Manual de Praticas Restaurativas Falta12 PDF
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PRÁTICAS RESTAURATIVAS
Organizadores: Cláudia Machado, Leoberto Brancher e Tânia Benedetto Todeschini
Iniciativa e Coordenação:
3a Vara do Juizado Regional da Infância e Juventude de Porto Alegre/RS
Responsabilidade Social:
Associação dos Juizes do Rio Grande do Sul - AJURIS / Escola Superior da Magistratura
Agradecimentos:
Programa Criança Esperança / UNESCO, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento,
Secretaria da Reforma do Judiciário, Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da
República, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.
Parceiros Institucionais:
3ª Promotora de Justiça da Promotoria de Justiça Especializada da Infância e da Juventude de Porto Alegre,
3ª Vara do Juizado Regional da Infância e da Juventude de Porto Alegre,
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul,
Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Porto Alegre,
Defensoria Pública do Estado do Rio Grande do Sul, Escola Superior da Magistratura da Ajuris,
Escritório Antena da Unesco no Rio Grande do Sul,
Faculdade de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
Fórum Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Porto Alegre,
Fundação de Assistência Social e Cidadania do Município de Porto Alegre,
Fundação de Atendimento Sócio-Educativo do Estado do Rio Grande do Sul,
Fundação Escola Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul.
Projeto Justiça Instantânea, Secretaria da Educação do Estado do Rio Grande do Sul,
Secretaria da Justiça e do Desenvolvimento Social do Estado do Rio Grande do Sul,
Secretaria da Educação do Estado do Rio Grande do Sul,
Secretaria Municipal da Juventude de Porto Alegre,
Secretaria Municipal de Coordenação Política e Governança Local de Porto Alegre,
Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Segurança Urbana de Porto Alegre,
Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre,
Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre.
Produção |
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
J97 Justiça para o Século 21: instituindo práticas restaurativas : círculos restaurativos: como fazer? : manual de procedimentos
para coordenadores / compilação, sistematização e redação Cláudia Machado, Leoberto Brancher, Tânia Benedetto Todes-
chini. - Porto Alegre, RS : AJURIS, 2008.
44p. : il.
Anexos
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-08-2452.
1. Justiça restaurativa - Manuais, guias, etc. 2. Reparação (Direito). 3. Mediação. 4. Menores - Estatuto legal, leis, etc. 5.
Processo penal. I. Machado, Cláudia, 1968-. II. Brancher, Leoberto, 1962-. III. Todeschini, Tânia Benedetto, 1960-. IV. Asso-
ciação dos Juízes do Rio Grande do Sul. V. Título: Manual de práticas restaurativas.
CDU: 343.24
Reprodução: autorizada, mediante a preservação do conteúdo e da apresentação dos originais e citação da fonte.
Originais e formulários anexos disponíveis para download no site www.justica21.org.br
Contato: (51) 3210.6773 – [email protected]
SUMÁRIO
Apresentação..................................................................... 3
1. Justiça Restaurativa ..................................................... 5
2. Valores da Justiça Restaurativa.................................... 6
3. Procedimento Restaurativo........................................... 8
4. Pré-círculo Restaurativo ............................................... 11
5. Círculo Restaurativo ..................................................... 13
6. Pós-círculo Restaurativo............................................... 17
7. Orientações Gerais....................................................... 19
8. Perguntas e Respostas................................................. 21
Referências........................................................................ 25
Sugestões de Leitura ......................................................... 26
Anexos............................................................................... 27
Uma palavra qualquer pode gerar uma discórdia
Uma palavra cruel pode ser destrutiva
Uma palavra amarga pode provocar o ódio
Uma palavra brutal pode romper um afeto
Uma palavra agradável pode suavizar o caminho
Uma palavra a tempo pode evitar um conflito
Uma palavra alegre pode iluminar o dia
Uma palavra amorosa pode mudar um comportamento
S.A. de Narcea
Procedimento
3 Restaurativo
3. Processo Restaurativo 9
O coordenador
de um Círculo Restaurativo:
O Pré-círculo propicia condições para que os fatos. O encontro só ocorre se os fatos IMPORTANTE!
o Círculo possa acontecer. Desenvolve- estiverem claros, de antemão, e o autor
se por meio de encontros do coordenador admitir tê-los praticado. O resumo destes No Pré-círculo, cabe ao coordenador:
em momentos distintos com autor, recep- fatos destina-se à leitura na abertura dos
tor e comunidade, visando convergir com trabalhos do Círculo e deve conter, tam- l cuidar das pré-condições que
cada um sobre: o fato ocorrido, suas con- bém, informações como data, local, pes- permitirão a convergência de todos
seqüências, o restante do procedimento soas envolvidas. Isto servirá para evitar os participantes do círculo a um
restaurativo, os outros participantes que divergências, ao longo do procedimento, mesmo fato;
serão convidados e a vontade genuína de sobre como exatamente os fatos aconte- l ao reunir-se com cada participante,
prosseguirem nas etapas seguintes. Isto é ceram, e para fixar, claramente, o foco do escutá-los de maneira empática,
feito no contexto do estabelecimento de um círculo, evitando que o conflito seja nega- com o objetivo de definir com eles o
vínculo de confiança entre os participantes do ou enfrentado de forma superficial. fato a ser abordado no Círculo;
e o coordenador. l apresentar “o mapa” do processo,
No caso dos processos judiciais, pode-se que inclui: os passos do procedi-
O Pré-círculo é o primeiro contato com os utilizar o resumo que já consta no processo mento oferecido, seus propósitos
participantes do Círculo, no qual o coorde- (na denúncia ou representação oferecida em direção à construção com-
nador precisa inteirar-se de todas as infor- pelo Ministério Público), mas cuidando para partilhada de um Acordo e a sua
mações disponíveis sobre o fato que pro- alcançar um texto de fácil compreensão. A avaliação no Pós-círculo.
moveu o conflito. Quando possível, a leitura objetividade deve ser priorizada, enfocando
de documentos deve ser complementada diretamente os acontecimentos, embora al-
por contatos informais, inclusive com os gumas situações possam recomendar que
profissionais já envolvidos no atendimento, sua abordagem seja menos frontal.
para tornar mais clara sua visão sobre o
que, realmente, aconteceu. É importante lembrar que nesta etapa de
Pré-círculo, o coordenador está cuidando
O Círculo não tem como objetivo descobrir das pré-condições que permitirão a con-
culpados ou investigar como ocorreram vergência de todos os participantes do
11
Círculo a um mesmo fato, que será o foco Esta e as demais etapas exigem prepa-
do encontro entre eles. Por isso, a confe- ração do coordenador para encontrar-se
rência deste resumo com os participantes, com os envolvidos, fortalecendo-se em
nas reuniões do Pré-círculo assegura que, suas convicções sobre a importância da-
mesmo havendo divergências dos partici- quilo que está propondo aos participantes
pantes quanto a detalhes sobre como o fato e das razões do que está propondo. Para
se deu, todos estão confortáveis com uma tanto, o coordenador deve conectar-se com
descrição objetiva e sintética de um fato suas forças internas e contar, também, com
ocorrido, que envolve o(s) autor(es) deste o apoio de outras pessoas já capacitadas
fato, o(s) receptor(es) e a comunidade. para a realização de Círculos Restaurati-
vos, de modo a sentir-se seguro sobre aqui-
lo que está fazendo e de seu por quê.
l Deve se colocar em conexão com suas forças l O coordenador, ao se apropriar do caso, tem a
internas, preparando-se consigo mesmo: alternativa de propor que seja reconsiderado se
compromisso espiritual e o contato com o este caso é mesmo adequado ao Procedimento
paradigma em que irá atuar. Restaurativo. A adequação pode dizer respeito
l Deve se preparar com apoio de seus colegas: a princípios e critérios eletivos. O coordenador
reunir para supervisão mútua, pedir e oferecer a tem a alternativa, também, de declinar do caso
escuta empática com o outro. para outro coordenador, inclusive por alguma
razão de ordem pessoal. Finalmente, os contatos
2. Acolhimento com o autor do fato ou com o receptor podem
l Receber a solicitação e agendar a conversa. sugerir essa inadequação, por questões de
l Apropriação e resumo do caso: focar no que perfil pessoal. Caso haja essa mudança de
cada um fez e falou. entendimento, o coordenador vai contatar
l Informar sobre o processo: convidar quem quem originou o encaminhamento para, juntos,
precisa fazer parte e obter o Termo de reavaliarem a situação.
Consentimento.
3. Agendar e cuidar
l Marcar o horário com cada participante, checar o
horário na instituição, compartilhar com a equipe.
l Cuidar da sala: criar um ambiente agradável e
sem barulho; providenciar água, lencinhos, papel,
caneta; disponibilizar os passos na parede e/ou
em cada cadeira.
Ao começar o Círculo Restaurativo, o co- Quando todos estiverem nos seus luga-
ordenador deve criar seu próprio modo de res, o coordenador declara a abertura dos l Abertura – acolhimento e
colocar-se em conexão com suas forças trabalhos, agradece a presença de todos, apresentação.
internas – inteligência, intuição, empatia, transmite algumas palavras que inspirem
sabedoria, espiritualidade – inspirando-se admissão do passado, confiança no pre- l Encontrar as pessoas e levá-
para o Círculo Restaurativo. sente e esperança no futuro. A seguir, per- las até a sala.
mite a auto-apresentação de todos, explica
É necessário reservar um momento an- os procedimentos que serão seguidos e l Apresentar e agradecer a
terior ao acolhimento ou à instalação do o seu papel como coordenador. Também presença de todos.
Círculo Restaurativo para esse contato pro- reitera o conteúdo do Termo de Consen-
fundo consigo mesmo e para engajar-se no timento e colhe eventual assinatura ainda l Esclarecer a intenção do
contexto em que vai atuar. O acolhimento, não obtida, além de reforçar a importância Círculo Restaurativo.
representado pelas saudações e pelos pri- da participação ativa de todos em todas as
meiros contatos, dá início, informalmente, à etapas seguintes. l Explicar os passos do Circulo.
instalação do Círculo Restaurativo, e é uma
hora decisiva na transição para a maior l Lembrar o conteúdo do Termo
formalidade do encontro. Um acolhimento de Consentimento e coletar
terno e respeitoso, dedicado a cada um dos as assinaturas.
participantes, ajuda a distensionar o clima e
a fluir melhor o momento da instalação e os
passos iniciais do Círculo Restaurativo.
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O Círculo Restaurativo se dá em três momentos. Vamos
acompanhar o que acontece em cada um deles
Obs: este exemplo foi baseado numa situação em que a pessoa A era o receptor do
fato e a B o autor.
O primeiro momento está voltado para as sar é o receptor do fato, dando a oportu-
necessidades atuais dos participantes nidade para que ele seja compreendido
em relação ao fato ocorrido, e orientado pelos demais e confirme esta compreen-
para a compreensão mútua, entre os são. A mesma dinâmica acontece com os
participantes, destas necessidades. O outros participantes. A comunidade deve
diálogo e a compreensão mútua vão fluir se manifestar ao final da compreensão
melhor, de um momento para o outro, à mútua entre o autor e o receptor do fato.
medida que todos os presentes tiverem a
oportunidade de se expressar e sentirem- O segundo momento do Círculo Restau-
se satisfeitos por terem sido, verdadeira- rativo está voltado para as necessidades
mente, escutados e compreendidos nas dos participantes ao tempo dos fatos,
suas necessidades atuais em relação ao e orientado para a auto-responsabilização
fato ocorrido e suas conseqüências. Usu- dos presentes. O diálogo e a auto-res-
almente, a primeira pessoa a se expres- ponsabilização vão fluir melhor à medida
5. Círculo 15
que todos os presentes tiverem a oportu- do pelos demais e confirme esta compreen-
nidade de se expressar e sentirem-se sa- são. A mesma dinâmica acontece com os
tisfeitos por terem sido, verdadeiramente, outros participantes, tal como já ocorreu no
escutados e compreendidos sobre o que primeiro momento. A comunidade deve se
realmente estavam precisando no momen- manifestar ao final da auto-responsabiliza-
to do fato. Em geral, a primeira pessoa a ção do autor e do receptor do fato.
se expressar é o autor do fato, dando a
oportunidade de que ele seja compreendi- O terceiro momento do Círculo Restaura-
tivo está voltado para as necessidades
dos participantes a serem atendidas, e
orientado para o acordo. O diálogo entre
os presentes na formulação do acordo vai
fluir melhor à medida que todos tiverem a
oportunidade de se expressar e solicitar/
oferecer alternativas sobre o que deve ser
feito para se sentirem atendidos em suas
necessidades. O momento do acordo per-
mite aos presentes definir e propor ações
concretas para transformarem seu confli-
to, firmando um compromisso com prazos
claros e possíveis para a realização destas
ações mediante a recapitulação das neces-
sidades não atendidas manifestadas pelos
participantes.
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No quadro podemos 1. Agendar o Pós-círculo
acompanhar cada A agenda do Pós-círculo é marcada no momento do acordo durante a realização do
Círculo Restaurativo. Cabe ao coordenador agendar a sala na instituição, no dia e hora
fase do Pós-círculo: combinados anteriormente, compartilhando com sua equipe
2. Cuidar da sala
Criar um ambiente agradável e sem barulho; providenciar água, lencinhos, papel, ca-
neta; disponibilizar em local visível material explicativo sobre os passos do círculo (na
parede ou em cada cadeira).
3. O encontro
Quando as ações do acordo tiverem êxito no atendimento das necessidades dos en-
volvidos, celebrar!
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A formulação do acordo tem por base as
necessidades não atendidas de cada par-
ticipante, conforme tenham sido identifica-
das ao longo das etapas do Círculo Res-
taurativo. Como introdução ao momento do
acordo, é possível recapitular e refinar essa
identificação das necessidades, anotando-
as esquematicamente. A seguir, o coorde-
nador encoraja os participantes a fazerem
propostas para um provável acordo, que se
relaciona com as necessidades não aten-
didas antes registradas, no sentido de as-
segurar a reparação ou compensação das
conseqüências do fato. E para que o fato
não se repita.
Termo de Consentimento
21
reparar danos causados, restaurar o res e dos procedimentos restaurativos, campo conceitual – o da Justiça Restau-
senso de justiça e reintegrar todos em dando a oportunidade aos envolvidos de rativa. A partir deste novo campo con-
sua comunidade. Isso acontece por uma nova abordagem como resposta às ceitual, o Projeto ressignifica a própria
meio do diálogo, que compartilha o po- infrações e para a resolução de proble- idéia de justiça, que tende a sustentar
der, as escolhas nas decisões, e que mas ou conflitos. práticas sociais e institucionais natura-
aproxima e facilita a ação que beneficia lizadas na nossa vida em sociedade e
a todos. É a oportunidade de assumir que, buscando reduzir violências e con-
nossas responsabilidades para ensinar Quais as perspectivas de uma flitos, antes os amplificam.
a prática da não violência. abordagem restaurativa?
Segundo proposição de Daniel Van Ness
e Strong, a abordagem restaurativa pres- Por que uma nova justiça para o
Quais os três eixos que compõem a supõe três perspectivas básicas: século 21?
Justiça Restaurativa? A idéia de justiça, tal como cultural-
A reparação de danos; o envolvimento 1) Reparação do dano: ter o foco nas mente acreditamos e funcionalmente
dos afetados e dos membros da sua co- conseqüências da infração, nas necessi- reproduzimos – dentro e fora do Poder
munidade; a transformação do papel go- dades das vítimas e nas formas de com- Judiciário – tem suas práticas usuais
vernamental e da comunidade, mudança pensação das perdas. baseadas na opressão, na subjugação
sistêmica. ou na eliminação simbólica do outro,
2) Envolvimento das partes interessadas: como uma condição pressuposta à sua
reunir aqueles que foram afetados pela distribuição. Realizamos justiça todos
Quais os fundamentos éticos da infração, como o ofensor, a vítima, os fa- os dias, por meio de relações verticais
Justiça Restaurativa? miliares, os amigos e outras pessoas do e hierárquicas, em que competências
São oito: horizontalidade entre os en- grupo de relacionamento, além de mem- são distribuídas, delegações de poder
volvidos; cooperação voluntária no pro- bros da comunidade. exercidas e decisões tomadas, no cora-
cesso; reconhecimento da humanidade ção das quais a palavra que prepondera
de todos; reconhecimento dos anseios 3) Transformação das pessoas, comu- sempre é a do outro, ou seja, uma pala-
desenvolvidos por valores que todos nidade e governo: repensar os papéis vra alheia, que se faz ouvir por meio da
têm em comum; respeito pelas fortes e as responsabilidades das pessoas verticalidade de imposições coercitivas.
emoções que pessoas vítimas de trans- envolvidas, das pessoas relacionadas, Vontades superiores autorizam o uso de
gressões podem experimentar; empatia dos serviços e das autoridades diante violências a pretexto de seu emprego
para com os valores desconsiderados dos conflitos, da violência e da crimina- estar a serviço da proteção de coletivi-
por uma transgressão; responsabilidade lidade. dades, e não raro na idéia de fazer o
de todos pelas futuras conseqüências de bem em nome daqueles que não o re-
transgressões; ações que curam e res- conhecem.
tauram o valor simbólico e real do que foi Como ocorre o processo da Justiça
perdido ou quebrado. Restaurativa?
Todas as partes envolvidas em um fato Qual a relação existente entre o
que causou ofensa reúnem-se para de- Projeto Justiça para o Século 21 e a
O que são práticas restaurativas e cidir, coletivamente, como lidar com as Justiça Restaurativa?
como se aplicam? circunstâncias decorrentes deste fato e O projeto Justiça para o Século 21 obje-
As práticas restaurativas compreendem suas implicações para o futuro. tiva divulgar e aplicar as práticas da Jus-
um conceito ampliado de justiça, e, tiça Restaurativa no Sistema de Justiça e
assim, transcendem a aplicação mera- de Atendimento à Infância e à Juventude,
mente judicial de princípios e valores da O que é o Projeto Justiça para o na interface com as demais políticas pú-
Justiça Restaurativa. Costuma-se utili- Século 21? blicas, como estratégia de enfrentamen-
zar a expressão “práticas restaurativas” O Projeto Justiça para o Século 21 to e prevenção à violência, envolvendo
para referir-se, de forma generalizada, orienta-se por contribuir na construção crianças e adolescentes.
às diversas estratégias (judiciais ou de uma nova justiça, pela afirmação e
não), que se valem da visão, dos valo- experimentação prática de um novo
8. Perguntas e Respostas 23
surgiu, e para, ativamente promover Quem pode participar dos Círculos preferir ficar apenas ouvindo, não há
mudanças futuras. Para a vítima/recep- Restaurativos? nenhum problema. A conversa é guia-
tor do fato, a participação depende da Qualquer pessoa envolvida direta ou in- da pelo coordenador, que procura fa-
sua voluntária e sincera vontade de as- diretamente no conflito. Ou seja, aquelas zer com que cada pessoa possa falar
sumir responsabilidade para seu próprio que participaram ativamente no momen- e ser ouvida, esclarecendo suas dúvi-
bem estar, e solicitar ações que, concre- to em que o conflito ocorreu, e também das e anseios a respeito do fato que
tamente, transformarão sua forma de se aquelas que, mesmo não estando pre- iniciou o conflito.
ver, e de ver os outros, depois da expe- sentes no momento do conflito, se sen-
riência com o fato. tem de alguma forma atingidas.
E se durante o Círculo alguém tentar
agredir os participantes?
Como definir a participação do Caso eu seja convidado a participar Somente participa do Círculo quem
coordenador? de um Círculo, sou obrigado a estar aceitou o convite no Pré-círculo, as
Para o coordenador, a participação presente? combinações, os princípios da Justiça
depende da sua voluntária e sincera Não, as pessoas são sempre convida- Restaurativa. Acordaram que todos pos-
vontade de NÃO assumir responsabi- das. Mesmo quem já está participando do sam ouvir e ser ouvidos da forma mais
lidade pelos outros participantes. Em Procedimento Restaurativo é livre para respeitosa possível, podendo a qualquer
vez disso, deve utilizar um conjunto de desistir a qualquer momento. O Proce- momento sair do encontro, caso sinta
habilidades ligadas ao entendimento dimento Restaurativo é 100% voluntário algum constrangimento ou mal estar.
do conflito, bem como habilidades de para todos que estão participando dele, Sendo assim, não haverá motivo para
comunicação e concentração, soma- inclusive o coordenador. que qualquer tipo de violência aconteça
das a um conhecimento das dinâmicas durante o Círculo.
próprias ao Procedimento Restaurativo,
à disponibilidade de compartilhar autori- Quem pode falar durante o Círculo
dade e ao compromisso pessoal com a Restaurativo? Onde posso ler mais sobre Justiça
prática da proposta. Todos os presentes que escolheram Restaurativa?
participar e que quiserem se mani- No site do Projeto Justiça para o Século
festar naquele momento. Se alguém 21: www.justica21.org.br
EDNIR, Madza (org). Justiça e educação em Heliópolis e Guarulhos: parceria para cida-
dania. ‘São Paulo: CECIP, 2007.
FAGUNDES, Márcia Botelho. Aprendendo valores éticos. 6 ed. Belo horizonte: Autêntica,
2006.
MARSHALL, Chris; BOYARD, Jim; BOWEN, Helen. Como a justiça restaurativa assegura
a boa prática? Uma abordagem baseada em valores. In: SLAKMON, C; DE VITTO, R.;
PINTO, R. Gomes (Org.) Justiça Restaurativa. Brasília/DF: Ministério da Justiça, PNUD,
2005.
PRANIS, Kay. Manual para facilitadores de círculos. San José, Costa Rica: CONAMAJ,
[s.d.] Tradução livre do original em espanhol.
25
Sugestões de leitura
AGUINSKY, Beatriz Gershenson; BRANCHER, Leoberto Narciso. Pro- OLIVEIRA, Leisa Ferreira. A Justiça Restaurativa no sistema de atendi-
jeto Justiça para o Século 21. Relato da implementação do Projeto Pi- mento ao adolescente infrator: implicações para o processo de trabalho
loto de Justiça Restaurativa junto à 3ª Vara da Infância e da Juventude do assistente social. Trabalho de conclusão de curso, Faculdade de
de Porto Alegre, RS. Porto Alegre, 2006. Disponível em: www.justica21. Serviço Social, PUCRS, 2007. Disponível em: http://revistaseletroni-
org.br/interno.php?ativo=BIBLIOTECA cas.pucrs.br/scientiamedica/ojs/index.php/graduacao/article/view/2844
BRANCHER, Leoberto Narciso & AGUINSKY, Beatriz. Juventude, Cri- PINTO, Renato Sócrates Gomes. A Construção da Justiça Restaurativa
me & Justiça: uma promessa impagável. In: ILANUD; ABMP; SEDH; no Brasil. O impacto no sistema de justiça criminal. Texto elaborado em
UNFPA.(Org.). Justiça, adolescente e ato Infracional. São Paulo,
Junho, 2006. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.
2006.
ROSENBERG, Marshall B. Comunicação Não-violenta. Técnicas para
BRANCHER, Leoberto. Iniciação em Justiça Restaurativa – Subsídios
aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. São Paulo: Edito-
de Práticas Restaurativas para a Transformação de Conflitos. Soul
Agência de Marcas e Propaganda, Porto Alegre, 2006. ra Ágora, 2006.
BRANCHER, Leoberto. Justiça, Responsabilidade e Coesão Social. In: SICA, Leonardo. Justiça restaurativa e mediação penal: o novo modelo
Slakmon, Catherine; Machado, Maíra Rocha; Bottini, Pierpaolo Cruz de justiça criminal e de gestão do crime. Rio de Janeiro: Lúmen Juris,
(Orgs.). Novas Direções na Governança da Justiça e da Segurança. 2007.
Brasília-DF: Ministério da Justiça, 2006.
SLAKMON, Catherine; MACHADO, Maíra Rocha; BOTTINI, Pierpaolo
CAPITÃO, Lúcia Cristina Delgado. Sócio-educação em xeque: interfaces Cruz (Orgs.). Novas Direções na Governança da Justiça e da Seguran-
entre a justiça restaurativa e democratização do atendimento a adoles- ça. Brasília-DF: Ministério da Justiça, 2006.
centes privados de liberdade. Dissertação de Mestrado. Programa de
Pós-Graduação em Serviço Social, PUCRS, 2008. Disponível em: http:// SLAKMON; VITTO, C.R. de; PINTO, R.G. (Orgs). Justiça Restaurativa.
tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1324 Lúcia Brasília - DF: Ministério da Justiça - MJ e Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento – PNUD, 2005.
KONZEN, Afonso Armando. Justiça Restaurativa e fato infracional:
desvelando sentidos no itinerário da alteridade. Porto Alegre: Livraria ZEHR, Howard . Trocando as Lentes: um novo foco sobre o crime e a
do Advogado Editora, 2007. justiça. Tradução de Tônia Van Acker. São Paulo: Palas Athena, 2008.
MARSHALL, Chris; BOYACK, Jim; BOWEN, Helen. Como a justiça ZEHR, Howard. Avaliação e Princípios da Justiça Restaurativa. In:
Restaurativa assegura a boa prática? Uma abordagem Baseada em Slakmon, Catherine; Machado, Maíra Rocha; Bottini, Pierpaolo Cruz
Valores. In: SLAKMON; VITTO, C.R. de; PINTO, R.G. (Orgs). Justiça (Orgs.). Novas Direções na Governança da Justiça e da Segurança.
Restaurativa. Brasília - DF: Ministério da Justiça - MJ e Programa das Brasília-DF: Ministério da Justiça, 2006.
Nações Unidas para o desenvolvimento – PNUD, 2005.
ZEHR, Howard. O Que a Justiça Restaurativa Não é..., Sociedade
McCOLD, e WACHTEL; Paul, e Ted. Em Busca de um Paradigma: Uma Jurídica da Nova Zelândia (Org.). In: Seminário “Sentenças - As no-
Teoria de Justiça Restaurativa. Trabalho apresentado no XIII Congres-
vas dimensões”, 2002. Apresentação pelo Juiz FWM (Fred) McElrea.
so Mundial de Criminologia, 15 de agosto de 2003, Rio de Janeiro.
Tradução pelo Ministério da Justiça & Programa das Nações Unidas
Disponível em: www.justica21.org.br/interno.php?ativo=BIBLIOTECA
para o Desenvolvimento para uso interno nas capacitações do projeto:
OLIVEIRA, Fabiana Nascimento de. Justiça Restaurativa no Sistema Promovendo Práticas Restaurativas no Sistema de Justiça Brasileiro.
de Justiça da Infância e Juventude: um Diálogo Baseado em Valores. Disponível em: www.justica21.org.br/interno.php?ativo=BIBLIOTECA
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Serviço
Social, PUCRS, 2007.