Economia Política Apostila PDF
Economia Política Apostila PDF
Economia Política Apostila PDF
POLÍTICA
Filipe Prado
Macedo da Silva
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-408-3
CDU 338.2
Introdução
Neste capítulo, você vai ver como a economia política se consolidou
como uma ciência. Para isso, vai conhecer a história dessa disciplina
desde o seu início, no século XVIII. Além disso, você vai se dedicar ao
estudo de conceitos fundamentais para essa área, como os de trabalho,
valor e mercadoria. Por fim, vai explorar os mecanismos que põem em
funcionamento o modo de produção capitalista.
Alguns filósofos, como Georg Lukács, chamaram a economia política de a nova ciência
da sociedade burguesa. Assim, não restam dúvidas de que a economia política clássica
estava vigorosamente alinhada à teoria política liberal ou ao liberalismo clássico. Isso
resultou em categorias e instituições econômicas — dinheiro, capital, lucro, salário,
mercado, propriedade privada, etc. — que, uma vez descobertas pela razão humana
e instauradas na vida social, permaneceriam invariáveis na sua estrutura fundamental.
Essas características indicam o compromisso sociopolítico que a economia política
clássica tinha com a luta da burguesia contra o Estado absolutista e contra as instituições
do antigo regime feudal.
Conceitos fundamentais da economia política 3
É importante você não confundir economia política com política econômica. A eco-
nomia política é um ramo da economia que estuda as relações sociais de produção,
circulação e distribuição das riquezas. A ideia da economia política é definir as leis
econômicas que regem tais relações sociais. Já a política econômica é o conjunto de
medidas assumidas pelo governo de um país com o objetivo de influenciar e atuar sobre
os mecanismos de produção, distribuição e consumo de bens e serviços. O alcance e
o conteúdo de uma política econômica variam de um país para outro, dependendo
do grau de diversificação de sua economia, da natureza do regime social e do nível de
atuação dos grupos de pressão (partidos, sindicatos, etc.). Apesar de dirigida ao campo
econômico, a política econômica também obedece a critérios de ordem política e
social, sendo de três tipos, segundo os objetivos governamentais (SANDRONI, 2005):
1. para fins estruturais;
2. de estabilização conjuntural;
3. de expansão.
A seguir, você pode ver uma síntese de cada uma das três categorias teóricas
da economia política.
6 Conceitos fundamentais da economia política
Trabalho
As condições materiais de existência e reprodução de uma sociedade são
realizadas por meio da atividade denominada trabalho. Em outras palavras,
é o trabalho que dá forma material e imaterial à sociedade capitalista. Isso
significa que o trabalho viabiliza a satisfação das necessidades materiais e
imateriais dos indivíduos que constituem a sociedade. Assim, o trabalho no seu
padrão natural seria aquele em que a sociedade transforma matérias naturais
em produtos que atendem às suas necessidades.
Entretanto, o que a economia política chama de trabalho é algo substan-
cialmente mais complexo do que o trabalho no seu padrão natural. Algumas
questões foram desenvolvidas teoricamente para explicar que o trabalho em
uma sociedade capitalista é muito mais do que o trabalho que opera com uma
ação imediata sobre a matéria natural (PAULO NETTO; BRAZ, 2007). Para
iniciar, o trabalho no capitalismo exige instrumentos que, no seu desenvolvi-
mento, vão cada vez mais se interpondo entre os que o executam e a matéria
natural. Ou seja, o trabalho vai se tornando cada vez mais dependente de
instrumentos/ferramentas específicas.
A segunda questão teórica registrada pela economia política é que o
trabalho não se executa cumprindo determinações genéticas. Ao contrário,
o trabalho passa a exigir habilidades e conhecimentos que se adquirem
inicialmente por repetição e experimentação e que depois se transmitem
mediante aprendizado. Nesse sentido, o aprendizado “não se esgota em formas
fixas”. O capitalismo exige — quase sem limites — o desenvolvimento de
novas formas de trabalho, gerando novas necessidades e, por conseguinte,
novas formas de aprendizado. Logo, a prática do trabalho diferencia-se e
distancia-se do padrão “natural”.
Como destaca Karl Marx (1996), o trabalho é um processo entre o homem e a natu-
reza, um processo em que o homem, por sua própria ação, regula e controla o seu
metabolismo com a natureza. Não se trata das primeiras formas instintivas, animais,
de trabalho. Dessa maneira, pressupomos o trabalho em uma forma em que pertence
exclusivamente ao homem.
Conceitos fundamentais da economia política 7
Lei do valor
O valor é um conceito fundamental da economia política. No sistema capitalista,
as mercadorias são trocadas conforme a quantidade de trabalho socialmente
necessário nelas investida. Essa é a chamada lei do valor, que, como todas as
leis econômico-sociais, não é descolada de uma história, mas tem um âmbito
de validez determinado. Assim, a lei do valor regula as relações econômicas
da produção mercantil no capitalismo.
8 Conceitos fundamentais da economia política
Mercadoria
A mercadoria é uma unidade que sintetiza valor de uso e valor de troca. No
capitalismo, a produção das mercadorias tem como condições indispensáveis a
divisão social do trabalho e a propriedade privada dos meios de produção. Sem
essas condições, produzem-se bens com valores de uso, mas não há produção
dos valores de troca (produção mercantil ou produção de mercadorias).
Segundo Karl Marx (1996), a mais importante característica do capitalismo
é ser um modo de produção de mercadorias. Ou seja, a riqueza das sociedades
em que domina o modo de produção capitalista aparece como uma imensa
coleção de mercadorias, e a mercadoria individual como a sua forma elementar.
Assim, a mercadoria se apresenta como o principal elemento universal na
sociedade capitalista e serve de mediação a todas as relações sociais.
Tudo isso pode parecer muito óbvio para você, porque remete a fenômenos
cotidianos. Você nasce, cresce e vive em meio a mercadorias, não é? Nesse
contexto, aprende a comprar e a vender mercadorias. Logo, a troca é uma
condição indispensável para a vida em sociedade. O intercâmbio mercantil é o
ponto-chave do modo de produção capitalista (PAULO NETTO; BRAZ, 2007).
É importante destacar que só constituem mercadorias aqueles valores de
uso que podem ser replicados ou reproduzidos, isto é, produzidos mais de uma
vez, repetidamente. Essa reprodução recorrente tem o propósito de produzir a
troca ou a venda sistemática. Nesse contexto, para que haja produção de mer-
cadorias repetidas vezes, é fundamental o desenvolvimento da divisão social
do trabalho e a garantia de que haverá a propriedade privada (LANGE, 1966).
Funciona assim: para que se produzam diferentes mercadorias, é preciso
que o trabalho esteja de algum modo dividido entre diferentes trabalhadores
(ou grupos de trabalhadores). Mas essa condição necessária não é suficiente
para a produção repetida de mercadorias. A divisão social do trabalho deve se
articular à propriedade privada dos meios de produção. Em outras palavras,
só pode comprar ou vender qualquer tipo de mercadoria aquele que seja o seu
dono e, para tanto, é necessário que os meios ou os instrumentos (de produção)
com os quais se produz pertençam a ele (o dono) (SANDRONI, 2005).
Quando a propriedade dos meios de produção é coletiva, mesmo que haja
alguma divisão do trabalho, a compra e a venda não são possíveis, uma vez
que o produto do trabalho pertence à coletividade. No sistema capitalista, a
apropriação dos meios de produção é o que motiva os capitalistas a produzirem
cada vez mais e a terem o direito legal de se apropriarem sempre da mais-valia
resultante da troca de mercadorias.
10 Conceitos fundamentais da economia política
A lei do valor é uma teoria muito polêmica. A maior polêmica é o paradoxo do valor. Por
exemplo, por que os diamantes custam mais do que a água? Apesar de os diamantes
valerem mais do que a água, a água é mais útil do que os diamantes, não é? Em 1769,
Anne-Robert-Jacques Turgot observou que, apesar de necessária, a água não é tida
como algo precioso num país com muita água. Às vezes, uma mina de diamante é
mais estimada que uma fonte de água. Posteriormente, Adam Smith levou adiante
essa análise, notando que, embora nada seja mais útil que a água, quase nada pode
ser trocado por ela. Ainda que um diamante tenha um valor bem pequeno quanto
ao uso, uma quantidade muito grande de outros bens costuma ser trocada por ele.
Resumindo, nas teorias do valor existem contradições aparentes entre o valor de troca
(o preço) e o valor de uso (importância) de certas mercadorias — como é o caso do
diamante e da água.
No Brasil, existe a Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP). A SEP é uma sociedade
civil sem fins lucrativos que tem por objetivo primordial garantir um espaço ampliado de
discussão a todas as correntes teóricas e áreas de trabalho que entendam a economia
como uma ciência inescapavelmente social. Para saber mais, acesse Sociedade Brasileira
de Economia Política (2018):
http://www.sep.org.br
Conceitos fundamentais da economia política 13
Leituras recomendadas
ARRIGHI, G. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens do nosso tempo. São
Paulo: Unesp, 1996.
POLANYI, K. A grande transformação: as origens da nossa época. 3. ed. Rio de Janeiro:
Campus, 1980.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.