Educação Patrimonial No Ensino de Arte
Educação Patrimonial No Ensino de Arte
Educação Patrimonial No Ensino de Arte
Porto Alegre
2013
ALINE DE CARVALHO ZYDEK SUPERTI
Porto Alegre
2013
ALINE DE CARVALHO ZYDEK SUPERTI
Banca examinadora
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8
1 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E PATRIMÔNIO ..................................................... 12
1.1 PATRIMÔNIO: SUA ORIGEM NA EDUCAÇÃO ........................................ 13
1.2 POLITICAS E INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO E SALVAGUARDA
PATRIMONIAL ......................................................................................................... 17
2. CONCEITO DE PATRIMÔNIO MATERIAL E PATRIMÔNIO IMATERIAL ........... 19
2.1 A FUNÇÃO DO MONUMENTO COMO OBRA ARTÍSTICA ...................... 23
3 OLHAR O PATRIMÔNIO ATRAVÉS DA SIGNIFICAÇÃO PESSOAL ................. 25
3.1 O PARQUE MOINHOS DE VENTO: UM PÁTIO PARA A ESCOLA. ...... 28
4 PROJETO PEDAGÓGICO – MEU MONUMENTO, NOSSO PATRIMÔNIO ........ 32
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 57
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 60
INTRODUÇÃO
8
pública e passa a exercer o papel de marco histórico no campo artístico, quanto ao
observador – aluno, que passa a exercer o papel de curador deste patrimônio.
1
Utilizo o termo cultura regional ou regionalista para referir os costumes tradicionalistas da cultura gaúcha. O
tradicionalismo e o Nativismo gaúcho surgiram da proposição do resgate cultural em torno dos símbolos
formadores de nossa cultura, como as tradições em volta da história regional, como as revoltas e guerras aqui
ocorridas, contadas de forma folclórica e heróica.
9
percebemos hoje e com sua relação no passado. Pretendo enfocar a trajetória do
conceito patrimônio no contexto mundial e brasileiro.
Acredito que a arte quando utilizada como educação, não apenas visual e
estética, mas como exercício do olhar sobre o entorno e contexto da obra através da
história, expressões e fazeres artísticos, contribui na formação social do indivíduo,
valorizando a cultura individual e coletiva na construção de significados que
decodifiquem a imaterialidade do objeto artístico.
11
1 Educação Patrimonial e Patrimônio
12
A sua história em volta da obra, não apenas como um objeto, mas como
um gerador de significados, constrói uma identidade que exerce a experiência
abstrata para o observador. Nesta experiência são registrados a imaterialidade do
objeto artístico como patrimônio.
2
Artigo. Ricardo Oriá. http://www.aprendebrasil.com.br/articulistas/articulista0003.asp acessado em
06/11/2013.
13
aristocrática romana. Conforme Funari “o patrimônio era um valor aristocrático e
privado, referente à transmissão de bens no seio da elite patriarcal romana”.
(FUNARI, 2006, p 11)3
Este sentimento de posse durante a Antiguidade Tardia, entre os séculos
IV e V, recebe um valor simbólico, associado com a religião. A adoração aos santos
e às reliquias sagradas criou a valorização dos lugares, objetos e seus rituais
coletivos. A massiva presença e dominância da igreja, com a sua investidura nos
monumentos religiosos e suas catedrais, possibilitou a formação de valores sociais
compartilhados. O fervor religioso se tornou um destes valores, que constituiu a
igreja como força de poder.
3
FUNARI,Pedro Paulo Abreu. Patrimônio Histórico e Cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.,
2006. P.11
14
Mas foi o surgimento das nações como países que acrescentou ao
conceito de patrimônio uma forma de identificação das posses com seus Estados
Nacionais.
15
Tratar o patrimônio na educação abrange um campo de significados
extensos que requer passos meticulosos. Estes termos, como palavras em
separado, possuem forças de ação específicas. A palavra patrimônio é um
substantivo masculino de origem latina, patrimonium, que vem a ser relativo a tudo o
que pertence ao pai.(FUNARI, 2006, p.11) Induz-nos a ideia de pertencimento,
posse, bem.
O termo patrimônio não adquiri importância apenas por ser uma palavra
com significados de posse. Esta palavra na área das artes constrói através do
estudo sobre os objetos/obras, acompanhado da contextualização histórica, social,
cultural e antropológica um elo com o passado cultural da humanidade,
desenvolvendo uma interação entre o que somos e o que produzimos.
4
Liga das Nações ou Sociedade das Nações, órgão internacional criado com objetivo de manter a paz após a
primeira guerra mundial. Fundada em 28 de junho de 1919 e extinta em 20 de abril de 1946.
17
transformação das cidades, que passaram a apresentar um grande número
populacional e a sua massiva destruição durante as guerras. A preservação estava
centralizada na noção de que o patrimônio era construído pelo senso do belo, como
arte.
18
governo Getúlio Vargas. Esta lei surge devido ao eco emitido pela Europa que
defendia a salvaguarda do patrimônio histórico e artístico.
19
Em meados do século XX a grande preocupação foi com a restauração
de monumentos bombardeados entre as guerras e a preservação de monumentos
removidos devido ao crescimento das cidades. Quando surgiu, o conceito de
patrimônio material girava em torno de bens com atribuição de valor artístico e
histórico, bens físicos como monumentos, castelos e edificações seculares. Este
conceito ainda existe como definição do que pode ser produzido de forma palpável
por uma cultura.
5
IPHAN – INSTITUTO DO PATRIMONIO HISTORICO E ARTISTICO NACIONAL -
http://portal.iphan.gov.br/portal/montarPaginaSecao.do?id=12297&retorno=paginaIphan – acessado
em 06/11/2013.
20
A cultura vem unificar os conceitos de patrimônio material e patrimônio
imaterial, sendo um o complemento do outro. Regina Abreu (ABREU, 2009.p.37)
nos aponta, que a cultura congregava bens materiais e imateriais.
21
acrescentou-se a noção de patrimônio cultural à existência de bens materiais e
imateriais:
Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais
e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização
e a difusão das manifestações culturais.
§ 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares,
indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do
processo civilizatório nacional.
Art. 216. Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material
e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I - as formas de expressão;
II - os modos de criar, fazer e viver;
III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços
destinados às manifestações artístico-culturais;
V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e
protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros,
vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de
acautelamento e preservação. (CONSTITUIÇÃO6 - BRASIL. 1988)
6
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm acessado em 11/11/2013.
22
desses bens culturais. Como aponta Sant’Anna (2009, p.55), os bens culturais de
natureza imaterial são dotados de uma dinâmica de desenvolvimento e
transformações que não cabe nesses conceitos de preservação, sendo mais
importante, nesses casos, registro e documentação do que intervenção, restauração
e conservação.
23
expressões e pelos modos de fazer e criar, além dos modos de viver. Esta
significação cultural estaria representada de forma material no monumento.
A sua função como objeto artístico vai para além da forma e estética, seja
naturalista ou não. Se estabelece em um caráter de lembrança permanente de um
fato. É uma forma cultural de se manter viva a conquista de uma batalha, ou a
colonização de um lugar, por exemplo. A grande função do monumento está
associada a memória, que conforme Jacques Le Goff, é um elemento essencial do
que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, (LE GOFF,2008. p. 469).
O monumento constituído para uma determinada cultura representa
através de sua constituição material uma significação imaterial através de sua
função como memorativo.
24
3 Olhar o Patrimônio através da significação pessoal
7
Utilizo o termo ‘obra’ porque neste projeto e pesquisa serão focalizados objetos e monumentos
considerados como obra artística.
25
significa também estar em plena concordância pela existência destas
obras.”(HERNANDEZ, 2000,p.84).
26
ligado ao programa PIBID UFRGS/ Capes. Este visava o trabalho pedagógico sobre
as obras e monumentos públicos localizados no entorno das escolas participantes,
que se situavam no centro de Porto Alegre.
27
3.1 O Parque Moinhos de Vento: um pátio para a escola.
28
Pensar a história através de símbolos nos faz acessar nosso museu
imaginário. André Malraux, em seu livro, O Museu Imaginário, discorre sobre a
disposição de obras significativas que são capazes de cobrir as falhas da memória.
Em outras palavras, possuímos ao nosso redor, bens que são capazes de contar
esta história, nossa trajetória através de sua forma e objetivos construtórios. Nossa
cidade está repleta destas obras. Atrevo dessa forma chamar a cidade de galeria a
céu aberto, porque ela dispõe aos nossos olhos uma coleção particular da nossa
cultura.
29
IMAGEM 1
Sociedade Derby Club no Prado Independência - 25.05.1904
http://lealevalerosa.blogspot.com.br/2010/05/prados-de-porto-alegre.html –acesso em
20/09/2013
IMAGEM 2
BAIXADA TRICOLOR, Atual Parque Moinhos de Vento, 1930
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Est%C3%A1dio_da_Baixada_-_Moinhos_de_Vento.jpg – acesso
em 20/09/2013
Até a data de 1909, o turfe como esporte, possuía grande importância não
apenas para a cidade de Porto Alegre, mas para a sociedade brasileira dos meados
do século XIX e XX. O surgimento do Turfe não provinha apenas da importância que
o cavalo tem para a cultura gauchesca,“dada a sua importância como meio de
transporte, lazer e grande atuação na guerra, mas pela grande parceria comercial
entre Brasil e Inglaterra, cujos hábitos influenciavam toda a elite.” (BISSON,
2009.p.21)
30
Muitas foram as transformações ocorridas no Bosque Moinhos de Vento.
De todas, a mais significativa para a comunidade escolar, está na transformação do
prado em baixada. A imigração alemã no inicio do século XX, trás à cidade um novo
esporte que vai pouco a pouco transformando a paisagem do prado.
31
4 Projeto Pedagógico – Meu Monumento, Nosso Patrimônio
32
universo simbólico que é a própria base da socialidade estrutural, onde estão as
células do coletivo humano.
A partir deste pensamento, direcionei o exercício do olhar para o
patrimônio público, visualizando o monumento como uma obra que está inserida na
paisagem e perde-se pela poluição visual, misturando-se à natureza. O que torna a
construção da significação de sua imaterialidade quase que uma tarefa de caçada,
buscando desta forma relacionar a sua estética ao local em que se encontra
assentado, levando sempre em conta a busca por traços culturais espalhados entre
o trajeto de origem dos alunos até a escola.
Esta atividade levou os alunos a questionarem porque, em determinados
bairros da cidade, a localização dos monumentos públicos indicados no mapa fora
difícil e sem sucesso. Os estudantes constataram como causa desta dificuldade o
fato de as obras estarem deterioradas e sem preservação.
Estas observações trazidas por adolescentes, que em seu dia a dia
jamais prestariam atenção neste tipo de objetos (os monumentos e obras artísticas)
espalhados pela cidade, comprova que a significação destas obras perdem-se pelo
descaso, o que remete à importância da abordagem de educação patrimonial no
ensino de artes.
Ana Mae Barbosa nos diz em seu livro Tópicos Utópicos, que “não
podemos entender a cultura de um país sem conhecer sua arte” (BARBOSA, 1998,
p. 16). Precisamos refletir sobre o que um monumento pode representar e também
sobre o significado imaterial presente em sua constituição.
A imaterialidade expressa o que somos, onde estamos e como sentimos.
Isso envolveu o estudo detalhado de alguns conceitos e uma pesquisa profunda
sobre os locais onde se situam determinadas obras. O sítio/local no qual está
assentado um monumento público também se torna uma das bases da
compreensão deste significado.
Um dos resultados deste trabalho foi a discussão e estudo sobre dois
importantes monumentos da cidade: O Laçador, de Antônio Caringi e o Monumento
em Homenagem a Castelo Branco de Carlos Tenius, que fora muito lembrando
pelos alunos quando indagados de quais monumentos públicos eles se lembravam.
Em suas mentes vinham este dois, o primeiro por se tratar de um ícone símbolo da
33
cidade de Porto Alegre e que transmite a cultura e tradição local, o segundo por
estar localizado no entorno da escola.
Esta lembrança imediata nos mostra o quanto a localização e o trabalho
da mídia sobre a obra pode vir a representar mais que a sua construção,
começando pela sua composição estética de representar o típico gaúcho dos
pampas em traje campeiro. A obra de Caringi representa uma cultura valorizada. A
significação imaterial que esta obra imortaliza, leva à exploração midiática da obra.
IMAGEM 3
O Laçador, Antônio Caringi. 1954
Escultura, Porto Alegre. RS
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Est%C3%A1tua_do_La%C3%A7ador acesso
em 20/07/2013
34
Porém, a sua localização - o seu sítio - significa não apenas um ponto
turístico, mas as portas de entrada da cidade, capital que fez ressurgir esta cultura
esquecida, até o presente momento de sua construção, retomando uma identidade.
Esta identidade não é apenas difundida pelo monumento, mas pela cultura que o
próprio monumento representa.
IMAGEM 4
Carlos Tenius. Monumento à Castelo Branco, 1979.
Escultura, Porto Alegre Parque Moinhos de Vento, RS
Arquivo pessoal
35
Partindo das observações feitas pelos próprios alunos, construiu-se no
projeto pedagógico uma ligação entre as obras de Caringi e de Carlos Tenius,
apesar de se tratar de artistas com perfil estético e utilizarem materiais
diferenciados, ocorreu a leitura de significados relevantes a difusão cultural
relacionados a estética de cada uma das obras, levando ao questionamento sobre
qual das duas representaria a cultura através de seus símbolos realísticos, e por
quais razões elas se diferenciavam.
36
Neste novo repertório de imagens, para estabelecer a ligação entre o
passado e o presente dos arredores da escola, introduzi o artista Pedro Weingartner
com sua obra intitulada O Prado de Porto Alegre, de 1922.
IMAGEM 5
O prado de Porto Alegre. Pedro Weingartner, 1922. Óleo sobre tela.
Disponível em http://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Pedro_Weing%C3%A4rtner_-
_Prado_de_Porto_Alegre,_1922.jpg acesso em 10/07/2013.
...O artista parte de um plano pictórico – quer seja uma folha de papel, uma
tela, uma parede – sempre uma superfície de duas dimensões, altura e
largura. Introduzindo nela elementos visuais, linhas, cores, contrastes de
claro/escuro, e em seguida elaborando-os, o artista transformará o espaço
inicial – que apenas mostrava as dimensões de superfície – num espaço de
dimensões mais ricas e diferenciadas e de maiores tensões. Será a imagem
de um espaço expressivo que revelará, através de sua forma final, as
experiências do artista e a sua visão de vida. (OSTROWER, 1983, p.55)
38
Esta projeção feita pelo artista no plano pictórico, no caso dos alunos - é
o papel utilizado como suporte - exercita a noção de espaço e a relação entre o
local e a sua retratação, servindo de estudo para a construção de um novo objeto
artístico, que também acaba por se projetar neste suporte. Desta forma o
artista/aluno tendo as noções espaciais mínimas para diferenciar a perspectiva do
desenho com a perspectiva do local, compreende a formação do processo criativo,
no qual o artista aluno, se utiliza tanto da técnica do desenho, como da percepção
pessoal do local a ser retratado.
IMAGEM 6
Local escolhido pelos alunos para o desenho de observação.
Acervo pessoal. Foto (Aline Zydek Superti)
39
O objetivo desta atividade estava centralizado no reconhecimento do
local, desenhar observando a paisagem, muitos dos alunos preferiram ficar apenas
com a fotografia, e alguns deles utilizaram o recorte fotográfico para executarem o
desenho de observação.
IMAGEM 7
Desenhos de observação de alunos das turma 72 e 73
Acervo pessoal.
40
IMAGEM 8 e IMAGEM 9
Desenhos de observação de alunos das turma 72 e 73
Acervo pessoal.
41
Ana Mae Barbosa diz que estar apto a produzir uma imagem e ser capaz
de ler uma imagem são duas habilidades inter-relacionadas. (BARBOSA, 1998, p
17). Estas duas habilidades de leitura e produção refletem a compreensão cultural
que cada individuo carrega em si.
42
significação dada ao moinho. Na concepção deles, os moinhos podiam ser
movimentados pelos ventos, mas a venda da farinha obtida era transportada pelo
cavalo, sendo de grande importância para o comércio e progresso da região, pelo
ponto de vista dos alunos.
IMAGEM 10
Monumento ao General Bento Gonçalves, Antonio Caringi, de 1935, instalado
inicialmente no Parque Farroupilha, hoje se encontra na Av. João Pessoa ao lado da Praça Piratini
em Porto Alegre
disponível em: http://www.vivaocharque.com.br/interativo/artigo24 acesso em 10/07/2013.
43
IMAGEM 11
Painel do Viaduto Loureiro da Silva, VASCO PRADO, 1970.
Cavalo de bronze.
Disponível em http://mubevirtual.com.br/pt_br?Dados&area=ver&id=497 acesso em 15/08/2013.
IMAGEM 12
Vasco Prado, s/data. Escultura em bronze.
Disponível em http://www.galeriaartequadros.com.br/site/acervo_detalhe_obra.php?id_obra=830
acesso em 28/09/2013
44
Durante o processo pelo qual os alunos buscaram significar um
patrimônio/obra de forma pessoal, através de suas experiências e lembranças
visuais, pude observar a carência de proximidade entre a obra e o observador.
Somo educados a pensar que obra de arte está no museu, nunca em um lugar
público. Portanto este descaso com a obra pública gera a depredação e vandalismo.
E pouco somos instruídos sobre os monumentos, obras que passamos ao lado e
não temos o hábito de observar.
45
entorno da escola. Antes da construção da escultura, os alunos tiveram contato com
a história do lugar e contato com artistas gaúchos responsáveis por alguns
monumentos públicos que estão pela cidade e pelo parque. Seguindo a atividade
anterior, os alunos buscaram significar em imagem toda a história.
IMAGEM 13
Desenho dos projetos desenvolvidos pelos alunos
Acervo pessoal.
46
IMAGEM 13 e IMAGEM 14
Desenho dos projetos desenvolvidos pelos alunos Acervo pessoal.
47
Para a construção do objeto artístico os alunos usariam a técnica de
papel machê8. Nesta proposta os alunos aprenderam a produzir o papel machê para
a construção da escultura, que teria um esqueleto de papel jornal trançado em fita
crepe. Para esta atividade os alunos utilizaram um tempo maior do que o esperado,
sendo utilizadas 10 horas/aulas para a confecção e finalização da escultura.
IMAGEM 15 E IMAGEM 16
Alunas desenvolvendo o esqueleto de seus projetos Acervo pessoal.
8
Papel Machê palavra de origem francesa que significa papel picado, este papel picado é dissolvido
em água aonde adquiriu consistência de polpa, sendo depois coado e misturado a cola ou goma e
gesso. Sua aplicação é muito encontrada em confecção de máscaras e artesanatos.
48
No decorrer desta atividade, os alunos tiveram contato com a construção
de uma escultura partindo de um esqueleto. Para tal construção os esboços
acabaram sendo muitas vezes alterados, pois os alunos tentavam construir de forma
figurativa suas obras. A partir da apresentação de obras de Vasco Prado, os alunos
compreenderam que a atividade não era fechada, a escultura não teria que seguir as
linhas do desenho, e que eles deveriam aprender a contornar os obstáculos
impostos por eles mesmos, pois o esboço partiu de uma apropriação pessoal de
significados.
IMAGEM 17 E IMAGEM 18
Alunas desenvolvendo o esqueleto de seus projetos Acervo pessoal.
49
IMAGEM 19 E IMAGEM 20
Alunos desenvolvendo a segunda etapa do projeto, acrescentando o papel machê, o
gesso e finalizando a obra. Acervo pessoal
50
Com a finalização da obra, foi solicitado aos alunos que defendessem a
colocação de seu Monumento no local indicado, substituindo a obra de Carlos
Tenius. A decisão em retirar - de forma fictícia - o monumento a castelo branco de
Carlos Tenius, ficou a cargo dos alunos, estes durante as suas pesquisas sobre a
transformação do bairro, descobriram que esta obra não tinha um lugar exato para
ser colocada sendo decidido sem consulta popular, pela prefeitura, em assentá-la
neste parque devido ao espaço disponível.
Nestas defesas os alunos utilizaram como motivo principal para que suas
obras, em particular, ocupassem o espaço em que hoje se encontra o Monumento a
Castelo Branco, o fato desta obra, no ponto de vista dos alunos, não estar causando
nenhuma conexão entre o histórico do parque e a sua transformação como bairro.
51
de monumento e sua função como memorial de uma cultura ou fato histórico foram
estabelecidos através da articulação entre imagem e saberes.
52
significação pessoal. Muitos alunos consideraram esta atividade em especial, difícil,
pois representar uma cultura que pertence ao seu grupo social era mais complicado
que representar uma cultura que não os representasse. Pois havia o receio pelo
julgamento entre a forma da escultura apresentada e sua simbologia.
Imagem 21 e imagem 22
Finalização das esculturas em papel machê. Acervo pessoal (foto Aline Zydek Superti)
53
Acredito que todos os pontos que a proposta tinha como objetivo foram
alcançados. A partir das experiências pessoais dos alunos e do olhar pessoal sobre
as obras/monumentos artísticos, eles conseguiram estabelecer uma significação
pessoal sobre sua própria cultura. Além de construírem um sentimento de
pertencimento ao local estudado, eles estabeleceram o exercício de cidadania com a
construção de um monumento que representasse a história local do entorno da
escola.
IMAGEM 23 e imagem 24
Finalização das esculturas em papel machê. Acervo pessoal (foto Aline Zydek Superti)
54
IMAGEM 25 e IMAGEM 26
Finalização das esculturas em papel machê. Acervo pessoal (foto Aline Zydek Superti)
55
IMAGEM 27 e IMAGEM28
Finalização das esculturas em papel machê. Acervo pessoal (foto Aline Zydek Superti)
56
Considerações Finais
57
Mario de Andrade já dizia que arte equivalia à cultura, e que era a
habilidade com que o engenho humano se utiliza da ciência, das coisas e dos
fatos.(ANDRADE, imput. SANT’ANNA, 2009. p.54). Este pensamento norteou minha
pesquisa em educação patrimonial num amplo sentido. A busca por uma definição
do que vem a ser a educação patrimonial esbarrou na necessidade de experiências
que contribuíssem para a compreensão do conceito baseado na pluralidade de
nossas raízes.
58
estágio curricular buscou articular conceitos com a prática, de forma que cada aluno
pudesse construir a significação sobre a razão da existência de obras artísticas
públicas. Sendo que esta significação não possui uma resposta fechada, por
depender da experiência pessoal do observador.
Finalizo este trabalho com a certeza de que após esta pesquisa, passo a
perceber a educação patrimonial como uma importante formadora da cidadania em
prol da valorização da multiculturalidade, e que através dos temas transversais que
os seus conceitos carregam, é possível contribuir para a construção do sentimento
de pertencimento cultural no aluno.
Acredito que como pesquisa, este tema possui uma inesgotável fonte de
referências teóricas e estudos específicos sobre a educação patrimonial no ensino, e
que neste projeto em particular ela centrou-se de forma simplificada e objetiva a fim
de alicerçar em conceitos e teorias a prática pedagógica em torno do tema. Que esta
pesquisa contribua para a reflexão de quem quiser trabalhar com a educação
patrimonial no ensino de artes.
59
REFERÊNCIAS
BRASIL, Luiz Antonio de Assis [et.al]. Antonio Caringi: O Escultor dos Pampas.
Porto Alegre: Nova Prova, 2008.
Disponível em <http://educacaopatrimonial.files.wordpress.com/2010/08/patrimonio-
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60
HERNÁDEZ, Fernando. Cultura Visual, mudança educativa e projeto de trabalho.
Porto Alegre: Artmed. 2000.
LEMOS, Carlos A.C., o que é patrimônio histórico. São Paulo: Brasiliense, 2006.
MEIRA, Marly Ribeiro. A educação estética, arte e cultura do cotidiano. In: PILLAR,
Analice Dutra (org.). A educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre:
Mediação, 1999. Pg. 121-140.
OLIVEIRA, Cléo Alves Pinto de. Educação Patrimonial no IPHAN. - ENAP – Escola
Nacional de Administração Publica – Brasília, 2011. Disponível em:
<http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=1766> Acesso em 11 de
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OSTROWER, Fayga Perla. Universos da Arte. 13ª ed. Rio de Janeiro: Campus.
1983.
SOUZA FILHO, Carlos Frederico Marés de. Bens culturais e sua proteção jurídica. 3ª
edição. Curitiba: Juruá, 2005.
Sites:
62