Entrevistas em Psicologia Escolar: Reflexões Sobre O Ensino E A Prática

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Psicologia Escolar e Educacional, 2004 Volume 8 Número 1 85-90

ENTREVISTAS EM PSICOLOGIA ESCOLAR: REFLEXÕES SOBRE O ENSINO EA PRÁTICA


Silvia Maria Cintra da Silva1
Maria José Ribeiro2
Viviane Prado Buiatti Marçal3

Resumo

A entrevista é um instrumento bastante utilizado no trabalho do psicólogo escolar, mas existem poucos estudos sobre essa técnica dirigidos
exatamente a esse público, principalmente como subsídio para estagiários, pois a entrevista é mais identificada com a área clínica ou com contextos
de pesquisa. Este artigo discute a relevância do ensino da entrevista em psicologia escolar e procura abordar aspectos que, efetivamente, colaborem
para a reflexão acerca dessa técnica e o seu manejo.
Palavras-chave: Psicologia escolar; Entrevista; Estágio supervisionado.

INTERVIEWS IN SCHOOL PSYCHOLOGY: THOUGHTS ON TEACHING AND PRACTICE


Abstract

The interview is an instrument used frequently in the work of a School Psychologist, however few studies directed exactly to this population
exist principally for interns. This is due to the fact that the interview is more commonly associated with clinical practice or research. This article
aims to present interviews in the School Psychology context and discuss aspects which effectively collaborate for the re-thinking of this technique
and its management.
Keywords: School psychology; Interview; Supervised internship

INTRODUÇÃO
A entrevista é um dos recursos técnicos de que procurar saber o que está acontecendo e deve atuar
dispõe o psicólogo para obter informações, com o objetivo segundo esse conhecimento. A realização dos objetivos
de pesquisa, avaliação, orientação e/ou aconselhamento, possíveis da entrevista (investigação, diagnóstico,
seja em contexto escolar, clínico, organizacional ou em orientação etc.) depende desse saber e da atuação de
outros. Historicamente, as técnicas de entrevista têm acordo com esse saber” (1991, p. 13). O psicólogo utiliza
origem na medicina, e no campo da psicologia, foram uma técnica psicológica e, concomitantemente, lança mão
elaboradas no contexto da psicoterapia e da psicometria. de recursos advindos da psicologia para configurar a
De acordo com Winnicott (1983), a psicanálise, ao se própria situação da entrevista.
preocupar com a etiologia das doenças psiquiátricas, Nesse sentido, merece destaque a tão debatida
passou a exigir do clínico o interesse pelos processos de questão da (ilusão da) neutralidade científica. Thiollent
desenvolvimento psíquico e não apenas pelos sintomas; (1987) aponta que não há neutralidade em ciência, visto
assim “os psicanalistas se tornaram pioneiros em tomar que qualquer procedimento de investigação envolve
a história do paciente” (p. 115). pressupostos teóricos e práticos norteados por interesses
Na visão de Bleger, a entrevista “consiste em uma sociopolíticos que estão em pauta no ato de conhecer.
relação humana na qual um dos integrantes deve O referido autor apresenta uma visão sociológica da
1
Docente da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Doutora em Educação pela UNICAMP.
2
Docente da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Mestre em Educação pela UNICAMP, Doutoranda em Psicologia Clínica pela PUC-SP
e membro do Grupo de Pesquisa em Filosofia e Práticas Psicoterápicas do Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Clínica da PUC-SP.
3
Mestranda em Psicologia Aplicada pela UFU e psicóloga da rede pública municipal de saúde de Uberlândia/MG.
86 Silvia Maria Cintra da Silva, Maria José Ribeiro e Viviane Prado Buiatti Marçal

questão referente ao posicionamento do entrevistador, A respeito disso, Bleger (1991) afirma que, com a
segundo a qual “a objetividade é relativa, na medida que observação desses fenômenos, é possível ao profissional
o conhecimento social sempre consiste em aproximações ter diante de si aspectos importantes da conduta e da
sucessivas relacionadas com perspectivas de personalidade do entrevistado. Esses aspectos
manutenção ou de transformação” (op. cit., p. 28). acrescentam uma dimensão importante do conhecimento
A esse aspecto acrescentam-se os psicológicos, da estrutura de sua personalidade e ao caráter de seus
como os valores, pensamentos e sentimentos, que não conflitos. A contratransferência, nesse contexto, abrange
apenas perpassam mas constituem todo e qualquer as respostas do entrevistador às manifestações do
encontro entre pessoas. Sendo assim, o entrevistador entrevistado, envolve a história pessoal daquele; e esses
não está isento de comprometer os resultados de seu sentimentos precisam ser considerados para um bom
trabalho, em função de suas limitações pessoais e manejo e eficácia da entrevista.
profissionais. Entretanto, isso não significa descuido com
os aspectos éticos, norteadores da atuação do psicólogo. Tipos de Entrevistas
Em relação à entrevista psicológica de maneira geral, A entrevista pode ser utilizada dentro de um processo
elementos mais minuciosos podem ser encontrados em avaliativo, seja de indivíduos, seja da instituição como
trabalhos como os de Bleger (1991), Pain (1992) e um todo. Também pode ser empregada com fins
Ribeiro, Silva e Ribeiro (1998). investigativos, no caso de uma pesquisa, sendo que há
pesquisas que também comportam processos avaliativos.
Aspectos Técnicos Os tipos de entrevistas estão diretamente relacionados
Em uma entrevista, espera-se que surjam elementos aos objetivos com que elas são empregadas. Existe a
referentes àquilo que o entrevistado conhece, de que entrevista dirigida, composta de questões fechadas; a
ouviu falar e que também imagina, relacionados à semidirigida, em que o sujeito orienta-se a partir de
psicologia e ao trabalho do psicólogo, de modo geral. perguntas abertas; a centrada, que focaliza um tema
Considerando-se tais elementos, torna-se mais fácil específico; a não-diretiva, que gira em torno de um tema
compreender determinados comportamentos e geral, e a clínica.
verbalizações por parte do sujeito entrevistado. Durante De acordo com a situação, seja uma avaliação de
a entrevista faz-se necessária uma efetiva interação uma criança com dificuldades escolares, seja uma
interpessoal, com o profissional apresentando seus pesquisa na área educacional, por exemplo, cabe ao
questionamentos, ouvindo e observando a pessoa profissional decidir o tipo de entrevista mais pertinente.
entrevistada. A condução do processo precisa ser Em algumas circunstâncias, é comum iniciarmos a
respaldada tanto pelos pressupostos da teoria adotada entrevista de maneira mais livre e depois apresentarmos
pelo profissional quanto pelas condições subjetivas deste, algumas perguntas abertas, para o aprofundamento de
ou seja, o momento requer possibilidades efetivas de temas não abordados pelo entrevistado.
escutar, acolher e elaborar hipóteses diagnósticas a Com base em pesquisas na área das ciências sociais,
respeito do caso. Thiollent (1987) mostra que as entrevistas e
Durante a entrevista é importante o psicólogo questionários (assim como testes), de maneira geral,
observar a postura corporal, os gestos, a entonação da favorecem as pessoas de mesmo nível sociocultural
voz, a expressão facial, a posição na cadeira, enfim, os daquele que elaborou os instrumentos. Esse dado nos
aspectos não-verbais que fornecem dados fundamentais leva a pensar que alguns questionamentos propostos
a respeito do entrevistado e sobre seu posicionamento ao indivíduo entrevistado não necessariamente fazem
nessa circunstância particular. Estar atento, também, aos parte de seu universo cotidiano, e que por isso sua
sentimentos despertados em si ao longo da entrevista é resposta pode refletir apenas nossa inabilidade em
fundamental para o psicólogo, pois fenômenos como a compreender a sua realidade. É preciso um particular
transferência e a contratransferência fazem parte de cuidado com perguntas que apenas conduzem à
todo relacionamento interpessoal e seguramente, vão confirmação daquilo que esperamos.
configurar o processo de entrevista. Nesse contexto, o O entrevistado deve falar por si. De maneira geral,
entrevistado atribui papéis ao entrevistador, a primeira entrevista caracteriza-se por um momento
comportando-se em função destes. inicial mais livre, acompanhado, posteriormente e de
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acordo com a configuração da situação, de um como uma oportunidade de tratamento, desde que a
direcionamento para o preenchimento de lacunas obtenção da história não seja apenas uma coleta de fatos.
percebidas pelo profissional. A obtenção de Nesse sentido, ressalta-se que, como supervisoras
determinadas informações é imprescindível, porque de estágio em psicologia escolar, presenciamos relatos
nos permitem formular as hipóteses que vão de entrevistas realizadas por alunos do curso de
compondo o mosaico do contexto em estudo. Psicologia que, entre outros aspectos, apontam para a
necessidade do estagiário ter clareza quanto aos
Ensinando Entrevistas instrumentos que utiliza em sua prática. A título de
A experiência do supervisor é um fator importante exemplo, são descritas a seguir duas situações
na condução do processo de aprendizagem do fazer envolvendo o roteiro de anamnese.
psicológico e, por conseguinte, da entrevista, que é um Na primeira delas, alguns itens referentes ao
dos instrumentos do psicólogo. A supervisão não se limita desenvolvimento neuropsicomotor da criança estavam
ao ensino de técnicas nem deve incentivar a reprodução escritos no roteiro da seguinte forma: sentou, andou, falou.
de um determinado fazer (Vilela, 1996), mas promover A estagiária, que já havia observado a criança (de 8
a reflexão sobre as técnicas utilizadas em psicologia, anos de idade) na sala de aula, fizera as seguintes
enfatizando a indissociabilidade entre prática e teoria e perguntas para a mãe: Sentou? Andou? Falou?
auxiliando o estagiário na construção de seu percurso Considerando-se que a criança havia sido vista sentada
profissional. na carteira, falando e posteriormente andando pela sala
Para se realizar qualquer procedimento em psicologia de aula, as perguntas da estagiária deveriam,
escolar, inicialmente é necessário pensar sobre os logicamente, focalizar a época em que tais
objetivos de tal procedimento, uma vez que é a finalidade comportamentos aconteceram, e não simplesmente
do trabalho a ser desenvolvido que guiará a seleção e indagar se haviam ocorrido. Entretanto, foi necessário
organização das técnicas a serem utilizadas no processo. que se ouvisse a gravação da entrevista para se constatar
Entende-se que tais aspectos precisam estar bem claros que as informações do roteiro de anamnese, que
para os alunos. Assim como outras técnicas adotadas pareciam óbvias para a supervisora, não o eram para a
no trabalho do psicólogo, a entrevista merece uma estudante de Psicologia.
atenção especial na formação profissional, sendo aqui Na outra situação, a estagiária perguntou a uma de
compreendida como um momento privilegiado de escuta nós o que significava a expressão “Cata com freqüência”,
do outro, durante o qual o entrevistado busca um espaço constante do citado roteiro. Surpreendentemente,
de acolhimento (Bleger, 1991). Assim, além da função descobrimos que um aluno, ao digitar novamente o roteiro
avaliativa, a entrevista também pode constituir-se em de anamnese indicado na supervisão, havia trocado a
um momento terapêutico, para o qual o estudante de letra “í” pela “t”, na palavra original “caía”. Sendo assim,
psicologia precisa estar atento. a pergunta que visava a investigar possíveis dificuldades
Em relação à entrevista no contexto escolar, o motoras da criança – “Caía com freqüência?” – tornara-
passo inicial é a compreensão da situação vivenciada se sem sentido.
pela criança e sua família. Abordam-se também os É necessário que o aluno compreenda que
aspectos relacionados à entrada da criança na escola, determinadas perguntas podem soar inócuas para o
episódios marcantes como advertências, expulsões e entrevistado, como, por exemplo, “Como foi o controle
repetências, facilidades e dificuldades, matérias de dos esfíncteres?”. O jargão está tão presente no cotidiano
maior e menor preferência, relacionamento com do curso de Psicologia que nem sempre o aluno tem
professor e colegas. oportunidade de refletir sobre a especificidade da
Um dos instrumentos utilizados para o levantamento linguagem utilizada em sua prática. Em trabalhos
de informações sobre a história de vida de uma criança, anteriormente realizados por nós, por se tratar de dados
atual e pregressa, é o roteiro de anamnese, que contém de pesquisa, algumas entrevistas feitas com professoras,
itens relativos à gestação, parto, desenvolvimento mães e pais foram registradas em áudio. Quando se
neuropsicomotor, social e afetivo, dinâmica familiar e percebe a necessidade dessa forma de registro de dados,
escolarização. Winnicott (1983) relata que no exercício nada impede que se lance mão desse tipo de recurso.
da pediatria descobriu o valor terapêutico da anamnese Entretanto, é preciso o consentimento do entrevistado

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e, se por qualquer motivo a pessoa não se sentir à vontade funcionalidade do não aprender para a família, Fernández
com o gravador, deve-se priorizar o vínculo com o sujeito (1990) afirma que existem crianças que apresentam um
da pesquisa e o trabalho que está sendo desenvolvido. mau rendimento escolar para conseguir certa
Desse modo, algumas anotações podem ser feitas legitimidade junto à família. Isso pode ser constatado
durante a entrevista e/ou ao final. em falas como: “Meu filho se parece comigo, pois assim
O episódio acima descrito, relativo às perguntas como eu, não consegue aprender na escola”; “Será como
sobre o desenvolvimento neuropsicomotor de uma o pai, caminhoneiro”.
criança, só pôde ser revelado e analisado juntamente O momento da entrevista deve ser um espaço em
com a estagiária, por ter sido gravado. Comentários que a família possa ser ouvida, podendo ter condições
como: “Olha, você é um ano mais velha que eu” e “Ser de sentir-se acolhida em suas ansiedades, angústias,
mãe deve ser uma loucura, né?”, também proferidos raivas, medos etc., pois somente assim poderá ter
por uma estagiária, revelam uma tentativa de confiança para mostrar-se, expondo questões que são
aproximação com a pessoa entrevistada que indica um particulares ao seu contexto de vida. Cabe ressaltar,
despreparo profissional por parte do entrevistador. porém, que muitas vezes a criança é cuidada pela avó,
que por diversos motivos (como dificuldades de
Entrevista com pais ou responsáveis locomoção, por exemplo) nem sempre pode comparecer
A entrevista com os pais ou responsáveis faz parte ao encontro marcado pelo psicólogo. Nos atendimentos
de todo o processo avaliativo da criança, inde- por nós supervisionados, houve ocasiões em que foi
pendentemente do tipo de encaminhamento. Ela é preciso que o estagiário de Psicologia fosse à casa da
essencial por propiciar o entendimento do desen- criança, para entrevistar a avó.
volvimento como um processo global e permitir
compreender dialeticamente o impacto e o sentido da Entrevista com a professora
queixa na dinâmica familiar e suas interrelações com A entrevista com a professora é fundamental em
a escola. Além de se utilizar um roteiro de anamnese situações relacionadas a queixas escolares. De acordo
que procure contemplar os diversos aspectos do com as possibilidades do profissional e com as
desenvolvimento infantil, é fundamental entender o circunstâncias de cada caso, é importante que se realize
modo de funcionamento da família, a inserção da uma observação em sala de aula, antes da entrevista
criança neste contexto e o significado da escolarização com a professora, para se verificar aspectos como a
para esse grupo. dinâmica de funcionamento do grupo, a didática utilizada,
Sendo assim, o entrevistador deve estar atento a o relacionamento adulto-criança e criança-criança, o
algumas questões, como: de que forma a família traz a vocabulário empregado pela professora, o interesse, a
queixa e como esta é relatada; qual é o sentido da motivação etc. Na avaliação psicológica de uma criança,
dificuldade apresentada; quais são as causas atribuídas o seu posicionamento no grupo, o relacionamento com a
ao “problema” (se sentem-se culpados ou dão outras professora e as suas atitudes diante das tarefas propostas
explicações); como são as relações com a escola, em merecem uma maior atenção.
especial com a professora da criança; como abordam o Após a observação, o psicólogo tem alguns elementos
processo de escolarização da criança e quais as para auxiliá-lo no entendimento do caso, considerando
expectativas em relação ao trabalho do psicólogo. as formas de inserção da criança no contexto escolar e
A observação e a compreensão desses pontos também a conduta da professora em relação à criança.
permitem a visualização da estrutura da família em Pode-se, então, verificar a coerência entre aquilo que
questão, de como a queixa é recebida, se é ou não foi observado e as respostas dadas pela docente na
assimilada, e o(s) papel(éis) atribuído(s) a cada membro entrevista.
do grupo. Essa entrevista pode ser realizada em mais O conteúdo a ser abordado na entrevista depende
de um encontro, dependendo das informações levantadas do tipo de queixa que se pretende investigar. É
pelo profissional. importante permitir à professora falar livremente sobre
Atentar para o discurso utilizado pela família é muito a criança que está sendo avaliada, e as intervenções no
importante, pois é pela sua leitura da situação que fluxo narrativo devem ocorrer se houver necessidade
podemos entender o caso. Por exemplo, quanto à de esclarecer e/ou aprofundar questões que não estejam
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muito claras e para introduzir tópicos ainda não a importância do meio em que ela vive para o seu
mencionados, mas que se mostrem fundamentais para desenvolvimento. A criança também participa da
a compreensão de toda a situação. entrevista devolutiva, acompanhada ou não pela
Cabe ressaltar que a entrevista é apenas um dos família, de acordo com cada caso. É importante que
instrumentos para a compreensão da situação que está a criança tenha a oportunidade de participar desse
sendo investigada, necessitando ser complementada, de processo, sendo considerada como ativa em todas
acordo com cada caso específico, com observações e as situações. É fundamental que, amparados pelo
pareceres de outros profissionais que porventura estejam entrevistador, os indivíduos possam encontrar
envolvidos no caso. soluções para os seus desafios pessoais, com o
máximo de autonomia, e sintam que as soluções para
Entrevista devolutiva os seus problemas lhes pertencem, porque quanto
Considera-se que a entrevista devolutiva deve ser mais isso ocorrer, menor será o risco de idealização
vista como uma oportunidade de comunicação com a do psicólogo.
criança, a família e a escola. Ela pode ter um alcance Por fim, é na entrevista devolutiva que se discutem
por bastante tempo após sua realização, de acordo com os encaminhamentos para o caso em foco, buscando
a elaboração que as pessoas envolvidas fizerem sobre o contemplar as necessidades da criança e as pos-
que foi vivenciado. Mesmo após o término da avaliação, sibilidades disponíveis e concretas de ajuda. Procura-se
novas situações relacionadas à queixa podem ser envolver sistematicamente a família e a escola em
experienciadas sob uma outra perspectiva. alternativas que possam efetivamente colaborar nesse
Nessa ocasião, existe a oportunidade de reflexão processo, considerando que o ambiente tem sempre um
sobre o caso e sobre a própria experiência de avaliação papel primordial no desenvolvimento psicológico humano.
psicológica. Não raras vezes, pais, professoras e
crianças chegam até a atingir uma profunda
compreensão sobre a origem dos conflitos e dificuldades
que estão enfrentando, podendo pensar, com o CONSIDERAÇÕES FINAIS
profissional, em alternativas que possam ajudá-los.
Na devolutiva com a professora, as informações mais O aluno de Psicologia pode aprender a realizar
relevantes sobre a criança e sua família somente são entrevistas estudando sobre elas, ouvindo relatos de
apresentadas quando relacionadas às questões da profissionais, acompanhando o supervisor durante
escolarização. Não há necessidade de se revelarem uma entrevista, mas principalmente realizando ele mesmo
certos pormenores que dizem respeito à intimidade o trabalho. A supervisão é um momento privilegiado de
daquele grupo familiar e que só serviriam para expor aprendizagem, pois permite ao aluno refletir a respeito
injustificadamente o aluno. É necessário que sejam das ações, pensamentos e sentimentos que vão
enfocados os pontos em que a escola pode colaborar constituindo sua prática. Schön (2000) circunscreve a
com a criança no seu desenvolvimento pessoal, incluindo supervisão em um “ensino prático reflexivo” que
os fatores cognitivos, os emocionais e os referentes ao possibilita a reflexão sobre a ação. O supervisor tem a
processo de socialização. As questões pedagógicas, que oportunidade de mostrar ao estagiário os modos de
forem relacionadas aos aspectos psicológicos, também atuação (envolvendo pensamentos, emoções, dúvidas
merecem ser abordadas: podem estar vinculadas tanto etc.) de um psicólogo escolar.
às dificuldades apresentadas pelo aluno como à Para Bourdieu (apud Thiollent, 1987, p. 44) toda
superação delas. técnica é uma “teoria em atos”, e Bleger (1991)
Na devolutiva com os pais ou responsáveis, considera que a técnica “é o ponto de interação entre
também são abordadas as questões mais importantes a ciência e as necessidades práticas” (p. 9). Desse
verificadas na avaliação com a criança, nas modo, é o referencial teórico adotado pelo psicólogo que
observações na escola e nas entrevistas com a vai determinar sua postura, seu olhar, seu enfoque e sua
professora. Os pais são chamados a refletir sobre o conduta. O espaço da prática também é espaço para a
entrelaçamento de questões que acabam gerando produção de conhecimento (Vilela, 1996), desde que o
uma determinada dificuldade para a criança e sobre estudante e o profissional aproveitem esse momento para

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refletir sobre sua atuação, sobre a abordagem teórica primeiro contato do aluno-estagiário com o cliente
que a embasa e sobre o vínculo indissolúvel entre prática permite-lhe associar teoria e prática, tendo na supervisão
e teoria. o apoio para esclarecimentos, orientações e discussões,
A entrevista, bem como outras técnicas empregadas no processo de elaboração do conhecimento constitutivo
no exercício da profissão, possibilita a aprendizagem. O do fazer do psicólogo.

REFERÊNCIAS Schön, D. A. (2000). Educando o profissional reflexivo: um


novo design para o ensino e a aprendizagem. Porto
Bleger, J. (1991). Temas de Psicologia: Entrevista e grupos Alegre: Artmed.
(5a ed). São Paulo: Martins Fontes. Thiollent, M. J. M. (1987). Crítica metodológica, investigação
Fernández, A. (1990). A inteligência aprisionada. Porto e enquete operária. (5a ed). São Paulo: Polis.
Alegre, RS: Artes Médicas. Vilela, A. M. J. (1996) Formar-se psicólogo: como ser livre
Pain, S. (1992). Diagnóstico e tratamento dos problemas de como um pássaro. Tese de Doutorado. Instituto de
aprendizagem (4a ed). (A.M.N. Machado, Trad.) Porto Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo.
Alegre: Artes Médicas. Winnicott, D. W. (1983). O ambiente e os processos de
Ribeiro, M. J., Silva, S. M. C. & Ribeiro, E. E. T. (1998). Avaliação maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento
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(5), 75-92.
Souza, M. P. R. (1996). A queixa escolar e a formação do Recebido em: 28/11/03
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