores da natureza, ou seja, o ar, que é o elemento central e os
outros dois que, dele, jorram e dependem: para cima, o fogo, ele-
mento do mundo celestial, e, para baixo, a água elemento do
mundo material.
Os sete signos duplos simbolizam os sete planetas, en-
quanto os doze signos simples representam os doze signos do
Zodíaco.
Essa divisão cosmológica das letras é aplicada ao tempo e
ao espaço, ao macrocosmo divino e ao microcosmo humano. O
Yetsira possui um profundo alcance filosófico, poderem se presta,
também, a teurgia (bem determinada na Merkabá) e a magia, muito
explorada na Idade Média.
Para compreensão, mesmo superficial da profunda mística
do Yetsira, é preciso que se conheçam os tipos de combinações de
letras e a relação com os números; existem três tipos de combina-
ções das letras do alfabeto hebraico, com uso na Cabala.
NOTARICOM, palavra hebraica que significa permuta; ou trans-
posição. Com a permutação das letras de uma palavra, obtemos
outra, de sentido oposto ao da primeira embora formada pelas mes-
mas letras.
GUEMATRIA, que é a palavra de origem latina e deturpada,
refere-se à avaliação numérica da palavra. É a combinação mais
empregada entre todas e, dela, temos exemplos clássicos de
guematria, que merecem ser citados:

I. A palavra KATIT, formada pelas letras Kaf, tau, iôd e tau (da
direita para a esquerda, como são lidas as palavras
hebraicas), significa o óleo de oliva usado no candelabro
(menorá). As duas primeiras letras, kaf e tau, correspondem,
numericamente, a 420, que é o Primeiro Templo de Jerusa-
lém; as duas últimas, iôd e tau, correspondem a 410, que é
o número de anos durante os quais o menorá iluminou o
Segundo Templo.
II. A palavra IÁIN (vinho) corresponde, numericamente, a SOD
(segredo), significando que o vinho revela segredos, ou seja,
quem está embriagado não consegue guardar segredos. O
ditado latino in vino veritas, relembra essa passagem
cabalística.

O Sepher Há Zoar
O SEPHER HÁ ZOAR (Livro do Esplendor) é onde se encontra,
praticamente, toda doutrina da Cabala, sendo portando, a maior
obra cabalística, vista, pelos místicos judeus, como a obra canônica
máxima, com importância igual à da Tora e do Talmude.
A tradição atribui a autoria do Zoar ao rabi SIMEON BAR YOHJAI,
que viveu no século II e que, durante treze anos, teria permanecido
numa gruta, na Palestina, onde teria recebido a revelação desse
texto cabalístico. A crítica reconhece, todavia, a Moshé de Leon,
como o compilador, ou o autor do Zoar, cujo texto surgiu, na Espanha
em 1275.
Escrito em aramaico, o Livro do Esplendor é uma obra teo-
lógica e metafísica de grande profundidade espiritual, envolvendo
comentários das principais passagens da Tora, entre os quais se
acham intercalados vários tratados particulares e complementares.
Foi escrito em forma de romance místico-filosófico, desenrolado na
Palestina, que é vista como um lindo e tranqüilo campo, adornado
de vinhas, figueiras e pés de romã, muito propício à meditação e à
elevação espiritual.
A finalidade essencial da obra é fazer a descrição da vida
interior de Deus e traçar o caminho do ser humano em direção à
união mística com a divindade; a sua doutrina, entretanto, não se
apresenta de maneira harmoniosa com um todo compacto, sendo,
muitas vezes, um complexo intrincado de pensamentos representa-
dos por símbolos de difícil compreensão.
De maneira geral, o Zoar mostra o infinito incognoscível de
Deus (En Soph), em suas relações com o universo e com o homem,
através das dez sefirote, que representam os dez atributos funda-
mentais da vida divina. Pela sua doutrina, existem dois mundos liga-
dos à divindade: o primeiro relacionado com o EN SOPH, é totalmente
oculto e inacessível à mente e à inteligência humana, enquanto o
segundo, visto sob o ângulo dois dez atributos, acha-se abaixo do
primeiro, é acessível à mente humana e permite o conhecimento de
Deus. Na realidade, os dois mundos formam um só, embora o En
Soph permaneça, sempre, incognoscível e intransponível, se bem
que a sua atividade seja percebida.
Essa atividade do En Soph, percebida pela mente humana,
manifesta-se nas sefirote, que transmitem a vida divina, e, tomando
lugar em Deus, permitem, ao homem percebê-lo. Essa potência
sefirótica mística permitiu, aos cabalistas, fazer uso
antropomorfismo, para esclarecimento dos símbolos da Tora. Desta
maneira, temos a transposição das sefirote para a imagem de um
homem.
De acordo com o Gênese, o homem foi criado à imagem de
Deus e, assim, existe, nele, um sopro de divindade, um pouco do
Criador na criatura. Todavia, o homem terrestre, cósmico, possui
muita materialidade e necessita de um aperfeiçoamento; o futuro
homem aperfeiçoado, o MECHI’AKH (Messias, ungido), corresponde
ao ADAM KADMON, que é um reflexo da alta espiritualidade, sendo, o
seu corpo, no Zoar, considerado como a marca da alma.
Assim, o microcosmo, que é o organismo humano sendo
cópia do macrocosmo (do Universo, de Deus), pode ter uma repre-
sentação precisa; Deus, entretanto, não pode ser representado sob
nenhuma forma e, desta maneira, é simbolizado pelo Adam Kadmon,
sob o aspecto das sefirote.
São diferentes as sefirotes do Yetsira e do Zoar. Nestes elas
são incorporadas sob vários nomes, de acordo com a figura huma-
na que representa o Adam Kadmon.
De acordo com essa figura, temos as seguintes sefirotes:
1. Kether – Coroa; 2. Hokmá – Sabedoria; 3. Biná – Inteligência;
4. Hessed – Graça; 5. Din - Justiça; 6. Tiferet – Beleza;
7. Netsá – Vitória; 8. Had – Majestade; 9. Iesod – Fundamento;
10. Malkhut – Reino

As nove primeiras sefirotes formam três tríades, que são as


seguintes:
Primeira Tríade: composta por Coroa (Kether), Sabedoria
(Hokmá) e Inteligência (Biná), forma o “Mundo da Inteligência” (OLAM
HÁ MUSCAL).

Segunda Tríade: composta por Graça (Hessed), Beleza


(tiferet) e Justiça (Din), forma o “Mundo do Sentimento” (OLAN HÁ
MURGAKE).
Terceira Tríade: composta por Vitória (Netsá), Fundamen-
to (Iesod) e Majestade (Had), forma o “Mundo da Natureza” (OLAM
HÁ MUTBA’A).

A décima SEPHIRÁ (singular de sefirote), Reino (Malkhut),


encerra as qualidade de todas as outras sefirote, ou da divindade,
para transmiti-las à criatura humana.
O lado direito da figura, por conter as sefirote Graça e Vitó-
ria (Hessed e Netsá), é chamado “Pilar do Amor”, correspondente à
misericórdia de Deus. O lado esquerdo, por conter as sefirote Jus-
tiça e Majestade (Din e Had), é chamado “Pilar do Rigor” ou “Pilar
do Julgamento”, correspondente ao rigor de Deus, à justiça divina.
Ocupando posição central na figura, a sephirá Beleza (Tiferet) é
chamada “Coração Celeste”, ou seja: ela representa o sentimento, o
amor e a misericórdia divina, motivo pelo qual essa shepirá é, tam-
bém, chamada de Misericórdia (Rahamim). A sephirá Fundamento
(Iesod), ocupando a região dos órgãos genitais, combina as potên-
cias geradoras do macho e da fêmea, sendo, assim, fundamente, a
base da vida e da eternidade, transmitida através da descendência.
Por intermédio do Adam Kadmon, a correspondência entre
Deus e o homem é absoluta, sendo total a sua união mística.
A criação do mundo surge, na Cabala, como uma verdadei-
ra cosmologia. O Zoar ensina que Deus gerou o espaço, que se
manifesta como um primeiro invólucro, por meio de uma faísca pri-
mordial, com aspecto de um ponto; essa origem da luz, como se
encontra na gnose, que considera a substância do mundo sob for-
ma de uma luz primitiva. Por outro lado, o papel central da criação
do mundo envolve a “palavra” e sua relação com a luz se apresenta
da mesma forma que a união do conhecimento com a obscuridade
(segundo o Gênese, a Palavra se manifestou com a aparição da
Luz).
A criação do mundo fora do nada aparece como o aspecto
exterior de um todo que se situa na própria divindade suprema.
Assim o movimento do oculto En Soph passa do repouso à criação.
Esse é um ponto básico da especulação teológica que trata da
manifestação da Vontade priomordial, da exteriorização da luz viá-
vel que brilha interiormente. Tal perspectiva transfoorma o En Soph
no nada e esse nada, de ordem mística, que emana de Deus nas
sefirote, quando se manifesta, é chamado, pelos cabalistas, de a
mais alta sephirá, a Coroa suprema da Divindade, que, afinal, é o
abismo que se torna visível nas brechas da existência. A partir dis-
so, vários cabalistas sustentam que, em cada transformação da
realidade, em cada mudança de forma, ou cada vez que um estado
de coisas é alterado, o abismo do nada é atravessado e torna-se
visível durante um místico e passageiro instante.
Em relação ao homem e sua alma, o Zoar é bastante explí-
cito, pois, para ele, o homem representa um papel de extrema im-
portância: ele está colocado no centro do Universo e o poder do
mundo está subordinado à sua criação.
Segundo o Zoar, a essência do homem reside na alma e
esta aparece em tríplice forma:
NÉFEQUE (alma vegetativa), que dá a vitalidade e o sentimen-
to ao homem, em seu comportamento exterior. Ela é a força vital do
homem e corresponde ao sangue, que seria, então, a alma vegetativa;
a qual, não sendo atributo exclusivo do homem, é comum a todos os
animais. É por isso que os textos bíblicos proíbem os homens de se
alimentar de sangue.
ROUÁ (alma intelectual), que corresponde ao ar, é o órgão da
vida interior, intelectual e mental da alma, que, de certa maneira,
representa um fragmento da vida universal. É através dele que se
faz a união da Néfeque com a Nechamá.
NECHAMÁ (sopro, alma espiritual), que se encontra no acme
de hierarquia progressiva, corresponde à alma superior, à mais alta
espiritualidade, por cujo intermédio ocorre a união (debekut) do
homem com o mundo celestial.
Diz o Zoar que “o ser humano reproduz, assim, seu protóti-
po divino, no qual as três faculdades formam uma só essência”, o
que significa que, embora dividida em três partes, a alma humana é
essencialmente una.
Segundo os cabalistas, o pensamento, exprimido e difundi-
do através dos órgãos da fala, é semelhante à alma e apresenta,
também, três etapas: o sopro, o som, ou a palavra, que é o som
articulado e coordenado. No plano físico há a correspondência des-
sas três etapas com os três elementos da natureza: Aque (fogo),
Main (água) e Rouá (ar). Juntando-se as três letras (hebraicas) ini-
ciais dessas palavras, nessa ordem, obtêm-se a palavra “falar”.
Nota-se, assim, que o Zoar tem uma constante preocupa-
ção, com o homem e nada deixa escapar ao seu destino, que consi-
dera como um perene prodígio, desde a chegada da alma ao corpo,
por ocasião do nascimento, que é visto como a descida da alma
desde o Jardim Celestial, superior, até ao Jardim do Éden, inferior,
e, daí, até à Terra. Diz esse texto, cabalístico, que, no momento da
concepção, a criança, sob uma forma etérea, paira acima dos cor-
pos dos pais; diz, também, que, antes do nascimento, o homem se
encontra com o Adam Kadmon divino no limiar dos dois mundos (o
espiritual e o material).
O Zoar mostra, na realidade, um certo agnosticismo, ao afir-
mar que o infinito incognoscível de Deus (En Soph) é inacessível à
mente humana; assim, toda a filosofia mística da Cabala é baseada
na busca do conhecimento do Absoluto, do impenetrável, da sabe-
doria cristalizada no Adam Kadmon, que representa o microcosmo
da espécie humana perante o macrocosmo divino, que não pode
ser compreendido, nem representado sob nenhuma forma.
A Maçonaria segue de perto essa doutrina cabalística, na
sua busca constante da verdade e da sabedoria, baseada na tríplice
relação da alma humana com o infinito, e não admitindo a acessibi-
lidade à mente divina.Uma prática demonstração disso está no Com-
passo, símbolo exotérico do conhecimento, esotérico do Espírito e
uma das três Grandes Luzes Emblemáticas da Maçonaria (ao lado
do Esquadro e do Livro da Lei, que, geralmente, é a Bíblia); existem,
nos diversos graus maçônicos, aberturas diferentes das hastes do
compasso, que é colocado, entrelaçado com o esquadro, sobre o
Livro da Lei, nas sessões maçônicas (nos três primeiros graus,
Aprendiz, Companheiro e Mestre, ou seja, na MAÇONARIA SIMBÓLICA, a
abertura é de 45°); todavia o máximo de abertura do compasso, em
toda escala maçônica, corresponde aos 90° de um ângulo reto, isso
simboliza a limitação do conhecimento humano, perante a onisciên-
cia divina, representada pelos 360° da circunferência.
Embora existam muitos graus maçônicos influenciados pela
mística da Cabala, principalmente do Zoar (embora a numerologia
mostre influência do Yetsira), o mais cabalístico de todos os graus
maçônicos é o de Companheiro onde interessa a dualidade do Ser
e do Não-Ser do Yetsira e a tríplice composição da alma humana
(vegetativa, intelectual e espiritual) do Zoar.
É fácil perceber, por toda esta exposição, que a maior par-
te do misticismo maçônico é proveniente, sem dúvida, da mística
religiosa hebraica, o que também acontece com as religiões
monoteístas atuais.
9
A Mística no Hinduísmo, no Budismo
e no Lamaísmo

HISTÓRIA

A Proto-História da Índia inicia-se em torno de 2000 a.C. quan-


do os árias, tribo de pastores, vindos do Irã, começaram a ocupar a
região do Punjab, impondo o seu domínio a uma já decadente civili-
zação dos hindus, de cuja cultura e organização muito foi absorvi-
do.
Começaria, então, o Período Védico da História da Índia, o
qual se estenderia de cerca de 1500 a 500 a.C. e é descrito nos
Vedas, que são hinos sagrados, escritos em sânscrito, em diferen-
tes épocas. O principal dos Vedas é o RIG-VEDA, que descreve as
lutas entre árias e dravidianos, no vale do Indos, trazendo muitas
informações sobre os hábitos sociais da época. Os outros Vedas,
menos importantes - YAJUR-VEDA, SAMA-VEDA e ATHARVA-VEDA - adotados
pelos brâmanes, mostram a época da conquista da planície entre o
Indos e o Ganges, quando surgiu o Hinduismo, uma síntese ário-
dravidiana, com divisões sociais em castas e varnas. Só no século
VI a.C. é que surgiriam reformadores religiosos, preconizando uma
nova orientação para o hinduísmo. Um desses reformadores foi Buda.
A partir dessa época, a região começaria a sofrer invasões
estrangeiras, inicialmente com Dário, rei da Pérsia, e, depois, em
327 a.C., com os gregos de Alexandre da Macedônia, os quais ane-
xaram o Punjab. Após a expulsão dos gregos, em 325 a.C.,
CHANDRAGUPTA MAURIA inaugurava o Império Mauria, que seria amplia-
do no século seguinte, com ASOKA MAURIA, o “rei monge”, o maior e
mais acatado soberano da Índia.
Depois de nova invasão dos gregos da Bactria, subsistiriam
dinastias nacionais, com os andhras, até ao advento do Império
Gupta – que dominou a região entre 320 e 470 d.C. – liderado, inici-
almente, por CHANDRAGUPTA I. No início do século V, o império atingiria
o seu apogeu, na época considerada da Índia Clássica, quando
ocorreu a idade de ouro da literatura sânscrita. Ocorreriam, então,
em seqüência, novas invasões: a dos hunos brancos, a dos pala-
vras e a dos cholas, até ao início do período islâmico, a partir do
século VIII, formando-se, depois o Império Mongol, tendo Akbar, como
o maior dos soberanos, e SHAH JAHAN como o mais conhecido, prin-
cipalmente pela sua riqueza e por ser um grande construtor (cons-
truiu, inclusive, no século XVII, em Agra, uma das maravilhas do mundo
moderno: o Taj Mahal, mausoléu de sua mulher MUMTAZ MAHAL).
Nessa época já se haviam iniciado as penetrações européi-
as, por interesse comercial, no território da Índia, começando com
os portugueses, nos século XV e XVI, e continuando com os holan-
deses – e sua Companhia Geral das Índias Ocidentais – os ingleses
– com a English East India Company – e os franceses. Entre 1765 e
1858, estabeleceu-se a conquista da Índia, pelos ingleses, definiti-
va, limitada, no princípio, e total, posteriormente, graças aos atritos
entre os príncipes indianos, o uso de tropas indianas contra india-
nos, além da habilidade dos ingleses, dirigidos por chefes compe-
tentes. Transformada em colônia inglesa, a região ficou dividida em
duas partes: uma, a Índia britânica, sob administração direta da
English East India Company e, depois do governo inglês; outra, for-
mada pelos Estados nativos, os quais conservaram suas dinastias,
sob supervisão, porém, dos ingleses. Nesse período, os ingleses
foram impondo a sua cultura, em prejuízo da cultura hindu.
No início do século XX, era constituído um movimento nacio-
nalista pela independência da Índia, através de uma ação política,
liberal e nacional, a qual criou a Associação Indiana e o Congresso
Nacional Indiano, tendo, este último, reivindicado a independência,
em 1906, após uma série de atos de terrorismo. Pouco tempo de-
pois, começava a se projetar um novo líder Mohandas Ghandi. A I
Grande Guerra (1914-1918) aceleraria o processo de libertação,
havendo uma série de manifestações antibritânicas, sob a orienta-
ção de GHANDI. A questão, todavia, demorava a ser resolvida e, com
a eclosão da II Grande Guerra (1939), o Congresso exigiu a inde-
pendência, mas nada obteve. Com o fim dessa guerra e a instalação
de um governo trabalhista, o governo inglês anunciava, para junho
de 1948, a transferência de soberania, estabelecendo-se, então, a
lei de independência da Índia e dois Estados independentes: os
Domínios do Paquistão e da Índia, com limites a serem fixados. A 30
de janeiro de 1948, Gandhi era assassinado por um fanático, como
responsável pela partilha. A Constituição de fevereiro de 1948 pro-
punha, então, uma república federal, ao invés de um domínio. Pouco
depois, os franceses renunciavam às suas feitorias na costa india-
na, as quais foram anexadas ao território nacional. Só Portugal é
que retardou o processo, renunciando, apenas em 1961, a Goa,
Damão e Diu, que foram anexadas pelos indianos.

AS RELIGIÕES

O Hinduísmo e a sua forma mais requintada, o Bramanismo,


são as religiões mais antigas da Índia e caracterizam-se por um
complexo sistema de divisão das castas sociais.
Religião adotada pelos mios populares, o Hinduísmo aceita,
como fatos verdadeiros, as origens mitológicas e as explicações
cosmológicas que constituem os ensinamentos. O Bramanismo, por
outro lado, só aceita os fatos mitológicos como fundamentos de
verdades espirituais específicos.
A origem desses sistemas religiosos remonta à religião
védica, introduzida na Índia, no segundo milênio a.C. pó povos de
origem desconhecidas. Tanto o Hinduísmo, quanto o Bramanismo,
representam a fusão da religião védica com as crenças já existen-
tes na Índia antes do II milênio a.C, predominando de todo o
Hinduísmo.
A religião védica é baseada nos Vedas, que são os seus
livros sagrados, dos quais o principal é o Rig Veda, que se tornou o
livro sagrado dos sacerdotes hindus, o texto máximo de todo o
Hinduísmo.
Embora admita a existência de incontáveis deuses, o
Hinduísmo, como todas as religiões politeístas, acaba assinalando
uma certa tendência ao monoteísmo, ao eleger o seu primeiro gran-
de deus, do qual provês todos os outros deuses. Esse deus primor-
dial é Brahma.
Para Rig Veda existia no começo dos tempos, o mundo
submerso na escuridão, imperceptível, sem poder ser descoberto,
ou revelado, pelo raciocínio. Então, aquele que só o espírito pode
perceber, que não tem partes visíveis, é eterno e alma de todos os
seres, desprendeu o seu próprio esplendor e, daí, fez emanar de
sua substância as diversas criaturas. A criação do mundo, segundo
os Vedas, apresenta extraordinária semelhança com as concep-
ções equivalentes geradas por diversos povos da antiguidade e,
inclusive, com a Bíblia, o que demonstra que esta representou uma
amálgama das crenças religiosas da antiguidade, incrementando,
simplesmente a tendência monoteísta, já vislumbrada nas antigas
religiões.
Apesar do grande número de deuses da religião hindu, os
principais são Vishnu e Siva que, com Brahma, formam a grande
trindade hinduísta, ou Trimurti, concepção que é encontrada em di-
versas outras religiões (Osíris, Isis e Horus, do egípcios; Shamash,
Sine Ichtar dos mesopotâmicos), inclusive no próprio Cristianismo,
na forma da Santíssima Trindade, criação metafísica copiada das
antigas religiões.
O Hinduísmo e o Bramanismo pregam a reencarnação e
crêem que viver é sofrer e que deixa de viver é alcançar a eterna
paz do Nirvana (o céu metafísico). Segundo a sua doutrina, a alma
passa de um ser para outro, conseguindo com isso, um aperfeiçoa-
mento gradual e progressivo, tendo que renascer inúmeras vezes
até alcançar a MOKSHA, que é a libertação da pena de sofrer novas
reencarnações, significando que a alma está purificada, podendo
passar a uma forma superior, numa esfera mais elevada. A condi-
ção para diminuir o número de reencarnações, abreviando, assim o
sofrimento de novas vidas (nascer de novo, para o Hinduísmo, é ter
novo sofrimento), é praticar, durante a existência, as boas ações e
ter uma vida virtuosa.
Em todo o ciclo das necessárias reencarnações destina-
das ao aperfeiçoamento do espírito, há para o Hinduísmo uma lei
fatal, que é a lei do karma (destino, ou força resultante das ações
praticadas).
No Hinduísmo e no Bramanismo, os homens são separados
em quatro castas, geradas do corpo de Brahma no dia da criação
da humanidade: da boca saíram os sacerdotes (brâmanes), classe
que se autoprivilegiou como a casta mais elevada, coisa muito co-
mum às classes sacerdotais de todas as religiões; dos braços saí-
ram os guerreiros (xátrias); das pernas originaram-se os agriculto-
res e comerciantes (vaíciais); e, finalmente dos pés saíram os ho-
mens da plebe (párias ou sudras), destinados aos trabalhos bra-
çais e a servir aos membros das demais castas.
Embora essa divisão esteja gradativamente desaparecen-
do, graças a uma evolução social dos hindus, ainda é um ponto
importante da fé hinduísta, que justifica essa sistema, bastante in-
justo do ponto de vista material, através da explicação do karma:
se alguém nasceu numa casta inferior, é porque houve má-conduta
na sua existência anterior; em compensação, a vida pura e virtuosa,
numa existência, pode conduzir a uma casta mais elevada numa
nova reencarnação. É de acordo com essa crença que o conceito
de casta difere, fundamentalmente do conceito de classe social,
pois o indivíduo pode, numa mesma existência atingir uma classe
social mais elevada, enquanto no sistema de castas o homem ja-
mais terá a oportunidade de experimentar uma ascensão, morrendo
na casta em que nasceu.
Os fiéis do Hinduísmo são obrigados durante toda sua vida,
a praticar diversos rituais, desde o seu nascimento, quando numa
cerimônia semelhante a um batismo, é dado à criança mel, mistura-
do com manteiga, numa colher de ouro. Existem a partir daí, quatro
fases na vida ideal do homem, que são as seguintes:

1. Numa idade variável entre os 08 e os 24 anos, de acordo


com a casta, ocorre a iniciação, que simboliza o nascimen-
to espiritual do bramacharim (estudante), sendo o jovem
confiado a um mestre religioso, com o intuito de servi-lo e
aprender as lições dos Vedas.
2. Através do casamento, celebrado junto ao fogo sagrado, o
homem torna-se griastogriasta (chefe de família), passan-
do a presidir os ritos domésticos.
3. Próximo à velhice, ele se torna vanapastra (anacoreta) e se
retira para a floresta, levando consigo o fogo sagrado, que
deve ser, sempre mantido aceso; mantém a castidade, como
pouco e dorme no chão.
4. A quarta e última fase é a de samniasin (eremita), quando o
indivíduo alcança aquela que é considerada a mais honra-
da e a mais elevada posição da vida material a de asceta
mendicante.

Tendo em vista a moksha (libertação espiritual), para che-


gar ao Nirvana, o hinduísmo preconiza diversos caminhos na exis-
tência terrestre, ligados à profunda concentração mental, dos quais
o principal é a ascese do Ioga (união com o divino).
Na Maçonaria, em seu arcabouço místico, podemos encon-
trar concepções hinduístas, embora não exclusivas desse sistema
religioso. A sobrevivência da alma e o aperfeiçoamento espiritual
são dogmas de diversos ritos maçônicos, conforme já foi visto; a
iniciação na Ordem também simboliza o nascimento espiritual do
Aprendiz, que é confiado a um Mestre, para aprender as lições da
doutrina e da ciência maçônica; os graus maçônicos, assim como
as castas, só podem ser atingidos através do aperfeiçoamento es-
piritual, conseguido simbolicamente por meio de sucessivas mortes
e ressurreições, pois cada ascensão na escala, representa a morte
simbólica do iniciado.
O Budism o é um sistema religioso originário dos
ensinamentos de um homem hindu, nascido nobre, sob o nome de
SIDDHARTA GAUTAMA, que veio ao mundo em 563 a.C., em Kapilavastu,
no norte da Índia.
Gautama, também chamado SÁQUIA-MUNI (sábio de Sáquia),
ficou famoso na Índia, por sua santidade, sabedoria e amor por
todos os seres viventes, sendo chamado “O BUDA”, que significa “O
Iluminado”. A religião por ele fundada espalhou-se após a sua mor-
te, pela maior parte da Ásia.
Nascido em família nobre, Buda foi criado por seu pai longe
dos contatos com os males do mundo e com a miséria de seu país,
casando-se ainda adolescente e gerando um filho. Certa ocasião,
segundo a lenda, ele deixou seu palácio para um passeio de carru-
agem e viu, à margem da estrada, um velho, um doente e um homem
que morrera de fome; esse seu primeiro contato aos 29 anos de
idade, com a velhice, a doença, a miséria e a morte, tirou-lhe a ale-
gria, pois lhe mostrou os contrastes do mundo.
Diante disso, ele, depois de raspar a cabeça em sinal de
humildade, trocou as suas ricas roupagens pelo humilde traje ama-
relo dos monges, e deixou o seu palácio abandonando a família, os
bens e o passado e tornando-se um mendigo itinerante, que se lan-
çava ao mundo em busca de explicações para o enigma da vida.
Baseando sua procura em todos os tipos de penitência,
escorada em profunda e solitária meditação, durante muitos anos,
conta a lenda que, em certa ocasião, ele passou sete semanas, sen-
tado sob a sombra de uma figueira, que os hindus chamam de bodhi
(árvore da sabedoria), sentindo uma sensação de despertar espiri-
tual, a “iluminação”. Iluminado por um novo entendimento de todas
as coisas da vida, Gautama rumou para a cidade de Benares, às
margens do Rio Ganges, com a finalidade de transmitir aos outros,
a sua experiência. Aos poucos, conseguiu muitos discípulos, que
passaram a reverenciar o seu conhecimento e a sua iluminação,
tratando-o por Buda.
Os ensinamentos do Buda endossavam muitos os aspectos
do hinduísmo, criticando, todavia, muitos dos tradicionais preceitos
dessa religião. Para o Budismo não existe começo nem fim, cria-
ção ou céu; aceita, todavia, Omo fundamental a reencarnação da
alma (transmigração) em outros corpos, e a teoria do karma, força
moral ou lei cósmica misteriosa, que sobrevive à morte, que é defi-
nida como a total conseqüência ética das ações individuais e
que estabelece o destino de cada um nas existências futuras, até
chegar ao Nirvana, o bem-aventurado estado de vazio total, onde a
libertação completa prescinde de novas encarnações.
O Budismo discorda do hinduísmo em relação aos méto-
dos usados para atingir os objetivos espirituais, principalmente
em relação à mortificação, ao ascetismo rigoroso, que os religiosos
hindus praticavam e que parecia exagerado e inútil para Buda. Des-
sa maneira, sua doutrina, definida no sermão de Benares, recomen-
da a adoção de um meio termo, um meio caminho entre o ascetismo,
a automortificação e a auto-indulgência.
Para se trilhar esse caminho intermediário, há necessidade
de se admitir as chamadas QUATRO VERDADES NOBRES que são assim
relacionadas:

1. É necessário reconhecer que a dor é universal, ou seja, que


a vida humana é feita de angústia e sofrimento.
2. A causa da dor e do sofrimento reside no desejo de coisas
que não podem satisfazer ao espírito.
3. A dor tem remédio, ou seja, o sofrimento por ter fim.
4. O sofrimento só se extingue quando o homem renuncia a
esses desejos; já que a raiz desses desejos tem origem na
ignorância, a sabedoria é o melhor caminho para dominar a
dor e o sofrimento.

Admitindo essas quatro Verdades Nobres, dispõe o homem,


dos meios para libertar-se, seguindo a SENDA DAS OITO TRILHAS, com-
posta de:

1. Pureza de fé
2. Opiniões exatas
3. Palavras verdadeiras
SHRIYANT
Uma das representações do Mandala

4. Procedimento correto
5. Vida regrada
6. Boas aspirações
7. Pensamentos certos
8. Meditação e contemplação virtuosa.

Al´em das Quatro Verdades e das Oito Trilhas, Buda acres-


centava ainda, uma sentença, a Regra de Ouro, resumo de toda a
sua doutrina e norma geral de conduta:

“Tudo o que somos é o resultado do que pensamos”

Há, no Budismo, um profundo respeito por todas as criatu-


ras viventes, fazendo com que os budistas considerem como obri-
gação fundamental de todos os indivíduos, viver em paz, har-
monia e fraternidade com seus semelhantes.
Esse espírito pacifista tem origem num ensinamento do pró-
prio Buda, que diz:
“O Ódio não termina com o ódio , mas com o Amor”

Contrariamente ao que acontece com outras religiões o


Budismo jamais exige alguma coisa de seus seguidores: não exis-
tem cerimônias de conversão, nem rituais de submissão do homem
a divindades, bastando, somente conhecer as Quatro Verdades e
seguir as Oito Trilhas. Assim sendo, o Budismo muito mais do que
uma religião é uma filosofia de vida, uma atitude perante o mundo,
uma técnica de comportamento, através da qual o homem aprende
a se desprender de tudo o que é transitório, buscando uma auto-
suficiência espiritual.Isso tem feito com que, nos tempos modernos,
o Budismo seja bastante acatado no ocidente, tão sujeito a religiões
castradoras e dominadoras.
O Budismo expandiu-se muito e, durante essa expansão, a
doutrina original foi sofrendo algumas modificações. No Extremo
Oriente, ela tornou-se menos rigorosa adaptando-se às necessida-
des espirituais da gente simples, sendo essa forma de Budismo,
denominada mahayana (veículo maior); isso aconteceu, por exem-
plo, no Tibet, enquanto em outros locais, como na Birmânia, Tailândia,
Vietnã, Laos e Camboja, o Budismo permaneceu ortodoxo, sendo
chamado de hinyana (veículo menor) pelos adeptos da mahayana.
No Tibet o Budismo chegou no século VIII já sob forma dife-
rente da original, introduzido pelo monge hindu PADMA-SAMBHAVA; nessa
atura ele já era uma mistura de Budismo mahayana com elementos
mágico-religiosos de seitas originadas do hinduísmo. A antiga reli-
gião original do Tibet, a bon-po (que já era bem decadente), fundiu-
se com o Budismo, dando origem ao lamaísmo, o qual transformaria
o Tibet numa teocracia dominada pelos monges lamaístas (DALAI e
PENCHEN LAMAS), considerados reencarnações de divindades budis-
tas.
O ritual mais importante do lamaísmo é a Iniciação
Kalachakra, que dura quatro dias. O aprendizado Kalachakra é
considerado como o caminho mais rápido e eficaz para escapar à
RODA DO TEMPO, ou seja, ao sofrimento representado pelas sucessi-
vas reencarnações (conceito mais hinduísta do que budista).
O candidato à iniciação kalachakra é instruído quanto ao
modo de agir na vida, sempre com bondade, tolerância, compaixão
e amor ao próximo. Se seguir esse caminho que em última análise,
é a própria Senda das Oito Trilhas, o iniciado atingirá após sete
reencarnações, o estado de Buda, escapando dessa maneira, à Roda
do Tempo, e juntando-se a outros iniciados no reino da terna felici-
dade.
O KALACHAKRA é pleno de meditação e, durante os quatro
dias da iniciação, o Dalai Lama, que preside a cerimônia, explica
de que maneira os candidatos devem se entregar às reflexões e
meditações, procurando um estado de concentração mental que os
aproxime do desprendimento total.
No primeiro dia da iniciação, o candidato deve estar prepa-
rado para o ensino e afirma-se que ele está no limiar de um mandala,
ou seja, do palácio deslumbrante em que vive Kalachakra. Antes da
cerimônia ele enxágua a boca com água e recebe explicações so-
bre a motivação que deve ter, ou seja, o desejo de chegar ao conhe-
cimento do modo pelo qual as coisa realmente existem, para bene-
ficiar todos os seres sofredores. Depois disso, o candidato recebe
um líquido alaranjado, abençoado pelo Dalai Lama; a seguir, rece-
be um cordão vermelho também abençoado, o qual, atado em
volta do seu braço direito, destina-se à proteção contra as forças
do mal. Finalmente, rele recebe duas porções de uma erva indiana,
a Kusha, sendo a porção maior, colocada sob seu colchão e a me-
nor sob seu travesseiro, para ajudá-lo a ter sonhos leves e claros,
que predisponham o seu espírito para as cerimônias do dia seguin-
te.
No segundo dia o candidato novamente enxágua a boca e
recebe uma venda, usada simbolicamente na testa. Além dessa sim-
bólica vedação dos olhos, ele recebe uma flor para entregar a
Kalachakra, quando encontrar a divindade e é conduzido, mental-
mente para o mandala. Este possui quatro portões, sendo um dou-
rado, outro cinzento, o terceiro branco e o último vermelho, repre-
sentando os quatro elementos da natureza da seguinte forma: o
vermelho é a terra, o branco a água, o dourado, o fogo, e o
cinza, o ar. A cerimônia é, essencialmente uma alegoria da compai-
xão, envolvendo a sabedoria. O candidato é conduzido, mentalmen-
te ao redor o mandala e, depois de muito circular em níveis infe-
riores, atinge, finalmente o chão e encontra Kalachakra; nesse
instante, então, ele retira a venda, contempla a beleza e a força da
divindade e oferece a flor, que lhe é devolvida. Tocando então, sua
cabeça coma a flor, o iniciado sente-se no caminho da iluminação e
da felicidade.
No terceiro dia, o candidato recebe sete instruções diferen-
tes, que ajudam a eliminar todas as ações impuras do corpo, do
pensamento e da fala, fazendo com que ele comece a percorrer a
senda que conduz à felicidade, deixando-o capacitado a praticar a
compaixão e a buscar sempre, a sabedoria. Ele é, mentalmente con-
duzido ao redor do mandala, no sentido horário (no sentido dos
ponteiros do relógio). Imaginando que porta uma varja, símbolo da
compaixão; recebe novamente, o líquido alaranjado, para a purifi-
cação do pensamento e da fala, e, voltando-se para o interior de si
mesmo, vê os cinco elementos interiores como DHYANI BUDAS, cada
um deles fazendo-lhe oferendas.
A real iniciação termina nesse terceiro dia, com mais
ensinamentos sobre a prática das virtudes preconizadas e explica-
ções sobre o significado da Kalachakra. No quarto e último dia da
iniciação, há apenas, a veneração do Kalachakra e preces de longa
vida ao Dalai Lama.
Nesse quarto dia, o mandala de areia colorida feito pelos
monges antes das cerimônias iniciatórias, é destruído e, através de
um rito próprio, é atirado nas águas de um rio, pois de acordo com
a doutrina budista, nada é permanente. É este desapego às coisas
passageiras que faz com que os budistas, de maneira geral, vejam
no Buda, apenas uma imagem encarnada do princípio de ilumina-
ção interior; para eles, antes de Siddharta Gautama houve outros
Budas (Iluminados) e muitos outros aparecerão até o fim dos tem-
pos. Assim, se explica o aspecto impessoal do semblante de todas
as imagens do Buda, pois elas não são representações reais de
uma figura humana em particular, mas sim, símbolos idealizados de
uma entidade espiritual.
Em suas várias formas, o Budismo chegou ao Ocidente, atra-
vés de diversos poetas – como ANTERO DE QUENTAL – escritores e
filósofos – como SCHOPENHAUER – e foi incrementado por sociedades
místicas, já que a sua doutrina enquadra-se no ideal de tolerância,
virtude e amor ao próximo, sem o dogmatismo, que é a tônica da
maioria das religiões. A instituição maçônica, do mesmo modo, de-
fende os bons costumes, a tolerância e a fraternidade, com respei-
to, porém, à liberdade de consciência do homem, que não admite a
imposição dogmática.
Apesar de algumas ligeiras modificações, as Quatro Verda-
des Nobres e a Senda das Oito Trilhas estão presentes em toda a
extensão da doutrina maçônica, que ensina, aos iniciados, o desa-
pego às coisas materiais, que são efêmeras, e a busca incessante
da paz espiritual, através das boas obras, da existência regrada, do
correto procedimento e das palavras verdadeiras.
Misticamente, a evolução na Maçonaria, simboliza, para o
iniciado a procura do seu interior e o seu aperfeiçoamento, metas,
também do Budismo e da sua forma tibetana, o lamaísmo. O Ritual
de iniciação Kalachakra mostra, bem, isso e possui extraordinárias
semelhanças com o ritual de iniciação maçônica: a venda que o
iniciado retira quando recebe a Luz maçônica e que se assemelha à
retirada da venda pelo iniciado no Kalachakra, quando ele contem-
pla a força e a beleza da divindade; o iniciado maçom passa pelas
provas dos quatro elementos da natureza (água, ar, terra e fogo),
que, no ritual lamaísta, são representados pelos quatro portões do
mandala, pelos quais o iniciado deve passar; a circulação do inici-
ado, tanto no templo maçônico, quanto no mandala, é feita no sen-
tido dos ponteiros do relógio que representa a caminhada do sol e
as fases da vida humana.
Coincidência ou não, o fato é que as semelhanças existem.
10
O Misticismo Medieval

As principais manifestações do misticismo da Idade Média,


com interesse para a doutrina mística da Maçonaria, são: a teologia
decalcada no monoteísmo e divulgada pela Igreja, a Cabala hebraica
(já analisada), a Cabala cristã, as corporações de ofício, o
rosacrucianismo, a Alquimia e o iluminismo.
Para a armação da doutrina mística da Maçonaria, têm in-
teresse, entre as manifestações de misticismo medieval, a teologia,
decalcada no monoteísmo e divulgada pela Igreja, a Cabala cristã,
a Cabala – já analisada – as corporações medievais de ofício, a
Alquimia, o rosacrucianismo e o iluminismo.

AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO

Desde que o homem deixou as cavernas e as suas vivendas


de nômade, sedentarizando-se e formando uma sociedade
estratificada, surgiram os profissionais dedicados à arte da cons-
trução, os quais foram se aperfeiçoando, não só na ereção de ca-
sas de residência, mas, também, na de templos, de obras públicas
e obras de arte. Embora tivessem, esses profissionais, desde os
seus primeiros tempos – na Mesopotâmia e no Egito – mantido,
entre si, certa camaradagem e um sentimento de agregação, não
havia, na realidade, uma organização que os reunisse, que regulas-
se a sua atividade e que lhes desse um maior sentido de responsa-
bilidade profissional.
Foi durante o Império Romano do Ocidente, da Roma con-
quistadora, que, em função da própria atividade bélica, surgiu, no
século VI a.C., a primeira associação organizada de construtores,
os Collegia Fabrorum. Como a conquista das vastas regiões da
Europa, da Ásia e do norte da África, levava à destruição, os
collegiati, principalmente os tignari (construtores de casas), acom-
panhavam as legiões romanas, para reconstruir o que fosse sendo
destruído pela guerra. Dotada de forte caráter religioso, essa orga-
nização dava, ao trabalho, o cunho sagrado de um culto às divinda-
des. De início politeísta, tornou-se, com a expansão do Cristianis-
mo, monoteísta, entrando, porém, em decadência, após a queda do
Império Romano do Ocidente, ocorrida em 476 d.C., embora persis-
tissem pequenos grupos da associação no Império Romano do Ori-
ente, cujo centro era Constantinopla. Iriam, portanto, sofrer grande
transformação, na época medieval, quando, por força da evolução
e da política do regime feudal, os agrupamentos todos só podiam
ser considerados em relação aos laços de suserania, ou vassalagem,
característicos da sociedade feudal, perdendo a sua característica
autônoma. Com a restrição à liberdade individual, cessava a garan-
tia para o trabalho dos artesãos, não lhes restando alternativa que
não fosse a de se tornarem servos. Assim, os collegiati iriam se
incorporar aos conventos, que lhes dariam o único meio jurídico de
subsistência, já que a Igreja era a poderosa tutora dos governos e
os seus estatutos admitiam que os construtores escapassem à ser-
vidão e ao vínculo dos feudos, conservando o direito de circulação.
Na Idade Média é que iria florescer, através do grande po-
der da época, a Igreja, a hoje chamada Maçonaria Operativa, ou
Maçonaria de Ofício, para a preservação da Arte Real entre os
mestres construtores da Europa. Assim, a partir do século VI, as
Associações Monásticas, formadas, principalmente, por clérigos,
dominavam o segredo da arte de construir, que ficou restrita aos
conventos, já que, naquela época de barbárie, quando a Europa
estava em ruínas, graças às sucessivas invasões dos bárbaros, e
quando as guerras, os roubos e os saques eram freqüentes e até
encarados como fatos normais, os artistas e arquitetos encontra-
ram refúgio seguro nos conventos. Posteriormente, pela necessida-
de de expansão, os frades construtores começaram a preparar e a
adestrar leigos, proporcionando, a partir do século X, a organiza-
ção das Confrarias Leigas, que, embora formadas por leigos, re-
cebiam forte influência do clero, do qual haviam aprendido a arte de
construir e o cunho religioso dado ao trabalho.
É dessa época aquela que é considerada a primeira reu-
nião organizada de operários construtores: a Convenção de York,
ocorrida em 926 e convocada por EDWIN, filho do rei Athelstan, para
reparar os prejuízos que as associações haviam tido com as suces-
sivas guerras e invasões. Nessa reunião, foi apresentada, para apre-
ciação e aprovação, um estatuto, que, dali em diante deveria servir
como lei suprema da confraria e que é, geralmente, chamado de
Carta de York.
Quase na mesma época, surgiriam associações simples-
mente religiosas, que, a partir do século XII, formaram corpos pro-
fissionais: as Guildas. A elas se deve o primeiro documento em que
é mencionada a palavra “Loja”, para designar uma corporação e o
seu local de trabalho. As Guildas e sua contemporânea, a organiza-
ção dos Ofícios Francos, foram as principais precursoras da mo-
derna Maçonaria. O seu nome “Gild”, de origem teutônica, deriva do
título dado, na antiga região da Escandinávia, a um ágape religioso,
durante o qual, numa cerimônia especial, eram despejados três co-
pos de chifre (chavelhos), conforme o uso da época, cheios de cer-
veja, sendo um em homenagem aos deuses, outro, pelos antigos
heróis, e o último em homenagem aos parentes e em memória dos
amigos mortos; ao final da cerimônia, todos os participantes jura-
vam defender uns aos outros, como irmãos, socorrendo-se mutua-
mente nos momentos difíceis. As Guildas caracterizavam-se por três
finalidades principais: auxílio mútuo, reuniões em banquetes e atu-
ação por reformas políticas e sociais. Introduzidas na Inglaterra,
por reis saxões, elas foram modificadas por influência do Cristia-
nismo, mas, mesmo assim, não eram bem aceitas pela Igreja, que
não via com bons olhos a prática do banquete, por suas origens
pagãs, e a pretensão de reformas políticas e sociais, que pudes-
sem, eventualmente, contribuir para diminuir os seus privilégios e
os privilégios das corporações sob a sua proteção. Assim, para
evitar a hostilidade da Igreja, cada guilda era organizada sob a égide
de um monarca, ou sob o nome de um santo protetor.
No século XII, associada às guildas, surgia uma organiza-
ção de operários alemães, os STEINMETZEN, ou seja, canteiros17 (1),
talhadores, ou esquadrejadores de pedra, os quais, sob a direção
de ERWIN DE STEINBACH, alcançariam notoriedade, quando Erwin con-
seguiu a aprovação de seus planos para a construção da catedral
de Estrasburgo e deu um aperfeiçoado sentido de organização aos
seus obreiros.
No século XII, também, iria florescer a associação conside-

17
Canteiros são os obreiros que trabalham em cantaria, ou seja, na pedra de
cantaria, esquadrejando-a, ou seja, dando-lhe cantos, para transformá-la na pedra
cúbica, necessária às construções, já que o cubo é o único sólido geométrico que,
com outros congêneres, não deixa espaços vazios nas paredes e muros. Cantaria é
palavra derivada de canto.
rada a mais importante desse período operativo: os Ofícios Fran-
cos (ou Franco-Maçonaria), formados por artesãos privilegiados,
com liberdade de locomoção e isentos das obrigações e impostos
reais, feudais e eclesiásticos. Tratava-se, portanto, de uma organi-
zação de construtores categorizados, diferentes dos operários ser-
vos, que ficavam presos a uma mesma região, a um mesmo feudo, à
disposição de seus amos. Na Idade Média, a palavra franco desig-
nava não só o que era livre, em oposição ao que era servil, mas,
também, todos os indivíduos e todos os bens que escapavam às
servidões e aos direitos senhoriais; esses artesãos privilegiados
eram, então, os pedreiros-livres, franc-maçons, para os franceses,
ou free-masons, para os ingleses. Tais obreiros, evidentemente, ti-
nham esses privilégios concedidos pela Igreja, que era o maior po-
der político da época, com grande ascendência sobre os
governantes.
A palavra francesa “maçon”, correspondente a pedreiro,
converteu-se em “maison” (casa) e, também, embora só relativa-
mente, em “masse” (maça, clava). Essa maça, ou clava, habilitava o
porteiro a afastar os indesejáveis intrusos e curiosos. O pesquisa-
dor alemão LESSING, um dos clássicos da literatura alemã, atribui a
palavra inglesa “masonry” (Maçonaria) a uma transmissão incorre-
ta. Originalmente, a idéia teria sido dada pelo velho termo inglês
“mase” (missa, reunião à mesa). Uma tal sociedade de mesa, ou
reunião de comensais, de acordo com a alegoria da Távola Redon-
da, do rei Arthur, poderia, segundo Lessing, ainda ser encontrada
em Londres, no século XVII. Ela se reunia nas proximidades da fa-
mosa catedral de São Paulo e, quando sir Christopher Wren, o cons-
trutor da catedral, tornou-se membro desse círculo, julgou-se que
se tratava de uma cabana dos construtores, que estabelecia uma
ligação de mestres construtores e obreiros; daí, então, ou seja, des-
sa suposição errada, é que teria se originado o termo “masonry”,
para designar a sociedade dos construtores.
Uma explicação para o termo inglês “freemason” (pedrei-
ro livre) está ligada ao termo “freestone”, que é a pedra de canta-
ria, ou seja, a pedra própria para ser esquadrejada, para que nela
sejam feitos cantos, que a transformem numa pedra cúbica, a ser
usada nas construções. As expressões “freestone mason” e
“freestone masonry”, daí surgidas, acabaram sendo simplificadas
para “freemason” (o obreiro) e “freemasonry” (a atividade). Esta
é uma hipótese mais plausível do que a de Lessing, que só conside-
rou o caso particular da Inglaterra, quando se sabe que não foi só aí
que existiu uma íntima ligação com o trabalho dos artífices da cons-
trução.
Na metade do século XII, surgia o estilo arquitetônico góti-
co, ou germânico, primeiro no norte da França, espalhando-se, de-
pois, pela Inglaterra, Alemanha e outras regiões do norte da Europa
e tendo o seu apogeu na Alemanha, durante 300 anos. Tão impor-
tante foi o estilo gótico para as confrarias de construtores, que as
suas regras básicas eram ensinadas nas oficinas dos canteiros, ou
talhadores de pedra; tão importante que a sua decadência, no sé-
culo XVI, decretou o declínio das corporações.
No século XIII, em 1220, era fundada, na Inglaterra, durante
o reinado de Henrique III, uma corporação dos pedreiros de Lon-
dres, que tomou o título de THE HOLE CRAFT AND FELLOWSHIP OF MASONS
(Santa Arte e Associação dos Pedreiros) e que, segundo alguns
autores, seria o germe da moderna Maçonaria. Pouco depois, em
1275, ocorria a Convenção de Estrasburgo, convocada pelo mes-
tre dos canteiros e da catedral de Estrasburgo, Erwin de Steinbach,
para terminar as obras do templo. A construção da catedral, inicia-
da em 1015, estava praticamente terminada, quando foi resolvido
ampliar o projeto original e, para isso, foi chamado Erwin A essa
convenção acorreram os mais famosos arquitetos da Inglaterra, da
Alemanha e da Itália, que criaram uma Loja, para as assembléias e
discussão sobre o andamento dos trabalhos, elegendo Erwin como
Mestre de Cátedra (Meister von sthul).
Na época, os obreiros criavam uma Loja, fundamentalmen-
te, para tratar de determinada construção, como é o caso dessa
catedral. Tais Lojas serviam para tratar dos assuntos ligados ape-
nas à construção prevista, já que, para outras reuniões, inclusive
com obreiros de outras corporações, eram utilizados os recintos de
tabernas e hospedarias, principalmente em solo inglês.
Próximo desse tempo, ou seja, no século XIV, começava,
também, a atuação do Compagnonnage (Companheirismo), criado

18
A Ordem dos Pobres Soldados de Jesus Cristo e do Templo de Salomão, ou
Ordem da Milícia do Templo, conhecida, mais simplesmente, como Ordem dos
Templários, foi uma ordem religiosa e militar, surgida em 1118. Adquirindo prestígio e
riqueza, graças às suas grandes transações comerciais e financeiras, iria excitar a
cobiça de FILIPE IV, cognominado “o Belo”, rei da França, o qual, com a conivência do
papa Clemente V, conseguiu a extinção da Ordem, em 1312, seguida da execução de
seus principais líderes. Antes da extinção, todavia, a Ordem, necessitando de
trabalhadores cristãos, em suas distantes comendadorias do Oriente, organizaram o
Compagnonnage, dando-lhe estatutos de acordo com a sua própria filosofia.
pelos Cavaleiros Templários18. Os membros dessa organização cons-
truíram, no Oriente Médio, formidáveis cidadelas, adquirindo certo
número de métodos de trabalho herdados da Antigüidade e consti-
tuindo, durante as Cruzadas, verdadeiras oficinas itinerantes, para
a construção de obras de defesa militar, pontes e santuários.
Retornando à Europa, eles tiveram a oportunidade de exercer o seu
ofício, construindo catedrais, igrejas, obras públicas e monumentos
civis.
Já na primeira metade do século XVI, as corporações, dian-
te das perseguições que sofriam – principalmente por parte do cle-
ro – e diante da evolução social européia, começavam a entrar em
declínio. Em 1535, realizava-se, em Colônia, uma convenção, que
fora convocada para refutar as calúnias dirigidas pelo clero contra
os franco-maçons. Embora ela não tenha tido o brilho e a freqüên-
cia de outras convenções, consta, embora tal afirmativa seja con-
testada, por carecer de comprovação, que, na ocasião, teria sido
redigido um manifesto, onde era estabelecido o princípio de altos
graus, que seriam introduzidos por razões políticas.
Em 1539, o rei da França, FRANCISCO I, revogava os privilégi-
os concedidos aos franco-maçons, abolindo as guildas e demais
fraternidades e regulamentando as corporações de artesãos. Em
contrapartida, em 1548, era concedido, aos operários construtores,
de maneira geral, o livre exercício de sua profissão, em toda a Ingla-
terra; um ano depois, todavia, por exigência de Londres, era cassa-
da a autorização concedida, o que fazia com que os franco-maçons
ficassem na condição de operários ordinários, como tais sendo tra-
tados legalmente. Em 1558, ao assumir o trono da Inglaterra, a rai-
nha Isabel renovava uma ordenação de 1425, que proibia qualquer
assembléia ilegal, sob pena dela ser considerada uma rebelião. Três
anos depois, em dezembro de 1561, tendo, os franco-maçons ingle-
ses, anunciado a realização de uma convenção em York, durante a
festividade de São João Evangelista, Isabel ordenou a dissolução
da assembléia, decretando a prisão de todos os presentes a ela; a
ordem só não foi confirmada, porque lorde Thomas Sackville, adep-
to da arte da construção, estando presente, demoveu a rainha de
seu intento, fazendo com que, em 1562, ela revogasse a ordenação
de 1425.
Em 1563, a CONVENÇÃO DE BASILÉIA, feita por iniciativa da con-
fraria de Estrasburgo, organizava um código para os franco-maçons
alemães, o qual serviria de regra à corporação dos canteiros, até
que surgissem os primeiros sindicatos de operários, no século XIX.
Mas era patente o declínio das confrarias, no século XVI. A Renas-
cença relegara o estilo gótico e a estrutura ogival das abóbadas –
próprias da arte dos franco-maçons medievais – ao abandono,
revivendo as características da arte greco-romana. Assim, embora
ela tivesse atingido a todos os campos do conhecimento e a todas
as corporações profissionais, foi a dos franco-maçons a mais afe-
tada. No final do século, Inigo Jones introduzia, na Inglaterra, o es-
tilo renascentista, sepultando o estilo gótico e apressando a deca-
dência das corporações de franco-maçons ingleses. Estas, perdendo
o seu objetivo inicial e transformando-se em sociedade de auxílio
mútuo, resolveram, então, permitir a entrada de homens não ligados
à arte de construir, não profissionais, que eram, então, chamados
de maçons aceitos.
As corporações, evidentemente, começaram por admitir
pessoas em pequeno número e selecionadas entre os homens co-
nhecidos pelos seus dotes culturais, pelo seu talento e pela sua
condição aristocrática, que poderiam dar projeção a elas, subme-
tendo-se, todavia, aos seus regulamentos. Era a tentativa de sustar
o declínio.
O primeiro caso conhecido de aceitação é o de JOHN BOSWELL,
lorde de Aushinleck – ou, segundo J.G. FINDEL, sir THOMAS ROSSWELL,
esquire de Aushinleck – que, a 08 de junho de 1600 foi recebido
maçom – não profissional – na Saint Mary’s Chapell Lodge (Loja
da Capela de Santa Maria), em Edimburgo, na Escócia. Esta Loja
fora criada em 1228, para a construção da Capela de Santa Maria,
destinando-se, como já foi visto, às assembléias dos obreiros e dis-
cussões sobre o andamento das obras. Depois disso, o processo
de aceitação, iniciado na Escócia, iria se espalhar e se acelerar,
fazendo com que, ao final do século, o número de aceitos já ultra-
passasse, largamente, o de franco-maçons operativos.
Em 1666, os franco-maçons iriam recuperar parte do anti-
go prestígio, diante do grande incêndio, que, a 2 de setembro da-
quele ano, aconteceu em Londres, destruindo cerca de quarenta mil
casas e oitenta e seis igrejas. Nessa ocasião, os maçons acorreram
para participar do esforço de reconstrução, sob a direção do
renomado mestre arquiteto CHRISTOPHER WREN, que, em 1688, viu apro-
vado o seu plano para reconstrução da cidade, sendo nomeado
arquiteto do rei e da cidade de Londres. A obra principal de Wren
foi a reconstrução da Catedral de São Paulo, em cujo adro se de-
senvolveria e se estabeleceria, em 1691, uma Loja de fundamental
importância para a História da Maçonaria moderna: a Loja São Paulo
(em alusão à igreja), ou Loja da taberna “O GANSO E A GRELHA”, em
alusão ao local em que, como faziam outras Lojas, realizava suas
reuniões de caráter informal e administrativo. A reconstrução de
Londres só iria terminar em 1710.

A ALQUIMIA

ALQUIMIA (do árabe al-kimia: a fusão, a mistura), a química da


natureza, é a arte quimérica, cultivada na Idade Média, destinada a
descobrir a panacéia, para curar todos os males da Humanidade, e
a pedra filosofal, para transmutar todos os metais em ouro, ou pra-
ta.
Embora a sua época de apogeu tenha sido a Idade Média
quando, sob esse nome, ela foi introduzida, no ocidente pelos ára-
bes (século VII), a verdade é que ela foi praticada desde tempos
muitos antigos, no Egito, na Pérsia, na China, na Índia e na Grécia
arcaica. Os egípcios já a utilizavam maneira prática, para curtir
couros, preparar ligas de metais comuns e fabricar corantes e cos-
méticos; os persas tivera m grande interesse por esse novo tipo de
conhecimento e o espalharam entre os povos conquistados; atra-
vés dos persas, ela chegou à Grécia, onde os gregos a incorpora-
ram aos seus conhecimentos teóricos sobre os mistérios da vida.
Os trabalhos incansáveis, na busca da transmutação dos
metais em ouro potável, deram origem a diversas descobertas, às
quais deve, o Homem, o seu atual progresso. Algumas delas tidas
como exclusivamente modernas já eram bem conhecidas por ma-
gos e alquimistas da Antigüidade. Embora se afirme que a eletrici-
dade e o vapor, como força motriz, são descobertas do século XIX,
a verdade é que sacerdotes etruscos já conheciam a eletricidade e
a usaram, para defender a vila de Narnia contra ALARICO; a morte de
TULLIUS HOSTILIUS, usando eletricidade, é descrita por PLÍNIO; ANSELMO
DE TRALLE, o célebre arquiteto, construtor da catedral de Santa Sofia,
conhecia os efeitos do vapor; PAUSELENAS, um monge alquimista, fala
da aplicação da química na fotografia e afirma que os jônios conhe-
ciam o processo, assim como o da câmara escura, dos aparelhos
ópticos, da sensibilidade de placas.
É necessário, porém, que se estabeleça a existência de dois
tipos de Alquimia: a Alquimia prática, precursora da química e
estabelecida pelo médico suíço TEOPHARASTUS BOMBASTUS VON HOHENHEIM,
mais conhecido como PARACELSO (1493-1541), e a Alquimia mística,
O SÍMBOLO DA PEDRA FILOSOFAL
As figuras do macho e da fêmea (eternidade) dentro de um círculo inscrito em um
quadrado que, por suas vez, inscreve-se em um triângulo, sendo todo o conjunto
envolvido por um círculo. Todo o conjunto simboliza a transmutação do quaternário
inferior no terciário divino superior ao Homem.

muito associada à magia.


Em todas as teorias cosmogônicas do mundo antigo, existe
a idéia da existência de um elemento primordial, do qual derivam
todos os demais elementos. A mais antiga idéia relativa a esse con-
ceito é aquela que considerava a água como elemento fundamental
associada aos trabalhos do sábio grego TALES DE MILETO; na própria
Grécia, entretanto, muitos filósofos defenderam idéias diferentes.
Anaxímenes afirmava que o elemento primordial era o ar, pois ele
podia ser condensado, formando nuvens e chuvas, cujas águas, ao
se evaporar, formando novamente o ar, deixavam um resíduo sólido
de terra. O Mitraísmo persa via a manifestação do poder divino no
fogo, achando, portanto, que esse era o elemento formador de to-
das as coisas; HERÁCLITO também defendia a teoria do fogo, afirman-
do que tudo no mundo, está em constante transformação e que o
elemento que pode provocar as mais intensas transformações é o
fogo (daí a máxima hermética dos rosacruzes e de alguns graus
maçônicos: IGNE NATURA RENOVATUR INTEGRA, ou seja, O FOGO RENOVA A
NATUREZA INTEIRA). FERESIDES escolheu como fundamental, o elemento
terra, pois, afirmava ao se queimar um corpo sólido, obtêm-se água
e ar. A RISTÓTELES , finalmente defendendo uma concepção de
EMPÉDOCLES, afirmava que esses quatro elementos eram funda-
mentais e que todos os corpos eram formados por combinações
deles.
As idéias de Aristóteles, básica para a Alquimia, eram en-
sinadas nas escolas de pensadores da cidade de Alexandria, no
Egito, cidade essa, que foi o grande centro alquimista da antiguida-
de, nela se dando a fusão entre as práticas egípcias e as teorias
gregas, mais tarde desenvolvidas pelos árabes. Estes ao conquis-
tares em 642 o Egito, atingindo depois, a Síria e a Pérsia, trouxeram
para o ocidente, a nova contribuição, que originou aquilo que hoje, é
chamado de Alquimia.
Dos árabes conquistadores, originou-se um dos maiores
alquimistas de todos os tempos: JABIR IBN HAYYAN (721 –813), conhe-
cido na Europa, como o nome de GEBER. Este aceitava a teoria
aristotélica dos quatro elementos somando, todavia, dois outros ele-
mentos essenciais: o mercúrio e o enxofre, os quais explicavam
certas propriedades dos metais; um terceiro elemento, o sal, foi
posteriormente incluindo, formando com os outros dois, o trio fun-
damental (trio prima) de Paracelso e de seus discípulos, no século
XVI.
Essencialmente, a Alquimia era caracterizada pela busca
de duas substâncias; a pedra filosofal, capaz de transformar to-
das as coisas em ouro, e o elixir da longa vida, capaz de manter os
homens eternamente jovens. Para Geber, todos os metais seriam
formados, apenas de enxofre, e de mercúrio; desses elementos,
deveriam ser extraídas as essências, que transformariam todos os
metais “em outro mais puro do que o das minas”.
Partindo do princípio de que todas as substâncias possu-
em uma única raiz, parecia para os alquimistas, transformar os cor-
pos, entre os quais os metais, em outro, que além dce ser o princí-
Chumbo

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AS SETE MARAVILHAS DO MUNDO, SEGUNDO A CABALA MEDIEVAL


A Cabala Medieval associou as sete maravilhas do mundo antigo aos elementos
alquímicos e à influ~encia astrológica dos então sete astros conhecidos - Sol, Lua,
Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. O curioso é a substituição dos Jardins
Suspensos da Babilônia pelo Templo de Jerusalém, por influência cristã de então.
pio concreto da força que serve para comprar a glória e a felicida-
de material, é, também, o símbolo do sol, da luz, do poder criativo,
da revelação divina.
Teosoficamente (ou do ponto de vista místico) a Alquimia
trata das forças sutis da natureza e das diversas condições da
matéria, nas quais aquelas forças agem.Quando dá, aos iniciados a
idéia do MYSTERIUM MAGNUM, sob o véu regularmente artificial da lin-
guagem, para que não represente perigo nas mãos de egoístas, o
alquimista aceita, como primeiro postulado, a existência de um de-
terminado dissolvente universal da substância homogênea, de onde
evoluíram os elementos, ao qual chamam de ouro puro, ou SUMMUM
MATERIAE. Esse sal possuía o pode de lançar fora do corpo humano
todos os germes de doença, de renovar a juventude e de prolongar
a vida; assim é a Pedra Filosofal (LAPIS PHILOSOPHORUM).
Alquimia é, na realidade, tratada sob três aspectos distin-
tos, os quais admitem diversas interpretações diferentes: o cósmi-
co, o humano e o terrestre; esses três aspectos eram típicos, sob
as três propriedades alquímicas: o mercúrio, o sal e o enxofre, que
são os três princípios da GRANDE OBRA (transformação dos metais
em ouro).
No aspecto terrestre, ou meramente material da Alquimia, o
objetivo é transmutar os metais grosseiros em outro puro, já que é
indiscutível que na natureza, ocorre a transmutação de metais infe-
riores em outros, melhorados. Existe, todavia, um aspecto ocultista
ou místico da Alquimia.
O alquimista ocultista despreza o ouro terrestre, material, e
dirige todos os seus esforços na transmutação do quaternário in-
ferior em ternário divino superior ao homem, os quais, quando
se unem, acabam construindo um só. Os planos da existência hu-
mana, espiritual, mental, psíquico e físico, comparam-se na Al-
quimia mística, aos quatro elementos da teoria de Aristóteles, o fogo,
o ar, a água e a terra; cada um deles é capaz de uma tríplice cons-
tituição, ou seja: fixa, instável e volátil.
A Grande Obra, para a Alquimia Mística, consistia no re-
nascer, para que o iniciado percorresse o caminho do aperfeiçoa-
mento e do conhecimento, até chegar à comunhão com a divindade,
conceito muito parecido com do Mitraísmo.Assim, os metais inferio-
res simbolizavam as paixões humanas e os vícios, que devem ser
combatidos e transformados em ouro do espírito, que é o objetivo
da Grande Obra ou Obra do Sol.
As operações da natureza são, praticamente as mesmas
da Alquimia, diferenciando-se, somente na denominação, podendo
ser reduzidas a sete principais: calcinação, solução, putrefação,
destilação, sublimação, conjunção e coagulação, ou fixação. É ne-
cessário, entretanto, tomar essas palavras no sentido filosófico, de
acordo com o procedimento da natureza, a qual desse ser bem es-
tudada e conhecida, antes de ser imitada.
Não se pode negar que a química moderna deve os seus
melhores descobrimentos à Alquimia, a partir de Paracelso que acha-
va que “apenas os idiotas pensam que Alquimia é o conhecimento
de como obter ouro; o objetivo da Alquimia é procurar descobrir
novos remédios”.
Com a união, na Idade Média, principalmente a partir do
século XIII, dos alquimistas com os cabalistas, hermetistas e adep-
tos da magia, surgiram diversas seitas e grupos secretos, como o
dos adeptos e dos iluminados, que, posteriormente, como elemen-
tos aceitos (ou seja: não ligados à arte de construir), incorporaram-
se às associações operativas, levando, para a nascente Maçonaria
“especulativa”, os seus conceitos, idéias e símbolos.
A Maçonaria ainda conserva muitos símbolos dos alquimis-
tas, para armar a sua doutrina moral e espiritualista. Um exemplo
disso é a chamada Câmara de Reflexão, onde o candidato à inicia-
ção permanece em meditação, antes da cerimônia; essa câmara,
que representa o útero (da terra), do qual o candidato nasce, para
uma nova vida, é usada para a “prova da Terra”, pela qual deverá
passar o candidato; nela, entre diversos símbolos representativos
da espiritualidade e do vapor da vida honrada, encontram-se as
três substâncias necessárias à Grande Obra, ou seja, o mercú-
rio, o enxofre e o sal, para lembrar ao candidato, que ele deve
percorrer o caminho do conhecimento, para chegar ao aperfeiçoa-
mento espiritual e moral, que é a Grande Obra da Vida.
Outro exemplo alquímico na Maçonaria são as provas pe-
las quais o candidato deve passar, em alguns ritos, e representam
os quatro elementos fundamentais, ar, água, terra e fogo, dos
ensinamentos de Aristóteles. A prova da terra é a da Câmara de
Reflexão, já citada; a prova do ar é representada por uma tempes-
tade, que simboliza os percalços da vida humana; a prova da água
é destinada à purificação das mãos (resquício dos ritos religiosos
da antiguidade); a prova do fogo, finalmente representa a purifica-
ção total, simbolizando a destruição da matéria pelo fogo, restando
o místico ser imaterial aperfeiçoado.

O ILUMINISMO

O iluminismo, geralmente é encarado sob dois aspectos:


como doutrina místico-religiosa, ou como movimento filosófico-cul-
tural.
Como doutrina de natureza místico-religiosa, dos chama-
dos “iluminados”, ou doutrina gnosiológica, da “iluminação”, ela sur-
giu no século XV, em Toledo na Espanha, e possuía inspiração so-
brenatural.
Essa doutrina sofreu a influência de diversos agrupamen-
tos religiosos, de diversas seitas místicas e de conceitos de várias
correntes metafísicas, sendo, todavia de acordo com as suas re-
gras de vida ao que parece, bastante influenciada pelo Budismo e
pelas comunidades judaicas dos essênios.
Os “Iluminados” levavam uma existência em que era per-
manente o estado passivo de aproximação à divindade, desprezan-
do e, mesmo, repudiando todas a relações com o meio social e ne-
gando-se a executar qualquer ato que se traduzisse em utilidade
individual, ou coletiva. Resumia-se a sua vida, em última análise, a
um estado perene de contemplação e de meditação, em que fossem
importantes as coisa materiais e práticas da vida. Não era, como se
vê, uma seita original, limitando-se a imitar muitas outras, que já
haviam existido, como a dos essênios.
Apesar da doutrina ter nascido na Espanha, foi na França
que ela atingiu o seu apogeu, tendo chegado também, a ter grande
projeção na Alemanha e na Bélgica.
O iluminismo, como movimento filosófico-cultural, surgiu nos
fins do século XVII, na Europa, atingindo o seu ápice no século XVII,
que foi por isso, chamado de Século das Luzes, pois a época áu-
rea da iluminação do intelecto, o que fez com que o iluminismo fos-
se, também chamado pelo a alemães, de Filosofia das Luzes
(AUFKLARUNG).
Esse movimento do iluminismo cultural, que atingiu diversos
países, teve representantes nas correntes humanista, criticista e
naturalista, sendo os seus maiores representantes, LESSING, LOCK,
VOLTAIRE, KANT, DIDEROT, CONDORCET e HELVETIUS, entre outros, devendo-
se notas que quase todos eles eram membros da Maçonaria (na
França e na Alemanha, que eram na época, os maiores baluartes
maçônicos da Europa, do ponto de vista intelectual e político).

A MAGIA

A palavra magia é derivada dos Magos, os antigos sacer-


dotes do zoroastrismo persa; como consta que eles foram os pri-
meiros adeptos do ocultismo tradicional, divulgando a luz da ciên-
cia esotérica, de seu nome originou-se o de magia, e, de seu saber
iniciático, o nome mago dado aos adeptos da magia, que possuem
de maneira legítima, os segredos das ciências ocultas.
A magia é uma manifestação mística muito antiga tendo, os
seus rudimentos surgidos já na pré-história humana, no Paleolítico
Superior, há 40.000 anos; ela foi também largamente usada por to-
dos os povos antigos, principalmente pelos persas e pelos egípci-
os. O seu apogeu, baseado em maior complexidade, foi, todavia,
situado na Idade Média.
COLLIN DE PLANCY definia a magia como sendo “a arte de pra-
ticar, na natureza, coisas que estão acima do poder humano, com o
auxílio dos demônios e por meio de cerimônias especiais”. Essa é
uma definição típica do negro período medieval, dominado pela Igreja,
com o seu famigerado Santo Ofício, sempre pronto com suas fo-
gueiras a receber magos, cabalistas, alquimistas, rosacrucianos e
outros, sempre catalogados, geneticamente como “bruxos”. Não res-
tam dúvidas de que essa espécie de conhecimento, atribuída aos
magos esta fora de cogitação e só pode ser creditada às falsas
afirmações e invenções, oriundas da ignorância ou da má-fé.
Não se pode dizer que a magia seja uma ciência, pela falta
de conteúdo e de métodos de exposição, que apresenta, a anão ser
que ela tomada como a diferença entre a sabedoria oriental e a
ocidental; não se pode dizer, também que ela seja uma arte, já que
isso implica um total desconhecimento esotérico da questão. Isso
demonstra na realidade, a dificuldade que se encontra em definir
corretamente essa antiga corrente ocultista.
Segundo uma antiga classificação, a magia dividia-se em
magia branca, ou teurgia e magia negra, ou goética; diziam os clas-
sificadores, que a magia branca era dirigida para o bem, enquanto
que a magia negra era dirigida para o mal, o que é um conceito
bastante simplista e falso, já que o bem e o mal são simples ques-
tões de interpretações, ou seja, o que é o mal para um, pode ser o
bem para o outro e vice-versa. Os padres da Inquisição, por exem-
plo, só fizeram o mal, torturando e assassinando homens, mulheres,
velhos e até crianças de 4 ou 5 anos de idade acusadas de “terem
tido relações carnais com diabos” (SIC); apesar disso, eles própri-
os (e muita gente) achavam que estavam praticando o bem, a servi-
ço do Santo Ofício, a Instituição que atrasou em séculos, a evolução
racional da espécie humana.
Na realidade, a magia pode ser dividida em:

a) Magia natural, quando ela trata da produção de fenôme-


nos surpreendentes e, aparentemente, prodigiosos, através
de métodos e ações puramente naturais, sem socorro de
cerimoniais e amuletos.
b) Magia cerimonial, quando trata das ações e da ritualística
pertinentes às obras de evocação, conjuros, etc.
c) Magia talismânica, que é aquela que trata da preparação
e da confecção de amuletos, talismãs e outros objetos da
mesma espécie. Os amuletos são certos remédios, ou obje-
tos supersticiosos usados pelas pessoas, para ficarem pro-
tegidas de qualquer perigo ou doença; existentes desde a
antiguidade, eram geralmente imagens caprichosas como o
escaravelho no Egito, pedaços de cobre de pergaminho, de
prata, ou então, pedras especiais, nas quais eram gravados
caracteres hieroglíficos. Os gregos os chamavam de
filasterios.
d) Magia cabalística, que é aquela que, partindo do conheci-
mento da Cabala, trata de suas operações, conhecimentos
e práticas. Nesse caso se encontra, apenas a Cabala ori-
ginada do Sepher Yetsira, e não a Cabala teórica cujo mis-
ticismo é muito mais, decalcado no Zoar.

Além dessa classificação, a magia pode ser dividida em


teórica, quando se ocupa com a parte filosófica e doutrinária e prá-
tica, quando relacionada com a parte experimental.
Numa apreciação sintética, como esta, é praticamente im-
possível abordar todas as nuances da magia, embora devam ser
ressaltados dois aspectos relacionados com o pentagrama, ou es-
trela pentagonal, que teria tido origem nos pitagóricos e que toma-
ria o nome de Estrela Flamejante, dado por ENRIQUE CORNÉLIO AGRIPPA,
célebre alquimista, mago e médico, nascido em Colônia, Alemanha,
no final do século XV, o qual, por ser considerado de grande talento
e sabedoria, mereceu a alcunha de Trimegisto (três vezes grande),
como o HERMES TRIMEGISTO dos gregos (Toth, dos egípcios, e Mercú-
rio, dos romanos), saudado, pelos alquimistas e ocultistas, em geral,
como senhor dos segredos do Universo.
A Estrela Flamejante era, na Alquimia, o símbolo intermedi-
ário entre a Grande Obra (Obra do Sol, transformação dos metais
em outro) e a Peque Obra (Obra da Luz, transformação dos metais
em prata). Na Maçonaria, ela foi adotada, somente a partir do sécu-
lo XVIII, na França, através do barão de Tschoudy, os maçons ante-
riores a essa data e os operativos medievais desconheciam esse
símbolo.
Na magia, encontramos o uso da pentalfa, pelo menos em
duas situações principais.
O altar para as operações mágica, forrado com uma toalha
branca, deve se constituir num pentáculo do Universo, em seus três
primeiros planos: humano, natural e divino; a disposição mais ade-
quada é colocar nomeio do altar, um pentagrama de Agrippa. Esse
pentagrama será desenhado num pergaminho virgem, ou, então so-
bre um papel fabricado por um mago, sob os auspícios solares com
uma massa de papel consagrada com antecedência.
Ao redor desse pentagrama, serão colocados sete peque-
nos cubos metálicos, correspondentes a cada um dos metais pla-
netários (dos sete planetas da antiguidade) sendo que o mercúrio
por não ser sólido, deve ficar encerrado num cubo de cristal; esses
cubos dos metais serão colocados na ordem da estrela egípcia de
sete pontas.
Nos quatro extremos do altar serão colocados os seguintes
objetos:

1. No extremo superior direito, correspondente à letra iôd, a luz:


2. No extremo superior esquerdo, correspondente à letra he, o
queimador de perfumes;
3. No estremo inferior esquerdo, correspondente à letra vau, o sal
mágico;
4. Finalmente, no extremo inferior direito, correspondente à letra
he, a água mágica.
Nota-se que as letras iôd, he, vau e he, nessa ordem,
correspondem ao tetragrama hebraico, que designa o nome de Deus.
O pentagrama também está relacionado com a palavra
cabalística ABRACADABRA, formada pelas palavras abra e abraxas.
Já no século II, SAMÔNICUS recomendava, aos seus adeptos,
que escrevesses essa palavra sobre um pergaminho virgem, for-
mando um triângulo invertido, representado a letra delta, símbolo
das três pessoas da Trindade, de maneiro como segue:

ABRACADABRA
ABRACADABR
ABRACADAB
ABRAÇADA
ABRACAD
ABRAÇA
ABRAC
ABRA
ABR
AB
A

Esse pergaminho deveria ser dobrado, para que se tornas-


se oculto o que estava escrito, recortado em forma de cruz e pen-
durado como amuleto, no pescoço dos doentes de um fio de linho.
A palavra abracadabra, entretanto, de acordo com o ocultista
ELIPHAS LEVI, pode ser o triângulo mágico dos teósofos pagãos, com
a combinação das letras representando uma chave do pentagrama
(tríplice triângulo cruzado). O A separado, representa a unidade do
principio primordial, o agente intelectual e ativo; o A unido ao B,
representa a fecundação do binário pela unidade; o R é o signo do
ternário, já que representa, hieroglificamente a fusão resultante da
união de dois princípios; o número 11 (que é o número total de
letras da palavra) junta a unidade do iniciado ao decenário pitagórico;
o número 66 (total de letras do triângulo) representa,
cabalisticamente o número 12, que é o quadrado do ternário e, em
conseqüência, a quadratura mística do circulo.
É claro que a Maçonaria, instituição racional e crítica não
emprega os recursos da magia; estando, todavia, a sua ritualística,
impregnada pela amálgama dos misticismos de diversas civiliza-
ções e correntes metafísicas, teria evidentemente que apresentar
traços de todas essas correntes, como de resto, acontece com di-
versas outras instituições filosóficas, iniciáticas e religiosas, inclu-
indo-se a própria igreja, que sempre se disse inimiga do cabalismo,
da Alquimia e da magia, mas possui muitos traços desses agrupa-
mentos místicos; o exorcismo, com citações do evangelho, “para
expulsar o demônio do corpo” de uma pessoas, e ouso de amuletos
(relíquias, medalhas e efígies de santos) para proteção pessoal, são
exemplos gritantes disso.

A ORDEM ROSACRUZ

Rosacruz é a denominação da sociedade, ou fraternidade


filosófica, que, de acordo com a tradição mais comum, teria sido
fundada por CHRISTIAN ROSENKREUZ, e que representa uma síntese do
ocultismo imperante na Idade Média.
Pretende, H. SPENCER LEWIS, que Rosenkreuz tenha sido, ape-
nas, um renovador, já que a Instituição remontaria ao antigo Egito, à
época do faraó Amenofis IV, que seria conhecido como Akenáton, o
faraó que implantou o culto monoteísta do disco solar (Áton); os
adeptos da Rosacruz têm aceitado essa hipótese, falseando, la-
mentavelmente a verdade histórica, já que na realidade essa socie-
dade nasceu na época medieval, embora apresentando em sua
ritualística, muito do misticismo das Antigas Civilizações, como
acontece com a Maçonaria (muitos maçons também querem fazer
crer que a Ordem maçônica é antiqüíssima e já existia no Antigo
Egito e na Pérsia, o que é verdadeiramente uma heresia histórica).
O Rosacrucianismo é um sincretismo de diversas correntes
filosófico-religiosas: hermetismo egípcio, cabalismo judaico,
gnosticismo cristão, Alquimia, etc. A primeira menção histórica da
sociedade data de 1614, quando surgiu o famoso documento
intitulado Fama Fraternitatis, onde são contatadas as viagens do
alemão Rosenkreuz pela Arábia, Egito e Marrocos, onde teria ad-
quirido sua sabedoria secreta, só revelada aos iniciados.
JOHAM VALENTIM ANDRÉA, neto do teólogo luterano Jacob Andréa,
e, também teólogo, foi o homem que vulgou o rosacrucianismo.
Andréa, depois de viajar pelo mundo, retornou à Alemanha, tendo
SÍMBOLO ENCONTRADO NAS RUÍNAS DO TEMPLO DE BENARES
A Rosa, representação feminina, colocada na intersecção dos braços da Cruz,
representação masculina do Sol (cruzamento da eclíptica com o Equador celeste);
é o antigo símbolo adotado pela Ordem Rosacruz.

se tornado pregador da corte e, posteriormente em 1650, abade


(ele nascera em Herrenberg, no Wuerttem Berg, em 1581); todavia, a
sua principal importância originou-se do papel que ele teve, naque-
la sociedade alemã, que, no início do século XVII, pugnava por uma
renovação e uma nova insuflação espiritual na vida.
Todavia, a popularidade alcançada com a SOCIETS SOLIS (So-
ciedade do Sol), a que procurou da vida e a Ordem das Palmeiras,
em que ele procurou da vida, e a Ordem das Palmeiras, em que foi
admitido aos 60 anos, não se comparou àquela que ele conseguiu
ao publicar o seu romance satírico O CASAMENTO QUÍMICO DE CRISTIAN
ROSENKREUZ, que combatia, jocosamente, os alquimistas e as ligas
secretas, numa época em que havia em geral a desorientação, o ar
andava cheio de rumores, a velha ordem religiosa desagregava-se.
Em 1597, já se haviam realizado reuniões de uma liga secreta de
alquimistas, que haviam ficado sem irradiações e sem significado
espiritual. Foi então que a palavra Rosacruz adquiriu, rapidamente
uma grande força atrativa, a ponto de no escrito anônimo de 1614,
chamado de TRANSFIGURAÇÃO GERAL DO MUNDO, se incluído o conceito
de Fama Fraternitatis R+C (Rosae Crucis), sem necessidade de
ser escrito por extenso, pois ele já era bem entendido. Uma outra
pequena obra, surgida um ano depois, e também anônima, chama-
da Confessio, publicava a constituição e a exposição dos fins a que
a Ordem se destinava.
De acordo com o Confessio, a Ordem Rosacruz represen-
taria uma Alquimia de alto quilate, na qual ao invés das pesquisas
sobre a pedra filosofal, era procurado um fim superior, ou seja, a
abertura dos olhos do espírito, através do qual o homem ficasse
apto a ver o mundo e os seus segredos com mais profundidade.As
correntes dos alquimistas medievais, então, diante da necessidade
espiritual do tempo, incrementada pela disposição de renovação e
organização secreta, tornaram enorme vulto com o aperfeiçoamen-
to do romance satírico de Andréa.
O herói do romance é o Christian Rosenkreuz, já descober-
to pela Fama Fraternitatis e que já tinha no século XIV, viajado pelo
Oriente e, ali, aprendido a “Sublime Ciência”, teria ele, segundo a
lenda que cercou o seu nome, voltado para a Alemanha, onde foi
seguido em suas idéias, por muitas pessoas, até chegar aos 150
anos de idade quando, cansado da vida, extinguiu-se, voluntaria-
mente.
Andréa, no romance, aproveitou-se do nome que tinha sido
encontrado para ser a figura fundadora, mas o seu Rosenkreuz era
velho e impotente, motivo pelo qual o seu casamento só poderia ser
químico. Todavia, ele é instruído e conhece muitos segredos, além
de estar sempre ansioso por conhecer outros, motivo pelo qual, em
certa ocasião, como hóspede da família real, ele entre num quarto
em que dorme Vênus; depois, quando com outros convidados ao
casamento ao ser proclamado Cavaleiro da Ordem da Pedra Dou-
rada, deve, de acordo com os estatutos dessa Ordem, repudiar toda
a lascívia, torna-se público o seu erro. Assim, enquanto os outros
vão embora, como Cavaleiros da nova Ordem, ele tem que perma-
necer ali, como porteiro, como castigo por ter descoberto Vênus.
Com essa sátira dirigida às sociedades secretas e a Alqui-
mia, Andréa havia desvendado tanto de positivo sobre a nova Or-
dem, que restou a impressão de que ela já existia, ainda que só
como imagem literária. Nota-se facilmente, que a Pedra Dourada
nada mais é do que a PEDRA FILOSOFAL dos alquimistas; além disso, o
encontro dos convidados ao casamento, vindos de todas as partes
do mundo, e a sua ligação dentro da nova Ordem, ilustram o desejo
do autor de dar corpo aos esforços no sentido de uma renovação
espiritual da vida e que se valeram do sugestivo símbolo Rosacruz.
Andréa pretendeu usar as lojas rosacruzes para a divulga-
ção do protestantismo, já que, no início elas só aceitavam protes-
tantes, passando depois a aceitar também, católicos, frustrando o
desejo de Andréa.Todavia, para quebrar a maior influência protes-
tante, foi instituída, pelo papado, a Ordem da Cruz Azul, que seria
uma contrapartida católica dos rosacruzes. Sob o governo do im-
perador JOSÉ II, houve na Áustria, um grande recrudescimento da
comunidade rosacruz, atingindo até a corte, o que fez com que o
imperador proibisse todas as sociedades secretas, abrindo exce-
ção aos maçons, o que dez com que muitos rosacruzes procuras-
sem a Maçonaria a ponto de daí em diante, de uma maneira geral,
se tornar difícil separar Maçonaria e Rosacrucianismo, tendo, aquela,
incorporado aos seus vários ritos, o símbolo máximo dos rosacruzes
(a rosa na intersecção dos braços da cruz).
O símbolo da Rosacruz pode ser classificado como muito
sugestivo e correspondente à ansiedade daquele tempo. Alguns
procuraram relacioná-lo com as armas de LUTERO, coisa que não
pode ser facilmente aceita, pois ele poderia ser, nesse caso, relaci-
onado, também, com as armas de PARACELSO, convindo esclarecer
que Andréa representou o seu Rosenkreuz com quatro rosas no
chapéu, rosas essas que, desde a época de Jacob Andréa, adorna-
vam as armas da família.
ROBERT FLUDD, considerado como o primeiro rosacruz da In-
glaterra, diz que o nome da Ordem está ligado a uma alusão ao
sangue de Cristo na Cruz do Gólgota; a mística idéia da rosa asso-
ciada à lembrança da cor do sangue e aos espinhos que provocam
o seu derrotamento contribui certamente para dar a palavra, uma
grande força de atração.Além disso, muitos rosacruzes vem, no
emblema, um símbolo alquimista, concretizando uma ambigüidade,
muito comum aos símbolos.
Na realidade, esse símbolo é muito antigo, pois já nas ruí-
nas do Templo de Benares (a cidade santa do Bramanismo) foi en-
contrado um triângulo, contendo a cruz com a rosa mística no cen-
tro; isso não demonstra, todavia, como afirmam alguns, que já exis-
tia naquele tempo a Ordem Rosacruz, mas sim simplesmente, que
esse símbolo já era venerado.
Como a preocupação máxima dos alquimistas que se liga-
ram à Rosacruz era o segredo da mortalidade e a regeneração uni-
versal, o símbolo rosacruciano está relacionado com essa preocu-
pação; em botânica oculta, a rosa era uma flor iniciática em diver-
sas ordens religiosas; na atualidade, a arte sacra continua a
considerá-la como símbolo da paciência, do martírio, da Virgem
(Rosa Mística), mostrando uma acentuada tendência ocultista na
Igreja, que tanto combateu o ocultismo (no quarto domingo da qua-
resmas, em todos os anos, o papa benze a Rosa de Ouro, que é
considerada como um dos muitos sacramentais oferecidos pela igreja
em sua liturgia). Em última análise a rosa representa a mulher, en-
quanto a cruz representa o sexo masculino, pois para os filósofos
hermetistas, ela é o símbolo da junção que forma a eclíptica (a
órbita aparente do Sol, ou a trajetória aparente que o Sol descreve.
Anualmente no céu) com o equador celeste; ambos se cruzam no
equinócio da primavera (0° de Áries) e no equinócio do outono (0°
de Libra).
Assim, a Rosa simboliza a Terra, como ser feminino e a Cruz
simboliza a virilidade do Sol, com toda a sua força criadora, que
fecunda a Terra. A junção dos sexos leva à perpetuação da vida e
ao segredo da imortalidade, resultando também, dela, a regenera-
ção universal, que é o ponto mais alta da doutrina.
A Maçonaria incorporou, em larga escala, o simbolismo dos
rosacruzes, herdeiros dos alquimistas, modificando um pouco o seu
significado e reduzindo-os a termos mais reais; assim, o segredo da
imortalidade material tornou-se para os maçons a imortalidade da
alma e do espírito humano, enquanto é aceito o princípio da regene-
ração universal em termos mais racionais, ou seja, de que a regene-
ração só pode ocorrer através do aperfeiçoamento contínuo do
homem e através da constante investigação da Verdade.O misticis-
mo dos símbolos rosacruzes, todavia, foi mantido, pois convém re-
petir, embora a Maçonaria não seja uma Ordem mística, ela, para
divulgar a sua mensagem de reformadora social, utiliza-se do misti-
cismo de diversas civilizações e correntes filosóficas metafísicas.

A ASTROLOGIA

Como já foi destacado, a Astrologia é muito antiga, encon-


trando-se, a sua origem, nos IV milênio a.C. entre os sumérios. To-
davia, foi na Idade Média que ela adquiriu mais importância, após
ter passado por um obscuro período, nos primeiros séculos do Cris-
tianismo.
O primeiro livro astrológico moderno foi o Tetrabiblos, atri-
buído ao astrônomo, matemático e geógrafo CLÁUDIO PTOLOMEU, nas-
cido em Alexandria, cujo trabalho desenvolveu-se durante o século
II da era atual, entre 150 e 180, firmando os princípios da influência
cósmica, os quais constituem a parte fundamental da moderna
Astrologia. Tendo catalogado trezentas estrelas e explicado a re-
fração da luz, ele expõe, no livro, a sua crença nos efeitos físicos
dos planetas. Em seu trabalho, ele formulou o primeiro plano a res-
peito da física do universo, a qual era amplamente desconhecida
pelos homens antigos. Sua teoria parece, hoje, absurda, mas, na
época, servia de base para os estudos cósmicos. Para ele, a Terra
ocupava o centro do Universo, movendo-se, os planetas, em torno
dela, cada um num círculo perfeito, dentro de uma esfera exterior
sólida, à qual se fixavam as estrelas. Desta maneira, em torno da
Terra, fixa, moviam-se, em círculos concêntricos, em ordem, do centro
para a periferia: a Lua, Mercúrio, Vênus, o Sol, Marte, Júpiter e
Saturno. Para lá de Saturno, estavam as estrelas fixas. Para que os
movimentos observados e pré-determinados, em relação aos pla-
netas, concordassem, foi dada, a cada um deles, uma órbita cons-
tante, sendo, o epiciclo, centralizado sobre o deferente.
Na Europa, a tradição clássica morreu com Ptolomeu em
180 d.C., enquanto a própria Astrologia também começava a decli-
nar, principalmente porque, nessa mesma época, se perdeu a habi-
lidade técnica, para fazer observações e cálculos.Quando houve a
desintegração do Império Romano do Ocidente, a Astrologia des-
ceu, temporariamente à condição de deturpada superstição, tendo
sido o seu estado de decadência, uma das razões que propiciou, à
Igreja, os ataques às suas práticas, embora existam muitas refe-
rência astrológicas no Novo Testamento (os magos no Evange-
lho de São Lucas e muitas passagens do Apocalipse, por exemplo).
A Igreja oriental, todavia, conservou alguns conhecimentos da As-
trologia científica, enquanto na ocidental o maior anatematizador
da Astrologia foi Santo AGOSTINHO DE HIPONA (354-430). Entretanto,
posteriormente na própria Idade Média, os principais fundamentos
da moderna Astrologia seriam lançados por dois grandes teólogos
da Igreja: Santo ALBERTO MAGNO e São TOMÁS DE AQUINO.
Nessa época de decadência de todas as ciências, surgi-
ram, então, os árabes conquistadores motivados pela força de sua
nova religião, o Islã. Não se pode negar que muito da sobrevivência
da ciência e da filosofia clássicas, se deve ao fato de terem sido
preservadas e usadas pelas avançadas culturas árabes, no norte
da África e no Mediterrâneo oriental, a partir do século VIII. Muito
hábeis nos campos da medicina e da astronomia, os árabes desen-
volveram grandes estudos astronômicos, que tiveram uma acentua-
da orientação astrológica. ALBUMANSUR, ou Abu Maachar, com seu
tratado INTRODUCTRIUM IN ASTRONOMIAM, de nítida influência aristotélica,
foi o maior dos astrólogos árabes; o seu tratado foi um dos primei-
ros livros a aparecer, traduzido, na Europa, no início da Idade Mé-
dia, mostrando-se bastante influente no renascimento da Astrologia
e da astronomia.
No início da Idade Média, os teólogos enfrentavam o pro-
blema de classificar a Astrologia como ciência legítima, ou como
arte divinatória proibida, cabendo a Santo ALBERTO MAGNO (1200-
1280) separar a Astrologia de suas associações pagãs, perceben-
do o seu valor teológico e afirmando que embora as estrelas não
pudessem influenciar a alma humana, elas, certamente poderiam
influenciar o corpo e a vontade dos homens. São Tomás de Aquino,
considerado o maior dos teólogos cristãos, consolidou a obra de
Alberto, tornando-a aceitável como assunto digno de estudo e afir-
mando que, na sua visão do universo podia ser tomada como uma
complementação da doutrina cristã; foi graças a essa maneira pe-
culiar de encarar as coisas que nenhum astrólogo foi punido pelo
“Santo Ofício”, como aconteceu com alquimistas, templários,
rosacruzes, maçons, etc. A Astrologia ganhou, então, respeitabili-
dade acadêmica, passando a fazer parte do currículo de diversas
universidades européias, não experimentando, praticamente, nenhum
declínio com o advento da Renascença.
Com o seu desenvolvimento acabava, a Astrologia interes-
sando-se menos pelos corpos aparentemente fixos (estrelas) e mais
pelos moventes, do sistema solar, ou seja, planetas; as relações
angulares dos planetas, conforme vistas da Terra, são de grande
importância em qualquer avaliação de caráter humano.
Quando o homem começou a observar o firmamento, ficou
fascinado, principalmente com esses corpos moventes e, a medida
em que estes se deslocavam sobre o fundo estrelado, ele notava a
sua trajetória, relacionando-a com o seu próprio estado. Assim de-
senvolveu-se logo um padrão de acontecimentos celestes que pa-
recia ter paralelos diretos com os problemas da Terra: o Sol e as
colheitas, a Lua e as marés, Marte e sua relação com o belicismo,
Vênus predispondo à harmonia e ao amor, etc.
O homem antigo, na realidade, desconhecia, totalmente, a fí-
sica do Universo, a não ser aquela formulada por PTOLOMEU. E esta,
por incrível que possa parecer, foi aceita até ao século XVI, quando
foi derrubada, inicialmente, por NICOLAU COPÉRNICO e, depois, pelo as-
trônomo dinamarquês TYCHO BRAHE e pelo matemático e astrônomo
alemão JOHANNES KEPLER. O sistema elaborado pelo astrônomo polo-
nês Copérnico mostrava o Sol no centro do sistema, com os plane-
tas girando em torno dele, na seguinte ordem, do centro para a
periferia: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno; a Lua
permanecia em órbita terrestre. Tal teoria, embora correta, como se
comprovou, depois, era considerada uma heresia, para a dominante
e retrógrada Igreja da época, a qual, imediatamente, condenou o
trabalho do cientista. Tycho, como filho de sua época, não conse-
guia aceitar a teoria de que a Terra pudesse se mover, no espaço;
mas acabou com a noção de que os planetas eram fixos, dentro de
esferas cristalinas. KEPLER, discípulo de Tycho, todavia, iria se en-
carregar de sepultar, em definitivo, o sistema ptolomaico, reconhe-
cendo o erro de Tycho, mas tomando, como base, os cálculos ela-
borados pelo mestre, quando este formulou as suas leis do movi-
mento planetário, as quais explicam a velocidade dos planetas e a
natureza de suas órbitas, em torno do Sol. A primeira lei de Kepler
afirma que um planeta move-se no espaço, descrevendo uma elipse,
com o Sol ocupando um dos focos; a segunda lei estabelece que o
raio vetor varre áreas iguais em tempos idênticos; e a terceira, esta-
belece uma relação entre os períodos planetários e a distância do
Sol.
Embora os estudos de Kepler já terem acabado com o siste-
ma ptolomaico, no início do século XVII, a Igreja só se rendeu à
evidência dos fatos em pleno século XIX, em 1835, duzentos anos
depois de Kepler, removendo do índex, nesse ano, as suas obras.
Para o homem antigo, a esfera celeste parecia girar em tono
do Sol, enquanto que hoje se sabe que quem gira é a Terra. Isso,
todavia pode ser totalmente ignorado pela Astrologia, pois, para
ela, o que importa são as posições que os planetas parecem tomar
no céu; os planetas agem sobre a ávida terrestre a partir dessas
posições e, nesse sentido, tais posições são tomadas como reais.
Desta maneira, apenas astrologicamente, a esfera celeste mostra a
Terra no centro dela e rodeada pela eclíptica, que é a órbita apa-
rente do Sol; a faixa do Zodíaco, por outro lado, é puramente sim-
bólica, mostrando as constelações que o Sol atravessa em sua
eclíptica: ao contrário das constelações celestes, cada signo
zodiacal ocupa um segmento fixo de 30° do círculo completo (ou
seja, de 360 graus).
A maioria dos planetas do sistema solar possui órbitas que
se colocam, praticamente no mesmo plano da órbita da Terra, com
pequenas variações, exceção feita a Plutão, cuja órbita tem uma
inclinação de 17° em relação aterra. Devido a essa coincidência em
plano, os planetas movem-se numa faixa definida do céu, que cobre
todo o caminho. Essa faixa é conhecida como Zodíaco e é centrada
sobre a eclíptica (que pode ser considerada como a órbita aparen-
te do Sol, ou como a projeção da órbita terrestre na esfera celeste).
O Zodíaco é dividido, então, em doze constelações que são percor-
ridas pelo Sol, uma vez por ano: ÁRIES (ou Carneiro), TOURO, GÊMEOS,
CÂNCER (ou Caranguejo), LEÃO, VIRGEM, LIBRA (ou Balança), ESCORPIÃO,
SAGITÁRIO (ou Arqueiro), CAPRICÓRNIO, AQUÁRIO e PEIXES.
Numa análise dos corpos moventes do sistema solar e de
suas relações com os signos zodiacais, temos o seguinte:
O Sol – é o corpo mais poderoso do sistema, força essen-
cial da vida e sem o qual ela não existiria. O Sol é ativo e relaciona-
do, nas Astrologia, com energia, poder e auto-expressão, sendo,
todos os tipos humanos, amplamente determinados por suas carac-
terísticas solares. O Sol rege Leão e é exaltado em Áries.
A Lua – vindo logo após o Sol, em importância astrológica,
ela é associada ao instinto, à reação a condições e a flutuação;
sendo, como satélite da Terra, parte do sistema terrestre, ela age
sobre os fluídos da Terra e diversas criaturas terrestres tem o seu
comportamento rítmico controlado pela Lua. A Lua rege Câncer e
é exaltada em Touro.
Mercúrio – é o planeta da mentalidade e da reação nervo-
sa. Ele se encontra na região da coroa solar, onde a matéria é sujei-
ta a freqüentes e irregulares flutuações, e, além disso, ele é o mais
veloz dos planetas. Mercúrio rege Gêmeos e Virgem e é exalta-
do em Virgem.
Vênus –é associado com a harmonia e com o uníssono,
qualidades confirmadas pela sua constância física, já que Vênus
tem, entre todos os planetas, a mais baixa excentricidade orbital.
Vênus rege, Touro e é exaltado em Peixes.
Marte – astrologicamente é o planeta do vigor, do positivismo
e da vivacidade; por sua cor avermelhada, ele foi associado com o
calor, o que não corresponde à realidade, pois ele é bastante frio e
a sua cor se deve a oxidação. Marte rege Áries e é exaltado em
Capricórnio.
Júpiter – sendo o maior dos planetas, há um paralelo entre
a sua maciça natureza física e a sua proeminência astrológica, como
força expansiva; ele é uma importante fonte de radiações principal-
mente de rádio, cujos possíveis efeitos diretos são fundamentais
para a Astrologia. Júpiter rege Sagitário e é exaltado em Cân-
cer.
Saturno – foi associado com a limitação, ou seja, com o
impulso para se manter dentro de certos limites, mesmo antes de os
seus anéis terem sido descobertos por Galileu. Saturno rege
Capricórnio e é exaltado em Libra.
Urano – é considerado, pelos astrólogos, o planeta da ex-
centricidade e difere dos outros planetas, em termos físicos, num
aspecto significativo: sua inclinação axial é maior do que um ângulo
reto, o que implica extraordinárias condições atmosféricas; assim,
primeiramente um dos pólos e, depois, o outro, possuem uma “noi-
te”, que dura 21 anos da Terra. Assim sendo é lógico que os astrólo-
gos o tenham considerado como o planeta mais dotado de poderes
sobre as gerações humanas do que sobre cada indivíduo em parti-
cular. Urano rege Aquário e é exaltado em Escorpião.
Netuno – foi um planeta descoberto apenas em 1846, mas
as informações referentes à sua influência astrológicas já estão
completas há muito tempo. Ele é considerado nebuloso. Netuno
rege Peixes e é exaltado em Leão.
Plutão - é o mais distante dos planetas conhecidos e só foi
descoberto em 1930. Ele se encontra tão afastado da Terra que a
sua influência é tida na conta de essencialmente impessoal e pos-
suidora, antes, de um efeito de massa (a não ser nos casos em que
ele ocupar uma posição de destaque na carta natal de um indiví-
duo). Plutão rege Escorpião, e a exaltação e a queda não foram
ainda averiguadas.
Os signos são, também, associados aos quatro elementos
fundamentais, da teoria aristotélica: ar, água, fogo e terra.
Nas teorias cosmogônicas da Antiguidade, existia a idéia de
um elemento fundamental, do qual os demais elementos derivariam.
O conceito mais antigo, referente a isso, está associado aos traba-
lhos de TALES DE MILETO, o qual considerava a água o elemento funda-
mental, para a existência dos demais. Além dele, porém, outros filó-
sofos gregos ocuparam-se do tema, defendendo idéias diferentes.
Anaxímenes afirmava que o elemento fundamental era o ar, pois ele
podia ser condensado, formando as nuvens e, por elas, as chuvas,
cujas águas, evaporando-se, formavam, novamente, o ar, deixando
um resíduo sólido de terra. HERÁCLITO, com base no Mitraísmo persa,
o qual via, no fogo, a manifestação do poder divino, defendia a idéia
de que esse elemento seria o fundamental, afirmando que tudo está
em constante transformação e que o elemento que pode provocar
as mais intensas transformações é o fogo. FERESIDES, discordando
dos demais, afirmava que o elemento fundamental era a terra, pois,
ao se queimar um corpo sólido obtém-se água e ar. ARISTÓTELES, fi-
nalmente, defendendo uma idéia de EMPÉDOCLES, afirmava que os
quatro elementos eram fundamentais e que todos os corpos eram
formados pelas combinações deles.
Assim, aos quatro elementos fundamentais, podem ser asso-
ciados os signos, da seguinte maneira:

Ar: Gêmeos, Libra e Aquário;


Água: Câncer, Escorpião e Peixes;
Terra: Touro, Virgem e Capricórnio;
Fogo: Áries, Leão e Sagitário.

Assim sendo cada signo é caracterizado por um planeta e


por um dos quatro elementos, o que lhe dá suas características
místicas:

ÁRIES
Caracterizado por Marte e pelo fogo. A história mitológica
dessa constelação é a seguinte: FRIXOS, filho de Nepele, falsamente
acusado de violar Biadice, foi condenado à morte, sendo, entretan-
to, saldo por um carneiro dourado, em cujo dorso escapou; alcan-
çando a segurança, ele imolou o carneiro a Zeus, que colocou a
imagem do animal no céu.Áries relaciona-se com o fogo interior
do homem, ou seja, a força que estimula o crescimento e o
desenvolvimento.

TOURO
Caracterizado por Vênus e pelo elemento terra. Sua ori-
gem mitológica é a seguinte: TAURUS era o touro branco que cortejou
EUROPA, carregando-a no dorso; era na verdade, Zeus disfarçado,
que, quando reassumiu sua forma normal colocou o touro no céu. É
relacionado com a matéria na qual se efetua a fecundação, a
elaboração interior.
OS SIGNOS E OS PLANETAS
Tradicionalmente, cada planeta rege pelos menos um signo zodiacal. Na figura, os
planetas regentes estão sobre fundo branco e os signos regidos sobre fundo negro:
Sol-Leão; Lua-Câncer; Mercúrio-Gêmeos e Virgem; Vênus-Touro e Libra; Marte-
Áries; Júpiter-Sagitário; Saturno-Capricórnio; Urano-Aquário; Netuno-Peixes;
Plutão-Escorpião.

GÊMEOS
Caracterizado por Mercúrio e pelo ar. Não existe mito par-
ticular associado a ele; no Egito era conhecido como “As Duas Es-
trelas” e tomou o nome das estrelas CASTOR E PÓLUX, as mais brilhan-
tes da constelação. Representa os filhos da terra, fecundada pelo
fogo, e o mercúrio dos alquimistas, representado com duas cabe-
ças. É relacionado com a versatilidade, a engenhosidade e a
vitalidade criadora.

CÂNCER
Caracterizado pela Lua e pela água. Como caranguejo Cân-
cer é babilônico, em sua origem; todavia, no Egito, a constelação
era representada por duas tartarugas, ora conhecidas como as
Estrelas da Água, ora como Allul, uma criatura aquática; assim sua
associação com a água é muito antiga, embora não haja uma histó-
ria mitológica a seu respeito. Representa a explosão vegetal da
terra fecundada e é relacionada com a tenacidade e a cautela.
LEÃO
Caracterizado pelo Sol e pelo fogo. O leão representado
nessa constelação é, tradicionalmente, o leão de NEMÉIA, de pele à
prova de ferro, bronze e pedra; HÉRACLES (ou Hércules) o matou, per-
dendo um dedo entre seus dentes. Simboliza a ação do fogo ex-
terno (em contraposição ao fogo interior de Áries) que amadurece
os frutos; representa, também, o emprego da razão a serviço
da crítica.

VIRGEM
Caracterizado por ´Mercúrio e pela terra. Sua história mi-
tológica, de acordo com HESÍODO, é a seguinte: Virgem (também cha-
mada ASTRÉIA) era filha de Júpiter e Têmis e era deusa da justiça;
quando terminou a idade áurea e o homem desafiou-lhe a regência,
ela, desgostosa, retornou ao céu. Simboliza a esposa virginal do
Fogo; representa também, a colheita dos frutos maduros e o tra-
ço fundamental é o espírito analítico.

LIBRA
Caracterizado por Vênus e o ar. Não existe mito antigo a
respeito dessa constelação. Todavia, ela era associada, na Babilônia,
com o julgamento dos vivos e mortos quando ZIBANITU, a Balança,
pesava as almas; no Egito, a colheita era pesada quando a Lua
estava cheia em Libra. Simbolizava o equilíbrio entre as forças
construtivas e as destrutivas; representa também, o fruto na
plena maturidade.

ESCORPIÃO
Caracterizado por Plutão (e, tradicionalmente, por Marte) e
pela água. Sua história mitológica é a seguinte: por ordem de Juno
(ou Hera), o Escorpião ergueu-se da terra, para atacar ORION; levou,
também os cavalos do Sol a disparar, ao serem conduzidos, certo
dia, pelo menino FAETONTE; Júpiter (ou Zeus) puniu-o duramente, atin-
gindo-o com um raio. Simboliza a desagregação dos elementos
da construção vital e a queda do Sol para outro hemisfério;
representa também, emoções e sentimentos poderosos rancor
obstinação.

SAGITÁRIO
Caracterizado por Júpiter e pelo fogo. Sua história mitoló-
gica é a seguinte: Sagitário, com suas duas faces, animal e humana,
era o centauro QUÍRON, que educou JASÃO, AQUILES e ENÉIAS; famoso
como médico, profeta e estudioso, era filho de Filira e de Cronos
(também pai de Zeus); Cronos, surpreendido no ato gerador, trans-
formou-se num garanhão e partir a galope, abandonando Filira; esta,
desgostosa com o filho metade homem e metade cavalo, transfor-
mou-se numa tília. Simboliza o espírito que se desprende do cor-
po e paira no ar, enquanto a natureza, pela desagregação dos
elementos, morre lentamente; representa também, a mente aber-
ta e o julgamento crítico.

CAPRICÓRNIO
Caracterizado por Saturno e pela terra. Suas associações
mitológicas são incertas, embora haja uma leve referência Pã, cuja
mãe saiu correndo ao ver-lhe a feiúra, mas cujo sucesso com as
ninfas era indiscutível; o antigo deus sumério Ea, rei do oceano, era
conhecido como “o antílope do oceano subterrâneo”, o bode com
cauda de peixe, chamado “kusarikku”, o bode-peixe. Simboliza a
morte de toda a natureza, quando toda a massa da terra está
passiva e inerte, mas fecundável; representa, também a deter-
minação e a perseverança.

AQUÁRIO
Caracterizado por Urano (e, tradicionalmente por Saturno)
e pelo ar. Não há mitos evidentes relativos a Aquário; o deus HAPI,
vertendo água de dois jarros, era um símbolo antigo no Rio Nilo,
enquanto o deus sumério Ea, às vezes era chamado “o deus com
jatos de água”, o nome babilônico de Aquário, GULA, era, inicialmen-
te, associado com a deusa do parto e da cura. Simboliza a
reconstituição dos elementos construtivos, impregnando a ater-
ra com a seiva revitalizadora; representa, também, o sentido
humanitário e prestativo.

PEIXES
Caracterizado por Netuno (e, tradicionalmente por Júpiter)
e pela água. Sua história mitológica é a seguinte: apavorados com
o gigante TIFÃO, VÊNUS e CUPIDO (Afrodite e Eros) atiraram-se no rio
Eufrates e transformaram-se em peixes; Minerva (Atena), comemo-
rando o fato, colocou os peixes no céu. Simboliza a ressurreição
da terra vitalizada, com o novo advento da Luz, representa, tam-
bém o desprendimento das coisas materiais.

Nota-se assim, a estreita relação mística dos signos


zodiacais com as constantes mortes e ressurreições da natureza,
simbolizadas pelo ciclo imutável dos vegetais (lenda de Dumuzi, dos
sumérios, e de Deméter dos gregos) e pela ave Fênix, que renasce
das próprias cinzas. Graças a essa relação, os signos zodiacais
simbolizam, na Maçonaria Simbólica, todo o caminho místico per-
corrido pelo iniciado, desde o seu ingresso na Ordem, como Apren-
diz, até ao acme de sua trajetória, no grau de Mestre; as colunas
zodiacais, encontradas nas Lojas maçônicas de alguns ritos, e que
possuem, em seu topo, os pentaclos (representações dos signos,
com seus elementos e planetas respectivos), simbolizam essa traje-
tória.
A relação mística entre os signos e a senda iniciática é feita
da seguinte maneira:

Áries: por representar o fogo interior do homem, a força


que estimula o crescimento e o desenvolvimento, simboliza o fogo
interno, o ardor incontido do candidato da iniciação maçônica,
ou seja, à procura da Luz. É o passo inicial da renovação da natu-
reza pelo fogo, que é o elemento de Áries (não nos esquecemos da
máxima hermética rosa-cruz, utilizada na Maçonaria de que o fogo
renova a natureza inteira: IGNE NATURA RENOVATUR INTEGRA).
Touro: por representar a natureza, pronta para a fecunda-
ção, simboliza que o candidato, depois de ser convenientemen-
te preparado, foi admitido às provas da iniciação.
Gêmeos: por representar a terra já fecundada pelo fogo, a
vitalidade criadora, simboliza o recebimento da Luz pelo candi-
dato.
Câncer: por representar o renascimento da vegetação, a
seiva estuante da vida simboliza a instrução do iniciado e a ab-
sorção, por ele, dos conhecimentos iniciáticos da Maçonaria; e
a sabedoria representa a ressurreição da natureza, ou em última
análise, o renascer do espírito.
Leão: por representar a ação do fogo externo (o Sol), que
amadurece os frutos, e o emprego da razão a serviço da crítica,
simboliza o juízo crítico e racional, que o iniciado faz, sobre
todos os conhecimentos que adquiriu aprendendo, com méto-
do, a selecionar todas aquelas idéias que lhe puderem ser úteis.
Virgem: por representar a colheita madura, simboliza o
aperfeiçoamento do iniciado, ou seja, depois de ter julgado,
racionalmente os ensinamentos que recebeu, o iniciado já pode
se dedicar ao desbastamento de Pedro Bruta, que é o seu pró-
prio aperfeiçoamento moral e espiritual.
Libra: por representar o equilíbrio entre as forças constru-
tivas e destrutivas (a maturidade total do fruto, equilíbrio entre o
viço e o apodrecimento), esse signo relaciona-se com a Dualidade
do Grau de Companheiro; simboliza o Companheiro, na plena
maturidade de sua escala, pronto a desenvolver todo o seu
potencial de trabalho.
Escorpião: por representar a desagregação dos elemen-
tos, a perda da luz do Sol, a morte da natureza, enfim, simboliza a
morte do artífice Hiram, assassinado pelos três maus Compa-
nheiros, de acordo com a lenda do grau de Mestre (decalcada na
lenda da morte do Sol, ou lenda de Osíris).
Sagitário: por representar a natureza morta e o espírito
animador que se destaca do corpo, simboliza a procura do corpo
de Hiram assassinado e o lamento de todos os obreiros pela
perda do Mestre e da Palavra.
Capricórnio: por representa a terra inerte, mas fecundável,
ou seja, a esperança de nova ressurreição, simboliza a descoberta
do local em que o Mestre Hiram foi sepultado pelos três Com-
panheiros que o assassinaram.
Aquário: por representar a reconstituição dos elementos
construtivos, preparando uma nova geração da vida, na terra ainda
inerte, simboliza a cadeia que todos os obreiros fazem no sen-
tido de que o corpo de Hiram, retirado de seu túmulo, possa
ressurgir, ressuscitar num plano mais elevado (já que Hiram,
como Osíris, simboliza a Luz do Sol, essa cerimônia é similar ao
culto mitráico feito pela volta da luz solar: o Natalis Invicti Solis).
Peixes: por representar a total ressurreição da natureza,
com a volta do reino da Luz, simboliza o renascimento de Hiram
Abi e o reencontro da Palavra Perdida; na realidade, do ponto de
vista místico, como na lenda de Osíris, esse renascimento não é,
evidentemente, no plano material, mas sim, no espiritual. É a volta
do Sol e da vida, prontos para mais um ciclo19.

19
Para maiores detalhes sobre a Astrologia e a Maçonaria, ver, do mesmo autor
deste, MAÇONARIA E ASTROLOGIA. São Paulo: Editora Landmark – 2a. edição revisada; 2002.
11
Considerações Finais

A Maçonaria, através da esmagadora maioria de seus ritos


iniciáticos, é, sem dúvida, uma Ordem teísta e, como tal, carrega
uma carga de misticismo, que vem até de eras longínquas. Isso,
todavia não autoriza, a ninguém, a apressada conclusão de que ela
é multimilenar, pois, historicamente, isso é uma falsidade. Isso é,
todavia, o que fazem alguns autores fantasistas, os quais, sem qual-
quer pesquisa histórica profunda, situam as origens da instituição
maçônica em remotos tempos da Humanidade.
FINDEL, pesquisador alemão racional e considerado autênti-
co pela comunidade científica maçônica internacional, situa muito
bem essa preocupação em tornar vetusta uma Ordem que, real-
mente, não tem mil anos:

A história da Franco-Maçonaria, rodeada, durante alguns


tempos, por um véu misterioso, tido por suspeitosa, e des-
virtuada pela calúnia, só se apóia em bases sólidas e em
princípios científicos, depois de uma época recente e gra-
ças aos estudos de alguns Irmãos isentos de todo o espí-
rito de exagero. Envaidecidos pela preocupação de que a
origem da instituição é sumamente antiga, muitos se es-
forçam por confundir sua original ilustração com a de ou-
tros, poucos escrupulosos, e se deixam levar pelo erro a
respeito de que existe em certos símbolos antigos e nos
costumes das lojas e dos antigos mistérios. Em vez de ave-
riguarem como se introduziram tais costumes na Franco-
Maçonaria, preferem aceitar a hipótese de que são eles
que derivam da instituição.

Sendo uma ordem iniciática, a Maçonaria tem tido a neces-


sidade de armar um sistema místico de doutrinação, através de vá-
rios símbolos e de diversas práticas ritualísticas. Os símbolos po-
dem ser objetos, figuras, ou imagens mentais alusivas a algum sen-
tido moral, sendo encontrados em todas as organizações iniciáticas
e religiosas. Um símbolo, tomado do ponto de vista místico, é a afir-
mação discreta da verdade revelada.
É através do simbolismo que a instituição maçônica trans-
mite, aos seus iniciados, a tradição – geralmente mística – e a ciên-
cia, sistematizadas nos diversos graus de um rito.
Todo símbolo, qualquer que seja a sua espécie, pode ser
considerado sob três diferentes aspectos, de acordo com a sua
interpretação: literal, figurado e oculto. De acordo com o sentido
literal, o objeto é apresentado em suas generalidades, sem qual-
quer representatividade, ou ilação; por exemplo: literalmente, a ban-
deira de um país, ou o estandarte de uma loja maçônica, nada mais
são do que pedaços de pano. No sentido figurado, o objeto, pelas
suas propriedades intrínsecas, representa uma idéia, a partir do
pensamento que desperta; sob essa interpretação, a bandeira de
um país já passa a representá-lo em suas particularidades, diferen-
ciando-o dos demais, o mesmo acontecendo com o estandarte do
exemplo anterior, que passa a representar uma loja, em particular.
No sentido oculto, o símbolo encerra uma profunda verdade moral
totalmente distinta do sentido figurado, e só revelado aos iniciados:
é o sentido mais utilizado na Maçonaria seguido pelo figurado, pois
o literal jamais é considerado.
O simbolismo, evidentemente, remonta à mais alta antigui-
dade, daí ma relação da Maçonaria com as antigas civilizações ori-
entais; ele encerra profundas verdades belos segredos morais e
espirituais, além de ensinamentos que só devem ser conhecidos
através da iniciação sistemática e progressiva, que é a única e ver-
dadeira escola da perfeita sabedoria.
Os símbolos representam, assim a maneira velada com que
a Ordem maçônica procura mostrar as grandes verdades do Uni-
verso, dentro das concepções mentais e metafísicas, não podendo,
o seu estudo sistemático, ser postergado pelos iniciados, pois o
simbolismo é a síntese da sabedoria humana, no caminho
transcendental da procura da Verdade única e absoluta, sem ele a
Maçonaria tornar-se-ia um corpo sem cérebro, robotizado e sem
faculdades intuitivas.
Deve-se, todavia, salientar que, apesar de todos esse mis-
ticismo necessário para a transmissão da tradição e da ciência
iniciática, a Maçonaria não é, em sua atuação, de maneira alguma,
uma Ordem mística, já que, sendo uma instituição regida pela
racionalidade e pelo espírito evolutivo, não pode permitir que o mis-
ticismo sobrepuje a razão crítica, pois ele pode servir de meio para
os diversos ensinamentos, mas nunca de meta para uma instituição
de alto nível cultural como a Maçonaria.
Os irmãos SCHREIBER, violentos críticos alemães das socie-
dades secretas, afirmam, referindo-se ao grande pesquisador ale-
mão Lessing, que ele “ficou desagradavelmente intrigado com os
acessórios místicos alquimistas e com o formulário das bagatelas
cheio de mistérios da Maçonaria, e nós dizemos que a desilusão
foi alta, para não a classificarmos de indignada, e não nos falsea-
remos na presunção de que ambos se inscreveram na Maçonaria,
partindo de suas próprias idéias filosóficas, do que para ali, as ad-
quirirem”.
Ora, em primeiro lugar, existe uma certa presunção dos
autores, ao julgar o que Lessing, um espírito lúcido, poderia ter pen-
sado, e colocando, em seu cérebro, aquilo que eles mesmos, inimi-
gos das sociedades secretas pensam. Em segundo lugar, Lessing
foi maçom no glorioso “século das Luzes”, ao lado de outros gran-
des intelectuais alemães, como GOETHE e HERDER, e, como esses, ti-
nha a cultura suficiente para saber que o misticismo maçônico era,
somente um meio e não um fim. Se assim não fosse, não teria a
Ordem maçônica atraído desde o século XVIII os maiores nomes da
cultura européia.
Muitos outros inimigos da Maçonaria sempre usaram, para tecer
suas críticas a ela, o decantado segredo maçônico – que, verdadei-
ramente, se limita aos sinais de reconhecimento, pois, de posse
deles, qualquer pessoa poderia ingressar numa assembléia de
maçons – e o misticismo que o cerca. Esquecem-se, talvez, tais
críticos, de que, em todas as manifestações metafísicas do ser hu-
mano, existe o misticismo e nem sempre como meio, mas, sim, como
finalidade.
A respeito disso, ALBERT PIKE, acatado pesquisador norte-ame-
ricano, do século XIX, diz o seguinte, em sua obra MORALS AND DOGMA
OF THE ANCIENT AND ACCEPTED SCOTTISH RITE OF FREEMASONRY:

Através do véu de todas as alegorias hieráticas e místicas


dos dogmas antigos, sob a chancela de todas as obras
sagradas, nas ruínas de Nívine ou de Tebas, nas pedras
corroídas dos templos na face enegrecida das esfinges
assírias e egípcias, nas maravilhosas páginas dos Vedas,
nos estranhos emblemas de nossos livros de Alquimia e
nas cerimônias de recepções praticadas por todas as so-
ciedades misteriosas, encontram-se vestígios de uma dou-
trina, que é, sempre a mesma, guardada zelosamente. A
filosofia oculta era a deusa-mãe de todas as religiões, a
alavanca secreta que movia as forças intelectuais, a chave
de todas as divindades, incompreensíveis, e a Rainha Ab-
soluta da Sociedade, enquanto foi patrimônio dos sacer-
dotes e dos reis.

Ai está a realidade, já delineada acima: o psiquismo huma-


no tem sido, sempre, receptivo ao misticismo, para compreender
uma doutrina de moral e de espiritualidade, que, em última análise,
é um patrimônio comum a todas as sociedades iniciáticas e a todas
as religiões: a filosofia oculta.
Assim, do ponto de vista místico, a Maçonaria seria uma
escola iniciática, que predispõe o espírito de seus iniciados à com-
preensão do Absoluto.Todavia, se só essa fosse a sua finalidade,
ela seria, simplesmente uma seita contemplativa, e, realmente, des-
tituída de fins práticos embora altamente espiritualizada.
Na verdade, na Maçonaria, cada iniciado age, com plena
consciência, na esfera de ação que lhe é apropriada, consagrando
sua vida e devotando os seus esforços à concretização da Grande
Obra do Sol, que diferentemente da Alquimia, simboliza o aperfei-
çoamento individual do ser humano e, por extensão o aperfeiçoa-
mento de toda a espécie humana.
O Principal objetivo da atividade maçônica é a busca in-
cessante da Verdade, que conduz a Luz; e essa verdade pode ser
moral, espiritual ou mental, em suma, mas pode ser também, a ver-
dade social, a verdade política, a verdade, enfim, da Liberdade e do
bem-estar material dos povos, pois a Maçonaria, embora tenha sua
filosofia estribada no misticismo, é na realidade, uma reformadora
social. Nascida na esteira dos idéias liberais e libertários da huma-
nidade, numa época de absolutismo e de dogmatismo clerical, a
Maçonaria colocou-se na vanguarda, não só do renascimento cul-
tural e científico (o que valeu as iras do Santo Oficio contra os seus
membros), mas, também na da luta pelas grandes reformas sociais,
através da sua decisiva participação nos grande movimentos de
libertação humana, de sua presença nos conflitos de idéias e de
sua importante intervenção na solução dos grandes problemas in-
ternacionais.
Não sendo órgão de nenhum partido político e nem de qual-
quer agrupamento social, ela firmou o seu propósito de estudar e
impulsionar todos os problemas referentes à vida humana, com a
finalidade de assegurar a Paz, a Justiça e a Fraternidade entre to-
dos os homens e povos, independentemente de raça, cor, credo
religioso, ou nacionalidade.
Bibliografia Sumária

Os paralelismos e as conclusões existentes nesta obra são


o fruto de pesquisas e opiniões pessoais do autor; o texto descriti-
vo, obviamente, foi haurido em diversas fontes bibliográficas. São
incontáveis as obras que tratam, especificamente, de cada um dos
assuntos aqui abordados; delas, as principais que poderão forne-
cer maiores subsídios específicos são:

AYMARD, A e AUBOYER, J. – L’Orient et la Grèce Antique : Histoire Générale des


Civilisation – Tomo I ; Paris: s.d. 1953.
BERTHOLET, A. - Histoire de la Civilisatión d’Israel. Paris: s.d. 1929.
BOUCHER, Jules - La Symbolique Maçonnique – Paris: Dervy Livres; 1953.
BREASTED – Ancient Records of Egypt – Chicago: s.d. 1906.
CASTELLANI, J. – Shemná Israel (A Civilização Hebraica e sua influência no Mundo
Conteporâneo) – São Paulo: Gazeta Maçônica, 1977.
CHEVILLON, C. - Le Vrai Visage de La Franc-Maconnerie – Lion: s.d., 4.a. edição, 1955.
CHOURAQUI, A. – Histoire du Judaisme – Col. « Que sais-je? » Paris: s.d., 1960.
CONTENAU, G. – La divination chez les Assyriens et les Babyloniens – Paris: s.d.,
1940.
CONTENAU, G. e CAPART, J. – Historie de l’Orient Ancien – Paris: s.d., 1936.
DELAPORTE, L.- La Mésopotanie, Les Civilisation Babyloniense et ASSYRIENNE – Paris:
s.d., 1923.
DRIOTON, Contenau e DUCHESNE, Guillemin – Les Religions de l’Orient Ancien –
Paris: s.d., 1957.
ERNAN, A. E RANKE, H. – La Civilisatión Egyptienne – Paris: s.d., 1952.
FOUGÉRES, G. , CONTENAU, G. e JOUGUET. P. – Les Première Civisations – Paris: s.d.,
1929.
GOULD, R. F. – History of Freemasony – Londres: s.d., 3.a. ed., 1951.
HALL, H. R. e WOOLLEY, C. L. – Ur Excavatinos – Londres: s.d., 1927.
HUTIN, S. – Les Sociétés Secrètes – Paris: s.d., 5.a. ed., 1953.
JONES, B.E., - The Fremason’s Guide and Compedium – Londres: s.d., 1950.
LACHAT, L. – La Franc-maçonnerie Opérative – Lions: s.d., 1934.
LAGRANGE, M. J., - Etudes sur les Regions Sémitiques – Paris: s.d., 1905.
LEVI, E. – Dogma e Ritual da Alta Magia – São Paulo: s.d., 1971 – tradução do original
em Francês.
LEVI, E. – A Chave dos Grandes Mistérios – São Paulo: s.d. 1973.
MASPERO, G. – Histoire Ancienne des Peuyples de l’Orient – Paris: s.d., 1927.
MORET, A. – Rois et Dieux d’Egypte – Paris: s.d., 1911.
________ – Le Rituel du Culte Divin Journalier en Egypte – Paris: s.d., 1902.
MORGAN, J. – La Pré-histoire Orientale – Paris: s.d., 1927.
NAUDON, P. – Les Origines Religieuses et Corporatives de La Franc-maçonnerie – Paris:
s.d., 1953.
PALOU, J. – La Perse Antique - Col. « Que sais-je? » – Paris: s.d., 1926.
PARKER, D. – The Complet Astrologer – Londres: s.d., 1971.
PARROT, A. – Archéologie Mésopotamienne – Paris: s.d., 1946.
________. – Le Temple de Jérusalem – Paris: s.d., 1954.
PIKE, Albert – Morals and Dogma os the Ancient and Accepted Scottish Rite; Charleston:
s.d., 1871.
QUILES, I. – Filosofia Budista – Buenos Aires: s.d., 1968.
ROSTOVIZEFF – A History os the Ancient World – Oxford: s.d., 1926.
SAINTRE FARE CARNOT, J. – La Vie Religieuse de l’Ancienne Egypte – Paris: s.d.,
1948.
SÉROUYA, H. – La Kabbale – Paris: s.d., 1957
________. – Le Mysticisme – Paris: s.d., 2.a. ed., 1961.
SCHUCHARDT, W. – Arqueologia (tradução do original alemão para Enciclopédia
Meridiano – Lisboa: s.d., 1972.
SÉVERYNS, A. – Grèce et Orient Homére – Paris: s.d., 1960.
VAROLLI, F°. T. – Curso de Maçonaria Simbólica - tomo I e tomo II - São Paulo: Gazeta
Maçônica,1976.
VIROLLEAUD, C. – L’Astrologie Caldéenne – Paris: s.d., 1912.
WIRTH, O. – Le Symbolisme Hermétique dans ses Rapports aver l’Alchimie et la Franc-
maçonnerie – Paris: s.d., 2.a. ed. 1931.
WOOLLEY, L. – Ur en Chaldée – Paris: s.d., 1938.

Obras do Autor José Castellani

I- LIVROS

1. Os Maçons que Fizeram a História do Brasil – São Paulo: A Gazeta Maçônica; 1a. ed.
1973; 2a. ed. 1989.
2. Shemá Israel – São Paulo: A Gazeta Maçônica; 1977.
3. A Ciência Maçônica e as Antigas Civilizações - São Paulo: Resenha Universitária;
1a. ed. 1977; Traço; 2a. ed. 1980.
4. São Paulo na Década de 30 – São Paulo: Policor; 1978.
5. A Maçonaria e sua Política Secreta - São Paulo: Traço; 1981.
6. Origens do Misticismo na Maçonaria - São Paulo: Traço; 1a. ed. 1982; A Gazeta
Maçônica; 2a. ed. 1995.
7. Liturgia e Ritualística do Grau de Aprendiz Maçom - São Paulo: A Gazeta Maçôni-
ca; 1a. ed. 1985; 2a. ed. 1990.
8. A Maçonaria Moderna - São Paulo: A Gazeta Maçônica; 1986.
9. Liturgia e Ritualística do Grau de Companheiro Maçom - São Paulo: A Gazeta Ma-
çônica; 1986.
10. Consultório Maçônico – Vol. I – Londrina: A Trolha; 1a. ed. 1987; 2a. ed. 1990.
11. Liturgia e Ritualística do Grau de Mestre Maçom - São Paulo: A Gazeta Maçônica;
1987.
12. José Bonifácio, um Homem Além do seu Tempo - São Paulo: A Gazeta Maçônica;
1988.
13. O Rito Escocês Antigo e Aceito – História, Doutrina e Prática. - Londrina: A Trolha;
1988.
14. O Mestre Instalado – São Paulo: A Gazeta Maçônica; 1989.
15. Dicionário de Termos Maçônicos - Londrina: A Trolha; 1a. ed. 1989; 2a. ed. 1994.
16. A Maçonaria e o Movimento Republicano Brasileiro - São Paulo: Traço; 1989.
17. Consultório Maçônico – Vol. II - Londrina: A Trolha; 1990.
18. Dicionário Etimológico Maçônico – Vol. I: A, B, C - Londrina: A Trolha; 1990.
19. Dicionário Etimológico Maçônico – Vol. II: D, E, F, G - Londrina: A Trolha; 1990.
20. Rito Moderno: a Liberdade Revelada (co-autoria com Frederico Guilherme Costa)
- Londrina: A Trolha; 1991.
21. Manual do Rito Moderno (co-autoria com Frederico Guilherme Costa) - São Paulo:
A Gazeta Maçônica; 1991.
22. Curso Básico de Ritualística - Londrina: A Trolha; 1a. ed. 1991; 2a. ed. 1994.
23. Origens Históricas e Místicas do Templo Maçônico - São Paulo: A Gazeta Maçôni-
ca; 1991.
24. Dicionário Etimológico Maçônico - Vol. III: H, I, J, L - Londrina: A Trolha; 1991.
25. O Mestre Secreto (co-autoria com Francisco de Assis Carvalho) - Londrina: A
Trolha; 1991.
26. A Conjuração Mineira e a Maçonaria que não Houve (co-autoria com Frederico
Guilherme Costa) - São Paulo: A Gazeta Maçônica; 1992.
27. Consultório Maçônico - Vol. III - Londrina: A Trolha; 1992.
28. Dicionário Etimológico Maçônico - Vol. IV: M, N, O, P - Londrina: A Trolha; 1992.
29. Cartilha do Aprendiz Maçom - Londrina: A Trolha; 1a ed. 1992; 2a ed. 1997; 3a ed.
2001.
30. Os Maçons na Independência do Brasil - Londrina: A Trolha; 1993.
31. História do Grande Oriente do Brasil – A Maçonaria na História do Brasil – Brasília:
Gráfica do Grande Oriente do Brasil; 1993.
32. A Maçonaria e sua Herança Hebraica - Londrina: A Trolha; 1993.
33. Dicionário Etimológico Maçônico – Vol. V: P, Q, R, S - Londrina: A Trolha; 1994.
34. A Cadeia Partida - Londrina: A Trolha; 1994.
35. História do Grande Oriente de São Paulo - Brasília: Gráfica do Grande Oriente do
Brasil; 1994.
36. Consultório Maçônico - Vol. IV - Londrina: A Trolha; 1994.
37. Dicionário Etimológico Maçônico - Vol. VI: T, U, V, X, Y, Z - Londrina: A Trolha; 1995.
38. História da Cisão de 1927 (plaquete) – Rio de Janeiro: Supremo Conselho do
Brasil para o R.E.A.A; 1995.
39. Análise da Constituição de Anderson (co-autoria com Raimundo Rodrigues) - Lon-
drina: A Trolha; 1995.
40. Manual Heráldico do Rito Escocês Antigo e Aceito – Vol. I: Graus 01 a 18 (co-
autoria com Cláudio Roque Buono Ferreira) - São Paulo: A Gazeta Maçônica; 1995.
41. Do Pó dos Arquivos - Londrina: A Trolha; 1995.
42. Amizade: a Primeira Loja Maçônica na História de S. Paulo (co-autoria com Cláu-
dio Roque Buono Ferreira) - São Paulo: Amizade; 1996.
43. A Maçonaria e a Questão Religiosa - Londrina: A Trolha; 1996.
44. Do Pó dos Arquivos – Vol. II - Londrina: A Trolha; 1996.
45. Grande Oriente de S. Paulo, 75 anos – Um Resumo de sua História (co-autoria
com Cláudio Roque Buono Ferreira) - São Paulo: Grande Oriente de São Paulo; 1996.
46. Manual Heráldico do Rito Escocês Antigo e Aceito – Vol. II: Graus 19 a 33 - São
Paulo: Madras; 1997.
47. O Cavaleiro Rosa-Cruz - Londrina: A Trolha; 1997.
48. Maçonaria e Astrologia - São Paulo: Madras; 1a. ed. 1997.
49. Histórias Pitorescas de Maçons Célebres – Londrina: A Trolha; 1997.
50. Consultório Maçônico – Vol. V - Londrina: A Trolha; 1997.
51. Os Maçons e a Abolição da Escravatura – Londrina: A Trolha; 1998.
52. Cartilha do Companheiro Maçom (co-autoria com Raimundo Rodrigues) – Londri-
na: A Trolha; 1998.
53. Consultório Maçônico – Vol. VI – Londrina: A Trolha; 1998.
54. Manual do Mestre Instalado – Londrina: A Trolha; 1999.
55. Fragmentos da Pedra Bruta – Vol. I – Londrina: A Trolha; 1999.
56. Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito – Síntese de sua
História – Londrina: A Trolha; 2000.
57. Piratininga: História da Loja Maçônica Tradição de S. Paulo – São Paulo: OESP;
2000.
58.Coletânea de Trabalhos – São Paulo: Copy Market – edição eletrônica; 2000.
59. Consultório Maçônico – Vol. VII – Londrina: A Trolha; 2000.
60. A Maçonaria na Década da Abolição e da República – Londrina: A Trolha; 2001.
61. Fragmentos da Pedra Bruta – Vol. II – Londrina: A Trolha; 2001.
62. Do Pó dos Arquivos – Vol. III – Londrina: A Trolha; 2001.
63. A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial – São Paulo: Landmark; 2001.
54. Consultório Maçônico – Vol. VIII – Londrina: A Trolha; 2002.
55. Manias e Crendices em Nome da Maçonaria – Londrina: A Trolha; 2002.
56. Maçonaria e Astrologia - São Paulo: Landmark; 2a ed. 2002.

EM PREPARO:

A Cartilha do Mestre.
Dicionário de Alegorias e Símbolos Maçônicos.
A Loja Maçônica e suas Origens.
Shemá Israel: A Civilização Hebraica e sua Influência no Mundo Moderno.

II - PARTICIPAÇÕES EM COLETÂNEAS:

Formação Social da Maçonaria – Rio de Janeiro: Academia Brasileira Maçônica de


Letras; 1983.
Cadernos de Pesquisas Maçônicas Vol. X – Loja de Pesquisas Brasil; 1995.
Anuário da Loja de Pesquisas Maçônicas do Grande Oriente do Brasil – Brasília: Gráfica
do Grande Oriente do Brasil; 1996.
Anuário da Loja de Pesquisas Maçônicas do Grande Oriente do Brasil – Brasília: Gráfica
do Grande Oriente do Brasil; 1997.
Anuário da Loja de Pesquisas Maçônicas Quatuor Coronati do Brasil (Antiga Loja de
Pesquisas do Grande Oriente do Brasil) - Brasília: Gráfica do Grande Oriente do Brasil;
1999.
Anuário da Loja de Pesquisas Maçônicas Quatuor Coronati do Brasil – Brasília: Gráfi-
ca do Grande Oriente do Brasil; 2000.
Anuário da Academia Maçônica de Artes, Ciências e Letras – São Paulo: 2001.
Episódios da História Antiga e Moderna da Maçonaria - Rio de Janeiro: Academia
Brasileira Maçônica de Letras; 1987.
História Política da Maçonaria - Rio de Janeiro: Academia Brasileira Maçônica de
Letras; 1987
Caderno de Pesquisas Maçônicas Vol. I – Loja de Pesquisas Brasil; 1989.
Caderno de Pesquisas Maçônicas Vol. II – Loja de Pesquisas Brasil; 1990.
Caderno de Pesquisas Maçônicas Vol. IV – Loja de Pesquisas Brasil; 1992.
Caderno de Pesquisas Maçônicas Vol. V – Loja de Pesquisas Brasil; 1993.
Coletânea da Trolha - Londrina: A Trolha; 1993.
Cadernos de Pesquisas Maçônicas Vol. VI - Loja de Pesquisas Brasil; 1994.
20 de Agosto - Londrina: A Trolha; 1994.
A Cor Vermelha do Rito Escocês – Londrina: A Trolha; 1994.
Cadernos de Pesquisas Maçônicas Vol. VII – Loja de Pesquisas Brasil; 1995.

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