As Ciências Biológicas e Da Saúde Na Contemporaneidade

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Nayara Araújo Cardoso CAPÍTULO

Renan Rhonalty Rocha


Maria Vitória Laurindo
RESERVADO PARA TITULO
(Organizadores)

As Ciências Biológicas e da Saúde na


Contemporaneidade

Atena Editora
2019

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 2


2019 by Atena Editora
Copyright da Atena Editora
Editora Chefe: Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira
Diagramação e Edição de Arte: Natália Sandrini e Lorena Prestes
Revisão: Os autores

Conselho Editorial
Prof. Dr. Alan Mario Zuffo – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Prof. Dr. Álvaro Augusto de Borba Barreto – Universidade Federal de Pelotas
Prof. Dr. Antonio Carlos Frasson – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Prof. Dr. Antonio Isidro-Filho – Universidade de Brasília
Profª Drª Cristina Gaio – Universidade de Lisboa
Prof. Dr. Constantino Ribeiro de Oliveira Junior – Universidade Estadual de Ponta Grossa
Profª Drª Daiane Garabeli Trojan – Universidade Norte do Paraná
Prof. Dr. Darllan Collins da Cunha e Silva – Universidade Estadual Paulista
Profª Drª Deusilene Souza Vieira Dall’Acqua – Universidade Federal de Rondônia
Prof. Dr. Eloi Rufato Junior – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Prof. Dr. Fábio Steiner – Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Prof. Dr. Gianfábio Pimentel Franco – Universidade Federal de Santa Maria
Prof. Dr. Gilmei Fleck – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Profª Drª Girlene Santos de Souza – Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
Profª Drª Ivone Goulart Lopes – Istituto Internazionele delle Figlie de Maria Ausiliatrice
Profª Drª Juliane Sant’Ana Bento – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Prof. Dr. Julio Candido de Meirelles Junior – Universidade Federal Fluminense
Prof. Dr. Jorge González Aguilera – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Profª Drª Lina Maria Gonçalves – Universidade Federal do Tocantins
Profª Drª Natiéli Piovesan – Instituto Federal do Rio Grande do Norte
Profª Drª Paola Andressa Scortegagna – Universidade Estadual de Ponta Grossa
Profª Drª Raissa Rachel Salustriano da Silva Matos – Universidade Federal do Maranhão
Prof. Dr. Ronilson Freitas de Souza – Universidade do Estado do Pará
Prof. Dr. Takeshy Tachizawa – Faculdade de Campo Limpo Paulista
Prof. Dr. Urandi João Rodrigues Junior – Universidade Federal do Oeste do Pará
Prof. Dr. Valdemar Antonio Paffaro Junior – Universidade Federal de Alfenas
Profª Drª Vanessa Bordin Viera – Universidade Federal de Campina Grande
Profª Drª Vanessa Lima Gonçalves – Universidade Estadual de Ponta Grossa
Prof. Dr. Willian Douglas Guilherme – Universidade Federal do Tocantins
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)
C569 As ciências biológicas e da saúde na contemporaneidade [recurso
eletrônico] / Organizadores Nayara Araújo Cardoso, Renan
Rhonalty Rocha, Maria Vitória Laurindo. – Ponta Grossa (PR):
Atena Editora, 2019. – (As Ciências Biológicas e da Saúde na
Contemporaneidade; v. 1)

Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader.
Modo de acesso: World Wide Web.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7247-215-9
DOI 10.22533/at.ed.159192803

1. Ciências biológicas. 2. Biologia – Pesquisa – Brasil. 3. Saúde


– Brasil. I. Cardoso, Nayara Araújo. II. Rocha, Renan Rhonalty.
III.Laurindo, Maria Vitória. IV. Série.
CDD 574
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de
responsabilidade exclusiva dos autores.
2019
Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos créditos aos
autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins comerciais.
APRESENTAÇÃO

A obra “As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade” consiste de


uma série de livros de publicação da Atena Editora, em seus 35 capítulos do volume I,
a qual apresenta estratégias para a promoção da saúde em diferentes âmbitos, assim
como o detalhamento de patologias importantes.
A promoção da saúde trata-se de um processo que permite aos indivíduos
aumentar o controle sobre os fatores determinantes para sua saúde, a fim de propiciar
uma melhoria destes. Este processo inclui ações direcionadas ao fortalecimento
das capacidades e habilidades dos indivíduos, e também atividades direcionadas a
mudanças das condições sociais, ambientais e econômicas para minimizar seu impacto
na saúde individual e pública. Dentre as estratégias utilizadas para a promoção da
saúde estão inclusas: a promoção da alimentação saudável, o estímulo à realização
de atividades físicas, a redução dos fatores de riscos para doenças crônicas por meio
de medidas preventivas, entre outros.
As estratégias de promoção à saúde têm como um de seus objetivos gerais
a prevenção de doenças crônicas, uma vez que estas são condições que não tem
cura, contendo longa duração, progressão lenta e que ocasionam sofrimento e
redução da qualidade de vida do paciente e de seus familiares. Dentre as principais
doenças crônicas que acometem a população estão as doenças cardiovasculares,
como hipertensão e insuficiência cardíaca, diabetes, câncer, doenças renais crônicas
e distúrbios psiquiátricos.
Com o intuito de colaborar com os dados já existentes na literatura, este volume
I traz atualizações sobre métodos de promoção à saúde, em diferentes instâncias
sociais e noções relevantes sobre as principais patologias crônicas, assim esta obra é
dedicada tanto à população de forma geral, quanto aos profissionais e estudantes da
área da saúde. Desse modo, os artigos apresentados neste volume abordam: fatores
de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas; análises epidemiológicas e
demográficas em diferentes contextos sociais; aperfeiçoamento de estratégias para
alimentação saudável; atualizações sobre diagnóstico e prognóstico de diferentes
neoplasias; humanização do atendimento em unidades de saúde e uso de terapias
alternativas para o tratamento de doenças crônicas.
Sendo assim, almejamos que este livro possa colaborar com informações
relevantes aos estudantes e profissionais de saúde sobre diferentes estratégias para
a promoção da saúde, que podem ser usadas para aprimorar a prática profissional,
e também para a população de forma geral, apresentando informações atuais sobre
prevenção, diagnóstico e terapias de doenças crônicas.

Nayara Araújo Cardoso


Renan Rhonalty Rocha
Maria Vitória Laurindo
SUMÁRIO

CAPÍTULO 1................................................................................................................. 1
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: HUMANIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA COM AUXÍLO DE UMA EDUCAÇÃO
PERMANENTE
Bárbara Maria Machado Dallaqua
Leandra Caetano do Nascimento
Marília Egea
Fernando Henrique Apolinário
DOI 10.22533/at.ed.1591928031

CAPÍTULO 2............................................................................................................... 11
A ADESÃO AO EXAME COLPOCITOLÓGICO: UMA REVISÃO LITERÁRIA
Karoline Dorneles Figueiredo
Marinna Sá Barreto Leite de Araújo e Meira
Paulo Bernardo Geines de Carvalho
Raphaela Mendes Arantes
DOI 10.22533/at.ed.1591928032

CAPÍTULO 3............................................................................................................... 17
COMPREENDENDO A RELAÇÃO DA HIPERTENSÃO ARTERIAL E OBESIDADE ABDOMINAL DE
MULHERES NA PÓS-MENOPAUSA
Élica Natália Mendes Albuquerque
Karina Pedroza de Oliveira
Camila Pinheiro Pereira
DOI 10.22533/at.ed.1591928033

CAPÍTULO 4............................................................................................................... 27
MARCADORES DE TRABALHO DE PARTO PREMATURO
Sílvia de Lucena Silva Araújo
Julia Peres Danielski
Rossana Pereira da Conceição
Frederico Timm Rodrigues de Sousa
Felipe de Vargas Zandavalli
Guilherme de Lima
Matheus Zenere Demenech
Marina Possenti Frizzarin
Daiane Ferreira Acosta
Daniele Ferreira Acosta
Celene Maria Longo da Silva
DOI 10.22533/at.ed.1591928034

CAPÍTULO 5............................................................................................................... 34
PERFIL ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE GESTANTES NO NORDESTE BRASILEIRO
Maria Dinara de Araújo Nogueira
Mariana da Silva Cavalcanti
Amanda de Morais Lima
Carine Costa dos Santos
Carliane Vanessa Souza Vasconcelos
Ana Angélica Romeiro Cardoso
Rafaela Dantas Gomes
Juliana Soares Rodrigues Pinheiro
Géssica Albuquerque Torres Freitas
Maria Raquel da Silva Lima
DOI 10.22533/at.ed.1591928035

SUMÁRIO
CAPÍTULO 6............................................................................................................... 41
PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E MOTIVAÇÃO DA ESCOLHA PROFISSIONAL DOS AGENTES
COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE PARCEIRAS DA UNIVERSIDADE
CATÓLICA DE PERNAMBUCO
Sílvia Patrícia Ribeiro Vieira
Suzane Brust de Jesus
Marciana Pereira Praia
Clara Fernanda Brust de Jesus
DOI 10.22533/at.ed.1591928036

CAPÍTULO 7............................................................................................................... 55
PRINCIPAIS DEMANDAS DE UM COMITÊ DE ÉTICA DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO PRIVADA
Luciana de Paula Lima e Schmidt de Andrade
Grace Maria Brasil Fontanet
DOI 10.22533/at.ed.1591928037

CAPÍTULO 8............................................................................................................... 62
PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS EM HOSPITAL DE MÉDIO PORTE: ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA
Andréia Gonçalves dos Santos
Cleidiney Alves e Silva
Jéssica de Carvalho Antunes Barreira
Jackeline Ribeiro Oliveira Guidoux
Thales Resende Damião
Gustavo Nader Guidoux
DOI 10.22533/at.ed.1591928038

CAPÍTULO 9............................................................................................................... 75
REFLEXÕES SOBRE O DIREITO UNIVERSAL À ANAMNESE CLÍNICA NA NOVA ERA DA
AUTONOMIA DOS PACIENTES
Antonio Augusto Masson 
Lívia Conti Sampaio
Ana Carolina S. Mendes Cavadas
DOI 10.22533/at.ed.1591928039

CAPÍTULO 10............................................................................................................. 84
REGULAÇÃO DO CÁLCIO E FÓSFORO NA SAÚDE BUCAL
Camila Teixeira do Nascimento
Mariáli Muniz Sassi
Mariana Meira França
Fabio Alexandre Guimarães Botteon
DOI 10.22533/at.ed.15919280310

CAPÍTULO 11............................................................................................................. 91
RELAÇÃO ENTRE ESTRESSE E CONDUTAS DE SAÚDE DE RESIDENTES MULTIPROFISSIONAIS
EM SAÚDE
Fabíola Feltrin
Luciane Patrícia Andreani Cabral
Danielle Bordin
Cristina Berger Fadel
DOI 10.22533/at.ed.15919280311

SUMÁRIO
CAPÍTULO 12........................................................................................................... 103
RELAÇÕES DE SABER E PODER NA ENFERMAGEM: CONTRIBUIÇÕES DE MICHAEL FOUCAULT
Marcelen Palu Longhi
DOI 10.22533/at.ed.15919280312

CAPÍTULO 13........................................................................................................... 119


RISCO EM REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS PARA SAÚDE EM UNIDADES BÁSICAS DE
SALVADOR, BA
Eliana Auxiliadora Magalhães Costa
Quézia Nunes Frois dos Santos
Isabele dos Santos Dantas
DOI 10.22533/at.ed.15919280313

CAPÍTULO 14........................................................................................................... 130


SENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADE DOS MÉTODOS DA MEDICINA NUCLEAR NA IDENTIFICAÇÃO
E DIFERENCIAÇÃO DE GLIOMAS
Rayanne Pereira Mendes
Emilly Cristina Tavares
Katriny Guimarães Couto
Laura Divina Souza Soares
Nágila Pereira Mendes
DOI 10.22533/at.ed.15919280314

CAPÍTULO 15........................................................................................................... 135


SISTEMATIZAÇÃO DO CUIDADO A USUÁRIO COM NEOPLASIA MALIGNA DE OROFAGINGE:
RELATO DE CASO
Janaina Baptista Machado
Ingrid Tavares Rangel
Patrícia Tuerlinckx Noguez
Franciele Budziareck Das Neves
Luiz Guilherme Lindemann
Aline da Costa Viegas
Silvia Francine Sartor
Taniely da Costa Bório
DOI 10.22533/at.ed.15919280315

CAPÍTULO 16........................................................................................................... 143


TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA DE RORAIMA
Maria Soledade Garcia Benedetti
Thiago Martins Rodrigues
Roberto Carlos Cruz Carbonell
Calvino Camargo
DOI 10.22533/at.ed.15919280316

CAPÍTULO 17........................................................................................................... 152


USO DE FITOTERÁPICOS E PLANTAS MEDICINAIS EM PACIENTES HIPERTENSOS ATENDIDOS
EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DE FORTALEZA - CE
José Wilson Claudino Da Costa
Ana Thaís Alves Lima
Beatris Mendes Da Silva
Oslen Rodrigues Garcia
Ingrid Melo Araújo
DOI 10.22533/at.ed.15919280317

SUMÁRIO
CAPÍTULO 18........................................................................................................... 156
USO DE LIPOENXERTO EM CICATRIZ EXCISÃO DE SARCOMA EM MEMBRO INFERIOR
Ananda Christiny Silvestre
Bárbara Oliveira Silva
Beatriz Aquino Silva
Citrya Jakelline Alves Sousa
Débora Goerck
Marianna Medeiros Barros da Cunha
Rodrigo Gouvea Rosique
Tuanny Roberta Beloti
DOI 10.22533/at.ed.15919280318

CAPÍTULO 19........................................................................................................... 161


CONCURSO LANCHES SAUDÁVEIS, DE BAIXO CUSTO E PRÁTICOS PARA CANTINAS DE
INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR: UMA EXPERIÊNCIA EXITOSA
Maria Claret Costa Monteiro Hadler
Ariandeny Silva de Souza Furtado
Maria Das Graças Freitas de Carvalho
DOI 10.22533/at.ed.15919280319

CAPÍTULO 20........................................................................................................... 173


EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL: DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS PARA OS
PAIS E/OU RESPONSÁVEIS PELOS PRÉ-ESCOLARES DE COMUNIDADES NO INTERIOR DO
CEARÁ
Ana Paula Apolinário da Silva
Luciana Freitas de Oliveira
João Xavier da Silva Neto
Ana Paula Moreira Bezerra
Karina Pedroza de Oliveira
Maressa Santos Ferreira
Luiz Francisco Wemmenson Gonçalves Moura
Eva Gomes Morais
Larissa Alves Lopes
Marina Gabrielle Guimarães de Almeida
Tiago Deiveson Pereira Lopes
Camila Pinheiro Pereira
DOI 10.22533/at.ed.15919280320

CAPÍTULO 21........................................................................................................... 179


EFEITO MIDRIÁTICO DA FENILEFRINA A 10%: COMPARAÇÃO ENTRE A AUTOINSTILAÇÃO DE
GOTA EM OLHOS ABERTOS E A VAPORIZAÇÃO EM OLHOS FECHADOS
Arlindo José Freire Portes
Anna Carolina Silva da Fonseca
Camila Monteiro Ruliere
Luiz Felipe Lobo Ferreira
Nicole Martins de Souza
DOI 10.22533/at.ed.15919280321

SUMÁRIO
CAPÍTULO 22........................................................................................................... 187
A MÚSICA NA SALA DE ESPERA COMO ESPAÇO DE ACOLHIMENTO E PROMOÇÃO À SAÚDE
Márcia Caroline dos Santos
Tatiane Maschetti Silva
Bárbara Vukomanovic Molck
Mariah Aguiar Arrigoni
Guilherme Correa Barbosa
Cintia Aparecida de Oliveira Nogueira
DOI 10.22533/at.ed.15919280322

CAPÍTULO 23........................................................................................................... 194


A UNIVERSIDADE E SEU PAPEL CONTEMPORÂNEO NO ENVELHECIMENTO: UMA VIVENCIA DE
REFLEXOLOGIA NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Daisy de Araújo Vilela
Ana Lucia Rezende Souza
Keila Márcia Ferreira de Macedo
Marina Prado de Araújo Vilela
Isadora Prado de Araújo Vilela
Pedro Vitor Goulart Martins
Julia Ester Goulart Silvério de Carvalho
Juliana Alves Ferreira
Marianne Lucena da Silva
DOI 10.22533/at.ed.15919280323

CAPÍTULO 24........................................................................................................... 202


ADESÃO AO TRATAMENTO COM CPAP/VPAP EM PACIENTES PORTADORES DA SÍNDROME
APNEIA OBSTRUTIVA DO SONO
Jasom Pamato
Kelser de Souza Kock
DOI 10.22533/at.ed.15919280324

CAPÍTULO 25........................................................................................................... 214


AVALIAÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E A INTENÇÃO EM REALIZAR CIRURGIAS PLÁSTICAS EM
UMA POPULAÇÃO DE UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA DA SAÚDE
João Vitor Moraes Pithon Napoli
Vitor Vilano de Salvo
José Vinicius Silva Martins
Edgar da Silva Neto
Gabriel Stecca Canicoba
Monique pinto saraiva de oliveira
Lavinia Maria Moraes Pithon Napoli
DOI 10.22533/at.ed.15919280325

CAPÍTULO 26........................................................................................................... 225


AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE NA
REGIONAL GOIANA DE SAÚDE SUDOESTE I
Ana Cristina de Almeida
Ana Luiza Caldeira Lopes
Erica Carolina Weber Dalazen
Isabella Rodrigues Mendonça
Fernandes Rodrigues de Souza Filho
Jair Pereira de Melo Júnior
DOI 10.22533/at.ed.15919280326

SUMÁRIO
CAPÍTULO 27........................................................................................................... 232
COMPOSIÇÃO DA REDE SOCIAL DOS ADOLESCENTES QUE FREQUENTAM UMA LAN HOUSE
Lorrâne Laisla de Oliveira Souza
Leonardo Nikolas Ribeiro
Danty Ribeiro Nunes
Marilene Rivany Nunes
DOI 10.22533/at.ed.15919280327

CAPÍTULO 28........................................................................................................... 245


DOENÇA RENAL CRÔNICA E SAÚDE COLETIVA: REVISÃO DE LITERATURA
Leonardo Ayres Neiva
Lucas Ramos de Paula
Rafael Assem Rezende
Queren Hapuque Barbosa
Taciane Elisabete Cesca
Raquel Gomes Parizzotto
Lorena Oliveira Cristovão
DOI 10.22533/at.ed.15919280328

CAPÍTULO 29........................................................................................................... 251


GRUPOS TERAPÊUTICOS COMUNITÁRIOS: UMA PROPOSTA DE EMPODERAMENTO DOS
USUÁRIOS NA ATENÇÃO BÁSICA
Polyana Luz de Lucena
Marcela Medeiros de Araujo Luna
Arethusa Eire Moreira de Farias
Vilma Felipe Costa de Melo
DOI 10.22533/at.ed.15919280329

CAPÍTULO 30........................................................................................................... 256


MAGNITUDE E COMPORTAMENTO DAS DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA NO
ESTADO DE RORAIMA
Maria Soledade Garcia Benedetti
Thiago Martins Rodrigues
Roberto Carlos Cruz Carbonell
Calvino Camargo
DOI 10.22533/at.ed.15919280330

CAPÍTULO 31........................................................................................................... 264


MITOS E CRENÇAS: UMA AÇÃO POPULAR PARA CUIDAR DA SAÚDE
Rodrigo Silva Nascimento
Juliano de Souza Caliari
Cássia Lima Costa
DOI 10.22533/at.ed.15919280331

CAPÍTULO 32........................................................................................................... 269


MORTALIDADE POR NEOPLASIAS QUE POSSUEM O TABAGISMO COMO FATOR DE RISCO
Ana Luiza Caldeira Lopes
Laís Lobo Pereira
Yasmin Fagundes Magalhães
Ana Cristina de Almeida
Anna Gabrielle Diniz da Silva
Kênia Alves Barcelos
DOI 10.22533/at.ed.15919280332

SUMÁRIO
CAPÍTULO 33........................................................................................................... 276
NEUROFIBROMATOSE TIPO 1:CRITÉRIOS DE DIAGNÓSTICO PRECOCE
Isabela Souza Guilherme
Carolina de Araújo Oliveira
Cesar Antônio Franco Marinho
Leonardo Martins Silva
DOI 10.22533/at.ed.15919280333

CAPÍTULO 34........................................................................................................... 285


OS POTENCIAIS RISCOS DE ACIDENTE VASCULAR ENCEFÁLICO NA MANIPULAÇÃO CERVICAL:
UMA REVISÃO SISTEMATÍCA
Heldâneo Pablo Ximenes Aragão Paiva Melo
Kedmo Tadeu Nunes Lira
DOI 10.22533/at.ed.15919280334

CAPÍTULO 35........................................................................................................... 296


CARACTERIZAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR ATRAVÉS DE QUESTIONÁRIO SIMPLIFICADO E
CORRELAÇÃO COM DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS
Ana Clara Reis Barizon de Lemos
Andreia de Lima Maia
Erika Cristina de Oliveira Chaves
Guilherme Margalho Batista de Almeida
Igor Batista Moraes
Lucas Borges de Figueiredo Chicre da Costa
Yasmine Henriques de Figueiredo Rebecchi
DOI 10.22533/at.ed.15919280335

CAPÍTULO 36........................................................................................................... 301


ENFRENTAMENTO DO SURTO DE COQUELUCHE PELA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DE
MIRANGABA-BA
Jenifen Miranda Vilas Boas
DOI 10.22533/at.ed.15919280336

CAPÍTULO 37........................................................................................................... 313


PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E MOTIVAÇÃO DA ESCOLHA PROFISSIONAL DOS AGENTES
COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE PARCEIRAS DA UNIVERSIDADE
CATÓLICA DE PERNAMBUCO
Sílvia Patrícia Ribeiro Vieira
Suzane Brust de Jesus
Marciana Pereira Praia
Clara Fernanda Brust de Jesus
DOI 10.22533/at.ed.15919280337

CAPÍTULO 38........................................................................................................... 327


SABERES POPULARES SOBRE A AUTOMEDICAÇÃO: A UTILIZAÇÃO INDISCRIMINADA DE
FITOTERÁPICOS
Lúcia Aline Moura Reis
Anna Carla Delcy da Silva Araújo
Maira Cibelle da Silva Peixoto
Kariny Veiga dos Santos
Hellen Ribeiro da Silva
DOI 10.22533/at.ed.15919280338

SUMÁRIO
CAPÍTULO 39........................................................................................................... 337
EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE PARA GESTANTES, MÃES E CRIANÇAS À LUZ DA VISÃO
DOS EXTENSIONISTAS
Eloisa Lorenzo de Azevedo Ghersel
Amanda Azevedo Ghersel
Noeme Coutinho Fernandes
Lorena Azevedo Ghersel
Herbert Ghersel
DOI 10.22533/at.ed.15919280339

SOBRE OS ORGANIZADORES............................................................................... 345

SUMÁRIO
CAPÍTULO 1

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: HUMANIZAÇÃO DA


ASSISTÊNCIA COM AUXÍLO DE UMA EDUCAÇÃO
PERMANENTE

Bárbara Maria Machado Dallaqua RESUMO: A humanização no pré-parto e parto


Bacharelado Em Enfermagem atualmente vem causando muitas polêmicas
Unifai – Centro Universitário De Adamantina entre os profissionais de saúde e pacientes/
Adamantina – São Paulo clientes. Desde o início dos tempos se impunha
Pós-Graduação Em Gestão Em Saúde a dor do parto ao sexo feminino como punição
Faculdade Eficaz por um erro acometido. Com estudos científicos
Maringá - Paraná aguçados, especialistas encontraram a melhor
Leandra Caetano do Nascimento forma deste tipo de desconforto ser amenizado
Cursando Bacharelado Em Enfermagem para as futuras puérperas, ou seria a melhor
Unifai – Centro Universitário De Adamantina maneira de controlar seu tempo para um futuro
Adamantina – São Paulo trabalho de parto partindo para escolha da
Marília Egea cesariana? Estar acomodados com a facilidade
Graduação em Enfermagem e Obstetrícia – poderá prejudicar em fatores como priorizar o
Faculdade de Medicina de Marília (1990), Docente “SER HUMANO” num momento de fragilidade
titular do Centro Universitário de Adamantina. e podendo ser único na vida de uma mulher? O
Supervisora e docente em Estágio em graduação trabalho árduo dos profissionais de saúde, esta
e pós-graduação em Enfermagem, Especialista modificado no verdadeiro propósito humanitário
em Administração Hospitalar e Serviços de Saúde
de uma gestação com induções desnecessárias
e Enfermagem do Trabalho.
e muitas vezes sem benefícios? Para analisar
Fernando Henrique Apolinário a violência obstétrica, e o grande aumento das
Graduação em Enfermagem e Obstetrícia –
cesarianas no país e ter o conhecimento de
Faculdades Adamantinenses Integradas (2006),
Doutorando no Programa de Pós-Graduação como uma Educação Permanente auxilia para
em Enfermagem pela Universidade Estadual a diminuição destes dados vamos avaliar um
Paulista Júlio de Mesquita Filho e Mestrado em pouco mais sobre este assunto ainda muito
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem polemizado no País.
pela Universidade Estadual Paulista Júlio de PALAVRAS-CHAVE: Parto Humanizado,
Mesquita Filho (2013). Diretor Técnico de Saúde Trabalho de Parto, Cesárea, Educação
I do Núcleo de Atenção à Saúde do Centro de
Permanente.
Progressão Penitenciário de Valparaiso.

ABSTRACT: Pre-delivery and childbirth


humanization is currently causing much

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 1 1


controversy among health professionals and patients / clients. From the beginning of
time, the pain of childbirth was imposed on the female sex as a punishment for an error.
With keen scientific studies, have experts found the best way for this type of discomfort
to be cushioned for future postpartum women, or would it be the best way to control their
time for future labor by going for a cesarean section? Being accommodated with the
facility could undermine factors such as prioritizing the “HUMAN BEING” in a moment
of fragility and being unique in a woman’s life? Is the hard work of health professionals
modified in the true humanitarian purpose of a gestation with unnecessary and often
unproductive inductions? In order to analyze the obstetric violence and the great
increase of cesarean sections in the country and to have the knowledge of how a
Permanent Education helps to reduce these data we will evaluate a little more about
this subject still very controversial in the Country.
KEYWORDS: Humanized Delivery, Labor Obstetric, Cesarean, Permanent Education.

METODOLOGIA

No intuito de auxiliar no desenvolvimento aparentemente distante de tal situação,


foram analisados artigos de probidade científica, bibliográfica, documental, livros,
jornais, materiais cartográficos, dissertações, observando a necessidade de uma
implantação de gerenciamento através de uma Educação Permanente.

1 | INTRODUÇÃO

A violência no pré-parto e parto em decorrência da falta de gestão na linha de


cuidado das equipes de saúde e instituições em Relação a Humanização no contato
com puérperas, vem causando muitas mudanças atualmente.
Segundo o Ministério da Saúde, humanizar, qualificar, compartilhar saberes
e reconhecer direitos, para ações educativas coloca a continuidade com todos os
propósitos para a diminuição de ocorrências na assistência ao puerpério e diminuição
de números de cesárias.

2 | O PRÉ-NATAL

A fertilização ocorre na junção do espermatozóide (gameta masculino) com o


óvulo (gameta feminino), surgindo desta união uma única célula, o zigoto, que contém
informações genéticas provenientes da fecundação, dando primícias à vida humana.
Segundo Klaus & Kennel, 1992: Smith 1999, ocorre mudanças no consciente
e inconsciente como sonhos e sintomas, onde conflitos se tornam desenvolvidos na
transição feminina.
Acredita-se na visão de Station 1985, que o conceito de nova mãe, tende a relação
entre pais e filhos desde a vida uterina e configura a readaptação no relacionamento,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 1 2


na vida social, no trabalho, uma vez que ocasionará a mudança de papéis, a mulher
antes chamada de filha assumirá a responsabilidade sendo então chamada de mãe.
Uma mulher mesmo com a gravidez tão esperada enfrenta muitas mudanças
e inseguranças. Ao deparar com o desconhecido inicia-se todo um processo, e os
profissional a quem acompanhará este caminho deve estar preparado para um
acolhimento seguro.
Antigamente muitas crenças e mitos populares influenciavam na assistência a
mulher. BEZERRA, CARDOSO, 2006, disserta que na antiguidade já associava dor
de parto como um castigo imposto a mulher por ter quebrado uma regra e com o
sofrimento lembraria em discernir o bem do mal. O parto era executado por mulheres
em ambiência familiar, incorporado à dedicação feminina
A violência vivenciada pelas mulheres se expressa em diversos espaços sociais,
de formas distintas provoca importante sofrimento psíquico que ainda é pouco
valorizado pelos serviços de saúde (Barboza, P.L; Mota, A. 2016).
Segundo o Comitê Latino Americano e do Caribe para a defesa dos Direitos da
Mulher 1996, compreende-se a violência contra mulher qualquer ação que possa a vir
ocasionar perda, morte, ou consternação tanto física, psicológica ou sexual em ambas
as esferas.
Com relação à assistência ou atenção para gestante inclui-se o pré-natal e o
parto. No bojo desta discussão, o Ministério da Saúde, cria a Política de Atenção
Integral a Saúde da Mulher que objetiva garantir os direitos de cidadania, sexuais e
reprodutivos deste grupo (SOUZA, GAÍVA, MODES, 2011).
Considerado a Saúde da Mulher como prioridade de governo, o Ministério da
Saúde elaborou o documento “Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da
Mulher” com Princípios e Diretrizes em parceria com diversos setores da sociedade,
em especial o movimento das mulheres, o movimento negro, de trabalhadores
rurais, sociedades cinéticas, pesquisadores, estudiosos da área, organizações não
governamentais, gestores do SUS e agências de cooperação internacional.
A maioria das pacientes/clientes desconhecem seus direitos instituídos pelo
Ministério da Saúde através da Portaria/GM nº 569 de 1/06/2000, subsidiadas através
de análises de atenção específica as gestantes e aos recém-nascidos, e mãe no
período pós-parto que em primazia tem como propósito a diminuição ou erradicação de
altos índices de morbimortalidade materna registrada no País, dando total garantia de
admissão, cobertura, de ações qualificadas, com os investimentos de redes estaduais
na assistência de alto risco bem como maternidade segura.

3 | VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

A expressão Violência Obstétrica, foi conhecida no ano de 2007, como um


problema social, político e público, através de uma imposição feminista local sendo

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 1 3


reconhecida institucionalmente na Venezuela.
Atualmente há vários tipos de violências obstétricas silenciosas por deficiência
de acompanhamento e monitoramento nas ações em saúde. Embora a violência
obstétrica já esteja sendo vista há alguns anos, ela ainda se torna desconhecida para
muitas mulheres em instituições com uma má gestão.
As mulheres são as protagonistas da gestação ao parto, e a escolha esclarecida
tende a ser priorizada.
De acordo com D’Gregório é visto como tratamento desumano os processos
induzidos por profissionais de saúde relativos a evolução gestacional e reprodutivos
da mulher.

A Defensoria Pública de São Paulo conceitua o fenômeno como “a apropriação


do corpo e processos reprodutivos das mulheres por profissionais da saúde, por
meio de tratamento desumanizado, abusa de medicalização e transformação
dos processos naturais, causando perda da autonomia e capacidade de decidir
livremente sobre seus corpos impactando na sexualidade e negativamente na
qualidade de vida das mulheres” (BRITO, 2017).

Ainda em D’Gregório a violência obstétrica estaria presente em práticas de


proibição relacionados a acompanhantes do ciclo pessoal ou parceiro, na indução de
procedimentos sem conhecimento e autorização prévia da puérpera, procedimentos que
venham causar dor sem imposição necessária como: enema, tricotomia, prolongação
da posição de litotômica, freio nas movimentações, privação da intimidade, exprimir-
se de maneira agressiva, rude, sem empatia, ou chiste, isolar mãe e filho após o
nascimento sem avaliação justificável. Para conhecer um pouco mais sobre a violência
obstétrica avaliaremos algumas delas.
Existem violências toleradas e violências condenadas, pois desde que o homem
vive sobre a Terra a violência existe, apresentando-se sob diferentes formas, cada vez
mais complexas e ao mesmo tempo mais articuladas (MINAYO, SOUZA, 2003).

4 | A OCITOCINA E A EVOLUÇÃO NO PARTO

No processo da evolução do parto, a especialista em ginecologia e obstetrícia


Murayama, B. Dra. explica que a ocitocina por ser um hormônio natural do organismo
produzindo contrações uterinas no trabalho de parto, e a liberação do leite na
amamentação, evitando hemorragias, na contração uterina, tornando-se muito útil
para salvar vidas, mais como em toda medicação pode ocorrer efeitos adversos se
utilizados erroneamente podendo causar a rotura do útero em trabalho de parto, e
aumento considerável das dores nas contrações uterinas, normalmente utilizada com
supervisão e prescrição médica, e geralmente quando há algum problema na evolução
do parto. A necessidade de um esclarecimento sobre todo o processo é necessário e
deve ser totalmente esclarecidas pelo obstetra.
BRASIL 2001, relata que certas medicações no trabalho de pré-parto e parto,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 1 4


retira a personagem principal do ato, colocando o profissional da saúde como sujeito
fundamental, apontando a fisionomia patológica e biológica no parto como doença,
com intervenções dispensáveis tornando assim um ato de violência obstétrica.

5 | VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

Muitas mulheres atendidas nas maternidades brasileiras são desrespeitadas,


submetidas a situações humilhantes, “tratadas como adicionais de vulnerabilidade e
discriminação (Sena, L.M; Tesse, C.D. 2017).

É importante destacar que as vítimas de violência psicológica, muitas vezes,


pensam que o que lhes acontece não é suficientemente grave e importante para
decidir-se por atitudes que possam impedir esses atos, incluindo denunciá-los
aos órgãos competentes. Algumas vítimas acreditam que não teriam crédito, caso
denunciassem seu agressor (CASIQUE, FUREGATO, 2006).

Como vimos em D’Gregório podemos conceituar uma maneira agressiva como


sendo através de atos grosseiros e intencionais com humilhação e desestimulo
pela situação de fragilidade que ocorre no momento, as equipes com informação
e comunicação ineficiente com a parturiente, o descaso da importância daquele
momento intimo e familiar, trazendo através disto a insegurança de estar diante de
um procedimento até então desconhecidos para muitas gestantes, que imaginam um
momento único se tornando traumático devido a profissionais despreparados.

6 | A VIOLÊNCIA FÍSICA

Segundo o Ministério da Saúde a técnica de Kristeller é uma manobra obstétrica


executada durante o parto, consiste na aplicação de pressão na parte superior do útero
objetivando auxiliar o nascimento do bebê. A manobra foi idealizada pelo ginecologista
alemão Samuel Kristeller (1820-1900), que a descreveu em 1867, que não demonstra
eficiência no trabalho de parto demonstrando riscos de morbidade da mãe e feto,
sendo assim considerada uma ação desrespeitosa à integridade física e até mesmo
psicológica, sendo proibida em alguns lugares do mundo.
Para Reis 2005, a manobra já é reconhecidamente prejudicial à saúde, sendo
ineficiente proporcionando dor e trauma profundos nas puérperas.

Após viver um parto traumático, algumas mulheres passam a apresentar no


pós-parto recordações aflitivas do parto, por meio de imagens ideias sonhos ou
emoções, e desenvolve esquiva de situações, pessoas, lugares e pensamentos
que a façam relembrar o parto. Associado a esse quadro, elas também apresentam
hiperexcitabilidade e entorpecimento afetivo, caracterizando-se por Transtorno de
estresse pós-traumático (Zambaldi, C.F; Cantilino, A; Sougey; E. B 2009).

6.1 A episiotomia

É uma incisão cirúrgica feita no períneo na região muscular que fica entre a

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 1 5


vagina e o ânus. Feita durante o parto normal, com a ajuda de uma anestesia local,
para facilitar a passagem do bebê. Antigamente esse corte era rotina, pois os médicos
afirmam que é mais fácil fechar um corte regular que uma laceração irregular, o que
ocorre na passagem natural da cabeça.
Para PREVIATTE; SOUZA, 2007, ao fazer tal incisão poderá ocasionar
incontinência urinária e fecal, podendo ocasionar dor na relação sexual, risco de
infecção, laceração perineal em outras gestações, sangramento de maior intensidade,
estética desagradável, esclarecendo ainda que mesmo tendo as orientações em
relação aos dados atribuídos sobre o procedimento de episiotomia, continua empregada
desregradamente pelos profissionais de Saúde.

6.2 Restrições de posição para o parto

Já é conhecido que a posição litotômica dificulta a dinâmica do parto normal


podendo ocorrer à diminuição da oxigenação do neonato.
Já foram postados vários vídeos onde a humanização nas instituições estão
a lidar com a parto de uma maneira segura para as gestantes, pode-se notar a
cumplicidade dos profissionais da área da saúde e as técnicas que fora transformadas
em um momento mais tranquilo para as gestantes.
Em Resolução da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
de 2008, dispõe sobre o Serviço de Funcionamento dos Serviços de Atenção Obstétrica
e Neonatal, assegurando as gestantes as escolhas de suas posições, desde que estas
estejam avaliadas pelo seu médico Obstetra e não exija obstáculo algum.

7 | PROPOSTAS SOBRE INFORMAÇÕES E TRABALHO EM EDUCAÇÃO

PERMANENTE

Em LEMOS, C.L.S.; 2016 foi conhecida pela primeira vez na França em 1995
a expressão Educação Permanente, sendo regularizada em 1996 comprovada pelo
Ministério da Saúde dando continuidade no ensino público.
Segundo o Ministério da Saúde a Política de Educação Permanente, é uma
proposta ético-político-pedagógica, que tem por objetivo converter e atribuir os recursos
esclarecedores às ações de saúde, além de encorajar o método desempenhado nos
serviços num aspecto de reunião de gestão pública.

O Ministério da Saúde criou portarias que favorecem a atuação destes profissionais


na atenção integral a saúde da mulher, privilegiando o período gravídico
puerperal, por entender que estas medidas são fundamentais para a diminuição
de intervenções, riscos e favorece a humanização da assistência, tanto em
maternidades, centro de partos normais, como em casas de partos (LIMA; A.M,
CASTRO, J.F.L. 2017).

A atenção humanizada durante a parturição engloba conhecimentos, práticas


e atitudes que têm em vista garantir o parto e nascimento saudáveis, levando em

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 1 6


consideração a prevenção da morbimortalidade materna e perinatal (BRASIL, 2001).
A necessidade de alterações no atendimento do parto, como experiência
humana e, para aquele que presta o atendimento, uma transformação em como agir
no momento oportuno diante do sofrimento do outro (DINIZ, 2001).
Pesquisa feita no site do Sinasc no ano de 2016.

O percentual aceito pelo Ministério da Saúde é de 5% a 15% de parto cesariana.


O modelo de Assistência Obstétrica no Brasil é caracterizado por excesso de
intervenção do parto, o que tem contribuído para o aumento de taxas de cesárias e a
morbimortalidade materna e perinatal (CAPARROZ, 2003).

CONCLUSÃO

Podemos evidenciar as mudanças físicas, psicológicas e sociais, que se tornam


involuntárias na vida de uma mulher desde a fertilização, elas se tornam vulneráveis,
e a necessidade de um acolhimento profissional por uma equipe preparada, poderá
auxiliar em muitos traumas que ocorrem neste período. Um dos problemas que foram
vistos é sobre o parto traumático, evidenciado pelo tratamento relacionado pelo título
de Violência Obstétrica.
O pré-natal é considerado como o ápice da formação de um trabalho que não
termina após o nascimento do RN. É nele onde os profissionais de saúde podem
conscientizar as futuras mães sobre o desconhecido ou o inesperado.
Muitas mulheres desconhecem de seus direitos relacionados a Saúde da
Mulher, ás vezes por falta de acesso, ou até mesmo por vergonha de necessitar de
um programa com pessoas desconhecidas. Cabe ao profissional de saúde valorizar
o lado Humanitário desempenhando a Educação Permanente, não esquecendo tudo
que aprendeu e sim aumentando seu conhecimento juntamente com as usuárias em
questão.
A deficiência de informações e acompanhamento pela equipe pode levar a
violências muitas vezes silenciosas relacionadas ao parto. Muitas das gestantes

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 1 7


preferem ficar caladas diante de algum ato considerado de violência obstétrica por
medo de represálias futuras, por necessitar do serviço de saúde da localidade, mais
a questão é, todos os profissionais atuantes em uma equipe multiprofissional tem a
conscientização que são funcionários destas gestantes e a maneira de se lidar com
um paciente tendo todos a mesma visão trará benefícios, tem-se a necessidade de
aprimorar e conflitar o que já sabemos do que ainda há pra saber. Hoje estamos frente
a usuárias conscientes e informadas sobre seus direitos através da mídia, internet, e a
reflexão crítica de cada prática profissional está sendo policiada ao direcionamento de
abordagem científica e humanizada. As orientações e o ambiente acolhedor, trará a
gestante segurança nesta transição, o pré-natal é onde se amadurece o psicológico da
mulher. As orientações e informações sobre, os tipos de partos, amamentação, cuidados
generalizados em relação: mãe e futuramente ao bebê. Pode-se colocar como uma
escola preparatória para mães conscientes para a diminuição da morbimortalidade.
A cesariana é um ponto onde se encontra muita deficiência no Brasil, a falta
de informação leva a gestantes desconhecerem os benefícios do parto normal,
levando assim a induções desnecessárias e maior tempo de internação, podendo
causar infecções ou outras consequências. Um ginecologista preparado conscientiza
sua paciente desde o descobrimento da gestação, não levando em consideração o
dia melhor para sua carga horária ou consultas, mais colocando sua paciente em
primeiro lugar. As orientações bem dadas trarão uma paciente mais tranquila, e o
acompanhamento avaliará cada indução, e através de confiança e troca de saberes
relacionados a Educação Permanente moldará um início de uma escalada que ainda
está distante ao nosso País. Sair da zona de conforto ainda não é muito aceito pelos
profissionais de saúde por debater algo que lhe foi conceituado.
A Educação Permanente em Saúde deve ter seu entendimento de prática de
ensino em aprendizagem e política de educação em saúde, se apoiando no intelecto
de ensino contextualizador, embasado na elaboração dos conhecimentos e através de
experiências do profissional e usuárias.
Isto não significa que tudo que se aprendeu no decorrer do tempo será apagado
e sim, terá um estágio de crescimento com mistura de saberes entre gestores,
profissionais de saúde e usuários, comprometidos com um só propósito, para ser
respeitado. O propósito da assistência entre a mulher e o RN, colocando a educação
permanente como um auxílio para a conscientização coletiva.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 1 10


CAPÍTULO 2

A ADESÃO AO EXAME COLPOCITOLÓGICO: UMA


REVISÃO LITERÁRIA

Karoline Dorneles Figueiredo ABSTRACT: The present study aims to evaluate


Instituto Master de Ensino Presidente Antônio women’s adherence to the Colposcopy, since
Carlos – IMEPAC cervical cancer is easily tracked by the Pap
Araguari – Minas Gerais smear and yet there is still a high prevalence in
Marinna Sá Barreto Leite de Araújo e Meira the incidence of this pathology. Even provided
Instituto Master de Ensino Presidente Antônio free of charge, many times its achievement of
Carlos – IMEPAC
the exam is hampered by the resistance of the
Araguari – Minas Gerais population in its adhesion.
Paulo Bernardo Geines de Carvalho KEYWORDS: adhesion - colpocitopathological
Instituto Master de Ensino Presidente Antônio examination - cervix cancer.
Carlos – IMEPAC
Araguari – Minas Gerais
Raphaela Mendes Arantes 1 | INTRODUÇÃO
Instituto Master de Ensino Presidente Antônio
Carlos – IMEPAC
O câncer de colo de útero ainda

Araguari – Minas Gerais representa um grave problema de saúde


pública, especialmente para os países em
desenvolvimento que abrigam cerca de 80% dos
casos e mortes decorrentes desta neoplasia.
RESUMO: O presente estudo tem o intuito de
Os programas de rastreamento ou screening
avaliar a adesão por parte das mulheres ao
sistemático da população feminina por meio
Exame Colpocitopatológico, uma vez que, o
do exame citológico do colo do útero, também
Câncer de Colo de Útero é facilmente rastreado
conhecido como exame de Papanicolau, têm
pelo Papanicolau e mesmo assim ainda existe
sido uma das estratégias públicas mais efetivas,
uma alta prevalência na incidência dessa
patologia. Mesmo fornecido gratuitamente, seguras e de baixo custo para detecção precoce
muitas vezes a sua realização do exame desse câncer. Estudos indicam que mulheres que
encontra-se dificultada pela resistência da não realizam ou nunca realizaram esse exame
população na sua adesão. desenvolvem a doença com maior frequência e
PALAVRAS-CHAVE: adesão – exame que, em diferentes países, tem havido redução
colpocitopatológico – câncer colo de útero. nas taxas de incidência e mortalidade por essa
neoplasia após a introdução de programas de

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 2 11


rastreamento (Albuquerque KM et al, 2009).
Diversos são os fatores associados ao desenvolvimento da doença, como
início precoce da atividade sexual, história de múltiplos parceiros sexuais, nível
socioeconômico baixo, história de ter tido parceiro com infecções genitais ou câncer
no pênis, passado de câncer de vulva ou vagina, ser fumante, estar imunodeprimida.
O Ministério da Saúde preconiza a realização do Papanicolau em mulheres que já
iniciaram a atividade sexual, principalmente aquelas na faixa etária de 25 a 59 anos.
São recomendados dois exames, a serem realizados em anos consecutivos, e caso
ambos apresentem resultados negativos, o procedimento deverá ser repetido a cada
três anos. (Ministério da Saúde)
Impulsionado pelo Programa Viva Mulher, criado em 1996, o controle do câncer
do colo do útero foi reafirmado como prioridade no plano de fortalecimento da rede de
prevenção, diagnóstico e tratamento do câncer, lançado pela presidente da República,
em 2011. Segundo os autores “A implantação do Programa de Saúde da Família em
1994, renomeado Estratégia Saúde da Família (ESF) desde 1996, foi o principal
mecanismo para a ampliação da oferta do Papanicolau em todo o território nacional.”
(ANDRADE, et al; 2014)
O exame colpocitológico é um estudo das células descamadas no conteúdo
vaginal, essas são removidas mecanicamente com auxílio de uma espátula ou
escova, para definir o grau de atividade biológica das mesmas. A coleta do material
ectocervical é efetuada com a espátula de Ayre e o endocervical com uma escova
própria para esse procedimento. O material coletado é espalhado de maneira uniforme
sobre uma lâmina de microscopia, previamente identificada, e imediatamente fixado,
para evitar a dessecação e deformação das células. O fixador citopatológico utilizado
pode ser líquido, como álcool etílico 70 a 90%, ou aerossol contendo álcool isopropilico
e polietileno glicol. Após a fixação do material é realizada a coloração citopatológica
pela técnica de Papanicolau (Oliveira WMA et al, 2012).
Devido o exame colpocitológico ter certo grau de desconforto e ser invasivo as
mulheres relatam alguns sentimentos em relação a realização do exame. Obtivemos
as seguintes respostas: nervosismo, tensão, medo, dor, apreensão, e apenas uma
pequena quantidade relatou se sentir à vontade. (Oliveira WMA et al, 2012)
Sabendo então que o exame de papanicolau foi desenvolvido como forma
preventiva, de diagnóstico e de tratamento das possíveis alterações cervicais. O
principal objetivo do exame é o tratamento da infecção pelo HPV, a remoção das
lesões condilomatosas, que leva a cura das pacientes na maioria dos casos. Se não
houver tratamento, as lesões condilomatosas podem desaparecer, permanecerem
inalteradas ou aumentarem em tamanho ou número. (Moura ADA et al, 2010)
Quando indagadas sobre o motivo pelo qual procuraram fazer o exame de
papanicolau, o que mais se sobressaiu, foram as queixas ginecológicas (corrimento
vaginal, dor no baixo ventre, assaduras e prurido); Uma minoria declararam tratar-
se da procura de um exame de rotina. A maioria das entrevistadas relatou procurar
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 2 12
o serviço por estar sentindo algum incômodo, especialmente dor. Isso mostra que o
serviço de prevenção não está sendo compreendido pelas mulheres que o procuram.
(Moura ADA et al, 2010)
Ressalta-se também, a importância da Educação em Saúde como meio de
controle do câncer ginecológico. A própria legislação enfatiza o papel do profissional
de saúde nesse contexto. Portanto, é necessário atuar em ações educativas,
conscientizando as mulheres quanto à importância do exame, e fornecendo outras
informações. (Moura ADA et al, 2010)
Apesar de todas as campanhas de incentivo a realização do exame colpocitológico
e do mesmo ser oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, a adesão
ainda não atinge as metas em muitas UBSF’s de todo o Brasil. Baseado nisso, o
presente estudo visa realizar uma revisão na literatura, com estudos que apresentem
os motivos da não adesão ao exame.

2 | MÉTODOS

O presente estudo é uma revisão sistemática da literatura. Foram utilizados


diversos tipos de metodologias, a fim de contribuir para a apresentação de uma
variedade de perspectivas – revisão de teorias ou evidências, definição de conceitos,
análise de metodologias – sobre determinado objeto, procurando interligar elementos
isolados de estudos já existentes.
O estudo incluiu todos os artigos sobre a adesão ao exame colpocitológico em
mulheres de 25 a 59 anos, indexados nas bases de dados. Para o refinamento da
revisão, foi definida uma amostra, obedecendo aos seguintes critérios de inclusão:
• Artigos em português, inglês com resumos disponíveis;
• Artigos com mulheres de 25 a 59 anos;
• Artigos em que estivesse explicito no corpo do texto sobre a adesão ao exa-
me colpocitológico;
O critério de exclusão estabelecido foi:
• Artigos caracterizados por revisões de literatura ou estudos de casos.
Foi realizada uma busca nas bases de dados e encontrados 30 artigos. Após a
leitura inicial, foram descartados 12 artigos com base nos critérios: 1) 5 artigos eram
referentes à mulheres menores de 25 anos; 2) 3 artigos não apresentavam dados
originais; 3) 4 artigos eram estudos de caso. A leitura dos 18 restantes permitiu a
seleção de 5 artigos e a exclusão dos outros 13, uma vez que: 1) foram utilizados
sujeitos maiores que 59 anos; 2) em quatro deles não foi informado a faixa etária dos
participantes; 3) era uma revisão de literatura.
Foi realizada uma busca a partir das referências bibliográficas dos artigos
selecionados, visando encontrar artigos, mas após a verificação não foram
acrescentados nenhum artigo na amostra.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 2 13


3 | RESULTADOS

Dentre os três artigos pesquisados, dois (66,6%) se caracterizam como estudos


transversais e um (33,3%) como estudo descritivo com abordagem quantitativa.
Em relação ao período de publicação, os artigos foram publicados entre os anos
de 2004 e 2013.
Entres as participantes dos estudos observou-se que 67% das mulheres estavam
em idade reprodutiva A maioria das participantes vivia com o companheiro (69,2%) e
tinha três ou mais filhos (45%). A raça autorreferida predominante foi branca (63,3%);
aproximadamente 50% era do lar; 73,9% cursaram apenas o ensino fundamental.
Todas as participantes envolvidas nos estudos em questão eram cadastradas e
residiam nas áreas abrangentes das UBSF’s estudadas.
Os motivos mais citados são o impedimento do parceiro (0,3%), não ter com quem
deixar os filhos (7%), problemas para marcar atendimento em um horário acessível
(2%), acesso a unidade de saúde (4%), dificuldade para marcar o exame (32,3%), falta
de acolhimento pelos profissionais de saúde (5%), ausência dos profissionais (4%),
longo tempo de espera para ser atendida (11%), falta de tempo (15,4%), vergonha
(11%), não ter queixas ginecológicas (8%).

4 | DISCUSSÃO

Apesar dos crescentes esforços no sentido de maximizar a eficiência dos


programas de prevenção do câncer cervical, aumentando o número de coletas
de material cérvico-vaginal, a permanência de taxas de incidência e mortalidade
relativamente altas por esta doença nos revela que tais medidas não se mostraram
eficientes para a efetividade dos programas. O que pode ser explicado por diversos
motivos como, por exemplo, pela dificuldade em acessar os serviços de saúde, pela
demanda reprimida, pela falta de oportunidade que a mulher tem para falar sobre si e
sua sexualidade e pelo desconhecimento sobre o câncer ginecológico.
Têm-se identificado e descrito na literatura epidemiológica alguns caminhos
em direção à realização do teste de Papanicolau: por demanda espontânea ou feita
quando na presença de queixas ginecológicas; como parte de outro procedimento
ginecológico ou obstétrico ou por recomendação médica, ou como resultado de um
programa organizado de rastreamento.
Segundo o resultado dos trabalhos pesquisados foi identificado vários fatores
que dificultam a adesão das mulheres à realização do exame papanicolau. Entretanto,
podemos constatar que o nível de conhecimento das mulheres foi bom, e observamos
ainda que ele está altamente relacionado a escolaridade e classe social das pacientes.
A vergonha torna-se uma barreira essencial para realização do exame e
pode causar até descontinuidade da assistência. A exposição do corpo durante o

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 2 14


procedimento do papanicolau é algo intenso para mulher, pois a coloca em situação
de vulnerabilidade, na qual é exposta ao toque, manipulação e julgamento do seu
corpo por outra pessoa. O ato de ficar nu remete a um processo de fragilidade do ser
humano que fica inerte à ação do outro, além da impotência, desproteção e perda do
domínio do corpo que a posição ginecológica proporciona.
Quanto à organização dos serviços de saúde as mulheres referiram ser uma
barreira para a realização da coleta do papanicolau, não sendo adequados à rotina
da mulher atuante no mercado de trabalho que se torna dependente da liberação do
trabalho ou posterga o cuidado consigo mesma para eventuais dias de folga e/ou
férias.

5 | CONCLUSÃO

Embora o rastreamento do câncer de colo de útero seja fundamental para


intervenção a tempo oportuno, significativa parcela das mulheres ainda não adere ao
exame por mitos e tabus, crenças e atitudes em saúde, bem como organização do
serviço.
É importante que as mulheres sejam alertadas e orientadas sobre o exame
Papanicolau periodicamente e entendam a necessidade de realizá-lo como método
de prevenção e rastreamento, porém algumas só o fazem quando apresentam alguma
sintomatologia ginecológica. Necessita-se, então, que existam medidas que atraiam
estas mulheres a utilizar o serviço de prevenção como forma de evitar processos
infecciosos e o câncer do colo do útero.
É preciso ressaltar que para se ter êxito nas práticas de saúde é necessário
que os profissionais se insiram no contexto da população, pois ao conhecer melhor a
realidade social, torna-se mais fácil planejar ações educativas direcionadas às práticas
preventivas, e até desenvolver uma educação de mão dupla, onde a população,
ajudada pelo profissional, dita a forma de como desejar diminuir os seus riscos.
A expectativa é reduzir o sentimento de vergonha, desconforto e nervosismo
apresentado pelas mulheres bem como conscientizar a população da importância da
realização do exame para assim ampliarmos a cobertura.

REFERÊNCIAS
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realização: um olhar sobre o Programa de Prevenção do Câncer do Colo do Útero em
Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25 Sup 2:S301-S309, 2009. Disponível em
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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 2 16


CAPÍTULO 3

COMPREENDENDO A RELAÇÃO DA HIPERTENSÃO


ARTERIAL E OBESIDADE ABDOMINAL DE
MULHERES NA PÓS-MENOPAUSA

Élica Natália Mendes Albuquerque fatores de risco para a hipertensão. Contudo,


Graduanda pelo Centro Universitário esse é um desafio que pode ser vencido através
Unifanor|wyden. Centro de Ciências da Saúde. de estratégias de saúde, incluindo a educação
Curso de Nutrição. Fortaleza, Ceará, Brasil. nutricional e a educação em saúde em geral.
Karina Pedroza de Oliveira PALAVRAS-CHAVE: Climatério. Hipertensão.
Nutricionista, Universidade Estadual do Ceará, Obesidade abdominal.
Mestrado Profissional de Saúde da Criança e do
Adolescente, Fortaleza- CE
Camila Pinheiro Pereira 1 | INTRODUÇÃO
Nutricionista, Mestre em Nutrição e Saúde,
Docente do Centro Universitário Unifanor|wyden. Climatério é o período em que ocorre
Centro de Ciências da Saúde. Curso de Nutrição. a transição da fase reprodutiva para a não
Fortaleza, Ceará, Brasil. reprodutiva, caracterizado por um processo que
ocorre sincronicamente ao declínio gradual da
função ovariana. Ele inicia-se por volta dos 45
RESUMO: Climatério é o período em que anos e pode se estender até os 65 anos. Além
ocorre a transição da fase reprodutiva para disso, também está associado com alterações
o não reprodutivo. Esse processo ocorre que afetam o bem-estar físico, social, espiritual e
sincronicamente ao declínio gradual da emocional das mulheres, trazendo desconfortos
função ovariana. Ele inicia-se por volta dos em maior ou menor grau. Esse processo pode
45 anos e pode se estender até os 65 anos. sofrer influência de fatores, tais como história
Após a menopausa, o surgimento de doenças de vida pessoal e familiar, ambiente, cultura,
cardiovasculares aumenta consideravelmente. aos costumes, ao psiquismo, dentre outros
Esse estudo pretende investigar a relação entre (GALVÃO, 2007).
a pós-menopausa com o desenvolvimento de Para Polisseni et al. (2009), o climatério
quadro de hipertensão e obesidade abdominal
deve ser considerado um problema de saúde
em mulheres, por meio de uma pesquisa
pública, visando as repercussões sociais que
bibliográfica. recomenda-se que mulheres nessa
são produzidos através dele. Nessa fase há
fase na vida sejam melhor atendidas ao que
um esgotamento dos folículos ovarianos e,
diz respeito ao climatério, em uma perspectiva
consequentemente, a queda progressiva dos
interdisciplinar, compreendendo que há diversos
níveis de estrogênio, resultando na interrupção
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 3 17
definitiva dos ciclos menstruais (POLISSENI et al. 2009).
Esse período ainda pode ser dividido em duas etapas, em que a pré-menopausa é
o inicio da transição menopausal, sendo essa fase uma condição clínica caracterizada
por amenorreia com 3 meses de duração, ao passo que, a perimenopausa caracteriza-
se por amenorreia com 3 a 11 meses de duração (SILVEIRA et al. 2007).
Com a diminuição dos níveis de estrógeno, surgem sintomas característicos do
climatério, como a atrofia vaginal, disfunção sexual, problemas urinários, aumento de
risco de osteoporose e, sabendo que o estrógeno além de participar da ovulação,
concepção e gestação, ele é também responsável pela regulação dos níveis de
colesterol, aumentando assim o risco de mulheres climatéricas desenvolverem
doenças cardiovasculares (POLISSENI et al., 2009).
O hipoestrogenismo presente em mulheres pós-menopausadas, segundo Lorenzi
et al. (2005), implica em uma modificação na distribuição de gordura corporal, sendo
notória a tendência de acúmulo de gordura abdominal nas mulheres nessa fase da
vida. Essa modificação se dá principalmente porque durante o período fértil da mulher
o estrógeno estimula a atividade da lipase lipoproteica, causando lipólise abdominal
e acúmulo de gordura com padrão de distribuição ginecóide. Com a menopausa, a
diminuição da lipólise abdominal permite maior acúmulo de gordura abdominal.
Segundo Lorenzi et al. (2005), o excesso de peso é particularmente mais prevalente
no sexo feminino. Os autores afirmam que 30% das mulheres ocidentais adultas, que
estão prevalentemente na fase do climatério são obesas. Os autores ressaltam que,
mulheres com sobrepeso ou obesidade quando comparadas às que estão dentro da
faixa de eutrofia, apresentam diferenças significativas no que diz respeito aos fatores
de risco para Doenças Crônicas Vasculares (DCV), como maiores níveis séricos de
glicose e de triglicerídeos, menores de HDL-colesterol e maior pressão arterial.
Lorenzi et al. (2005) afirmam que após os 50 anos a mulher apresenta tendência
evidente ao ganho de peso, que pode ser causado também, além do hipoestrogenismo,
por redução da necessidade energética de repouso e mudanças desfavoráveis no
estilo de vida relacionado à qualidade da dieta e também ao sedentarismo. Além disso,
o índice de massa corporal (IMC) feminino parece atingir os seus maiores valores
entre os 50 e 59 anos.
Indivíduos com sobrepeso segundo têm maiores riscos de desenvolver doenças
DCV e hipertensão arterial (HA), considerando que a obesidade tem sido atribuída à
hiperisulinemia, que por sua vez promove a ativação do sistema nervoso simpático e
a reabsorção tubular de sódio, o que contribui para o aumento da resistência vascular
periférica e a preção arterial (PA) (CARNEIRO et al., 2003). É de extrema importância
ressaltar que independente da causa da obesidade, existe forte relação da mesma
com as DCVs, que atualmente no Brasil são a principal causa de morte hospitalar e de
internação de mulheres pós-menopausadas.
Dessa forma, este estudo pretende investigar a relação entre a pós-menopausa
com o quadro de hipertensão e obesidade abdominal, por meio de uma pesquisa
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 3 18
bibliográfica, visando fornecer à literatura dados relevantes que possam favorecer a
promoção de estratégias que visem mudanças no estilo de vida, capazes de retrogradar
esta realidade.

2 | A PRODUÇÃO DOS HORMÔNIOS SEXUAIS NA PUBERDADE

O aumento dos níveis hormonais sexuais, segundo Mascarenhas et al. (2003), é


responsável pelo que conhecemos por puberdade, que se caracteriza pelo surgimento
de mudanças físicas e comportamentais.
As modificações pubertárias são observadas em praticamente todo o corpo,
porém há componentes nessas mudanças que se sobressaem e que validam esse
processo. Moreira (2011) observa dentre elas o estirão puberal, modificações na
quantidade e distribuição de gordura, desenvolvimento do aparelho reprodutor.
Essas mudanças ocorrem principalmente devido a estimulação dos neurônios
hipotalâmicos, que secretam o hormônio liberador de gonadotrofinas, cuja secreção
resulta na liberação pulsátil dos hormônios luteinizante (LH) e folículo-estimulante
(FSH) pela glândula hipófise, fazendo com que ocorra o desenvolvimento dessas
características sexuais secundárias, marcando o inicio da vida reprodutiva
(EISENSTEIN; COELHO, 2008).
A puberdade feminina inicia-se geralmente entre 10 e 11 anos, onde ocorre o
surgimento de brotos mamários, e sincronicamente, o crescimento dos pelos púbicos,
que, respectivamente, vão aumentando em tamanho e quantidade de acordo com a
aceleração do crescimento (FERRIANI; SANTOS, 2001).
A fase da desaceleração do crescimento, já no fim do estirão, marca o fim da
puberdade que ocorre na faixa de 12-13 anos. segundo Marcondes (1970), essa idade
pode variar de acordo com a herança genética e modificações causadas pelo ambiente.
Seguindo-se por fim o primeiro fluxo menstrual, recebendo o nome de menarca.
Marshall e Tanner (1969) relatam que 95% das meninas apresentam a menarca entre
11 e 15 anos de idade cronológica. Entretanto, a menarca é apenas um único evento
resultante da combinação de alterações físicas que constituem a puberdade.

3 | CICLO MENSTRUAL

O ciclo menstrual é um fenômeno biológico que ocorre em mulheres saudáveis,


na qual a característica notável é o fluxo sanguíneo vaginal (TEIXEIRA et al., 2012).
Segundo Santos e Pillon (2009), esse ciclo é controlado pela presença dos hormônios
sexuais, que por sua vez são responsáveis pela ovulação contínua até a menopausa,
tendo o ciclo uma duração geralmente de 28 dias.
A hipófise produz o FSH, que estimula as células foliculares, responsáveis
pela produção do estrógeno. Ao atingir determinados valores, Bouzas et al. (2010)

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 3 19


salientam que o hipotálamo começa a secretar o LH. Nas células epiteliais, que
revestem a superfície do ovário são formados os folículos ovarianos, onde apenas
um se desenvolve completamente, o chamado folículo dominante, e é esse que
durante o pico de LH vai romper e liberar o óvulo. Segundo Teixeira et al. (2012), o
folículo ovariano transforma-se no corpo lúteo, que é responsável pela produção de
progesterona.
Esse processo prepara o útero para uma possível gestação e, quando a fecundação
do óvulo não acontece, a produção hormonal diminui e, como consequência, ocorre
a depleção do nível de estrógeno e progesterona, havendo uma descamação do
endométrio e, por fim, o sangramento vaginal (BOUZAS et al., 2010).

4 | CLIMATÉRIO E SUAS FASES

O climatério, segundo Santos et al. (2007), é a fase da vida da mulher que indica o
fim da vida reprodutiva. Para Polisseni et al. (2009), o climatério deve ser considerado
um problema de saúde pública, visando as repercussões sociais que são produzidos
através dele.
Segundo Santos et al. (2007), há cerca de 24 milhões de mulheres com mais de
40 anos, de acordo com o censo realizado em 2000. Essa fase é caracterizada pela
deficiência estrogênica.
Silveira et al. (2007) descrevem que o climatério é o período de transição da
fase reprodutiva para a não reprodutiva da vida da mulher. O autor ainda salienta que
nessa fase há um esgotamento dos folículos ovarianos e, consequentemente, a queda
progressiva dos níveis de estrogênio, resultando na interrupção definitiva dos ciclos
menstruais (POLISSENI et al., 2009).
Esse período ainda pode ser dividido em duas etapas, onde a pré-menopausa
é o inicio da transição menopausal, caracterizada por uma condição clínica que se
caracteriza por amenorreia com 3 meses de duração, ao passo que, a perimenopausa
caracteriza-se por amenorreia com 3 a 11 meses de duração (SANTOS et al., 2007).
Com a diminuição dos níveis de estrógeno, surgem sintomas característicos do
climatério, como a atrofia vaginal, disfunção sexual, problemas urinários, aumento de
risco de osteoporose e, sabendo que o estrógeno além de participar da ovulação,
concepção e gestação, ele é também responsável pela regulação dos níveis de
colesterol, aumentando assim o risco de mulheres climatéricas desenvolverem
doenças cardiovasculares (POLISSENI et al., 2009).
O período do climatério é acompanhado por uma mudança no metabolismo
causado pela redução da lípase lipoproteica, que é responsável juntamente com o
estrogênio, por ajustar o acúmulo de gordura e sua distribuição nos tecidos (GRAVENA,
2013).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 3 20


5 | OBESIDADE NA PERIMENOPAUSA

Segundo Lorenzi et al. (2005), o excesso de peso é particularmente mais


prevalente no sexo feminino. Os autores afirmam que 30% das mulheres ocidentais
adultas, prevalentemente na fase do climatério, são obesas. A literatura ressalta que,
mulheres com sobrepeso ou obesidade, quando comparadas às que estão dentro da
faixa de eutrofia, apresentam diferenças significativas no que diz respeito aos fatores
de risco para Doenças Crônicas Vasculares (DCV), como maiores níveis séricos de
glicose e de triglicerídeos, menores de HDL-colesterol e maior pressão arterial.
O hipoestrogenismo presente em mulheres pós-menopausadas, implica uma
modificação na distribuição de gordura corporal, sendo notória a tendência de
acúmulo de gordura abdominal nas mulheres nessa fase da vida. Essa modificação
se dá principalmente porque durante o período fértil da mulher, o estrógeno estimula
a atividade da lipase lipoproteica, causando lipólise abdominal e acúmulo de gordura
com padrão de distribuição ginecóide. Com a menopausa, a diminuição da lipólise
abdominal permite maior acúmulo de gordura abdominal (LORENZI et al., 2005).
A literatura afirma que após os 50 anos a mulher apresenta tendência evidente
ao ganho de peso, que pode ser causado pelo hipoestrogenismo, além da redução
da necessidade energética de repouso, mudanças desfavoráveis no estilo de vida,
relacionadas à qualidade da dieta e também ao sedentarismo. Segundo Lorenzi et
al. (2005), o índice de massa corporal (IMC) feminino parece atingir os seus maiores
valores entre os 50 e 59 anos.
Holanda et al. (2010) afirmam que a obesidade é uma doença crônica que é fator de
risco para outras doenças, além do padrão de distribuição de gordura estar relacionado
a algumas complicações, esclarecendo que a distribuição central de adiposidade está
fortemente relacionada à distúrbios metabólicos e ao risco cardiovascular. Segundo
estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS), a obesidade atinge mais de
300 milhões de adultos em todo o planeta (LORENZI et al., 2005).
Indivíduos com sobrepeso têm maiores chances de desenvolver DCV e hipertensão
arterial (HA), considerando que a obesidade tem sido atribuída à hiperisulinemia,
que por sua vez promove a ativação do sistema nervoso simpático e a reabsorção
tubular de sódio, o que contribui para o aumento da resistência vascular periférica e a
preção arterial (PA). É de extrema importância ressaltar que independente da causa
da obesidade, existe forte relação da mesma com as DCV, que por sua vez são no
Brasil uma das principais causas de morte hospitalar e de internação de mulheres pós-
menopausadas (CARNEIRO et al., 2003).

6 | HIPERTENSÃO ARTERIAL EM MULHERES PÓS-MENOPAUSADAS

Segundo Péres, Magna e Viana (2003), as doenças crônicas não transmissíveis,


dentre elas HA, vem apresentando nas ultimas décadas um aumento considerável,
além de ser responsável por um grande número de mortes no Brasil. Os autores

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 3 21


descrevem que quando não tratada corretamente, a HA pode trazer consequências
graves para alguns órgãos alvo.
A HA é considerada uma patologia multifatorial e é conceituada pelo III Consenso
Brasileiro de Hipertensão Arterial como uma síndrome que é determinada pela
presença de níveis tensoriais elevados, que são vinculados às alterações metabólicas,
hormonais e a fenômenos tróficos, como hipertrofia cardíaca e vascular (SALGADO;
CARVALHAES, 2003).
Segundo Perin et al. (2013), aproximadamente 16,7 milhões de pessoas no
mundo todo morrem anualmente de doença cardiovascular e que dentre elas há
aproximadamente 8 milhões de casos de óbito atribuindo à Hipertensão Arterial
Sistêmica (HAS). Rosário et al. (2009) afirmam que a HA é a doença mais frequente
na população brasileira.
A HAS é uma doença que atinge aproximadamente 30 milhões de brasileiros e,
entre esses, cerca de 15 milhões não sabem que são hipertensos por serem muitas
vezes assintomáticos, dificultando ainda mais o tratamento e limitando a ação dos
profissionais da saúde no combate a essa patologia (SANTOS et al., 2005).
Neder e Borges (2006) salientam que as mudanças sociais, econômicas e
demográficas ocorridas no Brasil, conhecido como transição epidemiológica, é
responsável pelo aumento de casos de morbidades e de mortalidade por doenças
crônicas não transmissíveis, tendo como destaque a HAS.
A hipertensão está associada também a fatores de risco, como sedentarismo,
envelhecimento, etnia, excesso de peso, aumento da circunferência da cintura (CC) e
baixa estatura, principalmente, em mulheres (NEDER; BORGES, 2006).
Perin et al. (2013) afirmam que um fator importante para o desenvolvimento de
HAS poder ser o consumo excessivo de sal. Em seu estudo, ainda constataram que a
população hipertensa estudada por ele apresentava idade elevada, baixa escolaridade,
eram fisicamente menos ativos, apresentavam maior frequência de história prévia de
tabagismo e índices mais elevados de massa corpórea quando comparados aos não
hipertensos.
O envelhecimento feminino tem como principal característica o hipoestrogenismo,
que promove mudanças significativas na composição, tanto de massa magra (tecido
muscular) quanto de massa gorda (tecido adiposo), levando em consideração a
importante função do estrógeno na regulação lipídica (MATOS, 2014).
Segundo Santos et al. (2005), após a menopausa, há uma diminuição nos níveis
do hormônio peptídeo natriurético arterial, hormônio que exerce importante função
na prevenção da elevação da PAD, provocando assim o aumento da PA. Os autores
também relacionam a elevação da pressão sistólica à carência estrogênica que ocorre
não só após a menopausa, mas desde o inicio da falência gonodal.
Em seu estudo, Oliveira et al. (2008) salientam que o índice de massa corpórea
elevada aumenta em 2,2 vezes chances de hipertensão e que quando mensurada a
relação cintura-quadril (RQC) e constatado elevado valor, o risco aumenta em 83%.
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 3 22
Também é mencionado que o uso de terapia de reposição hormonal apresenta afeito
redutor de hipertensão.
Há atualmente diversos estudos e pesquisas realizados com a finalidade de
efetivar e tornar eficaz o tratamento de HA. É possível ainda retardar e/ou reverter este
quadro através de tratamentos não farmacológicos e pela mudança no estilo de vida
(MIRANDA et al., 2002). Segundo Gravena, Grespan e Borges (2007), as principais
mudanças que devem ser adotadas são: a prática de exercício físico e reeducação
alimentar visando a redução de sódio na alimentação e o controle do peso.
Segundo Gavina, Grespan e Borges (2007), as pessoas sedentárias apresentam
maiores chances de desenvolver hipertensão e, que de acordo com esse fato, a
atividade física é considerada eficaz no tratamento dessa patologia. O combate ao
sedentarismo através da pratica do exercício físico frequente pode, além de diminuir
os níveis pressóricos, ter efeito positivo sobre outros fatores de risco de DCV.
A prática de atividade física oferece fatores positivos, aumentando os níveis
de HDL, diminuindo os níveis de triglicérides e do peso corpóreo, além de corrigir
a má distribuição de gordura. Além de aumentar a densidade óssea, tornando-se
fundamental para idosos com osteoporose (GRAVINA; GRESPAN; BORGES, 2007).
A redução alimentar também pode ser um grande aliado no combate à
hipertensão, quando se considera que a PA aumenta progressivamente à medida que
o índice de massa corporal (IMC) aumenta. Segundo Miranda et al. (2002), o incentivo
ao consumo de alimentos ricos em potássio, magnésio, cálcio e fibras e pobre em
gorduras saturadas, atividade física aeróbica regular, assim como perda de peso em
obesos, são objetivos possíveis de serem alcançados nos idosos e podem não só
reduzir ou evitar o uso de anti-hipertensivos, como também melhorar o perfil dos outros
fatores de risco cardiovascular e a qualidade de vida dos pacientes.
Além do tratamento não farmacológico citado acima, existem também outras
opções de tratamento a serem usadas quando o hipertenso não adere às práticas
não medicamentosas ou quando o caso é muito elevado. Perrotti et al. (2007) afirmam
que o tratamento farmacológico deve ser cuidadosamente escolhido e que deve ser
abordado a individualidade de cada um, e que a escolha do anti-hipertensivo deve
considerar fatores como co-morbidades dos pacientes, efeitos adversos do fármaco,
interação medicamentosa, a psicologia e preço do fármaco.
Os diuréticos em baixas quantidades são a primeira escolha na monoterapia dos
idosos sem co-morbidades (MIRANDA et al., 2002). Para Perrotti et al. (2007), mesmo
em baixas doses, os diuréticos mantem eficácia no controle da PA e oferecem baixo
risco de reações adversas, além de ter a vantagem de não interferirem nos perfis
glicêmicos e lipídicos.
Os β-bloqueadores adrenérgicos devem ser usados nos idosos portadores de
insuficiência coronariana ou insuficiência cardíaca, com exceção dos casos com renal
contra-indicação. Para os autores, não são indicados como monoterapia inicial em
idosos sem co-morbidades, pois esses são falhos em benefícios cardioprotetores. Os
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 3 23
betabloqueadores atenolol, metoprolol e bisoprolol, são preferidos por oferecerem
menor risco de efeito colateral no sistema nervoso central (MIRANDA et al., 2002).
Os bloqueadores dos canais de cálcio por sua vez são fármacos seguros e de
benefícios comprovados, os diidropiridínicos de longa duração (como por exemplo,
nifedipina, felodipina, lacidipina e amlodipina) são os preferidos para o tratamento
isolado da hipertensão, no entanto, o uso desse tipo de fármaco pode trazer efeitos
adversos, como obstipação intestinal, edema em membros inferiores, e aumento do
volume urinário, o que limita a adesão de alguns idosos (PERROTTI et al., 2007).
Existem também os fármacos inibidores da enzima conversora de angiotensina
(ECA), como captopril, fosinopril, cilazapril, lisinopril, ramipril, perindopril e enalapril
que são bastante eficazes no controle anti-hipertensivo. Esse tipo de fármaco deve
ser utilizado em pacientes com insuficiência cardíaca ou portadores de disfunção
ventricular esquerda. É importante citar que em pacientes diabéticos reduzem
a proteinúria e retardam o declínio da função renal, sendo usados também para
prevenção secundária de acidente vascular encefálico (AVE). As reações adversas
são tosse seca e alterações do paladar e, em pacientes com doença renal crônica,
podem causar hiperpotassemia (PERROTTI et al., 2007).
Os bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA) ou antagonistas da
angiotensina, assim como os inibidores da ECA agem inibindo o sistema renina-
angiotensina (SRA), através do o bloqueio específico dos receptores AT1. O losartan
é um exemplo desta forma de antagonismo. A sua eficácia é semelhante aos inibidores
da ECA, como demonstram diversos estudos. Entre as classes de anti-hipertensivos,
os BRA são os que apresentam menor risco de efeitos adversos (MIRANDA et al.,
2002).
Miranda et al. (2002) citam também o tratamento por terapia combinada,
que utiliza dois ou mais fármacos anti-hipertensivos, justificando que esse tipo de
tratamento usado em doses baixas reduz a PA com mais eficiência, trazendo menos
efeitos adversos, que a monoterapia em doses altas. Levando em consideração que
muitas vezes um fármaco pode reduzir os efeitos colaterais de outros, facilitando assim
a aderência e, consequentemente, a eficácia do tratamento.

7 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mulheres a partir de 40 anos, ao serem acompanhadas pelas equipes de saúde,


devem receber orientações sobre: prevenção e controle da hipertensão; a importância
e relevância que o estado nutricional possui sobre as doenças cardiovasculares; sobre
a possível necessidade de reposição hormonal e o autocuidado, promovendo uma
conscientização das mulheres em relação à essa problemática.
Então, mediante essas considerações, recomenda-se que mulheres nessa fase
na vida sejam melhor atendidas ao que diz respeito ao climatério, em uma perspectiva

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 3 24


interdisciplinar, compreendendo que há diversos fatores de risco para a hipertensão.
Contudo, esse é um desafio que pode ser vencido através de estratégias de saúde,
incluindo a educação nutricional e a educação em saúde em geral.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 3 26


CAPÍTULO 4

MARCADORES DE TRABALHO DE PARTO


PREMATURO

Sílvia de Lucena Silva Araújo Celene Maria Longo da Silva


Universidade Federal de Pelotas Universidade Federal de Pelotas, FAMED, DMI
Pelotas – Rio Grande do Sul Pelotas – Rio Grande do Sul
Julia Peres Danielski
Universidade Federal de Pelotas
Pelotas – Rio Grande do Sul
RESUMO: O parto prematuro (PP) antecede
Rossana Pereira da Conceição as 37 semanas completas de gestação e
Universidade Federal de Pelotas
sua incidência é variável de acordo com as
Pelotas – Rio Grande do Sul
características de cada população. No Brasil,
Frederico Timm Rodrigues de Sousa em média 6,6% dos nascimentos são pré-termo,
Universidade Federal de Pelotas
segundo o Ministério da Saúde. E, embora
Pelotas – Rio Grande do Sul
a sobrevida dos recém-nascidos prematuros
Felipe de Vargas Zandavalli tenha melhorado nos últimos anos, o PP ainda
Universidade Federal de Pelotas
é a principal causa de morbidade e mortalidade
Pelotas – Rio Grande do Sul neonatal, sendo a prematuridade espontânea
Guilherme de Lima correspondente a 75% dos casos, e decorre
Universidade Federal de Pelotas do trabalho de parto precoce (TPP). Entre os
Pelotas – Rio Grande do Sul indicadores preditivos do TPP disponíveis, os
Matheus Zenere Demenech de maior valor são os clínicos (gemelaridade,
Universidade Federal de Pelotas história prévia de PP e sangramento vaginal
Pelotas – Rio Grande do Sul antes do segunto trimestre), as modificações do
Marina Possenti Frizzarin colo uterino detectadas pela ultrassonografia
Universidade Federal de Pelotas transvaginal (UST) –principalmente a
Pelotas – Rio Grande do Sul redução de seu comprimento- e os métodos
Daiane Ferreira Acosta bioquímicos. Entre os diversos marcadores
Universidade Católica de Pelotas bioquímicos conhecidos que podem auxiliar a
Pelotas – Rio Grande do Sul predição do TPP, a fibronectina fetal (FNF) –
Daniele Ferreira Acosta uma glicoproteína produzida pelo trofoblasto-
Universidade Federal de Rio Grande vem apresentando os melhores resultados
Rio Grande – Rio Grande do Sul pela literatura. Dessa forma, apesar de não
existir nenhum teste/exame ideal em termos de
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 4 27
sensibilidade e valores preditivos até o momento, a predição do TPP tornou-se mais
precisa com o surgimento do teste da FNF e com o advento da medida do comprimento
do colo uterino por UST. A principal utilidade isolada do teste da fibronectina fetal
reside no seu elevado VPN (acima de 90%) e não no seu VPP, que são mais baixos.
Sendo que, os melhores valores de predição do TPP são obtidos quando ambos os
exames (UST e FNF) são aplicados simultaneamente.
PALAVRAS-CHAVE: Trabalho de Parto Prematuro, Fibronectina Fetal, Marcadores
de Trabalho de Parto Prematuro

1 | INTRODUÇÃO

O parto é definido como prematuro quando antecede as 37 semanas completas de


gestação e sua incidência é variável de acordo com as caracte-rísticas populacionais.
Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, em média 6,6% dos nascimentos são pré-
termo. Embora a sobrevida dos recém-nascidos prema-turos tenha melhorado nos
últimos anos, a prematuridade ainda é a principal causa de morbidade e mortalidade
neonatal (BITTAR, 2009).
A prematuridade espontânea corresponde a 75% dos casos e decorre do trabalho
de parto precoce. A etiologia é complexa e multifatorial ou desconhecida e, na maioria
das vezes, a prevenção primária é difícil de ser implementada, tendo em vista que
muitos dos fatores de risco não podem ser modificados antes ou durante a gestação,
restando, assim, a prevenção secundária ou terciária. A prevenção secundária depende
de indicadores preditivos, sendo que, até o momento, não existe nenhum teste ideal
em termos de sensibilidade e valores preditivos para a detecção de trabalho de partos
pré-termo (PP).
No Brasil, o exame disponibilizado em serviços públicos de saúde (SUS)
para avaliação de gestante em risco de PP é a medida do colo uterino por meio de
ultrassonografia transvaginal (UST) (FEBRASGO, 2012), em que o encurta-mento do
colo uterino ou presença de dilatação observados por meio da UST podem predizer o
parto prematuro espontâneo (HONEST, 2003). No entanto, há grande variação entre os
estudos com relação à idade gestacional para realização da US, bem com a definição
do ponto (medida em milímetros) de corte para avaliação da acurácia na previsão de
parto prematuro espontâneo.
Dessa forma, entre os indicadores preditivos do TPP disponíveis, os de maior
valor são os clínicos (gemelaridade, história prévia de PP e sangramento vaginal
antes do segunto trimestre), as modificações do colo uterino detectadas pela UST
(principalmente a redução de seu comprimento) e os métodos bioquímicos (BITTAR,
2009). Existem marcadores bioquímicos conhecidos que podem auxiliar a predição
do trabalho de parto precoce, como as interleu-cinas 6 e 8, o hormônio liberador da
corticotropina (CRH), o estriol salivar e a fibronectina fetal (FNF) (BITTAR, 2009).
Porém, entre todos os indicadores, a FNF vem apresentando os melhores resultados

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 4 28


para a predição do PP.
A fibronectina é uma glicoproteína produzida pelo trofoblasto, cuja função
fisiológica é assegurar a aderência do blastocisto à decídua e está normalmente
presente nos fluídos cérvico-vaginais durante as primeiras 20 semanas de gestação.
Após a fusão do âmnio com o cório, a FNF não é mais encontrada nos fluídos cérvico-
vaginais até a 35ª semana, a menos que haja rotura de membranas ou presença de fator
mecânico, infeccioso, inflamatório ou isquêmico na interface materno-fetal (BITTAR,
2009). Portanto, o teste de imunoensaio de membrana, que avalia a presença de FNF
no canal cervical, só tem utilidade quando realizado entre a 22ª e a 34ª semana e seis
dias. Para a detecção da FNF, podem ser utilizados dois tipos de teste: o quantitativo
e o qualitativo.
No serviço público de Saúde do Brasil (SUS), está disponível apenas do teste
rápido (qualitativo), em que o resultado é obtido em 10 minutos. A gestante é colocada
em litotomia e introduz-se espéculo vaginal estéril para a coleta de conteúdo da porção
posterior do colo, por meio de swab de Dacron, por 10 segundos. Posteriormente, o
swab com o material coletado é introduzido em frasco com solução tampão, onde é
vigorosamente agitado por 10 segundos. Em seguida, o swab é descartado e insere-
se a fita de leitura na solução tampão. A partir de então, aguardam-se 10 minutos para
a leitura. O teste é considerado positivo quando são formadas duas linhas róseas na
fita de leitura, o que significa a presença da FNF em concentrações superiores a 50
ng/mL.
O teste da FNF pode ser utilizado em gestantes sintomáticas, em que há
dúvidas em relação ao diagnóstico do trabalho de parto prematuro, ou em gestantes
assintomáticas com risco para o PP espontâneo. Dessa forma, devido à dificuldade
em definir se determinada gestante, assintomática ou sintomática, apresenta ou
não risco de evoluir para parto pré-termo, o presente estudo procurou realizar uma
revisão literária, a fim de apurar a fibronectina como método preditivo para o TPP, na
determinação do risco de prematuridade.

2 | MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo se trata de uma revisão de literatura, a qual foram revisados


cerca de 6 artigos de revisão, 3 ensaios clínicos prospectivos e o Manual para a
Gestação de Alto Risco de 2011, a fim de realizar um levantamento e análise do que
já foi publicado sobre o tema. Toda a literatura consultada utilizou a avaliação de
fibronectina pelo teste rápido (qualitativo). Os principais artigos encontrados estavam
em dois periódicos nacionais: Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e da
Revista de Ciências Médicas de Campinas e dois Periódicos internacionais: Clinical
Obstetrics and Ginecology e Acta Obstetricia et Gynecologica Scandinavica,. As bases
de dados foram o PubMed e o LILACS.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 4 29


Após a leitura e exploração dos artigos selecionados obteve-se quatro categorias:
Fibronectina isolada, Fibronectina comparada a outros marcadores bioquímicos,
Fibronectina comparada ao comprimento do colo uterino e Fibronectina associada ao
comprimento do colo uterino.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Fibronectina isolada

Em 2000, OLIVEIRA, T. A. et al., aplicou o teste de imunoensaio de membrana


(teste rápido de FNF) em 107 gestantes, em três períodos diferentes: 24ª , 28ª e 32ª
semanas. O teste da FNF mostrou baixos índices de sensibilidade (S) e valor preditivo
positivo (VPP) para predição do parto prematuro não somente antes da 34ª semana,
como também antes da 37ª semana. O valor preditivo negativo (VPN), por outro lado, foi
alto para predição da prematuridade antes da 34ª semana nos três períodos analisados,
embora com riscos relativos (RR) não significativos. Os resultados encontrados são
semelhantes àqueles encontrados na literatura, independente do período do parto
pré-termo considerado, número de amostras realizadas e grupo de risco. Os autores
sugerem que o teste da FNF tem pouco valor em pacientes assintomáticas de alto
risco, característica das pacientes com antecedentes de prematuridade.
BITTAR, R. E. et al., em 2009, avaliou 40 estudos prospectivos em uma revisão
sistemática e concluiu que a utilidade do teste de FNF em gestantes sintomáticas pode
ser confirmada. Cerca de 80% das mulheres com PP tiveram o teste positivo para a
FNF uma semana antes do nascimento, ou seja, trata-se de um teste sensível. Apenas
13% das pacientes em que não ocorreu o parto em uma semana tiveram resultado
positivo do teste da FNF, ou seja, raramente é positivo quando a gestação evolui para
o termo. Considerando-se os estudos relacionados a gestantes sintomáticas, observa-
se que o principal benefício do teste da FNF reside no seu elevado VPN (superior a
90%), ou seja, a probabilidade de parto a termo em mulheres com teste negativo é
alta.
O estudo de BITTAR, R. E. et al., de 1996, avaliou o aparecimento da FNF na
secreção cérvico-vaginal e as contrações uterinas anormais como métodos preditivos
para o PP de 72 gestantes. A coleta da secreção para detectar a presença da FNF foi
realizada quinzenalmente e, as contrações uterinas foram monitoradas semanalmente,
entre a 24ª e a 34ª semanas de gestação. Foi determinada a correlação entre a
presença da FNF e o aparecimento de contrações uterinas anormais com o PP em
gestantes assintomáticas, com risco elevado para o parto pré-termo espontâneo.
Nesse grupo de mulheres, o teste de membrana para a FNF obteve sensibilidade
(S) de 75%, especificidade (E) de 83,33%, VPP de 54,54% e VPN de 92,59%. Já
as contrações uterinas revelaram S de 50%, E de 63,33%, VPP de 26,66% e VPN

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 4 30


82,60%. Dessa forma, o teste de membrana para detecção da FNF, quando realizados
entre a 24ª e 34ª semanas de gravidez, em gestantes assintomáticas com elevado
risco para PP, constitui melhor mercador para a prematuridade do que as contrações
uterinas. E como descrito na literatura e encontrado nos outros estudos revisados,
também apresentou VPN mais sifnigicativo que a sensibilidade.
Segundo uma metanálise realizada por SANTOS, F. et. al em 2018, nos estudos
publicados no período de 2005 a 2017 que envolviam gestantes acima de 22 semanas
de gestação e que realizaram o teste da fibronectina, mostrou que, em gestantes
assintomáticas e sem fatores de risco, um resultado positivo no teste da fibronectina
indicou mulheres com aumento no risco de trabalho de parto prematuro.

3.2 Fibronectina comparada a outros marcadores bioquímicos

Segundo o estudo de BITTAR, R. E. et al. realizado em 2009, dentre todos os


indicadores bioquímicos, a fibronectina é a que apresentou os melhores resultados
para a predição do parto prematuro. As interleucinas, o CRH e o estriol demonstraram
baixa sensibilidade e baixos VPPs e não trouxeram benefícios para a predição do parto
prematuro. A fibronectina apresentou VPP relativamente baixo (inferior a 50%), mas
superior aos outros marcadores bioquímicos, tais como o estriol, interleucinas e CRF.
Diante do teste positivo de FNF, recomenda-se internação, corticoterapia antenatal e
tocólise. Entretanto, o maior benefício do teste da fibronectina provém do seu elevado
VPN (superior a 90%) e, portanto, diante de um teste negativo da FNF, pode-se evitar
intervenções desnecessárias.

3.3 Fibronectina comparada ao comprimento do colo uterino

De acordo com estudo de OLIVEIRA, T. A. et al. (2000), foi evidenciado que a


medida do colo uterino via UST apresentou bons índices de VPN, principalmente para
predição de PP antes da 34ª semana. A especificidade e VPP do exame, todavia,
foram mais baixos. O comprimento cervical mostrou maior sensibilidade e melhor
associação com o parto pré-termo do que a FNF. A presença de um colo curto foi
associada ao PP antes da 34ª semana e também antes da 37ª semana, em todos
períodos avaliados. Entretanto, o teste da FNF na 28ª semana foi mais específico que
o colo curto, enquanto este foi mais sensível à previsão de PP antes da 37ª semana.
No estudo de BITTAR (2005), foi avaliado o risco de PP em 107 gestantes nas
24ª, 28ª e 32ª semanas, com antecedentes de parto pré-termo espontâneo através do
teste de imunoensaio de FNF e o da medida do colo uterino pela UST. A incidência
do parto prematuro foi de 37,4% (40/107). O teste positivo da fibronectina fetal
apresentou sensibilidade de 44%, especificidade de 78%, VPP entre 55% e VPN
de 69%. O colo curto mostrou um risco relativo significativo para ocorrência do parto
antes de 37 semanas, na 24ª, 28ª e 32ª semana. A sensibilidade variou entre 59-73%,
a especificidade de 60-75%, o VPP de 48-57% e VPN de 76-81%. Dessa forma, em

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 4 31


pacientes com antecedentes de prematuridade espontânea, a medida do comprimento
do colo uterino através da UST é melhor do que o teste da FNF para avaliar o risco de
parto prematuro.
No estudo de 2017 desenvolvido por WAX, J. R. et. al., os resultados mostraram
que o teste da fibronectina pode ser útil na avaliação do risco de trabalho de parto
prematuro espontâneo quando o comprimento do colo uterino não for possível de
avaliar ou, quando disponível, mensurar entre 20 e 30mm. Podendo, então, ambos
(comprimento do colo uterino e teste da fibronectina) serem úteis na triagem de
mulheres assintomáticas para trabalho de parto prematuro.

3.4 Fibronectina associada ao comprimento do colo uterino

De acordo com os estudos de OLIVEIRA, T. A. et al. (2000) e de BITTAR, R. E.


et al. (2009), em gestantes sintomáticas e assintomáticas com antecedente de parto
prematuro, o teste da FNF revelou melhores valores de sensibilidade quando em
combinação com a medida do comprimento do colo uterino pela UST.

4 | CONCLUSÕES

Embora até o momento não exista nenhum teste preditivo ideal em termos de
sensibilidade e valores preditivos para avaliação de trabalho de parto precoce, a
predição do PP tornou-se mais precisa com o advento da medida do comprimento
do colo uterino pela ultrassonografia transvaginal e com o teste da FNF. A principal
utilidade isolada do teste imunoensaio de membrana reside nos elevados VPN (acima
de 90%) e não nos VPP, que são mais baixos.
Os melhores valores de predição são obtidos quando ambos os exames são
aplicados simultaneamente, em gestantes sintomáticas e assintomáticas de risco,
havendo aumento da sensibilidade para rastreamento e a detecção do PP. Os testes
da FNF e a medida do colo, além disso, podem auxiliar o pré-natalista na orientação
de medidas preventivas ou terapêuticas, sobretudo devido ao elevado VPN para
ocorrência do parto antes de 34 semanas. A identificação precoce dessas pacientes
possibilita orientar a administração dos corticosteróides para acelerar a maturação
pulmonar fetal ou, ainda, evitar condutas desnecessárias.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 4 33


CAPÍTULO 5

PERFIL ALIMENTAR E NUTRICIONAL DE GESTANTES


NO NORDESTE BRASILEIRO

Maria Dinara de Araújo Nogueira Rafaela Dantas Gomes


Nutricionista do Hospital Distrital Gonzaga Mota Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica
de Messejana, Preceptora de Estágio de Nutrição e Esportiva pela Faculdade de Quixeramobim.
Clínica na Faculdade Metropolitana da Grande Fortaleza-CE.
Fortaleza, Pós-graduanda em Nutrição Pediátrica, Juliana Soares Rodrigues Pinheiro
Escolar e na Adolescência no Centro Universitário Nutricionista, Preceptora de Estágio de Nutrição
Estácio do Ceará. Fortaleza-CE. e Saúde Coletiva no Centro Universitário Estácio
Mariana da Silva Cavalcanti do Ceará, Especialista em Saúde da Família pela
Nutricionista, Pós-graduanda em Prescrição Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza-CE.
de Fitoterápicos e Suplementação Nutricional Géssica Albuquerque Torres Freitas
na Nutrição Clínica e Esportiva no Centro Farmacêutica, Especialista em Atenção
Universitário Estácio do Ceará. Fortaleza-CE. Farmacêutica e Farmácia Clínica pelo Instituto
Amanda de Morais Lima de Pós-graduação e Graduação, Mestranda em
Nutricionista, Pós-graduanda em Nutrição Clínica Saúde Coletiva pela Universidade de Fortaleza.
e Funcional no Centro Universitário Estácio do Fortaleza-CE.
Ceará. Fortaleza-CE. Maria Raquel da Silva Lima
Carine Costa dos Santos Nutricionista, Preceptora de Estágio de Nutrição
Nutricionista do Hospital Distrital Gonzaga Mota e Saúde Coletiva no Centro Universitário Estácio
de Messejana, Pós-graduanda em Nutrição do Ceará, Mestranda em Saúde Coletiva pela
Clínica e Fitoterapia Aplicada no Instituto Viver de Universidade de Fortaleza. Fortaleza-CE.
Saúde, Ensino e Performance. Fortaleza-CE.
Carliane Vanessa Souza Vasconcelos
Nutricionista, Especialista em Nutrição Clínica,
Esportiva e Fitoterapia pelo Centro Universitário RESUMO: O objetivo desse estudo foi identificar
UNINTA, Especialista em Saúde da Família em o perfil alimentar e nutricional das gestantes no
Caráter de Residência Multiprofissional pela nordeste brasileiro a partir de informações do
Universidade Vale do Acaraú. Sobral-CE. Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
Ana Angélica Romeiro Cardoso (SISVAN). Este estudo é do tipo retrospectivo,
Nutricionista, Preceptora de Estágio de Nutrição descritivo, com abordagem quantitativa. Os
e Saúde Coletiva no Centro Universitário Estácio critérios de inclusão foram gestantes adultas
do Ceará, Especialista em Alimentação e Nutrição e adolescentes acompanhadas no SISVAN no
na Atenção Básica pela Fundação Osvaldo Cruz.
período de 2017. Os dados foram classificados
Fortaleza-CE.
em baixo peso, eutrofia, sobrepeso ou

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 5 34


obesidade, a partir do Índice de Massa corpórea (IMC/km²) gestacional que fornece
a razão do peso e o quadrado da altura, relacionando o valor encontrado com a atual
semana gestacional. Apesar de 39% se encontrar com estado nutricional adequado, e
o risco de baixo peso ter diminuído com a transição nutricional, 43% está com excesso
de peso, sendo um grande fator de risco para a saúde materna e do concepto. Há um
bom consumo de frutas, verduras e legumes, o que é extremamente importante para o
adequado desenvolvimento fetal, visto a oferta de nutrientes. Porém, em contradição
também há uma considerada ingestão de alimentos açucarados e gordurosos
por parte das gestantes. Assim, se faz importante enfatizar a criação de estratégias
nutricionais a partir de políticas públicas voltadas para mulheres no período gestacional,
visto a relevância de manter um estado nutricional adequado, evitando complicações
metabólicas para a mãe e o bebê nesta fase, que possam decorrer da má alimentação.
PALAVRAS-CHAVE: Estado Nutricional. Gestantes. Consumo Alimentar.

ABSTRACT: The objective of this study was to identify the nutritional and nutritional
profile of pregnant women in northeastern Brazil, based on information from the Food
and Nutrition Surveillance System (SISVAN). This is a retrospective, descriptive study
with a quantitative approach. Inclusion criteria were adult and adolescent pregnant
women in SISVAN during the period of 2017. Data were classified as low weight,
eutrophy, overweight or obesity, based on the Body Mass Index (BMI / km²) gestational
age, which gives the weight ratio and the square of the height, relating the value found
with the current gestational week. Although 39% found adequate nutritional status, and
the risk of low weight decreased with the nutritional transition, 43% were overweight and
a major risk factor for maternal health and the concept. There is a good consumption
of fruits, vegetables and vegetables, which is extremely important for proper fetal
development, given the supply of nutrients. However, in contradiction there is also a
considered intake of sugary and fatty foods on the part of the pregnant women. Thus, it
is important to emphasize the creation of nutritional strategies based on public policies
aimed at women in the gestational period, considering the importance of maintaining
an adequate nutritional status, avoiding metabolic complications for the mother and the
baby at this stage, food.
KEYWORDS: Nutritional status. Pregnant women. Food Consumption.

1 | INTRODUÇÃO

A gravidez é o período onde a mulher é responsável pela formação de um novo ser.


Esse período tem início no momento da concepção, estende-se por aproximadamente
40 semanas e termina com o nascimento do bebê (COUTINHO et al., 2014). O fato da
mãe necessitar de um maior aporte energético para atender às suas necessidades
dela e do bebê, acaba por provocar a necessidade de uma adequada ingestão calórica
para um ganho de peso satisfatório (ANDRETO et al, 2006).
A avaliação do estado nutricional das gestantes tem como intuito avaliar as

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 5 35


condições nutricionais da gestante levando em consideração o seu crescimento corpóreo
e parâmetros físicos, sendo importante para uma gestação saudável (BARBOSA et
al, 2017). Avaliar a ingestão de alimentos por gestantes também se faz válido, pois
é possível saber possíveis deficiências nutricionais, o que pode gerar intervenções
referentes a qualidade e quantidade dos alimentos durante a gestação (BERTIN et al.,
2006).
Devido a importância do acompanhamento gestacional neste âmbito, surgiu o
Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) criado em 1990 (BARBOSA
et al, 2017). Ele permite o armazenamento e a geração de dados sobre o consumo
alimentar e o estado nutricional dos usuários do Sistema Único de Saúde em todas as
fases de suas vidas (NASCIMENTO et al, 2017). A vigilância nutricional das gestantes
tem como indicador o Índice de Massa Corporal (IMC/km²) e o aumento de peso por
tempo gestacional (BARBOSA et al, 2017). O monitoramento do IMC na gestante tem
como objetivo identificar o risco nutricional para a mesma, promovendo ações voltadas
à promoção da saúde materna (NOGUEIRA; CARREIRO, 2013). Desta forma, o
trabalho em questão teve como objetivo identificar o perfil alimentar e nutricional das
gestantes no nordeste brasileiro a partir de informações do Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional (SISVAN).

2 | METODOLOGIA

Trata-se de um estudo do tipo retrospectivo, descritivo, com abordagem


quantitativa. A pesquisa foi baseada a partir de dados secundários obtidos pelo Sistema
de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) relativo às gestantes da região nordeste
do Brasil. A Região Nordeste é formada por nove estados litorâneos e ocupa uma área
de 1.554.291.607 km2, o equivalente a 18,27% do território brasileiro (IBGE, 2010).
Os critérios de inclusão foram gestantes adultas e adolescentes acompanhadas
no SISVAN no período de 2017. Os critérios de exclusão foram mulheres adultas e
adolescentes não grávidas. Os dados oriundos do SISVAN foram classificados de
acordo com a curva de Atalah et al. (1997), em baixo peso, eutrofia, sobrepeso ou
obesidade, a partir do Índice de Massa Corpórea (IMC/m²) da gestante que fornece
a razão do peso e o quadrado da altura, relacionado o valor encontrado com a atual
semana gestacional.
Também foi verificado o consumo alimentar avaliando a frequência da ingestão de
alimentos saudáveis ou não (frutas, verduras e legumes, hambúrgueres ou embutidos,
bebidas adoçadas e biscoitos recheados, doces ou guloseimas, feijão, macarrão
instantâneo, salgadinho de pacote ou biscoito salgado). A tabulação dos dados foi
realizada no Programa Microsoft Excel 2016, por meio de porcentagens em gráficos e
tabelas.
Por fazermos o uso de dados de domínio público, isso dispensa a aplicação do

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 5 36


Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos participantes, imprescindível
em pesquisas que envolvem seres humanos, conforme a resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para o estado nutricional das gestantes do Nordeste do Brasil em 2017, foram


coletados dados de 284.333 mulheres em período gestacional, distribuídas em
baixo peso 18% (n= 52.437), eutrofia 39% (n= 110.825), sobrepeso 27% (n=76.026),
obesidade 16% (n= 44.841), como mostra o gráfico abaixo:

Gráfico 1. Estado nutricional de gestantes da região nordeste do Brasil, 2017.


Fonte: SISVAN, 2017

Isso demonstra que apesar de 39% se encontrar com estado nutricional adequado,
e o risco de baixo peso ter diminuído com a transição nutricional, 43% está com excesso
de peso, sendo um grande fator de risco para a saúde materna e do concepto.
A análise do estado nutricional na gravidez é de extrema valia, possibilitando
identificar as gestantes que estão com algum tipo de prejuízo nutricional que possa
causar uma possível anemia, baixo peso ou obesidade, entre outras patologias. Assim
é possível intervir na situação com recomendações adequadas e prestar orientações
nutricionais para cada quadro. As investigações a respeito da alimentação e do estado
nutricional devem fazer sempre parte da atenção à saúde da mulher antes e durante a
gestação para prevenção da obesidade na gravidez (SATO; FUJIMORE, 2012)
Um estudo de Barbosa, Aguiar e Holanda (2017) também classificou o perfil
nutricional de gestantes adultas e adolescentes em um município do Ceará através do
SISVAN, encontrando 43% de eutrofia, 19% de sobrepeso, 12% de obesidade, e 26%
de baixo peso. Resultado preocupante, visto o alto índice de inadequações de peso,
assim como nosso estudo que comtemplou o Nordeste, expressando a necessidade de

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 5 37


intervenções (BARBOSA, AGUIAR, HOLANDA; 2017).
Uma outra pesquisa que visou identificar o estado nutricional apenas com
adolescentes, encontrou no diagnóstico pré-gestacional 87% em estado de normalidade,
1% baixo peso, 10% sobrepeso e 2% obesidade. Porém, durante a gestação houve
72% de inadequação, em sua maioria sobrepeso e obesidade, superando a adequação
de 28% (SANTOS et al., 2012). Ganhar peso de forma adequada durante a gestação
é essencial para o bom desenvolvimento do feto, podendo seu desenvolvimento ser
alterado pelo estado nutricional da mãe antes e durante a gestação (KAUP; MERIGHI;
TSUNECHIRO, 2005).

N %
Frutas 1199 72%
Verduras e legumes 1058 63%
Hambúrgueres e/ou embutidos 509 31%
Bebidas adoçadas 832 50%
Biscoitos recheados, doces ou
641 38%
guloseimas
Feijão 1390 83%
Macarrão instantâneo,
salgadinho de pacote ou biscoito 679 41%
salgado

Tabela 2. Consumo alimentar de gestantes da região nordeste do Brasil, 2017 (n=1667).


Fonte: SISVAN, 2017

A tabela relata que há um bom consumo de frutas, verduras e legumes, o que


é extremamente importante para o adequado desenvolvimento fetal, visto a oferta de
nutrientes. Porém, em contradição também há uma considerada ingestão de alimentos
açucarados e gordurosos por parte das gestantes. Isso é algo que deve ser levado em
consideração, pois é primordial haver equilíbrio de grupos alimentares durantes este
período.
Durante a gestação, as necessidades nutricionais sofrem um aumento e isso
leva a uma alteração na dieta da gestante, para dessa forma ela conseguir garantir a
sua saúde e do seu bebê (SAUDERS; NEVES; ACCIOLY, 2005). Porém, o controle
na ingestão calórica deve se fazer presente. Segundo Baião e Deslandes (2006), a
alimentação na gestante sofre a influência de diversos fatores como os recursos
materiais disponíveis, as condições sociais, os aspectos corpóreos e a opinião
médica.
A boa alimentação tem uma relação direta com a saúde materna, com o crescimento
e desenvolvimento adequado da criança. Um consumo alimentar exagerado e um
grande aumento de peso ocasionados por uma alimentação ruim são considerados
possíveis causas de enfermidades (BAIÃO; DESLANDES, 2008). Uma alimentação

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 5 38


inadequada, com alta ingestão de refeições rápidas (tipo snacks), com redução de
uma alimentação reforçada como almoço, podem estar relacionadas até ao aumento
de retenção após o parto (MARTINS; BENÍCIO, 2011).
No estudo de Araújo et al., (2016) sobre o consumo alimentar de gestantes
adultas, observou-se baixo consumo de leguminosas, leite e produtos lácteos, além
de ingestão excessiva de açúcares, doces e carnes e ovos, entrando em concordância
com nosso estudo em relação aos açúcares.
Outra pesquisa realizada nas cinco regiões do Brasil através do SISVAN nos anos
de 2015 e 2016 para saber o perfil alimentar de gestantes adolescentes, foi relatado que
o consumo de feijão (80%), frutas (70%), legumes e verduras, foi destaque nas regiões
Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. Em relação a alimentos não saudáveis, como a
ingestão de embutidos, bebidas adoçadas, salgadinhos e doces, a prevalência foi das
bebidas adoçadas (70%), predominando nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste,
seguido pelo consumo de salgadinhos, em todas as regiões, sendo maior que 50%
em ambos os anos (SOMAVILA et al., 2017). Demonstra então, que os resultados de
2015 e 2016 na região nordeste se mantiveram semelhantes quanto a frutas, verduras
e legumes, e feijão em 2017, como visto aqui.

4 | CONCLUSÕES

Em relação ao diagnóstico nutricional, houve predominância do excesso de peso


de forma expressiva no nordeste brasileiro em 2017. Quanto ao consumo alimentar,
apesar da boa ingestão de alimentos saudáveis, também houve grande consumo de
produtos industrializados, ricos em conservantes como sódio, açúcares e gorduras.
É importante enfatizar a criação de estratégias nutricionais a partir de políticas
públicas voltadas para mulheres no período gestacional, visto a relevância de manter
um estado nutricional adequado, evitando complicações metabólicas para a mãe e o
bebê nesta fase, que possam decorrer da má alimentação. Ainda é válido enfatizar a
importância de registrar os dados o SISVAN, para promover rastreamentos do estado
nutricional e consumo alimentar neste público. Estima-se ainda, que outros estudos
possam investigar o estado nutricional e a ingestão alimentar das gestantes por meio
do SISVAN, em outras regiões do Brasil.

REFERÊNCIAS
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ganho ponderal excessivo em gestantes atendidas em um serviço público de pré-natal na cidade de
Recife, Pernambuco, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 11, p. 2401-2409,
nov., 2006.

ARAÚJO, E. S. et al. Consumo alimentar de gestantes atendidas em Unidades de Saúde. O Mundo


da Saúde, São Paulo. v. 40, n.1, p.28-37, 2016.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 5 39


BAIÃO, M.R.; DESLANDES, S.F. Alimentação na gestação e puerpério. Revista de Nutrição, 19, p.
245-253, 2006.

BAIÃO, M.R.; DESLANDES, S.F. Gravidez e comportamento alimentar em gestantes de uma


comunidade urbana de baixa renda no Município do Rio de Janeiro, Brasil. Caderno de Saúde
Pública, 24(11), p. 2633-2642, 2008

BARBOSA, G.S.S; AGUIAR, L. P.; HOLANDA, R. L. Classificação nutricional das gestantes segundo
o sistema de informação de vigilância alimentar e nutricional (sisvan) de brejo Santo- CE. Revista
Interdisciplinar, v. 10, n. 2, p. 40-46, 2017.

BERTIN et al. Métodos de avaliação do consumo alimentar de gestantes: uma revisão. Revista
Brasileira de Saúde Materno Infantil v.6, n.4, p. 383-390, 2006.

BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística. Contagem Populacional. 2010. Disponível: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/
periodicos/93/cd_2010_caracteristicas_populacao_domi cilios.pdf. Acesso em: 20 de abril de 2018.

COUTINHO, E. C. et al. Gravidez e Parto: O que muda no estilo de vida das mulheres que se tornam
mães? Revista Esc. Enfermagem USP, São Paulo, 48 (Esp2), p. 17 – 24. 2014.

MARTINS, A. P. B.; BENICIO, M. H. D. Influência do consumo alimentar na gestação sobre a retenção


de peso pós-parto. Revista de saúde pública, v. 45, p. 870-877, 2011.

NASCIMENTO, F. A. et al. Cobertura da avaliação do estado nutricional no Sistema de Vigilância


Alimentar e Nutricional brasileiro: 2008 a 2013. Cadernos de Saúde Pública, São Paulo, 33 (12),
2017.

NOGUEIRA, A. I.; CARREIRO, M. P. Obesidade de gravidez. Revista de Medicina de Minas Gerais,


Minas Gerais, v. 23, n. 1, p. 88-98, 2013.

SOMAVILA, T.R. et al. Consumo alimentar de gestantes adolescentes das cinco regiões do brasil: uma
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SAÚDE, I., 2017, Santa Catarina. Anais do I Congresso Internacional de Políticas Públicas, Santa
Catarina: Universidade Federal da Fronteira Sul, 2017.

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da assistência pré-natal e desfechos perinatais adversos entre puérperas adolescentes. Revista
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SATO, A.P.S; FUJIMORE, E. Estado Nutricional e ganho de peso de gestantes. Revista Latino
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SAUNDERS, C.; NEVES, E. Q. C; ACCIOLY, E. Recomendações nutricionais na gestação. In: Accioly


E, Saunders C, Lacerda E, organizadoras. Nutrição em obstetrícia e pediatria. Rio de Janeiro:
Editora Cultura Médica, p. 147-70, 2005.

KAUP, Z.O.L.; MERIGHI, M.A.B.; TSUNECHIRO, M. A. Evaluation of alcohol consumption during


pregnancy. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, Rio de Janeiro, v. 23, n. 9, p. 575, 580,
2005.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 5 40


CAPÍTULO 6

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E MOTIVAÇÃO


DA ESCOLHA PROFISSIONAL DOS AGENTES
COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DAS UNIDADES
BÁSICAS DE SAÚDE PARCEIRAS DA UNIVERSIDADE
CATÓLICA DE PERNAMBUCO

Sílvia Patrícia Ribeiro Vieira dos profissionais são mulheres entre 50-60
Universidade Católica de Pernambuco, Curso de anos, ensino médio completo, mais de 15 anos
Enfermagem na função, ingressaram através de seleção,
Recife – Pernambuco vínculo empregatício efetivo, a maioria não
Suzane Brust de Jesus possui outro emprego, moram na comunidade,
Universidade Católica de Pernambuco, Curso de acompanham mais de 150 famílias, a maioria
Enfermagem
passou por Curso Introdutório e realizaram
Recife – Pernambuco mais de seis capacitações. Sobre a profissão
Marciana Pereira Praia anterior, a grande maioria trabalhava como
Universidade Católica de Pernambuco, Curso de prestador de serviço. O principal motivo
Enfermagem
que os levaram a escolha da profissão foi o
Recife – Pernambuco
desemprego, seguido por desejo de convívio
Clara Fernanda Brust de Jesus com a comunidade onde residem e de ajudar
Universidade Católica de Pernambuco, Curso de
a comunidade e muitos gostariam de continuar
Fisioterapia
na profissão. Diante do exposto concluímos que
Recife – Pernambuco
a atividade do Agente Comunitário de Saúde
é muito importante, pois faz a ligação entre a
equipe de saúde e a comunidade. E para que
RESUMO: A presente pesquisa busca conhecer ele faça um bom trabalho é importante que
o perfil sociodemográfico do Agente Comunitário tenha perfil e motivação, tornando-se esse fato
de Saúde e entender quais os motivos que os um desafio para os gestores.
levaram a essa escolha profissional e, caso PALAVRAS-CHAVE: Atenção Primária à Saúde;
pudessem escolher a profissão, se continuariam Agente de Saúde Comunitário; Motivação.
a ser ACS. Trata-se uma pesquisa quantitativa
e qualitativa, realizada no município de Olinda. ABSTRACT: The research aimed to understand
O instrumento de coleta foi um questionário, the Community Health Agent (Agente
respondido a próprio punho pelos Agente Comunitário de Saúde, ACS) sociodemographic
Comunitário de Saúde na própria Unidade profile and the reasons that led the participants to
Básica de Saúde, mediante a assinatura do this very professional choice, taking into account
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. the possibility of choosing another career. The
Como resultados percebeu-se que a maioria qualitative and quantitative data were collected

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 41


in the municipality of Olinda. By agreeing with terms of consent (TCLE), participants
were asked to answer a questionnaire. The research presented that most professionals
are women varying in age from 50-60, High school degree, employees with a work
contract with more than 15 years of work experience, the majority of the participants
don’t have a secondary job, live in suburbs, attending more than 150 families, the
majority went to an introductory course and took six or more training classes. About the
previous profession, the vast majority did not have a work contract. The main reason
that led the participants to the current professional choice was unemployment, followed
by the desire to work among and serve the community they reside, and many would
like to persist in the job. On the foregoing, we verify the ACS work is very important as it
links the public health workers to the community. The ACS needs to be motivated and fit
the professional profile to perform a good job, making it a challenge for the managers.
KEYWORDS: Primary Healthcare; Community Health Agent; Motivation.

1 | INTRODUÇÃO

O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) criado em 1991,


introduziu uma série de práticas em saúde, e foi a partir desse contexto que se passou
a ter um novo olhar sobre a família, deixando para trás o modelo que enfocava somente
o indivíduo. (SILVA JA, 2001).
Dentro desse programa, que é composto por uma equipe multiprofissional, onde
atua médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, dentista, é que surge um novo ator o
Agente Comunitário de Saúde (ACS). Esse personagem ímpar é geralmente o primeiro
elo da atenção básica, uma vez que assume um papel diferenciado dentro do cenário
do sistema de saúde. Por fazer parte da comunidade, o ACS permite o fortalecimento
do vínculo com a família, proporcionando dessa forma a aproximação das ações de
saúde no âmbito familiar, e tal fato aumenta sensivelmente a capacidade da população
de enfrentar os problemas existentes.
Segundo o Ministério da Saúde (1995), “O ACS é um trabalhador que integra
a equipe de saúde local, auxiliando as pessoas a cuidarem da própria saúde, por
meio de ações individuais e coletivas”. A inserção do ACS, como força de trabalho
do Sistema Único de Saúde, vem contribuindo para a concretização do processo de
municipalização da saúde, bem como para a definição da proposta do Ministério da
Saúde em relação a esse profissional, qual seja, “a prestação de cuidados primários
de saúde para aumentar a cobertura de atendimento à população”. (FORTES, 2002).
Segundo Carvalho (2005), o SUS está fadado ao fracasso se não dispuser
de recursos humanos qualificados, valorizados, comprometidos e acima de tudo,
conscientes da importância do seu papel como agente transformador na melhoria da
qualidade de saúde e de vida. Assim, tendo o ACS como o elo que liga a comunidade a
equipe de saúde, faz-se necessário conhecer melhor quem é esse profissional, e é isto
que se busca com a presente pesquisa, traçar o perfil sociodemográfico, bem como

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 42


entender quais os motivos que o levaram a se tornar um ACS.
Para tanto essa pesquisa teve como objetivo identificar o perfil sociodemográfico
do Agente Comunitário de Saúde e a razão e descrever os motivos que levaram os
Agentes Comunitários de Saúde a escolherem essa profissão.
Neste estudo foram utilizadas as abordagens de pesquisa quantitativa e qualitativa,
caracterizada por pesquisa de campo, realizada no município de Olinda, no período
compreendido entre setembro a novembro de 2016. A cidade atualmente possui 41
Unidades de Saúde da Família, das quais foram utilizadas como sujeitos da pesquisa
as 06 unidades cedidas para aulas práticas dos cursos de Medicina e Enfermagem da
Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), mediante convênio, a saber: Jardim
Brasil I e II, Ilha de Santana I e II, COHAB- Peixinhos I, II e III, Vila Popular, Salgadinho
e Bonsucesso II.
Para critério de inclusão dos sujeitos na amostra, definiu-se os ACS trabalhadores
das 06 equipes das USF especificadas independente do tempo de atuação, idade e
sexo. Já para os critérios de exclusão foram considerados os ACS em licença ou férias
no período de coleta de dados ou os que se recusaram a participar da pesquisa. Após
a aplicação dos critérios mencionados anteriormente, os respondentes foram 96%
(n=76) de um total de 80 ACS, que responderam a 1ª parte do questionário e 72% (n=
57) que responderam a 2ª parte do mesmo.
Para a realização da pesquisa, o instrumento de coleta de dados utilizado,
foi um questionário, composto por duas partes: a primeira parte é formada por
perguntas fechadas com opções de respostas de modo a obter um panorama do perfil
sociodemográfico desses profissionais. Na segunda fase da pesquisa, o questionário
foi composto por sete questões abertas que abordaram os aspectos da percepção do
ACS na prática do seu trabalho, de uma forma mais subjetiva, que o responderam a
próprio punho. Todos os questionários foram aplicados aos ACS na Unidade de Saúde
da Família, após a explicação dos objetivos, e mediante a leitura e posterior assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
No que diz respeito à segunda parte do questionário, foi feita uma transcrição
literal na íntegra das respostas, onde as mesmas foram consolidadas e categorizadas
segundo a ideia central da afirmação. Vale ressaltar que todas as falas encontram-
se em anexo e que somente foram compiladas no corpo do texto duas falas de cada
categoria. Os ACS foram numerados aleatoriamente e na reprodução das falas, se fez
a seguinte apresentação: ACS1, ACS2, ACS3 e assim sucessivamente.
A coleta dos dados foi realizada no período de dezembro de 2016 a fevereiro
de 2017, que foram posteriormente consolidados e analisados dentro do método
quantitativo e qualitativo. Ademais, depois da redação do relatório final, a equipe
disponibilizou os resultados para outros alunos da instituição, à Secretaria de Saúde do
município de Olinda, aos Agentes Comunitários de Saúde, UBS e demais interessados.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 43


2 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados a seguir são resultados das análises feitas através do presente estudo,
do qual participaram 76 (96%) dos ACS pertencentes às 06 Unidades de Saúde da
Família do município de Olinda/PE cedidas para as aulas práticas dos cursos de
Medicina e Enfermagem da Unicap, mediante convênio, a saber: Jardim Brasil I e
II, Ilha de Santana I e II, COHAB- Peixinhos I, II e III, Vila Popular, Salgadinho e
Bonsucesso II.
Os resultados foram divididos em três blocos quais sejam: (1) Perfil
sociodemográfico do ACS; (2) A motivação do ACS em escolher a profissão e (3) Se
não fosse ACS qual profissão escolheria.

2.1 Pefil sóciodemográfico de ACS

Em relação ao perfil sóciodemográfico dos ACS colhemos os seguintes dados:

Unidades Total Respondentes %

Bonsucesso 8 8 100
Cohab-peixinhos 22 21 95
Ilha de Santana 16 15 94
Jardim brasil 16 14 88
Salgadinho 13 13 100
Vila popular 5 5 100
Total 80 76 96

Tabela 1 – Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda que responderam ao


questionário, segundo Unidade Básica de Saúde, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa

A tabela 1 mostra a distribuição de ACS lotados na UBSs. Percebe-se que a


UBS que mais possui ACS é a de COHAB - Peixinhos I, II e II com 22 ACS, sendo que
participaram da pesquisa 21 ACS (95%). Ressalta-se que nessa UBS atuam três (3)
equipes. A seguir a UBS de Ilha de Santana I e II que possui 16 ACS sendo que 15
participaram da pesquisa (94%), nesta unidade existem 2 equipes. A UBS de Jardim
Brasil I e II tem 16 ACS, participaram da pesquisa 14 (88%), sendo que nesta UBS
existem 2 equipes. Na UBS de Salgadinho I e II tem 13 ACS e todos participaram da
pesquisa (100%). A UBS de Bonsucesso I tem 8 ACS e todos participaram da pesquisa
(100%). E por fim a UBS de Vila Popular I que tem 5 ACS e todos participaram da
pesquisa (100%).
A distribuição dos ACS deve obedecer aos parâmetros do Ministério da Saúde
(MS), refletindo em uma alocação maior naqueles espaços territoriais com maior
número de famílias e, consequentemente, maior número de equipes do PSF atuantes
de acordo com a Portaria nº 648/GM de 28/03/2006/ PNAB Política Nacional de
Atenção Básica (MS, 2002). A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) diz que o

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 44


número de ACS deve ser suficiente para cobrir 100% da população cadastrada, assim
cada Agente Comunitário deve ser responsável por no máximo 750 pessoas, ou seja,
150 famílias e que cada Equipe de Saúde da Família deve ter no máximo 12 ACS (MS,
2002). Assim pode se observar que todas as unidades participantes da pesquisa estão
cumprindo o que preconiza o MS, ou seja, no máximo 12 ACS por equipe de saúde.

Idades N %

< 20 anos 0 0
20 ¬ 30 anos 0 0
30 ¬ 40 anos 12 15,8
40¬ 50 anos 28 36,8
50¬ 60 anos 29 38,2
(+) 60 anos 7 9,2

Total 76 100
Sexo N %
Masculino 13 17,1
Feminino 63 82,9
Total 76 100
Escolaridade N %

Ensino fundamental 3 3,9


Ensino médio incompleto 1 1,3
Ensino médio completo 51 67,1
Ensino superior incompleto 10 13,2
Ensino superior completo 10 13,2
Outro 1 1,3

Total 76 100

Tabela 2 – Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda, segundo idade, sexo e


escolaridade, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 2, observa-se que 29 (38,2%) dos ACS estão na faixa etária de 50-
60 anos, seguido de 40-50 anos, 28 (36,8%) e 12 ACS (15,8 %) estão na faixa etária
de 30-40 anos. Vale registrar que o MS preconiza apenas idade mínima acima de 18
anos, porém não estabelece limite máximo.
Com relação à faixa etária Mota e David (2010), relatam que 63% de sua amostra
é composta de adultos jovens entre 26 e 40 anos, fato também observado na pesquisa
de Santana et, al, 2009 onde 85% da amostra estavam na faixa etária de 20 a 49
anos. Corroborando com a nossa tese, Ferraz e Aerts (2005), relatam o cotidiano de
trabalho dos ACS de Porto Alegre, e concluem que 71% de sua amostra tem entre 30
a 40 anos e eles relacionam este achado com o fato de que quando foi criado o PSF
foram convidados para ser ACS os presidentes de associação de moradores e líderes
comunitários, pois já desenvolviam atividades em prol da comunidade, e segundo
este mesmo autor ser ACS foi a oportunidade de reingresso no mercado de trabalho.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 45


(FERRAZ; AERTS,2005)
Os dados do estudo demonstram que os Agentes Comunitários de Saúde com
mais idade tendem a conhecer melhor a comunidade, tendo assim maior vínculo e
experiência para atendê-los.
Quanto ao sexo, observa-se a predominância do sexo feminino 82,9% (n=63),
como mostra a tabela 2. Trata-se de uma profissão majoritariamente feminina, pois
o cuidar desde sua origem sempre foi ligado a figura feminina. Sabemos que os
ACS surgiram no Ceará com a contratação de uma frente de trabalho de mulheres
para ajudar a combater os problemas decorrentes da seca. Colaborando com esse
pensamento, Santana et al,(2009) em pesquisa de caráter qualitativo descreve as
principais características dos ACS do município de Sete Lagoas-MG. Eles concluíram
nesta pesquisa que 85% dos ACS são do sexo feminino, porcentagem também
observada no estudo de Mota e David(2010), na cidade do Rio de Janeiro, observando
que 82% de sua amostra eram compostas por mulheres. Mota e David (2010) associam
o trabalho do ACS ao trabalho doméstico feminino que, segundo os mesmos, possui
uma inclinação historicamente reconhecida para o cuidado em saúde. Santana et al,
(2009) relacionam o elevado número de mulheres na profissão de ACS com achados
históricos e relatam em sua pesquisa que, em razão da mulher ser vista na Idade
Média como cuidadora, isto que pode ter suscitado maior adesão ao cuidado por parte
delas.
Outro dado que merece discussão é a escolaridade dos ACS participantes da
pesquisa. Destaca-se que a maioria apresenta escolaridade de ensino médio completo
67,1% (n=51), seguido de 13,2% (n=10) com ensino superior completo e 13,2%
(n=10) com ensino superior incompleto. A lei que regula a profissão de ACS exige,
para o exercício da função, ensino fundamental completo. A escolarização ainda se
apresenta como um aspecto que vem mudando ao passar dos anos de existência
desse trabalhador dos SUS. Mota e David (2010) relatam em sua pesquisa que quando
surgiu o PSF 9,6% dos ACS possuíam apenas o ensino fundamental e atualmente este
índice é de 2,7%. Hoje o nível de instrução predominante é o médio, fato que colabora
com o encontrado em nossa pesquisa. Outro estudo considera que, quando maior o
grau de escolaridade mais condições terá o agente de incorporar novos conhecimentos
e orientar as famílias sob sua responsabilidade (FERRAZ;AERTS,2005).

Tempo de ACS N %

< 5 anos 0 0
5¬ 10 anos 9 11,84
10¬ 15 anos 20 22,31
15¬ 20 anos 23 30,26
(+) 20 anos 23 30,26

Total 76 100
Entrada no Programa N %

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 46


Seleção 57 75,00
Indicação política 14 18,42
Outros 5 6,58

Total 76 100
Vínculo trabalhista N %

Estatutário 56 73,68
Contrato 17 22,37
Outros 2 2,63
Não respondeu 1 1,32

Total 76 100
Tem outro emprego N %
Sim 6 7,89
Não 70 92,10
Total 76 100

Tabela 3 – Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda segundo tempo de profissão,


forma de entrada no programa, vínculos empregatício e se possui outro emprego, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 3, referente ao tempo de serviço como ACS encontramos que 30,3%


dos entrevistados encontram-se na faixa de 15 a 20 anos de serviço e que também
com o mesmo percentual outro grupo com mais de 20 anos na função perfazendo um
total de 60,6%, seguido da faixa de 10-15 anos com 26,3% (n=20) demonstrando que
a grande maioria encontra-se na faixa de mais de 15 anos exercendo a função. Isso
é um bom indicador, pois mostra que são pessoas experientes e conhecedores dos
problemas e necessidades da microárea de sua responsabilidade. (SILVA; SANTOS,
2003)
Considera-se que quanto maior o tempo trabalhado com ACS maior será
sua contribuição para Equipe de Saúde da Família, devido ele conhecer melhor a
comunidade e suas necessidades de saúde. O tempo de permanecia no Programa
é importante para o entendimento do papel do agente, que é construído nas suas
práticas cotidianas e na integração com a comunidade (FERRAZ;AERTS,2005).
Sobre o tema como entrou no programa, encontramos que 75% (n=57) teve seu
ingresso no programa através de seleção, seguido de 18,4% (n=14) que ingressaram
através de indicação política e apenas 6% (n=5) por outra forma. Vale ressaltar que
a situação do ACS é diferente da dos demais servidores públicos, pois possui como
aspectos fundamentais: solidariedade e liderança, a necessidade de residir na própria
comunidade e o conhecimento da realidade social que o cerca. Segundo Ferraz e
Aerts (2005), em estudo no município de Porto Alegre enfatizam que todos os agentes
comunitários passaram por um processo seletivo, o que acaba se refletindo no nível de
escolaridade, pois a maioria apresentava o ensino fundamental completo. Importante
salientar que quanto maior o grau de escolaridade mais condições terá o agente de
incorporar novos conhecimentos e melhor orientar as famílias que encontram-se sob
sua responsabilidade.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 47


A respeito da forma de vínculo empregatício, 73,7% (n=56) dos ACS possuem
vínculo efetivo, ou seja, submetem-se ao regime jurídico municipal, e que 22,4%(n=17)
seguem o que está estabelecido pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.Coube
à Lei nº 11.350/2006 regulamentar o § 5º do art. 198 da CF, prevendo, em seu art. 8º,
que “os Agentes Comunitários de Saúde admitidos pelos gestores locais do SUS e
pela Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, na forma do disposto no § 4o do art.
198 da Constituição, submetem-se ao regime jurídico estabelecido pela Consolidação
das Leis do Trabalho – CLT, salvo se, no caso dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, lei local dispuser de forma diversa”. Os trabalhadores estatutários seguem
o Regime Jurídico e são trabalhadores efetivos (servidores públicos), com estabilidade
no emprego após três anos de admissão e que passam por avaliações de desempenho.
Têm direitos como férias, décimo terceiro salário, afastamento para tratamento de
saúde, insalubridade, licenças sem vencimento e para estudo e aposentadoria.
Pela análise das respostas ao quesito ter outro emprego além de ser ACS,
verificamos que uma parcela significativa dos entrevistados 92,1% (n=70) se dedicam
às funções de ACS exclusivamente, até mesmo porque a jornada deles é de oito
horas diárias, sendo que 7,9% (n=6) exercem outra atividades a saber: vigilante,
técnica de enfermagem, cuidadora e manicure. Tais funções podem ser exercidas
concomitantemente com a de ACS, pois todas essas profissões elencadas estão
diretamente ligadas ao contato com o público, ponto em comum com a função de ACS.

Profissão anterior N %

Prestadores de serviços 29 38,1


Comerciários 10 13,1
Educação 9 11,8
Do lar 7 9,2
Saúde 4 5,3
Líder comunitário 2 2,6
Desempregado 6 7,9
Autônomo 3 3.9
Estudante 1 1,3
Limpeza 3 3,9
Não respondeu 2 2,6

Total 76 100

Tabela 4 – Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda, segundo


Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 4 foi analisada a questão sobre profissão anterior a ser ACS, onde
obtivemos como resultado que 38,1% (n=29) trabalhavam como prestadores de serviço,
seguido por 13,1% (n=10) que eram comerciários e 11,8% (n=9) que trabalhavam na
área da educação. A maioria, antes de se tornar ACS e de assumir o trabalho em
saúde, desenvolvia atividades ligadas a prestação de serviço, demonstrando assim

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 48


que tinha vinculação direta com o público. Vale ressaltar que 5,3%(n=4) trabalhavam
na área de saúde antes de ser ACS. A insuficiência ou até a escassez de mercado
de trabalho para todas essas ocupações e ou profissões pode nos ajudar a explicar a
escolha pela ocupação de agente comunitário de saúde. (SILVA;SANTOS,2003)

Mora na comunidade N %

Sim 73 96,1
Não 1 1,3
Outro 2 2,6

Total 76 100
Quantidade de famílias N %

< 150 0 0
150¬ 200 37 48,7
200¬ 250 31 40,8
(+) 250 8 10,5

Total 76 100

Tabela 5 – Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda segundo local de moradia e


quantidade de famílias, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 5, sobre o tema morar na comunidade encontramos que 96,1% (n=73)


dos entrevistados residem na comunidade, fato que também foi relatado em outras
pesquisas. Várias pesquisas apontam que residir na área em que atua faz com que o
Agente Comunitário de Saúde torne-se um trabalhador com características especiais,
pois exerce a função de elo entre a equip e de saúde e a comunidade vivenciando
o cotidiano com intensidade.(LANZONI; MEIRELLES, 2010;AERTS, 2005;BRAND;
ANTUNES; FONTANA,2010; MOTA; DAVID,2010).
Para o Ministério da Saúde o ACS é o trabalhador da área de saúde que está em
contato permanente com a comunidade, unindo dois universos culturais distintos, o
científico e o popular, atuando com o objetivo de promover saúde e prevenir doenças.
Deve residir na própria comunidade em que vive, ser maior de 18 anos, saber ler
e escrever, ter disponibilidade de tempo integral para exercer suas atividades,
e entre outras atribuições, trabalhar com famílias em base geográfica definida e
realizar o cadastramento e acompanhamento das famílias. Esse trabalhador atua
para identificar problemas, orientar, encaminhar e acompanhar a realização dos
procedimentos necessários à proteção, promoção, recuperação e à reabilitação da
saúde dos moradores de cada casa sob sua responsabilidade, assim como de toda a
comunidade. (MS,2002)
Sobre a quantidade de famílias acompanhadas pelo ACS, tivemos como resultado
que 48,7% (n=37) acompanha entre 150 a 200 famílias, seguido por 40,8% (n=31)
com 200 a 250 famílias e 10,5% (n=8) acompanhando mais de 250 famílias. Esses

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 49


valores contrariam o que estabelece o Ministério da Saúde, onde cada ACS deve ser
responsável por no máximo 150 famílias ou 750 pessoas, conforme o estabelecido
na Portaria nº648/2006. Essa situação também foi evidenciada no estudo de Ferraz e
Aerts (2005). É importante salientar que o grande número de pessoas/famílias por ACS
gera uma sobrecarga de trabalho sobre os mesmos, dificultando, assim, os processos
de trabalho, comprometendo a qualidade da atenção. (FERRAZ; AERTS, 2005)

Curso Introdutório N %
Sim 52 68,42
Não 19 25,00
Não lembro 5 6,58

Total 76 100
Capacitações N %

Não 0 0
1¬ 3 6 7,89
4¬ 6 3 3,95
(+) 6 67 88,16

Total 76 100

Tabela 6– Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda segundo o número de


capacitações realizadas, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 6 foi analisado sobre quem tinha participado do Curso Introdutório, onde
68,4% (n=52) responderam que realizaram, estando de acordo com o estabelecido na
Lei nº 11.350/2006. A realização do mesmo é um dos pré-requisitos para se tornar
ACS, se tornando uma etapa do processo seletivo.
A respeito das capacitações, 88,2% (n=67) dos ACS participantes da pesquisa
responderam que realizaram mais de seis capacitações, que 7,9% (n=6) realizaram
de 1-3 capacitações, seguidos por 3,9% (n=3) que realizaram de 4 a 6 capacitações
desde que entraram na profissão. Percebe-se que a maioria participou de mais 6
capacitações desde que assumiram a função, porém é necessário que essas sejam
contínuas, em serviço também, pois eles necessitam ser constantemente atualizados
nas questões referentes a saúde da população. Durante a entrevista, muitos ACS
referiram sentir falta dessas capacitações que são de extrema importância para o
melhor desempenho do seu trabalho. Sugere-se a criação de um núcleo de educação
permanente onde o ACS possa receber a capacitação adequada, para que dessa
forma tenha melhores condições de repassar as informações.

2.2 Motivação do ACS em escolher a profissão

Para consolidar as respostas dos ACS, todas as falas foram listadas e escolhida
uma categoria que representasse o grupo.
Em relação aos motivos que os levaram a escolher a profissão de ACS,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 50


encontramos as seguintes categorias: desemprego (n=14), convívio com a comunidade
(n=14), ajudar a comunidade (n=12), oportunidade (n=7), vontade de ser ACS (n=6) e
casualidade (n=4).
Na primeira categoria, os ACS apontaram o desemprego como sendo o principal
motivo de se candidatar a função, conforme se pode observar nos fragmentos abaixo:

“O desemprego! Estava desempregado o que aparecia de oportunidade, tentava,


ai consequentemente fui aprovado para ACS”. (ACS 15).

“No momento da inscrição para o cargo de ACS estava desempregado”. (ACS 13)

Em seguida, como segunda categoria foi apontado o convívio com a comunidade,


como motivo para se tornar ACS. O fato de conviver na comunidade faz com que eles
compreendam melhor as dificuldades nela existentes. Os fragmentos que se seguem
exemplificam tal situação:

“Por conhecer os problemas existente na comunidade”. ( ACS 40).

“Já fazia alguns serviços voluntario na comunidade fazia parte do conselho de


moradores a mais de 10 anos”. ( ACS 62)

Na terceira categoria ajudar a comunidade foi outro motivo elencado pelos


agentes comunitários, pois poder de alguma forma contribuir para a melhoria é algo
gratificante. Isso pode ser observado nos fragmentos abaixo:

“Ajudar a comunidade e levar as informações, sobre a saúde orientar e as famílias”.


(ACS 24)

“Poder ajudar as pessoas, pois amo o que faço”. ( ACS 44).

A quarta categoria teve como outro motivo citado por eles a oportunidade, ou
seja, encontraram na função uma forma de ingressar no mercado de trabalho, de
ajudar a sua comunidade. Os fragmentos a seguir exemplificam o fato:

“Inicialmente foi a oportunidade que me deram. Depois comecei a gostar de ajudar


os pacientes”. ( ACS 52)

“Foi a oportunidade que apareceu para ajudar a comunidade”. ( ACS 53)

Na quinta categoria a vontade de ser ACS foi apontada por eles como motivo
de ingresso na profissão. A possibilidade de fazer parte do quadro de saúde e poder
cuidar da comunidade foi o que motivou na hora de escolher a função. Tal fato pode
ser comprovado pelos fragmentos abaixo:

“Sonho de ser funcionaria da saúde, pra ter condição de cuidar da saúde das
pessoas sem condições”. ( ACS 54)

“Sempre queria ser acho muito lindo essa profissional”. ( ACS 55)

E na última categoria eleita pelos ACS como motivo de sua escolha ficou a
casualidade, ou seja, ingressar na função sem realmente saber o que era a profissão.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 51


Os fragmentos abaixo exemplificam essa escolha:

“Me inscrevi por inscrever, nem sabia o que era, pois correspondia aos pré-
requisitos mínimos”. ( ACS 9)

“Puro acaso, que nem sei como explicar, fiz a seleção e entrei primeiro como
contrato depois fui efetivado por conta da seleção”. ( ACS 45)

Ao revelarem os motivos que os levaram a ser ACS, destacam o desemprego, o


convívio com a comunidade, ajudar a comunidade, oportunidade, vontade de ser ACS
e casualidade. Percebe-se claramente pelas falas dos ACS que o desemprego e o fato
de conviver com a comunidade são os fatores que mais impulsionam as pessoas a se
tornarem Agentes Comunitários, pois por morarem na comunidade eles mais do que
ninguém conhecem todos os problemas que nela existem, assim o fato de tornar-se
um ACS, representa uma forma de melhorar o ambiente onde ele vive, é a chance de
fazer algo diferente, enfim ser um agente de mudanças.
Com relação ao motivo ajudar a comunidade, eles revelam que ser ACS representa
algo gratificante, é como se eles tivessem a chance de oferecer algo melhor através
do seu trabalho.
Observa-se na fala dos ACS que a questão da oportunidade como motivo de
ingresso na função está intimamente ligado com o fator desemprego onde ser ACS
representa uma forma de voltar ao mercado de trabalho.
Quanto a vontade de ser ACS, muitos deles revelaram que fazer parte da equipe
de saúde é algo de extrema importância, pois podem cuidar das pessoas e levar
informações sobre saúde.
E por fim o motivo casualidade , ou seja, alguns entraram na profissão sem saber
o que ela significava, sem conhecer a importância do seu trabalho para comunidade.

2.3 Mudança de profissão

Os Agentes Comunitários também foram questionados sobre, caso pudessem


escolher a profissão, se eles continuariam a ser ACS, e a maioria respondeu que sim,
elencando como principais motivos para continuar na profissão o fato de amar trabalhar
com a comunidade, satisfação pelo que fazia, poder ajudar as pessoas, por não se ver em
outra profissão, por ser ao mesmo tempo médico e psicólogo dentro da sua comunidade.
Enfim, que continuariam a amar o que faziam e viam na profissão a possibilidade de
ajudar a sua área. Os poucos que responderam que deixariam de ser ACS, elencaram
como motivos a falta de respeito da gestão, falta de comprometimento da equipe, da
gestão e do próprio Município em atender suas solicitações à partir da demanda gerada
em suas visitas domiciliares, e por não verem perspectiva de crescimento profissional.
Nessa perspectiva é importante salientar que qualquer que seja o
motivo de ingresso, é de suma importância que o Agente Comunitário de
Saúde conheça o real objetivo de sua profissão, pois seu papel é de fundamental
importância dentro da equipe de saúde, uma vez que ele representa ao mesmo tempo

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 52


a comunidade e a equipe de saúde, sendo esse ser único e híbrido que transita entre
dois universos.

CONCLUSÃO

O estudo alcançou os objetivos propostos e diante dos resultados obtidos é


muito importante que sejam revistas algumas questões que angustiam o ACS, como
por exemplo, a quantidade de famílias acompanhadas por cada um, pois o número
excessivo compromete o trabalho realizado, como também prejudica a população,
uma vez que o atendimento torna-se precário e muitas impossível de ser realizado.
Esse estudo também apresenta um grande desafio para os gestores, no que
se refere a necessidade de suprir a demanda gerada pelo trabalho do ACS evitando
o desânimo quando não veem seus encaminhamentos e solicitações acolhidos e
resolvidos. E também, a necessidade de educação continuada, oferecendo cursos
de capacitação aos ACS, visando aprimorar o potencial de cada um e, permitindo
com isso, mais habilidade no manejo com os indivíduos da comunidade, uma vez
que qualificação/capacitação do profissional de saúde é um dos desafios para que se
alcance maior qualidade dos serviços de saúde.
Logo, conhecendo o perfil sociodemográfico dos agentes comunitários e suas
principais características é possível identificar suas fortalezas e fragilidades, para
com isso obter um melhor aproveitamento do seu desempenho dentro da unidade de
saúde. Espera-se com este trabalho contribuir para a produção de um conhecimento
que possibilite o desenvolvimento de práticas atuais, reflexivas e capazes de trazer ao
agente comunitário de saúde benefícios no desenvolvimento de seu trabalho, além de
instigar novos questionamentos e estudos futuros.
Vale ressaltar que será de grande valia para todos os cursos da área de saúde,
conhecer o perfil do ACS e os motivos que o levaram a escolher essa profissão, pois
isso irá permitir que se relacionem melhor com esse profissional e possam trazer
contribuições eficazes para o trabalho do ACS.

REFERÊNCIAS
BRAND, Cátia Inácia; ANTUNES, Raquel Martins. Satisfações e insatisfações no trabalho do agente
comunitário de saúde. Revista Cogitare Enfermagem. UFPR, Paraná. Jan/Mar 2010; 15(1): 40-7.

CARVALHO GI, SANTOS L. Sistema Único de Saúde: comentários à lei orgânica da saúde (leis nº
8080/90 e 8142/90). Campinas: Editora da Unicamp; 2002.

FERRAZ, Lucimare; AERTS, Denise R. G. de Castro. O cotidiano de trabalho do agente comunitário


de saúde no PSF em Porto Alegre. Revista Ciência Saúde Coletiva [online]. 2005, vol.10, n.2, pp.
347-355. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 28 de abril de 2010.

FORTES, M. R. S. Enfermagem na promoção dos cuidados primários na saúde pública. São


Paulo: Everest, 2002.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 53


LANZONI, Gabriela M. de Melo; MEIRELLES, Betina H. Schlindwein. Vislumbrando a rede complexa
de relações e interações do agente comunitário de saúde. Revista da Rede de Enfermagem do
Nordeste . Fortaleza, v.11, n.2, p.140-151, abr. /jun.2010. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em:
28 de abril de 2011.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. O trabalho do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da


Saúde, 1995.

______. Monitoramento da implantação e funcionamento das equipes de saúde da família no


Brasil. Brasília (DF): 2002.

MOTA, Roberta R. Alencar; DAVID, Helena M. S. Leal. A crescente escolarização do Agente


Comunitário de Saúde: uma Indução do Processo de trabalho? Revista Trabalho e Educação em
Saúde. Rio de Janeiro, v.8, n.2, p.229-248, jul./out.2010. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 05
de janeiro de 2011.

SANTANA, Júlio César Batista et al. Agente comunitário de saúde: percepções na estratégia saúde
da Família. Revista Cogitare Enfermagem. UFPR, Paraná, 2009, Out/Dez; 14(4): 645-52. ISSN
Eletrônico: 2176-9133

SILVA JA. O agente comunitário de saúde do Projeto Qualis: agente institucional ou agente da
comunidade? [tese]. São Paulo (SP); Faculdade de Saúde Pública/USP; 2001.

SILVA, H.; SANTOS, M.R. Perfil social dos agentes comunitários de saúde vinculados ao programa
saúde da família da zona norte do município de Juiz de Fora. Revista APS, Juiz de Fora, v.6, n.2,
p.70-76, jul./dez. 2003.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 6 54


CAPÍTULO 7

PRINCIPAIS DEMANDAS DE UM COMITÊ DE ÉTICA


DE UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO PRIVADA

Luciana de Paula Lima e Schmidt de Brasil e posterior identificação de autores, seus


Andrade cursos e instituições. A maioria dos projetos
Universidade Estácio de Sá, Curso de Medicina
aprovados na área da saúde foi submetida por
e Vice-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa,
professores de graduação, identificando-se aí
Comitê de Ética em Pesquisa, Campus Presidente
Vargas os trabalhos de conclusão de curso. Já dentre
os programas de pós-graduação, observou-se
Rio de Janeiro – RJ
um número maior de projetos submetidos pela
Grace Maria Brasil Fontanet
área de educação em relação à área da saúde.
Universidade Estácio de Sá, Vice-Reitoria de
Pós-Graduação e Pesquisa, Comitê de Ética em O levantamento revela a necessidade de uma
Pesquisa, Campus Presidente Vargas composição multidisciplinar do comitê, do
Rio de Janeiro – RJ treinamento de cada membro ingressante e, do
conhecimento das Resoluções 466/12 e 510/16.

O comitê vem trabalhando nesse sentido através
das renovações dos membros, objetivando a
RESUMO: A exigência de certificação ética
melhor e mais rápida análise de cada projeto
para publicações e apresentações de trabalhos
enviado. Essa ação é acompanhada de oficinas
envolvendo seres humanos como participantes
para pesquisadores, elaboração de material
de pesquisa, anteriormente específica das
didático, atendimento agendado na sede do
ciências da saúde, passou a vigorar também
comitê e manutenção de uma página virtual
para as ciências humanas e sociais, e para
com informações sobre horários e reuniões
tanto, dispomos agora da Resolução CNS
mensais.
510/2016. O Comitê de Ética em Pesquisas
PALAVRAS-CHAVE: demandas, análise ética,
de uma universidade privada do Estado do
ciências da saúde, ciências humanas
Rio de Janeiro passou a receber projetos de
pesquisa principalmente de ciências humanas
ABSTRACT: Demands of ethical certification
e vem se adaptando para analisar melhor os
for research projects have recently increased
projetos recebidos. Com o objetivo de instruir os
in Brazil due to obligations for publications and
pesquisadores em suas submissões, o comitê
events presentations. Ethical certificates are no
decidiu identificar as áreas e cursos com maior
longer restricted to health sciences being now
número de projetos. A pesquisa foi realizada por
required for human sciences after the publication
consulta aos relatórios numéricos da Plataforma
of Resolution 510/16. To help researchers with

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 7 55


their submissions, the Research Ethical Committee of a private university tried to identify
areas and courses which submit more projects for analysis. The study was conducted
using the numerical data from Plataforma Brasil, the official site of the National
Ethical Committee. The majority of approved projects in health sciences were sent
by undergraduate teachers and were identified as students conclusion monographs.
Among the post graduation programs of our institution, education masters and doctoral
program was responsible for more than 50% of submissions. The study revealed the
need for a multidisciplinary composition in the committee, capacitation of each new
member and the knowledge of resolutions 466/12 and 510/16. The committee works in
this direction through the renovation of members, training workshops for researchers,
elaboration of manuals, pre-booked attendance, and a home page with information on
attendance schedules and meetin
KEYWORDS: demands, ethical analisys, health sciences, human sciences

1 | INTRODUÇÃO

O estudo aqui apresentado refere-se a um Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)


de uma universidade privada do Estado do Rio de Janeiro. Este CEP foi criado para
atender inicialmente as demandas de estudos realizados com pacientes em hospitais
parceiros do curso de graduação em medicina. Logo em seguida, surgiu a necessidade
de avaliação ética dos trabalhos de dissertação dos alunos do curso de mestrado em
Saúde da Família. A partir de então, o CEP passou a receber projetos de outros cursos
da área da saúde, a maioria de graduação. Logo após a implantação da Plataforma
Brasil, o comitê sofreu mudanças em sua composição e endereço físico, e tornou-se
mais visível aos pesquisadores através de sua página no portal da instituição. Ao mesmo
tempo, os professores e pesquisadores dos cursos passaram a ser constantemente
estimulados pela diretoria de pós-graduação e pesquisa a enviarem trabalhos para
análise ética.
Com o aumento da demanda de projetos, os membros começaram a se deparar
com estudos da área de ciências humanas e sociais, e o programa de pós-graduação
em educação em muitos momentos superou o de saúde da família no número de envio
de projetos. No entanto, as dúvidas dos pesquisadores que submetiam projetos eram
grandes em relação à Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL,
2012). Ao mesmo tempo, os membros do comitê estavam por demais habituados a
tratar todos os projetos como sendo pertencentes à área da saúde.
As dificuldades com as normas das ciências da saúde quando utilizadas para as
ciências humanas e sociais têm sido intensamente debatidas (GUERRIERO, 2016;
MAINARDES, 2017). A Resolução 510/2016 (BRASIL, 2016b), específica das ciências
humanas e sociais, auxilia bastante a análise dos projetos dessa área, mas não
soluciona todas as etapas, pois o formulário da Plataforma Brasil ainda é específico
para as ciências da saúde.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 7 56


Nos últimos três anos as características de títulos e metodologias dos projetos
recebidos em nosso comitê, assim como as datas de maior entrada em recepção,
nos fizeram perceber que os mesmos deveriam ser trabalhos de conclusão de cursos
de graduação (TCC). É importante mencionar que instituições de ensino privadas
possuem um número ainda pequeno de cursos de pós-graduação stricto senso, sendo
caracterizadas principalmente pelo volume de cursos de graduação, pós-graduação
lato senso e cursos à distância. No caso da nossa universidade, com exceção dos
cursos presenciais de graduação em medicina e odontologia, os demais cursos
possuem TCC obrigatório.
O comitê teve interesse em identificar entre os projetos recebidos, qual sua maior
demanda de análise, para tentar atingir os pesquisadores e auxiliá-los na diminuição
de pendências na submissão de projetos.

2 | METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado a partir dos dados numéricos da Plataforma Brasil
normalmente utilizados para os relatórios semestrais ou anuais enviados à Comissão
Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) pelos comitês de ética em pesquisa (CEPs).
A pesquisa foi realizada para os anos de 2015, 2016 e 2017. Para tanto a consulta
foi realizada na aba CEP/Relatórios/Relatórios da Plataforma Brasil, escolhendo-se
em relatórios emitidos, os pareceres consubstanciados. Optou-se por gerar relatório
em arquivo do programa Excel®.
A partir daí, fez-se a exclusão dos protocolos de pesquisa com certificado de
apresentação para apreciação ética (CAAE) repetidos, que são aqueles que ficam
pendentes e podem reaparecer no relatório.
O trabalho seguinte foi identificar os professores e alunos dos programas de pós-
graduação em educação, saúde da família, odontologia e direito, os professores de
graduação e aqueles que não pertenciam à universidade sediada no Rio de Janeiro,
e sim à outras instituições de ensino superior (IES) do grupo localizadas em outros
estados. Essa última etapa foi realizada apenas para os anos de 2016 e 2017.

3 | RESULTADOS

A situação de projetos submetidos ao CEP de 2015 a 2017 é apresentada


na figura 1. O número de projetos pendentes é grande e essa situação precisa ser
analisada com cuidado.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 7 57


Figura 1: Situação de projetos analisados pelo CEP de 2015 a 2017.

Na figura 2, apresenta-se a distribuição do número de projetos aprovados por


cursos em 2016. Percebe-se aí, que o maior número de projetos enviados para análise
ética eram provenientes de professores dos cursos de graduação.

Figura 2: Distribuição de projetos aprovados por cursos em 2016.

Em 2017 os projetos submetidos e analisados somaram 453, sendo 179


aprovados. Entre os aprovados, conseguimos fazer a identificação por cursos de 148
que são apresentados na figura 3. Neste ano tivemos a submissão de 1 projeto do
curso de pós-graduação em Direito.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 7 58


Figura 3: Distribuição de projetos aprovados por cursos em 2017.

Mais uma vez os resultados nos revelam uma maior quantidade de projetos
submetidos pelos professores dos cursos de graduação.

4 | DISCUSSÃO

A análise apresentada é bastante simples de ser realizada e indica a grande


funcionalidade dos relatórios da Plataforma Brasil para o conhecimento de cada CEP.
A opção de utilização dessa ferramenta nasceu da curiosidade do CEP em verificar
suas verdadeiras demandas e poder discuti-las entre os membros e com os dirigentes
da instituição.
Observando os resultados da distribuição entre cursos dos projetos submetidos
em 2016 e 2017, verificamos uma repetição no padrão dessa distribuição. O programa
de pós-graduação em Educação submete mais projetos do que o de Saúde da Família
e o de Odontologia, refletindo a principio um aumento dos projetos de Ciências
Humanas e Sociais.
No entanto, o comitê tem conhecimento de que os projetos submetidos pelos
cursos de graduação são em sua maioria da área da saúde. Nessa situação identificam-
se os trabalhos de conclusão de curso. Trabalhos de conclusão de curso necessitam
de aprovação rápida devido ao prazo de um semestre para o aluno realizá-lo. O comitê
segue as normativas recomendadas e ignora essa situação, tratando todos da mesma
forma. Em geral, os TCC são trabalhos para os quais o comitê deve prestar bastante
atenção aos cronogramas, razão maior de suas pendências. Por outro lado, esses
trabalhos envolvem riscos mínimos.
É importante lembrar que em 2015 durante o III Encontro Nacional de Comitês
de Ética, foram formados grupos de trabalho para elaboração de novas resoluções.
Os grupos visaram as resoluções sobre análise de projetos das ciências humanas
e sociais, acreditação de comitês de ética, especificidades éticas das pesquisas de
interesse do Sistema Único de Saúde e tipificação de riscos. Em fevereiro e abril
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 7 59
de 2016 respectivamente, foram homologadas as resoluções 506 (Processo de
Acreditação de CEP) e 510 (Normas Aplicáveis a Pesquisas em Ciências Humanas e
Sociais) (BRASIL, 2016 a,b).
Atualmente em nosso CEP, percebe-se que mesmo os projetos da área da saúde,
sejam de graduação ou pós-graduação, apresentam muitas vezes características
metodológicas de ciências humanas e sociais, pois as pesquisas são realizadas através
de entrevistas, sem necessariamente haver coleta de dados para análise ou qualquer
outra intervenção com os participantes. Como muito bem lembrado por Francisco
e Santana (2016 apud Oliveira, 2004), pesquisas podem ser realizadas com seres
humanos ou em seres humanos. Nesse sentido, o seguimento rígido da Resolução
466/2012 (BRASIL, 2012) tende a deixar os projetos sempre pendentes. A opção tem
sido trabalhar com a Resolução 510/2016 (BRASIL, 2016b) mesmo em projetos da
área da saúde quando esses fazem pesquisas com seres humanos. No entanto, nas
avaliações, sente-se ainda muita falta de uma resolução para tipificação de riscos,
motivo de dúvidas entre os pesquisadores e os próprios membros de comitês.
Alguns estudos sobre as principais características dos CEPs no Brasil
revelam que a maioria dos comitês possui em sua composição um número maior
de membros de ciências da saúde (FREITAS e NOVAES, 2010; JÁCOME, ARAUJO
E GARRAFA, 2017). Nosso comitê em suas últimas alterações, tem buscado maior
multidisciplinaridade de membros. No entanto ainda somos sete das Ciências da
Saúde, quatro das Ciências Humanas e Sociais, uma representante dos participantes
de pesquisa e uma secretária. Sendo assim, estamos inseridos nas caracterizações
apontadas.
Por outro lado, entre nós há bastante diversidade de formação acadêmica, o
que favorece as discussões nas reuniões. Essa diversidade também é uma outra
característica encontrada por Jácome, Araujo e Garrafa (2017) para os comitês de
ética brasileiros. De acordo com esses autores, as diferentes formações trazem às
discussões diferentes visões morais que permitem o trabalho com novos referenciais
da bioética como a teoria da complexidade e o respeito ao pluralismo moral (JÁCOME,
ARAUJO E GARRAFA, 2017 apud GARRAFA 2007).

5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os relatórios numéricos da Plataforma Brasil são uma excelente ferramenta


para o conhecimento interno de cada CEP. O levantamento realizado a partir desses
relatórios revelou a necessidade de ações do CEP para diminuição de pendências nos
projetos submetidos. Os públicos identificados foram os professores de graduação
e alunos de pós-graduação de Educação e Saúde da Família. Três oficinas foram
oferecidas em 2018 para esse público, tendo sido duas delas realizadas em laboratório
de informática, permitindo acesso à Plataforma Brasil para todos os alunos. O resultado

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 7 60


foi o cadastro de todos aqueles que assistiram às aulas.
Outras ações do comitê em busca da diminuição de dúvidas na submissão de
projetos e de pendências desnecessárias são a manutenção da multidisciplinaridade
de seus membros, a promessa de cumprimento dos prazos de análise, o atendimento
presencial a pesquisadores com dúvidas por agendamento prévio e a manutenção
da página virtual no portal da instituição com nossas informações. Essas ações
têm promovido empatia entre os pesquisadores e o comitê, antes visto como uma
desagradável formalidade.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Resolução no 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério
da Saúde. Diário Oficial da União, 2012.

BRASIL. Resolução no 506 de 3 de fevereiro de 2016 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério


da Saúde. Diário Oficial da União, 2016 a.

BRASIL. Resolução no 510 de 7 de abril de 2016 do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da


Saúde. Diário Oficial da União, 2016 b.

FRANCISCO, D.J.; SANTANA, L. Resolução 510/2016: Reflexões desde a inserção em um Comitê de


Ética em Pesquisa. Revista Mundaú, 2: 67-79, 2017.

FREITAS, C.D.B.; NOVAES, H.M.D. Lideranças de comitês de ética em pesquisa no Brasil: perfil e
atuação. Rev. bioét. (Impr.), 18 (1): 185-200, 2010.

GUERRIERO, I.C.Z. Resolução no 510 de 7 de abril de 2016 que trata das especificidades éticas das
pesquisas nas ciências humanas e sociais e de outras que utilizam metodologias próprias dessas
áreas. Ciência e Saúde Coletiva, 21 (8): 2619-2629, 2016.

JÁCOME, M.Q.D.; ARAUJO, T.C.C.F.; GARRAFA, W. Comitês de Ética no Brasil: estudo com
coordenadores. Rev. bioét. (Impr.), 25 (1): 61-71, 2017.

MAINARDES, J. A ética na pesquisa em educação: panorama e desafios pós-Resolução CNS no


510/2016. Educação (Porto Alegre), 40 (2): 160-173, 2017.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 7 61


CAPÍTULO 8

PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS EM HOSPITAL DE


MÉDIO PORTE: ANÁLISE EPIDEMIOLÓGICA

Andréia Gonçalves dos Santos de um órgão ou parte deste. O Centro Cirúrgico


Discentes do curso de graduação em Medicina é definido como um ambiente que integra o
do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio conjunto de elementos destinados às atividades
Carlos – IMEPAC Araguari.
cirúrgicas, recuperação anestésica e pós-
Cleidiney Alves e Silva operatória. O presente estudo destina-se a
Discentes do curso de graduação em Medicina
analisar os procedimentos cirúrgicos realizados
do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio
em um hospital de médio porte, nos últimos
Carlos – IMEPAC Araguari.
quatro anos, e levantar as características destes
Jéssica de Carvalho Antunes Barreira
além do perfil epidemiológico dos pacientes a
Discentes do curso de graduação em Medicina
do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio eles submetidos. MÉTODOS: Estudo de corte
Carlos – IMEPAC Araguari. transversal, populacional, com as informações
referentes aos procedimentos cirúrgicos
Jackeline Ribeiro Oliveira Guidoux
Médicos docentes do Curso de Medicina do inseridas no “caderno de registro de cirurgias”,
Instituto Master de Ensino Presidente Antônio manualmente, pela equipe de enfermagem,
Carlos – IMEPAC Araguari. no período de quatro anos (março de 2013 à
Thales Resende Damião fevereiro de 2017). RESULTADOS: Foram
Médicos docentes do Curso de Medicina do realizados 13.033 procedimentos em 11.575
Instituto Master de Ensino Presidente Antônio pacientes. A maior parte, 77%, em pacientes
Carlos – IMEPAC Araguari. do sexo feminino. Os procedimentos realizados
Gustavo Nader Guidoux via SUS foram mais frequentes. As principais
Médicos docentes do Curso de Medicina do especialidades, em número de procedimentos,
Instituto Master de Ensino Presidente Antônio
foram: Ginecologia/Obstetrícia, Cirurgias Geral
Carlos – IMEPAC Araguari.
e Plástica, as quais representam 80,5% do total
de procedimentos realizados. CONCLUSÕES:
A maioria dos pacientes submetidos à
RESUMO: JUSTIFICATIVA E OBJETIVO: procedimentos cirúrgicos no hospital são do
A cirurgia é um procedimento diagnóstico e/ sexo feminino com idade média de 26 anos,
ou terapêutico utilizado em uma variedade de sendo o SUS a categoria prevalente. Sugere-
distúrbios fisiopatológicos que possam cursar se a criação de um Sistema de Informação que
com ameaças reais à saúde ou sofrimento a um uniformize os registros e, a partir deles, possam
indivíduo e implica na remoção ou reparação ser extraídos os dados epidemiológicos que

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 62


contribuam para o gerenciamento e planejamento de ações em todas as esferas
envolvidas.
PALAVRAS-CHAVE: procedimento cirúrgico, sistemas de informação, Sistema Único
de Saúde, Perfil de Saúde.

SURGICAL PROCEDURES IN A MEDIUM-SIZED HOSPITAL: EPIDEMIOLOGICAL

ANALYSIS

ABSTRACT: BACKGROUND AND OBJECTIVE: Surgery is a procedure of therapeutic


and diagnosis used to treat physiopatological disorders that could threaten human’s
health and cause suffering to patients that implicates in repair or ablation of an organ or
part of it. The Surgical Center is defined as an environment where several approaches
are used, such as surgical procedures, anesthesia and post-surgical recovery. The aim
of the study was to analyze the profile of the surgical procedures realized on a medium-
sized hospital in a period of four years, together with the analysis of the epidemiological
profile of the patients submitted to surgery for diagnosis and treatment. METHOD: It’s
a cross-sectional population based study with information of a “Surgery Registering
Notebook” manually registered by nursing team carried out between March 2013 and
February 2017. RESULTS: 13.033 surgical procedures were performed in 11.575
patients. It was mostly female patients (77%) and paid by Brazilian’s Health Care
System. The main specialties by number of procedures were: Obstetrics/Gynecology
and General and Plastic Surgeries that represented 80.5% of all procedures performed.
CONCLUSION: Most patients submitted to surgical procedures in the hospital are
female, an average age of 26 years old and mostly paid by Brazilian public health care.
It’s suggested that the development of an Information System that standardizes these
registers that could help management and planning of available resources.
KEYWORDS: Surgery, Information Systems, Health Care Economics and Organizations.

INTRODUÇÃO

A cirurgia é um procedimento terapêutico e/ou diagnóstico invasivo utilizado em


uma variedade de distúrbios fisiopatológicos que possam cursar com ameaças reais à
saúde ou sofrimento a um indivíduo e implica na remoção ou reparação de um órgão
ou parte deste (CARVALHO et al, 2010). A assistência cirúrgica é um componente
essencial da atenção à saúde, frequentemente é o único tratamento que pode aliviar
as incapacidades e reduzir o risco de mortes causadas por enfermidades comuns.
Estima-se que anualmente 63 milhões de pessoas sejam submetidas a tratamentos
cirúrgicos devido a injúrias traumáticas, 10 milhões de cirurgias sejam realizadas por
complicações relacionadas à gestação e outros 31 milhões para tratar malignidades. Ao
considerar os procedimentos cirúrgicos não relacionados a quadros fisiopatológicos,
estima-se que um a cada 25 indivíduos seja submetido a cirurgias, totalizando 234
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 63
milhões de procedimentos ao ano no mundo (CBC, 2015).
As cirurgias podem ser classificadas quanto ao porte em três categorias:
pequeno, médio e grande porte. São consideradas de pequeno porte aquelas menos
agressivas, com menos profundidade e que apresentam pequena probabilidade de
perda de fluidos e sangue. As de médio porte, que são realizadas de modo frequente,
têm poucas horas de duração e apresentam média probabilidade de perda de fluidos
e sangue. Já os procedimentos cirúrgicos que têm longa duração, que necessitam
de equipamentos especiais ou de mais de uma equipe atuando, que apresentam alta
probabilidade de perda de fluidos e sangue, são as de grande porte (MARTIN, 2012;
BOTAZINI; TOLEDO; SOUZA, 2015).
O procedimento cirúrgico eletivo diz respeito à cirurgia que pode ser programada
com antecedência para sua realização, possibilita a realização de pré-operatório
adequado, e não há caráter de urgência ou emergência. A programação antecipada e
a avaliação de fatores de risco são efetivas na redução do número de intercorrências
pós-operatórias. As cirurgias de urgência/emergência são realizadas imediatamente
ou em curto período de tempo após diagnosticada a sua necessidade. Ressalta-se
que nesta categoria há maior risco de intercorrências pós-operatórias relacionadas à
inexistência de pré-operatório detalhado (CARVALHO et al, 2010).
Etapa fundamental do processo cirúrgico é a avaliação pré anestésica que
visa examinar os pacientes no pré-operatório, aumentar a segurança da anestesia,
esclarecer dúvidas dos pacientes, reduzir a suspensão de cirurgias e aumentar a
satisfação dos pacientes (SOARES, 2011).
O Centro Cirúrgico (CC) é definido como um ambiente que integra o conjunto
de elementos destinados às atividades cirúrgicas, recuperação anestésica e pós-
operatória. Trata-se de uma área complexa, de acesso restrito, pertencendo ao
estabelecimento de saúde, sendo considerado o setor de maior complexidade
dentro da amplitude de suas finalidades. Deve ainda atender a legislação sanitária
vigente, estar articulado com as outras unidades da instituição de saúde e contar com
equipamentos e recursos humanos especializados. Preconiza-se que o centro cirúrgico
realize procedimentos cirúrgicos e endoscópicos, devendo a unidade de saúde ter a
proporção de uma sala de operação para cada 50 leitos hospitalares ou para cada 15
leitos cirúrgicos (MARTIN, 2012).
O Hospital Santa Casa de Misericórdia de Araguari-MG é uma instituição hospitalar
fundada em 1918, filantrópica e credenciada pelo Sistema Único de Saúde (SUS). É o
principal hospital de médio porte para atendimento do município e cidades da região
de saúde. Conta com os serviços de Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Ginecologia
e Obstetrícia, Psiquiatria, Pediatria, Terapia Intensiva adulto e neonatal com um total
de 114 leitos. O centro cirúrgico do hospital é composto por seis salas de operação
e seis leitos para recuperação pós-anestésica. Realiza procedimentos cirúrgicos em
diversas especialidades.
Atualmente todos os procedimentos cirúrgicos são registrados pela instituição
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 64
de forma não padronizada. Sistematizar essas informações e através delas levantar o
perfil epidemiológico é ferramenta fundamental para a busca de melhorias, redução de
custos, melhor alocação de recursos e intervenções assistenciais capazes de garantir
maior abrangência e qualidade no atendimento à população (GARCIA; ALFONSO,
2013).

MÉTODOS

O presente trabalho é um estudo de corte transversal, populacional, realizado no


Hospital Santa Casa de Misericórdia de Araguari-MG. Todas as informações referentes
aos procedimentos cirúrgicos são inseridas no “caderno de registro de cirurgias”,
manualmente, pela equipe de enfermagem do centro cirúrgico e foram mantidos na
íntegra pelos pesquisadores. A coleta abrangeu o período de quatro anos (Março de
2013 à Fevereiro de 2017), sendo coletado os dados: data do procedimento cirúrgico,
idade do paciente, sexo, nome do(s) procedimento(s), tipo de anestesia utilizada,
categoria (SUS, convênio, particular), número de cirurgia mensal e anual. Os dados
foram tabulados em planilha do programa Microsoft Excel, posteriormente procedeu-
se com a categorização no intuito de agrupar procedimentos semelhantes e distribuí-
los em grandes áreas.
Inicialmente foram encontrados 505 procedimentos cirúrgicos diferentes que foram
agrupados em 233 procedimentos distintos, visto que um mesmo procedimento estava
registrado de maneiras diferentes. Estes procedimentos foram divididos em 14 grandes
especialidades, com as quais foram trabalhadas na análise de dados. As grandes
especialidades foram: Anestesiologia, Angiologia/Cirurgia Vascular, Cirurgia Geral,
Cirurgia Plástica, Cirurgia Torácica, Ginecologia/Obstetrícia, Mastologia, Neurocirurgia,
Odontologia, Oftalmologia, Ortopedia, Otorrinolaringologia, Pneumologia e Urologia.
Em relação ao tipo de anestesia utilizada foram encontrados 41 registros diferentes,
que foram agrupados em 24 tipos e posteriormente alocados em seis grandes áreas.
Os procedimentos e áreas consideradas na análise foram: Local, Sedação, Bloqueio
com Sedação, Regional, Geral e Anestesia Combinada.
Após a categorização dos procedimentos cirúrgicos e dos tipos de anestesias
utilizadas, procedeu-se com análise estatística descritiva pelo programa Microsoft
Excel e correlação com programa BioEstat 5.3. A pesquisa foi submetida ao Comitê
de Ética e Pesquisa (COEP) pela plataforma Brasil e teve sua aprovação para ser
realizada com número CAAE 62729716.6.0000.8041 no comitê do Instituto Master de
Ensino Presidente Antônio Carlos, conforme preconizado pela Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 65


RESULTADOS

Nos últimos quatro anos foram realizados no Hospital Santa Casa de Misericórdia
de Araguari-MG 13.033 procedimentos cirúrgicos em 11.575 pacientes. A maior parte,
77%, foi realizada em pacientes do sexo feminino, 22,74% em pacientes do sexo
masculino e 0,26% não tiveram o sexo informado no livro de registros. A idade média
geral foi de 36 anos (com IC = 35,6276 - 36,3513, desvio padrão = 18,45 ao nível de
significância de 95%), sendo 13,44% dos procedimentos sem idade informada e foram
excluídos os pacientes menores de um ano, por não entrarem na denominação de anos
completos. Dentre as anestesias, a mais utilizada, 57,89% dos procedimentos, foi a
raquianestesia, seguida de anestesia geral, 20,30%, 7,49% a local, 3,87% a sedação,
9,14% a outros tipos e 1,30% dos procedimentos não tinham anestesia informada no
livro de registros.
Foram levantados as categorias efetuadas em cada procedimento cirúrgico,
sendo estas demonstradas no gráfico 01. Os procedimentos realizados via SUS foram
mais frequentes nas grandes especialidades Ginecologia/Obstetrícia, Cirurgia Geral e
Otorrinolaringologia. A maior participação da categoria convênio foi em Ginecologia/
Obstetrícia, Cirurgia Geral e Ortopedia e a maior participação da categoria particular
ocorreu nas grandes especialidades Ginecologia/Obstetrícia, Cirurgia Plástica e
Cirurgia Geral.

Gráfico 01 – Categorias dos procedimentos cirúrgicos

As três principais grandes especialidades em número de procedimentos foram:


Ginecologia/Obstetrícia, Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica, as quais representam 80,5%
do total de procedimentos realizados. Na tabela 1 está representado a quantidade de
procedimentos mais realizados em cada uma das 14 grandes especialidades, a idade
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 66
média dos pacientes e o sexo. Na tabela 2 estão representados os procedimentos mais
frequentes em cada grande área, sua categoria de pagamento e o tipo de anestesia
utilizado com maior frequência.

SEXO
 
IDADE NÃO
ESPECIALIDADE PROCEDIMENTOS PACIENTES MASCULINO FEMININO
MÉDIA INFORMADO
CESÁREA 3,642 26 28 3,610 4
GINECOLOGIA /
LAQUEADURA 549 30 7 542 0
OBSTETRÍCIA
CURETAGEM 455 34 4 450 1
COLECISTECTOMIA 661 47 132 529 0
CIRURGIA GERAL HERNIOPLASTIA 596 50 405 190 1
EXÉRESE 474 46 145 329 0
PRÓTESE MAMÁRIA 392 31 12 380 0
CIRURGIA PLÁSTICA ABDOMINOPLASTIA 203 37 5 198 0
LIPOASPIRAÇÃO 125 34 5 120 0
ADENOIDECTOMIA 429 9 225 204 0
OTORRINOLARINGOLOGIA AMIGDALECTOMIA 429 9 221 208 0
SEPTOPLASTIA 85 30 45 40 0
ARTROPLASTIA 220 53 114 106 0
ORTOPEDIA FRATURA 147 48 73 73 1
ARTROSCOPIA 119 49 67 52 0
POSTECTOMIA 63 19 60 3 0
UROLOGIA VASECTOMIA 52 37 50 2 0
HIDROCELE 35 49 31 4 0
VARICECTOMIA 142 47 18 124 0
AMPUTAÇÃO DE
ANGIOLOGIA / VASCULAR 33 54 20 13 0
DEDOS
AMPUTAÇÃO DE PÉ 19 64 12 7 0
PTERÍGIO 64 43 29 34 1
ESTRABISMO 4 23 3 1 0
OFTALMOLOGIA
TRANPLANTE DE
1 50 1 0 0
CONJUNTIVA
COLETA DE LÍQUOR 46 27 24 21 1
ANESTESIOLOGIA BLOQUEIO 4 54 3 1 0
INTUBAÇÃO 1 2 1 0 0
MASTECTOMIA 21 59 0 21 0
MASTOLOGIA QUADRANTECTOMIA 5 60 0 5 0
BIÓPSIA DE MAMA 3 43 0 2 1
TRATAMENTO
29 19 19 10 0
ODONTOLÓGICO
EXTRAÇÃO
ODONTOLOGIA 2 58 0 2 0
DENTÁRIA
PROCEDIMENTO
2 16 2 0 0
ODONTOLÓGICO
RIZOTOMIA 16 61 2 14 0
CRANIOTOMIA 2 77 1 1 0
NEUROCIRURGIA
COLOCAÇÃO
1 35 0 1 0
VÁLVULA
CIRURGIA TORÁCICA PLEUROSCOPIA 5 39 2 3 0

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 67


PNEUMOLOGIA BRONCOSCOPIA 2 65 2 0 0

Tabela 01 – Procedimentos mais frequentes em cada especialidade cirúrgica

  CATEGORIA ANESTESIA
ESPECIALIDADE PROCEDIMENTOS PACIENTES SUS PARTICULAR CONVÊNIO RAQUI GERAL LOCAL SEDAÇÃO
CESÁREA 3,642 1,446 1,356 801 3,588 21 9 1
GINECOLOGIA /
LAQUEADURA 549 251 214 77 540 2 1 0
OBSTETRÍCIA
CURETAGEM 455 312 62 78 166 130 2 145
COLECISTECTOMIA 661 388 151 115 155 442 2 0
CIRURGIA GERAL HERNIOPLASTIA 596 360 118 108 498 61 1 3
EXÉRESE 474 129 175 166 86 28 286 27
PRÓTESE MAMÁRIA 392 8 366 11 32 241 11 1
CIRURGIA PLÁSTICA ABDOMINOPLASTIA 203 9 180 6 38 2 9 1
LIPOASPIRAÇÃO 125 5 113 4 28 6 8 2
ADENOIDECTOMIA 429 380 12 37 7 420 1 0
OTORRINOLARINGOLOGIA AMIGDALECTOMIA 429 378 10 41 6 421 0 0
SEPTOPLASTIA 85 11 10 60 0 83 1 0
ARTROPLASTIA 220 81 36 101 102 11 2 1
ORTOPEDIA FRATURA 147 37 37 67 62 15 1 1
ARTROSCOPIA 119 34 20 64 84 7 0 2
POSTECTOMIA 63 42 10 11 7 15 26 7
UROLOGIA VASECTOMIA 52 47 4 1 7 0 45 0
HIDROCELE 35 21 10 4 30 4 0 0
VARICECTOMIA 142 111 25 5 133 2 1 0
AMPUTAÇÃO DE
ANGIOLOGIA / VASCULAR 33 32 0 1 10 0 5 0
DEDOS
AMPUTAÇÃO DE PÉ 19 17 1 0 14 0 2 0
PTERÍGIO 64 1 1 62 1 1 25 17
ESTRABISMO 4 0 1 3 0 4 0 0
OFTALMOLOGIA
TRANPLANTE DE
1 0 0 1 0 0 0 0
CONJUNTIVA
COLETA DE LÍQUOR 46 22 7 16 2 4 18 5
ANESTESIOLOGIA BLOQUEIO 4 0 0 4 0 0 3 1
INTUBAÇÃO 1 1 0 0 0 0 0 1
MASTECTOMIA 21 7 11 3 2 16 0 1
MASTOLOGIA QUADRANTECTOMIA 5 1 2 2 0 4 0 0
BIÓPSIA DE MAMA 3 3 0 0 0 1 2 0
TRATAMENTO
29 25 2 1 0 29 0 0
ODONTOLÓGICO

ODONTOLOGIA EXTRAÇÃO
2 0 1 0 0 2 0 0
DENTÁRIA
PROCEDIMENTO
2 2 0 0 0 2 0 0
ODONTOLÓGICO
RIZOTOMIA 16 0 0 16 0 0 0 12

NEUROCIRURGIA CRANIOTOMIA 2 2 0 0 0 2 0 0
COLOCAÇÃO
1 1 0 0 0 1 0 0
VÁLVULA
CIRURGIA TORÁCICA PLEUROSCOPIA 5 5 0 0 0 5 0 0
PNEUMOLOGIA BRONCOSCOPIA 2 2 0 0 0 2 0 0

Tabela 2 – Procedimentos, Categoria e Tipo de Anestesia

Em média, tem-se 271 procedimentos cirúrgicos mensais. A hipótese de

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 68


sazonalidade foi rejeitada, portanto não houve variação específica em determinados
períodos do ano (p = 0,6563 ao nível de confiança de 95%) sendo a quantidade de
procedimentos expressa no gráfico 02.

Gráfico 02 – Média mensal de procedimentos cirúrgicos


Com relação às variáveis sexo, idade, procedimentos e categoria de pagamento
que estavam no caderno de registros, tivemos alguns que estavam em branco e a
elas atribuímos a categoria “Não informado”. Expressamos, em números absolutos, a
quantidade de cada um deles conforme o gráfico 03.

Gráfico 03 – Procedimentos não informados por categoria

DISCUSSÃO

Estudo realizado em Ribeirão Preto demonstra que a produtividade cirúrgica em


hospitais filantrópicos é de aproximadamente 2,8 procedimentos cirúrgicos por leito
(ROTTA, 2004). Resultado semelhante no presente estudo, no qual obteve-se uma
média de 2,37 procedimentos cirúrgicos por leito. Ressalta-se que o hospital analisado
neste estudo é sede de microrregião de saúde sendo referência para municípios

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 69


vizinhos, principalmente na especialidade de ginecologia e obstetrícia.
Quanto aos procedimentos ginecológicos, estudos realizados em um hospital
universitário em Vitória (ES), na unidade de ginecologia, com 89 mulheres, mostrou
que os procedimentos cirúrgicos mais frequentes nesse público foram: mioma uterino,
endometriose e câncer de mama, com predomínio de idade na faixa etária de 40 - 49
anos (PRIMO et al, 2012). Já em outro estudo realizado no estado do Amazonas, que
analisou 518 procedimentos cirúrgicos ginecológicos, encontrou maior prevalência
de: laqueadura, seguida por histerectomia e colpoperineoplastia, sendo a faixa etária
média de 47,6 anos (COELHO et al, 2015). Esses dois estudos foram realizados em
serviços de ginecologia e não englobaram os procedimentos obstétricos. Resultado
semelhante foi encontrado em nossa população no que se refere às laqueaduras, as
quais se comportaram como segundo procedimento cirúrgico mais comum na grande
área ginecologia/obstetrícia.
Em quatro anos, foram realizadas 3,642 cesárias na instituição analisada com
idade média das pacientes de 26 anos, resultado semelhante ao estudo realizado na
maternidade do hospital do distrito de saúde de Bogodogo, onde foram realizadas 3,381
cesárias em quatro anos e com uma idade média de 26,8 anos (OUÉDRAOGO et al,
2015). Um estudo realizado no Paraná mostrou preocupação com a alta prevalência de
partos cesáreos, sendo esse um dos indicadores que avaliam a qualidade de cuidado
obstétrico. Além disso, diversos estudos demonstram o aumento nas taxas nacionais
de cesarianas (NOVAES et al, 2015). Na literatura, aponta-se que a cesariana é um
dos procedimentos cirúrgicos abdominais mais realizados mundialmente e que mais
da metade dos nascimentos no Brasil ocorrem via parto cesáreo (GOMES, 2013).
Na instituição analisada, no presente artigo, encontrou-se um alto número de partos
cesáreos, sendo este o principal procedimento cirúrgico relacionado à ginecologia/
obstetrícia. Novos estudos podem ser interessantes para comparar os percentuais de
partos cesáreos com os partos vaginais deste serviço.
Verifica-se que um dos procedimentos cirúrgicos mais realizados na grande
especialidade de Cirurgia Geral foi a colecistectomia. Os resultados deste estudo, com
relação a proporção de procedimentos realizados nos sexos feminino e masculino,
corroboram com um estudo realizado em um hospital de Fortaleza – Ceará, no qual
demonstra que 78,33% das colecistectomias realizadas foram em pacientes do sexo
feminino, enquanto que no nosso caso, para o mesmo sexo, foram realizados 80,03%
dos procedimentos. No que tange à idade média dos pacientes submetidos a tal
procedimento, verificou-se que existe uma diferença, já que o deles demonstraram
a idade de 39 anos e o nosso, 47 anos. Não foi possível afirmar que a diferença
encontrada é significativa ou não por falta de dados necessários (MENEZES et al,
2016).
Com relação aos procedimentos mais frequentes em cirurgia geral, foi realizado
um estudo no Zuckerberg Hospital Geral de São Francisco – EUA, analisando o
ano civil de 2014, no qual constatou-se que os procedimentos de cirurgia geral mais
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 70
realizados foram: hernioplastia, colecistectomia e procedimentos anorretais (ULOA
et al, 2017). Resultados semelhantes foram encontrados no presente estudo em
que a colecistectomia e a hernioplastia também estão entre os procedimentos mais
realizados nessa especialidade. Ainda com relação à hernioplastia, a literatura afirma
que é o procedimento cirúrgico mais frequente no mundo e ainda responsável por um
número considerável de morbimortalidade em países de baixa renda (STEWART et al,
2015). 
Nossos achados foram semelhantes ao estudo realizado em hospitais de médio
porte no sul do país, na especialidade de cirurgia plástica, no que se refere à idade
média dos pacientes sexo e tipo de anestesia utilizado. Em nosso estudo verificamos
que a idade média de nossos pacientes foi de 36 anos, 91,42% do sexo feminino e
37,63% utilizando anestesia geral. No estudo citado a idade média de 32 anos, 100%
do sexo feminino e 46,7% utilizando anestesia geral. Os estudos diferenciaram-se na
ordem dos procedimentos mais incidentes, em que a prótese mamária assumiria o
primeiro lugar (40%), a lipoaspiração a segunda posição (30%) e a dermolipectomia
viria em terceiro (16,7%), não estando a lipoabdominoplastia entre as três mais
realizadas desta literatura (DUTRA; VINHOLES; TREVISOL, 2012).
Um fato encontrado em um hospital universitário de grande porte de Minas
Gerais demonstrou a existência de sazonalidade nos procedimentos cirúrgicos
realizados (GOMES, 2009). Acredita-se que seja devido ao foco em ensino e pesquisa
dos profissionais, em detrimento da produção de ações assistenciais pelos cirurgiões-
professores da Faculdade de Medicina (GOMES, 2009; YU et al, 2017). Além disso,
esses profissionais possuem um período de recesso das atividades no período de
férias da referida faculdade (YU et al, 2017). Em nosso estudo não foi demonstrado
que haja diferença estatística significante na quantidade de procedimentos realizados
mensalmente, independente do período do ano, portanto não há sazonalidade. Acredita-
se que tal fato seja devido ao hospital analisado não ser exclusivamente universitário,
portanto realiza tanto procedimentos vinculados ao SUS, quanto particulares e por
convênios, o que pode influenciar nesta avaliação.
O maior viés encontrado na análise foi as informações não preenchidas no livro de
registro de cirurgias. Sabe-se que existem lacunas entre as informações preenchidas
e as informações que deveriam conter do referido livro. As organizações hospitalares
devem empenhar-se na integração de sua estrutura clínica dos serviços em saúde
com a sua gestão administrativa. Diante de tal resultado, entende-se que existe a
necessidade de uma modelagem de atividades rotineiras para o desenvolvimento de
um sistema de informações adequado que atenda às duas frentes (RISMANCHIAN;
LEE, 2017). Esses sistemas podem ser definidos como um conjunto de elementos
que interagem entre si com objetivos de aprimorar o controle, facilitar o planejamento,
dar suporte a análises e embasar o processo de tomada de decisão na organização.
Além disso podem ser capazes de gerenciar as informações, viabilizar a elaboração
de estratégias, modelar as estruturas hierárquicas e influenciar o comportamento dos
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 71
usuários e demais colaboradores (RISMANCHIAN; LEE, 2017).
Outro aspecto a ser considerado para o registro pertinente das informações,
além da sinergia entre a qualidade técnica e administrativa, é o treinamento de
toda a equipe no preenchimento desse sistema de informação a ser desenvolvido.
Atualmente, percebe-se que o foco da equipe de saúde é assistir ao paciente em sua
integralidade, garantindo acima de tudo a sua recuperação e o seu retorno às suas
atividades cotidianas (SOUZA et al, 2012). Tais objetivos, tão nobres e fundamentais,
podem suprimir a necessidade da criação de um modelo de gestão que possibilite ao
hospital conhecer o público a que vem prestando atendimento (FERNANDES et al,
2015; SANTOS; NOVAES; IGLESIAS, 2017).
Os hospitais, no contexto atual, devem cada vez mais utilizar os sistemas
informatizados, possibilitando assim a integração das informações da área médica
(SPRECO et al, 2017). Os registros de dados precisos são a base para a construção
do conhecimento científico acerca da população e das atividades realizadas naquele
local. Dada a complexidade da monitorização de cada rotina médica, sistemas de dados
digitais são uma alternativa obrigatória para a aquisição de registros e informações
geradas no cuidado de um paciente cirúrgico (MURAVCHICK et al, 2008; VISSHER et
al, 2017).

CONCLUSÃO

A maioria dos pacientes submetidos à procedimentos cirúrgicos no hospital são


do sexo feminino com idade média de 26 anos sendo o SUS a categoria prevalente.
Ginecologia e Obstetrícia, Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica cirúrgicas concentram 80%
de todos os procedimentos realizados. Esses dados epidemiológicos são importantes
para o planejamento e gestão local de recursos humanos, físicos e financeiros. Outro
achado importante foram os de erros de registro, visto que houve informações não
inseridas, bem como algumas informações inseridas incorretamente. Tal achado
relaciona-se ao fato dos registros serem realizados manualmente, sem sistematização
e não informatizados. Sugere-se a criação de um Sistema de Informação que uniformize
os registros e, a partir deles, possam ser extraídos os dados epidemiológicos que
contribuam para o gerenciamento e planejamento de ações em todas as esferas
envolvidas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Hospital Santa Casa de Misericórdia de Araguari-MG por


disponibilizar as informações necessárias à construção desta pesquisa.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 72


CONFLITOS DE INTERESSE

Não há conflitos de interesse.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 8 74


CAPÍTULO 9

REFLEXÕES SOBRE O DIREITO UNIVERSAL À


ANAMNESE CLÍNICA NA NOVA ERA DA AUTONOMIA
DOS PACIENTES

Antonio Augusto Masson  enfermo. Básica na construção da boa relação


Professor de Propedêutica - Universidade Estácio, médico-paciente, sendo recurso fundamental
Campus Presidente Vargas, Rio de Janeiro, RJ. no processo complexo do raciocínio clínico.
Lívia Conti Sampaio Quando seguida pelo exame físico forma
Graduanda em Medicina - Universidade Estácio, um conjunto intrinsecamente relacionado.
Campus Presidente Vargas, Rio de Janeiro, RJ.
Ambos, em sequência sinérgica, potencializam
Ana Carolina S. Mendes Cavadas acurácia do diagnóstico, considerando o peso
Graduanda em Medicina - Universidade
dos múltiplos fatores de doença (antecedentes
Estácio, Campus Presidente Vargas, Rio de
biológicos, psíquicos e sociais, como
Janeiro,
condições de habitação e poluição ambiental,
RJ. 
etc), aumentando a adesão do paciente ao
tratamento, dirimindo assim a possibilidade
“Escute o paciente e ele lhe dirá o diagnóstico” do erro médico. Esse ciclo virtuoso resulta em
desfecho clínico mais favorável. Entretanto, a
William Osler (1849 - 1919), educador tendência observada nas “consultas relâmpago”,
canadense da John Hopkins Medical School
(US); preconizava que a prática médica
sem tempo hábil que permita coleta dos
deveria começar e terminar com o paciente; é dados preconizados, ameaça essa eficiência
considerado o fundador da medicina clínica diagnóstica. Consideramos que o “direito a
moderna.
uma anamnese padrão” seja particularmente
crucial no acesso à atenção de saúde, mas
infelizmente ainda não está garantido. Esse
RESUMO: O objetivo deste artigo é abordar quesito de plena cidadania está consagrado na
uma questão que vem sendo perigosamente Constituição Federal, mas ausente nos textos
negligenciada na assistência médica no país. regulatórios infraconstitucionais. Conclui-se
Visa enfocar a anamnese médica desde as suas pela premência das intervenções motivadoras
origens milenares até a atualidade, ressaltando de conscientização sobre o valor da anamnese
o seu papel atual na construção de qualquer para usuários da saúde, ações pedagógicas
investigação clínica. A anamnese constitui nas faculdades (graduandos) e nas residências
a história clínica técnica e habilidosa que (jovens médicos), acrescidos dos ajustes
Hipócrates, pai da medicina, concebeu como o necessários no marco regulatório. Essas
primeiro passo para a abordagem de qualquer iniciativas poderão certamente contribuir para a

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 9 75


qualidade da assistência médica nacional.
PALAVRAS-CHAVE: Direito a anamnese; erro médico; autonomia dos pacientes;
qualidade da assistência médica.

REFLECTIONS ON THE UNIVERSAL RIGHT TO CLINICAL ANAMNESIS IN THE

NEW AGE OF PATIENT’S AUTONOMY

ABSTRACT: The purpose of this article is to address an issue that has been dangerously
neglected in medical care in the country. It aims to focus medical anamnesis from
its millennial origins to the present, highlighting its current role in the construction of
any clinical investigation. The anamnesis is the technical and skillful medical history
that Hippocrates, the father of medicine, conceived as the first step in approaching
any sick person. Basic in the construction of good doctor-patient relationship, being a
fundamental resource in the complex process of clinical reasoning. When followed by
the physical examination it forms an intrinsically related set. Both, in synergic sequence,
potentiate the accuracy of the diagnosis, considering the weight of multiple disease
factors (biological, psychic and social antecedents, such as housing conditions and
environmental pollution, etc.), thereby increasing patient adherence to the treatment,
and additionally curbing the possibility of medical error. This virtuous cycle results in
a more favorable clinical outcome. However, the tendency observed in the “lightning-
in” consultations, with no time to enable the collection of the recommended data,
threatens this diagnostic efficiency. Consequently, we believe that the “right to standard
anamnesis” is particularly crucial in accessing health care, unfortunately is not yet
guaranteed. This question of full citizenship is enshrined in the Federal Constitution,
but absent in infraconstitutional regulatory texts. It is concluded by the urgency of the
motivational interventions and awareness about the value of the anamnesis for health
users, pedagogical actions in the undergraduate and residential schools (young doctors),
plus the necessary adjustments in the regulatory framework. All these initiatives should
certainly contribute to the quality of national health care.
KEYWORDS: Right to anamnesis; medical error; patient autonomy, quality of medical
assistance.

1 | INTRODUÇÃO

O exercício da Medicina tem como alicerce preceitos milenares sutilmente


equilibrados e interdependentes: Arte e Técnica que resultam no método clínico.
(MASSON, SAMPAIO, CAVADAS, 2018).  A anamnese constituía um método
investigativo (entrevista) adotado desde a Grécia clássica, como passo inicial
na abordagem de qualquer paciente. Foi concebida por Hipócrates (460-356
a.C.), como ciência racional, libertando-a das crenças vigentes: magia, superstição e
sobrenatural. (OSBORN, 2015).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 9 76


Rufus Ephesius, médico grego do século I foi pioneiro na valorização a
perspectiva do paciente na construção do raciocínio clínico, sistematizando o papel da
conversa com o paciente sobre os hábitos de vida e detalhes do relato para se chegar
o diagnóstico correto (LETTS, 2014).
Coube a Virchow (1821-1902), aprimorar as bases da medicina moderna com
a uma visão mais abrangente do papel dos aspectos sociais e econômicos na gênese
das doenças: 
“A medicina é ciência social e a política nada mais é senão a medicina em larga
escala” (MACKENBACH, 2009, p. 181).

2 | A ANAMNESE ATUAL

É definida como uma entrevista ou uma história clínica  sobre a doença atual,
sintomas em suas diversas características (inicio, caráter, irradiação, fatores precipitantes,
fatores aliviadores, repercussão no cotidiano, etc.),  fármacos utilizados e as várias
condições socioculturais envolvidas possíveis (tipo de trabalho, escolaridade, carga
de estresse, habitação, poluição ambiental, etc), acidentes ou patologias anteriores,
história familiar, inclusive a visão do paciente a respeito da própria doença. Aspectos
que contribuem decisivamente na correta formulação de uma hipótese diagnóstica,
dentro do contexto global de vida do paciente. Exige treinamento, concentração,
disposição, equilíbrio emocional e talento de quem a conduz, considerando-se a
diversidade dos contextos em que é praticada e o nível cultural do paciente. O grau
de colaboração dos entrevistados também é fundamental, pois em muitas ocasiões,
deve ser conquistado com a empatia e carisma do entrevistador na busca de uma
comunicação mais efetiva.
Nesse cenário, o profissional contemporâneo deve atuar com ética, base científica
sólida e sincera vocação para o trato com o sofrimento de pessoas  (MASSON, 2013,
p. 46).
Quando a história clínica é acrescida aos achados do exame físico, o percentual
de acerto do diagnóstico alcança 70-90% dos casos (FAVALORO, 1999).
Não existe conflito entre a anamnese, os achados clínicos e os exames
complementares, mas sim o contrário, pois todos têm seu papel na investigação
diagnóstica quando se mantém a ordenação lógica de iniciar com a anamnese
e terminar com os exames complementares, garantindo que a primeira possa
sustentar as indicações dos pedidos dos segundos. Nesse contexto cabe citar uma
pesquisa Clínica da USP que detectou percentuais de contribuição da anamnese em
95 pacientes e concluiu que o papel da história pontuou em apenas 40,4% para o
diagnóstico (BENSEÑOR, 2013). O índice mostrou-se inferior quando comparado
a quatro estudos internacionais similares (dois ingleses, um norte americano e um
indiano, com 82.5, 56, 76 e 78,6 %, respectivamente).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 9 77


A análise dos dados da pesquisa nacional com a menor contribuição da
anamnese permite inferir que a técnica de coleta praticada no Brasil tem espaço para
aperfeiçoamento em relação aos parâmetros técnicos, particularmente os temporais.

3 | IMPLICAÇÕES SOCIAIS

Cabe uma reflexão específica a respeito da assistência médica primária,


reconhecidamente capaz de resolver ou bem encaminhar a maioria dos casos que
acorrem aos hospitais e postos de saúde no território nacional. O SUS baseia-se em
princípios nobres como integralidade, equidade e universalidade das ações de saúde,
além de sua gratuidade. Apesar dos progressos alcançados, necessita aprimoramento
de aspectos adversos de atendimento, dentre eles, como o afluxo de pacientes em
hospitais nos médios e grandes centros urbanos, nos quais a rotatividade é muito
grande, contribuindo para uma anamnese com tempo reduzido (SANVITO, RASSLAN,
2012, p. 634), aspecto que se associa à falta de infraestrutura nas unidades de saúde,
prejudicando a qualidade do atendimento. Com isso, eleva-se a desaprovação da
assistência de saúde pelos brasileiros: 60%, segundo pesquisa de 2015 do Instituto
Datafolha (FOLHA DE SÃO PAULO, 2015).
O aparato burocrático-administrativo da saúde conspira para reduzir o período
dedicado ao paciente no atendimento, e, por conseguinte, diminui a atenção com as
possíveis vivências do paciente relacionadas com a doença apresentada. Atribui-se ao
modelo norte-americano “managed care” (cuidado gerenciado), que prioriza critérios
econômicos e “frios” para a real necessidade de cada paciente. Nesse contexto, de
profissional de saúde, o médico passa a administrador de lucros (PINESH, 1999).
Vale mencionar um movimento promissor denominado “Slow Medicine”, que
encerra um novo paradigma social que vem crescendo na última década em vários
países. O principal pilar baseia-se no maior tempo destinado à entrevista e exame
físico. Reforça a importância do profissional de saúde conhecer mais profunda e
detalhadamente o seu consultante. Esse é estimulado a ser proativo, debatendo
e compartilhando a escolha final da estratégia terapêutica mais adequada às suas
aspirações. Isso irá implicar em mentes mais abertas por parte dos médicos, como
também dos pacientes (LIE, 2017).

4 | O DIREITO DE TODOS ESTÁ ASSEGURADO?

Infelizmente não. A Constituição Federal garante no artigo 196 que “A Saúde é


um direito de todos e dever do Estado”. Entretanto, a legislação infraconstitucional faz
referências esparsas relacionadas indiretamente à questão da anamnese, citando o
direito dos pacientes ao atendimento digno, atencioso e respeitoso, sem outros
pormenores.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 9 78


A despeito dos óbvios efeitos nocivos das consultas-relâmpago, não há ainda
no Brasil uma regulamentação que determine o tempo mínimo estipulado que uma
consulta deve ter.  
Paradoxalmente, a portaria 1820 do Ministério da Saúde que dispõe sobre os
direitos e deveres dos usuários da saúde não delimita temporalmente a consulta
médica:
“Art. 3º Parágrafo único. É direito da pessoa ter atendimento adequado, com
qualidade, no tempo certo e com garantia de continuidade do tratamento”
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2009).

O tempo reservado à entrevista clínica distingue o médico competente e dedicado:


“A redução do tempo dedicado a anamnese é uma das principais causas de
perda de qualidade na assistência, de prejuízo na interação com o paciente e da
desvalorização do ofício médico” (PORTO, 2011, p. 26-29).

O tempo ideal para coleta de uma história durante uma consulta eletiva
minimamente aceitável depende da complexidade do quadro patológico, do nível
cultural e do grau de colaboração do entrevistado. Além disso todo paciente possui
a capacidade de distinguir uma avaliação clínica superficial de uma interessada e
criteriosa (BEVILACQUA, 1977, pg. 3).  
É de suma importância a correta identificação da queixa principal na consulta
clínica inicial. 
Entretanto, um estudo que registrou 74 consultas sequenciais, em apenas 17
(23%) foi dada a oportunidade ao paciente de um relato completo sua queixa principal
devido à interrupção prematura em 69% das anamneses.
A conclusão sugeriu que a postura de controle ativo por parte do médico elevou
o risco de perda de informações clínicas relevantes. (BECKCMAN, FRANKEL, 1984).
A literatura é escassa acerca do “tempo ideal” para uma anamnese eficaz. Isso
se explica parcialmente pela diversidade de cenários possíveis da coleta uma história
clínica.
Porto ressalta:

“Nas doenças agudas ou de início recente, em geral apresentado poucos sintomas,


é perfeitamente possível conseguir ruma história clínica de boa qualidade em 10 a
15 min, ao passo que nas doenças de longa duração, com sintomatologia variada
não se gastarão menos do que 30 a 60 min na anamnese” (PORTO, 2017, p. 41).

Gazewood sugere 37 minutos para a entrevista médica, assim distribuídos:


introdução - 1, definição da queixa principal e da história da doença atual - 15, análise
de outros problemas médicos - 5, história patológica pregressa e familiar - 8, perfil
social - 5 e revisão dos sistemas orgânicos - 3. Caso acrescentemos 3 minutos
para organização e reflexão sobre os dados para o encaminhamento diagnóstico e
terapêutico teremos, ao final, 40 minutos (GAZEWOOD, 2005).
Constata-se defasagem desses dados com a realidade prática recorrente nos
serviços médicos: atender, sob pressão externa, no máximo 4 pacientes em uma hora,
ou seja, o mínimo de 15 minutos para cada paciente, considerando-se a ausência
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 9 79
de interrupções na consulta, praticamente uma utopia nos dias de hoje de intenso
uso de dispositivos móveis como celulares e tablets para acessar mídias sociais no
ambiente de trabalho. 
A coleta individualizada dos dados da anamnese e do exame físico requer
adequado armazenamento, pré-requisito para o sucesso do progresso de uma
investigação clínica. Novos programas digitais estão disponíveis e auxiliam nessa
tarefa reduzindo o índice de erro diagnóstico. Entretanto, verifica-se uma desvantagem
da tecnologia da informação em maior consumo do tempo do médico que “se afasta”
da dedicação ao paciente (GUNTER, 2015).

5 | RISCO POTENCIAL DO ERRO MÉDICO

Segundo Machado, 

“cada vez mais diminui a atenção dada à anamnese e ao apurado exame físico,
ocasionando assim, progressivo abandono de alguns procedimentos que já foram
habituais e indispensáveis na construção das hipóteses diagnósticas” (MACHADO,
1997, p. 244).

Obviamente o prejuízo maior será sempre para o enfermo, na forma de exames


complementares invasivos, ou até não indicados.  
Cabe  ressaltar  risco decorrente da cronificação ou agravamento de qualquer
processo de adoecimento não diagnosticado em tempo hábil, pelo fato de não se
“ouvir “ o doente e os seus acompanhantes.
Registra-se um crescimento recente dos casos de erro médico nos Estados
Unidos da América. Tais emergiram como a terceira causa de morte, desbancando
as doenças respiratórias pela primeira vez. A consequência é que problemas de
comunicação e falhas de julgamento do médico, dentre outros fatores, podem aumentar
os danos ao cliente (MAKARY, DANIEL, 2016).
Esse incremento dos erros médicos poderia estar relacionado com a anamnese
inadequada, se considerarmos a equação lógica: 

Risco do erro médico = Anamnese incompleta + Exame clínico superficial + Exames


complementares impróprios. (MASSON, SAMPAIO, CAVADAS, 2018, pg. 14).  

A propósito dos exames complementares, a solicitação intensa e desnecessária


de exames de imagem, sobretudo tomografias (radiação) e ressonâncias nucleares
(campo magnético) constitui desafio atual que pode trazer consequências negativas
para todos os usuário dos serviços de saúde (elevação dos custos, retardo do início
do tratamento, ansiedade, reações adversas aos contrastes, etc...). 
Além disso, exames de imagem em excesso comprovadamente geram achados
inesperados em outros órgãos, os ditos “incidentalomas”, com o potencial de desvirtuar
a investigação clínica e o curso terapêutico natural. (OREN, 2019). Temos observado
esse preocupante fenômeno com mais frequência na prática clínica cotidiana.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 9 80


6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pacientes e acompanhantes mais conscientes sobre o real valor da anamnese


poderão exercer maior grau de cidadania no que tange ao acesso inicial a uma
assistência digna, com padrão técnico e universal. Desta forma são preservados os
preceitos da Bioética e na busca do equilíbrio entre os valores humanos e a tecnologia
médica. 
No que concerne ao controle dos pedidos de imagens exagerados, sugerem-se
campanhas conscientizadoras sobre os riscos de tal prática que alcancem a população
geral/pacientes e intervenções técnicas para estudantes, médicos residentes e em
cursos de atualização, incluindo neste último grupo detalhes e a importância da
qualidade e foco da imagem ajustado para o nível da suspeita  da investigação clinica
(evitar os “incidentalomas”) (OREN, 2019).
Espera-se, desta forma, uma mudança de paradigma na relação médico paciente
tradicionalmente paternalista, com o médico ditando as ações, para um contexto de
maior participação dos pacientes na busca das soluções, com autonomia reforçada
em detrimento do paternalismo médico. (KILBRIDE, MK, JOFFE, S, 2018). 
No caso da anamnese, o paciente mais informado sobre a  importância da
mesma, estaria mais apto a “fazer valer” educadamente o seu direito básico de ser
ouvido de forma correta tecnicamente durante todo o curso do encontro clínico. 
Para concluir, lançamos uma questão central, como forma de provocar o
debate sobre o assunto, na busca de soluções viáveis: até quando o pleno direito à
anamnese durante o atendimento médico primário permanecerá como um desafio de
saúde pública no Brasil? A resposta seria: quando a sociedade como um todo atingir
o necessário grau de conscientização sobre o consagrado papel da anamnese e do
exame clínico minuciosos, e assim adotar uma postura proativa nessa questão, em
busca de um suporte de saúde humanístico e de maior qualidade técnica.

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Guanabara Koogan, 2017.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 9 83


CAPÍTULO 10

REGULAÇÃO DO CÁLCIO E FÓSFORO NA SAÚDE


BUCAL

Camila Teixeira do Nascimento tissular dos mesmos. O excesso de fósforo


Universidade do Oeste Paulista, Faculdade de interfere na absorção do cálcio e aumenta
Odontologia a porosidade dos ossos e dentes. O cálcio
Presidente Prudente – São Paulo precisa estar em equilíbrio com o flúor, pois
Mariáli Muniz Sassi fazem parte da consitutição da molécula de
Centro Universitário de Adamantina, Faculdade de hidroxiapatita originando cristais de apatita
Odontologia
que reduz a solubilidade do esmalte sendo
Adamantina – São Paulo importante durante a formação dos dentes,
Mariana Meira França pois ajuda a formar a região de cicatrículas
Centro Universitário de Adamantina, Faculdade de e fissuras. Além disso, o fluoreto pela sua
Odontologia
presença na saliva, na placa ou no esmalte,
Adamantina – São Paulo
interfere na colonização das bactérias. Outro
Fabio Alexandre Guimarães Botteon fator que pode influenciar na quantidade de
Centro Universitário de Adamantina, Faculdade de
cálcio e fósforo na boca, é o clareamento dental,
Odontologia
que diminui a concentração desses minerais,
Adamantina – São Paulo
porém, diversas pesquisas ainda estão sendo
realizadas para comprovação. Considerando o
cálcio e o fósforo como um dos minerais mais
RESUMO: O cálcio e o fósforo (Ca-P) são um importantes no organismo, esta pesquisa teve
dos minerais mais abundantes nos seres vivos, como objetivo realizar uma revisão de literatura
constituintes de DNA e RNA e fundamentais a fim de relacionar a importância e influência
para o fortalecimento dos ossos e dentes. destes minerais na saúde bucal.
Ambos funcionam juntos e são absorvidos no PALAVRAS-CHAVE: Cálcio. Fósforo.
intestino e metabolizados no fígado e rins, com a Alimentação. Clareamento Dental.
participação da vitamina D para maior absorção.
Sua abstinência pode causar desmineralização ABSTRACT: Calcium and phosphorus are most
dentária e quando um indivíduo já apresenta um abundant in living organisms, constituents of
caso de desmineralização, a remineralização DNA and RNA, and are key to strengthening
pode ser feita através da alimentação, bones and teeth. Both work together and are
suplementada com esses nutrientes (Ca-P), absorbed in the intestine and metabolized in the
além da regulação hormonal e distribuição blood and with the participation of vitamin D for

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 10 84


increased absorption. Their abstinence can cause dental demineralization and, when
an event already presents a case of demineralization, a remineralization can be done
through the diet, supplement with these nutrients (Ca-P), and the hormonal regulation of
their release. Excess phosphorus interferes with the absorption of calcium and increases
the porosity of bones and teeth. Calcium must be in equilibrium with fluoride, since they
are part of the concentration of hydrogen hydroxide, giving rise to apatite crystals that
reduce the solubility of the enamel being important during the formation of the teeth,
since they form a region of cicatrículas and fissures. In addition, fluoride by its presence in
saliva, plaque or enamel, interferes with the colonization of bacteria. Another factor that
can influence the amount of calcium and phosphorus in the mouth is dental bleaching,
which is the extent to which they are minerals, but the data is still being made for testing.
Considering calcium and phosphorus as one of the most important minerals in the body,
this research aimed to perform a literature review in order to relate the importance and
influence of these minerals in oral health.
KEYWORDS: Calcium. Phosphorus. Feeding. Tooth Bleaching.

1 | INTRODUÇÃO

O cálcio é um dos minerais mais presentes no organismo. Cerca de 99% está


presente nos ossos e dentes, na forma de hidroxiapatita e está contido em três
compartimentos principais: esqueletos, tecidos moles e líquido extracelular e, 90% do
cálcio é armazenado nos ossos, com uma troca constante no sangue, tecidos e ossos.
Seu papel no organismo é fundamental para o fortalecimento de ossos e dentes além
do funcionamento adequado do sistema nervoso e imunológico, contração muscular,
coagulação sanguínea, arterial, regulação da pressão arterial, secreção hormonal e,
quando associado ao fósforo, formam a estrutura de diversas enzimas (INSTITUTO
MINEIRO DE ENDOCRINOLOGIA; VIVA 50; COPACABANA RUNNERS).
O fósforo está entre os principais elementos químicos que constituem os seres
vivos, estando também, presente na composição de ossos, dentes e moléculas como:
ATP, DNA, RNA e enzimas. Como trifosfato de adenosina (ATP), ou outros fosfatos
orgânicos, o elemento tem um papel indispensável em processos bioquímicos, pois
todos os mecanismos biológicos que utilizam fósforo, é em forma de ortofosfato
ou, alternativamente, como polifosfato, que através de hidrólise, se transforma em
ortofosfato (INSTITUTO MINEIRO DE ENDOCRINOLOGIA).
Considerando o cálcio e o fósforo como um dos minerais mais importantes no
organismo, esta pesquisa teve como objetivo realizar uma revisão de literatura a fim
de relacionar a importância e influência destes minerais na saúde bucal.
A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica com base em dados da
literatura nacional e internacional sobre a importância e funções do cálcio e fósforo na
organismo e na saúde bucal.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 10 85


2 | CÁLCIO

O cálcio é o mineral mais abundante do corpo humano, sendo concentrado


nos nossos ossos e dentes, além de estar relacionado à doenças ósseas como por
exemplo, a osteoporose (INSTITUTO MINEIRO DE ENDOCRINOLOGIA).
A vitamina D é indispensável para absorção do cálcio, pois além de efeitos
indiretos sobre a absorção gastrointestinal de cálcio e fosfato PTH ativa a conversão
da 25-hidroxivitamina D a 1,25-diidroxicolecalciferol (calcitriol) e regula a homeostase
do cálcio, do fósforo no intestino, nos ossos e dentes. Este mineral é encontrado no sol
e alimentos como, por exemplo: atum enlatado em água, óleo de fígado de bacalhau,
sardinhas enlatadas em óleo, fígado ou carne, magnésio e fósforo (TUA SAÚDE).
Além disso, também é componente essencial das células em organismos vivos,
fazendo parte das moléculas de DNA e RNA e participando de funções no organismo
como a integração dentro da estrutura de ossos e dentes, conferindo a eles a
participação em reações de moléculas orgânicas formadas por hidrogênio, oxigênio
e carbono; atua na contração muscular e controle do equilíbrio do fósforo (TENUTA;
MARÍN; CURY, 2017).
Entre as principais fontes de cálcio estão laticínios: leite, iogurte e queijos; peixes
ósseos, legumes, brócolis, repolho (INSTITUTO MINEIRO DE ENDOCRINOLOGIA).

3 | METABOLISMO DO CÁLCIO

O processo de absorção do cálcio acontece por meio do transporte ativo e da


difusão passiva na mucosa intestinal. O transporte ativo do cálcio para dentro dos
enterócitos e fora, do lado seroso, gasta energia, é saturável e unidirecional. O cálcio
deve adentrar as células do intestino na membrana da borda em escova (ou borda
estriada) e ser transportado através dos canais epiteliais de cálcio. O transporte
citado depende da ação da forma ativa de vitamina D – 1,25-di-hi-droxivitamina D –
e de seu receptor envolvendo uma vitamina ligante de cálcio (calbindina-D9k), com
função de facilitar a difusão celular. A capacidade máxima de transporte intracelular de
cálcio depende diretamente do conteúdo de calbindina D9k da célula. O cálcio deve
atravessar a célula da membrana luminal para a membrana basolateral ligado a uma
proteína, para manter os níveis intracelulares desse nutriente, dado que o cálcio ligado
não é iônico nem metabolicamente ativo no interior da célula. O cálcio é absorvido
mais rapidamente na parte proximal do duodeno em virtude de sua acidez (pH < 7),
causada pelo recebimento de ácido clorídrico secretado no estômago, mas a maior
quantidade (70 a 80%), na realidade, é absorvida nos segmentos inferiores do intestino
delgado, principalmente no íleo. Quanto menor o conteúdo de cálcio em um alimento
ou refeição, proporcionalmente mais cálcio será absorvido.
Após entrar nas células intestinais, o cálcio deve ser extrusado para o espaço
extracelular por alguns mecanismos contra o gradiente eletroquímicos. Nos intestinos,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 10 86


a maioria é extrusada por uma bomba de adenosina tri-fosfato de cálcio da membrana
plasmática. As bombas de troca de sódio/cálcio (NCX) são outro mecanismo para a
extrusão de cálcio que ocorre em menor proporção no intestino, mas que é o meio
predominante de extrusão da membrana basolateral dos rins. Uma vez em circulação,
o cálcio pode ser transportado de várias formas (MARTINI; PETERS, 2016).
Sua carência tem como consequências a deformação óssea, osteoporose,
fraturas, problemas no sistema nervoso central, como fraqueza muscular, enquanto
que, seu excesso pode contribuir para o cálculo renal e insuficiência renal. Portanto,
a quantidade necessária estabelecida de cálcio diária é de 1200mg para adultos,
podendo chegar a 1500mg para mulheres grávidas ou que estão amamentando,
mulheres e homens acima de 50 e 60 anos, respectivamente (SÓ NUTRIÇÃO).

4 | CÁLCIO NO MEIO BUCAL

O cálcio tem papel fundamental na composição e formação dos dentes, sendo


encontrado no esmalte, na dentina e na matriz extracelular circundante. Além disso, os
dentes e o osso alveolar dentário são tecidos altamente ativos sofrendo remodelação
ao longo do ciclo de vida (SUN et al., 2010, p. 985-9).
Os principais nutrientes envolvidos com a odontogênese são cálcio, fosfato,
vitaminas A, C, D e o balanço protéico-energético (MENOLI et al., 2003, p. 33-40).
Segundo alguns estudos, a alteração metabólica no complexo vitamina D-cálcio-
fósforo pode produzir efeitos sistêmicos como o raquitismo, caracterizando-se por
projeção frontal e occipital do crânio com um aspecto quadrado da cabeça, além
de apresentar protrusão anterior do esterno conhecido como “peito de pombo” e
arqueamento lateral das pernas e baixa estatura. Entre as alterações dentárias, pode-
se observar a ampliação da câmara pulpar e do canal radicular, dentina mais fina com
largos glóbulos anormalmente calcificados, separados por largas zonas irregulares de
dentina interglobular (MENOLI, 2003; CORRÊA, 1997).

5 | SUBSTITUIÇÃO DO CÁLCIO PELO FLÚOR

Inicialmente é importante esclarecer as diferenças nas nomenclaturas “flúor”


e “fluoreto”. O flúor está relacionado ao elemento químico flúor – este presente na
natureza, mais comumente, na forma de minerais, ou seja, ligado a outros elementos
químicos, como o cálcio. O fluoreto refere-se ao flúor na forma iônica, ou seja, F−,
sendo responsável pelo mecanismo anticárie do elemento químico – o fluoreto só tem
ação anticárie quando está na forma iônica (TENUTA; MARÍN; CURY, 2017).
O flúor substitui grupos hidroxila na molécula de hidroxiapatita originando
cristais de apatita mais volumosos e com geometria específica que desorganizam a
estrutura cristalina óssea, dificultando os processos normais de remodelagem óssea e

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 10 87


comprometendo a mobilização do cálcio e do fósforo depositados nos ossos. O esmalte
dentário humano é composto pela hidroxiapatita. Quando o flúor é administrado pela
via oral durante a fase de formação dos dentes decíduos e permanentes, há a formação
de esmalte com hidroxiapatita fluoretada. O esmalte também pode conter fluorapatita
quando sofre descalcificação por um início de cárie e é remineralizado com aplicação
tópica de flúor. Na prática, a fluorapatita é muito mais efetiva na redução das cáries
que a hidroxiapatita fluoretada (ESQUADRÃO DO CONHECIMENTO).
Ainda assim, sabe-se que o flúor reduz a solubilidade do esmalte; é importante
durante a formação dos dentes, pois ajuda a formar a região de cicatrículas e fissuras,
fazendo contato com os dentes do arco oposto, região na qual é acometida por cáries e
retenção de alimentos frequentemente. O fluoreto deve estar presente continuamente
na fase aquosa, ao redor do dente, na saliva, no fluido da placa e na fase aquosa
dos poros de esmalte produzindo a inibição da doença. Ainda, o fluoreto pela sua
presença na saliva, na placa ou no esmalte, interfere a colonização das bactérias, seu
desenvolvimento e/ou sua atuação (ESQUADRÃO DO CONHECIMENTO).

6 | FÓSFORO

O fósforo é fundamental para os ossos e dentes participando também da


composição estrutural das células e estando presente em diversas reações bioquímicas,
como no metabolismo energético e metabolismo de carboidratos e gorduras, além de
atuarem no organismo como tampão no plasma e na urina (MOTTA, 2000; CORRÊA,
1997).
As quantidades de fósforo e cálcio precisam estar equilibradas entre si para que
exerçam suas funções. A quantidade diária necessária de fósforo é de 800 a 1200 mg.
É importante ressaltar que deve-se consumir duas vezes mais cálcio do que fósforo
pois o excesso de fósforo pode interferir na absorção do cálcio e causar porosidade
nos ossos, sendo importante também estar presente a vitamina D e o cálcio para
utilização do fósforo no funcionamento do organismo. Entre as fontes de fósforo estão:
leites e derivados, cereais integrais, leguminosas, carnes (CORRÊA, 1997).

7 | INTERFERÊNCIA DO CLAREAMENTO DENTAL NA REGULAÇÃO DO CA-P

O clareamento dental é hoje integrante dos procedimentos que compõe a


odontologia estética. São inúmeras as técnicas de clareamento dental, aplicações de
agentes químicos na superfície dental e várias substâncias têm sido empregadas com
objetivo de alterar as cores dos dentes, como por exemplo o peróxido de hidrogênio.
Tendo o intuito de não ocorrer problemas como desmineralização, biomateriais como
o cálcio, hidroxipatita e flúor vem sendo introduzidos nos clareadores.
Segundo a pesquisa realizada por Tholt et al (2014), foi realizado uma análise

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 10 88


da composição química do esmalte dental no que diz a respeito à concentração de
cálcio e fosfato e foi possível observar que a associação do cálcio na composição do
agente clareador à base de peróxido de hidrogênio 35% não demonstrou ser relevante
para a incorporação de cálcio no esmalte dental e a técnica clareadora com peróxido
de hidrogênio a 35% ativada ou não por luz de LED, não causou efeitos deletérios na
composição química do esmalte dental.

8 | CONCLUSÃO

O cálcio e o fósforo são minerais presentes na composição e formação dos


ossos e dentes, além de exercerem diversas funções no organismo. Sendo assim,
possuem grande relevância para a saúde bucal devendo-se considerar seus processos
metabólicos quanto ao excesso e carência, assim como a relação entre eles já que,
o fósforo em excesso interfere na absorção do cálcio no processo metabólico. Com
isso, a desregulação destes minerais no organismo pode interferir na formação dos
dentes e ossos, como por exemplo: ampliação da câmara pulpar e do canal radicular,
dentina afilada com glóbulos anormalmente calcificados, raquitismo, deformações e
porosidades ósseas e osteoporose.
Na Odontologia estética atual, o clareamento dental é frequente e diversos estudos
são realizados a fim de entender o processo de desmineralização e, se biomateriais
como o cálcio, hidroxiapatita e flúor associados aos géis clareadores interferem ou
diminuem o processo de desmineralização. Porém, a literatura não possui estudos
suficientes e relevantes sobre a interferência do clareamento dental na quantidade de
cálcio do esmalte dentário, devendo ser realizado mais estudos para a comprovação.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 10 90


CAPÍTULO 11

RELAÇÃO ENTRE ESTRESSE E CONDUTAS DE


SAÚDE DE RESIDENTES MULTIPROFISSIONAIS EM
SAÚDE

Fabíola Feltrin de caráter exploratório e descritivo. A amostra


Hospital Universitário Regional dos Campos foi composta pela totalidade de residentes
Gerais (HURCG), Programa Multiprofissional de multiprofissionais em saúde (RMS) (n=98).
Urgência e Emergência.
Utilizou se os questionários validados: “National
Ponta Grossa – Paraná.
College Health Risk Behavior Survey”, que avalia
Luciane Patrícia Andreani Cabral condutas de saúde através de temas como: uso
Hospital Universitário Regional dos Campos
do tabaco, comportamento alimentar, prática de
Gerais (HURCG), Programa Multiprofissional em
atividade física, uso do álcool e outras drogas,
Saúde. Universidade Estadual de Ponta Grossa
(UEPG), Departamento de Enfermagem e Saúde
comportamento sexual, segurança no trânsito
Pública. e comportamentos relacionados à violência; o
Ponta Grossa – Paraná. ‘Inventário de Sintomas de Stress para Adultos
de Lipp’ que avalia o estresse. A variável
Danielle Bordin
Hospital Universitário Regional dos Campos dependente foi o estresse e as independentes
Gerais (HURCG), Programa Multiprofissional em as condutas de saúde (n=36), analisadas pelos
Saúde. Universidade Estadual de Ponta Grossa testes qui-quadrado e exato de Fisher. A maioria
(UEPG), Departamento de Enfermagem e Saúde (64%) dos RMS não apresentou nenhum sinal
Pública. de estresse e 46% algum nível de estresse,
Ponta Grossa – Paraná. sendo 85% na fase resistência. Verificou-se
Cristina Berger Fadel associação de estresse apenas com tentativa
Hospital Universitário Regional dos Campos de suicídio (p=0,0005), as demais condutas
Gerais (HURCG), Programa Multiprofissional em de saúde não apresentaram associação
Saúde. Universidade Estadual de Ponta Grossa
(p>0,05). Conclui-se que ainda que a grande
(UEPG), Departamento de Odontologia. Ponta
maioria das condutas de saúde analisadas no
Grossa – Paraná.
presente estudo não tenha se relacionado de
forma significante com os níveis de estresse
entre os residentes investigados, defende-se a
RESUMO: Objetivou-se analisar a relação relevância e a gravidade do achado em relação
entre a presença do estresse e as condutas à variável tentativa de suicídio.
de saúde de residentes multiprofissionais PALAVRAS-CHAVE: Estresse Relacionado
de um hospital universitário. Realizou-se um a Aspectos da Vida; Condutas de Saúde;
estudo transversal, tipo inquérito, quantitativo, Especialização; Formação Profissional em

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 11 91


Saúde; Atenção Terciária à Saúde.

ABSTRACT: The objective of this study was to analyze the relationship between
the presence of stress and the health behaviors of multiprofessional residents of a
university hospital. It was a cross-sectional, quantitative, descriptive and exploratory
study. The sample consisted of all multiprofessional health residents (RMS) (n=98).
Validated questionnaires were used: ‘National College Health Risk Behavior Survey’,
which evaluates health behaviors through topics such as: tobacco use, eating behavior,
physical activity, alcohol and other drug use, sexual behavior, traffic and violence-related
behaviors; the ‘Stress Symptom Inventory for Adults of Lipp’ that assesses stress. The
dependent variable was stress and the independent health behaviors (n=36), analyzed
by chi-square and Fisher’s exact tests. Most (64%) of RMS did not present a sign of
stress and 46% had some level of stress, being 85% in the resistance phase. There was
a stress association with only a suicide attempt (p=0.0005), the other health behaviors
did not show any association (p>0.05). It is concluded that although the great majority
of the health behaviors analyzed in the present study were not significantly related
to the stress levels among the investigated residents, we defend the relevance and
severity of the finding in relation to the attempted variable of suicide.
KEYWORDS: Stress, Psychological; Health Behavior; Specialization; Health Human
Resource Training; Tertiary Healthcare.

1 | INTRODUÇÃO

No âmbito da educação superior e pós-graduação o fenômeno do estresse vem


sendo amplamente discutido pela literatura mundial, em especial, por sua relação com
a qualidade de vida de estudantes. Definições atuais compreendem o estresse como
um conjunto de reações do organismo, físicas e emocionais, frente a agressões e
situações desafiadoras de origens diversas, capazes de perturbar o equilíbrio interno
(KATSURAYAMA et al., 2011).
Em especial no campo da pós-graduação em saúde, estudantes se deparam
com altas demandas de trabalho, emoções envolvidas no tratamento de pacientes
e o aprendizado de novas habilidades clínicas, os quais frequentemente emergem
como fatores desencadeantes do estresse (FARO, 2013). Ainda, e especificamente
para estudantes de Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS), características
próprias desse cenário institucional como sobrecarga curricular e de trabalho,
ausência de tempo para a vida acadêmica e particular, e incertezas quanto à futura
inserção profissional mostram-se capazes de afetar o ajustamento psicossocial desses
estudantes (POMINI et al., 2018), exigindo reflexões acerca de suas condições de vida
e de trabalho (SILVA et al., 2014).
No desfecho deste contexto de estudo e trabalho, próprio dos programas de RMS,
o estresse e a ansiedade têm sido associados a indicadores negativos de condutas de
saúde, como aumento do uso de drogas e álcool (WHITE; HINGSON, 2013), alterações

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 11 92


de peso (MORI et al., 2017; SOUSA; BARBOSA, 2017), não desenvolvimento de
atividade física, hábitos de dieta inadequados e estilos de vida não saudáveis em
geral (FRATES et al., 2017)​, significando, esses novos hábitos, válvulas de escape
sociais (POMINI et al., 2018). Apesar destas implicações, as relações entre tensão
no ambiente profissional e comportamento em saúde têm sido pouco estudadas
(SANTANA-CARDENAS, 2016) e carecem maior aprofundamento e compreensão.
Nesta perspectiva, as condutas de saúde e os elementos que contribuem para
o bem-estar pessoal devem ser valorizados, entre eles, o controle do estresse, a
nutrição equilibrada e adequada, a atividade física habitual, os comportamentos
preventivos às doenças e o cultivo de relacionamentos sociais (CAMPOS et al., 2016).
Ressalta-se ainda que os mesmos são mediados fatores culturais, sociais, religiosos,
socioeconômicos, ambientais e educacionais.
Sendo as Residências Multiprofissionais em Saúde um cenário novo de espaços
coletivos e multidimensionais que envolvem a associação de atividades de ensino,
aprendizagem e trabalho, a hipótese a ser aqui confirmada é a de que as RMS
possam constituir fonte etiológica para o estresse e para o desencadeamento de
comportamentos não saudáveis entre profissionais residentes.
Frente ao exposto, o presente estudo objetiva analisar a relação entre a presença
do estresse e as condutas de saúde de residentes multiprofissionais de um hospital
universitário.

2 | METODOLOGIA

Realizou-se um estudo transversal, tipo inquérito, com a utilização de metodologia


quantitativa, de caráter exploratório e descritivo.
O estudo foi desenvolvido junto à totalidade de residentes multiprofissionais do
Hospital Universitário Regional dos Campos Gerais (HURCG), na cidade de Ponta
Grossa, estado do Paraná, Brasil (n=98), que se dispuseram livremente a participar. O
programa de residência multiprofissional de eleição abrange profissionais nas áreas de
Fisioterapia, Farmácia, Educação Física, Enfermagem, Serviço Social, Fonoaudiologia
e Odontologia. O ano base para a consulta foi 2018. A coleta de dados foi angariada por
pesquisador treinado, de forma coletiva, em sala de aula. Para tanto, contou-se com
a utilização de dois questionários: o primeiro intitulado “National College Health Risk
Behavior Survey” (NCHRBS), com validação científica nacional (FRANCA; COLARES,
2010), que proporciona uma visão geral das condutas de saúde através da abordagem
de temas centrais como uso do tabaco, comportamento alimentar, prática de atividade
física, uso do álcool e outras drogas, comportamento sexual, segurança no trânsito
e comportamentos relacionados à violência. Para a obtenção de dados relacionados
ao estresse, contou-se com a utilização do instrumento nominado ‘Inventário de
Sintomas de Stress para Adultos de Lipp’- ISSL (Lipp, 2000), sendo que a tabulação

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 11 93


das informações seguiu a proposta do mesmo autor, a qual se baseia em um modelo
quadrifásico (alerta, resistência, quase-exaustão e exaustão).
A variável dependente, presença de estresse, foi dicotomizada em: ‘sem estresse’
e ‘com estresse’. No grupo ‘com estresse’ encontravam-se indivíduos que apresentaram
índices de estresse, independente da fase de evolução. Optou-se pela formação de
um único grupo de estresse em virtude de 88% da amostra estar concentrada em uma
fase, a de resistência.
As variáveis foram analisadas mediante as distribuições de frequência, e o
emprego dos testes qui-quadrado e exato de Fisher para verificar a presença de
associações, sendo considerada a relação entre as condutas de saúde e os níveis de
estresse como base para o cruzamento dos dados. Para análise utilizou-se o programa
Graph Pad In Sat.
Os residentes foram previamente informados sobre os objetivos da pesquisa,
seu caráter de voluntariedade e de não-identificação, assim como sobre a forma de
coleta, análise e destino dos dados. Os que aquiesceram com sua participação, o
fizeram, inicialmente mediante o preenchimento de um Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisas com seres
humanos da Universidade Estadual de Ponta Grossa (parecer nº 2.461.494/2018),
respeitando os ditames da resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.

3 | RESULTADOS

Compuseram a amostra final 98 residentes multiprofissionais em saúde. Destes,


64% não apresentavam nenhum sinal de estresse e 36% algum nível de estresse,
sendo 85% na fase resistência, 9% na fase de quase exaustão, os demais nas fases de
alerta e exaustão (Tabela 01). Os resultados mostraram ainda 94% (n=33) residentes
com estresse apresentaram sintomas psicológicos e apenas 6% (n=2) eventos físicos.
A maioria dos entrevistados era do sexo feminino (n=86;88%); solteiros
(n=77;79%), com média etária de 25,8 anos (21±46).

Sem Com Fase Fase Quase Fase Total da


Fase Alerta
Estresse Estresse Resistência Exaustão Exaustão Amostra
n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%) n (%)
63 (64) 35 (36) 1 (3) 30 (85) 3 (9) 1 (3) 98 (100)

Tabela 01. Distribuição da prevalência do estresse entre residentes multiprofissionais em saúde,


segundo modelo de evolução*.
* LIPP, 2000.

A tabela 02 mostra a distribuição de residentes segundo condutas de saúde e


estresse. Verificou-se que no agrupamento das oito variáveis condizentes à segurança
no trânsito e violência, apenas a tentativa de suicídio apresentou-se significativamente

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 11 94


associada ao grupo de indivíduos com estresse (p<0,0005).
No conjunto de variáveis atinentes ao consumo de tabaco e álcool e outras
drogas as 12 variáveis analisadas com a presença de estresse, nenhuma apresentou
associação significativa (p>0,05). Condição similar foi observada nas questões relativas
ao comportamento sexual e alimentação, atividade física e peso (p>0,05) (Tabela 02).

Sem estresse Com estresse


Condutas (n=63) Condutas (n=35)
Dimensão
Sem Com Sem Com p valor
Conduta
risco risco risco risco
n(%) n(%) n(%) n(%)
Segurança no trânsito e violência
Uso do cinto de segurança banco da
55(87) 8(13) 25(71) 10(29) p=0,0616*
frente
Uso do cinto de segurança banco da trás 14(22) 49(78) 9(26) 26(74) p=0.8044*
Uso de capacete ao andar de moto 26(93) 2(7) 13(100) 0(0) p>0,05*
Uso de capacete ao andar de bicicleta 3(11) 25(89) 0(0) 13(100) p=0,5390*
Andar em um veículo no qual o motorista
26(41) 37(59) 11(30) 26(70) p>0,05*
havia ingerido bebida alcoólica
Andar armado (faca ou arma de fogo) 61(98) 1(2) 37(100) 0(0) p>0,05*
Envolver-se em briga física no último ano 62(98) 1(2) 33(94) 2(6) p=0,2895*
Tentativa de suicídio 63(100) 0(0) 28(80) 7(20) p=0,0005*
Consumo de tabaco e álcool e outras drogas
Já experimentou cigarro 33(53) 29(47) 22(63) 13(37) p=0,4802**
Faz/fez uso regular de cigarro 56(90) 6(10) 29(83) 6(17) p=0,3414*
Tentou parar de fumar 4(57) 3(43) 3(75) 1(25) p>0,05*
Consumo de bebida alcoólica no último
17(27) 45(73) 7(19) 30(81) p=0,4679*
mês
Experimentou maconha 44(70) 19(30) 26(72) 10(28) p=0,9834*
Consumo de maconha no último mês 57(90) 6(10) 32(91) 3(9) p>0,05*
Uso de cocaína, crack ou freebase (ao
63(100) 0(0) 33(94) 2(6) p=0,1252*
longo da vida)
Uso cola, inalação de aerossol ou spray
para ficar fora da realidade ao (ao longo 62(98) 1(2) 31(88) 4(12) p=0,0534*
da vida)
Uso de pílulas ou esteroides sem
62(98) 1(2) 32(94) 2(6) p=0,2803*
prescrição médica (ao longo da vida)
Uso qualquer tipo de droga ilícita como
LSD, PCP, ecstasy, cogumelo, anfetamina
58(92) 5(8) 30(86) 5(14) p=0,3229*
(speed ou ice) e/ou heroína (ao longo da
vida)
Consumo de qualquer tipo de droga ilícita
como LSD, PCP, ecstasy, cogumelo,
63(100) 0(0) 34(97) 1(3) --
anfetamina (speed ou ice) e/ou heroína
no último mês
Utilização de agulhas para injetar drogas
63(100) 0(0) 37(100) 0(0) --
ilícitas (ao longo da vida)
Comportamento sexual
Utilização de preservativo*** 15(30) 35(70) 10(38) 16(62) p=0,6259**
Consumo de álcool previamente ao ato
51(86) 8(14) 25(74) 9(26) p=0,1641*
sexual
Método anticonceptivo

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 11 95


Pílula 35(59) 24(41) 16(48) 17(52) p=0,4328**
Preservativo 22(37) 37(63) 19(58) 14(42) p=0.0971**
Nenhum 57(97) 2(3) 32(97) 1(3) p>0,05*
Outro 50(85) 9(15) 31(94) 2(6) p=0,3163*
Forçado a ter relação sexual 58(94) 4(6) 29(83) 6(17) p=0,1611*
Realizado teste para verificar a presença
40(63) 23(37) 19(54) 16(46) p=0,4985*
de HIV
Alimentação, atividade física e peso
Descrição de seu peso 25(40) 38(60) 13(37) 22(63) p=0,9753*
Realizar dieta para emagrecer ou manter
27(43) 36(57) 17(49) 18(51) p=0,7391*
o peso
Realizar atividade física para perder ou
33(53) 29(47) 14(40) 21(60) p=0,2983*
manter peso
Vomitar ou tomar laxantes para perder ou
62(98) 1(2) 32(91) 3(9) p=0,2803
manter peso
Tomar pílulas para emagrecimento 60(95) 3(5) 32(94) 2(6) p>0,05
Consumo de frutas 45(73) 17(27) 23(66) 12(34) p=0,6323*
Consumo de saladas 47(77) 14(23) 22(63) 13(37) p=0,2103*
Consumo de processados e ou frituras 32(51) 31(49) 17(49) 18(51) p>0,05*
Consumo de doces 15(24) 48(76) 6(17) 29(83) p=0,6074*
Frequência de atividade física 38(60) 25(40) 17(49) 18(51) p=0,3626*

Tabela 02. Distribuição das condutas de saúde, segundo presença de estresse. Paraná, Brasil,
2018(n=98).
* Emprego do teste Exato de Fisher.

** Emprego do teste qui-quadrado.

4 | DISCUSSÃO

No presente estudo, o qual analisa a relação entre presença de estresse e


condutas de saúde entre residentes multiprofissionais de um hospital universitário,
verificou-se que quase metade dos investigados apresentou algum nível de estresse,
confirmando a hipótese inicialmente levantada, de que o universo e o processo que
permeia a residência multiprofissional em saúde constituem fonte etiológica para o
estresse.
Vale destacar que a maioria dos sujeitos que apresentou algum nível de estresse
encontrava-se na fase inicial do fenômeno, a fase de resistência, reconhecida pelo
rompimento do equilíbrio intrínseco do organismo, expondo o indivíduo a maiores
riscos em nível físico e emocional (CAHÚ et al., 2014). Estes achados coadunam com
estudos considerando público similar em âmbito mundial (SERINOLLI; OLIVA; EL-
MAFARJEH, 2015; SOUSA et al., 2017; SANTANA et al., 2018).
Nesse contexto, faz-se indispensável interpretar o estresse como condição
recorrente na sociedade atual, devido à existência de vasta fonte de estressores, os
quais induzem o indivíduo à vivência de rotinas insatisfatórias (WAHED; HASSAN,
2017; FREITAS; SILVA JUNIOR; MACHADO, 2016; TEIXEIRA; SOUZA; VIANA, 2018).
Contudo, a hipótese de que o estresse fosse capaz de desencadear

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 11 96


comportamentos não saudáveis entre profissionais residentes não foi confirmada para
a maioria das condutas de saúde investigadas, apenas para a tentativa de suicídio.
Ainda que não quantitativo, este resultado mostra-se extremamente preocupante, pois
infere em desdobramento negativo máximo para a saúde dos investigados, assim
como, expõe a profundidade e a qualidade da relação entre estresse e condutas de
saúde.
A relação direta entre estresse e tentativa de suicídio está bem consolidada
na literatura nacional (TANG; QIN, 2015; VASCONCELOS-RAPOSO et al., 2016;
TEIXEIRA et al., 2018) e internacional (SMITH et al., 2014; WHO, 2014), e encontra-
se fortemente atrelada ao universo acadêmico e às profissões da área da saúde.
Altos níveis de estresse culminam ao sujeito alguns efeitos como ansiedade, raiva
e desesperança, podendo ser associados a reações psíquicas, além de prejudicar
a capacidade do sujeito em lidar com situações adversas, tornando-o susceptível.
O estresse persistente pode alterar as concentrações de noradrenalina, serotonina,
dopamina e seus receptores, o que pode levar ao aumento da ansiedade e da tristeza,
culminando com o pensamento suicida (SUDOL; MANN, 2017).
Nesse sentido, o campo da RMS apresenta-se imerso em fatores desencadeantes
do estresse. De um lado, o profissional da saúde pode perceber-se incapacitado e
impotente frente ao sofrimento cotidiano das pessoas sob seus cuidados, às cobranças
de seus respectivos familiares e à conexão entre vida, dor e morte (SILVA et al.,
2015; ALMEIDA; BENEDITO; FERREIRA, 2017), e de outro, sentir a sua estabilidade
emocional ameaçada por processos de cunho acadêmico, como o cumprimento
de carga horária teórica em disciplinas e a realização de trabalho de conclusão de
residência.
Além do próprio estresse, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),
existem diversos outros fatores de risco para o suicídio, como: estigma social e
dificuldade ao procurar ajuda, traumas, abusos, falta de suporte social, relacionamentos
conflituosos, transtornos mentais, histórico de tentativas de suicídio, desesperança
e histórico familiar de suicídio (WHO, 2014). Além disso, morar sozinho também é
considerado fator de risco para a ideação suicida (VASCONCELOS-RAPOSO et
al., 2016); bem como o preconceito, pressões acadêmicas, dificuldades financeiras,
afastamento familiar (ALMEIDA et al., 2017), condições rotineiramente permeadas
pelo universo da RMS. Essas situações aumentam os níveis de ansiedade e estresse,
e quando associado a outros fatores de risco a saúde, aumentam a ideação suicida
(ALMEIDA et al., 2017).
Atualmente o suicídio é considerado um grave problema de saúde pública, não
somente pelos altos índices, mas por envolver multifatores, sendo eles socioculturais,
psicossociais e ambientais (TEIXEIRA et al., 2018). A prevalência de tentativas de
suicídio entre profissionais da RMS investigada foi de 7%, valor semelhante a um
estudo realizado com discentes do ensino superior politécnico de Portugal, o qual
evidenciou uma prevalência de 6,5% (GONÇALVES, 2014). Já na pesquisa realizada
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 11 97
com estudantes de psicologia na Colômbia, este número foi bem mais elevado, de
66,7% para homens e 48,5% para mulheres (SEPÚLVEDA; PÉREZ; VALENCIA, 2016).
Neste sentido, é fundamental que se invista em estratégias que minimizem a
tentativa de suicídio e o próprio ato, atuando fortemente nos fatores de risco e de
proteção para o comportamento suicida, principalmente no estresse que, como
visto, é um gatilho para a execução do ato (VASCONCELOS-RAPOSO et al., 2016;
BRASIL, 2017; TEIXEIRA et al., 2018). Neste ínterim, abarca-se a concientização
dos sujeitos e coletivos acerca da saúde mental, levantando-se as discussões acerca
do autoconhecimento enquanto ser humano; desmistificação de estigma em relação
aos transtornos mentais e depressão; concessão de voz ativa à temática suicídio;
acolhimento adequado e oportuno dosserviços de saúde para os sujeitos com ideação
suicida (OPP, 2013). Outra estratégia que pode prevenir suicídios e tentativas é a
restrição do acesso a meios letais, armas de fogo, medicações, pesticidas, incorporação
de ações à prevenção do suicídio pelos serviços de saúde (OPS, 2014).
Ainda que evidenciada esta relação crítica entre o estresse e a tentativa de suicídio,
as demais condutas de saúde investigadas não apresentaram forte relação com o
estresse. Pode inferir-se que, no grupo investigado, o estresse não foi determinante
para embasar as condutas de saúde relacionadas à segurança no trânsito e violência,
consumo de drogas lícitas e ilícitas, comportamento sexual, alimentação, atividade
física e peso, podendo ser estas condutas mais influenciadas por outros fatores, como
predileções individuais arraigadas ao longo da vida ou introduzidas pelo meio onde
vive e questões culturais (BORINE; WANDERLEY; BASSITT, 2015; BENAVENTE et
al., 2017; BELEM et al., 2016).
Não obstante, apesar da baixa influência do estresse nas condutas de saúde,
e da maioria da amostra se encontrar em estado de resistência quanto ao estresse,
não se deve ignorar o fato de o estresse existir. Segundo Lipp (2003), o organismo
humano conta com energia adaptativa a situações estressoras, contudo, se o agente
estressor não for interrompido e o sujeito não tiver estratégias para lidar com a situação
estressora, o organismo esgota sua reserva e as fases do estresse irão progredir,
acarretando a exaustão e com isso o adoecimento (LIPP, 2003) e consequentes
mudanças progressivas nas suas práticas cotidianas (SILVA, 2010).
Neste sentido, faz-se importante a criação de atividades de prevenção ao
estresse nas instituições de ensino, em especial nos hospitais escola que trabalham
com a dupla função, ensino e serviço, através de políticas institucionais, que permitam
que os residentes tenham uma melhor qualidade de vida (VIEIRA; SCHERMANN,
2015). Incentivar a prática de atividades físicas, meditação, terapias em grupo,
(CARPENA; MENEZES, 2017; WANG et al., 2017; FAN; TANG; POSNER, 2014;
GREESON et al., 2014; REGEHR; GLANCY; PITT, 2013), bem como potencializar
estratégias promotoras de boas condutas de saúde, em especial a conscientização
(CAMPOS et al., 2016) entre os residentes podem ser alternativas bastante viáveis
para este fim.
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 11 98
5 | CONCLUSÃO

Ainda que a grande maioria das condutas de saúde analisadas no presente


estudo não tenha se relacionado de forma significante com os níveis de estresse entre
os residentes investigados, defende-se a relevância e a gravidade do achado em
relação à variável tentativa de suicídio.
A desmistificação de crenças sobre a ambiência insalubre de instituições
hospitalares, a importância do cuidar de quem cuida, da observação cautelosa e
ativa da subjetividade do sofrimento de profissionais residentes, o tratar preventivo
de indícios mesiais e distais de inquietação pessoal, profissional e ambiental, e as
evidências científicas entre a presença da ideação suicida e o suicídio consumado
devem ser acautelados por curadores e gestores de hospitais públicos e particulares,
em especial, os que envolvem programas de residência multiprofissional em saúde.

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fatores sociodemográficos em universitários de educação física. Motricidade, v. 12, n. 1, p. 3-16,
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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 11 102


CAPÍTULO 12

RELAÇÕES DE SABER E PODER NA ENFERMAGEM:


CONTRIBUIÇÕES DE MICHAEL FOUCAULT

Marcelen Palu Longhi profissionais de saúde, inclusive em sua


Fundação para o Desenvolvimento Médico e formação. Também está presente na estrutura
Hospitalar, Tupã, São Paulo. arquitetônica hospitalar, permitindo o controle
Bacharel em Enfermagem e Ciências Sociais, e vigilância dos corpos. A segunda dimensão,
Mestre em Saúde Pública.
resistência ao poder instituído: cuidado de
si, trata-se do debate acerca das práticas
que questionam o instituído, as relações de
RESUMO: O presente trabalho denota poder e saber cristalizadas, que se mostram
a importância do pensamento de Michel pela resistência dos trabalhadores diante de
Foucault para reflexão acerca das práticas situações que provocam seu assujeitamento.
de enfermagem. Foucault possibilita uma Neste sentido, se aproximam de uma perspectiva
visão desnaturalizante da história, poder e ética e estética da existência, aproximando-
saber na sociedade moderna. Neste trabalho, se do cuidado de si. Por fim, considera-se a
pretende-se analisar as relações de poder e pertinência do pensamento de Foucault para
saber constituídas no campo da enfermagem, problematização das práticas de enfermagem,
especialmente, no tocante aos corpos que permite problematizar as relações de poder
dos enfermos. Como aparato teórico, nos e saber.
baseamos no entendimento de Foucault acerca PALAVRAS-CHAVES: Relações de poder;
das relações de poder (disciplinar, biopoder, Saber; Enfermagem; Michel Foucault
goverrnamentalidade) e saber, destacando a
possibilidade de práticas resistência às formas RELATIONSHIPS OF KNOWLEDGE AND
de dominação. A metodologia utilizada foi a
POWER IN NURSING: MICHEL FOUCAULT’S
revisão de literatura na biblioteca virtual SciELO,
sendo selecionados 15 publicações para este CONTRIBUTIONS
trabalho. A partir da análise da literatura foram
ABSTRACT: The present work denotes the
construídas duas categorias de discussão.
importance of Michel Foucault’s thinking
A primeira, corpos disciplinados: constructo
for reflection on nursing practices. Foucault
atravessado por relações de poder e saber
provides a denaturing view of history, power
revela que o poder disciplinar perpassa as
and knowledge in modern society. In this work,
práticas de enfermagem no corpo do paciente,
we intend to analyze the relations of power
orienta a organização do fazer dos próprios

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 103


and knowledge constituted in the field of nursing, especially in relation to the bodies
of the patients. As a theoretical apparatus, we rely on Foucault’s understanding of
power relations (disciplinary, biopower, governability) and knowledge, highlighting the
possibility of practices resistance to forms of domination. The methodology used was
the literature review in the SciELO virtual library, being selected 15 publications for this
work. From the analysis of the literature, two categories of discussion were constructed.
The first, disciplined bodies: a construct crossed by relations of power and knowledge
reveals that the disciplinary power permeates the nursing practices in the patient’s
body, guides the organization of the health professionals themselves, including their
training. It is also present in the hospital architectural structure, allowing the control
and vigilance of the bodies. The second dimension, resistance to power instituted:
self-care, is the debate about the practices that question the instituted, the relations of
power and crystallized knowledge, which are shown by the resistance of the workers
in the face of situations that provoke their assujeitamento. In this sense, they approach
an ethical and aesthetic perspective of existence, approaching self-care. Finally, we
consider the relevance of Foucault’s thinking to problematization of nursing practices,
which allows us to problematize the relations of power and knowledge.
KEYWORDS: Power relations; To know; Nursing; Michel Foucault

1 | INTRODUÇÃO

O pensamento de Michel Foucault, ao criticar nossa percepção natural da


história, do saber e poder possibilita a ampliação da discussão em diversos campos de
saberes, como no das práticas de saúde. Neste sentido, as práticas de enfermagem,
incluindo as relações interprofissionais e com os usuários dos serviços de saúde, não
podem ser visualizadas apenas em sua dimensão técnica e curativa, demandam um
olhar aprofundado, desnaturalizante e problematizador.
Focault revela que pretende fazer aparecer o que na nossa história de nossa
cultura permaneceu oculto, ou seja, as relações de poder. Destaca que, curiosamente,
em nossa sociedade as estruturas econômicas são mais conhecidas e inventariadas
que as estruturas de poder político (FOUCAULT, 2002). Na enfermagem, questões
de ordem política tem sido pouco estudadas, especialmente, as relações de poder e
saber, neste sentido mostra-se relevante caminhar por estes mares “pouco navegados”,
que guarda a possibilidade de fazer emergir muitas questões importantes a serem
discutidas.
Wendhausen e Rivera (2005) destacam que Michel Foucault nos mostra que o
que agora nos parece tão natural e óbvio, não foi sempre assim, já que a história foi
construída por homens, que, por sua vez construíram as verdades que os construíram.
Portanto, a reflexão, tendo como referência a história, permite desvelar os processos
de racionalização encobertos, possibilitando nos opormos a todas as formas de
submissão. Permite que nos situemos historicamente, e que problematizemos as
relações de saber e poder inscritas na prática de enfermagem.
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 104
Nesta linha de discussão, pesquisas no campo da enfermagem tem revelado a
necessidade de adoção de uma base teórica que se propõe a questionar seus próprios
sujeitos (cientistas, intelectuais, profissionais, legisladores, governantes, cidadãos
organizados) em relação a si mesmo, suas práticas, seus saberes, seu lugar, não
apenas sob o foco dos grandes temas propostos pela ciência; mas nos espaços
cotidianos do agir, como na saúde, no qual a ciência e a tecnologia conformam
os corpos, os discursos, as ações e as relações entre os sujeitos (RAMOS 2007).
Contribuindo com este debate, Azevedo e Ramos (2003), referem que a enfermagem,
enquanto disciplina profissional vem incorporando ao seu corpo de conhecimento
padrões que extrapolam o empírico, incluindo os padrões estéticos, éticos, pessoais
e sócio-políticos.
Neste trabalho, pretende-se analisar as relações de poder e saber constituídas
no campo da enfermagem, especialmente, no tocante aos corpos dos enfermos. Será
realizada uma revisão bibliográfica a fim de explorar a discussão acerca da temática.

2 | REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Poder, saber e disciplina

Foucault imprimiu uma nova forma de conceber o poder, sendo que ele só existe
mediante a produção da verdade, oriundas das relações de poder e saber. Assim, não
existem práticas sociais sem um regime de verdade por elas engendrado. Evidencia as
práticas de poder antes da constituição do Estado, práticas de encarceramento antes
das prisões e práticas de segregação dos loucos antes dos hospitais psiquiátricos.
O poder só existe por meio das práticas e relações de poder que constituem
o corpo social. O poder moderno não seria apenas uma instância repressiva, mas
uma instância de controle, que acaba por envolver os indivíduos, que produz o real
e os rituais de verdade. De acordo com este contexto, o poder trata-se menos da
repressão da desobediência, focando-se na prevenção de desvios e constituição de
individualidades, sem deixar de produzir relações de forças (SOUZA, 2011).
Aponta que devemos prestar atenção nas técnicas de concretas de formação e
acumulação do saber, ou seja, os métodos de observação, de registro, de pesquisa,
antes de olharmos para as formações culturais de nossa época. O poder moderno
envolve o individuo, em vez de dominá-lo abertamente, o que só é possível num
contexto onde os indivíduos agem livremente. O poder trabalha nas fendas, nas
intersecções, nos espaços reduzidos, atuando principalmente na produção de desvios
e ao mesmo tempo, nas relações de força (SOUZA, 2011).
Uma modalidade de poder estudado por Foucault são as disciplinas. Elas
são práticas que operam no interior das instituições, mas que não se restringem a
uma instituição em especial, afinal, está presente nas instituições especializadas

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 105


(penitenciária), nas instituições que instrumentalizam (escolas, hospitais) e nas
instituições familiares.
Foucault salienta que apesar de qualquer sociedade exercer poder sobre o
corpo, o poder disciplinar apresenta técnicas e características diferenciadas, sendo
que nele se exerce um poder infinitesimal, ou seja, uma coerção constante sobre o
corpo, envolvendo o controle máximo do tempo, de seus gestos, movimentos e atitude.
Realiza-se um controle minucioso das operações do corpo, com a sujeição constante
de suas forças, caracterizando uma relação de docilidade-utilidade (FOUCAULT,
1987).
No contexto da sociedade disciplinar, as cidades modernas foram transformadas
em dispositivos de vigilância, de observação e diferenciação dos grupos humanos. O
Panóptico de Bentham representa a figura arquitetural que revela esse dispositivo de
poder. Foucault, em “Vigiar e Punir”, descreve com detalhes com o panóptico opera:

[...] o princípio é bem conhecido: na periferia uma construção em anel: no centro uma
torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a
construção periférica é dividida e celas, cada uma atravessando toda a espessura
da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo as
janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de
lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar
um loco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da
contraluz, pode-se perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade,
as penas silhuetas cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos
teatros, em cada ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente
visível (FOUCAULT, 1987, p. 223-224).

Foucault destaca que o efeito mais importante do panóptico é assegurar o


funcionamento automático do poder, de modo que a vigilância seja permanente,
atuando como uma máquina de ver sem ser visto, sendo que no anel periférico, o
ser é plenamente vistos, sem, no entanto, se ver; e na torre central, se vê tudo sem
ser visto. Desse modo, o panóptico tem a função de laboratório de poder, no quais
seus mecanismos de observação têm capacidade de penetrar no comportamento dos
homens, constituindo um aumento de saber que pode ser implantado em todas as
frentes de poder.

2.2 Biopoder, Governamentalidade e cuidado de si

Para Foucault, o direito de causar a morte ou deixar viver, característico do poder


soberano de punição, foi substituído por um poder de causar a vida ou devolver a morte,
na sociedade moderna. O poder soberano, por muito tempo, constituiu-se no direito de
vida e de morte, derivado da patria potestas que concedia ao pai de família romano o
direito de retirar a vida de seus filhos e escravos. Este tipo de poder sofreu diversas
transformações ao longo do tempo, sendo que, concretamente, o poder sobre a vida,
desenvolveu-se a partir do século XVII, em duas formas principais que se interligam:
a anátomo-política do corpo humano e a biopolítica da população. A anátomo-política
do corpo centrou-se no corpo como máquina, em seu adestramento, no uso de suas

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 106


forças, em sua utilidade e docilidade características do poder disciplinar. A biopolítica
do corpo desenvolveu-se posteriormente, amparada no corpo-espécie e no controle
e regulação de seus processos biológicos, como o nascimento e mortalidade, o nível
de saúde, a duração da vida, atuando como uma biopolítica da população. Assim, as
disciplinas do corpo e as regulações da população se representam dois polos em torno
dos quais se desenvolveu o poder sobre a vida (FOUCAULT, 1985).
Neste sentido, floresce a era do biopoder, no qual o poder soberano cede lugar
à administração dos corpos e gestão calculista da vida. Desenvolvem-se técnicas
diversas e numerosas que objetivam a sujeição dos corpos e o controle da população,
como observações e políticas relacionadas aos problemas de natalidade, longevidade,
saúde pública, habitação e migração. Foucault destaca que as práticas de biopoder
foram indispensáveis ao desenvolvimento do capitalismo, tanto, no campo do poder
disciplinar quanto no campo da biopolítica dos corpos, afinal, o capitalismo só pode ser
garantido “à custa da inserção controlada dos corpos no aparelho de produção e por
meio de um ajustamento dos fenômenos de população aos processos econômicos”
(FOUCAULT, 1985, p. 132).
E na contrapartida deste poder, apoiado na vida, as forças de resistência se
amparam no seu próprio objeto, ou seja, na vida e no homem enquanto ser vivo. A vida
passa a constituir o escopo das reivindicações, vista como necessidade fundamental
e essência concreta do homem. Tem-se um jogo de inversão: tomou-se a vida como
objeto político ao pé da letra e se voltou contra o sistema que buscava controlá-la.
Michel Foucault se propõe a continuar estudando o biopoder, mas quando
começa trabalhar a questão da governamentalidade, que se relaciona a analítica do
governo, a biopolítica se converter em tema de governo. Assim, as relações de força
e de poder amparam-se na ideia geral de uma relação de governo, caracterizada
tanto pela dimensão de submissão como de resistência, tendo destaque a última, pelo
governo de si (SOUZA, 2011).
De acordo com Pagni (2011b), Foucault pretendia estudar a constituição do modo
de ser do sujeito, não tendo em vistas a construção de uma teoria do sujeito, mas da
forma como o sujeito se constitui, sua subjetivação e as tecnologias utilizadas neste
processo. Neste sentido, realizava mais um deslocamento, a passagem da questão do
sujeito aos modos de subjetivação e a tecnologia de si utilizadas sua na constituição.
Neste sentido, Foucault, nos cursos de 1980, destaca a dimensão da resistência
às formas de governo e produção de novas formas de subjetivação, já que não teria
sentido apenas a objetivação e o assujeitamento no jogo entre governamentalização
e as críticas quanto às formas de governo. Pauta-se em uma perspectiva crítica que
envolve o questionamento de como não ser governado por determinados princípios e
fins, que compõe uma prerrogativa moral e política que pode ser designada como a
“arte de não ser governado de tal forma”. Desta forma, a crítica representa o movimento
por meio do qual o sujeito tem a possibilidade de interrogar o discurso dito verdadeiro
e os efeitos do poder, não se caracterizando como servidão voluntária, mas, pelo
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 107
desassujeitamento, num jogo que poder se denominado como política da verdade
(PAGNI, 2011b).
Em 1982, Michel Foucault, destaca que deseja abordar a relação do sujeito
e verdade, por meio da noção de cuidado de si. Destaca que o cuidado de si, na
cultura grega era denominado de epiméleia heautoû, se referindo ao cuidado de si e
preocupação consigo mesmo. Aponta que a noção de epiméleia heautoû, envolve uma
maneira de ser e formas de reflexão, práticas extremamente importantes na história da
subjetividade. Pagni (2011b) revela que o cuidado de si se configura como: uma atitude
geral para consigo, com os outros e com o mundo; certa forma de olhar que se desloca
de fora para si mesmo e em de práticas, próximas aos exercícios e à meditação; ações
exercidas de si para consigo, por meio das quais, somos modificados, purificados
e transformados. Assim, desde a sua gênese, o cuidado de si se constituiu como
uma atitude ética, um modo de atenção e um conjunto de práticas exercidas sobre si
mesmo no sentido de sua própria transformação, não permitindo que o sujeito se fixe
em uma forma preconcebida e em um eu idêntico a esse si mesmo. Dessa forma, o
cuidado de si (ephiméleia heautoû) representa uma atitude crítica, compromissada
com as práticas de liberdade e com uma vida vivida de acordo com uma estética da
existência.
Assim, o cuidado de si, baseado na tradição greco-romana, como abordado por
Foucault, representa práticas muito importantes de serem retomadas na modernidade,
com vistas à constituição de subjetividades, amparadas na liberdade e na ética,
contrárias a todas as formas de opressão historicamente construídas. Além disso, o
cuidado de si pode ser utilizado como aparato teórico para configuração de diversos
campos de saber, a fim de direcionar práticas sociais com fulcro em uma estética da
existência.

3 | METODOLOGIA

A abordagem empregada neste estudo foi a revisão de literatura. Este método


possibilita o levantamento do que se conhece sobre um determinado assunto a partir
das pesquisas realizadas.
A revisão bibliográfica foi realizada na biblioteca virtual Scientific Electronic
Library Online (SciELO), sendo encontrados 56 artigos ao se empregar os descritores
enfermagem and Foucault. Foram excluídas as produções repetidas e aquelas que
não relacionava o pensamento de Foucault a enfermagem. Após análise sucinta
das publicações e fichamento de 15 artigos selecionados, nota-se a diversificação
de temática abordada e dentre elas destacam-se: as relações de poder saber na
enfermagem e medicina, questões relativas à formação em enfermagem, resistência,
corpos dóceis, disciplina, enfermagem psiquiátrica e cuidado de si. Não houve
delimitação de período na busca, sendo encontrados artigos de 1993 a 2014, estando

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 108


a maior produção concentrado nos anos de 2006 a 2012.
Contudo, estudiosos da temática apontam são poucos as pesquisas que utilizam
este referencial na enfermagem. Em um estudo bibliográfico de maior abrangência,
Gastaldo e Holmes (1999), revela que existem poucos estudos no âmbito internacional
que empregam o referencial foucaultiano na enfermagem. Foram encontradas 27
publicações entre os anos de 1987 e 1998, sendo que a maior parte dos estudos
foi desenvolvida na Austrália, Reino Unido, Brasil, Estados Unidos e Canadá. Os
conceitos utilizados com maior frequência foram: poder/saber, vigilância, discurso,
disciplina, resistência, corpos dóceis, olhar clínico, e panóptipo.
Neste estudo, discutiremos acerca das publicações relacionadas a governabilidade
dos corpos na enfermagem e práticas de resistência.

4 | RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Corpos disciplinados: constructo atravessado por relações de poder e saber

A partir da pesquisa bibliográfica, nota-se que diversos estudos realizam uma


análise do gerenciamento dos corpos na enfermagem na perspectiva de Foucault.
Em um trabalho, são destacadas as relações de poder dos enfermeiros sobre os
corpos hospitalizados durante o cuidado de enfermagem, sendo estabelecida uma
relação direta entre o saber cuidar do corpo e o poder cuidar do corpo. Neste sentido,
o saber científico da enfermagem está associado à prerrogativa de manipular o corpo
(SANTOS et al., 2010). No mesmo estudo, os profissionais de enfermagem referem
que o ato de despir o corpo do paciente, com o tempo se torna banal, se torna rotina
e não percebem que exercem poder e controlam suas manifestações sexuais ao
desnudá-lo. E para que seu controle seja efetivo, o enfermeiro explica e convence o
paciente sobre o procedimento, desenvolve estratégias para evitar sua exposição e
desconforto, dispondo de meios para controlar o corpo sem qualquer interferência.
Vargas e Ramos (2008) destacam que a disciplina é a anatomia política do detalhe,
que estabelece para cada indivíduo seu lugar, seu corpo, sua doença, sua morte, sua
sobrevivência e seu bem-estar e estende-se à determinação final do indivíduo.
Ao discutir sobre o poder disciplinar Foucault (1987) destaca que o corpo humano
entra numa maquinaria de poder que o esquadrinha, o desarticula e o recompõe,
constituindo uma anatomia política e uma mecânica do poder, que define como se
podem ter domínios sobre os corpos, não simplesmente para se faça o que quer, mas
para se operem como se quer. A disciplina fabrica corpos submissos e exercitados,
enfim, corpos dóceis. Também é destacado que ao manipular e controlar o corpo se
produz um saber, que está alinhado às estratégias de poder.
Neste sentido, Santos et al. (2010) destaca que a manipulação dos corpos para a
realização dos procedimentos de enfermagem determina um poder sobre o corpo das

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 109


pessoas hospitalizadas, ao mesmo tempo, se produz um saber que, através do registro
passa a ser de domínio de toda equipe de saúde. Em uma publicação é destacado que
durante a cirurgia, o corpo do paciente, com a abertura da pele até as camadas mais
internas, vai sendo minuciosamente dissecado, olhado e manipulado, constituindo-se
em fonte viva de saber, que posteriormente é incluído nos registros médicos (REUS;
TITTONI, 2012).
Foucault (1987) aponta que o exame faz a individualidade entrar num campo
documentário, resultando em um arquivo com detalhes e minúcias sobre os corpos ao
longo dos dias. Assim, o exame coloca os indivíduos num campo de vigilância, os situa
em uma rede de anotações escritas, sendo acompanhados por um sistema de registro
intenso e acumulação documentária.
Reus e Tittoni (2012) salientam que a disciplina nos mostra a configuração da
ocupação dos espaços hospitalares, afinal a estrutura arquitetônica e disciplinar
possibilita uma visibilidade relativa à vigilância interna. Constitui-se como a arte de
dispor os corpos no espaço e no tempo, arranjá-los para produzirem mais e melhor
dentro de regras institucionais.
Esta discussão nos remete ao panóptico de Betham, visto como um dispositivo
que automatiza e desindividualiza o poder. O princípio do panóptico se concentra numa
certa distribuição de corpos, da superfície, das luzes, dos olhares, numa aparelhagem
cujos mecanismos internos produzem a relação na qual se encontra preso os indivíduos
(FOUCAULT, 1987).
Um estudo enfatiza que a disciplina de anatomia inventou maneiras de conhecer
e controlar o corpo. Dessa forma, se ocupa de produzir e organizar um saber e uma
prática sobre o corpo, tentando catalogá-lo e organizá-lo, utilizando argumentos
naturais, genéticos, que estão sustentadas pela lógica científica que não é contestada.
Além do mais, destaca que o corpo está sempre sendo re-fabricado e reinventado.
Neste sentido, são as relações que constituem os corpos, as práticas sociais,
historicamente datadas, que produzem nossos sentimentos, nossas preferências e
nossa fisiologia (KRUSE, 2004). Wendhausen e Rivera (2005) revelam que na saúde
cuida-se de um corpo biológico, dividido em sistemas ou partes e ainda dividido entre
vários profissionais do cuidado: médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem,
dentre outros.
Nota-se que estes trabalhos trazem uma questão importante para o debate, que
se trata da desnaturalização das práticas de registro dos corpos e da concepção de
corpo, que são construtos sociais e históricos, que por sua vez, corroboram com o
pensamento de Foucault. Essa discussão precisa atravessar os muros do discurso
acadêmico e adentrar a prática das instituições de saúde, especialmente aquelas
relativas ao cuidado em saúde.
Meyer (2006, p. 3) traz questionamentos muito significativos neste sentido:

O cuidado constitui mecanismos de visibilidade que nos permitem detalhar e


descrever o corpo de formas específicas e colocá-lo como objeto de intervenções

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 110


específicas e autônomas? Ao que eu acrescentaria: E dispomos de linguagens para
isso? Que sistemas de validação de conhecimento essas teorias e as comunidades
científicas que investem nelas têm produzido e legitimado?

Em “O Nascimento da Clínica”, Foucault traz algumas contribuições relevantes


para este debate ao afirmar que a medicina moderna se pauta em no olhar do
sofrimento humano, destaca que uma nova forma de “percepção médica, a iluminação
viva das cores e das coisas sob o olhar dos primeiros clínicos, não é, entretanto,
um mito; no início do século XIX, os médicos descreveram o que durante séculos
permanecera, abaixo do limiar do visível e do enunciável” (FOUCAUT, 2001, p. 6).
Aliado ao surgimento da clínica, ao olhar do individuo, torna-se possível organizar uma
linguagem racional, ao contrário das teorias e velho sistemas amparados na metafísica,
que criou a possibilidade de uma experiência clínica, possibilitando o pronunciar o
indivíduo sobre um discurso científico. E desde a constituição da clínica até os dias
atuais tem se empregado o discurso positivista para descrever, classificar e normatizar
os indivíduos que necessitam de cuidados de saúde.
O estudo bibliográfico também revela que a lógica dos cuidados paliativos
de saúde, ou seja, nos quais os pacientes não possuem prognóstico, favorece o
governo dos corpos dos pacientes e de seus familiares, uma vez que os profissionais
de saúde visam conhecer o paciente por meio da confissão, estruturada pelas
anamneses e questionários multidimensionais que favorecem o controle das condutas,
comportamentos e hábitos. Em muitos casos, os pacientes são retirados dos hospitais
e encaminhados ao domicílio, mesmo contra a sua vontade e de seus familiares que se
sentem inseguros diante da possibilidade de sofrimento, porém mantêm- se o foco na
redução dos custos com internações em leitos hospitalares. E são por meio das visitas,
semanais ou quinzenais, realizadas pelos profissionais de saúde, que se assegura o
controle e o governo do corpo das pessoas em processo de morrer, mesmo com a
mudança de cenário (CORDEIRO, 2013).
Esta discussão revela que no âmbito da assistência clínica são constituídos
mecanismos de controle e governo dos corpos mesmo fora do espaço hospitalar, no
qual a associação de dispositivos de poder e saber visa disciplinar indivíduos e seus
familiares, até nos momentos finais da vida dos enfermos.
A pesquisa bibliográfica mostra ainda que as relações de poder/saber e controle,
além de estar presente nos corpos dos pacientes, também disciplina o corpo dos
trabalhadores. Reus e Tittoni (2012) apontam que no processo de trabalho os corpos
dos trabalhadores estão dispostos no tempo e no espaço, bem como a organização
de materiais de trabalho, como instrumentais cirúrgicos e equipamentos. Salienta a
vigilância como elemento fundamental no centro cirúrgico, no qual, o corpo do paciente
deve ser constantemente vigiado, preparado, manipulado por todos os profissionais; o
corpo do cirurgião, por sua vez, deve ser constantemente vigiado pela instrumentadora,
em busca de sinais que indiquem quais materiais devem ser fornecidos; e o corpo
dos técnicos de enfermagem deve ser constantemente vigiado pela supervisão do

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 111


enfermeiro, formando assim, todo um sistema de vigilância que visa permitir e corrigir
atitudes e intenções. Por fim, retrata o centro cirúrgico como um espaço do olhar, da
vigilância e do controle.
O governo dos corpos dos profissionais de enfermagem também se mostra
presente na sua formação, sendo revelado em um estudo que

Somos constantemente subjetivadas pelos discursos pedagógicos que nos


atravessam e que (con) formam não apenas nossas mentes e ações, mas também
controlam nossos corpos.

O currículo pode ser pensado como um dos dispositivos pedagógicos que interpela
o corpo das futuras enfermeiras (en) formando-as e governando-as de acordo com
as lógicas do mercado, fabricando e adestrando seus corpos. Desta maneira,
apesar da aparente (in)visibilidade dos corpos constituídos no/pelo currículo,
acreditamos que o corpo da profissional de enfermagem vai sendo investido e
moldado nas Escolas de Enfermagem. (NIEMEYER; SILVA; KRUSE; 2010, não
paginado).

No mesmo trabalho é enfatizado que as Diretrizes de Enfermagem pretendem


formar certo tipo de profissional estabelecendo determinados padrões e critérios,
funcionando como um instrumento, ao mesmo tempo regulador, regulamentador,
normalizador e normatizador que age sobre os corpos, tanto de professoras, quanto
das acadêmicas de enfermagem. Esse documento passa a regular as condutas dos
sujeitos envolvidos nesse processo de educação e, além disso, “passa a estabelecer
uma norma na formação de enfermeiras - norma que os indivíduos não podem ou não
devem escapar.” (NIEMEYER; SILVA; KRUSE, 2010, não paginado). Revelam ainda
que as diretrizes regulam, modelam e governam esses corpos, desde o início de sua
formação profissional, com vista a transformá-los em corpos dóceis, impondo-lhes
uma relação de docilidade-utilidade. Além disso, veiculam um discurso que é o da
regra natural, ou seja, da norma e define um código da normalização, um tipo de poder
e de saber que a sacralização científica neutraliza.
Concernente com esta questão pode-se se destacar o poder da norma, que
veio unir-se a outros poderes criando delimitações. O normal se estabelece como
princípio de coerção no ensino, com a instauração de uma educação estandartilizada
e a criação de escolas normas. Dessa forma, se estabelece um esforço para organizar
um corpo médico e um quadro hospitalar capazes de fazer funcionar as normas gerais
de saúde (FOUCAULT, 1987). E para este fim são empregados os dispositivos do
poder disciplinar, mesmo no espaço de formação, que em tese deveria fomentar uma
visão crítica da sociedade.
A partir da apresentação e discussão dos estudos presentes na revisão bibliográfica
pode se inferir que o corpo na enfermagem tem sido visto como permeado pelo poder
disciplinar, que atravessa o corpo do paciente, dos profissionais de saúde e de toda
estrutura arquitetônica hospitalar. É possível perceber que este corpo controlado
pelo poder, constitui um saber, que acaba sendo retroalimentado pelo mecanismo de
poder. Esse debate na literatura científica em enfermagem mostra que Foucault tem

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 112


possibilitado a problematização das práticas profissionais em saúde e além do mais,
revela-se como um referencial coerente e com uma visão crítica que vem sendo, de
certo modo, amplamente utilizado na pesquisa em enfermagem.

4.2 Resistência ao poder instituído: cuidado de si

A revisão de literatura evidenciou discussões referentes às práticas de resistência


presentes na produção de enfermagem. Assim, uma temática abordada com certa
frequência na produção de enfermagem trata-se das práticas de resistência. Ribeiro
(1999) destaca que a partir do momento em que há uma relação de poder também há
uma possibilidade de resistência, dessa forma, sempre há a possibilidade de modificar
uma dominação sob determinadas condições.
Estudos têm apontado à importância de estudar as práticas de resistência na
enfermagem. Um trabalho revela que poderíamos problematizar situações vivenciadas
no cotidiano da enfermagem, como as conformações de diferentes sujeitos em
movimentos hegemônicos e contra hegemônicos na constituição de saberes e práticas,
ou seja, relações de poder e resistência (AZEVEDO; RAMOS, 2003). Uma publicação
refere que é preciso estranhar-se com fatos diários, com relações instituídas, intrigar-
se com o que se considera natural, sendo que “o perigo se encontra nas situações mais
evidentes e banais, demonstrando a necessidade de rever racionalidades impostas
pela sociedade e também pela própria construção, como sujeitos e trabalhadores de
enfermagem.” (BARLEM et al., 2013, não paginado).
Neste mesmo estudo, que procurou compreender o sofrimento moral dos
trabalhadores de enfermagem, considera-se que a possibilidade de resistência permite
um novo olhar sobre os diversos campos relacionais da enfermagem, revelando que
lutas, saberes, práticas e estratégias de enfrentamento têm possibilitado a defesa
de valores morais e profissionais, na construção moral dos sujeitos trabalhadores de
enfermagem, especialmente nas situações em que se vivencia o sofrimento moral
(BARLEM et al., 2013). Um trabalho semelhante destaca que há diversas possibilidades
de invenção e criação de múltiplos modos de trabalhar, por meio de resistências,
desse modo, a produção de saúde pode ser construída a partir do reconhecimento das
experiências dos trabalhadores e como sujeitos capazes de produzir novas alternativas
de vida frente as situações potencialmente nocivas de trabalho (GUAZINA; TITTONI,
2009).
A partir desta discussão pode-se notar que na enfermagem têm sido produzidas
práticas que questionam o instituído, as relações de poder e saber cristalizadas, a partir
da resistência dos trabalhadores diante de situações que provocam seu assujeitamento.
Pagni (2011a) refere que a expectativa política compreendida por certa interpelação e
resistência aos modos de existência que não são mais suportados ou admitidos para
guiar a vida individual e coletiva, caminham no sentido de uma perspectiva ética de
viver a vida.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 113


Assim, ao se estudar a problemática da resistência concebe-se a importância de
recorrer à ética. Neste sentido, uma publicação pretende refletir sobre qual tem sido o
papel da bioética. Ao realizar esta abordagem traz alguns questionamentos:

Que pode fazer a bioética? Comprometida em sugerir um tratamento dos efeitos,


e não em procurar as causas, e menos ainda em modificá-las, não será ela por
definição, como pretenderão seus críticos mais severos, incapaz de produzir
uma reflexão que vá atrás dos problemas, fechada numa gestão especializada
dos processos em curso, dependendo, na sua própria visão, dos poderes de que
emana? (RAMOS, 2007, p. 6).

No mesmo estudo é enfatizada que apesar das contribuições da vertente norte-


americana da bioética fundada, pragmaticamente, em torno dos caminhos de ação
para enfrentar os problemas relativos aos direitos individuais e à relação profissional-
cliente na prática clínica, cabe-nos retomar as demandas por uma macroética, dirigida
para as necessidades de comunidades ou populações e a própria defesa da vida em
grande escala (RAMOS, 2007).
E avançando, nesta discussão, produções de enfermagem têm apontam para a
estética da existência, como práticas de subjetivação diante das formas de opressão.
Reus e Tittoni (2012) defendem a construção de uma arte de viver, do desenvolvimento
de uma estética da existência concebida como uma sensibilidade indispensável na
reflexão sobre as escolhas do sujeito, por meio da qual, os indivíduos podem resistir
às formas de dominação.
De acordo com Barlem et al. (2013) na enfermagem a recorrência de situações
levam à necessidade de se repensar sua prática profissional envolvendo as relações
de poder, direciona as ações para uma perspectiva ético-estética. Wendhausen e
Rivera (2005) contribuem com este debate ao afirmar que uma estética da existência
pressupõe uma atitude ética solidária e representa uma das saídas para nos fortalecer
como cuidadores e poderia ser pensada a partir do fortalecimento das relações no
âmbito coletivo. Referem que é no grupo que se experimenta o sentimento de pertencer,
de nos se sentir incluído, questões fundamentais para o reforço de nossa identidade
individual e coletiva e para as práticas de liberdade no nível microssocial. Esse
coletivo a que se reporta não se constitui em algo distante, ele está presente em nosso
cotidiano, em meio aos conflitos e à adversidade, como, por exemplo, nos eventos de
enfermagem ou de saúde, que possibilita formas de se pensar coletivamente o trabalho.
Por fim, colocam que a análise da história sobre o desenvolvimento do cuidado de si
nos gregos e cristãos, de acordo com Foucault, possibilita a compreensão da relação
entre saber-verdade-poder-liberdade, e apontam que

Esta pode ser a chave para a enfermagem na busca de uma estética da existência
em consonância com princípios éticos solidários, cujo princípio é o cuidado
de si, tomando outro como referência para a reflexão-ação. Cabe a nós como
enfermagem forjar espaços que nos permitam desvincular determinadas verdades
e poderes que nos foram impostos ao longo do tempo, tornando-nos alienadas e
desumanizadas em nosso trabalho. O importante é que estes espaços possam servir
como resistência ao ethos burocratizante, homogeinizador, ao ‘rolo compressor’

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 114


que passa sobre nós diariamente. (WENDHAUSEN; RIVERA, 2005, não paginado).

Estes trabalhos apontam que um caminho para a enfermagem, que se trata da


busca da estética da existência em consonância com a noção de cuidado si. Pagni
(2011a) fomenta esta discussão ao afirmar que Foucault pautado em uma estética da
existência e do fazer da vida uma obra de arte aborda as práticas de si como meio para
se alçar a liberdade e retoma a tradição grega, compreendo-a como uma condição
ontológica da ética que, por sua vez, é a forma refletida da liberdade. Contudo, de
acordo com o pensamento foucaultiano, tal condição não seria algum pressuposto a
priori, mas concretiza-se em uma série de práticas que implicariam o cuidado de si.
O exercício das práticas de si deveria ser considerado como a busca por práticas de
liberdade, isto é, práticas que possam ser escolhas éticas no sentido da potencialização
da vida e do aprimoramento da existência. Estas práticas são consideradas por ele
como formadoras de modos de existência, contrapondo-se à imobilidade das relações
de poder e à sedimentação dos estados de dominação.
Em outro estudo, Wendhausen e Rivera (2005) descrevem o cuidado de si como
sendo o modo como nos ocupamos de nós mesmos. Pode se constituir nos momentos
de “parada para pensar”, para examinar o que e porque fizemos, rever nosso passado,
enfim, ficar face a face com nós mesmos. Porém, este não pode ser um exercício de
solidão, já que este diálogo conosco pressupõe uma articulação com o outro, seja
este outro um professor, um amigo, um usuário. Assim, uma das condições para nos
cuidarmos, é estar em conexão conosco e com os outros.
Em um artigo o cuidado de si é aquele que só pode ser percebido como essencial
para o ser humano, a partir do momento que as pessoas tomam consciência do
seu direito de viver e do seu estilo de vida, pois quando as pessoas se encontram
aparentemente bem e saudável, não se dá a devida importância ao constante exercício
do cuidar de si. É realizado por meio das técnicas de si que permitem aos indivíduos
realizarem, sozinhos ou com a ajuda de outros, operações sobre seus corpos e suas
almas, seus pensamentos, suas condutas, seus modos de ser (SILVA et al., 2009).
Uma publicação aponta o cuidado de si relacionado a sensibilidade reflexiva,
que remete ao principio grego fundamental de ocupar-se consigo, caracterizando
uma atitude filosófica ao longo de quase toda a cultura grega, helenística e romana,
e que significou um acontecimento no pensamento e na concepção subjetiva do
sujeito moderno. Neste sentido, com base em Foucault, salientam que o cuidado de
si apresenta-se como “uma maneira de ser, uma atitude, e como forma de reflexão.
Cuidar de si implica munir-se de instrumentos éticos que façam o sujeito refletir sobre
regras e princípios que são, simultaneamente, verdades e prescrições.” (REUS;
TITTONI, 2012, p. 20).
O cuidado de si mesmo é utilizado por Foucault para e traduzir uma noção
complexa e rica que os gregos utilizavam para designar uma série de atitudes ligadas
ao cuidado de si mesmo, ao fato de ocupar-se e de preocupar-se consigo o cuidado de

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 115


si é entendido como um conjunto de práticas políticas e tem como propósito produzir
acontecimentos políticos. Dessa forma, o cuidado de si mesmo é uma atitude ligada
ao exercício da política, a certa maneira de encarar as coisas, de estar no mundo, de
relacionar-se com o outro e consigo mesmo, de agir de si para consigo, de modificar-
se, purificar-se, e se transformar. Este modo de cuidar-se remete o sujeito à reflexão
sobre seu modo de ser e agir, conferindo ao cuidado de si, além de uma dimensão
política, uma noção da ética como estética da existência (BUB et al., 2006).
A partir dos entendimentos de cuidado de si apresentados nos estudos, pode-
se afirmar, que todos apresentam à dimensão da resistência as formas de governo,
caracterizadas pelo assujeitamento, objetivando a produção de uma nova forma de
subjetivação. Bub et al. (2006) apontam que nas pesquisas de enfermagem, a noção
de cuidado de si aparece ligada a concepção de sujeito, como alguém que exerce uma
técnica de cuidado de si, que se opõe a qualquer tipo de sujeição.

5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

A revisão de literatura nos permite afirmar o poder disciplinar se revela no corpo


do paciente, dos profissionais de saúde, inclusive em sua formação, e em de toda
estrutura arquitetônica hospitalar. É possível perceber que este corpo controlado pelo
poder, constitui um saber, que acaba sendo retroalimentado pelo mecanismo de poder.
Contudo, são produzidas práticas que questionam o instituído, as relações de poder
e saber cristalizadas, que se revelam pela resistência dos trabalhadores diante de
situações que provocam seu assujeitamento. Aproximando-se de uma visão ética e
estética da existência, pautada no cuidado de si.
Nota-se que estes estudos apesar de representar um movimento incipiente, tímido
e contra hegemônico do saber em saúde, dominado pelo saber médico positivista com
base no organismo biológico, engendra novas possibilidades de práticas e saberes,
que alargam o horizonte do fazer em enfermagem.
Este trabalho nos permite considerar que Foucault possibilita a problematização
e desnaturalização de práticas e saberes em diversos campos do conhecimento, e sua
relevância ao ser empregado como referencial para discussão do poder instituído na
enfermagem.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 12 118


CAPÍTULO 13

RISCO EM REPROCESSAMENTO DE PRODUTOS


PARA SAÚDE EM UNIDADES BÁSICAS DE
SALVADOR, BA

Eliana Auxiliadora Magalhães Costa produtos são desempenhadas pelo auxiliar


Universidade do Estado da Bahia / Departamento de saúde bucal em 81,8%. Há ausência
de Ciências da Vida I de climatização em 100,0% dos CME.
Salvador – Bahia Existem protocolos em 36,3% dos CME. O
Quézia Nunes Frois dos Santos monitoramento físico e químico do processo de
Universidade do Estado da Bahia / Departamento esterilização é ausente em 100,0% dos casos
de Ciências da Vida I
e o monitoramento biológico é realizado em
Salvador – Bahia 45,4% dos casos. Em nenhum CME é realizada
Isabele dos Santos Dantas qualificação térmica anual do equipamento
Universidade do Estado da Bahia / Departamento esterilizador, nem existe rastreabilidade dos
de Ciências da Vida I
produtos esterilizados. Conclusões: As práticas
Salvador – Bahia
ora identificadas configuram risco potencial
para os usuários de produtos processados nas
UBS estudadas e urge um controle sanitário
RESUMO: Introdução: Existem lacunas acerca efetivo desses serviços a fim de prevenir os
do processamento de produtos em serviços danos relacionados com o reuso de produtos
de atenção primária da saúde. Objetivo: para a saúde nesses serviços.
Analisar o processamento de produtos para a PALAVRAS-CHAVE: Esterilização;
saúde em Unidades Básicas de Salvador, BA. Equipamentos e Provisões; Gestão de Risco;
Método: Estudo de casos múltiplos, realizada Centros de Saúde
em Unidades Básicas de Saúde (UBS) de
Salvador, Ba. A busca de dados foi feita por ABSTRACT: Introduction: There are gaps
meio de entrevista e observação in loco. As in the reprocessing of products in primary
categorias analíticas foram: gerenciamento health care services. Objective: To analyze
das práticas de processamento de produtos the reprocessing of medical products in Basic
para a saúde; estrutura física dos Centros de Units of Salvador, BA. Method: Multiple case
Material e Esterilização (CME); protocolos de study, carried out in Basic Health Units (UBS) of
processamento de produtos; monitoramento Salvador. The search for data was by interview
dos processos e rastreabilidade de produtos. and observation in loco. The analytical categories:
Resultados: Foram analisadas 11 UBS (84,6%). management of the reprocessing practices
Dessas, as atividades de processamento de of medical products; Physical structure of the

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 13 119


Material and Sterilization Centers (CME); Product reprocessing protocols; Monitoring
of processes and traceability of products. Results: 11 UBS (84.6%) were analyzed.
Of these, the reprocessing activities of products are carried out by the auxiliary of
oral health in 81.8%. Absence of air conditioning in 100.0% of CME. Protocols exist in
36.3% of CME. Physical and chemical monitoring of the sterilization process is absent
in 100.0% of the cases and biological monitoring is performed in 45.4% of the cases.
In no CME is performed annual thermal qualification of the sterilizing equipment, nor
is there traceability of the sterilized products. Conclusions: The practices identified
herein pose a potential risk to users of reprocessed products and urges an effective
sanitary control of these services in order to prevent damages related to the reuse of
medical products.
KEYWORDS: Sterilization; Equipment and Supplies; Risk Management; Health
Centers

1 | INTRODUÇÃO

Os produtos para saúde ou dispositivos, equipamentos, materiais, instrumentos,


utilizados nos procedimentos assistenciais são definidos pelo fabricante como artigos
reusáveis ou de uso único. Esses últimos, intencionados para serem usados em um
único paciente, num único procedimento. A reutilização dos produtos ditos reusáveis
requer a ação do processamento, que consiste em converter um produto contaminado
em um dispositivo pronto para uso, incluindo não apenas a limpeza, desinfecção e
esterilização do produto, mas também a segurança técnico-funcional por meio de
testes de integridade e de funcionalidade (KRAFT, 2008; GROBKOPF; JAKEL, 2008;
KRUGER, 2008).
É consenso na literatura que a prática de processamento de produtos para
saúde é questão complexa pelos riscos relacionados ao potencial de transmissão de
patógenos e problemas da integridade e desempenho dos produtos reusados (COSTA
Eliana, Costa Ediná, 2011a, 2011b, 2012; COSTA, 2013; COSTA et al, 2011).
Sabe-se que todo produto para saúde, usado na prática assistencial, porta certo
grau de risco e que pode causar problemas em determinadas situações, neste sentido,
não existe segurança absoluta quando do uso desses materiais (ISO, 2007; GHTF
Study Group 3, 2005; ABNT, 2009).
O risco de transmissão de agentes infecciosos por meio do uso de instrumentos
e equipamentos depende de alguns fatores, como a presença de micro-organismos
(tipo, quantitativo e virulência), o tipo de procedimento a ser realizado (se invasivo ou
não), o sítio do corpo onde o produto será inserido12.
Ademais, a utilização de qualquer dispositivo requer a interação entre o profissional
de saúde e o paciente que incorpore o risco relacionado com a performance/habilidade/
qualidade desse ator-cuidador no momento da utilização do produto para a saúde no
procedimento assistencial (ISO, 2007; GHTF Study Group 3, 2005; ABNT, 2009.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 13 120


Essas assertivas de risco decorrente do uso de produtos são potencializadas
quando da condição de reúso e de processamento dos produtos, uma vez que os
múltiplos passos desse processo, quando executados de forma inapropriada, geram
riscos adicionais para pacientes usuários, profissionais de saúde e meio ambiente
(KRAFT, 2008; GROBKOPF; JAKEL, 2008; KRUGER, 2008).
Entre os riscos associados ao processamento e ao reúso de produtos para saúde,
são reportados na literatura, infecção, presença de endotoxinas, biofilmes, perda da
integridade do material, bioincompatibilidade, entre outros (KRAFT, 2008; KRUGER,
2008; COSTA Eliana, COSTA Ediná, 2011a, 2011b, 2012; COSTA, 2013; COSTA et al,
2011).
A maioria dos dados publicados acerca dessas práticas origina-se de serviços
hospitalares. Existe uma lacuna referente às práticas brasileiras de processamento de
produtos em serviços de atenção primária da saúde, com poucos estudos publicados
(ROSEIRA et al, 2016; COSTA; FREITAS, 2009; PASSOS et al, 2015), o que gera a
necessidade, portanto, de maior conhecimento desses processos de trabalho.
Neste sentido, este estudo prioriza o risco decorrente da condição de reuso de
produtos para saúde em serviços de atenção primária da saúde e tem por objetivo
analisar o processamento de produtos para a saúde em Unidades Básicas de Salvador,
Bahia (BA), tendo em vista a segurança sanitária e a proteção da saúde da população
usuária de produtos processados.

2 | METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa avaliativa, cuja estratégia metodológica é a de estudo


descritivo de casos múltiplos holísticos. Um estudo de caso é uma investigação
empírica que analisa um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto da vida
real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão
claramente definidos, tendo lugar de destaque na pesquisa de avaliação. Inclui tantos
estudos de caso único (uma unidade sob avaliação), quanto de casos múltiplos (várias
unidades sob avaliação). Eles são classificados como holísticos se possuírem apenas
uma unidade de análise (YIN, 2005).
A unidade de análise deste estudo é a condição técnica de processamento de
produtos para a saúde em Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Distrito Sanitário
do Cabula-Beiru localizado na cidade de Salvador, BA, que serão chamados, nesta
metodologia, de “casos”.
A escolha desse distrito sanitário deveu-se ao fato dele ser um distrito de
grande densidade geográfica e populacional, que abriga muitas UBS e onde se
localiza a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), sede desse projeto de Iniciação
Científica, que foi aprovado pelo Comitê de Ética da instituição com protocolo número
15277713.0.0000.0057.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 13 121


Participaram do estudo UBS localizadas no distrito sanitário eleito e que possuíam
Centro de Material e Esterilização (CME), identificadas por meio do Cadastrado
Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). As estratégias utilizadas para
a busca de evidências empíricas foram entrevistas por meio de um formulário com
perguntas semiestruturadas com profissionais dos CME estudados e observação in
loco.
As UBS selecionadas foram contatadas por telefone, quando se agendou visita
para coleta de dados. A coleta de dados transcorreu durante os meses de outubro
a dezembro de 2016 e foi realizada por duas discentes do 7º semestre do curso de
Enfermagem, devidamente treinadas para esse fim, sob supervisão da coordenadora
do projeto. Foram entrevistados os profissionais que estavam trabalhando nos CME
no dia da coleta.
Foram estudadas as seguintes variáveis independentes que influenciam as
condições do processamento de produtos para a saúde: 1) Gerenciamento das
práticas de processamento de produtos; 2) Estrutura física dos CME; 3) Protocolos
de processamento de produtos; 4) Monitoramento dos processos de desinfecção e
esterilização e rastreabilidade de produtos após esterilização.
O formulário da coleta de dados foi elaborado de modo a contemplar as variáveis
a serem analisadas, tendo como padrão-ouro a normativa da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) que trata de boas práticas em CME (ANIVSA, 2012) e
recomendações de órgãos nacionais e internacionais (RUTALA; WEBWE, 2011; WHO,
2016; RUTALA; WEBER, 2008).
Neste estudo foi utilizado o termo “produto para saúde” como sinônimo de
produtos médicos, materiais, equipamentos, artigos e dispositivos em sintonia com a
Anvisa.

3 | RESULTADOS

O Distrito Sanitário Cabula-Beiru possui 25 UBS, destas, nove não dispõem de


CME, duas são UBS não oficiais e sem contato telefônico, uma localiza-se dentro de um
complexo penitenciário e, portanto, inacessível à pesquisa, duas unidades recusaram
participar desse estudo, resultando num total de 11 (84,6%) UBS analisadas.
A descrição dos resultados dos dados empíricos deste estudo foi iniciada pela
caracterização da estrutura física dos CME dos casos múltiplos, conforme Tabela 1.
Os dados apresentados na Tabela 1 revelam que a maioria dos CME das UBS
estudadas possuem adequações relacionadas à estrutura física: 72,7% (oito casos)
apresentam barreira física entre as atividades de descontaminação de produtos
e atividades de desinfecção ou esterilização; em 81,8% (nove casos), existe sala
de recepção dos produtos destinados à limpeza e sala de preparo e esterilização;
os ambientes de oito CME (72,7%) são passíveis de limpeza (possuem materiais

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 13 122


resistentes à ação da água, detergente e desinfetante) e têm iluminação artificial
em 90,9% (dez casos). As inadequações de estrutura física identificadas foram:
ausência de climatização central em todas as CME (100,0%) e inexistência da sala de
desinfecção química em nove casos (81,8%).

Sim Não Total UBS


Barreira física entre as atividades 8 (72,7%) 3 (27,2%) 11

Existência de sala de recepção/limpeza 9 (81,8%) 2 (18,1%) 11

Existência de sala de preparo e


esterilização 9 (81,8%) 2 (18,1%) 11

Sala de desinfecção 3 (27,2%) 8 (72,7%) 11

Ambientes passíveis de limpeza 8 (72,7%) 3 (27,2%) 11

Iluminação artificial 10 (90,9%) 1 (9%) 11

Climatização central 0 11(100%) 11

Tabela 1. Estrutura física dos Centros de Material e Esterilização das Unidades Básicas de
Saúde estudadas. Salvador, 2016.

A Tabela 2 apresenta as práticas de gerenciamento do processamento de


produtos para a saúde nas UBS estudadas.
Segundo os dados da Tabela 2, dos 11 casos analisadas, sete (63,6%) centralizam
todas as atividades de limpeza, desinfecção e esterilização nos seus CME e essas
atividades são desempenhadas pelo auxiliar de saúde bucal em nove casos (81,8%).
Os produtos para saúde utilizados nos CME estudados possuem registro na
Anvisa em 90,9% dos casos (dez). Os profissionais responsáveis pelas atividades
relacionadas ao processamento de produtos estão imunizados contra o vírus da
Hepatite B, Difteria e Tétano em 90,9% dos casos (dez CME), apesar de que, em
apenas quatro desses casos (36,3%), há protocolos para prevenção da exposição
biológica durante atividades laborais.
Nenhum CME estudado reutiliza produtos considerados de uso único e proscritos
de processamento segundo normativa da Anvisa (ANIVSA, 2006).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 13 123


Técnico de Total de
  Auxiliar de saúde bucal
Enfermagem UBS
Profissional responsável pelo RPM 9 (81,8%) 2 (18,1%) 11

Sim Não
Centralização das atividades no CME 7 (63,6%) 4 (36,3%) 11

Fiscalização do CME pela VISA 8 (72,7%) 3 (27,2%) 11

Produtos com registro ANVISA 10 (90,9%) 1 (9%) 11

Existência de Protocolo Biológico 4 (36,3%) 7 (63,6%) 11

Imunização dos profissionais (HBV, Dif, Tet 10 (90,9%) 1 (9%) 11

Reuso de produtos Lista ANVISA RDC


0 11 (100%) 11
2606/2006

Tabela 2. Caracterização dos Centros de Material e Esterilização das Unidades Básicas de


Saúde, segundo o gerenciamento das práticas de reprocessamento de produtos para saúde.
Salvador, 2016.
HBV: Hepatite B; Dif: Difteria e Tet: Tétano.

RPM: Reprocessamento de produtos médicos.

A Vigilância Sanitária fiscaliza no mínimo anualmente 72,7% dos casos


pesquisados (oito CME).
As etapas dos protocolos de processamento de produtos das UBS estudadas
são apresentadas na Tabela 3.

  Sim Não Total UBS


Existência de protocolos das etapas do reprocessamento de PM 4 (36,3%) 7 (63,6%) 11
Critérios p/ avaliar se PM é passível de limpeza 0 11 (100%) 11
Limpeza manual 11 (100%) 0 11
Enxague com água potável e sem filtro 10 (90,9%) 1 (9%) 11
Secagem com pano limpo e seco 7 (63,6%) 4 (36,3%) 11
Secagem com papel toalha 4 (36,3%) 7 (63,6%) 11
Avaliação do processo de limpeza 0 11 (100%) 11
Existência de autoclave gravitacional 5 (45,4%) 6 (54,5%) 11
Papel crepado como embalagem 10 (90,9%) 1 (9%) 11
Identificação do produto estéril: conteúdo e data do
reprocessamento 6 (54,5%) 5 (45,4%) 11
Validade da esterilização baseada no tempo 11 (100%) 0 11

Tabela 3. Caracterização dos Centros de Material e Esterilização das Unidades Básicas de


Saúde, segundo os protocolos de reprocessamento de produtos para saúde. Salvador, 2016.
PPS: Produtos para a saúde.

Pelos dados presentes na Tabela 3, é observada em apenas quatro CME estudadas

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 13 124


(36,3%) a existência de protocolos escritos acerca das etapas que constituem o
processamento de produtos e, em nenhum caso (100,0%), a definição de critérios para
avaliar se o produto é passível de limpeza e, consequentemente, de processamento.
O processo de limpeza em todas os CME (100,0%) é realizado pelo método manual
e o enxágue com água potável e sem filtro antimicrobiano em dez casos (90,9%). A
secagem dos produtos é realizada com pano limpo e seco em sete CME (63,6%) e com
papel toalha em quatro CME (36,3%). Não existe avaliação do processo de limpeza
em nenhum caso (100,0%). O processo de esterilização é realizado pelo método físico
de vapor saturado sob pressão com autoclave gravitacional em cinco casos (45,5%) e
o equipamento esterilizador não é identificado em seis (54,5%).
A embalagem utilizada para a esterilização dos produtos é o papel crepado em
dez CME (90,9%) e os pacotes esterilizados são identificados com o conteúdo do
material e a data do processamento em seis casos (54,5%). A data de validade da
esterilização é baseada segundo o tempo de utilização dos produtos em todos os CME
(100,0%).
O monitoramento dos parâmetros físicos, químicos e biológicos do processo de
esterilização das UBS está descrito na Tabela 4.

Sim Não Total UBS


Monitoramento físico do processo de esterilização 0 0 11

Monitoramento químico do processo de esterilização 0 0 11

Monitoramento biológico do processo de esterilização 5 (45,4%) 6 (54,5%) 11

Qualificação térmica anual das autoclaves 0 11 (100%) 11

Rastreabilidade dos produtos esterilizados 0 11 (100%) 11

Tabela 4. Caracterização dos Centros de Material e Esterilização das Unidades Básicas de


Saúde, segundo o monitoramento do processo de esterilização e rastreabilidade dos produtos
reprocessados. Salvador, 2016.

Inexistem monitoramentos físico e químico do processo de esterilização em


todos os casos e o monitoramento biológico é realizado semanalmente em cinco
CME (45,4%). Em nenhum CME estudada é realizada a qualificação térmica anual do
equipamento esterilizador, nem existe rastreabilidade dos produtos esterilizados.

4 | DISCUSSÃO

Os dados obtidos acerca das práticas de processamento dos produtos para a saúde
dos CME avaliados revelaram inadequações em todas as variáveis independentes
estudadas, descritas a seguir.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 13 125


Em relação à estrutura física, a maioria dos CME (72,7%) possui barreira
física entre as atividades de limpeza e secagem dos artigos contaminados (sala
cujas atividades são consideradas “sujas”) e atividades de preparo, desinfecção e
esterilização de produtos (salas com atividades “limpas”).
Existe sala de recepção dos produtos destinados à limpeza e sala de preparo
e esterilização em 81,8% dos serviços, requisitos físicos desnecessários para CME
existentes em unidades de atenção primária à saúde (APS), serviços esses que não
reprocessam produtos complexos (aqueles com lúmens, fundo cego, tubulares).
Portanto, seus CME são classificados pela RDC no 15, de 15 de março de 2012
da Anvisa, como de classe I, cuja exigência é de “barreira técnica” e não “barreira
física” entre essas atividades. Identificou-se também ausência de climatização central
em todas os CME (100,0%) e inexistência da sala de desinfecção química em nove
casos (81,8%), requisitos obrigatórios e de grande importância para a prevenção da
exposição ocupacional dos trabalhadores durante as atividades de processamento
de produtos. Observa-se, portanto, falha do projeto da estrutura física desses CME,
com destinação inadequada tanto de espaços físicos, quanto de alocação de recursos
materiais.
As atividades de limpeza, desinfecção e esterilização de produtos são
centralizadas nos CME das UBS estudadas em 73,7% dos casos e essas atividades
são desempenhadas pelo “auxiliar de saúde bucal” na grande maioria (81,8%). Isso
aponta para possíveis problemas técnicos, uma vez que esse profissional não possui
qualificação para o desenvolvimento dessas atividades, podendo contribuir para
práticas inadequadas de processamento de produtos.
Ademais, essa situação pode ser caracterizada como um desvio de função e em
desacordo com a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) no 424,
de 19 de abril de 2012, que formaliza a competência do enfermeiro e sua equipe no
processamento de produtos no nosso país (COFEN, 2012). Importante ressaltar que
o Cofen é único Conselho Profissional a definir funções e responsabilidades técnicas
acerca das atividades relacionadas com o processamento de produtos para a saúde
e, portanto, consideramos que esse exercício é privativo da área da Enfermagem
brasileira até então.
Os profissionais responsáveis pelo processamento de produtos estão imunizados
contra Hepatite B, Difteria e Tétano em 90,9% dos casos, a despeito da ausência de
protocolos para prevenção da exposição biológica durante as atividades laborais na
maioria dos CME pesquisados (63,6%), sugerindo que essas imunizações originam
de iniciativas individuais e não institucionalizadas, apontando falhas na política de
biossegurança desses serviços.
A padronização dos protocolos das etapas do processamento de produtos foi
identificada em apenas quatro CME (36,3%), o que denota a falta de planejamento
das atividades nucleares para a reutilização de produtos na maioria desses serviços
avaliados.
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 13 126
O processo de limpeza, essencial para o sucesso das etapas posteriores do
processamento de materiais, é bastante deficiente, dada a ausência de avaliação
desse processo em todos os CME pesquisados, além da inexistência de critérios para
avaliação do produto quanto à possibilidade de limpeza e, consequentemente, de
processamento. A secagem dos materiais após limpeza é realizada com papel toalha
em 36,3% dos serviços, prática inadequada e que pode gerar resíduos no produto
limpo e comprometer o processo posterior de esterilização nesses casos.
O processo de esterilização dos produtos das UBS estudadas também apresenta
fragilidades, a despeito de que, em todos os CME (100,0%), o método de esterilização
para artigos críticos termorresistentes é o vapor saturado sob pressão, método
considerado padrão-ouro para esterilização desses produtos. Entretanto, o tipo do
equipamento esterilizador não é identificado em 54,5% dos CME, o que lança dúvidas
acerca de como esse processo é realizado, uma vez que há um desconhecimento de
como funciona o esterilizador, se por gravidade ou a alto-vácuo e quais seus controles
específicos. Ademais, em nenhum CME estudado é realizada a qualificação térmica
anual da autoclave utilizada nos serviços, processo indispensável para o conhecimento
da performance da máquina e do alcance eficaz dos parâmetros essenciais do
processo de esterilização a vapor, além de crucial para a padronização dos ciclos
de esterilização em relação ao tempo, à temperatura e à pressão a serem ajustados
conforme resultado da qualificação. A ausência desse controle, portanto, significa que
as autoclaves das UBS estudadas estão funcionando de modo empírico, sem controle
dos parâmetros essenciais para o seu funcionamento.
A embalagem utilizada para a esterilização dos produtos é adequada em 90,9%
dos casos, entretanto, a identificação dos produtos esterilizados é deficiente em 54,5%,
com registro apenas do conteúdo do material e da data do processamento. A data de
validade da esterilização é baseada segundo o tempo de utilização dos produtos em
todos os CME (100,0%), configurando uma prática obsoleta, uma vez que a validade
da esterilização está condicionada a um evento que pode contaminar a embalagem e,
consequentemente, o produto esterilizado, e não relacionada com tempos definidos
de esterilização (RUTALA; WEBWE, 2011; WHO, 2016).
Outro elemento a agravar negativamente o processo de esterilização dos CME
estudados é a ausência de monitoramento físico (controles de tempo, temperatura e
pressão de cada ciclo realizado) e químico do processo de esterilização em 100,0%
dos casos. O monitoramento biológico é realizado uma vez por semana em apenas
45,4% dos CME, em total desacordo com a recomendação vigente que preconiza que
esse controle deve ser diário. A ausência dos monitores físicos, químicos e biológicos
da esterilização de produtos lança insegurança em relação à eficácia do processo
esterilizador e consequentemente, desqualifica esse processo. Como utilizar um
produto que requer a condição de esterilidade, se não existe segurança de que o
mesmo está estéril? Essa é uma questão sem resposta nos CME das UBS estudadas,
realidade também identificada em UBS do interior do estado de São Paulo (ROSEIRA
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 13 127
et al, 2016).
Nenhum produto da lista negativa da Resolução Anvisa no 2.605, de 11 de agosto
de 200621, é utilizado nos casos estudados e, nesse sentido, esses serviços atendem
a essa normativa.
A Vigilância Sanitária fiscaliza no mínimo, anualmente, 72,7% dos CME
pesquisados, mas a despeito dessas fiscalizações, as notificações desse órgão
não apontam inadequações relacionadas com o processamento de produtos aqui
descritas, nem existe uma tomada de decisão oriunda do controle sanitário, que possa
ser revertida para a melhoria dos processos de trabalho nos CME estudados.

5 | CONCLUSÃO

Os resultados deste estudo demonstram que a problemática que envolve o


processamento dos produtos para a saúde em serviços hospitalares também é
identificada em serviços de atenção primária à saúde, como os aqui estudados.
Observou-se que o processamento de produtos nos CME estudados é
inadequado, com pontos de fragilidades em todas as etapas do processamento de
produtos, especialmente nos processos de limpeza e esterilização, que contribuem
para a falta de segurança sanitária do reuso de produtos nesses serviços.
Conclui-se, portanto, que as práticas de processamento de produtos das UBS
pesquisadas configuram risco potencial para os usuários de produtos processados
nos serviços de atenção básica estudados e que urge um controle sanitário efetivo
desses serviços a fim de prevenir danos relacionados com o reuso de produtos para
a saúde.

REFERÊNCIAS
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Dispõe sobre o funcionamento de serviços que realizam o processamento de produtos para
saúde e dá outras providências. Diário Oficial União. 16 mar 2012.

ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução - RE Nº 2.605, de 11 de agosto de


2006. Estabelecer a lista de produtos médicos enquadrados como de uso único proibidos de
ser reprocessados, que constam no anexo desta Resolução. Diário Oficial União. 14 ago 2006.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 13 129


CAPÍTULO 14

SENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADE DOS MÉTODOS


DA MEDICINA NUCLEAR NA IDENTIFICAÇÃO E
DIFERENCIAÇÃO DE GLIOMAS

Rayanne Pereira Mendes 1998, variando de 1,78 para 2,83/100 milb.


Emilly Cristina Tavares (MONTEIRO; KOIFMAN, 2003). Desse modo,
Katriny Guimarães Couto é de suma importância o desenvolvimento e
Laura Divina Souza Soares aplicação de elementos que possam aumentar a
Nágila Pereira Mendes
sobrevida desses pacientes e é nesse contexto
que a disseminação da medicina nuclear no séc.
XXI se apresenta como ferramenta promissora.

1 | INTRODUÇÃO Segundo a Organização Mundial de


Saúde os tumores do SNC são divididos em
Os tumores do sistema nervoso central neuroepiteliais, de células germinativas e da
representam apenas 2% das neoplasias, região selar. Os mais comuns são os astrocíticos,
contudo têm morbimortalidade significante por no qual está sublocado o glioma, que são um
acometerem estruturas nobres do organismo. dos tipos de neuroepiteliais. Os gliomas são
Há maior prevalência em pacientes acima tumores provenientes de células da glia. Os de
de 45 anos, sendo mais comuns os gliomas baixo grau são os pilocíticos, representando
de alto grau nessa faixa etária e os gliomas 80% deles, e os fibrilares. Já os de alto grau
de baixo grau nas crianças. É um desafio são os anaplásicos e glioblastoma. A cirurgia é
pediátrico já que na infância o câncer cerebral é indicada sempre em todos os casos de tumor
a neoplasia sólida mais frequente e a segunda ressecável e quando há total remoção a chance
causa de morte por neoplasias, perdendo de cura é excelente. Contudo, quando há
somente para a leucemia (HOFF, 2013). Não massas irressecáveis indica-se a radioterapia
obstante os avanços nas técnicas cirúrgicas e ou a quimioterapia que em associação com
a disseminação do uso da RM na década de carboplastina e vincristina possibilitam a
90, a queda de mortalidade ainda é bem tímida. estabilização ou regressão do tumor em
Houve um declínio de apenas 1,1% ao ano da 70% das vezes. A maioria dos gliomas são
mortalidade relacionada aos tumores de SNC supratentoriais, tendo a possibilidade de uma
de 1975 a 1995 nos Estados Unidos, sendo abordagem cirúrgica, todavia os infratentoriais
que atualmente a sobrevida global é de 50% apesar de terem uma menor incidência, não
(ARAUJO et al., 2011). No Brasil foi observado possuem abordagem cirúrgica e tem mal
até mesmo aumento de mortalidade 1980-
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 14 130
prognósticoa (HOFF, 2013).
Para que haja uma eficácia dos tratamentos, acompanhado de um bom
prognóstico é necessário diagnóstico precoce, estadiamento preciso e correta avaliação
de recorrência pós-tratamento. Para isso, são utilizados principalmente métodos de
imagem convencional que são a tomografia computadorizada (TC) e ressonância
magnética (RM) que tem limitada acurácia em relação à imagem funcional desses
tumores que pode ser obtida com exames de tomografia por emissão de pósitron
(PET) com radiofármacos específicos como marcadores (HOFF, 2013). Este trabalho
destina-se a abordar a acurácia dos métodos diagnósticos da medicina nuclear na
caracterização do glioma, comparando-os com a acurácia dos métodos convencionais.
Assim, essa revisão literária visa discutir qual a orientação adequada da conduta
médica frente aos pacientes com glioma, resultando em um melhor prognóstico.

2 | MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados como banco de dados o Pubmed e Biblioteca Virtual de Saúde


– BVS. As palavras chave utilizadas foram: FDOPA glioma, FGD glioma, MET glioma,
PET-CT glioma, PRGD2 glioma. Para seleção dos estudos, utilizou-se como critério
de inclusão estudos experimentais e revisões bibliográficas que abordassem o tema
‘exames nucleares em casos de glioma’ em português ou inglês, limitados da data de
2010 até 2017. Foram selecionados 10 artigos mais adequados ao tema, de maior
espectro amostral com mais ampla análise.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pelo fato de diversas patologias, a exemplo de infecções, inflamações, acidente


vascular cerebral e doenças desmielinizantes, assemelharem-se aos tumores cerebrais
em exames de imagem, o diagnóstico através desses métodos pode muitas vezes ser
inconclusivo. Isso se deve à impregnação do contraste e também por possuírem efeito
expansivo (ARAGÃO; VALENÇA, 2010). Usualmente, o diagnóstico de tumores no
SNC e estadiamento é feito com RM, TC e a biopsia confirmatória. Pelo fato de serem
métodos anatômicos, podem esbarrar na limitação de identificação de microtumores
da fase inicial, norteamento em cirurgia de ressecção ou recorrências recentes,
sobretudo para avaliação pós-quimioterápica, devido a distorções estruturais causadas
pelo tratamento. Como esse momento é uma fase determinante da conduta médica
que pode ser expectante ou terapêutica, o uso de métodos funcionais pela medicina
nuclear se mostra promissor na melhora do prognóstico dos pacientes com glioma.
O método funcional mais indicado para cânceres de cabeça e pescoço é o PET-CT.
Esse exame se baseia no registro da distribuição in vivo de compostos marcados com
isótopos emissores de pósitrons, administrados por via intravenosa (HOFF, 2013).
Para avaliar glioma podem ser usados diferentes marcadores: 11C-metil-1-
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 14 131
metionina MET-C11, O-(2-[18F]fluoretil)-tirosina (FET-F18), 3,4-dihidroxii-6-[18F]-
fluoro-l-fenilalanina(FDOPA-F18), fluordesoxiglicose marcada com flúor-18 (FDG-F18)
e 68 gálio-BNOTA- PRGD2 (PRGD2-Ga18).
A MET-C11 pode ser eficaz na diferenciação do tumor cerebral metastático
recorrente das alterações induzidas pela radiação. Na quimioterapia alquilante é
também usada como meio de avaliação da eficácia do tratamento. É também útil na
ressecção neurocirúrgica guiada por PET, permitindoum realce de contraste superior
a RM em 80% dos casos e, consequentemente, uma ressecção completa da área
resultando em uma sobrevida maior em pacientes com gliomas de alto grau (GALLDIKS
et al., 2017). Deve-se observar que os parâmetros do MET-PET estão intimamente
correlacionados com o grau histológico do glioma9. Na detecção de gliomas o MET
tem sensibilidade e especificidade 70-80% (GALLDIKS et al., 2017).
O FET-F18, em comparação com a RM pós-operatória de glioblastoma feita nas
primeiras 72 horas, se mostrou mais sensível em 24% dos casos em que a RM foi
falsamente negativa comprovado por histopatologia ou seguimento a curto prazo. A
avaliação desses tumores malignos logo após a cirurgia é importante para garantir
que maior quantidade de tecido neoplásico seja removido. Dessa forma, o uso de FET-
PET após cirurgia e antes da realização de quimiorradiação de glioblastoma tem forte
influência prognóstica. Também, o uso de FET-PET em pacientes com glioblastoma
mostrou uma precisão diagnóstica de 85%, em comparação com a RM convencional,
para diferenciar pseudoprogressão típica (até 12 semanas) e tardia (>12 semanas)
da progressão tumoral verdadeira após radioterapia. Evidencia-se uma sensibilidade
de 95% e especificidade de 91% deste método para detecção de glioma mesmo em
micrometástases. Dessa forma, o uso desse método no tratamento desse câncer além
de melhorar a detecção de recorrência evita os efeitos secundários de tratamentos
excessivos e desnecessários ao doente(GALLDIKS et al., 2017).
A FDOPA-F18 se mostrou eficaz na diferenciação de metástases cerebrais
recorrentes ou progressivas em relação às alterações induzidas pela radiação, com
sensibilidade de 81% e especificidade de 84%. Comparado com a RM a precisão do
FDOPA-PET na detecção de glioma foi 91% superior (GALLDIKS et al., 2017).
Okubo et al. (2010) em estudo comparativo entre MET, FET e FDOPA explicaram
os resultados: “A maior absorção de MET, FET, FDOPA em gliomas e metástases
cerebrais parece ser causada predominantemente pelo aumento do transporte através
do sistema de transporte L para aminoácidos neutro grandes, nomeadamente os
subtipos LAT1 e LAT2”.
Singhal et al. (2007) ainda elucidam que “Uma característica que distingue FET
de MET e FDOPA é a alta estabilidade metabólica de FET”.
O FGD-F18 é o marcador mais utilizado atualmente para diagnóstico de câncer
de cabeça e pescoço por ser um análogo da glicose que se acumula mais intensamente
nas células com alto metabolismo celular como as tumorais. É de mais fácil acesso,
no entanto tem acurácia muito variada para cada tipo de tumora (HOFF, 2013). Sua
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 14 132
acurácia, sensibilidade e especificidade para gliomas em geral são bastante limitadas,
que são de 80, 70 e 97%, respectivamente. Tem sensibilidade inferior à RM em todos
os graus, exceto em grau II, no qual suas sensibilidades são comparáveis (95 e 90%).
No entanto, possui especificidade muito superior à RM, que é de 18 a 33% em todos
os graus de glioma (SANTRA et al., 2012).
Deling et al., em estudo prospectivo de 2014 esclarecem a respeito da baixa
sensibilidade do FDG em avaliação de gliomas:

“A precisão diagnóstica do PET 18F-FDG é enfraquecida pelo alto metabolismo


fisiológico da glicose nas áreas cerebrais onde o glioma é propenso a ocorrer,
como o córtex cerebral, os gânglios da base e o tálamo. (...) a sensibilidade da
detecção de glioma por PET / CT 18F-FDG é relativamente baixa, particularmente
para LGG, porque a captação de 18F-FDG em LGG é usualmente semelhante à da
substância branca normal. Mesmo na HGG, a captação de 18F-FDG variou muito. A
captação de F-FDG, avaliando apenas os mecanismos associados ao metabolismo
elevado da glicose, é inespecífica para as características moleculares do glioma”.

O 68Ga-PRGD2 se acumula mais intensamente em células endoteliais


da neovasculatura e as células de glioma que expressam a integrina αvβ3. Foi
comprovado por análise histopatológica que diferentes níveis de integrina em gliomas
correspondem à classificação desse câncer pela OMS. Tendo essa alta afinidade por
células tumorais específicas (de alto grau de glioma), e baixa afinidade pelas células
do cérebro normal, o 68Ga-PRGD2 apresenta relativa boa acurácia na identificação
de glioma, superior à do FGD e ótima efetividade na diferenciação do grau do tumor
- sendo máxima para esse fim (de 100%) (LI et al., 2014). É também o ideal para
seguimento de glioblastoma multiforme, um glioma de alto grau com alta expressão
de integrina. Sua aplicação na diferenciação é importante mesmo entre gliomas grau
III e IV, pois eles têm prognósticos completamente diferentes (ZHANG et al., 2015).
As Tabelas 1 e 2 são comparativas entre todos os marcadores estudados.

4 | CONCLUSÃO

Conclui-se que para diagnóstico precoce e avaliação de recorrências, pós-


cirúrgica ou pós-quimio ou radioterapia precoces ou tardias de gliomas em geral, o
melhor marcador é o FET, superior tanto em sensibilidade quanto em especificidade.
Com exceção do glioblastoma multiforme onde o melhor marcador para seguimento
é o PRGD2. Para diferenciação do grau dos gliomas, em geral, o melhor é o PRGD2
com acurácia máxima. Os demais marcadores de PET estudados, embora tenham
sensibilidade ligeiramente inferior a RM, tem especificidade extremamente superior,
sendo um método mais confiável, levando em consideração as múltiplas afecções que
podem mimetizar um tumor no SNC, sobretudo pós-tratamento quimio ou radioterápico.
O exame funcional é sumariamente importante na orientação da conduta médica,
considerando significativa possibilidade de ressecções incompletas e recorrências
pós-tratamento, a alta mortalidade desse tumor e os malefícios de tratamentos

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 14 133


desnecessários. As análises feitas in vivo e com comprovação histopatológica, até
o momento atual, independentes das utilizadas para este trabalho, foram feitas
em diferentes grupos de apenas 5 a 55 pacientes com glioma. Convém, portanto,
a realização estudos semelhantes com amostra de maior espectro para melhor
caracterização desses marcadores da identificação desse tipo de câncer.

REFERENCIAS
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ARAUJO, Orlandira L. de et al. Análise de sobrevida e fatores prognósticos de pacientes pediátricos


com tumores cerebrais. Jornal de Pediatria. Fortaleza, p. 425-432. 27 jun. 2011.

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ARAGÃO, Maria de Fátima Viana Vasco; VALENÇA, Marcelo Moraes. A ressonância magnética
em tumores astrocitários: avaliação da associação de padrão existente com a graduação
histopatológica. 2010. 140 f. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-graduação em Neuropsiquiatria e
Ciência do Comportamento, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2010.

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SINGHAL, Tarun et al. 11C-l-Methionine Positron Emission Tomography in the Clinical Management of
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Nature. http://dx.doi.org/10.1007/s11307-007-0115-2.

SANTRA, Amburanjan et al. F-18 FDG PET-CT in patients with recurrent glioma: Comparison with
contrast enhanced MRI. European Journal Of Radiology, [s.l.], v. 81, n. 3, p.508-513, mar. 2012.
Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.ejrad.2011.01.080

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Pharmaceutics, [s.l.], v. 11, n. 11, p.3923-3929, 11 ago. 2014. American Chemical Society (ACS).
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ZHANG, H. et al. Can an 18F-ALF-NOTA-PRGD2 PET/CT Scan Predict Treatment Sensitivity to


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Medicine, [s.l.], v. 57, n. 4, p.524-529, 29 out. 2015. Society of Nuclear Medicine. http://dx.doi.
org/10.2967/jnumed.115.165514.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 14 134


CAPÍTULO 15

SISTEMATIZAÇÃO DO CUIDADO A USUÁRIO COM


NEOPLASIA MALIGNA DE OROFAGINGE: RELATO DE
CASO

Janaina Baptista Machado RESUMO: O presente trabalho é um estudo


Universidade Federal de Pelotas – Faculdade de de caso realizado na unidade cirúrgica de
Enfermagem um hospital localizado na região sul do Rio
Pelotas – RS Grande do Sul. Os preceitos éticos e legais da
Ingrid Tavares Rangel Resolução 466/2012, que dispõe sobre proteção
Universidade Federal de Pelotas – Faculdade de e respeito a vida humana, foram respeitado.
Enfermagem
O Objetivo deste é relatar o processo de
Pelotas – RS adoecimento vivenciado por um usuário de 43
Patrícia Tuerlinckx Noguez anos, do Sistema Único de Saúde (SUS), que
Universidade Federal de Pelotas – Faculdade de apresentava o diagnóstico de neoplasia maligna
Enfermagem
de orofaringe. Estima-se que no Brasil (2018-
Franciele Budziareck Das Neves 2019) ocorram cerca de 11.200 casos novos de
Universidade Federal de Santa Catarina –
câncer da cavidade oral em homens, valores
Programa de Pós Graduação em Enfermagem
estimados de 10,86 casos novos a cada 100 mil
Florianópolis – SC
homens. O processo de enfermagem (PE) foi
Luiz Guilherme Lindemann o balizador para a organização, planejamento,
Universidade Federal de Pelotas – Faculdade de
execução e implementação das ações, as quais
Enfermagem
foram desenhadas a partir da Sistematização
Pelotas – RS
da Assistência de Enfermagem (SAE), que deve
Aline da Costa Viegas
ser utilizada como instrumento norteador para
Hospital Escola UFPel/EBSERH
o enfermeiro. Deste modo, por meio da SAE,
Pelotas – RS
pode-se elencar as necessidades do usuário
Silvia Francine Sartor e planejar soluções de assistência adequadas
Enfermeira Assistencial – Hospital Erasto
para o caso.
Gaertner
PALAVRAS-CHAVE: Enfermagem, Processo
Curitiba - PR
de enfermagem, Sistematização de
Taniely da Costa Bório
enfermagem, oncologia.
Universidade Federal de Pelotas – Faculdade de
Enfermagem
ABSTRACT: The present study is a case study
Pelotas – RS
carried out in the surgical unit of a hospital
located in the southern region of Rio Grande

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 15 135


do Sul. The ethical and legal precepts of the Resolution 466/2012, which provides
protection and respect for human life, was respected. The objective of this study is to
report the illness experienced by a 43-year-old user of the Unified Health System (SUS),
who presented the diagnosis of malignant oropharyngeal neoplasia. It is estimated that
in Brazil (2018-2019) about 11,200 new cases of cancer of the oral cavity occur in men,
estimated values ​​of 10.86 new cases per 100,000 men. The nursing process was the
key to the organization, planning, execution and implementation of the actions, which
were designed based on the Systematization of Nursing Assistance, which should be
used as a guiding tool for nurses. Thus, through it, it is possible to identify the needs of
the user and to plan appropriate care solutions for the case.
KEYWORDS: Nursing, Nursing process, Nursing systematization, oncology.

INTRODUÇÃO

A enfermagem possui como pilar oficial o cuidado humano que, por sua vez,
consiste em esforços transpessoais de ser humano para ser humano, a fim de
proteger, promover a saúde, desvendar o processo saúde-doença, e buscar o sentido
da harmonia interna (WALDOW, 2006).
Para desenvolver o cuidado adequado às necessidades, é necessário que
o profissional de saúde projete uma sistematização da assistência, com base nas
peculiaridades e singularidades do indivíduo, as quais foram percebidas ao longo da
prática profissional (CASTILHO; RIBEIRO; CHIRELLI 2009).
Neste contexto, para o Processo de Enfermagem (PE), torna-se fundamental
o desenvolvimento de um processo organizacional, que permita planejar, executar e
implementar ações sistematizas, que possibilitem identificar, compreender, descrever,
explicar e predizer quais as necessidades do indivíduo, família ou coletividade humana
(CASTILHO; RIBEIRO; CHIRELLI 2009).
A Resolução do COFEN 358 de 2009 regulamenta que o “Processo de
Enfermagem deve ser realizado, de modo deliberativo e sistemático, em todos os
ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de enfermagem”
(COFEN, 2009).
O PE consiste em cinco fases sequenciais que descrevem o método de resolução
dos problemas: investigação, diagnóstico, planejamento, intervenção e avaliação
(SANTOS; BARBOSA; OLIVEIRA et. al., 2010). É através desse processo que o
enfermeiro determina a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), que é
um importante instrumento norteador que viabiliza o trabalho do enfermeiro, dando-o
autonomia e reconhecimento da profissão.
Conforme descrito na resolução 358/2009, a SAE deve ser registrada formalmente
pelo enfermeiro, o qual deverá utilizar a padronização das taxonomias NANDA –
North American Nursing Diagnosis Association, classificação das Intervenções de
Enfermagem – NIC, e Classificação dos Resultados de Enfermagem – NOC, que

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 15 136


orientam a prática clinica (COFEN 2009; BAVARESCO; LUCENA, 2012).
Diante destas ferramentas de organização do processo de trabalho do enfermeiro,
o presente estudo de caso visa estabelecer um plano de cuidados ao usuário com
neoplasia maligna de orofaringe.
Tendo isso em mente, o câncer de orofaringe corresponde ao grupo das neoplasias
malignas da cavidade oral, e manifesta-se comumente como uma lesão ulcerada, mal
definida, dolorosa, em um dos lados da linha mediana do palato mole. A etiologia do
câncer deste tipo de câncer é multifatorial, sendo os fatores de risco mais conhecidos
o tabaco e o consumo excessivo de álcool (MINITI et al., 1993; INCA, 2018).
Estima-se que no Brasil para cada ano do biênio 2018-2019 ocorram cerca de
11.200 casos novos de câncer da cavidade oral em homens e 3.500 em mulheres.
Esses valores correspondem a um risco estimado de 10,86 casos novos a cada 100
mil homens, ocupando a quinta posição; e de 3,28 para cada 100 mil mulheres, sendo
o 12º mais frequente entre todos os cânceres (INCA, 2018).
De acordo com Dedivitis et. al. (2004), o câncer da orofaringe tem como agravante
ser oligossintomático no início, seja devido ao padrão de inervação sensitiva, dada
pelo glossofaríngeo, seja devido à superfície irregular da mucosa, em especial a das
tonsilas palatinas, com suas criptas, onde um pequeno carcinoma pode ficar oculto ao
exame clínico.
Segundo o Hospital do Câncer de Barretos (2015), as manifestações sintomáticas
mais frequentes são: lesões na boca sem cicatrização, nódulos na região cervical,
espessamento na bochecha, área avermelhada ou esbranquiçada nas gengivas,
língua, e tonsilas, irritação, odinofagia, disfagia, dificuldade ou dor para mover a
mandíbula ou a língua, edema da mandíbula, dentes que ficam frouxos ou moles na
gengiva, mudanças na voz, respiração ruidosa, perda de peso, mau hálito persistente,
dentre outros.
As manifestações clínicas da doença tendem a aparecer quando a patologia se
encontra em estádios avançados, o que acaba conferindo um prognóstico desfavorável
para uma grande parcela desses pacientes, implicando diretamente na sua qualidade
de vida (PINTO; MATOS; PALERMO, et. al. 2012).
Grande parte dos usuários acometidos por neoplasia maligna de orofaringe, que
buscam pelos serviços de saúde, encontra-se com a doença em estágio avançado,
configurando assim um cuidado de alta complexidade, em função das características
peculiares do adoecimento, requerendo do enfermeiro responsabilidades que lhe são
privativas. É por meio da implementação da SAE, através do PE, que o enfermeiro
pode utilizar o raciocínio clínico e julgamento crítico para selecionar qual a melhor
terapêutica (PINTO; MATOS; PALERMO, et. al. 2012; NASCIMENTO; MEDEIROS;
SALDANHA, et. al. 2012). Sendo assim, o presente estudo aborda a realização de um
plano de cuidados, baseado na Sistematização da Assistência em Enfermagem, a um
usuário portador de um câncer de orofaringe.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 15 137


RELATO DO CASO

Usuário do sexo masculino, 43 anos, foi encaminhado por um médico para um


hospital no extremo sul do Brasil, com diagnóstico de carcinoma espinocelular, para
realização do devido tratamento.
O usuário é internado na unidade clínica-cirúrgica, onde realiza exames e aguarda
cirurgia. Durante a internação, os respectivos autores do estudo demonstraram
interesse em realizar acompanhamento do caso, preservando o anonimato do usuário
e respeitando os princípios éticos e legais de acordo com a Resolução 466/12 do
Conselho Nacional de Saúde, que dispõem sobre o respeito à dignidade humana e a
proteção de vida dos participantes de pesquisas científicas (BRASIL, 2012). Ainda, foi
fornecido um termo de consentimento livre e esclarecido, o qual foi assinado, o que
oportunizou a continuidade do estudo.
Durante a anamnese, o usuário relatou estar esclarecido quanto ao seu
diagnóstico, e que sente dificuldade de engolir, sente dor na região da face, insônia e
constipação. Na sua história familiar, relata que suas duas irmãs tiveram câncer, uma
delas melanoma, e a outra câncer de mama. Seus dois irmãos possuíam histórico de
hipertensão e doença mental.
No exame físico geral, foi encontrado alterações, como: ausência de alguns
dentes e das tonsilas palatinas, linfonodos cervicais palpáveis e sensíveis a dor, dor
grau nove, voz disfônica, IMC de 20,15kg/m², configurando-se abaixo do peso, com
presença de acesso venoso periférico em membro superior esquerdo, e presença de
massa a palpação no quadrante inferior esquerdo do abdome (constipação).
No exame de sangue, encontrou-se as seguintes alterações: Eritrócitos (4,9%),
Hematócrito (39,4%), Hemoglobina (13,2g/dl), HCM (26,8 pg), CHCM (33,5 g/dl).
O exame de tomografia apresentou o seguinte laudo: controle tomográfico
computadorizado em status pós-operatório tardio de ressecção neoplásica na
orofaringe. Percebe-se, uma lesão expansiva recidivante, infiltrada, na orofaringe,
obliterando os espaços parafaríngeos superficiais e profundos, medindo 4 cm de
diâmetro. A massa neoplásica está em continuidade com a base da hemilingua
direita, com as regiões amigdalianas, com marcada irregularidade da parede lateral
direita da orofaringe. Percebe-se, concomitantemente, o aparecimento de algumas
linfonodomegalias nos níveis I e II à direita. Não há evidência de infiltrado neoplásico
nos grandes vasos do pescoço. Não surgiram linfonodomegalias contralaterais. Região
glótica e infraglótica sem alteração. Resumo: lesão expansiva recidivante infiltrada no
pescoço parafaringeo à direita. Linfonodomegalias metastáticas nos níveis I e II.
O exame de vídeolaringoscopia, apresentou o seguinte laudo: cavidade nasal
esquerda: mucosa nasal apresenta coloração pálida; hipertrofia de cornetos inferiores
e médios e secreção mucóide abundante; coana esquerda normal; cavidade nasal
direita: mucosa nasal de coloração pálida, secreção mucóide; desvio de septo nasal;
observa-se parede posterior da rinofaringe abaulada do lado direito com hiperemiada

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 15 138


e presença de abundante secreção; base de língua à direita tumefeita até a região
de valécula deste lado, com estase de saliva, deglutição prejudicada; epiglote sem
alterações; pregas vocais sem alterações; recessos piniformes sem alterações.
O exame citopatológico, apresentou esfregaços positivos para células malignas
tipo carcinoma escamoso.
Medicamentos em uso: Diazepam (10mg/ via oral 24/24h); Dipirona (500mg
endovenoso 6/6H); Cetoprofeno (100m endovenoso 12/12h); Omeoprazol (20mg via
oral 24/24h); Metoclopramida (10mg se necessário); Morfina (10mg endovenoso, se
dor forte).

DISCUSSÃO

No caso relatado, o usuário apresenta diversas alterações clínicas, ressaltando-


se assim a importância da implementação da Sistematização da Assistência de
Enfermagem para proporcionar um tratamento com abrangência biopsicossocial. A
SAE permite a identificação das situações do processo saúde doença, subsidiando
ações de assistência de enfermagem que possam contribuir para a promoção,
recuperação e reabilitação da saúde, de forma humanizada e individual (CASTILHO;
RIBEIRO; CHIRELLI, 2009).
Nessa perspectiva, utilizamos a teoria das necessidades humanas básicas de
Horta (1979), que dispõe de uma análise integrativa do usuário, que aborda três
aspectos: psicobiológicos, psicossociais e psicoespirituais. Essa teoria é baseada na
pirâmide de Maslow, que corresponde a uma “hierarquia” das necessidades fisiológicas
e psicossociais, com a intenção de priorizar a manutenção das mais importantes.
Neste trabalho apresentaremos somente as necessidades psicobiológicas afetadas.
As necessidades humanas básicas psicobiológicas, afetadas no usuário foram:
nutrição (IMC abaixo da média), eliminação (constipação devido a utilização de
opióides), sono (perda do sono devido à dor), integridade cutâneo–mucosa (cateter
venoso periférico salinizado no membro superior esquerdo), motilidade (dificuldade na
deglutição em virtude dos nódulos), e percepção dolorosa (dor espalhada pela face).
Com base nos dados levantados, foi elaborado um plano de cuidados direcionado
às necessidades humanas básicas afetadas. Para construção do plano, utilizamos
como fundamentação teórica os diagnósticos de enfermagem da North American
Nursing Diagnosis Association (NANDA) (2012) e a Classificação das Intervenções de
Enfermagem (NIC) de Bulechek e Butcher (2010).
Os Diagnósticos de Enfermagem são uma análise clínica da resposta do indivíduo,
e subdivide-se em três níveis denominados: domínios (esfera de atividade, estudo,
interesse), classes (subdivisão de um grupo maior; divisão de por qualidade, grau
ou categoria) e diagnóstico de enfermagem (julgamento clínico sobre as respostas
do indivíduo a problemas de saúde/processos vitais). Essa taxonomia agrega 13

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 15 139


domínios, 47 classes, e 217 diagnósticos (CHAVES, 2013).
O sistema de classificação de intervenção de enfermagem (NIC) trata-se de uma
ação autônoma da enfermeira, fundamentada em preceitos científicos que é executada
para beneficiar o usuário, por meio de cuidados fisiológicos e psicológicos, seguindo
o caminho predito pelo diagnóstico de enfermagem com o objetivo de alcançar metas
(GUIMARÃES; BARROS, 2001).
Sendo assim, definiu-se o seguinte o plano de cuidados elaborado para o usuário
do caso:

Diagnósticos de enfermagem Prescrições Aprazamento

a) Observar e avaliar a dor.


D1: Dor crônica (00133) a) Manhã, tarde e
b) Assegurar que o usuário receba cuidados
relacionado a incapacidade noite.
precisos de analgesia.
física evidenciado por relato b) Manhã, tarde, noite.
c) Investigar com o usuário os fatores que
verbal de dor. c) Manhã.
aliviam/pioram a dor.
a) Monitorar os movimentos intestinais,
D2: Motilidade
incluindo frequência, consistência, formato,
gastrointestinal disfuncional a) Manhã, tarde, noite.
volume e cor, conforme apropriado.
(00196) relacionado a b) Manhã, tarde e
b) Encorajar o aumento da ingestão de
dificuldade de eliminar fezes noite.
líquidos.
evidenciado por agentes c) Manhã.
c) Administrar laxativos, conforme prescrição
farmacêuticos.
médica.
D3: Nutrição desequilibrada
menos que as necessidades
humanas corporais (00002) a) Pesar o usuário. a) Manhã.
relacionado a fatores biológicos b) Assegurar dieta adequada. b) Manhã.
evidenciado por perda de peso c) Alimentar ou auxiliar usuário na c) Manhã, tarde e
com ingestão adequada de alimentação. noite.
comida, peso corporal 20% ou
mais abaixo do ideal.
a) Manhã, tarde e
D4: Comunicação verbal a) Ouvir com atenção.
noite.
prejudicada (00051) relacionado b) Fornecer meios de comunicação escrita
b) Manhã, tarde e
a condições fisiológicas se necessário.
noite.
evidenciado por fala com c) Colocar-se de pé em frente ao usuário ao
c) Manhã, tarde e
dificuldade. falar.
noite.
D5: Integridade da pele a) Observar presença de sinais flogísticos.
a) Manhã.
prejudicada (00046) relacionado b) Proteger cateter com plástico no banho
b) Manhã.
a fatores mecânicos evidenciado de aspersão.
c) Manhã, tarde e
por rompimento da superfície da c) Manter curativo oclusivo e com fixação
noite.
pele. adequada.
a) Ajudar o usuário a sentar-se ereto (o mais
D6: Deglutição prejudicada a) Manhã, tarde e
próximo de 90º graus) para alimentar-se.
(00103) relacionado a noite.
b) Providenciar higiene oral antes das
anormalidades orofaríngeas b) Manhã.
refeições.
evidenciado por odinofagia. c) Manhã.
c) Identificar a dieta prescrita.
a) Adaptar ambiente para promover o sono.
D7: Insônia (00095) relacionado b) Estimular o uso de medicamentos para
a) Noite
a desconforto físico evidenciado dormir que não contenham supressores do
b) Noite
por relato de dificuldade para sono REM.
c) Noite
adormecer. c) Determinar o padrão de sono/vigília do
usuário

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 15 140


a) Documentar todas as alergias no
prontuário clínico, conforme o protocolo.
D8: Risco de resposta b) Monitorar o usuário quanto a reações a) Manhã.
alérgica (00217) relacionado a alérgicas a novos medicamentos. b) Manhã.
medicamentos. c) Notificar os cuidadores e os provedores c) Manhã.
de atendimento de saúde sobre alergias
conhecidas.
a) Transmitir confiança na capacidade do a) Manhã, tarde e
usuário para lidar com a situação. noite.
D9: Risco de baixa autoestima
b) Recompensar ou elogiar o progresso do b) Manhã, tarde e
situacional (00153) relacionado
usuário na direção das metas. noite.
a distúrbio na imagem corporal
c) Fazer declarações positivas sobre o c) Manhã, tarde e
usuário. noite.
a) Orientar o usuário e/ou família sobre
a) Manhã.
D10: Risco de infecção (00004) a manutenção do dispositivo de acesso
b) A cada 48h, se não
relacionado a defesas primárias venoso
houver intercorrências.
inadequadas: pele rompida b) Trocar cateter, curativos e protetores
c) Manhã, tarde e
(cateter endovenoso). conforme o protocolo da instituição
noite.
c) Manter a permeabilidade do cateter.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Planejar o cuidado de enfermagem pautado na SAE consiste em um modo de


estabelecer uma assistência qualificada e de acordo com as necessidades da pessoa
cuidada. Refletir e elaborar um plano de cuidado e ações direcionadas as queixas do
usuário e uma anamnese criteriosa do enfermeiro, possibilita um olhar holístico, e,
portanto, uma assistência direcionada aos problemas reais e potenciais da pessoa,
sendo elencados os cuidados primordiais e prioritários para a sua condição.
Cuidar da pessoa com câncer, sobretudo, de orofaringe vai além da dimensão
biológica, é essencial perceber as necessidades sociais, psicológicas e espirituais,
sendo o enfermeiro profissional habilitado a enxergar a pessoa na sua integralidade,
podendo assim, acionar outros profissionais para colaborar na atenção ao usuário e
sua família.
Diante da contextualização apresentada, entende-se que vivenciar o planejamento
da SAE durante a graduação em enfermagem torna-se essencial, visto a sua relevância
para a prática do cuidado do enfermeiro, como um instrumento que qualifica e garante
uma assistência de excelência nos serviços de saúde.

REFERENCIAS
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para pacientes em risco de úlcera por pressão. Revista Latino Americana de Enfermagem, v.20,
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BULECHEK, G.M.; BUTCHER, H.; DOCHTERMAN, J. NIC: Classificação das Intervenções de


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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 15 141


CASTILHO N.C.; RIBEIRO, P.C.; CHIRELLI, M.Q. A implementação da sistematização da
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públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências.
Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3582009_4384.html>. Acesso em: 16 nov.
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DEDIVITIS, R.A.; FRANÇA, C.M.; MAFRA, A.C.B.; GUIMARÃES, F.T.; GUIMARÃES, A.V.
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<http://www.hcancerbarretos.com.br/cancer-de-cabeca-e-pescoco>. Acesso em: 10 nov. 2018.

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WALDOW, V.R. Cuidar: expressão humanizadora da enfermagem. Rio de Janeiro: Vozes, 2006.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 15 142


CAPÍTULO 16

TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA DE


RORAIMA

Maria Soledade Garcia Benedetti urbana, com quedas das taxas de natalidade
Secretaria de Saúde do Estado de Roraima e fecundidade. A transição epidemiológica é
Universidade Federal de Roraima nítida, e apresenta a redução da mortalidade por
Boa Vista - Roraima doenças infecciosas e parasitária e o aumento
Thiago Martins Rodrigues de mortes por violências e acidentes, doenças
Secretaria de Saúde do Estado de Roraima crônicas e neoplasias. Os fatores relacionados
Boa Vista - Roraima a essa transição certamente estão atribuídos
Roberto Carlos Cruz Carbonell ao desenvolvimento econômico da região e a
Secretaria de Saúde do Estado de Roraima introdução de medidas de saúde pública.
Universidade Federal de Roraima PALAVRAS-CHAVE: Transição demográfica,
Boa Vista - Roraima transição epidemiológica, Roraima.
Calvino Camargo
Universidade Federal de Roraima ABSTRACT: With reference to the demographic
Boa Vista - Roraima and epidemiological transition, it is proposed
to describe the demographic evolution and
the epidemiological transition in Roraima.
This is a descriptive and documentary study.
RESUMO: Tendo como referência a transição
The data collection was carried out through a
demográfica e epidemiológica propõe-se
bibliographical review and the methodology of
descrever a evolução demográfica e a transição
analysis took place in two stages - the first one
epidemiológica em Roraima. Trata-se de um
contextualizes the demographic transition, and
estudo descritivo e documental. O levantamento
the second, the epidemiological transition in
de dados foi realizado por meio de uma revisão
Roraima. The phenomenon of the demographic
bibliográfica e a metodologia de análise
transition accompanies the model of the country,
ocorreu em duas etapas – a primeira faz uma
marked by a theoretical model of transition, from
contextualização da transição demográfica,
a rural society to an urban society, with declines
– e na segunda, a transição epidemiológica
in birth and fertility rates. The epidemiological
em Roraima. O fenômeno da transição
transition is clear, with a reduction in mortality
demográfica acompanha o modelo do país,
from infectious and parasitic diseases and an
marcado por um modelo teórico de transição,
increase in deaths from violence and accidents,
de uma sociedade rural para uma sociedade
chronic diseases and neoplasias. Factors

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 16 143


related to this transition are certainly attributed to the economic development of the
region and the introduction of public health measures.
KEYWORDS: Demographic transition, epidemiological transition, Roraima.

1 | INTRODUÇÃO

A prática epidemiológica em diferentes períodos revela o efeito determinante do


contexto histórico. Somente o estudo integrado dos processos gerais de uma formação
social com suas expressões particulares no terreno epidemiológico pode nos permitir
captar a essência dos fenômenos pertinentes à ação coletiva. A configuração interna
da epidemiologia como ciência e como recurso técnico tem a dimensão prática como
mediadora principal entre si e as condições gerais da sociedade (BREILH, 1991).
É inquestionável a importância da epidemiologia e da vigilância epidemiológica
como áreas de atuação da Saúde Coletiva e da Saúde Pública no mundo e no
Brasil (BREILH, 1991). A Vigilância Epidemiológica (VE) surge como um importante
instrumento da Saúde Pública (WALDMAN, 1998) e prevê a integralidade preventivo-
assistencial das ações de saúde, e a consequente eliminação da dicotomia tradicional
entre a saúde individual e coletiva (BREILH, 1991).
Segundo Omran (1971) a transição epidemiológica, caracteriza-se pela evolução
progressiva de um perfil de alta mortalidade por doenças infecciosas para um outro onde
predominam os óbitos por doenças cardiovasculares, neoplasias, causas externas e
outras doenças consideradas crônico-degenerativas. Nesse sentido, o presente artigo
tem como objetivo descrever a transição demográfica e epidemiológica em Roraima.

2 | MÉTODOS

Estudo descritivo e documental. O levantamento de dados foi realizado por


meio de uma revisão bibliográfica, onde utilizou-se a busca de artigos por meio da
palavra-chave “TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA E EPIDEMIOLÓGICA” nos indexadores
MEDLINE (literatura internacional em Ciências da Saúde), PubMed, LILACS (Literatura
Latinoamericana em Ciências da Saúde), SCIELO (Scientific Electronic Library Online),
BDTD (biblioteca digital de teses e dissertações), em língua portuguesa, além de
uma pesquisa documental das publicações oficiais do Ministério da Saúde (MS) e da
Secretaria de Saúde do Estado de Roraima (SESAU).
A metodologia de análise utilizada ocorreu em duas etapas – a primeira faz uma
contextualização da transição demográfica, – e na segunda, a transição epidemiológica
em Roraima.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 16 144


3 | TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA

Na virada no século XX a então Freguesia de Nossa Senhora do Carmo


pertencente ao Governo do Estado do Amazonas, foi elevada à categoria de Município
de Boa Vista do Rio Branco, com o intuito de dar proteção e maior desenvolvimento
econômico a esta localidade. Nessa época, com o fracasso do mercado da borracha, a
Amazônia entrou em profundo declínio econômico e os fluxos migratórios diminuíram.
A área restrita ao Rio Branco também foi atingida por este fato, passando por uma fase
de estagnação no avanço de frentes de ocupação humana e crescimento econômico,
com o agravante do precário sistema de transporte existente (BARBOSA, 1993).
A criação de gado era um estímulo à fixação humana. O aparecimento da atividade
mineral (garimpo de ouro e diamante) foi responsável por um pequeno fluxo migratório
na década de 1910. Contudo, não foi fator responsável por significativo crescimento
populacional ou econômico. A população de Boa Vista era de 8 a 10 mil índios e de 3 a
4 mil o restante, sendo que na sede municipal estimava-se 500 habitantes (PEREIRA,
1993). Em 1926, Boa Vista elevou-se à categoria de cidade (BARBOSA, 1993).
Em 1940, os dados do Censo Nacional de Recenseamento mostravam a
população (excluindo-se os índios) de 10.509 habitantes (MORTARA, 1993) com a
densidade demográfica de 0,06 habitantes por Km2, oitenta vezes menor que a média
nacional de 4,84 hab./Km2. A população rural atingia 86,7%, devido as atividades de
rebanho bovino e garimpo. Com a criação do Território Federal do Rio Branco em
1943 o governo federal buscava uma estratégia de proteção das áreas fronteiriças
da Amazônia, e em menor escala o desenvolvimento econômico da região. Boa Vista
ficou estabelecida como capital desta unidade federada. A estimativa dada pelo censo
de 1940 demonstrava uma população de 12.130 habitantes e a densidade de 0,05
hab./Km2, essa redução pode ser explicada pelo aumento da área geográfica na época
(PEREIRA, 1993).
Nos primeiros anos desta nova fase, o governo do Território concretizou obras
de infraestrutura no setor da saúde, abastecimento de água e construção de estradas, a
atual BR 174, e tentou de todas as formas estimular a colonização. Todas as tentativas
governamentais de assentamento não refletiram bons resultados em um primeiro
momento devido a precariedade das localidades abertas e os seguidos surtos de
malária. Os primeiros dados oficiais, confirmando a política de ocupação do Território,
são relatadas através de recenseamentos de 1950 (18.116 hab.) e 1960 (28.304 hab.).
A população apresentou taxas médias de crescimento anual de 5,49% e 4,65%, para
os decênios de 1940/50 e 1950/60, respectivamente. Estes números superaram em
139,7% e 39,2% os índices obtidos para toda a região Norte nos mesmos períodos
(IBGE, 1993). A pressão fundiária no Nordeste e a facilidade de obtenção de terras
incentivadas pelo governo local já eram responsáveis por um significativo número de
migrantes. O incremento no tráfego fluvial e os primeiros deslocamentos aéreos nesta
região também permitiram que o vale do rio Branco começasse a sair gradativamente

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 16 145


de seu isolamento diante do restante do Brasil (BARBOSA, 1993).
Em 1980, ainda Território Federal de Roraima, a população era de 79.121
habitantes (BENEDETTI, 2017) com importante participação da população indígena
nesse quantitativo. Em menos de 10 anos a população dobrou de tamanho e tal fato
se deu em função, sobretudo, da “exploração do garimpo” de ouro na área indígena
Yanomami na década de 1980. Assentamentos agrícolas também auxiliaram nesse
aumento populacional ao longo das décadas passadas (RORAIMA, 1996).
O estado de Roraima foi criado em 1988 por meio da Constituição Federal e
passou de oito para 15 municípios. Ocupa uma área de 224.301,080 Km² e a população
estimada para 2016 corresponde a 514.229 habitantes. A densidade demográfica é
de 2,29 habitantes por Km². A capital, Boa Vista, ocupa uma área de 5.687,037 Km2,
concentra 63,4% da população e possui a densidade demográfica de 49,99 habitantes
por Km2 (IBGE, 2016). A pirâmide etária do Brasil e Roraima projetada pelo IBGE para
2015, revela uma situação intermediária entre as pirâmides de país desenvolvido e
de país em desenvolvimento, os chamados países emergentes (BENEDETTI, 2016).
Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento o Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal - IDHM aumentou de 0,459 em 1991 para 0,707
em 2010 (PNDU, 2013).
No período de 1987 a 1989, “auge do garimpo” houve uma invasão desordenada
de cerca de 50 mil homens entre garimpeiros e nordestinos em busca de melhores
condições de vida, num estado ainda não preparado estruturalmente para tal. Calcula-
se que aproximadamente de 5 a 10 mil homens oriundos desta época permaneceram
em Roraima com subempregos ou mesmo, desempregados. Em 1987 não existiam
biscateiros, esmoleiros, menino de rua, nem formação de gangs. Estas causas de
caráter social extrapolaram as ações no campo da saúde pública (RORAIMA, 1993).
O crescimento populacional de Roraima no período de 1980 a 2016 foi de 649,9%
(Figura 1) (BENEDETTI, 2017).

Figura 1. População residente do Estado de Roraima, 1980 a 2016


Fonte: IBGE (Censos e estimativas). Relatório Anual de epidemiologia de Roraima de 2016.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 16 146


O fenômeno da transição demográfica em Roraima é evidente, e destacamos
os diferenciais frente a um modelo teórico de transição, de uma sociedade rural para
uma sociedade urbana, em 1940 a população rural representava 86,7% da população
(BARBOSA, 1993), e atualmente, a taxa de urbanização é de 84,2% (IBGE, 2017).
Acompanhando uma tendência nacional (DUARTE; BARRETO, 2012), o processo
de urbanização em Roraima acompanhou-se de importantes mudanças sociais, como
nas formas de inserção da mulher na sociedade, rearranjos familiares, incrementos
tecnológicos, entre outras. O padrão demográfico alterou-se. A forte queda na taxa de
fecundidade marcadamente evidenciada de 2000 a 2012, quando registravam taxas
de 3,57 e reduziram para 2,5 filho/mulher (BRASIL, 2013), acima da média nacional
de 1,77 e abaixo da média mundial de 2,52 (BENEDETTI, 2015) com reflexo na taxa
de natalidade que vem reduzindo gradativamente desde 1984 quando a taxa era de
37,2 nascimentos por 1.000 habitantes e caiu para 20 nascimentos/mil habitantes em
2016. A esperança de vida ao nascer do país, na década de 40 era de 42 anos, de 90
(60 anos), de 2016 (75,7 anos), em Roraima no ano 2000 era de 65,3 anos e em 2015
alcançou 71,1 anos (BENEDETTI, 2017).

4 | TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA

Diferentemente do padrão nacional onde a taxa geral de mortalidade decresceu


de 18/1.000 habitantes, em 1940, para uma taxa estimada entre 6 e 8/1.000 em 1985
(PRATA, 1992), em Roraima, essa taxa reduziu de 6,0/1.000 habitantes, em 1984,
para 4,3/1.000 em 2016 (BENEDETTI, 2017). Com relação a mortalidade infantil o
movimento foi o mesmo do país, de decréscimo, de 160/1.000 nascidos vivos, em
1940, para 85/1.000 NV em 1980 (PRATA, 1992), a redução em Roraima foi muito
expressiva passando de 48,2/1.000 nascidos vivos, em 1984, para 18,3/1.000 em
2016. Em 1991 as três principais causas de mortalidade infantil foram as afecções
originadas no período perinatal, anóxia intrauterina e infecção intestinal, as duas
primeiras refletem a qualidade da assistência à mãe e ao recém-nascido, e a última,
os padrões de saneamento, habitação, distribuição de renda e educação, refletindo
diretamente no estado nutricional da criança (RORAIMA, 1993).
Todas as taxas de mortalidade infantil (TMI) por componentes de Roraima
mostraram redução importante no período de 1992 a 2016. A taxa de mortalidade pós-
neonatal reduziu no período de 1992 (34,9 por mil nascidos vivos - NV) e 2016 (7,3
por mil NV) na ordem de 79,1%. A taxa de mortalidade neonatal tardia reduziu 13,6%
nesse período passando de 2,2 em 1992 para 1,9 em 2016. A taxa de mortalidade
neonatal precoce variou de 16,2 em 1992 para 9,1 em 2016, uma redução de 43,8%
no período (BENEDETTI, 2017).
As causas de morte e o risco de morrer variaram segundo a faixa etária e o
sexo. No período de 1987 a 2016, houve mudança no padrão da curva de Nélson de

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 16 147


Moraes assumindo um padrão de curva intermediária entre o Tipo I em 1987 e Tipo
III, em 2016, refletindo redução na proporção de morte entre os menores de um ano
de 31,8% em 1987 para 8,5% em 2016 e aumento na proporção de morte entre a
população com 50 anos idade ou mais, passando de 28,3% para 55,6%, no mesmo
período (BENEDETTI, 2017).
O indicador Swaroop-Uemura vem apresentando elevação no país há pelo
menos duas décadas (BRASIL, 2014), em Roraima esse indicador alcançou em 1995
a proporção de 37,7% das mortes na população com 50 anos de idade em mais, e em
2016 de 55,6%. Embora o aumento seja expressivo encontra-se muito abaixo de 70%
que equivale a um nível de saúde elevado, característico de países desenvolvidos. A
razão de óbitos masculino em relação ao feminino em Roraima foi de 1,62 em 2000,
ou seja, ocorreram 162 óbitos masculinos para cada 100 do sexo feminino, em 2006
essa razão foi de 1,69, e em 2015, essa razão foi de 1,79, e os óbitos masculinos
corresponderam a 64% de todas as mortes (BENEDETTI, 2017).
Já o estudo da mortalidade por causas no período de 1990 a 2016 evidencia uma
similaridade ao ocorrido no país anteriormente. Em 1930, as doenças infecciosas e
parasitárias (DIP) foram responsáveis por 46% do total de óbitos no país, enquanto em
1985 elas representavam apenas 7% (PRATA, 1992). Em 1990 as DIP representavam
14,1% de todas as mortes ocorridas no estado e reduziram para 5,3%, em 2016,
migrando da segunda causa de morte em 1990 para a quinta em 2016 (Figura 2), esse
comportamento tem sido observado em vários países nas últimas décadas, e se dá
em grande parte pelas melhorias socioeconômica da população. A taxa de mortalidade
por 100 mil habitantes reduziu em 51% no período de 1996 e 2016, porém houve um
aumento de 59% dessa taxa com relação ao ano de 2015. As principais causas básicas
de morte foram a doença pelo HIV com 31,3% de todas as mortes, septicemia com
27,9%, doenças infecciosas intestinais com 12,7%, tuberculose com 6,8% e hepatites
virais com 5,9% (BENEDETTI, 2017). Resultados semelhantes foram encontrados no
estudo de Benedetti e colaboradores (2005) realizado no período de 1996 a 2004.
Outro estudo destacou a redução proporcional das mortes infantis por DIP no
período 2006 a 2016 e observou o predomínio das mortes por doenças diarreicas
(59,3%), corroborando com os dados da literatura que apontam as doenças diarreicas
como importante causa de morte nessa faixa etária e sua forte associação com fatores
socioeconômicos. Chama a atenção que 6,2% das mortes foram em decorrência
de doenças imunopreveníveis como a coqueluche, difteria e varicela, e a presença
de doenças negligenciadas em 5,5% das mortes, entre elas, leishmaniose visceral,
malária, dengue e sífilis congênita (SANTOS; BENEDETTI; LAGARES, 2016).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 16 148


Figura 2. Mortalidade proporcional por grupo de causas. Roraima, 1993, 1996, 2006 e 2016
Fonte: SIM/NSIS/DVE/CGVS/SESAU/RR. Relatório Anual de Epidemiologia de Roraima de 1993, 2000, 2015.

Por outro lado, as doenças do aparelho circulatório representavam 11,9% das


mortes em 1990 e chegaram a 19,3% em 2016, saindo da terceira posição para o
segundo lugar em 2016, as neoplasias aumentaram de 6,5% para 12,3% e passaram
do quinto lugar para o terceiro em 2016 (BENEDETTI, 2017), esse fenômeno foi
observado no país (PRATA, 1992). As causas externas ocupam a principal causa
de morte há décadas, a proporção das mortes reduziu de forma importante nos
últimos anos, em 1990 representava 30,3% das mortes e em 2016 19,5% e a taxa de
mortalidade por 100 mil habitantes passou de 97,2/100.000 habitantes em 2001 para
84,4/100.000 habitantes em 2016 (BENEDETTI, 2017).
No período de 1990 a 2016 os acidentes de transporte terrestre tiveram
redução na taxa por 100 mil habitantes de 29/100 mil habitantes para 19,6/100 mil
habitantes, com o auge em 2000 de 40/100 mil habitantes, a taxa de homicídio
variou de 73/100 mil habitantes para 34,8/100 mil habitantes, e a taxa de suicídio
teve um incremento importante passando de 1,9/100 mil habitantes para 10,1/100
mil habitantes, considerados eventos preveníveis, as taxas do estado são bastante
expressivas comparadas com a média nacional. As altas taxas de acidentes de
transporte e homicídios no início da década de 1990 possivelmente são reflexos da
invasão desordenada na década passada em busca do garimpo (BENEDETTI, 2000).
As causas de morte mal definidas esteve entre as cinco principais causas de
mortalidade no período de 1987 a 1992, em 1993, passou a ocupar a sexta posição
(RORAIMA, 1993), atualmente encontra-se na sétima posição (6,3% de todas as
mortes), e ainda ocupa uma posição não satisfatória, uma vez que significa falta de
assistência médica ou elucidação diagnóstica, e apesar das inúmeras solicitações
pelo setor de epidemiologiado estado, desde 1989 (RORAIMA, 1996),e ainda não há
um Serviço de Verificação de Óbito (SVO) estruturado nos moldes preconizados pelo
Ministério da Saúde.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 16 149


5 | CONCLUSÃO

O fenômeno da transição demográfica em Roraima acompanha o modelo do


país, marcado por um modelo teórico de transição, de uma sociedade rural para uma
sociedade urbana, com quedas das taxas de natalidade e fecundidade. O processo
de colonização apresenta um incremento populacional recente, e embora o aumento
seja expressivo nas últimas quatro décadas, o estado apresenta a menor densidade
demográfica do país.
A transição epidemiológica é nítida com a redução da mortalidade por doenças
infecciosas e parasitária e o aumento de mortes por violências e acidentes, doenças
crônicas e neoplasias. Há décadas as causas externas representam o principal grupo
de causa de morte no estado. Apesar das altas incidências de doenças tropicais e
negligenciadas, as mortes por doenças infecciosas e parasitárias passaram de terceiro
lugar em 1993 para sexto lugar em 2016, atrás inclusive das causas de morte mal
definidas. Os fatores relacionados a essa transição certamente estão atribuídos ao
desenvolvimento econômico da região e a introdução de medidas de saúde pública.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 16 151


CAPÍTULO 17

USO DE FITOTERÁPICOS E PLANTAS MEDICINAIS


EM PACIENTES HIPERTENSOS ATENDIDOS EM UMA
UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DE FORTALEZA - CE

José Wilson Claudino Da Costa Fortaleza – (CE). O estudo foi desenvolvido


Centro Universitário Estácio do Ceará com 40 hipertensos com faixa etária entre
Fortaleza - Ceará 38 e 82 anos, através da aplicação de um
Ana Thaís Alves Lima questionário sobre conhecimento fitoterápico.
Centro Universitário Estácio do Ceará De acordo com os resultados verificou-se
Fortaleza - Ceará uma baixa ingestão de fitoterápicos e plantas
Beatris Mendes Da Silva medicinais pelos pacientes hipertensos da
Centro Universitário Estácio do Ceará rede pública, dentre os que fazem uso, a
Fortaleza - Ceará maioria haviam aprendido com a família sobre
Oslen Rodrigues Garcia a utilização das plantas, afirmando sentir uma
Centro Universitário Estácio do Ceará melhora significativa nos sintomas.
Fortaleza - Ceará PALAVRAS-CHAVE: Fitoterapia. Hipertensão.
Ingrid Melo Araújo Plantas medicinais.
Centro Universitário Estácio do Ceará
Fortaleza - Ceará ABSTRACT: Hypertension, usually called
high blood pressure, is to have blood pressure
systematically equal to or greater than 14 by 9. It
is very common, affects one in four adult people.
RESUMO: Hipertensão, usualmente chamada
Phytotherapy because it is an efficient, cheap
de pressão alta, é ter a pressão arterial,
and culturally known option is considered as an
sistematicamente, igual ou maior que 14
option in the search for therapeutic solutions,
por 9. Ela é muito comum, acomete uma em
used mainly by the low income population. The
cada quatro pessoas adultas. A fitoterapia
intention of this study is to investigate the use
por se tratar de uma opção eficiente, barata e
of herbal medicines as an alternative to treat
culturalmente conhecida é considerada como
hypertension in patients at a health center in the
opção na busca de soluções terapêuticas,
city of Fortaleza (CE). The study was developed
utilizada principalmente pela população de
with 40 hypertensive patients aged between
baixa renda. A intenção deste estudo refere-se
38 and 82 years, through the application of a
à investigação do uso de fitoterápicos como
questionnaire on phytotherapeutic knowledge.
alternativa de tratamento da hipertensão de
According to the results, it was verified a
pacientes de um posto de saúde da cidade de
low intake of herbal and medicinal plants

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 17 152


by hypertensive patients of the public network, among those who use, the majority
had learned with the family about the use of the plants, affirming to feel a significant
improvement in the symptoms.
KEYWORDS: Phytotherapy. Hypertension. Medicinal plants.

INTRODUÇÃO

Hipertensão Arterial Sistêmica, usualmente chamada de pressão alta, é ter os


níveis pressóricos elevados e mantidos, igual ou maior a 140 e/ou 90 mmHg. Está
frequentemente associada a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgão-alvos
(coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, como
aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais, segundo a SBC (2016). Ela é
muito comum, acometendo uma em cada quatro pessoas adultas. Os hipertensos
devem conhecer sua condição e manter-se em tratamento com adequado controle
da pressão. Silva e Hahn (2011), consideram a fitoterapia uma boa opção para
o controle dos níveis pressóricos, principalmente para a população de baixa
renda, pois se trata de uma ferramenta eficiente, barata e culturalmente difundida.
Acredita-se que o uso de plantas medicinais seja favorável à saúde humana, desde
que o usuário tenha conhecimento prévio de sua finalidade, riscos e benefícios, sendo
responsabilidade dos profissionais de saúde, orientar a população quanto à utilização
segura e racional dos fitoterápicos/ plantas medicinais (FARIAS, 2016).
A intenção deste estudo refere-se à investigação do uso de fitoterápicos como
alternativa de tratamento da hipertensão de pacientes de um posto de saúde da
cidade de Fortaleza – (CE).

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido com 40 hipertensos com faixa etária entre 38 e


82 anos. Foram selecionados os pacientes hipertensos usuários da unidade básica
de saúde que aguardavam atendimento médico ou estavam na fila de espera de
medicamentos através de uma entrevista direta com questionário estruturado a partir
de Silva et al. (2006), contendo perguntas fechadas para identificação dos pacientes e
perguntas abertas referentes às plantas medicinais que os mesmos utilizavam. Foram
excluídos do estudo os pacientes que se negaram a participar, gestantes e pessoas
com capacidade cognitiva reduzida.
Os dados coletados foram digitados em planilha do programa Excel® versão
2013 e foram descritos através de estatística de média ± desvio padrão e porcentagem.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 17 153


RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa revelou que o uso de plantas medicinais para controle da hipertensão


arterial foi relatado por apenas 42,5 % dos entrevistados (predominância de mulheres,
70 %). Dentre as espécies citadas predominou o uso de erva cidreira (47%), seguido
por capim santo e alho (29,41%) e erva doce (23,53%). 70,5 % notaram melhora nos
sintomas enquanto que 29,4 % não notaram nenhuma diferença após o consumo.
47% dos entrevistados faziam uso de fitoterápicos por indicação de familiares, 29,4 %
por indicação de amigos ou vizinhos enquanto que 23,52% por recomendação médica.
Em relação ao tempo de uso acima de 2 anos (58,88%), 1 a 3 meses (11,76 %),3 a 6
meses (5,88%), mais de 3 meses (5,88%), mais de 6 meses (5,88%), menos de 1 mês
(11,76%). Em relação a frequência diária (35,29%), mais que 1 vez por mês (35,29%),
mais que 1 vez por semana (23,53%), semanal (5,88%). Quanto ao modo de ingestão
chá (88,23%), maceração (5,88%), cápsula (5,88%). De acordo com os resultados
verificou-se uma baixa ingestão de fitoterápicos e plantas medicinais pelos pacientes
hipertensos da rede pública, dentre os que fazem uso, a maioria haviam aprendido com
a família sobre a utilização das plantas, afirmando sentir uma melhora significativa nos
sintomas. O uso de plantas medicinais deveria ser uma prática comum de cuidado à
saúde, com acompanhamento dos profissionais da área, por ser uma alternativa mais
natural, eficiente e barata em relação ao tratamento medicamentoso. Nesse sentido,
propostas de educação permanente sobre plantas medicinais tornam-se relevantes,
no intuito de fortalecer a integralidade do cuidado. A participação dos profissionais de
saúde e, especificamente o nutricionista na orientação da população em relação ao
uso da fitoterapia para tratamento da hipertensão arterial é de grande importância,
tendo em vista a peculiaridade de cada planta e sua utilização adequada.

CONCLUSÃO

Com os resultados citados, analisando-se o tipo de paciente escolhido para


o estudo, pôde-se perceber que a maioria não faz uso de plantas medicinais como
alternativa de controle da hipertensão. Porém, os que o fazem declaram sentir uma
melhora significativa nos sintomas. Contudo, o uso de plantas medicinais deveria ser
uma prática comum de cuidado à saúde, com acompanhamento dos profissionais da
área, por ser uma alternativa mais natural, eficiente e barata em relação ao tratamento
medicamentoso.

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arterial sistêmica, diabetes mellitus ou dislipidemias. Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e
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Sociedade Brasileira de Cardiologia / Sociedade Brasileira de Hipertensão / 7ª Diretriz Brasileira de


Hipertensão. Arq Bras Cardiol.; v.107,n.3,supl.3,2016.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 17 155


CAPÍTULO 18

USO DE LIPOENXERTO EM CICATRIZ EXCISÃO DE


SARCOMA EM MEMBRO INFERIOR

Ananda Christiny Silvestre RESUMO: Introdução: A inclusão da


Universidade Federal de Goiás, Faculdade de lipoaspiração ao arsenal da Cirurgia Plástica
Medicina promoveu um incremento no uso de enxerto
Goiânia – GO autólogo de gordura, sendo este atualmente
Bárbara Oliveira Silva aplicado para aumento de volume, substituição
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de de tecidos moles, reparo cicatricial e para fins
Medicina
estéticos e reconstrutores no pós-operatório de
Goiânia – GO excisões cirúrgicas. Justificativa: O presente
Beatriz Aquino Silva artigo visa relatar um caso de lipoenxertia
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de em local de ressecção de lipossarcoma, que
Medicina
objetivou a restauração da silhueta corporal, a fim
Goiânia – GO
de demonstrar a eficácia do tratamento estético
Citrya Jakelline Alves Sousa da lesão. Metodologia: Foram utilizados dados
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de
secundários, obtidos em prontuário do Hospital
Medicina
das Clínicas da Universidade Federal de Goiás
Goiânia – GO
(HCUFG). Para embasamento teórico, foram
Débora Goerck feitas buscas em bancos de dados virtuais,
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de
como SciELO e PUBMED. Resultados e
Medicina
Discussão: A lipoenxertia tem sido cada vez
Goiânia – GO
mais utilizada em reconstruções de cicatrizes
Marianna Medeiros Barros da Cunha decorrentes de ressecção de neoplasias e
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de
reparo de assimetrias. Contudo, tem como
Medicina
principal desvantagem a reabsorção de
Goiânia – GO
gordura, que ocorre frequentemente no pós-
Rodrigo Gouvea Rosique
operatório, implicando na necessidade de
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de
reabordagens cirúrgicas. No presente caso,
Medicina
houve grande perda de tecido miofascial, após
Goiânia – GO
ressecção neoplásica, tendo sido necessária a
Tuanny Roberta Beloti
realização de três lipoenxertias consecutivas
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de
Medicina com quantidades de gordura sucessivamente
Goiânia – GO maiores, buscando reparar a silhueta corporal

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 18 156


e o bem-estar biopsicossocial da paciente. Conclusão: A Cirurgia Plástica reparadora
está associada à correção de deformidades físicas, bem como de um eventual
desequilíbrio psicológico associado, objetivando sempre promover e restaurar a
qualidade de vida dos pacientes, através da oferta de um tratamento holístico.
PALAVRAS-CHAVE: Lipoenxertia, Cirurgia Plástica, Lipossarcoma

ABSTRACT: Introduction: The inclusion of liposuction in the arsenal of Plastic


Surgery promoted an increase in the use of autologous fat grafting, which is being
currently applied for volume increase, soft tissue replacement, cicatricial repair and
aesthetic and reconstructive purposes in the postoperative period of surgical excisions.
Justification: This article aims to report a case of fat grafting in the site of resection of
a liposarcoma, which aimed at restoring the body silhouette, in order to demonstrate
the effectiveness of the aesthetic treatment of the lesion. Methodology: Secondary
data was obtained from medical records of the Hospital das Clínicas of the Federal
University of Goiás (HCUFG). For the theorical background, searches were made
on virtual databases, such as SciELO and PUBMED. Results and Discussion: Fat
grafting has been increasingly used in reconstruction of scars of neoplastic resection
and in the repair of asymmetries. However, its main disadvantage is fat reabsorption,
which occurs frequently postoperatively, implying the need for surgical reassetment. In
the present case, there was a great loss of myofascial tissue after neoplastic resection,
and it required three consecutive fat grafting with successively larger amounts of fat,
in order to repair the body silhouette and the biopsychosocial well-being of the patient.
Conclusion: Restorative Plastic Surgery is associated with the correction of physical
deformities, as well as a possible psychological imbalance associated, always aiming to
promote and restore patients’ quality of life through the provision of a holistic treatment.
KEYWORDS: Fat grafting, Plastic Surgery, Liposarcoma

1 | INTRODUÇÃO

A fase atual do transplante autólogo de gordura (lipoenxertia) teve início em


1970, com Fischer (FRAGA, 2010). Com o contínuo progresso da técnica, no século
passado, houve um aumento da tendência de substituição do volume de tecido mole
com enxerto de gordura autóloga, nos dias atuais (YU et al., 2015). O uso de lipoenxertia
para preenchimentos teve seu incremento após a lipoaspiração ter sido integrada ao
arsenal da cirurgia plástica (JÚNIOR, 2008). O enxerto autólogo de tecido adiposo é
aplicado para aumento de volume e para substituição de tecidos moles (FRAGA, 2010).
Outras aplicações incluem injeção de gordura autóloga sob pele fibrótica, reparo de
defeito dural, fechamento de fístula da próstata perineal, laringoplasia (YU et al., 2015)
e para fins estéticos e reconstrutores pós-excisões cirúrgicas.
A gordura exibe qualidades desejáveis para utilização como material de
preenchimento. É autóloga, biocompatível, está presente em quantidades suficientes
como tecido doador, sendo de fácil obtenção e aplicação. O procedimento tem baixo

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 18 157


custo, é passível de repetição e quando necessário, existe a possibilidade de a gordura
transplantada ser removida (FRAGA, 2010). A principal desvantagem é a imprevisível
extensão de tecido adiposo reabsorvido no local, que reduz a eficácia clínica do
procedimento e, frequentemente, necessita de reparação tardia. As taxas de absorção
são variáveis, sugerindo que a sobrevivência da gordura depende de fatores como o
local de coleta e, principalmente, manuseio do tecido gorduroso a ser utilizado como
enxerto (ALENCAR et al., 2011).
Demarca-se a área doadora, a qual é infiltrada com solução anestésica até a pele
atingir o estado túrgido e de vasoconstrição. Realiza-se a aspiração da gordura com
seringa e cânula de dimensões variadas. Inicia-se, em seguida, a infiltração expansiva
das áreas receptoras, a qual deve ser lenta e volumetricamente controlada. Sempre
considera-se que o volume enxertado não deve ser injetado em grande volume, nem
sob pressão ou hipercorrigido; é importante enxertar em vários planos; deve-se eliminar
a presença de óleo e sangue dentro das seringas e não deve haver hematomas na área
receptora. (JÚNIOR, 2008). Acredita-se, portanto, que os resultados são diretamente
dependentes da técnica executada e da habilidade do cirurgião (YU et al., 2015).

2 | JUSTIFICATIVA

O procedimento foi realizado na paciente L.F. para a reparação de sua silhueta,


visto que sofreu grande deformação pós-ressecção neoplásica, gerando grande
insatisfação em L.F. Além disso, deve-se lembrar que uma enfermidade como essa
afeta o indivíduo não somente física, mas psicologicamente, envolvendo sua vontade de
lutar contra a doença e sua auto estima durante e depois do tratamento farmacológico,
radiológico ou cirúrgico. Assim, por ser uma paciente jovem, é extremamente importante
que seja mantida a sua auto estima, a fim de garantir seu bem estar biopsicossocial.

3 | METODOLOGIA

Foram utilizados dados secundários, obtidos em prontuário do Hospital das


Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HCUFG) para elaboração do relato de
caso. Não é necessária a aprovação pelo Comitê de Ética da instituição, visto que
não foram utilizados dados primários, houve preservação da identidade do paciente e
não houve possíveis danos ao mesmo. Para a base teórica, foram feitas buscas em
bancos de dados virtuais, como SciELO e PUBMED.

4 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Paciente L.F. feminina, 35 anos, foi diagnosticada com lipossarcoma em coxa


direita, em 2013, sendo submetida à ressecção local. Após cerca de 6 meses, foi

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 18 158


encaminhada ao serviço de Cirurgia Plástica do HCUFG, onde foi realizado o primeiro
lipoenxerto na região em busca de melhor contorno estético. Foi feita a infiltração de
400ml de tecido gorduroso extraído do abdome e das coxas, bilateralmente, por meio
de lipoaspiração. Evoluiu com absorção do enxerto e consequente persistência da
depressão local e da retração cicatricial. Dessa forma, foi necessária uma reabordagem
com nova lipoenxertia local, após 7 meses do pós-operatório da primeira operação,
evoluindo com melhora parcial da retração cicatricial, no pós-operatório.
A paciente permaneceu em acompanhamento ambulatorial com a equipe de
Cirurgia Plástica do HCUFG e, após 1 ano e 7 meses da segunda operação, a paciente
permanecia insatisfeita com a condição estética de sua perna, sendo realizada nova
lipoenxertia em região cicatricial. Foi feita lipoenxertia de 420ml de tecido gorduroso
em região anterolateral da coxa direita. O lipoenxerto foi retirado da região de flancos
direito e esquerdo, região cranial de coxa direita e medial de coxa esquerda. No
último retorno, realizado no 15° dia de pós-operatório, a paciente mostrou-se feliz
com o resultado final da cirurgia, exibindo melhora da cicatriz em região de excisão de
lipossarcoma, além de um contorno mais harmonioso de sua silhueta.
As cicatrizes são sinais visíveis que permanecem após uma ferida ser cicatrizada,
sendo resultado inevitável de lesão ou cirurgia, podendo ser imprevisível o seu
desenvolvimento. Suas opções de tratamento variam de acordo com o tipo e o grau de
cicatrização e podem incluir tratamentos tópicos simples, procedimentos minimamente
invasivos e revisão cirúrgica.
Outrossim, correção cicatricial é a cirurgia plástica realizada para melhorar a
condição ou a aparência de uma cicatriz em qualquer parte do corpo. No caso da
paciente L.F., a grande perda de tecido miofascial durante a ressecção do sarcoma
resultou em uma cicatriz depressiva e com contratura. Devido a tais aspectos estéticos,
o uso de tratamento tópico e procedimentos minimamente invasivos não seriam
eficientes para correção. O enxerto autólogo de gordura é uma técnica cirúrgica que
vem sendo utilizada nas reconstruções de cicatrizes decorrentes de ressecção de
neoplasias, mais comumente o câncer mamário, mas também em quaisquer situações
que visem a reparação de assimetrias.
A maior desvantagem desse procedimento é a reabsorção de gordura, que
acontece na maioria das vezes. Estudos experimentais evidenciam que até 90% do
transplante pode ser reabsorvido, enquanto clinicamente é em torno de 40% a 60%.
Essa perda ocorre nos primeiros seis meses e a vascularização insuficiente é uma de
suas principais causas.

5 | CONCLUSÕES

A cirurgia plástica torna-se, cada dia mais, uma área de atuação bastante ampla,
que compreende um conjunto de procedimentos clínicos e cirúrgicos utilizados com a

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 18 159


finalidade de reparar e reconstruir partes do revestimento externo do corpo humano.
A cirurgia plástica reparadora está associada à correção de deformações, sejam
congênitas ou adquiridas, como é o caso de uma cicatriz profunda em membro inferior
decorrente de ressecção neoplásica. A abordagem permite, portanto, a correção de
um eventual desequilíbrio psicológico causado pela deformação, como a infelicidade
da paciente em questão. Desse modo, o objetivo final é sempre promover melhor
qualidade de vida para os pacientes, principalmente por se tratar de uma jovem, sendo
extremamente importante que seja recuperada sua auto estima a fim de garantir seu
bem estar biopsicossocial, através do oferecimento de um tratamento holístico.

REFERÊNCIAS
ALENCAR, Júlio César Garcia de et al. Lipoenxertia autóloga no tratamento da atrofia hemifacial
progressiva (síndrome de Parry-Romberg): relato de caso e revisão da literatura. An. Bras.
Dermatol., [s.l.], v. 86, n. 4, p.85-88, ago. 2011.

BERSOU JÚNIOR, AristÓteles. Lipoenxertia: técnica expansiva. Revista Brasileira de Cirurgia


Plástica, São Paulo, v. 2, n. 23, p.89-97, fev. 2008.

FERREIRA, Marcus Castro. Cirurgia Plástica Estética - Avaliação dos resultados. Revista da
Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. São Paulo v.15 nº1 p. 55-66 jan-abr. 2000.

FRAGA, Murillo Francisco Pires. Integração do enxerto autólogo de tecido adiposo enriquecido
com plasma rico em plaquetas - Estudo em coelhos. 2010. 67 f. Tese (Doutorado) - Curso de
Medicina, Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Santa Casa de São Paulo,
São Paulo, 2010.

YU, Nan‑ze et al. A Systemic Review of Autologous Fat Grafting Survival Rate and Related
Severe Complications. Chinese Medical Journal, Beijing, v. 128, n. 5, p.1245-1251, maio 2015.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 18 160


CAPÍTULO 19

CONCURSO LANCHES SAUDÁVEIS, DE BAIXO


CUSTO E PRÁTICOS PARA CANTINAS DE
INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR:
UMA EXPERIÊNCIA EXITOSA

Maria Claret Costa Monteiro Hadler receitas que atendiam as exigências do edital.
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Posteriormente, houve a fase de planejamento
Nutrição e desenvolvimento com a participação do
Goiânia - Goiás movimento estudantil, movimento sindical,
Ariandeny Silva de Souza Furtado servidoras/es, gestores, representante das
Instituto Federal de Educação de Goiás, cantinas institucionais, além da articulação
Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do
com a rede pública e privada de ensino que
Servidor do IF Goiano e IFG
oferecem os cursos de gastronomia, nutrição,
Goiânia – Goiás
e técnico em nutrição e dietética. As quatro
Maria Das Graças Freitas de Carvalho duplas finalistas apresentaram lanches com
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de
valor nutricional, práticos e adequados para
Nutrição
serem reproduzidos nas cantinas com um
Goiânia - Goiás
custo de preparação entre R$0,75 a R$1,16.
O concurso foi uma experiência exitosa, que
corroborou com a discussão institucional
RESUMO: No primeiro semestre do ano 2015 sobre Segurança Alimentar e Nutricional e
foi realizado o “Concurso lanches saudáveis, evidenciou a alimentação saudável enquanto
de baixo custo e práticos para cantinas de estratégia de promoção da saúde. Neste
Instituições Federais de Ensino Superior contexto, é importante potencializar no
em Goiás” pela Faculdade de Nutrição da ambiente institucional ações intersetoriais,
Universidade Federal de Goiás (FANUT – interdisciplinares e transversais que versem
UFG). A atividade contou com a parceria dos pela alimentação saudável, tornando o cardápio
Subsistemas Integrados de Atenção à Saúde ofertado nas cantinas um fator de proteção à
dos Servidores da UFG, do Instituto Federal saúde e não de risco.
de Goiás, e do Instituto Federal Goiano. O PALAVRAS-CHAVE: Promoção da saúde; Dieta
objetivo foi estimular a comercialização de saudável; Segurança alimentar e nutricional
lanches saudáveis a preços acessíveis na
UFG, Instituto Federal de Goiás – IFG e - IF ABSTRACT: In the first half of the year 2015 was
Goiano, enquanto estratégia de promoção da held the “Healthy snacks, low-cost and practical
Alimentação Saudável. O concurso teve início for the canteers of Federal Institutions of Higher
com a fase de pré-seleção. Foram selecionadas Education in the State of Goiás” Nutrition

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 161


School of the Federal University of Goiás (UFG-FANUT). The activity counted on the
partnership of the Integrated Subsystems of Attention to the Health of the Public Servers
of the UFG, of the Federal Institute of Goiás, and of the Federal Goiano Institute. The
objective was to stimulate the marketing of healthy snacks at affordable prices in UFG,
Federal Institute of Goiás-IFG and Federal Institute Goiano-IF Goiano, as a strategy
to promote healthy eating. The competition began with the pre-selection phase. We
selected recipes that met the requirements of the edict. Later, there was a planning
and development phase with the participation of the student movement, trade union
movement, servants, managers, representative of institutional canteens, as well as
the articulation with the public and private educational network that offer the courses of
gastronomy, nutrition, and nutrition and dietetics technician. The four finalists presented
snacks with nutritional value, practical and suitable to be reproduced in canteens with
a preparation cost between R $ 0.75 and R $ 1.16. The contest was a successful
experience, which corroborated with the institutional discussion for food and nutritional
security and showed healthy eating while health promotion strategy. In this context, it
is important to strengthen in the institutional environment intersectoral, interdisciplinary
and transversal actions that are related to healthy eating, making the menu offered in
canteens a factor of protection to health and not risk.
KEYWORDS: Health Promotion; Healthy Diet; Food and Nutrition Security

1 | INTRODUÇÃO

As ações de alimentação e nutrição são cada vez mais visivelmente necessárias,


visto que o atual perfil de morbimortalidade da população brasileira, no qual as
Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT), representam a principal causa de
morte no mundo, e a etiologia, por sua vez está diretamente relacionada com o padrão
alimentar, o estado de nutrição e estilo de vida da população (ALWAN et al., 2009;
MALTA; SILVA-JR, 2013).
A alimentação e o “estilo de vida ocidental contemporâneo” (WANDERLEY;
FERREIRA, 2010; BARROS et al., 2013), caracterizado pela redução do esforço físico
e padrão dietético marcado pelo elevado consumo de alimentos industrializados,
ultraprocessados, ricos em açúcares, sódio, gordura saturada, em detrimento dos
alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras, fontes de vitaminas, minerais e
fibras (BRASIL, 2012, 2013, 2014; MALTA; SILVA-JR, 2013; WANDERLEY; FERREIRA,
2010).
Esse perfil evidencia o período de “transição alimentar e nutricional”, no qual
ocorre um consumo mais elevado de alimentos industrializados, a redução das
carências nutricionais na população adulta e aumento da prevalência do excesso de
peso (sobrepeso e obesidade). A alimentação inadequada um dos principais fatores
de risco que contribuem para a existência e permanência desse quadro (BARROS et
al., 2013; ABRANDH, 2013; PORTILHO; CASTAÑEDA; CASTRO, 2011).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 162


Como consequência desta transição, o aumento na prevalência das DCNT, que
assim como no mundo, no Brasil é o agravo de saúde mais frequente e responsável
pela maioria das entradas no sistema de saúde (BRASIL, 2006a) sendo que, em 2011,
foram causa de 72% das mortes conhecidas no país e de 63% das mortes no mundo
em 2008 (ALWAN et al., 2009; BRASIL, 2014; PORTILHO; CASTAÑEDA; CASTRO,
2011)
Para dar resposta a esse quadro as ações preconizadas pelas políticas públicas
de saúde, abrangem a vigilância, promoção, proteção e manutenção da saúde,
respeitando as singularidades loco-regionais, a identificação dos fatores condicionantes
e determinantes do processo saúde-doença, além de potencializar a participação
da comunidade na implantação de planos de intervenções que contribuam para a
promoção da saúde (ALWAN et al., 2009; BRASIL, 2014; MALTA; SILVA-JR, 2013).
A alimentação e a nutrição enquanto eixos básicos para a promoção e a proteção
da saúde, são fatores condicionantes e determinantes do estado de saúde do indivíduo,
além de serem responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento humano, com
qualidade de vida e cidadania (GABRIEL et al., 2010; PEDROSO, 2010).
No contexto de cidadania e alimentação, a Segurança Alimentar e Nutricional
(SAN) é definida, em sua Lei Orgânica nº 11.346, como a realização do direito de
todos ao acesso regular, permanente e sustentável a alimentos em quantidade e
qualidade suficiente e que não comprometa o acesso a outros serviços básicos, como
educação, saneamento básico, moradia, saúde, entre outros. Além disso, e não menos
importante, a SAN prevê que as práticas alimentares devem respeitar a diversidade
cultural e social da população (ALVES; JAIME, 2014).
A não garantia de SAN predispõe à Insegurança Alimentar e Nutricional (InSAN).
Esta possui duas faces, a primeira referente à restrição alimentar repercutida na forma
de desnutrição e deficiências nutricionais, que inclusive, tem decrescido entre as
populações. Enquanto a outra face é consequência não da restrição, mas do consumo
inadequado de alimentos no que se refere à variedade e qualidade nutricional. E
esse segundo quadro de InSAN, associado ao estilo de vida moderno ocidental são
considerados fatores importantes para a permanência do atual perfil epidemiológico
da população (ALVES; JAIME, 2014; GABRIEL et al., 2010).
Assim, uma proposta que estimule a alimentação saudável e adequada, como
estratégia para a promoção da saúde e garantia de SAN, há de propor mudanças
no comportamento alimentar possibilitando em âmbito individual e coletivo escolhas
alimentares mais saudáveis, que além de serem representações sócio-históricas e
culturais de vida e vinculam ao processo saúde-doença-cuidado (LOBSTEIN; BAUR;
UAUY, 2004).
De acordo com as diretrizes da alimentação saudável, a alimentação deve
apresentar adequação conforme o ciclo de vida, quantidade energética, qualidade
nutricional, variedade, condição higiênico sanitária, características organolépticas,
respeito à cultura alimentar, acessibilidade física e financeira, além de ser sustentável
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 163
do ponto de vista socioeconômico e ambiental características fundamentais na
construção da SAN (ALWAN et al., 2009; GABRIEL et al., 2010; KANG et al., 2015;
MALTA; SILVA-JR, 2013).
A promoção da SAN deve ser trabalhada de forma transversal entre as diferentes
esferas do governo e da sociedade civil, alcançando o caráter intersetorial, na
regulamentação, informação, comunicação e capacitação de profissionais.
A implementação de ações de promoção da saúde pelo incentivo à alimentação
saudável, acessível e sustentável, se constitui como estratégia para o enfretamento
da complexidade da situação de InSAN e sua relação com o perfil epidemiológico da
população brasileira, em âmbito individual e coletivo.
Nesse contexto, os objetivos institucionais e sociais das Instituições Federais
de Ensino Superior (IFES) devem perpassar pela atuação intersetorial para que seja
efetuado o seu papel em proteger, promover e prover, de forma transversal, democrática
e participativa a saúde tendo o incentivo à alimentação saudável como estratégia da
SAN. E isso ainda possibilita conhecer, analisar, monitorar e avaliar os fatores de risco
e de proteção a saúde no ambiente institucional, subsidiando a implementação de
ações interventivas.
Esse trabalho apresenta enquanto ação interventiva a experiência exitosa do
concurso “lanches saudáveis, de baixo custo e práticos para as cantinas institucionais”
tendo como objetivo estimular a comercialização de cardápio mais saudável e acessível
financeiramente as/os estudantes e servidoras/es da Universidade Federal de Goiás
- UFG, Instituto Federal de Goiás – IFG e Instituto Federal Goiano - IF Goiano, como
estratégia de promoção da SAN.

2 | METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de um relato de experiência sobre prática de ensino


durante a formação acadêmica em nutrição.
No primeiro semestre de 2015, os/as discentes da FANUT/UFG, cursantes
da disciplina Educação Nutricional II, sob a supervisão da docente/coordenadora
da disciplina, em diálogo com as nutricionistas da Pró-Reitoria de Assuntos da
Comunidade Universitária da Universidade Federal de Goiás (PROCOM/UFG) e do
SIASS IF Goiano/IFG, analisaram criticamente o processo de licitação das cantinas
institucionais, o valor nutricional e o custo do cardápio ofertado.
Como conclusão desse processo, evidenciou-se a necessidade de desenvolver
ações institucionais de forma compartilhada e participativa com a comunidade
acadêmica, objetivando viabilizar opções mais saudáveis, práticas e economicamente
acessíveis para compor o cardápio das cantinas.
Com base no tripé acadêmico da pesquisa-ensino-extensão, foi realizada uma
pesquisa de opinião via internet que teve como objetivo avaliar a qualidade dos

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 164


lanches servidos na UFG e no Instituto Federal de Goiás – IFG no município de
Goiânia. Para a divulgação houve a parceria do Centro Acadêmico/NUTRIÇÃO/UFG;
Diretório Central dos Estudantes/UFG; Grêmio Estudantil do IFG/Campus Goiânia;
Sindicato dos Docentes da Universidade Federal de Goiás (ADUFG); Sindicato dos
Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação (SINT-IFESgo); Sindicato dos
Trabalhadores em Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica
no Município de Goiânia (SINTEF- GO); Pró-Reitoria de Assuntos da Comunidade
Universitária (PROCOM/UFG).
Os dados parciais demonstraram que 61,3% das/os alunas/os e servidoras/
es consideram o lanche caro e 5,1% inacessível. A pesquisa faz parte do estudo
intitulado: “Ambiente Virtual como Ferramenta de Promoção da Educação Alimentar
e Nutricional” aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFG - CEP, parecer nº
430.981 em 21/10/2013.
Como intervenção, foi proposto o “Concurso lanches saudáveis, de baixo custo
e práticos para cantinas de Instituições Federais de Ensino Superior de Goiás” pela
FANUT/UFG em parceria com o SIASS/UFG e SIASS IF Goiano/IFG com o propósito
de estimular a comercialização de lanches saudáveis e a preços baixos para as/
os estudantes e servidoras/es da UFG e dos Institutos Federais de Goiás (IFG e IF
Goiano), como estratégia de promoção da alimentação saudável.
No processo de planejamento e desenvolvimento do concurso, houve a
participação do movimento estudantil, movimento sindical, docentes, servidoras/es
técnica/o-administrativas/os, gestoras/es, representante das cantinas institucionais,
além da articulação com a rede privada e pública que ofertam os cursos de gastronomia,
nutrição, engenharia de alimentos, técnico em nutrição e dietética.
O concurso foi desenvolvido em 3 etapas: na 1º houve o planejamento, busca
por patrocínio, apoio intersetorial, e elaboração do regulamento (anexo), no qual as
receitas deveriam ser inscritas por duplas de estudantes de graduação em nutrição,
gastronomia, engenharia de alimentos e curso técnico de Nutrição e Dietética.
As receitas deveriam contemplar os requisitos de valor nutricional para um
lanche saudável, não ultrapassando 15% do Valor Energético Total (VET) total diário
preconizado em 2.000 kcal; custo dos gêneros alimentícios por porção de até R$1,20
e custo final de comercialização de até R$2,00; e serem práticos de fabricar para que
possam ser oferecidos nas cantinas institucionais.
A 2º etapa foi a de divulgação que contou com apoio dos movimentos sindicais:
SINT-IFESgo, Adufg e Diretoria de Recursos Humanos/UFG, SIASS/UFG e SIASS
IF Goiano/Goiás incentivando a participação das/os servidoras/es e publicizando nas
redes sociais e e-mails.
A Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD/UFG); o DCE/UFG; o CA/FANUT e
as/os discentes da disciplina de EN II foram as/os responsáveis por potencializar a
divulgação para a comunidade acadêmica por e-mail, cartazes virtuais e impressos,
folders, facebook da Pós-Graduação em Nutrição e Saúde da FANUT/UFG, e sites
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 165
institucionais. Foi também divulgado na RedeNutri, e no facebook do Centro Acadêmico
de Nutrição da Unisinos.
Para participar da pré-seleção as/os candidatas/os elaboraram uma receita, a
qual exigiu-se que estivesse em acordo com as recomendações do Guia Alimentar para
a População Brasileira (BRASIL, 2014), além disso, a preparação deveria apresentar
custo máximo para venda de R$2,00 e custo máximo para aquisição dos gêneros
alimentícios para a receita de R$1,20.
As/os participantes foram pré-selecionadas/os por um Júri Técnico, composto
por: nutricionista/docente e técnica em nutrição e dietética da FANUT/UFG;
representante do DCE/UFG; nutricionista da PROCOM/UFG; gastrônoma, professora
e Coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Gastronomia da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás (PUC/Goiás); nutricionista/docente do IFG e prestador
de serviço de lanchonete institucional da UFG.
A última etapa consistiu na execução do concurso enquanto evento, que foi
realizado no dia 28 de maio (2015), no Laboratório de Técnica Dietética da FANUT/
UFG e no Auditório das Faculdades de Enfermagem e Nutrição da UFG, conforme
programação:
14-16h - Preparo dos Lanches pelas duplas no Laboratório de Técnica e Dietética
da FANUT/UFG e apresentação das receitas homologadas na pré-seleção.
16-17:30h - Degustação e avaliação das receitas pela Banca Julgadora.
17:30-18h - Intervalo com degustação e sorteio de brindes e avaliação das
receitas pela Banca Examinadora.
18h - Resultado final e premiação.
Os itens alimentícios para o preparo da receita deveriam ser adquiridos pelos/as
estudantes. Os itens de cozinha como utensílios e equipamentos foram disponibilizados
pela FANUT/UFG. Os patrocinadores ofereceram premiação em dinheiro para a dupla
vencedora, além de diversos kits de produtos para as duplas que ficaram em 2º e 3º
lugares bem como para a comunidade universitária convidada a prestigiar o evento.
A avaliação final foi por pontuação e os atributos considerados foram: criatividade;
aparência, originalidade, valor nutricional, uso de alimentos de baixo custo.

3 | RESULTADOS

Foram 8 inscrições no total, sendo as receitas pré-selecionados, conforme as


especificidades do regulamento, pela Banca de Pré-seleção, composta por docentes
da FANUT/UFG, nutricionista do SIASS IF Goiano/IFG, representante do Centro
Acadêmico de Nutrição da FANUT e discentes da Comissão Organizadora. Destas
8 inscritas, 4 foram homologadas no dia 25 de maio (2015), oriundas das discentes
FANUT/UFG e dos Cursos de Tecnologia em Gastronomia e de Nutrição PUC/GOIÁS
sendo os seguintes: Bolo Integral de Maçã, Tortinha Colorida, “Sanduba 3B (Bom,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 166


Bonito e Barato) ” e Rolinho de Panqueca de Frango.
No concurso realizado a classificação final dos lanches homologados, os prêmios
concedidos e o valor nutricional das preparações foram:
1º Lugar (Receita Bolo Integral de Maçã) - Certificado de premiação + R$700,00
+ kit de produtos dos patrocinadores. Valor energético total (VET): 304 kcal por porção,
custo por porção R$0,75.
2º Lugar (Receita Tortinha Colorida) - Certificado de premiação + kit de produtos
dos patrocinadores. Valor energético total (VET): 165 kcal por porção, custo por porção
R$0,86.
3º Lugar (Receita Rolinho de Panqueca de Frango) - Certificado de premiação +
kit de produtos dos patrocinadores. Valor energético total (VET): 294 kcal por porção,
custo por porção R$1,16.
4º Lugar (Receita Sanduba 3B) – Menção Honrosa + kit de produtos dos
patrocinadores. Valor energético total (VET): 193 kcal por porção, custo por porção
R$0,81.

4 | DISCUSSÃO

Há na literatura científica uma lacuna em estudos que evidenciem intervenções


com práticas alimentares saudáveis em lanchonetes institucionais nas IFES no
Brasil. Por outro lado, há evidencias de que um cardápio saudável nas lanchonetes
da educação básica se constitui um fator de promoção da alimentação saudável,
contribui para a Segurança Alimentar e Nutricional, a efetivação do Direito Humano
a Alimentação Adequada (DHAA) e na redução da prevalência do excesso de peso e
obesidade (ALVES; JAIME, 2014; LOBSTEIN; BAUR; UAUY, 2004).
Uma proposta de alimentação saudável para redução do excesso de peso e as
DCNT deve garantir o acesso financeiro a alimentos saudáveis pela comunidade e o
aumento do consumo de alimentos com valor nutricional adequado (D’AVILA et al.,
2015; SICHIERI et al., 2000).
O concurso considerou esses aspectos, na medida que apresentou no edital
enquanto pré-requisito para as receitas, o valor nutricional para um lanche saudável,
não ultrapassando 15% do Valor Energético Total (VET) total diário preconizado em
2.000 kcal; custo dos gêneros alimentícios por porção de até R$1,20 e custo final de
comercialização de até R$2,00; e serem práticos de fabricar para que possam ser
oferecidos nas cantinas institucionais.
Nas lanchonetes escolares, o consumo de alimentos de baixo valor nutricional
é elevado, mesmo com atos normativos que regulamentam os alimentos a serem
vendidos e com estímulo a implementação das diretrizes da alimentação saudável
para o ambiente escolar (GABRIEL et al., 2010; KRAMER-ATWOOD et al., 2002;
NAGO et al., 2014; SCHMITZ et al., 2008).
Estudos recentes apontam que a alimentação fora do domicílio, cada vez mais
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 167
comum devido à urbanização, está associada ao risco para sobrepeso e obesidade.
Isso porque é observado um aumento substancial na ingestão calórica diária quando
as refeições são realizadas fora do lar (NAGO et al., 2010; NIELSEN; SIEGA-RIZ;
POPKIN, 2002).
O que evidencia a importância da Educação Alimentar e Nutricional (EAN) para
estimular a autonomia em escolhas alimentares mais saudáveis que articulada com a
oferta de lanches práticos, saudáveis e de baixo nas lanchonetes institucionais podem
contribuir com a implementação de ações que versem pela alimentação saudável e
a Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) (ABRANDH, 2013; BRASIL, 2014, 2012;
NAGO et al., 2014).
Uma das diretrizes da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional é
a instituição de processos permanentes de educação alimentar e nutricional (ALVES;
JAIME, 2014; BRASIL, 2006a, 2006b). A SAN abrange a promoção da saúde, da
nutrição e da alimentação adequada da população, também a comercialização e
consumo de alimentos de acordo com as características culturais (ABRANDH, 2013;
BRASIL, 2006a).
O Estado Brasileiro, através dos seus órgãos, é responsável pela criação de
políticas públicas e participativas que garantam a sua implementação. E é nesse
aspecto que a EAN se articula, enquanto campo de conhecimento e prática contínua de
hábitos alimentares saudáveis e sustentáveis por meio de estratégias interdisciplinares
que potencializam a autonomia das pessoas (BRASIL, 2006a, 2006b, 2013a), sob o
enfoque da integralidade, humanização, articulação de saberes técnicos e populares,
ética e intersetorialidade (ALVES; JAIME, 2014; WHO/FAO, 1998).
Sob este enfoque, o concurso foi desenvolvido de forma intersetorial
possibilitando encaminhamentos resolutivos, na sugestão de inserir no cadápio
lanches nutricionalmente equilibrados, considerando as especificidades das cantinas
institucionais.
O concurso contou com a participação de diversas/os atoras/es sendo planejado
e desenvolvido de forma compartilhada e participativa com as/os discentes, gestores/
as, servidoras/es, nutricionistas, movimento sindical e estudantil e representante da
lanchonete, dentro do tripé acadêmico da pesquisa, ensino e extensão; de forma
intersetorial e interdisciplinar. Dessa forma, foi possível avançar no diálogo sobre a
corresponsabilidade e cogestão para a promoção da saúde com ênfase na alimentação
saudável, no ambiente institucional.
Há propositura nacional e internacional para que sejam criadas dinâmicas locais
intersetoriais que problematize e discuta estratégias contínuas e integradas, com a
participação da sociedade civil, das universidades, dos serviços e da imprensa (BRASIL,
2014; SICHIERI et al., 2000) para que juntas/os assumam a corresponsabilidade na
implementação das políticas públicas em alimentação saudável e na regulamentação
de alimentos ofertados em cantinas institucionais.
A cantina institucional pode ser um espaço saudável quando há o comprometimento
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 168
em desenvolver um cardápio com opções saudáveis e com qualidade nutricional,
higiênico-sanitária e que respeitem o prazer e a identidade cultural (BRASIL, 2014,
2012). E para a realização do DHAA e da SAN é fundamental o processo educativo e o
planejamento compartilhado com a comunidade institucional dentro de uma perspectiva
da promoção da alimentação saudável (ABRANDH, 2013; BRASIL, 2006a).
A discussão que a atividade do concurso promoveu corresponde às propostas
do Guia Alimentar para a população brasileira: o respeito e a valorização de hábitos
saudáveis, com incentivo ao consumo de alimentos in natura e a redução do consumo
de alimentos de baixo valor nutricional e altas quantidades de açúcares, sal e gorduras
bem como os alimentos industrializados (BRASIL, 2014).
O que é reforçado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que ressalta
que as recomendações devem basear-se em alimentos mais do que em nutrientes
(WHO/FAO, 1998), sendo evidenciado no concurso, onde na etapa da pré-seleção as/
os candidatas/os deveriam elaborar uma receita, a qual exigiu-se que estivesse em
acordo com as recomendações do Guia Alimentar para a População Brasileira.
A disciplina de Educação Nutricional II, FANUT/UFG, busca ressaltar a
qualificação das/os discentes para o desenvolvimento das atividades de EAN de forma
problematizadora e sociointeracionista, conforme uma das metodologias inovadoras
propostas no Projeto Político Pedagógico do Curso de Nutrição – UFG (BRASIL,
2013b).
O concurso possibilitou contemplar a EAN enquanto instrumento pedagógico na
valorização da identidade alimentar loco-regional, com utilização de alimentos regionais
e sazonais; a oferta de receitas que corresponda às necessidades nutricionais, com
a inserção de alimentos de baixo custo e alto valor nutricional; a Segurança Sanitária
dos alimentos/refeições e a Vigilância Alimentar e Nutricional, ambas interligadas pela
SAN (ABRANDH, 2013; BRASIL, 2006a, 2014, 2012).
A atividade também contribuiu com o ensino, uma vez que foi idealizada dentro
da disciplina de Educação Nutricional II e oportunizou as/os discentes aplicarem na
prática alguns objetivos específicos apresentados na Ementa dessa Disciplina.
As etapas de planejamento e execução oportunizaram o trabalho com diferentes
grupos como servidoras/es, movimento sindical e estudantil, patrocinadoras/es,
gestoras/es e nutricionistas. Já o processo de avaliação das fichas técnicas dos
concorrentes permitiu a prática de temas discutidos em aula como o aproveitamento
integral dos alimentos e sustentabilidade econômica, cultural, social e ambiental.
Respeitaram e valorizaram os hábitos alimentares na seleção das receitas e elaboraram
cartaz e folder de divulgação do evento.
Ou seja, o concurso contribuiu com a formação das/os discentes da disciplina de
ENII que participaram em todas as etapas do concurso inclusive na banca julgadora e
no protagonismo das/os que se inscreveram no concurso, por serem idealizadoras/es
das receitas de modo a tecer olhar crítico e reflexivo.
Além disso, estimulou a autonomia frente ao desafio de propor para a cantina
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 169
institucional um lanche prático, de baixo custo, com adequado valor nutricional e
que correspondesse as diretrizes brasileiras para alimentação saudável, as normas
higiênico sanitárias em Serviços de Alimentação e na elaboração da Ficha Técnica de
Preparo; o que evidencia o concurso enquanto estratégia de EAN.
Os alunos se beneficiaram por aprender a organizar eventos, a trabalhar em
equipe e pelo estímulo ao fornecimento de lanches mais saudáveis e acessíveis nas
cantinas institucionais.
Possibilitou o vislumbre de diversas perspectivas como: o estímulo à
comercialização de lanches saudáveis e de baixo custo para as/os estudantes e
servidoras/es das IFES, através da inserção das quatro receitas finalistas no cardápio
das lanchonetes institucionais; a de novas edições do concurso como atividade
avaliativa dentro da disciplina de EN II, para ampliar o número de opções de lanches
a serem adotados.
Alguns encaminhamentos foram realizados: a inserção, no processo licitatório
e contrato, das quatro receitas de lanches no cardápio ofertado pelas lanchonetes
institucionais das empresas responsáveis pela alimentação nas IFES; a realização de
uma oficina com as duplas selecionadas para maior adequação das receitas à realidade
das cantinas e a publicação de material educativo com as receitas premiadas.
O concurso apresentou os pilares da sustentabilidade: a econômica (baixo
custo); a ecológica (priorizou alimentos in natura, sazonais, de baixo custo, regionais);
social (planejamento e execução das etapas do concurso de forma compartilhada e
participativa com o movimento estudantil, sindical, estudantes e servidoras/es), cultural
(valorização e resgate da identidade alimentar, transcendendo a dimensão biológica
da alimentação) e política (por problematizar a alimentação ofertada no ambiente
institucional e sua intersecção com as políticas de permanência estudantil e a SAN)
(ABRANDH, 2013; ALVES; JAIME, 2014; BRASIL, 2006b).
O principal obstáculo encontrado para a realização da ação foi a carência de
recursos financeiros institucionais para operacionalizar o concurso; greve das/os
técnicas/os-administrativas/os; poucas inscrições em decorrência da dificuldade
técnica das/os discentes em elaborar a Ficha Técnica, o que leva a refletir o quão
desafiante é atingir as habilidades e competências no ensino-aprendizagem.
Uma das fraquezas identificadas foi a exigência de ficha técnica que pode ter sido
um fator limitante à participação de estudantes de outras áreas como engenharia de
alimentos e técnicos em nutrição e dietética e por fim a necessidade de maior tempo
na organização e divulgação do concurso para permitir a participação de estudantes
de outras cidades e estados.

5 | CONCLUSÃO

O concurso foi uma experiência exitosa, o que corroborou com a discussão


institucional no ensino-pesquisa-extensão em prol da SAN, de modo a evidenciar

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 170


o “Concurso lanches saudáveis como estratégia para a promoção da alimentação
saudável em cantinas de Instituições de Ensino Superior” uma estratégia que
potencializou a formação crítica e qualificação no desenvolvimento de atividades
práticas das/os discentes e na efetivação de políticas públicas e atos normativos
vigentes que versam pela alimentação saudável e a EAN.
A atividade evidenciou a necessidade de potencializar, no ambiente institucional,
ações intersetoriais e interdisciplinares para promoção da alimentação saudável,
tornando o cardápio ofertado nas cantinas um fator de proteção à saúde e não de
risco.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 171


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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 19 172


CAPÍTULO 20

EDUCAÇÃO ALIMENTAR E NUTRICIONAL:


DESENVOLVIMENTO DE ESTRATÉGIAS PARA
OS PAIS E/OU RESPONSÁVEIS PELOS PRÉ-
ESCOLARES DE COMUNIDADES NO INTERIOR DO
CEARÁ

Ana Paula Apolinário da Silva Marina Gabrielle Guimarães de Almeida


Unifanor- Centro Unifanor Wyden, Nutrição, Universidade Federal do Ceará, Departamento
Fortaleza- CE de Bioquímica e Biologia Molecular, Fortaleza –
Luciana Freitas de Oliveira Ceará
Unifanor- Centro Unifanor Wyden, Nutrição, Tiago Deiveson Pereira Lopes
Fortaleza- CE Universidade Federal do Ceará, Departamento
João Xavier da Silva Neto de Bioquímica e Biologia Molecular, Fortaleza –
Universidade Federal do Ceará, Centro de Ceará
Ciências, Departamento de Bioquímica e Biologia Camila Pinheiro Pereira
Molecular, Fortaleza- CE Universidade Estadual do Ceará, Programa de
Ana Paula Moreira Bezerra Doutorado em Biotecnologia – Rede Nordeste de
Centro Universitário UniFanor Wyden, Nutrição, Biotecnologia (RENORBIO), Fortaleza- CE
Fortaleza- CE.
Karina Pedroza de Oliveira
Universidade Estadual do Ceará, Mestrado
RESUMO: A fase pré-escolar compreende
Profissional de Saúde da Criança e do
a faixa etária de 2 a 6 anos de idade. Esse
Adolescente, Fortaleza- CE
período é marcado pelo processo de maturação
Maressa Santos Ferreira
biológica, caracterizado pelo menor ritmo de
Instituto Federal do Ceará, Nutrição, Limoeiro do
Norte-CE crescimento se comparado ao primeiro ano
de vida, e a redução ou irregularidade do
Luiz Francisco Wemmenson Gonçalves
Moura apetite, além de mudanças e maior autonomia
Universidade Estadual do Ceará, Centro de nas escolhas alimentares. Geralmente, os
Educação, Ciências e Tecnologia da Região dos pais apresentam dificuldades em lidar com
Inhamuns-CECITEC, Fortaleza, CE essas alterações e, com isso, necessitam de
Eva Gomes Morais esclarecimentos que possibilitem ajustes a tais
Universidade Federal do Ceará, Departamento mudanças. Para tanto, a educação nutricional
de Bioquímica e Biologia Molecular, Fortaleza – é uma importante ferramenta por contemplar
Ceará
o indivíduo em todos os aspectos em que
Larissa Alves Lopes está inserido, sendo um instrumento utilizado
Universidade Federal do Ceará, Departamento
no enfrentamento de situações adversas à
de Bioquímica e Biologia Molecular, Fortaleza –
saúde, auxiliando na formação de práticas
Ceará

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 20 173


alimentares mais saudáveis. Este trabalho objetivou promover ações educativas
com pais ou responsáveis de pré-escolares em comunidades no interior do Ceará.
As atividades salientaram a importância da alimentação saudável e a promoção
de bons hábitos alimentares na infância. Inicialmente, foi realizado um diagnóstico
situacional a partir de um questionário referente ao perfil socioeconômico e questões
que contemplam as principais dificuldades alimentares da criança. As atividades
educativas foram elaboradas de acordo com o diagnóstico obtido. Posteriormente, foi
avaliada a contribuição da educação nutricional, através de uma atividade avaliativa.
A amostra do estudo, compreendeu crianças expostas à riscos socioeconômicos e,
consequentemente, alimentares. Diante disso, a educação nutricional foi utilizada como
estratégia para promoção de bons hábitos alimentares, constituindo fator fundamental
na prevenção de inadequações no estado nutricional e suas consequências na saúde
atual da criança e em fases posteriores.
PALAVRAS-CHAVE: Pré–escolar. Educação alimentar e nutricional. Hábitos
alimentares.

ABSTRACT: The pre-school phase comprises the age group from 2 to 6 years of age.
This period is marked by the biological maturation process, characterized by the lower
growth rate when compared to the first year of life, and the reduction or irregularity
of appetite, besides changes and greater autonomy in the food choices. Generally,
parents have difficulty coping with these changes and, therefore, need clarification to
make adjustments to such changes. To that end, nutritional education is an important
tool to contemplate the individual in all the aspects in which it is inserted, being an
instrument used in the confrontation of adverse health situations, helping in the
formation of healthier alimentary practices. This work aimed to promote educational
actions with parents or guardians of preschoolers in communities in the countryside of
Ceará. The activities emphasized the importance of healthy eating and the promotion
of good eating habits in childhood. Initially, a situational diagnosis was made based on
a questionnaire regarding the socioeconomic profile and issues that consider the main
alimentary difficulties of the child. The educational activities were elaborated according
to the diagnosis obtained. Subsequently, the contribution of nutritional education was
evaluated through an evaluative activity. The study sample comprised children exposed
to socioeconomic and, consequently, food risks. Therefore, nutritional education was
used as a strategy to promote good eating habits, constituting a fundamental factor in
the prevention of inadequacies in nutritional status and its consequences in the child’s
current health and in later phases.
KEYWORDS: Preschool. Nutritional and Food Education. Food Habits.

1 | INTRODUÇÃO

Segundo Martins (2008), denomina-se pré-escolar, crianças na faixa etária


entre 2 e 6 anos. Essa fase apresenta características específicas relacionadas

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 20 174


ao menor ritmo de crescimento se comparado ao primeiro ano de vida, ocorrendo
situação semelhante com a massa corporal. Além do desenvolvimento e alterações
no comportamento alimentar, onde a nutrição desempenha papel decisivo, para o
qual contribuem fundamentalmente, o meio familiar e comunitário em que vivem e
complementarmente, as instituições que os assistem.
Segundo Vitolo (2011), a formação dos hábitos alimentares ocorre de forma mais
significativa na infância. Inicia-se com a bagagem genética e vai sofrendo diversas
influências do meio ambiente, tais como: tipo de aleitamento recebido; introdução da
alimentação complementar; experiências positivas e negativas quanto à alimentação;
hábitos familiares; condições socioeconômicas, entre outros. Assim, ações de
intervenção nutricional que promovam práticas de alimentação saudáveis, contribuem
de forma significativa para prevenção de doenças relacionadas à alimentação como,
por exemplo, o surgimento de Doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) (LIDEN,
2011).
O pré-escolar além de ser biologicamente vulnerável, constitui um dos grupos
populacionais que mais necessitam de atendimento. Da mesma forma, os pais diante
das importantes mudanças de comportamento e desenvolvimento relacionadas à
alimentação, muitas vezes não possuem o conhecimento de como lidar com todas
as alterações ocorridas na fase. Portanto, as atividades de educação em saúde,
direcionadas ao binômio materno-infantil, dentro de uma proposta pedagógica de
ensino baseada na situação concreta de vida, desempenham papéis de grande
importância para o enfrentamento de situações adversas, podendo auxiliar na
formação de práticas alimentares mais saudáveis, sobretudo quando realizadas em
grupo (PEDRAZA, 2017).
O conceito de educação alimentar e nutricional envolve o conjunto de estratégias
que promovem saúde, por meio de ações educativas, políticas e programas, que
direcionem sua abordagem, com o objetivo de intervir e contribuir na formação de
práticas alimentares mais saudáveis (SANTOS 2005).
A história e o papel da educação alimentar e nutricional estão vinculados às
políticas de alimentação e nutrição. A educação nutricional, que surgiu na década de
1940 estreitamente ligada às campanhas de alimentação, tornou-se um dos pilares das
políticas públicas de alimentação e nutrição (DIEZ-GARCIA; CERVATO-MANCUSO,
2011).
A Implementação das ações em educação nutricional em serviços de saúde
pode contribuir para viabilizar mudanças alimentares, atuando como uma importante
ferramenta para prevenção e o controle de doenças relacionadas à alimentação. É
nesse contexto que a alimentação colocada como uma das estratégias de promoção
da saúde emerge a concepção de promoção das práticas alimentares saudáveis.
(CUPPARI; AVESANI; KAMIMURA, 2014).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 20 175


2 | METODOLOGIA

A educação nutricional foi aplicada aos pais e/ou responsáveis pelos pré-
escolares residentes de comunidades do interior do Ceará, com o objetivo principal de
salientar a importância da alimentação saudável e promover adoção de bons hábitos
alimentares ainda na infância, destacando a relevância para a manutenção do estado
nutricional adequado. As atividades propostas aconteceram como descrito adiante.
O diagnóstico situacional foi realizado por meio de um questionário referente ao
perfil socioeconômico e acerca das principais dificuldades alimentares da criança, o
que possibilitou conhecer o público a qual seria destinada às atividades educativas e
direcioná-las de maneira adequada para a realidade dos mesmos (QUADRO 1).

1. Qual é o seu estado civil:


( ) solteiro a) ( ) casado(a) ( ) viúvo(a) ( ) separado(a)
2. Quantas pessoas moram em sua casa:
( )2a4
()5a7
( )7a9
( ) mais de 9
3. Qual a renda mensal da família (soma dos salários de todos que trabalham):
( ) menos de 1 salário mínimo
( ) 1 salário mínimo
( ) 2 a 3 salários mínimos
( ) 4 a 5 salários mínimos
4. Assinale sua escolaridade e a do seu cônjuge:
Analfabeto ( ) pai ( ) mãe
Ensino fundamental incompleto ( ) pai ( ) mãe
Ensino fundamental completo ( ) pai ( ) mãe
Ensino médio incompleto ( ) pai ( ) mãe
Ensino médio completo ( ) pai ( ) mãe
Superior incompleto ( ) pai ( ) mãe
Superior completo ( )pai ( ) mãe
Seu filho foi amamentado ( ) sim ( ) não
Até que idade?
Exclusivo ( ) sim ( ) não
Durante a alimentação é realizada outra atividade? ( ) sim ( ) não
Quais?
Costuma rejeitar alguma refeição ou preparação? ( ) sim ( ) não
Quais?
Gostos e aversões:
Relate aqui as principais dificuldades relacionadas com a alimentação de seus filhos:

Quadro 1. Questionário para diagnóstico situacional dos pais e/ou responsáveis pelos pré-
escolares residentes de comunidades do interior do Ceará.

Além disso, também foi realizada uma palestra sobre alimentação saudável,
abordando de maneira geral os principais alimentos que devem estar presentes no
cotidiano da alimentação infantil e a importância deles para a saúde da criança. Essa
ação educativa contou com recursos orais e visuais (cartazes e alimentos ilustrativos).
Posteriormente, como atividade de fixação, foi realizada a montagem do prato
saudável, supondo que essa refeição seria oferecida para as crianças. Em uma

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 20 176


mesa foram distribuídos de maneira aleatória, vários recortes de figuras impressas
de alimentos. Cada participante recebeu um prato descartável e foram orientados a
buscar na mesa as figuras dos alimentos, que para eles iriam constituir, uma refeição
saudável e, em seguida, colar no prato. Ao decorrer da atividade foram esclarecidas
dúvidas de alguns participantes acerca dos alimentos que iriam ou não compor o prato
saudável e a justificativa de tais escolhas.
Uma outra atividade foi realizada com o objetivo de avaliar a contribuição da
educação nutricional realizada, para o aprendizado sobre alimentação saudável
e esclarecimento dos pontos abordados. Para isso, foi elaborado um questionário
contendo 3 questões objetivas referentes ao nível de aprendizado e a satisfação com
as atividades executadas (QUADRO 2).

Avaliação das atividades educativas

1. As atividades desenvolvidas esclareceram de alguma forma o que é uma alimentação


saudável?

2. Você está satisfeito com o que foi abordado durante as atividades? Se não, diga o que
precisa ser melhorado.

3. Você aprendeu algo novo durante sua participação nessa ação educativa?

Quadro 2. Avaliação das atividades educativas

Foram distribuídas plaquinhas nas cores amarela e vermelha contendo uma


ilustração de carinha feliz e triste, respectivamente. Ao receber as plaquinhas, cada
participante foi orientado a levantar a de cor verde quando a resposta fosse positiva
(sim) e a cor vermelha para uma resposta negativa (não). Cada item do questionário foi
indagado aos participantes e feita observância das plaquinhas que foram levantadas.

3 | RESULTADO E DISCUSSÃO

Participaram da ação educativa 46 pais ou responsáveis pelos pré-escolares.


Todos se mostraram interessados diante do assunto proposto.
Após explanação sobre alimentação saudável, foi realizada uma avaliação de
fixação, que foi a montagem do prato saudável. Essa atividade permitiu checar o
compreendimento acerca do assunto abordado e o interesse dos pais em oferecer
uma alimentação nutricionalmente adequada para os filhos. Foi observado que
a grande maioria conseguiu de imediato montar o prato com alimentos essenciais
para uma refeição equilibrada. Porém, uma pequena quantidade de participantes
apresentou dúvidas acerca dos alimentos que deveriam compor a refeição saudável,
principalmente, a respeito da adição de massas e frituras. Diante disso, foram feitos os

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 20 177


esclarecimentos plausíveis para sanar tais dificuldades.
Todos os 46 participantes da atividade educativa levantaram a plaquinha verde
(carinha Feliz) para cada item do questionário acerca da avalição da educação
nutricional (QUADRO 2), ou seja, a atividade educativa realizada contribuiu para o
aprendizado dos mesmos.

REFERÊNCIAS
ACCIOLY, E. ; SAUNDERS, C. ; LACERDA, E. M. A. Nutrição em obstetrícia e pediatria. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2012.

ARAÚJO, A.F.C.; OLIVEIRA, M.G.O.A. Recomendações nutricionais. In: VASCONSCELOS, M.J.O.B.;


BARBOSA, J.M.; PINTO, I.C.S.; LIMA, T.M.; ARAÚJO, A.F.C. Nutrição clínica: obstetrícia e
pediatria. Rio de Janeiro: científica, 2011. P. 239-250.

BOOG, M. C. F. Histórico da educação alimentar e nutricional no Brasil. In: DIEZ- GARCIA, R. W.


; CERVATO- MANCUSO, A. M. Nutrição e metabolismo: mudanças alimentares e educação
nutricional. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2011. P. 66 – 73

DANIELS, SR. The consequences of childhood overweight and obesity. Future Child, v. 16, P. 47- 67,
2006.Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/m/pubmed>. Acesso em: 31 mar. 2016.

LINDEN, S. Educação alimentar e nutricional: algumas ferramentas de ensino. SãoPaulo: livraria


varela, 2011.

MATTA, J. S. Manual de atividades de educação nutricional para pré-escolares em creches. Rio


de Janeiro: UERJ, instituto de nutrição, 2008. 65 p.

NACIF, M. ; VIEBIG, R. F. Avaliação da composição corporal. In: NACIF, M. ; VIEBIG, R. F. Avaliação


antropométrica nos ciclos da vida: uma visão prática. São Paulo: metha, 2008. P. 1- 18.

OMS: Organização Mundial Saúde. World Health Report 2010. Suíça: WHO, 2006.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL SAÚDE (OMS) & REGIONAL OFFICE FOR EUROPE. Organization,
European Ministerial Conference on Counteracting Obesity:Diet and physical activity for health.
10 things you need to know about obesity. Istambul, Turquia: WHO,2006. Disponivel em: http: //
www.euro.who.int/obesity> acesso em 17 jun. 2017.

PEDRAZA, D. F. Preditores de riscos nutricionais de crianças assistidas em creches em


município de porte médio do Brasil. Caderno de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, 2017.

RAMOS, C. V.; DUMITH, S.C.; CÉSAR, J. A. Prevalece and factors associated with stunting and
excess weight in children aged 0-5 years from the Braziliam semi-arid region. Jornal de pediatria,
v. 91, p. 175-182, 2015.

SAHOO, K.; SAHOO, B.; CHOUDHURY, A. K.; SOFI, N. Y.; KUMAR, R.; BHADORIA, A. S. Childhood
obesity: causes and consequences. Family practice, V. 4, P. 157- 192, 2015.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 20 178


CAPÍTULO 21

EFEITO MIDRIÁTICO DA FENILEFRINA A 10%:


COMPARAÇÃO ENTRE A AUTOINSTILAÇÃO DE GOTA
EM OLHOS ABERTOS E A VAPORIZAÇÃO EM OLHOS
FECHADOS

Arlindo José Freire Portes RJ. Cada paciente instilou 1 gota em um olho
Universidade Estácio de Sá, Faculdade de e aplicou vaporização no outro olho de forma
Medicina aleatoria. O diâmetro pupilar foi medido antes
Rio de Janeiro - RJ da aplicação, 10, 20 e 30 minutos após. Um
Anna Carolina Silva da Fonseca dos autores observou a adequação técnica
Universidade Estácio de Sá, Faculdade de dos métodos. Após o processo foi perguntado
Medicina
ao paciente, questões pré-formuladas
Rio de Janeiro – RJ sobre a praticidade de ambos os métodos
Camila Monteiro Ruliere de administração. Resultados: A diferença
Universidade Estácio de Sá, Faculdade de de midríase média entre os olhos em um
Medicina
determinado tempo foi no máximo 0,3 mm ( p =
Rio de Janeiro - RJ
0,163609) . 60% dos pacientes tocaram a ponta
Luiz Felipe Lobo Ferreira do frasco de colírio nos olhos enquanto que 12%
Universidade Estácio de Sá, Faculdade de
tocaram o orifício na ponta do vaporizador com
Medicina
os dedos (p < 0,000001). 72% consideraram a
Rio de Janeiro - RJ
instilação de gotas fácil ou muito fácil enquanto
Nicole Martins de Souza 62% consideraram a vaporização fácil ou muito
Universidade Estácio de Sá, UNESA
fácil (p = 0,238). Conclusão: A vaporização foi
Rio de Janeiro - RJ
mais segura e apresentou nível de dificuldade
um pouco maior do que a instilação, apesar dos
pacientes serem experientes para instilar gotas
RESUMO: Os objetivos deste trabalho são: e inexperientes para vaporizar a medicação em
Comparar a eficácia da fenilefrina a 10% por olho fechado. A eficácia dos dois métodos de
vaporização em olhos fechados em relação a administração foi clinicamente semelhante.
instilação de gota em olhos abertos antes de PALAVRAS-CHAVE: Administração tópica;
exame de fundoscopia e avaliar o nível de Soluções oftálmicas/administração & dosagem;
dificuldade e a adequação técnica entre os fenilefrina; Olho/efeitos de drogas
métodos de administração. Métodos: Ensaio
clínico controlado, randomizado e pareado, ABSTRACT: The research objectives are: to
realizado em 2014, envolvendo 100 olhos de compare the effectiveness of phenylephrine
50 pacientes na Policlínica Ronaldo Gazolla – 10% applied by a spray onto closed eyes,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 21 179


over drop instillation onto open patient eyes who will perform ophthalmoscopy and
assess the level of difficulty and technical adequacy of the administration methods.
Methods: Clinical trial, controlled, randomized and paired, performed in 2014, involving
100 eyes of 50 patients in the Polyclinic Ronaldo Gazolla - RJ. Each patient underwent
eye drop instillation and spray application on the other eye. Pupillary diameter was
measured before application and 10, 20, 30 minutes after. The process of instillation
or vaporization was observed for its technical correctness . A questionnaire was
asked to the patient about the difficulty of each methods after topical administration.
Results: The average mydriasis difference between the each eye pair assessed at a
given time was at most 0.3 mm, which was not clinically significant (p = 0.163609). 60% of
patients touched the tip of the eye drop bottle onto the eye, while 12% touched the tip of the
vaporizer with their fingers (p <0.000001). 72% considered the drops instillation easy or
very easy, while 62% considered vaporization in a closed eye easy or very easy (p = 0.238).
Conclusion: Vaporization was safer and a little more difficult to attain than instillation,
despite patients being experienced for instilling drops and inexperienced to vaporize
the medication onto a closed eye. The efficacy of each administration method was
similar.
KEYWORDS: Administration, topical; Ophthalmic solutions/administration & dosage;
phenylephrine; Eye/drug effects

1 | INTRODUÇÃO

A vaporização é uma via terapêutica usada frequentemente na medicina


para prevenção e tratamento de várias doenças. Medicamentos anti-histamínicos,
esteróides, estabilizadores da membrana do mastócito, anticolinérgicos, entre outros
são liberados por vaporização nasal a fim de tratar alergias ou congestão devido a rinites
ou sinusites (DJUPESLAND, 2013; AMERICAN ACADEMY OF ASTHMA, ALLERGY
& IMMUNOLOGY, 2016). Agentes para fotoproteção solar ou substitutos cutâneos
temporários que formam curativos impermeáveis também podem ser aplicados por
vaporização sobre a pele (MONTEIRO, 2010; FERREIRA et al., 2011).
Em oftalmologia, há vaporizadores de lubrificantes disponíveis comercialmente
em diversos países, seja para aplicação em olhos abertos ou em olhos fechados. Há
poucos estudos que demonstraram a eficácia dos medicamentos quando vaporizados
topicamente nos olhos. As gotículas da solução oftálmica são posicionadas sob pressão
entre os cílios e quando o paciente abre os olhos, elas se misturam no compartimento
lacrimal (CRAIG et al., 2010).
Estudo recente considerou que a fluoresceina liberada por vaporização ocular
atinge concentrações na câmara anterior, porém em quantidade inferior a que seria
atingida através da instilação de gotas (van ROOIJ; WUBBELS; de KRUIJF, 2015).
Portes et al. (2012) relataram que a midríase produzida por gotas de tropicamida
a 1% era semelhante à da vaporização da mesma substância nos olhos. Contudo,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 21 180


a quantidade liberada de tropicamida a cada jato de vaporização era o dobro da
encontrada em 1 gota da referida substância.
O uso do medicamento aplicado a distância por vaporizador com o olho
previamente fechado pode facilitar o tratamento em paciente adulto ou idoso com:
alta ametropia (que dificultam a visão adequada do frasco de colírio sobre os olhos);
blefarohematoma (que dificulta a abertura palpebral e torna sensível o toque dos
dedos na pele das pálpebras); em idosos com dificuldade de coordenação motora
e em pacientes que apresentam desconforto emocional a instilação (PORTES et al.,
2012).
Após extensa revisão bibliográfica em bases de dados como: Scielo, LILACS
e MEDLINE, os autores não encontraram trabalho sobre a eficácia midriática da
fenilefrina a 10% por vaporização em olhos fechados.
Os objetivos deste trabalho foram:
a) avaliar através de medidas seriadas por pupilometria, a midríase produzida pela
aplicação tópica da fenilefrina a 10% por vaporização em olho fechado ou instilação de
gota em olho aberto.
b) Avaliar comparativamente através de questionário, qual aplicação tópica
apresentou maior dificuldade.
c) Avaliar por observação de autoinstilação qual método foi mais adequado

2 | MÉTODOS

A pesquisa foi realizada de setembro a novembro de 2014, no serviço de


oftalmologia da Policlínica Ronaldo Gazolla, (Universidade Estácio de Sá -UNESA),
Campus Arcos da Lapa – RJ. Foi feito um ensaio clínico, controlado e randomizado
em uma série de 50 pacientes onde se instilou fenilefrina a 10% na forma de gotas em
um dos olhos, enquanto no outro foi feita vaporização dos cílios com o olho fechado.
Os pacientes eram convidados a participar do estudo ao chegarem para exame
de oftalmoscopia no ambulatório de oftalmologia da Policlínica Ronaldo Gazolla às
quintas-feiras.
Os olhos foram escolhidos para a administração de colírio ou vaporização de
acordo com uma tabela de números pseudoaleatórios do Excel antes da aplicação.O
diâmetro pupilar foi medido antes da instilação e após 10, 20 e 30 minutos, em ambos
os olhos, com pupilômetro manual “PD-meter” .
Foi utilizado um frasco de colírio de solução midriática ocular de fenilefrina a 10%
e um frasco acoplado a um vaporizador.
Todos os pacientes não tinham doenças oculares ou sistêmicas que pudessem
afetar o diâmetro pupilar.
Critérios de exclusão:
1) Anisocorias e/ou qualquer alteração de diâmetro pupilar
2) Presença de qualquer doença sistêmica que afetasse o sistema nervoso

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 21 181


autônomo.
3) Presença de sinéquias posteriores
4) Presença de doenças oculares inflamatórias.
5) Presença de doença ocular que impedia a medida do diâmetro pupilar
Métodos de aplicação: todos os pacientes permaneceram sentados durante o
estudo e eram instruídos a olhar para frente.
O colírio era aplicado em um dos olhos, sempre da mesma forma e do seguinte
modo: O paciente foi instruído a direcionar a cabeça para traz, fazendo a extensão
do pescoço e olhando para cima. A sua pálpebra inferior era tracionada levemente
expondo o fundo de saco conjuntival inferior. Em seguida 01 gota de colírio era
autoinstilada no fundo de saco inferior.
A vaporização foi feita no olho onde não foi aplicado o colírio, do seguinte modo:
o paciente foi instruído a permanecer sentado, olhando para frente, em seguida
ele posicionava o frasco de forma que o orifício do vaporizador ficasse a frente
dos cílios a aproximadamente 2 cm de distância do olho do paciente, a droga era
vaporizada somente uma vez com as pálpebras fechadas. Todo este processo foi feito
com destreza e rapidez. Os pacientes foram instruídos a manter o olho vaporizado
fechado até 10 segundos da instilação da gota ou vaporizador. O frasco utilizado foi
de plástico com 7 cm de altura por 2 cm de largura apresentando um volume de 7 ml,
cada vaporização liberava em média 0,1 ml de solução oftálmica, o que correspondia
a aproximadamente 02 gotas de colírio em uma área de dispersão circular de 5,5 cm
de diâmetro (medidas aferidas em papel filtro). Este frasco não estava disponível para
uso comercial aplicando medicamentos, portanto foi esterilizado em óxido de etileno
antes do estudo e a fenilefrina a 10% foi introduzida neste recipiente de forma estéril.
No final dos 30 minutos, após a última medida do diâmetro pupilar, caso o paciente
se queixasse de desconforto ocular ele era submetido a exame biomicroscópico, para
descartar qualquer alteração corneana e as pálpebras também foram examinados
ectoscopicamente, para descartar alguma sensibilidade na área de dispersão do
vaporizador.
O processo de instilação ou vaporização foi acompanhado por um dos autores.
Após o processo foi perguntado ao paciente, questões pré-formuladas sobre
a praticidade de ambos os métodos. Aspectos relacionados a administração foram
observados e classificados pelos autores (Anexo).
O banco de dados foi montado utilizando o programa Epi info 7. O teste de
“Wilcoxon signed rank” foi aplicado para as perguntas 4 e 5 do questionário. O teste
t de Student para 2 amostras pareadas foi aplicado as questões 11 e 15 e o teste
binomial para duas proporções para as perguntas 8,9,10,12,13,14. O teste de ANOVA
para dois fatores com medidas replicadas comparou os resultados das midríases entre
os olhos nos diversos tempos após a instilação. Os cálculos estatísticos foram feitos
por calculadoras do site: “vassarstats.net”.
Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 21 182
Universidade Estácio de Sá (CAAE: 29365414.2.0000.5284). Todos os participantes
que participaram assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

3 | RESULTADOS

A média de idade dos pacientes era de 64,4 anos com desvio padrão de
12,38. Dezesseis (32%) pacientes eram homens e 34 (68%) eram mulheres. 56%
dos pacientes foram referidos da ESF-Lapa/RJ e os demais eram particulares ou
apresentavam plano de saúde.
Na tabela 1, observa-se a média da midríase de cada olho em intervalos de
tempo correspondentes desde o início da instilação. Observa-se que a média do
diâmetro pupilar e o desvio padrão são muito semelhantes para cada grupo. Não
houve diferença clinicamente significativa das medidas (tabela 1).

Gotas Desvio Vaporização


Tempo/Diam. pupilar Desvio padrão
Média padrão Média

Antes da aplicação 4,25 mm 0,58 4,38 mm 0,66

10 minutos 4,68 mm 0,66 4,69 mm 0,74

20 minutos 5,21 mm 0,83 4,96 mm 0,70


30 minutos 5,83 mm 1,01 5,53 mm 0,86

Tabela 1 - Média do diâmetro pupila nos grupos estudados após a instilação ou vaporização de
feniliefrina a 10%.

Análise de variância (ANOVA) com dois fatores para medidas repetidas


demonstrou F = 1,97 e p = 0,163609 quando se comparavam as medidas entre os
grupos de vaporização e gotas. Porém, quando se comparavam os grupos em relação
ao tempo, F = 129,22 e p ≤ 0,0001. Portanto, a diferença das medidas entre os grupos
de vaporização e gotas a cada tempo não eram significativas estatisticamente, mas
a diferença das midríases dos grupos entre tempos diferentes mostrou significância
estatística.
A diferença de midríase média entre os grupos de olhos avaliados em um
determinado tempo foi no máximo 0,3 mm, o que não é clinicamente significativo.
Porém, ao longo do tempo, a diferença entre o diâmetro da pupila no tempo inicial e
no tempo de 30 minutos foi no mínimo 1,15 mm (clinicamente significativo).
Setenta de dois por cento (72%) consideraram a instilação de gotas fácil ou muito
fácil enquanto 62% consideraram a vaporização em olho fechado fácil ou muito fácil.
A diferença entre os grupos não foi estatisticamente significativa (p = 0,238) de acordo
com o teste “Wilcoxon signed rank”.
Três (6%) dos pacientes relataram que tinham dificuldade em mirar o frasco de
colírio para a gota acertar o olho e um (2%) que piscava sempre no momento da

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 21 183


instilação. Nove (18%) dos pacientes disseram ter dificuldade em mirar o vaporizador
para atingir a margem palpebral, 5 (10%) que foi difícil apertar o vaporizador e 2(4%)
que foi difícil também trabalhar com um olho fechado. Quarenta e cinco pacientes
(90%) não relataram qualquer dificuldade específica para instilar colírio e 32 (64%)
para vaporizar os olhos.
Em 92% dos indivíduos, a gota instilada caiu nos olhos. Em 90% dos pacientes a
vaporização atingiu a margem palpebral. Vinte e seis por cento repetiram a instilação
da gota enquanto que 40% repetiram a vaporização. Houve diferença estatisticamente
significativa entre o número de repetição de gotas em relação ao da vaporização de
acordo com o teste binomial (p = 0,0425).
A média de gotas aplicadas por olho foi de 1,5 e a média de vaporizações foi de
1,46 (p = 0,8036). Sessenta por cento dos pacientes tocaram a ponta do frasco de
colírio nos olhos enquanto que 12% tocaram a ponta do vaporizador com os dedos (p
< 0,000001). A diferença entre o toque do colírio nos tecidos oculares e do orifício de
saída do vaporizador com os dedos foi estatisticamente significativa.

4 | DISCUSSÃO

A eficácia da fenilefrina a 10% foi clinicamente semelhante para as duas vias


de administração tópica testadas. De acordo com a literatura oftalmológica, a
midriase máxima provocada pela substância testada ocorre entre 20 e 30 minutos
da administração tópica inicial. Nos olhos testados, observou-se a maior midríase 30
minutos após a vaporização ou instilação (PAVAN-LANGSTON e DUNKEL, 1991).
A média da dilatação pupilar foi de 1,15 mm para os olhos vaporizados e de
1,78 mm para os olhos instilados por gotas de fenilefrina a 10%. Portes et al. (2012)
encontrou média de dilatação pupilar de 2,35 mm para olhos vaporizados e de 2,48 mm
para olhos instilados com tropicamida a 1%. A dilatação por tropicamida tende a ser
maior do que aquela provocada por fenilefrina a 10%, no entanto ela é maior quando
os dois medicamentos são usados em conjunto sequencialmente, o que provoca efeito
sinérgico (PORTES et al., 2012; PAVAN-LANGSTON e DUNKEL, 1991).
Van Rooij (2015) comparou a penetração na câmara anterior de fluoresceina
instilada por colírio na superficie ocular em relação a vaporização da mesma substância
com olho aberto. A quantidade do principio ativo encontrado na câmara anterior foi
cerca da metade observada após a instilação de colírio correspondente. Neste estudo,
os valores da midríase encontrada foram muito próximos entre os grupos estudados,
porém a quantidade de fenilefrina vaporizada equivalia a 2 gotas de fenilefrina instilada.
O fato da vaporização ter sido feita a cerca de 2 cm dos cílios também contribuiu para
a boa absorção do midriático.
A maioria dos pacientes instilou gotas erroneamente, tocando a ponta do
frasco em tecidos oculares e perioculares de forma a facilitar a administração tópica,
estabilizando o frasco do produto. O toque favorece a contaminação. Na vaporização,
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 21 184
os pacientes não relataram dificuldade em manter o frasco estável a distância. Desta
forma o toque do vaporizador com os tecidos oculares não existiu.
Apesar da diferença percebida entre o nível de dificuldade da vaporização em
relação ao da instilação de gotas ter sido pequeno e sem significância estatística,
houve muito mais dificuldades relatadas para a vaporização do que para a instilação
de gotas. Todos os pacientes já tinham experiência em instilar colírio e não tinham
experiência em vaporizar seus olhos. O efeito treinamento no uso do vaporizador
poderia tornar mais fácil o uso desta via de administração em relação a instilação de
colírios.

REFERÊNCIAS
AMERICAN ACADEMY OF ALLERGY ASTHMA AND IMMUNOLOGY. AAAI Allergy & Asthma
Medication Guide. 2018. Disponível em: <https://www.aaaai.org/conditions-and-treatments/drug-
guide/nasal-medication>. Acesso em: 21 nov. 2018.

CRAIG, Jennifer P. et al. Effect of a liposomal spray on the pre-ocular tear film. Cont Lens Anterior
Eye, Philadelphia, v. 33, n. 2, p.83-87, abr. 2010.

DJUPESLAND, Per Gisle. Nasal drug delivery devices: characteristics and performance in a clinical
perspective—a review. Drug Delivery And Translational Research, [s.l.], v. 3, n. 1, p.42-62, 18 out.
2012. Springer Nature. http://dx.doi.org/10.1007/s13346-012-0108-9.

FERREIRA, Marcus Castro et al. Substitutos cutâneos: conceitos atuais e proposta de classificação.
Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, [s.l.], v. 26, n. 4, p.696-702, dez. 2011. FapUNIFESP
(SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/s1983-51752011000400028.

MONTEIRO, Érica O. Filtros solares e fotoproteção. Revista Brasileira de Medicina, São Paulo, v.
67, n. 6, p.5-18, out. 2010.

PAVAN-LANGSTON, Deborah; DUNKEL, Edmund C.. Mydriatics and Cycloplegics. In: PAVAN-
LANGSTO, Deborah; DUNKEL, Edmund C.. Handbook of Ocular Drug Therapy and Ocular Side
Effects of Systemic Drugs. Boston: Little Brown, 1991. p. 235-245.

PORTES, Arlindo José Freire et al. Tropicamide 1% midriatic effect: Comparison between spray in
closed eyes and eye drops in open eyes. Journal Of Ocular Pharmacology And Therapeutics, New
York, v. 28, n. 6, p.632-635, dez. 2012.

VAN ROOIJ, Jeoren; WUBBELS, Rennée J.; KRUIJF, Wilbur P. J.. New Spray Device to Deliver
Topical Ocular Medication: Penetration of Fluorescein to the Anterior Segment. J Ocu Pharmacol
Ther, New York, v. 31, n. 9, p.531-535, nov. 2015.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 21 185


ANEXO

Questionário - Percepção da autoinstilação ocular de drogas:


Comparação de gotas em olho aberto e vaporização em olho fechado

1. Número do Prontuário: ______________


2. Letras iniciais do nome: _____________
3. Idade: __________
4. Em relação a instilação de colírio você considera:
1) Muito fácil ( ) 2) Fácil ( ) 3) Nem fácil nem difícil ( )
4) Difícil ( ) 5) Muito difícil ( )
5. Em relação a vaporização em olho fechado, você considera:
1) Muito fácil ( ) 2) Fácil ( ) 3) Nem fácil nem difícil ( )
4) Difícil ( ) 5) Muito difícil ( )
6. Em relação a administração tópica de colírios, você possui alguma dificuldade?
( ) Sim ( ) Não.
Se sim, qual(is)? __________________________________________________
7. Em relação à vaporização em olho fechado, você possui alguma dificuldade?
( ) Sim ( ) Não.
Se sim, qual(is)? __________________________________________________
Observação:
Em relação ao colírio:
8. A gota instilada caiu no olho? ( ) Sim ( ) Não
9. Houve necessidade de repetiçao da instilação para ela cair nos olhos? ( ) Sim (
) Não
10. A ponta do colírio tocou os cílios ou a pálpebra ou o olho? ( ) Sim ( ) Não
11. Quantas gotas foram aplicadas? _________
Em relação a vaporização em olho fechado:
12. A aplicação atingiu a margem palpebral? ( ) Sim ( ) Não
13. Houve necessidade de repetiçao? ( ) Sim ( ) Não
14. Houve toque da ponta do vaporizador com os dedos? ( ) Sim ( ) Não
15. Quantas aplicações foram realizadas? _________

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 21 186


CAPÍTULO 22

A MÚSICA NA SALA DE ESPERA COMO ESPAÇO DE


ACOLHIMENTO E PROMOÇÃO À SAÚDE

Márcia Caroline dos Santos RESUMO: Este artigo relata uma experiência
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita desenvolvida em um Centro de Saúde Escola,
Filho” (UNESP) – Faculdade de Medicina de localizado em uma cidade do interior de São
Botucatu (FMB), Programa de Residência
Paulo, utilizando da música na sala de espera. A
Multiprofissional de Saúde Mental com Ênfase na
música, colocada sobre o prisma de possibilitar
Atenção Básica. Botucatu – São Paulo.
a construção de um novo papel social, pode dar
Tatiane Maschetti Silva
abertura a novos sentimentos e experiências
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (UNESP) – Faculdade de Medicina de a partir do reconhecimento do espaço em
Botucatu (FMB), Programa de Residência que a linguagem musical viabiliza diferentes
Multiprofissional de Saúde Mental com Ênfase na formas de expressão, de sentimentos e
Atenção Básica. Botucatu – São Paulo. ressignificação de experiências vividas. Sendo
Bárbara Vukomanovic Molck assim, a sala de espera presente na maioria
Universidade Estadual Paulista “Júlio de dos dispositivos da Rede de Atenção à Saúde,
Mesquita Filho” (UNESP) – Faculdade de pode possibilitar um espaço de acolhimento, de
Medicina de Botucatu (FMB), Programa de acordo com a diretriz da Política Nacional de
Residência Multiprofissional Saúde da Família.
Humanização, e concretizador dos princípios
Botucatu – São Paulo.
básicos do SUS, propiciando uma relação
Mariah Aguiar Arrigoni humanizada e acolhedora. Os encontros são
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
realizados semanalmente, com duração de
Mesquita Filho” (UNESP) – Faculdade de
Medicina de Botucatu (FMB), Programa de aproximadamente uma hora e aberto para
Residência Multiprofissional de Saúde Mental com usuários e profissionais do serviço, que possuem
Ênfase na Atenção Básica. Botucatu – São Paulo. ou não habilidades musicais. O grupo de música
Guilherme Correa Barbosa é coordenado por residentes e estagiários,
Universidade Estadual Paulista “Júlio de tendo início na sala de grupo e se expande para
Mesquita Filho” (UNESP) – Faculdade de a sala de espera sendo a escolha das músicas
Medicina de Botucatu (FMB), Departamento de feita pelos integrantes e improvisadas pelos
Enfermagem. Botucatu – São Paulo. mesmos, assim, vislumbrando a possibilidade
Cintia Aparecida de Oliveira Nogueira de formar redes sociais e de suporte para o
Centro de Saúde Escola - Unidade Auxiliar da cotidiano. Portanto as práticas complementares
Faculdade de Medicina de Botucatu. Botucatu -
e o acolhimento, quando usados em conjunto,
São Paulo.
ajudam a reverter a lógica e o modelo de cuidado

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 22 187


dialogando com as estratégias vigentes na Política Nacional de Atenção Básica e das
Práticas Complementares de Saúde.
PALAVRAS-CHAVE: MÚSICA; ACOLHIMENTO; SALA DE ESPERA; ATENÇÃO
BÁSICA À SAÚDE;

ABSTRACT: This article reports an experiment developed at a School Health Center,


localized in a small city at São Paulo State,  using music in the waiting room. The music
placed on the prism of enabling the construction of a new social role opening up new
feelings and experiences from the recognition of space in which the musical language
enables different forms of expression, feelings and resignification of lived experiences.
Thus, the waiting room present in most of the Health network’s devices can provide a
reception space, according to the National Policy of Humanization, and concretizing
the basic principles of SUS, providing a humane and welcoming relationship. The
present study aims to report the experience of the use of music in the waiting room
as a space for reception and health promotion. The meetings are held weekly, lasting
approximately one hour and open to users and service professionals, who have or do
not have musical skills. It is coordinated by residents and trainees, starts at the group
room and expands to the waiting room with the songs being chosen by the members
and improvised by them, thus, envisioning the possibility of forming social networks and
support for daily life. The complementary practices and the embracement, when used
together, help to reverse the logic and the model of care, dialoguing with the strategies
in force in the National Policy of Basic Attention and Complementary Health Practices.
KEYWORDS: MUSIC; EMBRACEMENT; WAITING ROOM; PRIMARY HEALTH

INTRODUÇÃO

A Atenção Básica caracteriza-se como porta de entrada preferencial do Sistema


Único de Saúde (SUS), possibilitando o acesso das pessoas ao Sistema de Saúde.
Tem como objetivo “desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de
saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das
coletividades” (BRASIL, 2013).
Orienta-se pelos princípios da universalidade, ou seja, o acesso às ações e serviços
de saúde deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de sexo, etnia,
ocupação, ou outras características sociais ou pessoais; da integralidade da ação,
considerando as pessoas como um todo, atendendo todas as suas necessidades; da
equidade, com o objetivo de diminuição das desigualdades; e da participação social,
ou seja, envolvimento dos usuários nas decisões de deliberação na gestão do sistema
(BRASIL, 2013).
A Unidade Básica de Saúde (UBS) é a principal porta de entrada e centro
de comunicação com toda a Rede de Atenção à Saúde. Localiza-se no território,
próximo à comunidade, onde as pessoas habitam, trabalham, estudam e convivem,
desempenhando papel fundamental na garantia de acesso à população a uma atenção
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 22 188
à saúde de qualidade e humanizada (BRASIL,2012)
A sala de espera, presente na maioria dos dispositivos da Rede de Atenção
à Saúde, é um espaço subestimado para a operacionalização de ações em saúde
enquanto o usuário aguarda por atendimento. Nesse contexto a destacamos como um
território presente na atenção básica. É um espaço dinâmico onde ocorrem diferentes
mobilizações. Não é voltado aos profissionais, é um espaço onde as pessoas trocam
experiências, angústias, emocionam-se, se expressam, dentre outros, por meio do
processo interativo que ocorre por meio da linguagem. Portanto o tempo de espera
pode se tornar um aliado e uma oportunidade de trocas.
Segundo Pimentel et al. (2011, p.742) “a sala de espera recebe atenção privilegiada
para as ações em prol da humanização na atenção básica e passa a ser utilizada
como local de execução de atividades do acolhimento”, trocas e possibilidade de
experiências de uso de tecnologias leves. O conceito de tecnologia leve é representado
pelas relações interpessoais. Tal tecnologia é produzida no trabalho vivo presente
no processo de relações, no encontro entre o trabalhador e o usuário de saúde.
Desenvolve-se então vínculo, acolhimento, escuta, produção de responsabilidade e
autonomia.
A música foi inserida, como prática terapêutica na Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPIC), pela Portaria n. 849/2017 do Ministério da
Saúde (BRASIL, 2017) e tem sido utilizada em diversos cenários da saúde, como uma
forma de tecnologia leve para cuidar dos usuários de forma integral e multidimensional.
A expressão musical tem o potencial de proporcionar meios de socialização e
resgate de identidade; ampliar a autonomia dos usuários e suas vivências pessoais
e facilitar a construção de vínculos afetivos mesmo que, segundo Teixeira e Veloso
(2006, p.321), os usuários nesse espaço não se conheçam, tão pouco mantêm um
vínculo estável.
A literatura tem revelado que a utilização da música como um recurso terapêutico
é uma atividade que acompanha a humanidade em sua história. No contexto do cuidado
vem se fazendo presente em diversos cenários da saúde e se configurando como uma
modalidade de intervenção que visa uma assistência integral e humanizada. A sua
utilização pode fazer parte dos cuidados em saúde nos diversos cenários, configurando-
se em uma modalidade de intervenção que se afasta do modelo biomédico curativista
(ARAUJO,2014; BATISTA, 2016).
Em suma, o presente estudo tem por objetivo descrever a experiência da utilização
da música na sala de espera como um espaço de acolhimento e promoção de saúde.

METODOLOGIA

A Atenção Básica de Botucatu - município localizado no centro Sul do Estado de


São Paulo com uma população, estimada pelo IBGE em 2018, de 144.820 habitantes,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 22 189


conta com sete Unidades Básicas de Saúde e doze Unidades de Saúde da Família,
dentre elas o Centro de Saúde Escola (CSE) localizado na região da Vila dos
Lavradores. Foi fundado em dezembro de 1972 com a proposta de ser uma unidade
de atenção à população residente em área delimitada urbana e rural, com o objetivo
de atuar nas áreas de assistência, ensino e pesquisa (CYRINO & MAGALDI, 2002).      
No ano de 2010 tornou-se uma Unidade Auxiliar de Estrutura Complexa
da Faculdade de Medicina e passou a compartilhar o seu gerenciamento com o
Departamento de Enfermagem desta. Atualmente o CSE possui uma área adscrita
de 30.000 pessoas, para duas unidades (Vila dos Lavradores e Vila Ferroviária).
Oferecendo atendimentos especializados nas áreas de saúde da criança, saúde do
adulto, saúde da mulher e saúde mental.
A Unidade Vila dos Lavradores, foi o local que possibilitou o encontro de
profissionais de diversas áreas como: Enfermagem, Serviço Social, Psicologia e Terapia
Ocupacional, mais especificamente, profissionais da Residência Multiprofissional em
Saúde Mental com ênfase na Atenção Básica; Residência Multiprofissional em Saúde
da Família e Programas de Aprendizagem e Treinamento – PRAT.
A inserção dos programas de residência multiprofissional nesse serviço foi o
motivador para a reflexão e o repensar das práticas atuais. Este olhar levou à percepção
de uma grande demanda existente de usuários, que, diante da concepção do modelo
biomédico, buscavam o serviço meramente afim de obter prescrição de medicação.
Através de uma visão mais focada na potencialidade dos vínculos, dos grupos, da
ressignificação dos sintomas, e do fato de muitos destes usuários terem familiaridade
com a música. Surge então a ideia de utilizá-la enquanto tecnologia relacional para
contribuir na transformação desse contexto.
Salienta-se que após a iniciativa ser aprovada pela supervisão do núcleo de
Saúde Mental do CSE, iniciou-se a arrecadação de instrumentos musicais, por meio
de campanha de arrecadação utilizando cartazes na Unidade Básica de Saúde
e meios de tecnologias de comunicação. Inicialmente, os instrumentos eram dos
profissionais, porém, não suficientes devido ao número de integrantes e necessidade
de diversidade sonora. Contava-se apenas com: um violão, um pandeiro, um bongô
e uma meia lua. Porém, em curta duração de tempo, o grupo foi aumentando seu
arsenal de instrumentos através de doações.
A estratégia em si, caracteriza-se por um grupo aberto pois possibilita a participação
de todos os usuários e profissionais do serviço que estiverem interessados, sendo
a participação facultativa. Os encontros acontecem semanalmente, com duração de
aproximadamente uma hora e com a participação de em média dez pessoas.
As atividades são iniciadas em uma sala de grupo com as portas abertas, em
seguida ocorre uma rodada breve de apresentação dos integrantes incluindo o contato
já vivenciado com a música e também uma conversa sobre o funcionamento do grupo
como: horário de início, duração e combinados, sendo que os integrantes possuem
liberdade para se expressar contando histórias, anseios e angústias a qualquer
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 22 190
momento.
Em um segundo momento nos deslocamos para a sala de espera, compartilhando
as músicas escolhidas anteriormente e possibilitando que os usuários presentes
escolham músicas assim podendo se integrar ao grupo de maneira espontânea.
Em um terceiro e último momento é realizada uma avaliação a partir dos relatos
orais que acontecem durante o grupo, resgatando também o objetivo e sendo ofertado
acolhimento individual aos usuários que apresentarem necessidades.
Os objetivos deste grupo possuem como pauta utilizar a música enquanto prática
complementar para o acolhimento. Reconhecesse sua aplicabilidade na promoção
à saúde resultando em melhorias no bem-estar físico e psíquico e na ampliação da
participação social.
Contudo, para desenvolver intervenções com seres humanos, este relato de
experiência pautou-se nos procedimentos éticos indicados pela Resolução nº 466/12,
do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2013). Contando também com a aprovação
da Coordenação da Residência Multiprofissional com ênfase na Atenção Básica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O grupo não se caracteriza pela cura das enfermidades, mas sim, proporcionar
acolhimento e promoção da saúde através da música. Cada integrante é livre para
experimentar os instrumentos e propor a música de acordo com sua preferência,
independentemente do gênero musical. Constituindo-se assim como um espaço
importante para autonomia, troca de experiências e identificações musicais e
interpessoais. A literatura traz que a música é utilizada como recurso do cuidar no
cotidiano, considerando que valoriza a construção de subjetividades próprias ao afeto
e à criatividade, colaborando para a formação de um espaço terapêutico que raramente
ocorreria no ambiente de cuidado convencional (ARAÚJO et al., 2014).
A linguagem musical viabiliza a expressão de sentimentos e a ressignificação
de experiências vividas por se tratar de uma tecnologia de cuidado que facilita a
comunicação e o vínculo além de resgatar sentimentos positivos e proporcionar alegria,
melhorar a autoestima, transformar realidades, relaxamento e bem-estar. Exercendo,
então, funções que vão além da simples distração e descontração, tornando-se um meio
de comunicação capaz de ultrapassar os limites da expressão verbal (ARAUJO,2014;
BATISTA, 2016).
Impelidos pelos ritmos das músicas e pela alegria contagiante, ampliamos as
possibilidades interativas para os diferentes espaços e contextos. O repensar valores,
o respeito à diversidade cultural e saberes, o aprender na e com a diversidade, através
das experiências, proporciona acolhimento e promoção de saúde aos envolvidos.
É possível um reconhecimento dos integrantes como músicos e artistas. A
própria linguagem musical vivida por meio das recordações que as músicas trazem e
a identificação com as letras possibilitam potencialidades artísticas e expressivas que
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 22 191
transcendem a dicotomia saúde e doença.
A experiência não só permite um olhar mais cuidadoso para com o usuário,
considerando sua história de vida seus anseios e desejos, como também nos possibilita
participar ativamente de um processo de construção de um ambiente humanizado, que
prioriza o vínculo no atendimento à saúde, potencializando a automotivação capaz de
construir relações de trocas saudáveis, com mais autoestima e autonomia.
O trabalho vivo é aquele que valoriza o pensamento crítico, a subjetividade das
relações, o contato com o outro e não se acaba no produto, ou seja, no término de
sua criação, ele pode ser repensado, avaliado, recriado e adaptado. Este conceito nos
distancia do trabalho com um início e um fim, está sempre em movimento e se opõe
ao trabalho morto conhecido como: regras fechadas, protocolos rígidos e trabalhos
mecânicos e repetitivos que são reproduzidos automaticamente (PIMENTEL et al.
2011 p. 742).
Por fim, o grupo foi criando forma e expandiu-se para além da Unidade Básica
de Saúde recebendo convites para realizar apresentações culturais em eventos no
município, o que trouxe aos integrantes o sentimento de reconhecer-se pertencente a
este grupo e internalizar a representação do significado do espaço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As práticas tradicionais, estritamente biomédicas, utilizadas atualmente


demonstram não contemplar a mudança do atual modelo prevista na Política Nacional
de Atenção Básica, portanto, a integração das tecnologias relacionais (as tecnologias
leves estão presentes no espaço relacional do trabalho e se materializam nas atitudes
dos sujeitos, podendo ser denominadas tecnologias relacionais) e das práticas
integrativas são uma aposta e uma possibilidade de ampliação e aumento da qualidade
do cuidado presentes no modelo de atenção à saúde.
A expressão musical, como prática integrativa e de acolhimento, possibilita a
comunicação, vínculo, autonomia, responsabilização e bem-estar dos usuários, sendo
exemplos de práticas que promovem saúde e têm o potencial de reverter o modelo
vigente para uma prática mais humanizada tanto para usuários como trabalhadores
do serviço.

REFERÊNCIAS
ARAÚJO, T. C. et al. Uso da Música nos diversos cenários do cuidado: revisão integrativa.
Revista Baiana de Enfermagem, Salvador, v. 28, n. 1, p. 96-106, jan./abr. 2014. Disponível em:<https://
portalseer.ufba.br/index.php/enfermagem/ article/view/6967/8712>. Acesso em: 27 nov.2018.

BATISTA, N.S; RIBEIRO, M.C. O uso da música como recurso terapêutico em saúde mental.
Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, São Paulo, v.28, n. 3, p.336-41, set/
dez.  2016 set.-dez. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rto/article/view/105337>. Acesso em:
27 nov.2018.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 22 192


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde Política Nacional de Humanização.
Cadernos HumanizaSUS - Os grupos na Atenção Básica à Saúde. Disponível em: < http://bvsms.
saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos _humanizasus_atencao_basica.pdf>. Acesso em: 27
nov.2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.


Saúde mental / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção
Básica, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013.
176 p.: il. (Cadernos de Atenção Básica, n. 34). Disponível em:<http://bvsms.saude.gov. br/bvs/
publicacoes/cadernos_atencao_basica_34_saude_mental.pdf>. Acesso em: 27 nov.2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 849 de 27 de março de 2017. Inclui a Arteterapia,


Ayurveda, Biodança, Dança Circular, Meditação, Musicoterapia, Naturopatia, Osteopatia, Quiropraxia,
Reflexoterapia, Reiki, Shantala, Terapia Comunitária Integrativa e Yoga à Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares. Disponível em:<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/ gm/2017/
prt0849_28_03_2017.html>. Acesso em: 27 nov.2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Princípios do SUS. Disponível em: <http:// portalms.saude.gov.br/


sistema-unico-de-saude/principios-do-sus>.Acesso em: 27 nov.2018.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.


Política Nacional de Atenção Básica / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2012

BRASIL. Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde do


Ministério da Saúde. Diário Oficial da União 2012; 12 dez.

PIMENTEL, A.F.; BARBOSA, R.M.; CHAGAS, M. A musicoterapia na sala de espera de uma
unidade básica de saúde: assistência, autonomia e protagonismo. Interface (Botucatu), Botucatu,
v. 15, n. 38, p. 741-754, jul./set. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/icse/v15n38/10.pdf>.
Acesso em: 27 nov.2018.

TEIXEIRA, E. R.;  VELOSO, R.C. O grupo em sala de espera: território de práticas e


representações em saúde. Texto contexto - enferm, Florianópolis, v.15, n.2, pp.320-325, abr./
jun. 2006. Disponível em:<http://dx.doi.org/10.1590/ S0104-07072006000200017>.Acesso em: 27
nov.2018.

NOGUEIRA, C. A. O.; CERQUEIRA. Expressão do sofrimento psíquico, itinerário terapêutico


e alternativas de tratamento: a voz de mulheres atendidas no serviço de saúde mental de um
Centro de Saúde Escola. 2009. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva), Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Brasil.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 22 193


CAPÍTULO 23

A UNIVERSIDADE E SEU PAPEL CONTEMPORÂNEO


NO ENVELHECIMENTO: UMA VIVENCIA DE
REFLEXOLOGIA NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA
FAMÍLIA

Daisy de Araújo Vilela RESUMO: A estrategia saúde da familia tem


Docente da Universidade Federal de Goiás, como objetivo contribuir na organização do
Regional Jataí, Unidade Acadêmica de Ciências sistema único de saúde (SUS) municipalizando
da Saúde, Curso de Fisioterapia, Jataí-GO.
a integralidade e a participação da comunidade.
Ana Lucia Rezende Souza A inserção da Política Nacional de Práticas
Docente da Universidade Federal de Goiás,
Integrativas e Complementares (PNPIC),
Regional Jataí, Unidade Acadêmica de Ciências
configura uma ação de acesso as terapia na
da Saúde, Curso de Fisioterapia, Jataí-GO.
tentativa de envolver a integralidade da atenção
Keila Márcia Ferreira de Macedo
à saúde da população. A Reflexologia, utilizada
Docente da Universidade Federal de Goiás,
Regional Jataí, Unidade Acadêmica de Ciências como coadjuvante na recuperação da saúde,
da Saúde, Curso de Educação Fisica, Jataí -GO. vem sendo utilizada nos mais diferentes campos
da área da saúde. Nesse sentido, objetivou
Marina Prado de Araújo Vilela
Graduada em Medicina. Unievangélica, Anapólis promover qualidade de saúde a idosos de um
- GO. centro de referencia utilizando a massoterapia
Isadora Prado de Araújo Vilela na aplicação da técnica de reflexologia podal.
Acadêmica de Medicina da FUNORTE. Montes O estudo tem caráter exploratório de relato
Claros -MG. de experiência, onde utilizamos palestras de
Pedro Vitor Goulart Martins educação em saúde e tecnicas de massagem.
Acadêmica de Medicina da UNIC. Cuiabá- MT. Os objetivos foram alcançados.
Julia Ester Goulart Silvério de Carvalho PALAVRAS-CHAVE: Estratégia saúde da
Fisioterapeuta. Especialista em Fisioterapia família;Atividade de extensão; Reflexologia.
Hospitalar. Jatai- GO praticas integrativas e complemetares em
Juliana Alves Ferreira saúde.
Fisioterapeuta da instituição. Acadêmica da
Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí, ABSTRACT: The family health strategy aims to
Unidade Acadêmica Especial de Ciências da
contribute to the organization of the single health
Saúde, Mestrado em Ciências da Saúde, Jataí-
system (SUS), municipalizing the integrality and
GO.
participation of the community. The insertion
Marianne Lucena da Silva
of the National Policy of Integrative and
Docente da Universidade Federal de Goiás,
Regional Jataí, Unidade Acadêmica de Ciências Complementary Practices (PNPIC), constitutes
da Saúde, Curso de Fisioterapia, Jataí-GO. an action to access the therapy in an attempt

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 23 194


to involve the health care of the population. Reflexology, used as a coadjuvant in the
recovery of health, has been used in the most different fields of health. In this sense,
the objective was to promote the quality of health for the elderly of a reference center
using massage therapy in the application of the foot reflexology technique. The study
has an exploratory character of experience reporting, where we use lectures on health
education and massage techniques. The objectives have been achieved.
KEYWORDS: Family health strategy; Extension activity; Reflexology. integrative and
complementary practices in health.

INTRODUÇÃO

O papel social da instituição superior de ensino público é especificado no


contexto da extensão universitária, onde pretende levar para a sociedade uma
grande e importante contribuição, pois apresenta a relação dos universitários com a
comunidade, e pode realizar a prática de acordo com as teorias aprendidas em sala de
aula. Diante disso a universidade cumpre seu papel de ensino, pesquisa e extensão.
Desta forma a extensão surge como um meio que leva o discente a participar
e a realizar ações e soluções para o contexto social e, diante deste contexto, atuar,
experimentar, conhecer e conviver de forma cívica e responsável (SARAIVA, 2007).
A extensão possui papel essencial, tanto na vida dos acadêmicos, que colocam
em prática tudo o que aprenderam em sala de aula, quanto na vida dos indivíduos
que usufruem desta vivência. Aos que estão em formação, esta posição é muito
gratificante, já que contribuem para um mundo melhor. A comunidade recebe o
aprendizado, sendo beneficiada no que se diz respeito ao desenvolvimento na vida de
cada ser, provocando assim, mudanças sociais e contribuindo para a formação social
da profissão (RODRIGUES et al., 2013).
As questões que envolvem as situações de ações em extensão voltadas a
comunidade, agregadas a epidemiologia do envelhecimento nos motiva o interesse por
atividades que possam contribuir para uma melhor qualidade de vida para os idosos,
em conjunto com vivências em promoção e educação em saúde que possam permitir
aos nossos discentes a experiência do contato direto com a comunidade, de forma a
contribuir com a formação acadêmica. A Estratégia Saúde da Família (ESF) surge
com potencial para tornar concreta a participação da comunidade e a integralidade
das ações, e a universidade em parceria com a secretaria municipal de saúde (SMS)
contribui para o desenvolvimento das ações em extensão .
As atividades na ESF dentre outras ações, são voltada para a pessoa idosa,
onde o cuidado comunitário se faz nescessário acontecer na família e na atenção
básica, por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBS), as quais devem representar
para o idoso, idealmente, o vínculo com o sistema de saúde (SILVESTRE; COSTA
NETO, 2003). Os profissionais de saúde tem alguns desafios como a formação

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 23 195


inadequada voltada à atenção básica e ao conhecimento gerontológico, juntamente
com a desvalorização da educação permanente e a capacitação destes profissionais
(TAHAN; CARVALHO, 2010).
A esta diversidade de desafios e pluraridades de atores, temos como apoio
as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS), denominadas pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) como medicinas tradicionais e complementares,
foram institucionalizadas no Sistema Único de Saúde (SUS) por meio da Política
Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS (PNPIC), aprovada pela
Portaria GM/MS nº 971, de 3 de maio de 2006.
Estas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICS) constituem as
ofertas de cuidados em saúde, de forma a permitir a racionalização das ações de
saúde, contribuindo para estimular alternativas inovadoras e socialmente contributivas
ao desenvolvimento sustentável de comunidades; não podemos deixar de comentar
sobre a motivação ás ações referentes a participação social, incentivando o
envolvimento responsável e continuado dos usuários, gestores e trabalhadores nas
diferentes instâncias de efetivação das políticas de saúde, de forma a contribuir para
proporcionar maior resolutividade aos serviços de saúde (BRASIL, 2015).
A reflexologia ou reflexoterapia é uma prática terapêutica, que estuda as reações
de pontos,em áreas pré estabelecidas; como crânio, orelhas, mãos, coluna, pés; através
da pressão ou massagens. Cada parte do corpo tem um ponto reflexo, que representa
determinada parte do corpo, ao estimular os pontos reflexos corresponde a cada,
órgão ou glândula ao qual o ponto se refere. Pode ser utilizada como complemento
para o tratamento de diversas comorbidades, e como forma alternativa de tratamento
(LEITE; ZÂNGARO, 2006). Ou seja, utiliza os microssistemas e pontos reflexos do
corpo, existentes nos pés, nas mãos e nas orelhas, para auxiliar na eliminação de
toxinas, na sedação da dor e no relaxamento.
Definida como o estudo da produção de reflexos correspondentes de outras
partes do corpo, fazendo com que o organismo retorne ao estado de equilíbrio,
que é o inicio da normalização, assim promovendo o relaxamento. Permite que a
circulação das energias flua livremente beneficiando os órgãos corporais, agregados
celulares,promovendo o retorno ao estado ou função normal (KUNZ ;KUNZ, 1982).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 23 196


Fonte/ crédito da figura:https://perfilfeet.com.br/reflexologia-podal-seus-pes-dizem-muito-sobre-voce/.

Este trabalho teve como objetivo promover qualidade de saúde a idosos de um


centro de referencia utilizando a massoterapia na aplicação da técnica de reflexologia
podal ,e descrever os benefícios relatados de forma a proporcionar aos universitários
a experiência do trabalho em equipe e a assistência para comunidade , contribuindo
assim para sua formação.
São imprescindíveis estudos e pesquisas sobre o assunto para que haja maior
compreensão e informações sejam geradas para subsidiar as ações de saúde. Este
relato trata-se de uma ação de extensão realizada nas unidades de referencias para
idosos.

METODOLOGIA

O projeto foi desenvolvido em duas etapas: na primeira o local selecionado foi uma
instituição de longa permanência (ILP) na qual vinculada a uma prática da disciplina
de Fisioterapia aplicada a reumatologia e geriatria, realizavamos as ações como uma
forma de assistência ao idoso institucionalizado. Na segunda etapa, atendendo a
solicitação de uma unidade de referência, desenvolvemos palestras e ações voltadas
ao idosos da comunidade.
Este relato se refere a segunda etapa, foram realizadas no segundo semestre
letivo de 2014, no período de agosto a novembro, por acadêmicos do segundo período
do curso de fisioterapia da Universidade Federal de Goiás- regional de Jataí, sob
supervisão do professor que estava ministrando a disciplina de massoterapia.
Para este trabalho adotamos como critérios de inclusão: unidades de saúde para
idosos no município que tivesse encontros periódicos com a população de idosos; ser
maior de 15 anos; disponibilidade em participar da ação, visto que após a palestra

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 23 197


haveria um tempo mínimo de espera para receber a massagem podal.
Entendemos que se faz relevante a descrição da metodologia porque a ciência
tem como como alvo mostrar a verdade dos fatos, ela se utiliza de métodos que
visam à sua verificação, a utilização de procedimentos organizados para se atingir as
finalidades esperadas, define o o método científico como o somatório de procedimentos
intelectuais e técnicos utilizados para se atingir o conhecimento (GIL, 1995).
A ação foi estendida a todos que tivessem interesse em participar não se limitando
exclusivamente aos idosos, alguns eram acompanhados por familiares, entendemos
ser relevante a afirmação das informações para todos os indivíduos que compõem a
rotina dos idosos e a família estando envolvida nas ações voltadas para os idosos,
em nossa opinião pode ser um diferencial na qualidade de vida dos mesmos. Desta
forma caracteriza o papel da extensão universitária, que é uma forma de interação
entre a universidade e a comunidade, com sua execução torna possível desenvolver
atividades de promoção da saúde (SIQUEIRA et al., 2017).
A atividade foi composta por: palestras expositivas com utilização do recurso
multimidia e vídeos para ilustrar os temas facilitando a compreensão do público,
para a população convidada durante os encontros semanais, nos seguintes temas:
prevenção à quedas, qualidade de vida, alimentação na 3º idade, a massagem como
aliado para combater o stress, técnicas de auto-massagem, dentre outros temas.
Cada palestra tinha a duração de 45 minutos com espaço para questionamento
do público, ou colocações do palestrante sobre o que acharam das informações
expostas. Em sequência as universitária do curso de Fisioterapia se posicionaram
no espaço indicado para aplicação da técnica. A unidade nos disponibilizou 3 salas
as quais adaptamos como divã, as cadeiras escolares, de maneira que as idosas
eram posicionadas de forma confortável, a executora da técnica posicionava a frente
sentada em outra carteira e utilizando o apoio da carteira realiza a massagem nas
mãos e depois com os pés apoiados em uma toalha realizavam a massagem nos pés.
A escolha da técnica aconteceu devido: tempo hábil para aplicação da técnica,
não requer recursos complexos alem das mãos, mapa reflexológico e treino do
executor, que facilitar a logística da aplicação. Também traz como positivo, não precisar
expor partes intimas do corpo e geralmente traz relato de bem estar logo na primeira
aplicação.
Após a massagem os idosos eram convidados a avaliar , através de pequeno
questionário que pontuava de 0 a 10 pontos a ação, marcando em um papel a nota
e colocando em uma urna, onde garantia o anonimato da opinião. A participação na
atividade não era vinculada a avaliação. Foi informada ao participante que a qualquer
momento poderia ser suspensa a atividade sem nenhum constrangimento, caso
fosse desagradável sua execução ou ele mudasse de ideia sobre a participação na
execução. O participante podia fazer sugestão de outras ações a serem realizadas.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 23 198


RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 14 unidades de saúde descritas no município, visitamos 06 locais (42%);


tivemos um público de 40 (16%) idosos em cada palestras, aproximadamente 250
(100%) pessoas. A cobertura de saúde no município chega em torno de 75%, segundo
informações informais obtidas com os profissionais de saúde.
As práticas de educação em saúde envolvem três segmentos : profissionais
de saúde que valorizam a prevenção e a promoção associada a práticas curativas;
os gestores que apoiem esses profissionais permitindo as oficinas; e a comunidade
que necessita construir seus conhecimentos e aumentar sua autonomia nos cuidados,
individual e coletivamente (FALKENBERG et al., ‎2014).
Quando o público era muito grande, acima de 40 participantes, limitávamos as
atividades de reflexologia após as palestras, para os idosos, isso foi feito devido a
indisposição do horário dos participantes. Esta técnica (método) é aplicada nos pés
não só porque neles passam os principais canais ou meridianos que conduzem a
energia da força vital ou chi (...) existente por todo o corpo humano, mas também
porque nos pés os reflexos são estimulados naturalmente por permanecerem muito
tempo sob a pressão do peso corpóreo estático ou dinâmico (VENNELLS, 2003) .
Cuidar do idosos com uma abordagem holística, que considera a enfermidade
física como apenas uma das numerosas manifestações de um desequilíbrio básico
do organismo, onde a cura envolve a interação contínua da mente e do corpo.
Discorre sobre o paradigma holístico e propor novos rumos para a saúde, enfatiza a
necessidade de se rever os atuais modelos de serviços, de instituições de ensino e
de pesquisas em saúde; esta transição para o novo modelo, precisa ocorrer de forma
lenta e cuidadosa, por causa do enorme poder simbólico da terapia biomédica em
nossa cultura ocidental (CAPRA, 2006).
Na maioria dos locais metade dos participantes da palestras (totalizando 80
idosos), propuseram a esperar pela sessão de que durava em média 30 minutos e
foi aplicada pelos acadêmicos do segundo período de massoterapia. Aplicar a teoria
na prática é um aprendizado que contribuir para superar os futuros desafios. Este
conhecimento explícito pode ser quantificado, modelado, prontamente comunicado
e facilmente transposta para diretrizes de conduta clínica baseadas em evidência
(NOBRE; BERNARDO; JATENE, 2004) .
Das 80 (32%) respostas disponibilizadas: 27% (pontuaram com nota 10);
aproximadamente 3,0% (com nota 9) e 2,0 % (com nota 8). Como sugestão de
atividades 70% massagem corporal relaxante; 10% limpeza e hidratação facial; 5%
deixaram a critério da organização; 15 % não opinaram.
A massagem nos pés promove ativação da circulação sanguínea, levando ao
relaxamento, sensação de bem estar e a capacidade de auto cura. O toque estimula
a secreção de endorfinas, além de reduzir a ansiedade e a dor. O estudo constatou
que a pulsação, a respiração e a pressão antes da massagem eram mais altas,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 23 199


proporcionando uma boa circulação, relaxamento e conforto (JIRAINGMONGKOL et
al, 2002).
Os estímulos nos pontos reflexos permite a liberação da energia para circular
no organismo de forma equilibrada, como consequência a sensação de equilíbrio e
bem-estar, fazendo com que o organismo em equilíbrio possa reagir às outras formas
dos desequilíbrio orgânico, conceituados como estresse ou doenças (TASHIRO et al,
2001). O desfecho destas alterações biológicas beneficas serem geradas dentro de
um período curto de tempo demonstra o potencial desse recurso que permite aprimorar
clinicamente fatores relevantes no estado de saúde das pessoas (DIAZ-RODRIGUEZ
et al., 2011).

CONCLUSÃO

Segundo relato dos participantes as atividades realizadas favoreceram o bem


estar na tarde e uma maior disposição física e mental com melhora e manutenção da
sensação de bom humor; como também uma integração entre eles ,com uma troca
de experiências, vivencias, amizades e solidariedade. Acreditamos que este deve ser
o foco da intervenção para a prevenção, controle e tratamento das doenças crônicas
não transmissíveis. Aprimorando a educação para saúde dentro dos Postos de Saúde
da Família, capacitando todos os membros das equipes de forma tal que cada um seja
agente ativo para a transformação de hábitos e costumes dentro das comunidade.
Temos poucos estudos sobre a reflexologia, a maioria relata a que essa técnica
tem efeitos benéficos sobre o organismo, o que a torna uma terapia viável e que
merece investimento; existe ainda o discurso unânime das pessoas que se submetem
a técnica, que , após as sessões sentiram uma sensação de bem estar, relaxamento
e alívio de dor ou sensação de mal-estar.
Concluímos que na rede de Atenção Básica, as PICS podem ser ofertadas
pelo mesmo profissional que realiza o cuidado convencional aos usuários – apenas
torna-se primordial que tenha formação prévia para executa- las – ou por profissional
específico para essa oferta do cuidado. Nesse entendimento, ressalta-se a importância
da Atenção Primária para fortalecer práticas de promoção da saúde, em especial, das
praticas integrativas e complemtares em saúde.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.
Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS: atitude de ampliação de acesso.
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CAPRA, F. . O Ponto de mutação: a ciência a sociedade e a cultura emergente. São Paulo:


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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 23 201


CAPÍTULO 24

ADESÃO AO TRATAMENTO COM CPAP/VPAP EM


PACIENTES PORTADORES DA SÍNDROME APNEIA
OBSTRUTIVA DO SONO

Jasom Pamato e 25 pessoas (55,6%) para grupo de boa


Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia em adesão. Não houve diferença estatística entre
Terapia Intensiva (Balneário Camboriú/ Faculdade as variáveis analisadas. Em análise bivariada
Inspirar/ Balneário Camboriú/ Santa Catarina/
por correlação, uma associação significativa
Brasil) [email protected]
(p=0,049) foi identificada entre a pressão do
Kelser de Souza Kock CPAP/VPAP e a pontuação na escala de Epworth
Doutor em Ciências Médicas. Professor titular da
(r=-0,295). Conclusão: Não houve diferença
Universidade do Sul de Santa Catarina (Campus
Tubarão-SC/ Brasil) [email protected] entre adesão ao CPAP/VPAP e sonolência
diurna e qualidade de vida. A maior pressão
titulada no CPAP parece estar relacionada com
uma menor pontuação na escala de Epworth
RESUMO: Introdução: A síndrome da apneia relacionada a sonolência diurna.
obstrutiva do sono é considerada um grave PALAVRAS-CHAVES: Apneia do Sono Tipo
problema de saúde pública e, quando não Obstrutiva, Pressão Positiva Contínua nas Vias
tratado corretamente, pode trazer ao portador Aéreas, Qualidade de Vida, Sono, Distúrbios do
várias alterações. O tratamento mais utilizado Sono por Sonolência Excessiva.
é a pressão positiva contínua nas vias aéreas
(CPAP/VPAP) durante o sono. Objetivos: Avaliar
a relação da adesão do tratamento de pacientes ADHERENCE TO CPAP/VPAP TREATMENT
portadores da SAOS com CPAP à qualidade de IN PATIENTS WITH OBSTRUCTIVE SLEEP
vida e sonolência diurna. Metodologia: Estudo
APNEA SYNDROME
transversal, quantitativo e descritivo que avaliou
a sonolência diurna, a qualidade de vida, e a ABSTRACT: Introduction: Obstructive sleep
adesão ao tratamento. Os participantes foram apnea syndrome is considered a serious public
divididos em dois grupos: boa adesão e má health problem and, when not treated properly,
adesão. Ambos os grupos foram comparados can bring several changes to the carrier. The
entre si relacionado-os a: idade, gênero, IMC, most commonly used treatment is continuous
dispositivo, umidificador, nível socioeconômico positive airway pressure (CPAP / VPAP) during
e IAH. Resultados: Foram verificados 45 sleep. Objectives: To evaluate the relation of
pacientes, sendo que 20 indivíduos (44,4%) adherence of the treatment of patients with
foram separados para o grupo de má adesão OSAS with CPAP to quality of life and daytime

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 202


sleepiness. Methodology: A cross-sectional, quantitative and descriptive study that
evaluated daytime sleepiness, quality of life, and adherence to treatment. Participants
were divided into two groups: good adherence and poor adherence. Both groups were
compared to each other related to: age, gender, BMI, device, humidifier, socioeconomic
level and AHI. Results: A total of 45 patients were evaluated, of which 20 (44.4%) were
separated for the group of poor adherence and 25 (55.6%) for the good adherence
group. There was no statistical difference between the analyzed variables. In a bivariate
correlation analysis, a significant association (p = 0.049) was identified between the
CPAP / VPAP pressure and the Epworth score (r = -0.295). Conclusion: There was no
difference between CPAP / VPAP adherence and daytime sleepiness and quality of
life. The higher titrated pressure in CPAP seems to be related to a lower score on the
Epworth scale related to daytime sleepiness.
KEYWORDS: Sleep Apnea Obstructive, Continuous Positive Airway Pressure, Quality
of Life, Sleep, Disorders of Excessive Somnolence.

1 | INTRODUÇÃO

O natural estado de sono de um indivíduo garante ao seu organismo manter a


sua integridade física e psíquica. O fato de respirar bem enquanto dorme é de suma
importância para obter-se uma boa saúde.1,2 Computa-se que de 15 a 20% da população
adulta apresenta distúrbios respiratórios do sono (DRS), que são caracterizados por
padrões respiratórios anormais e/ou diminuição da troca gasosa durante o sono. Entre
as crianças essa porcentagem varia de 5 a 10% da população. Destaca-se entre os
DRS a hipoventilação, a apneia central do sono e a síndrome apneia obstrutiva do
sono (SAOS), sendo a última a mais frequente.2,3
Define-se como SAOS a obstrução ou fechamento recorrente das vias aéreas
superiores (VAS), podendo ser completa (apneia) ou parcial (hipopneia), durante o
sono, num período mínimo de 10 segundos.1,2,4,5 A SAOS é considerada um grave
transtorno de saúde pública por seu forte impacto econômico e seu grande número
de casos. Secundariamente traz consigo várias consequências à saúde, levando
a população a uma maior procura dos serviços públicos de saúde, a incapacidade
ocupacional e ao maior risco de alterações psicológicas.1,3
Os principais fatores de risco dessa síndrome noturna são: obesidade; gênero
masculino; anatomia craniofacial alterada e; idade superior a 65 anos.3 Dentre os
sintomas mais prevalentes, podemos destacar: sonolência diurna; alterações de humor;
capacidade cognitiva diminuída e; capacidade funcional reduzida. Clinicamente, essa
síndrome noturna associa-se a alteração na ventilação, fracionamento e redução da
qualidade do sono e a graves morbidades secundárias cardiovasculares, metabólicas
e neurológicas. 2,5
Segundo a terceira edição do International Classification of Sleep Disorders (ICSD-
3)6, para um indivíduo ser diagnosticado com SAOS, é necessário apresentar sintomas

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 203


(sonolência diurna, fadiga, insônia, ronco, desconforto respiratório subjetivo durante
o sono ou apneia observada) e/ou sinais clínicos (insuficiência cardíaca congestiva,
hipertensão arterial sistêmica, fibrilação atrial, diabetes, doenças coronarianas,
acidente vascular encefálico, disfunção cognitiva ou alteração de humor) associados
a cinco ou mais eventos de fechamento das VAS (apneias ou hipopneias) por hora
durante a polissonografia (PSG).
A PSG é considerada o padrão-ouro para diagnosticar a SAOS. Ela utiliza
como principal parâmetro o índice de apneia e hipopneia (IAH), cuja a finalidade é
de registrar a quantidade de apneias e/ou hipopneias (eventos) por hora de sono.3,4 A
SAOS pode ser classificada em três níveis: leve, moderada ou grave. Essa definição
se dá pelo IAH, onde caracteriza-se leve quando paciente apresenta de 5 a 15
eventos por hora, moderado quando de 15 a 30 e grave quando maior ou igual a
30 eventos por hora. Indivíduos normais apresentam de 0 a 5 apneias/hipopneias
por hora.3,7 Mesmo sendo um distúrbio comum entre a população, essa doença é
considerada pouco diagnosticada, cerca de 75 a 80% dos casos não são identificados
e consequentemente não tratados.8
Em meio às várias opções de tratamento, a pressão positiva nas vias aéreas
é considerada altamente eficaz, principalmente nos casos classificados moderado e
grave. Entre os dispositivos, o Continuous Positive Airway Pressure (CPAP) é o mais
utilizado, cujo objetivo é manter uma pressão positiva constante tanto na inspiração
quanto na expiração. O contato entre o ventilador e o paciente se dá por meio de
uma máscara (interface), podendo ser nasal ou facial.3 A pressão emitida pelo CPAP
mantém constantemente as VAS desobstruídas, o que impede a ocorrência de eventos
de apneia/hipopneia.3,5
A maior dificuldade no tratamento da SAOS com CPAP é a má adesão ao
mesmo, tanto a curto quanto a longo prazo. Calcula-se que entre 29 a 83% dos casos
não aderem ao tratamento com CPAP. Essa importante barreira levou a criação de
vários métodos a fim de promover a boa adesão aos pacientes em tratamento, tais
como: titulação ideal; ventiladores adequados, umidificadores, além de programas
educacionais e psicológicos.9 Dentre os principais fatores de má adesão, podem ser
citados o tipo de dispositivo (CPAP/VPAP), a máscara aplicada e o uso de fármacos
associados. Além disso, o fato de o paciente não usar o CPAP/VPAP por um período
maior que 4 horas, ou ficar algumas noites sem usá-lo, favorece a manifestação de
alterações neurocomportamentais e sonolência diurna.10 A condição socioeconômica, o
nível de instrução e o estado psicossocial dos pacientes portadores da SAOS também
são fatores determinantes para um eficaz tratamento com pressão positiva. Estudos
também afirmam que pacientes previamente titulados a altas pressões (≥12cmH2O)
apontam uma maior prevalência a má adesão ao tratamento.11
Pesquisas comprovam que a SAOS proporciona um importante aumento na
morbidade e mortalidade da população e afeta diretamente a qualidade de vida dos
pacientes. Crianças portadoras dessa síndrome apresentam pontuações de qualidade
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 204
de vida semelhantes a crianças com alterações, como por exemplo, artrite juvenil.
Alguns estudos relatam que cerca de 63% dos pacientes diagnosticados com esse
DRS apresentam um quadro de depressão significativo, principalmente pelos eventos
de perda de sono, perturbação e alterações cognitivas.12,13
Devido a esse evidente obstáculo, este estudo buscou avaliar a relação da
adesão do tratamento de pacientes portadores da SAOS com CPAP à qualidade de
vida e sonolência diurna.

2 | METODOLOGIA

Foi realizada uma pesquisa transversal, quantitativa, descritiva. A população do


estudo foi composta por moradores das cidades de São José, Palhoça, São Bonifácio e
Santo Amaro da Imperatriz/SC, pertencentes ao programa de oxigenoterapia domiciliar
disponibilizado pela secretaria de saúde do estado de Santa Catarina, cuja finalidade é
atender doentes respiratórios que necessitem de suporte de oxigênio, BIPAP (bi-level
positive airway pressure) e/ou CPAP. O período da coleta de dados foi entre os meses
de junho e setembro do ano de 2016.
Como critérios de inclusão, consideraram-se aqueles que aceitaram participar
da pesquisa e, como exclusão, os indivíduos que possuíram menos de um mês de
utilização do CPAP/VPAP.
Os indivíduos participantes dessa pesquisa foram informados sobre o objetivo
do estudo e voluntariamente assinaram o termo de consentimento de pesquisas que
abrange os seres humanos conforme as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de
Pesquisas Envolvendo Seres Humanos (Resolução Nº 196, de 10 de outubro de 1996)
do Conselho Nacional de Saúde. Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e
Pesquisa da Inspirar (CAAE: 55158816.6.0000.5221).
Para relacionar as variáveis desse estudo, a amostra foi dividida em dois grupos,
titulados de boa adesão (G1) e má adesão (G2). O G1 foi definido pelo uso do CPAP/
VPAP por pelo menos 70% dos dias desde a instalação até a leitura do cartão de
memória e; ter dormido com o dispositivo por no mínimo 4 horas/noite. Para o G2,
foram considerados aqueles indivíduos que não cumpriram critério apresentado
anteriormente. Esses dados foram colhidos pela leitura do cartão de memória presente
em cada dispositivo, inclusive a pressão titulada que o paciente utiliza (cmH2O).
As amostras se submeteram a avaliação de altura (metros) e peso (quilogramas)
corporal através de uma balança antropométrica com propósito de avaliar o índice
de massa corpórea (IMC). Foi coletado entre os pacientes as doenças além da idade
de cada indivíduo. O índice de qualidade de vida dos pacientes com apneia do sono
(SAQLI) e a escala de sonolência de Epworth (ESE) avaliaram respectivamente a
qualidade de vida e o grau de sonolência diurna das amostras em análise. Para fins de
avaliação socioeconômica dos pacientes, foi utilizado o questionário critério Brasil14,
que avalia o poder aquisitivo da família com referência no número de posses de bens

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 205


de consumo duradouro, nível de instrução do representante da família além de outros
pontos como água encanada e pavimentação da via de acesso. Esse questionário
distribui a população em sete classes sociais (A1, A2, B1, B2, C, D e E), sendo A1 os
indivíduos com maior renda e, classe E os de menor renda.
Sobre o dispositivo e seus acessórios, foi identificado o tipo de máscara (nasal,
almofadas ou facial), se possuía umidificador (modelo umidificador H5i - Resmed) e,
se utiliza CPAP (S9 Elite – Resmed) ou VPAP (S9 VPAP S – Resmed).
Os dados foram armazenados em um banco de dados criado com o auxílio do
software Excell®, o qual foi exportado para o software SPSS 20.0®. Os dados foram
demonstrados por meio de números absolutos e percentuais, medidas de tendência
central e dispersão. Para comparação dos grupos BA e MA utilizou-se os testes de
Mann-Whitney ou qui-quadrado, dependendo do tipo de variável, ambos com intervalo
de confiança de 95% e com nível de significância estatística de 5%. Foi realizada a
correlação de Pearson entre a pressão utilizada no CPAP e o grau de sonolência
diurna.

3 | RESULTADOS

Foram avaliados 45 indivíduos, sendo 23 do gênero masculino e 22 do gênero


feminino. A média (±DP) da idade dos participantes foi de 61,8 (±10,2) anos. O IMC
apresentou uma média (±DP) de 35,0 (±7,5). Dentre as patologias referidas pelos
pacientes, as mais comuns foram hipertensão arterial sistêmica, presente em cerca
de 82% da amostra, e diabetes, cuja a porcentagem foi de aproximadamente 33%. Os
aparelhos terapeuticamente utilizados foram o CPAP S9 e VPAP S9, ambos da marca
Resmed. Entre os participantes da pesquisa, 89% faziam uso do CPAP, e apenas 11%
do VPAP. Foram identificados também que apenas 19 dos 45 pacientes possuíam
umidificador. Os demais resultados podem ser observados na tabela 1.

Média±DP n(%)
Idade 61,8±10,2
Sexo
23(51,1%)
Masculino
22 (48,9%)
Feminino
Aparelhos
40 (88,9%)
CPAP S9
5 (11,1%)
VPAP S9
Umidificador
26 (57,8%)
Não
19 (42,2%)
Sim
IMC 35,0±7,5
Escala de Epworth 9,9±5,1
CCEB 30,0±9,3
SAQLI 219,9±41,1

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 206


Qtd. de Dias Utilizados ≥4hrs/Totalidade
65,6±30,6
de Dias (%)
Média de Horas/Dia 5,1±2,5
IAH 1,9±1,3

Tabela 1 – Características da amostra


CPAP: Continue positive air pressure; VPAP: Variable positive airway pressure; IMC: Índice de massa corporal;
CCEB: Critério de classificação econômica Brasil; SAQLI: Sleep apnea quality of life index; IAH: Índice de apneia-
hipopneia.

Na comparação entre os grupos, 20 apresentaram má adesão (Grupo 1) à


terapia, e 25 tinham uma boa adesão (Grupo 2). Os integrantes do Grupo 2, composto
por 55,6% da amostra, faziam uso do ventilador superior a 70% da quantidade de
episódios utilizados mais de 4 horas por totalidade de dias, e apresentava uma idade
média (±DP) de 63,6 (±10,0). Em contrapartida, o Grupo 1, formado por 44,4% do total
de participantes, tinha uma idade média (±DP) de 59,6 (±10,3). No entanto, não houve
diferença estatisticamente significativa (p = 0,283).
Com relação ao gênero, não foi encontrada diferença entre os grupos (p = 0,463),
bem como a relação entre adesão e IMC (p = 0,157).
Em análise de relação entre o IAH e a adesão ao tratamento, também não foi
possível comprovar diferença significativa (p = 0,391), visto que o grupo de má adesão
apresentou uma média de 1,6 (±1,1), e o outro grupo de 2,1 (±1,4).
A média (±DP) da Escala de Epworth foi de 9,8 (±4,8) para o Grupo 1, e 10,0 (±5,5)
para o Grupo 2, apresentando nível de significância (p = 0,963) neste comparação.
Semelhantemente ao caso supracitado, não foi demonstrada diferença entre
adesão e qualidade de vida (p = 0,293), visto ter exibido uma média (±DP) de 213,1
(±31,1) para o Grupo 1, e 225,3 (±41,1) para o Grupo 2.
A utilização do umidificador para essa terapia foi estudada também a fim de
comprovar relação com a adesão do paciente, porém, estatisticamente, não apresentou
diferença (p = 0,380).
A média do nível socioeconômico dos participantes classificou-os como B2, ou
seja, uma renda média domiciliar de R$4.427,36. Na relação à adesão, o Grupo 1
apresentou uma média de 32,2 (±10,5), e o Grupo 2 de 28,3 (±8,1). Assim como nas
comparações anteriores, não foi encontrada diferença estatística (p = 0,234). A tabela
2 apresenta a comparação entre os grupos.

Grupo Má Adesão (1) Grupo Boa Adesão (2)


N=20 (44,4%) N=25 (55,6%) P
Média±DP Média±DP
Sexo*
Masculino 9 (45%) 14 (56%)
0,463
Feminino 11 (55%) 11 (44%)
Umidificador*
Não 13 (65%) 13 (52%)
0,380
Sim 7 (35%) 12 (48%)

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 207


IMC 36,6±6,8 33,8±7,9 0,157
Idade 59,6±10,3 63,6±10,0 0,283
Escala de Epworth 9,8±4,8 10,0±5,5 0,963
CCEB 32,2±10,5 28,3±8,1 0,234
SAQLI 213,1±31,1 225,3±41,1 0,293
IAH 1,6±1,1 2,1±1,4 0,391

Tabela 2 – Comparação entre os grupos má adesão e boa adesão


IMC: Índice de massa corporal; CCEB: Critério de classificação econômica Brasil; SAQLI: Sleep apnea quality of
life index; IAH: Índice de apneia-hipopneia.

Na análise bivariada por correlação, foi encontrada uma associação significativa


(p=0,049) entre a pressão titulada no CPAP e a pontuação na escala de Epworth
(r=-0,295), demonstrando que a maior pressão utilizada está relacionada à menor
sonolência diurna (Figura 1).

Figura 1 – Correlação entre pressão no CPAP e pontuação na escala de Epworth

4 | DISCUSSÃO

No presente estudo, pouco menos da metade dos pacientes foram definidos


como bem aderidos. Tratando-se de um importante problema de saúde pública, é de
suma importância que o tratamento da SAOS seja bem realizado e acompanhado.
Em função disso, um estudo retrospectivo finalizado em 201311, buscou avaliar 156
indivíduos portadores dessa síndrome, dividindo-os em 2 grupos, boa e má adesão.
O critério utilizado na divisão dos grupos para boa adesão foi: média de uso maior ou
igual a 4 horas por noite. Já o grupo de má adesão foi definido pelos participantes que
tivessem uma média inferior a 4 horas por noite. Os grupos foram relacionados às
seguintes variáveis: sexo; idade; IMC e; doenças associadas. Além disso, o mesmo
estudo buscou comparar entre si, idade, IAH, diagnóstico e pressão deferida do
CPAP. Ao final do estudo, foi possível acompanhar que cerca de 52,5% dos indivíduos
avaliados se adequaram ao grupo de boa adesão ao tratamento com CPAP. Este

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 208


resultado encontrado foi um pouco maior, mas muito próximo ao do presente estudo,
demonstrando que adesão é realmente um problema na utilização do CPAP.
A síndrome da apneia obstrutiva do sono traz aos portadores alterações
importantes em seu estado físico e psíquico. Indivíduos que dormem menos de 6 horas
por noite possuem maior probabilidade de apresentarem doenças associadas tais
como hipertensão arterial sistêmica (HAS), diabetes (DM) e obesidade, aumentando
os riscos de mortalidade15. Nesse atual estudo, foi possível observar essa prevalência,
visto que, dos 45 pacientes participantes da pesquisa, 37 tinham HAS e 15 DM, além
de outras morbidades.
Zanuto et al.16 realizou um estudo descritivo no segundo semestre de 2012, cujo
objetivo foi de avaliar a ocorrência de adultos com distúrbios do sono em uma cidade de
São Paulo, identificando sua relação com níveis comportamentais, sociodemográficos
e nutricionais. Participaram da pesquisa 743 indivíduos, de ambos os gêneros, com
faixa etária acima de 18 anos de idade. Foram aplicados questionários para analisar
a qualidade do sono e a prática de exercícios físicos nos momentos de lazer além do
registro de variáveis comportamentais e sociodemográficas. Ao final do levantamento,
dentre os resultados apresentados, foi possível observar que a idade média (±DP)
dos participantes era de 49,9 (±17,3) anos. Em análise ao presente estudo, observou-
se que a idade média dos pacientes era superior a 60 anos, contudo, assim como
na pesquisa citada anteriormente, não houve associação significativa com qualquer
variável.
Billings et al.17, realizou um estudo envolvendo 191 indivíduos com o intuito de
comprovar que fatores sociais como raça, educação e nível socioeconômico possui
relação com a adesão ao tratamento com CPAP. Os sujeitos participantes deveriam
ter apneia do sono de moderada a grave, somados à circunferência do pescoço,
HAS, pontuação da ESE de pelo menos 12, ronco habitual e testemunhas que
relatassem eventos de asfixia e/ou apneias. Foi utilizado entre os participantes, o SES
(Socioeconomic Status), que avalia o nível socioeconômico dos indivíduos através
de uma combinação de educação, renda e ocupação. O resultado dessa pesquisa
não comprovou cientificamente uma relação entre a adesão ao tratamento e o seu
nível socioeconômico, citando dificuldades com relação ao instrumento de pesquisa
utilizado. Esse estudo corrobora com a atual pesquisa, visto que essa não apresentou
relação de nível socioeconômico e adesão no tratamento proposto.
Um estudo realizado entre 2004 e 200618, em 14 unidades de ensino
hospitalares, buscou avaliar a ação do tratamento com CPAP sobre a incidência de
HAS e eventos cardiovasculares em pacientes com SAOS. Essa pesquisa randomizada
teve a participação de 357 pacientes que apresentavam idades entre 18 e 70 anos,
classificados com SAOS moderada a severa (IAH ≥20) e que alcançavam uma
pontuação menor que 11 na escala de sonolência de Epworth (ESE). Essas amostras
foram submetidas ao tratamento com CPAP, sendo 87,7% do gênero masculino, e
o restante do gênero feminino. O protocolo de avaliação proposto incluía avaliação
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 209
antropométrica e clínica, consumo de fumo e álcool, hemograma em jejum, análise de
sonolência pela escala de sonolência de Epworth, uso de fármacos cardiovasculares
e aferimento da pressão arterial, dados que foram coletados antes do estudo do sono.
Todos os pacientes foram submetidos a polissonografia e, pós diagnóstico, a um
exame de titulação de pressão. Em seguida, os participantes foram orientados sobre o
uso do dispositivo diariamente, passando por avaliação nos 3º, 6º e 12º mês por ano.
A cada avaliação, os pacientes eram reorientados sobre o uso do ventilador e seus
dispositivos eram analisados com relação às horas de uso. A adesão ao tratamento
e as variáveis influenciáveis eram o foco do estudo, sendo que, a boa adesão era
definida como o uso médio de 4 horas por noite e, a má adesão como utilização menor
que 4 horas por noite. Ao final da pesquisa, 230 pacientes entraram na classificação
de boa adesão, contra 127 participantes que faziam uso do CPAP menos de 4 horas
por noite. Desses classificados no grupo de má adesão, 101 indivíduos finalizaram o
estudo, e 26 desistiram. Diante da associação dos grupos com as variáveis, foi possível
observar principalmente uma relação significativa do IMC e IAH, ou seja, quanto maior
os índices, melhor a adesão do paciente. Essa pesquisa não corrobora com o presente
estudo, visto que essas variáveis apresentadas acima não demonstraram relação
direta com a adesão do paciente, possivelmente por haver poucos participantes, e
pelo baixo IAH exibido entre as amostras.
Em uma revisão sistemática realizada entre os anos de 1990 e 2015, Dutt et al.19
definiu como qualidade de vida um indivíduo que se sente feliz em viver, produtiva e
significativamente livre de qualquer doença e/ou impacto da mesma. Nessa revisão,
os autores comentaram sobre os questionários de mensuração de qualidade de
vida generalizados e específicos para portadores de SAOS. Dentre os instrumentos
exibidos na pesquisa, foi ressaltado o SAQLI, o mesmo utilizado no presente estudo,
comentando que tinha uma boa validade do conteúdo e conjunto de provas de
qualidade, além de um grande número de itens para avaliação. Um grande estudo
foi realizado envolvendo 19.711 participantes onde, 5.161 pessoas apresentavam
distúrbio no sono, e 14.550 pessoas sem alteração. Foi evidenciado que os indivíduos
que não tinham distúrbios apresentavam uma melhor qualidade de vida do que os que
possuíam. O presente estudo não corrobora a pesquisa citada anteriormente por não
conseguir comprovar diferença estatística na relação entre a adesão do paciente ao
tratamento com CPAP/VPAP e o SAQLI, dispostamente devido ao baixo número de
amostras (CHASENS et al., apud BOLGE et al., 2009, p.415-22)20.
Um estudo realizado em Bogotá21, na Colômbia, buscou estabelecer a adesão
e seus fatores no tratamento com CPAP em portadores de SAOS. Foram avaliados
160 pacientes, sendo levantadas as seguintes variáveis: idade, IMC, IAH, pressão
deferida, tempo de utilização, além da aplicação da escala de sonolência de Epworth.
Dentre os resultados apresentados nessa pesquisa, não foi possível comprovar relação
significativa entre IMC e a adesão ao tratamento. Esse estudo corrobora com a atual
pesquisa, visto que a mesma não pode comprovar essa mesma relação.
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 210
Jurádo-Gámez et al.22 efetuou um estudo quase experimental com uma avaliação
pós-tratamento, tendo 60 indivíduos como amostra, sendo 30 pacientes diagnosticados
com SAOS e tratados com CPAP, e 30 pessoas sem SAOS no grupo controle. A
amostragem era composta por 45 homens e 15 mulheres, com idades entre 25 e 65
anos, e apresentou uma média (±DP) do IMC de 29,83 (± 5,60). Os participantes eram
submetidos a um questionário com pontos de avaliação sociodemográficos e dados
sobre o quadro clínico e sintomas subjetivos do mesmo. Além disso, os indivíduos
envolvidos foram avaliados neuropsicologicamente utilizando a ESE, a fim de medir
sonolência diurna, e o índice de qualidade do sono de Pittsburgh, para avaliação da
qualidade do mesmo. Uma avaliação com polissonografia foi realizada 4 semanas pós
início do tratamento. Ao final do estudo, foi possível comprovar significativamente uma
diferença de gênero e IMC entre os participantes, porém, com relação ao ESE, ambos
os grupos obtiveram scores semelhantes. Assim como o estudo citado acima, não foi
possível observar na pesquisa atual, uma relação estatística entre a pontuação do
ESE, e a aderência dos pacientes ao tratamento com pressão positiva.
No presente trabalho foi observado uma relação inversa entre a pressão do
CPAP e o nível de sonolência diurna, avaliada pela escala de Epworth. Um estudo
realizado por Lee et al.23, buscou desenvolver uma pressão ideal para portadores de
SAOS asiáticos e, comparar com a fórmula de Hoffstein, método usado para definir
a pressão a ser utilizada em CPAP para pacientes de cor branca. Participaram dessa
pesquisa 356 indivíduos coreanos, com idade igual ou superior a 18 anos, sendo que
todos apresentavam IAH ≥ 5 eventos por hora. Randomicamente, os participantes
foram divididos em dois grupos. Entre os grupos, não houve diferença significativa
sobre gênero, circunferência do pescoço, IMC, ESE, polissonografia, AHI, porem, em
análise univariada do grupo 1, foi possível comprovar estatisticamente, dentre outros,
a associação entre a pressão titulada e o score da ESE.

5 | CONCLUSÃO

Diante dos resultados apresentados nessa pesquisa, pode-se concluir que não
houve diferença entre adesão ao tratamento com CPAP/VPAP e a qualidade de vida
e sonolência diurna em portadores de SAOS. O reduzido número de participantes e o
baixo IAH pode ter sido um fator determinante para essas conclusões. Foi encontrada
uma relação inversa entre a pressão titulada no CPAP e a pontuação na escala de
Epworth, observando-se que quanto maior a pressão deferida, menor a sonolência
diurna.

REFERÊNCIAS
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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 211


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11 QUEIROZ, Danielle L. C.; YUI, Mariane S.; BRAGA, Andréa A.; COELHO, Mariana L.; KÜPPER,
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12 GARETZ, Susan L.; MITCHELL, Ron B.; PARKER, Portia D.; MOORE, Reneé H.; ROSEN, Carol
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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 212


15 BILLINGS, Martha E.; ROSEN, Carol L.; WANG, Rui; AUCKLEY, Dennis; BENCA, Ruth;
FOLDVARY-SCHAEFER, Nancy; IBER, Conrad; ZEE, Phyllis; REDLINE, Susan; KAPUR, Vishesh K.
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16 ZANUTO, Everton A. C.; LIMA, Manoel C. S.; ARAÚJO, Rafael G.; SILVA, Eduardo P.; ANZOLIN,
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sistemática. Rev Paul Pediatr., Florianópolis, v.33,n.4, p.467-73, 18 jan. 2015.

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Long-term adherence to continuous positive airway pressure therapy in non-sleepy sleep apnea
patients. Catalonia, Sleep Medicine 17, v.7,n038, p.1–6. out. 2015.

19 DUTT, Naveen; CHAUDHRY, Kirti; CHAUHAN, Nishant Kumar; KUWAL, Ashok; SAINI, Lokesh
Kumar; PUROHIT, Swetabh; KUMAR, Sunil. health related quality of life in adult obstructive sleep
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Factores subjetivos asociados a la no adherencia a la CPAP en pacientes con síndrome de apnea
hipopnea de sueño. Acta Médica Colombiana, Bogotá, v.38, n.2, p.71-5, 07 mai. 2013.

22 JURÁDO-GÁMEZ, Bernabé; GUGLIELMI, Ottavia; GUDE, Francisco; BUELA-CASAL, Gualberto.


Effects of continuous positive airway pressure treatment on cognitive functions in patients with severe
obstructuve sleep apnoea. Neurología, Córdoba, v.31,n.5, p.311-18, 26 mai. 2016.

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pressure and validation of an equation for asian patients with obstructive sleep apnea. Respiratory
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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 24 213


CAPÍTULO 25

AVALIAÇÃO DA IMAGEM CORPORAL E A INTENÇÃO


EM REALIZAR CIRURGIAS PLÁSTICAS EM UMA
POPULAÇÃO DE UNIVERSITÁRIOS DA ÁREA DA
SAÚDE

João Vitor Moraes Pithon Napoli o interesse em realizar uma cirurgia plástica
Vitor Vilano de Salvo durante o ano, no próximo e em cinco anos,
José Vinicius Silva Martins nomeado como “questionário de interesse em
Edgar da Silva Neto cirurgias plásticas futuras” (QICPF). Resultado:
Gabriel Stecca Canicoba O BSQ médio foi de 98,04. O interesse em
Monique pinto saraiva de oliveira realizar futuras cirurgias plásticas (de 0 a 15) foi
Lavinia Maria Moraes Pithon Napoli de 7,88. A média do EIC foi de 91 (considerado
moderado) O peso médio foi 60 Kg e o IMC
médio foi de 22,62 sendo o maior 29,9 e o menor
RESUMO: Introdução: A exposição pessoal 19,1. Conclusão: Os resultados sugerem que
pela popularização das mídias sociais gerou a medida em que o IMC se eleva, aumenta-se
uma maior autoavaliação e a consequente também a insatisfação corporal. A maior parte
busca pela aparência ideal. Dessa forma, dos voluntários era eutrófico (IMC de 18,5 -
a motivação de utilizar métodos cirúrgicos 24,5). A EIC demonstrou que quanto maior o
para melhora da aparência física cresce investimento corporal menor o interesse em
exponencialmente. Métodos: Trata-se de realizar cirurgias. A pesquisa também apontou
um estudo qualitativo o qual foi aprovado para o fato preocupante de mulheres com
pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana, peso adequado para a estatura desejarem
conforme definido na resolução CNS 466/12, pesos ainda menores, devido ao potencial para
via online pela Plataforma Brasil com o número transtornos alimentares e transtorno dismórficos
CAAE 59154416.0.0000.5511. A casuística foi corporal.
formada por 50 alunos da Universidade Nove
de julho, do Campus Vergueiro -SP. O primeiro
EVALUATION OF BODY IMAGE AND THE
questionário foi “Body Shape Questionnaire”
(BSQ), 34 perguntas foram respondidas INTENTION OF UNDERGOING TO PLASTIC
quanto a sua percepção corporal. O segundo SURGERIES IN A POPULATION OF MEDICAL
questionário foi o da “Escala de Investimento
E DENTAL STUDENTS
Corporal” (EIC). Neste foram respondidas
perguntas quanto a preocupação e investimento ABSTRACT: Introduction: Personal exposure
em seu corpo. Os participantes responderam, due to popularization of social media has created
também, um questionário extra sobre qual a greater self-assessment and consequent

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 25 214


search for the ideal appearance. Thus, the motivation to use surgical methods to improve
physical appearance grows exponentially. Methods: This is a qualitative study that was
approved by the Ethics Committee in Human Research, as defined in resolution CNS
466/12, via online by Plataforma Brasil number CAAE 59154416.0.0000.5511. The
sample consisted of 50 students from the University Nove de Julho, Campus Vergueiro
-SP. The first questionnaire was “Body Shape Questionnaire” (BSQ), 34 questions were
answered regarding their body perception. The second questionnaire was the “Body
Investment Scale” (EIC) regarding worry and investment in your body. Participants
also answered an additional questionnaire about their interest in performing plastic
surgery during the current year, next year and during the following five years, named as
a “questionnaire of interest in future plastic surgeries” (QICPF). Result: The average
BSQ was 98.04. The interest in performing future plastic surgeries (from 0 to 15) was
7.88. The mean EIC was 91 (considered moderate). The mean weight was 60 kg and
the mean BMI was 22.62, the highest being 29.9 and the lowest was 19.1. Conclusion:
The results suggest that as BMI increases, body dissatisfaction increases. Most of the
volunteers were eutrophic (BMI of 18.5 - 24.5). The EIC has shown that the higher
the body investment the lower the interest in performing surgeries. The research also
pointed to the troubling fact of women of adequate weight for height desiring even
smaller weights, due to the potential for eating disorders and body dysmorphic disorder.

INTRODUÇÃO

O conceito de “imagem corporal” como um fenômeno psicológico foi inicialmente


descrito em 1935 pelo escritor alemão Schilder como sendo a imagem que nós temos
de nosso corpo em nossa mente. O que pode explicar uma forma que o nosso corpo
é apresentado a nós mesmos1, 2.
Alterações na imagem corporal podem ser encontradas tanto em distúrbios
neurológicos quanto psiquiátricos fazendo parte do DSM V em doenças como:
anorexia, depressão, bulimia, entre outras3-4. Muitos autores reconhecem a pressão
cultural e social das mídias modernas como mecanismo de impulsão e imposição
para a manutenção de um corpo tido como “ideal” (magro, esbelto e sarado)5-6,
afirmando que até mesmo a percepção da forma corporal pode ser distorcida, levando
a estados patológicos de anorexia ou bulimia7, como também tem grande influência no
crescimento do número de cirurgias plásticas8.
Insatisfação com a aparência do corpo é considerada particularmente mais
frequente em mulheres jovens. Porém, estudos mostram que homens estão cada vez
mais excessivamente preocupados com a imagem dos seus corpos9-10.
Existem diversos estudos utilizando casuísticas exclusivas de pessoas que estão
insatisfeitas com a sua imagem corporal, e este sentimento pode ser quantificado
por meio de diferentes questionários, como por exemplo, a “Body Investment Scale”
(BIS) ou a “Escala de Investimento Corporal” (EIC)7 e o “Body Shape Questionnaire”

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 25 215


(BSQ)1,11,12. Com base nesta quantificação da imagem corporal, pode-se avaliar o
interesse de uma pessoa em realizar uma cirurgia plástica.
Em 2013, foi conduzida uma pesquisa acerca do número de cirurgias plásticas
realizadas em diversos países, que apontou o Brasil como o primeiro colocado no
ranking mundial. Este fato pode ser atribuído ao clima tropical do país, onde os corpos
encontram se mais expostos. Pode-se ainda acrescentar como justificativa a facilidade
de pagamento desses procedimentos estéticos, a ascensão de algumas classes
sociais e ao sucesso de cirurgiões plásticos brasileiros internacionalmente11.
Em relação a essa grande ascensão da cirurgia plástica como reparadora de
contornos corporais, de anormalidades estéticas ou para satisfação da beleza13
acredita-se que os questionários de imagem corporal podem auxiliar os cirurgiões a
entender as pretensões dos pacientes quanto a futuros procedimentos estéticos7.

OBJETIVO

1. Objetivos Gerais

Analisar as diferenças de avaliação corporal através dos questionários da “Escala


de Investimento Corporal” e do “Body Shape Questionnaire”. Quantificar a intenção
de realizar algum procedimento estético por meio do “questionário de interesse
em cirurgias plásticas futuras” (QICPF) nas populações de alunos de medicina e
odontologia da Universidade Nove de julho – UNINOVE.

2. Objetivos Específicos

• Avaliar diferenças quantitativas e qualitativas entre os dois questionários.


• Avaliar diferenças de imagem corporal entre os alunos avaliados.

MÉTODOS

Casuística e Métodos:

1. Aspectos Éticos

Foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Humana, conforme definido


na resolução CNS 466/12, via online pela Plataforma Brasil com o número CAAE
59154416.0.0000.5511 .
Foi distribuído Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para participação em
pesquisa clínica.

2. Local do Estudo e População


As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 25 216
A casuística foi formada por 50 alunos dos cursos de medicina e odontologia,
da Universidade Nove de julho – UNINOVE, do Campus Vergueiro, localizada na Rua
Vergueiro, 235, Liberdade, São Paulo- SP.
Como critérios de inclusão, todos foram voluntários e estavam cursando entre o
primeiro e o quarto ano de seu curso, da faixa etária de 18 a 40 anos, de ambos os
sexos e de todas as etnias, que realizaram ou não cirurgias plásticas prévias.

3. Aplicação do Questionário

O termo de consentimento para participação em pesquisa clínica (TCLE) foi


apresentado e assinado em duas vias pelos voluntários.
Em seguida, foi explicada a forma de preencher os três questionários, que foram
aplicados nas salas de aula dos alunos e todos os realizaram sozinhos, pois eram
autoaplicáveis.
O primeiro questionário foi o “Body Shape Questionnaire” (BSQ), 34 perguntas
respondidas quanto a sua percepção corporal quantificado pela frequência de cada
pergunta, sendo 1 nunca e 6 sempre, ele era autoexplicativo e pôde ser realizado entre
três e dez minutos. O segundo questionário foi a “Escala de Investimento Corporal”
(BIS). Neste foram respondidas 24 perguntas quanto a preocupação e investimento
em seu corpo com a mesma quantificação de 1 a 6 do BSQ. Este teste também era
autoexplicativo e pôde ser realizado entre três e oito minutos.
Além dos dois questionários os participantes responderam um questionário extra
sobre qual o interesse (de 0 a 5, sendo zero nenhum interesse e 5 muito interesse)
em realizar uma cirurgia plástica no decorrente ano, no próximo e em cinco anos, que
foi nomeado como “questionário de interesse em cirurgias plásticas futuras” (QICPF)

4. Analise Estatística

As análises estatísticas descritivas das variáveis estudadas foram calculadas por


meio de medidas de tendência central (média) e dispersão (valor mínimo e máximo, e
desvio padrão) para idade, IMC, BQS, BIS e testes t para as variáveis quantitativas.
Além disso foi relacionado também com questionário extra de interesse em cirurgias
plásticas futuras.

RESULTADOS

Foram entrevistados 50 voluntários dos cursos de medicina e odontologia,


apresentavam em média 20,9 anos de idade, sendo o mais novo com 18 anos e o
mais velho com 35 anos (Gráfico 1).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 25 217


O peso médio foi de 60 kg, entre 48 kg e 75 kg; e a altura média foi de 1,63 m,
de1,80 m a 1,50; o IMC médio foi de 22,62 sendo o maior 29,9 e o menor 19,1, a maior
parte dos voluntários era eutrófico (IMC de 18,5 - 24,5) com 79,5%, apenas 2,2%
estavam com baixo peso (>18,5) e 18,8% apresentaram sobrepeso (25 -29,9).

Tabela 1: IMC: Índice de massa corporal;


BSQ: Body Shape Questionaire;

EIC: Escala de Investimento Corporal;

Interesse em CP: Interesse em realizar futuras Cirurgias Plásticas.

Gráfico 2

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 25 218


Gráfico 3

O BSQ médio foi de 98,04, e a insatisfação corporal média aumenta à medida que
o IMC se eleva (Tabela 1) e é inversamente proporcional à satisfação corporal (Gráfico
4). Quanto ao interesse em realizar futuras cirurgias plásticas, de zero a quinze, a
média foi de 7,88, contudo, nenhum assinalou não ter interesse, a EIC demonstrou que
as maiores pontuações apresentaram baixo interesse em realizar cirurgias plásticas
e os moderados graus de investimento corporal apresentaram os maiores valores de
interesse em realizar cirurgias.

A média encontrada do EIC foi de 91, o que é considerada moderada, e a variação


foi baixa com mínimo de 70 e máximo de 108. Além disso, 50% das pessoas com BSQ
abaixo da média, apresentavam também EIC abaixo da média. Foi observado que a
medida em que o IMC aumenta o investimento corporal diminui (tabela 1). A renda
familiar média foi de 6.223 reais mensal, com uma média de 3,55 dependentes dessa
renda. A satisfação corporal média de zero à dez foi de 6,16.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 25 219


IMC médio Satisfação BSQ EIC Interesse em
corporal CP

Presença de 24,4 5,4 110,3 90,3 7,6


bullying
Ausência de 21,2 6,5 97,5 90,2 7,7
bullying

Tabela 2

A presença de bullying nessa amostra foi de 32% dos entrevistados, observou-


se (tabela 2), a relação de maior IMC com o bullying como também maior insatisfação
corporal. Contudo não houve relação entre presença ou ausência de bullying com o
investimento corporal e interesse em realizar cirurgias plásticas.

DISCUSSÃO

A importância de identificar alterações na imagem corporal é crucial para o


diagnóstico precoce de Transtornos Alimentares e Transtorno Dismórfico Corporal, já
que os sintomas isolados desses distúrbios precedem sua manifestação completa¹
Essa observação reafirma a importância de se compreender os questionários
como o BSQ e o EIC, e também avaliar sua aplicação para cada paciente e a relação
deles com interesse em realizar futuras cirurgias plásticas.
Tanto o BSQ¹ como o EIC¹² (NO LUGAR DO 12 COLOCAR 7) foram validados
anteriormente na literatura, os resultados do presente estudo fizeram a conexão destes
com o questionário de interesse em realizar futuras cirurgias plásticas.
O “Body Shape Questionnaire (BSQ) “, elaborado originalmente por Cooper et
al., em 1987 tem 34 itens designados para mensurar as preocupações com a forma
do corpo.
A versão adaptada para o Brasil, validada com estudantes universitárias, manteve
as características da escala original²8 (DI PIETRO, 2001).
A Body Investment Scale (BIS) foi criada para avaliar o investimento emocional
no Corpo. A escala original é composta por 24 itens. As respostas estão dispostas
numa escala Likert de 5 pontos: “eu não concordo com nada” (1) a “eu concordo
plenamente” (5). Escores altos indicam sentimentos mais positivos a respeito do corpo,
maiores cuidados com o físico e com a proteção.
A versão brasileira foi construída por Gouveia & cols. (2008). Dois psicólogos
bilíngues realizaram a tradução, que foi submetida a apreciação de um terceiro
psicólogo, também bilíngue. Para a comprovação da validade semântica, os
pesquisadores aplicaram o questionário em 20 estudantes de João Pessoa. Para a
validação, o questionário foi aplicado em 317 mulheres, estudantes do ultimo ano do
ensino médio de João Pessoa, de idade entre 15 e 58 anos.
O questionário de interesse em realizar futuras cirurgias plásticas foi elaborado

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 25 220


pelos autores deste trabalho com o intuito de relacionar os outros 2 questionários já
validados, BSQ e BIS, com o objetivo de obter informações sobre o desejo de realizar
procedimentos estéticos e relaciona-los com renda familiar, presença de bullying, e a
graduação da satisfação corporal, que pode ser de zero a dez, classificada em baixa
satisfação corporal (0 – 4) moderada (5 - 7) e alta satisfação (8 – 10).
Notou-se equivalência quanto a média do BSQ (98,04) de nossa amostra em
comparação a pesquisa em acadêmicos do curso de medicina da Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp) em 2009 (BSQ médio: 97), inferindo-se similaridade
nas amostras.
A presença de bullying nessa amostra foi de 32% dos entrevistados, Moura et
al (COLOCAR 14 EM EXPOENTE), estudou bullying em 1075 alunos da primeira a
oitava série, e a prevalência foi de 17,5%. Observou-se, a relação de maior IMC com
o bullying como também maior insatisfação corporal (tabela 2), Souza et al observou
que 70% das vítimas de bullying apresentavam insatisfação com a imagem corporal(
COLOCAR 15 EM EXPOENTE) . Contudo não houve relação da presença ou ausência
de bullying com o investimento corporal e interesse em realizar cirurgias plásticas.
Disso observa-se que a vítima de bullying tem relação com a forma física,
contudo essas vítimas tem os mesmos desejos de cuidado com o corpo, como também
interesse em procedimentos estéticos do que os que não sofreram bullying.
Em nossa amostra, 18% encontravam-se acima do peso (considerado IMC
>25), porém enquadravam-se na classificação, segundo OMS, como sobrepeso.
Nenhum indivíduo apresentava classificação Obesidade (IMC > 30). Para Conti et
al, nesta população específica o BSQ é considerado gold standard para avaliação da
insatisfação corporal.
Madrigal et al 26 (2000) apontam boa documentação na literatura das relações
entre o peso corporal e percepção da imagem corporal ( COLOCAR 16 EM EXPOENTE),
o que pode ser reforçado pelo presente estudo.
A tendência dos voluntários eutróficos ou com sobrepeso em superestimar seu
peso se inverte à medida que aumenta o IMC, chegando à subestimação nas obesas.
Os resultados do estudo de Kakeshita et al (2006) ( COLOCAR 10 EM EXPOENTE)
sugerem haver maior dificuldade dos homens em atentar-se aos cuidados necessários
com seu estado nutricional, o que dificultaria ações de caráter preventivo na questão
do desenvolvimento de doenças crônico-degenerativas associadas ao excesso de
peso.
Por outro lado, a superestimação, no caso das mulheres, poderia refletir os
aspectos ambientais associados ao desenvolvimento de distúrbios alimentares como
a anorexia nervosa e a bulimia. Outros estudos apresentam resultados divergentes
e relatam resultados de superestimação do tamanho corporal por pessoas obesas
em geral.( 17 E 18 EXPONENCIAL) isso fica evidente no presente estudo quando
se observa que a medida que aumenta o IMC dos voluntários diminui a EIC, e como
referido anteriormente, nos IMC acima de 25 há uma acomodação dos entrevistados,
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 25 221
fazendo-os diminuir a insatisfação corporal, mesmo fugindo dos padrões de estética e
beleza da atualidade.
O fato de as imagens apontadas como desejáveis estarem predominantemente
em faixas menores de IMC em relação aos apontados como atuais sugere uma
insatisfação com a imagem corporal, no sentido de que tanto homens como mulheres
valorizariam os modelos de magreza.¹0
Da mesma forma que há menor insatisfação nas faixas menores de IMC há
também um maior investimento corporal (EIC), demonstrando que para manter-se
dentro do padrão de beleza é necessário gastar tempo e dinheiro em detrimento do
forma física. A exaltação da magreza na sociedade contemporânea, com corpos tão
esguios quanto inalcançáveis pela maioria da população, configura uma situação de
permanente insatisfação pessoal. Tal insatisfação poderia ser um importante fator
ambiental, contribuindo para o estresse característico da vida moderna, condição esta
também fortemente associada ao quadro de morbimortalidade atual.10,33, 34, 35.
O fato de mulheres com peso adequado para a estatura desejarem pesos ainda
menores é preocupante. Certamente essa distorção da imagem corporal encontra
raízes nos meios de comunicação de massa que privilegiam modelos de beleza
que possuem pesos para estatura próximos ou mesmo semelhantes a pacientes
portadores de distúrbios alimentares como anorexia nervosa e bulimia², ³, 7, ¹0. Esses
modelos de beleza divulgados pela mídia exercem efeitos sobre o comportamento e
o estabelecimento de hábitos alimentares entre adolescentes do sexo feminino. Tais
efeitos necessitam ser mais bem estudados para o melhor entendimento dos fatores
ambientais que predispõem ao surgimento dos distúrbios alimentares.¹0
Por outro lado, as mulheres com sobrepeso estão provavelmente sujeitas a
maior sofrimento psicológico quando comparadas às eutróficas, conforme sugerem os
resultados do questionário sobre imagem corporal, como também na baixa satisfação
corporal e isso reflete na mais baixa Escala de investimento corporal, apesar de serem
mais insatisfeitos estes também apresentam menor preocupação com a forma física,
ou menor vontade de trabalhar para modificar a aparência, contudo nessa faixa e nos
eutróficos estão as maiores taxas de interesse em realizar futuras cirurgias plásticas.
Para Kakeshita (2006) ( 10 exponencial) as médias dos escores significativamente
maiores dessas mulheres poderiam levar à sugestão de maior preocupação e
desconforto com o corpo por parte delas ( 19 exponencial).
Da mesma maneira, levam a maior fragilidade emocional, considerando-se que
as emoções podem afetar a construção e constante reconstrução da própria imagem.
Elas podem ser consideradas um grupo limítrofe mais suscetível às intervenções e
procedimentos estéticos, como cirurgias plásticas.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 25 222


CONCLUSÃO

Finalmente, os dados do presente estudo mostraram a adequação dos métodos


utilizados para o estudo da percepção da imagem corporal e, além disso, sua utilidade
para mostrar diferenças na percepção dependentes dos valores de IMC apresentados
pelos sujeitos, o quanto cada indivíduo investe na sua forma física e o interesse em
realizar futuras cirurgias plásticas.
O avanço do conhecimento nesta área contribui para a avaliação clínica e
nutricional, prevenção da obesidade e consequente melhora no quadro geral de
incidência de doenças crônico degenerativas, sabidamente associadas ao estado
nutricional e psicológico, contribui também na compreensão do perfil psicológico da
população interessada em realizar procedimentos estéticos.

REFERÊNCIA
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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 25 224


CAPÍTULO 26

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE PACIENTES


SUBMETIDOS À HEMODIÁLISE NA REGIONAL
GOIANA DE SAÚDE SUDOESTE I

Ana Cristina de Almeida de vida do paciente submetido à Terapia de


Universidade de Rio Verde, Faculdade de Substituição Renal (TRS), em específico à
Medicina hemodiálise, é significativamente afetada. A
Rio Verde - Goiás dependência do processo de filtração e todos
Ana Luiza Caldeira Lopes os efeitos adversos derivados dele afetam
Universidade de Rio Verde, Faculdade de psicologicamente o paciente, podem evoluí-lo
Medicina
para um quadro depressivo importante. Trata-
Rio Verde - Goiás se de um estudo de campo, de abordagem
Erica Carolina Weber Dalazen quantitativa, qualitativa e transversal. Toda
Universidade de Rio Verde, Faculdade de a pesquisa foi realizada na clínica Hemorim
Medicina
de Rio Verde, Goiás. A amostra foi composta
Rio Verde - Goiás
por 72 pacientes, dos quais 63 concordaram
Isabella Rodrigues Mendonça em participar da pesquisa e responderam aos
Universidade de Rio Verde, Faculdade de
questionários SF-36 e Escala de Depressão
Medicina
de Hamilton no período compreendido entre
Rio Verde - Goiás
agosto de 2017 e março de 2018. O estudo
Fernandes Rodrigues de Souza Filho evidenciou a má qualidade de vida. Também foi
Universidade de Rio Verde, Faculdade de
possível observar uma prevalência significante
Medicina
de transtorno da ansiedade entre esses
Rio Verde - Goiás
pacientes. Quanto aos exames, observou-
Jair Pereira de Melo Júnior se uma grande dificuldade em mantê-los
Universidade de Rio Verde, Faculdade de Biologia
dentro da taxa de normalidade, sendo um
Rio Verde - Goiás
obstáculo enfrentado por todos os pacientes.
Um maior acompanhamento psicossocial
desses pacientes pode aumentar a satisfação
RESUMO: De acordo o Ministério da Saúde, do paciente e sua adesão, levando a melhores
aproximadamente 60% da população mundial resultados clínicos e laboratoriais.
morre por algum tipo de Doença Crônica PALAVRAS-CHAVE: Doença Renal Crônica.
Não Transmissível (DCNT), afetando 35 Qualidade de vida. Depressão.
milhões de pessoas por ano, com estimativa
de crescimento anual de 17%. A qualidade ABSTRACT: According to the Ministry of

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 26 225


Health, approximately 60% of the world population dies from some type of Chronic
Noncommunicable Disease (CNCD), affecting 35 million people per year, with an annual
growth estimate of 17%. The quality of life of patients submitted to RRT, specifically
to hemodialysis, is significantly affected. The dependence of the filtration process and
all the adverse effects derived therefrom psychologically affect the patient, can evolve
into an important depressive picture. This is a field study, with a quantitative, qualitative
and transversal approach. The study consisted of 72 patients, of whom 63 agreed
to participate in the study and answered the questionnaire SF-36 and the Hamilton
Depression Scale in the period between August 2017 and March 2018. Our study
showed poor quality of life. It was also possible to observe a significant prevalence
of anxiety disorder among these patients. Regarding the exams, it was observed a
great difficulty to keep them within the normality rate, being an obstacle faced by all
the patients. Further psychosocial monitoring of these patients may increase patient
satisfaction and adherence, leading to better clinical and laboratory outcomes.
KEYWORDS: Chronic Kidney Disease. Quality of Life. Depression.

1 | INTRODUÇÃO

As doenças renais estão entre as que mais provocam morbidade e mortalidade


em todo o mundo. Aproximadamente 60% da população mundial morre por algum tipo
de Doença Crônica Não Transmissível (DCNT), afetando 35 milhões de pessoas por
ano, com estimativa de crescimento anual de 17%.
A Terapia de Substituição Renal (TSR) está indicada para pacientes em Lesão
Renal Aguda (LRA), quando estão em estado de hiperpotassemia, hipervolemia,
uremia, acidose metabólica, distúrbios hidroeletrolíticos e plaquetários, Insuficiência
Cardíaca Crônica (ICC) refratária, hipotermia e intoxicação exógena.
A Doença Renal Crônica (DRC) pode evoluir para algum tipo de Doença
Cardiovascular (DCV) ou, quando ocorre a perda total da função renal, para Doença
Renal Crônica 5 Diálise (DRC5D). Nesse último caso, o paciente deve recorrer a algum
tipo de TSR por toda a vida. As opções de TSR incluem hemodiálise, diálise peritoneal
e Transplante Renal (TR).
A qualidade de vida do paciente submetido à TRS, em específico à hemodiálise,
é significativamente afetada. A dependência do processo de filtração e todos os efeitos
adversos derivados dele, como o prurido urêmico, síndrome das pernas inquietas e
a baixa qualidade de sono afetam psicologicamente o paciente, podendo evoluí-lo
para um quadro depressivo importante. Dessa forma, faz-se importante a pesquisa
em questão com intuito de avaliar a qualidade de vida e o grau de depressão em que
esses pacientes se encontram.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 26 226


2 | METODOLOGIA

A pesquisa foi desenvolvida no período de agosto de 2017 a março de 2018. Foi


aplicado aos pacientes o Questionário SF-36 e a Escala de Depressão de Hamilton.
Após essa etapa, foi feito uma pesquisa nos dados anotados nos prontuários dos
pacientes em hemodiálise no período de janeiro de 2016 a junho de 2017 referente
aos exames de rotina mensais e trimestrais por eles realizados.
Trata-se de um estudo de campo, de abordagem quantitativa, qualitativa e
transversal. Toda a pesquisa foi realizada na clínica Hemorim de Rio Verde, Goiás. A
amostra foi composta por 72 pacientes, dos quais 63 concordaram em participar da
pesquisa e responderam aos questionários no período compreendido acima. Foram
inclusos os pacientes submetidos a hemodiálise pelo Sistema Único de Saúde (SUS)
no período matutino, na regional de saúde Sudoeste I e que assinaram o TCLE,
concordando em responder o questionário. Foi excluído da pesquisa o paciente
que assinou o TCLE não concordando em participar da pesquisa e/ou mesmo após
assinar o TCLE concordando em participar da pesquisa, resolveu, por qualquer
motivo, abandonar o estudo. Além disso, serão excluídos pacientes que não faziam o
tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de
Rio Verde, obedecendo às normas da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional
de Saúde para a proteção do sujeito da pesquisa, sendo garantido o anonimato e o
sigilo da identidade das pessoas envolvidas. Foi aprovado sob o número de CAAE
68121417.3.0000.5077 e número de parecer 2.118.291.
Os riscos previstos eram referentes a não aceitação dos pacientes em responder
o questionário e relacionado a aplicação da Escala de Depressão de Hamilton.
Embora a literatura evidencie que o conteúdo das perguntas dos instrumentos a serem
utilizados nesta pesquisa não tem potencial para suscitar sofrimento psíquico, acredita-
se que sempre há a probabilidade, ainda que remota, de os instrumentos utilizados
mobilizarem respostas emocionais imprevistas causando desconforto psicológico
circunstancial e temporário aos participantes.
Quanto aos benefícios, espera-se poder fomentar outras pesquisas que crie
uma perspectiva melhor para esse paciente, minimizando os gastos com saúde e
prevenindo o afastamento do paciente dos ambientes familiar, laboral e social. Outro
benefício seria o crescimento pessoal e acadêmico e principalmente a contribuição
para a formação profissional das discentes participantes. A pesquisa também propiciou
a interação entre o meio acadêmico, profissional (médico) e social (paciente). Dessa
forma, otimizou e fortaleceu o compromisso, a missão e a visão da Universidade de
Rio Verde.
Os dados coletados foram armazenados em software do tipo científico Statistical
Package for the Social Sciences – SPSS 23.0 e posteriormente analisados, quantitativa
e qualitativamente, por meio de estatísticas descritivas, frequência e tabelas de

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 26 227


referência cruzada. Dentre as análises estatísticas, serão usados testes de Correlação
e Regressão. Em ambos foi considerada significância estatística quando p < 0,05.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

A escala SF-36 foi validada para versão brasileira em 1999. A avaliação da


reprodutibilidade do instrumento demonstrada pelo coeficiente de correlação de
Pearson foi satisfatória e estatisticamente significante. Ela consiste em um instrumento
usado para mensurar a qualidade de vida através de 36 itens.
A Escala de Avaliação de Depressão de Hamilton foi desenvolvida há mais de 40
anos e se tornou o padrão-ouro para avaliação da gravidade de depressão. Essa escala
enfatiza os sintomas somáticos, o que a torna particularmente sensível a mudanças
vivenciadas por pacientes gravemente deprimidos. Os pontos de corte mais aceitos
para a Escala de Depressão de Hamilton e para a SF-36 estão listados na Tabela 1.

ESCALA Parâmetro Classificação


0-11 Mínima
12-19 Leve
HAMILTON
20-35 Moderada
36-63 Grave
0 Pior qualidade de vida
SF36
100 Melhor qualidade de vida

Tabela 1. Parâmetros de referência e classificação da depressão e qualidade de vida de acordo


com as escalas de Hamilton e SF36

Os resultados encontrados pelo estudo confirmaram os dados das pesquisas de


Ghadam et al., (2016), Alexopoulou et al., (2016) e Ibrahim et al., (2016), ao evidenciar
a má qualidade de vida relatada pelos pacientes. Também foi possível observar uma
prevalência significante de transtorno da ansiedade entre esses pacientes, citado
por Najafi et al., (2016). Segundo a pesquisa, grande parte dos pacientes sofrem de
Transtorno Depressivo Maior, embora estejam, em sua maioria, nos estágios mais
leves, como pode ser visto na Figura 1. Esses resultados se devem, em grande
parte, à necessidade de mudança de seu estilo de vida para melhor se adequar à sua
doença. Essa adaptação gera múltiplos estresses do cônjuge, da família, do trabalho e
da sociedade e acarreta exacerbação psicológica dos outros sintomas como cefaleia,
fadiga e cãibras musculares, levando a uma menor eficiência da atividade física e
social. Outro ponto importante a ser destacado, é que os pacientes tendem a procurar
a hemodiálise mais tardiamente, já com múltiplas comorbidades, disfunção cognitiva,
fragilidade, deficiências sensoriais e dependência funcional e psicológica. Dessa
forma, observou-se que nesses pacientes há uma maior prevalência de incapacidade,
hospitalização e mortalidade (MATLABI; AHMADZADEH, 2016). Esses inúmeros
problemas levam o paciente a experimentar a ansiedade, a depressão e assim por
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 26 228
diante o que também foi confirmado pelos estudos de Ghadam et al., (2016); Ibrahim
et al., (2016); e Alexopoulou et al., (2016). O estudo de Najafi et al., (2016) constatou
que a prevalência de depressão e ansiedade nesses pacientes foi de 31,5% e 41,7%,
respectivamente, e maior nas mulheres em comparação.

Figura 1. Escala de Hamilton e as classificação de depressão de acordo com o número de


pacientes.

Quanto aos exames, observou-se uma grande dificuldade em mantê-los dentro


da taxa de normalidade, sendo um obstáculo enfrentado por todos os pacientes. Dentre
esses exames, alguns apresentaram uma maior taxa de descontrole, como os níveis
de hemoglobina, de fosfatase alcalina e de PTH.
As varáveis que mais se mostraram correlacionadas à pior qualidade de vida foram
os índices de Ureia pré-hemodiálise e depressão, detectada pela Escala de Hamilton.
Já em relação à depressão, observou-se influência da taxa de potássio, hematócrito e
leucócitos, além de uma pior qualidade de vida, como discute-se na tabela 1. A Ureia
pré-hemodiálise pode influenciar a qualidade de vida ao ser responsável pela síndrome
urêmica, muito prevalente em pacientes com DRC. A síndrome urêmica pode causar
fadiga, náuseas, perda de apetite, gosto metálico na boca e confusão mental.
A hiperpotassemia deve ser controlada, pois o potássio em excesso é causa
de grande parte dos defeitos de contratilidade, inclusive no músculo cardíaco. Dessa
forma, a hiperpotassemia é responsável por grande parte das arritmias, que muitas
vezes podem piorar o quadro de ICC ou, até mesmo, ser fatais. Os níveis baixos
de hematócrito são indicadores de anemia, perda sanguínea, hemólise, leucemia,
hipertireoidismo, cirrose e hiper-hidratação. A leucocitose pode estar presente nos
casos de leucemia, infecção bacteriana, hemorragia, trauma ou injúria tissular. Já a
leucopenia pode indicar uso prévio de quimioterapia ou radioterapia, infecções virais
ou depressão da medula óssea. Isso contribui para um melhor entendimento da
correlação dessas variáveis com a elevação dos índices de depressão nessa população

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 26 229


e indiretamente com a pior qualidade de vida. Esses dados são confirmados por outros
estudos como Santos et al. (2013) e Barros (2015).

Escalas Ureia pré K Hematócrito Leucócitos SF-36 E. Hamilton


Correlação de
Pearson 0,288* 0,071 -0,034 -0,020 1 -0,286*

SF-36 Sig. (2
extremidades) 0,021 0,575 0,789 0,876   0,022

N 64 64 64 64 64 64
Correlação de
Pearson -0,080 0,310* 0,277* 0,272* -0,286* 1
E.
Sig. (2
Hamilton 0,529 0,013 0,027 0,030 0,022  
extremidades)

N 64 64 64 64 64 64

Tabela 2. Correlação de Pearson entre as variáveis estudadas e as escalas de depressão e


qualidade de vida.
*Indica que há correlação de Pearson com nível de significância de 5%. Os mesmos resultados foram
encontrados na análise não paramétrica de tau b de Kendall e rô de Speraman.

Uma possível intervenção psicológica na terapêutica proposta pode mudar o


destino desses pacientes. O apoio social e familiar pode melhorar a qualidade de
vida por vários mecanismos. A compreensão da família e a proximidade do grupo
social pode aumentar a satisfação do paciente com o atendimento prestado, aumentar
a adesão à terapia, levando a uma melhora dos resultados laboratoriais e clínicos
e, consequentemente, diminui em 15% o risco de hospitalização. Alexopoulou et al.,
(2016) também cita esse tipo de intervenção.
Segundo um estudo iraniano dos Taheri-kharameh et al., (2016) outra forma
de melhorar psicologicamente o paciente é através do enfrentamento religioso. Eles
descobriram que essa técnica é uma importante ferramenta que afeta a qualidade
de vida em condições crônicas, como o câncer, HIV e a hemodiálise. Isso reforça a
necessidade de um acompanhamento psicossocial desses pacientes.

4 | CONCLUSÃO

A qualidade de vida é fortemente influenciada pela diálise e pelo processo


natural da doença renal crônica. Esses pacientes, também, estão mais sujeitos a
desenvolverem distúrbios da ansiedade e depressão, assim como, a enfrentarem
uma maior dificuldade em manter níveis plasmáticos normais de algumas células e
proteínas, dentre elas a ureia, o potássio, os leucócitos, a hemoglobina, a fosfatase
alcalina e o PTH. Um maior acompanhamento psicossocial desses pacientes pode
aumentar a satisfação do paciente e sua adesão, levando a melhores resultados

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 26 230


clínicos e laboratoriais.

REFERÊNCIAS
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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 26 231


CAPÍTULO 27

COMPOSIÇÃO DA REDE SOCIAL DOS


ADOLESCENTES QUE FREQUENTAM UMA LAN
HOUSE

Lorrâne Laisla de Oliveira Souza do sexo masculino, na faixa etária de 10 a 18


Enfermeira. Especialista em Saúde da Família do anos, frequentadores de uma Lan House no
Centro Universitário de Patos de Minas/UNIPAM. município de Patos de Minas (MG), no ano
[email protected].
de 2016. O estudo foi aprovado pelo Comitê
Leonardo Nikolas Ribeiro de Ética de Pesquisa do Centro Universitário
Graduando do Curso de Medicina do Centro
de Patos de Minas conforme Parecer nº
Universitário de Patos de Minas/UNIPAM.
1.470.573/2016. Usou-se para coleta de dados
[email protected]
um questionário e o mapa de rede social. Os
Danty Ribeiro Nunes
resultados mostraram uma prevalência de redes
Graduando do Curso de Medicina do Centro
Universitário de Patos de Minas/UNIPAM. sociais grandes com destaque para vínculos
[email protected] familiares, amigos com contato pessoal, amigos
da Lan House e ausência de vínculos com
Marilene Rivany Nunes
Enfermeira, Doutora em Enfermagem em Saúde os profissionais de saúde. Uma possibilidade
Pública da USP-Ribeirão Preto, Docente no Curso de gestão de cuidado a estes adolescentes é
de Enfermagem e Medicina, Centro Universitário a elaboração do Projeto Saúde no Território
de Patos de Minas/UNIPAM. maryrivany@yahoo. (PST), Projeto Terapêutico Singular (PTS) e
com.br Programa Saúde na Escola (PSE), elaborado
pelos membros da Equipe de Saúde da Família
(ESF) e do Núcleo de Apoio a Saúde da Família
RESUMO: Os adolescentes, incluindo os (NASF) em parceria com os membros da
que frequentam Lan House, encontram-se comunidade escolar e os profissionais das Lan
em situação de vulnerabilidade, visto que Houses, com vistas a desenvolver ações para
vivenciam um processo de desenvolvimento diminuir vulnerabilidades e a promover a saúde
físico, cognitivo, emocional e social, estes investindo na qualidade de vida e na autonomia
buscam na Lan House e no meio virtual formas dos adolescentes.
de sociabilidade afim de aumentar sua rede PALAVRAS-CHAVE: Rede Social.
social. O objetivo do estudo foi conhecer a Adolescentes. Promoção de Saúde.
composição da rede social dos adolescentes Enfermagem.
que frequentam uma Lan House. Trata-se de
uma pesquisa descritiva com abordagem quali- ABSTRACT: Teenagers, including the ones
quantitativa realizada com 12 adolescentes who attend Lan House, find themselves in a

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 232


vulnerable situation, since they live a process of physical, cognitive, emotional and
social development, they look for in the Lan House and in the virtual environment ways
of sociability in order to increase their social network. The goal of this study was to know
the composition of the teenagers social network who attend a Lan House. It’s about a
descriptive research with qualitative aprouch made with 12 male teenagers, between 10
and 18 years old, regulars on a Lan House, in Patos de Minas – MG, in the year 2016.
The study was aproved by the Comitê de Ética de Pesquisa do Centro Universitário
de Patos de Minas, according to Parecer nº 1.470.573/2016. To colect the data, it was
used a questionnaire and the social media map. The results showed a prevalence
of big social medias emphasising family connections, friends with personal contact,
friends at the Lan House and the absence of connections with health professionals. A
possibility for caring manegement to these teenagers is the creation of Projeto Saúde
no Território (PST), Projeto Terapêutico Singular (PTS) e Programa Saúde na Escola
(PSE), elaborate by the members of Equipe de Saúde da Família (ESF) e do Núcleo
de Apoio a Saúde da Família (NASF) in partnership with members from the school
comunity and the Lan House professionals, intending to develop actions to decrease
vulnarabilities and promote heath investing in life quality and the teenagers autonomy.
KEYWORDS: Social network. Teenagers. Health promotion. Nursing.

1 | INTRODUÇÃO

Para Costa, Queiroz e Zeitune (2012) os adolescentes, incluindo os que frequentam


Lan House, encontram-se em situação de vulnerabilidade, visto que vivenciam um
processo de desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social. Estes adolescentes
buscam no meio virtual, formas de sociabilidade (MONTEIRO et al., 2012). Por outro
lado Trigo et al. (2015) relatam que a internet é capaz de facilitar a sociabilidade dos
adolescentes, porém, o uso indiscriminado desta ocasiona fragilização dos laços
familiares e sociais, minimizando os vínculos de contato pessoal.
Para Carlos e Ferriane (2015) a assistência integral aos adolescentes deve
fundamentar-se nos recursos da rede social, o que favorece um desenvolvimento
físico, cognitivo, emocional e social com o intuito de melhorar a qualidade de vida e
promover a saúde dos adolescentes. Para Sluzki (2010) a rede social refere-se aos
vínculos das relações humanas que inclui os vínculos com a família, a comunidade,
os amigos, os colegas de trabalho e de estudo entre outros. Esta atua como fator de
proteção sendo capaz de reduzir as vulnerabilidades e potencializar a qualidade de
vida dos adolescentes (SILVA et al., 2015).
Os membros da rede social podem desempenhar função de companhia social,
apoio emocional, guia cognitivo e conselhos, regulação e controle social, ajuda material
e de serviços possibilitando auxílio frente às adversidades e problemas do dia a dia
(SLUZKI,2010). Silva et al. (2015) relatam que são fatores protetores significativos ao
desenvolvimento do adolescente, os vínculos familiares com ênfase no vínculo com a
mãe, o apoio dos amigos, o êxito escolar, as rotinas organizadas, o compartilhamento
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 233
dos sentimentos, a autoestima, a responsabilidade, a competência social e emocional,
contribuindo para uma rede social fortemente estabelecida.
Neste sentido os membros da Equipe de Saúde da Família (ESF) e do Núcleo
de Apoio a Saúde da Família (NASF) podem e devem estabelecer estratégias de
assistência aos adolescentes que frequentam Lan House, promovendo saúde e
prevenindo doenças com vista a minimizar suas vulnerabilidades. Os profissionais
de saúde dispõe de estratégias ou ferramentas que auxiliam no cuidado com os
adolescentes como o Projeto de Saúde no Território (PST), o Projeto Terapêutico
Singular (PTS) e o Programa de Saúde na Escola (PSE). Estes visam assistir
integralmente os adolescentes prevenindo doenças e promovendo saúde, e para a
sua construção faz-se necessária articulação com todos os membros da rede social.
O PST e o PTS são estratégias utilizadas para planejamento das ações em saúde
pelos profissionais da ESF e do NASF, o PST é um projeto de saúde no território,
envolvendo toda a comunidade, elaborado pelos membros da ESF e do NASF em
parceria com outros membros da rede, e o PTS é um conjunto de propostas e condutas
terapêuticas articuladas em discussão coletiva interdisciplinar, com vista a atender as
necessidades singulares (VERDI, 2012). O PSE é uma política criada pelo Ministério
da Saúde e da Educação, pela Lei nº 6.286 de 5 de dezembro de 2007, com o objetivo
de ampliar as ações de promoção de saúde e prevenção de doenças e agravos no
contexto escolar, com vistas, a auxiliar a formação de crianças e adolescentes no
enfrentamento das vulnerabilidades (BRASIL, 2009).
Diante do exposto existem poucos estudos na área da enfermagem referente
ao mapeamento das redes sociais dos adolescentes frequentadores de Lan House.
Assim, mapear a rede social possibilita identificar situações de vulnerabilidade que
possam comprometer os laços familiares e sociais. O estudo objetivou conhecer a
composição da rede social dos adolescentes que frequentam uma Lan House, no
município de Patos de Minas - MG.

2 | METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa descritiva com abordagem quali-quantitativa


realizada na Lan House War Games, localizada em Patos de Minas-MG. A amostra
constituiu-se de 12 adolescentes, do sexo masculino, na faixa etária de 10 a 18 anos,
que frequentam a Lan House supracitada. Estes foram obtidos de forma aleatória.
Utilizou-se um questionário para conhecer o perfil socioeconômico dos adolescentes,
bem como, atividades realizadas na Lan House. Os dados do questionário foram
agrupados e analisados pela estatística descritiva, utilizando a Microsoft Excel 2010, e
apresentados na forma de tabelas, apresentando a frequência dos dados em números
absolutos e relativos.
Também foi construído o mapa de rede social dos adolescentes, com vistas, a
conhecer sua composição. Para a construção dos mapas foi oferecido aos adolescentes
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 234
um lápis e uma cópia impressa do instrumento para o registro dos nomes de pessoas
e instituições em cada quadrante. Esse procedimento teve duração média de 30
minutos. Os participantes foram descritos por nomes fictícios para manter o anonimato
dos mesmos.
Os resultados obtidos nos mapas foram analisados de acordo com os parâmetros
proposto por Sluzki (2010), considerando a composição, o tamanho e os tipos de
vínculos. Na sequência foi realizado um diálogo entre os dados descritos de acordo
com os objetivos, da pesquisa e a literatura, buscando interpretar o significado, as
lacunas e os recursos existentes na rede social, referenciada pelos adolescentes.
A coleta dos dados foi realizada, no mês de abril de 2016, na própria Lan House,
em uma sala privativa, em data e horário estipulados pelos próprios adolescentes,
após assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido pelos pais e o
Termo de Assentimento pelos adolescentes. O estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética de Pesquisa do Centro Universitário de Patos de Minas conforme Parecer nº
1.470.573/2016.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram da pesquisa 12 adolescentes, do sexo masculino, na faixa etária


de 10 a 18 anos, que frequentam uma Lan House, no município de Patos de Minas-
MG, conforme a Tabela 1. De acordo com Passos (2013) as Lan Houses são visitadas
principalmente por adolescentes do sexo masculino, que buscam a prática de jogos
online, o que corrobora com os dados deste estudo. Constatou-se que a maioria dos
adolescentes frequentam a Lan House, em média, 5 dias por semana, permanecendo,
em média, 5 horas por dia.

Nome fictício Idade Estuda Escolaridade Sexo


Thiago 10 Sim Fundamental Masculino
Futebol 10 Sim Fundamental Masculino
Vingador 11 Sim Fundamental Masculino
Luiz 13 Sim Fundamental Masculino
Leandro 13 Sim Fundamental Masculino
Katarina 15 Sim Fundamental Masculino
Nando 16 Sim Médio Masculino
Karlos 17 Sim Médio Masculino
Marcos 18 Não Fundamental Masculino
Nunes 18 Não Médio Masculino
Deful 18 Sim Médio Masculino
Turbo Troll 18 Não Médio Masculino

Tabela 1 - Caracterização dos adolescentes que frequentam uma Lan House em Patos de
Minas, MG, Brasil, 2016.
Fonte: Questionário aplicado aos adolescentes que frequentam uma Lan House, 2016.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 235


Para Trigo et al. (2015) a permanência prolongada e contínua dos adolescentes
em Lan House ocasiona a fragilização e até rompimento de vínculos com os membros
da família, ou seja, de acordo com este autor a permanência dos adolescentes em
Lan House é considerada um fator de risco e de grande vulnerabilidade, pois expõe os
adolescentes a situações diversas, principalmente porque estão sem a supervisão dos
pais. Na análise dos questionários dos adolescentes percebeu-se que todos relataram
a pratica de jogos online na Lan House.
Segundo Carvalho (2014) a internet disponibiliza uma diversidade de ferramentas
que permitem a interação de maneira rápida entre os indivíduos, porém sem contato
pessoal. O autor associa os jogos online com a exposição dos adolescentes ao
cyberbullying, tanto para a sua prática quanto para posição de vítimas, reforçando a
ideia de a Lan House ser um ambiente de risco para estes adolescentes.
Por outro lado diante dos dados encontrados nesta pesquisa, este ambiente é
capaz de fornecer proteção e cuidado, visto que alguns adolescentes são levados
pelos seus pais para a Lan House inibindo a permanência deles nas ruas, o que poderia
ser um fator de risco ainda maior, pois estes não teriam nenhum tipo de supervisão
de um adulto ao ficarem nas ruas. Tomé et al. (2012) e Cardoso e Malbergier (2014),
relatam que adolescentes que permanecem longos períodos na rua sem supervisão
de um adulto ficam expostos a situações de risco como a influência de amigos para o
uso de drogas e atos de violência. Para os autores os amigos são capazes de exercer
uma pressão forte sobre estes adolescentes, que acabam por ceder e fazer o que lhes
obrigam, seja para pertencer ao grupo, ou por medo.
Diante do exposto verifica-se que esses adolescentes, necessitam de fatores de
proteção, como exemplo a rede social, que é capaz de mediar os riscos, moderar e
afastar situações de vulnerabilidade (MORAIS, KOLLER E RAFFAELLI, 2012). Para
Silva et al. (2015), um dos fatores de proteção significativo para os adolescentes são os
membros da rede social estes são capazes de oferecer apoio emocional, informativo,
material, conselhos e regulação e controle social. Na análise da Tabela 2 observou-
se que um adolescente apresentou uma rede social pequena, dois uma rede média e
nove uma rede grande.

Relações Total de
Relações Relações Tamanho
Adolescente com pessoas na
íntimas Sociais da rede
conhecidos rede
Leandro 13 10 3 26 Grande
Vingador 10 12 3 25 Grande
Luiz 12 6 5 23 Grande
Nando 9 5 5 19 Grande
Thiago 11 6 1 18 Grande
Katarina 8 8 1 17 Grande
Marcos 7 6 3 16 Grande
Deful 6 7 2 15 Grande

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 236


Nunes 7 5 1 13 Grande
Karlos 4 3 1 8 Média
Turbo Troll 5 4 0 9 Média
Futebol 4 2 1 7 Pequena

Tabela 2 - Tamanho da rede social dos adolescentes. Patos de Minas, MG, Brasil, 2016.
Fonte: Mapa de rede social aplicado aos adolescentes que frequentam uma Lan House.

Na análise do conjunto dos mapas de rede social dos 12 adolescentes, foi


possível identificar o tamanho e o tipo de vínculo da rede social, conforme preconizado
por Sluzki (2010). O tamanho da rede social compreende o número de pessoas que
compõe a mesma, sendo classificada como pequena (1 a 7 pessoas), média (8 a
10 pessoas) e grande (mais de 11 pessoas). Sluzki (2010) assevera que rede social
pequena é menos efetiva em situações de sobrecarga ou tensão de longa duração, já
que os membros começam a evitar o contato para evitar a sobrecarga, traduzindo em
um esgotamento dos recursos frente às adversidades da vida.
Por sua vez, Nunes et al. (2016) assevera que o problema da rede ser pequena
é que a falta de qualquer membro desta pode representar uma perda significativa de
apoio. Os autores ainda relatam que independentemente da quantidade de pessoas,
o que deve ser considerado e o tipo de vínculo e a percepção que se pode contar,
verdadeiramente, com alguma pessoa.
No Mapa 1 observa-se que o adolescente Futebol possui uma rede social pequena
com vínculos significativos com os membros da família, os amigos, o colega de escola,
um amigo da Lan House e ausência de vínculo com profissionais da área da saúde e a
comunidade. Observa-se presença de vínculo significativo com a mãe e o avô, sendo
este referenciando como “o pai”, pois ele é quem ajuda no dia a dia.

Mapa 1: Mapa de rede social do adolescente Futebol, 10 anos.


Fonte: Mapa de rede social de adolescentes que frequentam uma Lan House.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 237


O adolescente Futebol frequenta e permanece todos os dias, por longos períodos
na Lan House, muitas vezes ausentando-se da escola. Percebe-se que este necessita
de auxílio na regulação social de sua conduta para supervisionar e direcionar a sua
rotina diária.
Carvalho (2014) relata que o uso indiscriminado da internet sem uma supervisão
adequada pode causar problemas psicossociais levando ao declínio no aproveitamento
escolar, estimulo a atos de violência e envolvimento com álcool, cigarro e outras
drogas. Assim, faz-se necessário o suporte da família, da escola, da comunidade
e dos serviços de saúde, pois uma rede social bem articulada, com presença de
vínculos significativos e diversificados, contribui para melhores condições de enfrentar
e superar seus problemas, evitando danos físicos e psicológicos (NUNES et al., 2016).
Dois adolescentes citaram uma rede de tamanho médio. Esta é considerada ideal
para os adolescentes, visto que são capazes de distribuição da sobrecarga do apoio
entre seus membros auxiliando de forma efetiva o enfrentamento das adversidades
(MENDES, 2011). No Mapa 2, observa-se o mapa de rede do adolescente Nando, que
possui uma rede social média, com presença de vínculos significativos com membros
da família, amigos pessoais e amigos da Lan House e colegas de escola.

Mapa 2 – Mapa de rede Social do adolescente Nando, 16 anos.


Fonte: Mapa de rede social de adolescentes que frequentam uma Lan House.

Percebe-se ausência do pai e da mãe na rede social deste adolescente, uma vez
que estes são considerados elementos principais da rede social. Nunes et al. (2016)
relatam que esta situação ocasiona prejuízos no desenvolvimento do adolescente.
Este adolescente vive com o tio que tem apenas 18 anos que é o responsável por ele.
Ponciano e Féres-carneiro (2014) enfatiza a importância de se ter os pais inseridos na
vida dos adolescentes para um desenvolvimento saudável, apego seguro e a conexão

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 238


emocional com os pais facilitam a autonomia, o encorajamento parental e a presença
de seu suporte são importantes para a tomada de decisão e a solução de problemas.
Uma proposta interessante é a efetivação das ações do PSE e a criação do Projeto de
Saúde no Território (PST) e Projeto Terapêutico Singular (PTS) com vista a auxiliar no
enfrentamento desta e de outras vulnerabilidades.
O PST é um projeto de saúde no território, envolvendo toda a comunidade,
elaborado pelos membros da ESF e do NASF em parceria com outros membros da rede
como os membros da comunidade escolar e até os profissionais de Lan House, com
vistas a desenvolver ações efetivas na produção de saúde, a diminuir vulnerabilidades
e a promover saúde investindo na qualidade de vida e na autonomia dos adolescentes
(VERDI, 2012). E o PTS é um conjunto de propostas e condutas terapêuticas articuladas
em discussão coletiva interdisciplinar, utilizado para planejamento das ações em saúde
pelos profissionais da ESF e do NASF com vista a atender as necessidades singulares
(VERDI, 2012).
Nove adolescentes citaram uma rede social grande, o que indicia a possibilidade
dessa rede não ser efetiva na execução de suas funções, já que os membros podem ter
a suposição de que alguém já esteja “cuidando do problema” (SLUZKI, 2010). Nessa
perspectiva, as redes muito numerosas podem conduzir a um maior descompromisso,
e no fim nenhum membro acaba por atuar de forma efetiva diante das adversidades
ou problemas.
No Mapa 3 observa-se que o adolescente Leandro possui uma rede social grande
com vínculos significativos com os membros da família, amigos com contato pessoal,
colegas da escola, amigos da Lan House, agente comunitário de saúde (ACS) e uma
vizinha e um vínculo fragilizado com o irmão.

Mapa 3 – Mapa de rede Social do adolescente Leandro, 13 anos.


Fonte: Mapa de rede social de adolescentes que frequentam uma Lan House.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 239


A presença da ACS é um ponto positivo na vida deste adolescente, visto que
este é o elo de ligação entre o adolescente e a ESF e o NASF, facilitando a atuação
dos profissionais de saúde, incluindo o profissional de enfermagem na prevenção de
doenças e promoção de saúde.
Ao analisar a representação gráfica dos 12 mapas foi possível identificar a
presença ou não de pessoas e instituições nas relações com os adolescentes.
Verificou a presença significativa dos membros das famílias e dos amigos com ênfase
nas amizades construídas na Lan House, conforme a Tabela 3. Os resultados acerca
da distribuição dos elementos pelos quadrantes corroboram a literatura, uma vez que,
há estudos apontando efetivamente que as famílias e seus membros e os amigos, são
as figuras mais importantes nas redes sociais (SILVA et al., 2014).
Entende-se como grave a ausência de membros da comunidade e dos serviços
de saúde na rede social dos adolescentes. Para Nunes et al. (2016) tanto a comunidade
quanto os serviços de saúde podem contribuir para que os adolescentes adotem
comportamentos positivos a partir da experiências de pertencimento social.

Quadrantes/ membros Nº de adolescentes


Família 12
Amizades com contato pessoal 12
Amizades feitas na Lan House 12
Colegas de Escola 8
Amizades feitas no espaço virtual 6
Comunidade 3
Colegas de Trabalho 3
Serviços de Saúde 1
Agências sociais 0

Tabela 3- Número de adolescentes segundo membros referidos em cada quadrante nos mapas
de redes sociais. Patos de Minas, MG, Brasil, 2016.
Fonte: Mapa de rede social aplicado aos adolescentes que frequentam uma Lan House.

Verifica-se a necessidade de inserir os profissionais dos serviços de saúde na


rede social e no contexto de vida destes adolescentes. Nunes et al. (2016) assevera
que os profissionais de saúde com destaque ao profissional de enfermagem que
atua no PSE, devem utilizar os recursos da rede social como uma estratégia para a
assistência integral e efetiva aos adolescentes.
Este é desenvolvido pelos profissionais da ESF e do NASF, e Equipe de
Saúde Bucal (ESB) que realizam a avaliação das condições de saúde de crianças e
adolescentes, visando à identificação precoce de sinais, tendências patológicas ou
doenças instaladas, e o direcionamento de intervenções adequadas para minimizar
danos à saúde e ao aproveitamento escolar (BRASIL, 2009).
Outra possibilidade de gestão do cuidado aos adolescentes e a elaboração de
PST, este é um projeto de saúde no território, envolvendo toda a comunidade, elaborado

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 240


pelos membros da ESF e do NASF em parceria com outros membros da rede como
os membros da comunidade escolar e até os profissionais de Lan House, com vistas
a desenvolver ações efetivas na produção de saúde, a diminuir vulnerabilidades e a
promover saúde investindo na qualidade de vida e na autonomia dos adolescentes
(VERDI, 2012).
O PST pode focar em ações de prevenção de uso de drogas, violência, Bullying,
Cyberbullying entre outros. Sugere-se a elaboração de estratégias que transformem
o uso da tecnologia em algo positivo, para isto é necessário o trabalho da ESF e do
NASF juntamente com os membros da rede que tenham vínculo significativo com o
adolescente.
Como se pode observar na Tabela 4, os vínculos significativos estão mais
diretamente relacionados às mães, sendo os pais menos referenciados. A esse respeito,
Nardi e Dell’aglio (2012) mostram que, embora não haja consenso sobre o tema, à
ausência ou a não participação do pai na vida do adolescente pode desencadear
baixa-estima e envolvimento deste com atos infracionais, uma vez que os pais têm
papel relevante no comportamento do adolescente.

Vínculos Vínculos Vínculos


Membros
Significativos Fragilizados Ausentes
Amizades feitas na Lan House 12 00 00
Amigos com contato pessoal 12 00 00
Irmão (a) 11 01 01
Mãe 10 01 01
Tio (a) 09 00 03
Avó 08 00 04
Colegas de Escola 08 00 04
Amizades Virtuais 06 00 06
Pai 05 00 07
Primo (a) 03 00 09
Vizinha (o) 03 00 09
Colega de Trabalho 02 00 10
Serviços de Saúde 01 00 11
Agencias Sociais 00 00 12

Tabela 4 – Tipos de vínculos e composição da rede social dos adolescentes, Patos de Minas,
MG, Brasil, 2016.
Fonte: Mapa de rede social aplicado aos adolescentes que frequentam uma Lan House.

Conforme os autores acima, no contexto familiar, a figura do pai exerce uma


função complexa, sendo essencial para a transposição das questões da dimensão
individual para o espaço da coletividade em que pese o convívio social e as relações
de autoridade.
Neste sentido verifica-se a necessidade do profissional de enfermagem atuar no

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 241


fortalecimento do vínculo entre os adolescentes e o seus pais, através de estratégias
de assistências individuais, como a construção do PTS.
O PTS é um conjunto de propostas e condutas terapêuticas articuladas em
discussão coletiva interdisciplinar, utilizado para planejamento das ações em saúde
pelos profissionais da ESF e do NASF com vista a atender as necessidades singulares
(VERDI, 2012).
O projeto supracitado visa ações a partir da perspectiva e das necessidades
do adolescente, pode favorecer a capacitação das famílias, para que auxiliem no
processo de inserção social, oferecendo suporte comunitário e emocional, o que
previne possíveis práticas de crime, bem como promover a saúde e o desenvolvimento
dos adolescentes (NUNES et al., 2016).

4 | CONCLUSÃO

Conclui-se pelos resultados da pesquisa que houve presença significativa de


redes sociais de tamanho grande, com destaque para os vínculos significativos com
os membros da família, os amigos com contato pessoal e amigos da Lan House,
bem como a ausência dos profissionais de saúde e da escola na rede social destes
adolescentes. Observou-se as vulnerabilidades a que eles estão expostos, como a
presença pouco significativa do pai, serviços de saúde bem como agencias sociais,
a permanência prolongada e continua destes adolescentes na Lan House, o acesso
indiscriminado à internet e a necessidade da elaboração de estratégias efetivas
para assistir integralmente esses adolescentes com o propósito de minimizar essas
vulnerabilidades bem como potencializar a qualidade de vida deles.
A assistência a estes a estes adolescentes poderá ser realizada através da
elaboração do Projeto Saúde no Território, Projeto Terapêutico Singular e as ações
do Programa Saúde na Escola envolvendo os profissionais da Equipe de Saúde
da Família e Equipe de Saúde Bucal e os membros do NASF e outros atores como
profissionais da Lan House e da escola. Neste sentido ressalta-se a presença do
profissional de enfermagem com uma formação holística, que possibilite uma prática
assistencial integral e interdisciplinar afim propiciar uma assistência de qualidade a
população atendida, com isso percebe-se a necessidade deste ter participação ativa e
com vinculo forte na rede social dos adolescentes.
Diante do exposto e evidenciado nesta pesquisa, verifica-se a necessidade do
profissional de enfermagem, membro da ESF e gestor do PSE, atuar no fortalecimento
da rede social dos adolescentes que frequentam Lan House, através de estratégias
que considerem as singularidades destes. Pode ser criado projetos assistenciais
com parcerias entre os profissionais da saúde e da Lan House, família e comunidade
com foco em temas como promoção de saúde, prevenção de doenças, incentivo aos
estudos e até mesmo orientação para a família.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 242


5 | AGRADECIMENTOS

Á War Games Lan House, aos participantes do estudo e á orientadora Marilene


Rivany.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 27 244


CAPÍTULO 28

DOENÇA RENAL CRÔNICA E SAÚDE COLETIVA:


REVISÃO DE LITERATURA

Leonardo Ayres Neiva a necessidade de profissionais especializados é


Lucas Ramos de Paula alta. Logo, as estratégias de saúde coletiva têm
Rafael Assem Rezende como foco reduzir os problemas encontrados
Queren Hapuque Barbosa durante o tratamento da Doença Renal Crônica.
Taciane Elisabete Cesca
Raquel Gomes Parizzotto
Lorena Oliveira Cristovão INTRODUÇÃO

A doença renal crônica é uma nefropatia


que acomete pessoas de idades variadas. As
RESUMO: Este trabalho tem por objetivo analisar duas principais causas de insuficiência renal
as evidências científicas sobre as estratégias
crônica são a hipertensão arterial e o diabetes
de Saúde Coletiva na Doença Renal Crônica.
mellitus. O tratamento mais adequado a essa
Vislumbra-se ainda, a observação de formas
nefropatia é a hemodiálise.¹
de diagnóstico, tratamento e terapêuticas para
A rotina do paciente e de suma importância
o manejo dessa condição clínica. Para tanto,
uma vez que ela será alterada, totalmente,
realizou-se buscas nas bases de dados Scielo
após o início do tratamento a vida conjugal do
e Biblioteca Virtual da Saúde (BVS) utilizando
como descritores os termos: “Doença Renal paciente tem relação direta com o tratamento,
Crônica”, “Nefropatias” e “Saúde Pública”. a distância entre a residência e o centro
Foram encontrados 49 artigos, sendo 08 no terapêutico e a profissão do paciente também
Portal da BVS e 41 no Scielo. Após a busca são variáveis relevantes para o tratamento. ³ʼ6
realizou-se a leitura dos títulos e resumos Os custos da hemodiálise, bem como os
desse material selecionando, ao final, 07 artigos medicamentos utilizados para prevenir e tratar
referentes ao tema “Doença Renal Crônica” e a depressão, foram avaliados notou-se que o
“Saúde Coletiva”. Os resultados consistiram em número de pacientes que necessitam do serviço
prevalência de pacientes do sexo masculino, de hemodiálise aumentou nos últimos anos4.
houve aumento de pacientes ao longo dos A análise de médicos generalistas também
anos, 56,8% dos entrevistados eram casados, é importante no diagnóstico da doença renal
em relação aos erros no diagnóstico constatou- crônica e no seu tratamento, realizou-se um
se que os médicos generalistas mais jovens
questionário com médicos generalistas a fim de
obtinham menor índice de erro e que ainda assim
concluir a taxa de erros médicos com base em
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 28 245
casos clínicos aplicados nos casos clínicos.5
Portanto, as estratégias de saúde coletiva contribuem para o emocional do
paciente, diminuição de erro médico, busca do tratamento adequado e prevenção da
Doença Renal Crônica.

OBJETIVO

Analisar as evidências científicas sobre as Estratégias de Saúde Coletiva na


Doença Renal Crônica

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados referentes ao conteúdo dos artigos podem ser visualizados no


quadro abaixo:

Fonte Tipo de estudo N/Idade/Ano/Local Principais achados Resultados

Prevalência de Estudo transversal N=511 adultos a prevalência global de O consumo de álcool representa
doença renal com delineamento Idade=maiores de Doença Renal Crônica , foi risco importante (> 50%) para o
crônica em adultos epidemiológico, 20 anos alta, predominando pacientes desenvolvimento de albuminúria
atendidos na descritivo e Local=Goiânia. com albuminúria e Taxa de se consumido em quantidades
Estratégia de Saúde observacional. Filtração glomerular normal, elevadas.
da Família estágios 1 e 2 da Doença Não foi observada relação
Renal Crônica. Constituíram significativa entre sobrepeso/
fatores associados a esta obesidade e danos renais.
doença: idade ≥ 60 anos, sexo Nos indivíduos com idade ≥ 60
masculino, Diabetes mielitus e anos, há chances 4,21 vezes
consumo de álcool, enquanto maiores de diminuição na Taxa
a associação com Taxa de de Filtração glomerular e 2,37
Filtração glomerular < 60 vezes maiores de desenvolver
ocorreu apenas com idade ≥ albuminúria. A Doença Renal
60 anos. Crônica é tanto causa quanto
consequência de Hipertensão
Arterial, a qual, por sua vez,
constitui a primeira causa
atribuída de Doença Renal
Crônica terminal no Brasil. O
tabagismo, outro fator de risco
avaliado, está associado ao
desenvolvimento de albuminúria,
fato que pode progredir para
doença renal progressiva.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 28 246


Percepções e Entrevista N=9 pessoas com Descoberta tardia deve-se à As mudanças no estilo de vida
mudanças na IRC, (5 eram do fragilidade de conhecimento acarretadas pela insuficiência
qualidade de sexo feminino e da população quanto à renal crônica e pelo tratamento
vida de pacientes quatro 4 do sexo prevenção e, pode-se dizer, dialítico ocasionam limitações
submetidos à masculino) à fragilidade da atenção físicas, sexuais, psicológicas,
hemodiálise Idade: entre 40 e em saúde oferecida pelos familiares e sociais, que podem
88 anos. profissionais de saúde, em afetar a qualidade de vida. Na
Ano: Submissão: relação aos esclarecimentos vivência cotidiana com estes
03-12-2009 acerca da relevância da pacientes, os mesmos expressam
Aprovação: 18-11- preservação da função renal sentimentos negativos, como
2011 para o nosso corpo, dos medo do prognóstico, da
Local: Centro de cuidados necessários com o incapacidade, da dependência
Nefrologia e Diálise sistema urinário, dos riscos econômica e da alteração da
(CND) de um presentes em afecções autoimagem. Dessa forma,
hospital localizado urinárias o tratamento dialítico é tão
na cidade do Rio importante quanto a sensibilidade
Grande-RS e apoio da família e profissional
de saúde.

O Trabalho de Estudo qualitativo N= 5 membro da Compreensão entre a Um programa interdisciplinar


prevenção e com entrevistas equipe técnica e 5 importância de um tratamento (médico, enfermeira, psicóloga,
promoção da saúde semiestruturadas e pacientes interdisciplinar a fim de nutricionista e assistente social)
com pacientes avaliadas segundo a Ano: Dez/2007 melhorar a qualidade de vida promove conforto para o paciente
renais atendidos por técnica de análise de Local: Rio de do paciente e de evitar a durante a evolução do tratamento
uma interdisciplinar: discurso. Janeiro progressão da doença através da Doença Renal Crônica . Além
Desafios e Idade= Entre 44 e da prevenção e da promoção disso, melhora sua qualidade de
construções. 82 anos de saúde. vida, dá autonomia no dia-a-dia,
aumenta sua consciência sobre o
estágio de sua doença e também
uma maior adesão ao tratamento.
Para tais feitos, a equipe deve
ser integrada e possuir boa
capacidade de entrosamento
entre si e para com os pacientes.
A função da interdisciplinaridade
é a promoção da saúde e do
auxílio ao paciente em relação a
aspectos clínicos, físicos, sociais
e psicológicos.
Panorama do Estudo observacional N=96.600 Ao observar os pacientes em Um crescimento no número
tratamento transversal e coorte Idade=40 e 69 tratamento dialítico inseridos de pacientes submetidos à
hemodialítico prospectiva. anos nos dados do DATASUS, foi hemodiálise no período analisado
financiado pelo Ano=2009 possível descrever o padrão e um aumento do custo associado
Sistema Único Local=estado de de utilização de análogos a doença.
de Saúde - Uma São Paulo de vitamina D e a incidência
perspectiva de diferentes complicações,
econômica sendo as de procedência
cardiológica mais frequentes.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 28 247


Projeto de Investigação sanitária N= Em 2007, 69 Avaliar, sistematicamente, Dados preliminares de 2007 dos
reativação e e procedimentos serviços; em 2008, a qualidade da água resultados das análises realizadas
implantação do laboratoriais. 104 serviços. necessária ao tratamento nas amostras de água tratada
Programa de Ano: 2009 dialítico; detecção precoce para diálise colhidas em 69
Monitoramento da Local: Brasil da doença renal e adoção clínicas, na Capital e Grande São
Água Tratada para (Estado de são de condutas terapêuticas Paulo, apontaram que 50,72%
Hemodiálise do Paulo). apropriadas; diagnósticos de (35) encontravam-se, na sua
Estado de São hipertensão arterial e diabetes totalidade, de acordo com os
Paulo, SP, Agosto mellitus como determinantes padrões estabelecidos, enquanto
de 2009. da insuficiência renal; que 49,28% (34) estariam
identificar situações de não apresentando inconformidades,
conformidades no padrão de em pelo menos um dos pontos
qualidade da água tratada de amostragem; clínicas que
e propor ações corretivas sinalizaram irregularidades
apropriadas; desenvolver as foram colhidas um total de 204
medidas necessárias para amostras, nas quais 65,7%(134)
assegurar a qualidade da foram consideradas satisfatórias,
água utilizada no tratamento 31% (61) insatisfatórias e 3%(7)
dialítico, em cumprimento às invalidadas; No ano de 2008, o
especificações na Resolução programa de monitoramento teve
RDC n° 154/2004; Monitorar sua abrangência estendida para o
a qualidade da prestação Interior, procedeu-se a coleta de
dos serviços de diálise e dos amostras em 104 clínicas, cujos
potenciais riscos à saúde a resultados foram considerados
que se expõem os pacientes favoráveis em 71 (68,27%) e
renais crônicos; Monitorar os desfavoráveis em 33 (31,73%)
parâmetros de qualidade da delas. Nas clínicas que mostraram
água preconizados na RDC Nº irregularidades foram colhidas
154 de15/06/2004. 208 amostras, sendo 145 (69,7%)
dos resultados considerados
satisfatórios, 53 (25,48%)
insatisfatórios e 8 (3,85%)
invalidadas.
Cuidado ao Estudo transversal N= 62 médicos da Detectou-se que os médicos Após a avaliação observou-se
Paciente com atenção primaria da APS, fazem o encaminham que médicos sem vinculo com
Doença Renal (de uma amostra para um especialista mesmo o serviço publico mediam mais
Crônica no nível de 84), onde a o Taxa de Filtração glomerular Taxa de Filtração glomerular e
primário: pensando maioria tem a sendo pouco, mostrando certa que quando falamos de idade
a integralidade e o especialização cautela e até insegurança, e tempo de formado, os mais
matriciamento em medicina da porem ¼ dos médicos que novos e com menos tempo de
Família. identificam Doença Renal formado encaminham a atenção
Idades= Variam Crônica avançadas não secundaria (nefrologista) com
de 28 anos ate encaminham para a atenção mais frequência em casos de
47anos. secundaria. Foi cogitado Taxa de Filtração glomerular
Ano= De agosto de a ida de especialista para normal ou em redução, porem
2011 ate fevereiro complementar a área quando se trata de detecção
de 2012. primaria, como uma tática de Doença Renal Crônica os
Locais= Cidade de para identificação de casos mais novos e/ou o com menos
Fortaleza, Ceará. primários e potencializando tempo de formado detectam mais
o ato de cuidar (Modelo casos. Nos casos de redução
de Referencia e Apoio elevada de Taxa de Filtração
Especializado Matricial). glomerular, não houve diferenças
Os jovens com seus nos perfis quando se trata do
cuidados, com sua rigidez e encaminhamento.
preocupação, pedem mais Enfim, conclui-se que a
exame e encaminham mais, necessidade da implantação do
assim atingindo mais vezes “apoio especializado matricial”
o sucesso do diagnostico em (englobando especialistas
estágios iniciais da Doença nefrologistas na área
Renal Crônica. primaria de saúde) e alterar a
A falta de uma rede, com suas formação medica para evitar
varias raízes e suas varias o reducionismo, são medidas
fomas de tratar e prevenir necessárias e que potencializaram
doenças em pacientes foi um a saúde como o ato de cuidar do
ponto concluído. próximo

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 28 248


Auto avaliação de Estudo N=1621 Pacientes Os dados pesquisados envolviam as 54,5% dos
saúde por paciente em transversal 81 serviços de diálise no características sociodemográficas: sexo, entrevistados
hemodiálise no Sistema Sistema Único de Saúde idade, cor ou raça, anos completada descreveram
Único de Saúde Ano: 2007 de estudo, estado civil e tempo de sua saúde como
País: Brasil deslocamento entre a casa e o serviço Ruim, conforme
de diálise. Observou-se que todas essa as características
variáveis influem na auto avaliação sociodemográficas as
do paciente, também o número de mulheres comportaram
máquinas de hemodiálise, concluiu-se 43,6% dos
que o estado civil influi na qualidade entrevistados, 56,8%
de vida do paciente já que a família se dos entrevistados
constitui uma preocupação a mais porém eram casados,
a família oferece suporte emocional ao 23,8% divorciados.
doente sendo esse suporte emocional Também observou-
de importância fundamental para o se que 18,6%
tratamento do paciente, além disso o dos entrevistados
tempo necessário para chegar ao hospital necessitam de mais
influi negativamente nessa avaliação de uma hora para
devido ao cansaço que o paciente chegar ao serviço de
enfrenta no procedimento de hemodiálise diálise, 19,3% entre
que é demorado altera os horários de 41 minutos e uma
sono do paciente; condições inadequadas hora, 28,6% entre 20
de atendimento aumentam o risco de auto e 40 minutos, e 33,5%
avaliação negativa bem como serviços de menos que 20 minutos.
diálise com menor estrutura. Cerca de 24,7% dos
paciente apresentavam
dificuldades para
dormir em boa parte
do tempo, 52,8%
não apresentavam
dificuldade.

Quadro 1. Dados de Fonte, Tipo de estudo, dados sociodemográficos, principais achados e


resultados referentes à “Doença Renal Crônica” e “Saúde Coletiva”.

Nos artigos selecionados foram observados ’98.950’ pacientes com Doença Renal
Crônica, que tinham idade entre 21 e 88, sendo que os estudos foram realizados entre
2007 e 2012. Foi encontrada a prevalência de doentes do sexo masculino (47,4%) que
consumiam álcool, isso demonstra a fragilidade na prevenção da doença, desse modo
é necessário adotar o programa interdisciplinar para doentes crônicos que preza pela
melhora da qualidade de vida, autonomia e adesão do tratamento. Com o aumento do
número de pacientes no tratamento os custos aumentaram e foi necessária a análise
de amostra da água utilizada no tratamento de diálise e constatou que 50,7% do
volume estava de acordo com os padrões e 49,3% apresentaram inconformidades.
Além da análise da qualidade do tratamento, os erros no diagnóstico foram analisados
e revelou-se entre os médicos generalistas recém formados o índice de erro é menor
e reforçou a necessidade de apoio especializado.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir com este levantamento literário sobre “Doença Renal Crônica”
e “Saúde Coletiva” que a predominância de Doença Renal Crônica ocorre no sexo
masculino, entre a idade de 21 e 88 anos, e, referente as estratégias de Saúde Coletiva,
observou-se necessidade na prevenção destas doenças crônicas, a importância da

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 28 249


equipe interdisciplinar nesse contexto, a capacitação profissional para o manejo clínico
e a importância na qualidade dos serviços. Além disso o número de doentes aumentou
bem como os custos devido o advento de novas tecnologias. Revelou-se também
que os médicos generalistas mais jovens, devido a pouca experiência no trabalho é
mais criterioso e apesar de pedirem muitos exames os diagnósticos haviam menor
índice de erro, desse modo é possível notar que as estratégias de saúde adotadas
estão reduzindo o risco de erro médico, e assim evitando tratamentos e medicamentos
inadequados, pois é possível reduzir o risco de depressão do paciente logo, não será
necessária a compra de Medicamentos.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 28 250


CAPÍTULO 29

GRUPOS TERAPÊUTICOS COMUNITÁRIOS: UMA


PROPOSTA DE EMPODERAMENTO DOS USUÁRIOS
NA ATENÇÃO BÁSICA

Polyana Luz de Lucena demandas impactando os indicadores de saúde


Faculdade de Enfermagem Nova Esperança oferecendo um espaço integrativo, onde os
(FACENE) usuários participam no seu processo de cuidar de
João Pessoa-PB si e do outro. Assim, esses grupos comunitários
Marcela Medeiros de Araujo Luna podem acolher demandas em saúde, seguindo
Faculdade de Enfermagem Nova Esperança as necessidades do território a exemplo
(FACENE)
de: “GC de gestantes”, “GC de usuários de
João Pessoa-PB psicotrópicos”. Para isso, propõe-se a formação
Arethusa Eire Moreira de Farias de GC vinculadas a AB em João Pessoa,
Universidade Federal da Paraíba (UFPB) coordenado, a princípio, pelos profissionais
João Pessoa -PB de saúde através de rodas de conversa,
Vilma Felipe Costa de Melo momentos vivenciais, trocas de experiências,
Faculdade de Enfermagem Nova Esperança desenvolvimento de temáticas junto com os
(FACENE)
usuários interessados e demais demandas da
João Pessoa-PB
comunidade a fim de proporcionar aos membros
empoderamento e práticas do cuidado. Com
essa experiência, elaborar-se-á um Manual
RESUMO: A Terapia Comunitária (TC) é uma mediante as experiências-piloto para viabilizar
tecnologia do cuidado a ser implantada pelas sua replicação em outras Unidades Básicas de
Equipes da Atenção Básica (AB). A TC é formada Saúde. Espera-se que a formação dos grupos
por Grupos Comunitários (GC) que buscam, com essa proposta, encontre sua capacidade
através da fala e da escuta, o acolhimento, o terapêutica, fomentando o empoderamento dos
autoconhecimento e a aproximação dos seus usuários e como instrumento aliado às práticas
integrantes resultando em co-responsabilização do Cuidado.
e enfrentamento. Esses grupos têm estilo PALAVRAS-CHAVE: Grupos Terapêuticos;
aberto permitindo a entrada de mais membros Empoderamento; Atenção Básica.
no decorrer da formação. Sugere a existência
de um líder facilitador das atividades e o
1 | INTRODUÇÃO
processo grupal, sendo um profissional no início
e depois um membro experiente do grupo. Os De acordo com o Ministério da Saúde
GC voltados para a AB são propostos para (MS) (Brasil, 2006), as formas tradicionais de

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 29 251


organização do trabalho em saúde a partir da ótica das profissões não são suficientes
para assegurar a humanização das práticas do cuidado, gerando reflexões e atuações
fragmentadas. Entre as experiências voltadas à saúde mental na Atenção Básica (AB),
a Terapia Comunitária surge no panorama nacional como uma tecnologia do cuidado
de amplo alcance e baixo custo operacional, podendo ser implantada pelas Equipes
de Saúde na Família (ESF) na rotina das Unidades Básicas de Saúde (UBS) a fim de
construir redes sociais humanitárias no intuito de minorar o sofrimento psíquico da
população atendida. A partir da publicação da Portaria GM Nº 971 em Maio de 2006 que
aprovou a Política Nacional de Práticas Integrativas (PNPIC), a Terapia Comunitária
passa ser reconhecida pelo MS como Prática de Saúde Integrativa e Complementar
especialmente em relação à Saúde Mental das pessoas da comunidade. A terapia
comunitária integrativa é considerada uma tecnologia do cuidado. Enquanto conceito
que fundamenta essas práticas, se pauta na formação de um coletivo que busca
através do movimento de fala e de escuta dos seus integrantes, o autoconhecimento
e a aproximação de um olhar diferenciado para suas vidas. É nesse espaço onde a
comunidade pode se apropriar e compartilhar suas histórias e experiências de vida,
aliando o saber popular ao cotidiano das práticas de saúde. A ligação entre esses
integrantes-usuários se une a uma proposta de co-responsabilização dos usuários da
AB no apoio, no enfrentamento e na busca de soluções (Carício, 2010). Os grupos
comunitários na AB costumam ser espaços centrados em tipos de agravos, doenças
ou demandas específicas do território de saúde (hipertensão, diabetes, cuidados com
terceira idade, atividades físicas, etc.) com a finalidade de impactar nos indicadores de
saúde e oferecer um espaço de integração onde os usuários tem participação ativa no
seu processo de cuidar de si mesmo e do outro. O objetivo dos grupos comunitários é
reforçar as habilidades de resiliência e de proteção mútua (Brasil, 2013; Zimerman &
Osorio, 1997).

2 | OBJETIVOS

Tendo em vista esses pressupostos, o objetivo desse trabalho é o de propor


a formação de grupos de terapia comunitária pelas equipes de Saúde da Família
(ESF’s), nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de João Pessoa, com
formato inicial coordenado pelos profissionais das mais diversas áreas (enfermeiro,
fisioterapeuta, terapeuta holístico, psicólogo, agente comunitário de saúde, etc.)
envolvidos no cuidado em saúde aos usuários e por estes últimos, com proposta de
“rodas de conversa”, momentos vivenciais, desenvolvimento de temáticas a partir das
demandas da comunidade, favorecendo o conhecimento original do usuário, culminado
no seu empoderamento, gerando práticas do cuidado a partir da perspectiva deste, a
fim de que o grupo possa ser desenvolvido na perspectiva de autogestão pela própria
comunidade de acordo com suas necessidades.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 29 252


3 | MÉTODOS

Para a realização deste trabalho, pretende-se lançar a proposta de formação


dos grupos às gerências das UBS’s nos cinco distritos sanitários do município de
João Pessoa, a partir de reuniões com a equipe para explanação da configuração dos
grupos através de um Manual “passo-a-passo” para a implantação desta prática, para
posteriormente captar os usuários que tenham interesse, delimitando-se um público-
alvo que podem ser escolhidos, dentre estes: mulheres gestantes, ou mulheres
no climatério, ou idosos, ou adolescentes, ou homens, ou usuários de medicação
psicotrópica, etc; para que, sejam planejadas as ações e o manejo do(s) mesmo(s):
atividades, demandas dos sujeitos, temáticas a serem apresentadas, rodas de
conversa, momentos vivenciais, etc. Há ainda a possibilidade de se buscar parcerias
junto às Universidades e Faculdades através de projetos de extensão e discentes,
reforçando o papel da Educação em saúde como um dos pilares de trabalho em Saúde
Pública.

4 | DISCUSSÃO

A experiência com grupos, segundo Brasil (2013), proporciona uma troca de


saberes e mudanças na subjetividade de seus integrantes a partir do seu manejo e
da finalidade a que se destinam, diferentemente dos movimentos encontrados nos
atendimentos individuais nos serviços de saúde; isto se dá por meio da diversidade e
trocas de experiências entre os seus participantes, tornando o trabalho enriquecedor.
De acordo com Ribeiro (1994), tudo o que ocorre no durante a sessão grupal provoca
uma reflexão profunda nos participantes e muitas vezes os sentimentos ocorridos ali
são compartilhados ou geridos individualmente. Todo o movimento do grupo segue
para um ponto de mudanças significativas e o contato com a fala do outro é o elemento
essencial desse processo. De acordo com os Cadernos da Atenção Básica em Saúde
Mental (Brasil, 2013), o trabalho com grupos deve estar pautado na mutabilidade e na
troca de vivências entre os profissionais e usuários envolvidos, sempre em conexão
com a realidade de onde veio este sujeito a partir das suas experiências subjetivas,
sejam elas familiares ou sociais. O grupo se configura como uma prestação de serviço
à comunidade e um aliado à rede social de cuidado aos usuários, favorecendo a
territorialidade. Essa perspectiva de grupos deve estar pautada no movimento entre a
criatividade e a formalidade, preconizando a originalidade do saber do usuário, a fim
de que sua realidade esteja em sintonia com a realidade dos profissionais envolvidos
também no processo para que seus saberes sejam valorizados, quebrando-se assim a
hegemonia do paradigma do saber médico. Tendo isso em vista, ao se propor um grupo
dentro de um serviço de saúde, é preciso refletir se esse meio de trabalho pode atender
aos objetivos estabelecidos pelas políticas sobre a atenção integral, quais seriam os
impactos nos indicadores de saúde e se esses podem se traduzir em autonomia nas

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 29 253


práticas do cuidado (Brasil, 2013). Pensar na forma como o grupo pode auxiliar as
pessoas dentro do seu processo de adoecimento ou como uma forma de facilitar o
apoio mútuo pode ser um instrumento de auxiliar de empoderamento comunitário e
de co-responsabilidade com a unidade de saúde. Um dos fatores mais importantes
dentro do processo grupal é a facilitação da autonomia dos seus integrantes. Esse
movimento vai de acordo com as características do grupo e das pessoas que neles
permanecem. De acordo com Ribeiro (1994), isso seria reflexo da própria característica
humana que aponta para uma auto-regulação e uma autodeterminação dentro do seu
desenvolvimento. Essas qualidades são refletidas no grupo no sentido de produzir a
sua própria matriz de auto-regulação, cuidado e de buscar os próprios processos de
cura. Rogers (1994), afirma que a medida que o grupo interage e se torna cada vez mais
espontâneo no contato com o outro, o próprio grupo vai se criando naturalmente a sua
própria característica de cuidar e de acolher o outro na sua individualidade, o grupo torna-
se terapêutico de fato. Esse autor afirma que a atitude do facilitador (profissional) deve
agir de modo a permitir que os membros tomem essa atitude receptiva e aberta com o
outro. Por isso, o grupo deve ser proposto de forma a proporcionar a participação ativa
de seus usuários como integrantes empoderados dentro do seu processo de saúde-
doença como na atuação cidadã. Os sujeitos merecem uma escuta qualificada em
suas necessidades e também saber acolher o outro a fim de contribuir com o processo
formativo próprio dos grupos, corroborando com as demandas particulares e coletivas
desenvolvendo assim, um genuíno senso de pertença ente seus integrantes (Brasil,
2013). Esta oportunidade de capacitar os usuários, valorizá-los em suas experiências
e saberes é que se configuram como novas práticas de cuidados e suas tecnologias,
totalmente passíveis de replicação nos serviços de saúde na Atenção Básica.

5 | RESULTADOS

Enquanto um resultado primitivo dessas notas de discussão, espera-se que


os objetivos deste trabalho sejam devidamente atingidos: a formação dos grupos
terapêuticos segundo a estrutura proposta, que encontrem sua capacidade terapêutica,
fomentando o empoderamento dos usuários e como um instrumento aliado das
Unidades Básicas de Saúde nas práticas do Cuidado. Espera-se ainda, que este
modelo de trabalho possa ser replicado em outras Unidades de Saúde (UBS’s) e
possivelmente em outros órgãos da Atenção Básica, de acordo com as demandas dos
usuários de cada órgão.

6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da reflexão sobre esse tema, é possível compreender a proposta de


criação de grupos comunitários terapêuticos como uma ferramenta de empoderamento

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 29 254


dos usuários dos serviços de saúde na Atenção Básica, a partir do desenvolvimento da
autogestão e valorização de saberes e práticas originais da comunidade, respeitando a
sua territorialidade. Por ser uma tecnologia acessível e que envolve as características
dos profissionais envolvidos no cuidado, acredita-se que é necessário o investimento
pessoal desses para que se tornem facilitadores de algum processo grupal. Cabe
lembrar, que a formação grupal dentro dos serviços de saúde podem ter efeitos para
além do “terapêutico”, refletem os efeitos na vida e rotina social dos seus integrantes e
a depender dos objetivos de cada grupo, pode ser um reforço a aliança cidadã desses
usuários.

REFERÊNCIAS
BRASIL. (2013). Cadernos da atenção básica: Saúde Mental. Ministério da Saúde: Brasília.

BRASIL.(2006). Ministério da Saúde. Aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e


Complementares (PNPIC) no sistema único de saúde. Portaria n.971,de03demaiode2006.
Disponívelem:<portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/PNPIC.pdf> acesso em 16 abr 2017.

BRASIL. (2006). Política Nacional de Humanização. Ministério da Saúde: Brasília.

BRASIL. (2006). Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS– PNPIC-


SUS: atitude de ampliação de acesso. Ministério da Saúde: Brasília (Série B. Textos Básicos de
Saúde).

CARÍCIO, M. R. (2010). Terapia comunitária: Um encontro que transforma o jeito de ver e


conduzir a vida. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal da Paraíba: João Pessoa.

ROGERS, C. R. (1994). Grupos de encontro. 7ed. Martins Fontes: São Paulo.

RIBEIRO, J. P. (1994). Gestalt-terapia: o processo grupal: uma abordagem fenomenológica da


teoria do campo e holística. Summus: São Paulo.

ZIMERMAN, D. E. & Osório, L. C. (1997). Como trabalhamos em grupos. Artes Médicas: Porto
Alegre.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 29 255


CAPÍTULO 30

MAGNITUDE E COMPORTAMENTO DAS DOENÇAS


DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA NO ESTADO DE
RORAIMA

Maria Soledade Garcia Benedetti A malária e as arboviroses transmitidas pelo


Secretaria de Saúde do Estado de Roraima Aedes aegypti são endemias de difícil controle,
Universidade Federal de Roraima caracterizadas por altas incidências e com a
Boa Vista - Roraima introdução da chikungunya e zika, houve o
Thiago Martins Rodrigues incremento de doenças reumatológicas e de
Secretaria de Saúde do Estado de Roraima microcefalia, respectivamente. As doenças
Boa Vista - Roraima negligenciadas ainda representam sério
Roberto Carlos Cruz Carbonell problema de saúde pública como a hanseníase,
Secretaria de Saúde do Estado de Roraima tuberculose, tracoma, leishmanioses. A
Universidade Federal de Roraima propagação das doenças negligenciadas está
Boa Vista - Roraima diretamente associada à precária condição
Calvino Camargo de vida em que vive um número cada vez
Universidade Federal de Roraima maior de pessoas, bem como a dificuldade
Boa Vista - Roraima dos gestores públicos na implementação de
políticas públicas que visam combatê-las.
Vive-se uma “epidemia” de agressões por
animais potencialmente transmissor da raiva.
RESUMO: O objetivo deste artigo é
As doenças imunopreveníveis encontram-se
contextualizar a ocorrência das doenças de
com coberturas heterogêneas o que as tornam
notificação compulsória enfatizando suas bases
passíveis de reintrodução e ocorrência de
históricas, sua magnitude e comportamento
surtos.
em Roraima. MÉTODO: Estudo descritivo por
PALAVRAS-CHAVES: Doenças de notificação
meio do levantamento de dados realizado
compulsória, vigilância epidemiológica,
através da revisão bibliográfica, além de uma
Roraima.
pesquisa documental das publicações oficiais
do Ministério da Saúde (MS) e da Secretaria
ABSTRACT: The objective of this article is
de Saúde do Estado de Roraima (SESAU).
to contextualize the diseases of compulsory
A metodologia utilizada foi a descrição da
notification emphasizing its historical bases,
magnitude e comportamento das doenças e
its magnitude and behavior in Roraima.
agravos de notificação compulsória no estado de
METHODS: This was a descriptive study by
Roraima período de 1962 a 2016. CONCLUSÃO:
means of data collection carried out through the

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 30 256


bibliographic review, as well as a documentary research of the official publications
of the Ministry of Health (MS) and the Health Department of the State of Roraima
(SESAU). The methodology used was the description of the magnitude and behavior
of diseases and diseases of compulsory notification in the state of Roraima from
1962 to 2016. CONCLUSION: Malaria and arboviruses transmitted by Aedes aegypti
are difficult to control endemic diseases characterized by high incidence and the
introduction of chikungunya and zika, there was an increase in rheumatological and
microcephaly diseases, respectively. Neglected diseases still pose a serious public
health problem such as leprosy, tuberculosis, trachoma, leishmaniasis. The spread
of neglected diseases is directly associated with the precarious living conditions in
which more and more people live, as well as the inefficiency of public managers in the
implementation of public policies aimed at combating them. There is an “epidemic” of
aggressions by animals potentially transmitting rabies. Immunopreventable diseases
are found with heterogenous coverages which make them susceptible of reintroduction
and occurrence of outbreaks.
KEYWORDS: Compulsory notification diseases, epidemiological surveillance, Roraima.

1 | INTRODUÇÃO

A vigilância epidemiológica (VE) ao longo do tempo foi institucionalizada e


assumiu contornos mais definidos com relação ao seu campo de atuação por meio de
preceitos legais. As funções da VE são contínuas e buscam conhecer a magnitude,
o comportamento e as características epidemiológicas dos agravos e Doenças de
Notificação Compulsória (DNC) de forma oportuna. Somado a isso, o processo de
descentralização das funções e responsabilidades implicou na execução das atividades
de VE para o nível local.
As DNC são assim designadas por constarem na lista de doenças e agravos
de notificação compulsória, em âmbito mundial, nacional, estadual e municipal. São
doenças cuja gravidade, magnitude, transcendência, capacidade de disseminação do
agente causador e potencial de causar surtos e epidemias exigem medidas eficazes
para sua prevenção e controle (SAMPAIO, 2006).
Considerando-se a importância da notificação compulsória como elemento
primordial para o desencadeamento de ações de vigilância em saúde, a notificação
em sistemas de vigilância em saúde é essencial para a monitorização adequada de
atividades de prevenção e controle de agravos e doenças. O objetivo deste artigo
é contextualizar as doenças de notificação compulsória enfatizando suas bases
históricas, sua magnitude e comportamento em Roraima.

2 | MÉTODOS

Estudo descritivo por meio do levantamento de dados realizado através da


revisão bibliográfica, além de uma pesquisa documental das publicações oficiais do

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 30 257


Ministério da Saúde (MS) e da Secretaria de Saúde do Estado de Roraima (SESAU).
A metodologia utilizada foi a descrição da magnitude e comportamento das doenças
e agravos de notificação compulsória no estado de Roraima período de 1962 a 2016.

3 | EVOLUÇÃO DAS DOENÇAS DE NOTIFICAÇÃO COMPULSÓRIA

Os primeiros dados de morbidade relacionado as DNC são os de malária e


remontam ao ano de 1962 quando a população do estado de Roraima era de 30.820
habitantes. Nesse ano foram realizados 2.230 exames para malária com 41% de
positividade e o índice parasitário anual (IPA) de 29,8 por 1.000 habitantes. Alguns
eventos foram importantes para o incremento da malária no estado, em 1978, houve
o garimpo de Santa Rosa (IPA de 108,2/1.000 habitantes), em 1981 projeto de
colonização (IPA 140,9), em 1989, auge do garimpo em área Yanomami (IPA 161,6), e
em 1996, projeto de colonização (IPA 143,3) (RORAIMA, 1996). O IPA teve importante
queda desde 2010 (48,4/1.000 habitantes) e apresenta decréscimo contínuo.
Nas últimas décadas, a malária em área indígena se tornou um problema no
estado, e mais recentemente se mantém com importante número de casos. Em 2015
ocorreram 2.629 casos um aumento de 60% com relação a 2014 (BENEDETTI, 2015),
e em 2016, 50% dos casos de malária ocorreram em área indígena (BENEDETTI,
2017). Soma-se a isso, os casos de malária importados de outras Unidades Federadas
(UF) e principalmente de outros países como a Venezuela e Guiana, em maior número,
casos de brasileiros que atuam em garimpo nesses países. Esse quadro se agravou
desde 2014, sobretudo, no segundo semestre de 2016 com o aumento da migração de
venezuelanos fugindo da crise econômica e em busca de melhores condições de vida
em Roraima, esse fenômeno fez aumentar o número de casos de malária importada
no município fronteiriço de Pacaraima, em Boa Vista, e hoje, existe malária importada
em praticamente todos os municípios.
Na década de 1980 as principais doenças de interesse da saúde pública além
da malária devido aos assentamentos agrícolas e o garimpo, eram as leishmanioses,
tanto a leishmaniose tegumentar americana (LTA) como a leishmaniose visceral (LV),
além das hepatites virais. A LV foi notificada pela primeira vez em 1980 em um paciente
procedente de Normandia (GUERRA et al., 2004).
Os dados de Febre Amarela, todos silvestre mais remotos são de 1984 (RORAIMA,
1996) quando foram notificados três casos da doença no estado. Até 2007 houveram
26 casos de febre amarela silvestre, o surto em 1998 com a ocorrência de sete casos
teve importante participação de indígenas da Guiana (BENEDETTI, 2000), desde
então foi intensificada a imunização no estado e a doença está sob controle.
É bastante citado na literatura nacional a reintrodução da dengue no Brasil
através de Roraima, vindo dos países do caribe nos anos de 1981/82 onde foram
registrados cerca 11 mil casos de dengue dos sorotipos 1 e 4 (RORAIMA, 1996;
BENEDETTI, 2000) embora restrito a Roraima esse evento mostrou a fragilidade da
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 30 258
VE nas fronteiras. A dengue retornou em 1996 vinda da Região Sul do país e se tornou
mais uma endemia. Desde então, apresenta alta incidência, em 2000 a incidência era
de 1.266 por 100 mil habitantes, em 2010 (1.559/100.000 habitantes) e desde 2013
está em decréscimo, com 198 casos por 100.000 habitantes em 2015 (BENEDETTI,
2016). Em 1999 houve a introdução do sorotipo 2, em 2000, o sorotipo 1, em 2001 o
sorotipo 3, e em 2010, o sorotipo 4 (BENEDETTI, 2017).
Em 1987 foram registrados os dois primeiros casos de Aids no estado e desde
houve um aumento exponencial, em 1990 (sete casos), no ano de 2000 (36 casos), em
2010 (122 casos), e em 2016 (362 casos), apesar da política nacional de prevenção
do HIV a prevalência está em ascensão passando de 0,18 por 100.000 habitantes em
1987 (BENEDETTI, 2000, 2017) para 70,4 em 2016 (RODRIGUES et al., 2017). As
IST, embora haja subnotificação, acompanham aumento de casos ao longo dos anos,
em 1993, eram 2.997 notificações com predomínio das mulheres em 90% dos casos,
sugerindo falha no sistema de educação sexual (RORAIMA, 1993). Entre 2007 e 2015
foram notificados 252 casos de sífilis congênita (BENEDETTI; SILVA; TAMLOC, 2017).
Em 1990 foram notificadas 25.967 DNC no estado, a malária representou 96,3%
dos casos. As hepatites virais ficaram em segundo lugar com 537 notificações, pela
dificuldade de realização de sorologia poucos casos tinham confirmação etiológica e
eram classificadas clinicamente como “não especificados”. A hepatite C teve o primeiro
registro em 1994 com 16 casos. Embora bem menos frequente o tétano acidental
registrou quatro casos e o neonatal dois, com letalidade de 50%. A coqueluche,
apresenta desde o final da década de 80 a notificação contínua de casos, devido à
dificuldade de coleta de amostras e análise laboratorial esses casos têm diagnóstico
clínico, em 1990 foram 36 casos, e em 1997 ocorreu um surto com 236 casos, limitado
à área indígena (BENEDETTI, 2000).
Entre 1989 a 2000, todos os casos notificados para sarampo (361 casos) e para
rubéola (206 casos) têm diagnóstico clínico, somente com a implantação do Plano de
Erradicação do Sarampo e Controle da Rubéola em julho de 1999, por meio de um
assessor técnico do MS e Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) é que o
Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN) estadual recebeu capacitação para o
diagnóstico no próprio estado. Em 2000, foram confirmados 83 casos de rubéola em
surto corrido em Pacaraima (BENEDETTI, 2000).
Em 2000, a notificação de DNC alcançou 41.931 notificações, a malária
representava 85,6% dos casos. A dengue, reintroduzida em 1996, registrou 4.100
casos e as hepatites virais quase 1.000, os 101 casos de coqueluche ocorreram em
área indígena, e ocorreram 104 casos de meningite, somente 27 foram confirmados
por laboratório. As doenças negligenciadas como a hanseníase, tuberculose, LTA
estavam em ascensão, provavelmente por melhora na notificação dos casos suspeitos.
O tracoma, também uma doença negligenciada, apresenta os primeiros registros em
2002, em busca ativa entre os escolares, com prevalência de 7,8%. Desde então,
houve intensificação da busca ativa entre os escolares e em área indígena, a maior
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 30 259
prevalência foi encontrada em 2008, de 38,2% (BENEDETTI; SILVA; SAKAZAKI, 2015;
BENEDETTI, 2015) e em 2016, ficou em 11,3%, e é considerada uma doença como
alta prevalência (BENEDETTI, 2017).
Desde 2006, a hanseníase vem apresentando redução no número de casos e no
coeficiente de detecção, variando de 255 casos em 2006 (63,2 casos por 100.000 hab.)
para 82 casos em 2016 (15,9/100.000 hab.), porém há aumento da forma multibacilar
e de incapacidades física no diagnóstico (BENEDETTI, 2017). A tuberculose apresenta
taxa de detecção estável desde 2007, atualmente é de 26,6 por 100.000 habitantes,
a confecção com HIV/Aids, como era esperado, vem aumentado e entre 2009 e 2014
representou 11,6% dos casos (BENEDETTI et al., 2016a).
Em 2016, a DNC mais prevalente é a malária com 8.969 casos, 50% em área
indígena. Ocorreram cerca de dois mil casos de dengue (BENEDETTI, 2017). A febre
chikungunya foi introduzida no estado em 2014 (BENEDETTI, et al., 2015a) e foi
registrado um surto em 2017. Após a introdução do zika vírus em 2015 (BENEDETTI,
et al., 2016b) houve incremento de casos de microcefalia passando de 0,19 casos por
1.000 NV para 1,60/1.000 NV (BENEDETTI, et al., 2017a).
Apesar de avanços com relação ao diagnóstico laboratorial com disponibilização
de sorologia, teste rápido para hepatite B e C e biologia molecular, cerca de 60%
dos casos de hepatites virais tem diagnóstico ignorado. A hepatite B apresenta a
maior prevalência, seguido da hepatite C, houve redução de casos de hepatite A
(BENEDETTI, 2017).
Hoje, a doença de chagas aguda está em intenso monitoramento devido a
ocorrência de um caso autóctone no final de 2015 em residente de área rural de
Caracaraí (BENEDETTI, et al., 2016c), e há intensa proliferação de triatomíneos na
região de Mucajaí. A LTA reduziu drasticamente, em 2015 foram 622 casos, e em
2016, 192 casos, inversamente, a LV aumentou de 21 para 42, respectivamente
(BENEDETTI, 2017).
Após 40 anos, houve um caso fatal de raiva humana, infecção relacionada ao
contato do homem com gato infectado pelo vírus rábico (BENEDETTI, et al., 2017b).
A alta ocorrência desses acidentes com animais domésticos e/ou silvestres, torna
ainda mais necessárias altas coberturas vacinais antirrábica em animais domésticos
(BENEDETTI; TAMLOC, 2017).
Embora o MS disponibiliza a vacina antirrábica para todos os animais domésticos
a cobertura vacinal no estado nos últimos anos encontrava-se muito abaixo do
preconizado, com a ocorrência desse caso fatal se conseguiu impulsionar as coberturas
vacinais em animais domésticos. Somente em 2016, ocorreram 3.411 atendimentos
antirrábicos após exposição a animais potencialmente transmissor da raiva, desde o
ano 2000 quando passou a ser de notificação compulsória é crescente a notificação
desse agravo (BENEDETTI, 2014).
As doenças imunopreveníveis, devido a coberturas vacinais não homogêneas,
representam uma ameaça. Em 2015, ocorre um caso de sarampo importado de
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 30 260
Fortaleza (CE), não houve caso secundário devido as ações da VE (BENEDETTI, et
al., 2015b). Ocorreram 20 casos notificados de coqueluche em 2016 (BENEDETTI,
2017), e recentemente, um caso fatal de difteria, importado da Venezuela. Atualmente,
há casos de sarampo na Venezuela representando uma ameaça devido ao risco de
reintrodução da doença em Roraima onde a cobertura vacinal não é homogênea e o
país corre o risco de perder a certificação de eliminação da doença da OPAS.

4 | CONCLUSÃO

A malária e as arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti são endemias


de difícil controle, caracterizadas por altas incidências e com a introdução da
chikungunya e zika, houve o incremento de doenças reumatológicas e de microcefalia,
respectivamente. As doenças negligenciadas ainda representam sério problema de
saúde pública como a hanseníase, tuberculose, tracoma, leishmanioses. A propagação
das doenças negligenciadas está diretamente associada à precária condição de vida
em que vive um número cada vez maior de pessoas, bem como a dificuldade dos
gestores públicos na implementação de políticas públicas que visam combatê-las.
Vive-se uma “epidemia” de agressões por animais potencialmente transmissor da
raiva. As doenças imunopreveníveis encontram-se com coberturas heterogenias o que
as tornam passíveis de reintrodução e ocorrência de surtos.

REFERÊNCIAS
BENEDETTI, M.S.G. Relatório Anual de Epidemiologia de Roraima 2000. Secretaria de Saúde do
Estado de Roraima. Coordenação de Epidemiologia, 2000. Disponível em: http://www.saude.rr.gov.br/
cgvs/images/visa/relatorios/relatorioanualdeepidemiologia_2000.pdf

BENEDETTI, M.S.G.; TAMLOC, J.C.K. Aspectos Epidemiológicos da Febre Amarela em Roraima


no período de 1984 a 2008. XVI Congresso Brasileiro de Infectologia, Maceió, 2009.

BENEDETTI, M.S.G. Relatório Anual de Epidemiologia de Roraima 2013. Secretaria de Saúde do


Estado de Roraima. Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde, 2014. Disponível em: http://www.
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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 30 263


CAPÍTULO 31

MITOS E CRENÇAS: UMA AÇÃO POPULAR PARA


CUIDAR DA SAÚDE

Rodrigo Silva Nascimento As crenças coletadas foram em 100%


Instituto Federal do Sul de Minas Gerais – realizadas pelos participantes ou por pessoas
IFSULDEMINAS próximas dos mesmos. As crenças mais citadas
Passos – Minas Gerais estiveram agrupadas nas categorias dor de
Juliano de Souza Caliari ouvido, curar umbigo, tratar tosse e coqueluche,
Instituto Federal do Sul de Minas Gerais – curar icterícia e tratar queimaduras. As crenças
IFSULDEMINAS
identificadas neste estudo, apesar de hoje
Passos – Minas Gerais serem desnecessárias pela oportunidade de
Cássia Lima Costa tratamentos médicos acessíveis e gratuitos,
Instituto Federal do Sul de Minas Gerais – ainda demonstram o forte laço cultural da
IFSULDEMINAS
população entrevistada.
Passos – Minas Gerais
PALAVRAS-CHAVE: Audiovisual; Cultura;
Cuidados primários de saúde.

RESUMO: As práticas tidas como populares ABSTRACT: Practices considered popular


podem ser definidas pelo uso de tratamentos can be defined by the use of treatments and
e métodos de prevenção de doenças, diferente methods of prevention of diseases, different
da medicina convencional e que apresentam from conventional medicine which presents
resultados positivos. Surgindo como positive results. Arising as a consequence of the
consequência da necessidade de se resolver os necessity of solving the daily problems and the
problemas diários e pelo fato de darem certo se fact of succeeding, they become convictions,
transformam em convicções, crenças que são beliefs that are transferred from one individual
repassadas de um indivíduo para o outro e de to the other and from one generation to another.
uma geração para a outra. Esse projeto objetiva This project aims to identify popular myths and
identificar mitos e crenças populares acerca dos beliefs about health care. It is an extension project
cuidados com a saúde. Trata-se de um projeto that aims to explore and describe the popular
de extensão que visa explorar e descrever as beliefs used in the community of Passos - MG.
crenças populares utilizadas na comunidade de Twenty-four beliefs were identified, which were
Passos-MG. Foram identificadas 24 crenças, grouped into 18 categories related to a curative
as quais foram agrupadas em 18 categorias, goal through the practices. The beliefs collected
relacionadas com objetivo de cura das práticas. were 100% performed either by participants or

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 31 264


by people close to them. The most cited beliefs have been grouped into the categories:
earache, baby belly button care, cough and whooping cough, curing jaundice and
treating burns. The beliefs identified in this study, despite being unnecessary due to
the opportunity of accessible and free medical treatments, still demonstrate the strong
cultural bond of the population interviewed.
KEYWORDS: Audiovisual; Culture; Primary healthcare.

1 | INTRODUÇÃO

Desde o princípio de sua existência, o ser humano tem buscado alternativas


diversas na tentativa de eliminar seus males físicos ou psíquicos; desta forma muitas
destas alternativas estão sob a recomendação de pessoas de confiança, as quais nem
sempre possuem formação ou informação de real valor científico, o que caracteriza a
existência das práticas populares (SIQUEIRA et al., 2006).
As práticas tidas como populares podem ser definidas pelo uso de tratamentos
e métodos de prevenção de doenças, as quais são diferentes daquelas adotadas
pela medicina convencional, como o uso das benzedeiras, chás e simpatias e que
muitas vezes estão associadas com resultados positivos, por isto tornam-se populares
(BARBOSA et al., 2004).
Assim, estas práticas surgem como conseqüência da necessidade de se resolver
os problemas diários e pelo fato de darem certo se transformam em convicções, em
crenças que são repassadas de um indivíduo para o outro e de uma geração para
a outra. Sendo as crenças compreendidas como o conhecimento advindo do senso
comum, repassado de geração a geração, são adquiridad de forma empírica e fazem
parte da cultura das populações (OLIVEIRA et al., 2006).
Desta forma, as diferentes ações de cuidado em saúde estão relacionadas ao
contexto sócio-cultural que caracteriza cada momento histórico vivido pelo homem.
Desse modo, os padrões culturais de uma realidade social devem ser entendidos
como colaboradores nas concepções sociais que envolvem o processo saúde- doença
(SIQUEIRA et al., 2006).
Por esse motivo, o trabalho em saúde exige a formação de profissionais que,
além de possuírem competência técnica e política, sejam sensíveis à realidade da
comunidade em que estão desenvolvendo o seu trabalho. Portanto, o conhecimento
das crendices e práticas populares relacionadas ao processo saúde-doença é essencial
para que os profissionais se familiarizem com os grupos culturais com que trabalham
e aprendam a lidar com os valores, crenças e hábitos desses grupos (OLIVEIRA et al.,
2006).
O objetivo deste estudo foi de identificar os mitos e as crenças populares ligadas
aos cuidados de saúde de uma população mineira.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 31 265


2 | MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo acerca das crenças utilizadas pela população


de Passos – MG a fim de tratar ou evitar agravos à saúde. Para a coleta de dados foi
utilizado um questionário semi estruturado a fim de identificar as crenças utilizadas pela
população. A coleta aconteceu por meio de entrevista em praças públicas da cidade
nos meses de maio a julho de 2015. Este projeto contempla a parte 1 de um projeto de
extensão que objetiva Identificar mitos e crenças populares acerca dos cuidados com
a saúde e desmitificá-los apresentando os pontos positivos e negativos de tais práticas
populares através de entrevistas com profissionais de saúde; o produto final deste
projeto será a elaboração de pílulas audiovisuais, as quais serão disponibilizadas na
internet.
Desta forma, foi realizada a primeira etapa que é descritiva, apresentando as
crenças da população, as quais serão analisadas por profissionais de saúde, a fim
de possibilitar a produção de material audiovisual com a apresentação dos pontos
positivos e negativos.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para o levantamento das crenças por meio de inquérito com a população, foram
realizadas abordagens em praças da região central da cidade de Passos – MG a
fim de identificar as práticas populares utilizadas no tratamento de agravos à saúde.
Nesta etapa foram identificadas 98 crenças as quais passaram por um processo de
eliminação das repetições. As 24 crenças restantes foram agrupadas em 18 categorias
as quais se relacionam com o objetivo de cura das práticas. As crenças coletadas
foram em 100% realizadas pelos participantes ou por pessoas próximas dos mesmos.
As crenças mais citadas estiveram agrupadas nas categorias dor de ouvido, curar
umbigo, tratar tosse e coqueluche, curar icterícia e tratar queimaduras (Quadro 1).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 31 266


Quadro 1: Crenças relacionadas aos objetivos e a formação dos profissionais para responder
às questões, Passos – MG, 2015.

Do total de 24 crenças, apenas 5 (20,8%) usavam procedimentos de ingestão,


sendo os demais procedimentos locais. Dentre os produtos utilizados, 10 (41,7%)
crenças utilizavam ervas ou óleos originários delas, o que já é descrito por Siqueira
e colaboradores (2006) como os produtos de maior aceitação popular, sendo estes
costumes adquiridos ao longo da vida e repassados entre as gerações, ou seja, ligados
às tradições e costumes sócio-culturais.
Já as práticas de uso de materiais como urina, fezes e água de cocho de chiqueiro,
como as descritas, fazem parte dos procedimentos citados por Korolkovas (1996) como
técnicas absurdas e arraigadas no misticismo e sem algum fundamento científico,
como estudo realizado em Santa Catarina, o qual identificou que as sanguessugas
eram usadas para os mais diversos fins terapêuticos, como “dores de cabeça as
mais variadas, em focos inflamatórios, abscessos, furúnculos, antrazes, hepatites,
febres biliosas, febre amarela, obstruções, e, provavelmente, além de outros males”,
denotando pouca relação com o saber científico.

4 | CONCLUSÕES

As crenças identificadas neste estudo, apesar de hoje serem desnecessárias pela

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 31 267


oportunidade de tratamentos médicos acessíveis e gratuitos, ainda demonstram o forte
laço cultural da população entrevistada. Ressalta-se a importância dos profissionais de
saúde de conhecerem os costumes e as práticas dos usuários dos serviços, a fim de
valorizar a cultura local, as crenças realizadas e orientar as famílias para mudanças de
hábitos hoje reconhecidos como absurdos; desta forma o produto final deste trabalho
terá uma importante contribuição, confirmando com a comunidade a presença de
pontos positivos e apresentando pontos negativos no uso destas práticas.

REFERÊNCIAS
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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 31 268


CAPÍTULO 32

MORTALIDADE POR NEOPLASIAS QUE POSSUEM O


TABAGISMO COMO FATOR DE RISCO

Ana Luiza Caldeira Lopes mutações no DNA e gerar câncer. Esse artigo
Universidade de Rio Verde (UniRV), Faculdade de trata-se de um estudo epidemiológico sobre
medicina de Rio Verde, mortalidade por cânceres influenciados pelo
Rio Verde- Goiás tabagismo entre 1980 e 2014. O índice de
Laís Lobo Pereira mortalidade por alguns tipos de cânceres
Universidade de Rio Verde (UniRV), Faculdade de foi decrescente como no caso do câncer de
medicina de Rio Verde,
estômago, faringe, leucemias e esôfago. Por
Rio Verde- Goiás outro lado, foi perceptível o aumento de alguns
Yasmin Fagundes Magalhães tipos, como o câncer de rim, de pâncreas, de
Universidade de Rio Verde (UniRV), Faculdade de fígado e de bexiga. O Sudeste é a região com
medicina de Rio Verde,
maior índice de mortalidade, porém índice em
Rio Verde- Goiás
redução nos últimos anos. Enquanto isso, se
Ana Cristina de Almeida observa um aumento da mortalidade na região
Universidade de Rio Verde (UniRV), Faculdade de
Nordeste. No comparativo entre os sexos a
medicina de Rio Verde,
mortalidade é maior entre os homens apesar
Rio Verde- Goiás
dessa taxa estar em redução, enquanto a taxa
Anna Gabrielle Diniz da Silva de mortalidade feminina está em ascensão.
Universidade de Rio Verde (UniRV), Faculdade de
Muito já foi feito em termo de políticas públicas
medicina de Rio Verde,
para redução do tabagismo, sendo bastante
Rio Verde- Goiás
efetivo. Porém, ainda é necessário combater o
Kênia Alves Barcelos tabagismo.
Universidade de Rio Verde (UniRV), Faculdade de
PALAVRAS–CHAVE: Cigarro, Epidemiologia,
medicina de Rio Verde,
Tumor
Rio Verde- Goiás

MORTALITY DUE TO NEOPLASMS THAT

RESUMO: O tabagismo é um importante HAVE SMOKING AS A RISK FATOR


fator de risco para diversas doenças, como ABSTRACT: Smoking is an important risk factor
as neoplasias, as doenças cardiovasculares for diseases such as cancers, cardiovascular
e cerebrovasculares. Possui cerca de 4000 and cerebrovascular diseases. It has about
mil substâncias tóxicas que podem induzir 4000 thousand substances that can induce

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 32 269


mutations without DNA and generate cancer. This article deals with an epidemiological
study on mortality from cancers influenced by smoking between 1980 and 2014. The
mortality rate for some types of cancer was decreasing as in the case of stomach cancer,
pharynx, leukemias and esophagus. On the other hand, it was noticeable the increase
of some types, like cancer of kidney, pancreas, liver and of bladder. The Southeast
region is the region with the highest mortality rate, although it is a reduction index in
recent years. Meanwhile, there is an increase in mortality in the Northeast region. In the
comparison between the sexes, mortality is higher among the types of whole subjects
of the reduction rate, while the female mortality rate is on the rise. Much has already
been done in terms of public policies to reduce smoking and is very effective. However,
it is still necessary to combat smoking.
KEYWORDS: Cigarette, Epidemiology, Tumor

INTRODUÇÃO

O tabagismo é um importante fator de risco para vários tipos de tumores, como


o câncer de bexiga, cavidade oral, esôfago, estômago, faringe, fígado, laringe,
leucemias, pâncreas, pulmão, rim e traquéia. Juntos esses cânceres são responsáveis
por quase 60% do total de mortalidade por cancer. Demonstrando assim o seu impacto
e influência em termos de saúde pública. O câncer de pulmão é o mais influenciado
pelo tabagismo, isso pode ser observado pelo fato de que cerca de 90% dos tumores
malígnos de pulmão possuírem esse fator de risco. Assim, apesar da etiologia do
cancer de pulmão possuir fatores ambiental e genética, há uma predominancia dos
fatores ambientais. Parar de fumar reduz os riscos de complicações no tratamento de
câncer e melhora da qualidade de vida, sendo indicado mesmo após a instauração do
tumor (Karam-Hage et al, 2014)
Cerca de 4000 substâncias tóxicas foram identificadas na fumaça dos cigarros e
aproximadamente 50% dessas substancias são derivadas da combustão do tabaco.
O restante das toxinas é originado dos processos de cultura e manufatura. Essas
substâncias tóxicas presentes na fumaça do cigarro se depositam nas vias aéreas
e nos pulmões. A nível celular podem induzir mutações como a quebra de cadeia
simples ou dupla (DSBs) do material genético (Younes, 2013).
As mutações são consequências de modificações químicas de bases do
DNA, falhas nas vias de apoptose e de supressão tumoral, no reparo de lesões e
na incorporação de nucleotídeos atípicos ao DNA durante a replicação celular. O
mecanismo carcinogênico mais importante é a formação de ligações estáveis do tipo
covalente com o DNA. O que resulta em mutações permanentes em sequências
gênicas como os oncogênes e os genes supressores de tumores. A grande maioria
das substâncias são metabolizadas pelo citocromo P450 e convertidas em moléculas
polares altamente hidrossolúveis. Algumas dessas moléculas são altamente reativas
com o DNA, resultando em complexos de adição. A ativação e a detoxificação de

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 32 270


carcinógenos é mediada por várias vias, incluindo as vias catalisadas pela glutationa-
S-trasnferase e pela UDP-glucuronil transferase que influenciam na suscetibilidade
individual ao desenvolvimento de neoplasias (Younes, 2013).
O objetivo desse estudo foi reunir os dados e analisar a mortalidade, no Brasil,
pelos cânceres que possuem o tabagismo como fator de risco durante um período de
30 anos, de acordo com as variações regionais e por sexo.

MATERIAL E MÉTODOS

Realizou-se um estudo epidemiológico, descritivo, retrospectivo acerca da


mortalidade por neoplasias que possuem como fator de risco o tabagismo, tais como
câncer de bexiga, cavidade oral, esôfago, estômago, faringe, fígado, laringe, leucemias,
pâncreas, pulmão, rim e traqueia.
A coleta de dados foi obtida por meio do banco de dados do Sistema Brasileiro
de Dados sobre Mortalidade (DATASUS) de acesso online e disponível a qualquer
cidadão. Através dessa base foi possível coletar os valores referentes a mortalidade
por essas patologias em estudo de acordo com o sexo e as regiões geográficas do
Brasil em um período de 30 anos. O espaço amostral, de 30 anos, foi fundamental
para uma análise das mudanças socioeconômicas e tecnológicas que influenciaram o
padrão de mortalidade por cânceres relacionados ao tabagismo no Brasil. Foi dado o
devido destaque as discordâncias dos casos com a literatura de referência.
Os dados obtidos foram analisados com base nas ferramentas da estatística
descritiva e inferencial. A análise estatística dos dados foi feita no software Minitab
17®, sendo calculados média e taxas populacionais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

É amplamente divulgado os malefícios do cigarro e sua capacidade de desenvolver


tumores, especialmente o câncer de pulmão. Porém, o potencial carcinogênico do
tabagismo não se restringe ao câncer de pulmão, podendo abranger uma variedade
de cânceres.
Os tipos de cânceres que podem ser relacionados ao tabagismo são: câncer
de bexiga, cavidade oral, esôfago, estômago, faringe, fígado, laringe, leucemias,
pâncreas, pulmão, rim e traqueia. Todos eles possuem em comum o tabagismo como
fator de risco. No entanto, é importante salientar que o tabagismo não é o único fator
de risco, incluindo inúmeros outros fatores. Além disso, o tabagismo não influencia da
mesma todos esses tipos de câncer. Por exemplo, aumenta em 20 vezes a chance de
ter câncer de pulmão em relação à um não fumante, aumenta o risco em 10 vezes para
câncer de laringe e de duas a cinco vezes o risco para câncer de esôfago, enquanto
em outros subtipos essa influência pode ser bem menor (Inca, 2016).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 32 271


Ao analisar cada um dos gráficos desses tipos específicos de câncer essa
questão também fica evidente, uma vez que ao longo dos últimos 10 anos eles não
seguiram exatamente o mesmo padrão de mortalidade.

Gráfico 1- Mortalidade específica por cada um dos cânceres relacionados ao tabagismo nos
últimos 10 anos.

O câncer com maior mortalidade foi o de pulmão, responsável por 28,10% das
mortes por cânceres relacionados ao tabagismo em 2014, seguido pelo câncer de
estômago (15,56%), fígado (10,17%), pâncreas (9,87%), esôfago (8,99%), leucemias
(7,18%), laringe (4,60%), cavidade oral (4,32%), bexiga (4,19%), faringe (3,77%), rim
(3,14%) e traqueia (0,10%).
Apesar de o câncer de traqueia possui a menor prevalência, foi o câncer de maior
incidência nos últimos 10 anos, com um aumento proporcional de 25%. Observou-se
o aumento da incidência de 18% por câncer de rim, seguido pelo câncer de pâncreas
com 16%, câncer de fígado (10,1%) e bexiga (8%). O câncer de cavidade oral e laringe
se mantiveram, com um aumento de 1,6% e uma redução de 1,28% respectivamente.
Por outro lado, foi observado uma redução na incidência do câncer de estômago
(15,48%), faringe (11%), leucemia (8,9%), esôfago (5,9%).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 32 272


Gráfico 2- Mortalidade por cânceres relacionados ao tabagismo por região geográfica.

Entre as regiões geográficas brasileiras observou-se uma redução significativa


da mortalidade na região sudeste, de 22,86%, apesar de corresponder a região com
maior índice de mortalidade por esses cânceres. A região sul é a segunda região
com maior mortalidade encontrada e teve uma redução de 11,36% na mortalidade
nos últimos 30 anos. Na região nordeste observou-se um aumento de 103,53% na
mortalidade por câncer relacionado ao tabagismo. As regiões norte e centro-oeste
tiveram os menores índices de mortalidade e estes se mantiveram constantes durante
o período analisado.
Acredita-se que a redução da mortalidade nas regiões sudeste e sul pode ser
atribuída a alguns fatores. Dentre eles estão a eficácia das campanhas de prevenção
e combate ao tabagismos que foram responsáveis por uma redução em 46,83% do
consumo de cigarros no Brasil (Pinto, Pichon-Riviere,Bardach, 2015). Nos últimos
30 anos os métodos de rastreio de diagnóstico precoce de câncer se tornaram mais
acurados, resultando em intervenções mais precoces e melhora do prognostico e da
expectativa de vida desses pacientes. Sem contar as próprias melhorias no tratamento
do câncer com o desenvolvimento de técnicas cirurgicas, quioterápicos e a radioterapia.
Dessa forma, as regiões sudeste e sul do Brasil, onde há uma grande concentração
tecnológica e científica, propriciam um suporte avançado aos pacientes oncológicos e
consequentemente uma redução na mortalidade (Teixeira et al, 2012).
Foi observado uma aumento da mortalidade na região nordeste que pode
ser atribuído a uma melhora na precisão do diagnóstico de câncer, um avanço das
notificações e da cobertura estatística nos últimos anos. Com isso, esse aumento da
mortalidade não deve expressar um agravo da doença, mas um índice mais próximo
do real (Oliveira et al, 2015).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 32 273


Gráfico 3- Mortalidade por cânceres relacionados ao tabagismo por sexo

Entre os sexos feminino e masculino foi possível perceber um aumento leve na


mortalidade das mulheres e em contrapartida uma queda na mortalidade dos homens,
apesar de o índice de mortalidade nos homens ser superior. Esses resultados foram
atribuídos a mudanças sociais e comportamentais. Com o fortalecimento do feminismo,
as mulheres ganharam o mercado de trabalho e sua independência, transformaram o
seu estilo de vida. Assim, se tornaram mais susceptível a diversos fatores degenerativos
e degradantes, como o estresse e a exposição a poluição. A queda na mortalidade
masculina é atribuída a melhora das políticas públicas de prevenção e aos avanços
no tratamento, seguindo o padrão de algumas regiões brasileiras (Barbosa et al,
2015).

CONCLUSÃO

O tabagismo compõe um quadro de fator de risco para mais de 10 tipos de


cânceres diferentes, além do impacto que exerce sobre as patologias cardiovasculares
e cerebrovasculares. Tornando-se dessa forma um importante problema de saúde
pública. Nos últimos 30 anos teve-se alguns avanços no combate e prevenção do
tabagismo. Inclusive foi possível perceber uma redução de alguns tipos câncer. No
entanto, outros tipos aumentaram, demonstrando que o tabagismo ainda não é uma
questão resolvida e impõe alguns desafios. Bem como, é importante enfatizar que
os cânceres são multifatoriais, envolvendo outros fatores de risco e os componentes
genéticos.

REFERÊNCIAS
BARBOSA, I.R.; COSTA, I.C.C.; PÉRZ, M.M.B; SOUZA, D.L.B. As iniquidades sociais e as
disparidades na mortalidade por cancer relativo ao gênero. Revista Ciência Plural, v. 1, n. 2, p.79-
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elementos de uma trajetória. Cad. De Saúde Coletiva, v. 20, n. 3, p. 375-380, 2012

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 32 275


CAPÍTULO 33

NEUROFIBROMATOSE TIPO 1:CRITÉRIOS DE


DIAGNÓSTICO PRECOCE

Isabela Souza Guilherme capitulo visa através da revisão de conteúdos


Centro Universitário de Adamantina de bases de dados reconhecidas, esclarecer a
Adamantina – SP etiologia e consequências da Neurofibromatose
Carolina de Araújo Oliveira tipo 1 (NF1), uma vez que ainda não existe
Universidade Nove de Julho tratamento para a mesma. Entretanto, há
São Paulo – SP informações e tratamentos paliativos que
Cesar Antônio Franco Marinho podem melhorar a qualidade de vida do
Centro Universitário de Adamantina paciente e promover um convívio do indivíduo,
Adamantina – SP com maior aceitação e compreensão por parte
Leonardo Martins Silva da sociedade.
Universidade Federal de São Paulo PALAVRAS-CHAVE: Neurofibromatose Tipo 1.
São Paulo – SP Genética. Diagnóstico Clínico. Multissistêmica.
Predisposição Tumoral

ABSTRACT: Neurofibromatosis type 1(NF1)


RESUMO: A Neurofibromatose tipo 1 também
is also known as von Recklinghausen’s
conhecida como neurofibromatose de von
disease. It is one of the diseases included in
Recklinghausen está contida em uma das
the genetic disorder called Neurofibromatosis,
três doenças da desordem genética chamada
wich also holds Neurofibromatosis type 2 and
Neurofibromatose, que engloba também a
Schwannomatosis. The disease with the biggest
Neurofibromatose tipo 2 e a Schwannomatose.
incidence among the disorders mentioned, is
Das desordens citadas, a NF1 apresenta maior
NF1, it occurs in 1 out of 3 thousand children,
incidência, ocorrendo em uma a cada 3 mil
being considered a most common disease
crianças, sendo, portanto, mais comum do
compared with Dyabetes type I, Cystic fibrosis,
que Diabetes tipo I, Fibrose cística, Doença de
Huntington Disease, Duchenne Dystrophy and
Huntington, Distrofia de Duchenne e Doença
Tay-Sachs Disease, except for Down Syndrome.
de Tay-Sachs, perdendo apenas para a
The diagnosis is essentially clinical and the
Síndrome de Down. O diagnóstico da doença é
following chapter presents the most common
primordialmente clínico, apresenta-se também
characteristics and classification criteria for
portanto, no capitulo a seguir, as manifestações
NF1. This chapter aims to clarify the etiology
e critérios para estabelecimento da doença. O
and consequences of NF1 through reliable

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 33 276


databases. There are no especific treatment for NF1, however, there are palliative
treatment and informations that are able to provide better quality of life and better
acceptance of society about this disease.
KEYWORDS: Neurofibromatosis type 1. Genetics Clinical Diagnosis. Multisystemic.
Tumoral predisposition

1 | INTRODUÇÃO

A Neurofibromatose (NF), foi retratada pelo patologista alemão Friedrich Daniel


von Recklinghausen em 1882, sendo caracterizada como uma desordem genética que
compreende três principais doenças: Neurofibromatose 1 (NF1) ou neurofibromatose
de von Recklinghausen, Neurofibromatose 2 (NF2) e também a Schwannomatose.
A NF1 é definida como uma doença genética de caráter autossômico dominante,
com penetrância completa, além de uma diversidade de apresentações clínicas,
prognósticos, intensidades e de sintomatologia, mesmo dentro de indivíduos da
mesma família (MARQUES; VERONEZ, 2015).
A mutação no gene localizado no cromossomo 17 é responsável pela codificação
da neurofibromina, uma proteína citoplasmática que atua como moduladora da
atividade de crescimento e diferenciação das células desde a vida intrauterina, e que
se expressa primariamente nos neurônios, oligodendrócitos, astrócitos, leucócitos e
na medula das suprarrenais (DE SOUZA; et al, 2009).
Desta forma, a neurofibromina, atua como supressora de tumor, responsável pelo
controle do crescimento celular. A diminuição dessa proteína provoca um aumento
da sinalização da via RAS, aumentando a multiplicação e a manutenção da célula.
Esses genes supressores de tumor, quando são perdidos ou inativados, podem induzir
o desenvolvimento de uma neoplasia por inibir a morte celular, estimular a divisão
celular ou, ainda, pela parada do ciclo celular. Consequentemente, neoplasias como
neurofibromas cutâneos, neurofibromas plexiformes e o glioma óptico podem ser
provenientes de alterações no gene supressor de tumor.
O neurofibroma cutâneo é um tumor benigno, que surge com mais frequência
a partir dos 11 anos, até o fim da vida e provocam deformidades e coceiras, mais
comumente no tórax e abdome. Se alcançarem os nervos podem causar dor e
dormência.
O neurofibroma plexiforme é um tumor presente no indivíduo desde o nascimento e
geralmente não se proliferam ao longo da vida. Ele ocorre pelo crescimento exacerbado
de um tecido (pode ser pele, nervos e vasos sanguíneos), podendo comprimir órgãos
adjacentes, provocar dor e deformidades e ele pode se tornar maligno.
O glioma é um tumor geralmente benigno, do nervo óptico. Metade dos pacientes
são assintomáticos, porém ele pode causar estrabismo e diminuição da acuidade visual,
bem como pode promover uma puberdade precoce e proptose. Outros problemas que
podem ocorrer raramente na NF1, são as lesões ósseas típicas dessa doença, como
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 33 277
adisplasia do esfenoide e a pseudoartrose tibial.
A alta taxa de mutação do gene da NF1, é justificada pelo tamanho desse gene,
que torna o mesmo sujeito a diversas alterações, sendo difícil a identificação dessas
mutações. As que ocorrem com mais frequência são as de deleção e inserção e
podem acarretar em perda de função, devido a alterações nas proteínas que codificam
esse gene. Tais alterações mudam a estrutura da proteína neurofibromina e resultam
em excesso de proliferação celular, podendo causar o aparecimento de neoplasias,
confirmando a informação do gene NF1 como um gene supressor de tumor.
Outro fato relevante é que a neurofibromina é produzida principalmente em
neurônios, células de Schwann e oligodendrócitos. Sendo assim, uma perda de função
promove alterações no feto ainda no útero, fazendo com que interações celulares
fiquem comprometidas e justificando a possibilidade de problemas comportamentais,
dificuldade de aprendizado, problemas de crescimento, hiperatividade e déficit de
atenção por exemplo.
O gene da NF1 apresenta heterogeneidade alélica, ou seja, fenótipos aparentemente
diferentes são causados por diferentes mutações alélicas no mesmo lócus gênico.
Alguns exemplos disso são a Síndrome de Noonan e a Síndrome de Watson. As
três doenças são alélicas, provocadas por mutações no gene da neurofibromina. A
Síndrome de Noonan apresenta as mesmas características craniofaciais, podendo se
manifestar em conjunto com a NF1, já a Síndrome de Watson, apresenta manchas
café-com-leite, nódulos de Lisch e neurofibromas, sendo necessário portanto uma
análise do genoma que identifique corretamente as diferentes doenças.
A NF1 é uma doença autossômica dominante. Isso significa que a probabilidade
de transmissão da doença é de 50% em cada gravidez, sendo que a penetrância é
de 100%. Pela distribuição segundo a Lei de Mendel, é possível verificar também que
75% dos filhos afetados tem mais chances de desenvolver a doença de forma mais
branda, podendo se agravar durante a vida. Filhos de mães afetadas tendem a ter
uma expressão mais severa do gene do que filhos de pais afetados. Cabe portanto, ao
médico, informar a família a respeito dos riscos de NF1 nos descendentes.
De Souza, et al (2009) lista as principais características clínicas da NF1 como
sendo as manchas café-com-leite (MCL), os neurofibromas dérmicos e plexiformes, as
falsas efélides axilares ou inguinais e os nódulos de Lisch. Tratando-se, portanto, de
uma patologia multissistêmica com possibilidade de comprometimento oftalmológico,
osteomuscular, cardiovascular, endócrino, do sistema nervoso central e periférico e da
aprendizagem.
A maioria dos pacientes com o tipo 1  é identificada durante exame de rotina,
exame por queixas cosméticas ou avaliação de história familiar positiva. O diagnóstico
é clínico podendo ser identificado quando há a presença de pelo menos dois sintomas
característicos (COUTO,C. et al. 2012).
Não existe uma terapia específica para essa doença. Portanto, o tratamento
é frequentemente direcionado para a prevenção ou o tratamento de suas complicações.
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 33 278
As lesões cutâneas podem ser removidas através de cirurgias. O aconselhamento
genético é de extrema importância para todos os pacientes portadores de NF1
(JÚNIOR, et al. 2008).

2 | EPIDEMIOLOGIA

Estima-se que a prevalência da NF-1 seja de 1:2.000 a 1:7.800 nascidos vivos,


caracterizando-a como uma das doenças genética de herança autossômica dominante
(AD) mais frequentes. Vários estudos demonstraram que 50% das crianças acometidas
herdam a condição de seus familiares e a outra metade decorre de mutações novas,
ou seja, os pais são sadios. Os estudos epidemiológicos evidenciaram alta prevalência
da NF-1 em indivíduos jovens. Até o momento, não existem evidências de predomínio
da NF-1 em determinadas populações ou gênero (JÚNIOR, et al. 2008).

3 | CARACTERÍSTICAS

As manifestações clínicas da NF1 são extremamente variáveis entre indivíduos,


mesmo entre familiares e ainda variáveis ao longo da vida do próprio indivíduo.
Determinadas complicações surgem mais frequentemente em idades específicas,
podendo haver um agravamento progressivo.
Pode-se dizer que as principais manifestações da NF1 são: manchas café com
leite, nódulos de Lisch, neurofibroma, efélides inguinais e axilares, neurofibroma
plexiforme, glioma óptico, alterações ósseas, endócrinas, do sistema nervoso central
e dificuldades de cognição e aprendizado. As três primeiras características citadas,
podem ser encontradas em cerca de 90% dos indivíduos com NF1 na puberdade.

4 | DIAGNÓSTICO

O fato que justifica esse direcionamento é a frequência com que ela se apresenta
na população, ocorrendo em uma a cada 3 mil crianças, sendo portanto, mais comum
do que Diabetes tipo I, fibrose cística, Doença de Huntington, Distrofia de Duchenne e
Doença de Tay-Sachs, perdendo apenas para a Síndrome de Down.
Desta forma, a presença de manchas café-com-leite, já deve evocar ao médico
pediatra, uma anormalidade, pois o diâmetro de mais da metade de manchas dessa
coloração, nessa faixa etária demonstra uma disfunção, além de ser um dos principais
achados no exame físico da NF1 de acordo com o protocolo para diagnóstico clinico,
que segue os critérios estabelecidos pelo National Institute of Health (NIH), da
Conferência de 1988, assim nenhum outro achado específico de doença clínica fora
encontrado, sendo a NF1, a possibilidade mais provável de doença genética.
O diagnóstico da NF1, se baseia primeiramente, nos achados presentes durante

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 33 279


o exame físico como demonstrado na tabela abaixo:

01. Seis ou mais marcas café-com-leite maiores que 5mm de diâmetro em pacientes pré-
pubertais e maiores que 15 mm em pacientes pós-pubertais
02. Sardas nas axilas ou virilhas (sinal de Crowe)
03. Dois ou mais neurofibromas de qualquer tipo ou neurofibroma plexiforme (i.e., um
crescimento extenso que ocorre ao longo de uma bainha nervosa)
04. Dois ou mais nódulos de Lisch (hamartomas da íris)
05. Glioma óptico
06. Lesões distintas dos ossos, particularmente um osso esfenóide formado anormalmente
ou pseudoartrose tibial
07. Uma relação familiar em primeiro grau com a neurofibromatose diagnosticada
utilizando os seis critérios anteriores

Tabela 1. Protocolo de diagnóstico da NF1 do National Institute of Health( NHI).

As condições citadas, se referem também a manifestação em adultos, porém é


importante salientar que o protocolo de diagnóstico do National Institute of Health (NIH)
possui critérios sensíveis e específicos para adultos, e crianças em alguns casos, não
os preenchem, uma vez que o aparecimento dos sinais estão correlacionados com a
idade de aparecimento. Assim, faz-se necessário monitorar algumas das condições a
seguir, que talvez tenham sido negligenciadas pelos profissionais no caso:
01. Monitorações anuais em crianças com NF1
02. Desenvolvimento neuropsicomotor e escolaridade
03. Avaliação oftalmológica, acuidade visual e fundoscopia até os 7 anos de idade
04. Perímetro cefálico, peso, estatura e pressão arterial
05. Desenvolvimento puberal
06. Avaliação cardiovascular
07. Avaliação da coluna e da pele

Frequência e idade de início das principais manifestações clínicas da neurofibromatose 1

Manifestação clínica Frequência (%) Idade de início


Café com leite > 99 Nascimento até 12 anos
Sarda da pele 85 3 anos para a adolescência
Nódulos Lisch 90–95 > 3 anos
Neurofibromas cutâneos > 99 > 7 anos (geralmente no final da
adolescência)
Neurofibromas plexiformes 30 (visível) –50 (na Nascimento a 18 anos
imagem)
Neurofibromas plexiformes faciais 3–5 Nascimento até 5 anos
desfigurantes
Tumor maligno da bainha do nervo 2–5 (8–13% de risco 5 a 75 anos
periférico vitalício)
Escoliose 10 Nascimento a 18 anos
Escoliose que requer cirurgia 5 Nascimento a 18 anos
Pseudartrose da tíbia 2 Nascimento até 3 anos
Estenose da artéria renal 2 Vitalício
Feocromocitoma 2 > 10 anos

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 33 280


Frequência e idade de início das principais manifestações clínicas da neurofibromatose 1

Manifestação clínica Frequência (%) Idade de início


Comprometimento cognitivo grave 4–8 Nascimento
(QI <70)
Problemas de aprendizagem 30–60 Nascimento
Epilepsia 6–7 Vitalício
Glioma da via óptica 15 (apenas 5% Nascimento até 7 anos (até 30
sintomático) anos)
Gliomas Cerebrais 2–3 Vitalício
Displasia da asa esfenóide <1 Congênita
Estenose do aqueduto 1,5 Vitalício

Tabela 2. Frequência e idade de início das principais manifestações clínicas da


neurofibromatose 1

Os princípios analisados como critérios para a NF1, englobam vários sistemas


do corpo humano e aparentemente não possuem interligação. Dessa forma, as
modificações citadas no caso, desde alterações oftálmicas a dermatológicas, podem
ter origem pleiotrópica. A pleiotropia consiste em genes que produzem alterações
anatômicas e fisiológicas e podem produzir consequentemente diferentes fenótipos
no indivíduo como os nódulos de Lisch que originam hamartomas, ou seja, nódulos
na íris, variando da coloração amarela a marrom, característicos da doença. Podem
produzir também manchas na cor café-com-leite devido ao aumento da produção
de pigmento nos melanócitos e efélides, vulgarmente chamadas de sardas, que são
máculas amarronzadas provenientes da hiperpigmentação de células da camada
basal da pele.
As manchas café-com-leite são máculas hiperpigmentadas, com contornos bem
definidos, aspecto homogêneo, distribuição aleatória, assintomáticas e raramente
sofrem alterações malignas. São habitualmente a manifestação inicial da NF1,
detectando-se ao nascimento ou na primeira infância, 80-90% dos doentes apresentam
mais de cinco manchas café-com-leite ao um ano de idade, observando-se um aumento
em número e dimensões ao longo da infância. Assim, recomenda-se que crianças com
seis ou mais MCL acima de 5 mm de diâmetro ao nascimento sejam acompanhadas,
uma vez que a maioria destas irá desenvolver outras manifestações da NF1, as quais
poderão surgir somente no final da infância ou mesmo na adolescência.
As efélides (sinal de Crowe) têm aspecto semelhante a manchas café-com-
leite pequenas (1 a 3 mm) e surgem caracteristicamente nas pregas (axilas, regiões
inguinais e pregas infra-mamárias). Esta é habitualmente a segunda característica
notada na criança com NF1, surgindo tipicamente entre os três e cinco anos e com
prevalência de 80% aos seis anos.
Os nódulos de Lisch, pequenos hamartomas pigmentados da íris, devem ser
pesquisados através de exame da Oftalmologia com lâmpada de fenda nos doentes
com suspeita de NF1. Habitualmente surgem na adolescência precoce e observam-se
em 90% após os 16 anos. Não diminuem a acuidade visual.
Os gliomas da via óptica (OPG) são astrocitomas pilocíticos de grau 1 e ocorrem
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 33 281
em cerca de 15% das crianças com NF1.  Frequentemente são assintomáticos e mais
indolentes do que seus pares na população em geral. No entanto, alguns tumores
produzem acuidade visual prejudicada, visão de cor anormal, perda de campo visual,
estrabismo, anormalidades pupilares, disco óptico pálido, proptose e disfunção
hipotalâmica. O risco de OPG sintomática é maior em crianças com menos de 7 anos,
e indivíduos mais velhos raramente desenvolvem tumores que requerem intervenção
médica.
As crianças pequenas não se queixam de deficiência visual até que ela esteja
avançada e, às vezes, apenas quando apresentam perda visual bilateral. Os pais
precisam estar atentos a possíveis indicadores de problemas visuais: não pegar
pequenos brinquedos e esbarrar em objetos.
Os neurofibromas são tumores benignos da bainha dos nervos periféricos que
são lesões focais cutâneas ou subcutâneas, ou plexiformes difusas ou nodulares. Os
neurofibromas cutâneos são encontrados na maioria dos indivíduos com NF1,
geralmente se desenvolvem no final da adolescência ou início dos vinte anos, mas
ocasionalmente surgem na primeira infância.
Os neurofibromas cutâneos podem ser removidos se causarem quaisquer
problemas ou incômodos. Recomenda-se o encaminhamento a cirurgiões
especializados na remoção de neurofibromas e os cirurgiões plásticos devem ser
consultados quanto a neurofibromas na face e no pescoço. 
Os neurofibromas subcutâneos são evidentes à palpação da pele, podem
ser sensíveis ao toque e causar formigamento na distribuição do nervo afetado. A
alteração maligna raramente ocorre e, se a remoção for contemplada, deve-se procurar
orientação de especialistas de NF1 ou cirurgiões de tecidos moles / nervos periféricos,
já que a remoção ocasionalmente resulta em déficit neurológico.
Os neurofibromas plexiformes causam morbidade significativa porque são difusos,
crescem ao longo do comprimento de um nervo e podem envolver múltiplos ramos
nervosos e plexos.  As lesões podem ser nodulares e múltiplos tumores discretos
podem se desenvolver em troncos nervosos. Neurofibromas plexiformes infiltrados no
tecido mole circundante e hipertrofia óssea são evidentes em alguns casos.
A tabela a seguir apresenta os procedimentos em cada faixa etária:

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 33 282


MANEJO DE PACIENTES COM NF1
De 0 a 8 anos De 8 a 15 anos De 16 a 21 anos Acima de 21 anos
Exame físico Exame físico Exame físico Exame físico
cuidadoso procurando cuidadoso procurando cuidadoso procurando cuidadoso e
curvatura do osso escoliose, assimetria neurofibromas. Obter verificação da pressão
longo, assimetria do de membros, estudos de imagem arterial
membro, escoliose neurofibromas para avaliar qualquer Estudos de imagem
Verificação da Rever o desempenho queixa de dor para avaliar qualquer
pressão arterial; escolar procurando Analise o queixa de dor
exame oftalmológico dificuldades de desempenho Discutir neurofibromas
pelo oftalmologista aprendizagem e escolar, discuta a cutâneos, dor e risco
pediátrico déficit de atenção; NF e pergunte sobre de câncer
Avaliar o discutir a NF e o efeito socialização e auto- Discutir socialização e
desenvolvimento, da puberdade em estima carreira / empregos
a linguagem e a NF, e perguntar sobre Discuta a herança
aprendizagem socialização e auto- da NF1 e o risco de
estima gravidez
Discuta os efeitos
da puberdade,
gravidez e pílulas
anticoncepcionais na
NF

Tabela 3. Os estudos de imagem são indicados apenas para avaliação de queixas específicas.
* Os pais devem ser examinados. Se um dos pais for afetado, todos os filhos devem ser examinados. Há um
risco de 50% de NF1 para cada gravidez

5 | TRATAMENTO

Ainda não há cura para a NF1, porém o quanto antes for detectada, mais
fácil será o acompanhamento do paciente, uma vez que qualquer sintoma será
prontamente identificado (seja ele neurológico, cutâneo ou de outro segmento do
corpo) e a possibilidade de algum tratamento poderá ser oferecido com melhor chance
de benefício.
O tratamento para neurofibromatose pode ser feito através da cirurgia para
remover os tumores que estão provocando pressão sobre órgãos ou através da
radioterapia para reduzir o seu tamanho. Porém, não existe um tratamento que garanta
a cura ou que impeça o aparecimento de novos tumores.
Nos casos mais graves, em que o paciente desenvolve câncer, pode ser
necessário fazer o tratamento com quimioterapia ou radioterapia direcionada para os
tumores malignos.
Para o bem estar do portador, é necessário desmistificar a neurofibromatose,
informando a respeito do caráter não contagioso e sim genético da doença, para que
a mesma seja melhor compreendida e respeitada, a fim de que esses indivíduos não
sejam negligenciados perante a sociedade.

REFERÊNCIAS
Asociación de Afectados de Neurofibromatosis. Disponível em: <http://neurofibromatosis.es/
publicaciones-nf/revistas-nf/#toggle-id-5>.Acesso em novembro de 2018.

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DE SOUZA, Juliana Ferreira et al. Neurofibromatose tipo 1&58; mais comum e grave do que se
imagina Neurofibromatosis type 1&58; more frequent and severe then usually thought. Revista da
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MARQUES, Mayara Silva; DA LUZ VERONEZ, Djanira Aparecida. Desmistificando a


Neurofibromatose tipo 1 na infância: Artigo de Revisão. Revista Médica da UFPR, v. 2, n. 2, p. 79-84,
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RODRIGUEZ, Luiz Osvaldo Caneiro. Neurofibromatoses – Associação Mineira de Apoio às pessoas


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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 33 284


CAPÍTULO 34

OS POTENCIAIS RISCOS DE ACIDENTE VASCULAR


ENCEFÁLICO NA MANIPULAÇÃO CERVICAL: UMA
REVISÃO SISTEMATÍCA

Heldâneo Pablo Ximenes Aragão Paiva spine. A bibliographic review study was carried
Melo out in which publications were approached from
Faculdade Ieducare – FIED, Sobral – Ceará.
2007 to 2017 through systematic searches using
Kedmo Tadeu Nunes Lira electronic databases. Several complications
Centro Universitário INTA – UNINTA, Sobral –
were found for the manipulation of the cervical
Ceará.
spine, among them the dissection and
obstruction of the vertebral artery, stroke. The
concern with complications after manipulation
RESUMO: Manipulação da coluna cervical of the cervical spine seems to be justified, and
(MCS) é utilizada no tratamento de pessoas com the patient should always look for specialized
dor no pescoço e dor de cabeça. Esta revisão professionals.
teve como objetivo identificar os efeitos adversos KEYWORDS: Manipulation. Cervical.
da manipulação da coluna cervical. Foi realizado Complications.
um estudo de revisão bibliográfica onde foram
abordadas publicações entre os anos de 2007 a
2017, através de buscas sistemáticas utilizando 1 | INTRODUÇÃO
bancos de dados eletrônicos. Diversas foram as
A manipulação da coluna cervical é
complicações encontradas para a manipulação
realizada por profissionais como fisioterapeutas,
da coluna cervical, dentre elas a dissecção e
osteopatas, quiropraxistas com o propósito de
obstrução da artéria vertebral, acidente vascular
cerebral. A preocupação com complicações resgatar a função das estruturas e sistemas
após a manipulação da coluna cervical parece corporais, atuando através da ação manual
ser justificada, devendo o paciente sempre sobre os tecidos corporais (articulações,
procurar por profissionais especializados. músculos, fáscias, ligamentos, cápsulas,
PALAVRAS-CHAVE: Manipulação. Cervical. vísceras, tecido nervoso, vascular e linfático).
Complicações. Embora esse tratamento seja considerado
seguro, se não devidamente aplicado, pode
ABSTRACT: Cervical spine manipulation trazer problemas, tais como o acidente vascular
(MCS) is used to treat people with neck pain cerebral, hematoma subdural, mielopatia,
and headache. This review aimed to identify the radiculopatia cervical, dissecção da artéria
adverse effects of manipulation of the cervical vertebral e até a morte (ROSA, 2009).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 34 285


Para Frisoni, Anzola (2011) quando empregada de forma apropriada e
competente, o cuidado da osteopatia é seguro e eficaz na prevenção e tratamento
de diversos problemas de saúde, pois evidencia a conduta conservadora do
sistema neuromusculoesquelético, sem a utilização de técnicas cirúrgicas ou uso de
medicamentos.
Não obstante, há riscos e contraindicações notórios com vinculação a protocolos
manuais e outros métodos utilizados na prática manual, visto que o manuseamento
articular compreende um movimento passivo severo da articulação além de seu limite
ativo de movimento, todavia os osteopatas devem conhecer os fatores de risco que
contraindiquem a preparação (SHEKELE; BROOK, 2001).
O risco de problemas vertebrobasilares após a manipulação cervical colabora
consideravelmente com o propósito de um terapeuta realizar a manipulação cervical.
As complicações podem ser graves porque as artérias vertebrais e basilares fornecem
até 20% do fluxo sanguíneo cerebral. A isquemia de qualquer uma dessas estruturas,
pode causar sintomas como tontura, nistagmo, derrame cerebral e até a morte
(CRAWFORD et al., 2004).
As complicações graves são raras, o mais temido é o acidente vascular cerebral.
Contudo, muitos autores têm manifestado dúvidas sobre a segurança da manipulação
da coluna cervical, a menos que realizado por profissional especializado, tal como um
osteopata com experiência, por empregar uma terapia manipulativa extremamente
precisa e sofisticada, o qual adota o conceito de medicina da “pessoa como um todo”
e considera o sistema de músculos, ossos e articulações, principalmente da coluna,
como um reflexo das enfermidades do corpo e também parcialmente responsável pelo
início de processos patológicos (GATTERMAN, 2000).
Baseado em uma revisão das lesões relacionadas com a manipulação da coluna
cervical, Cote et al. (2006) também sugeriram que pode resultar na dissecção arterial
aguda. Sua teoria é suportada pela observação de que indivíduos jovens sem conhecer
a patologia vascular sistêmica ou que recebem a manipulação da coluna cervical às
vezes têm infartos cerebrais posteriores na artéria vertebrobasilar (FRISONI; ANZOLA,
2011).
Com alguns insucessos da manipulação cervical, os autores perceberam que
a terapia alternativa estava sendo usada para a região cervical, como a mobilização,
pois envolve baixa velocidade de movimento, o que diferencia da manipulação.
O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão sistematizada da literatura sobre
os potenciais riscos da manipulação cervical.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 34 286


2 | MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Tipo de Estudo

Trata-se de um estudo de revisão sistemática com abordagem qualitativa, para


a identificação de produções sobre o tema: Os potenciais riscos de acidente vascular
encefálico na manipulação cervical: uma revisão sistemática. A revisão sistemática
busca responder a uma pergunta claramente formulada utilizando métodos sistemáticos
e explícitos para identificar, selecionar e avaliar criticamente pesquisas relevantes, e
coletar e analisar dados de estudos incluídos na revisão (CLARK, 2011).
A revisão sistemática segundo Peterson et al. (2008) é um estudo secundário,
que tem por objetivo reunir estudos semelhantes, publicados ou não, avaliando-os
criticamente em sua metodologia e reunindo-os numa análise estatística, a metanálise,
quando isto é possível.
A abordagem qualitativa, segundo Minayo (2011), responde a indagações de
cunho particular, visto que corresponde a um espaço profundo das relações, dos
processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de
varáveis.

2.2 Métodos e Procedimentos

A coleta de dados foi realizada por meio do mapeamento sistemático, o qual


segue cinco passos essenciais a serem adotados: definição de questões de pesquisa,
realização da pesquisa de estudos primários relevantes, triagem dos documentos,
keywording dos resumos (esquema de classificação) e a extração de dados e
mapeamento (COCHRANE COLLABORATION, 2009).
1º passo: Considerando os questionamentos deste estudo, bem como seus
objetivos, a seguinte questão foi elaborada: Quais os potenciais riscos para manipulação
cervical?
2º passo: Inicialmente foram delimitados os Descritores em Ciências da Saúde
(DeCS) a partir da busca no sítio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) compreendendo
as bases de dados Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Literatura Latino-
Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Pubmed. A opção por estes
bancos de dados se justifica por serem conhecidos e muito utilizados por acadêmicos
e profissionais da área de saúde e pelo rigor na classificação de seus periódicos. Os
descritores utilizados foram: manipulação, cervical e complicações.
3º passo: A seleção dos estudos buscou artigos que estejam disponíveis na
íntegra, nos idiomas português e inglês, nos últimos 10 anos (2007 a 2017). Foram
excluídos estudos repetidos, cartas, editoriais e que não abordaram diretamente a
aludida temática.
4º passo: O Keywording é uma estratégia para reduzir o tempo necessário
para desenvolver o esquema de classificação e garantir que o esquema leve em

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 34 287


consideração os estudos existentes. Dessa forma, o Keywording é realizado em duas
etapas. Na primerira etapa, foram lidos os resumos dos estudos selecionados com
a procura de palavras-chave, bem como conceitos que refletem a contribuição dos
mesmos. Após esta etapa, foram identificados o contexto da pesquisa. Em seguida,
as palavras-chave dos diferentes estudos foram combinadas para desenvolver um
alto nível de compreensão da natureza e contribuição da pesquisa, o que resultou
na construção de um conjunto de categorias. Quando os resumos são de qualidade
insatisfatória interferindo na escolha das palavras-chave, pode-se escolher investigar
também as seções de introdução ou conclusão dos referidos estudos.

Figura 1 – Constução do Esquema de Classificação dos Estudos


Fonte: Petersen et al (2010).

Diante do exposto, quando um conjunto final de palavras-chave fora escolhido,


estas foram agrupadas e formaram as categorias para o mapa.
5º passo: O esquema de classificação apresentado na Figura 1 pode evoluir
ao fazer a extração de dados, como adicionar novas categorias ou mesclar e dividir
categorias existentes.

2.3 Análise e Discussão dos Dados

As análises foram realizadas seguindo as etapas do mapeamento sistemático


por meio da leitura, agrupamento e análise dos artigos. A partir desta fase, foi possível
encontrar evidências para a discussão dos resultados.
Inicialmente, para a organização e tabulação dos dados, e posterior avaliação,
elaborou-se um instrumento de coleta de dados contendo: ano, título do artigo, autores,
objetivos, métodos e resultados (Apêndice A).
A análise dos resultados referentes à quinta etapa foram realizadas por meio
da apresentação das frequências das publicações para cada categoria, tornando-
se possível verificar quais categorias foram enfatizadas em pesquisas anteriores e
identificar lacunas e possibilidades de pesquisas futuras.

3 | RESULTADOS

Na busca realizada entre 2007 a 2017, foram encontrados 70 estudos na base de


dados PUBMED e um no LILACS, dos quais apenas 06 al­cançaram todos os critérios

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 34 288


de inclusão.

Autor/
Ano de Título Objetivo Método Resultados
publicação

A proporção de indivíduos com


AVC de qualquer tipo na coleta de
quiropraxia foi de 1,2 por 1.000 a
O objetivo deste 7 dias e 5.1 por 1.000 a 30 dias.
estudo foi quantificar Na coorte de cuidados primários,
Risk of Stroke o risco de acidente a proporção de indivíduos com
Following vascular cerebral acidente vascular cerebral de
Chiropractic após a manipulação qualquer tipo foram 1,4 por 1.000
Spinal quiropráxica da a 7 dias e 2,8 por 1.000 a 30 dias.
Whedon
Manipulation coluna vertebral, em Coorte No Coorte de quiropraxia, o risco
et al.
in Medicare B comparação com retrospectivo ajustado de acidente vascular
(2015)
Beneficiaries a avaliação por um cerebral foi significativamente
Aged 66–99 médico de cuidados menor aos 7 dias em relação ao
Years with Neck primários, para os Coorte de cuidados primários
Pain pacientes com idade (hazard ratio 0,39; IC 95%: 0,33-
entre 66 e 99 anos com 0,45), mas aos 30 dias, uma ligeira
dor no pescoço. elevação do risco foi observada
para a coorte de quiropraxia
(hazard ratio 1.10, 95% CI 1.01-
1.19).

De 3690 pacientes selecionados


pela Classificação Internacional
de Doenças-9 ao longo de 30
meses, 414 (11,2%) confirmaram
a dissecção da artéria cervical
com um valor preditivo positivo de
Classificação
10,5% (IC 95% 9,6-11,5%). O valor
de Estudos
Desenvolver um preditivo positivo foi maior nos
de Casos de
Xuemei et estudo de caso sobre Coorte pacientes <45 vs ≥ 45 anos (41%
Manipulação
al. (2014) manipulação espinhal e retrospectivo vs 9%, p <0,001). Foi realizado
Espinhal e
dissecação arterial um estudo anterior que relatou
Dissecção
não associação entre manipulação
Arterial
espinhal e dissecção da artéria
cervical (OR = 1,12, IC 95%
0,77-1,63), e recalculou um OR
de 2,15 (IC 95%: 0,98-4,69). Para
pacientes menores de 45 anos, o
OR foi 6,91 (IC 95%: 2,59-13,74).
Vertebral artery As cepas de AV obtidas durante
strains during Elucidar os possíveis o SMT são significativamente
Herzog et high-speed, efeitos prejudiciais de Artigo de menores que as obtidas durante o
al. (2012) low amplitude Forças SMT em tecidos revisão teste de diagnóstico e amplitude de
cervical spinal internos. movimento, e são muito menores
manipulation. do que as cepas de falha.
Descrever as
forças exercidas
Stress e tensões na artéria
por quiropratas em
vertebral durante manipulação
pacientes durante
The espinhal quiropráxica. A ação do
alta velocidade,
Herzog biomechanics Artigo de pescoço foi sempre muito menor
manipulações de
(2010) of spinal revisão do que a produzida durante a
baixa amplitude da
manipulation amplitude passiva do movimento.
coluna vertebral e as
Procedimentos de teste e
respostas fisiológicas
diagnóstico.
produzidas pelos
tratamentos.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 34 289


Influência da Verificar se a
manipulação manipulação
Nessa população estudada a
osteopática na osteopática com
manipulação osteopática com
velocidade de técnica articulatória
técnica articulatória rítmica cervical
Stelle et al. fluxo sanguíneo rítmica cervical gera
Estudo não gerou significativa oscilação
(2014) da circulação oscilações anormais
quantitativo da velocidade de fluxo sanguíneo
cerebral em de velocidade de fluxo
das artérias carótidas internas,
indivíduos com sanguíneo ou riscos à
vertebrais e basilar e não ofereceu
cervicalgia circulação das artérias
risco à circulação cerebral.
mecânica carótidas internas,
crônica vertebrais e basilar.
Um total de 376 artigos relevantes
foram identificados, dos quais 330
foram descartados após resumo
ou análise completa do artigo. A
pesquisa identificou 46 artigos que
incluiu dados relativos a eventos
adversos: 1 teste randomizado
controlado, 2 estudos caso-
controle, 7 estudos prospectivos,
12 pesquisas, 3 estudos
retrospectivos e 115 relatos de
Gouveia; Avaliar a tolerabilidade Revisão
Segurança das casos. A maioria dos eventos
Castanho; e segurança de sistemática
intervenções adversos relatados foram benignos
Ferreira, procedimentos Pesquisa
quiropráticas e transitórios, porém há relatos
(2009) quiropráticos. eletrônica
de complicações que ameaçavam
a vida, como dissecção arterial,
mielopatia e extrusão do disco
vertebral. A frequência de eventos
adversos variou entre 33% e
60,9% e a frequência de efeitos
adversos graves os variou entre
5 traços / 100.000 manipulações
para 1,46 eventos adversos graves
/ 10.000.000 manipulações e 2,68
mortes / 10 mil manipulações.

Quadro 1: Artigos selecionados sobre os potenciais riscos para manipulação cervical

4 | DISCUSSÃO

Os procedimentos de mobilização e manipulação articulares vem sendo muito


investigados nas últimas décadas devido sua grande eficiência e auxílio para os
tratamentos em terapia manual da coluna vertebral.
A manipulação é uma mobilização parada que tende a mover os elementos de
uma junção ou de um grupo de articulações, para além de seu jogo habitual, até o limite
anatômico possível. Portanto, ao nível da coluna vertebral, esta consiste na execução
de manobras de rotação, lateroflexão, flexão ou extensão isolada e/ou combinada
sobre o segmento vertebral escolhido.
O estudo de Whedon et al. (2015) trata da polêmica quanto à segurança da
manipulação da coluna cervical e o acidente vascular cerebral. A manipulação da
coluna cervical é um tratamento para dor no pescoço, geralmente realizado por
médicos quiropráticos.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 34 290


Muitos autores têm manifestado dúvidas sobre a segurança da manipulação
cervical. O risco de um acidente vascular cerebral (AVC) após manipulações da
coluna por quiroprátas está bem documentado por Church (2016).
A terapia manipuladora espinhal (SMT) é administrada em 8% dos adultos
americanos anualmente (XUEMAI et al., 2014). Essa terapia está associada a
desfechos neurológicos adversos, incluindo a dissecção da artéria cervical (DAC)
e acidente vascular cerebral (LEE, 2010). A magnitude do risco no presente estudo
foi estimada alta de 1 em 958 manipulações para tão baixo quanto 1 em 5.850.000
manipulações. A ligação causal entre SMT e DAC tem sido questionada (ENGELTER;
GROND-GINSBACH; METSO, 2013).
Segundo Leach (2010) a dissecção da artéria carótida é uma circunstância
excepcional e remete 2,5 a 3/100.000 habitantes por ano e a dissecção da artéria
vertebral (DAV) acontece numa incidência de 0,5 a 2,5/100.000 habitantes por ano. É
responsável apenas por 2% de todos os acidentes vasculares encefálicos. Entretanto,
quando se considera apenas clientes com idade inferior a 40 anos, a dissecção é
responsável por 10% a 25% dos casos. Dissecções das artérias carótidas internas
e vertebrais geralmente surgem a partir de um trauma da parede interna ou camada
adventícia exterior; geralmente devido a danos ao vaso dos vasos.
Herzog et al. (2012) também trata sobre a terapia manipuladora espinhal
(SMT) reconhecida como uma modalidade de tratamento eficaz para problemas nas
costas, no pescoço e musculoesquelético. Uma das principais questões do uso do
SMT é a sua segurança devido ao risco desta terapêutica provocar acidente vascular
encefálico. A grande maioria desses acidentes envolvem o sistema vertebro-basilar,
especificamente a artéria vertebral (VA) entre C2/C1.
A manipulação da coluna cervical foi associada à melhora nos resultados de
dores de cabeça em estudos envolvendo pacientes com dor cervical e/ou disfunção
do pescoço e dor de cabeça (ROTHMAN, 2008).
O estudo de Thomas (2016) evidencia que a terapia manipulativa espinhal
é um tratamento eficaz para dores de cabeça tensionais. Quatro semanas após a
interrupção do tratamento os pacientes que receberam a terapia manipulativa espinhal
experimentaram um benefício terapêutico sustentado em todos os principais resultados,
em contraste com os pacientes que receberam terapia de amitriptilina, que voltaram
aos valores basais.
Herzog (2010) traz um estudo sobre biomecânica da manipulação espinhal e
ressalta que a biomecânica é a ciência que lida com as forças externas e internas que
atuam em sistemas biológicos e os efeitos produzidos por essas forças. Neste artigo o
autor descreve sobre as forças mecânicas. A manipulação da coluna vertebral também
é usada para tratar outras condições. Há alguns indícios de que ela pode melhorar os
sintomas da dor de cabeça ou ajudar a aliviar a dor no pescoço.
A manipulação articular é uma técnica de terapia manual efetuada em alta
velocidade, pequena extensão e normalmente no final da amplitude de movimento. O
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 34 291
local de emprego da manipulação é escolhido levando em consideração a apresentação
clínica do paciente, bem como as predileções de tratamento do terapeuta. Os
tratamentos manipulativos se diferenciam das demais terapias manuais pelo ímpeto
manipulativo, o thrust, provocado ao final do movimento articular passivo, representa
um impulso muito breve, seco, mas suave e equilibrado que ultrapassa esta amplitude
fisiológica, aplicado diretamente ou indiretamente, sem ultrapassar o limite além do
qual se produz desordens estruturais. 
Stelle et al. (2010) em seu estudo sobre motivação da manipulação osteopática
na velocidade de fluxo sanguíneo da circulação cerebral em pacientes com cervicalgia
mecânica crônica, evidencia que as disfunções somáticas vertebrais e as lesões
de coluna são comumente motivadas por movimento brusco e inesperado. Essas
disfunções produzem uma sensibilização do circuito neural medular, periférico e
autônomo, chamado de fenômeno de sensibilização ou facilitação medular, onde há
uma hiperatividade simpática com acréscimo do tônus vascular, congestão venosa e
linfática, modificação dos reflexos víscero-somáticos e tensões miofasciais.
Com isso podem surgir alguns sinais e sintomas como cervicalgia, alteração
postural e redução da amplitude de alguns movimentos. Em indivíduos normais, apesar
do complexo trajeto, o fluxo sanguíneo das artérias vertebrais não deve ser prejudicado
por movimentos normais da coluna cervical, pois ocorre compensação imediata e
suficiente da irrigação arterial para o encéfalo através dos ramos e comunicações
arteriais.
A literatura tem referido até hoje os efeitos das TMO em indivíduos que apresentem
algum tipo de doença ou disfunção. No estudo de Lombardini et al. (2009), por exemplo,
a autores averiguaram a eficácia das Técnicas Manipulativas Osteopáticas (TMO) em
pacientes com doença arterial periférica. Jardine; Gillis; Rutherford (2012) pesquisaram
o efeito das TMO sobre a circulação sanguínea na artéria femoral superficial e a
melhora dos sintomas em indivíduos com osteoartrite de joelho. Cerritelli et al. (2011)
acompanharam pacientes hipertensos e mediram o efeito da TMO sobre a camada
íntima média e pressão arterial nestes indivíduos.
Murray (2014) em seu estudo que avaliou o efeito das TMO na melhora da
perfusão da artéria femoral e temperatura da pele em pacientes com lesão medular
e em sujeitos sadios, não encontrou diferença significativa entre os grupos. O autor
realizou uma coleta de variáveis de Doppler: velocidade de fluxo sanguíneo (Pico
Sistólico, Pico Diastólico) e diâmetro do vaso antes e após cada uma das quatro
sessões realizadas. Argumenta que apesar de não haver diferenças significativas os
mínimos ganhos entre os períodos pré e pós-teste são importantes para a melhora do
indivíduo com lesão medular.
Um estudo avaliou a tolerabilidade e segurança dos procedimentos quiropráticos
e concluiu que são frequentes as reações adversas após a manipulação espinhal
variando de 33% a 60,9%, principalmente o aumento da dor ou rigidez. Contudo, a
freqüência de eventos adversos graves não está bem estabelecida variando entre
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 34 292
5/100.000 manipulações e 1.46 eventos adversos graves/10.000.000 manipulações e
2.68 mortes/10.000.000 manipulações. O acidente vascular cerebral é o mais freqüente
(GOUVEIA; CASTANHO; FERREIRA, 2009).
Rosa (2009), por sua vez, sustenta que o tratamento por meio de técnicas manuais
ou ajustes específicos nas estruturas do corpo, concentrando-se na restauração da
função coordenada pelo sistema nervoso, como as práticas da quiropraxia tem uma
enorme abrangência do movimento, reduzindo a irritação nociceptora e equilibrando
a sustentação de peso entre os sistemas de suporte anterior e posterior da coluna
vertebral, oferecendo alívio às forças compressivas contra a raiz nervosa dentro do
canal vertebral e do forame intervertebral.
David (2012) também considera a quiropraxia uma alternativa viável e benéfica,
que vem ganhando a credibilidade dos profissionais fisioterapeutas e da sociedade
em geral. Afinal, enfermidades como as lombalgias tem aumentado em proporções
alarmantes, especialmente entre os trabalhadores, gerando, entre outras coisas,
aposentadorias precoces e refletindo significativamente na qualidade de vida das
pessoas. Por fim, o autor ressalta que a quiropraxia, tem como característica exclusiva
o fato de ensinar a seus praticantes não só uma técnica fria, mas a possibilidade
de compreensão do ser humano em sua integralidade, bem como estimular o
aprofundamento da sensibilidade que aumenta a habilidade do toque, da palpação e
do ajuste quiropráxico especializado, visto como aquele que provavelmente excede às
técnicas de quaisquer outras terapias de manipulação.

CONCLUSÃO

Concluiu-se que a incidência de efeitos adversos após a manipulação da coluna


cervical apesar de pequena é preocupante, uma vez que pela região passam estruturas
vasculares nobres.
Algumas limitações foram encontradas na análise dos dados deste estudo,
pois o assunto é restrito na literatura. Não é possível, portanto, determinar se esta
análise foi exaustiva. O uso de uma terminologia ambígua possivelmente deturpa o
entendimento.
Sugere-se que a maioria das lesões relacionadas com a manipulação da coluna
cervical são oriundas de diagnósticos equivocados, podendo ter havido falha em
reconhecer o aparecimento ou progressão dos sinais e sintomas neurológicos, que a
técnica aplicada pode ter sido inadequada ou utilizada na presença de distúrbios não
detectados pelo terapeuta no exame físico prévio. Apesar de todas as dificuldades,
os dados obtidos nessa pesquisa podem ser úteis para avaliar a prevalência dessas
lesões.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 34 293


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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 34 295


CAPÍTULO 35

CARACTERIZAÇÃO DO CONSUMO ALIMENTAR


ATRAVÉS DE QUESTIONÁRIO SIMPLIFICADO E
CORRELAÇÃO COM DOENÇAS CRÔNICAS NÃO
TRANSMISSÍVEIS

Ana Clara Reis Barizon de Lemos RESUMO: A avaliação do consumo alimentar se


Universidade Estácio de Sá, Faculdade de constitui um instrumento valioso para a análise
Medicina do estado de saúde da população no que diz
Rio de Janeiro - Rio de Janeiro sobre doenças crônicas não transmissíveis.
Andreia de Lima Maia O objetivo da pesquisa foi obter informações
Universidade Estácio de Sá, Faculdade de sobre a alimentação da população adulta
Medicina
através de questionário validado e analisá-las
Rio de Janeiro - Rio de Janeiro de forma a relacionar com doenças crônicas.
Erika Cristina de Oliveira Chaves As perguntas se constituíam em fechadas
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e consideravam o consumo de alimentos
Departamento de Patologias e Laboratórios
específicos. O colesterol formado através
Rio de Janeiro - Rio de Janeiro
da gordura saturada ingerida é transportado
Guilherme Margalho Batista de Almeida através da LDL. O aumento desta no plasma é
Universidade Estácio de Sá, Faculdade de
fatores de risco para o desenvolvimento de placa
Medicina
de ateroma. Recomenda-se a substituição por
Rio de Janeiro - Rio de Janeiro
gorduras mono e poli-insaturadas (ômegas),
Igor Batista Moraes que o colesterol proveniente é transportado
Universidade Estácio de Sá, Faculdade de
pela lipoproteína HDL, que estabiliza e até
Medicina
regride uma placa de ateroma já formada, pois
Rio de Janeiro - Rio de Janeiro
diminuem a agregação plaquetária, pressão
Lucas Borges de Figueiredo Chicre da arterial e melhoram função endotelial dos
Costa
Universidade Estácio de Sá, Faculdade de
vasos sanguíneos. Os prováveis benefícios
Medicina das frutas, legumes e verduras são atribuídos
Rio de Janeiro - Rio de Janeiro a sua potencial capacidade antioxidante, já
que conseguem diminuir a concentração de
Yasmine Henriques de Figueiredo Rebecchi
Universidade Estácio de Sá, Faculdade de homocisteína e a atividade plaquetária no
Medicina sangue, fatores estes que são aumentados na
Rio de Janeiro - Rio de Janeiro oxidação. A ingestão de altos níveis de açúcar
de forma rápida, como acontece ao ingerir
refrigerantes tradicionais, está relacionada ao
aumento do apetite e ganho de peso. Dessa

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 35 296


forma, pode-se concluir que alguns hábitos mais saudáveis podem amenizar as
consequências de uma dieta não restritiva, como o consumo diário de frutas e verduras,
o que ajuda a reduzir o risco de doenças cardiovasculares e neoplasias.
PALAVRAS-CHAVE: alimentação; população; adulta; doenças crônicas; colesterol.

1 | INTRODUÇÃO

A avaliação do consumo alimentar se constitui atualmente um instrumento


extremamente valioso para a análise do estado de saúde da população e do controle
de doenças crônicas não transmissíveis, pois é bem estabelecido que a qualidade da
dieta tem papel importante na ocorrência de agravos a saúde.
Além disso, a avaliação permite acompanhar o perfil de consumo da população de
forma a fornecer subsídios para o desenvolvimento de políticas e programas de saúde
adequados, direcionados para grupos específicos, de acordo com a caracterização de
risco.
Sabe-se que a industrialização, urbanização e desenvolvimento econômico
acelerados vêm alterando o padrão de alimentação nos países em desenvolvimento.
O aumento do consumo de gorduras (principalmente saturadas) e de carboidratos
associados com um estilo de vida sedentário pode aumentar a ocorrência de doenças
como obesidade, diabetes, hipertensão e neoplasias.

2 | OBJETIVOS

Obter informações sobre os hábitos alimentares da população adulta através de


aplicação de questionário validado no artigo original e analisá-las, de forma a relacionar
com doenças crônicas não transmissíveis de alta ocorrência.

3 | METODOLOGIA

Todos os participantes concordaram e assinaram o Termo de Consentimento


Livre e Esclarecido (TCLE).
Os voluntários responderam um questionário previamente aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva – Universidade Federal
do Rio de Janeiro (n° 02/2006), contido no quadro 1.
Trata-se de um estudo desenhado para validar múltiplos métodos de avaliação
da dieta. As perguntas do questionário se constituíam em perguntas fechadas para
avaliação de hábitos alimentares, considerando o consumo de alguns alimentos
específicos.
Foram obtidas informações de 100 homens e 80 mulheres, na faixa etária de 18
a 60 anos. Foram excluídos do estudo os voluntários que: não se recordaram de uma
ou mais respostas contidas no questionário; o hábito alimentar não se encaixava em

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 35 297


nenhuma das opções.

4 | RESULTADOS

Para a primeira pergunta 37% respondeu manteiga, 19% margarina, 23% ambas
e 21% não consome. Para a segunda 65% respondeu tradicional, 28% diet ou light e
7% não consome.
Sobre o consumo de refrigerante 43% respondeu tradicional, 26% não consome,
17% diet ou light e 14% ambos. Já sobre o consumo de suco de frutas 52% respondeu
feito com a fruta, 13% suco de garrafa, 13% de caixa pronto para beber, 11% refresco
em pó, 6% poupa congelada e 5% não bebe.
Dos entrevistados, 58% alegaram que não comem fruta todos os dias e 42%
disseram que sim. Sobre o consumo de legumes diariamente 60% respondeu que sim
e 40% respondeu que não.
Quando perguntado sobre o tipo de leite consumido 34% respondeu desnatado,
34% respondeu integral, 17% não consome e 15% semi-desnatado.
A última pergunta, sobre a frequência com que retiram a pele do frango 49%
respondeu que sempre, 37% algumas vezes e 14% nunca. Nota-se que 50% das
mulheres respondeu que sempre retira, já os homens aproximadamente 38% retiram
sempre.

5 | DISCUSSÃO

O consumo da pele do frango e da manteiga indicam uma ingestão considerável

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 35 298


de ácidos graxos saturados, uma vez que esses alimentos são ricos em gorduras
saturadas. A gordura saturada é a principal causa alimentar da elevação de colesterol
plasmático, pois reduz receptores celulares específicos, inibindo a remoção plasmática
das partículas de LDL-c permitindo, além disso, maior entrada de colesterol nas
partículas de LDL-c4.
O elevado de colesterol está relacionado ao aumento de processos
inflamatórios, desenvolvimento e/ou progressão de diabetes mellitus tipo 2, obesidade,
aumento da pressão arterial e  de eventos  cardiovasculares, principalmente no
processo de formação da placa de ateroma. Recomenda-se a substituição da ingestão
de gordura saturada na dieta por alimentos ricos em gorduras mono e poli-insaturadas.
Ácidos  graxos ômega-3 e ômega-6: estão relacionados a melhora da função
autonômica, são antiarrítmicos, diminuem a agregação plaquetária e a pressão arterial,
melhoram função endotelial e estabilizam a placa de ateroma.
Devido ao estresse oxidativo ter um papel significativo no processo da maioria das
doenças no envelhecimento, os prováveis benefícios das frutas, legumes e verduras
são atribuídos a sua potencial capacidade antioxidante. Além disso, o consumo desses
alimentos pode diminuir os riscos de morte relacionados a doenças coronarianas e
acidentes vasculares cerebrais por meio da modificação da atividade planetária e
concentração de homocisteína. Redução do risco de câncer: vegetais são fontes de
carotenóides, vitaminas A, E e C, selênio, isoflavonas e ligninas.
Sabe-se que o refrigerante tradicional apresenta uma quantidade significativa de
carboidratos. A ingestão de altos níveis de açúcar de forma rápida, como acontece ao
consumir refrigerantes, está relacionada ao aumento do apetite e ganho de peso. O
ganho de peso, quando significativo, pode causar inúmeras doenças cardiovasculares,
respiratórias, músculo-esqueléticas, metabólicas, entre outras.
Estudos mostram diminuição da massa óssea e risco elevado de fraturas
associados ao consumo de refrigerantes (principalmente de cola)  por meio da
geração de carga ácida no organismo: elevada quantidade ácido fosfórico usado como
acidulante nessas bebidas. Já os refrigerantes diet e light (com quantidades menores
ou sem carboidratos)  apresentam negativamente  grande quantidade de sódio, que
quando consumido em excesso pode levar a hipertensão arterial, estar associado ao
câncer gástrico e a osteoporose.
Ademais, o consumo de adoçantes não calóricos induzem o desenvolvimento
de intolerância à glicose através de alterações na composição e funcionalidade da
microbiota intestinal.

6 | CONCLUSÃO

Existe uma tendência maior entre os entrevistados pelo uso de produtos


tradicionais, como acontece com queijos, iogurtes, requeijão e o refrigerante. Houve

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 35 299


distinção de consumo entre homens (leite desnatado, retira as vezes a pele do frango) e
mulheres (leite integral, retira sempre a pele do frango). Alguns hábitos mais saudáveis
podem amenizar as consequências de uma dieta não restritiva, como o consumo
diário de frutas e verduras, o que ajuda a reduzir o risco de doenças cardiovasculares
e neoplasias.

REFERÊNCIAS
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A statement for health care professionals from the nutrition committee of the American Heart
Association. Circulation 2000; 102:2284-99.

Elinav E. et al. Artificial sweeteners induce glucose intolerance by altering the gut
microbiota. Nature 514, 181–186

Figueiredo, Iramaia Campos Ribeiro. Determinantes do consumo de frutas, legumes


e verduras em adultos residentes no município de São Paulo. 2006. Dissertação
(Mestrado em Nutrição) - Faculdade de Saúde Pública, University of São Paulo, São Paulo,
2006. doi:10.11606/D.6.2006.tde-09112006-092958. Acesso em: 2017-05-20.

Keys A. The diet and 15-year death rate in the seven countries study. Am J Epidemiol
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Kim S.H., Morton D.J., Barrett-Connor E.L. Carbonated beverage consumption and bone
mineral density among older women: the Rancho Bernardo Study. Am J Public Health.
1997;87(2):276-9.

Morais G.Q, BURGOS M.G.P.A. Impacto dos nutrientes na saúde óssea: novas
tendências. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 42, n. 7, pp. 189-194, 2007.

Santos RD, Gagliardi AC, Xavier HT, Magnoni CD, Cassani R, Lottenberg AM. I Diretriz
sobre o consumo de gorduras e saúde cardiovascular. Arq Bras Cardiol. 2013;100 (1
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Sarno F., Claro R.M., Levy R.B. et al. Estimated sodium intake by the Brazilian
population, 2002–2003. Rev Saude Publica. 2009; 43: 219–225

Sartorelli, D.S.; Cardoso, M. Associação entre carboidratos da dieta habitual e diabetes


mellitus tipo 2: evidências epidemiológicas. Arq. Bras. Endocrinol. Metab., v.50, p.415-
426, 2006.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 35 300


CAPÍTULO 36

ENFRENTAMENTO DO SURTO DE COQUELUCHE


PELA VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DE
MIRANGABA-BA

Jenifen Miranda Vilas Boas planilhas de acompanhamento de casos,


Universidade Estadual da Bahia, Campus VII alerta municipal sobre a doença, palestras na
Senhor do Bonfim – Bahia escola, administração de medicamentos com
quimioprofilaxia de suspeitos e comunicantes,
ações imunoprevisiveis, visitas domiciliares.
Realizou-se também um fluxo de atendimento
RESUMO: Trata-se de um relato de
a pessoa com sintomas que contribuiu para
experiência, cujo objetivo é descrever sobre
melhoria da assistência prestada à população,
a intervenção desencadeada pela Vigilância
com um atendimento mais acessível e eficaz.
Epidemiológica (VIEP) no controle de um surto
PALAVRAS-CHAVE: surto; coqueluche;
de coqueluche no município de Mirangaba-
vigilância epidemiológica.
BA. Descrevemos as ações realizadas pela
VIEP municipal com apoio da Atenção Básica
ABSTRACT: This is an experience report, which
em saúde, Vigilância Sanitária e Núcleo em
aims to describe the intervention triggered
Saúde, iniciada em agosto/2014. Ocorreram
by Epidemiological Surveillance (VIEP) in
24 casos suspeitos em uma creche, gerando
the control of a whooping cough in the city of
sobrecarga na assistência em saúde da Equipe
Mirangaba-BA. We describe the actions carried
de AB municipal. A secretaria de Saúde e seus
out by the municipal VIEP with support from
setores enquanto condutora do processo de
the Basic Health Care, Health Surveillance
notificação, investigação e controle do agravo
and Health Center, initiated in August / 2014.
teve também como colaborador a VIEP estadual.
There were 24 suspected cases in a day care
Foram adotadas medidas administrativas,
center, generating overhead in the health care
quimioprofiláticas e assistenciais e mesmo
of the municipal AB team. The Department of
com deficiências estruturais conseguiu manter
Health and its sectors as the conducting of the
os casos restritos a creche, com qualidade e
process of notification, investigation and control
agilidade das ações de vigilância impedindo a
of the grievance also had as collaborator the
cadeia de transmissão da doença. As ações e
state VIEP. Administrative, chemoprophylactic
orientação seguiram e tiveram como referencia
and care measures were adopted and, even
o guia de vigilância epidemiológica do
with structural deficiencies, managed to keep
Ministério da Saúde. Como facilitador tivemos
cases restricted to daycare, with quality and
a equipe clínico do Centro de Saúde com
agility of surveillance actions, preventing the
médicos clínicos e pediatra. Foram elaboradas
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 301
chain of transmission of the disease. The actions and orientation followed and had
as reference the guide of epidemiological surveillance of the Ministry of Health. As
facilitator we had the clinic staff of the Health Center with clinicians and pediatrician.
Spreadsheets for case follow-up, municipal alert on the disease, lectures at school,
medication administration with suspected and communicating chemoprophylaxis,
immunoprevisable actions, home visits. There was also a flow of care to the person
with symptoms that contributed to the improvement of care provided to the population,
with a more accessible and effective care.
KEYWORDS: outbreak; pertussis; epidemiological surveillance.

1 | INTRODUÇÃO

Conhecida como tosse comprida, à coqueluche é Doença infecciosa aguda, de


alta transmissibilidade, de distribuição universal. Importante causa de morbimortalidade
infantil. Compromete especificamente o aparelho respiratório (traqueia e brônquios)
e se caracteriza por paroxismos de tosse seca. Em lactentes, pode resultar em um
número elevado de complicações e até em morte. O Agente etiológico Bordetella
pertussis é um bacilo gram-negativo, aeróbio, não esporulado, imóvel e pequeno,
provido de cápsula (formas patogênicas) e de fímbrias (BRASIL, 2017).
O período de incubação é em média, de 5 a 10 dias, podendo variar de 4 a 21
dias, e raramente, até 42 dias. Ocorre, principalmente, pelo contato direto entre a
pessoa doente e a pessoa suscetível, por meio de gotículas de secreção da orofaringe
eliminadas durante a fala, a tosse e o espirro. Em alguns casos, pode ocorrer a
transmissão por objetos recentemente contaminados com secreções de pessoas
doentes, mas isso é pouco frequente, pela dificuldade de o agente sobreviver fora do
hospedeiro (BRASIL, 2017).
A partir de 2011 o perfil epidemiológico da coqueluche no país começa a mudar
com o aumento do registro de casos e surtos da doença em alguns estados brasileiros.
O cenário epidemiológico da coqueluche na Bahia mostra uma tendência crescente de
casos de coqueluche no Estado, com aumento considerável nos anos de 2011 e 2012,
ocorrendo surto em Feira de Santana e Vitória da Conquista.
Considerando o total de casos confirmados de coqueluche (n=524) no período
de 2003 a 2012, observa-se que 58,9% (309/524) ocorreram em menores de 01 ano
de idade e que destes, 93,8% (290/309) ocorreram em menores de sete meses de
idade, sendo o grupo etário de 1 a 2 meses, o mais atingido. Ressalta-se que esse
grupo, em função da idade (< 06 meses), ainda não recebeu o esquema básico da
vacinação (pelo menos 03 doses) conforme preconizado no calendário de vacinação
da criança do Ministério da Saúde, o que o torna ainda mais suscetível à doença
(NOTA TECNICA, 2013).
A vigilância epidemiológica da coqueluche tem como objetivo proporcionar
conhecimentos atualizados sobre características epidemiológicas, no que diz respeito,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 302


principalmente, à distribuição de sua incidência por áreas geográficas e grupos etários,
taxas de letalidade e mortalidade, eficácia dos programas de vacinação, bem como a
detecção de possíveis falhas operacionais da atividade de controle da doença na área,
sendo, portanto, necessárias ações visando à obtenção de dados sobre confirmação
do diagnóstico; à proporção de casos em vacinados; à determinação de coeficientes
de ataque; aos padrões de distribuição e programação da doença; à cobertura vacinal
e, também; às condições de conservação e de aplicação da vacina utilizada (BRASIL,
2017).
Na Bahia, os Núcleos regionais de Saúde (NRS) é referência estadual para dar
suporte e orientação aos municípios no manejo dos casos de coqueluche, sendo
apoiador nos diagnóstico do agravo e outras doenças de notificação compulsória. A
estruturação do Sistema Único de Saúde (SUS) prevê como atribuições constitucionais
dos municípios a prestação dos serviços, com destaque para as ações da atenção
básica e de vigilância da saúde. Os Núcleos, neste contexto passam assumir funções
de coordenação, regulação e cooperação técnica com os municípios.
Em Março de 2014 iniciou-se um aumento de casos de coqueluche em Mirangaba,
sendo caracterizada como surto. Os casos se concentraram em uma creche municipal
que atende crianças de 0 a 6 anos. Conforme a planilha de acompanhamento de
casos suspeitos da Secretaria Municipal de Saúde (SMS-BA), (Figura 1), houve
aumento substancial na demanda, ocorrendo neste ano, 24 atendimentos suspeitos
de coqueluche no centro de saúde, gerando uma sobrecarga tanto para a assistência
como para a Vigilância Epidemiológica local. O atendimento clínico e laboratorial foi
realizado em tempo hábil após a identificação do caso índice.
Houve aumento substancial de notificações por parte das equipes de saúde
através das fichas SINAN e da área de educação (creche). Foi crescente a demanda
de atendimento dos casos, gerando uma busca por diagnostico e tratamentos
adequados. Diante da situação de crise vivenciada, a Secretaria de saúde adotou
diversas medidas, visando garantir seu papel, executando sua responsabilidade
sanitária e conduzindo do processo de controle, notificação e investigação do agravo.
Tivemos como apoiadores a Vigilância Estadual e o Núcleo Regional de Saúde da
região Centro Norte da Bahia. Estabeleceu-se processos de comunicação entre as
vigilâncias envolvidas (Municipal, Estadual, Laboratório Central de Saúde Pública de
BA - Lacen).
Para um ágil processamento do Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN) com a digitação das fichas da unidade na VIEP municipal, foram feitas
capacitação de digitadores no município e formalizações admistrativas e assistenciais,
com alerta das Equipes de Atenção Básica e população sobre os sintomas clássicos,
importância da notificação e tratamento da doença de maneira rápida e adequada,
favorecendo assim as ações da vigilância epidemiológica.
A intervenção desenvolvida pela vigilância seguiu desde a identificação do caso
no nível municipal incluindo a visita para realização de diagnóstico, como tratamento
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 303
e busca de casos com garantia da notificação e investigação da coqueluche, fazendo
o fluxo da informação em tempo hábil para as instâncias hierárquicas superiores.
Utilizou-se para tanto, o protocolo de orientação (NOTA TÉCNICA ESTADUAL Nº
01/2013 - GT DTP/COVEDI/DIVEP/SESAB/SUVISA) quanto à conduta clinicas e de
vigilância no atendimento da coqueluche, racionalizando o fluxo de pacientes na rede
de saúde do município.
O conhecimento resultante dessa experiência contribuiu para demais município no
sentido de fornecer condutas adequadas a situação de surgimento da doença. Apesar
momentos de crise em que os municípios vivenciam em relação a saúde publica com
a presença de problemas estruturais e financeiros intrínsecos dos Sistema Único de
Saúde ( SUS), é muito importante que estes adote medidas de prevenção,promoção
e prevenção de agravos, para manter a cobertura assistencial, qualidade e agilidade
das ações de vigilância.
Este relato tem como objetivo a descrever as ações desenvolvidas pela Vigilância
Epidemiológica do município de Mirangaba-BA, no enfrentamento do surto de
coqueluche, ocorrido no mês de Março de 2014, destacando seu papel no processo de
notificação e investigação do agravo e como organizadora e coordenadora das ações.

2 | METODOLOGIA

Estudo descritivo, tipo relato de experiência que traz a vivencia de uma equipe de
profissionais do município de Mirangaba-BA, tendo como apoiador Estadual o Núcleo
Regional de Saúde do Centro Norte da Bahia. A Vigilância epidemiológica municipal
composta por uma enfermeira e dois técnicos de vigilância foram os responsáveis
pela realização e acompanhamento das notificações nos aspectos gerenciais e
assistenciais, bloqueio de casos, organização dos serviços junto com a equipe de
atenção Básica em saúde, coleta de exames, manejo, envio e transporte ao laboratório
de Referencia (LACEN-BA).
As notificações realizadas no âmbito do Município tomaram como referencial as
características da doença tendo a definição de caso de coqueluche do Ministério da
Saúde. Caso Suspeito: Todo indivíduo, independente da idade e estado vacinal, que
apresente tosse seca há 14 dias ou mais, associado a um ou mais dos seguintes
sintomas: tosse paroxística (tosse súbita incontrolável, com tossidas rápidas e curtas
(5 a 10) em uma única expiração); guincho inspiratório ou vômitos pós-tosse. Todo
indivíduo, independente da idade e estado vacinal, que apresente tosse seca há 14
dias ou mais, e com história de contato com um caso confirmado de coqueluche pelo
critério clínico.
A equipe Dispunha de material para diagnóstico laboratorial (Coleta Nasofaringe),
assim o procedimento de Coleta da Secreção de Nasofaringe para Cultura, com
Isolamento de Bordetella foi possível ser realizados na maioria dos casos suspeitos e
notificados. No período do surto fornecido o Kit para exame de cultura de Bordetella
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 304
foram fornecidos pelo Núcleo Regional de saúde, sendo liberados a partir de números
de notificações realizadas. Essa técnica é considerada como “padrão-ouro” para o
diagnóstico laboratorial da Coqueluche, por seu alto grau de especificidade, embora
sua sensibilidade seja variável. Como a B. pertussis apresenta um tropismo pelo
epitélio respiratório ciliado, a cultura deve ser feita a partir da secreção nasofaríngea.
Para a realização do exame nas crianças com suspeita a técnica utilizada seguiu
os seguintes padrões: Período ideal de coleta: A amostra foi coletada preferencialmente
na fase aguda da doença, coletando a amostra preferencialmente antes do início da
antibioticoterapia, ou no máximo, até 03 (três) dias após o início do tratamento. Na
coleta de amostras de Swab de nasofaringe, era realizada a Identificação dos tubos
de meio de transporte com o nome completo do paciente, data de Nascimento, data
de Coleta. Realizada um swab para cada narina, não repetindo de forma alguma o
procedimento.
O exame era feito exclusivamente pelas enfermeiras da Vigilância Epidemiológica
e Atenção Básica nos locais: laboratório municipal; creche e na residência dos casos
suspeitos. Antes de iniciar a coleta usavam-se o procedimento de lavagem das mãos
e de Equipamento de Proteção individual (máscara e luvas). A limpeza pré-exame era
feita com a retirada do excesso de muco nasal com Soro Fisiológica 0,9% utilizando
gazes embelecidas. O inicio da coleta era feita com o bom posicionamento da criança,
de preferência no colo materno ou paterno.
Inclinando levemente a cabeça do paciente, seguia-se a introdução do swab
estéril (fornecido pelo LACEN) pelo meato nasal, paralelamente ao palato superior,
buscando atingir o orifício posterior das fossas nasais, evitando tocar o swab na
mucosa da narina. Ao sentir o obstáculo da parede posterior da nasofaringe (neste
momento o paciente lacrimeja) gira-se o swab por alguns segundos. Após o swab
era retirado evitando tocá-lo na mucosa da narina e por final introduzia-se o swab no
meio de transporte (Regan-Lowe), de forma que o algodão fique totalmente dentro do
meio de transporte. O tubo deveria ser Tampado e verificando se está bem vedado. As
amostras Encaminhadas imediatamente ao LACEN em temperatura ambiente.

Figura 1. Técnica de Coleta Nasofaringe.

Fonte: Universidade Federal de Santa Catarina, 2012.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 305


Os dados do surto foram registrados no Sistema Nacional de Agravos Notificáveis
(SINAN) instalado no nível Local e em forma de planilha de acompanhamento Excel.
A fonte de dados do estudo foi o Sinan-local, e planilha de acompanhamento dos
casos elaborada para este finalidade, relatório de atividades realizadas pela Equipe.
O Programa Excel foi utilizado para análise das variáveis e elaboração das tabelas e
gráficos. As variáveis foram descritas por meio de frequências, absoluta e relativa.

3 | RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram identificados 24 casos suspeitos, destes tivemos 14 casos confirmados


de coqueluche em Mirangaba, no período de Março a Agosto/2014. A maioria dos
casos se concentrou em crianças que residiam na zona urbana (90%) e estudavam
na creche local. As crianças da zona rural pouco foram acometidas (apenas 1 caso
notificado e confirmado). Em relação à idade, todo as notificações foram pediátricas,
nas crianças menor de 1 ano de vida (10%),e na faixa de 1-4 anos ( 90%). Nesse
período, a ocorrência no sexo feminino prevaleceu (78,5%), masculina (21,5%).
A tosse (seca há 14 dias ou mais) foi sintoma mais frequente no atendimento
das crianças pela equipe de saúde local (100%), seguido da tosse paroxística (tosse
súbita incontrolável, com tossidas rápidas e curtas (5 a 10) em uma única expiração)
(85,7%) e vômitos (85,7%). Outros sintomas: Cianose (21,4%), guincho (inspiração
forçada, súbita e prolongada, acompanhada de um ruído característico) (14,2%),
Apneia (7,1%). Não houve relatos de febre ou estado febril. Em torno de 7,1% dos
pacientes necessitaram internamento Hospitalar no Hospital Antonio Teixeira Sobrinho
(HATS). Os atendimentos destas crianças se deram com uma equipe formada de
médico clinico, pediatra, enfermeiros, técnicos de enfermagem, Agente Comunitários
de Saúde.
Pela rápida identificação do primeiro caso e instituição de medidas de controle,
observou-se a taxa de letalidade nula, com evolução de cura em todos os casos. Entre
as medida realizadas, a quimioprofilaxia foi realizada em 85,7% das crianças e seus
contatos domiciliares, com distribuição da droga de escolha Eritromicina, Bloqueio
vacinal (7,1%), Uso de Eritromicina com bloqueio vacinal (7,1%). A quimioprofilaxia foi
realizada independe do estado vacinal da criança, pois o caso índice possuía quatro
doses de vacina DTP e apresentou exame de cultura positivo.
Na busca de casos de coqueluche e de contatos/comunicantes a investigação
epidemiológica foi realizada com visita domiciliar nas primeiras 12 horas após a
notificação e compreendeu: o preenchimento da ficha de investigação, coleta de
secreção nasofaríngea dos suspeitos (No Maximo até 3º dia do antibiótico) e dos
comunicantes com tosse. Buscou-se o conhecimento do quadro clínico característico
da doença (sinais/sintomas e complicações), histórico vacinal e dos contatos,
identificação da área e grupos de risco (vizinhos, amigos), busca ativa de outros casos

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 306


na área.
Neste trabalho considerou-se comunicante qualquer pessoa exposta a contato
próximo e prolongada no período de até 21 dias antes do início dos sintomas
da coqueluche e até três semanas após o início da fase paroxística (BRASIL,
2010).O contato próximo e prolongado se configura em: Membros da família ou
pessoas que vivem na mesma casa ou que frequentam habitualmente o local de
moradia do caso;Aqueles que passam a noite no mesmo quarto, como pessoas
institucionalizadas e trabalhadores que dormem no mesmo espaço físico. Situações
em que há proximidade entre as pessoas na maior parte do tempo e rotineiramente:
escola, trabalho ou outras circunstâncias que atendam a este critério (BRASIL, 2017).
Uma das principais medidas de controle de interesse prático em saúde pública
é a vacinação dos suscetíveis, na rotina da rede básica de saúde. A vacina contra
Coqueluche deve ser aplicada mesmo em crianças cujos responsáveis refiram história
da doença (BRASIL, 2010). Assim o bloqueio vacinal seletivo imediato foi dirigido aos
contatos na faixa etária menor de 01 ano de idade (vacina pentavalente) e entre 01
e menor de 07 anos (vacina DTP) de acordo com a rotina preconizada no Calendário
Básico de Vacinação do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde.
De acordo com o calendário vacinal mais atual, os menores de 1 ano deverão
receber 3 doses da vacina combinada Vacina pentavalente (DTP + HB + Hib)
Difteria, tétano, coqueluche, hepatite B, meningite e outras infecções causadas pelo
Haemophilus influenzae tipo b a partir dos 2 meses de idade, com intervalo de pelo
menos 30 dias entre as doses (idealmente, de 2 meses). Estando esta vacina disponível
no Sistema Público de Saúde.
Aos 15 meses a criança deverá receber o primeiro reforço com a vacina DTP
(Tríplice Bacteriana), sendo que o segundo reforço deve ser aplicado de 4 a 6 anos de
idade. A vacina DTP não deve ser aplicada em crianças com 7 anos ou mais. A vacina
DTPa (Tríplice Acelular) é indicada em situações especiais e, para tanto, devem ser
observadas as recomendações do Programa Nacional de Imunizações.
Ao identificar que o caso índice pertencia à creche local, Foi recomendado ao
primeiro caso isolamento domiciliar e afastamento temporário até segunda ordem da
creche. Desencadeou-se uma serie de medidas de atenção à creche sendo realizada
e busca dos comunicantes íntimos, familiares e escolares, professores e servidores da
escola que apresentassem sinais e sintomas de coqueluche e busca da atualização
vacinal dos suscetíveis.
Em visita a creche local, visto que outras crianças poderiam estar contaminadas,
foi mobilizada uma equipe de profissionais de Saúde, enfermeiros, médicos e técnicos
de enfermagem para realizar palestra educativa com familiares explicando sobre a
doença e sua disseminação, prevenção da doença, importância da vacinação, medidas
de controle, importância de identificação precoce de sinais e sintomas. Alem disso
todas as crianças da creche foram examinadas e consultadas por medico da família.
No tratamento das crianças suspeitas, diagnosticadas e comunicantes foi utilizada
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 307
a Eritromicina (de preferência estolato) é o antigo antimicrobiano de escolha para o
tratamento da Coqueluche, por ser mais eficiente e menos tóxico. Esse antibiótico
é capaz de erradicar o agente do organismo em 1 ou 2 dias, quando iniciado seu
uso durante o período catarral ou no início do período paroxístico, promovendo a
diminuição do período de transmissibilidade da doença. No entanto, faz-se necessário
procurar atendimento para que o medicamento seja prescrito em doses adequadas,
por profissional capacitado (BRASIL, 2010).
Atualmente não se recomenda a eritromicina em crianças menores de 1 mês
de idade, pois está associado ao desenvolvimento da síndrome de hipertrofia
pilórica, doença grave que pode levar à morte. Contudo no período a orientação de
uso nas faixas etárias de 1 a 4 anos foi seguida, sem registro durante a intervenção
de quimioprofilaxia, queixas de reação ou problemas relacionadas a eritromicina (
BRASIL, 2017).
Recentemente recomenda-se a azitromicina e a claritromicina, macrolídeos mais
recentes, têm a mesma eficácia da eritromicina no tratamento e na quimioprolaxia da
coqueluche. A azitromicina deve ser administrada uma vez ao dia durante 5 dias e a
claritromicina, de 12 em 12 horas durante 7 dias. Os novos esquemas terapêuticos
facilitam a adesão dos pacientes ao tratamento e, especialmente, à quimioprofilaxia
dos contatos íntimos (BRASIL, 2017).
Todas as crianças contatos do caso índice foram medicadas junto com seus
familiares. A doses foram calculadas pela equipe de enfermagem de acordo com a
prescrição médica e entregues com orientações de uso e possíveis reações adversas.
As crianças comunicantes do caso índice e sintomáticas com queixa de tosse foram
submetidas com a autorização dos pais a coleta da nasofaringe e tratamento com
Eritromicina Estolato. Todas estas pessoas medicadas foram acompanhadas pela sua
equipe de Saúde da Família.
Em todo percurso da investigação foi suspeitado que a criança provavelmente
contrai-o a doença de um adulto, familiar que visitou sua residência, oriunda do
município de Goiás, contudo na visita esta pessoa não estava presente. Corroborando
com esta afirmação a vacinação e a infecção não conferem imunidade no longo
prazo, razão pela qual, adolescentes e adultos podem ser infectados e desenvolver
formas mais leves da doença. Podem apresentar-se como assintomáticas, dificultando
o diagnóstico e tornando-se fontes de infecção para os lactentes, crianças que não
foram vacinadas ou com esquema vacinal incompleto (BRASIL, 2012).
Vale então ressaltar a importância da investigação das doenças em adultos
assintomáticos comunicantes de crianças suspeitas de coqueluche. Nesta experiência
nos também encontramos crianças assintomáticas e que tiveram o exame laboratorial
de isolamento da B. pertussis por meio de cultura de material colhido de nasorofaringe
positivado.
Outra importante identificação nesta experiência foi criança com esquema de
3 vacinas Pentavalentes e 1 reforço DPT, com exame laboratorial isolamento da
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 308
B. pertussis positivado. Daí então o entendimento de que mesmo tendo indivíduos
vacinados e sem sintomas clássicos de coqueluche, os comunicantes precisam ser
acompanhados com cuidado, pois podem continuar sendo uma fonte de infecção da
doença.
Na realização do Diagnóstico pela equipe de profissionais, as enfermeiras se
destacaram na técnica e realização da coleta de secreção da nasofaringe. Este
exame se faz necessário para o diagnóstico específico e é realizado mediante o
isolamento da B. pertussis por meio de cultura de material colhido de nasorofaringe,
com técnica adequada. Essa técnica é considerada como “padrão-ouro” para o
diagnóstico laboratorial da Coqueluche, por seu alto grau de especificidade, embora
sua sensibilidade seja variável. Como a B. pertussis apresenta um tropismo pelo
epitélio respiratório ciliado, a cultura deve ser feita a partir da secreção nasofaríngea.
A coleta do espécime clínico deve ser realizada antes do início da antibioticoterapia
ou, no máximo, até 3 dias após seu início ( BRASIL, 2017).
O exame requer uma técnica especifica para que tenha um resultado sem
interferências ou contaminações. Estas foram realizadas tanto nas residências,
como na creche, como no laboratório de referencia municipal. O acondicionamento
(Temperatura ambiente) deve ser estritamente seguido e rapidamente enviado
ao laboratório de referencia, no caso em questão, enviávamos as amostras para o
LACEN-BA.
O tempo de respostas e para o resultado do exame leva em torno de o de 15
dias, em média. Esse foi um ponto negativo para o diagnostico, sendo o tempo crucial
para o bloqueio da doença. No caso da Vigilância Epidemiológica de Mirangaba, a
suspeita surgiu em meio diagnostico clinico, com a intervenção baseada na definição
de uma suspeita clinica da doença. O resultado laboratorial tardio não impediu que
ações fossem realizadas.
O exame de reação em cadeia da polimerase (PCR) foi introduzido em 2009 pelo
Instituto Adolfo Lutz por se tratar de um método rápido, desde que esteja acompanhado
da cultura quando instituído como diagnóstico, possibilitou o aumento da positividade
das amostras e foi importante quando as culturas eram negativas (BRASIL, 2016). Em
Mirangaba, utilizou-se de preferência para diagnostico laboratorial o Isolamento da
B.pertussi. O numero de culturas negativas ou contaminadas foram em torno de 30%
das amostras coletas.
Para encerramento dos casos, pelo critério clínico utilizou-se a definição: Todo
caso suspeito com alteração no leucograma caracterizada por leucocitose (acima de 20
mil leucócitos/mm3) e linfocitose absoluta (acima de 10 mil linfócitos/mm3), desde que
não exista outro diagnóstico confirmatório. Clinico- Epidemiológico: Todo caso suspeito
que tivesse contato com caso confirmado como Coqueluche pelo critério laboratorial,
entre o início do período catarral até 3 semanas após o início do período paroxístico da
doença (período de transmissibilidade). Encerramento por critério: Laboratorial: Todo
caso suspeito de Coqueluche com isolamento de B. pertussis positiva.
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 309
A organização da atenção Básica em Saúde junto a Vigilância Epidemiológica
foi indispensável para o resultado satisfatório de controle da doença. Então foram
mobilizados todos os profissionais servidores municipais com a realização de uma
sensibilização sobre a coqueluche no município, divulgação do protocolo e fluxograma
de intervenção no caso de coqueluche, emissão de alerta epidemiológico.
A construção de um fluxograma de atendimento se fez mandatório em virtude
na necessidade de padronização das ações de controle e tratamento dos casos,
facilitando a execução do Protocolo de atendimento. Segundo Nascimento, 2013, os
fluxogramas são utilizados por possibilitar uma visão clara sobre o curso dos fluxos no
momento da produção da assistência à saúde e contribuem de forma positiva com o
processo administrativo organizacional.

FIGURA 2.FLUXOGRAMA DE ATENDIMENTO COQUELUCHE


Fonte: Elaborado pelo autor.

A atenção Básica está muito próxima das famílias e era o único tipo de serviço
atuante e presente no município, assim foi facilitador das ações, pois tivemos o corpo
clínico do Centro de Saúde com médicos clínicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem
e uma pediatra. Conseguiu-se com o apoio das vigilâncias realizar a maioria da
rotina de atendimento de casos e emitir as notificação compulsórias, quimioprofilaxia
e primeiras medidas de intervenção. O internamento quando necessário eram
encaminhado ao hospital de referencia situado em outro município, contudo seguia-se
o encaminhamento com a descrição e relatório do paciente.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 310


A atuação da Atenção Básica junto à equipe educacional com os professores
da creche fortaleceu no controle das doenças, pois os mesmo se tornaram vigilantes
ao aparecimento de sintomas, favorecendo a divulgação de medidas de controle, e
abordando o tema no ambiente escola.
Apesar da não evolução dos pacientes a sintomas graves e a recuperação de
100% dos acometidos a realização do diagnóstico da doença pode ser complexo e às
vezes pode passar despercebido, mas uma vez diagnosticado, o tratamento deve ser
oportuno favorecendo melhora clinica efetiva e a interrupção da cadeia de transmissão
da doença.

4 | CONCLUSÕES

As equipes de Vigilância Epidemiológica e principalmente o profissional enfermeiro


são extremamente importantes quando atuam de forma ativa e compartilhada no
controle das doenças, sendo assim a responsabilidade sanitária deve ser um dos
princípios a ser seguidos, para tanto precisam sempre estar atualizadas sobre os
agravos em Saúde.
A efetividade das ações está estritamente relacionada à capacidade da equipe
lidar com as adversidades relacionadas ao próprio Sistema de Saúde e a situação
inesperada da ocorrência das doenças, assim a união, o vinculo e comunicação entre
os profissional se mostrou como essencial para uma maior qualidade das ações.
Doenças incomuns podem causar pânico na comunidade e os profissionais
necessitam estar preparados para lidar com as mais diversas situações, para que
possam transmitir confiança e segurança para os pacientes Quando o alerta foi
dado no município, o acolhimento das equipes de atenção Básica conseguiu deixar a
população segura, prestando atendimento tantos nas unidades como nos domicílios,
quando necessário.
As doenças nem sempre se apresentam da maneira descritas e os protocolos
muitas vezes deixam lacunas a algumas perguntas e situações vivenciadas, assim a
experiência de alguns profissionais e a solicitação de apoio a outras instância pode
garantir maior segurança para a equipe que executam a ações em nível municipal.

REFERÊNCIAS
BAHIA (Estado). Nota técnica Estadual nº 01/2013- DTP/COVEDI/DIVEP/SESAB/SUVISA. Alerta
sobre a Situação Epidemiológica da Coqueluche. Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. Ano,
2013.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação geral de vigilância


em Saúde em serviço. Guia de Vigilância em Saúde. Volume Único. Ministério da Saúde. 2ª Ed-
Brasília. 2017. Disponível em: http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2017/outubro/06/Volume-
Unico-2017.pdf. Acesso em: 14 de Set, 2018.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 311


BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de Vigilância em Saúde.
Brasília; 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde, Coordenação Geral do Programa


Nacional de Imunizações. Nota técnica nº 183, de 04 de outubro de 2012. Solicita a inclusão da
vacina adsorvida difteria, tétano e pertussis(acelular) – dTpa – para vacinação de gestantes. Brasília:
Ministério da Saúde; 2012.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância


Epidemiológica. Doenças infecciosas e parasitárias : guia de bolso / Ministério da Saúde, Secretaria
de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. – 8. ed. rev. – Brasília :
Ministério da Saúde, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Guia de vigilância em saúde. 2. ed. Atualizada. Brasília: Ministério


da Saúde, 2017. Disponível em: <http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/PDF/2017/
outubro/16/Volume-Unico-2017.pdf>.  Acesso em: 20 de Junho, 2018.

SANTA CATARINA (estado). Secretaria de Estado da Saúde. Laboratório Central de Saúde Pública
de Santa Catarina. Manual de orientação para coleta, acondicionamento e transporte de amostras
biológicas. Edição 02, revisão 00. Florianópolis, 2012.

NASCIMENTO, V. F. Fluxograma de Acesso e Atendimento de Enfermagem em Unidade de Saúde


Da Família. Revista Eletrônica Gestão & Saúde Vol. 04, Nº. 01, Ano 2013 p. 1922 – 1927. Disponível
em: http://gestaoesaude.unb.br/index. php/gestaoesaude/ article/view/309/pdf_1. Acesso em: 19 de
setembro, 2018.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 36 312


CAPÍTULO 37

PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E MOTIVAÇÃO


DA ESCOLHA PROFISSIONAL DOS AGENTES
COMUNITÁRIOS DE SAÚDE DAS UNIDADES
BÁSICAS DE SAÚDE PARCEIRAS DA UNIVERSIDADE
CATÓLICA DE PERNAMBUCO

Sílvia Patrícia Ribeiro Vieira dos profissionais são mulheres entre 50-60
Universidade Católica de Pernambuco, Curso de anos, ensino médio completo, mais de 15 anos
Enfermagem na função, ingressaram através de seleção,
Recife – Pernambuco vínculo empregatício efetivo, a maioria não
Suzane Brust de Jesus possui outro emprego, moram na comunidade,
Universidade Católica de Pernambuco, Curso de acompanham mais de 150 famílias, a maioria
Enfermagem
passou por Curso Introdutório e realizaram
Recife – Pernambuco mais de seis capacitações. Sobre a profissão
Marciana Pereira Praia anterior, a grande maioria trabalhava como
Universidade Católica de Pernambuco, Curso de prestador de serviço. O principal motivo
Enfermagem
que os levaram a escolha da profissão foi o
Recife – Pernambuco
desemprego, seguido por desejo de convívio
Clara Fernanda Brust de Jesus com a comunidade onde residem e de ajudar
Universidade Católica de Pernambuco, Curso de
a comunidade e muitos gostariam de continuar
Fisioterapia
na profissão. Diante do exposto concluímos que
Recife – Pernambuco
a atividade do Agente Comunitário de Saúde
é muito importante, pois faz a ligação entre a
equipe de saúde e a comunidade. E para que
RESUMO: A presente pesquisa busca conhecer ele faça um bom trabalho é importante que
o perfil sociodemográfico do Agente Comunitário tenha perfil e motivação, tornando-se esse fato
de Saúde e entender quais os motivos que os um desafio para os gestores.
levaram a essa escolha profissional e, caso PALAVRAS-CHAVE: Atenção Primária à Saúde;
pudessem escolher a profissão, se continuariam Agente de Saúde Comunitário; Motivação.
a ser ACS. Trata-se uma pesquisa quantitativa
e qualitativa, realizada no município de Olinda. ABSTRACT: The research aimed to understand
O instrumento de coleta foi um questionário, the Community Health Agent (Agente
respondido a próprio punho pelos Agente Comunitário de Saúde, ACS) sociodemographic
Comunitário de Saúde na própria Unidade profile and the reasons that led the participants to
Básica de Saúde, mediante a assinatura do this very professional choice, taking into account
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. the possibility of choosing another career. The
Como resultados percebeu-se que a maioria qualitative and quantitative data were collected

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 313


in the municipality of Olinda. By agreeing with terms of consent (TCLE), participants
were asked to answer a questionnaire. The research presented that most professionals
are women varying in age from 50-60, High school degree, employees with a work
contract with more than 15 years of work experience, the majority of the participants
don’t have a secondary job, live in suburbs, attending more than 150 families, the
majority went to an introductory course and took six or more training classes. About the
previous profession, the vast majority did not have a work contract. The main reason
that led the participants to the current professional choice was unemployment, followed
by the desire to work among and serve the community they reside, and many would
like to persist in the job. On the foregoing, we verify the ACS work is very important as it
links the public health workers to the community. The ACS needs to be motivated and fit
the professional profile to perform a good job, making it a challenge for the managers.
KEYWORDS: Primary Healthcare; Community Health Agent; Motivation.

1 | INTRODUÇÃO

O Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) criado em 1991,


introduziu uma série de práticas em saúde, e foi a partir desse contexto que se passou
a ter um novo olhar sobre a família, deixando para trás o modelo que enfocava somente
o indivíduo. (SILVA JA, 2001).
Dentro desse programa, que é composto por uma equipe multiprofissional, onde
atua médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, dentista, é que surge um novo ator o
Agente Comunitário de Saúde (ACS). Esse personagem ímpar é geralmente o primeiro
elo da atenção básica, uma vez que assume um papel diferenciado dentro do cenário
do sistema de saúde. Por fazer parte da comunidade, o ACS permite o fortalecimento
do vínculo com a família, proporcionando dessa forma a aproximação das ações de
saúde no âmbito familiar, e tal fato aumenta sensivelmente a capacidade da população
de enfrentar os problemas existentes.
Segundo o Ministério da Saúde (1995), “O ACS é um trabalhador que integra
a equipe de saúde local, auxiliando as pessoas a cuidarem da própria saúde, por
meio de ações individuais e coletivas”. A inserção do ACS, como força de trabalho
do Sistema Único de Saúde, vem contribuindo para a concretização do processo de
municipalização da saúde, bem como para a definição da proposta do Ministério da
Saúde em relação a esse profissional, qual seja, “a prestação de cuidados primários
de saúde para aumentar a cobertura de atendimento à população”. (FORTES, 2002).
Segundo Carvalho (2005), o SUS está fadado ao fracasso se não dispuser
de recursos humanos qualificados, valorizados, comprometidos e acima de tudo,
conscientes da importância do seu papel como agente transformador na melhoria da
qualidade de saúde e de vida. Assim, tendo o ACS como o elo que liga a comunidade a
equipe de saúde, faz-se necessário conhecer melhor quem é esse profissional, e é isto
que se busca com a presente pesquisa, traçar o perfil sociodemográfico, bem como

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 314


entender quais os motivos que o levaram a se tornar um ACS.
Para tanto essa pesquisa teve como objetivo identificar o perfil sociodemográfico
do Agente Comunitário de Saúde e a razão e descrever os motivos que levaram os
Agentes Comunitários de Saúde a escolherem essa profissão.
Neste estudo foram utilizadas as abordagens de pesquisa quantitativa e qualitativa,
caracterizada por pesquisa de campo, realizada no município de Olinda, no período
compreendido entre setembro a novembro de 2016. A cidade atualmente possui 41
Unidades de Saúde da Família, das quais foram utilizadas como sujeitos da pesquisa
as 06 unidades cedidas para aulas práticas dos cursos de Medicina e Enfermagem da
Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), mediante convênio, a saber: Jardim
Brasil I e II, Ilha de Santana I e II, COHAB- Peixinhos I, II e III, Vila Popular, Salgadinho
e Bonsucesso II.
Para critério de inclusão dos sujeitos na amostra, definiu-se os ACS trabalhadores
das 06 equipes das USF especificadas independente do tempo de atuação, idade e
sexo. Já para os critérios de exclusão foram considerados os ACS em licença ou férias
no período de coleta de dados ou os que se recusaram a participar da pesquisa. Após
a aplicação dos critérios mencionados anteriormente, os respondentes foram 96%
(n=76) de um total de 80 ACS, que responderam a 1ª parte do questionário e 72% (n=
57) que responderam a 2ª parte do mesmo.
Para a realização da pesquisa, o instrumento de coleta de dados utilizado,
foi um questionário, composto por duas partes: a primeira parte é formada por
perguntas fechadas com opções de respostas de modo a obter um panorama do perfil
sociodemográfico desses profissionais. Na segunda fase da pesquisa, o questionário
foi composto por sete questões abertas que abordaram os aspectos da percepção do
ACS na prática do seu trabalho, de uma forma mais subjetiva, que o responderam a
próprio punho. Todos os questionários foram aplicados aos ACS na Unidade de Saúde
da Família, após a explicação dos objetivos, e mediante a leitura e posterior assinatura
do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
No que diz respeito à segunda parte do questionário, foi feita uma transcrição
literal na íntegra das respostas, onde as mesmas foram consolidadas e categorizadas
segundo a ideia central da afirmação. Vale ressaltar que todas as falas encontram-
se em anexo e que somente foram compiladas no corpo do texto duas falas de cada
categoria. Os ACS foram numerados aleatoriamente e na reprodução das falas, se fez
a seguinte apresentação: ACS1, ACS2, ACS3 e assim sucessivamente.
A coleta dos dados foi realizada no período de dezembro de 2016 a fevereiro
de 2017, que foram posteriormente consolidados e analisados dentro do método
quantitativo e qualitativo. Ademais, depois da redação do relatório final, a equipe
disponibilizou os resultados para outros alunos da instituição, à Secretaria de Saúde do
município de Olinda, aos Agentes Comunitários de Saúde, UBS e demais interessados.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 315


2 | RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados a seguir são resultados das análises feitas através do presente estudo,
do qual participaram 76 (96%) dos ACS pertencentes às 06 Unidades de Saúde da
Família do município de Olinda/PE cedidas para as aulas práticas dos cursos de
Medicina e Enfermagem da Unicap, mediante convênio, a saber: Jardim Brasil I e
II, Ilha de Santana I e II, COHAB- Peixinhos I, II e III, Vila Popular, Salgadinho e
Bonsucesso II.
Os resultados foram divididos em três blocos quais sejam: (1) Perfil
sociodemográfico do ACS; (2) A motivação do ACS em escolher a profissão e (3) Se
não fosse ACS qual profissão escolheria.

2.1 Pefil sóciodemográfico de ACS

Em relação ao perfil sóciodemográfico dos ACS colhemos os seguintes dados:

Unidades Total Respondentes %

Bonsucesso 8 8 100
Cohab-peixinhos 22 21 95
Ilha de Santana 16 15 94
Jardim brasil 16 14 88
Salgadinho 13 13 100
Vila popular 5 5 100

Total 80 76 96

Tabela 1 – Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda que responderam ao


questionário, segundo Unidade Básica de Saúde, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa

A tabela 1 mostra a distribuição de ACS lotados na UBSs. Percebe-se que a


UBS que mais possui ACS é a de COHAB - Peixinhos I, II e II com 22 ACS, sendo que
participaram da pesquisa 21 ACS (95%). Ressalta-se que nessa UBS atuam três (3)
equipes. A seguir a UBS de Ilha de Santana I e II que possui 16 ACS sendo que 15
participaram da pesquisa (94%), nesta unidade existem 2 equipes. A UBS de Jardim
Brasil I e II tem 16 ACS, participaram da pesquisa 14 (88%), sendo que nesta UBS
existem 2 equipes. Na UBS de Salgadinho I e II tem 13 ACS e todos participaram da
pesquisa (100%). A UBS de Bonsucesso I tem 8 ACS e todos participaram da pesquisa
(100%). E por fim a UBS de Vila Popular I que tem 5 ACS e todos participaram da
pesquisa (100%).
A distribuição dos ACS deve obedecer aos parâmetros do Ministério da Saúde
(MS), refletindo em uma alocação maior naqueles espaços territoriais com maior
número de famílias e, consequentemente, maior número de equipes do PSF atuantes
de acordo com a Portaria nº 648/GM de 28/03/2006/ PNAB Política Nacional de
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 316
Atenção Básica (MS, 2002). A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) diz que o
número de ACS deve ser suficiente para cobrir 100% da população cadastrada, assim
cada Agente Comunitário deve ser responsável por no máximo 750 pessoas, ou seja,
150 famílias e que cada Equipe de Saúde da Família deve ter no máximo 12 ACS (MS,
2002). Assim pode se observar que todas as unidades participantes da pesquisa estão
cumprindo o que preconiza o MS, ou seja, no máximo 12 ACS por equipe de saúde.

Idades N %

< 20 anos 0 0
20 ¬ 30 anos 0 0
30 ¬ 40 anos 12 15,8
40¬ 50 anos 28 36,8
50¬ 60 anos 29 38,2
(+) 60 anos 7 9,2

Total 76 100
Sexo N %
Masculino 13 17,1
Feminino 63 82,9
Total 76 100
Escolaridade N %

Ensino fundamental 3 3,9


Ensino médio incompleto 1 1,3
Ensino médio completo 51 67,1
Ensino superior incompleto 10 13,2
Ensino superior completo 10 13,2
Outro 1 1,3

Total 76 100

Tabela 2 – Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda, segundo idade, sexo e


escolaridade, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 2, observa-se que 29 (38,2%) dos ACS estão na faixa etária de 50-
60 anos, seguido de 40-50 anos, 28 (36,8%) e 12 ACS (15,8 %) estão na faixa etária
de 30-40 anos. Vale registrar que o MS preconiza apenas idade mínima acima de 18
anos, porém não estabelece limite máximo.
Com relação à faixa etária Mota e David (2010), relatam que 63% de sua amostra
é composta de adultos jovens entre 26 e 40 anos, fato também observado na pesquisa
de Santana et, al, 2009 onde 85% da amostra estavam na faixa etária de 20 a 49
anos. Corroborando com a nossa tese, Ferraz e Aerts (2005), relatam o cotidiano de
trabalho dos ACS de Porto Alegre, e concluem que 71% de sua amostra tem entre 30
a 40 anos e eles relacionam este achado com o fato de que quando foi criado o PSF
foram convidados para ser ACS os presidentes de associação de moradores e líderes
comunitários, pois já desenvolviam atividades em prol da comunidade, e segundo

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 317


este mesmo autor ser ACS foi a oportunidade de reingresso no mercado de trabalho.
(FERRAZ; AERTS,2005)
Os dados do estudo demonstram que os Agentes Comunitários de Saúde com
mais idade tendem a conhecer melhor a comunidade, tendo assim maior vínculo e
experiência para atendê-los.
Quanto ao sexo, observa-se a predominância do sexo feminino 82,9% (n=63),
como mostra a tabela 2. Trata-se de uma profissão majoritariamente feminina, pois
o cuidar desde sua origem sempre foi ligado a figura feminina. Sabemos que os
ACS surgiram no Ceará com a contratação de uma frente de trabalho de mulheres
para ajudar a combater os problemas decorrentes da seca. Colaborando com esse
pensamento, Santana et al,(2009) em pesquisa de caráter qualitativo descreve as
principais características dos ACS do município de Sete Lagoas-MG. Eles concluíram
nesta pesquisa que 85% dos ACS são do sexo feminino, porcentagem também
observada no estudo de Mota e David(2010), na cidade do Rio de Janeiro, observando
que 82% de sua amostra eram compostas por mulheres. Mota e David (2010) associam
o trabalho do ACS ao trabalho doméstico feminino que, segundo os mesmos, possui
uma inclinação historicamente reconhecida para o cuidado em saúde. Santana et al,
(2009) relacionam o elevado número de mulheres na profissão de ACS com achados
históricos e relatam em sua pesquisa que, em razão da mulher ser vista na Idade
Média como cuidadora, isto que pode ter suscitado maior adesão ao cuidado por parte
delas.
Outro dado que merece discussão é a escolaridade dos ACS participantes da
pesquisa. Destaca-se que a maioria apresenta escolaridade de ensino médio completo
67,1% (n=51), seguido de 13,2% (n=10) com ensino superior completo e 13,2%
(n=10) com ensino superior incompleto. A lei que regula a profissão de ACS exige,
para o exercício da função, ensino fundamental completo. A escolarização ainda se
apresenta como um aspecto que vem mudando ao passar dos anos de existência
desse trabalhador dos SUS. Mota e David (2010) relatam em sua pesquisa que quando
surgiu o PSF 9,6% dos ACS possuíam apenas o ensino fundamental e atualmente este
índice é de 2,7%. Hoje o nível de instrução predominante é o médio, fato que colabora
com o encontrado em nossa pesquisa. Outro estudo considera que, quando maior o
grau de escolaridade mais condições terá o agente de incorporar novos conhecimentos
e orientar as famílias sob sua responsabilidade (FERRAZ;AERTS,2005).

Tempo de ACS N %

< 5 anos 0 0
5¬ 10 anos 9 11,84
10¬ 15 anos 20 22,31
15¬ 20 anos 23 30,26
(+) 20 anos 23 30,26

Total 76 100

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 318


Entrada no Programa N %

Seleção 57 75,00
Indicação política 14 18,42
Outros 5 6,58

Total 76 100
Vínculo trabalhista N %

Estatutário 56 73,68
Contrato 17 22,37
Outros 2 2,63
Não respondeu 1 1,32

Total 76 100
Tem outro emprego N %
Sim 6 7,89
Não 70 92,10
Total 76 100

Tabela 3 – Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda segundo tempo de profissão,


forma de entrada no programa, vínculos empregatício e se possui outro emprego, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 3, referente ao tempo de serviço como ACS encontramos que 30,3%


dos entrevistados encontram-se na faixa de 15 a 20 anos de serviço e que também
com o mesmo percentual outro grupo com mais de 20 anos na função perfazendo um
total de 60,6%, seguido da faixa de 10-15 anos com 26,3% (n=20) demonstrando que
a grande maioria encontra-se na faixa de mais de 15 anos exercendo a função. Isso
é um bom indicador, pois mostra que são pessoas experientes e conhecedores dos
problemas e necessidades da microárea de sua responsabilidade. (SILVA; SANTOS,
2003)
Considera-se que quanto maior o tempo trabalhado com ACS maior será
sua contribuição para Equipe de Saúde da Família, devido ele conhecer melhor a
comunidade e suas necessidades de saúde. O tempo de permanecia no Programa
é importante para o entendimento do papel do agente, que é construído nas suas
práticas cotidianas e na integração com a comunidade (FERRAZ;AERTS,2005).
Sobre o tema como entrou no programa, encontramos que 75% (n=57) teve seu
ingresso no programa através de seleção, seguido de 18,4% (n=14) que ingressaram
através de indicação política e apenas 6% (n=5) por outra forma. Vale ressaltar que
a situação do ACS é diferente da dos demais servidores públicos, pois possui como
aspectos fundamentais: solidariedade e liderança, a necessidade de residir na própria
comunidade e o conhecimento da realidade social que o cerca. Segundo Ferraz e
Aerts (2005), em estudo no município de Porto Alegre enfatizam que todos os agentes
comunitários passaram por um processo seletivo, o que acaba se refletindo no nível de
escolaridade, pois a maioria apresentava o ensino fundamental completo. Importante
salientar que quanto maior o grau de escolaridade mais condições terá o agente de
incorporar novos conhecimentos e melhor orientar as famílias que encontram-se sob

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 319


sua responsabilidade.
A respeito da forma de vínculo empregatício, 73,7% (n=56) dos ACS possuem
vínculo efetivo, ou seja, submetem-se ao regime jurídico municipal, e que 22,4%(n=17)
seguem o que está estabelecido pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT.Coube
à Lei nº 11.350/2006 regulamentar o § 5º do art. 198 da CF, prevendo, em seu art. 8º,
que “os Agentes Comunitários de Saúde admitidos pelos gestores locais do SUS e
pela Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, na forma do disposto no § 4o do art.
198 da Constituição, submetem-se ao regime jurídico estabelecido pela Consolidação
das Leis do Trabalho – CLT, salvo se, no caso dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, lei local dispuser de forma diversa”. Os trabalhadores estatutários seguem
o Regime Jurídico e são trabalhadores efetivos (servidores públicos), com estabilidade
no emprego após três anos de admissão e que passam por avaliações de desempenho.
Têm direitos como férias, décimo terceiro salário, afastamento para tratamento de
saúde, insalubridade, licenças sem vencimento e para estudo e aposentadoria.
Pela análise das respostas ao quesito ter outro emprego além de ser ACS,
verificamos que uma parcela significativa dos entrevistados 92,1% (n=70) se dedicam
às funções de ACS exclusivamente, até mesmo porque a jornada deles é de oito
horas diárias, sendo que 7,9% (n=6) exercem outra atividades a saber: vigilante,
técnica de enfermagem, cuidadora e manicure. Tais funções podem ser exercidas
concomitantemente com a de ACS, pois todas essas profissões elencadas estão
diretamente ligadas ao contato com o público, ponto em comum com a função de ACS.

Profissão anterior N %

Prestadores de serviços 29 38,1


Comerciários 10 13,1
Educação 9 11,8
Do lar 7 9,2
Saúde 4 5,3
Líder comunitário 2 2,6
Desempregado 6 7,9
Autônomo 3 3.9
Estudante 1 1,3
Limpeza 3 3,9
Não respondeu 2 2,6

Total 76 100

Tabela 4 – Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda, segundo profissão anterior,


2016.
Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 4 foi analisada a questão sobre profissão anterior a ser ACS, onde
obtivemos como resultado que 38,1% (n=29) trabalhavam como prestadores de serviço,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 320


seguido por 13,1% (n=10) que eram comerciários e 11,8% (n=9) que trabalhavam na
área da educação. A maioria, antes de se tornar ACS e de assumir o trabalho em
saúde, desenvolvia atividades ligadas a prestação de serviço, demonstrando assim
que tinha vinculação direta com o público. Vale ressaltar que 5,3%(n=4) trabalhavam
na área de saúde antes de ser ACS. A insuficiência ou até a escassez de mercado
de trabalho para todas essas ocupações e ou profissões pode nos ajudar a explicar a
escolha pela ocupação de agente comunitário de saúde. (SILVA;SANTOS,2003)

Mora na comunidade N %

Sim 73 96,1
Não 1 1,3
Outro 2 2,6

Total 76 100
Quantidade de famílias N %

< 150 0 0
150¬ 200 37 48,7
200¬ 250 31 40,8
(+) 250 8 10,5

Total 76 100

Tabela 5 – Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda segundo local de moradia e


quantidade de famílias, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 5, sobre o tema morar na comunidade encontramos que 96,1% (n=73)


dos entrevistados residem na comunidade, fato que também foi relatado em outras
pesquisas. Várias pesquisas apontam que residir na área em que atua faz com que o
Agente Comunitário de Saúde torne-se um trabalhador com características especiais,
pois exerce a função de elo entre a equip e de saúde e a comunidade vivenciando
o cotidiano com intensidade.(LANZONI; MEIRELLES, 2010;AERTS, 2005;BRAND;
ANTUNES; FONTANA,2010; MOTA; DAVID,2010).
Para o Ministério da Saúde o ACS é o trabalhador da área de saúde que está em
contato permanente com a comunidade, unindo dois universos culturais distintos, o
científico e o popular, atuando com o objetivo de promover saúde e prevenir doenças.
Deve residir na própria comunidade em que vive, ser maior de 18 anos, saber ler
e escrever, ter disponibilidade de tempo integral para exercer suas atividades,
e entre outras atribuições, trabalhar com famílias em base geográfica definida e
realizar o cadastramento e acompanhamento das famílias. Esse trabalhador atua
para identificar problemas, orientar, encaminhar e acompanhar a realização dos
procedimentos necessários à proteção, promoção, recuperação e à reabilitação da
saúde dos moradores de cada casa sob sua responsabilidade, assim como de toda a
comunidade. (MS,2002)

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 321


Sobre a quantidade de famílias acompanhadas pelo ACS, tivemos como resultado
que 48,7% (n=37) acompanha entre 150 a 200 famílias, seguido por 40,8% (n=31)
com 200 a 250 famílias e 10,5% (n=8) acompanhando mais de 250 famílias. Esses
valores contrariam o que estabelece o Ministério da Saúde, onde cada ACS deve ser
responsável por no máximo 150 famílias ou 750 pessoas, conforme o estabelecido
na Portaria nº648/2006. Essa situação também foi evidenciada no estudo de Ferraz e
Aerts (2005). É importante salientar que o grande número de pessoas/famílias por ACS
gera uma sobrecarga de trabalho sobre os mesmos, dificultando, assim, os processos
de trabalho, comprometendo a qualidade da atenção. (FERRAZ; AERTS, 2005)

Curso Introdutório N %
Sim 52 68,42
Não 19 25,00
Não lembro 5 6,58

Total 76 100
Capacitações N %

Não 0 0
1¬ 3 6 7,89
4¬ 6 3 3,95
(+) 6 67 88,16

Total 76 100

Tabela 6– Número de Agentes Comunitários de Saúde de Olinda segundo o número de


capacitações realizadas, 2016.
Fonte: Dados da pesquisa

Na tabela 6 foi analisado sobre quem tinha participado do Curso Introdutório,


onde 68,4% (n=52) responderam que realizaram, estando de acordo com o estabelecido
na Lei nº 11.350/2006. A realização do mesmo é um dos pré-requisitos para se tornar
ACS, se tornando uma etapa do processo seletivo.
A respeito das capacitações, 88,2% (n=67) dos ACS participantes da pesquisa
responderam que realizaram mais de seis capacitações, que 7,9% (n=6) realizaram
de 1-3 capacitações, seguidos por 3,9% (n=3) que realizaram de 4 a 6 capacitações
desde que entraram na profissão. Percebe-se que a maioria participou de mais 6
capacitações desde que assumiram a função, porém é necessário que essas sejam
contínuas, em serviço também, pois eles necessitam ser constantemente atualizados
nas questões referentes a saúde da população. Durante a entrevista, muitos ACS
referiram sentir falta dessas capacitações que são de extrema importância para o
melhor desempenho do seu trabalho. Sugere-se a criação de um núcleo de educação
permanente onde o ACS possa receber a capacitação adequada, para que dessa
forma tenha melhores condições de repassar as informações.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 322


2.2 Motivação do ACS em escolher a Profissão

Para consolidar as respostas dos ACS, todas as falas foram listadas e escolhida
uma categoria que representasse o grupo.
Em relação aos motivos que os levaram a escolher a profissão de ACS,
encontramos as seguintes categorias: desemprego (n=14), convívio com a comunidade
(n=14), ajudar a comunidade (n=12), oportunidade (n=7), vontade de ser ACS (n=6) e
casualidade (n=4).
Na primeira categoria, os ACS apontaram o desemprego como sendo o principal
motivo de se candidatar a função, conforme se pode observar nos fragmentos abaixo:

“O desemprego! Estava desempregado o que aparecia de oportunidade, tentava,


ai consequentemente fui aprovado para ACS”. (ACS 15).

“No momento da inscrição para o cargo de ACS estava desempregado”. (ACS 13)

Em seguida, como segunda categoria foi apontado o convívio com a comunidade,


como motivo para se tornar ACS. O fato de conviver na comunidade faz com que eles
compreendam melhor as dificuldades nela existentes. Os fragmentos que se seguem
exemplificam tal situação:

“Por conhecer os problemas existente na comunidade”. ( ACS 40).

“Já fazia alguns serviços voluntario na comunidade fazia parte do conselho de


moradores a mais de 10 anos”. ( ACS 62)

Na terceira categoria ajudar a comunidade foi outro motivo elencado pelos


agentes comunitários, pois poder de alguma forma contribuir para a melhoria é algo
gratificante. Isso pode ser observado nos fragmentos abaixo:

“Ajudar a comunidade e levar as informações, sobre a saúde orientar e as famílias”.


(ACS 24)

“Poder ajudar as pessoas, pois amo o que faço”. ( ACS 44).

A quarta categoria teve como outro motivo citado por eles a oportunidade, ou
seja, encontraram na função uma forma de ingressar no mercado de trabalho, de
ajudar a sua comunidade. Os fragmentos a seguir exemplificam o fato:

“Inicialmente foi a oportunidade que me deram. Depois comecei a gostar de ajudar


os pacientes”. ( ACS 52)

“Foi a oportunidade que apareceu para ajudar a comunidade”. ( ACS 53)

Na quinta categoria a vontade de ser ACS foi apontada por eles como motivo
de ingresso na profissão. A possibilidade de fazer parte do quadro de saúde e poder
cuidar da comunidade foi o que motivou na hora de escolher a função. Tal fato pode
ser comprovado pelos fragmentos abaixo:

“Sonho de ser funcionaria da saúde, pra ter condição de cuidar da saúde das
pessoas sem condições”. ( ACS 54)

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 323


“Sempre queria ser acho muito lindo essa profissional”. ( ACS 55)

E na última categoria eleita pelos ACS como motivo de sua escolha ficou a
casualidade, ou seja, ingressar na função sem realmente saber o que era a profissão.
Os fragmentos abaixo exemplificam essa escolha:

“Me inscrevi por inscrever, nem sabia o que era, pois correspondia aos pré-
requisitos mínimos”. ( ACS 9)

“Puro acaso, que nem sei como explicar, fiz a seleção e entrei primeiro como
contrato depois fui efetivado por conta da seleção”. ( ACS 45)

Ao revelarem os motivos que os levaram a ser ACS, destacam o desemprego, o


convívio com a comunidade, ajudar a comunidade, oportunidade, vontade de ser ACS
e casualidade. Percebe-se claramente pelas falas dos ACS que o desemprego e o fato
de conviver com a comunidade são os fatores que mais impulsionam as pessoas a se
tornarem Agentes Comunitários, pois por morarem na comunidade eles mais do que
ninguém conhecem todos os problemas que nela existem, assim o fato de tornar-se
um ACS, representa uma forma de melhorar o ambiente onde ele vive, é a chance de
fazer algo diferente, enfim ser um agente de mudanças.
Com relação ao motivo ajudar a comunidade, eles revelam que ser ACS representa
algo gratificante, é como se eles tivessem a chance de oferecer algo melhor através
do seu trabalho.
Observa-se na fala dos ACS que a questão da oportunidade como motivo de
ingresso na função está intimamente ligado com o fator desemprego onde ser ACS
representa uma forma de voltar ao mercado de trabalho.
Quanto a vontade de ser ACS, muitos deles revelaram que fazer parte da equipe
de saúde é algo de extrema importância, pois podem cuidar das pessoas e levar
informações sobre saúde.
E por fim o motivo casualidade , ou seja, alguns entraram na profissão sem saber
o que ela significava, sem conhecer a importância do seu trabalho para comunidade.

2.3 Mudança De Profissão

Os Agentes Comunitários também foram questionados sobre, caso pudessem


escolher a profissão, se eles continuariam a ser ACS, e a maioria respondeu que sim,
elencando como principais motivos para continuar na profissão o fato de amar trabalhar
com a comunidade, satisfação pelo que fazia, poder ajudar as pessoas, por não se ver em
outra profissão, por ser ao mesmo tempo médico e psicólogo dentro da sua comunidade.
Enfim, que continuariam a amar o que faziam e viam na profissão a possibilidade de
ajudar a sua área. Os poucos que responderam que deixariam de ser ACS, elencaram
como motivos a falta de respeito da gestão, falta de comprometimento da equipe, da
gestão e do próprio Município em atender suas solicitações à partir da demanda gerada
em suas visitas domiciliares, e por não verem perspectiva de crescimento profissional.
Nessa perspectiva é importante salientar que qualquer que seja o
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 324
motivo de ingresso, é de suma importância que o Agente Comunitário de
Saúde conheça o real objetivo de sua profissão, pois seu papel é de fundamental
importância dentro da equipe de saúde, uma vez que ele representa ao mesmo tempo
a comunidade e a equipe de saúde, sendo esse ser único e híbrido que transita entre
dois universos.

CONCLUSÃO

O estudo alcançou os objetivos propostos e diante dos resultados obtidos é


muito importante que sejam revistas algumas questões que angustiam o ACS, como
por exemplo, a quantidade de famílias acompanhadas por cada um, pois o número
excessivo compromete o trabalho realizado, como também prejudica a população,
uma vez que o atendimento torna-se precário e muitas impossível de ser realizado.
Esse estudo também apresenta um grande desafio para os gestores, no que
se refere a necessidade de suprir a demanda gerada pelo trabalho do ACS evitando
o desânimo quando não veem seus encaminhamentos e solicitações acolhidos e
resolvidos. E também, a necessidade de educação continuada, oferecendo cursos
de capacitação aos ACS, visando aprimorar o potencial de cada um e, permitindo
com isso, mais habilidade no manejo com os indivíduos da comunidade, uma vez
que qualificação/capacitação do profissional de saúde é um dos desafios para que se
alcance maior qualidade dos serviços de saúde.
Logo, conhecendo o perfil sociodemográfico dos agentes comunitários e suas
principais características é possível identificar suas fortalezas e fragilidades, para
com isso obter um melhor aproveitamento do seu desempenho dentro da unidade de
saúde. Espera-se com este trabalho contribuir para a produção de um conhecimento
que possibilite o desenvolvimento de práticas atuais, reflexivas e capazes de trazer ao
agente comunitário de saúde benefícios no desenvolvimento de seu trabalho, além de
instigar novos questionamentos e estudos futuros.
Vale ressaltar que será de grande valia para todos os cursos da área de saúde,
conhecer o perfil do ACS e os motivos que o levaram a escolher essa profissão, pois
isso irá permitir que se relacionem melhor com esse profissional e possam trazer
contribuições eficazes para o trabalho do ACS.

REFERÊNCIAS
BRAND, Cátia Inácia; ANTUNES, Raquel Martins. Satisfações e insatisfações no trabalho do agente
comunitário de saúde. Revista Cogitare Enfermagem. UFPR, Paraná. Jan/Mar 2010; 15(1): 40-7.

CARVALHO GI, SANTOS L. Sistema Único de Saúde: comentários à lei orgânica da saúde (leis nº
8080/90 e 8142/90). Campinas: Editora da Unicamp; 2002.

FERRAZ, Lucimare; AERTS, Denise R. G. de Castro. O cotidiano de trabalho do agente comunitário


de saúde no PSF em Porto Alegre. Revista Ciência Saúde Coletiva [online]. 2005, vol.10, n.2, pp.

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347-355. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 28 de abril de 2010.

FORTES, M. R. S. Enfermagem na promoção dos cuidados primários na saúde pública. São


Paulo: Everest, 2002.

LANZONI, Gabriela M. de Melo; MEIRELLES, Betina H. Schlindwein. Vislumbrando a rede complexa


de relações e interações do agente comunitário de saúde. Revista da Rede de Enfermagem do
Nordeste . Fortaleza, v.11, n.2, p.140-151, abr. /jun.2010. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em:
28 de abril de 2011.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. O trabalho do agente comunitário de saúde. Brasília: Ministério da


Saúde, 1995.

______. Monitoramento da implantação e funcionamento das equipes de saúde da família no


Brasil. Brasília (DF): 2002.

MOTA, Roberta R. Alencar; DAVID, Helena M. S. Leal. A crescente escolarização do Agente


Comunitário de Saúde: uma Indução do Processo de trabalho? Revista Trabalho e Educação em
Saúde. Rio de Janeiro, v.8, n.2, p.229-248, jul./out.2010. Disponível em: www.scielo.br. Acesso em: 05
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SANTANA, Júlio César Batista et al. Agente comunitário de saúde: percepções na estratégia saúde
da Família. Revista Cogitare Enfermagem. UFPR, Paraná, 2009, Out/Dez; 14(4): 645-52. ISSN
Eletrônico: 2176-9133

SILVA JA. O agente comunitário de saúde do Projeto Qualis: agente institucional ou agente da
comunidade? [tese]. São Paulo (SP); Faculdade de Saúde Pública/USP; 2001.

SILVA, H.; SANTOS, M.R. Perfil social dos agentes comunitários de saúde vinculados ao programa
saúde da família da zona norte do município de Juiz de Fora. Revista APS, Juiz de Fora, v.6, n.2,
p.70-76, jul./dez. 2003.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 37 326


CAPÍTULO 38

SABERES POPULARES SOBRE A AUTOMEDICAÇÃO:


A UTILIZAÇÃO INDISCRIMINADA DE FITOTERÁPICOS

Lúcia Aline Moura Reis resultem no controle da automedicação como


Universidade do Estado do Pará prática popular. Deste modo, foi realizada
Belém - Pará uma revisão da literatura nas bases de dados
Anna Carla Delcy da Silva Araújo BVS enfermagem e BVS salud, obtendo-se
Universidade do Estado do Pará 10 publicações incluindo matérias jornalísticas
Belém - Pará e documentos do Ministério da Saúde. À
Maira Cibelle da Silva Peixoto vista disso, a os artigos demonstraram que o
Universidade do Estado do Pará processo de cura em determinadas culturas
Belém - Pará envolve não apenas cuidados médicos, mas
Kariny Veiga dos Santos também, a busca por tratamentos religiosos e
Universidade do Estado do Pará fitoterápicos e as justificativas mais frequentes
Belém - Pará para tal prática é a falta de atendimento ou a
Hellen Ribeiro da Silva demora para conseguir uma consulta, além de
Universidade do Estado do Pará demonstrar-se que entre 2000 e 2008 a taxa de
Belém - Pará intoxicação pelo uso incorreto de medicamentos
era de 15% para 31%, sendo que um terço
consistia em crianças menores de cinco anos.
Portanto, conclui-se que a automedicação
RESUMO: Uma sociedade está embasada
se faz presente em diversos segmentos da
na cultura dos povos, ou seja, é a raiz das
sociedade, mas, apesar da influência da cultura
sociedades contemporâneas, fator decisivo
popular faz-se necessária a paralelização com
no comportamento da população, onde estão
o conhecimento científico, para que os riscos
inseridos valores, costumes e crenças, os
sejam reduzidos e a saúde restabelecida, além
quais são repassados para entre gerações.
de buscar respeitar e manter viva a herança
Dessa forma, os saberes populares também se
cultural, visto sua importância histórica.
relacionam a automedicação, que consiste na
PALAVRAS-CHAVE: Saberes populares;
utilização de medicamentos sem a prescrição
Automedicação; Fitoterapia; Riscos à Saúde.
médica. Logo, objetivou-se explanar acerca da
influência dos saberes populares no contexto
KEYWORDS: Popular knowledge; Self-
cultural da prática da automedicação com
medication; Phytotherapy; Risks to Health.
fitoterápicos e estabelecer condutas que

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 38 327


1 | INTRODUÇÃO

A construção de uma sociedade está embasada na cultura dos povos, ou seja,


é a raiz das sociedades contemporâneas sendo, portanto, um fator decisivo no
comportamento da população. No contexto cultural estão inseridos os valores, costumes
e crenças de uma comunidade, os quais são repassados para as novas gerações, a
fim de dar continuidade ao conhecimento popular dos mais antigos membros do grupo
social (MEDEIROS et al., 2007).
Dessa forma, ainda no cenário cultural, os saberes populares também estão
relacionados com a automedicação, a qual consiste na utilização de medicamentos
sem a orientação ou prescrição médica. Essa relação manifesta-se quando um
indivíduo, ao adoecer, rotineiramente recebe indicações sobre remédios caseiros ou
fármacos que —segundo amigos, familiares ou conhecidos— são eficazes e que,
portanto, também seriam os mais indicados para o restabelecimento da saúde do
indivíduo (CASTRO et al., 2006; GOULART et al., 2012).
Além disso, a automedicação pode ser justificada por fatores como: a resistência
em comparecer ao atendimento de saúde; falta de esclarecimento sobre a doença e
de estabelecimento de confiança entre o indivíduo e o profissional de saúde; acesso a
várias informações questionáveis, induzindo a falsa ideia de que a orientação de saúde
é desnecessária. Porém, apesar de tantos fatores relacionados à automedicação, sem
dúvida, o maior é a cultura popular.
Ademais, os saberes populares vinculados à automedicação perpassam pelo
uso medicinal de plantas para a cura de doenças, objeto de estudo da fitoterapia,
estando presente em diversos momentos históricos da humanidade. Além disso, a
automedicação, por seu caráter cultural, abarca as variadas faixas etárias e classes
sociais, fato este que preocupa ao fazer-se relação com os riscos de interações
medicamentosas e mascaramento de sintomas.
Dessa forma, o presente estudo tem por objetivo explanar acerca da influência dos
saberes populares no contexto cultural da prática da automedicação com fitoterápicos
e estabelecer condutas que resultem no controle da automedicação como prática
popular.

2 | REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Saberes Populares

Segundo Gonçalves (2009, p. 1) “[...] o saber popular é qualificado como


subjetivo, assistemático, valorativo e inexato”, ou seja, o conhecimento popular,
diferente do conhecimento científico, não tem a obrigatoriedade com a exatidão e com
a comprovação. Esses saberes são transmitidos entre gerações estando sujeito a
alterações devido a contribuição subjetiva de quem está transmitindo-o.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 38 328


Ainda em analogia com o conhecimento científico, vale ressaltar que não existe
um saber totalmente correto ou errôneo pois, até mesmo a ciência se baseia na
refutabilidade dos conceitos. Da mesma forma, o conhecimento popular representa uma
riqueza cultural de extrema importância social, econômica e histórica, justamente, por
representar a identidade social de um povo. Além disso, o saber popular proporciona
aos pesquisadores bases para fundamentação crítica e descobertas, as quais só
ocorrem graças ao questionamento prévio da realidade, oriundo do conhecimento
empírico (OLIVEIRA, 2009).

2.2 Fitoterapia

A origem do termo “fitoterapia” encontra-se no grego “phito”, que significa “plantas”,


e “Therapia”, que corresponde a “tratamento”, ou seja, a denominação refere-se ao
tratamento de doenças pelo uso de plantas medicinais, atuando, então, na cura ou
melhora da qualidade de vida do doente (BUENO, MARTINEZ, BUENO, 2016).
Segundo a ANVISA (2004, p. 1), fitoterápico é: ‘’todo medicamento obtido
empregando-se exclusivamente matérias-primas vegetais com finalidade profilática,
curativa ou para fins de diagnóstico, com benefício para o usuário”.
Neste sentido, os fitoterápicos são medicamentos sobre os quais têm-se
conhecimento da eficácia e de efeitos adversos, devidamente rotulados, bem como o
controle da qualidade havendo, dessa forma, uma comprovação do efeito terapêutico
em determinado tratamento. No entanto, se faz necessário obter-se conhecimento a
respeito de possíveis interações entre os fitoterápicos e os fármacos industrializados, a
fim de se evitar falhas terapêuticas ou efeitos adversos não esperados (SCHEINBERG,
2002).
Nesse sentido, alguns exemplos de interações entre medicamentos fitoterápicos
e os convencionais podem ser citados, como o ginkgo biloba (usado para melhora
da concentração e memória) que em excesso, ou usado com anticoagulantes, pode
ocasionar hemorragia e convulsões; o hipérico (indicado no tratamento da depressão)
pode causar sangramento se utilizado concomitantemente com anticoncepcionais,
drogas utilizadas no tratamento da Aids e alguns antidepressivos; o kava kava
(eficaz contra a ansiedade), quando utilizado em excesso, pode lesionar o fígado;
evidenciando, então, a importância da informação acerca do assunto (SCHEINBERG,
2002).
Nesse âmbito, o Sistema Único de Saúde (SUS) desenvolveu a Relação Nacional
de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS), cujo objetivo é fornecer
subsídios a essa forma de tratamento, desde a regulamentação até a fase final, de
consumo, além da função de orientar pesquisas no ramo de plantas medicinais e
fitoterápicos (BRASIL, 2014).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 38 329


3 | METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de uma revisão da literatura. Gil (2008) afirma que
este método consiste na reunião de dados e resultados de diversos estudos a respeito
de determinada temática, a fim de divulgar tais dados e identificar lacunas existentes
nas áreas de estudo, neste caso, buscou-se avaliar e analisar de forma crítica os
conhecimentos sobre a automedicação com enfoque na utilização de fitoterápicos.
Dessa forma, foi realizada uma busca sobre a automedicação, saberes populares
e fitoterápicos sendo consultadas as bases de dados BVS enfermagem e BVS salud
utilizando-se os descritores “automedicação” e “fitoterápicos”.
Utilizou-se como critérios de inclusão trabalhos que abordassem temas em
conformidade com os objetivos propostos, disponíveis em texto completo, em base de
dados brasileiras, redigidas no idioma português e como critérios de exclusão aqueles
que divergiam do tema sendo encontrados um total de 10 publicações científicas
incluindo matérias jornalísticas e documentos oficiais do Ministério da Saúde.

4 | RESULTADOS

Os dados obtidos nos artigos selecionados foram organizados e apresentados


de acordo com a tabela a seguir:
A Tabela 1 exibe os objetivos dos trabalhos selecionados, bem como seus
respectivos títulos, autores e ano de publicação, sendo os mesmos identificados e
organizado conforme o sistema alfanumérico.

Ident. Autor/ano Título Objetivos


Avaliar a automedicação
Automedicação com produtos
com produtos naturais entre
CINTRA, J. et al. naturais entre os acadêmicos
P1 os acadêmicos da facer
2014 da facer faculdades, unidades
faculdades, unidades Ceres-
Ceres-GO e Rubiataba-GO
GO e Rubiataba-GO.
Analisar as práticas populares
As práticas populares de cura
por rezadores procurando a
MEDEIROS, L. C. utilizadas por rezadores no
P2 associação da prática com
M. et al. 2007 povoado Brejinho, Município
a assistência à saúde da
de Luiz Correia - PI
população.
Medir a prevalência e
identificar fatores associados
Automedicação em menores
à automedicação em crianças
GOULART, et al., de cinco anos em municípios
P3 menores de cinco anos nos
2012 do Pará e Piauí: prevalência e
municípios de Caracol no
fatores associados
Estado do Piauí, e Garrafão
do Norte no Pará.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 38 330


Demonstrar um relato de
experiência realizado entre os
Educação popular no uso ACS e a população abrangente
PAVIM,
racional de medicamentos: da cidade de Guarani das
P4 CARVALHO,
uma iniciativa na atividade do Missões – RS, quanto à
BRUM, 2013
agente comunitário de saúde prática da automedicação,
armazenamento e descarte
de medicamentos.
Analisar o conhecimento
dos estudantes de escolas
Automedicação na públicas e privadas do
P5 SILVA, I. M. et al. adolescência: um desafio município de Fortaleza (CE)
para a educação em saúde. sobre o uso de medicamentos
e suas implicações para a
saúde.
Principais Interações no Descrever as principais
NICOLETTI, M. A.
P6 Uso de Medicamentos interações no uso de
et al. 2007
Fitoterápicos medicamentos fitoterápicos.
Compreender o significado
BAGGIO, Automedicação: desvelando do (des) cuidado de si dos
P7 FARMAGGIO, o descuidado de si dos profissionais de enfermagem,
2009 profissionais de enfermagem. a partir da prática da
automedicação.
Avaliação do perfil de
automedicação de estudantes
Automedicação: entendemos iniciantes/calouros do curso
P8 CASTRO, 2006
o risco? de habilitação farmacêutica
de uma Universidade Federal
de Brasília.
Fitoterapia: uma alternativa Conhecer melhor os
terapêutica para o cuidado Fitoterápicos e saber como
P9 BRITO et al, 2014
em Enfermagem - relato de utilizá-los na assistência em
experiência. Enfermagem.
Objetivo de subsidiar o
desenvolvimento de toda
cadeia produtiva relacionadas
RENISUS: lista de plantas à regulamentação, cultivo,
P10 BRASIL, 2015
medicinais do SUS. manejo, produção,
comercialização e
dispensação de plantas
medicinais e fitoterápicos.

Tabela 1 - Apresentação dos objetivos


Fonte: produzido pelas autoras

5 | DISCUSSÃO

5.1 Prevalência da automedicação

O processo de cura em determinadas culturas envolve não apenas cuidados


médicos, mas também, a busca por tratamentos religiosos e fitoterápicos,
principalmente, em determinadas regiões do país (MEDEIROS et al, 2007).
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), este método de cura ajuda
nos atendimentos públicos, visto que, segundo Castro et al (2006), evitam um colapso

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 38 331


do Sistema Único de Saúde (SUS) no atendimento de casos temporários e não
emergentes.
Estudos realizados focando a prevalência da automedicação em diversas regiões
do Brasil, demonstraram que a justificativa mais frequente para a realização desta
prática é a falta de atendimento ou a demora para conseguir uma consulta com um
profissional, o que incita o uso de medicamentos baseados em receitas prévias, ou a
utilização de remédios remanescentes (GOULART, et al, 2012).
Segundo achados de Goulart et al (2012) nos municípios de Caracol (PI) e
Garrafão do Norte (PA), as grandes causas da automedicação ocorreram devido a
distância entre a moradia da pessoa e o serviço de saúde; a demora por consultas
médicas, sendo observado espera mínima de 15 dias, além da falta de medicamentos
em regiões mais distantes das capitais.
Nessas localidades, as principais causas de procura por atendimento médico
apresentam-se em decorrência de parasitoses intestinais, infecções respiratórias e
infecções de pele, principalmente, em crianças. Dessa forma, com a dificuldade de
atendimento, muitas mães passam a procurar o auxílio de rezadeiras que, estão em
grande número em algumas cidades interioranas. Além disso, de acordo com estudo
realizado por Medeiros et al (2007), grande parte da população, ao chegar na unidade
de saúde, afirma ter procurado, anteriormente, ajuda de um rezador e que faz uso de
medicações indicadas por eles.
Segundo Goulart et al (2012) no município de Caracol (PI) 30% das crianças
com menos de cinco anos faziam uso da automedicação e no município de Garrafão
do Norte (PA) esse contingente foi de 25% sendo, então, considerados altos índices
por se tratarem de municípios pequenos. Assim como a prática da automedicação
ocorre entre crianças por intermédio dos pais, o mesmo ocorre com adolescentes e as
causas não diferem das demais.
Segundo estudo realizado por Silva et al (2011) os adolescentes relataram
fatores como experiência prévia com o medicamento, a influência dos meios de
comunicação e amigos, ou falta de tempo de ir ao serviço de saúde como causas
para a automedicação e, além disso, alguns participantes também deram enfoque
a dificuldade de atendimento pelo SUS. Portanto, observa-se que a prática da
automedicação não se restringe apenas a uma faixa etária.

5.2 A fitoterapia e a automedicação

A utilização de plantas e ervas caracteriza a primeira forma de automedicação


que ocorreu na humanidade. Contudo, o uso dessas plantas medicinais pode acarretar
diversos malefícios à saúde quando feito de forma indiscriminada, ao passo que certos
compostos encontrados nas ervas podem interagir com medicamentos sintéticos
ou, até mesmo, com outras ervas que estejam sendo utilizadas concomitantemente
(CINTRA et al, 2014).
Um dos fatores que explica essa utilização indiscriminada de ervas e plantas

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 38 332


medicinais é o pensamento antigo da população que os remédios extraídos da
natureza não causam nenhum dano à saúde. Ao tomar como exemplo um paciente
com diabetes em uso de medicações sintéticas, a ingestão de chás que diminuem
o valor glicêmico, podem ocasionar falhas em uma nova conduta médica e graves
consequências à saúde desse indivíduo. O mesmo pode ocorrer com a utilização de
determinadas ervas por gestantes, como a Foeniculum vulgare (Funcho/Erva doce)
e a Maytenus aquifolium (Espinheira santa) causarem alterações durante o período
gestacional e pós-gestacional, provocando abortos e redução da produção de leite
(CINTRA et al, 2014).
Dentre os fitoterápicos mais utilizados, segundo estudos realizados no Brasil, a
Arnica (Lychnophora ericoides) encontra-se em primeiro lugar, sendo rotineiramente
utilizada no tratamento de contusões e hematomas, em segundo lugar o Pó de
Guaraná, recomendado como anestésico e estimulante do Sistema Nervoso Central
(SNC), e ocupando a terceira colocação está a Maracugina e similares, indicada para
o tratamento do nervosismo, estresse, ansiedade dentre outros (CINTRA et al, 2014).
Com relação às plantas medicinais, aquelas que são mais utilizadas sem
recomendação médica são: a Hortelã (Mentha piperita), utilizada para estimular a
expectoração e alívio de cólicas intestinais; a Erva Cidreira (Melissa oficinalis L.),
encontrada em segundo lugar, grandemente utilizada como antiespasmódico e no
tratamento de distúrbios do sono; em terceiro lugar o Boldo (Peumusboldus molina),
utilizado em espasmos intestinais e como coadjuvante no tratamento da obstipação
intestinal; e na quarta colocação a Erva Doce (Pimpinella anisum L.), também utilizada
como expectorante como antiespasmódico (CINTRA et al, 2014).
Assim, é constatável que os fitoterápicos e as plantas medicinais possuem efeitos
semelhantes aos medicamentos sintéticos, gerando desequilíbrio homeostático no
organismo quando ingeridos de forma simultânea ocasionando potencialização ou
alteração de efeito por interação medicamentosa.

5.3 Interações medicamentosas e mascaramento de sintomas

A prática da automedicação é considerada um problema social, visto que muitos


medicamentos utilizados possuem baixos preços, são amplamente comercializados
sem a necessidade de receita médica, além de serem destinados para tratar eventuais
problemas de saúde, como cefaleia e problemas intestinais (NICOLETTI, 2007).
De acordo com o SINITOX (Sistema Nacional de Informação Tóxico-
Farmacológico), entre os anos de 2000 e 2008 a taxa de intoxicação pelo uso incorreto
de medicamentos era de 15% para 31%, sendo que um terço dessa taxa consistia em
crianças menores de cinco anos apresentando, assim, uma taxa de letalidade de 7%
(GOULART et al, 2012).
Todavia, além da intoxicação, a automedicação pode gerar também dependência
medicamentosa, mesmo em crianças, bem como, mascaramento de sintomas,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 38 333


comprometendo o diagnóstico e o tratamento prévio de doenças mais graves, ou
mesmo a indução da resistência bacteriana, reações alérgicas e até o óbito (BAGGIO;
FORMAGGIO, 2009).
Para Nicoletti (2007), os agentes farmacológicos de medicamentos e plantas
medicinais são considerados pelo organismo humano substâncias estranhas e
dependendo da dosagem tornam-se tóxicos. Outra grave consequência do uso
inapropriado de medicamentos consiste na interação medicamentosa que pode gerar
tanto a inativação, diminuição da ação do fármaco, prolongamento ou potencializar a
sua ação (BAGGIO; FORMAGGIO, 2009).
No entanto, o uso indiscriminado de medicamentos não ocorre apenas com os
sintéticos. A utilização indevida de fitoterápicos de forma indiscriminada também pode
gerar interações medicamentosas. Nesse âmbito, é possível citar as principais reações
medicamentosas que ocorrem entre plantas medicinais e outros medicamentos. A
utilização da Alcachofra, uma erva diurética que pode se tornar prejudicial quando
associada com outros diuréticos, visto que o volume sanguíneo irá diminuir, causando
quedas da pressão arterial por hipovolemia, diminuição de potássio na corrente
sanguínea, causando hipocalemia (NICOLETTI et al, 2007).
Assim, as interações medicamentosas e o mascaramento de sintomas são
consequências graves da utilização de medicamentos de forma indevida, visto que
podem alterar os efeitos de fármacos, além de mascararem sintomas e até mesmo
retardarem diagnósticos ou alterá-los, podendo levar o indivíduo a óbito.

6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

A automedicação se faz presente em diversos segmentos, sejam estes


relacionados à faixa etária, ao nível de escolaridade, dentre outros, mas, apesar da
influência da cultura popular, faz-se necessária a paralelização com o conhecimento
científico, para que os riscos, como os de interação medicamentosa e mascaramento
de sintomas, sejam reduzidos ao máximo e a saúde, por fim, seja restabelecida.
Um aspecto fundamental consiste em respeitar e manter viva a herança cultural,
visto sua importância histórica na identidade social. No entanto, aspectos culturais
como o uso de fitoterápicos merecem atenção, ao passo que estão sujeitos a riscos
para a saúde da população.
Nesse sentido, através de estudos, a ciência tem subsídios para comprovar
a eficácia de alguns tratamentos e alertar sobre os perigos do uso de outros,
compartilhando esse conhecimento com a população. Na prática, o profissional de
saúde, deve sensibilizar a população por meio da promoção de ações de educação
em saúde, aconselhamento individual e coletivo, orientando a comunidade sobre o
uso de fitoterápicos bem como a avaliação de hábitos e saberes populares que podem
ser aliados ao conhecimento científico.

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 38 334


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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 38 336


CAPÍTULO 39

EDUCAÇÃO E PROMOÇÃO DE SAÚDE PARA


GESTANTES, MÃES E CRIANÇAS À LUZ DA VISÃO
DOS EXTENSIONISTAS

Eloisa Lorenzo de Azevedo Ghersel ambulatórios do Hospital Universitário Lauro


Universidade Federal da Paraíba, Departamento Wanderley (Universidade Federal da Paraíba,
de Odontologia Clínica e Social – João Pessoa - 2016). O objetivo é trocar experiencias para
PB
propiciar a formação integral acadêmica
Amanda Azevedo Ghersel além de contribuir com o desenvolvimento
Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba - João
social da população através da promoção
Pessoa - PB
de saúde. As ações do projeto consistem em
Noeme Coutinho Fernandes rodas de conversas através de diálogos de
Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba - João
forma horizontalizada, dinâmicas e atividades
Pessoa – PB
lúdicas abordando temas que contemplam as
Lorena Azevedo Ghersel
necessidades e a prevalência das principais
Universidade Federal da Paraíba, acadêmica do
curso de Psicologia, João Pessoa - PB doenças nesta população. As impressões dos
extensionistas são de que a participação neste
Herbert Ghersel
Universidade Federal da Paraíba, Departamento projeto foi extremamente válida pois a vivência
de Odontologia Clínica e Social – João Pessoa - direta com a população contribuiu com a troca
PB de saberes tão importante para a formação
humanística de profissionais de saúde. O
público alvo se mostrou participativo, receptivo
e disposto a aplicar os novos conhecimentos.
RESUMO: Educação e Promoção de Saúde
PALAVRAS-CHAVE: Educação em Saúde;
são temas diretamente associados a uma
Extensão Universitária; Promoção de Saúde.
busca esperançosa de transformação social.
Mulheres são as grandes disseminadoras de
ABSTRACT: Education and health promotion
conhecimento no âmbito familiar e crianças
are issues directed linked with a hopeful pursuit
costumam ser menos refratárias a novos
of social shift. Women are the most effective
conhecimentos que adultos. Este trabalho
radiators of knowledge into families, and children
busca lançar uma luz sobre a educação em
are less unamenable to news then adults. This
saúde para uma população vulnerável de
paper aims to enlighten health education to
gestantes, mães e crianças, através da visão
a vulnerable population of pregnant women,
de um grupo de participantes de um projeto
mothers and children, through the vision of
de extensão multidisciplinar desenvolvido nos
a group of attendants of a multidisciplinary

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 39 337


extension project running on a clinic of the Lauro Wanderley Hospital (Federal
University of Paraíba, Brazil, 2016). The project’s purpose is to share experiences to
integrate the academic formation and, in addition, contribute to the social development
of the population, through the health education. Project’s actions are talk sessions,
flat level dialogs, ludic activities and group dynamics, approaching themes that gets
close to the needs and the prevalence of the main disorders in this population. The
vision of the attendants is that the participation in the project was very good, once the
direct experience with the people allowed the share of knowledge, so important to the
humanistic shaping of the health professional. The target people were participative,
receptive and ready to apply the new acquaintance.
KEYWORDS: Health education, academic extension, health promotion

1 | INTRODUÇÃO

“(...) Educação, civilidade e cidadania são conceitos hoje intimamente ligados ao


nível de saúde de uma população. Não há como separar a ideia de qualidade de
vida – aí incluídas as necessidades básicas como saúde e segurança – de uma
visão ampla de conscientização da população sobre procedimentos preventivos
e curativos dos diversos males a que esta pode estar sujeita. Noções de higiene,
antissepsia e o conhecimento das causas das principais doenças são, por si só,
fatores que minimizam seu aparecimento ou, na pior das hipóteses, sua morbidade”
(Ghersel et al., 2010)

As mudanças nos parâmetros epidemiológicos e no próprio modelo de prestação


de serviços fazem com que a saúde enfrente novos desafios. Muitas doenças
infecciosas, incluindo as doenças bucais, chamadas comportamentais, são frutos da
falta de acesso à educação e à saúde infligida pela desigualdade social, atingindo
com especial severidade aos mais pobres e aos que são vítimas de desvantagens
físicas, psíquicas, sociais ou mesmo decorrentes da idade, impactando negativamente
sua qualidade de vida (Pinto, 2013). Esta disparidade social faz com que haja um
expressivo desnível entre pessoas no que se refere ao alcance a bens essenciais para
a sobrevivência, entre as quais se inclui o acesso a serviços básicos de saúde (Bellini
e Pinto, 1997). Em 2017, Staudt e Silva destacam a importância de as universidades
oferecerem aos acadêmicos práticas pedagógicas destinadas à promoção da
igualdade social, da cidadania e dos direitos humanos a partir da desconstrução de
representações negativas de minorias sociais.
A crise da economia capitalista de âmbito internacional e do Estado tem gerado
demandas crescentes de necessidades a serem resolvidas com recursos cada vez
mais escassos e, no setor da saúde, estas questões se fazem muito presentes. Assim,
a busca de iniciativas e parcerias com organizações nacionais e internacionais tem
gerado caminhos alternativos, tanto políticos quanto metodológicos e organizativo.
O Ministério da Educação e Cultura (MEC) através da reforma Universitária em 1970
e da nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação estabeleceu critérios para a
formação do perfil do novo profissional de saúde formado pelas Instituições Federais
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 39 338
de Ensino Superior (IFES). As Instituições de Ensino Superior devem capacitar o
aluno, não apenas técnico-cientificamente, mas formar o profissional com capacidade
de exercer a sua função social de cidadania e ética, inserindo-se no modelo de
estruturação da saúde voltado para o SUS, atendendo a demanda da população
(Costa, 2007; Martins, Ghersel e Ghersel, 2017).

2 | A UNIVERSIDADE E A EXTENSÃO

A Universidade, através de sua tríade fundamental ensino, pesquisa e extensão,


além de formar profissionais, deve cumprir seu papel social e integrar-se em seu
ambiente, identificar-se com seus problemas e influir na transformação da sociedade
(Bordenave e Pereira, 2002).
O projeto de extensão multidisciplinar “Promoção de saúde para gestantes,
mães e crianças atendidas no HULW/UFPB” - Hospital Universitário Lauro Wanderley/
Universidade Federal da Paraíba - é integrado por professores e acadêmicos de
diversos cursos da área da saúde da UFPB e de outras instituições e se justifica através
da constatação da necessidade de orientação de medidas simples e preventivas que
possam contribuir com a qualidade de vida das pessoas, além de oferecer ao acadêmico
uma prática que complemente sua formação. Tem dois objetivos principais: o primeiro
é o didático-pedagógico que visa inserir o estudante em um ambiente fora da sala de
aula para que possa interagir em equipe com a comunidade, aplicar os conhecimentos
adquiridos na graduação, observar questionamentos e necessidades para geração de
pesquisas, portanto colaborar com a formação integral dos estudantes. O segundo
foco é contribuir com o desenvolvimento social de uma população carente e vulnerável
levando a educação em saúde com vistas à prevenção à criança, ou seja, trabalhar as
pessoas em uma fase em que doenças possam ser evitadas.
O ambulatório do HULW/UFPB, entre outras especialidades, atende gestantes
que apresentam gravidez de alto risco e risco habitual, puérperas e crianças. A ideia é
trabalhar a promoção de saúde com esta população levando informações que possam
melhorar as condições de saúde e consequentemente a qualidade de vida.
Este trabalho busca lançar uma luz sobre a educação em saúde para um grupo
vulnerável de gestantes, mães e crianças, através da visão de extensionistas. O objetivo
principal do projeto de extensão é promover a troca de experiencias para contribuir
com a formação integral acadêmica além de colaborar com o desenvolvimento social
da população através da promoção de saúde.

3 | METODOLOGIA

O presente estudo é classificado como descritivo, de abordagem qualitativa. O


Hospital Universitário Lauro Wanderley, localizado no município de João Pessoa/PB,

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 39 339


é considerado campo de prática de estudantes da área de saúde da Universidade
Federal da Paraíba e um dos centros de referência estadual para atendimento de
casos de gravidez de alto risco e risco habitual, puérperas e pediatria, cenário em que
o projeto de extensão “Promoção de saúde para gestantes, mães e crianças atendidas
no HULW/UFPB” se insere. A participação em projetos de extensão e pesquisa na
UFPB é aberta a alunos, professores e técnicos-administrativos da própria e de outras
instituições.
O projeto está vinculado ao Programa de Bolsas de Extensão - PROBEX que é
mantido com recursos próprios da UFPB, é desenvolvido anualmente e tem o propósito
de contribuir para a formação acadêmica dos estudantes dos cursos de graduação
e das escolas técnicas partir da experiência em ações de extensão universitária.
Como o próprio título sugere, o projeto consiste em trabalhar ações de promoção de
saúde com gestantes, mães/acompanhantes e crianças nos ambulatórios do referido
hospital. Iniciou em 2010 e a experiência adquirida até o presente momento tem
contribuído para o seu aprimoramento; tornou-se multidisciplinar e é articulado com o
ensino e pesquisa. Tem gerado diversas pesquisas, artigos científicos, apresentações
em eventos, trabalhos de conclusão de curso, entre outros.
Em 2016, o grupo de extensionistas foi composto por 7 professores do curso de
Odontologia, duas técnicas administrativas e o total de 50 acadêmicos distribuídos entre
os cursos de Medicina, Odontologia, Nutrição e Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia
Ocupacional. Os estudantes são divididos equipes, de acordo com sua disponibilidade
de horário, devendo cada um cumprir 4 horas semanais com as atividades do projeto.
As ações acontecem diariamente e os grupos se revezam nos ambulatórios de pré-
natal, puericultura e pediatria. Cada semana, sob a orientação dos professores, um
aluno lidera as práticas.
As ações desenvolvidas são programadas por todos os envolvidos. Para o
planejamento são feitas reuniões com todos os participantes, incluindo o público
alvo. Durante o andamento do projeto, são feitas reuniões quinzenais com os
extensionistas e representantes da comunidade para discussão dos resultados,
críticas e sugestões. O processo de avaliação é feito por entrevista direta ao público e
junto aos extensionistas. Portanto, a comunidade é ouvida em todo o processo, desde
o planejamento, desenvolvimento até a avaliação.
A abordagem da população é baseada na metodologia proposta por FREIRE
(1987), cuja principal ferramenta é a troca de experiências e educação popular, assim
como na proposta de GUERREIRO et al. (2014), que sugerem que os encontros, as
rodas de conversa e as dinâmicas sejam desenvolvidas de forma horizontalizadas,
que as práticas ocorram numa perspectiva dialógica, pautada na troca de saberes e
compartilhamento de opiniões.
Como instrumentos didáticos são utilizados álbuns seriados, panfletos educativos,
materiais lúdicos para as crianças – confeccionados pelos próprios extensionistas – além
de macro modelos e escovas dentais. Segundo Moura, Silva e Biffi (2006), a utilização
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 39 340
de recursos didáticos como fotos, xerox, dinâmicas, desenhos e cartazes, possibilitam
a visualização e memorização dos pontos discutidos, deixam a apresentação mais
clara e dinâmica e facilitam a captação da informação.
A fim de investigar a visão dos extensionistas acerca de sua participação e o reflexo
desta no público alvo, foram realizadas entrevistas com os extensionistas, dando-lhes
total liberdade para expressar suas impressões, anseios, dificuldades e descobertas
ocorridas durante os trabalhos. As entrevistas foram concedidas livremente, depois da
assinatura do TCLE concedendo o direito de uso dos dados obtidos.

4 | RESULTADOS E ANÁLISES

De acordo com a definição do Fórum Nacional de Pró-Reitores de Extensão das


Universidades Públicas Brasileiras (2000):

“(...) a indissociabilidade entre as atividades de extensão, ensino e pesquisa é


fundamental no fazer acadêmico. A relação entre o ensino e a extensão supõe
transformações no processo pedagógico, pois professores e alunos constituem-
se como sujeitos do ato de ensinar e aprender, levando à socialização do saber
acadêmico. A relação entre extensão e pesquisa ocorre no momento em que a
produção do conhecimento é capaz de contribuir para a melhoria das condições
de vida da população. A extensão, como ação que viabiliza a interação entre a
universidade e a sociedade, constitui elemento capaz de operacionalizar a relação
teoria/prática, promovendo a troca entre os saberes acadêmico e popular”.

Pereira et al. (2015), destacam a importância da pesquisa de campo para o


fortalecimento das ações extensionistas, reforçando a relevância dos três pilares
universitários. Frente a estas questões, o projeto em cena procura se inserir oferecendo
ao estudante a possibilidade de consolidar a tríade universitária – ensino, pesquisa e
extensão - uma vez que o contato direto com a sociedade promove a troca de saberes
- ensino e extensão - e, diante de dúvidas e questionamentos, desperta o interesse
pela pesquisa.
As atividades ocorrem enquanto os pacientes aguardam a consulta médica, o
que é uma excelente oportunidade comunicação. O tempo de espera torna-se um
aliado para o desenvolvimento de diversas atividades, pois as pessoas estão ociosas,
irritadas, inquietas e cansadas na expectativa pelo atendimento. Para Teixeira e Veloso
(2006), a implementação de atividades educativas na sala de espera do ambulatório
garante um cuidado humanizado, promove a aproximação entre a população e os
serviços de saúde, o conhecimento da dinâmica ambulatorial, além de mascarar a
demora, levar informações úteis, sanar dúvidas, amenizar as angústias e proporcionar
mais segurança e confiança aos pacientes.
GUERREIRO et al. (2014) enfatizaram a importância da associação entre
as ações educativas e o compartilhamento de práticas e saberes em uma relação
horizontalizada, em que o profissional de saúde exerce seu papel de cuidador e
educador, agregando seus conhecimentos ao saber-fazer popular. Desta forma, os

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 39 341


extensionistas, foram orientados a buscar uma integração à comunidade de forma que
o conhecimento não fosse imposto, mas sim partilhado. Para isso é importante saber
ouvir e mesclar o conhecimento científico ao popular respeitando as bases culturais
da comunidade.
Como nas equipes há a presença de alunos de diferentes cursos
concomitantemente, e os acadêmicos tratam questões relacionadas à sua área
de graduação, a troca de saberes se dá entre estudantes-estudantes, estudantes-
comunidade e comunidade-estudantes. Assim, com o desenvolvimento do projeto foi
possível perceber que muitas pessoas ouviam e participavam ativamente dos temas
abordados, sentiam a necessidade de compartilhar suas experiências, expunham suas
dúvidas e questionamentos, esforçavam-se para absorver as informações repassadas
e propuseram-se a divulgar as informações em seu núcleo social. Consequentemente,
para os estudantes, esses momentos foram bastante enriquecedores porque aprendiam
a escutar os pacientes, ouvir suas queixas, suas vivências, tendo esta experiência
contribuído sobremaneira para o desenvolvimento da empatia, uma qualidade
absolutamente imprescindível aos profissionais de saúde. Segundo Miranda (2002),
as dinâmicas de grupo geram aprendizados de várias formas aos seus integrantes,
tanto na vivência pessoal como na interpessoal. Esta linha de raciocínio pode ser
confirmada por Andrade et al. (2016), que demonstraram a importância da extensão
universitária multidisciplinar junto à comunidade em diversos aspectos, porém todos
com o objetivo de contribuir com a conscientização e melhoria na saúde das pessoas
envolvidas.
O impacto desta prática vivida na condição de extensionistas foi muito além
da aquisição de novos conhecimentos, promoveu mudanças de comportamento
tanto acadêmico quanto da comunidade. De acordo FREIRE (2007), a valorização
do conhecimento do estudante desenvolve sua autonomia tornando-o capaz de
transformar a si mesmo e a sua realidade. Nessa vivencia, pode-se observar que este
projeto contribuiu para aumentar a autoconfiança dos estudantes nas apresentações,
sendo importante para o aprendizado de liderar e direcionar as ações em equipe
junto ao público. Também foi significativo para o desenvolvimento da autocrítica e da
resiliência. Ademais diante de perguntas inusitadas, o aluno deveria estar preparado
para respostas efetivas e convincentes, que além de compelir a busca constante por
novos conhecimentos, estimulava o raciocínio lógico. Além disso, os extensionistas
se sentiam eficientes em seus propósitos uma vez que havia devolutiva positiva da
população que demonstrava estar aberta a novos aprendizados e expressava palavras
de gratidão. Os temas foram escolhidos cuidadosamente de acordo com as principais
dúvidas e necessidades de maneira que os assuntos despertassem interesse e,
consequentemente, mudança de comportamento. Esta experiência corrobora com
Ogushi e Bardagi (2015), quando diz que a Universidade deve promover a formação
integral de seus alunos preparando-os para a atuação profissional responsável e
consciente, para isso é necessário que as instituições se organizem politicamente
As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 39 342
para oferecer apoio e serviços efetivos aos acadêmicos. Afirmam ainda que

“(...) a instituição tem papel fundamental na promoção de um ambiente que


possibilite maior confiança ao estudante, estimulando-o ao desenvolvimento e
ao gerenciamento satisfatório dos inúmeros desafios com os quais se depara ao
ingressar na vida universitária.”

Da mesma forma, na concepção de Paulo Freire (1996), formar homens e


mulheres conscientes de seus direitos e deveres para com a sociedade significa torná-
los sabedores de sua força e de que são, também, produtores de conhecimentos e
de mudanças. Este pensamento é reforçado por Carvalho (2011), quando consolida
a experiência da socialização do conhecimento e do fazer coletivo, destacando a
importância imanente do ato de ensinar e aprender.
Contudo, apesar das experiências positivas vivenciadas durante o processo,
foram levantadas algumas limitações, principalmente no tocante ao espaço físico.
As atividades são desenvolvidas em salas comunitárias e em corredores, onde
muitas vezes o barulho pode atrapalhar a comunicação. Em alguns momentos os
extensionistas tinham que abordar pequenos grupos de pacientes separadamente,
para que todos pudessem participar efetivamente da atividade educativa. Tal situação
corrobora com o estudo de Sobreira, Vasconcellos e Portela (2012), que também
relaciona o ambiente e a interferência à qualidade da informação captada.

5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência vivida pelos acadêmicas no projeto extensão em cena foi


extremante relevante porque, além de complementar sua formação integral
congregando o ensino, a extensão e a pesquisa e promover a troca de aprendizado,
ainda possibilitou o entendimento da dinâmica ambulatorial, a desenvoltura da
fala em público, liderança, trabalho em equipe, e sobretudo o desenvolvimento da
empatia – competência emocional imprescindível aos profissionais de saúde. Em
relação à comunidade, através de observação direta e de pesquisas, foi possível
constatar que as pessoas ouviam e participavam ativamente dos temas abordados,
sentiam a necessidade de compartilhar suas experiências, expunham suas dúvidas
e questionamentos, esforçavam-se para absorver as informações e se propuseram a
aplicar os novos conhecimentos em seu núcleo social.

REFERÊNCIAS
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cuidadores e indivíduos com Síndrome de Down. Extensio: Revista Eletrônica de Extensão, v. 13,
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gestação de risco para nortear ações preventivas. Ciência & Saúde, v. 10, n. 1, p. 18, 23 fev. 2017.

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As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Capítulo 39 344


SOBRE OS ORGANIZADORES

NAYARA ARAÚJO CARDOSO Graduada com titulação de Bacharel em Farmácia com


formação generalista pelo Instituto Superior de Teologia Aplicada – INTA. Especialista em
Farmácia Clínica e Cuidados Farmacêuticos pela Escola Superior da Amazônia – ESAMAZ.
Mestre em Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará – Campus Sobral. Membro
do Laboratório de Fisiologia e Neurociência, da Universidade Federal do Ceará – Campus
Sobral, no qual desenvolve pesquisas na área de neurofarmacologia, com ênfase em modelos
animais de depressão, ansiedade e convulsão. Atualmente é Farmacêutica Assistente Técnica
na empresa Farmácia São João, Sobral – Ceará e Farmacêutica Supervisora no Hospital
Regional Norte, Sobral – Ceará.

RENAN RHONALTY ROCHA Graduado com titulação de Bacharel em Farmácia com


formação generalista pelo Instituto Superior de Teologia Aplicada - INTA. Especialista em
Gestão da Assistência Farmacêutica e Gestão de Farmácia Hospitalar pela Universidade
Cândido Mendes. Especialista em Análises Clínicas e Toxicológicas pela Faculdade Farias
Brito. Especialista em Farmácia Clínica e Cuidados Farmacêuticos pela Escola Superior da
Amazônia - ESAMAZ. Especialista em Micropolítica da Gestão e Trabalho em Saúde do Sistema
Único de Saúde pela Universidade Federal Fluminense. Farmacêutico da Farmácia Satélite da
Emergência da Santa Casa de Sobral, possuindo experiência também em Farmácia Satélite
do Centro Cirúrgico. Membro integrante da Comissão de Farmacovigilância da Santa Casa
de Misericórdia de Sobral. Farmacêutico proprietário da Farmácia Unifarma em Morrinhos.
Foi coordenador da assistência farmacêutica de Morrinhos por dois anos. Mestrando em
Biotecnologia pela Universidade Federal do Ceará.

MARIA VITÓRIA LAURINDO Graduada com titulação de Bacharel em Enfermagem pelo


Centro Universitário INTA – UNINTA. Foi bolsista no hospital da Santa Casa de Misericórdia
de Sobral (SCMS) no setor de Quimioterapia, participei do programa de monitoria na disciplina
de Patologia Humana e fui integrante do Projeto de Extensão Humanização Hospitalar. Assim
como, desenvolvi ações em educação e saúde como extensionista para pacientes parturientes
no hospital Santa Casa de Sobral (SCMS).

As Ciências Biológicas e da Saúde na Contemporaneidade Sobre os organizadores 345


 

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