Parecer Psicologia e Benefícios Assistenciais e Eventuais
Parecer Psicologia e Benefícios Assistenciais e Eventuais
Parecer Psicologia e Benefícios Assistenciais e Eventuais
Dos fatos
O Conselho Regional de Psicologia da 11ª Região (CRP 11) tem recebido com
frequência pedidos de orientação a respeito da atuação e da confecção de documentos
na Política de Assistência Social, mais especificamente sobre os limites e possibilidades
da concessão de benefícios assistenciais e eventuais na citada política. Neste sentido,
seguem as orientações e os cabíveis trâmites dos quais trata este parecer.
Do mérito da causa
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com
dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada.
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Art 5°- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
Quais são as orientações gerais sobre os documentos que o psicólogo pode produzir? 3
01. Em caráter preliminar, é importante atentar para o fato de que o documento de
referência que trata da elaboração de documentos psicológicos é a RESOLUÇÃO CFP
N.º 007/2003. Esta normativa especifica a existência dos seguintes documentos:
Declaração, Atestado Psicológico, Relatório/Laudo Psicológico e Parecer Psicológico.
Esta resolução supracitada, no entanto, não previu as diversas outras formas de registro
profissional de psicologia, bem como não previu de forma específica as possibilidades
de registro de atos em equipes multiprofissionais das quais o psicólogo é partícipe. É
sabido que não há como as normas orientadoras da profissão darem conta das diversas
possibilidades de registro profissional.
técnico das profissões que trabalham nos serviços. A regra é que os profissionais
possam fazer muitas funções em comum e que os conhecimentos de cada profissão
possam enriquecer a análise e intervenção conjunta nos diversos fenômenos sociais
existentes no cotidiano das famílias. Esse traço é facilmente perceptível no conjunto de
resoluções emitidas pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) para ordenar
a política pública acima referida.
02. Não existe nenhuma vedação legal específica sobre o fato de o profissional de
Psicologia assinar documentos em conjunto com os demais profissionais. No caso da
Política de Assistência Social, dentre os profissionais que compõem as equipes, os
profissionais Assistentes Sociais possuem vedação quanto a assinatura em conjunto em
documentos técnicos. De acordo com a RESOLUÇÃO CFESS Nº 557/2009 que dispõe
sobre a emissão de pareceres, laudos, opiniões técnicas conjuntos entre o assistente
social e outros profissionais, os profissionais assistentes sociais devem seguir as
seguintes determinações:
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O que se pode perceber da normativa é que o profissional assistente social deve elaborar
separadamente elementos de decisão técnica sobre o seu fazer e suas intervenções,
muito embora se possa fazer avaliação multiprofissional conjuntamente com as demais
categorias.
a) Não há vedação normativa para que psicólogos assinem documentos conjuntos com 5
as demais categorias profissionais;
b) Apesar de tal fato, este parecerista orienta para que os psicólogos não assinem
documentos em conjunto quando tais documentos envolverem decisão técnica sobre o
acompanhamento de indivíduos e coletividades. A fundamentação desta orientação
consiste no fato de que, em eventual processo ético, ficará muito difícil distinguir o que
afirmou o psicólogo no documento assinado e o que afirmaram as demais categorias
profissionais. Neste sentido, assinar documentos técnicos em conjunto traz um contexto
de fragilidade ética e técnica para o profissional de Psicologia. Recomendo, assim, que
os profissionais de Psicologia façam documentos técnicos separados ou que
especifiquem nos documentos conjuntos qual o ato de decisão técnica da Psicologia
com vistas a preservação da segurança jurídica e ética dos atos profissionais
personalísticos;
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Este benefício assistencial é previsto pela Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), a
saber, a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 que dispõe sobre a organização da
Assistência Social e dá outras providências. Assim descreve a referida Lei a respeito do
citado benefício:
CAPÍTULO IV
SEÇÃO I
Psicólogos podem e devem emitir relatórios de avaliação circunstanciada com base nas
informações disponíveis no território e no acompanhamento realizado sobre a situação
psicossocial1 de indivíduos e coletividades para encaminhamento ao INSS e aos órgãos
competentes. É fundamental que tais encaminhamentos sejam feitos em articulação com
os profissionais assistentes sociais com vistas a solidez dos encaminhamentos feitos.
Este benefício assistencial também é previsto pela Lei Orgânica da Assistência Social
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(LOAS), a saber, a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 que dispõe sobre a
organização da Assistência Social e dá outras providências. Assim descreve a referida
Lei a respeito do citado benefício:
SEÇÃO II
Psicossocial
psi·cos·so·ci·al
adj m+f
1 Que envolve simultaneamente aspectos psíquicos e sociais.
2 Que trata das relações sociais sob o foco da saúde mental.
ETIMOLOGIA
voc comp do gr psykhē+o+lat socialis, como fr psychosocial.
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Art. 17. Recomendar que o critério de renda mensal per capita familiar para
acesso aos benefícios eventuais estabelecido pelo Distrito Federal e pelos
Municípios atenda ao determinado no art. 22 da Lei 8.742, de 1993, não
havendo impedimento para que o critério, seja fixado em valor igual ou
superior a ¼ do salário mínimo.
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Desta feita, é possível perceber que o CNAS delegou aos municípios a escolha dos
critérios de concessão dos Benefícios Eventuais previstos em Lei. Esta escolha de
critérios por parte dos municípios tem ocorrido, em alguns casos, com repetidos traços
de ilegalidade. A ilegalidade que afirmo consiste no fato de que Leis municipais, e por
vezes Leis estaduais, tem tomado para si competências legislativas das quais são
atribuições privativas da União segundo determina a Carta Magna de 1988.
Vejamos, então, o que dizem, a título de ilustração, as algumas Leis municipais recentes
que tratam dos Benefícios Eventuais:
Art. 4º - O critério de renda mensal per capita para acesso aos benefícios
eventuais é igual ou inferior a ¼ do salário mínimo vigente e que esteja
regularmente cadastrado no Cadastro Único, devidamente comprovada pelo
número de identificação social – NIS.
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Em ambas as leis, usadas com mero caráter ilustrativo, bem como em diversas outras
leis municipais e estaduais, existem alguns condicionamentos sobre a concessão ou
avaliação de concessão de Benefícios Eventuais mediante a expedição de documentos
da seguinte natureza: estudos sociais, pareceres sociais e laudos sociais. Esta nobre
opção dos legisladores em assim determinar por meio de Lei (municipal e estadual) o
regramento dos Benefícios Eventuais possui o fundo republicano de criar mecanismos
de qualificação técnica e ética para concessão e avaliação de finalidade dos benefícios
concedidos a quem deles necessitam. Todos os documentos acima exigidos são de
competência dos profissionais assistentes sociais e possuem consagrada literatura a
respeito, bem como estudos científicos para a estruturação e elaborações de tais
instrumentalidades.
Ocorre que, embora o legislador municipal de estadual esteja imbuído das melhores
intenções em elaborar tais normativas, as Leis municipais citadas invadem competência
federal ao disciplinar a concessão de tais benefícios. Esta competência legal de
determinar que os benefícios sejam concedidos mediante avaliações de profissão X ou
Y caberia apenas à Leis federais como bem determinam os seguintes dispositivos
constitucionais (CF/1988):
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 10
propriedade, nos termos seguintes:
(grifos do parecerista).
Como se pode notar, o legislador não reservou, na Lei que regulamenta a profissão, aos
profissionais assistentes sociais o ato privativo de opinar e deferir sobre benefícios. Os
atos privativos são todos os que existem no Art. 5º da citada Lei e, neste artigo, não há
previsão de que seja atribuição privativa do assistente social opinar sobre o mérito de
questão, embora a opinião técnica (esta sim, privativa) seja de fundamental importância
para qualificar a concessão dos referidos benefícios socioassistenciais.
Para que não restem dúvidas a respeito desta possível controvérsia, o Conselho Federal
de Serviço Social (CFESS), na data de 13 de setembro de 1998 solicitou parecer a sua
competente assessora jurídica, a senhora Sylvia Helena Terra (OAB/SP 43443), tendo
sido o referido parecer aprovado à época. Versava o documento sobre as competências e
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atribuições privativas do assistente social. Seguem alguns termos deste parecer no foco
deste debate:
Nestes termos, a assessora do CFESS tentou dar caráter abrangente a algo que a lei não
autorizou e, portanto, não confere fato de direito. A realização de estudos
socioeconômicos, à luz da Lei, é competência do profissional assistente social, mas não
é seu ato exclusivo/privativo e, por tal circunstância, pode ser feito por outras
profissões, inclusive a Psicologia mediante fundamentação técnica.
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Ou seja, sob critérios diferentes, é possível que o profissional de Psicologia elabore
documentos relativos a concessão e avaliação de benefícios socioassistenciais de caráter
ordinário ou eventual.
“Os devidos encaminhamentos referentes a tal documento encaminhado devem seguir as normativas
previstas no Código de Ética Profissional do Psicólogo (Resolução CFP 010/2005), em especial nos
seguintes termos: Art. 6º – O psicólogo, no relacionamento com profissionais não psicólogos: b)
Compartilhará somente informações relevantes para qualificar o serviço prestado, resguardando o
caráter confidencial das comunicações, assinalando a responsabilidade, de quem as receber, de
preservar o sigilo”.
f) Atas de reuniões;
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b) Relatórios Psicossociais (Relatório com a finalidade de avaliar fatores além dos
aspectos psicológicos – moradia, renda, escolaridade, arranjo familiar, percurso
institucional de saúde e de outras políticas públicas de indivíduos e familiares,
convivência familiar e comunitária e análise de violação de direitos, cabendo ao
profissional de Psicologia deixar explícito seu entendimento técnico, sua assinatura e
carimbo). Os relatórios psicossociais podem ser complementados por
instrumentalidades tais como: genogramas, ecomapas e outras ferramentas técnicas
reconhecidas pela comunidade científica e pelo sistema conselhos de Psicologia para
compreensão de fenômenos articulados com as famílias acompanhadas;
c) Relatórios Socioeconômicos (podem ser feitos para finalidades de avaliação dos
benefícios assistenciais citados neste relatório e apresentando a leitura da Psicologia
sobre a realidade dos indivíduos e familiares, cabendo ao profissional de Psicologia
deixar explícito seu entendimento técnico, sua assinatura e carimbo);
d) Em caso de dúvida a respeito dos documentos acima citados, ou em caso de dúvidas
sobre os demais documentos possíveis, deve-se submeter à consulta no Conselho
Regional de Psicologia (CRP).
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Conclusão
É O PARECER
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Diego Mendonça Viana
Psicólogo CRP 11/06632
Conselheiro do IX Plenário do CRP 11
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