Revolução Na Igreja
Revolução Na Igreja
Revolução Na Igreja
do ministério de
todos os crentes
REVIST PARA
REVISTA RA PEQUENOS GRUPOS DE P
PASTORES E LÍDERES
O incrível poder do ministério
de todos os crentes
“Viu-se um espírito de intercessão tal
como se manifestou antes do grande
dia de Pentecoste. Viam-se centenas e
milhares visitando famílias e abrindo
perante elas a Palavra de Deus. Os
corações eram convencidos pelo poder
do Espírito Santo, e manifestava-se
um espírito de genuína conversão.
Portas se abriam por toda parte para
a proclamação da verdade. O mundo
parecia iluminado pela influência
celestial.” (Conselhos Sobre Saúde, p. 580).
Revolução na Igreja
Título original: Revolution in the Church
Autor: Russel Burrill
Editor original: Hart Research Center, Copyright 1993
Diretor Geral: Joaquim Sabino
Tradução para o português europeu: Manuel Ferro
Editado no Brasil por: Digi&tal Comunicação Ltda.
Rua Adolfo Purpur, 43, Maringá, Paraná
4 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
Também é verdade que essa revista não trata segundo advento. Para muitos, ter muitos líderes
de soluções rápidas e simples. Não encontrarão de igrejas locais será uma fonte profunda num
aqui nenhuma panacéia empacotada com uma deserto árido.
receita simples. Este é um chamado para a vida Tenho grandes expectativas quanto ao que
de discipulado, não só como crentes individuais, pode acontecer quando lerem essa revista. É mi-
mas como congregações. É uma ‘longa obediên- nha oração que o Espírito Santo o use para dar
cia na mesma direção’. Foca sempre a sua atenção, uma nova visão aos pastores, anciãos e membros
tal como faz Jesus, não nos sentimentos dos san- dos conselhos de igreja – e nova vida às congre-
tos, mas nas necessidades dos não salvos. gações.
Nem os conservadores nem os liberais gosta-
rão dessa revista. Ele desafia a complacência dos Monte Sahlin
liberais e a tradição dos conservadores. Ele obterá Pesquisador veterano e Especialista em crescimento da
resposta daqueles que querem seguir Cristo to- Igreja Adventista do Sétimo Dia
talmente e ver o Seu poder derramado na Igreja
Adventista, à medida que nos aproximamos do
SOBRE O AUTOR
Russell Burrill atualmente é professor emérito de na linha de frente da atual ênfase da igreja nas
crescimento da igreja da Universidade Andrews, comunidades de pequenos grupos, no ministério
em Berrien Springs, no Michigan. Tem servido da igreja baseado em dons espirituais e no evan-
não só como pastor e evangelista em muitas par- gelismo voluntário.
tes dos Estados Unidos, mas também é muito so- Este volume é o resultado de muitas solicitações
licitado como orador e formador. que ele recebeu para pôr em forma de livro as
Além de apresentar seminários sobre profecia bí- suas ideias sobre o ministério voluntário, os dons
blica a milhares de pessoas em todos os Estados espirituais e a dinâmica dos pequenos grupos.
Unidos, Canadá e em outros países, Russell está
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CAPÍTULO 1. ACENDENDO O FOGO
F
ogos de reavivamento! Como a igreja an- obra de Deus terminada. A explosão dinâmica do
seia que o Espírito Santo lhes dê vida para evangelismo na antiga União Soviética cativou o
o cumprimento final da sua missão! pensamento adventista. Talvez fosse possível ver
O Adventismo nasceu como um movimento resultados semelhantes mesmo na América do
dinâmico e centrado sobre a missão. A paixão de Sul.
partilhar a mensagem reinava na mente e no co- O desejo é uma coisa, a ação é outra. Alguns
ração dos primeiros pioneiros. Eles trabalhavam sentem que tudo o que podemos fazer é orar pelo
até o limite das suas forças; sacrificavam a saúde derramamento do Espírito Santo, mas poucos
e os seus bens na tentativa de alcançar o mun- compreendem o que isso representa, na reali-
do com as salvadoras novas de Jesus Cristo e da dade. Outros parecem satisfeitos com pequenos
mensagem do terceiro anjo. A missão era o seu sucessos, esperando que um dia tenha lugar um
motor! A missão era a sua motivação! A missão verdadeiro avanço espetacular.
era a chama que ardia no seu interior! A tese dessa revista é que ambos são necessá-
Cerca de 150 anos depois, a Igreja Adventista rios. Precisamos não só orar e receber o derra-
preparava-se para entrar no terceiro milênio da mamento do Espírito Santo, também temos que
era cristã. O que aconteceu com a missão? Onde nos preparar para que o Espírito Santo nos use na
estão os fogos do reavivamento da igreja do pri- terminação da obra de Deus. Isso pode significar
meiro século e do Adventismo primitivo? Ainda uma mudança drástica na forma como nós esta-
estão ardendo? Se examinarmos o Adventismo mos habituados a ‘viver na igreja’. Significará que
em todo o mundo hoje, a resposta é um inques- temos que parar de ‘brincar de igrejas’ e temos
tionável ‘sim’. O Adventismo está vivo e de boa que nos concentrar em ser a igreja de Deus.
saúde e cresce a um ritmo espantoso no terceiro Uma tragédia que pode acontecer, é a igreja
mundo. adventista copiar muito da sua forma de fazer as
Por vezes, o Adventismo parece recuar em vez coisas das igrejas protestantes populares que a
de avançar. Dificuldades financeiras têm levado a rodeiam, mas Deus pretende que a Igreja Adven-
reduções no pessoal ministerial, grupos dissiden- tista funcione de um modo totalmente diferente.
tes na orla do Adventismo têm provocado estra- Contratar pastores para fazerem o trabalho do
gos em muitas igrejas locais, e a indiferença tem ministério enquanto os membros voluntários pa-
entorpecido a mente de muitos membros. O ‘Ad- gam, assistem e observam não é o plano de Deus
ventismo cultural’ permite que estes desfrutem de para a Igreja Adventista. Na verdade, essa prática
um estilo de vida adventista e se associem com resultou na presente condição laodiceana.
os seus amigos adventistas, mas tendo pouca ou Precisamos testemunhar um renascimento
nenhuma preocupação visível com a missão. dos membros voluntários, concomitante com
No entando, sob este pessimismo, ainda arde uma preparação profunda para o derramamento
na alma adventista um tremendo desejo de ver a do Espírito Santo. Os voluntários devem voltar a
6 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
ser ‘a igreja’. Do mesmo modo, os pastores pre- Suas principais preocupações na ‘grande comis-
cisam rever o seu papel na igreja e voltar à des- são’:
crição bíblica da sua tarefa – como treinadores “Foi-me dada toda a autoridade no céu e na
(formadores) dos voluntários. Enquanto isso não terra. Portanto, ide ensinar todas as nações,
batizando-as em nome do Pai, do Filho e do
acontecer, podemos orar incansavelmente pela Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas
chuva serôdia, mas ela não cairá. Deve haver ação as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que
e oração para restaurar a igreja à sua base bíblica, eu estou convosco todos os dias, até à consu-
com os voluntários e os líderes a trabalharem jun- mação dos séculos.” – (Mt. 28:18-20).
tos, como uma equipe.
Reparem que a preocupação de Jesus não era
“A obra de Deus na Terra nunca poderá ser apenas o cumprimento da missão, mas também a
terminada a não ser que os homens e as mu- recepção do poder do Espírito Santo para capaci-
lheres que constituem a igreja concorram ao tar a igreja a cumprir a sua missão. A igreja não
trabalho e unam os seus esforços aos dos mi-
nistros e oficiais da igreja.” – (Obreiros Evan- deveria simplesmente ir a todo o mundo com a
gélicos, p. 352). mensagem de Cristo, deveria ir no poder do Es-
pírito Santo.
Vamos analisar tanto a necessidade de rece- Todos os autores dos evangelhos ligam o cum-
bermos o Espírito Santo como o envolvimento primento da missão dada por Cristo ao recebi-
dos voluntários no trabalho do ministério. Tem mento do poder do Espírito Santo. Vejam as últi-
havido muitos livros excelentes e artigos escritos mas palavras de Jesus:
sobre a necessidade que temos do Espírito Santo,
por isso, essa revista focará, sobretudo, na parte “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai
o evangelho a toda criatura. Quem crer e for
que, de algum modo, temos negligenciado: o en- batizado será salvo; mas quem não crer será
volvimento dos membros voluntários. Mas não condenado. E estes sinais seguirão aos que
podemos ignorar a relação existente entre os dois. crerem: em meu nome expulsarão os demô-
Antes de examinarmos uma nova perspectiva do nios; falarão novas línguas; pegarão em ser-
envolvimento dos voluntários na igreja, precisa- pentes; e, se beberem alguma coisa mortífera,
não lhes fará dano algum; e porão as mãos
mos primeiro descobrir a nossa grande necessi- sobre os enfermos, e estes os curarão.” – (Mc
dade do Espírito Santo. 16:15-18).
acendendo o fogo / 7
Quando Jesus terminou o Seu ministério e ia e milagres, por exemplo, mas o Novo Testamento
voltar para o Pai, a obsessão esmagadora que agi- também mostra que dons espirituais não miracu-
tava a Sua alma era a necessidade que os discípu- losos foram distribuídos pelo Espírito Santo em
los tinham de cumprir a sua missão e a necessida- Romanos 12:6-8.
de que tinham de poder para o fazer. Dado que agora vivemos na dispensação do
O judaísmo do primeiro século tinha se tor- Espírito Santo, podemos esperar que os mesmos
nado um clube privado de pessoas que pensavam dons espirituais que foram tão ativos na igreja do
que tinham a verdade. A salvação, acreditavam Novo Testamento sejam ativos na igreja remanes-
os judeus, estava garantida enquanto eles fossem cente, mas, por estranho que pareça, os adven-
membros da semente de Abraão. Jesus veio e per- tistas têm por vezes evitado os dons espirituais e
turbou a sua exclusividade, questionando-os por quase que têm sentido medo dos dons espiritu-
falharem no cumprimento de sua missão. ais mais miraculosos. Talvez isso seja o resultado
Agora Jesus estava preocupado de o mesmo da nossa preocupação de não sermos enganados
acontecer à igreja cristã. Não era propósito do pela imitação. No entanto, não devemos ter tanto
nosso Senhor que a igreja se tornasse uma ins- medo do que não é verdadeiro que rejeitemos o
tituição voltada para o seu próprio umbigo. Ele verdadeiro derramamento do Espírito Santo no
tinha trazido à existência esse novo corpo com nosso meio. Essa rejeição seria ainda mais assom-
um objetivo: fazer discípulos entre todos os gru- brosa frente à forte ênfase posta pelos primeiros
pos étnicos. O Seu chamado era um toque de cla- adventistas nos dons espirituais – especialmente
rim convidando ao envolvimento nessa missão. o miraculoso dom de profecia manifestado nos
E para o seu cumprimento, Ele prometeu-lhes o escritos de Ellen G. White.
poder capacitador do Espírito Santo. Porque é verdadeiramente estranho que uma
Neste dom inicial do Espírito Santo, descobri- igreja que foi tão abençoada com um dom espi-
mos o seu propósito: dar poder para cumprir a ritual (profecia) no seu começo, esteja tão exces-
missão. O Espírito Santo é derramado para a ação, sivamente preocupada hoje com a manifestação
para o cumprimento da tarefa dada por Cristo. de dons espirituais no nosso meio. Nós oramos
Nunca devemos ver o derramamento do Espírito muito pedindo o derramento do Espírito Santo
Santo como separado da sua grande função: fazer na chuva serôdia, mas o que é a chuva serôdia
discípulos. É por isso que não podemos terminar senão uma intensificação de chuva temporã do
o trabalho sem o Espírito Santo. O Espírito não Pentecostes? Nessa primeira explosão do poder
pode ser derramado a menos que haja pessoas do Espírito Santo, este manifestou-Se através do
desejosas de serem cheias de poder, que as capa- derramamento de dons espirituais sobre a Sua
cite a partilhar Cristo com o mundo ao seu redor. igreja, incluindo os dons mais miraculosos. Não
Os primeiros discípulos passaram dez dias a deveríamos esperar que a chuva serôdia tenha os
orar pelo derramamento do Espírito Santo. Os mesmos resultados?
instrumentos estavam prontos a ser usados por Na última parte desse material, vamos anali-
Deus. O Espírito Santo foi derramado sobre o sar a fundo o assunto dos dons espirituais como
grupo espectador e, imediatamente, eles se envol- uma demonstração do poder do Espírito Santo.
veram no cumprimento da missão dada por Cris- Se queremos estar prontos para este derrama-
to. Repito, não podemos separar o Espírito Santo mento final do Espírito sobre a igreja, temos de
do cumprimento da missão. reestruturar as nossas igrejas para a recepção dos
Como é que se manifestava a presença do Es- dons espirituais. Então, quando o Espírito Santo
pírito Santo na igreja primitiva? Em resposta ao for derramado sobre a igreja de Deus dos últimos
que o próprio Cristo tinha prometido em Marcos dias, as nossas congregações estarão prontas a re-
16:15-18, sinais miraculosos e maravilhas acon- ceber todos os dons que Deus enviar.
teciam com frequência cada vez maior. Os dis- Além de distribuir dons espirituais, o Espírito
cípulos falavam em novas línguas (At 2:1-4), os Santo dá poder à igreja através do fruto do Espí-
doentes eram curados e aconteciam milagres. To- rito:
das estas coisas eram dons espirituais que davam
poder para a igreja agir. “Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade,
O Novo Testamento parece enfatizar os mais benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. Contra es-
tas coisas não há lei” – (Gl 5:22-23).
prodigiosos desses dons espirituais: línguas, curas
8 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
O fruto do Espírito, tal como os dons do Espí- A maior necessidade que a Igreja Adventista
rito, capacita a igreja para cumprir a sua missão do Sétimo Dia tem hoje é receber o Espírito San-
no poder pentecostal. A diferença entre a ênfase to. Receber esse poder fará duas coisas pela igreja:
carismática nos dons espirituais e a função dos produzirá o fruto do Espírito e dará poder à igreja
dons espirituais como indicada na Bíblia é que através dos dons do Espírito.
os carismáticos tendem a ver os dons como pri- Mas não devemos esperar por um momento
meiramente destinados a produzir sentimentos qualquer no futuro em que o Espírito Santo será
de êxtase espiritual, quando a Bíblia diz que esses derramado com esse poder da chuva serôdia. Se
dons foram dados para o cumprimento da mis- não estamos agora recebendo o Espírito Santo de
são. Lembrem-se, o Pentecostes resultou num tre- maneira que a nossa vida produza tanto o fruto
mento crescimento da igreja; o mesmo acontece- como os dons, não receberemos a chuva serôdia,
rá no Pentecostes do fim. Qualquer manifestação quando ela cair.
dos dons do Espírito que não resulta em almas Poderia dar-se o caso de, de alguma maneira,
ganhas para Jesus não é verdadeira. no ‘modo’ como conduzimos a ‘igreja’ hoje estar-
Enquanto os dons sobrenaturais do Espíritos mos tornando difícil de o Espírito Santo realizar
atraem a atenção do mundo para o povo rema- essas duas obras no Seu corpo remanescente? É
nescente de Deus, o fruto do Espírito revela atra- convicção deste autor que é tempo de fazermos
vés deles o perfeito caráter de Cristo. Deus não uma reestruturação total do modo como ‘vivemos
pode atrair a atenção do mundo para o remanes- a igreja’ a nível local. Nas páginas que se seguem
cente enquanto eles estiverem em luta uns contra examinaremos uma nova estrutura da igreja, ba-
os outros. Isso só pode acontecer se eles refleti- seada na perspectiva de os voluntários e os líderes
rem o caráter de Cristo. desempenharem o seu papel bíblico.
Também é convicção deste autor que esse re-
A Bíblia afirma que o caráter de Deus é amor gresso ao modelo bíblico da igreja ajudará a li-
(1Jo 4:8). O amor é o primeiro fruto do Espírito. berar o batismo do Espírito e ajudará a libertar
O resultado do povo de Deus refletir o caráter de a igreja para que ela se torne o canal para a re-
Cristo – um povo de Deus amável e carinhoso – é presentação final do caráter de Deus perante o
o cumprimento da missão dada por Cristo. Ellen mundo.
G. White continua: Como Ellen G. White salientava numa citação
feita no início deste capítulo, este trabalho não
“Se todos os que professam Seu nome produ- pode ser terminado enquanto os voluntários e
zissem fruto para Sua glória, quão depressa os líderes não se unirem. Já é mais do que tempo
não estaria o mundo todo semeado com a
semente do evangelho! Rapidamente amadu- para que isso comece a acontecer.
receria a última grande seara e Cristo viria
recolher o precioso grão.” – Parábolas de Je-
sus, p. 69.
I
maginem uma igreja em fogo com o poder do do tempo do fim seja tão dinâmica e viva, tão ca-
Espírito Santo. Como é que seria uma igreja rinhosa e atenciosa, tão envolvida no ministério
assim? Seria semelhante à sua Igreja Adven- como era a igreja do primeiro século. Qual é o
tista do Sétimo Dia? No que é que seria diferente? papel que Deus tem para os voluntários na Sua
Na minha mente, posso imaginar essa igreja – igreja?
uma igreja totalmente cheia de poder pentecostal.
O Espírito Santo está sendo derramado de forma O SACERDÓCIO DE TODOS OS CRENTES
superabundante, e as pessoas estão se reunindo O ideal de Deus para o Seu povo encontra-se
na igreja, vindas de todas as direções. Os mem- no jardim do Éden. Lá, não entravada pelo pe-
bros estão vivos com o evangelho de Cristo. Os cado, a criação inicial de Deus mantinha uma
seus serviços religiosos não são um formalismo comunhão face a face com o seu Criador. Nada
morto, mas são vivos com o poder do Espírito separava Adão e Eva da comunhão íntima com
Santo, à medida que os membros partilham se- Deus. No fresco da tarde, Adão e Eva entravam
mana após semana o que Jesus tem está fazendo em conservação direta com o infinito Deus do
nas suas vidas. Todos os sábados a igreja se alegra Universo. Esse é o nosso Deus – o Deus de rela-
com novas pessoas que chegam a conhecer Cristo cionamentos.
através do ministério dos voluntários. Nesta igre- Depois, esse relacionamento foi quebrado.
ja imaginária, cada membro tem o seu ministério. Adão e Eva duvidaram do seu Criador e peca-
Não há ociosos, porque ser cristão nesta igreja ram. Uma das consequências foi a perda dessa
significa estar envolvido num ministério frutuo- comunhão íntima com Deus, comunhão que eles
so para o Mestre. Amor, alegria e paz são vistos tinham desfrutado. Já não usufruíam do seu rela-
nos membros desta igreja, já que eles refletem o cionamento edénico original com Deus; os seus
caráter de Cristo junto de sua comunidade. E a descendentes já não podiam aproximar-se de
comunidade responde a demonstração de verda- Deus diretamente. Em vez disso, foi introduzido
deiro amor. Como resultado, a igreja é conhecida um sistema de intermediários. Pessoas escolhidas
como o único lugar na comunidade onde se pode intercediam a favor do povo, uma vez que já não
encontrar amor e aceitação. tinham uma comunhão face a face com Deus. Ini-
Não gostaria que a sua igreja fosse como esta? cialmente, o primogênito tornou-se o intermedi-
Quem não gostaria de ser membro de uma igre- ário; mais tarde, os patriarcas; e, finalmente, por
ja assim! O mundo deitaria abaixo às portas da ocasião do Êxodo, os sacerdotes.
igreja para entrar. Se tivessem vivido no primeiro Os sacerdotes do Velho Testamento desempe-
século, esta seria uma igreja normal, mas agora, nhavam duas tarefas que o povo não podia fazer
no final de século XX, veríamos uma igreja como por si mesmo: primeiro, serviam como interme-
essa como anormal e rara. Não é preciso que seja diários – como elos de ligação. Quando o antigo
assim, porque é desejo de Deus que a Sua igreja Israel pecava, eles não se aproximavam direta-
10 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
mente de Deus, em busca de perdão. Em vez dis- da doutrina do sacerdócio de todos os crentes. O
so, traziam um cordeiro ao sacerdote, que levava Novo Testamento anuncia em termos inequívo-
o seu sacrifício para o interior do santuário. Se- cos a restauração daquilo que Adão perdeu – o
gundo, os sacerdotes realizaram um ministério a privilégio de cada crente ser um sacerdote diante
favor do povo. O povo comum não estava auto- de Deus. A morte de Cristo na colina do Gólgota
rizado a entrar no santuário, mas os sacerdotes pôs um fim definitivo à classe sacerdotal. Cristo
estavam. Só o sumo sacerdote podia aventurar-se derrubou todos os muros de separação, incluindo
a entrar no lugar santíssimo e ele podia fazê-lo o muro que separava os líderes dos voluntários.
apenas uma vez por ano. No reino de Deus só há uma classe – a classe sa-
Assim, as funções de intercessão e de ministé- cerdotal na qual todos os crentes nascem quando
rio estavam reservadas exclusivamente para os sa- aceitam Jesus Cristo como seu Redentor.
cerdotes dos tempos do Antigo Testamento. Mas O apóstolo Pedro, escrevendo aos cristãos gen-
esse não era o ideal de Deus. Era apenas uma me- tios espalhados por todo o império romano, de-
dida temporária, providenciada durante algum clara que todos os crentes são o sacerdócio real:
tempo até que Cristo viesse e restaurasse o que
Adão tinha perdido. Lembrem-se, no Éden todas “Vós também, como pedras vivas, sois edifi-
as pessoas tinham o privilégio da comunhão dire- cados casa espiritual e sacerdócio santo, para
oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a
ta com Deus e do ministério direto perante Deus. Deus por Jesus Cristo” – (1Pe 2:5).
Ninguém precisava dos serviços de um sacerdote
mediador, eles mesmos eram ‘sacerdotes’. “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio
Quando Adão pecou, a raça humana perdeu real, a nação santa, o povo adquirido, pra que
esse privilégio. No plano de Deus, o ministério anuncieis as virtudes daquele que vos cha-
mou das trevas para a Sua maravilhosa luz”
redentor de Cristo deveria restaurar o relaciona-
– (1Pe 2:9).
mento edênico entre os redimidos pelo sangue de
Jesus. O Calvário pôs fim ao sistema sacerdotal
Segundo Pedro, todos os cristão pertencem
do Antigo Testamento e restaurou a doutrina do
ao sacerdócio. No Novo Testamento, a igreja não
sacerdócio de todos os crentes.
tem um sacerdócio – ela é um sacerdócio. O sa-
Essa é a alegria da nova vida em Cristo. Graças
cerdócio de todos os crentes é o único autoriza-
ao Seu ministério redentor, o crente tem acesso
do no Novo Testamento. Aí temos a restauração
direto a Deus e todos os direitos do ministérios.
completa do que Adão perdeu. Agora todos os
O acesso direto do ministério já não é domínio
filhos de Deus têm o direito de ministrar. Esse di-
exclusivo dos líderes. O privilégio de viver na era
reito foi totalmente estabelecido pelo ministério
do Novo Testamento é que cada cristão pode ser o
redentor de Cristo.
seu próprio sacerdote. Reparem como João o Re-
Uma vez que cada crente é um sacerdote, Pe-
velador se gloria nessa nova posição para o crente:
dro declara que todos os crentes devem agora ofe-
“E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel teste- recer um sacrifício espiritual a Deus. Esse sacrifí-
munha, o primogênito dos mortos e o prín- cio, afirma, é o seu legítimo serviço como crente.
cipe dos reis da terra. Àquele que nos ama, e O que é esse sacrifício que o crente deve oferecer?
em Seu sangue nos lavou dos nossos peca- O apóstolo Paulo responde claramente a esta per-
dos, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e gunta em Romanos 12:1:
seu Pai; a Ele glória e poder para todo o sem-
pre. Amém” – (Ap 1:5-6).
“Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de
“E cantavam um novo cântico, dizendo: Dig- Deus, que apresenteis os vossos corpos em
no és de tomar o livro, e de abrir os seus selos; sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que
porque foste morto, e com o teu sangue com- é o vosso culto racional.”
praste para Deus homens de toda a tribo, e
língua, e povo, e nação; e para nosso Deus os
O sacrifício que os cristãos devem oferecer
fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre
não são touros, cabras e ovelhas, mas os seus cor-
a terra” – (Ap 5:9-10).
pos, que eles oferecem num ministério de amor
pelo seu Mestre. Paulo acrescenta que esse é o seu
Notem, especialmente, a relação entre o minis-
culto racional.
tério redentor de Cristo na cruz e a restauração
Segundo Paulo e Pedro, o ministério não é
12 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
nhecer outra vez que a vida cristã é um ministé- Deus. Havia um trabalho especial para todos. Al-
rio. E esse ministério é o direito especial de todos guns eram soldados da linha da frente, enfrentan-
os crentes. do o mundo para Cristo. Outros, eram tropas de
apoio, ajudando a cuidar dos novos convertidos,
MOTIVANDO VOLUNTÁRIOS integrando-os na sociedade da igreja – e man-
Dado que muitos dentro da igreja têm funcio- tendo aprovisionados outros membros. Outros,
nado com base numa teologia incorreta – que os eram generais e administradores que mantinham
líderes são contratados para fazerem o trabalho toda a igreja a funcionar. Cada um tinha um lugar
do ministério – o cumprimento da missão da e um ministério especial.
igreja tem sido prejudicado. Por vezes, os líderes Na igreja primitiva, era reconhecido que cada
têm sentido que devem envolver os voluntários membro tinha um dom espiritual ou uma com-
no ministério, mas não têm estado dispostos a binação de dons. Não tinham todos os mesmos
liberar pessoas para o ministério ou a deixá-las dons. Deus tinha dons suficientes na igreja para
realizar um serviço de grande importância. Isso fazê-la funcionar corretamente. Ele colocava cada
tem acontecido porque os líderes têm visto o mi- crente numa dada igreja porque essa pessoa tinha
nistério mais como uma atividade do que como um dom que a congregação precisava naquele
um estilo de vida para o crente. momento. Cada crente era importante e necessá-
Como resultados, os líderes sonham com pro- rio.
gramas para envolver os voluntários. Esses pro- Quando cada cristão descobre o seu dom e se
gramas não podem sequer estar em harmonia envolve no ministério, não há frustração provo-
com os dons espirituais dos membros. Uma vez cada por incompatibilidade entre dons e serviço.
que os membros não foram envolvidos na plani- Todos se sentem felizes com um ministério base-
ficação desses programas, não sentem grande de- ado nos dons. Em consequência, a igreja cresce
sejo de participar neles. Mas os líderes precisam naturalmente, e é por isso que é tão importante
da sua ajuda, por isso o pastor pode pregar um que cada crente descubra os seus dons espirituais.
sermão sobre trabalho missionário que faz todos Quando isso acontece, os membros não vão olhar
se sentirem culpados. Com esse fardo de culpa depreciativamente para alguém que tem um dom
pesando sobre eles, os voluntários aparecem para diferente dos seus, mas trabalharão como uma
o programa do pastor até que a culpa desapareça. equipe, para terminar o trabalho. “A cada um foi
Então, o pastor tem de pregar outro sermão, pro- distribuída sua obra, e ninguém pode substituir a
duzindo ainda mais culpa. Mais uma vez poucos outro” – (Serviço Cristão, p. 10).
fiéis aparecem. A culpa acaba por se desvanecer
na cabeça do resto da congregação e afeta pou- É este conceito de ministério feito por uma
quíssimos membros. equipe de líderes e voluntários que precisa ser re-
Esse método produz pastores desencorajados, cuperado no adventismo de hoje. Ao moldarmos
que sentem que os voluntários são preguiçosos e o nosso ministério segundo o modelo do Novo
que não querem se envolver. Os voluntários, por Testamento, precisaremos ajudar os membros a
outro lado, vão à aventura, cada vez com mais descobrirem o seu ministério em harmonia com
sentimento de culpa, sentindo que deveriam en- os seus dons espirituais. Só um ministério ba-
volver-se, mas sentindo-se cada vez menos à von- seado nos dons pode preencher corretamente o
tade com um ministério baseado na culpa. modelo de ministério voluntário do Novo Testa-
Perguntamo-nos porque é que o trabalho está mento.
sendo dificultado quando isto é repetido numa A maioria de nós pensa que o clímax de tudo
igreja após outra. Esta situação era típica no tra- o que fazemos como igreja está focado no sábado
balho missionário da igreja primitiva? Eles leva- de manhã.
vam adiante os seus programas de trabalho mis-
sionário porque forçavam as pessoas? De modo “Mas a doutrina do sacerdócio de todos os
crentes indica que, para o cristão, o clímax é
nenhum! Para eles, testemunhar era um modo de o que é feito no mundo durante a semana! O
vida, porque cada crente tinha um ministério e que acontece no Sábado deve prepará-lo para
toda a igreja trabalhava em conjunto e compreen- o seu ministério no mundo durante a sema-
dia que cada pessoa tinha o seu lugar na igreja de na.” - (Dr. Rex D. Edwards, Every Believer a
Minister, p. 1141).
14 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
CAPÍTULO 3. QUEM SÃO OS VOLUNTÁRIOS?
Q
uem são – realmente – os voluntários? Deus reconciliou-nos consigo mesmo através
Parece uma pergunta estranha? To- da morte de Cristo no Calvário. Notem que é em
dos sabem quem são os voluntários. virtude do ministério redentor de Cristo que a
Os voluntários são os amadores, e os líderes os obra da reconciliação foi entregue aos cristãos.
profissionais! Definições como essa podem ser A todos os que foram reconciliados foi dado o
aplicáveis no mundo secular, mas são totalmen- ministério da reconciliação. Se todos os crentes
te estranhas ao conceito de voluntário do Novo foram reconciliados, então obviamente a obra da
Testamento. reconciliação – a obra do ministério – é para to-
O termo voluntário deriva da palavra gre- dos. E se isso é verdade, então segue-se lógica e
ga ‘holaos’. O seu significado básico é ‘o povo de biblicamente que todos os cristãos são ministros.
Deus’. Portanto, qualquer pessoa que é parte do Os voluntários são os soldados da linha de
povo de Deus é considerada voluntária. Segundo frente para Cristo. O seu ministério não se rea-
esta definição, até os líderes são voluntários. No liza nos edifícios da igreja, mas nas fábricas, nos
capítulo anterior, aprendemos que todos os vo- escritórios, entre os vizinhos, nos postos de saú-
luntários são ministros, mas agora vamos desco- de. Em meios às atividades normais da vida, eles
brir que o contrário também é verdade – todos os ministram para Cristo. É aí que o verdadeiro mi-
ministros são voluntários. nistério tem lugar – não no prédio da igreja no
Os ministros executam um ministério, mas sábado de manhã. Neste sentido, os ‘voluntários’
quando o fazem, estão atuando no papel de vo- são mais ‘ministros’ do que os líderes.
luntário – do qual são uma parte vital. O minis- Na igreja primitiva, os membros e os líderes
tério foi entregue a todo o povo de Deus e nunca não eram aquecedores de bancos; estavam ativa-
deve tornar-se o domínio dos poucos privilegia- mente envolvidos no ministério. Como disse um
dos a quem chamamos líderes: autor: “(...) a igreja não tem um ministério, ela é
um ministério (...)” 1
“Assim que, se alguém está em Cristo, nova Raramente o mundo entra em contato com a
criatura é: as coisas velhas já passaram; eis igreja através dos líderes ou dos teólogos da igre-
que tudo se fez novo. E tudo isto provém de
Deus, que nos reconciliou consigo mesmo ja. A pessoa não ligada à igreja encara a igreja
por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da através do comum, na vizinhança, no trabalho ou
reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo numa reunião social. É aí que o mundo encontra
reconciliando consigo o mundo, não lhes a igreja.
imputando os seus pecados; e pôs em nós A função primária da igreja, então, deve ser o
a palavra da reconciliação. De sorte que so-
mos embaixadores da parte de Cristo, como treino de ministros que, por sua vez, encontrarão
se Deus por nós rogasse. Rogamos-vos, pois, o mundo para Cristo. A igreja não existe para a
da parte de Cristo que vos reconcilieis como sua auto-perpetuação, mas para o fortalecimen-
Deus” – (2Co 5:17-20). to dos ministérios dos seus membros individuais.
16 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
que lhe são distribuídos ao mesmo tempo em que para as pessoas. O pastor adventista devia ficar
representa a igreja em todas as atividades que re- livre dos cuidados pastorais em geral, e os mem-
aliza. Por favor, notem que a diferença entre vo- bros deviam ser ensinados a cuidar de si mesmos
luntários e líderes não é que um seja em tempo e a não dependerem dos seus pastores.
inteiro e o outro em tempo parcial. Ambos volun- No entanto, como o Israel antigo, nós não gos-
tários e líderes, estão envolvidos num ministério tamos de ser diferentes. Queríamos ser como as
o tempo todo, porque a vida cristã é um ministé- outras igrejas, cujos pastores realizavam um mi-
rio. nistério para elas, de modo que decidimos que
De alguma forma, o conceito de líderes e vo- também queríamos ter ‘um rei sobre nós’ – um
luntários trabalharem juntos como uma equipe, pastor que cuidasse de nós. E como o antigo Is-
como fizeram nos tempos do Novo Testamento, rael, Deus permitiu que isso acontecesse, mesmo
tem de ser recuperado se alguma vez queremos sendo totalmente contrário ao Seu plano para
terminar a obra. Esta igreja tem que tornar-se esta igreja.
de novo, realmente, um movimento voluntário. Por isso, contratamos os nossos pastores. De-
Lembrem-se da penetrante afirmação de Ellen G. pois nós, os voluntários, nos sentamos confor-
White: tavelmente a ver os nossos pastores trabalharem
“A obra de Deus nesta Terra nunca poderá até o esgotamento, enquanto nós os criticávamos
ser terminada a não ser que os homens e as por não trabalharem corretamente. Por vezes,
mulheres que constituem a igreja concor- nem sequer ficávamos satisfeitos por termos um
ram ao trabalho e unam os seus esforços aos pastor com três ou quatro igrejas; cada um de
dos ministros e oficias da igreja” – (Obreiros
nós queria um pastor só para a sua igreja. “Além
Evangélicos, p. 352).
disso”, clamávamos nós, “nós pagamos os nossos
dízimos à União. Porque é que a União não nos
A IDEIA DO ADVENTISMO PRIMITIVO manda um pastor? Estamos perdendo os nossos
SOBRE VOLUNTÁRIOS E LÍDERES membros porque não temos um pastor!”
Vimos claramente na Bíblia que o papel dos Tragicamente, a cena descrita acima tem se
voluntários é a realização do ministério. Não é ta- repetido. O resultado tem sido Uniões financei-
refa do pastor ser o único ministro da igreja. Na ramente bloqueadas, que não têm dinheiro sufi-
realidade, como vimos antes, sempre que os pas- ciente para mandarem pastores para novas áre-
tores realizam um ministério, estão fazendo o tra- as para fundarem novas igrejas. Muitas vezes, as
balho dos voluntários e não o do pastor. O traba- igrejas existentes atuam como sanguessugas sobre
lho do pastor será analisado no próximo capítulo. os fundos da União, tentando proteger os seus
O adventismo primitivo, com a sua forte ênfa- próprios interesses em vez de se preocuparem em
se bíblica, viu que Deus tinha chamado esta igre- alcançar as populações não alcançadas da Terra.
ja à existência para operar num plano diferente. Para que o trabalho de Deus seja terminado,
Nós não deveríamos ser como outras igrejas, que precisamos voltar ao conceito inicial do adventis-
tinham pastores que realizavam um ministério mo primitivo sobre os líderes e os voluntários. As
igrejas têm de se levantar e informar a sua União vistas, distribuíram 15.500.000 materiais de leitu-
que é capaz de cuidar de si mesmas, devem di- ra e 1.600.000 revistas.”
zer que usem o dinheiro antes destinado a provi-
denciar-nos um pastor e mandem o nosso pastor É assim tão estranho que o adventismo pri-
abrir uma nova igreja, cujos crentes também pos- mitivo tenha crescido tão depressa na América
sam ser ensinados a cuidar de si mesmos. do Norte? Nessa época, a América do Norte era
Para alguns, isto pode parecer revolucionário, bastante parecida com o terceiro mundo hoje
mas os tempos em que vivemos requerem uma em que os membros cuidavam de si mesmos e os
revolução. Não podemos continuar com a igreja pastores estavam ocupados, sobretudo, no traba-
como até aqui. Os tempos requerem que nos pre- lho de adentrar novos territórios. O adventismo
paremos totalmente para a terminação da obra de primitivo estava totalmente em harmonia com a
Deus com os voluntários a ocuparem suas fun- função bíblica dos voluntários. Os voluntários re-
ções. O cenário descrito acima tem que aconte- alizavam o ministério e os pastores estavam livres
cer, sobretudo, nas igrejas pequenas com poucas para evangelizar novos territórios. Em consequ-
possibilidades de crescimento. Em algumas das ência, o adventismo na América do Norte cres-
nossas igrejas grandes, pode ser necessário ter ceu rapidamente. Não só a igreja cresceu, mas os
pastores, mas a descrição do seu trabalho deve ser membros eram mais saudáveis e estavam mais vi-
alterada para estar em harmonia com o conselho vos espiritualmente, porque estavam envolvidos
bíblico, como veremos no próximo capítulo. no ministério. Isto é o cristianismo do Novo Tes-
tamento em ação.
OS ADVENTISTAS DO SÉTIMO DIA Mesmos os Batistas do Sétimo Dia, no virar do
O pastor George Burt Starr, pastor evangelista século, reconheceram a razão para o crescimen-
americano (1854-1944) respondeu, quando lhe to substancial dos Adventistas do Sétimo Dia em
foi perguntado que meios usaram para realizar comparação aos Batistas do Sétimo Dia. Num ar-
tão depressa seu trabalho: tigo publicado no Sabbath Recorder, uma revista
“Bom, em primeiro lugar, não temos pastores dos Batistas do Sétimo Dia, no dia 28 de dezem-
colocados em igrejas. As nossas igrejas na sua bro de 1908 e reimpresso na Review and Herald
maioria são ensinadas a tomar conta de si mes- do dia 14 de janeiro de 1909, eram apresentadas
mas, enquanto quase todos os nossos ministros várias razões para o sucesso dos adventistas. Uma
trabalham como evangelistas em novos campos. dessas razões era a seguinte:
“
No inverno eles vão para as igrejas, salões e esco-
las e formam crentes. No verão, usamos tendas, Todos os pastores
montando-as nas cidades e aldeias, e nelas ensi- Adventistas do Sétimo
namos estas doutrinas às pessoas. Também envia- Dia são missionários, não
mos uma grande quantidade de colportores com pastores colocados em igrejas,
os nossos livros e revistas e eles visitam as famílias mas estão ocupados pregando,
e ensinam-lhes a Bíblia. Os estudos bíblicos são ensinando e organizando igrejas
outro tipo de trabalho, os obreiros vão de casa em em todo o mundo.”
casa ministrando estudos bíblicos de uma a vinte
pessoas. No ano passado ministraram 10.000 des- Até 1912 esta ainda era a perspectiva predo-
ses estudos bíblicos. Ao mesmo tempo, tínhamos minante da relação entre líderes e voluntários
empregado cerca de 300 vendedores, que percor- na Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em maio
rem constantemente o país e vendem os nossos de 1912, o então presidente da Conferência Ge-
livros de maior peso. Somando a isto, cada igreja ral A. G. Daniells, em uma palestra feita perante
tem uma sociedade missionária e cada um desses um instituto ministerial em Los Angeles, na Ca-
membros faz trabalho missionário, como vender lifórnia, fez esta análise da situação no momento
livros, distribuir folhetos, obter assinaturas para e também uma sombria predição para o futuro,
as nossas revistas, visitar famílias, cuidar dos po- caso deixássemos a posição bíblica da relação en-
bres, ajudar os doentes, etc. Em apenas um ano, tre voluntários e líderes:
fizeram 102.000 visitas, escreveram 40.000 cartas,
conseguiram 38.700 assinaturas para as nossas re- “Não temos muitos dos nossos ministros colo-
cados como pastores nas igrejas. Em algumas
18 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
das igrejas muito grandes temos pastores co- Na verdade, isto soa como uma maneira radi-
locados, mas em regra, temos estado prontoscal de pensar. E é, mas é o pensar do Novo Testa-
para servir no campo, para trabalho evange-
mento. Tanto os voluntários como os líderes são
lístico e os nossos irmãos e irmãs têm estado
responsáveis pela presente situação das coisas. Os
dispostos a manter os serviços das suas igrejas
voluntários pediram que os pastores girassem em
e a levar adiante a sua obra na igreja sem pasto-
torno deles. Os pastores apreciaram o novo rela-
res colocados. E espero que esta ordem de coi-
sas nunca se altere nesta denominação; porque
cionamento e o resultado é a situação atual.
quando pararmos o nosso trabalho de avanço e
começarmos a instalar-nos nas nossas igrejas,
O caminho de volta não será fácil. Levou-nos
décadas para nos afastarmos do plano de Deus
a ficarmos junto delas, a pensarmos por elas,
para os voluntários. Esperamos que não demore
a orarmos no lugar delas e a fazermos por elas
décadas para voltar atrás, mas já está muito tar-
o trabalho que deve ser feito, as nossas igrejas
começarão a enfraquecer, e a perder a sua vida
de para que esperemos ainda mais. Comecemos
e espírito, e ficarão paralisadas e fossilizadas e o
nosso trabalho estará em retrocesso.”
agora, ensinando pelo menos a perspectiva bí-
blica do trabalho dos voluntários e deixando que
Mal sabia A. G. Daniells que as suas palavras os líderes voltem à sua função bíblica, tal como é
seriam tão proféticas. Nas décadas que se segui- descrita no capítulo seguinte. Lembrem-se que se
ram a Igreja Adventista do Sétimo dia deixou as os membros não puderem ser ensinados a man-
suas raízes bíblicas no que diz respeito a relação ter-se sozinhos, sem os líderes, então precisam ser
entre os líderes e os voluntários. Lentamente, co- rebatizados e reconvertidos. Este é um problema
meçamos a aumentar o número de pastores co- espiritual e Ellen G. White orientou claramente
locadas nas diferentes igrejas. O resultado não esta igreja para um novo começo baseado numa
demorou. Quanto mais pastores colocávamos, nova relação entre voluntários e líderes.
menos crescíamos. As igrejas que tinham os seus Comecemos agora!
próprios pastores eram cada vez mais fracas es-
Notas:
piritualmente. As palavras de Daniells descrevem 1. Hendrick Kraemer, A Theology of the Laity (Uma
com exatidão a Igreja Adventista do Sétimo Dia Teologia do Laicado), Philadelphia: Westminster
hoje. Estamos fossilizados e paralisados e o nosso Press, 1958, p. 137
trabalho está em retrocesso!
É tempo de os Adventistas do Sétimo Dia des-
pertarem. É tempo de voltarmos à perspectiva
que os adventistas primitivos tinham dos líderes
e voluntários. Talvez nos tenhamos afastado tanto
do ideal que seja muito difícil voltar, mas precisa-
mos tentar se é que queremos realmente acabar
a obra de Deus. Ouçam as palavras penetrantes
escritas pela pena inspirada:
19
CAPÍTULO 4. A FUNÇÃO DO PASTOR SEGUNDO A BÍBLIA
E
ra o período da Campanha das Missões, pastor João respondeu que estava disposto a sair
numa certa Igreja Adventista do Sétimo desde que pelo menos um membro aparecesse,
Dia americana. O pastor João era o novo mas não deviam esperar que ele alcançasse o alvo
pastor, recém-chegado, de uma igreja de trinta sozinho. Uma senhora membro da igreja ficou
membros ativos. O pastor anterior tinha se van- muito perturbada e exclamou: “Mas, pastor, se
gloriado do fato de ele e a sua família terem con- não alcançarmos o nosso alvo, não podemos ter
seguido alcançar sozinhos todo o alvo da Campa- o nosso banquete da vitória!”
nha, que era de 800 dólares. Tinham andado de Nesse ano eles não conseguiram alcançar o
porta em porta, todas as noites, durante um mês alvo da Campanha das Missões, mas a igreja
e meio, mas tinham conseguido. A igreja estava aprendeu uma valiosa lição e dois anos depois
muito orgulhosa do seu pastor! esta igreja estava à frente de todas as outras da
Mas o pastor João era diferente. Ele não acre- União no valor recolhido por cada membro.
ditava que fosse a vontade de Deus que o pastor Esta história parece exagerada? Na realidade
fizesse todo o trabalho do ministério, então anun- aconteceu. E temo que a atitude inicial desta igre-
ciou à congregação que a Campanha das Missões ja esteja se repetindo em muitas igrejas adventis-
começaria no sábado à noite, depois do pôr do tas. Como aprendemos no capítulo anterior, esse
sol e animou todos os membros a saírem todas não é o plano de Deus para a igreja.
as noites, para que pudessem ter o alvo alcançado Alguns de vocês que são pastores talvez se
no final de semana. perguntem neste momento: “Qual é o meu traba-
No sábado a noite, o pastor João chegou cedo lho?” Ao longo do seu ministério, pensaram que
à Igreja e preparou os materiais para que os mem- se esperava de vocês que fossem os ministros da
bros saíssem para arrecadar fundos. A hora mar- igreja? Se não ministram todos os estudos bíblicos
cada chegou e passou, e nem um único membro e não fazem todas as visitas, o que vão fazer? Vão
apareceu. O pastor João esperou mais uma hora ficar inativos? Não, ficarão disponíveis para faze-
inteira, esperando que alguém viesse. Como nin- rem o trabalho que vos foi destinado por Deus!
guém veio, ele guardou os materiais da campanha
e foi para casa com a família. O mesmo cenário O TRABALHO DO PASTOR
repetiu-se todas as noites dessa semana e a cada Ao fazer a lista dos dons espirituais em Efé-
noite o pastor João fez plantão com a família. sios 4, o apóstolo Paulo diz que um desses dons
No sábado seguinte, os membros lhe pergun- é o de ser pastor. Na verdade, em Efésios 4 Paulo
taram sobre a campanha. Tinham conseguido fala, sobretudo, dos ‘dons do povo’ que Deus deu
alcançar o alvo? Os membros ficaram absoluta- à igreja. Esses dons incluem apóstolos, profetas,
mente imóveis quando o pastor João anunciou evangelistas, pastores e doutores (professores).
que nem um centavo tinha sido recolhido. “Mas”, Esses dons são dados para um fim específico. São
perguntaram os membros, “vocês não saíram?” O todos eles, basicamente, dons de liderança. Repa-
20 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
rem como Paulo se refere ao papel desses dons: “Os Seus dons foram dados para que os cris-
tãos pudessem estar corretamente equipados
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e ou- para o serviço que devem realizar.” – Phillips 7
tros para profetas, e outros para evangelistas,
e outros para pastores e doutores. Querendo Todas essas traduções deixam perfeitamente
o aperfeiçoamento dos santos para a obra do claro que a descrição bíblica da tarefa do pastor
ministério, para edificação do corpo de Cris- é a de alguém que treina e equipa membros para
to; até que todos cheguemos à unidade da fé, executarem o ministério que lhes compete. O
e ao conhecimento do Filho de Deus, o varão
Novo Testamento vê os pastores como não exe-
perfeito; à medida da estatura completa de
cutantes do ministério, mas como treinadores de
Cristo” – (Ef 4:11-13).
pessoas, preparando-as para os seus ministérios.
Essa é a função primária do pastor no Novo Tes-
Aqui estão, portanto, os dons do povo que
tamento.
foram dados à igreja. O verso 13 indica que es-
O trabalho do pastor é preparar o povo de Deus
ses dons devem permanecer até que atinjamos a
para realizar a obra do ministério. Não é trabalho
unidade da fé, o que acontecerá no momento da
do pastor ser o único ganhador de almas da igreja,
segunda vinda de Cristo. Esses dons de lideran-
não é tarefa do pastor fazer o trabalho do ministé-
ça serão sempre necessários. O verso 12 indica o
rio, mas sim treinar os membros para realizarem
propósito desses dons. De acordo com a Bíblia,
a obra dos seus respectivos ministérios. É verdade
parece que esses dons foram dados para o aperfei-
que o pastor, como foi afirmado no capítulo ante-
çoamento dos santos, para o trabalho do ministé-
rior, realiza um ministério. Ele ministra estudos
rio e para a edificação do corpo de Cristo.
bíblicos, aconselha, visita, etc, mas sempre que o
Mas uma vírgula mal colocada neste texto bí-
faz, está agindo como um voluntário e não como
blico cria graves dificuldades à nossa teologia do
pastor. O pastor é pago para treinar os membros.
voluntário e do pastor. Se a vírgula colocada de-
Se ele não está fazendo isso, então, biblicamente,
pois de ‘santos’ no verso 12 estiver correta, então
não está fazendo o seu trabalho.
é possível interpretar o texto de forma a indicar
que uma das tarefas do pastor é o trabalho do mi-
nistério, mas nós já vimos claramente que o tra- O PASTOR COMO TREINADOR
balho do ministério pertence aos voluntários, não Não só a Bíblia indica o treino (a formação)
ao pastor. como a principal função do pastor, mas Ellen G.
As versões mais modernas deste texto tradu- White também o faz:
zem-no de forma muito mais correta ao elimi-
“Que o ministro dedique mais do seu tempo
narem a vírgula, o que faz com que o texto fique a educar do que a pregar. Que ele ensine o
da seguinte forma: “para o aperfeiçoamento dos povo como dar aos outros o conhecimento
santos para o trabalho do ministério.” Em outras que receberam” – (Testemunhos Para a Igre-
palavras, a função do pastor seria aperfeiçoar os ja, vol. 7, p. 20).
santos para a realização do ministério deles, os
santos. Este texto não está descrevendo o pas- A maioria dos pastores podem achar que a
tor como um executante do ministério, mas sim pregação é a sua função principal. E muitos vo-
como um treinador de ministros. Vejam outras luntários podem pensar da mesma maneira. Em-
traduções deste texto: 1 bora não minimize a importância da pregação e a
“Para capacitar o Seu povo para o trabalho do grande necessidade que temos de uma pregação
ministério.” – Novo Testamento Século Vinte bíblica forte na igreja Adventista, Ellen G. White
2
afirma enfaticamente que o papel de ensinar ou
“De maneira a equipar plenamente o Seu povo equipar do pastor deveria tomar mais tempo do
para a obra de servir.” – Weymouth 3 que a pregação. Mas a maioria dos pastores gasta
muito mais tempo preparando e pregando ser-
“Para equipar imediatamente o povo de Deus
para a obra do serviço.” – Williams 4 mões do que ensinando aos membros como reali-
zarem o seu ministério.
“Para equipar o povo de Deus para trabalhar
ao Seu serviço.” – New English Bible 5
“Não é o propósito de Deus que os ministros
“Para que o Seu povo santo esteja pronto a ser- devam fazer a maior parte do trabalho de se-
vir como obreiros.” – Beck 6 mear as sementes da verdade” – (Ibid., p. 21).
E
m muitas igrejas adventistas tão estranho que as nossas igrejas estejam cheias
de hoje, este conselho não de seres religiosos débeis?
é seguido. Se o pastor não Quanto mais atenção lhes dermos, mais fracos
faz, não é feito. Porque é que os espiritualmente eles se tornam. O grande perigo
pastores não devem fazer todo o que as igrejas enfrentam ao amadurecerem é pas-
trabalho de semear a semente? sarem tempo cuidando do aquário dos santos em
Porque semear a semente é vez de se tornarem pescadoras de homens, mas
ministério e ministério é o quanto mais tempo passam cuidando dos santos,
trabalho dos voluntários. mais fracos esses santos se tornam. Até a igreja do
Novo Testamento corria o perigo de perder esse
Ellen G. White afirma mais uma vez que a pri- sentido de missão nos seus primeiros anos. O pe-
meira tarefa do pastor é treinar os membros, antes rigo era que a igreja parasse a sua expansão e cen-
mesmo de trabalhar para ganhar os descrentes. trasse a sua atenção no fortalecimento dos santos
em Jerusalém. Para evitar isso, Deus permitiu que
“Ao trabalhar em lugares onde já se encontram viesse a perseguição dos crentes de Jerusalém,
alguns na fé, o ministro deve não tanto bus- para espalhá-los e forçá-los a concentrar-se na
car a princípio converter os incrédulos, como
exercitar os membros de igreja para prestarem missão para se fortalecerem espiritualmente.
cooperação proveitosa” – (Obreiros Evangéli-
cos, p. 196). “Esquecendo que a força para resistir ao mal
se alcança melhor através de um serviço agres-
sivo, eles começaram a pensar que não tinham
Quando o pastor leva para a frente a função trabalho mais importante do que proteger a
ministerial da igreja e negligencia a função de igreja de Jerusalém dos ataques do inimigo.
treino, a igreja enfraquece espiritualmente. Há Em vez de ensinarem os novos convertidos a
uma relação clara entre o modo como os pasto- levarem o evangelho àqueles que não o tinham
ouvido, eles corriam o perigo de tomarem um
res dirigem a igreja e a espiritualidade da mesma. caminho que os levaria a satisfazerem-se com
Qualquer pastor que passa a maior parte do seu o que tinha sido realizado. Para espalhar os
tempo ministrando em favor dos membros dará Seus representantes pelo mundo, onde pu-
origem a uma igreja que é fraca espiritualmente, dessem trabalhar por outros, Deus permitiu
e, ao contrário, um pastor que passa a maior par- que a perseguição viesse sobre eles. Expulsos
de Jerusalém, os crentes ‘iam por toda a parte
te do seu tempo treinando e equipando os seus pregando a palavra’” – (Atos dos Apóstolos, p.
membros dará origem a uma igreja muito mais 105).
forte espiritualmente.
A força para resistir ao mal alcança-se melhor
“Deus não deu aos Seus ministros o trabalho através de um serviço agressivo. Esse é o cami-
de endireitarem as igrejas. Logo que esse traba-
lho parece estar feito, tem de ser recomeçado. nho para a vitória. O melhor método para que as
Os membros de igreja que são assim cuidados pessoas possam ser cuidadas e obtenham a vitória
e vigiados tornam-se seres religiosos débeis. Se na sua vida pessoal é trabalhar a favor das almas.
nove décimos do esforço que tem sido feito em Isso afirma a pena inspirada.
favor dos que sabem a verdade fossem feitos
em favor dos que nunca ouviram a verdade, “Aqueles que querem ser vencedores devem
quão maior teria sido o avanço realizado!” – ser levados a sair de si mesmos; e a única coisa
(Testemunhos Para a Igreja, vol. 7, p. 18). que poderá realizar essa grande obra é interes-
sar-se profundamente pela salvação de outros”
Cuidar só por cuidar produz seres religiosos – (Fundamentos de Educação Cristã, p. 267).
débeis, afirma a serva do Senhor. Alguns pasto-
res sentem que devem primeiro cuidar do povo. É possível ser fortalecido independentemente
Depois, esses pessoas que foram cuidadas auto- de um envolvimento em ganhar almas. Ellen G.
maticamente sairão para testemunhar, mas isso é White é clara como cristal: a única maneira de
totalmente contrário ao conselho dado. A opinião sair da mornidão laodiceana é envolver-se no mi-
de Ellen G. White é que este método produz seres nistério evangelístico.
religiosos débeis – laodiceanos. Dado que isto é o O Dr. Kenneth Van Wyk, pastor da igreja da
comunidade de Garden Clove, na Califórnia, e
22 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
especialista moderno em crescimento da igreja, “Algumas vezes os ministros trabalham em
confirma o que Ellen G. White disse a esta igreja excesso; procuram tomar todo o trabalho nas
suas mãos. Isto os exaure e prejudica; contudo,
há quase cem anos. continuam abraçando tudo. Parece que pen-
sam que só eles devem trabalhar na causa de
“A meu ver, uma educação voltada para o cui- Deus, ao passo que os membros da igreja fi-
dado e proteção comete o grave erro de fa- cam ociosos. Esta não é, de maneira alguma, a
zer um fim de alguma coisa que deve ser um ordem de Deus” – (Evangelismo, p. 113).
meio. Por definição, centra-se sobre si mesma
e, portanto, sofre de introversão básica... O “A maior ajuda que pode ser dada ao nosso
programa de educação cristã voltada para a povo é ensiná-los a trabalhar para Deus e a
missão afirma que o primeiro objetivo da edu- dependerem d’Ele, não dos ministros” (Teste-
cação é equipar as pessoas para o crescimento munhos Para a Igreja, vol. 7, p. 19).
e esforço da igreja... A igreja é um centro de
treino onde o povo de Deus é equipado para “Se os membros de igreja não fizerem qual-
as suas respectivas áreas de ministério e mis- quer esforço para darem a outros a ajuda que
são. O cuidado e proteção, na verdade, surge lhes foi dada, grande debilidade espiritual será
como um produto derivado de estar equipa- forçosamente o resultado” – (Ibid., p. 18, 19).
do e envolvido no ministério. A minha expe-
riência na educação cristã é que a existência
na igreja de uma mentalidade voltada para O conselho que Ellen G. White deu à Igreja
a missão motiva as pessoas a treinarem-se e Adventista do Sétimo Dia é claríssimo. Ellen G.
produz resultados espantosos tanto no cresci- White via o papel dos ministros adventistas como
mento espiritual pessoal como no crescimento sendo completamente diferente do papel pastoral
da igreja” – (Manual Pastoral de Crescimento,
tradicional do século XIX. Ela estava cem anos
vol. 1, p. 134).
avançada em relação ao seu tempo.
Hoje, a maioria das autoridades em crescimen-
O treino é o melhor cuidado e proteção que
to da igreja afirma que a função do pastor deve
pode ser dado ao povo de Deus, mas cuidar só
ser treinar, e os adventistas têm uma indicação do
por cuidar apenas afunda mais as pessoas na
seu profeta, dizendo que o pastor deve ser o trei-
indiferença laodiceana. As nossas igrejas estão
nador! Como podemos nós continuar recusando
morrendo de tão cuidadas e protegidas. Não pre-
voltar à função bíblica do pastor como treinador
cisamos de mais cuidado e proteção. Precisamos
dos voluntários para os seus ministérios, dando
de treino para a missão. Treinar e envolver pesso-
assim origem a Laodicéia?
as no ministério é o melhor cuidado que lhes po-
O conselho dado por Deus a esta igreja a este
demos dar. É justamente porque as pessoas não
respeito é tão forte que Ellen G. White chega a
têm sido treinadas e envolvidas no ministério que
dar a entender que qualquer pastor que está reali-
precisamos tanto de cuidado e proteção na igreja
zando o ministério ao invés de estar treinando os
hoje.
seus membros para o ministério devia ser despe-
O melhor remédio para Laodiceia não é pregar
dido. Parece duro, mas é o que ela diz.
sobre a Laodicéia, não é pregar sobre os pecados
da igreja, não é dizer às pessoas que deviam ir tra-
balhar. O melhor remédio para Laodicéia é os
pastores treinarem os membros e
depois pô-los em ministérios
significativos, de harmonia
com os dons espirituais des-
ses membros. (Para funcio-
nar na igreja local um pro-
grama de treino baseado
nos dons será discutido
mais à frente nesta obra).
24 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
para treinar, colocando, assim, o povo de Deus cluindo o pulso, mas todas elas trabalham sua-
ao trabalho: vemente em harmonia. Se uma articulação não
trabalha corretamente, a mão deixa de funcionar
“
O propósito é que não adequadamente. O mesmo acontece com o corpo
sejamos mais como crianças, espiritual; todos os membros precisam trabalhar
levados de um lado para suavemente em conjunto.
outro pelas ondas, nem jogados No entanto, as articulações (ou juntas) do cor-
para cá e para lá por todo vento po não começam simplesmente a trabalhar em
de doutrina e pela astúcia conjunto. Uma criancinha passa um mau bocado
e esperteza de homens que para tentar pôr as suas articulações para traba-
induzem ao erro. Antes, seguindo lharem em conjunto para poder andar, mas com
a verdade em amor, cresçamos persistência e insistência, ela acaba aprendendo.
em tudo naquele que é a cabeça, Quando a criança cresce, as articulações automa-
Cristo.” ticamente trabalham em conjunto e ela nem se-
Efésios 4:14-15 (NVI) quer tem que pensar nisso. Mas a aprendizagem
pode ser, por vezes, algo penoso. A criança cai, se
O objetivo dos dons espirituais não é apenas machuca e chora. Mas a criança aprende, apesar
união, mas também maturidade. O uso correto dos seus erros e ferimentos. Assim será também
dos dons faz com que os crentes sejam menos in- com a igreja. Pode haver arranhões ao aprender-
fantis. A Escritura afirma e Ellen G. White con- mos a trabalhar juntos, mas se não tentarmos
firma que o cuidado e proteção dos santos se dão nunca conseguiremos fazer nada para Deus.
como resultado de estarem corretamente equipa- O que é uma articulação? É a junção de dois
dos para o ministério. ou mais ossos diferentes que trabalham juntos
Um dos problemas do adventismo contempo- como se fossem um. Geralmente os problemas
râneo é que os membros já não conhecem as suas com os ossos surgem nestes pontos de contato.
Bíblias como costumavam no passado; são facil- Dentro do corpo, as articulações são um perigo,
mente arrastados por falsas doutrinas e acabam mas são absolutamente necessárias. A igreja tam-
por se ver metidos em movimentos extravagante bém é assim.
de todos os gêneros. Paulo indica que uma das
bênçãos do ministério voluntário baseado nos
dons espirituais é que os membros deixem de ser
“jogados para cá e para lá por todo vento de dou-
trina” A razão é que quando as pessoas estão ati-
vamente envolvidas no trabalho pelos outros, elas
crescem espiritualmente, e esse trabalho obriga-
-as a terem um programa regular de estudo da
Bíblia e de oração. É difícil que uma doutrina fal-
sa se apodere de uma igreja que está ativamente
envolvida no ministério em favor dos perdidos.
25
U
m cristão, se estiver Notas:
sozinho, não cria nenhum 1.As seis referências bíblicas seguintes estão publicadas em
The Word: The BibleFrom 26 Translations. Reimpresso com
atrito, mas também não
permissão de Mathis Publishers, Inc. Box 8621, Moss Point,
contribui com nada positivo para MS 39563.
a igreja. Precisamos uns dos 2. The Twentieth Century New Testament, Publicado por
outros. A saúde e o crescimento Moody Press. Reimpresso com permissão.
da família da igreja dependem de 3. Weymouth’s New Testament in Modern Speech, por Ri-
chard Francis Weymouth, revisado por J. A. Robertson. Pu-
trabalharmos juntos em harmonia.
blicado graças a um acordo especial com James Clarke and
Company, L.da., Londres. Reimpresso com permissão de
As articulações são a fonte de uma infinidade Harper and Row Publishersm, Ind., e de James Clarke and
de possíveis doenças e desfigurações. Elas tam- Company, L.da.
bém são o único meio de podermos andar, comer, 4. The New Testament: A Translation in the Language of the
People, por Charles B. Williams. Copyright de 1937 por Bru-
cantar, ou ajoelhar para orar. A razão para a uni-
ce Humphries, Inc. Copyright renovado em 1965 por Edith S.
dade na diversidade de dons revelados na igreja Williams. Reimpresso com permissão.
é que todos estão ‘bem ligados’ à cabeça, que é 5. New English Bible: New Testament. Copyright de 1961,
Cristo. Assim pessoas de variados dons são capa- pelos Delegados da Oxford University Press e pelos síndicos
zes de trabalhar juntas. Cada parte tem a sua fun- da Cambridge University Press. Reimpresso com permissão.
6. The New Testament in the Language of Today, por William
ção essencial a desempenhar. Cada membro tor-
f. Beck. Copyright de 1963, pela Concordia Publishing Hou-
na-se um membro ativo. Esta é a única maneira se. Reimpresso com permissão.
pela qual a igreja pode realizar o plano de Deus. 7. The New Testament in Modern English. Copyright de
Quais são, então, os resultados deste progra- 1958, 1959 e 1960 por J. B. Phillips. Publicado pela Mac-
ma de ministério voluntário de dons espirituais Millan Publishing Company, uma divisão da MacMillan,
Inc. Reimpresso com permissão. Reimpresso para distribui-
em ação na igreja local? O que acontece quando o
ção no Canadá com permissão de Fount, um impressor da
pastor se torna o treinador e os membros desem- Harper Collins Publishers, Ltd.
penham o seu papel, envolvendo-se num minis-
tério em harmonia com os seus dons espirituais?
Há dois resultados: primeiro, o crescimento da
igreja em números, e segundo, um crescimento
das pessoas em maturidade espiritual. Que Deus
faça ambas as coisas, à medida que realinhamos
as nossas igrejas com o ideal bíblico.
26
CAPÍTULO 5. QUEM PRECISA DE DONS ESPIRITUAIS?
A
lguma vez já lhes foi pedido que ocu- espirituais ao dom de profecia apenas. Todos os
passem um cargo na igreja para o dons do Espírito devem manifestar-se na igreja.
qual não se sentiam qualificados, mas Em outros capítulos iremos examinar a logís-
que mesmo assim foram pressionados a aceitar? tica da implementação na igreja local de um mi-
Como resultado de as pessoas serem persuadidas nistério baseado nos dons.
a servir a igreja em áreas para as quais não são Neste capítulo, no entanto, desejamos exami-
dotadas, muita gente tem ficado desiludida com a nar a base bíblica para a doutrina dos dons espiri-
igreja e recusa continuar a envolver-se nas ativi- tuais. É nosso objetivo mostrar que a descoberta e
dades da igreja. É por essa razão que é tão crucial utilização dos nossos dons espirituais é uma parte
ter um ministério baseado nos dons funcionan- vital da nossa preparação para a segunda vinda
do na igreja local. Se quisermos realmente que os de Cristo. Assim, o ensino de um ministério dos
voluntários se envolvam, temos que tirar tempo dons espirituais é uma doutrina especificamen-
para ajudar as pessoas a descobrirem os seus dons te adventista. Esta era a perspectiva de Ellen G.
espirituais e a encontrarem o seu lugar de minis- White, como se vê nas citações abaixo:
tério na igreja.
Mas os dons espirituais têm tido uma história “Deus tem posto na igreja vários dons. Estes
tempestuosa na igreja. Isso deve-se provavelmen- são preciosos, em seu devido lugar, e a todos
é dado ter uma parte na obra de preparar
te ao mau uso generalizado que se faz desses dons um povo para a próxima vinda de Cristo” –
na igreja cristã. Na verdade, o problema dos dons (Obreiros Evangélicos, p. 481).
espirituais foi uma das primeiras grandes contro-
vérsias a surgir na igreja cristã em Corinto. “Tem havido nas nossas igrejas muita procu-
Os dons espirituais também têm tido uma his- ra de sermões. Os membros têm dependido
de declamações feitas do púlpito em vez de
tória tempestuosa na Igreja Adventista. Muitos dependerem do Espírito Santo. Não solici-
adventistas temem uma ênfase posta nos dons es- tados e não usados, os dons espirituais que
pirituais por causa do mau uso do dom de línguas lhes foram concedidos têm degenerado em
nos grupos pentecostais. No entanto, não pode- fraqueza” – (Mensagens Escolhidas, vol. 1, p.
mos deixar que o fato de haver uma falsificação 127).
destrua a bênção dos dons espirituais genuínos “Frequentemente descuidam os ministros es-
que Deus derramou sobre a Sua igreja. tes ramos importantes da obra – a reforma
Desde a sua origem que os adventistas crêem pró-saúde, e os dons espirituais, a beneficên-
nos dons espirituais. Por vezes, tragicamente, têm cia sistemática e os grandes ramos da ativida-
sido tão culpados como os pentecostais ao eleva- de missionária. Por meio dos seus trabalhos
pode grande número de pessoas abraçar a
rem um dom acima de todos os outros – o dom de teoria da verdade, mas com o tempo aconte-
profecia. Embora o dom de profecia seja valioso, ce que muitos não suportam a prova importa
essencial e genuíno, não devemos limitar os dons por Deus” – (Evangelismo, p. 205).
28 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
talentos naturais podem tornar-se dons espiritu- destroem um ministério baseado nos dons.
ais. No entanto, além desses dons naturais, Deus As pessoas precisam decidir por si mesmas
concede a todos os crentes dons espirituais espe- como é que vão usar os seus dons. Os líderes da
ciais que devem ser usados no ministério em fa- igreja podem aconselhar, mas o processo de des-
vor do Mestre. Dado que esses dons pertencem coberta dos dons não deve ser estruturado ao
a Cristo, não podemos permitir-nos usá-los de ponto de insistir que as pessoas utilizem os seus
forma errada. Usar mal, ainda que seja só um ta- dons apenas de certas maneiras. Deus pode ter
lento, mostra que desprezamos os dons do Céu. dado dons às pessoas de maneira que elas possam
Em Sua sabedoria, Deus dá-nos apenas os ajudar a igreja a sair dos seus moldes. Não deve-
dons na quantidade exata – nem mais, nem me- mos fazer definhar a criatividade, ao insistirmos
nos. Nunca lamentem a dimensão do seu dom. que as pessoas usem os seus dons apenas dentro
Se Deus não lhes deu o primeiro lugar, então sin- do quadro que lhes proporcionamos.
tam-se felizes com o segundo ou o terceiro. Não Algumas pessoas têm sugerido que, porque al-
podemos resmungar ou ter ressentimentos ou in- guém tem o dom da hospitalidade, deve trabalhar
veja de pessoas que tenham dois ou cinco dons, no ministério do trabalho missionário, ou que se
se nós só temos um. Deus dá-nos o que podemos as pessoas têm o dom de liderança, precisam tra-
usar. Ele prometeu que se usarmos o dom que te- balhar no ministério do cuidado e proteção. Eu
mos, Ele aumentá-lo-á. A lição a tirar da parábo- sugiro que é possível usar todos os dons tanto em
la é que devemos usar os nossos dons, sejam eles trabalho missionário como em cuidado e pro-
quais forem. É de longe melhor ter o último lugar teção, e a igreja deve ter muito cuidado em não
ao serviço de Deus com fidelidade do que estar limitar as pessoas. Deixem as pessoas decidirem
em primeiro lugar com infidelidade. por si mesmas.
Lembrem-se, não importa quão poucos se-
jam os dons que temos, a ordem de Cristo é que 4. TODOS RECEBEM PELO MENOS UM DOM
os usemos. A pergunta feita na parábola não é O Mestre como distribuidor dos dons, deu
‘Quantos você tem?’, mas sim ‘O que faz com o cinco a uns, dois a outros e um a alguns, mas to-
que você tem?’ dos os servos receberam pelo menos um dom. A
distribuição desigual dos talentos indica que cada
3. OS QUE USAM OS SEUS DONS pessoa recebeu o que podia usar – nem mais, nem
RECEBERÃO MAIS. TALENTOS USADOS menos. Portanto, não existe algo como um cristão
SÃO TALENTOS MULTIPLICADOS que não tenha pelo menos um dom para usar ao
Uma das lições da parábola é que aqueles que serviço do Mestre. Ninguém pode dizer que não
usaram os seus dons receberam mais, enquanto há nada para ele/ela fazer. Porque todos os mem-
aqueles que não usaram os seus dons, perderam bros são chamados para o ministério e dotados
o que tinham. O Senhor espera que utilizemos por Deus para fazerem alguma coisa.
os nossos dons. A recompensa para o uso fiel dos
dons que temos é a recepção de mais dons e de 5. UM TALENTO É VALIOSO
mais oportunidades para servir. Alguns sentem que, dado que só tem um dom,
O pai de família na parábola não diz aos servos isso tem pouco valor – de maneira que não fazem
como devem usar os dons. Ele distribui os dons e nada. Esse foi o problema do servo infiel. Ele não
deixa o seu uso à cargo da pessoa. Alguns têm co- desperdiçou o talento; simplesmente escondeu-o
metido erros ao tentarem implementar um minis- e não o utilizou. Muitos crentes sentem que, visto
tério baseado nos dons, porque arbitrariamente que só têm um dom, não têm muito a oferecer,
dão às pessoas certas funções baseadas nos dons mas devemos compreender que cada dom é pre-
notados nessas pessoas. Em vez de deixarem que cioso porque é dado por Deus.
as pessoas descubram – através da oração, da me- Um tanto de prata nos tempos bíblicos valia
ditação e da orientação – as maneiras como Deus o mesmo que vinte anos de salário de um traba-
quer que usem os seus dons, alguns dirigentes da lhador comum. Hoje, seria mais ou menos equi-
igreja fizeram listas dos tipos de ministérios que valente a meio milhão de dólares. É uma grande
as pessoas podem exercer, se tiverem certos dons. soma. Aquilo que Deus deu a cada pessoa no seu
Essas tentativas bem intencionadas geralmente dom espiritual é de tremendo valor para Deus e
A
na parábola. O servo podia ter perdido tudo. O
mesmo deve acontecer com os crentes hoje, ao desobediência do servo
utilizarem os seus dons. Devem avançar pela fé. inútil não foi ativa, mas
Os personagens da Bíblia que foram os maiores passiva. Como muitos hoje,
servos de Deus correram os maiores riscos de fra- ele não estava desobedecendo
casso, perda e vergonha – foram pessoas que se ativamente ao seu Mestre, mas o
tornaram, virtualmente, alvo de zombarias e ri- não fazer algo positivo resultou
dículo entre os homens. Abraão, Moisés, Paulo e em desobediência.
Pedro correram grandes riscos para o avanço da
causa de Deus, tal como fizeram os pioneiros do “Muitos dos que se eximem de trabalhar para
Cristo alegam sua incapacidade para a obra.
adventismo, como Tiago e Ellen G. White. A igre- Fê-los, porém, Deus assim incapazes? Não,
ja local, hoje, precisa de pessoas dispostas a correr nunca. Esta incapacidade é o produto da sua
riscos para o avanço da obra. Usar os nossos dons própria inércia, e perpetuada por escolha de-
significa correr o risco de falhar, mas não usar os liberada. Já no seu próprio caráter reconhe-
nossos dons é fracasso certo. cem o efeito da sentença: ‘Tirai-lhe, pois, o
talento’. O contínuo mau emprego dos seus
talentos extinguir-lhes-á definitivamente o
7. AQUELES QUE NÃO USAM O QUE Espírito Santo, que é a única luz. A sentença:
LHES É DADO PERDEM O QUE TÊM ‘Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exte-
O servo infiel tinha a possibilidade de dupli- riores’, imprime o selo do céu sobre a escolha
que eles mesmos fizeram para a eternidade”
car o seu único talento. O patrão esperava que ele – (Parábolas de Jesus, p. 365).
o fizesse. “Devias” (Mt 25:27) indica claramente
que o homem deveria ter usado o seu talento. Essa é a terrível condenação daqueles que não
Toda a parábola parece centralizar-se na pes- utilizam os seus dons espirituais. Nós, como ad-
soa de um só talento. Por que? Porque a pessoa ventistas que estão preparando para a vinda do
com um só talento é a mais capaz de não fazer Senhor, não podemos dar-nos ao luxo de ignorar
nada. A razão pela qual a igreja não está avançan- a doutrina dos dons espirituais, porque ela é parte
do como devia hoje não é tanto devido às pessoas da nossa preparação para a eternidade. É-nos dito
que têm muitos dons, mas sim devido às muitas que não usarmos os nossos dons resulta na rejei-
pessoas de um só dom que não estão fazendo ção do Espírito Santo, a nossa única luz.
nada porque acham que não têm muito. Cristo Como sugeriu alguém, o maior pecado ao
quer que as pessoas que têm menos dons com- serviço de Cristo é tentar preservar e proteger o
preendam que são muito valiosas aos Seus olhos. dom que nos foi dado, de maneira que, se nos for
A igreja precisa desesperadamente desses dons. solicitado, ele possa ser apresentado exatamente
como era. É tempo de começarmos a utilizar os
8. AQUELES QUE USAM OS SEUS DONS nossos dons espirituais.
ESPIRITUAIS ESTÃO PREPARANDO-SE
PARA ENTRAR NO CÉU OS DONS ESPIRITUAIS E
Aqueles que o não fazem, sofrem a perda eterna. A IGREJA PRIMITIVA
Utilizar os dons espirituais que temos é parte O derramamento do Espírito Santo no dia de
da preparação do cristão para a eternidade. Pentecostes resultou em uma manifestação in-
Não utilizar os nossos dons tem consequências crível de dons espirituais. Como consequência,
eternas. O assunto é muito sério. “Haverá eterna em todo o livro de Atos lemos sobre o espantoso
perda por todo o conhecimento e capacidade sucesso da igreja primitiva, que, em trinta anos,
não alcançados, que poderíamos ter ganho” – levou o evangelho ao mundo.
30 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
No entanto, não existe, no livro dos Atos, ne- 1 Coríntios 13 aparece no meio desta discussão
nhum tratado teológico sobre os dons espirituais. sobre os dons espirituais. Os dons são dados para
Em vez disso, encontramos uma implementação o ministério dos santos; o fruto é dado para de-
prática da doutrina dos dons espirituais – vemos monstrar a santidade. O cristão precisa dos dois
os dons espirituais em ação. O Espírito Santo ca- e deve utilizá-los, mas também deve pôr cada um
pacita um para pregar, outro para ensinar e outro deles no seu devido lugar.
para ser hospitaleiro. Em um capítulo, vemos o
É
Espírito levar um membro a ser útil, no seguinte a interessante que a doutrina
exortar, e no outro a desempenhar uma liderança dos dons espirituais parece
eficaz. ser uma das primeiras que
Na fase organizacional da igreja primitiva, o diabo foi capaz de distorcer
descobrimos mais referências detalhadas aos na igreja primitiva. Aquilo que
dons. Na verdade, é sobre o problema do mau foi responsável pela tremenda
uso dos dons espirituais na igreja de Corinto que explosão de crescimento da
temos o primeiro tratado teológico formal sobre igreja primitiva sofre o primeiro
esse assunto. O problema em Corinto surgiu do ataque de Satanás.
fato de todos desejarem o mesmo dom – um que
eles achavam que era superior aos outros. Isso re- É óbvio que Satanás sabe que, quando a igre-
sultou em orgulho espiritual, ao demonstrarem o ja compreender e implementar plenamente um
seu melhor uso do dom de línguas. ministério de dons espirituais, experimentará
A resposta de Paulo foi inverter a hierarquia crescimento tanto interno como externo, e o seu
que a igreja de Corinto tinha construído (1Co reino estará comprometido. Sendo assim, ele faz
12:28-31). Ele tentou transmitir aos discípulos tudo o que pode para impedir os Adventistas do
em Corinto a verdade mais profunda de que os Sétimo Dia de hoje de implementarem nas suas
dons estavam num plano horizontal uns com os igrejas um ministério baseado nos dons. Satanás
outros, em vez de estarem numa linha vertical, sabe bem que, quando o fizermos, receberemos o
e que, em consequência, não há realmente dons derramamento do Espírito Santo na chuva serô-
melhores e, portanto, não há cristãos superiores. dia e Cristo virá.
Enquanto as pessoas usarem os seus dons, são No Novo Testamento há três tratados teológi-
consideradas fiéis. cos fundamentais sobre os dons espirituais: Ro-
Mais ainda, Paulo diz que os dons espirituais manos 12, 1 Coríntios 12-14 e Efésios 4. Nessas
não são ‘sinal’ de que se tenha recebido o Espí- três passagens, os dons espirituais aparecem sem-
rito. O sinal do batismo do Espírito é o fruto do pre como parte do corpo (a igreja).
Espírito, especialmente demonstrado na vida de
cristãos carinhosos e que amam. É por isso que
31
As igrejas utilizam hoje três perspectivas ao de- senvolver na igreja o mosaico completo das ações
senvolverem um ministério baseado nos dons. A de Deus.
primeira é que todos os dons são dados ao corpo; A segunda perspectiva dos dons espirituais
portanto, o evangelismo é consequência do corpo que acabamos de mencionar, por vezes, leva a
ser alimentado e cuidado por meio da utilização uma confusão entre dons e funções. Para cada
dos dons. O problema com esta perspectiva é que dom, há uma função correspondente que cada
lhe falta planificação intencional do testemunho cristão deve desempenhar. Por exemplo, nem
e resulta numa atitude em que a igreja serve a si todos os cristãos recebem o dom espiritual do
mesma. evangelismo, mas todos os cristãos continuam a
A segunda perspectiva declara que alguns ser testemunhas. O dom do evangelismo capacita
dons foram dados ao corpo e que alguns dons uma pessoa para ter êxito em trazer outras pesso-
trabalham através do corpo na comunidade ex- as a Cristo. Capacita essa pessoa para fazer esse
terior. Se o dom do contato não foi dado, então trabalho melhor do que aqueles que não têm esse
o evangelismo não é exigido. O resultado desta dom. Embora nem todos tenham essa capacidade
perspectiva é que o evangelismo é visto como um dada por Deus, todos podem e devem testemu-
dom de poucos, em vez de ser a responsabilidade nhar, sob a bênção de Deus, às pessoas com quem
da maioria. têm contato regularmente.
A terceira perspectiva, defendida nesta revista, Há ocasiões em que as pessoas têm que mi-
reconhece que todos os dons são dados ao corpo, nistrar mesmo não tendo o dom específico ne-
e que todos os dons ministram por meio do cor- cessário. Se alguém tem fome, não se manda essa
po e dá oportunidade às pessoas para se envolve- pessoa à irmã Fulana, que tem o dom da mise-
rem num ministério significativo tanto em favor ricórdia ou hospitalidade. Um cristão alimenta a
do corpo como por meio do corpo em favor da pessoa faminta mesmo se esse cristão não tiver o
comunidade, sem negligenciar os seus dons espi- dom. Portanto, sempre que necessário, desempe-
rituais. É deixado na mão dos indivíduos decidi- nharemos as funções presentes em todos os dons,
rem se Deus os chamou para usarem os seus dons mesmo enquanto exercemos as funções requeri-
no corpo ou através do corpo. das pelos nossos próprios dons. Haverá ocasiões
em que seremos chamados a fazer coisas fora da
T
odos os dons não só área dos nossos dons, mas o nosso ministério
trabalham no corpo ou principal deve ser na área dos nossos dons.
por meio do corpo, eles Os dons espirituais têm causado imensos pro-
trabalham para aumentar a blemas ao longo da história da igreja, mas tam-
unidade da igreja. Em todas bém têm sido uma fonte de bênçãos tremendas,
as três passagens que ensinam quando corretamente usados. A eficácia da igreja
os dons espirituais, a unidade de Deus está diretamente relacionada com a sua
da igreja é discutida como capacidade de organizar e implementar nas con-
um dos benefícios práticos gregações locais um ministério baseado nos dons.
de um ministério baseado nos Vale bem a pena o tempo e o esforço requeridos
dons. Nesse sentido, todos os para instituir na sua igreja um ministério baseado
membros foram encaixados no nos dons. Porque não decidir começar agora?
corpo, de acordo com o plano
mestre de Deus, e receberam um
ou mais dons espirituais para
desempenharem corretamente a
sua função.
32 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
CAPÍTULO 6. COMO DESCOBRIR OS SEUS DONS ESPIRITU-
AIS
U
ma vez que cada crente tem pelo menos rão dados. Portanto, dons que não aparecem hoje,
um dom do Espírito, todos podem envol- podem surgir daqui a cinco anos. De maneira que
ver-se numa pesquisa para descobrirem devemos continuar na nossa viagem de descober-
os seus dons. Logo que as pessoas são batizadas, ta.
deveriam ser encorajadas a entrar num processo
de descoberta dos seus dons de maneira que pos- A seguir indicamos cinco passos no processo de
sam encontrar um ministério que utilize as suas descoberta dos dons:
capacidades.
Pessoas que têm os dons mais ‘espetaculares’ 1. ORAR
devem sabê-lo muito rapidamente, sem grande Uma vez que os dons espirituais vêm do Es-
busca. No entanto, a maioria de nós não recebeu pírito, devem ser descobertos num contexto es-
esse tipo de dom, mas devemos esperar que eles piritual. Esta oração não deveria ser apenas uma
surjam na igreja. Ellen G. White indica que ao oração normal, rápida, pedindo a Deus que revele
aproximar-nos do fim, milagres, sinais e maravi- qual o dom que o Espírito lhe deu, mas um mo-
lhas voltarão a estar na ordem do dia. Portanto, os mento de oração fervorosa, pedindo a Deus que
dons miraculosos voltarão a aparecer. Devemos revele a Sua vontade para o seu ministério. Seria
ter cuidado para não os rejeitarmos. bom, ao reverem os vários dons mencionados na
A maioria de nós recebe os dons do Espírito não Escritura, perguntar a Deus, especificamente, se
miraculosos mencionados nas Escrituras. Para Ele nos deu esse dom em especial.
nós, há um processo de descoberta pelo qual de- As pessoas não deveriam apenas orar, mas
veríamos passar para descobrirmos quais os dons também ouvir Deus falar. Alguns dons podem
que o Espírito de Deus nos concedeu. Depois de parecer assustadores ao princípio, mas devemos
descobrirmos os nossos dons, precisaremos então orar para que Deus revele a Sua vontade para a
estudar maneiras pelas quais eles possam ser usa- nossa vida espiritual. Lembrem-se que as coi-
dos num ministério baseado nos dons. Esse será sas espirituais são discernidas espiritualmente.
o tema do capítulo 8. Quando descobrimos quais É impossível descobrir corretamente os nossos
os dons que temos, também saberemos quais os dons espirituais e encontrarmos um ministério
que não temos. Esse conhecimento é importante, baseado nos dons sem muita oração e análise do
porque nada é mais frustrante do que tentar fazer coração, mas a recompensa desse tempo passado
algo para o qual não somos dotados. com Deus é a satisfação de saber que a vontade de
O processo de descoberta dos nossos dons es- Deus está sendo feita através do dom que Ele deu.
pirituais nunca termina. Precisamos experimen- Nada animará mais o coração do que a experiên-
tar continuamente para descobrirmos os nossos cia de saber que estamos onde Deus nos quer e
dons. A parábola dos talentos ensina que, se as que estamos utilizando os dons que Ele nos con-
pessoas usarem os seus dons, mais dons lhes se- fiou.
34 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
S
3. EXPERIMENTAR OS DONS ó porque as pessoas são
Quando se analisam as várias listas de dons es- dotadas não quer dizer
pirituais que se encontram na Bíblia e quando se que não precisem de
tem o resultado de um questionário sobre dons treinamento.
espirituais, então é possível resumir a nossa lis-
ta de dons a apenas alguns deles. Mas um cristão Imaginem que uma pessoa acha que Deus a
deveria continuar a orar ao longo desta fase, pe- dotou com o dom do evangelismo e que Deus está
dindo que Deus faça a Sua vontade na descoberta dirigindo-a para usar o seu dom ao ministrar os
de qual deles Ele lhe deu. estudos bíblicos. A primeira coisa que essa pessoa
O passo seguinte é começar a experimentar os deve fazer é frequentar um programa de treina-
diferentes dons. Em outras palavras, tentem usá- mento para aprender a ministrar estudos bíbli-
-los e vejam quais são os resultados. A capacida- cos. Depois poderá experimentar a acompanhar
de de fazer algo melhor e mais facilmente do que alguém que tem esse dom e observar essa pessoa,
qualquer outra pessoa é parte do dom. Por isso antes de tentar fazer um estudo. Se achar que esse
as pessoas são dotadas, mas as pessoas nunca sa- não é o seu dom, pode facilmente pôr esse de lado
berão se têm um dom se não o experimentarem. e experimentar outro.
Alguns dons são difíceis de experimentar. Não É preciso ter cuidado, neste ponto. Uma igre-
se pode saltar de um edifício alto para descobrir ja que implementa um ministério com base nos
se tem o dom de operar maravilhosas. Também é dons deve dar liberdade às pessoas para expe-
difícil experimentar o dom do martírio. No en- rimentarem esses dons. Uma igreja não pode
tanto, muitos dos dons espirituais prestam-se a atribuir arbitrariamente uma área de atividade
uma experimentação. às pessoas na qual elas ficam bloqueadas duran-
Um desses dons é o do evangelismo. Muitos es- te anos. Se isso acontecer, a descoberta dos dons
tudos indicam que pelo menos 10% dos membros será gravemente prejudicada. As pessoas devem
ativos de uma congregação local receberam este saber que têm liberdade de passar de uma área
dom, mas menos de 2% estão realmente usando- para outra, à medida que experimentam os diver-
-o. Se uma pessoa analisou os dons e descobriu sos dons.
que o evangelismo estará perto do topo da sua lis-
ta de dons possíveis, como é que essa pessoa pode
experimentá-lo?
35
Quando descobrimos que temos um dom, de- É uma boa ideia pedir a opinião de outras
veríamos tentar outro. Lembrem-se, Deus pode pessoas para saber o que elas pensam da nossa
ter-nos dotado com mais do que um dom e nunca eficácia. Deveríamos pedir várias opiniões. Não
saberemos se não estivermos dispostos a continu- devemos minimizar-nos, mas devemos pensar
ar experimentando. positivamente. Não devemos vangloriar-nos,
mas sim dar glória a Deus pelos dons do Espírito
4. ANALISAR OS SENTIMENTOS Santo. Dado que os dons espirituais operam no
Os sentimentos nem sempre são os melhores corpo, devemos esperar a confirmação por parte
critérios, mas certamente devem ser considera- do corpo. Somos parte de uma organização total
dos quando as pessoas estão descobrindo o seu – o corpo de Cristo. Se temos um dom espiritual,
lugar de ministério ou os seus dons. Quando uma ele harmonizar-se-á com outros na igreja. Outros
pessoa experimenta um dom, sente-se satisfeita cristãos irão reconhecer os nossos dons e con-
enquanto o faz? Se se sente totalmente desgosto- firmar que os temos. Se achamos que temos um
sa, pode bem ser um sinal de que não é o seu dom. dom que outras pessoas na igreja pensam que nós
Mas não se deve confundir nervosismo ou não não temos, deveríamos ter grandes dúvidas quan-
se sentir à vontade na primeira vez que se faz al- to à nossa opinião pessoal neste assunto.
guma coisa com ausência de satisfação. Muitas Aqui também é necessário que se instale na
pessoas sentem-se muito pouco à vontade e ner- igreja um clima de confirmação. Quando um mi-
vosas nas primeiras vezes que experimentam usar nistério baseado nos dons está em funcionamen-
o dom do evangelismo, mas descobrem depois to, os membros precisam ser encorajados a con-
que se gera um verdadeiro sentimento de satis- firmarem as pessoas nos seus dons. Quando um
fação. cristão vê um outro membro fazer uma coisa bem
Deus não nos pede que façamos uma coisa que feita, deveria elogiá-lo pelos seus dons nessa área.
nos desagrada em absoluto quando a fazemos.
C
Esse é o ponto principal ao usarmos o nossos omo parte do processo
dons. Quando usamos os dons que Deus nos deu, de descoberta, é bom
devemos e vamos sentir prazer nessa atividade, participar num pequeno
e o nosso prazer aumentará na proporção direta grupo de pessoas que os
do tempo que usarmos os nossos dons. É por isso conhecem. Num grupo desse
que as pessoas envolvidas num ministério base- gênero, os participantes podem
ado nos dons sentem uma profunda satisfação tirar tempo para partilhar o que
naquilo que fazem. Isso também contribui para a cada pessoa vê como sendo
alegria do cristão, que é o outro fruto do Espírito. os dons espirituais das outras
presentes no grupo. Isto pode
5. AVALIAR A EFICÁCIA constituir, para os envolvidos,
Os dons espirituais têm um propósito. Desti- um maravilhoso processo de
nam-se a cumprir um objetivo específico. Se isso confirmação.
não está acontecendo, a pessoa tem razões para
se perguntar se tem esse dom. Por exemplo, na Estes são apenas cinco passos simples. No en-
nossa ilustração anterior sobre o uso do dom do tanto, não deveriam ser dados independentemen-
evangelismo para ministrar estudos bíblicos, se te. Os dons espirituais operam no corpo, e uma
uma pessoa não vê pessoas virem a Cristo depois pessoa precisa da ajuda do corpo no processo de
de vários estudos bíblicos, essa pessoa pode, com descoberta. Por isso é tão importante o processo
razão, questionar-se se Deus a chamou para esse descrito no capítulo 8. Toda a igreja precisa de se
dom e ministério. envolver na descoberta dos dons de cada mem-
Mas devemos ter cuidado. As pessoas tendem bro. É isso que significa ser parte da igreja de
a subestimar a sua própria eficácia. Muitos cris- Deus. Vamos ajudar-nos uns aos outros!
tãos, às vezes, devido ao pouco valor que dão a
si mesmos, nunca sentem que estejam fazendo
alguma coisa importante para o Senhor. Portan-
to, as pessoas não deveriam confiar apenas na sua
própria avaliação.
36 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
CAPÍTULO 7. MANTENDO VIVOS OS SEUS DONS ESPIRITU-
AIS
Muitas igrejas têm feito seminários sobre dons os mantiveram bem vivos para os novos converti-
espirituais ou têm dado atenção aos dons espiri- dos? Como é que era possível quando as pessoas
tuais num momento ou outro, mas, muitas vezes, se uniam à igreja estivessem ansiosas por desco-
no entanto, a ênfase nos dons espirituais termina brir os seus dons?
com o seminário. Não tem havido uma verdadei- A sugestão que faço neste capítulo não preten-
ra continuidade. Aqui não estamos sugerindo que de ser uma obrigação imposta a todos os novos
uma igreja simplesmente faça um seminário so- convertidos, mas sugiro que, talvez, possamos
bre dons espirituais, embora essa possa ser uma usar um dos métodos da igreja primitiva para
parte do processo. Estamos animando as igrejas a mantermos a recepção dos dons espirituais cons-
fazerem dos dons espirituais um estilo de vida. É tantemente perante uma congregação. Talvez haja
por isso que o próximo capítulo vai tratar exclu- outras maneiras de fazer isto, mas eu descobri que
sivamente da implementação de um ministério este exemplo bíblico tem funcionado bem. Tam-
baseado nos dons na igreja local. A estrutura da bém ajuda os novos convertidos a desejarem des-
igreja terá de mudar para se adaptar ao modelo cobrir o seu dom logo que se unem à igreja.
bíblico dos dons espirituais.
Antes de discutirmos como implementa um SACERDOTES DO VELHO TESTAMENTO
modelo de ministério baseado nos dons, vamos A doutrina do sacerdócio de todos os cren-
agora analisar mais uma questão em relação aos tes é um prolongamento do sacerdócio do Velho
dons espirituais. Há alguma maneira de manter- Testamento. Os sacerdotes do Velho Testamento
mos os dons espirituais constantemente perante a entravam no sacerdócio através de um serviço es-
congregação, de modo que nunca os esqueçam? pecial de consagração – um serviço descrito em
Se um ministério baseado nos dons é tão crucial Êxodo 29:1-7, onde Arão e os seus filhos são se-
para o envolvimento dos voluntários, e se o en- parados para o sacerdócio:
volvimento voluntário é um elemento tão vital
na vida cristã, como a Bíblia indica que é, então “Isto é o que lhes hás de fazer, para os santi-
ficar, para que me administrem o sacerdócio:
certamente é algo que precisa estar em primeiro toma um novilho, e dois carneiros sem de-
lugar na vida da igreja local. feito, e pães asmos, e bolos asmos, amassa-
É evidente que a igreja do Novo Testamento dos com azeite, e obreias asmas untadas com
teve êxito em conseguir manter os dons espiri- azeite; de flor de farinha de trigo os farás, e
tuais constantemente em foco. Os novos crentes os porás num cesto, e os trarás no cesto, com
o novilho e os dois carneiros. Então farás
entravam para a igreja, descobriam os seus dons chegar Arão e os seus dois filhos à porta da
e, imediatamente, eram colocados no ministério. tenda da congregação, e os lavarás com água;
Por isso a igreja cresceu tão rapidamente. Como é depois, tomarás os vestidos, e vestirás a Arão
que esses líderes da igreja mantiveram sempre os da túnica e do manto da sobrepeliz, estola
dons espirituais perante a igreja? Como é que eles sacerdotal e do peitoral: e o cingirás com o
cinto de obra esmerada da estola sacerdotal.
mantendo vivos os seus dons espirituais / 37
igrejas. No batismo, a ênfase é posta na purifica-
E a mitra porás sobre a sua cabeça: a coroa
da santidade porás sobre a mitra; e tomarás
ção do pecado – e isso está certo. Há alegria por-
o azeite da unção, e o derramarás sobre a sua
cabeça: assim o ungirás.”
que a pessoa foi redimida.
Mas redimida para quê? Parece faltar alguma
Quando este serviço terminava, o sacerdote coisa na nossa cerimônia batismal – algo que
estava ordenado e livre para começar o seu mi- deveria chamar a atenção para o fato de que o
nistério. Quatro coisas aconteciam na ordenação chamado de Cristo não é apenas para receber a
destes sacerdotes do Velho Testamento: purificação dos pecados, mas para entrar como
• Arão e os seus filhos reconheciam que era ministro ao Seu serviço.
necessário fazer um sacrifício pelos seus pecados. A consagração do Velho Testamento termina-
Por isso, a primeira coisa que eles faziam era ofe- va com a unção do sacerdote. Isso significava o
recer um sacrifício (v. 1-3) reconhecimento por parte de Deus e da igreja de
• Depois de oferecerem o sacrifício, Arão e os que a pessoa tinha sido chamada para o ministé-
seus filhos eram lavados na água da bacia (v. 4). rio. Só depois da unção é que o sacerdote podia
Este era o único momento em que o sacerdote era executar o ministério. Será que o fato de a maioria
completamente lavado na bacia. Noutras ocasi- das igrejas não providenciar um serviço paralelo
ões, as suas mãos e pés eram lavados, mas neste para a unção do Velho Testamento possa ser a ra-
momento todo o seu corpo era lavado. zão de muitos poucos recém-convertidos serem
• Depois de lavado, o sacerdote era então ves- imediatamente colocados no ministério?
O
tido com roupas novas, as roupas do ofício sacer-
dotal (v. 5 e 6). exemplo de Jesus no Novo
• Finalmente, a cabeça do sacerdote era ungida Testamento transmite a
com azeite, separando-o para o ministério (v. 7). ideia de que o batismo é
mais uma questão de ordenação
SACERDOTES DO NOVO TESTAMENTO do crente para o ministério do
No Novo Testamento, todos os crentes se tor- que de purificação do pecado.
nam sacerdotes perante Deus. Esta é a doutrina Jesus não foi batizado para ser
do sacerdócio de todos os crentes que já examina- purificado do pecado.
mos antes. Mas, no Novo Testamento, há um ser-
viço de iniciação para entrar no sacerdócio que É evidente que Ele foi batizado como nosso
equivale ao serviço de ordenação do sacerdote exemplo, mas mais ainda para autenticar o fato
no Velho Testamento. Reparem no que acontece de que Ele estava a ponto de entrar no Seu mi-
quando uma pessoa vem a Cristo: nistério. Depois do Seu batismo, o Espírito Santo
• A pessoa deve reconhecer o sacrifício de desceu em forma de pomba e ungiu Jesus para
Jesus Cristo pelos seus pecados. Tal como os sa- o Seu ministério. Nessa ocasião extraordinária,
cerdotes do Velho Testamento reconheciam que Jesus recebeu um sinal visível de que o batismo
esse sacrifício era feito pelos seus pecados, assim inaugurava o Seu ministério com Espírito Santo.
o crente do Novo Testamento aceita o sacrifício Ao estudarmos a igreja primitiva, descobrimos
de Jesus pelos seus pecados, como primeiro passo rapidamente que os seus líderes tinham uma ma-
no caminho para Cristo e na preparação para se neira de fazer com que as pessoas soubessem que
tornar um ministro. eram chamadas para o ministério. Parece lógico
• Tendo aceitado o sacrifício de Cristo, o cren- que sigamos essa prática do Novo Testamento, de
te é batizado. Tal como o sacerdote do Velho Tes- modo que os novos convertidos, bem como os
tamento era lavado na bacia, assim o crente do membros mais antigos, vejam a vida cristã como
Novo Testamento é lavado no ritual do batismo uma ordenação para o ministério.
bíblico.
• Ao sair da água, a pessoa é vestida com as COMO É QUE A IGREJA PRIMITIVA RECO-
roupas da justiça de Cristo – as roupas do sacer- NHECIA OS CHAMADOS PARA O MINIS-
dócio do Novo Testamento. Mais uma vez vemos TÉRIO
o paralelo com o serviço do Velho Testamento, Embora o Espírito Santo tenha descido visi-
mas aqui termina o paralelo, para a maioria das velmente sobre Cristo no Seu batismo, isso não
38 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
aconteceu nos batismos posteriores do Novo mar de forma implícita que a doutrina da imposi-
Testamento. Em vez disso, a igreja primitiva ti- ção das mãos não deve ser reservada apenas para
nha um meio de mostrar que o invisível Espírito os anciãos, diáconos e líderes. Reparem como o
Santo estava sendo derramado sobre as pessoas, autor de Hebreu salienta a imposição das mãos
ungindo-as para o seu ministério. Um estudo do como uma das doutrinas elementares da fé cristã.
Novo Testamento revela que elas utilizavam um
meio simples de reconhecer publicamente o cha- “Pelo que, deixando os rudimentos da dou-
mado de uma pessoa para o ministério. Muitas trina de Cristo, prossigamos até à perfeição,
não lançando de novo o fundamento do ar-
vezes, esse reconhecimento era feito em relação rependimento de obras mortas e de fé em
ao ministério dos líderes; outras vezes, de diáco- Deus, e da doutrina dos batismos, e da impo-
nos e anciãos; e, por vezes, também reconhece- sição das mãos, e da ressurreição dos mortos,
ram o chamado de um novo convertido para o e do juízo eterno” – (Hb 6:1,2).
ministério. Em cada uma dessas situações, o re-
conhecimento era demonstrado através da impo- De acordo com Hebreus, a doutrina da impo-
sição das mãos. sição das mãos é uma das doutrinas rudimentares
da fé cristã, juntamente com o arrependimento e
“E, servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse a fé. Como poderia ser, se a imposição das mãos
o Espírito Santo: Apartai-me Barnabé e Sau- fosse reservada apenas para os líderes, anciãos ou
lo para a obra a que os tenho chamado. En- diáconos? Nessas ordenações, exige-se muito – e
tão, jejuando e orando, e pondo sobre eles as
mãos, os despediram” – (At 13:2, 3). a igreja é advertida a não impor as mãos sobre
eles muito depressa. Mas parece haver uma dou-
Embora este seja um caso de líderes que são trina do Novo Testamento que coloca a imposi-
separados e ungidos para o ministério, mostra ção das mãos nas fases elementares da vida cristã.
que o método usado para reconhecer o chamado A igreja primitiva praticava a imposição das
para o ministério era a imposição das mãos. mãos no momento da conversão? Temos alguns
exemplos do Novo Testamento em que a impo-
“Não desprezes o dom que há em ti, o qual te sição das mãos é usada neste sentido rudimentar
foi dado por profecia, com a imposição das com os novos convertidos? Há pelo menos dois
mãos do presbitério” – (1Tm 4:14). exemplos:
E ainda que este texto possa estar se referindo “Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusa-
à ordenação do jovem Timóteo para a função de lém, ouvindo que Samaria recebera a palavra
líderes, também pode referir-se a uma imposi- de Deus, enviaram para lá Pedro e João. Os
quais, descendo para lá, oraram por eles para
ção de mãos que pode ter coincidido com a sua que recebessem o Espírito Santo. (Porque so-
conversão. O ponto interessante aqui é que Paulo bre nenhum deles tinha ainda descido; mas
indica que Timóteo recebeu um dom espiritual somente haviam sido batizados em nome
juntamente com a imposição das mãos. Será que do Senhor Jesus). Então, lhes impuseram as
a imposição das mãos é uma indicação de que o mãos, e receberam o Espírito Santo” – (At
8:14-17).
Espírito Santo desceu sobre uma pessoa e deu a
essa pessoa dons espirituais?
Aqui estão pessoas recém convertidas, que
Dado que os dons espirituais não são, de modo
acabam de vir a Cristo. Os discípulos ouviram
nenhum, propriedade exclusiva dos líderes, deve-
dizer que eles tinham recebido o Senhor e en-
mos ser muito cuidadosos em não dizermos que
viam-lhes Pedro e João. Esses crentes tinham sido
este texto se refere exclusivamente aos líderes, ou
batizados, mas agora, como sinal de que também
seria fácil concluir que os pastores recebem dons
tinham recebido o Espírito Santo, Pedro e João
espirituais no momento da imposição das mãos
impõem-lhes as mãos, ordenando-os efetivamen-
na sua ordenação para o ministério do evangelho.
te para o ministério do membro regular da igreja.
Embora eles possam receber dons adicionais para
Lembrem-se, o Espírito Santo é derramado jun-
usarem na sua função pastoral, já deveriam ter re-
tamente com a recepção de dons espirituais que
cebido alguns dons do Espírito Santo quando se
capacitam os membros para ministrar. Parece ser
converteram.
isso que Pedro e João estão fazendo. A maneira
Na verdade, o Novo Testamento parece afir-
como eles publicamente o reconheceram foi atra-
T
E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos
que haja Espírito Santo. Perguntou-lhes, en- alvez fosse uma boa ideia
tão: Em que sois batizados, então? E eles dis-
se a igreja de hoje seguisse
seram: No batismo de João. Mas Paulo disse:
Certamente João batizou com o batismo do o exemplo do Novo
arrependimento, dizendo ao povo que cresse Testamento de impor as mãos
naquele que viria depois dele, isto é, Jesus. E sobre os novos membros.
os que ouviram foram batizados, em nome
do Senhor Jesus. E impondo-lhes Paulo as
Isso realizaria duas coisas:
mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e fa-
lavam línguas, e profetizavam” – (At 19:1-6). Primeiro, manteria constantemente perante a
congregação a ideia dos dons espirituais e do en-
Aqui temos outra vez novos convertidos que volvimento de todos os membros no ministério.
tinham sido batizados, mas que ainda não tinham Sempre que se realizasse um batismo, a necessi-
participado no ministério do Espírito Santo, que dade de um ministério baseado nos dons seria
incluía o recebimento de dons espirituais e ser en- exaltada perante a congregação.
volvido no ministério. Reparem que Paulo sentia Segundo, isso tornaria necessário que os pas-
que essas pessoas tinham sido recentemente bati- tores ensinassem a todos os novos convertidos os
zadas, mas que ainda não tinham sido inseridas dons espirituais e o envolvimento no ministério.
no ministério, não eram totalmente cristãs, por Precisariam lhes explicar que o batismo é a en-
isso, rebatizou-as e depois impôs-lhes as mãos, trada no ministério, bem como a purificação do
ordenando-as para o ministério do membro de pecado.
igreja. Ellen G. White, ao comentar este texto, diz: Nas igrejas em que isso é tentado, os novos
convertidos entram na igreja com o desejo de
“Eles foram batizados em nome de Jesus, e descobrir o seu lugar no ministério na congre-
quando Paulo lhes impôs as mãos, recebe- gação local. Em consequência, sentem-se entu-
ram também o batismo do Espírito Santo, siasmados com a possibilidade de se
através do qual foram capacitados a falar as
unirem a uma classe de dons espi-
línguas de outras nações e a profetizar. Assim
foram qualificados para servirem como mis- rituais. Entram na igreja com a
sionários em Éfeso e nas suas redondezas, e expectativa de que devem en-
também para irem proclamar o evangelho na volver-se no ministério.
Ásia Menor” – (Atos dos Apóstolos, p. 283).
40 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
Como é que um serviço de ordenação deste Os anciãos e o pastor podem, então, ajoelhar-
tipo deveria ser conduzido? Não deveria ser um -se em oração e, no momento adequado, impor
serviço emocional. Não era assim na igreja pri- as mãos sobre os novos crentes, designando-os
mitiva. Era simplesmente um reconhecimento de para o seu ministério. Outra forma de fazer seria
que cada membro tinha sido chamado para o mi- pedir às pessoas que trouxeram esses convertidos
nistério. Para reconhecer esse chamado, a igreja à igreja para que ficassem junto deles e lhes impu-
impõe as mãos sobre eles, significando assim que sessem as mãos, enquanto o pastor ora.
a vida cristã é um ministério. Pode haver outras maneiras de manter peran-
Depois do batismo, os candidatos podem ser te a congregação este conceito de ‘cada membro
chamados à frente, como normalmente é, para um ministro’. Esta é uma forma que tem um forte
receberem as boas-vindas. Podem ser ditas algu- apoio do Novo Testamento. Muitos membros de
mas poucas palavras de explicação, mostrando igreja têm comentado, quando viram realizar esta
que o sacerdócio de todos os crentes requer que cerimônia, que muitas vezes se têm perguntado
todos os cristãos se envolvam no ministério. O porque é que a igreja não praticava este costu-
batismo significa a entrada da pessoa para a vida me da igreja primitiva. Como parte de uma nova
cristã de ministério e como reconhecimento des- orientação para um ministério baseado nos dons,
se chamado, pode salientar-se, seguimos a práti- talvez seja o momento de dar reconhecimento
ca do Novo Testamento de impor as mãos, que é público ao chamado do membro de igreja para o
o reconhecimento pela igreja de que esses novos ministério.
convertidos foram chamados para o ministério e
de que Deus lhes concedeu dons espirituais para
o seu ministério. Depois, o pastor pode incentivar
publicamente os novos convertidos a descobri-
rem os seus dons e a encontrarem
o seu lugar no ministério em
harmonia com esses dons.
41
CAPÍTULO 8. TEMPO PARA UM NOVO COMEÇO
À
medida que leram estas páginas, talvez apenas a tarefa da igreja, mas também o desen-
já lhes tenha passado pela cabeça que a volvimento de pessoas, a igreja deve proporcio-
igreja local tem que ser reestruturada nar múltiplas opções de ministério. As pessoas
para poder voltar ao ideal de Deus para um mi- são diferentes e as suas necessidades individuais
nistério eficaz. Se os voluntários devem realizar também são diferentes. Se as pessoas devem en-
um ministério e os pastores devem ser os seus contrar realização pessoal no ministério, então
treinadores, a igreja precisará realmente de uma devem ter ao seu dispor múltiplas opções de mi-
reestruturação. nistério. A igreja também deve adaptar-se ao fato
Geralmente as nossas igrejas não facilitam a de as pessoas criarem novos tipos de ministério
descoberta de dons e a colocação das pessoas em nos quais possam utilizar os seus dons.
ministérios baseados nos dons. Em vez disso, o Quanto mais tempo de existência uma igreja
nosso sistema atual parece incentivar a colocação local tem, mais probabilidades há de ela fazer da
de pessoas em funções e não em ministérios e es- sua sobrevivência e perpetuação o seu alvo pri-
sas funções tendem a preencher as necessidades mário, até que os membros acabem por se tornar
escravos da perpetuação da instituição. Um pro-
da instituição, não as da pessoa. Por isso, a deci-
são da igreja local de iniciar um programa de mi- grama de ministério voluntário orientado para as
nistério baseado nos dons significará que grandes pessoas mudará regularmente, porque as pessoas
mudanças têm de ser feitas. na nossa sociedade atual mudam e mudam cada
É tempo de começar de novo! vez mais rapidamente. Portanto, se o programa
de ministério voluntário se centra nas pessoas e
O QUE É UM MINISTÉRIO VOLUNTÁRIO? não na instituição, a igreja deveria estar constan-
Ministério voluntário não é apenas levar os temente atualizando seu treino, sua formação e as
membros de igreja para realizarem tarefas que oportunidades de ministério, de maneira a man-
os líderes acham que eles devem fazer. Não. Mi- ter-se à frente das necessidades variáveis dos seus
nistério voluntário é capacitar os membros para membros. O propósito destes ministérios não
cumprirem a missão da igreja e, ao mesmo tem- mudará, mas sim, os meios de realizá-los.
po, encontrarem realização pessoal através do Quando a igreja fala de ministério voluntário, a
ministério em que estão envolvidos. maioria dos membros pensa no envolvimento em
Ambos estes propósitos devem ser concretiza- algum tipo de ministério de evangelização ou de
dos. O ministério voluntário não realiza a tarefa cuidado e nutrição, apoiado pela estrutura esta-
da igreja à custa dos seus membros. O ministério belecida da igreja local. No entanto, essa perspec-
voluntário não ‘desgasta’ as pessoas; ele mantém tiva deve mudar para que o verdadeiro ministério
um equilíbrio adequado entre a missão da igreja e voluntário tenha lugar. O ministério voluntário
o desenvolvimento da pessoa. acontece não só na igreja, mas também – e prin-
Dado que o ministério voluntário não envolve cipalmente – no mundo. Os membros precisam
42 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
começar a ver que o seu ministério para Cristo a nossa igreja de tal maneira que as pessoas são
pode ter lugar na segunda-feira de manhã no es- mantidas afastadas do ministério ao invés de co-
critório, em vez de no sábado de manhã na igreja. locadas nele.
A igreja deve compreender que o ministé- A maior parte das comissões de nomeações
rio voluntário envolve toda a vida do cristão. O brinca de gato e rato com os membros. Reúnem-se
ministério não se limita ao edifício da igreja ou para ver o que as pessoas gostariam de fazer; em
às horas sagradas do sábado. O ministério mais seguida, a comissão tenta forçá-las a aceitar uma
significativo para os membros de igreja pode função. Em consequência, muitas vezes, as pes-
acontecer num ambiente secular durante a sema- soas recebem funções para as quais não são dota-
na. Nesta perspectiva do ministério voluntário, o das. Isso resulta em desempenho fraco, frustração
membro de igreja já não precisa sentir que estar e, por vezes, o abandono de todas as funções na
envolvido num ministério significa ocupar uma igreja. Por isso as comissões de nomeações per-
função proporcionada pela igreja para perpetuar dem tempo e reúnem-se interminavelmente, na
as suas necessidades institucionais. tentativa de preencher funções na igreja.
É tempo de os cristãos adventistas saírem do Como primeiro passo na reestruturação para o
seu casulo, saírem da fortaleza e se integrarem na ministério voluntário, pelo menos comecem a ne-
comunidade, para que o mundo possa ver a di- gociar como funcionam as comissões de nomea-
ferença dinâmica que Cristo pode fazer na nossa ções. Geralmente, o processo começa com uma
vida. lista de funções que a comissão tenta preencher.
Na perspectiva do ministério voluntário em rela-
PREPARANDO A IGREJA PARA ção à comissão de nomeações, o processo começa
O MINISTÉRIO VOLUNTÁRIO com uma lista de membros. Em seguida, analisa-
Nesta altura já deveria ser evidente que o mi- -se cada pessoa, os seus dons e desejos (que foram
nistério voluntário que estamos analisando exige apresentados à comissão), bem como as necessi-
que a igreja reexamine a estrutura atualmente dades da igreja. Então, a comissão de nomeações
existente para envolver as pessoas no ministério. passa pela lista de membros, colocando pessoas
Pode ser necessário fazer uma mudança drástica. nas funções que se harmonizam com as suas ne-
A maioria das igrejas adventistas funciona na cessidades e dons espirituais.
base de que a comissão de nomeações deve se- Em igrejas onde o autor tentou esta perspecti-
lecionar pessoas para servirem numa ‘função’ ou va, deu-se uma revolução no funcionamento das
mesmo num ‘ministério’ dentro da igreja. Na rea- comissões de nomeações. Em vez de passar inter-
lidade, as comissões de nomeações podem ser um mináveis reuniões tentando preencher funções,
tropeço mais do que uma ajuda para o ministé- a comissão raramente teve de se reunir de novo
rio voluntário, pois, podemos estar estruturando depois de terminar a análise da lista de membros.
Dado que as funções estão em harmonia com os
dons e desejos dos membros, estes aceitam-nas
com prazer – não é necessário persuadi-los ou
forçá-los e nenhum membro aceita funções com
relutância devido a um mal-entendido sentimen-
to de dever.
Embora esse seja um bom primeiro passo, de-
veria ser encarado exatamente como isso. Não é a
solução final. É possível que a igreja queira elimi-
nar completamente a comissão de nomeações e
manter, em seu lugar, uma comissão permanente,
que poderia chamar-se Comissão do Ministério
Voluntário. A sua tarefa seria colocar pessoas no
ministério, em harmonia com os seus dons espi-
rituais. Isso seria feito não uma vez por ano, mas
continuamente, à medida que pessoas novas ade-
rem ou quando as pessoas sentem a necessidade
de novas tarefas.
44 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
ção da instituição da igreja. O que se pode fazer? membros do fardo das necessidades institucio-
É claro que não se pode pedir ao irmão João para nais da igreja, organizou a igreja centrada no en-
fazer mais, mas talvez seja possível reajustar a es- volvimento em vários ministérios. É isso que quer
trutura da igreja, de maneira que ele não tenha dizer a frase ‘igreja como ministério voluntário’.
que se sentar em tantas comissões e conselhos, as- Deveria ter-se o cuidado de não renomear
sim ele teria tempo para o ministério voluntário. apenas as funções como ministérios depois conti-
O que está acontecendo com o irmão João está nuar normalmente. Lembrem-se que os ministé-
acontecendo a outros membros de igreja. Estão rios desenvolvem-se centrados nas necessidades
tão ocupados só mantendo a igreja funcionando dos membros e orientados para o cumprimento
que não têm tempo para se envolverem no mi- da missão da igreja. Isso não significa que a igreja
nistério. Dado que os membros seguem os seus não vai ter uma Escola Sabatina, mas pode querer
líderes e que os líderes não passam tempo em ati- dizer que essa Escola Sabatina será muito diferen-
vidade missionária, é natural que pouquíssimos te. Também quer dizer que as pessoas envolvidas
membros mostrem algum interesse no ministério terão muito mais satisfação.
voluntário orientado para a missão. Talvez preci-
semos eliminar algumas das funções e cargos na HÁ EXIGÊNCIAS FUNDAMENTAIS
igreja para liberar pessoas para o ministério. PARA QUE UM PROGRAMA DE
Alguém pode perguntar: “Quais as funções ou
MINISTÉRIO VOLUNTÁRIO FUNCIONE
cargos que podemos eliminar?” Parece que sem-
pre há alguém que considere importante qualquer EFICAZMENTE. SÃO NECESSÁRIOS
função. O pastor Ron Gladden, quando era pastor CINCO PONTOS BÁSICOS:
na igreja Adventistas do Sétimo Dia de Madison, • Deve haver um envolvimento a longo prazo
no estado americano de Wisconsin, tentou insti- com a ideia e as suas implicações. Uma igreja não
tuir uma perspectiva do ministério centrada nas pode começar um programa de ministério vo-
pessoas, em vez de uma perspectiva centrada na luntário em um ano e no ano seguinte voltar ao
‘função’ tão vulgar na maioria das igrejas. Como modelo anterior. A restruturação necessária e o
parte desse processo, ele analisou com a sua igre- tempo necessário para desenvolver totalmente o
ja quais as funções que eram absolutamente ne- programa significa que a igreja precisa se envol-
cessárias para que a igreja continuasse a ser uma ver nesta nova perspectiva durante muito tem-
Igreja Adventista do Sétimo Dia. O que aconte- po. É essencial um mínimo de três a cinco anos
ceu? para desenvolver adequadamente um programa
de ministério voluntário. No entanto, à medida
“Olhávamos para a lista, discutíamos cada que uma igreja vê os seus membros despertarem,
item individualmente (alguns várias vezes), deveria muito rapidamente testemunhar alguns
depois eliminávamos a maior parte deles. resultados positivos da sua experiência de dei-
Quando o pó assentou, tínhamos conserva-
do quatro: primeiro ancião, primeiro diáco- xar que os voluntários sejam realmente a igreja.
no, tesoureiro e secretário. (Normalmente, a O nosso envolvimento no ministério voluntário
primeira diaconisa deveria ser incluída, mas não deve acontecer só para implementar outro
as nossas igrejas usam ‘diácono’ para referir- programa da igreja; em vez disso, deve ser visto
-se tanto a homens como mulheres.)” - (The como uma tentativa séria de voltar ao modelo de
Drama of Church Recruiting)
voluntários do Novo Testamento.
E
• O segundo ponto básico é o ministério vo-
spantoso! E nós pensávamos
luntário requer o apoio de toda a igreja. O envol-
que precisávamos de todas
vimento de apenas alguns membros não será su-
as funções! Muito do que
ficiente. Qualquer igreja que queira experimentar
fazemos como igreja é estar
nesta direção, terá que planear cuidadosamente o
ocupados. Isso não nos ajuda
processo, de maneira que tantas pessoas quantas
a cumprir a nossa missão, mas
seja possível compreendam o que está acontecen-
pode, na verdade, estar nos
do e se envolvam na sua realização. Discussões em
impedindo de a cumprir.
pequenas comissões na igreja, um envolvimento
claro por parte do conselho de igreja, sermões
O pastor Gladden, depois de liberar seus
pregados do púlpito e, talvez, distribuição ampla
46 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
CAPÍTULO 9. COMO ENVOLVER OS MEMBROS NO MINISTÉ-
RIO
N
o capítulo anterior, delineamos as possi- perspectiva do ministério centrado nas pessoas
bilidades de implementar na igreja local discutidas no capítulo anterior. Em outras pala-
um ministério baseado nos dons, em vez vras, o envolvimento no ministério é centrado nas
de um baseado nas funções. Para realizar isto, a pessoas e não na instituição. A ênfase é posta em
atitude mental da igreja tem de ser de envolvi- ajudar as pessoas a realizarem-se no ministério e
mento no ministério baseado nos dons. Por isso, não em preencher as necessidades da instituição.
este capítulo é essencial para aquelas igrejas que
querem desenvolver um ministério baseado nos TERCEIRO, a igreja terá que ter realizado, pelo
dons. No entanto, colocar pessoas no ministério é menos, um seminário sobre dons espirituais. Du-
uma das partes mais difíceis do processo. Muitas rante o seminário, as pessoas podem ter usado
igrejas têm visto a necessidade de um ministério um dos inquéritos sobre dons espirituais, mas o
baseado nos dons e compreenderam que os vo- mais importante é que tenham discutido os dons
luntários devem ser empossados para o ministé- espirituais nos grupos e que tenham começado o
rio, mas não sabem como fazê-lo. As igrejas po- processo de descoberta. O seminário não precisa
dem realizar seminários sobre dons espirituais, ser longo ou pesado. De fato, quanto mais simples
podem pregar sermões sobre dons espirituais e a igreja o puder fazer, mais eficaz será.
podem chamar os soldados para que se envol-
vam, mas a menos que coloquem realmente as Estes são pré-requisitos para envolver a igreja
pessoas num ativo ministério baseado nos dons, na fase de colocação de um ministério baseado
não acontecerá nada de impacto duradouro. nos dons. Muitas igrejas não veem quaisquer re-
sultados depois dos seus seminários sobre dons
Uma igreja deve preencher vários pré-requisi- espirituais porque viram os seminários como
tos antes de poder enviar pessoas para o ministé- passo final, ao invés de um pré-requisito para o
rio. Vamos analisá-los: envolvimento. A igreja que não faz nada além de
realizar seminários, não colhe nada especial. Os
PRIMEIRO, deve haver um alto nível de envolvi- passos a seguir são cruciais para o processo.
mento, por parte da igreja local, numa estrutura
de ministério voluntário baseado nos dons espiri- A ENTREVISTA DE COLOCAÇÃO
tuais. Esse envolvimento deve ter sido alcançado NO MINISTÉRIO
através de seminários, sermões e discussões de Após os seminários sobre dons espirituais,
grupo. Especialmente entre os líderes. deve ser realizada uma entrevista de colocação
no ministério com cada participante no semi-
SEGUNDO, uma igreja que está pronta a enviar nário. Essa entrevista será, provavelmente, rea-
gente para o ministério terá começado a usar a lizada pelo pastor, quando uma igreja começa a
48 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
5. Durante a entrevista, deveria haver tempo 8. O entrevistador deve recordar que o objeti-
para discutir as apreensões do membro, se existe vo principal desta entrevista é identificar alguns
alguma, sobre o ministério. Quais são as suas dú- passos específicos que devem ser dados pelo
vidas, hesitações, preocupações ou temores? Não membro nos próximos meses para encontrar o
devem temer trazer esses assuntos à luz. De outro seu ministério. Devem ser indicadas datas espe-
modo, eles vão ‘infectar’ e impedir que o membro cíficas para terminação de cada um dos passos.
se sinta realizado no ministério escolhido. Perto do fim da entrevista, o objetivo é chegar a
6. O entrevistador deve resistir à tentação de um acordo sobre os passos adequados a dar.
discutir apenas oportunidades atualmente pre- Esses passos podem variar desde pedir à pes-
sentes na igreja para ministrar. Deus pode ter co- soa que estude mais para descobrir o seu dom,
locado no coração de alguns desses membros o para inscrever-se num programa de treino para
desejo de começarem um ministério inteiramen- ministrar estudos bíblicos, para visitar uma reu-
te novo. Não extingam o Espírito ao limitarem nião de desbravadores no mês que vem, ou qual-
os ministérios aos atualmente existentes. Muitas quer outro passo específico. Qualquer entrevista
vezes, os ministérios mais eficazes e gratificantes de colocação no ministério deveria resultar num
numa igreja estão no futuro, e podem ser diferen- conjunto completo, por escrito, de passos a dar,
tes do que a igreja está fazendo atualmente. datas e responsabilidades.
Isso não significa que cada membro deve co- 9. À medida que a entrevista avança, vão apa-
meçar um novo ministério. Os que são dotados recer ministérios ou funções definidos nos quais
para começar um novo ministério são poucos e o membro pode querer envolver-se. Se vai haver
aparecem raramente, mas os novos ministérios envolvimento num ministério já existente, o pri-
também não devem ser excluídos de hipóteses meiro passo deve ser dar ao membro a oportu-
pela igreja. Pode haver pessoas na igreja a quem nidade de observar o ministério ou função, pelo
Deus deu dons numa área que poderão signifi- menos durante um mês, sem compromisso. Isso
cativamente ampliar o ministério da igreja e, ao ajudará o membro a decidir num contexto de não
mesmo tempo, melhorar o ministério individual compromisso se esse ministério é ou não para si.
do membro. Isso também lhe dará a oportunidade de avaliar
7. O entrevistador deve discutir com o mem- os seus sentimentos sobre a função, bem como
bro a possível necessidade de treino receber a opinião de outros sobre a sua eficácia
para realizar um ministério eficaz. e habilidade para trabalhar com outros, à medi-
O fato de as pessoas receberem da que esse membro preenche as expectativas da
dons não significa que não pre- função. Assim, depois do período experimental, é
cisem de treinamento. Talvez pu- imperativo que um membro da comissão do mi-
dessem realizar o ministério sem nistério voluntário entreviste de novo o membro
treino, mas o seu ministério seria para rever e analisar o que aconteceu.
significativamente melhorado se
recebessem treino. Se os membros não
têm experiência anterior, então o treinamento é
indispensáveis.
A
tarefa primária do pastor, segundo as Es- do treino e formação é a que deve receber grande
crituras, é treinar ou equipar os membros atenção para permitir que os membros de igreja
para o desempenho do seu ministério. se envolvam num ministério significativo.
Muito do tempo do pastor deveria ser passado Como alguém sugeriu, a igreja local é realmen-
ajudando os membros a descobrirem o seu lugar te um ‘mini-seminário, do qual o pastor é deão’.
no ministério, em harmonia com os seus dons Dado que uma das primeiras responsabilidades
espirituais. Já falamos deste processo no capítu- da igreja é servir como centro de treino para os
lo anterior, no entanto, só o colocar pessoas nos obreiros cristãos, as exigências desse treino deve-
ministérios não assegura que essas pessoas são riam ter prioridade ao serem preparados os orça-
competentes, mesmo que tenham dons. O treino mentos, bem como ao ser repartido o tempo.
é um componente absolutamente vital que exigi- A maioria do treino que se faz nas igrejas lo-
rá atenção pastoraL, se queremos que as pessoas cais hoje não é sistemático ou intencional; é o re-
funcionem de maneira eficaz no ministério. sultado de alguém sentir a responsabilidade de
Um bom treino é reforçado por boas descri- dar treino numa certa área. Não há um esforço
ções do ministério. Muitas vezes as pessoas têm centralizado para equipar todos os membros para
aceitado uma tarefa ou uma função na igreja sem os seus ministérios. A Igreja Adventista tem ma-
compreenderem completamente as expectativas teriais fantásticos para treino em muitas áreas da
e exigências nelas incluídas. Antes de as pessoas vida da igreja, mas infelizmente, esses materiais ,
serem colocadas no ministério, deveriam receber embora muitos, são raramente usados na maior
uma clara descrição escrita da atividade nesse mi- parte da igreja. Devido a pressões financeiras,
nistério e uma explicação do envolvimento que se muitas igrejas optam por não comprar os mate-
espera dessas pessoas. riais necessários ou acham que esses materiais de-
Essa descrição deve incluir não só as tarefas veriam ser fornecidos gratuitamente, mas quando
exigidas no ministério, mas também algumas os materiais são fornecidos gratuitamente poucas
das técnicas e dons espirituais necessários para igrejas os usam porque não investiram neles.
executar corretamente as funções do ministério. Se o treino deve ser função prioritária da Igre-
Além disso, deve incluir coisas como o nome da ja Adventista, então é necessário que o dinheiro
pessoa perante a qual o membro é responsável, seja liberado no orçamento da igreja local para os
quem deve ser contactado para apoio e que treino materiais de treinamento e que seja dado a esse
a igreja recomenda para qualificar a pessoa para treino tempo de qualidade no calendário da igre-
se envolver nesse ministério. ja.
Se todos estes fatores são cuidadosamente for- Algumas Uniões, reconhecendo os recursos
mulados antes de o membro aceitar a tarefa, mui- limitados de muitas igrejas pequenas, optaram
tos mal-entendidos serão evitados e o membro por um programa de treino ao nível da União, no
sentir-se-á mais feliz ao servir ao Senhor. A área qual pessoas de várias igrejas se juntam num local
Q
brem-se que não estamos falando de programas uando pensamos em
de treino ocasionais ou esporádicos, mas na ofer- treinamento, naturalmente
ta regular, sistemática e intencional, de cursos que refletimos sobre o treino
treinarão de maneira eficaz os membros da igreja. dos membros de igreja, mas
Um pouco dessa formação será de caráter ge- talvez precisemos olhar também
ral. As pessoas envolvidas em muitos tipos de mi- para o treino como veículo que
nistérios podem tirar partido de uma formação cria pontes com a comunidade
desse tipo. Outra formação será mais específica servida por nossa igreja.
providenciando instrução para um ministério es-
pecial na igreja local. Quando um membro entra Muitos dos cursos ensinados no centro de trei-
em um ministério numa igreja onde funciona um no para o ministério voluntário local podem ser
centro de treino para o ministério voluntário, re- interessantes para pessoas da comunidade. Por
cebe uma lista das aulas que deveria seguir para exemplo, uma igreja pode realizar um seminário
estar equipado para esse ministério particular. de enriquecimento familiar como parte da ênfa-
Então, essa igreja é responsável por garantir que se posta sobre o lar no seu programa de treino
essas aulas sejam oferecidas ao longo de um pe- de voluntários. As pessoas da comunidade se be-
ríodo razoável de tempo. Alguns cursos podem neficiarão com um curso desses tanto quanto os
ser oferecidos repetidas vezes e as igrejas grandes membros.
podem oferecer vários cursos ao mesmo tempo, Além de realizar cursos que treinem mem-
mas as igrejas menores provavelmente oferecerão bros e não membros, o centro de treino para o
um curso de cada vez. ministério voluntário local pode apoiar classes
Providenciar treino adequado para todos os preparadas especialmente para as pessoas da co-
membros de igreja envolvidos no ministério sig- munidade. Por exemplo, numa igreja em que fui
nifica que há consistência nos vários ministérios pastor, realizávamos três ou quatro aulas por se-
quando mudam as pessoas, porque o treino foi mana, uma noite por semana. Uma dessas aulas
52 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
era especificamente orientada de maneira que os muitos membros de igreja poderiam aproveitar:
membros pudessem trazer seus amigos. Uma vez aulas de estudos sobre a Bíblia, como Romanos,
oferecemos uma aula de mecânica automóvel, Gálatas, Daniel e Apocalipse, ou uma análise ge-
ensinada por um membro que era professor de ral da Bíblia.
mecânica numa escola pública do bairro. Outras Outras aulas poderiam centrar-se na famí-
vezes, oferecemos aulas sobre cerâmica ou outro lia, na comunicação, nas expectativas dos novos
tipo de aulas não agressivas. Muitos não mem- membros de igreja, na descoberta dos dons espi-
bros assistiram. rituais, etc.
Muitas destas pessoas da comunidade, que tal- Cursos específicos sobre testemunho e evange-
vez tenham assistido inicialmente a um curso de lização deveriam ser uma parte vital do currículo.
primeiros socorros, criaram o hábito de frequen- Nesta seção haveria aulas sobre evangelismo pela
tar regularmente essas aulas. Sabendo que outras amizade, testemunho, ministrar estudos bíblicos,
aulas eram ensinadas nessa mesma noite, ins- obter decisões, realização de seminários e assun-
creveram-se mais tarde em outras aulas – como tos semelhantes.
um curso de cozinha ou um seminário sobre o A quarta área do currículo será a do interesse
Apocalipse. Nesse sentido, foi possível tornar o da comunidade. Nesta seção, a igreja proporcio-
programa de treino e formação um meio de evan- nará periodicamente aulas especialmente volta-
gelização. das para a comunidade. É aqui que se encaixaria a
Dado que a maioria dos tópicos orientados aula sobre mecânica automóvel, bem como aulas
para os não membros era não bíblico, o nos- sobre primeiros socorros, drogas, impostos, etc.
so objetivo principal era que os membros e não Além disso, a igreja deveria providenciar aulas
membros criassem laços de amizade. A amizade sobre temas bíblicos específicos para ajudar as
é a razão principal pela qual as pessoas escolhem pessoas da comunidade a irem a Cristo e à igre-
as igrejas. Uma igreja que prepare programas de ja. Assim, pelo menos uma vez por ano, uma
treino que ajudem as pessoas a melhorar o seu das disciplinas deveria ser um seminário sobre o
relacionamento com os não membros trabalhará Apocalipse/Profecia, ou um programa do gênero.
sabiamente. À medida que as pessoas se interessam, podem
ser convidadas a pertencer a pequenos grupos
na igreja, onde também poderiam começar a in-
CAPACITANDO O MINISTÉRIO teragir espiritualmente com outros membros de
VOLUNTÁRIO igreja.
Uma vez que a igreja tenha decidido pôr a fun- A maior barreira que a maioria das igrejas
cionar um centro de treinamento para o ministé- enfrenta ao começar um programa de treino de
rio voluntário, os planos para fazer funcionar esse voluntários para o ministério é encontrar profes-
programa deveriam fazer-se rapidamente. Uma sores qualificados. É por isso que uma igreja pe-
das primeiras áreas a considerar deve ser o currí- quena deve começar com pouco, talvez oferecen-
culo. Quais cursos a igreja vai ensinar e quando? do apenas um curso de cada vez. Mas a igreja não
A igreja vai ensinar disciplinas de vários cursos precisa limitar apenas aos membros de igreja a
numa certa noite da semana ou oferecerá apenas sua escolha de professores. Talvez o amigo de um
um curso de cada vez? membro esteja disposto a dar aulas de consertos
Algumas das disciplinas que a igreja pode de automóvel. O envolvimento dessa pessoa pode
pensar ensinar têm a ver com a qualificação para até ser um meio de a levar a Cristo.
os ministérios voluntários como ser recepcionis- O pessoal da União que tem dons numa certa
ta, como ensinar uma classe da Escola Sabatina, área poderia ser convidado a dar uma disciplina
treino para ancião ou diácono ou diaconisa. Até periodicamente. Também poderia fazer um curso
o coral poderia ensaiar nessa noite especial, como por vídeo, usando muitos dos excelentes cursos
grupo separado. em vídeo atualmente disponíveis na Divisão Sul-
Qualquer função que uma pessoa assume na -Americana. Se a igreja está realmente envolvida
igreja local deveria exigir um mínimo de prepa- neste processo, achará um conjunto convenien-
ração e de formação. Isso poderia ser proporcio- te de professores para as disciplinas que precisa
nado neste contexto. ensinar. Se precisa de um certo tipo de professor,
Além disso, há várias áreas gerais de treino que talvez a igreja deva deixar para mais tarde essa
COMO COMEÇAR
Nesta altura, talvez estejam a perguntar-se:
Como é que começamos? O que li parece bom,
mas podemos realizá-lo na nossa pequena igre-
ja? A resposta é sim, mas exigirá envolvimento e
dedicação. Depois de lerem estas páginas, deveria
ser evidente neste momento que estamos falando
54 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
CAPÍTULO 11. O COMEÇO
A
brir o ministério dos voluntários, ter bros da igreja não seriam atendidos nas suas ne-
pastores que treinam ao invés de execu- cessidades, e danos irreparáveis seriam causados
tarem, descobrir os dons espirituais, co- ao corpo de Cristo. Portanto, é imperioso que o
locar pessoas no ministério e treiná-las – tudo pastor continue providenciando o nível atual de
isso provocou uma indigestão? Descontraiam- cuidado, até haver um número adequado de pes-
-se. Não podemos fazer tudo ao mesmo tempo. soas treinadas para isso.
O sono laodiceano da igreja não foi criado em Quando os pastores voluntários estiverem
dez passos simples. Também o regresso ao mo- treinados para proporcionarem cuidado pastoral,
delo bíblico não será feito com facilidade. Pode o pastor pode reduzir o tempo que dedica a esse
levar anos para que algumas igrejas desfaçam o aspecto do ministério e usar o tempo, assim pou-
que tem acontecido ao longo dos últimos 75 anos, pado, para treinar membros para outro ministé-
mas devemos começar, sob a orientação e direção rio. Inicialmente, este processo será lento, mas à
do Espírito Santo. medida que as pessoas são treinadas, o processo
O começo deve ter muita oração para que o Es- será acelerado. No novo modelo, o pastor nunca
pírito Santo verdadeiramente dirija a igreja para estará inativo, pois embora fazendo coisas dife-
uma renovação enviada pelo céu. Essa renovação rentes, ele ainda estará ocupado.
deve habilitar a igreja a voltar ao modelo de igreja Como é que o pastor treina pessoas para cui-
do Novo Testamento e do Adventismo primitivo. darem de outras? Nesta fase de transição, a igreja
Também deve haver um desejo profundo e since- deve providenciar o treino mencionado no capí-
ro por parte da igreja e dos seus líderes de voltar tulo anterior. Esse treino formal, que é vital, não
ao ideal bíblico de uma igreja em que os voluntá- será suficiente para equipar as pessoas para o mi-
rios, e não só os pastores, realizam o ministério. nistério. Além dele, deve haver um treino prático,
Para que o que foi dito nas páginas anteriores realizado na igreja. Sempre que o pastor faz uma
não seja mal entendido, deve ser fortemente en- visita, seja ela pastoral ou de evangelismo, deve-
fatizado que em nenhuma igreja o pastor deveria ria levar consigo uma pessoa voluntária. A pessoa
apenas parar de realizar o ministério e esperar voluntária deve observar e depois deve fazer, en-
que os voluntários ocupem o seu lugar. O choque quanto o pastor observa.
seria tão grande que possivelmente destruiria a Deveriam conversar depois da visita, para tro-
igreja. Assim como houve um afastamento gradu- car opiniões e perspectivas e para que a pessoa
al do ideal, também o regresso deve ser gradual, voluntária possa crescer na habilidade de realizar
mas deve haver um movimento na direção certa. esta função ministerial. Depois de o voluntário
Dado que, na maioria das igrejas, o único cui- ter obtido certo grau de proficiência, o pastor
dado pastoral existente é o providenciado pelo pode enviar esse voluntário sozinho, permane-
pastor, não haveria nenhum se o pastor parasse cendo disponível para aconselhar e ajudar. De-
de proporcioná-lo. Se isso acontecesse, os mem- pois, o voluntário leva outro voluntário a quem
o começo / 55
ele treina da mesma maneira que ele foi treinado. funcionará com base nos pequenos grupos e não
Do mesmo modo, o pastor avança para treinar no modelo congregacional. A maior parte da es-
outro. Agora dois estão sendo treinados ao mes- trutura atual da igreja é constituída ao redor de
mo tempo. À medida que este processo aumenta, um pastor que ministra uma congregação entre
crescerá o nível de competência e será criado um 25000 membros. Na igreja do futuro, um pastor
forte grupo de pastores voluntários. Esta expe- supervisará os líderes de pequenos grupos que,
riência supervisionada e prática é a única forma por sua vez, dirigirão grupos de 10 a 12 pessoas.
aceitável de treino. Esses pastores voluntários serão os primeiros en-
Há muito tempo que a Igreja Adventista do carregados de cuidar dos membros na igreja. Os
Sétimo Dia depende de seminários aos fins de líderes pastorearão os pastores voluntários, e eles,
semana para treinar o seu povo. Esses seminá- por sua vez, pastorearão o povo. Os membros
rios são excelentes e devem continuar, mas já não serão melhor atendidos pelos pastores voluntá-
podemos evitar um treino ‘com as mãos na mas- rios do que pelo pastor ordenado, simplesmente
sa’. As pessoas devem aprender com os pastores porque eles terão apenas de 10 a 12 pessoas ao
que realmente os aconselham. A razão pela qual seu cuidado. O máximo que um líder ordenado
este método não tem tido êxito é principalmen- consegue pastorear convenientemente é cerca de
te porque a maior parte dos pastores nunca foi 50 pessoas. A razão pela qual o sistema de cuida-
aconselhada. Foi-lhes dito o que fazer, mas nunca do pastoral falha tantas vezes é que a maioria dos
lhes foi mostrado como fazer. A educação pasto- pastores tem congregações de mais de 50 pessoas.
ral do futuro deve centrar-se numa integração de
N
conhecimentos e do uso prático desses conheci- o treino de pessoas para a
mentos. Só se os pastores forem treinados deste igreja do futuro, o treino
modo, saberão como treinar os seus membros no inicial destina-se a equipar
ministério prático. os líderes dos pequenos grupos.
Seria ideal se a igreja voltasse às suas raízes, Esses pastores voluntários, por
então não haveria pastores colocados nas igre- sua vez, treinarão os membros
jas. Seria mais como a igreja do terceiro mundo. dos seus pequenos grupos, para
Embora isso possa ser um ideal, temos que ad- que se cuidem e alimentem uns
mitir, na realidade, que isso provavelmente não aos outros e para evangelizarem
vai acontecer. Já fomos muito longe no caminho, os seus amigos e vizinhos.
e estamos muito dependentes dos pastores, mas
Deus não nos abandonou. Ele pode nos levar a No ambiente da igreja do século XXI, será tão
um novo começo. necessário pertencer a um pequeno grupo como
é agora estar presente no sábado de manhã. De
A IGREJA DO FUTURO fato, as pessoas não serão vistas como membros
A igreja do século XXI pode, na verdade, ser em situação regular e em ordem se não estiverem
maior do que é entre os adventistas. Mas, em envolvidos no pequenos grupos.
certos aspectos, será realmente menor porque as A proliferação dos pequenos grupos na igre-
pessoas serão ministradas como se estivessem em ja do século XXI tornará necessário o treino e
uma igreja pequena. As atividades do pastor nes- formação de muitos pastores voluntários, para
sa igreja grande serão diferentes das dos pastores dirigirem e cuidarem desses grupos. A grande va-
de hoje. Esse pastor estará dirigindo os voluntá- riedade de ministérios que os pequenos grupos
rios nos seus variados ministérios. O tempo do geram, criará a necessidade de programas de trei-
pastor será gasto não na realização de funções no para o futuro. Quando falamos de treino no
ministeriais, mas sim, no treino e supervisão dos capítulo anterior, alguns podem ter-se pergunta-
voluntários. Assim, ainda que um pastor esteja do: O que é que cada um de nós irá fazer? Quais
colocado em uma igreja, a descrição da sua tarefa serão os novos ministérios em que as pessoas es-
será muito diferente da prática pastoral atual, e tarão envolvidas? Esses ministérios centrar-se-ão,
ele estará mais em harmonia com o ideal bíblico. principalmente, nos pequenos grupos da igreja.
A Igreja Adventista do século XXI não será
maior, mas menor. A razão para isso é que a igreja POR QUE OS PEQUENOS GRUPOS?
56 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
O movimento dos pequenos grupos que está viços religiosos básicos todas as semanas: todos os
a espalhar-se pela América hoje está destinado a sábados encontrava-os na igreja, louvando ao Se-
revolucionar completamente a igreja do futuro. nhor com um corpo de crentes. Esse seria o mes-
Não é uma moda passageira, mas um regresso às mo serviço que temos hoje como culto de sábado
nossas raízes bíblicas e adventistas. de manhã, às 11 horas. Isso proporcionava-lhes o
A igreja primitiva não se reunia em grandes sentimento de pertencerem a um corpo de cren-
catedrais; os crentes primitivos, na verdade, reu- tes. Essa convicção era fortalecida pelas reuniões
niam-se principalmente em lares. Não houve campais (as nossas assembléias espirituais), onde
construção em grande escala de casas de adora- os adventistas primitivos se encontravam com
ção até séculos depois da morte dos apóstolos. centenas e milhares de outros adventistas, para
Uma vez que os lugares de reunião da igreja pri- um período anual de adoração. Eles precisavam
mitiva eram os lares dos crentes, era necessário, dessa ocasião especial, sobretudo se pertenciam
evidentemente, que essas igrejas fossem peque- a uma pequena igreja. Ajudava-os a compreender
nos grupos. (Rm 16:5; 1Co 16:19; Cl 4:15; Fm 2). que pertenciam a algo muito maior do que o pe-
É claro que a igreja primitiva era organizada queno grupo na sua igreja de origem. E mesmo
segundo a ideia dos pequenos grupos, com um que a igreja de origem fosse grande, esse encontro
líder voluntário dirigindo. Os pastores, tais como anual ajudava os membros a sentirem que eram
os conhecemos hoje, não existiam. Os líderes parte de um grupo muito maior.
eram os apóstolos e missionários, que iam por A acrescentar à hora de adoração e às reuni-
toda a parte criando novas igrejas, nomeando ões campais, os adventistas primitivos assistiam
líderes voluntários para dirigirem essas igrejas e à Escola Sabatina todas as semanas. Esse era um
cuidarem dos crentes, e avançando depois para período destinado ao estudo da Palavra. A Escola
fundar outras igrejas. Sabatina ministrava às necessidades intelectuais
Quando essas igrejas primitivas cresciam, e à do crente. A sua ênfase principal era sobre o de-
medida que a igreja degenerava, acabaram sen- senvolvimento intelectual do cristão. As discus-
do contratados pastores para cuidar das igrejas, sões na Escola Sabatina proporcionavam à igreja
devido ao aumento do número de membros. Ide- a orientação cognitiva que os adventistas preci-
almente, a igreja deveria ter formado novos gru- savam.
pos e continuado a crescer, ao invés de contratar Mas os adventistas primitivos não se satisfa-
pastores. Depois de os pastores ocuparem a sua ziam com a adoração coletiva e o estímulo inte-
posição, o nível de cuidado proporcionado ao re- lectual proporcionadas pela Escola Sabatina. Eles
banho diminui dramaticamente. viam que o adventismo não devia preocupar-se
A igreja adventista primitiva seguiu de perto apenas com o desenvolvimento mental do crente,
o modelo do Novo Testamento. Embora a maior
parte das igrejas adventistas primitivas fosse pe-
quenos grupos, dirigidos por líderes voluntários,
em breve cresceram até se tornarem congrega-
ções. Mas, como já vimos, durante cerca de 50
anos depois da sua organização e mesmo depois
de a igreja crescer, o Adventismo não teve pas-
tores colocados. Os pastores evangelizavam, e as
igrejas eram cuidadas pelos líderes voluntários.
Até que ponto era bom o cuidado nestas igre-
jas adventistas primitivas? Embora não tenha-
mos quaisquer registros reais do cuidado que era
dispensado, podemos imaginar que o cuidado
era superior ao que é dispensado hoje, porque as
apostasias eram dramaticamente menores.
o começo / 57
mas também com a natureza emocional, ou so- len G. White revela que ela considerava a reunião
cial. De fato, eles consideravam o desenvolvimen- social como um tempo especial para o povo de
to harmonioso das faculdades físicas, mentais, Deus passar junto. Reparem que esse tempo não
sociais e espirituais como a essência da verdadei- devia ser passado a discutir doutrinas ou mesmo
ra educação. em tudo da Bíblia. A principal função da reu-
Como é que eles cuidavam do desenvolvimen- nião social era a edificação relacional dos crentes.
to social? Através de pequenos grupos. A compre- Num capítulo intitulado ‘Reuniões sociais’, Ellen
ensão do papel que desempenharam os pequenos G. White descreve o propósito dessas reuniões:
grupos é fundamental para compreendermos o
crescimento do Adventismo primitivo. Enquanto “Qual é o propósito de nos reunirmos? Será
a Escola Sabatina, como pequeno grupo, cuidava informar Deus, instruí-Lo dizendo-Lhe tudo
o que sabemos em oração? Reunimo-nos
do seu desenvolvimento intelectual, havia outra para nos edificarmos uns aos outros, através
reunião de pequeno grupo que respondia tam- do intercâmbio de pensamentos e de senti-
bém às suas necessidades relacionais. Os adven- mentos, para obtermos força e luz e coragem,
tistas primitivos chamavam-lhe ‘reunião social’. ao conhecermos as esperanças e aspirações
Nem todo o tempo passado nestas reuniões uns dos outros; e através das nossas orações
fervorosas, sentidas, oferecidas com fé, re-
sociais era usado para estudar a Bíblia, para obter cebemos refrigério e vigor da Fonte da nos-
conhecimento e informação – a Escola Sabatina sa força. Estas reuniões devem ser ocasiões
fazia isso. De fato, muitas vezes, talvez, até hou- muito precisosas e devem ser tornadas inte-
vesse muito pouco estudo da Bíblia. Parece que ressantes para todos os que têm algum prazer
o objetivo destes pequenos grupos era ajudar os nas coisas religiosas” – (Testemunhos Para a
Igreja, vol. 2, p. 578).
membros a crescerem espiritualmente. Eles tra-
tavam, portanto, das necessidades relacionais dos
De algum modo, à medida que o Adventismo
membros e mantinham os membros espiritual-
cresceu, perdemos a reunião social. Retivemos a
mente responsáveis. Oravam, cantavam e davam
adoração coletiva e a função da Escola Sabatina,
testemunho uns aos outros. Reparem como Ellen
mas perdemos a edificação pessoal que se encon-
G. White descreve as atividades dessas reuniões
trava nas reuniões sociais dos pequenos grupos,
sociais em pequenos grupos de adventistas pri-
Repito, hoje há um forte movimento no adven-
mitivos:
tismo para recuperar a ênfase que os adventistas
“Todos devem ter algo para dizer ao Senhor, primitivos punham nos pequenos grupos.
pois, assim fazendo, serão abençoados” – No entanto, alguns interpretaram mal o pro-
(Primeiros Escritos, p. 132). pósito dos pequenos grupos e transformaram-
-nos num estudo cognitivo da Bíblia semelhante
“Não devemos reunir-nos para ficar em silên- à classe da Escola Sabatina. Quando isso aconte-
cio; os únicos que são lembrados do Senhor
são os que se reúnem para falar da Sua honra ce, o pequeno grupo não está preenchendo a sua
e glória e do Seu poder; sobre esses repousará função relacional que preenchia a reunião social
a bênção de Deus, e eles serão refrigerados” – no Adventismo primitivo.
(Primeiros Escritos, p.132). Parte do gênio do movimento adventista tem
sido a mistura do físico com o mental, social ou
“Alguns se retraem nas reuniões porque nada
de novo têm a dizer, e se falarem terão que relacional e espiritual. Por isso a função dos pe-
repetir a mesma história. Vi que o orgulho quenos grupos é um ingrediente tão necessário
era o fundamento disto, que Deus e os anjos na igreja moderna, que procura alcançar a pessoa
atentavam para o testemunho dos santos e se inteira.
alegravam e eram glorificados por serem re- Porque é que passamos a falar de pequenos
petidos cada semana” – (Primeiros Escritos,
p. 132, 133). grupos neste capítulo? Precisamente porque ex-
perimentar os pequenos grupos exigirá a forma-
“Em cada reunião social muitos testemunhos ção e o treino na igreja de muitos novos líderes
eram dados falando de paz, conforto e alegria de pequenos grupos. A maior parte dos nossos
que se havia encontrado ao receber a luz” – líderes voluntários atuais sabe como dirigir gru-
(Mensagens Escolhidas, vol. 1, p. 334).
pos cognitivos, mas poucos foram treinados nas
técnicas necessárias para grupos relacionais.
Uma análise rápida dessas afirmações de El-
58 / REVOLUÇÃO NA IGREJA
Dado que esses grupos relacionais são o lugar passa a ser a principal responsabilidade do pastor.
onde as pessoas partilham umas com as outras • Uma descoberta dos dons espirituais dos
a sua vida cristã, o lugar de onde os membros e membros.
recém-chegados recebem apoio e discipulado, • Uma colocação das pessoas no ministério,
os líderes desses pequenos grupos são realmente em harmonia com os seus dons espirituais.
pastores voluntários que assistem o pastor no cui- • Um programa contínuo de treino para a igre-
dado do rebanho. Se a igreja deve voltar ao plano ja, proporcionando as técnicas e conhecimentos
de Deus para ela, no qual os voluntários cuidam necessários para os vários ministérios.
do rebanho em vez do pastor, então a perspectiva • Um programa de treino ‘com a mão na mas-
dos pequenos grupos deve ser utilizada, tal como sa’, para suplementar a formação formal.
foi nos dias do Adventismo primitivo. Nesse tem- • Um sistema de pequenos grupos para pro-
po, os voluntários adicionalmente pastoreavam as porcionar resposta às necessidades relacionais
igrejas, deixando os pregadores livres para evan- dos membros.
gelizar e fundar novas congregações.
O
Ao voltarmos ao modelo bíblico, o pastor terá adventismo do século
que treinar os líderes dos pequenos grupos na XXI afastou-se dos seus
orientação de pequenos grupos relacionais, cari- começos. Sentimo-nos
nhosos. Quando os líderes estiverem assim equi- perturbados pela estagnação da
pados o pastor pode liberá-los para atuarem no igreja hoje. Talvez precisemos
ministério de cuidado da igreja. O pastor precisa- voltar às nossas raízes.
rá se encontrar com eles pelo menos uma vez por
semana, no entanto, agora os membros estarão Esse regresso envolverá três áreas principais:
devidamente cuidados e o pastor estará livre para
treinar outros e evangelizar. • Restauração do ministério voluntário.
O ideal é que o pequeno grupo, além de cari-
• Reeducação dos pastores para
nhoso, seja também o lugar perfeito para inserir
serem treinadores, em vez de executantes.
novas pessoas. Na minha experiência, descobri
que raramente perdemos uma pessoa que se une • Estabelecimento de pequenos grupos
a um pequeno grupo. Por que? Por causa das pon- relacionais para cuidar dos membros.
tes relacionais que são construídas. A maior parte
da nossa assimilação de novos membros tem sido Quando estas três coisas acontecerem, a igreja
doutrinária, embora poucos saiam por causa da tornar-se-á outra vez um lugar onde as pessoas
doutrina. A razão para a perda de membros é re- podem livremente partilhar a sua vida cristã. A
lacional. Pequenos grupos relacionais podem ser partir daí, o Adventismo pode, mais uma vez,
uma grande ajuda para nós, na detenção da maré mover o mundo em preparação para o regresso
de apostasia. Mesmo antes de as pessoas se uni- do nosso Senhor.
rem à igreja, deveriam envolver-se num peque-
no grupo, para que laços relacionais possam ser
construídos desde o início.
EM RESUMO
Em resumo, uma igreja que deseja reavivar a
chama do Adventismo primitivo deve procurar
implementar o maior número dos passos seguin-
tes:
o começo / 59