CERVI, E. Opinião Pública e Política No Brasil PDF

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INSTITUTO UNIVERSITÁRIO DE PESQUISAS DO RIO DE JANEIRO

EMERSON URIZZI CERVI

OPINIÃO PÚBLICA E POLÍTICA NO BRASIL


O que o brasileiro pensa sobre política e porque isso interessa à democracia

RIO DE JANEIRO
2006
EMERSON URIZZI CERVI

OPINIÃO PÚBLICA E POLÍTICA NO BRASIL


O que o brasileiro pensa sobre política e porque isso interessa à democracia

Tese apresentada ao Instituto


Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro como requisito parcial para a
obtenção do grau de Doutor em Ciências
Humanas: Ciência Política.
Orientador: Marcus Faria Figueiredo

RIO DE JANEIRO
2006
ficha catalográfica:

Cervi, Emerson Urizzi.


Opinião Pública e Política no Brasil: o que o brasileiro pensa sobre política
e porque isso interessa à democracia: Emerson Urizzi Cervi -- IUPERJ -- Rio de
Janeiro, 2006. vii, 359 f.
Tese (doutorado) – Ciência Política, 2006.
Orientação de: Marcus Faria Figueiredo.
EMERSON URIZZI CERVI

OPINIÃO PÚBLICA E POLÍTICA NO BRASIL


O que o brasileiro pensa sobre política e porque isso interessa à democracia

Tese apresentada ao Instituto


Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro como requisito parcial para a
obtenção do grau de Doutor em Ciências
Humanas: Ciência Política.

Banca Examinadora:

Fabiano Santos (Presidente)


Marcus Figueiredo (Orientador)
Jairo Marconi Nicolau
Nelson Rojas de Carvalho
Yan Carreirão
A Túlia, Thales e Tasso,
por existirem.
AGRADECIMENTOS

Como resultado de um trabalho coletivo, tenho a agradecer muitas pessoas que


participaram direta e indiretamente na produção desta tese. Meu orientador,
professor Marcus Figueiredo, por possuir as características indispensáveis em um
mestre: inteligência e respeito pelo pensamento do outro. Sem o que, a interlocução
intelectual torna-se impossível. Aos demais professores do IUPERJ que criam um
ambiente de estímulo à pesquisa e ao saber. Aos funcionários, sempre prestativos,

competentes e amigáveis no atendimento às demandas de todos e que são os


principais responsáveis pelo bom funcionamento da infra-estrutura para o

desenvolvimento dos trabalhos. Aos colegas das disciplinas de seminários de projeto


e de tese, pelos comentários, sugestões e críticas, na maioria das vezes,
fundamentais para a atual versão deste trabalho.
À CAPES e CNPq, que com bolsa de doutoramento e auxílios técnicos viabilizaram
meus estudos e participações em congressos científicos, sem o que teria sido
impossível dar continuidade ao trabalho. Ao Doxa, pela oportunidade de pesquisa,

ao Arquivo Edgar Leuenroth, ao Cesop e a todos os institutos de pesquisa de


opinião pública que disponibilizam resultados de seus trabalhos via Internet, sem o
que este trabalho seria muito empobrecido.
A todos que, mesmo sem participar diretamente das discussões feitas neste
trabalho, me estimularam e acompanharam-me durante todo o processo, em
especial a Tulia, o Thales e o Tasso, que, mesmo sem saber, foram minha
permantente motivação.

Por se tratar de uma versão já revisada após a defesa de tese, devo agradecer
também aos comentários, críticas e sugestões qualificadas de todos os integrantes
da banca, a maioria das quais se encontra incorporada ao texto.
As opiniões não são inatas, nem surgem do nada. A questão “o que é opinião
pública?” é melhor respondida através de três processos e na seguinte ordem: (a) a
disseminação de opiniões a partir de níveis da elite; (b) o borbulhar de opiniões a
partir das bases; e (c) identificações com grupos de referência.
(SARTORI, 1994, p. 132)
RESUMO

A presente tese consiste na apresentação de um estudo sobre séries


temporais de opinião pública brasileira. Parte do conceito de participação
institucional e não institucional em democracias contemporâneas de massa para
abordar a discussão a respeito dos processos de formação, manutenção,
transformação da opinião pública e do seu papel na transmissão de demandas e
posicionamentos do cidadão comum para a elite política em democracias

complexas. A premissa adotada é a de que pelo menos para os temas próximos ao


que gera mais interesse no público ou em relação a assuntos cujas opiniões são

formadas historicamente os posicionamentos do cidadãos comuns mantém-se


consistentes ao longo do tempo. Na segunda parte do trabalho analisam-se séries
históricas de opiniões manifestadas em pesquisas de opinião pública ao longo de 25
anos (entre 1980 e 2005) no Brasil e entre 1950 a 1975 para a cidade do Rio de
Janeiro sobre temas ligados à área social, política ou econômica. Busca-se, com a
metodologia de análise aplicada, identificar padrões de manutenção ou mudança

das opiniões a respeito de assuntos de interesse público ao longo do tempo. Tal


metodologia baseia-se em estudo realizado sobre a opinião pública norte-americana
por Page e Shapiro (1992), a partir do qual é possível responder se os líderes
políticos nas democracias de massa devem dar atenção à opinião pública, caso ela
seja corente, ou não, se volátil e sujeita a ações manipulatórias.
ABSTRACT

The thesis consist of the presentation of a study on temporary series of


Brazilian public opinion. It leaves of the concept of participation institutional and not
institutional in contemporary democracies of mass to approach the discussion about
formation processes, maintenance, transformation of the public opinion and of your
role in the transmission of demands and the common citizen's positionings for the
political elite in complex democracies. The adopted premise is the that for the close

themes to the that generates more interest in the public or in relation to subjects
whose opinions are formed the common citizens' positionings historically there are

stays consistent along the time. On second part of the work historical series of
opinions they are analyzed manifested in researches of public opinion along 25 years
(between 1980 and 2005) in Brazil and enter 1950 to 1975 for the city of Rio de
Janeiro on linked themes to the social area, politics or economical. It is looked for to
identify maintenance patterns or change of the opinions regarding subjects of public
interest along the time. Such methodology bases on study accomplished on the

North American public opinion by Page and Shapiro (1992), starting from which is
possible to answer the political leaders in the mass democracies they should give
attention to the public opinion, in case it´s coerente, or not, if volatile and it subjects
to manipulations.
LISTA DE TABELAS

4.1 SÉRIE TEMPORAL DE VOTO PERSONALISTA NO BRASIL.......................................... 139


5.1 AUTO-REGRESSÃO PARA OPINIÃO SOBRE PRESIDENTE DA REPÚBLICA ................. 154
5.2 AUTO-REGRESSÃO ENTRE MANDATO E AVALIAÇÃO DO PRESIDENTE.................. 155
5.3 AUTO-REGRESSÃO PRESIDENTE E AVALIAÇÃO DO GOVERNO............................... 156
5.4 AUTO-REGRESSÃO ENTRE LULA E AVALIAÇÃO DO GOVERNO ............................... 156
5.5 AUTO-REGRESSÃO ENTRE FHC E AVALIAÇÃO DO GOVERNO ................................. 158
5.6 AUTO-REGRESSÃO AVALIAÇÃO DO PAÍS, GOVERNANTE E GOVERNO COM
VARIÁVEIS ECONÔMICAS ............................................................................................... 160
5.7 INTERVENÇÃO DE VARIÁVEIS ECONÔMICAS E SOCIAIS NA AVALIAÇÃO DO
GOVERNANTE................................................................................................................... 164
5.8 AUTO-REGRESSÃO NO TEMPO DE VOTO PERSONALISTA ....................................... 176
5.9 AUTO-REGRESSÃO ENTRE PREFERÊNCIA POR PARTIDO E VOTO
PERSONALISTA NO BRASIL............................................................................................ 178
5.10 TENDÊNCIA CENTRAL DO AUTOPOSICIONAMENTO IDEOLÓGICO DO
BRASILEIRO ...................................................................................................................... 185
5.11 DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM AUTOPOSICIONAMENTO IDEOLÓGICO
DO BRASILEIRO................................................................................................................ 185
5.12 AUTO-REGRESSÃO POR POSICIONAMENTO IDEOLÓGICO NO BRASIL .................. 188
5.13 CORRELAÇÕES DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM DO AUTOPOSICIO-
NAMENTO IDEOLÓGICO NO BRASIL............................................................................... 190
5.14 AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES SOBRE MELHOR SISTEMA DE GOVERNO ...... 202
5.15 MEDIDAS DE TENDÊNCIA DA OPINIÃO FAVORÁVEL AO VOTO OBRIGATÓRIO ...... 204
5.16 AUTO-REGRESSÃO DA OPINIÃO A FAVOR DO VOTO OBRIGATÓRIO AO LONGO
DO TEMPO......................................................................................................................... 205
5.17 MEDIDAS DE TENDÊNCIA SOBRE MUITO INTERESSE EM ELEIÇÕES ...................... 207
5.18 AUTO-REGRESSÃO DE "MUITO INTERESSE EM ELEIÇÕES" AO LONGO DO
TEMPO ............................................................................................................................... 207
5.19 AUTO-REGRESSÃO COM OPINIÕES SOBRE PENA DE MORTE NO BRASIL............. 212
5.20 AUTO-REGRESSÃO OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL EM DOIS
PERÍODOS DISTINTOS .................................................................................................... 217
5.21 AUTO-REGRESSÃO ENTRE TAXA DE URBANIZAÇÃO E OPINIÕES SOBRE
REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL .................................................................................... 219
5.22 RESULTADOS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM EM DOIS PERÍODOS
PARA DESEMPREGO COMO MAIOR PROBLEMA DO PAÍS ......................................... 221
5.23 RESULTADOS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM PARA TAXA DE
DESEMPREGO EM DOIS PERÍODOS NO BRASIL ......................................................... 223
5.24 AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES SOBRE DESEMPREGO SER MAIOR
PROBLEMA DO PAÍS......................................................................................................... 223
5.25 AUTO-REGRESSÃO DE OPINIÕES SOBRE CORRUPÇÃO NO BRASIL ...................... 226
5.26 RESULTADOS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM DAS OPINIÕES
SOBRE ARMAS NO BRASIL ............................................................................................. 230
5.27 AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES "SIM" E "NÃO" NO REFERENDO 2005............... 231
5.28 AUTO-REGRESSÃO ENTRE TENDÊNCIA DE TAXA DE CRIMES VIOLENTOS
LETAIS E OPINIÕES SOBRE RESTRIÇÃO A ARMAS DE FOGO NO BRASIL ................. 234
5.29 RESULTADOS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM PARA TEMAS
CONSIDERADOS MAIOR PROBLEMA DO PAÍS............................................................. 237
5.30 AUTO-REGRESSÃO PARA MAIOR PROBLEMA DO PAÍS ............................................. 238
5.31 CORRELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS CONSIDERADAS MAIOR PROBLEMA DO
PAÍS.................................................................................................................................... 240
5.32 RESULTADOS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM PARA CONFIANÇA
EM INSTITUIÇÕES E VIOLÊNCIA NO BRASIL ................................................................ 246
5.33 AUTO-REGRESSÃO PARA CONFIANÇA NAS INSTITUIÇÕES E VIOLÊNCIA NO
BRASIL................................................................................................................................ 247
5.34 CORRELAÇÕES ENTRE CONFIANÇA EM INSTITUIÇÕES E VIOLÊNCIA NO
BRASIL ............................................................................................................................... 247
6.1 AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES SOBRE MUDANÇA DA CAPITAL........................ 253
6.2 AUTO-REGRESSÃO DE OPINIÕES SOBRE DIVÓRCIO NO RIO DE JANEIRO ............ 255
6.3 AUTO-REGRESSÃO PARA OPINIÕES SOBRE VOTO PERSONALISTA ...................... 257
6.4 AUTO-REGRESSÃO DAS PREFERÊNCIAS POR PARTIDO POLÍTICO ........................ 259
6.5 AUTO-REGRESSÃO ENTRE PREFERÊNCIA POR PARTIDO E VOTO PERSO-
NALISTA............................................................................................................................. 259
6.6 AUTO-REGRESSÃO PARA AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO.............................. 261
6.7 COMPARAÇÃO DAS MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL SOBRE AVALIAÇÃO
POSITIVA DO GOVERNO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO E BRASIL.......................... 268
6.8 ESTATÍSTICAS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM SOBRE AVALIAÇÃO
POSITIVA DO GOVERNO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO E BRASIL.......................... 269
6.9 AUTO-REGRESSÃO DAS AVALIAÇÕES POSITIVAS DO GOVERNO FEDERAL
NO RIO DE JANEIRO E BRASIL ....................................................................................... 270
6.10 AUTO-REGRESSÃO ENTRE AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO FEDERAL E
INFLAÇÃO PARA O RIO DE JANEIRO E BRASIL............................................................ 272
6.11 MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL PARA INFLAÇÃO NOS PERÍODOS DO RIO
DE JANEIRO E BRASIL..................................................................................................... 272
6.12 MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL PARA OPINIÕES SOBRE REFORMA
AGRÁRIA NO RIO DE JANEIRO E BRASIL...................................................................... 274
6.13 DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM SOBRE OPINIÃO CONTRÁRIA À
REFORMA AGRÁRIA NO RIO DE JANEIRO E BRASIL................................................... 274
6.14 AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA NO RIO DE
JANEIRO E BRASIL........................................................................................................... 275
6.15 MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL PARA PREFERÊNCIA PARTIDÁRIA NO
RIO DE JANEIRO E BRASIL ............................................................................................. 277
6.16 DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM PARA PREFERÊNCIAS PARTIDÁRIAS NO
RIO DE JANEIRO E BRASIL ............................................................................................. 277
6.17 AUTO-REGRESSÃO PARA PREFERÊNCIAS PARTIDÁRIAS NO RIO DE
JANEIRO E BRASIL........................................................................................................... 278
6.18 MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL DO VOTO PERSONALISTA NO RIO DE
JANEIRO E BRASIL........................................................................................................... 280
6.19 DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM SOBRE VOTO PERSO-NALISTA PARA RIO
DE JANEIRO E BRASIL..................................................................................................... 281
6.20 AUTO-REGRESSÃO DE VOTO PERSONALISTA NO RIO DE JANEIRO E BRASIL........ 281
6.21 AUTO-REGRESSÃO ENTRE PREFERÊNCIA POR PARTIDO E VOTO
PERSONALISTA NO BRASIL E RIO DE JANEIRO ........................................................... 283
LISTA DE QUADROS

3.1 MODELO DE FLUXOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ADAPTADO DE DUMAZEIDER .... 123


3.2 PROCESSOS SOCIAIS PARA FORMAÇÃO DE OPINIÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA
ADAPTADO DE ROVIGATTI ................................................................................................ 126
5.1 DEMONSTRATIVO DOS PADRÕES DE OPINIÕES SOBRE TEMAS POLÍTICOS NO
BRASIL NAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS ........................................................................... 209
5.2 DEMONSTRATIVO DAS CORRELAÇÕES ENTRE OPINIÕES SOBRE TEMAS
SOCIAIS NO BRASIL DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS ..................................................... 210
5.3 DEMONSTRATIVO DOS PADRÕES DE OPINIÕES SOBRE TEMAS SOCIAIS NO
BRASIL NAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS ........................................................................... 248
5.4 DEMONSTRATIVO DAS CORRELAÇÕES ENTRE OPINIÕES SOBRE TEMAS
SOCIAIS NA OPINIÃO PÚBLICA BRASILEIRA DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS ............ 250
6.1 DEMONSTRATIVO DOS PADRÕES DA OPINIÃO PÚBLICA NO RIO DE JANEIRO
ENTRE 1950 E 1970............................................................................................................. 284
6.2 DEMONSTRATIVO DAS CORRELAÇÕES ENTRE OPINIÕES SOBRE TEMAS
INTER-RELACIONADOS NO RIO DE JANEIRO ENTRE 1950 E 1970 .............................. 285
6.3 DEMONSTRATIVO DA COMPARAÇÃO ENTRE OPINIÃO PÚBLICA CARIOCA DOS
ANOS 50 A 70 E OPINIÃO PÚBLICA BRASILEIRA DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS ...... 285
LISTA DE GRÁFICOS

3.1 EXEMPLO DE DISTRIBUIÇÃO DE OPINIÕES SOBRE PARTICIPAÇÃO DO ESTADO


NA ECONOMIA .................................................................................................................. 132
3.2 EXEMPLO DA DIFERENÇA ENTRE OPINIÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA .................. 133
4.1 EXEMPLO DE SÉRIES TEMPORAIS COM COMPORTAMENTOS DISTINTOS ............ 143
5.1 SÉRIE MENSAL DE AVALIAÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS DO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA ....................................................................................................................... 152
5.2 SÉRIES TEMPORAIS DE AVALIAÇÕES POSITIVAS SOBRE PAÍS, GOVER-
NADORES DE ESTADO E PREFEITOS MUNICIPAIS ..................................................... 153
5.3 SÉRIE TEMPORAL DE OPINIÕES SOBRE RENDA PESSOAL ...................................... 160
5.4 SÉRIE ANUAL AVALIAÇÃO POSITIVA E NEGATIVA DO PRESIDENTE ...................... 162
5.5 SÉRIES HISTÓRICAS DE AVALIAÇÕES DOS GOVERNANTES E DE VALORES DE
SALÁRIO MÍNIMO.............................................................................................................. 166
5.6 SÉRIES HISTÓRICAS DE AVALIAÇÕES DOS GOVERNANTES E OPINIÃO
SOBRE CRESCIMENTO DA CORRUPÇÃO..................................................................... 167
5.7 SÉRIES HISTÓRICAS DE AVALIAÇÕES DOS GOVERNANTES E ÍNDICES DE
INFLAÇÃO MENSAL.......................................................................................................... 168
5.8 SÉRIES TEMPORAIS DE AVALIAÇÕES DE PRESIDENTES E SATISFAÇÃO COM
O PAÍS................................................................................................................................ 172
5.8.1 SÉRIES TEMPORAIS DE AVALIAÇÕES POSITIVAS DE PRESIDENTES DO
BRASIL E DOS ESTADOS UNIDOS ................................................................................. 173
5.9 SÉRIE TEMPORAL DE VOTO PERSONALISTA NO BRASIL.......................................... 175
5.10 SÉRIES DE PREFERÊNCIA POR PARTIDO POLÍTICO E VOTO PERSONALISTA
NO BRASIL......................................................................................................................... 177
5.11 SÉRIE TEMPORAL DE AUTOPOSICIONAMENTO DE ESQUERDA NO BRASIL .......... 186
5.12 SÉRIE HISTÓRICA DE AUTOPOSICIONAMENTO DE CENTRO NO BRASIL ............... 187
5.13 SÉRIE HISTÓRICA DE AUTOPOSICIONAMENTO DE DIREITA NO BRASIL ................ 188
5.14 OPINIÃO FAVORÁVEL À DEMOCRACIA ......................................................................... 191
5.15 SÉRIE HISTÓRICA DE CONFIANÇA NA JUSTIÇA BRASILEIRA ................................... 194
5.16 SÉRIE HISTÓRICA DE CONFIANÇA NO CONGRESSO FEDERAL BRASILEIRO............. 195
5.17 SÉRIE HISTÓRICA DE CONFIANÇA NO GOVERNO BRASILEIRO ............................... 196
5.18 SÉRIE HISTÓRICA DA PREFERÊNCIA POR PRESIDENCIALISMO NO BRASIL.............. 200
5.19 SÉRIE HISTÓRICA DA PREFERÊNCIA PELO PARLAMENTARISMO NO BRASIL.............. 201
5.20 SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÃO FAVORÁVEL AO VOTO OBRIGATÓRIO NO
BRASIL ............................................................................................................................... 203
5.21 PERCENTUAL DE ELEITORES QUE DIZ TER MUITO INTERESSE POR ELEIÇÕES....... 206
5.22 SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÕES SOBRE PENA DE MORTE NO BRASIL................... 211
5.23 SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL ................. 213
5.24 CURVA DE CRESCIMENTO DA TAXA DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL ....................... 216
5.25 COMPARAÇÃO ENTRE OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA E TAXA DE
POPULAÇÃO URBANA NO BRASIL ................................................................................. 218
5.26 SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÕES SOBRE DESEMPREGO SER MAIOR PROBLEMA
DO BRASIL......................................................................................................................... 220
5.27 SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÃO SOBRE DESEMPREGO E TAXA DE DESEMPREGO
NO BRASIL......................................................................................................................... 222
5.28 SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÃO SOBRE CORRUPÇÃO SER MAIOR PROBLEMA
DO BRASIL......................................................................................................................... 224
5.29 SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE AUMENTO DA CORRUPÇÃO NO BRASIL..................... 225
5.30 SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE TEMA DO REFERENDO 2005 ........................................ 228
5.31 TENDÊNCIA TEMPORAL DE MÉDIAS DE OPINIÕES SOBRE RESTRIÇÃO A ARMAS
DE FOGO E TENDÊNCIA DE TAXA DE CRIMES VIOLENTOS LETAIS............................. 233
5.32 SÉRIE DE TEMAS CONSIDERADOS MAIOR PROBLEMA DO BRASIL......................... 236
5.33 SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE CONFIANÇA EM INSTITUIÇÕES E VIOLÊNCIA ................ 245
6.1 SÉRIE DE OPINIÕES FAVORÁVEIS À MUDANÇA DA CAPITAL ................................... 252
6.2 SÉRIE DE OPINIÕES FAVORÁVEIS AO DIVÓRCIO NO RIO DE JANEIRO .................. 254
6.3 SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE VOTO PERSONALISTA NO RIO DE JANEIRO .............. 256
6.4 SÉRIE DE PREFERÊNCIAS POR PARTIDO POLÍTICO .................................................. 258
6.5 SÉRIE DE AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO FEDERAL PELO CARIOCA ............ 260
6.6 SÉRIE DE OPINIÕES FAVORÁVEIS À ELEIÇÃO DIRETA PARA PRESIDENTE NO
RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO ..................................................................................... 261
6.7 SÉRIES DE OPINIÕES CONTRÁRIAS À REFORMA AGRÁRIA NO RIO DE
JANEIRO E SÃO PAULO................................................................................................... 263
6.8 SÉRIE DE OPINIÕES FAVORÁVEIS DOS CARIOCAS À EXPLORAÇÃO DE
PETRÓLEO POR EMPRESA ESTATAL BRASILEIRA ..................................................... 264
6.9 SÉRIE DE OPINIÕES FAVORÁVEIS ÀS RELAÇÕES COM URSS NO RIO DE
JANEIRO ............................................................................................................................ 266
6.10 COMPARAÇÃO DE AVALIAÇÕES POSITIVAS SOBRE GOVERNO NO RIO DE
JANEIRO E BRASIL........................................................................................................... 268
6.11 SÉRIES DE LOGS DAS AVALIAÇÕES POSITIVADOS DO GOVERNO FEDERAL E
INFLAÇÃO PARA O RIO DE JANEIRO E BRASIL............................................................ 271
6.12 OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA NO RIO DE JANEIRO E BRASIL .................. 273
6.13 SÉRIES DE PREFERÊNCIAS PARTIDÁRIAS NO RIO DE JANEIRO E BRASIL................. 276
6.14 SÉRIES DE VOTOS PERSONALISTAS NO RIO DE JANEIRO E BRASIL...................... 279
6.15 SÉRIES DE VOTO PERSONALISTA E PREFERÊNCIA POR PARTIDO POLÍTICO
NO RIO DE JANEIRO E BRASIL ....................................................................................... 282
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 16

PARTE I
CAPÍTULO 1 - DEMOCRACIA, INSTITUIÇÕES E LIBERDADES INDIVIDUAIS.......... 38

1.1 TEORIAS DEMOCRÁTICAS COMPARADAS ....................................................... 40


1.2 DEMOCRACIA EM SOCIEDADES DE MASSA..................................................... 57
CAPÍTULO 2 - ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO POLÍTICA EM DEMOCRACIA DE

MASSA.................................................................................................. 72
2.1 COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE MODERNA ....................................................... 72
2.2 EFEITOS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOBRE A OPINIÃO PÚBLICA ........ 81

2.3 MASSA E PÚBLICO .............................................................................................. 85


CAPÍTULO 3 - EM BUSCA DE UM CONCEITO DE OPINIÃO PÚBLICA ...................... 107
3.1 ORIGENS E TENDÊNCIAS DO DEBATE SOBRE OPINIÃO PÚBLICA ................ 107

3.2 O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE OPINIÃO PÚBLICA ............................. 114


3.3 TRANSFORMANDO UM CONCEITO TEÓRICO INACABADO EM VARIÁVEL
EMPÍRICA ............................................................................................................. 130

PARTE II
CAPÍTULO 4 - METODOLOGIA PARA ANÁLISE DE SÉRIES TEMPORAIS DA
OPINIÃO PÚBLICA BRASILEIRA ........................................................ 137

CAPÍTULO 5 - OPINIÃO PÚBLICA BRASILEIRA NOS ÚLTIMOS 25 ANOS............... 151


5.1 O BRASILEIRO E AS OPINIÕES POLÍTICAS....................................................... 151
5.1.1 Variação Mensal da Opinião sobre Governo e Governantes ............................. 151

5.1.2 Avaliação Anual de Governantes ...................................................................... 161


5.1.3 Avaliação Anual do Presidente e do País.......................................................... 171
5.1.4 Eleitores que Dizem Votar em Candidato e Preferência Partidária.................... 174

5.1.5 O Brasileiro e a Ideologia Política ..................................................................... 180


5.1.6 O Brasileiro e a Democracia.............................................................................. 191
5.1.7 O Brasileiro e o Sistema de Governo ................................................................ 199

5.1.8 Obrigatoriedade do Voto e Interesse em Eleições no Brasil .............................. 202


5.2 OPINIÕES SOBRE TEMAS SOCIAIS ................................................................... 210
5.2.1 O Brasileiro e a Pena de Morte ......................................................................... 210
5.2.2 O Brasileiro e a Reforma Agrária ...................................................................... 213
5.2.3 Opinião sobre Desemprego .............................................................................. 220

5.2.4 Corrupção como Maior Problema do País......................................................... 224


5.2.5 A Opinião Pública e o Referendo 2005 ............................................................. 227
5.2.6 Agendamento Público do Maior Problema para o Brasileiro.............................. 235

5.2.7 Consistência da Opinião Pública quanto a Temas Correlatos ........................... 243


CAPÍTULO 6 - OPINIÃO PÚBLICA NO RIO DE JANEIRO ENTRE 1940 E 1970......... 251
6.1 O CARIOCA E A MUDANÇA DA CAPITAL ........................................................... 251

6.2 O CARIOCA E O DIVÓRCIO ................................................................................. 254


6.3 O CARIOCA, OS PARTIDOS POLÍTICOS E AS ELEIÇÕES ................................. 256
6.4 O CARIOCA, O GOVERNO FEDERAL E A DEMOCRACIA .................................. 259

6.5 O CARIOCA E A REFORMA AGRÁRIA ................................................................ 262


6.6 O CARIOCA E A PETROBRÁS ............................................................................. 264
6.7 O CARIOCA E A POLÍTICA EXTERNA ................................................................. 265

6.8 COMPARAÇÃO ENTRE OPINIÃO PÚBLICA CARIOCA E BRASILEIRA .............. 267


6.8.1 Avaliação Positiva do Governo Federal............................................................. 267
6.8.2 Comparação das Opiniões sobre Reforma Agrária ........................................... 273

6.8.3 Comparação entre Preferências Partidárias nos dois Períodos......................... 276


6.8.4 Personalismo Eleitoral nos Dois Períodos......................................................... 279
CONCLUSÃO................................................................................................................. 286

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 301


APÊNDICE ..................................................................................................................... 311
ANEXOS ........................................................................................................................ 314
16

INTRODUÇÃO

O debate sobre a opinião pública e seu papel nas democracias é tão antigo
quanto o debate sobre a própria democracia. O que se destaca na evolução histórica
sobre opinião pública, em especial nos estudos mais contemporâneos, é a
possibilidade ou até mesmo a viabilidade da manutenção de relações democráticas
estáveis. Isso, ao se levar em consideração a opinião pública na tomada de
decisões políticas. Se, por um lado, a democracia, por princípio, deve considerar as

aspirações dos cidadãos nos processos decisórios, por outro, deixa muitas dúvidas
sobre a pertinência e racionalidade dessas aspirações. Leva-se em consideração

ainda, segundo autores críticos da opinião pública, que ela tende a ser manipulada
em função de interesses de minorias organizadas, o que a torna extremamente
volátil e errátil. Soma-se a esse temor o fato de que a elite política tradicionalmente
não dá atenção à opinião pública e ao fato de que o público – através de eleições
periódicas nas democracias – se mostra satisfeito com esse tipo de participação.
Essas observações garantem a manutenção do poder decisório, pelo menos no

sentido de decidir quem tomará as decisões de fato.


A concepção de que o público não tem condições para participar
racionalmente das decisões políticas nasce na Grécia antiga com Platão, segue
durante toda a Idade Média e chega ao século XX tendo como seus principais
expoentes os trabalhos de Paul Lazarsfeld - "The People's Choice" (1922) – e de
Angus Campbell et al. - "The American Voter" (1960) –, que traçam um perfil
pessimista das capacidades de racionalização e independência do eleitor e,

conseqüentemente, do próprio cidadão nas democracias modernas.


Definições elitistas e minimalistas de democracia entram em conflito com
posicionamentos a favor de uma maior ampliação do âmbito em que devem se
encontrar os tomadores de decisão, ou pelo menos os influenciadores dessas, no
sistema político. Porém, em sociedades modernas e complexas, o universo privado
17

domina os principais interesses da grande maioria dos integrantes de uma


comunidade política. Sendo assim, torna-se impossível considerar a possibilidade de

existência de uma democracia direta, que permita a participação de todos em todos


os níveis e não apenas no referendo final.
Uma alternativa à impossibilidade de participação do indivíduo é a consi-
deração de que, embora individualmente poucos tenham possibilidades de participar
diretamente, em coletivos, as pessoas trocam informações e agem como grupo
organizado na busca de seus interesses. É a harmonização desses interesses que

torna a sociedade estável. Por isso, desse grupo maior de cidadãos, considerando a
cidadania universalizada, é possível extrair opiniões coletivas a respeito dos

principais temas debatidos em comunidade. É sabido que as decisões coletivizadas,


como políticas, por serem soberanas e sancionáveis, representam um valor médio
presente nesse coletivo e, se a minoria que ocupa os postos de efetiva tomada de
decisão tiver acesso às posições coletivas para direcionar as decisões políticas, a
arena política será ampliada, pois, apesar de poucos estarem à frente das decisões
políticas, eles serão balizados pelas informações que recebem do conjunto da

sociedade. Quando isso se aplica aos temas de domínio público, o posicionamento


conjunto dos integrantes da coletividade é chamado de Opinião Pública.
Uma diferença importante das decisões coletivizadas, entre elas a opinião
pública, em relação a outras é a que, para os integrantes do público, as decisões,
por serem impessoais, apresentam poucos riscos e, quando existem, eles são
externos e com baixo impacto à esfera privada dos participantes. Já para os
ocupantes de postos de decisão, direta ou indireta, na arena política – a chamada
elite política – existem custos internos, para cada decisão. Em uma democracia,
esses custos envolvem principalmente a possibilidade de manutenção ou não do
tomador de decisão nos postos decisórios. Para se entender o funcionamento de
uma democracia como um todo, é preciso considerar não apenas as relações
percebidas no ambiente interno na esfera política – instituições, atores e decisões
18

sobre políticas públicas –, mas também a relação que existe entre essa esfera e o
restante da sociedade, em que se encontra o cidadão que, apesar de não participar

diretamente dos processos decisórios, tem interesse por que suas opiniões sejam
ouvidas e, por isso, oferece como contrapartida a possibilidade de - através do voto -
manter ou substituir os tomadores de decisão.
Nesse sentido, Sartori (1997) mostra que, para se discutir democracia, é
preciso pensar também em uma relação coletivizada, ou seja, impessoal, de
representados com seus representantes. Sendo assim, os custos das decisões

daqueles recaem sobre estes. Daí a importância de que as elites considerem as


opiniões e decisões expressas através de demandas coletivizadas em um regime

democrático. Essa necessidade pragmática entra em choque com as visões


pessimistas sobre o papel da opinião pública na democracia moderna, quando
comparada a outras formas de participação, tais como eleições, parlamento ativo,
liberdade de imprensa. Por isso, a democracia depende da incorporação de valores
democráticos nas práticas cotidianas dos indivíduos. De qualquer forma, a análise
de processos sociais que integram as democracias não pode ficar restrita às

instituições formais. Ela deve levar em consideração as relações sociais e a cultura


como um todo, para aproximar os modelos teóricos das características empíricas
nas democracias de sociedades complexas.
A teoria da democracia, ao se deparar com esse paradigma, estuda a
hipótese de ampliar o número de atores, isto é, incluir, além dos institucionais
estritos que integram as instituições políticas, também os participantes indiretos das
decisões políticas – os integrantes do público. Deu-se, por isso, início a um novo
debate: o cidadão comum, não integrante da elite política, tem condições e deve
participar da democracia sendo ouvido em processos de consultas públicas, tais
como em eleições periódicas. Se aceita como indispensável essa participação deve
se dar através do conhecimento público das opiniões médias da coletividade;
portanto, resta saber se essas opiniões apresentam condições mínimas de
19

racionalidade necessárias para serem levadas em consideração pela elite política ou


se, ao contrário, o que as caracteriza, na prática, descredencia sua participação.

Para autores elitistas e institucionalistas, como as decisões políticas


envolvem o domínio de uma série de informações e capacidades específicas que
não estão ao alcance do público médio, as opiniões dos integrantes desse público
não devem ser consideradas como elemento determinante da política, pois, ainda
que ela se apresente bem intencionada, lhe faltarão instrumentos que garantam a
coerência esperada da opinião. Na maioria das vezes, a literatura elitista apresenta a

opinião pública como o resultado de uma série de processos sociais, nos quais há
uma interação muito grande de elementos emocionais e manipulativos (LIPPMANN,
1922), aliados a pouca racionalidade (LE BON, 1999). Porém, se de fato a literatura
sobre o tema ainda discute ou não a viabilidade de se ouvir o público, as
democracias modernas estabeleceram como princípio que a decisão da coletividade
é soberana sobre quem deve dirigir diretamente as instituições públicas. Mais do que
isso, essa decisão é reformada em períodos preestabelecidos, através de eleições
periódicas. E, a cada eleição, uma nova conformação de opinião pública se materializa

nos temas discutidos e nas características dos “eleitos” para compor a elite política, a
tomadora de decisões públicas.

Ao ser considerada como fator relevante para o funcionamento da


democracia, a opinião pública pode ser conceituada como pública em um duplo
sentido. Primeiro, porque ela surge do debate público e, segundo, porque seu objeto

é qualquer coisa, desde que seja de domínio público. Sendo assim, opinião pública é
uma opinião sobre assuntos que dizem respeito à nação ou a outro agregado social,

expressa de maneira livre por homens que estão fora do governo, mas que
reclamam o direito de que suas opiniões possam influenciar ou determinar ações

governamentais (BOBBIO, 1998).


20

Grande parte da discussão sobre a opinião pública1 nas democracias


contemporâneas deriva do fato de que ela possa ser considerada uma influência

legítima ou não nas decisões de governo.


A tradição crítica à consistência da opinião pública resiste até hoje através
de afirmações sobre a inexistência de uma opinião pública, conforme se pode ver na
tese defendida por Pierre Bourdieu (1983) e Patrick Champagne (1998),
principalmente. Para rebater essa posição, autores como Benjamim Page & Robert
Shapiro (1992) defendem que a opinião pública não é apenas resultado de

manipulações emocionais. Como ela apresenta uma racionalidade que se diferencia


da estabilidade absoluta por ser pública, essa opinião deve se remodelar sempre

que houver uma alteração perene ou transitória na composição das relações sociais
dos pertencentes ao público. A partir de resultados de trabalhos empíricos, eles
concluem que a opinião pública é racional e coerente. Por isso, as preferências
políticas coletivas são previsíveis, pois trata-se do resultado de avaliações públicas
sobre políticas já implantadas.
Ao analisar opiniões do público norte-americano sobre temas públicos

encontraram altos índices de consistência. Esta aumenta à medida que os temas em

1Aqui é preciso fazer uma primeira distinção conceitual entre Opinião Pública e Opinião Publicada,
pois alguns autores costumam confundi-los. Opinião Pública é a expressão de opiniões do público a
respeito de temas de interesse comum, enquanto Opinião Publicada é a apresentação pública da
opinião. Essa distinção foi feita pela primeira vez por Floyd Allport (1937) no texto "Toward a Science
of Public Opinion", onde afirma que tratar Opinião Pública e Publicada como sendo a mesma coisa é
uma falácia. Ela nasce da idéia de que os meios de comunicação, que publicam as opiniões, têm
capacidade absoluta de influência sobre os públicos e, portanto, não faria sentido diferenciá-las.
Allport é contrário a essa idéia de domínio dos meios de comunicação. Ele acredita que há uma
complexa relação entre mídia e público, com pressão, resistências e influência mútua que inviabiliza a
possibilidade de controle total de um ator pelo outro. Um exemplo da confusão entre Opinião Pública
e Publicada pode ser encontrado no trabalho de Susan Herbst "Public Opinion Infrastructures:
meanings, measures, media", onde a autora defende ser possível identificar o que ela chama de infra-
estrutura da opinião pública a partir da análise da produção cultural em determinado momento da
história de uma sociedade. Para tanto, ela estuda os conceitos e opiniões transmitidas pelo filme "Mr.
Smith Goes to Washington", dirigido por Frank Kapra. É evidente, de acordo com a definição
apresentada por Allport, que as opiniões inseridas no enredo do filme foram as selecionadas pelo
diretor, ou seja, são opiniões Publicadas e não Públicas.
21

discussão pública se tornam mais salientes. Nessas análises comprovou-se conforme


"The Rational Public" que as maiores inconsistências na opinião pública foram

encontradas nas opiniões formuladas sobre a política externa norte-americana.2


As opiniões a respeito de temas públicos são formadas a partir de complexos
processos sociais que envolvem indivíduos, grupos e instituições de comunicação
social. Segundo as teorias funcionalistas, as pessoas procuram ter opiniões coerentes
com as do grupo a que pertencem, selecionam as informações, dão atenção àquilo
com que concordam e se privam do que as desagrada. Ao mesmo tempo em que

são desprezadas as mensagens contrárias, os integrantes do grupo percebem que


determinadas opiniões e atitudes reforçam seus contatos com os demais, que

exibem tendências similares. Mesmo que nem todos se exponham a mesma


quantidade e forma de informação, cada pessoa tem sua própria experiência social,

embora selecione elementos de acordo com padrões coletivos. Além disso, as


opiniões individuais, quando agrupadas, são transformadas em uma postura coletiva
em relação a determinado tema.
As primeiras pesquisas sociológicas empíricas no campo da opinião pública

no século XX buscavam principalmente encontrar uma forma de explicar a fabricação


do consentimento público para gerar progresso, aumentar o consumo, levar à
aceitação das formas de organização do trabalho, etc. Tudo isso através da
identificação e posterior conformação da opinião pública. Dessa forma, tornava-se
necessário estudar em que condições as atitudes já existentes em determinado
grupo perdem a estabilidade e tendem a se modificar. Como conclusão inicial tinha-
se que essa instabilidade dependeria da ativação de idéias, crenças, valores ou
experiências que as pessoas possuem, mas que elas mantém "guardadas" porque

2Em uma pesquisa empírica recente, posterior à publicação do livro de Page e Shapiro, Máxime Isaac
encontrou fortes evidências de que, a respeito de dois temas de política internacional, o público norte-
americano (massacre de estudantes na praça Tianan, na Coréia, e uma crise durante o governo
Gorbatchev na Rússia). A Opinião Pública não se comportou de acordo com as visões transmitidas
pelos líderes políticos ligados ao tema e também se mostrou instável, em sua opinião (ISAACS, 1998).
22

são contrárias aos interesses do grupo ou grupos a que pertencem. Além disso, a
propaganda intensiva, contrária a esses princípios, é impossível de ser desconsiderada,

leva à reestruturação de atitudes e novos comportamentos a curto e médio prazo,


dependendo da intensidade da propaganda. De acordo com essas conclusões, seria
muito arriscado para a elite política tomar como princípio de sua atuação o
atendimento à opinião pública, visto que ela pode ser, através de instrumentos
específicos, manipulada para atender a determinados interesses que não são os do
bem comum (LIPPMANN, 1922).
A questão se torna mais premente em complexas sociedades contemporâneas,
onde os indivíduos não pertencem a um só grupo. Eles têm adesões diferenciadas
em relação a determinados temas, e o grau de adesão depende da classe social a

que pertencem, também da cultura, dos padrões etários, etc. Além disso, em todo
grupo social há pessoas mais ativas e capazes de se expressar em relação a outras.
São dessa forma mais sensíveis aos interesses do grupo e mostram-se ansiosas por
manifestação nos momentos importantes. São os chamados líderes de opinião, e a

função deles é fazer a mediação entre os meios de comunicação e demais componentes


do grupo. A diferenciação do público em pelo menos dois níveis gera uma complexidade

do sistema de ativação de crenças e valores que praticamente inviabiliza a idéia de


um controle uniforme, moldando a opinião pública de maneira consistente e definitiva.

Inicialmente, os autores defendiam que os indivíduos se informassem


majoritariamente pelos meios de comunicação, porém pesquisas empíricas, a partir

da segunda metade do século XX, constataram que os indivíduos adquiriam a maior


parte das informações que sustentavam suas opiniões no contato com líderes de
opinião e outros membros do grupo. Desses "achados", Stuart Hall (1980)
desenvolveu-se trabalhos na linha de estudos culturais e Jesus Martin-Barbero
(2001) sobre as mediações sociais. Para esses, de maneira geral, o objetivo do
indivíduo médio que faz parte de um coletivo é manter o padrão de aceitação dos
gostos do grupo e continuar cada vez mais integrado, visto que psicologicamente os
23

cidadãos não querem se isolar socialmente, como afirma Noelle-Neuman (1993).


Nesse processo, os chamados líderes de opinião horizontais agem sem distinção

hierárquica, adotando práticas que os demais integrantes do grupo levam em


consideração, assim como acontece com os líderes de opinião verticais,
normalmente notáveis na sociedade.
Como a opinião pública é aqui considerada o resultado da interação entre
os indivíduos de determinados grupos, ela não pode ser explicada pelas ações
individuais dos integrantes do grupo ou por suas opiniões prévias, pois é da troca de

informações que se constrói a nova realidade que não existia antes. Essa troca
acarreta em mudanças de opinião, que podem ser rápidas ou lentas. Quando são

rápidas, as alterações geram variações de posições surpreendentes sobre


determinados temas, cuja opinião até então era considerada estável. Quando são
lentas, elas criam uma gradual redução da homogeneidade de posições a respeito
de determinado assunto, fazendo com que gradativamente a opinião pública se
desloque de sua posição original para um novo patamar. Segundo autores como
Page e Shapiro (1992), a opinião pública não é um epifenômeno; ela apresenta

características descritíveis e, portanto, sua composição pode ser não apenas


analisada teoricamente como também servir de ponto de partida para a tomada de
decisões pelos agentes públicos. Isso sem que essas decisões resultem em políticas
públicas esquizofrênicas em função de uma suposta irracionalidade relacionada com
as mudanças de opinião randômica.
Os geradores dessas mudanças consistentes na opinião pública podem ser
reunidos em dois grandes grupos. O primeiro é de caráter individual, a partir de uma
auto-reflexão; o segundo é de caráter social, definido aqui como rupturas ideológicas.
Ao ocorrerem, as rupturas ideológicas resultam em mudanças na opinião pública, tal
como aconteceu com a opinião pública norte-americana sobre os direitos civis e de
minorias após os anos 50, quando os movimentos em favor dos direitos das
mulheres e dos negros conseguiram incluir esse tema na agenda de debate público,
24

modificando comportamentos da elite política e das massas. Quando a ruptura


ideológica se dá em uma democracia, as transformações na opinião são o resultado

de um debate entre elite e massa. Identificar esse debate correlacionando-o aos


momentos de significativas mudanças de opinião é fundamental para explicar as
rupturas e, por conseqüência, a própria gênese da opinião pública.
Partindo do princípio de que as alterações na opinião pública podem ser
explicadas, o debate sobre o tema em democracias modernas acontece principalmente
em torno de três possíveis comportamentos: oscilação (que pode ser gradual ou

abrupta), manutenção ao longo do tempo ou mudança consistente. Esse trabalho


tem por objetivo identificar se há ou não consistência na opinião pública brasileira a

respeito de temas conexos e com importância na arena política nacional. A pesquisa


não tem o objetivo de identificar a origem da opinião pública brasileira. Nesse
sentido, procura-se em primeiro lugar, mostrar, a partir de análises empíricas, os
padrões de comportamento das opiniões, tendo como controle interno a persistência
ou mudança de opiniões. Como controle externo estão os próprios acontecimentos
da esfera pública, ou seja, externos ao mundo privado dos cidadãos, tais como os

grandes fatos da história política e social que podem servir como hipóteses
explicativas de possíveis alterações nos posicionamentos do público.
Identificar como se comporta a opinião pública é premissa fundamental
para o debate sobre a validade ou não de se considerar as manifestações do
cidadão médio sobre temas de interesse coletivo que são objeto de decisão da elite
política. Para tanto, o trabalho parte da hipótese apresentada pelos pesquisadores
norte-americanos Page e Shapiro no livro "Rational Choice" (1992). Neste, eles
desenvolvem uma metodologia de análise do comportamento da opinião pública
norte-americana em 50 anos ao longo do século XX. A partir dos resultados das
pesquisas de opinião pública, identificam consistências na manutenção ou mudança
na opinião pública norte-americana a respeito de vários temas políticos e social;
mostram não apenas uma opinião pública estruturada, como também a necessidade
25

dos governantes em levá-la em consideração na tomada de decisões sobre políticas


públicas.3 Resta saber se a mesma hipótese, qual seja, a de que a opinião pública é
estruturada e racionalmente explicável, pode ser aplicada ao caso brasileiro.

O primeiro trabalho fora dos Estados Unidos a partir da metodologia


proposta por Page e Shapiro foi realizado no Canadá por Eric Bélanger e François

Pétry (2004). Estes analisam 60 anos de tendência da opinião pública canadense a


partir de pesquisas de opinião. Bélanger e Pétry chegaram praticamente às mesmas

conclusões de Page e Shapiro em relação à estabilidade e consistência das


mudanças de opinião coletiva. No entanto, sem rejeitar a racionalidade da opinião,
aqueles apontam para a necessidade de se considerar a complacência como um
fator gerador de estabilidade e não apenas como manutenção de opiniões durante o

debate público. Além disso, as análises realizadas por eles mostraram que a opinião
pública pode ser afetada pela saliência de um tema, o que termina gerando as
correntes de opinião a partir dos temas agendados pela cobertura que a mídia faz da
esfera política.
Uma das principais críticas ao trabalho de Page e Shapiro é encontrada em
um artigo anônimo4 publicado em uma página de internet vinculada ao portal da
Universidade de Columbia, New York (s/d). Neste texto, o autor afirma que as conclusões
a que chegaram Page e Shapiro são resultado de argumentos inconsistentes, pois
elas estão baseadas apenas no uso de dados agregados para a explicação da
manutenção das preferências políticas. Para o autor da crítica, sem considerar as
mudanças nas opiniões dos indivíduos, não é possível falar em estabilidade ou
mudança previsível, pois os indicadores agregados estarão ocultando as variações
internas que não podem ser indicadas pelas medidas de tendência central. Citando

3No trabalho de Page e Shapiro 57% das opiniões sobre temas públicos mostraram-se consistentes
ao longo do tempo.

4O texto sem indicação de autoria e data pode ser encontrado no endereço eletrônico
<http://www.columbia.edu/~gjw10/paper.htm>.
26

Zaller (1992), no texto "The Nature and Origins of Mass Opinion", a crítica defende
que as opiniões das pessoas são mutáveis, o que faz com que suas atitudes
públicas não possam ser previstas. Além disso, o indivíduo formula suas opiniões,
sempre, com base nas informações mais recentes adquiridas, ou naqueles temas
que estão mais salientes na sua mente.
O problema dessa crítica está no fato de que ela não se aplica à
metodologia e objetivos apresentados por Page e Shapiro, como fica claro, já no
prefácio, no início do livro, quando os autores dizem que estão interessados "na
proporção do público a favor de determinada política em um dado momento, qual o
nível de apoio da opinião e como ela muda ao longo do tempo" (1992, p.xii). Como
se vê, não se busca explicar os padrões individuais dos integrantes da opinião
pública, mas a forma como essa opinião se comporta ao longo do tempo em relação
aos temas e políticas públicas. O mesmo se aplica ao trabalho aqui apresentado.
Não é, portanto, objetivo discutir ou apresentar aqui os padrões individuais de
comportamento da opinião do brasileiro, mas a tendência da opinião pública no
Brasil em relação aos principais temas políticos e sociais.
A pesquisa apresentada aqui propõe o estudo do comportamento da
opinião pública brasileira no sentido descrito acima, a partir de resultados de surveys
nacionais disponíveis, principalmente aqueles que se encontram no Centro de
Estudos de Opinião Pública (Cesop) da Universidade de Campinas (Unicamp) dos
últimos 30 anos5. Outra fonte importante de informações quantitativas sobre a
opinião pública brasileira surge da parceria entre institutos de pesquisa e entidades
de classes que, desde os anos 90, têm gerado periodicamente informações sobre a
opinião do brasileiro. Ressalta-se então, pela importância na composição do banco
de dados para a tese, duas dessas experiências. A mais antiga delas é fruto da

5O período temporal com informações que possam compor uma base para análise de séries de
opinião pública no Brasil é menor que nos Estados Unidos, onde Page e Shapiro analisaram 50 anos,
e no Canadá, onde Bélanger e Pétry analisaram 60 anos, pois é rara a produção de surveys com
amostras nacionais brasileiras que permitam a formação de séries temporais, ou seja, séries com
repetição de temas e perguntas, antes dos anos 70.
27

parceria entre o instituto de pesquisas Sensus, de Minas Gerais, e a Confederação


Nacional do Transporte (CNT), que tem produzido pesquisas pelo menos bimestrais
para medir a opinião pública do brasileiro sobre os principais temas políticos há
quase dez anos. Nos mesmos moldes, as pesquisas produzidas pelo instituto Ibope
e pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) também serviram de fonte para a
criação do banco de dados deste trabalho.
Como o Instituto Ibope possui resultados de pesquisas feitas desde os

anos 40 e esse acervo está disponível no Arquivo Edgar Leuenroth (AEL), também
na Unicamp, essa é também outra fonte de dados para a pesquisa. O AEL reúne os

resultados de todas as pesquisas do Ibope realizadas entre 1942 (ano da primeira


pesquisa do instituto) até meados dos anos 70. São milhares de pesquisas que
ainda não terminaram de ser catalogadas. O banco de dados montado para esta

tese é composto por cerca de mil perguntas de questionários aplicados em


pesquisas com amostras nacionais realizadas entre o início da década de 70 e o ano
de 2005, chegando a 35 anos. São mais de 200 pesquisas que formam este banco
de dados nacional. No entanto, só foram consideradas as séries temporais cujas

questões são idênticas ao longo do tempo, ou seja, aquelas em que a pergunta se


repete em diferentes questionários, para evitar que o respondente pudesse

interpretar de maneira distinta duas questões sobre o mesmo tema. Além disso, há o
banco de dados com informações sobre o público carioca e paulistano,
principalmente o primeiro, entre a década de 40 e 70, que soma várias dezenas de
questionários e centenas de perguntas.
Tomando emprestada a metodologia utilizada inicialmente por Page e
Shapiro e a partir do banco de dados montado com informações disponíveis sobre
opinião pública brasileira, tem-se como meta identificar se as opiniões agregadas do
brasileiro sobre temas públicos se mantêm ao longo do tempo, se variam de maneira

consistente ou se oscilam aleatoriamente. Para a realização deste trabalho, é


preciso considerar a existência de duas dimensões da opinião pública que se
28

complementam. Há um estado de opinião latente (também chamado de primário ou


aquele que se mantém), apresentando uma diversificação ao nível individual e

oferecendo uma continuidade temporal a um esquema de referências em relação a


determinado assunto público. Isso seria o equivalente a uma opinião estática ou
permanente. Quando muda, normalmente o faz de maneira gradual. Além da opinião
primária, existe a opinião dinâmica que corresponde ao aparecimento de uma
tomada de posição pública frente a determinado problema, em um momento
qualquer, a partir de novas informações, também chamada de corrente de opinião

ou opinião secundária6.
Em seu livro, os autores Page e Shapiro usam como exemplo, para mostrar
a diferença entre opinião primária e secundária do norte-americano, o conjunto de

resultados de pesquisas feitas durante duas décadas (anos 70 e 80) a respeito do


número de mísseis nucleares (MX) que o país deveria produzir. Cada pesquisa mostra
um número médio de mísseis como ideal, influenciado pelo debate conjuntural.
Porém, a reunião dos dados coletados ao longo do tempo permitiu identificar a
opinião primária do norte-americano sobre esse tema (1992 p.20-21), ou seja, eles

constróem a opinião primária a partir do agregado de tendências apresentadas pelas


correntes de opinião a cada momento.
Vale ressaltar que, apesar de ainda não ter alcançado o status de objeto
direto nas pesquisas da ciência política brasileira, a análise da opinião pública pela
literatura internacional indica atualmente a existência de uma elaboração conceitual,

embora controversa, bastante avançada. Não é objetivo deste trabalho abordar


questões como origem e estrutura do conceito, mas identificar a consistência ou não

da opinião pública ao longo do tempo, visto que é neste ponto que se encontra o
foco do debate na Ciência Política sobre a viabilidade ou não de se considerar a

opinião pública no processo de decisões políticas.

6A seguir chama-se Opinião Latente de Opinião Primária e Corrente de Opinião de Opinião Secundária.
29

O texto está dividido em duas partes, cada uma delas contendo três capítulos.
O primeiro capítulo apresenta uma discussão sobre os avanços da teoria democrática

no que diz respeito à ampliação dos atores que participam da democracia. Partindo-se
de um tratamento circunscrito de democracia – relacionada às instituições políticas e
aos atores que atuam diretamente nessas instituições –, os teóricos passam a
ampliar gradativamente essa esfera, na medida em que a sociedade como um todo
ganha o status de ator político relevante e nela são identificadas as "ferramentas" pelas
quais os indivíduos médios da sociedade se relacionam socialmente com os

integrantes das elites políticas, tal como os meios de comunicação. Chega-se, então, ao
tipo de sociedade a que essa democracia está vinculada, se de massas ou de público,

conforme mencionam Przeworski (1996), Schumpeter (1975), Rueschemeyer (1992)


Sartori (1997, 2001), Moisés (1995) O'Donnell (1974 e 1999), Mainwaring (2001),
Kelsen (1945), Halebsky (1978), Buchanan (1982), Downs (1999), Dahl (1997),
Miguel (2000) entre outros.
A seguir apresenta-se o debate realizado entre sociólogos, cientistas políticos
e comunicólogos sobre a participação dos meios de comunicação para a conformação

da sociedade moderna e dos ambientes políticos contemporâneos. Começa-se com o


conceito de sociedade de massa, pois a ela está diretamente relacionada a discussão
sobre se o cidadão médio, influenciado pelos meios de comunicação de massa das
sociedades atomizadas e complexas da atualidade, tem capacidade para tomar
decisões e formar opinião racionalmente. Aqui também é preciso considerar que a
construção da opinião pública é um processo coletivo e que, portanto, direta ou
indiretamente, as pessoas que fazem parte do público sofrem inferências de outros
indivíduos, principalmente daqueles que pertencem ao mesmo grupo ou são
portadores de características que os tornam exemplares, transformando-os em líderes
de opinião. Este debate tem início no século XIX, quando as teorias davam maior
importância para os meios de comunicação de massa na condução das vontades
dos indivíduos; em meados do século passado, quando o modelo passa a sofrer
30

críticas e revisões, para chegar no século XXI relativizando completamente os


efeitos dos meios de comunicação sobre os indivíduos na esfera pública e dando

mais importância para as relações entre os públicos – as chamadas mediações –,


como elemento fundamental para a formação de opinião. Passa-se, então, de uma
visão inicial de controle e manipulação da sociedade para, no máximo, uma
influência sobre aquilo que os integrantes da sociedade devem discutir e a partir do
que formar opinião. Um ponto que merece ser destacado aqui é o conceito de Esfera
Pública, traçado por Habermas, que posicionou distintamente as arenas do Estatal,

do Privado e do Público propriamente dito. Este último é o espaço que interessa


realmente como objeto deste trabalho. Para tanto, recorre-se a autores que tratam

da questão entre política, comunicação e sociedade, abordando, ainda que de


maneira indireta, a opinião pública nas organizações sociais contemporâneas.
Tratam, portanto, do assunto, Amaral (2000), Baquero (1995), Campbell (1964),
Champagne (1998), Figueiredo (2000), Lage (1998), Montoya (2004) Manin (1995)
Goldman (1971), Wolf (2003), Breton (2002), Lazarsfeld (1940), Zaller (1992),
Boudon (1994), Mannheim (1989), Thompson (1998), Hohlferldt (2001), Bourdieu

(2002), Blanco (1999), Martin-Barbero (2001), Almeida (1999), Habermas (1971,


1981, 2003), Rezende (2004) e Blumer (1971).
Seja como manipuladores ou simples organizadores indiciáticos a respeito da
realidade tangível pelo cidadão, os meios de comunicação de massa em sociedades
democráticas contemporâneas desempenham seu papel na formação e transformação
da opinião pública. Por esse motivo, o texto também aborda a presença da comunicação
de massa na democracia moderna que inclui sociedade de um lado, elites e
instituições políticas de outro, ainda que as teorias democráticas clássicas tenham
desconsiderado os meios de comunicação como atores relevantes para a explicação
da democracia. Antes de tratar da opinião pública em si, é preciso abordar a questão
metodológica de aferição dessa opinião, considerando o debate iniciado por
Bourdieu a respeito do tema nos anos 70. Nesse debate, o autor se posiciona
31

claramente a favor da tese de que se a opinião pública existe – e ele não nega isso
no texto, apesar do título – esta não pode ser realmente apreendida pelos atuais

instrumentos de coleta desses dados, que são os surveys.


No terceiro capítulo faz-se uma breve abordagem sobre a história do
conceito de opinião pública, os principais debatedores do tema ao longo dos séculos
até chegar ao século XX. Apresenta-se também a definição de opinião pública que
servirá de base para as análises empíricas. Trata-se de uma breve abordagem sobre
o debate conceitual por não haver ainda uma definição única do que seja opinião

pública, mesmo que o tema já venha sendo discutido pelos filósofos gregos, essa
definição vem sofrendo uma série de modificações ao longo dos séculos no que diz

respeito ao seu tratamento, passando de algo negativo e perigoso para a


democracia. Passa até por elemento fundamental das sociedades políticas, como é
o caso dos autores iluministas, chegando a tratamentos instrumentalistas em favor
da elite política, o que pode ser encontrado em Maquiavel. Por esse motivo, é
preciso delimitar sobre qual opinião pública o trabalho trata e quais são os
pressupostos necessários para transformar o conceito teórico em uma variável para

análises empíricas. Os principais autores que aparecem nesse debate histórico-


conceitual são Corrêa (1993), Figueiredo e Cervellini (1995), Howlett (2000), Lane e
Sears (1964), Locke (2002), Maquiavel (1997), Miller (2001), Page e Shapiro (1992)
Almeida (2002), Montoya (2004), Habermas (1981), Avritzer e Costa (2004), Fraser
(1998), Luhmann (2000), Almond e Powell (1996), Patterson (1997), Key (1968),
Davison (1968), Dader (1990).
Na segunda parte do trabalho, encontram-se as análises empíricas,
divididas em três capítulos, seguidos da conclusão. Todos os gráficos do trabalho
foram padronizados apresentando-se com amplitude de zero a cem no eixo da
variável "y", onde estão os percentuais de opinião sobre determinado tema e no eixo
"x" está o tempo percorrido em anos ou meses. Essa padronização da escala visa
32

facilitar a comparação visual entre diferentes curvas de opiniões plotadas em mais


de um gráfico.

O capítulo quatro trata da metodologia de análise empírica utilizada para


fazer os testes de regressão para séries temporais. O trabalho de Page e Shapiro é
todo baseado em análises visuais de séries temporais de opiniões plotadas em
gráficos, onde os limites superiores e inferiores de variação das curvas indicam a
estabilidade ou instabilidade das opiniões. Aqui, além da análise visual, aplica-se ao
banco de dados testes de auto-regressão temporal para verificar a consistência das

manutenções ou quantificar o grau de mudança, no caso de alterações significativas.


A auto-regressão também é usada para testar o grau de inferência de uma variável

externa no comportamento da curva ao longo do tempo. Essa metodologia de


análise é fartamente estudada nas ciências sociais, não apenas na forma de
análises de séries temporais, mas também como estudos de séries interrompidas,
estudos longitudinais e modelos de transferência ou de intervenção, principalmente
por Gottman (1984), Morettin (2004), Fava (2000), Menard (1991), McDowall et al
(1980), Ostram (1978), entre outros.

No quinto capítulo se apresentam os resultados das tendências de opinião


pública brasileira a respeito de temas políticos e social, principalmente entre os anos
de 1980 e 2005. Para algumas opiniões, a curva é ampliada até o início da década
de 60, quando há dados de surveys nacionais sobre a opinião pública. No entanto,
os dados existentes de pesquisas com amostras nacionais sobre temas públicos,
que se repetem ao longo do tempo, passam a existir de maneira sistemática apenas
a partir dos anos 80, acentuando-se a disponibilidade das informações a partir de
meados da década de 90, quando institutos de pesquisas começaram a replicar as
mesmas questões em pesquisas nacionais ao longo do tempo. Os temas políticos
tratados neste capítulo são principalmente estes: opinião sobre o governo federal,
em escala mensal e anual; opinião sobre as condições para se viver no país; tipo de
voto, se a preferência é por voto personalista ou partidário; ideologia política do
33

brasileiro; preferência por partido político; opinião sobre a democracia; opiniões


sobre desempenho e confiança nas principais instituições política brasileiras; opinião

sobre sistema de governo, se presidencialista ou parlamentarista. Os dados das


pesquisas de survey são descritos a partir de curvas que podem se mostrar estáveis,
com alterações consistentes ou randômicas, além da interação que existe entre elas.
O fato de uma opinião não se manter estável ao longo do tempo pode ser
explicado pelas mudanças geradas nos indivíduos médios em função do debate com
a elite ou por força das modificações internas que esse sujeito sofreu. Porém, a

mudança da opinião sobre determinado tema em direção oposta à opinião de outro


tema correlato não pode ser explicada racionalmente. Por exemplo, a indicação de

que ao longo do tempo houve um crescimento na opinião pública a favor do voto


personalista, ao mesmo tempo em que cresce a opinião de que os partidos políticos
são fundamentais em processos eleitorais. O que pode ser racionalmente explicado
é a não existência de relação entre voto personalista e preferência por partido. Para
tanto, são realizados testes de auto-regressão, correlacionando as curvas de opinião
com variáveis intervenientes para sustentar a hipótese de racionalidade nas

mudanças de opinião. Dentre os testes apresentados aqui estão aqueles a respeito


da opinião sobre o governo e a expectativa de crescimento de renda; a opinião
sobre crescimento da corrupção no País; taxa anual de inflação medida pela
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe); e das alterações da auto-
identificação ideológica com as opiniões sobre melhor sistema de governo.
Há também análises sobre temas públicos que não são relacionados
diretamente à esfera política, mas estão ligados à esfera social. Dentre elas
encontram-se a opinião sobre a pena de morte, a reforma agrária e o desemprego
como maior problema do País, entre outras. Os testes de auto-regressão com
variáveis intervenientes abordam a relação que existe entre opinião favorável e
opinião contrária à pena de morte – indicando não haver correlação entre as
tendências, por exemplo; relação entre opinião a respeito da reforma agrária e taxa
34

de urbanização do Brasil; opinião sobre desemprego ser maior problema do País e


taxa de desemprego medida pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

(Ipea). A hipótese inicial é a de que uma mudança na opinião racional precisa ser
explicada, ou seja, apresentar correlação significativa com uma variável interveniente
que esteja ligada a ela. Por exemplo, uma variável interveniente considerada para a
avaliação da opinião pública sobre o governo federal é a taxa de desemprego ao
longo do tempo. Em outro caso, o percentual de população urbana no Brasil é
utilizado como variável interveniente para explicar as mudanças nas curvas de

opinião favorável e contrária à reforma agrária. Os testes mostram que grande parte
das alterações de opinião pública brasileira pode ser explicada por mudanças nas

condições sociais a que os integrantes da esfera pública estão submetidos. Estas


alterações são motivadoras de novos padrões de valores, novas opiniões e até
mesmo novas crenças a curto e longo prazo. Ao todo, no capítulo cinco, são
analisadas curvas de opiniões a respeito de 25 temas e subtemas públicos (políticos
e sociais).
No capítulo seis, apresentam-se os resultados de análises empíricas para

os resultados de pesquisas de opinião pública produzidas entre as décadas de 40 e


70, nos municípios do Rio de Janeiro e São Paulo, pelo Ibope. A maior parte dos
dados disponíveis para a criação de séries históricas, ou seja, opiniões aferidas a
partir de perguntas que se repetem ao longo do tempo, diz respeito ao município do
Rio de Janeiro, que era a capital do Brasil no início do período analisado e sede do
instituto de pesquisas Ibope. Como nesse período não existiam pesquisas com
amostras nacionais no País, a disponibilidade dos dados sobre o que pensava o
carioca e o paulistano em meados do século XX pode ser um indicador indireto de
como pensava o brasileiro naquela época. Já a partir dos anos 80, enquanto as
pesquisas nacionais mostram o que pensa o indivíduo e como se mantém ou muda
a opinião atualmente. Os temas de que se tem informação sobre opinião pública
carioca até os anos 70 dizem respeito à mudança da capital para Brasília; opinião
35

sobre divórcio; tipo de voto, se no candidato ou no partido; avaliação do governo;


opinião sobre democracia; opinião sobre reforma agrária; opinião sobre intervenção

do Estado na economia e opinião sobre política externa.


As curvas das opiniões na década de 60, em sua maioria, mostram uma
estabilidade maior que a opinião pública brasileira a partir dos anos 80; porém, as
mudanças são altamente consistentes, indicando uma sociedade em período de
intensas transformações sociais, políticas e adaptações culturais. Prova disso é o
resultado da correlação entre a opinião favorável ao voto personalista e a

preferência por partido político no Rio de Janeiro entre 1949 e 1968. Essa correlação
se mostra altamente consistente ao longo do tempo – o que já não acontece para a

opinião pública brasileira das décadas seguintes. Ao todo, o capítulo analisa curvas
de opiniões sobre nove temas e subtemas avaliados pelo público da época. Ao final
do capítulo, são apresentadas as curvas comparativas de opiniões sobre os mesmos
temas para o público carioca e brasileiro dos dois períodos.
Em função da limitação de informações de perguntas de surveys que se
repetiram ao longo do tempo sobre o mesmo tema, nos capítulos cinco e seis é

adotado o intervalo de tempo anual para a montagem da maioria das curvas de


opinião. Em alguns casos não há dados disponíveis para todos os anos, mas quando a
lacuna não interfere de maneira significativa na análise da curva, as informações são
mantidas ou, então, através de técnicas estatísticas, as ausências são preenchidas
por valores médios que permitem a realização de testes inferenciais.
Para montar o banco de dados com resultados de pesquisas de opinião
pública deste trabalho, foram utilizadas respostas de questões relacionadas a temas
públicos que somam mais de mil e cem ocorrências, considerando os relatórios de
pesquisas, a divulgação dos resultados e os bancos de dados. Nem todas as
informações serão registradas no trabalho em função de que para vários temas a
questão não era reproduzida ao longo do tempo de maneira similar, o que impede a
comparação das opiniões do período analisado.
36

O mesmo número de questões, aproximadamente, é utilizado para montar


o banco de dados das seqüências históricas de temas de opinião pública do carioca

e paulistano entre as décadas de 40 e 70 –, pois o volume de pesquisas realizadas


no período pelo instituto Ibope foi maior. Existiam dois tipos principais de pesquisas.
Uma delas era a pesquisa produzida para ser publicada em um informativo semanal
do Ibope, chamado de "Boletim da Classe Dirigente". Isso representava mais de 30
pesquisas de opinião publicadas por ano, em média, durante o período analisado.
Esse boletim mostra os resultados das pesquisas de opinião, principalmente no Rio

de Janeiro. Além disso, existem as chamadas "Pesquisas Especiais", produzidas no


Rio de Janeiro e São Paulo com uma periodicidade maior que a semanal, mas que

reproduziam muitas questões aplicadas pelo "Boletim da Classe Dirigente" ao longo


do tempo. Todos os dados utilizados no texto encontram-se na lista de anexos, junto
com os respectivos resultados completos dos testes estatísticos, assim como a
indicação da fonte da pesquisa de opinião. Cada pesquisa utilizada para formar o
banco de dados foi codificada. Todos os gráficos da segunda parte do trabalho
possuem as indicações de que pesquisas estão sendo consideradas em cada teste.
37

PARTE I
38

CAPÍTULO 1

DEMOCRACIA, INSTITUIÇÕES E LIBERDADES INDIVIDUAIS

we need re-examine the schism between theory


and practice because it is at least as likely that the
ideal is wrong as it is that the reality is bad

(SCHATTSCHNEIDER, 1975, p.128).

Neste capítulo não se pretende apresentar o debate acadêmico sobre a

relação entre liberdades individuais, instituições de Estado e democracia de maneira


exaustiva, por não ser esse o foco dos objetivos a que se propõe este trabalho. Faz-
se aqui uma abordagem panorâmica sobre as mais influentes revisões da teoria da

democracia, privilegiando o aspecto societal e a importância da relação entre


representantes e representados nos regimes democráticos. O objetivo é demonstrar
que a distância entre a teoria prescritiva sobre democracia e a interpretação da

prática democrática é uma questão ainda a ser resolvida. Schattschneider (1975), há


três décadas, tecia críticas à falta de habilidade dos cientistas políticos em formular

boas definições para a democracia e, em conseqüência, à dificuldade de aproximar


a teoria da prática democrática – no caso específico da análise do autor, em relação

à democracia norte-americana da primeira metade do século XX.


A compreensão da democracia, tratada aqui como um conjunto de direitos

civis, políticos e sociais, ultrapassa a concepção de democracia apenas como


resultado de um arranjo institucional. Isso é, identificado principalmente pelo respeito
aos processos de escolha da representação, já que o conjunto de direitos da esfera
privada ajuda a reduzir a desigualdade na participação política.7 Esta desigualdade,
portanto, afeta negativamente as instituições democráticas formais.

7Há um problema envolvendo questões relacionadas a poder quando existe autonomia dos atores
para participar da esfera política de todas as formas aceitas no sistema democrático.
39

Um tipo específico de sociedade, a de massa, apresenta um sistema


democrático com especificidades que muitas vezes não poderiam ser identificadas

nas definições clássicas da democracia – o mesmo princípio vale para a democracia


de públicos. Na democracia de massas, o indivíduo participa de vários grupos
sociais, mas a lealdade a determinados grupos deixa de ser tão forte como antes,
passando a um enfraquecimento gradativo. Além disso, a idéia clássica de
identidade é substituída pelo individualismo. Surge daí uma tensão entre a dimensão
cívica (pública) e a dimensão civil (privada).

Apesar de vivemos em tempos de consenso sobre a irreversibilidade da


democracia como fato histórico, a democracia representativa, na qual o Brasil está

inserido, negligencia a participação do cidadão de maneira direta e contínua,


influenciando diretamente as instituições estatais. No caso do Brasil, trata-se de uma
espécie de desgoverno por dois motivos: por um lado, porque o regime democrático
brasileiro continua a adotar práticas oligárquicas; por outro, porque a memória
coletiva autoritária leva a uma democracia não consolidada com a manutenção do
clientelismo, personalismo e patrimonialismo.

Segundo Mainwaring (2001, p.225),

O clientelismo e o patrimonialismo exacerbam os problemas da legitimidade


democrática, pois se esta se origina na percepção de que o governo promove o
interesse público, o clientelismo atende a interesses particularistas.

Uma democracia institucionalizada formalmente depende de fortes instituições


que sejam capazes de suplantar as limitações da cultura política não democrática.

Porém, como a transição democrática nas instituições políticas brasileiras parece


não terminar, o interesse em relação à cultura política voltou a ganhar espaço como
elemento importante para a consolidação democrática (BAQUERO, 1995). De maneira

geral, a cultura política do cidadão comum brasileiro apresenta como característica


mais aparente a demonstração de desinteresse pela manutenção ou ampliação das
instituições democráticas realmente públicas, conforme o sentido dado por Habermas,
40

ou seja, desinteresse externo às instituições do Estado e também à sua esfera


privada. Isso pode indicar um desencanto pela política institucional. Na interpretação

de Thompson (1988, p.165), "a esfera pública é uma instância social claramente
situada entre a arena privada da família e o estatal ou governamental". Isto é, essa
instância intermediária é a sociedade, que não é nem o Estado nem a família.
Nessas condições, o voto é visto como o ponto máximo da participação
política efetiva, o que dificulta o surgimento, na esfera pública, de instituições que
garantam uma democracia participativa de fato com novas formas de participação e

que favoreçam uma renovação nas estratégias representativas que são apresentadas
pelos atores políticos, tais como a videopolítica8. "A expressão videopolítica envolve
somente um dos múltiplos aspectos do poder do vídeo: a sua incidência nos processos

políticos, e por meio dele uma radical transformação da maneira de "ser político" e
de "conduzir a política" (SARTORI, 2001, p.50). Como apresentada por Sartori, a
videopolítica permite uma ampliação dos debates através das repercussões geradas
pela mídia – não apenas a televisiva, mas, no caso brasileiro, principalmente pelo
grande impacto quantitativo que esse meio de comunicação apresenta –, além de

um fortalecimento da participação política por temas. Como se vê, é possível discutir


a questão da democracia e da participação do cidadão comum considerando-a muito
além das possibilidades previstas pelos arranjos institucionais do Estado e das elites
políticas, embora a teoria da democracia tenha demorado a descobrir isso.

1.1 TEORIAS DEMOCRÁTICAS COMPARADAS

Em sua origem, o termo democracia começou a ser cunhado como a


negação de elementos que eram considerados opostos a ela (KOSELLECK, 1999).

8Em uma citação de 1989 no Homo Videns, Sartori explica que entende a palavra vídeo como sendo
a superfície do televisor na qual aparecem as imagens. Essa também é a acepção etimológica do
termo, pois vídeo é uma derivação do latim videre, que quer dizer ver.
41

Para Guillermo O'Donnell, uma teoria adequada da democracia deveria especificar


as condições históricas do surgimento de várias situações concretas, ou seja,

deveria incluir uma sociologia política de orientação histórica. A questão é a de que


as definições sobre democracia têm sido qualificadas em grande medida por conta
da existência, nesses regimes, de elementos considerados "não democráticos". Por
isso, faz-se necessário um esclarecimento conceitual do termo democracia e um
tratamento de uma questão de ordem contextual da democracia, pois a maioria das
definições condensa as trajetórias históricas e situações específicas de um país ou

região. Ele9 sugere que as correntes sobre a democracia sejam revistas a partir de uma
perspectiva histórica, contextual e legal. O resultado das análises de democracias
específicas como base conceitual é uma definição minimalista, tal como propõem

vários teóricos.
A teoria da democracia começou com uma preocupação central com os
seus fundamentos. Com o avanço da pesquisa, o foco empírico da teoria voltou-se
para o sujeito, o eleitor individual e sua aglutinação em maiorias. Mas, quanto mais a
teoria segue esse caminho, mais fica evidente que a democracia não pode ser

explicada apenas como uma sociedade política monitorada pela vontade da maioria
(SARTORI, 1997). No fundo, a objeção à teoria da democracia liberal é insuficiente.

9 O'donnell publicou um artigo na coletânea Crise e Mudança Social (Mendes, 1974), no


qual critica as tendências da época em relacionar diretamente o desenvolvimento econômico ao
fortalecimento da democracia. Entre as principais críticas está o fato das medidas não serem
congruentes, pois a democracia não se desenvolve eqüitativamente em função do avanço dos
indicadores macroeconômicos de um país (O'donnell, 1974).
42

Em retrospectiva, podemos ver agora que a insuficiência da teoria anterior a


Schumpeter é compensada por um excesso de prescrição relativamente à
descrição: sempre que a teoria fica sem respostas, recorre a um dever ser.
Isso acontece porque ela não entende o papel representado pelos
mecanismos do sistema, pelo fato de seus operadores serem obrigados a
competir frente a frente com o mercado consumidor (O'DONNELL, 1997).

Os comentadores de Schumpeter identificam nele um dos principais teóricos


minimalistas da democracia. Após dizer que a democracia é um método político, um
certo tipo de arranjo institucional para chegar a decisões políticas, legislativas e
administrativas, Joseph Schumpeter (1975) apresenta a definição do método democrático

como sendo "o arranjo institucional para chegar a decisões políticas pelas quais os
indivíduos adquirem o poder de decidir mediante uma competição pelo voto popular"
(SCHUMPETER, 1975, p.242). Até aqui, além de minimalista, trata-se de uma definição

pragmática de democracia. Porém, ele segue adiante, esclarecendo que o tipo de


competição pela liderança que define a democracia depende da livre competição por
votos livres, entendendo que, para isso acontecer, é preciso que sejam cumpridas
algumas condições que vão além do processo eleitoral. Diz que "Isto exige na
maioria dos casos, embora nem sempre, um grau considerável de liberdade de

expressão para todos. Em especial, normalmente pressupõe uma grande liberdade


de imprensa" (p.271). Sendo assim, para que a democracia exista, é preciso que

também estejam presentes algumas liberdades básicas relacionadas com os princípios


morais da comunidade, principalmente liberdade para circulação de informações e
conseqüentes opiniões. Quando John Rawls, tratando do liberalismo político, define,

portanto, a razão pública como uma característica central da sociedade democrática,


ou seja, "como uma sociedade efetivamente regulada pela concepção política de

justiça e cujos membros aceitam como tal" (RAWLS, 1993, p.35), ele aborda o que
considera uma questão fundamental para a democracia – justiça –, mas não deixa de
lembrar que além de ser justa, os integrantes da sociedade precisam aceitá-la como
tal, o que só pode acontecer a partir da circulação de informações e debate de opiniões.
43

Voltando a Schumpeter fica claro que ele não tem como objetivo tratar de
um acontecimento isolado e único, tal como eleger um governo, mas de um regime

composto por relações políticas que se prolongam ao longo do tempo. Quando


apresenta as condições necessárias para o êxito da democracia, além das
comumente conhecidas, Schumpeter cita também o caráter nacional e "o fato de que
todos os interesses que têm importância sejam praticamente unânimes não só na
sua lealdade com o país, mas também com os princípios estruturais da sociedade
existente" (SCHUMPETER, 1975, p.296). O objetivo aqui não é tentar transformar
Schumpeter em um autor não elitista da democracia, mas mostrar que elitismo é diferente
de minimalismo, indicando que é possível entender a definição Schumpeteriana da
democracia não minimalista e não centrada no processo eleitoral, como na maioria

de seus comentadores.
Uma definição minimalista é a de Adam Przeworski ao afirmar que
democracia "é um regime no qual os cargos governamentais são preenchidos em
conseqüência da disputa de eleições. Um regime só é democrático quando a

oposição pode concorrer, ganhar e assumir os cargos que disputou" (PRZEWORSKI,


1996, p.42). Outras definições minimalistas da democracia podem ser encontradas
em Samuel Huntington (1991), Giuseppe Di Palma (1990) ou em Kelsen (1945), para
quem um sistema democrático moderno é, em grande parte, no seu funcionamento

real, um sistema de partidos.

A democracia moderna baseia-se inteiramente em partidos políticos; quanto


maior a aplicação do princípio democrático, tanto mais importantes os
partidos. Os partidos também são formados como associações voluntárias e
são, de fato, sua expressão política típica nas sociedades políticas
democráticas de larga escala. De acordo com esse ponto de vista, os
partidos são o tipo de organismo político que mais se parecem, ou mais
devem se parecer, com o protótipo de toda democracia política autêntica"
(KELSEN, 1945 citado por O'DONNELL, 1999).

Contrariando a definição anterior, Giovanni Sartori (1987) preocupa-se


principalmente com o sistema de governo majoritário limitado pelos direitos da
44

minoria, acrescentando que, "para haver democracia, é preciso que exista uma
opinião pública autônoma e estruturação policêntrica da mídia". (SARTORI, 1997,
p.110). Por isso ele deixa claro o distanciamento desse autor com a conceituação

minimalista de democracia. Partindo de perspectivas teóricas distintas, Dietrich


Rueschemeyer afirma que democracia

Implica, primeiro, a eleição regular, livre e isenta de representantes pelo


sufrágio universal e igualitário; segundo, a responsabilidade do aparelho de
Estado perante o Parlamento eleito, e, terceiro, as liberdades de expressão
e de associação, bem como a proteção dos direitos individuais contra a
ação arbitrária do Estado (RUESCHEMEYER, 1992, p.43).

Percebe-se que para além de uma definição centrada nas instituições, o


conceito de democracia ganha também o espaço da sociedade, indicando a

necessidade da existência de formas para organização e expressão das opiniões


dos cidadãos democráticos que muitas vezes participam apenas episodicamente das
deliberações institucionalizadas do regime. Partindo das conceituações minimalistas,
podemos, então, avançar para a suposição, ainda que de maneira implícita, de
algumas liberdades simultâneas, ampliando-a.
Porém, apesar do avanço de todas as definições que incorporam a

sociedade na concepção de uma democracia, não há uma clareza sobre como essa
sociedade e o Estado se interligam para garantir o bom funcionamento da democracia.

Isso se deve ao fato de que a maioria das teorias clássicas sobre a democracia
desconsidera a existência e a participação da mídia na manutenção do funcionamento
das democracias. No texto, "Um ponto cego nas teorias da democracia: os meios de
comunicação", Luis Felipe Miguel mostra como as principais teorias da democracia
relegam a um segundo plano a participação dos meios de comunicação nesse
processo, o que leva a dois problemas para a ciência social moderna. Por um lado, a

teoria política dá pouca atenção à importância real da mídia nas sociedades


modernas. Por outro, há um exagero por parte das Teorias da Comunicação que
superestimam o poder dos meios de comunicação, considerando-as entidades
45

capazes de manipular as ações humanas, transformando em secundários todos os


demais fatores sociais intervenientes. Sendo assim, "ao mesmo tempo em que falta um

modelo teórico de mídia na ciência política, o que faz com que os politólogos tendam
a ignorá-la, há um exagero sobre os efeitos da mídia por parte dos comunicólogos"
(MIGUEL, 2000a). Na mesma direção, Ancizar Narváes Montoya lembra que

a maioria das avaliações dos sociólogos sobre os meios de comunicação


são ingênuas, visto que há um conjunto de saberes especializados que
corresponde ao comunicólogo [...] da mesma forma como a maioria das
afirmações dos comunicólogos sobre a política e sua relação com os meios
de comunicação são superficiais, pois há também um conjunto de saberes
sociológicos que o analista da comunicação desconsidera na hora de
avaliar o papel dos meios (MONTOYA, 2004, p. 7).

Ambas posições, tanto a dos cientistas sociais quanto a dos comunicólogos,


geram uma tensão entre a lógica da política e a da mídia. Enquanto na política
existe um conceito hegemônico de que a democracia depende de eleições, presente
desde Schumpetter nas sociedades contemporâneas, o homem tem cada vez
menos preferências políticas preestabelecidas e permanentes como princípio das
escolhas políticas. Isso porque, desde meados do século XIX, o cidadão político tem
tido acesso mais rápido às informações que vão além de suas capacidades físicas
de percepção. Esta questão acaba tendo um peso importante nas escolhas a serem
feitas, porque a partir de então elas estão sujeitas a reformulações. Isso não significa
necessariamente que a democracia real esteja sendo substituída pelo espetáculo
midiático. Para Miguel (2000a, p. 66), "ao ampliar o acesso ao número de
informações, a mídia amplia a realidade, mas não a substitui". A mesma idéia é
transmitida por Manin, quando analisa as modificações nos sistemas de governo
democráticos representativos. Ele diz que

Cada vez mais os eleitores tendem a votar em uma pessoa e não em um


partido. Esse fenômeno assinala um agastamento do que se considerava
como comportamento normal dos eleitores em uma democracia
representativa, sugerindo uma crise de representação política. Na realidade,
a predominância das legendas partidárias na determinação do voto é
característica apenas de um tipo específico de representação: a democracia
de partido" (MANIN, 1995, p.25).
46

O fato dos eleitores ficarem "livres" das tradicionais ligações partidárias


para decidir o voto10 nas democracias modernas é uma conseqüência da ampliação
dos canais de acesso à informação política através da mídia desvinculada de

ideologias partidárias, o que permite o alargamento da realidade citado por Miguel,


mas de maneira alguma a sua substituição. Em outro texto, Miguel lembra que

escrevendo ainda nos anos 20 [do século passado], os sociólogos


estadunidenses, Helen e Robert Lynd, creditavam o declínio da participação
eleitoral à incapacidade da política para rivalizar com formas emergentes de
entretenimento como o cinema, rádio e competições esportivas" (MIGUEL,
2000a, p.72).

E o próprio autor responde que

Formulada dessa maneira, parece uma asserção um tanto simplista e


precipitada [...] Os meios de comunicação modificaram a percepção da
realidade política, a rigor, a percepção de toda a realidade, porém a mídia
transmite sua perspectiva da política não apenas nos espaços ostensivos
dedicados a ela, mas também na programação de entretenimento, seja
conformando uma visão geral sobre o que é ou deve ser a política, seja
apresentando posições menos ou mais cifradas sobre as questões políticas
em pauta no momento (MIGUEL, 2000a, p.73).

Em outro texto, falando especificamente dos efeitos da política midiatizada


para as eleições, Miguel lembra que

em uma campanha eletrônica do tipo presidencial brasileira, o discurso


político pela TV e pelo rádio atinge todos os públicos, sem discriminação, e
surge um paradoxo: cria-se a impressão de se dirigir a cada expectador
individualmente, quando na verdade transforma todos em multidão
(MIGUEL, 2000b, p.76).

Além da abordagem incompleta ou ingênua que os cientistas sociais fazem da


influência dos meios de comunicação na política e, por conseqüência, da democracia,

10As três principais correntes norte-americanas sobre decisão do voto consideram apenas marginalmente,
e nem sempre, o efeito da recepção de informações sociais para o processo de escolha de candidatos,
tratando dos processos de relação interpessoal na Teoria Psicossocial e do déficit informacional nos
estudos sobre Escolha Racional. Uma abordagem completa sobre os principais pressupostos dessas
teorias pode ser encontrada em "A decisão do voto", de Marcus Figueiredo (1991).
47

um erro comum nas análises feitas pelos comunicólogos sobre os efeitos dos meios
de comunicação na política é a supervalorização da mídia pela crença no fato de

que uma vez difundida, determinada mensagem cumprirá automaticamente o fim


para o qual foi criado – o que na maioria das vezes apresenta um cunho
manipulatório e de controle da sociedade por parte da elite produtora de mensagens.
Diz Goldman que,

quando se trata de fatos humanos, as estruturas conscientes [da elite]


exigem a transmissão de certas mensagens, a deformação de outras e
impede a elaboração e transmissão de uma série de mensagens que
entram em conflito com a realização de seus fins (GOLDMAN, 1971, p.398).

Da mesma forma, Edgar Morin, um dos principais autores da Escola Culturológica


Francesa, afirma o seguinte:

Trata-se de um diálogo entre desiguais, a produção prodigaliza contos,


histórias, exprime-se usando uma linguagem. O expectador responde
apenas com reações pavlovianas, com sim ou não, que decretam o sucesso
ou insucesso (MORIN, 1962, citado por WOLF, 2003, p.97).

Na verdade, nas pesquisas empíricas da área de comunicação social


constatou-se, já nos anos 60, que os conteúdos transmitidos não são apenas
absorvidos pelos indivíduos. Eles passam por um processo interpretativo com base
na experiência cotidiana de cada um antes da conclusão e interpretação final. Isso
é demonstrado por Bretton, quando cita o “achado” de J. T. Klapper em 1960:

a comunicação de massa não tinha uma eficácia necessária e suficiente


para conduzir a mudança de atitudes dos receptores; a comunicação de
massa agia apenas no interior de uma complexa rede de canais possíveis
de influência (BRETON, 2002, p.145).

Os resultados a que chegou Klapper mostram que justamente essa


capacidade autônoma de interpretação das mensagens faz com que os indivíduos
continuem independentes no que diz respeito à formação de suas preferências em
democracias midiatizadas.
48

Além de depender de uma interpretação dos receptores, outro fator


desconsiderado pelas teorias sociais em relação aos meios de comunicação é o de

que as mensagens não atingem todos os indivíduos ao mesmo tempo e na mesma


proporção. Grande parte das informações sobre política ou sociedade não chegam
às audiências diretamente; as emissões iniciais passam por vários níveis de
retransmissão e, por conseqüência, por diferentes filtros. Por exemplo, uma
liderança local recebe uma nova informação por um meio de comunicação; a
interpreta e retransmite a outros que repetirão o processo continuamente. De fato, o

poder da mídia nas democracias é menor do que se costuma estimar, pois ela não
controla as formas de propagação das mensagens entre integrantes das audiências

e que formam o contexto social. Em outras palavras, "os efeitos provocados pelos
meios de comunicação dependem das forças sociais que prevalecem num determinado
período" (LAZARSFELD, 1940, p.330).11 O processo de comunicação é unidirecional
apenas em seu primeiro momento, quando as mensagens partem de um emissor para
um número significativo de receptores; porém, não a sua totalidade. Esses primeiros
receptores, os formadores de opinião, vão interpretar os conteúdos das mensagens

políticas e retransmiti-los a um conjunto maior de receptores e assim sucessivamente.

Os líderes de opinião constituem um setor da população – transversal


quanto à estratificação política e mais decidido nos processos de formação
das opiniões e do voto [...] eles representam parte da opinião pública que
tenta influenciar o resto do eleitorado e que mostra uma reação e uma
resposta mais atenta aos eventos da campanha presidencial
(LAZARSFELD-BERELSON-GAUDET, citado por BRETON, 2002, p.38).

11Em 1944, Lazarsfeld e outros dois autores (Berelson e Gaudet) concluíram um estudo sobre os
motivos e a modalidade com que se formaram as opiniões políticas durante a campanha presidencial
de 1940, na comunidade de Erie County no Estado de Ohio. A pesquisa foi publicada com o nome
"The People's Choice. How the Voter Makes up his Mind in a Presidential Campaign". Esse trabalho é
importante porque é a primeira vez que aparece a figura do "líder de opinião" e o fluxo de
comunicação em dois níveis, reduzindo o impacto das intencionalidades dos produtores das
mensagens nos receptores finais.
49

Nesse contexto, a mídia é o espaço onde uma versão da realidade, que


pode ser a realidade política, passa a ser ampliada. Isso tem um impacto

significativo para a democracia, pois na mídia alguns temas são "iluminados",


enquanto outros, não abordados, perdem espaço na arena pública. A informação e
sensibilização dos homens, que geram as possibilidades de mudança nas
preferências, dependem do grau de proximidade das mensagens com a realidade
dos receptores mais interessados nos temas – os líderes de opinião. Quanto mais
distantes ou estranhos forem os conteúdos, menor a capacidade de modelar a

consciência dos indivíduos que entram em contato com as mensagens, seja direta
ou indiretamente, no segundo estágio da comunicação.

Como principal potencializador do espaço público, em conseqüência da


democracia, a mídia deveria receber a devida atenção dos cientistas sociais por
apresentar algumas limitações na capacidade de ampliação e manutenção desse
espaço. O primeiro deles, citado por Miguel, é o de que normalmente os mais
necessitados de espaços públicos para apresentação de demandas apresentam
também menor capacidade de acesso à mídia, já que os meios de comunicação

geralmente tendem a atender as expectativas de indivíduos melhor posicionados na


sociedade, gerando uma tendência de redução das diferentes "vozes" na mídia em
sistemas de comunicação comercial (MIGUEL, 2000). Essa questão tem impacto
direto para a teoria da democracia, pois quanto menores a diversidade e a qualidade
das representações políticas, piores as condições para funcionamento de um

sistema democrático.
Algumas definições pretensamente realistas da democracia apresentam
características que não podem ser encontradas empiricamente. Uma delas é a afirmação
de que o povo governa (SARTORI, 1987), embora não seja isso que aconteça nas
democracias contemporâneas, independente da interpretação que se dê à palavra
governo, que leve a atividade deliberada de um agente. Outro exemplo é o de
Philippe Schmitter e Terry Lynn Karl (1993, citado por O'DONNEL, 1999), quando afirmam
50

que "a democracia política moderna é um sistema de governo em que os cidadãos


responsabilizam os governantes por seus atos na esfera pública, agindo indiretamente

por meio da competição e da cooperação dos seus representantes eleitos".


O problema está no termo "agindo indiretamente" que fica sem explicação. Por outro
lado, as definições realistas contrastam com as prescritivas que afirmam o que
deveria ser a democracia. Essas não tratam satisfatoriamente de dois problemas.
O primeiro é, já que o ponto de partida é como deveria ser a democracia, como
devem ser caracterizadas as democracias reais – se elas podem mesmo ser

consideradas democracias ou não. O segundo, como deve ser tratada, na teoria, a


lacuna existente entre as democracias definidas de forma realista e as definidas

prescritivamente – como no caso de Jürgen Habermas que, para legitimar a


democracia, considera fundamental a existência de uma esfera deliberativa livre de
impedimentos, o que é difícil de encontrar na prática. Habermas (1981, p. 43) diz
que

o elemento central do processo democrático são os procedimentos da


política deliberativa [...] e as únicas formas de ação válidas são aquelas com
as quais todas as pessoas por elas afetadas poderiam concordar como
partícipes de discursos racionais.12

Como se vê, a participação dos representados, principalmente através de


eleições, é um fator decisivo para explicar a democracia. Por esse motivo, até o
século XIX acreditava-se que a democracia só era possível em pequenos territórios.
Em sua obra, "Democracia na América", Tocquevile mostra que isso não é
verdadeiro, pois os sistemas democráticos podem funcionar em territórios

razoavelmente grandes, como o dos Estados Unidos da América. Ao contrário,


territórios pequenos são fracos e não têm segurança externa para garantir a

12Niklas Luhmann (2000) contrapõe-se a essa e a outras definições similares, afirmando que cada
conceito dessa definição é explicado minuciosamente por Habermas, exceto a palavra 'poderiam'.
Parece-me que a deliberação, o diálogo e o debate têm um lugar central na política democrática, o que
não quer dizer que uma esfera pública hipotética e idealizada deva ser um requisito para a democracia.
51

manutenção dos princípios democráticos (TOCQUEVILLE, 1998). Segundo ele, os


costumes são importantes para a democracia, em especial os costumes que dão

suporte ético e moral às ações dos indivíduos. "A prática do autogoverno, ligada
diretamente à possibilidade de emissão de opiniões, faz com que o cidadão prefira a
revolução democrática à revolução violenta" (TOCQUEVILLE, 1998, p. 262).
Tocqueville rompe com os pensadores do passado que se preocupam com a forma
institucional dos governos, substituindo pensar a forma de governo pela forma de
existência da sociedade, buscando, assim, o princípio da legitimidade democrática.

Nas definições realistas, além da presença relevante de eleições limpas,


competitivas e inclusivas, estão as condições de liberdade e garantias políticas
primárias, inclusive a de manifestação de opiniões, que são condições para a
existência de eleições aceitas por todos, indicando uma relação de causalidade.

Assim sendo, fica evidente que eleições competitivas não podem existir sozinhas.
Para Dahl (1997), as liberdades relevantes são as de expressão, informação e de

associação. Sem elas, ficaria difícil manter eleições limpas e competitivas por um
período longo, pois os governantes em determinado momento poderiam manipular

ou impedir a ocorrência de futuras eleições. Ao contrário dos atributos das eleições


competitivas, que são definidas a partir de conceitos teóricos, as liberdades políticas
resultam de uma avaliação empírica do impacto das últimas sobre as primeiras.
A questão, levantada por O'Donnel (1999), é a de que não há uma sólida linha de
demarcação entre as liberdades necessárias para a democracia e aquelas que são
dispensáveis ao funcionamento do sistema. Isso explica porque não existe um
acordo sobre quais liberdades políticas são relevantes, pois o temor em abrir uma

"caixa de pandora" pode fazer com que os autores da teoria democrática prefiram
definições minimalistas, com ênfase às eleições.

Além dos limites externos aos conceitos de liberdades políticas, elas também
apresentam limites internos que, quando ultrapassados, ao invés de servirem como
elemento constitutivo da democracia, podem prejudicá-la. Por exemplo, a liberdade
52

de associação não inclui organizações terroristas, assim como a liberdade de


expressão apresenta evidentes limites que, ao serem desrespeitados, levam às

queixas por calúnia ou difamação. Mas é importante perceber que isso não diminui a
relevância das liberdades como fatores cruciais para a existência de eleições
competitivas, pois a ausência de algumas dessas liberdades elimina a possibilidade
de um regime baseado em eleições limpas. Para O'Donnel (1999), uma definição
apropriada de democracia deve se concentrar em um regime que inclua um tipo
específico de eleições, mas não se limite a este, incluindo algumas liberdades relevantes.

O próprio autor considera essa definição como insuficiente, pois analiticamente


remete o ponto central do conceito à existência de eleições. Segundo ele, um regime

democrático consiste na atribuição legal dos direitos previstos na cidadania política,


ou seja, ao mesmo tempo liberdades simultâneas e o direito de participar de eleições
competitivas.
Segundo Tocqueville, por exemplo, o mais importante na análise de um
regime democrático é mostrar a participação dos costumes na manutenção de um
arranjo social, do qual se parte da sociedade para as instituições. Por isso, afirma que

Os homens em uma democracia têm prazer pela igualdade, que é maior que o
gosto pela liberdade [...] A liberdade é um valor político, mas os benefícios da
igualdade são encontrados todos os dias pelos cidadãos. Quando libertos, os
homens tendem a esquecer os benefícios dela. Já os benefícios da igualdade
são notados todos os dias (TOCQUEVILE, 1998, p. 371).

Entre os direitos políticos citados por Dahl (1989), estão a liberdade de

informação e seus correlatos, liberdade de opinião e expressão, presentes em todos


os espaços sociais. Porém, para ser efetiva, essa liberdade depende de dois fatores:
um contexto social pluralista e tolerante, além de um sistema legal que lhe dê
sustentação. Aqui volta o problema dos limites da liberdade. Esses limites não
são apenas os previstos legalmente, mas podem ocorrer também na prática, como
se em determinado caso fosse permitido um amplo debate sobre questões políticas,
porém com um pequeno número de temas a serem debatidos. Dessa forma, passará
53

a haver pouca participação na construção efetiva do regime democrático. Isso leva à


seguinte questão: as pessoas podem até possuir direitos políticos, mas esses são

muitas vezes mutilados, quando passam a ser inacessíveis. Ou seja, todos


desfrutam de uma cidadania civil, mas, intermitente. Deve-se considerar ainda que
muitas pessoas vivem em condições econômicas desfavoráveis, fazendo com que
todas suas preocupações se direcionem para questões de ordem privada. A falta de
oportunidades, recursos materiais, educação, tempo ou energia alia-se à pobreza legal
e forma a realidade de boa parcela da população das democracias contemporâneas.

A existência de direitos civis como constituintes do sistema democrático


não torna necessariamente a definição de democracia não elitista. Deve-se

considerar que o poder político é distribuído de maneira desigual, em parte por conta
dos fatores citados acima, embora isso gere uma elite que consiga controlar pontos-
chave do sistema. Porém, é fundamental distinguir, tanto em nível terminológico
quanto em conceitual, a estrutura de poder da estrutura da elite. Nem todos os
grupos de controle são, por definição ou por qualquer necessidade, "minorias de
elite"; podem ser apenas "minorias de poder" (SARTORI, 1997). Em relação ao
modelo de classe dominante, considera-se que os grupos de controle constituem,
em qualquer situação dada por uma consciência de grupo, coerência e conspiração;
além de que as minorias nem sempre podem ser concretamente localizadas. Para

Dahl (1997)13, a condição-teste para provar a existência de uma classe dirigente se dá


pela identificação de numa série de decisões controvertidas, na qual aparece um

13Dahl opta por usar a palavra democracia para o sistema ideal e poliarquia para se aproximar do
mundo real. Ele dá continuidade à tese da democracia competitiva de Schumpeter, com ênfase no
pluralismo. Semanticamente, poliarquia contrapõe-se a oligarquia. Portanto, o termo poliarquia diz
apenas que uma oligarquia está fragmentada, que se transformou numa constelação múltipla e difusa
de grupos, que no melhor dos casos será aberta. As democracias instituem o controle recíproco entre
líderes, porém, para Dahl, é fatal o surgimento do controle de líderes. Portanto, o importante para
restringir, controlar e influenciar os líderes é ter poder pleno e irrestrito de escolhê-los através de
eleições regulares e periódicas.
54

grupo que prevalece com regularidade nos processos decisórios. Nas palavras de
Sartori (1997, p. 165),

de acordo com todos os critérios testáveis concebidos até hoje, as


democracias são caracterizadas pela difusão do poder – na verdade, por
uma difusão tão grande que invalida o modelo da classe dirigente [...]
caracterizado pela multiplicidade de grupos de poder entrecruzados e
envolvidos em manobras de coalizão.

Para esse autor, fica claro que se trata de um erro procurar a democracia
nas estruturas e não nas interações: "querem descobri-la imobilizada dentro de alguma

coisa ao invés de procurá-la como uma dinâmica entre grupos e organizações"


(SARTORI, 1997, p. 167). Não se pretende reduzir a importância das estruturas, mas
a democracia precisa ser pensada como um subproduto do método competitivo de

renovação de lideranças, que se dá a partir do resultado das relações entre grupos


de indivíduos em constante interação.
A democracia em Dahl passa a ser um procedimento que gera uma poliarquia
aberta cuja competição no mercado eleitoral atribui poder ao povo e estabelece
responsividade dos líderes aos liderados. Dessa forma, a democratização dos grupos
dirigentes ocorre em duas direções: liberalização ou contestação pública e inclusão

e/ou participação (SARTORI, 1994). Aqui aparece novamente, ainda que de forma
implícita, a importância da participação dos liderados, através de deliberações no

espaço público para a formação da poliarquia. Sartori distingue essa participação ou


decisão do cidadão na democracia em quatro tipos: individual, grupal, coletiva e

coletivista, definindo-as da seguinte forma:

As decisões individuais são tomadas por cada indivíduo isoladamente [...] as


grupais implicam que as decisões sejam tomadas por um grupo concreto de
indivíduos que interagem face a face e participam de forma significativa na
tomada dessas decisões. As decisões coletivas em geral são consideradas
decisões tomadas por muitos [...]. As decisões coletivizadas são aquelas
que se aplicam a uma coletividade independentemente de serem tomadas
por uma pessoa, por algumas ou pela maioria. Pode-se dizer que as
decisões coletivas e coletivizadas compartilham a propriedade de não
serem, em qualquer sentido significativo, decisões individuais. Apesar disso,
55

as decisões coletivizadas são muito diferentes de todas as outras formas"


(SARTORI, 1994, p. 158).

Pode-se considerar decisões coletivizadas como políticas por serem soberanas


e sancionáveis. Uma diferença importante das decisões coletivizadas em relação às

demais é a de que estas sempre apresentam custos internos, para os próprios


tomadores da decisão, enquanto aquelas, por serem impessoais, envolvem apenas

riscos externos, ou seja, para quem recebe as decisões de fora do grupo, que podem
ser os representantes políticos. Sartori está mostrando que, para uma teoria da

democracia, é viável pensar em uma relação coletivizada, ou seja, impessoal, de


representados com seus representantes, em que os custos das decisões dos primeiros

recaem sobre os últimos. Daí a importância das elites considerarem as opiniões e


decisões expressas através de demandas coletivizadas em um regime democrático.

A democracia participativa, ainda que através de representantes, não pode ser


confundida com democracia ilimitada, o que a deixaria muito próximo do autoritarismo.
Essa definição de democracia leva ao fato de que as decisões governamentais que
afetam o conjunto da sociedade, e não apenas o Estado, são geradas por meio de
discussões públicas e tomada de decisões nas quais participam todos os integrantes
do conjunto social (de maneira efetiva ou potencial) nas mesmas condições.
Aparece aqui, como em Sartori e nos integrantes da poliarquia de Dahl, como traço
característico da democracia, a igualdade política entre as pessoas que têm direito

de se associarem à comunidade e queiram fazê-lo. Todos são iguais perante a lei,


cabe a cada pessoa, dependendo da sua vontade, exercer esse direito. Por isso, ao

mesmo tempo em que é franqueada a participação de todos os cidadãos no


processo de debate público, cabe ao Estado e seus agentes elencar algumas
questões públicas, às quais será dada atenção, através da criação de políticas
públicas que possam atender às demandas dos cidadãos. Quanto maior o número
de demandas legitimamente debatidas pelo público, mais diversificada deve ser a
capacidade do Estado em buscar atendê-las. O problema está no aumento do
56

número de atividades governamentais em que o cidadão pode participar, pois isso


gera dificuldade na forma de mediação da própria participação. Está evidente que o

Estado apresenta condições para atender apenas parte das demandas, fazendo com
que o cidadão fique com a impressão de que somente alguns segmentos da sociedade
são atendidos pelas políticas governamentais. Nas democracias contem-porâneas, os
segmentos atendidos são aqueles que normalmente estão mais próximos e,
portanto, melhor representados pelas maiorias legislativas.
Cabe ao cidadão, como alternativa, buscar o atendimento a suas demandas

na própria sociedade ou através da economia livre dos "constrangimentos" estatais.


Desde o século XVIII, pelo menos, já é conhecida a função política da economia de

mercado, porém a capacidade dos mercados livres em coordenar as atividades das


pessoas em uma ordem legal mínima e independente do controle governamental,
compreende uma sociedade livre de um lado e uma economia de mercado de outro.
Ambas poderiam oferecer um meio de controle dos poderes governamentais, o
que interessa à elite política e econômica, mas também ao cidadão comum que
faz parte da sociedade e não consegue ter acesso aos canais decisórios do

Estado (BUCHANAN, 1982).


A idéia de que a função política do mercado diminui o poder do Estado se
confunde com o objetivo liberal que busca minimizar a abrangência do Estado

absolutista ou aristocrático do século XVIII. Isso pode levar à conclusão de que um


Estado é suficientemente democrático quando apresenta eleições livres e aceitas

por todos (definição minimalista). No entanto, a existência de condições para a


competição em eleições livres, disputadas por partidos políticos, sujeitos à votação

pelo sufrágio universal, como demonstração final de democracia, pode levar a uma
condição de poder quase ilimitado para a ação das atividades governamentais, seja
no Executivo ou Legislativo. Na verdade, não é apenas através de eleições
periódicas que o cidadão democrático pode se manifestar, mas ele faz isso
57

cotidianamente ao debater, com outras pessoas, as questões públicas que formam a


sociedade em que vive e ao formar sua opinião sobre esses temas.14
No próximo item, trata-se mais especificamente da discussão sobre a

democracia que não pode ser caracterizada apenas pelos arranjos institucionais do
Estado, mas também pela forma como os integrantes da sociedade agem e se

relacionam com essas instituições.

1.2 DEMOCRACIA EM SOCIEDADES DE MASSA

Ao considerar a sociedade como um dos elementos fundantes da democracia,


suas características passam a importar para uma identificação mais precisa das

formas de relações existentes entre os cidadãos e o sistema político. Torna-se relevante


uma análise sistêmica da base estrutural da sociedade, tal como dos comportamentos
de subsistemas sociais, culturais e políticos para explicar a democracia. Como o

indivíduo percebe e interpreta as circunstâncias políticas e sociais também é importante,


pois dependendo da formação estrutural da sociedade democrática as relações
entre seus integrantes sofrerão mudanças. Por exemplo, a democracia descrita por
Tocquevile, de uma sociedade igualitária, ainda podendo ser identificada por grupos,
é distinta de uma democracia do século XX, em que a forma de constituição desta
está baseada na massa e não mais em grupos auto-identificáveis.

14O cientista político venezuelano Alfredo Ramos Jimenez aponta para uma característica específica
da democracia e dos processos de democratização em países latino-americanos no último quarto do
século XX: trata-se dos movimentos sociais de base, que no início dos processos de redemocratização
mostraram-se como uma alternativa viável de representação política em substituição aos partidos e
aos próprios meios de comunicação. Porém, com o tempo, as organizações de base mostraram-se
incapazes de organizar o debate e fomentar a participação do cidadão comum. Nas palavras de
Jimenez, o que se viu poucos anos após o início dos processos de redemocratização latino-
americana foi "redução da capacidade de negociação nos sindicatos, mínima participação nos
movimentos locais, feministas, de direitos humanos e no funcionamento das instituições estatais [...]
em muitos casos as reivindicações próprias dos movimentos sociais foram assumidas diretamente
pela classe política" (JIMENEZ, 1997, p.55).
58

Mas o que vem a ser uma sociedade de massas? A teoria política da


massa tem sua uma herança conceitual em estudos seminais de autores

conservadores do século XVIII e XIX – em sua imensa maioria "assustados" com as


mudanças que descreviam a respeito de seu tempo. Pensadores como Maistre,
Bonnald, Burke, Le Bon, entre outros, desenvolvem vários temas importantes para a
teoria das massas como uma crítica ao pensamento iluminista. Eles questionam o
racionalismo presumivelmente ingênuo do Iluminismo, a racionalidade atribuída ao
homem, bem como a afirmação de que o homem podia aplicar a razão em favor do

desenvolvimento de uma sociedade melhor. Bramson, citado por Halebsky, resume


os principais elementos desse pensamento conservador, como o seguinte:

É no contexto dos pequenos grupos (família, comunidade local, associações


profissionais, grupos religiosos) que os homens encontram o apoio
necessário à sua existência emocional. Abstrações, racionalidade, relações
impessoais não serão suficientes para manter unida a sociedade. Na
verdade, não é difícil ver, entre os conservadores de princípios do século
XIX, o início de uma teoria da sociedade de massa. Na opinião
conservadora, o enfraquecimento e o deslocamento dos laços tradicionais
resulta na criação de uma massa de átomos individuais alienados e
isolados, alvo fácil para o demagogo que oferece panacéias políticas para a
salvação desse mundo (HALEBSKY, 1978, p.38).

Dessa origem conceitual deriva toda sorte de desconfianças em relação à

capacidade do sujeito médio em tomar decisões que interessem a ele, sem ser
mobilizado por uma liderança "demagoga". Uma das principais correntes que
contribuíram para a teoria política das massas é a que se ocupou do caráter volátil
da comunidade na sociedade ocidental. Tönnies, Maine, Durkheim e outros mostram as
bases mutáveis da coesão social, declínio da comunidade, das relações interpessoais e
a perda de um sentido e finalidade do indivíduo dentro de uma comunidade já no
final do século XIX. Somada a ela, uma segunda tradição, representada principalmente
por Weber, colabora para a teoria de massa ao analisar a racionalização das estruturas
e padrões institucionais, ressaltando que a sociedade é instável em relação às estruturas
organizacionais, aos critérios de comportamento e funcionamento individual dentro
59

deles. Explícita ou implicitamente, esses autores reconhecem o declínio da comunidade


orgânica com laços íntimos gerais e tradicionalmente determinados pelas responsa-

bilidades e direitos, compreendendo a sociedade moderna como inserida em


crescentes processos com maior complexidade, diferenciadas e impessoais. Outro
autor, Georg Simmel, analisa a ênfase individualista da sociedade moderna, bem
como a ascensão da anonimidade e o desligamento emocional, aliado ao declínio da
intimidade e a maior ênfase na racionalidade, impessoalidade e objetividade das
relações entre os homens, com crescentes cálculos nas relações interpessoais,

mantidas principalmente pelo interesse racional e impessoal (HALEBSKY, 1978).


Sobre a natureza da sociedade de massa, Gustave Le Bon, no século XIX,
condenou violentamente a multidão "incontrolável e irracional" submetida a um

contágio de excitação que punha em risco as instituições tradicionais da sociedade.


Como diz Le Bon, "a multidão é útil apenas na destruição" (LE BON, 1999, p.53). Em
parte, trata-se de uma resposta conservadora ao crescimento dos movimentos de
trabalhadores, agitação radical, à Revolução Francesa e às idéias iluministas. O autor
defende que está nas multidões a origem de todas as transformações sociais, inclusive

as que têm aparentemente à sua frente um grande líder político. De fato, o que o
líder faz é apressar ou retardar as manifestações das vontades das massas, desde
que ele consiga percebê-las. E.V. Walter, citado por Halebsky (1978, p.62), explica que

Muitos autores usaram a idéia de degeneração temporária do complexo e


civilizado para o simples e primitivo para explicar os fenômenos do
comportamento da multidão [...] o termo massa podia referir-se a um estado
psíquico ou a uma condição social e tendia a ser identificado com o conceito
de multidão, emprestando um sentido pejorativo a expressões como
comportamento de massa, histeria de massa. Essa palavra só teve uso
favorável entre os socialistas, que dela se serviram, no plural, para referir-se
"a classe escolhida".

Dentre as principais características atribuídas à massa por esses teóricos

sociais estão a credulitude e a aceitação como realidade às imagens que lhe são
evocadas, os exageros, o extremismo, a intolerância, perda de racionalidade e sensatez
60

individuais na multidão. Sendo assim, a teoria política da massa está baseada em


proposições a respeito da mudança na sociedade ocidental, com alteração dos

valores e das expectativas políticas, com o aparecimento das populações de massa,


participação de maior proporção da sociedade nas instituições políticas e maior
acessibilidade das elites (HALEBSKY, 1978). Esses elementos explicam as fontes de
tensão política nas sociedades contemporâneas, que podem ser vistas como
facilitadoras da substituição da democracia por regimes totalitários; do declínio da
comunidade e da racionalização da sociedade, que dão origem às massas, podem ser

interpretadas como uma forma crescente de democratização com redução da


exclusividade elitista. De qualquer maneira, a ruptura e declínio das relações
intermediárias e o da comunidade tiveram sérias conseqüências para a sociedade
política e para a democracia. Com o enfraquecimento das relações interpessoais, as

instituições mais adaptadas para a transmissão de informações ao grande número


de indivíduos atomizados ganharam importância no sistema político. Assim, instituições

que tradicionalmente eram responsáveis pela satisfação das necessidades sociais e


psíquicas dos membros da sociedade, tais como família e religião, passaram a ser

substituídas por uma "invenção" da sociedade racionalizada e em pleno desenvolvimento


técnico: a mídia de massa. A comunicação política nas democracias de massa não
está restrita aos grupos intermediários e segmentados. Ela ganha, portanto, um novo
status e essa transformação resultará em mudanças profundas nas relações entre
representantes e representados na esfera da política.
O foco da discussão sobre massas e democracia é identificar o tipo de
relação que existe entre os líderes (elite) e a massa (liderados), pois será dessa

interação que se moldarão as condições para o funcionamento da sociedade. Como


e porque alguém aceita uma idéia em particular é um importante tema para as

ciências humanas que tratam das relações entre elite e massa. Na maioria dos
trabalhos sobre este assunto, as conclusões dos autores formam pelo menos um de
três modelos gerais que explicam a adesão a determinadas idéias. A primeira
61

explicação é a de que existem razões para que uma pessoa acredite em um enunciado
qualquer, tal como "dois e dois são quatro". Karl Mannheim (1989) fez uma distinção

entre as crenças15 da área sociológica e aquelas de outras áreas. As crenças religiosas


só podem ser explicadas se for considerado o contexto social em que elas surgem.
Por outro lado, não há necessidade da inclusão de fatores sociais para explicar
porque as pessoas acreditam que dois e dois são quatro. Segundo o autor, basta
indicar a existência de razões objetivas para endossar essa afirmação.
Para Raymond Boudon (1994), existem basicamente duas causas de

crenças. A primeira está baseada em razões que as pessoas usam para dar força à
veracidade de determinada afirmação que levará à crença dessa declaração. A outra

não tem como causa a razão que pode ser gerada por conhecimento, desejo ou
afeição. A forma mais natural é o conhecimento, pois se sabe que não se deve acreditar

em qualquer coisa a não ser naquelas que forem demonstradas verdadeiras. Porém,
a mais comum é o desejo, pois as pessoas quase sempre são induzidas a acreditar
não em provas, mas em fatores atrativos. O importante a notar é que existe uma
relação entre a crença por conhecimento e por desejo, por exemplo, as pessoas

dizem acreditar no amor (o que seria, per si, uma crença por desejo) sempre que
elas sabem que há algum merecimento por esse amor (conhecimento). Boudon
divide as crenças geradas por dois tipos de causas: aquelas causadas pela razão e, as
outras, por fatores não racionais, ainda que indiretamente elas estejam relacionados
à razão. Na segunda, há uma divisão entre causas não racionais afetivas, tais como
o desejo, que também serve para explicar crenças dúbias ou fracas; e as causas
não afetivas, que não estão ligadas a nenhuma racionalidade nem à paixão. O caso

15Neste trabalho, a distinção entre crença e opinião se faz necessária em função da literatura tratar a
crença como um tipo de interpretação da realidade que não tem correspondência direta com
processos racionais, enquanto a opinião requer um processo cognitivo, de busca de crenças
anteriores, que irá conformar uma posição social com justificativa materializada em processos
cognitivos. É verdade que todos os tipos de crenças têm alguma relação, ainda que indireta, com
processos racionalizantes.
62

mais comum, citado por Boudon, é a mentalidade primitiva, que leva a crer em
coisas por uma lógica específica, não estando relacionada à nossa racionalidade,

mas também não sendo movida por paixão. Está relacionada a uma estruturação
social e cultural específica. O tipo de crença primitiva não pode ser explicado apenas
pelas paixões, tradição ou falta de afetividade, pois elas não são acessíveis pela
observação direta.
Boudon (1994), por sua vez, considera que todas as crenças fracas, falsas
ou desacreditadas podem ser explicadas pelas relações que elas apresentam com

características de tipo afetivas. Aqui, é preciso considerar que muitas vezes a


manutenção de normas milenares e desejos de ser bem sucedido podem levar os

indivíduos a acreditarem em coisas que não lhes trazem nenhum benefício direto.
A melhor explicação para crenças estranhas está nas causas destas e não na razão
em si. O autor cita como exemplo que, ao ter muitos filhos, um camponês indiano
colabora para a pobreza geral do país, mas os efeitos positivos para sua família,
gerados pelo maior número de pessoas para trabalhar é maior que a pobreza da Índia,
transformando uma razão aparentemente ligada à tradição em razão estritamente

racional (BOUDON, 1994, p.9). Quando se olha apenas para as razões mais
imediatas e aparentes, todas as explicações sobre crenças estranhas tendem a ser
consideradas de segundo tipo (afetiva ou primitiva), o que é quase uma definição não

racional, ou seja, o produto de fatores acima das razões, em grande parte por conta
da tendência sociocentristas das análises.

Todos os procedimentos de transformação das informações recebidas


sobre a política em crenças políticas acontecem no nível individual, porém sob

influência dos difusores de informações políticas, principalmente aqueles que fazem


parte da elite política. Autores de outras correntes teóricas, ao analisarem o tema,
não culpabilizaram a massa pela sua suposta "voracidade" social, mas procuram
encontrar na elite que emite as informações à massa com a finalidade de dirigi-la
uma explicação para esse novo tipo de comportamento social. Segundo John Zaller,
63

no texto "The Nature and Origins of Mass Opinion" a importância em se analisar as


opiniões da elite política, deve-se ao fato de que a elite não transmite informações

neutras. Pelo contrário, as informações sobre política que chegam às massas são
carregadas de estereótipos que visam reforçar a visão que a elite tem a respeito de
determinados temas. Sendo assim, as opiniões políticas das pessoas passam a ser
formadas a partir de um processo de correlação entre as informações recebidas e as
predisposições existentes. Isso demonstra que o cidadão comum não está
totalmente livre para formar suas opiniões, visto que as informações que ele recebe

não são neutras (ZALLER, 1992). Se considerarmos ainda que as predisposições


individuais no presente são opiniões do passado que se cristalizaram na personalidade
das pessoas, sejam elas integrantes da elite ou da massa, o cidadão comum

continua sofrendo influência da visão de mundo transmitida pela elite política,


inclusive na forma como molda suas crenças e opiniões.
Para Zaller, os debates públicos, transmitidos principalmente pela mídia,
apresentam informações e opiniões misturadas que ajudam a moldar crenças na
massa, encobertas por uma aparente racionalidade, a partir da recepção de novas

informações. São esses debates que servem como matriz para a formação da opinião
pública. Aceitando a existência da influência da elite política na opinião do cidadão

comum e o fato de que as informações transmitidas pela elite são difundidas


principalmente pelos meios de comunicação, que por sua vez misturam opinião e
informação, a mídia passa a ser um referencial para a identificação das opiniões
predominantes nos indivíduos, servindo para a identificação inicial das origens das
opiniões predominantes nas pessoas. A mídia, por assim dizer, atua como indicador

agregado das opiniões majoritárias na sociedade (ZALLER, 1992, p.41). Uma confusão
presente na literatura e que aparece em Zaller é a tentativa de transformar um dado
agregado de origem da opinião em um indicador individual já construído, o que
padronizaria o efeito médio que o processo de difusão das informações tem no
espaço público – mais uma vez aparece a opinião publicada como sendo opinião
64

pública. Seria o mesmo que transformar a influência da elite sobre as massas em


determinação ou controle absoluto da primeira sobre a segunda, o que pesquisas

empíricas produzidas desde meados do século XX têm demonstrando não ser


verdadeiro. Não é possível desagregar o efeito de determinada mensagem na Opinião
Pública, porque existem variações de influência das informações e opiniões nos
indivíduos. Nas palavras de Zaller (1992 p.16),

A difusão de informações da elite para a massa varia de acordo com a atenção que as
pessoas dão às mensagens, ao nível de exposição às informações, a uma reação mais ou
menos crítica dessas informações e até mesmo em função da influência de outras
informações salientes no processo de transformação de informações em opinião pública.

A influência crescente da mídia de massa, desde o início do século XX,


ocorreu simultaneamente à transformação de opiniões consistentes ao longo do tempo
em opiniões cada vez mais voláteis e passíveis de transformações. Os constrangimentos
que eram duradouros, quando relacionados a grupos como religião, família, ambiente
de trabalho e classe social, abrem espaço para uma mutabilidade constante, o que

demonstra um enfraquecimento dos constrangimentos tradicionais. A mídia tem


influência nesse processo, pois ela individualiza e atomiza a recepção das informações.

As pessoas não mais se informam concomitantemente com os demais integrantes


de seus grupos primários. Elas têm uma relação direta e constante com os meios de

comunicação, o que as tornam mais independentes em relação a outros indivíduos


de seus grupos primários no processo de formação de opiniões. Evidente que nem

todos os indivíduos demonstram ter o mesmo grau de interesse nas informações e


opiniões políticas transmitidas pelos meios de comunicação.

Como a atenção da recepção é variada, existem também distintos níveis


de influência sobre a opinião pública. Ao abrir mão de dar atenção às mensagens

políticas, um indivíduo pode conscientemente ou nas palavras de Downs (1999),


"racionalmente", optar por não investir tempo na avaliação desse tipo de mensagem
e recorrer a outras pessoas de seu grupo primário para formar suas próprias opiniões.
Nesse caso, a influência direta dos meios de comunicação na opinião individual
65

diminui, pois as informações e opiniões transmitidas a seus receptores foram avaliadas


e transformadas por esses receptores que agora passam a ser os responsáveis pela

emissão da informação/opinião a outro indivíduo.


Percebe-se que o cidadão individualizado tem maior liberdade de escolha
de seus interlocutores do que nas sociedades anteriores à era midiática, quando o
interlocutor era definido a priori pelo grupo a que o indivíduo pertencia. Por conseqüência,
as opiniões estavam também definidas a priori. Nas sociedades contemporâneas,
esse processo pelo qual o sujeito escolhe como se informar para formar uma opinião

sobre apoiar ou rejeitar determinada política pública, por exemplo, que é resultado
da avaliação entre informação/opinião da elite e predisposição individual, é similar à

forma como os integrantes das massas escolhem seus candidatos em uma eleição.
Por conta disso, diz Zaller, candidatos a eleições majoritárias, portanto
integrantes da elite política, tendem a aproximar sua imagem da opinião pública
vigente a respeito dos temas que estão sendo discutidos durante o processo
eleitoral. Dessa forma, ele passa a ter chances maiores de ser escolhido pelo eleitor
entre os demais concorrentes ao cargo público. Assim, a opinião que o eleitor forma

dos candidatos deve estar muito próxima daquela que ele tem sobre os temas que
estão sendo tratados pelos candidatos (ZALLER, 1992, p.28). Como as mudanças de
opiniões a respeito de temas públicos têm sido mais constantes nas sociedades de

massa do que nas experiências históricas anteriores, a elite política também precisa
estar em constante movimento de adaptação para se adequar às mudanças de opinião.

Na verdade, apesar de passível de mudança, a opinião pública não é necessariamente


errática, pois, como afirma Zaller (1992, p.14), "ela é dirigida por estereótipos
transmitidos pelas elites durante o processo de difusão de informações".
O papel da mídia nas sociedades de massa é oferecer mais fontes de
transmissão de informações/opiniões, promovendo uma pluralização dos estereótipos.
Por exemplo, na Idade Média a Igreja detinha o controle dos meios de difusão das
informações na Europa e seus estereótipos a respeito dos temas que prevaleceram
66

durante todo o período, garantindo uma certa estabilidade na opinião pública. Na Idade
Moderna, o empresariado burguês passou a deter o controle dos meios de difusão

das informações/opiniões, pois, com o crescimento dos Estados laicos, retirou-se da


igreja grande parte de seu poder de influência.
É verdade que o poder econômico continua tendo importância na determinação
da elite política, pois é a partir desse poder que a elite consegue condições necessárias
para difundir informações/opiniões à massa, mas é possível imaginar que houve um
avanço no sentido da pluralidade de fontes de emissão das informações ao cidadão

comum. O aumento exponencial dos meios de difusão de informação, em especial


com a difusão do mais recente: a Internet, pode levar a uma volatilidade maior da

média das opiniões individuais e uma necessidade crescente de adequação das


elites políticas às novas opiniões da massa em sociedade democráticas.
De acordo com Zaller (1992), toda opinião é o resultado da união entre
informação e predisposição. Nesse caso, a informação tem o papel de formar uma
imagem mental a respeito de determinado assunto, enquanto a predisposição motiva
algumas conclusões a respeito dessa mesma imagem. Variações nas informações

contidas no discurso da elite, diferenças individuais de atenção a esta informação e


diferenças individuais de predisposições geradas por valores políticos distintos,
reúnem-se para determinar a opinião a respeito de determinados assuntos e, além
disso, dar contornos à opinião pública. É preciso considerar ainda que todo esse
processo acontece em relação a uma variedade de assuntos, cujas informações
chegam ao cidadão e são processadas mentalmente por ele ao mesmo tempo.
O autor define elite política como o conjunto de pessoas que dedica todo o
seu tempo para tratar de aspectos a respeito do debate político e público. São
exemplos de integrantes da elite política os funcionários públicos de altos escalões,
67

jornalistas e atividades de organizações da sociedade civil.16 Esse tipo de definição


esvazia a esfera pública, pois considera todas as principais instituições sociais de

participação política como pertencentes à esfera estatal.


O reconhecimento de quem faz parte da elite política é importante, porque,
a partir das informações difundidas pela elite, o cidadão comum irá formar suas
opiniões sobre os temas públicos. É à elite política que o eleitor recorre quando precisa
de informações para confrontar com suas predisposições e chegar a uma conclusão
a respeito de determinado assunto. Esse processo também pode ser invertido,

quando a elite oferece, com maior intensidade, informações sobre determinados


temas públicos em detrimento de outros. Partindo desse pressuposto, pode-se

explicar a opinião pública norte-americana, por exemplo, da primeira metade do


século XX, como favorável à segregação racial, porque a elite política dos Estados
Unidos, naquele período, considerava existir, de fato, uma diferença de capacidades
entre as raças, sendo os brancos considerados superiores aos negros, hispânicos e
orientais. A partir de meados do século XX, a proporção de integrantes da elite
política norte-americana que julgavam existir uma diferença natural entre brancos e

outros foi sendo reduzida, chegando a permanecer apenas em pequenos grupos


extremistas. Assim, os estereótipos a respeito da melhor forma de relação racial nos
Estados Unidos também mudaram e como conseqüência houve a aceitação cada
vez maior da sociedade como um todo na inclusão das minorias raciais ao conjunto
de direitos civis já desfrutados pelos brancos.
É possível conhecer, na prática, os níveis de interação entre os estereótipos
contidos nas informações da elite política e a formação da opinião pública a partir de
três grandes conjuntos de indicadores. O primeiro é a variação agregada de informações
contidas nos discursos da elite, incluindo os sinais dessa elite a respeito de como

16Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, nos anos 80, indicou que apenas 1,9% dos norte-
americanos dedicava a maior parte de seu tempo para a recepção e análise de informações a
respeito de temas públicos (ZALLER, 1992).
68

novas informações devem ser avaliadas. O segundo é o nível individual de diferenças


na atenção destinada a estes discursos e o terceiro, também individual, de diferenças

nos valores políticos. A interação entre esses três conjuntos de variáveis é suficiente
e necessária para a identificação do processo que termina no julgamento que as
pessoas fazem sobre os temas políticos.

A análise compreensiva da opinião pública requer atenção para dois


fenômenos: como os cidadãos apreendem os significados com a experiência
imediata, e como eles convertem a informação adquirida em opinião
(ZALLER, 1992, p.40).

Para tanto, ele chama atenção à "consideração" que os indivíduos podem

ter a respeito de determinado assunto. Essa "consideração" é composta por um


elemento de conhecimento e outro de afetividade. Quanto maior o volume de
informações sobre determinados temas disponíveis no espaço público e quanto
maior a proximidade afetiva com o indivíduo, maior será o grau de "consideração" do
indivíduo em relação à recepção das informações. Esse termo pode ser substituído
por saliência que aparece nas discussões sobre agendamento público pela mídia.

A afetividade pode ser considerada uma crença relativa a um objeto. Sendo assim,
toda avaliação depende de um conhecimento particular que se possua a respeito

desse objeto. Sem essa proximidade cognitiva ou emocional com o objeto, dificilmente
o cidadão comum irá dispor de seu tempo para receber informações a respeito de um

novo tema, em outras palavras, nesse caso a "consideração" será próxima de zero.
Para Zaller, é preciso levar em conta ainda que existem dois tipos básicos
de mensagens políticas: as persuasivas e as de sugestão. As persuasivas são
argumentos ou imagens que permitem a tomada de uma posição ou definição e de
um ponto de vista a respeito de determinado tema. Uma vez aceita pelo cidadão,
essa mensagem persuasiva passa a ser considerada como definitiva. Já as mensagens
de sugestão consistem em um tipo de informação contextual sobre as implicações
ideológicas ou partidárias de uma mensagem persuasiva. A sua importância está em
69

permitir que o receptor da mensagem persuasiva utilize suas predisposições como


resposta crítica a ela.

Algumas afirmações a respeito do processo de transformação de informações


da elite política em opinião pública merecem destaque aqui. Por exemplo, em
relação à recepção das informações, cujo nível individual de engajamento cognitivo
a determinado tema tem relação direta a quanto o cidadão está exposto ao tema e
qual a sua capacidade de compreensão das informações relativas a esse assunto.
Pode-se esperar um comportamento coerente da opinião pública quando o conjunto

de indivíduos que compõe o público tem algum conhecimento prévio sobre o tema a
respeito do qual eles são chamados a opinar, ainda que esse conhecimento esteja

ligado apenas a crenças geradas por tradição. Em outras palavras, independente da


capacidade massificante das mensagens transmitidas pela elite política a respeito de
determinado tema, se não for possível a compreensão por parte dos indivíduos
destinatários – entendendo compreensão como capacidade de processamento e
transformação em opiniões ou crenças – será baixa. Assim como um assunto de
extenso domínio do cidadão que não for difundido publicamente, é óbvio, também

não obterá grande atenção dos receptores, não havendo condições para formulação
pública ou reformulação da opinião já existente sobre o tema.
Há ainda a resistência dos cidadãos às novas informações, pois as pessoas
podem resistir a argumentos que são inconsistentes com suas predisposições políticas
ou crenças já arraigadas (BOUDON, 1994). Isso é uma forma de extensão das
informações contextuais que o cidadão dispõe para a percepção das relações entre
novas informações e predisposições já existentes. Além da recepção e resistência,
existe a acessibilidade que mostra as considerações mais recentes como mais fortes
em relação às antigas, armazenadas na memória mais distante. Há, por fim, a
produção da resposta individual, indicando que as respostas a questões de survey,
por exemplo, são baseadas em informações mais salientes e imediatamente
70

acessíveis na memória, em detrimento daquelas armazenadas na memória mais


distante.

A disponibilidade de atenção, a disponibilidade de novas informações, a


aceitação das novas informações e a saliência do tema a que as informações estão
relacionadas ao processo que começa com a recepção de informações e segue até
a externalização de uma opinião. Além disso, ainda que em uma democracia o
cidadão tenha a possibilidade de receber informações dos mais variados tipos e
temas, é natural que exista um grau significativo de mudança nas opiniões dos

indivíduos. Enquanto isso, em sociedades menos democráticas, onde predomina


uma ou um número restrito de visões nas informações transmitidas a respeito de

determinado tema, haja uma tendência maior de manutenção das opiniões já


existentes e externalizadas no espaço público.
Strömbäck, a partir de vários autores que discutiram modelos de democracia
nas últimas décadas, elenca cinco características distintivas que identificariam um
país em regime democrático real. Essa definição é importante aqui por incorporar
aos conceitos de democracia clássica a importância dos meios de comunicação.

Para ele, um sistema democrático, de fato, precisa que os representantes públicos


sejam escolhidos em eleições livres e periódicas, cujos resultados sejam aceitos por
todos. É preciso que haja liberdade de imprensa, expressão e informação; que a
cidadania deva ser inclusiva; que todos tenham direito de livre associação e que a
sociedade precise ser governada segundo o que está previsto nas leis (STRÖMBÄCK,
2005, p.333).
Neste primeiro capítulo tratou-se da questão da democracia moderna,
considerada não apenas sob a ótica minimalista do Estado e das regras constitucionais
do jogo democrático, mas também da sociedade e do agregado dos agentes sociais,
cuja manifestação pode ser apreendida como opinião pública. O objetivo foi localizar
a discussão sobre o papel do público e da formação das opiniões na sociedade
como elementos intervenientes para a constituição de uma democracia, que não
71

seja meramente prescritiva, incorporando o conceito de sociedade de massa nas


explicações sobre o comportamento das democracias. Para tanto, apontou-se a

inexistência da preocupação com o tema da esfera pública nas teorias democráticas


clássicas e os avanços apresentados pela literatura. Isso com o intuito de incluir os
meios de comunicação como instituição social relevante para a formação de uma
atitude democrática, visto que os meios dependem da forma como estes espaços
públicos são utilizados na relação travada entre elite e massa.
A seguir apresenta-se o debate teórico que envolve a questão da comunicação

de massa propriamente dita e os efeitos que ela pode produzir para uma democracia
de massas. Em outras palavras, debate sobre um regime democrático que funcione

em uma sociedade com direitos universalizados e onde os cidadãos não apresentam


fortes laços com instituições sociais tradicionais, tais como religião ou partidos
políticos, mas que têm acesso ao debate político diretamente através dos meios de
comunicação de massa. O objetivo não é abordar todo o debate teórico sobre meios
de comunicação e massa, mas indicar o que esse debate tem de importante para a
discussão sobre formação, manutenção ou transformação da opinião pública em um

sistema político democrático.


72

CAPÍTULO 2

ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO POLÍTICA EM DEMOCRACIA DE MASSA

Communication, including massa mediated


communication, is a necessary prerequisite for
the functioning of any political system.

(Almond e Powell, 1996)

2.1 COMUNICAÇÃO E SOCIEDADE MODERNA

Como tratado no capítulo anterior, quando cientistas políticos analisam as


sociedades democráticas contemporâneas, normalmente fazem avaliações ingênuas
sobre a participação dos meios de comunicação nas organizações políticas, pois há
um conjunto de saber especializado de que não dispõem. Por outro lado, quando os
comunicólogos abordam a política e sua relação com os meios de comunicação,

tendem a ser superficiais, por não disporem do saber inerente de um cientista social.
Este capítulo tem o objetivo de tentar aproximar a discussão dos comunicólogos de
uma visão mais realista da política e, principalmente, da importância que as instituições
comunicacionais têm para a formação da opinião pública, que é o objeto final de
estudo deste trabalho. Dito em outras palavras, de um lado a mídia é criticada por seus
conteúdos e efeitos negativos em relação à democracia, ao mesmo tempo em que

essas críticas não esclarecem que padrões de democracia devem ser considerados
quando se considera o papel “negativo” da mídia (STRÖMBÄCK, 2005). É desse
impasse que surge a necessidade de discutir a comunicação em pesquisas sobre
democracia e participação social.

Alguns autores resgatam de Aristóteles a primeira definição de comunicação,


através do conceito de retórica, como "a busca de todos os meios possíveis de
persuadir" (HOLHLFELDT, 2001 p.77). E, de fato, nos debates que dividiram sofistas
e filósofos é possível identificar vários conceitos ainda hoje presentes nas reflexões.
73

Ainda na antiguidade, é possível encontrar um debate sobre persuasão, argumentação


e verdade (versus falsidade). O direito à palavra (legitimidade do locutor), a relação

com o outro, o espaço da interlocução e os temas a serem tratados no domínio público


também são aspectos relevantes, ligados a questões como ética e cidadania.
Dando um salto para o século XX17, o surgimento das primeiras teorias da
comunicação, na década de 1910, a partir da Escola de Michigan, centraliza as análises
na temática "comunicação e poder". Assim como acontece cerca de dez anos depois
na Alemanha, com o que ficaria conhecida como a Teoria Crítica ou Escola de

Frankfurt. É possível identificar duas motivações básicas que impulsionaram esses


estudos: a busca da eficácia da propaganda, como persuadir melhor; e a preocupação
ética com o efeito dos meios, o que a mídia estava fazendo ou poderia fazer com as
pessoas (WOLF, 2003). Ambas partiam da crença na possível onipotência dos meios

de comunicação de massa.
O desdobramento desses estudos e a contribuição dos chamados "pais
fundadores" da Teoria da Comunicação, entre eles Lasswell e Lazarsfeld da Escola
de Chicago, voltou-se principalmente para os estudos das audiências e dos

processos de influência. Vários avanços dessa fase dos estudos, que ultrapassaram
a teoria da comunicação, podem ser registrados. Por exemplo, da figura do receptor

atomizado e passivo (Teoria da Agulha Hipodérmica), passou-se para a descoberta


da mediação exercida pelos líderes de opinião (two steps flow) até alcançar a
compreensão da complexidade na inserção dos indivíduos na vida social (enfoque

fenomênico já nos anos 40 do século XX). O papel dos grupos de pertencimento, a


"filtragem" das mensagens operada pelo universo de valores, a exposição e

recepção diferenciada a partir de sua situação e interesse específicos foram


registrados pelos estudos dessa época, antecipando o que hoje é denominado de

17Antes do século XX, a revolução industrial, em especial a partir do século XVIII, provocou grandes
transformações nos processos de comunicação social.
74

segmentação de mercado, também influenciaram as teorias políticas sobre a


necessidade de análises empíricas a respeito das características dos processos

comunicacionais (HOHLFELDT, 2001).


Ainda na primeira metade do século XX, as conclusões teóricas começam
a amenizar a importância dos meios de comunicação para a sociedade moderna.
Os modelos de controle e manipulação cedem espaço para persuasão e influência.
Desse período, sob influência dos estudos de Talcot Parsons, nos Estados Unidos,
surge o Modelo Funcionalista de Comunicação, indicando a existência de influência

seletiva no público, a partir dos "usos e gratificações" que as mensagens desempenham


em cada integrante do público (WOLF, 2003). Esse é o primeiro modelo teórico
comunicacional em que o público tem participação ativa no processo de comunicação,

exercendo a função de escolha entre as mensagens disponíveis para seu consumo.


"Embora dentro do mesmo esquema behaviorista de estímulo – resposta, aqui são
reconhecidos os obstáculos e resistências dirigidas a ele com o objetivo de alterar
seu comportamento." (LIMA, 2001, p. 44).
No Brasil, com o processo de redemocratização nos anos 80, cresce a

atenção dada à importância da mídia como construtora da realidade e conformadora


do processo político. É desse período e a partir de estudos empíricos em vários
países latino-americanos que surge na região a chamada "Teoria das Brechas",

estabelecendo a possibilidade de, em alguns momentos, haver grande mobilização


social, quando o público consegue inserir entre os temas tratados pela mídia aqueles

que interessam principalmente ao primeiro, mesmo que contrariando a segunda.


O exemplo brasileiro é o caso das Diretas-Já, um movimento político que começou a

chamar a atenção do público antes de entrar na agenda da mídia e só depois do


crescimento da pressão popular é que os meios de comunicação passaram a dar
cobertura ao tema. A Teoria das Brechas prevê a possibilidade de contrafluxo no
sistema de comunicação de massa, partindo da emissão inicial do público para os
meios de comunicação.
75

Como um desdobramento da "Teoria dos Efeitos", nos final dos anos 60,
surge a "hipótese da Agenda-Setting" que ganha força a partir dos anos 80 e 90 nas
análises brasileiras. Essa hipótese está voltada para a análise dos efeitos da mídia
não mais a curto prazo, mas a médio e longo prazo.18 Mais do que agendar temas
específicos, a mídia molda formas de perceber e pensar, construindo os quadros de
percepção. Trata-se de uma perspectiva relevante que avançou com relação aos
estudos anteriores ao se dar conta de outras dimensões, além do imediatamente
visível, por considerar as "estruturas de fundo", onde os meios atuam, que devem
ser melhor conhecidas (McCOMBS e SHAW, 1979).
Nas duas últimas décadas do século XX, a prática e os ideários políticos
aparecem convulsionados, escapando à lógica política tradicional, de forma que os
meios de comunicação assumem um papel central nesse novo cenário. Vivemos uma
"realidade midiática" e numa sociedade da comunicação, onde a esfera política parece
se adaptar a essa nova realidade, porém a clássica questão do poder permanece.
A análise do impacto da mídia na formação da opinião pública é uma questão central
nos trabalhos e de especial importância para esta pesquisa que unifica a preocupação
de pesquisadores vindos tanto do campo da ciência política quanto da comunicação,
justamente por conta da manutenção da questão do poder. Sendo assim, é desne-
cessário realçar a importância do aspecto comunicacional nas análises políticas
contemporâneas, como já demonstrado anteriormente.19 Pode-se afirmar que a

18Elaincorpora a base conceitual das teorias da construção social da realidade e aponta a intervenção
dos meios de comunicação na conformação da estrutura cognitiva dos indivíduos.

19Para citar dois exemplos de trabalhos empíricos nessa área, pode-se ver a pesquisa feita por Maria
Cavalari Nunes de como os eleitores brasileiros adquiriram informações sobre os candidatos e temas
políticos durante a campanha presidencial de 1988. As conclusões são as de que a televisão
desempenhou um papel fundamental. Outro trabalho sobre o mesmo tema é de Venício de Lima,
onde ele afirma que a televisão, em especial a forma com que a TV Globo construiu a imagem dos
candidatos, foi um fator decisivo para a eleição de Fernando Collor de Melo. Em uma crítica às
conclusões, Carlos Eduardo Lins da Silva afirma que a eleição de Collor não pode ser imputada
apenas à manipulação de imagens pela mídia. Ele defende que Collor apresentava características de
líder político que, naquele momento, eram desejadas pelos eleitores brasileiros. Lins da Silva conclui
dizendo que a televisão tem um papel importante em campanhas eleitorais no Brasil, porém não pode
determinar – sozinha – os resultados de uma eleição.
76

articulação da comunicação com a política tem sido feita sob dois ângulos principais:
através do resgate da dimensão simbólica e representacional que perpassa as
práticas políticas e as faz assumir uma existência discursiva; a partir da ênfase no
desenvolvimento da tecnologia da comunicação, com a presença da mídia no
cenário e na configuração da sociedade contemporânea (WOLF, 2003).
A primeira perspectiva pode ser bem exemplificada pela contribuição

relevante de Bourdieu (1983) a propósito do poder simbólico. Em outras palavras, se


o campo da política é um campo de lutas, é principalmente no terreno do simbólico
que essa luta se manifesta na disputa por parte dos diferentes grupos sociais, para
impor uma definição de mundo social de acordo com seus interesses. Trata-se de
uma luta para conseguir a aceitação de determinada representação da sociedade.
Logo, ao mesmo tempo em que essa perspectiva resgata o papel do simbólico e
realça a dimensão comunicativa das práticas políticas, ela também age em uma
concepção bastante redutora do processo comunicativo.

O poder simbólico é um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma


origem gnoseológica: o sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social)
supõe aquilo a que Durkheim chama o conformismo lógico, quer dizer, uma concepção
homogênea do tempo, do espaço, do número, da causa, que torna possível a
concordância entre as inteligências (BOURDIEU, 2002, p.9).

O que está em jogo, lembra Bourdieu, é uma disputa de conteúdos (repre-


sentações do mundo) e do lugar de fala, sem qualquer atenção à relação aí produzida

ou à dimensão das formas criadas, promovendo uma evidente disjunção entre a


forma e o conteúdo. No que diz respeito a esta perspectiva, pode-se pensar de maneira
realçada o lugar da mídia como uma (nova) instância de poder. A formulação mais
contemporânea dessa perspectiva aponta os aspectos de visibilidade e publicização
inerentes às coisas públicas nas sociedades democráticas de massa (WOLF, 2003).
Dentro dessa perspectiva e para os propósitos deste trabalho, é preciso ressaltar
que a comunicação política não se resume à mensagem nem ao aparato técnico de
produção, sendo mais do que um esquema operacional de transmissão, mas uma
77

prática instituinte que põe em cena interlocutores capazes de intervenção, recipro-


camente referenciados; uma realização discursiva que ganha existência própria e

assume papel de determinação; a constituição de um espaço comum, terreno de


construção da intersubjetividade; e as marcas de sua inserção em um contexto
sócio-histórico.
A respeito da constituição do espaço comum e da intersubjetividade, as
teorias sobre os efeitos dos meios de comunicação na opinião pública podem ser
distribuídas em três grandes grupos: as elitistas, que pressupõem que os meios

exercem um controle quase total sobre o público passivo; as pluralistas, que


concebem um conjunto de consumidores soberanos que apresentam uma demanda

diversificada por audiências e interpretam com liberdade o conteúdo dos meios; e as


elitistas institucionais, com as quais fica estabelecido que a opinião pública está
condicionada, mas não determinada, por estruturas sociais e pela lógica
institucional. É, por isso, também chamada de modo de funcionamento dos meios de
comunicação. Nesta última abordagem admite-se que as estruturas sociais, tais
como classe social, educação formal ou etnia exercem certas limitações materiais e

culturais. Dessa forma, os interesses dos produtores midiáticos, fontes informativas,


elites políticas e públicos mais privilegiados institucionalmente conseguem se
impor na esfera pública (BLANCO, 1999). Dito em outras palavras, a opinião pública
se nutre e se expressa através da mídia, reproduzindo as estruturas sociais e
comunicativas existentes.

O elitismo como corrente teórica da comunicação política predominou até


os anos 50, principalmente a partir das análises sobre a realidade norte-americana e
alemã, que retomam sua força nos anos 70. Autores ligados a essa corrente, tais
como Lippmann (1922), Katz (1957) e Lasswell (1936), afirmam que o cidadão só
pode conhecer a realidade social através da mídia, dada a sua condição atomizada
na sociedade. Os meios de comunicação, nesse caso, exerceriam efeitos muito
78

poderosos sobre a opinião pública em função da inexistência de uma intermediação


entre a elite produtora das mensagens e a massa.

Por que a sociedade está formada por uma massa de indivíduos atomizados
e porque entre os meios onipresentes e as massas não existe nada
intermediando, a comunicação social se reduz à transmissão de mensagens,
assimiladas em sua forma original por audiências que não dispõem de
iniciativa, organização e relações interpessoais (BLANCO, 1999, p.131).

Sendo assim, em grande medida, as relações que se estabelecem entre o


indivíduo e o mundo em que ele vive acontecem através dos meios de comunicação.

São eles que constróem a conexão dos eventos sociais e as imagens deles na
cabeça do cidadão. Há duas visões opostas a respeito desse paradigma: uma visão
otimista, na qual as elites e os líderes de opinião geram na mídia um debate

ilustrado ao mesmo tempo em que oferecem à massa modelos sociais e sinais de


identidade coletiva (DEWEY, 1927, citado por BLANCO, 1999); enquanto uma visão
negativa entende que as elites empregam os meios como poderosas plataformas
para imprimir valores e estereótipos manipuladores na opinião pública (LIPPMAN,
1965, citado por BLANCO, 1999).

Já o paradigma pluralista está baseado em duas proposições principais.

A primeira mostra que a recepção desempenha funções que dependem do uso que
a audiência realiza dos meios de comunicação. A segunda assinala que o público
determina o significado final das mensagens, pois as reconstrói e as reelabora no
momento do consumo (MARTIN-BARBERO, 2001). Essa abordagem pluralista da
comunicação de massa prevaleceu nos anos 60 principalmente através dos estudos
de usos e gratificações da corrente funcionalista.

Pensar a política a partir da comunicação é pôr em primeiro plano os


ingredientes simbólicos e imaginários presentes nos processos de formação
do poder. O que leva a democratização da sociedade em direção a um
trabalho na própria trama cultural e comunicativa da política. Pois nem a
produtividade social da política é separável das batalhas que se travam no
terreno simbólico, nem o caráter participartivo da democracia é hoje real
fora da cena pública que constrói a comunicação massiva (MARTIN-
BARBERO, 2002, p.15).
79

Essa concepção vem sendo retomada, atualmente, através dos novos estudos
culturais e de recepção que definem o consumo das mensagens como uma

atividade criativa. Também estabelece que a audiência de qualquer processo


comunicativo de massa, inclusive a comunicação política, não está submetida à
persuasão ou reduzida a uma pseudo-realidade midiática. Além disso, é capaz de
demandar conteúdos a partir de seus próprios interesses e de gerar interpretações
plurais (BLANCO, 1999).
Por outro lado, Mazzoleni e Schulz (1999) ressaltam que a mediação20 não

acontece apenas entre os meios de comunicação e os atores sociais individuais,


mas também entre a mídia e a esfera política propriamente dita. Para isso, eles
diferenciam mediação, que tem sentido de neutralidade, de mediatização, que é o

lugar onde as instituições políticas são mais dependentes da mídia, mas, mantém
controle sobre os processos e suas funções políticas (MAZZONELI, 1999, p.247).
Eles citam trabalhos empíricos de autores como Zaller (1998) e Benett (1998) para
demonstrar como a mídia não conseguiu acabar com a democracia na Europa
ocidental, embora a tenha transformado.21

A outra corrente teórica, o Paradigma Institucional da Comunicação Política,


nasce com a sociologia da estruturação de Anthony Giddens (1995), no neo-institu-
cionalismo da ciência política (HALL e TAYLOR, 1996) e na comunicação de massa

(BENIGER e HERBST, 1990), estabelecendo que a opinião pública, como qualquer


outro fenômeno social, surge da atividade humana desenvolvida em estruturas sociais.

Essas estruturas não determinam a opinião por oferecer recursos ou capacidade

20Aqui mediação pode ser definida como o processo pelo qual as instituições, as formas de expressão,
as atitudes, os sentimentos e os comportamentos aparentes são articulados entre as manifestações
culturais e práticas sociais ao longo do tempo (MAHAN, 2003).

21Com base nos resultados desses trabalhos, Mazzoleni afirma que duas tendências sociais da segunda
metade do século XX, a crise dos partidos políticos e o enfraquecimento do cidadão sofisticado não
são conseqüências da midiatização da política, mas de um processo que pode ser definido como uma
evolução do homo politicus.
80

para atuar, mas por condicioná-la, apresentando regras e limitações. As estruturas


políticas e as instituições midiáticas tornam possível o surgimento da opinião pública,

mas também a restringem. Sendo assim, a opinião pública é um agente que se


move em estruturas sociais, mas também o resultado dessas estruturas, afirma
Giddens (1995). Ela está centrada em processos que revelam de forma explícita os
recursos comunicativos dos atores sociais. Percebe-se, portanto, que as elites
possuem a primazia da informação midiática, mas nem por isso elas deixam de estar
condicionadas pelo público.

É possível encontrar três níveis distintos de efeitos de comunicação política


via mídia de massa sobre a opinião pública, de acordo com essa abordagem: o primeiro

é mais abstrato, sendo identificado como o domínio ideológico ou da hegemonia em


uma versão mais branda que a do elitismo, o que significa que ela não é tão coerente
ou sólida como pressupunha o primeiro paradigma – o elitista; o segundo nível diz
respeito aos efeitos da mídia sobre outras instituições sociais, tais como o Estado, o
Judiciário, a Religião, a Ciência, as Artes, que são alteradas pela própria lógica
midiática, levando, entre outras coisas, à trivialização, à espetacularização e ao

conflito; o último nível mostra que os meios exercem influência sobre comportamento
e o conhecimento dos indivíduos. A sociedade, por isso, é capaz de apresentar
opiniões sobre diferentes temas a partir das informações oferecidas pelos meios de
comunicação, indicando que a opinião pública reage quase sempre em relação a um
discurso das elites (BLANCO, 1999).
A opinião pública é capaz de elaborar preferências próprias, ainda que
condicionadas aos temas apresentados pela elite. Para o paradigma do elitismo
institucional, os efeitos da mídia são de ordem hegemônica, pois difundem a
ideologia e os valores dominantes; também são de ordem institucional, pois influem
nas demais instituições, além disso, são de ordem social e individual, com base nos
indivíduos que as integram. Assim, o poder não reside mais na elite ou na massa,
mas depende dos recursos existentes a partir das estruturas e instituições, nas quais
81

são desenvolvidas suas atividades. A opinião pública passa, então, a ser o resultado
do embate dos atores políticos, da elite e da massa que se utilizam desses recursos

estruturais e institucionais para tentar impor uma visão de mundo específica. Em


função da centralidade da opinião pública neste trabalho, passa-se a tratar
especificamente deste conceito no próximo tópico.

2.2 EFEITOS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOBRE A OPINIÃO PÚBLICA

Considerando as três abordagens tratadas anteriormente, a elitista,


pressupõem que os meios de comunicação exercem um controle quase absoluto

sobre o público; este, por sua vez, desempenha um papel de passividade, cabendo
aos meios de comunicação a modelagem da opinião pública. As teorias elitistas
predominaram até meados dos anos 40, afirmando que o cidadão só pode conhecer
a realidade social através dos meios de comunicação, o que faz com que esses

meios exerçam efeitos muito poderosos sobre a opinião pública já que a sociedade é
formada por indivíduos atomizados e não há nenhuma instituição intermediadora entre
os meios de comunicação e a massa. Os processos de comunicação social reduzem-
se à transmissão de mensagens que são assimiladas na forma original pelas
audiências sem iniciativa, organização psicológica ou relações interpessoais na

formulação dessas mensagens. Sendo assim, faz com que a opinião pública seja o
resultado direto da reprodução fiel das opiniões transmitidas nos conteúdos dos
meios de comunicação.
A partir dos anos 70, duas novas teorias retomam em parte essa visão
elitista da relação entre mídia e opinião pública. A teoria da Agenda-Setting22 parte

22O conceito de Agenda-Setting foi apresentado pela primeira vez m 1963 por Cohen que a definiu
como o processo pelo qual a mídia estabelece os temas que devem ser discutidos socialmente e
influenciam a estruturação da agenda pública. Sendo assim, os meios de comunicação não
conseguem decidir o que as pessoas devem pensar, mas sobre que temas elas devem discutir e
formar uma opinião (COHEN, 1963). Os primeiros estudos de Agenda-Setting foram sobre campanhas
82

da premissa de que o estabelecimento de uma agenda temática, imposta pelos meios


de comunicação, define sobre que temas o público deve pensar e formar opiniões,

ou seja, a mídia seleciona os temas sobre os quais o público deve formar uma
opinião, ainda que ela não seja capaz de impor a opinião já formada (McCOMBS e
SHAW, 1972).

Em um trabalho empírico recente, ao analisar os efeitos de agendamento


dos meios de comunicação durante as eleições presidenciais de 1996 nos Estados
Unidos, McCombs e Kiousis (2004) encontraram fortes correlações entre a importância

que a mídia dava para determinados atores políticos e a saliência de seus nomes na
memória do eleitor comum. Esses resultados demonstram que existe uma ligação
entre os personagens que são objeto da cobertura midiática e a posição em que essas
pessoas se encontram na memória dos eleitores (McCOMBS e KIOUSIS, 2004 p.49).

A segunda teoria, a "Espiral do Silêncio", estabelece que os indivíduos


tendem a fugir do isolamento social ao perceberem qual é a opinião majoritária, o
que acaba gerando uma espiral que favorece a ampliação da discussão pública
sobre determinados temas em detrimento de outros que tendem a ficar cada vez

mais no esquecimento social. Esse efeito espiral constituiria uma lei fundamental da
opinião pública, que é expressa por aqueles que se sentem como integrantes da

maioria e que expressam suas opiniões, enquanto os setores minoritários tenderiam


à autocensura (NOELLE-NEUMAN, 1974).
Através do processo de agendamento, a mídia implanta uma agenda temática

que será discutida publicamente. Como alguns temas são enfatizados na cobertura
dos meios de comunicação, isso definirá que tipo de assunto merece ganhar o status
de acontecimento público. Os que não chegam a esse nível correm o risco de cair na
espiral do silêncio. O acesso que algumas fontes políticas têm sobre a agenda midiática
gera uma forma de distribuição desigual de poder, que é o poder de controle da

eleitorais, nos quais se calculava a relação entre os temas tratados pela mídia e o aparecimento
destes mesmos temas no debate público.
83

agenda23, ou seja, a capacidade de fazer com que os meios de comunicação


considerem como relevante determinado tema social em detrimento de outro.

Em outro lado, estão as chamadas teorias pluralistas que concebem o público


como um conjunto de consumidores soberanos representando demandas diversificadas
por conteúdos, além de liberdade na interpretação desses conteúdos dos meios de
comunicação. De acordo com essas explicações, a opinião pública formar-se-ia no
seio do próprio público, sem a participação direta dos meios de comunicação.
As teorias pluralistas estão baseadas em duas proposições principais.

Uma, em que a recepção das mensagens desempenha funções que dependem do


uso que o público faz dos meios de comunicação e, a outra, a de que o público

determina o significado final das mensagens, pois ele é capaz de reconstruí-las e


reelaborá-las. Essas abordagens prevaleceram entre os anos 60 e 70, principalmente
através dos estudos de usos e gratificações da escola funcionalista. Depois, porém,
foram retomadas pelos estudos culturais e de recepção, que definem o consumo das
mensagens como uma atividade criativa. Sendo assim, a audiência não estaria
submetida à persuasão ou reduzida a uma realidade produzida pela mídia, mas

demanda conteúdos a partir de seus próprios interesses como público, além de


gerar interpretações independentes e plurais.
No terceiro grupo estão os elitistas institucionais (GIDDENS, 1995), estabe-
lecendo que a opinião pública estaria condicionada, mas não determinada, assim
como também não totalmente dissociada pelas estruturas sociais e pela lógica
institucional – incluindo os meios de comunicação de massa. Aqui é admitido que as
estrutura sociais, por exemplo, classes sociais, escola e grupos étnicos exercem
limitações materiais e culturais para a opinião que será formada a partir de um
estímulo qualquer que normalmente é transferido pelos meios de comunicação.

23Essa articulação entre mídia e fontes políticas faz com que alguns atores sejam premiados; quando
isso é feito sob o pretexto de critérios de noticiabilidade, a premiação passa a ser sistemática,
enquanto outras fontes ou temas são penalizados também sistematicamente.
84

Segundo as premissas do elitismo institucional, os interesses dos produtores midiáticos,


as fontes informativas e os públicos mais privilegiados institucionalmente conseguem

se impor na espera pública ou, por outro lado, a opinião pública se nutre e se
expressa através da mídia, reproduzindo as estruturas sociais e comunicativas
disponíveis ao público. Ela estabelece que a opinião pública, a exemplo de qualquer
outro fenômeno social, surge de uma atividade humana que se dá em determinadas
estruturas sociais. Essas, não são capazes de determinar a opinião, mas a
condicionam no momento em que oferecem regras e limitações de recursos

informativos. Sendo assim, as estruturas sociais e instituições midiáticas possibilitam


o surgimento da opinião pública ao mesmo tempo em que a restringem. Logo, a

opinião pública é um agente que perpassa estruturas sociais, mas também é o


resultado da interação dessas estruturas. Percebe-se por essa explicação que as
elites possuem primazia sobre as informações midiáticas, mas também estão
condicionadas pelo público.
Os integrantes das audiências apresentam opiniões sobre temas distintos a
partir das informações oferecidas pela mídia, ou seja, a opinião pública pode ser

considerada um agente social capaz de elaborar preferências próprias, ainda que


condicionadas pelos temas apresentados pelas elites. No paradigma do elitismo
institucional, os efeitos da mídia são de ordem hegemônica por difundirem a
ideologia e os valores dominantes. Além disso, são de ordem institucional por
influenciarem a maioria das instituições sociais, e os efeitos também são de ordem
social e individual sobre as comunidades de indivíduos que compõem as audiências.
Paralelo às abordagens menos instrumentalistas sobre a relação da mídia
e opinião pública existe uma vasta literatura que trata dos efeitos da primeira sobre a
segunda de maneira mais incisiva. Sendo assim, onde a mídia e aqueles que a
comandam, passam a ter ampla capacidade de controle e direcionamento sobre a
opinião pública. Essa linha de trabalhos críticos parte, na maioria das vezes, da
descrição inicial de Habermas sobre a esfera pública original como a reunião de um
85

público, formado por indivíduos privados, que constróem a opinião pública com base
na racionalização do melhor argumento, e sem contar com a influência dos poderes

políticos e econômicos (ALMEIDA, 1999). Trabalhos críticos, que apontam a


existência de um controle da opinião pública pela mídia, afirmam que a
superficialização da política no debate político e a possibilidade do controle das
opiniões dos indivíduos geram uma opinião inconsistente que, quando agregada, é
chamada de opinião pública. Somado a isso estão as críticas aos métodos quantitativos
e qualitativos de apreensão da opinião, principalmente em Bourdieu; a mercantilização,

manipulação e o crescimento da importância do marketing no espaço público.

2.3 MASSA E PÚBLICO

Em "Historia y critica de la opinión pública: la transformación estructural de


la vida pública", Habermas (1981) afirma que seu objetivo não é o estudo da esfera

pública em geral naquele texto, mas a análise das origens e transformações da


esfera pública ligada ao desenvolvimento da sociedade burguesa. De fato, esse
tema percorre toda sua obra.
Após tratar da transformação estrutural da esfera pública, nos anos 70 e
80, ele desenvolve a teoria da ação comunicativa com a qual defende o debate

público como a única alternativa para superar os conflitos sociais, visto que é nesse
debate que acontece a busca pelo consenso e cooperação entre as partes. Como se
vê, Habermas considera a questão da comunicação como uma peça chave para a
política deliberativa, sendo fundamental para a superação de déficits democráticos
(CUCURELLA, 2001). Em 1992, no texto "facticidad y validez", citado por Cucurella,
Habermas apresenta o espaço público como o lugar em que é criada a opinião
pública que pode ser manipulada, mas que ainda assim constitui o eixo da coesão
social, da construção, da legitimação e da deslegitimação política.
A definição inicial de espaço público, encontrada em Habermas trata de
algo que existe na vida social. Dessa forma, pode-se construir a opinião pública através
86

de diálogos entre indivíduos privados que se reúnem livremente como público para
discutir temas de interesse comum.24 O termo "livremente" aqui é importante, pois
denota a inexistência de pressões externas ao interesse do indivíduo. Este, na verdade

conta com a garantia mínima de poder se manifestar e publicar livremente sua opinião.
Porém, Habermas fará uma observação para o caso de públicos muito grandes, cujo

diálogo direto torna-se impossível. Nesse caso, a comunicação depende de meios


de transferência e influência, tais como rádio, televisão, jornais e revistas "Não se

trata de um espaço político, mas cidadão e civil, pertencente ao mundo da vida e


não a um determinado sistema ou estrutura social", completa Cucurella (2001, p.
53).
A opinião pública e a esfera pública burguesa surgem como conseqüência

da troca de informações iniciada com o capitalismo mercantil. Paralelo a isso


acontece a nacionalização das economias, até então muito localizadas, além do
desenvolvimento do Estado-nação, por conseqüência da centralização política no
Estado moderno e a consolidação do poder estatal. Nesse processo histórico,
percebe-se claramente o fortalecimento do Estado e da burguesia. Habermas diz

que essa esfera pública burguesa é compreendida inicialmente como a esfera de


pessoas privadas que se reúnem em público para defender a liberdade econômica e
atacar o princípio de dominação vigente. Portanto, é diferente da esfera privada e

visa questionar a esfera política por natureza, a estatal.25


A esfera pública burguesa nasce em espaços culturais tornados públicos,

gerando uma tensão entre Estado e sociedade civil burguesa. Como resultado das
discussões travadas nessa esfera, a opinião pública está diretamente relacionada à

24O autor também apresenta o espaço público político como um tipo específico de espaço público.
Este se diferencia do espaço público literário, por exemplo, em função das discussões que acontecem
nele terem relação com as práticas do Estado.

25Para Habermas, o estado de bem-estar social, presente na política européia mais fortemente a
partir do início do século XX, é uma forma de redução da Esfera Pública, pois a esfera estatal passa a
interferir diretamente nos assuntos que deveriam ficar sob o domínio exclusivo da esfera privada.
87

crítica e ao controle que o público exerce de maneira informal sobre uma estrutura
estatal organizada. Essa crítica e controles informais, que Habermas denomina

opinião pública, podem se formalizar através do voto. A esfera pública burguesa surge,
portanto, como uma esfera de proprietários privados, porém, ganha legitimidade na
luta da sociedade civil contra o absolutismo, pois, ao conseguir converter interesses
de proprietários privados com as liberdades individuais, fez com que a emancipação
política da burguesia fosse confundida com a emancipação política geral.
Os processos de estatização do espaço público, seja através dos

instrumentos de Estado propriamente ditos, seja pela forte influência que o poder
estatal exerce sobre os meios de comunicação, são considerados por Habermas

uma intromissão na vida dos cidadãos, visto que transforma gradativamente a mídia
em um instrumento de entretenimento e dominação do público. Segundo Cucurella
(2001, p. 58), "da publicidade como manifestação de opiniões e um público que discute,
passou-se a um público que ou é uma minoria racional ou uma grande massa de
meros receptores". Habermas, na verdade, constata que a dinâmica social moderna
tem apresentado riscos de uma refeudalização da sociedade, cujo indivíduo não é o

ideal imaginado pelo liberalismo. Este indivíduo forma grupos que defendem interesses
particulares e, dessa forma, consegue influenciar as decisões políticas. Da mesma
maneira, o Estado, através de sua capacidade de interferir na esfera privada, reduz a
liberdade necessária para o funcionamento da esfera pública e, consequentemente,
tem efeito direto sobre a opinião pública que surgirá dessa esfera.
Montoya (2004) faz uma periodização das transformações da esfera
pública, tal como definida por Habermas. Para aquele, essa esfera pode ser dividida
em três momentos distintos, cada um deles caracterizado pela sua abrangência.
Trata-se de um espaço que fica entre o Estado e a família, um espaço específico
para a abordagem de assuntos que não são afetos exclusivamente a cada uma
dessas duas esferas.
88

O primeiro momento citado por Montoya surge entre os séculos XVI e XVII,
junto com o aparecimento da burguesia ocidental, quando os burgueses criam esse

espaço específico para abordar questões relacionadas principalmente a seus negócios.


Por isso, seria redundante chamar essa esfera de esfera pública burguesa.
Em um segundo momento, a partir da segunda metade do século XIX,
a esfera pública ganha a participação dos trabalhadores – o povo – que até
então não fazia parte dela. Essa ampliação é constatada principalmente pelas
manifestações de rua de trabalhadores e segmentos populares que acontecem em

Paris naquele período.


Em um terceiro momento, a esfera pública passa a contar, além da

burguesia e dos trabalhadores, com a participação de minorias sociais, tais como


mulheres, jovens, imigrantes, etc. Essa fase da esfera pública tem seu marco inicial
coincidindo com o início do século XX. O autor reafirma, então, que

Assim como a esfera pública burguesa se reinventa com a esfera pública


massiva, esta esfera pública massiva, mas masculina, adulta e branca, é
ampliada pela esfera pública plural de nossos dias, no que diz respeito aos
sujeitos que compõem a esfera pública (MONTOYA, 2004, p. 12).

Vale ressaltar que Habermas não considera a terceira fase como uma
ampliação do espaço ocupado pela esfera pública, mas sim como credenciamento
de novos atores sociais que passam a integrar esse espaço. No caso das mulheres,
esse credenciamento se dá pela inclusão delas no mercado de trabalho. Já os
jovens e minorias se fazem representar na esfera pública em função da crescente
escolaridade e incorporação desses segmentos ao consumo e economia (FRASER,

1998, p.133).
A definição de esfera pública a partir da conceituação habermasiana está

focada, como demonstra a última frase da citação acima, nos indivíduos que compõem
esse espaço localizado entre o privado e o estatal. Porém, além dos protagonistas,
o espaço público também é formado por instituições responsáveis por publicizar
informações de interesse coletivo, pelos meios de comunicação e por seus respectivos
89

espaços de atuação26. Logo, espaço público só pode ser compreendido de fato


quando considerado a partir dos agentes sociais que o compõe, somados aos meios

de publicização, espaço físico, técnicas de comunicação e códigos.


A mídia amplia a esfera pública, mas, uma vez ampliada midiaticamente,
essa esfera perde o conteúdo político original para poder ser mais vendável ou
aceitável socialmente, fazendo com que a racionalidade ceda espaço para a forma,
segundo a visão pessimista habermasiana. Com isso, os produtos descartáveis da
mídia modificam a própria forma de comunicação, fazendo com que haja a

substituição do público leitor pelo público consumidor.


Embora a opinião pública possa ser instrumentalizada e manipulada pela

mídia, existe um custo inerente a esse "desvio", apontado por Habermas, como a perda
de eficácia na legitimação política. Isso acontece porque o custo da instrumentalização
da opinião pública é o distanciamento da realidade dos indivíduos e de suas vidas
cotidianas. O indivíduo é o portador do espaço público para que nele expresse suas
questões, através de uma interação comunicativa. É nesse intercâmbio comunicativo
que são produzidos, então, argumentos, influências e opiniões (CUCURELLA, 2001).
Quando o espaço público é instrumentalizado pelo Estado através dos meios de
comunicação, esse espaço deixa de cumprir a função para a qual existe para o
cidadão, que passa a não mais reconhecê-lo como um espaço plural e de liberdade

também pertencente a ele, mas como mais uma instituição estatal. É aí que a
política começa a perder legitimidade.

Para entender os efeitos negativos da instrumentalização do espaço


público, é preciso conhecer a distinção que Habermas faz entre poder comunicativo

26Nesse sentido, pensar que o caminho para a democratização política se dará apenas através da
democratização dos meios de comunicação é acreditar que a esfera pública se restringe ao espaço
físico, desconsiderando os atores sociais; sem contar que em uma democracia de mercado, onde os
meios de comunicação são fundamentalmente empresas comerciais, falar em democratização seria o
mesmo que pedir a democracia das demais empresas capitalistas. Os meios de comunicação
participam da esfera pública, mas esta fica fora deles. A democratização da mídia se dará com a
democratização da sociedade e da política e não o contrário.
90

e poder político. Enquanto o primeiro está relacionado à possibilidade de produzir


discursivamente motivações e convicções que vão se transformar em vontade

comum, o segundo diz respeito à pretensão de domínio que tem o sistema político e,
para tanto, emprega o poder administrativo de que dispõe. É em função dessa
diferença que, para Habermas, a esfera pública não pode ser entendida como uma
instituição ou organização, pois trata-se de um emaranhado de normas com diferentes
competências, regras e regulação das condições de pertencimento (CUCURELLA,
2001). Por não ser um sistema, como o encontrado na esfera política, ele tem

horizontes abertos e porosos; trata-se de uma rede para a comunicação de conteúdos,


fluxos de informação e formulação de opiniões sobre determinados temas.
Nesse cenário, o poder é exercido através de associações originárias da

esfera privada, dos partidos políticos e do aparelho de Estado que, através da mídia,
buscam o apoio do público. No entanto, isso não é uma nova característica da
esfera pública, mas uma forma de utilização dela pela esfera estatal. Assim, os

conteúdos transmitidos pelos meios de comunicação não precisam atuar apenas


como forma de controle público do poder, mas podem ser um instrumento de

manipulação da opinião que deixa de ser pública (ALMEIDA, 1999).


Habermas fala sobre uma refuncionalização da esfera pública que se
comercializa. Com os novos meios de comunicação eletrônicos do século XX,

principalmente rádio e televisão, a esfera pública se amplia e se modifica em função


dos interesses privados presentes no sistema, fazendo com que, a partir de então,

ao invés da mídia intermediar a opinião pública, ela passe a produzir elementos para
a formação de opinião não pública. Ao mesmo tempo, desenvolvem-se técnicas de

publicidade e relações públicas para que as grandes empresas do setor passem a


moldar a opinião pública, construindo o consenso a partir de uma opinião pública
encenada (ALMEIDA, 1999). Nessas condições, a crítica cede lugar ao conformismo
e o consenso passa a ser uma boa vontade conquistada pela publicidade.
91

Ganha espaço o argumento de que o público não tem condições para


participar das decisões políticas e, com o afastamento desse público das decisões, a

esfera pública passa a ser mobilizada apenas periódica, temporária e transitoriamente


em períodos eleitorais. Habermas dirá ainda que nem nesse momento ela se organiza
de forma argumentativa, mas sim de modo demonstrativo e manipulador (HABERMAS,
1981). Na interpretação de Cucurella, sobre o argumento de Habermas também
aparece esse caráter pessimista. Para ela, atualmente existem muitos motivos para
ser cético sobre a possibilidade de existência de espaços públicos não manipulados

que permitam a sobreposição do poder comunicativo sobre o político.

Os meios de comunicação desempenham um papel que, em muitos casos,


serve apenas aos interesses de grupos poderosos econômica e
socialmente, de maneira que a ocupação do espaço público pode alterar a
realidade humana. Habermas critica a instrumentalização dos meios de
comunicação de massa, mas afirma que não se tem um conhecimento
global de sua incidência e que, em qualquer caso, as instituições devem
regular e corrigir os excessos, fazendo efetivo o respeito à promoção dos
direitos humanos (CUCURELLA, 2001, p.68).

Na versão crítica da análise sobre as relações entre meios de comunicação


e opinião pública, a mídia passa a ser transmissora de mensagens publicitárias e as
manifestações do público passam a ser espasmódicas, não racionais e originárias
de um agregado de indivíduos sem autonomia que, ao invés de participar da vida
política, faz pressão como consumidor, no sentido de que o Estado atenda as

necessidades identificadas em pesquisas de opinião, já que até a manipulação tem


limites e precisa atender, pelo menos em parte, essas demandas. Lipovetsky (1989)
critica a postura pessimista de Habermas, mas reconhece que a mídia moderna não
é capaz de criar um espaço comunicativo assim como teria sido a esfera pública

burguesa; porém, discorda que em função disso não exista mais possibilidade de
existir crítica racional no público. Para Lipovetsky, essa idéia parte do princípio de

que "aquilo que diverte não pode educar, o que distrai só pode desencadear atitudes
estereotipadas e o que é fácil e programado só pode produzir o assentimento
92

passivo" (LIPOVETSKY, 1989). O autor considera que não é possível falar em


desintegração da esfera pública, se considerarmos que se trata do lugar onde se

forma a opinião e a crítica do público. Há vários trabalhos que se contrapõem a ele,


mostrando como os conteúdos dos meios de comunicação são construídos
(OROZCO, 1994; ORTIZ, 1994; MARTIN-BARBERO, 2001).
Há também autores que defendem que tanto o modelo funcionalista, em
que os indivíduos agem estrategicamente em defesa de seus interesses, quanto o
modelo teórico-discursivo de Habermas apresentam problemas. De um lado, os

atores também são capazes de fazer relações públicas além da argumentação e, por
outro, isso não impede que eles possam participar do processo de constituição da
base de um poder fundado comunicativamente se as organizações forem permeáveis
aos impulsos da base da sociedade para a esfera pública (COSTA, 1995). Assim

como, segundo Gilberto Almeida (1996) tem havido um declínio do capitalismo social
democrata, mas também um fortalecimento de novos agrupamentos e organizações

não-governamentais que ampliam a esfera pública, o que pode ser considerado


como o fortalecimento da sociedade civil. Para Schudson (1994), o conceito de

esfera pública é indispensável como modelo de sociedade; porém, ele se afasta de


Habermas ao afirmar que o Estado também faz parte do espaço público e não é algo
fora dele, ao contrário do que acontece com a maioria dos comentadores de Habermas.
Nesse sentido, o parlamento passa a ser uma esfera pública no interior do
Estado. Como o parlamento é provido de poder de decisão, trata-se de uma esfera
pública forte, enquanto a esfera pública da sociedade civil é fraca, pois apenas emite
opiniões, sem tomar decisões. Schudson discorda da idéia de uma sociedade civil

em oposição ao Estado e ao poder econômico (1994). Ele considera que a relação


entre Estado e esfera pública é indissolúvel, pois não existiria opinião pública fora do

Estado, assim como não é possível existir opinião pública sem partidos políticos.
Para ele, se hoje há pouca participação política do cidadão comum, afastando os
integrantes dos grupos que compõem a opinião pública do centro decisório, com
93

exceção de raros momentos históricos, esse foi sempre o padrão de intervenção do


público na política. "Não se trata de uma maior ou menor participação ou racionalidade

no debate político, pois o voto continua sendo o momento central de uma democracia,
para o qual converge a discussão" (SCHUDSON, 1994). Ele critica ainda aqueles que
defendem a existência de várias esferas públicas, visto que é possível a emergência

de discursos de vários pontos da sociedade civil – o que, aliás, seria positivo –, mas
todos devem convergir para a única esfera pública em que se tomam decisões. Na

mesma direção, Dominique Wolton (1996) mostra que a comunicação de massa é a


condição funcional e normativa do espaço público alargado e da democracia de
massa, mas que ela não pode, sozinha, garantir a qualidade do funcionamento do
espaço público. Um dos problemas que provoca discussões sobre a qualidade do

espaço público é gerado pelo papel regular das pesquisas de opinião, que
constróem uma representação permanente da opinião pública e passam a ser

condição para o funcionamento desse espaço público em uma democracia de massa


(WOLTON, 1996). Some-se a isso o fato de que o público não vota sobre a grande
maioria das questões abordadas pelas pesquisas de opinião pública.

Antes de publicar o texto "Historia y critica de la opinión pública: la


transformación estructural de la vida pública", na Alemanha, em 1965, Habermas
produziu um texto que trata mais especificamente da opinião pública, chamado
"Comunicação, opinião pública e poder", onde delineia as idéias gerais que darão

forma ao conceito de estrutura da esfera pública. Para ele, já nesse momento, o


Estado moderno tem a legitimidade da sua dominação política baseada na
soberania popular, sendo que a opinião pública passa a ser a fonte de autoridade
nas discussões que comprometem o todo. Isso torna a opinião pública o centro do
poder político no Estado moderno e, portanto, um foco natural de disputa pelo poder.
Habermas cita que a primeira definição que existe de opinião pública vem
do liberalismo, visto que a comunicação entre integrantes de um círculo restrito de
pessoas que gravitam em torno dos representantes públicos transforma-os em
94

formadores de opinião e, por conseqüência, em público raciocinador frente à grande


maioria que é aclamadora (HABERMAS, 1971). Outra definição de opinião pública é
institucionalista. Esta, para ele, apresenta uma série de problemas, pois desconsidera

critérios como racionalidade e representatividade. A opinião pública passa a ser,


então, a concepção dominante no parlamento que está ligado ao governo, mostrando a

este seus desejos. Assim, o partido majoritário passa a ser o representante da


opinião pública. A questão, dada por Habermas aqui é a de que os portadores da

opinião deixam de ser os sujeitos para passarem a ser as instituições.


Para criticar a impossibilidade de racionalização da opinião pública como
representante da maioria dos indivíduos, Habermas cita Gabriel Tarde. Este que
teria tratado primeiramente da opinião pública como uma opinião das massas, na

qual não há discussão, mas dominação política.

Ela [a opinião pública] se vê separada da conexão funcional das instituições


políticas e prontamente despida de seu caráter de opinião "pública"; ela é
tomada com o produto de um processo de comunicação no interior de
massas, que não é referido seja aos princípios da discussão, seja à
dominação política (HABERMAS, 1971, p.191).

Habermas ainda cita Bentley, para dizer que é impossível existir opinião

pública como atividade que reflita comportamentos de um grupo ou conjunto de


grupos. E, em uma definição de Dobb (1948), opinião pública refere-se a atividades
de pessoas diante de uma questão, quando elas fazem parte de um mesmo grupo
social. Habermas chama a atenção para o fato de que essa definição exclui uma
característica fundamental do conceito Liberal que é identificar a opinião pública
primeiramente com a massa e depois com o público. Para Habermas, opinião
pública só pode ser definida em termos de manipulação, "na qual os detentores de
poder político tentam harmonizar as disposições da população à doutrina e estrutura
política e aos resultados do processo de decisão corrente" (HABERMAS, 1971, p.192).
Além disso, o conceito de opinião pública no direito público, a institucionalista, é uma
95

ficção, e o conceito sócio-psicológico, uma evolução do Liberal, é diluído ao tentar


explicar como os indivíduos pensam em sociedade.

Essa opinião pública de que trata Habermas inclui todo tipo de comportamento,
inclusive os de origem privada, tais como a vontade de comprar uma geladeira
misturada com a opinião sobre a viabilidade da democracia. Ele identifica a formação
de três tipos de opiniões nos indivíduos. O primeiro tipo é o das opiniões informais,
que não são verbalizadas, e surgem a partir de evidências culturais não discutidas.
Normalmente são muito rígidas e podem ficar fora de qualquer reflexão, como, por

exemplo, a opinião sobre pena de morte. O segundo tipo é o das experiências


fundamentais pouco discutidas em função da novidade do tema. Também estão

abaixo do nível da reflexão, podendo ser identificadas mais como vontades geradas
por demandas até então inexistentes. Por exemplo, as atitudes em relação à guerra
ou o desejo de segurança. O terceiro tipo são as opiniões que surgem de evidências
freqüentemente discutidas e que são resultantes da ação da indústria cultural, tal
como a publicidade ou a manipulação pela propaganda (HABERMAS, 1971). Como
se pode perceber, as opiniões do primeiro tipo são arraigadas e quase imutáveis,

enquanto as do terceiro tipo são efêmeras, mutáveis e artificiais. Porém, todas elas
são opostas a uma opinião racional formada por meios literários.
Todo o debate proposto por Habermas sobre a impossibilidade de uma

opinião pública racional está baseado na distinção que ele faz entre público e
massa. Para o autor, a opinião pública na sociedade moderna não parte de um

público letrado e capaz de debater os temas gerais, mas sim de uma massa que
apresenta grande facilidade em se deixar dominar politicamente. Ele cita Wright

Mills, para distinguir público de massa: o público é apresentado como sendo o lugar
onde virtualmente tantas pessoas expressam opiniões quantas as que as recebem;
a comunicação consegue expressar qualquer opinião em público; é possível
encontrar uma via de ação efetiva por parte do público, mesmo quando for contra o
sistema de autoridade preponderante. Já a massa é apresentada como possuidora
96

de um número menor de pessoas que exprimem suas opiniões do que as que as


recebem; a organização das comunicações torna impossível ao indivíduo dar respostas

imediatas ou com algum efeito prático; a conversão da opinião em ação é controlada


por autoridades que organizam os canais e a massa não goza de autonomia das
instituições (HABERMAS, 1971). Como se percebe, Habermas identifica a opinião
pública das sociedades modernas muito mais como uma opinião de massas do que
com a do público.
Posteriormente, em 1990, numa reedição alemã do texto "Historia y critica

de la opinión pública: la transformación estructural de la vida pública", Habermas faz


uma revisão das teses centrais explicitadas anteriormente. Nessas, o centro do
debate não é mais o tipo de grupo que origina a opinião pública, se público ou
massa, mas os usos que os integrantes desse grupo são capazes de fazer das

informações recebidas. No prefácio da nova edição, ele diz que o espaço público
continua estabelecendo a mediação necessária entre sociedade civil e sistema

político, sendo insubstituível para a constituição democrática da opinião e vontade


coletiva (citado por AVRITZER e COSTA, 2004). Dentre as principais revisões feitas

por Habermas nos anos 90 está a relativização da tese de que a sociedade de


massa teria transformado os cidadãos de politicamente ativos e atores da cultura em
simples consumidores de entretenimento e privatistas. Para ele, é preciso levar em

conta o potencial crítico e de seleção do público, que é capaz de manter diferenças


internas e pluralidade, ainda que sofra intensas pressões homogeneizadoras da

mídia. Além disso, para ele, a fonte da legitimidade política não pode ser a vontade
do cidadão individual, mas o resultado do processo de comunicação que forma a

opinião e vontade coletiva.27 Esse processo permite que os impulsos originados da

27Para o Habermas dos anos 90, o espaço do livre para a formação da opinião pública continua
sendo o motor da política democrática no sentido empírico e também normativo. O conhecimento das
características desse espaço público e de suas possibilidades permite redimensionar aspectos
procedimentais. O autor propõe o modelo de política deliberativa para superar as debilidades das
democracias atuais. Nesse modelo, a soberania popular, como livre formação de opinião e vontade
97

sociedade cheguem até as instâncias de tomada de decisão. Outra importante revisão


feita por Habermas nesse período foi a consideração da existência de diferentes

grupos que juntos conformam a sociedade como um todo. Esses grupos, principalmente
associações da sociedade civil que são desvinculadas do Estado, seriam respon-
sáveis pela canalização das informações originadas na sociedade para os centros
decisórios (AVRITZER e COSTA, 2004).
À crítica amenizada de Habermas à opinião pública, no que diz respeitos

aos processos da sua formação, há também os ataques de Pierre Bourdieu sobre a


impossibilidade de se conhecer a opinião pública através das pesquisas
quantitativas e qualitativas de opinião. Bourdieu, no texto "A Opinião Pública Não
Existe" (1983), questiona três postulados dos instrumentos de pesquisa: o de que

qualquer pesquisa supõe que todos os integrantes do público devem ter uma opinião
sobre o tema; o de que todas as opiniões têm o mesmo valor e o de que, pelo fato

de se apresentar a mesma pergunta a todos, fica implícita a hipótese de que há um


consenso sobre os problemas e a respeito de que questões devem ser colocadas.

Para Bourdieu, todos os problemas propostos pelas pesquisas de opinião


estão ligados a interesses políticos e isso acaba direcionando o significado das
respostas. Sendo assim, as pesquisas de opinião passam a ser um instrumento de
ação política e "sua função mais importante é impor uma ilusão de que existe uma

opinião pública que é a soma aditiva das opiniões individuais" (BOURDIEU, 1983 p.174).
Como artefato, a opinião pública passa a ter a função principal de dissimular que

determinada opinião é resultado de um sistema de forças e tensões que não pode


ser considerado adequado para representar o estado da opinião de fato.
Destaca-se claramente que em seu texto, Bourdieu, ao contrário dos
autores tratados anteriormente, não está discutindo diretamente a existência ou a
maneira como a opinião pública se conforma, mas sim os instrumentos disponíveis para

comum, ocupa um lugar central nos requisitos procedimentais que devem ser exigidos para a
legitimação de práticas e decisões políticas (CUCURELLA, 2001).
98

apreendê-la. Tanto que o autor afirma que "todo exercício da força é acompanhado
de um discurso visando legitimar a força de quem o exerce [...] tal é o efeito fundamental

das pesquisas de opinião: construir a idéia de que existe uma opinião pública
unânime" (BOURDIEU, 1983, p.175). As pesquisas de opinião teriam a finalidade de
gerar um efeito de consenso na sociedade, indicando determinada opinião como

sendo majoritária, ainda que não fosse de fato. As respostas a essas pesquisas não
poderiam ser consideradas como o espelho da opinião pública existente, porque, em

primeiro lugar, é preciso considerar que nem todos têm opinião formada sobre os
mesmos temas, ou seja, as taxas de não respostas não podem ser ignoradas no
momento da análise dos resultados de pesquisas de opinião. As não respostas
oferecem importantes informações por poderem ser anteriores à direção da opinião.

Outro ponto importante apresentado na argumentação de Bourdieu diz respeito ao


fato de que todas as respostas são resultados da reinterpretação das perguntas em

função de interesses das pessoais às quais elas são apresentadas. "Um dos efeitos
mais perniciosos das pesquisas de opinião consiste precisamente em colocar
pessoas respondendo perguntas que elas não se fizeram" (BOURDIEU, 1983, p.

176). Por outro lado, é preciso considerar que as perguntas são feitas a indivíduos
que vivem em grupos e com constantes relações sociais de diferentes níveis. Por
isso, as pesquisas de opinião não buscam apenas as respostas individuais, mas a

agregação de respostas de indivíduos que, de alguma maneira, estão se


comunicando. O próprio Bourdieu minimiza os efeitos gerados pelo título do seu

texto o seguinte:

O que quis dizer foi que a opinião pública não existe, pelo menos na forma
que lhe atribuem os que têm interesse em afirmar sua existência. Disse que
por um lado havia opiniões constituídas. Mobilizadas por grupos de pressão
em torno de um sistema de interesses explicitamente formulados (BOURDIEU,
1983, p.182).

Segundo Maria José de Rezende (2004), Bourdieu está apontando para a


fragilidade das pesquisas baseadas no acúmulo de opiniões que não possuem a
99

mesma força real, o que acaba gerando os chamados "artefatos sem sentido". Para
ela, Bourdieu chama a atenção para o fato de que a problemática dominante nas

pesquisas de opinião interessa essencialmente às pessoas que detêm o poder.


Os organizadores de pesquisas de opinião podem formular questões que facilitem a
exaltação de determinadas posturas políticas, impedindo o desenvolvimento de
outras. Tais resultados, quando divulgados pela mídia não contribuiriam para um
debate público que potencializaria uma maior racionalidade do público. Percebe-se
claramente que os debates propostos por Bourdieu e seus comentadores estão mais

relacionados com os interesses daqueles que formulam as pesquisas de opinião do


que mais diretamente com a própria opinião pública. Mais uma vez, é preciso

destacar que a identificação da "saliência" de temas entre os integrantes do público


é desconsiderada por Bourdieu e seus comentadores.
As duas principais críticas ao conceito de opinião pública e seus estudos
apresentadas até aqui mostram que em Habermas28 há a impossibilidade de sua
existência (antes das revisões dos anos 90) e em Bourdieu a impossibilidade dela
ser apreendida, ainda que exista. Na verdade, estão baseadas em grande medida

na não distinção entre público e massa. Se a opinião pública for extraída da massa
realmente, ela tenderá a ser tão volátil (Habermas) que acabará se transformando
em algo intangível (Bourdieu). Por isso, é fundamental uma clara distinção entre massa
e público. Vale dizer que outros grupamentos sociais merecem atenção de estudos
sobre a sociedade desde o século XIX, tais como a multidão e a própria sociedade.

28 A exemplo do que acontece com Page e Shapiro (1992), nos textos pós-revisões dos
anos 90 habermas classifica a Opinião Pública em diferentes níveis. Ele chama de opiniões informais
ou não-públicas, por um lado, e opiniões formais ou institucionalmente autorizadas, por outro. As
opiniões não-públicas de Habermas se aproximam das opiniões primárias em Page e Shapiro,
segudno a definição dada pelo próprio autor, são opiniões (...)"normalmente excluídas da própria
discussão, como por exemplo, o posicionamento frente a pena de morte ou moral sexual, etc." (2003,
p. 284). Já as opiniões formais em Habermas podem ser consideradas equivalentes às correntes de
opinião em Page e Shapiro.
100

Em um texto chamado "A massa, o público e a opinião pública", Herbert


Blumer (1971) distingue objetivamente os dois tipos de grupamentos humanos e

apresenta uma definição de opinião pública como resultado do debate entre públicos
e não da massa. Para ele, a massa está ligada a uma agitação coletiva, de modo
que existe uma diversidade de seus participantes que possuem distintas vinculações
culturais, profissionais e materiais. Ela é composta por indivíduos anônimos, com pouca
interação e troca de experiências entre eles. Além disso, a organização interna da
massa é frágil e incapaz de agir de forma ordenada; considerando que a origem

cultural dos integrantes da massa é distinta e os interesses de cada um deles situam-


se fora do âmbito específico do grupo, o que dificulta a compreensão das questões

de forma ordenada (BLUMER, 1971).


Percebe-se pela definição acima que a massa é destituída de caracte-
rísticas da sociedade ou comunidade. Ela não possui organização social, costumes,
tradição, regras e lideranças institucionais fortes. Além disso, na massa, o indivíduo
busca atender objetivos próprios, não há cooperação, lealdade ou fidelidade entre
eles o que gera um comportamento instável em função de um processo confuso de

seleção das idéias. Blumer cita como exemplos de massas a corrida ao ouro e às
terras do oeste norte-americana no século XIX. No Brasil, pode ser exemplo de

comportamento de massa, por essa definição, os intensos processos migratórios


ocorridos em meados do século XX do campo para os grandes centros urbanos e
industriais. Para Blumer (1971) as massas são resultado de aglomerações de indivíduos

retirados de seu convívio social em busca de objetivos individuais, o que por um lado
impede a formação de uma identidade comum e relação entre os integrantes da

massa; por outro, facilita a manutenção da busca por objetivos individuais.


Já o público, para Blumer, é formado por pessoas que estão, de alguma

maneira, envolvidas no debate de uma questão qualquer; portanto, sempre existirá


divisão entre os integrantes do público, o que gera uma constante discussão sobre o
problema. Só é possível a formação do público quando há uma questão que gera
101

discussão e resulta em uma opinião coletiva. A existência de um comportamento


coletivo específico que diz respeito a uma questão dada, leva ao fato de que o público

desconsidera a tradição social ou padrões culturais, sendo tratada por meio do debate.
Sendo assim, público é um agrupamento natural, espontâneo, e não preestabelecido.
Ele depende do desacordo e da discussão para sua manutenção, o que leva a um
tipo específico de interação por caracterizar-se pelo conflito e não pela unanimidade
(BLUMER, 1971).
Se por um lado a sociedade age a partir de um padrão definido e de consenso,

a massa age pela simples convergência de escolhas individuais e o público busca


uma decisão ou opinião coletiva. Por isso, a opinião coletiva, que só pode ser obtida
a partir da discussão pública, é chamada de opinião pública aqui. Segundo o mesmo

autor, a opinião pública é um produto coletivo; logo, não constitui uma opinião unânime
e pode ser diferente da opinião de qualquer integrante do grupo individualmente.
Trata-se, na verdade, da tendência central fixada pela competição de opiniões

antagônicas. Sendo assim, ela representa o público como um todo, possibilitando a


ação em conjunto, mas que não é necessariamente baseada no consenso, pois ela

é capaz de levar a uma decisão, ainda que não seja unânime.


Outra característica importante é a de que a opinião pública forma-se
durante uma discussão, que possui argumentação e contra-argumentação, e, para
isso, é preciso que exista o que Blumer chama de "universo de discurso", definido
como a linguagem comum, compreendida e dominada por todos. Sendo assim, a
formação da opinião pública exige, além da compreensão coletiva, que as pessoas
estejam dispostas a partilhar experiências e fazer concessões (o que não está

presente na massa), pois sem isso o público não poderá agir de forma unificada.
Os indivíduos que compõem o público podem ser divididos em dois tipos.

Existem os indivíduos que pertencem a grupos de interesse e aqueles desvinculados


desses grupos, chamados de desinteressados, que normalmente formam a grande
maioria. Os debates e confrontos sobre temas públicos são resultado da oposição
102

de pontos de vista de grupos de interesse distintos. Todo grupo de interesse,


quando defende determinada opinião, busca ganhar a simpatia dos espectadores

desinteressados que, no início do debate, encontram-se à margem da disputa. Uma


vez que determinado tema controverso entra no espaço público, os indivíduos
desinteressados passam a agir como árbitros da questão, enquanto os integrantes
dos grupos de interesse tentam defender suas posições. "Por isso uma opinião pública
parece se situar a meio caminho entre um ponto de vista altamente emocional e
preconceituoso e uma opinião inteligente e reflexiva" (BLUMER, 1971, p. 185). Os
grupos de interesse usam de todos os meios publicitários disponíveis para gerar
atitudes emocionais e difundir desinformação, visando beneficiar seu ponto de vista.
Para Blumer, esse fato tem levado muitos estudos a desconsiderarem o caráter

racional da opinião pública, enfatizando sua emocionalidade e irracionalidade.


Porém, ele defende que, ao fazer uma avaliação a partir do confronto e julgamento,
a opinião pública é racional, mas "não precisa ser necessariamente inteligente"
(BLUMER, 1971). Isso porque o resultado a que chega o público em relação a
determinado tema depende do volume de informações disponíveis sobre essa

questão e a forma como elas foram apresentadas pelos grupos de interesse. Aqui
entra, portanto, o papel fundamental dos meios de comunicação, pois a existência
da opinião pública depende da atuação e vigência de uma discussão pública, que

passa pela mídia na sociedade moderna.


Os meios de comunicação transformaram-se no principal canal de difusão de

informações sobre temas públicos e de tentativas de convencimento dos indivíduos


desinteressados por parte dos grupos de pressão. O problema é a existência de um

limite, seja na capacidade de discussão do público, seja na difusão de informações e


opiniões pelos grupos de interesse. Quando há muitas questões públicas em debate
e as oportunidades para discussão aprofundada delas são limitadas, cresce a
possibilidade de manipulação dos indivíduos desinteressados por parte da propaganda
produzida pelos grupos de pressão.
103

Fica evidente que os meios de comunicação são um importante elemento


constituinte do espaço público, embora não possam ser confundidos com ele, pois

não são os únicos a desempenharem a função de publicização de informações e


idéias entre os atores sociais desse espaço. Partidos políticos, por exemplo,
conseguem permear o espaço público e servir como instrumento de difusão de
idéias e opiniões. Por competirem pelo mesmo espaço, em sociedades onde os
partidos políticos são melhores estruturados, eles conseguem representar melhor a
demanda do público, reconfigurando-o ao mesmo tempo e reduzindo-o ao espaço

de atuação dos meios de comunicação.


Em democracias como a brasileira, onde o sistema de representação

política e os partidos, por conseqüência, não têm uma tradição de continuidade,


sofrendo várias rupturas e adaptações aos interesses da elite política ao longo de
sua história, a mídia ganha espaço e importância como mediadora de informações e
opiniões na esfera pública. Há uma corrente de autores que consideram a interferência
na mídia nos processos políticos extremamente negativa. As maiores críticas são
dirigidas pela incoerência seqüencial e pela ordem de importância dada aos eventos

políticos pela mídia. De acordo com Wilson Gomes,

Do que parece extremamente importante hoje, pode-se não mais falar depois
de amanhã. Fatos, pessoas, povos e eventos aparecem na televisão e a
preenchem por semanas como se tivessem saído do nada, para onde poderão
retornar quando não mais produzirem audiência (GOMES, 2004 p.65).

Doris Graber (2003) vai além e afirma que, se considerarmos que os meios
de comunicação possuem características muito heterogêneas, não podemos
generalizar um único tipo de relação entre democracia e mídia. Isso porque a
diversidade da mídia é resultado das diversidades de condições sociais, econômicas
e políticas de uma sociedade democrática. "Os efeitos da mídia na política dependem
de interações complexas sobre inúmeros fatores que incluem desde as instituições
políticas e da mídia, até as características do cidadão individual" (GRABER, 2003,

p.141). De outra forma, sem ter a mesma visão negativa da relação entre mídia e
104

política, afirma que ao ocupar o espaço das mediações que é próprio da política, a
mídia estabelece uma nova diagramação dos espaços públicos.

No mesmo sentido, Mazzoleni (1999) diz que, para se entender a política


moderna, é preciso descrever o que caracteriza seus sistemas de atuação. Ele dá
ênfase à mídia, pois considera que em um sistema político, as entradas – que
podem ser demandas ou expressões dos cidadãos –, na esfera estatal, são
articuladas pela comunicação de massa que as canaliza em direção à arena política.
Posteriormente, essas demandas podem ser convertidas em ações ou políticas

públicas. Da mesma forma, as decisões tomadas na esfera estatal e que se


transformaram em políticas são relatadas ao público através da mídia (MAZZOLENI,
1999). Por isso, ao mesmo tempo em que reconhece a participação central da mídia

na organização da opinião pública, Mazzoleni também aponta para dois problemas


gerados nos sistemas democráticos, cuja centralização do contato entre esfera
estatal e esfera pública se dá por meios de comunicação comerciais. O problema
está, na verdade, no fato de que, a elite política, enquanto ocupa os espaços da
esfera estatal, sofre algum tipo de controle social, ainda que seja apenas através de
eleições periódicas. A mídia, no entanto, não precisa fazer nenhum tipo de

prestação de contas da sua atuação à sociedade, ou seja, enquanto a elite política


tem sua prática pautada na manutenção de valores sociais e desenvolve suas

atividades em função desses valores para continuar demonstrando possuir


condições de representação política, a mídia não tem esse compromisso
(MAZZOLENI, 1999, p.248). O que o autor desconsidera é a existência de controles
sociais formais que não deixa a mídia totalmente livre de comprometimentos, pois
em sistemas de comunicação comerciais ela é "controlada" pelo mercado que, em boa
medida, também defende os valores encontrados na sociedade. O segundo
problema apontado por ele está no fato de que a mídia tem a capacidade de
selecionar alguns atores e temas para dar ênfase na esfera pública, negligenciando
demais temas e atores.
105

Outro autor, Patterson (1997), antes de Mazzoleni, fez afirmações na


mesma direção. Segundo ele, a mídia é um ator político autônomo, diferente de

instituições políticas que visam manter os valores sociais para que a elite política
permaneça no poder. A mídia tem como objetivo final difundir informações através
de histórias, sem preocupação com os valores sociais (PATTERSON, 1997, p.446).
No entanto, essas questões só podem ser colocadas quando a mídia passa a ter um
papel central, deslocando da arena propriamente política a capacidade de mediação
dos temas públicos com a sociedade, ou seja, da esfera pública para a conformação

da opinião pública. A identificação desse deslocamento é importante porque a


política passa a ter que se adaptar às regras da mídia, tornando inevitável o tráfego
de idéias e valores políticos na esfera pública a partir da gramática midiática. Sendo
assim, segundo Luhmann,

Se os meios de comunicação são lúdicos-afetivos e são espetaculares, por


que devem deixar de ser assim quando tratarem de política? O discurso
político midiático não é predominantemente político, mas midiático e as
possibilidades comunicacionais dos meios impõem as condições para o
conteúdo (LUHMANN, 2000, p.91).

Um dos comentadores de Luhmann, Jorge Pedro Sousa, lembra que a

opinião pública não é inteiramente livre, mas manifesta-se em função da importância


que os meios de comunicação dão aos temas políticos. Por isso, o critério está
baseado na idéia de noticiabilidade. Para Sousa (2004 p.297),

esse tipo de investigação está orientada para a compreensão e avaliação


dos efeitos sócio-cognitivos da comunicação social nas sociedades pós-
industriais, partindo da idéia de que se precisa encontrar um novo conceito
de opinião pública que se ajuste à complexa sociedade atual.

A forma como a transmissão de informações e a formação de opinião no


espaço público acontece está diretamente relacionada aos instrumentos de publicização
de idéias que a esfera pública tem a sua disposição. No caso brasileiro, a mídia
comercial, que tende à neutralidade, tem sido o principal canal de acesso do cidadão
106

comum às informações necessárias para dar início ao debate público, a partir do


qual será formulada, então, a opinião pública.

É indiscutível que o crescimento da tecnologia de comunicação de massa a


partir do século XIX tenha gerado mudanças profundas na forma de construção dos
discursos e até mesmo das práticas políticas que são voltadas ao público. É provável
que exista uma relação direta das alterações de conteúdos com as mudanças
sociais vividas nos dois últimos séculos; porém, a forma do discurso político teve que
ser adequada às novas modalidades narrativas dos jornais, rádio, televisão e, mais

recentemente, da internet. Essa forma de publicizar um discurso político aproxima-se


da narrativa argumental ou novelada, como citado por Fermín Bouza (1998),

acrescentando aos elementos políticos tradicionais algumas características literárias


típicas de narrativas mitológicas como heróis, tragédias, frustrações, além de finais
felizes ou dramaticamente infelizes.
É preciso considerar ainda que a retórica da política na era midiática
também apresenta fundamentos não próprios dos meios de comunicação. Esses
fundamentos estão ligados diretamente às características da sociedade em que eles

se inserem. Ainda que os meios de comunicação consigam impor uma gramática


própria para o discurso político, é um equívoco debitar na mídia a responsabilidade
exclusiva pelos complexos fenômenos sociais que permeiam as relações entre os
indivíduos e grupos políticos de uma democracia. A realidade é muito mais ampla
que a capacidade da mídia em retratá-la a seu modo (BOUZA, 1998). Sendo assim, o
conceito de opinião pública só será formulado de maneira completa se levar em
consideração a forma como os conteúdos são veiculados na esfera pública. A
discussão de Luhmann, antecipada na citação acima, será aprofundada no próximo
capítulo, quando se trata da formulação de um conceito de opinião publica mais
próximo daquilo que importa ao trabalho. Porém, este não será completo se
desconsiderar a forma dada aos conteúdos informacionais sobre os quais se trava o
debate público entre elite e massa.
107

CAPÍTULO 3

EM BUSCA DE UM CONCEITO DE OPINIÃO PÚBLICA

A teoria cienífica apresenta-se como um programa


de percepção e de ação só revelado no trabalho
empírico(...) Teoria é uma construção provisória
elaborada para o trabalho empírico e ganha
menos com a polêmica teórica do que com a
defrontação com novos objetos.

(Pierre Bourdieu,2003)

Aqui, pretende-se aprofundar a discussão anterior sobre participação da


sociedade na esfera política a partir da esfera pública. O capítulo está dividido em três
tópicos. No primeiro, apresentam-se sumariamente os passos históricos que o
conceito de opinião percorreu desde a antiguidade grega até o final do século XX.
Em seguida, faz-se uma discussão sobre o conceito teórico atual que servirá de
base para a variável analítica, justificando a definição. Por fim, apresenta-se o
modelo extraído do trabalho de Page e Shapiro, o qual serve de base para testar as

hipóteses dos autores norte-americanos, aplicando-o à opinião pública brasileira.

3.1 ORIGENS E TENDÊNCIAS DO DEBATE SOBRE OPINIÃO PÚBLICA

O início do debate sobre opinião pública remete à antigüidade. Platão não

considerava importante o papel do cidadão comum na política. Para ele, o povo era
incapaz de compreender o funcionamento do governo, e o governante não deveria

se preocupar com as reivindicações. Assim, a opinião pública não era considerada


essencial para o bom funcionamento do governo. A doxa platônica representa o
mais baixo nível de conhecimento, identificada como uma forma de semi-ignorância,
baseada em ambigüidades que são consideradas reais pelo cidadão comum.
Enquanto a ciência se ocupa do ser, a opinião se preocupa com a sombra. Para
108

Platão, o público é o grande sofista (MUÑOZ-ALONSO, 1992, p.24), pois aparece aqui
um vínculo entre opinião e povo despreparado. Essa conexão vai perdurar através

dos séculos, dando início a uma interpretação pessimista e pejorativa da opinião


pública que chega até nossos dias.
A distinção entre esfera pública e privada se obscurece durante os primeiros
séculos da Idade Média, apesar de que o consentimento popular, junto da moderna
opinião pública, tenha uma importância decisiva e crescente, ainda que esse
consentimento não seja tanto um ato de vontade, mas o reconhecimento de que o

direito existe e as leis são respeitadas. Para Thomas Hobbes, um dos principais
teóricos do absolutismo, a opinião pública deve ser condenável por introduzir no

Estado um germe de anarquia e de corrupção (HOBBES, 1999). Sendo assim,


primeira reivindicação clara de autonomia da opinião pública só se dá de maneira
estruturada no pensamento liberal.
Porém, antes dos liberais, Maquiavel (1997) concluiu que a opinião pública
poderia ser útil aos interesses do governante e ao bem comum do Estado. Ele foi o
primeiro a dar uma feição pragmática ao uso da opinião pública como instrumento

para alcançar e manter o poder, pois sugere que a opinião pública pode ser manipulada
ou acomodada, mas nunca ignorada. Praticamente em todo "Príncipe" é possível
encontrar elementos de uma ciência da opinião e propaganda e até rudimentos de
relações públicas que devem ser tomadas por um governante precavido. No capítulo
IX, Maquiavel considera a reputação como elemento importante para adquirir o
poder. Já no capítulo XVIII, depois de afirmar que o príncipe não deve se preocupar
em ser infiel a suas promessas, porém, torna-se fundamental esconder a natureza
de suas ações, transformando-se em um grande simulador e dissimulador (MUÑOZ-
ALONSO, 1992, p.29). É interessante perceber que Maquiavel, autor preocupado

com a imagem do Príncipe e um teórico da monarquia absoluta, leva em


consideração a opinião pública com uma visão pejorativa inaugurada pelos gregos.
Até o final do século XVIII, a opinião pública não é valorizada, devendo ser levada
109

em conta apenas em função de sua utilidade como, por exemplo, para quem deseja
se manter no poder. Maquiavel também não a considera como geradora de posições

sociais consistentes a respeito das questões do Estado.


Já para Rousseau, a opinião pública expressa juízos morais, mas tais
juízos estão de acordo com a política e com os canais institucionais por meio dos
quais se exprimem. Há, no contrato social, portanto, uma revalorização da instituição
da censura, sendo o censor o ministro da lei da opinião pública (ROUSSEAU, 1999).
Por outro lado, é nos primeiros séculos da Idade Moderna, e apesar do

regime monárquico absolutista que imperava em quase toda Europa, que se criaram
condições para a existência de uma opinião pública autônoma a respeito do poder
político. Ao mesmo tempo em que os governantes passavam a ter consciência de

que necessitavam da opinião e da reputação como fundamento de seu poder. Nesse


período reaparece, então, uma distinção nítida entre o público e o privado (MUÑOZ-
ALONSO, 1992, p.32).

Com o Renascimento, a ênfase no indivíduo e em sua razão dá aos pareceres


individuais – ponto de vista exposto racionalmente – um valor que não tiveram no

universo medieval, baseados em critérios de autoridade e enfoques dogmáticos.


A passagem do teocentrismo medieval para o antropocentrismo moderno oferece uma
das principais condições para a consolidação da opinião individual, ultrapassando o
monolitismo ideológico da Idade Média, substituído por um pluralismo de fato que,
por sua vez, originou a opinião pública.

A idéia da existência de uma opinião pública consistente e coerente, como


defendida por Page e Shapiro (1992), aparece inicialmente no Iluminismo, sendo

impulsionada pelos pensadores liberais. Entre eles, John Locke foi o primeiro a falar
de uma lei da opinião ou reputação que é uma verdadeira lei filosófica: ela é a norma
das ações, serve para julgar se os atos públicos são virtuosos ou viciosos. Para ele, ao
formar a sociedade política, os homens abdicaram de seu poder individual em favor
do poder político, do uso da força contra os concidadãos, mas mantiveram intangível
110

o poder de julgar a virtude e o vício, além da bondade e da maldade de suas ações.


Na estruturação do Estado liberal, há uma radical distinção entre a lei moral,

expressa pela opinião pública, e a lei civil, expressa pela assembléia representativa
(LOCKE, 2002).
Os pensadores liberais ingleses e francecese dão continuidade ao

pensamento de Lock com Burke, Bentham, Constant e Guizot, acrescentando a


função política da opinião pública, tornando-a intermediária entre o eleitorado e o

poder legislativo, por exemplo. A opinião pública tem por função permitir a todos os
cidadãos uma ativa participação política, colocando-os em condições de poder
discutir e manifestar as próprias opiniões sobre as questões de interesse geral.
Apesar do tema ser ainda recente na literatura política nacional, a teoria social

brasileira tem-se ocupado dele há pelo menos três décadas.


O conceito de opinião pública obteve um novo status após o iluminismo e a

partir dos escritos de John Locke sobre a lei da opinião como forma de controle do
Estado, mas, em seguida, a primeira redesvalorização da opinião pública aparece
em Hegel. Para ele, trata-se da manifestação de juízos, opiniões e pareceres de

indivíduos a respeito de interesses comuns, sendo possível defini-la apenas como


fenômeno, que possui uma generalidade meramente formal, incapaz de atingir o
rigor da ciência. A sociedade civil, onde surge a opinião pública, seria um conjunto
anárquico e antagônico de tendências que não elimina as desigualdades. Sendo

assim, de interesses particulares não se pode chegar à universalidade.


A própria geração de liberais que sucedeu Constant começou a temer que
a opinião pública não fosse tão incorruptível como se acreditava até então, pois, de
acordo com Kant, o perigo da corrupção não vinha tanto do governo, mas da própria
sociedade, através do despotismo da maioria ou do conformismo da massa. Kant
tratou de modo sistemático a função da opinião pública no Estado Liberal, mesmo
sem ter usado esse termo, pois ele fala sobre a "publicidade" ou o "público".
Perguntando a si mesmo o que é iluminismo, responde que consiste em fazer uso da
111

própria razão em todos os campos. Antes de tudo, quem deve esclarecer o povo
sobre seus direitos e deveres não podem ser oficiais designados pelo Estado, mas

livres cultores do direito, filósofos: aqui, na desconfiança para com o Governo, pronto
sempre a dominar, fica clara a distinção entre política e moral, além da autonomia da
sociedade civil, composta por indivíduos racionais, frente ao Estado.
A crítica mais contundente à existência de uma opinião pública coerente é
a que considera que, em uma sociedade complexa, essa opinião deixa de ser
espontânea e racional – como postulada pelo liberalismo – para ser artificial,

construída externamente às esferas da sociedade livre, além de ser manipulada,


principalmente pelos meios de comunicação nas sociedades modernas (AMARAL,
2000). Essa crítica está presente em Pierre Bourdieu (1983) e em Patrick

Champagne (1998). Considerando a informação como um bem de consumo, ela


também é um produto consumido desigualmente. Sendo assim, se constituiria em uma
"fantasia liberal" sobre a existência da opinião pública em uma sociedade manipulada
por um sistema de comunicação que transita do oligopólio ao monopólio, fazendo
com que interesses particulares suplantem as demandas gerais da sociedade.
O debate sobre a existência ou não de uma opinião pública autônoma é superado no

trabalho de Page e Shapiro, pois eles distinguem a opinião pública primária da


secundária. Nesse sentido, a opinião de que trata Bourdieu, Champagne e os críticos

que os seguem não poderia ser estruturada e consistente, visto que se trata de
opiniões secundárias que, por natureza, sofrem influência de fatores conjunturais.
Já usando técnicas de amostragem e pesquisas de opinião, Angus
Campbell, no livro The American Voter, faz críticas à suposta sofisticação do
eleitorado. Ele afirma que

A opinião pública aparentemente não tinha uma estrutura lógica geral;


existia uma correlação muito frágil entre termos que presumivelmente
estavam correlacionados e as crenças sobre determinados temas não eram
estáveis ao longo do tempo (CAMPBELL et al., 1964, p. 76).
112

A conclusão, a partir de dados de survey, foi que o eleitor norte-americano


é quase completamente incapaz de julgar a racionalidade das ações do governo, ou

seja, de formar uma opinião pública coerente e racional. Enquanto o trabalho de


Campbell indica que a opinião do eleitor norte-americano sobre políticas públicas
não é consistente, Page e Shapiro (1992) criticam essa conclusão, mostrando que a
maioria das opiniões sobre políticas públicas mantêm-se ao longo do tempo,
enquanto outras apresentam mudanças consistentes com alterações sociais ou de
rupturas ideológicas.

Uma retomada dos princípios liberais clássicos sobre a opinião pública é


encontrada nas análises realizadas por Page e Shapiro no início dos anos 90, nos

Estados Unidos, com base em dados de seqüências históricas que permitem afirmar

Que: (a) as preferências sobre política pública do coletivo norte-americano


são reais, conhecidas, diferenciadas, modeladas e coerentes; (b) que as
preferências sobre políticas públicas geralmente são estáveis e quando
mudam isso ocorre em função de fatores compreensíveis e previsíveis;
(c) que os cidadãos não são incapazes de conhecer seus próprios
interesses ou o bem comum; (d) que o público geralmente reage a situações
e informações novas de modos sensatos e razoáveis; (e) que a falta de
informação disponível aos governantes sobre a opinião pública faz com que
os governos não respondam a ela (PAGE e SHAPIRO, 1992, p.383-394).

Como se vê, o debate conceitual histórico sobre opinião pública, principalmente


o mais recente, apresentado por Page e Shapiro, acontece em torno de três possibi-
lidades a respeito do seu comportamento: oscilação randômica, manutenção ao

longo do tempo ou mudança consistente (que pode ser gradual ou abrupta). Como
se afirmou no início, este trabalho não tem como objetivo traçar a origem da opinião
pública brasileira, mas a de mostrar se há consistência entre as opiniões ao longo do
tempo. Nesse sentido, procura-se identificar os padrões de comportamento das
opiniões, tendo como controle interno a persistência ou mudança de padrões de
opiniões e como controle externo os próprios acontecimentos da esfera pública, ou
seja, externos ao mundo privado dos cidadãos, tais como grandes fatos da história
política e social, no mesmo período, para explicar possíveis mudanças.
113

Ainda que de maneira indireta, existe na literatura política brasileira um início


de discussão sobre o papel da opinião pública nos processos políticos, principalmente

aqueles ligados às formas de representação. No Brasil, a partir dos anos 70, já com
o uso de pesquisas quantitativas, entra na agenda dos pesquisadores a necessidade
de estabelecer, primeiramente, um perfil do eleitor. Foi a partir desses trabalhos que
o tema opinião pública passou a ser tratado, ainda que marginalmente, nos estudos
nacionais da ciência política. Essas pesquisas iniciais constatavam baixos níveis de
informação política no eleitor médio e por isso ele é visto como sendo amorfo, com

pouca participação política e quase nenhuma capacidade de conscientização.


Parece que fatores de natureza conjuntural seriam mais importantes para conformar

as predisposições eleitorais do brasileiro e, por conseqüência, para uma parte


importante da opinião pública. Fica evidente que isso acontece porque o instrumento
de coleta de dados só permite ter informações em momentos específicos, que são
influenciados por questões conjunturais – tais como as campanhas eleitorais. No
entanto, essas análises mostram-se incompletas quando voltadas para a questão da
opinião pública, pois ela vai além das influências conjunturais.

O problema para o debate sobre opinião pública na ciência política brasileira é


ele não ter sido, até aqui, infelizmente, um objeto em si de estudos. Trabalhando
mais sobre temas gerais como os da ordem institucional, do autoritarismo, da
dominação, da democracia e do voto, autores como Victor Nunes Leal, Assis Brasil,
Oliveira Vianna, Gilberto Freire, Octávio Ianni, principalmente, tratam do público, das
massas, dos eleitores, das classes sociais e do papel da opinião pública indiretamente.
Mais recentemente, através dos estudos sobre eleições, voto e sistema partidário, o
debate sobre a gênese da opinião pública no Brasil começou a ganhar corpo.
Entretanto, tais estudos ocupam-se mais do comportamento eleitoral do que
propriamente da formação da opinião.
114

3.2 O DEBATE CONTEMPORÂNEO SOBRE OPINIÃO PÚBLICA

Tratar do conceito de opinião pública não é simples, visto não existir ainda
uma base conceitual consolidada. Em 1968, Victor O. Key (p.17) dizia ser impossível

falar sobre opinião pública por se tratar de uma tarefa muito difícil. Na mesma época
Philip Davison dizia que uma definição geralmente aceita de opinião pública não
existia, embora o uso do termo à época fosse crescente (DAVISON, 1968, p.188).
Para Jorge Luis Dader (1990), um enfoque sistêmico-estrutural sobre opinião pública,
apresentado por Otto Baumhauer, tem um rendimento significativo para a ciência

política. Segundo Dader, para Baumhauer, a opinião pública não pode ser considerada
algo estático, mas um fenômeno sujeito a transformações constantes em diferentes
contextos sociais. Sendo assim, diz que

Para Baumhauer, trata-se de um sistema aberto porque é um sistema


psicosocial de opinião pública que equivale a um ciclo com três momentos:
uma recepção de informação; a transformação da informação recebida, e; a
produção de opiniões compartilhadas com integrantes de grupos sociais
mais ou menos numerosos (DADER, 1990, p.191).

Seguindo essa conceituação, é preciso diferenciar o primeiro e o terceiro


momento, caso contrário seriam o mesmo ponto de um ciclo que se completa.
Baumhauer faz a distinção a partir das idéias de clima de opinião e corrente de
opinião, para identificar cada um dos pontos extremos indicados acima. Para ele,
clima de opinião consistiria em um conjunto de informações e idéias prévias,
incluindo opiniões preexistentes, que, a partir de algum elemento incentivador,
geram uma nova discussão pública e condicionam as correntes de opinião ou novas
opiniões elaboradas. Já a corrente de opinião se diferencia do momento anterior,
indeterminável, pelo fato de se mostrar altamente reconhecível como um grupo

organizado de uma expressão manifesta através dos principais meios de


comunicação pública (DADER, 1990).

Um conceito contemporâneo, mas um pouco diferente do apresentado por


Baumhauer, é o de Elisabeth Noelle-Neumann (1974). Para ela, a opinião pública é
115

muito parecida com a idéia de consenso básico existente em uma sociedade, sem
significar que se trata de uma espécie de pacto social racional ou conscientemente

acordado. Pelo contrário, ela surge de maneira espontânea e em todos os casos


consegue atingir a todos os indivíduos, pois o princípio básico da psicologia humana
é o medo de sentir-se isolado do resto do grupo. Isso não significa que opinião
pública, para ela, seja uma opinião majoritária ou unânime. Noelle-Neumann afirma
que podem existir várias correntes de opinião sobre o mesmo assunto. Como
característica básica da opinião pública, ela apresenta que são aquelas opiniões

pertencentes ao terreno da controvérsia, que podem ser expressas em público sem


se isolar dos demais.

Habermas também contribuiu para o conceito de opinião pública, além da


atenção específica que deu para a esfera pública. Ao tentar resumir um conceito de
opinião pública relacionada ao conceito de esfera pública, tratado no capítulo 2,
Habermas (1981) indica que essa opinião pode significar duas coisas diferentes. Ela
pode ser uma instância crítica dos cidadãos privados que participam de processos
de comunicação racional, tendo como interlocutores os integrantes da esfera estatal,

tais como representantes de instituições políticas, por exemplo, em que há uma


possibilidade real da realização de um debate público, aberto e democrático. Essa é
a opinião pública ideal ou paradigmática. Porém, a esfera pública também pode ser
uma instância meramente receptiva, em que os indivíduos isolados e sem
possibilidade de comunicação real com os representantes de instituições políticas,
reaja apenas aclamando, enquanto os representantes usam esse espaço para a
divulgação manipulativa das mensagens (citado por DADER, 1990, p.199). Essa
segunda definição é chamada de opinião manipulada. Para Habermas, é possível
encontrar no espaço público as duas formas de relação entre integrantes do público
116

e representantes de instituições políticas, os chamados notórios, mas lamentavelmente


tende a predominar a segunda definição, a receptiva, por uma série de motivos.29
Outro autor do século XX que propõe uma definição conceitual para a

opinião pública, é o sociólogo alemão Nikas Luhmann (2000), para quem a opinião
pública é tão básica e imensa quanto a estrutura temática da comunicação política.

Por considerar a importância da estrutura dos meios de comunicação na definição


de opinião pública, o conceito de Luhmann é tido como institucionalista, ao contrário de

Habermas e Noelle-Neuman. Segundo os dois últimos, a opinião pública deixa de


ser o resultado da discussão racional de temas de interesse público pelos
integrantes da sociedade civil, para passar a ser a coincidência efêmera que leva em
consideração alguns assuntos mais relevantes que outros. Sendo assim, o

fenômeno refere-se à coincidência da atenção geral e não ao tema, suas


características ou a instituição que o suscita (citado por DADER, 1990, p.209). De
acordo com Luhmann, opinião pública é a conversão do sistema político e social de
maneira transitória e parcial; porém, essa transformação não é controlada pelas
regras de tomada de decisão, que são racionais, mas pelas regras da atenção e

curiosidade. São estas últimas que vão definir os temas que alcançarão o ponto de
discussão.
Como demonstrado até aqui, durante toda a história do conceito e mesmo
entre os autores que trataram mais recentemente da opinião pública, o tema passou
a ser entendido de vulgar, comum ou majoritário, transformando-se em opinião

popular com repercussão política na forma de vontade geral, ou ainda, um conjunto


de opiniões coletivas organizadas, de autoridade moral na sociedade estabelecida

ou discutida, com consenso social básico, representação institucional de várias


opiniões; chegando até a opiniões sobre temas concretos ou um conjunto de

29Como se pode perceber, em ambas definições de opinião pública apresentadas por Habermas não
se considera a relação comunicacional, seja racional ou manipulativa, entre cidadãos comuns. Ele
sempre está tratando do tipo de comunicação que se dá entre os notórios e o cidadão comum.
117

opiniões divulgadas pela mídia (DADER, 1990, p.187). Algumas das definições
sumariadas acima são, inclusive, contraditórias; portanto, é preciso definir um

conceito de opinião pública que será transformado na segunda parte deste trabalho
em variável empírica, permitindo a análise desse fenômeno tão controverso na
prática. Sendo assim, conceitualmente, para este trabalho, a opinião pública é
pública em um duplo sentido. Primeiro, porque ela surge do debate público e,
segundo, porque seu objeto é qualquer coisa, desde que seja de domínio público.
A opinião pública que interessa aqui é uma opinião sobre assuntos que

dizem respeito à nação ou a outro agregado social, expressa de maneira livre por
homens que estão fora do governo, mas que reclamam o direito de que suas

opiniões possam influenciar ou determinar ações governamentais (BOBBIO, 1991).


Para Lane e Sears, uma das principais funções da opinião pública é oferecer
suporte a determinado regime político estável. É essa opinião que oferece uma efetiva
legitimidade ao sistema político e no qual inexiste legitimidade, o descontentamento
pode ser expresso por uma forma específica de apatia que é a alienação política
destrutiva e irracional (LANE e SEARS, 1964, p.2).
A elaboração de um conceito ou teoria da opinião pública tem início
formalmente no final do século XVII e segue até a primeira metade do século XIX.
Nesse período, multiplicavam-se as reflexões sobre o que é a opinião pública, espe-

cialmente sobre seu papel na nova ordem política. Era baseada no poder limitado,
dividido, na garantia dos direito, da liberdade do indivíduo e na publicidade da ação

política. Esta, então, fica submetida à vigilância dos cidadãos, ou seja, da opinião
pública. Apesar de o conceito de opinião pública ter ainda nos nossos dias uma

formação intelectual inacabada, o fenômeno a que se refere o conceito supõe alguns


comportamentos coletivos e uma determinada atitude a respeito de quem exerce o
poder. É, na verdade, um fenômeno tão antigo quanto a própria sociedade humana.
Grande parte da discussão sobre a opinião pública nas democracias
contemporâneas deriva do fato de ela ser considerada como influência legítima ou
118

não nas decisões de governo. A literatura a respeito do tema mostra que existe uma
crítica contundente em se considerar a opinião pública para a tomada de decisões

governamentais, visto que haveria uma "irracionalidade" nas manifestações da


opinião, uma vez que ela oscilaria de forma randômica ou em função de influências
conjunturais. Sendo assim, não serviria para direcionar decisões de políticas
públicas. Essa tradição de pensamento nasce em Platão e resiste até hoje através
de afirmações sobre a inexistência de uma opinião pública, conforme tese defendida
por Angus Campbell, Pierre Bourdieu e Patrick Champagne. Para debater essa teoria,

pesquisadores norte-americanos Benjamim Page e Robert Shapiro desenvolveram


uma metodologia de análise do comportamento da opinião pública norte-americana

ao longo de 50 anos, conseguindo identificar consistências na manutenção ou


mudanças da opinião pública norte-americana a respeito de temas de políticas
públicas. Isso indica não apenas a existência de uma opinião pública estruturada,
como também a pertinência dos governos em levá-la em consideração antes de
tomar decisões.
A análise da opinião pública pela literatura internacional indica atualmente

a existência de uma elaboração conceitual bastante avançada. Desse conceito


constam duas dimensões principais:
a) Direção, já que uma opinião tem direção quando inclui alguma qualidade
emocional de aprovação ou desaprovação a respeito de algo, e;
b) Intensidade, visto que as pessoas pensam mais sobre algumas de
suas opiniões do que em relação a outras.

O primeiro elemento identificado em uma opinião é a direção, pois tanto

individualmente quanto do ponto de vista coletivo, são produzidas disposições gerais


no sentido de adesão ou rejeição a uma idéia, com respostas positivas ou negativas.
Além do direcionamento da opinião, os indivíduos sentem-se mais interessados e
aptos a formularem opiniões sobre alguns temas em detrimento de outros. Essa
característica diz respeito à dimensão da intensidade. As diferentes intensidades,
119

quando estáveis ao longo do tempo, também servem para indicar uma maior lealdade
dos indivíduos ao grupo a que pertencem, pois eles permanecem discutindo e

apresentando opiniões sobre temas mais relevantes ao grupo.


Ao se conhecer a direção e a intensidade da opinião individual, é possível
não apenas posicionar um indivíduo ou grupo em relação à opinião geral, mas
também determinar a relação dos padrões individuais com o padrão coletivo, além
de identificar a própria opinião pública a partir dos agregados de direções e
intensidades. De maneira geral, Lane e Sears mostram que pessoas com maior nível

educacional tendem a apresentar opiniões mais consistentes sobre temas congêneres.


No entanto, as duas dimensões de todas as opiniões individuais, que darão origem à

opinião pública, são influenciadas pelo contexto em que ela é formada –


independente do nível educacional do cidadão. Esse contexto, por sua vez, é composto
pelos seguintes elementos:
a) Estabilidade, que diz mais respeito ao portador da opinião do que à
própria opinião. A estabilidade garante a manutenção da intensidade e
direção ao longo do tempo. Quando ela não está presente, esses dois

fatores sofrem modificações;


b) Conteúdo informacional, pois as opiniões são formuladas e sustentadas
por maior ou menor grau de informações disponíveis ao indivíduo a
respeito do tema em questão;
c) Organização, que demonstra a capacidade de uma opinião em se
integrar ou não a opiniões a respeito de outros assuntos importantes;
d) Consistência, tem relação com a organização, pois quanto maior o grau
de consistência interna de uma opinião, melhor será a organização de um
cluster de opiniões;
e) Componente político, que está relacionado à questão da inconsistência
de uma opinião pessoal sobre determinado assunto em função de
120

diferentes situações de estímulo. Esses estímulos são chamados de


componentes políticos da opinião (LANE e SEARS, 1964, p.14-16).

Como o indivíduo formula opiniões sobre diferentes temas e as mantém ao


longo do tempo, é possível que algumas delas apresentem inconsistências em
relação às outras. Uma das explicações para isso é a de que as pessoas formulam
suas opiniões em função de diferentes condições sociais. Como nem todas as
condições mudam ao mesmo tempo, algumas opiniões podem acompanhar as
transformações de maneira mais rápida, enquanto outras permanecem praticamente
estáveis. Essa explicação diz respeito aos motivos externos ao indivíduo para a

mudança de opinião. Existem, no entanto, motivações internas, das quais se tratará


mais adiante.
Uma vez identificadas as principais características intrínsecas da opinião,
os geradores de mudanças consistentes da opinião pública podem ser agrupados
em dois grandes grupos. O primeiro é de caráter individual, gerado por auto-reflexão;
o segundo é de caráter social, definido aqui como rupturas ideológicas. Quando

ocorrem, as rupturas resultam em mudanças na opinião pública, tal como aconteceu


com a opinião pública norte-americana sobre os direitos civis e de minorias após os
anos 50, quando os movimentos a favor dos direitos das mulheres e dos negros
conseguiram incluir esse tema na agenda de debate público, modificando compor-
tamentos da elite política e das massas. Quando a ruptura ideológica se dá em uma
democracia, as transformações na opinião são o resultado do debate entre elite e
massa. Identificar esse debate, correlacionando-o aos momentos de significativas
mudanças de opinião, torna-se necessário para explicar as rupturas. Essas rupturas

ideológicas só são possíveis porque apesar dos líderes políticos e autoridades serem
respeitadas popularmente e receberem obediência do público, os mesmos integrantes
desse público podem reservar algumas qualidades de independência e autonomia.

As pessoas podem não fazer parte de um partido político ou grupo que


represente seus interesses, mas ser um participante crítico; assim como
alguns podem ser intensamente interessados e outros pouco interessados,
121

mas todos terão algum tipo de interesse e valores a serem apresentados e


defendidos (LANE e SEARS, 1964 p.18).

Interesse e participação implicam, no entanto, em responsabilidades na


busca de informações para formular e reformular (quando necessário) as opiniões.

Além de ter acesso às informações, o indivíduo precisa ter condições para


interpretá-las e aplicar essa interpretação a problemas específicos. Por isso Lane e

Sears consideram mais importante capacidades individuais de interpretação da


realidade do que as próprias fontes de informação de massa para a construção da

opinião. Eles ressaltam que as primeiras opiniões dos indivíduos são formadas na
infância, sob influência exclusiva dos pais e, muitas vezes, essas opiniões iniciais

servem de matriz para a formulação de novas opiniões até em pessoas com idade
avançada. Além disso, a disponibilidade individual para reformulação de opiniões já

construídas também varia ao longo do tempo. Nas palavras dos autores citados

Está relacionada à opinião pública um padrão histórico de mudança nas


opiniões individuais, que apresenta diversas forças. As crianças tendem a
aceitar os sentimentos de seus pais com muita facilidade, mas conforme
vão envelhecendo os indivíduos passam a adotar posturas mais
conservadoras. É, portanto, no período entre a adolescência e a idade
adulta, que se encontram as maiores possibilidades de inovação ou
mudança de opinião, pois nesse período os indivíduos encontram-se mais
ativamente em contato com professores, colegas de trabalho, líderes
políticos, personalidades, que podem influenciar suas posições (LANE e
SEARS, 1964, p.30).

Espera-se que pelo menos uma parcela dos integrantes da sociedade


esteja disponível para rever suas opiniões em determinado momento. Dessa forma,
trata-se de um equívoco bastante comum acreditar que, pelo menos em parte, a
opinião pública não é capaz de reagir a mudanças em situações sociais específicas.
No entanto, também é preciso considerar que as mudanças nos filhos e mais jovens
são mais rápidas que as percebidas nos pais ou nas pessoas com idade mais avançada.
As fontes de influência na opinião individual, além da difusão de informações
pela mídia, podem ser divididas em três grupos. O primeiro é chamado de grupo
primário, visto que as relações entre os indivíduos acontecem face a face. São a
122

família, colegas de trabalho e outros. Quando a relação face a face entre quem emite
uma mensagem ou opinião e quem a recebe é rara, trata-se de um grupo secundário,

podendo ser um sindicato, um partido político, uma entidade representativa de


segmento social, etc. O outro grupo é chamado de terciário, não sendo constituído
de uma organização formal entre seus membros que se identificam como
participantes do mesmo grupo por pertencerem a uma mesma categoria. Pode ser
uma comunidade, uma região geográfica, uma classe social ou simplesmente ser um
homem ou uma mulher (LANE e SEARS, 1964, p.34).
A identificação das diferenças entre os grupos é importante, pois elas
representam distinta intensidade nos processos de influência para a mudança de
opinião. Essa mudança pode ser estimulada através da comunicação direta entre

integrantes de um mesmo grupo, quando, por exemplo, um colega de trabalho


transmite uma nova informação com a intenção de convencê-lo a mudar de opinião a
respeito de determinado tema público. Outra forma de influência a favor da mudança
de opinião se dá pela persuasão massiva, feita por um dos integrantes do grupo a

um número maior de indivíduos, como por exemplo, durante o discurso de um líder


político aos integrantes do diretório de seu partido em uma convenção partidária.

Existe também uma terceira forma de influência para a mudança de opinião.


Ela se dá através de pontos de referência que ajudam os indivíduos a reformularem

suas opiniões, embora ninguém, individualmente, tenha tentado modificar suas


posições a respeito de um tema público. Isso acontece quando as normas de um

grupo servem como ponto de referência ao indivíduo. Nesse caso, o coletivo é


chamado de grupo de referência (LANE e SEARS, 1964).
Percebe-se que a ênfase na análise da formação e alteração da opinião
pública dada pelos autores está centrada nas relações interpressoais diretas,
relegando a um segundo plano a mídia como provedora de informações públicas e
como grande influenciadora das opiniões individuais. De qualquer maneira, a
evidência de desempenho na função de provedor de informação dos líderes de
123

opinião reforça a idéia de uma interelação entre os meios de comunicação, os


indivíduos portadores de características exemplares e o próprio público que, através

de uma complexa relação permite o fornecimento de informações à opinião pública,


como demonstra o quadro esquemático a seguir. Ele é adaptado do modelo de
Dumazeider sobre a função dos líderes de opinião nos fluxos de comunicação social
(CORRÊA, 1993, p.27).

QUADRO 3.1 - MODELO DE FLUXOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ADAPTADO DE DUMAZEIDER

No esquema de Dumazeider, os líderes de opinião desempenha um papel


fundamental pois servem de intérpretes às mensagens emitidas pelos meios de

comunicação de massa para boa parte do público e também são exemplos que
estimulam a participação do cidadão comum no debate público. Esse predomínio
dos grupos e líderes de opinião na literatura recente sobre processos de formação
de opinião pública é percebido porque os autores, ao tratarem dos integrantes de

grupos públicos, pensam primeiramente naqueles indivíduos com atividade direta e


mais intensa na política, tais como políticos, dirigentes públicos, parlamentares,
burocratas. Os demais, chamados de público geral apresentam um interesse menor,
possuem um volume de informações também pequeno e, por isso, estão mais
suscetíveis aos processos persuasivos dos meios de comunicação de massa,
124

contribuindo para a formação e mudança da opinião pública. Uma questão relevante


é a fonte, que em qualquer situação de persuasão, seja ela mídia ou outro indivíduo

em uma relação pessoal, "sempre tenta persuadir alguém a adotar determinada


posição" (LANE e SEARS, 1964, p.44).
Este trabalho parte do princípio de que a opinião pública não é capaz de

promover mudanças em si mesma, visto que ela é o resultado dos agregados de


alterações nas opiniões particulares. Além disso, as mudanças nas opiniões individuais

acontecem a partir de uma complexa matriz que envolve direção, intensidade,


contexto, organização e bases informacionais (não necessariamente originárias da
mídia). Os processos de influência a favor da transformação de opiniões individuais
apresentam, portanto, três componentes básicos:

1. Opinião do indivíduo que está sendo influenciado;


2. Avaliação que este indivíduo faz da fonte de influência, e;

3. Percepção que ele tem da posição da fonte de influência.

Se a opinião do indivíduo não for intensa; se ele confiar na fonte de

influência e se identificá-la em uma posição próxima à sua, formam-se as condições


para a mudança de opinião. No entanto, existe uma série de razões para que uma
pessoa apresente resistência a mudar de opinião. Isso pode se dar pelos seguintes
fatos: quando a opinião já foi testada na realidade e aprovada; quando existe algum

tipo de autoridade na fonte originária da opinião que impeça a mudança; quando a


opinião é ancorada nos mesmos valores que os apresentados pelos membros do
grupo de referência; quando o indivíduo usa a opinião para sustentar publicamente uma
posição; quando a opinião desempenha uma função social, econômica ou psíquica para
o indivíduo, também dificultando o processo de mudança (LANE e SEARS, 1964, p.54).

Ainda que as relações inter-pessoais, através dos três tipos de grupos, são
consideradas mais importantes para a influência direta da formação da opinião
pública, ainda assim os autores consideram que os indivíduos buscam a mídia para
se informar sobre temas públicos e interpretar o debate público devido a outras
125

funções inerentes aos meios de comunicação, tais como servir de uma ferramenta
para transmissão de informações à sua vida cotidiana; servir como lazer, através dos

conteúdos de entretenimento e por gerar prestígio social; conhecer o que


determinado articulista ou comentarista disse ou escreveu recentemente. Dentro
dessa lógica, as pessoas encontram evidências sobre o debate público nos meios de
comunicação quando recebem informações dos líderes ou das instituições políticas,
ou quando os assuntos são públicos e falam sobre o que o governo está fazendo.
Portanto, é possível considerar uma decisão racional na busca por informações na

mídia, ainda que ela não seja a fonte principal para a formação e mudanças na
opinião individual.

Como o cidadão racional está aberto a novas informações, e ele faz isso
sobre os assuntos mais importantes do momento que se encontram na agenda da
mídia; essas novas informações podem ser compatíveis com a opinião já existente,
ou em função das mudanças sociais, acabarem gerando inconsistências nas opiniões
já existentes em relação às informações recebidas recentemente pelos meios de
comunicação. Em função disso, o sujeito racional, que busca informações na mídia

sobre temas públicos, pode reformular suas opiniões a partir das informações
disponíveis e selecionadas por ele em função da relevância do tema. Essa pressão que
o consumidor de informações sobre temas públicos na mídia sofre, deixa-o exposto
a um aumento de inconsistências nas opiniões individuais sobre temas correlatos.
Por isso, dizem Lane e Sears (1964, p.73), o processo de ganho informacional para
o sujeito racional pode torná-lo apto a tolerar e perceber inconsistências em relação
a determinadas opiniões, estando mais capacitado a rever suas posições. Logo,
considera-se opinião racional30 aquela formada com base em informações recebidas

30A idéia de racionalidade em Lane e Sears não a contrapõe à existência de uma carga emocional
para a formação da opinião. Eles consideram a existência de um equilíbrio entre lógica e emoção.
Eles dizem, portanto, que "as formas como muitas opiniões são formadas contrariam a lógica da
racionalidade pura, pois muitas pessoas estão sob influência dos pais, ou a partir de normas de
grupos ou até mesmo sobre temas pouco conhecidos" (LANE e SEARS, 1964, p.74).
126

pela mídia e por integrantes de grupos que são intermediários dessas informações
sobre a realidade. Nesse sentido, Michael Kunczik (1997, p.290) assegura que

"a mídia interage com outros fatores intermediários de tal maneira que normalmente
a comunicação de massa não é a única causa da opinião, mas um fator entre vários
que reforçam as condições existentes".
Um modelo mais completo que o de Dumazeider para explicar os processos
de recepção de informações e formação de opinião é proposto por Vitalino Rovigatti.
Este, divide a opinião pública em dois níveis. Um primeiro, chamado de opinião

pública matriz, e um segundo, influenciado pelo que ele chama de fatos da atualidade e
carga emotiva. Para adaptar a terminologia aos conceitos aplicados a este trabalho,

o termo opinião pública matriz será substituído por "opinião primária", enquanto o juízo
de opinião pública será chamado de "opinião secundária". É possível mostrar, no
quadro a seguir, os principais momentos do processo para formar opiniões.

QUADRO 3.2 - PROCESSOS SOCIAIS PARA FORMAÇÃO DE OPINIÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA ADAPTADO
DE ROVIGATTI
127

Segundo esse modelo adaptado de Rovigatti (CORRÊA, 1993, p.37), as


opiniões secundárias são responsáveis pela geração de atitudes e comportamentos

medidos através de respostas a perguntas de surveys. No entanto, essa opinião é


resultado da intervenção direta de dois fatores. Primeiro tem-se a opinião pública

primária e as características sócio-culturais da sociedade, que também ajudam a


conformar a opinião primária. Depois, há ainda a incidência indireta de fatos novos e

carga emocional na opinião secundária, através do filtro da opinião primária. Esses


fatos novos chegam à opinião primária diretamente, através dos meios de comunicação
de massa ou dos líderes de opinião. Ambos, por sua vez, são responsáveis pela
transmissão de valores sociais básicos à opinião pública primária. Por fim, todo esse

sistema formado por características sócio-culturais básicas, meios de comunicação e


outros instrumentos de formação de opinião, opinião pública primária e carga emocional
são "realimentados" pelos comportamentos que materializam em forma de atos
sociais a opinião pública secundária. Como demonstra o esquema, a centralidade
dos instrumentos de opinião pública deve-se ao fato de que esses próprios

instrumentos levam a uma generalização de manifestações do público a respeito de


quase tudo (CORRÊA, 1993).
O debate teórico sobre o tema pela literatura internacional contemporânea

mostra tratar-se, em última análise, de um fenômeno político e social. Por isso, a


opinião pública só existe em relação a um grupo, cujo modo de expressão se

difunde através de redes de comunicação específicas. Aqui surge como questão


saber qual a origem das informações que são acessadas pelos integrantes do
público para formarem suas opiniões. Luis Martino, ao citar resultados de pesquisas
de Greenberg, explica que essa questão pode ser respondida ao se identificar a
probabilidade de se saber de um acontecimento pela mídia ou por intermédio de
alguém. Portanto, todas as possíveis fontes de informação são reunidas nesses dois
grandes grupos: mídia ou indivíduo. Para Martino:
128

De acordo com o modelo de Greenberg, a probabilidade de tomar


conhecimento de qualquer fato através da mídia será maior nos casos
extremos de retenção social do tema, isto é, em que pouca gente conhece o
fato ou que todos estão a par dele. No primeiro caso, das notícias
setorizadas, que são discutidas por grupos específicos, ou quando as
informações são de interesse social amplo, a maior probabilidade é de se
tomar conhecimento pela mídia; entre esses dois extremos estão os temas
não segmentados e sem tanto interesse público, cuja dependência do
indivíduo em relação à mídia para obter novas informações é quase
absoluta (MARTINO, 2003, p.95).

Considerando o esquema de Greenberg, a abrangência social de um tema


ajuda a identificar a fonte de informação pública que o indivíduo terá à disposição
para formar suas opiniões. Como a opinião depende de informações que são
constantemente atualizadas, é esperado que ela seja mutável ao longo do tempo,
porque exprime um juízo consciente, o que demonstra uma intenção de racionalidade.
Além disso, ela apresenta um aspecto apaixonante por também se situar no plano
emocional e no plano das crenças (FIGUEIREDO e CERVELLINI, 1995). A existência
de opinião pública, tal como a conhecemos atualmente, é um fenômeno moderno
que pressupõe uma sociedade civil distinta do Estado, livre e articulada, em que
existam centros que permitam a formação de opiniões não individuais e que estejam
fora do aparato público oficial, tais como jornais, clubes, salões, partidos políticos,
associações e mercado, interessados em controlar ou interferir na política do
governo e dos governantes, mesmo sem desenvolver uma atividade política imediata
e continuada (MUÑOZ-ALONSO, 1992).
Em complemento, é preciso considerar que a opinião pública nas sociedades
modernas faz parte do processo de comunicação, portanto, podendo ser entendida
como um dos efeitos do sistema de comunicação coletiva. Pressupõe-se, para tanto,
a existência de um estímulo, mensagem ou conteúdo de significados, produzido ou
emitido por alguém, e captado pelo todo ou por parte da sociedade. (CORRÊA,
1993). A opinião pública é resultado da interação entre indivíduos. Logo, não pode
ser explicada pelas ações ou opiniões prévias aos fatos a que se refere. Na verdade,
a troca de informações e de influências, que se acelera diante de novas ocorrências,
gera uma concepção da realidade que poderia não ter existido antes.
129

Pessoas tentam manter opiniões coerentes com as do grupo a que


pertencem, selecionando informações das mensagens (ou as próprias mensagens) a
que se expõem, dando atenção àquilo com o que previamente concordam e privando-se
do que as desagrada. Ao mesmo tempo em que as pessoas tendem a desprezar
mensagens contrárias às atitudes do grupo, os homens vêem esse mesmo compor-
tamento reforçado em seus contatos com os companheiros que exibem tendências
seletivas similares. Isso não significa que todos se exponham exatamente à mesma
quantidade e tipo de informação, ou que sejam influenciados pelos mesmos
aspectos da vida social. Cada um tem seu fundo particular de experiências e seu
catálogo privado de dados, embora selecione e julgue esses itens de acordo com
padrões coletivos (LAGE, 1998).
É essencial entender, entre outras coisas, em que condições as opiniões
primárias amplificadas pela dinâmica de grupo perdem a estabilidade e se
transformam. Isso depende da ativação de idéias, crenças, valores ou experiências
que as pessoas mantêm em recesso, exatamente porque contrariam escolhas ou
interesses do grupo a que pertencem em dada época ou até mesmo pela ausência
de novas informações sobre o tema circulando no meio social. Circunstâncias como
crises pessoais, afastamento ou rejeição do grupo, submissão à propaganda
contrária impossível de ser desconsiderada podem levar à reestruturação de atitudes
e, talvez, a novas afiliações – neste caso, com mudanças significativas da opinião.
(FIGUEIREDO, 2000). Compreendendo este processo de transformação das opiniões,
é possível julgar se ele se dá de maneira aleatória e totalmente irracional ou se há uma
estruturação racional que possa explicar as conformações e transformações da opinião.
Além disso, deve-se levar em conta que os homens nas sociedades modernas
não pertencem a um grupo só. Eles têm, certamente, algumas adesões maiores à
classe social, à cultura nacional e regional, a padrões que decorrem da faixa etária,
além de participarem de comunidades específicas, tais como os locais de trabalho e
as famílias, em que desenvolvem uma política de identificações e rejeições. Em
cada um desses grupos sociais, há pessoas particularmente ativas e capazes de se
130

expressar; são mais sensíveis do que outras aos interesses do grupo e mais
ansiosas de se manifestar em momentos importantes. Uma das funções desses
líderes é a mediação entre os meios de comunicação e os demais componentes do
grupo, os menos ativos (FIGUEIREDO, 2000). Os estudos nessa área têm
identificado pelo menos três públicos: aqueles orientados para um único assunto ou
tema (desemprego, habitação, meio ambiente, etc.); os organizados ou corporativos
(sindicatos, associações, etc.); os ideológicos (se posicionam sobre assuntos
públicos ditados pela natureza da ideologia) (BAQUERO, 1995).
De qualquer maneira, pode-se definir de forma geral que a opinião pública
na sociedade contemporânea é bastante diferente daquela descrita nos séculos XVII
e XVIII. Atualmente, ela pode ser considerada como o resultado da crise do modelo
anterior, mas também é marcada pelas condições sociais particulares. João Esteves
destaca duas dessas características por considerá-las fundamentais na definição da

opinião pública moderna e por estarem intimamente relacionadas entre si: "a
democracia de massa, em torno da qual se consolidou a vida das sociedades
ocidentais, e a extraordinária aceleração dos fluxos de comunicação e de informação
proporcionada pelos dispositivos tecnológicos de mediação simbólica" (ESTEVES,
1997).

3.3 TRANSFORMANDO UM CONCEITO TEÓRICO INACABADO EM VARIÁVEL

EMPÍRICA

Para uma análise empírica sobre a opinião pública é preciso considerar a


existência de duas esferas de opinião que se complementam. Há um estado de
opinião latente (também chamado de primário ou aquele que se mantém), ao se
apresentar uma diversificação em nível individual e ao oferecer uma continuidade
temporal a um esquema de referências em relação a determinado assunto público.
Isso seria o equivalente a uma opinião estática ou permanente. Quando muda,
normalmente o faz de maneira gradual e em uma única direção. Além da opinião
131

primária, existe a opinião dinâmica que corresponde a uma tomada de posição


pública frente a determinado problema em um momento específico, também
denominada de corrente de opinião ou opinião secundária.
As mudanças nas correntes de opinião, ou opinião secundária, ocorrem em
ondas, às vezes rápidas, que percorrem a sociedade gerando a inflexão de posições
antes identificadas como estáveis. Atitudes podem ser tomadas coletivamente com
base em opiniões não-homogêneas. Diante das tendências coletivas, cada pessoa
busca em seu passado argumentos que justifiquem sua adesão, e tais argumentos
podem se diferenciar bastante. Por isso transformações tecnológicas nas sociedades,
por exemplo, são vetores de inflexões em opiniões públicas estáveis.
As opiniões individuais, tomadas em dado momento do tempo, têm
propriedades distintas da opinião pública coletiva. Há uma influência nas predisposições
das pessoas na formulação das opiniões, mas a influência pessoal muitas vezes é
maior que a importância dos temas. A opinião primária pode ser considerada
inicialmente como racional, enquanto as preferências secundárias são influenciadas
pela conjuntura e altamente voláteis quando comparadas com a primeira. Os cidadãos
formam opiniões secundárias de acordo com as informações que recebem a cada
momento. Sendo assim, as respostas que o cidadão dá ao survey em dado momento
levam em conta essa opinião secundária (PAGE e SHAPIRO, 1992).
Dada a complexidade e as incertezas dos temas, é fácil ver como uma
opinião individual pode flutuar para baixo e para cima, até mesmo mostrando não-
atitudes, dependendo das informações recebidas mais recentemente (ALDÉ, 2001).
A repetição de uma questão, ao longo do tempo, termina aproximando a visão dos
indivíduos de um agregado coletivo. A opinião secundária é temporariamente afetada,
enquanto a média das opiniões gera tendências a longo prazo e preferências coletivas
(HOWLETT, 2000). A opinião pública primária, por sua vez, pode ser caracterizada
pela agregação de crenças individuais e das preferências ao longo do tempo.
Page e Shapiro usam como exemplo, para mostrar a diferença entre opinião
primária e secundária do norte-americano, o conjunto de resultados de pesquisas
132

feitas durante duas décadas (anos 70 e 80) a respeito do número de mísseis


nucleares MX que o país deveria produzir. Cada pesquisa mostra um número médio
de mísseis como ideal, influenciado pelo debate conjuntural, mas a reunião dos

dados coletados ao longo do tempo permitiu identificar a opinião primária do norte-


americano sobre esse tema (PAGE e SHAPIRO, 1992, p.20 e 21).
Toma-se um exemplo hipotético para entender a diferença entre opinião
primária e secundária, analisando o que poderia ser a opinião pública brasileira a
respeito da participação do Estado na economia. A representação da distribuição

das opiniões sobre qual deveria ser o percentual de participação do Estado na


economia brasileira em um survey se dá através de uma curva normal, como mostra
a ilustração a seguir, considerando que as opiniões sobre o grau de participação do
Estado na economia poderia variar de nenhuma a total.

PARTICIPAÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA

100

80

60
%

40

20

0
NP PP PT
NP: não participação; PP: participação parcial; PT: participação total

GRÁFICO 3.1 - EXEMPLO DE DISTRIBUIÇÃO DE OPINIÕES SOBRE PARTICIPAÇÃO DO ESTADO


NA ECONOMIA

Na ilustração, a curva normal indica a distribuição do percentual de

participação do Estado na economia, segundo as opiniões coletadas em um dado


momento. A obtenção de informações em um único survey mostra a opinião

secundária da população a respeito do tema, o que leva considerar as influências


133

externas à opinião, visto que o debate público sobre o Estado na economia é


controverso. Provavelmente, as respostas favoráveis à participação do Estado na

economia em uma pesquisa realizada nos anos 40, quando o debate público era
favorável à intervenção direta estatal no setor econômico – como forma de incentivo
ao desenvolvimento nacional –, teriam um percentual mais elevado do que em uma
pesquisa feita nos anos 90, quando o debate apresentava principalmente aspectos
desfavoráveis à participação do Estado na economia. Assim, em cada uma das
pesquisas isoladas tería-se a indicação de opiniões secundárias distintas, podendo

mostrar flutuações aleatórias ou até mesmo a inexistência de opinião formada a


respeito desse tema.

Para identificar a opinião primária do brasileiro sobre a participação do Estado


na economia, seria necessário obter uma série histórica de opiniões secundárias e,
partindo dela, estabelecer uma curva normal da opinião primária (M), como mostra a
ilustração abaixo. Isso indica que a distribuição normal das opiniões ao longo do
tempo (coletadas em vários surveys), quando agregada, indica a opinião primária.

PARTICIPAÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA

100

80

60
%

40

20

0
NP PP PT
NP: não participação; PP: participação parcial; PT: participação total

GRÁFICO 3.2 - EXEMPLO DA DIFERENÇA ENTRE OPINIÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA


134

Não existe oposição entre as duas formas, visto que uma opinião primária
pode ser mobilizada por determinado acontecimento e, em função disso, fazer surgir

uma corrente de opinião secundária. Quando se fala em formação da opinião


secundária, o correto seria dizer formação de uma corrente de opinião, muitas vezes
criada a partir da influência dos meios de comunicação ou dos líderes de opinião.
Essas correntes de opinião podem ser influenciadas, por exemplo, por políticos
quando se tratar de temas públicos (PAGE e SHAPIRO, 1992). A distinção entre os
dois momentos da opinião se faz fundamental para avançar no debate sobre o

conceito em questão e oferece uma ferramenta importante à metodologia de análise


empírica.
Os procedimentos para análises elaboradas por Page e Shapiro podem ser

divididos em três passos principais. Em primeiro lugar, eles averiguaram se 1.128


questões de survey, repetidas ao longo de 50 anos apresentaram ou não mudanças
significativas da opinião apurada a respeito de dezenas de temas. Isso foi feito da

seguinte forma: depois de excluírem as respostas "não sabe" e "não respondeu"31,


eles estabeleceram como ponto de corte a marca de seis pontos percentuais a 0,05

de nível de confiança. Isso significa que qualquer variação abaixo desse número foi
desconsiderada, e a opinião foi tomada como estável, pois a variação poderia ter
sido gerada por erro amostral ou qualquer outra interferência na coleta de informações

através de surveys. Em seguida, para as mudanças significativas encontradas, eles


classificaram os diferentes comportamentos, usando uma unidade para a análise da

magnitude e da velocidade das alterações na opinião. Por fim, os autores calcularam


a existência ou não de flutuação da opinião, isto é, se houve ou não mudanças

31 A opção neste trabalho de manter a exclusão das não-respostas (Não Sabe e Não
Respondeu) tem por objetivo aferir apenas as respostas válidas às perguntas sobre temas públicos;
no entanto, reconhece-se que isso pode gerar uma perda de informação que em alguns casos
poderia ser importante, pois, no limite, os percentuais de NS e NR podem ser maiores que as
respostas válidas. Porém, discutir a relação entre respostas válidas e não-válidas não é objetivo da
pesquisa.
135

significativas para baixo ou para cima em curtos espaços de tempo. Uma questão
metodológica apresentada como importante pelos autores é a de que as respostas

comparadas precisam ter sido dadas a perguntas idênticas e não apenas


semelhantes, pois diferenças na forma de apresentação de determinada questão
podem gerar interpretações distintas por parte dos respondentes de cada uma das
pesquisas, impossibilitando a comparação entre elas.
Em seu trabalho, Page e Shapiro partem da premissa de que a opinião
pública norte-americana é basicamente racional, comporta-se e se expressa após

deliberações cognitivas públicas. Para efeito de hipótese de trabalho, assume-se a


mesma premissa para o caso brasileiro. A partir do próximo capítulo testa-se, então,

esses pressupostos na opinião pública brasileira a partir dos resultados de


pesquisas de opinião realizadas no País.
136

PARTE II
137

CAPÍTULO 4

METODOLOGIA PARA ANÁLISE DE SÉRIES

TEMPORAIS DA OPINIÃO PÚBLICA BRASILEIRA

Neste capítulo, apresentam-se as principais técnicas de análise de séries


temporais, e suas adaptações, que serão utilizadas na pesquisa empírica sobre
opinião pública brasileira, em análises das séries de opiniões políticas e social do
brasileiro médio. No trabalho pioneiro sobre séries temporais de opinião pública, para

identificar coerência ou volatilidade, quando tratavam da opinião do norte-americano


médio, Page e Shapiro (1994) fizeram suas aferições a partir da verificação visual das

curvas de opinião plotadas em gráficos de linha. Esses gráficos permitem identificar


não apenas a direção da curva, como também a velocidade das transformações,
indicando quantitativamente as variações de opiniões. Aqui, além da análise visual,
apresentar-se-á como contraprova do comportamento das curvas, os resultados de
testes estatísticos específicos para análises de séries temporais que, além de indicar
quanto uma opinião muda em relação ao tempo e se essa mudança é significativa,

permitem mostrar quanto uma variável externa, que pode ser econômica ou social32,

pode explicar da mudança em uma opinião, considerada como variável dependente.


De acordo com Ostram (1978, p.9), uma série temporal é um conjunto de

dados específicos ordenados ao longo do tempo, e essa ordenação possibilita a


exploração de um conjunto de questões como a análise do comportamento de uma

variável no passado ou como ela pode se comportar no futuro. Como essas análises
são feitas a partir de adaptações de testes convencionais de regressão, adaptações

são necessárias devido a quebra de um pressuposto básico da regressão simples.

32Como variável externa econômica cita-se a taxa de desemprego, inflação ou valor do salário mínimo
como intervenientes na opinião pública brasileira sobre governos e governantes. Como variável
social, pode-se citar como exemplo a taxa de urbanização brasileira ou o percentual de brasileiros
cristãos. Esses exemplos podem explicar mudanças ou manutenções em opiniões sobre temas sociais.
138

No caso, é a existência de autocorrelação entre os dados presentes na curva.


A maior vantagem da análise de regressões de séries temporais é o fato de que ela

possibilita tanto explorar o passado como predizer o comportamento futuro das


variáveis. Para isso, o trabalho é feito em duas etapas: na primeira, trata-se do
mecanismo específico que descreve a evolução da variável ao longo do tempo, e, na
segunda, pode-se acrescentar um mecanismo matemático de previsão de futuro.
A pesquisa apresentada aqui trata apenas da primeira parte das possibilidades
analíticas, isto é, a descrição da trajetória das curvas de opinião pública no Brasil.

Morettim (2004) acrescenta à definição de séries temporais o fato de que


elas possam ser discretas ou contínuas, embora muitas vezes aquelas sejam

resultado da agregação, em intervalos de tempos iguais, de séries de observações


contínuas. O autor destaca a existência de dois enfoques de série temporais,

Um deles é chamado de análise no domínio temporal, com modelos


paramétricos e número finito de parâmetros, onde é usado o método ARIMA
de análise. No outro, a análise parte do domínio de freqüências e os
modelos não-paramétricos são testados por análises espectrais (MORETIM
e TOLOI, 2004, p.2).

Como este trabalho visa analisar variáveis contínuas, isto é, os percentuais

de opiniões válidas obtidas a partir de surveys, a análise ficará restrita ao domínio


temporal, com testes paramétricos, principalmente os de regressão específicos para
séries temporais. Basicamente, pretende-se mostrar a história de uma curva de
opinião a partir da identificação de sua posição em determinado momento do tempo
(Opt1) e suas possíveis variações em outro momento do tempo (Opt2).
A metodologia de análise, utilizada para estudos de seqüências temporais
de opinião pública, pode ser dividida em três passos principais anteriores aos testes
estatísticos específicos para esse tipo de série de dados: em primeiro lugar,
averiguam-se as questões de survey repetidas ao longo do tempo sobre determinados
temas de opinião pública. O objetivo é identificar se as opiniões apresentam ou não
mudanças significativas entre os diferentes pontos de coleta de informação. Para
139

isso, deve-se excluir as respostas "não sabe" e "não respondeu", pois o que se
busca são os posicionamentos daqueles que têm opiniões. Após excluir as não-

respostas é refeito o percentual de respostas, agora considerando como 100% o


total das respostas efetivamente dadas. Verifica-se, por exemplo, a linha temporal de
opinião dos brasileiros sobre como escolher o candidato, se através de
partidos/legenda ou pelo candidato, sem considerar o partido (voto personalista).

TABELA 4.1 - SÉRIE TEMPORAL DE VOTO PERSONALISTA NO BRASIL

% VÁLIDO
% ESCOLHE PELO
ANO NS/NR ESCOLHE PELO
CANDIDATO
CANDIDATO

1972 49,5 30,2 70,92


1982 36,6 26,5 49,80
1985 47,5 37,6 76,12
1988 51,2 15,1 60,31
1989 30,5 20,4 38,32
1998 78,0 11,0 87,64
2004 55,7 6,5 59,57

Se fossem tomadas as opiniões aferidas diretamente nos surveys, os


percentuais de voto em candidato ficariam subestimados, pois eles estariam levando
em consideração um percentual de eleitores que não souberam ou não quiseram
responder a pergunta. Logo, só se pode identificar uma ausência de opinião deles a

respeito desse tema. Além disso, dependendo do percentual que diz não ter opinião
ou não querer responder, o impacto no tamanho percentual de determinado grupo
é significativo.
No primeiro ano da tomada de opinião, em 1972, 30,2% dos entrevistados
disseram não saber ou não querer responder. Isso gerou um impacto de mais de 20

pontos percentuais entre o número dos que disseram escolher primeiro pelo candidato
no total da amostra e o percentual válido (excluindo as não opiniões) dos que escolhem

pelo candidato, passando, então, de 49,5% para 70,9%.


Já em 1998, com apenas 11% de não respostas, o percentual válido ficou

apenas nove pontos percentuais acima do aferido, passando de 78% para 87,6%.
140

Essa diferença de não-respostas pode gerar uma falácia, pois dá a falsa impressão
de que a opinião mudou significativamente quando, na verdade, pode ser apenas

uma mudança no percentual dos que não têm opinião ou não querem expressá-la –
o que em si fornece outra informação, que não diz respeito à opinião pública, mas ao
grau de participação do público quando procurado para expressar suas opiniões. Por
isso, há a necessidade de se extrair o percentual da opinião pesquisada a partir do
total das opiniões e não do total das respostas. Para tanto, basta excluir as não
respostas da pesquisa e refazer os percentuais a partir das respostas válidas.

O importante é perceber que mudanças substanciais nos percentuais de


não respostas em diferentes pesquisas sobre a mesma opinião quase sempre geram

a impressão de uma mudança significativa nas opiniões, ainda que ela não exista de
fato. Em outras palavras, isso acontece se em uma pesquisa, em um dado
momento, sobre uma opinião qualquer forem constatadas as seguintes respostas:
20% a favor, 40% contra e 40% não respostas sobre um tema qualquer. Em uma
pesquisa realizada em outro momento, as respostas para uma questão semelhante
foram: 30% a favor, 60% contra e 10% não respostas. Ainda que os valores pareçam

bastante distintos, ao se considerar apenas as respostas válidas, ter-se-á


exatamente o mesmo resultado nas duas pesquisas: 33,33% a favor e 66,66%
contra. A diferença nos valores brutos iniciais é causada pela redução no percentual
de não-respostas da segunda pesquisa em relação à primeira.
O segundo passo da metodologia de análise visual das curvas de opinião é
estabelecer como ponto de corte a marca de seis pontos percentuais, considerando
que grande parte das pesquisas de opinião pública produzidas apresenta um nível
de confiança de 0,05 e o tamanho de amostras em torno de 600 indivíduos, o que
resulta em uma margem de erro aceitável de cerca de 4 pontos percentuais. Isso
significa que qualquer variação abaixo desse número deve ser desconsiderada, e a
opinião tida como estável, pois uma variação dentro desses limites poderia ter sido
141

gerada por erro amostral ou qualquer outra interferência na coleta de informações


dos surveys.

Se as pesquisas fossem realizadas por amostras aleatórias simples, o ponto


de corte poderia ficar em três pontos percentuais. Esse é o valor mais apropriado
sob a ótica da técnica de análise por amostras, considerando o erro aceitável nesse
tamanho de amostras. Porém, como as pesquisas de opinião pública não têm amostras
aleatórias simples, mas estratificadas, sistemáticas ou por conglomerados33, a
possibilidade de ocorrência de diferença por erro amostral cresce. Sendo assim, o

critério de seis pontos percentuais, já utilizado por Page e Shapiro (1994), elimina as
chances de variações provocadas por erros de amostragem serem consideradas
mudanças reais de opinião e vice-versa. Em outras palavras, a ocorrência de erro

estatístico de tipo 1, quando se rejeita a hipótese nula de não independência entre


as observações mesmo ela sendo verdadeira, não ocorre.
Em terceiro lugar, no caso de existirem mudanças significativas na opinião

ao longo do tempo, ou seja, acima de seis pontos percentuais, é feita uma


classificação dos diferentes comportamentos da curva, usa-se, então, uma unidade

para a análise da magnitude (temporária ou permanente) e outra para velocidade


(gradual ou abrupta) das alterações na opinião.34

Em um experimento de séries temporais, existem basicamente dois

conjuntos de variáveis: as variáveis dependentes que se estuda ao longo do tempo


(chamadas de "y") e as intervenientes, que atuam de diferentes formas ao longo do

tempo (chamadas de "x"). Este trabalho parte da premissa de que a opinião pública
brasileira – variável "y" –, na maioria dos temas públicos, é basicamente racional,

33Parauma definição sobre tipos de amostras ver ALMEIDA, Carlos Alberto. Como são feitas as
pesquisas eleitorais e de opinião. Rio de Janeiro: FGV, 2002.

34Uma questão metodológica importante está nas respostas comparadas que precisam ter sido dadas
a perguntas idênticas e não apenas semelhantes, pois diferenças na forma de apresentação de
determinada questão poderiam gerar interpretações distintas por parte dos respondentes de cada
uma das pesquisas.
142

comportando-se e expressando-se após deliberações cognitivas públicas. Isso


significa que, mesmo com mudanças na opinião, em sua grande maioria, elas

podem ser explicadas por alterações estruturais da sociedade, através do debate


público entre elite e massa, ou estimulada por fatores conjunturais que têm efeitos
temporários sobre as curvas de opinião. Como a opinião pública sobre determinado
tema é o resultado do debate travado na sociedade a respeito de vários temas que
estão sendo debatidos ao mesmo tempo, pode-se imaginar que as mudanças de
algumas opiniões passam a interferir em outras. Além disso, os acontecimentos em

um dado momento podem ter influência na direção e na velocidade da mudança de


uma curva de opinião. Também existem opiniões sobre temas com características

específicas (muito sensíveis a eventos factuais) que não podem ser consideradas
racionais por oscilarem de maneira randômica ao longo do tempo.
Como exemplo de opinião volátil sobre um tema público, pode-se perceber
no gráfico a seguir que o percentual de eleitores brasileiros que diz decidir o voto
pela pessoa do candidato, independente do partido a que ele pertença, apresenta
variações significativas ao longo do tempo, pois ultrapassam o limite de seis pontos

percentuais, chegando a uma variação total de 30 pontos percentuais – o que


contraria a idéia de estabilidade ou mudança consistente ao longo do tempo. Entre
1985 e 1988, a diferença é de mais de 20 pontos percentuais, bastante acima do
limite de seis pontos percentuais para considerar a curva estável, como demonstra o
gráfico 4.1. Além disso, as mudanças na curva não seguem uma única tendência,
caracterizando-se por oscilações em diferentes direções. Nesse sentido, o crescimento
dos percentuais entre 1996 e 1998 também chega a 20 pontos percentuais. Por
outro lado, a segunda variável incluída no gráfico, a opinião de que corrupção é o
maior problema do país, coletada entre 1986 e 2002 não apresentou variações
acima dos 6 pontos percentuais, mostrando ser uma opinião estável durante todo o
período, tendo variado entre 6% e 3%. Com essa variação, considerando o erro
143

amostral, não é possível falar, sequer, em uma tendência de queda, pois as diferenças
dos percentuais entre cada ponto no tempo são muito pequenas.

100

90

80

70

60

50

40

30 vota em

20 candidato

10 maior problema

0 é corrupção
1972 1988 1992 1996 2000 2004
1985 1990 1994 1998 2002

GRÁFICO 4.1 - EXEMPLO DE SÉRIES TEMPORAIS COM COMPORTAMENTOS DISTINTOS

Assim como os exemplos mostrados no gráfico acima, de maneira geral, as


séries de tempo resultam da combinação de funções deterministas do tempo

(tendência, ciclo e sanozalidade) e de um termo aleatório. Essas funções deterministas


são chamadas por Morettim e Toloi (2004) de três componentes não-observáveis
que apresentam média zero e variância constante quando se trata de ruído branco
ou curva estacionária.

Porém, se a média for diferente de zero ter-se-á uma série não estacionária
e para tornar essa série estacionária é preciso deixá-la livre dos efeitos da
sazonalidade, pois como a tendência tem uma relação muito forte com a
sazonalidade, ajustando essa, combate-se o efeito não estacionário daquela
(MORETTIM e TOLOI, 2004, p.50).

Na prática, não é possível isolar um componente sem afetar o outro.


144

Sua fórmula pode ser representada da seguinte maneira:

Yt = Tt x St x Et

Onde,

Y = série temporal;
T = tendência;
S = Sanozalidade;
E = Erro aleatório.

A série só se desvia do traçado indicado pela função determinista do tempo

pela presença do erro aleatório (FAVA, 2000a, p 201). Segundo a autora,

Uma abordagem alternativa a essa é a que considera as séries de tempo


como sendo integralmente geradas por um mecanismo aleatório,
denominado processo estocástico, onde em cada instante de tempo existe
uma família de valores que a série pode assumir, aos quais estão
associadas probabilidades de ocorrência.

Como é possível que para cada instante de tempo haja uma probabilidade

própria de ocorrência de determinado valor, considera-se que cada variável possa


ter média e variância específicas, podendo identificar o mecanismo gerador de uma
série estocástica a partir da média dos valores efetivamente observados no tempo,
"porém, esse procedimento só é válido se o processo estocástico for estacionário"
(FAVA, 2000a, p.201).
Como se pode perceber, a viabilidade da análise estatística de séries
temporais, além da simples verificação visual, depende da existência de estacionaridade
na curva. Uma das suposições mais comuns sobre a série temporal é que ela é
estacionária, ou seja, que se desenvolva no tempo aleatoriamente, ao redor de uma
média constante, mostrando alguma forma de equilíbrio estável. A questão está, na
verdade, no fato de que a maioria das curvas temporais apresenta algum tipo de
sazonalidade ou intervenção externa, tornando-as não-estacionárias e inviabilizando
os testes estatísticos de regressão simples. Como a maioria dos modelos de análise
145

das séries temporais parte do princípio de que elas são estacionárias, é necessário
fazer uma transformação dos dados originais, quando não estacionários. A

transformação mais comum se dá pelas diferenças sucessivas da série original até


obter uma série estacionária. Outra forma comum de estacionarização da curva é
pelos retornos. Eles são importantes para as análises de séries temporais, pois
raramente apresentarem tendências e sazonalidades, além de normalmente não
serem auto-correlacionados (MORETTIM e TOLOI, 2004, p.5). Para este trabalho, a
constatação da não estacionaridade em uma curva de opinião já oferece uma

informação importante, isto é, a sua completa manutenção ao longo do tempo, sem


a intervenção de variáveis externas, tendências ou sazonalidade. Porém, isso não

significa que a curva será estável ao longo do tempo, pois ela pode sofrer alterações
em uma mesma direção ou mudar randomicamente.
Quando se analisa apenas a mudança de uma opinião ao longo do tempo,
está-se avaliando a evolução da curva de opinião. Dessa forma, levando em
consideração o tempo transcorrido, trata-se de uma análise univariada – com
apenas uma variável. Porém, é possível também fazer a análise das variáveis a

partir da inclusão de outras séries no modelo, para estabelecer o grau de relação


entre elas ao longo do tempo. Quando existe a inclusão de uma segunda variável (x)
na seqüência temporal, é possível que as mudanças nesta possam explicar a
dinâmica da variável y. Em alguns casos, pode-se identificar a forma de intervenção
de x; em outros, tanto x e y são separadas na série temporal (GOTMAN, 1984, p.49).
A partir dessas interações, há melhores condições para a adoção de
hipóteses sobre a forma da intervenção. Quando a série incluída é uma variável
quantitativa, trata-se de um modelo de transferência. Quando são variáveis binárias
(presença ou ausência), o objetivo é captar o efeito de eventos específicos e não
mensuráveis. Então, esse modelo é chamado de análise de intervenção (FAVA,
2000b, p.205).
146

Nos próximos capítulos, usam-se testes univariados, quando é analisado o


comportamento de uma curva de opinião ao longo do tempo, para saber se essa
curva é estável ou apresenta alterações acima do erro esperado durante o período.
Em alguns casos, serão incluídas variáveis intervenientes externas como forma de
explicação das mudanças. Essas variáveis podem ser contínuas, quando, na análise
de transferência, por exemplo, a taxa de população urbana brasileira aparece como
variável interveniente para a mudança nas opiniões sobre reforma agrária. Também
podem ser binárias (análise de intervenção) quando há presença ou ausência de
determinado presidente para explicar a mudança de avaliação do governo durante
o período.
Considerando os objetivos deste trabalho, define-se a intervenção ou a
transferência de um efeito qualquer como a ocorrência em um determinado momento
do tempo, visto que precisa ser conhecido a priori e manifestar-se por um intervalo
de tempo posterior, afetando temporária ou permanentemente a série em análise.
Esse impacto pode gerar um efeito em forma de degrau na curva de opinião, quando
for permanente. Por outro lado, apresentar uma forma de pulso, quando temporário.

Em geral, o efeito de uma intervenção muda o nível da série ou a sua


inclinação. No entanto, há três fontes de ruídos que podem deixar o efeito
da intervenção invisível: tendência, sazonalidade e erro aleatório [...] De
fato, se houver uma tendência em determinada série, o fato do nível pós-
intervenção ser maior que o nível pré-intervenção pode ser em função
apenas da tendência e não da intervenção (MORETTIM, 2004, p.283).

É bom lembrar que há também a possibilidade do impacto do evento na


curva ser nulo, ou seja, não causar mudanças nas opiniões. Porém, quando têm
importância, os eventos intervenientes podem criar quatro padrões de mudanças na
série temporal. A diferença entre esses padrões está relacionada com a duração da
mudança, que pode ser permanente ou temporária, e com a magnitude (também
chamada de formato), que pode ser abrupta ou gradual. Sendo assim, a mudança
causada por um componente interveniente da opinião pode ser permanente e
gradual ou permanente e abrupta; se a mudança for temporária, ela também pode
ser gradual ou abrupta, conforme resume a figura a seguir.
147

FIGURA 4.1 - PRINCIPAIS FORMATOS DE CURVAS TEMPORAIS SOB


INTERVENÇÃO EXTERNA
FONTE: Morettin e Toloi (2004, p. 285).

Três desses modelos de impacto podem ser determinados por um


componente interveniente simples (a, c e d). O padrão b (impacto gradual e

temporário) não pode ser identificado tão facilmente. Esse padrão costuma ser
menos útil entre os quatro por conta das diferentes variáveis intervenientes que
podem atuar nele (GOTMAN, 1984).
Um tipo específico de análise de intervenção merece um detalhamento
maior pelo rendimento analítico que possibilitará nas próximas seções: trata-se da
análise de séries temporais interrompidas ou de intervenção. Esse modelo analítico
parte dos princípios básicos da análise de séries temporais, acrescentando uma
intervenção discreta na curva (variável dummy). Nesse teste, a hipótese nula (H0) se
dá através da intervenção pontual de uma variável externa, visto que tem impacto no
comportamento da série temporal em análise. Segundo McDowall et al., esse tipo de
teste depende da existência de uma série temporal e de um evento discreto que
será relacionado a ela. Por isso, "os elementos que entram no cálculo do

comportamento da curva são a análise de um ponto antes da intervenção, a análise


148

de um ponto após a intervenção e um erro associado à curva temporal". (McDOWALL


et al., 1980, p.12). Busca-se responder, com esse tipo de experimento, se a série

estava mudando antes da intervenção da mesma forma como após. Figueiredo e


Aldé35 usaram as técnicas de análise de intervenção em séries temporais para
descrever as curvas históricas de intenção de votos de candidatos a presidente do

Brasil nas campanhas de 1989 a 2002. Isso se deu a partir da intervenção do início
do Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral (HGPE), quando, através da técnica de

auto-regressão, se obtém diferentes impactos do fator interveniente HGPE no

desempenho das intenções de voto de cada candidato. Como conclusão, os autores


afirmam, entre outras coisas, que "Nas quatro eleições analisadas, o modelo
analítico comportou-se de forma esperada, mostrando claramente o efeito da entrada

da propaganda na distribuição da intenção de voto para cada um dos candidatos."


(FIGUEIREDO e ALDÉ, 2004, p.4).
Nos próximos capítulos deste trabalho, todos os testes estatísticos de
análises de séries temporais36, seja univariada (apenas uma variável em relação ao
tempo), seja de transferência, de intervenção e de séries interrompidas, serão feitos

a partir do método de auto-regressão. Trata-se de um procedimento de estimação


por coeficientes de regressão para séries temporais com erros autocorrelacionados
de primeira ordem. Esse teste mostrou ser o mais apropriado para a coleção de

dados disponíveis sobre opinião pública brasileira no trabalho, por três motivos

35Os pesquisadores Marcus Figueiredo e Alessandra Aldé apresentaram o texto "Opinião Pública e
a
Audiências" na 15. Mesa do VI LUSOCOM na Universidade da Beira Interior Covilhã, Portugal, em
abril de 2004.

36O método estatístico mais difundido para análise de séries temporais é o ARIMA (Modelo Auto-
Regressivo Integrado de Médias Móveis); porém, para um trabalho como este, em que os testes são
feitos em curvas com poucos pontos e em muitas vezes com dados faltantes, o modelo pode se
tornar muito complexo e pouco prático. O método de auto-regressão utilizado aqui equivale a um
ARIMA (1, 0, 0), ou seja, um modelo com um retorno, sem integração e sem médias móveis. Para
maiores detalhes sobre ARIMA, ver John M. Gottman (Time-Series analysis: a comprehensive
introduction for social scientists. Cambridge: Cambridge University Press, 1984).
149

principais. Em primeiro lugar, a auto-regressão é um teste que parte do princípio da


inexistência de estacionaridade na curva e faz, automaticamente, a estacionarização

através do método de retorno de primeira ordem. Como se vê a seguir, todas as


curvas de opinião tornam-se estacionárias após o retorno de primeira ordem como
acontece com a maioria das séries temporais. Em alguns casos, apesar da presença
de estacionaridade, foi mantido o método por auto-regressão para dar maior
robustez estatística aos resultados. Segundo, a auto-regressão é um método que
permite trabalhar com curvas de pequena duração (poucos dados), o que é

importante quando se está usando métodos mais sofisticados de análises de séries


temporais, previstos para serem aplicados a centenas de pontos no tempo, enquanto

as séries de opinião pública brasileira que constam neste trabalho, apresentam, em


média, dez pontos ao longo do tempo. Por fim, o método autoregressivo possibilita
trabalhar com dados faltantes na curva (em função da presença do algoritmo de
máxima semelhança exata), o que nem sempre é possível em outros testes estatísticos
para séries temporais.
Vale relembrar que a inclusão de séries temporais de opinião pública em

testes estatísticos próprios, como a auto-regressão, não fez parte da proposta


analítica original de Page e Shapiro (1992), que basearam suas conclusões sobre a
opinião pública geral em análises visuais do comportamento das curvas em gráficos.
No próximo capítulo apresentam-se as curvas temporais de opiniões
políticas e sobre a sociedade brasileira. Essas curvas foram captadas em surveys
aplicados em amostras nacionais que identificaram a opinião do brasileiro sobre
variados temas, principalmente, nas últimas duas décadas e meia. Após as análises
visuais das curvas plotadas em gráficos, são apresentados os resultados de testes
de auto-regressão37 para análises temporais. Além das análises univariadas, ou

37O passo a passo dos critérios utilizados em testes de auto-regressão nos próximos capítulos está
no Apêndice Metodológico A. Junto com os bancos de dados em anexo, as informações no apêndice
mostram como realizar os testes utilizando o pacote estatístico SPSS.
150

seja, sobre o comportamento de uma variável apenas ao longo do tempo, para


identificar a manutenção ou não de determinada opinião no período, são incluídas

variáveis intervenientes como possíveis explicações para as mudanças. Embora o


objetivo do trabalho não seja aprofundar a explicação da intervenção de cada
variável na opinião, o que se busca são possíveis explicações para uma oscilação da
opinião que poderia levar, erroneamente, à idéia de volatilidade da opinião pública.
Considerando que é a contínua relação entre público em geral, elites e Estado a
responsável final pela moldagem e remodelagem da opinião pública, e considerando

também, que a sociedade está em constante transformação, é possível imaginar que


a opinião pública – resultado de intervenções de agentes sociais em permanente

evolução – apresente modificações ao longo do tempo. O importante é mostrar se


existe alguma possibilidade dessas modificações serem explicadas por efeitos de
variáveis intervenientes que ocorrem ao longo do tempo ou se, ao contrário, elas são
randômicas e não podem ser explicadas.
151

CAPÍTULO 5

OPINIÃO PÚBLICA BRASILEIRA NOS ÚLTIMOS 25 ANOS

5.1 O BRASILEIRO E AS OPINIÕES POLÍTICAS

5.1.1 Variação Mensal da Opinião sobre Governo e Governantes38

Antes de começar as análises das variações de opiniões políticas ao longo


dos anos, a coleção de dados já disponíveis no Brasil sobre opinião pública permite
a realização de testes com variações mensais das opiniões sobre os governantes,

com seqüência temporal que começa no final dos anos 80 e segue até 2005. As
pessoas são perguntadas se aprovam, desaprovam e se confiam ou não confiam no
governante, que pode ser o presidente da república, o governador ou prefeito. Além
disso, há também a aferição da imagem do País para a opinião pública brasileira,
independente de quem seja o governante. Como os testes de séries temporais

demandam um número maior de observações que o disponível nas séries anuais, o


objetivo dessa análise inicial das opiniões sobre os governantes é utilizar os
resultados dos testes de auto-regressão em uma coleção maior de dados para
identificar a manutenção ou mudança das opiniões a respeito dos governos e do
País. É possível estabelecer como hipótese inicial, a partir do que mostra o gráfico
5.1, que a opinião sobre os governantes seja altamente sensível ao desempenho
dos próprios governos a curto prazo, sofrendo alterações constantes, o que
aproxima a curva de um estado de opinião secundária, ou movida por correntes de

38O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo A.
152

opiniões, como mostra o gráfico a seguir, sobre a avaliação positiva e negativa do


Presidente.

100

90

80

70
Eleição FHC Reeleição FHC Eleição Lula

60

50

40

30

20

10 positivo

0 negativo
1987 1996 1998 1999 1999 2001 2002 2003 2004
1992 1996 1998 1999 2000 2001 2002 2004 2005

GRÁFICO 5.1 - SÉRIE MENSAL DE AVALIAÇÕES POSITIVAS E NEGATIVAS DO PRESIDENTE


DA REPÚBLICA (ID: 01 A 138 – ANEXO A)

Percebe-se que há uma grande volatilidade na avaliação positiva e


negativa do governo federal. No gráfico estão marcados os momentos eleitorais,
deixando claro que nas duas eleições de Fernando Henrique Cardoso (1994 e 1998)
as avaliações positiva e negativa do governo estavam muito próximas, com
diferença de 15 pontos percentuais aproximadamente nos meses da campanha
eleitoral. Deve-se considerar aqui que em 1998, apesar da proximidade entre as
duas curvas o presidente foi reeleito. No período eleitoral de 2002, quando ocorreu a
eleição de Lula, a diferença aproximada nos meses eleitorais cai para cerca de 10

pontos percentuais. Como Lula era o candidato da oposição, a proximidade das


curvas poderia indicar uma relação entre o desempenho do governo e o resultado

eleitoral, o que será testado a seguir.


153

Outras opiniões com seqüências próximas a mensais a partir do final dos


anos 80 podem ser relacionadas à avaliação do País, dos governadores e dos

prefeitos. O gráfico 5.2 mostra as opiniões positivas nas três curvas. Como se pode
perceber, a opinião positiva sobre o país apresentou um crescimento significativo a
partir de 1994, estabilizando-se em 1998, quando começou a oscilar significativamente.
Em 2000, ela voltou a estabilizar-se próximo a 75% de avaliação positiva do País. Já
a série de avaliações positivas dos governadores, que começa em 1995, apresenta-se
mais estável durante todo o período, porém, é clara a tendência de queda até 2000,

quando há uma mudança abrupta e permanente de quase dez pontos percentuais,


estabilizando-se próximo a 45% de avaliação positiva dos governadores. No caso

das avaliações dos prefeitos, a série histórica é menor. Tendo começado em 1999,
ela se mostra em forma de mudança gradual e contínua até 2001, quando apresenta
uma queda abrupta de 10 pontos percentuais, para estabilizar-se em torno de 45% a
partir de 2001.

100

90
FHC 1º FHC 2º Lula

80

70

60

50

40

30

20
governador positivo

10 prefeito positivo

0 país positivo
1987 1996 1998 1999 2000 2002 2003 2004
1995 1997 1999 1999 2001 2002 2004 2005

GRÁFICO 5.2 - SÉRIES TEMPORAIS DE AVALIAÇÕES POSITIVAS SOBRE PAÍS, GOVER-


NADORES DE ESTADO E PREFEITOS (ID: 01 A 138 – ANEXO A)
154

Como se pode perceber, a avaliação positiva do País está descolada das


avaliações dos governantes. Aquela se mostra instável no período em que

acontecem as crises econômicas internacionais, da Rússia e do Oriente, no final dos


anos 90 – durante o segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso –,
para depois voltar a se estabilizar. No caso das avaliações positivas de presidente
(gráfico 5.1), há uma grande volatilidade, que se apresenta em queda no período
das crises econômicas. É possível, pois, identificar alguma relação com o
governante, ou seja, dependendo do presidente, ela se modifica. Já as curvas de

opiniões positivas sobre governadores e prefeitos são mais estáveis, principalmente


a partir do final da década de 90.

Passando aos testes de auto-regressão para séries temporais, relacionou-


se as avaliações positivas e negativas dos governantes com algumas variáveis
explicativas, tais como o próprio tempo; a existência ou não de processos eleitorais,
no caso de presidente com os mandatos dos diferentes presidentes. A indicação de
uma mudança consistente ao longo os 18 anos pesquisados apenas na opinião
positiva sobre os prefeitos e a opinião positiva sobre o País. As demais opiniões não

apresentaram resultados de alterações dentro da margem de erro, mostrando que


variaram de maneira inconsistente ao longo do tempo, como indicam os gráficos
anteriores.

TABELA 5.1 - AUTO-REGRESSÃO PARA OPINIÃO SOBRE PRESIDENTE DA REPÚBLICA

REGRESSOR VARIABLE B APROX. PROB.

Presidente Positivo 1,078 0,106


Presidente Negativo -1,481 0,102
Aprovação Desempenho 1,808 0,310
Ano
País Positivo 1,498** 0,003
Governador Positivo 0,702 0,157
Prefeito Positivo 3,221** 0,010
** Significativo ao nível de 0,01

Quando considerada a variável dicotômica ano eleitoral (sim ou não) como


variável independente da auto-regressão, as curvas de opinião sobre desempenho
155

do presidente, aprovação do governo e avaliação do País não são significativamente


relevantes, indicando a possibilidade de estabilidade ou oscilação randômica. No

caso da avaliação positiva do País, trata-se de estabilidade visualmente percebida.


Já para as avaliações do governante, há mudanças randômicas na curva. Isso indica
que o impacto dos processos eleitorais nas avaliações que o cidadão faz dos
governantes e do País é muito pequeno.

TABELA 5.2 - AUTO-REGRESSÃO ENTRE MANDATO E AVALIAÇÃO DO PRESIDENTE

REGRESSOR VARIABLE B APROX. PROB.

Presidente Positivo 1,347 0,688


Presidente Negativo 2,226 0,454
Eleição
Aprovação Desempenho -13,761 0,821
País Positivo 0,047 0,989

Ao substituir a variável independente Período Eleitoral pelo governo39,


percebe-se um crescimento no número de relações significativas ao longo do tempo, ou
seja, de mudanças consistentes (em uma direção principal). As variáveis dependentes
Avaliação Positiva do Presidente e Avaliação Positiva do País apresentam crescimento

ao longo do tempo, indicando que os presidentes mais recentes apresentaram


desempenho melhor nessas opiniões em relação aos presidentes do início da curva,
como mostra a tabela 5.3. O mesmo acontece com a Avaliação Negativa do

Presidente, que diminui ao longo do tempo de maneira consistente, mostrando que


os presidentes mais recentes tiveram avaliações negativas em índices
historicamente menores que os presidentes do início da curva. Porém, a curva de
aprovação do desempenho dos governos não apresenta mudança significativa em
uma única direção ao longo de todo o período. A avaliação do País também cresce

39Aqui são considerados quatro períodos distintos sendo diferentes os governos de Lula, Fernando
Henrique Cardoso e Sarney, enquanto Fernando Collor de Melo e Itamar Franco são considerados no
mesmo governo.
156

significativamente nos períodos dos últimos governantes, quando comparados aos


do início da curva.

TABELA 5.3 - AUTO-REGRESSÃO PRESIDENTE E AVALIAÇÃO DO GOVERNO

REGRESSOR VARIABLE B APROX. PROB.

Presidente Positivo 8,288** 0,005


Presidente Negativo -10,683** 0,005
Nome Presidente
Aprovação Desempenho 10,725 0,270
País Positivo 7,982** 0,002
** Significativo ao nível de 0,01

Os resultados acima não são suficientes para explicar se as mudanças


acontecem em um governo específico ou se elas são resultados de alterações ao
longo do período, independente do governante. Por isso, justifica-se analisar as

curvas de opinião em cada governo, comparando-as com os demais períodos. Na


tabela 5.4, comparando o governo Lula com o restante do período, percebe-se que o
único resultado significativo estatisticamente é o da Avaliação Positiva do País, com
índice positivo em relação aos demais governos. Todas as outras variáveis apresentam

relações muito fracas ao longo do tempo, mostrando que até agosto de 2005 o
governo Lula não apresentava alterações significativas na opinião pública em

relação aos seus antecessores no que diz respeito à avaliação positiva, negativa e
aprovação do desempenho.

TABELA 5.4 - AUTO-REGRESSÃO ENTRE LULA E AVALIAÇÃO DO GOVERNO

REGRESSOR VARIABLE B APROX. PROB.

Presidente Positivo 7,955 0,095


Presidente Negativo -7,919 0,192
Lula
Aprovação Desempenho 10,725 0,270
País Positivo 7,895* 0,052
* Significativo ao nível de 0,05

Na comparação do governo de Fernando Henrique Cardoso, considerando


os dois mandatos, não há nenhuma alteração consistente das curvas ao longo do
tempo com os demais governantes, segundo a tabela 5.5. O mesmo acontece quando
157

se considera apenas o primeiro mandato, ou seja, naquele momento a opinião pública


avalia o governo FHC de maneira parecida com que são avaliados os presidentes
anteriores e posterior. Já no segundo mandato, percebe-se a existência de índices

de auto-regressão fortes e consistentes ao nível de significância de 0,01 para


Avaliação Positiva do Presidente e Aprovação do Desempenho do Presidente,

ambos coeficientes de relação no tempo negativos. Isso mostra que, no segundo


mandato de Fernando Henrique Cardoso, os índices de aprovação popular foram

significativamente menores que os dos demais presidentes. A Avaliação Negativa do


Presidente também variou de maneira consistente ao longo do segundo mandato de
FHC de forma positiva, ou seja, crescente em relação aos mandatos anteriores. Quando

comparados, os resultados dos dois mandatos de FHC se mantém consistentes com


os anteriores, pois, em relação ao segundo mandato, o primeiro apresenta um índice
estatisticamente significativo para a Avaliação Positiva do Presidente e para
Aprovação do Desempenho (este é significativo ao nível de 0,01). Em outras
palavras, se de maneira geral o primeiro mandato de FHC ficou na média das
avaliações dos presidentes dos últimos 18 anos, há uma variação significativa entre

os dois mandatos, pois, no segundo, ele apresentou uma queda nas avaliações
positivas e crescimento nos índices de rejeição que foram consistentes ao longo do
tempo, quando comparados aos demais períodos. Demonstra haver, portanto, uma

opinião pública não uniforme a respeito dos temas entre os dois mandatos.
158

TABELA 5.5 - AUTO-REGRESSÃO ENTRE FHC E AVALIAÇÃO DO GOVERNO

REGRESSOR VARIABLE B APROX. PROB.

Presidente Positivo 3,583 0,421


Presidente Negativo -6,354 0,229
FHC tudo
Aprovação Desempenho -10,725 0,270
País Positivo -3,564 0,418
Presidente Positivo 6,538 0,137
o Presidente Negativo -4,569 0,391
FHC 1. mandato
Aprovação Desempenho 12,435 0,235
País Positivo 0,716 0,895
Presidente Positivo -20,917** 0,000
o Presidente Negativo 22,069** 0,000
FHC 2. mandato
Aprovação Desempenho -32,442** 0,000
País Positivo -5,399 0,177
Presidente Positivo 7,416* 0,043
FHC 1.o mandato e Presidente Negativo -3,238 0,521
FHC 2.o mandato Aprovação Desempenho 29,098** 0,000
País Positivo 5,572 0,289
* Significativo ao nível de 0,05
** Significativo ao nível de 0,01

Considerando que foi no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso


que aconteceram as principais crises econômicas internacionais do período, é
possível indicar a existência de uma correlação entre a avaliação econômica que o
cidadão faz do País com a do governante. Por isso, inclui-se como variável
dependente no modelo a avaliação que as pessoas fazem de suas próprias rendas
nos seis meses anteriores à pesquisa e a expectativa que elas têm em relação à
própria renda para os próximos seis meses. O gráfico 5.3 mostra uma constante
estabilidade ao longo do tempo para as respostas de crescimento da renda nos
últimos seis meses – em torno de 15%. Já a curva de expectativa de crescimento de
renda no próximo semestre apresenta uma volatilidade grande durante todo o período.
Até 2000, ela tinha uma tendência de queda, quando subiu significativamente o
percentual dos que esperavam melhoria na renda em um futuro próximo, para voltar
a cair até 2002 e depois reapresentar uma curva de oscilação entre crescimento e
queda. Outra informação importante fornecida pelo gráfico é o de que até 2004 a
distância entre a expectativa de melhoria de renda e a melhoria efetiva de renda
ultrapassava, na maioria das vezes, dez pontos percentuais, chegando a 50 pontos
159

percentuais em 2003. Porém, a partir de então, as duas curvas começaram a


convergir e o percentual de brasileiros que acreditam que sua renda melhorará nos
próximos seis meses passou a ser de apenas 10 pontos percentuais superior ao
percentual dos que disseram que sua renda aumentou efetivamente no último
semestre. Testes de auto-regressão vão mostrar a existência ou não da relação
entre essas variáveis econômicas e as avaliações dos governantes. Um dos
primeiros trabalhos a relacionar avaliação de governos democráticos com situação
econômica foi de Inglehart (1988), quando ao comparar a opinião pública de vários
países sobre o quadro político com a situação pessoal, o autor argumenta que
existem tendências de curto e longo prazo nas avaliações dos governantes.
A característica de longo prazo está relacionada à cultura política e tende a se
manter no tempo, apesar das oscilações causadas pela conjuntura econômica;
nesse caso, o nível de satisfação com os governantes tende a declinar rapidamente
em democracias atingidas por crises econômicas (INGLEHART, citado por
MUSZYNSKI, 1990). O gráfico 5.3 mostra as oscilações ao longo do tempo na

opinião pública brasileira sobre a perspectiva de melhoria da renda nos próximos


meses e se isso aconteceu de fato nos meses anteriores. Como pode-se perceber, a
curva de expectativa de melhoria é sempre superior à do aumento de renda real.
A questão é saber se tanto a expectativa quanto o ganho real de renda têm impacto
nas avaliações dos governos brasileiros, como identificado por Inglehart nas
democracias européias dos anos 80.
160

100

90

80

70

60

50

40

30

20 renda

aumentou
10
renda

0 aumentará
1987 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
1993 1996 1998 1999 1999 2001 2002 2003 2004 2005

GRÁFICO 5.3 - SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE RENDA PESSOAL (ID: 01 A 138 – ANEXO A)

Para os testes de auto-regressão foram consideradas as respostas


positivas, ou seja, o percentual dos que responderam que a renda cresceu nos
últimos seis meses e que crescerá no próximo semestre. As variáveis regressoras
são a avaliação positiva do País, do presidente e do governo (nome do presidente).
Porém, em relação ao governo Lula foi até agosto de 2005 e em relação ao segundo
mandato de Fernando Henrique Cardoso, já a curva de respostas sobre renda
começa apenas no segundo semestre de 1997.

TABELA 5.6 - AUTO-REGRESSÃO AVALIAÇÃO DO PAÍS, GOVERNANTE E GOVERNO COM


VARIÁVEIS ECONÔMICAS

REGRESSOR DEPENDENTE B APROX. PROB.

Renda aumentou -0,131 0,615


País Positivo
Renda vai aumentar 0,340** 0,001
Renda aumentou 0,329 0,404
Presidente Positivo
Renda vai aumentar 0,856** 0,000
Renda aumentou 0,002 0,705
Lula
Renda vai aumentar 0,002 0,468
o
Renda aumentou -0,008 0,303
FHC 2. mandato
Renda vai aumentar -0,010** 0,004
** Significativo ao nível de 0,01
161

Os resultados mostram que não existe relação ao longo do tempo entre a

variável econômica "renda cresceu nos últimos seis meses" e todas as variáveis
regressoras incluídas no modelo. Porém, a expectativa de crescimento da renda no
próximo semestre aponta para mudanças significativas ao longo do tempo em relação a
algumas variáveis regressoras. É o caso da avaliação positiva do País e a expectativa
de aumento da renda. Também há uma relação significativamente positiva entre a
expectativa de aumento da renda e a avaliação positiva do presidente, confirmando

a hipótese inicial de relação entre avaliação econômica e avaliação do desempenho do


governante. Já em relação aos diferentes mandatos, ao governo Lula especificamente e

ao primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, as alterações na expectativa


de aumento de renda não são significativas. No entanto, a expectativa de crescimento
de renda no segundo mandato de FHC é significativamente menor que nos demais
períodos, indicando uma relação direta entre a variável econômica e o desempenho
dos governantes.

5.1.2 Avaliação Anual de Governantes40

Faz-se a análise da mudança de opinião anual sobre os governos e


governantes a partir de dados coletados nos mesmos meses de cada ano da curva.

Considerando que as variáveis econômicas apresentaram rendimento analítico para


explicar a volatilidade nas opiniões sobre os governos, serão incluídos outros dados
de origem econômica para aprofundar a explicação. A opinião pública sobre
aprovação ou rejeição de governos e governantes carrega por origem a volatilidade
como característica, pois é esperado que ela se mostre sensível às mudanças de
governos, de políticas públicas e, como resposta, aos resultados das ações políticas

40O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo B.
162

das diferentes esferas de poder político. O gráfico 5.4 mostra a dinâmica da opinião
do brasileiro a respeito do desempenho do presidente da república, quando os

respondentes avaliam de maneira positiva ou negativa o governo federal.

100

90

80

70

60

50

40

30

20
positiva
10

0 negativa
1987 1992 1996 2000 2004
1989 1994 1998 2002

GRÁFICO 5.4 - SÉRIE ANUAL AVALIAÇÃO POSITIVA E NEGATIVA DO PRESIDENTE (ID:4


A 7;9 A11;1,25,31,36,64,79,91,107,119,131,138 – ANEXO B)

É possível perceber uma oscilação muito grande nas tendências das


curvas sobre as opiniões a respeito dos governos dos presidentes entre 1987 e
2005. A opinião negativa a respeito do governo varia entre 70% em 1989 até 9% em
1994. Já a opinião positiva vai do mínimo de 5% em 1989 até 47% em 1996. Apesar

das grandes oscilações, as somas das primeiras diferenças nas duas variáveis
indica uma tendência histórica de crescimento da opinião positiva, pois o resultado é

de 30,16 e uma queda na tendência de avaliação negativa com o resultado da soma


das primeiras diferenças resultando em –38,16. Como a queda nas opiniões

negativas foi maior que o crescimento nas opiniões positivas, quando consideradas
as diferenças de primeira ordem, pode-se concluir que uma parte do público deixou
163

de avaliar negativamente o governo nesse período, mas não passou a avaliá-lo


positivamente, ficando na avaliação regular.

Como os resultados dos testes de auto-regressão indicam que os valores


das opiniões positivas e negativas sobre os governos apresentam não-estacio-
naridade41, não é possível usar os testes de regressão linear clássicos para medir o
tamanho da mudança ao longo do tempo. Os resultados das autorregressões de
séries temporais confirmam o que foi indicado pela soma das primeiras diferenças,
porém em uma proporção menor em função do ajuste pela desconsideração dos

efeitos retardados. Pelo teste, ao longo do tempo, o coeficiente Beta para a opinião
positiva em relação ao governo foi de 1,50, o que significa um ganho de 1,5 ponto
percentual a cada ano nesse tipo de avaliação do governo ao longo da curva.
O resultado é não-significativo, pois há um coeficiente com significância de 0,060. Já

a auto-regressão para a opinião negativa sobre o governo em relação ao ano


apresenta como resultado um Beta de –1,99 ponto percentual, o que significa que,

para cada ano, a avaliação negativa do governante cai quase dois pontos
considerando as variações na curva histórica sem os efeitos retardados. Aqui o

coeficiente de significância é ainda menor, ficando em 0,091. Esses testes mostram

41O teste autocorrelação indica que o coeficiente de primeira ordem ultrapassa os limites de
confiança para a opinião positiva e negativa a respeito do governo do presidente, como mostram os
gráficos abaixo. Nesses casos, recomenda-se o uso do teste de auto-regressão de séries temporais,
pois há quebra dos pressupostos de independência das observações. A auto-regressão usa um
retorno, retirando o efeito de correlação entre as observações.

presidente positiva presidente negativa


1,0 1,0

,5 ,5

0,0 0,0
Partial ACF

Partial ACF

-,5 -,5
Confidence Limits Confidence Limits

-1,0 Coefficient -1,0 Coefficient


1 3 5 7 9 11 13 15 1 3 5 7 9 11 13 15
2 4 6 8 10 12 14 16 2 4 6 8 10 12 14 16

Lag Number Lag Number


164

que, ao desconsiderarmos os efeitos passados das opiniões, a mudança ao longo


do tempo na avaliação dos governos dos cinco presidentes que constam na série

histórica não apresenta uma alteração consistente.


É possível que outras variáveis expliquem a mudança na opinião pública a
respeito dos governantes, como aconteceu com as variáveis econômicas das séries
mensais. As categorias usadas como variáveis intervenientes nos processos de
avaliação dos governantes podem ser de ordem social, tal como a redução da
pobreza, resultando em um suposto efeito positivo para o governo; ou de ordem

econômica, tal como a redução da taxa de desemprego, da inflação ou da diferença


real no valor do salário mínimo, o que gera uma satisfação maior no público e por

conseqüência uma aprovação do governo. Pode-se considerar ainda que as


opiniões sobre determinados temas tenham impacto na avaliação dos governantes
como, por exemplo, a opinião sobre o crescimento da corrupção que resulta em um
crescimento da avaliação negativa do governo. Além disso, as diferenças nas
avaliações positivas e negativas dos governantes devem-se às diferenças dos
próprios governos. Os resultados das auto-regressões das opiniões positivas e

negativas dos governantes com as variáveis intervenientes para o período em


análise encontram-se resumidos na tabela 5.7.

TABELA 5.7 - INTERVENÇÃO DE VARIÁVEIS ECONÔMICAS E SOCIAIS NA AVALIAÇÃO DO GOVERNANTE

AVALIAÇÃO POSITIVA AVALIAÇÃO NEGATIVA


VARIÁVEL INTERVENIENTE
B sig B sig

Salário mínimo 0,120** 0,000 0,167** 0,003


Índice de Pobreza 0,956** 0,006 1,540** 0,002
Opinião de que corrupção está crescendo - 0,426* 0,049 0,395** 0,000
Taxa anual de inflação - 0,702** 0,001 0,997** 0,000
Taxa de desemprego 2,012** 0,000 - 0,116 0,993
Mandato - 2,588 0,281 8,421** 0,000
Tempo de governo 0,123 0,946 11,610** 0,000
* Significativo ao nível de 0,05
** Significativo ao nível de 0,01
165

Os testes de auto-regressão apresentam resultados significativos para a


maioria das variáveis intervenientes na relação com a avaliação positiva e negativa

do governo federal. A regressão com salário mínimo real mostra um coeficiente Beta
de 0,120 com nível de significância de 0,000, demonstrando que é significativa do
ponto de vista estatístico o aumento da avaliação positiva do governo em anos nos
quais há um maior crescimento real do valor do salário mínimo. A regressão da
curva de avaliação negativa do governante com a variável salário mínimo real
apresenta um Beta de 0,167, com nível de significância de 0,003. Como o valor B é

positivo, as variáveis mudam no mesmo sentido. A princípio, parece pouco racional


que a opinião pública brasileira negativa em relação ao governante cresça com algum

grau de determinação de crescimento do salário mínimo real; foi o que aconteceu no


período analisado. O gráfico 5.5 mostra que até 1992 o valor real do salário mínimo
apresentou uma queda, enquanto o percentual de avaliação positiva do governo
aumentou. A partir de 1992, o valor real do salário mínimo apresentou crescimento
contínuo, enquanto a avaliação positiva do governante manteve-se oscilando entre
20% e 40% do total. Portanto, deve-se considerar a inexistência de impacto da

variação do valor real do salário mínimo na curva de avaliação do governo federal.


166

300
280
260
240
220
200
180
160
140
120
100 Av. positiva
80
60 Av. negativa

40
Sal. mínimo
20
0 (IPEA)
1987 1992 1996 2000 2004
1989 1994 1998 2002

GRÁFICO 5.5 - SÉRIES DE AVALIAÇÕES DOS GOVERNANTES E DE VALORES DE SALÁRIO


MÍNIMO (ID:4 A 7;9 A11;1,25,31,36,64,79,91,107,119,131,138 – ANEXO B)

Na auto-regressão entre avaliação positiva do governo e opinião sobre o


crescimento da corrupção do País a relação também é significativa, com nível de
significância de 0,049 e um Beta de –0,426, ou seja, quando a opinião pública afirma
que a corrupção está crescendo há uma significativa queda na avaliação positiva do
governo. A corrupção e a avaliação negativa também apresentam uma relação na
mesma direção, o que é significativo, pois há um Beta de 0,395 e nível de
significância de 0,000, ou seja, quando uma opinião apresenta queda, a outra está

em alta. A partir do gráfico 5.6, é possível perceber como as curvas de aumento de


corrupção e avaliação negativa apresentam praticamente os mesmos movimentos.
167

100

90

80

70

60

50

40

Av. positiva
30

20 Av. negativa

10 corrupção está
0 aumentando
1987 1992 1996 2000 2004
1989 1994 1998 2002

GRÁFICO 5.6 - SÉRIES DE AVALIAÇÕES DOS GOVERNANTES E SOBRE CRESCIMENTO


DA CORRUPÇÃO (ID:4 A 7;9 A 11;1,25,31,36,64,79,91,107,119,131,138 –
ANEXO B)

Outra relação inversa com índice significativo é entre o índice de inflação e


a avaliação positiva do governo. O coeficiente Beta é de -0,702, com sig42 de 0,001.
Já a relação com avaliação negativa apresenta um sig de 0,000 e coeficiente Beta

de 0,997. As opiniões positivas e negativas em relação ao governante mostram-se


oscilantes durante todo o período analisado, enquanto o índice de inflação mensal a

partir de 1994 fica estável, de acordo com o gráfico 5.7, mostrando uma independência
entre as variáveis. Porém, os testes estatísticos indicam a existência de relação

consistente e inversa entre as opiniões manifestadas.

42A partir daqui, o termo nível de significância será substituído, sempre, pela sigla sig.
168

80

70

60

50

40

30

20

Av. positiva
10

0 Av. negativa

-10 inflação mensal

-20 INPC
1987 1992 1996 2000 2004
1989 1994 1998 2002

GRÁFICO 5.7 - SÉRIES HISTÓRICAS DE AVALIAÇÕES DOS GOVERNANTES E ÍNDICES


DE INFLAÇÃO MENSAL (ID:4 A 7;9 A11;1,25,31,36,64,79,91,107,119,131,138
– ANEXO B)

As regressões não significativas com avaliação positiva foram com a


variável "mandato", indicando que independe do presidente que está no governo,
pois no período não há impacto na relação com a avaliação positiva do governo com

sig de 0,281. Além disso, a regressão com o número de anos de governo,


apresentou um sig de 0,946. Isso mostra que o tempo transcorrido do mandato não

tem influência significativa na variação da avaliação positiva do governo.


Outra mudança significativa no mesmo sentido se dá na relação entre

aumento da pobreza e aumento da avaliação negativa, com coeficiente Beta de


1,540 e nível de significância de 0,002. Em outras palavras, conforme crescem os

índices de pobreza no país, cresce também o percentual de avaliação negativa do


presidente.
No caso da avaliação negativa, a variável "mandato" e "anos de governo"
apresentam-se com nível de significância alto, o que não acontece com a "avaliação
positiva". A variável mandato apresenta um coeficiente de auto-regressão Beta de
169

0,842, com nível de significância de 0,000, indicando que, dependendo do


presidente, no período há um significativo crescimento da avaliação negativa. Em

relação ao tempo de mandato, medido em anos de governo, a relação com


avaliação negativa pela opinião pública também se apresenta significativa e na
mesma direção, pois manifestam Beta de 11,610 e nível de significância de 0,000 –
ou seja, quanto mais tempo percorrido em um mandato, maiores as chances de
crescimento de avaliação negativa do governante. A única variável interveniente,
entre as testadas, que se apresentou com nível de significância acima do limite

crítico, com sig de 0,993, foi a Taxa de Desemprego, indicando que o aumento ou
redução do índice de desemprego no País tem um impacto não significativo na

avaliação do governante.
A relação que existe entre avaliação positiva e negativa do desempenho do
presidente da república com as variáveis intervenientes permite que se faça alguns
apontamentos a respeito da dinâmica da opinião pública sobre o tema. O que a
princípio parecia ser opinião randômica, pautada, possivelmente por manifestações
pouco racionais nas avaliações dos governos, pois alterna movimentos de

crescimento e queda muito acelerados e curtos, mostra-se como uma opinião


fortemente relacionada com as alterações de algumas variáveis intervenientes de
ordem econômica e social. As opiniões sobre o governante estão diretamente
relacionadas com as opiniões sobre crescimento da corrupção, o que indica uma
relação da opinião pública com critérios morais de avaliação dos governos. Também
há forte relação com a taxa de desemprego; conforme ele aumenta, cresce a
avaliação negativa do governo e diminui a positiva. Essas duas variáveis, uma de
caráter moral e outro econômico, mostraram-se como as mais fortemente
relacionadas às avaliações de governantes. Já a variável tempo de governo não
mostrou relação significativa com nenhuma das opiniões sobre os governantes,
contrariando a idéia de que, conforme se aproxima o final do mandato, tende a
aumentar os índices de rejeição.
170

Nem sempre é assim. Os diferentes presidentes do período não se


mostraram intervenientes no que diz respeito à opinião positiva, porém houve
relação significativa com a avaliação negativa, indicando que um ou alguns dos
presidentes do período, embora tenham tido avaliações positivas similares,
apresentaram discrepâncias no que diz respeito à opinião negativa. Como o
coeficiente Beta é positivo, as discrepâncias foram no sentido de que em alguns dos
mandatos apresentaram percentuais de opinião negativa muito acima dos demais.
Isso aconteceu principalmente na última parte do governo Sarney, que aparece no
início da curva.
As variáveis "taxa de desemprego", "índice de pobreza" e "valor real do
salário mínimo" apresentaram relação significativa e na mesma direção que a
avaliação negativa, ou seja, conforme cresciam seus índices também aumentava a
avaliação negativa do governo. Porém, a relação também se mostrou positiva com
avaliação positiva do governo.
A princípio, pode parecer uma contradição, mas é preciso considerar que o
desempenho dos três indicadores citados está diretamente relacionado a uma
política econômica ampla, que tem por objetivo garantir a estabilidade da economia,
através de uma política de juros que gera, entre outros efeitos, recessão econômica.
Como a opinião pública mostra-se favorável a esse tipo de política durante todo o
período (ver relação com taxa de inflação), é possível conceber que em favor de um
resultado mais amplo, a estabilidade, a opinião pública reconhece como "efeito
colateral" da política econômica o crescimento do desemprego e da pobreza.
Em suma, a opinião negativa a respeito do governante mostrou-se mais
permeável pelas variáveis intervenientes analisadas aqui do que a avaliação positiva,
o que indica uma maior capacidade de relacionar o desempenho da economia e de
variáveis sociais com crítica ao governante. Enquanto isso, a avaliação positiva
mostra-se menos sensível às variáveis intervenientes tratadas aqui, embora também
se apresente estatisticamente significativa para a maioria dos casos. Como se pode
perceber, a análise da relação entre a opinião pública a respeito do desempenho do
171

governante, que a princípio parecia ser volátil, ao ser comparada com algumas
variáveis intervenientes, mostrou-se que é racionalmente explicável.
Esse tipo de relação econômica na política vem sendo fartamente
documentado pela literatura internacional em estudos de comportamento dos
eleitores. A teoria do voto retrospectivo (KEY, 1968; FIORINA, 1981) e do voto
prospectivo (LANOUE, 1994) têm demonstrado como o eleitor pode considerar os
ganhos passados ou as expectativas de ganhos futuros para decidir em quem
votar.43 Morris Fiorina, em seu trabalho "Retrospective Voting in American National
Elections", apresenta uma série de resultados de testes de independência (Qui-
quadrado) estatisticamente significativos na relação entre avaliação da situação
financeira, das condições econômicas e do voto para o congresso norte-americano.
Os resultados dos testes de auto-regressão acima indicam que a avaliação econômica
não deve ser aplicada apenas ao comportamento do eleitor no momento da decisão
do voto, mas também ao do cidadão que, a qualquer instante, quando chamado a
avaliar o governante, faz relações com variáveis econômicas, especialmente para
considerar negativamente o governo.

5.1.3 Avaliação Anual do Presidente e do País44

Na comparação entre a opinião pública em relação ao País e aos governantes,


é possível indicar, em primeiro lugar, que a avaliação positiva do Brasil mostra-se com
uma dinâmica distinta das opiniões sobre o presidente, conforme o gráfico 5.9. A
avaliação positiva do Brasil passa a ser superior à avaliação positiva do governo de
1990 até 2005, com índice crescente até 1998 e estabilidade entre 70% e 80% a

43Em sua dissertação de mestrado, Malco Camargos Braga, após analisar o comportamento do eleitor
na eleição de 1994 para presidência da república conclui que o eleitor age racionalmente. Uma parcela
significativa deles apresenta consistência partidária em suas escolhas, por isso as variáveis econômicas
tiveram pesos diferenciados nos votos a Fernando Henrique Cardoso e Lula (BRAGA, 1999).

44O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo B.
172

partir de então. Por outro lado, a aprovação do governo apresenta as variações nos
dois sentidos durante o período, como demonstrado anteriormente. O isolamento da
avaliação positiva do País indica que o brasileiro médio consegue distinguir os
resultados dos governos das expectativas a respeito do Brasil.

100

90

80

70

60

50
satisfação

40 com país

30 presidente

20 positiva

10 presidente

0 negativa
1987 1992 1996 2000 2004
1989 1994 1998 2002

GRÁFICO 5.8 - SÉRIES TEMPORAIS DE AVALIAÇÕES DE PRESIDENTES E SATISFAÇÃO


COM O PAÍS (ID:4,15,25,31,36,64,79,91,107,119,131,138 – ANEXO B)

A auto-regressão de séries temporais, considerando a avaliação positiva


do Presidente como variável independente e "satisfação com o País" como
dependente, confirma a inexistência de relação direta entre a opinião do brasileiro
médio sobre o País e o desempenho dos governantes. Em relação à avaliação
positiva, o coeficiente Beta é de –0,085, com índice de significância de 0,877,
enquanto em relação à opinião negativa do governante, a relação com a opinião
positiva sobre o País é de Beta de –0,366 e nível de significância de 0,442. A
literatura sobre o tema tem apontado para uma forte relação entre variáveis
econômicas e expectativas políticas, inclusive quanto à democracia, mostrando que
há uma relação direta entre a satisfação com a renda, aprovação de políticas
173

públicas e instituições políticas. Porém, a opinião pública brasileira não relacionada


satisfação com o País com o desempenho do governante.
A avaliação positiva do presidente do Brasil não é o único caso de
oscilação randômica, quando analisada isoladamente. A avaliação positiva dos
norte-americanos a respeito de seu presidente também apresenta fortes oscilações
ao longo do tempo, não sendo possível identificar nenhum padrão consistente, como
demonstra o gráfico abaixo, que compara as avaliações positivas dos brasileiros e
dos norte-americanos a respeito do presidente da república. A série norte-
americana45 é muito mais extensa que a brasileira, pois tem início em 1937 e desde
então a mesma pergunta sobre avaliação do presidente é repetida pelo menos uma
vez ao ano. No caso brasileiro é possível identificar uma repetição da pergunta sobre
avaliação do presidente a partir de 1989.
100

90

80

70

60

50

40

30

20

10 Positiva BR

0 Positiva EUA
1937 1945 1953 1961 1969 1977 1985 1992 2000
1941 1949 1957 1965 1973 1981 1988 1996 2004

GRÁFICO 5.8.1 - SÉRIES TEMPORAIS DE AVALIAÇÕES POSITIVAS DE PRESIDENTES DO


BRASIL E DOS ESTADOS UNIDOS

45 A série apresentada aqui foi retirada da página na internet do Ropper Institute.


174

Os testes de auto-regressão indicam resultados não-significativos para os


dois países. No brasileiro, o nível de significância fica em 0,102 para autoregressão
com Ano de realização pesquisa. No caso dos Estados Unidos, o nível de
significância é de 0,350 para o mesmo teste. Isso indica que assim como no Brasil, a
opinião favorável ao presidente dos EUA oscila ao longo do tempo, não podendo ser
explicada por si própria, mas, como foi visto anteriormente na opinião pública
brasileira, em função de mudanças nas opiniões sobre temas relacionados ao
desempenho do presidente da república, como variáveis econômicas e políticas.

5.1.4 Eleitores que Dizem Votar em Candidato e Preferência Partidária46

Entre 1972 e 2004 houve uma grande variação do percentual de eleitores


brasileiros que escolheram em quem votar em função do candidato ao invés de votar
a partir da escolha em determinado partido político. Esse é um caso em que a
opinião pública apresenta-se com alterações significativas, acima do intervalo de
cinco pontos percentuais e não há indicação de uma única direção na mudança da
opinião. O menor percentual de personalismo do voto é encontrado em 1989,
quando ele foi de 39%, enquanto o maior percentual de voto no candidato aparece
em 1998, com 86% do total. No período analisado, a média de eleitores que
decidem o voto de forma personalista é de 64% ao longo do tempo.

46O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo C.
175

100

90

80

70

Escolhe pelo candidado 60

50

40

30

20

10
1972 1982 1985 1988 1989 1998 2003 2004

GRÁFICO 5.9 - SÉRIE TEMPORAL DE VOTO PERSONALISTA NO BRASIL (ID: 139, 140,
141, 143, 144, 153, 159 – ANEXO C)

Como os resultados da autocorrelação parcial das variáveis de tempo e de


voto personalista indicam a inexistência de estacionaridade nas variáveis47, é
possível fazer análises a partir de regressão linear com a variável "vota em
candidato" como dependente. No entanto, será utilizado o teste de auto-regressão

47Conforme indicam os gráficos abaixo de autocorrelação da variável voto personalista entre "vota em
candidato" e "ano" há estacionaridade, pois os coeficientes ficam abaixo dos limites de confiança,
como mostra o gráfico abaixo. Apesar disso, para dar mais consistência aos testes, será usado o
método de auto-regressão.

vota em candidado
1,0

,5

0,0

-,5
Partial ACF

Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5

Lag Number
176

para dar mais consistência estatística aos resultados. Intuitivamente pode-se


imaginar que a relação entre o percentual de voto personalista e o tempo será muito

baixa, pois as mudanças na direção da curva acontecem durante todo o período,


indicando fortes alterações de direção da curva. Justamente é isso o que mostram
os resultados dos testes de auto-regressão da variável ao longo do tempo. O nível
de significância do teste é de 0,358, muito acima do limite aceitável e o coeficiente
Beta fica em –0,643, conforme mostra a tabela 5.8.

TABELA 5.8 - AUTO-REGRESSÃO NO TEMPO DE VOTO PERSONALISTA

REGRESSOR VAR. DEPENDENTE BETA SIG

Ano Escolhe candidato pela pessoa -0,643 0,358

Também é possível analisar a seqüência temporal de preferências

partidárias, comparando-a com a seqüência de voto "no candidato" para tentar


identificar alguma relação entre essas duas opiniões eleitorais.
177

100

90

80

70

60

50

40

30 Vota em candidado

20 Preferência por
10 partido
1972 1988 1992 1997 2002
1985 1990 1994 2000 2004

GRÁFICO 5.10 - SÉRIES DE PREFERÊNCIA POR PARTIDO POLÍTICO E VOTO PERSO-


NALISTA NO BRASIL (ID: 139, 140, 141, 142, 143, 144 A 153, 155 A 159 –
ANEXO C)

O gráfico 5.10 mostra uma relação, ainda que fraca, entre as duas
tendências, isto é, quando a preferência partidária é alta, o voto personalista tende a
apresentar uma curva em queda. Quando este último cresce, o primeiro apresenta

uma queda. No entanto, apesar da relação inversa, não é possível indicar que uma
seja fortemente determinada pela outra apenas a partir das distribuições temporais

das opiniões. Não significa que não se possa indicar uma relação inversa entre
essas duas opiniões. Aplicando às duas variáveis o teste de autocorrelação,48

considerando a preferência por partido como variável independente, percebe-se uma


fraca correlação entre as duas variações ao longo do tempo, com valor de sig 0,864
e coeficiente Beta de –0,060. Mostra-se isso na tabela 5.9, indicando que a opinião
sobre escolher candidato de maneira personalista independe do nível de preferência

partidária informado pelos eleitores.

48Isso é possível, pois o teste de autocorrelação parcial para a preferência por um partido político
indica que não existe estacionaridade, visto que os coeficientes ficam abaixo dos limites de confiança.
178

TABELA 5.9 - AUTO-REGRESSÃO ENTRE PREFERÊNCIA POR PARTIDO E VOTO PERSONALISTA


NO BRASIL

REGRESSOR VAR. DEPENDENTE BETA SIG

Preferência por partido Escolhe candidato pela pessoa -0,060 0,864

Tanto a análise visual das curvas de opinião quanto os testes realizados

mostram que a decisão do brasileiro em preferir votar em pessoas e não em partidos


é dissociada do percentual de eleitores que dizem ter preferência por algum partido
político. Em outras palavras, ter preferência por um partido político não é garantia da
redução do voto personalista no Brasil. Variáveis distintas devem explicar esse

comportamento do brasileiro médio em relação aos candidatos e aos partidos


políticos. Além disso, as curvas também mostram que ambas opiniões dos brasileiros

não seguem padrões históricos definidos, sofrendo grandes variações a curtos


espaços de tempo. Kinzo (1990) lembra que o sistema eleitoral presidencialista e

sua regulamentação no Brasil devem ser considerados como importantes fatores em


favor do personalismo nos processos de decisão de voto. Citando Epstein, ela

apresenta que "o simples fato de se pedir aos eleitores que votem em indivíduos [...]
estimula campanhas personalizadas" (KINZO, 1990, p.33). Para a autora, no caso

brasileiro, além da experiência partidária descontínua do último século e dos partidos


pouco enraizados socialmente, há também uma autonomia do Poder Executivo que
muitas vezes suplanta o papel que deveria ser desempenhado pelos partidos políticos.
Some-se aos aspectos específicos da experiência brasileira, o fato dos partidos
políticos estarem perdendo força como organizadores dos processos eleitorais em
democracias consolidadas e, ainda, a profissionalização das campanhas que utiliza
como argumento para o voto cada vez menos as características das agremiações
partidárias e cada vez mais os atributos pessoais dos candidatos.
179

Em texto ainda não publicado49, o cientista político David Samuels (2004)


contraria a corrente majoritária da literatura sobre partidos políticos que afirma que o
Brasil apresenta um sistema partidário incipiente e um dos mais baixos índices de
identificação partidária por parte do eleitor. Ele mostra, através da análise dos
resultados da pesquisa ESEB, aplicada no período pós-eleitoral de 2002, que existe
institucionalização de partidos políticos no Brasil, com índices de identificação acima
de vários outros países latino-americanos e até mesmo de democracias européias
consolidadas. De acordo com os dados apresentados por Samuels, que ficam muito
próximo dos apresentados aqui em uma análise temporal, no Brasil, mais de um
terço dos eleitores manifesta ter preferência por um partido político – a média dos
dados disponíveis aqui, entre1987 e 2004, é maior que a sugerida por Samuels,
ficando em 49% dos eleitores visto que nesta tese são tratados os dados válidos às
respostas, enquanto Samuels utiliza o conjunto de respostas.
Porém, ele mostra que essa identificação é enviesada, pois está predomi-
nantemente ligada a um único partido: o Partido dos Trabalhadores. Além disso, não
há uma relação direta entre identificação partidária e voto, pois o PT, que apresenta
os maiores índices de preferência, obteve nas eleições legislativas de 2002 um
percentual menor de votos que o percentual de identificação partidária indicada
pelos eleitores. Todos os demais partidos tiveram percentuais de voto superiores
aos percentuais de identificação partidária. Indicando uma relação extremamente
fraca entre a distribuição dos votos nas eleições legislativas e a identificação
partidária. Isso corrobora a afirmação de Miller e Klobucar (2000, p.675, citados por
SAMUELS, 2004), de que as preferências partidárias podem não estruturar as

compreensões cognitivas da política. Outras variáveis são capazes de explicar a


diferença entre voto e identificação partidária, tais como a relação direta com
lideranças políticas, as identidades de grupo, o grau de inserção do eleitor em redes
de instituições sociais e os atributos individuais dos próprios eleitores.

49Paper apresentado no Encontro da Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP), em 2004, sob
o título "The Initial Emergence of Mass Partisanship: evidence from Brazil".
180

No capítulo oito do livro "Elections and the Political Order"50, Philip


Converse analisa a relação que existe entre adesão partidária e nível informacional
a partir de resultados de surveys aplicados a eleitores norte-americanos durante os
períodos das eleições presidenciais de 1956 e 1960 nos Estados Unidos. Ele encontra
uma correlação significativa entre nível informacional e a manutenção de voto em
candidato de um mesmo partido nas duas eleições. Além disso, os eleitores que
demonstram ter maior volume de informação sobre política também demonstram
maior consistência na identificação partidária ao longo do tempo (CAMPBELL et al,
1967, p.139). No Brasil, trabalhos, como o de Carreirão (2002), também têm
apontado para uma consistência maior nas posições políticas de identificação e
preferência partidária em faixas do eleitorado com maior nível educacional, com
resultados de pesquisas feitas em um único ponto do tempo; de onde se pode inferir
maior grau de informação sobre política. Porém, como este trabalho não tem o
objetivo de identificar as posições políticas de parcelas do público e as informações
disponíveis não permitem correlacionar, ao nível individual, duas variáveis, já que os
dados são agregados para toda a amostra, não é possível aqui especular sobre
possíveis padrões com desempenho distinto ao longo do tempo sobre as
preferências partidárias e suas manutenções ou mudanças.

5.1.5 O Brasileiro e a Ideologia Política51

Ideologia é um dos temas mais abrangentes e, por conseqüência, mais


debatidos da ciência política. Há pouco consenso quando o conceito é aplicado ao
cidadão médio das democracias, que é levado a responder a uma pergunta de
survey mostrando em que posição ele se coloca dentro de uma escala ideológica

50O livro "Elections and the Political Order" foi escrito pelo mesmo grupo de autores do "The American
Voter" e é considerado como uma continuidade das pesquisas e resultados apresentados neste.

51O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo D.
181

que vai da Extrema esquerda até a Extrema direita ou ainda responder a uma série
de perguntas que, em seguida, formarão uma proxy, que servirá para o pesquisador
classificar cada respondente na escala original. Existem, na verdade, dois aspectos
da discussão sobre ideologia política. Em um, a ideologia é colocada em oposição ao
pragmatismo; visão comum na ciência política a partir dos anos 50, quando ideologia
é atribuída a crenças, doutrinarismo ou dogmatismo, com forte componente
passional. Em outro, a concepção de ideologia está ligada a todo o debate iniciado
nos anos 60 sobre o fim da ideologia, travado principalmente por Raymond Aron,
Daniel Bell e Seymour Lipset. De acordo com esse debate, o pragmatismo da ação
política, voltada ao atendimento de demandas específicas e mutáveis ao longo do
tempo, por parte dos agentes políticos, teria acabado com a importância da ideologia
política. A respeito das posições doutrinárias de esquerda/direita e as práticas das
elites políticas no poder, o filósofo espanhol José Ortega y Gasset antecipou em
1926 no livro "A Rebelião das Massas", o debate sobre ideologia que se fortaleceria
quatro década depois. Ele diz que

[...] a persistência destes qualificativos contribui não pouco a falsificar mais


ainda a realidade do presente, já fala per si, porque se encrespou o crespo
das experiências políticas a que respondem, como o demonstra o fato de
que hoje as direitas prometem revoluções e as esquerdas propõem tiranias
(ORTEGA Y GASSET, 2001, p.14).

Por outro lado, há um significado forte de ideologia no marxismo, pois ela


está relacionada a idéias socialmente determinadas pela dominação entre as
classes, gerando uma falsa consciência social. Esse significado de ideologia está
intimamente relacionado a dois elementos constitutivos de toda sua trajetória, ou
seja, a sua própria falsidade e determinação social.52 Esse debate sobre o conceito

52O objetivo desse item não é esgotar, nem mesmo fazer uma abordagem panorâmica do
debate sobre o conceito Ideologia, mas apenas apresentar a discussão teórica que existe sobre o
tema, para em seguida tratar das possibilidades de sua aferição empírica. Até porque o debate é
bastante extenso, começa com o uso do termo "ideologia" pelo filósofo francês Destutt de Tracy, em
1796, ligado à análise sistemática das idéias e sensações; na geração, combinação e conseqüências
das mesmas. De Tracy argumentou que não se pode conhecer as coisas em si mesmas, mas apenas
182

de ideologia política está ligado diretamente às questões que dizem respeito às


práticas das elites políticas. Considerando que as massas não têm a mesma
consistência na formação do caráter político individual, de acordo com uma visão
elitista, pode-se imaginar –pois existem poucos trabalhos empíricos sobre a
compreensão e importância da ideologia para o cidadão médio – que o indivíduo
médio apresente maiores dificuldades para identificar a importância da ideologia na
tomada de posições políticas.
O trabalho de André Singer, "Direita e Esquerda no Eleitorado Brasileiro", é
um dos que apresenta evidências de que a ideologia é uma variável relevante para a
explicação do voto e, por conseqüência, de alguma forma explica o comportamento

político do cidadão comum. Para a literatura especializada, há duas grandes linhas


consensuais acerca do que é uma posição de esquerda e de direita para aqueles
que não integram a elite política, a econômica e a dos costumes. Na dimensão
econômica, como diminuição da intervenção e regulamentação estatal estão
associadas à direita, enquanto o crescimento da intervenção do estado na economia

relaciona-se à esquerda. As concepções econômicas de esquerda e de direita,


sintetizadas na noção de intervencionismo versus não-intervencionismo estatal na
economia, estão em consonância com visões de mundo e programas de ação em

as idéias formadas pelas sensações que temos delas. Se pudesse ser feita a análise dessas idéias e
sensações de uma maneira sistemática, poderia-se garantir uma base segura para todo o
conhecimento científico e tirar conclusões de cunho mais prático. Concebida como uma ciência
superior, a ciência das idéias, que, ao oferecer uma teoria sistemática do nascimento, combinação e
comunicação das idéias, apresentaria a base para um conhecimento científico em geral e facilitaria a
regulação natural da sociedade em particular. Quando o conceito passou para a arena política, deixou
de se referir apenas à ciência das idéias e começou a se referir também às idéias mesmas, isto é, a
um corpo de idéias. A contribuição específica de Karl Marx ao conceito de ideologia consiste no fato
de que ele assumiu o sentido negativo, oposicional, implícito, transformando-o e incorporando-o a um
marco referencial teórico e a um programa político. Os escritos de Marx ocupam uma posição central
na história e no conceito de ideologia. O trabalho dele oferece não tanto uma visão singular e
coerente do mundo sócio-histórico e de sua constituição, de sua dinâmica e desenvolvimento, mas,
uma multiplicidade de visões que são coerentes em alguns aspectos e conflitantes em outros, pois
convergem em alguns pontos e divergem em outros.
183

diversas áreas que se relacionam diretamente a valores e costumes.53 Por exemplo,


a intervenção estatal está ligada à regulação do mercado de trabalho através do

salário mínimo; das propostas de redistribuição de riquezas; das ações afirmativas,


tais como as políticas de cotas, etc. Sendo assim, identificando as opiniões dos eleitores
sobre diversos temas econômicos e de valores, é possível posicioná-los em uma
determinada posição na escala ideológica, basicamente da mesma forma em que
são classificados os partidos políticos, embora medir o posicionamento dos partidos
seja mais direto, pois pode ser feito através de documentos internos, programas e

prioridades de políticas públicas.


Por outro lado, existe uma vasta literatura sobre a validade de se aplicar os
conceitos de direita e esquerda para o cidadão médio, pois uma parcela pouco
significativa dos eleitores consegue identificar as diferenças reais entre as distintas
posições no espectro ideológico. Porém, trabalhos, como o de André Singer (2000),
apontam para uma validade na aplicação do conceito para as massas. Segundo ele,
a identificação ideológica no contínuo esquerda-direita, ainda que difusa e
cognitivamente desestruturada, sinaliza uma orientação política geral e tende a
apresentar uma forte correlação com posição eleitoral (SINGER, 2000, p.43). Para
Debrun (1989), é possível fazer uma diferenciação entre dois níveis de ideologia, a
chamada primária e a secundária no cidadão comum, porém, essa definição não
deve ser confundida com a divisão da opinião pública entre primária e secundária.
Ele defende a idéia de que as pessoas constróem sua ideologia a partir de algum
referencial mais enraizado culturalmente, denominado de ideologia primária, que
corresponde ao conjunto de atitudes e orientações dos cidadãos em relação aos
fenômenos políticos.

53Em um estudo de caso sobre o significado do eixo Esquerda-Direita para o eleitorado Chileno,
Arturo Fontaine Talavera (1995) demonstra que, apesar de suas imperfeições, a distribuição
esquerda-direita faz algum sentido e tem validade para o eleitor chileno, porém, ele diz que esse eixo
não é definido em função de fatores religiosos, étnicos ou culturais, mas se relaciona com três eixos
principais que são o sócio-econômico (desenvolvimento-igualdade), o político (ordem-liberdades) e o
histórico (Allende-Pinochet).
184

A produção de ideologias em relação a temas específicos é exemplo de


ideologia secundária (DEBRUN, 1989, p.175). Sendo assim, as ideologias são
formuladas a partir de um referencial simbólico, tal como a cultura política,
compartilhado pelos integrantes de uma sociedade que dá condições para que seja
operado socialmente. A ideologia secundária também age no sentido de alterar o
referencial simbólico primário, de acordo com o tipo de dominação que a elite política
pretende estabelecer, através do embate público entre elite e massa. As ideologias
primárias são as engendradas na prática imediata dos atores, em especial dos
atores dominantes (DEBRUN, 1989, p.19) Enquanto isso, a ideologia secundária,
longe de representar a essência da ideologia, só se desenvolve quando surgem
ameaças para o predomínio de determinada ideologia primária. (BORBA, 2005). Em
pesquisas de opinião pública, realizadas com amostras nacionais, foi perguntado ao
brasileiro médio em que posição do espectro ideológico de extrema esquerda a
extrema direita ele se localiza. Os resultados indicam a cada momento se há
manutenção ou mudança na relação entre ideologia primária e secundária do
brasileiro médio. O que interessa aqui é saber não apenas qual o posicionamento
ideológico do brasileiro médio, mas principalmente se há uma consistência ao longo
do tempo nesse posicionamento. Se for constatada uma manutenção das opiniões
em relação à posição ideológica, é possível imaginar que há uma relação ao menos
instrumental racionalizada entre o que o brasileiro médio entende por ideologia e sua
posição no espectro ideológico, a despeito da consistência nas definições que ele
possa dar sobre o que é ser de esquerda e o que é ser de direita.
Durante o período analisado aqui, que vai de 1989 a 2002, as três
principais posições ideológicas (esquerda, centro e direita) apresentaram, em pelo
menos algum momento, uma variação real, ou seja, acima do erro aceitável, apontando
para a mudança consistente ou oscilante das opiniões do brasileiro médio. Como
mostra a tabela 5.10, entre os eleitores que se autoposicionaram como sendo de
esquerda nos 13 anos analisados, o ponto médio ficou em quase 24% do total,
variando de 16% a 39%, ou seja, uma amplitude de 25 pontos percentuais. Já os
autoposicionados como sendo de centro apresentaram as maiores variações, entre
185

16% e 50%, com média de 34,5% no período e amplitude de 34 pontos percentuais.


Os de direita apresentaram uma média de 41,45% do total, com variações de 32% a
60% e amplitude de 28 pontos percentuais. A menor variação foi encontrada
naqueles que se autoposicionam na esquerda, mas ainda assim bastante acima das
margens de erro, indicando uma variação real ao longo do tempo.

TABELA 5.10 - TENDÊNCIA CENTRAL DO AUTOPOSICIONAMENTO IDEOLÓGICO DO BRASILEIRO


PERÍODO
ESQUERDA CENTRO DIREITA
(1989 a 2002)
Média 23,95% 34,59% 41,45%
Desvio Padrão 8,33 pp 13,98 pp 10,14 pp
Valor Mínimo 16,68% 16,27% 32,87%
Valor Máximo 39,75% 50,45% 60,45%

Os resultados mostram também que durante esse período os autoposicio-


namentos de direita apresentaram desempenhos maiores que os de centro e
esquerda, indicando que, na média, o posicionamento ideológico do eleitor brasileiro
é de centro-direita. Como a posição no Centro apresentou a maior amplitude, pode-
se antecipar que aqui aconteceram as principais variações no período. Porém, ainda
não é suficiente para indicar se as variações foram aleatórias ou consistentes ao
longo do tempo.
É possível identificar a intensidade das variações através da média e da
soma dos valores da variável transformada pelo critério das primeiras diferenças.
A tabela 5.11 apresenta os resultados.

TABELA 5.11 - DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM AUTOPOSICIONAMENTO IDEOLÓGICO DO


BRASILEIRO

PERÍODO 1.a DIFERENÇA


(1989 a 2002) Esquerda Centro Direita
Média -3,202 2,148 1,054
Soma -19,21 12,89 6,32

Percebe-se que durante o período analisado a única média negativa entre


as variáveis transformadas por primeiras diferenças é a posição de Esquerda, com
–3,20 pontos percentuais. O Centro e a Direita apresentaram médias positivas de
2,14 e 1,05, respectivamente, indicando um crescimento durante o período, porém,
186

não é suficiente ainda para indicar se esse crescimento é consistente em uma


direção ou aleatório, com pequenos ganhos em favor dos valores positivos. A soma
dos valores, que considera o resultado entre os negativos e positivos, indica que as
maiores variações foram da Esquerda, com –19,21. Depois vem o Centro, com soma
das diferenças de 12,8 e a posição ideológica mais estável ao longo do período foi a
de Centro, com 6,32 pontos percentuais de resultado da soma das primeiras
diferenças, confirmando o que apontam as médias das primeiras diferenças. Esses
resultados demonstram ainda que as autodefinições como sendo de direita foram as
mais estáveis no período, enquanto as de Centro e Esquerda apresentaram as
maiores modificações. Falta identificar se essas mudanças foram consistentes ao
longo do tempo ou aleatórias.
Em relação aos eleitores que se denominam como sendo de esquerda, a
curva da opinião pública brasileira indica uma significativa queda entre 1989 e 1990,
de 39% para 17%. Desde então, na última década e meia, a parcela de brasileiros
que diz ser de esquerda tem se mantido estável, entre 16% e 25%.

100

90
auto-identificação como sendo de esquerda

80

70

60

50

40

30

20

10

0
1989 1990 1993 1997 2000 2002

GRÁFICO 5.11 - SÉRIE TEMPORAL DE AUTOPOSICIONAMENTO DE ESQUERDA NO


BRASIL (ID: 161 A 166 – ANEXO D)
187

Já no caso de eleitores que se autoposicionam no centro da escala


ideológica, há uma variação significativa em praticamente todo o período. Eles saem

de 21% em 1989, atingem 50% em 1990; oscilam para baixo até chegar a 16% em
2000 e voltam a subir para 31% em 2002. Essa curva mostra-se com significativa
volatilidade durante todo o período analisado, como indicado no gráfico 5.12.

100

90
auto-identificação como sendo de centro

80

70

60

50

40

30

20

10

0
1989 1990 1993 1997 2000 2002

GRÁFICO 5.12 - SÉRIE HISTÓRICA DE AUTOPOSICIONAMENTO DE CENTRO NO BRASIL


(ID: 161 A 166 – ANEXO D)

Aqui vale ressaltar que entra a discussão teórica sobre o conceito de


centro, visto que há indicação de que não existe uma definição positiva, mas sim
negativa, por tratar-se de uma oposição às outras posições ideológicas (esquerda e
direita). Em relação aos eleitores que se autodenominam como sendo de direita, a
curva apresenta uma estabilidade em quase todo o período. Entre 1989 e 1997, o
percentual de eleitores nessa posição variou entre 39% e 34%, ficando dentro da
margem de erro aceitável. Em 2000, o percentual de brasileiros que se identifica
com a posição de direita no espectro ideológico sobe para 61%. Já em 2002, cai
para 45%.
188

100

90

auto-identificação como sendo de direita


80

70

60

50

40

30

20

10

0
1989 1990 1993 1997 2000 2002

GRÁFICO 5.13 - SÉRIE HISTÓRICA DE AUTOPOSICIONAMENTO DE DIREITA NO BRASIL


(ID: 161 A 166 – ANEXO D)

Testes de auto-regressão entre as posições ideológicas e o tempo mostram

diferentes níveis de correlação, conforme demonstra tabela 5.12. As autocorrelações


entre as variáveis naturais mostram que as correlações entre as mudanças de
percentuais de brasileiros se auto-identificando como de esquerda, centro ou direita
não são suficientemente explicativas, pois nenhuma correlação é significativa.

TABELA 5.12 - AUTO-REGRESSÃO POR POSICIONAMENTO IDEOLÓGICO NO BRASIL

NATURAL
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
B Ap Prob.

Esquerda -0,322 0,556


Ano Centro -1,092 0,338
Direita 1,472 0,616
Direita 0,222 0,757
Esquerda
Centro -1,222 0,159
Direita Centro -0,994* 0,008
* Significativo ao nível de 0,05

A correlação entre ano e esquerda mostra-se não-significativa e com um


dos menores coeficientes Beta entre as correlações, isto é, de -0,322 ponto
189

percentual para cada nova observação. A relação entre ano e Centro apresenta o
maior Beta, com –1,092 pontos percentuais a a menos para cada nova observação,

não sendo estatisticamente significativo. Também não há correlação significativa


entre mudança de ano e autoposicionamento de Direita ao longo do tempo. Isso se
dá em função da estabilidade da curva ao longo da maior parte do período. Pode-se
afirmar, portanto, que a mudança em 2000 indica uma alteração da opinião pública
secundária ou da corrente de opinião, devendo, com o passar do tempo voltar aos
níveis anteriores de estabilidade.

Quanto às auto-regressões entre as diferentes posições no espectro ideológico


ao longo do tempo, há uma correlação significativa apenas entre as posições de

Direita e Centro (-0,994), mas não há correlação significativa ao longo do tempo nas
variações de percentuais entre o autoposicionamento de Direita e Esquerda. Isso
mostra uma coerência na opinião do brasileiro médio em relação à ideologia
expressa publicamente, pois pessoas que se autodefinem como de direita podem,
no máximo, mudar de posição para o centro em outro momento do tempo. O mesmo
acontece com as respostas como sendo de Esquerda. Porém, quem se

autodenomina de Esquerda não muda para a Direita e vice-versa.


Correlações lineares54 entre as primeiras diferenças dos autoposicionamentos
de Direita, Centro e Esquerda apontam para a mesma direção.

54Os testes de autocorrelação das três variáveis mostraram-se abaixo dos limites de confiança para a
existência de estacionaridade, como mostram os gráficos abaixo, permitindo a realização de testes de
correlação entre as variáveis.

esquerda
direita centro
1,0
1,0 1,0

,5
,5 ,5

0,0
0,0 0,0

-,5
Partial ACF

-,5 -,5
Partial ACF

Partial ACF

Confidence Limits Confidence Limits Confidence Limits

-1,0 Coefficient -1,0 Coefficient -1,0 Coefficient


1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4

Lag Number Lag Number Lag Number


190

TABELA 5.13 - CORRELAÇÕES DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM DO AUTOPOSICIONAMENTO IDEOLÓGICO


NO BRASIL

DIF. 1.a ORDEM


VARIÁVEIS
Esquerda Centro Direita

Esquerda Coeficiente de Pearson -0,812* 0,439


Dif. 1.a ordem Nível de Significância 0,050 0,384
Centro Coeficiente de Pearson -0,812* -0,881*
Dif. 1.a ordem Nível de Significância 0,050 0,020
Direita Coeficiente de Pearson 0,439 -0,881*
Dif. 1.a ordem Nível de Significância 0,384 0,020
Coeficiente de Pearson 0,508 -0,327 0,091
Ano
Nível de Significância 0,304 0,527 0,864

* Significativa ao nível de 0,05.

O coeficiente de correlação linear de Pearson indica uma correlação


negativa de 81,2% (-0,812) entre posição de Centro e Esquerda, demonstrando que,
quando aumenta o percentual de pessoas que se autoidentificam como sendo de
centro, diminui o percentual de Esquerda e vice-versa em uma proporção de
diferenças estatisticamente significativas. A correlação linear praticamente se repete
entre as variáveis de Centro e Direita, com 88,1% negativos (-0,881). Já a correlação
entre Direita e Esquerda aponta para um coeficiente muito menor que os anteriores
e não-significativo estatisticamente. Enquanto as correlações lineares entre o ano e
as três posições no espectro ideológico também resultam em não-significativo para
todos os casos, demonstrando não haver uma mudança consistente ao longo do
tempo entre as posições ideológicas, ou elas se mantiveram estáveis em grande parte
do período, como é o caso de Esquerda e Direita, ou elas variaram aleatoriamente,
como é o caso do Centro.
Estes resultados dizem respeito ao autoposicionamento ideológico do
brasileiro médio ao longo do tempo, sem considerar as variações internas entre
subgrupos do público pesquisado. Estudos realizados, levando em consideração
diferentes níveis educacionais, mostraram uma forte correlação entre eleitores com
alto nível educacional e forte consistência ideológica ao mesmo tempo em que
eleitores com baixo nível de escolaridade tendem a não apresentar um voto
ideológico, ou seja, baseado em um sistema estruturado de crenças (CARREIRÃO,
2002a e 2002b).
191

5.1.6 O Brasileiro e a Democracia55

Entre 1988 e 2004, a curva da opinião pública brasileira a favor da


democracia, apenas considerando aqueles que respondem que a democracia é o

melhor sistema de governo, pode ser dividida em dois momentos distintos. Entre
1988 e 2000, essa opinião variou de 40% a 50%. Já, a partir de 2000 e até 2004, a
opinião oscilou muito pouco, mostrando também uma tendência de manutenção da
opinião; porém, aqui as variações foram entre 30% e 41%, indicando uma queda de
quase dez pontos percentuais de 1988 a 2004, ressaltando que não se trata de uma

queda gradativa, mas de uma mudança abrupta de patamares que aconteceu entre
1999 e 2000. De 1988 a 1999, a média de preferências pela democracia na opinião
pública brasileira era de 46,3%. Entre 2000 e 2004, essa média caiu para 36,4%.

100

90

80

70

60

50

40
prefere democracia

30

20

10

0
1988 1989 1996 1997 1998 2000 2001 2002 2003 2004

GRÁFICO 5.14 - OPINIÃO FAVORÁVEL À DEMOCRACIA (ID:168,169,172 A 181 – ANEXO E)

55O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo E.
192

A auto-regressão56 do percentual de preferência por democracia ao longo


do tempo mostra um coeficiente Beta de –0,065, com nível de significância de 0,833.

É um percentual bastante acima do aceitável, o que não permite que se considere a


existência de uma mudança consistente na opinião do brasileiro favorável à democracia
ao longo do período analisado, embora as mudanças tenham ultrapassado os limites
de 5 pontos percentuais de margem de erro. Porém, apesar da fragilidade dos
resultados do teste, pode-se perceber que o coeficiente Beta é negativo, com valor
de – 0,065, demonstrando que, conforme passa o tempo, a tendência é de uma

pequena queda da confiança na democracia na opinião pública brasileira.


A recente literatura internacional sobre o tema tem apontado para a queda

nas preferências democráticas em vários países, principalmente naqueles em que a


democracia está mais consolidada. Os países latino-americanos, de fato, nunca
apresentaram os mesmos índices por preferência democrática que os europeus,
embora estes também tenham se mostrado em queda (POWER e JAMISON, 2005).
Essa literatura aponta que a queda na preferência pela democracia está relacionada
com a redução nos índices de confiança nas instituições democráticas.

56É possível usar a auto-regressão entre as duas variáveis originais, pois os testes de autocorrelação
parcial mostraram que não existe estacionaridade nos valores aferidos, apesar da primeira coluna
ficar muito próxima do limite de significância. Como se vê nos gráficos a seguir, os coeficientes ficam
abaixo das linhas do limite de confiança.

prefere democracia
1,0

,5

0,0

-,5
Partial ACF

Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5 6 7 8

Lag Number
193

No Brasil, a opinião pública apresenta um elevado nível de desconfiança


em relação às instituições democráticas como se verá a seguir. Em média, mais de

60% dos brasileiros diz não confiar no parlamento, partido, poder executivo, tribunais
de justiça e serviços públicos. A média de confiança na justiça entre 1995 e 2003
ficou em 26,2%, com uma soma das diferenças de primeira ordem de –41,25,
indicando um resultado negativo das opiniões de confiança na justiça nesse período.
No caso da confiança no governo brasileiro, a média ficou em 32,37%, bastante
acima da confiança na justiça. Porém, apresenta uma soma das diferenças de

primeira ordem de –85,67, o que mostra uma queda mais acentuada que a da
justiça. Os períodos de análise não são os mesmos. No caso da confiança no

governo, os dados compreendem o período de 1972 a 2003. Já no que diz respeito


à confiança no congresso, a média no período com dados disponíveis ficou em
21,95%, compreendendo também os anos de 1972 a 2003. A soma das diferenças
de primeira ordem da confiança no congresso no período é de –49,81.
Como se pode perceber, essas três instituições democráticas do País
apresentaram quedas na média das opiniões no mesmo período em que se constatou

uma redução na preferência pela democracia. Vale ressaltar ainda que a soma das
primeiras diferenças da preferência pela democracia entre 1988 e 2004 resultou no
valor um, praticamente estável e positivo, ao contrário do que indica visualmente o
gráfico. A conclusão a que se chega é a de que a preferência pela democracia tem
caído menos que a confiança nas principais instituições democráticas. Esta apresentou
queda constante durante todo o período. É importante, portanto, ver também o tipo
de curva de opinião sobre confiança em cada uma das instituições.

Do ponto de vista conceitual, a confiança envolve a expectativa racional de

um indivíduo qualquer (confiante) em relação às ações adotadas por outro (o confiado).

Em função da imprevisibilidade da natureza humana, não é possível controlar

completamente o comportamento de outros indivíduos de maneira absoluta. Isso

implica que a relação de confiança quase sempre apresenta um grau de vulne-


194

rabilidade do confiante em relação ao confiado (ROSENBERG, 1956). Dessa forma,

confiança passa a ser uma aposta com base na crença de que interesses comuns

dos indivíduos envolvidos são condição suficiente para gerar benefícios comuns e

evitar abusos. O gráfico 5.15 mostra a confiança da opinião pública na justiça

brasileira. Trata-se de uma curva descendente gradativa que apresentou um

momento de reversão em 2000 (opinião secundária), mas voltou a cair em 2003. A

auto-regressão ao longo do tempo indica um coeficiente Beta relativamente alto, de

–5,141; porém, não significativo, com sig de 0,104.

100

90

80

70

60

50

40
confia na justiça

30

20

10

0
1995 1998 1999 2000 2003

GRÁFICO 5.15 - SÉRIE HISTÓRICA DE CONFIANÇA NA JUSTIÇA BRASILEIRA (ID: 172,


175 A 177, 180 – ANEXO E)

No caso da curva de confiança no congresso, há uma estabilidade entre


1972 e 1989. Vale ressaltar que, nesse período de 17 anos, foram aferidas as
opiniões apenas nos dois extremos. Entre 1989 e 1991, apresenta-se com um
significativo aumento da confiança no Congresso, chegando a 51% da opinião
pública. Esse foi o ano em que o congresso iniciou o processo de cassação do

presidente Fernando Collor de Mello por corrupção. A partir de 1992, a curva de


195

confiança no congresso apresenta-se em um movimento contínuo e gradativo de


queda. É preciso ressaltar também que, desde 1991, o congresso brasileiro vem

sendo alvo de repetidas denúncias de corrupção por parte de seus integrantes,


Tudo começou com o escândalo dos "anões do orçamento", chegando
às denúncias de compras de voto para a emenda constitucional da reeleição e troca
de partidos por parte dos congressistas, até as denúncias sobre existência de
"mensalão" em 2005. O teste de auto-regressão também mostra um coeficiente não
significativo, de 0,558, e um coeficiente Beta de –0,434. Esse resultado é claramente

produto do crescimento da confiança no Congresso entre 1989 e 1991, o que se


mostrou como um movimento em forma de pulso (rápido e temporário) da opinião

secundária.

100

90

80

70

60

50

40
confia no congresso

30

20

10

0
1972 1989 1990 1991 1995 1998 1999 2000 2003

GRÁFICO 5.16 - SÉRIE HISTÓRICA DE CONFIANÇA NO CONGRESSO FEDERAL BRASILEIRO


(ID: 167, 169 A 177, 180 – ANEXO E)
196

Para a curva de confiança no governo, as oscilações são maiores. Ela


começa em 75% em 1972, chegando a 25% em 1989. Entre esse ano e o de 1995,

houve uma tendência de aumento gradativo da confiança ao governo. Desde então,


até 2003, percebe-se uma gradativa e constante queda na confiança no governo.
Os índices decrescentes de confiança foram os únicos que se mostraram
estatisticamente significativos nos testes de auto-regressão: um coeficiente Beta de
–2,11 e sig de 0,016, demonstrando haver uma mudança consistente e gradual da
confiança no governo, mas para baixo, durante o período analisado.

100

90

80

70

60

50

40
confia no governo

30

20

10

0
1972 1989 1990 1991 1995 1998 1999 2000 2003

GRÁFICO 5.17 - SÉRIE HISTÓRICA DE CONFIANÇA NO GOVERNO BRASILEIRO (ID: 167,


169 A 177, 180 – ANEXO E)

Algumas hipóteses para explicar a desconfiança nas instituições políticas


democráticas é a corrupção, visto que ela vem recebendo atenção contínua dos
meios de comunicação no Brasil. Nesse caso, a desconfiança estaria fundada na
conduta de autoridades, observada em escândalos de corrupção e ética (PHARR, 2000,
p.199). Outra hipótese coloca a desconfiança em função do volume de informação.
Como os meios de comunicação são acusados de apresentar um viés negativo em
197

relação às percepções políticas, um aumento da exposição aos meios provedores de


informação faz com que cresça a desconfiança nos políticos (PUTNAM, 2000). Outra

explicação coloca a confiança política como função da falta de accountability das


instituições, como no caso dos parlamentos e dos partidos. Quando as instituições
fazem com que o público perceba as autoridades como distantes e impossíveis de
serem cobradas, a confiança política diminui. Como se pode perceber, as explicações
mais correntes apresentadas pela literatura sobre o surgimento de uma desconfiança
geral são a economia, a corrupção e o uso instrumental das instituições políticas.

Embora todas as instituições apresentadas acima apresentem quedas de


confiança por parte da opinião pública, há diferenças no padrão dessas opiniões.

Em alguns casos, a baixa confiança é histórica e aparece de forma consistente ao


longo do tempo. É o caso de confiança no congresso que se apresenta alta quando
há uma motivação para alteração da opinião secundária. Em outros casos, a mesma
curva apresenta-se de maneira randômica, estando sujeita a eventos específicos. É o
caso da confiança no governo. Apesar de não ser objeto deste trabalho, vale
ressaltar que, no Brasil, surveys produzidos nos anos 90 revelaram que essa percepção

negativa atravessa todos os segmentos de renda, classe social, escolaridade, idade


e distribuição geográfica (MOISÉS, 1995).
A literatura sobre o tema tem mostrado que as democracias mais consolidadas,

as que apresentam processos permanentes de qualificação dos cidadãos e instrumentos


que garantam a efetiva participação política, tendem a estimular a desconfiança nas

instituições e, em conseqüência, a desconfiança na própria democracia, por parte de


segmentos melhor informados do público, o que faz com que aumentem as críticas
às instituições (INGLEHART, 1999, PUTNAM, 2000). Isso, como mostrado acima, não
é percebido no Brasil, onde a desconfiança se generalizou. A manifestação de
desconfiança em relação à democracia e instituições democráticas em pesquisas de
opinião pode ser encarada não apenas como uma desconfiança em relação às
instituições em si, mas em função de resultados indesejados por parte dos
198

tomadores de decisões de políticas públicas. Isso porque o voto isolado não garante
os resultados esperados pelo público, pois este tem objetivos considerados como

ideais ou necessários do ponto de vista coletivo. Cabe às instituições de


representação a implementação de políticas públicas que assegurem a distribuição
de poder, garantam uma ligação entre a avaliação dos cidadãos sobre prioridades
públicas e proporcionem a tomada de decisões de gestores das instituições públicas
(HADENIUS, 2001).
Uslaner sustenta que em uma sociedade com mais distribuição de riqueza

há mais otimismo, resultando em mais confiança (USLANER, 2001). Para testar essa
hipótese, mais adiante apresentam-se resultados da relação entre perspectiva de
melhoria econômica por parte do público e avaliação do desempenho dos governos.

É preciso considerar também que os indivíduos de sociedades democráticas,


aqueles que passaram por crescimento econômico significativo, avaliam seus líderes
e instituições de acordo com padrões mais exigentes que os de tempos passados
(INGLEHART, 1999, p.295). Isso significa que o crescimento da crítica não afasta os
cidadãos da política; ao contrário, pode ser um sinal de sua aproximação.

Por outro lado, autores da escolha racional argumentam que não faz sentido
falar em confiança nas instituições, porque quem confia não tem como conhecer os
interesses e motivações dos indivíduos que dirigem as instituições (HARDIN, 1999).

A confiança em instituições estaria baseada no fato de os cidadãos compartilharem


uma perspectiva comum relativa à comunidade na qual pertencem. Trata-se de uma

circunstância implícita na justificativa normativa das instituições. Nessas condições,


os julgamentos dos cidadãos para decidir confiar em instituições referem-se à
performance destas e a uma avaliação da consistência e da coerência internas, mais
do que a avaliação do comportamento individual dos administradores. Por isso, alguns
autores sustentam que a confiança em instituições pode ser vista como um caso
especial de confiança em pessoas (COHEM, 1999). Também é preciso considerar
199

que em sociedades em que a confiança interpessoal é baixa,57 como a brasileira,


não se deve esperar uma postura diferente da confiança nas instituições de maneira

geral (POWER e JAMISON, 2005).

5.1.7 O Brasileiro e o Sistema de Governo58

A opinião sobre sistema de governo no Brasil é um exemplo de


estabilidade da curva a partir do final dos anos 80, com a maioria dos brasileiros
preferindo o sistema presidencialista. A curva mostra os resultados de uma pesquisa
realizada em 1962, quando foram realizadas as discussões para a reforma
constitucional e pouco antes da experiência parlamentarista no Brasil. Depois, as
pesquisas nacionais passaram mais de duas décadas sem replicar a questão,
voltando a tratar do tema em 1988, quando foi terminada a discussão da nova
constituição que previa a realização de um plebiscito em 1993, para que os eleitores

brasileiros escolhessem o regime e o sistema de governo. Em função da grande


distância temporal sem informações entre 1962 e 1988, fica impossível estabelecer
os movimentos reais da curva nesse período. O que pode ser afirmado de fato é
que, em 1962, 66% dos brasileiros preferia o presidencialismo, enquanto em 1988
esse percentual era de apenas 51%. Como mostra o gráfico 5.18.

57Em um estudo de caso, aplicado à opinião pública espanhola, José Ramón Montero et al. constataram
diferenças significativas na opinião pública daquele país no que diz respeito à legitimidade da
democracia em relação ao descontentamento e à alienação política. Os testes indicaram que, para
aquele país, o descontentamento com a política não significa a redução da credibilidade na democracia
(MONTERO, 1999).

58O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo F.
200

100

90

80

70

60

50
prefere presidencialismo

40

30

20

10

0
1962 1988 1991 1992 1993 1999

GRÁFICO 5.18 - SÉRIE HISTÓRICA DA PREFERÊNCIA POR PRESIDENCIALISMO NO BRASIL


(ID: 182 A 187 – ANEXO F)

A partir de 1988, a opinião pública favorável ao presidencialismo passou a

apresentar um acréscimo acentuado até 1991, quando se estabilizou em 1999 entre


64% e 71%. A mesma tendência de movimento gradual e constante, seguido de
estabilidade, é percebida na curva de preferência pelo parlamentarismo, porém no
sentido inverso. Entre 1988 e 1991 o percentual de brasileiros com opinião favorável
ao parlamentarismo caiu de 49% para 36%. Esse percentual ficou estável em 1992,
voltando a cair em 1993 para 29%. Deste ano até 1999 a opinião favorável ao
parlamentarismo se estabilizou entre 29% e 31%.
201

100

90

80

70

60

50
prefere parlamentarismo

40

30

20

10

0
1988 1991 1992 1993 1999

GRÁFICO 5.19 - SÉRIE HISTÓRICA DA PREFERÊNCIA PELO PARLAMENTARISMO NO BRASIL


(ID: 182 A 187 – ANEXO F)

Como as variações são pequenas e as duas curvas apresentam-se muito

próximas da estabilidade, os índices de auto-regressão ao longo do tempo mostram-se


não-significativos para a preferência por presidencialismo, indicando uma estabilidade
na opinião e coeficiente significativo com indicador de queda gradual para opinião
favorável ao parlamentarismo. A auto-regressão ao longo do tempo entre as
duas variáveis mostra uma relação significativa e negativa, ou seja, conforme diminui
o percentual de opinião favorável ao parlamentarismo, cresce em relação ao
presidencialismo, conforme tabela 5.14.59

59É possível usar o teste de correlação de Pearson nas duas variáveis originais, pois os
testes de autocorrelação parcial mostraram que existe estacionaridade e correlação transversal
quando comparados entre si. Como se vê nos gráficos a seguir, os coeficientes de correlações cruzadas
ficam abaixo das linhas do limite de confiança, com o coeficiente tocando a linha apenas para o valor
de retorno zero, o que indica a não-existência de relação entre valores de tempos anteriores.
202

TABELA 5.14 - AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES SOBRE MELHOR SISTEMA DE GOVERNO

COEFICIENTE NÍVEL
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA

A favor presidencialismo 0,191 0,557


Ano
A favor parlamentarismo -1,896* 0,040
A favor presidencialismo A favor parlamentarismo -0,990** 0,005
* Significativo ao nível de 0,05
** Significativo ao nível de 0,01

Quando é considerado como regressora a variável "tempo" em anos, o nível

de significância dos testes em relação às opiniões favoráveis ao presidencialismo


fica acima do limite aceitável (0,557), e apresenta um coeficiente Beta baixo (0,191).

Quando a regressão é com a opinião favorável ao parlamentarismo, percebe-se um

coeficiente Beta de –1,896, com nível de significância de 0,040, portanto aceitável


estatisticamente, indicando uma queda gradativa e consistente dessa opinião ao
longo do tempo. A relação mais consistente do ponto de vista do nível de significância

se dá entre as opiniões favoráveis ao presidencialismo e ao parlamentarismo, com


sig 0,005 e coeficiente Beta de –0,990, demonstrando uma consistência na mudança

das opiniões dos brasileiros a respeito desse tema.


Os gráficos e testes demonstram que as opiniões a favor do presidencialismo
e do parlamentarismo são excludentes, ou seja, uma cresce na medida em que a
outra diminui. Isso não acontece sempre em opiniões que à primeira vista parecem
ser naturalmente contraditórias, como se verá mais adiante em relação às opiniões
sobre pena de morte.

5.1.8 Obrigatoriedade do Voto e Interesse em Eleições no Brasil60

Uma das características do sistema político brasileiro é a obrigatoriedade


do voto, fazendo com que haja um "estímulo" legal para a participação dos eleitores

60O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo G.
203

nos processos eleitorais. A conseqüência mais imediata é uma redução nos índices
de abstenção dos eleitores, ficando abaixo das médias percebidas em democracias

onde o voto não é obrigatório. Em uma pesquisa desenvolvida pelo Idesp (Instituto
de Estudos Sociais, Econômicos e Políticos de São Paulo), realizada no final da
década de 70 na periferia da cidade de São Paulo, constatou-se que o eleitor tinha
duas definições distintas para a função do título de eleitor, como citado por
Figueiredo (1990)

[o eleitor] via o título eleitoral como um documento necessário, dada sua


exigência para se conseguir emprego [...] por outro lado os entrevistados
explicavam sua baixa disposição para votar por não ver no ato a eficiência
que gostariam que tivesse para mudar as coisas (FIGUEIREDO, 1990, p.39).

Diante dessas considerações do eleitor sobre a efetividade da participação


eleitoral, vale identificar qual a tendência da opinião pública brasileira a respeito da
obrigatoriedade do voto. O gráfico 5.20 mostra uma curva com variações abruptas
ao longo do tempo, porém, com uma tendência de crescimento.

100

90

80

70

60

50

40

30
a favor do voto obrigatório

20

10

0
1988 1991 1993 1996 1998 2001 2002 2005

GRÁFICO 5.20 - SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÃO FAVORÁVEL AO VOTO OBRIGATÓRIO


NO BRASIL (ID: 188 A 198 – ANEXO G)
204

As estatísticas de tendência central da opinião favorável ao voto obrigatório

mostram uma média de 44% ao longo do tempo, indicando que menos da metade
dos eleitores brasileiros, na média do período entre 1988 e 2005, se posicionaram a
favor do voto obrigatório. Some-se a isso os resultados da pesquisa citada por
Figueiredo (1990), onde pouco mais de um terço dos eleitores afirmaram que se o
voto não fosse obrigatório, não participariam dos processos eleitorais. Assim, teremos
pouco mais de 20% dos eleitores que não são favoráveis ao voto obrigatório e

participariam das eleições, mesmo que ele deixasse de existir.

TABELA 5.15 - MEDIDAS DE TENDÊNCIA DA OPINIÃO FAVORÁVEL AO


VOTO OBRIGATÓRIO

ESTATÍSTICA A FAVOR VOTO OBRIGATÓRIO


Média 44,10%
Desvio Padrão 9,94 pp
V. Máximo 61,69%
V. Mínimo 29,59%

A tabela 5.15 indica também uma variação acima do erro aceitável durante
o período, indo de 29% a 61%, o que mostra a não estabilidade da opinião. Resta
saber se essa variação da opinião a respeito da obrigatoriedade do voto tem uma
direção ou é randômica ao longo do tempo. Os resultados da auto-regressão61
apresentados na tabela 5.16 indicam uma consistência na mudança da opinião a

61O teste de auto-regressão deve ser aplicado aqui por haver pelo menos um coeficiente próximo do
limite de confiança no teste de autocorrelação parcial, como indica o gráfico abaixo:

a favor do voto obrigatório


1,0

,5

0,0

-,5
Partial ACF

Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5 6

Lag Number
205

favor do voto obrigatório ao longo do tempo. O nível de significância é aceitável, de


0,003, o que mostra uma forte relação entre as duas variáveis. O coeficiente Beta de
1,022 comprova que conforme o tempo passa, aumenta o percentual de favoráveis
ao voto obrigatório na opinião pública brasileira durante o período analisado.
Um possível efeito interveniente nesta opinião é se ela foi coletada em ano

eleitoral ou ano sem eleição, por considerarmos que em anos eleitorais os debate
políticos são mais intensos e isso pode estimular a opinião pública à participação.
No entanto, os resultados da auto-regressão considerando a série interrompida pelo
"evento" ano eleitoral62 não se mostram significativos, com sig de 0,084, embora

apresente um coeficiente Beta alto e positivo de 13,306. Em função dos valores de


sig estarem acima do limite de confiança, não é possível dizer que em anos
eleitorais há uma tendência de crescimento da opinião favorável ao voto obrigatório.

TABELA 5.16 - AUTO-REGRESSÃO DA OPINIÃO A FAVOR DO VOTO OBRIGATÓRIO AO LONGO


DO TEMPO

REGRESSORA DEPENDENTE BETA APPROX. PROB.

Ano A favor voto obrigatório 1,022** 0,003


Ano eleitoral A favor voto obrigatório 13,306 0,084
** Significativo ao nível de 0,01

Os resultados da auto-regressão acima devem ser relativizados pelos


"picos" de opinião favorável ao voto obrigatório, principalmente em 2002, quando o
percentual passou de 60%, para voltar aos níveis médios do período, pouco acima
de 40% em 2005. Uma opinião complementar à obrigatoriedade do voto para ajudar
a identificar o nível de participação eleitoral da opinião pública brasileira é a que trata
do interesse em eleições. Para tanto será analisada a curva histórica do percentual
de eleitores brasileiros que diz ter muito interesse nas eleições.

62Duranteo período analisado foram considerados como "ano eleitoral", todos aqueles em que houve
uma disputa, não necessariamente de caráter federal, inclusive tendo sido incluído o ano de 1993,
quando apesar de não ter havido eleições, aconteceu o referendo sobre sistema de governo, que
também mobilizou os eleitores.
206

O gráfico 5.21 indica que esse percentual manteve-se estável ao longo do


período analisado, oscilando entre 15% e 20% do total de eleitores. No final dos
anos 90 até o início da década de 2000 esses percentuais excederam os 20%,
enquanto em 1996 o percentual estava abaixo de 15%. Isso poderia demonstrar
uma possibilidade de crescimento consistente ao longo do tempo, porém, não foi o
que aconteceu, pois até 2004 a curva manteve-se estável.

100

90

80

70

60

50

40

30
muito interesse em eleições

20

10

0
1996 1998 1999 2000 2000 2001 2002 2004

GRÁFICO 5.21 - PERCENTUAL DE ELEITORES QUE DIZ TER MUITO INTERESSE POR
ELEIÇÕES (ID: 191 A 197 – ANEXO G)

Analisando as medidas centrais das manifestações de muito interesse em


eleições, comprova-se a estabilidade ao longo do tempo, pois a amplitude entre o
valor mínimo e máximo no período analisado fica em onze pontos percentuais, com
variação de 12,9% a 23,6%. A média de 17,7% mostra que as variações para cima
ou para baixo dessa média ficaram muito próximas dos cinco pontos percentuais que
indicam a manutenção da curva.
207

TABELA 5.17 - MEDIDAS DE TENDÊNCIA SOBRE MUITO INTERESSE EM


ELEIÇÕES

MUITO INTERESSE
ESTATÍSTICA
EM ELEIÇÕES
Média 17,70%
Desvio Padrão 3,89 pp
V. Máximo 23,60%
V. Mínimo 12,90%

Os resultados do teste de auto-regressão63 também apontam para a


estabilidade da curva, pois o nível de significância está acima do aceitável (0,602),

enquanto o coeficiente Beta é muito baixo, de 0,396, conforme tabela 5.18. Nesta
tabela também estão os principais resultados da auto-regressão da série interrompida,

considerando como variável regressora ser ano eleitoral. Os resultados mostram que

também não há nenhuma relação entre os percentuais de eleitores muito interessados


nos processos eleitorais e o fato da opinião ter sido colhida em ano eleitoral ou não.

TABELA 5.18 - AUTO-REGRESSÃO DE "MUITO INTERESSE EM ELEIÇÕES" AO LONGO DO TEMPO

REGRESSORA DEPENDENTE BETA APPROX. PROB.

Ano Muito interesse em eleições 0,396 0,602


Ano eleitoral Muito interesse em eleições -4,534 0,182

Comparando o comportamento da curva de opiniões favoráveis ao voto


obrigatório e a dos percentuais de eleitores que têm muito interesse pelas eleições,
nota-se que não há relação significativa entre elas. No entanto, percebe-se que
excluindo os 44% de média que diz ser favorável ao voto obrigatório – possivelmente
por conta da necessidade de estímulo para participação – e os 34% de eleitores que

63O teste de auto-regressão deve ser aplicado aqui por haver pelo menos um coeficiente próximo do
limite de confiança no teste de autocorrelação parcial, como indica o gráfico a seguir:

muito interesse em eleições


1,0

,5

0,0

-,5
Partial ACF

Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5

Lag Number
208

diz que não votaria se o voto não fosse obrigatório, sobram cerca de 20% do
eleitorado, muito próximo do percentual de eleitores que diz ter muito interesse nas
disputas. Isso explicaria a não relação entre as duas curvas de opiniões, pois não
necessariamente o mais interessado nas disputas eleitorais deverá ter opinião
favorável ao voto obrigatório, visto que ele pode ter outros estímulos para a
participação.
209

QUADRO 5.1 - DEMONSTRATIVO DOS PADRÕES DE OPINIÕES SOBRE TEMAS POLÍTICOS NO BRASIL NAS ÚLTIMAS
TRÊS DÉCADAS

COMPORTAMENTO RESULTADOS DA
TEMA PÚBLICO OPINIÃO PERÍODO
DA CURVA AUTO-REGRESSÃO

Opinião mensal do Avaliação Positiva 1987 a 2005 Volátil com mudanças Resultados não significativos ao
governo federal randômicas. longo do tempo.

Opinião anual do Avaliação Positiva 1987 a 2004 Volátil com mudanças Resultados não significativos ao
governo federal randômicas. longo do tempo.

Opinião anual do Avaliação Negativa 1987 a 2004 Volátil com mudanças Resultados não significativos ao
governo federal randômicas. longo do tempo.

Voto personalista Decide votar no 1972 a 2004 Volátil com mudanças Resultados não significativos ao
candidato e não no randômicas. longo do tempo.
partido

Ideologia política Auto-identificação 1989 a 2002 Estável a partir dos anos 90. Resultados não significativos ao
como sendo de longo do tempo
esquerda

Ideologia política Auto-identificação 1989 a 2002 Volátil com mudanças Resultados não significativos ao
como sendo de randômicas. longo do tempo
centro

Ideologia política Auto-identificação 1989 a 2002 Estável até 1997, quando passou Resultados não significativos ao
como sendo de a apresentar um crescimento, longo do tempo
direita com estabilização em 2000.

Democracia Preferência pela 1988 a 2004 Estável até 2000, com queda Resultados não significativos ao
Democracia rápida para em seguida longo do tempo
estabilizar-se novamente.

Confiança nas Confia na Justiça 1995 a 2003 Queda gradativa e constante ao Resultados são significativos ao
instituições longo de todo o período longo do tempo

Confiança nas Confia no congresso 1972 a 2003 Estabilidade até 1989. Resultados são significativos ao
instituições Crescimento rápido até 1991. longo do tempo
Queda gradativa e contínua até
2003

Confiança nas Confia no Governo 1972 a 2003 Queda até 1989. Crescimento Resultados significativos ao
instituições contínuo até 1995. Queda longo do tempo, indicando
gradativa até 2003 queda consistente.

Sistema de Prefere 1962 a 1999 Queda até 1988. Crescimento Resultados não significativos ao
Governo presidencialismo gradativo até 1993 e longo do tempo
estabilidade a partir de então.

Sistema de Prefere 1988 a 1999 Queda gradativa e contínua até Resultados significativos ao
Governo parlamentarismo 1993, com estabilidade a partir longo do tempo, indicando
de então. consistência na redução dos
percentuais de opinião.

Voto Obrigatório A favor do voto 1988 a 2005 Percentual crescente com Resultados significativos e
obrigatório "pulsos" no tempo positivos no tempo.

Participação Tem muito interesse 1996 a 2004 Percentual em estabilidade Resultados não significativos ao
eleitoral em eleições durante todo o período longo do tempo.
210

QUADRO 5.2 - DEMONSTRATIVO DAS CORRELAÇÕES ENTRE OPINIÕES SOBRE TEMAS POLÍTICOS NO BRASIL
DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS

CORRELAÇÃO AO LONGO COEFICIENTE NÍVEL DE


RESULTADO
DO TEMPO BETA SIGNIFICÂNCIA

Avaliação positiva do presidente com 0,340 0,000 Correlação entre as duas variáveis ao
expectativa de crescimento da renda longo do tempo altamente
nos próximos seis meses. significativa, indicando coerência
entre a variável econômica e a
avaliação do governo.

Avaliação positiva do governo com -0,426 0,049 Correlação entre as duas variáveis
opinião sobre crescimento da significativa e inversa, indicando
corrupção coerência entre as opiniões.

Avaliação negativa do governo com 0,395 0,000 Correlação entre as duas variáveis
opinião sobre crescimento da significativa, indicando coerência
corrupção entre as opiniões.

Avaliação positiva do governo com -0,702 0,001 Correlação entre as duas variáveis
taxa anual de inflação. significativa e inversa, indicando
coerência entre as opiniões.

Avaliação negativa do governo com 0,997 0,000 Correlação entre as duas variáveis
taxa anual de inflação. significativa, indicando coerência
entre as opiniões.

Auto-identificação ideológica como -0,994 0,045 Correlação significativa e em sentido


sendo de Centro com Direita oposto entre as duas variáveis,
indicando oposição de opiniões entre
elas.

A favor do presidencialismo com -0,990 0,005 Correlação significativa e em sentido


favorável ao parlamentarismo oposto entre as duas variáveis,
indicando oposição de opiniões entre
elas.

5.2 OPINIÕES SOBRE TEMAS SOCIAIS

5.2.1 O Brasileiro e a Pena de Morte64

A opinião pública do brasileiro a respeito da pena de morte entre 1995 e


2005 é um exemplo de opinião primária que se mantém, porém, em 2002, ela

apresenta uma variação em forma de pulso (mudança abrupta e temporária), para


voltar aos índices anteriores já no ano seguinte. Essa opinião secundária em 2002

64O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo H.
211

que inverteu as posições das opiniões sobre pena de morte pode ter sido causada
por um fato de grande intensidade naquele momento para o debate público. O período

analisado também mostra uma consolidação das opiniões sobre o tema no Brasil.
No início da curva, em 1995, 43% era contra a pena de morte e 56% favorável. Em
1999 percebe-se uma inversão da opinião, com os contrários passando a 47%,
contra 53% de favoráveis. Não houve apenas uma inversão, mas um crescimento no
percentual de pessoas com opinião formada sobre o tema no período de1999 e
2005 perceber-se uma estabilidade – excetuando 2002 – na curva.

100

90

80

70

60

50

40

30

20

10
A favor

0 Contra
1995 1999 2000 2001 2002 2003 2005

GRÁFICO 5.22 - SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÕES SOBRE PENA DE MORTE NO BRASIL


(ID: 199 A 205 – ANEXO H)

A pesquisa que aferiu a opinião do brasileiro sobre pena de morte em 2002


foi produzida no mês de janeiro, podendo ter refletido, portanto, alterações na opinião
secundária devido a acontecimentos tratados no espaço público em 2001. Neste
ano, não apenas os brasileiros, mas todos os países do ocidente acompanharam
informações divulgadas pela mídia internacional a respeito da necessidade de
endurecimento das regras no combate ao terrorismo, principalmente após os ataques
212

ao World Trade Center e Pentágono nos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001.


O debate, naquele momento, tratava da redução dos direitos individuais em favor da
manutenção da segurança coletiva. De qualquer maneira, alterações temporárias
nas curvas das opiniões sobre pena de morte no Brasil podem ser explicadas pela
entrada de novas pessoas com opinião formada no debate do que pela mudança de
posicionamento daqueles que já possuíam uma opinião sobre o tema.

TABELA 5.19 - AUTO-REGRESSÃO COM OPINIÕES SOBRE PENA DE MORTE NO BRASIL

COEFICIENTE NÍVEL
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA

A favor pena de morte - 0,421 0,454


Ano
Contra pena de morte 0,421 0,454

Quando as autoregressões65 são feitas usando a variável tempo como


regressora os resultados indicam uma estabilidade das opiniões favoráveis e contrárias
no período analisado, mostrando a existência de uma manutenção das opiniões.
Isso aponta para que as alterações apresentadas pela curva durante o período
sejam explicadas principalmente pela inclusão de novos atores no debate, ou em
outras palavras, ao fato de mais pessoas formularem opinião a favor ou contra o
tema. A manifestação de indivíduos antes desinteressados no debate, levados pelos
grupos de interesse através dos conteúdos divulgados pela mídia, mostra que houve
uma tendência de benefício ao crescimento da opinião contrária à pena de morte.

65O teste de auto-regressão deve ser aplicado, pois as autocorrelações parciais plotadas abaixo
indicam a possibilidade de um comportamento não estacionário da série.

a favor da pena de morte contra a pena de morte


1,0 1,0

,5 ,5

0,0 0,0

-,5 -,5
Partial ACF

Partial ACF

Confidence Limits Confidence Limits

-1,0 Coefficient -1,0 Coefficient


1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

Lag Number Lag Number


213

5.2.2 O Brasileiro e a Reforma Agrária66

A opinião do brasileiro sobre a reforma agrária é um exemplo de tema


público em que se percebe uma mudança de opinião contínua e gradativa até o

início dos anos 90 e a partir daí uma estabilidade. O gráfico 5.23 mostra que de
1962 até 1987 as opiniões contrárias e favoráveis à reforma agrária seguiram curvas
contínuas e em sentidos claramente opostos. Enquanto o percentual de favoráveis à
reforma agrária passou de 47% em 1962, chegando a 71% em 1987, estabilizando-
se entre60% e 65% a partir de 1996; a opinião contrária foi de 34% em 1962 para

até 8% em 1987, estabilizando-se a seguir entre 10% e 20% desde então, sendo o
comportamento de uma curva o espelho do comportamento da outra.

100

90

80

70

60

50

40

30 Favor

20 Ref. Agrár.

10 Contra

0 Ref. Agrár.
1960 1970 1980 1991 1998 2002 2004
1962 1972 1987 1996 2000 2003

GRÁFICO 5.23 - SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL


(ID: 207 A 218 – ANEXO I)

66O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo I.
214

Pesquisas nacionais de opinião sobre esse tema têm origem nos anos 60
em função das discussões sobre reforma constitucional. Com a inclusão do tema na
constituição brasileira, houve oportunidade para um debate público sobre a
necessidade e/ou viabilidade de uma reforma no sistema de distribuição da
propriedade rural brasileiro no século XX.
Não foi a primeira vez que o tema entrou em debate público no Brasil. O grau
de concentração da propriedade fundiária que caracteriza a generalidade da estrutura
agrária brasileira é um reflexo da natureza da economia nacional que vem dos
primórdios da colonização (PRADO JR, 1969). Para o autor, desde a colonização até
pelo menos meados do século XX houve uma série de modificações na sociedade
brasileira que tiveram impacto direto ou indireto na organização agrária. Essas
mudanças vão desde a ocupação do território brasileiro, com as fronteiras agrícolas
ainda se expandindo no final do século XX; contínuo crescimento e adensamento
demográfico, que só vão perder força nos anos 80 (IBGE); contingentes migratórios,
principalmente para zonas urbanas e uma constante diversificação das atividades
econômicas no período são alguns exemplos de modificações da forma de
composição da sociedade brasileira que têm impacto na organização agrária e na
opinião pública.
No entanto, como lembra Caio Prado Júnior, essas mudanças não são
suficientes, per si, para alterar alguns elementos fundamentais da estrutura agrária
que ainda persiste, como a obsoleta forma de utilização da terra e organização agrária,
deixando à população de trabalhadores o mero papel de desempenhar a função de
fornecer mão-de-obra a uma exploração agromercantil voltada para fora do país
(PRADO JR, 1969). É esta contradição, que envolve por um lado as transformações
geradas pela relação entre campo e cidade, e por outro a manutenção dos princípios
de exploração agrícola no país, que o tema Reforma Agrária mantém-se presente no
debate público de forma permanente desde, pelo menos, os anos 50 do século XX.
Reflexo desse debate é a organização de grupos de pressão que fazem com que o
cidadão desinteressado possa se decidir se é a favor ou contra a reforma agrária.
215

Os dois principais exemplos desses grupos de interesse são de um lado a União


Democrática Ruralista (UDR) e de outro o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST). O primeiro defendendo a manutenção do sistema de propriedade
agrária, o segundo a sua transformação.
A especialização das atividades da propriedade rural, que passou ao longo

da segunda metade do século XX a buscar maior produtividade, intensificando suas


atividades, causou uma diversificação interna do sistema agrário, gerando uma

modificação na forma de se considerar a terra como elemento de produção. Além


disso, as intensas correntes migratórias para zonas urbanas geraram, no mesmo

período, uma forma distinta de tratamento que as massas fornecedoras de mão-de-


obra tinham com os grandes latifúndios. Esse novo tratamento, dissociado e de

maior independência em relação ao sistema agrário que demandava intensamente


mão de obra; acabou tendo reflexos no posicionamento da opinião pública em

relação à reforma agrária. Com menor dependência do sistema latifundiário para a


sobrevivência econômica, cada vez mais as massas urbanas se desvinculam do
sistema histórico de relações de trabalho rural e tendem a aproximar suas opiniões
de um modelo de agricultura mais diversificado, onde os grandes proprietários voltados
para a produção que visa a exportação são substituídos por pequenos produtores

com suas atividades voltadas o atendimento das crescentes demandas internas.

Percebe-se que historicamente a opinião do brasileiro tende a ser mais


favorável à reforma agrária do que contrária. Com respeito à opinião favorável, a

curva crescente constante entre os anos de 1962 e 1991 apresentou uma pequena
queda e se estabilizou na última década. Já a opinião contrária mostrou-se em
queda dos anos 60 até 90, quando começou a oscilar entre 10% e 20%, o que indica
uma mudança permanente e gradual das opiniões ao longo do tempo em ambas
opiniões, para em seguida elas estabilizarem-se.
Para testar se as mudanças estruturais da sociedade brasileira no período,
em especial a crescente desvinculação da população das relações diretas com a
216

produção latifundiária, pode-se utilizar como variável interveniente o percentual de


população urbana no Brasil durante o mesmo período. Como mostra o gráfico 5.24,

entre 1960 e 2000 o percentual de população urbana no Brasil apresentou uma


curva crescente, passando de 44% em 1960 para 81% em 2000. Vale ressaltar que
a partir dos anos 90 a velocidade de crescimento da curva caiu significativamente,
chegando quase a estabilidade a partir de 1996, de acordo com levantamentos de
censo e da pesquisa nacional de amostra domiciliar (Pnad) do IBGE.

100

90

80

70

60
percentual população urbana

50

40

30

20

10

0
1960 1962 1970 1972 1980 1987 1991 1996 1998 2000

GRÁFICO 5.24 - CURVA DE CRESCIMENTO DA TAXA DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL (ID:


206 A 215 – ANEXO I)

Incluindo as opiniões e a variável interveniente em um teste de auto-


regressão, temos como resultado que a relação da opinião favorável ao longo do
tempo apresenta uma baixa relação estatística, com nível de significância de 0,215 e
coeficiente Beta de 0,062, demonstrando que no período analisado não houve uma
mudança consistente da opinião. Isso porque graficamente é possível perceber dois
períodos de tempo distintos. Um que segue até 1987, com crescimento contínuo da
opinião a favor da reforma agrária e a partir de então se percebe uma estabilidade
217

na opinião, mas, separando os dois momentos, os resultados são diferentes, de


acordo com o que demonstra a tabela 5.16:

TABELA 5.20 - AUTO-REGRESSÃO OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA NO BRASIL EM DOIS


PERÍODOS DISTINTOS

COEFICIENTE NÍVEL DE
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA

A Favor Ref. Agrária 0,709* 0,029


Ano (1962 a 1987)
Contra Ref. Agrária -0,718** 0,006
A Favor Ref. Agrária 0,134 0,306
Ano (1988 a 2004)
Contra Ref. Agrária -0,556 0,790
* Significativo ao nível de 0,05
** Significativo ao nível de 0,01

Entre as décadas de 60 e 80 as opiniões sobre reforma agrária


apresentaram mudanças consistentes ao longo do tempo, ambas com resultados
dos testes significativos. A opinião favorável cresceu com coeficiente Beta positivo
de 0,709 (sig 0,029) e a contrária decresceu –0,718 (sig 0,006). Já a partir de 1998,

até 2004, as opiniões aferidas sobre esse tema apresentaram-se estáveis, com
resultados muito baixos e sig acima do aceitável, comprovando a idéia de que a curva

apresenta dois momentos distintos: o primeiro, de mudanças gradativas e consistentes


ao longo do tempo; e o segundo, de estabilidade. Para dar prosseguimento à análise

da opinião sobre reforma agrária no Brasil, incluo uma variável interveniente no


modelo: taxa de urbanização do País.
Com respeito à correlação ao percentual de população urbana, as opiniões
positivas apresentaram uma tendência muito próxima aos níveis de crescimento da
taxa de urbanização anual até 1987, quando as duas curvas começaram a se
distanciar, enquanto a urbanização continuou crescendo nos anos 90, o percentual
de opiniões favoráveis à reforma agrária nesse período manteve-se estável. O mesmo
movimento pode ser percebido em relação à taxa de urbanização e as opiniões
contrárias à reforma agrária, porém, no sentido inverso. Até o fim dos anos 80,
enquanto a taxa de urbanização crescia, o percentual de opiniões contra a reforma
218

agrária diminuía e, a partir de então, tornou-se estável, enquanto a primeira


continuou em uma curva ascendente, como mostra o gráfico 5.25.

100

90

80

70

60

50

Favor
40
Ref. Agrár.
30
Contra
20 Ref. Agrár.

10 % Pop.
0 Urbana
1960 1970 1980 1991 1998 2002 2004
1962 1972 1987 1996 2000 2003

GRÁFICO 5.25 - COMPARAÇÃO ENTRE OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA E TAXA


DE POPULAÇÃO URBANA NO BRASIL (ID: 206 A 218 – ANEXO I)

Quando colocadas em um modelo de auto-regressão67, tendo como variável


independente a taxa de urbanização brasileira, percebe-se que a relação de

67Os testes de estacionaridade por autocorrelação parcial indicam a existência de estacionaridade na


variável "opinião a favor" e "opinião contra" a Reforma Agrária, como mostram os gráficos abaixo, o
que possibilita a utilização de regressão linear para avaliar as relações entre as variáveis,
considerando o tempo como variável independente. (em todos os casos, os coeficientes ficam abaixo
do limite de confiança). Além disso, os testes de correlação cruzada entre taxa de urbanização e de
opiniões a favor e contra a Reforma Agrária indicam apenas o fator de ordem Zero atingindo o limite
de confiança, o que demonstra que não é necessário fazer nenhuma regressão ou aplicação de
diferenças na variável original para realizar testes de regressão.
219

determinação do percentual de população urbana sobre a opinião favorável à reforma


agrária é positiva e significativa, com coeficiente Beta de 0,195 e nível de

significância dentro dos limites aceitáveis (0,035). Em relação à opinião contrária, a


correlação é mais forte ainda, com nível de significância de 0,006 e coeficiente Beta
de –0,289. Como o coeficiente é negativo e significativo, o teste mostra que a relação
entre urbanização e opinião contrária à reforma agrária são significativamente opostas,
ou seja, enquanto uma aumenta a outra diminui.

TABELA 5.21 - AUTO-REGRESSÃO ENTRE TAXA DE URBANIZAÇÃO E OPINIÕES SOBRE REFORMA


AGRÁRIA NO BRASIL

COEFICIENTE NÍVEL DE
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA

A Favor Reforma Agrária 0,195* 0,035


Taxa de Urbanização
Contra Reforma Agrária -0,289* 0,006
* Significativo ao nível de 0,05

Como o teste indicou, a relação é um pouco mais forte no sentido inverso

de urbanização e população contrária à reforma agrária, comprovando que a taxa de


urbanização colabora mais com a queda de resistências na opinião pública para a
realização da reforma agrária do que propriamente com o aumento de seu apoio.

contra reforma agrária


a favor reforma agrária 1,0
1,0

,5
,5

0,0
0,0

-,5
Partial ACF

-,5
Partial ACF

Confidence Limits
Confidence Limits

-1,0 Coefficient -1,0 Coefficient


1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

Lag Number Lag Number


220

5.2.3 Opinião sobre Desemprego68

Para a opinião pública brasileira, quando perguntada sobre o maior problema


do país, desde os anos 80, a resposta mais freqüente tem sido o Desemprego. Os

percentuais em favor dessa resposta variam de no mínimo 20%, chegando até 65%.
Porém, no período de 15 anos, entre 1987 e 2004, a curva da opinião sobre
desemprego ser o maior problema do país apresenta duas dinâmicas distintas.
De T0 que é 1987 até T1 que é 1996, onde a curva mostrou-se crescente
gradativamente, como indica o gráfico 5.24. Entre T1 e T2 que é 2004, a curva passa

a apresentar variações randômicas, oscilando em ambas direções.

100

90

80
Maior Problema Desemprego (TREND)

70

60

50

40

30

20

10

0
1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003

GRÁFICO 5.26 - SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÕES SOBRE DESEMPREGO SER MAIOR


PROBLEMA DO BRASIL (ID: 219, 228 A 236 – ANEXO J)

68O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo J.
221

A soma das diferenças entre os dois períodos mostra essa variação entre
as curvas. De 1987 a 1996 a soma das diferenças de primeira ordem (o resultado de

1988 menos o resultado de 1987 e assim por diante) é alta, com 36,35%, o que
indica um movimento crescente. Já no segundo período, o resultado da soma das
diferenças é de –11,96%. O valor negativo indica que houve variações nos dois
sentidos, mas que no geral os números obtidos com as variações para baixo foram
maiores que os crescentes. Se as somas indicam dois comportamentos distintos da
curva nos períodos analisados, as médias obtidas pela soma das diferenças é capaz

de mostrar a direção da curva. Até 1996 as opiniões sobre desemprego ser o maior
problema do país eram crescentes, pois a média das diferenças de primeira ordem

resultou em um valor positivo de 3,6%, enquanto a partir de 1996 as médias das


diferenças se inverteram, passando a –1,9%, o que indica uma queda na opinião de
que o desemprego é o maior problema do país a partir da segunda metade da
década de 90. Além disso, os números mostram que a intensidade de crescimento
no primeiro período foi maior que a intensidade de queda no segundo período.

TABELA 5.22 - RESULTADOS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM EM DOIS


PERÍODOS PARA DESEMPREGO COMO MAIOR PROBLEMA DO
PAÍS

SOMA DAS DIFERENÇAS

Dif. T0 a T1 Dif T1 a T2

Média 3,6350 -1,9933


Soma 36,35 -11,96

Uma variável interveniente que pode ser incluída no modelo para testar a
existência de correlação com a opinião sobre desemprego é a própria taxa de
desemprego médio anual. Considerando que o público sofre diretamente os efeitos
do crescimento ou redução do desemprego no país e que esse público é capaz de
formular opiniões consistentes com a realidade na qual está inserido, pode-se
considerar que a opinião pública sobre desemprego tenha algum tipo de relação
com os índices de desemprego real medido no país. O gráfico abaixo mostra que
222

houve um crescimento constante do percentual de brasileiros que consideravam o


desemprego como maior problema do país entre 1987 e 1996. A partir de então a

curva começou a apresentar oscilações nas duas direções, ascendente e descendente.

100

90

80

70

60

50

40

30 Maior Problema

20 Desemprego

10 Tx Desemprego
0 (x10) IPEA
1987 1991 1995 1999 2003
1989 1993 1997 2001

GRÁFICO 5.27 - SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÃO SOBRE DESEMPREGO E TAXA DE


DESEMPREGO NO BRASIL (ID 219 A 236 – ANEXO J)

NOTA: Os valores da taxa de desemprego foram multiplicados por dez apenas para
facilitar a visualização das curvas no gráfico. De fato, a taxa varia de 3,5%
(mínimo) e 8,5% (máximo), no período.

Porém, essas tendências não estão relacionadas com a curva de taxa média
de desemprego anual, medida pelo Ipea, que, apesar das oscilações, apresenta um
movimento crescente durante todo o período em análise. Com isso, visualmente é
possível indicar uma correlação mais forte entre a taxa de desemprego e opinião
pública até 1996, do que no segundo período, onde o índice medido pelo Ipea
(Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), apesar das oscilações, continua a
apresentar-se crescente, enquanto a opinião pública passa a ter quedas
percentuais.
223

TABELA 5.23 - RESULTADOS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM PARA


TAXA DE DESEMPREGO EM DOIS PERÍODOS NO BRASIL

DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM


(Tx Desemprego Ipea x 10)

Tx. Desemprego Tx. Desemprego


até 1996 1996 a 2002

Média 0,2300 0,4040


Soma 2,07 2,02

As somas das diferenças de primeira ordem da curva de taxa de


desemprego do Ipea mostra-se positiva nos dois períodos, o que indica, apesar das
oscilações a partir de 1996, um crescimento constante da taxa, apontando para uma
dissociação desse indicador com a opinião pública sobre desemprego, conforme

tabela abaixo.

TABELA 5.24 - AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES SOBRE DESEMPREGO SER MAIOR PROBLEMA
DO PAÍS

COEFICIENTE NÍVEL DE
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA

Ano Desemprego como maior problema 1,395 0,192


Tx. Desemprego (Ipea) Desemprego como maior problema 2,726 0,253

Os testes de auto-regressão da opinião sobre desemprego ser o maior


problema do país ao longo de todo o período analisado com e em correlação com as
taxas de desemprego no período mostraram-se não significativos, como indica a
tabela acima, com os dois níveis de significância acima do limite aceitável. Portanto,

não há relação direta entre as oscilações da opinião sobre desemprego e a taxa


anual de desemprego no País.
224

5.2.4 Corrupção como Maior Problema do País69

A análise temporal da opinião pública brasileira indica uma série de


opiniões que são constantes, sem apresentar alteração significativa ao longo do

tempo. É o caso da opinião sobre corrupção ser o maior problema do país. Entre
1987 e 2002 o percentual de brasileiros que considerou a corrupção como maior
problema do país oscilou abaixo da margem de cinco pontos percentuais de erro,
ficando entre 5% e 2%, conforme mostra o gráfico 5.28.

100

90
corrupção como maior problema do país

80

70

60

50

40

30

20

10

0
1987 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

GRÁFICO 5.28 - SÉRIE HISTÓRICA DE OPINIÃO SOBRE CORRUPÇÃO SER MAIOR


PROBLEMA DO BRASIL (ID: 237 A 245 – ANEXO K)

A estabilidade da opinião sobre corrupção ser o maior problema do país


não significa que o brasileiro seja insensível aos processos de corrupção
denunciados publicamente. O Gráfico 5.29 indica uma grande volatilidade entre

69O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo K.
225

1995 e 2005, mostrando uma tendência de queda até 2003 e se estabilizando em


torno de 30% até 2004, quando volta a subir.

100

90

80

70

60
corrupção tem aumentado

50

40

30

20

10

0
1995 1998 1999 2000 2001 2005
1997 1998 1999 2001 2004

GRÁFICO 5.29 - SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE AUMENTO DA CORRUPÇÃO NO BRASIL (ID:


246 A 265 – ANEXO K)

A percepção da opinião pública sobre crescimento da corrupção no Brasil


indica uma sensibilidade aos acontecimentos, principalmente, na esfera federal, pois

de 1997 a 2001 as denúncias de corrupção envolvendo instituições financeiras nos


processos de privatizações e de fundos de pensões estiveram sempre presentes no
debate público. O índice cai a partir do início do governo Lula, quando as denúncias
de corrupção apresentam uma significativa redução, e volta a subir em 2005, quando
torna-se público um novo escândalo de corrupção envolvendo o PT, recursos de
empresas públicas para financiamento do partido e empresários prestadores de
serviços a essas empresas. Apesar disso, a curva anterior, sobre a corrupção ser o
maior problema do país, permanece estável, indicando que a opinião pública é
capaz de reconhecer novas denúncias de corrupção como verdadeiras, porém, não
226

indica que a cada divulgação de novo acontecimento, isso seja capaz de "manipular"
a opinião pública no sentido de transformar um fato isolado em um problema

nacional. Aqui fica clara a distinção entre opinião pública primária e secundária.
Enquanto a opinião sobre a corrupção ser o maior problema do país apresenta níveis
históricos estáveis, não sofrendo influência de eventos específicos, mostrando-se
como componente importante de uma opinião primária; a avaliação sobre aumento
ou queda da corrupção no país está diretamente relacionada a acontecimentos
pontuais e a entrada deles no debate público, demonstrando ser uma opinião suscetível

a mudanças rápidas.

TABELA 5.25 - AUTO-REGRESSÃO DE OPINIÕES SOBRE CORRUPÇÃO NO BRASIL

COEFICIENTE NÍVEL DE
REGRESSOR VAR. DEPENDENTE
BETA SIGNIFICÂNCIA

Ano Corrupção como maior problema -0,138 0,135


Ano Corrupção tem aumentado -3,857 0,085

Os resultados dos testes de auto-regressão das duas opiniões sobre


corrupção – como maior problema do País e se tem aumentado – apresentam-se
não significativos por motivos distintos. A opinião sobre corrupção como maior
problema do País é não significativo (0,135) por se tratar de uma opinião estável ao

longo de todo o período analisado. Já a opinião sobre se a corrupção tem


aumentado, o teste também é não significativo (0,085), porém, por se tratar de uma
curva instável e com movimentos voláteis, indicando uma maior sensibilidade dessa
opinião aos acontecimentos conjunturais.
227

5.2.5 A Opinião Pública e o Referendo 200570

Em 2005, mais notadamente no segundo semestre, um tema que mobilizou


a opinião pública brasileira foi o referendo nacional sobre a manutenção da permissão
para venda de armas de fogo e munições no país. O tema, polêmico, envolve questões
sobre direitos civis, liberdades, segurança, criminalidade e, indiretamente, confiança
no Estado. Além disso, some-se o fato da pouca tradição brasileira em realização de
consultas populares diretas, como esta, onde os eleitores são chamados a decidir
sobre um aspecto cuja deliberação normalmente fica restrita à elite política.71
Desde a discussão no congresso da lei do desarmamento, dois anos antes
do referendo, a opinião pública brasileira já se mostrava a favor da maior restrição
ao comércio e uso de armas de fogo no país. Com a proximidade do referendo e
início do Horário Gratuito de Propaganda sobre o Referendo (HGPR), a ampliação do
debate público gerou uma inversão nas opiniões. O público, que de maneira geral é
favorável à restrição de armas de fogo; quando isso leva à restrição de liberdades,
principalmente considerando os baixos índices de confiança da opinião pública no
Estado, a posição predominante é a de que o cidadão tem que preservar o direito à
própria segurança.
Nessas condições, a curva histórica de opinião sobre o tema do referendo
pode ser analisada como uma série temporal interrompida (McDOWALL et al., 1980),
onde o objetivo é identificar se o evento externo HGPR teve algum impacto na curva
de opinião, ou seja, se em primeiro lugar houve mudança de opinião; caso sim, se
ela foi consistente ao longo do tempo; e em caso positivo, se há alguma relação
entre essa mudança com o evento externo HGPR. Para tanto, analiso primeiramente
o gráfico de opiniões, as médias e somas das diferenças de primeira ordem e os

70O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo L.

71O referendo foi previsto em um artigo na Lei do Desarmamento que entrou em vigor um ano antes
do referendo e previa a consulta popular sobre a manutenção ou não da permissão da legalidade
para a venda de armas de fogo e munições no País.
228

resultados dos testes de auto-regressão entre as variáveis dependentes "sim"


(opinião favorável à restrição de armas no país) e "não" (opinião contrária à restrição
de armas no país). A série começa com dados de julho de 2003 e segue até os
resultados do referendo em outubro de 2005. Os dois primeiros pontos da série não
dizem respeito à questão específica do referendo, mas sobre a opinião a respeito da
proibição do porte de armas no país. Como também se trata de posições favoráveis
ou contrárias à restrição de armas no país, elas foram acrescidas à curva.
A primeira análise é do movimento das curvas ao longo do tempo,
avaliando se houve ou não mudança significativa das opiniões a partir do gráfico 5.30:

100

90

80

70
início HGPR

60

50

40

30

20
SIM
10

0 NÃO
09.07.03 15.10.03 15.02.05 18.10.05 27.10.05
20.09.03 24.03.04 11.10.05 20.10.05

GRÁFICO 5.30 - SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE TEMA DO REFERENDO 2005 (ID: 266 A 274
– ANEXO L)

Preliminarmente, as curvas mostram uma correlação negativa, ou seja, inversa,


quase absoluta entre as duas opiniões. Isso significa que desde 2003 as alterações
em uma das curvas foram conseqüência das mudanças na outra e não da entrada
de novos indivíduos. Isso pode ser explicado pela grande saliência do tema na
opinião pública brasileira, o que faz com que muitos queiram expressar uma posição
pública, ao invés de oferecer "não-respostas". Como pode-se perceber, a curva da
229

opinião favorável à restrição de armas apresenta uma pequena tendência de


crescimento até o início de 2004. Já em fevereiro de 2005 (portanto, sete meses
antes do início do HGPR) ela começa a sofrer significativa queda. Movimento inverso
e na mesma proporção acontece com a curva de opiniões contrárias à restrição de
armas no País. O que se percebe é um crescimento na velocidade de queda ou
crescimento das curvas a partir do início do impacto do HGPR, o que pode indicar a
presença de efeitos significativos da variável interveniente da opinião pública.
As médias e somas das diferenças de primeira ordem para as duas opiniões
mostram que os movimentos estão altamente correlacionados. A média das diferenças
durante todo o período para a opinião "sim" foi de -3,80, enquanto para a opinião

"não" esteve em 3,80. As somas das diferenças também foram exatamente as


mesmas, com sinais opostos, de -34,20 para "sim" e 34,20 para "não". Isso comprova

que durante todo o período analisado (2003 a 2005) houve uma forte migração da
opinião a favor da restrição às armas para a opinião contrária a esta restrição.

Dividindo os resultados para os dois momentos, um antes do início do HGPR

e outro após a influência deste, percebe-se pequenas diferenças no movimento da


opinião pública entre eles. Antes do início do HGPR (entre setembro de 2003 e
setembro de 2005), a redução média e a soma das primeiras diferenças na opinião
"sim" foi pouco menor que o crescimento da média e soma das primeiras diferenças
para a opinião "não". Isso significa que durante este período, o "não" à restrição às
armas ganhou, além dos que mudaram de opinião, adeptos entre os que até então
não haviam emitido opinião (soma de 20,73 contra a queda de -20,62 do "sim").
Após o início do HGPR isso mudou, pois houve uma redução maior dos favoráveis à

restrição às armas do que o crescimento da opinião contrária, demonstrando que


parte do público que até então optou pelo "sim" decidiu deixar de manifestar sua
opinião publicamente ao invés de tornar-se favorável ao "não" (queda de -13,58
contra aumento de 13,47 do "não").
230

TABELA 5.26 - RESULTADOS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM


DAS OPINIÕES SOBRE ARMAS NO BRASIL

DIF. 1.a ORDEM


VARIÁVEL INDICADOR SIM NÃO
Dif. 1ª ordem
Média -4,12 4,14
Antes HGPR
Soma -20,62 20,73
Média -3,39 3,36
Durante HGPR
Soma -13,58 13,47
Média - 3,80 3,80
Todo período
Soma -34,20 34,20

Para se saber o tamanho do impacto da variável interveniente na variável


tempo e na relação entre as opiniões opostas é preciso fazer testes de auto-
regressão,72 que já consideram o retorno de ordem um para tornar as curvas
estacionárias. São usadas como variáveis regressoras dois indicadores temporais,
um que inclui o dia e mês de realização da pesquisa (Data) e uma que inclui apenas
o ano em que foi realizada a pesquisa (Ano). Outras variáveis regressoras são a
presença ou ausência do horário gratuito de propaganda no rádio e televisão (HGPR)
como intervenção e a variável "Sim" como regressora para explicar as mudanças
nos percentuais da variável "Não". As duas variáveis dependentes são as opiniões
favoráveis e contrárias à restrição de armas no país. Os resultados de todas as
autoregressões mostraram-se significativos estatisticamente, como demonstra a
tabela 5.27.

72Os gráficos abaixo de correlações parciais indicam a necessidade de transformações de primeira


ordem para possibilitar a realização de testes de regressão temporal em todos os quatro casos, pois
apenas o primeiro coeficiente está acima ou muito próximo do limite de confiança. Como a método de
análise por auto-regressão já considera automaticamente a regressão de primeira ordem, ele é o
mais indicado para esse tipo de regressão temporal.

SIM NÃO
1,0 1,0

,5 ,5

0,0 0,0

-,5 -,5
Partial ACF

Partial ACF

Confidence Limits Confidence Limits

-1,0 Coefficient -1,0 Coefficient


1 2 3 4 5 6 7 1 2 3 4 5 6 7

Lag Number Lag Number


231

TABELA 5.27 - AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES "SIM" E "NÃO" NO


REFERENDO 2005

APPROX.
REGRESSOR DEPENDENTE BETA
PROB.

"Sim" -0,000** 0,002


Data
"Não" 0,000** 0,002
"Sim" -13,566** 0,019
Ano
"Não" 13,568** 0,017
"Sim" -26,436** 0,001
HGPR
"Não" 26,134** 0,001
"Sim" "Não" -0,989** 0,000
** Significativo ao nível de 0,01

Os resultados com a variável regressora "Data" mostraram-se significativos,


mas com coeficiente Beta muito baixo. Já em relação à regressora "Ano" a regressão
é significativa e os coeficientes Betas altos, com –13,56 pontos percentuais para a
opinião "sim" a cada ano e 13,56 pontos percentuais a mais para cada ano na
variável "não". Já as autoregressões com as duas opiniões em relação à intervenção
da propaganda gratuita mostraram-se ainda mais significativas, com valores de Beta
subindo para –26,43 para a opinião "Sim" e 26,13 pontos percentuais a mais para a
opinião "Não". O coeficiente Beta na variável interveniente HGPR acima do
coeficiente em relação à variável "Ano" indica que o impacto do horário gratuito no
rádio e televisão foi maior para as mudanças na opinião pública ao longo do tempo,
comprovando a importância da intervenção do debate através dos meios de
comunicação de massa para a conformação da opinião pública a respeito do tema.
Porém, o que se percebe é que a mídia acelerou uma tendência de
posição da opinião pública que já vinha se consolidando pelo menos desde o início
do ano de 2005 e não inverteu ou alterou significativamente as posições públicas
sobre o tema. Por fim, os resultados que se mostram mais fortemente significativos
no modelo foram os provenientes da relação entre as mudanças de opinião "sim" e
"não". Os níveis de significância foram os mais consistentes (0,000) e o coeficiente
beta de –0,989 indica que para cada ponto percentual perdido pela opinião "sim",
houve um ganho de 0,98 ponto percentual para a opinião "não". Isso porque, como
visto anteriormente, no final do processo de debate público houve uma parcela dos
232

favoráveis à opinião "sim" que deixaram de expressar sua opinião, principalmente


após o início do HGPR, ao invés de mudarem para "não".
O objetivo desses testes não é explicar os motivos da mudança ou os
critérios para aceitação de determinada opinião majoritária; se fosse, não seria feito
a partir dos testes apresentados acima. O que se pretende aqui é mostrar o efeito de
uma variável externa ao comportamento de uma curva histórica de opinião. Nesse
caso, a importância do HGPR em relação à posição da opinião pública sobre a maior
ou menor restrição às armas no País. A indicação os baixos índices de confiança no
Estado, em especial nas áreas de segurança e justiça (ver item 5.1.6) apenas
permite a aceitação como hipótese para o predomínio da manutenção dos direitos
de venda de armas no Brasil para civis o fato de os integrantes do público brasileiro
não se sentirem protegidos pelos aparatos estatais de combate à criminalidade e
violência. Considerando os objetivos deste trabalho, pode-se afirmar que a opinião
pública brasileira sobre as armas para civis apresentou tendência gradativa de
aumento da opinião em favor da venda de armas e munições no Brasil, com uma
aceleração dessa tendência após o início do Horário Gratuito de Propaganda do
Referendo, que se mostrou como uma forte fonte de intervenção na série histórica.
Outra possível variável interveniente sobre a opinião a respeito da restrição

de armas de fogo no Brasil é a taxa de crimes violentos no País. Pode-se considerar


que regiões onde haja altas taxas de criminalidade, a opinião pública tenha um
comportamento distinto sobre a restrição a armas de fogo, quando comparada à
opinião de pessoas de regiões onde as taxas de crimes violentos é menor. Para
testar essa hipótese, uso dados da Secretaria Nacional de Segurança Pública
(Senasp), que disponibiliza informações sobre criminalidade brasileira a partir de
2001. Como as informações da Senasp estão disponíveis apenas até 2003 e os dados
de pesquisas de opinião sobre esse tema começam a ser coletados a partir de 2003,

as informações usadas nos testes a seguir são resultado de preenchimento de


informações não-existentes pelo método de "tendência linear entre pontos". Foram
incluídos os dados categorizados pela Senasp como "crimes violentos letais
233

intencionais".73 O gráfico 5.31, a partir de informações de tendências anuais74 das


três variáveis, mostra que enquanto as tendências de opiniões apresentam grandes

alterações durante o período, as taxas de tendências de crimes violentos letais


intencionais ficam praticamente estáveis.

100

90

80

70

60

50

40

Tx crimes
30
média anual

20 Favor restrição
a armas
10
Contra restrição
0 a armas
2001 2002 2003 2004 2005

Tendência entre pontos

GRÁFICO 5.31 - TENDÊNCIA TEMPORAL DE MÉDIAS DE OPINIÕES SOBRE RESTRIÇÃO A


ARMAS DE FOGO E TENDÊNCIA DE TAXA DE CRIMES VIOLENTOS LETAIS
(ID: 266 A 274 – ANEXO L)

As distintas dinâmicas das curvas de opiniões e taxa de crimes antecipa os

resultados não significativos para a relação entre as variáveis, como demonstra a


tabela a 5.28.

73São incluídos nessa categoria o homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte, morte suspeita
e roubo seguido de morte. Os números representam o conjunto dessas ocorrências para cada 100 mil
habitantes do País.

74Para as tendências anuais das opiniões a favor e contra restrição a armas em 2003 e 2004 foram
usadas as médias aritméticas dos resultados das pesquisas aplicadas nesses anos. Para 2005 foi
usado o resultado do referendo.
234

TABELA 5.28 - AUTO-REGRESSÃO ENTRE TENDÊNCIA DE TAXA DE CRIMES


VIOLENTOS LETAIS E OPINIÕES SOBRE RESTRIÇÃO A ARMAS
DE FOGO NO BRASIL

APRROX.
REGRESSOR DEPENDENTE BETA
PROB.
Taxa de crimes violentos "Sim" 90,614 0,103
letais intencionais "Não" -80,997 0,992

Os índices não apresentam nenhuma significância estatística, embora os


coeficientes betas de ambas opiniões sejam bastante altos, quando comparados
com a taxa de crimes. O sinal negativo na auto-regressão entre a opinião contra

restrição a armas e munições e taxa de crimes violentos indica que se os resultados


pudessem ser considerados significativos, indicaria que os momentos no tempo em
que há uma redução da taxa de crimes violentos, há também um aumento da
opinião contrária à restrição a armas e munições. No entanto, por não ser

significativa, a taxa de crimes violentos não pode ser considerada uma variável
interveniente na opinião do brasileiro a respeito da maior ou menor restrição às

armas de fogo e munições no país.75

75Para testar a não interveniência das taxas de criminalidade nos resultados do referendo de 2005
foram tiradas as médias de crimes violentos letais intencionais por Estado da Federação entre 2001 e
2003, com esses resultados sendo considerados como variável independente em um teste de
regressão linear simples cujas variáveis dependentes foram os percentuais de opinião "sim" e "não"
no referendo. A tabela abaixo resume os principais resultados, que confirmam a não relação entre as
variáveis ao longo do tempo, pois o coeficiente de correlação é baixo (13,6%); o coeficiente de
determinação é muito baixo (1,9%), os coeficientes Betas para as duas variáveis dependentes
seguem o mesmo nível do coeficiente Beta da auto-regressão e o nível de significância fica muito
acima do aceitável (0,499), comprovando a inexistência de relação linear entre as taxas de
criminalidade por Estado e os percentuais a favor ou contra a proibição de venda de armas e
munições no Brasil.

REG. LINEAR – VARIÁVEL


DEPENDENTE R R2 BETA SIG
PREDITORA

Taxa de crimes violentos letais Percentual Sim por Estado 0,136 0,019 0,108 0,499
intencionais (2001 a 2003) por Estado Percentual Não por Estado 0,136 0,019 -0,108 0,499
235

5.2.6 Agendamento Público do Maior Problema para o Brasileiro76

Na teoria da agenda-setting, define-se como temas da agenda pública


aqueles que os integrantes do público indicam de maneira espontânea ou

estimulada nos questionários de surveys (McCOMBS e SHAW, 1972), ou seja, os de


maior saliência para os cidadãos. Por exemplo, a questão: "Vou ler uma lista e quero
que o senhor responda qual desses temas tem sido, na sua opinião, o maior
problema do País nos últimos meses" (pergunta estimulada, seguida de uma lista de
alternativas). Os temas que mais aparecem nas respostas, sejam elas estimuladas

ou espontâneas, comparados com os demais, são os agendados pela sociedade em


determinado momento. Para descobrir se esse agendamento público está
relacionado com a tematização apresentada pela mídia é preciso comparar os

percentuais das respostas com os de tratamento dos temas pela mídia. Estudos
realizados desde os anos 60 para aferir o agendamento empiricamente têm

comprovado a capacidade de agenda-setting dos meios de comunicação sobre a


sociedade, em maior ou menor grau. A gradação da capacidade de agendamento da
mídia em diferentes temas é feita a partir do conceito de zona de impacto. Quanto
maior for a relação entre os temas indicados pelo público e o tipo de cobertura, mais
ampla será a zona de impacto desta tematização.
A hipótese da tematização será testada, em parte, neste trabalho a partir

de uma série histórica de respostas à mesma questão entre 1996 e 2002 em


pesquisas aplicadas pelo instituto Datafolha para amostras nacionais. A pergunta é
estimulada e apresenta dez alternativas de temas, onde o respondente deve
escolher o que ele considera o maior problema do País naquele momento. Aqui, os
resultados são distintos dos apresentados no item 5.2.3 por se tratar de outro tipo de
formulação da pergunta. Como não há trabalho sobre a tematização da mídia

76O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo M.
236

brasileira no mesmo período, é impossível precisar a zona de impacto; mas permite


indicar quais temas estão na agenda pública do brasileiro em cada momento e se

houve mudanças entre a saliência de determinado tema em relação a outros,


conforme mostra o gráfico 5.32:

100

90

80

70 desemprego

violência
60

saúde
50
miséria

40 educação

corrupção
30

salários
20
economia

10 habitação

0 ref. agrária
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

GRÁFICO 5.32 - SÉRIE DE TEMAS CONSIDERADOS MAIOR PROBLEMA DO BRASIL (ID:


275 A 281 – ANEXO M)

O tema "desemprego" dominou a agenda do maior problema do País


durante todo o período, tendo apresentado crescimento significativo entre 1996 e
1998, estabilidade até 2000 e queda gradativa de então até 2002. Dentre os demais
temas, a grande maioria encontra-se em posição de pouca relevância na agenda
pública, abaixo de 10% de respostas e estáveis. Existem apenas duas exceções: o
tema "saúde" apresentou uma tendência de queda ao longo do período, embora não
tenha ultrapassado o limite de seis pontos percentuais de erro aceitável; enquanto o
tema violência mostrou uma tendência de crescimento ao longo de todo o período –
em especial a partir de 2001 –, o que indica uma maior tematização na agenda
pública. De qualquer maneira, fica evidente que o principal tema na agenda pública
237

brasileira, quanto ao maior problema do País, foi o "Desemprego", com tendência de


aproximação deste com a tematização de "Violência" a partir do início da década de
2000.
A tabela 5.29 sumariza as médias e somas das diferenças de primeira
ordem para cada variável, permitindo quantificar as mudanças. A média das
diferenças indica em que direção a curva caminhou, enquanto a soma quantifica a
mudança da variável em si.

TABELA 5.29 - RESULTADOS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM PARA


TEMAS CONSIDERADOS MAIOR PROBLEMA DO PAÍS

VARIÁVEL MÉDIA SOMA


a
Dif. 1. ordem - Emprego -0,16 -1,00
Dif. 1.a ordem - Violência 3,16 19,00
Dif. 1.a ordem - Saúde -0,83 -5,00
Dif. 1.a ordem - Miséria 0,33 2,00
Dif. 1.a ordem - Educação -0,50 -3,00
Dif. 1.a ordem - Salários 0,00 0,00
Dif. 1.a ordem - Economia -1,66 -1,00
Dif. 1.a ordem - Habitação -1,66 -1,00
Dif. 1.a ordem - Ref. Agrária -0,50 -3,00

Seguindo o que foi possível visualizar no gráfico anterior, as diferenças de


primeira ordem da variável "Emprego" indicam uma mudança pequena, no sentido
negativo, pois a curva apresentou movimentos nas três direções durante o período,
com um neutralizando o outro. Já a variável "Violência" apresenta uma grande
mudança ao longo do período, com ganho de 19 pontos percentuais nas diferenças
de primeira ordem e uma média de 3,16, indicando crescimento consistente desse
tema na agenda pública ao longo do tempo. Dentre as demais, apenas "Saúde" teve
uma soma de diferenças de –5,00 pontos percentuais, que deve ser destacado.
A variável "Salário" como maior problema mostrou-se com média de diferenças e
soma zero, indicando uma absoluta estabilidade durante todo o período. A auto-
regressão entre a variável independente "Ano" e as variáveis dependentes permite
quantificar a mudança na opinião pública em função do período transcorrido.
238

TABELA 5.30 - AUTO-REGRESSÃO PARA MAIOR PROBLEMA DO PAÍS


REGRESSOR DEPENDENTE BETA APPROX. PROB.
Desemprego -0,211 0,930
Violência 2,573** 0,005
Saúde -0,905* 0,024
Miséria 0,141 0,758
Educação -0,340 0,231
Ano
Corrupção -0,108 0,651
Salário -0,196 0,232
Economia -0,181 0,195
Habitação -0,229 0,060
Ref. Agrária -0,620* 0,032
* Significativo ao nível de 0,05
** Significativo ao nível de 0,01

Como é de se esperar, os coeficientes mais significativos da auto-regressão


dizem respeito à variável violência, que apresentou um nível de significância de
0,005 e um coeficiente Beta de 2,537. A variável "Saúde" também apresentou
índices significativos na auto-regressão com coeficiente Beta negativo, indicando

mais uma vez a saída deste tema na agenda pública do maior problema do País no
período em análise.

Como o teste de auto-regressão77 apresenta uma precisão maior na


avaliação do impacto do tempo percorrido nas alterações dos percentuais, aqui, a

77Os testes de autocorrelação indicam que as curvas de todos os temas são estacionárias, não
apresentando nenhum coeficiente próximo do limite de significância, como demonstram os gráficos
abaixo. Apesar disso, usa-se o teste de auto-regressão por oferecer resultados estatísticos mais
seguros na relação entre as diferentes variáveis e a variável independente "tempo".

desemprego violência saúde miséria


1,0 1,0 1,0 1,0

,5 ,5 ,5 ,5

0,0 0,0 0,0 0,0

-,5 -,5 -,5 -,5


Partial ACF

Partial ACF

Partial ACF
Partial ACF

Confidence Limits Confidence Limits Confidence Limits Confidence Limits

-1,0 Coefficient -1,0 Coefficient -1,0 Coefficient -1,0 Coefficient


1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

Lag Number Lag Number Lag Number Lag Number


239

variável "Reforma Agrária" aparece com nível de significância aceitável (0,032) e


coeficiente Beta de -0,620. O sinal negativo indica uma pequena queda nos

percentuais de reforma agrária como maior problema do País durante o período.


Como visto no item 5.2.2 deste capítulo, nos anos 90 as opiniões favoráveis e
contrárias à reforma agrária apresentavam estabilidade, após um período de mais de
três décadas de gradativas alterações das curvas. É possível que com a
estabilização das opiniões sobre a reforma agrária, este assunto perca cada vez
mais força como tema agendado publicamente.

Como as curvas são estacionárias, é possível fazer uma correlação


simples entre as diferentes variáveis para indicar possíveis consistências no

desempenho de cada uma delas, através do coeficiente de Pearson. Os resultados


na tabela 5.31 indicam poucas correlações entre os temas incluídos como possíveis
maiores problemas na agenda pública do brasileiro. O tema "Saúde" apresenta uma
correlação negativa com "Violência" e positiva com "Economia", enquanto "Miséria"
tem correlação significativa apenas com "Desemprego".

corrupção
educação 1,0 salários economia
1,0 1,0 1,0

,5
,5 ,5 ,5

0,0
0,0 0,0 0,0

-,5
Partial ACF

-,5 -,5 -,5


Partial ACF

Partial ACF

Partial ACF

Confidence Limits
Confidence Limits Confidence Limits Confidence Limits

-1,0 Coefficient -1,0 Coefficient -1,0 Coefficient -1,0 Coefficient


1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

Lag Number Lag Number Lag Number Lag Number

habitação
1,0
ref. agrária
1,0

,5
,5

0,0
0,0

-,5
Partial ACF

-,5
Partial ACF

Confidence Limits
Confidence Limits

-1,0 Coefficient -1,0 Coefficient


1 2 3 4 5 1 2 3 4 5

Lag Number Lag Number


240

TABELA 5.31 - CORRELAÇÃO ENTRE VARIÁVEIS CONSIDERADAS MAIOR


PROBLEMA DO PAÍS

SAÚDE MISÉRIA

Violência -0,873* (0,010) Desemprego -0,842* (0,017)


Economia 0,881** (0,009)
* Significativo ao nível de 0,05
** Significativo ao nível de 0,01

Esses resultados mostram baixa correlação entre potenciais maiores


problemas da agenda pública brasileira, demonstrando que o determinante do

crescimento de um tema no agendamento são variáveis externas às opiniões


indicadas no modelo. Além disso, os testes apontam para uma estabilidade no
agendamento público sobre o maior problema do País entre 1996 e 2002, pois

excetuando o desempenho irregular da curva da variável "Desemprego" e o


crescimento significativo da variável "violência", todas as demais ficaram próximas

da estabilidade (com ressalvas para "Saúde" e "Reforma Agrária"). Também vale


ressaltar que apesar da queda a partir de 2000, a variável "Desemprego" ainda se

posicionava com mais de 10 pontos percentuais acima do segundo tema mais


presente no agendamento público, portanto, com predomínio nesta agenda.

Como foi dito no início deste tópico, não é possível fazer inferências sobre
as zonas de impacto da cobertura da mídia nos temas agendados pelo público devido
a falta de informações sobre a tematização dos meios de comunicação no mesmo
período.78 Porém, apenas a título de ensaio, é possível fazer algumas relações dos
temas mais salientes na opinião pública em 2002, comparando-os com a tematização
da mídia brasileira a respeito das eleições presidenciais daquele ano. Para tanto,

78Pesquisa empírica com o objetivo de identificar as zonas de impacto da cobertura da mídia na


agenda pública pode ser encontrada no artigo "Las Agendas Pública Y Personal em el tema del
Prestige". Nessa pesquisa, onde Fermín Bouza analisa a opinião pública espanhola em relação aos
principais temas de cobertura da imprensa local em determinado período de cobertura entre o final de
2002 e 2003, quando acontece a principal repercussão sobre o acidente envolvendo o petroleiro
Prestige na costa da Galícia, causando um dos maiores acidentes ambientas daquela região.
241

serão usadas duas fontes de dados complementares. Uma delas trata da cobertura
feita pelos quatro principais jornais brasileiros com circulação nacional – Folha de

São Paulo, O Estado de São Paulo, O Globo e Jornal do Brasil – sobre as eleições
presidenciais de 200279 (CERVI, 2003). A outra fonte são informações coletadas
sobre a cobertura feita pelos dois telejornais de maior audiência no Brasil – Jornal

Nacional e Jornal da Record – também durante a campanha presidencial de 200280


(QUENEHEN, 2003). Com as informações sobre os temas das coberturas dos
principais veículos de comunicação em 2002 é possível relacionar a agenda da

mídia com a agenda pública, onde as principais questões naquele ano eram
"Desemprego" e "Violência".
No caso da cobertura dos quatro principais jornais diários brasileiros sobre

a campanha eleitoral de 2002, o total de entradas relacionadas com algum tema


político ou econômico81 foi de 3.701. Destas, 22,5% foi sobre economia (835) e
apenas 0,7% (26) sobre violência, considerando os quatro jornais agrupados. Como
não há uma categoria específica "Desemprego" na variável, pode-se imaginar que a
categoria economia abranja também questões relativas ao emprego, assim como

uma série de outros assuntos, como inflação, produção industrial, etc. que também
foram abrigados na categoria economia (CERVI, 2003).

79A fonte primária dessas informações é o banco de dados do Doxa/IUPERJ, montado pelos
pesquisadores ligados a ele entre 2002 e 2003, dentre eles o autor desta tese. O período de coleta
teve início na segunda quinzena de fevereiro e seguiu até o fim do mês de outubro de 2002. Ao longo
desses oito meses foram coletadas informações de 22.323 entradas jornalísticas nos quatro jornais
diários analisados.

80As informações foram extraídas da monografia de conclusão de curso de Jornalismo de Rômulo


Quenehen, que foi orientado pelo autor desta tese. Ao todo foram analisadas 59 edições de cada
telejornal, no período compreendido entre 19 de agosto de 2003 e 26 de outubro de 2003.

81A grande maioria das entradas, cerca de 92% delas, dizia respeito às questões vinculadas diretamente
à campanha eleitoral, sem tratar de nenhum tema sócio-econômico como objeto principal. Aqui, estão
sendo considerados apenas os 8% com alguma tematização.
242

Para os dois principais telejornais brasileiros, a cobertura da pesquisa é


mais abrangente; os dados foram coletados de toda a edição e não apenas das

notícias sobre a campanha eleitoral de 2002. Neles, durante o período analisado, a


editoria de economia ocupou 6,5%, em média, do total de cada edição. Já a editoria
de segurança foi responsável por 11% do tempo dos dois telejornais, em média.
A editoria de política, onde foram tratadas as campanhas eleitorais, ocupou um
espaço mais significativo que as duas anteriores, com 39% no Jornal Nacional e
30% no Jornal da Record. Na editoria de segurança, o principal assunto do jornal

nacional foi Tráfico de Drogas, com 27% do tempo, e em segundo lugar, Tim Lopes
(jornalista assassinado naquele ano por traficantes no Rio de Janeiro), com 22%. No

jornal da Record o principal assunto também foi assassinato, com 19% do total,
seguido por tráfico e rebeliões, com 18% cada. Já na editoria de economia, o
principal assunto nos dois telejornais foi câmbio monetário, com 34% do tempo total
no Jornal Nacional e 32% no Jornal da Record. O segundo principal assunto
econômico no Jornal Nacional foi emprego, com 8% do tempo total, contra apenas
2% do total do Jornal da Record (QUENEHEN, 2003).
Os resultados da cobertura dos jornais diários impressos e dos telejornais,
apesar de não serem suficientes para nenhuma inferência sobre as zonas de
impacto no agendamento público ao longo do tempo, mas apenas de 2002, servem

como indicadores de uma possível relação entre mídia de massa brasileira e agenda
pública do País, embora essa relação não deva ser determinante da agenda pública.

Nos telejornais, o tema público de maior saliência foi segurança, cujos assuntos
principais foram tráfico de drogas e assassinatos, ambos relacionados à violência.

Aqui, há um indicativo de relação entre a agenda da mídia e o crescimento do tema


"violência" na agenda pública em 2002, como visto no gráfico 5.29. Porém, em 2002
o tema mais presente na agenda pública como maior problema do País ainda era
"Desemprego". Na agenda dos telejornais esse tema aparece apenas como o
243

segundo ou terceiro mais saliente dentro da editoria de Economia, que ocupa a


metade do espaço da editoria de segurança.

No caso dos telejornais, também aparecem indicativos de relação entre a


agenda estabelecida pela cobertura da editoria política e a agenda pública, pois
dentre os temas mais salientes, o principal é Economia, do qual faz parte
desemprego. Em segundo lugar, com cerca de 30 vezes menos aparições, aparece
a violência. No entanto, é preciso alertar que aqui trata-se apenas da cobertura feita
sobre as campanhas presidenciais. Pode-se imaginar que nas editorias de economia

e de geral os temas desemprego e violência apareceram com mais ênfase, além das
aparições que tiveram na cobertura feita a respeito das candidaturas a presidente da

República. Como o objetivo desse trabalho não é tratar especificamente do


agendamento, mas da opinião pública, esses resultados indicam a viabilidade de
estudos futuros a respeito da relação entre agenda da mídia e agenda pública
brasileira através das zonas de impacto.

5.2.7 Consistência da Opinião Pública quanto a Temas Correlatos82

Além da consistência nas manutenções ou mudanças nas curvas de


opinião, a verificação da racionalidade da opinião pública também passa pela
relação entre opiniões sobre temas correlatos, que formam clusters de opiniões. A

opinião pública poderá ser considerada mais racional, quanto maior for a relação
entre as tendências de opiniões correlatas. Para testar essa hipótese, o gráfico 5.31
apresenta as opiniões sobre violência ser o maior problema do País, confiança na
polícia e confiança na justiça entre 1995 e 2004.
Quanto mais racional for a opinião pública, mais próximas estarão as
curvas de confiança na justiça e na política, por tratarem-se de duas instituições

82O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo N.
244

interrelacionadas às áreas de segurança e direitos. Além disso, é possível


estabelecer algum grau de relação entre a crença nas instituições relacionadas à

área de segurança e direito e a dinâmica da curva de opinião sobre a violência, no


tópico 5.2.3. O gráfico a seguir indica que, de maneira geral, a credibilidade da
justiça e da polícia apresentaram a mesma tendência gradativa de queda na opinião
pública brasileira durante o período analisado. A diferença é que a confiança na
polícia apresentou queda entre 1995 e 1999, estabilidade entre 1999 e 2001, para
voltar a cair a partir de então, enquanto a confiança na justiça mostrou-se em queda

também entre 1995 e 1999, estabilizou-se até 2000, apresentou crescimento até
2001 – em forma de opinião secundária –, para voltar a cair até 2003. Paralelo a

estes processos de queda na credibilidade das instituições política e judiciário,


houve um constante e gradativo crescimento da opinião sobre violência ser o maior
problema do País ao longo de todos os dez anos.
245

100

90

80

70

60

50

40

30

20 violência maior
problema país

10 confia na justiça

0 confia na polícia
1995 1998 1999 2000 2001 2003 2004 2005

GRÁFICO 5.33 - SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE CONFIANÇA EM INSTITUIÇÕES E VIOLÊNCIA


(ID: 282 A 288 – ANEXO N)

Para quantificar as mudanças nas diferentes curvas, permitindo comparação,


é preciso olhar para as médias e somas das diferenças de primeira ordem das

seqüências temporais. A tabela 5.32 indica as diferenças, mostrando que a média


das diferenças no caso da opinião sobre violência foi crescente, da ordem de 4,91
pontos, enquanto as médias das confianças na justiça e política apresentaram
resultados negativos de –8,25 pontos e –9,13 pontos, respectivamente. Isso indica
que é possível não existir uma relação direta entre perda de confiança e opinião

sobre aumento da violência, pois a queda nas crenças às instituições foi o dobro das
opiniões sobre violência como maior problema do País, embora as diferenças entre

sinais indiquem uma oposição entre a opinião e confiança nas instituições. As somas
das diferenças mostram que as velocidades das mudanças seguem proporcionalmente
a mesma lógica das médias. O resultado da soma das primeiras diferenças sobre
violência é de 29,48, pouco a menos da metade da soma das diferenças na
confiança na Justiça –41,25 (com sinal inverso) e na polícia –45,68.
246

TABELA 5.32 - RESULTADOS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM PARA CONFIANÇA EM


INSTITUIÇÕES E VIOLÊNCIA NO BRASIL

VIOLÊNCIA – MAIOR
CONFIA NA JUSTIÇA CONFIA NA POLÍCIA
PROBLEMA PAÍS

Média – Dif. 1.a ordem 4,91 - 8,25 - 9,13


Soma – Dif. 1.a ordem 29,48 - 41,25 - 45,68

As relações entre as mudanças das variáveis dependentes ao longo do


tempo, tendo como regressora o ano da aferição da opinião, podem ser indicadas
através dos testes de auto-regressão.83 A relação mais significativa ao longo do

tempo é com a queda da confiança na polícia, com nível de significância de 0,016 e


coeficiente Beta de –5,373. A violência como maior problema do País aparece com o

segundo maior nível de significância, de 0,019, e Beta de 3,727. A queda da


confiança na justiça fica um pouco acima do limite aceitável do nível de significância,
0,070, mas com um coeficiente Beta alto, de –4,688. Esse efeito é resultado do
período em que a curva de opiniões sobre o judiciário manteve-se estável durante a
série. Assim, em relação ao tempo, todas as variáveis apresentam altos coeficientes

Beta, com variação negativa para confiança na polícia e na justiça, e variação


positiva quanto a violência ser o maior problema do País. No entanto, isso não é

suficiente para dizer se existe uma interdependência entre as curvas ou se elas


estão apenas se alterando ao longo do tempo de maneira similar, mas com

independência, ou seja, sem relação de causalidade entre elas.

83Os testes de autocorrelação mostram a existência de estacionaridade nas curvas das três opiniões,
como mostram os gráficos abaixo, porém serão usados os testes de auto-regressão por garantir uma
maior confiabilidade aos resultados.

violência maior problema país confia na justiça confia na polícia


1,0 1,0 1,0

,5 ,5 ,5

0,0 0,0 0,0

-,5 -,5 -,5


Partial ACF

Partial ACF
Partial ACF

Confidence Limits Confidence Limits Confidence Limits

-1,0 Coefficient -1,0 Coefficient -1,0 Coefficient


1 2 3 4 5 1 2 3 4 1 2 3 4

Lag Number Lag Number Lag Number


247

A auto-regressão, considerando como variável independente a confiança


na justiça e dependente a confiança na polícia mostra uma forte relação entre as

duas variáveis, com sig de 0,014 e coeficiente Beta de 0,936, demonstrando que as
duas curvas movem-se na mesma direção e a mudança de um ponto percentual na
confiança na polícia está relacionado a 0,936 ponto percentual a menos na
confiança ao judiciário.

TABELA 5.33 - AUTO-REGRESSÃO PARA CONFIANÇA NAS INSTITUIÇÕES E VIOLÊNCIA NO BRASIL

REGRESSOR DEPENDENTE BETA APPROX. PROB.

Violência - maior problema do País 3,727** 0,019


Ano Confia na Justiça - 4,689 0,070
Confia na Polícia - 5,373** 0,016
Confia na Justiça Confia na Polícia 0,936** 0,014
** Significativo ao nível de 0,01

Apesar da forte relação nos níveis de confiança entre as duas instituições –


o que é esperado em uma opinião pública racional – os testes de auto-regressão
não indicaram resultados estatisticamente significativos entre a confiança na polícia
e justiça com o crescimento da opinião sobre violência ser o maior problema do
País. Isso significa que apesar das primeiras impressões geradas pela análise do
gráfico, a queda de confiança nas instituições não tem relação direta com o aumento

nos índices de opinião sobre violência ser o maior problema do País. Isso deve ser
explicado pela relação com outras variáveis.

Como as curvas são estacionárias, uma correlação linear entre as variáveis


pode ajudar a confirmar ou rejeitas os resultados anteriores.

TABELA 5.34 - CORRELAÇÕES ENTRE CONFIANÇA EM INSTITUIÇÕES E VIOLÊNCIA NO BRASIL

VIOLÊNCIA MAIOR
CONFIA NA JUSTIÇA CONFIA NA POLÍCIA
PROBLEMA

Ano 0,871* (0,011) -0,848* (0,033) -0,944** (0,005)


Confia na Justiça 0,947** (0,004)
* Significativo ao nível de 0,05
** Significativo ao nível de 0,01
248

A tabela 5.34 indica forte correlação entre as mudanças de opiniões nas


três variáveis em relação ao tempo, todas significativas estatisticamente. Porém, nas

correlações entre as três variáveis analisadas (violência como maior problema do


País, confiança na justiça e confiança na polícia) a única estatisticamente significativa é
entre as duas confianças, com coeficiente de 0,947 e nível de significância de 0,004.
Como análise dos testes apresentados acima pode-se dizer que a
confiança entre as diferentes instituições forma um cluster consistente ao longo do
tempo, pois as opiniões variam na mesma direção em instituições interrelacionadas,

como é o caso do judiciário e da polícia. No entanto, a queda na confiança das


instituições estatais que são responsáveis pelo combate à criminalidade e ampliação

da segurança pública não é capaz de explicar a sensação de crescente violência


pela opinião pública, identificada pelo crescimento dos índices de pessoas que
consideram a violência como maior problema do País. Essa percepção da violência
como problema deve ser explicada por outras variáveis, que estão além da
credibilidade nas instituições públicas.
QUADRO 5.3 - DEMONSTRATIVO DAS OPINIÕES SOBRE TEMAS SOCIAIS NO BRASIL NAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS
continua

COMPORTAMENTO DA RESULTADOS DA
TEMA PÚBLICO OPINIÃO PERÍODO
CURVA AUTO-REGRESSÃO

Pena de Morte A favor 1995 a 2005 Estável no período analisado, Resultados não significativos
com um único momento de ao longo do tempo
alteração significativa.

Pena de Morte Contra 1995 a 2005 Estável no período analisado, Resultados não significativos
com um único momento de ao longo do tempo
alteração significativa.

Reforma Agrária A favor 1962 a 1987 Curva em crescimento Resultados significativos ao


constante. longo do tempo, com
coeficiente positivo.

Reforma Agrária Contra 1962 a 1987 Curva em queda constante. Resultados significativos ao
longo do tempo, com
coeficiente negativo.

Reforma Agrária A favor 1988 a 2004 Estável no período analisado. Resultados não significativos
ao longo do tempo.

Reforma Agrária Contra 1988 a 2004 Estável no período analisado. Resultados não significativos
ao longo do tempo.

Maior problema do Desemprego 1987 a 2003 Curva crescente até 1996, com Resultados não significativos
País movimentos voláteis a partir de ao longo do tempo.
então.
249

QUADRO 5.3 - DEMONSTRATIVO DOS PADRÕES DE OPINIÕES SOBRE TEMAS SOCIAIS NO BRASIL NAS ÚLTIMAS
TRÊS DÉCADAS
conclusão

COMPORTAMENTO DA RESULTADOS DA
TEMA PÚBLICO OPINIÃO PERÍODO
CURVA AUTO-REGRESSÃO

Maior problema do Corrupção 1987 a 2002 Curva estável em todo o Resultados não significativos
País período ao longo do tempo.

Corrupção Tem aumentado 1995 a 2005 Curva instável no período, com Resultados não significativos
no País variações significativas e ao longo do tempo.
voláteis.

Plebiscito A favor 2003 a 2005 Curva em queda constante no Resultados significativos ao


Desarmamento período. longo do tempo.

Contra 2003 a 2005 Curva em crescimento Resultados significativos ao


constante no período. longo do tempo.

Maior Problema do Violência 1996 a 2002 Curva em crescimento Resultados significativos ao


País constante no período. longo do tempo.

Saúde e Ref. 1996 a 2002 Curva em leve e constante Resultados significativos ao


Agrária declínio durante o período longo do tempo.
analisado.

Miséria, educação, 1996 a 2002 Curva estável durante o Resultados não significativos
corrupção, salário, período analisado. ao longo do tempo.
economia,
habitação.

Confiança órgãos Confiança na 1995 a 2004 Curva em queda durante o Resultados pouco acima dos
segurança e justiça período analisado. limites de confiança, portanto,
violência não significativos.

Confiança na 1995 a 2004 Curva em queda durante todo o Resultados significativos ao


polícia período longo do tempo.

Violência como 1995 a 2004 Curva em crescimento Resultados altamente


maior problema gradativo durante todo o significativos ao longo do
período período.
250

QUADRO 5.4 - DEMONSTRATIVO DAS CORRELAÇÕES ENTRE OPINIÕES SOBRE TEMAS SOCIAIS NA OPINIÃO
PÚBLICA BRASILEIRA DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS

CORRELAÇÃO AO LONGO DO NÍVEL DE


COEFICIENTE BETA RESULTADO
TEMPO SIGNIFICÂNCIA

Opinião favorável à pena de morte


Correlação entre as duas variáveis ao
com opinião contrária à pena de 0,062 0,835
longo do tempo não significativa.
morte.

Opinião favorável à Reforma Agrária Correlação entre as duas variáveis ao


e Taxa de População em áreas 0,195 0,035 longo do tempo significativa e
urbanas no Brasil positiva.

Opinião contrária à Reforma Agrária Correlação entre as duas variáveis ao


e Taxa de População em áreas -0,289 0,006 longo do tempo significativa e
urbanas no Brasil negativa.

Correlação entre as duas variáveis ao


Opinião favorável ao desarmamento
-26,436 0,001 longo do tempo altamente
em relação ao início do HGPR
significativa.

Correlação entre as duas variáveis


Opinião favorável ao desarmamento
26,134 0,001 ao longo do tempo altamente
em relação ao início do HGPR
significativa.

Saúde e violência como maior Correlação significativa entre as duas


-0,873 0,010
problema do País variáveis ao longo do tempo.

Correlação altamente significativa


Saúde e economia como maior
0,881 0,009 entre as duas variáveis ao longo do
problema do País
tempo.

Desemprego e miséria como maior Correlação significativa entre as duas


-0,842 0,017
problema do País variáveis ao longo do tempo.

Correlação altamente significativa


Confia na polícia e confia na justiça -0,944 0,005 entre as duas variáveis ao longo do
tempo.
251

CAPÍTULO 6

OPINIÃO PÚBLICA NO RIO DE JANEIRO ENTRE 1940 E 1970

No capítulo anterior foram discutidos os resultados das curvas de opinião


pública brasileira em dezenas de temas. A partir de agora apresentam-se os
resultados de curvas históricas da opinião pública do carioca entre as décadas de 50
e 70. Os dados para a formação das curvas temporais foram extraídos de boletins e
pesquisas especiais publicadas pelo Ibope durante esse período na cidade do Rio

de Janeiro, que era até os anos 60 a capital do país. Desde o final dos anos 40, em
toda a década de 50 e em parte dos anos 60, o Ibope produziu um boletim semanal

com resultados de pesquisas de opinião pública e análises na capital do País,


chamado Boletim da Classe Dirigente. Além disso, também foram produzidas
Pesquisas Especiais sobre temas públicos e políticos no Rio de Janeiro pelo Ibope
durante o mesmo período. Essa é a melhor forma de aproximação que um estudo de
opinião pública pode ter sobre a opinião do brasileiro médio daquele período, pois as
pesquisas com amostras nacionais começaram a ser produzidas no país com

freqüência apenas no final dos anos 70.

6.1 O CARIOCA E A MUDANÇA DA CAPITAL84

A primeira opinião diz respeito à mudança da capital federal do Rio de


Janeiro para o Estado de Goiás. Apesar da existência de algumas mudanças
abruptas, a curva apresenta uma tendência permanente de crescimento em favor da
mudança. Os refluxos dessa tendência podem ser devido aos diferentes momentos
do debate político a respeito do tema, com variações da opinião secundária, em

84O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo O.
252

função de influências geradas por interesses próprios de diferentes grupos da elite


política e econômica local, como mostra o gráfico 6.1.

100

90

80

70

60

50
favor mudança capital

40

30

20

10

0
1951 1952 1955 1956 1957 1958 1962

GRÁFICO 6.1 - SÉRIE DE OPINIÕES FAVORÁVEIS À MUDANÇA DA CAPITAL (ID: 295 A


301 – ANEXO O)

Como o tema esteve presente no espaço público carioca pelo menos desde
a constituição de 1946, quando se previa a transferência da capital para o interior do
País, os resultados indicados acima mostram as mudanças da opinião do carioca no
período imediatamente anterior à transferência, que se tornou irreversível em 1958,
embora legalmente ela só tenha ocorrido em 1960. Percebe-se que, a partir de
1955, a opinião do carioca favorável à mudança deixa de apresentar uma curva
descendente e passa a ter uma característica ascendente contínua até 1958, quando
a opinião favorável apresenta uma pequena queda no gráfico. Pode-se dizer que, a

partir de 1956, a opinião favorável à mudança da capital no carioca médio ficou


estabilizada em torno de 65%, o que indica uma maioria aprovando a interiorização

da capital. Como a curva apresenta-se em dois momentos de continuidade, o teste


253

de auto-regressão85 indica uma baixa significância em relação à mudança da opinião


ao longo do tempo (sig 0,075). Porém, o resultado do coeficiente de auto-regressão

é positivo e alto, ficando em 3,34 pontos percentuais de mudança a cada ano do


período analisado, como mostra a tabela a seguir.

TABELA 6.1 - AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES SOBRE MUDANÇA DA CAPITAL

REGRESSORA DEPENDENTE B APROX. PROB.

Ano A favor da mudança da capital 3,434 0,0757

Os coeficientes da regressão indicam um nível de significância acima do

limite de confiança que, ao ser comparado com o gráfico, evidencia que o resultado
se deve ao primeiro movimento da curva, entre 1951 e 1958, que foi de decréscimo
da opinião favorável à mudança, para se inverter a partir de então, até 1961, quando

o movimento passa a ser crescente, estabilizando-se em torno de 60% de opiniões


favoráveis à mudança da capital. A opinião variou de maneira consistente quando
analisada nesses tempos distintos, em função do debate público travado no período,

com possibilidades de influência da elite política sobre os integrantes do público.

85Os testes de autocorrelação parcial da opinião favorável à mudança de capital indicam que existe
estacionaridade nas variáveis, conforme mostram os gráficos abaixo, possibilitando o uso da
regressão linear, mas, para maior segurança, será usado o teste de auto-regressão.

favor mudança capital


1,0

,5

0,0

-,5
Partial ACF

Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5

Lag Number
254

6.2 O CARIOCA E O DIVÓRCIO86

Uma opinião estável durante todo o período com informações disponíveis


para o Rio de Janeiro, que nesse caso contempla 17 anos, entre 1950 e 1966, foi a

opinião favorável ao divórcio que oscilou entre 71% e 59%, como demonstra o
gráfico 6.2.

100

90

80

70

60

50

40
a favor do divórcio

30

20

10

0
1950 1951 1952 1957 1963 1966

GRÁFICO 6.2 - SÉRIE DE OPINIÕES FAVORÁVEIS AO DIVÓRCIO NO RIO DE JANEIRO


(ID: 302 A 307 – ANEXO P)

Os testes de auto-regressão aplicados à variável ao longo do tempo mostram


que as relações de mudança entre opinião favorável ao divórcio e seqüência temporal

86O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo P.
255

não se correlacionam.87 O coeficiente Beta é de –0,184, ou seja, uma mudança de


menos de 1 ponto percentual a cada ano ao longo do período, o nível de

significância da auto-regressão é de 0,587; portanto, bem acima do aceitável


estatisticamente para indicar uma diferença real. Esses resultados indicam a
manutenção do padrão de opinião favorável ao divórcio em termos de estabilidade
no período, com média de 64,10% a favor do divórcio.

TABELA 6.2 - AUTO-REGRESSÃO DE OPINIÕES SOBRE DIVÓRCIO NO RIO DE JANEIRO

REGRESSORA DEPENDENTE B APROX. PROB.

Ano A favor do divórcio -0,184 0,587

Os resultados do teste de auto-regressão mostram que não há relação


entre as mudanças na opinião ao longo do tempo, apesar do tema ter estado na

agenda pública brasileira nos anos 60 por conta do debate travado no congresso
sobre a legislação que trataria do tema. Com sig de 0,587 e coeficiente Beta de
–0,185, esse é um exemplo de opinião sobre tema pública não sensível aos
argumentos apresentados durante o debate entre elite política e público carioca.

87Os testes de PACF e de correlação transversal da variável tempo e opinião favorável ao divórcio
indicam que existe estacionaridade nas variáveis, conforme mostram os gráficos abaixo, possibilitando
o uso da regressão linear, mas, para maior segurança será feito um teste por auto-regressão.

a favor do divórcio
1,0

,5

0,0

-,5
Partial ACF

Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 2 3 4

Lag Number
256

6.3 O CARIOCA, OS PARTIDOS POLÍTICOS E AS ELEIÇÕES88

Com relação às opiniões políticas, a exemplo do que acontece no Brasil


dos anos 90, a opinião pública carioca dos anos 50 e 60 apresenta uma mudança

abrupta durante o período analisado no que diz respeito à escolha personalista dos
candidatos nas eleições. Embora a preferência da escolha por nomes e não em
função dos partidos seja majoritária durante todo o período, como no Brasil dos anos
90, há variações significativas, partindo de 80% de escolhas por nomes em 1950,
chegando a 60% em 1954 e subindo até 83% em 1966, com tendência, a partir daí,

de crescimento permanente, conforme mostra o gráfico 6.3. É nesse período que


ocorre a adoção do sistema bipartidário no Brasil.

100

90

80

70

60

50

40

30
vota em nomes

20

10

0
1950 1954 1966 1968

GRÁFICO 6.3 - SÉRIE DE OPINIÕES SOBRE VOTO PERSONALISTA NO RIO DE JANEIRO


(ID: 309, 311, 320, 321 – ANEXO Q)

88O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo Q.
257

Como resultado do teste de auto-regressão, o coeficiente Beta em todo o


período é de 0,840, com nível de significância de 0,593, bastante acima do aceitável,

como consta na tabela 6.3.

TABELA 6.3 - AUTO-REGRESSÃO PARA OPINIÕES SOBRE VOTO PERSONALISTA

REGRESSORA DEPENDENTE B APROX. PROB.

Ano Vota em candidato 0,840 0,593

Não há um número de casos suficientes para fazer o teste considerando os


dados a partir de 1954, mas visualmente o gráfico mostra uma mudança significativa,

acima de cinco pontos percentuais durante todo o período. Mesmo em 1968, houve
um crescimento do percentual de cariocas indicando votar nos candidatos do que
em partidos, três anos após a implantação do bipartidarismo no Brasil.

É preciso ressaltar que o ponto de inflexão da curva, ano de 1954, é o


momento em que as duas grandes lideranças políticas populares no Rio de Janeiro

perdem espaço. O presidente Getúlio Vargas, que comete suicídio, e o deputado Carlos
Lacerda, populista opositor de Getúlio, que é perseguido publicamente pelos getulistas.

A ausência de grandes lideranças políticas no cenário local pode abrir espaço para
uma recomposição temporária da opinião sobre decisão do voto personalista. Todo o

movimento da curva no período seguinte indica uma tendência de recomposição dos


percentuais de decisão personalista de voto acima de 80% entre os eleitores do Rio
de Janeiro. A personalização da política nos momentos eleitorais é um indicativo da
fragilidade dos partidos políticos brasileiros naquele período.
A mesma tendência de enfraquecimento da identificação dos partidos
políticos na opinião pública é possível notar na curva das indicações de pessoas que
dizem ter preferência por um partido político. Ela alcança o maior ponto em 1950,

com 89% dos entrevistados que dizem ter preferência por um partido. A partir daí
a curva apresenta uma queda permanente, com momentos de mudanças abruptas

até 1968, quando o percentual alcança o ponto mais baixo, de 36%, com preferência
258

por algum partido. As duas informações, aumento da escolha por nomes e queda
da preferência por partidos mostram uma coerência interna da opinião pública

no período.

100

90

80

70
preferência por um partido

60

50

40

30

20

10
1949 1951 1958 1960 1963 1965
1950 1955 1959 1962 1964 1968

GRÁFICO 6.4 - SÉRIE DE PREFERÊNCIAS POR PARTIDO POLÍTICO (ID: 308 A 310; 312 A
319; 321 – ANEXO Q)

Aqui é preciso considerar que a partir de 1965 torna-se possível perceber


uma queda mais acentuada no percentual de eleitores que dizem ter preferência por
algum partido, o País passa a contar com um sistema bipartidário, com siglas que
não tinham tradição nem aderência na vida política brasileira. Ao contrário do que
poderiam imaginar as elites políticas, para a opinião pública o bipartidarismo não

fortaleceu os partidos políticos nacionais. No entanto, apesar de menos intensa, a


curva de preferência por algum partido político no Rio de Janeiro já vinha se

apresentando em queda constante desde 1951. A auto-regressão indica uma


mudança significativa ao longo do tempo, com um coeficiente Beta de –1,560, ou

seja, uma queda de 1,5 ponto percentual a cada ano ao longo do período para os
259

eleitores que diziam ter preferência por algum partido político. O nível de
significância é de 0,000, o que indica uma robustez nos resultados do teste.

TABELA 6.4 - AUTO-REGRESSÃO DAS PREFERÊNCIAS POR PARTIDO POLÍTICO

REGRESSORA DEPENDENTE B APROX. PROB.

Ano Tem preferência por um partido político - 1,560** 0,000

** Significativo ao nível de 0,01

Uma auto-regressão entre as duas variáveis, voto em pessoa e preferência

por partido, mostra correlação significativa entre elas no sentido inverso, diferente do
que aconteceu com os resultados dos testes para as mesmas variáveis da opinião
pública brasileira nos anos 90. A tabela 6.5 indica que para cada 1 ponto percentual a
mais de eleitores que dizia votar em candidato, 2,34 ponto percentual a menos indicava
ter preferência por um partido político a cada ano ao longo do período analisado.

TABELA 6.5 - AUTO-REGRESSÃO ENTRE PREFERÊNCIA POR PARTIDO E VOTO PERSONALISTA

REGRESSORA DEPENDENTE B APROX. PROB.

Tem preferência por um partido político Voto personalista - 2,340** 0,002

** Significativo ao nível de 0,01

Os testes mostram que no Rio de Janeiro dos anos 50 e 60 havia uma


relação direta e inversa entre não ter um partido de preferência e definir o voto em
função da personalidade do candidato. Porém, no Brasil dos anos 90, isso não
acontece. A opinião em relação aos partidos políticos está dissociada do tipo de
escolha do candidato.

6.4 O CARIOCA, O GOVERNO FEDERAL E A DEMOCRACIA89

A avaliação positiva do governo federal, também a exemplo das tendências


dos anos 90, mostra uma curva com mudanças abruptas, geralmente relacionadas a

89O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo R.
260

determinados momentos de governo. Interessante notar que o ponto mais baixo da


curva ocorre em 1955, quando apenas 19% dos cariocas faziam uma avaliação positiva

do governo, de acordo com gráfico 6.5. Em 1963, quando supostamente a opinião pública
estaria contrariada, justificando o golpe, a avaliação positiva era de 35%, quase o
dobro notado no governo provisório após o fim do mandato de Getúlio Vargas.

100

90

80

70

60
avaliação positiva governo

50

40

30

20

10

0
1950 1952 1955 1958 1962 1964 1968
1951 1954 1957 1961 1963 1967

GRÁFICO 6.5 - SÉRIE DE AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO FEDERAL PELO CARIOCA


(ID: 322 A 334 – ANEXO R)

Apesar das oscilações na avaliação do governo, o que coincide com os


resultados da opinião pública brasileira nos anos 90, o teste de autocorrelação ao
longo do tempo indicou uma consistência no crescimento da avaliação positiva do
governo no período. Com um índice de significância de 0,015; portanto, aceitável do
ponto de vista estatístico, o coeficiente Beta ficou em 2,475, o que indica que,
respeitando as margens de erro, ao longo do período em análise houve uma
tendência de queda da avaliação positiva do governo de 2,4 ponto percentual ao
ano, como demonstra a tabela 6.6.
261

TABELA 6.6 - AUTO-REGRESSÃO PARA AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO

REGRESSORA DEPENDENTE B APROX. PROB.

Ano Avaliação positiva do governo -2,475* 0,015


* Significativo ao nível de 0,05

Outra opinião curiosa, porém, por motivo inverso, por se mostrar em

constante estabilidade, diz respeito às respostas sobre a melhor forma de escolha


do presidente da república. Entre 1964 e 1968, durante o primeiro período do regime

militar, majoritariamente o carioca indicava uma preferência pela eleição direta para
a presidência. Essa foi uma opinião estável durante o período analisado, variando de
88% a 96% do total.

100

90

80

70

60

50

40
Favor eleição direta Presidente

30

20

10
Rio de Janeiro

0 São Paulo
1964 1965 1967 1968

GRÁFICO 6.6 - SÉRIE DE OPINIÕES FAVORÁVEIS À ELEIÇÃO DIRETA PARA PRESIDENTE


NO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO (ID: 336 A 339 – ANEXO R)

Como se pode imaginar a partir do gráfico 6.6, os resultados do teste de


auto-regressão para a preferência por eleição direta para presidente foram baixos e
262

não-significativos do ponto de vista estatístico, o que comprova a estabilidade da


opinião ao longo do período analisado. Com um índice de significância de 0,664,

muito acima do aceitável pela estatística inferencial e um coeficiente Beta de – 0,626,


o que indica uma mudança não-significativa ao longo do tempo nessa opinião.
No mesmo período, o Ibope reproduziu essa questão para os eleitores da
cidade de São Paulo e os resultados válidos foram muito parecidos com a curva
obtida no Rio de Janeiro, demonstrando haver também uma ampla maioria de
eleitores favoráveis à eleição direta para presidente da república nos primeiros anos

do regime militar.

6.5 O CARIOCA E A REFORMA AGRÁRIA90

A exemplo da preferência pela escolha direta do presidente, a opinião


contrária à reforma agrária manteve-se estável entre 1963 e 1968 no Rio de Janeiro,

variando de 15% a 11%, o que indica alta manutenção da opinião. O mesmo


aconteceu na cidade de São Paulo, onde entre 1963 e 1964, únicos anos com dados
disponíveis sobre essa questão, a opinião contrária à realização da Reforma Agrária
ficou estável entre 15% e 16% do total de entrevistados. Foi nesse período que a
elite política brasileira discutia a necessidade e viabilidade da realização da reforma
agrária no bojo dos debates políticos da constituinte. Os resultados apontados na

curva de opinião pública indicam que, em relação a esse tema, o debate da elite
política não conseguiu permear a opinião pública, conforme mostra o gráfico 6.7.91

90O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo S.

91Como no período houve uma pesquisa a menos com pergunta para aferir a opinião favorável à
reforma agrária, o número de ponto no tempo ficou muito baixo, inviabilizando a análise temporal para
essa opinião. Por esse motivo, foi incluída no trabalho apenas a opinião contrária à Reforma Agrária,
aferida mais vezes no Rio de Janeiro.
263

O teste de auto-regressão para a opinião contrária do carioca à reforma


agrária nos anos 60 aponta para um resultado não significativo (sig 0,483) e um

coeficiente Beta de –0,380. Isso demonstra a estabilidade da opinião no período.

100

90

80

70

60

50

40

30

20

contra RJ
10

0 contra SP
1963 1964 1967 1968

GRÁFICO 6.7 - SÉRIES DE OPINIÕES CONTRÁRIAS À REFORMA AGRÁRIA NO RIO DE


JANEIRO E SÃO PAULO (ID: 340 A 434 – ANEXO S)

A mesma dinâmica da estabilidade da opinião no Rio de Janeiro é


percebida em São Paulo. Apesar de haver apenas duas tomadas de opinião ao

longo do tempo, ela se mostra estável nos mesmos patamares em torno de 15%, a
exemplo do que acontece no Rio de Janeiro naquele período.
264

6.6 O CARIOCA E A PETROBRÁS92

A opinião sobre a participação do Estado na economia será medida a partir


dos resultados de pesquisas realizadas na década de 50 a respeito da exploração

de petróleo no Brasil. As pesquisas perguntavam, basicamente, se o carioca era


favorável ou contrário à exploração de petróleo pela Petrobrás, uma empresa
estatal. A curva da opinião mostra uma tendência favorável ao intervencionismo
estatal na economia, ou pelo menos nesse setor da economia. Entre 1951 e 1957 a
curva de opiniões favoráveis à exploração de petróleo exclusivamente pela

Petrobrás apresenta uma tendência de crescimento permanente e gradual,


passando de 50% no início do período, para quase 74% em 1957.

100

90

80
a favor explorar petróleo por estatal

70

60

50

40

30

20

10

0
1951 1952 1955 1956 1957

GRÁFICO 6.8 - SÉRIE DE OPINIÕES FAVORÁVEIS À EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO POR


EMPRESA ESTATAL BRASILEIRA (ID: 344 A 348 – ANEXO T)

92O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo T.
265

Os resultados do teste de auto-regressão para a mudança dessa variável


ao longo do tempo mostraram-se estatisticamente significativos (sig 0,005) e o

coeficiente Beta de 3,638, ou seja, um mudança gradual de 3,6 ponto percentual de


crescimento ao ano durante o período analisado a favor da exploração de petróleo
em áreas nacionais exclusivamente por uma estatal brasileira.

6.7 O CARIOCA E A POLÍTICA EXTERNA93

Outro tema político constante no debate público daquele período, com


informações em surveys, dizia respeito às relações conflituosas entre os blocos
liderados pelos Estados Unidos, de um lado, e pela União Soviética, de outro. Os
governos brasileiros sempre foram mais próximos dos Estados Unidos, tanto que, no
início dos anos 50, o Brasil rompeu relações diplomáticas e comerciais com a União
Soviética. Apesar disso, a opinião pública brasileira sobre a manutenção de algum

tipo de relação, seja diplomática ou comercial, com a URSS, apresentou uma

tendência de crescimento permanente, com alguns picos de mudanças abruptas. Ela


parte de 32% em 1951, alcançando 66% em 1962 e chegando a 54% em 1963,
conforme mostra o gráfico 6.9.

93O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo U.
266

100

90

Favor manter alguma relação com URSS


80

70

60

50

40

30

20

10

0
1951 1954 1955 1958 1961 1962

GRÁFICO 6.9 - SÉRIE DE OPINIÕES FAVORÁVEIS ÀS RELAÇÕES COM URSS NO RIO DE


JANEIRO (ID: 349 A 354 – ANEXO U)

Mesmo com a mudança abrupta em 1961, o que gerou uma queda entre esse
ano e a opinião favorável à URSS em 1962, o teste de auto-regressão para o período
mostrou-se significativo (sig 0,021) e um coefiente Beta de 2,750, ou seja, o modelo
indica uma alteração positiva de 2,7 ponto percentual a mais nas opiniões favoráveis
dos cariocas em relação à manutenção de algum tipo de relação oficial do Brasil com a
URSS entre 1951 e 1962. A seguir apresenta-se, então, um quadro demonstrativo sobre

o desempenho da opinião pública em relação aos diversos temas durante o período.


Não é possível montar séries históricas nacionais sobre opinião pública além
de 30 anos por falta de pesquisas empíricas que tivessem amostras brasileiras.
Porém, como há disponibilidade de informações sobre a opinião pública carioca entre
1950 e 1970 e a brasileira a partir dos anos 80 sobre os mesmos temas, na próxima
seção apresentam-se as comparações entre os resultados para os cariocas e
brasileiros, abrangendo dos anos 50 até 2005. Lembra-se que o objetivo aqui não é
propor uma inferência automática para a opinião pública brasileira a partir da carioca,
mas apenas indicar se é possível encontrar continuidades ou rupturas entre a primeira
e a segunda para os temas em que há informações disponíveis.
267

6.8 COMPARAÇÃO ENTRE OPINIÃO PÚBLICA CARIOCA E BRASILEIRA

A análise segue a mesma metodologia das seções anteriores. É feita uma


descrição visual da curva de opinião, seguida de verificação das medidas de tendência
central e dos resultados dos testes de auto-regressão. A variável interveniente
(regressora) presente em todos os temas é chamada de "Período" e indica a relação
entre os resultados da variável dependente em função da diferença do Período da
amostra, se Rio de Janeiro (anos 50 a 70) ou Brasil (a partir dos anos 80). Como se
trata de uma variável interveniente categórica, pertencer a um ou outro período, os
testes seguirão a metodologia descrita por McDowall et al. (1980) que trata de séries
temporais interrompidas.
Todos os dados são provenientes de séries anuais. A primeira opinião a
ser analisada é a "Avaliação Positiva do Presidente da República". Também serão
comparadas para os dois períodos as opiniões sobre "Reforma Agrária", "Voto
Personalista" e "Preferência por Partido Político".

6.8.1 Avaliação Positiva do Governo Federal94

A respeito das opiniões positivas sobre os presidentes da república nos


períodos analisados, tanto no público carioca quanto no brasileiro, a curva mostrou-se
volátil e randômica, indicando uma alta sensibilidade da opinião secundária em
responder rapidamente a novas políticas públicas ou denúncias de escândalos, como
os que envolvem corrupção. O gráfico 6.10 confirma essa volatilidade para os dois
períodos, porém, no Rio de Janeiro, o patamar das opiniões favoráveis é superior ao do
Brasil.

94O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo V.
268

100

90
Rio de Janeiro Brasil

80

70

60

50

40
avaliação positiva do governo

30

20

10

0
1950 1955 1962 1968 1991 1995 1999 2003
1952 1958 1964 1988 1993 1997 2001 2005

GRÁFICO 6.10 - COMPARAÇÃO DE AVALIAÇÕES POSITIVAS SOBRE GOVERNO NO RIO


DE JANEIRO E BRASIL (ID: 322 A 334; 4 A 7, 9 A 11, 15, 25, 31, 36, 64, 79,
91, 107, 119, 131, 138 – ANEXO V)

A análise das medidas de tendência central para cada período (Rio de


Janeiro e Brasil) confirma a impressão transmitida pelo gráfico. Enquanto no Rio de
Janeiro a média da avaliação positiva do governo federal ficou em 44,92%, no Brasil
ela é de 29,66%. A variação no primeiro período também é maior, como indicam os

desvios-padrões na tabela 6.7. A diferença entre o percentual máximo e mínimo das


avaliações cariocas ficou, portanto, acima de 63 pontos percentuais, contra 43
pontos percentuais no Brasil. Isso indica que no segundo período, apesar das
mudanças randômicas, a opinião é relativamente mais estável que no primeiro.
TABELA 6.7 - COMPARAÇÃO DAS MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL
SOBRE AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO FEDERAL NO
RIO DE JANEIRO E BRASIL

PERÍODO ESTATÍSTICAS AVALIAÇÃO POSITIVA

Média 44,92%
Desvio Padrão 23,10pp
Rio de Janeiro
V. Máximo 81,01%
V. Mínimo 18,68%
Média 29,66%
Desvio Padrão 13,81pp
Brasil
V. Máximo 48,45%
V. Mínimo 5,15%
269

As somas das diferenças de primeira ordem indicam que a velocidade das


mudanças nas opiniões dos brasileiros foi mais acentuada (30,16) que a dos

cariocas (15,14) no sentido positivo, ou seja, de crescimento da opinião positiva em


relação ao governo federal no período. Também pode ser comprovado pelas médias
das diferenças de primeira ordem, quando a brasileira é superior à carioca, como
indica a tabela 6.8. Isso pode ser explicado em função do ponto inicial da curva da
opinião brasileira estar muito baixo. Em 1988, apenas 10% da opinião pública
avaliava positivamente o governo federal; enquanto, durante este período, apesar

das oscilações, fica evidente o crescimento percentual dessa opinião. No caso da


opinião carioca, ela não começa tão baixa, o que reduz a capacidade de

crescimento ao longo do tempo.

TABELA 6.8 - ESTATÍSTICAS DAS DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM


SOBRE AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO FEDERAL NO
RIO DE JANEIRO E BRASIL

DIF. 1.a ORDEM


PERÍODO ESTATÍSTICAS
AVALIAÇÃO POSITIVA

Média 1,26%
Rio de Janeiro
Soma 15,14%
Média 1,77%
Brasil
Soma 30,16%

Os resultados para a auto-regressão95 com a variável independente "ano"

indicam um coeficiente Beta negativo e baixo, com nível de significância bastante

95O teste de auto-regressão é necessário por se tratar de uma curva não estacionária a de opinião
favorável ao governo, como mostra o gráfico de autocorrelação a seguir.

avaliação positiva do governo


1,0

,5

0,0

-,5
Partial ACF

Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 3 5 7 9 11 13 15
2 4 6 8 10 12 14 16

Lag Number
270

acima do aceitável, demonstrando que não se pode dizer que houve uma mudança
significativa em uma única direção ao longo do tempo para a avaliação positiva dos

governos. Os resultados para a regressão, considerando como variável independente


pertencer ao período "Rio de Janeiro" ou ao período "Brasil", também apresentam
nível de significância acima do aceitável, porém com um coeficiente Beta negativo e
bastante alto (–16,91 pontos percentuais).

TABELA 6.9 - AUTO-REGRESSÃO DAS AVALIAÇÕES POSITIVAS DO GOVERNO FEDERAL NO


RIO DE JANEIRO E BRASIL

REGRESSORA DEPENDENTE BETA APPROX. PROB.

Ano Avaliação Positiva -0,220 0,413


Período Avaliação Positiva -16,918 0,081

De acordo com os resultados da auto-regressão na tabela 6.9, a opinião

positiva do brasileiro sobre o governo federal tende a ser menor ao longo do tempo
que a opinião do carioca dos anos 50 a 70, embora as curvas mostrem movimentos
randômicos. Como demonstrado no item 5.1.3, variáveis independentes de ordem
econômica apresentaram altos índices de explicação para as mudanças na opinião
do brasileiro sobre o governo federal. Para testar96 essa hipótese com a comparação

das opiniões cariocas e brasileiras, foi incluído no modelo o Índice de Preços ao

Consumidor (IPCs), um dos indicadores de inflação medidos pela Fundação Instituto


de Pesquisas Econômicas (FIPE) ao longo de todo o período. Para plotar as informações

96Aqui também será usado o teste de auto-regressão por se tratar de uma série temporal estacionária
de primeira ordem a variável IPC-FIPE, como demonstra o gráfico de autocorrelação abaixo.

inflação anual IPC-FIPE


1,0

,5

0,0
Partial ACF

-,5
Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 3 5 7 9 11 13 15
2 4 6 8 10 12 14 16

Lag Number
271

em gráfico, foi usado o logaritmo dos IPCs anuais e o logaritmo das opiniões, pois as
diferenças nos valores reais inviabilizariam a visualização em um único gráfico.

A imagem abaixo indica a existência de alguma similaridade em direções opostas


entre os logaritmos, do IPC à opinião favorável ao governo no segundo período.
5

Rio de Janeiro Brasil

Log avaliação
0 positiva governo

log inflação
-1 anual IPC
1950 1955 1962 1968 1991 1995 1999 2003
1952 1958 1964 1988 1993 1997 2001 2005

Transforms: natural log

GRÁFICO 6.11 - SÉRIES DE LOGS DAS AVALIAÇÕES POSITIVADOS DO GOVERNO


FEDERAL E INFLAÇÃO PARA O RIO DE JANEIRO E BRASIL (ID: 322 A
334; 4 A 7, 9 A 11, 15, 25, 31, 36, 64, 79, 91, 107, 119, 131, 138 – ANEXO V)

Os resultados da auto-regressão mostram a mesma tendência indicada no


gráfico 6.11. Há uma relação estatisticamente significativa entre a avaliação positiva

do presidente e o IPC apenas no período da medição de opiniões do brasileiro, com


coeficiente Beta de – 0,011 e nível de significância de 0,018. No primeiro período – o

da opinião pública carioca - a relação mostra-se não significativa ao longo do tempo.

TABELA 6.10 - AUTO-REGRESSÃO ENTRE AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO FEDERAL E


INFLAÇÃO PARA O RIO DE JANEIRO E BRASIL

REGRESSORA DEPENDENTE BETA APPROX. PROB.

Inflação – Rio de Janeiro Avaliação Positiva Governo 0,179 0,551


Inflação – Brasil Avaliação Positiva Governo -0,011** 0,018
** Significativo ao nível de 0,01
272

As diferenças entre as médias de IPCs anuais entre os dois períodos


podem indicar uma explicação, pois durante a medição de opiniões no Rio de

Janeiro a média de IPC anual foi de 33,95%. Porém, o período das medições no
Brasil, ela saltou para 539,83%, como indicado na tabela 6.11.

TABELA 6.11 - MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL PARA INFLAÇÃO NOS


PERÍODOS DO RIO DE JANEIRO E BRASIL

PERÍODO ESTATÍSTICAS INFLAÇÃO ANUAL – IPC


Média 33,95
Rio de Janeiro
Desvio Padrão 26,19
Média 539,83
Brasil
Desvio Padrão 778,95

O tamanho do impacto da inflação na sociedade pode explicar se ela é


interveniente ou não na avaliação dos governantes, pois com índices menores no
Rio de Janeiro não houve determinação, enquanto que os níveis maiores dos anos
80 e 90 no Brasil transformaram a inflação em um fator determinante da avaliação

pública sobre o governo federal.

6.8.2 Comparação das Opiniões sobre Reforma Agrária97

As opiniões do carioca e do brasileiro, favoráveis ou contarias à Reforma

Agrária, também podem ser comparadas ao longo do tempo. Essa comparação


indica a força da hipótese de impacto da urbanização para a maior aceitação à

Reforma Agrária, como demonstrado no item 5.2.2, pois a opinião pública carioca
dos anos 60 era mais influenciada por valores urbanos que a média nacional dos
anos 70 a 90. O gráfico 6.12 mostra que a opinião do carioca favorável à Reforma
Agrária nos anos 60 era superior à opinião do brasileiro no segundo período. Logo,

97O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo W.
273

as opiniões contrárias nos dois períodos oscilaram praticamente dentro das margens
de erro entre 1963 e 2004, sem marcar nenhuma grande diferença.

100

Rio de Janeiro Brasil


90

80

70

60

50

40

30

20
favor
ref. Agrária
10
contra
0 Ref. Agrária
1963 1967 1968 1972 1987 1998 2002 2003 2004

GRÁFICO 6.12 - SÉRIES DE OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA NO RIO DE JANEIRO


E BRASIL (ID: 340 A 342; 207, 209, 211, 214, 216, 218 – ANEXO W)

As médias e amplitudes das opiniões nos dois períodos confirmam a


impressão visual. Enquanto no Rio de Janeiro a opinião favorável à Reforma Agrária
oscilou entre 85% e 83% em estabilidade. Para a opinião pública brasileira esta
posição oscilou entre 58% e 71%, mostrando uma variação maior, mesmo que, a
partir de 1998, tenha havido uma estabilidade em torno de 63%. Em relação às
opiniões contrárias, a dinâmica é a mesma: de estabilidade no Rio de Janeiro e
oscilação maior para o Brasil.

TABELA 6.12 - MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL PARA OPINIÕES SOBRE REFORMA


AGRÁRIA NO RIO DE JANEIRO E BRASIL
A FAVOR REF. CONTRA REF.
PERÍODO ESTATÍSTICAS
AGRÁRIA AGRÁRIA
Rio de Janeiro Média 84,55% 13,70%
Desvio Padrão 1,42pp 1,95pp
V. Máximo 85,56% 15,19%
274

V. Mínimo 83,54% 11,59%


Média 63,50% 15,37%
Desvio Padrão 4,42pp 6,34pp
Brasil
V. Máximo 58,90% 23,64%
V. Mínimo 71,80% 6,53%

Essa maior oscilação também pode ser constatada nas medidas de


diferenças de primeira ordem. Enquanto a soma das diferenças para a opinião
contrária no Rio de Janeiro é de apenas –0,75, para o Brasil, no período seguinte, a
mudança foi de –5,89.98

TABELA 6.13 - DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM SOBRE OPINIÃO


CONTRÁRIA À REFORMA AGRÁRIA NO RIO DE JANEIRO E
BRASIL
a
DIF. 1. ORDEM
PERÍODO ESTATÍSTICAS CONTRA REF.
AGRÁRIA
Média - 0,37%
Rio de Janeiro
Soma -0,75%
Média -1,17%
Brasil
Soma -5,89%

Aplicando os dados sobre as opiniões coletadas pelas pesquisas a testes de


auto-regressão99, percebe-se que os únicos resultados estatisticamente significativos

são a relação entre opinião favorável à Reforma Agrária e mudança de período.

98Como para o período do Rio de Janeiro há um dado a menos sobre a opinião a favor da Reforma
Agrária, não é possível fazer as diferenças de médias para essa opinião. Por isso, estão sendo
apresentados os resultados apenas para a opinião contrária à Reforma Agrária.

99A auto-regressão é usada para dar mais consistência aos resultados, apesar do gráfico de
autocorrelação quanto a opinião favorável à Reforma Agrária indicar a existência de estacionaridade
e a opinião contrária ser não estacionária.

favor Ref. Agrária contra Ref. Agrária


1,0 1,0

,5 ,5

0,0 0,0

-,5 -,5
Partial ACF

Partial ACF

Confidence Limits Confidence Limits

-1,0 Coefficient -1,0 Coefficient


1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 7

Lag Number Lag Number


275

Como o coeficiente Beta é negativo (–19,51), isso indica que no segundo período
(opinião pública brasileira), os índices de opinião favorável à Reforma Agrária são

menores que os indicados no primeiro período. O mesmo acontece na auto-


regressão com variável independente "ano", quando há também uma queda gradativa
de opinião favorável à Reforma Agrária.

TABELA 6.14 - AUTO-REGRESSÃO DAS OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA NO RIO DE


JANEIRO E BRASIL

REGRESSORA DEPENDENTE BETA APPROX. PROB.

A favor Reforma Agrária -19,512** 0,002


Período
Contra Reforma Agrária 0,599 0,802
A favor Reforma Agrária -0,259** 0,013
Ano
Contra Reforma Agrária -0,192 0,772
** Significativo ao nível de 0,01

A relação significativa e negativa na auto-regressão, considerando a série


temporal interrompida com variável regressora "período", comprova a importância da
taxa de urbanização para os posicionamentos públicos sobre a Reforma Agrária. No

primeiro momento, na população mais urbanizada da capital do País nos anos 60, a
opinião favorável à Reforma Agrária mostrou ser maior que a opinião média
brasileira dos anos 70 a 90.

6.8.3 Comparação entre Preferências Partidárias nos dois Períodos100

Uma opinião que mostra curvas diferentes entre os dois períodos comparados
– em oposição à opinião contrária à Reforma Agrária, em que não houve diferenças
significativas – é a que trata das preferências partidárias. O período compreendido
pela opinião pública carioca apresenta uma curva em gradativa queda no percentual
de eleitores que dizem ter preferência por algum partido político. Já no segundo
período, a partir de 1989, a opinião pública brasileira indica uma maior estabilidade –

100O banco de dados deste tópico e resultados completos das auto-regressões estão no Anexo X.
276

apesar das variações acima dos limites de erro –, quando comparada com o período
anterior, como se percebe no gráfico 6.13.

100

Rio de Janeiro Brasil


90

80

70

60

50

40

30
preferência por algum partido

20

10

0
1949 1951 1958 1960 1963 1965 1987 1990 1992 1994 1997 2000 2002 2004

GRÁFICO 6.13 - SÉRIES DE PREFERÊNCIAS PARTIDÁRIAS NO RIO DE JANEIRO E BRASIL


(ID: 308 A 319; 142, 144 A 153, 155 A 159 – ANEXO X)

Ainda assim, a média dos cariocas que dizem ter preferência por um
partido político é maior que a média dos brasileiros, com 64% para o primeiro contra
49% para o segundo. A amplitude das opiniões cariocas também é maior, com
diferença entre valor máximo e mínimo no período de 49 pontos percentuais; contra
uma diferença de 24 pontos percentuais entre os valores máximo e mínimo para a
opinião pública brasileira, como mostra a tabela 6.15.

TABELA 6.15 - MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL PARA PREFERÊNCIA


PARTIDÁRIA NO RIO DE JANEIRO E BRASIL

PREFERÊNCIA POR
PERÍODO ESTATÍSTICAS
ALGUM PARTIDO

Média 64,36
Desvio Padrão 12,94
Rio de Janeiro
V. Máximo 89,30
V. Mínimo 35,05
277

Média 49,91
Desvio Padrão 7,12
Brasil
V. Máximo 61,90
V. Mínimo 37,00

A mesma tendência é apontada nos resultados das diferenças de primeira

ordem, quando, enquanto para o carioca a soma das diferenças apresentou um


resultado de – 35,95, para o brasileiro, essa soma foi de apenas – 9,52.

TABELA 6.16 - DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM PARA PREFERÊNCIAS


PARTIDÁRIAS NO RIO DE JANEIRO E BRASIL

DIF. 1.a ORDEM


PERÍODO ESTATÍSTICAS PREFERÊNCIA
POR PARTIDO

Média -3,226
Rio de Janeiro
Soma -35,95

Média -0,68
Brasil
Soma -9,52

As autoregressões101, tanto para "Período" quanto para "Ano", mostraram-se

significativas. Quando comparados os dois períodos ao longo do tempo, percebe-se


que, para o segundo, a preferência por um partido é menor (Beta de –12,820),
indicando que a opinião pública brasileira mostrou ter menor índice de preferência
partidária que a opinião pública carioca do período anterior. O mesmo acontece
com o coeficiente Beta para o regressor "ano", que é de – 0,435 e nível de

101A auto-regressão é necessária para estacionarizar a série temporal "preferência por partido" que
apresenta um coeficiente acima do limite de significância, sendo, portanto, não estacionária naturalmente.

preferência por algum partido


1,0

,5

0,0
Partial ACF

-,5
Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 3 5 7 9 11 13 15
2 4 6 8 10 12 14 16

Lag Number
278

significância de 0,000, mostrando que ao longo do tempo a queda na opinião é


estatisticamente significativa.

TABELA 6.17 - AUTO-REGRESSÃO PARA PREFERÊNCIAS PARTIDÁRIAS NO RIO DE JANEIRO


E BRASIL

REGRESSORA DEPENDENTE BETA APPROX. PROB.

Período Preferência por algum partido -12,820* 0,020


Ano Preferência por algum partido -0,435** 0,000
* Significativo ao nível de 0,05
** Significativo ao nível de 0,01

Se a opinião pública carioca pudesse ser representante fiel da opinião


pública brasileira naquele período, teria-se constatado que o brasileiro dos anos 60
tinha uma relação mais forte com os partidos políticos que o brasileiro dos anos 90.

Além disso, essa relação apresentou forte queda até os anos 70, para se estabilizar
a partir dos anos 90. Várias abordagens teóricas oferecem explicações a esse
fenômeno, desde o artificialismo gerado pelo bipartidarismo a partir de 1965 -
característica específica da política brasileira - até as explicações mais gerais sobre

a substituição dos partidos políticos por outras instituições para o fornecimento de


informações ao eleitor, o que reduz os vínculos entre eles, sendo uma característica

da democracia de público, como definida por Manin (1995).

6.8.4 Personalismo Eleitoral nos Dois Períodos102

O personalismo eleitoral foi indicado nos capítulos anteriores a partir do

percentual de eleitores que dizem decidir o voto pelas características do candidato,


deixando em segundo plano o partido político ou ideologia a que, supostamente, o

representante está ligado. O gráfico 6.14 mostra uma intensa volatilidade dos
eleitores que dizem votar no candidato em ambos períodos.

102O banco de dados utilizado neste tópico e os resultados completos de todas as auto-regressões
estão no Anexo Y.
279

100

Rio de Janeiro Brasil


90

80

70

60

50

40

30

20
vota em pessoa

10

0
1950 1954 1966 1968 1972 1982 1985 1988 1989 1998 2004

GRÁFICO 6.14 - SÉRIES DE VOTOS PERSONALISTAS NO RIO DE JANEIRO E BRASIL (ID:


309, 311, 320, 321, 139 A 141, 143, 144, 153, 159 – ANEXO Y)

A média para o período carioca ficou acima de 77%, contra 63% do segundo
período. Essa diferença de médias entre os dois períodos pode ser explicada pela
maior amplitude percentual para o Brasil em relação ao Rio de Janeiro. Enquanto a
distância entre valor máximo e mínimo na opinião pública brasileira ficou em 49
pontos percentuais, para o período carioca foi de 37 pontos percentuais, com o
ponto mínimo em 50%, enquanto no segundo período o ponto mínimo foi de 38%,
como demonstrado na tabela 6.18.

TABELA 6.18 - MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL DO VOTO PERSONALISTA


NO RIO DE JANEIRO E BRASIL

PERÍODO ESTATÍSTICAS VOTO PERSONALISTA

Média 77,41%
Desvio Padrão 12,48pp
Rio de Janeiro
V. Máximo 87,60%
V. Mínimo 59,30%
Média 63,24%
Desvio Padrão 16,55pp
Brasil
V. Máximo 87,64%
V. Mínimo 38,32%
280

As médias e somas das diferenças de primeira ordem das séries temporais


indicam que, enquanto no período carioca os valores eram positivos, com soma de 7,7

e média de 2,5 de crescimento de voto personalista, na opinião pública brasileira, a


partir dos anos 80, passou a haver quedas, de –1,89 na média de –11,35 na soma
das diferenças de primeira ordem, como indicado na tabela 6.19. Por isso, é possível
afirmar que, por trás da volatilidade da opinião pública, a tendência no período das
opiniões de brasileiros foi de queda no voto personalista, enquanto que, no período
anterior, entre os cariocas havia uma tendência de crescimento no número de

eleitores que escolhia seu candidato principalmente pelas características pessoais


do representante.

TABELA 6.19 - DIFERENÇAS DE PRIMEIRA ORDEM SOBRE VOTO PERSO-


NALISTA PARA RIO DE JANEIRO E BRASIL

DIF. 1.a ORDEM VOTO


PERÍODO ESTATÍSTICAS
PERSONALISTA

Média 2,56%
Rio de Janeiro
Soma 7,70%
Média -1,89%
Brasil
Soma -11,35%

Porém, tanto a auto-regressão103 para série interrompida, com "Período"


como regressora, quanto o tempo percorrido com a variável "Ano" como independente,
mostraram-se não-significativas, com valores de significância de 0,086 para

103Apesar de já ser estacionária, como mostra o gráfico de autocorrelação a seguir, o teste de auto-
regressão será utilizado para dar maior consistência aos resultados.

vota em pessoa
1,0

,5

0,0

-,5
Partial ACF

Confidence Limits

-1,0 Coefficient
1 2 3 4 5 6 7 8 9

Lag Number
281

"Período" e 0,319 para "Ano", acima dos limites aceitáveis – principalmente no


segundo caso. Isso mostra que, apesar dos dados estáticos de tendência central

(médias e somas) terem indicado uma pequena diferença entre os dois períodos, as
auto-regressões mostram que essas diferenças não são suficientes para inferir a
toda população.

TABELA 6.20 - AUTO-REGRESSÃO DE VOTO PERSONALISTA NO RIO DE JANEIRO


E BRASIL

REGRESSORA DEPENDENTE BETA APPROX. PROB.

Período Voto personalista -13,537 0,086


Ano Voto personalista -0,259 0,319

No item 5.1.4 do capítulo 5, foram realizados testes estatísticos para medir

a relação que existe entre a mudança ao longo do tempo nos índices de preferência

partidária e o percentual de eleitor que escolhe candidato de maneira personalista.

A hipótese de que poderia haver uma correlação entre a queda do voto personalista

e o crescimento da preferência partidária não se comprovou no capítulo anterior,

pois os resultados mostraram uma relação muito baixa, acima dos limites de níveis

de significância aceitáveis, entre as duas variáveis. O gráfico 6.15 mostra a relação

entre as duas variáveis, porém divididas nos dois períodos: "carioca" e "brasileiro".
282

100

Rio de Janeiro Brasil


90

80

70

60

50

40

30

20
prefere
partido
10
vota em
0 pessoa
1949 1954 1959 1963 1966 1982 1988 1991 1994 1998 2002

GRÁFICO 6.15 - SÉRIES DE VOTO PERSONALISTA E PREFERÊNCIA POR PARTIDO


POLÍTICO NO RIO DE JANEIRO E BRASIL (ID: 309, 311, 320, 321, 139 A
141, 143, 144, 153, 159 – ANEXO Y)

As curvas mostram uma volatilidade maior na variável "vota em pessoa",


nos dois períodos do que na variável "prefere partido". Essa diferença no
comportamento das curvas reflete-se em uma relação não-significativa do ponto de
vista estatístico entre as duas variáveis, pois o nível de significância do teste de

auto-regressão que considerou a preferência partidária como regressora e o voto


personalista como dependente foi de 0,886 e um coeficiente Beta de 0,119, como foi
constatado anteriormente.

TABELA 6.21 - AUTO-REGRESSÃO ENTRE PREFERÊNCIA POR PARTIDO E VOTO PERSONALISTA


NO BRASIL E RIO DE JANEIRO

REGRESSORA DEPENDENTE BETA APPROX. PROB.

Prefere algum partido Voto personalista 0,119 0,886


283

O curioso aqui é o fato de que o coeficiente Beta apresenta sinal positivo.


Logo, se a relação fosse significativa, ela indicaria que poderíamos inferir para toda

a população que o percentual de eleitores que afirma ter preferência por algum
partido cresce ao mesmo tempo em que aumenta o percentual do que dizem
escolher candidato pelo perfil pessoal, prioritariamente. Isso tanto poderia ser
considerado um comportamento irracional da opinião pública, como poderia servir de
indicativo para a possibilidade de inexistência de relação, ou seja, que o público se
identifica com partidos político em outros momentos, que não estão relacionados à

decisão do voto propriamente dita. Como nota conclusiva, ainda, é possível registrar
que a relação da opinião pública brasileira com os partidos políticos, no que diz

respeito ao processo de escolha de voto, apresenta significativas alterações. Isso é,


comparada com a relação da opinião pública carioca com os partidos brasileiros
durante os processos eleitorais dos anos 50. De fato, conforme o século XX se
aproximou do seu final, menor a importância dos partidos políticos para a definição
do voto.
284

QUADRO 6.1 - DEMONSTRATIVO DOS PADRÕES DA OPINIÃO PÚBLICA NO RIO DE JANEIRO ENTRE 1950 E 1970

COMPORTAMENTO RESULTADOS DA
TEMA PÚBLICO OPINIÃO PERÍODO
DA CURVA AUTO-REGRESSÃO

Mudança da A favor da 1951 a 1962 Mudança gradual e contínua Significativa, com coeficiente
Capital mudança positiva, passando de 40% Beta de 3,43
para 62%

Divórcio A favor do divórcio 1950 a 1966 Estabilidade durante todo o Não significativa e coeficiente
período, com média de 65% Beta de – 0,180

Personalismo Voto no candidato 1950 a 1968 Mudança gradual e negativa Não significativa e coeficiente
Político até 1954 e depois gradual Beta de 0,840
positiva até 1968, começa com
79% e termina com 89%, tendo
chegado a 54% em 1954

Identificação Preferência por 1949 a 1968 Mudança gradual e negativa, Altamente significativa, com
Partidária partido começando com 70% e coeficiente Beta de –1,560.
terminando em 37%.

Avaliação de Opinião Positiva ao 1950 a 1968 Mudança volátil ao longo do Apesar da volatilidade interna,
Governo governo federal tempo, com rápidas alterações o teste mostra-se significativo
de direção da opinião, para mudança em favor da
indicando forte presença de redução de opinião positiva ao
aleatoriedade. longo do tempo, com
coeficiente Beta de –2,475.

Democracia A favor da eleição 1964 a 1968 Alta estabilidade, com opinião Não significativo, com
direta para variando de 88% no início para coeficiente Beta de –0,626 para
presidente 90% no final do período. Para o o Rio de Janeiro.
município de São Paulo, entre
1964 e 1967, os resultados são
praticamente os mesmos.

Reforma Agrária Contra a Reforma 1963 a 1968 Alta estabilidade, variando de Não significativo, com
Agrária 15% em 1963 para 11% em coeficiente Beta de – 0,380
1967 para depois voltar a 15% para o Rio de Janeiro.
em 1968. O mesmo acontece
na cidade de São Paulo entre
1963 e 1964

Tamanho do A favor da 1951 a 1957 Crescimento contínuo e gradual Altamente significativo, com
Estado exploração de ao longo de todo o período, coeficiente Beta de 3,638.
Petróleo por passando de 50% em 1951
Estatal para 73% em 1957.

Política Externa A favor da 1951 a 1962 Crescimento contínuo, com Resultado significativo, com
manutenção de mudança acelerada até1961, coeficiente Beta de 2,750.
Relações oficiais para depois apresentar
com URSS pequena queda. Começa com
31% em 1951 e chega a 53%
em 1962.
285

QUADRO 6.2 - DEMONSTRATIVO DAS CORRELAÇÕES ENTRE OPINIÕES SOBRE TEMAS INTER-RELACIONADOS NO
RIO DE JANEIRO ENTRE 1950 E 1970

CORRELAÇÃO AO LONGO COEFICIENTE NÍVEL DE


RESULTADO
DO TEMPO BETA SIGNIFICÂNCIA

Voto no candidato e Preferência por -2,340 0,002 Correlação entre as duas variáveis ao
partido longo do tempo altamente
significativa, indicando coerência
entre as posições.

QUADRO 6.3 - DEMONSTRATIVO DA COMPARAÇÃO ENTRE OPINIÃO PÚBLICA CARIOCA DOS ANOS 50 A 70 E
OPINIÃO PÚBLICA BRASILEIRA DAS ÚLTIMAS TRÊS DÉCADAS

OPINIÃO COMPARADA NOS DOIS NÍVEL DE


COEFICIENTE BETA RESULTADO
PERÍODOS SIGNIFICÂNCIA

Avaliação positiva do governo federal -16,918 0,081 Resultado da série interrompida não
significativo, com médias de
avaliação positiva superiores no
período carioca em relação à opinião
pública brasileira.

Avaliação positiva do governo em 0,179 0,551 Período carioca não há relação


relação ao índice de inflação significativa entre inflação e avaliação
positiva do governo

-0,011 0,018 Período brasileiro a relação é


significativa e o sinal é negativo, o
que indica que conforme cresce a
inflação, diminui a avaliação positiva
do governo.

Opinião sobre Reforma Agrária -19,512 0,002 Opinião favorável a relação é


significativa e negativa indicando que
no período da opinião pública
brasileira há menores índices a favor
da reforma agrária que na opinião
pública carioca.

0,599 0,802 Opinião contrária não apresenta


diferenças significativas entre os dois
períodos.

Preferência partidária -12,820 0,020 A série temporal interrompida indica


que a preferência por algum partido
político é menor na opinião pública
brasileira, quando comparada com a
opinião do carioca no período anterior.

Voto personalista -13,537 0,086 A série temporal interrompida indica


não existir diferenças
estatisticamente significativas entre
as variações de percentuais de votos
personalistas entre os dois períodos.

Preferência partidária e voto 0,119 0,886 Não há relação significativa entre a


personalista preferência partidária e voto
personalista ao longo do tempo,
quando consideradas as opiniões nos
dois períodos.
286

CONCLUSÃO

Mesmo parecendo contraditório – mas não sendo – a conclusão deste


trabalho precisa começar concordando com a afirmação de Bourdieu de que a
Opinião Pública não pode ser apreendida a partir de um único ponto no tempo para a
coleta de informações a respeito do que os integrantes do público pensam sobre temas
de interesse comum – o que é diferente de concordar que a opinião pública não existe.
De fato, a opinião pública faz parte do espaço público, mas como integra complexos
sistemas de relações entre atores e instituições, ora sendo parte destes processos, ora
como resultado deles, é preciso uma análise ao longo do tempo para apreendê-la.
Como demonstrado nesta tese, a opinião pública pode ser considerada como
parte de processos de comunicação social, interpressoal ou através dos meios de
comunicação de massa, quando racional, e, em outras vezes, como o resultado desse
processo, quando manipulativa. Em ambos casos, é preciso que haja um estímulo
ou mensagem com determinado conteúdo produzido por um emissor, de um lado, e
alguém disposto para captar toda a mensagem ou pelo menos parte dela, de outro – o
receptor. A polêmica conceitual sobre opinião pública cresceu ao longo da história do
debate a seu respeito. De fato, nasceu simples, com opinião pública significando a
descrição da opinião popular ou uma opinião geral, a partir da manifestação de
pessoas que dizem o que pensam. Porém, esse conceito começou a ficar cada vez
mais complexo, conforme cresciam as críticas aos resultados sociais da Revolução
Francesa e conforme os processos democráticos foram ampliados. A opinião pública
passou a causar mudanças históricas, através da sua transformação em força política
concreta, como o voto universal, por exemplo. A crítica parte principalmente dos
autores elitistas e conservadores, que têm uma desconfiança permanente a respeito
da capacidade das massas, ou do povo, em tomar decisões. Principalmente nas
sociedades que surgem com o período industrial, quando o pensamento do cidadão
comum é, também, fortemente marcado pela participação dos meios de comunicação
de massa.
287

Na primeira parte deste trabalho, tratou-se da importância da incorporação


conceitual do cidadão comum nos processos decisórios pelas teorias democráticas,

para que estas possam se aproximar do que ocorre nas democracias reais. A distância
entre elas já foi criticada por Schattschneider nos anos 70, mas também por outros
autores. A opinião pública poderia, se não fosse uma confusão conceitual que ronda
o termo há séculos, servir como "ponte" na relação entre a teoria democrática e as
democracias reais, caso fosse incorporada às análises acadêmicas.
Como resultado desse debate, o conceito de opinião pública na ciência

política, pode ser dividido em dois tipos principais. Há um conceito teórico-político,


ensaísta, e está tradicionalmente ligado às análises jurídicas, que giram em torno de

uma concepção legitimadora da democracia. Aqui a opinião pública pode aparecer


como manifestação de opinião geral ou popular, sem nenhum caráter pejorativo, ou
pode ganhar aspectos de fenômeno com força opressiva sobre o indivíduo, tornando-se
negativa – esse negativismo no conceito cresce conforme nos distanciamos da
revolução francesa e nos aproximamos do século XX. O outro tipo de análise da
opinião pública está ligado a um conceito sociológico, cujas conclusões nascem das

verificações de resultados das pesquisas de opinião. Essa tradição é bem mais


recente que a primeira, tendo surgido apenas nas primeiras décadas do século XX,
com os estudos empíricos da escola sociológica norte-americana. O que ainda falta
na literatura sobre opinião pública é uma aproximação entre os dois tipos de conceitos,
com o teórico-jurídico apresentando as questões para a pesquisa empírica e os
resultados destas servindo para a validação ou rejeição das teorias já existentes.
Esta tese está filiada à linha de análises empíricas sobre opinião pública, o
que não significa que a discussão conceitual deva ser negligenciada. Dentro dessas
condições, foi demonstrado que a opinião pública pode ser não apenas compreendida
como um elemento que pertence às práticas de representação política nas democracias
modernas, mas que também apresenta condições mínimas para ser levada em
consideração pelos tomadores de decisões na esfera política.
288

Isso é diferente de aceitar que a opinião pública seja uma manifestação


autônoma dos públicos, ou seja, do cidadão médio na democracia; ou livre de

influências dos interesses da elite política. Ela é o resultado de dois processos que
podem ocorrer simultaneamente no público. Um processo de tentativa de persuasão
e convencimento pela elite política que se manifesta principalmente através dos
meios de comunicação de massas, materializado na propagação de informações e
mensagens supostamente objetivas, mas que sempre trazem em si algum grau de
subjetividade de quem as produz ou está influenciando os produtores. O outro processo

se dá pela reformulação de crenças e conceitos que o próprio público faz, independente


dos interesses da elite política. Nesse caso, a motivação para os processos de

automodelação das opiniões está diretamente ligada a mudanças estruturais no


meio social a que o público está inserido e na maioria das vezes à remodelação de
opiniões que acontece a partir dos processos de comunicação interpessoal, com
líderes de opinião horizontais e apenas sofrendo uma influência dos meios de
comunicação de massa.
Com a transposição da primeira etapa do trabalho, qual seja, identificar o

que é e como se forma a opinião pública, foi tratado do objetivo principal que é
identificar se a variável empírica "opinião pública brasileira" pode ser considerada
estável, previsível, enfim, explicada como resultado de processos racionais. Se sim,
abre-se espaço no debate sobre democracia para que a elite política, tomadora de
decisões sobre políticas públicas, possa levar em consideração essas manifestações
de opinião sem o temor da inconsistência e da volatilidade randômica, supostamente
resultado da manipulação das massas por lideranças políticas nem sempre preocupadas
com o bem comum, de acordo com os teóricos elitistas.
Considerando as curvas de opinião analisadas aqui sobre 24 temas
públicos, incluindo as opiniões dos brasileiros dos anos 80 e 90 e dos cariocas dos
anos 40 a 70, encontramos um total de 30% (sete) de opiniões estáveis. Outros 45%
(onze) de opiniões com mudanças consistentes ao longo do tempo e 25% (seis) de
289

opiniões voláteis, com alterações randômicas ao longo do tempo. Como as mudanças


consistentes podem ser explicadas por variáveis intervenientes e resultam de avaliações

racionais, temos um percentual de 75% das opiniões como provenientes de processos


racionais de interpretação do mundo em que o cidadão vive e das relações em que
ele tem com outros integrantes dessa sociedade, sejam pessoas comuns ou líderes
de opinião.
Ao considerarmos apenas o grupo de variáveis das opiniões brasileiras dos
últimos 25 anos, temos 15 temas públicos, sobre os quais, em 27% (quatro) houve

manutenção das opiniões ao longo do tempo, em outros 40% (seis) a mudança da


opinião foi consistente ao longo do tempo e em 33% (cinco) dos temas as opiniões

se alteraram de maneira volátil, em diferentes direções. Para o caso das opiniões do


carioca entre as décadas de 40 e 70, das nove curvas apresentadas, 34% (três)
apresentaram estabilidade ao longo do tempo; 56% (cinco) tiveram mudanças
consistentes no período e apenas 11% (uma) das curvas houve variação randômica.
Como se pode perceber, os resultados das análises da opinião pública
brasileira a partir da metodologia aplicada ao público norte-americano mostraram

uma instabilidade maior no Brasil, que apresentou 30% de opiniões estáveis, contra
57% encontrados no público dos Estados Unidos por Page e Shapiro. Já no que diz
respeito à forma de mudança das opiniões não-estáveis, enquanto nos Estados
Unidos apenas 43% mostrou-se gradual e consistente, contra 57% de opiniões com
mudanças abruptas. No Brasil, os resultados mostraram-se inversos, com 65% das
alterações gerais de forma consistente e apenas 35% de maneira randômica e sem
explicação racional104.

104Uma diferença nos dois resultados precisa se levada em consideração para fins comparativos: os
resultados apresentados por Page e Shapiro dizem respeito às perguntas repetidas ao longo de 50
anos, enquanto aqui os resultados estão relacionados ao comportamento geral da curva. Por isso,
tem-se a impressão de que o número de opiniões analisadas por Page e Shapiro (1.128 casos) é
maior que a do caso brasileiro. Na verdade, os temas públicos a que essas opiniões norte-
americanas se referem também não passam de dezenas, divididas entre temas internos e de política
internacional. O número de casos em Page e Shapiro também é maior porque na segunda parte do
290

Outro ponto importante a ser destacado dos resultados gerais é o fato de


que grande parte das opiniões que se mostraram voláteis ao longo do tempo, com

alterações abruptas de direção na curva ao longo do tempo, dizia respeito a


avaliações de governos, políticas e governantes; portanto, são mais sensíveis aos
efeitos das correntes de opinião, que resultam de efeitos a curto prazo, sejam eles
positivos ou negativos, das políticas implantadas pelos governantes. Em boa
medida, essas alterações abruptas apresentaram um alto nível de correlação com
mudanças também abruptas nos indicadores de desempenho econômico do País, o

que em si indica uma racionalidade na opinião pública.


Mostraram-se voláteis ao longo do tempo as avaliações positivas mensais

e anuais do governo federal e a avaliação negativa do governo federal entre 1987 e


2004; a opinião sobre crescimento da corrupção do País entre 1995 e 2005 também
apresentou alta volatilidade; além da volatilidade percebida na avaliação positiva do
governo federal pelo carioca entre 1950 e 1968. No entanto, as alterações na avaliação
positiva do governo federal para o público brasileiro foram explicadas pelas mudanças
na expectativa de crescimento de renda do brasileiro na mesma direção, ou seja,

conforme crescia a expectativa de ter maior renda, aumentava a avaliação positiva


do governo. Outra variável interveniente negativa na avaliação positiva do governo é
a taxa de inflação. Os testes mostraram uma relação estatisticamente significativa
entre o crescimento da média de inflação anual e a queda na avaliação positiva do
governo. A determinação da taxa de inflação sobre a opinião do brasileiro a respeito
do governo é mais forte ainda quando consideradas as avaliações negativas sobre o

livro eles analisam o comportamento da opinião pública por segmentos sociais, o que não foi
realizado para o caso brasileiro por não ser objetivo deste trabalho. Vários estudos, inclusive
brasileiros, já demonstraram que há diferenças no comportamento político dos indivíduos em função
de nível educacional, forma de introdução na esfera pública, pertencimento a grupos de minorias, etc.
No entanto, este trabalho se propôs a analisar o comportamento da opinião pública brasileira como
um todo e não dos subgrupos do público, pois a medida de tendência central que deve ser ouvida e
levada em consideração pela elite política no momento da tomada da maioria de suas decisões
políticas é a opinião média do público.
291

mesmo governo. Isso significa que o aumento da taxa da inflação faz crescer mais o
percentual de opinião negativa sobre o desempenho do governo do que diminuir a

sua avaliação positiva. Uma terceira variável interveniente importante na avaliação


positiva do governo é o crescimento da corrupção, que indicou uma relação significativa
e em direções opostas, ou seja, conforme cresce a percepção na opinião pública
brasileira de que a corrupção ganha espaço na arena política, diminui a avaliação
positiva do governo. Quando comparada à avaliação negativa do governo, a relação
é estatisticamente ainda mais forte e na mesma direção, ou seja, o crescimento da

corrupção, assim como a inflação, tem mais impacto no crescimento dos índices de
avaliação negativa do governante do que na queda da avaliação positiva. Aqui, é

possível ampliar os resultados de trabalhos anteriores que já identificaram a


importância de variáveis econômicas na decisão do voto para a conformação da
opinião pública como um todo.
Quanto às opiniões ligadas aos principais comportamentos eleitorais, a
opinião pública brasileira mostrou-se volátil em relação ao voto personalista,
apresentando grandes mudanças abruptas, principalmente em anos eleitorais. Já em

relação à preferência partidária, o movimento tem sido gradual e em contínua queda


ao longo das últimas duas décadas, com indicadores de estabilidade em torno da
metade dos brasileiros com preferência por algum partido político. Os mesmos
movimentos podem ser notados na opinião pública carioca em meados do século
XX, quando há uma mudança randômica nos percentuais de eleitores que dizem
preferir escolher pelo candidato, ou seja, voto personalista, caindo entre 1950 e
1954 e depois mostrando um aumento até 1968. Quanto à identificação partidária do
carioca entre 1949 e 1968, apesar de apresentar médias maiores que a opinião
pública brasileira de duas décadas depois, já é possível perceber o mesmo
movimento de queda, passando de 70% no início do período, para cerca de 40% no
final. A diferença, no caso carioca, é o fato de que a auto-regressão mostrou índices
estatisticamente significativos na relação entre aumento do voto personalista e
292

queda na preferência eleitoral, enquanto que os testes para as curvas do Brasil não
mostraram relação consistente entre as duas variáveis.

Essa tendência de queda nas preferências partidárias pela opinião pública


vem sendo notada nas últimas décadas na maioria das democracias consolidadas,
conforme apresentado pela literatura internacional sobre o tema. Ela é descrita por
Bernard Manin como uma conseqüência da alteração de um tipo de democracia, a
chamada democracia de partidos, para outro tipo, a democracia de público, em que
as agremiações políticas tradicionais deixam de ter exclusividade no papel de

formadores e organizadores das preferências políticas, dividindo esse papel com


outros agentes sociais, dentre os quais estão os meios de comunicação de massa.

Isso explica a não-existência de relação estatisticamente significativa entre as duas


variáveis nos períodos mais recentes.
Em relação à ideologia política do brasileiro médio, a opinião mais estável
entre 1989 e 2002 foi a dos que se auto-identificam como sendo de direita, pois
apresentaram estabilidade até 1997 e crescimento abrupto até 2000, quando voltou
a se estabilizar. Já a auto-identificação como sendo de esquerda apresentou um

crescimento abrupto no final dos anos 80, depois uma queda, e se estabilizou a
partir da década de 90. As auto-identificações como sendo de centro mostraram-se
randômicas ao longo de todo o período, porém, em uma análise temporal com a variável
interveniente auto-identificação de direita, as tendências das curvas ficaram
estatisticamente significativas e negativas. A mesma relação não se mostra
significativa entre esquerda e centro e menos ainda entre esquerda e direita,
indicando que a tendência mais provável dos que deixaram de se auto-identificar
como esquerda durante os anos 90 foi de saída do espectro, ou seja, deixaram de
manifestar sua posição, ao invés de fazer a troca.
Sobre as opiniões a respeito da democracia, a preferência por esse regime
em relação aos demais se mostrou estável para o brasileiro médio até 2000, em
torno de 50%, quando apresentou uma abrupta queda, voltando a estabilizar-se em
293

um patamar inferior, próximo a 40%, na década de 90. Esse mesmo comportamento


pode ser encontrado em outros países latino-americanos no período, segundo dados

de pesquisas do latinobarómetro. A queda na preferência pela democracia ocorre ao


mesmo tempo em que há uma redução nos índices de confiança das principais
instituições públicas democráticas. É o caso da confiança na justiça que apresenta
gradativa queda entre 1995 e 2003. A confiança no congresso, medida entre 1972 e
2003 fica estável até 1989, mostrando crescimento durante toda a década de 90 e
uma queda gradativa e contínua até o fim do período. A confiança no governo,

crescente continuamente entre 1972 e 1995, começa a cair gradativamente durante


toda a última década no Brasil. Ainda sobre a democracia, os dados da opinião

pública carioca e paulistana nos anos 60 mostram uma tendência pouco explorada
pela literatura política brasileira, que é a expressiva preferência pela eleição direta
para presidente da república durante os primeiros anos do regime militar. Entre 1964
e 1968, a preferência pela eleição direta para presidente é estável, variando entre 87%
e 90% das opiniões, o que, se não é suficiente para indicar uma opinião favorável à
democracia, pelo menos mostra um descontentamento com a eleição indireta para

presidente da república.
Presidencialismo é, historicamente, o sistema de governo ideal para a
opinião pública brasileira, embora entre 1962 e 1988 a opinião favorável a esse
sistema apresentou uma queda. A partir de então, a curva mostrou-se em gradativo
crescimento até 1993, quando estabilizou-se acima do percentual de preferência
pelo parlamentarismo, que entre 1988 e 1993 esteve em queda, para estabilizar-se
desde então. A auto-regressão entre as duas opiniões mostrou um grau de correlação
estatisticamente significativo, indicando que o crescimento de uma preferência
depende da queda de outra e não do aumento de público com opinião formada
sobre o tema.
No caso da opinião pública a respeito do tema do Referendo de 2005, a
série histórica houve uma alteração significativa da curva, mas de maneira
294

consistente, não aleatória. Essa alteração mostrou-se bastante sensível à variável


interveniente "ampliação do debate público", identificado a partir do início do Horário

Gratuito de Propaganda do Referendo (HGPR) no rádio e na televisão. Este evento


aumentou o ângulo da curva, o que indica uma aceleração nas mudanças de opinião
a partir do debate através da mídia.
As opiniões sobre o maior problema do País também se mostraram
consistentes ao longo do tempo, embora com comportamentos variados. Enquanto o
"desemprego" como maior problema tenha apresentado três movimentos distintos da

curva durante o período, houve significativa alteração nas opiniões sobre saúde e
reforma agrária serem "maior problema do País" durante o período – ambas em

queda. Os demais temas pesquisados como maior problema do País ficaram


estáveis ao longo do tempo. Esses resultados são indicadores de que podem

sustentar hipóteses de pesquisas futuras a respeito do agendamento pela mídia,


para possível comprovação do argumento de agendamento da mídia sobre os temas
públicos, de acordo com a teoria da Agenda-Setting.
Testes sobre a consistência de opiniões interdependentes mostram coerência

na opinião pública brasileira quando avalia instituições ligadas às áreas de segurança e


justiça. A confiança na justiça e no judiciário apresentaram alterações consistentes e
para baixo durante todo o período analisado, indicando correlação significativa entre
elas. Isso aponta para a formação de um cluster de opiniões coerentes a respeito de
temas próximos no espectro alcançado pela opinião pública – para este caso específico,
podendo não ser válido a outros conjuntos de opiniões.
Uma opinião do público carioca entre 1951 e 1957, disponível a partir das
pesquisas do Ibope, diz respeito à intervenção direta do Estado na economia, mais

especificamente sobre a exploração de petróleo ser feita por uma empresa estatal
brasileira. A opinião favorável à exploração de petróleo pela Petrobrás no Rio de
Janeiro apresentou um crescimento contínuo e gradual ao longo de todo o período,
passando de 50% para 73% durante o período de análise. Outros dois temas públicos
295

que apresentaram o mesmo comportamento de mudança gradual e contínua na opinião


pública carioca, entre os anos 50 e 60, foram a opinião a favor da manutenção de

algum tipo de relação oficial com a URSS (antiga União Soviética), que passou de
31% para 53% ao final do período, e a opinião favorável à mudança da capital federal
para o centro do País, que passou de 40% no início da década de 50, chegando a
mais de 60% em 1962. As duas últimas foram formadas em um ambiente de intensa
comunicação entre público e elite política. No caso da mudança da capital, o governo
brasileiro fez várias campanhas de "esclarecimento" e informação sobre questões de

segurança nacional e integração regional que só seriam resolvidas com a transferência


da capital. Esse tema esteve presente em todas as campanhas eleitorais do período.

Assim como a polêmica sobre as relações internacionais, em especial com a União


Soviética comunista, no período mais intenso da guerra fria, quando parte da elite

política brasileira – seja formada por comunistas seja por anti-americanistas –


mobilizava o debate público em favor do restabelecimento das relações diplomáticas
e comerciais, ou apenas uma das duas, com a URSS.
No entanto, há também um exemplo de tema público que foi objeto de intenso

debate entre elite e massa durante os anos 50 e 60 no Rio de Janeiro e que, apesar
dos debates e das conseqüentes tentativas de mobilização do público, manteve-se a
curva totalmente estável no período. É o caso da opinião carioca sobre o divórcio,

quando a média das opiniões favoráveis a ele, medidas entre 1950 e 1956, ficou em
65%, com diferenças entre os pontos dentro do intervalo de cinco pontos percentuais,

mostrando estabilidade, apesar de naquele período existirem debates a respeito de


mudanças na legislação que legalizaria o divórcio no Brasil.

Voltando às opiniões dos brasileiros nas últimas décadas, outro exemplo


de opinião social estável é sobre a pena de morte. Entre 1995 e 2005, a opinião
pública brasileira manteve-se dividida praticamente em 50%, com uma pequena
vantagem para a opinião contrária em relação aos favoráveis à pena de morte.
Houve apenas um momento da série, em 2001, cuja opinião favorável ultrapassou
296

os índices de opinião favorável, com uma mudança abrupta e temporária, para logo
em seguida voltar aos patamares históricos de opinião. Nesse caso, a auto-

regressão entre as duas opiniões mostrou-se não significativa estatisticamente, o


que indica que possíveis mudanças nas curvas podem ser explicadas pela inclusão
de novos integrantes do público, que até então não manifestavam posição pública a
respeito do tema.
Outro tema social tratado a partir da opinião pública neste trabalho diz
respeito à Reforma Agrária e aos dados que compreendem um dos maiores períodos

de análise, indo de 1962 até 2004 no caso da opinião brasileira. Até a segunda
metade dos anos 80, a curva da opinião favorável à Reforma Agrária manteve-se em

constante crescimento, enquanto a opinião contrária à Reforma Agrária apresentou


permanente queda.
Entre 1988 e 2004, a opinião a favor da reforma agrária mostrou-se estável,
em torno de 60%, enquanto a opinião contrária manteve-se também estável, em
torno de 15%. Quando as curvas de opinião sobre Reforma Agrária são testadas
com a variável interveniente "taxa de população urbana do país", os resultados das

auto-regressões são estatisticamente significativos, o que significa uma forte


correlação entre ambas opiniões e taxa de urbanização do país. A correlação entre a
variável interveniente e a opinião a favor da Reforma Agrária é positiva, indicando
que conforme aumenta o percentual de pessoas vivendo nas cidades, cresce a
opinião favorável à Reforma Agrária. No entanto, a relação é ainda mais forte e
negativa entre a variável interveniente e opinião contra Reforma Agrária. Isso mostra
que o efeito da urbanização é maior para a redução na resistência à realização da
reforma agrária do que nas opiniões favoráveis a ela.
Outro ponto importante é o fato de que, apesar da taxa de urbanização ter
continuado a crescer durante todo o período, as curvas de opinião a favor e contra a
Reforma Agrária se estabilizaram a partir dos anos 90, indicando terem chegado a
seus patamares de manutenção, o que faz com que a variável interveniente deixe de
297

ter impacto sobre a direção da curva de opinião. O debate sobre Reforma Agrária
entre elite e massa esteve presente na esfera pública brasileira durante todo o

período da análise, e continua sendo um tema permanente na agenda da mídia por


conta da organização de movimentos sociais. No entanto, na última década e meia,
essa visibilidade temática não foi suficiente para gerar transformações no padrão da
opinião pública brasileira sobre o tema.
Durante o período de 1963 e 1968, o Ibope ouviu cariocas e paulistanos
sobre a reforma agrária. As opiniões contrárias à reforma agrária, tanto no Rio de

Janeiro quanto em São Paulo durante o período, mostraram-se estáveis e girando


em torno de 15% do total. Vale ressaltar que durante esse mesmo período, a opinião

pública nacional contrária à Reforma Agrária apresenta índices maiores que os das
duas capitais. Essa diferença aponta para a mesma direção do impacto da crescente
urbanização para a redução das resistências de opinião pública em relação à
realização da Reforma Agrária, pois as opiniões coletadas nas duas capitais refletem
o público mais urbanizado do Brasil nos anos 50 e 60, enquanto as pesquisas com
amostras nacionais também levaram em consideração as opiniões do público ainda

rural e vinculado às relações econômicas e sociais pertinentes ao tipo de organização


social baseada na produção agrícola latifundiária, principal foco de origem e
transmissão de informações e argumentos contrários à realização da reforma agrária
no Brasil. Na comparação entre os dois períodos, ficou provado que na opinião
pública carioca havia um índice significativamente superior de opinião favorável à
Reforma Agrária que na opinião pública brasileira do período posterior. Essa
diferença corrobora os resultados anteriores indicando relação entre nível de
urbanização e posição da opinião pública sobre o tema. Quanto à opinião contrária à
reforma agrária, ela se manteve estável durante toda série temporal que inclui os
dois períodos (opinião pública carioca e brasileira).
Diante desses resultados, é possível afirmar, assim como Page e Shapiro nos
Estados Unidos e Bélanger e Pétry no Canadá, que as opiniões coletivas brasileiras
298

e suas preferências a respeito da política são reais, reconhecíveis, coerentes e


apresentam padrões que podem ser explicados. Além disso, quando não são estáveis,

elas tendem a apresentar tendências previsíveis e raramente mudam randomicamente


sem que haja uma variável interveniente com algum grau de impacto significativo na
curva. Dos temas cujas curvas de opinião foram analisadas neste trabalho, três em
cada quatro ou apresentavam estabilidade ou a mudança era consistente e previsível.
A comparação entre a opinião pública carioca de meados do século XX e a
opinião pública brasileira a partir dos anos 80 permitiu a ampliação de algumas

séries temporais analisadas no trabalho. Para tanto estabeleceu-se como objetivo


identificar possíveis alterações significativas de opinião entre os dois períodos, nunca

perdendo de vista a ressalva de que a opinião carioca não representa, necessariamente,


a opinião do brasileiro daquele período, não sendo possível a leitura dos resultados
dessa forma. Dentre as opiniões disponíveis, foi possível constatar que a variável
interveniente de origem econômica "inflação" apresentou significativo impacto na
avaliação positiva do governo federal a partir dos anos 80, porém não foi capaz de
explicar as mudanças na avaliação positiva que o carioca fez do governo federal no

período anterior. O que se destaca como diferente entre os dois período são as
médias de inflação anual que, nos anos 80, foram cerca de 15 vezes superiores às
dos anos 60, demonstrando que a capacidade de intervenção da variável econômica
na opinião pública pode estar relacionada ao tamanho de seu impacto na sociedade.
Os testes de séries interrompidas entre os dois períodos mostraram uma
significativa redução na preferência partidária entre a opinião pública carioca e a
brasileira. Já em relação ao voto personalista, os resultados das diferenças entre os
dois períodos mostraram-se um pouco acima do nível aceitável de significância. A
relação entre as duas variáveis: voto personalista e preferência partidária mostrou-se
fraca na série temporal que engloba os dois períodos. Isso indica, por um lado, que
a opinião pública brasileira não relaciona o processo de decisão de voto com o
partido político e sim com as características pessoais do postulante ao cargo eletivo,
299

e, por outro, que os partidos políticos podem desempenhar outras funções na opinião
pública, mas não a de ajudar nos processos de decisão do voto. Esse comportamento

do público brasileiro se aproxima do que vem sendo identificado pela literatura


internacional que trata do tema nas democracias mais consolidadas, em que os
partidos políticos cada vez mais cedem espaço para outras instituições de propagação
de informações na arena eleitoral, embora eles continuem desempenhando papel
importante na arena estatal, por organizarem as elites políticas em bancadas, e nos
processos de arregimentação e formação de novos integrantes da elite política.

Considerando que a esfera pública é um espaço independente da esfera


estatal e da esfera privada, em que os cidadãos formulam e emitem suas opiniões

sobre temas de interesse coletivo, deve-se aceitar a partir das tendências das curvas
de opinião que o cidadão comum brasileiro é capaz de buscar, de maneira autônoma,
informações para formar suas próprias opiniões em favor de seus interesses ou do
interesse comum. Porém, isso não pode ser feito ao se analisar a opinião pública em
apenas um momento; depende de informações longitudinais, que permitem identificar
se determinada constatação de opinião pública é resultado de adequações graduais

que o público vai fazendo às novas condições sociais (mudança de opinião pública
primária) ou se é resultado da difusão de informações sobre fatos específicos que
acabam gerando determinados comportamentos de opinião devido ao "embate"
público que existe entre elites e públicos (mudança de opinião secundária).
Torna-se fundamental para qualquer análise consistente sobre opinião
pública levar em consideração a existência de duas dimensões de opinião – a
primária e a secundária. O público geralmente reage a novas situações de forma
racional – o que não é uma negação da presença de elementos emocionais no seu
processo decisório – para buscar novas informações. Como as opiniões tendem a ser
racionais ao longo do tempo, é possível que a participação do público nas
deliberações políticas através da observação da opinião pública pelos tomadores de
decisões tenda a aproximar as práticas que surgem na esfera estatal das demandas
300

e expectativas dos integrantes do público, que não participaram diretamente das


deliberações políticas, mas têm posições sobre elas.

Da mesma forma, mas no sentido oposto, governantes que desconsideram


as manifestações expressas na opinião pública por identificá-las como incoerentes
ou irracionais tendem a gerar governos não responsivos e aumentar a distância
entre esfera estatal e esfera pública. Por outro lado, isso não significa que a opinião
pública possa assumir a responsabilidade por todas as decisões políticas em uma
democracia, pois em um sistema representativo ela se faz representar por uma elite

política que na maioria das vezes tem mais informações relevantes para a formação
da opinião individual que o cidadão comum e como a opinião pública também é

(re)formada pelo debate entre elite e público, os diferentes níveis informacionais do


primeiro lhe dão uma vantagem em relação ao público em geral, permitindo que a
manipulação de preferências políticas constituídas possa, em determinadas condições,
gerar uma corrente de opinião que modifica as tendências históricas, ainda que
temporariamente.
301

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CNI/Ibope http://www.cni.org.br/produtos/diversos/cnIbope

CNT/SENSUS - Banco eletrônico de relatórios das pesquisas de opinião pública nacional


CNT/Sensus http://www.cnt.org.br/

DATAFOLHA - Banco eletrônico de relatórios de pesquisas de opinião do Instituto de


Pesquisas Datafolha http://www1.folha.uol.com.br/folha/datafolha/

DOXA – Laboratório de Pesquisas em Comunicação Política e Opinião Pública, do Instituto


Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ)/UCAM.

IBOPE - Banco eletrônico de relatórios de pesquisas de opinião pública nacional do Ibope


http://www.Ibope.com.br/calandraWeb/servlet/
310

IPEA - Banco de dados sócio-econômicos do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas


(Ipea), IpeaData: http://www.ipeadata.gov.br/ipeaweb.dll/

LATINOBARÓMETRO - Banco eletrônico de relatórios de pesquisas de opinião pública do


latinobarómetro http://www.latinobarometro.org/.
311

APÊNDICE
312

APÊNDICE METODOLÓGICO A
PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE SÉRIES TEMPORAIS

PELO MÉTODO DE AUTO-REGRESSÃO NO SPSS

Segundo o manual do SPSS 13.0, a auto-regressão é um procedimento de estimação


verdadeira por coeficientes de regressão em séries temporais com erros autocorrelacionados de
primeira ordem. Ela oferece três algoritmos; dois deles (Prais-Winsten e Cochrance-Orcutt)
transformam a equação de regressão para remover a autocorrelação. O terceiro, (máxima
semelhança), usa o mesmo algoritmo que o procedimento ARIMA para estimar a
autocorrelação.

A estimação por máxima semelhança (ML) é mais usada por oferecer melhores resultados –
e pode tolerar ausência de dados na série. Por este motivo, todos os testes realizados aqui
foram a partir do algoritmo de máxima semelhança (exact maximum-likelihood), que
equivalente a um modelo ARIMA (1,0,0).
Dados: tanto a variável dependente quanto a independente são numéricas, sendo que
algumas variáveis independentes podem ser categóricas, para os testes de intervenção,
transferência e de séries interrompidas.

Para Criar um Modelo de Auto-regressão no SPSS:


No menu escolha:
Analyse,
Time Series,
Autoregression

Transfere-se a variável dependente para a caixa Dependent.

Transfere-se a variável independente para a caixa Independent.

Para os testes realizados aqui foi mantida a Constant nos resultados.

Na caixa SAVE, para todos os testes foram mantidos 95% de intervalo de confiança.

Na caixa OPTIONS, o parâmetro inicial autoregressivo (Rho) é 0 (zero).

O número máximo de interações é de 10 (dez).

A seguir, basta pedir para que o teste seja realizado na caixa principal de auto-regressão.
Os resultados serão gerados em forma em um arquivo de output do SPSS.
313

Na interpretação dos resultados, as principais estatísticas são:

B: equivalente ao coeficiente Beta de uma regressão linear, indica o volume de mudança da


variável dependente em função da mudança na variável independente.

Approx. Prob: equivalente ao Sig da regressão linear, indica o nível de significância

estatística da relação entre as variáveis.


314

ANEXOS
315

LISTA DE ANEXOS

A AVALIAÇÃO MENSAL SOBRE GOVERNO E GOVERNANTES NO BRASIL ....... 317


B AVALIAÇÃO ANUAL DO PRESIDENTE, DE GOVERNANTES E DO PAÍS .......... 324
C VOTO PERSONALISTA, PREFERÊNCIA POR PARTIDO E CORRUPÇÃO......... 328

D O BRASILEIRO E A IDEOLOGIA POLÍTICA ......................................................... 329


E PREFERÊNCIA POR DEMOCRACIA E CONFIANÇA NAS INSTITUIÇÕES
ESTATAIS ............................................................................................................. 330

F PREFERÊNCIA POR SISTEMA DE GOVERNO ................................................... 331


G OPINIÕES SOBRE OBRIGATORIEDADE DO VOTO E INTERESSE EM
ELEIÇÕES............................................................................................................. 332

H OPINIÕES SOBRE PENA DE MORTE.................................................................. 333


I OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA ............................................................ 334
J DESEMPREGO E VIOLÊNCIA COMO MAIOR PROBLEMA DO PAÍS ................. 336

K CORRUPÇÃO COMO MAIOR PROBLEMA DO PAÍS ........................................... 337


L REFERENDO 2005 ............................................................................................... 338
M TEMAS PÚBLICOS SOBRE MAIOR PROBLEMA DO PAÍS (AGENDAMENTO) ...... 340

N COMPARAÇÃO DA OPINIÃO ENTRE TEMAS CORRELATOS............................ 343


O OPINIÃO DO CARIOCA SOBRE A MUDANÇA DA CAPITAL ............................... 344
P OPINIÃO DO CARIOCA SOBRE A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIVÓRCIO...... 345

Q VOTO PERSONALISTA E PREFERÊNCIA POR PARTIDO POLÍTICO NO


RIO DE JANEIRO.................................................................................................. 346
R AVALIAÇÃO DO GOVERNO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO ....... 347

S OPINIÃO CONTRÁRIA À REFORMA AGRÁRIA NO RIO DE JANEIRO E


SÃO PAULO.......................................................................................................... 348
T OPINIÃO DO CARIOCA SOBRE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NO PAÍS ........ 349

U O CARIOCA E A POLÍTICA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS.......................... 350


V COMPARAÇÃO ENTRE AVALIAÇÃO POSITIVA DO GOVERNO FEDERAL
PELO CARIOCA E PELO BRASILEIRO ................................................................ 351
316

W COMPARAÇÃO ENTRE OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA NO RIO


DE JANEIRO E BRASIL ........................................................................................ 353
X COMPARAÇÃO ENTRE PREFERÊNCIA POR PARTIDO POLÍTICO ENTRE

O CARIOCA E O BRASILEIRO ............................................................................. 354


Y COMPARAÇÃO ENTRE
VOTO PERSONALISTA NO RIO DE JANEIRO E BRASIL............................................ 355
317

ANEXO A
AVALIAÇÃO MENSAL SOBRE GOVERNO E GOVERNANTES NO BRASIL

continua

INSTITUTO RENDA RENDA AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO APROVAÇÃO AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO


ID ANO MES ÚLTIMOS PRÓXIMOS POSITIVA NEGATIVA DESEMPENHO POSTIVIA POSTIVIA POSITIVA
MESES MESES PRESIDENTE PRESIDENTE GOVERNO GOVERNADOR PREFEITO PAÍS
1 1987 fevereir Ibope 33 20 54
2 1987 junho Ibope 21 32 46
4 1987 novembro Datafolha 11 59
5 1988 dezembro Datafolha 08 66
6 1989 setembro Datafolha 05 70
7 1991 dezembro Datafolha 24 35
9 1992 dezembro Datafolha 38 12
10 1993 dezembro Datafolha 19 35
11 1994 dezembro Datafolha 42 08
12 1995 março Ibope 41 17
13 1995 junho Ibope 41 17 44 68
14 1995 dezembro Ibope 52 17 49
15 1995 dezembro Datafolha 43 16
16 1996 fevereir Ibope 42 17 67 81
17 1996 fevereir Cesop 42 17 60
18 1996 maio Ibope 84
19 1996 maio Ibope 37 25 61
20 1996 maio Cesop 37 25 54
21 1996 agosto Ibope 39 19 59 77
22 1996 agosto Cesop 56
23 1996 setembro Ibope 68 70
24 1996 novembro Ibope 47 16 71
25 1996 novembro Cesop 47 16 66
26 1996 dezembro Datafolha 48 12
27 1997 outubro Ibope 50 08 66 76
28 1997 outubro Cesop 44 18 60
29 1997 dezembro Ibope 40 18 64
30 1997 dezembro Cesop 40 18 57
31 1997 dezembro Datafolha 38 21 70
32 1998 janeiro Ibope 42 16 64 80
33 1998 janeiro Cesop 42 16 58
34 1998 março Ibope 39 21 61 75
35 1998 março Cesop 38 22 55 38
36 1998 maio Cesop 13 38 22 38
37 1998 junho CNT/Sensus 06 05
38 1998 junho Ibope 33 24 56
39 1998 junho Cesop 36 15 50
40 1998 julho Ibope 36 19 61 76
41 1998 agosto Ibope 12 40 36 19 63
42 1998 agosto Cesop 36 18 56
43 1998 setembro Ibope 39 17 65 69
44 1998 setembro Cesop 39 17 58
45 1998 novembro Cesop 11 35 58 77
46 1998 dezembro CNT/Sensus 33 23
47 1998 dezembro Datafolha 36 26 54
48 1999 janeiro CNT/Sensus 28 34 40
49 1999 fevereir CNT/Sensus 05 25 19 48 29 67
50 1999 março CNT/Sensus 16 44
318

continua

INSTITUTO RENDA RENDA AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO APROVAÇÃO AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO


ID ANO MES ÚLTIMOS PRÓXIMOS POSITIVA NEGATIVA DESEMPENHO POSTIVIA POSTIVIA POSITIVA
MESES MESES PRESIDENTE PRESIDENTE GOVERNO GOVERNADOR PREFEITO PAÍS
51 1999 março CNT/Sensus 39 42
52 1999 abril CNT/Sensus 17 47 37
53 1999 maio CNT/Sensus 08 30 15 52 30
54 1999 maio Ibope 18 46
55 1999 junho Ibope 16 53 28
56 1999 julho CNT/Sensus 12 54
57 1999 julho Cesop 16 53 26 44
58 1999 agosto CNT/Sensus 12 60 34
59 1999 setembro CNT/Sensus 08 66 29 70
60 1999 setembro Ibope 07 19 17 53 28
61 1999 outubro CNT/Sensus 08 64 41
62 1999 novembro CNT/Sensus 11 60 33 74
63 1999 novembro Ibope 17 50 29
64 1999 novembro Cesop 17 50 26
65 1999 dezembro CNT/Sensus 09 32 12 61 33 34
66 1999 dezembro Datafolha 16 47
67 2000 janeiro CNT/Sensus 16 43 53
68 2000 fevereir CNT/Sensus 16 50 34 35
69 2000 março CNT/Sensus 08 38 16 52 39 35
70 2000 abril CNT/Sensus 14 52 34 36 48
71 2000 maio CNT/Sensus 15 54 34 35
72 2000 junho CNT/Sensus 11 31 13 60 32 37
73 2000 julho CNT/Sensus 13 33 20 45 38 41 72
74 2000 agosto Cesop 32 75
75 2000 setembro CNT/Sensus 24 39 46 47
76 2000 outubro CNT/Sensus 13 41 20 37 43 44 74
77 2000 novembro CNT/Sensus 13 47 24 40 45 43 76
78 2000 dezembro CNT/Sensus 24 40 45 43 78
79 2000 dezembro Datafolha 14 52 24 36 79
80 2001 janeiro CNT/Sensus 15 54 26 32 41 60 80
81 2001 fevereir CNT/Sensus 13 51 27 31 48 60 77
82 2001 março CNT/Sensus 12 48 34 28 50 54 57 77
83 2001 abril CNT/Sensus 11 47 31 29 49 52 74
84 2001 maio CNT/Sensus 13 35 23 39 42 49 76
85 2001 junho CNT/Sensus 16 37 18 46 44 49 76
86 2001 julho CNT/Sensus 13 34 20 45 43 47 73
87 2001 agosto CNT/Sensus 11 33 22 41 42 48 80
88 2001 setembro CNT/Sensus 14 33 22 41 45 49 78
89 2001 outubro CNT/Sensus 13 35 23 37 45 48 77
90 2001 dezembro CNT/Sensus 12 36 24 37 47 46 78
91 2001 dezembro Datafolha 24 35 74
92 2002 janeiro CNT/Sensus 13 40 28 32 44 46 75
93 2002 fevereir CNT/Sensus 12 36 29 30 45 48 73
94 2002 março CNT/Sensus 12 43 29 30 43 44 45 72
95 2002 abril CNT/Sensus 10 35 27 34 41 44 47 76
96 2002 maio CNT/Sensus 16 37 30 31 42 47 76
97 2002 junho CNT/Sensus 19 37 31 27 43 45 64
98 2002 julho CNT/Sensus 19 37 27 28 40 45 72
99 2002 julho Cesop 23 31 39 73
100 2002 agosto CNT/Sensus 17 34 28 30 00 43 47 63
101 2002 agosto Ibope 15 36 23 33 38 73
102 2002 setembro CNT/Sensus 13 38 26 35 42 47 68
103 2002 setembro Ibope 24 36 41 73
104 2002 outubro CNT/Sensus 13 38 25 35 39 45 45 73
105 2002 outubro Ibope 11 44 23 36 33
319

conclusão

INSTITUTO RENDA RENDA AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO APROVAÇÃO AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO


ID ANO MES ÚLTIMOS PRÓXIMOS POSITIVA NEGATIVA DESEMPENHO POSTIVIA POSTIVIA POSITIVA
MESES MESES PRESIDENTE PRESIDENTE GOVERNO GOVERNADOR PREFEITO PAÍS
106 2002 novembro Ibope 11 44 38 65
107 2002 dezembro Datafolha 27 37 73
108 2003 janeiro CNT/Sensus 11 60 74 03 93 81
109 2003 março CNT/Sensus 10 48 53 09 87 79
110 2003 abril CNT/Sensus 12 49 52 10 84 79
111 2003 maio CNT/Sensus 16 44 55 08 86 47 42 75
112 2003 julho CNT/Sensus 16 42 49 11 84 49 39 78
113 2003 agosto CNT/Sensus 15 43 50 10 83 46 38 74
114 2003 outubro CNT/Sensus 13 44 43 13 77 46 40 77
115 2003 dezembro CNT/Sensus 13 47 43 13 77 49 40 80
116 2003 julho CNI/Ibope 35 47 12 80
117 2003 setembro CNI/Ibope 29 44 14 74
118 2003 dezembro CNI/Ibope 30 42 14 73
119 2003 dezembro Datafolha 43 15
120 2004 fevereir CNT/Sensus 12 45 42 16 73 50 38 81
121 2004 março CNT/Sensus 10 42 36 20 66 44 39 77
122 2004 maio CNT/Sensus 11 38 35 20 65 47 43 81
123 2004 junho CNT/Sensus 15 39 30 25 59 48 39 78
124 2004 agosto CNT/Sensus 16 41 40 18 64 46 42 80
125 2004 setembro CNT/Sensus 16 48 43 17 66 46 43 80
126 2004 dezembro CNT/Sensus 14 51 46 15 71 48 44 82
127 2004 março CNI/Ibope 25 35 23 58
128 2004 junho CNI/Ibope 24 30 27 55
129 2004 setembro CNI/Ibope 26 39 20 60
130 2004 novembro CNI/Ibope 26 42 16 67
131 2004 dezembro Datafolha 46 13
132 2005 fevereir CNT/Sensus 13 51 44 14 71 48 50 82
133 2005 março CNI/Ibope 28 40 18 64
134 2005 abril CNT/Sensus 12 46 43 16 68 46 45 79
135 2005 maio CNT/Sensus 13 46 41 19 57 46 44 82
136 2005 junho CNI/Ibope 36 22 59
137 2005 junho Datafolha 23 36 18
138 2005 julho CNT/Sensus 18 40 41 21 66 47 45 78

Variável: Avaliação Positiva Presidente


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,81160 ,04962 16,356654 ,00000000
ANO 1,07809 ,66305 1,625969 ,10645474
CONSTANT -2124,13036 1325,57801 -1,602418 ,11156719

Variável:Avaliação Negativa Presidente


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,86290 ,04317 19,990521 ,00000000
ANO -1,48167 ,90139 -1,643767 ,10271735
CONSTANT 2990,99231 1802,00033 1,659818 ,09943797

Variável: Aprovação do Desempenho


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,82650 ,05394 15,322207 ,00000000
ANO 1,80854 1,77047 1,021500 ,31063822
CONSTANT -3564,33760 3541,78348 -1,006368 ,31780630
320

Variável: Avaliação Positiva de Governadores


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,79804 ,06782 11,766204 ,00000000
ANO ,70278 ,49038 1,433147 ,15780105
CONSTANT -1363,36719 981,15853 -1,389548 ,17058729

Variável: Avaliação Positiva de Prefeitos


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,93346 ,02995 31,164166 ,00000000
ANO 3,22185 1,20459 2,674643 ,01019777
CONSTANT -6408,85649 2411,29383 -2,657850 ,01064998

Variável: Avaliação Positiva de Prefeitos


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,93346 ,02995 31,164166 ,00000000
ANO 3,22185 1,20459 2,674643 ,01019777
CONSTANT -6408,85649 2411,29383 -2,657850 ,01064998

Variável: Avaliação Positiva de Prefeitos


Regressora: ELEICAO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,938214 ,0307537 30,507359 ,00000000
ELEICAO 1,347552 3,3378022 ,403724 ,68820848
CONSTANT 40,229605 4,0091462 10,034457 ,00000000

Variável:Avaliação Negativa Presidente


Regressora: ELEICAO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,855851 ,0429895 19,908386 ,00000000
ELEICAO 2,226970 2,9703801 ,749725 ,45481763
CONSTANT 28,471104 4,6278676 6,152100 ,00000000

Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: ELEICAO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,833002 ,0531266 15,679566 ,00000000
ELEICAO -13,761560 7,7986496 -1,764608 ,08212027
CONSTANT 57,302525 5,7695998 9,931802 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do País


Regressora: ELEICAO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,761898 ,0658679 11,567060 ,00000000
ELEICAO ,047874 3,7365169 ,012812 ,98981343
CONSTANT 70,292441 2,8566055 24,606983 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: NOME DO PRESIDENTE
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,7933289 ,0517126 15,341111 ,00000000
PRESIDEN 8,2882771 2,9135000 2,844784 ,00518827
CONSTANT 4,8413219 9,6879236 ,499728 ,61813851
321

Variável:Avaliação Negativa Presidente


Regressora: NOME DO PRESIDENTE
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,853081 ,043430 19,642693 ,00000000
PRESIDEN -10,683141 3,746158 -2,851759 ,00508263
CONSTANT 62,736996 12,613558 4,973775 ,00000210

Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: NOME DO PRESIDENTE
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,807973 ,056933 14,191565 ,00000000
PRESIDEN 10,725549 9,658574 1,110469 ,27070818
CONSTANT 16,833612 33,481501 ,502774 ,61674803

Variável:Avaliação Positiva do País


Regressora: NOME DO PRESIDENTE
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,641721 ,0871440 7,3639153 ,00000000
PRESIDEN 7,982375 2,5962127 3,0746229 ,00299064
CONSTANT 44,513075 8,7183595 5,1056710 ,00000265

Variável:Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: LULA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,780914 ,0525025 14,873833 ,00000000
LULA 7,955938 4,7415630 1,677915 ,09584256
CONSTANT 28,372611 3,2205668 8,809819 ,00000000

Variável:Avaliação Negativa Presidente


Regressora: LULA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,832441 ,0460214 18,088108 ,00000000
LULA -7,919874 6,0420882 -1,310784 ,19231475
CONSTANT 31,877775 4,4901785 7,099445 ,00000000

Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: LULA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,807973 ,0569334 14,191565 ,00000000
LULA 10,725549 9,6585736 1,110469 ,27070818
CONSTANT 49,010261 6,3783765 7,683814 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do País


Regressora: LULA
B SEB T-RATIO APPROX.PROB.
AR1 ,691550 ,0802281 8,619800 ,00000000
LULA 7,895819 4,0113354 1,968377 ,05292991
CONSTANT 67,643995 2,6154334 25,863399 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: Dois mandatos de FHC
AR1 ,830354 ,0464470 17,877450 ,00000000
FHC_TUDO 3,583255 4,4443252 ,806254 ,42161546
CONSTANT 29,298580 4,3061660 6,803867 ,00000000
322

Variável:Avaliação Negativa Presidente


Regressora: Dois mandatos de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,875725 ,0394734 22,185208 ,00000000
FHC_TUDO -6,354787 5,2649710 -1,206994 ,22969563
CONSTANT 32,230266 5,9532499 5,413894 ,00000030

Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: Dois mandatos de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,807973 ,0569334 14,191565 ,00000000
FHC_TUDO -10,725549 9,6585736 -1,110469 ,27070818
CONSTANT 59,735810 7,3298566 8,149656 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do País


Regressora: Dois mandatos de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,738767 ,0720543 10,252917 ,00000000
FHC_TUDO -3,564289 4,3832997 -,813152 ,41884943
CONSTANT 72,452528 3,5715884 20,285800 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: Primeiro mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,783314 ,0540611 14,489417 ,00000000
FHC1 6,538259 4,3729072 1,495174 ,13736932
CONSTANT 29,620617 3,0421644 9,736692 ,00000000

Variável:Avaliação Negativa Presidente


Regressora: Primeiro mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,827091 ,0488929 16,916399 ,00000000
FHC1 -4,569843 5,3176933 -,859366 ,39177087
CONSTANT 30,170823 4,2119315 7,163180 ,00000000

Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: Primeiro mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,817277 ,055429 14,744544 ,00000000
FHC1 12,435622 10,387667 1,197153 ,23540389
CONSTANT 49,911637 5,905631 8,451533 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do País


Regressora: Primeiro mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,759183 ,0661375 11,478855 ,00000000
FHC1 ,716381 5,4256595 ,132036 ,89532946
CONSTANT 70,169665 3,0603548 22,928605 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: Segundo Mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,709378 ,0589720 12,029062 ,0000000
FHC2 -20,917426 3,1155014 -6,713984 ,0000000
CONSTANT 40,067092 2,3017586 17,407165 ,0000000
323

Variável:Avaliação Negativa Presidente


Regressora: Segundo Mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,704727 ,0611008 11,533842 ,00000000
FHC2 22,069343 3,6521114 6,042900 ,00000002
CONSTANT 19,941239 2,6881658 7,418158 ,00000000

Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: Segundo Mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,501968 ,1014042 4,950174 ,00000516
FHC2 -32,442109 3,7145200 -8,733863 ,00000000
CONSTANT 66,465621 2,1871015 30,389819 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do País


Regressora: Segundo Mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,717365 ,0769385 9,323876 ,00000000
FHC2 -5,399217 3,9629837 -1,362412 ,17737419
CONSTANT 72,870306 2,9228139 24,931558 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: Primeiro mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,823131 ,0632706 13,009691 ,00000000
FHC1 7,416383 3,6142973 2,051957 ,04381106
CONSTANT 25,806529 3,5811702 7,206172 ,00000000

Variável:Avaliação Negativa Presidente


Regressora: Primeiro mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,879165 ,0518521 16,955247 ,00000000
FHC1 -3,238323 5,0219577 -,644833 ,52108485
CONSTANT 32,697236 6,4266929 5,087723 ,00000278

Variável:Aprovação do Desempenho
Regressora: Primeiro mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,065273 ,2224497 ,293429 ,77114988
FHC1 29,098931 2,9507957 9,861385 ,00000000
CONSTANT 32,349729 2,5511263 12,680568 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do País


Regressora: Primeiro mandato de FHC
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,558520 ,1410555 3,959575 ,00035088
FHC1 5,572870 5,1860236 1,074594 ,28990919
CONSTANT 66,491573 3,4481051 19,283511 ,00000000

Variável:Avaliação Positiva do País


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,67034 ,08271 8,1049089 ,00000000
ANO 1,49826 ,49848 3,0056288 ,00366141
CONSTANT -2925,56640 996,86264 -2,9347738 ,00449363
ANEXO B
AVALIAÇÃO ANUAL DO PRESIDENTE, DE GOVERNANTES E DO PAÍS

ID INSTITUTO INSTITUTO OPINIÃO


AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO % POP. OPINIÃO
CORRUPÇÃ OPINIÃO OPINIÃO INFLAÇÃO TAXA DE
SATISFAÇÃ POSITIVA NEGATIVA SALÁRIO ABAIXO DESEMPRE
ANO MÊS O TEM INFLAÇÃO INFLAÇÃO MENSAL DESEMPRE
O COM PAÍS PRESIDENT PRESIDENT MÍNIMO (R$) LINHA GO VAI
AUMENTAD VAI SUBIR SUBIU (INPC) GO (SP)
E E POBREZA AUMENTAR
O

4 1987 novembro Cesop 37 Datafolha 11 59 211 22 15 09


5 1988 dezembro Datafolha 08 66 224 28 28 09
6 1989 setembro Datafolha 05 70 243 26 48 07
7 1991 dezembro Datafolha 24 35 155 26 10
9 1992 dezembro Datafolha 38 12 156 28 23 15
10 1993 dezembro Datafolha 19 35 190 29 36 14
11 1994 dezembro Datafolha 42 08 175 03 13
15 1995 dezembro Cesop 68 Ibope 43 16 205 22 59 44 44 54 02 14
25 1996 dezembro Cesop 70 Cesop 48 12 207 23 64 00 15
31 1997 dezembro Ibope 70 Datafolha 38 21 213 24 81 51 74 00 17
36 1998 dezembro Ibope 77 Cesop 36 26 225 22 74 50 64 00 18
64 1999 dezembro Ibope 74 Cesop 16 47 218 24 85 62 79 01 19
79 2000 dezembro CNT/Sensus 78 Datafolha 24 36 229 85 67 69 00 16
91 2001 dezembro CNT/Sensus 77 Datafolha 24 35 250 25 70 01 18
107 2002 dezembro CNT/Sensus 73 Datafolha 27 37 247 20 03 19
119 2003 dezembro CNT/Sensus 80 Datafolha 43 15 263 28 42 75 24 00 20
131 2004 dezembro CNT/Sensus 82 Datafolha 46 13 269 27 55 00 17
138 2005 julho CNT/Sensus 78 CNT/Sensus 41 21 260 42 54 69 55 01 18
325

Variável: Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: Salário Mínimo
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,54856156 ,20052691 2,7356007 ,01466149
SALMINIM ,12096488 ,02715865 4,4540087 ,00039985

Variável: Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: POBREZA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,52550047 ,25774909 2,0388063 ,06878454
POBREZA ,95661870 ,27680083 3,4559820 ,00616409

Variável: Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: Corrupção está crescendo
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,99423734 ,00960604 103,50127 ,00000000
CORRUPAU -,42649700 ,18403962 -2,31742 ,04911690

Variável: Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: Taxa anual de Inflação
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,98098036 ,04175457 23,493963 ,00000000
INFLACME -,70286157 ,18238761 -3,853669 ,00140442

Variável: Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: Taxa Anual de Desemprego
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,4615697 ,21950433 2,1027817 ,05166530
TXDESEMP 2,0126278 ,28256427 7,1227259 ,00000242

Variável: Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: Nome do Presidente
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,9608403 ,0615282 15,616247 ,00000000
PRESIDEN -2,5882612 2,3206788 -1,115304 ,28119235
326

Variável: Avaliação Positiva do Presidente


Regressora: Anos de Governo
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,92914706 ,0884850 10,500615 ,00000001
ANOSGOVE ,12323054 1,8120898 ,068005 ,94662453

Variável: Avaliação Negativa do Presidente


Regressora: ANOSGOVE
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,056426 ,2544338 ,2217699 ,82729879
ANOSGOVE 11,610841 1,6163813 7,1832315 ,00000218

Variável: Avaliação Negativa do Presidente


Regressora: Salário Mínimo
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,75214454 ,15132513 4,9703876 ,00013893
SALMINIM ,16707495 ,04799388 3,4811720 ,00308376

Variável: Avaliação Negativa do Presidente


Regressora: POBREZA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,5744465 ,24345095 2,3595986 ,03998062
POBREZA 1,5442522 ,38006007 4,0631793 ,00227492

Variável: Avaliação Negativa do Presidente


Regressora: Corrupção está crescendo
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,52046079 ,29346702 1,7734899 ,11407758
CORRUPAU ,39500005 ,06780215 5,8257750 ,00039345

Variável: Avaliação Negativa do Presidente


Regressora: Taxa anual de Inflação
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,92963305 ,07255787 12,812297 ,00000000
INFLACME ,99767803 ,24430448 4,083748 ,00086556
327

Variável: Avaliação Negativa do Presidente


Regressora: Taxa Anual de Desemprego
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,89824436 ,0974243 9,2199168 ,00000008
TXDESEMP -,01166205 1,4581256 -,0079980 ,99371748

Variável: Avaliação Negativa do Presidente


Regressora: Nome do Presidente
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,6497731 ,1813011 3,5839445 ,00248199
PRESIDEN 8,4218001 2,0889896 4,0315185 ,00096588
328

ANEXO C
VOTO PERSONALISTA, PREFERÊNCIA POR PARTIDO E CORRUPÇÃO

ID INSTITUTO INSTITUTO INSTITUTO INSTITUTO CORRU INSTITUTO


VOTA TEM A FAVOR CORRUPÇÃ
PÇÃO
EM PREFERÊ DO VOTO O É MAIOR
ANO TEM
CANDID NCIA POR OBRIGATÓ PROBLEMA
AUMEN
ATO PARTIDO RIO DO PAÍS
TADO

139 1972 ISR/Iuperj 71


140 1982 Idesp 50
141 1985 Idesp 76
142 1987 Cesop 47 Sensus 06
143 1988 Idesp 60 Datafolha 44
144 1989 Datafolha 38 Cesop 46
145 1990 Cesop 46
146 1991 Cesop 49 Datafolha 30
147 1992 Cesop 58
148 1993 Datafolha 57 Datafolha 51
149 1994 Datafolha 58
150 1995 Cesop 53 Cesop 22 Latinobarómetro 59 Latinobarómetro 04
151 1996 Cesop 34 Latinobarómetro 64 Datafolha 05
152 1997 Cesop 49 Latinobarómetro 81 Datafolha 03
153 1998 CNT/Sensus 88 Cesop 41 Cesop 48 Latinobarómetro 73 Cesop 03
154 1999 CNT/Sensus 82 Datafolha 02
155 2000 Ibope 62 CNT/Sensus 72 Datafolha 03
156 2001 CNT/Sensus 46 CNT/Sensus 42 CNT/Sensus 67 Datafolha 03
157 2002 Ibope 55 CNT/Sensus 62 CNT/Sensus Datafolha 03
158 2003 Ibope 44 CNT/Sensus 28
159 2004 CNT/Sensus 60 Latinobarómetro 37 CNT/Sensus 27
160 2005 CNT/Sensus 42 CNT/Sensus 33

Variável: Vota em candidato


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,91254 ,10067 -9,0647821 ,00082089
ANO -,64317 ,62054 -1,0364687 ,35852808
CONSTANT 1333,68778 1230,87239 1,0835305 ,33951893

Variável: Vota em candidato (tendência)


Regressora: Tem preferência por partido (tendência)
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,029909 ,230127 -,1299690 ,89795704
PREFPA_1 -,060323 ,349380 -,1726578 ,86474635
CONSTANT 67,922658 17,654684 3,8472883 ,00108597

Variável: Tem preferência por partido


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,22265 ,34370 ,64780798 ,52930886
ANO -,23168 ,42644 -,54329766 ,59687297
CONSTANT 511,96586 851,01363 ,60159537 ,55863797
329

ANEXO D
O BRASILEIRO E A IDEOLOGIA POLÍTICA

ID AUTO-LOCALIZAÇÃO AUTO-LOCALIZAÇÃO AUTO-LOCALIZAÇÃO


ANO COMO SENDO DE COMO SENDO DE COMO SENDO DE
ESQUERDA CENTRO DIREITA
161 1989 40 21 39
162 1990 17 50 33
163 1993 23 42 35
164 1997 17 47 36
165 2000 23 16 60
166 2002 24 32 45

Variável: ESQUERDA
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,71535 ,32203 -2,2213860 ,11289742
ANO -,32266 ,48862 -,6603490 ,55620590
CONSTANT 666,43292 974,84971 ,6836263 ,54327914

Variável: CENTRO
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,55160 ,41573 -1,3268407 ,27651359
ANO -1,09286 ,96319 -1,1346264 ,33899012
CONSTANT 2216,10910 1921,69339 1,1532064 ,33236825

Variável: DIREITA
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,59680 ,45641 -1,3075960 ,28219240
ANO 1,47275 ,50487 2,9171083 ,06164034
CONSTANT -2896,93179 1007,27163 -2,8760185 ,06373594

Variável: DIREITA
Regressora: ESQUERDA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,159928 ,521560 ,3066340 ,77917253
ESQUERDA ,222023 ,655637 ,3386367 ,75719950
CONSTANT 36,067127 17,103931 2,1087039 ,12552161

Variável: CENTRO
Regressora: ESQUERDA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,159928 ,521560 ,3066340 ,77917253
ESQUERDA -1,222023 ,655637 -1,8638701 ,15921769
CONSTANT 63,932873 17,103931 3,7379052 ,03339263

Variável: CENTRO
Regressora: DIREITA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,723851 ,320675 -2,2572724 ,10920092
DIREITA -,994856 ,301768 -3,2967561 ,04584486
CONSTANT 77,103875 12,687735 6,0770403 ,00894540
330

ANEXO E
PREFERÊNCIA POR DEMOCRACIA E CONFIANÇA

NAS INSTITUIÇÕES ESTATAIS

ID INSTITUTO CONFIA NA CONFIA NA INSTITUTO CONFIA NO CONFIA NO INSTITUTO PREFERE


ANO
JUSTIÇA POLÍCIA GOVERNO CONGRESSO DEMOCRACIA

167 1972 ISR/Iuperj 77 21


168 1988 Idesp 40
169 1989 Ibope 25 22 Latinobarómetro 44
170 1990 Ibope 43
171 1991 52
172 1995 Ibope 52 52 Ibope 57 34 Latinobarómetro 48
173 1996 Latinobarómetro 50
174 1997 Latinobarómetro 50
175 1998 CNT/Sensus 32 27 CNT/Sensus 24 20 Latinobarómetro 48
176 1999 CNT/Sensus 13 17 CNT/Sensus 11 10
177 2000 CNT/Sensus 22 25 CNT/Sensus 17 14 Latinobarómetro 39
178 2001 Latinobarómetro 30
179 2002 Latinobarómetro 37
180 2003 CNT/Sensus 11 06 CNT/Sensus 05 02 Latinobarómetro 35
181 2004 Latinobarómetro 41

Variável: Prefere democracia


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,58223 ,30017 1,9396780 ,10048675
ANO -,06564 ,29877 -,2197129 ,83337902
CONSTANT 171,22181 595,08351 ,2877274 ,78323515

Variável: Confia na Justiça


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,09028 ,75186 -,1200793 ,91539555
ANO -5,14148 1,81172 -2,8378923 ,10497657
CONSTANT 10303,83301 3621,64087 2,8450731 ,10452742

Variable: Confia no Governo


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,00694 ,43310 ,0160248 ,98783435
ANO -2,11709 ,59860 -3,5367651 ,01661966
CONSTANT 4252,28799 1193,15697 3,5638965 ,01614774

Variable: Confia no Congresso


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,55230 ,37322 1,4798216 ,19899215
ANO -,43486 ,69329 -,6272432 ,55802541
CONSTANT 886,98016 1380,95541 ,6422946 ,54896895
331

ANEXO F
PREFERÊNCIA POR SISTEMA DE GOVERNO

ID INSTITUTO PREFERE PREFERE


ANO
PRESIDENCIALISMO PARLAMENTARISMO

182 1962 Ibope 67


183 1988 Datafolha 51 49
184 1991 Ibope 65 37
185 1992 Ibope 63 39
186 1993 Datafolha 71 29
187 1999 Datafolha 69 31

Variável: Prefere Presidencialismo


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,38107 ,41564 -,91682729 ,42684259
ANO ,19198 ,29195 ,65756396 ,55776821
CONSTANT -317,82689 580,46796 -,54753563 ,62211602

Variable: Prefere Parlamentarismo


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,91154 ,30133 -3,0250510 ,09410662
ANO -1,89626 ,39594 -4,7892669 ,04093893
CONSTANT 3814,26200 788,86535 4,8351242 ,04021205

Variable: Prefere Parlamentarismo


Regressors: Prefere Presidencialismo
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,022124 ,6577217 - ,033637 ,97622160
PRESIDEN -,990218 ,0708098 -13,984188 ,00507469
CONSTANT 99,979334 4,5398953 22,022388 ,00205556
332

ANEXO G
OPINIÕES SOBRE OBRIGATORIEDADE DO VOTO E INTERESSE EM ELEIÇÕES

ID INSTITUTO A FAVOR VOTO INSTITUTO MUITO INTERESSE


ANO
OBRIGATÓRIO EM ELEIÇÕES

188 1988 Datafolha 44,05


189 1991 Datafolha 29,59
190 1993 Datafolha 51,38
191 1996 Cesop 34,29 Cesop 12,9
192 1998 Cesop 47,9 Cesop 13,6
193 1999 Cesop 23,6
194 2000 CNT/Sensus 22
195 2001 CNT/Sensus 41,82 CNT/Sensus 20,3
196 2002 CNT/Sensus 61,69 CNT/Sensus 17,2
197 2004 CNT/Sensus 16
198 2005 CNT/Sensus 42,08

Variável: Muito interesse em eleições


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,08415 ,46490 ,18099794 ,86347727
ANO ,39663 ,71495 ,55476651 ,60295515
CONSTANT -775,63156 1429,89732 -,54243864 ,61080923

Variável: A Favor do voto obrigatório


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,91735 ,14162 -6,4774271 ,00130715
ANO 1,02237 ,19770 5,1713886 ,00355076
CONSTANT -1997,20177 394,75822 -5,0593038 ,00390232

Variável: A Favor do voto obrigatório


Regressora: Ano Eleitoral
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,283584 ,4257825 ,6660301 ,53488362
ANOELEIT 13,306751 6,1910195 2,1493634 ,08431286
CONSTANT 35,839862 5,9639007 6,0094666 ,00183316

Variável: Muito interesse em eleições


Regressora: Ano eleitoral
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,220607 ,4361623 ,5057912 ,63960379
ANOELEIT -4,534254 2,8161619 -1,6100829 ,18266708
CONSTANT 21,017203 2,7123893 7,7485938 ,00149456
333

ANEXO H
OPINIÕES SOBRE PENA DE MORTE

ID INSTITUTO A FAVOR DA PENA DE CONTRA A PENA DE


ANO
MORTE MORTE

199 1995 Datafolha 56 44


200 1999 CNT/Sensus 47 53
201 2000 CNT/Sensus 48 52
202 2001 CNT/Sensus 48 52
203 2002 CNT/Sensus 56 44
204 2003 CNT/Sensus 48 52
205 2005 CNT/Sensus 48 52

Variável: A favor da Pena de Morte


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,25163 ,44395 -,56678370 ,60115262
ANO -,42195 ,50938 -,82836883 ,45402563
CONSTANT 894,61117 1019,14510 ,87780550 ,42961235

Variável: Contra a Pena de Morte


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,25163 ,44395 -,56678370 ,60115262
ANO ,42195 ,50938 ,82836883 ,45402563
CONSTANT -794,61117 1019,14510 -,77968404 ,47913282
334

ANEXO I
OPINIÕES SOBRE REFORMA AGRÁRIA

ID INSTITUTO A FAVOR DA CONTRA A PERCENTUAL DE


ANO REFORMA REFORMA POPULAÇÃO
AGRÁRIA AGRÁRIA URBANA

206 1960 45
207 1962 Ipom 48 34
208 1970 56
209 1972 ISR/IUPERJ 59 24
210 1980 68
211 1987 Cesop 72 07
212 1991 76
213 1996 78
214 1998 Cesop 63 20
215 2000 81
216 2002 CNT/Sensus 64 14
217 2003 CNT/Sensus 61 11
218 2004 CNT/Sensus 62 18

Variável: A favor da Reforma Agrária (1962 a 1987)


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,76539 ,56919 -1,3446979 ,31092874
ANO ,70926 ,12458 5,6932889 ,02949326
CONSTANT -1341,38230 245,93722 -5,4541655 ,03201046

Variável: Contra a Reforma Agrária (1962 a 1987)


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,86130 ,30177 -2,8541763 ,06488616
ANO -,71823 ,10710 -6,7064339 ,00676522
CONSTANT 1440,03758 211,14379 6,8201750 ,00644842

Variável: A favor da Reforma Agrária (1998 a 2004)


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,04841 ,49583 -,0976334 ,92691998
ANO ,13497 ,11525 1,1710896 ,30656510
CONSTANT -207,73746 230,41141 -,9015937 ,41825230

Variável: Contra a reforma agrária (1988 a 2004)


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,35278 ,63288 -,5574209 ,60695923
ANO -,55645 ,23746 -2,3433304 ,07908975
CONSTANT 1128,81221 474,75525 2,3776719 ,07618197
335

Variável: A favor da Reforma Agrária


Regressora: Percentual de População Urbana
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,377320 ,9554336 ,394920 ,73103914
PER_URBA ,195705 ,0378065 5,176481 ,03535199
CONSTANT 46,134613 2,7151698 16,991428 ,00344581

Variável: Contra a Reforma Agrária


Regressora: Percentual de População Urbana
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,607295 ,4768821 1,273471 ,29256512
PER_URBA -,289253 ,0426967 -6,774583 ,00657301
CONSTANT 40,374501 2,8907182 13,966945 ,00079471
336

ANEXO J
DESEMPREGO E VIOLÊNCIA COMO MAIOR PROBLEMA DO PAÍS

ID INSTITUTO DESEMPREGO INSTITUTO INSTITUTO VIOLÊNCIA


DESEMPREGO TAXA DE
MAIOR MAIOR
ANO VAI DESEMPREGO
PROBLEMA PROBLEMA
AUMENTAR NO PAÍS
DO PAÍS DO PAÍS

219 1987 Sensus 21 03 Sensus 36


220 1988 04
221 1989 04
222 1990 04
223 1991 06
224 1992 05
225 1993 06
226 1994 06
227 1995 Datafolha 65 05
228 1996 Cesop 56 06 Cesop 01
229 1997 Cesop 57 Datafolha 74 05 Cesop 01
230 1998 Datafolha 55 Datafolha 64 08 Datafolha 03
231 1999 Cesop 54 Datafolha 71 08 Cesop 00
232 2000 CNT/Sensus 47 Datafolha 69 08 CNT/Sensus 24
233 2001 CNT/Sensus 36 06 CNT/Sensus 18
234 2002 Ibope 38 08 Ibope 19
235 2003 Ibope 66 CNT/Sensus 24 Ibope 32
236 2004 CNT/Sensus 43 CNT/Sensus 36

Variável: Desemprego como Maior Problema do País


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,22970 ,40726 ,5640184 ,59034622
ANODESEM 1,39539 ,96671 1,4434358 ,19211592
CONSTANT -2742,10312 1931,63921 -1,4195731 ,19869496

Variável: Desemprego como Maior Problema do País


Regressora: Taxa de Desemprego anual
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,840967 ,199929 4,2063229 ,00843803
TXDESEMP 2,726719 2,114055 1,2898056 ,25355103
CONSTANT 21,662012 15,140970 1,4306886 ,21192419
337

ANEXO K
CORRUPÇÃO COMO MAIOR PROBLEMA DO PAÍS

ID INSTITUTO CORRUPÇÃO ID INSTITUTO


CORRUPÇÃO
COMO MAIOR
ANO ANO TEM
PROBLEMA
AUMENTADO
DO PAÍS
237 1987 Cesop 4,86 246 1995 Latinobarómetro 59
238 1995 Lationbarómetro 4,35 247 1996 Latinobarómetro 64
239 1996 Datafolha 5 248 1997 Latinobarómetro 81
240 1997 Datafolha 3,37 249 1998 Latinobarómetro 73
241 1998 Cesop 2,05 250 1998 CNT/Sensus 62,89
242 1999 Datafolha 2,33 251 1998 CNT/Sensus 45,36
243 2000 Datafolha 3,33 252 1998 CNT/Sensus 57,73
244 2001 Datafolha 2,5 253 1998 CNT/Sensus 74,23
245 2002 Datafolha 3,49 254 1999 CNT/Sensus 82,29
255 1999 CNT/Sensus 82,47
256 1999 CNT/Sensus 84,69
257 2000 CNT/Sensus 76,29
258 2000 CNT/Sensus 85,71
259 2000 CNT/Sensus 84,54
260 2001 CNT/Sensus 67,42
261 2001 CNT/Sensus 74,14
262 2001 CNT/Sensus 70,39
263 2003 CNT/Sensus 28,3
264 2004 CNT/Sensus 27,18
265 2005 CNT/Sensus 33,23

Variável: Corrupção é maior problema do País


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,23563 ,41441 ,5685902 ,59026522
ANO -,13806 ,08005 -1,7246282 ,13535605
CONSTANT 279,23133 159,86736 1,7466438 ,13129860

Variable: Corrupção tem aumentado no País


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,67374 ,16546 4,0720122 ,00071542
ANOCO -3,85731 2,11988 -1,8195868 ,08549551
CONSTANT 7776,16109 4239,35493 1,8342793 ,08319827
338

ANEXO L
REFERENDO 2005

ID INSTITUTO A FAVOR DA CONTRA A


DATA ANO RESTRIÇÃO ÀS RESTRIÇÃO ÀS
ARMAS ARMAS

266 09.07.03 CNT/Sensus 2003 66,46 33,54


267 20.09.03 CNT/Sensus 2003 68,29 31,71
268 15.10.03 CNT/Sensus 2003 76,31 23,69
269 24.03.04 CNT/Sensus 2004 76,91 24,12
270 15.02.05 CNT/Sensus 2005 49,64 50,47
271 11.10.05 Ibope 2005 47,87 52,13
272 18.10.05 Ibope 2005 44,57 55,43
273 20.10.05 Datafolha 2005 43,00 57,00
274 23.10.05 TSE (resultado oficial) 2005 36,06 63,94

Variável: SIM
Regressora: DATA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,14397938 ,43640144 ,3299242 ,75267174
DATA -,00000044 ,00000009 -4,8440291 ,00286901
CONSTANT 5906,23771586 1207,64696026 4,8906989 ,00273647

Variável: NÃO
Regressora: DATA
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,14773760 ,43782487 ,3374354 ,74728053
DATA ,00000044 ,00000009 4,9804284 ,00250066
CONSTANT -5774,47216875 1168,22059779 -4,9429638 ,00259620

Variável: NÃO
Regressora: SIM
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,076393 ,45281676 -,16871 ,87157203
SIM -,989878 ,00750359 -131,92055 ,00000000
CONSTANT 99,555264 ,43846953 227,05173 ,00000000

Variável: NÃO
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,45826 ,38967 1,1760161 ,28413190
ANO 13,56878 4,17442 3,2504604 ,01745626
CONSTANT -27150,00311 8366,31809 -3,2451555 ,01757281

Variável: SIM
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,43697 ,39157 1,1159442 ,30713436
ANO -13,56666 4,29298 -3,1601962 ,01956016
CONSTANT 27245,95319 8603,95000 3,1666796 ,01940015
339

Variável: SIM
Regressora: HGPR
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,326307 ,4040838 -,807524 ,45018378
HGPR -26,436674 4,9736617 -5,315334 ,00180319
CONSTANT 68,539442 3,2211075 21,278222 ,00000070

Variável: NÃO
Regressora: HGPR
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,309948 ,4084728 -,7587966 ,47671442
HGPR 26,134707 4,9890639 5,2383990 ,00194139
CONSTANT 31,736500 3,2339673 9,8134882 ,00006448

Variável: SIM
Regressora: Taxa de Crimes Violentos Letais Intencionais
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,81614 ,34423 -2,3709203 ,14117738
VAR000_1 90,61447 31,73524 2,8553265 ,10389078
CONSTANT -2356,86524 852,04015 -2,7661434 ,10961841

Variável: NÃO
Regressora: Taxa de Crimes Violentos Letais Intencionais
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,79238 ,45323 -1,7482753 ,22252532
VAR000_1 -80,99772 27,60943 -2,9336973 ,09920157
CONSTANT 2200,42481 741,26098 2,9684886 ,09721594
ANEXO M
TEMAS PÚBLICOS SOBRE MAIOR PROBLEMA DO PAÍS (AGENDAMENTO)

ID INSTITUTO REFORMA
DESEMPRE VIOLÊNCIA É SAÚDE É MISÉRIA É EDUCAÇÃO CORRUPÇÃ SALÁRIO É ECONOMIA HABITAÇÃO
AGRÁRIA É
ANO GO É MAIOR MAIOR MAIOR MAIOR É MAIOR O É MAIOR MAIOR É MAIOR É MAIOR
MAIOR
PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA PROBLEMA
PROBLEMA

275 1996 Datafolha 33 02 15 07 08 04 03 03 02 03


276 1997 Datafolha 39 05 14 08 07 03 05 03 01 04
277 1998 Datafolha 49 03 16 05 07 01 02 04 01 01
278 1999 Datafolha 51 06 12 05 04 02 03 02 01 00
279 2000 Datafolha 48 13 10 05 06 03 02 02 00 01
280 2001 Datafolha 37 10 12 06 07 02 03 03 00 00
281 2002 Datafolha 32 21 10 09 05 03 03 02 01 00

Variável: Desemprego como maior problema do País


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,58459 ,38764 1,5080963 ,20601989
ANO -,21192 2,27817 -,0930225 ,93035863
CONSTANT 462,39705 4554,07423 ,1015348 ,92401201

Variável: Violência como maior problema do País


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,62267 ,57251 -1,0875984 ,33791906
ANO 2,57367 ,43963 5,8541577 ,00424819
CONSTANT -5136,54840 878,82177 -5,8448125 ,00427303
Variável: Saúde como maior problema do País
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,27409 ,47129 -,5815696 ,59205520
ANO -,90544 ,25889 -3,4974506 ,02495372
CONSTANT 1822,69820 517,51143 3,5220443 ,02440499

Variável: Miséria como maior problema do País


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,27869 ,69978 ,39825175 ,71078649
ANO ,14120 ,42945 ,32879656 ,75880336
CONSTANT -275,67763 858,47189 -,32112599 ,76419345

Variável: Educação como maior problema do País


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,14724 ,48734 -,3021322 ,77760940
ANO -,34012 ,24114 -1,4104762 ,23121906
CONSTANT 686,17498 482,03417 1,4234986 ,22768636

Variável: Corrupção como maior problema do País


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,01829 ,50353 ,03632847 ,97276113
ANO -,10808 ,22172 -,48748302 ,65142701
CONSTANT 218,63401 443,21088 ,49329568 ,64765955

Variável: Salário como maior problema do País


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,53146 ,41126 -1,2922720 ,26586380
ANO -,19614 ,13960 -1,4049536 ,23273368
CONSTANT 395,07858 279,06882 1,4157031 ,22979461
Variável: Economia como maior problema do País
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,33631 ,46122 -,7291631 ,50630260
ANO -,18159 ,11698 -1,5522669 ,19555064
CONSTANT 365,72448 233,84752 1,5639443 ,19287503

Variável: Habitação como maior problema do País


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,45244 ,70046 -,6459250 ,55351637
ANO -,22984 ,08844 -2,5986863 ,06013122
CONSTANT 460,24365 176,80068 2,6031781 ,05984768

Variável: Reforma Agrária como maior problema do País


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,15727 ,51837 -,3033964 ,77671344
ANO -,62073 ,19301 -3,2159820 ,03240402
CONSTANT 1242,11233 385,83420 3,2192904 ,03230228
343

ANEXO N
COMPARAÇÃO DA OPINIÃO ENTRE TEMAS CORRELATOS

ID INSTITUTO VIOLÊNCIA ID INSTITUTO


MAIOR CONFIA NA CONFIA NA
ANO
PROBLEMA JUSTIÇA POLÍCIA
PAÍS
282 1995 Latinobarómetro 6,52 289 Ibope 52,25 51,8
283 1998 Datafolha 3,37 290 CNT/Sensus 32,32 27,27
284 1999 Datafolha 6,98 291 CNT/Sensus 16,67 19,72
285 2000 Datafolha 14,44 292 CNT/Sensus 19,23 23,08
286 2001 Datafolha 12,5 293 CNT/Sensus 30,14 21,92
287 2003 Ibope 31,71 294 CNT/Sensus 11,00 6,12
288 2004 CNT/Sensus 36,00
Variável: Violência como maior problema do País
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,08186 ,46718 -,1752280 ,86941296
ANO 3,72708 ,99262 3,7547810 ,01986453
CONSTANT -7438,39556 1985,25993 -3,7468119 ,02000235
Variável: Confia na Justiça
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,07119 ,55814 ,1275501 ,90657460
ANO -4,68918 1,70023 -2,7579728 ,07027141
CONSTANT 9402,25463 3399,31217 2,7659286 ,06980546

Variável: Confia na Polícia


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,15524 ,51090 ,3038648 ,78108733
ANO -5,37359 1,09798 -4,8940514 ,01632141
CONSTANT 10768,70447 2195,21599 4,9055330 ,01621727

Variável: Confia na Polícia


Regressora: Violência como maior problema do País
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,340369 ,5182321 -,6567885 ,55820383
VIOLMAIP -1,033349 ,5641378 -1,8317314 ,16438588
CONSTANT 37,000012 8,0604811 4,5902982 ,01942282

Variável: Confia na Justiça


Regressora: Violência como maior problema do País
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,188843 ,520687 ,3626804 ,74088966
VIOLMAIP -,909730 ,674596 -1,3485556 ,27025046
CONSTANT 39,150912 11,399978 3,4342972 ,04140790

Variável: Confia na Justiça


Regressora: Confia na Polícia
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,0819302 ,5880318 -,1393296 ,89801739
CONFPOLI ,9364652 ,1816796 5,1544868 ,01415759
CONSTANT 3,5123608 5,0929324 ,6896539 ,53997006
344

ANEXO O
OPINIÃO DO CARIOCA SOBRE A MUDANÇA DA CAPITAL

ID INSTITUTO A FAVOR DA MUDANÇA


ANO
DA CAPITAL

295 1951 Ibope (AEL)∗ 40,48


296 1952 Ibope (AEL) 41,54
297 1955 Ibope (AEL) 26,78
298 1956 Ibope (AEL) 59,72
299 1957 Ibope (AEL) 61,58
300 1958 Ibope (AEL) 73,97
301 1962 Ibope (AEL) 62,77

Variável: A Favor da mudança da capital


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,25938 ,52423 -,4947750 ,64670279
ANO 3,43428 1,44122 2,3828950 ,07575040
CONSTANT -6664,36619 2818,76850 -2,3642829 ,07730103


Fonte: Arquivos do Ibope no Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas).
345

ANEXO P
OPINIÃO DO CARIOCA SOBRE A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIVÓRCIO

ID ANO INSTITUTO A FAVOR DO DIVÓRCIO

302 1950 Ibope (AEL) 70,79


303 1951 Ibope (AEL) 63,02
304 1952 Ibope (AEL) 64,58
305 1957 Ibope (AEL) 58,59
306 1963 Ibope (AEL) 61,62
307 1966 Ibope (AEL) 66,00

Variável: A Favor do divórcio


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,19321 ,62954 -,30689942 ,77898908
ANO -,18469 ,30508 -,60539656 ,58764481
CONSTANT 425,19349 596,86521 ,71237773 ,52763711
346

ANEXO Q
VOTO PERSONALISTA E PREFERÊNCIA POR PARTIDO

POLÍTICO NO RIO DE JANEIRO

ID INSTITUTO TEM PREFERÊNCIA VOTO


ANO
POR PARTIDO PERSONALISTA

308 1949 Ibope (AEL) 71,00


309 1950 Ibope (AEL) 89,30 79,93
310 1951 Ibope (AEL) 69,00
311 1954 Ibope (AEL) 59,30
312 1955 Ibope (AEL) 70,00
313 1958 Ibope (AEL) 66,00
314 1959 Ibope (AEL) 71,00
315 1960 Ibope (AEL) 64,00
316 1962 Ibope (AEL) 67,00
317 1963 Ibope (AEL) 52,00
318 1964 Ibope (AEL) 59,00
319 1965 Ibope (AEL) 59,00
320 1966 Ibope (AEL) 82,80
321 1968 Ibope (AEL) 35,05 87,63

Variável: Voto personalista


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,000063 8,6308 -,00000729 ,99999536
ANO ,840729 1,1331 ,74198185 ,59361395
CONSTANT -1569,992570 2220,2975 -,70710911 ,60817246

Variável: Tem preferência por partido político


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,79691 ,23420 -3,4027148 ,00783954
ANO -1,56094 ,22809 -6,8435868 ,00007527
CONSTANT 3123,79252 446,70226 6,9930082 ,00006374

Variável: Tem preferência por partido político


Regressora: Voto personalista
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,69287 ,213361 -3,2474017 ,01003902
VOTOPE_1 -2,34075 ,576415 -4,0608708 ,00283824
CONSTANT 247,01905 44,468981 5,5548619 ,00035421
347

ANEXO R
AVALIAÇÃO DO GOVERNO FEDERAL NO RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO

ID INSTITUTO AVALIAÇÃ AVALIAÇÃ ID INSTITUTO


A FAVOR A FAVOR
O O
ELEIÇÃO ELEIÇÃO
POSITIVA POSITIVA
ANO ANO DIRETA DIRETA
GOVERNO GOVERNO
PRESIDEN PRESIDEN
FEDERAL FEDERAL
TE (RJ) TE (SP)
(RJ) (SP)

322 1950 Ibope (AEL) 32,86 336 1964 Ibope (AEL) 87,91 86,52
323 1951 Ibope (AEL) 24 337 1965 Ibope (AEL) 96,84 95,89
324 1952 Ibope (AEL) 23,98 338 1967 Ibope (AEL) 90,43 86,96
325 1954 Ibope (AEL) 19,1 339 1968 Ibope (AEL) 89,9
326 1955 Ibope (AEL) 18,68
327 1957 Ibope (AEL) 62,43
328 1958 Ibope (AEL) 35,53
329 1961 Ibope (AEL) 79,12
330 1962 Ibope (AEL) 81,01
331 1963 Ibope (AEL) 33,33 63,27
332 1964 Ibope (AEL) 49,45
333 1967 Ibope (AEL) 76,54 86,25
334 1968 Ibope (AEL) 48
335 1969 Ibope (AEL) 89,07

Variable: Avaliação positiva do Governo Federal


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,11472 ,33583 -,3416017 ,73972033
ANO 2,47553 ,85209 2,9052612 ,01569156
CONSTANT -4803,60234 1668,91043 -2,8782865 ,01643371

Variable: A Favor da eleição direta para presidente da república


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,80049 ,37541 -2,1322962 ,27917271
ANO -,62642 1,07820 -,5809869 ,66493303
CONSTANT 1323,48352 2119,73408 ,6243630 ,64467633

Variável: A Favor da eleição direta para presidente (RJ)


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,80049 ,37541 -2,1322962 ,27917271
ANO -,62642 1,07820 -,5809869 ,66493303
CONSTANT 1323,48352 2119,73408 ,6243630 ,64467633
348

ANEXO S
OPINIÃO CONTRÁRIA À REFORMA AGRÁRIA NO

RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO

ID INSTITUTO CONTRA REFORMA CONTRA REFORMA


ANO
AGRÁRIA (RJ) AGRÁRIA (SP)

340 1963 Ibope (AEL) 15,19 16,44


341 1964 Ibope (AEL) 15,19
342 1967 Ibope (AEL) 11,49
343 1968 Ibope (AEL) 14,44

Variável: Contra a realização da Reforma Agrária (RJ)


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,69582 1,43174 -,4859939 ,71200592
ANO -,38012 ,36102 -1,0529075 ,48359668
CONSTANT 760,63916 709,57658 1,0719620 ,47789822
349

ANEXO T
OPINIÃO DO CARIOCA SOBRE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NO PAÍS

ID INSTITUTO A FAVOR EXPLORAÇÃO


ANO PETRÓLEO PELA
PETROBRAS

344 1951 Ibope (AEL) 49,87


345 1952 Ibope (AEL) 51,36
346 1955 Ibope (AEL) 62,77
347 1956 Ibope (AEL) 65,00
348 1957 Ibope (AEL) 73,27

Variável:A favor da exploração de petróleo pela Petrobrás


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,77210 ,77720 -,993441 ,42518253
ANO 3,63810 ,27996 12,995143 ,00586950
CONSTANT -7049,50645 547,10661 -12,885069 ,00596931
350

ANEXO U
O CARIOCA E A POLÍTICA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ID INSTITUTO A FAVOR DA
ANO MANUTENÇÃO DE
RELAÇÕES COM URSS

349 1951 Ibope (AEL) 31,43


350 1954 Ibope (AEL) 40,48
351 1955 Ibope (AEL) 36,44
352 1958 Ibope (AEL) 40,58
353 1961 Ibope (AEL) 67,78
354 1962 Ibope (AEL) 53,00

Variável: A favor da manutenção de relações diplomáticas com a URSS


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,53876 ,51093 -1,0544648 ,36908874
ANO 2,75082 ,61810 4,4504519 ,02110865
CONSTANT -5337,70497 1209,54605 -4,4129820 ,02159230
351

ANEXO V
COMPARAÇÃO ENTRE AVALIAÇÃO POSITIVA DO

GOVERNO FEDERAL PELO CARIOCA E PELO BRASILEIRO

ID INSTITUTO AVALIAÇÃO
POSITIVA TAXA INFLAÇÃO
PERÍODO ANO
GOVERNO ANUAL
FEDERAL

322 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1950 32,86 3,72


323 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1951 24,00 11,27
324 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1952 23,98 27,16
325 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1954 19,10 22,57
326 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1955 18,68 18,44
327 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1957 62,43 13,74
328 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1958 35,53 22,60
329 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1961 79,12 43,51
330 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1962 81,01 61,73
331 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1963 33,33 80,53
332 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1964 49,45 85,60
333 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1967 76,54 25,33
334 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1968 48,00 25,22
4 Brasil Datafolha 1987 11,22 367,12
5 Brasil Datafolha 1988 8,16 891,67
6 Brasil Datafolha 1989 5,15 1636,61
7 Brasil Datafolha 1991 23,71 1639,08
9 Brasil Datafolha 1992 37,78 1129,45
10 Brasil Datafolha 1993 18,56 2490,99
11 Brasil Datafolha 1994 42,27 941,25
15 Brasil Datafolha 1995 42,75 23,17
25 Brasil Datafolha 1996 48,45 10,03
31 Brasil Datafolha 1997 38,14 4,83
36 Brasil Datafolha 1998 36,08 -1,80
64 Brasil Datafolha 1999 16,33 8,63
79 Brasil Datafolha 2000 24,49 4,38
91 Brasil Datafolha 2001 24,24 7,13
107 Brasil Datafolha 2002 26,53 9,90
119 Brasil Datafolha 2003 42,86 8,18
131 Brasil Datafolha 2004 45,92 6,56
138 Brasil CNT/Sensus 2005 41,38
Variável: Avaliação Positiva do Governo Federal
Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,41909 ,17093 2,4518289 ,02071016
ANOAVALI -,22023 ,26538 -,8298807 ,41362603
CONSTANT 472,25963 525,58090 ,8985479 ,37655585
Variável: Avaliação Positiva do Governo Federal
Regressora: PERÍODO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,388616 ,173153 2,2443529 ,03289684
LOCALAVA -16,918145 9,356335 -1,8082022 ,08132823
CONSTANT 62,795482 15,556919 4,0364987 ,00038100
352

Variável: Avaliação Positiva do Governo Federal (Rio de Janeiro) Regressora: INFLACAO


B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,168100 ,312085 ,5386350 ,60192214
INFLACAO ,179737 ,291576 ,6164312 ,55138389
CONSTANT 38,792509 12,496681 3,1042250 ,01116999

Variável: Avaliação Positiva do Governo Federal (Brasil)


Regressora: INFLACAO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,718062 ,1674085 4,2892798 ,00074892
INFLACAO -,011543 ,0043115 -2,6772432 ,01804256
CONSTANT 34,176463 7,7241117 4,4246464 ,00057681
353

ANEXO W
COMPARAÇÃO ENTRE OPINIÕES SOBRE REFORMA

AGRÁRIA NO RIO DE JANEIRO E BRASIL

ID INSTITUTO A FAVOR CONTRA


PERÍODO ANO REFORMA REFORMA
AGRÁRIA AGRÁRIA

340 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1963 83,54 15,19


341 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1967 11,49
342 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1968 85,56 14,44
207 Brasil ISR/Iuperj 1972 58,90 23,64
209 Brasil Ibope 1987 71,80 6,53
211 Brasil Cesop 1998 63,30 20,15
214 Brasil Sensus 2002 63,7 13,59
216 Brasil Ibope 2003 61,00 10,59
218 Brasil Sensus 2004 62,30 17,75

Variável: A Favor da Reforma Agrária


Regressora: Período
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,42357 ,3441607 -1,230729 ,27315875
LOCALREF -19,51298 3,5077149 -5,562874 ,00258278
CONSTANT 102,85052 6,5877660 15,612352 ,00001959

Variável: Contra a Reforma Agrária


Regressora: Período
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,592394 ,3106043 -1,9072289 ,10511100
LOCALREF ,599794 2,2995806 ,2608273 ,80294690
CONSTANT 13,661426 3,9941028 3,4203991 ,01413680

Variable: Contra a Reforma Agrária


Regressors: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,602766 ,31470 -1,9153455 ,10393473
ANOREFAG -,019246 ,06354 -,3028856 ,77220359
CONSTANT 52,872335 126,13737 ,4191647 ,68968818

Variável: A favor da Reforma Agrária


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,91312 ,10098 -9,0424772 ,00027643
ANOREFAG -,25924 ,06885 -3,7652230 ,01308702
CONSTANT 581,71938 137,10273 4,2429454 ,00814660

Variável: A favor da Reforma Agrária


Regressora: Contra Reforma Agrária
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,662725 ,287126 2,3081359 ,06906767
RJCOREAG -,849605 ,445862 -1,9055349 ,11504337
CONSTANT 84,404340 10,565400 7,9887504 ,00049617
354

ANEXO X
COMPARAÇÃO ENTRE PREFERÊNCIA POR PARTIDO

POLÍTICO ENTRE O CARIOCA E O BRASILEIRO

ID TEM PREFERÊNCIA
PERÍODO ANO
POR PARTIDO

308 Rio de Janeiro 1949 71,00


309 Rio de Janeiro 1950 89,30
310 Rio de Janeiro 1951 69,00
311 Rio de Janeiro 1955 70,00
312 Rio de Janeiro 1958 66,00
313 Rio de Janeiro 1959 71,00
314 Rio de Janeiro 1960 64,00
315 Rio de Janeiro 1962 67,00
316 Rio de Janeiro 1963 52,00
317 Rio de Janeiro 1964 59,00
318 Rio de Janeiro 1965 59,00
319 Rio de Janeiro 1968 35,05
142 Brasil 1987 46,52
144 Brasil 1989 46,38
145 Brasil 1990 46,38
146 Brasil 1991 48,80
147 Brasil 1992 58,30
148 Brasil 1993 57,37
149 Brasil 1994 58,31
150 Brasil 1995 53,35
152 Brasil 1997 48,80
153 Brasil 1998 41,00
155 Brasil 2000 61,90
156 Brasil 2001 45,90
157 Brasil 2002 54,64
158 Brasil 2003 44,00
159 Brasil 2004 37,00

Variável: Tem preferência por partido político


Regressors: PERÍODO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,305228 ,2155863 1,4158046 ,16968013
LOCALPAR -12,824336 5,1780471 -2,4766742 ,02069965
CONSTANT 76,186307 8,4833025 8,9807367 ,00000000

Variável: Tem preferência por partido político


Regressora: ANO
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 ,19827 ,20446 ,9697610 ,34183801
ANOPARTI -,43516 ,10929 -3,9816442 ,00055192
CONSTANT 917,57138 216,32321 4,2416686 ,00028564
355

ANEXO Y
COMPARAÇÃO ENTRE VOTO PERSONALISTA

NO RIO DE JANEIRO E BRASIL

ID INSTITUTO VOTO
PERÍODO ANO
PERSONALISTA

309 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1950 79,93


311 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1954 59,30
320 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1966 82,80
321 Rio de Janeiro Ibope (AEL) 1968 87,63
139 Brasil Michigan/Iuperj 1972 70,92
140 Brasil Idesp 1982 49,80
141 Brasil Idesp 1985 76,12
143 Brasil Idesp 1988 60,31
144 Brasil Datafolha 1989 38,32
153 Brasil Sensus 1998 87,64
159 Brasil Sensus 2004 59,57

Variável: Voto personalista


Regressora: Período
B SEB T-RATIO APPROX. PROB.
AR1 -,418091 ,315468 -1,3253046 ,22166773
LOCALPER -13,537089 6,928948 -1,9537004 ,08649618
CONSTANT 90,573929 11,824553 7,6598185 ,00005962

Variável: Voto personalista


Regressora: ANO
AR1 -,31966 ,33038 -,9675521 ,36160446
ANOPERSO -,25956 ,24441 -1,0620099 ,31923631
CONSTANT 581,71092 483,41814 1,2033287 ,26324705

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