Mulheres Da Palavra - Como Estud - Jen Wilkin
Mulheres Da Palavra - Como Estud - Jen Wilkin
Mulheres Da Palavra - Como Estud - Jen Wilkin
ISBN: 978-85-8132-279-7
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
CDD: 220.071
Matt Chandler
Pastor Principal da Village Church
Presidente da Rede de Implantação de Igrejas Atos 29.
Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão,
para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja
perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.
2 Tm 3.16-17
REVIRAVOLTA 1:
DEIXE QUE A BÍBLIA FALE DE DEUS
A primeira coisa que estava de trás para frente parecia
tão óbvio de percebermos que é até embaraçoso admitir:
falhei em compreender que a Bíblia é um livro sobre Deus.
A Bíblia é um livro que revela em cada página, de forma
audaciosa e clara, quem é Deus. Em Gênesis, ela faz isso
colocando Deus como o sujeito da narrativa da criação. Em
Êxodo, ela revela a autoridade de Deus sobre faraó e os
deuses do Egito. Nos Salmos, Davi exalta o poder e a
majestade do Senhor. Os Profetas proclamam sua ira e
justiça. Os Evangelhos e as Epístolas revelam seu caráter
na pessoa e obra de Cristo. O livro de Apocalipse exibe seu
domínio sobre todas as coisas. Do início ao fim, a Bíblia é
um livro sobre Deus.
Talvez eu soubesse de fato que a Bíblia era um livro
sobre Deus, mas não percebia que não a estava lendo
como se fosse.
Foi aqui que coloquei as coisas de trás para frente: eu
iniciava meu devocional fazendo as perguntas erradas. Eu
lia a Bíblia, perguntando: “Quem eu sou?” e “O que devo
fazer?” E a Bíblia realmente respondeu a essas perguntas
em alguns lugares. Efésios 2.10 me disse que eu era
feitura de Deus. O Sermão do Monte me disse para pedir
pelo pão de cada dia e para acumular tesouros no céu. A
história do rei Davi me disse para buscar um coração
segundo o coração de Deus. Mas as perguntas que eu
estava fazendo revelaram que eu tinha uma sutil má
interpretação em relação à própria natureza da Bíblia: eu
acreditava que a Bíblia era um livro sobre mim.
Eu cria que deveria ler a Bíblia para ensinar a mim
mesma sobre como viver e para ter a garantia de que eu
era amada e perdoada. Eu acreditava que ela era um guia
para a vida e que, em qualquer circunstância, alguém que
realmente soubesse como ler e interpretá-la poderia
encontrar uma passagem que oferecesse conforto ou
orientação. Eu acreditava que o propósito da Bíblia era me
ajudar.
Com esse pensamento, eu não era muito diferente de
Moisés, em pé diante da sarça ardente no Monte Sinai.
Imediatamente em sua visão estava a revelação do caráter
de Deus: uma sarça em chamas, conversando com ele de
forma audível, a qual não era consumida
miraculosamente. Quando foi encarregado por essa visão
de Deus para ir até faraó e exigir a libertação dos cativos,
Moisés, autoconsciente, responde: “Quem sou eu para ir a
Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?” (Êx 3.11)
Deus responde com paciência, fazendo de si mesmo o
sujeito da narrativa: “Eu serei contigo” (Êx 3.12). Em vez
de se tranquilizar com essa resposta, Moisés pergunta em
seguida: “Disse Moisés a Deus: Eis que, quando eu vier aos
filhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me
enviou a vós outros; e eles me perguntarem: Qual é o seu
nome? Que lhes direi?” (v. 13)
Observe que em vez de dizer a Moisés o que ele deveria
fazer, Deus, ao contrário, diz o que ele mesmo tem feito,
está fazendo e fará:
Disse Deus a Moisés: EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás
aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós outros. Disse Deus ainda
mais a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: O SENHOR, o Deus de
vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a
vós outros; este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de
geração em geração. Vai, ajunta os anciãos de Israel e dize-lhes: O
SENHOR, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de
Jacó, me apareceu, dizendo: Em verdade vos tenho visitado e visto o que
vos tem sido feito no Egito. Portanto, disse eu: Far-vos-ei subir da aflição
do Egito [...]. E ouvirão a tua voz; e irás, com os anciãos de Israel, ao rei
do Egito e lhe dirás: O SENHOR, o Deus dos hebreus, nos encontrou. Agora,
pois, deixa-nos ir caminho de três dias para o deserto, a fim de que
sacrifiquemos ao SENHOR, nosso Deus. Eu sei, porém, que o rei do
Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte. Portanto,
estenderei a mão e ferirei o Egito com todos os meus prodígios que farei
no meio dele; depois, vos deixará ir. Eu darei mercê a este povo aos
olhos dos egípcios; e, quando sairdes, não será de mãos vazias. (Êx 3.14-
22)
REVIRAVOLTA 2:
DEIXE QUE A MENTE TRANSFORME O CORAÇÃO
A segunda coisa que deixei de trás para frente em
minha abordagem bíblica foi a crença de que meu coração
deveria guiar meu estudo. O coração, conforme é dito nas
Escrituras, é a sede da vontade e das emoções. Ele é a
nossa “antena” e o nosso “tomador de decisões”. Deixar
meu coração guiar o meu estudo significava buscar a Bíblia
para me fazer sentir de determinada maneira quando eu a
lesse. Eu queria que ela me desse paz, conforto ou
esperança. Queria que ela fizesse com que eu me sentisse
mais perto de Deus. Queria que ela me desse garantias em
relação a escolhas difíceis. Devido ao fato de eu querer que
a Bíblia se comprometesse com as minhas emoções,
gastava pouco tempo em livros como Levítico ou Números
e muito tempo em livros como os Salmos e os Evangelhos.
A Bíblia nos ordena a amar a Deus com todo o nosso
coração (Marcos 12.30). Quando dizemos que amamos a
Deus com todo o nosso coração, queremos dizer que o
amamos totalmente, com nossas emoções e com a nossa
vontade. Ligar as nossas emoções à nossa fé é algo que
acontece, até certo ponto, de modo natural para nós
mulheres — falando de forma geral, sabemos como ser
emotivas sem muita orientação. Se pensarmos no coração
como a sede de nossas emoções e de nossa vontade, faz
sentido nos aproximarmos com tanta frequência da
Palavra de Deus perguntando: “Quem eu sou?” e “O que
devo fazer?” Essas duas perguntas tratam exclusivamente
do coração. E falamos com frequência na igreja sobre como
o cristianismo é uma religião do coração — de como Cristo
entrou em nosso coração, de como precisamos de uma
mudança de coração. É correto falar do cristianismo dessa
maneira, mas não exclusivamente dessa maneira.
Curiosamente, o mesmo versículo que nos ordena amar
a Deus com todo o nosso coração também nos ordena a
amá-lo com toda a nossa mente. A nossa mente é a sede
do nosso intelecto. Ligar o nosso intelecto à nossa fé não
acontece naturalmente para a maioria de nós. Vivemos
num tempo em que a fé e a razão são tidas como pólos
opostos. Por vezes, até a igreja adota esse tipo de
linguagem. Para algumas de nós, a intensidade da nossa fé
é medida através do quão perto nos sentimos de Deus em
determinado momento — de como o sermão nos fez
sentir, de como o coral de adoração nos fez sentir, de
como a nossa hora silenciosa nos fez sentir. Escondido
nesse pensamento, está um desejo sincero de
compartilhar um profundo relacionamento com um Deus
pessoal, mas sustentarmos nossas emoções pode ser
exaustivo e frustrante. A mudança de circunstâncias pode
derrubar nossa estabilidade emocional em um instante. A
nossa “caminhada com o Senhor” pode se parecer mais
com uma volta de montanha-russa, com picos e vales, do
que com um caminho reto onde vales e montanhas foram
nivelados.
Seria isso a consequência de termos deixado as coisas de
trás para frente? Ao pedirmos para que o nosso coração
dirigisse a nossa mente, será que adquirimos
voluntariamente um ingresso para uma volta de
montanha-russa? A menos que viremos as coisas para o
lado certo, deixando a mente encarregada do coração,
podemos estar numa longa e desenfreada volta.
Pedir para que a nossa mente venha antes do coração
soa quase como não espiritual, não é mesmo? Mas observe
a maneira como as Escrituras falam sobre o papel da
mente:
Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de
que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança.
Rm. 15.4
A ABORDAGEM DO ALPRAZOLAM
Você se sente ansiosa? Filipenses 4.6 diz que não
devemos andar ansiosos por coisa alguma. Você se sente
feia? O Salmo 139 diz que você foi feita de modo
assombrosamente maravilhoso. Você se sente cansada?
Mateus 11.28 diz que Jesus dará descanso ao que está
sobrecarregado. A abordagem do Alprazolam trata a Bíblia
como se ela existisse para nos fazer sentir melhor. Quer
eu seja auxiliada por um livro devocional ou apenas pelo
índice de tópicos da minha Bíblia, declaro que meu tempo
na Palavra foi bem-sucedido se eu puder dizer: “Nossa,
isso foi realmente confortador”.
O problema: a abordagem do Alprazolam faz da Bíblia um
livro a meu respeito. Pergunto como a Bíblia pode me
servir em vez de como eu posso servir ao Deus que ela
proclama. Na verdade, a Bíblia nem sempre faz com que
nos sintamos melhor. De fato, com bastante frequência
ela faz exatamente o contrário (você está se sentindo
incrível? Jeremias 17.9 diz que somos corruptos e
perversos). Sim, existe conforto em sermos achados nas
páginas das Escrituras, mas o contexto é o que torna esse
conforto duradouro e real. Observe também que a
abordagem do Alprazolam garante que partes enormes de
nossa Bíblia permaneçam sem serem lidas porque elas
falham em nos oferecer uma dose imediata de satisfação
emocional. Não estaremos muito propensos a ler Levítico
ou Lamentações se concordarmos com essa abordagem.
Uma abordagem bem fundamentada do estudo bíblico nos
desafia a navegar em todas as áreas da Bíblia, até mesmo
naquelas que nos fazem sentir desconfortáveis ou que são
de difícil compreensão.
Acaso, não sabeis? Porventura, não ouvis? Não vos tem sido anunciado desde o
princípio? Ou não atentastes para os fundamentos da terra? Ele é o que está
assentado sobre a redondeza da terra.
Is. 40.21-22a
Livros da Lei: a Bíblia registra a lei de Deus para nós, de modo que
entendamos a nossa necessidade de redenção por meio de Cristo. Ela
também mostra ao crente como obedecer a Deus ao ilustrar o caráter
dele e nos chamar para nos conformarmos à sua imagem, começando
assim o processo de restauração à imagem de Deus (consumação), a qual
foi perdida na queda.
Livros Poéticos: a poesia na Bíblia varia de lamentações a bênçãos,
hinos de louvor e profecias. A linguagem poética e representações
podem ser usadas pelos autores das Escrituras para enfatizar ou
reforçar qualquer parte da metanarrativa. O conhecido Salmo 23
aponta para a redenção e consumação. A resposta bem conhecida de Deus
ao questionamento de Jó (30-40) aponta para a criação e queda.
Livros de Sabedoria: assim como acontece com a Lei, os livros de
sabedoria nos mostram as lacunas em nossa santificação e nos motivam
a responder em obediência. Eles também apontam para a nossa
necessidade de redenção e para a obra contínua de restauração na vida do
crente (consumação).
Livros Proféticos: Quando estudamos os profetas, aprendemos
que Deus faz exatamente aquilo que ele diz que fará. Perceber o
cumprimento meticuloso da profecia no livro de Daniel ou de Isaías nos
aponta para a certeza de que todas as profecias ainda não cumpridas
serão também cumpridas meticulosamente. As profecias apontam para
a metanarrativa, dizendo “a redenção foi cumprida e a consumação é algo
certo”.
Aprender a interligar uma passagem das Escrituras à
ampla visão da metanarrativa poderia ser tão simples
quanto comprar uma passagem de avião para Santa Fé.
Identificar a metanarrativa à medida que estudamos é
algo que não acontece sem esforço — essa é uma
habilidade de estudo que exige tempo e prática para ser
adquirida. Todas as novas habilidades requerem uma
curva de aprendizagem. À medida que você começar a
estudar com propósito — com a história principal em
vista — permita-se ter uma curva de aprendizagem
conforme seus olhos se ajustam a esse novo ponto de
vista. Com o tempo, você se tornará melhor em conectar
as áreas individuais do estudo a uma compreensão
integral do propósito de Deus desde Gênesis até
Apocalipse.
4
Estude com Perspectiva
Por isso, todo escriba versado no reino dos céus é semelhante a um pai de família
que tira do seu depósito coisas novas e coisas velhas.
Mt. 13.52
DESENTERRANDO A HISTÓRIA
A cidade de Roma existe desde o século VIII A.C., um
fato do qual seus cidadãos hoje estão bem cientes. Se você
possui uma casa em Roma atualmente, a história se revela
em qualquer projeto de melhoria de casas que requeira
escavação. Isso porque a Roma dos dias de hoje foi
construída em cima da Roma antiga. Bem abaixo da
superfície dessa cidade agitada, repousam literalmente
quilômetros de templos antigos, casas de banho, prédios
públicos e palácios que desapareceram de vista; muitos
deles ainda estão intactos.6 Por séculos, os romanos
construíram em cima de estruturas já existentes, às vezes
eles as preenchiam com terra para torná-las um alicerce
mais adequado para a nova construção. O resultado é uma
cidade em cima de outra cidade, com uma coluna antiga
ocasionalmente se projetando de um alicerce moderno,
dando a sugerir o que se encontra em baixo. Os
arqueólogos têm mapeado meticulosamente essa Roma
subterrânea em um esforço para preservar seu registro da
antiguidade que está desparecendo; reconhecendo, com
razão, o seu valor para o mundo moderno.
Assim, quando o proprietário de uma casa na Roma
atual quer fazer qualquer reforma que exija escavação,
quase sem exceção, os arqueólogos devem ser
consultados.7 Roma não permite que seus residentes
escavem sem levar em consideração sua rica e relevante
história. Todo tipo de construção atual deve ser feita com
cuidado, reconhecendo que seus habitantes
contemporâneos vivem em um contexto que é bem maior
do que o curto período de tempo em que habitarão ali.
Viver em Roma significa respeitar seus primeiros
habitantes, ocupando um lugar atual e ao mesmo tempo
mantendo uma perspectiva antiga. A tentação de
reformar uma residência particular para torná-la mais
agradável sem notificar as devidas autoridades pode ser
forte. O desejo de dizer: “Não posso simplesmente
construir de acordo com meu próprio gosto?” pode ser
grande. O passado está lá para ser escavado, mas somente
aqueles cidadãos com um senso de seu pequeno espaço na
história de Roma estão dispostos a habitar a cidade de
acordo com suas rigorosas leis de construção.
Assim como os residentes atuais de Roma, nós cristãos
hoje devemos lidar com as nossas Bíblias com o mesmo
entendimento. Os cristãos atuais herdaram uma fé que
está construída sobre os fundamentos daquilo que veio
antes. Nós também devemos ocupar um lugar atual ao
mesmo tempo em que mantemos uma perspectiva antiga.
As porções mais antigas de nosso texto sagrado foram
escritas há aproximadamente 1500 anos A.C., em uma
língua que não falamos, para pessoas cujas vidas pareciam
ser bem diferentes das nossas. Mas muitas de nós
escolhemos edificar o nosso entendimento das Escrituras
hoje sem qualquer consideração pelo contexto histórico e
cultural que repousa debaixo de sua superfície; um
contexto que é essencial para a compreensão e aplicação
corretas de qualquer texto. A tentação para tornarmos a
Bíblia aplicável à nossa experiência atual sem
preservarmos seus laços com os ouvintes originais é forte.
O desejo de dizer: “Não posso ler o texto como se ele
tivesse sido escrito para mim?” é grande. Os contextos
históricos e culturais da Bíblia estão lá para serem
escavados, mas somente aqueles crentes com um senso de
seu pequeno lugar na história da redenção estão dispostos
a cavar com diligência.
O ANTIGO E O MODERNO
Exatamente como a cidade de Roma, sua Bíblia é uma
maravilha moderna inseparavelmente ligada a um
contexto antigo. Estudar com perspectiva, fazer o trabalho
duro de cavar até as estruturas culturais e históricas
originais de um texto, irá capacitá-la a ler a Bíblia da
forma como o seu autor humano pretendia que ela fosse
lida. Levar em conta o propósito original de um livro e
conhecer os gêneros literários que ele utiliza a capacitará a
começar o processo de desenvolvimento do conhecimento
bíblico com zelo. Uma vez que você tenha escavado as
respostas das cinco perguntas arqueológicas, você estará
preparada para começar o processo de aprendizagem do
texto, trabalhando metodicamente para trazer tesouros
antigos aos contextos modernos.
6. Tom Mueller, “Underground Rome”, The Atlantic Monthly [“Roma
Subterrânea” em
O Mensário Atlântico], abril de 1997, disponível em
<http://www.theatlantic.com/past/docs/issues/97apr/rome.htm>.
7. Stephan Faris, “Rome’s Developing Subway”, Travel and Leisure [“A Passagem
Subterrânea de Roma” em Viagens e Lazer], abril de 2008, disponível em
<http://www.travelandleisure.com/articles/romes-developing–subway>.
8. Merriam-Webster OnLine, sob a palavra “literature” [literatura], disponível
em <http://www.merriam-webster.com/dictionary/literature?
show=0&t=1385582790>.
9. Gordon Fee and Douglas Stuart, “How to Read the Bible for All Its Worth”
(Grand Rapids, MI: Zondervan, 1993), p. 74, traduzido para o português
como Como Ler a Bíblia Livro por Livro: Um guia de estudo panorâmico da
Bíblia, Vida Nova: São Paulo, 2013.
5
Estude com Paciência
A [semente] que caiu na boa terra são os que, tendo ouvido de bom e reto
coração, retêm a palavra; estes frutificam com perseverança.
Lc. 8.15
PACIÊNCIA E FRUTIFICAÇÃO
A primeira parábola que Jesus contou aos seus
discípulos fala a respeito de paciência e de dar frutos. Se
você tem frequentado a igreja, você provavelmente está
mais familiarizada com isso. Jesus descreve um lavrador
que sai para semear. A semente cai em vários lugares onde
não pode crescer bem, mas, no final, algumas caem em
solo fértil, onde produzem uma colheita miraculosa.
Observe a interpretação que Jesus dá para esse momento
de clímax da parábola: “A [semente] que caiu na boa terra
são os que, tendo ouvido de bom e reto coração, retêm a
palavra; estes frutificam com perseverança” (Lucas 8.15).
Quando meus filhos eram pequenos, eles amavam as
histórias de The Frog and Toad [O Sapo e a Rã], de Arnold
Lobel. Em uma delas, a rã planta sementes para crescer
em um jardim. E porque ela nunca havia feito jardinagem
antes, observa com obsessão suas sementes brotarem
assim que acaba de plantá-las, esperando que um jardim
apareça instantaneamente. Ela toca violino para elas.
Canta para elas. Lê histórias e poemas para elas. Após
cada tentativa de ajudar no processo, ela grita: “Agora,
sementes, comecem a crescer!” No devido tempo, de
acordo com o seu próprio planejamento, elas
simplesmente fazem isso.
Ao contrário da rã no conto de Lobel, o lavrador da
parábola de Jesus não demonstra qualquer ansiedade em
relação às suas sementes. Os filhos de Deus têm corações
com solo fértil. Somos capazes de ouvir e receber a
Palavra, e quando a paciência tiver feito o seu trabalho,
seremos capazes de dar muito fruto. Seja paciente à
medida que você praticar o estudo saudável. Permita que a
semente da Palavra germine e cresça de acordo com o bom
tempo de Deus, confiando que uma colheita miraculosa
será produzida no devido tempo.
10. A League of Their Own, 1992. “There’s no crying in baseball!” [Não há choro no
beisebol!].
6
Estude com Processo
Cuida dos teus negócios lá fora, apronta a lavoura no campo e, depois, edifica a
tua casa.
Pv. 24.27
ETAPA 1:
COMPREENSÃO – “O QUE O TEXTO DIZ?”
A etapa da compreensão é provavelmente a mais
negligenciada e mal compreendida pelas estudantes da
Bíblia, principalmente porque assumimos que ler um
texto e absorver o sentido de sua mensagem equivale a
compreendê-lo. Por causa dessa concepção errônea,
gastaremos o nosso tempo discutindo o que é
compreensão e como ela é obtida. Se você tiver lido outros
livros acerca do estudo bíblico, talvez você tenha ouvido
que o primeiro passo no processo de aprendizagem é
denominado de “observação”, em vez de “compreensão”.
Eu acredito que compreensão assimila melhor aquilo que
queremos concluir. A observação pode ser subjetiva — ela
pode conotar uma leitura casual, da qual extraio detalhes
ou pensamentos que pareçam importantes para mim à
medida que leio. A compreensão, por outro lado, é mais
objetiva. Ela busca intencionalmente descobrir o que o
autor original pretendia me fazer observar ou perguntar.
Você se lembra da parte de compreensão de texto do
vestibular? Lembra-se daqueles longos textos seguidos de
perguntas para testar o seu conhecimento sobre aquilo
que você havia acabado de ler? O objetivo daquelas
perguntas era forçá-la a ler nas entrelinhas. É exatamente
assim que devemos começar a estudar um texto.
Perguntar a nós mesmas “o que o texto diz?” é um
trabalho difícil e requer que nos alonguemos em nossa
leitura. Uma pessoa que compreende a conta dos seis dias
da criação, em Gênesis 1, pode lhe dizer especificamente o
que aconteceu em cada dia. Esse primeiro passo de
compreender o que o texto diz leva-nos a sermos capazes
de interpretar e aplicar a história da criação em nossas
vidas.
Um bom construtor utiliza boas ferramentas. Quais são
as ferramentas que podemos usar para começarmos a
desenvolver a compreensão de uma passagem? Gostaria
de sugerir seis:
2. LEITURA REPETIDA
Agora que você tem uma cópia que pode ser totalmente
marcada, você está pronta para começar a ler o texto
repetidas vezes. A lacuna histórica, cultural e linguística
que existe entre a Bíblia e suas leitoras dos dias de hoje
faz da leitura repetida uma ferramenta crucial em nossas
tentativas de desenvolver a compreensão. Simplificando,
nós provavelmente não entenderemos o que o autor tinha
a intenção de transmitir fazendo uma única leitura. O
primeiro passo na compreensão de um texto é lê-lo várias
vezes do começo ao fim. Não esperaríamos ler uma única
vez uma cena da peça de Shakespeare, O Rei Lear, e chegar
a um entendimento claro sobre o que ela diz. Nem
devemos esperar ser capazes de fazer isso com a Bíblia.
Após termos nos munido com o contexto histórico e
cultural (ao lermos o material introdutório em uma Bíblia
de estudo e respondermos às cinco perguntas
arqueológicas), começamos a leitura, tentando ouvir o
texto com os ouvidos de seus ouvintes originais.
Quantas vezes devemos ler um texto? Tantas quantas
forem necessárias. Para um livro menor da Bíblia, eu peço
às mulheres do meu grupo de estudo para lerem o livro
todo a cada semana antes de começarem a olhar para a
passagem específica da qual estivermos tratando. Isso
significa que elas podem ter lido o livro de Tiago, pelo
menos, onze vezes até o final do estudo. Para livros
maiores, ler o livro todo duas ou três vezes antes de
incorporar as outras ferramentas de compreensão
geralmente é suficiente. Seja sincera sobre o seu próprio
nível de habilidade. Se você for novata na leitura de
compreensão da Bíblia, talvez você precise fazer mais
leituras iniciais do que alguém que já usa essa ferramenta
há mais tempo.
A leitura repetida oferece dois principais benefícios à
estudante: memorização das Escrituras e, além de tudo,
uma familiaridade com o texto. Para aquelas de nós que
não amam memorizar as Escrituras, a leitura repetida é
uma excelente maneira de assimilar as palavras. Eu
denomino isso de “método preguiçoso” de memorização
das Escrituras. Mas é claro, ele não é nem um pouco
preguiçoso — ele é intuitivo. A repetição é exatamente a
primeira estratégia de aprendizagem que empregamos
quando somos crianças; é assim que aprendemos a falar, a
recitar o voto de lealdade à pátria e a citar as séries de
nossos filmes favoritos. A leitura repetida nos ajuda a
memorizar as Escrituras da melhor maneira possível —
dentro de seu contexto original. Talvez não memorizemos
uma passagem inteira, mas os versículos que começarem a
ser fixados em nossa memória serão fixados como parte
da compreensão mais abrangente que teremos do livro.
Sempre que memorizamos um versículo sem saber o que
vem antes ou depois dele, corremos um perigo muito real
de aplicá-lo de forma errada.
Enfim, através da leitura repetida, ganhamos uma
familiaridade geral com o texto. Quanto mais lermos um
livro todo ou um texto extenso, mais ele nos revelará sua
estrutura e temas gerais, capacitando-nos a empregar a
próxima ferramenta de compreensão em nossa caixa de
ferramentas: o esboço. Tenha em mente que lemos
repetidas vezes no início de um estudo para obtermos
uma percepção geral do texto — esse é o ponto de partida
para a compreensão. A leitura repetida não exige que
agonizemos acerca do significado do texto ou busquemos
maneiras de aplicar a verdade. Ela simplesmente serve
como uma introdução, assim como as primeiras três ou
quatro conversas que temos com alguém que conhecemos
há pouco tempo.
3. ANOTAÇÃO
Após sua primeira leitura geral, comece a marcar sua
cópia do texto nas leituras seguintes, para ter uma ideia
melhor do que ele diz.
4. UM DICIONÁRIO DE PORTUGUÊS
Use um dicionário de português para procurar palavras
desconhecidas ou mesmo palavras conhecidas que
requeiram uma análise mais detalhada. Sim, isso mesmo
— um simples e velho dicionário de português. Você
conseguiria usar um léxico hebraico-grego? Você pode usá-
lo se souber o que está fazendo. Muitas de nós não sabem,
mas o dicionário de português pode ser de grande ajuda.
Os tradutores da Bíblia escolhem as palavras com enorme
cuidado. A nossa compreensão acerca daquilo que o texto
está dizendo pode ser aumentada simplesmente pelo fato
de buscarmos uma palavra difícil no dicionário. Uma das
formas mais comuns de tentarmos correr com a etapa da
compreensão é supor que entendemos as definições das
palavras que estamos lendo. Poderíamos tirar um tempo
para buscar a palavra propiciação, mas será que devemos
também tirar tempo para buscar palavras mais familiares
como santo, santificar, honrar ou perseverança? Ao nos
alongarmos e considerarmos os significados das palavras-
chave ou das palavras desconhecidas, caminhamos na
direção da compreensão. Busque a palavra em questão e
depois, com base no contexto, apresente uma definição
que melhor se enquadre na forma que ela é usada no
texto. Depois, anote essa definição na margem de sua
cópia impressa.
6. O ESBOÇO
Uma vez que você tenha lido todo o texto algumas
vezes, feito anotações, buscado definições de palavras e
comparado as traduções, você poderá começar a organizar
aquilo que está lendo em um esboço. Quando tentamos
fazer um esboço, reconhecemos que o autor original
escreveu com um propósito em mente e tentamos
identificar esse propósito.
Você não tem que ser uma estudiosa da Bíblia para
escrever um esboço. Faça o seu melhor e depois compare
as suas conclusões com aquilo que os estudiosos têm a
dizer. Procure os pontos principais e os pontos
secundários que os apoiam. Nem todos os livros da Bíblia
podem ser cuidadosamente esboçados — às vezes, a
cronologia de uma história é confusa ou um autor trata de
um mesmo tópico em mais de uma passagem. O seu
esboço não precisa ser exaustivo. O objetivo dele é ajudá-
la a reconhecer a estrutura geral e o propósito do texto, e
não de assimilar cada uma das ideias. Você também
poderá revisar o seu esboço conforme progredir no
estudo, e sua familiaridade com o texto aumentar. No
final do meu estudo, eu geralmente olho para trás, para o
meu resumo inicial, e vejo melhores maneiras de
organizar o texto.
A leitura repetida, as anotações em uma cópia impressa
do texto, a definição das palavras-chave, a comparação de
traduções e o esboço podem nos ajudar com o primeiro
passo crucial de compreender “o que o texto diz”. O
simples fato de compreender o que o texto diz é um alvo
digno do tempo que você gasta em estudo. A compreensão
adequada é o que possibilita uma interpretação adequada,
levando a uma aplicação.
ETAPA 2:
INTERPRETAÇÃO — “O QUE O TEXTO SIGNIFICA?”
Enquanto a compreensão pergunta: “O que o texto
diz?”, a interpretação pergunta: “O que o texto significa”?
Agora que fizemos o esforço de entender a estrutura, a
linguagem e os detalhes do texto, estamos prontas para
checar o seu significado. Uma pessoa que compreende a
conta dos seis dias da criação, em Gênesis 1, pode lhe
dizer especificamente o que aconteceu em cada dia. Uma
pessoa que interpreta a história da criação pode lhe dizer
por que Deus criou as coisas em uma determinada ordem
ou de certa maneira. Ela está apta a deduzir coisas além
do que o texto diz.
A maioria de nós confiamos nos sermões, nas anotações
da Bíblia de estudo e nos comentários para nos ajudar
com a interpretação. Isso é apropriado. Já discutimos a
necessidade dessas coisas para nos ajudarem a responder
às cinco perguntas arqueológicas. Deus dotou alguns de
nós com conhecimento e discernimento únicos, e seríamos
tolas se ignorássemos suas contribuições para o nosso
estudo. Eles oferecem um serviço indispensável ao corpo
de crentes. Mas devemos sempre lembrar que cada uma
de nós, individualmente, é chamada para amar a Deus
com a sua mente. Isso significa que é bom tentarmos
arduamente fazer a interpretação por nós mesmas antes
de lermos as interpretações de outros. E isso significa que
devemos esperar para consultarmos comentários, Bíblias
de estudo, áudios, blogs e paráfrases até que tenhamos
nos esforçado ao máximo no trabalho de interpretação.
Portanto, antes de sermos ajudadas por esses suportes
de estudo, duas ferramentas em particular nos ajudarão a
formular a nossa própria interpretação.
1. REFERÊNCIAS CRUZADAS
As referências cruzadas são os versículos que aparecem
em uma lista nas margens ou na parte inferior da página
de sua Bíblia. Elas identificam ideias em comum entre as
diferentes partes da Bíblia — temas semelhantes,
palavras, acontecimentos ou pessoas. Talvez você já tenha
ouvido a expressão: “Deixe que as Escrituras interpretem
as Escrituras”. Esse é o princípio mais básico de
interpretação; a ideia de que a melhor forma de entender
o que o texto bíblico está dizendo é olhar outras passagens
da Bíblia que dizem as mesmas coisas ou coisas
semelhantes. As referências cruzadas nos ajudam a
honrar esse princípio básico e devem servir como ponto
de partida para respondermos: “O que o texto significa?”.
Quando você encontrar uma passagem difícil de entender,
busque primeiro as referências cruzadas para ver o que
elas podem acrescentar à sua compreensão.
2. PARAFRASEAR
Parafrasear é a habilidade de escrever os pensamentos
de outra pessoa com suas próprias palavras. De todas as
ferramentas mencionadas até aqui, creio que parafrasear
seja a mais difícil. Ela exige que andemos mais devagar e
que usemos a paciência. Se acharmos que é fácil
parafrasear, é porque provavelmente não estamos dando
a essa habilidade a concentração que ela merece. Se
investirmos nisso, cresceremos em nossa maturidade
como estudantes.
Quando você se deparar com um versículo ou passagem
difícil de entender, verifique o contexto, cheque quaisquer
palavras complicadas no dicionário, veja as referências
cruzadas e depois escreva a passagem com suas próprias
palavras. Parafrasear o texto irá ajudá-la a se concentrar
naquilo que está sendo dito. Mesmo que sua paráfrase
não seja ótima, ela irá forçá-la a ler em busca de detalhes e
sentido. Você não tem que compartilhar isso com
ninguém — essa é uma ferramenta para o seu próprio
uso. Uma vez que você consultar um comentário, poderá
avaliar se sua paráfrase é terrível. Mas tudo bem. Ao
forçá-la a lutar ao longo do texto, o exercício terá
cumprido a sua função.
Após termos sinceramente tentado compreender e
interpretar o texto por nós mesmas, estaremos
preparadas para considerarmos as interpretações dos
outros. Tentar interpretar o texto antes de consultar um
comentário é vital, porque nem sempre dois comentários
dizem a mesma coisa. Fazer o trabalho pessoal de
compreender e interpretar nos ajuda a discernir quais
comentários são confiáveis e qual interpretação se encaixa
melhor no que o texto diz. Levará tempo para você ser
capaz de reconhecer em quais autores e teólogos você
pode confiar para ter uma interpretação atenta e
confiável. Peça recomendações a um professor experiente
ou ao seu pastor para começar a desenvolver uma
biblioteca pessoal de comentários confiáveis. Quando você
encontrar um comentário que você ama, pesquise as notas
de rodapé dele para obter mais recursos que podem ser
bons.
ETAPA 3:
APLICAÇÃO — “COMO O TEXTO DEVE ME
TRANSFORMAR?”
Finalmente, chegamos à etapa do processo de
aprendizagem no qual o nosso trabalho duro se traduz em
ação. Depois de estabelecer o que o texto diz e o que ele
significa, finalmente estamos na posição de perguntar
como ele deve nos impactar. A aplicação pergunta: “Como
esse texto deve me transformar?”
No capítulo 1, reconhecemos que a Bíblia é um livro a
respeito de Deus. Quando aplicamos um texto, devemos
nos lembrar, mais uma vez, que o conhecimento de Deus e
o conhecimento do eu sempre andam de mãos dadas, que
não há qualquer conhecimento verdadeiro do eu à parte
do conhecimento de Deus. Compreendida a partir de uma
perspectiva centrada em Deus, a pergunta “como esse
texto deve me transformar?” é respondida por três
subperguntas:
Se, porém, algum de vós necessita de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
liberalmente e nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida.
Tg. 1.5
PASSO 1:
COMECE COM PROPÓSITO
Comece seu estudo considerando onde o livro de Tiago
se encaixa na história principal da Bíblia. Que papel ele
desempenha em contar a história da criação, queda,
redenção e consumação? Como ele aponta para o reino e
governo de Deus? A menos que você esteja estudando
Gênesis ou Apocalipse, a princípio pode ser difícil saber
exatamente onde o livro que você escolheu se encaixa na
história principal. Mas tudo bem. Adquira uma ideia geral
ao começar (consulte o material introdutório de sua Bíblia
de estudo ou um comentário) e comprometa-se a manter
essa pergunta em mente enquanto você continua o seu
estudo.
Conforme você gastar tempo no texto, suas
contribuições específicas para a história principal
começarão a surgir com mais clareza. Ao final do estudo,
você deverá ser capaz de destacar os temas da
metanarrativa conforme eles aparecerem no texto. Tendo
em vista o fato de o livro de Tiago ser um livro de
sabedoria (como descobriremos abaixo), ele claramente
lida com o tema da redenção, principalmente a
santificação progressiva, embora outros elementos da
metanarrativa também estejam presentes.
PASSO 2:
GANHE PERSPECTIVA SOBRE O LIVRO QUE VOCÊ ESTIVER
ESTUDANDO
Usando uma Bíblia de estudo, um comentário ou ambos,
responda às perguntas arqueológicas relativas ao livro de
Tiago. Gaste tempo com isso para que quando começar a
ler, você seja capaz de ouvir como a carta teria sido ouvida
por seu público original. Em seu diário, escreva cada uma
das perguntas arqueológicas e anote uma resposta curta
para cada uma. Você poderá usar suas respostas como um
ponto de referência quando estiver no passo 3. Suas
respostas para as perguntas arqueológicas do livro de
Tiago poderiam ser mais ou menos assim:
Tiago, o irmão de Jesus.
Elevado a uma posição de proeminência na igreja
de Jerusalém (Atos 15).
1. Quem escreveu este Conhecido como “Tiago, o justo”; conhecido pela
texto? quantidade de tempo que gastava em oração.
Morto em 62 DC — martirizado. Atirado do
muro do templo, apedrejado e espancado até a
morte.
Por volta de 49 DC, tornando-se o escrito mais
2. Quando ele foi escrito?
antigo do Novo Testamento.
Para os judeus cristãos que enfrentavam
3. Para quem ele foi perseguição nos primórdios da igreja, por
escrito? alguém familiarizado com os escritos e
representações do Antigo Testamento.
Foi escrito como os Livros de Sabedoria do A.T.
— Provérbios, Jó, Cantares de Salomão.
4. Em qual estilo ele foi Muitas exortações — 54 apelos diretos para a
escrito? obediência.
Seu tom é de autoridade, ordenando respeito.
PASSO 3:
COMECE O PROCESSO DE COMPREENSÃO, INTERPRETAÇÃO
E APLICAÇÃO
REFERÊNCIAS CRUZADAS
Procure as referências cruzadas listadas em sua Bíblia
de cada versículo da parte que você estiver estudando
(elas estão localizadas nas margens ou na parte inferior
da página de sua Bíblia). Depois, observe como a
referência cruzada dessa passagem enriquece sua
compreensão acerca do texto que você está estudando. Por
exemplo, algumas das referências cruzadas citadas para
Tiago 1.2-3 na Bíblia Almeida Revista e Atualizada são
Mateus 5.12 e 1 Pedro 1.6. Verifique cada referência
cruzada e leia os versículos que as cercam, assim você
poderá inseri-las em seu contexto. Observe quem está
falando e para quem está se falando. Nesse caso,
precisamos ler Mateus 5.11–12 (Jesus, o irmão de Tiago,
dirigindo-se aos discípulos) e 1 Pedro 1.6–7 (Pedro se
dirigindo aos crentes perseguidos) para entendermos
plenamente a ligação de cada referência cruzada.
PARAFRASEAR
Lembre-se que parafrasear é apenas escrever um
versículo ou uma passagem com as nossas próprias
palavras para nos ajudar a raciocinar, a fim de
entendermos o seu sentido. Parafrasear é útil
principalmente quando um versículo parece obscuro ou
confuso.
A exortação de Tiago em 1.2–3 “tende por motivo de
toda alegria”, à primeira vista, parece estar nos dizendo
que as provações devem ser uma fonte de alegria para nós
enquanto perseveramos nelas. Será que Tiago está
dizendo àqueles que enfrentam uma dura perseguição que
eles devem sorrir e se emocionar com isso? Quando
consultamos outras traduções, descobrimos que a NVI diz:
“Considerem motivo de grande alegria” e a Revista e
Atualizada diz: “Tende por motivo de toda alegria”. Um
dicionário de sinônimos nos ajudará ainda mais,
mostrando que considerar e ter por podem ser sinônimos de
julgar e contar como. As nossas referências cruzadas falam
da ideia de perseguição como algo que resulta em uma
recompensa futura. Combinando esses pontos de
referência, você poderia parafrasear Tiago 1.2–3 assim:
Meus irmãos, quando vocês forem perseguidos, considerem isso
como uma fonte de futura alegria, sabendo que quando sua fé é
testada, vocês crescem em sua capacidade de perseverar.
Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se
envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.
2 Tm. 2.15
2. FEMINIZAR O TEXTO
As mulheres que ensinam a Bíblia para mulheres
enfrentam constantemente a tentação de tomar um texto
e revesti-lo com um significado exclusivo para o sexo
feminino. Toda vez que tomamos uma passagem que tem
como objetivo ensinar pessoas e a ensinamos como se ela
fosse voltada especificamente para mulheres, corremos o
risco de feminizar o texto.
Isso não significa que não podemos extrair aplicações
específicas para um gênero de um texto que fala a ambos
os gêneros. Mas sim que temos que nos guardar de dar
interpretações e aplicações que roubem do texto sua
intenção original, ao concentrar-nos exclusivamente no
enquadramento de um gênero específico. O livro de Rute
não é um livro sobre mulheres, para mulheres; do mesmo
modo que o livro de Judas não é um livro sobre homens,
para homens. A Bíblia é um livro sobre Deus, escrito para
pessoas. É claro que você ensinará o Salmo 139 no que diz
respeito às mulheres e à imagem corporal, mas resista ao
impulso de ensinar exclusivamente isso. Não é trabalho da
professora tornar a Bíblia relevante ou palatável para as
mulheres. Seu trabalho é ensinar o texto de modo
responsável. Em virtude de seu gênero, uma professora
mulher traz, às vezes, uma perspectiva do texto diferente
da de um professor homem, mas nem sempre é assim.
Uma estudante que gastou tempo no texto antes de ouvir
o ensino sobre ele saberá quando o texto estiver sendo
feminizado.
3. EXTRAPOLAÇÃO EXAGERADA
No intuito de “trazer o texto à vida”, as professoras às
vezes sucumbem à tentação de acrescentar um pouco de
cor ao redor das bordas da tela das Escrituras. Admito que
é interessante especular a respeito dos pensamentos e
motivações não registrados de Maria, a mãe de Jesus. Isso
talvez seja benéfico até certo ponto. Mas em algum
momento, isso deixará de ser útil e passará a ser distração,
e potencialmente extrabíblico.
Se você já assistiu uma adaptação cinematográfica de
uma história bíblica conhecida, você entenderá essa
questão — quanto mais instruída acerca do que a Bíblia
realmente diz sobre o Êxodo, por exemplo, menos você
será capaz de apreciar a extrapolação do texto feita por
Cecil B. DeMille, um produtor de cinema norte-
americano. Imaginar além do que o texto diz traz um
grande apelo ao público, mas um apelo limitado para um
estudante. A familiaridade com um texto antes de ouvi-lo
ser ensinado torna o participante de uma plateia em um
estudante. Uma estudante que passou a semana imersa no
texto que você está ensinando perceberá quando você
“sair do roteiro”.
5. CEDER ÀS EMOÇÕES
Quando leio as Escrituras em voz alta para o público,
geralmente choro. Não sei bem por que, com exceção de
quando acho as verdades do texto profundamente
comoventes. Isso costumava me deixar frustrada, mas o
Senhor está me mostrando que ensinar a Bíblia deve
envolver as emoções. Ou seja, ensinar a Bíblia deve
despertar tanto na professora quanto na aluna um amor
mais profundo por Deus, um amor que afete
profundamente nossas emoções. Amar a Deus com a
nossa mente deve resultar em amar a Deus com o nosso
coração de forma profunda e pura.
Nós entramos em apuros quando alvejamos
intencionalmente as emoções das pessoas com o propósito
de criar uma experiência compartilhada. É tentador
elaborar uma lição que comece com uma piada e termine
com uma história que arranque lágrimas. Por quê? Porque
essa é uma fórmula retórica que funciona. Às vezes, as
ouvintes confundem o fato de serem tocadas pelo Espírito
Santo com o fato de serem manipuladas por uma
mensagem humana bem elaborada.
Como podemos saber qual é a diferença? Isso nem
sempre é fácil, mas eis uma reflexão: a manipuladora
emocional aumentará o amor que você sente por ela tanto
quanto ou mais do que o amor que você sente por Deus. O
trabalho da professora é chamar a atenção para a beleza
do texto, e não criar uma experiência comovente. Seu
trabalho é exaltar o Deus da Bíblia, e não desenvolver um
culto à personalidade. Uma estudante bem preparada será
menos suscetível à manipulação emocional.
6. SOBRECARGA DE ENSINO
Um dos maiores desafios na elaboração de uma lição é
saber qual conteúdo incluir nela e qual deixar de fora.
Leva tempo para desenvolver uma percepção de quanto
conteúdo você conseguirá tratar de forma razoável
durante o seu período de ensino. No início, a maioria das
professoras comete o erro de exagerar no conteúdo. Isso
pode levá-la a ficar atolada em um mar de anotações ou a
segurar suas alunas por mais tempo do que pretendia. A
maioria das pessoas não gosta de beber de uma mangueira
de incêndio, então, embora não haja problemas em ter
mais anotações do que você conseguiria ensinar, é
importante que você tenha um plano de contingência
sobre o que poderá cortar, caso o tempo seja curto.
Mais uma vez, a professora cujas alunas já gastaram
tempo no texto-chave possui uma vantagem. O trabalho
que elas já investiram na compreensão deixará você livre
para explorar a interpretação e a aplicação sem que seja
necessário lançar uma base extensa. Você estará
ampliando e reforçando a compreensão delas, em vez de
começar do zero. Uma estudante bem preparada não
precisará de um tempo de ensino exagerado.
7. BANCAR A ESPECIALISTA
Ninguém gosta de se sentir inapto, muito menos uma
professora. E por causa disso, as professoras às vezes são
relutantes para admitir os limites de seu conhecimento.
Seja honesta em relação às suas limitações; não há nada de
errado com o fato de uma professora dizer: “Eu não sei”.
Na verdade, isso pode ser tranquilizador para as suas
alunas. Haja com transparência total quando mais de uma
interpretação for amplamente aceita para uma passagem.
Dê uma resposta sincera, que reconheça os diferentes
pontos de vista. Isso dará às suas alunas uma
oportunidade de examinar qual ponto de vista se encaixa
melhor com a leitura que elas mesmas fizeram do texto.
Uma estudante bem preparada saberá que uma passagem
difícil exige cuidado. Ela saberá quando você estiver dando
uma resposta simplista para um assunto complexo. É bem
melhor ser honesta sobre a sua confiança (ou falta dela)
em uma interpretação específica.
O melhor de ensinar às mulheres um texto que elas já
estudaram anteriormente é que isso torna a professora
responsável em não “fugir dele”. A estudante equipada
poderá reconhecer uma preparação superficial por parte
da professora. Exigir mais das minhas alunas antes do
ensino significa que elas podem e devem exigir mais de
mim durante o ensino.
IMITAÇÃO ATIVA
A imitação de Deus acontece da mesma forma que
acontecia no ensino fundamental, só que desta vez nós
temos um objeto muito mais digno. Assim como eu fiz um
estudo da minha amiga, devemos fazer um estudo do
nosso Deus: o que ele ama, o que ele odeia, como ele fala e
age. Não podemos imitar um Deus cujos hábitos e
características jamais aprendemos. Devemos fazer um
estudo sobre ele se quisermos nos tornar como ele.
Devemos buscar a sua face.
Existem muitas razões boas para investirmos na
aprendizagem da Palavra de Deus, mas nenhuma melhor
do que esta: que com todo esforço com propósito, com cada
leitura ligada à perspectiva, cada passo paciente que damos à
frente, cada tentativa organizada pelo processo, cada prece
feita nos intervalos das páginas das Escrituras, nós nos
aproximamos do semblante de Deus e nos alinhamos mais
diretamente com o resplendor da sua face. Nós o vemos
da forma como ele é, o que com certeza é uma recompensa
por si só, mas é também uma recompensa com o benefício
secundário de sermos eternamente transformadas por
essa visão.
Nós nos tornamos aquilo que contemplamos. Você crê
nisso? Quer seja de forma passiva ou ativa, somos
conformadas ao modelo que gastarmos mais tempo
estudando.
Sobre o que você fixa o seu olhar? Sobre a sua conta
bancária? Sobre a balança que está no seu banheiro? Sobre
o próximo elogio que o seu filho irá receber? Sobre a
cozinha dos seus sonhos? Sobre a última série de TV?
Sobre o seu telefone? Essa é a natureza desta vida, contra
a qual devemos lutar diariamente para criarmos espaço
em nosso campo de visão para aquilo que transcende.
Muitas coisas reivindicam a nossa atenção de forma
legítima, mas quando os nossos olhos estão livres do filho
de dois anos, ou da planilha, ou do livro escolar, ou da
louça do jantar, para onde nós os voltamos? Se gastarmos
o nosso tempo contemplando apenas as coisas inferiores,
nós nos tornaremos como elas, medindo os nossos anos
nos termos da glória humana.
Mas eis a boa notícia: aquele a quem mais precisamos
contemplar se fez conhecido. Ele traçou com mão precisa
as linhas e os contornos do seu rosto. Ele fez isso em sua
Palavra. Devemos buscar esse rosto, embora os bebês
continuem chorando; as contas continuem aumentando;
as más notícias continuem chegando sem avisar; embora
as amizades aumentem ou diminuam; embora a facilidade
e a dificuldade enfraqueçam o nosso controle sobre a
piedade; embora milhares de outros rostos se amontoem
perto de nós querendo o nosso afeto, e milhares de outras
vozes clamem por nossa atenção. Ao fixarmos o nosso
olhar nesse rosto, trocamos a mera glória humana pela
santidade: “Contemplando a glória do Senhor, somos
transformados, de glória em glória, na sua própria
imagem” (2 Co 3.18).
Há, de fato, somente duas possibilidades nesta vida:
sermos conformadas à imagem de Deus ou conformadas
ao padrão deste mundo. Sem dúvidas, você desejará o
primeiro. Mas esteja ciente: a Palavra é viva e ativa. Ela a
conformará dividindo-a. E por meio dessa divisão, que é o
milagre dos milagres, ela a tornará completa. Nós nos
tornamos aquilo que contemplamos. Não sei quanto a
você, eu tenho muito “tornar-se” para fazer. Existe uma
vastidão entre aquilo que sou e aquilo que devo ser, mas
essa é uma vastidão capaz de ser transposta pela
misericórdia e graça daquele cuja face é a que eu mais
necessito contemplar. Ao contemplarmos a Deus,
tornamo-nos como ele.
Por essa razão, faça um estudo fiel daquele a quem você
deseja imitar, como filha amada. Estude tudo o que torna
Deus maravilhoso e imite essas coisas para o deleite do
seu coração, como uma expressão jubilosa do seu amor
recíproco por ele. Responda como Davi: “Buscarei, pois,
SENHOR, a tua presença’” (Sl 27.8). O Senhor se agrada
em levantar o seu rosto sobre aquele que o busca, agora e
para sempre. Estude bem os contornos do rosto de Deus.
Deixe que a contemplação de sua beleza toque sua mente
e coração. E seja transformada.
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