Ficha 2 - 6º - Leitura e Interpretação
Ficha 2 - 6º - Leitura e Interpretação
Ficha 2 - 6º - Leitura e Interpretação
º Ciclo
6º ano
O pai que se
tornou mãe
Toda a gente sabe que são as mães que trazem os filhos dentro da barriga. Os bebés formam-se no
ventre das mães, crescem, e depois saltam cá para fora – para a luz. Por isso dizemos que as
mulheres dão à luz.
O que pouca gente sabe é que há uma exceção. Existe uma espécie animal em que é o pai que cria os
filhos dentro da barriga e é ele que os entrega à luz: o cavalo-marinho.
Como é que isto aconteceu? É essa a história que hoje vos quero contar: uma incrível história de
amor. O fim talvez seja um pouco triste. Mas é sempre assim: as histórias de amor só são felizes
quando não as contamos até ao fim.
Há muito, muito tempo, no tempo em que os homens ainda não falavam, no tempo em que os
dinossauros ainda andavam pela Terra, nesse tempo vivia no mar um casal de cavalos-marinhos. Ele
chamava-se Mário, ela Maria. Ela chamava-lhe Márinho, ele chamava-lhe Mariaminha. Mário e Maria
andavam sempre juntos. O mar, para eles, era um imenso jardim. Naquele tempo estava tudo no
princípio, todas as coisas eram novas e brilhavam (como um par de sapatos acabados de estrear).
Mário e Maria gostavam de passear, de descobrir animais estranhos, paisagens perdidas, outros
mares.
Eram medusas. Bailavam lentamente entre as algas, desapareciam nas ondas, pareciam feitas apenas
de água e de luz.
Também se chamam alforrecas ou águas-vivas – disse-lhe Mário. – Não têm boca, mas mordem.
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6º ano
Maria gostava do nome águas-vivas. Mário explicou-lhe que elas se chamam assim porque Deus,
para fazer a primeira criatura, misturou a água com o lume e a isto juntou barro. Porém, antes de
juntar o barro, caiu-lhe das mãos um pouco de água, e Ele percebeu que essa água já estava viva: era
uma alforreca. Por isso, porque Deus não chegou a dar-lhes forma, é que as alforrecas são animais
tão simples – não têm boca, não têm braços nem pernas. Mas por causa do lume queimam quando
alguém tenta agarrá-las.
Maria também gostava das baleias. Eram grandes como montanhas, mas muito delicadas, e não
faziam mal a ninguém. Cantavam ao amanhecer, brincavam com os filhos, juntavam-se para ver o
espetáculo do pôr-do-sol.
Nos dias de tempestade o mar escurecia. Maria tinha medo. Nesses dias abraçava-se a Mário e ficava
a ver os peixes – coitados dos peixes! – a girarem, meio tontos, arrastados pelas fortes correntes.
Uma manhã, Maria acordou doente. Tinha perdido o brilho. Ela, que sempre tivera uma cor tão
bonita – todo o seu corpo era de um amarelo iluminado –, estava a ficar baça e transparente. Sentia-
se muito leve, sentia que alguma coisa se apagava lentamente dentro dela. Mário, sempre tão calmo,
ficou nervoso. Foi consultar o golfinho, que é um animal inteligente e muito viajado; mas o golfinho
nunca tinha visto nada assim. À medida que as horas passavam, Maria tornava-se menos existente –
desaparecia. Primeiro desapareceu-lhe a cauda, as barbatanas perderam a cor, e até a sua voz ficou
mais fraca, como se ela estivesse a afastar-se para muito longe.
Maria ficou com pena. Não podia deixá-lo tão sozinho. Com as poucas forças que lhe restavam
encostou-se a ele.
– Vou dar-te os nossos filhos – disse, e abriu-lhe a barriga e colocou dentro dele todos os seus ovos.
– Quando eles nascerem mostra-lhes o mar.
Disse isto num suspiro e desapareceu. Durante os primeiros dias, sozinho, Mário sentiu-se perdido. O
mar deixara de ser um jardim: achava-o agora grande, escuro e perigoso. E sem a alegre surpresa de
Maria, nada lhe parecia realmente novo.
Passado algum tempo, porém, notou que o seu corpo se modificava – a barriga crescera, tornara-se
firme e redonda, e ele começou a sentir-se outra vez alegre, num estranho alvoroço, embora não
soubesse muito bem porquê. Era como se tivesse uma festa a crescer dentro de si. Então, numa
manhã de muito sol, com o mar todo iluminado, Mário viu que a sua barriga se abria, e viu saltarem
lá de dentro dezenas de pequeninos cavalos-marinhos. Eram os seus filhos.
Talvez há pouco eu me tenha enganado. Parece-me agora que esta história tem um final feliz. Porque
decidi que ela acaba aqui, num nascimento, e porque a partir daquela manhã de sol, passou a existir
neste nosso planeta um pai que dá à luz.
José Eduardo Agualusa, «O pai que se tornou mãe», Estranhões e Bizarrocos, D. Quixote, 2000
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1. Assinala com X, de 1.1. a 1.4., a opção que permite obter a afirmação adequada ao sentido do texto.
A)Mária e Mário.
B)Mariaminha e Márinho.
C) Márinho e Márinha.
D) Maria e Mário.
1.2. No excerto «Maria também gostava das baleias. Eram grandes como montanhas, mas muito delicadas», a
palavra como estabelece, entre os elementos destacados,
B) causa.
C) oposição.
D) contraste.
1.3. As expressões «pareciam feitas apenas de água e de luz» e «o mar escurecia» sugerem
A) sensações táteis.
B) olfativas.
C) auditivas.
D)visuais.
1.4. De acordo com o sentido do texto, a expressão destacada em «Uma manhã, Maria acordou doente. Tinha
perdido o brilho.» significa que
2. «Toda a gente sabe que são as mães que trazem os filhos dentro da barriga.»- Transcreve do texto:
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6º ano
3. «Mário e Maria andavam sempre juntos.»- Ordena, de 1 a 7, os momentos do texto de acordo com a
sequência pela qual são narrados. O primeiro momento já está numerado.
4. Nesta história, as alforrecas, ou águas-vivas, foram as primeiras criaturas criadas por Deus. Identifica e
descreve
• a origem desse ser aquático: 6. Transcreve do texto uma expressão que caracterize a relação do casal de
cavalos -marinhos.
6. Completa a frase seguinte, assinalando com X a opção correta de acordo com o texto. A determinada altura,
Mário começou a sentir-se alegre outra vez porque
B) “Mário e Maria gostavam de passear, de descobrir animais estranhos, paisagens perdidas, outros mares.”
8. Preenche, agora, no teu caderno diário uma ficha de leitura sobre este conto.
AUTOR:
TÍTULO DA OBRA:
TÍTULO DO CONTO:
EDITORA:
PORQUE:
DATA DA LEITURA:
Bom trabalho!
E aqui te deixo uma sugestão de leitura, este livro de contos está disponível em
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