CARACTERIZAÇÃO HIDROGEOLÓGICA DA OCORRÊNCIA DE Aquífero Termal No DF PDF
CARACTERIZAÇÃO HIDROGEOLÓGICA DA OCORRÊNCIA DE Aquífero Termal No DF PDF
CARACTERIZAÇÃO HIDROGEOLÓGICA DA OCORRÊNCIA DE Aquífero Termal No DF PDF
Introdução
Caracterização do meio físico local
Clima
Geologia
Filitos - Grupo Canastra
Formação Ribeirão do Torto - MNPpa
Formação Serra da Meia Noite - MNPpr3
Formação Ribeirão Contagem - MNPq3
Formação Córrego do Sansão - MNPpr4
Coberturas Regolíticas
Hidrogeologia
Descrição dos Aquíferos
Domínio Intergranular
Domínio Fraturado
Resultados e discussões
Caracterização dos Sistemas de Fraturas
Modelo Conceitual de Fluxo
Condicionantes do Artesianismo e do Termalismo
Datação das Águas
Método
Resultado
Considerações finais e conclusões
Referências
RESUMO - Esta pesquisa objetivou determinar as causas do aquecimento das águas termais recentemente descobertas no sul do
Distrito Federal. A temperatura da água é de 28,9ºC, obtida em poço artesiano jorrante com profundidade de 150 m e vazão de 250
m3/h, sendo classificada como água mineral hipotermal na fonte. A pesquisa consistiu da caracterização física da área, comparando
dados regionais já conhecidos com dados localmente obtidos. Na área em estudo ocorrem tipos litológicos atribuídos às formações
Ribeirão do Torto, Serra da Meia Noite, Ribeirão Contagem e Córrego do Sansão do Grupo Paranoá, filitos do Grupo Canastra, além
de coberturas representadas por latossolos e pequenas ocorrências de outros solos. A região está inserida na borda sul do Domo
Estrutural de Brasília com mergulho da envoltória das camadas para sul/sudeste. Na região ocorrem aquíferos fraturados associados
aos sistemas Paranoá e Canastra, sendo as águas aquecidas associadas ao Subsistema R3/Q3. A partir da relação destes dados com
conceitos de fluxo da água subterrânea em meios fraturados discutiu-se um modelo conceitual para explicar a elevação da
temperatura da água acima da média regional, sendo este o único caso conhecido de água termal no Distrito Federal. Neste modelo os
principais condicionantes para a ocorrência de água aquecida são: o fluxo regional da água subterrânea, gradiente geotérmico e
existência de fraturas abertas a profundidade mínima de 300 m.
Palavras-chave: Hidrotermalismo, aquífero fraturado, gestão de recursos hídricos.
ABSTRACT - The aim of this research is the determination of the causes of heating of thermal waters in the south of the Federal
District, Brazil. The temperature of the water is 28.9ºC, obtained in an artesian well with 150 m depth and 250 m3/h discharge,
classified as hypothermal. The research included the physical characterization of the area, comparing regional data with the local
environment. In the study area the rocks types are correlated to the Ribeirão do Torto, Serra da Meia Noite, Ribeirão Contagem and
Córrego do Sansão formations of the Paranoá Group, fillite of the Canastra Group, and soil cover represented by oxisol and small
occurrences of other soil types. The region is situated in the south border of the Brasilia Structural Dome where the axis of the main
fold and rock layers dips to southeast - south. In the region there are fractured aquifers associates to the Paranoá and Canastra
systems and the warm groundwater are associates to R3/Q3 Subsystem. By the integration of these data with concepts of groundwater
flow in fractured aquifers, a possible conceptual flow model to explain the higher temperature of the water (with comparison to the
regional), where this is the only known thermal water case in the Federal District. In this model, the main conditionings for the
thermal water occurrence are the regional water flow, geothermal gradient and the existence of open fractures and faults at least up to
300 m depth.
Keywords: hydrothermalism, fractured aquifer, water resources management.
INTRODUÇÃO
As águas subterrâneas podem apresentar geotérmico. No primeiro caso as águas são
temperaturas anômalas, superiores à média da aquecidas a partir do calor emanado por
temperatura da atmosfera em sua área de intrusões, câmaras magmáticas ou caldeiras
recarga. O aquecimento das águas subterrâneas vulcânicas. Há também a possibilidade de haver
pode ser alcançado por dois processos: contato entre águas meteóricas e estas
associação com magmatismo ou por grau estruturas em profundidade. No segundo caso, o
Figura 1. Localização da área de estudo. Área localizada no limite sul entre Goiás e Distrito Federal.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Caracterização dos Sistemas de Fraturas tipos de rochas, contudo o caráter dúctil dos
Como há poucas exposições rochosas na materiais pelíticos leva a uma maior dificuldade
poligonal do condomínio e seu entorno de manutenção das fraturas abertas em
próximo, a avaliação e mapeamento das profundidade. A tendência de fechamento das
descontinuidades (sistemas de fraturas) foi aberturas em profundidades ocorre pela pressão
realizada em uma área mais ampla, incluindo o litostática que tende a aumentar com o aumento
vale do córrego Caxeta e parte do vale do rio da carga.
Saia Velha a oeste. Na região foram delimitadas duas
A metodologia adotada foi a análise famílias principais de fraturamento com
macrorregional dos lineamentos estruturais, atitudes gerais: N30W e N60W, subverticais.
partindo-se do princípio de que a teoria dos Essas estruturas controlam a incisão da rede de
fractais é perfeitamente aplicável ao estudo das drenagem local sendo o córrego da Água
descontinuidades estruturais causadas por Quente de direção N60E e seus tributários
esforços tectônicos. diretos com direção N30W.
O maciço rochoso foi submetido a Além destes, ainda ocorrem fraturas
esforços tectônicos durante o Ciclo Orogenético subhorizontais com atitudes muito variáveis, as
Brasiliano de idade Neoproterozoica (~ quais não puderam ser sistematizadas em
600Ma.). Em virtude do comportamento rúptil grupos definidos.
das rochas da unidade de metarritmitos a As famílias de faturamento estão
dissipação do stress compressivo gerou uma relacionadas a origens diversas, em momentos
série de descontinuidades em direções bastante específicos da evolução tectônica, sendo as de
variadas. De forma geral, o grau de direção N10-20E consideradas como fraturas de
fraturamento foi equivalente entre os diversos alívio da extensão principal e as de direção NW
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e NE, como fraturas do par conjugado No Distrito Federal, as áreas de recarga
consideradas como fraturas de cisalhamento. estão em áreas topograficamente mais elevadas
As fraturas abertas podem alcançar até 8 representadas pelas áreas de chapadas. A área
mm de largura, contudo a maioria não supera 2 de recarga que alimenta o aquífero pelo poço é,
ou 3 mm de abertura média (observações portanto, a região de chapada situada na porção
realizadas na região em estudo e em outras norte da área em estudo. O substrato geológico
áreas do Distrito Federal). destas áreas é composto principalmente por
quartzitos da Unidade Q3, o que facilita a
Modelo Conceitual de Fluxo formação de solos muito espessos e
A ocorrência de água com temperatura permeáveis.
anômala, na área em estudo, é devida A distância da área de descarga em
exclusivamente ao modelo de fluxo, uma vez relação à área de recarga define se o fluxo é
que não há anomalias térmicas de origem regional ou local. Fluxo local é o que possui
magmática na região. Para a compreensão do área de descarga próxima à área de recarga.
comportamento do fluxo da água subterrânea Este possui maior velocidade e depende de alto
foram determinados os regimes de fluxo gradiente topográfico. Fluxo regional possui
hidrogeológico incluindo sistemas regionais e área de descarga mais distante e menor
locais, áreas de recarga e descarga, o controle e velocidade devido ao baixo gradiente
influência do sistema fraturado, seu topográfico (inclinação /distância). O fluxo
confinamento no condicionamento e explicação regional poderia explicar as temperaturas
do hidrotermalismo. anômalas, pois águas que chegam a
Fluxo de água subterrânea é a migração profundidades maiores tem temperatura maior
da água pela rocha ou solo através de seus devido ao grau geotérmico. Se os poços
poros, que no caso das rochas em estudo são interceptam zonas de fluxo regional teriam,
representados por descontinuidades como portanto, água com maior temperatura. A
fraturas, plano de acamamento e foliação. Pode- análise na escala de estudo mostra que o
se definir uma linha de fluxo como o caminho comportamento das linhas de fluxo pode ser
de uma partícula percorrido na água visto como similar a um modelo em meio
subterrânea. Dessa forma, pode-se analisar e isotrópico, uma vez que o Subsistema R3/Q3 é
representar espacialmente como é a migração um meio fraturado e o fluxo pode estar
da água subterrânea. Na área estudada, o fluxo canalizado em fraturas que alcançam
da água subterrânea do domínio fraturado profundidades maiores. Dessa forma, o modelo
ocorre principalmente ao longo do Subsistema de linhas de fluxo é tal que o fluxo regional
R3/Q3, o qual apresenta valores de vazão migra para regiões mais profundas em fraturas
maiores que o Subsistema R4 (Tabela 1), que é das unidades R3 e Q3 do Grupo Paranoá
a litologia aflorante no local em que o poço foi emergindo novamente canalizado em fraturas
construído. conectadas a fraturas da Unidade R4.
Hubbert (1940) em uma análise dos Outra análise na determinação do
parâmetros que controlam o fluxo de água regime de fluxo é que águas provindas de fluxo
subterrânea, concluiu que o gradiente da carga local possuem maior influência de águas
hidráulica é responsável pelo controle da meteóricas e são hidroquimicamente muito
velocidade, da direção e do sentido do fluxo em parecidas com águas da área de recarga. Águas
um aquífero homogêneo. O mesmo raciocínio de fluxo regional, porém, estão localizadas em
pode ser adaptado para sistemas anisotrópicos, zonas de menor influência da superfície e, além
em que além do gradiente da carga hidráulica, disto, ficam maior tempo em contato com a
as direções das anisotropias também rocha devido à menor velocidade do fluxo
apresentam papel relevante. Como o nível regional. Portanto, estas últimas possuem
d’água subterrânea tende a seguir o padrão do características hidroquímicas mais
relevo, a declividade topográfica é o principal influenciadas pela composição da rocha
controle do fluxo. Na área de estudo o aquífero reservatório. Portanto, análises hidroquímicas
não é homogêneo, mas o relevo também é o são uma importante ferramenta na
principal agente de fluxo, determinando áreas determinação de fluxo local e regional.
de recarga e descarga e áreas de fluxo local e
regional.
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Condicionantes do Artesianismo e do Neste caso o sistema é considerado do tipo
Termalismo aquífero fraturado artesiano, em que a água
Na área de estudo as litologias são armazenada no Subsistema R3/Q3 é confinada
correlacionadas às formações Ribeirão do pelos metarritmitos do Subsistema R4, que
Torto, Serra da Meia Noite, Ribeirão da naturalmente apresentam menor densidade de
Contagem e Córrego do Sansão do Grupo fraturas e fraturas com menor grau de
Paranoá. Na Tabela 1 é possível ver que os dois interconexão.
subsistemas de aquífero do domínio fraturado As linhas de fluxo local e regional são
relativo a estas litologias possuem vazões direcionadas pelas fraturas de forma que os
distintas. O Subsistema R4 com menor poços que interceptam as anisotropias
condutividade hidráulica funciona como vinculadas ao fluxo regional apresentam
camada confinante para o subsistema R3/Q3. temperaturas maiores. Por outro lado, poços
Desta forma, poços que estão sobre o Sistema que interceptem fraturas que recebam fluxo
R4 e que alcançam profundidades que local não apresentam temperaturas acima da
interceptam fraturas no Subsistema R3/Q3 são média. Ou ainda, poços que interceptem
jorrantes. fraturas com fluxo regional, mas numa
O modelo conceitual de fluxo para a profundidade mais rasa também terão água de
área em estudo é apresentado na Figura 3. temperatura baixa.
Figura 3. Representação esquemática do modelo conceitual do aquífero na região sul do Distrito Federal. O Poço A
representa situação de captação seca, pois não intercepta fraturas. O Poço B representa captação de águas do sistema de
fluxo regional, com elevada vazão potencial e possibilidade de se interceptar águas naturalmente aquecidas.
O principal indicador da não interação não sendo afetado pelo possível aporte de
entre as águas e seu reservatório é a ausência de Carbono a partir das rochas que compõem os
carbonatos no aquífero, uma vez que os reservatórios.
reservatórios são representados por quartzitos, A análise local (até 2 km de raio), semi-
metarritmitos argilosos e filitos. Este dado regional (entre 2 e 15 km de raio) e regional
indica que não deve haver contribuição (maior que 15 até 40 km) indica que as áreas de
significativa de Carbono oriundo da interação recarga possíveis para a manutenção do fluxo
das águas com seu reservatório. em direção à poligonal de estudo apenas pode
A avaliação do δ13 C mostra que a idade ser atribuída à Chapada de Brasília, situada
de 4.260 ± 60 anos AP é um dado confiável, entre 12 e 20 km a norte da região em estudo.
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Esta conclusão é baseada nos seguintes Considerando a possibilidade
argumentos: simplificada da presença de fluxo laminar no
- Esta região é a mais elevada em um raio de 40 sistema aquífero anisotrópico a partir de uma
km; relação linear, fica claro que as águas infiltradas
- Esta chapada apresenta relevo suave ondulado nas porções mais distais da Chapada de Brasília
e é recoberta por solos arenosos, os quais necessitariam de 1.152 anos para migrar desde
mostram condutividade hidráulica muito alta; a zona de recarga até a região de explotação na
- As rochas que sustentam a chapada área.
apresentam reologia mais propícia para manter Assim, a água deveria ter no máximo
fraturas abertas a maiores profundidades. 1.150 anos e não 4.260 anos como mostrado
Todas as condicionantes descritas pela análise do Carbono 14. Como a avaliação
anteriormente não se repetem em um raio de 40 do dado de datação pelo radiocarbono mostra
km, sendo a cota topográfica um dos que se trata de uma informação confiável e
parâmetros mais importantes para condicionar a coerente com os dados, é necessário propor
zona de recarga preferencial. uma análise de cenário para melhor
A seguir é apresentada uma análise entendimento da idade obtida.
inversa para a avaliação do resultado da idade A explicação mais realista para a idade
da água a partir dos dados hidrodinâmicos e da obtida é a presença de fluxo estagnado em
área de recarga. porções mais profundas do aquífero, isto é,
A velocidade linear de fluxo pode ser condição sem fluxo em que parte da água fica
obtida pela equação: v = K. Grad h / Ifi, onde: retida em fraturas profundas. Neste caso as
v - velocidade linear média de fluxo; águas de cerca de 1.150 anos AP se misturam
K - condutividade hidráulica média em diferentes proporções com águas mais
(em aquífero anisotrópico); antigas de forma a se alcançar idades maiores
Grad h - gradiente hidráulico; que 4.000 anos AP.
Ifi - Índice de fraturas interconectadas As águas mais antigas devem compor
(equivalente à porosidade efetiva). parte da reserva permanente contidas em
fraturas muito profundas que estão
Para aplicação da equação foram naturalmente abaixo do nível de base dos
considerados os seguintes parâmetros: exutórios e, portanto, não podem migrar em
K da ordem de grande de 10-7 m/s, direção a área de descarga. Tais águas apenas
valor relativo a média do Subsistema podem entrar no sistema de fluxo se a porção
R3/Q3; do aquífero em que estão contidas for
Grad h de 0,011, equivalente a um submetida a bombeamento. Neste caso, o
desnível de 220 m em 20 km de linha rebaixamento da superfície potenciométrica
de fluxo; resultará na criação de um gradiente hidráulico
Ifi de 2%, valor coerente com o sistema que forçará o fluxo de uma região de maior
fraturado em estudo. carga hidráulica para outra de menor carga
A velocidade calculada do fluxo é de hidráulica.
5,5 x 10-7 m/s ou de 17,35 m/ano.
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