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Sarah Maldoror: Cinema e Diáspora

O documento descreve a trajetória da cineasta Sarah Maldoror, uma das primeiras mulheres negras a fazer cinema na África nos anos 1960. Ela construiu a base de sua carreira na França, onde continuou dirigindo filmes e trabalhando em prol da imigração e da comunidade negra. Seu longa-metragem mais conhecido, Sambizanga, de 1972, foi marcante na história do cinema de Angola por retratar a luta pela independência do país.

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Sarah Maldoror: Cinema e Diáspora

O documento descreve a trajetória da cineasta Sarah Maldoror, uma das primeiras mulheres negras a fazer cinema na África nos anos 1960. Ela construiu a base de sua carreira na França, onde continuou dirigindo filmes e trabalhando em prol da imigração e da comunidade negra. Seu longa-metragem mais conhecido, Sambizanga, de 1972, foi marcante na história do cinema de Angola por retratar a luta pela independência do país.

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Ligthwise/123RF

Sarah Maldoror: uma cineasta na diáspora


Alexsandro de Sousa e Silva
resumo abstract

O artigo tem como objetivo fazer uma This article aims to produce a biographical
síntese biográfica e filmográfica sobre and filmography synthesis about the
a cineasta Sarah Maldoror (1939-). A filmmaker Sarah Maldoror (1939-). This
cineasta construiu a base de sua carreira filmmaker built the basis of her career in
na França, onde seguiu dirigindo filmes, France, where she continued directing
trabalhando na televisão e atuando no films, working on television and acting
espaço público em favor da imigração, da in public space to support immigration,
comunidade negra e das mulheres. Uma the black community and women. A
característica marcante em suas obras remarkable feature in her films is the
fílmicas é o diálogo com a literatura, dialogue with literature, among short
entre contos, romances e poesia, e as stories, novels and poetry, and the arts
artes em geral. in general.

Palavras-chave: Sarah Maldoror; cinema; Keywords: Sarah Maldoror; cinema;


política; artes. policy; Arts.
Ligthwise/123RF
S
arah Ducados, conhecida Sarah Maldoror não reivindica nenhuma
como Sarah Maldoror, é nacionalidade, porém afirma-se africana
considerada a primeira em diversas entrevistas: “Sinto-me em
mulher negra a fazer casa em toda parte. Sou de toda parte
cinema na África nos e de lugar algum. Meus ancestrais eram
anos 1960, ainda que escravos. No meu caso, isso torna as coisas
outras diretoras, como a mais difíceis. Os antilhenses me acusam de
documentarista Thérèse não viver nas Antilhas, os africanos dizem
Sita-Bella, dos Camarões, que não nasci no continente africano e os
fossem contemporâneas. franceses me criticam por não ser como
O longa-metragem mais eles” (Maldoror apud Andrade, 2016, p.
conhecido da sua carreira, 84). Sua trajetória pessoal e profissional
Sambizanga (1972), fora evidencia um intenso trânsito internacional,
igualmente marcante na história do cinema que entrelaça diferentes cinematografias
de Angola, uma vez que a narrativa, adaptada nacionais e experiências políticas.
de um livro do escritor angolano Luandino Nasceu no ano de 1939, filha de mãe
Vieira, trata de um episódio da luta clan- francesa e pai imigrante das ilhas de Guada-
destina pela independência do país frente lupe, no Caribe. Na fortuna crítica dedicada
ao colonialismo português. A cineasta cons- à cineasta, não existe um consenso sobre
truiu a base de sua carreira na França, onde onde a diretora tenha nascido, oscilando
seguiu dirigindo filmes, trabalhando na tele- entre Condom, em Gers, na França, mais
visão e atuando no espaço público em favor crível a nosso ver, e a mesma pátria de
da imigração, da comunidade negra e das
mulheres. Uma característica marcante em
suas obras fílmicas é o diálogo com a lite-
ALEXSANDRO DE SOUSA E SILVA é doutorando
ratura, entre contos, romances e poesias, e em História Social da Faculdade de Filosofia,
as artes em geral. Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

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seu pai. Em uma página virtual, chega- recitais de poesia de autores negros publi-
-se a afirmar uma nacionalidade (França) cados pela revista Présence Africaine, sem-
e outra (Guadalupe) em um quadro ao lado1. pre com o apoio do diretor Roger Blin. A
O nome artístico da diretora foi inspirado companhia Les Griots atuou em diversos
em Os cantos de Maldoror (1869), livro espaços europeus e, com a encenação de
de Isidore Ducasse, conde de Lautréamont. Les nègres, também de Genet, obteve reco-
O início de sua carreira artística ocorreu nhecimento nos meios teatrais. O grupo se
no teatro. Em 1956, Sarah Maldoror ajudou desfez em 1964 após controvérsias sobre a
a fundar a Compagnie d’Art Dramatique montagem de uma peça de Aimé Césaire
des Griots, conhecida como Les Griots, recém-escrita, La tragédie du Roi Chris-
e a presidiu nos primeiros anos de exis- tophe, que ficou a cargo de outra companhia
tência. O núcleo do coletivo era formado teatral. A experiência no teatro aproximou
pela cantora haitiana Toto Bissainthe, o imi- Sarah Maldoror do universo dos intelectuais
grante da Costa do Ouro Timité Bassori e artistas imigrantes africanos e antilhanos,
e o senegalês Ababacar Samb Makharam, e muitos deles atuaram ou foram tema em
além de Maldoror e, posteriormente, Robert seus filmes anos depois.
Liensol, de Guadalupe. Todos participavam A jovem artista, encorajada por pessoas
dos eventos organizados pela Présence Afri- próximas, como o documentarista Chris
caine em Paris e reconheciam-se seguidores Marker, pleiteou e conseguiu uma bolsa
de Alioune Diop, diretor da instituição, e para estudar cinema em Moscou. As bol-
próximos do movimento intelectual Negri- sas fizeram parte da estratégia diplomá-
tude, cujos expoentes eram Aimé Césaire, tica do regime soviético de aproximação
Léon-Gontran Damas e Leopoldo Sendar com os países africanos, movimento ini-
Séngor. A falta de representatividade negra ciado nos anos finais da década de 1950.
nos palcos parisienses e a criação de um A formação ocorreu entre 1961 e 1962, ao
teatro moderno e de uma escola de teatro lado do senegalês Ousmane Sembene, no
para negros e negras foram os principais prestigiado Instituto Nacional de Cinema-
objetivos para a formação da companhia. tografia da União Soviética (VGIK), tendo
O grupo aprendeu noções de encenação como principais referências os soviéticos
teatral no Centre d’Apprentissage d’Art Dra- Sergei Gerassimov e, principalmente, Mark
matique e no teatro do Foyer de l’École de Donskoi. Ambos os estudantes acompanha-
Medecine, e montou diversas peças, como ram a produção de Hello children (1962),
Huis clos, de Jean-Paul Sartre, Don Juan, de Donskoi. Após o curso soviético e
de Molière, L’ombre de la ravine, de Synge ao lado do companheiro Mário Pinto de
John Millington, L’invite, de Pierre de Pou- Andrade, intelectual e um dos fundadores
chkine, La fille des dieux, de Abdou Anta do Movimento pela Libertação de Angola
Ka, e Les paravents, de Jean Genet, além de (MPLA) em 1956, Sarah Maldoror tran-
sitou por França, Guiné-Conacri, Marro-
cos, Tunísia e, sobretudo, Argélia. Nesse
1 Cf. “Sarah Maldoror”, in Wikipedia en français. Disponí-
vel em: https://fr.wikipedia.org/wiki/Sarah_Maldoror.
último país, Maldoror prestou assistência,
Acesso em: 6/8/2018. como “uma espécie de estagiária”, segundo

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ela, ao diretor italiano Gillo Pontecorvo expressão utilizada para referir-se aos cam-
nas filmagens do premiado A batalha de poneses nas colônias portuguesas na África,
Argel (1966). Sarah também colaborou na bem como ao poema de António Jacinto,
realização do documentário argelino Elles Monangamba, escrito no mesmo ano que
(1966), de Ahmed Lallem, filme dedicado às o conto. A narrativa refere-se ao caso de
jovens argelinas pós-revolução. Vale obser- tortura a um jovem preso pelas forças de
var que ambas as produções deram desta- ordem do colonialismo lusitano. A com-
que às mulheres no processo de combate panheira do jovem o visita e promete-lhe
ao colonialismo e à organização da nação trazer um “completo” que, na cultura local,
no pós-independência. referia-se a um prato de comida com peixe,
O primeiro filme dirigido por Sarah conforme explicado no breve letreiro que
Maldoror foi Monangambeee (1968), adap- abre o filme. Um dos torturadores escuta a
tação do conto “O fato completo de Lucas mensagem e, junto a outro português, agride
Matesso”, de Luandino Vieira, com a ajuda Matesso para que revelasse alguma infor-
de Mário Pinto de Andrade e Serge Michel. mação referente a grupos de oposição, pois
O texto foi escrito em Angola enquanto associaram o termo com algum segredo ou
Vieira esteve em prisão, pois foi condenado tipo de ajuda a ele. O torturado, sem forças
por crime político pelo regime salazarista após as sessões de maus-tratos, comemora
em 1961. O título do filme faz referência à sua frágil sobrevivência, no leito da prisão.
Reprodução

Sarah Maldoror, no alto, acompanha as filmagens de A batalha de Argel, em 1966

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O enredo expõe a brutalidade do colonia- da atriz negra Elisa Andrade, defendida por
lismo sobre o corpo do jovem. Os escritos Sarah, pois “quando a heroína de um filme
sobre o filme o associam como um marco francês ou americano é bonita, não há qual-
na história de Angola, devido às referências quer problema, mas, se a heroína for afri-
literárias que lhe deram origem e ao fato cana, não pode ser bela... Tinha encontrado
de representar, em festivais, a então colô- uma mulher de grande sensibilidade e, além
nia. No entanto, não aparecem ao longo do disso, bonita. Deveria ter abdicado dela só
enredo menções explícitas ao território ou porque era negra? É claro que não” (Maldo-
ao MPLA, e o retrato do ditador António ror apud Schefer, 2015, p. 146). Monangam-
de Oliveira Salazar na sala de tortura busca beee fora exibido em 1970 na XIIIe Journées
abranger o caso como paradigmático para Internationales de Court Métrage de Tours
entender o colonialismo lusitano. Segundo e premiado no 2ème Festival International
a cineasta, o filme retrata a incompreensão du Film d’Expression Française em Dinard,
entre diferentes culturas: “Os portugueses no 3ème Festival International des Journées
não compreendem o significado de ‘com- Cinématographiques de Cartago (Prêmio da
pleto’ porque desconhecem o valor das pala- Crítica), no Festival Panafricaine du Cinéma
vras. Não conhecem o valor das palavras na de Ougadougou (Tanit de Bronze, catego-
língua do outro” (Maldoror apud Schefer, ria Curtas-metragens) e exibido em 1971 na
2015, p. 145). Quinzena dos Realizadores no Festival de
As filmagens ocorreram próximo à Cannes, representando Angola.
cidade de Argel, capital da Argélia, país
que financiou a produção do curta-metragem.
Reprodução

A cineasta recrutou atores e atrizes não pro-


fissionais, como a economista cabo-verdiana
Elisa Andrade, filiada ao Partido Africano
pela Independência da Guiné e Cabo Verde
(PAIGC); apenas o ator Mohamed Zinet tra-
balhava no ramo, pois havia atuado em A
batalha de Argel. A trilha musical ficou
a cargo do Art Ensemble of Chicago, que
a cineasta conheceu quando o conjunto
tocava pelas ruas de Paris. As fotografias
de soldados negros ao final do filme são de
Augusta Conchiglia, que, ao lado de Stefano
di Stefani, realizou um documentário sobre
a guerrilha do MPLA intitulado A propó-
sito de Angola (1973). Jacqueline Meppiel,
montadora francesa, intermediou o contato
entre Maldoror e a fotógrafa. Sarah Maldoror, à direita, durante as
Sobre a escolha do elenco, a diretora filmagens de Monangambeee, 1968
enfrentou opiniões negativas sobre a beleza

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Em 1969, Sarah Maldoror seguiu atu- Há relatos dando conta da clara censura
ando na Argélia e trabalhou nas filmagens contra o filme, pois os militares espera-
de Festival Panafricain d’Alger (1969), de vam uma obra mais militante. Os rolos de
William Klein. O documentário retrata o película apreendidos estão desaparecidos.
evento, considerado importante por reu- Em entrevista ao diretor Mathieu Abon-
nir distintos grupos políticos e milita- nenc, a cineasta afirma:
res que enfrentavam o colonialismo e as
ingerências por parte dos países ricos nas “[...] estava ali para fazer um filme, e não
nações recém-independentes. Como assis- para me integrar ao exército. Tratavam-me
tants, consta o nome de Maldoror, além como um soldado e não queria ser um.
de Ahmed Lallem e Jacqueline Meppiel, Sobretudo a montagem devia ser feita com
figuras dos cinemas argelino e francês eles, e não queria isso porque queria preser-
próximas à cineasta. var a minha liberdade e sabia que não seria
livre. Queria fazer a montagem em Paris, e
não seria livre de fazê-la com eles. Isso ficou
Reprodução

claro” (Maldoror apud Piçarra, 2017, p. 21).


Reprodução

Fotograma do Festival Panafricain d’Alger


(1969), de William Klein. Nome de Sarah
Maldoror na equipe de filmagem

Fuzis para Banta (1971) foi o projeto


de longa-metragem produzido em zonas
libertadas pelo PAIGC e na Ilha Bijagos
de Guiné-Bissau em 1970, encomendado
pela Agência Nacional do Comércio e
da Indústria Cinematográfica da Argélia
(Oncic). Após as filmagens, as películas
foram apreendidas pelo exército argelino,
por desavenças dos oficiais com a diretora: Sarah Maldoror em fotografia de
“Tive a ousadia de dizer a um coronel Suzanne Lipinska durante filmagem
que o exército argelino não valia nada” de Fuzis para Banta, em 1970
(Maldoror apud Schefer, 2015, p. 149).

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O enredo fílmico narraria a trajetória da à l’Afrique australe. La télé, la 2 CV, les


guerrilheira Awa, que representaria a pri- vacances, mais certainement pas l’Angola
meira mulher na Guiné portuguesa a mor- ou la Guinée-Bissau. [...] Car il existe un
rer com armas nas mãos, constituindo-se moyen de censure plus efficace que l’inter-
um mito fundador da guerrilha local, ainda diction, c’est l’absence de distribution”2.
que conste nas memórias de militantes a
história de Canhe Na N’Tuguê, que teria Apesar dos problemas vividos na Argélia,
sido torturada e assassinada por portugue- a cineasta seguiu com seus projetos. Após
ses. Destaca-se, portanto, o protagonismo realizar documentários de curta-metragem
feminino nos combates armados, território na França, os quais comentaremos adiante,
considerado como proeminentemente mas- Sarah Maldoror dirigiu o longa-metragem
culino, o que talvez tenha incomodado os ficcional Sambizanga (1972). Trata-se de
censores. Novamente, os atores e atrizes não uma adaptação de outro texto de Luandino
eram profissionais e a equipe técnica era Vieira, A vida real de Domingos Xavier,
argelina. Amiga de Sarah Maldoror, a fotó- escrito ao longo do ano de 1961: iniciado
grafa Suzanne Lipinska registrou algumas logo após os ataques do MPLA a prisões
imagens das filmagens, que ocorreram no em Angola em 4 de fevereiro, data cele-
primeiro semestre de 1970, em meio a bom- brada pelo partido, e concluído no cárcere.
bardeamentos dos colonialistas a aldeias. O Mário Pinto de Andrade, além de publicar
arquivo de Mário Pinto de Andrade guarda uma versão em francês dez anos depois,
algumas correspondências que dão indícios elaborou o roteiro do filme com o nove-
dos problemas vividos pela companheira. lista e jornalista francês Maurice Pons. No
Em carta a Agostinho Neto, datada de 31 de entanto, a base narrativa foi pensada em
outubro de 1970, Andrade relata que “embora colaboração a distância entre a diretora e
a Sarah tenha dificuldades aqui [Argel], para o escritor, uma vez que este encontrava-se
terminar a montagem do film [sic] que reali- impedido de deixar Portugal. O título do
zou nos maquis da Guiné, creio que ela pode filme, assim como Monangambeee, é dife-
encarar o futuro proximo [sic] com certo rente do texto que deu origem ao relato e,
optimismo”. Em nova missiva, recebida de além disso, faz referência ao bairro perifé-
Amílcar Cabral e com data de 9 de dezem- rico de Luanda onde ocorreu o mencionado
bro de 1970, o fundador do PAIGC afirma ataque armado pelo MPLA.
a Andrade que “com o Turpin faço tudo A trama é dividida em três linhas narra-
para que ‘Banta’ seja finalizado”. Por sua tivas que não se cruzam: a tortura e morte
parte, em uma entrevista na qual a cineasta do tratorista Domingos Xavier, acusado de
dava a entender que Fuzis para Banta estava pertencer a um grupo político de oposição
concluído, reclamou da falta de distribuição
do filme, denunciando o desinteresse dos
franceses pela África: 2 C o r r e s p o n d ê n c i a s d i s p o n í v e i s e m :
h t t p : // c a s a c o m u m . o r g / c c / v i s u a l i z a d o r .
php?pasta=04311.001.006&pag=1; http://casaco-
“Le vrai problème, en ce que me concerne, mum.org/cc/visualizador?pasta=04619.100.018.
Acesso em: 6/8/ 2018. Citação de Sarah Maldoror
c’est que les Français ne s’intéressent pas em: Jacques (1971, p. 55).

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ao colonialismo (uma referência ao MPLA), Acostumados com filmografias didáticas
a busca da esposa Maria pelo companheiro produzidas por cineastas engajados(as) do
em diferentes prisões de Luanda e a orga- “terceiro mundo”, críticos de cinema e mili-
nização clandestina que tenta identificar tantes políticos refutaram a beleza da atriz
o preso e mesmo salvá-lo. A primeira principal, Elisa Andrade, mais uma vez, e
segue o tom da brutalidade com que um a “ambiguidade política” de Sambizanga,
preso foi tratado em Monangambeee; a que não privilegiou a organização da guer-
trajetória de Maria é marcada pelo des- rilha contra o colonialismo, o que foi visto
caso das autoridades oficiais e pela soli- como um “defeito” da fatura política da obra.
dariedade dos homens e mulheres pobres Outras leituras enfatizaram o processo de
dos povoados; e o registro das ações da “conscientização revolucionária” da persona-
organização clandestina enfatizam as pala- gem Maria, que, no entanto, desaparece de
vras de ordem proferidas pelo grupo e os cena após a confirmação da morte do com-
contatos clandestinos. Por fim, Domingos panheiro. Luandino Vieira, autor dos relatos
Xavier é assassinado, a esposa, consolada cinematografados por Sarah Maldoror, con-
por mulheres humildes e os membros da sidera Monangambeee e Sambizanga “las
organização política celebram a retidão dos primeras tentativas de cine hecho por
de caráter do preso, que não denunciou los angolanos”, ainda que o primeiro “es
o grupo aos portugueses. una interpretación muy personal de Sara
Reprodução

Fotograma de Maria (Elisa Andrade) em Sambizanga

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Maldhoror [sic] y presenta algunas dificul- interpretando o personagem Zito, era órfão
tades” (Vieira apud Lopez Pego, 1979, p. de guerra a cargo do MPLA. Também do
163). Em correspondência a Mário Pinto de mesmo movimento político, Domingos Oli-
Andrade, em 1973, o escritor elogia o filme veira, que encarnou Domingos Xavier, era
uma vez que, apesar de não tê-lo assistido de fato tratorista do norte de Angola quando
quando fez a colaboração, teve contato com passou a viver no Congo. A equipe técnica
a repercussão nos meios especializados: do filme era predominantemente francesa, e
justamente da França, aliada dos portugue-
“A profunda compreensão desse fenómeno ses na Organização do Tratado do Atlântico
de ‘paciência’ revolucionária é – sei-o – um Norte (Otan), veio parte do orçamento para
pouco difícil para as esquerdas europeias a realização da obra. A trilha musical, que
que têm sempre tendência a ver nos revo- tem um papel narrativo de grande impor-
lucionários do dito 3º mundo essa agitação tância no filme, foi creditada ao grupo vocal
e acção intempestiva e heroica (o herói a Les Ombres, comandado pela voz de Ana
morrer de metralhadora na mão é o único Wilson, além de canções do grupo musical
que concebem) de que só têm já a nostalgia. angolano N’gola Ritmos3. A divulgação da
[...] Por isso a minha grande alegria por ler película apostou na exploração da imagem
as declarações de Sara, a sua coragem de de Domingos Xavier sacrificado, apesar do
ir contra o clichê que (ainda) nos querem maior protagonismo que as mulheres, sobre-
impor da realidade que nós conhecemos” tudo Maria, têm no filme.
(Vieira apud Piçarra, 2017, p. 25). O filme ganhou em 1972 o Tanit de Ouro
no IVème Festival de Cartago e uma pre-
A película foi realizada no Congo-Bra- miação no IV Festival de Ouagadoudou. No
zzaville, com suporte do governo para as entanto, enfrentou censura em Portugal, onde
filmagens, cedendo carros, caminhões, heli- adiou-se a estreia para outubro de 1974, uma
cópteros, canteiros de obra, prisão, etc. Jac- vez que as autoridades argumentaram que se
ques Poitrenaud interpretou o papel de tortu- buscava “impedir manobras da reacção e por
rador; como em Monangambeee, a diretora constituir propaganda de um dos movimentos
utilizou um intérprete profissional branco emancipalistas, ainda em guerra”. Em Angola,
para representar os opressores. Da mesma principalmente, o filme sofreu uma série de
forma, também recrutou atores e atrizes ama- retaliações, conforme entrevista de Luandino
dores do Congo e exilados(as) de Angola, Vieira à revista Cine Cubano, e ocorreram,
muitos(as) dos(as) quais falaram em idio- entre maio e junho de 1975, agressões entre
mas locais, como o lingala e o lari. Elisa espectadores que assistiram ao filme e troca-
Andrade, a economista ligada ao PAIGC ram acusações de conveniência com o colonia-
que vivia na Argélia, mais uma vez desta- lismo. Diante do ocorrido, afirma o escritor,
cou-se em seu papel. Militantes do MPLA
encenaram seus próprios papéis políticos,
como Manuel Videira (le chef de brigade),
Tala Ngongo (Miguel) e Lopes Rodrigues 3 Um trecho de Sambizanga com intervenção da trilha
musical pode ser visto em: https://www.youtube.com/
(Mussunda). O pequeno Adelino Nelumba, watch?v=OLEGv1jXTq8. Acesso em: 9/2/2019.

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Fotos: Reprodução

Cartazes de divulgação de Sambizanga

“decidimos que la película quedara reservada p. 49). No país centro-americano, Sarah


para más tarde, cuando pasado algún tiempo Maldoror filmou um média-metragem inti-
se pudiera esclarecer al espectador por la tulado Velada (1974), com atores e atrizes
propia dinámica del proceso y la educación não profissionais. A história, adaptada do
cinematográfica” (Vieira apud Lopez Pego, livro Pecatta minuta, do panamenho Pedro
1979, p. 163). No país africano, a película fora Rivera, conta a conscientização política de
exibida apenas em círculos restritos de proje- uma professora em relacionamento com um
ção, como encontros de movimentos sociais de seus alunos, parte da juventude que con-
e de militantes do MPLA, sendo proibido testava a presença dos Estados Unidos no
nas salas de cinema. Apesar de fazer duas país. Grande parte das filmagens ocorreu
adaptações dos escritos de Luandino Vieira no Instituto Nacional, com os jovens inter-
e de ser companheira do primeiro líder do pretando seus próprios papéis.
MPLA, Sarah Maldoror negava que tivesse Nas demais ficções, Sarah Maldoror
vínculos mais estreitos com o partido: “Os seguiu com as adaptações literárias. Em
contactos vieram daí [de Mário Pinto de princípios dos anos 70, fez uma leitura fíl-
Andrade], embora nunca tenha participado mica de uma peça de Aimé Césaire em Et
em comícios nem em reuniões” (Maldoror les chiens se taisaient (1974), filmado no
apud Schefer, 2015, p. 144). Musée de l’Homme em Paris, e no qual a
Após finalizar Sambizanga, a diretora diretora fez a única encenação que identifi-
tinha planos para fazer uma biografia de camos em sua própria filmografia. Em 1981
Amílcar Cabral, contando com recursos do realizou a película Un dessert pour Cons-
Panamá, liderado à época pelo general Torri- tance, inspirada no texto do francês Daniel
jos: “La compréhension du général Torrijos Boulanger sobre dois trabalhadores negros e
pour les problèmes africains et le grand imigrantes em Paris. Um ano depois, adaptou
intérêt que ressent la jeunesse panaméenne uma novela de Victor Serge em L’Hôpital de
pour l’Afrique m’ont frappée” (Pina, 1974, Leningrad, sobre a internação compulsória

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dossiê histórias culturais transatlânticas

Reprodução

Sarah Maldoror recebendo a premiação no IVème Festival de Cartago, 1972, por Sambizanga

de pacientes psiquiátricos no stalinismo. Por e, acima de tudo, biografias de artistas, como


fim, Le passager du Tassili (1987), adaptação o pintor catalão Juan Miró, o poeta haitiano
do livro Les A.M.I. du Tassili, do argelino René Depestre e o intelectual e político da
Akli Tadjer, sobre a imigração argelina na Negritude León-Gontran Damas, da Guiana
França, L’enfant cinéma (1996), a respeito do Francesa. Na filmografia, a vida e a obra de
surgimento da “sétima arte”, e Scala Milan Aimé Césaire foram tema principal em qua-
A.C. (2001), que trata de um desafio entre tro filmes: Et les chiens se taisaient, 1974;
jovens de mesma vizinhança, completam o Aimé Césaire – un homme, une terre, 1977;
quadro das ficções dirigidas pela diretora. Aimé Césaire – le masque des mots, 1987;
O que predominou em sua obra foram e Eia pour Césaire, 20094. A diretora fez
os documentários, sobretudo de curta dura- filmes sobre os carnavais em Cabo Verde
ção, com exibições na televisão da França. e Guiné-Bissau e, além disso, filmou nas
Ainda nos anos 1970, dirigiu La comunne ilhas do Caribe e em Reunião, departamento
Louise Michel et nous e Saint-Denis sur ultramarino francês.
avenir, ambos de 1971; o segundo chegou a
ser exibido no Festival de Cannes de 1972.
Ao longo dos anos seguiram diversos cur- 4 Trecho de Aimé Césaire – le masque des mots, 1987. Dis-
ponível em: www.ina.fr/video/I05326691/les-caraibes-
tas sobre aspectos arquitetônicos de Paris, -et-la-negritude-video.html. A cineasta costuma dar
como La Basilique de Saint-Denis, 1976, e depoimentos sobre a importância de Aimé Césaire,
como em: https://vimeo.com/35529498. Acesso em:
Paris, le cimetière du Père-Lachaise, 1977, 6/8/2018.

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Reprodução

Fotograma de Et les chiens se taisaient (1974), de Sarah Maldoror, ao centro da imagem

Nos anos 1970, negava ser vinculada ao Os trabalhos da diretora inspiraram


feminismo, e contornou diversas questões que outros e outras cineastas pelo mundo. Foi
tocavam no tema. O fato de ser mulher não homenageada no documentário Sarah Mal-
foi assumido por ela como algo específico doror ou la nostalgie de l’utopie (1998),
de sua atuação, ainda que a fortuna crítica de Anne Laure Folly, diretora do Togo que
sobre a obra da cineasta perceba o cuidado e se espelhou em Sarah para fazer cinema.
o zelo na representação das mulheres, como Outro tributo faz Mathieu Kleyebe Abon-
atestam os comentários sobre o projeto de nenc, que dirigiu o curta-metragem Preface
Fuzis para Banta e, sobretudo, sobre o que à Des fusils pour Banta (2011), no qual
se vê em Sambizanga, por meio da prota- faz diversas reflexões sobre o processo de
gonista Maria e da solidariedade das cam- realização do filme e seu desaparecimento
ponesas à personagem. Ao longo dos anos, físico por meio do material de trabalho
a diretora passou a valorizar por meio de que resistiu ao tempo, como anotações,
suas entrevistas o papel social e político das fotografias e as memórias de Sarah sobre
mulheres, sobretudo no meio audiovisual5. o episódio. Atualmente, as filhas de Sarah
Maldoror, Henda Ducados e Annouchka de
Andrade, trabalham na recuperação, pre-
5 Uma entrevista recente foi realizada por Justine
servação e divulgação da vasta e dispersa
Malle em 2017 e está disponível em: https://vimeo.
com/221475862. Acesso em: 6/8/2018. filmografia da cineasta.

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dossiê histórias culturais transatlânticas

FILMOGRAFIA DIRIGIDA POR SARAH MALDOROR 6

Monangambeee, Argélia, 1968, ficção, 15 min.


Des fusils pour Banta, Guiné portuguesa,/Argélia, 1970, ficção, 105 min.
La Comunne, Louise Michel et nous, França, 1971, documentário, 13 min.
Saint-Denis sur avenir, França, 1971, documentário, 45 min.
Sambizanga, Congo-Brazaville, 1972, ficção, 102 min.
Velada, Panamá, 1974, ficção, 60 min.
Et les chiens se taisaient, França, 1974, documentário/ficção, 13 min.
La Basilique de Saint-Denis, França, 1976, documentário, 5 min.
Paris, le cimetière du Père-Lachaise, França, 1977, documentário, 5 min.
Aimé Césaire – un homme, une terre, Martinica, 1977, documentário, 52 min.
Un masque à Paris: Louis Aragon, França, 1978, documentário, 20 min.
Miró – peintre, França, 1979, documentário, 5 min.
Fogo, île de feu, Cabo Verde, 1979, documentário, 23 min.
À Bissau, le carnaval, Guiné-Bissau, 1980, documentário, 17 min.
Un dessert pour Constance, França, 1980, ficção, 52 min.
L’Hôpital de Leningrad, França, 1982, ficção, 52 min.
Un Sénégalais en Normandie, França, 1983, documentário, 10 min.
La littérature tunisienne de la Bibliothèque Nationale, França, 1983, reportagem, 5 min.
Claudel à Reims, França, 1984, documentário, 5 min.
René Depestre – poète, França, 1984, documentário, 5 min.
Toto Bissainthe – chanteuse, França, 1984, documentário, 5 min.
Robert Lapoujade – peintre, França, 1984, documentário, 5 min.
Alberto Carlisky – sculpteur, França, 1984, documentário, 5 min.
Le racisme au quotidien, França, 1984, documentário, 5 min.
Robert Doisneau – photographe, França, 1984, documentário, 5 min.
Portrait de Madame Diop, França, 1986, documentário, 10 min.
Le passager du Tassili, França, Argélia, 1987, ficção, 90 min.
Aimé Césaire – le masque des mots, Estados Unidos da América/Martinica, 1987,
documentário, 52 min.
Emanuel Ungaro – couturier, França, 1987, documentário, 5 min.
Vlady – peintre, México, 1989, documentário, 23 min.
Léon Gontran Damas, Guiana francesa, 1994, documentário, 23 min.
L’enfant cinéma, França, 1996, ficção, 23 min.

6 Não há filmografia da diretora disponível em sites especializados. Esta filmografia foi feita pelo autor com base em
diferentes sites. Janis L. Pallister (1997) cita alguns títulos que excluímos da lista por não encontrarmos mais refe-
rências: Viva la muerte e The poor and the proud (“A short”, ambos), entre 1971 e 1972; Wilfredo Lam (“1978-1979”);
Vladimir Kibalchich (“1982”); e Tragédie du roi Christophe, entre 1986 e 1987.

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La tribu du bois de l’É, Reunião, 1998, documentário, 18 min.
Scala Milan A.C., França/Itália, 2001, ficção, 26 min.
La route de l’esclavage, Haiti/Martinica, 2003, documentário, 27 min.
Les oiseaux mains, França, 2005, animação, 30 seg.
Eia pour Césaire, França, 2009, documentário, 60 min.

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