CERVI, E. Opinião Pública e Política No Brasil PDF
CERVI, E. Opinião Pública e Política No Brasil PDF
CERVI, E. Opinião Pública e Política No Brasil PDF
RIO DE JANEIRO
2006
EMERSON URIZZI CERVI
RIO DE JANEIRO
2006
ficha catalográfica:
Banca Examinadora:
Por se tratar de uma versão já revisada após a defesa de tese, devo agradecer
também aos comentários, críticas e sugestões qualificadas de todos os integrantes
da banca, a maioria das quais se encontra incorporada ao texto.
As opiniões não são inatas, nem surgem do nada. A questão “o que é opinião
pública?” é melhor respondida através de três processos e na seguinte ordem: (a) a
disseminação de opiniões a partir de níveis da elite; (b) o borbulhar de opiniões a
partir das bases; e (c) identificações com grupos de referência.
(SARTORI, 1994, p. 132)
RESUMO
themes to the that generates more interest in the public or in relation to subjects
whose opinions are formed the common citizens' positionings historically there are
stays consistent along the time. On second part of the work historical series of
opinions they are analyzed manifested in researches of public opinion along 25 years
(between 1980 and 2005) in Brazil and enter 1950 to 1975 for the city of Rio de
Janeiro on linked themes to the social area, politics or economical. It is looked for to
identify maintenance patterns or change of the opinions regarding subjects of public
interest along the time. Such methodology bases on study accomplished on the
North American public opinion by Page and Shapiro (1992), starting from which is
possible to answer the political leaders in the mass democracies they should give
attention to the public opinion, in case it´s coerente, or not, if volatile and it subjects
to manipulations.
LISTA DE TABELAS
INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 16
PARTE I
CAPÍTULO 1 - DEMOCRACIA, INSTITUIÇÕES E LIBERDADES INDIVIDUAIS.......... 38
MASSA.................................................................................................. 72
2.1 COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE MODERNA ....................................................... 72
2.2 EFEITOS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOBRE A OPINIÃO PÚBLICA ........ 81
PARTE II
CAPÍTULO 4 - METODOLOGIA PARA ANÁLISE DE SÉRIES TEMPORAIS DA
OPINIÃO PÚBLICA BRASILEIRA ........................................................ 137
INTRODUÇÃO
O debate sobre a opinião pública e seu papel nas democracias é tão antigo
quanto o debate sobre a própria democracia. O que se destaca na evolução histórica
sobre opinião pública, em especial nos estudos mais contemporâneos, é a
possibilidade ou até mesmo a viabilidade da manutenção de relações democráticas
estáveis. Isso, ao se levar em consideração a opinião pública na tomada de
decisões políticas. Se, por um lado, a democracia, por princípio, deve considerar as
aspirações dos cidadãos nos processos decisórios, por outro, deixa muitas dúvidas
sobre a pertinência e racionalidade dessas aspirações. Leva-se em consideração
ainda, segundo autores críticos da opinião pública, que ela tende a ser manipulada
em função de interesses de minorias organizadas, o que a torna extremamente
volátil e errátil. Soma-se a esse temor o fato de que a elite política tradicionalmente
não dá atenção à opinião pública e ao fato de que o público – através de eleições
periódicas nas democracias – se mostra satisfeito com esse tipo de participação.
Essas observações garantem a manutenção do poder decisório, pelo menos no
torna a sociedade estável. Por isso, desse grupo maior de cidadãos, considerando a
cidadania universalizada, é possível extrair opiniões coletivas a respeito dos
sobre políticas públicas –, mas também a relação que existe entre essa esfera e o
restante da sociedade, em que se encontra o cidadão que, apesar de não participar
diretamente dos processos decisórios, tem interesse por que suas opiniões sejam
ouvidas e, por isso, oferece como contrapartida a possibilidade de - através do voto -
manter ou substituir os tomadores de decisão.
Nesse sentido, Sartori (1997) mostra que, para se discutir democracia, é
preciso pensar também em uma relação coletivizada, ou seja, impessoal, de
representados com seus representantes. Sendo assim, os custos das decisões
opinião pública como o resultado de uma série de processos sociais, nos quais há
uma interação muito grande de elementos emocionais e manipulativos (LIPPMANN,
1922), aliados a pouca racionalidade (LE BON, 1999). Porém, se de fato a literatura
sobre o tema ainda discute ou não a viabilidade de se ouvir o público, as
democracias modernas estabeleceram como princípio que a decisão da coletividade
é soberana sobre quem deve dirigir diretamente as instituições públicas. Mais do que
isso, essa decisão é reformada em períodos preestabelecidos, através de eleições
periódicas. E, a cada eleição, uma nova conformação de opinião pública se materializa
nos temas discutidos e nas características dos “eleitos” para compor a elite política, a
tomadora de decisões públicas.
é qualquer coisa, desde que seja de domínio público. Sendo assim, opinião pública é
uma opinião sobre assuntos que dizem respeito à nação ou a outro agregado social,
expressa de maneira livre por homens que estão fora do governo, mas que
reclamam o direito de que suas opiniões possam influenciar ou determinar ações
que houver uma alteração perene ou transitória na composição das relações sociais
dos pertencentes ao público. A partir de resultados de trabalhos empíricos, eles
concluem que a opinião pública é racional e coerente. Por isso, as preferências
políticas coletivas são previsíveis, pois trata-se do resultado de avaliações públicas
sobre políticas já implantadas.
Ao analisar opiniões do público norte-americano sobre temas públicos
1Aqui é preciso fazer uma primeira distinção conceitual entre Opinião Pública e Opinião Publicada,
pois alguns autores costumam confundi-los. Opinião Pública é a expressão de opiniões do público a
respeito de temas de interesse comum, enquanto Opinião Publicada é a apresentação pública da
opinião. Essa distinção foi feita pela primeira vez por Floyd Allport (1937) no texto "Toward a Science
of Public Opinion", onde afirma que tratar Opinião Pública e Publicada como sendo a mesma coisa é
uma falácia. Ela nasce da idéia de que os meios de comunicação, que publicam as opiniões, têm
capacidade absoluta de influência sobre os públicos e, portanto, não faria sentido diferenciá-las.
Allport é contrário a essa idéia de domínio dos meios de comunicação. Ele acredita que há uma
complexa relação entre mídia e público, com pressão, resistências e influência mútua que inviabiliza a
possibilidade de controle total de um ator pelo outro. Um exemplo da confusão entre Opinião Pública
e Publicada pode ser encontrado no trabalho de Susan Herbst "Public Opinion Infrastructures:
meanings, measures, media", onde a autora defende ser possível identificar o que ela chama de infra-
estrutura da opinião pública a partir da análise da produção cultural em determinado momento da
história de uma sociedade. Para tanto, ela estuda os conceitos e opiniões transmitidas pelo filme "Mr.
Smith Goes to Washington", dirigido por Frank Kapra. É evidente, de acordo com a definição
apresentada por Allport, que as opiniões inseridas no enredo do filme foram as selecionadas pelo
diretor, ou seja, são opiniões Publicadas e não Públicas.
21
2Em uma pesquisa empírica recente, posterior à publicação do livro de Page e Shapiro, Máxime Isaac
encontrou fortes evidências de que, a respeito de dois temas de política internacional, o público norte-
americano (massacre de estudantes na praça Tianan, na Coréia, e uma crise durante o governo
Gorbatchev na Rússia). A Opinião Pública não se comportou de acordo com as visões transmitidas
pelos líderes políticos ligados ao tema e também se mostrou instável, em sua opinião (ISAACS, 1998).
22
são contrárias aos interesses do grupo ou grupos a que pertencem. Além disso, a
propaganda intensiva, contrária a esses princípios, é impossível de ser desconsiderada,
que pertencem, também da cultura, dos padrões etários, etc. Além disso, em todo
grupo social há pessoas mais ativas e capazes de se expressar em relação a outras.
São dessa forma mais sensíveis aos interesses do grupo e mostram-se ansiosas por
manifestação nos momentos importantes. São os chamados líderes de opinião, e a
informações que se constrói a nova realidade que não existia antes. Essa troca
acarreta em mudanças de opinião, que podem ser rápidas ou lentas. Quando são
grandes fatos da história política e social que podem servir como hipóteses
explicativas de possíveis alterações nos posicionamentos do público.
Identificar como se comporta a opinião pública é premissa fundamental
para o debate sobre a validade ou não de se considerar as manifestações do
cidadão médio sobre temas de interesse coletivo que são objeto de decisão da elite
política. Para tanto, o trabalho parte da hipótese apresentada pelos pesquisadores
norte-americanos Page e Shapiro no livro "Rational Choice" (1992). Neste, eles
desenvolvem uma metodologia de análise do comportamento da opinião pública
norte-americana em 50 anos ao longo do século XX. A partir dos resultados das
pesquisas de opinião pública, identificam consistências na manutenção ou mudança
na opinião pública norte-americana a respeito de vários temas políticos e social;
mostram não apenas uma opinião pública estruturada, como também a necessidade
25
debate público. Além disso, as análises realizadas por eles mostraram que a opinião
pública pode ser afetada pela saliência de um tema, o que termina gerando as
correntes de opinião a partir dos temas agendados pela cobertura que a mídia faz da
esfera política.
Uma das principais críticas ao trabalho de Page e Shapiro é encontrada em
um artigo anônimo4 publicado em uma página de internet vinculada ao portal da
Universidade de Columbia, New York (s/d). Neste texto, o autor afirma que as conclusões
a que chegaram Page e Shapiro são resultado de argumentos inconsistentes, pois
elas estão baseadas apenas no uso de dados agregados para a explicação da
manutenção das preferências políticas. Para o autor da crítica, sem considerar as
mudanças nas opiniões dos indivíduos, não é possível falar em estabilidade ou
mudança previsível, pois os indicadores agregados estarão ocultando as variações
internas que não podem ser indicadas pelas medidas de tendência central. Citando
3No trabalho de Page e Shapiro 57% das opiniões sobre temas públicos mostraram-se consistentes
ao longo do tempo.
4O texto sem indicação de autoria e data pode ser encontrado no endereço eletrônico
<http://www.columbia.edu/~gjw10/paper.htm>.
26
Zaller (1992), no texto "The Nature and Origins of Mass Opinion", a crítica defende
que as opiniões das pessoas são mutáveis, o que faz com que suas atitudes
públicas não possam ser previstas. Além disso, o indivíduo formula suas opiniões,
sempre, com base nas informações mais recentes adquiridas, ou naqueles temas
que estão mais salientes na sua mente.
O problema dessa crítica está no fato de que ela não se aplica à
metodologia e objetivos apresentados por Page e Shapiro, como fica claro, já no
prefácio, no início do livro, quando os autores dizem que estão interessados "na
proporção do público a favor de determinada política em um dado momento, qual o
nível de apoio da opinião e como ela muda ao longo do tempo" (1992, p.xii). Como
se vê, não se busca explicar os padrões individuais dos integrantes da opinião
pública, mas a forma como essa opinião se comporta ao longo do tempo em relação
aos temas e políticas públicas. O mesmo se aplica ao trabalho aqui apresentado.
Não é, portanto, objetivo discutir ou apresentar aqui os padrões individuais de
comportamento da opinião do brasileiro, mas a tendência da opinião pública no
Brasil em relação aos principais temas políticos e sociais.
A pesquisa apresentada aqui propõe o estudo do comportamento da
opinião pública brasileira no sentido descrito acima, a partir de resultados de surveys
nacionais disponíveis, principalmente aqueles que se encontram no Centro de
Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Universidade de Campinas (Unicamp) dos
últimos 30 anos5. Outra fonte importante de informações quantitativas sobre a
opinião pública brasileira surge da parceria entre institutos de pesquisa e entidades
de classes que, desde os anos 90, têm gerado periodicamente informações sobre a
opinião do brasileiro. Ressalta-se então, pela importância na composição do banco
de dados para a tese, duas dessas experiências. A mais antiga delas é fruto da
5O período temporal com informações que possam compor uma base para análise de séries de
opinião pública no Brasil é menor que nos Estados Unidos, onde Page e Shapiro analisaram 50 anos,
e no Canadá, onde Bélanger e Pétry analisaram 60 anos, pois é rara a produção de surveys com
amostras nacionais brasileiras que permitam a formação de séries temporais, ou seja, séries com
repetição de temas e perguntas, antes dos anos 70.
27
anos 40 e esse acervo está disponível no Arquivo Edgar Leuenroth (AEL), também
na Unicamp, essa é também outra fonte de dados para a pesquisa. O AEL reúne os
interpretar de maneira distinta duas questões sobre o mesmo tema. Além disso, há o
banco de dados com informações sobre o público carioca e paulistano,
principalmente o primeiro, entre a década de 40 e 70, que soma várias dezenas de
questionários e centenas de perguntas.
Tomando emprestada a metodologia utilizada inicialmente por Page e
Shapiro e a partir do banco de dados montado com informações disponíveis sobre
opinião pública brasileira, tem-se como meta identificar se as opiniões agregadas do
brasileiro sobre temas públicos se mantêm ao longo do tempo, se variam de maneira
ou opinião secundária6.
Em seu livro, os autores Page e Shapiro usam como exemplo, para mostrar
a diferença entre opinião primária e secundária do norte-americano, o conjunto de
da opinião pública ao longo do tempo, visto que é neste ponto que se encontra o
foco do debate na Ciência Política sobre a viabilidade ou não de se considerar a
6A seguir chama-se Opinião Latente de Opinião Primária e Corrente de Opinião de Opinião Secundária.
29
O texto está dividido em duas partes, cada uma delas contendo três capítulos.
O primeiro capítulo apresenta uma discussão sobre os avanços da teoria democrática
no que diz respeito à ampliação dos atores que participam da democracia. Partindo-se
de um tratamento circunscrito de democracia – relacionada às instituições políticas e
aos atores que atuam diretamente nessas instituições –, os teóricos passam a
ampliar gradativamente essa esfera, na medida em que a sociedade como um todo
ganha o status de ator político relevante e nela são identificadas as "ferramentas" pelas
quais os indivíduos médios da sociedade se relacionam socialmente com os
integrantes das elites políticas, tal como os meios de comunicação. Chega-se, então, ao
tipo de sociedade a que essa democracia está vinculada, se de massas ou de público,
claramente a favor da tese de que se a opinião pública existe – e ele não nega isso
no texto, apesar do título – esta não pode ser realmente apreendida pelos atuais
pública, mesmo que o tema já venha sendo discutido pelos filósofos gregos, essa
definição vem sofrendo uma série de modificações ao longo dos séculos no que diz
(Ipea). A hipótese inicial é a de que uma mudança na opinião racional precisa ser
explicada, ou seja, apresentar correlação significativa com uma variável interveniente
que esteja ligada a ela. Por exemplo, uma variável interveniente considerada para a
avaliação da opinião pública sobre o governo federal é a taxa de desemprego ao
longo do tempo. Em outro caso, o percentual de população urbana no Brasil é
utilizado como variável interveniente para explicar as mudanças nas curvas de
opinião favorável e contrária à reforma agrária. Os testes mostram que grande parte
das alterações de opinião pública brasileira pode ser explicada por mudanças nas
preferência por partido político no Rio de Janeiro entre 1949 e 1968. Essa correlação
se mostra altamente consistente ao longo do tempo – o que já não acontece para a
opinião pública brasileira das décadas seguintes. Ao todo, o capítulo analisa curvas
de opiniões sobre nove temas e subtemas avaliados pelo público da época. Ao final
do capítulo, são apresentadas as curvas comparativas de opiniões sobre os mesmos
temas para o público carioca e brasileiro dos dois períodos.
Em função da limitação de informações de perguntas de surveys que se
repetiram ao longo do tempo sobre o mesmo tema, nos capítulos cinco e seis é
PARTE I
38
CAPÍTULO 1
7Há um problema envolvendo questões relacionadas a poder quando existe autonomia dos atores
para participar da esfera política de todas as formas aceitas no sistema democrático.
39
de Thompson (1988, p.165), "a esfera pública é uma instância social claramente
situada entre a arena privada da família e o estatal ou governamental". Isto é, essa
instância intermediária é a sociedade, que não é nem o Estado nem a família.
Nessas condições, o voto é visto como o ponto máximo da participação
política efetiva, o que dificulta o surgimento, na esfera pública, de instituições que
garantam uma democracia participativa de fato com novas formas de participação e
que favoreçam uma renovação nas estratégias representativas que são apresentadas
pelos atores políticos, tais como a videopolítica8. "A expressão videopolítica envolve
somente um dos múltiplos aspectos do poder do vídeo: a sua incidência nos processos
políticos, e por meio dele uma radical transformação da maneira de "ser político" e
de "conduzir a política" (SARTORI, 2001, p.50). Como apresentada por Sartori, a
videopolítica permite uma ampliação dos debates através das repercussões geradas
pela mídia – não apenas a televisiva, mas, no caso brasileiro, principalmente pelo
grande impacto quantitativo que esse meio de comunicação apresenta –, além de
8Em uma citação de 1989 no Homo Videns, Sartori explica que entende a palavra vídeo como sendo
a superfície do televisor na qual aparecem as imagens. Essa também é a acepção etimológica do
termo, pois vídeo é uma derivação do latim videre, que quer dizer ver.
41
região. Ele9 sugere que as correntes sobre a democracia sejam revistas a partir de uma
perspectiva histórica, contextual e legal. O resultado das análises de democracias
específicas como base conceitual é uma definição minimalista, tal como propõem
vários teóricos.
A teoria da democracia começou com uma preocupação central com os
seus fundamentos. Com o avanço da pesquisa, o foco empírico da teoria voltou-se
para o sujeito, o eleitor individual e sua aglutinação em maiorias. Mas, quanto mais a
teoria segue esse caminho, mais fica evidente que a democracia não pode ser
explicada apenas como uma sociedade política monitorada pela vontade da maioria
(SARTORI, 1997). No fundo, a objeção à teoria da democracia liberal é insuficiente.
como sendo "o arranjo institucional para chegar a decisões políticas pelas quais os
indivíduos adquirem o poder de decidir mediante uma competição pelo voto popular"
(SCHUMPETER, 1975, p.242). Até aqui, além de minimalista, trata-se de uma definição
justiça e cujos membros aceitam como tal" (RAWLS, 1993, p.35), ele aborda o que
considera uma questão fundamental para a democracia – justiça –, mas não deixa de
lembrar que além de ser justa, os integrantes da sociedade precisam aceitá-la como
tal, o que só pode acontecer a partir da circulação de informações e debate de opiniões.
43
Voltando a Schumpeter fica claro que ele não tem como objetivo tratar de
um acontecimento isolado e único, tal como eleger um governo, mas de um regime
de seus comentadores.
Uma definição minimalista é a de Adam Przeworski ao afirmar que
democracia "é um regime no qual os cargos governamentais são preenchidos em
conseqüência da disputa de eleições. Um regime só é democrático quando a
minoria, acrescentando que, "para haver democracia, é preciso que exista uma
opinião pública autônoma e estruturação policêntrica da mídia". (SARTORI, 1997,
p.110). Por isso ele deixa claro o distanciamento desse autor com a conceituação
sociedade na concepção de uma democracia, não há uma clareza sobre como essa
sociedade e o Estado se interligam para garantir o bom funcionamento da democracia.
Isso se deve ao fato de que a maioria das teorias clássicas sobre a democracia
desconsidera a existência e a participação da mídia na manutenção do funcionamento
das democracias. No texto, "Um ponto cego nas teorias da democracia: os meios de
comunicação", Luis Felipe Miguel mostra como as principais teorias da democracia
relegam a um segundo plano a participação dos meios de comunicação nesse
processo, o que leva a dois problemas para a ciência social moderna. Por um lado, a
modelo teórico de mídia na ciência política, o que faz com que os politólogos tendam
a ignorá-la, há um exagero sobre os efeitos da mídia por parte dos comunicólogos"
(MIGUEL, 2000a). Na mesma direção, Ancizar Narváes Montoya lembra que
10As três principais correntes norte-americanas sobre decisão do voto consideram apenas marginalmente,
e nem sempre, o efeito da recepção de informações sociais para o processo de escolha de candidatos,
tratando dos processos de relação interpessoal na Teoria Psicossocial e do déficit informacional nos
estudos sobre Escolha Racional. Uma abordagem completa sobre os principais pressupostos dessas
teorias pode ser encontrada em "A decisão do voto", de Marcus Figueiredo (1991).
47
um erro comum nas análises feitas pelos comunicólogos sobre os efeitos dos meios
de comunicação na política é a supervalorização da mídia pela crença no fato de
poder da mídia nas democracias é menor do que se costuma estimar, pois ela não
controla as formas de propagação das mensagens entre integrantes das audiências
e que formam o contexto social. Em outras palavras, "os efeitos provocados pelos
meios de comunicação dependem das forças sociais que prevalecem num determinado
período" (LAZARSFELD, 1940, p.330).11 O processo de comunicação é unidirecional
apenas em seu primeiro momento, quando as mensagens partem de um emissor para
um número significativo de receptores; porém, não a sua totalidade. Esses primeiros
receptores, os formadores de opinião, vão interpretar os conteúdos das mensagens
11Em 1944, Lazarsfeld e outros dois autores (Berelson e Gaudet) concluíram um estudo sobre os
motivos e a modalidade com que se formaram as opiniões políticas durante a campanha presidencial
de 1940, na comunidade de Erie County no Estado de Ohio. A pesquisa foi publicada com o nome
"The People's Choice. How the Voter Makes up his Mind in a Presidential Campaign". Esse trabalho é
importante porque é a primeira vez que aparece a figura do "líder de opinião" e o fluxo de
comunicação em dois níveis, reduzindo o impacto das intencionalidades dos produtores das
mensagens nos receptores finais.
49
consciência dos indivíduos que entram em contato com as mensagens, seja direta
ou indiretamente, no segundo estágio da comunicação.
sistema democrático.
Algumas definições pretensamente realistas da democracia apresentam
características que não podem ser encontradas empiricamente. Uma delas é a afirmação
de que o povo governa (SARTORI, 1987), embora não seja isso que aconteça nas
democracias contemporâneas, independente da interpretação que se dê à palavra
governo, que leve a atividade deliberada de um agente. Outro exemplo é o de
Philippe Schmitter e Terry Lynn Karl (1993, citado por O'DONNEL, 1999), quando afirmam
50
12Niklas Luhmann (2000) contrapõe-se a essa e a outras definições similares, afirmando que cada
conceito dessa definição é explicado minuciosamente por Habermas, exceto a palavra 'poderiam'.
Parece-me que a deliberação, o diálogo e o debate têm um lugar central na política democrática, o que
não quer dizer que uma esfera pública hipotética e idealizada deva ser um requisito para a democracia.
51
suporte ético e moral às ações dos indivíduos. "A prática do autogoverno, ligada
diretamente à possibilidade de emissão de opiniões, faz com que o cidadão prefira a
revolução democrática à revolução violenta" (TOCQUEVILLE, 1998, p. 262).
Tocqueville rompe com os pensadores do passado que se preocupam com a forma
institucional dos governos, substituindo pensar a forma de governo pela forma de
existência da sociedade, buscando, assim, o princípio da legitimidade democrática.
Assim sendo, fica evidente que eleições competitivas não podem existir sozinhas.
Para Dahl (1997), as liberdades relevantes são as de expressão, informação e de
associação. Sem elas, ficaria difícil manter eleições limpas e competitivas por um
período longo, pois os governantes em determinado momento poderiam manipular
"caixa de pandora" pode fazer com que os autores da teoria democrática prefiram
definições minimalistas, com ênfase às eleições.
Além dos limites externos aos conceitos de liberdades políticas, elas também
apresentam limites internos que, quando ultrapassados, ao invés de servirem como
elemento constitutivo da democracia, podem prejudicá-la. Por exemplo, a liberdade
52
queixas por calúnia ou difamação. Mas é importante perceber que isso não diminui a
relevância das liberdades como fatores cruciais para a existência de eleições
competitivas, pois a ausência de algumas dessas liberdades elimina a possibilidade
de um regime baseado em eleições limpas. Para O'Donnel (1999), uma definição
apropriada de democracia deve se concentrar em um regime que inclua um tipo
específico de eleições, mas não se limite a este, incluindo algumas liberdades relevantes.
Os homens em uma democracia têm prazer pela igualdade, que é maior que o
gosto pela liberdade [...] A liberdade é um valor político, mas os benefícios da
igualdade são encontrados todos os dias pelos cidadãos. Quando libertos, os
homens tendem a esquecer os benefícios dela. Já os benefícios da igualdade
são notados todos os dias (TOCQUEVILE, 1998, p. 371).
considerar que o poder político é distribuído de maneira desigual, em parte por conta
dos fatores citados acima, embora isso gere uma elite que consiga controlar pontos-
chave do sistema. Porém, é fundamental distinguir, tanto em nível terminológico
quanto em conceitual, a estrutura de poder da estrutura da elite. Nem todos os
grupos de controle são, por definição ou por qualquer necessidade, "minorias de
elite"; podem ser apenas "minorias de poder" (SARTORI, 1997). Em relação ao
modelo de classe dominante, considera-se que os grupos de controle constituem,
em qualquer situação dada por uma consciência de grupo, coerência e conspiração;
além de que as minorias nem sempre podem ser concretamente localizadas. Para
13Dahl opta por usar a palavra democracia para o sistema ideal e poliarquia para se aproximar do
mundo real. Ele dá continuidade à tese da democracia competitiva de Schumpeter, com ênfase no
pluralismo. Semanticamente, poliarquia contrapõe-se a oligarquia. Portanto, o termo poliarquia diz
apenas que uma oligarquia está fragmentada, que se transformou numa constelação múltipla e difusa
de grupos, que no melhor dos casos será aberta. As democracias instituem o controle recíproco entre
líderes, porém, para Dahl, é fatal o surgimento do controle de líderes. Portanto, o importante para
restringir, controlar e influenciar os líderes é ter poder pleno e irrestrito de escolhê-los através de
eleições regulares e periódicas.
54
grupo que prevalece com regularidade nos processos decisórios. Nas palavras de
Sartori (1997, p. 165),
Para esse autor, fica claro que se trata de um erro procurar a democracia
nas estruturas e não nas interações: "querem descobri-la imobilizada dentro de alguma
e/ou participação (SARTORI, 1994). Aqui aparece novamente, ainda que de forma
implícita, a importância da participação dos liderados, através de deliberações no
riscos externos, ou seja, para quem recebe as decisões de fora do grupo, que podem
ser os representantes políticos. Sartori está mostrando que, para uma teoria da
Estado apresenta condições para atender apenas parte das demandas, fazendo com
que o cidadão fique com a impressão de que somente alguns segmentos da sociedade
são atendidos pelas políticas governamentais. Nas democracias contem-porâneas, os
segmentos atendidos são aqueles que normalmente estão mais próximos e,
portanto, melhor representados pelas maiorias legislativas.
Cabe ao cidadão, como alternativa, buscar o atendimento a suas demandas
pelo sufrágio universal, como demonstração final de democracia, pode levar a uma
condição de poder quase ilimitado para a ação das atividades governamentais, seja
no Executivo ou Legislativo. Na verdade, não é apenas através de eleições
periódicas que o cidadão democrático pode se manifestar, mas ele faz isso
57
democracia que não pode ser caracterizada apenas pelos arranjos institucionais do
Estado, mas também pela forma como os integrantes da sociedade agem e se
14O cientista político venezuelano Alfredo Ramos Jimenez aponta para uma característica específica
da democracia e dos processos de democratização em países latino-americanos no último quarto do
século XX: trata-se dos movimentos sociais de base, que no início dos processos de redemocratização
mostraram-se como uma alternativa viável de representação política em substituição aos partidos e
aos próprios meios de comunicação. Porém, com o tempo, as organizações de base mostraram-se
incapazes de organizar o debate e fomentar a participação do cidadão comum. Nas palavras de
Jimenez, o que se viu poucos anos após o início dos processos de redemocratização latino-
americana foi "redução da capacidade de negociação nos sindicatos, mínima participação nos
movimentos locais, feministas, de direitos humanos e no funcionamento das instituições estatais [...]
em muitos casos as reivindicações próprias dos movimentos sociais foram assumidas diretamente
pela classe política" (JIMENEZ, 1997, p.55).
58
capacidade do sujeito médio em tomar decisões que interessem a ele, sem ser
mobilizado por uma liderança "demagoga". Uma das principais correntes que
contribuíram para a teoria política das massas é a que se ocupou do caráter volátil
da comunidade na sociedade ocidental. Tönnies, Maine, Durkheim e outros mostram as
bases mutáveis da coesão social, declínio da comunidade, das relações interpessoais e
a perda de um sentido e finalidade do indivíduo dentro de uma comunidade já no
final do século XIX. Somada a ela, uma segunda tradição, representada principalmente
por Weber, colabora para a teoria de massa ao analisar a racionalização das estruturas
e padrões institucionais, ressaltando que a sociedade é instável em relação às estruturas
organizacionais, aos critérios de comportamento e funcionamento individual dentro
59
as que têm aparentemente à sua frente um grande líder político. De fato, o que o
líder faz é apressar ou retardar as manifestações das vontades das massas, desde
que ele consiga percebê-las. E.V. Walter, citado por Halebsky (1978, p.62), explica que
sociais estão a credulitude e a aceitação como realidade às imagens que lhe são
evocadas, os exageros, o extremismo, a intolerância, perda de racionalidade e sensatez
60
ciências humanas que tratam das relações entre elite e massa. Na maioria dos
trabalhos sobre este assunto, as conclusões dos autores formam pelo menos um de
três modelos gerais que explicam a adesão a determinadas idéias. A primeira
61
explicação é a de que existem razões para que uma pessoa acredite em um enunciado
qualquer, tal como "dois e dois são quatro". Karl Mannheim (1989) fez uma distinção
crenças. A primeira está baseada em razões que as pessoas usam para dar força à
veracidade de determinada afirmação que levará à crença dessa declaração. A outra
não tem como causa a razão que pode ser gerada por conhecimento, desejo ou
afeição. A forma mais natural é o conhecimento, pois se sabe que não se deve acreditar
em qualquer coisa a não ser naquelas que forem demonstradas verdadeiras. Porém,
a mais comum é o desejo, pois as pessoas quase sempre são induzidas a acreditar
não em provas, mas em fatores atrativos. O importante a notar é que existe uma
relação entre a crença por conhecimento e por desejo, por exemplo, as pessoas
dizem acreditar no amor (o que seria, per si, uma crença por desejo) sempre que
elas sabem que há algum merecimento por esse amor (conhecimento). Boudon
divide as crenças geradas por dois tipos de causas: aquelas causadas pela razão e, as
outras, por fatores não racionais, ainda que indiretamente elas estejam relacionados
à razão. Na segunda, há uma divisão entre causas não racionais afetivas, tais como
o desejo, que também serve para explicar crenças dúbias ou fracas; e as causas
não afetivas, que não estão ligadas a nenhuma racionalidade nem à paixão. O caso
15Neste trabalho, a distinção entre crença e opinião se faz necessária em função da literatura tratar a
crença como um tipo de interpretação da realidade que não tem correspondência direta com
processos racionais, enquanto a opinião requer um processo cognitivo, de busca de crenças
anteriores, que irá conformar uma posição social com justificativa materializada em processos
cognitivos. É verdade que todos os tipos de crenças têm alguma relação, ainda que indireta, com
processos racionalizantes.
62
mais comum, citado por Boudon, é a mentalidade primitiva, que leva a crer em
coisas por uma lógica específica, não estando relacionada à nossa racionalidade,
mas também não sendo movida por paixão. Está relacionada a uma estruturação
social e cultural específica. O tipo de crença primitiva não pode ser explicado apenas
pelas paixões, tradição ou falta de afetividade, pois elas não são acessíveis pela
observação direta.
Boudon (1994), por sua vez, considera que todas as crenças fracas, falsas
ou desacreditadas podem ser explicadas pelas relações que elas apresentam com
indivíduos a acreditarem em coisas que não lhes trazem nenhum benefício direto.
A melhor explicação para crenças estranhas está nas causas destas e não na razão
em si. O autor cita como exemplo que, ao ter muitos filhos, um camponês indiano
colabora para a pobreza geral do país, mas os efeitos positivos para sua família,
gerados pelo maior número de pessoas para trabalhar é maior que a pobreza da Índia,
transformando uma razão aparentemente ligada à tradição em razão estritamente
racional (BOUDON, 1994, p.9). Quando se olha apenas para as razões mais
imediatas e aparentes, todas as explicações sobre crenças estranhas tendem a ser
consideradas de segundo tipo (afetiva ou primitiva), o que é quase uma definição não
racional, ou seja, o produto de fatores acima das razões, em grande parte por conta
da tendência sociocentristas das análises.
neutras. Pelo contrário, as informações sobre política que chegam às massas são
carregadas de estereótipos que visam reforçar a visão que a elite tem a respeito de
determinados temas. Sendo assim, as opiniões políticas das pessoas passam a ser
formadas a partir de um processo de correlação entre as informações recebidas e as
predisposições existentes. Isso demonstra que o cidadão comum não está
totalmente livre para formar suas opiniões, visto que as informações que ele recebe
informações. São esses debates que servem como matriz para a formação da opinião
pública. Aceitando a existência da influência da elite política na opinião do cidadão
agregado das opiniões majoritárias na sociedade (ZALLER, 1992, p.41). Uma confusão
presente na literatura e que aparece em Zaller é a tentativa de transformar um dado
agregado de origem da opinião em um indicador individual já construído, o que
padronizaria o efeito médio que o processo de difusão das informações tem no
espaço público – mais uma vez aparece a opinião publicada como sendo opinião
64
A difusão de informações da elite para a massa varia de acordo com a atenção que as
pessoas dão às mensagens, ao nível de exposição às informações, a uma reação mais ou
menos crítica dessas informações e até mesmo em função da influência de outras
informações salientes no processo de transformação de informações em opinião pública.
sobre apoiar ou rejeitar determinada política pública, por exemplo, que é resultado
da avaliação entre informação/opinião da elite e predisposição individual, é similar à
forma como os integrantes das massas escolhem seus candidatos em uma eleição.
Por conta disso, diz Zaller, candidatos a eleições majoritárias, portanto
integrantes da elite política, tendem a aproximar sua imagem da opinião pública
vigente a respeito dos temas que estão sendo discutidos durante o processo
eleitoral. Dessa forma, ele passa a ter chances maiores de ser escolhido pelo eleitor
entre os demais concorrentes ao cargo público. Assim, a opinião que o eleitor forma
dos candidatos deve estar muito próxima daquela que ele tem sobre os temas que
estão sendo tratados pelos candidatos (ZALLER, 1992, p.28). Como as mudanças de
opiniões a respeito de temas públicos têm sido mais constantes nas sociedades de
massa do que nas experiências históricas anteriores, a elite política também precisa
estar em constante movimento de adaptação para se adequar às mudanças de opinião.
durante todo o período, garantindo uma certa estabilidade na opinião pública. Na Idade
Moderna, o empresariado burguês passou a deter o controle dos meios de difusão
16Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, nos anos 80, indicou que apenas 1,9% dos norte-
americanos dedicava a maior parte de seu tempo para a recepção e análise de informações a
respeito de temas públicos (ZALLER, 1992).
68
nos valores políticos. A interação entre esses três conjuntos de variáveis é suficiente
e necessária para a identificação do processo que termina no julgamento que as
pessoas fazem sobre os temas políticos.
A afetividade pode ser considerada uma crença relativa a um objeto. Sendo assim,
toda avaliação depende de um conhecimento particular que se possua a respeito
desse objeto. Sem essa proximidade cognitiva ou emocional com o objeto, dificilmente
o cidadão comum irá dispor de seu tempo para receber informações a respeito de um
novo tema, em outras palavras, nesse caso a "consideração" será próxima de zero.
Para Zaller, é preciso levar em conta ainda que existem dois tipos básicos
de mensagens políticas: as persuasivas e as de sugestão. As persuasivas são
argumentos ou imagens que permitem a tomada de uma posição ou definição e de
um ponto de vista a respeito de determinado tema. Uma vez aceita pelo cidadão,
essa mensagem persuasiva passa a ser considerada como definitiva. Já as mensagens
de sugestão consistem em um tipo de informação contextual sobre as implicações
ideológicas ou partidárias de uma mensagem persuasiva. A sua importância está em
69
de indivíduos que compõe o público tem algum conhecimento prévio sobre o tema a
respeito do qual eles são chamados a opinar, ainda que esse conhecimento esteja
não obterá grande atenção dos receptores, não havendo condições para formulação
pública ou reformulação da opinião já existente sobre o tema.
Há ainda a resistência dos cidadãos às novas informações, pois as pessoas
podem resistir a argumentos que são inconsistentes com suas predisposições políticas
ou crenças já arraigadas (BOUDON, 1994). Isso é uma forma de extensão das
informações contextuais que o cidadão dispõe para a percepção das relações entre
novas informações e predisposições já existentes. Além da recepção e resistência,
existe a acessibilidade que mostra as considerações mais recentes como mais fortes
em relação às antigas, armazenadas na memória mais distante. Há, por fim, a
produção da resposta individual, indicando que as respostas a questões de survey,
por exemplo, são baseadas em informações mais salientes e imediatamente
70
de massa propriamente dita e os efeitos que ela pode produzir para uma democracia
de massas. Em outras palavras, debate sobre um regime democrático que funcione
CAPÍTULO 2
tendem a ser superficiais, por não disporem do saber inerente de um cientista social.
Este capítulo tem o objetivo de tentar aproximar a discussão dos comunicólogos de
uma visão mais realista da política e, principalmente, da importância que as instituições
comunicacionais têm para a formação da opinião pública, que é o objeto final de
estudo deste trabalho. Dito em outras palavras, de um lado a mídia é criticada por seus
conteúdos e efeitos negativos em relação à democracia, ao mesmo tempo em que
essas críticas não esclarecem que padrões de democracia devem ser considerados
quando se considera o papel “negativo” da mídia (STRÖMBÄCK, 2005). É desse
impasse que surge a necessidade de discutir a comunicação em pesquisas sobre
democracia e participação social.
de comunicação de massa.
O desdobramento desses estudos e a contribuição dos chamados "pais
fundadores" da Teoria da Comunicação, entre eles Lasswell e Lazarsfeld da Escola
de Chicago, voltou-se principalmente para os estudos das audiências e dos
processos de influência. Vários avanços dessa fase dos estudos, que ultrapassaram
a teoria da comunicação, podem ser registrados. Por exemplo, da figura do receptor
17Antes do século XX, a revolução industrial, em especial a partir do século XVIII, provocou grandes
transformações nos processos de comunicação social.
74
Como um desdobramento da "Teoria dos Efeitos", nos final dos anos 60,
surge a "hipótese da Agenda-Setting" que ganha força a partir dos anos 80 e 90 nas
análises brasileiras. Essa hipótese está voltada para a análise dos efeitos da mídia
não mais a curto prazo, mas a médio e longo prazo.18 Mais do que agendar temas
específicos, a mídia molda formas de perceber e pensar, construindo os quadros de
percepção. Trata-se de uma perspectiva relevante que avançou com relação aos
estudos anteriores ao se dar conta de outras dimensões, além do imediatamente
visível, por considerar as "estruturas de fundo", onde os meios atuam, que devem
ser melhor conhecidas (McCOMBS e SHAW, 1979).
Nas duas últimas décadas do século XX, a prática e os ideários políticos
aparecem convulsionados, escapando à lógica política tradicional, de forma que os
meios de comunicação assumem um papel central nesse novo cenário. Vivemos uma
"realidade midiática" e numa sociedade da comunicação, onde a esfera política parece
se adaptar a essa nova realidade, porém a clássica questão do poder permanece.
A análise do impacto da mídia na formação da opinião pública é uma questão central
nos trabalhos e de especial importância para esta pesquisa que unifica a preocupação
de pesquisadores vindos tanto do campo da ciência política quanto da comunicação,
justamente por conta da manutenção da questão do poder. Sendo assim, é desne-
cessário realçar a importância do aspecto comunicacional nas análises políticas
contemporâneas, como já demonstrado anteriormente.19 Pode-se afirmar que a
18Elaincorpora a base conceitual das teorias da construção social da realidade e aponta a intervenção
dos meios de comunicação na conformação da estrutura cognitiva dos indivíduos.
19Para citar dois exemplos de trabalhos empíricos nessa área, pode-se ver a pesquisa feita por Maria
Cavalari Nunes de como os eleitores brasileiros adquiriram informações sobre os candidatos e temas
políticos durante a campanha presidencial de 1988. As conclusões são as de que a televisão
desempenhou um papel fundamental. Outro trabalho sobre o mesmo tema é de Venício de Lima,
onde ele afirma que a televisão, em especial a forma com que a TV Globo construiu a imagem dos
candidatos, foi um fator decisivo para a eleição de Fernando Collor de Melo. Em uma crítica às
conclusões, Carlos Eduardo Lins da Silva afirma que a eleição de Collor não pode ser imputada
apenas à manipulação de imagens pela mídia. Ele defende que Collor apresentava características de
líder político que, naquele momento, eram desejadas pelos eleitores brasileiros. Lins da Silva conclui
dizendo que a televisão tem um papel importante em campanhas eleitorais no Brasil, porém não pode
determinar – sozinha – os resultados de uma eleição.
76
articulação da comunicação com a política tem sido feita sob dois ângulos principais:
através do resgate da dimensão simbólica e representacional que perpassa as
práticas políticas e as faz assumir uma existência discursiva; a partir da ênfase no
desenvolvimento da tecnologia da comunicação, com a presença da mídia no
cenário e na configuração da sociedade contemporânea (WOLF, 2003).
A primeira perspectiva pode ser bem exemplificada pela contribuição
Por que a sociedade está formada por uma massa de indivíduos atomizados
e porque entre os meios onipresentes e as massas não existe nada
intermediando, a comunicação social se reduz à transmissão de mensagens,
assimiladas em sua forma original por audiências que não dispõem de
iniciativa, organização e relações interpessoais (BLANCO, 1999, p.131).
São eles que constróem a conexão dos eventos sociais e as imagens deles na
cabeça do cidadão. Há duas visões opostas a respeito desse paradigma: uma visão
otimista, na qual as elites e os líderes de opinião geram na mídia um debate
A primeira mostra que a recepção desempenha funções que dependem do uso que
a audiência realiza dos meios de comunicação. A segunda assinala que o público
determina o significado final das mensagens, pois as reconstrói e as reelabora no
momento do consumo (MARTIN-BARBERO, 2001). Essa abordagem pluralista da
comunicação de massa prevaleceu nos anos 60 principalmente através dos estudos
de usos e gratificações da corrente funcionalista.
Essa concepção vem sendo retomada, atualmente, através dos novos estudos
culturais e de recepção que definem o consumo das mensagens como uma
lugar onde as instituições políticas são mais dependentes da mídia, mas, mantém
controle sobre os processos e suas funções políticas (MAZZONELI, 1999, p.247).
Eles citam trabalhos empíricos de autores como Zaller (1998) e Benett (1998) para
demonstrar como a mídia não conseguiu acabar com a democracia na Europa
ocidental, embora a tenha transformado.21
20Aqui mediação pode ser definida como o processo pelo qual as instituições, as formas de expressão,
as atitudes, os sentimentos e os comportamentos aparentes são articulados entre as manifestações
culturais e práticas sociais ao longo do tempo (MAHAN, 2003).
21Com base nos resultados desses trabalhos, Mazzoleni afirma que duas tendências sociais da segunda
metade do século XX, a crise dos partidos políticos e o enfraquecimento do cidadão sofisticado não
são conseqüências da midiatização da política, mas de um processo que pode ser definido como uma
evolução do homo politicus.
80
conflito; o último nível mostra que os meios exercem influência sobre comportamento
e o conhecimento dos indivíduos. A sociedade, por isso, é capaz de apresentar
opiniões sobre diferentes temas a partir das informações oferecidas pelos meios de
comunicação, indicando que a opinião pública reage quase sempre em relação a um
discurso das elites (BLANCO, 1999).
A opinião pública é capaz de elaborar preferências próprias, ainda que
condicionadas aos temas apresentados pela elite. Para o paradigma do elitismo
institucional, os efeitos da mídia são de ordem hegemônica, pois difundem a
ideologia e os valores dominantes; também são de ordem institucional, pois influem
nas demais instituições, além disso, são de ordem social e individual, com base nos
indivíduos que as integram. Assim, o poder não reside mais na elite ou na massa,
mas depende dos recursos existentes a partir das estruturas e instituições, nas quais
81
são desenvolvidas suas atividades. A opinião pública passa, então, a ser o resultado
do embate dos atores políticos, da elite e da massa que se utilizam desses recursos
sobre o público; este, por sua vez, desempenha um papel de passividade, cabendo
aos meios de comunicação a modelagem da opinião pública. As teorias elitistas
predominaram até meados dos anos 40, afirmando que o cidadão só pode conhecer
a realidade social através dos meios de comunicação, o que faz com que esses
meios exerçam efeitos muito poderosos sobre a opinião pública já que a sociedade é
formada por indivíduos atomizados e não há nenhuma instituição intermediadora entre
os meios de comunicação e a massa. Os processos de comunicação social reduzem-
se à transmissão de mensagens que são assimiladas na forma original pelas
audiências sem iniciativa, organização psicológica ou relações interpessoais na
formulação dessas mensagens. Sendo assim, faz com que a opinião pública seja o
resultado direto da reprodução fiel das opiniões transmitidas nos conteúdos dos
meios de comunicação.
A partir dos anos 70, duas novas teorias retomam em parte essa visão
elitista da relação entre mídia e opinião pública. A teoria da Agenda-Setting22 parte
22O conceito de Agenda-Setting foi apresentado pela primeira vez m 1963 por Cohen que a definiu
como o processo pelo qual a mídia estabelece os temas que devem ser discutidos socialmente e
influenciam a estruturação da agenda pública. Sendo assim, os meios de comunicação não
conseguem decidir o que as pessoas devem pensar, mas sobre que temas elas devem discutir e
formar uma opinião (COHEN, 1963). Os primeiros estudos de Agenda-Setting foram sobre campanhas
82
ou seja, a mídia seleciona os temas sobre os quais o público deve formar uma
opinião, ainda que ela não seja capaz de impor a opinião já formada (McCOMBS e
SHAW, 1972).
que a mídia dava para determinados atores políticos e a saliência de seus nomes na
memória do eleitor comum. Esses resultados demonstram que existe uma ligação
entre os personagens que são objeto da cobertura midiática e a posição em que essas
pessoas se encontram na memória dos eleitores (McCOMBS e KIOUSIS, 2004 p.49).
mais no esquecimento social. Esse efeito espiral constituiria uma lei fundamental da
opinião pública, que é expressa por aqueles que se sentem como integrantes da
que será discutida publicamente. Como alguns temas são enfatizados na cobertura
dos meios de comunicação, isso definirá que tipo de assunto merece ganhar o status
de acontecimento público. Os que não chegam a esse nível correm o risco de cair na
espiral do silêncio. O acesso que algumas fontes políticas têm sobre a agenda midiática
gera uma forma de distribuição desigual de poder, que é o poder de controle da
eleitorais, nos quais se calculava a relação entre os temas tratados pela mídia e o aparecimento
destes mesmos temas no debate público.
83
23Essa articulação entre mídia e fontes políticas faz com que alguns atores sejam premiados; quando
isso é feito sob o pretexto de critérios de noticiabilidade, a premiação passa a ser sistemática,
enquanto outras fontes ou temas são penalizados também sistematicamente.
84
se impor na espera pública ou, por outro lado, a opinião pública se nutre e se
expressa através da mídia, reproduzindo as estruturas sociais e comunicativas
disponíveis ao público. Ela estabelece que a opinião pública, a exemplo de qualquer
outro fenômeno social, surge de uma atividade humana que se dá em determinadas
estruturas sociais. Essas, não são capazes de determinar a opinião, mas a
condicionam no momento em que oferecem regras e limitações de recursos
público, formado por indivíduos privados, que constróem a opinião pública com base
na racionalização do melhor argumento, e sem contar com a influência dos poderes
público como a única alternativa para superar os conflitos sociais, visto que é nesse
debate que acontece a busca pelo consenso e cooperação entre as partes. Como se
vê, Habermas considera a questão da comunicação como uma peça chave para a
política deliberativa, sendo fundamental para a superação de déficits democráticos
(CUCURELLA, 2001). Em 1992, no texto "facticidad y validez", citado por Cucurella,
Habermas apresenta o espaço público como o lugar em que é criada a opinião
pública que pode ser manipulada, mas que ainda assim constitui o eixo da coesão
social, da construção, da legitimação e da deslegitimação política.
A definição inicial de espaço público, encontrada em Habermas trata de
algo que existe na vida social. Dessa forma, pode-se construir a opinião pública através
86
de diálogos entre indivíduos privados que se reúnem livremente como público para
discutir temas de interesse comum.24 O termo "livremente" aqui é importante, pois
denota a inexistência de pressões externas ao interesse do indivíduo. Este, na verdade
conta com a garantia mínima de poder se manifestar e publicar livremente sua opinião.
Porém, Habermas fará uma observação para o caso de públicos muito grandes, cujo
gerando uma tensão entre Estado e sociedade civil burguesa. Como resultado das
discussões travadas nessa esfera, a opinião pública está diretamente relacionada à
24O autor também apresenta o espaço público político como um tipo específico de espaço público.
Este se diferencia do espaço público literário, por exemplo, em função das discussões que acontecem
nele terem relação com as práticas do Estado.
25Para Habermas, o estado de bem-estar social, presente na política européia mais fortemente a
partir do início do século XX, é uma forma de redução da Esfera Pública, pois a esfera estatal passa a
interferir diretamente nos assuntos que deveriam ficar sob o domínio exclusivo da esfera privada.
87
crítica e ao controle que o público exerce de maneira informal sobre uma estrutura
estatal organizada. Essa crítica e controles informais, que Habermas denomina
opinião pública, podem se formalizar através do voto. A esfera pública burguesa surge,
portanto, como uma esfera de proprietários privados, porém, ganha legitimidade na
luta da sociedade civil contra o absolutismo, pois, ao conseguir converter interesses
de proprietários privados com as liberdades individuais, fez com que a emancipação
política da burguesia fosse confundida com a emancipação política geral.
Os processos de estatização do espaço público, seja através dos
instrumentos de Estado propriamente ditos, seja pela forte influência que o poder
estatal exerce sobre os meios de comunicação, são considerados por Habermas
uma intromissão na vida dos cidadãos, visto que transforma gradativamente a mídia
em um instrumento de entretenimento e dominação do público. Segundo Cucurella
(2001, p. 58), "da publicidade como manifestação de opiniões e um público que discute,
passou-se a um público que ou é uma minoria racional ou uma grande massa de
meros receptores". Habermas, na verdade, constata que a dinâmica social moderna
tem apresentado riscos de uma refeudalização da sociedade, cujo indivíduo não é o
ideal imaginado pelo liberalismo. Este indivíduo forma grupos que defendem interesses
particulares e, dessa forma, consegue influenciar as decisões políticas. Da mesma
maneira, o Estado, através de sua capacidade de interferir na esfera privada, reduz a
liberdade necessária para o funcionamento da esfera pública e, consequentemente,
tem efeito direto sobre a opinião pública que surgirá dessa esfera.
Montoya (2004) faz uma periodização das transformações da esfera
pública, tal como definida por Habermas. Para aquele, essa esfera pode ser dividida
em três momentos distintos, cada um deles caracterizado pela sua abrangência.
Trata-se de um espaço que fica entre o Estado e a família, um espaço específico
para a abordagem de assuntos que não são afetos exclusivamente a cada uma
dessas duas esferas.
88
O primeiro momento citado por Montoya surge entre os séculos XVI e XVII,
junto com o aparecimento da burguesia ocidental, quando os burgueses criam esse
Vale ressaltar que Habermas não considera a terceira fase como uma
ampliação do espaço ocupado pela esfera pública, mas sim como credenciamento
de novos atores sociais que passam a integrar esse espaço. No caso das mulheres,
esse credenciamento se dá pela inclusão delas no mercado de trabalho. Já os
jovens e minorias se fazem representar na esfera pública em função da crescente
escolaridade e incorporação desses segmentos ao consumo e economia (FRASER,
1998, p.133).
A definição de esfera pública a partir da conceituação habermasiana está
focada, como demonstra a última frase da citação acima, nos indivíduos que compõem
esse espaço localizado entre o privado e o estatal. Porém, além dos protagonistas,
o espaço público também é formado por instituições responsáveis por publicizar
informações de interesse coletivo, pelos meios de comunicação e por seus respectivos
89
mídia, existe um custo inerente a esse "desvio", apontado por Habermas, como a perda
de eficácia na legitimação política. Isso acontece porque o custo da instrumentalização
da opinião pública é o distanciamento da realidade dos indivíduos e de suas vidas
cotidianas. O indivíduo é o portador do espaço público para que nele expresse suas
questões, através de uma interação comunicativa. É nesse intercâmbio comunicativo
que são produzidos, então, argumentos, influências e opiniões (CUCURELLA, 2001).
Quando o espaço público é instrumentalizado pelo Estado através dos meios de
comunicação, esse espaço deixa de cumprir a função para a qual existe para o
cidadão, que passa a não mais reconhecê-lo como um espaço plural e de liberdade
também pertencente a ele, mas como mais uma instituição estatal. É aí que a
política começa a perder legitimidade.
26Nesse sentido, pensar que o caminho para a democratização política se dará apenas através da
democratização dos meios de comunicação é acreditar que a esfera pública se restringe ao espaço
físico, desconsiderando os atores sociais; sem contar que em uma democracia de mercado, onde os
meios de comunicação são fundamentalmente empresas comerciais, falar em democratização seria o
mesmo que pedir a democracia das demais empresas capitalistas. Os meios de comunicação
participam da esfera pública, mas esta fica fora deles. A democratização da mídia se dará com a
democratização da sociedade e da política e não o contrário.
90
comum, o segundo diz respeito à pretensão de domínio que tem o sistema político e,
para tanto, emprega o poder administrativo de que dispõe. É em função dessa
diferença que, para Habermas, a esfera pública não pode ser entendida como uma
instituição ou organização, pois trata-se de um emaranhado de normas com diferentes
competências, regras e regulação das condições de pertencimento (CUCURELLA,
2001). Por não ser um sistema, como o encontrado na esfera política, ele tem
esfera privada, dos partidos políticos e do aparelho de Estado que, através da mídia,
buscam o apoio do público. No entanto, isso não é uma nova característica da
esfera pública, mas uma forma de utilização dela pela esfera estatal. Assim, os
ao invés da mídia intermediar a opinião pública, ela passe a produzir elementos para
a formação de opinião não pública. Ao mesmo tempo, desenvolvem-se técnicas de
burguesa; porém, discorda que em função disso não exista mais possibilidade de
existir crítica racional no público. Para Lipovetsky, essa idéia parte do princípio de
que "aquilo que diverte não pode educar, o que distrai só pode desencadear atitudes
estereotipadas e o que é fácil e programado só pode produzir o assentimento
92
atores também são capazes de fazer relações públicas além da argumentação e, por
outro, isso não impede que eles possam participar do processo de constituição da
base de um poder fundado comunicativamente se as organizações forem permeáveis
aos impulsos da base da sociedade para a esfera pública (COSTA, 1995). Assim
como, segundo Gilberto Almeida (1996) tem havido um declínio do capitalismo social
democrata, mas também um fortalecimento de novos agrupamentos e organizações
Estado, assim como não é possível existir opinião pública sem partidos políticos.
Para ele, se hoje há pouca participação política do cidadão comum, afastando os
integrantes dos grupos que compõem a opinião pública do centro decisório, com
93
no debate político, pois o voto continua sendo o momento central de uma democracia,
para o qual converge a discussão" (SCHUDSON, 1994). Ele critica ainda aqueles que
defendem a existência de várias esferas públicas, visto que é possível a emergência
de discursos de vários pontos da sociedade civil – o que, aliás, seria positivo –, mas
todos devem convergir para a única esfera pública em que se tomam decisões. Na
espaço público é gerado pelo papel regular das pesquisas de opinião, que
constróem uma representação permanente da opinião pública e passam a ser
Habermas ainda cita Bentley, para dizer que é impossível existir opinião
Essa opinião pública de que trata Habermas inclui todo tipo de comportamento,
inclusive os de origem privada, tais como a vontade de comprar uma geladeira
misturada com a opinião sobre a viabilidade da democracia. Ele identifica a formação
de três tipos de opiniões nos indivíduos. O primeiro tipo é o das opiniões informais,
que não são verbalizadas, e surgem a partir de evidências culturais não discutidas.
Normalmente são muito rígidas e podem ficar fora de qualquer reflexão, como, por
abaixo do nível da reflexão, podendo ser identificadas mais como vontades geradas
por demandas até então inexistentes. Por exemplo, as atitudes em relação à guerra
ou o desejo de segurança. O terceiro tipo são as opiniões que surgem de evidências
freqüentemente discutidas e que são resultantes da ação da indústria cultural, tal
como a publicidade ou a manipulação pela propaganda (HABERMAS, 1971). Como
se pode perceber, as opiniões do primeiro tipo são arraigadas e quase imutáveis,
enquanto as do terceiro tipo são efêmeras, mutáveis e artificiais. Porém, todas elas
são opostas a uma opinião racional formada por meios literários.
Todo o debate proposto por Habermas sobre a impossibilidade de uma
opinião pública racional está baseado na distinção que ele faz entre público e
massa. Para o autor, a opinião pública na sociedade moderna não parte de um
público letrado e capaz de debater os temas gerais, mas sim de uma massa que
apresenta grande facilidade em se deixar dominar politicamente. Ele cita Wright
Mills, para distinguir público de massa: o público é apresentado como sendo o lugar
onde virtualmente tantas pessoas expressam opiniões quantas as que as recebem;
a comunicação consegue expressar qualquer opinião em público; é possível
encontrar uma via de ação efetiva por parte do público, mesmo quando for contra o
sistema de autoridade preponderante. Já a massa é apresentada como possuidora
96
informações recebidas. No prefácio da nova edição, ele diz que o espaço público
continua estabelecendo a mediação necessária entre sociedade civil e sistema
mídia. Além disso, para ele, a fonte da legitimidade política não pode ser a vontade
do cidadão individual, mas o resultado do processo de comunicação que forma a
27Para o Habermas dos anos 90, o espaço do livre para a formação da opinião pública continua
sendo o motor da política democrática no sentido empírico e também normativo. O conhecimento das
características desse espaço público e de suas possibilidades permite redimensionar aspectos
procedimentais. O autor propõe o modelo de política deliberativa para superar as debilidades das
democracias atuais. Nesse modelo, a soberania popular, como livre formação de opinião e vontade
97
grupos que juntos conformam a sociedade como um todo. Esses grupos, principalmente
associações da sociedade civil que são desvinculadas do Estado, seriam respon-
sáveis pela canalização das informações originadas na sociedade para os centros
decisórios (AVRITZER e COSTA, 2004).
À crítica amenizada de Habermas à opinião pública, no que diz respeitos
qualquer pesquisa supõe que todos os integrantes do público devem ter uma opinião
sobre o tema; o de que todas as opiniões têm o mesmo valor e o de que, pelo fato
opinião pública que é a soma aditiva das opiniões individuais" (BOURDIEU, 1983 p.174).
Como artefato, a opinião pública passa a ter a função principal de dissimular que
comum, ocupa um lugar central nos requisitos procedimentais que devem ser exigidos para a
legitimação de práticas e decisões políticas (CUCURELLA, 2001).
98
apreendê-la. Tanto que o autor afirma que "todo exercício da força é acompanhado
de um discurso visando legitimar a força de quem o exerce [...] tal é o efeito fundamental
das pesquisas de opinião: construir a idéia de que existe uma opinião pública
unânime" (BOURDIEU, 1983, p.175). As pesquisas de opinião teriam a finalidade de
gerar um efeito de consenso na sociedade, indicando determinada opinião como
sendo majoritária, ainda que não fosse de fato. As respostas a essas pesquisas não
poderiam ser consideradas como o espelho da opinião pública existente, porque, em
primeiro lugar, é preciso considerar que nem todos têm opinião formada sobre os
mesmos temas, ou seja, as taxas de não respostas não podem ser ignoradas no
momento da análise dos resultados de pesquisas de opinião. As não respostas
oferecem importantes informações por poderem ser anteriores à direção da opinião.
função de interesses das pessoais às quais elas são apresentadas. "Um dos efeitos
mais perniciosos das pesquisas de opinião consiste precisamente em colocar
pessoas respondendo perguntas que elas não se fizeram" (BOURDIEU, 1983, p.
176). Por outro lado, é preciso considerar que as perguntas são feitas a indivíduos
que vivem em grupos e com constantes relações sociais de diferentes níveis. Por
isso, as pesquisas de opinião não buscam apenas as respostas individuais, mas a
texto o seguinte:
O que quis dizer foi que a opinião pública não existe, pelo menos na forma
que lhe atribuem os que têm interesse em afirmar sua existência. Disse que
por um lado havia opiniões constituídas. Mobilizadas por grupos de pressão
em torno de um sistema de interesses explicitamente formulados (BOURDIEU,
1983, p.182).
mesma força real, o que acaba gerando os chamados "artefatos sem sentido". Para
ela, Bourdieu chama a atenção para o fato de que a problemática dominante nas
na não distinção entre público e massa. Se a opinião pública for extraída da massa
realmente, ela tenderá a ser tão volátil (Habermas) que acabará se transformando
em algo intangível (Bourdieu). Por isso, é fundamental uma clara distinção entre massa
e público. Vale dizer que outros grupamentos sociais merecem atenção de estudos
sobre a sociedade desde o século XIX, tais como a multidão e a própria sociedade.
28 A exemplo do que acontece com Page e Shapiro (1992), nos textos pós-revisões dos
anos 90 habermas classifica a Opinião Pública em diferentes níveis. Ele chama de opiniões informais
ou não-públicas, por um lado, e opiniões formais ou institucionalmente autorizadas, por outro. As
opiniões não-públicas de Habermas se aproximam das opiniões primárias em Page e Shapiro,
segudno a definição dada pelo próprio autor, são opiniões (...)"normalmente excluídas da própria
discussão, como por exemplo, o posicionamento frente a pena de morte ou moral sexual, etc." (2003,
p. 284). Já as opiniões formais em Habermas podem ser consideradas equivalentes às correntes de
opinião em Page e Shapiro.
100
apresenta uma definição de opinião pública como resultado do debate entre públicos
e não da massa. Para ele, a massa está ligada a uma agitação coletiva, de modo
que existe uma diversidade de seus participantes que possuem distintas vinculações
culturais, profissionais e materiais. Ela é composta por indivíduos anônimos, com pouca
interação e troca de experiências entre eles. Além disso, a organização interna da
massa é frágil e incapaz de agir de forma ordenada; considerando que a origem
seleção das idéias. Blumer cita como exemplos de massas a corrida ao ouro e às
terras do oeste norte-americana no século XIX. No Brasil, pode ser exemplo de
retirados de seu convívio social em busca de objetivos individuais, o que por um lado
impede a formação de uma identidade comum e relação entre os integrantes da
desconsidera a tradição social ou padrões culturais, sendo tratada por meio do debate.
Sendo assim, público é um agrupamento natural, espontâneo, e não preestabelecido.
Ele depende do desacordo e da discussão para sua manutenção, o que leva a um
tipo específico de interação por caracterizar-se pelo conflito e não pela unanimidade
(BLUMER, 1971).
Se por um lado a sociedade age a partir de um padrão definido e de consenso,
autor, a opinião pública é um produto coletivo; logo, não constitui uma opinião unânime
e pode ser diferente da opinião de qualquer integrante do grupo individualmente.
Trata-se, na verdade, da tendência central fixada pela competição de opiniões
presente na massa), pois sem isso o público não poderá agir de forma unificada.
Os indivíduos que compõem o público podem ser divididos em dois tipos.
questão e a forma como elas foram apresentadas pelos grupos de interesse. Aqui
entra, portanto, o papel fundamental dos meios de comunicação, pois a existência
da opinião pública depende da atuação e vigência de uma discussão pública, que
Do que parece extremamente importante hoje, pode-se não mais falar depois
de amanhã. Fatos, pessoas, povos e eventos aparecem na televisão e a
preenchem por semanas como se tivessem saído do nada, para onde poderão
retornar quando não mais produzirem audiência (GOMES, 2004 p.65).
Doris Graber (2003) vai além e afirma que, se considerarmos que os meios
de comunicação possuem características muito heterogêneas, não podemos
generalizar um único tipo de relação entre democracia e mídia. Isso porque a
diversidade da mídia é resultado das diversidades de condições sociais, econômicas
e políticas de uma sociedade democrática. "Os efeitos da mídia na política dependem
de interações complexas sobre inúmeros fatores que incluem desde as instituições
políticas e da mídia, até as características do cidadão individual" (GRABER, 2003,
p.141). De outra forma, sem ter a mesma visão negativa da relação entre mídia e
104
política, afirma que ao ocupar o espaço das mediações que é próprio da política, a
mídia estabelece uma nova diagramação dos espaços públicos.
instituições políticas que visam manter os valores sociais para que a elite política
permaneça no poder. A mídia tem como objetivo final difundir informações através
de histórias, sem preocupação com os valores sociais (PATTERSON, 1997, p.446).
No entanto, essas questões só podem ser colocadas quando a mídia passa a ter um
papel central, deslocando da arena propriamente política a capacidade de mediação
dos temas públicos com a sociedade, ou seja, da esfera pública para a conformação
CAPÍTULO 3
(Pierre Bourdieu,2003)
considerava importante o papel do cidadão comum na política. Para ele, o povo era
incapaz de compreender o funcionamento do governo, e o governante não deveria
Platão, o público é o grande sofista (MUÑOZ-ALONSO, 1992, p.24), pois aparece aqui
um vínculo entre opinião e povo despreparado. Essa conexão vai perdurar através
direito existe e as leis são respeitadas. Para Thomas Hobbes, um dos principais
teóricos do absolutismo, a opinião pública deve ser condenável por introduzir no
para alcançar e manter o poder, pois sugere que a opinião pública pode ser manipulada
ou acomodada, mas nunca ignorada. Praticamente em todo "Príncipe" é possível
encontrar elementos de uma ciência da opinião e propaganda e até rudimentos de
relações públicas que devem ser tomadas por um governante precavido. No capítulo
IX, Maquiavel considera a reputação como elemento importante para adquirir o
poder. Já no capítulo XVIII, depois de afirmar que o príncipe não deve se preocupar
em ser infiel a suas promessas, porém, torna-se fundamental esconder a natureza
de suas ações, transformando-se em um grande simulador e dissimulador (MUÑOZ-
ALONSO, 1992, p.29). É interessante perceber que Maquiavel, autor preocupado
em conta apenas em função de sua utilidade como, por exemplo, para quem deseja
se manter no poder. Maquiavel também não a considera como geradora de posições
regime monárquico absolutista que imperava em quase toda Europa, que se criaram
condições para a existência de uma opinião pública autônoma a respeito do poder
político. Ao mesmo tempo em que os governantes passavam a ter consciência de
impulsionada pelos pensadores liberais. Entre eles, John Locke foi o primeiro a falar
de uma lei da opinião ou reputação que é uma verdadeira lei filosófica: ela é a norma
das ações, serve para julgar se os atos públicos são virtuosos ou viciosos. Para ele, ao
formar a sociedade política, os homens abdicaram de seu poder individual em favor
do poder político, do uso da força contra os concidadãos, mas mantiveram intangível
110
expressa pela opinião pública, e a lei civil, expressa pela assembléia representativa
(LOCKE, 2002).
Os pensadores liberais ingleses e francecese dão continuidade ao
poder legislativo, por exemplo. A opinião pública tem por função permitir a todos os
cidadãos uma ativa participação política, colocando-os em condições de poder
discutir e manifestar as próprias opiniões sobre as questões de interesse geral.
Apesar do tema ser ainda recente na literatura política nacional, a teoria social
partir dos escritos de John Locke sobre a lei da opinião como forma de controle do
Estado, mas, em seguida, a primeira redesvalorização da opinião pública aparece
em Hegel. Para ele, trata-se da manifestação de juízos, opiniões e pareceres de
própria razão em todos os campos. Antes de tudo, quem deve esclarecer o povo
sobre seus direitos e deveres não podem ser oficiais designados pelo Estado, mas
livres cultores do direito, filósofos: aqui, na desconfiança para com o Governo, pronto
sempre a dominar, fica clara a distinção entre política e moral, além da autonomia da
sociedade civil, composta por indivíduos racionais, frente ao Estado.
A crítica mais contundente à existência de uma opinião pública coerente é
a que considera que, em uma sociedade complexa, essa opinião deixa de ser
espontânea e racional – como postulada pelo liberalismo – para ser artificial,
que os seguem não poderia ser estruturada e consistente, visto que se trata de
opiniões secundárias que, por natureza, sofrem influência de fatores conjunturais.
Já usando técnicas de amostragem e pesquisas de opinião, Angus
Campbell, no livro The American Voter, faz críticas à suposta sofisticação do
eleitorado. Ele afirma que
Estados Unidos, com base em dados de seqüências históricas que permitem afirmar
longo do tempo ou mudança consistente (que pode ser gradual ou abrupta). Como
se afirmou no início, este trabalho não tem como objetivo traçar a origem da opinião
pública brasileira, mas a de mostrar se há consistência entre as opiniões ao longo do
tempo. Nesse sentido, procura-se identificar os padrões de comportamento das
opiniões, tendo como controle interno a persistência ou mudança de padrões de
opiniões e como controle externo os próprios acontecimentos da esfera pública, ou
seja, externos ao mundo privado dos cidadãos, tais como grandes fatos da história
política e social, no mesmo período, para explicar possíveis mudanças.
113
aqueles ligados às formas de representação. No Brasil, a partir dos anos 70, já com
o uso de pesquisas quantitativas, entra na agenda dos pesquisadores a necessidade
de estabelecer, primeiramente, um perfil do eleitor. Foi a partir desses trabalhos que
o tema opinião pública passou a ser tratado, ainda que marginalmente, nos estudos
nacionais da ciência política. Essas pesquisas iniciais constatavam baixos níveis de
informação política no eleitor médio e por isso ele é visto como sendo amorfo, com
Tratar do conceito de opinião pública não é simples, visto não existir ainda
uma base conceitual consolidada. Em 1968, Victor O. Key (p.17) dizia ser impossível
falar sobre opinião pública por se tratar de uma tarefa muito difícil. Na mesma época
Philip Davison dizia que uma definição geralmente aceita de opinião pública não
existia, embora o uso do termo à época fosse crescente (DAVISON, 1968, p.188).
Para Jorge Luis Dader (1990), um enfoque sistêmico-estrutural sobre opinião pública,
apresentado por Otto Baumhauer, tem um rendimento significativo para a ciência
política. Segundo Dader, para Baumhauer, a opinião pública não pode ser considerada
algo estático, mas um fenômeno sujeito a transformações constantes em diferentes
contextos sociais. Sendo assim, diz que
muito parecida com a idéia de consenso básico existente em uma sociedade, sem
significar que se trata de uma espécie de pacto social racional ou conscientemente
opinião pública, é o sociólogo alemão Nikas Luhmann (2000), para quem a opinião
pública é tão básica e imensa quanto a estrutura temática da comunicação política.
curiosidade. São estas últimas que vão definir os temas que alcançarão o ponto de
discussão.
Como demonstrado até aqui, durante toda a história do conceito e mesmo
entre os autores que trataram mais recentemente da opinião pública, o tema passou
a ser entendido de vulgar, comum ou majoritário, transformando-se em opinião
29Como se pode perceber, em ambas definições de opinião pública apresentadas por Habermas não
se considera a relação comunicacional, seja racional ou manipulativa, entre cidadãos comuns. Ele
sempre está tratando do tipo de comunicação que se dá entre os notórios e o cidadão comum.
117
opiniões divulgadas pela mídia (DADER, 1990, p.187). Algumas das definições
sumariadas acima são, inclusive, contraditórias; portanto, é preciso definir um
conceito de opinião pública que será transformado na segunda parte deste trabalho
em variável empírica, permitindo a análise desse fenômeno tão controverso na
prática. Sendo assim, conceitualmente, para este trabalho, a opinião pública é
pública em um duplo sentido. Primeiro, porque ela surge do debate público e,
segundo, porque seu objeto é qualquer coisa, desde que seja de domínio público.
A opinião pública que interessa aqui é uma opinião sobre assuntos que
dizem respeito à nação ou a outro agregado social, expressa de maneira livre por
homens que estão fora do governo, mas que reclamam o direito de que suas
cialmente sobre seu papel na nova ordem política. Era baseada no poder limitado,
dividido, na garantia dos direito, da liberdade do indivíduo e na publicidade da ação
política. Esta, então, fica submetida à vigilância dos cidadãos, ou seja, da opinião
pública. Apesar de o conceito de opinião pública ter ainda nos nossos dias uma
não nas decisões de governo. A literatura a respeito do tema mostra que existe uma
crítica contundente em se considerar a opinião pública para a tomada de decisões
quando estáveis ao longo do tempo, também servem para indicar uma maior lealdade
dos indivíduos ao grupo a que pertencem, pois eles permanecem discutindo e
ideológicas só são possíveis porque apesar dos líderes políticos e autoridades serem
respeitadas popularmente e receberem obediência do público, os mesmos integrantes
desse público podem reservar algumas qualidades de independência e autonomia.
opinião. Eles ressaltam que as primeiras opiniões dos indivíduos são formadas na
infância, sob influência exclusiva dos pais e, muitas vezes, essas opiniões iniciais
servem de matriz para a formulação de novas opiniões até em pessoas com idade
avançada. Além disso, a disponibilidade individual para reformulação de opiniões já
construídas também varia ao longo do tempo. Nas palavras dos autores citados
família, colegas de trabalho e outros. Quando a relação face a face entre quem emite
uma mensagem ou opinião e quem a recebe é rara, trata-se de um grupo secundário,
comunicação de massa para boa parte do público e também são exemplos que
estimulam a participação do cidadão comum no debate público. Esse predomínio
dos grupos e líderes de opinião na literatura recente sobre processos de formação
de opinião pública é percebido porque os autores, ao tratarem dos integrantes de
Ainda que as relações inter-pessoais, através dos três tipos de grupos, são
consideradas mais importantes para a influência direta da formação da opinião
pública, ainda assim os autores consideram que os indivíduos buscam a mídia para
se informar sobre temas públicos e interpretar o debate público devido a outras
125
funções inerentes aos meios de comunicação, tais como servir de uma ferramenta
para transmissão de informações à sua vida cotidiana; servir como lazer, através dos
mídia, ainda que ela não seja a fonte principal para a formação e mudanças na
opinião individual.
Como o cidadão racional está aberto a novas informações, e ele faz isso
sobre os assuntos mais importantes do momento que se encontram na agenda da
mídia; essas novas informações podem ser compatíveis com a opinião já existente,
ou em função das mudanças sociais, acabarem gerando inconsistências nas opiniões
já existentes em relação às informações recebidas recentemente pelos meios de
comunicação. Em função disso, o sujeito racional, que busca informações na mídia
sobre temas públicos, pode reformular suas opiniões a partir das informações
disponíveis e selecionadas por ele em função da relevância do tema. Essa pressão que
o consumidor de informações sobre temas públicos na mídia sofre, deixa-o exposto
a um aumento de inconsistências nas opiniões individuais sobre temas correlatos.
Por isso, dizem Lane e Sears (1964, p.73), o processo de ganho informacional para
o sujeito racional pode torná-lo apto a tolerar e perceber inconsistências em relação
a determinadas opiniões, estando mais capacitado a rever suas posições. Logo,
considera-se opinião racional30 aquela formada com base em informações recebidas
30A idéia de racionalidade em Lane e Sears não a contrapõe à existência de uma carga emocional
para a formação da opinião. Eles consideram a existência de um equilíbrio entre lógica e emoção.
Eles dizem, portanto, que "as formas como muitas opiniões são formadas contrariam a lógica da
racionalidade pura, pois muitas pessoas estão sob influência dos pais, ou a partir de normas de
grupos ou até mesmo sobre temas pouco conhecidos" (LANE e SEARS, 1964, p.74).
126
pela mídia e por integrantes de grupos que são intermediários dessas informações
sobre a realidade. Nesse sentido, Michael Kunczik (1997, p.290) assegura que
"a mídia interage com outros fatores intermediários de tal maneira que normalmente
a comunicação de massa não é a única causa da opinião, mas um fator entre vários
que reforçam as condições existentes".
Um modelo mais completo que o de Dumazeider para explicar os processos
de recepção de informações e formação de opinião é proposto por Vitalino Rovigatti.
Este, divide a opinião pública em dois níveis. Um primeiro, chamado de opinião
pública matriz, e um segundo, influenciado pelo que ele chama de fatos da atualidade e
carga emotiva. Para adaptar a terminologia aos conceitos aplicados a este trabalho,
o termo opinião pública matriz será substituído por "opinião primária", enquanto o juízo
de opinião pública será chamado de "opinião secundária". É possível mostrar, no
quadro a seguir, os principais momentos do processo para formar opiniões.
QUADRO 3.2 - PROCESSOS SOCIAIS PARA FORMAÇÃO DE OPINIÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA ADAPTADO
DE ROVIGATTI
127
expressar; são mais sensíveis do que outras aos interesses do grupo e mais
ansiosas de se manifestar em momentos importantes. Uma das funções desses
líderes é a mediação entre os meios de comunicação e os demais componentes do
grupo, os menos ativos (FIGUEIREDO, 2000). Os estudos nessa área têm
identificado pelo menos três públicos: aqueles orientados para um único assunto ou
tema (desemprego, habitação, meio ambiente, etc.); os organizados ou corporativos
(sindicatos, associações, etc.); os ideológicos (se posicionam sobre assuntos
públicos ditados pela natureza da ideologia) (BAQUERO, 1995).
De qualquer maneira, pode-se definir de forma geral que a opinião pública
na sociedade contemporânea é bastante diferente daquela descrita nos séculos XVII
e XVIII. Atualmente, ela pode ser considerada como o resultado da crise do modelo
anterior, mas também é marcada pelas condições sociais particulares. João Esteves
destaca duas dessas características por considerá-las fundamentais na definição da
opinião pública moderna e por estarem intimamente relacionadas entre si: "a
democracia de massa, em torno da qual se consolidou a vida das sociedades
ocidentais, e a extraordinária aceleração dos fluxos de comunicação e de informação
proporcionada pelos dispositivos tecnológicos de mediação simbólica" (ESTEVES,
1997).
EMPÍRICA
100
80
60
%
40
20
0
NP PP PT
NP: não participação; PP: participação parcial; PT: participação total
economia em uma pesquisa realizada nos anos 40, quando o debate público era
favorável à intervenção direta estatal no setor econômico – como forma de incentivo
ao desenvolvimento nacional –, teriam um percentual mais elevado do que em uma
pesquisa feita nos anos 90, quando o debate apresentava principalmente aspectos
desfavoráveis à participação do Estado na economia. Assim, em cada uma das
pesquisas isoladas tería-se a indicação de opiniões secundárias distintas, podendo
100
80
60
%
40
20
0
NP PP PT
NP: não participação; PP: participação parcial; PT: participação total
Não existe oposição entre as duas formas, visto que uma opinião primária
pode ser mobilizada por determinado acontecimento e, em função disso, fazer surgir
de nível de confiança. Isso significa que qualquer variação abaixo desse número foi
desconsiderada, e a opinião foi tomada como estável, pois a variação poderia ter
sido gerada por erro amostral ou qualquer outra interferência na coleta de informações
31 A opção neste trabalho de manter a exclusão das não-respostas (Não Sabe e Não
Respondeu) tem por objetivo aferir apenas as respostas válidas às perguntas sobre temas públicos;
no entanto, reconhece-se que isso pode gerar uma perda de informação que em alguns casos
poderia ser importante, pois, no limite, os percentuais de NS e NR podem ser maiores que as
respostas válidas. Porém, discutir a relação entre respostas válidas e não-válidas não é objetivo da
pesquisa.
135
significativas para baixo ou para cima em curtos espaços de tempo. Uma questão
metodológica apresentada como importante pelos autores é a de que as respostas
PARTE II
137
CAPÍTULO 4
permitem mostrar quanto uma variável externa, que pode ser econômica ou social32,
variável no passado ou como ela pode se comportar no futuro. Como essas análises
são feitas a partir de adaptações de testes convencionais de regressão, adaptações
32Como variável externa econômica cita-se a taxa de desemprego, inflação ou valor do salário mínimo
como intervenientes na opinião pública brasileira sobre governos e governantes. Como variável
social, pode-se citar como exemplo a taxa de urbanização brasileira ou o percentual de brasileiros
cristãos. Esses exemplos podem explicar mudanças ou manutenções em opiniões sobre temas sociais.
138
isso, deve-se excluir as respostas "não sabe" e "não respondeu", pois o que se
busca são os posicionamentos daqueles que têm opiniões. Após excluir as não-
% VÁLIDO
% ESCOLHE PELO
ANO NS/NR ESCOLHE PELO
CANDIDATO
CANDIDATO
respeito desse tema. Além disso, dependendo do percentual que diz não ter opinião
ou não querer responder, o impacto no tamanho percentual de determinado grupo
é significativo.
No primeiro ano da tomada de opinião, em 1972, 30,2% dos entrevistados
disseram não saber ou não querer responder. Isso gerou um impacto de mais de 20
pontos percentuais entre o número dos que disseram escolher primeiro pelo candidato
no total da amostra e o percentual válido (excluindo as não opiniões) dos que escolhem
apenas nove pontos percentuais acima do aferido, passando de 78% para 87,6%.
140
Essa diferença de não-respostas pode gerar uma falácia, pois dá a falsa impressão
de que a opinião mudou significativamente quando, na verdade, pode ser apenas
uma mudança no percentual dos que não têm opinião ou não querem expressá-la –
o que em si fornece outra informação, que não diz respeito à opinião pública, mas ao
grau de participação do público quando procurado para expressar suas opiniões. Por
isso, há a necessidade de se extrair o percentual da opinião pesquisada a partir do
total das opiniões e não do total das respostas. Para tanto, basta excluir as não
respostas da pesquisa e refazer os percentuais a partir das respostas válidas.
a impressão de uma mudança significativa nas opiniões, ainda que ela não exista de
fato. Em outras palavras, isso acontece se em uma pesquisa, em um dado
momento, sobre uma opinião qualquer forem constatadas as seguintes respostas:
20% a favor, 40% contra e 40% não respostas sobre um tema qualquer. Em uma
pesquisa realizada em outro momento, as respostas para uma questão semelhante
foram: 30% a favor, 60% contra e 10% não respostas. Ainda que os valores pareçam
critério de seis pontos percentuais, já utilizado por Page e Shapiro (1994), elimina as
chances de variações provocadas por erros de amostragem serem consideradas
mudanças reais de opinião e vice-versa. Em outras palavras, a ocorrência de erro
tempo (chamadas de "x"). Este trabalho parte da premissa de que a opinião pública
brasileira – variável "y" –, na maioria dos temas públicos, é basicamente racional,
33Parauma definição sobre tipos de amostras ver ALMEIDA, Carlos Alberto. Como são feitas as
pesquisas eleitorais e de opinião. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
34Uma questão metodológica importante está nas respostas comparadas que precisam ter sido dadas
a perguntas idênticas e não apenas semelhantes, pois diferenças na forma de apresentação de
determinada questão poderiam gerar interpretações distintas por parte dos respondentes de cada
uma das pesquisas.
142
específicas (muito sensíveis a eventos factuais) que não podem ser consideradas
racionais por oscilarem de maneira randômica ao longo do tempo.
Como exemplo de opinião volátil sobre um tema público, pode-se perceber
no gráfico a seguir que o percentual de eleitores brasileiros que diz decidir o voto
pela pessoa do candidato, independente do partido a que ele pertença, apresenta
variações significativas ao longo do tempo, pois ultrapassam o limite de seis pontos
amostral, não é possível falar, sequer, em uma tendência de queda, pois as diferenças
dos percentuais entre cada ponto no tempo são muito pequenas.
100
90
80
70
60
50
40
30 vota em
20 candidato
10 maior problema
0 é corrupção
1972 1988 1992 1996 2000 2004
1985 1990 1994 1998 2002
Porém, se a média for diferente de zero ter-se-á uma série não estacionária
e para tornar essa série estacionária é preciso deixá-la livre dos efeitos da
sazonalidade, pois como a tendência tem uma relação muito forte com a
sazonalidade, ajustando essa, combate-se o efeito não estacionário daquela
(MORETTIM e TOLOI, 2004, p.50).
Yt = Tt x St x Et
Onde,
Y = série temporal;
T = tendência;
S = Sanozalidade;
E = Erro aleatório.
Como é possível que para cada instante de tempo haja uma probabilidade
das séries temporais parte do princípio de que elas são estacionárias, é necessário
fazer uma transformação dos dados originais, quando não estacionários. A
significa que a curva será estável ao longo do tempo, pois ela pode sofrer alterações
em uma mesma direção ou mudar randomicamente.
Quando se analisa apenas a mudança de uma opinião ao longo do tempo,
está-se avaliando a evolução da curva de opinião. Dessa forma, levando em
consideração o tempo transcorrido, trata-se de uma análise univariada – com
apenas uma variável. Porém, é possível também fazer a análise das variáveis a
temporário) não pode ser identificado tão facilmente. Esse padrão costuma ser
menos útil entre os quatro por conta das diferentes variáveis intervenientes que
podem atuar nele (GOTMAN, 1984).
Um tipo específico de análise de intervenção merece um detalhamento
maior pelo rendimento analítico que possibilitará nas próximas seções: trata-se da
análise de séries temporais interrompidas ou de intervenção. Esse modelo analítico
parte dos princípios básicos da análise de séries temporais, acrescentando uma
intervenção discreta na curva (variável dummy). Nesse teste, a hipótese nula (H0) se
dá através da intervenção pontual de uma variável externa, visto que tem impacto no
comportamento da série temporal em análise. Segundo McDowall et al., esse tipo de
teste depende da existência de uma série temporal e de um evento discreto que
será relacionado a ela. Por isso, "os elementos que entram no cálculo do
Brasil nas campanhas de 1989 a 2002. Isso se deu a partir da intervenção do início
do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), quando, através da técnica de
dados disponíveis sobre opinião pública brasileira no trabalho, por três motivos
35Os pesquisadores Marcus Figueiredo e Alessandra Aldé apresentaram o texto "Opinião Pública e
a
Audiências" na 15. Mesa do VI LUSOCOM na Universidade da Beira Interior Covilhã, Portugal, em
abril de 2004.
36O método estatístico mais difundido para análise de séries temporais é o ARIMA (Modelo Auto-
Regressivo Integrado de Médias Móveis); porém, para um trabalho como este, em que os testes são
feitos em curvas com poucos pontos e em muitas vezes com dados faltantes, o modelo pode se
tornar muito complexo e pouco prático. O método de auto-regressão utilizado aqui equivale a um
ARIMA (1, 0, 0), ou seja, um modelo com um retorno, sem integração e sem médias móveis. Para
maiores detalhes sobre ARIMA, ver John M. Gottman (Time-Series analysis: a comprehensive
introduction for social scientists. Cambridge: Cambridge University Press, 1984).
149
37O passo a passo dos critérios utilizados em testes de auto-regressão nos próximos capítulos está
no Apêndice Metodológico A. Junto com os bancos de dados em anexo, as informações no apêndice
mostram como realizar os testes utilizando o pacote estatístico SPSS.
150
CAPÍTULO 5
com seqüência temporal que começa no final dos anos 80 e segue até 2005. As
pessoas são perguntadas se aprovam, desaprovam e se confiam ou não confiam no
governante, que pode ser o presidente da república, o governador ou prefeito. Além
disso, há também a aferição da imagem do País para a opinião pública brasileira,
independente de quem seja o governante. Como os testes de séries temporais
38O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo A.
152
100
90
80
70
Eleição FHC Reeleição FHC Eleição Lula
60
50
40
30
20
10 positivo
0 negativo
1987 1996 1998 1999 1999 2001 2002 2003 2004
1992 1996 1998 1999 2000 2001 2002 2004 2005
prefeitos. O gráfico 5.2 mostra as opiniões positivas nas três curvas. Como se pode
perceber, a opinião positiva sobre o país apresentou um crescimento significativo a
partir de 1994, estabilizando-se em 1998, quando começou a oscilar significativamente.
Em 2000, ela voltou a estabilizar-se próximo a 75% de avaliação positiva do País. Já
a série de avaliações positivas dos governadores, que começa em 1995, apresenta-se
mais estável durante todo o período, porém, é clara a tendência de queda até 2000,
das avaliações dos prefeitos, a série histórica é menor. Tendo começado em 1999,
ela se mostra em forma de mudança gradual e contínua até 2001, quando apresenta
uma queda abrupta de 10 pontos percentuais, para estabilizar-se em torno de 45% a
partir de 2001.
100
90
FHC 1º FHC 2º Lula
80
70
60
50
40
30
20
governador positivo
10 prefeito positivo
0 país positivo
1987 1996 1998 1999 2000 2002 2003 2004
1995 1997 1999 1999 2001 2002 2004 2005
39Aqui são considerados quatro períodos distintos sendo diferentes os governos de Lula, Fernando
Henrique Cardoso e Sarney, enquanto Fernando Collor de Melo e Itamar Franco são considerados no
mesmo governo.
156
relações muito fracas ao longo do tempo, mostrando que até agosto de 2005 o
governo Lula não apresentava alterações significativas na opinião pública em
relação aos seus antecessores no que diz respeito à avaliação positiva, negativa e
aprovação do desempenho.
os dois mandatos, pois, no segundo, ele apresentou uma queda nas avaliações
positivas e crescimento nos índices de rejeição que foram consistentes ao longo do
tempo, quando comparados aos demais períodos. Demonstra haver, portanto, uma
opinião pública não uniforme a respeito dos temas entre os dois mandatos.
158
100
90
80
70
60
50
40
30
20 renda
aumentou
10
renda
0 aumentará
1987 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
1993 1996 1998 1999 1999 2001 2002 2003 2004 2005
GRÁFICO 5.3 - SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE RENDA PESSOAL (ID: 01 A 138 – ANEXO A)
variável econômica "renda cresceu nos últimos seis meses" e todas as variáveis
regressoras incluídas no modelo. Porém, a expectativa de crescimento da renda no
próximo semestre aponta para mudanças significativas ao longo do tempo em relação a
algumas variáveis regressoras. É o caso da avaliação positiva do País e a expectativa
de aumento da renda. Também há uma relação significativamente positiva entre a
expectativa de aumento da renda e a avaliação positiva do presidente, confirmando
40O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo B.
162
das diferentes esferas de poder político. O gráfico 5.4 mostra a dinâmica da opinião
do brasileiro a respeito do desempenho do presidente da república, quando os
100
90
80
70
60
50
40
30
20
positiva
10
0 negativa
1987 1992 1996 2000 2004
1989 1994 1998 2002
das grandes oscilações, as somas das primeiras diferenças nas duas variáveis
indica uma tendência histórica de crescimento da opinião positiva, pois o resultado é
negativas foi maior que o crescimento nas opiniões positivas, quando consideradas
as diferenças de primeira ordem, pode-se concluir que uma parte do público deixou
163
efeitos retardados. Pelo teste, ao longo do tempo, o coeficiente Beta para a opinião
positiva em relação ao governo foi de 1,50, o que significa um ganho de 1,5 ponto
percentual a cada ano nesse tipo de avaliação do governo ao longo da curva.
O resultado é não-significativo, pois há um coeficiente com significância de 0,060. Já
para cada ano, a avaliação negativa do governante cai quase dois pontos
considerando as variações na curva histórica sem os efeitos retardados. Aqui o
41O teste autocorrelação indica que o coeficiente de primeira ordem ultrapassa os limites de
confiança para a opinião positiva e negativa a respeito do governo do presidente, como mostram os
gráficos abaixo. Nesses casos, recomenda-se o uso do teste de auto-regressão de séries temporais,
pois há quebra dos pressupostos de independência das observações. A auto-regressão usa um
retorno, retirando o efeito de correlação entre as observações.
,5 ,5
0,0 0,0
Partial ACF
Partial ACF
-,5 -,5
Confidence Limits Confidence Limits
do governo federal. A regressão com salário mínimo real mostra um coeficiente Beta
de 0,120 com nível de significância de 0,000, demonstrando que é significativa do
ponto de vista estatístico o aumento da avaliação positiva do governo em anos nos
quais há um maior crescimento real do valor do salário mínimo. A regressão da
curva de avaliação negativa do governante com a variável salário mínimo real
apresenta um Beta de 0,167, com nível de significância de 0,003. Como o valor B é
300
280
260
240
220
200
180
160
140
120
100 Av. positiva
80
60 Av. negativa
40
Sal. mínimo
20
0 (IPEA)
1987 1992 1996 2000 2004
1989 1994 1998 2002
100
90
80
70
60
50
40
Av. positiva
30
20 Av. negativa
10 corrupção está
0 aumentando
1987 1992 1996 2000 2004
1989 1994 1998 2002
partir de 1994 fica estável, de acordo com o gráfico 5.7, mostrando uma independência
entre as variáveis. Porém, os testes estatísticos indicam a existência de relação
42A partir daqui, o termo nível de significância será substituído, sempre, pela sigla sig.
168
80
70
60
50
40
30
20
Av. positiva
10
0 Av. negativa
-20 INPC
1987 1992 1996 2000 2004
1989 1994 1998 2002
crítico, com sig de 0,993, foi a Taxa de Desemprego, indicando que o aumento ou
redução do índice de desemprego no País tem um impacto não significativo na
avaliação do governante.
A relação que existe entre avaliação positiva e negativa do desempenho do
presidente da república com as variáveis intervenientes permite que se faça alguns
apontamentos a respeito da dinâmica da opinião pública sobre o tema. O que a
princípio parecia ser opinião randômica, pautada, possivelmente por manifestações
pouco racionais nas avaliações dos governos, pois alterna movimentos de
governante, que a princípio parecia ser volátil, ao ser comparada com algumas
variáveis intervenientes, mostrou-se que é racionalmente explicável.
Esse tipo de relação econômica na política vem sendo fartamente
documentado pela literatura internacional em estudos de comportamento dos
eleitores. A teoria do voto retrospectivo (KEY, 1968; FIORINA, 1981) e do voto
prospectivo (LANOUE, 1994) têm demonstrado como o eleitor pode considerar os
ganhos passados ou as expectativas de ganhos futuros para decidir em quem
votar.43 Morris Fiorina, em seu trabalho "Retrospective Voting in American National
Elections", apresenta uma série de resultados de testes de independência (Qui-
quadrado) estatisticamente significativos na relação entre avaliação da situação
financeira, das condições econômicas e do voto para o congresso norte-americano.
Os resultados dos testes de auto-regressão acima indicam que a avaliação econômica
não deve ser aplicada apenas ao comportamento do eleitor no momento da decisão
do voto, mas também ao do cidadão que, a qualquer instante, quando chamado a
avaliar o governante, faz relações com variáveis econômicas, especialmente para
considerar negativamente o governo.
43Em sua dissertação de mestrado, Malco Camargos Braga, após analisar o comportamento do eleitor
na eleição de 1994 para presidência da república conclui que o eleitor age racionalmente. Uma parcela
significativa deles apresenta consistência partidária em suas escolhas, por isso as variáveis econômicas
tiveram pesos diferenciados nos votos a Fernando Henrique Cardoso e Lula (BRAGA, 1999).
44O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo B.
172
partir de então. Por outro lado, a aprovação do governo apresenta as variações nos
dois sentidos durante o período, como demonstrado anteriormente. O isolamento da
avaliação positiva do País indica que o brasileiro médio consegue distinguir os
resultados dos governos das expectativas a respeito do Brasil.
100
90
80
70
60
50
satisfação
40 com país
30 presidente
20 positiva
10 presidente
0 negativa
1987 1992 1996 2000 2004
1989 1994 1998 2002
90
80
70
60
50
40
30
20
10 Positiva BR
0 Positiva EUA
1937 1945 1953 1961 1969 1977 1985 1992 2000
1941 1949 1957 1965 1973 1981 1988 1996 2004
46O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo C.
175
100
90
80
70
50
40
30
20
10
1972 1982 1985 1988 1989 1998 2003 2004
GRÁFICO 5.9 - SÉRIE TEMPORAL DE VOTO PERSONALISTA NO BRASIL (ID: 139, 140,
141, 143, 144, 153, 159 – ANEXO C)
47Conforme indicam os gráficos abaixo de autocorrelação da variável voto personalista entre "vota em
candidato" e "ano" há estacionaridade, pois os coeficientes ficam abaixo dos limites de confiança,
como mostra o gráfico abaixo. Apesar disso, para dar mais consistência aos testes, será usado o
método de auto-regressão.
vota em candidado
1,0
,5
0,0
-,5
Partial ACF
Confidence Limits
-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5
Lag Number
176
100
90
80
70
60
50
40
30 Vota em candidado
20 Preferência por
10 partido
1972 1988 1992 1997 2002
1985 1990 1994 2000 2004
O gráfico 5.10 mostra uma relação, ainda que fraca, entre as duas
tendências, isto é, quando a preferência partidária é alta, o voto personalista tende a
apresentar uma curva em queda. Quando este último cresce, o primeiro apresenta
uma queda. No entanto, apesar da relação inversa, não é possível indicar que uma
seja fortemente determinada pela outra apenas a partir das distribuições temporais
das opiniões. Não significa que não se possa indicar uma relação inversa entre
essas duas opiniões. Aplicando às duas variáveis o teste de autocorrelação,48
48Isso é possível, pois o teste de autocorrelação parcial para a preferência por um partido político
indica que não existe estacionaridade, visto que os coeficientes ficam abaixo dos limites de confiança.
178
apresenta que "o simples fato de se pedir aos eleitores que votem em indivíduos [...]
estimula campanhas personalizadas" (KINZO, 1990, p.33). Para a autora, no caso
49Paper apresentado no Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), em 2004, sob
o título "The Initial Emergence of Mass Partisanship: evidence from Brazil".
180
50O livro "Elections and the Political Order" foi escrito pelo mesmo grupo de autores do "The American
Voter" e é considerado como uma continuidade das pesquisas e resultados apresentados neste.
51O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo D.
181
que vai da Extrema esquerda até a Extrema direita ou ainda responder a uma série
de perguntas que, em seguida, formarão uma proxy, que servirá para o pesquisador
classificar cada respondente na escala original. Existem, na verdade, dois aspectos
da discussão sobre ideologia política. Em um, a ideologia é colocada em oposição ao
pragmatismo; visão comum na ciência política a partir dos anos 50, quando ideologia
é atribuída a crenças, doutrinarismo ou dogmatismo, com forte componente
passional. Em outro, a concepção de ideologia está ligada a todo o debate iniciado
nos anos 60 sobre o fim da ideologia, travado principalmente por Raymond Aron,
Daniel Bell e Seymour Lipset. De acordo com esse debate, o pragmatismo da ação
política, voltada ao atendimento de demandas específicas e mutáveis ao longo do
tempo, por parte dos agentes políticos, teria acabado com a importância da ideologia
política. A respeito das posições doutrinárias de esquerda/direita e as práticas das
elites políticas no poder, o filósofo espanhol José Ortega y Gasset antecipou em
1926 no livro "A Rebelião das Massas", o debate sobre ideologia que se fortaleceria
quatro década depois. Ele diz que
52O objetivo desse item não é esgotar, nem mesmo fazer uma abordagem panorâmica do
debate sobre o conceito Ideologia, mas apenas apresentar a discussão teórica que existe sobre o
tema, para em seguida tratar das possibilidades de sua aferição empírica. Até porque o debate é
bastante extenso, começa com o uso do termo "ideologia" pelo filósofo francês Destutt de Tracy, em
1796, ligado à análise sistemática das idéias e sensações; na geração, combinação e conseqüências
das mesmas. De Tracy argumentou que não se pode conhecer as coisas em si mesmas, mas apenas
182
as idéias formadas pelas sensações que temos delas. Se pudesse ser feita a análise dessas idéias e
sensações de uma maneira sistemática, poderia-se garantir uma base segura para todo o
conhecimento científico e tirar conclusões de cunho mais prático. Concebida como uma ciência
superior, a ciência das idéias, que, ao oferecer uma teoria sistemática do nascimento, combinação e
comunicação das idéias, apresentaria a base para um conhecimento científico em geral e facilitaria a
regulação natural da sociedade em particular. Quando o conceito passou para a arena política, deixou
de se referir apenas à ciência das idéias e começou a se referir também às idéias mesmas, isto é, a
um corpo de idéias. A contribuição específica de Karl Marx ao conceito de ideologia consiste no fato
de que ele assumiu o sentido negativo, oposicional, implícito, transformando-o e incorporando-o a um
marco referencial teórico e a um programa político. Os escritos de Marx ocupam uma posição central
na história e no conceito de ideologia. O trabalho dele oferece não tanto uma visão singular e
coerente do mundo sócio-histórico e de sua constituição, de sua dinâmica e desenvolvimento, mas,
uma multiplicidade de visões que são coerentes em alguns aspectos e conflitantes em outros, pois
convergem em alguns pontos e divergem em outros.
183
53Em um estudo de caso sobre o significado do eixo Esquerda-Direita para o eleitorado Chileno,
Arturo Fontaine Talavera (1995) demonstra que, apesar de suas imperfeições, a distribuição
esquerda-direita faz algum sentido e tem validade para o eleitor chileno, porém, ele diz que esse eixo
não é definido em função de fatores religiosos, étnicos ou culturais, mas se relaciona com três eixos
principais que são o sócio-econômico (desenvolvimento-igualdade), o político (ordem-liberdades) e o
histórico (Allende-Pinochet).
184
100
90
auto-identificação como sendo de esquerda
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1989 1990 1993 1997 2000 2002
de 21% em 1989, atingem 50% em 1990; oscilam para baixo até chegar a 16% em
2000 e voltam a subir para 31% em 2002. Essa curva mostra-se com significativa
volatilidade durante todo o período analisado, como indicado no gráfico 5.12.
100
90
auto-identificação como sendo de centro
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1989 1990 1993 1997 2000 2002
100
90
70
60
50
40
30
20
10
0
1989 1990 1993 1997 2000 2002
NATURAL
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
B Ap Prob.
percentual para cada nova observação. A relação entre ano e Centro apresenta o
maior Beta, com –1,092 pontos percentuais a a menos para cada nova observação,
Direita e Centro (-0,994), mas não há correlação significativa ao longo do tempo nas
variações de percentuais entre o autoposicionamento de Direita e Esquerda. Isso
mostra uma coerência na opinião do brasileiro médio em relação à ideologia
expressa publicamente, pois pessoas que se autodefinem como de direita podem,
no máximo, mudar de posição para o centro em outro momento do tempo. O mesmo
acontece com as respostas como sendo de Esquerda. Porém, quem se
54Os testes de autocorrelação das três variáveis mostraram-se abaixo dos limites de confiança para a
existência de estacionaridade, como mostram os gráficos abaixo, permitindo a realização de testes de
correlação entre as variáveis.
esquerda
direita centro
1,0
1,0 1,0
,5
,5 ,5
0,0
0,0 0,0
-,5
Partial ACF
-,5 -,5
Partial ACF
Partial ACF
melhor sistema de governo, pode ser dividida em dois momentos distintos. Entre
1988 e 2000, essa opinião variou de 40% a 50%. Já, a partir de 2000 e até 2004, a
opinião oscilou muito pouco, mostrando também uma tendência de manutenção da
opinião; porém, aqui as variações foram entre 30% e 41%, indicando uma queda de
quase dez pontos percentuais de 1988 a 2004, ressaltando que não se trata de uma
queda gradativa, mas de uma mudança abrupta de patamares que aconteceu entre
1999 e 2000. De 1988 a 1999, a média de preferências pela democracia na opinião
pública brasileira era de 46,3%. Entre 2000 e 2004, essa média caiu para 36,4%.
100
90
80
70
60
50
40
prefere democracia
30
20
10
0
1988 1989 1996 1997 1998 2000 2001 2002 2003 2004
55O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo E.
192
56É possível usar a auto-regressão entre as duas variáveis originais, pois os testes de autocorrelação
parcial mostraram que não existe estacionaridade nos valores aferidos, apesar da primeira coluna
ficar muito próxima do limite de significância. Como se vê nos gráficos a seguir, os coeficientes ficam
abaixo das linhas do limite de confiança.
prefere democracia
1,0
,5
0,0
-,5
Partial ACF
Confidence Limits
-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5 6 7 8
Lag Number
193
60% dos brasileiros diz não confiar no parlamento, partido, poder executivo, tribunais
de justiça e serviços públicos. A média de confiança na justiça entre 1995 e 2003
ficou em 26,2%, com uma soma das diferenças de primeira ordem de –41,25,
indicando um resultado negativo das opiniões de confiança na justiça nesse período.
No caso da confiança no governo brasileiro, a média ficou em 32,37%, bastante
acima da confiança na justiça. Porém, apresenta uma soma das diferenças de
primeira ordem de –85,67, o que mostra uma queda mais acentuada que a da
justiça. Os períodos de análise não são os mesmos. No caso da confiança no
uma redução na preferência pela democracia. Vale ressaltar ainda que a soma das
primeiras diferenças da preferência pela democracia entre 1988 e 2004 resultou no
valor um, praticamente estável e positivo, ao contrário do que indica visualmente o
gráfico. A conclusão a que se chega é a de que a preferência pela democracia tem
caído menos que a confiança nas principais instituições democráticas. Esta apresentou
queda constante durante todo o período. É importante, portanto, ver também o tipo
de curva de opinião sobre confiança em cada uma das instituições.
confiança passa a ser uma aposta com base na crença de que interesses comuns
dos indivíduos envolvidos são condição suficiente para gerar benefícios comuns e
100
90
80
70
60
50
40
confia na justiça
30
20
10
0
1995 1998 1999 2000 2003
secundária.
100
90
80
70
60
50
40
confia no congresso
30
20
10
0
1972 1989 1990 1991 1995 1998 1999 2000 2003
100
90
80
70
60
50
40
confia no governo
30
20
10
0
1972 1989 1990 1991 1995 1998 1999 2000 2003
tomadores de decisões de políticas públicas. Isso porque o voto isolado não garante
os resultados esperados pelo público, pois este tem objetivos considerados como
há mais otimismo, resultando em mais confiança (USLANER, 2001). Para testar essa
hipótese, mais adiante apresentam-se resultados da relação entre perspectiva de
melhoria econômica por parte do público e avaliação do desempenho dos governos.
Por outro lado, autores da escolha racional argumentam que não faz sentido
falar em confiança nas instituições, porque quem confia não tem como conhecer os
interesses e motivações dos indivíduos que dirigem as instituições (HARDIN, 1999).
57Em um estudo de caso, aplicado à opinião pública espanhola, José Ramón Montero et al. constataram
diferenças significativas na opinião pública daquele país no que diz respeito à legitimidade da
democracia em relação ao descontentamento e à alienação política. Os testes indicaram que, para
aquele país, o descontentamento com a política não significa a redução da credibilidade na democracia
(MONTERO, 1999).
58O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo F.
200
100
90
80
70
60
50
prefere presidencialismo
40
30
20
10
0
1962 1988 1991 1992 1993 1999
100
90
80
70
60
50
prefere parlamentarismo
40
30
20
10
0
1988 1991 1992 1993 1999
59É possível usar o teste de correlação de Pearson nas duas variáveis originais, pois os
testes de autocorrelação parcial mostraram que existe estacionaridade e correlação transversal
quando comparados entre si. Como se vê nos gráficos a seguir, os coeficientes de correlações cruzadas
ficam abaixo das linhas do limite de confiança, com o coeficiente tocando a linha apenas para o valor
de retorno zero, o que indica a não-existência de relação entre valores de tempos anteriores.
202
COEFICIENTE NÍVEL
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA
60O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo G.
203
nos processos eleitorais. A conseqüência mais imediata é uma redução nos índices
de abstenção dos eleitores, ficando abaixo das médias percebidas em democracias
onde o voto não é obrigatório. Em uma pesquisa desenvolvida pelo Idesp (Instituto
de Estudos Sociais, Econômicos e Políticos de São Paulo), realizada no final da
década de 70 na periferia da cidade de São Paulo, constatou-se que o eleitor tinha
duas definições distintas para a função do título de eleitor, como citado por
Figueiredo (1990)
100
90
80
70
60
50
40
30
a favor do voto obrigatório
20
10
0
1988 1991 1993 1996 1998 2001 2002 2005
mostram uma média de 44% ao longo do tempo, indicando que menos da metade
dos eleitores brasileiros, na média do período entre 1988 e 2005, se posicionaram a
favor do voto obrigatório. Some-se a isso os resultados da pesquisa citada por
Figueiredo (1990), onde pouco mais de um terço dos eleitores afirmaram que se o
voto não fosse obrigatório, não participariam dos processos eleitorais. Assim, teremos
pouco mais de 20% dos eleitores que não são favoráveis ao voto obrigatório e
A tabela 5.15 indica também uma variação acima do erro aceitável durante
o período, indo de 29% a 61%, o que mostra a não estabilidade da opinião. Resta
saber se essa variação da opinião a respeito da obrigatoriedade do voto tem uma
direção ou é randômica ao longo do tempo. Os resultados da auto-regressão61
apresentados na tabela 5.16 indicam uma consistência na mudança da opinião a
61O teste de auto-regressão deve ser aplicado aqui por haver pelo menos um coeficiente próximo do
limite de confiança no teste de autocorrelação parcial, como indica o gráfico abaixo:
,5
0,0
-,5
Partial ACF
Confidence Limits
-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5 6
Lag Number
205
eleitoral ou ano sem eleição, por considerarmos que em anos eleitorais os debate
políticos são mais intensos e isso pode estimular a opinião pública à participação.
No entanto, os resultados da auto-regressão considerando a série interrompida pelo
"evento" ano eleitoral62 não se mostram significativos, com sig de 0,084, embora
62Duranteo período analisado foram considerados como "ano eleitoral", todos aqueles em que houve
uma disputa, não necessariamente de caráter federal, inclusive tendo sido incluído o ano de 1993,
quando apesar de não ter havido eleições, aconteceu o referendo sobre sistema de governo, que
também mobilizou os eleitores.
206
100
90
80
70
60
50
40
30
muito interesse em eleições
20
10
0
1996 1998 1999 2000 2000 2001 2002 2004
GRÁFICO 5.21 - PERCENTUAL DE ELEITORES QUE DIZ TER MUITO INTERESSE POR
ELEIÇÕES (ID: 191 A 197 – ANEXO G)
MUITO INTERESSE
ESTATÍSTICA
EM ELEIÇÕES
Média 17,70%
Desvio Padrão 3,89 pp
V. Máximo 23,60%
V. Mínimo 12,90%
enquanto o coeficiente Beta é muito baixo, de 0,396, conforme tabela 5.18. Nesta
tabela também estão os principais resultados da auto-regressão da série interrompida,
considerando como variável regressora ser ano eleitoral. Os resultados mostram que
63O teste de auto-regressão deve ser aplicado aqui por haver pelo menos um coeficiente próximo do
limite de confiança no teste de autocorrelação parcial, como indica o gráfico a seguir:
,5
0,0
-,5
Partial ACF
Confidence Limits
-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5
Lag Number
208
diz que não votaria se o voto não fosse obrigatório, sobram cerca de 20% do
eleitorado, muito próximo do percentual de eleitores que diz ter muito interesse nas
disputas. Isso explicaria a não relação entre as duas curvas de opiniões, pois não
necessariamente o mais interessado nas disputas eleitorais deverá ter opinião
favorável ao voto obrigatório, visto que ele pode ter outros estímulos para a
participação.
209
QUADRO 5.1 - DEMONSTRATIVO DOS PADRÕES DE OPINIÕES SOBRE TEMAS POLÍTICOS NO BRASIL NAS ÚLTIMAS
TRÊS DÉCADAS
COMPORTAMENTO RESULTADOS DA
TEMA PÚBLICO OPINIÃO PERÍODO
DA CURVA AUTO-REGRESSÃO
Opinião mensal do Avaliação Positiva 1987 a 2005 Volátil com mudanças Resultados não significativos ao
governo federal randômicas. longo do tempo.
Opinião anual do Avaliação Positiva 1987 a 2004 Volátil com mudanças Resultados não significativos ao
governo federal randômicas. longo do tempo.
Opinião anual do Avaliação Negativa 1987 a 2004 Volátil com mudanças Resultados não significativos ao
governo federal randômicas. longo do tempo.
Voto personalista Decide votar no 1972 a 2004 Volátil com mudanças Resultados não significativos ao
candidato e não no randômicas. longo do tempo.
partido
Ideologia política Auto-identificação 1989 a 2002 Estável a partir dos anos 90. Resultados não significativos ao
como sendo de longo do tempo
esquerda
Ideologia política Auto-identificação 1989 a 2002 Volátil com mudanças Resultados não significativos ao
como sendo de randômicas. longo do tempo
centro
Ideologia política Auto-identificação 1989 a 2002 Estável até 1997, quando passou Resultados não significativos ao
como sendo de a apresentar um crescimento, longo do tempo
direita com estabilização em 2000.
Democracia Preferência pela 1988 a 2004 Estável até 2000, com queda Resultados não significativos ao
Democracia rápida para em seguida longo do tempo
estabilizar-se novamente.
Confiança nas Confia na Justiça 1995 a 2003 Queda gradativa e constante ao Resultados são significativos ao
instituições longo de todo o período longo do tempo
Confiança nas Confia no congresso 1972 a 2003 Estabilidade até 1989. Resultados são significativos ao
instituições Crescimento rápido até 1991. longo do tempo
Queda gradativa e contínua até
2003
Confiança nas Confia no Governo 1972 a 2003 Queda até 1989. Crescimento Resultados significativos ao
instituições contínuo até 1995. Queda longo do tempo, indicando
gradativa até 2003 queda consistente.
Sistema de Prefere 1962 a 1999 Queda até 1988. Crescimento Resultados não significativos ao
Governo presidencialismo gradativo até 1993 e longo do tempo
estabilidade a partir de então.
Sistema de Prefere 1988 a 1999 Queda gradativa e contínua até Resultados significativos ao
Governo parlamentarismo 1993, com estabilidade a partir longo do tempo, indicando
de então. consistência na redução dos
percentuais de opinião.
Voto Obrigatório A favor do voto 1988 a 2005 Percentual crescente com Resultados significativos e
obrigatório "pulsos" no tempo positivos no tempo.
Participação Tem muito interesse 1996 a 2004 Percentual em estabilidade Resultados não significativos ao
eleitoral em eleições durante todo o período longo do tempo.
210
QUADRO 5.2 - DEMONSTRATIVO DAS CORRELAÇÕES ENTRE OPINIÕES SOBRE TEMAS POLÍTICOS NO BRASIL
DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS
Avaliação positiva do presidente com 0,340 0,000 Correlação entre as duas variáveis ao
expectativa de crescimento da renda longo do tempo altamente
nos próximos seis meses. significativa, indicando coerência
entre a variável econômica e a
avaliação do governo.
Avaliação positiva do governo com -0,426 0,049 Correlação entre as duas variáveis
opinião sobre crescimento da significativa e inversa, indicando
corrupção coerência entre as opiniões.
Avaliação negativa do governo com 0,395 0,000 Correlação entre as duas variáveis
opinião sobre crescimento da significativa, indicando coerência
corrupção entre as opiniões.
Avaliação positiva do governo com -0,702 0,001 Correlação entre as duas variáveis
taxa anual de inflação. significativa e inversa, indicando
coerência entre as opiniões.
Avaliação negativa do governo com 0,997 0,000 Correlação entre as duas variáveis
taxa anual de inflação. significativa, indicando coerência
entre as opiniões.
64O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo H.
211
que inverteu as posições das opiniões sobre pena de morte pode ter sido causada
por um fato de grande intensidade naquele momento para o debate público. O período
analisado também mostra uma consolidação das opiniões sobre o tema no Brasil.
No início da curva, em 1995, 43% era contra a pena de morte e 56% favorável. Em
1999 percebe-se uma inversão da opinião, com os contrários passando a 47%,
contra 53% de favoráveis. Não houve apenas uma inversão, mas um crescimento no
percentual de pessoas com opinião formada sobre o tema no período de1999 e
2005 perceber-se uma estabilidade – excetuando 2002 – na curva.
100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
A favor
0 Contra
1995 1999 2000 2001 2002 2003 2005
COEFICIENTE NÍVEL
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA
65O teste de auto-regressão deve ser aplicado, pois as autocorrelações parciais plotadas abaixo
indicam a possibilidade de um comportamento não estacionário da série.
,5 ,5
0,0 0,0
-,5 -,5
Partial ACF
Partial ACF
início dos anos 90 e a partir daí uma estabilidade. O gráfico 5.23 mostra que de
1962 até 1987 as opiniões contrárias e favoráveis à reforma agrária seguiram curvas
contínuas e em sentidos claramente opostos. Enquanto o percentual de favoráveis à
reforma agrária passou de 47% em 1962, chegando a 71% em 1987, estabilizando-
se entre60% e 65% a partir de 1996; a opinião contrária foi de 34% em 1962 para
até 8% em 1987, estabilizando-se a seguir entre 10% e 20% desde então, sendo o
comportamento de uma curva o espelho do comportamento da outra.
100
90
80
70
60
50
40
30 Favor
20 Ref. Agrár.
10 Contra
0 Ref. Agrár.
1960 1970 1980 1991 1998 2002 2004
1962 1972 1987 1996 2000 2003
66O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo I.
214
Pesquisas nacionais de opinião sobre esse tema têm origem nos anos 60
em função das discussões sobre reforma constitucional. Com a inclusão do tema na
constituição brasileira, houve oportunidade para um debate público sobre a
necessidade e/ou viabilidade de uma reforma no sistema de distribuição da
propriedade rural brasileiro no século XX.
Não foi a primeira vez que o tema entrou em debate público no Brasil. O grau
de concentração da propriedade fundiária que caracteriza a generalidade da estrutura
agrária brasileira é um reflexo da natureza da economia nacional que vem dos
primórdios da colonização (PRADO JR, 1969). Para o autor, desde a colonização até
pelo menos meados do século XX houve uma série de modificações na sociedade
brasileira que tiveram impacto direto ou indireto na organização agrária. Essas
mudanças vão desde a ocupação do território brasileiro, com as fronteiras agrícolas
ainda se expandindo no final do século XX; contínuo crescimento e adensamento
demográfico, que só vão perder força nos anos 80 (IBGE); contingentes migratórios,
principalmente para zonas urbanas e uma constante diversificação das atividades
econômicas no período são alguns exemplos de modificações da forma de
composição da sociedade brasileira que têm impacto na organização agrária e na
opinião pública.
No entanto, como lembra Caio Prado Júnior, essas mudanças não são
suficientes, per si, para alterar alguns elementos fundamentais da estrutura agrária
que ainda persiste, como a obsoleta forma de utilização da terra e organização agrária,
deixando à população de trabalhadores o mero papel de desempenhar a função de
fornecer mão-de-obra a uma exploração agromercantil voltada para fora do país
(PRADO JR, 1969). É esta contradição, que envolve por um lado as transformações
geradas pela relação entre campo e cidade, e por outro a manutenção dos princípios
de exploração agrícola no país, que o tema Reforma Agrária mantém-se presente no
debate público de forma permanente desde, pelo menos, os anos 50 do século XX.
Reflexo desse debate é a organização de grupos de pressão que fazem com que o
cidadão desinteressado possa se decidir se é a favor ou contra a reforma agrária.
215
curva crescente constante entre os anos de 1962 e 1991 apresentou uma pequena
queda e se estabilizou na última década. Já a opinião contrária mostrou-se em
queda dos anos 60 até 90, quando começou a oscilar entre 10% e 20%, o que indica
uma mudança permanente e gradual das opiniões ao longo do tempo em ambas
opiniões, para em seguida elas estabilizarem-se.
Para testar se as mudanças estruturais da sociedade brasileira no período,
em especial a crescente desvinculação da população das relações diretas com a
216
100
90
80
70
60
percentual população urbana
50
40
30
20
10
0
1960 1962 1970 1972 1980 1987 1991 1996 1998 2000
COEFICIENTE NÍVEL DE
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA
até 2004, as opiniões aferidas sobre esse tema apresentaram-se estáveis, com
resultados muito baixos e sig acima do aceitável, comprovando a idéia de que a curva
100
90
80
70
60
50
Favor
40
Ref. Agrár.
30
Contra
20 Ref. Agrár.
10 % Pop.
0 Urbana
1960 1970 1980 1991 1998 2002 2004
1962 1972 1987 1996 2000 2003
COEFICIENTE NÍVEL DE
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA
,5
,5
0,0
0,0
-,5
Partial ACF
-,5
Partial ACF
Confidence Limits
Confidence Limits
percentuais em favor dessa resposta variam de no mínimo 20%, chegando até 65%.
Porém, no período de 15 anos, entre 1987 e 2004, a curva da opinião sobre
desemprego ser o maior problema do país apresenta duas dinâmicas distintas.
De T0 que é 1987 até T1 que é 1996, onde a curva mostrou-se crescente
gradativamente, como indica o gráfico 5.24. Entre T1 e T2 que é 2004, a curva passa
100
90
80
Maior Problema Desemprego (TREND)
70
60
50
40
30
20
10
0
1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003
68O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo J.
221
A soma das diferenças entre os dois períodos mostra essa variação entre
as curvas. De 1987 a 1996 a soma das diferenças de primeira ordem (o resultado de
1988 menos o resultado de 1987 e assim por diante) é alta, com 36,35%, o que
indica um movimento crescente. Já no segundo período, o resultado da soma das
diferenças é de –11,96%. O valor negativo indica que houve variações nos dois
sentidos, mas que no geral os números obtidos com as variações para baixo foram
maiores que os crescentes. Se as somas indicam dois comportamentos distintos da
curva nos períodos analisados, as médias obtidas pela soma das diferenças é capaz
de mostrar a direção da curva. Até 1996 as opiniões sobre desemprego ser o maior
problema do país eram crescentes, pois a média das diferenças de primeira ordem
Dif. T0 a T1 Dif T1 a T2
Uma variável interveniente que pode ser incluída no modelo para testar a
existência de correlação com a opinião sobre desemprego é a própria taxa de
desemprego médio anual. Considerando que o público sofre diretamente os efeitos
do crescimento ou redução do desemprego no país e que esse público é capaz de
formular opiniões consistentes com a realidade na qual está inserido, pode-se
considerar que a opinião pública sobre desemprego tenha algum tipo de relação
com os índices de desemprego real medido no país. O gráfico abaixo mostra que
222
100
90
80
70
60
50
40
30 Maior Problema
20 Desemprego
10 Tx Desemprego
0 (x10) IPEA
1987 1991 1995 1999 2003
1989 1993 1997 2001
NOTA: Os valores da taxa de desemprego foram multiplicados por dez apenas para
facilitar a visualização das curvas no gráfico. De fato, a taxa varia de 3,5%
(mínimo) e 8,5% (máximo), no período.
Porém, essas tendências não estão relacionadas com a curva de taxa média
de desemprego anual, medida pelo Ipea, que, apesar das oscilações, apresenta um
movimento crescente durante todo o período em análise. Com isso, visualmente é
possível indicar uma correlação mais forte entre a taxa de desemprego e opinião
pública até 1996, do que no segundo período, onde o índice medido pelo Ipea
(Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), apesar das oscilações, continua a
apresentar-se crescente, enquanto a opinião pública passa a ter quedas
percentuais.
223
tabela abaixo.
TABELA 5.24 - AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES SOBRE DESEMPREGO SER MAIOR PROBLEMA
DO PAÍS
COEFICIENTE NÍVEL DE
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA
tempo. É o caso da opinião sobre corrupção ser o maior problema do país. Entre
1987 e 2002 o percentual de brasileiros que considerou a corrupção como maior
problema do país oscilou abaixo da margem de cinco pontos percentuais de erro,
ficando entre 5% e 2%, conforme mostra o gráfico 5.28.
100
90
corrupção como maior problema do país
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1987 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
69O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo K.
225
100
90
80
70
60
corrupção tem aumentado
50
40
30
20
10
0
1995 1998 1999 2000 2001 2005
1997 1998 1999 2001 2004
indica que a cada divulgação de novo acontecimento, isso seja capaz de "manipular"
a opinião pública no sentido de transformar um fato isolado em um problema
nacional. Aqui fica clara a distinção entre opinião pública primária e secundária.
Enquanto a opinião sobre a corrupção ser o maior problema do país apresenta níveis
históricos estáveis, não sofrendo influência de eventos específicos, mostrando-se
como componente importante de uma opinião primária; a avaliação sobre aumento
ou queda da corrupção no país está diretamente relacionada a acontecimentos
pontuais e a entrada deles no debate público, demonstrando ser uma opinião suscetível
a mudanças rápidas.
COEFICIENTE NÍVEL DE
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA
70O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo L.
71O referendo foi previsto em um artigo na Lei do Desarmamento que entrou em vigor um ano antes
do referendo e previa a consulta popular sobre a manutenção ou não da permissão da legalidade
para a venda de armas de fogo e munições no País.
228
100
90
80
70
início HGPR
60
50
40
30
20
SIM
10
0 NÃO
09.07.03 15.10.03 15.02.05 18.10.05 27.10.05
20.09.03 24.03.04 11.10.05 20.10.05
GRÁFICO 5.30 - SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE TEMA DO REFERENDO 2005 (ID: 266 A 274
– ANEXO L)
que durante todo o período analisado (2003 a 2005) houve uma forte migração da
opinião a favor da restrição às armas para a opinião contrária a esta restrição.
SIM NÃO
1,0 1,0
,5 ,5
0,0 0,0
-,5 -,5
Partial ACF
Partial ACF
APPROX.
REGRESSOR DEPENDENTE BETA
PROB.
100
90
80
70
60
50
40
Tx crimes
30
média anual
20 Favor restrição
a armas
10
Contra restrição
0 a armas
2001 2002 2003 2004 2005
73São incluídos nessa categoria o homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte, morte suspeita
e roubo seguido de morte. Os números representam o conjunto dessas ocorrências para cada 100 mil
habitantes do País.
74Para as tendências anuais das opiniões a favor e contra restrição a armas em 2003 e 2004 foram
usadas as médias aritméticas dos resultados das pesquisas aplicadas nesses anos. Para 2005 foi
usado o resultado do referendo.
234
APRROX.
REGRESSOR DEPENDENTE BETA
PROB.
Taxa de crimes violentos "Sim" 90,614 0,103
letais intencionais "Não" -80,997 0,992
significativa, a taxa de crimes violentos não pode ser considerada uma variável
interveniente na opinião do brasileiro a respeito da maior ou menor restrição às
75Para testar a não interveniência das taxas de criminalidade nos resultados do referendo de 2005
foram tiradas as médias de crimes violentos letais intencionais por Estado da Federação entre 2001 e
2003, com esses resultados sendo considerados como variável independente em um teste de
regressão linear simples cujas variáveis dependentes foram os percentuais de opinião "sim" e "não"
no referendo. A tabela abaixo resume os principais resultados, que confirmam a não relação entre as
variáveis ao longo do tempo, pois o coeficiente de correlação é baixo (13,6%); o coeficiente de
determinação é muito baixo (1,9%), os coeficientes Betas para as duas variáveis dependentes
seguem o mesmo nível do coeficiente Beta da auto-regressão e o nível de significância fica muito
acima do aceitável (0,499), comprovando a inexistência de relação linear entre as taxas de
criminalidade por Estado e os percentuais a favor ou contra a proibição de venda de armas e
munições no Brasil.
Taxa de crimes violentos letais Percentual Sim por Estado 0,136 0,019 0,108 0,499
intencionais (2001 a 2003) por Estado Percentual Não por Estado 0,136 0,019 -0,108 0,499
235
percentuais das respostas com os de tratamento dos temas pela mídia. Estudos
realizados desde os anos 60 para aferir o agendamento empiricamente têm
76O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo M.
236
100
90
80
70 desemprego
violência
60
saúde
50
miséria
40 educação
corrupção
30
salários
20
economia
10 habitação
0 ref. agrária
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
mais uma vez a saída deste tema na agenda pública do maior problema do País no
período em análise.
77Os testes de autocorrelação indicam que as curvas de todos os temas são estacionárias, não
apresentando nenhum coeficiente próximo do limite de significância, como demonstram os gráficos
abaixo. Apesar disso, usa-se o teste de auto-regressão por oferecer resultados estatísticos mais
seguros na relação entre as diferentes variáveis e a variável independente "tempo".
,5 ,5 ,5 ,5
Partial ACF
Partial ACF
Partial ACF
corrupção
educação 1,0 salários economia
1,0 1,0 1,0
,5
,5 ,5 ,5
0,0
0,0 0,0 0,0
-,5
Partial ACF
Partial ACF
Partial ACF
Confidence Limits
Confidence Limits Confidence Limits Confidence Limits
habitação
1,0
ref. agrária
1,0
,5
,5
0,0
0,0
-,5
Partial ACF
-,5
Partial ACF
Confidence Limits
Confidence Limits
SAÚDE MISÉRIA
Como foi dito no início deste tópico, não é possível fazer inferências sobre
as zonas de impacto da cobertura da mídia nos temas agendados pelo público devido
a falta de informações sobre a tematização dos meios de comunicação no mesmo
período.78 Porém, apenas a título de ensaio, é possível fazer algumas relações dos
temas mais salientes na opinião pública em 2002, comparando-os com a tematização
da mídia brasileira a respeito das eleições presidenciais daquele ano. Para tanto,
serão usadas duas fontes de dados complementares. Uma delas trata da cobertura
feita pelos quatro principais jornais brasileiros com circulação nacional – Folha de
São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e Jornal do Brasil – sobre as eleições
presidenciais de 200279 (CERVI, 2003). A outra fonte são informações coletadas
sobre a cobertura feita pelos dois telejornais de maior audiência no Brasil – Jornal
mídia com a agenda pública, onde as principais questões naquele ano eram
"Desemprego" e "Violência".
No caso da cobertura dos quatro principais jornais diários brasileiros sobre
uma série de outros assuntos, como inflação, produção industrial, etc. que também
foram abrigados na categoria economia (CERVI, 2003).
79A fonte primária dessas informações é o banco de dados do Doxa/IUPERJ, montado pelos
pesquisadores ligados a ele entre 2002 e 2003, dentre eles o autor desta tese. O período de coleta
teve início na segunda quinzena de fevereiro e seguiu até o fim do mês de outubro de 2002. Ao longo
desses oito meses foram coletadas informações de 22.323 entradas jornalísticas nos quatro jornais
diários analisados.
81A grande maioria das entradas, cerca de 92% delas, dizia respeito às questões vinculadas diretamente
à campanha eleitoral, sem tratar de nenhum tema sócio-econômico como objeto principal. Aqui, estão
sendo considerados apenas os 8% com alguma tematização.
242
nacional foi Tráfico de Drogas, com 27% do tempo, e em segundo lugar, Tim Lopes
(jornalista assassinado naquele ano por traficantes no Rio de Janeiro), com 22%. No
jornal da Record o principal assunto também foi assassinato, com 19% do total,
seguido por tráfico e rebeliões, com 18% cada. Já na editoria de economia, o
principal assunto nos dois telejornais foi câmbio monetário, com 34% do tempo total
no Jornal Nacional e 32% no Jornal da Record. O segundo principal assunto
econômico no Jornal Nacional foi emprego, com 8% do tempo total, contra apenas
2% do total do Jornal da Record (QUENEHEN, 2003).
Os resultados da cobertura dos jornais diários impressos e dos telejornais,
apesar de não serem suficientes para nenhuma inferência sobre as zonas de
impacto no agendamento público ao longo do tempo, mas apenas de 2002, servem
como indicadores de uma possível relação entre mídia de massa brasileira e agenda
pública do País, embora essa relação não deva ser determinante da agenda pública.
Nos telejornais, o tema público de maior saliência foi segurança, cujos assuntos
principais foram tráfico de drogas e assassinatos, ambos relacionados à violência.
e de geral os temas desemprego e violência apareceram com mais ênfase, além das
aparições que tiveram na cobertura feita a respeito das candidaturas a presidente da
opinião pública poderá ser considerada mais racional, quanto maior for a relação
entre as tendências de opiniões correlatas. Para testar essa hipótese, o gráfico 5.31
apresenta as opiniões sobre violência ser o maior problema do País, confiança na
polícia e confiança na justiça entre 1995 e 2004.
Quanto mais racional for a opinião pública, mais próximas estarão as
curvas de confiança na justiça e na política, por tratarem-se de duas instituições
82O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo N.
244
também entre 1995 e 1999, estabilizou-se até 2000, apresentou crescimento até
2001 – em forma de opinião secundária –, para voltar a cair até 2003. Paralelo a
100
90
80
70
60
50
40
30
20 violência maior
problema país
10 confia na justiça
0 confia na polícia
1995 1998 1999 2000 2001 2003 2004 2005
sobre aumento da violência, pois a queda nas crenças às instituições foi o dobro das
opiniões sobre violência como maior problema do País, embora as diferenças entre
sinais indiquem uma oposição entre a opinião e confiança nas instituições. As somas
das diferenças mostram que as velocidades das mudanças seguem proporcionalmente
a mesma lógica das médias. O resultado da soma das primeiras diferenças sobre
violência é de 29,48, pouco a menos da metade da soma das diferenças na
confiança na Justiça –41,25 (com sinal inverso) e na polícia –45,68.
246
VIOLÊNCIA – MAIOR
CONFIA NA JUSTIÇA CONFIA NA POLÍCIA
PROBLEMA PAÍS
83Os testes de autocorrelação mostram a existência de estacionaridade nas curvas das três opiniões,
como mostram os gráficos abaixo, porém serão usados os testes de auto-regressão por garantir uma
maior confiabilidade aos resultados.
,5 ,5 ,5
Partial ACF
Partial ACF
duas variáveis, com sig de 0,014 e coeficiente Beta de 0,936, demonstrando que as
duas curvas movem-se na mesma direção e a mudança de um ponto percentual na
confiança na polícia está relacionado a 0,936 ponto percentual a menos na
confiança ao judiciário.
nos índices de opinião sobre violência ser o maior problema do País. Isso deve ser
explicado pela relação com outras variáveis.
VIOLÊNCIA MAIOR
CONFIA NA JUSTIÇA CONFIA NA POLÍCIA
PROBLEMA
COMPORTAMENTO DA RESULTADOS DA
TEMA PÚBLICO OPINIÃO PERÍODO
CURVA AUTO-REGRESSÃO
Pena de Morte A favor 1995 a 2005 Estável no período analisado, Resultados não significativos
com um único momento de ao longo do tempo
alteração significativa.
Pena de Morte Contra 1995 a 2005 Estável no período analisado, Resultados não significativos
com um único momento de ao longo do tempo
alteração significativa.
Reforma Agrária Contra 1962 a 1987 Curva em queda constante. Resultados significativos ao
longo do tempo, com
coeficiente negativo.
Reforma Agrária A favor 1988 a 2004 Estável no período analisado. Resultados não significativos
ao longo do tempo.
Reforma Agrária Contra 1988 a 2004 Estável no período analisado. Resultados não significativos
ao longo do tempo.
Maior problema do Desemprego 1987 a 2003 Curva crescente até 1996, com Resultados não significativos
País movimentos voláteis a partir de ao longo do tempo.
então.
249
QUADRO 5.3 - DEMONSTRATIVO DOS PADRÕES DE OPINIÕES SOBRE TEMAS SOCIAIS NO BRASIL NAS ÚLTIMAS
TRÊS DÉCADAS
conclusão
COMPORTAMENTO DA RESULTADOS DA
TEMA PÚBLICO OPINIÃO PERÍODO
CURVA AUTO-REGRESSÃO
Maior problema do Corrupção 1987 a 2002 Curva estável em todo o Resultados não significativos
País período ao longo do tempo.
Corrupção Tem aumentado 1995 a 2005 Curva instável no período, com Resultados não significativos
no País variações significativas e ao longo do tempo.
voláteis.
Miséria, educação, 1996 a 2002 Curva estável durante o Resultados não significativos
corrupção, salário, período analisado. ao longo do tempo.
economia,
habitação.
Confiança órgãos Confiança na 1995 a 2004 Curva em queda durante o Resultados pouco acima dos
segurança e justiça período analisado. limites de confiança, portanto,
violência não significativos.
QUADRO 5.4 - DEMONSTRATIVO DAS CORRELAÇÕES ENTRE OPINIÕES SOBRE TEMAS SOCIAIS NA OPINIÃO
PÚBLICA BRASILEIRA DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS
CAPÍTULO 6
de Janeiro, que era até os anos 60 a capital do país. Desde o final dos anos 40, em
toda a década de 50 e em parte dos anos 60, o Ibope produziu um boletim semanal
84O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo O.
252
100
90
80
70
60
50
favor mudança capital
40
30
20
10
0
1951 1952 1955 1956 1957 1958 1962
Como o tema esteve presente no espaço público carioca pelo menos desde
a constituição de 1946, quando se previa a transferência da capital para o interior do
País, os resultados indicados acima mostram as mudanças da opinião do carioca no
período imediatamente anterior à transferência, que se tornou irreversível em 1958,
embora legalmente ela só tenha ocorrido em 1960. Percebe-se que, a partir de
1955, a opinião do carioca favorável à mudança deixa de apresentar uma curva
descendente e passa a ter uma característica ascendente contínua até 1958, quando
a opinião favorável apresenta uma pequena queda no gráfico. Pode-se dizer que, a
limite de confiança que, ao ser comparado com o gráfico, evidencia que o resultado
se deve ao primeiro movimento da curva, entre 1951 e 1958, que foi de decréscimo
da opinião favorável à mudança, para se inverter a partir de então, até 1961, quando
85Os testes de autocorrelação parcial da opinião favorável à mudança de capital indicam que existe
estacionaridade nas variáveis, conforme mostram os gráficos abaixo, possibilitando o uso da
regressão linear, mas, para maior segurança, será usado o teste de auto-regressão.
,5
0,0
-,5
Partial ACF
Confidence Limits
-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5
Lag Number
254
opinião favorável ao divórcio que oscilou entre 71% e 59%, como demonstra o
gráfico 6.2.
100
90
80
70
60
50
40
a favor do divórcio
30
20
10
0
1950 1951 1952 1957 1963 1966
86O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo P.
255
agenda pública brasileira nos anos 60 por conta do debate travado no congresso
sobre a legislação que trataria do tema. Com sig de 0,587 e coeficiente Beta de
–0,185, esse é um exemplo de opinião sobre tema pública não sensível aos
argumentos apresentados durante o debate entre elite política e público carioca.
87Os testes de PACF e de correlação transversal da variável tempo e opinião favorável ao divórcio
indicam que existe estacionaridade nas variáveis, conforme mostram os gráficos abaixo, possibilitando
o uso da regressão linear, mas, para maior segurança será feito um teste por auto-regressão.
a favor do divórcio
1,0
,5
0,0
-,5
Partial ACF
Confidence Limits
-1,0 Coefficient
1 2 3 4
Lag Number
256
abrupta durante o período analisado no que diz respeito à escolha personalista dos
candidatos nas eleições. Embora a preferência da escolha por nomes e não em
função dos partidos seja majoritária durante todo o período, como no Brasil dos anos
90, há variações significativas, partindo de 80% de escolhas por nomes em 1950,
chegando a 60% em 1954 e subindo até 83% em 1966, com tendência, a partir daí,
100
90
80
70
60
50
40
30
vota em nomes
20
10
0
1950 1954 1966 1968
88O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo Q.
257
acima de cinco pontos percentuais durante todo o período. Mesmo em 1968, houve
um crescimento do percentual de cariocas indicando votar nos candidatos do que
em partidos, três anos após a implantação do bipartidarismo no Brasil.
perdem espaço. O presidente Getúlio Vargas, que comete suicídio, e o deputado Carlos
Lacerda, populista opositor de Getúlio, que é perseguido publicamente pelos getulistas.
A ausência de grandes lideranças políticas no cenário local pode abrir espaço para
uma recomposição temporária da opinião sobre decisão do voto personalista. Todo o
com 89% dos entrevistados que dizem ter preferência por um partido. A partir daí
a curva apresenta uma queda permanente, com momentos de mudanças abruptas
até 1968, quando o percentual alcança o ponto mais baixo, de 36%, com preferência
258
por algum partido. As duas informações, aumento da escolha por nomes e queda
da preferência por partidos mostram uma coerência interna da opinião pública
no período.
100
90
80
70
preferência por um partido
60
50
40
30
20
10
1949 1951 1958 1960 1963 1965
1950 1955 1959 1962 1964 1968
GRÁFICO 6.4 - SÉRIE DE PREFERÊNCIAS POR PARTIDO POLÍTICO (ID: 308 A 310; 312 A
319; 321 – ANEXO Q)
seja, uma queda de 1,5 ponto percentual a cada ano ao longo do período para os
259
eleitores que diziam ter preferência por algum partido político. O nível de
significância é de 0,000, o que indica uma robustez nos resultados do teste.
por partido, mostra correlação significativa entre elas no sentido inverso, diferente do
que aconteceu com os resultados dos testes para as mesmas variáveis da opinião
pública brasileira nos anos 90. A tabela 6.5 indica que para cada 1 ponto percentual a
mais de eleitores que dizia votar em candidato, 2,34 ponto percentual a menos indicava
ter preferência por um partido político a cada ano ao longo do período analisado.
89O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo R.
260
do governo, de acordo com gráfico 6.5. Em 1963, quando supostamente a opinião pública
estaria contrariada, justificando o golpe, a avaliação positiva era de 35%, quase o
dobro notado no governo provisório após o fim do mandato de Getúlio Vargas.
100
90
80
70
60
avaliação positiva governo
50
40
30
20
10
0
1950 1952 1955 1958 1962 1964 1968
1951 1954 1957 1961 1963 1967
militar, majoritariamente o carioca indicava uma preferência pela eleição direta para
a presidência. Essa foi uma opinião estável durante o período analisado, variando de
88% a 96% do total.
100
90
80
70
60
50
40
Favor eleição direta Presidente
30
20
10
Rio de Janeiro
0 São Paulo
1964 1965 1967 1968
do regime militar.
curva de opinião pública indicam que, em relação a esse tema, o debate da elite
política não conseguiu permear a opinião pública, conforme mostra o gráfico 6.7.91
90O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo S.
91Como no período houve uma pesquisa a menos com pergunta para aferir a opinião favorável à
reforma agrária, o número de ponto no tempo ficou muito baixo, inviabilizando a análise temporal para
essa opinião. Por esse motivo, foi incluída no trabalho apenas a opinião contrária à Reforma Agrária,
aferida mais vezes no Rio de Janeiro.
263
100
90
80
70
60
50
40
30
20
contra RJ
10
0 contra SP
1963 1964 1967 1968
longo do tempo, ela se mostra estável nos mesmos patamares em torno de 15%, a
exemplo do que acontece no Rio de Janeiro naquele período.
264
100
90
80
a favor explorar petróleo por estatal
70
60
50
40
30
20
10
0
1951 1952 1955 1956 1957
92O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo T.
265
93O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo U.
266
100
90
70
60
50
40
30
20
10
0
1951 1954 1955 1958 1961 1962
Mesmo com a mudança abrupta em 1961, o que gerou uma queda entre esse
ano e a opinião favorável à URSS em 1962, o teste de auto-regressão para o período
mostrou-se significativo (sig 0,021) e um coefiente Beta de 2,750, ou seja, o modelo
indica uma alteração positiva de 2,7 ponto percentual a mais nas opiniões favoráveis
dos cariocas em relação à manutenção de algum tipo de relação oficial do Brasil com a
URSS entre 1951 e 1962. A seguir apresenta-se, então, um quadro demonstrativo sobre
94O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo V.
268
100
90
Rio de Janeiro Brasil
80
70
60
50
40
avaliação positiva do governo
30
20
10
0
1950 1955 1962 1968 1991 1995 1999 2003
1952 1958 1964 1988 1993 1997 2001 2005
Média 44,92%
Desvio Padrão 23,10pp
Rio de Janeiro
V. Máximo 81,01%
V. Mínimo 18,68%
Média 29,66%
Desvio Padrão 13,81pp
Brasil
V. Máximo 48,45%
V. Mínimo 5,15%
269
Média 1,26%
Rio de Janeiro
Soma 15,14%
Média 1,77%
Brasil
Soma 30,16%
95O teste de auto-regressão é necessário por se tratar de uma curva não estacionária a de opinião
favorável ao governo, como mostra o gráfico de autocorrelação a seguir.
,5
0,0
-,5
Partial ACF
Confidence Limits
-1,0 Coefficient
1 3 5 7 9 11 13 15
2 4 6 8 10 12 14 16
Lag Number
270
acima do aceitável, demonstrando que não se pode dizer que houve uma mudança
significativa em uma única direção ao longo do tempo para a avaliação positiva dos
positiva do brasileiro sobre o governo federal tende a ser menor ao longo do tempo
que a opinião do carioca dos anos 50 a 70, embora as curvas mostrem movimentos
randômicos. Como demonstrado no item 5.1.3, variáveis independentes de ordem
econômica apresentaram altos índices de explicação para as mudanças na opinião
do brasileiro sobre o governo federal. Para testar96 essa hipótese com a comparação
96Aqui também será usado o teste de auto-regressão por se tratar de uma série temporal estacionária
de primeira ordem a variável IPC-FIPE, como demonstra o gráfico de autocorrelação abaixo.
,5
0,0
Partial ACF
-,5
Confidence Limits
-1,0 Coefficient
1 3 5 7 9 11 13 15
2 4 6 8 10 12 14 16
Lag Number
271
em gráfico, foi usado o logaritmo dos IPCs anuais e o logaritmo das opiniões, pois as
diferenças nos valores reais inviabilizariam a visualização em um único gráfico.
Log avaliação
0 positiva governo
log inflação
-1 anual IPC
1950 1955 1962 1968 1991 1995 1999 2003
1952 1958 1964 1988 1993 1997 2001 2005
Janeiro a média de IPC anual foi de 33,95%. Porém, o período das medições no
Brasil, ela saltou para 539,83%, como indicado na tabela 6.11.
Reforma Agrária, como demonstrado no item 5.2.2, pois a opinião pública carioca
dos anos 60 era mais influenciada por valores urbanos que a média nacional dos
anos 70 a 90. O gráfico 6.12 mostra que a opinião do carioca favorável à Reforma
Agrária nos anos 60 era superior à opinião do brasileiro no segundo período. Logo,
97O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo W.
273
as opiniões contrárias nos dois períodos oscilaram praticamente dentro das margens
de erro entre 1963 e 2004, sem marcar nenhuma grande diferença.
100
80
70
60
50
40
30
20
favor
ref. Agrária
10
contra
0 Ref. Agrária
1963 1967 1968 1972 1987 1998 2002 2003 2004
98Como para o período do Rio de Janeiro há um dado a menos sobre a opinião a favor da Reforma
Agrária, não é possível fazer as diferenças de médias para essa opinião. Por isso, estão sendo
apresentados os resultados apenas para a opinião contrária à Reforma Agrária.
99A auto-regressão é usada para dar mais consistência aos resultados, apesar do gráfico de
autocorrelação quanto a opinião favorável à Reforma Agrária indicar a existência de estacionaridade
e a opinião contrária ser não estacionária.
,5 ,5
0,0 0,0
-,5 -,5
Partial ACF
Partial ACF
Como o coeficiente Beta é negativo (–19,51), isso indica que no segundo período
(opinião pública brasileira), os índices de opinião favorável à Reforma Agrária são
primeiro momento, na população mais urbanizada da capital do País nos anos 60, a
opinião favorável à Reforma Agrária mostrou ser maior que a opinião média
brasileira dos anos 70 a 90.
Uma opinião que mostra curvas diferentes entre os dois períodos comparados
– em oposição à opinião contrária à Reforma Agrária, em que não houve diferenças
significativas – é a que trata das preferências partidárias. O período compreendido
pela opinião pública carioca apresenta uma curva em gradativa queda no percentual
de eleitores que dizem ter preferência por algum partido político. Já no segundo
período, a partir de 1989, a opinião pública brasileira indica uma maior estabilidade –
100O banco de dados deste tópico e resultados completos das auto-regressões estão no Anexo X.
276
apesar das variações acima dos limites de erro –, quando comparada com o período
anterior, como se percebe no gráfico 6.13.
100
80
70
60
50
40
30
preferência por algum partido
20
10
0
1949 1951 1958 1960 1963 1965 1987 1990 1992 1994 1997 2000 2002 2004
Ainda assim, a média dos cariocas que dizem ter preferência por um
partido político é maior que a média dos brasileiros, com 64% para o primeiro contra
49% para o segundo. A amplitude das opiniões cariocas também é maior, com
diferença entre valor máximo e mínimo no período de 49 pontos percentuais; contra
uma diferença de 24 pontos percentuais entre os valores máximo e mínimo para a
opinião pública brasileira, como mostra a tabela 6.15.
PREFERÊNCIA POR
PERÍODO ESTATÍSTICAS
ALGUM PARTIDO
Média 64,36
Desvio Padrão 12,94
Rio de Janeiro
V. Máximo 89,30
V. Mínimo 35,05
277
Média 49,91
Desvio Padrão 7,12
Brasil
V. Máximo 61,90
V. Mínimo 37,00
Média -3,226
Rio de Janeiro
Soma -35,95
Média -0,68
Brasil
Soma -9,52
101A auto-regressão é necessária para estacionarizar a série temporal "preferência por partido" que
apresenta um coeficiente acima do limite de significância, sendo, portanto, não estacionária naturalmente.
,5
0,0
Partial ACF
-,5
Confidence Limits
-1,0 Coefficient
1 3 5 7 9 11 13 15
2 4 6 8 10 12 14 16
Lag Number
278
Além disso, essa relação apresentou forte queda até os anos 70, para se estabilizar
a partir dos anos 90. Várias abordagens teóricas oferecem explicações a esse
fenômeno, desde o artificialismo gerado pelo bipartidarismo a partir de 1965 -
característica específica da política brasileira - até as explicações mais gerais sobre
representante está ligado. O gráfico 6.14 mostra uma intensa volatilidade dos
eleitores que dizem votar no candidato em ambos períodos.
102O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo Y.
279
100
80
70
60
50
40
30
20
vota em pessoa
10
0
1950 1954 1966 1968 1972 1982 1985 1988 1989 1998 2004
A média para o período carioca ficou acima de 77%, contra 63% do segundo
período. Essa diferença de médias entre os dois períodos pode ser explicada pela
maior amplitude percentual para o Brasil em relação ao Rio de Janeiro. Enquanto a
distância entre valor máximo e mínimo na opinião pública brasileira ficou em 49
pontos percentuais, para o período carioca foi de 37 pontos percentuais, com o
ponto mínimo em 50%, enquanto no segundo período o ponto mínimo foi de 38%,
como demonstrado na tabela 6.18.
Média 77,41%
Desvio Padrão 12,48pp
Rio de Janeiro
V. Máximo 87,60%
V. Mínimo 59,30%
Média 63,24%
Desvio Padrão 16,55pp
Brasil
V. Máximo 87,64%
V. Mínimo 38,32%
280
Média 2,56%
Rio de Janeiro
Soma 7,70%
Média -1,89%
Brasil
Soma -11,35%
103Apesar de já ser estacionária, como mostra o gráfico de autocorrelação a seguir, o teste de auto-
regressão será utilizado para dar maior consistência aos resultados.
vota em pessoa
1,0
,5
0,0
-,5
Partial ACF
Confidence Limits
-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5 6 7 8 9
Lag Number
281
(médias e somas) terem indicado uma pequena diferença entre os dois períodos, as
auto-regressões mostram que essas diferenças não são suficientes para inferir a
toda população.
a relação que existe entre a mudança ao longo do tempo nos índices de preferência
A hipótese de que poderia haver uma correlação entre a queda do voto personalista
pois os resultados mostraram uma relação muito baixa, acima dos limites de níveis
entre as duas variáveis, porém divididas nos dois períodos: "carioca" e "brasileiro".
282
100
80
70
60
50
40
30
20
prefere
partido
10
vota em
0 pessoa
1949 1954 1959 1963 1966 1982 1988 1991 1994 1998 2002
a população que o percentual de eleitores que afirma ter preferência por algum
partido cresce ao mesmo tempo em que aumenta o percentual do que dizem
escolher candidato pelo perfil pessoal, prioritariamente. Isso tanto poderia ser
considerado um comportamento irracional da opinião pública, como poderia servir de
indicativo para a possibilidade de inexistência de relação, ou seja, que o público se
identifica com partidos político em outros momentos, que não estão relacionados à
decisão do voto propriamente dita. Como nota conclusiva, ainda, é possível registrar
que a relação da opinião pública brasileira com os partidos políticos, no que diz
QUADRO 6.1 - DEMONSTRATIVO DOS PADRÕES DA OPINIÃO PÚBLICA NO RIO DE JANEIRO ENTRE 1950 E 1970
COMPORTAMENTO RESULTADOS DA
TEMA PÚBLICO OPINIÃO PERÍODO
DA CURVA AUTO-REGRESSÃO
Mudança da A favor da 1951 a 1962 Mudança gradual e contínua Significativa, com coeficiente
Capital mudança positiva, passando de 40% Beta de 3,43
para 62%
Divórcio A favor do divórcio 1950 a 1966 Estabilidade durante todo o Não significativa e coeficiente
período, com média de 65% Beta de – 0,180
Personalismo Voto no candidato 1950 a 1968 Mudança gradual e negativa Não significativa e coeficiente
Político até 1954 e depois gradual Beta de 0,840
positiva até 1968, começa com
79% e termina com 89%, tendo
chegado a 54% em 1954
Identificação Preferência por 1949 a 1968 Mudança gradual e negativa, Altamente significativa, com
Partidária partido começando com 70% e coeficiente Beta de –1,560.
terminando em 37%.
Avaliação de Opinião Positiva ao 1950 a 1968 Mudança volátil ao longo do Apesar da volatilidade interna,
Governo governo federal tempo, com rápidas alterações o teste mostra-se significativo
de direção da opinião, para mudança em favor da
indicando forte presença de redução de opinião positiva ao
aleatoriedade. longo do tempo, com
coeficiente Beta de –2,475.
Democracia A favor da eleição 1964 a 1968 Alta estabilidade, com opinião Não significativo, com
direta para variando de 88% no início para coeficiente Beta de –0,626 para
presidente 90% no final do período. Para o o Rio de Janeiro.
município de São Paulo, entre
1964 e 1967, os resultados são
praticamente os mesmos.
Reforma Agrária Contra a Reforma 1963 a 1968 Alta estabilidade, variando de Não significativo, com
Agrária 15% em 1963 para 11% em coeficiente Beta de – 0,380
1967 para depois voltar a 15% para o Rio de Janeiro.
em 1968. O mesmo acontece
na cidade de São Paulo entre
1963 e 1964
Tamanho do A favor da 1951 a 1957 Crescimento contínuo e gradual Altamente significativo, com
Estado exploração de ao longo de todo o período, coeficiente Beta de 3,638.
Petróleo por passando de 50% em 1951
Estatal para 73% em 1957.
Política Externa A favor da 1951 a 1962 Crescimento contínuo, com Resultado significativo, com
manutenção de mudança acelerada até1961, coeficiente Beta de 2,750.
Relações oficiais para depois apresentar
com URSS pequena queda. Começa com
31% em 1951 e chega a 53%
em 1962.
285
QUADRO 6.2 - DEMONSTRATIVO DAS CORRELAÇÕES ENTRE OPINIÕES SOBRE TEMAS INTER-RELACIONADOS NO
RIO DE JANEIRO ENTRE 1950 E 1970
Voto no candidato e Preferência por -2,340 0,002 Correlação entre as duas variáveis ao
partido longo do tempo altamente
significativa, indicando coerência
entre as posições.
QUADRO 6.3 - DEMONSTRATIVO DA COMPARAÇÃO ENTRE OPINIÃO PÚBLICA CARIOCA DOS ANOS 50 A 70 E
OPINIÃO PÚBLICA BRASILEIRA DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS
Avaliação positiva do governo federal -16,918 0,081 Resultado da série interrompida não
significativo, com médias de
avaliação positiva superiores no
período carioca em relação à opinião
pública brasileira.
CONCLUSÃO
para que estas possam se aproximar do que ocorre nas democracias reais. A distância
entre elas já foi criticada por Schattschneider nos anos 70, mas também por outros
autores. A opinião pública poderia, se não fosse uma confusão conceitual que ronda
o termo há séculos, servir como "ponte" na relação entre a teoria democrática e as
democracias reais, caso fosse incorporada às análises acadêmicas.
Como resultado desse debate, o conceito de opinião pública na ciência
influências dos interesses da elite política. Ela é o resultado de dois processos que
podem ocorrer simultaneamente no público. Um processo de tentativa de persuasão
e convencimento pela elite política que se manifesta principalmente através dos
meios de comunicação de massas, materializado na propagação de informações e
mensagens supostamente objetivas, mas que sempre trazem em si algum grau de
subjetividade de quem as produz ou está influenciando os produtores. O outro processo
que é e como se forma a opinião pública, foi tratado do objetivo principal que é
identificar se a variável empírica "opinião pública brasileira" pode ser considerada
estável, previsível, enfim, explicada como resultado de processos racionais. Se sim,
abre-se espaço no debate sobre democracia para que a elite política, tomadora de
decisões sobre políticas públicas, possa levar em consideração essas manifestações
de opinião sem o temor da inconsistência e da volatilidade randômica, supostamente
resultado da manipulação das massas por lideranças políticas nem sempre preocupadas
com o bem comum, de acordo com os teóricos elitistas.
Considerando as curvas de opinião analisadas aqui sobre 24 temas
públicos, incluindo as opiniões dos brasileiros dos anos 80 e 90 e dos cariocas dos
anos 40 a 70, encontramos um total de 30% (sete) de opiniões estáveis. Outros 45%
(onze) de opiniões com mudanças consistentes ao longo do tempo e 25% (seis) de
289
uma instabilidade maior no Brasil, que apresentou 30% de opiniões estáveis, contra
57% encontrados no público dos Estados Unidos por Page e Shapiro. Já no que diz
respeito à forma de mudança das opiniões não-estáveis, enquanto nos Estados
Unidos apenas 43% mostrou-se gradual e consistente, contra 57% de opiniões com
mudanças abruptas. No Brasil, os resultados mostraram-se inversos, com 65% das
alterações gerais de forma consistente e apenas 35% de maneira randômica e sem
explicação racional104.
104Uma diferença nos dois resultados precisa se levada em consideração para fins comparativos: os
resultados apresentados por Page e Shapiro dizem respeito às perguntas repetidas ao longo de 50
anos, enquanto aqui os resultados estão relacionados ao comportamento geral da curva. Por isso,
tem-se a impressão de que o número de opiniões analisadas por Page e Shapiro (1.128 casos) é
maior que a do caso brasileiro. Na verdade, os temas públicos a que essas opiniões norte-
americanas se referem também não passam de dezenas, divididas entre temas internos e de política
internacional. O número de casos em Page e Shapiro também é maior porque na segunda parte do
290
livro eles analisam o comportamento da opinião pública por segmentos sociais, o que não foi
realizado para o caso brasileiro por não ser objetivo deste trabalho. Vários estudos, inclusive
brasileiros, já demonstraram que há diferenças no comportamento político dos indivíduos em função
de nível educacional, forma de introdução na esfera pública, pertencimento a grupos de minorias, etc.
No entanto, este trabalho se propôs a analisar o comportamento da opinião pública brasileira como
um todo e não dos subgrupos do público, pois a medida de tendência central que deve ser ouvida e
levada em consideração pela elite política no momento da tomada da maioria de suas decisões
políticas é a opinião média do público.
291
mesmo governo. Isso significa que o aumento da taxa da inflação faz crescer mais o
percentual de opinião negativa sobre o desempenho do governo do que diminuir a
corrupção, assim como a inflação, tem mais impacto no crescimento dos índices de
avaliação negativa do governante do que na queda da avaliação positiva. Aqui, é
queda na preferência eleitoral, enquanto que os testes para as curvas do Brasil não
mostraram relação consistente entre as duas variáveis.
crescimento abrupto no final dos anos 80, depois uma queda, e se estabilizou a
partir da década de 90. As auto-identificações como sendo de centro mostraram-se
randômicas ao longo de todo o período, porém, em uma análise temporal com a variável
interveniente auto-identificação de direita, as tendências das curvas ficaram
estatisticamente significativas e negativas. A mesma relação não se mostra
significativa entre esquerda e centro e menos ainda entre esquerda e direita,
indicando que a tendência mais provável dos que deixaram de se auto-identificar
como esquerda durante os anos 90 foi de saída do espectro, ou seja, deixaram de
manifestar sua posição, ao invés de fazer a troca.
Sobre as opiniões a respeito da democracia, a preferência por esse regime
em relação aos demais se mostrou estável para o brasileiro médio até 2000, em
torno de 50%, quando apresentou uma abrupta queda, voltando a estabilizar-se em
293
pública carioca e paulistana nos anos 60 mostram uma tendência pouco explorada
pela literatura política brasileira, que é a expressiva preferência pela eleição direta
para presidente da república durante os primeiros anos do regime militar. Entre 1964
e 1968, a preferência pela eleição direta para presidente é estável, variando entre 87%
e 90% das opiniões, o que, se não é suficiente para indicar uma opinião favorável à
democracia, pelo menos mostra um descontentamento com a eleição indireta para
presidente da república.
Presidencialismo é, historicamente, o sistema de governo ideal para a
opinião pública brasileira, embora entre 1962 e 1988 a opinião favorável a esse
sistema apresentou uma queda. A partir de então, a curva mostrou-se em gradativo
crescimento até 1993, quando estabilizou-se acima do percentual de preferência
pelo parlamentarismo, que entre 1988 e 1993 esteve em queda, para estabilizar-se
desde então. A auto-regressão entre as duas opiniões mostrou um grau de correlação
estatisticamente significativo, indicando que o crescimento de uma preferência
depende da queda de outra e não do aumento de público com opinião formada
sobre o tema.
No caso da opinião pública a respeito do tema do Referendo de 2005, a
série histórica houve uma alteração significativa da curva, mas de maneira
294
curva durante o período, houve significativa alteração nas opiniões sobre saúde e
reforma agrária serem "maior problema do País" durante o período – ambas em
especificamente sobre a exploração de petróleo ser feita por uma empresa estatal
brasileira. A opinião favorável à exploração de petróleo pela Petrobrás no Rio de
Janeiro apresentou um crescimento contínuo e gradual ao longo de todo o período,
passando de 50% para 73% durante o período de análise. Outros dois temas públicos
295
algum tipo de relação oficial com a URSS (antiga União Soviética), que passou de
31% para 53% ao final do período, e a opinião favorável à mudança da capital federal
para o centro do País, que passou de 40% no início da década de 50, chegando a
mais de 60% em 1962. As duas últimas foram formadas em um ambiente de intensa
comunicação entre público e elite política. No caso da mudança da capital, o governo
brasileiro fez várias campanhas de "esclarecimento" e informação sobre questões de
debate entre elite e massa durante os anos 50 e 60 no Rio de Janeiro e que, apesar
dos debates e das conseqüentes tentativas de mobilização do público, manteve-se a
curva totalmente estável no período. É o caso da opinião carioca sobre o divórcio,
quando a média das opiniões favoráveis a ele, medidas entre 1950 e 1956, ficou em
65%, com diferenças entre os pontos dentro do intervalo de cinco pontos percentuais,
os índices de opinião favorável, com uma mudança abrupta e temporária, para logo
em seguida voltar aos patamares históricos de opinião. Nesse caso, a auto-
de análise, indo de 1962 até 2004 no caso da opinião brasileira. Até a segunda
metade dos anos 80, a curva da opinião favorável à Reforma Agrária manteve-se em
ter impacto sobre a direção da curva de opinião. O debate sobre Reforma Agrária
entre elite e massa esteve presente na esfera pública brasileira durante todo o
pública nacional contrária à Reforma Agrária apresenta índices maiores que os das
duas capitais. Essa diferença aponta para a mesma direção do impacto da crescente
urbanização para a redução das resistências de opinião pública em relação à
realização da Reforma Agrária, pois as opiniões coletadas nas duas capitais refletem
o público mais urbanizado do Brasil nos anos 50 e 60, enquanto as pesquisas com
amostras nacionais também levaram em consideração as opiniões do público ainda
período anterior. O que se destaca como diferente entre os dois período são as
médias de inflação anual que, nos anos 80, foram cerca de 15 vezes superiores às
dos anos 60, demonstrando que a capacidade de intervenção da variável econômica
na opinião pública pode estar relacionada ao tamanho de seu impacto na sociedade.
Os testes de séries interrompidas entre os dois períodos mostraram uma
significativa redução na preferência partidária entre a opinião pública carioca e a
brasileira. Já em relação ao voto personalista, os resultados das diferenças entre os
dois períodos mostraram-se um pouco acima do nível aceitável de significância. A
relação entre as duas variáveis: voto personalista e preferência partidária mostrou-se
fraca na série temporal que engloba os dois períodos. Isso indica, por um lado, que
a opinião pública brasileira não relaciona o processo de decisão de voto com o
partido político e sim com as características pessoais do postulante ao cargo eletivo,
299
e, por outro, que os partidos políticos podem desempenhar outras funções na opinião
pública, mas não a de ajudar nos processos de decisão do voto. Esse comportamento
sobre temas de interesse coletivo, deve-se aceitar a partir das tendências das curvas
de opinião que o cidadão comum brasileiro é capaz de buscar, de maneira autônoma,
informações para formar suas próprias opiniões em favor de seus interesses ou do
interesse comum. Porém, isso não pode ser feito ao se analisar a opinião pública em
apenas um momento; depende de informações longitudinais, que permitem identificar
se determinada constatação de opinião pública é resultado de adequações graduais
que o público vai fazendo às novas condições sociais (mudança de opinião pública
primária) ou se é resultado da difusão de informações sobre fatos específicos que
acabam gerando determinados comportamentos de opinião devido ao "embate"
público que existe entre elites e públicos (mudança de opinião secundária).
Torna-se fundamental para qualquer análise consistente sobre opinião
pública levar em consideração a existência de duas dimensões de opinião – a
primária e a secundária. O público geralmente reage a novas situações de forma
racional – o que não é uma negação da presença de elementos emocionais no seu
processo decisório – para buscar novas informações. Como as opiniões tendem a ser
racionais ao longo do tempo, é possível que a participação do público nas
deliberações políticas através da observação da opinião pública pelos tomadores de
decisões tenda a aproximar as práticas que surgem na esfera estatal das demandas
300
política que na maioria das vezes tem mais informações relevantes para a formação
da opinião individual que o cidadão comum e como a opinião pública também é
REFERÊNCIAS
ALLPORT, Floyd H. Toward a Science of Public Opinion. Public Opinion Quartely, n.1,
p.7-23, 1937.
ALMEIDA, Carlos Alberto. Como são feitas as pesquisas eleitorais e de opinião. Rio de
Janeiro: FGV, 2002.
ALMEIDA, Jorge. Mídia, Opinião pública ativa e esfera pública democrática. Paper
apresentado na Compós, 1999.
BÉLANGER, Éric; PÉTRY, François. The Rational Public? A Canadiam test of the Page and
Shapiro Argument. International Journal of Public Opinion Research, n.15, December 2004.
BENETT, W. L. The uncivic culture: communication, identity, and the rise of lifestyle
politics. Political Science y Politics, 31. p.741-761. 1998.
BENIGER, J. R.; HERBST, S. Mass Media and the Public Opinion. In: HALLINAN, M. T. Et
al (ed.) Chance in Societal Institutions. New York: Plenum Press. 1990
BOBBIO, Norberto, et al. Dicionário de Política. Verbete Opinião Pública. Brasília: Editora
Universidade de Brasília. 11ª ed., 1998.
302
BOUDON, Raymond. The Art os Self-Persuasion. New York: Polity Press, 1994.
BOUZA, Fermín. La influencia politica de los medios de comunicación: mitos y certezas del
nuevo mundo. Revista El Debate de La Comunicacón, Fundación General de la
Universidad Complutense de Madrid, p.237-252, 1998.
_____. Las Agendas Pública Y Personal en el Tema del Prestige. Versão preliminar, para
publicação pela Faculdade de Comunicação da Universidade de Vigo – Campus de
Pontevedra, 2004.
CAMPBELL, A. et al. The American Voter. New York: John Wiley & Sons, 1964.
_____. Elections and the Political Order. 2.ed. New York: John Wiley & Sons, 1976.
_____. Identificação ideológica e voto para presidente. Revista Opinião Pública, v. 8, n.1,
p.54-79, 2002b.
COHEN, B. C. The Press and Foreign Policy. Princeton: Princeton University Press, 1963.
CORRÊA, Tupã Gomes. Contato imediato com a opinião pública: os bastidores da ação
política. São Paulo: Global, 1993.
COSTA, Sérgio. A democracia e a dinâmica da esfera pública. Lua Nova, São Paulo, 36,
1995.
DADER, Jose Luis. La evolución de las investigaciones sobre la influencia de los medios y
su primera etada: teoria del impacto directo. In: ALONSO, Alejandro et al. Opinión Pública
y Comunicación Politica. Madrid: Eudema Universidad, 1990.
DAVISON, Philip. Pu8blico Opinion. In: SHILLS: International Encyclopedia of The Social
Sciences. New York. The MacMillan Co. Free Press, 1968.
DEWEY. J. The public and its problems. New York: Holt, 1927.
DOWNS, Anthony. Uma teoria econômica da democracia. São Paulo: Edusp, 1999.
FAVA, Vera Lucia. Análise de série de tempo. In: VASCONCELLOS, Marco Antonio
Sandoval; ALVES, Denisard (Coord.) Manual de econometria. São Paulo: Atlas, 2000a.
_____. "Mídia, mercado de informação e opinião pública". In: C. Guimarães e Chico Júnior
(orgs.). Informação e democracia. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2000.
_____; ALDÉ, Alessandra. Opinião pública e audiências. In: LUSOCOM, 6., 2004, Portugal.
Paper... Portugal: Universidade da Beira Interior Covilhã, 2004.
FIORINA, Morris. Retrospective Voting in American National Elections. New Haven and
London Yale University Press, 1981.
GRABER, Doris. The Media and Democracy: beyond myths and stereotypes. Annual
Review Politic Science, n.6, p.139-160, 2003.
HABERMAS, Jünger. Opinião pública e poder. In: COHN, Gabriel. Comunicação e indústria
cultural. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1971.
HALEBSKY, Sandor. Sociedade de massa e conflito político. São Paulo: Zahar, 1978.
HALL, Stuart. Encoding/Decoding. In: HALL, S.; HOBSON, D.; WILLIS P. Culture, Media,
Language. Worging papers in cultural studies, 1972-1979. London: Huntchinson, 1980.
p.128-138.
HALL, P e TAYLOR, R. Political Science and the Four New Institucionalisms. Political
Studies. nº 44. 1996.
_____. Trust, well-being and democracy. In: WARREN, M. Democracy and Trust.
Cambridge: Cambridge University Press, 1999.
305
ISAACS, Maxine. Two Different Words: the relationship between elite and mass opinion on
American Foreign Policy. Review Political Communication, n.15, p.323-345, 1998.
KELSEN, Hans. General Theory of Law and State. New York: Russell and Russell, 1945.
KEY, Victor O. An introduction to public opinion and American Democracy. In: WELCH, Terry
e COMER, Douglas. Public Opinion. Palo Alto (Califórnia): Mayfield Pub., 1968.
KINZO, Maria D'Alva Gil. O papel dos partidos. In: LAMOUNIER, Bolívar et al. Cem anos de
eleições presidenciais. São Paulo: Idesp, 1990. (Série textos Idesp, n.36).
LAGE, Nilson. Controle da opinião pública: ensaio sobre a verdade conveniente. Rio de
Janeiro: Vozes, 1998.
LANE, Robert E.; SEARS, David O. Public Opinion. New Jersey. Prentice-Hall, 1964.
LAZARSFELD, P. Radio and the printed page. An introduction to the study of radio and its
role in the comumunication of ideas. New York: Duell, Sloanne and Pearce, 1940.
LAZARSFELD, P. et al. The people's Choice. Duel, Sloan and Pearce: New York, 1944.
LASSWELL, Harold. D. Politics: Who gets what, when, how. McGraw-Hill, New York. 1936.
LIMA, Venício A. Mídia: teoria e política. São Paulo: Ed. Fundação Perseu Abramo, 2001.
LIPPMANN, Walter. Public Opinion. New York: Free Press Paperbacks, 1997. (1.ed.: 1922).
LOCKE, John. Segundo tratado sobre o governo. Trad.: de Alex Marins. São Paulo:
Martin Clare, 2002.
MAHAN, Elizabeth. Media, Politics and Society in Latin America. Latin American Research
Review, v.30, n.3, p.138-162, 2003.
MANNHEIM, Karl. The Analysis of Ideology. Chicago: Polity Press Cambridge, 1989.
MARTINO, Luís Mauro. S. Mídia e poder simbólico. São Paulo: Paulus, 2003.
McCOMBS, M.; SHAW, D. The agenda-setting function of mass media. Public Opinion
Quartely, n.36, p.176-187, 1972.
McDOWALL, David; MCLEARY, Richard; MEIDINGER, Errol E.; HAY, Richard A. Jr.
"Interrupted Time Series Analysis". Sage University Paper Series on Quantitative
Applications in the Social Sciences, n.07-021. Beverly Hills and London: Sage Publications,
1980.
MIGUEL, Luis Felipe. Um ponto cego nas teorias da democracia: os meios de comunicação.
Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais. BIB, Rio de
Janeiro, n.49, 2000a.
_____. Mito e discurso político: uma análise a partir da campanha eleitoral de 1994.
Campinas (SP): Ed. Unicamp, 2000b.
MONTOYA, Ancizar Navárez. Cultura Política y Cultura mediática: esfera pública, intereses
y códigos. Revista de Economia Politica de las tecnologias de la información y
comunicación. v.6, n.1, jan./abr. 2004.
MORETTIN, Pedro A.; TOLOI, Clélia M. C. Análise de séries temporais. São Paulo:
Edgard Blücher, 2004.
MUSZYNSKI, Judith. Cultura política, democracia e eleições. São Paulo: Idesp, 1990.
(Série Textos Idesp, n.36).
_____. Pesquisa eleitoral e clima de opinião. Revista Opinião Pública, Ano 1, v.1, n.2, 1993.
_____. Teoria democrática e política comparada. Revista Dados, Rio de Janeiro, v.42. n.4,
1999.
ORTEGA Y GASSET, Jose. A rebelião das massas. Edição Eletrônica. Tradutor Herrera
Filho, 2001.
OSTRAM, Charles W. Jr. "The Time Series Analysis: regression techniques". Sage
University Paper series on Quantitative Applications in the Social Sciences, serie n.07-009.
Beverly Hills and London: Sage Publications, 1978.
PAGE, Benjamim; SHAPIRO, Robert. The Racional Public. Chicago: Chicago University
Press, 1992.
PATTERSON, Thomas E. The News Media: as effective political actor? Review Political
Communication, n.14, p.445-455, 1997.
POWER, Timothy J.; JAMISON, Giselle D. Desconfiança política na América Latina. Revista
Opinião Pública, v.11, n.1, p 64-93, 2005.
308
PUTNAM, R. D. Et al. What´s troubling the trilateral democracies? In. PHARR, S (ed.)
Disaffected democracies: what´s troubling the trilateral countries? Princeton: Princeton
University Press, 2000.
RAWLS, John. Political Liberalism. New York: Columbia University Press, 1993.
REZENDE, Maria José. Opinião pública e democracia na América Latina. Revista Espaço
Acadêmico, n.38, jul. 2004.
SAMUELS, David. The initial emergence of mass partisanship: evidence from Brazil. In:
ENCONTRO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIÊNCIA POLÍTICA (ABCP),
4., 2004. Paper... Painel 1 da Área de Representação e Partidos Políticos. Rio de Janeiro,
2004.
SARTORI, Giovanni. A Teoria da Democracia Revisitada. São Paulo: Editora Ática, 1994.
SCHUDSON, Michael. Was there ever a public sphere? If so, When? Reflections on the
american case. In: CALHOUN, Craig, Habermas and the public sphere. Cambridge and
London, 1994.
SINGER, André. A esquerda e a direita no eleitorado brasileiro. São Paulo: Edusp, 2000.
309
TOCQUEVILLE, Alexis de. A democracia na América. São Paulo: Martins Fortes, 1998.
USLANER, Eric. M. Social Capital and Participation in Everyday Life. London and New
York: Routledge, 2001.
WOLF, Mauro. Teorias das comunicações de massa. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
ZALLER, John R. The Nature and Origins of Mass Opinion. New York: Cambridge
University Press, 1992.
_____. Mônica Lewinsky´s contribution to political science. Political Science & Politics, nº 31.
pp. 182-189. 1998.
APÊNDICE
312
APÊNDICE METODOLÓGICO A
PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE SÉRIES TEMPORAIS
A estimação por máxima semelhança (ML) é mais usada por oferecer melhores resultados –
e pode tolerar ausência de dados na série. Por este motivo, todos os testes realizados aqui
foram a partir do algoritmo de máxima semelhança (exact maximum-likelihood), que
equivalente a um modelo ARIMA (1,0,0).
Dados: tanto a variável dependente quanto a independente são numéricas, sendo que
algumas variáveis independentes podem ser categóricas, para os testes de intervenção,
transferência e de séries interrompidas.
Na caixa SAVE, para todos os testes foram mantidos 95% de intervalo de confiança.
A seguir, basta pedir para que o teste seja realizado na caixa principal de auto-regressão.
Os resultados serão gerados em forma em um arquivo de output do SPSS.
313
ANEXOS
315
LISTA DE ANEXOS
ANEXO A
AVALIAÇÃO MENSAL SOBRE GOVERNO E GOVERNANTES NO BRASIL
continua
continua
conclusão
Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: ELEICAO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,833002 ,0531266 15,679566 ,00000000
ELEICAO -13,761560 7,7986496 -1,764608 ,08212027
CONSTANT 57,302525 5,7695998 9,931802 ,00000000
Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: NOME DO PRESIDENTE
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,807973 ,056933 14,191565 ,00000000
PRESIDEN 10,725549 9,658574 1,110469 ,27070818
CONSTANT 16,833612 33,481501 ,502774 ,61674803
Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: LULA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,807973 ,0569334 14,191565 ,00000000
LULA 10,725549 9,6585736 1,110469 ,27070818
CONSTANT 49,010261 6,3783765 7,683814 ,00000000
Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: Dois mandatos de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,807973 ,0569334 14,191565 ,00000000
FHC_TUDO -10,725549 9,6585736 -1,110469 ,27070818
CONSTANT 59,735810 7,3298566 8,149656 ,00000000
Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: Primeiro mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,817277 ,055429 14,744544 ,00000000
FHC1 12,435622 10,387667 1,197153 ,23540389
CONSTANT 49,911637 5,905631 8,451533 ,00000000
Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: Segundo Mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,501968 ,1014042 4,950174 ,00000516
FHC2 -32,442109 3,7145200 -8,733863 ,00000000
CONSTANT 66,465621 2,1871015 30,389819 ,00000000
Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: Primeiro mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,065273 ,2224497 ,293429 ,77114988
FHC1 29,098931 2,9507957 9,861385 ,00000000
CONSTANT 32,349729 2,5511263 12,680568 ,00000000
ANEXO C
VOTO PERSONALISTA, PREFERÊNCIA POR PARTIDO E CORRUPÇÃO
ANEXO D
O BRASILEIRO E A IDEOLOGIA POLÍTICA
Variável: ESQUERDA
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,71535 ,32203 -2,2213860 ,11289742
ANO -,32266 ,48862 -,6603490 ,55620590
CONSTANT 666,43292 974,84971 ,6836263 ,54327914
Variável: CENTRO
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,55160 ,41573 -1,3268407 ,27651359
ANO -1,09286 ,96319 -1,1346264 ,33899012
CONSTANT 2216,10910 1921,69339 1,1532064 ,33236825
Variável: DIREITA
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,59680 ,45641 -1,3075960 ,28219240
ANO 1,47275 ,50487 2,9171083 ,06164034
CONSTANT -2896,93179 1007,27163 -2,8760185 ,06373594
Variável: DIREITA
Regressora: ESQUERDA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,159928 ,521560 ,3066340 ,77917253
ESQUERDA ,222023 ,655637 ,3386367 ,75719950
CONSTANT 36,067127 17,103931 2,1087039 ,12552161
Variável: CENTRO
Regressora: ESQUERDA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,159928 ,521560 ,3066340 ,77917253
ESQUERDA -1,222023 ,655637 -1,8638701 ,15921769
CONSTANT 63,932873 17,103931 3,7379052 ,03339263
Variável: CENTRO
Regressora: DIREITA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,723851 ,320675 -2,2572724 ,10920092
DIREITA -,994856 ,301768 -3,2967561 ,04584486
CONSTANT 77,103875 12,687735 6,0770403 ,00894540
330
ANEXO E
PREFERÊNCIA POR DEMOCRACIA E CONFIANÇA
ANEXO F
PREFERÊNCIA POR SISTEMA DE GOVERNO
ANEXO G
OPINIÕES SOBRE OBRIGATORIEDADE DO VOTO E INTERESSE EM ELEIÇÕES
ANEXO H
OPINIÕES SOBRE PENA DE MORTE
ANEXO I
OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA
206 1960 45
207 1962 Ipom 48 34
208 1970 56
209 1972 ISR/IUPERJ 59 24
210 1980 68
211 1987 Cesop 72 07
212 1991 76
213 1996 78
214 1998 Cesop 63 20
215 2000 81
216 2002 CNT/Sensus 64 14
217 2003 CNT/Sensus 61 11
218 2004 CNT/Sensus 62 18
ANEXO J
DESEMPREGO E VIOLÊNCIA COMO MAIOR PROBLEMA DO PAÍS
ANEXO K
CORRUPÇÃO COMO MAIOR PROBLEMA DO PAÍS
ANEXO L
REFERENDO 2005
Variável: SIM
Regressora: DATA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,14397938 ,43640144 ,3299242 ,75267174
DATA -,00000044 ,00000009 -4,8440291 ,00286901
CONSTANT 5906,23771586 1207,64696026 4,8906989 ,00273647
Variável: NÃO
Regressora: DATA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,14773760 ,43782487 ,3374354 ,74728053
DATA ,00000044 ,00000009 4,9804284 ,00250066
CONSTANT -5774,47216875 1168,22059779 -4,9429638 ,00259620
Variável: NÃO
Regressora: SIM
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,076393 ,45281676 -,16871 ,87157203
SIM -,989878 ,00750359 -131,92055 ,00000000
CONSTANT 99,555264 ,43846953 227,05173 ,00000000
Variável: NÃO
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,45826 ,38967 1,1760161 ,28413190
ANO 13,56878 4,17442 3,2504604 ,01745626
CONSTANT -27150,00311 8366,31809 -3,2451555 ,01757281
Variável: SIM
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,43697 ,39157 1,1159442 ,30713436
ANO -13,56666 4,29298 -3,1601962 ,01956016
CONSTANT 27245,95319 8603,95000 3,1666796 ,01940015
339
Variável: SIM
Regressora: HGPR
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,326307 ,4040838 -,807524 ,45018378
HGPR -26,436674 4,9736617 -5,315334 ,00180319
CONSTANT 68,539442 3,2211075 21,278222 ,00000070
Variável: NÃO
Regressora: HGPR
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,309948 ,4084728 -,7587966 ,47671442
HGPR 26,134707 4,9890639 5,2383990 ,00194139
CONSTANT 31,736500 3,2339673 9,8134882 ,00006448
Variável: SIM
Regressora: Taxa de Crimes Violentos Letais Intencionais
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,81614 ,34423 -2,3709203 ,14117738
VAR000_1 90,61447 31,73524 2,8553265 ,10389078
CONSTANT -2356,86524 852,04015 -2,7661434 ,10961841
Variável: NÃO
Regressora: Taxa de Crimes Violentos Letais Intencionais
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,79238 ,45323 -1,7482753 ,22252532
VAR000_1 -80,99772 27,60943 -2,9336973 ,09920157
CONSTANT 2200,42481 741,26098 2,9684886 ,09721594
ANEXO M
TEMAS PÚBLICOS SOBRE MAIOR PROBLEMA DO PAÍS (AGENDAMENTO)
ID INSTITUTO REFORMA
DESEMPRE VIOLÊNCIA É SAÚDE É MISÉRIA É EDUCAÇÃO CORRUPÇÃ SALÁRIO É ECONOMIA HABITAÇÃO
AGRÁRIA É
ANO GO É MAIOR MAIOR MAIOR MAIOR É MAIOR O É MAIOR MAIOR É MAIOR É MAIOR
MAIOR
PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA
PROBLEMA
ANEXO N
COMPARAÇÃO DA OPINIÃO ENTRE TEMAS CORRELATOS
ANEXO O
OPINIÃO DO CARIOCA SOBRE A MUDANÇA DA CAPITAL
∗
Fonte: Arquivos do Ibope no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas).
345
ANEXO P
OPINIÃO DO CARIOCA SOBRE A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIVÓRCIO
ANEXO Q
VOTO PERSONALISTA E PREFERÊNCIA POR PARTIDO
ANEXO R
AVALIAÇÃO DO GOVERNO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO
322 1950 Ibope (AEL) 32,86 336 1964 Ibope (AEL) 87,91 86,52
323 1951 Ibope (AEL) 24 337 1965 Ibope (AEL) 96,84 95,89
324 1952 Ibope (AEL) 23,98 338 1967 Ibope (AEL) 90,43 86,96
325 1954 Ibope (AEL) 19,1 339 1968 Ibope (AEL) 89,9
326 1955 Ibope (AEL) 18,68
327 1957 Ibope (AEL) 62,43
328 1958 Ibope (AEL) 35,53
329 1961 Ibope (AEL) 79,12
330 1962 Ibope (AEL) 81,01
331 1963 Ibope (AEL) 33,33 63,27
332 1964 Ibope (AEL) 49,45
333 1967 Ibope (AEL) 76,54 86,25
334 1968 Ibope (AEL) 48
335 1969 Ibope (AEL) 89,07
ANEXO S
OPINIÃO CONTRÁRIA À REFORMA AGRÁRIA NO
ANEXO T
OPINIÃO DO CARIOCA SOBRE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NO PAÍS
ANEXO U
O CARIOCA E A POLÍTICA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ID INSTITUTO A FAVOR DA
ANO MANUTENÇÃO DE
RELAÇÕES COM URSS
ANEXO V
COMPARAÇÃO ENTRE AVALIAÇÃO POSITIVA DO
ID INSTITUTO AVALIAÇÃO
POSITIVA TAXA INFLAÇÃO
PERÍODO ANO
GOVERNO ANUAL
FEDERAL
ANEXO W
COMPARAÇÃO ENTRE OPINIÕES SOBRE REFORMA
ANEXO X
COMPARAÇÃO ENTRE PREFERÊNCIA POR PARTIDO
ID TEM PREFERÊNCIA
PERÍODO ANO
POR PARTIDO
ANEXO Y
COMPARAÇÃO ENTRE VOTO PERSONALISTA
ID INSTITUTO VOTO
PERÍODO ANO
PERSONALISTA